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II Encontro Ibero-Americano de Estudos Mayas
II Congresso Brasileiro de Estudos Mayas
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Campus Pampulha
Belo Horizonte, 12 a 14 de novembro de 2018
Simpósio Temático Histórias e historiografias: entre mayas e mayanistas
Dia 1, 12 de novembro, 13:30 horas; Auditório da FAFICH
Um (Verdadeiro) Jogo de Tronos: Guerra e Paz entre os Reinos Mayas do Período
Clássico
Carlos Federico Domínguez Avila1
Ah, com certeza, há muitas coisas que ainda não compreendemos. Os anos passam às
centenas e aos milhares, e o que vê qualquer homem vivo além de alguns Verões e
alguns Invernos? Olhamos as montanhas e dizemos que são eternas, e é o que parecem
ser... Mas, no correr do tempo, montanhas erguem-se e ruem, rios mudam de curso,
estrelas caem do céu, e grandes cidades afundam-se no mar. Pensamos que até os
deuses morrem. Tudo muda. Talvez a magia um dia tenha sido uma força poderosa no
mundo mas já não é. O pouco que resta não é mais do que um fiapo de fumaça que
permanece no ar depois de um grande incêndio se extinguir, e até isso está se
desvanecendo. Valíria foi a última brasa, e ela desapareceu.
Meistre Luwin ao Bran
George R. R. Martin, A Fúria dos Reis, As Crônicas de Gelo e Fogo, Livro Dois, São
Paulo: Leya, p. 531.
1 Doutor em História das Relações Internacionais. Docente e pesquisador do Mestrado em Direitos
Humanos, Cidadania e Violência/Ciência Política do Centro Universitário Unieuro (Brasília, DF).
2
Resumo: A comunicação explora o sistema de relações políticas entre os cinco principais
reinos mayas do período clássico: Tikal, Calakmul, Palenque, Copán e Piedras Negras.
Em termos teórico-metodológicos, o estudo é feito sob a perspectiva da história e da teoria
de relações internacionais, particularmente desde a perspectiva do conceito de sistema
internacional. Nesse contexto, o pêndulo constituído entre os hipotéticos vértices de
anarquia e império é fundamental. Observa-se que a política intraterritorial dos mayas foi
muito dinâmica e consistente. Tikal e Calakmul chegaram a constituir um sistema bipolar
bastante complexo. Outros reinos, como Copán e Palenque, complementavam e
enriqueciam o sistema mediante a construção de alianças sucessivas. Igualmente, é
analisada a relação do conjunto dos reinos mayas com outras potências da época
(Teotihuacán) e com povos não-mayas (chefias e senhorios tributários). Em termos mais
abrangentes, a comunicação pretende inserir a experiência maya nas principais correntes
de estudos e pesquisas sobre a evolução da sociedade internacional no continente e no
mundo. Bem como contribuir ao estudo da origem e evolução do Estado, do Governo e
da Sociedade na América Latina.
Palavras-chave: História das Relações Internacionais; Teoria das Relações Internacionais;
Sistema Internacional; América antiga; Mesoamérica; Civilização Maya.
Introdução
A civilização maya possui um lugar de destaque na história antiga do continente
americano e do mundo. Trata-se, afinal, de uma das mais importantes e sofisticadas
civilizações do planeta, que legou enormes avanços para a matemática, a astronomia e a
arquitetura.2 Isolada da Europa, da África e da Ásia, construiu cidades, centros
cerimoniais, estruturas piramidais, fortalezas e monumentos. É também uma das
pouquíssimas culturas da América antiga com sistema de escrita próprio. Essa
peculiaridade tem permitido aos arqueólogos, aos epigrafistas, historiadores e outros
cientistas iniciarem um “diálogo” transcendental com os autores de códices –
equivalentes a livros e revistas da atualidade –, construções monumentais e outras
inscrições (Navarra, 2008).
2 O sistema de numeração maya era vigesimal, e consistia em uma peculiar combinação de pontos e barras.
Esse sistema de numeração também utilizou a noção de zero. As contas mayas permitiram significativos
avanços em matemática, astronomia e engenharia. Sabe-se que somente dois povos antigos lograram,
independentemente, descobrir o sistema posicional e a abstração do zero: os mayas e os indianos. Sendo
que os mayas anteciparam em séculos seus homólogos asiáticos.
3
Segundo o calendário maya, o mundo teria sido criado no ano de 3114 antes da
nossa era. Sua cultura, no entanto, surgiu a partir de migrações realizadas no chamado
período formativo, e se estabeleceu no atual território da Guatemala por volta do ano 600
antes da nossa era. Daí em diante, até a chegada dos conquistadores europeus e a queda
de seu último reino, no ano de 1690, os mayas passaram por ciclos de auge e de declínio,
momentos de resplendor e decadência.
Os mayas ocuparam um território de aproximadamente 500 mil quilômetros
quadrados, incluindo boa parte do sudeste mexicano, a Guatemala, o Belize e zonas
ocidentais dos atuais El Salvador e Honduras. Na América Central e México viviam
também outros povos mesoamericanos, como os teotihuacanos, zapotecas, toltecas,
astecas, lencas e chorotegas, que compartilhavam com os mayas numerosos
conhecimentos, crenças religiosas, hábitos, formas de organização política, ideologias,
técnicas construtivas e agrícolas, além do famoso calendário.3 Os mesoamericanos viviam
sob sistemas jurídicos unificados e religiões politeístas.4 Com as despesas dos governos
financiadas por impostos e tributos, houve desenvolvimento urbano e a constituição de
cidades cerimoniais. A política se organizava em capitais provinciais e, em alguns casos,
governos locais administrados de forma colegiada. Esses povos se reconheciam como
herdeiros e descendentes da ainda mais antiga civilização Olmeca, que floresceu entre
1200 e 400 antes de Cristo. Em consequência disso, reinava um certo ar de família entre
esses povos mesoamericanos. O que não impedia, porém, a eclosão de muitos conflitos
(Gendrop, 2005; Keegan, 2006; Buzan e Hansen, 2012).
Geograficamente a região maya tem altas montanhas e zonas tropicais, e é
banhada pelo Mar do Caribe e pelo Oceano Pacífico. Essa disposição geográfica resultou
em uma variedade de nichos ecológicos e permitiu grande diversidade agrícola (milho,
cacau, feijão, abóbora).5 Com os excedentes que a agricultura gerou durante vários
séculos, foi possível aos mayas construir uma rápida diferenciação política, econômica e
3 O calendário “civil” dos mayas tinha uma duração de 365,2420 dias, bem perto da duração do ano
comprovado pela astronomia moderna em 365,2422 dias. Destarte, dois mil anos atrás, uma civilização que
habitava as florestas mesoamericanas trabalhava com um calendário mais preciso que o calendário
gregoriano utilizado na atualidade!
