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HOMICÍDIO FUNCIONAL: COMENTÁRIOS À LEI N.º 13.142/2015
NASCIMENTO, Fábio Teixeira do.1
FEISTLER, Ricardo Pinto.2
RESUMO
O trabalho que segue visa analisar os fundamentos e a justificativa de criação da Lei n.º 13.142/2015, no intuito deidentificar a eficácia no combate aos crimes praticados contra autoridades e agentes de segurança pública. Para tantoserão levantadas as questões acerca dos direitos fundamentais, em especial o direito à vida no contexto constitucional ecomo bem jurídico tutelado pelo direito penal; serão especificadas as pessoas que integram o disposto nos artigos 142 e144 da Constituição Federal, apresentando todas as características que envolvem a qualificadora prevista no artigo 121,§ 2º, inciso VII do Código Penal, apresentando os entendimentos favoráveis e desfavoráveis em relação à novaqualificadora vigente, expresso no texto normativo, como forma de obstar a prática do delito em desfavor de agentes daautoridade.
PALAVRAS-CHAVE: Homicídios, Lei n.º 13.142/2015, Nova qualificadora, Polo passivo do crime, Instrumento decombate ao delito.
FUNCTIONAL HOMICIDE: COMMENTS TO LAW N. 13.142/2015
ABSTRACT
The work that follows aims to analyze the grounds and justification for the creation of Law 13.142/2015, in order toidentify the effectiveness in the fight against crimes committed against authorities and agents of public security. To thisend, questions about fundamental rights will be raised, especially the right to life in the constitutional context and as alegal right protected by criminal law; The persons who make up the provisions of articles 142 and 144 of the FederalConstitution shall be specified, presenting all the characteristics that involve the qualifier provided for in article 121,paragraph 2, item VII of the Penal Code, presenting the favorable and unfavorable understandings regarding the newqualifier In force, expressed in the normative text, as a way to prevent the commission of the offense to the detriment ofagents of the.
KEYWORDS: Murder, Law n. 13.142/2015, New qualifier, Passive crime scene, An instrument to combat crime.
1. INTRODUÇÃO
A área sobre a qual o ensaio teórico científico irá se delimitar é o direito penal, diante da
afinidade com a matéria, a proximidade com a atividade profissional desenvolvida e a necessidade
de atualização do profissional da área do direito com as novas legislações vigentes.
O assunto da pesquisa é a criação do homicídio funcional, por meio da Lei n.º 13.142/2015.
1Acadêmico do Curso de Direito do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. E-mail: fabiofozbr@hotmail.com.2Professor Orientador do Curso de Direito do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. E-mail:ricardofeistler@hotmail.com.
1
A referida lei introduziu no ordenamento jurídico pátrio o crime que vem sendo conceituado
como homicídio funcional, tendo como vítimas do crime autoridades ou os agentes descritos nos
artigos 142 e 144 da Constituição Federal, pertencentes às Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia
Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Civil, Militar e Corpo de Bombeiros,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela.
Pela lei foi instituído, também, que o cônjuge, companheiro, parente consanguíneo até
terceiro grau podem ser vítimas do referido crime de homicídio qualificado, sendo deveras
importante analisar todos os aspectos e especificidades da nova legislação.
A Lei n.º 13.142/2015, sancionada em 06 de julho de 2015, alterou os artigos 121 e 129 do
Decreto-Lei n.º 2.848 (Código Penal), e o artigo 1º da Lei n.º 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos),
para criar mais uma qualificadora para o crime de homicídio e uma majorante para o delito de lesão
corporal, cometidos contra militares e integrantes das polícias e demais órgãos previstos no artigo
144 da Constituição Federal, do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, ou
contra seu cônjuge ou parente.
A referida lei foi originada do Projeto de Lei da Câmara (PLC) n.º 19/2015 de autoria do
Deputado Federal Leonardo Picciani, com a justificativa da necessidade de penalizar, com mais
rigor, pessoas que cometem homicídio consumado ou tentado, na forma simples ou qualificada,
praticado contra autoridade e agente de segurança pública.
Ademais, a lei em apreço tem por escopo tentar prevenir ou diminuir a prática de crimes
contra profissionais que atuam diretamente no combate à criminalidade, visando o fortalecimento
do Estado Democrático de Direito e das instituições legalmente constituídas para combater o crime,
em especial o crime organizado, o qual em suas ações planeja gerar pânico e descontrole social.
Em tempos de uma crescente escalada da violência, são necessárias reformas na legislação
penal, como a ocorrida com o advento da Lei n.º 13.142/2015, visando um efetivo combate ao
crime e a punição eficaz dos criminosos.
Para fins didáticos, a doutrina tem denominado a referida lei de homicídio funcional ou ainda
de policídio ou policialicídio. Porquanto, nada mais conveniente do que o estudo da novel
legislação, no intuito de investigar a intenção do legislador com a criação da referida norma,
aprimorando o conhecimento científico na esfera penal, tratando de tema que é de interesse social e
dos agentes específicos da autoridade, vez que o crime objeto de estudo é um dos que causam as
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maiores repercussões sociais, tanto pelas questões horrendas que são visualizadas quando da prática
do delito, como por envolver a própria sociedade quando da pronúncia do(s) autor(es) do crime para
julgamento pelo Conselho de Sentença que é formado, após regular instrução probatória processual
penal e formação do dia do julgamento (o júri).
A investigação científica, portanto, acerca do fato de a nova legislação ser capaz de reduzir ou
obstar a prática do crime de homicídio que é praticado em desfavor de agentes policiais e dos
demais listados na Constituição Federal, como antes citado, é tema de extrema relevância, em
especial, para os profissionais que atuam na área, na defesa dos interesses da sociedade.
