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Gestão da arborização urbana
Eng. Agro. Ms. Cleide de Oliveira
Maio/2004
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Ìndice
Gestão para a Sustentabilidade Ambiental...................................................................03
Um pouco de história....................................................................................................06
Planejamento.................................................................................................................08
Legislação.....................................................................................................................11
Importância ecológica da arborização urbana..............................................................13
Problemas com a arborização urbana e soluções técnicas............................................16
Características das árvores destinadas à arborização urbana........................................24
Considerações finais e sugestões................................................................................. 26
Bibliografia...................................................................................................................28
Gestão da arborização urbana
Gestaão da Arborização Urbana Eng, Agro. Ms. Cleide de Oliveira Maio/2004
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Cleide de Oliveira
Eng. Agrônomo Ms especialista em Desenvolvimento Sustentável e
Recuperação de áreas degradadas.
Gestão para a Sustentabilidade Ambiental
Ao gestor cabe, fundamentalmente, tomar decisões em face de uma dada
escassez e / ou fins alternativos.
Os requisitos básicos de um sistema de gestão ambiental se alicerçam na
existência de uma política ambiental, no planejamento, na implementação e operação
do sistema, na verificação e na implementação de ações corretivas e, mais
importante, numa permanente análise crítica pelo(s) tomador (es) de decisão.
Requer uma percepção completa e responsável da atividade, desde sua
concepção, incluindo os fatores políticos, econômicos, ambientais, sociais e culturais
envolvidos para que o gestor não se descole da realidade e possa contribuir para um
desenvolvimento cada vez mais sustentável.
O desejável é uma planificação urbana que inclua os estudos e propostas para
toda a malha verde de forma multifuncional e equilibrada baseada na pretensão de se
alcançar diversos objetivos e funções como fruto do consenso entre técnicos e
cidadãos.
A garantia da participação popular de forma continuada, desde a definição
dos usos das áreas verdes, técnicas de manutenção e desenhos de plantios constituem
a base para o sucesso da implantação destas áreas.
A definição de objetivos e metas baseada em estudos diagnósticos, funções
da malha verde e de cada um dos espaços que a complementam contribuem para a
implantação da arborização urbana com sólidas bases, desenhada e conservada de
acordo com os princípios da sustentabilidade.
Como fases da gestão tem-se:
1. Premissas - quais as hipóteses ou justificativas da questão abordada;
2. Diagnóstico – inventário da vegetação e demais espaços com a devida
classificação inseridos em um contexto histórico e suas consequencias para o quadro
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atual e futuro com relação aos cinco aspectos do desenvolvimento sustentávelou seja:
aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos e econômicos;
2.1. Ambito da gestão – devem ser consideradas as áreas arborizadas e
aquelas obeto de planos de arborização não executados assim como
áreas destinadas a fins complementares à vegetação (esportivas,
recreacionais);
2.2. Tipologia dos diversos espaços: espaços naturais, parques e jardins,
corredores vegetados, espaços complementares, espaços verdes
privados;
2.3. Valoração e análise da Malha verde: devem ser abordadas questões
estruturais e as reais possibilidades de implantação da vegetação de
forma articulada sem isolamento, fatores ligados aos usos e funções de
diferentes espaços, o potencial educativo;
2.4. Reflexões, problemas e conflitos sobre a existencia de áreas verdes no
contexto urbano: conflitos interespecíficos; conflitos com usos
desportivos; conflitos com usos para animais domésticos; adequação às
fachadas dos edifícios, ao tráfego local, às infraestruturas urbanas, ao
desenvolvimento urbanístico; autosutentabilidade; carga humana
permitida; participação dos cidadãos; vegetação e meio ambiente
urbano; extensão e distribuição da malha verde; qualidade ambiental;
dentre outros definidos localmente.
3. Concepção de projeto - definir claramente os objetivos gerais e
específicos com as metas correspondentes;
4. Análise de fortalezas e debilidades da malha verde proposta – devem
ser analisados os aspectos relacionados a: legislação, meio abiótico, meio biótico,
flora e fauna urbana, urbanismo, usos e dotações orçamentárias, contaminação
atmosférica, conservação dos espaços, conservação do solo, sustentabilidade,
educação ambiental e hábitos de conduta, relações interpessoais e aspectos
sociológicos;
5. Indicadores de sustentabilidade - podem ser desenvolvidos
indicadores próprios ou utilizados os já citados na literatura, devem ser de fácil
compreensão e obtenção;
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6. Avaliação da eficácia e retroalimentação – análise de resultados e
proposição de medidas corretivas e promocionais (preventivas de preferência). Além
dos já citados, alguns critérios de sustentabilidade para áreas verdes devem ser
observados como:
6.1. Ajuste da proposta aos usos, funções e objetivos definidos e sua
adaptação ao entorno;
6.2. Resistência a processos de vandalismo;
6.3. Características das espécies e sua correta adaptabilidade ao local
( ecológica e operacional);
6.4. Minimização da dependência de irrigação;
6.5. Áreas verdes como geradoras de novos hábitos ecocompatíveis;
6.6. Criação de estruturas estáveis de participação popular.
Um pouco de história
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A cidade brasileira tem apenas 400 anos. Até agora, os estudos sobre a forma
da cidade não são suficientes para se entender as suas novas expressões e silhuetas,
ou mesmo a importância dos espaços públicos na formação e no exercício da
cidadania.