4 As principais divindades mayas eram: Itzamnaaj (Deus da Criação e do Ceu), K'inich Ajaw (Deus do Sol),
Ix Chel (Deusa da Lua), Ah Mun (Deus do Milho), Chaak (Deus da Chuva), e Kimi (Deus da Morte).
5 O cacau, de origem amazônica, foi "domesticado" pelos mayas e outros povos mesoamericanos. Eis a
origem do chocolate, bebida muito apreciado pelos mayas. Após a conquista e colonização espanhola, o
chocolate passou a ser consumido no mundo todo.
4
sociocultural. A partir do ano 600 a.C. distinguiam-se construções, cerâmicas e
iconografia política tipicamente mayas.
Especialistas sugerem a existência de três períodos mais ou menos claros da antiga
civilização maya: o pré-clássico (600 a.C. a 250 d.C.), o clássico (250 a 900) e o pós-
clássico (900 a 1550). No primeiro houve uma gradual sedentarização, crescente
relevância da produção de milho, a formação de vilas autônomas e a constituição de
sociedades estratificadas. Entre os vários sítios pré-clássicos mayas já descobertos, El
Mirador é especialmente significativo pela sua antiguidade e pelo grande porte e
imponência das suas construções públicas e privadas. Nesse local – situado na região de
Petén, extremo norte da Guatemala – arqueólogos descobriram uma estrutura piramidal
que é a mais volumosa do continente americano e talvez do mundo. Com efeito, trata-se
de uma estrutura piramidal gigantesca, que inclui uma plataforma de 320 x 600 metros, e
uma altura: 170,40 metros, comparáveis as famosas pirâmides egípcias – lembrando-se
que a pirâmide de Quéops tem altura de 146,60 metros. Cumpre acrescentar que as
estruturas piramidais mayas – e mesoamericanas, em geral – tinham uma evidente
conotação religiosa, inclusive com um templo no topo (Longhena, 2006).
O período clássico é o mais conhecido – e particularmente relevante para os fins
deste artigo. O volume e a qualidade das informações arqueológicas e históricas desse
período se devem a um peculiar sistema de escrita. Denominado de logográfico, ele
combina aproximadamente 800 hieróglifos ou signos, entre fonéticos e ideográficos.
Mesmo a virtual extinção da escrita maya por imposição do poder colonial espanhol,
arqueólogos, epigrafistas, historiadores e outros cientistas conseguiram decodificar e
entender mais de 80% dos antigos glifos. Foi no período clássico que os mayas
alcançaram seus mais espetaculares projetos arquitetônicos, técnicos e artísticos. O reino
de Copán, por exemplo, acabou sendo chamado pelos especialistas de Atenas do Novo
Mundo. A alcunha se deu pelas maravilhosas esculturas tridimensionais, por suas
construções cerimoniais e político-administrativas, pelos comprovados avanços
intelectuais – especialmente em astronomia – e pela continuidade e harmonia do conjunto
urbanístico. Explorado desde o século XIX, Copán é provavelmente o sítio arqueológico
maya melhor conhecido. Está comprovado que a mais bem-sucedida dinastia copaneca
reinou entre 426 e 822, tendo o auge de seu desenvolvimento econômico, político e social
no século VIII. Seja como for, Copán foi abandonado no século seguinte, junto com
muitos outros reinos mayas, especialmente do centro e do sul, por motivos que ainda estão
5
sendo apurados pelos arqueólogos, e que seguramente incluíram o esgotamento dos
recursos naturais e uma severíssima e prolongada crise hídrica (Diamond, 2007).
Com efeito, as causas e conseqüências desse colapso no período clássico ainda
provocam discussão entre os pesquisadores. As principais hipóteses são o excesso de
população, a degradação ambiental – com prolongados períodos de seca –, a turbulência
sociopolítica dentro dos próprios reinos e os numerosos conflitos intra-mayas – e
possivelmente com outros povos não-mayas. Somente na região de Yucatán conseguiram
manter-se reinos, como Chichen Itza e Uxmal (Demarest, 2013).
O período pós-clássico (900-1550) foi uma época menos esplendorosa, mais
belicosa e conturbada. Boa parte dessa fase teve domínio da cultura tolteca – um povo
procedente do centro do atual território mexicano que conseguiu penetrar militarmente na
região de Yucatán, subordinando os mayas e impondo sua economia e ideologia. Ainda
que tenham sido construídas algumas cidades durante o período, a maioria dos
especialistas concorda que a época mais gloriosa da civilização maya tinha ficado para
trás.
Quando os conquistadores espanhóis apareceram em Yucatán e na Guatemala, foi
necessário conquistar individualmente cada reino, até a queda do último, por volta de
1690. Além disso, a ordem colonial no continente americano foi dura. No século XVI,
as chamas da Inquisição espanhola dizimaram o que ainda restava daquela civilização.
Nessa época, perdeu-se o conhecimento do antigo sistema de escrita, mantendo-se
somente uma tradição oral. Outras expressões culturais, ideológicas, políticas,
econômicas e sociais tradicionais do povo maya também foram redefinidas pela ordem
colonial, que predominou até o início do século XIX.
O advento das independências e da ordem republicana no México e na Guatemala,
em 1821, não representaram grandes melhorias no modo de vida dos povos indígenas
americanos. Sendo que, na década de 1980, o governo guatemalteco chegou a ser
denunciado internacionalmente por praticar um virtual genocídio contra as comunidades
mayas do país. Acredita-se que mais de 100 mil guatemaltecos de origem maya tenham
sido assassinados. Na época, as vítimas foram acusadas pelos autoritários governantes do
país de compactuar com ideias revolucionárias.
A luta pelos direitos indígenas – e pelos direitos mayas – acabou sendo expressa
no Prêmio Nobel da Paz de 1992, recebido pela guatemalteca Rigoberta Menchú Tum.
