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Gênero Fábula como auxiliador do desenvolvimento da leitura
Leila Regina Cracco Scapin1
Prof. Dr. Fábio Lucas Pierini 2
RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar o relato de uma Proposta de
Intervenção Pedagógica desenvolvida com os alunos do 6º ano “A” do ensino
fundamental do Colégio Estadual Cianorte – Ensino Fundamental, Médio e
Profissional, por meio do gênero fábula como forma de facilitar o gosto pela
leitura. Além de trabalhar com os alunos o lado simbólico dos textos fabulares
promovendo uma leitura reflexiva bem como a formação de um cidadão
consciente das relações de sentido entre a sociedade, a cultura e seus veículos
de comunicação, este trabalho também oportunizou aos alunos conhecer os
principais fabulistas.
Palavras-chave: Leitura; Gênero Fábula.
1 – INTRODUÇÃO
É através da leitura que o aluno terá a possibilidade de adquirir
conhecimentos que lhe permitirão atuar como cidadão crítico na sociedade,
assim como acessar o conhecimento historicamente produzido. Sendo assim, é
importante criar estratégias para motivar os alunos a ler.
O ensino de leitura na escola deve ser efetivado sob o enfoque
dialógico interacionista com vistas a formar um aluno capaz de interagir com os
letramentos múltiplos presentes no mundo contemporâneo.
Nesse sentido, esta Proposta de Intervenção Pedagógica propôs
procedimentos de leitura através do estudo de fábulas para alunos do 6º ano
do ensino fundamental.
1 Professora de Língua portuguesa da rede Estadual de Ensino do Paraná.
2 Professor Orientador PDE da Universidade – UEM.
A escolha do gênero “narrativas fabulares” possibilita discussões
variadas por se tratar de um gênero que lida com as virtudes e defeitos dos
seres humanos.
Permite que os alunos realizem questionamentos sobre suas próprias
atitudes e analisem de maneira crítica o mundo em que vivem ampliando seus
conhecimentos das habilidades de leituras.
Para Bagno,
As fábulas podem ser uma importante aliada, tanto para o trabalho pedagógico como a língua oral, a leitura e a língua escrita, quanto para um trabalho numa perspectiva sociológica e antropológica. Já que oferecem esquemas de análise e ou explicações para um sem-número de comportamentos sociais. E de traços de personalidade dos indivíduos. (Bagno, 2006, p. 52)
Considerando o caráter didático da fábula, o trabalho de leitura com
esse gênero possibilita ao leitor o exercício do senso crítico. E ainda o humor,
que é outra característica do gênero, seduz o leitor e torna prazeroso o ato de
ler. Estes pontos justificam a presença deste gênero literário já nos primeiros
anos escolares. De acordo com os autores:
A fábula é um gênero que explicita modos devidos e indevidos de comportamento, atuando sobre o leitor numa perspectiva predominantemente ética. As fábulas não deixam de lhe propiciar, no entanto, uma leitura, a um só tempo crítica e prazerosa. (ABÍLIO& MATTOS, 2006, p. 87)
Diante disso, esta Proposta Pedagógica justifica-se pela necessidade
de envolver as crianças no mundo mágico da leitura por meio das fábulas, uma
vez que este gênero possibilita encantamento e criticidade. Para isso,
contemplamos referências aos fabulistas Esopo, Fedro e La Fontaine.
A leitura é vista como uma prática pedagógica desafiadora, o drama
maior de quem atua no processo de ensino-aprendizagem.
O trabalho com a leitura em sala de aula muitas vezes se limita à
habilidade mecânica de decodificação da escrita, puramente escolar, sem
gosto e sem prazer. Esta prática faz com que o aluno tenha uma visão do ato
de ler como algo puramente mecânico, a fim de cumprir exigências escolares.
Como fazer diferente? Esta Proposta Pedagógica vem de encontro com a
necessidade de modificar esta ideia, apresentando estratégias de leitura para
que o aluno possa se envolver prazerosamente com esta atividade.
Na concepção das Diretrizes Curriculares da Educação Básica
(PARANÁ, 2008), a leitura é vista como um ato dialógico, interlocutivo, no qual
o leitor tem papel ativo. Sendo assim, cabe ao professor desenvolver uma
proposta de leitura que, em primeiro lugar, possibilite ao aluno ler pelo simples
gosto de ler e que ainda ele seja capaz de identificar os aspectos ideológicos
do texto, desde as informações mais triviais até as implícitas e usá-las para
auxiliar no seu crescimento como cidadão crítico e atuante nas práticas de
letramento da sociedade.
