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Guia EXAME de Sustentabilidade 2012
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2012
A lista das 21 empresas-modelo em responsabilidade social corporativa no Brasil
anglo american a empresa sustentável do ano
SuStentabilidade
carreiraOs passes dos executivos
sustentáveis estão em alta no mercado
negóciosAs pequenas e
médias empresas também querem ser verdesespecial
Água – A escassez de um recurso abundante na natureza
Novembro/2012 | R$ 29,90
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Sumário
11 Carta ao leitor
16 EXAME.com
pesquisa 22 Resultados Quais são as
mudanças na estratégia de
sustentabilidade das empresas
30 Clima Companhias se destacam
com programas de redução
de gases de efeito estufa
especial água 40 Recursos hídricos A falta
de água no Brasil pode ter
graves implicações econômicas
48 Cidades A demanda por água
nas grandes cidades do mundo
vai crescer 40% em 15 anos
52 Brasil Empresas economizam
água para antecipar a tendência
de aumento dos preços
56 Brasil 2 Concessionárias
começam a reduzir as perdas
de água nas tubulações
60 China O país precisa enfrentar
as causas da contaminação
de seus recursos hídricos
gestão
66 Reciclagem O lixo eletrônico
pode movimentar um mercado
de 300 milhões de reais ao ano
empresas
74 Empreendedorismo Pequenas
também são sustentáveis
82 Carreira Especialistas em
sustentabilidade nunca tiveram
tanto prestígio nas empresas
negócios globais 90 Jorgen Randers Para defensor
do crescimento sustentável,
o caos climático é inevitável
96 Certificação O selo SA8000
é colocado à prova
Finanças 102 Cary Krosinsky Especialista
em finanças diz que saber quanto
se emite de CO2 não basta
106 Crédito Fundos querem
que os clientes façam
o bem — para os outros
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R40Cais em Macapá, no Amapá:
o Brasil tem extensas reservas de água, mas longe dos grandes centros urbanos
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Sumário
114
pesquisa 112 Critérios Como é o processo de
definição das empresas-modelo
em sustentabilidade
empresas-modelo 114 Anglo American
A mineradora especializada
na produção de níquel é eleita
a Empresa Sustentável do Ano
122 AES
Acidentes fatais com energia
elétrica caíram pela metade
124 Alcoa
A troca do óleo combustível
pelo gás natural foi como tirar
11 200 carros das ruas
126 Braskem
Oito de seus nove indicadores
ambientais melhoraram em 2011
128 Bunge
Investimentos na capacitação
dos fornecedores aumentaram
130 CPFL
Parques eólicos são parte
da busca por fontes de energia
132 Dow
Com parcerias, os recursos
naturais foram poupados
134 EcoRodovias
Pneus velhos melhoraram
as estradas da concessionária
136 Elektro
Inspeção aérea captou falhas na
rede e gerou ganhos ambientais
138 Embraco
Fornecedores adotaram
boas práticas
140 Fibria
Maus resultados não impediram
avanços na área ambiental
142 Fleury
A política de sustentabilidade
foi adotada pelas empresas
adquiridas pelo grupo
144 Itaú Unibanco
Ações de educação financeira
foram ampliadas em 2011
146 Kimberly-Clark
A empresa passou a usar plástico
renovável para acondicionar
um de seus principais produtos
148 Masisa
A utilização de substância
tóxica foi eliminada,
um diferencial no setor
150 Natura
Centro de inovação em Manaus
facilitou uso de itens da região
152 O Boticário
Iniciativas sustentáveis ganham
mais adeptos
154 Promon
Clientes que não se alinhavam
às práticas ambientais da
companhia foram recusados
156 Unilever
Presença de sódio, açúcar
e gordura trans nos produtos
alimentícios caiu
158 Whirlpool
Eletrodomésticos foram feitos
pensando na sua reciclagem
160 Sabin (PME)
Políticas de recursos humanos
aumentaram a receita
162 Imagem
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SUnidade de níquel da Anglo American: a empresa investe na
educação da comunidade
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Diretor de Redação: André LahózRedator-Chefe: Tiago Lethbridge
Editores Executivos: Eduardo Salgado, José Roberto Caetano Editores: Alexa Salomão, Bruno Ferrari, Cristiane Mano, Ernesto Yoshida, Fabiane Stefano, Giuliana Napolitano, Lucas Amorim Repórteres: Ana Luiza Herzog, Ana Luiza Leal, Guilherme Manechini, Humberto Maia Junior, João Werner Grando, Luiza Dalmazo, Márcio Kroehn, Maria Luíza Filgueiras, Mariana Segala, Michele Loureiro,
Thiago Bronzatto Sucursais: Patrick Cruz (Brasília); Roberta Paduan, Alexandre Rodrigues (Rio de Janeiro) Revisão: Ivana Traversim (chefe), Eduardo Teixeira Gonzaga (coordenador), Regina Pereira
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Daniela Barbosa, Diogo Max, Gabriela Ruic, João Pedro Garcia Caleiro, Luciana Carvalho, Marcelo Poli, Marcela Ayres, Marco Prates, Mirella Portugal, Pedro Zambarda, Priscila Yazbek, Tatiana Vaz, Vanessa Barbosa Desenvolvedores Web: Marcus Cruz, Renato del Rio
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Editor: Roberto Civita
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GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2012 (EAN 789-3614-08917-1) é uma publi cação anual da Editora Abril S.A. Edições anteriores: venda exclusiva em bancas, ao preço da última edição em banca mais despesa de remessa. Solicite ao seu jornaleiro. Distribuída no país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. EXAME não ad m i te pu bli ci da de re da cio nal.
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Pesquisa e Inteligência de Mercado: Andrea Costa Treinamento Editorial: Edward Pimenta
S.A.
Coordenação Eduardo Salgado
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Edição Ana Luiza Herzog, Ernesto Yoshida, Fabiane Stefano
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Reportagem Andrea Vialli, Célio Yano,
Cynthia Almeida Rosa, Daniela Rocha, Eduardo Nunomura, Érica Polo,
Guilherme Manechini, Katia Simões, Leandro Quintanilha, Lia Vasconcelos,
Livia Deodato, Mariana Segala, Maurício Oliveira, Mirella Domenich,
Raquel Grisotto, Simone Tobias, Vladimir Brandão, Zenaide Peres
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Assessoria técnica Centro de Estudos
em Sustentabilidade da FGV-Eaesp (GVces)
Equipe Mario Monzoni e Roberta Simonetti (coordenação), Helton
Barbosa e Fernanda Macedo (pesquisa)
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Desenvolvimento de sistema web
Everson Siqueira
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Arte Editor de Arte Ricardo Godeguez
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Fotografia Editor de Fotografia Germano Lüders
Equipe Iara Brezeguello (coordenadora), Gabriel Correa
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Revisão Coordenação Ivana Traversim
Revisores Eduardo Teixeira Gonzaga, Flávia Maíra de Araújo Gonçalves,
Maurício José de Oliveira, Regina Pereira,
Ulysses Borges de Lyma
•••
Tratamento de imagem Coordenação Leandro Fonseca
Equipe Anderson Freire, Carlos Alberto Pedretti, Julio Gomes,
Paulo Garcia Martins
2012Sustentabilidade
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/11
participação direta da iniciativa privada. E a boa notícia, como demonstram os exemplos destacados nesta edição, é que o Brasil já conta com um pelotão de elite cada vez mais antenado com a sustentabilidade. Eles mostram que não se trata de deixar a natureza intocada. Isso não é realista — nem desejável. O ponto é outro: como construir uma nova abordagem no uso dos recursos naturais, que são obviamente finitos. EXAME tem orgulho de ter sido a primeira publicação brasileira a abraçar a causa da sustentabilidade, lá se vão 13 anos, com a primeira edição deste guia. O que nos movia — e nos move — era o desejo de mostrar não apenas o problema, mas as possíveis soluções. O Brasil pode e deve ser uma poderosa fonte de inspiração global na construção de um mundo melhor.
a Onu decretOu que 2013 será o Ano Internacional da Cooperação pela Água, o reconhecimento por parte da organização de que não podemos mais negligenciar o mais importante dos recursos. Como mostra a série de reportagens especiais sobre água deste guia, temos um problema. Hoje, 40% da população global vive em países em situação de estresse hídrico — ou seja, vive com menos do mínimo recomendado pela ONU. Pior: esse número provavelmente vai crescer nas próximas décadas. Nem mesmo o Brasil, espécie de eldorado em termos de quantidade de rios que cruzam o país, está livre de problemas. Nossa oferta de água se concentra na Região Norte, lar de 8% da população. Nas grandes cidades, rios poluídos fazem parte da cena há décadas. E a carência de água é um dado da realidade.
Esses e outros temas foram debatidos na mais recente edição do Fórum EXAME de Sustentabilidade, que reuniu alguns dos maiores especialistas do país no assunto. Como disse na ocasião a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Brasil precisa começar a avaliar o custo da água nos processos produtivos. “Nosso maior desafio é mostrar que a política ambiental não é restrição ao desenvolvimento”, declarou. O Brasil tem, pelo menos no campo da teoria, uma enorme vantagem comparativa em relação aos demais países do mundo. Ninguém tem uma combinação tão virtuosa de biodiversidade com riquezas naturais. E isso poderá ser um diferencial em nosso favor — desde que saibamos aproveitálo. Nesse sentido, as empresas aqui instaladas têm papel decisivo. Não há solução possível no terreno ambiental sem a
carta aO leitOr
Inspiração para o mundo
Debate do Fórum EXAME de Sustentabilidade: algumas das melhores cabeças do país reunidas para pensar um futuro melhor para o conjunto de brasileiros
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16/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
Acesse EXAME.com e leia reportagens exclusivas para a internet que complementam o Guia de Sustentabilidade
www.exame.com
As empresas-modelo de 2012Veja as fotos da premiação das 21 empresas
que são exemplo de responsabilidade ambiental
segundo o GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE.
A cerimônia ocorreu no dia 7 de novembro no Hotel
Unique, em São Paulo. A unidade de níquel da
mineradora Anglo American foi escolhida a Empresa
Sustentável do Ano. http://abr.io/sustentabilidade2012
Calcule a sua pegada ecológicaQuantas pessoas moram
na sua casa? Você come
carne quantas vezes
por semana? Quantos
feriados você viaja
por ano? Ao responder
perguntas assim na
calculadora ecológica,
você terá uma ideia
de qual é sua pegada
de carbono. O resultado
é dado em hectares
e você descobre
na hora qual a área
de floresta necessária
para sustentar seu
padrão de consumo e
compará-la com a média
dos outros internautas.
http://abr.io/carbono
De Simoni, da Anglo American: 300 milhões
de dólares para reduzir o impacto ambiental
An
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rOs produtos amigos do meio ambienteA seção Design Verde mostra quais são
as últimas novidades no mundo entre
os produtos ecologicamente sustentáveis.
Uma delas é a chuteira Green Speed,
da Nike, que é revestida com um material
derivado da mamona. http://abr.io/designverde
A visão dos especialistasO blog Termômetro
Digital repercute
as novidades
sobre as mudanças
climáticas no mundo
pelo olhar de
pesquisadores
que acompanham
o setor. Já o blog
BioAgroEnergia
discute o impacto
ambiental do
agronegócio.
http://abr.io/blogueiros
Quer saber se o seu banco é socialmente responsável?o portal Guia dos Bancos responsáveis analisa as políticas socioambientais dos seis maiores bancos no Brasil. o site cruza os dados divulgados pelas instituições financeiras com os de estudos feitos por entidades independentes.http://abr.io/bancos
Plugados na tomadaNavegue pela seção Carros Elétricos e conheça
as últimas novidades das montadoras nesse
segmento. Um deles é o Toyota eQ, que
recarrega 80% da bateria em apenas 15
minutos. http://abr.io/carroseletricos
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22/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
Mina de bauxita da Alcoa, em Juruti, no Pará: os relatórios de sustentabilidade da empresa trazem as metas alcançadas e as que não foram cumpridas ainda
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/23
mais um passo na direção certa
O Guia EXaME dE SuStEntabilidadE 2012, maior levantamento de práticas de responsabilidade
corporativa do país, comprova a disposição das empresas instaladas no país de fortalecer
suas estratégias de sustentabilidade/ ana luiza herzog
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24/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
pesquisa⁄resultados
a francesa danone, uma das maiores empresas globais de laticínios, tem 186 fábricas espalhadas por 120 países. É aqui no Brasil, porém, em Poços de Caldas, em Minas Gerais, que está loca-lizada a unidade fabril menos emissora de gases de efeito estufa da companhia no mundo. A fábrica, que responde por 90% da produção da Danone no país, não era muito diferente de seus pares até três anos atrás, quando a direção da operação brasileira decidiu que ela seria submetida a uma espécie de con-versão verde. A primeira mudança começou em 2010, quando a empresa de-cidiu investigar a origem da energia que a fábrica comprava e descobriu que ela não era 100% limpa: parte vinha de termelétricas. Veio então a decisão de adquirir energia apenas de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). O gover-no até incentiva as empresas a migrar para fontes renováveis, mas isso não significa que o processo ocorra de maneira simples. A Danone demorou oito meses para conseguir concluir a troca. Resolvida essa questão, a empresa passou a se dedicar a um projeto mais ambicioso: livrar-se da caldeira mo-vida a óleo diesel. “Cogitamos a con-versão para o gás natural, o que já representaria um ganho ambiental, mas decidimos encarar um desafio maior: uma caldeira a biomassa”, afir-ma Adriana Matarazzo, diretora de pesquisa e desenvolvimento e de sus-tentabilidade da Danone. Nenhuma outra fábrica da empresa no mundo possuía algo parecido, e a operação brasileira precisou de um ano para superar as dificuldades técnicas do projeto. Além disso, investiu 7,5 mi-lhões de reais. Como resultado dessas duas iniciativas, quase 97% da ener-gia usada hoje na fábrica é limpa. As
ações da empresa para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa não pararam aí. Em outubro, a Danone passou a usar o PET nas garrafas de iogurte de mais de 900 miligramas, no lugar do HVPE, um plástico con-vencional. Com a troca, a Danone não só conseguiu reduzir o peso das gar-rafas como também a probabilidade de que elas acabem sendo descarta-das em lixões. “Recicla-se menos do que 20% do HVPE no Brasil”, afirma Adriana. “A cadeia de reciclagem do PET é muito mais desenvolvida e o índice já é de quase 60%.”
A Danone é um exemplo de empre-sa que conseguiu inserir o tema do
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/25
Fábrica da Danone em Poços de Caldas, em
Minas Gerais: 97% da energia usada na unidade
vem de fontes limpas
combate às mudanças climáticas no cerne do negócio. Ela não está sozinha. Segundo a pesquisa feita para o GUIA EXAME DE SUSTENTABILIDADE 2012 com quase 150 companhias que operam no país, 70% afirmaram con-templar em seu planejamento estraté-gico investimentos para reduzir emis-sões de gases de efeito estufa e o de-senvolvimento de oportunidades rela-cionadas às mudanças climáticas e à economia verde. Há dois anos, esse percentual era de 65%.
Outros números obtidos na pesqui-sa do guia reforçam a tese de que as empresas brasileiras estão mesmo assimilando a questão climática. Nes-te ano, por exemplo, 78% das partici-pantes declararam fazer inventário de emissões de gases de efeito estufa — ante 54% das empresas participan-tes do levantamento de 2009. A pes-quisa também mostra que, para fazer seus inventários, mais empresas estão usando a metodologia GHG Protocol, a ferramenta mais utilizada no mun-do: 60% em 2012, ante apenas 42% em 2010. O crescimento da populari-dade do GHG Protocol no Brasil é uma ótima notícia. “Só é possível fa-zer análises ou comparações sobre o desempenho das companhias se to-
Neste ano, 78% das empresas que participaram do guia EXAME fazem inventário de emissões de gases de efeito estufa — eram 54% em 2009
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26/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
das medirem suas emissões da mesma maneira”, afirma Beatriz Kiss, coordenadora do Programa Brasileiro GHG Protocol e pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, entidade responsável pelo uso da metodologia no Brasil.
Mais consistência
A pesquisa do guia EXAME traz evidências indiscutíveis que apontam uma evolução na estratégia de sustentabilidade das empresas, mas também é verdade que há muito a avançar. Quase 85% das companhias analisadas afirmaram que estão formalmente comprometidas com o desenvolvimento sustentável por meio de sua alta administração. Quando são, porém, perguntadas se colocam suas metas e objetivos em um documento público, apenas 59% respondem positivamente. Esse é um sinal de que muitas empresas ainda temem ter sua estratégia de sustentabilidade questionada por funcionários, clientes e ONGs. “Nosso raciocínio ao publicar um relatório com metas alcançadas e metas não alcançadas é que a franqueza é a melhor arma”, diz Nilson Souza, diretor de sustentabilidade da produtora de alumínio Alcoa. “Esse pensamento ainda não é o dominante nas empresas.”
Das companhias analisadas, nada menos do que 85% afirmaram ter assumido publicamente compromissos voluntários relacionados ao desenvolvimento sustentável. Comparado aos 81% de 2011, houve um avanço considerável. Por compromisso voluntário entendese iniciativas como a do Pacto Global, das Nações Unidas, que preconiza para o setor privado a adoção de princípios de combate à corrupção e de defesa dos direitos humanos, das condições de trabalho e do meio ambiente. Quando questionadas sobre o que fazem em relação a esses compromissos, o cenário revelado pelas empresas é menos animador: apenas 43% monitoram seu desempenho com indicadores, têm metas de melhoria e prestam conta dessa evolução.
os destaques da pesquisaEm 2012, 123 empresas responderam às questões do Guia
a empresa, por meio de sua alta administração, está formalmente comprometida com o desenvolvimento sustentável?
de que maneira esse compromisso é manifestado?
a empresa assumiu publicamente compromissos voluntários, de abrangência nacional ou internacional, relacionados ao desenvolvimento sustentável?
Em relação aos compromissos assumidos, a empresa faz autoavaliações, monitora a adesão com indicadores, tem metas de melhoria e planos de ação para atingi-las, divulga as metas e presta contas em relatório público?
diMensão Geral
2011 20122010
70 70
60 60
50 50
0 0
80 80
90 90
Visão e missão
2010 20102011 20112012 2012
87%
80%
84%
52% 51%
59%
Documento público com metas de longo prazo
Não
1%
Não
1%Não
1%
2011
Não
19%
Sim
81%
Sim
99%
Sim
99%
Sim
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2010
Sim
82% Não
18%
2012
Sim
Sim Não
Não85%
15%
2011
2010
2012
41% 59%
51% 49%
57%43%
70
60
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89%
Planejamento estratégico
pesquisa⁄resultados
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/27
EXaME dE SuStEntabilidadE. Veja os principais números
Dimensão AmbientAl
78%
78%
86%
22%
22%
14%
65%
66%
70% 30%
34%
35%
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2010
2010 2010
2010 2010
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2011
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2011 2011
2011
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2012
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2012
42% 58% 31% 69%
53%
60%
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40% 59%41%
79% 41%53%
77% 40%52%
81% 37%54%
a empresa possui compromisso formal com a valorização da diversidade?
a empresa elabora inventário das emissões de gases de efeito estufa?
O inventário é elaborado de acordo com a metodologia GHG Protocol(1)?
a empresa possui programa e metas de redução das emissões?
de que forma esse compromisso está expresso?
Dimensão sociAl
Dimensão econômicA
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Sim
Não88%
12%
Código de conduta Adesão a ações voluntárias Política específica
2012
Sim
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10%
2011
Não
Sim
85%
15%
SimSim NãoNão
1. Criada pelo World Resources Institute e o World Business Council for Sustainable Development, é a ferramenta mais usada globalmente para entender, quantificar e gerenciar as emissões de gases de efeito estufa
NãoSim
59% 41%
2010
Sim
65%
Não
35%
2011 2012
Não
Sim
78%
22%
Nos últimos anos, as empresas brasileiras avançaram nos temas relacionados ao desenvolvimento sustentável , mas o caminho ainda é longo
O planejamento estratégico contempla investimentos para reduzir emissões de gases estufa e a busca de negócios relacionados à economia verde?
O processo de gestão de riscos corporativos considera critérios socioambientais de curto, médio e longo prazo?
Bons exemplos a ser seguidos não faltam. Entre as empresas que apre-sentam uma conduta digna de nota nessa área está a seguradora SulAmé-rica. Sua direção fez uma análise cri-teriosa dos compromissos existentes no mercado antes de optar pela ade-são. “Escolhemos participar daqueles que realmente têm afinidade com nosso negócio porque só dessa ma-neira conseguiría mos dedicar tempo e energia para fazer a diferença”, afir-ma Adriana Boscov, superintendente de sustentabilidade da SulAmérica, companhia que é signatária, entre outras iniciativas, da rede brasileira do Pacto Global e do Protocolo do Seguro Verde, que prega, como o pró-prio nome sugere, a adoção de ações de responsabilidade socioambiental no setor de seguros. Para Roberta Si-monetti, pesquisadora do GVCes e responsável pela metodologia do questionário utilizado por EXAME, esse resultado mostra que é preciso encurtar a distância entre a intenção das empresas e o que de fato elas pra-ticam. “Assinar um protocolo de in-tenções é o primeiro e mais fácil pas-so, mas é necessário criar indicadores e estabelecer metas”, afirma. “Caso contrário, empresa e sociedade aca-bam ganhando muito pouco.”
SimSim NãoNão
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30/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
pesquisa⁄clima
rumo ao baixo carbonoEntre as empresas inscritas neste ano no Guia EXaME
dE SuStEntabilidadE, 78% fazem o inventário da emissão de gases de efeito estufa — no ano passado eram 65%
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/31
combustível verdeDesde julho de 2011, a Aperam, produtora de aço inoxidável do grupo anglo-indiano
ArcelorMittal, passou a usar carvão vegetal nos fornos de sua usina em Timóteo, em Minas Gerais (foto). O carvão vegetal, obtido de madeira oriunda de florestas plantadas de eucalipto, substituiu o coque, que é produzido do carvão mineral, um combustível não
renovável. O carvão vegetal ajuda a reduzir as emissões de CO2 na atmosfera por causa da captura do gás carbônico pelas árvores. Na Aperam, o volume de CO2 lançado na
atmosfera caiu pela metade — o equivalente a 700 000 toneladas por ano.
aperam
o brasil é o quarto maior emissor global de gases de efeito estufa, com 5% do total lançado na atmosfera, de acordo com o World Resources Institute, instituto de pesquisa ambiental com sede nos Estados Unidos. Em termos per capita, o nível de emissões no Brasil é muito próximo ao dos países ricos. Embora a principal fonte de emissões no país seja o desmatamento de florestas, é fundamental que todos os setores façam a sua parte rumo a uma economia de baixo carbono. Alguns dados indicam que, felizmente, essa questão está entrando no radar de um número crescente de empresas. Entre as companhias que se inscreveram neste ano no GUIA EXAME dE SUStEntABIlIdAdE, 78% fazem o inventário das emissões de gases estufa. Em 2011, 65% faziam esse inventário. Além disso, 48% das empresas inscritas neste ano têm metas de redução das emissões, ante 45% no ano passado. O guia EXAME selecionou quatro empresas com boas práticas nessa área.
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32/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
pesquisa⁄clima
even
engajamento dos fornecedores
A incorporadora e construtora paulista Even, especializada em imóveis residenciais (na foto, um canteiro de obras), foi a primeira empresa do setor no país a realizar um inventário das emissões de gases de efeito estufa, há três anos. E descobriu que, sozinha, não conseguiria avançar nessa área — quase 98% de suas emissões são indiretas, oriundas dos processos de fabricação de materiais de seus fornecedores de insumos, como cimento e aço. A empresa decidiu então iniciar um trabalho de engajamento de sua cadeia de suprimentos. Diretores da Even visitaram as instalações de seus principais fornecedores para discutir aspectos relacionados aos impactos da atividade de construção e mostrar a importância de realizar o inventário das emissões. Além disso, a Even criou um fórum de discussão na internet, no qual os fornecedores podem trocar experiências e debater questões relacionadas às emissões de gases estufa com especialistas. O trabalho começa a dar resultados. De seus 20 principais fornecedores, metade passou a realizar o inventário de suas próprias emissões.
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/33
ecofrotas
carros sustentáveisOs veículos automotores são a quarta maior fonte de emissão de gases estufa no planeta, com 12% do total. Para a gaúcha Ecofrotas, especializada na gestão de frotas de terceiros (foto), reduzir o volume de gases poluentes tornou-se estratégico para o negócio. Por isso, a empresa lançou neste ano um programa para medir as emissões de sua frota. Logo percebeu que precisava fazer ajustes, como investir mais em manutenção preventiva, treinar motoristas e abastecer seus veículos flex preferencialmente com etanol. Com isso, a média de emissão diária de CO2 dos veículos avaliados chegou a cair 60%. A ideia é continuar monitorando o desempenho da frota — e aplicar o conhecimento na gestão dos 520 000 veículos que compõem as frotas de seus 9 000 clientes corporativos.
