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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
PROPAGAÇÃO DA CULTURA SURDA: Uma Questão de Inclusão
Social.
HELEN KAROLINY MEZONI
Itajaí, (SC) 2007
2
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
PROPAGAÇÃO DA CULTURA SURDA: Uma Questão de Inclusão
Social.
Banca
___________________________ Profª MSc. Christiane Souza de Carvalho
____________________________
Profª MSc. Rosária Maria Fernandes
____________________________
Profª MSc. Maria Lúcia Lorenzetti (Orientadora)
Itajaí, (SC) 2007
3
HELEN KAROLINY MEZONI
PROPAGAÇÃO DA CULTURA SURDA: Uma Questão de Inclusão
Social.
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profª. MSc. Maria Lucia Lorenzetti
Itajaí SC, 2007.
4
Cintilância:
Há uma luz por se acender quando a consciência se for Uma realidade viva e não um sonho sem valor; E essa luz vai iluminar todos os escuros e todo o lugar, Todos os caminhos por onde a gente possa andar. Assim, os horizontes hão de aparecer E todas as sujeiras vão se definhar E a corrupção, o roubo, o tédio vão se acabar; Sorrisos, alegrias vão existir; Os tais poderosos hão de cair; A fome, a miséria, o medo aos poucos vão sumir... [...] Eu sei que essa luz vai se acender É só questão de se unir, Vontade é o que não falta: a gente quer sonhar, sorrir, Pensar num futuro sem haver temor, Notar crescer em meio a nós o amor, Eu quero e por isso toca e grita em mim algo cantor. Se o mundo é injusto � ainda tem valor! E se a voz é fraca � ainda tem poder! Entao, não pare o tempo, mas, vem: há muito que fazer... Barreiras são tantas pra se destruir; Riquezas são muitas pra se dividir; A luta está aí e tem-se um porquê p�ra ir...
José Eduardo Balikian.
5
AGRADECIMENTOS
Esse trabalho é fruto de esforços mútuos. Muitas pessoas ajudaram-me direta ou indiretamente para que este fosse possível...
Me parece tão pouco uma única pagina para agradecer pessoas que estiveram presentes nos tantos capítulos desta jornada!...
Aos meus amores: minha família. Agradeço a compreensão, o carinho, os puxões de orelha e o amor incondicional... Por fazerem parte tão importante na minha vida.
Ao Adriano, que de mansinho chegou e me faz completa.
Agradeço aos amigos que estão comigo nessa jornada psicológica: Alexandre, Carolzinha, Suellen, Ricardo... pelas dicas sempre pertinentes.
Ao Luiz Antônio Zancanaro Junior, pelo incentivo e inspiração para realização deste.
Agradeço também aos participantes da pesquisa: todos muito atenciosos e
dispostos a contribuir para que esta pudesse se concretizar.
À Andréa Carneiro da Costa por seu profissionalismo e paciência.
À Professora Maria Lúcia, por sua paciência, apoio e estimulo nessa jornada frente à causa surda ... Às dicas, às conversas, o carinho, atenção e os bons conselhos... Por me mostrar o caminho certo para chegar a um bom trabalho.
Às professoras Christiane e Rosaría pela honra de tê-las participando da
banca.
A todos, muito obrigada!
6
SUMARIO
RESUMO ................................................................................................................ 8
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
2 EMBASAMENTO TEÓRICO .............................................................................. 12
2.1. Inclusão Social: aceitando as diferenças ............................................ 12
2.2 Etiologia da Surdez .............................................................................. 14
2.3. Língua Brasileira de Sinais e os Processos Educacionais dos Surdos: o
Silêncio comunica....................................................................................... 17
2.4. Identidade e Cultura Surda: algo a ser respeitado ...............................20
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 22
3.1 Amostra/ Sujeitos/ Participantes da pesquisa........................................22
3.2 Instrumento ...........................................................................................22
3.3 Coleta de dados ................................................................................... 23
3.4 Análise de dados ..................................................................................23
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................. 25
4.1 Inclusão Social ..................................................................................... 25
4.1.1 Percepção quanto a Inclusão ..................................................25
4.2 Visão pedagógica de inclusão .............................................................. 27
4.3 Visão Social da Inclusão .......................................................................29
4.4 Fatores impeditivos da inclusao ............................................................31
4.41. Preconceito ..............................................................................31
4.4.2 Falta de informações ...............................................................33
4.5 Aspectos positivos da Inclusão .............................................................34
7
4.5.1 Intercâmbio de Informações ....................................................34
4.6 Ideal de inclusão social .........................................................................35
4.6.1 acesso às informações ............................................................35
4.7 Cultura Surda ........................................................................................36
4.7.1 Conhecimento sobre Cultura Surda ........................................36
4.7.2 Cultura Surda e Cultura Ouvinte: diferenças e semelhanças...38
4.7.3 Identidade do surdo ................................................................ 39
4.8 Cultura Surda e Inclusão Social ........................................................... 40
4.8.1 Propagação da Cultura Surda: facilitador da inclusão?...........40
4.8.2 Mudanças Pertinentes a Propagação da Cultura Surda e
conseqüente Inclusão social..............................................................41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 44
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 48
7 ANEXOS ............................................................................................................ 51
7.1 Anexo 1 ................................................................................................ 51
7.2 Anexo 2 ................................................................................................ 52
8 APÊNDICES ...................................................................................................... 53
8.1 Apêndice .............................................................................................. 53
8
PROPAGAÇÃO DA CULTURA SURDA: Uma Questão de Inclusão
Social.
Orientador: Maria Lucia Lorenzetti Defesa: Junho de 2007.
Resumo: A cultura surda tem sido reprimida ao longo dos séculos pela sociedade ouvinte que procura �incluir� o sujeito surdo, �ouvintizando-o� e maquiando o que se denomina como problema, tendo-se uma visão patologizada da surdez, ignorando sua produção cultural, sua linguagem própria, e suas vontades, ficando à mercê de uma sociedade totalmente ouvinte. Hoje, muito se ouve a respeito de métodos e políticas inclusivas, mas questiona-se até onde ela realmente é eficaz e valoriza as diferenças. O presente trabalho visou identificar, através de relatos de pessoas surdas, a importância da propagação de sua cultura no processo de inclusão social; apontar seus benefícios, bem como verificá-la através da propagação dos aspectos culturais das pessoas surdas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que procurou alicerçar a teoria apresentada nas bibliografias no que se mostra como prática do cotidiano do individuo surdo. Assim foi realizada uma entrevista semi-estruturada contendo questões referentes ao processo de propagação cultural e inclusão social da pessoa surda. Como resultado, pode-se perceber que os surdos entrevistados têm por referencia a inclusão enquanto o processo que ocorre em ambiente escolar, e que o processo de inclusão ainda sofre em sua caminhada devido a preconceitos e discriminações frente ao que é diferente. O preconceito e suas conseqüências foram levantados pelos entrevistados como maior fator impeditivo para que haja uma inclusão plena em seu sentido: aceitação das diferenças. Foi explicitado pelos entrevistados, que a propagação de seus aspectos culturais auxiliaria no processo inclusivo, salientando a importância do sujeito ouvinte em aprender a língua de sinais para que haja assim uma boa interação entre surdo e ouvinte, e que assim sejam amenizadas as barreiras que existem ainda na comunicação entre estas partes. Acredita-se que o presente trabalho venha a estimular maior produção acadêmica no tema proposto, lançando um novo olhar ao sujeito surdo: não mais focando na patologia ou deficiência, mas sim, aceitando suas diferenças e vendo-o como sujeito de sua própria cultura, e também possa contribuir, sobremaneira para que a sociedade conheça os benefícios apontados pelos entrevistados no sentido de divulgar a cultura surda primando pela inclusão social. Palavras-chave: Pessoa Surda; Cultura Surda; Inclusão Social.
9
1 INTRODUÇÃO
A Inclusão Social tem por objetivos a construção de uma sociedade que
venha a satisfazer as diferentes necessidades dos indivíduos que a constituem,
celebrando assim, as diferenças e diversidades humanas. Neste sentido
proporcionar igual importância e oportunidade às minorias, tendo por base a
solidariedade humanitária e qualidade de vida, sendo a inclusão um ato de acolher
e aceitar as diferenças existentes. A idéia de inclusão surgiu em contrapartida à
exclusão social a que foram submetidas as pessoas deficientes ao longo dos
séculos (SASSAKI, 1997).
Ao longo da história, percebe-se claramente a busca das pessoas
deficientes para integrar-se a sociedade. Em relação às pessoas surdas, esse
processo de integração tem sido dificultado visto a notoriedade de diferenças de
comunicação entre surdos e ouvintes, uma vez que, conforme estudos de Perlin
(1998), Sacks (1998) e Lorenzetti (2001), as barreiras de comunicação têm se
tornado grande obstáculo para o pleno processo de inclusão.
Assim sendo, para Teske (1998), a cultura surda surge no intuito de suprir a
necessidade de relações e interligações sociais sentidas pelos indivíduos surdos.
