View
213
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
FILOSOFIA E CIÊNCIA POLÍTICA
Thiago Mota
Percurso
Unidade I O nascimento da democracia entre os gregos
Unidade II O debate contemporâneo em crítica social:
margem alemã do Reno
Unidade III O debate contemporâneo em crítica social:
margem francesa do Reno
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
O nascimento da democracia entre os gregos
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Pré-natal da filosofia
Antes da filosofia, o pensamento era mítico.
Mito (mythos): narrativa que busca a explicação do mundo e a justificação dos valores.
Justificação mítica: de caráter dogmático; persuasão por apelo ao emocional (fé).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Força persuasiva dos discursos apocalípticos...
... seja nos mitos antigos...
O juízo final, detalhe do teto da capela Sistina, de Michelangelo. O medo e a esperança são os pilares da religião.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Força persuasiva dos discursos apocalípticos...
... seja no discurso moralista contemporâneo.
Atentados de 11.9.2001: marco da atualidade política.
Acidente nuclear de Fukushima, Japão: iniciado em 11.3.2011.
Ainda em andamento.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Função política dos mitos
Legitimação da estrutura de poder da Grécia arcaica.
Poder teocrático: fundado na ascendência divina dos nobres.
A Grécia homérica é narrada na Ilíada e na Odisséia. Tela: A queda de Tróia, de Johann Georg Trautmann.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Estrutura de poder da Grécia Arcaica (sécs. IX a VI a.C.) Civilização micênico-cretense
Política
Monarquia hereditária legitimada no mito da origem divina do monarca
Poderosa classe sacerdotal guardiã da revelação Aristocracia belicista e ociosa encarregada da defesa da corte
Economia
Agro-pecuária, baseada na propriedade da terra (nobres) e no trabalho escravo.
Moral
Paidéia fundada numa areté inata: excelência como proveniência nobre
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Declínio do mito e da civilização arcaica
Esgotamento da economia agropecuária.
Desenvolvimento de atividades marítimas com fins comerciais.
Formação da civilização talassocrática (colônias).
Intercâmbio comercial Intercâmbio cultural.
Relativização das explicações e valores fundados no mito.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Condições de nascimento e desenvolvimento da democracia
MULTICULTURALISMO GREGO: O IDEAL PAN-HELÊNICO (COSMOPOLITISMO)
A “MICROGLOBALIZAÇÃO” GREGA
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Do Mythos ao Logos
Declínio do mito
Filosofia: explicação do mundo e justificação dos valores fundada no logos (razão)
Filosofia da physis (natureza): investigação da arché (primeiro princípio)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Aporias da filosofia da physis
Tales de Mileto (c. 625/4-558/6 a.C.): tudo é água.
Anaxímenes de Mileto (c. 585-525 a.C.): tudo é ar (ápeiron).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Aporias da filosofia da physis
Heráclito de Éfeso (c. 535-475 BC): tudo é muda (Panta rei).
Parmênides de Eléia (c. 510-440 BC): o ser é, o não-ser não é.
Aporias Esgotamento da filosofia da physis.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Virada antropológica da cultura grega: os sofistas
Deslocamento da arcoragem da reflexão da physis para o ethos e a pólis.
Homo mensura: “o homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras)
Humanismo grego: o homem como problema central
Homem vitruviano, Leonardo da Vinci, 1490.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Formação da civilização grega clássica (séc. V e IV a.C.)
Crise da aristocracia arcaica
Fortalecimento do demos
Invenção da democracia
Reforma de Clístenes 508 a.C. Criação do Conselho dos 500 (boulé)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Maquete da Ágora, tal como era no séc. IV a.C.
Instituições da democracia grega
Bauleterion: sala de reuniões do Conselho dos 500 (Boulé)
Tholos: residência rotativa do Pritane Presidente do Conselho eleito por 1 dia
Stoa Basileios: alpendre do Rei-Archon
Heliaea: tribunal de justiça. Julgamento de Sócrates, 399 a.C.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
A Ágora e o agón
Concebida de início como mercado (lugar de troca), passa mais tarde a abrigar as reuniões da assembléia (Ecclésia).
Relação entre ágora (’αγορά) e agón (’αγών)
O que se passava na ágora era o agón da palavra, a erística, a competição retórico-deliberativa.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
O agón no ethos grego
Friso representando cena de luta. O agón é a especificidade do caráter helênico.
Ruínas do local de treino dos atletas (palestra) em Olímpia.
Epidauro, o teatro de Dionísio, onde eram encenadas as tragédias gregas.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
O agón na democracia grega
Deliberação direta dos interesses concernidos.
Jogo argumentativo, cujo objetivo é a persuasão (retórica, dialética).
Orador: jogador ou artista da palavra.