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34/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
pesquisa⁄clima
albert einstein
conforto, saúde — e economiaEm um hospital, o sistema de ar condicionado é fundamental para proporcionar ar limpo e asséptico e conforto térmico aos pacientes. Por isso, a Unidade Morumbi do Hospital Albert Einstein, em São Paulo (na foto, a sala de ressonância magnética), decidiu aproveitar o projeto de ampliação do complexo para instalar equipamentos mais eficientes. Com a expansão, concluída em 2010, o prédio onde funciona o hospital quase dobrou de tamanho — de 70 000 para 135 000 metros quadrados. Com isso, era de esperar que o gasto de energia com o ar-condicionado disparasse. No entanto, o consumo cresceu apenas 39% graças à troca das duas centrais de água gelada, usadas para a climatização do hospital, por uma central mais moderna e automatizada. A tecnologia aproveita o calor dissipado pelo sistema para aquecer a água dos banhos. Com a mudança, o hospital economizará quase 1,5 milhão de reais por ano e deixará de lançar 300 toneladas de CO2 na atmosfera, o equivalente ao plantio de 1 800 árvores.
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40/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
especial⁄ recursos hídricos
a escassez na
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/41
abundância
Hoje, 40% da população do planeta já sofre
as consequências da falta de água. Além do aumento
da sede no mundo, a falta de recursos
hídricos tem graves implicações
econômicas e políticas para
as nações /Mariana Segala
Cais de Santa Inês, em Macapá, no Amapá: boa parte da água
disponível no país está concentrada nas regiões mais remotas
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42/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
especial⁄recursos hídricos
a água é o recurso natural mais abundante do planeta. De maneira quase onipresente, ela está no dia a dia dos 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta. Além de matar a sede, a água está nos alimentos, nas roupas, nos carros e na revista que está nas suas mãos — se você está lendo a reportagem em seu tablet, saiba também que muita água foi usada na fabricação do aparelho. Mas o recurso mais fundamental para a sobrevivência dos seres humanos enfrenta uma crise de abastecimento. Estima-se que cerca de 40% da população global viva hoje sob a situação de estresse hídrico. Essas pes-soas habitam regiões onde a oferta anual é inferior a 1 700 metros cúbi-cos de água por habitante, limite mínimo considerado seguro pela Or-ganização das Nações Unidas (ONU). Nesse caso, a falta de água é fre-quente — e, para piorar, a perspectiva para o futuro é de maior escassez. De acordo com estimativas do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar, com sede em Washington, até 2050 um total de 4,8
bilhões de pessoas estará em situação de estres-se hídrico. Além de problemas para o consumo humano, esse cenário, caso se confirme, colo-cará em xeque safras agrícolas e a produção industrial, uma vez que a água e o crescimento econômico caminham juntos. A seca que atin-giu os Estados Unidos no último verão — a mais severa e mais longa dos últimos 25 anos — é uma espécie de prévia disso. A falta de chuvas engo-liu 0,2 ponto do crescimento da economia ame-ricana no segundo trimestre deste ano.
A diminuição da água no mundo é constante e, muitas vezes, silenciosa. Seus ruídos tendem a ser percebidos apenas quando é tarde para agir. Das dez bacias hidrográficas mais densa-
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/43
Campo de refugiados no Quênia: até 2050, cerca
de 4,8 bilhões de pessoas viverão sob estresse hídrico
mente povoadas do mundo, grupo que com-preende os arredores de rios como o indiano Ganges e o chinês Yang-tsé, cinco já são explo-radas acima dos níveis considerados sustentá-veis. Se nada mudar nas próximas décadas, cerca de 45% de toda a riqueza global será pro-duzida em regiões sujeitas ao estresse hídrico. “Esse cenário terá impacto nas decisões de in-vestimento e nos custos operacionais das em-presas, afetando a competitividade das re-giões”, afirma um estudo da Veolia, empresa francesa de soluções ambientais.
Em muitos países em desenvolvimento e po-bres, a situação é mais dramática. Falta acesso a água potável e saneamento para a esmagado-
...A DISpoNIBILIDADE EM CADA pAÍS
Boa oferta de água Situação vulnerável Situação crítica
1 368China
Japão
175
Rússia
270
1 145Índia
Reino Unido75
França
106
Alemanha
117
821Estados Unidos
Brasil
356
Itália
132
o CoNSUMo NACIoNAL DE áGUA E... (em bilhões de m3 de água ao ano)
copo meio vazio Das dez maiores economias do mundo, quatro já enfrentam problemas de abastecimento de água
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44/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
No total, o Brasil consome 356 bilhões de metros cúbicos por ano — é o quarto maior consumo do mundo, perdendo para a China, a Índia e os Estados Unidos. Estamos tão acos-tumados com a fartura de recursos que talvez nada disso assuste. Cerca de 12% da água doce do mundo percorre o território brasileiro, on-de vivem menos de 3% dos seres humanos. Entre os membros do G20, grupo das 20 maio-res economias, o país só perde para o Canadá em disponibilidade de água per capita. Temos
ra maioria dos cidadãos. Só o tempo perdido por uma pessoa para conseguir água de mínima qualidade pode chegar a 2 horas por dia em várias partes da África. Pela maior suscetibili-dade a doenças, como a diarreia, quem vive nessas condições costuma ser menos produtivo. Essas mazelas já são assustadoras do ponto de vista social, mas elas têm implicações igualmen-te graves para a economia. Um estudo desen-volvido na escola de negócios Cass Business School, ligada à City University, de Londres, indica que um aumento de 10% no número de pessoas com acesso a água potável nos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) conse-guiria elevar o crescimento do PIB per capita do bloco cerca de 1,6% ao ano. “O avanço eco-nômico depende da disponibilidade de níveis elevados de água potável”, aponta Josephine Fodgen, autora da pesquisa. “Embora não se debata muito o tema, o mundo pode sofrer uma crise de crescimento provocada pela escassez de água nas próximas décadas.”
Mais renda líquida
Desde a década de 90, a extração de água para consumo nos centros urbanos do Brasil aumen-tou 25%, percentual que é o dobro do avanço do PIB per capita dos brasileiros no mesmo período. Quanto maior é a renda de uma pes-soa, mais ela tende a consumir e maior é seu gasto de água. Isso é o que se convencionou chamar de pegada hídrica, a medida da quan-tidade de água utilizada na fabricação de tudo o que a humanidade consome — de alimentos a roupas. O conceito e os cálculos desenvolvi-dos na Universidade de Twente, na Holanda, permitem visualizar em números o impacto até mesmo da mudança da dieta dos povos que enriqueceram rapidamente. “Uma enorme quantidade de água é gasta hoje para que o mundo consuma mais carne”, explica Ruth Mathews, diretora executiva da Water Foot-print Network, rede de pesquisadores que es-tudam o tema. Hoje, cada chinês gasta o equi-valente a 1 070 metros cúbicos de água por ano. É quatro vezes mais do que nos anos 60, e gran-de parte desse crescimento é atribuída à maior ingestão de aves e diferentes tipos de carne no país. Até poucos anos atrás, era tão improvável que um chinês tivesse um bife no prato que a iguaria costumava ser chamada de “carne dos milionários”. Atualmente, cada chinês conso-me mais de 4 quilos de carne bovina por ano — e, do pasto até o açougue, cada quilo de bife demanda 15 000 litros de água.
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/45
42 000 metros cúbicos anuais por habitante, um luxo para poucos. Boa parte da água do Brasil, porém, está concentrada nas regiões mais remotas e menos habitadas. Nove estados do país já ultrapassaram ou estão no limiar do estresse hídrico. Nessa conta, além dos tradi-cionais estados áridos do Nordeste, entram os mais urbanizados e desenvolvidos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. “A si-tuação dos lugares onde ficam as capitais mais populosas inspira cuidado, pede planejamento
e exige ação”, diz Paulo Varella, diretor da Agência Nacional de Águas. A cidade de São Paulo e sua região metropolitana, com uma população que se aproxima dos 20 milhões, são consideradas áreas propensas a enfrentar pro-blemas de falta de água no futuro. Embora ha-ja bacias de rios no entorno da capital, a água disponível é de péssima qualidade em razão, entre outros motivos, da quantidade de gente que vive — e produz esgoto — na região. “Não dá mais para depender da bacia do Alto Tietê.
Rebanho às margens
do lago Sayram, na China:
o aumento de ingestão de carne
quadruplicou o consumo de água
dos chineses
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46/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
especial⁄recursos hídricos
A situação dela é crítica”, afirma Edson Giri-boni, secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do estado de São Paulo. A saída é bus-car água cada vez mais longe.
Está previsto para novembro o início do processo de concorrência de uma parceria público-privada que vai trazer água da bacia do rio Ribeira de Iguape, na divisa com o Pa-raná, para a capital paulista. O investimento chegará a 1,6 bilhão de reais. Um extenso es-tudo que está sendo conduzido pela secretaria paulista avalia outras nove opções de captação de água. Entre as alternativas em avaliação está trazer água da bacia do rio Paraíba do Sul, que fica na divisa com o Rio de Janeiro. Quan-do essa possibilidade foi ventilada pela pri-meira vez, em 2008, alarmou a população fluminense. Dessa bacia sai a água que abas-tece a casa de 12 milhões de moradores da cidade do Rio de Janeiro e sua região metro-politana. O temor é que não haja volume su-ficiente para abastecer duas das localidades mais densamente povoadas do Brasil. Até ago-
ra, nada foi definido entre os governos de São Paulo e Rio de Janeiro. As disputas entre es-tados de um mesmo país costumam ser resol-vidas em seus respectivos Congressos ou pe-los Poderes Executivos. A situação pode ficar bem mais complicada quando envolve dois ou mais países. É por isso que a animosidade en-tre vizinhos que disputam a mesma água é acompanhada de perto pela Organização das Nações Unidas. “As implicações políticas que a falta de segurança hídrica pode despertar nos preocupam”, diz Zafar Adeel, diretor do Instituto para Água, Meio Ambiente e Saúde da Universidade das Nações Unidas. Um re-latório recente patrocinado pelo Departamen-to de Estado americano alerta para o fato de que problemas relacionados à água têm po-tencial para ampliar a instabilidade em diver-sos países, do norte da África ao Oriente Mé-dio. Essa é a realidade num cenário de escas-sez crescente. Parece filme de ficção, no esti-lo apocalíptico. Mas, infelizmente, trata-se de um perigo próximo e real.
Marginal do rio Pinheiros, em
São Paulo: com uma população
de 20 milhões de habitantes, a capital paulista e sua região
metropolitana correm sérios riscos de desabastecimento
de água
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48/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
especial⁄cidades
das
Indianos rezam durante ritual no rio Yamuna, próximo ao Taj Mahal: 60% da população mundial
estará concentrada nas áreas urbanas até 2025
a sedemetrópoles
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/49
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Como é Comum em países emergentes e pobres, na Índia par-te dos burocratas vive no mundo do faz de conta. Pelos cálculos oficiais da companhia de saneamento de Nova Délhi, apenas 12% do suprimento de água da capital da Índia vem do subsolo. Na realidade, porém, estima-se que pelo menos metade de toda água consumida na cidade, de quase 17 milhões de habitantes, tenha origem nos lençóis subterrâneos, gran-de parte deles contaminada pelo esgoto. O rio Yamuna, o poluído afluente do Ganges que abastece a capital, costuma ter um bom fluxo de água somente durante os três meses de chuvas. No resto do tempo, impera a escassez. Nos meses mais secos, a disponibilidade de água num raio de 100 quilômetros da capital é de 26 litros por pessoa por dia (o recomen-dável são 100 litros por pessoa por dia, volume que equivale a menos de uma banheira cheia). Estima-se que o volume deva cair para menos de 5 litros até 2050. O que ocorre em Nova Délhi é um exemplo dos desafios do abasteci-mento de água nas maiores metrópoles mun-diais. Em menos de 15 anos, a demanda por água nas grandes cidades deve aumentar 40%, segundo cálculos da consultoria americana McKinsey. Será necessário buscar, sabe-se lá onde, quase 80 bilhões de metros cúbicos a mais, o equivalente a 20 vezes o consumo atual da cidade de Nova York.
Hoje, mais da metade dos habitantes do planeta já vive nas cidades. Esse número de-verá aumentar para quase 60% da população mundial em 2025, com um agravante. Levan-do-se em conta o crescimento populacional nos centros urbanos mais a migração vinda do campo, as metrópoles receberão 1 bilhão de novos habitantes nos próximos 13 anos. Quase todas as cidades em que o consumo de água deve crescer acentuadamente ficam em países emergentes. “Não vamos solucionar esse problema sem gastar tempo, vontade po-lítica e muito dinheiro”, diz Rob McDonald, pesquisador da ONG americana The Nature Conservancy. Atualmente, pelas contas de pesquisadores da Universidade da Cidade de Nova York, quase 900 milhões de pessoas vi-vem em cidades onde falta água em algum momento do ano. Ou seja, durante pelo menos um mês do ano, a disponibilidade é inferior a 100 litros por pessoa por dia.
Para parte dos ambientalistas, o crescimento das cidades, apesar dos problemas que gera, é
A demanda por água nas grandes cidades do mundo vai
crescer 40% em 15 anos. Matar a sede urbana exigirá tempo,
vontade política e muito dinheiro / mariana segala
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50/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
especial⁄cidades
a escassez pelo mundo Além da baixa oferta de água, as metrópoles de países emergentes enfrentam problemas como qualidade e distribuição ruim
a solução. Simplesmente porque é mais barato construir infraestrutura para áreas com gran-des densidades. Essa é a teoria. Na prática, países emergentes e pobres não têm consegui-do prover os serviços básicos nem em suas maiores cidades. Para piorar a situação, cerca de 80% da demanda futura deve vir da parte do globo onde hoje a qualidade e a distribuição da água transitam entre o ruim e o muito ruim. Na Cidade do México, por exemplo, a oferta de água nos dias mais secos é reduzida a 2 litros por habitante. Se nada for feito, essa situação de calamidade vai se espalhar. Estima-se que, até 2050, 3 bilhões de pessoas enfrentarão al-gum tipo de privação hídrica nas cidades.
No Brasil, onde estão 12% da água doce mun-dial, menos da metade dos 5 565 municípios tem abastecimento considerado satisfatório. Para não arriscar ficar sem água nos próximos três anos, a outra metade precisa investir na ampliação dos sistemas de captação ou encon-trar novos mananciais. “Há um descompasso entre o crescimento urbano, com a expansão das favelas e dos bairros de periferia, e a velo-cidade com que se constrói infraestrutura de
tratamento de água e saneamento”, afirma Glauco Kimura de Freitas, coordenador do programa de água doce da ONG WWF Brasil. Se a questão do abastecimento de água se re-sumisse à quantidade, já seria gravíssima. Mas somam-se as dificuldades relacionadas à qua-lidade. Na China, por exemplo, o Ministério dos Recursos Hídricos já admite que mais de 70% de toda a água da superfície do país — e 74% da subterrânea — está poluída. Ou seja, é preciso ser tratada para ser consumida. “É tris-te perceber que problemas de poluição seme-lhantes aos que assolam as cidades chinesas, onde há contaminação por mercúrio, já acon-teceram em outros lugares antes e são extre-mamente conhecidos. Mesmo assim, não fo-ram evitados”, diz Darrin Magee, diretor do Centro de Estudos Ambientais Asiáticos da faculdade Hobart and William Smith, de Nova York (veja entrevista na pág. 60).
A inabilidade dos gestores públicos em lidar com a questão da água é generalizada, e a fa-tura para zerar o problema é alta. De acordo com a consultoria McKinsey, para prover água a toda a população urbana do mundo até 2025,
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Disponibilidade de água nos meses mais secos,
num raio de 100 quilômetros (litros por dia por habitante)
Qualidade da água Poluída Muito poluída
Distribuição de água Ruim Muito ruim
Fonte: Rob McDonald (The Nature Conservancy)
* Mais de 100 litros por dia
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100*
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/51
Até 2050, cerca de 3 bilhões de pessoas deverão viver
em cidades onde faltará água em algum momento do ano
serão necessários investimentos de 480 bi-lhões de dólares em infraestrutura de trata-mento e distribuição, o equivalente ao PIB da Noruega. Parece muito, mas o preço de não fornecer água de qualidade pode ser muito maior. No México e na Índia, o número de protestos provocados pela escassez tem au-mentado. A crescente tensão ficou clara no último verão indiano, que bateu recorde de calor. O pico da demanda inflacionou os pre-ços cobrados pela máfia do caminhão-pipa e elevou a pressão sobre os lençóis freáticos. Embora seja proibido, os proprietários de ter-ra da região abrem poços em seus quintais para sugar água do subsolo e vendê-la ilegal-mente. Cada 1 000 litros — o consumo de uma família de quatro pes soas durante cinco dias — custa o equivalente a até 40 reais, valor al-
to para o padrão das famílias mais pobres nas grandes cidades. A cada nova onda de calor, os agricultores perfuram mais fundo, os donos dos caminhões-pipa cobram mais caro e a po-pulação urbana fica mais revoltada. O fenô-meno ganhou as manchetes da mídia interna-cional neste ano. Se os investimentos neces-sários não forem feitos, a tendência é que esse se transforme no novo padrão. Infeliz-mente, não apenas na Índia.
Protesto de agricultores na Cidade do México: sem água, a produção de alimentos e a renda caem
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Terminal da Vale em Tubarão, no Espírito Santo: a empresa aposta em tecnologia que promete beneficiar o minério de ferro com consumo de água menor
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Essa conta ainda vai
chEgarEmpresas se antecipam à tendência de aumento dos preços da água e adotam práticas para reduzir o consumo / guilherme manechini
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a cada segundo, 100 000 litros de água movem as engrenagens da indústria brasileira. Ela esfria maquinários, mo-vimenta equipamentos e faz parte da composição de uma infinidade de produtos. O consumo indus-trial de água se aproxima ao de todas as cidades brasileiras juntas — ambos só perdem para a agri-cultura, com quase 70% de todo o gasto hídrico do país. Hoje, boa parte da indústria brasileira busca água para suas atividades nos mananciais, que inclui desde a perfuração de um poço até a captação direta de rios. O uso desse recurso é, na maior parte das vezes, gratuito. Nas raras regiões onde é cobrada uma tarifa, os valores são baixos. Diante de uma situação como essa, a exploração eficiente dos recursos hídricos no Brasil ainda é uma exceção, uma preocupação de poucos. Há as companhias que enxergam na proteção dos re-cursos hídricos um potencial ganho de imagem perante acionistas e consumidores. Para o consul-tor ambiental Renato Tagnin, de São Paulo, a pres-são é maior sobre as empresas que captam água em áreas de grande densidade populacional. Em comum, essas empresas estão adotando práticas à frente da legislação vigente.
Hoje, os maiores investimentos das companhias estão direcionados para a utilização de água de esgoto tratada, a chamada água de reúso. Até o final do ano, deve ser inaugurado o projeto Aqua-polo, que promete transformar a água que hoje é
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Fábrica da Unilever, em Valinhos, no interior de São Paulo: a subsidiária brasileira lidera o ranking de economia de água entre as filiais da multinacional
desprezada em recurso hídrico para o polo petroquímico do ABC, na região metropolita-na de São Paulo. Serão reutilizados cerca de 13,5 bilhões de litros por ano, o equivalente ao consumo de uma cidade de 300 000 habitan-tes. O investimento total do projeto, realizado pela Sabesp e pela Foz do Brasil, empresa do grupo Odebrecht, é de 280 milhões de reais. A Braskem será a maior cliente do Aquapolo, com a compra de 65% de toda a água que será tratada. Iniciativa semelhante também será adotada pela Petrobras em suas operações no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, que deve ser inaugurado em 2015 no municí-pio de Itaboraí, no litoral fluminense. O abas-tecimento do polo petroquímico será feito
somente com água de esgoto tratada. Quando estiver em operação, será um dos maiores pro-jetos de reutilização de água do mundo, com capacidade para fornecer 47,3 bilhões de litros por ano, ou o equivalente ao consumo de uma cidade de 750 000 habitantes.
Na lista das maiores consumidoras de água, as mineradoras têm lugar de destaque — e a Vale não é exceção. A companhia consome 1,3 trilhão de litros por ano. Esse quadro tem fei-to a empresa buscar soluções para reduzir sua dependência do recurso. Atualmente, 70% do que é consumido é água de reúso, o equiva-lente a uma vez e meia o consumo anual da cidade do Rio de Janeiro. A utilização da água, segundo Fátima Chagas, gerente-geral de tec-
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nologias ambientais da Vale, ainda é funda-mental para as diversas etapas da mineração. Uma delas é o beneficiamento do minério. Para o projeto batizado de S11D, que entrará em operação em 2016 e vai mais que dobrar a capacidade de produção de minério de ferro de Carajás, no Pará, a Vale vai adotar o bene-ficiamento por umidade natural. Isso signifi-ca que o consumo de água diminuirá 93% nessa etapa da mineração. De certa forma, Braskem, Petrobras e Vale estão abrindo ca-minho no Brasil para algo que deve se conso-lidar como uma tendência nos próximos anos. Em Israel, país com problemas de acesso a água, o reúso atinge 70% do total consumido — de longe, o maior índice do mundo. Em se-gundo lugar vem a Espanha, com 12%. No Brasil, por enquanto, não há nenhuma esti-mativa confiável desse percentual.
na vanguarda
Parte das boas práticas adotadas no país é im-portada. Mapear os processos à exaustão é, há anos, a regra na subsidiária brasileira da Unilever, a segunda maior do grupo no mun-do em faturamento e referência em sustenta-bilidade. “Começamos a implantar políticas de otimização do uso da água na década de 90, quando nem se falava de leis específicas
para o uso de mananciais no Brasil”, diz Ju-liana Nunes, diretora de comunicação corpo-rativa e de sustentabilidade da Unilever no Brasil. Hoje, a meta da empresa é diminuir em 5% o consumo de água por ano em seus pro-cessos produtivos. Segundo ela, a subsidiária brasileira é líder em economia de água, apesar de o Brasil não enfrentar problemas constan-tes de escassez, como outros países onde a empresa atua. Nas filiais de China, Índia, In-donésia, México, África do Sul, Turquia e Es-tados Unidos, a redução do consumo é man-datória. Para a presidente do conselho da organização não governamental americana Food & Water Watch, Maude Berlow, poucos países contam com leis que incentivam a re-
dução do consumo de água. “Na verdade, a maioria incentiva o uso desen freado, subsi-diando a água para atrair indústrias com con-sumo intensivo”, afirma.
No Brasil, até recentemente não havia nem debate sobre o pagamento da água de manan-ciais. Apenas em 1997, quando foi atribuída aos comitês de bacias hidrográficas a respon-sabilidade de cuidar desse assunto, é que co-meçou a discussão sobre o preço dessa água. Desde então, houve progresso, mas ele foi tímido. Hoje, das mais de 180 000 bacias hi-drográficas do país, apenas 28 cobram pelo uso dos recursos — em geral, valores muito baixos. Em setembro, a bacia do Baixo Tietê, que compreende 42 municípios e uma popu-lação de 800 000 habitantes, iniciou a co-brança de tarifa. Nela, o preço para cada 1 000 litros é de 0,036 centavo. O valor é uma fração do que é cobrado pela Sabesp de seus clientes industriais. “Com a situação atual das tarifas, as empresas sempre vão optar pela água de mananciais para economizar”, diz o econo-mista Gesner Oliveira, ex-presidente da Sa-besp e professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. A gratuidade reinante na maior parte do país e o baixo preço nas regiões on-de é tarifada são um convite ao desperdício. No Fórum EXAME de Sustentabilidade, rea-
lizado no dia 7 de novembro em São Paulo, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixei-ra, defendeu mudanças na regulação para um reajuste no pagamento do uso da água. “A lei precisa ser repaginada e deve trazer novos patamares legais de regulação para que haja engajamento do setor privado”, afirmou Iza-bella. Por enquanto, a indústria brasileira goza de certo conforto em relação à disponi-bilidade de água, situação que deve mudar nas áreas mais populosas das regiões Sul e Sudeste nos próximos anos. Empresas que hoje desfrutam de fartos recursos hídricos de maneira ineficiente poderão ser surpreendi-das pelo repentino aumento dos custos ou pela escassez do recurso.
A busca por eficiência no consumo de água ocorre por livre iniciativa das empresas, e não pela pressão do preço
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Funcionários da Sabesp com geofones,
aparelhos que identificam vazamentos:
a meta da empresa é reduzir o índice de
perdas a 15% até 2020
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na foto ao lado, os funcionários da Sabesp, companhia de água e saneamento controlada pelo governo de São Paulo, estão munidos de geofones, espécie de estetoscópio capaz de identificar ruídos fora do padrão no subterrâneo. Até 2020, com a ajuda desses equipamentos, os 60 000 quilômetros de tubulações da empresa espalhados pelo es-tado serão meticulosamente inspecionados. O objetivo é detectar vazamentos de água. Por trás dessa e de outras ações, a Sabesp tem uma me-ta: chegar ao final desta década com um índice de perdas de 15%. Atualmente, ele é de 26%. Se bem-sucedida, a empresa, que controla a dis-tribuição de água na capital paulista e em mais 362 municípios, atingirá um patamar conside-rado pelos especialistas apenas como “aceitá-vel”. Em países como o Japão e a Alemanha, o índice de perdas das concessionárias, que gros-so modo pode ser traduzido como água desper-diçada, está na faixa dos 5%.