Portanto, o assunto é novo, desperta interesse, sendo poucas as considerações doutrinárias
efetivadas até o momento sobre o tema, podendo a presente pesquisa contribuir cientificamente com
a comunidade acadêmica e jurídica, pela investigação que será realizada por meio da pesquisa
bibliográfica, considerando os altos índices de crimes da natureza ora em comento que são
praticados em desfavor dos agentes da autoridade.
Para tanto, primeiramente se discorrerá sobre o bem jurídico vida, para, posteriormente, tratar
sobre as peculiaridades da qualificadora do crime de homicídio que vem sendo denominada como
homicídio funcional, listando, inclusive, dados estatísticos sobre a prática do crime.
Posteriormente visa-se apresentar uma discussão quanto ao reconhecimento do homicídio
funcional como instrumento de combate no intuito de obstar a prática do crime em desfavor do
corpo social, do Estado, para, então, apresentar as conclusões sobre o tema proposto.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Inicialmente é importante salientar que o Direito Penal tem por finalidade proteger os bens
jurídicos considerados mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade.
Neste sentido Greco (2010, p. 02) assevera que “com o Direito Penal objetiva-se tutelar os bens
que, por serem extremamente valiosos, não do ponto de vista econômico, mas sim político, não
podem ser suficientemente protegidos pelos demais ramos do direito”.
Bitencourt (2012) assevera que falar de direito penal é, de certa forma, falar de violência,
aduzindo que na atualidade a criminalidade é considerada um fenômeno social, em tese, normal,
pelo fato de estar presente em todas as sociedades, não apenas em algumas de forma isolada.
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Fundamenta a ideia nas palavras de Durkheim, salientando que o delito não é somente “[…] um
fenômeno social normal, como também cumpre outra função importante, qual seja, a de manter
aberto o canal de transformações de que a sociedade precisa” (BITENCOURT, 2012, p. 35).
Nesse sentido:
O Direito Penal regula as relações dos indivíduos em sociedade e as relações destes com amesma sociedade. Como meio de controle social altamente formalizado, exercido sob omonopólio do Estado, a persecutio criminis somente pode ser legitimamentedesemprenhada de acordo com normas preestabelecidas, legisladas de acordo com as regrasde um sistema democrático. Por esse motivo os bens protegidos pelo Direito Penal nãointeressa ao indivíduo, exclusivamente, mas à coletividade como um todo. A relaçãoexistente entre o autor de um crime e a vítima é de natureza secundária, uma vez que estanão tem o direito de punir. Mesmo quando dispõe da persecutio criminis não detém o iuspuniendi, mas tão somente o ius accusationis, cujo exercício exaure-se com a sentençapenal condenatória. Consequentemente, o Estado, mesmo nas chamadas ações de exclusivainiciativa privada, é o titular do ius puniendi, que tem, evidentemente, caráter público(BITENCOURT, 2012, p. 37).
Portanto, desta ideia, com a evolução dia a dia da sociedade, surge a necessidade de proteção
dos bens, valores e interesses mais significativos em prol dos seres humanos. “A sociedade de risco
é uma nova realidade que se instalou no mundo moderno, influenciando o direito, notadamente o
direito penal e o processo penal” (SUZUKI e BRAGA, 2016, p. 111).
Assim, o direito penal em um mundo chamado de globalizado é amplo, buscando abordar e
abranger praticamente tudo teoricamente, alcançando o ápice com o que foi chamado de direito
penal do Inimigo, por meio do reconhecimento de duas espécies de direito penal, o do cidadão,
onde são asseguradas as garantias penais e processuais penais, e o do inimigo que visa a eliminação
do sujeito considerado como perigoso ao corpo social, seja restringindo direitos ou privando a
liberdade (SUZUKI e BRAGA, 2016).
A vida ganha destaque neste ponto específico, pelo fato de os demais direitos serem
decorrentes da existência desta, considerando que o bem jurídico tutelado pelo direito penal é o “fio
condutor para a fundamentação e limitação da criação e formulação dos tipos penais [...]”
(BITENCOURT, 2012, p. 43).
O homicídio, assim, é tido como a eliminação da vida por outro indivíduo, ressaltando que a
vida é um bem fundamental do sujeito como particularidade, mas, também, a proteção da vida como
bem jurídico tutelado interessa, na verdade, ao Estado, uma vez que:
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Dentre os bens jurídicos de que o individuo é titular e para cuja proteção a ordem jurídicavai ao extremo de utilizar a própria repressão penal, a vida destaca-se como o mais valioso.A conservação da pessoa humana, que é a base de tudo, tem como condição primeira avida, que, mais que um direito, é a condição básica de todo direito individual, porque semela não há personalidade, e sem esta não há que se cogitar de direito individual. SegundoLeclerc, 'há o dever de aceitar a vida e o direito de exigir o seu respeito por parte de outrem;há também o dever de respeitar a vida alheia e o direito de defender sua própria vida'.Embora esse bem jurídico constitua a essência do indivíduo enquanto ser vivo, a suaproteção jurídica interessa conjuntamente ao indivíduo e ao próprio estado, recebendo, comacerto, assento constitucional (BITENCOURT, 2009, p. 24).
Porquanto, considerando que todas as vidas são preservadas pelo direito penal e pelo direito
constitucional, pela extraordinária importância decorrente dos direitos fundamentais, tanto que na
própria Lei Maior o próprio Estado está impedido de suprimi-la, tendo-se o presente entendimento
por ser proibido no Brasil a pena de morte, embora existam as exceções, igualmente, a vida dos
agentes da autoridade é de extrema relevância, tanto como ser individual como membro integrante
do Estado (BRASIL, 1988).
Assim, da imprescindibilidade de dotar os profissionais de segurança pública de uma maior
segurança jurídica, frente a um aumento alarmante da criminalidade, surgiu, por meio do Poder
Legislativo, a Lei n.º 13.142 em 06 de julho de 2015, elencando o crime de homicídio praticado
contra agentes da autoridade como qualificado e hediondo, considerando que tanto a vida como a
segurança pública e mesmo dos agentes do Estado são tidos como direitos fundamentais de todo o
cidadão.
