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Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES
Programa de Mestrado em Administração
POLÍTICAS PÚBLICAS NO VALE DO JEQUITINHONHA: A difícil construção da nova cultura política
regional.
Joaquim Celso Freire Silva
São Caetano do Sul2002
Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES
Programa de Mestrado em Administração
1
POLÍTICAS PÚBLICAS NO VALE DO JEQUITINHONHA: A difícil construção da nova cultura política
regional.
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração do Centro Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Área de Concentração: Regionalidade e Gestão
Orientador: Professor Doutor Luiz Roberto Alves
Joaquim Celso Freire Silva
São Caetano do Sul2002
2
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL - IMESAvenida Goiás, n.º 3400 São Caetano do Sul (SP)
Diretor Geral: Prof. Marco Antônio Santos SilvaReitor: Prof. Dr. Laércio Batista da SilvaPró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Prof. Dr. René Henrique LichtCoordenador do Programa de Mestrado: Prof. Dr. Antonio Carlos Gil
Dissertação defendida e aprovada em 17/06/2002 pela Banca Examinadora constituída pelos professores:
Prof. Dr. Luiz Roberto AlvesProfª. Dra. Sandra LencioniProf. Dr. Johannes Jeroen Klink
3
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas contribuíram para realização deste trabalho. A todas elas quero expressar a minha gratidão. Apenas para seguir um critério, vou citar aqui aqueles que estiveram diretamente envolvidos em atividades concretas de apoio aos objetivos da pesquisa:
Prof. Dr. Luiz Roberto Alves, pela orientação sábia e paciente; Profra. Dra.
Sandra Lencioni e Prof.Dr.Jeroen Johannes Klink, pelas proveitosas
contribuições.
Profra. Maria do Carmo Romero e Profra. Irene Cantero Barone, pela
valiosa ajuda na montagem dos questionários.
Marcos Joseraldo Lemos, prefeito de Carbonita e Presidente da AMAJE –
Associação dos municípios da microrregião do Alto Jequitinhonha; Alvimar
Luiz de Miranda, prefeito de Gouveia; Telma Blandina Wenceslau, prefeita
de Minas Novas; Edson Viana dias, prefeito de Presidente Kubtschek; José
Edmar Cordeiro, prefeito de Veredinha; Maria do Carmo Ferreira da Silva
(Cacá), prefeita de Araçuaí; José Alves de Oliveira, prefeito de Itaobím;
Valdecy José de Souza. Prefeito de Águas Vermelhas; Jânio Murta Pinto
Coelho, prefeito de Felisburgo; Antonio B.G. Murta, prefeito de
Jequitinhonha; Ricardo Mendes Pinto, prefeito de Pedra Azul; Edmundo
Correa e Santos Junior, prefeito de Cachoeira do Pajeú e Presidente da
AMEJE – Associação de municípios da microrregião do Médio
Jequitinhonha. Todos atenciosos com as informações, respondendo ao
questionário ou atendendo ao telefone.
Edimar Antonio Godinho Pimenta, diretor geral/designado da CODEVALE –
Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha,
4
Adriana Martins Oliveira, secretária executiva da AMEJE e Cleide
Rodrigues, da AMAJE, atenciosas e prestativas.
Marcos Antunes Maciel, ex-coordenador da Escola-Família Agroindustrial
de Turmalina, sempre paciente e esclarecedor.
Jose Pereira, secretário de cultura de Araçuaí; Erildo do Nascimento,
secretário de cultura de Diamantina; Guillardo Velloso; Tadeu Martins;
Gonzaga Medeiros; Omar Freire; Jean Freire; disponíveis fornecedores de
informações e inspiração.
Andréa Mamontow, André Barbosa, Bárbara Alves, Cíntia Azevedo,
Francisco Dias, Ivan Kraut, Juliano Testa, Kleber di Lázzari, Mercedes
Gomes, Roberta Teixeira, Renata D`Ádamo e Thiago Freire, relatórios de
viagem, precisos e apaixonados.
Artesãos, criadores de outras artes e outros trabalhadores, incansáveis
construtores da região.
RESUMOFREIRE SILVA, Joaquim Celso. Políticas Públicas no Vale do Jequitinhonha: A difícil construção da nova cultura política regional. São Caetano do Sul: Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, 2002. 135p. Dissertação de Mestrado (Administração).
De natureza exploratória, essa pesquisa busca entender os mecanismos de formulação das políticas públicas na região do Vale do Jequitinhonha, bem como a sua relação com o desenvolvimento regional. A intenção foi, a partir da compreensão do assunto, poder articular propostas e idéias no sentido de instrumentalizar decisões políticas que tratam do desenvolvimento local/regional. O estudo discute a noção de
5
região, buscando compreender até que ponto o território do Vale do Jequitinhonha pode ser entendido como uma região. Foram utilizadas as idéias de Putnam (1996) apresentadas em “Comunidade e Democracia: a Experiência da Itália Moderna”, em que ele estuda as regiões da Itália durante as décadas de 70 e 80, como referência para o entendimento do desempenho institucional dos governos locais. Também estão presentes no estudo as idéias sobre “o novo regionalismo”, a partir da ótica das vertentes globalista, que defende uma política regional de inserção no mundo globalizado, e regionalista, que prega uma política de desenvolvimento regional baseada nas forças do próprio território. O estudo traz informações sobre as características sócio-econômicas, culturais, de desempenho institucional e de associatividade na região, sempre no intuito de compreender o fazer cotidiano local e a ação política para o desenvolvimento.
Palavras-Chave: Políticas Públicas, Desenvolvimento Regional, Região, Novo Regionalismo, Desempenho Institucional e Associatividade.
ABSTRACTFREIRE SILVA, Joaquim Celso. Políticas Públicas no Vale do Jequitinhonha: A difícil construção da nova cultura política regional. São Caetano do Sul: Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, 2002. 135p. Dissertação de Mestrado (Administração).
As this is of an exploratory nature, this research tries to understand the mechanisms that generate Public Policies in the Jequitinhonha Valley, as well as how it relates to the regional development. The intention, through an understanding of the subject, is to be able to articulate proposals and ideas for the purpose of creating instruments of political decision-making that deal with the local/regional development. The research discusses the idea of a region and tries to understand up to what point the Jequitinhonha Valley can be considered as a region. The ideas presented by Putnam (1996) in the Community and Democracy: The Experience of Modern Italy” will be used. Putnam studied the regions of Italy during the
6
70’s and 80’s, as a reference to understanding the institutional performance of local governments. Also present in the research are the ideas about “new regionalism”, according to global-oriented wings, that support a regional policy of insertion in the globalized world, and a region-oriented wings that prega regional development policy, based on the territory’s own strength.The research brings information about the socio-economical and cultural characteristics of institutional performance as well as the region’s association capacity, always trying to understand the local day-to-day life and the political actions that lead to development.
Key Words: Public Policies, Regional Development, Region, New Regionalism, Institutional Performance and association.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9 1 A ARTE E O MÉTODO 141.1 Revisão bibliográfica 141.1.1 O desempenho institucional 141.1.2 A comunidade cívica 191.1.3 O que é região? 221.1.4 O novo regionalismo 301.2 Metodologia 382 CONHECENDO A REGIÃO 41
7
2.1 Características naturais e sócio-econômicas 412.2 Políticas públicas e programas culturais 522.2.1 Aspectos histórico-culturais da região 54 2.2.2 Programas culturais no Vale do Jequitinhonha 572.3 Um olhar cosmopolita sobre o Vale 612.4 O regionalismo no Vale do Jequitinhonha 713 DESEMPENHO INSTITUCIONAL, ASSOCIATIVIDADE
E DESENVOLVIMENTO 77
3.1 A região e o desempenho institucional 773.2 A região e a associatividade 1013.3 A região, políticas públicas e o desenvolvimento 110CONCLUSÃO 112BIBLIOGRAFIA 116ANEXOS 120
INTRODUÇÃO
8
A gestão regionalizada pode contribuir, decisivamente, para a
arquitetura do funcionamento político-administrativo nacional e no
encaminhamento de soluções dos problemas globais por meio de um
ajustamento das bases regionais e locais. A relação de proximidade entre
eleitos e eleitores, governantes e população, cria condições bastante
favoráveis para um ajustamento positivo no modo de fazer política e de
tomar decisões administrativas mais apropriadas às necessidades e
anseios da população. Estando próximos ao governo, os cidadãos podem
cobrar de maneira mais direta os serviços públicos que esperam receber.
Por outro lado, o governo regional e local está em posição mais favorável
para ouvir com clareza as necessidades da população e pode
implementar medidas de atendimento a essas necessidades com melhor
utilização de recursos, sendo mais eficiente, eficaz e democrático. A
tendência vai, necessariamente, no sentido de maior equilíbrio entre o
discurso de campanha e a ação do governante durante o mandato. Fachin
e Chanlat (1998, p. 16) escrevem que a “...dinâmica do governo
municipal, eficiente, eficaz e democrática, é ambição a alcançar e precisa
ser melhor estudada para que tais metas sejam alcançadas."
Nesse sentido, Velloso, Albuquerque e Knoops (1995 ,p. 11)
destacam o razoável consenso existente de que a eficiência na prestação
dos serviços públicos é alcançada, mais facilmente, quando estes serviços
são executados por organismos que se localizam mais próximos dos
usuários. O argumento é de que tanto o acesso quanto o controle são
facilitados. Por outro lado destacam a existência de uma boa
concordância quanto ao reconhecimento da necessidade de um alto nível
de centralização, para que o Estado tenha condições de efetividade, na
9
sua função redistributiva, operada através da arrecadação de receitas e
da realização de gastos públicos. Vê-se aí um dilema: Há que
descentralizar para otimizar a utilização de recursos, facilitar o acesso e
criar melhores condições de controle, mas, ao mesmo tempo necessita-se
de um razoável nível de coordenação central para minimizar os desníveis
regionais e alcançar um grau maior de equidade.
Para Nogueira (1998, p. 282) “a política está tendo dificuldades de
se pôr como espaço público destinado a abrigar uma complexa
operação: representar os interesses (mas também as expectativas, as
vontades, as paixões) elaborá-los e transformá-los em critério para a
estruturação de universos comuns de convivência, promovendo a
conversão do conflito em fator de avanço e construção”. Isso é grave até
porque a sociedade necessita da política, justamente, como um espaço
público de mediação que pensa, discute, elabora e transforma o universo
comum de convivência social. Há, pois, que se debruçar, atentamente,
sobre os nós desse embaraçado novelo e, alinhavar alianças substantivas,
que sejam capazes de fortalecer a relação entre os vários níveis de
governo e, entre governo e sociedade civil. E parece ser a partir do
local/regional que o entendimento será mais solidamente construído.
É sabido que o Brasil, em todos os níveis de governo, tem
enfrentado dificuldades para o encaminhamento de soluções adequadas
ao atendimento dos serviços básicos que a população espera e necessita
receber. Por que isso acontece? Por que alguns governos conseguem
desempenhos mais favoráveis à melhoria das condições gerais de vida da
população? Quais são os fatores que determinam a diferença? Como
governo e população podem articular-se na busca de saídas para a
10
otimização de recursos e resultados? Que práticas vão nesse sentido?
Essas questões precisam ser mais profundamente discutidas e é a essa
problematização que este estudo se propõe.
A região a ser estudada apresenta condições bastante relevantes
para uma pesquisa dessa natureza. Dentre elas, vale ressaltar a sua forte
caracterização regional, notadamente, observada pelo modo de vida,
cultura, produção e ausência de infra-estrutura de serviços básicos, como
também pela submissão às contingências naturais desfavoráveis, como a
seca, que a coloca como uma das regiões menos favorecidas do Brasil.
Por outro lado, organismos para discussão da questão regional têm sido
formados, tanto pela estrutura dos governos nacional e estadual quanto
pela formação e articulação organizada da sociedade civil. É bem verdade
que os primeiros, ainda apegados à tradição clientelista brasileira e local,
têm tido desempenhos insignificantes no encaminhamento de soluções de
interesse coletivo e regional.