Se sob a ótica dos países ricos o desempenho da Sabesp é sofrível, na comparação interna a empresa vai muito bem. A média brasileira de perdas é de 37%. De acordo com a mais recen-te edição do ranking do Instituto Trata Brasil, entidade que promove a causa da universali-zação dos serviços de água tratada e rede de esgotos, apenas seis das 100 maiores cidades brasileiras registram menos de 15% de perdas. Na ponta oposta, 17 cidades apresentaram ín-dices superiores a 60%. “De cada 10 litros de água captados, tratados e transportados pelas
Os vazamentos em tubulações de água ainda fazem com que as concessionárias no Brasil tenham altos índices de desperdício — mas isso começa a mudar / maurício oliveira
os caçadores de
buracoscompanhias brasileiras de saneamento, quase 3 se perdem por causa de vazamentos e 1 é des-viado por fraudes”, afirma Edison Carlos, pre-sidente do Trata Brasil. Por várias décadas, o combate ao desperdício de água não esteve entre os principais objetivos das concessioná-rias de saneamento. Recentemente, o quadro começou a mudar, com a profissionalização da gestão das companhias estatais e também com a entrada da iniciativa privada nesse segmento. A motivação é, acima de tudo, financeira. Uma perda de 20% significa jogar no lixo 20% do capital que foi investido em dois processos que estão se tornando cada vez mais onerosos: a captação e o tratamento da água.
As ligações clandestinas e as fraudes dos mais diversos tipos em favelas e bairros luxuosos — há um aparelho chamado “morsa”, que retarda o funcionamento dos hidrômetros — são preo-cupantes, mas a maior mobilização das conces-sionárias está mesmo no combate aos vazamen-tos, o que mais afeta seus resultados. Em Cam-po Grande, em Mato Grosso do Sul, a empresa privada Águas Guariroba conseguiu reduzir o índice de perdas de 56% para 22% desde que assumiu a concessão, em 2006. Os investimen-tos específicos para esse objetivo têm sido de cerca de 12 milhões de reais por ano. Em seis anos, a Águas Guariroba conquistou 66 000 novos clientes e acrescentou quase 40 milhões de reais à sua receita anual. Dois dos pilares da estratégia da Águas Guariroba são o planeja-mento e a gestão. A cidade foi dividida em áreas
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Favela no Rio
de Janeiro: as ligações
clandestinas estão entre os maiores
problemas enfrentados pelas concessionárias de saneamento
no Brasil
nas quais o abastecimento é avaliado de forma independente. Para isso, foram necessárias uma série de ajustes na rede e obras, como a insta-lação de válvulas em pontos estratégicos. “Pas-samos a ter um controle detalhado do volume de água que disponibilizamos para cada área e o que foi efetivamente faturado ali. A análise ficou bem mais fácil dessa forma”, diz João Fon-seca, presidente da concessionária.
Nos últimos três anos, a Sabesp realizou in-vestimentos pontuais num programa de com-bate às perdas que fez o índice cair de 30% para 26%. Com a obtenção recente de um fi-nanciamento de 1,5 bilhão de reais da Japan International Cooperation Agency, maior agência de fomento do Japão, o programa pas-sou a ter outra envergadura, e a meta de con-quistar um índice inferior a 20% até 2020 se tornou mais factível. “Concluímos que os in-vestimentos se pagarão e darão um retorno adicional de 20% ao longo do período de exe-cução do projeto, além de gerar benefícios que durarão por décadas”, afirma Eric Carozzi, superintendente de desenvolvimento opera-cional da Sabesp. O projeto inclui a transferên-cia de tecnologia japonesa, com o intercâmbio
de profissionais entre os dois países, e uma série de obras de infraestrutura, especialmen-te a substituição de redes antigas e deteriora-das, feitas de ferro ou fibrocimento, por mate-riais mais modernos. Um dos mais usados hoje é o polietileno, que tem a propriedade de cobrir longas extensões — de até 100 metros — sem a necessidade de juntas, os pontos mais vulneráveis. A previsão da Sabesp é substituir 674 quilômetros de redes de água até 2016, além de 875 000 ramais prediais e 1,6 milhão de hidrômetros. A despeito da ajuda dada pelo Japão, o desafio da Sabesp não deve ser subes-timado. Nos últimos três anos, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) também investiu em tecnologia e equipamentos, como os geofones. Assim, seu índice de perdas caiu de 38% para 27%. “Essa primeira camada de gordura é fácil de tirar quando se começa a fazer um trabalho sério e planejado”, diz o ge-rente de controle de perdas, Celso Braga Pinto. “Depois disso, porém, cada ponto percentual se transforma em uma grande vitória.” Ainda que demore a tapar todos os buracos, o setor, finalmente, dá sinais de que está começando a virar a página do desperdício.
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mais da metade
da água époluída...
...na China. Para o geógrafo americano Darrin Magee, maior especialista sobre o tema, o Partido Comunista trata com descaso a grave
questão dos recursos hídricos do país / Mariana Segala
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Darrin Magee, do Hobart and William Smith Colleges: “Falta vontade política para resolver o problema”
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há 15 anos, o geógrafo americano Darrin Magee viaja regularmente à China para estudar um dos temas mais desafiadores da atualidade para o país mais populoso do mundo: a água. Diretor da Iniciativa de Estudos Ambientais Asiáti-cos do Hobart and William Smith Colleges, instituição de ensino supe-rior independente fundada há quase 200 anos no estado de Nova York, Magee é considerado a maior autoridade mundial quando o assunto é a água na China. Observar friamente as estatísticas, ele alerta, pode deixar a impressão de que a situação não é tão grave quanto se apregoa — afinal, há quase tanta água para cada chinês quanto para cada inglês ou espanhol, segundo dados da Organização das Nações Unidas. A ques-tão, no entanto, está na qualidade do recurso. Aliado à produção diária de esgoto doméstico por mais de 1 bilhão de habitantes, o rápido pro-cesso de industrialização da China a partir da década de 90 ajudou a contaminar com metais pesados a água subterrânea que acaba nas tor-neiras das casas chinesas. “Certos compostos sintéticos usados na pro-dução de equipamentos de alta tecnologia são proibidos em países co-mo os Estados Unidos e a Coreia, mas não na China”, afirma Magee. “Como nenhum sistema de tratamento hídrico urbano do mundo é ca-paz de lidar com esses químicos, eles permanecem na água chinesa, causando sérios prejuízos à saúde.” Em entrevista a EXAME, Magee detalhou os problemas que a China terá de enfrentar.
EXAME A China é apontada como um lugar com grandes restrições hídricas. Mas a dispo-nibilidade de água no país é parecida com a do Reino Unido ou da Espanha. Qual é o pro-blema com a água na China?DArrIN MAGEE Quando falamos sobre a China, parece que tratamos de vários países diferentes. Na média, a disponibilidade anual de água per capita é abundante. Mas o proble-ma está na desigualdade geográfica. No sudes-te da China, com as chuvas de verão, não há falta de água, e sim excesso. Já no extremo noroeste, nota-se uma escassez muito grande. Em um país com quase 1,3 bilhão de pessoas, se 10% da população está sujeita a elevados níveis de incerteza hídrica, isso representa 130 milhões de pessoas, o equivalente a quase me-tade da população dos Estados Unidos. Mas o problema maior nem é esse. A grande questão é a qualidade dessa água.
Por quê? Cerca de 70% da água superficial do país está poluída. É um percentual estarrecedor.
Como o país chegou a essa situação?Basicamente, trata-se da poluição urbana, do dia a dia das cidades. Vamos lembrar que mais de 400 milhões de habitantes vivem em áreas urbanas, nas quais o tratamento de esgoto não é bom. Sempre que isso ocorre, temos um pro-
blema com o volume de esgoto nos rios. Agrega-se a isso o desenvolvimento industrial da China, sobretudo depois dos anos 90, e a situação fica ainda pior. Essa industrialização ocorreu prin-cipalmente nas áreas urbanas, onde morava a maioria dos trabalhadores com qualificação. Foi assim na província de Guandong — onde fica o centro da produção manufatureira chinesa. O resultado de tudo isso é a poluição dos lençóis freáticos das áreas urbanas.
Como é possível reverter essa situação? As pessoas gostam de dizer que, tendo dinheiro suficiente, é possível fazer qualquer coisa. Não é bem assim. Existe uma nova base química utilizada na produção de equipamentos de alta tecnologia que é muito resistente. São os pro-dutos orgânicos sintéticos, compostos reconhe-cidamente cancerígenos, que não se decom-põem facilmente. Nos Estados Unidos, na Co-reia do Sul e em vários países asiáticos, eles são ilegais. Na China, infelizmente, não. Nenhum sistema de tratamento hídrico urbano no mun-do é capaz de eliminar totalmente esses produ-tos. Eles permanecem na água, causando sérios prejuízos à saúde das pessoas.
A agricultura utiliza muita água, e é uma ati-vidade importante para a China. Qual é o pe-so da produção agrícola na restrição ao aces-so à água no país?O uso agrícola da água é o mais fácil de resolver. Dá para adotar técnicas de irrigação mais efi-cientes. Podemos cultivar plantas mais apro-priadas ao clima local e que não exijam irriga-ção. Esse mesmo problema existe nos Estados Unidos. Nos estados de Colorado, Arizona e Nevada, há áreas em que não deveria existir agricultura, mas elas são irrigadas. Há também o problema do uso de pesticidas. Embora a Chi-na também tenha irrigação e pesticidas, o mais preocupante lá é mesmo a contaminação indus-trial das fontes hídricas e dos rios.
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Quais são os melhores exemplos de projetos que estão tentando solucionar a questão?Embora não seja um entusiasta da ideia, acre-dito que o projeto de transposição de água do sul para o norte da China — que deve custar aproximadamente 60 bilhões de dólares — le-vará muitos bilhões de metros cúbicos de água para regiões com grande escassez, resultando em certo alívio. Mas não dá para transportar água do sul da China, cruzando o centro do país, e esperar que ela chegue limpa ao norte. Ela vai passar por rios que cruzam as áreas mais populosas e industrializadas do país. Ou seja, a China é como uma embarcação no meio do oceano: há água por todos os lados, mas nada é apropriado para beber.
Qual tem sido o papel do Partido Comunista na solução dessa questão? Há vontade política para enfrentar o problema?O governo central chinês está muito preocupado com as mudanças climá-ticas e como elas afetam o platô do Tibete. Vários rios da China, o Amarelo, o Yang-tsé e o Mekong superior, dependem di-retamente do derreti-mento da neve no platô do Tibete. Isso sem falar nos rios menores. A preo-cupação existe.
Essa preocupação se traduz em políticas para resolver os problemas ligados à água?Não. O tratamento de água não está sendo rea-lizado seriamente no país. O uso dos recursos hídricos também não é eficiente. O monitora-mento do despejo de água industrial, por exemplo, não é feito de maneira correta. Exis-te muita corrupção envolvida entre agentes públicos e empresas privadas e públicas. Quando uma fábrica vai ser inspecionada, ela costuma ser avisada na véspera. Os gerentes, então, desligam o processo mais poluente um dia antes e a avaliação mostra que está tudo bem. Isso acontece porque o governo chinês está mais preocupado com a estabilidade so-cial, o nível de emprego e o crescimento do PIB. Um exemplo: 60% do arroz plantado no sul da China, que é cultivado em áreas alaga-das, está contaminado por cádmio, um metal tóxico para os ossos. Todo mundo tem conhe-
cimento dos riscos para a saúde pública, mas nada é feito. Tudo isso é uma lástima.
Cerca da metade do PIB chinês é produzida em 11 províncias que já sofrem com a falta de água. De que forma a escassez pode ser um obstáculo ao crescimento chinês? Para um país que opera no limite da oferta de energia e de água, a disponibilidade de água de qualidade é muito preocupante. Mas tenho ouvido que as fábricas chinesas vão ser trans-feridas para as áreas com mais abundância de água. A industrialização chinesa ocorreu na costa, mas, à medida que o transporte melho-ra e a força de trabalho decide que não vai mudar para arranjar um emprego, o desenvol-vimento muda de direção. Vai para o interior. Por isso, não devemos ver um grande impacto
no crescimento econômi-co num futuro próximo. A pergunta que fica é se o governo chinês tomará providências para evitar no interior o que aconte-ceu na costa do país.
O senhor está otimista em relação à capacidade de reação da China?Diria que eu sou otimista e pessimista ao mesmo tempo. Estou otimista em relação à capacidade in-telectual e financeira da
China. Existem conhecimento e dinheiro para resolver muitos dos problemas graves do país, mais especificamente as questões da qualidade e da escassez de água. Porém, sou muito pes-simista em relação à vontade política do go-verno chinês de levar a sério esses assuntos. De imediato, seria necessário um aumento maciço no orçamento e no poder de atuação do Ministério de Proteção Ambiental. Sem essas medidas, não dá para monitorar a indús-tria e punir os poluidores. É preciso mudar o sistema de incentivos dos funcionários dos governos locais para que eles passem a dar prioridade às questões ambientais. Também estou muito preocupado com os problemas relacionados à contaminação que já ocorre-ram, como envenenamento por chumbo, cád-mio e mercúrio, e que continuam arruinando a vida de milhões de chineses. A situação é grave, exige urgência, mas as ações não têm sido tomadas na velocidade adequada.
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Por quase três décadas, milhares de equipamentos obsoletos, como computadores, aparelhos de fax e impressoras matriciais, ocuparam um depósito de quase 300 metros quadrados nas dependências da usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu, no Paraná. Nesse período, 63 toneladas de sucata tecnológica se acumularam — e a perspectiva era de alta. O descarte, porém, tinha de ser planejado. Havia a preocupação de evitar que os equipamentos velhos fossem parar nas mãos de sucateiros, que certamente jogariam fora parte do material. “Guardamos tudo durante todos esses anos porque até então não havia uma forma de darmos um destino correto a essa parafernália”, diz Fabrício Rocha, gestor de logística reversa da Itaipu Binacional. A solução encontrada pela usina foi fazer um leilão eletrônico. Em setembro, o material, avaliado inicialmente em 50 400 reais, recebeu 150 lances de quatro empresas, mas foi vendido por 9 400 reais.
Seu computador velho vale dinheiroO mercado de reciclagem de lixo eletrônico, ainda incipiente no Brasil, pode movimentar 300 milhões de reais por ano / AndreA ViAlli
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O menor preço não foi um problema — o importante era que o vencedor do leilão provasse ter a tecnologia para realizar a chamada manufatura reversa, que inclui o desmonte dos equipamentos ao final de sua vida útil e a destinação ambientalmente correta de todos os seus componentes e materiais. “A partir de agora, quando precisarmos renovar os computadores, o fornecedor das máquinas ficará res
ponsável pelo descarte final dos equipamentos antigos”, afirma Rocha.
A correta destinação de resíduos eletrônicos se transformou num dos maiores desafios ambientais do mundo. Todos os anos, são produzidos aproximadamente 50 milhões de toneladas — 10% desse total nos Estados Unidos e na China. De acordo com a Organização das Nações Unidas, o
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Linha de desmontagem da Oxil, em São Paulo: os principais
clientes da empresa são os fabricantes de computadores
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lixo tecnológico cresce três vezes mais do que o tradicional, e o proble-ma é cada vez mais grave nos países em desenvolvimento. No Brasil, es-tima-se que sejam descartadas quase 400 000 toneladas de eletrodomés-ticos e eletroeletrônicos por ano — o que equivale a quase 2 quilos por ha-bitante. Somente uma pequena par-cela, cerca de 2%, é reciclada de ma-neira correta. A baixa destinação está ligada à falta de capacidade ins-talada para lidar com esse tipo de resíduo. Menos de dez empresas no país possuem tecnologia para reali-zar a manufatura reversa. Para os
próximos anos, a expectativa é que esse quadro mude. Um dos motiva-dores é a Política Nacional de Resí-duos Sólidos. Sancionada em 2010, a nova regulamentação prevê que uma série de resíduos especiais — como eletroeletrônicos obsoletos, pneus, lâmpadas, medicamentos, pilhas e baterias — seja objeto de gestão com-partilhada entre indústrias, varejo e consumidor final. “Desde a entrada em vigor da lei, começaram a ser ela-borados os acordos setoriais para a gestão desses resíduos, envolvendo todos os elos da cadeia”, afirma Car-los Roberto Vieira da Silva Filho, di-
retor executivo da Abrelpe, entidade que reúne as empresas de limpeza pública e resíduos especiais.
Por causa dessas negociações, a ex-pectativa dos empresários do setor é que até 2014 o mercado de reciclagem eletrônica decole de vez. Se isso real-mente acontecer, vai haver um gran-de incentivo para incrementar a ca-pacidade de reciclagem. “O parque instalado hoje no país para realizar a manufatura reversa dá conta de ape-nas 20% do estoque acumulado de lixo tecnológico”, afirma Lucas Velo-so, gerente-geral de manufatura re-versa da Oxil, empresa de reciclagem
Aparelhos eletrônicos em aterro de Acra, em Gana: o lixo tecnológico cresce três vezes mais que o tradicional
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com sede em Paulínia, no interior de São Paulo. Hoje, a Oxil tem tecnolo-gia para tratar qualquer tipo de equi-pamento eletroeletrônico, de celula-res a geladeiras. Seus principais clientes são os fabricantes de compu-tadores, como Dell, Lenovo e Apple, que aplicam no Brasil as políticas de descarte de equipamentos exigidas pelas matrizes. “Nossa operação é
lucrativa, mas dependemos da cons-ciência ambiental das multinacionais e de nosso esforço para obter maté-ria-prima”, afirma Veloso.
A logística acabou se tornando um dos maiores entraves para as empre-sas do setor. Enquanto as unidades de processamento de resíduos estão concentradas nas principais regiões metropolitanas, a matéria-prima en-
contra-se espalhada por todo o país. “Para o negócio ser viável, é necessá-rio reduzir os custos com logística, descentralizando as operações”, afir-ma Roberto Lopes, superintendente da Essencis Soluções Ambientais, empresa de manufatura reversa de São Paulo. Ele calcula que 50% do custo operacional da empresa seja gerado pelo transporte das matérias-
Estima-se que apenas 2% do lixo eletrônico do Brasil seja reciclado adequadamente. Isso porque há menos de dez empresas capazes de fazer a manufatura reversa no país
uma fortuna no lixoA evolução tecnológica gera cada vez mais a chamada sucata eletrônica. Mas os equipamentos obsoletos ainda têm valor no mercado de reciclagem
370 000 tonEladasé a estimativa de quanto o Brasil produz por ano de lixo tecnológico
ONDE O LIXO TEcNOLóGIcO ESTá cONcENTrADO... (distribuição por regiões do país, em %)
...E O qUE O cONSUMIDOr fAz cOM ELE (destinação do lixo eletrônico em %)
300 mIlhõEs dE rEaIs(1)
é o valor que a sucata eletrônica poderia render por ano
Norte, Nordeste e Centro-Oeste
Guarda
DoaVende
1. Estimativa com base no valor médio, de 0,80 centavos de real, pago pelo quilo de sucata no mercado Fontes: Abinee e ONU
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291967Sul e Sudeste
Outros destinos
Joga no lixo
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primas. Em junho, a empresa inaugurou sua maior unidade dedicada ao desmonte de aparelhos no país, em Caieiras, na região metropolitana de São Paulo, com capacidade mensal para processar 1 000 toneladas. Atualmente, a maior parte dos equipamentos processados pela Essencis são refrigeradores antigos. Eles vêm dos programas de eficiência energética das concessionárias de energia, que promovem a troca das geladeiras velhas da população de baixa renda por modelos novos.
Parte do desafio logístico também inclui acessar os equipamentos que estão estocados em milhões de residências no país. De acordo com um estudo da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, 35%
da sucata tecnológica é guardada pelos consumidores — uma boa notícia do ponto de vista ambiental, mas um desestímulo aos investimentos na cadeia de manufatura reversa. Algumas empresas têm batido de porta em porta em busca de TVs, computadores e celulares ultrapassados. A mineira EMile roda a região metropolitana de Belo Horizonte à procura de equipamentos velhos. Metais nobres contidos em placas e circuitos eletrônicos, como ouro e prata, são reciclados no exterior. “O Brasil ainda está engatinhando nesse mercado”, diz Fernanda Marciliano, diretora da EMile. Independentemente de onde seja feita a reciclagem, o importante é diminuir a pilha de lixo tecnológico.
enquanto as processadoras de
resíduos estão em regiões
metropolitanas, a matéria-prima
está espalhada por todo o país
Roberto Lopes, da Essencis: a logística envolvida na reciclagem eletrônica representa 50% do custo da empresa
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Tão verdes quanto
as grandes
A maioria das pequenas e médias empresas desenvolve ações sustentáveis
de forma pontual. Mas os bons exemplos mostram que, seja qual for o tamanho da companhia, é possível
incorporar a sustentabilidade na estratégia de negócios
/ katia simões
parte da estratégia de ne-gócios de um número crescente de corporações, a sustentabilidade é um tema que, aos poucos, começa a fazer parte do dia a dia também das peque-nas e médias empresas. Uma pesquisa realizada neste ano pelo Sebrae revela que, de uma amostra de 3 900 compa-nhias, 70% fazem coleta seletiva de li-xo, 72% controlam o consumo de papel, 81% evitam o desperdício de água e 82% adotam medidas para economizar energia. Na maioria dos casos, essas ações são adotadas de forma pontual, desvinculadas de um plano de negó-cios, mas, aos poucos, aumentam os casos de empresários que tratam a sus-tentabilidade como fator de diferencia-ção e competitividade. Segundo a pes-quisa do Sebrae, 46% dos entrevistados identificam “oportunidades de ganhos” com as práticas sustentáveis.
Sem a estrutura de uma grande cor-poração — com seus profissionais especiali-zados em sustentabili-dade —, as pequenas e médias empresas se vi-ram como podem. Mui-tas vezes, a iniciativa depende da inspiração e da liderança do pró-prio dono do negócio. Isso não deixa de ser uma vantagem, já que o sucesso da implantação de uma políti-ca de sustentabilidade decorre, muitas vezes, do engajamento da cúpula da organização. Numa empresa menor, esse processo é mais fácil. Os exemplos mais bem-sucedidos de pequenas e médias empresas sustentáveis são da-
empresas⁄empreendedorismo
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entulhoTodos os dias, somente na cidade de São Paulo, são geradas 18 000 toneladas de entulho nas obras de construção civil. De olho nesse material, o empresário Gilberto Meirelles (foto) criou em 2009 a Estação Resgate, empresa especializada em reciclar entulho para produzir areia e pedra que são aproveitadas em obras. O negócio está dando tão certo que Meirelles já abriu quatro filiais em outras cidades. Entre seus principais clientes estão as construtoras Camargo Corrêa, Odebrecht e Racional.
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garrafasA vinícola Famiglia Zanlorenzi, de Campo Largo, no Paraná, reformulou em 2011 suas garrafas de suco para dar-lhes características sustentáveis. Em parceria com a fabricante de vidros Owens-Illinois, criou uma garrafa 7% mais leve do que as convencionais, o que significa menos gastos no transporte. “Adotamos práticas sustentáveis não só pelos ganhos econômicos, mas, principalmente, para ajudar a preservar a natureza”, diz Giorgio Zanlorenzi (foto), presidente da empresa.
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no interior de São Paulo, foi fundada na década de 70. Em 2005, passou a usar como matéria-prima resíduos de vidro de lâmpadas fluorescentes — material que, até poucos anos atrás, era raramente reaproveitado. “Em nossas viagens ao exterior, percebe-mos que essa era uma nova tendên-cia”, diz José Lepri Neto, de 60 anos, fundador da empresa. Hoje, 99% dos revestimentos e pisos da Lepri são ecologicamente corretos.
No mundo das pequenas e médias empresas, é comum que boas ideias fiquem adormecidas na gaveta pela di-ficuldade de colocá-las em prática. No caso da Tecverde, de Curitiba, primei-ra empresa no país dedicada exclusiva-mente à construção de casas “verdes”, o maior desafio era convencer os ban-cos a financiar suas casas, feitas com estruturas de madeira de pinus oriundo de florestas plantadas e certificadas. Por um golpe do acaso, o engenheiro civil Caio Bonatto, de 26 anos, um dos sócios da Tecverde, sentou ao lado do superintendente de negócios do banco Santander em um evento. “Expliquei a ele que nossas casas são tão seguras e duráveis quanto as demais constru-
ções”, diz Bonatto. “O banco comprou nossa ideia e, trabalhando juntos, con-seguimos alterar a regulamentação nacional de financiamento de casas que usam madeira em suas estruturas.” A mudança permitiu à Tecverde entrar no mercado imobiliário nas mesmas condições de outras incorporadoras. Suas casas podem ser financiadas em até 30 anos, tempo máximo permitido atualmente pela legislação.