2.1 ASPECTOS DA LEI N.º 13.142/2015
Neste tópico a pretensão é apresentar a Lei n.º 13.142/2015, com as particularidades
encontradas sobre o tema, incluindo, inclusive, dados estatísticos que dão suporte para a vigência da
lei que não é consenso entre os doutrinadores que tratam o assunto.
Tal diploma legal inseriu o inciso VII, ao §2º do artigo 121 do Código Penal, criando mais
uma modalidade qualificada de homicídio, na hipótese em que o agente praticar crime de homicídio
contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal, bem como
contra integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão desta condição (BRASIL. Lei n.º 13.142, 2015).
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Além disso, tal qualificadora foi inserida no rol de crimes hediondos previstos na Lei n.º
8.072/90, portanto o crime não admite graça e indulto, é inafiançável; para a progressão de regime
se o réu for primário é necessário o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, e se reincidente é
necessário o cumprimento de 3/5 (três quintos) da pena.
Greco (2016) ainda assevera que o papel exercido pelas polícias está, a todo instante, sendo
repensado já que a criminalidade tem aumentado assustadoramente, principalmente em decorrência
do tráfico de drogas e de armas, bem como pela existência do denominado crime organizado.
Ainda, a violência praticada tanto em desfavor de militares como contra membros da
segurança pública tem sido objeto de estudo há tempos, diante das frequentes investidas contra a
vida de tais profissionais, razão pela qual se justifica, também, a inclusão legislativa objeto da
pesquisa.
O direito à segurança, previsto na Constituição Federal é dever do Estado, a qual é exercida
por meio das policias, dos agentes da segurança pública. Referido direito, ainda, é tido como
fundamental, estando no rol constitucional a que todo o cidadão faz jus.
Todavia, evidente, que em razão da crescente criminalidade, nem sempre o Estado consegue
cumprir de forma satisfatória o direito que é invocado pela população. A criminalidade, assim, tem
como vítima os próprios agentes da segurança pública, e no intuito de obstar a prática do crime de
homicídio, em especial em desfavor de tais pessoas é que houve a necessidade de prever a
qualificadora ora em comento, sob a ótica da essencialidade do uso do princípio da legalidade no
direito penal, qual elenca que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal (BRASIL, 1988).
Aponta-se que com a inclusão legislativa listada o legislador repensou em fortalecer o Estado
Democrático de Direito, vez que comparou a pena do crime que vem sendo conhecido como
homicídio funcional, com o latrocínio, o que demonstra a redução da importância que anteriormente
se dava para os crimes contra o patrimônio, em prol do direito à vida, à segurança social e a saúde,
ainda mais se pensar nos agentes que exercem tal função de segurança como representantes e
auxiliares do Estado, tudo de acordo com os próprios ditames da dignidade humana (MARÇAL,
2015).
E justamente em razão do aludido princípio é que houve a necessidade de proteção da vida,
inclusive, dos parentes, do cônjuge, do companheiro do agente que exerce a função de segurança,
como espécie de medida protetiva e preventiva, a qual, infelizmente, no país, somente é possível, às
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vezes, por meio da previsão de determinada conduta que é considerada perniciosa ao corpo social
como crime, com consequente previsão de pena privativa de liberdade, pela gravidade e pelo bem
jurídico atingido (MARÇAL, 2015).
Em verdade, a nova legislação busca, de certa forma, responder aos anseios sociais, diante do
crescente aumento de violência em desfavor dos agentes de segurança, entendido como um
“exemplo bem-acabado do profundo diálogo entre o direito penal enquanto saber ou técnica de
solução de conflitos, e o que se entende por política criminal” (REIS, 2015, p. 01).
No mesmo sentido o entendimento que segue:
Dessa forma, a Presidenta Dilma […] sancionou a Lei objeto do presente estudo, com ointuito de reduzir e tranquilizar aqueles que vivem em pânico diário. Em relação à eficáciaserá extremamente necessário a coação do Estado para se fazer valer, pois ‘regra jurídicasem coação é uma contradição em si, um fogo que não queima, uma luz que não ilumina’[…]. Ademais, a violência contra militares, membros da segurança pública e seus familiarestêm se expandido, sendo razoável a aplicação da pena imposta pelo Estado, onde existemcrimes Tributários, contra o erário, e outros, logo sendo justo que também exista Lei emfavor daquele que realiza o juramento para defender a sociedade (MARÇAL, 2015, p. 05).
Independente do entendimento, considerando a pesquisa científica a ser realizada, cabe a
identificação específica acerca dos requisitos para caracterização do delito, a iniciar pela
identificação de quem pode ser vítima do crime, quais sejam, aquelas listadas nos artigos 142 e 144
da Constituição Federal, se é possível considerar guardas municipais como vítimas do crime,
agentes de segurança viária, servidores aposentados, o filho adotivo do agente de segurança. Ainda,
vale questionar a incidência da qualificadora para crimes tentados ou consumados; a necessidade do
elemento subjetivo, se indispensável ou não que o homicida saiba da função pública exercida ou
desempenhada pela vítima; ou seja, questões primordiais para entendimento da nova legislação
atualmente em vigor (DIZER O DIREITO, 2015).
Importante frisar que “a existência da qualificadora se fundamenta nas mesmíssimas razões
que fundamentam a existência do Estado enquanto estrutura de imposição da ordem” (REIS, 2015,
p. 19), justificando, porquanto, o estudo do tema.