Ainda para o autor, torna-se fundamental que os sujeitos surdos desenvolvam sua
própria forma de olhar o mundo.
Perlin (2004) entende por cultura a representação da diferença, ou seja,
cultura é sinônimo de diversidade. Descarta-se, assim, a visão massificada e
homogênea de cultura: fala-se portanto em múltiplas culturas. Teske (1998),
10
afirma tal premissa ao dizer que �a própria noção de cultura é adversa à
unificação� (p.146).
Em Sacks (1998), no que se refere a cultura surda, sua propagação
auxíliaria: na aproximação de surdos e ouvintes, onde cada qual conheceria um
pouco mais da visão de mundo que os torna ao mesmo tempo tão diferentes e tão
iguais; na busca de sua identificação, pois seriam facilmente entendidas tais
diferenças, para que a cultura se torne uma ferramenta de mudança, conforme cita
Perlin (2004). Teske (1998) fala em sua obra que simplesmente �naturalizar� o
surdo aceitando apenas sua língua como fator de integração, seria o mesmo que
ouvintizá-los1, assim como já o fez o discurso clínico. É preciso, nesse sentido,
encarar a surdez sem medo e aceitar os sujeitos surdos como membros de uma
cultura diferente.
Assim, torna-se importante identificar, através de relatos de pessoas surdas
como se dá, e/ou como estes percebem a propagação de sua cultura no processo
de inclusão social.
Toma-se como relevâncias social e científica do presente trabalho, a
possibilidade de pesquisas da Psicologia dentro de questões relacionadas a
aceitação grupal do indivíduo surdo, e também, estimular a comunidade
acadêmica para pesquisas que abordem o assunto tratado, de forma a não
somente visualizar a inclusão social como uma forma politizada de incluir o
diferente dentro do dito normal, mas sim como uma integração propriamente dita
1 Ouvintizá-lo, torná-lo semelhante à um sujeito ouvinte (PERLIN, 2004).
11
sem que necessariamente se estigmatize o diferente em seu contexto, divulgando
resultados e progressos do método.
Espera-se que o presente trabalho possa contribuir no sentido de levar as
pessoas ouvintes à refletir sobre o processo de construção de identidade, visto
que esta se forma dentro do espaço social e cultural, de forma que a pessoa surda
sinta-se um sujeito integrante do contexto social.
Ser Surdo, judeu, negro, índio, enfim, ser diferente dos demais configurados como normais na concepção patológica da medicina não mais deve ser motivo de isolamento, exclusão social, estigma, preconceito, mas sim este é o momento propício para que ocorra uma mudança profunda na visão e costumes dos povos, fazendo com que os diferentes se fundam ao contexto socio-histórico e se tornem nada mais e nada menos do que sempre foram [...]: Iguais (PINTO, 2001, p. 5).
12
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 Inclusão Social: aceitando as diferenças.
Sassaki (1997) conceitua a inclusão social como um processo onde
deficientes e sociedade busquem adequar-se nas demandas de adaptação de
ambas as partes, onde a sociedade se modifica para atender as necessidades de
seus membros. Sendo a inclusão um processo de acolher e aceitar as
diversidades humanas e diferenças existentes, a sua prática, portanto, implica na
aceitação das diferenças, sejam quaisquer sua ordem: étnica, religiosa, orientação
sexual, gênero, idade ou deficiência.
Lorenzetti (2001, p.24) destaca que, a respeito da inclusão social, o que se
pretende é �construir uma sociedade capaz de proporcionar aos seus cidadãos,
condições de existência plena que não leve em conta ideologia, gênero, cor, raça,
antecedentes culturais e étnicos e principalmente condições incapacitadoras.�
Porém, nem sempre a inclusão pode ser considerada positiva. Existem
movimentos de liderança que resistem a mesma. É o caso de alguns grupos de
Surdos pertencentes à comunidades Surdas, por existir medo de que a inclusão
resulte no desaparecimento de sua cultura e língua, que tem resistido a duras
provas ao longo dos séculos (RAMOS, s.d).
Encontra-se facilmente essa manifestação de repulsa dos surdos pela
inclusão social no Documento de Acessibilidade e Direitos Humanos dos Surdos
(2005), desenvolvido pela Comunidade Surda do Rio Grande do Sul, onde foi
13
criada uma lista de reivindicações na intenção de tornar público sua visão do que
precisa ser alterado para a melhor convivência entre o sujeito surdo e ouvinte.
Entre os vários tópicos destacam-se a respeito da inclusão quanto ao direito e
legislação:
[...]* Considerar que a integração/inclusão é prejudicial á cultura, à língua e á identidade surdas sem o respeito a suas especificidades surdas; e propor o fim da política de inclusão/integração, pois ela trata o surdo como deficiente e, por outro lado, leva o fechamento das escolas de surdos e/ou ao abandono do processo educacional pelo aluno surdo[...] (FENEIS/RS, 2005. p.4).
Esta proposta resulta de estereótipos adotados há muito acerca da
deficiência como sendo um �problema� do indivíduo, que deve ser curado, ou que
este adapte seus �problemas� dentro do contexto social e cultural a qual está
inserido. O fato de que, em épocas passadas terem sido privados de sua língua e
cultura, na intenção de se inserirem no mundo dito como �ouvinte�, leva os surdos
hoje, a temer que todas as suas lutas para que seus direitos fossem levados em
consideração sejam anulados por uma nova tentativa de prática de políticas
inclusivas (RAMOS, s.d).
Para Lorenzetti (2001), o ato de incluir socialmente, só será possível se
houver mudanças de atitude. Mudança esta não só da sociedade em seu desejo
de transformar tudo e todos em uma massa homogênea, mas também por parte
do indivíduo deficiente para que juntos (sociedade e deficiência) possam conceber
formas positivas de ser realizada a inclusão, sem que nenhuma das partes
envolvidas seja aniquilada ou sofra desmembramento de sua identidade e história,
para que a inclusão seja um benefício em prol da relação sociedade/deficiência.
14
2.2 Etiologia da Surdez
Para Lopes Filho (1997), �Surdez significa audição socialmente
incapacitante�. Essa �audição socialmente incapacitante�, é o que dificulta e
distingue a interação social. Rossi e Lima (2002), definem o conceito médico de
surdez aquele limitado à quantificação da perda auditiva fazendo uso do termo
�deficiente2 auditivo�. Para os mesmos autores a deficiência significa algo que
prejudica a eficiência de uma pessoa para algo, ou seja, uma desvantagem. Sacks
cita que �a surdez em si não é infortúnio; o infortúnio sobrevém com o colapso da
comunicação e da linguagem� (1998, p. 130).
A surdez pode ter sua etiologia por fatores hereditários ou causais, sendo
os últimos ocasionados por uso de certos medicamentos durante a gestação, e/ou
ingestão de substâncias como bebidas alcoólicas e drogas; infecção viral (como o
vírus da rubéola durante a gravidez) e por fatores do ambiente. Porém,
aproximadamente 50% das deficiências auditivas estão ligados a fatores
genéticos, não havendo ainda terapia eficiente para esses casos, restando apenas
o aconselhamento genético como principal meio de prevenção (GRANATO,
PINTO, RIBEIRO, 1997).
Segundo Rossi e Lima (2002), há poucos estudos no Brasil capazes de
mostrar a incidência dos problemas auditivos, porem estima-se que esta
porcentagem esteja próxima as encontradas nos Estados Unidos que variam de
6:100 nascimentos nos casos de surdez congênita, e de 20: 1.000 nos casos de
2 Grifo meu.
15
problemas adquiridos, sendo a rubéola apontada como maior responsável pela
surdez (70%), doença que pode ser evitada através de vacinação.
Sacks (1998), considera ser comum a surdez de um bebê passar
despercebida pelos pais, e ser apenas diagnosticada quando percebe-se que a
criança não desenvolveu a fala. Para o autor, torna-se imprescindível o
diagnóstico precoce da surdez quando a criança se encontra na fase pré-verbal,
assim o sendo, há maiores chances da criança, desenvolver uma linguagem.
Passado essa fase, as chances de adquirir uma linguagem oral com tal facilidade
diminuem. Ainda para o autor, também é preciso que os pais fiquem atentos às
reações do bebê aos vários estímulos, e procurar auxílio médico caso haja
suspeita de surdez, podendo assim ser evitados muitos desconfortos tanto por
parte dos pais quanto da criança.
Esses desconfortos, segundo Rossi e Lima (2002), quando descobertos
tardiamente (o ideal seria ser identificado antes dos três meses de idade e iniciar a
habilitação aos seis meses), podem trazer conseqüências irreversíveis à criança,
como a dificuldade na aquisição de mecanismos de fala e comunicação, não
conseguindo expressar seus pensamentos e necessidades; dificuldade na
identificação de objetos que emitem som (percepção); atraso cognitivo, pois são
de difícil acesso e compreensão os conceitos abstratos e subjetivos pela criança
surda; a criança surda não constrói uma boa auto-imagem por perceber que não
consegue satisfazer suas necessidades fazendo uso somente da língua falada, e
tendo acesso somente a língua oral, a criança não tem um pleno desenvolvimento
educacional, sendo assim também acaba sendo limitado seu espaço dentro do
mercado de trabalho.