No entanto, a importância da rua, como qualquer outro aspecto cultural,
indica um processo de adaptação da cultura ao entorno. O declínio de nossas ruas só
pode ser compreensível no contexto das configurações tecnológicas, sociológicas e
políticas que mudam a nossa sociedade.
Ao considerar-se historicamente estas mudanças observa-se que em 1950 a
rua, praças e terrenos eram palcos para brincadeiras diárias, em 1970 os espaços
públicos eram vividos nos finais de semana sob vigilância dos adultos, com restrição
das brincadeiras aos espaços privados da casa e do edifício.
Em 1980 a escola se torna o único território público, com normas e
regulamentos. Cada vez mais os shoppings centers são construídos e deslocam o
espaço de congraçamento e de contato para o espaço de consumo.
Enquanto as pessoas fogem das ruas, estas se tornam cada vez mais apenas
vias de passagem e as praças se deterioram e começam a aparecer outras formas de
violência, como espaços degradados por poluição e falta de infraestutura com
influência direta na redução da qualidade de vida.
Em 1940 cerca de 70% da população brasileira vivia no campo. Atualmente,
estima-se que mais de 90% vive em cidades. A crise atual é sem dúvida uma crise
urbana, pois as perspectivas são de que em 2020 mais da metade da população do
mundo em desenvolvimento sejam moradores de cidades. Isto acarreta uma série de
problemas ambientais tornando mais difícil a “sobrevivência” nestes espaços.
As paisagens urbanas tornam-se cada vez mais padronizadas. Não havendo
mais lugar para a diversidade. Os shoppings centers ao lado de barracos refletem as
desigualdades e contradições da lógica que produz a cidade.
Até 1700 a árvore era vista apenas como integrante das florestas que
circundavam as cidades.
É a partir de 1800 em Londres e Paris, com seus squares e boulevars, que as
árvores foram introduzidas na malha urbana.
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No Brasil a arborização de praças e ruas é relativamente recente, pouco mais
de 120 anos. A primeira tentativa aconteceu nas ruas do RJ, com os preparativos do
casamento de D.Pedro. Na época, os encarregados tiveram grandes dificuldades em
arborizar as ruas pois o povo acreditava que a sombra das árvores era responsável
pela maleita, febre amarela, sarampo e até pela sarna dos escravos. Nesta época,
começavam os plantios de sibipirunas, paus -ferro, cássias, paineiras, flamboyants,
jacarandás...
Os séculos XVIII e XIX assinalam no Rio de Janeiro marcos fundamentais
do paisagismo como na Rua do Ouvidor e Jardim Botânico. Em São Paulo, são
destaques a Avenida Paulista e o Parque da Cantareira. Em Porto Alegre foram
intensificados os trabalhos a partir da década de 30, com a identificação dos bairros
pelo predomínio de uma espécie arbórea.
No século XX a expansão urbana desordenada alterou a fisionomia das
cidades, este período foi marcado por perdas de um patrimônio arquitetônico e
vegetal, da identidade de certos locais com a consequente ruptura da relação homem
- natureza.
Na atualidade é necessário que a noção de qualidade de vida aponte para
alternativas adequadas às diversas situações urbanas.
Reconhecendo-se que a qualidade de vida não é somente um índice
construído a partir do cruzamento de elementos do quadro físico, econômico e
humano (longevidade, conhecimento e renda), mas guarda subjetividades que
superam a permanente necessidade de interação homem - natureza, é na cidade que
mais se percebe a adoção de gestões corretivas, relegando completamente a
possibilidade de prioridade às gestões preventivas.
A capacidade dos gestores em promover ações coletivas (parceiras) capazes
de garantir a consolidação dos desejos humanos refletidos no espaço da cidade,
valorizar seus elementos diferenciadores em elementos de prosperidade, resultará no
resgate da identidade particular de cada lugar.
Desta forma, o papel da arborização das vias públicas assume grande
importância, como um dos fatores de melhoria da qualidade de vida das populações.
Planejamento da arborização urbana
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A vegetação urbana é composta pelas áreas verdes públicas e particulares e
pela arborização de ruas e avenidas. Pode ser entendida também como o conjunto de
terras públicas e privadas com vegetação predominantemente arbórea ou em estado
natural. O plantio e permanência de árvores em ruas, avenidas, parques e praças
públicas nos sistemas urbanos, deve constituir-se prática fundamental no resgate da
importância e da presença de tais espécies.
O verde urbano é fundamental para atenuar os problemas ambientais e sociais
que o habitante da cidade enfrenta. Sua importância envolve aspectos paisagísticos e
psicológicos, tendo papel de destaque nos centros urbanizados no que diz respeito à
qualidade ambiental.
Quanto à função da arborização urbana, pode - se considerar as áreas verdes
como subsistemas dos espaços abertos e classificados como: de preservação; de
contemplação; para a melhoria das condições ambientais; recreação e lazer; uso
institucional; uso particular e circulação.
Portanto, pode-se entender por área verde urbana, um conjunto de três setores
distintos:
1. Áreas verdes públicas;
2. Áreas verdes privadas;
3. Arborização de ruas e avenidas.
No entanto, a simples existência dos três setores ou de subsistemas não
caracteriza um sistema de arborização urbana. Deve existir um planejamento capaz
de organizar os setores e normatizar seu uso e à partir do destino da muda planejar a
produção do viveiro considerando para tanto as reposições necessárias, o tempo de
vida das árvores (aproximadamente 30 anos), assim como o período para a
autonomia das plantas ao local de aproximadamente três anos.