No decorrer do desenvolvimento da Proposta Pedagógica, analisamos
versões da fábula “A cigarra e a formiga”. Objetivamos com essa análise,
mostrar como diferentes culturas e momentos leem de forma diferente a
mesma história. Na medida do possível, tratamos também de elucidar parte da
evolução dos valores sociais e literários. Além de verificar elementos que
caracterizam o autor, mesmo quando este recria.
Por meio desta análise, observamos também aspectos específicos das
fábulas. Seus contextos, suas intenções, características típicas de suas
personagens e uso de animais, personificando atitudes humanas. Analisamos
ainda o título da fábula, as ilustrações, situações-problema apresentadas e
moral da história.
Esta opção de trabalho partiu da certeza do teor altamente motivador
da fábula que pode servir ao objetivo da aquisição do conhecimento específico
do gênero, e também a apropriação de conteúdos específicos da Língua
Portuguesa, tais como: diálogo, pontuação, adjetivo, provérbios, entre outros,
trabalhados conforme dificuldade revelada na produção escrita.
2. CONCEPÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
A literatura é poderosa aliada na construção de uma sociedade mais
humana, mais igualitária e mais sonhadora. Sem dúvida ela precisa ser
ensinada nas escolas para ampliar a visão de mundo dos alunos. Para Candido
(1972, Apud PARANÁ, 2008, p. 57), “a literatura é vista como arte que
transforma/humaniza o homem e a sociedade”. Ela permite ao ser humano a
fuga do mundo real para o mundo da fantasia, possibilita momentos de reflexão
e identificação. Atua como instrumento de educação, ao retratar realidades não
reveladas pela ideologia dominante. Portanto, entendemos que a literatura
contribui para a formação de um cidadão crítico, capaz de interagir na
sociedade. Nas palavras de Candido:
A literatura pode formar; mas não segundo a pedagogia oficial.[…] Longe de ser um apêndice da instrução moral e cívica, […], ela age como o impacto indiscriminado da própria vida e educa como ela. […] Dado que a literatura ensina na medida em que com toda a sua gama, é artificial querer que ela funcione como os manuais de virtudes e boa conduta. E a sociedade não pode senão escolher o que em cada momento lhe parece adaptado aos seus fins, pois mesmo as obras consideradas indispensáveis para a formação do moço trazem frequentemente aquilo que as convenções desejariam banir. […] É um dos meios porque o jovem entra em contato com a realidade que se tenciona escamotear-lhe. […] Ela não corrompe nem edifica portanto; mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver. (CANDIDO,1972, p. 805-806, apud PARANÁ, 2008 p. 58)
Nesse sentido, a construção de um cidadão crítico capaz de interferir
na sociedade, exercer suas obrigações, revindicar seus direitos, lutar por si
mesmo e pelo bem comum, só será possível se nas escolas formarmos alunos
leitores. Como afirma Silva:
A prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz. (SILVA, 2005 p. 24)
O ato de ler não pode se resumir a uma decodificação de símbolos,
mas significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê, fazer leituras
significativas do texto. Segundo Angela Kleiman (1995), a leitura deve conduzir
à aprendizagem e permitir que o leitor compreenda o sentido do texto, não
podendo transformar-se em mera atividade mecânica de decifração de signos
sem a compreensão semântica dos mesmos.
