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IDENTIDADE: CONTEXTO SOCIAL E INTERAÇÕES MEDIADAS NA
CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA
Jaqueline Quincozes da Silva Kegler1
José Marcos Froehlich2
Resumo
Este artigo aborda as implicações do contexto social global e em rede para a noção de
identidade, especificamente as relações históricas entre as interações mediadas e os
processos de identificação na construção identitária. Inicialmente, articula as
características dos contextos sociais, das formas de comunicação e das noções de sujeito
frente à concepção de identidade em períodos históricos pretéritos. Em seqüência, ao
discutir o processo de identificação, relaciona a perspectiva interacionista com a
proposta teórica de McLuhan (1971), a fim de refletir sobre as interações humanas
midiatizadas e a construção identitária contemporânea.
Palavras – chave
Identidade; comunicação social; midiatização, sujeito.
Abstract
This article discusses the implications of the social and global context to the notion of
identity, specifically the historical relations between the mediated interactions and
identification processes in identity construction. Initially, articulates the characteristics
of social contexts, forms of communication and notions of subject facing the concept of
identity in historical past tenses periods. In sequence, to discuss the identification
process, the interactionist perspective relates to the theoretical proposal of McLuhan
(1971), to reflect about mediatizated human interactions and contemporary identity
construction.
Keywords
Identity; social communication; mediatization; subject.
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Comunicación y Derechos Humanos NÚMERO 81 NOVIEMBRE 2012 - ENERO 2013
Introdução
Stuart Hall (2000) aponta que a essência das discussões em torno da temática
identidade, em especial na teoria social, relaciona-se com a questão da estabilidade, ou
melhor, da estabilidade em declínio, “as velhas identidades, que por tanto tempo
estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades
fragmentando o indivíduo moderno” (2000, p. 7). O sujeito que era visto como ser
unificado passa a ser fragmentado e instável, o que para muitos pode significar uma
crise.
A crise da identidade configura-se como um processo amplo de mudança que desloca as
estruturas e processos sociais centrais, causando também a transformação nos quadros
de referência que davam a aparente estabilidade da vida social (Hall, 2000). O primeiro
impulso ao se abordar a temática de identidade é buscar a sua definição e descrição
empírica. Em contraponto, aos poucos, percebe-se a dificuldade de apreensão da
identidade enquanto um objeto ou fenômeno consistente, visível e passível de análise
imediata.
Podemos considerar que a identidade tem sua construção e sentido condicionados a um
contexto social e aos meios de comunicação disponíveis. Esta associação é a que
fazemos para compreender brevemente a transformação da concepção de identidade até
os dias atuais, quando a identidade territorial pode ser utilizada como uma estratégia de
desenvolvimento e instrumentalizada a partir de festividades e seus processos de
comunicação3.
Consideramos que três períodos diferenciam, pelas suas características históricas,
sociais e culturais, o que é reconhecido como identidade. Destes três, os dois últimos
são relevantes para o nosso estudo, pois denotam a transição contemporânea da
concepção. A segunda fase ocorre entre o século XIX e meados do século XX, já a
terceira é marcada pelas transformações econômicas da década de 1970 e ainda está em
curso atualmente.
Comparamos estes períodos com os sujeitos propostos por Hall (2000) no entendimento
da transformação da identidade. A transitoriedade da identidade é explicada por Hall
(2000) a partir das características do sujeito do Iluminismo, que se transforma no sujeito
sociológico, chegando até o sujeito pós-moderno4. Nestas transformações, em relação à
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identidade, “é impossível oferecer afirmações conclusivas ou fazer julgamentos seguros
sobre as alegações e proposições teóricas que estão sendo apresentadas” (Hall, 2000, p.
8), pois o sujeito que possuía uma identidade clara, definida e coerente com seu espaço
sociocultural passa a ter, antes mesmo de sua identidade, processos centrais de
referência que constroem as identidades deslocadas, flexíveis e com aparência de
desordem instável.
O artigo então se desenvolve através da articulação entre as características próprias de
cada um dos três períodos, os respectivos meios de comunicação de cada época e as
concepções de sujeito relacionadas. Acreditamos que pela conjunção destas
informações, temos premissas teóricas que contribuem para a compreensão da
identidade, em especial, da sua concepção contemporânea.
1. Contexto social, comunicação e sujeito diante da noção de identidade
Antes dos períodos (posteriores ao século XIX) que serão mais detalhados neste estudo,
a identidade foi influenciada pelas transformações que ocorrem até o século XVIII e
instituem a sociedade moderna, especialmente quando relacionada à construção e
legitimação dos Estados-nação, com o auxílio de publicações impressas, como panfletos
e livros, visto que a prensa tipográfica foi criada por Gutenberg por volta do ano 1440.
Inicia-se a relevância dos meios técnicos de comunicação como produtores e
disseminadores de formas simbólicas, mediando a cultura e construindo identidades
nacionais. Nesta época ocorre a Reforma Protestante que se baseia em estratégias de
comunicação para consolidar-se e configura-se como principal exemplo de apropriação
dos meios de comunicação do período. A produção era incipiente e o consumo era
limitado a uma elite culta e dominante. O caráter comercial que potencializa o poder
simbólico dos meios e amplia seu acesso só é definido mais claramente a partir do
século XIX (Thompson, 2008).
O primeiro período relaciona-se ao sujeito do Iluminismo, o qual reflete a suposta
unicidade da pessoa humana e a sua capacidade de razão, de consciência e de ação
estabelecida em seu centro interior, que nascia com o indivíduo e não se modificava no
decorrer dos anos, “o centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa” (Hall,
2000, p. 11). O Iluminismo5 considerava o progresso dependente de uma ruptura com a
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história e com a tradição, além disto, não reconhecia a multiplicidade de sistemas
divergentes de representação, ideias predominantes até a Primeira Guerra Mundial
(1918), mesmo com a existência de formas simbólicas “marginais”. Baseados em
instrumentos funcionais, como mapas e cronômetros, os iluministas definiam fronteiras
e limites de propriedade. Paradoxalmente, havia uma visão totalizante do globo e uma
apreciação, pelo sujeito absoluto, das peculiaridades dos povos (Harvey, 2010).