Assim, o homicídio funcional está previsto, como dito, no artigo 121, § 2º, inciso VII, do
Código Penal, com todas as especificidades já previstas para o delito previsto no caput,
necessitando de sujeito ativo, passivo, dolo, podendo se dar na forma consumada e tentada,
conforme todos os estudos já efetivados anteriormente pelos doutrinadores penais (BITENCOURT,
2012) in verbis:
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Art. 121. Matar alguém: […].§ 2º Se o homicídio é cometido: […]VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício dafunção ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parenteconsanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (incluído pela Lei n.º 13.142, de2015).Pena – reclusão, de doze a trinta anos (BRASIL. Lei n.º 2.848, 1940).
Jesus (2015, p. 01) conceitua o delito como sendo “matar autoridade ou policial no exercício
ou em razão dela, ou seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau”,
elencando que a qualificadora entrou em vigor aos 07 de julho de 2015, na data de sua publicação, e
por ser mais gravosa é irretroativa, não se aplicando a fatos praticados antes da citada data, tendo a
denominação de novatio legis in pejus, podendo ser autor do crime qualquer pessoa.
Nesse sentido, da análise do dispositivo legal, o homicídio é considerado como qualificado
toda vez que praticado contra autoridade ou os agentes descritos nos artigos 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do Sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra o cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau. E nos artigos 142 e 144 constam as seguintes figuras:
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e nadisciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa daPátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e daordem. […]Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, éexercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e dopatrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal;III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos debombeiros militares (BRASIL, 1988).
Alguns estudiosos do tema entendem que a figura a constar no polo passivo do crime do
homicídio funcional será objeto de controvérsia, devendo inicialmente, até os Tribunais Superiores
se posicionarem sobre o tema, ser interpretado de forma analógica, na tentativa de buscar o real
alcance da terminologia “autoridade”, até mesmo pela possibilidade de se aplicar a referida espécie
de interpretação analógica no direito penal, a exemplo do “outro motivo torpe”, previsto no artigo
121, § 2º, inciso I, do Código Penal que prescinde de interpretação do julgador (BARROS, 2015).
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E nesse contexto, após minucioso estudo sobre o conceito de autoridade, entendendo existir
várias espécies, a exemplo da autoridade tradicional, autoridade carismática, racional-legal,
eclesiásticas, políticas e outras tantas na administração pública, Barros (2015) elenca que em razão
do princípio da legalidade há necessidade de interpretar que a nova qualificadora não alcança todas
as espécies de autoridade, mas somente as que exercem funções definidas no próprio texto
normativo, quem seja as autoridades do sistema de segurança pública, apresentando entendimento
de que podem ser sujeitos passivos do crime de homicídio funcional além dos membros do Poder
Judiciário e do Ministério Público as que seguem:
Perceba que o legislador logo após o uso da terminologia “autoridade” usa a frase “OU”agente descrito nos artigos 142 (Forças Armadas) e 144 (Policiais) da Constituição Federal,integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, ou seja, todossão “autoridades”, “agentes” e “integrantes” do sistema de segurança pública. Portanto,podem ser agentes passivos do homicídio funcional, os Ministros do STF, membros dosTribunais Superiores, Desembargadores dos Tribunais de Justiça, Magistrados federais eestaduais, membros do Ministério Público da União e Membros dos Ministérios Públicosdos Estados quando formem vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, e seusrespectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razãoda motivação funcional do crime. b) Agentes da Marinha, Exército e Aeronáutica, quandoforam vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges,companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivaçãofuncional do crime. c) Integrantes da polícia federal, quando foram vítimas no exercício dafunção ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentesconsanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime. d) Integrantesda polícia rodoviária federal, quando foram vítimas no exercício da função ou emdecorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneosaté terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime. e) Integrantes da políciaferroviária federal, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela,ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau,em razão da motivação funcional do crime. f) Integrantes da polícia civil, quando foramvítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges,companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivaçãofuncional do crime. g) Integrantes da polícia militar e corpos de bombeiros militares,quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivoscônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão damotivação funcional do crime. h) Integrantes do sistema prisional, quando foram vítimas noexercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ouparentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime. i)Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública, quando foram vítimas no exercício dafunção ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentesconsanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime (BARROS,2015, p. 04).
Romano (2015, p. 01) apresenta o entendimento de que integram o sistema prisional “os
secretários da administração penitenciária, diretores de presídios, agentes penitenciários, diretores
de centros de detenção provisória, diretores de cadeias públicas e carcereiros”.
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Bitencourt (2015) aprofunda o assunto, discorrendo que dentre os membros do sistema
prisional podem os integrantes da comissão técnica de classificação, comissão de exame
criminológico, conselho penitenciário, ou seja, os integrantes de certas etapas da execução,
figurarem como sujeito passivo do crime, exemplificando que:
Não poderia ser diferente. Imaginemos um egresso, revoltado com os vários examescriminológicos que o impediram de conquistar prematura liberdade, buscando vingar-sedaqueles que subscreveram o exame, contra eles pratica homicídio. Parece evidente que ocrime de homicídio, além de outras qualificadoras (como a do inc. II), será tambémqualificado pelo inc. VII (BITENCOURT, 2015, p. 05).
A lei foi clara em não reconhecer os parentes por afinidade, apenas aqueles consanguíneos até
o terceiro grau, não podendo utilizar a analogia in malam partem, o que significa dizer que sogro,
sogra, genro, nora, padrasto, madrasta, enteados, cunhados, não entram no rol para consideração da
qualificadora. Todavia, não reconhece que há possibilidade de ser entendido como sujeito passivo
do crime o parente socioafetivo, diversamente do filho adotivo, o qual, pela equiparação aos
consanguíneos, pode ser tido como sujeito passivo do delito (ROMANO, 2015).
Neste ponto específico, Jesus (2015) corrobora o entendimento de Romano acerca do fato de
que não há como reconhecer o homicídio funcional para casos em que sejam vítimas parentes por
afinidade, todavia, discorda quanto ao filho adotivo, salientando que o parentesco civil não é
abrangido pela lei, devendo, havendo morte de filho adotivo de policial, ser aplicada outra
qualificadora, havendo, portanto, entendimentos diversos na doutrina e na aplicação da norma nos
casos práticos, vez que Romano atua como Procurador.