Para quem não tem a mesma sorte da Tecverde, uma saída para viabilizar uma ideia sustentável pode ser buscar
quelas comandadas por empreendedo-res engajados nas questões ambientais e capazes de mobilizar os funcionários em torno de suas ideias.
É esse o perfil do empresário Gilber-to Meirelles, de 45 anos, dono da Esta-ção Resgate, empresa de São Paulo que recicla o entulho da construção civil e o transforma em matéria-prima que é utilizada novamente nas obras. Antes de criar esse negócio, em 2009, Meirel-les, que é formado em administração, trabalhou durante três anos na Ama-zônia, numa entidade cujo objetivo é preservar a biodiversidade da região. De volta a São Paulo, onde nasceu, Mei-relles percebeu que não conseguiria trabalhar de outra forma. “Só poderia ser em algo que tivesse a sustentabili-dade na essência do negócio”, afirma. Surgiu, assim, a Estação Resgate. A em-presa recebe das obras caçambas de entulho que normalmente seria despe-jado nos aterros sanitários. O material é separado e peneirado e retorna ao mercado em forma de areia, pedra e pedriscos, usados na fabricação de blo-cos e em pavimentação. “Com esse processo, conseguimos reaproveitar 80% do entulho”, diz Meirelles.
A Estação Resgate já nasceu “ver-de”, mas a maioria das empresas co-meça a adotar práticas sustentáveis aos poucos, seja porque percebe a im-portância dessas ações para o futuro dos negócios, seja porque “pega bem” — na pesquisa do Sebrae, 79% das em-presas disseram acreditar que as ações relacionadas ao meio ambiente aju-dam a melhorar sua imagem no mer-cado. Seja qual for o motivo, a decisão de incorporar a sustentabilidade ao negócio pode representar uma guina-da na empresa. A Lepri, de Tambaú,
Segundo uma pesquisa do Sebrae, 79% dos entrevistados acreditam que as ações relacionadas ao meio ambiente ajudam a melhorar a imagem da empresa no mercado
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o apoio de parceiros. Foi o que fez o empresário Giorgio Zanlorenzi, de 38 anos, presidente da vinícola Famiglia Zanlorenzi, de Campo Largo, também no Paraná. Em razão do pequeno nú-mero de fabricantes, o mercado de suco de uva no Brasil usa garrafas pa-dronizadas — não há mais do que três modelos no mercado. Mas Zanlorenzi tinha uma obsessão: criar uma garrafa que causasse menos impacto ao meio ambiente. O empresário fez a sugestão à americana Owens-Illinois, maior fabricante de embalagens de vidro do mundo, que aceitou o desafio. “Eles criaram uma garrafa mais ergonômi-ca, que usa 7% menos matéria-prima e é 7% mais leve do que as convencio-nais”, diz Zanlorenzi. “Essa pequena redução no peso permitiu acomodar 60 caixas a mais em uma carreta, au-
mentando a produtividade no trans-porte e reduzindo a emissão de CO
2.”
Ter uma pequena ou média empresa e ser sustentável no Brasil ainda custa caro. “Na maioria das vezes, os funcio-nários não têm familiaridade com o tema. A estrutura é enxuta e falta mão de obra especializada”, diz Ismael Ro-cha, coordenador da ESPM Social, en-tidade ligada à Escola Superior de Pro-paganda e Marketing que desenvolve projetos de sustentabilidade. Outro
vidrosSe jogado no lixo, o vidro da lâmpada fluorescente demora mais de 200 anos para ser absorvido pela natureza. A empresa Lepri, de Tambaú, no interior paulista, decidiu usar esse material na fabricação de pisos e revestimentos. “Fomos pioneiros na produção de cerâmicas ecológicas no país com o reaproveitamento de vidro reciclado de lâmpadas fluorescentes”, diz José Lepri Neto (foto), dono da empresa. “Para nós, isso é um fator de diferenciação no mercado.” G
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ponto crítico é que muitas pequenas e médias empresas atuam como fornece-doras de grandes empresas que exigem conduta responsável, mas não ofere-cem ferramentas ou incentivos para a adoção de práticas sustentáveis. “Na prática, não há parceria real dentro da cadeia”, diz Rocha. Apesar dos desafios, os casos de Estação Resgate, Lepri, Te-cverde e Famiglia Zanlorenzi mostram que a sustentabilidade é muito mais que uma simples questão de imagem.
Com uma estrutura enxuta e pouca mão de obra especializada
em sustentabilidade, buscar parcerias com outras
empresas pode ser uma saída
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ricardo rolim, AMBEVEm 20 anos de carreira na fabricante de bebidas Ambev, o administrador de empresas Ricardo Rolim passou por diversos departamentos, como finanças, logística e vendas. A experiência em várias áreas ajudou o executivo a ter uma visão abrangente dos negócios e o preparou para assumir em 2011 a diretoria de relações socioambientais da empresa
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Eles não abraçam
Os especialistas em sustentabilidade nunca tiveram tanto prestígio nas empresas como agora. Sem abrir mão do idealismo em questões ambientais, eles ajudam a fortalecer os negócios / ANDREA VIALLI
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arvores´fissionais de sustentabilidade: execu-tivos que entregam resultados, algo longe do estereótipo de abraçadores de árvores. “O que o mercado busca são profissionais que conheçam a empresa e ajudem a dar respostas aos desafios ambientais do nosso tempo”, diz Mar-tin Bernard, consultor que acaba de criar a P4BW, empresa paulistana de recrutamento de executivos especiali-zada em sustentabilidade. “Uma dose de idealismo pode ser bem-vinda, mas não é o elemento principal.”
Para as empresas, o problema é que não existem muitos especialistas com o perfil desejado. “A demanda está muito aquecida, e as empresas se queixam de que falta gente quali-ficada e experiente”, diz Marcus Nakagawa, presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Sus-tentabilidade, que reúne especialis-tas que atuam em empresas, ONGs e no setor público. “O cargo de gestor de sustentabilidade, que há dez anos mal existia, hoje está em alta.” Uma pesquisa recente da consultoria De-loitte analisou a estrutura de susten-
em meados dos anos 90, o paulista Fernando Von Zuben recebeu uma missão na subsi-diária brasileira da indústria sueca de embalagens Tetra Pak. Recém-contra-tado como diretor de meio ambiente, ele foi encarregado de desenvolver tec-nologias que possibilitassem à empre-sa aumentar a reciclagem de suas em-balagens longa vida. A missão começou como um trabalho solitário. “Era uma diretoria de uma pessoa só”, diz Von Zuben, engenheiro químico formado pela Unicamp. “Mas ganhei carta-branca para atuar, desde que seguisse as diretrizes da matriz.” No trabalho com os fornecedores da Tetra Pak, ele buscou identificar oportunidades de aumentar o índice de reciclagem das
embalagens e fomentar o mercado de produtos feitos com esse material. O resultado foi além do esperado. Mas foi com a criação de uma tecnologia que permite separar o alumínio, o papel e o plástico das embalagens — algo iné-dito no mundo — que Von Zuben e a unidade brasileira ganharam reconhe-cimento internacional. O método foi exportado para fábricas da empresa na Espanha e na China e permitiu à Tetra Pak reduzir drasticamente os danos de seu negócio à natureza. Hoje Von Zu-ben comanda uma equipe de 12 profis-sionais e orgulha-se de já ter ajudado a formar mais de 30 engenheiros na área de sustentabilidade.
A experiência de Von Zuben exem-plifica o que é valorizado hoje nos pro-
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tabilidade de 23 grandes companhias que atuam no país. O levantamento revelou que, nessas empresas, exis-tem, em média, nove pessoas traba-lhando com o tema. O estudo tam-bém apontou que o salário pode atingir 25 000 reais mensais, além dos benefícios e da remuneração va-riável por cumprimento de metas.
A valorização do profissional de sustentabilidade reflete a grande transformação pela qual o tema vem passando nos últimos anos. Há pouco mais de uma década, o que a maioria das companhias tinha era um funcio-nário que gerenciava as doações a ONGs ou instituições de caridade. Ainda hoje, muitas vezes o departa-mento de sustentabilidade das empre-sas é responsável por conduzir as de-zenas de relacionamentos e parcerias com entidades do terceiro setor. A
gestão da filantropia, porém, ainda que necessária em um país como o Brasil, representa apenas uma parte ínfima de um trabalho que passou a ter um escopo bem mais ambicioso.
PAPEL MAIS ESTRATÉGICO
Um bom exemplo das novas respon-sabilidades é o da psicóloga Maria Luiza Pinto, conhecida como Malu. Em 2001, quando morava na Holanda e atuava na área de recursos humanos do banco ABN Amro, ela foi convida-da a voltar para o Brasil e a elaborar a estratégia de responsabilidade corpo-rativa do Banco Real, hoje Santander. “Na Holanda, achavam que eu estava voltando para o Brasil para fazer filan-tropia, pois essa área era um campo desconhecido até então”, diz Malu. De volta ao país, aos poucos ela foi des-cobrindo as oportunidades de traba-
lhar temas como relação com forne-cedores, ecoeficiência, microcrédito e análise de risco socioambiental — algo que se tornou um diferencial do Real e foi copiado pela concorrência anos depois. Veio então a compra do banco pelo Santander, em 2007, e o receio de que o grupo espanhol não incorporas-se as práticas sustentáveis do Real. Após um período de adaptação, a di-retoria executiva evoluiu: passou a ser chamada de desenvolvimento susten-tável, hoje emprega 23 pessoas e está cada vez mais direcionada à promoção de práticas de educação voltadas para a sustentabilidade.
A exemplo de Malu, os profissionais que estão assumindo o papel de lide-rar o tema da sustentabilidade nas empresas têm formação bem diversi-ficada — de psicólogos a engenheiros, de advogados a administradores. Para
aprimorar suas competências, muitos buscam especializações dentro e fora do país. Foi o que fez a gaúcha Gabrie-la Werner, gerente global de susten-tabilidade da Embraco, multinacional brasileira da área de compressores. Depois de se formar em direito em 2004, Gabriela trabalhou em uma ONG, morou na Austrália — onde atuou em uma consultoria de marke-ting — e, de volta ao Brasil, foi traba-lhar na diretoria de responsabilidade social do Banco Real. Lá desenvolveu uma de suas principais competências: a capacidade de engajar pessoas. Não demorou a surgir o convite para tra-balhar na Embraco. A empresa, que vende para 80 países e tem fábricas na China, no México, nos Estados Unidos, na Eslováquia e na Itália, pro-curava um profissional que difundis-se a ideia da sustentabilidade em to-
O salário do profissional que atua na área de sustentabilidade nas grandes
empresas pode atingir 25 000 reais por mês, fora os bônus e os benefícios
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Gabriela Werner, EMBRACO
Após se formar em direito, a gaúcha Gabriela Werner
trabalhou em uma ONG e depois foi morar na Austrália, onde
atuou em uma consultoria de marketing. De volta ao
Brasil, trabalhou na diretoria de responsabilidade social do Banco
Real. Dali, foi convidada a assumir o cargo de gerente
global de sustentabilidade da fabricante de compressores
Embraco em 2009
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das as unidades. Hoje, Gabriela co-manda uma equipe de 13 pessoas e é responsável por incluir a questão da sustentabilidade no desenvolvimento de produtos — a estratégia é incenti-var a inovação e a eficiência energé-tica dos compressores. Segundo Ga-briela, para ser gestor de sustentabi-lidade é necessário ter paixão pelo assunto. “Você precisa ser um embai-xador do tema e engajar pessoas o tempo todo”, diz. “E o mais importan-te: conseguir traduzir a sustentabili-dade em benefícios para o negócio.”
Mostrar à chefia que sustentabilida-de agrega, de fato, valor ao negócio pode ser uma empreitada difícil. A tarefa se torna um pouco mais fácil quando o profissional conhece a fun-do o negócio de sua empresa. É o caso de Ricardo Rolim, diretor de relações socioambientais da Ambev. Com uma
carreira de 20 anos na fabricante de bebidas, Rolim já passou por vários departamentos: começou na área fi-nanceira, depois cuidou de logística, distribuição e vendas. O convite para cuidar de sustentabilidade veio em 2011. Com formação em administra-ção e mestrado em estratégia, Rolim aprende no dia a dia a lidar com a par-te mais técnica de seu cargo — por exemplo, gestão de recursos hídricos, indicadores ambientais, resíduos e reciclagem. “É um campo totalmente novo”, diz o executivo. Em sua gestão,
Para não ficar somente no discurso, o gestor de sustentabilidade deve sistematizar os processos, traçar metas e avaliar os indicadores
a Ambev conseguiu reduzir de forma significativa indicadores como o con-sumo de água. Em algumas fábricas, cada litro de bebida utiliza 3,52 litros de água, o que deixa a empresa próxi-ma de sua meta global, que é consumir 3,50 litros de água para cada litro de bebida. “O caminho para fazer uma boa gestão socioambiental é sistema-tizar processos, metas, diagnósticos”, diz Rolim. “Sustentabilidade precisa ter indicadores, senão fica apenas no discurso.” E blá-blá-blá, no longo pra-zo, não é nada sustentável.
Fernando Von Zuben, TeTra pak Engenheiro químico formado pela Unicamp, o paulista Fernando Von Zuben se especializou em tratamento de efluentes. Trabalhou nessa área em empresas como Monsanto, Shell e Nestlé, onde tomou contato com outras ferramentas de sustentabilidade. Em 1995, assumiu a diretoria de meio ambiente da fabricante de embalagens Tetra Pak
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Jorgen Randers: há 40 anos, o ambientalista analisa o desenvolvimento sustentável
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Há 40 anos, o noruêgues Jorgen Randers foi um dos três autores de Limites do Crescimento, livro que, como o título sugere, pela primeira vez trouxe à tona o dilema da finitude dos recursos naturais do planeta versus a ideologia dominante de que o bem-estar das nações estaria sempre atrelado a um crescimento econômico constante. Como esperado, a ideia de que o planeta su-cumbiria ao peso de uma exploração desenfreada causou polêmica, e a obra, finan-ciada pelo Clube de Roma, espécie de instituição de pesquisa que reúne alguns dos mais renomados cientistas de diferentes áreas do conhecimento para refletir sobre os problemas do mundo, foi vista pela maioria com desdém. Ainda assim, o livro se transformou em um dos principais ícones do movimento pelo desenvolvimen-to sustentável, que começava ali a ganhar corpo. Na época, Randers era um talen-toso e idealista doutorando do Massachusetts Institute of Technology (MIT) que acreditava que alguns dos futuros cenários sombrios descritos no livro, elaborados de maneira pioneira com base na modelagem de computador, fariam os países re pensar suas estratégias de crescimento e sua relação com o planeta. Ao longo dos 40 anos seguintes, ele dedicou sua vida a essa catequese: transformou-se em um dos mais renomados palestrantes sobre desenvolvimento sustentável no mundo, esteve à frente de uma das maiores ONGs ambientalistas internacionais, a WWF, e, ainda hoje, divide seu tempo entre as aulas de estratégia climática na Escola de
Negócios Norueguesa, em Oslo, e as reuniões dos conselhos de sustentabi-lidade de grandes empresas, como a British Telecom, na Inglaterra, e a Dow Chemical, nos Estados Unidos. Aos 67 anos, porém, Randers afirma que sua catequese foi em vão. E foi essa sensa-ção de fracasso que o motivou a lançar, no início deste ano, 2052 — a Global Fo-recast for the Next Forty Years (“2052 — uma previsão global para os próximos 40 anos”, numa tradução livre), obra que, como ele mesmo afirma, não fala sobre o que o mundo deveria ser daqui a quatro décadas, mas sobre o que o mundo será. Em entrevista a EXAME, ele explicou por que acredita que a hu-manidade não conseguirá evitar o caos climático, mas apenas adiá-lo.
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Para o pensador Jorgen Randers, um dos mais importantes nomes do movimento pelo desenvolvimento sustentável, a humanidade não fará a tempo as mudanças necessárias para evitar a catástrofe climática / ana luiza herzog
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EXAME O que o motivou a escrever o livro 2052? JORGEN RANDERS Estou trabalhando há 40 anos para que o mundo seja mais sustentável e simplesmente fracassei. Então decidi que queria pesquisar para saber como o mundo vai ser nos últimos 20 anos que ainda tenho de vida. Agora sei e não estou mais angustiado. O que vai acontecer é o que está descrito no livro, e eu não gosto do que está lá. Portanto, torço para que a humanidade faça alguma coisa extraordinária nos próximos 40 anos e minhas previsões não se concretizem. Mas se você me perguntar se eu
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população e a economia crescessem a níveis que não seriam sustentáveis no longo prazo para o planeta. Hoje, sabemos muito mais, e isso me permite definir um cenário mais preciso.
E qual é o cenário que projeta para os próximos 40 anos?A população global vai estagnar antes do esperado porque a taxa de fertilidade cairá dramaticamente com a urbanização. Chegaremos a 8,1 bilhões de pessoas pouco antes de 2040, e daí em diante haverá um declínio. O PIB global também vai crescer mais lentamente do que o previsto devido a um cresci
Um mundo de 8 bilhões de habitantes: a partir de 2040, a população mundial entrará em declínio
acho que a humanidade vai fazer algo extraordinário, a resposta será: não.
Qual é a diferença entre o que foi feito lá atrás, no livro Limites do Crescimen-
to, e o que senhor fez agora, em 2052?Há 40 anos nós não fizemos previsões. Apresentamos uma série de cenários globais possíveis e deixamos claro que não tínhamos informação suficiente para dizer qual era o mais provável. Apesar disso, ao analisar esses cenários, conseguimos dizer que o planeta é finito e que existia uma grande chance de que a humanidade se comportaria de maneira estúpida, permitindo que a
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O PIB global deve se expandir mais lentamente do que o previsto devido ao crescimento menor da população e da produtividade
reduzirmos as emissões. E isso é falado em todas as reuniões da ONU e foi falado na Rio+20. Nunca ouvi alguém defender que a pobreza não deva ser combatida. Por isso mudei meu comportamento e decidi prever não o que a humanidade diz que vai fazer, mas o que ela efetivamente fará. Os países ricos não vão dar ajuda financeira suficiente para que os países pobres decolem e, por isso, eles não vão crescer o suficiente nos próximos 40 anos. Vai haver algum crescimento na base da pirâmide? Sim, mas ficará em torno de 2% a 3% ao ano, o mesmo padrão de sempre. Muitos pobres vão ver sua renda dobrar, mas isso não quer dizer muita coisa. Há algo como 2,1 bilhões de pessoas hoje na base da pirâmide. Elas continuarão pobres, emitindo muito pouco CO2.
O senhor não está incluindo o Brasil nesse grupo, certo?Não, o Brasil está fora disso. Ele faz parte de um grupo de 14 países que chamo no livro de Brise — Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e dez outras economias emergentes. Para esse grupo tudo vai ser mais fácil. O Brasil já está numa situação melhor, e a renda per capita vai, no mínimo, triplicar nos próximos 40 anos. A China será o grande vencedor, e os grandes perdedores serão os países ricos, particularmente os Estados Unidos. As classes altas nesses países já chegaram aonde podiam chegar, e ao longo dos próximos 40 anos só perderão privilégios.
O senhor participa dos conselhos de sustentabilidade de grandes empresas. Qual a sua percepção sobre o setor pri-vado e que papel ele desempenhará nos próximos 40 anos?Quando falamos de responsabilidade social corporativa é importante separar as empresas líderes, que estão realmente tentando fazer algo pela sociedade, e a maioria, que não está fazendo nada. A despeito disso, dentro do sistema capitalista, há limites muito rígidos para o que uma empresa pode realmente fazer. Se ela decide, por exemplo, adotar um sistema de pro
mento menor da população e a um declínio nas taxas de crescimento da produtividade. Calculo que o PIB global terá pouco mais que dobrado em relação ao nível atual em 2050. A taxa de crescimento do consumo também vai arrefecer, porque uma fatia considerável do PIB será usada para solucionar os problemas causados pela poluição, pelo esgotamento dos recursos naturais, pelas mudanças climáticas, pela perda da biodiversidade e pela desigualdade social. Como resultado desse crescimento mais lento do PIB e desses investimentos que serão feitos nas próximas décadas — não de maneira voluntária, mas como reação à crise —, o problema do clima e da exaustão dos recursos naturais não se transformará numa catástrofe antes de 2052. A partir daí, porém, a falta de um esforço articulado para mitigar a mudança climática colocará o planeta numa rota perigosa. Teremos muito sofrimento.
O senhor afirma que uma das razões para o adiamento do caos climático é um crescimento econômico mais fraco. Um dos motivos é o fato de que muitos pobres continuarão pobres. Ou seja, a discussão atual sobre os pobres deixan-do a base da pirâmide e consumindo e emitindo CO
2 como os cidadãos dos
países ricos não faz sentido? Eu escrevo há 40 anos sobre a importância de eliminarmos a pobreza e g
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dução muito limpo, mas também mui-to caro, ela simplesmente vai perder mercado para uma concorrente que não age assim. Isso significa que as companhias líderes tentam fazer o que podem, mas não podem correr o risco de ser banidas do mercado.
Então não devemos ter muitas expec-tativas em relação às empresas? Não. Não espere que o sistema capi-talista solucione o problema climáti-co. A lógica do sistema capitalista é alocar recursos para os projetos mais lucrativos, não para aqueles que be-neficiam a sociedade. Muitas das tec-nologias de que precisamos hoje para lidar com o problema climático são mais caras do que as tecnologias em uso. É mais caro construir usinas so-lares ou parques eólicos do que utili-
Favela em Nairóbi, no Quênia: hoje, cerca de 2 bilhões de pessoas estão na base da pirâmide de renda
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zar carvão. Ponto. Então é claro que o sistema capitalista não vai investir nessas tecnologias, a menos que seja incentivado ou forçado a fazê-lo. E é claro que, quando os políticos tentam aprovar leis para impulsionar essas tecnologias, os eleitores são contra, porque isso se traduz em aumento de impostos ou em gasolina ou eletrici-dade mais caras. Então eles simples-mente não propõem esse tipo de le-gislação. Ou seja: o imediatismo e a falta de visão de longo prazo do ca-pitalismo e da democracia vão impe-dir que as decisões sábias necessárias para um futuro menos traumático se-jam tomadas a tempo.
O senhor esteve no Brasil em maio deste ano, para falar sobre seu livro no Congresso, mas não voltou para a Rio+20, em junho. Não participa mais dessas reuniões? Não. Participava de todas, mas isso foi há muito tempo.
Não acha que vale mais a pena?Não, não acho. Eu não acredito que vamos alcançar um resultado com 194 países em volta de uma mesa. Vejo uma saída em algumas grandes nações fazerem acordos entre elas, como já vem acontecendo com a União Euro-peia e a China, e outras vão segui-las. Acho importante os países continua-rem discutindo e dialogando, mas di-ficilmente esses grandes encontros surtirão algum resultado nas próximas décadas. Torço para estar errado.
Não espere que o sistema capitalista solucione o problema climático. É mais caro fazer uma usina solar do que usar carvão
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Antiga fábrica de roupas em Karachi, no Paquistão: um incêndio matou quase 300 funcionários e colocou em xeque o selo internacional que atesta a segurança no trabalho
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Em agosto dEstE ano, no Paquis-tão, o descumprimento de uma regra básica de segurança provocou uma das maio-res tragédias do país envolvendo trabalhadores de uma mesma empresa. Durante um incêndio na fábrica têxtil da Ali Enterprises, na cidade de Karachi, cerca de 300 funcionários morreram ao encontrar várias saídas de emergência trancadas. O fato causou tanta comoção e revolta na população local que os donos da fábrica tiveram de fugir às pressas. Mas não foram os únicos a ser responsabilizados pela tragédia. No momento do incêndio, os funcionários estavam produzindo calças jeans para a rede varejista alemã de roupas KiK, que tem o preço baixo como prin-cipal atrativo para os consumidores e 3 200 lojas espalhadas por Alemanha, Áustria e seis países do Leste Europeu. Ao ser questionados sobre as condições da fábrica, os executivos da KiK se defenderam com o seguinte argumento: como imaginar tal matança se a unidade da Ali Enterprises havia sido certificada recentemente por auditores independentes com a norma SA8000, selo internacional que atesta o bem-estar e a segurança dos trabalhadores? Foi nesse momento que a KiK deixou a berlinda e a SA8000 passou a ser alvo de uma saraivada de críticas.