A região do Vale do Jequitinhonha situa-se no nordeste de Minas
Gerais. Sua superfície é de 85.027 Km² e corresponde a 14,5% do Estado.
É formada por dezenas de cidades e povoamentos que nasceram da
exploração econômica de seus recursos naturais no ciclo da mineração. A
colonização do Vale se dá a partir do século XVIII e, a história aponta que
a bandeira de Fernão Dias Paes Leme teria sido a primeira expedição a
chegar à região, por volta de 1678. Os primeiros povoamentos surgem no
alto Jequitinhonha: a Vila do Príncipe, hoje Serro, em 1700 e o Arraial do
Tijuco, Diamantina, em 1713 (Pereira, 1996, p.15). As lavras de ouro e de
diamantes atraíram expedições de bandeirantes e o interesse da corte o
que acelerou o processo de povoamento da região. Paralelamente ao
11
crescimento da exploração mineral no Alto Jequitinhonha, os povoados
mais ao norte passam a dedicarem-se à agricultura de subsistência e à
pecuária. No final do século XXVIII a atividade mineradora entra em
decadência e os povoados e as pequenas cidades passam a se dedicar,
mais intensamente, às atividades agro-pastoris de subsistência. Com
índices pluviométricos extremamente baixos essas atividades ficaram,
sensivelmente, prejudicadas. No século XIX surgem os grandes latifúndios
na região. Com o passar do tempo, mediante o processo de distribuição
de pai para filhos, essas terras vão sendo desmembradas e
transformando-se em pequenas propriedades. Com uma população de um
milhão de habitantes distribuídos por 80 cidades que compõem três
micro-regiões (Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha), a região é "conhecida"
no país e no mundo pela carência de infra-estrutura de saúde, educação,
produção, transporte, entre outros, como também pela pobreza material,
da maioria da sua gente, contrastante, entretanto, com a riqueza de
manifestações culturais e artísticas peculiares e de beleza incontestável.
A região apresenta posições bastante precárias em termos de
desempenho econômico e desenvolvimento social. O Índice de
Desenvolvimento Humano – IDH – na quase totalidade dos municípios
encontra-se abaixo do parâmetro médio de 0,5 (zero vírgula cinco), o que
retrata uma situação social muito preocupante. A produção e baseada em
atividades agropecuárias, na prospecção mineral e no artesanato. As
atividades comerciais e de serviço são pouco diversificadas e sem
complexidade. Como o poder público local e a sociedade civil articulam-se
em âmbito regional e estadual para a definição de projetos e políticas
públicas de interesse social? Que categorias de políticas públicas estão
12
sendo realizadas no Vale do Jequitinhonha? Como são elaboradas e
implementadas e qual a sua relação com o desenvolvimento regional? O
presente estudo propõe-se a dialogar com essas questões, buscando
delinear os paradigmas que caracterizam a prática de governar e como
essa “prática” repercute na condição de vida da população e no
desenvolvimento regional.
1 A ARTE E O MÉTODO
Este capítulo apresenta um breve apanhado do Estado da Arte no
campo da regionalidade e, também, mostrará o instrumental
metodológico utilizado para a coleta de dados e realização do estudo.
1.1 Revisão bibliográfica
1.1.1 O desempenho institucional
O suporte teórico de base será o trabalho de Putnam (1996)
apresentado em “Comunidade e Democracia: a experiência da Itália
Moderna”, em que ele estuda as regiões da Itália durante duas décadas,
mais precisamente no período de 1970 a 1989, buscando entender o
funcionamento e desempenho dos governos regionais implantados a
partir de 1970. O trabalho de Putnam mostra a mudança nas regras de
governança italiana partindo de um sistema de governo centralizado para
13
um modo de governar descentralizado e regionalizado, em que cada
região passa a desfrutar de maior poder e recursos para decidir seu
caminho de desenvolvimento.
É importante lembrar que também no Brasil, guardadas as devidas
proporções, houve uma descentralização nos vários níveis de governo a
partir da constituição de 1988 e da abertura política. Os governos
municipais passaram a atuar com um nível maior de autonomia, na
década de noventa, em relação à condição anterior. Nesse sentido o
município foi fortalecido e adquiriu maior liberdade para determinar a
melhor alocação dos recursos disponíveis. A única restrição está no
percentual de 25% da sua receita total que deve ser despendido em
educação (Fachin e Chanlat, 1998, p. 40).
Putnam se propõe a entender a dinâmica dos governos regionais e
a origem da sua eficácia ou ineficácia. Nesse sentido, faz uma análise
comparativa do desenvolvimento das regiões italianas, avaliando os seus
desempenhos institucionais, ancorado nas respectivas políticas públicas
implementadas e no modo de fazer política de cada uma delas. A
pesquisa de Putnam estabelece, ainda, uma relação entre o desempenho
institucional das regiões e o modo de viver em comunidade de cada uma
delas, o que ele chama de Comunidade Cívica. De maneira geral, os
resultados indicam que os governos que adotam políticas de interesse
dos cidadãos apresentam também melhor desempenho institucional,
como é o caso das regiões ao norte da Itália. Assim, quanto maior o
número de cidadãos atuantes e organizados em torno do espírito público,
e, quanto mais a região apresentar características de Comunidade Cívica,
atribui-se melhor desempenho Institucional ao Governo. Os resultados do
14
trabalho de Putnam sugerem que o desenvolvimento de uma
determinada região possa ser medido pela seguinte equação:
Desenvolvimento Nível de DesempenhoEconômico e
Social= Comunidade
Cívica+ Institucional
Para avaliação do Desempenho Institucional, Putnam baseia-se em
doze indicadores que abrangem três categorias: Os três primeiros, 1)
Estabilidade do gabinete; 2) Presteza orçamentária e 3) Serviços
estatísticos e de informação, buscaram avaliar se a instituição
conduzia suas principais atividades internas com regularidade e presteza.
Os indicadores seguintes, 4) Legislação reformadora e 5) Inovação
legislativa, analisaram a capacidade dos governos de identificar
necessidades sociais e propor soluções inovadoras. O grupo maior de
indicadores, 6) Criação de creches públicas; 7) Clínicas familiares;
8) Política industrial; 9) Capacidade de efetuar gastos na
agricultura; 10) Gastos com a unidade sanitária local; 11)
Habitação e desenvolvimento urbano e 12) Sensibilidade da
burocracia, avaliaram a eficiência dos governos no uso dos recursos
disponíveis para atender às necessidades e demandas da população.
Nesse trabalho, os indicadores propostos por Putnam serão utilizados
com pequenas adaptações, tornando-os mais apropriados à realidade da
região estudada. O quadro 1, na página seguinte, mostra os indicadores
propostos por Putnam e as adaptações efetuadas para este trabalho.
Quadro 1 – Indicadores para avaliação do desempenho institucional.
INDICADORES PARA INDICADORES DO
15
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
INSTITUCIONAL UTILIZADOS POR
PUTNAM
CONCEITODESEMPENHO
INSTITUCIONAL UTILIZADOS NESTE
TRABALHO
1) Estabilidade do Gabinete Analisa o grau de aderência dos projetos subseqüentes aos projetos de governos
anteriores
1) Continuidade Administrativa
2) Presteza Orçamentária mede a capacidade do governo em ter o seu orçamento atualizado
2) Presteza Orçamentária
3) Serviços Estatísticos e de Informação
mede o nível de informação de um governo sobre os
eleitores e sua necessidades
3) Serviços Estatísticos e de Informação
4) Legislação Reformadora examina a produção legislativa, levando em
conta a sua abrangência, coerência e criatividade
4) Legislação Reformadora
5) Inovação Legislativa mede a capacidade de proposição de soluções
inovadoras
5) Inovação Legislativa
6) Creches avalia a capacidade de implementação de políticas que atendam as crianças
6) Serviços de Atendimento à Criança
7) Instrumento de Política Industrial
analisa como o governo local instrumentaliza o
apoio ao desenvolvimento da produção
7) Instrumentos de Política de Produção
8) Capacidade de efetuar gastos na Agricultura9) Clínicas Familiares mede a capacidade do
governo de investimento e implementação de
programas de saúde
8) Instrumentos de Política de Saúde
10) Gastos com Unidade Sanitária Local11) Habitação e
Desenvolvimento Urbanoavalia os investimentos e
programas em melhoria das condições das habitações
9) Instrumentos de Política de Habitação e
Desenvolvimento Urbano12) Sensibilidade da
Burocraciamede a sensibilidade do governo em encaminhar
com eficiência as demandas do cidadão comum
10) Sensibilidade da Burocracia
Os resultados da pesquisa de Putnam com os 12 indicadores para
avaliação do desempenho institucional mostraram-se bastante coerentes.
Constatou-se que “as regiões que têm gabinetes estáveis, que aprovam
seu orçamento dentro do prazo, que utilizam seus recursos conforme
planejado e que introduzem novas leis, costumam ser as mesmas que
16
oferecem creches e clínicas familiares, têm um planejamento urbano
detalhado, concedem empréstimos aos agricultores e respondem
prontamente às cartas que lhes enviam os cidadãos” (Putnam, 1996, p.
87). São também essas, as regiões que apresentaram melhores
desempenhos institucionais.
De maneira geral, os governos dessas regiões foram reconhecidos
pelos eleitores - cidadãos comuns ou líderes comunitários - como bons
governantes. Também esses governos foram mais bem sucedidos do que
outros, mesmo quando contavam com os mesmos recursos e possuíam a
mesma estrutura. O estudo de Putnam mostra que esses governos foram
mais eficientes em suas atividades, mais criativos na elaboração de suas
políticas e mais eficazes na execução dessas políticas.
17
1.1.2 A Comunidade Cívica
Comunidade Cívica significa, para Putnam, a cidadania sendo
praticada pela participação dos cidadãos nas atividades públicas. Essa
participação pressupõe o interesse de cada um pela realização do bem
público antes do interesse puramente individual e particular. Essa noção
de coletividade não representa necessariamente a abdicação do interesse
do bem particular mais “o interesse próprio, definido no contexto das
necessidades públicas gerais, o interesse próprio que é esclarecido e não
míope, o interesse próprio que é sensível aos interesses dos outros”
(Putnam, op. cit., p. 102)
Na Comunidade Cívica os cidadãos interagem como iguais,
compartilhando direitos e deveres iguais para todos. Não se trata de um
expurgo do poder, do abandono da divisão do trabalho ou da liderança,
mas da manifestação e emprego destas categorias em bases
responsáveis e civilizadas. “Tal comunidade será tanto mais cívica quanto
mais a política se aproximar do ideal de igualdade política entre cidadãos
que seguem as regras de reciprocidade e participam do governo"
(Putnam, op. cit., p. 102). Seriedade, confiança e tolerância constituem-se
elementos necessariamente presentes nas relações de uma Comunidade
Cívica. Embora não esteja livre de conflitos, eles se travam apenas no
campo das idéias, preservando e engrandecendo as relações humanas. As
discordâncias estão sempre presentes, mas expostas, de tal modo a
serem consensuadas pela força da melhor argumentação conforme
propõe Habermas.1
11 Em a Teoria da Ação Comunicativa Jürgen Habermas, filósofo alemão ligado à escola de Frankfurt, defende que os conflitos devam ser resolvidos pelo consenso argumentado, baseado na verdade, justiça e na autonomia dos sujeitos envolvidos em
18
A Comunidade Cívica aparece em Putnam regada de estruturas
sociais de cooperação: as associações já defendidas por Alexis
Tocqueville. Destaca que no âmbito interno, as associações “incutem em
seus membros hábitos de cooperação, solidariedade e espírito público”
imprimindo nos seus participantes, o espírito de cooperação e a noção de
responsabilidade comum para com as atividades de natureza pública e
coletiva. No aspecto externo a associatividade, por meio da articulação e
agregação de interesses de várias categorias, contribui com a formação
de densas redes que promovem o debate de problemas sócio-políticos e,
por conseqüência, amplia as possibilidades do surgimento de governos
mais democráticos. (Putnam, op. cit., p. 103,104).