Aguçando mais a pesquisa, Romano (2015) elenca, também, que o agente público aposentado,
por deixar de exercer o cargo, a função pública, mesmo que o crime tenha sido motivado pela
anterior função ou cargo exercido, não pode ser vítima do crime, não se reconhecendo a
qualificadora objeto de estudo. O fundamento do entendimento é a exigência de um nexo de
causalidade funcional no momento do crime, devendo a vítima estar no exercício da função, ou o
crime ser cometido em decorrência dela ou pela condição de ser, por exemplo, policial militar,
policial civil ou outro.
Nesse sentido, em relação ao exposto, entende-se que houve contradição por parte do citado
autor, vez que elege como necessário o nexo de causalidade funcional, discorrendo que o crime para
ser reconhecido como homicídio funcional deve ser cometido em decorrência justamente da função
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pública ou cargo exercido pela vítima do crime. Assim, nada impede, por exemplo, que no primeiro
dia de aposentadoria, ocorra o homicídio funcional de um policial civil, em decorrência de uma
investigação findada no dia anterior.
Com o passar da pesquisa científica descobriu-se que a suposição constante no parágrafo
anterior procede, conforme o entendimento de Jesus (2015, p. 04) sobre o tema:
É necessário que a vítima, no momento do crime, esteja no exercício da função ou o fatotenha sido cometido em decorrência dela ou em razão dessa condição. Exs.: 1º – matarpolicial da ativa por ter sido prejudicado por ele. 2º – matar policial reformado ou dareserva em decorrência do anterior exercício da função (CF, art.142, § 3º, I). Cremos que nocaso de morte do cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo de agente público járeformado ou aposentado incide a qualificadora em face da circunstância “em razão dessacondição” (parte final do inciso VII). Acreditamos também que incide a qualificadoraquando o crime é cometido, depois da morte do agente público, contra cônjuge ou parentedele em razão do anterior exercício da função. Essas circunstâncias devem ser abrangidaspelo conhecimento do autor.
Assim, outro levantamento foi feito por Damásio de Jesus (2015), o fato de que deverá haver
o conhecimento do autor do crime sobre a função ou cargo, situação funcional exercida pela vítima
que se pretende atingir, o que também era dúvida sobre o policídio.
Bitencourt (2015, p. 05) bem esclarece a questão antes identificada acerca dos servidores
aposentados que, para ele, não integram a qualificadora:
Regra geral, todos os agentes e autoridades integrantes do sistema de segurança pública,com a aposentadoria não são abrangidos pela qualificadora que ora examinamos, pois, coma aposentadoria deixam de ser autoridade, a gente ou integrante da segurança pública. Poressa razão, não estão abrangidos pela nova previsão legal, por falta de previsão expressa dotexto legal, sendo inadmissível interpretação extensiva ou analógica em matéria penalrepressiva. Contudo, excepcionalmente, o servidor aposentado também poderá seralcançado por essa proteção penal, pois o texto legal fala em “no exercício da função ou emdecorrência dela”. Com efeito, se mesmo após estar aposentado um policial é reconhecidoe, por vingança de sua atuação funcional, é assassinado por alguém por vingança dedeterminado caso em que atuou, não há como deixar de aplicar essa qualificadora do incisoVII do art. 2º deste art. 121 do CP.
Outro questionamento se tratava do fato de o homicídio praticado contra um guarda civil,
municipal ou metropolitano poder ser vítima do policídio. Pois bem, Jesus (2015) elenca que sim,
discorrendo que deverá incidir a qualificadora. Igual é o entendimento de Bitencourt (2015)
salientando que a lei não fez restrições, o que significa dizer que o constante nos parágrafos do
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artigo 144 são válidos. Assim, os guardas municipais são definidos como agentes de segurança
pública lato senso.
Pelas mesmas razões e fundamentos é que a qualificadora se estende aos agentes de segurança
viária, figurados no § 10 do artigo 144 da Constituição Federal (BITENCOURT, 2015).
Sobre o sujeito passivo, Bitencourt (2015) critica o legislador quanto a abrangência da nova
majoração penal alcançar os cônjuges, companheiros e parentes consanguíneos, os especificando
como sendo ascendentes os pais, avós bisavós; descendentes os filhos, netos e bisnetos; e os
colaterais até o 3º grau os irmãos, tios e sobrinhos.
Aprofundando o tema, Romano (2015) reconhece que havendo erro sobre a pessoa, ou mesmo
de execução, na forma do disposto nos artigos 20, § 3º e 73, ambos do Código Penal, o autor do
crime deverá responder pelo homicídio, com o reconhecimento da qualificadora, seja tentado ou
consumado, como se tivesse atingido ou tentado atingir a pessoa que pretendida, de fato, que fosse a
vítima do crime.
Ressalta-se que o crime é considerado hediondo, na forma do previsto no artigo 1º, inciso I,
da Lei n.º 8.072/1990, havendo possibilidade de progressão de regime para os autores do crime, e
condenados, se cumpridos 2/5 (dois quintos) da pena se o apenado for primário, e 3/5 (três quintos)
se reincidente. Quanto ao regime inicial para o cumprimento da pena deve ser aplicado o fechado,
considerando a pena de reclusão. Em relação ao livramento condicional é possível, desde que
cumpridos 2/3 (dois terços) da pena não sendo o apenado reincidente específico em crime da
natureza em comento. Destaca-se, também, que não é possível a concessão de fiança extrajudicial
ou judicial para o crime em apreço, sendo possível a decretação da prisão preventiva em desfavor
do autor do crime, uma vez que punido com pena máxima superior a 04 (quatro) anos, sendo
atendidos os requisitos previstos nos artigos 311 e 312 do Código de Processo Penal. Igualmente,
havendo fundadas razões, é possível a decretação da prisão temporário do sujeito ativo do crime
(BARROS, 2015).