6
Dois anos depois, um levante armado tornou conhecidas as reivindicações dos mayas-
lacandones na região de Chiapas, no México. A batalha continua. Ameaçados hoje pelas
políticas de colonialismo interno, pelo racismo e por faraônicas obras de infraestrutura,
atualmente cerca de 10 milhões de mayas e descendentes seguem resistindo, em prol dos
direitos humanos, pelo respeito à sua cultura e pela memória de uma civilização que por
séculos se destacou na América e do mundo.6
Sob a perspectiva da história e da teoria das relações internacionais, que é o que
interessa para os fins do presente manuscrito, a civilização maya foi exitosa na
constituição de suas organizações político-administrativas – quase sempre de natureza
dinástico-hereditária e teocrática. Passaram de tribos sem governantes (ou bandos de
caçadores e coletores) para tribos com governantes (ou chefias) e alcançaram a forma de
cidades-Estado ou reinos, com governos complexos e instituições relativamente
sofisticadas. Nessa última fase, era possível constatar a divisão de classes sociais: nobreza
(príncipes, escrivãs, sacerdotes e guerreiros), artesãos, camponeses e escravos
(Florescano, 2009).
Por outro lado, os mayas nunca estabeleceram um império unificado. Sua
organização política era claramente desconcentrada. Havia numerosos reinos com seus
respectivos glifos emblema – equivalentes aos brasões estaduais na atualidade –,
conhecidos como ahawlel – com coletivo ahawelob’ –, mais ou menos independentes
entre si, ainda que diferenciados hierarquicamente entre grandes potências (Tikal,
Calakmul), potências médias (Palenque, Copán, Caracol, Yaxchilán e Pedras Negras), e
pequenas potências (Naranjo, Cancuén, Dos Pilas, Motul de San José). Situação
semelhante à das cidades livres que existiam na Grécia antiga ou em certas regiões da
África meridional. Surgem, assim, as condições de possibilidade para o estudo e a
pesquisa de um sistema internacional pré-westfaliano praticamente desconhecido sob a
perspectiva da história e da teoria das relações internacionais. O referido sistema
internacional incluía o ahawelob’, e também unidades políticas não-mayas – como
Teotihuacán, verdadeira superpotência da época, e povos vizinhos fronteiriços de origem
6 Nos primeiros anos do século XXI, existe em países mesoamericanos – Guatemala, México, Honduras,
Belize, e El Salvador – interesse em resgatar e valorizar a cultura, a ciência e a matemática dos mayas.
Segundo reformas curriculares impulsionadas nos últimos tempos, tanto os estudantes de origem maya,
quanto os outros estudantes daqueles países, deverão ter competências básicas em aritmética maya. E o
sistema de numeração maya gradualmente alcançará nos currículos escolares, igual relevância que o sistema
de numeração romana.
7
mesoamericana e, eventualmente, até não-mesoamericanos. Nesse diapasão, agora
sabemos que os mayas foram tão violentos quanto seus vizinhos de Mesoamérica ou
outros povos da antiguidade, em geral. Com efeito, eram persistentes os conflitos, a
violência social e política. Relações de poder se estabeleciam não só ao interior de cada
reino, mas também dali para fora: entre potências com vínculos e interesses específicos,
diferenciados e contraditórios (Lacadena e Ciudad, 1998; Chase e Chase, 1998).
Parece importante insistir que a presente comunicação avança no estudo do
sistema internacional maya clássico sob a perspectiva dos estudos em história e teoria das
relações internacionais. Daí que os principais conceitos que são explorados nesta
comunicação sejam, por exemplo, o equilíbrio do poder, diplomacia, cooperação e
conflito, prestígio, língua franca, acordos, fronteiras, segurança, soberania. Esses
pressupostos teórico-metodológicos são sumamente importantes, já que se trata de
confrontar mitos, preconceitos e lacunas – especialmente de parte dos teóricos das
relações internacionais, ou internacionalistas –, dentre eles: a) a irrelevância de estudar
as sociedades pré-westfalianas, em geral, e da América antiga, em particular; b) um
marcado eurocentrismo e estatocentrismo, c) um superdimensionado e paroquial
presentismo ou imediatismo, e d) a persistência de um negativo e paralisante diálogo de
surdos entre historiadores e teóricos das relações internacionais.
A pergunta central que orienta e percorre este ensaio de interpretação é a seguinte:
quais as principais contribuições que podem ser auferidas em benefício da história e da
teoria das relações internacionais – inclusive no concernente ao estudo da evolução da
sociedade internacional – a partir da observação e reflexão da experiencia maya clássica?
A nossa hipótese de trabalho sustenta que durante o período maya clássico teriam
coexistido em cooperação e conflito hierárquico um conjunto de 60 reinos mayas – ou
ahawelob’ –, e destes com outros povos vizinhos mesoamericanos e até não-
mesoamericanos; dessa interdependência e das correspondentes trocas simbólicas e
materiais teria resultado a constituição de um sistema internacional específico e pré-
westfaliano.
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Estruturas elementares e constituição de um sistema internacional maya clássico: o
encontro da história com a teoria das relações internacionais
O conceito de sistema internacional é sumamente importante para o estudo e a pesquisa
convergente da história e da teoria das relações internacionais. Hedley Bull, Adam
Watson, Barry Buzan, Richard Little e outros reconhecidos autores – especialmente os
vinculados à assim chamada Escola Inglesa das relações internacionais – têm identificado
a existência de sistemas internacionais específicos desde a época da antiga civilização
Suméria, passando pela Grécia, Egito, Roma, China, Índia, Europa Medieval, dentre
outras – todas elas preexistentes ao sistema internacional integrado pelos Estados-
nacionais, prevalecente desde a denominada paz de Westfália, vigente desde 1648.
Nessa mesma linha, o pesquisador Alex Aissaoui (2013; 2009) é particularmente
interessante para os fins deste estudo, em função de suas excelentes contribuições ao
estudo do denominado sistema de Amarna, vigente nos séculos XIV e XIII antes de
Cristo, e que congregou em complexa interdependência política, econômica e estratégica
a cinco grandes potências – bem como a potências médias e pequenas potências – de
Oriente Médio: Egito, Mitanni, Assíria, Babilônia e o Império Hittita. Para Aissaoui, o
sistema de Amarna foi verdadeiramente internacional pelo exercício prático de conceitos
e estratégias claramente inspiradas nas noções de equilíbrio de poder, diplomacia, língua
franca, acordos internacionais, reciprocidade, prestígio, relações hierárquicas,
estabilidade hegemónica, cosmopolitismo, dentre outras; todas elas de grande impacto
para o estudo da evolução da história e da teoria das relações internacionais. Daí que o
referido autor não hesite em considerar o sistema de Amarna como um dos primeiros na
evolução da sociedade internacional e, por via de consequência, de relevância para os
estudiosos e pesquisadores das relações internacionais (Aissaoui, 2012).