A seguir, serão apontadas as principais constatações da pesquisa de
Putnam relacionando as atitudes da comunidade cívica ao desempenho
institucional das regiões:
Nas regiões mais cívicas os cidadãos participam, ativamente, de todo
tipo de associações locais tais como: grêmios literários, clubes
desportivos e outros tipos de associações culturais, de saúde, de
recreação, técnicas econômicas e filantrópicas.
Nas regiões menos cívicas os índices de associatividade são baixos. Os
eleitores manifestam-se por razões de clientelismo e existe uma escassez
de meios de comunicação.
Finalmente, os resultados mostraram uma relação altamente positiva
entre o desempenho de um governo regional e o grau de participação dos
cidadãos na vida social e política da região. Quanto mais cívica a região,
mais eficaz é o seu governo.
um desentendimento.
19
Putnam (op. cit., p. 112) afirma que “...parece que as regiões
economicamente mais adiantadas têm governos regionais mais eficientes
simplesmente porque nelas há maior participação cívica.” E continua “... o
desempenho de um governo regional está de algum modo estreitamente
relacionado com caráter cívico da vida social e política da região. As
regiões onde há muitas associações cívicas, muitos leitores de jornais,
muitos eleitores politizados e menos clientelismo perecem contar com
governos mais eficientes.” O trabalho de Putnam deixa bastante evidente
a importância da participação e da organização popular como
determinantes da ação e do desempenho do governo local. Isto mostra
que as pessoas de uma determinada região podem decidir por ter
governos mais eficientes e eficazes, comprometidos com as causas que
promovem o desenvolvimento local. Essa parece ser uma das bases para
a construção de uma nova cultura política regional. Difícil mais possível.
1.1.2 O que é uma região?
Entender o que é uma região passa, necessariamente, pela
discussão da totalidade e das partes que a constituem. Em princípio,
pode-se afirmar que o termo “região” designa uma parte de um todo que,
por sua vez, se recortado em duas ou mais partes, gera duas ou mais
regiões identificadas em função desses recortes. Do latim regione, o
termo é definido por Aurélio como o “território que se distingue dos
demais por possuir características próprias”. Regione deriva do verbo
regere que quer dizer governar, administrar, dirigir. Vê-se que na sua
20
origem o termo região incorpora um significado bem mais amplo do que o
uso corrente e sua idéia genérica possam indicar.
A idéia de parte e totalidade leva-nos a entender o território2
(região) como sendo uma parte de um todo, formado por esta e por
outras, cada qual com características próprias. Tomando como apoio a
abordagem estruturalista, tem-se que cada uma das partes (regiões) na
constituição do todo (um país, por exemplo) se descobrem, se
diferenciam e ganham autonomia umas sobre as outras, de tal sorte a
manter a interação e a totalidade sem fazer uma soma ou
reunião entre si, mas buscando a sinergia pela diversidade e variação
entre elas.
O entendimento da noção de região requer que se faça a sua
distinção das idéias de paisagem e espaço. Santos (1997, p. 83) diz que
“paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é um conjunto de
formas que, num dado momento, exprimem as heranças que
representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a
natureza. O Espaço são essas formas mais a vida que as anima”. Nesse
sentido, a paisagem comporta a forma natural (os objetos da natureza) e
a forma cultural dada pela ação do homem (objetos passados e
presentes). O conceito de espaço abrange tudo isso e a forma de vida que
dá movimento à paisagem no presente. A região, por sua vez, pode ser
entendida como um espaço politicamente delimitado; um recorte que
permite a um ator controlá-lo ou entendê-lo.
2 “Território” no sentido empregado por Claude Raffestin em “Por uma geografia do Poder” onde o termo aparece como “um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia ou informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder.”
21
Sandra Lencioni em Região e Geografia (1999) faz uma análise
bastante aprofundada do conhecimento do estudo regional ao longo da
história, destacando os principais autores que abordaram o tema e a idéia
que prevaleceu sobre o significado de região em cada momento. Nessa
perspectiva, este trabalho passa a destacar alguns dos aspectos
levantados por Lencioni buscando um maior entendimento do significado
de região. Inicialmente é importante salientar a idéia de Kant que
entendia o espaço geográfico dividido em regiões que se constituíam na
essência da história dos homens (Lencioni, 1999, p. 79). Essa posição
kantiana remete à noção de região enquanto um espaço em processo de
transformação em função da ação dos atores, sujeitos de sua história.
Carl Ritter (1779-1859), “pai” da geografia regional, estabeleceu
um procedimento de estudo geográfico que obedecia a seguinte ordem:
começar pelas análises do relevo, do clima, da população e das atividades
humanas a fim de alcançar uma síntese geral. As idéias de Ritter acabam
por influenciar o surgimento de vários estudos no campo da comparação
entre elementos de uma determinada região e entre diferentes regiões.
Assim, “o objeto essencial de estudo da geografia passou a ser a região,
um espaço com características físicas e socioculturais homogêneas, fruto
de uma história que teceu relações que enraizaram os homens ao
território e que particularizou este espaço, fazendo-o distinto dos espaços
contíguos”. (Lencioni, op. cit., p.100).
A noção de região para Ritter e seus seguidores compreende uma
distinção pela paisagem que a constitui e pela consciência do homem que
a habita. Lencioni (op. cit., p, 100)salienta que a região nesse sentido
“possui uma realidade objetiva e cabe ao pesquisador distinguir as
22
homogeneidades existentes na superfície terrestre e reconhecer as
individualidades regionais.”
Vidal de La Blache (1845-1918) postula que é a partir da cidade que
se cria a região e a sua dinâmica propícia em que ela se forme e se
dissolva. La Blache “salientou que não é fundamental procurar limites da
região, mas conhecê-los como uma espécie de auréola, cujos limites não
são bem determinados” (Lencioni, op. cit., p, 108). Na visão de La Blache
a regionalização deveria conter uma análise detalhada do meio físico, das
formas de ocupação, das atividades humanas e de como o homem se
ajusta à natureza. No seu entender a analise da relação do homem com
o meio deveria ser feita a partir de uma perspectiva histórica. Assim,
caberia à síntese regional estabelecer a integração entre os elementos
físicos e sociais (Lencioni, op. cit., p. 105).
Alfred Hettner (1859-1941) entendia a região como uma parte da
superfície terrestre. Considerando a superfície terrestre uma totalidade, o
todo das diferenciações deveria levar em conta todos os aspectos da
natureza e do homem num determinado espaço, “cujas características
possuíssem uma coerência fisionômica e funcional que permitissem
configurar uma individualidade espacial” (Lencioni, op. cit., p. 123) - a
região. Hettner afirmava que os recortes feitos na realidade são frutos de
uma idealização intelectual, uma construção mental do homem, não
existindo em si mesmos. Na sua análise, a realidade pode ser dividida
com base em conjuntos homogêneos “definindo campos do conhecimento
como a geologia, a botânica, a física”. Por outro lado, pode também ser
fragmentada tomando como referência à heterogeneidade “de
fenômenos que possuam uma coerência interna própria, conformando
23
uma individualidade referida no tempo e no espaço”. Esta última análise
é tida como análise regional (Lencioni, op. cit., p. 124). Para ele, as
grandes dimensões como os continentes e países não se constituíam em
unidades adequadas ao estudo regional. Apresentam diferenças e
diversidades que tornariam o entendimento obscurecido. O oposto, os
recortes em dimensões muito pequenas, reduziria o significado do estudo.
A seu ver, o estudo regional deveria basear-se numa escala que fosse
nem muito grande nem muito pequena.
Seguidor de Hettner, Richard Hartshorne, comumente emprega o
termo áreas-unidades para referir-se a regiões. No seu entender, as
áreas-unidades (regiões) não são auto-evidentes, definindo-se a partir da
constituição mental do pesquisador. Trata-se, pois, de uma construção
subjetiva da realidade, não se constituindo um objeto em si mesma.
Como Hettner, Hartshorne chama a atenção para o problema da escala
na divisão regional, pois no limite inferior, a região poderia se reduzir a
um ponto e no superior, obscurecer as particularidades. Outra idéia de
Hartshorne diz respeito ao fato da divisão das áreas não necessitar da
continuidade física do território. Assim pode-se aceitar, por exemplo, que
o Brasil, Portugal e Moçambique integrem uma mesma região, se o objeto
de estudo for a língua comum a todos eles. Embora esses paises estejam
localizados em continentes diferentes, existe uma dimensão que os une:
nesse caso a língua portuguesa.
Os estudos regionais basearam-se também na Teoria Geral dos
Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy, “tentando resolver várias questões
como delimitação funcional da região, o da definição da escala regional e
o da coesão do conteúdo regional”. Surge o termo subespaço, para
24
indicar a região, e um dos principais objetivos do estudo regional passou
a ser o de determinar o papel desempenhado por cada subespaço na
constituição do espaço global, entendido “como uma totalidade fechada,
sistematicamente estruturada, resultado da soma de outras totalidades
menores” (Lencioni, op. cit., p. 137).
A partir dos anos sessenta do século XX, vários autores franceses
(Jean Labasse, Pierre George, Michel Rochefort, Ettienne Juillard,
Raymond Deegrand, Phillippe Pinchemel, Bernard Kayser e outros)
defendem que o espaço pode organizar-se através da ação do homem,
por via institucional, dando origem à chamada Geografia Ativa. Essa
corrente propunha a organização do espaço por intermédio da
intervenção do homem a partir do planejamento urbano e regional
buscando atingir o crescimento do espaço de forma harmoniosa. O
espaço passa a ser entendido como “um campo de ação de fluxos”. Para
esses autores, esses fluxos ao dirigirem-se para uma determinada cidade
transformaram-na em um pólo regional. “Nesse sentido, uma região se
coloca como uma área de ação de uma cidade” ( Lencioni, op. cit., p. 141
). Para Rochefort, por exemplo, as cidades que assumem essa posição
de pólo regional, desempenham um papel de coordenação e direção das
atividades produtivas da região, e acabam por garantir uma série de
funções às outras cidades da área. Rochefort dizia que esses pólos podem
ser de natureza regional, nacional ou internacional, dependendo da
relação hierárquica entre as cidades.
Bernard Kayser e Pierre George estabeleceram três parâmetros
para definir uma região: deve haver laços de natureza econômica e social
entre os habitantes; há a necessidade de uma cidade pólo para dirigir as
25
demais cidades da região; e ela deve ser entendida como parte de uma
totalidade. Esses autores “consideram acima de tudo, que uma região
será mais madura, no sentido evolutivo do termo, quanto maior for a
importância de seu centro e quanto maior for a influência que esse centro
exerce sobre o território” (Lencioni, op. cit., p. 143).
Sandra Lencioni discorre sobre a importância da incorporação do
pensamento fenomenológico e do marxismo no estudo regional. Segundo
ela a perspectiva fenomenológica nos conduz a ver o espaço sob outra
ótica: o espaço vivido, aquele que é constituído socialmente e
interpretado a partir da percepção das pessoas e revelador das suas
práticas sociais. Essa noção de espaço coloca o lugar como o centro da
análise geográfica, o qual é entendido como sendo uma realidade que
transcende os aspectos puramente naturais e incorpora uma paisagem,
também cultural, cheia de significados. Dessa forma, a região é um lugar
com uma paisagem e a identidade do homem (sentimentos, laços
afetivos, valores culturais e sociais) com ela. A região passou a ser
considerada um produto da história e da cultura, “passou a ser vista não
como constituindo uma realidade objetiva; ao contrário, ela foi concebida
como uma construção mental, individual, mas, também, submetida à
subjetividade coletiva de um grupo social, por assim dizer, inscrita na
consciência coletiva” (Lencioni, op. cit., p. 155). Observa-se, numa
perspectiva fenomenológica, que o foco da análise regional supera os
aspectos socioeconômicos e busca, como ponto central, discutir e
entender o das relações conjuntas do homem com a região.
Numa perspectiva marxista, a região é concebida como uma parte
de um todo, porém, uma totalidade dialética, não harmônica, em que as
26
injustiças e as desigualdades do capitalismo estão presentes. A idéia de
região relacionada a uma cidade, como centro de influência, é criticada.