De acordo com Harvey (2010) o sujeito fragmentado surge no lugar da alienação. Pois o
sujeito alienado necessário ao projeto do Iluminismo não é mais condição para a busca
de um futuro alternativo, já que o pluralismo de respostas possíveis diante de um
questionamento foi reconhecido em contraponto ao caminho linear e absoluto e a um
único modo de representação. Enfim, a sociedade neste período baseava-se na
estabilidade da identidade do eu e em sua unidade, sendo que, sem meios de
comunicação que estimulassem a produção de formas simbólicas múltiplas e com
transmissão e difusão generalizada, as representações eram concebidas como
homogêneas e absolutas.
O segundo período ocorre entre o século XIX até, aproximadamente, a Segunda Guerra
Mundial, sendo acompanhado pelo desenvolvimento do Estado-nação como
concebemos hoje, fruto de um longo processo que perpassa séculos de transformações.
Seu delineamento mais claro ocorre no século XX. A relevância deve-se à necessidade
do Estado em desenvolver a identidade nacional e promover o sentimento de pertença
em seu povo, para assim, se estruturar.
A formação dos estados modernos, tanto na Europa quanto em
outras regiões do mundo, foi entremeada de muitas e complexas
maneiras com a criação de símbolos e de sentimentos de
identidade nacional. O estabelecimento de um estado forte
geralmente precedeu a formação de um forte sentido de
identidade nacional dentro de suas fronteiras - algo que
permaneceu, de qualquer maneira, uma questão profundamente
disputada e inapreensível da vida política moderna. Identidade
nacional poderia ser definida grosso modo como um sentido de
pertença a uma pátria ou a uma nação particular, partilhando
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direitos, deveres e tradições comuns. Como muitos estados
modernos nasceram de forçada incorporação de populações
diversas em unidades territoriais contestadas, um sentido claro
de identidade nacional raramente esteve presente nas primeiras
fases da edificação do estado (Thompson, 2008, p. 52).
A ideia de identidade existia como uma ficção solidificada em um fato diante da crise
de pertencimento ou da necessidade do sentimento de pertencimento; assim, a realidade
é construída mediante a ideia imaginada. Entendemos que, em seu princípio, enquanto
identidade nacional, a identidade foi inventada pelo Estado e consolidada pela nação, ou
seja, pelas pessoas que constituem este Estado-nação. Assim, “se o Estado era a
concretização do futuro da nação, era também uma condição necessária para haver uma
nação proclamando - em voz alta, confiante e de modo eficaz - um destino
compartilhado” (Bauman, 2005, p. 27); porém, para proclamar era preciso a partilha
deste desejo, muitas vezes alcançada com o auxílio dos meios e ações de comunicação
social.
Conforme referencia Thompson (2008), Benedict Anderson (2006) afirma que o
desenvolvimento da imprensa foi como uma das condições para a emergência da
consciência nacional. A invenção e a manutenção do sentido identitário de nação trazia
benefícios aos governantes políticos do Estado, pois dava visibilidade a um “estado
nacional consolidado”, o que, de certa forma, o protegia e o afastava de manifestações e
intenções separatistas, ao mesmo tempo em que poderia facilitar a mobilização para fins
militares, por exemplo. Consideramos que a constituição da identidade estado nacional
consolidado teve como aporte necessário o desenvolvimento dos meios de comunicação
de massa6 pioneiros, ou seja, a imprensa, a qual permitia que as novas ideias e os
símbolos fossem expressos e difusos através de uma linguagem comum à pluralidade
dos grupos sociais.
Neste período, o desenvolvimento dos meios de comunicação resulta na constituição da
imprensa periódica em bases comerciais, em especializações dos meios e seus
conteúdos, os quais passaram a ser direcionados a públicos determinados. Os periódicos
eram vendidos por ambulantes e também disponibilizados em cafés, o que fazia com
que o número de leitores fosse bem maior do que a sua tiragem. Neste contexto emerge
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a censura, pelo Estado e Igreja que viam seu domínio simbólico ameaçado, ao lado de
ideais de liberdade de imprensa. No final do século XIX a liberdade de imprensa já era
direito previsto em constituições de alguns estados ocidentais (Thompson, 2008).
De acordo com Harvey (2010), até a década de 1970, período de expansão do pós-
guerra, a base do capitalismo era o conjunto de práticas de controle do trabalho através
de tecnologias de produção e hábitos de consumo. O modelo do sistema era o fordista,
preconizado por Henry Ford que pregava que a produção em massa dependia do
consumo em massa. O modelo fordista começa com ênfase na produção, único fator de
que dependia o consumo. Em seguida, com o aumento da concorrência alia a produção à
comunicação voltada para as vendas, porém, o fordismo não consegue alcançar o foco
no público, perspectiva que só é exercida a partir do modelo de acumulação flexível.
A partir da Segunda Guerra Mundial, o fordismo se fortalece e ganha status de modo de
vida, em que o mais importante era o consumo em massa de produtos com ênfase
estética, até mesmo, produtos culturais passam a ser reconhecidos como mercadorias. A
fragilidade do fordismo aumenta na medida em que uma minoria era beneficiada por
sua lógica, aumentando assim as desigualdades e tensões sociais. As contraculturas
estabelecidas como movimentos sociais nos anos de 1960 refletem o descontentamento
com o progresso baseado no fordismo.
Nas relações de consumo fordistas, a identidade denota estabilidade e homogeneidade,
ou seja, considerava-se o consumidor como massa uniforme, capaz de comprar baseado
apenas nas condições do produto e da venda, sem avaliar seus anseios e necessidades
pessoais. A concepção de comunicação de massa era usual e não com o significado
apresentado por Thompson (2008) de difusão generalizada, e sim, pela caracterização
do público como um conglomerado, um grupo amplo e genérico de consumidores.
Os meios de comunicação correspondentes à época são o jornal impresso, o rádio e a
televisão, a qual surge na primeira metade do século XX e, aos poucos, populariza-se,
tendo ampla disseminação somente após a Segunda Guerra Mundial. A televisão
constitui-se como o meio de comunicação que conduz à transição do modelo fordista
para o modelo de acumulação flexível e também à transição entre os sujeitos
sociológico e pós-moderno.
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Antecede e contempla o período de transição e o auge da televisão como meio de
representação social, a emergência do interacionismo simbólico. Os interacionistas
simbólicos adotam uma visão interativa dos relacionamentos em suas dimensões
sociais, preocupados com o modo como o eu é apresentado em diferentes situações e
como o conflito entre papéis é negociado. No entanto, críticos alegavam que os
interacionistas mantinham algo do dualismo de Descartes, “especialmente em sua
tendência de construir problema como uma relação entre duas entidades conectadas,
mas separadas: o indivíduo e a sociedade” (Hall, 2000, p. 33).
