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A mina dos mineiros
"Eu e você num
super papo nas
páginas 14 e 15".
Ribeirão daIlha, Onteme HojePáginas 10, 11 e 12
Jncques Mio.
Sem terraescreve e
Zero publicaPágina 3
Na Central
DIAS DE AGONIA
Diário de um. colono
o ZERO publica com exclusividade o diário de um acam
pado da Fazenda Taitalo, emOaçador. O texto, manuscritoem caderno universitário porJoacir Trindade é o registro deum dos poucos aHabetizadosdo acampamento. Serviu de
roteiro, no último dia 27 de
outubro, quando mais de miltrabalhadores rurais sem-terra dramatizaram "in loco" a
ocupação da área. Aqui transcrevemos literalmente o textodo Joacir."Após dois anos de organiza
ção nas comunidades nós partimos para uma ocupação de latifúndios no dia 30 de outubro de1987 as 11 horas da noite no
município deCampoErê e Irani.
Enquanto os companheiros se
reuniram um companheiro saiucom uma moto para envestigara estrada e ver se a area nãoestava guarnecida e ver se não
tinham companheiros prezo.Perto da entrada da area o
companheiro persebeu uma bareira de políciapassando 2 vezes
pela bareira e não foi reconheci
do, voltando atras deu sinal aoscaminhões os quais os companheiros se dirigiam.Vendo que a estrada esta
va barada pegaram outra estra
da, aonde se dirigiam a fazenda
Campo Grande.Por volta das 5 horas da ma
nhã chegaram no local uma ca
ravana de 27 caminhões e 4 ônibus.
Chegando ao local os. companheiros pediram permissãopara uma família que cuidava
para entrar, e a família não deuordem. Os companheiros se descidiram e abriram o portão comas próprias mãos. Além da canseira do sono e da fome estavamtodos animados pela vitória de
conseguir realizar a ocupação.E ao amanhecer o dia realiza
ram uma assembléia e começaram a armar os baracos.
Enquanto o tempo se passava durante o dia escutamos norádio que 12 caminhões quetransportavam os companheiros estavam prezos desda noiteanterior com os companheirosno sol sem comer ficando prezosaté o meio dia.
.
N8; noite do dia 31 um grupo de
companheiros que foram barados se deslocaram da linha ca
margo as 9 horas da noite em
média de 700 pessoas percorrendo 24 K. a pés crianças com 6anos caregando irmanzinho nas
costa.Um senhor de idade de 68
anos caregando 60 K. nas costa e
mais uma criança de 5 anos.Um casal camsando na via
gem acampam, de não poderseguirem frente. Foram obrigado a pouzar na beira da estradano dia depois os companheirosvieram emcontrar.A comitiva chegando no rio
sargento com 20 metros de lar
guras formaram uma comisão
Sem-Terra
de 30 homens em questam de
segurança parapasa as pessoasprincipalmente as crianças.Seguindo a caminhada todos
com sono e com fome e muitoscamsados fizeram uma paradapara descanso 8 K.ls longe daarea.
Seguindo em frente chegandoperto da area deram falta deuma menina com 8 anos de idade. Formaramuma comissão de3 companheiros e voltaram a
procura da menina. Encontraram amenina dormindo no localonde fizeram a parada a comissão voltando no local onde estavam os companheiros esperando emtregaram a criança paraos pais.Entrando pelomato e se apro
ximando da area por volta das 9horas damanhã do diaprimeiro.Os companheiros que já estavam na area foram encontrar acaravana abraçando os com
panheirose ajudando trazer as
mochilas.
Enquanto os companheiros
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I,
Joacir registrou as ocupâções deterra
que fizeram a caminhada dormiam os outros armavam os
baracos. Formamos uma co
missãoparanegociar com o prefeitoonde ficouprezoum companheiro.E outra comissão foi a Floria
nópolis para negoçiar onde não
foram recebidos pelo governador Pedro Ivo Campos.No domingo as 11 horas da
noite o juiz de Campo Erê mais oprefeito Darci Furtado assina
ram a eliminar de despejo.No dia 2 chegam no local
as primeiras imvestigas da policia o delegado de Campo Erê e
um menbro da U.D.R. fazendo'varias perguntas.No dia 3 o oficial de justiça
I
acompanhado de dois policiaschegaram na area exigindo queos sem terra desocupasem a
area para evitar que o despejofose realizado, no mesmo dia
comesa as mobílizações da policia.
Vindo alguns policias acam
par 1000 métro longe da area
empedindo a entrada e saída dos
companheiros ou qualquer pessoas que quisessem entrar. Os
companheiros foram impedidode levar crianças para o ospítal.Uma mulher que estava para
dar luz a uma criança foi obrigada a ganhar a criança embaixo
do baraco. No dia 4 de novembro
por volta das 7 horas da manhã
chegaram no local1.8oo policiasarmados com fuzil baionetasbombas de gás e o Batalhão de
choque alguns policias com ca
pas de asso e todo tipo de arma
mento de gerra cercando toda aaárea.O oficial leu a eliminar de
despejo dando meia hora de
prazo para desocupar a area emtão pouco tempo, negociaramcom o juiz e o comandante da
brigada e pediram prazo mais
prolongado conseguindo prazoaté o meio dia para desocupar aarea numa base de 12.000 pessoas nas quais 7.000 eram crian
ças. Foram desmanchando os
baracos estragando as lonas e
alimentos saindo da area, sendo
obrigados a pasar por uma barreira de polícia, que revistaramtodas as mochilas tirando os
facãms facas de mesa e ferra
mentas de trabalho. Varios
companheiros foramprezos em
trevistado pela propria policialogo em seguida foram jogadoem sima dos caminhães e levados de volta as comunidades de
origem.
Os companheiros de Irani emformadoso fatoque estavaacon
teçendo emCampoErê se reuni
rão no acampamento com uma
assenbléia e disidiram de sairda
area para o assentamento vizi
nho, para evitar que o despejoacontesesse onde permaneçeram acampado na area da co
munidade do assentamento.Com o despejo de Campo Erê
ficou dividido os companheirospara Quilombo e Campo Erê,emquanto a UDR, as autortda-
des do município e do estado
faziam festa comemorando a
vitória que eles tiveram.Mais uma vesmostramos que
nossa organização foi mais forte. Reorganizamos dois acam
pamentos um em linha Conti
Quilombo e outro em linha Tre
visan em Campo Erê.Éramos três acampamentos
Campo Erê 600 Quilombo 200 e
Irani 400 durante 6 meses de
negociação fazendo caravanas
de companheir-os a chapecóFlorianópolis e até Brasilia 'não
conseguindo solução para o as
sentamento das famílias acam
padas dicidimos fazer a cami
nhada pela reforma agraria.Os companheiros dos 3 acam
pamentospercoreram um trajeto de mais de 150 K. a pé abaixode chuva e sol sairam dia 26 de
abril chegando emChapecó dia 1
de maio comemorando o dia
do trabalhador entre cidade e
campo.
Uma grande comsentraçãomais de 1.000 pessoas participaram permanesemos mais de 20
dias em negosiação com o Mirad. E não resolvendo o problema voltamos para os acam
pamentos e resolvemos nova
ocupação de latifundios.
No dia 24 de maio a noite
os companheiros dos acampa-o mentos de Irani eQuilombo fizeram uma ocupação na FazendaVolta Grande em Abelardo
Luz.
No dia 25 de maio os com
panheiros de CampoErê ocuparamaFazendaRoseiranomuni
cípio de Romelândia.
Permaneçemosna areamais de30 dias e fomos despejados pelapolicia, aonde esses companheiros sofrerão mais de 30 horassem comer jogados amaiorianacomunidade de Vila União e os
demais na Linha Trevisan.Nós que estava na linha Trevi
san prendemos a caçamba da
prefeitura até o meio dia ejigin-
do que soltassem 'os 5 companheiros que estavamprezospelapolicia. Por volta das 13 horas chegou um onibus com 60
policiais todos completamentearmados, para entrar no acarnpamentoebaternopessoal:Masnós tudo o que já tinha sofrido
pegamos as foiçe e as ferramentas de trabalho e não deixamos emtrarno acampamento seeles não soltassem nossos-eom
panheiros nós queimava o oníbus: Soltaram nossos companheiros quase mortosarancaram a barba os cabelos e caminhavam em sima dascostas. Num breve momento se
retiram do acampamento e foram pra cidade.
Os companheiros da VilaUnião tentaram negoçiar com o
prefeito de Campo Erê não con
seguir-am caminhães para vol
tar resolveram fazer uma paseata na cidade parando em
frente da prefeitura agradeçendo por ele ser causador das 30horas que as familias ficaramsem comer prosegiram a passeata fazendomais de 30K. apésaté o acampamento de linhaTrevisan.
II{)lpois de 2 meses das ocupações da Fazenda olta GrandeAbelardo Luz e da Fazenda Roseira - Romelândia resolvemos
ocupar a Fazenda Taitalo com
150 famílias .... "
N.R.: Aqui termina o diá
rio, mas luta dessas familias
pelas terras continua. Atual
mente, estão acampadas no assentamento Matos Costa, â es
pera de que o Mirad libere a
Fazenda Taitalo.
••
-1
ESGOTO burguês tambémtemmau cheiro! Prova disso éo odor insuportável da BeiraMar Norte. Nem mesmo perfumes importados conseguemdiSfarçar o fedor que, sem
pedir licença, invade os aparotamentos da Avenida Rubensde Arruda Ramos nos dias devento forte. Engenheiros da
FATMA,daCASAN, eavereadora .JalilaEIAchkartêmpropostas para o tratamento de
esgotos, que atualmente são
despejados direto no mar em
Florianópolis.A FATMA (Fundação de
AIDparo à Tecnologia e ao
MeioAmbiente) é responsávelpelo controle de esgotos da
parte industrial e de empreendimentos. OprofessorDomingos Alberto Rocco, da gerência regional da FATMA em
Florianópolis, acredita que a
contribuição dos efluentes industriais para a poluição daBeira Mar é quase insignificante se comparada com os
residenciais, que têm seus sistemas de esgoto controlados
pelo Departamento de SaúdePública e pela CASAN.O engenheiro Ronald
Sotschnig, daFATMA, dispõede uma equipepequena, "
porisso damos prioridade às 52
pI"a.Ü\S que temos para fiscalizar, onde os resultados sãomais compensadores".Sotschnig acredita que os es
gotos da capital deveriam sertratados em uma lagoa de es
tabilização.OengenheiroGrover,daCA
SAN (CompanhiaCatarinensede Águas e Saneamento), explica que estão construindo
OS FLUTUANTES
e Jalila garante que este gás é90% menos poluente e 75%mais econômico que os outroscombustíveis. Em São Paulo o uso de biogás foi aprovadona Câmara de Vereadores e o
Sindicato dos Taxixtas de Flo
rianópolis tembém já aderiu àidéia. "Outra vantagem é queas fontes de biogás são inesgotáveis, poque o lixo e esgoto,matérias-primas para esse
tratamento, são gerados permanentemente pelo homem",enfatiza Jalila.