16
Muitos pais ao receberem o diagnóstico de surdez do filho, passam a sentir
pena do filho e se culpar por sua condição. Aos poucos vão mudando seu
comportamento diante do filho, diminuindo o fluxo de cantigas e �conversas� com o
bebê, o chamado �luto pelo filho perdido�, ou seja, luto pela idealização de um
bebê perfeito (ROSSI e LIMA, 2002). Os autores caracterizam esse processo de
luto, como parte de um processo de adaptação emocional dos pais, que se divide
em quatro etapas:
- A primeira fase se dá logo após o diagnóstico, denominado �choque�,
onde os pais negam, criticam e questionam o diagnóstico médico e a validade dos
exames.
- A segunda fase é caracterizada pela consciência dos pais quanto a
diferença do desenvolvimento do filho em relação às outras crianças.
- A terceira fase , �a mágoa pela criança perdida�, se dá quando os pais
remanejam suas aspirações quanto ao que tinham imaginado para o �filho
ouvinte�, passam a aceitar o filho real e sua surdez, e buscam adaptar-se a nova
situação.
- A quarta fase, é a aceitação do pais quanto a seu papel, e quando
superam seu pesar diante do filho.
A aceitação da surdez, e a estimulação da língua de sinais por parte dos
pais também se faz necessária, pois assim a criança entenderá sua condição e
essa aceitação ajudará no remanejamento das estratégias educacionais traçadas
pela família (SACKS, 1998).
17
2.3 Língua Brasileira de Sinais e os processos educacionais dos Surdos:
O Silêncio Comunica.
A Língua de sinais é o meio de comunicação natural entre surdos, trata-se
de uma linguagem visual-gestual, composta por movimentos específicos de mãos,
braços, olhos, face, cabeça e postura corporal (ROSSI e LIMA, 2002).
Em seu livro, Sacks (1998) cita estudos realizados que comprovam o
entendimento da Língua de Sinais como uma língua propriamente dita, por ser
tratada pelo cérebro como tal, �sendo processada pelo hemisfério esquerdo, o
qual é biologicamente especializado exatamente para essa função.� (ibid p.106).
Esses mesmos estudos, ainda conforme o autor, revelam que usuários da língua
de sinais possuem uma importante aptidão: trata-se de uma intensificada
capacidade para �decompor movimentos�, o que se torna essencial para a
compreensão de sua língua usual � a língua de sinais. O que mostra que a
linguagem surge diante de uma necessidade biológica irreprimível do indivíduo
humano de comunicar-se com o outro.
Segundo autores, como Dizeu e Corporali (2005); Ramos (s.d); Sacks
(1998); Santana e Bergamo (2005), para os surdos essa �necessidade de
comunicação� não é diferente, porém até chegarem ao pleno poder de fazer uso
de sua própria linguagem, os surdos passaram por muitas lutas, ao longo dos
anos até os dias atuais, onde lhes era imposto a oralização e a inserção em um
mundo e cultura tipicamente �ouvinte� e não lhes era permitido o uso da língua de
sinais. A princípio o uso da língua de sinais se restringia como método utilizado
para auxiliar no ensino da linguagem falada.
18
O uso da linguagem de sinais é defendida pelos surdos e protegida pela
sua cultura desde épocas remotas, de acordo com Santana e Bergamo (2005),
quando os gestos eram considerados sub-humanos, e aproximavam o homem do
animal. Históricamente a linguagem de sinais era considerada �preguiça de falar�,
por existirem casos de surdos treinados a falar normalmente, sem que tenham em
vista o atraso no desenvolvimento desses surdos, pois este �treinamento�
demandava anos, e esquecia-se de desenvolver outros aspectos do conhecimento
como história, geografia, entre outras disciplinas relevantes. Focava-se em fazer o
surdo adaptar-se a cultura ouvinte �dominante e absoluta� e esquecia-se que por
trás da surdez há uma pessoa em potencial, passível em desenvolver outras
habilidades, mas que por uma questão de não nos adaptarmos a uma outra forma
cultural, que não seja a nossa, acabamos por atrofiar todo esse potencial.
Há também a tendência do ouvinte à julgar a forma de linguagem falada
como sendo a língua natural, esquecendo-se que a linguagem de sinais é a
linguagem natural e cultural do surdo. Sacks (1998), afirma que �os surdos criam
línguas de sinais onde quer que haja comunidades de surdos; para eles é um
modo de comunicação mais fácil e natural� (1998, pg. 36). Ainda para o autor,
quanto à aquisição da linguagem:
�[...] as pessoas profundamente surdas não mostram em absoluto nenhuma inclinação inata para falar. Falar é uma habilidade que tem de ser ensinada a elas e constituiu um trabalho de anos. Por outro lado, elas demonstram uma inclinação imediata e acentuada para a língua de sinais que, sendo uma língua visual, é para essas pessoas totalmente acessível. Isso se evidencia mais nas crianças surdas filhas de pais surdos que usam a língua de sinais, as quais executam seus primeiros sinais aproximadamente aos 6 meses de vida e adquirem uma fluência considerável expressando-se por sinais com idade de 15 meses. Embora
19
possa haver o desenvolvimento precoce de um vocabulário de sinais, o desenvolvimento da gramática de sinais ocorre na mesma idade e da mesma forma que a aquisição da gramática na língua falada. O desenvolvimento lingüístico, assim,produz-se com o mesmo ritmo em todas as crianças, surdas ou ouvintes. Se os sinais aparecem mais cedo do que a fala, é porque eles são mais fáceis de fazer, pois consistem em movimentos relativamente simples e lentos dos músculos, enquanto a fala necessita da coordenação relâmpago de centenas de estruturas diferentes e só se torna possível no segundo ano de vida. Entretanto é intrigante o fato de uma criança surda aos 4 meses poder fazer o sinal que representa �leite�, enquanto uma criança ouvinte apenas consegue chorar ou olhar em volta.� (SACKS, 1998. pags: 43 e 44).
Assim, é possível perceber que � de fato � a linguagem de sinais é uma
forma de língua natural, mesmo não estando nos padrões de linguagem ao qual já
estamos tão acostumados, mas que também é parte importante de sua cultura,
sendo esta transmitida de pai para filho (quando ambos surdos), e que deve ser
incentivada.
Quanto aos processos educacionais, Moura (1997) relata os vários métodos
utilizados para desenvolver a linguagem oral e escrita no indivíduo surdo. Dentre
elas destacam-se: Oralismo, que faz uso de alguns sinais para o ensino da língua
falada e escrita; Comunicação Total, onde é aceito toda e qualquer forma de
comunicação, sendo escolhida pelo indivíduo surdo a forma que melhor lhe
conviesse; Bilingüismo ou Bimodal, os sinais são o apoio utilizado para que o
surdo desenvolva a oralidade, ou seja, a fala é acompanhada de sinais tornando-
se visível para o surdo.
Para Dizeu e Corporali (2005, p. 5) �A língua de sinais representa um papel
expressivo na vida do sujeito surdo, conduzindo-o, por intermédio de uma língua
estruturada, ao desenvolvimento pleno�, o que torna, a língua de sinais, tão
20
carinhosamente defendida pelos surdos ao longo das décadas, e transmitida de
geração em geração fazendo parte de sua identidade enquanto indivíduo surdo.
2.4 Identidade e Cultura Surda: algo a ser respeitado.
Soares e Lacerda (2004), destacam ser identidade o reconhecimento de
iguais, sendo a identidade carregada de história. Para as autoras, se identidade é
história, por estarem fadados à viver à margem da história dita �oficial�, segundo a
perspectiva ouvinte, os surdos encontram dificuldades em se afirmarem como
personagens constituintes dessa mesma história, por ser vetada a possibilidade
de que, os surdos, se reconheçam, e sendo assim, sentem-se privados de
identificar-se como humanos, já que dentro do contexto ouvinte, não se vêem
como iguais. Nesse sentido, ainda para as autoras, os surdos são afetados pelo
desejo, pensamento e decisões das pessoas ouvintes, sem que estas levem em
consideração as peculiaridades do indivíduo surdo, tratando-o como ouvinte e
negando a surdez para que assim não se tenha que lidar com a diferença e com
suas possíveis limitações, mascarando-a.
Perlin (1998), entende por identidade algo em freqüente mutação e
movimento, sendo a identidade surda sempre próxima ao que lhe é igual,
reforçando ainda mais a importância do reconhecer-se enquanto indivíduo igual
para a construção da identidade da pessoa surda.
Para Teske, (1998), ao contrário do que se imagina, a cultura humana é
subgrupo de várias outras: é uma mistura de crenças e histórias vindas de outras
partes culturais que reunidas formam nossa própria identidade cultural. Ainda para
21
o autor, é preciso pensarmos a cultura não como uma forma monolítica, mas
diferentes manifestações culturais que devem ser aceitas.