Lugar vazio do poder se mantém perpetuamente através de uma disputa agonística (sem termo nem trégua).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Areté política
Crise da areté aristocrática
Areté política
Forma de techné ou poíesis
Ensinada e aprendida
Excelência como honra pública: visibilidade
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Retórica
Arte de bem falar
Arte de persuadir (peithein)
Instrumento principal para conquista da visibilidade
Arma no agón democrático
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Condenação e reabilitação dos sofistas e da retórica
Sofista
Sóphos: de sábio a prostituto do saber (Xenofonte, c. 427-355 a.C)
Professor profissional itinerante de areté política de retórica, da arte da palavra.
Problemática do acesso aos sofistas
Escassez de fontes (fragmentos)
Meandros da doxografia
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Condenação dos sofistas
Platão (429-347 BC): o sofista é um caçador de jovens ricos
Aristóteles (384-322 BC): o sofista é um vendedor de opiniões.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Condenação dos sofistas
Motivos teóricos Sofistica como falso saber, simulacro, saber do
aparente, fenomênico.
Valorização da dóxa em detrimento da episthéme
Sofismas, falácias, táticas erísticas: sucesso imediato
Manipulação das técnicas do engano (apate)
Negação da verdade absoluta (relativismo, niilismo)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Condenação dos sofistas
Motivos práticos:
Imoralidade dos sofistas
Contribuição para a desagregação ético-política da comunidade
Subversão da justiça e da religião
Valorização do pathos e da aisthesis
Negação dos valores universais
Fins lucrativos
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Retórica em Platão
Platão, Górgias (diálogo)
Dialética essência (episthéme)
Retórica aparência (dóxa)
A retórica (peithein) pode e deve ser posta a serviço da verdade e do bem (Fedro).
Função didática do mito em Platão (Alegoria da caverna)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Retórica em Aristóteles
Raciocínio (Aristóteles, Tópicos) Analítico Verdadeiro Episthéme
Ciências teóricas (Metafísica, Matemática, Física, etc.) Demonstração (didaskein) Descoberta
Dialético Verossímil Sophrosine (C. Perelman, A
nova retórica, 1958.) Ciências prático-produtivas (História, Teatro, Retórica,
Ética, Política, Direito, etc.) Persuasão (peithein) Construção (Aristóteles, Retórica) Retórica, juntamente com outras ciências práticas.
Retórica deliberativa Retórica judiciária Retórica epidítica poética
dialética
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Reabilitação dos sofistas
Hegel (1770-1831), Lições de história da filosofia: os sofistas foram “mestres da Grécia, por cujo
intermédio a cultura propriamente dita aí teve origem”
Nietzsche (1844-1900), Crepúsculo dos ídolos: “os sofistas eram gregos: quando Sócrates e Platão adotaram
o partido da virtude e da justiça, foram judeus ou sei lá o que”.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Caracterização geral da sofística
Assistematicidade
Sofística ou sofistas?
Nunca houve propriamente um “movimento sofístico”
Houve sofistas
Protágoras de Abdera (480-410 a.C.): O homem é a
medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são,
das coisas que não são, enquanto não são.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Caracterização geral da sofística
Pluralismo
Pressuposto perspectivista: há sempre uma pluralidade de perspectivas em jogo
Flexibilidade, improviso, tour de force Linhas de força da paidéia sofistica: educação geral e
exaltação da techné e do logos Razão instrumental: poder do discurso sobre a
natureza e sobre os homens Polymathia: transversalidade que possibilitava falar
sobre qualquer assunto
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Caracterização geral da sofística
Relativismo
Não há Verdade Absoluta
Não há Valores Universais
Pragmatismo
Realismo político: preocupação com a práxis política (discursiva)
Critério pragmático de verdade: utilidade, efetividade.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Caracterização geral da sofística
Sensualismo Valorização da experiência
do corpo (pathos e aisthesis)
Ilustração sofística
Liberdade do pensamento e do discurso
Agonística Discussão intersubjetiva e
argumentação persuasiva (democracia)
Górgias de Leontinos (c. 485-380 a.C.): O ser não é (niilismo ontológico). Ainda
que o ser fosse, não seria concebível (epistemológico). Ainda que o ser fosse
concebível, não seria comunicável (linguístico).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Paradoxo do professor e do aluno
Diz-se que, um dia, Protágoras reclamou seus honorários de um aluno, Evatlo, e como este protestou que não havia obtido nenhuma vitória, Protágoras replicou: se eu ganhar, será necessário me pagar, porque serei eu o vencedor; e se tu ganhares, porque serás tu.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Explicação
Contrato de ensino (professor x aluno)
Cláusula geral: o professor será pago se seu aluno conseguir ganhar, por causa das lições que receberá, ao menos um dos litígios de que participar durante essas lições.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Explicação
Alternativa simples
Se o aluno ganhar ao menos uma vez, ele deve pagar.