Crise de credibilidade
Após um incêndio em uma fábrica, a SA8000 — certificação pioneira na área
de responsabilidade social das empresas — tem a própria reputação colocada à prova
/guilherme manechini
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Lançado em 1997 pela Social Accoun-tability International (SAI), uma ONG americana com sede em Nova York, o selo SA8000 foi pioneiro ao criar um padrão global de certificação para um dos aspectos que caracterizam a res-ponsabilidade social de uma empresa: o respeito aos direitos e ao bem-estar de seus funcionários. Seu surgimento não se deu nesse período por acaso. Foi so-bretudo na década de 90 que grandes corporações com sede nos países ricos começaram a se beneficiar em larga es-cala dos custos mais baixos de produção de nações menos desenvolvidas, seja por meio da transferência de suas uni-dades fabris para esses locais, seja por terceirização. Foi também nessa época
que, com a ajuda da mídia e da internet, alguns dos riscos e fatos sombrios asso-ciados a essa movimentação do mundo dos negócios começaram a vir à tona.
O caso mais emblemático foi o da fabricante de equipamentos esportivos Nike, que sofreu acusações em série — uma das mais graves, a de produzir bolas de futebol com trabalho infantil no Paquistão. Foi nesse cenário que a SAI e a SA8000 ganharam popularida-de. A certificação apareceu como ga-rantia de que roupas, calçados, produ-tos eletrônicos e brinquedos fabricados em países em desenvolvimento, além de baratos, seriam feitos seguindo nor-mas aceitáveis para os consumidores
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negócios globais⁄certificação
do mundo rico. Com exceção da Itália, que promoveu uma campanha em prol do uso da norma, os países líderes em empresas certificadas com a SA8000 são todos asiáticos com baixos salários — o Brasil é o sexto do ranking. Na Chi-na, onde empresas como a fabricante de eletroeletrônicos Foxconn são cons-
tantemente denunciadas por infringir os direitos dos trabalhadores, o núme-ro de empresas certificadas com a SA8000 já chega a 473. A julgar pela trajetó ria da norma até o acidente no Paquistão, o seu objetivo foi cumprido. “A SA8000 influenciou todas as normas que tratam de responsabilidade social
no mundo atualmente”, afirma Beat Grüninger, sócio-diretor da consultoria BSD, com sede em São Paulo, e repre-sentante da SAI no Brasil. Entre elas, segundo Grüninger, estão a 16001, nor-ma nacional de gestão da responsabili-dade social, e a ISO 26000, que também trata do mesmo tema.
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efeito Ali enterprises
Depois da tragédia na fábrica têxtil paquistanesa, a SAI, em um comuni-cado oficial, declarou que a consulto-ria italiana responsável pela auditoria na Ali Enterprises, a Rina, teve todas as suas certificações suspensas até segunda ordem e está sob investiga-
Fábrica da Foxconn em Shenzhen, na China: revoltas de trabalhadores
são recorrentes nas unidades da empresa
de eletrônicos
Após a morte de trabalhadores no Paquistão, os críticos das certificações sociais aproveitaram para atacá-las
ção. A medida, no entanto, não evitou que a SA8000 virasse o alvo preferen-cial dos críticos das normas. A ONG americana Workers Right Consortium, que monitora as condições de trabalho em fábricas no mundo todo, aproveitou o episódio para atacar as normas que são parcialmente financiadas pelas
próprias empresas. O acadêmico Ri-chard Locke, professor de ciência po-lítica da Sloan, escola de administração do Massachusetts Institute of Techno-logy (MIT), declarou ao jornal ameri-cano The New York Times que iniciati-vas como a SA8000, mesmo depois de mais de uma década, não têm ajudado a melhorar as condições de trabalho na maioria das fábricas de países pobres ou em desenvolvimento.
As críticas à SA8000 aconteceram justamente em um momento em que ela vinha perdendo fôlego. Em todo o mundo, o número de empresas certifi-cadas pela SA8000 cresceu 6% de ja-neiro a julho de 2012. Na comparação com resultados de anos anteriores, trata-se da pior taxa de crescimento desde sua criação. No Brasil, o número de empresas com o selo é decrescente. De 2009 a 2010, no seu pico, eram cer-ca de 150 companhias. Hoje não passam de 91. Os motivos da redução são varia-dos — e nem todos negativos para a SAI. A Valid, que tem sede no Rio de Janeiro e é especializada na impressão de do-cumentos, foi uma das que desistiram. “Os ganhos com a norma foram sensí-
veis para os funcionários, mas não con-seguimos cumprir todas as exigências”, afirma Patricia Piñeiro, diretora de re-cursos humanos da empresa. “Decidi-mos focar nas certificações específicas para o setor de documentos.” Não é di-fícil entender a ressalva feita pela exe-cutiva da Valid. Ainda que o Brasil rati-
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negócios globais⁄certificação
o Brasil é o sexto país em número de empresas certificadas no ranking global da Sa8000. Hoje, 91 companhias
brasileiras têm essa certificação — mas já foram 150
fique os princípios da Organização Internacional do Trabalho e isso faça com que boa parte das exigências da SA8000 seja atendida pelas empresas que operam aqui, alguns pontos da norma entram em conflito com a realidade do país. Um deles é a questão da hora extra. A certificação determina que, assim como na legislação brasileira, o trabalhador não faça mais do que 2 horas extras por dia. Para setores que operam com picos de demanda, porém, atender a essa exigência é um desafio quase inatingível. As empresas ainda encontram outro obstáculo para seguir essa regra: a resistência dos próprios funcionários, que estão acostumados a fazer horas extras para aumentar a renda mensal. Entram ainda para o rol de dificuldades da SA8000 a obrigatorie
dade da participação de um representante dos trabalhadores nas decisões da empresa — algo que nem sempre é visto com bons olhos pela alta direção — e a exigência de que todas as unidades da empresa, independentemente de seu tamanho, sejam certificadas. “Imagine o que é isso para a Valid, que atua em 400 locais diferentes, muitos deles prédios públicos”, diz Patricia.
A SA8000 também vem perdendo aceitação em decorrência da disputa com outras certificações. É o caso da FSC, da ONG Forest Stewardship Council. A brasileira Suzano, produtora de papel e celulose, passou apenas dois anos com a SA8000. “A FSC, a mais aceita para produtos florestais, também abrange a qualidade das relações trabalhistas e é essencial para a
venda de nossos produtos no exterior”, diz Jorge Cajazeira, diretor de relações institucionais da Suzano e presidente mundial da ISO 26000.
Embora políticos de países ricos falem em repatriar a produção industrial terceirizada para a Ásia nas últimas duas décadas, é pouco provável que se observe um repentino retrocesso no processo de globalização. A investigação sobre o que realmente ocorreu em Karachi em agosto ainda está em andamento, mas o estrago à reputação da SA8000 já foi feito. Ainda assim, é de esperar que sobreviva às críticas. Enquanto as lojas de Nova York, Londres e Milão forem abastecidas com produtos fabricados em países em desenvolvimento, haverá demanda por algum tipo de certificação.
Plantação de eucalipto da Suzano, em Sorocaba: a empresa preferiu abrir mão da SA8000 e manter um selo do setor florestal
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finanças⁄Cary KrosinsKy
primeiro foi a vez da pegada de car-bono — empresas de vários setores começaram a fazer cálculos meticulosos de gases de efeito estufa jogados na atmosfera. Em seguida, veio a onda da medição do consumo de água. Tudo isso foi importante e continua válido, segundo o es-pecialista em finanças sustentáveis Cary Krosinsky, responsável pela operação americana da Trucost, consultoria britânica que tem se destacado por ajudar empresas como Dell, 3M e Samsung a mensurar sua dependência do chamado capital natural. “Válido, mas insuficiente.” Para Krosinsky, uma nova tendência está sendo lançada pela Puma. A fabricante alemã de artigos esportivos listou todos os seus impactos na área ambiental — da produção de matérias-primas, como borracha e couro, à distribuição global dos produtos. Nesse ponto, entraram suas emissões de carbono, sim, mas também o fato de que parte de seus fornece-dores estava desmatando áreas na região amazônica para aumentar as pastagens. A Puma, no entanto, não se contentou em fazer o mapeamento. Deu um passo a mais ao estimar um valor para cada uma de suas vulnerabilidades e acabou com o preço de sua conta ambiental: 145 milhões de euros. Na opinião de Krosinsky, a utilização dessa nova metodologia muda tudo. Primeiro porque os acionistas conseguem ter um parâmetro objetivo dos riscos que estão correndo. E também porque o cálculo financeiro coloca em evidência as limitações das políticas de compensação para diminuir as pegadas de carbono e de água. “Em um futuro de recursos naturais limitados, ações reparadoras não serão suficientes”, afirma Krosinsky. De Nova York, o consultor conversou por telefone com EXAME.
Siga o dinheiro
Para o americano Cary Krosinsky, especialista em finanças sustentáveis, o levantamento de quanto uma empresa
emite de CO2 ou gasta de água não é mais suficiente. A nova
tendência é fazer uma estimativa financeira de todos os riscos ambientais da empresa /AndreA viAlli
EXAME Por que as empresas devem calcular o valor financeiro de seu impacto ambiental? As metodologias usadas para medir a pegada de carbono ou hídrica já não cumprem esse papel?CAry KroSINSKy Medir quanto uma empresa emite de gases de efeito estufa é um caminho necessário. Des-de 2005, ajudo companhias a fazer inventários de carbono, um tipo de informação que tem sido cada vez mais pleiteado por investidores e bol-sas de valores em várias partes do mundo. Mas isso é limitado, porque o impacto ambiental de uma companhia não se resume às suas emissões de CO
2. O investidor quer conhecer o im-
pacto de uma empresa como um todo, os riscos envolvidos em todas as suas operações. Atividades que, a qualquer momento, podem virar um grande risco para o negócio.
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É crucial medir todos os impactos das empresas. Só assim se pode avaliar o potencial de sobrevivência num ambiente de escassez
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Como as empresas estão fazendo para medir todos os seus riscos?Já existem metodologias para fazer o cálculo financeiro do impacto ambien-tal das empresas. Ou seja, contabilizar os custos que externalidades ambien-tais representariam no balanço de uma companhia se fossem computadas. A pioneira em fazer esse tipo de análise é a Puma. Ela mapeou toda a cadeia e co-locou no papel o valor dos impactos. O que motivou a Puma a realizar esse cálculo do impacto ambiental?Com base nesse levantamento, a empre-sa vai refazer toda a sua estratégia de sustentabilidade. A análise deixou ex-plícito que muitos fornecedores de cou-ro estão desmatando áreas da Amazônia para converter a terra em pastagens. Esse é um impacto direto, uma externa-lidade da Puma que poderá ser cobrada da empresa no futuro. O relatório des-pertou tanto interesse que outras em-presas da holding PPR (grupo francês dono da Puma, da Fnac e de grifes como Gucci e Yves Saint Laurent) também passarão a fazer o levantamento.
Na prática, o que pode ser feito com essa informação?Acredito que essa tendência vá nor tear investimentos sustentáveis nos próxi-mos anos. Vamos imaginar que o levan-tamento de uma empresa acuse que seu grande impacto ambiental é o con-sumo de água. Num cenário em que a água deve se tornar uma commodity escassa, essa empresa tenderá a ser menos lucrativa ou terá de fazer inves-timentos altos para resolver a questão. O mesmo ocorrerá com empresas in-tensivas em carbono. Não basta mais medir emissões de CO2 e o consumo de água e ter ações de ecoe ficiência. É preciso saber o valor desses impactos. Em um futuro de recursos naturais li-mitados, ações reparadoras não serão suficientes. Por isso o impacto deve ser medido em termos financeiros. O senhor ajudou a formular os Princípios do Investimento Sustentável da ONU, um texto que reúne as melhores práticas globais de aplicações.
Essa iniciativa mudou alguma coisa no mercado financeiro?As empresas não têm dúvidas de que é importante ter uma boa governança corporativa e um desempenho am-biental e social. Para elas já está conso-lidado que isso tem um valor intangí-vel. Quem não percebeu ainda os be-nefícios são os analistas de mercado, que continuam exigindo que as empre-sas classificadas como sustentáveis tenham um desempenho em bolsa su-perior ao das “não sustentáveis”, o que nem sempre ocorre. Dito isso, é verda-de que os índices de sustentabilidade das bolsas de valores, inclusive o da BM&F Bovespa, conseguiram popula-rizar a ideia da preservação do meio ambiente no mercado de capitais. Na comparação internacional, qual tem sido o papel do Brasil?O Brasil construiu uma política ener-gética baseada em fontes renováveis quando ninguém estava discutindo se esse era o caminho. Prova disso é a massificação do uso do etanol nos veí-culos. Outra vantagem do país é ter empresas que são símbolo de inovação
e competitividade, como a Embraer. Sem falar na Amazônia, que é um ativo global estratégico e deve ser preserva-do para a posteridade. Costumo fazer uma analogia com o que ocorreu nos Estados Unidos. Muitos americanos tiveram de brigar para que o país reco-nhecesse a importância de seus par-ques nacionais. Hoje eles são aprecia-dos por todos. Os Estados Unidos tam-bém são um bom exemplo do que deve ser evitado. Nesse sentido, é só lembrar o estrago que a petroleira BP e seu va-zamento no golfo do México causaram ao ambiente, à sociedade e aos investi-dores. No total, um prejuízo líquido de mais de 4,9 bilhões de dólares. É im-portante que as petroleiras em opera-ção no Brasil sejam acompanhadas de perto por seus investidores.
finanças⁄Cary KrosinsKy
as petroleiras em operação no Brasil precisam ser acompanhadas
de perto por seus investidores para que não repitam o que a BP
fez no golfo do México
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Finanças⁄Crédito
Investimento com duplo retorno
Ao conceder crédito a juros baixos para pequenos negócios, fundos como o Sitawi impõem duas exigências: eles precisam ser bons pagadores e fazer o bem para a sociedade / mIRELLA domInIch
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Quando o WalMart entrou em conta-to com Tiago Dalvi, diretor do portal de venda de artesanato Solidarium, de Curitiba, em 2009, o executivo não conseguiu esconder o entusiasmo. O tercei-ro maior varejista brasileiro queria negociar uma grande compra. A alegria de Dalvi logo deu lugar a um frio na barriga. Ele percebeu que sua empresa enfren-taria seu primeiro grande desafio: a Solidarium precisaria ter capital de giro para comprar matéria-prima para os 350 artesãos que produziriam 30 000 bol-sas de garrafas PET recicladas. Além disso, para complicar a situação, o paga-mento da encomenda só seria feito, no mínimo, 30 dias após a entrega.
Dalvi consultou alguns bancos sobre a possibilidade de obter um emprés-timo de 150 000 reais, mas os juros altos, de até 5% ao mês, inviabilizariam a transação. Foi então que ele recorreu ao Sitawi, um fundo criado para dar crédito e consultoria a “negócios ou empreendimentos sociais”, termo em-pregado para classificar empresas ou ONGs que fazem o bem usando meca-
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nismos de mercado. Na mão contrária dos bancos, o Sitawi fornecia emprés-timos de 100 000 a 400 000 reais a juros próximos da taxa Selic. Foi a salvação para Dalvi.
O modelo de negócios do Sitawi é semelhante ao de dezenas de outros fundos sociais internacionais, como o Non Profit Finance Fund, dos Estados Unidos, e o Acumen Fund, que tem escritórios em Nova York, na Índia, no Quênia e no Paquistão. A captação do dinheiro é feita com pessoas físicas e fundações interessadas em apoiar mu-danças sociais. O curioso é que os in-vestidores abrem mão de receber o dinheiro de volta. Já os gestores desses fundos não podem se dar ao mesmo luxo. Eles emprestam, mas contam com o pagamento para poder manter o capital. “Nosso objetivo é fornecer financiamentos para empresas que já tenham conseguido comprovar seu impacto social e queiram ganhar esca-la, mas que sejam capazes, é claro, de pagar o valor tomado”, diz Leonardo Letelier, diretor do Sitawi, que ganhou do Banco Interamericano de Desen-volvimento, no ano passado, o prêmio Beyond Banking, de melhor investi-mento social responsável da América Latina. O Sitawi atualmente acumula doações no valor de 500 000 reais, já emprestou três vezes esse valor e con-ta com uma inadimplência próxima de zero. Aos 38 anos, Letelier é engenhei-ro formado pela USP, fez MBA na Uni-versidade Harvard, nos Estados Uni-dos, e trabalhou durante oito anos na consultoria McKinsey. Ao fundar o Sitawi, em 2009, estava movido pela vontade de unir seu tino para os negó-cios com a promoção do desenvolvi-mento humano. Foi com isso em men-te que concedeu o primeiro emprésti-mo à empresa de Dalvi.
Graças à ajuda do Sitawi, a Solida-rium não parou mais de crescer. Hoje conta com uma rede de 6 750 artesãos parceiros e deve faturar 500 000 reais neste ano. Em geral, os artesãos que vendem seus produtos via Solidarium conseguem triplicar sua renda em dois anos. “Nossa meta é tirar 10 000 famílias da linha da pobreza e benefi-
Tiago Dalvi, da Solidarium: o portal de
vendas de artesanato recorreu ao crédito social para
fornecer para o Walmart
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ciar mais de 60 000 pessoas até 2015”, diz Dalvi. Segundo o IBGE, o Brasil conta hoje com cerca de 8 milhões de artesãos, 2 milhões deles vivendo abaixo da linha da pobreza.
tendência de alta
Depois do crédito concedido à Solida-rium, o Sitawi já oficializou emprésti-mos a outros dez negócios. Um dos últimos empréstimos concedidos foi para o Centro de Integração de Educa-ção e Saúde (Cies), ONG que tem sede em São Paulo e presta atendimento em 28 cidades de cinco estados do país. O Cies oferece à população de baixa ren-da acesso a exames médicos, como endoscopia e mamografia, por meio de uma unidade móvel — um caminhão equipado com aparelhos de diagnósti-co de última geração. Os recursos em-prestados foram aplicados na reforma da unidade móvel, na construção de outro centro médico itinerante e em capital de giro para a contratação de funcionários. “Conseguimos aumentar nossa capacidade de atendimento em 30% e hoje atendemos 3 000 pessoas por mês”, afirma Roberto Kikawa, di-retor executivo do Cies. Letelier estima que os empréstimos realizados pelo Sitawi tenham beneficiado até agora cerca de 11 000 pessoas diretamente. Especialistas afirmam, porém, que é preciso analisar esses números com cautela. “Esses dados tendem a ser muito mais quantitativos do que qua-litativos”, diz Cássio Aoqui, diretor executivo da Ponteaponte, agência paulista especializada em empreende-dorismo socioambiental.
No Brasil, o Sitawi ainda é um dos únicos fundos a se dedicar à conces-são de crédito. A maior parte das ou-tras organizações desse segmento, como Vox Capital e First Brazil Im-pact Investing Fund, investe em em-presas com atuação social em troca de uma participação em seu capital. À medida que o número desses fundos cresce no Brasil, fica mais evidente a ausência de incentivos, como já ocor-re em outros países. Nos Estados Uni-dos, por exemplo, esse mercado co-meçou a ser impulsionado na década
de 70 pelo Community Reinvestment Act. Trata-se de uma lei que encorajou as insti tuições financeiras a conceder crédito a pessoas de baixa renda. Co-mo muitos bancos não estavam dis-postos a cuidar desse segmento, foram criados fundos para gerenciar esse dinheiro. Aqui, uma das aspirações de em preen de dores como Letelier, do Sitawi, é ter acesso a parte dos 2% do compulsório que os bancos são hoje obrigados a destinar à concessão de microcrédito, mas que, muitas vezes, preferem não emprestar. Letelier quer todo esse dinheiro pelo social.
Há poucos fundos com atuação social no Brasil. Nos Estados Unidos, uma lei de incentivos dos anos 70 fez esse segmento deslanchar
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Leonardo Letelier, do fundo Sitawi:
os empréstimos já beneficiaram cerca de
11 000 pessoas
Finanças⁄crédito
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EmprEsas-modEloanglo amErican Empresa Sustentável do Ano
• AES • Alcoa • Braskem • Bunge • CPFL • Dow • EcoRodovias • Elektro • Embraco • Fibria
• Fleury • Itaú Unibanco • Kimberly-Clark • Masisa • Natura • O Boticário
• Promon • Unilever • Whirlpool • Sabin/PME
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pesquisa⁄Critérios
publicado todos os anos desde 2000, o Guia EXaME dE SuStEntabilidadE é o maior le-vantamento sobre o tema no brasil. aberto a qualquer companhia — privada ou pública, de capital aberto ou fe-chado, grande, média ou pequena —, o guia escolhe as empresas que se destacam como modelo em responsabi-lidade social corporativa. neste ano, 170 empresas se ins-creveram para participar da avaliação, das quais 44 pela primeira vez. Essas empresas foram convidadas a respon-der a um questionário para detalhar seus compromissos e suas práticas nas dimensões geral, social, econômica e ambiental. as 123 empresas que responderam a todas as questões tiveram seu desempenho avaliado, recebendo
Como foi o processo de definição das empresas-modelo em sustentabilidade entre as 170 companhias inscritas
A esColhA dAs melhores
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uma pontuação em cada área. Chegou-se, então, a uma lista de 42 companhias com melhor desempenho. Essa lista foi submetida a um conselho deliberativo indepen-dente, a quem coube escolher as 20 empresas-modelo com base na análise da consistência das informações.
Para estimular as práticas sustentáveis entre pequenas e médias empresas, foi escolhida uma empresa-modelo entre aquelas com faturamento anual de até 300 milhões de reais. O vencedor nessa categoria, pelo segundo ano consecutivo, foi o laboratório Sabin, de brasília. além disso, com base na análise das 21 empresas-modelo e seguindo o julgamento editorial e jornalístico de EXaME, foi escolhida a Empresa Sustentável do ano: a mineradora anglo american. Segunda
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desempenhos consolidados em todas as dimensões.
Com base nessa seleção, chegou-se a uma lista de 42 empresas — submetidas a uma checagem jornalística das informações preenchidas no questionário. Terceira eTapa Aprovação do conselhoA lista de 42 empresas foi apresentada ao conselho deliberativo. Considerando as pontuações e a checagem, o conselho definiu a lista das 20 empresas-modelo. Adicionalmente, foi escolhida uma empresa-modelo na categoria de pequenas e médias empresas (com faturamento anual de até 300 milhões de reais).
QuarTa eTapa Escolha da Empresa Sustentável do AnoCom base nas 21 empresas-modelo e seguindo um critério jornalístico, a redação de EXAME selecionou a empresa de maior destaque, que recebe o prêmio de Empresa Sustentável do Ano.
maior produtora de níquel do país, a empresa vem se desta-cando pela política de boa vizinhança com as comunidades no entorno de suas duas fábricas no interior de Goiás. Ela promove cursos de empreendedorismo para que os mora-dores não dependam de uma atividade que tem prazo para acabar — a exploração do níquel dura de 30 a 40 anos. Além disso, a empresa tem feito investimentos relevantes para reduzir o impacto ambiental de suas atividades.
Todas as participantes que responderam integralmente aos questionários recebem um relatório de desempenho, com notas por dimensão, critérios e indicadores, assim como as médias do universo pesquisado e também das empresas-modelo. Dessa forma, o relatório constitui uma ótima ferramenta para avaliar a estratégia de sustentabi-lidade da empresa e comparar seu desempenho com o das companhias mais avançadas nessa área no país.
primeira eTapa Preenchimento do questionárioAs empresas preencheram um questionário disponível no Portal EXAME (www.exame.com.br), dividido em quatro partes de mesmo peso. O questionário foi elaborado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces), da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, conforme abaixo.
Dimensão geralO que é Conjunto de 23 questões sobre os
compromissos, a maneira como a empresa trata o tema da sustentabilidade internamente, a transparência e a governança corporativa (estas últimas elaboradas com o apoio do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
Dimensão econômicaO que é Conjunto de 16
questões sobre a estratégia, a gestão e o desempenho da empresa.
Dimensão socialO que é Conjunto de 39 questões sobre
os compromissos e a responsabilidade da empresa perante todos os públicos com os quais se relaciona (stakeholders) — funcionários, fornecedores, clientes, consumidores, comunidade, organizações da sociedade civil e governo.
Dimensão ambientalO que é Conjunto
de 48 questões sobre a política, a gestão e o desempenho ambiental — inclusive iniciativas da empresa em relação à biodiversidade, às mudanças climáticas, ao uso e à conservação sustentável de recursos naturais etc.
No total, 170 empresas se inscreveram. Destas, passaram para a etapa seguinte somente as 123 que responderam a todas as perguntas do questionário.