Grandes. avenidas,lindos edifícios eum cheiro horrível
Engenheiros da FATMA�da OASAN e rauta-ev,têm propostas paratratar o esgoto quevai direto pro mar.
uma lagoa de estabilização nocontinente. "Nós também temos um projeto para a cons
trução de uma lagoa na ilha,perto do aeroporto, mas faltam verbas. A solução seria a
CASAN cobrar uma taxa da
comunidade, porque o tratamento dos esgotos beneficiaria a todos", conclui.
Pontos CriticosO departamento de química
da UFSC está trabalhando no
projeto "Determinação das
Condições Ambientais dasBaías Norte e Sul da Ilha deSanta Catarina" e tem convênio com a Universitá degliStudi di Venezía. Um dos resultados encontrados até agora foi que os pontos mais crítícos são: onde entra o despejodaruaOthonGamaD'eça; soba ponteHercílíoLuz e perto daAssembléia Legislativa, na
Beira Mar Sul.A coordenadora do projeto é
a professoraDuartina Gos As
sunção. O objetivo principal édeterminar a qualidade das
águas da Beira Mar e com os
resultados forçar autoridadese tomarem providências.Duartina afirma que "emmuitos locais pesquisados há
.
apenas dois mg de oxigêniopor litro de água, onde é im
possível a vida para um animal aquático". Ela explicaque onormal seria oitomg. "A
redução do nível de oxigênio édevido aos poluentes orgânicos e inorgânicos e aos dejetos que vão direto para o mar,sem nenhum tratamento",completa a professora.
Ônibus à gásA vereadora Jalila El Ach-
o cheiro da Beira Mar não permite que se respire fundo
kar, eleita pelo Partído Verdeem 15 de novembro, tem a
proposta de reconstrução darede de esgotos na cidade. Eladefende a criação de pequenasestações de tratamento paraque dos dejetos retire-se bío
gás, que é viável como com
bustível epoderia serutilizadona cozinha ou como gerador deeletricidade. Como diz Jalila,"estas estações se auto pagariam em cincoanos, e os recursos para sua construção poderiam viT do Poder Público ou
de empresários interessadosno gás".
Outroprojetoque a vereadora pretende defender é a aprovação do uso de biogás com
combustível em táxi e ônibus,
Energia e RespiraçãoRosemary M. M. Fabrin,
residentenaBeiraMarNorte e
criadora do MEHU (MovimentoEcológicoHumanitárioUniversal) lamenta que "oshomensnão entendemque têmuma natureza interdependente e que precisam de ajudamútua, por isso não tem o
direito de alterar a natureza,já que ela não nos pertence".Rosemary reclama que' 'pelamanhã, na hora do rush aos
banheiros, o cheiro fica insu
portável, além de que nos diasde vento forte o mau cheiroentra nos apartamentos até
pelos ralos".
O engenheiro Grover nãoestá tão entusiasmado quantoa vereadora: " A coisa não étão simples assim, é muitomais técnica do que parece" .
diz.
-�---'"...__._-�-
Ana Lavratti
4 c' ZERO ,
. DEZ-88� .. ,-��-���- .
ELETROSUL
Heróis da ResistênciaQuem faz
greve paga.
Quem não
faz ganha.
Filmes pornográficos, futuraspromoções, pagamento de diáriasantecipadas e transporte de graça. Esses foram alguns dos privilégios dos quais os funcionários daEletrosul que não aderiram a greve, dispuseram nos últimos dias.Tudo vale quando se trata demanter a empresa em funcionamento,até mesmo a formação de gruposde operadores aposentados, estagiários e pessoas da chefia queatendem pelo nome de "ComandoDelta". Desde o ínicio da greveesse grupo vem colocando precariamente as estações e usínas da
empresa em funcionamento.Enquanto isso, do lado de fora da
empresa, apesar das demissões,ameaças e suspensões, os grevistas contínuam unidos no movimento que já levaummês. Ao somdaRádioPantaneira, ummicrofone e algumas caixas de som ínstaladas no Centro Comunitário doPantanal, os funcionários se distraem com as brincadeiras deJosé Carlos Leite, um locutor queusa de toda a suacriatividadeparaironicamente criticar a empresa.Nos intervalos comercias, Leitecapricha na entonação da voz e
solta o slogan já bastante co
nhecido: "Tudo está tão bom,tudo esta tão bem, vem prá grevepelego vem".A programação da Pantaneira
começa cedinho com a "conversaao pé no saco". Depois vem o
jornalismo na greve que situa os
funcionários quanto .as negociações através do "Bom dia grevista" e "Informes Sindicais". Paraa descontração do pessoal Leiteapresenta o show do Xuxo. Comoqualquer rádio que se preze, a
Pantaneira também presta serviços de utilidade pública, como
informes dos horários dos ônibusKarla Bastos/Zero
Sem garantia de emprego eles não voltam ao trabalho.
da Pelegosul, nome oficial da Eletrosul, dado pelos radialistas. Arádio criada na greve anterior, ésegundo Leite, uma maneira dos
grevistas "botarem a boca no
mundo". "É onde as coisas sériassão ditas na brincadeira", acrescenta.
Mentiras, mentirasApelos aos funcionários para
voltarem ao trabalho com garantias de atendimento com a chefia e
publicações de editais tranquilizando a comunidade de que o sistema eletricitário não sofre riscos,são algumas das afirmações queconstroem o "castelo de men
tiras" da Eletrosul. Amais absurda, segundo os grevistas, foi a
declaração do presidente da Ele
trosul, PauloMelro, de que o saláriomédio dos funcionários é de 700mil cruzados. Irritado com a de
claração, um engenheiro formadohá 25 anos, duas pós-graduações e
17 anos de Eletrosul, mostrou seu
contra-cheque de 624 mil cruzados: "Todos sabemos que o saláriomédio da empresa não chega aos
300 mil. Nem eu que já cheguei notopo da pirâmede ganho os 700mil afirmados por Paulo Melro. Embora as pessoas tenhama impressão de que somos ma
rajás, ao contrário somos a ralé dosistemaeletricitário", protestou o
engenheiro que não quis se identificar temendo represálias da em
presa.Negociações. Quando?
A greve que já completa um
mês se mantém pela garantiade emprego e não mais pelasquestões econômicas que já foramparcialmente atendidas.Os funcionários recusam-se a voltar ao trabalho enquanto as 15demisões e 50 punições foremmantidas. Esse impasse envolveu
Foto de Karla lItuJtos
políticos que como o senador Dirceu Carneiro (PMDB-SC), defende os grevistas na qualidade deintermediárionas negociações entre empresa, governo e funcionários.
Além disso, uma comissão formadapor representantes da intersindical dos quatro estados onde aempresa atua (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e MatoGrosso) e parlamentares, esperam já há dias em Brasília uma
solução para o impasse. As informações são de que falta apenas uma atitude do Ministro dasMinas e Energia, Aureliano Chaves, de quem se espera por fim à
intransigência dos diretores daEletrosul. O problem, é que numdia Aureliano está viajando, no
outro está com o pé machucado, e
por aí vai.. .. Como comenta um
grevista, na verdade ele está es-.
corregando como sabonete, já queuma decisão a favor dos funcionários irá desmoralizar a chefia da
empresa. O grevista João JoséCascaes Dias acrescenta dizendo
que a questão no momento estámais para Freud do que para Sarney, já que o Ministro Aureliano procura uma maneira de nãodesautorizar a empresa publicamente, apesar de concordar coma
reivindicação dos funcionários.
ReivindicaÇÕeSOs 29 dos 31 ítens da pauta de
reivindicações dos grevistas f0-ram deixados para serem discutidos quando-osiunéionârloS vóltarem ao trabalho, O presidente daAssociação dos Profissionais da
Eletrosul, (APROSUL). CláudioCorradíni, diz que as reivindica
ções visam acabar com os apadrinhamentos e extinguir os privilégios.Os funcionáriosexigemo fimdas contratações e a convocaçãode eleições para díretoría.
Dka Goldscbmidt
DEZ-88 ZERO 5
de onde muitos foram expulsos.
Os menores
recebem
alimentação e
treinamento
profissional
Quem visita a Escola do Menor Trabalhador pela primeiravez e espera encontrar algo parecido a um colégio convencional deve se preparar para um
choque. Dentro do prédio antigopintado de cor creme, na rua
VictorKonder, 53, centro de Flo
rianópolis, as crianças e adolescentes entre 11 e 16 anos (todosdo sexomasculino) têm um ponto em comum facilmente perceptível à primeira vista: a
agressividade latente.Ela servepara esconder a extrema carência de afeto e as marcas impiedosas do cotidiano de pobreza.
Fundada em 1984, a Escola doMenorTrabalhadorde inicio eraadministrada pela SecretariaEstadual da Educação. Depoisfoi assumida pelas irmãs da
Congregação Salesiana (atualmente três), que junto com 21funcionários - entre professores,vigias, assistentes sociais e cozinheiros - tomam conta de dezenas de meninos considerados
"desajustados" pelo conceitopadrão da sociedade. Atualmente há 80matriculados, dos quais50 vêm sempre e uns 20, esporadicamente. Não há lista de presença na entidade, que é mantida pela Fundação Vidal Ramos.Um dos grandes apelos quelevam os alunos a frequentar olugaré o doestômago: são servidos todos os dias, gratuitamente, café da manhã, almoço e
Aplicar um texto de Bertold
Brecht em garotos de rua que
mal sabiam ler, parecia uma
idéia meio absurda. Mesmo(
assim resolvemos insistir nela e
ver o que eles conseguiam
captar da história dos tubarões
e dos peixinhos, oque era
sociedade e, principalmente,como viam a escola tradicional,
EDUCAÇÃO DO MENOR
A vez do menorFotos de Maria Cristi'lUl Joshizato e Simone Dias
lanche. Um paraiso para crian
ças que, inúmeras vezes, precisam fazer pequenos furtos em
supermercados para poder se
alimentar. A única exigênciapara usufruir da comida da es
cola é participar de um dos "recantos" - atividades grupais de
alfabetização, arte, esporte ou
treinamento profissional."Mas a gente nota que eles
gostam da escola", diz a irmãMaria Teresinha Dalla Porta."É o unico espaço que eles têm
para extravassar. Às vezes atémesmo quando são suspensos. Asuspensão é o castigo mais grave aplicado aos alunos, namaioria das vezes quando cometem
atos de violênciaexagerada contra os companheiros ou funcionários. A irmã Teresinha tem 26
anos, trabalha há quatro com
crianças e desde fevereiro último I1stá na Escola do MenorTrabalhador - única entidade do
gênero registrada em Santa Catarina.Em fevereiro, o regimento in
terno foi aprovado pela Secretaria da Educação, o que permiteaos alunos cursar o equivalenteàs quatro primeiras séries do
primeiro grau. Caso vença os
conteúdos básicos - transmitidos de maneira bem diversa doensino formal - o estudante estará apto a entrar na quinta série
Leitura sem inocência"O tubarão é malvado para os
peixe. Os tubarão come ospeixe nomar. O peixe tem que fugir dostubarão. O tubarão maltrata os
peixe nomar. Oprefeito é tubarãogrande. Os peixe tem que respeitar os mais grandes no mar. Ostubarão são malvados com os peixes. No mar chefe é o tubarão. Omeu sobrinho é peixinho e eu sou
tubarão. Nomar tem várias espécies de peixe. Se eu fosse peixinhoeu saia domar para longe daqui.Nós peixes vamos reunir uma tur-
'- ___' ma para espantar os tubarão".(Carlos)
"Eu sou.um peixinho, sou exploradopela política. Os tubarões sãomaus porque acham que os peixinhos não servem para nada, sóservem para roubar, matar, an
dar sujos. Na sociedade os peixinhos são descriminados porque a
maioria são negros. Eu sou um
peixinho Jiscriminado porque sou
negro". (André).