Simultaneamente ao desenvolvimento da abordagem interacionista, surgem movimentos
estéticos e intelectuais que apontavam para o que iria acontecer com o sujeito
sociológico na pós-modernidade. O sujeito sociológico, que pode representar as
transições culturais e econômicas até, aproximadamente, a metade do século XX, traz a
emergente complexidade do mundo moderno e a “consciência de que este núcleo
interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente” (Hall, 2000, p. 11), mas era
formado em relação aos outros sujeitos através das mediações de sentido.
Essa concepção é a que conduz a relação entre identidade territorial e comunicação
social, e a nossa intenção de compreender os processos midiatizados como construtores
de identidade. Nesse sentido, os interacionistas simbólicos incluem a interatividade das
relações, porém os meios de comunicação e os suportes tecnológicos ainda não são
considerados nesses estudos. Neste trabalho, incorporamos os meios de comunicação às
interações sociais articulando os pressupostos interacionistas com a teoria de Marshall
McLuhan (1971).
Esse posicionamento deve-se ao fato da concepção da identidade e do eu na perspectiva
interacionista ser a concepção sociológica clássica da temática, ou seja, a identidade é
formada através da interação entre o eu e a sociedade. Porém, como afirma Hall (2000,
p. 11), nessa perspectiva o sujeito continua com um núcleo interior que é o seu eu real,
mas este é formado e modificado através de um diálogo contínuo com os mundos
culturais externos e as identidades que esses mundos promovem.
Ainda, no enfoque de sujeito sociológico, a identidade serve como elo entre o mundo
individual e o ambiente, ou entre o pessoal e o público, o sujeito e a estrutura, e teria um
caráter de certo modo estável. Pois, conforme afirma Hall (2000), estabilizaria tanto os
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sujeitos quanto os mundos culturais, supostamente tornando ambos mais unificados e
predizíveis. No entanto, o autor ressalta que é exatamente essa estabilidade que está
mudando, pois o sujeito fragmenta-se em identidades, às vezes até contraditórias ou
não resolvidas, constituindo o que denomina sujeito pós-moderno, pois as identidades,
que asseguram certa “conformidade subjetiva com as necessidades objetivas da
cultura”, sofrem as mudanças estruturais e institucionais, tornando-se mais provisórias e
variáveis (Hall, 2000, p. 12).
As identidades múltiplas são possíveis a partir do momento em que as sólidas
localizações em classes, etnias, gênero e nacionalidade, próprias da fase social ditada
pelo capitalismo fordista, passam a transformarem-se em paisagens fragmentadas,
plurais e híbridas. Os rótulos estanques de representação podem unir-se em função de
uma nova identidade, agrupando o que antes era distanciado pela classificação e
estabilidade. Com base em Bauman (2005), entendemos que o questionamento acerca
da identidade só emerge quando essas referências sólidas deixam de existir sozinhas,
passam a ter referências concorrentes e que estão disponibilizadas nas estantes do
cotidiano social à disposição dos sujeitos para construir a sua identidade pessoal ou
coletiva.
Diante disto, a televisão exerceu papel preponderante para a viabilização da prática pós-
moderna. Harvey (2010) considera que a televisão deve ser vista como produto do
capitalismo avançado, ou seja, situa-se no contexto de promoção de cultura do
consumismo, produção de necessidades e desejos e até mesmo mobilização dos desejos.
Pela televisão, novas referências são representadas, visibilizadas e disponibilizadas para
apropriação como um novo elemento de consumo e de identificação do sujeito pelo seu
uso.
Há uma pluralização das formas simbólicas, a qual é impulsionada pelo aumento da sua
produção e do seu consumo, derivados da emergência dos meios de comunicação social,
em especial nesta época, dos meios com difusão generalizada de formas simbólicas. A
isto, agrega-se a fragmentação da arte e sua integração à cultura popular, de forma que
esta integração passa a conquistar espaços de visibilidade pública, como as praças
públicas ou mesmo em apresentações midiáticas. Estes elementos atuam como um
impulso ao cenário pós-moderno, pois a história, a tradição e a herança, aos poucos, são
acionadas pelos seus valores econômicos; o que caracteriza o terceiro período definido a
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partir da década de 1970 em que à indústria de produtos congrega-se à indústria da
herança (Harvey, 2010).
Entendemos que a fascinação pela diferença e o reconhecimento da alteridade emergem
a partir dos anos 1960 de forma mais clara através do que Harvey (2010) considera
como sendo os movimentos antimodernos, especialmente os de 1968, que, na verdade,
posicionavam-se contra a alta cultura modernista. Como afirma Harvey (2010, p. 44)
“foi quase como se as pretensões universais da modernidade tivessem, quando
combinado com o capitalismo liberal e o imperialismo, tido um sucesso tão grande que
fornecessem um fundamento material e político para um movimento de resistência”.
É no período pós 1960 que emerge o pós-modernismo caracterizado pela aceitação do
efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico, porém, sem tentar mudá-los
como o modernismo tinha pretensão. Tanto o modernismo como o pós-modernismo são
respostas, em grande medida, respostas estéticas, a condições de modernidade, as quais
são produzidas por um processo de modernização (Harvey, 2010). Ao compreendermos
a natureza da modernização, que para Harvey (2010) ancora-se na transformação do
capitalismo fordista para o capitalismo de acumulação flexível, podemos inferir que o
pós-modernismo é uma reação diferente do modernismo às transformações do capital,
pautando-se pela produção de mercadorias regida pela inovação estética, o que é
exigido pelo modelo capitalista vigente.
Harvey (2010) propõe que a partir do final do século XX começa a operar uma
transformação na economia e na política do capitalismo. O autor relata os eventos
ocorridos a partir da Segunda Guerra Mundial, dentre eles a recessão econômica de
1973, como propulsores desta transformação: do capitalismo de modelo fordista para o
capitalismo de modelo de acumulação flexível. O segundo modelo firma-se como
referência na década de 1980, caracterizado especialmente por: flexibilidade,
mobilidade, novos setores, compressão espaço-tempo e inovação em comunicação e
transporte. Conforme Harvey (2010, p. 148):
[...] a acumulação flexível foi acompanhada na ponta do
consumo, portanto, por uma atenção muito maior às modas
fugazes e pela mobilização de todos os artifícios de indução de
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necessidades e de transformação cultural que isso implica. A
estética relativamente estável do modernismo fordista cedeu
lugar a todo o fermento, instabilidade e qualidades fugidias de
uma estética pós-moderna que celebra a diferença, a
efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercadificação de formas
culturais (Harvey, 2010, p. 148).