Se o aluno não ganhar, ele está quite, não deve nada.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Explicação
A réplica de Protágoras transforma a alternativa em dilema. Para não pagar, Evatlo deve provar ao tribunal que não
ganhou nenhum litígio.
Protágoras contestará essa alegação, dando início a um novo litígio.
Se Evatlo ganhar este litígio (provando que jamais ganha), ele terá ganho ao menos uma vez e, portanto, deverá pagar os honorários.
Mas se Evatlo não ganhar este litígio, será Protágoras quem o ganhará e, portanto, Evatlo deverá igualmente pagar.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Explicação
O paradoxo pode ser reformulado assim:
“Protágoras: se tu ganhares (contra mim), terás ganhado; se tu perderes (contra mim), embora digas que sempre perdes (contra os outros), terás ganhado ainda”.
“Evatlo: se eu perder (contra ti), terei perdido; se eu ganhar (contra ti), embora eu diga que sempre perco, terei perdido ainda.”
Resultado: os juízes decidem adiar o julgamento (indecidibilidade).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Natureza paradoxal da democracia
Democracia pressupõe oposição, conflito, dissidência.
A democracia se encontra em risco perpétuo, pois não é democrático elaborar leis que proíbam a elaboração de leis anti-democráticas.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Bibliografia recomendada
ARISTÓTELES. Retórica. Trad. M. Alexandre Jr. 2.ed. Lisboa: Imprensa Nacional, 2005.
_____. Tópicos. Trad. L. Vallandro et al. São Paulo: Abril Cultural, 1978 (Col. Os Pensadores).
CASSIN, Barbara. O efeito sofístico. Trad. A. Oliveria. São Paulo: 34, 2005.
GUTHRIE, William. Os sofistas. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2007.
PERELMAN, Chaim, OLBRECHTS -TYTECA, Lucie. Tratado de argumentação. A nova retórica. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Bibliografia recomendada
PINTO, Maria; SOUZA, Ana (orgs.). Sofistas: Testemunhos e fragmentos. Lisboa: Imprensa Nacional, 2005.
PLATÃO. Fedro. Lisboa: Edições 70, 1998.
_____. Górgias. Lisboa: Edições 70, 2006.
ROMEYER-DHERBEY, Gilbert. Os sofistas. Lisboa: Edições 70, 1999.
VASCONCELOS, Arnaldo. Idéias político-jurídicas dos sofistas no quadro da democracia ateniense. In: Direito, humanismo, democracia. 2.ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. I. Fonseca. 7.ed. São Paulo: Difel, 2002.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
O debate contemporâneo em crítica social: margem alemã do Reno
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
As duas margens do Reno
Pensamento social francês
Assujeitamento
Subjetivação
PENSAMENTO SOCIAL ALEMÃO
ALIENAÇÃO
EMANCIPAÇÃO
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Teoria crítica da sociedade
Três gerações
Adorno e a dialética do esclarecimento
Habermas e a teoria da ação comunicativa
Honneth e teoria do reconhecimento
Instituto de Pesquisa Social, ou Escola de Frankfurt,
fundado em 1924, diretor atual: A. Honneth.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Acontecimentos fundamentais para a teoria crítica
Hiroshima, 6.8.1945; Nagasaki, 9.8.1945.
Auschwitz-Birkenau, 20.5.1940 a 27.1.1945.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Adorno e a teoria crítica clássica Fatalismo: melancolia e
conformismo diante da história.
Crítica (práxis) Análise (condições
objetivas): “sociologia das forças”
Intervenção Condições da Emancipação
Theodor Adorno (1903-1969, Alemanha)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Dialética da Aufklärung
Mana Mito Filosofia Ciência...
Desencantamento Encantamento Desencantamento Encantamento...
Ilustração (esclarecimento) Barbárie (e não emancipação)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Dialética negativa
Progresso (Cultura) Retrocesso (Barbárie)
Crítica como resistência (potencial de resistência): lógica da não-identidade (auto-definição pela relação com o que ele não é).
Contato com o outro não-idêntico, o diferenciado.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Trabalho social
Hegel: o sujeito é constituído pela experiência do objeto.
Trabalho social: experiência em que objetividade e subjetividade se sintetizam.
Trabalho: interação social e relação social com a natureza.
Marx: formação pelo trabalho (práxis).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Trabalho social
Trabalho formador e trabalho alienado.
Lukács: trabalho alienado e reificação.
Adorno: crise do vínculo entre trabalho e formação.
György Lukács
(1885-1971, Hungria), autor de História e
consciência de classe (1923).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Subjetividade
Marx e Freud jogam juntos.
Pulsões massificação nazifascista (reificação), sociedades consumistas (fetichismo).
Técnicas como fins em si (fetiches).
Karl Marx (1818-1883, Alemanha)
Sigmund Freud (1856-1939, Áustria)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Indústria cultural
Contra a “falsa cultura”, a favor da “cultura”.