6 ZERO fi DEZ-88
quando sair. Isto não acontececom frequência, lamenta a ir
mã, pois a maioria dos menoresentram na escola analfabetos,ou já vêm expulsos de outrosestabelecimentos de ensino pornão terem se adaptado. A linha
pedagógica é a dialética, quevisa preparar a criança paradesenvolveroespírito crítico emrelação à sociedade. O horáriode funcionamento é das 8h às17h, com férias de fim de ano e
atividades de lazer em janeiro e
fevereiro.Irmã Teresinha observa que, _
curiosamente, a agressividadedosmeninos é usada também co
mo forma de demonstrar carí-
"O Sarney é o tubarão porquepõe a polícia pra cima de nós. Ospeixinhos são aqueles que não temalimento para comer. Os tubarõesquerem que os peixinhos obedeçam 'para eles poder comer. Ostubarões devia ensinar eles a brincar, se divertir e não fazer artes.Os peixinhos devem agradecersuamãe. Eles devem teruma casafeliz e contente, muito longe da
qui". (Marcos)
Dauro Veras
nho: "Teve uma época que eutava com o braço preto de tantolevar beliscão de um deles, quequeria chamar a minha atenção". De inicio o projeto daEscola previa o atendimentomisto, mas as condições precárias de trabalho, aliadas ao número pequeno de funcionáriospara tomar conta de toda a ex
tensão do prédio, criaram problemas ligados à sexualidade.Assim, as meninas deixaram deseratendidas. "às vezes surgemcasos de homossexualismo" ,
admite a religiosa, "e tambémde consumo de drogas". A nor
ma é não fumar aqui dentro. Sealguém usa maconha lá fora a
gente nota. Eles vêm depressivos ou agressivos". Mas, segundo ela, o furto tem sido um
problema bem maior.Os meninos não encaram o
furto como algomoralmente er
rado. Para eles, como o supermercado rouba, o que fazem ao
surripar algum objeto é sim
plesmente um ajuste de contas."Temos o cuidado para não incentivar a atitude nem recriminar severamente", frisa. Normalmente, a preferência recaisobre chocolates e outros alimentos, ou então roupas tiradasde varais. A -questão é trabalhada com tato, para não reforçarum comportamento delituosonem estimular a aceitação passiva das desigualdades sociais.Também quanto à religião, toma-se o cuidado de enfatizar a
formação espiritual de forma
ecumênica, sem dogmas e fórmulas prontas.E o futuro? "Alguns saem da
qui e conseguem trabalho ... ",diz a irmã, depois de uma pausaimais longa que o habitual. E os
outros? Reticências ...
"Da minha parte quem é tubarão é o José Sarney e Pedro Ivo. Ostubarão são os prizidente e os
prefeitos que gosta de nos maltratar os peíxínhos.que são nós ele faznós paga passagem". (Emanuel).
A Escola do Menor Trabalhador tenta dar aosmeninoscarentes uma visão críticasobrea realidade em que elesvivem. Fazer deles garotoscríticos e conscientes da in
justiça social. "Agentes da
Transformação", define Júlio Cesár Broch, com sua
experiência de quatro anos
comoprofessor de EducaçãoFísica das crianças. Sãomeninos carentes e a escolapretende orientar essa rebeldiapara algo positivo. Aqui começa a revolução.
Em seu apartamento no
Córrego Grande, Júlio con
tou um pouco sobre os meninos e levou um susto quandose viu frente a uma pergunta: "E qual é o futurodeles?
"
"Queres um chimarão?",desconversou e foi para a
cozinha. "É difícil saber. Oque nós tentamos fazer é dara eles as condições para quepossam questionar a pobreza".
Na relação que mantémcom os meninos, Júlio Césarsegue o sistema preventivoDom Bosco e tenta ser o
menos repressivo possível.
Nas aulas de educação física, ele jamais colocou osme-
Antônio Carlos de Souza tem 16
anos, mora no "Passo do Gado pertodaProcasa, pertodaMarinha, pra ládoEstreito".Mora longe,mas quasetodos os dias vem até à Escola doMenor Trabalhador, no centro dacidade. Ele é um desses garotosconhecidos como garoto de rua, ca
rente, marginalzinho. É provávelque seja, mas muito mais porque os
outros garotos, os contextulizados,queiram assim.
Antônio é bonito? É Forte? Também. Talvez um pouco baixo para a
sua idade . 1m e 50 de altura. Étímido, calmo, um tipo de calmo
que ninguém gostaria de ver ner
voso.
Sobre os seus dias, ele conta quea primeira sensação ao acordar é a
preguiça. Levanta, lava o ros
to ... nem toma café e sai logo poraí, vai dar umas voltas.
Quando Antônio fica em casa duorante a manhã, gosta de soltar pipa
.
em cima da lage do banheiro. Solta
pipa, assiste televisão, brinca de. - dominó. Lembra dabicicleta (a bící
cleta!) do primo e vai até a casa da
tia, afinal ele também tem uma tia.Resolve jogar umas partidas de sínuca com o primo, "quem perdepaga" - então os outros garotos estavam certos, o marginalzinho dosbares e da sinuca finalmente apareceu, heim?
Depois eles brincam de lutinha,capoeira, alguma coisa pra espanotar o frio. É hora do almoço. Airmã, Sônia Aparecína, que tarnbém tem 16 anos, prepara o arroz,
PERFIL DO MENOR
ninos em fila e deu as ordens,1, 2, 3, 4, ..... SeguidamentelevaagarotadaparaoAterroda Baía Sul para jogar futebol. Mas nunca apita as partidas. Deixa que eles acusemas faltas e decidam regras.
Júlio logo começou a sentir arelação de poder entre eles.
Omais forte sempre dominava. "Agora mudou muito.
Antes era uma brincadeiradanada. Pancadariageral. Afila do almoçoera uma gritaria só." Muito rebeldes, os
meninos são agressivos a
primeira vista. "Ás vezes euficava puto com eles", admite esse gaúcho de 33 anos,natural de Espumoso. "Porém, é preciso diálogo, amore conquista".
Ferrugem, de 11 anos, bri
gava muito. "Ele quebravatudo na escola", conta Júlio.
Ferrugemmora noMorro do
Horácio, mas já fugiu de ca
sa e passoumeses vivendo narua. Hoje, ele cuida de carrosem frente a MacarronadaItaliana e todos os dias leva
Antonio frequenta a Escola doMenor
•o feijão, a carne.
Antônio descansada comida, escova os dentes - às vezes fica com
preguiça: não escova os dentes; masos tem, escova e dentes. Os outros
garotos se surpreendem com essas
coisas. Depois dá uma vontade desair:.. Antônio vai para a Escola.Fica lá até dar vontade de ir embora,lá pelas 4 horas da tarde. Pega o
ônibus do Monte Cristo e vai para a
casa.
Desce do ônibus encontra ami
gos, bons de bola. Jogam. Brin
cam até anoitecer no campo sa
pé.Quase 9 horas da noite, Antônio
não gosta de chegar cedo em casa.
Está cansado, vai embora. Lá encon-
Na escola só entram crianças interessadas a ler e escrever
uma grana prà casa".
Júlio conta que logo que foifundada a escola, os professores tinham apenas o co
nhecimento teórico sobre o
trabalho com menores ca
rentes. E haviam figurinhasainda mais difícieis que Fer
rugem. Eram meninos que
tra a mãe, Enendina, faxineira. Elenãolembradaidadedamãenemado
pai. o Seu Sérgio, pintor de paredes.Os irmãos estão em casa também: a
. Cleusa, de 11 anos. a Eliane, com 9anos e o Paulo, de 12 anos,'além daSônia Aparecida. a que faz o almoçotodos os dias.
Depois de tomarem café . Antônio adora café com�ão doce - vãotodos assistir televisão. Os olhosde Antônio vibram quando come
ça o filme do "Esquadrão ClasseA", na SBT. Estórias que prometem bons sonhos.Antônio tem um quarto onde dor
mem ele e o irmão Paulo. Os doisirmãos dormem em um beliche. emcima ou em baixo. conforme a vontade. Este é um dos quatro quartos dacasa, "Tem banheiro. tem uma sala.cozinha, tem um pedacinho de cam
pinho ali atrás. Casa de madeira.nova, grande, é boa demorar." Temgente lá dentro, tem comida, temcama, tem televisão, tem banheiro com laje! Tem mesmo?Dormir. Sonhar. O sonho impossíveh a bicicleta. Possíveísr- Queria aprender a ser pintor.- Ah! UIlI pintor. um artista, um
pintor de quadros?- Não, pintor de parede.- Pintor de parede?- Como o pai, ele tem uma vidamelhor. Eu não queria ser rico,queira ser do mesmo tipo que sou,eu tenhoumaboa vida, alegre, nuncafui triste.
Milene Correa
Aprendendo a•
Jogar
viviam na rua, até uma gangda cidade foi ter aulas. "A
gente olhava para o lado e
tinha alguém cheirando colaou fumando maconha", revela. Nessa época aconteceram 14 assaltos na escola e os
professores chegaram a con
clusão de que' 'não era essa aclientela que nós quería-
Os menores
acham que a
capoeira instiga o
entendimento da
sociedade.