Nesse contexto, a globalização, na forma de acumulação flexível e da estratégia de
criação de nichos de mercado, explora e estimula a diferenciação local, por isso,
pensamos em uma articulação entre o global e o local. Podemos escolher ser nação, ser
local, ser e construir um território, e mais do que isso, podemos gerenciar sentidos de
identidade, o que depende do polo em que nos encontramos, enquanto atores e
instituições sociais, e dos recursos disponíveis que podemos mobilizar. Porém, tudo isso
está diante da mercadificação da cultura e da etnia (Harvey, 2010), e do nosso poder
diante da lógica do capital, que neste estudo é representado pela midiatização.
A disputa é inerente ao processo de construção identitária e, como afirma Bauman
(2005, p. 44) “a identificação é também um fator poderoso na estratificação, uma de
suas dimensões mais divisivas e fortemente diferenciadoras”. A partir de Bauman
(2005), entendemos que existem dois polos na hierarquia global emergente: a) um
caracterizado pela capacidade de atores e instituições sociais de articular e desarticular
identidades mais voluntariamente, escolhendo os elementos que lhes são mais
benéficos; b) o outro caracterizado pela incapacidade ou pelo não acesso aos meios que
lhes possibilitariam o exercício da capacidade de escolher sua identidade. Assim, tendo
seus direitos de escolha e manifestação das suas preferências negadas, “se vêem
oprimidos por identidades aplicadas e impostas por outros - identidades de que eles
próprios se ressentem, mas não tem permissão de abandonar nem das quais conseguem
se livrar” (Bauman, 2005, p. 44).
Se apreciarmos a existências desses dois polos, podemos inferir que os discursos estão
visíveis em sistemas de representação sociais, a identidade é inventada por atores e
instituições que possuem acessos aos dispositivos que lhe garantem a construção, a
disseminação e a manutenção identitária. Acrescentamos elementos definidores da
atuação nos polos: 1) a capacidade e o interesse em mobilizar os meios; 2) a capacidade
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e o interesse de mobilizar conhecimento, em prol de uma identidade, visto que é
possível estarmos no polo capaz de articular identidades e possuir acesso aos meios e
recursos necessários para isso, mas não possuirmos interesse e motivação para
mobilizá-los na construção identitária.
Além de tais polarizações, devemos considerar o que Harvey (2010) propõe diante da
impossibilidade de estarmos fora da lógica do modelo de acumulação flexível de
capital, pois, mesmo nas diferenciações identitárias como resistências o capital continua
a dominar. Para o autor, as alteridades regionais, próprias do pós-modernismo, podem
surgir em locais específicos, “mas, com muita frequência, estão sujeitas ao poder que o
capital tem sobre a coordenação do espaço fragmentado universal e da marcha do tempo
histórico global do capitalismo, que está além do alcance de qualquer delas” (Harvey,
2010, p. 218). Portanto, a lógica da globalização, a que se refere Hall (2000), implica a
lógica do capital e, também, a lógica da midiatização. São dinâmicas que coexistem e
delineiam os processos sociais atuais.
Essas polarizações e a flexibilidade com que são dinamizadas refletem no sujeito desse
período. Compreendemos que o sujeito pós-moderno proposto por Hall (2000) é
produto do modo capitalista de acumulação flexível. Pois, como propõe Harvey (2010),
a busca de uma identidade pode estar pautada pela insegurança e instabilidade própria
da condição pós-moderna, além disso, é no momento em que as barreiras de sentido são
extrapoladas que as pessoas passam a ter novos elementos para a identificação.
Ainda, o que Bauman (2005) propõe em relação à identidade líquida, referente à fluidez
das identidades da contemporaneidade, corresponde ao que Hall (2000) define como as
identidades impulsionadas pelo sujeito pós-moderno. Bauman (2005, p. 25), afirma que
a pergunta “Quem é você?” tem sentido somente se a pessoa a quem dirigimos a
questão acredita que possa ser outra coisa além do que é: “[...] só se você tem uma
escolha, e só se o que você escolhe depende de você; ou seja, só se você tem de fazer
alguma coisa para que a escolha seja ‘real’ e se sustente”.
A identidade torna-se uma celebração móvel: formada e transformada continuamente
em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam (Hall, 2000). Entendemos, a partir disso, que ao contrário de
uma identidade unificada, somos cercados de múltiplas identidades possíveis, as quais
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ainda são mutáveis, devido à evolução e multiplicação dos sistemas de significação e
representação cultural, como os próprios processos de midiatização.
Diante das descentrações do sujeito, temos que o sujeito contemporâneo é fragmentado
frente a suas identidades. Bauman (2005) opõe a construção da identidade à lógica do
quebra-cabeça, pois não segue um objetivo já definido como o jogo referido, afirma que
na construção da identidade o trabalho concentra-se nos meios.
Não se começa pela imagem final, mas por uma série de peças já
obtidas ou que pareçam valer a pena ter, e então se tenta
descobrir como é possível agrupá-las e reagrupá-las para montar
imagens (quantas?) agradáveis. Você está experimentando com
o que tem. Seu problema não é o que você precisa para chegar
lá, ao ponto que pretende alcançar, mas quais os pontos que
podem ser alcançados com os recursos que você já possui, e
quais deles merecem os esforços para serem alcançados
(Bauman, 2005, p. 55).
A escolha e a ligação das peças, ou dos fragmentos, dispostos para a construção
identitária, da mesma forma que os dispositivos discursivos utilizados para sua
visibilidade e reconhecimento, ou seja, a valoração como os meios que valem a pena
agrupar, são pautados por relações de poder, nem sempre explícitas. Mas, como ressalta
Bauman (2005, p. 83) “a identidade - sejamos claros sobre isso - é um ‘conceito
altamente contestado’. Sempre que se ouvir essa palavra, pode-se estar certo de que está
havendo uma batalha”. Entendemos que o jogo de poder é manifestado conforme o
contexto social e político de uma comunidade, influenciando, assim, nas escolhas das
estratégias de representação daquele dado tempo e espaço social e cultural. Houve,
conforme Bauman (2005), uma proliferação dos campos de batalha dos sentidos que
buscavam o reconhecimento das identidades. Podemos inferir que nessa luta por
reconhecimento institui-se a estratificação que diferencia grupos.