Assim sendo, todas as áreas verdes urbanas precisam ser inventariadas e
planejadas com especial atenção com relação aos aspectos estéticos e funcionais,
para que dessa forma atendam as necessidades da população e viabilizem os fins a
que se propõem.
A paisagem é a expressão visual do meio onde se insere e vive o homem.
Assim, planejar a paisagem em sentido amplo significa planejar o uso e ocupação da
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terra, e em sentido restrito pode significar o planejamento de um jardim ou de uma
praça. A existência de espaços verdes ajuda caracterizar a paisagem das ruas, praças,
parques, contribuindo para dar noção de espaço ao ser humano e realça o ambiente
físico da cidade. As árvores, através da sua diversidade de formas, cores e aromas
identificam os locais e qualificam os espaços. Conceber uma cidade sem vegetação é
negar sensações, sentimentos e recordações.
Muitos autores comentam que a existência de amplos espaços arborizados
pode desempenhar um papel vital para o bem-estar das populações dos centros
urbanos. A sua manutenção tem, entre outras finalidades, o objetivo de quebrar o
gelo, a monotonia e a pressão causada pelo corre-corre da vida. Desta forma a
vegetação, através de suas funções ecológicas, econômicas e sociais pode
desempenhar um importante papel na melhoria da qualidade de vida das populações
urbanas.
Embora quase todas as cidades brasileiras tenham áreas verdes, poucas são as
que têm estes espaços organizados de modo que não sejam apenas mais uma coleção
avulsa de espaços abertos ao ar livre (durante a década de 90, apenas 4% das cidades
de São Paulo tinham um plano de arborização).
Como o espaço urbano apresenta finalidades tão diversas é necessário um
profundo e adequado processo de planejamento que tenha bases técnico - científicas.
Exemplares isolados e disformes não são percebidos, ao passo que, conjuntos
arbóreos imprimem um caráter plástico à paisagem e um conforto ambiental. O que
importa não é a quantidade, mas a forma, qualidade e distribuição destes espaços
verdes.
O meio ambiente urbano deve ser organizado de tal forma que assegure ao
povo uma sadia qualidade de vida. A questão ambiental (re) coloca em destaque
contradições da produção social do espaço e das formas de apropriação da natureza,
assim a questão ambiental deve ser entendida como o produto da intervenção da
sociedade sobre a natureza, envolvendo não apenas problemas relacionados à
natureza, mas à ação social.
Em face do exposto, clara está a importância da participação da população
nas decisões quanto à arborização urbana, pois os cuidados com as árvores plantadas
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na frente de suas casas serão decorrentes da importância que esta população atribui
às árvores.
A falta de técnicos específicos na área aliada à falta de informações e
pesquisa tem gerado o insucesso de alguns empreendimentos e receio de novas
investidas. A arborização não pode seguir padrões rígidos pré-estabelecidos. Deve
ser proposta e implantada para que seja parte significativa da paisagem cultural,
criando uma identidade e formando a imagem do local.
Legislação
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A nível nacional, a lei 4771/65 demonstra preocupações com as áreas verdes
atribuindo ao município o dever de zelar pelas mesmas de acordo com o art 2º #
único:
“No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos
perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-à o disposto nos
respectivos planos diretores e leis de uso do solo respeitados os princípios e limites
que se refere este artigo”.
Mas foi a partir da década de 70 que surgiu a preocupação em criar uma
legislação específica para proteger as áreas verdes nas cidades, quando as mesmas
juntamente com seus habitantes passaram a ser consideradas parte biológica
integrante dos ecossistemas urbanos.
Por se tratar de uma atividade de ordem pública imprescindível ao bem estar
da população, nos termos dos art.30, VII e 183 da Constituição Federal cabe ao poder
público municipal em sua política de desenvolvimento urbano, entre outras
atribuições, criar, preservar e proteger as áreas verdes da cidade, mediante leis
específicas, bem como regularizar o sistema de arborização.
Para que seja implementado um sistema municipal que dê conta de toda a
demanda de serviços voltados à arborização urbana, é necessário considerar a
necessidade de uma legislação municipal específica. Hely Lopes Meirelles diz que
entre as atribuições urbanísticas estão as composições estéticas e paisagísticas das
cidades, nas quais se inclui perfeitamente a arborização.
Em termos de direito urbanístico, o art. 22 da Lei 6766/79 - Lei de
parcelamento do solo - impõe a existência de praças e espaços livres para o registro
de parcelamento a constituição e integração ao domínio público das vias de
comunicação. Pelo art.23 da citada lei, os espaços livres, inseridas as áreas verdes,
passam a integrar o domínio público do município e em muitos deles as leis de
parcelamento do solo determinam que nos projetos de loteamento sejam destinados
percentuais do imóvel a áreas verdes.
Além disso, a legislação urbanística municipal pode e deve incentivar a
população a conservar as áreas verdes em suas propriedades, assim como incentivar a
criação de novas áreas, possibilitando inclusive desconto de IPTU ao proprietário
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que constituir ou mantiver áreas verdes no seu imóvel, como ocorrem em algumas
cidades. A seguir alguns exemplos de legislação voltada à arborização urbana:
Cidade Características da legislação existente
Curitiba
(Paraná)
Proteção e conservação de vegetação de porte arbóreo; concede
estímulos á preservação e proteção de áreas florestadas ;
Comissão de áreas verdes ; plano de arborização urbana; obriga o
plantio de árvores em loteamentos; obrigatoriedade de plantio de
arvores para a emissão de certificados de conclusão da obra...