Segundo Hedley Bull (2002, p. 15), o conceito de sistema internacional se forma
quando “dois ou mais estados têm suficiente contato entre si, com suficiente impacto
recíproco nas suas decisões, de tal forma que se conduz[em], pelo menos até certo ponto,
como partes de um todo.” Acrescentando o seguinte:
quando os estados mantêm contato regular entre si, e quando além disso a sua interação é suficiente
para fazer com que o comportamento de cada um deles seja um fator necessário nos cálculos dos
9
outros, podemos dizer que eles foram um sistema. A interação dos estados pode ser direta (quando
são vizinhos, parceiros ou competem pelo mesmo fim) ou indireta (em consequência do
relacionamento de cada um com um terceiro), ou simplesmente pelo impacto deles sobre o sistema.
[...] A interação dos estados que define um sistema internacional pode ter a forma de cooperação
ou de conflito, ou mesmo de neutralidade ou indiferença recíprocas com relação aos objetivos de
cada um. Essa interação pode abranger toda uma gama de atividades – políticas, estratégicas,
econômicas, sociais –, como acontece hoje, ou apenas uma ou duas delas.
Sob essa perspectiva teórico-metodológica, queremos entender que no período maya
clássico houve, sim, suficiente interação política e estratégica entre as unidades que
formavam o ahawelob’ – bem como terceiros atores dentro da vizinhança mesoamericana
– para aceitar, ao menos temporariamente, a existência de um sistema internacional
específico e circunscrito. Isto é, um sistema internacional que, salvo melhor juízo,
também mereceria ser estudado e pesquisado pelos historiadores e teóricos das relações
internacionais.
Cumpre reiterar que no período em apreço, as fontes arqueológicas, epigráficas e
históricas disponíveis – ainda que incompletas e até certo ponto fragmentadas – têm
constatado a existência de, no mínimo, 60 glifos emblema – equivalentes aos atuais
brasões estaduais – de unidades políticas mayas. Ao interior do ahawelob’, os atores e
participantes se reconheciam como pares e compartilhavam estruturas elementares de
cultura, sociedade, economia e política – em outras palavras, predominava um evidente
ar de família ainda mais intenso e evidente que o compartilhado com outros povos
mesoamericanos vizinhos.
Resulta interessante também para os fins deste estudo que essas unidades políticas
mayas clássicas podem, sim, ser chamadas de Estados no sentido mais abrangente do
termo. Evidentemente, não se trata dos Estados-nacionais predominantes na atualidade
ou na conceptualização contemporânea. Na trilha de uma concepção forjada na sociologia
histórica do político, neste estudo entendemos, junto com Robert Carneiro (1981),
Abrutyn e Lawrence (2010) e Creveld (2004), que o Estado pode ser definido como uma
unidade política autónoma com um governo centralizado, com poder de recrutamento,
capacitado para impor tributos, assegurar o cumprimento da lei e, em última instancia, a
garantir uma autonomia política emergente.
Essas unidades políticas autônomas eram governadas por ahaw – isto é, por reis
ou senhores; e em alguns casos por k’ul ahaw ou reis sagrados (Lacadena e Ciudad, 1998).
10
Todavia, o ahawlel ou Estado maya era equivalente ao altepetl dos astecas (Phillips,
2006). Essas traduções foram historicamente confirmadas pelos cronistas espanhóis após
a conquista dos mayas de Yucatán e da Guatemala, nos séculos XVI e XVII.
Adicionalmente, não parece necessário repetir o reconhecimento das estruturas
elementares de cultura compartilhada pelos mayas clássicos – principalmente no que diz
respeito à escrita, aos sistemas numéricos, às técnicas construtivas, ao sistema
socioeconômico, e às especificidades dos mayas com seus vizinhos próximos no contexto
mesoamericano, e vizinhos distantes na assim chamada região intermediária ou
caribenha.
Testando a noção de equilíbrio de poder no período maya clássico
O conceito de equilíbrio de poder é dos mais importantes e reconhecidos tanto pelos
historiadores quanto pelos teóricos das relações internacionais – principalmente pelos
autores de orientação realista (Waltz, 2004; Viotti e Kauppi, 1998; Morgenthau, 1993).
Fundamentalmente, a noção de equilíbrio de poder sugere que, para preservar a emergente
autonomia e independência política, os Estados soberanos devem contrapor-se e
balancear as iniciativas e os desígnios de potências com pretensões hegemônicas,
expansionistas ou imperialistas, e procurar simultaneamente manter ou restaurar – mesmo
pelo uso da força – algum tipo de equilíbrio mais ou menos satisfatório para os principais
atores que participam no sistema internacional em referência (Wight, 2002). Todavia, o
esforço para preservar o equilíbrio de poder geralmente está enraizado nos conceitos de
razão de Estado (segurança individual) e razão de Sistema (segurança coletiva).
Certamente, os reinos mayas não eram todos iguais ou equivalentes. Diferenças
de poder e relações hierárquicas estão bastante bem confirmadas nas fontes arqueológicas
e históricas; tudo isso sem esquecer a relevância de fazer alguma referência à qualidade
dos líderes, isto é, dos k’ul ahaw. Com efeito, as fontes disponíveis sugerem que no
sistema internacional maya clássico coexistiam ao menos três grupos de potências: a)
grandes potências (Tikal, Calakmul), b) potências médias (Palenque, Copán, Caracol,
Yaxchilán e Pedras Negras), e c) pequenas potências (Naranjo, Cancuén, Dos Pilas, Motul
de San José, Quiriguá). Daí que, na prática, as relações de poder, aliança estratégica e
hierarquia podiam se expressar em três níveis. Um exemplo: os governantes de Calakmul
11
exerciam influência, prestígio e mesmo hegemonia sobre seus interlocutores de Caracol;
e estes faziam o próprio com os líderes de Naranjo – sem esquecer que estes últimos
exigiam tributos dos camponeses dessa comarca específica.
Adam Watson (2004), importante pesquisador adscrito à denominada Escola
Inglesa das relações internacionais, propõe para o estudo das relações de poder e
hierarquia intergovernamentais ao menos cinco tipos ideais de análise no contexto da
evolução da sociedade internacional: a independência, a suserania, a hegemonia, o
domínio e o império. Resumidamente, os tipos ideais da independência e do império
pressupõem os vértices de um pêndulo entre a virtual anarquia e o controle absoluto dos
atores políticos em favor de um único centro de poder, respectivamente. No meio do
pêndulo, seria possível apreciar um espectro com episódios de suserania (protetorado de
uma potência externa), de hegemonia (considerável prestígio de alguma potência ou
liderança nas outras unidades do sistema) e de domínio (constituição de uma área de
influência exclusiva).