O leitor que queremos formar é aquele que interage com o texto, que a
cada nova leitura amplia seus conhecimentos, impulsionado pelos requisitos
adquiridos nas leituras anteriores, que ao se defrontar com o texto, traz consigo
uma bagagem de experiências linguísticas e sociais, que deve no ato da leitura
dialogar com o texto. Para que isso ocorra, lembramos que
A atividade da leitura completa a atividade da produção escrita. É, por isso, uma atividade de interação entre sujeitos e supõe muito mais que a simples decodificação dos sinais gráficos. O leitor, como um dos sujeitos da interação, atua participativamente, buscando recuperar, buscando interpretar e compreender o conteúdo e as intenções pretendidos pelo autor. (ANTUNES, 2003, p. 67)
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÁ, 2008)
propõem o trabalho com literatura na sua dimensão estética. Sendo assim,
sugerem que o ensino da literatura seja pensado a partir dos pressupostos
teóricos da Estética da Recepção, e da Teoria do Efeito. Sabemos que essas
teorias visam formar um leitor capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com
condições de perceber, nas aulas de literatura, um envolvimento de
subjetividades que se expressam pelo conjunto obra, autor e leitor, por meio de
uma interação presente no ato de ler. Segundo Antunes:
Muito, mas muito mesmo, do que se consegue apreender do texto faz parte de nosso “conhecimento prévio”, ou seja, é anterior ao que lá está. Um texto seria inviável se tudo tivesse que estar explicitamente presente, explicitamente posto. O que é pressuposto como já sabido, o que é presumível a partir do conhecimento que temos acerca de como as coisas estão organizadas, naturalmente, já não precisa ser dito. (ANTUNES 2003, p.67)
Na prática da leitura o leitor deve compreender as esferas discursivas
em que os textos são produzidos e circulam, e deve reconhecer as intenções
do discurso.
Bakhtin (1988, p. 99) afirma que a linguagem “é produto da interação
do locutor e do ouvinte”, ou seja, a linguagem é vista como lugar de interação
entre os sujeitos sociais.
Todo texto pertence a um determinado gênero. Segundo Marcuschi
(2003, p. 25), “gêneros são formas verbais de ação social relativamente
estáveis realizadas em texto situados em comunidades de práticas sociais e
em domínios discursivos específicos”.
O trabalho com práticas de leitura foi realizado através do gênero
fábula. Para Bakhtin, “quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais
livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos a
nossa individualidade”. (Bakhtin, 2003, p. 28).
A fábula é um gênero literário muito antigo que se encontra em quase
todas as culturas humanas e o caráter universal da fábula está ligado com a
sabedoria popular. Como afirma Dezzoti
A fabula é um ato de fala que se realiza por meio de uma narrativa. Logo, ela constitui um modo poético de construção discursiva, em que narrar passa a ser o meio de expressão do dizer”. Nascida no oriente, reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (século VI a.C.) e aperfeiçoada, mais tarde por Fedro século I a.C.), recebeu de Jean La Fontaine (1621/1692) a forma final que resistiu ao desgaste do tempo. Dezotti (2003, p. 22)
A fábula é uma narrativa curta, em prosa ou em verso, usada para
ilustrar um vício ou uma virtude. Divide-se em duas partes, sendo que a
primeira narra um acontecimento e a segunda a moral, ou seja, o significado da
história.
Os textos fabulares mencionam modelos adequados e inadequados de
comportamento na sociedade, atuando sob uma perspectiva ética. Sendo
assim, proporciona uma leitura crítica, sendo ferramenta para a formação do
senso crítico. A fábula vem sendo reescrita constantemente, o que mostra que
sua moral varia de acordo com a sociedade em que ela é produzida ou
reproduzida. Segundo Dezotti (2003, p. 18), “a fábula é um modo universal de
construção discursiva”. Portanto, esta Proposta de Intervenção Pedagógica se
apresenta como auxiliadora do desenvolvimento do gosto da leitura através do
gênero textual fábula, como objeto de ensino e aprendizagem de leitura.
O conhecimento que adquirimos durante nossa vida, o nosso convívio
na sociedade, passa pela linguagem. Dessa forma, qualquer área do
conhecimento, ou qualquer profissão pressupõe certo domínio da linguagem.
Na vida pessoal, também precisamos muito dela: para conversar com os
amigos, para namorar, para brincar, para defender nossos direitos, e muito
mais. Dominar a linguagem é, entre outras coisas, saber como os diferentes
textos se organizam, saber para que servem e que intenções podem estar por
trás do que é dito. Sendo assim, imaginamos que, para você poder prosseguir
seus estudos até ser um profissional formado, poder exigir seus direitos,
entender o porquê de seus deveres, enfim, se tornar um cidadão crítico e
atuante na sociedade seria importante saber mais sobre esses diversos textos
que pertencem a variados gêneros. Portanto, escolhemos o gênero textual
fábula para desenvolver as práticas de leitura.
Os seres humanos adoram contar histórias uns para os outros.
Isso acontece há muito tempo. Quem é que nunca se reuniu com a família com
os amigos para contar histórias de amor, histórias de terror, histórias de
suspense, histórias fantásticas. Entre essas muitas histórias que contamos
estão também as fábulas, umas das narrativas mais antigas da humanidade.