Fazem parte da cultura surda o uso da linguagem, mas somente a
linguagem não constitui a cultura surda por si só: �na área da surdez encontra-se
geralmente o termo �cultura� como referência à língua de sinais, às estratégias
sócias e aos mecanismos compensatórios que os surdos realizam para agir
no/sobre o mundo, como o despertador que vibra, a campainha que aciona a luz,
o uso do fax em vez do telefone, o tipo de piada que se conta etc� (SANTANA e
BERGAMO, 2005). A cultura surda está impregnada no cotidiano do surdo, como
o uso de um dispositivo de comunicação para os surdos que funciona como uma
espécie de telefone digital: TDD (Telecomunications Devices for the Deaf),
mensagens de celular, chat, internet, como também no esporte com suas regras
adaptadas.
Existe a inegável tendência do ouvinte julgar a forma de linguagem falada
como sendo a língua natural, esquecendo-se que a linguagem de sinais é a
linguagem natural e cultural do surdo. Sacks (1998) afirma que a comunicação
através da língua de sinais é mais fácil e natural, visto que pessoas
profundamente surdas não apresentam facilidade para o exercício da língua
falada, que em muitos casos demanda anos para ser ensinada. Segundo o autor,
já para a língua se sinais, há uma familiarização imediata, pois sendo uma língua
visual, torna-se para eles totalmente acessível.
22
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1 Amostra/ Sujeitos/ Participantes da pesquisa
Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo; um estudo de campo, tendo
como participantes 6 (seis) acadêmicos surdos regularmente matriculados nos
cursos de graduação de uma instituição de Ensino Superior da cidade de
Itajaí/SC, usando-se por critério de participação da pesquisa serem alunos surdos
e terem disponibilidade de horário para a realização da mesma. Os seis sujeitos
selecionados foram convidados diretamente por manterem contato freqüente com
a pesquisadora e participarem do seu convívio no contexto educacional.
O número de sujeitos conforme Kude (2004), está relacionado a suprir a
necessidade para a análise de dados, que deve esgotar o texto, ou seja, todos os
conteúdos pertinentes aos objetivos podendo se agrupar sob as categorias
criadas. Assim sendo, o número de sujeitos deve suprir tal necessidade, não
deixando lacunas abertas, ou mesmo conteúdos soltos dentro das categorias
adotadas para análise.
3.2 Instrumento O instrumento utilizado foi uma entrevista semi-estruturada (Apêndice 1),
realizada de forma individual com o acadêmico surdo, possibilitando assim,
segundo Neto (1994), a aproximação com o que se deseja pesquisar, construindo
assim, uma ponte, partindo-se da realidade presente no campo a partir das
concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação.
23
Devido ao fato da pesquisadora não ter pleno domínio da Língua Brasileira
de Sinais, esteve presente durante as entrevistas uma intérprete de LIBRAS da
instituição. Também foram utilizados recursos de gravação de áudio, para facilitar
a transcrição das entrevistas.
3.3 Coleta dos Dados A coleta de dados realizou-se nas dependências da Instituição participante
da pesquisa. Em um primeiro encontro, os acadêmicos foram convidados à
participar da pesquisa, sendo os objetivos desta esclarecidos a priori do convite,
sabendo-se que, para Neto (1994), deve-se esclarecer sobre o que está sendo
investigado e as possíveis repercussões favoráveis advindas desse processo
investigatório.
Aos acadêmicos que aceitaram participar da pesquisa, foi agendado um
encontro com dia, hora e local estabelecidos com cada participante, não sendo
estipulados o número de encontros, visto a possibilidade de haver necessidade de
maiores informações a serem coletadas. Para estes, foi entregue um �Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido� (Anexo 1 e 2) para a assinatura,
regulamentando sua participação na pesquisa.
Os dados foram gravados após consentimento dos participantes, que
contaram com o auxílio de uma intérprete de Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS.
3.4 Análise dos Dados Os dados coletados foram transcritos e analisados pela entrevistadora,
tendo como técnica utilizada a �Proposta Dialética�, proposta por Minayo (1992,
24
apud GOMES, 1994), entendendo assim a ciência como uma �relação dinâmica
entre a razão daqueles que a praticam e a experiência que surge na realidade
concreta�. Assim sendo, uma pesquisa em ciências sociais busca uma
aproximação da realidade social, sendo que esta não pode ser reduzida a nenhum
dado de pesquisa.
Baseando- se no que traz Gomes (1994) em relação ao procedimento
escolhido, para o primeiro nível de interpretação dos dados coletados, na fase
exploratória da pesquisa, foram traçadas as determinações fundamentais,
buscando conhecer o contexto sócio-histórico do grupo a ser estudado,
formulando assim as categorias gerais a serem salientadas.
No segundo nível da interpretação dos dados coletados foram levados em
consideração os conteúdos surgidos na investigação. Para tanto foram traçados
os seguintes passos: a ordenação dos dados, bem como a transcrição das
gravações, releitura do material, organização dos relatos e dados das
observações feitos pelo entrevistador; classificação dos dados, sendo estes
questionados com base numa fundamentação teórica, e a identificação de
aspectos relevantes ao tema proposto, trazidos pelos indivíduos participantes e os
textos, trabalhando assim as categorias definidas; e por fim a análise final, onde
foram estabelecidos articulações entre os dados e os referenciais teóricos da
pesquisa, respondendo assim, às questões da pesquisa com base nos objetivos.
Gomes (1994) ressalta que assim, se faz relações entre o concreto e o
abstrato, o geral e o particular, a teoria e a prática.
25
4 APRESENTACAO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Seqüencialmente apresenta-se a análise dos dados obtidos durante as
entrevistas realizadas. Buscou-se com a presente pesquisa identificar, através de
relatos de indivíduos surdos, a importância da propagação da cultura surda no
processo de inclusão social; descrever relatos de alunos surdos sobre a
importância da propagação da cultura surda; apontar os benefícios da inclusão
social para os surdos; bem como verificar a propagação da cultura como meio de
inclusão.
4.1 Inclusão Social
4.1.1 Percepção quanto a Inclusão:
Para Sassaki (1997), inclusão social, se caracteriza pela aceitação das
diferenças existentes entre os grupos que compõem o ambiente social. Trata-se
da celebração da diversidade humana em todos os seus aspectos, sejam étnicos,
religiosos, de gênero, idade ou deficiência.
Segundo Estácia (2005), aceitar o que é diferente não é uma tarefa fácil, e o
paradoxo de inclusão é: que para incluir é necessário que haja uma diferença.
Sendo assim, muitas vezes, incluir o novo torna-se difícil tarefa. Em seu discurso,
J.C fala das dificuldades encontradas no processo inclusivo: �para o ouvinte,
ajudar o surdo é difícil. �[...] isso é inclusão: as pessoas ouvintes ajudar o surdo na
comunicação, no processo de educação também� (J.C).
Socialmente, a deficiência carrega consigo o estigma de ser um �problema� do
indivíduo, que deve ser solucionado, afim de �adequar� o indivíduo deficiente aos
padrões sociais ditos normais, �maquiando� assim as possíveis diferenças e dando
26
continuidade ao culto do organismo perfeito. Sendo assim, o indivíduo deficiente
deveria se adaptar a sociedade ao qual está inserido.
Para Silva (2006), a sociedade vê no corpo �saudável� todos os atributos
necessários para a produção plena, aos quais, a pessoa com deficiência não
poderia competir no mercado de trabalho, ou seja, o corpo �fora de ordem�
prejudica a produção. Ao corpo deficiente é denotado certa fragilidade, que
incomoda o �indivíduo sadio� já que a presença do corpo marcado pela deficiência
lembra a imperfeição humana e toda a fragilidade que se quer negar. Ainda para
Silva (2006) não aceitamos a pessoa com deficiência, pois não queremos nos
igualar a elas e nos depararmos com nossas próprias fragilidades e deficiências.
Para Sassaki (1997), a sociedade é levada a pensar de tal maneira, tendo em
vista uma perspectiva médica. Para o autor, a idéia de inclusão vem em
contrapartida a prática de exclusão social a qual foram submetidas às pessoas
deficientes ao longo dos séculos, sendo inclusão o processo pelo qual a
sociedade busca adaptar-se às pessoas com deficiência para poder incluir de fato.
Trata-se de atender as necessidades destas pessoas, no intuito de que, assim,
estas possam se preparar para assumir seus papéis na sociedade. Para a pessoa
com deficiência, a inclusão é um processo positivo para sua inserção no meio
social. Tendo em vista os benefícios da inclusão, L.G relata que: � Eu vejo ela
(inclusão), no sentido de que, ela é benéfica pra muitas pessoas. Muitas pessoas
não sabem lidar com isso (inclusão social)� [...] �precisa muito de uma inclusão
melhor no Brasil�.