Como veremos, a evolução do equilíbrio de poder no sistema maya clássico
oscilou geralmente entorno do tipo ideal hegemónico, com forte presença, prestígio e
influência das duas grandes potências da época: Tikal e Calakmul. Eis as elites dirigentes
de um sistema que acabou sendo essencialmente bipolar – ainda que durante o século VII,
após derrotar e submeter temporariamente ao seu antagonista, Calakmul chegou a se
aproximar do tipo ideal do Domínio e eventualmente do Império.
Para os fins deste ensaio de interpretação também é importante constatar que a
guerra, a violência organizada e as alianças político-militares eram frequentes no
ahawelob’. Evidencia arqueológica sugere que, entre os anos 250 e 900 d.C., foi possível
registrar ao menos trinta confrontos militares diretos entre unidades políticas mayas.
Segundo Simon Martin (2005), os referidos confrontos militares entre Estados mayas
incluíam desde expedições punitivas temporárias até o surpreendente conceito de “guerra
das estrelas”, que implicava uma virtual guerra santa e a execução da elite governamental
adversária (Martin, 2007; Martin, 2005).
Nesse contexto, uma vitória militar resultava na possibilidade de imposição de
tributos ao reino derrotado, bem como a subordinação e alinhamento dos governantes
derrotados aos interesses e prioridades estratégicas da potência triunfante. Em alguns
casos, a elite governante do ahawlel derrotado poderia acabar sendo integralmente
12
substituída por uma dinastia hereditária mais próxima e convergente com as visões de
mundo da potência vencedora. Em outras oportunidades, uma média ou pequena potência
poderia libertar-se da hegemonia e da subordinação em relação a uma potência
hierarquicamente superior se conseguia vencer ao seu algoz ou aproveitar-se de alguma
fraqueza temporária das principais potências do sistema – eis o caso da virtual libertação
de Quiriguá em relação a Copán, após a captura e execução do governante copaneco.
Teve também casos, como o de Dos Pilas, onde uma facção da dinastia hereditária de
Tikal resolveu procurar novos horizontes em um reino novo e diferente.
Seja como for, é importante tomar nota que a ética e a moral político-militar e
estratégica dos antigos mayas parecia excluir a destruição pura e simples das populações
dos Estados derrotados – ou extermínio em massa, como aconteceu em outras latitudes e
civilizações da antiguidade. Os conflitos aparentemente eram circunscritos às disputas
entre monarquias em competição. Naturalmente, isto não exclui a captura de prisioneiros
e cativos para a realização de trabalho escravo ou de sacrifício – e mesmo de canibalismo.
Daí que, com pouquíssimas exceções os principais atores estatais do sistema internacional
maya clássico fossem, durante seis séculos, basicamente os mesmos – sendo que alguns
reinos tinham mesmo sido fundados ainda no período pré-clássico. Eis um outro
paralelismo com o sistema helénico – igualmente belicoso entre suas unidades políticas
específicas, as polis.
A longa duração do sistema internacional maya clássico também se explica como
resultado de um esforço conjunto e sistemático para manter a denominada razão de
sistema, evitar a autodestruição, bem como manter o reconhecimento das estruturas
elementares de cultura, reciprocidade, interdependência complexa e interação. Afinal, as
relações hegemônicas e hierárquicas no contexto do ahawelob’ parece ter sido
fundamentalmente entre elites governantes em constate competição, e muito menos entre
povos, comunidades e sociedades que compartilhavam uma cultura essencialmente
convergente e comum. Infere-se do anterior que a noção de equilíbrio de poder foi
efetivamente conhecida e aplicada pelos mayas muitos séculos antes do surgimento da
moderna conceptualização do termo (Duroselle, 2000; Walzer, 2001).
13
Acordos político-diplomáticos, soberania e qualidade da liderança
A noção de soberania é, sem dúvida, central no estudo da história e da teoria das relações
internacionais (Krasner, 2001). Mesmo reconhecendo-se que não se trata de uma
conceptualização tipicamente westfaliana ou até mesmo weberiana do Estado-nação,
muitos especialistas do assunto não mais se insurgem contra a possibilidade do uso do
termo Estado soberano e autônomo para referir-se ao ahawlel – isto é, o reino maya. Ao
mesmo tempo, mais de 60 ahawelob’ possuíam, como mencionado anteriormente, seus
respectivos glifos emblemas ou brasões, tinham reconhecimento recíproco, dominavam
populações e territórios mais ou menos delimitados – de fato, os principais ahawlel
detinham uma extensão territorial média de cinco mil quilômetros quadrados, e até 100
mil habitantes (Chase e Chase, 1998).
Os reinos mayas eram governados por dinastias hereditárias (Grube e Martin,
2006). Houve, ao longo dos seis séculos do período clássico experiências de conflitos
dinásticos – inclusive muitas conspirações de natureza familiar entre potenciais herdeiros
ao trono –, conflitos armados internos, e finalmente a implosão do próprio sistema
internacional maya clássico diante do dramático abandono das principais sedes ou
capitais no século IX, em função do esgotamento dos recursos naturais, de uma grave
crise hídrica e de revoltas populares associadas.
Observe-se, também, que o ahawlel evidentemente era diferente tanto do Estado
imperial de Teotihuacán, quanto das chefias ou senhorios dos vizinhos não-mayas das
fronteiras oeste e sul. E a ideologia política maya também era complexa e propositiva, ao
grau que seus governantes principais chegaram a ser considerados sagrados – ou k’ul
ahaw. Daí uma crescente estratificação e diferenciação social, a arquitetura monumental
– inclusive com espetaculares palácios –, leis, sistemas educacionais, e centralização do
poder.
Para os fins deste ensaio de interpretação, parece pertinente aprofundar um pouco
mais na bipolaridade Tikal-Calakmul – pelas suas importantes consequências em quase
todos os outros atores do sistema. Assim, durante o período maya clássico, as relações
hierárquicas no ahawelob’ ficaram em grande parte subordinadas aos desígnios e
14
interesses estratégicos das duas principais potências: Tikal e Calakmul. Ainda que outras
potências médias – como Palenque, Copán ou Piedras Negras – também tivessem alguma
relevância e influencia sub-regional, a competição fundamental pelo prestígio e pela
hegemonia foi travada pelas duas potências supramencionadas. E essa competição bipolar
Tikal-Calakmul está registrada em evidencia arqueológica descoberta principalmente em
pequenas e médias potências subordinadas às alianças comandadas pelos dirigentes das
principais potências.