Diante dessa pluralidade, há pontos de vista que consideram o hibridismo e a fusão de
elementos culturais diferentes, ou até antagônicos, em um só elemento, continuando
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perceptíveis alguns traços originários, como fonte criativa de construção de novas
formas de cultura, mais adequadas ao contexto atual. Entretanto, pontos de vista
contrários alegam que esse hibridismo tem seus perigos, em especial devido ao
relativismo que implica.
No processo de construção identitária a apropriação do sentido7 e sua disseminação são
difusas e generalizadas, de difícil apreensão diante das contradições próprias das
relações globais de interesses múltiplos. Na construção identitária, aliada ao jogo de
poder, pautado pelas diferenças, encontra-se a representação que cada campo ou ator
social possui acerca do tempo e espaço contemporâneo e os dispositivos que possuem
para atuarem neste contexto. Conforme Hall (2000) afirma, o tempo e o espaço são as
coordenadas básicas dos sistemas de representação.
O tempo e o espaço atual têm como principal sistema de representação a mídia e suas
adaptações frente à tecnologia e à difusão dos meios. Então, as instituições e sujeitos
possuem a prerrogativa de adaptarem-se ao sistema atual de representação, combinando
os três aspectos: tempo, espaço e sistema de representação. Assim, como a “identidade
está profundamente envolvida no processo de representação” a moldura maleável das
relações entre tempo e espaço “têm efeitos profundos sobre a forma como as
identidades são localizadas e representadas” (Hall, 2000, p. 71).
A relevância do tempo e do espaço em relação ao processo de representação
contemporâneos apresentada por Hall (2000) é tema da obra de Harvey (2010) A
condição pós-moderna. A tese de Harvey (2010) baseia-se no fato de que, a partir da
década de 1970, consolidaram-se mudanças significativas nas práticas culturais,
políticas e econômicas ocasionadas por novas formas dominantes de experimentar o
espaço-tempo. O autor designa três fatores inter-relacionados que impulsionam tais
mudanças: a) a ascensão de formas culturais pós-modernas, b) a emergência de modos
flexíveis de acumulação e, c) o novo ciclo de compressão do tempo-espaço8 na
organização do capitalismo. Sendo que os dois últimos fatores são fundantes do
primeiro fator, a ascensão cultural pós-moderna. Diante disto, defende que o que há não
é uma nova sociedade pós-industrial e sim, uma nova condição cultural e histórica, a
condição pós-moderna.
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Atualmente, a valorização da estética pode ser observada em perfis de pessoas e
organizações em redes sociais que utilizam como recursos elementos identitários
fugazes. Blogs, sites e mídias sociais, refletem, em certa medida, os fluxos simbólicos
culturais frente ao consumismo global que possibilita a existência de identidades
compartilhadas, como consumidores para os mesmos bens, clientes para os mesmos
serviços, públicos para as mesmas mensagens e imagens - entre pessoas que estão
distantes umas das outras no espaço e no tempo. Entretanto, as mídias digitais
contemporâneas não representam apenas uma extensão da lógica de representação
gerida pela televisão a partir da década de 1950. Entendemos que as mídias ancoradas
na internet incorporam as lógicas de outros meios e as transformam devido às
peculiaridades das interações que, através dela, podem ser estabelecidas, devido ao seu
potencial de interatividade, hipermedialidade e multimedialidade9.
Simultaneamente, é possível reconhecer indícios de identidades fragmentadas e até
contraditórias concentradas em uma mesma pessoa. Como afirma Hall (2000, p. 75):
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global
de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas
imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente
interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas,
desalojadas - de tempos, lugares históricos e tradições
específicos e parecem ‘flutuar livremente’ (Hall, 2000, p. 75).
Mesmo em espaço geográfico de proximidade, as identidades são desvinculadas e
transformadas, o que exige que seus índices e signos de representação de um território,
como marcas, cores, símbolos, estejam sempre disponíveis aos olhos dos cidadãos e
consumidores, seja através de um banner, de um fôlder, ou até mesmo de um
guardanapo utilizado nas refeições de um evento gastronômico. Nesta perspectiva
concordamos com Hall (2000), ao considerar que pensar em homogeneização de
identidades nacionais é simplista e exagerado, pois consideramos que há um contra-
movimento marcado pela fascinação à diferença, pela mercantilização da etnia e pela
alteridade, dentro de espaços menos globais e menos distantes entre si, como é o caso de
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municípios que escolheram, estrategicamente, ser representados como um grupo que
constitui um território.
De acordo com Hall (2000) uma nova identidade pode ter caráter político, caráter
posicional e conjuntural (sua formação em tempos e lugares específicos), de forma que
a identidade e a diferença sejam articuladas em outra identidade, sem que uma anule
completamente a outra. Como vislumbra o autor, estão surgindo identidades culturais
que não são fixas, e sim “suspensas, em transição, entre diferentes posições; que retiram
seus recursos, ao mesmo tempo, de diferentes tradições culturais; e que são o produto
desses complicados cruzamentos e misturas culturais que são cada vez mais comuns
num mundo globalizado” (Hall, 2000, p. 88).
A articulação do local contemporâneo em identidades construídas não deve ser
confundida, como propõe Hall (2000), com as velhas identidades definidas
geograficamente e culturalmente.
Este local não deve, naturalmente, ser confundido com velhas
identidades, firmemente enraizadas em localidades bem
delimitadas. Em vez disso, ele atua no interior da lógica da
globalização. Entretanto, parece improvável que a globalização
vá simplesmente destruir as identidades nacionais. É mais
provável que ela vá produzir, simultaneamente, novas
identificações globais e novas identificações locais (Hall, 2000,
p. 78).
A visibilidade das novas identificações globais e locais depende do grau de habilidade
dos atores e instituições sociais para atuar no jogo discursivo, de apropriar-se dos
dispositivos tecnológicos que funcionam como suportes para o discurso e também de
compreender a lógica da cultura e da identidade, enquanto uma forma simbólica
mercadificada. Entendemos que sem o exercício dessas habilidades e acesso, é possível
a exclusão do “espaço social em que as identidades são buscadas, escolhidas,
construídas, avaliadas, confirmadas ou refutadas” (Bauman, 2005, p. 46). Ainda,
ressalta o autor que “a sociedade deseja apenas que você continue no jogo e tenha fichas
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suficientes para permanecer jogando” (2005, p. 58), sendo papel do Estado, nos dias
atuais, fornecer a liberdade e os recursos para que as comunidades mantenham-se
localmente através dos recursos globais. E o jogo pode implicar, também, em deixar o
território mais atrativo ao fluxo do capital.