Deformação da experiência pelo trabalho e pelo consumo.
Esclarecimento como semiformação.
Racionalidade da manipulação das massas.
Andy Wahrol e a Pop Art
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Capitalismo tardio
Ciência e tecnologias como forças produtivas: da sociedade industrial à sociedade do conhecimento.
Sociedade administrada: controle.
Capitalismo Auschwitz
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Psicanálise crítica
Traços da personalidade autoritária Caráter manipulador: fúria
organizativa, frieza (Realpolitik).
Perversidade (ausência de remorsos).
Narcisismo, orgulho Exibicionismo.
Consciência moral reificada.
Transformação da própria personalidade autoritária.
O caso da ditadura brasileira
Julgamento de Eichman, Tel Aviv, Israel, 1961.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Auschwitz hoje
Racionalização instrumental centralizada pela barbárie.
Distopia capitalista: capital sem trabalho vivo.
Prisão de Guantánamo, Cuba. Criada após os ataques de 11.09.2001. Não tem
amparo legal, nem é fiscalizada. Os presos, na maioria afegãos e iraquianos, não tem acesso a advogados,
nem direito a julgamento. Denúncias de torturas.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Habermas: esfera pública, ação comunicativa, democracia e direito Teórico interdisciplinar,
cuja reflexão transita pelas principais questões políticas, morais, científicas, culturais e filosóficas de nosso tempo.
Tema de toda a sua vida: a esfera pública, i.é, o espaço do trato comunicativo racional entre os sujeitos.
Jürgen Habermas (1929 - , Alemanha).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Mudança estrutural da esfera pública (1961) A esfera pública é a base do Estado
democrático de direito.
Tem a função de limitar o poder estatal por meio da crítica exercida publicamente em nome do interesse comum.
Caracteriza-se pela igualdade das vozes que a constituem e por de decisão do melhor do argumento.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Formação da esfera pública
Ocorre no séc. XVII, em cafés, salões e reuniões de associações literárias.
Ali, discussões estéticas se tornam debates econômicos e políticos.
Salão literário representado em pintura do início do séc. XIX.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
“Refeudalização” da esfera pública
No séc. XIX, surgem a
publicidade e a impressa de massa, movidas pelos interesses concorrenciais de grandes capitalistas.
No séc. XX, a comunicação de massa passa ter papel estratégico para os Estados totalitários.
O triunfo da vontade, de Leni Riefenstahl, Alemanha, 1935.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Transformação da esfera pública
Retomada de sua função crítica da esfera pública.
As forças aí atuantes precisam ser submetidas a fins públicos (direito).
Os conflitos de interesses privados precisam ser relativizados por um interesse público racionalmente reconhecível.
O fortalecimento da esfera pública possibilitará a construção de um interesse comum entre os povos (“paz perpétua”).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Giro linguístico
Influências: filosofia analítica da linguagem, hermenêutica e pragmatismo.
Reformulação da teoria crítica da sociedade nos termos de uma teoria da linguagem, a pragmática universal.
Teoria consensual da verdade Toda proposição contém uma fala sobre o mundo
(pretensão objetiva de verdade) com alguém (pretensão intersubjetiva de verdade).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
A pragmática universal
Teoria da linguagem em que se baseia a teoria (crítica) da sociedade de Habermas.
Suposição de base: a busca pelo entendimento mútuo (consenso) está implícita na comunicação linguística.
Ação: comportamento orientado por normas. Cada sujeito tem uma compreensão implícita das
normas que governam seus atos e fala. Pragmática universal = explicitação das normas
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Ação comunicativa
Teoria dos atos de fala.
Átomos do discurso.
Dimensão proposicional
Conteúdo da proposição (“sobre”).
Dimensão performativa
Intenção do ato (“com”).
Prioritária na determinação do significado.
Ludwig Wittgenstein (1889-1952, Áustria), filósofo da linguagem, autor do Tractatus
logico-philosophicus (1922) e das Investigações filosóficas (1953)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Triangulação comunicacional
Sujeito 1
Sujeito 2
Objeto
INTERSUBJETIVIDADE
OBJETIVIDADE
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Tipos de atos de fala
Constatativos (descrições, relatos, explicações) Relacionados ao nível cognitivo. Descrevem um estado de coisas no mundo objetivo. Seu critério de validade é a verdade.
Expressivos (desejos, esperanças) Relacionados às intenções. Exprimem experiências de um mundo subjetivo. Seu critério de validade é a veracidade.
Regulativos (desculpas, advertências, promessas) Relacionados às normas sociais e instituições. Servem para o estabelecimento de situações no mundo da vida
compartilhado. Seu critério de validade é a correção.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Pretensões de validade
Todo ato de fala exprime uma pretensão de validade.
Pressupostos pragmáticos universais Inteligibilidade (a proposição é compreensível).