Em efeito, não são poucos os registros de vassalagem, subordinação e
clientelismo, além de acordos desiguais, entre atores hierárquicos. Esses acordos
desiguais geralmente eram renovados pelas lideranças correspondentes nos momentos de
assunção de novos dirigentes nos reinos subalternos – a estes, aliás, estava vedada uma
interação com a aliança político-militar adversária, e as tentativas de insubordinação e
defecção de lideranças era severamente punida. Numerosos hieróglifos decifrados por
especialistas em epigrafia destacam a vassalagem, o clientelismo, a sujeição e a
continuidade das relações entre as dinastias triunfantes, com fórmulas políticas mais ou
menos explícitas. No fundo, tratava-se da periódica recomposição de áreas de influência
hegemónica e eventual soberania relativa (Grube e Martin, 2006).
Precisamente, foi o gradual deslocamento da liderança de Tikal no início do
período clássico – que na época tinha certo apoio procedente de Teotihuacán –, para uma
situação de alta e crescente influência de Calakmul em reinos localizados no entorno de
Tikal – dentre eles Caracol, Naranjo, El Perú, Cancuén, e Dos Pilas –, tudo isso no século
VI, o que acabou resultando em prolongado conflito – direto e indireto – entre ambas as
grandes potências mayas. Momento crucial desse confronto político-militar bipolar foi a
derrota de Tikal, em 562, que resultou no somente numa temporária ocupação da principal
e mais bela cidade do mundo maya, como também no chamado “vácuo” de 130 anos em
construções monumentais e comemorativas no referido ahawlel.
Inversamente, o século VII foi a época mais gloriosa de Calakmul. Conjuntura
que foi reconhecida inclusive em reinos relativamente distantes daquela cidade – como
foi o caso de inscrições alusivas em Palenque e Copán, localizados nas fronteiras do oeste
e sul, respectivamente. Esse longo interregno de predomínio de Calakmul,
particularmente durante o governo do k’ul ahaw Yuknoom Ch’een I – também conhecido
como Yuknoom o Grande –, esteve muito perto de modificar inclusive o tipo de ideal de
organização política em favor do Domínio e eventualmente do Império unificado e
15
centralizado, semelhante ao observado no centro do México (Teotihuacán, Astecas) e em
outros sistemas internacionais pré-westfalianos – dentre estes, o Império romano.
Agora sabemos que o interregno ou momento unipolar de Calakmul acabou sendo
superado no século VIII, após uma série de brilhantes vitorias militares de uma renovada
dinastia de Tikal contra Naranjo e Caracol – importantíssimos aliados de Calakmul – e
posteriormente contra o próprio território do adversário histórico, em 736 (Stuart, 1998a;
Martin, 2007). Assim, durante os governos de Jasaw Chan K’awiil e sucessores, Tikal
iniciou uma última fase de magnificas construções monumentais. Até que, em 879, após
oito séculos desde sua fundação, a cidade-sagrada de Tikal acabou sendo abandonada,
igual que a maioria dos outros principais sítios do maya clássico, como consequência do
esgotamento de recursos naturais, de uma severa crise hídrica, e de revoltas populares
associadas (Demarest, 2013; Diamond, 2007).
Todavia, as fontes arqueológicas destacam a qualidade e a eficiência de alguns
governantes – ou k’ul ahaw na terminologia política maya –, dentre estes merecem ser
mencionados: K'inich J'anaab Pakal em Palenque, Jasaw Chan K’awiil em Tikal,
Uaxaclajuun Ub'aah K'awiil em Copán, Yuknoom Ch’een I em Calakmul. Por razões de
espaço, não é possível fazer uma avaliação exaustiva da vida e da obra desses personagens
históricos, tão importantes no devir de seus respectivos Estados, bem como no conjunto
do sistema internacional em apreço.
Bastante associado ao bom desempenho dos governantes acima referidos foi o
reconhecimento da crescente influência do estamento burocrático emergente,
especialmente dos escrivãs. Acontece que, como mencionado anteriormente, a sociedade
maya era bastante sofisticada em termos socioculturais. Ela tinha um sistema de escrita
complexo e aparentemente uma percentagem significativa da sociedade maya era
alfabetizada – daí a persistente e apreciada construção de monumentos de natureza
político-social com inscrições e outros suportes (códices). Nesse contexto, os escrivãs ou
secretários – equivalentes aos atuais ministros de Estado, dentre eles os respectivos
chanceleres – alcançaram um pouco usual e altíssimo prestígio e reconhecimento. Afinal,
esse estamento burocrático maya era encargado de tomar muitas das principais decisões
cotidianas do reino, inclusive no tocante às relações políticas, econômicas e estratégicas
com os vizinhos próximos e distantes.
16
Mesmo que não exista evidencia que confirme a existência de missões
diplomáticas permanentes nos Estados vizinhos, numerosos murais e cerâmica
policromada sugerem que as missões comerciais e político-diplomáticas – que incluíam
componentes de espionagem – eram bastante frequentes. E essas missões recebiam
imunidades, reciprocidade e proteção dos respectivos governantes que lhes hospedavam.
Outrossim, os filhos de casas dinásticas menores – bem como de adversários derrotados
militarmente – eram “convidados” a residir e se formar nas instituições educacionais das
principais capitais. Na realidade, esses hóspedes acabavam servindo não somente como
reféns – com propósito de assegurar a lealdade de seus pais –, como também no papel de
futuros interlocutores de maior confiança nos reinos periféricos.
Algo bastante semelhante acontecia com o intercâmbio recíproco de princesas
reais, oferecidas aos governantes de outros reinos aliados. Pressupunha-se que os filhos
dessas futuras rainhas em dinastias vizinhas poderiam cimentar e consolidar alianças
político-militares e intergovernamentais. E finalmente é bastante frequente encontrar em
tumbas reais obséquios, presentes e bens de luxo – dentre eles o jade e penas do quetzal,
especialmente apreciados pela elite maya – procedentes de reinos vizinhos, o que
configura trocas simbólicas e materiais de natureza diplomática. Eis o caso das
maravilhosas oferendas encontradas nas tumbas reais de Pakal e de sua provável esposa
a assim chamada “Rainha Vermelha”, de Palenque (Ruz, 2006).
O ahawelob’ e os vizinhos mesoamericanos
No período em apreço deste ensaio de interpretação, o ahawelob’ – isto é, o conjunto dos
60 reinos mayas – manteve constantes contatos, afinidades eletivas, cooperação e
conflitos com outros povos que formavam parte da denominada área cultural
Mesoamericana – e inclusive além dela. Como mencionado na Introdução do artigo, a
região mesoamericana surgiu a partir da civilização olmeca, localizada fundamentalmente
na costa do golfo do México, no período pré-clássico. Desde então, e até a conquista
espanhola no século XVI, a região cultural mesoamericana albergou numerosos povos
que compartilhavam certo ar de família, crenças, costumes, sistemas políticos e
econômicos, etc. A civilização maya certamente chegou a ser uma das mais destacadas
integrantes de Mesoamérica. E especificamente no período clássico – entre 250 e 900 d.C.