Para Lorenzetti (2001), o que se pretende com a inclusão social, é construir
uma sociedade capaz de proporcionar aos que nela convivem condições de
27
existência plena, sem que se leve em conta as diferenças existentes. Quanto ao
desenvolvimento do processo inclusivo, L.A diz haver ainda algumas dificuldades:
�a inclusão social é mais ou menos boa. Porque ela está começando a se
desenvolver, eu sei que é um processo lento e que tem ainda muitas dificuldades,
e que faltam informações para todas as pessoas� (L.A).
Lorenzetti (2001), ainda salienta que a pratica inclusiva, se baseia na
aceitação das diferenças individuais, valorização de cada pessoa, convivência
dentro da diversidade humana e na aprendizagem por meio da cooperação.
4.2 Visão Pedagógica de Inclusão:
Vê-se presente nos relatos dos surdos entrevistados, uma visão
�pedagógica� de inclusão social, como se esta apenas ocorresse no ambiente
escolar. Quando indagados quanto ao processo inclusivo, a maioria dos sujeitos
entrevistados trouxe à tona situações muitas vezes vivenciadas em sala de aula,
como o relato de M.K: � eu percebo a inclusão social de qualquer deficiência, tipo
auditiva, física, visual em algumas escolas, não em todas.�
Para Silva (2006), é freqüente ser vedada à pessoa deficiente constituir-se
como sujeito. Isso se dá pela qualificação como �pessoa especial� que torna
natural a visão da deficiência como sendo particular a pessoa, e que não
necessita de interações sociais ou de aprendizagem. Sendo assim, fica a encargo
dos programas de assistencialismo de instituições especializadas o
desenvolvimento da aprendizagem da pessoa com deficiência, o que não se dá na
classe �normal� em que foi incluída, muitas vezes por descrédito de sua evolução,
28
assim como explicitado na fala de L.S: �dentro da sala de aula. O professor passa
uma atividade pra uma criança que é normal, depois de ter dado a atividade pra
essa criança, deixa ela fazer sozinha e vai naquele que precisa de ajuda, apoio.
Ela pode fazer, ela tem condições de fazer, só que precisa de ajuda do professor.�
Para Laplane (2004), quanto às informações e o tratamento dispensado aos
alunos com deficiência, diz que � a escola deve ter por objetivos possibilitar o
mesmo acesso, o que não significa oferecer sempre os mesmos meios�.
A classe inclusiva, implantada tardiamente no Brasil, tem como intuito a
integração entre as diferenças num mesmo ambiente, onde o foco da
aprendizagem não está direcionada ao aluno, mas sim a classe propiciando uma
evolução conjunta. Para a autora há reivindicações quanto a presença de inclusão
em vários âmbitos, porém é no ambiente escolar que esta intensificou-se, porém,
o convívio com a diferença, acaba abrindo mais uma vez lacuna para o
preconceito e as discriminações (SILVA, 2006).
Em pesquisa realizada com surdos à respeito do sistema educacional ao
qual fizeram parte, Pedroso (2001), aponta nos depoimentos coletados que devido
a falta de oportunidade e opção de relacionamentos, estes se davam
superficialmente, e á medida em que o aluno surdo se apropriava da língua de
sinais, e lhe era dado a oportunidade de fazer as próprias escolhas, tendia a
direcionar-se a comunidade surda. Assim o sendo devido a oportunidade da
identificação, vivência e comunicação entre iguais.
Para Silva (2006), no ambiente escolar regular, onde se encontram alguns
poucos alunos com deficiência, percebe-se o esforço por parte dessa minoria em
adaptar-se ao ambiente, muitas vezes deixando de aproveitar um ambiente rico e
29
misto de interações, mas que sem a atenção às suas diferenças e necessidades a
troca de experiências não é favorecida. Vê-se isso na fala de L.A � [...] tem muitos
ouvintes na escola, e mais ou menos um deficiente, um surdo. Daí ele (o surdo),
vem para essa escola, não é bom, por que as linguagens são diferentes[...]� [...] as
crianças surdas que vão para uma escola de ouvintes, tem muitos problemas de
comunicação�.
Mendes (2002), diz não ser tarefa fácil construir uma escola inclusiva, em
uma sociedade tão altamente excludente como a nossa. Para a autora, a inclusão
parte do princípio de que as diferenças humanas são normais, e que apenas
incluir um aluno deficiente em escolas regulares não basta para a implementação
das políticas de uma educação inclusiva.
4.3 Visão social da inclusão:
Segundo Sassaki (1997), existe Inclusão em diversos âmbitos: na escola, no
lazer, no transporte e afins. Fala-se então em escola inclusiva, lazer inclusivo,
transporte inclusivo...
Muitas vezes, a falta de informação de como lidar com as diferenças acaba
impedindo as interações entre elas, alimentando idéias separatistas como as de
L.A: �eu tenho uma idéia muito boa, minha opinião, criar uma comunidade só para
surdos: com associações, igrejas escolas só para surdos por causa da linguagem
própria deles que é a língua de sinais. Um exemplo: uma comunidade de ouvintes,
se as pessoas tiverem vontade, curiosidade, elas podem ir na comunidade dos
surdos pra fazer uma troca: a língua de sinais com a língua portuguesa. Não uma
única comunidade onde se aprende a língua portuguesa pra se desenvolver, e o
30
surdo ele acaba ficando rebaixado. Então, precisa ter igualdade social, porque é
um absurdo, porque é um direito.�
Conforme Sacks (1998), a pessoa surda que é bem aceita dentro do contexto
social e familiar, ao qual está inserida, tem maiores chances de desenvolver uma
forma de linguagem, (tanto gestual como a falada, ou até mesmo ambas), com
maior eficiência do que surdos privados do convívio interpessoal, mostrando assim
que as interações podem contribuir para o desenvolvimento de uma boa auto-
estima, bem como o sentimento de pertença e aceitação do indivíduo dentro de
um grupo. Ainda para o autor, um ambiente acolhedor pode ajudar no bom
desenvolvimento da pessoa com deficiência fazendo com que este se sinta amado
e encorajado.
Ainda para Sacks (1998), a formação espontânea de um �mundo� próprio para
surdos, serve como refúgio/anteparo para o a pessoa surda. Nesse �mundo� ele
se sente à vontade, auto-suficiente, por ser um ambiente onde não há isolamento
para ele, onde não precisa assimilar ou ser assimilado, ou seja: um ambiente onde
pode proteger seus valores e linguagem próprias.
Perlim (1998), diz que, a cultura surda busca sempre sua posição dentro da
cultura ouvinte, rebelando-se e afirmando sua identidade dentro de um grupo dito
majoritário que a reprime. Sendo assim, nega-se a possibilidade de que a cultura,
a qual somos inseridos automaticamente ao nascermos, seja determinante na
formação de nossa identidade cultural. Ou seja, é normal para o individuo surdo
identificar-se e portar-se dentro de uma cultura dita surda, quando este estabelece
sua identidade como tal, mesmo estando inserido em um ambiente onde as
relações e cultura ouvinte são predominantes. Para a autora, também é comum
31
encontrar no sujeito surdo, uma identidade fragmentada devido à imposição de
algumas regras ouvintistas, que muitas vezes, devido a criação de estereótipos
contribuem para a negação da identidade surda do indivíduo.
Sendo assim, é preciso que a pessoa com deficiência seja aceita em qualquer
ambiente, em qualquer situação, para que se sinta a vontade no meio dito ouvinte,
como explicitado na fala a seguir: � No shopping, por exemplo, eu fui comprar uma
roupa pra mim, e eu fui falar com a pessoa que atende, que trabalha no shopping,
e ela não entendeu, pensou que eu tinha problema. Eu disse que não, que eu era
surda. Ela não sabia, disse que era problema, mas não é� (M.K). Para Silva (2006)
isso se dá por que não sabermos lidar com as pessoas com deficiência. O que é
diferente perturba, pois vivemos em dias que a previsibilidade das relações sociais
é uma constante, e não saber lidar frente a uma determinada situação leva à
desconfortos e ansiedade. Ainda para a autora, o estigma também atrapalha
nessa relação com a pessoa deficiente. Sendo o estigma um rótulo, o
relacionamento passa a ser direcionado ao rótulo que a pessoa carrega e não com
o indivíduo. É através do rótulo que formamos uma idealização da vida do
deficiente, explicando para tudo certos comportamentos que não entendemos
como sendo �coisa de surdo� ou �coisa de cego�, o que dificulta ainda mais essa
interação.
4.4 Fatores impeditivos da inclusão:
4.4.1 � Preconceito:
Para Maciel, (2000), a falta de conhecimentos a respeito da deficiência, leva
a sociedade a considerá-la como doença crônica, um peso ou um problema. A
32
formação de tais estigmas leva a sociedade a ver na pessoa com deficiência, um
ser incapacitado, deixando-o à sua margem. Para a pessoa com deficiência é
necessário muito esforço para superar este estigma. �As pessoas precisam ter
menos preconceito. Preconceito é errado. No Brasil todo, o preconceito é muito
grande. Falta ética nas pessoas. As pessoas precisam aceitar as pessoas surdas,
entender que são diferentes� (J.C).