. 'Meu mestre me falou um dia/Menino preste atenção/Vou te ensinar a
capoeira/Tenha muita devoção". Aosprimeiros acordes do berimbau a rodase fecha, todos batempalmas e começaa paixão dos meninos da Fundação doMenor Trabalhador: a capoeira. To.das às terças e quintas feiras à tarde,Mestre Pop, dono da academia "Berimbau de Ouro". ensina esta arte queveio dos escravos africanos para umaplatéia sempre interessada. "Eu vimpara a Fundação por causa da capoeíra, que é uma dança legal e desenvolve o corpo", diz Edilson, 16 anos,com jeito tímido.Para estes garotos de origem sim
ples, o ensino da capoeira instiga a
consciência social e o atendimento denossa sociedade. Roberto Carlos, 15anos. um animado cantor das letras decapoeira, demonstra conhecimento so
bre ahistória desta dança noBrasil. "Orei da capoeira é Zumbi dos Palmares, o 10 capoeirista dentro da sen
zala". afirma convicto. Beto, como éconhecido pelos companheiros da Fun-
fotos: Maria Cristina Joshizato e Simone Dias
o Futuro do país
o cotidiano de um
garoto marginalizado
mos". Após muitas discus
sões, eles decidiram man
dar a gang embora e sóaceitar meninos que quisessem realmente aprender a
ler e escrever.
André Rohde
dação, diz que os negros jogavam ca
poeira quando apanhavam dos brancos. "Nospalmares osnegrosusavama
capoeira para lutar contra os seus
inimigos. Que navio é esse/Que chegouagora/É o navionegreiro com os escra-
.
vos de Angola/Vinham di!' longe. de
Angola e Guiné/Trouxeram a macum
ba olê lê/CapoeiraeCamdoblé" , cantaanimadamente Beto.Aos seus 13 anos, José Altino, Q
Ferrugem, não gosta de muito papo.Ferrugem prefere mesmo é mostrar oque sabe, desempenhando vários passos de capoeira, como o rabo-de-arraiae o gato. Rosto sardento, estatura baíxa, ele antende que "capoeira é só
para se defender" .
Acompanhado de um catuto, base do berimbau, Guaraci, 15 anos,já é contra-mestrede capoeira, comum
ano de prática. Guaraci explica quetodo ano se faz exame para que os
capoeiristas passem de um cordão para outro, até chegar à posiçãomáximade mestre. O iniciante na capoeiracomeça com o cordão azul, seguindo-severde, amarelo e, finalmente o branco,para omestre. "Sabendo fazer todos osgolpes, o carapassade um cordão parao outro. Para chegaramestre é preciso7 anos de prática", completa Guaraci.Roberto Carlos não pára de' can
tar e batucar. O ritmo e a letra dasmúsicas é contagíants "Minha vida écapoeira/E eu sou capoeira/Olha a
manha,mandingae oração/Capoeira éreligião".
.
Rubens Vargas
DEZ"88 ZERO 7
COOPERATIVISMO
Mina de carvão sai da falência na nlão dos trabalhadoresMineiro
trabalha
para siHá dois anos, a direção do
Sindicato dos Trabalhadoresna Indústria da Extração doCarvão passou às mãos de
lideranças ligadas à CUT e ao
PT. Começou então uma lutaque acelerou a falência deuma das mais antigas mine
radoras da região, a Companhia Brasileira de Carvão
Araranguá (CBCA) e introduziu a autogestão - administra
ção dos trabalhadores.Os proprietários ÁlvaroCa
tão e Sebastião Neto Camposestavam envolvidos num
rombo avaliado em Cz$ 1,3bilhão em dívidas com os governos federal e estadual,credores particulares, e trêsmeses de salários atrasadosaos seus 765 empregados.
-" A falência estava programadapela empresapara dentro de dois anos. Todo o patrimônio da CBCA estava sendotransferido para a BarroBranco, carbonífera do mes
mo grupo em LauroMuller. Osindicato da épocanão se opôsporque era dirigido por pessoas de confiança da empresa. Quando assumimos, exigimos o recolhimento dos
encargos sociais atrasados e,com isso, apressamos a falência", conta o atual presidentedo sindicato, José Paulo Serafim.
Essa estratégia frustou os
planos dos donos que queriamestatizar amina. Em julho de
1987, o juiz Francisco Borgesdecretou a falência e nomeou
o sindicato como síndico da
massa falida. Um ano e meio
depois, a "massa" saiu da
"lama", já aplicou Cz$ 300milhões na recuperação do
patrimônio (que havia sido
depenado pelos donos), pagaos melhores salários, estáabrindo novas fronteiras detrabalho e vira cooperativa.No último dissídio coletivo,
a CBCA se transformou em
carro-chefe para as reivindi
cações dos trabalhadores. Osmineiros pediram 200%, o juizdeu 145% e o sindicato foi o
primeiro a pagar. Hoje os
salários variam deCz$118milà Cz$ 200 mil (mecânico profissional). Para um faturamento de Cz$ 472 milhões, aMassa pagou, em outubro,Cz$ 127 milhões de salários e
encargos sociais.- Sempre defendemos que o
trabalhador tem capacidadede administrar uma empresae hoje temos um exemplo concreto disso. O grande problema é que o regime capitalistatenta boicotar e destruir esse
tipo de administração. Osmineradores sempre ameaçavam fechar as empresas nas
negociações salariais. Hojenão têmmais como nos assustar com isso. Se estão tendo
lucro, que o repartam; senãopassem a mina para os 12.600
mineiros, que tem intenção derepetir a experiência da CB
CA", diz Serafim.Cooperativa
A reativação da CBCA en
volveu greves, combates coma polícia, prisões. Teve um
impacto social muito forte emCriciúma, cidade com 180milhabitantes e maior produtorde azulejos da América Latina. A mina ainda suscita cu
riosidade na região e até em
outros estados. A populaçãolocal e os visitantes, na maioria, aprovam a experiência. O
antigo proprietário prefereesperar "para ver se dá cer
to" .
A nova administração co
meçou do zero. Recebeu do
governo apenasuma verba de
Cz$ 160 milhões para recuperar os equipamentos e pagaros salários atrasados. Em as
sembléia no dia 7 de julho de
87, os trabalhadores elegeram o engenheiro eletricistaMorvan Borges para gerentee formaram uma comissão de
mina, com 30 representantes(um de cada setor) que se
reúnem mensalmente paratraçar os planos de trabalho e
prestar contas. Morvan ganha o maior salário Cz$ 1
milhão ("abaixo do que ganha um engenheiro da minhagraduação em outramina"),mas já perdeu o cargo de
gerente.
,Juridicamente, o sindicatoainda é síndico da CBCA -
Massa Falida. Naprática, elajá funciona como cooperativados trabalhadores, em quecada um tem uma cota de
participação. Foi registradano último dia 25 de outubro e
agora está negociando as dívidas com os credores: Cz$1,5bilhão com o governo mais
Cz$ 400 milhões com os bancos.
Severiano Antônio Valen
tim, o "Nego", eleito pelosmineiros para a presidênciada cooperativa, divide o tem
po entre o escritório e amina,mas continua com o salário de
encarregado geral: Cz$ 221mil. Apesar de contar com a
assessoria técnica e jurídicade 30 funcionários, acha difícil "ser patrão e operário ao
mesmo tempo; ser da diretoria e mandar nos donos. Aos
poucos, ! gente tira de le-tra".
.
Problemas de uma ilha do
socialismo no capitalismoEduardo Galeano, autor de
"Veias Abertas daAmérica Lati. na", disse, certa vez, que o capitalismo na América Latina tem
uma estranha peculiaridade: a
de monopolizar os lucros e socializar as massas falidas. E mais:
os conquistadores achavam queesta terra tinhasidoamaldiçoadapelo diabo, porque não existia a
propriedade privada e os nativoscheiravam a enxofre.
Osmineiros daCBCA não chei
ram a enxofre, mas trabalhamem propriedade coletiva. O fedorde ovo podre vem dos montes de
rejeitos piritosos que as grandesmineradoras jogam a céu abertoe entram em autocombustão,além de poluir OS rios. A Massa
Falida cobre as pontas de pedraque saem de seu lavador (comcapacidade para 500 tono de car
vão bruto/dia) com barro e refloresta com eucalipto. "Essa é.mais uma pedrinha no sapatodos empresários que torcem pelonosso fracasso", diz o vice-presidente da cooperativa, LuizCarlosGomes França, um mineiro deOuro Preto-MG.
Da boca pra fora, os empresários até reconhecem os resultados da experiência de autogestão: "Eles estão fazendo uma
administração séria e, se continuarem assim, não vejo incoveniências em serem do PT e da
CUT", declara o presidente da
Associação Catarinense das In
dústrias de Extração do Carvão,JacyFretta, comquem o sindica
to senta para discutir problemascomo cotas de mineração, transportes (a maioria dos mineiros
vai para o trabalho em paus de
arara) e dissídios salariais.
E problemas não faltam à CBCA. A CAEEB-Companhia Auxiliar de Empresas Elétricas Brasileiras (que está sendo
desativada) deve-lhe Cz$ 750 mi
lhões. Pior: ainda há pessoasligadas aos antigos donos dentroda empresa, falta maior estoquede peças no almoxarifado;. otransporte de carvão é feito porempreiteiras ...Os problemas
Liquidação"Nego" está convicto de
que ninguém toma mais a
mina dos mineiros e apresenta um plano para saldar as
dívidas: pagar royaIties ou
doar terras da CBCA ao governo e quitar a metade dadívida bancária fornecendo500 tono de "moinha frotada
(cpl) em doze meses. Os Cz$200milhões restantes o antigoproprietário pagaria sozi-
nho.- Se o governo não aceitar
essas duas propostas, vamospedir a liquidação da empresa. Daí o governo tem queassumir ou deixa duas mil
pessoas sem comer", adverte, confiante de que não seránecessário nem entregar os
700 hectares de terra da em
presa aogoverno. "Queremosfazer um loteamento .para os
mineiros sem-terra".
Os mineiros da CBCA - MassaFalida não trabalham mais aos sábados. Já conseguiram reduzir a
jornada de 36 para 30 horas sema
nais, no subsolo e de 48 para 40 na
superficie, antes que a Constituição
aprovasse as 44 horas. Mas no dia 18de novembro, "baixaram" à mina
para compensar a folga da vésperadas eleiçãos.Onze horas da manhã, centro de
Criciúma, eles surgem de todos os
lados. Botas, sandálias franciscanas, capacetes, ,marmitas e palheiros acesos... Cai uma garoa e o
"puxado" de uma casinha abandonada serve de marquise. Alguns"queimam" a marmita ali mes
mo. É galinha com farofa, regata a
café com leite.O "Mosquito", Vilmar Pereira da
Fotos de Jacques Mick
Costa, cinco anos de mina, avisa queo pessoal pega junto. "Não tem issode "eu faço aquilo" . Quando não temencarregado que pega no pé, o caratrabalha à vontade". Mosquito também contaasvantagens de trabalharna mina administrada pelos mineiros: pagam em dia, tem um "valezinho" no dia 20, ganha-se ordem
para farmácia, médico para a família, dois ônibus. Antes não tinha nadadisso. A segurança também melhorou bastante.