Essa posição é apoiada pela argumentação de que existem , paisagens
físicas e humanas, onde não há um centro de polarização. Cita-se como
exemplo a região do Saara (Lencioni, op. cit., p. 164, 165, 166). É,
também, o caso da região amazônica, onde o sentido de região
transcende a idéia de centro de polarização vinculado a uma cidade.
Rebatendo a posição dos fenomenológicos os estudiosos da questão
regional de origem marxista não entendem a região como espaço vivido.
Para essa corrente “o espaço vivido corresponde ao espaço de vida das
pessoas, segundo o lugar que elas ocupam na sociedade e na divisão do
trabalho. Diferentemente, a região é um conjunto espacial bem mais
amplo que o espaço vivido” (Lencioni, op. Cit., p. 169).
27
1.1.4 O Novo Regionalismo
A discussão em torno da questão regional têm sido alimentada
pelas idéias de duas vertentes teóricas: a globalista e a regionalista.
A vertente globalista, com destaque para Charles Tiebout e Kenichi
Ohmae, acredita na homogeneização dos espaços regional e local a
partir, por exemplo, da mobilidade de capitais, das telecomunicações, dos
transportes e da telemática. Na visão globalista, os fatores de produção
tornam-se bastante voláteis, deslocando-se de uma cidade para outra à
procura de melhores condições (incentivos, custos baixos, flexibilização,
visibilidade, qualidade de vida, lucros, etc.). Essa mobilidade de capital e
de trabalho provoca uma competição entre as cidades/regiões, no sentido
de atrair capital e a mão-de-obra qualificada necessários à criação de
valor agregado local. Para o discurso globalista, a competição entre as
regiões e cidades tende torná-las todas iguais. Assim seria inevitável a
desterritorialização do espaço e a adesão da região ao projeto de
globalização. Referindo-se a essa corrente Klink (2001, p. 16) cita que
“capital e trabalho se tornaram voláteis e mudam de uma cidade para
outra à procura de maximização de suas preferências (isto é, lucros,
salários, qualidade de vida urbana). De certa maneira, as preferências do
consumidor e do cidadão têm se tornado o elo entre o global e o local.
Como os fatores de produção se deslocam de acordo com as melhores
condições, as cidades têm de competir entre si par atrair mão-de-obra
qualificada e capital produtivo e financeiro. Num mundo onde as
preferências se tornaram cada vez mais homogêneas, as cidades se
tornarão também cada vez mais semelhantes e homogêneas.” A vertente
28
regionalista com destaque para Michael Stoper, Allen Scott, Alain Lipietz,
George Benko, entre outros, advoga que as regiões e cidades têm
mecanismos para buscarem uma negociação bem sucedida com a
economia global, implementada a partir da própria região. Destaca a
importância da região e a possibilidade de imprimir articulações e
alianças regionais mais agressivas para competir no mercado global.
Coloca a formação da identidade regional (cultura, história, política) como
pré-condição para que o projeto regional seja bem sucedido. “A forma de
organização através de redes cooperativas entre atores locais facilita os
processos de aprendizagem, a inovação e a sua conseqüente difusão.
Além disso, essas redes proporcionam a criação de um conhecimento que
é territorialmente específico” (Klink, 2000, p. 31). A vertente globalista
assume que a nova ordem mundial cria condições favoráveis para que a
cidade-região possa buscar vantagens competitivas comparativas. A
recomendação é que a posição privilegiada deve ser alcançada por meio
de estratégias de redução de custos; por meio de efetiva inserção nas
redes mundiais de fluxo de informação ou, também, através do marketing
city3.
Os seguidores da vertente regionalista, embora não neguem a
globalização,
apontam e valorizam os fatores intrínsecos a cada região como a saída
para o desenvolvimento regional. São os fatores endógenos que devem
criar a motivação necessária para que o capital volátil decida permanecer
no ambiente e em condições de boa rentabilidade. A vertente regionalista
3 Promoção das especificidades do seu próprio espaço; oferecer uma ampla rede de serviços culturais e manter baixos níveis de violência e de qualquer tipo de marginalização para influenciar as empresas a investirem na região.
29
defende que o setor público crie as condições, para a revitalização do
desenvolvimento regional, por meio de uma política pública, que
incentive o surgimento de parcerias privadas e forneça às empresas
locais condições de enfrentarem a competitividade global. Enfatiza-se,
também, a importância de criar um clima de confiança entre os atores
através de uma política de comunicação clara, utilizando a conversação
como instrumento para reduzir barreiras e gerar entendimentos.
Enquanto os globalistas recomendam uma política regional de
inserção no mundo globalizado, a visão regionalista assinala na direção
de uma política pública que busque as soluções de desenvolvimento
dentro do próprio território. Nesse sentido é a partir das particularidades
de cada região que vai se encontrar e criar o encaminhamento de
soluções. Se a proposta globalista aponta para fora, para uma zona de
livre comércio, a proposta regionalista aponta para dentro, para a
construção da alternativa regional.
Allen J. Scott da Escola de Políticas Públicas e de Pesquisas Sociais
da Universidade da Califórnia e um dos teóricos da vertente regionalista
destaca em “A Economia Cultural das Cidades”, o importante papel das
cidades como centros de atividades culturais e econômicas. Scott parte
da noção de que o capitalismo em si está caminhando para uma etapa
em que as atividades culturais e seus significados tornam-se dominantes
na estratégia produtiva local. A tradicional padronização produtiva do
modelo fordista é, aos poucos, substituída pelo chamado modelo
produtivo pós-fordista4, de características flexíveis e dinâmicas. Isso não
4 Um Modelo baseado na especialização e na flexibilidade significando a produção de pequenas quantidades de insumos especializados, para atender às exigências específicas de determinados nichos de mercado e, por outro lado, capaz de se adaptar à novas exigências e mudanças de certos segmentos.
30
significa, segundo o próprio Scott, que a produção em massa fordista
tenha sido execrada da economia de hoje; o que há é um movimento
muito marcante da cultura pós-fordista intensificando a produção de
diversas variedades de produtos culturais – artifícios, moda, insumos de
desing e de informática – por todas as economias mais avançadas. Essa
nova arquitetura econômica sugere que as empresas e os governos
regionais e locais devem
desenvolver estratégias de marketing que valorizem a diferenciação
dos seus
insumos e produtos/serviços, ao mesmo tempo em que direcionam a
tecnologia e a
organização da produção para nichos de mercado específicos e
também sejam
capazes de se adaptar a novas exigências. Os bens e serviços gerados
por essa nova economia cultural e que Scott chama de produtos culturais
surgem sob variadas formas e origens. São vestuários, jóias, móveis ou
utensílios que ganham formas pela transformação de insumos dos setores
mais tradicionais; serviços turísticos, teatro ou propaganda que se situam
com transações personalizadas ou
como produção e transmissão de informações. Há, ainda, produtos
culturais como gravações de filmes, por exemplo, que assumem ao
mesmo tempo, aspectos das duas situações anteriores. Segundo Scott
(1997), qualquer que seja a composição físico-econômica de tais
produtos, os setores que os produzem estão todos envolvidos na criação
de insumos comerciais em que suas qualidades competitivas dependem
do fato de que pelo menos funcionem como um ornamento pessoal,
31
formas de exibição social, objetos estilizados, formas de diversões e
distrações, ou fonte de informação e autopercepção.
Para Scott (op. cit.), lugar, cultura e economia são altamente
simbióticos. Lugar e cultura estão num constante processo de
interposição, intercalando-se um ao outro e produzindo bens e serviços
que revitalizam a dinâmica econômica. O lugar é o espaço de intensos
inter-relacionamentos humanos de onde a cultura emerge e estabelece as
características específicas locais, diferenciando um lugar dos outros. A
cultura local intervém e ajuda a formar a maneira pela qual as atividades
econômicas se realizam. Assim, produtos, cultura e lugar mantêm, um
elevado grau de identificação, o que confere, por certo, notada vantagem
competitiva à produção local e a conseqüente ampliação do mercado. Um
determinado setor produtivo utiliza-se de uma teia complexa de culturas
locais que deixam marcas nos bens e serviços produzidos e estes, por sua
vez, criam imagens reais ou imaginárias do seu lugar de origem que,
novamente, assimiladas pelos bens culturais do lugar, alimentam um
novo ciclo de produção.
O trabalho de Scott nos mostra que a preservação da cultura
local/regional é, também, um instrumento para a revitalização econômica.
A produção cultural do lugar pode ganhar o mundo por meio de extensas
redes de consumo criadas a parir dos processos globalizantes. Segundo
Scott (op. cit.), alguns lugares privilegiados representam pontos de onde
artefatos e imagens são transmitidas pelo mundo afora e este mesmo
processo possui efeitos profundamente erosivos ou pelo menos
transformativos sobre muitas culturas. E mais adiante lembra que, se
algumas culturas locais/regionais estão sob séria ameaça neste presente
32
momento, outras estão encontrando audiências abrangentes e
receptivas. Scott nos oferece, entre outros, o exemplo do artesanato nas
cidades da Terceira Itália onde o emprego industrial tem crescido nos
últimos trinta anos, com os produtos culturais dessa região, ganhando
mercados internacionais com muito êxito e contribuindo com o seu
crescimento econômico recente. Graças à qualidade e ao estilo
empregado por seus artesãos em materiais têxteis de lã (Prado); roupas
tricotadas (Carpi); Cerâmicas (Sassuolo); sapatos de alta moda (Porto
Sant’ Elpidio); móveis (Pesaro); rendas (Como) e objetos de couro
(Florência).
Os bens, em uma economia cultural estão sob a influência de
imagens e sensibilidades locais enraizadas. Assim, estão suscetíveis a
algum tipo de convergência em seus aspectos de aparência. É o caso, por
exemplo, da cerâmica do Vale do Jequitinhonha que reproduzindo
utensílios domésticos, animais, figuras humanas e (dês)humanas, traz em
seus traços, pigmentos, formas e situações retratadas, a imagem cultural
da região. Essa identificação com o local representa uma vantagem
competitiva, para o conjunto de produtos de uma economia cultural. Ao
tratar essa questão, Scott cita cinco elementos organizacionais e/ou
tecnológicos inseridos no contesto de uma economia de produtos
culturais:
Consideráveis quantidades de manuseio humano, utilizadas pelas
tecnologias e processos produtivos desses produtos/serviços;
Densas redes de negócios de pequeno e médio porte dependentes
umas das outras em materiais e serviços, embora possa também haver
grandes organizações integradas participando dessas redes;
33
A organização dos participantes das redes tende a exercer enormes
exigências sobre o mercado de trabalho local, principalmente no que diz
respeito aos atributos e habilidades dos trabalhadores, o que, no
conjunto, acaba por minimizar os riscos para ambos os lados;
A aglomeração localizada (presença de muitos negócios inter-
relacionados), gera sinergia e aprendizado mútuo proporcionando o
crescimento externo de múltiplos estímulos situados nos pontos de
interação entre os vários agentes;
Essa aglomeração surge de diferentes tipos de infra-estruturas
institucionais que podem amenizar o funcionamento da economia local,
fornecer os serviços gerais mais críticos, facilitar o fluxo de informação,
promover confiança e cooperação entre os produtores interligados e
assegurar-se de que um planejamento estratégico eficaz seja efetuado.
O trabalho de Scott traz fortes argumentos no sentido de mostrar
como as capacidades de geração de cultura das cidades e/ou das regiões
estão conectadas às finalidades produtivas, criando novas categorias de
vantagens competitivas localizadas que geram novas atividades e
melhoram a renda local.