Para Silva (2006), o preconceito às pessoas deficientes funciona como um
mecanismo de defesa, de negação social determinada pela lembrança da
fragilidade humana e suas implicações quanto à inserção funcional na sociedade,
já que a deficiência denota falta, carência ou impossibilidade. Tais mecanismos
de defesa acabam por fazer com que as pessoas se afastem da deficiência por
medo de contato com o diferente, e isso é sentido pelas pessoas com deficiências:
�muitas pessoas não querem ajudar, tem preconceito. Tem professores que não
conseguem trabalhar com crianças especiais, porque a maioria se acostumam a
trabalhar só com crianças normais [...] eu já passei várias vezes por isso� (M.K).
Conforme Silva (2006), o afastamento se dá por medo de envolver-se onde não há
previsibilidade nas relações.
Em sua obra, Perlim (2004), relata sobre a violência silenciosa a qual foram
expostas as pessoas surdas ao longo dos séculos, e que assumiram diferentes
formas, entre elas a imposição cultural do grupo dito dominante e o estigma de
menos valia da cultura surda. Tem-se então a necessidade de primar pela
igualdade social, valorizando as diferenças culturais. L.A, quanto ao sofrimento
dos surdos diante do preconceito relata: �algumas pessoas tem muito preconceito.
33
Qualquer pessoa deficiente, seja cego, seja surdo, seja deficiente mental, ele
sempre sofreu muito. Ele não quer mais sofrimento, quer que isso termine, viver
mais feliz. Então, precisa ter essa igualdade dentro da sociedade.
Estácia (2005), ressalta que o estigma tem grave efeito sob a construção da
identidade e auto-estima de um individuo, fazendo-o acreditar que é portador de
algo indesejável pela sociedade. Sendo o estigma um rótulo que se carrega
involuntariamente, a pessoa com deficiência tenta adaptar-se ao ambiente, de
forma que seu problema não seja notado, L.G fala dos problemas que podem
gerar a formação de estigma frente a deficiência e o processo inclusivo: �muitas
pessoas tem vergonha de ser o que é. E nesses vários programas de inclusão
social, você vê: �João, como se deve agir diante de Maria.�, mas aí a Maria pode
ficar com vergonha, sabe: � ai, eu quero que ele me veja como uma pessoa
normal, não pelo que eu sou, assim.� Eu acho que a inclusão social leva alguns a
pensar dessa maneira, esse é o lado negativo que eu acho.�
4.4.2 � falta de informação:
Silva (2006), nos coloca que é preciso desmistificar a deficiência, não torná-
la um tabu, deixá-la clara às pessoas para que não haja tanto desconforto frente a
ela, e isso está claro nos relatos de J.C: �Aqui no Brasil a inclusão é pouca.[...] As
pessoas tem que aprender como ajudar o cego, o cadeirante.... as ruas são ruins
para andar, tem buraco, as pessoas olham o cadeirante, ficam preocupadas
�como ela vai andar?�.
Ainda para o autor, o que também parece perturbar nas relações com as
pessoas com deficiência é o fato de não saber lidar com as diferenças impostas
34
pela diferença. O estigma que a pessoa com deficiência carrega, acaba facilitando
a identificação desta, sendo assim, o relacionamento passa a ser com a
deficiência, e não com o individuo.
Laplane (2004), chama a atenção para a importância da educação inclusiva,
que constituiu-se graças a lutas contra a segregação histórica ao qual foram
submetidas as pessoas com deficiência, salientando que as políticas de inclusão
propostas no Brasil não condizem com a realidade vivenciada, pois, segundo a
autora, ela se espelha nas políticas inclusivas advindas de outros paises, onde a
realidade social é diferente. Podemos perceber no discurso de L.G, a importância
que há em rever tais políticas e o que se faz necessário para tanto: �falta muita
informação pra população. O governo precisa agir mais nesse sentido [...] aqui no
Brasil, pelo que eu sei tem muita gente com deficiência, de qualquer tipo, e por
isso precisa ter mais atenção para eles.�
4.5 Aspectos positivos da inclusão:
4.5.1 � intercambio de informações:
De acordo com a revista Arqueiro, do Instituto Nacional de Educação de
Surdos do Rio de Janeiro, em agosto de 2005, foi criado o primeiro curso de
graduação de Português/LIBRAS, destinado a alunos surdos e ouvintes, que
habilita o trabalho na educação infantil e ensino fundamental. No Estado de Santa
Catarina, criou-se também o curso de Letras Português/LIBRAS nas
dependências da Universidade Federal de Santa Catarina, conforme citado no
discurso de L.A: �[...] ano passado foi criado o ProLIBRAS, a faculdade de letras
com língua de sinais. Uma sala própria só para as pessoas surdas, é livre para as
35
pessoas ouvintes participarem também. [...] o ouvinte, a comunicação é difícil, mas
daí a gente chama um intérprete, faz essa mediação e eles tem a comunicação
por igual�
A preocupação das instituições de ensino superior quanto ao acesso ás
informações a todos os acadêmicos leva também a formação de programas de
apoio, assim como o Programa de Atenção aos Discentes Egressos e
Funcionários (PADEF) presente na Universidade do Vale do Itajaí, que visa
garantir a presença de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais em sala de aula,
garantindo assim, que se estabeleça a comunicação entre os alunos surdos,
professores e alunos ouvintes. Também oferece cursos de capacitação em Língua
Brasileira de sinais para toda a comunidade acadêmica e a sociedade, sendo
ministrados por pessoas surdas. Esta proposta vem de encontro ao relato de M.K:
�tem surdo que ensina a pessoa ouvinte que quer aprender LIBRAS.�
Conforme Mantoan (2001), �a inclusão é uma questão de direito, que cabe à
professores, às escolas, à sociedade e demais órgãos, torná-la real, prática e
verdadeira.� De acordo com L.G: �a pessoa beneficiada com a inclusão, tem mais
acesso a informações, amigos. Abre um leque de oportunidades pra ele.�
4.6 Ideal de Inclusão social: 4.6.1 acesso a informações:
Em relação a inclusão social, Kassar (2004), nos coloca que esta não pode
ficar restrita somente ao ambiente escolar, é uma questão vinculada às políticas
sociais, à distribuição de rendas, e ao acesso diferenciado à bens materiais e
cultura. Neste sentido, L.G nos ressalta que �a inclusão social poderia ser
36
implementada através da mídia, internet, televisão, fazendo passeatas, indo as
escolas. Através dos pilares da sociedade. [...] então, opções não faltam�.
Há nos acadêmicos entrevistados a presente preocupação em esclarecer os
aspectos da deficiência, suas limitações e suas possibilidades bem como os
aspectos relevantes de sua cultura, como na fala de L.A: �precisa de mais
estudos, mais pesquisas pra ficar tudo mais claro�. Para Sezerino (2005), os
estudos e pesquisas no tema, enriquecem o meio acadêmico, propiciando a
criação de espaços inclusivos também na área das pesquisas acadêmicas.
Mantoan (2003), cita que é preciso expulsar a exclusão do ambiente escolar e
fora dele, sendo que desafios constituem em uma ponte para o avanço do que se
deseja chegar: a inclusão. Para tanto é necessário que o professor esteja
consciente destas necessidades. Para M.K: �precisa incluir. Aceitar, estar
preparado pra receber uma criança portadora de deficiência.�
4.7 Cultura surda: 4.7.1 Conhecimento sobre cultura surda:
Para Perlim (2004), cultura é um espaço de unificação de identidades e a
ela é atribuído primordial papel na constituição da subjetividade da pessoa como
ser social. A cultura surda é então, para a autora, um espaço onde o sujeito surdo
possa construir sua subjetividade e firmar sua identidade garantindo sua
sobrevivência diante das múltiplas culturas e identidades. A diferença da cultura
surda está na pratica social dos surdos. Sendo assim, a cultura surda, já não é a
cultura ouvinte. Para a pessoa surda, essa diferença está bem delineada, como na
37
fala de M.K: �é diferente do ouvinte, porque a cultura surda é simples, e pro
ouvinte, primeiro fala alto, tem que saber LIBRAS.�
Segundo Sacks (1998), há muitos aspectos culturais dos surdos que podem
ser observados, entre eles estão as regras de etiqueta da língua de sinais. Para o
autor, alguns desses costumes e regras podem soar estranhos para os ouvintes,
mas que aos surdos fazem enorme diferença. Sacks cita algumas dessas regras:
como a de ter o cuidado de manter sempre contato visual, e evitar andar
inadvertidamente entre as pessoas, de maneira a interromper esse contato. Ao
contrario da cultura ouvinte, é permitido entre os surdos dar tapinhas e apontar,
chamando ou indicando algo ou alguém. E entre os surdos há uma natural norma
ética de que em ambiente de conversação surda, onde a comunicação fluente é a
de sinais, onde as conversas são totalmente visuais, faz-se questão de não �olhar�
a conversa do outro, concentrando-se em ver apenas o que se destina ser visto.