A palavra fábula veio do verbo latim fabulare, que significa
“conversar, narrar”. Desde suas origens as fábulas foram transmitidas
oralmente de pai para filho, de avó para neta, de amiga para amigo. São
histórias que acontecem num tempo indefinido, bem distante de nós e que
costumam começar com expressões do tipo: “Em um belo dia de inverno...”;
“Houve uma vez uma raposa...”. As fábulas existiram praticamente em todas as
épocas e ainda hoje são contadas em muitas culturas.
As fábulas, como já dissemos, são narrativas curtas, geralmente
as personagens são animais com defeitos, e virtudes dos seres humanos, mas
há fábulas em que as comparações são feitas entre seres humanos e objetos
ou plantas. Essas histórias têm servido para ensinar o que é certo e errado,
transmitir os valores éticos e morais das culturas e dos povos que as criaram.
Elas servem de exemplo para todos que as escutam. Por isso, há sempre uma
lição de moral escondida nelas, a tal da “moral da história”. Às vezes, essa
moral é explicada ao final, como a famosa fábula da coruja e a águia: ”MORAL:
Quem ama o feio bonito lhe parece”. Outras vezes a moral da fábula não está
dita com todas as letras.
Certas fábulas foram sofrendo modificações ao longo dos anos. Ao
serem narradas de geração em geração e, também, ao serem contadas a
pessoas de diferentes regiões e de outras culturas, as fábulas foram se
modificando. E até mesmo a moral da fábula pode sofrer alterações
dependendo da época e, dependendo de quem conta.
As fábulas mais antigas que conhecemos começaram a serem contadas
no Oriente, milhares de anos atrás. De onde hoje fica a Índia, elas migraram
para a Pérsia e se espalharam pela Grécia Antiga.
O primeiro grande contador do Ocidente foi o grego Esopo (século
Vl antes de cristo). Aliás, Esopo não deixou nenhuma fábula escrita, pois só
contava oralmente. Quem escreveu suas histórias foram outros autores, entre
eles, seu grande admirador romano Fedro (que era escravo e viveu no século
antes de cristo).
Durante a Idade Média, as fábulas gregas e romanas foram
redescobertas. O escritor Jean de La Fontaine (1621-1695) obteve muito
sucesso ao traduzi-la em versos para o francês. La Fontaine gostava tanto
dessas histórias que até chegou a inventar suas próprias fábulas.
Hoje em dia, vários autores utilizaram esses para contar suas
histórias, reescrevendo as fábulas tradicionais ou criando novas, às vezes, com
morais completamente diferentes daquelas dos povos antigos.
3. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA
Para a organização do trabalho foi organizados juntamente com a
turma um caderno individual dos alunos para o registro de todas as atividades
desenvolvidas na implementação da Proposta Pedagógica. Neste caderno foi
registrado também um resumo da Proposta bem como seus objetivos. O
caderno foi enviado para casa dos alunos para a ciência dos pais ou
responsáveis visando a participação e a interação da família no trabalho com o
Proposta Pedagógica de Leitura.
O primeiro passo foi a realização de um questionário oral para
diagnosticar o conhecimento prévio dos alunos a respeito do gênero fábula:
- Que tipo de história você lê?
- Você conhece o gênero fábula?
- Já ouviu ou leu alguma fábula?
- Onde normalmente encontramos estas histórias?
- O que as diferencia de outros textos?
- Para que público leitor elas são produzidas?
De posse das informações, foi apresentado o gênero fábula para
leitura da classe, discutida a sua origem e o seu papel em determinado
contexto, com a finalidade de despertar o interesse do aluno para a busca de
mais informações.
Desta forma os alunos foram estimulados a buscar outras fábulas na
biblioteca ou na internet. A turma foi dividida em equipes que ficaram
responsáveis pela pesquisa da biografia de um fabulista e trouxeram para sala
de aula fábulas dele para leitura.
Durante a apresentação da pesquisa foi estudada a biografia dos
fabulistas como Esopo, Fedro, La Fontaine e Monteiro Lobato, procurando
verificar o contexto histórico em que viviam e escreveram suas histórias. A
primeira leitura de alguns textos foi realizada em voz alta pelo professor. A fim
de orientá-los na entonação e na pontuação. Auxiliando na verdadeira
compreensão da história.