34
1.2 Metodologia
O Objeto de estudo em questão neste trabalho é o Vale do
Jequitinhonha e suas Políticas Públicas. Para problematização e exame
deste objeto optou-se por seguir, do ponto de vista de delineamento de
pesquisa, a estrutura de um Estudo de Caso. Gil (1999, p. 72) diz que o
Estudo de Caso "é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um
ou de poucos objetos, de maneira que permita o seu conhecimento amplo
e detalhado, tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de
delineamentos considerados". Pela sua natureza exploratória este
trabalho tem como objetivo alcançar uma visão mais ampla sobre o fato
estudado, sem a pretensão de se chegar a resultados, ou respostas
conclusivas. Nesse sentido pretende-se, aqui, alcançar um nível de
conhecimento mais aprofundado do Vale do Jequitinhonha, de suas
políticas públicas e da cultura política regional, de tal modo poder
contribuir com mais informações sobre o tema, que poderão ser úteis aos
35
formuladores de políticas sociais, aos gestores públicos e estudiosos do
assunto.
Este trabalho buscou suporte em dados de natureza primária e
dados secundários. Os dados primários foram coletados, principalmente,
por meio de entrevistas, questionários e observação de campo. Os dados
secundários referem-se a informações bibliográficas, principalmente
contidas nos planos diretores locais e regionais. Utilizou-se, portanto, uma
combinação de dados quantitativos e qualitativos, o que permitiu um
entendimento mais claro da situação-problema.
A coleta de informações baseou-se num conjunto variado de
técnicas e instrumentos. Isso no intuito de dar ao pesquisador, um grau
maior de certeza na manipulação dos dados que o conduziram ao
entendimento da situação-problema. Como afirma Putnam (1996, p. 27):
“O cientista social prudente, assim como o investigador experiente, tem
que recorrer à diversificação para aumentar o potencial de um único
instrumento, compensando assim suas deficiências”.
Neste estudo, apesar da sua característica exploratória, o cuidado
com a averiguação sistematizada foi potencializado, dado, inclusive, o
conhecimento empírico do pesquisador sobre a região objeto de estudo.
Buscou-se isentar das posições particulares, fruto de tendências político-
teóricas ou de impressões tiradas puramente da vivência do dia-a-dia.
Putnam (1996:28) nos alerta que, “nossas impressões, por mais vividas
que sejam, têm que ser comprovadas, assim como nossas especulações
teóricas têm que ser disciplinadas por meio de vigorosa verificação..”
Para o alcance dos objetivos propostos neste estudo fez-se uso das
técnicas e instrumentos apontados a seguir:
36
Análise de documentos oficiais do governo do Estado de Minas Gerais,
como o Plano Diretor de Recursos Hídricos para os Vales do Jequitinhonha
e Pardo - Planvale/1999; documento para discussão elaborado pela
Fundação João Pinheiro/1999 e 1º Censo Cultural de Minas Gerais /1995
elaborado pela Secretaria de Estado da Cultura;
Exame de documento alternativo elaborado pelo Partido dos
Trabalhadores, intitulado “Caravana do Jequitinhonha”, de 1995.
Exame de documentos em vídeo elaborados, na década de 90, por
organismos de comunicação social e universidades.
Análise de relatórios e entrevistas elaborados em 1998 e 1999 por
estudantes do IMES em viagem à região do Vale do Jequitinhonha, sob a
orientação deste pesquisador.
Entrevistas com líderes comunitários e membros da sociedade civil.
Questionário estruturado, aplicado aos gestores municipais.
Observação do fazer cotidiano dos habitantes da região e das práticas
políticas locais.
Quanto ao nível de investigação, o estudo apresenta um caráter
exploratório, já que tem como objetivo aprofundar o conhecimento sobre
o problema levantado, e formular possíveis hipóteses. Esse tipo de
pesquisa, segundo Gil (1999, p. 43), “têm com principal finalidade
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vistam a
formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para
estudos posteriores”.
2 CONHECENDO A REGIÃO
37
2.1 Características Naturais e Sócio-
Econômicas
Em primeiro lugar é necessário identificar os limites geográficos da
região conhecida como Vale do Jequitinhonha. Essa não é uma tarefa
fácil, já que os diversos organismos oficiais do Estado de Minas Gerais
estabelecem limites diversos para a área.
Quando o critério da regionalização é o de planejamento, encontra-
se o Estado dividido em oito macro-regiões sendo uma delas a macro-
região do Jequitinhonha formada por 80 municípios. Se o critério é o de
Regiões Administrativas, o Estado está dividido em 25 regiões, dentre
elas a Região do Alto Jequitinhonha e a Região do Vale do
Jequitinhonha, num total de 80 municípios. Por outro critério, o de
mesoregiões geográficas, o Estado está dividido em 12 as mesoregiões,
sendo uma delas a Mesoregião do Jequitinhonha. No critério de
Associações de Municípios, a área está dividida em quatro micro-regiões:
a micro-região do Alto Jequitinhonha com 21 municípios associados, a
do Médio Jequitinhonha, com 16 municípios, a do Baixo
Jequitinhonha com 18 municípios e a dos Municípios Mineiros da Sudene
com 26 municípios na área do Vale do Jequitinhonha. Os mapas 1, 2, 3 e
4 a seguir demonstram os diferentes limites da região.
Mapa 1
38
Mapa 2
Mapa 3
39
Mapa 4
Dados esses diferentes critérios de regionalização, optou-se, neste
estudo, por considerar como Vale do Jequitinhonha o espaço físico
formado pelas três micro-regiões: Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha,
40
privilegiando o critério de regionalização por associações de municípios,
por entender ser ele o que melhor atenderá aos objetivos do trabalho.
Esse critério parece ser o que mostrará com maior clareza as identidades
regionais e também as suas diversidades. Pressupõe-se haver interesses
comuns a serem agregados e articulados entre aqueles que se associam.
Como diz Putnam (1996, p. 03): “No âmbito interno, as associações
incutem em seus membros hábitos de cooperação, solidariedade e
espírito público” e, mais adiante diz que “uma associação congrega as
energias de espíritos divergentes e firmemente os orienta para um
objetivo claramente definido” (Tocqueville apud Putnam, p.104).
A região está localizada no nordeste do Estado de Minas Gerais.
Limita-se ao norte com a Bacia do Rio Pardo (onde se encontram 26
municípios também pertencentes à Bacia do Jequitinhonha e que, antes
da lei 9690 de 15/07/98 e do decreto 2885 de 17/12/98, eram os únicos
sob área de atuação da SUDENE em Minas Gerais) e com o Estado da
Bahia; a leste, também com o Estado da Bahia; a oeste, com a Bacia do
Rio São Francisco e ao Sul, com as Bacias dos rios Doce e Mucuri.
Empresta o nome do rio Jequitinhonha, que nasce na Serra do Espinhaço
- nos municípios de Serro e Diamantina e deságua no Oceano Atlântico,
após percorrer 920 Km, dos quais 760 Km em Minas Gerais. É rica em
substâncias minerais de interesse econômico, como diamantes, ouro, e
outras pedras preciosas e semipreciosas. Existem, também minas de
minerais industriais como feldspato, quartzo, caulim, cassiterita, grafite,
etc. O quadro 2, mostra as principais características pluviométricas, clima
e temperatura da região:
41
Quadro 2 - Características pluviométricas, clima e temperatura no Vale do JequitinhonhaINDICADORES CARACTERÍSTICASChuvas Concentradas nos meses de Novembro a
Janeiro Índices Pluviométricos 1060mm na parte mais ocidental e, 831mm
na parte mais orientalEstiagem Junho a AgostoTemperatura Média Anual da ordem de 21° C
Média Mínima Anual - 16° CMédia Máxima Anual - 28° C
Clima Quente e úmido na parte mais ocidental e, Semi-árido, quente e seco na parte mais oriental
Não bastassem as condições pouco favoráveis ocasionadas,
principalmente, pelo déficit hídrico (atinge 800mm) no Médio
Jequitinhonha, a situação agrava-se com a destruição da vegetação
natural ocasionada por mineração e garimpo, pelas grandes áreas de
plantação de eucalipto ou até mesmo pelo tradicional sistema de queima
para o plantio, ainda usado pelos pequenos produtores da zona rural.
O Plano Diretor de Recursos Hídricos para o Vale do Jequitinhonha -
PLANVALE (1999) cita que “as atividades antrópicas têm acarretado
redução de recursos vegetais, de populações de animais silvestres e da
disponibilidade hídrica, bem como dos processos erosivos, com
conseqüente perda da fertilidade do solo, assoreamento dos cursos d
´água e deterioração da qualidade das águas e da biota aquática.” (...)
“Com a destruição da vegetação natural e, consequentemente, de muitos
habitats naturais da fauna terrestre, os habitats remanescentes ficaram
dispersos, causando isolamento das populações animais.”
42
Estudos recentes da Fundação João Pinheiro, ligada ao Governo do
Estado, afirmam que a mineração na região desrespeita a legislação
ambiental contribuindo para a eliminação da vegetação ciliar e expondo
as margens dos rios a um constante processo de erosão e que, na maioria
das vezes, o reflorestamento é feito sem os cuidados conservacionistas e
de uso do solo.
De maneira geral, a região apresenta condições precárias em
termos de desempenho econômico e de desenvolvimento social. Embora
o índice de urbanização tenha crescido nos últimos anos, a maior parte da
população economicamente ativa (63%) está na agropecuária, segundo
dados do PLANVALE. Mesmo assim, segundo dados da Fundação João
Pinheiro, a agropecuária, em termos de geração de riqueza, assume
posição relevante em apenas 14 municípios. No conjunto, tanto a
agricultura como a pecuária, têm uma participação bastante pequena na
produção do Estado. Nesse setor destacam-se os estabelecimentos
agroartesanais ligados à produção de queijo, cachaça, rapadura e farinha
de mandioca.
As atividades industriais mais relevantes na região estão ligadas à
exploração de diamantes, por uma empresa do Grupo Andrade Gutierrez
e às extensas florestas de eucalipto, plantadas por empresas de
metalurgia e celulose. Destacam-se, ainda, atividades industriais ligadas
à exploração de caulim, feldspato, mica, grafite, granito, além de vários
garimpos de pedras semipreciosas. Outra atividade marcante na região é
o artesanato, conhecido em todo país e até no exterior. Em quase todas
as cidades, artistas criam peças a partir do barro, madeira, couro, palha
etc, que vão resultar no sustento de muitas famílias.
43
As informações do PLANVALE destacam, ainda, que a economia
regional não está sendo capaz de gerar os empregos suficientes para
reter a mão-de-obra local; os indicadores de saúde mostram a ocorrência
de endemias e doenças características da pobreza e subdesenvolvimento;
a educação é marcada pelo sub- dimensionamento das redes de ensino
fundamental e médio e embora o abastecimento de água e saneamento
seja, em geral, razoável, o esgotamento sanitário é bastante deficiente. O
quadro 3 mostra as unidades de ambulatórios, postos e centros de saúde
da região. Os dados são de dezembro de 1997 e se referem às unidades
vinculadas à rede prestadora de serviços do SUS.
Quadro 3 - Unidades de Saúde no Vale do JequitinhonhaTipo de Unidade Região % Estado % % em relação
ao EstadoPostos de Saúde 241 43,82 1617 19,56 14,9Centros de Saúde 109 19,81 1798 21,75 6,0Ambulatórios com
Especialidades10 1,81 255 3,08 3,9
Ambulatórios Hospitalares
26 4,27 563 6,81 4,6
Unidade Mestra 18 3,27 86 1,04 20,9Clínica Odontológica 17 3,09 90 1,08 18,8
Consultório Odontológico
62 11,27 1676 20,28 3,7
Outros Ambulatórios 68 12,36 2179 26,36 3,1TOTAL 550 100 8.264 100 6,6
POPULAÇÂO (1996) 997.009 16.673.097
5,9
ÁREA (KM2) 85.027 583.383,6 14,6Fonte:Fundação João Pinheiro.
Levando-se em consideração o critério de população observa-se um
equilíbrio entre a região e o Estado na distribuição das unidades de
saúde. Ressalta-se, todavia, que a grande maioria das unidades são
Postos de Saúde (43,82%), onde a presença do médico não é
permanente. Grande parte das unidades de saúde estão concentradas
44
em algumas cidades da região como, Diamantina, Araçuaí, Bocaiúva,
Itamarandiba, Minas Novas, Salinas, Porteirinha, Rio Pardo de Minas,
Almenara, Joaíma, Itaobim, Capelinha, Taiobeiras. Essas treze cidades
possuem 265 unidades de saúde, o que representa 48% do total das
unidades ambulatoriais da região. Diamantina, a cidade mais importante
da região, possui 51 unidades o que equivale a 9,8% das unidades da
região.