Verdade (a proposição é verdadeira, i. é, o sujeito não está errado).
Correção (a proposição está de acordo com as normas sociais).
Veracidade (a proposição é veraz, i. é, o sujeito não está mentira).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Situação ideal de fala
Trata-se de um parâmetro ou ideia reguladora da esfera pública, demonstrado “contrafaticamente”.
A verdade resulta do consenso baseado na igualdade de oportunidades de... Acesso ao debate por meio de perguntas e respostas;
Tematização e crítica de opiniões prévias;
Expressão de vontades, sentimentos e intenções; e
Proposição de normas (ordens, recusas, permissões, proibições, etc.).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Teoria da ação comunicativa (1981)
Para além da racionalidade instrumental existe uma racionalidade comunicativa.
A sociedade se divide em duas esferas: o sistema e o mundo da vida.
Refundação da modernidade por meio de uma releitura da dialética da racionalização.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Razão Instrumental X Razão Comunicativa
Ação estratégica
Orientada pela eficácia, pelo sucesso
Objetiva
Coordenação de cálculos egocêntricos
Reificadora
Característica do sistema
Ação comunicativa
Orientada para o entendimento mútuo
Intersubjetiva
Solidariedade baseada no bem comum
Emancipatória
Característica do mundo da vida
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Mundo da Vida X Sistema
Dado não-problemático.
Produção simbólica.
A priori social constituído pelo entendimento linguístico intersubjetivo (consenso pressuposto)
Não é transcendental, nem empírico, mas “contrafático”.
Lógica e cronologicamente anterior ao sistema.
Construção racional e funcional.
Reprodução material .
Economia de mercado
Capital
Administração pública (burocracia)
Poder
Colonizalização do mundo da vida pelo sistema, através dos meios de controle do capital e do poder.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Direito e democracia: faticidade e validade (1992)
Habermas elabora uma filosofia do direito no quadro da teoria crítica da sociedade.
Função do direito: integração social.
Enquanto regulação das interações estratégicas, o direito é o única instrumento contra a colonização do mundo da vida pelo sistema.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Faticidade (questões de fato) e validade (questões de direito)
Abordagem empírico-normativa do direito
Filosofia do direito Reconstrução do direito, de
um ponto de vista racional, como comportamento normativo.
Sociologia jurídica Descrição do direito, de um
ponto de vista extra-jurídico, como realidade social.
Immanuel Kant (1724-1804, Alemanha)
Niklas Luhmann (1927-1998, Alemanha)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Direito e moral
São normas de ação distintas, mas complementares entre si.
O direito se distingue da moral por...
não se basear na vontade livre individual;
regular externamente as relações intersubjetivas;
ter poder coercitivo.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Direito positivo e direito natural
Uma ordem jurídica
(direito positivo) só pode ser legítima se não se contradiz princípios morais (direito natural).
Nas sociedades modernas, a moral pós-tradicional é somente uma forma de saber cultural, enquanto o direito tem obrigatoriedade institucional.
Parlamento Europeu. Habermas defende a elaboração de uma
constituição para a União Européia.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Princípios do Estado democrático de direito
Princípio formal
A legitimidade das leis depende de sua conformidade com um processo legislativo orientado pela racionalidade comunicativa.
Princípios materiais
Soberania popular
Ampla proteção dos direitos individuais
Legalidade da administração pública
Separação entre Estado e sociedade
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Honneth e a gramática moral dos conflitos sociais
Teoria do
reconhecimento
Fator constitutivo das relações morais intersubjetivas.
Aspecto pragmático implícito das relações intersubjetivas.
Mundo da vida conflitual (revolta).
Axel Honneth (1949 - , Alemanha),
desde 2001, diretor da Escola de Frankfurt, autor de Luta por
reconhecimento, 1992.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Déficit sociológico da teoria crítica
Funcionalismo marxista de Adorno e Horkheimer
A integração social e a regulação jurídica são meras funções da dominação capitalista.
Esquecimento do conflito social em Habermas
O conflito se restringe ao sistema, surgindo a abstração de um mundo da vida livre de poderes.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Reconstrução da noção de intersubjetividade
Reconhecimento como estrutura intersubjetiva Integração e conflito social em torno do
reconhecimento.
Mediação dialética entre subjetividade e intersubjetividade, indivíduo e comunidade, identidade e diferença.
Luta social por reconhecimento Dimensão irredutível da práxis dos grupos sociais.
Fator gerador de ações coletivas.
Visa um consenso moral.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Dimensões do reconhecimento
Amor Ligado à auto-confiança. Relação entre mãe e filho.
Direito Ligado ao auto-respeito. Relação entre sujeitos livres e iguais. Dimensão da resolução concreta dos conflitos entre as exigências
morais.
Solidariedade Ligada à auto-estima (visibilidade). Relação entre sujeitos políticos.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Gramática moral dos conflitos sociais
Suas formulações e transformações derivam das lutas sociais pelo reconhecimento.