Diante do exposto, compreendemos que há diferenças significativas da prática
comunicativa na construção identitária diante das condições, se moderna ou pós-
moderna, visto que as formas de interação e de visibilidade proporcionadas pelos
diferentes meios modificam os processos de identificação e também de construção
identitária. Entretanto, é importante salientar que as condições e as práticas
comunicativas não são substitutas umas das outras, e sim propulsoras, complementares
e inter-relacionadas. A relevância da estética e da imagem atinge a construção
identitária em todas as épocas e, com primazia, na sociedade contemporânea, onde as
interações que as constroem são otimizadas pelas possibilidades tecnológicas que
possibilitam a multimedialidade, integrando as peculiaridades de cada meio em um
único suporte, ou seja, através da internet podemos articular a imagem, o texto e o som
em mensagens interativas. O embasamento desta reflexão é tema da próxima seção.
2 Interações mediadas e processos de identificação
A identidade é revelada na sua própria invenção e não na sua descoberta (Bauman,
2005). Então, o estudo sobre identidade a que nos propusemos tem como alvo os
processos de identificação que permeiam a construção de algo que é tratado, em
discursos e comportamentos de atores sociais. O processo de identificação estrutura-se a
partir das interações e seus meios propulsores. Em termos pragmáticos, podemos
considerar que a identidade é:
[...] o processo de construção de significado com base em um atributo
cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados,
o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado. Para
um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver
identidades múltiplas. No entanto, essa pluralidade é fonte de tensão e
contradição tanto na auto-representação quanto na ação social
(Castells, 2006, p. 22).
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Esse processo de construção é estabelecido a partir de relações comunicativas do sujeito
construtor da identidade e seus sentidos. A diversidade de elementos identitários
disponíveis nas esferas de representação e visibilidade contemporâneas atribui tanto à
identidade, como ao sentimento de pertencimento, um caráter vulnerável à negociação e
aos interesses envolvidos no processo de identificação10
(Woodward, 2009).
Ao pautar a análise das identidades contemporâneas, podemos dizer que a identidade se
constitui na negociação de significados entre atores sociais, os quais, muitas vezes,
unem-se em função de um objetivo comum (projeto, legitimação ou resistência). De
posse dos significados que se quer negociar, partem conscientemente à construção
identitária. Esta construção depende amplamente de dispositivos tecnológicos, enquanto
meios de comunicação, e sua apropriação para uso estratégico na construção de sentidos
através da visibilidade midiática. Logo, a constituição da identidade exige o estar visível
em meios de comunicação a partir de interações sociais.
As interações sociais são intrínsecas e qualificadoras da humanidade; transformam-se
conforme as demandas humanas e, ao buscar ultrapassar as barreiras temporais e
espaciais, evoluem e se complexificam. O interacionismo simbólico foi propulsor do
entendimento da comunicação como um processo não linear, visto que, até a década de
1960 o campo da comunicação tinha como referência dominante a Teoria Matemática
da Comunicação ou Teoria da Informação de Claude Elwood Shannon e Warren
Weaver11
(Mattelart; Mattelart, 2004).
Esta teoria12
considerava a comunicação como um processo linear de envio e
recebimento de informações sem levar em conta as intencionalidades e a influência dos
meios em seus contextos sociais, sendo um dos seus objetivos a quantificação da
informação. A teoria da informação ocupou lugar central a partir dos anos 1940 e
baseava-se nas máquinas de comunicação e na informação como um dado quantitativo e
calculável num cenário de guerra. Em contraponto e também a partir dos anos 1940 “um
grupo de pesquisadores americanos provenientes de horizontes tão diversos [...] tomam
rumo inteiramente contrário ao da teoria matemática [...] em vias de se impor como
dominante” (Mattelart, Matellart, 2004, p. 67). Reconhecido como colégio invisível a
Escola de Palo Alto13
iniciada em 1942 trabalha a partir de um modelo circular
retroativo da comunicação e integra-se à perspectiva teórica já em andamento nesta
época: o interacionismo simbólico, fundado entre 1893 e 1931, que se caracterizava
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como uma corrente de estudos liderada pelo professor George Herbert Mead (1972), da
Universidade de Chicago.
A Escola de Palo Alto contribuiu significativamente para uma teoria sobre os processos
de comunicação como interações, mas foi reconhecida apenas nos anos 1980, com a
crise dos modelos macrossociológicos que emergiram nos anos 1960 através de Erving
Goffman, sociólogo com doutoramento pela Universidade de Chicago, que retomou
estudos acerca do interacionismo simbólico, tendo como motivador os estudos de Georg
Simmel14
, sociólogo alemão.
Goffman (2001) afirma que as interações possuem suas regras próprias, as quais são
externas aos indivíduos. Assim, há uma valorização da relação interdependente entre
indivíduo, meio e seus pares, no qual cada comportamento individual é afetado pelo
comportamento dos outros e a interação é uma série complexa de mensagens entre as
pessoas. Consideramos que os estudos de Goffman (2001) acerca das interações têm
suas bases na proposta de George Mead (1972) e seus seguidores, os quais tinham como
princípio a compreensão da conduta humana sob um olhar social.
A emergência do caráter interpretativo dos fenômenos sociais ocorreu em 1937, após a
denominação da corrente como Interacionismo Simbólico, atribuída pelo sociólogo
Herbert Blumer, ex-aluno e seguidor de George Mead. A corrente estruturava-se na
inter-relação entre psicologia e sociologia, sendo por meio da convergência entre
indivíduo e sociedade que ocorre a comunicação. O processo interativo é estabelecido
na relação entre atores sociais, os quais são mutantes, redefinem-se ininterruptamente,
socializam-se nos processos interativos, possuem aptidões para selecionar estímulos,
atribuir significados, interpretar conjunturas e emitir avaliações sobre si e sobre os
outros (Blumer, 1969).