Sacks (1998), ainda aponta que é preciso lançar olhar aos surdos, como
formadores de uma comunidade distinta da que estamos acostumados.
Na fala de L.A, podemos perceber essa diferenciação cultural partindo do
principio de que a diferença crucial entre as duas culturas esta na forma de
comunicação: ��é a língua de sinais na comunidade surda, e o português na
comunidade do ouvinte.� Para Moura (1997), a língua de sinais tem uma estrutura
diferente da língua oral, por ser transmitida por um canal visual.
Para Laplane (2004), o grande desafio da escola inclusiva é propiciar à
aquisição e o acesso às culturas produzidas pela humanidade. Para L.G constitui-
se como parte da cultura surda: �LIBRAS, programas de computador, televisão.
Tudo relacionado a deficiência auditiva e surdez.�
38
4.7.2 Cultura surda e cultura ouvinte: diferenças e semelhanças.
Pierucci (1999), cita que as pessoas de diferentes etnias, credos, raças e
também deficiências buscam reconhecimento de suas diferenças. Sendo assim,
negar essas diferenças é negar a própria natureza do individuo. Em seus
discursos, os acadêmicos salientam as diferenças observáveis entre surdos e
ouvintes: �surdos e ouvintes são diferentes: diferentes para conversar, diferentes
para estudar. Os sentimentos são diferentes. A identidade é diferente, as vontades
também são. Surdo tem cultura, vontades, responsabilidades, leis próprias
diferentes do ouvinte� (J.C). �a sociedade dos ouvintes e a sociedade dos surdos
não são iguais, elas são diferentes. [...] os sentimentos são diferentes� (L.A). �[...]
pra mim, surdos são iguais e ouvinte é diferente [...] ouvinte é mais sério. A
pessoa surda é mais agitada� (M.K). Para Teske (1998), é fundamental para o
sujeito surdo criar sua forma de olhar o mundo.
Há porém, os que afirmam não haver diferenciação cultural entre surdos e
ouvintes, conforme as falas dos acadêmicos a seguir: �é igual, a única coisa que é
diferente é na forma de comunicação�(L.G). Para Santana e Bergamo (2005),
somente a linguagem não caracteriza uma cultura, ela vai além, e envolve
aspectos de crenças, hábitos e costumes. �não existe diferença. Surdo só tem
problema de audição, ele pode entender melhor, ele pode fazer coisa melhor, né?
Não há diferença, são todos iguais�(L.S).
39
4.7.3 Identidade do surdo: A história faz parte da identidade do sujeito, e não se faz sem os
personagens, e que também não há personagens sem história, sendo a história do
individuo a sua própria identidade. Neste sentido, a história dos surdos nos mostra
o desejo da sociedade em �normalizar� a deficiência existente, deixando-as a
margem de sua própria historia consequentemente prejudicando na formação de
sua própria identidade (CIAMPA, 1998). Nessa perspectiva, torna-se difícil para a
pessoa surda, posicionar-se diante de sua própria identidade, oscilando entre uma
identidade �surda� e a �ouvinte�. J.C, nos fala sobre sua dificuldade em posicionar-
se frente a sua própria identidade: �antes, quando eu era pequena o sentimento
mudava. Eu pensava que era errado, então eu trocava conhecimento com as
pessoas, perguntava, pedi informação. Depois vi que era legal, conversava,
ganhava força pra lutar�.
Faz-se importante, portanto, repensar os conceitos de identidade, para que
assim seja possível perceber como os sujeitos com deficiência estão sendo
excluídos e os estigmas a eles atribuídos socialmente, no intuito de facilitar o
sentimento de pertença nos grupos sociais (LORENZETTI, 2006).
Para M.K, o sentimento de identidade e pertença gira em torno do
reconhecimento de iguais: �eu sinto que sou da cultura surda por que eu gosto
mais de me enturmar com surdo do que com ouvintes�. Segundo Silva (2006), a
convivência propicia a identificação por enfatizar os aspectos de igualdade, dando
suporte e conforto à idéia de ser igual na diferença, driblando assim os medos e
ansiedades frente ao novo, ao desconhecido.
40
A importância da convivência entre iguais na formação da identidade do
individuo é salientada na fala de L.G que, quando indagado sobre sua participação
na cultura e identidades surda responde: �eu faço muito pouco. Desde a minha
infância nunca tive muita interação com outro surdo�. Santana e Bergamo (2005),
consideram a identidade surda, como a aceitação da surdez. Fazer parte de uma
comunidade e identidade surda portanto, é aceitar ser surdo.
Conforme Dizeu e Corporali (2005), o surdo que apenas mantenha contato
com pessoas ouvintes, tende por ter sua identidade oculta e desvalorizada. Para
as autoras, é importante que o sujeito surdo mantenha contato com os seus pares,
sem isolar-se, porém, da comunidade ouvinte, possibilitando sua constituição
enquanto sujeito, e a aceitação das diferenças. Neste sentido, L.A demonstra seu
interesse na aquisição e troca de conhecimentos frente a sua cultura e identidade:
� sim, eu tenho esse sentimento, essa identidade surda. [...] eu sempre me
esforcei, tive muita curiosidade�.
Os autores supracitados ainda dizem que: �Todo sujeito precisa interagir em
seu meio, apropriar-se de sua cultura e de sua história e formar sua identidade
por intermédio do convívio com o outro� (DIZEU E CORPORALI, 2005, p.10).
4.8 Cultura surda e inclusão social: 4.8.1 Propagação da cultura surda: facilitador da inclusão? �Acho importante a pessoa ouvinte saber sobre a cultura surda porque
precisa ter informação, se não sabe nada, não tem informação, é ignorante, não
sabe nada� (M.K). M.K mostra a insatisfação quanto a falta de conhecimentos
frente a realidade e a cultura surda. Para Sacks (1998), �somos notavelmente
41
ignorantes a respeito da surdez (p. 15). Para L.G �propagando a cultura surda
você tá dando informação pra população. Muita gente sabe o que é LIBRAS mas
não imagina como se fala. Mostrando pra eles como se faz isso, faz eles
entenderem um pouco do �mundo� do surdo.�
Conforme Teske (1998), a formação de uma única cultura: universal e
globalizante pode ser uma armadilha, provocando assim a massificação cultural. A
cultura ouvintista tenta impor um padrão cultural único, já que esta entende como
sendo melhor para toda a sociedade global. Para o autor, é preciso entender
cultura não como uma coisa única, mas fruto de várias manifestações culturais.
Ainda para o autor, cultura é uma ordem simbólica onde perpassam as relações
do homem coma natureza, entre si e com o poder; é uma maneira de interpretar
suas relações. Sendo assim, cultura é adversa à unificação.
4.8.2 Mudanças pertinentes a Propagação da cultura surda e conseqüente inclusão social:
Para Teske (1998), apenas naturalizar o surdo, aceitando sua língua e
tornando-a um elemento integrador, faz apenas o que já fazia o discurso médico:
maquia o problema. É preciso encarar o individuo surdo sem medo, aceita-lo como
membro de uma cultura e comunidade diferente, aceitar a surdez como uma
experiência visual. Para L.G, para que haja realmente uma inclusão eficiente �[...]
precisa introduzir ele (deficiente) no meio ouvinte, tendo professores que saibam
falar LIBRAS [...] eu acho que isso seria uma boa mudança. Uma coisa que
deveria ser feito. [...] tem que distribuir informações, tem que fazer as pessoas
saberem.�
42
Segundo Santana e Bergamo (2005), deve-se levar em conta as
especificidades culturais: �precisa ter legendas pros surdos na televisão. A gente
reclama sempre. Agora tem, mas não são todos. Esta começando e isso é bom.
Já mudou ,muita coisa. Também tem programas de televisão que tem uma
interprete falando em baixo. A inclusão melhorou um pouco, mas não muito.
Quero que melhore a inclusão� (M.K).
Dizeu e Corporali (2005), dizem que a língua de sinais, representa para o
individuo surdo, um papel importantíssimo. É através dela que ele pode interagir
com o meio. A importância da LIBRAS para o processo educacional, social e
cultural reflete no desenvolvimento geral do surdo. Por isso é tão comum
encontrarmos discursos semelhantes entre as pessoas surdas: �a minha idéia, por
exemplo, é que as pessoas ouvintes conheçam o profissional da língua de sinais,
e que ele entre em qualquer lugar, em lugares diferentes, em empresas,
conversem, expliquem, façam esse trabalho de inclusão social� (L.A); �precisa
aprender a língua de sinais... sei que é confuso, tem muito regionalismo na
LIBRAS, ela é diferente e cada cidade, as pessoas precisam conhecer isso
também� (J.C).