Algumas leituras que foram trazidas pelos alunos e lidas em sala de
aula:
O lobo e o cão; O sapo e o boi; A queixa do pavão; A raposa e as
uvas; O leão e o ratinho; A cigarra e a formiga; O lobo e o cordeiro; A lebre e a
tartaruga; O rato do campo e o rato da cidade; A queixa do pavão; A menina do
leite; A gralha enfeitada com penas de pavão.
Na continuidade os alunos, com a orientação da professora,
discutiram e analisaram a moral das histórias e as relacionaram com o
comportamento humano. As discussões realizadas em sala de aula
oportunizaram o cooperativismo. A interação entre o professor e os alunos
contribuiu para uma compreensão das temáticas abordadas, significativas na
construção do conhecimento.
Em seguida, a socialização da Proposta Pedagógica de Leitura para os pais
foi intensificada por meio de uma pesquisa realizada pelos alunos com seus
familiares. A participação da família no processo ensino aprendizagem é um
ato antes de tudo democrático e grande aliada para a motivação e o sucesso
da criança. A pesquisa foi realizada de acordo com o quadro abaixo:
Registre no quadro abaixo os dados.
Entrevistado FÁBULA CONHECIDA ASSUNTO DA FÁBULA
Durante a apresentação da pesquisa os alunos perceberam que alguns
dos textos apontado pelos familiares como fábulas, não eram propriamente
uma fábula. Muitos dos textos eram contos maravilhosos. A partir dessa
reflexão perceberam que estavam diante de uma situação problema. O que
diferencia a fábula de outros textos? Dada a motivação, seguimos com um
estudo mais elaborado a respeito das especificidades do gênero fábula.
A cada aula, outras fábulas foram estudadas. Passo a passo, os
alunos puderam identificar a estrutura narrativa, seus elementos e a identificar
os traços comuns do gênero, tais como:
- Situação inicial
- Obstáculo
- Tentativa de solução
- Resultado final
- Moral
A fábula apresenta características específicas:
- Brevidade: a narrativa curta, geralmente, um diálogo;
- As personagens quase sempre são animais;
- Transmite sempre um ensinamento;
- No final da história, destaca-se uma moral;
- Sequências narrativas – apresenta os elementos da narrativa:
- Ação (sequência de acontecimentos);
- Personagem (seres que participam dos acontecimentos);
- Narrador (que conta a história);
- Tempo e espaço imprecisos: espaço (lugar dos acontecimentos),
tempo (quando acontece a história);
- Título composto pela referência às personagens; - Personagens
típicas;
- Os ensinamentos são apresentados como válidos para qualquer
época e lugar.
Durante o desenvolvimento da Proposta a ênfase foi dada no modo
como o professor deve conduzir as estratégias de leitura. Atividades reflexivas
foram desenvolvidas antes da leitura dos textos e depois da leitura dos textos
de forma oral e escrita e sempre com a mediação da professora, por meio de
questionamentos desafiadores que motivavam os alunos a buscarem soluções
para situações problemas. Este artigo busca refletir justamente o papel do
professor em sala de aula na condução das estratégias de leitura. O professor
deve propiciar meios para que a leitura do aluno aconteça de forma reflexiva.
Tais como o modelo de atividade desenvolvida na Proposta Pedagógica:
Agora vamos ler uma fábula contada por Esopo, aquele escravo grego
que você ficou conhecendo através da pesquisa. Em seguida responda as
questões abaixo com a orientação do professor.
Orientações para o professor:
- Antes de iniciar a leitura do texto questione oralmente os alunos:
1) Lendo o título da fábula podemos saber quem são as personagens?
2) Que característica geralmente se atribui ao animal lobo? E o cordeiro?
3) Leia apenas a moral da fábula. O que você imagina que acontecerá na
história?
O Lobo e o Cordeiro
Esopo
Um lobo estava bebendo água num riacho.
Um cordeirinho chegou e também começou a beber um pouco mais para
baixo.
O lobo arreganhou os dentes e disse ao cordeiro:
_ Como é que você tem a ousadia de vir sujar a água que eu estou
bebendo?
_ Como sujar ? _ respondeu o cordeiro. _ A água corre daí para cá ,
logo eu não posso estar sujando a sua água.
_ Não me responda! _ tornou o lobo furioso._ Há seis meses seu pai me
fez a mesma coisa !
_ Há seis meses eu nem tinha nascido, como é que eu posso ter culpa
disso? _ respondeu o cordeiro.