O Promotor de Justiça e Mestre em Direito Penal Barros (2015) entende que a qualificadora
do homicídio funcional é uma qualificadora subjetiva, considerando a motivação delitiva, havendo,
assim, duas consequências, apresentando o posicionamento dos Tribunais Superiores:
a) As qualificadoras subjetivas (Artigo 121, incisos I, II, V, VI e VII) não se comunicam aosdemais coautores ou partícipe no concurso de pessoas. As qualificadoras objetivas (artigo121, incisos III, IV), comunicam-se desde que ingressem na esfera de conhecimento dos
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envolvidos. b) Não é possível a qualificadora do homicídio funcional ser cumulada com oprivilégio do artigo 121, § 1º do Código Penal. Ou seja, não existe homicídio funcionalqualificado privilegiado, isso porque doutrina e a jurisprudência dominante sempreadmitiram, como regra, homicídio qualificado privilegiado, estabelecendo uma condição; aqualificadora deve ser de natureza objetiva, pois o privilégio descrito nos núcleos típicos doartigo 121 § 1º, são todos subjetivos, algo que repele as qualificadoras da mesma natureza.Posição do STF: “A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido dapossibilidade de homicídio privilegiado qualificado, desde que não haja incompatibilidadeentre as circunstâncias do caso. Noutro dizer, tratando-se de qualificadora de caráterobjetivo (meios e modos de execução do crime), é possível o reconhecimento doprivilégio (sempre de natureza subjetiva)” (HC 97.034/MG). Posição do STJ: “Admite-se a figura do homicídio privilegiado qualificado, sendo fundamental, no particular, anatureza das circunstâncias. Não há incompatibilidade entre circunstâncias subjetivas eobjetivas, pelo que o motivo de relevante valor moral não constitui empeço a que incida aqualificadora da surpresa” (RT 680/406) (BARROS, 2015, p. 07), grifos do autor
Por fim, importante elencar que a competência para julgamento dos fatos é da Justiça
Estadual, pelo Egrégio tribunal do Júri; e de forma excepcional, quando o crime for praticado contra
funcionário público federal, quando relacionado com o exercício da função pública exercida, será
competente a Justiça Federal (BARROS, 2015).
2.1.1 Dados Estatísticos
A necessidade de se resguardar a vida dos agentes e autoridades do Estado, quais combatem a
criminalidade e a violência, no intuito de oferecer mais proteção, decorre do comportamento omisso
do Estado, sendo alarmantes as estatísticas, em especial, de homicídios praticados contra policiais
militares e civis. Todavia, antes de listá-las, importante destacar que o crime homicídio funcional
não viola de nenhuma forma o princípio da igualdade, diante da necessidade de um tratamento
diferenciado para aqueles que diariamente enfrentam a criminalidade, a inviolabilidade do direito à
vida, saúde, segurança, convívio social, integridade física, entre outros direitos fundamentais
tutelados pelo direito penal, a exemplo do que ocorre com a proteção específica da norma em
relação ao tratamento diferenciado que se dá a vítimas do sexo feminino (BARROS, 2015).
Assim, a qualificadora incluída na norma pela lei antes mencionada atende aos anseios dos
cidadãos que são membros do Estado e figuram na condição de autoridade ou agentes deste, uma
vez que no ano de 2014 foram mortos 229 (duzentos e vinte e nove) policiais civis e militares no
Brasil, destacando que 183 (cento e oitenta e três) vítimas, o que corresponde a 79% (setenta e nove
por cento), estavam de folga (BARROS, 2015).
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Para se ter uma noção real da criminalidade, no referido ano de 2014, no Estado de São Paulo,
foram mortos 85 (oitenta e cinco) policiais, 08 (oito) em serviço e 61 (sessenta e um) de folga e
aposentados (GLOBO.COM, 2016).
No ano de 2015 o número de policiais militares mortos em serviço no Estado de São Paulo
totalizou 185 (cento e oitenta e cinco) mortes, importando 2,05 (dois vírgula zero cinco) pessoas
mortas por dia, identificado como o maior número de mortes no 1º trimestre dos últimos 12 (doze)
anos, segundo Barros (2015).
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2016), o anuário brasileiro de
segurança pública apresentou que em 2015 houve 3.345 (três mil trezentos e quarenta e cinco)
pessoas mortas por policias no combate à criminalidade. Em contrapartida, 393 (trezentos e noventa
e três) policiais foram mortos e destes 103 (cento e três) mortos durante o expediente (RPC TV
Oeste, 2016), o que indica que os dados estão desatualizados, se comparados com as estatísticas só
do Estado de São Paulo, mas demonstram o grande número de homicídio funcional praticado no
país.
Conforme este mesmo Anuário, os locais onde a polícia mais morre no país se concentram
nos Estados do Mato Grosso, Rio de Janeiro, Maranhão e Paraná (PAGNAN, 2015).
Intitulada de “Um PM foi morto a cada seis dias no primeiro bimestre de 2016 em SP”, a
matéria veiculada no sítio Globo.com São Paulo, chamou a atenção, apresentando que 10 (dez)
policiais militares foram mortos em 60 (sessenta) dias, 01 (um) em serviço, 09 (nove) de folga e
aposentados (GLOBO.COM, 2016).
Roberta Trindade (2016), apresenta que no ano de 2016, portanto, foram 390 (trezentos e
noventa) policiais baleados, especificando que 111 (cento e onze) não resistiram; 363 (trezentos e
sessenta e três) eram policiais militares, 01 (um) cedido à Força Nacional de Segurança, o qual
estava trabalhando nos Jogos Olímpicos; 22 (vinte e dois) eram policiais civis; 04 (quatro) eram
policiais rodoviários federais e 01 (um) era policial federal; 233 (duzentos e trinta e três) estavam de
serviço; 132 (cento e trinta e dois) estavam de folga; 21 (vinte e um) eram reformados, 02 (dois)
aposentados, 01 (um) era recruta e 136 (cento e trinta e seis) foram atingidos em áreas pacificadas.