17
–, a interdependência, as trocas simbólicas e materiais, a interação e os contatos entre o
ahawelob’ com outros povos mesoamericanos – e inclusive com comunidades não-
mesoamericanas – chegou a ser importante e significativo para a evolução do sistema
internacional em referência.
Certamente, as relações do ahawelob’ com o poderosíssimo Estado de
Teotihuacán – localizado no centro do México, e que floresceu entre 100 a.C. e 650 d.C.
– foram particularmente significativas e transcendentes. De fato, Teotihuacán era a
verdadeira superpotência mesoamericana da época, projetando poder econômico,
político, cultural, social e estratégico no ahawelob’. Além disso, o Estado teotihuacano
também mantinha um entreposto comercial próprio e “conselheiros políticos” na
antiquíssima cidade maya de Kaminaljuyú (centro da Guatemala). Outrossim, as relações
entre Teotihuacán e Tikal foram tão intensas que a condição de primus inter pares desta
no ahawelob’ acabou ficando gravemente comprometida com a virtual “conquista” e
imposição de uma dinastia claramente favorável aos interesses de Teotihuacán, em 368,
e posteriormente no marco do declínio e abandono final daquela superpotência
mesoamericana, no século VII (Manzanilla, 1998).
Além do uso da força para impor prestígio e influência no ahawelob’, os
governantes de Teotihuacán também forjaram alianças com certos reinos mayas pela via
do casamento com príncipes e princesas procedentes da superpotência do centro do
México ou de seus aliados em Tikal. Em 426, por exemplo, K’inich Yax K’uk’ Mo’
fundou a mais poderosa das dinastias que governaram Copán no período clássico. E para
legitimar seu poder político, esse k’ul ahaw não duvidou em se apresentar como um
reformador procedente e inspirado nas experiências de Tikal e de Teotihuacán. Daí que o
governante copaneco assumiu os modos, os costumes e a própria simbologia do poder
político reproduzindo claramente os modelos da distante superpotência mesoamericana
da época. Por via de consequência, em poucas décadas, Copán, mesmo localizado na
fronteira sul, chegou a ser uma das quatro ou cinco mais importantes potências médias do
ahawelob’.
Com efeito, evidência arqueológica demostra que a poderosa influência de
Teotihuacán no ahawelob’ repercutiu até na vestimenta, no ritual mágico-religioso –
especialmente as associadas ao deus Tlaloc – e nas técnicas construtivas de palácios e
monumentos (Stuart, 1998b). Inversamente, na própria cidade de Teotihuacán, uma
verdadeira megacidade com mais de 150 mil habitantes na época de maior apogeu, existia
18
um bairro especificamente maya, dedicado ao comércio. Todavia, oferendas de origem
maya procedentes inclusive da distante bacia do rio Motagua, foram descobertas nas
explorações realizadas nos monumentos de Teotihuacán.
Nesse contexto, o declínio e esgotamento do poderio de Teotihuacán, por volta do
ano 650 d.C., devido a causas que ainda estão sendo apuradas pelos arqueólogos, também
provocou graves consequências e repercussões no sistema internacional maya clássico.
Com efeito, o colapso da superpotência mesoamericana abalou as relações políticas e
estratégicas, os equilíbrios de poder e as hierarquias que então existiam no ahawelob’ e
que tinham sido tão favoráveis aos interesses e desígnios hegemónicos dos governantes
de Tikal. Lembre-se que esse declínio temporário de Tikal, até então verdadeiro primus
inter pares, resultou na vertiginosa assunção de Calakmul no centro do sistema
internacional maya clássico, especialmente no século VII, situação que quase acaba
gerando o surgimento de um Domínio ou um Império realmente efetivo no mundo maya.
Simultaneamente, além da interação com Teotihuacán, os mayas tinham relações
de vizinhança com outros povos, comunidades e entidades políticas mesoamericanas, isto
é, nas fronteiras oeste e sul do ahawelob’ (Paris e López, 2017). Esses povos
mesoamericanos vizinhos – como os lencas, pipiles ou chorotegas, que habitavam os
atuais territórios do sul do México, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica –
tinham formas menos desenvolvidas de organização político-social que os mayas.
Tratava-se de chefias, senhorios ou tribos com uma diferenciação e estratificação menos
pronunciada.
Todavia, é importante destacar que os contatos mayas, especialmente de Palenque
e Copán, localizados nas fronteiras ocidental e sul do ahawelob’, respectivamente, com
os vizinhos próximos eram intensos e persistentes, sobretudo em termos comerciais,
culturais e políticos. Observe-se que, no fundo, essa discussão específica pode nos levar
ao debate sobre o estabelecimento de fronteiras culturais. Certamente, essas dinâmicas
também acabavam incidindo na recomposição e no devir do próprio sistema internacional
maya clássico.
Vale acrescentar que não é possível descartar ações violentas entre mayas e povos
vizinhos, inclusive para capturar prisioneiros, escravos e mesmo eventuais vítimas
destinadas ao sacrifício humano. Contudo, é igualmente relevante acrescentar que nas
cidades fronteiriças de Palenque e Copán são relativamente poucas as referências
19
arqueológicas correlacionadas à violência organizada, ao militarismo ou ao
expansionismo em relação aos povos vizinhos. Essa visão de aparente harmonia e
relações cooperativas observadas pela primeira geração de arqueólogos mayanistas em
Copán e Palenque, desde o final do século XIX, resultou em uma apreciação
excessivamente bondosa, idílica, bem-intencionada e pacifista da civilização maya e do
sistema internacional maya clássico – o que lhe acabou angariando bastante simpatia na
opinião pública internacional, tudo isso no meio de uma época de graves conflitos
internacionais principalmente na primeira metade do século XX.
Ainda que essa pacífica e harmónica visão inicial do ahawelob’ acabasse sendo
questionada e mesmo superada nas décadas subsequentes – especialmente após as
escavações arqueológicas em sítios mayas muito mais belicosos como Yaxchilán ou
Piedras Negras –, não parece incorreto ponderar que as experiências de Copán e Palenque
sugerem o predomínio de relações relativamente construtivas e mesmo colaborativas com
seus vizinhos não-mayas. Infere-se do ponderado que essas trocas, a interação, a
cooperação e conflito do ahawelob’ com chefias ou senhorios não-mayas – e até não-
mesoamericanos – precisam serem melhor estudados e pesquisados sob a perspectiva do
devir do sistema internacional em referência.