_ Mas você estragou todo o meu pasto_ tornou o lobo.
_ Como é que eu posso ter estragado seu pasto se nem dentes eu
tenho?
O lobo, não tendo mais como culpar o cordeiro, não disse mais nada ,
pulou sobre ele e o comeu.
“Contra a força não há argumentos”.
Orientações para o professor:
- Após a leitura do texto questione oralmente os alunos:
1) Que outra maneira nós temos para resolvermos problema sem ser pela
força, ou seja, sem usar de violência?
2) Porque você acha que no caso da fábula que acabamos de ler a força
prevaleceu sobre o diálogo?
Atividades escritas desenvolvidas na Proposta:
a) Na fábula que você acabou de reler, quem conta os fatos é
apenas narrador ou é narrador - personagem? A fábula está sendo
narrada em que pessoa do discurso?
b) Quais os personagens que participaram do enredo?
c) Qual é o espaço em que ocorre a história?
d) Indique os termos empregados no texto para indicar o tempo em
que ocorrem os fatos:
e) Qual é a moral da fábula? Você concorda com ela?
Para o enriquecimento do trabalho analisamos optamos por estudar
detalhadamente a fabula “A cigarra e a formiga”. Em versões diferentes, com
os autores Esopo, La Fontaine, Monteiro Lobato e José Paulo Paes (Poesia).
Foram analisados diversos aspectos do texto, dentre eles como em diferentes
culturas e momentos leem de forma diversificada a mesma história e como esta
se caracteriza quando recriada. Refletiram-se como comportamentos humanos
e concepções de valores (sociais, culturais religiosos e familiares), mudam de
uma geração para outra.
O foco maior do trabalho foi dado a fábula A cigarra e a formiga. Após o
estudo das diferentes versões os alunos puderam perceber que nas fábulas: A
cigarra e a formiga (ESOPO) e A cigarra e a formiga (versão de LA
FONTAINE) são ressaltados os valores sociais tais como: “Devemos trabalhar
e guardar reservas financeira para o futuro”. Isso fica claro no comportamento
das formigas que trabalham no verão e guardam comida para o inverno,
período do ano que não podem trabalhar. Já a cigarra passa o período de
tempo bom cantando e durante o mal tempo passa por dificuldades. Ainda
nesta versão aparece o que chamamos de egoísmo, pois a formiga mesmo
tendo condições não ajuda a cigarra num momento de necessidade.
Seguem os textos analisados na proposta:
TEXTO 1 A cigarra e a formiga (ESOPO)
No inverno, as formigas estavam fazendo secar o grão molhado, quando
uma cigarra, faminta, lhes pediu algo para comer. As formigas lhe disseram:
“Por que, no verão, não reservaste também o teu alimento?”. A cigarra
respondeu: “Não tinha tempo, pois cantava melodiosamente”. E as formigas,
rindo, disseram: “Pois bem, se cantavas no verão, dança agora no inverno”.
A fábula mostra que não se deve negligenciar tristezas e perigos.
Esopo. Fábulas completas. Tradução de Neide Smolka. São Paulo: Moderna,
1994.
TEXTO 2 A cigarra e a formiga (versão de LA FONTAINE)
Depois de haver cantado durante todo o verão, quando se aproximava o
inverno a cigarra se encontrou em extrema penúria, por falta de provisões.
Como nada lhe restasse, nem um pequeno verme ou algum resto de mosca, e
estando faminta, foi à procura da amiga, sua vizinha. Pediu-lhe que lhe
emprestasse alguns grãos, a fim de manter-se até que voltasse o estio.
___ Eu lhe prometo minha amiga — disse a cigarra — sob palavra, a
pagar-lhe tudo, com juros, antes do mês de agosto.
A formiga, que nunca empresta nada a ninguém e, por isso, consegue
amealhar, perguntou à suplicante:
__ Que fazias durante o verão?
__ Passava cantando os dias e as noites — respondeu a cigarra.
__ Pois muito bem — a formiga. Cantava? Pois dance agora!
LA FONTAINE, Jean de. Fábulas de La Fontaine. Rio de Janeiro: Matos
Peixoto, 1965.
Em uma das versões de Monteiro Lobato, “A cigarra e a formiga boa”, o
autor valoriza o trabalho dos artistas, que muitas vezes não são reconhecidos.