Na segunda-feira, dia 23 de janeiro de 2017, no Jornal da Manhã da Rádio Capital, situada na
cidade de Cascavel – PR, considerando duas mortes seguidas de policiais na cidade, foi divulgado
que a cada 17 (dezessete) horas, 01 (um) policial é morto no Brasil (CAPITAL, 2017).
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Portanto, a necessidade de se resguardar tanto a função pública como a vida dos agentes que
exercem os cargos e função pública é de extrema relevância, como salienta Bitencourt (2015),
motivo pelo qual são importantes bens jurídicos tutelados pelo direito penal.
3. METODOLOGIA
Para realização do ensaio, objetivou-se a confecção de um texto científico, onde foram
aplicadas as metodologias a seguir listadas.
Como método de abordagem utilizou-se o dedutivo, relacionando enunciados básicos,
denominadas premissas, tirando uma conclusão das legislações, textos científicos e pensamentos
doutrinários encontrados sobre o tema, de forma a analisar a melhor resposta para o caso e tema ora
investigado.
Como procedimento, a pesquisa científica efetivada teve como intuito a confecção do presente
ensaio teórico, explorando a legislação, a doutrina e artigos para, então, fazer uma análise
comparativa dos pensamentos dos diversos estudiosos sobre o assunto, de acordo com a discussão
proposta para o ensaio que era justamente analisar a qualificadora antes listada do crime de
homicídio como instrumento para obstar a prática de crime no corpo social, em especial, em
desfavor das vítimas especificadas no § 2º, inciso VII do artigo 121 do Código Penal brasileiro.
Por fim, como técnicas de pesquisa foram adotadas a bibliográfica, documental e legislativa,
englobando artigos de revista e internet, jornais, de forma a alcançar os objetivos propostos para a
realização do ensaio teórico.
4. ANÁLISES E DISCUSSÕES
Embora a vigência, vários são os posicionamentos jurídicos sobre o tema, tanto que o
especialista em criminologia e segurança pública, Washington Pépe (2015), elenca que a lei em si
não fará com que criminosos parem de matar policiais e seus familiares, como ocorreu com o
feminicídio, com a Lei Maria da Penha, ou outras que por meio de sanção tentem obstar a prática de
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delitos na sociedade, até pelo fato de esclarecer que um homicídio praticado contra um agente da lei
já está inserido no rol dos incisos do parágrafo 2º (segundo) do artigo 121 do Código Penal.
Criticamente, aborda o fato de que no Poder Legislativo Nacional tudo é possível, bastando,
“encomendar uma lei” como por Pépe (2015) é mencionado, salientando que não se resolve o
problema da criminalidade somente com a criação de leis, e sim com políticas públicas voltadas
para a população, para os agentes de segurança, bem como para os marginais, asseverando que,
além do exposto, na atualidade se defronta com a questão do que chama de “criminologia
midiática”, asseverando e questionando:
[…] de uma hora para outra todos os apresentadores de TV se tornaram especialistas emsegurança e exigem cada vez mais medidas que aumentem o número de prisões eencarceramento de pessoas ligadas ao crime, não se fala em prevenção, apenas prendemoscada vez mais, o sistema prisional brasileiro é uma bomba relógio, a qualquer momento iráexplodir e a sociedade como sempre será a única vítima. No que diz respeito aos policiais, oGoverno, se quisesse realmente diminuir as mortes poderia criar diversos programas sociaisque surtiriam um resultado bem melhor do que a edição de uma lei redundante e inócua.Que tal criar programas habitacionais que dê condições aos policias que são vizinhos detraficantes de se mudarem para lugares com melhores condições de vizinhança? Que talpagar salários dignos para que o policial não precise fazer segurança privada em mercados,etc.? […] (PÉPE, 2015, p. 03).
Há quem diga, também, que a lei ora vigente é espécie de resposta social, frente as injustiças
cometidas, as crises políticas e sociais apreciadas pelo corpo social e as próprias manifestações
sociais perpetradas pela sociedade, no intuito de se passar para os membros a ideia de justiça. Lopes
(et al., 2016) elenca que a legislação apontada foi aceita com grande satisfação por parte dos
membros sociais, prestigiada e elogiada por muitos setores da sociedade, como uma resposta por
parte dos legisladores na luta contra os crimes que são praticados em desfavor das pessoas
específicas, vítima do crime ora em análise. Todavia, critica a nova legislação, aduzindo ser uma
forma de resposta imediatista em razão da cobrança social, em nada inovando, pelo fato de
anteriormente se poder os autores dos crimes de homicídios praticados em desfavor, por exemplo,
de policiais militares ou civis, havendo, inclusive, uma tendência dos Tribunais de Justiça dos
Estados em absorver os delitos praticados nestes moldes, como sendo por motivo fútil.
Listados estudiosos também asseveram quanto a cautela que se deve ter para não ocorrer um
certo favoritismo em relação aos parentes que a nova qualificadora visa proteger ou mesmo a
utilização do motivo fútil de forma desmoderada (LOPES, et al., 2016).
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Em diversa perspectiva, ainda não abordada, não só em relação ao tema, mas em relação ao
direito penal em si, importante consideração fazem Suzuki e Braga (2016), abordando as questões
da criminalidade, da industrialização, modernidade e globalização, abordando, também, as questões
do discurso midiático. Veja-se:
A expectativa de poder conter e controlar todos os problemas sociais faz do Direito Penalum mecanismo não mais que simbólico […]. Pretende-se a construção de um Estado Penal.Eis que surge a perplexidade levantada por Francos Ost: Será o regresso do medo hobbianoe dos reflexos de segurança ou o sobressalto de racionalidade inspirado pela 'heurística dotemor' no sentido de Hans Jones, o respeito do princípio de precaução face aos grandesriscos tecnológicos […]. Ao que tudo indica, diante da expansão, bem como da hipertrofiado Direito Penal, caminha-se do direito penal do risco para o risco do direito penal […]. Opróprio Direito Penal, com este discurso midiático inflamado, tornou-se um risco social(SUZUKI e BRAGA, 2016, p. 115).