Assim, “nessa visão circular da comunicação, o receptor tem um papel tão importante
quanto o emissor” (Mattelart; Mattelart, 2004, p. 68). Ao basearem-se em premissas
sistêmicas os pesquisadores da Escola de Palo Alto tinham três hipóteses:
A essência da comunicação reside em processos relacionais e
interacionais (os elementos contam menos que as relações que
se instauram entre eles). Todo comportamento humano possui
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um valor comunicativo (as relações, que se respondem e
implicam mutuamente, podem ser concebidas como um vasto
sistema de comunicação); observando a sucessão de mensagens
situadas no contexto horizontal (a sequência de mensagens
sucessivas) e no contexto vertical (a relação entre os elementos e
o sistema), é possível deduzir uma lógica da comunicação
(Mattelart; Mattelart, 2004, p. 68).
Esta corrente de estudos interessa-se pelos gestos e pelos espaços interpessoais onde
ocorrem as interações. O interacionismo simbólico considera as interações humanas
constituintes do social, dos comportamentos, das significações e das materialidades. Ou
seja, o contexto é tão ou mais importante que o conteúdo das interações. A visão
interacionista valoriza o empirismo e considera cada fenômeno único, visto que a
comunicação se dá na interação indivíduo-sociedade, sendo nesta relação que ocorre a
atribuição de sentidos e de investimentos simbólicos de acordo com a realidade dada e
com o repertório dos sujeitos envolvidos (Kegler; Fossá, 2010). Podemos considerar
que é esta mesma interação que produz as identidades em jogo, através das peças
simbólicas disponíveis e postas em cena.
A circulação de formas simbólicas possui uma função essencial e crescente, é uma
característica onipresente na vida que assume novos contornos frente aos meios técnicos
de produção, de reprodução e de circulação das informações (Thompson, 2008). A
emergência dos meios técnicos impulsionam novas formas de interações e transformam
seu papel diante das demandas sociais (Kegler; Fossá, 2010). Assim, ao articularmos a
ênfase no contexto, própria da perspectiva interacionista, com a ênfase nos meios de
comunicar, própria da Teoria do Meio, podemos visualizar as interações sociais
contemporâneas, em que os processos de comunicação midiatizados constituem e
condicionam a nossa ambiência (Sodré, 2002).
Inicialmente, através das interações sociais face a face, havia o intercâmbio de formas
simbólicas a partir de um ambiente físico compartilhado. Aos poucos, as interações
foram incorporando, às suas possibilidades de realização, novos meios tecnológicos
que, a cada dia, possibilitam a interação com os multisentidos sensoriais, especialmente
através do som, do texto e da imagem, de forma mais qualificada, mesmo que de forma
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mediada. Devido à ampla influência que os meios exercem sobre as interações, a
midiatização atua como um fluido que permeia todos os elementos que interagem e seus
processos sociais.
A construção das identidades ocorre através de interações sociais. Na sociedade
contemporânea as interações, em grande parte, são estabelecidas através dos meios de
comunicação, entre eles, as tecnologias de informação e comunicação. A combinação
entre o Interacionismo Simbólico e a Teoria do Meio tem o propósito de contemplar
esta relação. Consideramos que esta Teoria, de Herbert Marshall McLuhan (1971), pode
representar uma transição do paradigma matemático informacional às formas de
comunicação midiatizadas, as quais integram tanto as interações simbólicas como o
meio técnico. McLuhan (1971) propôs as noções de aldeia global e o meio é a
mensagem, as quais agem como metáforas para a análise das transformações da
sociedade e suas imbricações com a tecnologia.
A passagem de teorias ligadas ao consumo de massa associado ao modelo fordista é
marcada por teorias que remetem à globalização da sociedade. O conceito de sociedade
de massa, a partir do final dos anos 1960, “perde esse estatuto de exclusividade: recebe
novas denominações para caracterizar a sociedade trabalhada pelas tecnologias da
informação e da comunicação [...]. O global ingressa na representação do mundo pelo
viés da comunicação eletrônica” (Mattelart; Mattelart, 2004, p.126).
A audiência passa a viver e participar dos acontecimentos eletronicamente
disseminados, e porque não, midiaticamente construídos. A perspectiva de McLuhan
(1971) tem como objeto o meio de comunicação em si, sem estabelecer a relação entre
os meios de comunicação e as interações entre os sujeitos, buscando compreender como
um novo meio modifica as formas de acesso a informações e reformula a cultura. O
interacionismo simbólico, por sua vez, possui como objeto de estudo o comportamento
humano e social, dando pouca relevância aos efeitos desses meios nas interações e
preocupando-se em descrever situações e comportamentos, conforme características
individuais e contextuais de cada um, que são construídas conforme o acesso à
informação e ao conhecimento.
Na sociedade midiatizada, a análise dos meios e a análise dos comportamentos se
entrecruzam e estabelecem a cultura e os fenômenos de comunicação social. Os meios
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modificam os comportamentos e os comportamentos modificam os meios; é um
processo cíclico e constante. Thompson (1995) afirma que a própria transmissão
cultural e a troca de formas simbólicas são fenômenos sociais, sendo que se estabelecem
por meio da combinação de três modalidades: o meio técnico, o aparato institucional e o
distanciamento espaço- temporal.
Considerações finais
O desenvolvimento tecnológico dos meios intervém na construção identitária, visto que
promove a transformação das formas tradicionais de comunicar e também a
incorporação de novas formas. Essa evolução é um fenômeno cultural gerenciado pela
comunicação social ancorada nas aspirações humanas. Há uma ligação entre o avanço
tecnológico, a emergência de meios de comunicação e as relações sociais e culturais, de
forma que os novos meios e interações coexistem com seus predecessores.
Compreendemos que os meios técnicos são partes materiais de produção, reprodução e
transmissão das formas simbólicas; o aparelho institucional de transmissão é o conjunto
peculiar de articulações institucionais, no qual o meio técnico é planejado e os
indivíduos da codificação e decodificação estão inseridos com capacidade de projetar,
planejar e organizar comportamentos e situações a partir do seu repertório e dos seus
interesses. Assim, a cultura e seu processo de construção definem-se simultaneamente
pelos meios, pelos comportamentos e pelas interações. Além de mudar o sentido de
espaço e de tempo, os meios são capazes de criar novos ambientes sociais. Os sentidos
são construídos socialmente através de interações, predominantemente midiatizadas, e
carregam as disputas, conflitos e polifonia da sociedade.