Dos 80 municípios, apenas 35 possuem hospitais vinculados ao
Sistema Único de Saúde – SUS. O quadro 4, a seguir, mostra o número de
hospitais, natureza e regime do prestador de serviços hospitalares na
região. Observa-se que 50% dos hospitais da região são filantrópicos,
33% são contratados, 12% são municipais e 2,4% são federais. A grande
maioria desses hospitais pertence à rede privada (83%).
Quadro 4- Natureza e regime do Prestador de Serviços Hospitalares
Natureza Regime Total
Leitos
Contratado
Federal
Municipal
Filantrópico
Privado
Público
Região
14 2 5 21 35 7 42 2.144
Minas Gerai
s
289 9 67 290 580 95 675 47.970
Os hospitais têm uma capacidade de atendimento de 2.15
leitos/1000 habitantes, bem abaixo da média recomendada pela
Organização Mundial da Saúde - OMS - que é de 5 leitos/1000 habitantes.
No Estado de Minas Gerais a relação é de 2.81 leitos/1000 habitantes.
45
Quando esta análise é feita cidade por cidade, apenas a cidade de
Diamantina apresenta um número acima da média recomendada pela
OMS: 6,1 leitos/1000 habitantes. Vale ressaltar que na região são
encontradas as seguintes endemias: Doença de Chagas, Leishmaniose
Legumentar e Visceral, Malária, Peste, Cólera e Esquistossomose.
No que se refere ao saneamento básico destaca-se o que segue:
47 dos oitenta municípios da região possuem serviço de abastecimento
de água prestado pela Companhia de Saneamento Básico de Minas Gerais
- COPASA.
No restante das cidades o serviço de abastecimento de água é
prestado pelas próprias prefeituras.
Na grande maioria dos municípios o abastecimento de água é bastante
satisfatório, com índice de abastecimento superior a 90% da população.
Em termos de esgotamento sanitário, os serviços estão sob
responsabilidade das Prefeituras Municipais, e não existem dados para
apurar o índice de atendimento. Apenas a cidade de Almerara, atendida
pela COPASA, apresentava, na época, índice de atendimento de 66,77%
da população.
Na Zona Rural e pequenos povoados, as necessidades de água são
atendidas por meio de poços, cacimbas e córregos e, geralmente, a água
é usada sem nenhum tratamento.
No campo da educação, os indicadores revelam a região como uma
das menos favorecidas pelo Estado. A rede pública é responsável pela
maioria das vagas, em todos os municípios. O ensino, normalmente, está
sob responsabilidade do Estado na Zona Urbana, e das prefeituras na
Zona Rural. Grande parte dos municípios conta, apenas, com o ensino
46
fundamental e, na Zona Rural, quase todas as escolas atendem apenas às
quatro primeiras séries. O quadro 5, a seguir, mostra os Estabelecimentos
de ensino na região. Em 1992 existiam, apenas, cinco escolas
profissionalizantes na região, ligadas a agropecuária e, estavam
localizadas em Almenara, Araçuaí, Bocaiúva, Salinas e Virgem da Lapa. O
ensino superior está presente apenas em Diamantina, com os cursos de
Odontologia, Geologia, Filosofia e Letras.
Quadro 5 - Estabelecimento de ensino por dependência administrativa Localizaçã
oEstadual Municipal Particular Total
Pré 1º Grau
2ºGrau
Pré 1º Grau
2ºGrau
Pré
1ºGrau
2ºGrau
Pré 1º Grau
2ºGrau
Urbana 196 257 51 19 18 5 15 9 7 230 284 63
Rural 77 200 1 53 1780
--- --- 1 --- 130 1981
1
Total 273 457 52 72 1798
5 15 10 7 360 2265
64
Fonte: Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais - 1992
O Vale do Jequitinhonha apresenta, ainda, deficiência no
fornecimento de energia elétrica (transmissão e distribuição);
precariedade no sistema viário e de transporte, com baixo índice de
rodovias asfaltadas afetando o transporte de passageiros e cargas;
condições de moradia desfavoráveis nas cidades e, na Zona rural; alta
concentração da propriedade da terra, principalmente, nas microrregiões
do Alto e do Baixo Jequitinhonha; entre outras condições desfavoráveis
que colocam a região entre as menos desenvolvidas do país.
47
48
2.2 Políticas Públicas e Programas
Culturais
Tem-se, aqui, o objetivo de identificar a relação entre as políticas
públicas e os programas culturais no Vale do Jequitinhonha. Entende-se
como política pública àquela que foi gerada pela ação discursiva e,
produtiva, dos vários atores sociais envolvidos em um processo de
trabalho político e cuja finalidade é buscar mudanças na qualidade dos
bens sócio-culturais. Espera-se que o resultado de sua aplicação leve,
necessariamente, à melhoria da qualidade de vida, ao desenvolvimento
de cidadania e ao atendimento de outras necessidades e desejos dos
sujeitos sociais.
Alves (1998), estabelece quatro premissas básicas ao conceituar o
que seja uma política pública ou social: Em primeiro lugar ele defende
que uma política pública deva constituir-se em um processo de trabalho
onde haja objetivos de mudança de qualidade e metodologia
fundamentada na participação grupal ou coletiva; a seguir diz que ela
tem que ser balizada em "procedimentos e ações capazes de produzir um
amplo processo de interlocução e atingimento de objetivos que
considerem a criação simbólica das pessoas e instituições envolvidas”; ela
deve abranger, "necessariamente, ações produtoras, difusoras e
consumidoras de bens sócio-culturais” e; finalmente deve-se supor "as
políticas de ênfase mercadológica, como alternativas preocupadas com as
mudanças políticas da sociedade, ou educacionais, bem como religiosas e
49
comunitárias, exigindo dos analistas, intérpretes e gestores a adequada
adaptação do seu procedimento crítico" na "localização, avaliação e
superação de deficiências”.
Nesse sentido fica a expectativa de que as Políticas públicas de uma
cidade ou região devem ter como objetivo maior propiciar,
continuamente, o aumento da qualidade de vida dos munícipes sob todos
os aspectos. Assim as ações tomadas pelo gestor público têm como
objetivo dar respostas às necessidades e desejos da população na sua
relação com o espaço regional.
O termo cultura pode sugerir muitos sentidos: está associado à
educação formal; às manifestações artísticas, como a música, a pintura, o
teatro, a dança; às festas tradicionais de uma sociedade, que retratam
suas lendas e crenças; à comida, à vestimenta, à língua e em muitas
outras manifestações sociais. É comum, por exemplo, a cultura ser
“identificada com os meios de comunicação de massa, tais como o rádio,
o cinema, a televisão” (Santos, 1983). Santos (op.cit.) estabelece duas
concepções básicas para delinear o conceito de cultura. Para ele “a
primeira concepção de cultura remete a todos os aspectos de uma
realidade social; a segunda refere-se mais especificamente ao
conhecimento, às idéias e crenças de um povo”.
Entendendo cultura como o conjunto dos aspectos de uma realidade
social, este estudo parte da idéia de que os programas culturais referem-
se às ações capazes de interpretar uma dada realidade social e promover
transformações de qualidade a partir da manifestação dessa própria
realidade. Esses programas são subordinados a uma determinada política
ou conjunto de políticas sociais norteadoras das decisões do gestor
50
público e, de outros agentes sociais envolvidos nos processos de
transformação de uma dada realidade social.
2.2.1 Aspectos Histórico-Culturais da Região
A região do Vale do Jequitinhonha, no nordeste do Estado de Minas
Gerais, é formada por dezenas de cidades e povoamentos que nasceram
da exploração econômica dos seus recursos naturais no ciclo da
mineração. Os nomes de muitas das cidades refletem o que foi uma
época de fartura: Diamantina, Turmalina, Minas Novas, Berilo, Pedra Azul,
Rubelita... O extenso território que forma da região (mais de 85.000 km2)
teve sua ocupação efetiva a partir da terceira década do século dezoito,
embora alguns núcleos de colonização tenham surgido já no início do
século. Esses primeiros núcleos, mais ao sul da região, exibem ricos
exemplares do seu acervo histórico. Além do seu significado, eles
retratam, a condição política e a relativa riqueza alcançada por esses
povoados na época da intensa atividade mineradora no século dezoito.
Diamantina, Serro e Minas Novas guardam os registros mais importantes.
O conjunto arquitetônico dessas antigas vilas apresenta características de
simplicidade e harmonia em suas construções e detalhes de
ornamentação e pintura, merecendo um destaque especial, as igrejas -
quase uma em cada esquina - e os casarões que serviram de residência
aos barões da corte.
Vivendo o auge da mineração a região também conheceu o
“apogeu” da escravidão, sendo povoada, durante o período colonial, por
contingentes de africanos que ali permaneceram após a abolição. O seu
51
tecido cultural tem marcas evidentes dessas comunidades. Erildo do
Nascimento, historiador e estudioso da cultura da local, destaca que os
negros dessa região, ao contrário daqueles de outras regiões mineiras
que vieram do Rio de Janeiro, são oriundos da Bahia. São naturais de
tribos malés, na sua maioria mulçumanos, sendo esse um dos fortes
elementos de diferenciação da cultura da região.
As riquezas naturais se foram e junto com elas a época de
abundância. No final do século XVIII a região entra em decadência
econômica e social, até porque as atividades agro-pastoris de
subsistência que substituem o ciclo anterior são, inevitavelmente,
prejudicadas pelas condições pluviométricas locais. Fato é que, a região é
hoje detentora de indicadores socioeconômicos extremamente precários,
considerados como dos mais baixos do país.
Por outro lado, apesar das adversidades (ou talvez por elas) a
região desenvolveu uma forte característica cultural. As mais diversas
manifestações sociais convergem para a produção sócio-cultural que
retrata a situação de um povo e sua constante busca de melhores
condições de vida. A arte popular parece ser o emblema maior da
resistência social e nela um destaque especial para o artesanato. Por toda
parte, encontra-se algum tipo de atividade artesanal, desenvolvida e
transmitida de geração em geração. Muitas das famílias trabalham em
locais improvisados, em oficinas instaladas em suas próprias residências,
às vezes desconhecendo as facilidades e conforto da vida moderna como
a luz elétrica e a água encanada e, improvisando ferramentas para o
preparo das peças que produzem.
52
O artesanato (barro, madeira, fibras vegetais, tecelagem, couro) os
grupos de dança, cantos e ritmos, as festas religiosas, as histórias, os
símbolos, apesar da diversificação, mantêm uma proximidade estética e
ética que lhes dá um sentido de unidade. Como diz Dilma de Melo Silva:
“trata-se de um exemplo raro de conjunto coletivo de produtores,
existente em nosso país. Esse fazer coletivo, realiza um registro
documental do cotidiano da comunidade, expressando plasticamente,
momentos da vida grupal. (...) Na verdade, os criadores/produtores dessa
região - uma das menos favorecidas em nosso país, há uma carência
secular de serviços básicos de água, saúde, transporte, ensino formal -
vivem o dia-a-dia em luta pela sobrevivência, extraindo da terra os
mínimos vitais para continuarem a existir; essa relação com a natureza
lhe propicia um realismo, um senso vivo dos limites exíguos de suas
ações, surgindo daí um novo tipo de sabedoria - única arma de que
dispõem para enfrentarem uma economia adversa” (Vivo-Vale, 1997).
2.2.2 Programas Culturais no Vale do
Jequitinhonha
Apesar da rica reserva cultural existente, muito pouco se tem feito -
ou pelo menos muito se tem a fazer - em nível de elaboração de políticas
públicas e de programas culturais, para revitalização do desenvolvimento
regional. Em 1993, o governo de Minas, através da Secretaria de Estado
da Cultura, promoveu o “Censo Cultural de Minas Gerais” para o
levantamento das potencialidades culturais do Estado. A partir das
informações coletadas pelo censo gerou-se uma série de Guias Culturais
das mais diversas regiões do Estado organizando informações que
53
permitem um maior conhecimento sobre as origens, bens e
manifestações culturais de Minas Gerais.