Distrito
Federal
Geral normatizadora. Pode declarar imunidade de corte para
espécies de relevante interesse científico e cultural. Remete a
cada região administrativa a regularização do uso do solo.
Canoinhas
(Santa
Catarina)
Objetivos amplos de desenvolvimento sustentável; promoção da
produção de mudas; realização de inventário periódico; estímulo
a estudos e pesquisas ligadas a arborização urbana; define o
número mínimo de espécies a serem implantadas; prevê o corte
em determinados casos; a inadequação de espécies que
atrapalhem letreiros ou placas de estabelecimentos comerciais
não justifica o seu corte; prevê multas; dá preferência ao uso de
espécies nativas da região quando em praças e jardins públicos.
Ribeirão
Preto
(São Paulo)
Define o que é arvore = vegetal com DAP >5 cm à altura de
1,3m; área verde é protegida para assegurar a qualidade de vida;
credencia terceiros para a poda, mediante treinamentos; define os
casos em que a supressão pode ser autorizada; obriga a
compatibilização da infra-estrutura urbana a ser implantada com
a arborização existente.
São Paulo
(São Paulo)
Arvores com mais de 5 cm de DAP em local público ou privado é
considerada bem de interesse comum; Há incentivos fiscais
(redução de IPTU) para grandes áreas revestidas de vegetação
considerada APP; há arvores imunes ao corte, por sua
localização, raridade, antiguidade, interesse histórico,
paisagístico ou ainda por ser porta -semente.
Importância ecológica da arborização urbana
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As árvores existentes ao longo das vias públicas, apesar de estarem dispostas
de forma linear ou paralela, constituem muitas vezes uma “massa verde contínua”
propiciando praticamente os mesmo efeitos das praças e parques do ponto de vista
ambiental. Outra função importante é seu préstimo como corredor ecológico,
integrando as áreas livres vegetadas da cidade, praças e parques.
Por se constituírem em muitos casos em redutos de espécies da fauna e flora
local, as árvores e áreas verdes urbanas tornam-se espaços territoriais
importantíssimos em termos conservacionistas, o que aumenta ainda mais sua
importância para a coletividade.
Além disso, este tipo de arborização contribui para o equilíbrio ambiental
entre as áreas construídas e o ambiente natural alterado.
Dentre os benefícios ambientais da arborização de vias públicas destacam-se:
1. Ação purificadora do ar
♣ Captação e / ou retenção de material particulado
Os poluentes são retidos por filtragem efetiva: adsorção, absorção e
deposição sendo influenciado por características morfológicas das folhas, grau de
fechamento das copas o que permite maior ou menor circulação de ar, tipo e
concentração de poluentes e condições meteorológicas.
♣ Remoção de gases tóxicos
Adsorção de gases quando estes se encontram retidos juntamente com o
material particulado. Em casos de gases nocivos para as plantas são adsorvidos
apenas em doses sub letais e permanecerão inócuos no metabolismo oxidativo das
plantas.
♣ Reciclagem de gases através de mecanismos fotossintéticos
A absorção de CO2 pelos tecidos clorofilados em presença de luz com a
assimilação o carbono é necessária para a síntese de massas orgânicas que compõem
os seres vivos. Neste processo a água também é absorvida e se transforma
quimicamente com desprendimento simultâneo de oxigênio.
♣ Melhoria da qualidade do ar
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As partes aéreas das árvores retêm até 70% da poeira em suspensão e mesmo
desfolhadas no inverno mantém até 60% de sua eficiência, o que contribui para
redução de particulados prejudiciais à respiração.
2. Redução de níveis de ruído
Através da função de superfície absorvem, refratam, e refletem as ondas
sonoras. A eficiência desta redução depende de alguns aspectos como: nível de ruído,
topografia, característica da espécie, forma e arranjo das plantas, superfície foliar,
freqüência do som, posição da vegetação em relação à fonte emissora, estação do
ano. Densas barreiras vegetais conseguem uma redução apreciável nos níveis
sonoros.
3. Equilíbrio ambiental
O efeito barreira bloqueia, desvia e direciona o fluxo de ar e por
conseqüência a velocidade do vento, podendo abrandar a sua intensidade. O vento
moderado sob a vegetação reduz as diferenças de temperatura e umidade relativa do
ar entre as áreas sombreadas e ensolaradas, sendo o conjuntos arbóreos responsáveis
por este equilíbrio térmico.
A reflexão da radiação solar depende das características físicas e
morfológicas das plantas. A vegetação pode interceptar tanto a radiação direta como
a difusa, sendo que 10 a 25% da radiação interceptada é refletida de volta, o restante
ou é absorvido pelo vegetal para transpiração e fotossíntese ou se transforma em
calor. A conformação da planta, volume, cor e espessura das folhas são responsáveis
pela radiação transmitida, enquanto a absorção da radiação solar é devida à
pigmentação das folhas. Nos estados do sul do Brasil as espécies decíduas são as
mais indicadas, pois sombreiam no verão e deixam passar o calor do sol no inverno.