A inclusão social, porém, só poderá ser efetiva quando criar espaços e
oportunidades pra toda e qualquer diferença. Para L.S o processo inclusivo
poderia melhorar levantando os seguintes aspectos relevantes: �inclusão na
escola. Ensinar o surdo na escola. No geral também. Precisa ter interprete na sala
de aula, mais vagas no mercado de trabalho pras pessoas deficientes, não só pro
surdo, mas também pro cego, pro cadeirante...�
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�Quanto mais sistemas comuns da sociedade adotarem a inclusão, mais
cedo se completará a construção de uma verdadeira sociedade para todos � a
sociedade inclusiva� (SASSAKI, 1997).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível perceber nas entrevistas realizadas que os sujeitos surdos vêem
a inclusão como sendo a aceitação da diversidade humana em todos os sentidos.
Para eles, essa aceitação se faz necessária, pois a surdez não se caracteriza por
uma deficiência, mas sim um diferença. A surdez não limita, ela requer apenas um
remanejo nas estratégias sociais, e não deve ser ignorada ou super - enfatizada.
Pôde-se ver que na maioria dos discursos dos surdos entrevistados, tem-se
maior percepção do processo inclusivo em âmbito escolar, como se em outras
instancias ela não ocorresse, ou não fosse tão percebida. Isso pode ocorrer pelo
movimento inclusivo ser mais acentuado nas instituições de ensino, onde há salas
inclusivas e demais programas que visam á inserção do sujeito surdo (ou de
quaisquer deficiência) no ambiente escolar dito �normal�, e pelo fato de, os sujeitos
entrevistados, serem estudantes.
Foi possível observar, também que, mesmo na escola, onde o processo
inclusivo tem ocorrido de maneira mais explicita, ele não tem acontecido de
maneira satisfatória. O despreparo dos professores diante da diferença dos alunos
surdos em sala de aula é sentida e apontada por eles. Colocar um aluno surdo (ou
quaisquer que seja sua deficiência) em sala de aula, e não oportunizar as mesmas
atividades e condições de aprendizagem dos demais alunos, impedindo a
interação entre eles, é negligenciar o desenvolvimento de um ser com potencial
para se desenvolver, mas que tem um ritmo diferente e outras estratégias para
alcançar os objetivos educacionais.
Com o descaso de alguns professores frente às necessidades de seus
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alunos, há maiores chances de fracasso escolar e conseqüente desistência deste
aluno, prejudicando em sua auto-imagem e fazendo-o desacreditar em seu próprio
potencial.
A falta de preparo não é percebida só entre os professores. A sociedade
como um todo não se mostra preparada para acolher a diferença.
A falta de informação acaba se tornando um empecilho para as interações
sociais. Essa falta de interação facilita a segregação da sociedade em grupos
ditos majoritários ou minoritários, deixando à sua margem as minorias, impedindo
seu desenvolvimento.
A formação de estigmas e preconceito foram, também, fatores apontados
como impeditivos para o processo de inclusão social. O preconceito diante da
deficiência alheia funciona como um mecanismo de defesa diante da idéia da
fragilidade e imperfeição humana. Afastar-se do sujeito deficiente, seria então,
uma forma de negar as próprias deficiências.
Desta forma há, muitas vezes, para o surdo o medo de mostrar sua falta,
mesclando-se entre os ouvintes e deixando de desenvolver suas potencialidades
para seguir um padrão de normalidade que na verdade não existe.
Observa-se incutido no discurso dos sujeitos surdos um medo considerado
histórico. Talvez, por terem sido privados durante muito tempo ao longo dos
séculos de sua linguagem e cultura, os surdos apresentam, medo diante do
processo inclusivo por acreditarem que este possa novamente prejudicar na
formação cultural ao qual eles tem lutado para manter.
Mas nem tudo são �espinhos�, e se tratando do processo inclusivo, há muitos
pontos positivos que foram ressaltados.
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Foi salientado entre os surdos entrevistados que a inclusão é, sim, um
processo benéfico e desejável, que oportuniza o intercambio de experiências e a
valorização das diferenças.
Mostra-se presente na maioria dos surdos uma identidade e cultura surda
bem alicerçada. Há orgulho em ser surdo, e prazer em falar o que os caracteriza
como o sendo. Não há medo ou vergonha, pelo contrário: há desejo evidente de
se fazer conhecer e de que outras pessoas aprendam aspectos de sua cultura,
assim como a LIBRAS.
Dessa forma, constata-se que na visão dos surdos entrevistados, a
propagação de sua cultura auxiliaria sim no processo inclusivo, por oportunizar a
compreensão de aspectos relevantes no convívio de surdos e ouvintes, e assim,
celebrar as diferenças.
Que há necessidade de pensar o surdo como um indivíduo com cultura e
identidade próprias e não como algo a ser normalizado e enquadrado nas normas
do que é comum, ou esperado. A surdez não deve ser considerada um desvio,
pois este pode existir na não aceitação da surdez como uma diferença, mas que
essa diferença não impede a interação e a inserção do individuo na sociedade.
Difícil tarefa, a de dizer a cultura em que estamos, que fazemos parte e que
gira em torno do nosso �eu�. Difícil tarefa a de distinguir a cultura do outro, de dizer
�isso é cultura do povo surdo�. Chegamos a um momento em que a cultura surda
não deve mais ser negociada a troco de um espaço limitado dentro de uma
sociedade onde seus aspectos podem não despertar grande interesse para uma
cultura dominante. A cultura surda precisa de seu espaço como toda manifestação
social. Ela não existe como mera estratégia adotada pelos surdos pra sobreviver
47
em um mundo �ouvintista�. Em trabalhos como este, é possivel perceber o
discurso surdo regado a narrativas de exclusão, opressão e formação de
estereótipos. É preciso que o ouvinte lance olhar ao problema do surdo (suas
dificuldades na inserção social, seus receios e suas dúvidas), ouça os seus
pedidos silenciosos clamando por aventurar-se pelo diferente, numa outra cultura,
transpor as fronteiras da diferença cultural e ser portador de outras linguagens e
de outras culturas.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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7 ANEXOS 7.1 ANEXO 1:
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa cujo
objetivo é identificar, através de relatos de pessoas surdas, a importância da
propagação de sua cultura no processo de inclusão social.
Para tanto, sua tarefa consistirá na participação em uma entrevista
semi-estruturada.
Gostaria de salientar que, quanto aos aspectos éticos:
a) Seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido o seu
anônimato;
b) Os resultados desta pesquisa serão utilizados somente com finalidade
acadêmica, podendo vir a ser publicado em revistas especializadas, porém,
como explicitado no item anterior, seus dados pessoais serão mantidos em
sigilo;
c) Não há respostas certas ou erradas, o que importa é a sua opnião;
d) A aceitação não implica que você estará obrigado (a) a participar, podendo
interromper sua participação a qualquer momento, mesmo que já tenha
iniciado, bastando, para tanto, comunicar aos pesquisadores;
e) A participação desta pesquisa não implica remuneração, ela é volutária;
f) Esta pesquisa é de cunho acadêmico, visando o levantamento de dados
para a compreensão dos fenômenos a serem investigados, e não implica,
assim em uma intervenção imediata;
g) Durante sua participação, se houver alguma reclamação, do ponto de vista
ético, você poderá contatar com o reponsável por esta pesquisa.
Pesquisador responsável: Msc.: Maria Lúcia Lorenzetti. e-mail: lorenzetti@univali.br telefone: (47) 9176-4436 Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí � CCS R.: Uruguai, 448 � bloco 25b � sala 401.
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7.2 ANEXO 2:
IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO
Eu__________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________ declaro estar ciente dos propósitos da
pesquisa e da maneira como será realizada e no que consiste minha participação.
Diante dessas informações, aceito participar da pesquisa.
Assintatura:
__________________________________________________________________
_______
Data de nascimento: __/__/____.
Pesquisador responsável: Msc.: Maria Lúcia Lorenzetti. e-mail: lorenzetti@univali.br telefone: (47) 9176-4436 Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí � CCS R.: Uruguai, 448 � bloco 25b � sala 401.
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8 APÊNDICES 8.1 Apêndice 1 Inclusão Social: - Como você percebe a inclusão social?
- Existem fatores que você julga impedirem a inclusão? Se sim, quais?
- Quais os aspectos positivos que você destacaria quanto a inclusão social?
- Quais os aspectos negativos que você destacaria quanto a inclusão social?
- Na sua opinião, de que forma poderia se dar o processo de inclusão social?
- Pesquisas comprovam a resistência de grupos de pessoas surdas quanto a
inclusão social. Qual sua opnião sobre o mesmo?
Quanto à Cultura Surda:
- O que você entende por cultura?
- Você se sente fazendo parte da cultura surda?
- Você percebe semelhanças e diferenças entre a cultura ouvinte e a cultura
surda? Se sim, quais?
- Você acha que a propagação da cultura surda auxiliaria no processo de inclusão
social? De que forma?
- Qual o papel que a sociedade ouvinte desempenha em relação a valorização da
propagação da cultura surda?
- Que mudanças precisam ocorrer, na sua opinião, para facilitar tanto a inclusão
quanto a propagação da cultura surda?
Questão aberta:
- Deseja fazer alguma observação dentro do tema proposto por esta pesquisa?
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