SeGuNDa eTapa Análise do desempenhoFoi calculado o desempenho das empresas em cada dimensão. Passaram para a etapa seguinte as companhias que obtiveram os melhores
peSo
25
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25
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25
a Seleção paSSo a paSSo
o perfil DoS coNSelheiroSQuem são os integrantes do conselho deliberativo desta edição do Guia EXaME dE SuStEntabilidadE
Helio MattarFundador e diretor-
presidente do Instituto
Akatu, ONG que estimula
o consumo consciente
Heloisa Bedicks Diretora executiva
do Instituto Brasileiro
de Governança
Corporativa (IBGC)
Marcelo SodréProfessor de direito
do consumidor e
de direito ambiental
da PUC de São Paulo
Pedro MeloniEconomista com atuação
no mercado financeiro,
é consultor do International
Finance Corporation (IFC)
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Walter De Simoni, presidente da unidade de níquel da
Anglo American: paciência para ouvir a comunidade
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todos os anos, desde 2008, em meados de novembro, uma velha Belina bege com alto-falantes acoplados ao teto começa a circular pelas ruas de Barro Alto, município no interior de Goiás. Sua missão é anunciar a data, o horário e o local de um dos eventos mais aguardados da cidade — o Fórum Co-munitário Intercâmbio, promovido pela unidade de níquel da mineradora Anglo American para discutir com a po-pulação as ações da empresa na região. Aberto a qualquer morador da comunidade, o encontro costuma reunir anual-mente até 300 pessoas, entre comerciantes, trabalhadores, religiosos e representantes de entidades locais. Durante a reunião, executivos da Anglo American apresentam os planos para os meses seguintes, explicam o tipo de mate-rial que a empresa pretende comprar (para que fornece-dores da região possam se preparar) e anunciam a aber-tura de possíveis vagas de trabalho — uma parceria com o Senai se encarrega de capacitar os interessados. Ao lon-go da reunião, que costuma se estender por várias horas, a Anglo American também mostra de maneira detalhada os possíveis impactos da operação sobre o meio ambien-te e as ações que está tomando para diminuir os danos.
empresa sustentável
do ano
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Para a mineradora Anglo American, estabelecer um diálogo com a comunidade nas regiões em que atua e reduzir o impacto ambiental tem sido
estratégico para sua expansão no país / raquel grisotto
Política de boa vizinhança
unidade de níquel
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empresa sustentável do ano⁄ Anglo AmericAn
A fábrica em Barro Alto custou 2 bilhões de dólares. cerca de 300 milhões de dólares foram gastos
em tecnologias para reduzir o impacto ambiental
São comuns os questionamentos e, vez ou outra, algum morador levanta a voz de forma mais exaltada. “Não é um trabalho fácil”, diz o engenheiro Walter De Simoni, presi-dente da unidade de níquel da Anglo American. “Mas ter paciência para ouvir a população é a única maneira de ga-rantir o andamento de nossos projetos.” Tem sido assim desde que a Anglo American, um dos maiores grupos de
mineração do mundo, com sede em Londres, iniciou suas atividades em Barro Alto, em 2004. No começo, os negócios se resumiam à extração de níquel. Sete anos depois, a em-presa inaugurou um complexo com capacidade para pro-cessar 41 000 toneladas de níquel por ano, o que vai con-tribuir para ampliar a produção da empresa no Brasil em 50% até 2015. O estado de Goiás é estratégico para a mul-
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/117
Produção de mudas de eucalipto (à esq.) e escavação de mina em Barro Alto: um dos maiores desafios é mudar a imagem de um setor historicamente associado à degradação ambiental
American fosse apontada como Empresa Sustentável do Ano pelo GuiA EXAME dE SuStEntAbilidAdE 2012. A esco-lha ganha ainda mais peso pelo setor em que a Anglo atua. Afinal, a mineração é um negócio que, historicamente, car-rega uma herança negativa. desde a descoberta do brasil, a atividade esteve associada a pesadelos como trabalho escra-vo, expropriação de terras e destruição de recursos naturais. Ainda hoje, poucas atividades causam impacto tão grande como a mineração. Se realizada sem planejamento, ela pode provocar danos ao meio ambiente, como poluição, devasta-ção de florestas e contaminação de águas. nas lavras a céu aberto, as operações se estendem por dezenas de quilôme-tros, há tráfego intenso de veículos pesados e pilhas de de-
tinacional consolidar-se como a segunda maior produtora de níquel do país, atrás apenas da Votorantim. Atuando no brasil há quatro décadas, a Anglo American tem uma fá-brica de beneficiamento de níquel em niquelândia, tam-bém no interior de Goiás, instalada em 1982.
no total, o empreendimento de barro Alto consumiu 2 bi-lhões de dólares — e se destacou pelos altos investimentos em tecnologias para reduzir o impacto ambiental da opera-ção e também pelo bem-sucedido programa de envolvimen-to da comunidade. “A maior preocupação é mostrar que o balanço de nossa atividade na região pode ser positivo para os dois lados”, diz de Simoni. no conjunto, essas ações ti-veram peso decisivo para que a unidade níquel da Anglo
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118/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
empresa sustentável do ano⁄ Anglo AmericAn
Problema O aumento acelerado da população, atraída
pela possibilidade de trabalho, pode provocar crescimento desordenado e favelização
Ações A Anglo American criou um conselho
para discutir com a comunidade e o poder público o desenvolvimento do município. A empresa investe em obras de infraestrutura
AtuAção responsávelA exploração de minério é uma atividade que traz riscos sociais e ambientais
1
jetos se acumulam durante as escavações. Apesar dos avan-ços, essas práticas ainda ocorrem no país. Mas, no geral, há muito o que comemorar. “Nos últimos 20 anos, a indústria da mineração evoluiu em muitas frentes”, afirma a enge-nheira Virginia Ciminelli, professora da Universidade Fe-deral de Minas Gerais e coordenadora do INCT Acqua, um programa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação que estuda a interferência das atividades de mineração e metalurgia nas águas, nos solos e na vegetação. Entre os fa-tores que mais contribuíram para essa evolução estão o avanço na legislação e as ações das empresas. “A pressão aumentou, e uma comunidade insatisfeita tem condições de atrapalhar o andamento de um projeto”, diz Virginia.
Com todos os seus impactos negativos, que podem e de-vem ser minimizados, não se questiona que a mineração é uma atividade necessária e fundamental — os diversos mi-nérios estão presentes na construção civil, na agricultura, nos meios de transporte e em um sem-número de aplicações que fazem parte do dia a dia de qualquer pessoa. Seu impac-to na economia também é expressivo. Representa quase 4% do PIB brasileiro, exporta mais de 70 bilhões de dólares por ano — é a principal responsável pelo saldo positivo na ba-lança comercial brasileira —, emprega diretamente 175 000 pessoas e alimenta uma cadeia de mais de 2,5 milhões de trabalhadores na indústria da transformação.
Ciente dos efeitos — positivos e negativos — que causa ao se instalar em locais remotos com sérias carências de infraes-trutura e baixos indicadores sociais, a Anglo American
cerca-se de cuidados. Em Barro Alto, a empresa promoveu um amplo processo de debates com a comunidade e contra-tou a elaboração de um Plano Diretor, finalizado em 2010. A ideia é evitar o crescimento desordenado da cidade. A preocupação se justifica. Segundo o IBGE, a população de Barro Alto diminuiu de quase 10 000 habitantes, em 1990, para 6 000 habitantes, em 2000, uma queda de 40%, moti-vada pela falta de oportunidades de trabalho na região. Com o início das atividades da Anglo American, a população vol-tou a crescer, atingindo hoje 9 000 habitantes. Para ajudar Barro Alto a se desenvolver de forma sustentável, a empre-sa criou mecanismos compensatórios importantes. Um de-les é um fundo social para obras de infraestrutura. Desde 2008, foram construídos um hospital e a rede de saneamen-
A população de Barro Alto havia encolhido 40% em uma década. com a fábrica da Anglo American, a cidade voltou a crescer
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/119
to básico. Para reduzir o risco de desvio das verbas, a própria Anglo American administra os recursos, mas quem decide onde e como será aplicado o dinheiro é a população. Para-lelamente, a empresa promove palestras, ministradas pela ONG Agenda Pública, para esclarecer os moradores sobre seus direitos e deveres como cidadãos. “Não queremos as-sumir compromissos que devem ser do poder público”, diz De Simoni. A Agenda Pública atua em Barro Alto desde 2009, financiada pela Anglo American. Além de ajudar a comuni-dade a se organizar em associações e ensinar as ferramentas de cobrança do poder público, a ONG trabalha em parceria com as secretarias municipais, implantando métricas para monitorar a gestão. “A Anglo American incentiva o engaja-mento da comunidade e melhora as estruturas do poder público”, afirma Sérgio Andrade, diretor da Agenda Pública. “São raríssimas as empresas que atuam dessa forma.”
PRAZO PARA ACABAR
Uma das preocupações da Anglo American é reduzir a de-pendência da população de uma atividade que tem prazo para acabar — a exploração do níquel costuma durar de 30 a 40 anos. Por isso, em parceria com a Care Brasil, organi-zação de fomento ao empreendedorismo, ajuda a fortalecer as atividades comerciais da cidade — mesmo aquelas sem nenhuma relação com seu negócio. Um desses programas é o Via Láctea, que promove a difusão de tecnologias da Em-brapa entre pequenos agricultores para que possam aumen-tar a produtividade e a qualidade do leite. Em alguns casos, os ganhos de renda chegam a 30%. “Numa operação assim, sempre há pessoas insatisfeitas, sobretudo as que não con-seguem se beneficiar diretamente das ações de fomento”, diz Beatriz Bandeira, coordenadora da Care Brasil em Goiás. “Mas a disposição da Anglo em ouvir todos os lados e tentar encontrar soluções é algo que merece elogios.”
Os esforços da empresa para reduzir o impacto de suas atividades no meio ambiente também têm recebido elogios. Somente na fábrica de Barro Alto foram investidos 296 mi-
Fábrica em Barro Alto: redução de 18% no consumo
de energia em relação à média do setor no mundo
Problema A mineração promove o crescimento, mas há riscos de a cidade se tornar dependente de uma atividade que tem prazo para acabar
Ações A Anglo American adota a política de priorizar
fornecedores locais e, em parceria com a ONG Care Brasil, procura estimular novas fontes de receita para a população local
Problema A má gestão de estéreis (material escavado sem valor econômico) e de resíduos industriais está entre as principais causas de acidentes no setor
Ações Além de construir barragens para evitar que os detritos cheguem aos rios, a Anglo American adota práticas para reaproveitamento e tratamento de 100% do material
1. Considera apenas as operações de níquel da empresa, em Goiás Fontes: Ibram e Anglo American
sociais e ambientais. Veja o que a Anglo American está fazendo para minimizar os principais impactos(1)
2 3
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120/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
A Anglo AmericAn em números
10 milhões de reais
foram investidos desde 2008 em obras de infraestrutura
na cidade de Barro Alto
50%da mão de obra
nas duas fábricas de níquel em Goiás foi recrutada
nas comunidades locais
65%da energia
na fábrica de Niquelândia vem de fontes renováveis,
como lascas de madeira
12000hectares é a área
de reflorestamento, de onde sai a madeira que abastece
os fornos em Niquelândia
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Mineração • rEcEITA BrUTA EM 2011 434 milhões de reais • fUNcIoNárIoS 2 487
• Quando foi premiada
sobre A empresA
Por qUE SE DESTAcoU
Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Mais de 80% da produção da empresa é oriunda de processos cobertos por sistemas
de gestão ambiental certificados
• Possui programas para gerenciar ou reduzir impactos ambientais no transporte de produtos
e materiais utilizados em suas operações
• Promove iniciativas de desenvolvimento sustentável na comunidade do entorno, levando
em conta as peculiaridades locais
• Os investimentos sociais consideram a relevância para a comunidade e o potencial
de autossuðcência ðnanceira dos projetos
indicadores ambientais investimentos sociais
0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10 0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10
109,4 9,3
7,1 6,6
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
ANGLo AMErIcAN
MéDIA
empresa sustentáVel do ano⁄ Anglo AmericAn
lhões de dólares. O negócio, que inclui uma mina de ferro em Minas Geras, foi vendido à Anglo American pela mineradora MMX, do empresário Eike Batista, em 2008. O projeto enfrenta atrasos nas licenças ambientais e uma série de questionamentos. “A população reclama de problemas ligados ao meio ambiente, de invasão de propriedades e do tratamento recebido durante as desocupações”, diz Lucas Simões, coordenador da Defensoria Pública de Minas Gerais. Em nota a EXAME, a unidade de ferro da Anglo American, presidida por Paulo Castellari Porchia, informou que “as demandas da comunidade têm sido registradas e a empresa tem tomado iniciativas para solucionar as questões”. É um contraste com a atuação da empresa em Goiás. Por quê? “Compramos uma operação que já estava em andamento. Por isso, perdemos a possibilidade de esclarecer as comunidades desde o início”, diz De Simoni. As obras do projeto MinasRio começaram em 2006, e a participação da Anglo American no empreendimento teve início dois anos depois. Colega de Porchia há décadas, De Simoni está confiante. “Estamos fazendo um esforço conjunto para que tudo se resolva o mais rapidamente possível”, afirma. “Este é o compromisso da empresa em todos os locais onde atuamos.”
lhões de dólares em filtros e catalisadores que limpam a poeira do ar, em aparelhos para reduzir a emissão de gases e em equipamentos que ajudam a reaproveitar os resíduos. “Nenhuma operação nossa nasceu tão verde”, afirma De Simoni. Como resultado, a fábrica obteve uma redução de 11% no consumo de água e 18% no gasto de energia em relação à média de operações similares no mundo. Outro avanço na área ambiental é o uso em larga escala de biomassa como combustível para os fornos. Na fábrica em Niquelândia, o processo diminui em 20% o uso de óleo fóssil. A biomassa vem da madeira de eucalipto obtida em área própria de reflorestamento — 12 000 hectares plantados nas imediações da fábrica. A Anglo American estuda agora adotar a mesma fonte de energia na fábrica de Barro Alto.
É curioso que uma empresa que procura seguir elevados padrões ambientais e sociais também enfrente problemas que parecem quase insolúveis. A unidade de minério de ferro da Anglo American — que tem independência operacional em relação à unidade de níquel e que não foi inscrita na avaliação do GuiA EXAME DE SuStENtABiLiDADE 2012 — tenta há quatro anos tirar do papel o projeto MinasRio, o maior do grupo no mundo, com investimentos de 5,8 bi
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970588-EXAME ESP PEQUENAS E MED EMPR-1_1-1.indd 121 14/11/2012 19:16:13
122/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
uma pesquisa da concessionária AES revelou que 80% dos acidentes com energia elétrica envol-vendo consumidores ocorrem em bairros de baixa renda, sobretudo entre os que fazem reformas em suas casas, os “puxadinhos”. Para orientar essas pessoas sobre medidas de segurança, como não tocar nos fios de alta-tensão, a em-presa intensificou sua campanha educativa em 2011. Técni-cos da AES visitaram canteiros de obras e lojas de material de construção e orientaram mais de 18 000 pessoas. “Dis-tribuímos panfletos, passamos filmes, realizamos palestras. Usamos todos os meios disponíveis para nosso grande de-safio, que é educar o consumidor”, diz Britaldo Soares, pre-sidente da AES Brasil. Os resultados começam a aparecer.
Em 2011, a empresa registrou 16 acidentes fatais em sua área de concessão em São Paulo e no Rio Grande do Sul. “É um número elevado ainda, mas houve uma queda significativa, de quase 50%, em relação a cinco anos atrás”, afirma Soares. Outra frente de atuação é regularizar as ligações clandesti-nas. “Buscamos eliminar as ligações ilegais, feitas sem os materiais apropriados. Além de melhorar a segurança, essa iniciativa educa as famílias para o consumo consciente de eletricidade e reduz as perdas no sistema”, diz Soares. A AES faz as instalações elétricas adequadas e substitui chuveiros e lâmpadas por modelos mais eficientes. Em 2011, a empre-sa investiu 57 milhões de reais nesse programa de regulari-zação e conquistou 48 600 novos clientes.
Foco na segurança
a aes em números
90 milhões de reais
foram destinados em 2011 a projetos de busca
da eficiência energética
70 milhões de reais
investidos em 2011 em pesquisa, dos quais 20%
em energias renováveis
38metas de sustentabilidade
foram incorporadas em 2011 ao planejamento estratégico
4000 professores
de 800 escolas foram capacitados no programa
de consumo consciente
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Energia • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 14,4 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 7420
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Possui ouvidoria para receber, responder e esclarecer as críticas e sugestões do público
interno, assegurando a confidencialidade
• Assegura igualdade de tratamento e condições de trabalho a funcionários
e trabalhadores terceirizados
• A remuneração variável de todos os executivos da empresa está vinculada a metas de desempenho
nas áreas econômica, ambiental e social
• Possui uma diretoria com atribuição de tratar de questões relativas à sustentabilidade e que se reporta
diretamente ao presidente
relações de trabalho consistência dos compromissos
0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10 0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10
109,2 10
6,5 6,6
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
A AES investe em campanha de esclarecimento do consumidor, reduz à metade os acidentes fatais com energia elétrica e ganha novos clientes / daniela rocha
empresa-modelo⁄ aes
AES
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/123
Ge
rm
an
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ud
er
s
Britaldo Soares, presidente da AES Brasil: regularização de
ligações clandestinas e orientação sobre consumo consciente
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124/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
capítulo importante na política de sustentabilidade da Alcoa, o trabalho para redu-zir as emissões de gases poluentes foi reforçado em 2011. A companhia deu início a seus dois principais investimentos relacionados ao tema no país e que vão garantir ar mais lim-po nas regiões de Poços de Caldas, em Minas Gerais, e em São Luís, no Maranhão, onde estão duas das seis fábricas brasileiras. “Estamos chegando ao limite do planeta. A in-dústria de alumínio é uma grande emissora de gases, e temos de fazer a nossa parte”, diz Franklin Feder, presidente da Alcoa. Em Poços de Caldas, os equipamentos que funciona-vam à base de óleo combustível para fabricar a alumina, matéria-prima do alumínio, deram lugar aos movidos por
gás natural. Embora também tenha origem fóssil, o gás polui menos e possibilitará que a fábrica deixe de liberar mais de 80 000 toneladas de gás carbônico por ano na atmosfera — é como tirar de circulação 11 200 carros a gasolina. Além do benefício ambiental, houve um ganho econômico para a Alcoa, já que o gás natural custa até 10% menos que o óleo. Em São Luís, a alternativa, por ora, é o gás liquefeito de pe-tróleo, já que o gás natural ainda não está disponível na re-gião. Mas a Alcoa está buscando parcerias para viabilizar a chegada do gás à capital maranhense. Os planos estão sendo traçados pela equipe de executivos, que têm um incentivo extra: seu bônus depende da redução das emissões. “É uma forma de fazer a coisa certa com estímulo”, diz Feder.
por um ar mais limpo
a alcoa em números
65% da energia
consumida pela empresa no ano passado foi gerada
por usinas próprias
60 000 toneladas
de resíduos — quase 67% do total gerado — foram
recicladas em 2011
25milhões de reais
investidos em um hospital em Juruti, no Pará, onde a empresa
tem uma mina de bauxita
27%de redução
no uso de água desde 2006, quando a empresa traçou sua
estratégia de sustentabilidade
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Siderurgia e metalurgia •rEcEITA LíqUIDA EM 2011 2,5 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 3 547
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Tem programa de educação que aborda o tema da sustentabilidade, voltado para funcionários,
clientes, fornecedores e comunidade em geral
• Tem compromissos voluntários relacionados à sustentabilidade e divulga relatório
com as metas e os resultados alcançados
• Tem compromisso formal para a erradicação de trabalho infantil, forçado ou compulsório,
por meio de políticas específicas e de adesão a iniciativas voluntárias
• Assegura igualdade de tratamento e condições a funcionários e trabalhadores terceirizados
CompromiSSo Com a SuSTenTaBiLidade reLaÇÕeS de TraBaLHo
0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10 0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10
9,8 9,1
7,0 6,5
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Na busca pela redução da emissão de gases, a Alcoa troca o óleo combustível pelo gás natural. A mudança, até agora, equivale a tirar de circulação 11 200 carros / ÉriCa poLo
empresa-modelo⁄ alcoa
ALcoA
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/125
Ge
rm
an
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s
Franklin Feder, presidente da Alcoa: a remuneração variável dos executivos
está atrelada ao cumprimento das metas de redução da emissão de gases
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126/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
Em muitas EmprEsas, a po-lítica de sustentabilidade se restringe a ações de divulgação — muitas vezes voltadas para áreas sem nenhuma relação direta com a da companhia em questão. A Braskem, uma das maiores petroquímicas do continente americano, está longe dessa turma. Em 2012, quando completa dez anos, a empre-sa comemora avanços em praticamente todos os indicadores ambientais. Entre outras coisas, a Braskem diminuiu pela metade a geração de resíduos e em 32% a de efluentes. As fábricas foram modernizadas e hoje gastam 9% menos ener-gia. As emissões de gases estufa caíram 11% — o equivalente ao plantio de 7 milhões de árvores por ano. Nesses últimos dez anos, o único indicador que não avançou foi o de con-
sumo de água. De 2002 a 2011, o uso desse insumo cresceu 8%. Mas a Braskem quer corrigir a falha, baixando o consu-mo a um nível inferior ao de 2002. Para isso, está estocando água de chuva para usar na fábrica de Camaçari, na Bahia. A iniciativa aumentará 12% o índice de reúso de água pela Braskem. A empresa faz parte também de um projeto de reaproveitamento de água que está sendo implantado no Polo Petroquímico do ABC, na Grande São Paulo. A ideia é transformar o esgoto da região em água para ser usada na geração de energia, no resfriamento de equipamentos e em outras aplicações industriais. “Queremos reutilizar essa água de duas a três vezes em nossa fábrica no Polo Petroquímico”, diz Carlos Fadigas, presidente da Braskem.
avanço consistente
a braskem em números
88%de redução de
acidentes em dez anos. O índice da empresa é um décimo
da média do setor químico
151 milhões de reais
foram investidos em projetos de desenvolvimento
sustentável em 2011
2,7quilos por tonelada
de resíduos gerados nas 18 fábricas, o que representa
um terço da média do setor
20%da água consumida
pela empresa em 2011, ou cerca de 13,5 bilhões de litros,
foi obtida mediante reúso
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Químico e petroquímico • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 18,7 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 4 989
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Assume compromissos voluntários relacionados à sustentabilidade e divulga relatório
com as metas e os resultados alcançados
• Tem programa de educação que aborda o tema da sustentabilidade, voltado para funcionários,
clientes, fornecedores e comunidade em geral
• Os investimentos sociais realizados pela empresa têm verba definida em orçamento anual,
gerida de acordo com critérios preestabelecidos
• Promove iniciativas de desenvolvimento sustentável na comunidade do entorno, levando
em conta os interesses e as peculiaridades locais
compromisso com a sustentabilidade investimentos sociais
0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10 0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10
109,6 9,7
7 6,6
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Em dez anos de história, a Braskem melhorou em oito dos nove principais indicadores ambientais. Falta agora reduzir o consumo de água / eduardo nunomura
EmprEsa-modElo⁄ braskem
BrASkEM
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/127
Ge
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s
Carlos Fadigas, presidente da Braskem:
aposta em projeto de tratamento de esgoto para
obter água que será usada no resfriamento
de equipamentos
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128/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
com 150 fábricas, usinas e centros de distribuição espalhados por 19 estados, a Bunge — maior empresa de agronegócios do país — fez um grande avanço na área ambiental em 2011: diminuiu suas emissões de ga-ses de efeito estufa em 20% em relação ao ano anterior. Isso foi possível com a substituição de combustíveis fósseis por biomassa — bagaço de cana, casca de arroz e resíduos de madeira, por exemplo — no aquecimento das caldeiras de seus processos industriais, como para a extração de óleo. O uso mais intenso de biomassa ajudou a empresa a au-mentar a participação da energia renovável de 91% do total consumido em 2010 para 93% em 2011. Aproveitando a energia elétrica produzida pela queima do bagaço de cana,
a Bunge gera hoje 78% de suas necessidades. A meta é tornar-se autossuficiente até 2014. “Queremos produzir cada vez mais, mas sem degradar o ambiente e os recursos naturais”, diz Pedro Parente, presidente da Bunge. Para alcançar esse objetivo, um dos pontos mais críticos é a pro-dução no campo, uma vez que a empresa não tem controle total sobre as práticas de seus fornecedores. Para conscien-tizar os agricultores sobre a produção sustentável, a Bunge tem investido na capacitação — promoveu 60 cursos ao longo do ano — e reforçado a vigilância. Em 2011, de um universo de 16 600 produtores com os quais faz negócios, a Bunge suspendeu os contratos de compra de 222 que des-cumpriram a legislação ambiental ou trabalhista.