Segundo Berenice Menegale, Secretária de Estado da Cultura na
ocasião, o guia de cada região oferece “subsídio técnico-informacional
para a implementação de ações, com origem tanto no campo
governamental quanto nas iniciativas dos produtores culturais”. Para ela,
a Secretaria de Estado da Cultura busca fomentar e incentivar a atividade
criadora em todas as regiões, situando a cultura como verdadeira fonte
de investimento não só humano, como também econômico, capaz de
gerar empregos, sem perda de seus valores fundamentais. Esta iniciativa,
certamente, será um instrumento fundamental para a definição de
políticas e elaboração dos projetos do Sistema Estadual de Cultura, como
cita o próprio documento.
A estrutura do documento traz as seguintes informações sobre cada
cidade: Características físicas; Atividades Econômicas; Serviços; Meios de
comunicação; Instituições Culturais; Espaços Culturais; Produção Cultural;
Patrimônio Cultural Eventos permanentes; Mercado Cultural; Históricos
sobre as origens da cidade e da região.
Ainda no âmbito do poder público, em 1964 foi criada a CODEVALE -
Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha - com a missão
de ser uma Agência de fomento ao desenvolvimento da região,
coordenando ações e projetos capazes de gerar desenvolvimento
econômico e social em benefício da população local. Como órgão
governamental responsável pela execução de políticas públicas na região,
esteve sempre subordinado às políticas do Estado e ao seu orçamento e
por conseqüência transformou-se num espaço de disputas partidárias e
54
eleitorais o que desviou a sua linha de ação original, tornando-se mais um
órgão assistencialista e não um fomentador de políticas públicas de
desenvolvimento. Apesar desse desvio, no campo da cultura, a CODEVALE
tem desempenhado um papel importante, especialmente no artesanato.
A sua atuação abrange desde a qualificação de pessoal, passando pela
assistência técnica, promoção e distribuição da produção e, articulação de
pequenas linhas de financiamento.
Uma outra iniciativa em 1980, projeto individual de um jovem
idealista, Tadeu Rego Martins, transformou-se em um importante espaço
para produção, promoção e distribuição dos bens culturais do Vale do
Jequitinhonha: o Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha –
FESTIVALE.
A iniciativa individual logo ganhou adesão de associações culturais
ensejando a criação do CCVJ - Centro Cultural do Vale do Jequitinhonha,
mantenedora do Jornal Geraes, que passou a ser importante veículo de
divulgação da cultura local. Já na sua décima oitava edição, o evento,
itinerante, reúne durante uma semana, uma vez por ano, em uma
determinada cidade da região, os vários movimentos de manifestação
cultural. O programa oficial do evento prevê cursos e oficinas, debates
envolvendo questões econômicas, sociais, ecológicas e culturais,
apresentações de música, teatro, dança; exposições, feiras e uma série
de outros eventos. Desde a sua segunda edição, em 1981, o evento
passou a contar com a participação e apoio do poder público estadual
através da Secretaria de Estado da Cultura e da CODEVALE e do poder
público municipal, notadamente da prefeitura da cidade sede. Esses
encontros têm sido oportunidades relevantes para a agenda da produção
55
cultural regional, tanto no aspecto da divulgação quanto no surgimento
de novos quadros, na troca de experiências, no fortalecimento da base
cultural e até no entendimento que o homem possa ter da sua realidade
para poder transformá-la.
Embora os níveis de poder público estadual e municipal tenham tido
participação importante no apoio às atividades culturais da região, ela
ainda pode ser considerada tímida em relação ao potencial que a região
apresenta. Tudo acontece muito mais em função de ações isoladas,
públicas ou privadas, do que pela articulação de uma política pública
cultural em nível regional. Uma política que articulasse, por exemplo,
programas nas áreas de cultura e turismo, poderia trazer importantes
resultados para o desempenho e para desenvolvimento econômico local.
Além de abrigar importantíssimo patrimônio histórico-cultural, a área
conta com uma formação geológica que proporciona belas paisagens e
oportunidades de lazer (seja pela sua formação rochosa, seja pelas suas
praias fluviais).
Outras tantas manifestações culturais poderiam contribuir para o
desenvolvimento do turismo na região. Dentre elas, pode-se destacar as
folias de reis, festas do divino, pastorinhas, marujadas, congadas, boi de
janeiro, festivais de música e artes e, evidentemente, o artesanato. Todas
essas manifestações são conhecidas nacionalmente e até mesmo no
exterior. Na verdade o Vale do Jequitinhonha necessita não apenas de
uma política cultural, mas de uma política pública que articule programas
de apoio à cultura com o desenvolvimento regional integrado e
sustentado.
56
2.3 Um olhar cosmopolita sobre o Vale
De 27 de dezembro de 1997 a 15 de janeiro de 1998 e de 28
de dezembro de 1998 a 13 de janeiro de 1999, coordenei duas viagens ao
Vale do Jequitinhonha, acompanhando estudantes do IMES, cujo objetivo
principal foi propiciar aos estudantes conhecer “in loco” elementos de
cultura e condições sócio-econômicas da região. O projeto, intitulado
Vivo-Vale Extensão, surgira a partir do interesse manifesto pela direção
do IMES e dos alunos em conhecerem mais a região, motivados que
foram pelo projeto Vivo-Vale, uma grande feira cultural do Vale do
Jequitinhnonha no ABC Paulista, realizada pelo próprio IMES e pelo SESC
em São Caetano do Sul no ano de 1997.
Nestas expedições - a primeira composta por vinte estudantes e, a
segunda por treze - visitamos doze cidades (Itaobim, Pedra Azul, Pontos
dos Volantes e o vilarejo de Santana do Araçuaí, Itinga, Araçuaí, Coronel
Murta, Berilo, Chapada do Norte, Minas Novas, Turmalina, Diamantina e
Serro). Em todas elas, o grupo teve a oportunidade de conhecer aspectos
culturais, naturais e sócio-econômicos da região pela observação e pelo
diálogo e interação com os habitantes e autoridades locais.
A primeira viagem, de caráter mais exploratório e investigativo,
apresentou o seguinte roteiro:
57
Itaobim – Primeira parada do grupo e base de apoio para visitar
outras cidades próximas. O grupo dialogou com moradores, comerciantes,
políticos e integrantes de grupos folclóricos. Visitou comunidades
carentes, assistiu apresentações das Pastorinhas e conheceu o Museu de
Arte e Cultura “Canjira”, catalogado pela USP no Guia dos Museus
Brasileiros..
Pedra Azul - Segunda cidade visitada. O grupo interagiu com a
população e com comerciantes, conheceu o prefeito e membros de
administração local, conheceu grupos de “Boi Janeiro” e outras
apresentações típicas da região, efetuou caminhada ecológica à Pedra da
Conceição e entrevistou o Padre Felíce, coordenador de um projeto para a
formação educacional de jovens da região.
Santana do Araçuaí - Neste vilarejo pertencente ao Município de
Ponto dos Volantes, os estudantes dialogaram com os moradores e
crianças e visitaram os artesãos D. Izabel, João e Glória, famosos por suas
bonecas de barro.
Itinga - Na cidade de Itinga, o grupo vivenciou a travessia do Rio
Jequitinhonha sobre canoas, entrevistou o prefeito municipal (Sr. Charles),
o artesão e contador de estórias Ulisses, moradores, comerciantes ,
visitou a rádio local e a cooperativa para produção de pães formada por
donas de casa.
Coronel Murta – Quinta cidade visitada, destaque para a visita a
garimpos de extração de pedras semipreciosas, diálogo com garimpeiros,
moradores e comerciantes. O grupo conheceu as tradicionais Folias de
Reis, as praias fluviais do Rio Jequitinhonha, a prefeita Vânia Murta e
visitou a aldeia indígena dos Pankaraús.
58
Araçuaí – Em Araçuaí, o grupo entrevistou a prefeita Maria do Carmo
Ferreira da Silva, mais conhecida pelo apelido de “Cacá,” e os membros
da Associação dos Artesãos. Conheceu e interagiu com grupos de Folia de
Reis e, com os tradicionais corais da cidade. Visitou a Escola Agrotécnica
e a antiga estação férrea da estrada Bahia-Minas.
Berilo – Na sétima cidade visitada, o grupo contactou moradores e
comerciantes, dialogou com o prefeito da cidade e conheceu o processo,
artesanal, de tecelagem com a artesã Terezinha.
Chapada do Norte – O grupo dialogou com a população, políticos,
conheceu o comércio local e a história da formação da cidade.
Minas Novas – O grupo visitou o patrimônio histórico, dialogou com
os moradores, com jovens e com comerciantes e, entrevistaram o prefeito
municipal, Dr. Geraldo, e o Sr. Adão, Secretário Municipal de Cultura.
Turmalina – Na décima cidade visitada, o grupo entrevistou membros
do secretariado municipal, visitou e conheceu a Vila de Artesãos do
Campo Alegre e o Projeto Escola Família Agroindustrial.
Diamantina – Penúltima etapa da viagem, em Diamantina o grupo
pôde aprofundar o conhecimento sobre história e arte barroca, através de
um curso de 20h, oferecido pela Secretaria da Cultura local. Visitou o
amplo patrimônio histórico-cultural da cidade e também o natural.
Realizou visitas de reconhecimento a antigas vilas e ao Quilombo do Váu,
sempre na companhia do Sr. Erildo Nascimento, Secretário Municipal de
Cultura.
Serro – A viagem ao Vale do Jequitinhonha encerra-se na cidade do
Serro de onde, após conhecer o patrimônio histórico e dialogar com
59
moradores e representantes da administração local, o grupo desloca-se
para São Paulo.
A seguir serão relatadas, em linhas gerais, as impressões dos
estudantes, extraídas de seus relatórios de trabalho, onde registraram os
resultados de suas observações, contatos e reflexões.
Thiago Freire, estudante de história, escreveu sobre os aspectos
naturais dizendo que essa região no nordeste de Minas Gerais causa
fortes impressões a todo e qualquer visitante e a primeira delas é o calor:
“um calor que em alguns momentos é quase insuportável e um sol muito
forte.” Entre Itaobim, Itinga, Araçuaí e Coronel Murta, a vegetação é uma
mistura de caatinga e cerrado, predominando a vegetação arbustiva. A
terra é comumente seca e amarelada. “Sem água a paisagem fica
amarelada e acinzentada, basta uma chuva para tudo verdejar. O fato é
que não há muita chuva, ou melhor, tudo o que chove num ano costuma
ser na mesma época, entre os meses de novembro a março,
aproximadamente. Conforme se sobe o vale em direção a Diamantina,
percebe-se o abrandamento do clima e a homogeneização da paisagem
na forma mais tipicamente de cerrado. Há, é claro, algumas distorções
bastante cruéis nessa paisagem, como as enormes plantações de
eucalipto na região de Turmalina, que representam uma violência ao
homem e ao meio. Entra-se, então, numa região denominada de campo-
rupestre, que cruza o Vale, se estendendo depois até a Bahia, muito
rochosa e de vegetação arbustiva. Próximo, às rochas, predominam as
gramíneas. É a região de Diamantina e Serro. Há, também, muitas rochas
nas micro-regiões do médio e baixo Jequitinhonha, constituindo às vezes
enormes morros de rocha, como na região de Pedra Azul, entre outras. O
60
Rio Jequitinhonha não conserva as águas claras que se desejaria. São
antes águas turvas e barrentas, pela ação das chuvas também, mas
muito mais pela ação do homem. Dragas revolvem o leito do rio em busca
de ouro e pedras. Sente-se muito ao ouvir das pessoas que não fora
sempre assim.”