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1 Doutora em Extensão Rural (UFSM); Mestre em Comunicação (UFSM); professor adjunto do Departamento de
Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria/RS/Brasil. jaque.kegler@gmail.com.
2 Doutor em Ciências Sociais (UFRRJ) e Pós-Doutor em Antropologia Social (Universidad de Sevilla); professor
associado do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de Santa
Maria/RS/Brasil. jmarcos.froehlich@gmail.com.
3 O território dinamizado em processos de identificação em prol do desenvolvimento é tema da tese Identidade
Territorial e Midiatização: os sentidos identitários acionados pelas festividades da Quarta Colônia/RS, disponível na
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e através do link:
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http://cascavel.cpd.ufsm.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=4052. 4 De acordo com Hall (2000) a concepção do sujeito resulta de cinco rupturas nos discursos do conhecimento. A
primeira refere-se ao trabalho de Marx a partir da afirmação: os “homens fazem a história, mas apenas sob as
condições que lhes são dadas” (Hall, 2000, p. 37), a qual foi relacionada com a impossibilidade de autoria da história
dada aos sujeitos. A segunda deve-se à descoberta do inconsciente por Freud que considera que as identidades
constituem-se a partir de “[...] processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de acordo com uma
lógica muito diferente daquela da Razão, arrasa com o conceito do sujeito cognoscente e racional provido de uma
identidade fixa e unificada” (Freud apud Hall, 2000, p. 36). A terceira refere-se ao trabalho de Ferdinand de Saussure,
que considera a língua como um sistema social e não um sistema individual. A quarta descentração é promovida por
Michel Foucault (1979) que destaca o “poder disciplinar”, o qual se preocupa com a regulação e a vigilância, ou seja,
com o governo da espécie humana ou de populações e, paralelamente, do indivíduo e do corpo. O quinto
descentramento é dado pelo “impacto do feminismo, tanto como crítica teórica quanto como um movimento social”
(Hall, 2000, p. 43), que emergiu nos anos sessenta e teve relação direta com o descentramento do sujeito cartesiano e
do sujeito sociológico, pois questionou a “clássica distinção [...] entre o privado e o público” e proporcionou novos
enfoques para temas como família e sexualidade, considerando-os como assuntos de relevância social e política, por
isso, também adequados para contestação. 5 O Iluminismo representa um “processo de afirmação da razão como base do conhecimento. No século XVIII, esse
processo ganhou aspecto essencialmente crítico: a razão passou a ser usada para a compreensão do próprio indivíduo
e de seu contexto social” (Arruda; Piletti, 2009, p. 302). Ainda, o projeto do Iluminismo ancorava-se na contrariedade
ao absolutismo monárquico, à intolerância religiosa e aos privilégios dados à nobreza em detrimento dos direitos de
igualdade e liberdade. Por isso, a alienação que Harvey (2010) referencia como necessária ao projeto do Iluminismo
trata-se da opressão, que deveria ser suprimida pela sociedade. 6 A partir de Thompson (2008) temos que o termo “comunicação de massa” é uma expressão infeliz, visto que
massa evoca uma audiência de milhares e “passivos” homogêneos. Neste sentido, quando usamos o termo
referimos à disponibilidade e difusão generalizada e em grande escala dos produtos simbólicos e ao relativo à
atuação de quem os recebe, “devemos abandonar a idéia de que os destinatários dos produtos da mídia são
espectadores passivos cujos sentidos foram permanentemente embotados pela contínua recepção de mensagens
similares. Devemos também descartar a suposição de que a recepção em si mesma seja um processo sem
problemas, acrítico, e que os produtos são absorvidos pelos indivíduos como uma esponja absorve a água”
(Thompson, 2008, p. 31).
7 Na apropriação do sentido este pode ser modificado de acordo com o repertório cultural de quem se apropria.
8 Harvey denomina como compressão espaço-tempo os “processos que revolucionam as qualidades objetivas do
espaço e do tempo e forçam a alterar o modo como representamos o mundo para nós mesmos” (2010, p. 219) e
afirma que a história do capitalismo é caracterizada pela aceleração do ritmo de vida.
9 De acordo com Corrêa (2008) multimedialidade é a capacidade outorgada pelo suporte digital, de combinar na
mesma mensagem os elementos: texto, som e imagem. A hipermedialidade é a capacidade de interconectar diversos
textos digitais. E interatividade é a possibilidade do usuário de interagir com a informação disponibilizada no meio
digital.
10 A identificação é o “processo pelo qual nos identificamos com os outros, seja pela ausência de uma consciência da
diferença ou da separação, seja como resultados de supostas similaridades” (Woodward, 2009, p. 18). Para a
psicanálise, a identificação refere-se à fase de compreensão da criança como sujeito sexuado; já nos estudos culturais,
o conceito é apropriado para analisar a “ativação de desejos inconscientes relativamente a pessoas e imagens”
(Woodward, 2009, p. 18) promovidas pelos produtos midiáticos, como telenovelas e comerciais publicitários, que
constituem o sistema de representação social. 11 Claude Elwood Shannon era matemático, engenheiro elétrico e autor do trabalho The Mathematical Theory of
Communication, e Warren Weaver, coordenador da pesquisa sobre máquinas de calcular no decorrer da Segunda
Guerra Mundial (Mattelart; Mattelart, 2004). 12
Em 1910 Andrei Markov começou pesquisas sobre a teoria das cadeias de símbolos na literatura que continuaram
com os estudos de Ralph Hartlhey que propõe a primeira medida de informação associada à emissão de símbolos, o
“ancestral do bit”, entre outros (Mattelart; Mattelart, 2004, p.59).
13 A proposta de Palo Alto manifesta-se na explicação de uma situação global de interação com base em conceitos e
modelos da abordagem sistêmica, da lógica e da linguística, de forma que as interações se definiam também como
trocas entre os subsistemas. A noção de comunicação se apresentava como processo social integrado por múltiplos
modos de comportamento, sempre levando em consideração o contexto, ou seja, o ambiente social no qual ocorrem
as interações.
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A partir de Moraes Filho (1983) entendemos que Georg Simmel implantou as bases da microssociologia, pois
considerava as formações sociais semelhantes à anatomia e como átomos da sociedade que fundamentam toda
dureza e toda a elasticidade da vida social. Goffman (2001) referencia Simmel em sua tese de doutorado e
considera as interações sociais como constituintes da teia da ordem social, pois se constituem a partir de regras
institucionais, como a família, por exemplo.
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