Chega o ônibus. "É o nosso!"Vai para a mina B - Antônio deLuca, uma das menores e manual.No caminho, o clima é animado. Ocomentário do dia é a vitória do
"Gringo" (Antônio Sérgio de Lima) nas eleições. Um mineiro quesai da pá para a Câmara Munici
pal. "Eu não pedi um voto sequer,só falei da consciência de que nóstemos que ter um representante":diz o vereador eleito.Boca da mina B, meio-dia, troca
de turno. A primeira turma pegaàs 6 horas, a segunda larga às 18 e a
terceira vai das 15 às 21 horas (é o
pessoal da manutenção). São 206homens ao todo. A cena lembra a
"Metrópolis" de Fritz Lang, com
uma diferença: a alegria. Apesarda água escassa para tomar banho, há cantoria no banheiro.O encarregado da produção, An
tônio Borges de Melo Neto, o "Gaúcho" , de Soledade, explica toda essamotivação: Ninguém tá trabalhandopro-patrão. A produção mensal aumentou de 1:0 mil toneladas para 22mil tono de carvão pré-lavado-cplmais 85 mil tono de rom".Cercado de mapas das minas e
do consumo de explosivos, "Gaúcho" mostra que a mina B está na
carcaça. Tem carvão para mais
quatro anos. Em agosto de 89, restarão ali 40 homens. Os outros serãotransferidos e "vamos admitir mais150 para trabalhar no Verdinho e
Mina do Mato, duas minas em áreada CBCA em que há carvão paramais 10 anos", aponta, enquanto se
prepara para descer.- "Se o cara pensar na mina, não
baixa", alerta o encarregado da
segurança, José Ferreira. Ele .lembra a morte dos 31 mineiros numa
Produtividade
cresce muito
com autogestão
Sem capataz, mais motivação para o trabalho.
econômicos podem ser ameniza
dos com o novo preço do carvão
(Cz$ 17.600,00 a tono de cpl) e a
livre negociação do minério com
as siderúrgicas e cimenteiras do
centro do País (sem intermedia
ção rui. CAEEB). Os "rinocerontes" da era Catão-Campos serãoeliminados pela consciência polí-
(irmão de Álvaro), em 1950 -
época em que Neto Campos eraquímico doDepartamentoNacional de ProduçãoMineral- jamaispoderiam imaginar que "isso
aqui seria uma ilha do socialismo no meio do capitalismo",conclui o funcionário Paulo Gon
çalves FO.
tica dos mineiros, garante "Ne
go".Quando Sebastião Neto Cam
pos, o "TiãoMedonho" (ex-deputado estadual pela UDN, Arena e
PDS, que confinava líderes operários e mandava atirar em jornalistas) eÁlvaro Catão compraram a CBCA de Francisco Catão
Eles mostram do que são capazes
vam água e lanche. A 200 metros da
superficie, 30graus centígrados, ninguém tem nome, só apelido: "Cristo", "Irmão", "Irmâozínho", "Mosquito" ...Trocam "palavrões" e discutem política pra tomar fôlego.Ferreira recorda como a jorna
da de 12 horas foi reduzida paraoito na mineração: No começo deséculo, os vagonetes cheios de car
vão eram puxados pra fora porburros. Emorriamuitoburro. Entãoos mineradores se flagraram que,diminuindo a jornada de trabalho,haveria menos mortes ...de burros.No fundo da mina não chove,
mas o chão é muito úmido. A águasome da superficie e reaparece,com alto nível de acidez, nos túneisminerados. E falta nos chuveiros.O suor e o pó do carvão (que provocadoenças do pulmão), formam uma
nata preta sobre a pele. E a minamanual produz menos pó do que a
mecanizada. Lá embaixo é impossível reconhecer fisicamenteosmineiros do ônibus. Viraram "pirita humana". Mas a grande vantagem é"participar diretamente da admi
nistração do que é nosso", conclui"Irmãozinho", no fim da linha.Geraldo Hoffmann
'.,
A entrada da "cidade" subterrânea
explosão da miná de Santana, emUrussanga, no dia 10 de setembro de1984. Aqui não ocorrem acidentes
graves há cinco anos. O número de
pequenos ferimentos pormês caiu de12 para uma média de três. "Quemfaz do trabalho um ato de amorevitaacidentes" .Iê-se numa plaqueta fincada à entrada da mina.Ao passar em frente do oratório
com a imagem de Santa Bárbara,padroeira dos mineiros, todos se
benzem. Olham no letreiro dum pedaço de tábua, a recomendação dosfilhos: "Papai, estamos esperandovocê em casa. Trabalhe com cuidado". É uma ida sem volta certa.Dois "tróleis" (vagonetes sem
carroceria), engatados num cabode aço, transportam equipe de reporatagem do ZERO para o interior daterra. São 1.200 metros de trilhos deferro pela viaprincipal (mãodupla),fora as transversais, os "ramais".As galerias são sustentadaspor colunas e vigas de madeira. É uma
minicidade, com água, luz elétrica,telefone e "ar condicionado" peloexaustor. O ronco abafado dos
exaustores, das bombas d'água e
brocas a compressão, o vaivém dos
vagonetes, carregados e vazios,criam o ambiente de indústria.Osmineiros entram por uma para
lela, em uniformes simples: cuecas,botas e capacete com lanterna. Le-
Geraldo Hoffman
Igreja pelegaA Igreja de Criciúma sempre
se sustentou na aliança com a
classe burguesa, tanto que agora está construindo uma catedral em homenagem aos mineradores. O elemento religiososempre foi usado contra o trabalhador. É a tendência de trazer omineiro pra dentro da Igrejapara dominá-lo.As declarações são do padre
Pedro Damásio, um dissidenteda Igreja católica local, que"leva a mensagem de liberta
ção para o meio dos mineirospara legitimar a luta". Há doisanos e meio sem salário nem
lugar fixo, ele acredita que o
povo temmaturidade e independência para fazer a própriahistória.
'
Uma história em que o padretambém esteja no "front". Damásio já morou em Vila Operária, participou dos 38 dias de
greve dos mineiros em 1987. E
anotou, num livreto intituladoAlimento da Nossa Luta, '.'amemória dospobres, suas lutas,suas ousadias, suas vitórias e
seus fracassos. Tudo é lição para andarmos mais firmes parafrente", escreve.
- É a lição do trabalho, dosuor derramado, das reivindi
cações, das greves, da organí-'zação, dos conflitos, dos depoimentos, dos piquetes, daconscientização, das eleições,das missas, dos riscos, do heroísmo, da coragem, da forçadopovo ... o batismo de uma crian
ça no piquete, a greve de fome."E greve de fome sem amigos, são duas fomes numa só.Dói a cabeça, mas a cabeça temque criar a história".O trabalho constante de 5anos
do padre Damásio entre os mineiros teve eco nas eleições municipais. Seu nome foi ventiladopara vice-prefeito pelo PT e
"Gringo" se elegeu vereador. Acúpula da igreja local não gostadepadres com a linhade ação deDamásio e o ameaça com transferência.
-AIgrejaconservadoralegitima o capitalismo pela hierar
quia de poder. Ajuda a manterviva na cabeça do mineiro a
figura do capataz, incutindo-lheo seguinte raciocinio: "No fundo, é melhor ser mandado, porque não exige responsabilidade", denuncia.
----.-
Fotos: Maria Cristina JoshizaÚJ e Simone Dias
Ribeirão, desde o com.eçotipicamente açoriano.Vindos principalmente
das ilhas de Faial, São Mi
guel e Terceira, os açorianos - gente de fé católica e
dedicada às atividades pesqueira e agrícola - come
çam oficialmente a coloni
zação do Ribeirão da Ilha
no ano de 1748.Comandados por Manoel
Vargas Rodrigues, os colonos açorianos logo se adaptaram à natureza local. A
semelhança geográficacom osAçores e o cultivo da
terra emminifúndios facili
tarambastante anovavida.
Até porque, se voltar era
impossível, tiveram que fi
car e gostar.A produção de farinha,
açúcar, cafée apresençadeengenhos, além da pesca
sempre boa, transformou o
distrito doRibeirão da Ilha,no século XVII, responsável pelo parcial abastecimento da Ilha. Seus produtos - o cação sêco, o mar
melo e o café - eram
exportadas para São Paulo,Rio de Janeiro e até para
países estrangeiros com a
Alemanha, a Itália, os Estados Unidos e Portugal.A mão de obra era escra
va. As técnicas, rudimentares.Mas como a localizaçãoprivilegiada - desembarque
Resta a fachada típica, a telha feita na coxa do escravo.
fácil, águas calmas e pequenasenseadas-,enquanto se pescava baleia na
praia da Armação, no Ri
beirãoabundavaopescado.No século passado, é cla
ro.
Se aportar era fácil, nemtão fácil era chegarpor terra. Não haviam estradas, eembora o quase isolamento
propiciasse o desenvolvi
mento interno, nem semprea autosuficiência na produção de alimentos e nas tro
cas prescinde de uma inte
ração social mais ampla.Com a abertura da estra
da que liga a Freguesia ao
centro - Ribeirão fica li 25quilômetros do centro, na
região sul da Ilha de Floria
nópolis - intensificaram-se
as relações com o mun
do exterior.Em troca dos
novos costumes abriu-se
mão de velhos costumes.
Persistem, ainda, algumas tradições, estórias e
histórias contadas e recon
tadas, getação à geração.As festas religiosas e popu
lares, a devoção a Santo
Antônio - o casamenteiro
e à Nossa Senhora da Lapa,a medicina caseira e as su
perstições são características que conseguem se man
ter.
São famosas também as
lendas e as estórias de bru
xaria do Ribeirão, talvez o
maior reduto bruxólico da
Ilha, já disseram o pesquisador e artista plásticoFranklinCascaes. Estórias
de boitatá e fogo fátuo pairam, assim como os seus
entes e gases coloridos, sobre as casas e cabeças do
Ribeirão. Alguém duvida?
Mas a tradição está desaparecendo. A dependênciaecônomica do distrito à ca
pital exige que amaiorparte da população - que hojeestá entre 8 e 10milhabitan
tes - se desloqueaté o centropara trabalhar. As características da comunidade
saem de cena, um conglomeradode pessoas eopontode atração turística fazem
Ondepairã:V3.mas bruxas�éoncreto, postes, fios, transformadores.
as próximas falas.Mudam as pessoas, mu-·
dam as fachadas das casas,com retirada de telhas, portas e janelas. Demolem-secasas assim como demoli
ram-se ancestrais. O calçamento de pedras, nas ruaspor onde passouD. Pedro II
em 18('), deu lugar a um
calçamento de lajotas préfabricadas. A preservaçãoda cultura vai com as pedras e as casas e a memó
ria, neste que é consideradoo mais belo e harmônico
patrimônio histórico e ar
quitetônico da cidade.