Representado pela cigarra que durante os dias de sol canta para alegrar o
mundo e amenizar o árduo trabalho das formigas. E ainda ensina o valor da
solidariedade, marcado no final do texto, quando a formiga boa acolhe a cigarra
necessitada em sua casa dando lhe abrigo e comida.
Texto analisado na proposta:
TEXTO 3 A cigarra e a formiga boa de Monteiro Lobato:
luciajardimdasletras.blogspot.com/.../cigarra-e-formiga-formiga-boa-.
Outra versão da Cigarra e a formiga, de um autor desconhecido, foi lida
e analisada em sala de aula. Nesta versão, a cigarra que é uma artista
conquista com seu canto muitos bens materiais e uma vida de muitas viagens
e luxo. Já a formiga se mostra revoltada por trabalhar arduamente e só
adquirir o suficiente para sobreviver.
Trechos do texto analisado na Proposta:
“A formiguinha, exausta de tanto trabalhar, entrou para a sua singela e
aconchegante toca repleta de comida. Mas alguém chamava por ela do lado de
fora da toca. Quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpresa com o
que viu: sua amiga cigarra estava dentro de uma Ferrari com um aconchegante
casaco de vison.
E a cigarra disse para a formiguinha:
__ Olá amiga, vou passar o inverno em Paris. Será que você poderia
cuidar da minha toca?
E a formiguinha responde:
__ Claro, sem problemas! Mas o que lhe aconteceu? Como você
conseguiu dinheiro para ir a Paris e comprar esta Ferrari?
E a cigarra respondeu:
__ Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana
passada e um produtor gostou da minha voz. Fechei um contrato de seis
meses para fazer shows em Paris... A propósito, a amiga deseja algo de lá?
Respondeu a formiguinha:
__ Desejo sim. Se você encontrar um tal de La Fontaine por lá, mande
ele ir para a...
Moral da história: Aproveite sua vida, saiba dosar trabalho e lazer, pois
trabalho em demasia só traz benefício em fábulas do La Fontaine e ao seu
patrão.”
Para uma análise reflexiva sobre as versões foram desenvolvida pelos
alunos atividades escritas individuais e as mesmas foram socializadas para
toda turma. tais como:
a) Qual a intenção de Esopo ao narrar esta fábula?.
( ) Convencer as pessoas a desistirem de cantar e dançar.
( ) Ensinar as pessoas a fazer o que é essencial para elas mesmas, para
não passar apuros no futuro.
( ) Convencer as pessoas de que não se deve ser egoísta.
( ) Mostrar as pessoas que não se deve dar importância ao trabalho.
( ) Conscientizar as pessoas de que, para viver bem, precisamos de
reservas seguras.
b) Reescreva o trecho da fábula que mostra a preocupação que formiga tem
com o dia de amanhã.
c) Monteiro Lobato recontou a fábula de duas maneiras. Qual é a principal
diferença entre essas duas versões?
d) Do que a formiga boa chama a cigarra? E a formiga má, de que chama a
cigarra?
e) Quais as semelhanças entre a formiga boa e a má? E quais as diferenças?
f) Você percebeu que na versão de La Fontaine o trabalho da formiga era
valorizado, o que é valorizado na versão de monteiro Lobato?
g) O autor Paulo José Paes reescreveu a fábula a sua maneira, mostrando
uma nova forma de contar. Que tipo de texto ele produziu? Quais as
características observadas no texto?
h) O autor modificou somente a forma ou alterou o conteúdo da fábula?
i) Quantas estrofes e quantos versos contem a versão poética de José Paulo
Paes?
j) Você percebeu que no poema, o canto da cigarra interage com o trabalho da
formiga, já nas versões tradicionais, o canto da cigarra é contrário ao trabalho
da formiga. Assinale a resposta correta.
Na versão de Paulo José Paes podemos concluir que:
( ) O trabalho do artista não apresenta valor diante dos demais
trabalhos.
( ) O trabalho do artista é tão valioso quanto os outros trabalho.
Assim, após a reflexão e analise de cada versão os alunos chegaram a
conclusão de que na vida temos que equilibrar o trabalho, os estudos os
deveres com a diversão e o lazer.
Todos os textos foram disponibilizados para os alunos e organizados no
caderno bem como todas as atividades escritas de análise dos mesmos.
Para finalizar os alunos tiveram a oportunidade de assistir aos vídeos “
A lebre e a tartaruga” “A raposa e as uvas” e “A cigarra e a formiga, a fim de
perceber as diferenças existentes entre os textos verbais e não verbais.