A energiA do cAmpo
A bunge em números
300 toneladas
de óleo foram coletadas em 2011 e transformadas
em biodiesel e sabão
571000 toneladas de CO2
deixaram de ser emitidas com a substituição de combustível
fóssil por biomassa
8 000produtores
foram capacitados no ano passado em cursos
de boas práticas rurais
20%de redução
de emissões de gases estufa na produção de alimentos
em 2011 em relação a 2010
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Agronegócio • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 29,3 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 21 066
• Quando foi premiada
sobre A empresA
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Mais de 80% da produção da empresa é oriunda de processos cobertos por sistemas certificados
de gestão de saúde e segurança do trabalho
• Possui um programa de gerenciamento e minimização do impacto ambiental
pós-consumo de todos os seus produtos
• Estimula o uso do canal de atendimento aos consumidores, estabelece prazos de resposta
e monitora seu cumprimento
• Garante aos clientes e aos fornecedores que não utilizará suas informações com terceiros sem antes
buscar o seu consentimento
indiCadoreS amBienTaiS CLienTeS e ConSumidoreS
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7,1 7,9
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
A Bunge diminui suas emissões de gases de efeito estufa, aumenta a produção de energia renovável e investe na capacitação dos fornecedores agrícolas / Lia VaSConCeLoS
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BUNGE
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/129
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Pedro Parente, presidente da Bunge: com o uso crescente de biomassa, a meta da empresa é tornar-se autossuficiente na geração de energia até 2014
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130/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
até 2021, o consumo de ele-tricidade no Brasil deve crescer quase 5% ao ano, segundo projeção da Empresa de Pesquisa Energética, estatal que realiza o planejamento do setor. A CPFL Energia, grupo de 36 empresas que atuam na geração, distribuição e co-mercialização de energia, atendendo 18 milhões de pesso-as, é uma das companhias dispostas a captar esse aumen-to da demanda. “Sabemos que, para atingir nossos objeti-vos, teremos de manter o foco nas questões ligadas à sus-tentabilidade”, diz Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL Energia. Em 2007, a empresa incorporou práticas susten-táveis à sua estratégia de negócios. Após essa decisão, a CPFL começou a diversificar as fontes de energia, com a
incorporação de seis usinas de biomassa de bagaço de ca-na e 15 parques eólicos. Hoje, 95% da energia gerada vem de fontes renováveis, principalmente de hidrelétricas. A empresa está investindo mais de 2,6 bilhões de reais neste ano em energias renováveis, sobretudo em eólicas. Em novembro, a CPFL abriu uma nova frente com a instalação de sua primeira usina de energia solar. “Quanto antes tes-tarmos essa nova alternativa, mais competitivos seremos”, diz Ferreira Jr. Nos últimos anos, a empresa trocou sua frota de automóveis a gasolina por veículos movidos a eta-nol e passou a enviar as contas dos clientes por e-mail. Mas é nas atividades de maior impacto ambiental que tem se destacado. E é nelas que deverá continuar avançando.
água, vento, sol...
a cpfl em números
3522 megawatts será
a produção de energia eólica nos próximos anos com
os projetos em andamento
15 parques eólicos
atualmente em operação, com capacidade
de 556 megawatts
32milhões de reais
foram investidos no ano passado em pesquisa
e desenvolvimento
14milhões de reais
foram gastos na implantação da primeira usina solar da
empresa, em Campinas (SP)
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Energia • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 13,1 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 7 913
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Possui auditoria interna, que se reporta diretamente ao conselho de administração
• Possui regras por escrito sobre transações em que haja conflito de interesses.
Essas regras proíbem empréstimos para o controlador e para outras partes relacionadas
• A política de responsabilidade ambiental contempla o uso sustentável de recursos naturais e de insumos,
com foco na redução da emissão de resíduos
• Possui programa especíðco para reduzir a emissão de gases de efeito estufa de suas atividades e atingiu
as metas assumidas no último ano
governança responsabilidade ambiental
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108,6 8
6,3 5,4
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
De olho no crescimento da demanda, a CPFL investe na diversificação de suas fontes de energia. Uma das principais apostas é na expansão do parque eólico / érica polo
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/131
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Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL Energia: 95% da energia produzida pelas empresas do grupo vem de fontes renováveis
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132/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
o argentino Pedro Suarez, presidente da Dow para a América Latina, leva a sério o ditado segun-do o qual várias cabeças pensam melhor do que uma. “Des-cobrimos algo simples: sozinho é meio complicado fazer as coisas”, diz Suarez. Com base nessa constatação, a Dow, uma das maiores empresas químicas do mundo, decidiu fazer parcerias para encontrar meios de poupar recursos do pla-neta — e ganhar dinheiro com isso. Um dos resultados des-sa estratégia poderá ser visto no primeiro semestre de 2013, quando a maior fábrica da Dow no Brasil, em Aratu, na Bahia, passará a usar uma nova fonte de energia: o vapor produzido pela combustão da biomassa de eucalipto de re-florestamento próprio. A usina será operada pela empresa
Energias Renováveis do Brasil. A fábrica de Aratu funciona hoje com gás natural e tem consumo de energia equivalen-te ao de todo o estado de Sergipe. A substituição do gás na-tural pela biomassa, um investimento de 265 milhões de reais, permitirá à Dow diminuir em 40% os gastos com ener-gia na fábrica. Outro projeto que a Dow está desenvolvendo com outras instituições, entre elas a Universidade de São Paulo, é a criação de uma tecnologia voltada para a recupe-ração de pastagens degradadas no norte do país. O objetivo é melhorar a qualidade do pasto e aumentar 50% o número de cabeças de gado por hectare. Se a Dow e suas parceiras tiverem sucesso, a redução dos desmatamentos provocados pela pecuária poderá ser de grandes proporções.
ideias que vingam
a dow em números
55% dos funcionários
têm hoje metas formais de sustentabilidade.
Até 2015, serão 100%
95% das metas
de sustentabilidade traçadas pela empresa entre 1995
e 2005 foram cumpridas
70% dos contratos
com fornecedores incluem cláusulas referentes
a direitos humanos
4% dos produtos
vendidos têm algum diferencial sustentável em 2011.
A meta é atingir 10% em 2015
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Química e petroquímica • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 2,6 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 2 529
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• O canal de atendimento dos clientes resolve plenamente mais de 80% das reclamações recebidas
• A política corporativa que regula a utilização de instrumentos de marketing impede a veiculação
de informação sobre produtos que desrespeitem os valores ambientais
• Assumiu compromissos voluntários relacionados à sustentabilidade e divulga relatório com as metas
e os resultados alcançados
• Tem programa de educação que aborda o tema da sustentabilidade, voltado para funcionários, clientes,
fornecedores e comunidade em geral
clientes e consumidores compromisso com a sustentabilidade
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109 9,4
7,9 7
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Em parceria com outras empresas e instituições, a Dow busca soluções sustentáveis para poupar recursos naturais e gerar novos negócios / cynthia almeida rosa
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Dow
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Pedro Suarez, presidente da Dow: troca de gás natural por biomassa na maior fábrica no país diminuirá em 40% os gastos com energia
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134/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
a ecorodovias, um dos maiores grupos de logística do país, controla cinco concessões rodo-viárias. Elas somam mais de 1 450 quilômetros de estradas, entre elas o sistema Anchieta-Imigrantes e o corredor Ayr-ton Senna-Carvalho Pinto, no estado de São Paulo. A maio-ria dos motoristas que trafegam por suas estradas, classifi-cadas entre as melhores do Brasil, não imagina que o asfal-to à sua frente tem uma característica que o torna ambien-talmente correto: contém pó de borracha, obtido da tritura-ção de pneus velhos. Cerca de 70% das vias administradas pela EcoRodovias têm esse material, que aumenta a aderên-cia dos pneus e reduz o risco de derrapagens. Somente no sistema Anchieta-Imigrantes, o asfalto-borracha permitiu
o reúso de 400 000 pneus que seriam descartados na natu-reza. Esse é apenas um exemplo das iniciativas da EcoRo-dovias para reduzir o impacto de seu negócio. Todas as es-tradas sob sua concessão têm as certificações ISO 9001 (qualidade), ISO 14001 (meio ambiente) e OHSAS 18001 (saúde e segurança). “Nossa meta é ser reconhecida como uma companhia socialmente responsável”, diz Marcelino Rafart de Seras, presidente da EcoRodovias. Um dos pontos que a EcoRodovias sabe que precisa melhorar é a infraes-trutura das rodovias, especialmente nos acessos às cidades, onde são comuns os congestionamentos. “Estamos nego-ciando com os governos municipais e estaduais para desen-volver soluções de mobilidade e eliminar esses gargalos.”
AsfAlto ecológico
A ecorodoviAs em números
1750 toneladas de CO2
foram compensadas com o plantio de mudas
ao longo das rodovias
1,6 milhão de reais
foram investidos em 2011 em programas
de gestão ambiental
130 000 horas foram dedicadas
a treinamento, palestras e cursos de capacitação
dos funcionários em 2011
85% dos usuários
fizeram avaliação positiva das estradas administradas
pela EcoRodovias em 2011
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Serviços • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 1,9 bilhão de reais • fUNcIoNárIoS 4061
• Quando foi premiada
sobre A empresA
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho veja dois pontos fortes da empresa*
• Possui um comitê de sustentabilidade formalmente estabelecido que se reporta
ao conselho de administração
• Possui um documento que assegura a aplicação da política de sustentabilidade em todas
as unidades e controladas da empresa
• Promove iniciativas de desenvolvimento sustentável nas comunidades do entorno
• Os investimentos sociais são precedidos de estudos e consultas às comunidades afetadas
pelas iniciativas, com o objetivo de identificar suas principais necessidades
consistência dos compromissos investimentos sociais
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109,6 9
6,6 6,6
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
A EcoRodovias aproveita pneus velhos para melhorar a qualidade das estradas que estão sob sua concessão. Bom para os motoristas, melhor ainda para a natureza / simone tobias
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EcoroDovIAS
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/135
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Marcelino Rafart de Seras, presidente da EcoRodovias: o desafio é melhorar a infraestrutura para eliminar os gargalos nos acessos às cidades
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136/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
para fornecer energia elétrica a seus 5,5 milhões de clientes, a distribuidora Elektro tem uma rede de 107 000 quilômetros de cabos — o suficiente para dar duas voltas e meia na Terra. Cerca de 80% dos cabos estão em áreas de preservação ambiental, o que difi-culta as inspeções necessárias para evitar problemas no fornecimento de energia. Até há pouco tempo, técnicos da Elektro precisavam abrir trilhas nos locais de difícil acesso, o que exigia, muitas vezes, a derrubada de árvores. Para reduzir o impacto ambiental, a Elektro começou neste ano a realizar inspeções com um helicóptero, que leva equipa-mentos de filmagem e de termovisão — que detectam o aquecimento na rede, permitindo a manutenção preventi-
va. Além do ganho ambiental, o helicóptero elevou a pro-dutividade. Se um técnico percorria 7 quilômetros a pé por dia, o helicóptero permite a inspeção de até 90 quilômetros diários. Outro exemplo de cuidado com o meio ambiente é o traçado das linhas. Entre as cidades paulistas de Iguape e Pariquera-Açu, por exemplo, um terço das torres de trans-missão teve seu traçado alterado para reduzir a faixa de servidão — a área que deve ficar livre para a passagem das linhas. Com isso, deixaram de ser cortados, só nesse trecho, 220 000 metros quadrados de vegetação, ou 25 campos de futebol. “Reduzir o impacto de nosso negócio é uma de nos-sas preocupações”, diz Márcio Fernandes, presidente da Elektro. “A sustentabilidade não é um clichê.”
da terra para o ar
a elektro em números
52 milhões de reais
destinados em 2011 a iniciativas e programas
de proteção ambiental
16 milhões de reais
foram investidos no ano passado em projetos
de eficiência energética
2 600instalações
elétricas em casas foram trocadas para promover o uso
seguro de energia elétrica
18toneladas
de resíduos sólidos coletadas desde novembro de 2011
no programa de reciclagem
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Energia • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 3,7 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 3 879
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Utiliza critérios sociais para selecionar e monitorar fornecedores. Esses critérios incluem a valorização
da diversidade, o combate à discriminação e o incentivo à contratação de fornecedores locais
• Os critérios de monitoramento dos fornecedores fazem parte de cláusulas contratuais
• O investimento social é precedido de consultas às comunidades envolvidas para identificar as
necessidades e fortalecer a organização comunitária
• A verba do investimento social é deðnida em orçamento anual e gerida com transparência,
conforme critérios preestabelecidos
GeSTÃo de forneCedoreS inVeSTimenToS SoCiaiS
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1010 9,7
5,5 6,6
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
A distribuidora de energia Elektro adota a inspeção aérea para detectar falhas na rede. O novo sistema aumenta a produtividade e gera ganhos ambientais / Lia VaSConCeLoS
empresa-modelo⁄elektro
ELEkTro
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/137
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iMárcio Fernandes, presidente da Elektro: “A sustentabilidade é um elemento crucial de nossa estratégia”
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138/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
satisfeita com o grau de sustentabilidade alcançado em suas operações, a Embraco, fabricante de compressores de refrigeradores, começou a disseminar suas práticas para além das paredes das próprias fábricas. Desde 2008, os mais de 400 fornecedores espalha-dos por 12 países passam por um processo de conscientiza-ção dos princípios defendidos pela Embraco nas áreas de gestão ambiental, reciclagem, reúso de materiais e relações trabalhistas. “Seguimos padrões e normas aceitos interna-cionalmente, e parceiros que queiram fazer negócios conos-co têm de seguir as mesmas regras”, diz Roberto Campos, presidente da Embraco. Desde o ano passado, uma equipe de especialistas em áreas como qualidade e logística visita
os principais fornecedores, estuda os processos e propõe mudanças que possam contribuir para a sustentabilidade do negócio. O programa resultou em uma série de melhorias. Um fornecedor das embalagens dos compressores, feitas de madeira, diminuiu em 15% o uso de matéria-prima. Com isso, 150 000 árvores e 11 toneladas de pregos serão poupa-das a cada ano. Outro caso é o de um fornecedor de borracha que descartava todos os resíduos em aterros sanitários. Com a ajuda da Embraco, desenvolveu uma forma de reaproveitar 90% do material, destinando-o à fabricação de grama sinté-tica. “Os ganhos financeiros trazidos por essas inovações são divididos entre a Embraco e o fornecedor”, diz Campos. “É uma típica relação em que todos são beneficiados.”
lucros compartilhados
a embraco em números
11% de redução
no consumo de água da empresa em 2011
em relação ao ano anterior
602000 carcaças
de compressores recolhidas em 2011 para reciclagem,
45% mais que em 2010
2000funcionários,
fornecedores e clientes participaram de atividades
educativas em 2011
28000pessoas foram
beneficiadas pelos investimentos sociais
realizados em 2011
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Eletroeletrônico • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 Não informada • fUNcIoNárIoS 10 400
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• O compromisso com o desenvolvimento sustentável é manifestado em documento público, com
objetivos e metas de desempenho de longo prazo
• Assume compromissos que vão além das exigências legais e publica relatório
para prestação de contas
• Possui plano de contingência, com ações para evitar ou atenuar os efeitos negativos de desastres
naturais, impactos ambientais e questões sociais
• A política de gestão de riscos adota critérios socioambientais de curto, médio e longo prazo,
monitorados periodicamente
CompromiSSo Com a SuSTenTaBiLidade GeSTÃo de riSCoS
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109,8 9,9
7,0 6,7
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Para disseminar as boas práticas, a Embraco analisa os processos de produção de seus fornecedores, propõe melhorias e divide os ganhos financeiros das inovações / mauríCio oLiveira
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EMBrAco
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/139
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Roberto Campos, presidente da Embraco:
os fornecedores devem seguir os mesmos padrões
de sustentabilidade da empresa
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140/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
o ano de 2011 não foi nada fácil para a Fibria, maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo. Apesar do aumento de 2,6% na produção de celulose, a queda da demanda na Europa e nos Estados Unidos e as oscilações do câmbio levaram a empresa a sofrer uma redução de 7% em sua receita líquida em relação ao ano anterior. O mau resultado econômico não impediu avanços em outras áreas. No campo ambiental, a empresa continuou reduzindo o consumo de água, um dos recursos mais críticos para a pro-dução de celulose. Em 2011, gastou 22 500 litros de água para produzir cada tonelada de celulose — metade da média do setor. Hoje sua fábrica em Jacareí, no vale do Paraíba, é referência mundial no setor. “Ecoeficiência significa fazer
mais com menos, de forma equilibrada”, diz Marcelo Cas-telli, presidente da Fibria. Outro indicador que se destacou em 2011 foi o da geração de resíduos industriais. Do total de resíduos gerados, 68% são reaproveitados. Parte desse ma-terial vira adubo nas áreas de eucalipto, onde a Fibria de-senvolve projetos de agrofloresta. A empresa seleciona mo-radores das comunidades vizinhas e os incentiva a plantar alimentos e a criar gado em meio aos eucaliptos. O programa capacita e gera renda para 10 000 famílias em sete estados. Em 2011, a Fibria investiu quase 26 milhões de reais em projetos de inclusão social de comunidades vizinhas, 52% mais do que no ano anterior. “Nosso objetivo é continuar cultivando esses relacionamentos”, diz Castelli.
Fazendo mais com menos
a Fibria em números
117 milhões de reais
foram investidos em 2011 em processos para melhorar
a ecoeficiência nas fábricas
150000 pessoas foram
beneficiadas por iniciativas socioambientais desenvolvidas
pela empresa em 2011
455000 reais em prêmios
foram distribuídos em 2011 aos funcionários por suas sugestões
de melhoria dos processos
3 500hectares da Mata
Atlântica começaram a ser recuperados
pela empresa em 2011
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Papel e celulose • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 3,8 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 5 046
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• A política de gestão de riscos considera critérios socioambientais de curto, médio e longo prazo,
monitorados periodicamente
• O plano de contingência prevê ações para evitar ou atenuar os efeitos negativos de desastres
naturais e impactos ambientais
• O investimento social leva em conta critérios como a relevância para a comunidade e o potencial
de autossuficiência dos projetos
• A empresa avalia periodicamente seus projetos sociais por meio de indicadores e do monitoramento
das metas alcançadas
GeSTÃo de riSCoS inVeSTimenToS SoCiaiS
0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10 0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10
109,6 9,7
6,7 6,6
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
O mau desempenho econômico, resultado da queda das exportações de celulose, não impediu a Fibria de obter avanços nas áreas ambiental e social / Zenaide pereS
empresa-modelo⁄ Fibria
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/141
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Marcelo Castelli, presidente da Fibria: a redução do consumo
de água e da geração de resíduos coloca as fábricas do grupo entre as
mais avançadas do mundo
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142/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
o grupo fleury, uma das maiores empresas do setor de saúde do país, vem crescendo em ritmo acelerado. Em 86 anos de história, já comprou 26 empresas. A mais recente —e maior — aquisição foi a Labs Cardiolab, empresa de medicina diagnóstica com 500 médicos e 57 unidades de atendimento no Rio de Janeiro. O negócio, con-cretizado em 2011, custou 1,2 bilhão de reais. O grupo conta agora com uma rede de 1 000 médicos e 200 unidades em seis estados e no Distrito Federal. A rápida expansão traz um desafio: disseminar e harmonizar as boas práticas. Al-gumas das empresas adquiridas nos últimos anos não tinham o mesmo padrão de sustentabilidade de outras. “Para nos tornarmos um modelo nessa área, precisamos fortalecer
nossa atuação em todas as unidades”, diz Omar Hauache, presidente do Fleury. A ideia é disseminar as ações sociais e ambientais já testadas e aprovadas em São Paulo, onde fica a sede. Em 2010, 99 iniciativas sustentáveis foram di-fundidas no grupo. Em 2011, foram 155 ações — desde o des-carte adequado de tubos de coleta de exames até o uso mais eficiente da luz natural para reduzir o consumo de energia e ações voluntárias para a comunidade. Os 9 000 funcioná-rios têm um incentivo extra para se engajar nesses projetos: 10% do bônus de participação nos lucros depende do de-sempenho nas áreas de inovação e sustentabilidade. Segun-do Hauache, o engajamento é crucial. “Nenhuma empresa é eficaz se não tiver os funcionários como aliados.”
falando a mesma língua
o fleury em números
133 sugestões
de empresas fornecedoras para a melhoria dos processos
foram implantadas em 2011
230 auditorias
foram realizadas em 2011 nos processos da empresa
para melhoria de qualidade
40%de redução
nos resíduos plásticos gerados pelo descarte de material
de coleta de exames em 2011
80%dos funcionários
participaram de curso sobre sustentabilidade
pela internet em 2011
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Serviços • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 1 bilhão de reais • fUNcIoNárIoS 9000
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• O relatório de sustentabilidade presta conta das metas assumidas e é auditado
por uma instituição independente
• O relatório incorpora as manifestações do público estratégico e apresenta
a remuneração de diretores e conselheiros
• A política corporativa regula o uso de instrumentos de marketing de seus produtos
e serviços, incorporando preceitos éticos e de respeito ao consumidor
• O canal de atendimento dos clientes resolve plenamente mais de 80% das reclamações recebidas
transparência clientes e consumidores
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4,9 7,9
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Com forte expansão por meio da aquisição e incorporação de outras empresas, o grupo Fleury enfrenta o desafio de disseminar e harmonizar as boas práticas / zenaide peres
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fLEUry
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/143
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Omar Hauache, presidente do grupo Fleury: 155 ações sociais e ambientais foram implantadas ao longo de 2011
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144/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
nos últimos anos, o cresci-mento econômico do país e o aumento da renda da popula-ção ajudaram a ampliar o acesso dos brasileiros aos serviços bancários. Essa nova realidade tem, contudo, um lado per-verso: o aumento da inadimplência, sobretudo entre os que não estavam acostumados a lidar com financiamentos. Para o Itaú Unibanco, que tem 40 milhões de clientes, uma forma de ter uma atitude responsável nessa questão é investir na educação financeira. “Procuramos mostrar ao cliente o que melhor vai lhe servir, evitando que ele se endivide demais”, afirma Roberto Setubal, presidente do Itaú. Em 2011, o ban-co investiu em mídias sociais para levar informação sobre planejamento financeiro e crédito consciente aos clientes.