Apopulaçãovaicomami
gração, as famílias procuram trabalho na Grande
Florianópolis, ingressandona periferia urbana da ca
pitale deixandoo lugar "emfrente à ilhota Garcia, umaenseada onde desagua um
pequeno rio, cuja fóz terá de
5 a 7 metros de largura e
onde se eleva omontemaisalto da ilha, que mede 600
metros e em cujo sopé se
aninha risonhamente a fre
guezia do Ribeirão, com
suas casinhas alvas, dentreas quais se destaca a igrejaconsagrada àNossa Senhora da Lapa." (Virgílo Varzea. Santa Catarina, parteprimeira - A llha. Publica
da peloCentro Catarinensee auxiliada em parte peloGoverno do Estado. Rio de
Janeiro, Companhia Typographica do Brasil, 1900).
Milene Corrêa
Dos Açores 'até
o nosso século:
mitos, história
Açores, oceanoAtlântico,meio caminho entre aEuro
pa e aAmérica,mais exatamente, a 1 mil e 300quilômetros da costa
portuguesa. O arquipélagofoi descoberto no século XV
e é formado por nove ilhas.A religiosidade, característica dos açorianos, chegoujunto com os primeiros co
lonizadores no período das
capitanias hereditárias do
Brasil.
Entre 1748 e 1756, cerca deseis mil pessoas desembar
caram no Porto de Nossa
Senhora doDesterro. Espalhando-se pelas várias freguesias - Santo Antônio de
Lisboa, Ribeirão da Ilha,Lagoa da Conceição - es
tes colonizadoresaçorianossouberam particularizar oslocais onde se estabelece
ram. A igreja matriz na
parte mais alta da cidade,voltadapara omar. Apraçaem frente à Igreja, entreruas paralelas, o casario
10 ZERO DEZ-88- --
Um povo que acredita em milagresNo Ribeirão
as tradições
tentam
sobreviver
As casas enfileiradas ao longoda Freguesia do Ribeirão trans
portam ao passado de um povo
que preserva suas raizes com o
esmero de quem preserva a própria vida.
Mas as tradições não acabam
por aí, ou melhor, vão muito
alémdo concretoque emoldurao
casario açoriano àbeira dabaía.O cortejo do Divino e a devoção àNossa Senhora da Lapa se con
firmam como as duas manifes
tações populares demaior significado entre os moradores do
Distrito. Passam os anos, as dé
cadas, os séculos, e estas duas
expressões da cultura do povo
permanecem.Histórias de milagres
A tempestade avançàva furiosa mar a dentro. O barco já não
respondia ao controle e o convés
tinha desaparecido em meio à
fúria das águas.Não havia nortes por onde nave
gar.- Valha-me, Nossa Senhora da
Lapa - gritou desesperado, o dono da embarcação.Naquele momento a imagem
da santa apareceu na popa da
baleeira e, logo em seguida, os
tripulantes conseguiram anco
rar o barco próximo a um roche
do.De volta à calma, o dono da
embarcaçãoque seguiaparaLa-
guna, resolveu retomar o cami
nho do Ribeirão. Segundo con
tam os mais velhos, todas as
vezes que a baleeira passava
pela Ilha do Largo, bem em fren
te ao Distrito, o homen tocava o
apito para saudar a Igreja da
Freguesia do Ribeirão, que não
sabia ser de Nossa Senhora da
Lapa. Ao chegar em terra, o
pescador quis ver a Igreja e
dentro dela apontou para a ima
gem da Senhora da Lapa, dizendo que ela tinhaaparecidono seubarco. Daí por diante, cada vez
que passava pelo Ribeirão, ao
invés do apito, o dono do "Barcoda Santa" atirava foguetes parasaudar a imagem que lhe tinha
salvo a vida.
Esta é uma das mais antigashistórias sobre os milagres de
Nossa Senhora da Lapa, a padroeira do Ribeirão da Ilha.
Adorada por todos os morado
res do Distrito, a imagem foi
trazida para oRiberião emmea
dos de 17.60, pelo português Manoel de Valgas Rodrigues. Inicialmente ele ficou na capelã da
Igreja do "Simplício" ,local hojeconhecido como Barro Verme
lho do Ribeirão. Três anos de
pois, por Provisão Episcopal de13 de setembro de 1763, Manoel
de Valgas Rodrigues mandou
construiruma capelanaFreguesia do Ribeirão, para abrigarcomo padroeira Nossa Senhora
da Lapa. A Igreja, construída
por escravos, à base de pedras,cal e óleo de baleias, foi inaugurada somente em 1806.
Hoje, devidoàs constantes tentativas de roubo, a imagem não
fica mais na capela. De acordo
com Dona Lígia Fraga dos San
tos, de 61 anos, há muito tempoum português tentou roubar o
Sacrário da Igreja.
DAQUI
A musa da fé
Ao colocar amão no Santíssimo,ele ficou preso no altar e des
maiou.
Para soltá-lo, o padre do Ribei
rão teve que benzer' o homen.
Agoraa imagem sóé expostanosdias da Festa da Lapa, que se
realiza normalmente no último
sábado de agosto.Todos os anos, uma multidão
de romeiros vem à festa pagar
promessas e participar da procissão em homenagem à Nossa
Senhora da Lapa. Os enfeites doandor e as vestes da Santa, háseis anos são feitos por Dona
Anita, uma senhora quemora noRio Tavares. Desenganada pelosmédicos, amulher recorreu à
milagrosa imagem e se curou de
um câncer. Depois depassarporuma cirurgia, Dona Anita pediu
outras localidades próximas recolhendo oferendas dos devotos
que fizeram promessas e agora
querem pagar. Segundo Dona
Nilsa, "todos os Santos per
doam, mas o Divino não perdoaaqueles que não pagam o quedevem". Na passagem da ban
deira é costume asofertas serem
pães em forma de partes do
corpo e até mesmo de animais.
Dona Nilsa conta que um dos
filhos; quando tinha sete anos,
começou a ter ataques à noite.Para que as convulsões passas
sem, ela prometeu ofertar ao
Espírito Santo um bGneco do
tamanho do menino quando ele
completasse dezoito anos. Ame
dida do boneco foi tirada quandoo rapaz fez quinze anos, pois,segundo Dona Nilsa, "não haveria forno para assar um pão do
tamanho do filho quando ele fi
zesse dezoito".
No primeiro dia da festa, o
Imperador e sua mulher, cortejados por pajens e damas, desfilam em procissão pelas ruas do
Ribeirão da Ilha em direção à
Igreja de Nossa Senhora da La
pa. O casal imperial escolhido noano anterior normalmente veste
um dos seus filhos de rei parareceber a coroa, que foi doada
pelopróprioDomPedro II, numavisita aoRibeirão.Nodiaseguinte,odomingo,acorteeopovovãopara p império, no salão paroquial, onde o imperador recebeas massas ofertadas pelos devotos e depois coloca-as em leilão
entre os participantes da festa.Em seguidaéproclamadoonovoimperador, escolhido por sorteioentre as pessoas da comunidade,que vai ajudar os festeiros dafolia do próximo ano.
Sidnei Volpato
..
t t �t 1.1
DEZ-88 ZERO 11
A Igreja de Nossa Senhora da Lapa
aopadre doRibeirão que levasseNossa Senhora da Lapa até sua
casa. Lá, ela lavou a imagem,passou a água por todo o corpo e
depois se cobriu com o manto da
Santa. Até hoje a mulher não
deixamais departicipar da festada padroeira do Ribeirão.
A folia do Divino
A Festa do Divino remonta
todos os anos a promessa feita
pelaRainha Isabel, de Portugal,no século XI, para ímpedír quefosse deflagrada uma guerra entre um de seus filhos e o Rei
Diniz, seu marido. Alcançada a
graça, a rainha passou a coroar
anualmente umapessoa escolhida na comunidade. A cerimônia,
que contava com a presença dos
reis, era feita todos os anos na
Igreja do Divino Espírito Santo,construída pela Imperatriz em
Alenquer, depois que ela conse
guiu impedir o fraticídio.A tradição de coroar plebeus
se espalhou por toda a Europa e
acabou chegando ao Brasil coma colonização lusitana. Hoje, alguns estados como o Rio de Ja
neiro, SãoPaulo, Goiás,EspíritoSanto, Bahia, Minas Gerais e,
principalmente Santa Catarina
realizam a folia.
,Com toda a pompa de coroa
portuguesa, o cortejo doDivino é
ativado anualmente noRibeirão
da Ilha em períodos que variamentre o final do mês de maio e
início de junho. O ritual de coroação do Imperador conta com
váríos símbolos que consistem
na' bandeira de pano vermelho
bordado, o mastro segurando fitas de várias cores e a pomba -
que representa o Divino - a cor
da, a espada easalva - espécie de
bandeja que recolhe prendas e
leva a coroa.
Antes da festa, abandeira passa pelas casas do Ribeirão e de
DAQUI
Puxando AlegriaA banda do Zé Pereira
é um patrimônio que
pode desaparecer
,
12 ZERO DEZ-88
A Banda do Zé Pereira está
morrendo. Em atividade desde
<Il' 1896, este patrimônio histórico
do Ribeirão da ilha, em Floria
nópolis, vem sobrevivendo até
hoje emmeio àpenúria financeira, sem receber apoio significativo das autoridades e nem mes
mo da população, É um milagreque a cada ano desafia a Lei das
probabilidades: osmúsicos continuam animando o carnaval -
inclusive com o tradicional ba
nho de mar à fantasia - e vão
prosseguir enquanto houver forças.O grande inimigo da banda é
muito mais sutil e inexorável: o
tempo. A média de idade dos
músicos é 57 anos; dos 22 inte
grantes, omaisnovo tem 22 anos
(rara exceção) e o mais velho,73. Um dos integrantes, AlécioHeidenreich, que participa des
.de 1951 e agora em dezembro
vira sexagenário, faz um apelo:"Se a juventude nãoajudar, dentro de quatro ou cinco anos a
.' banda vai deixar de existir." Ele
descreve o esforço que tem sido
feito nesse sentido: "No anopassado fomos de casa em casa no
Ribeirão da ilha incentivando
jovens a aprender música. Apareceram 32, mas só ficaram dois', e mesmo assim, porque estão
pensando em seguir a carreira
militar."
Ahistória das bandas noRibei
rão começa em 1870, quando foifundada a "Amantes do Pro
gresso". Ela surgiu a partir deconversasentre osmoradores do
lugar, durante as noites frescasde lua, cheia em que o papo e a
música rolavam soltos até de
madrugada. Por que não? Em
pouco tempo o sonho se organizou. Os instrumentos musicais,velhos e em maus estado de
conservação, eram consertados
em cera de abelha. Isso fez com'
que ela passasse a ser conhecidac,
como' 'Banda daCera". Por cer
ca de 20 anos foi a única, até que,em 1896, surgiu a "SociedadeMusical Nossa Senhora da La
pa" - uma concorrente que de
pois ganhou o apelido de BandadoZéPereira, emhomenagem a
um famoso carnavalesco. No
mesmo ano os instrumentosmu
sicais foram importados da Alemanha por 580 marcos, pois nãohavia ainda fábricas do gênerono Brasil.