Indignação moral articulada em uma linguagem comum pode se transformar em mobilização política.
Desrespeito Luta Transformação social
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Complementaridades
Adorno: dialética negativa como exercício de uma crítica auto-destruidora da razão instrumental.
Habermas: cultura da razão comunicativa para a construção da democracia.
Honneth: reconhecimento do papel exercido pelas lutas sociais no processo de emancipação.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Bibliografia recomendada
ADORNO, Theodor. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 2006.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre faticidade e validade. 2 v. São Paulo: Tempo Brasileiro, 1997.
_____. Agir comunicativo e razão destranscendentalizada. São Paulo: Tempo Brasileiro, 2002.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. Trad.L. Repa. São Paulo: 34, 2003.
NOBRE, Marcos. Curso livre de teoria crítica. São Paulo: Papirus, 2008.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
O debate contemporâneo em crítica social: margem francesa do Reno
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
As duas margens do Reno
PENSAMENTO SOCIAL FRANCÊS
ASSUJEITAMENTO
SUBJETIVAÇÃO
Pensamento social alemão
Alienação
Emancipação
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Filosofias da diferença
Crítica = desconstrução + experimentação
Foucault, a disciplina e o biopoder
Deleuze, as sociedades de controle e a resistência micropolítica
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Refundação da teoria do sujeito
“Dessubjetivação” O sujeito não é a essência do homem (Platão)
Dessubstancialização
O sujeito não é um a priori (Kant) Destranscendentalização
O sujeito é o produto (efeito) de um processo (“subjetivação” lato sensu).
Questão da produção da subjetividade
“Filosofias da diferença”
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Foucault: assujeitamento e subjetivação
Intervenção de Foucault na teoria do sujeito → 3 deslocamentos → 3 Eixos 1. Formação dos saberes: práticas discursivas
(arqueologia)
2. Relações de poder: estratégias racionais (genealogia) 3. Relação consigo: indivíduo como sujeito (ética)
(“Modifications”, L’usage des plasirs in: Histoire de la sexualité II,1984, pp. 12-13.)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Jogos de verdade
• Arqueogenealogia dos jogos de verdade
“Após o estudo dos jogos de verdade considerados entre si (...) e posteriormente ao estudo dos jogos de verdade em referência às relações de poder (...) estudar os jogos de verdade na relação de si para si e na constituição de si mesmo como sujeito (...) (‘história do homem de desejo’).”
(“Modifications”, L’usage des plasirs
in: Histoire de la sexualité II,1984, p. 11.)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Destranscendentalização
• Crítica ao sujeito-fundamento
“Em primeiro lugar, creio efetivamente que não há um sujeito soberano, fundador, uma forma universal de sujeito que se poderia encontrar em toda parte. Sou muito cético e hostil em relação a essa concepção do sujeito”.
(“Une esthétique de l’existence”, entrevista
in: Dits et écrits II, 1552.)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Assujeitamento e Subjetivação
Assujeitamento (assujetissement)
“Creio, ao contrário,
que o sujeito se constitui através de
de práticas de assujeitamento
[assujetissement] ...”
Subjetivação (subjectivation)
“... ou, de maneira mais autônoma, através de práticas de liberação
[libération], de liberdade (...) a partir de certo número de regras, estilos,
convenções, que encontramos no meio cultural.”
(“Une esthétique de l’existence”, entrevista, 1984 in: Dits et écrits II, 2001, p.
1552.)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Arqueologia, genealogia, ética
Formação dos saberes (arqueologia)
Assujeitamento
Relações de poder
(genealogia)
Subjetivação Relação consigo
(ética)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Assujeitamento
ASSUJEITAMENTO = OBJETIFICAÇÃO SUJEITO LIVRE (reificação)
“através dessa culpabilidade o louco se torna objeto de punição sempre oferecido a si mesmo e ao outro, e do reconhecimento dessa condição de objeto, da tomada de consciência de sua culpabilidade, o louco deve voltar à sua consciência de sujeito livre e responsável, e por conseguinte retornar à razão.”
(Histoire de la folie, 1961, p. 621)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Discipina
ASSUJEITAMENTO = OBJETIFICAÇÃO = DISCIPLINA
“a criança, o doente, o louco, o condenado se tornarão cada vez mais (...) segundo a tendência dos mecanismos de disciplina, o objeto de descrições individuais e de narrativas biográficas. Essa redução a termo das existências reais (...) funciona como procedimento de objetificação e de assujeitamento [assujetissement]”
(Surveiller et punir, 1975, p. 224)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
O panóptico: dispositivo de
vigilância total.