Considerações finais: os estudos mayas e as teorias não-ocidentais de relações
internacionais
Sob a perspectiva da história e das assim chamadas teorias não-ocidentais das relações
internacionais, o estudo da experiência maya clássica parece ser importante, relevante e
pertinente. Note-se que em sua monumental e conhecida obra dedicada ao estudo da
evolução da sociedade internacional desde a época dos Sumérios até nossos dias, o Adam
Watson (2004) simplesmente ignorou ou desdenhou qualquer eventual contribuição da
América antiga, em geral (Coe, Snow e Benson, 2006).
Para Watson, ele mesmo um dos mais reconhecidos autores na temática, o
continente americano somente adquiriu alguma relevância digna de menção a partir da
expansão colonialista europeia e principalmente no contexto da relativamente recente
ascensão dos Estados Unidos numa sociedade internacional essencialmente de natureza
20
europeia ampliada. Outros autores reconhecidos e conceituados no campo da teoria das
relações internacionais – além de adotarem posturas evidentemente eurocêntricas,
estatocêntricas e excessivamente presentistas –, nos fatos, acabaram negando-se a
pesquisar seriamente as experiências, tradições ou sistemas não-europeus antigos. E
alguns teóricos fundamentalistas questionam a pertinência de qualquer estudo histórico
das relações internacionais, em geral, favorecendo uma postura alegadamente racionalista
e presentista; isto é, uma preocupação com o devir da sociedade internacional criada pelos
e para os europeus, e confirmada na ordem westfaliana.
Em contrapartida, poucos são os historiadores – e ainda menos os arqueólogos –
especializados no estudo da história das relações internacionais ou mesmo na sociológica
histórica do político. Acreditam muitos historiadores que a análise historiográfica
realizada por muitos teóricos das relações internacionais é fundamentalmente episódica,
superficial e quase sempre irrelevante pela falta de consulta aos arquivos e outras fontes
primárias.
Evidentemente, esses preconceitos, empáfias, arrogâncias e desarmonias
intelectuais e profissionais têm acabado provocando um ineficiente e espúrio diálogo de
surdos entre muitos teóricos e historiadores das relações internacionais, em geral, e
daqueles interessados no estudo e na pesquisa do sistema internacional maya clássico, em
particular (Aissaoui, 2014).
Nesse contexto, a presente contribuição propõe o início de uma agenda de
pesquisa do sistema internacional maya clássico a partir de um diálogo construtivo e
interdisciplinar. Queremos acreditar que para os estudantes de relações internacionais, em
particular, e para as ciências sociais, em geral, o problema-objeto em referência é mesmo
transcendente. Nesse caminhar, certamente, será necessário modificar alguns paradigmas
tradicionais. E a aproximação às denominadas teorias não-ocidentais das relações
internacionais, bem como aos estudos subalternos e decoloniais, parecem ser alternativas
inelutáveis, imperativas e imprescindíveis (Acharya e Buzan, 2009; Tickner e Waever,
2009; Tickner e Blaney, 2012).
Afastar-se um pouco do eurocentrismo, do estatocêntrismo westfaliano e do
presentismo ou imediatismo permite aos profissionais da história e da teoria das relações
internacionais observar e compreender melhor não somente o devir da sociedade
internacional atual, bem como adquirir um senso crítico mais apurado e propositivo diante
21
dos desafios teórico-metodológicos, empíricos, profissionais e mesmo existenciais
vigentes (Aissaoui, 2009; Lafraie, 2012). Cumpre acrescentar que esse movimento
“revisionista” em história e teoria das relações internacionais compartilha, em última
instancia, preocupações epistemológicas e mesmo filosóficas, previamente desenvolvidas
por autores e paradigmas denominados de críticos, pluralistas, globalistas, feministas,
ambientalistas, subalternos (Cox, 2000; Smith, Booth e Zalewski, 2002; Saraiva, 2009).
Tudo isso sem esquecer que toda teoria – e principalmente as teorias dominantes
no campo das Relações Internacionais – não são neutras; e por via de consequência, de
forma consciente ou não, essas construções teóricas dominantes acabam ou podem acabar
reproduzido e sendo funcionais à ordem atualmente existente. Daí que, salvo melhor
interpretação, pesquisadores consequentes no campo da história e da teoria das relações
internacionais poderiam ir além dos conceitos e das interpretações tradicionais. E uma
forma de conseguir esse efeito almejado de ir além do corriqueiro ou do comum parece
ser procurar oferecer contribuições originais, rigorosas, inovadoras e socialmente
transcendentes.
Nesse diapasão, cumpre acrescentar que, desde seus primórdios no final do século
XIX, os estudos mayas possuem uma marcada e evidente vocação global. Exemplo disso
foi a fantástica contribuição do linguística do russo Yuri Knórosov, que prodigiosamente
conseguiu iniciar o processo de decodificação dos até então impossíveis hieróglifos
mayas, todo isso sem nunca ter pisado território algum dos atuais países mesoamericanos
e no polarizado contexto da Guerra Fria – somente em 1999, pouco antes de morrer, a
convite do governo mexicano, Knórosov pode conhecer Palenque. Observe-se que o
paradigmático trabalho do linguista russo foi realizado desde a antiga União Soviética, a
partir do estudo e decodificação de códices mayas publicados em formato de livro
impresso, e que ele resgatou nas ruinas da Biblioteca Nacional da Alemanha, no marco
da pavorosa batalha de Berlim, no final da Segunda Guerra Mundial (Coe, 2010).
Mesmo reconhecendo o estágio incipiente dos estudos mayas realizados no Brasil,
as oportunidades para seu desenvolvimento parecem ser alvissareiras (Navarra, 2008).
Especificamente no concernente aos estudos e pesquisas do sistema internacional maya
clássico, que é o problema-objeto específico deste ensaio de interpretação, o diálogo entre
historiadores – particularmente entre historiadores da América e de história antiga –, de
um lado, e internacionalistas – uma comunidade epistémica bastante numerosa no Brasil
–, de outro, é crucial e decisivo. A médio prazo, não parece incorreto ou inconsequente
22
propor que os estudos mayas realizados pelos historiadores e teóricos das relações
internacionais no Brasil acompanhem as trilhas abertas por pesquisadores nacionais
especializados em egiptologia, em estudos greco-romanos ou em estudos medievais.
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