O investimento deu frutos: o Itaú Unibanco já é o maior banco do mundo no Facebook, com 2,7 milhões de “fãs”. Uma área em que os bancos têm um papel crucial é a da análise socioambiental dos pedidos de crédito de empresas. Ou seja, antes de liberar os empréstimos, além de checar as condições da companhia de pagar o valor solicitado, os ban-cos podem avaliar os potenciais danos ambientais da em-presa. O Itaú diz levar essas questões em conta. Em 2011, 3 397 pequenas e médias empresas foram aprovadas na aná-lise de risco socioambiental. Outras 123 tiveram o crédito negado e 17 reviram suas práticas para conseguir os emprés-timos. Entre os grandes clientes, nenhum projeto foi barra-do pelo crivo socioambiental em 2011.
para ficar no azul
o itaÚ unibanco em nÚmeros
6 000 operações
de microcrédito realizadas em 2011, aumento de 41%
em relação ao ano anterior
294 milhões de reais
foi o total de investimentos em projetos sociais e culturais
realizados em 2011
8%de redução
na conta de água e 4% na de energia na rede de agências
em 2011 em relação a 2010
600000clientes
optaram por receber extratos e faturas digitais em vez
dos documentos impressos
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Finanças • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 56 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 121 917
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
Desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Adota critérios sociais para seleção de fornecedores. Esse processo atinge os fornecedores responsáveis
por mais de 90% do volume de negócios do banco
• Procura engajar os fornecedores no uso eficiente de recursos naturais e no descarte
adequado de resíduos
• O investimento social é ðnanciado com mecanismos de geração de receita ou com a definição de um
percentual fixo sobre o faturamento, para assegurar a continuidade dos projetos no longo prazo
• Os investimentos sociais são avaliados periodicamente por meio de indicadores e metas
GeSTÃo de forneCedoreS inVeSTimenToS SoCiaiS
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109,0 10
5,5 6,6
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
O banco Itaú amplia as ações de educação financeira e aposta nas mídias sociais para ajudar os clientes a tomar decisões conscientes sobre crédito e investimento / daniela roCha
empresa-modelo⁄ itaÚ unibanco
ITAú UNIBANco
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/145
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Roberto Setubal, presidente do Itaú
Unibanco: 2,7 milhões de fãs no Facebook, o
maior número no mundo entre bancos
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146/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
um dos desafios da americana Kimberly-Clark, fabricante de artigos de higiene pessoal, é ampliar sua linha de produtos sustentáveis — aqueles que possuem características como uso de matérias-primas re-nováveis, menor consumo de água e energia e redução da emissão de gases de efeito estufa. Atualmente, 53% dos pro-dutos da unidade brasileira apresentam alguma dessas ca-racterísticas e a meta é chegar a 60% até 2015. Uma das estratégias para alcançar esse objetivo foi colocada em prá-tica em fevereiro deste ano, quando a embalagem da linha de papel higiênico Neve Compacto, um dos carros-chefes da empresa, passou a usar 60% de polietileno de fonte re-novável. O polietileno, obtido do etanol de cana-de-açúcar,
é fornecido pela Braskem, uma das empresas premiadas nesta edição do GUIA EXAME de SUSTENTABILIDADE. “Va-mos, cada vez mais, utilizar matérias-primas de fontes re-nováveis ou recicláveis, que sejam biodegradáveis e de bai-xo impacto no pós-consumo”, diz João Damato, presiden-te da Kimberly-Clark. O uso de embalagens verdes dá se-quência a outra iniciativa da empresa, a compactação dos rolos de papel higiênico, para que ocupem menos espaço nos caminhões e nas gôndolas dos supermercados. Com isso, é possível transportar 18% mais produtos por veículo, reduzindo os gastos com combustível. Esse foi um dos fa-tores para a empresa ter reduzido suas emissões em 2011 — queda de 4,5% em relação a 2010.
embalagens verdes
a kimberly-clark em números
300 toneladas
de lodo resultante do processo industrial foi usado
na geração de energia
1,5% de redução
no consumo de energia em 2011, mesmo com
o aumento da produção
2,5milhões de reais
foi a receita obtida no ano passado com a venda
de refugos industriais
31000quilômetros
de viagens poupados em 2011 com a escolha de
fornecedores mais próximos
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Bens de consumo • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 1,9 bilhão de reais • fUNcIoNárIoS 3303
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Possui programas e indicadores especíðcos para monitorar o consumo de água,
energia elétrica, papel e combustíveis fósseis
• Monitora o consumo de madeira e de recursos minerais com indicadores especíðcos
e tem metas de redução
• Mais de 80% da produção é oriunda de processos cobertos por sistemas de gestão ambiental
monitorados por empresa certiðcadora
• Monitora seus eóuentes, que são lançados conforme a legislação que regula o tema. Nos últimos 24 meses,
reduziu o volume de poluentes despejados nos rios
uSo de reCurSoS naTuraiS indiCadoreS amBienTaiS
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1010 9,3
6,7 7,1
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
A Kimberly-Clark passa a usar plástico renovável para acondicionar a linha de papel higiênico Neve e persegue a meta de ter 60% de produtos com características sustentáveis / Simone ToBiaS
empresa-modelo⁄ kimberly-clark
KIMBErLY-cLArK
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/147
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João Damato, presidente da Kimberly-Clark: a compactação
de produtos reduziu os gastos com combustível e as emissões
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148/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
desde outubro, o marceneiro que compra um painel de madeira no Brasil pode verificar se o produto emite formaldeído — substância tóxica que pode causar câncer — em nível seguro ou não. A informação vem no Rótulo Ecológico, certificação da Associação Brasileira de Normas Técnicas. A chilena Masisa, que detém 12% do mercado de painéis de madeira no Brasil, é a primeira e, por enquanto, a única empresa do setor a receber esse selo. Componente básico da resina usada na fabricação de painéis, o formaldeído é emitido continuamente, como gás, enquanto a chapa não é totalmente revestida. Ele pode intoxicar os empregados da fabricante, o marceneiro que trabalha com o material e até o consumidor final de móveis. No Brasil, a
con centração da substância não pode ultrapassar 30 miligramas por 100 gramas do produto final. Para receber o se lo ver de da ABNT, a Masisa foi além: limitou o nível do formaldeído a 8 miligramas por 100 gramas do produto, dentro do padrão mais rigoroso da norma europeia. “Adequarnos à norma europeia significa menos lucro, uma vez que precisamos usar uma resina mais cara e adotar cuidados para proteger os funcionários”, diz Marise Barroso, presiden te da Masisa. Traduzindo em números, isso representa 8% menos no Ebit da — indicador que mede a capacidade de ge ração de caixa da empresa. Apesar disso, é uma medida necessária. “Demos o primeiro passo”, diz Marise. “Agora a sociedade pode exigir que outras empresas adotem o mesmo padrão.”
Façam o que eu Faço
a maSISa em númeroS
89% de redução
nos resíduos descartados em aterros graças à melhoria
nos processos de produção
24 milhões de litros
de água serão economizados até o fim de 2012 em
comparação com 2011
60% de redução
na emissão de CO2 na fábrica de Ponta Grossa, no Paraná,
com o uso de biomassa
35000 marceneiros
serão capacitados até 2015 em cursos técnicos oferecidos
em parceria com o Senai
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Indústria da construção • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 475 milhões de reais • fUNcIoNárIoS 900
• Quando foi premiada
Sobre a empreSa
Por qUE SE DESTAcoU
DeSempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• A gestão de riscos considera critérios socioambientais de curto, médio e longo prazo
e contempla aspectos financeiros e legais
• O plano de contingência prevê ações para evitar ou atenuar efeitos negativos de crises
de natureza ambiental, social e econômica
• Possui processos de ouvidoria para receber, responder e esclarecer dúvidas do público interno,
assegurando a confidencialidade dos autores
• Assegura a todos os funcionários o acesso a atividades de educação, capacitação
e desenvolvimento de competências
gestão de riscos relações de trabalho
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109,6 8,8
6,7 6,5
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
A Masisa reduz o uso de uma substância tóxica na fabricação de painéis de madeira, recebe certificação verde e espera ser seguida pela concorrência / célio yano
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MASISA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/149
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sMarise Barroso, presidente da Masisa: reduzir o uso de substância tóxica na produção de madeira
diminui o lucro, mas é uma medida necessária
EMPRESA MODELO-MASISA.indd 149 11/14/12 3:28:09 PM
150/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
maior fabricante de cosmé-ticos do Brasil, a Natura fincou um pé na Amazônia em 2000, quando lançou a linha de produtos Ekos, com ingre-dientes da região. Começou a colocar o outro pé em 2011, quando iniciou um plano para ampliar seus negócios na Amazônia, com investimentos previstos de 1 bilhão de reais até 2020. Em agosto deste ano, avançou em seu projeto ao instalar em Manaus o Núcleo de Inovação Natura Amazô-nia, que vai coordenar uma rede de 1 000 pesquisadores e nove universidades. A ideia é financiar e desenvolver pes-quisas sobre temas como biodiversidade, agricultura e no-vos produtos. A empresa quer também fortalecer seu rela-cionamento com a cadeia de fornecedores. Hoje a Natura
compra ingredientes de 2 000 famílias da Amazônia, que suprem 11% da matéria-prima usada na produção. Até 2020 a meta é chegar a 12 000 famílias e 30% dos insumos. Para isso, a Natura procura identificar comunidades com po-tencial de geração de novos negócios e oferece apoio téc-nico. Não é favor algum, pois investir na Amazônia dá um ótimo retorno — a linha Ekos é responsável por cerca de 20% da receita da companhia. “Cada vez mais, as pessoas buscam produtos originais”, diz Alessandro Carlucci, pre-sidente da Natura. Colocar a sustentabilidade no centro do negócio ajuda não apenas a conquistar uma boa imagem. “A melhor forma de mostrar que vale a pena investir em sustentabilidade é ter lucro”, diz Carlucci.
dois pés na amazônia
a naTURa em númeRos
15% de aumento
dos recursos para projetos sociais de comunidades
de fornecedores em 2011
136 milhões de reais
serão gerados em 2012 por meio de negócios
ligados à Amazônia
3 milhões de alunos
de escolas públicas serão beneficiados em 2012 por
projeto de estímulo à leitura
25% de redução
nas emissões de gases-estufa nos últimos cinco anos.
A meta é atingir 33% em 2013
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Bens de consumo • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 5,7 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 6 785
• Quando foi premiada
sobRe a empResa
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• O relatório de sustentabilidade incorpora manifestações das partes interessadas
e presta conta das metas de melhorias nas áreas econômica, ambiental e social
• O relatório de sustentabilidade é auditado sob todos os aspectos por uma instituição independente
• Os investimentos sociais são precedidos de consultas às comunidades afetadas para identificar
quais são suas necessidades
• A escolha dos projetos considera seu potencial de autossuficiência financeira e quanto podem ajudar
na formulação de políticas públicas
transparência investimentos sociais
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1010 9,7
4,9 6,6
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Interessada no potencial da região, a Natura cria um centro de inovação em Manaus e busca estreitar seu relacionamento com as comunidades de fornecedores / cynthia almeida rosa
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NATUrA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/151
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Alessandro Carlucci, presidente da Natura: o plano é investir
1 bilhão de reais até 2020 para ampliar a presença na Amazônia
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152/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
o grupo boticário — que controla a rede de franquias O Boticário e a empresa de cosméticos Eudora — busca disseminar as práticas susten-táveis entre seus públicos estratégicos. Desde 2005, o grupo orienta e avalia seus fornecedores em aspectos como res-ponsabilidade empresarial, uso de recursos naturais e im-pactos nas mudanças climáticas. Os fornecedores respon-dem a um questionário no qual descrevem suas práticas. A adesão é voluntária, mas crescente. “A participação das em-presas parceiras subiu de menos de 20% em 2005 para 95% em 2011. Isso mostra que nosso trabalho tem surtido efeito”, diz Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário. “Esse engajamento é importante porque conta pontos para a con-
tinuidade das parcerias.” O grupo incentiva as práticas sus-tentáveis também em sua rede de franquias, composta de 3 260 lojas — a maior do mundo em cosméticos. Desde 2010, todas as lojas contam com pontos de coleta de embalagens vazias para reciclagem. “Embora a participação do público ainda não seja significativa, garantimos a capacidade de re-colher 100% do material que vai ao mercado”, diz Gryn-baum. Para promover a consciência ambiental dos consu-midores, o Boticário tem estimulado a compra de refis de produtos de uso contínuo, como cremes hidratantes e cor-porais. Segundo a empresa, os refis lançados em 2011 per-mitiram uma redução média de 62% no impacto ambiental e 23% nos preços em relação aos produtos tradicionais.
Multiplicação do beM
o boticário eM núMeros
97% dos resíduos
gerados no desenvolvimento de produtos do grupo
são reciclados
46% de redução no
consumo de água foi obtida desde 2007 com iniciativas
como o aumento do reúso
1300projetos de proteção
ao patrimônio natural do país foram apoiados
pela empresa desde 1990
100%das franquias,
ou 3 260 lojas, participam do programa de coleta
de embalagens vazias
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Serviços • rEcEITA EM 2011 5,5 bilhões de reais* • fUNcIoNárIoS 4 000
• Quando foi premiada
sobre a eMpresa
Por qUE SE DESTAcoU
deseMpenho Veja dois pontos fortes da empresa**
• Está comprometido com a sustentabilidade por meio de documento público que apresenta metas
de desempenho socioambiental de longo prazo
• Possui um programa de educação que aborda o tema da sustentabilidade, com recursos,
cronograma, metas e responsabilidades definidas
• Usa critérios sociais para selecionar e monitorar fornecedores. Esses critérios incluem a não utilização
de trabalho infantil, forçado ou compulsório, e a valorização da diversidade
• Os critérios sociais de seleção são divulgados previamente e de forma transparente
compromisso com a sustentabilidade gestão de fornecedores
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7 5,5
* Receita bruta da rede de franquias / ** Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
O Grupo Boticário estimula todos os seus fornecedores, franqueados e consumidores a se engajar em iniciativas de sustentabilidade. A adesão, voluntária, é crescente / célio yano
empresa-modelo⁄ o boticário
o BoTIcárIo
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/153
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Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário: práticas sustentáveis contam pontos para as parcerias com fornecedores
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154/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
o grupo promon, que elabora e executa projetos de infraestrutura em setores como pe-tróleo e gás, mineração e metalurgia, tem como norma ana-lisar o impacto ambiental das obras de forma abrangente, monitorando 45 indicadores — desde a eficiência energé-tica até a reutilização de água e o tratamento de resíduos. A ideia é não apenas fazer o que determina a legislação, mas, se possível, ir além. “Cumprir a legislação é o mínimo. Queremos agregar novos conhecimentos e disseminá-los”, diz Luiz Fernando Rudge, presidente do grupo Promon. É o caso de vários projetos desenvolvidos para a Petrobras — sua principal cliente —, nos quais o índice de reaprovei-tamento de água chega a quase 90%. Ou de vários clientes
que, por sugestão do Promon, adotaram itens de constru-ções sustentáveis, como telhas translúcidas para aproveitar melhor a luz natural, coleta de água da chuva para reúso e aquecimento solar de água. Em 2011, o Promon chegou a recusar um projeto por considerá-lo incompatível com suas práticas em relação ao meio ambiente. (Por confidenciali-dade, a empresa não revela o nome do cliente nem dá de-talhes sobre o projeto, mas afirma que não foi a primeira vez que desistiu de um negócio por esse motivo.) Para re-forçar a ênfase na questão ambiental, o grupo comprou no ano passado participações em empresas especializadas em serviços nessa área. “Elas terão um papel essencial em nos-sos projetos de grande porte”, diz Rudge.
Questão de princípio
o proMon eM núMeros
2,5 milhões de reais
foram os gastos realizados no ano passado na área
de proteção ambiental
2 milhões de reais
investidos em programas de educação e cultura em 2011,
25% mais do que em 2010
25%dos funcionários,
ou mais de 400 pessoas, participam de diversos
projetos voluntariamente
173000alunos de escolas
públicas são beneficiados atualmente por programas
apoiados pelo Promon
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Indústria da construção • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 928 milhões de reais • fUNcIoNárIoS 1 700
• Quando foi premiada
sobre a eMpresa
Por qUE SE DESTAcoU
deseMpenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Possui uma diretoria que se reporta diretamente ao presidente e com atribuição de tratar questões
relativas à sustentabilidade
• A remuneração variável de todos os executivos está atrelada a metas de desempenho
nas áreas ambiental, social e econômica
• Avalia de forma sistemática e periódica os aspectos e os impactos ambientais diretos e indiretos,
potenciais e efetivos de suas atividades
• Possui programas especíðcos para o gerenciamento de seu desempenho na área de saúde
e segurança do trabalho
consistência dos compromissos planejamento ambiental
0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10 0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10
1010 9,5
6,6 7
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Especializado em projetos e obras de infraestrutura, o Promon já recusou clientes que não se alinhavam com suas práticas ambientais / leandro Quintanilha
empresa-modelo⁄ proMon
ProMoN
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/155
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Luiz Fernando Rudge, presidente do grupo Promon: itens como reúso de água da chuva e energia solar são rotina em suas obras
EMPRESA MODELO-PROMON.indd 155 11/14/12 3:32:03 PM
156/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
todos os dias, 2 bilhões de pessoas usam um produto da Unilever em algum lugar do mundo. No Brasil, a empresa está presente em 46 milhões de casas — o país é o segundo maior mercado da companhia, atrás apenas dos Estados Unidos. Dona de marcas como Arisco e Kibon, a Unilever tem como meta reduzir a quantidade de nutrientes prejudiciais à saúde que ainda estão presen-tes em seus produtos. Desde 2003, a empresa retirou da linha de alimentos e bebidas mais de 3 milhões de quilos de sódio, 20 milhões de quilos de açúcar e 30 milhões de quilos de gordura trans. Outra iniciativa é a produção de um purificador de água que não consome energia elétrica. Lançado inicialmente na Índia, onde a qualidade da água é
uma questão mais crítica, o produto começou a ser vendido no Brasil neste ano. “A intenção é facilitar o acesso à água de boa qualidade”, diz Fernando Fernandez, presidente da operação brasileira da Unilever, que, só no ano passado, investiu 70 milhões de reais em projetos de proteção am-biental. Nos próximos anos, um dos maiores desafios é des-cobrir uma forma de os consumidores gastarem menos água quente — necessária para usar sabonetes, géis e xampus da marca —, a principal fonte de emissão de gases estufa da empresa. A Unilever ainda não sabe como conseguirá essa redução, mas Fernandez está otimista. “Com nosso ritmo de inovação na área sustentável, acredito que atingiremos todas as nossas metas antes do final da década.”
Saúde naS gôndolaS
a UnIleVeR em númeRoS
70 milhões de reais
investidos em 2011 em proteção ambiental,
30% mais do que em 2010
4,8 milhões de reais
foram investidos em 2011 na capacitação de pequenas
empresas fornecedoras
297 caminhões
deixaram de rodar nas estradas no ano passado graças
à melhoria na logística
3fábricas no Brasil,
do total de nove, não despejam nenhum resíduo
em aterros sanitários
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Bens de consumo • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 12,4 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 13 500
• Quando foi premiada
SobRe a empReSa
Por qUE SE DESTAcoU
deSempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Tem procedimentos para assegurar o uso adequado e consentido de informações coletadas
de clientes, fornecedores e parceiros
• A política de marketing veda a veiculação de informação que induza o público a se comportar
de forma prejudicial à saúde
• A gestão de riscos, inclusive os ambientais, considera os aspectos estratégico, operacional,
financeiro, legal e de imagem
• O plano de contingências prevê ações para evitar ou atenuar os efeitos negativos decorrentes
de desastres naturais e impactos ambientais
clientes e consumidores gestão de riscos
0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10 0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10
109 9,9
7,9 6,7
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Nos últimos anos, a Unilever diminuiu drasticamente a presença de sódio, açúcar, gordura trans e outros ingredientes nocivos em seus produtos alimentícios / livia deodato
empresa-modelo⁄ UnIleVeR
UNILEvEr
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/157
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Fernando Fernandez, presidente da Unilever: uma das prioridades é reduzir a quantidade de nutrientes potencialmente prejudiciais à saúde na linha de alimentos e bebidas
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158/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
líder no setor de eletrodomésticos no Brasil com as marcas Brastemp, Consul e Kitchen Aid, a Whirlpool decidiu encarar um desafio quando, há seis anos, elegeu a sustentabilidade como um de seus pilares estraté-gicos. “Diminuir o desperdício na nossa operação é apenas uma parte das preocupações”, diz Enrico Zito, presidente da divisão de eletrodomésticos da Whirlpool. “O sucesso de nossas ações só é completo se levarmos sustentabilidade também à casa do consumidor, com produtos que gastem menos água e energia.” A preocupação faz sentido. Afinal, eletrodomésticos como geladeira, freezer e ar-condicionado representam até 70% das despesas mensais de uma família com energia. Para reduzir essa conta, um dos objetivos é
desenvolver produtos mais eficientes. Um passo nessa dire-ção foi dado na linha de refrigeradores. De todos os modelos lançados pela Whirlpool no mercado brasileiro, 83% são classificados na categoria A — a de menor consumo de ener-gia. Um dos modelos, o Inverse Viva, lançado em 2011, tem 80% de componentes que podem ser reutilizados na fabri-cação de outros produtos. “Poucos eletrodomésticos no mundo têm essas características”, afirma Zito. Outra inicia-tiva é a troca dos gases HFC e HCFC, usados para refrige-ração, por hidrocarbonetos (HC), menos nocivos à camada de ozônio. O fim do uso do HCFC será obrigatório no Brasil até 2040. “Às vezes, temos de estar à frente da lei para mos-trar nosso compromisso com o meio ambiente”, diz Zito.
economia doméstica
a whirlpool em números
17% de redução
no uso de água, com medidas como a captação de chuva
para testes das lavadoras
15% dos bônus
dos executivos dependem da execução de planos ligados
a questões socioambientais
96% dos resíduos
gerados em 2011 foram aproveitados para a geração
de energia elétrica
136toneladas
de isopor, papelão e plástico das embalagens foram
coletadas para reciclagem
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Eletroeletrônico • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 6 bilhões de reais • fUNcIoNárIoS 17 992
• Quando foi premiada
sobre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
desempenho Veja dois pontos fortes da empresa*
• Possui um comitê de sustentabilidade formalmente estabelecido e que se reporta
ao conselho de administração
• A remuneração variável de todos os executivos está atrelada a metas de desempenho
nas áreas ambiental, social e econômica
• Utiliza critérios sociais para selecionar e monitorar fornecedores. Esses critérios incluem a não utilização
de trabalho infantil, forçado ou compulsório
• Os fornecedores envolvidos no processo de monitoramento social respondem por mais
de 90% do volume de negócios da empresa
consistência dos compromissos gestão de fornecedores
0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10 0 | | | | | | | | |1 | | | | | | | | |2 | | | | | | | | |3 | | | | | | | | |4 | | | | | | | | |5 | | | | | | | | |6 | | | | | | | | |7 | | | | | | | | |8 | | | | | | | | |9 | | | | | | | | |10
109,8 8,5
6,6 5,5
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
Diminuir o uso de água e energia nas fábricas não basta. Para a Whirlpool, o desafio é criar eletrodomésticos que beneficiem também o bolso do consumidor / raQuel grisotto
empresa-modelo⁄ whirlpool
WhIrLPooL
MéDIA
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/159
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Enrico Zito, presidente da unidade de eletrodomésticos
da Whirlpool: uma das preocupações é desenvolver
produtos que gastem menos água e energia elétrica
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160/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
O labOratóriO Sabin, de Brasília, o maior do setor no Centro-Oeste, tem receita de empresa média — um pouco menos de 200 milhões de reais —, mas políticas de recursos humanos de grandes companhias. To-dos os funcionários têm direito a participação nos resultados e apoio nos estudos. Fugindo do usual, a empresa cuida dos funcionários de forma mais incisiva. Com a ajuda de cursos de educação financeira, orienta-os, por exemplo, sobre o destino que darão aos salários, incentivando-os a poupar uma parte e a gastar com bom-senso. Uma parceria com a operadora de turismo CVC permite que os funcionários se planejem com antecedência e comprem pacotes parcelados, que são descontados do salário. “Era comum os funcioná-
rios venderem as férias ou desfrutá-las e depois voltarem endividados. Queremos que todos se planejem e descan-sem”, diz Janete Vaz, que, junto com Sandra Costa, é uma das sócias do Laboratório Sabin. Segundo Janete, o bem-estar das pessoas tem gerado mais comprometimento e produtividade. A rotatividade anual, que era de 28% em 2005, caiu para 5%. Nos últimos 12 anos, o Laboratório Sa-bin foi alvo de apenas três processos trabalhistas, todos decididos em favor da empresa. “Cuidamos dos funcioná-rios para que eles cuidem do negócio”, diz. A notável ex-pansão da empresa é sinal de que a estratégia tem dado certo. Neste ano, o Sabin abriu 40 novas unidades e agora tem 107, no Distrito Federal e em seis estados.
é tudo pelo social
o saBiN em Números
3 é o total
de processos trabalhistas sofridos pela empresa
entre 2000 e 2011
5% de rotatividade
de funcionários em 2011. Em 2005, o índice de troca de
profissionais chegava a 28%
131000pessoas foram
beneficiadas em 2011 por ações sociais promovidas
pelo Instituto Sabin
15%de economia
de combustível em 2011 com a frota, que roda
95 000 quilômetros por mês
2000 / 2001 / 2002 / 2003 / 2004 / 2005 / 2006 / 2007 / 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012
• SETor Serviços • rEcEITA LíqUIDA EM 2011 189 milhões de reais • fUNcIoNárIoS 1600
• Quando foi premiada
soBre a empresa
Por qUE SE DESTAcoU
desempeNho Veja dois pontos fortes da empresa*
• O planejamento e a gestão consideram as demandas de outras partes interessadas, além das dos sócios
• Possui regras claras e por escrito sobre transações em que possa haver conflito de interesses.
Essas regras proíbem empréstimos ao controlador e a outras partes interessadas
• A participação de mulheres nos quadros da empresa é superior a 40% em cargos de diretoria e de gerência
• Assegura igualdade de tratamento e de condições a funcionários e terceirizados, incluindo a equidade
na remuneração para os que exercem funções similares e nas oportunidades de treinamento e desenvolvimento
governança relações de trabalho
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108,7 9,7
6,3 6,5
* Itens nos quais a empresa superou a média do universo pesquisado
O Laboratório Sabin adota políticas voltadas para o bem-estar dos funcionários que são mais comuns em grandes companhias — e fatura alto com isso / vladimir brandão
empresa-mOdelO⁄ saBiN
SABIN
MéDIA
⁄// categoria PME ⁄//
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Novembro 2012/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/161
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Janete Vaz, sócia do Sabin: educação financeira e orientação
aos funcionários para que tirem férias e não voltem endividados
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162/GUIA EXAME • SUSTENTABILIDADE/Novembro 2012
IMAGEM⁄habitação
Multidão em favelasHá um século, o mundo tinha 20 cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Hoje são quase 500 cidades
com essa população — mais de 100 somente na China. Pouco mais da metade da população mundial vive hoje em cidades. O rápido crescimento urbano, porém, não foi acompanhado pela adequada oferta de infraestrutura
de habitação e saneamento. O resultado é a multiplicação de favelas. Atualmente, estima-se que existam cerca de 200 000 aglomerados urbanos no mundo que podem ser classificados como favelas.
Algumas, como Dharavi (foto), em Mumbai, na Índia, parecem verdadeiras cidades — é uma das maiores favelas do mundo, com mais de 1 milhão de moradores. Apesar dos avanços nos últimos anos no combate à pobreza,
quase um terço dos habitantes das cidades em todo o mundo vive em condições precárias, ou 1 bilhão de pessoas. A situação mais crítica é na África, onde 70% dos moradores urbanos vivem em favelas.
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