Portanto, há quem concorde e quem discorde dos propósitos da lei que teve como objetiva
tutelar, em especial, o direito à vida e a função pública exercida pelas pessoas específicas que
podem ser vítima do crime do homicídio funcional.
Quiçá a lei possa ser instrumento de combate ao policídio, vez que visa, ao menos
abstratamente, evitar o delito, preservando as pessoas que exercem o cargo e a função pública, em
especial, na linha de combate à violência e à criminalidade.
Uma coisa também é certa, praticado o crime, considerando a norma em vigor, preenchidos os
requisitos, o caso concreto a ser analisado pelo Poder Judiciário será tipificado como homicídio
funcional, o que, pode sim, em razão da pena, obstar a prática do crime, considerando a prevenção
geral da pena (BITENCOURT, 2012), salvo, para que inúmeras tipificações de condutas
permissivas e omissivas na lei. Há esperança, para que os exercentes das funções públicas possam
fiel desempenhar suas funções de acordo com as nomeações, em especial a frente que visa combater
o crime organizado, o tráfico de drogas, os crimes contra o patrimônio, a exploração sexual, dentre
tantos outros que são prejudiciais ao corpo social.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensaio teórico teve por objetivo analisar o crime denominado e tipificado na atualidade
como homicídio funcional.
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Pelas disposições legislativas identifica-se que há uma séria de pessoas específicas que podem
ser vítimas do crime, figurando como sujeito passivo do delito, para que então o ato prática
transportado da norma abstrata possa ser reconhecido como policídio.
O que não é consenso ainda é o fato dos filhos adotivos, em razão do parentesco civil,
poderem figurar como vítimas do crime. Igualmente, a peculiar situação dos aposentados deverá ser
analisada de acordo com cada caso concreto, considerando a possibilidade da tipificação do
policídio se o crime foi cometido em razão da função exercida.
Outra questão que ficou clara é o fato da necessidade do autor do crime ter conhecimento da
condição da vítima como listada nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal.
A dúvida acerca dos agentes de segurança viária e guarda municipais serem tidos como vítima
do crime também foi sanada, considerando que estão listados nos parágrafos do artigo 144 da Carta
Magna, como anteriormente identificado.
Destacou-se o fato, que até então era desconhecido, acerca dos bens jurídicos tutelados pelo
policídio, quais sejam, a vida e a função pública exercida pelas pessoas que podem ser consideradas
vítimas do homicídio funcional.
Nesse sentido, quando da elaboração do projeto de pesquisa para realização do texto científico
que se almejava produzir, duas foram as hipóteses criadas para o problema de pesquisa no sentido
de identificar se a nova qualificadora é capaz de obstar a prática de crimes praticados, em especial,
em desfavor de policiais civis e militares, considerando os alarmes números de mortes dos citados
agentes da autoridade no Brasil, onde se tem uma média de morte de policial a cada 17 (dezessete)
horas.
Assim, a primeira hipótese foi positiva, no sentido de que com a vigência da novatio legis in
pejus, é possível asseverar que os índices de crimes de homicídio praticados em desfavor de agentes
da autoridade reduzirão, considerando o tempo de privação da liberdade abstratamente previsto na
norma a ser cumprido por eventual condenado pelo Tribunal do Júri.
Quanto a esta hipótese é possível atestar que pela norma abstratamente prevista em lei, de
fato, a nova lei penal pode ser entendida como instrumento de combate ao homicídio funcional,
considerando a majoração da pena para quem se enquadrar na listada tipificação, e isso como forma
de resguardar a vida do membro social e a vida, também, do exercente da função pública, essencial
no combate à criminalidade e à violência, em prol da segurança social e do usufruir dos direitos
fundamentais listados na Constituição Federal em prol de todo o cidadão.
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Conjuntamente com a referida hipótese entendeu-se, a priori, pela necessidade de ser
divulgada informação midiática acerca da alteração legislativa, sendo prudente a medida, a ser
pensada e adotada pelo Governo Nacional, por meio do Ministério da Justiça, como forma de
prevenção geral e política criminal. Reitera-se, ainda, a hipótese anteriormente listada, a entendendo
como pertinente.
A segunda hipótese tratou do dolo, da vontade livre e consciente em querer praticar o crime.
Nesse contexto, em razão do dolo, da vontade livre e consciente do sujeito, autor do crime, em
querer, de fato, praticar o delito de homicídio em desfavor das pessoas e agentes especificados pela
Lei n.º 13.142/2015, mesmo havendo massiva divulgação da novel legislação, supõe-se que
dificilmente a alteração legislativa atualmente vigente é motivo suficiente para obstar a prática do
crime.
De fato, havendo a vontade, o livre arbítrio em querer praticar o policídio, nem a pena fará
com que o agente ativo deixe de consumar ou tentar consumar o delito. Todavia, as consequências
da lei são fato. Nesse contexto, se não há possibilidade da lei e da pena como forma de prevenção
geral obstar a prática do crime, a nova qualificado é eficaz no sentido de mais severamente punir o
autor do listado delito.
Assim, identifica-se que nenhuma das duas hipóteses estavam erradas, encontrando guarida de
acordo com a pesquisa científica efetivada.
Acredita-se nesse diapasão, que a nova qualificadora é forma sim de obstar o delito, e na
impossibilidade, mais severamente punirá o sujeito ativo do policídio.
REFERÊNCIAS
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