Alécio conta uma das históriascuriosas sobre esse periodo em
que as duas rivais disputavam -
amístosamente, mas palmo a
palmo - a preferência dos habi
tantes do lugar. Elas são passadas de pai para filho e abrem
uma rápida frestana janelaparao passado.
',-. Os ensaios aconteciam de
madrugada, em segredo, para aoutra não descobrir o repertório.Uma noite, as duas bandas tocaram até de madrugada, mesmo
depois que todo mundo já tinha
ido embora. Nenhuma da duas
queria sair primeiro e reconhe
cer a derrota, e elas continua
ram tocando até as 4h damanhã.
Depois foram tomar café e quando o sol nasceu, continuaram.
Fizeram intervalos pra missa e
pro almoço, masprosseguiramà
tarde. Teriam tocado a vida to
da,mas asalvação foiuma tromba d'água que caiu e fez todoscorrerem pra casa prá se abri
gar! Dizem que foi milagre de
Nossa Senhora da Lapa, padroeira do Ribeirão da Ilha.v.
em outras localidades, viajandode baleeira. Com o tempo e a
maresia, em 1950 os instrumen
tos já não ofereciam mais condi
ções de uso. Depois de um período de marasmo, renascia a
banda no ano seguinte, com cincoveteranos e cerca de 15 jovens.O intervalo entre essa época e o
presente estámelhor registradonas memórias das pessoas do
que através de documentos e
fotos.
tude, a SociedadeMusical NossaSenhora da Lapa comprou um
gravador para reproduzir algumas músicas modernas. As op
ções vão das músicas infantis à
marcha, passando também pelosamba, frevo, baião, rumba eaté
pelo tango, se a platéia pedir. Osensaios acontecem todas as
quintas-feiras à noite na sede doCentro Social do Ribeirão. Alé
cio, que é funcionário da Universidade Federal de Santa Catari
na, já se mudou para o centro há
algum tempo, mas sempre quepode, desce peloelevador doprédio ondemora e vai rever o local
onde foi criado. Ele atribui a
falta de interesse dos jovens de
hoje pela música à baixa remu
neração dos profissionais daárea e à grande variedade de
diversões existentes: "Quem é
que vai querer ficar a noite toda
Durante uns 20 anos as duas
agremiações continuaram to
cando no Ribeirão, até que porvolta de 1915 (não há registrosprecisos) , aBanda daCera desa
. pareceu e vários de seusmúsicosforam incorporados pela Nossa
Senhora da Lapa. Em 1935 a
Banda do Zé Pereira, já a únicado lugar, comprou outro instrumental, desta vez' 'made inBrazil". Animava festas também
Estamos em 1988 e a decola
gem de um ônibus espacial jáestá ficando quase corriqueira,assim como o uso cotidiano de
computadores e a inovação dasfibas óticas. Mesmo assim, permanecem vestígios do século·XIX. Com algumas moderniza
ções, é claro. Para tornar o re
pertóriomais adequado à juven-
agarrado em um instrumento
enquantopode ficar com anamo
rada?"
Este ano a banda já se apresentou 20 vezes - não mais nas
cidades do interior, pois a maioria dos músicos já estão cansa
dos, alguns já doentes. "Por in
crível que pareça, o pessoal quemenos valoriza a gente hoje é do
próprioRibeirão", lamentaAlécio. Dos órgãos públicos hámuito incentivo salivar, mas poucaajuda concreta.Em 87 aFunarte
doou cinco instrumentos usados.A Base Aérea fez doação seme
lhante. "A Prefeitura nunca deu
nada, só uniforme uma vez."
Alécio mostra um papel inútilemitido pelo governo federal,habilitando aBanda doZéPereira a receber benefícios pela LeiSarney, que dá desconto no im
posto de renda das empresas queinvestirem em cultura:Até hojeninguém se interessou. "Prati
camente pagamos pra tocar",gracejaAlécio. Os músicos já se
ofereceram para ensinar de graça nas escolas adisciplina iniciação para o trabalho, mas apesarde as autoridades terem achado
a idéia interessante, nunca a
puseram em prática.Quem quiser dançar ao som da
Banda do Zé Pereira tem uma
boa oportunidade em janeiro e
fevereiro próximos. Ela vai to
car nas ruas doRibeirão todos ossábados até o último domingoantes do carnaval, quando haverá o banho de mar à fantasia.
Aproveite, pode ser o último .
Dauro Veras e
Rubens Vargas
GRITOS E GEMIDOS
Intercâmbio de Cultura
"me informei sobre a possiblidade dela se apresentar também aqui em Florianópolis".No convênio das universidades com a Fulbrigth Comission, cabe à fundação forneceras passagens nacionais e internacionais e uma bolsa parao viajante, e às universidades,a hospedagem, alimentação e
infraestrutura para as apresentações. É através desseacordo que Inetta Barris passará, além doRio de Janeiro e
de Florianópolis, poruniversidades de Curitiba e Uberlândia.
. Com o sucesso deste ano, Made Lourdes promete um esfor
ço ainda maior na segundaedição do espetáculo dessa jazista, "talvez para o ano quevem", arrisca.Muitos se perguntam por
que iniciativas desse tipo sãotão escassas em nosso estado,mas, para Ma de Lourdes, "aconquista está em aproveitaras oportunidades oferecidas",procurando e se interessandopor promoções como essa.
Chances para "aprimorar e
enriquecer os nossos valoreslocais". AUniversidade oferece" espetáculos não só para acomunidade acadêmica, mastambém para todo o públicointeressado.
Voz MaravilhosaAMestre deMúsica pela Jul
liardSchool eBacharel deArte
UFSC aproveitaa oportunidade e
divulga o jazzA soprano Inetta Barris difi
cilmente escaparia de ter o seunome associado ao dom da
interpretação, principalmente poraqueles que assistiram a
suaapresentaçãona Igrejinhada UFSC, na última quartafeira à noite.Usando asnotas de um piano
como único acompanhamentoda sua voz, Inetta Barris con
seguiu atrair qualquer pessoaque a ouviu, e deixou umpúblico de aproximadamente duzentos e cinquenta expectadores, num autêntico clima deFree Jazz Festival.
Miss Harris: show de gogó e pianoA tournê deMissBarris pela
América do Sul foi descobertapor Ma de Lourdes de Souza,responsávelpelaPró-Reitoriade Cultura e Extensão daUFSC, quando checava a programação do segundo semes
tre deste ano no calendáriode eventos da FULBRIGTBComission - fundação que promove intercâmbios culturaisentre universidades conveniadas. Assim, Ma de Lourdesentrou imediatamente em
contato com a Uni Rio, quereceberia a visita de Inetta, e
pectadores num demorado
aplauso e pedidos de bis. As
sim, ela acabou por se despedir, definitivamente, com um.
carregado' 'muitoobrigada" e
oferecendo a música de BillyJoel, "Eu gosto de vocês comovocês são". Um show do mais
puro jazz.
pela Califórnia State Univer
sity, ou simplesmente MissBarris como é conhecida porseus alunos, maravilhou a platéia da pequena Igrejinha, assim como o fez na Europa e na
América do Sul.Inetta conta com a versatilidade de sua voz ao interpretarmúsicas de estilos bem diferentes que formam um dinâmico repertório.
Sem fugir do que se esperadamaioria dos jazistas, InettaBarris abusava de graves e
agudos intercalados, num
compasso contagiante. Ao in
terpretar amúsicaNewYork,New York, Inetta mostrou o
que um critico europeu quisdizer quando afirmou que"Miss Barris detem uma voz
de soprano maravilhosamente lírica ... ", e levantou os ex-
Cláudia Astorga,
força trash em FlorianópolisEROICA:No atual contexto metálico de Flo
rianópolis a galera headbanger já temuma banda à altura dos padrões dequalidade.Vindos dounderground deBarreiros,
quatro jovens homicidas detonam a
guilhotina da inquisição, executandofriamente o indesejável, medíocre e
escroto vírus- da Pop music ou NewWave que insiste em víver no panoramamusical ilhéu feito de inexpressivosboyzinhos que se gabam de suas musiquinhas(URGGGGGGGGGGGGG! ! !) de padrão estético e lírico comparado a deuma ameba.
Rápidos, víolentos e com gana devencer as dificuldades impostas pelocotidiano, quatro caras, alheios à me
diocridade dasmusiquinhas FM, resolveram implantar o Thrash Metal em
Florianópolis.Neri Bauer no baixo, Miguel Fon
toura e Luciano Stimamiglio nas guitarras e Jeferson "Dudle" na bateria e
vocais formam atualmente oEROICA,que surgiu em abril deste ano e que tempor objetivo ditar as regras do que deveser um autêntico show metálico.Exemplo disso foi a primeira apresentação da banda. A Escola Técnica foisacudida pelos headbangers que mos
traram sua força cantando o refrão de
Battle Hymns do Manowar: "VICTORY VICTORY". Ooooooooh!!! ...Com um excelente em bem entrosadoreportório, o EROICA foi capaz delevar a galera ao total del1rio, a tal
ponto que se a grade que estava em
frente ao palco não fosse forte o suficiente, sem sombra de dúvída ela seriavítima damaterialização da força bruta, energética e infernal que assolou o
shaw. O Eroica provou que é digno deser considerada amelhor banda metálica de Florianópolis, opinião de Alexandre Camisão e Carluxo, editoresdo futuro fanzine NOISE GANG.O único que não está atualmente
na banda, mas que se apresentou no
shaw da Escola Técnica, é o vocalístaJorge "Pavão": ele foi substituido peloguitarristaMiguel Fontoura (Ex-Scafíoldeath). Na avaliação do Eroica, aentradadele representa o inicio de umanova fase da banda, que certamenteaumentará o nivel técnico-musical doconjunto.Miguel, que fez um excelente tra
balho no Scaffoldeath, fala de seu
objetivo no Eroica: "Espero que nossabanda conquiste o espaço pela qual nóslutamos com honra e orgulho atravésde nossa música".Apesar da falta de shows, patro-
cinadores e aparelhagem, ao Eroicasobra coragem: "Se fôssemos tentarviver da música, passariamos fome.A única coisa que faz com que nãodesistamos é a força de vontade devencer as dIficuldades e nisso a genteencontra nosso incentivo e nossa dedi
cação ao Metal".Noise Gang
Uma boa noticia para os headban
gers de Florianópólis: deve sair agoraem dezembro, o primeiro número dofanzineNoiseGang, que tem porobjetivo ser um canal de divulgação sobre o
Metal, já que aquinão tem nenhum tipode publicação desse gênero. Com intuito de fazer intercâmbios com outrosfanzines e com headbangers de qualquer local do planeta, a NOISE GANGvai tentar, na medida do possível, darinformações sobre discos, shows e bandas de qualquer estilometálico. No entanto, sua participação é importante.Envíe informações ou se formembro dealgumabanda, podeenvíarum release.A NOISE GANG se compromete a
divulgar.INFORMAçõES CfFANZINE NOISE GANGRua Belarmino Corrêa, 46Trindade· Florianópolis CEP 88025
EROICA em ação na ETFSC
Ozias Alves Júnior
BLITZ, DOCUMENTO!