Disciplina
ASSUJEITAMENTO = INDIVIDUALIZAÇÃO = DISCIPLINA CORPO
“Todas as ciências, análises ou práticas de radical psi- tem seu lugar nessa virada histórica dos procedimentos de individualização”
“O indivíduo é (...) uma realidade fabricada por esta tecnologia específica de poder que chamamos de ‘disciplina’ (...) o poder produz; produz realidade, produz domínios de objetos e rituais de verdade. O indivíduo e o conhecimento que podemos ter dele derivam desta produção.”
(Surveiller et punir, 1975, p. 226-227.)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Governamentalidade
Sociedade disciplinar
Sociedade de controle
Razão de Estado
Razão de Direito
Razão governamental
(governamentalização) Nascimento
da Biopolítica
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Biopolítica
A população como núcleo central da biopolítica:
“Eu tinha pensado, diz Foucault, em lhes dar este ano um curso sobre a biopolítica. Procurarei lhes mostrar como todos os problemas que procuro identificar atualmente (...) têm como núcleo central (...) algo que se chama população. (...) é a partir daí que algo como a biopolítica poderá se formar.” (Nascimento da biopolítica, pp. 29-30)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Biopoder
ASSUJEITAMENTO = BIOPODER POPULAÇÃO (CONCEITO E MAPA) (massificação)
• Normalização: regulação de desvios
• Cinco formulações do biopoder: 1. Poder medical: higienização, natalidade, mortalidade, doenças. 2. Dispositivo da guerra racial: racismo de Estado e luta de classes. 3. Dispositivo de segurança: deixar-se governar como seguro contra
riscos pelo preço da liberdade (vigilância). 4. Governamentalidade liberal: empresariamento sociedade e
empreendedorismo de si; controle pela liberdade. 5. Dispositivo de sexualidade: homens e mulheres, jovens e velhos, pais
e filhos, educadores e alunos, padres e leigos, administração e população.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Dispositivos de saber-poder
Disciplina Biopoder
Razão de Estado
Razão de Direito
Razão governamental (governamentalização)
Estado liberal Estado neoliberal
Estado Soberano
Ciência (Economia Política)
Capitalismo Mercantilismo
Teologia Direito
Justo/Injusto?, Legítimo/Ilegítimo? Eficaz/Ineficaz?, Verdadeiro/Falso
Dispositivo
Saber
Poder
Regime
de
verdade
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Assujeitamento
• Dispositivo de saber-poder
– Dobradiça entre o eixo dos saberes e o eixo das relações de poder
– Transversalidade: medicina, biologia, psicologia, direito, moral, religião, política, geografia, estatística, economia, sociologia, pedagogia.
– “Máquina” de fazer sujeito e de fazer verdade.
• Arqueogenealogia Análise do dispositivo disciplinar e do dispositivo biopolítico.
Regimes
de verdade
Sujeitos
Saber Poder
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Boltanski e o novo espírito do capitalismo BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Ève. Le nouvel esprit du
capitalisme, 1999.
Objeto de análise: literatura sobre administração (management) dos anos 90.
Tese básica: desde o início do séc. XX, o capitalismo vem incorporando muitos aspectos da crítica dirigida a ele nos anos 60/70, como as reivindicações de mais liberdade e de mais igualdade.
Daí a formação de um novo “ethos empresarial” que impõe a flexibilidade.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Crítica social e crítica estética Crítica social = denúncia da exploração +
reivindicação de mais justiça e igualdade
Crítica estética = denúncia do autoritarismo e da democracia + reivindicação de autonomia e criatividade
Maio 68 = crítica estética (estudantes) + crítica social (operários)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Crítica social e crítica estética Reivindicação de liberação em relação às
instituições: tradicionais, família, escola, Estado, Igreja, empresa.
O capitalismo “endogeneizou” essa reivindicação e conseguiu substituir o controle pelo autocontrole.
Com isso, o capitalismo pôde sair da crise em que se encontrava nos anos 60/70.
Novo espírito do capitalismo = forma “libertária” de fazer lucro (capitalismo de esquerda).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Capitalismo conexionista
O novo espírito do capitalismo O objetivo permanece o mesmo: o lucro. O modo de atingir esse objetivo é novo: a rede.
Lógica do rizoma Principal referência: Mil platôs (1980), de Deleuze e Guattari. Versão filosófica dos movimentos políticos nascidos no maio de
68, que prezavam pela flexibilidade e pela conectividade. Lógica pensada como crítica radical do capitalismo.
Capitalismo rizomático: incorporação da lógica do rizoma pelo modo de produção capitalista neoliberal.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Controle e liberdade
Neomanagement: como controlar o incontrolável, isto é, a criatividade, a autonomia, a liberdade?
Através de auto-controle (auto-gestão).
Através da interpelação do cliente/consumidor.
Transferência da responsabilidade e dos custos do controle para os empregados e para os clientes.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Controle e liberdade
Liberação generalizada Estímulos à mobilidade, abertura, flexibilidade,
pluricompetência, criatividade, conectividade etc.