Os alunos tiveram encontros na biblioteca da escola para fazer
empréstimo de livros de fábula. Os livros foram disponibilizados para leitura da
turma por meio de um rodízio de leitura. A leitura das histórias foram realizadas
em casa, com o objetivo de ler por prazer.
A avaliação das atividades foi realizada observando se o aluno foi
capaz de expressar ideias com clareza, se apresentou concordância verbal e
nominal, marcas linguísticas (coesão, coerência pontuação, ortografia) de
acordo com os objetivos estabelecidos no planejamento da turma 6º ano A.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste trabalho percebemos que o gênero fábula permitiu aos
alunos repensar suas condutas e as dos outros, questionando o que levam
alguns a agirem de determinada forma e outros não. As discussões
aconteceram, pois, no âmbito da ética, da reflexão dos valores e nas normas
que regem a sociedade humana.
As estratégias de leitura por meio de textos fabulares propiciaram
discussões a cerca de comportamentos do dia a dia, procurando levar os
alunos a valorizá-los ou refugá-los, de acordo com seus próprios valores,
questionando o peso que a sociedade lhes atribui. A imaginação, a curiosidade,
a criatividade e o interesse pela leitura e escrita foram elementos constitutivos
do presente trabalho e contribuíram para o resgate de valores e posturas éticas
um tanto ausente no âmbito escolar.
No decorrer do desenvolvimento da Proposta Pedagógica, pudemos
perceber que a atividade de leitura oportunizou momentos de prazer e
descontração. Além disso, possibilitou o hábito de ouvir e contar histórias
elementos necessários para desenvolver a imaginação da criança.
Durante a implementação na escola a Proposta Pedagógica foi
socializada com outros professores por meio do Grupo de Trabalho em Rede
(GTR). O grupo de estudo foi composto por quinze professores que tiveram
acesso ao Projeto e ao Material Didático e acompanharam o cronograma de
implementação da Proposta Pedagógica. Os professores interagiram nos
fóruns e diários de atividades com os colegas participantes e o Tutor. Em todos
os relatos discutiram a respeito da pertinência da Proposta Pedagógica para
a escola pública, bem como sua viabilidade . Afirmaram que as estratégias de
leitura desenvolvida no trabalho são ações simples e exequíveis, capazes de
transformar positivamente o hábito de leitura entre os alunos já nos primeiros
anos escolares. Os professores disseram que a escolha do gênero "narrativas
fabulares", inserido no contexto escolar por meio de um projeto que o priorize,
é de extrema relevância. Haja vista que a moral que compõe o referido gênero
permite ao leitor possibilidade de adquirir conhecimentos que lhe permitirão
atuar como cidadão crítico na sociedade, assim como acessar o conhecimento
historicamente produzido
Sendo assim, ao fim deste trabalho evidencia-se a necessidade de
tornar presente o gênero textual fábula como objeto de estudo da Língua
Portuguesa no 6º ano do ensino fundamental uma vez que são textos que
proporcionam uma leitura ao mesmo tempo crítica e prazerosa.
Portanto, podemos concluir que é papel do professor ser o mediador
para que os alunos desenvolvam capacidades linguísticas e discursivas, e
compreendam as várias versões de um gênero produzidas em diferentes
momentos históricos. E cabe ainda ao professor desenvolver estratégias de
leitura reflexivas que oportunize ao aluno condições de atuar como um cidadão
crítico e capaz de interagir com as práticas de letramento da sociedade.
5 – REFERÊNCIAS
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boa. Acesso em10 de setembro de 2012. LOBATO, Monteiro. A cigarra e a formiga má. - Disponível em: http://www.revistasamizdat.com/.../cigarra-e-as-duas-formigas-de-monteiro. Acesso em 22 de setembro de 2012. Marcushi Luiz Antonio. Gêneros textuais: definição e funcionamento, In Dionisio, Ângela Paiva et al. (Org) Gêneros textuais & ensino. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003. . PAES, José Paulo. A cigarra e a formiga - Disponível em: http://www.mundo-dos-textos.blogspot.com/.../jos-paulo-paes-transformou-em-p. Acesso em 16 de agosto de 2012. SILVA, Ezequiel Theodoro da. Conferências sobre leitura: trilogia pedagógica. 2. Ed. Campinas/SP: Autores Associados, 2005. . .
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