"Eu estou super agora"
'O
Zero: Oqueolevouaquererentrar no meio artístico?
Evandro: Desde garoto tinha a maior curiosidade
com teatro e cinema. Queria continuar brincando.
Eu era contra o pessoalmais velho que pegava on
da com a gente e jogavabola, ia trabalharna cidadee voltava reclamando. Eu
tinha o maior grilo de pensar quando ia ser adulto e
começar a reclamar da vida. Prámim era uma coisachata ficar grande. O tea
tro começou a estimular a
minha fantasia, o meu so
nho.Eraum canal de idéiasonde eu podia jogarminhasdúvidas e minhas alegrias.Eu estava querendo desco
brir o mundo. Desde cedo
comecei a ver que o meu
caminho era pela arte.
Zero: Como foi a sua parti-
Evandro: O Asdrúbal foimeugrandebatismono teatro e até na vida, eu fiqueioito anos com aquelas pessoas. A gente começou a terumanoçãototaldoqueéum'espetáculo, desde pregar ocenário, distribuir filipetana rua de noite, a escrever otexto, a se dirigir, a musicar. Foi uma vivência su-
"Ooni o Asdrúbal
eu tive o meu
grande batismo"
per intensa, fora do quintalde casa, pois a gente viajavamuito, de PortoAlegre aRecife. Era uma coisa gue-
rilheira, sfIper bonita. Tinha a Regina Casé; o LuísFernado Guimarães, o
Perfeito Fortuna (que de
pois fundou o Circo Voa
dor), aPatriciaTravassos,a Nina de Pádua, o Hamilton Vaz Pereira, que era o
diretor. Foi uma união su
per feliz de cabeças com o
mesmo objetivo, as mes
mas perguntas, na mesmaépoca.
Zero: Como surgiu a
Blitz?
Evandro: A Blitz começouquando uma menina perguntou se eu tinhaumabanda, porque ela ia inaugurarumbar lá noRio, com espaço para show. Falei quetinha urna banda que sótocavaeu o Ricardo Barre
to. Mas nós conhecíamos o
Lobão, o Zé Luís e o Guto,que tocavam com a Mari
na. Então quando eles co
meçaram a tocar com a
Uma pessoa bastante acessível,simples, muito cativante e pai corujade uma menina de dois meses é a
melhor definição para o ex-vocalista
da Blítz, Evandro Mesquita, que fazagora uma carreira solo.
Mesmo estando muito cansado e
quase na hora de seu show na Feira
da Esperança, Evandro deu a
entrevista que tinha prometido ao
Zero.
De maneira informal e descontrída,ele falou de toda a sua carreira
artística, desde o Asdrúbal Trouxe o
Trombone, passando pela Blitz e
sobre atual fase, com as
participações em novelas e na
Armação Ilimitada.Apaixonado por Florianópolis, elediz ser a única cidade do sul onde
moraria. O show foi feito com muito
garra e entrosamento do conjunto, nasexta feira dia 25. Evandro arrasou e
conquistou o público. O único
problema foi a falta de divulgação,que fez com que muitas pessoas
perdessem uma grande perfomance.
gente, as musicas ganharam personalidade e cres
ceram. Aí começou a ser
mundialmente famosa alino bairro. Tocávamos em
boates e noCircoVoador. A
galera ia toda e ficava falando que tinha que ter umdisco e tocar no rádio. Foicrescendo a coisa, a gentegravou e tudo foi além do
que se imaginava.
"Melhor acabar
no auge do que na
decadência ))
Zero: Vocês pareciam tão
unidos, então por que veioaseparação numa época queeram mania nacional?
Evandro: O pior é que era
mesmo, mas é melhor acabar no auge que na decadência.Anossa relaçãonãoestava sendo revigorada, a
gente parou de .ser amigo e
ficamos sócios. A Blitz vi
rou emprego e ela era umacoisa de energia, de che
gar, arrasar e ir embora.
No começo, quando vocêtrabalha num grupo, você
lança meias idéias que es
pera que somem com as
dos outros, para que hajaum resultado desse grupo.Chegou uma hora que cadaum tinha uma idéia, masera muito "essa é minha",então ficouuma coisa dura,não haviamais uma soma e
começou a ficardifícil. Não
por culpa de ninguém. Cada um entrou numa de testar as coisas sozinho, de serresponsável pelas suas coisas, pelos seus erros e seus
acertos. É o mesmo que um
casamento, quando vocêentra nessa, ou na de namo
rar mais firme, você juraque vai ser feliz para sem
pre, ter 15 filhos, aí depoisde um mês ou dois você vê
que não era bem aquilo. Agente achou que ia ficar 27discos e acabou antes.
Zero: ABlitz esperava todo
PAPEANDO
atrás. Nunca quis fazer
uma coisa realista, galãzinho, mas foi um desafio
legal.Você tem que sevirar
na hora para que o texto
ganhe uma certa verdade.
Aí eu fico crítico à pampa
quando vejo, falando "pôrra, que canastra!", e tem
outros que eu gosto. A Ar
mação Ilimitada é mais a
minha praia ou os persona
gens que fiz em Bebê aBor
do.
aquele sucesso?
Evandro: A gente nã esperava aquele sucesso do jeito que foi, mas tínhamos
confiança no trabalho. Havia um lance de palco tea
tral, que na época não existia. Eu achava feio show demúsica. O baixista não sa
bia onde punha a mão, aípegava uma Coca Cola ou
um Whisky e bebia. Vocêvia o cara cantando e era
melhor levar o disco paracasa, não tinha nada de visual. A Blítz deu uma injeção de ânimo. Até o Gilfalava na época que a Blitzpegou a MPB sem docu
mento, deu uma blitz e atéeles começaram a se re
pensar. Era um som pop,com uma energia pop, dasgrandes cidades, mas comum sotaque brasileiro.
Mais ou menos o que o
Tropicalismo pregava,mas não só o lado elitista e
universitário. ABlitz jogounuma coisa realmente po-
(lA Blitz virou
emprego"
..A Ilha é demais"
pular, da empregada gos
tar, da filhadamadame, damadame e da criancinha.
Foi uma coisa de extensão
super bonita, social e de
idade. A gente enchia bailes de subúrbio e as boates
chiques doRio e São Paulo.
Foi um lance que cresceu
numa progressão geométrica além da imaginação,até ficar incontrolável.
Zero: Todosachavam quea
Blitz tinhamuitoda tuapersonalidade. Isso realmente
aconteceu?
Evandro: Tinha um lancede eu e o Barreto sermos os
principais compositores,asmúsicaseram nossas, eu
cantava, mas cada um daBlitz era super forte, eraum tipo de beleza diferentedos galãzinhos da época, asmeninas tinham uma coisaforte. Era .um conjuntomesmo e tinha horas quecada um puxava um pouco,
que 11 gente estava sem
energia e um liderava
mais. Sempre foiuma coisameio flutuante. Eu nunca
quis esse rótulo de líder,
"Aqora eu sou o
meu patrão"
•
mento difícil.
Zero: Emmatéria de satís
fação, a carreira solo ou
Blitz? Ou cada uma teve a
sua época?
Evandro: Eu estou superagora. Tenhoorgulho de terparticipado da Blitz, umasaudade distante. Não queria reviver agora, quer di
zer, claro eu adoraria o
sucesso, vender disco prácacete, isso é genial, qualquer artista quer isso. Mas
eu estou vivendomuito essemomento. Jé estou preparando um outro disco. Gos
todessa coisadoestúdio, daalquimia, da criação no es
túdio, é uma coisa muito
solitária, frágil. Te dá àsvezes um pavor, "o que é
que eu tô fazendo aqui?",mas às vezes dá a maiorfissura de você mexer coma tecnologia super avançada e ao mesmo tempo umacoisa primitiva, como um
pandeiro ou um berimbau.
Isso te dá uma possibilidade de brincar, que nem
não gosto muito disso. Agora eu sou o meu patrão, omeu líder, mas quando vo- "
cê está num grupo é paraA Blitz Virou e
jogar. Se o gol for do Zico o ,"pregO"goleiro tem que ficar con-
tente ou o lateral porque é
gol para o time. E isso co
meçou a ficar meio estra
nho. Começou a rolar uns
ciúmes. Mas isto já é roupasuja ...
Zero: E a carreira solo?
Evandro: A carreira soloestá super coletiva, eu es
tou trabalhando mais em
grupo agora do que quandoeu estava num grupo. Par
ceiros que você estava a
fim .de fazer música e quevocê agora faz,. músicos
que você queria que tocassem com você. Está le
gal, porém difícil porque o
Brasil está vivendo ummo-
você entrar no quarto da
quele amigo rico que tem
trenzinho, autorama e poder brincar com tudo e àsvezes você até se perde e
acaba não brincando com
nada. Mas de vez em quando rola uns trenzinhos bonitos.
Zero: Você espera entrarmais a fundo na carreira deator?
Evandro: A carreira deator está pintando aindameio na brincadeira, meionamorando. Eu fiz a novelaFera Radical, que era umacoisa que eu tinha um pé
((Às vezes rola uns
trenzinhos
bonitos"
Zero: Como está sendo a
sua Participação na Armação Ilimitada?
Evandro: A Armação eu vi
nascer. Conheço oAndré deBiase desde criança, a gente cresceu junto. Eu sabia
da idéia. inicial dele e doKadu e eu namorava uma
das autoras. Acho que fui oconvidadomaisassíduo, fizuns cincoprogramas daAr
mação. O diretor é legal, aequipe também. É o maior
recreio. Vamos brincar de
gangster ou vamos brincarde não sei o quê, levando a
sério, som roupa, arma queatira. E geniala velocidadedo programa, o poder crítico dos textos de falar sériobrincando. Acho o piqueótimo.
�\
"Tenho orgulho de ter participado da Blitz"
DEZ·88 ZERO 15
Entrevista a
Marta Moritz
1 ",
FIGURAS
-....
MAO GRANDE
Entre os notáveis da "Galeria Mão Grande", merece destaque a presençado ex-ministro Aníbal Teixeira.
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