Tudo isso que servia de crítica ao capitalismo passa agora a ser valorizado pelo próprio capitalismo.
Reviravolta do capitalismo rizomático: Tudo o que ficava de fora do ciclo produtivo
(criatividade, afetividade, interioridade) se torna matéria-prima do próprio capital.
Trata-se de uma liberação do capital.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Projetos
Trata-se de utilizar as redes para engendrar projetos.
Característica básica do projeto: transitoriedade.
A vida passa a ser concebida como uma sucessão de projetos.
Como complementos do capital econômico surgem o capital social (conexões) e o capital de informação (bancos de dados).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Projetos
As organizações bem sucedidas são híbridos de mercado, empresa e sociedade.
O funcionamento da empresa neoliberal mobiliza grande quantidade de trabalho intelectual e afetivo fornecido gratuitamente pelos trabalhadores.
O modo de operar das redes autogeridas é cada vez mais próximo daquele dos artistas e intelectuais.
Conexão/Desconexão = Inclusão/Exclusão
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Deleuze e a resistência micropolítica
“Tudo é político” (cf. Anti-Édipo).
Ontologia das forças (liberdade dos desejos).
Territorialização e desterritorialização.
Poder coimplica resistência.
Potência.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Política dos acontecimentos
Produção de acontecimentos invenção do possível (novo ).
Produção dos devires minoritários, sem modelo, nômades, singulares afirmação da diferença.
Crítica ao capitalismo, ao Estado, à democracia negação da diferença.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Ontologia da diferença
Diferença “em si” ≠ diferença “com relação a...” ou “diferença em...” (diferenças identitárias)
Diferença = singularidade, multiplicidade (e não da unidade, da identidade)
Diferença = movimento (ruptura), acontecimento, novidade
Acontecimentos e devires (processos “históricos”) fenômenos de produção Descontinuidade (anti-substancialismo)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Ontologia da diferença
Tem mais a ver com a geografia (mapeamentos, cartografias)...
... do que com a história (cronologia).
Linhas de articulação (encontros, interseções) e de fuga. Planos. Velocidades.
Univocidade do Ser: uma só voz que se multiplica e se diferencia em várias modulações, produções imanentes (equivocidade dos entes).
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Empirismo transcendental
Experimentação + negação de qualquer forma de unidade fundamental subjetiva-objetiva
Transcendental = plano de imanência (para além dos duplos sujeito-objeto, essência-aparência); condições de produção (pragmática).
Vida: imanência, impessoalidade, acontecimento
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
A ética além do bem e do mal
≠ de moral (= disciplina e controle).
Impessoal e singular.
Estilística: vida como experimentação estética.
Condições de produção (pragmáticas): experimentação normativa.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Resistência
• Desconstrução: para além do fatalismo niilismo ativo produção
• Prática crítica = análise + intervenção (ação)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Experimentação = Invenção Subjetivação
Subjetivação
SUBJETIVAÇÃO = NOVA REFLEXÃO NA POLÍTICA E NOS PRAZERES ESTILÍSTICA
“uma maneira nova de refletir a si mesmo na relação (...) com os outros, os eventos, as atividades (...) políticas, e outra maneira de se considerar como sujeito de seus prazeres. (...) uma nova estilística da existência.”
(Le souci de soi in: Histoire de la sexualité III, 1984, p. 97.)
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Insuficiências das filosofias da diferença
• Esquecimento do “nós” (pluralidades): práticas de si e singularização.
• Bloqueio como estratégia: maio 68.
• Espontaneismo: a “efervecência biopolítica da multidão”.
• Esquecimento da história e da prática da experimentação produção de práticas
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Pedagogia experimental
CRÍTICA
Análise Intervenção
Aprendizagem
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Assujeitamento Subjetivação Resistência
Experimentação micropolítica
• Intervenção micropolítica: “re-agenciamentos” experimentais coletivos.
• Aprendizagem em rede por “contaminação”.
• Experimentação micro-institucional (organização).
• Ações de formação crítica in loco.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Bibliografia recomendada
BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Ève. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. 5 v. São Paulo: 34, 1995-1997.
DELEUZE, Gilles. Conversações. 2.ed. São Paulo: 34, 2010.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 26.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2008.
_____. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
_____. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 36.ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
PELBART, Peter P. Vida capital: ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Bibliografia recomendada sobre Maquiavel e governamentalidade
ARANHA, Maria. Maquiavel: a lógica das forças. 9.ed. São Paulo: Moderna, 2006.
BIGNOTO, Newton. Maquiavel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003 (Col. Passo-a-passo).
FOUCAULT, Michel. A governamentalidade. In: Microfísica do poder. 26.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2008.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Com comentários de Napoleão. São Paulo: Jardim dos Livros, 2007.
Thiago Mota (thmotafs@gmail.com)
Recommended