A substituição de áreas verdes por edificações ou pavimentos aumenta a taxa
de impermeabilização do solo reduzindo a quantidade de água absorvida pelo
mesmo. Para propiciar o resfriamento evaporativo e aumentar os níveis de umidade
do ar são instaladas fontes de água, ou densas massas de áreas vegetadas. A
vegetação proporciona índices mais altos de umidade relativa do ar devido ao
processo de evapotranspiração que ocorre mais intensamente no verão quando as
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árvores encontram-se com folhagem. Desta forma com a umidade presente no solo as
árvores funcionam como verdadeiras bombas hidráulicas. Uma árvore isolada pode
transpirar em média, 400 litros de água por dia, produzindo um efeito equivalente a
cinco condicionadores de ar com capacidade de 2.500 kcal cada, funcionando 20
horas por dia.
4. Proteção da avifauna
A vegetação arbórea ao longo da malha urbana contribui para o equilíbrio
biológico. Quando utilizadas, as espécies frutíferas nativas conferem abrigo e
alimentação e propiciam condições de sobrevivência da avifauna.
5. Contribuição para o conforto lumnico
A árvore intercepta a luz refletida pelos prédios, pavimentos e a luz direta
interpondo -se como um elemento entre estas fontes e a pessoa, o que proporciona
conforto visual e proteção.
6. Conforto ambiental
A dispersão de odores promovida pelo movimento das folhas assim como a
disponibilidade de sombreamento, além da cor verde que equilibra as emoções e
sugere repouso, proporcionam bem estar físico. Ao caminhar sob as árvores, o desejo
do “contato com o verde” diz respeito à satisfação psicológica do ser humano,
traduzindo - se no elo entre o homem urbano e a natureza.
Problemas com a arborização urbana e soluções técnicas
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1. Definição das espécies
As espécies florestais geralmente são definidas de forma centralizada, apenas
pelo executor, para efeitos a curto prazo. O planejamento da arborização urbana a
curto, médio e longo prazos contribuirá para a escolha de espécies mais adequadas
às diversas finalidades almejadas pelo gestor e pela população.
2. Escolha da muda
Muitas falhas são cometidas durante a escolha das mudas que serão
implantadas em locais incompatíveis com suas características. Esta situação poderá
acarretar a depredação e a morte da muda comprometendo a efetiva implantação da
arborização urbana. Para que isto seja minimizado devem ser considerados os
aspectos da região urbana e aqueles próprios da rua, sendo que as melhores mudas
serão aquelas que apresentarem caule único sem ramificações laterais onde devem
inserir-se, no ápice, de 3 a 5 ramos ou esporões.
3. Rustificação da muda
Entende-se por rustificação o processo de adaptação da muda às condições
semelhantes aquelas que serão encontradas no local de plantio e deverá ser feita no
viveiro. A implantação da muda sem a devida rustificação atrazará o
desenvolvimento podendo sofrer injúrias pela baixa resistência natural contra as
adversidades do clima no local definitivo.
4. Estética e fitossanidade
A alta diversidade de espécies pode não ser estético e ser de condução difícil
devido à especificidade de cada vegetal. O ideal é se trabalhar com a mesma espécie
por via ou alternância entre as laterais e canteiro central.
5. Espaçamento de plantio
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Quando o espaçamento entre as mudas for incorreto acarretará problemas
futuros ao desenvolvimento da copa do vegetal bem como com a visibilidade e
transito de veículos e pedestres.
O espaçamento é determinado de acordo com a largura das vias e das
calçadas. Em canteiros centrais de 3 m de largura poderão ser colocadas duas linhas
de árvores em zigue -zague com espaçamento de acordo com a largura da copa.
6. Largura da via pública
Problemas de desenvolvimento das árvores sempre ocorrerão em vias
com menos de 16 metros de largura, com prédios sem recuo uniforme. Estas
situações devem ser adornadas com plantas não arborescentes. O melhor lugar é no
centro da via pública e não nas calçadas, sendo que ruas comerciais não devem ser
arborizadas.
Largura da rua (do leito) Espaçamento e Espécies
> 8 m com passeios >3 metros,
prédios com recuo, sem fiação aérea
8 a 12 metros – porte alto e médio
Canteiro central Massa verde sem ultrapassar os
limites horizontais
< 8 m com passeios < 3 m 5 a 8 m - porte baixo ou arvoretas
Vias sem recuos e em áreas comerciais Arborização contra indicada
7. Localização
Incompatibilidades com a infra-estrutura urbana podem causar prejuízos aos
homens e às plantas. Deve ser deixado o recuo mínimo de 5,00 metros dos postes e
esquinas. Para encanamentos e redes tubulares além de garagens e portões
residenciais o afastamento deve ser de 1 a 2 m. Independente da largura da via o
recuo mínimo da cova até a face externa da guia deve ser de no mínimo 0,5 m.
8. Época de plantio
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O início das chuvas é a época ideal para o plantio o que varia de região para
região. A falta de irrigação nos primeiros dias após o plantio poderá afetar o
desenvolvimento do vegetal e a este fator deve se aliar a altura das mudas aptas para
o plantio que não deverá ser menor que 1,8m de altura. A muda deve ter sua
quantidade de folhas reduzida à metade de sua quantidade original, para evitar perda
de água por transpiração.
9. Condições do solo
A arborização geralmente é feita após o termino das obras civis. O solo
nestes locais geralmente apresenta aterro com entulhos, além da compactação
ocorrida durante as obras, o que dificulta o desenvolvimento das raízes devido à
menor infiltração de água e menor circulação de água e ar pela perda da porosidade.
Há necessidade da troca ou melhoria do solo destes locais por uma mistura de terra e
matéria orgânica (20%).
10. Tamanho das covas
Um erro geralmente observado é o dimensionamento da cova em função do
material empregado para revestimento. Peças cerâmicas ou pétreas de 20 ou 30 cm
condicionam covas de iguais dimensões, dificultando o desenvolvimento da planta e
futuramente podendo danificar o piso.
A cova deve possibilitar a colocação do torrão, a adição do substrato e o
pleno desenvolvimento do sistema radicular. As covas devem ser 60 cm mais largas
e 15 cm mais profundas que o torrão, o colo da muda deve permanecer ao nível do
solo, formando-se bordas mais elevadas, que servirão como bacia de captação de
água. Fig. 1.
30 cm 30 cm
Fig. 1 – Cova de plantio
11. Área livre
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15 cm
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É o espaço livre de pavimento que permite a infiltração da água e de
nutrientes. Covas mal dimensionadas podem ser observadas trincas do piso e a
aparência pouco saudável da planta. O espaço livre deve ter a área de 1 a 4m2.
12. Tutoramento
Os tutores são ripas de madeira ou outros materiais responsáveis por manter a
planta ereta e com boa fixação quando sujeitas a ventos e danos mecânicos. Quando
tutoradas as plantas apresentam maior crescimento em altura e maior resistência aos
ventos. O uso incorreto do tutor pode acarretar menor crescimento do sistema
radicular, desenvolvimento do xilema irregular ao redor do tronco, estrangulamento
do tronco por amarrilho, exemplares tortuosos, retirada de tutores por vandalismos,
tutores curtos. O amarrilho deve ser de tiras de borracha ou sisal e colocado em
forma de oito deitado. O uso de grades protetoras ou arame farpado podem causar
acidentes aos pedestres e aprisionar a árvore, afetando seu desenvolvimento.
13. Poluentes do ar
Os poluentes do ar alteram processos físicos e químicos das plantas. E sua
intensidade varia de acordo com os teores e combinações dos poluentes bem como
com a idade e grau de suscetibilidade da espécie. Pode ocorrer redução de trocas
gasosas devida à camada de pó, interferência nos mecanismos de abertura e
fechamento dos estômatos, diminuição da vitalidade, suscetibilidade a pragas e
doenças decorrentes.
14. Composição arbórea
Como na maioria dos casos a arborização urbana não faz parte das
prioridades municipais, a população toma para si a tarefa de acordo com seu
interesse e gosto com mudas disponíveis no mercado e realiza o plantio e condução
de acordo com seus próprios preceitos. Este ato gera resultados imprevisíveis, o
visual de tais locais geralmente apresenta excesso de espécies, portes diversificados,
manejos diferenciados, espaçamentos irregulares e reduzidos. Alguns outros “efeitos
paisagísticos” podem representar problemas como a pintura de troncos (pode
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acarretar danos fitossanitários sendo de estética duvidosa) pintura de pedras
recobrindo a área útil, forração inadequada (espinhos) e placas comerciais.
15. Poda
É uma prática antiga, metódica e utilizada para se obter a regularização na
obtenção de frutos. Na arborização urbana o objetivo é a manutenção da copa do
vegetal na sua forma mais natural e íntegra possível. O correto é o estudo prévio das
características da árvore e da via onde será implantada, pois a poda é decorrente da
seleção indevida das espécies. Na remoção da ramagem com a poda, as árvores
oferecem duas respostas distintas: avigoramento ou atrofiamento, de acordo com a
espécie, idade, época da aplicação e o rigor da poda.
Podar ou substituir? Quando foram plantadas árvores de crescimento
exagerado devido ao desconhecimento do espécime o mais correto é a substituição
do que a insistência em podas sucessivas que não resolverão o problema e acabarão
por descaracterizar o vegetal, ficando tocos brotados sem qualquer estética urbana.
As espécies que apresentam copa colunar, cônica ou piramidal devem ser evitadas
sob redes elétricas, pois a poda de contenção descaracteriza o vegetal, o mesmo vale
para as palmeiras que não aceitam podas de contenção. As árvores monopodiais, com
predominância de um eixo central sobre os ramos laterais, jamais recuperam sua
forma após a poda. O ramo líder determina o crescimento do vegetal em altura, em
seu ápice ocorrem gemas terminais com vida indefinida, que originam ramos
verticais, ou vida definida, originam ramos laterais. Toda vez que se eliminam estes
ramos está sendo provocada uma desaceleração do crescimento do vegetal.
Idade da poda – As árvores jovens e adultas devem receber poda de condução
para não interferirem no trânsito de pedestres e de veículos, os ramos abaixo de 1,8
m devem ser eliminados. A limpeza interna, entre os ramos, bem como as suas
limitações é o principal objetivo da poda. Ramos lascados, doentes e secos e aqueles
que promovam o desequilíbrio devem ser podados.
É errado dizer que sempre as árvores devem ser podadas assim como dizer
que nunca devem ser podadas.
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A poda de condução (regular) da árvore é realizada para elevação do fuste e
cerceamento do crescimento excessivo dos ramos que possam desequilibrar o
espécime.
O que interessa é a folhagem, o porte geral, a sanidade e a uniformidade do
conjunto que formam a fila de árvores.
Podas na fase de decrepitude da árvore podem contribuir para antecipar sua
morte.
Época de poda – As folhas e ramos verdes são os responsáveis pela
fotossíntese. Se totalmente retirados o vegetal perecerá, o que não acontece se a
retirada for feita na ocasião oportuna quando o fotoperíodo é curto, a temperatura
ambiente é baixa e há pequena disponibilidade de água no solo, fase de pequena
atividade metabólica do vegetal. Não se pode simplesmente considerar o período de
queda das folhas como o mais adequado.
Característica da árvore
( deciduidade)
Época de poda
Folhas caducas Durante a queda das folhas na fase de repouso
vegetativo real que geralmente ocorre no
outono ou inverno, antes da nova brotação.
Semicaducas e/ou
persistentes
Pós-floração (ex.: ipês, eritrinas, pata de vaca)
ou depois da frutificação.
Em São Paulo e Goiás geralmente as podas ocorrem de maio a agosto. Nos
Estados do Sul ao se aproximar o inverno as árvores são literalmente decapitadas, a
tradição diz: meses sem “r”, árvores sem copa.Um problema cultural sério pois como
vimos anteriormente nem todas as espécies toleram podas.
Volume a ser cortado - Tem -se como regra básica que é saudável a retirada
de até 1/3 do volume das copas, visando melhor delineá-la, arejando seu interior e
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revitalizando seus ramos. Esta redução não deve ser a mesma em anos seguidos. Não
se deve esquecer que em condições normais o vegetal buscará compensar-se em sua
base quando houver eliminação de ramos havendo, portanto, maior desenvolvimento
das raízes nessa ocasião.
Tipos de poda – os diversos tipos de poda deverão ser utilizados de acordo
com a situação da muda ou da árvore adulta bem como de acordo com o contexto
local.
Poda de formação da muda – confere à muda, ainda no viveiro, uma
estrutura forte, equilibrada, com ramos bem espaçados e simetricamente distribuídos.
Haste única com fuste até altura de 1,8 m. Desbrotas laterais periódicas para evitar o
entouceiramento e atrazo do desenvolvimento, a partir daí elimina-se o ramo apical
induzindo-se as ramificações primarias laterais que formarão a copa. Quando estas
ramificações tiverem 1 a 2cm retira-se de cada uma o próprio ápice induzindo-se as
brotações de ramos secundários, terciários até obter-se uma copa bem formada.
As mudas defeituosas e já plantadas podem ter poda corretiva, recondução
pela elevação das bases das copas com o direcionamento desejável.
Poda de limpeza – aplicada para promover a aeração interna do
vegetal e remoção de ramos secos, doentes ou apenas para o raleamento da copa,
podendo ser feita em qualquer época do ano.
Podas drásticas ou severas – podas em furo ou em V e de
rebaixamento. Promovem a eliminação dos ramos que interferem com a rede elétrica
ou iluminação, deve ser usada apenas em situações de emergência e não
habitualmente. A poda de rebaixamento da copa é extremamente danosa e deve ser
evitada.
Posições de corte
Iniciar pelos ramos menores. Na copa os cortes devem ser iniciados de fora
para dentro e de cima para baixo, sempre cortando pequenas quantidades de ramos.
Fig 2.
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Sentido da poda
Fig 2 . Poda
Os ramos finos, até 1 polegada de diâmetro, são cortados em bisel de baixo
para cima e os maiores devem ser cortados sempre com cortes ascendentes
precedendo cortes descendentes.
Para ajudar a cicatrização são utilizados elastômeros, produtos que
impermeabilizam o corte e tem função cicatrizante, pode ser usado tinta látex da cor
do caule.
Os instrumentos mais utilizados para o corte são: tesouras, podão, serras
anuais e motos-serras de acordo com o diâmetro dos ramos a serem cortados.
Além destes, os equipamentos de segurança do trabalho devem ser adequados
para cada um dos casos.
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Características das árvores destinadas à arborização urbana
Vários estudos têm sido realizados com a finalidade de identificar a “árvore
ideal” para a arborização de ruas. Dificilmente será encontrada uma listagem de
espécies que atendam a todos os requisitos elencados. Desta forma de acordo com as
características do vegetal devem-se oportunizar situações para o seu
desenvolvimento, através da conjugação de fatores positivos inerentes ao vegetal e
ao ambiente o que resultará em arborização de qualidade.
Sabendo-se que a diversidade de situações poderá afetar os resultados, deve-
se procurar escolher espécies que atendam as seguintes características:
Origem da espécie – o uso de espécies nativas da região que estejam mais
adaptadas é a melhor opção. O uso de espécies exóticas deve ser feito apenas quando
se tiver certeza de sua adaptação;
Combinação das espécies - As possibilidades de combinações de fatores
quando da definição das espécies sugerem espécies diferentes para cada lado do
passeio; espécies iguais em ambos os lados e diferentes no canteiro central; duas
espécies com disposição intercalada entre quadras. O planejamento setorizado pode
promover escalas cromáticas e épocas de florescimento diferenciado, tornando-se
pontos de atração e contemplação.
Sistema radicular pivotante – evita pressão sobre o piso o que poderia causar
trincas além de injúrias ao sistema radicular;
Fuste alto – permite livre trânsito. Espécies com copa globosa de fuste baixo
se submetidos à poda de condução para apresentarem o fuste livre de 1,80 m terão
comprometimento estético-visual e muitas vezes fisiológico;
Forma da copa - A cada situação deve corresponder às espécies com a copa
mais adequada, por exemplo:
Situação Porte e formato mais adequado
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Ausência de fiação elétrica
Formato tipo guarda-chuva - copas altas e ramificação
horizontal. Requerem amplos espaços
Formato piramidal - porte médio a grande
Formato colunar – a verticalidade é sua principal
característica
Ausência de carros e pedestres
(canteiros centrais)
Arvores choronas com ramos pendentes e mobilidade;
Arvores de formato globoso;
Palmeiras apresentam porte alto e requerem grande área
livre.
Presença de fiação elétrica
Arvores irregulares que podem ser conduzidas pela falta
de definição de sua copa
Folhagem – a quantidade e a qualidade da sombra proporcionada dependerão
da espécie escolhida. No sul recomendam-se espécies caducifólias que proporcionam
sombreamento nos meses mais quentes e passagem do sol nos meses mais frios.
Deve-se observar o tamanho e textura das folhas para que não haja entupimentos de
calhas, bueiros e bocas de lobo;
Ausência de espinhos e princípios alérgicos e / ou tóxicos – princípios
alérgicos principalmente com relação ao pólen, na primavera, se manifestam nas
pessoas de diferentes formas;
Resistência a pragas e doenças – mesmo em plantas resistentes os estados
nutricionais, poluentes e podas mal praticadas podem acarretar problemas
fitossanitários;
Velocidade de crescimento – as de crescimento médio a rápido são as mais
indicadas. O uso de mudas menores de 1,80 m poderá retardar o estabelecimento da
árvore;
Ausência de frutos grandes e/ou comestíveis – a frutificação deverá ser
atrativa à avifauna, no entanto não é recomendável que tenha frutos grandes pois
podem causar acidentes aos pedestres.
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Considerações finais e sugestões
As condicionantes ambientais aliadas às características dos vegetais tornam
mais árdua a escolha da planta certa. Não se trata de proceder à indicação baseada
apenas na largura de calçadas ou na presença de fiação, a análise, conforme abordado
no transcorrer deste texto, deve ser mais ampla e detalhada com maior número de
variáveis e atores participantes do processo de tomada de decisão. A grande
diversidade de espécies dos plantios voluntários pode ser pouco estética, por outro
lado pode ocorrer a monotonia pela escassez de diversidade além da maior
suscetibilidade a doenças.
Deve-se buscar a diversidade de forma harmônica, baseada nas funções
desejadas da arborização. Para tanto deve-se realizar uma avaliação conjunta ou por
partes da caracterização das vias como: largura do passeio e canteiros, fiação elétrica,
recuo as construções, tipologia das construções, largura da pista, características de
solo, canalizações, orientação solar, atividades predominantes do local, espécies
existentes função desejada, desejos da população afeta.
Da mesma forma devem ser avaliadas as características do vegetal que será
implantado como: textura e cor do tronco, coloração das folhas, persistência das
folhas, cor das flores, época de floração e frutos ornamentais.
As campanhas de distribuição de mudas podem contribuir para a divulgação
(popularização, ecologização) e plantio de árvores, no entanto poucas são as
campanhas acompanhadas de orientações técnicas sobre a muda, com detalhes dos
melhores locais e como plantá-la além das técnicas para a sua melhor manutenção, o
que pode resultar em surpresas futuras. Estas campanhas deveriam sugerir ou
distribuir espécies de interiores a serem apreciadas e mantidas em ambiente
doméstico.
A presença de árvores nas vias públicas não qualifica as arborizações. A má
condução demonstra negligência, no entanto, depois de implantado a substituição
pode causar diversas reações na população quando esta não participa da decisão tais
como: a insatisfação motivada pelo conhecimento da área, satisfação por julgar
necessário o corte ou até mesmo a indiferença, justificando-se programas de
monitoramento evitando soluções radicais.
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As operações de poda como já abordadas extensivamente neste trabalho
quando praticadas pela população são decorrentes da cultura e de difícil solução.
Somente com a estruturação de serviços de qualidade públicos ou privados para este
fim é que as pessoas entregarão “a sua árvore” para serem conduzidas. Posturas
gestoras que evitarão a continuidade das agressões praticadas nas arborizações.
A adequação do espécime em porte e forma compatíveis com o espaço assim
como a sua boa condução de tal foram que não apresentem problemas físicos ou
sanitários, são aspectos que qualificam a arborização. Além disso a parceria
estabelecida com a população na decisão sobre a arborização urbana é decisiva para
o seu sucesso, pois ao final a árvore estará na frente de suas residências afetando-a
diretamente.
Diante dos diversos aspectos apontados pode-se concluir que as árvores mais
indicadas para a arborização urbanas são aquelas que não causarão futuros
problemas e exijam o mínimo de manutenção. Razão pela qual a fase de
planejamento, o envolvimento da população e a qualidade da muda são as bases para
a arborização urbana.
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Bibliografia
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on line. 7p. 2003.
Eletropaulo. Guia de planejamento e manejo da arborização urbana. São Paulo.
38p. 1995.
Hoehne, F.C. Arborização urbana. Secretaria da Agricultura Indústria e Comércio.
São Paulo. 150p. 1944.
Lei nº 3403 de 28/12/2001. Dispõe sobre a arborização urbana do Município de
Canoinhas.
Lei nº 7159 de 31/08/1995. Dispõe sobre a arborização urbana do Município de
Ribeirão Preto.
Lei nº 3.031 de 18/07/2002. Institui a política florestal do Distrito Federal.
Rueda, F.A. Áreas verdes, malla verde y sostenibilidad. IX Encontro Nacional de
Arborização Urbana. http://www.sbau.com.b/arquivos/características.htm.Brasília.
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Santos, N.R.Z., Teixeira I.F. Arborização de vias públicas: ambiente x vegetação.
135p. 2002.
Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Cartilha sobre arborização urbana. Porto
Alegre. 28p. 2002.
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