Os estudantes destacam a questão da posse da terra e de alguns
aspetos de condição humana como se segue nas palavras de Thiago: “Em
nenhum dos locais em que passamos, pude perceber o predomínio de
grandes propriedades de terras. Deve havê-las mas, em geral, a terra se
organiza em pequenas e médias propriedades. Todavia, resta em alguns
locais a lembrança de um tempo de coronéis, expressos em canções
populares e outras manifestações. Há mesmo quem seja chamado de
Coronel. O povo é, de um modo geral, bastante pobre. Mas entre
constatar isso e classificar o Vale do Jequitinhonha de Vale da Miséria, há
pelo menos um abismo. Há a pobreza sem dúvida e pode haver
necessidades básicas também, como as há em todo o Brasil; mas há
dignidade. O homem vive com mais dignidade do que o homem pobre das
cidades grandes por exemplo.”
Ivan Kraut, estudante de Ciência da Computação, destaca a renda
mensal de muitas famílias que fica entre R$120,00 e R$150,00. “A
maioria da população sobrevive com esse salário. A realidade de muitas
famílias em Itaobim é de R$120,00 por mês e sete filhos para cuidar.”
Ivan observa que a atividade artesanal é uma maneira de complementar
a renda familiar. “Uma artesã tecelã em Berilo, a exemplo de outros
artesãos, não sobrevive somente do artesanato. De dia trabalha na roça e
só à noite tece suas encomendas. Conversamos com várias pessoas em
61
Chapada do Norte. Uma dessas pessoas é guarda noturno e ganha
R$105,00 por mês mais uma ajuda de R$12,00. Ele tem sete filhos, o mais
velho com 14 anos. Ele diz que ninguém passa fome, mas também, em
casa, não tem sofá, cadeira, televisão e outras facilidades. De vez em
quando faz um trabalho extra para melhorar a renda.”
Francisco Eduardo Dias, estudante de Economia, observa que
“muitas pessoas na região sobrevivem da extração de minérios, hoje já
em decadência. Como a agricultura de subsistência é bastante
prejudicada pelo clima seco e carente de chuvas, as pessoas buscam
resposta de vida através de outros meios como o artesanato de barro, a
tecelagem rudimentar, trabalhos com renda, couro e madeira.”
Juliano Testa, estudante de Comunicação Social, acrescenta: “As
pessoas mostram a cultura local através de belíssimos artesanatos de
barro e madeira, moldam personagens do dia-a-dia como pássaros, bois,
jangadas e, mantêm uma crítica social muito clara quando criam, por
exemplo, o sertanejo crucificado. Danças e cantos regionais e folclóricos
são outras manifestações sempre presentes: congadas, Folias de Reis,
Boi-de-Janeiro, Viola Caipira, flauta artesanal, tambores... tudo isso sendo
colocado na praça, nas ruas, nas casas... é muito bonito. O que eu achei
mais importante, o diferencial, é que a cultura não está só no artesanato,
na dança, na música, na arquitetura,... o principal é que a cultura está no
povo, no olhar, na fisionomia, no jeito de falar, de andar, no modo
fantástico como cozinham, no modo amável com que nos recebem, no
jeito como lidam com a terra, no modo que curam, no jeito como lidam
com a vida,...”
62
A rivalidade entre as facções políticas locais e a influência dela no
desenvolvimento, pode ser captada pelos estudantes ao ouvirem a
população. A esse respeito, assim manifesta Juliano: “A população mais
simples entende que a briga entre os políticos prejudica as condições de
vida da população. Em muitas das cidades que visitamos, o povo reclama
da falta de continuidade de projetos importantes para a comunidade e
que muitos metem a mão no dinheiro público. Pudemos, também,
constatar que existem prefeitos e prefeitas que estão conseguindo
implementar projetos simples e com resultados positivos na educação, na
saúde e em outras áreas. Fica a expectativa de que estes projetos sejam
continuados pelos sucessores.”
Cíntia Daniela de Azevedo, estudante de arquitetura, revela: “Me
causou um impacto muito forte e positivo ver as contas públicas expostas
em grandes painéis na praça. Pude observar isso em Itinga e Turmalina.
Estava pintado em grandes quadros o balancete com todas as entradas e
saídas do dinheiro público. Isso, por mais falcatruas que possa haver, é
muito importante, é muito revelador.”(sic).
O fato de alguns governos locais tratarem as contas públicas com
esse nível de clareza causou muito boa impressão e surpresa aos
estudantes. Normalmente são governantes com características mais
progressistas que, utilizam modelos de orçamento participativo onde a
comunidade, por meio de entidades de representação, determina as
prioridades para aplicação dos recursos públicos.
Bárbara Ferreira Alves, estudante de Administração; André Barbosa
de Melo,, estudante de Ciência da Computação e Renata D’Ádamo,
estudante de Comunicação Social, dão destaque especial ao Projeto
63
Educacional, idealizado pela equipe do Padre Felice, de Pedra Azul, que
consiste em subsidiar a formação dos jovens do Vale. Uma Fundação
criada para este fim assegura as condições para que os jovens possam
realizar os seus estudos na capital, com o compromisso de retornarem ao
Vale para aplicar o conhecimento adquirido em benefício das
comunidades. Destacam, ainda, o projeto da Escola Família, na cidade de
Turmalina, que utiliza a Pedagogia da Alternância e que, funcionando em
regime de semi-internato, permite que o adolescente mantenha uma
constante relação de aprendizagem na escola e em sua própria casa.
Roberta Teixeira, estudante de administração, destaca que “visitamos
uma cidade onde 60% da população estava com dengue. Esse parece ser
um problema sério em quase toda região; potencializado em razão das
precárias condições de infra-estrutura sanitária básica. Por outro lado,
encontramos em todas as cidades a fé evidente em todas as casas. Em
todas as casas, fotos da família nas paredes, planta no canto da sala,
biscoitos servidos com café e hospitalidade.”(sic).
Mercedes Gomes, jornalista; Kléber di Lázzare, Diretor Teatral, e
Ândrea Mamontow, estudante de Comunicação Social, retratam, entre
outros aspectos, o “calor” das relações humanas muito marcadas pela
simplicidade e companheirismo. Vêem a natureza e principalmente o rio,
numa visão bastante poética. Dão um destaque aos elementos da cultura
como lendas, folclore, artes e patrimônio histórico.
A análise dos relatórios e a síntese das discussões realizadas pelo
grupo durante e após a viagem, permite concluir uma visão geral que
representa a imagem dos estudantes sobre a região:
64
O lugar, apesar da imposição da seca, é de características naturais,
carregadas de muita beleza.
O Povo é, de modo geral, digno e hospitaleiro, apesar da vida muito
dura que leva, principalmente pelo grau de pobreza e carência de infra-
estrutura de serviços públicos.
A renda familiar de famílias mais pobres é apenas suficiente para as
necessidades básicas de alimentação e, em alguns casos, pode-se
detectar que nem essa necessidade básica é atendida, requerendo a
intervenção e ajuda do poder público.
As condições de trabalho nas lavras e atividades rurais são bastante
penosas. As pessoas são submetidas a uma carga horária muito extensa
de serviços pesados e em condições ambientais desfavoráveis e com
recompensas questionáveis. É uma realidade dura.
As artes, principalmente o artesanato e as manifestações culturais
populares, são de uma riqueza e beleza incomparáveis.
O acervo histórico no alto Jequitinhonha é muito rico e, geralmente, em
bom estado de conservação.
Observou-se, sintetizando, dois tipos de governança local: um, mais
tradicional e conservador, com pouca visão dos problemas sociais. Esse
busca manter a população com o cabresto do assistencialismo no
pescoço. Opera com base na pequena ajuda financeira, no fornecimento
de alimentação, remédios e outros pequenos favores. Outro, com uma
postura mais contemporânea e progressista, administra o município
implementando programas e políticas públicas de real interesse da
comunidade, principalmente aquelas voltadas para educação, saúde,
saneamento básico e trabalho cooperado.
65
2.4 O Regionalismo no Vale do
Jequitinhonha
É o Vale do Jequitinhonha uma região? Esta questão é
problematizada com base nos conceitos seguintes: Em primeiro lugar,
utilizando uma noção de região afinada com as idéias do alemão Carl
Ritter, pai da geografia regional, tem-se que a região constitui-se de um
espaço com características físicas e sócio-culturais homogêneas criadas
pelas relações dos homens em um determinado território, ao longo da
história, tornando-o diferente dos espaços que o contornam. Uma
segunda noção baseada na geografia ativa defende a idéia da
organização do espaço através da ação do homem por via institucional e
do planejamento. Nesse caso a região constitui-se uma área sob a
influência de uma cidade, que por sua vez, torna-se um centro que
coordena as atividades das demais cidades. E por último, utilizando uma
noção mais contemporânea, a região é entendida como sendo um lugar
com uma paisagem, seus aspectos naturais e sócio-econômicos, tendo
como foco de diferenciação a identidade do homem que a habita e
constrói; sua história e sua cultura.
Tomando as noções de região expostas acima, preliminarmente,
pode-se afirmar o caráter de região do Vale do Jequitinhonha. Contudo o
66
espaço total da região apresenta características físicas um pouco
diferenciadas. Um observador leigo não terá dificuldade em identificar
naquele espaço geográfico, por este aspecto, duas regiões. Uma na parte
mais ocidental, que corresponde ao alto Jequitinhonha, mais próximo de
Belo Horizonte. Nesta área o clima é quente e úmido e, as estiagens são
menos rigorosas. A vegetação é do tipo arbustivo com características
típicas de cerrado. Já a parte mais oriental correspondente ao médio e ao
baixo Jequitinhonha apresenta clima predominantemente semi-árido,
quente e seco, com estiagens bastante rigorosas. A vegetação mostra-se
como uma mistura de caatinga e cerrado.
As características sociais apresentam também diferenças marcantes
e que Guilhardo Veloso, produtor cultural com formação em História,
resume muito bem: “o vale não é apenas um. Há pelo menos três vales
com características distintas: O Alto do Jequitinhonha onde prevalece a
perspectiva histórica marcada pelo período de mineração no Império com
destaque para o papel assumido pelas cidades de Diamantina, Serro e
Minas Novas. No outro extremo, o baixo Jequitinhonha, originalmente
constituído por grandes fazendas de gado, hoje em decadência em função
do desmatamento e da seca; e no meio, o médio Jequitinhonha, onde a
propriedade da terra é mais democrática, inclusive com experiências de
propriedades coletivas e é, também, onde se destacam os movimentos
sociais organizados”.
Por outro lado, se considerarmos o conceito de região a partir da
idéia da cidade-pólo, observa-se que a região se desintegra e cada parte
movimenta-se para fora dos limites geográficos da região. As cidades
localizadas ao sul pertencem à micro-região polarizada por Diamantina e
67
que, num sentido mais amplo, voltam suas atenções para Belo Horizonte;
Ao Leste, distinguem-se dois outros pólos de atração, Teófilo Otoni e
Governador Valadares, que puxam para si a maioria das cidades do
médio e do baixo Jequitinhonha; ao norte e oeste, estão cerca de vinte e
seis municípios cujo pólo de atração é a cidade de Montes Claros. Cabe
aqui esclarecer que a cidade de Teófilo Otoni é a cidade-polo da região do
Vale do Mucuri; Governador Valadares é cidade-polo da região do Vale do
Rio Doce e; Montes Claros é a cidade-polo na região do Norte de Minas.
Apesar da existência de micro-pólos regionais - cidades que se
destacam em função de serem sede de Comarca, Diocese, sediar
organismos de fomento ou por possuir infra-estrutura de pequeno
comércio atacadista ou de atendimento hospitalar - não existe no vale a
figura de uma cidade-pólo capaz de agregar os vários interesses da
região. Diamantina, Araçuaí, Almenara, Salinas, Pedra Azul e Capelinha
são exemplos de micro-pólos em torno dos quais gravitam outros
municípios menores, mas não chegam a assumir as características de
cidades-pólo. Na verdade os três ou quatro grandes pólos estão
localizados fora da região. Nesse sentido, o Vale se organiza para fora de
si mesmo, em várias áreas distintas.
Sob a ótica dos aspectos acima abordados, aceita-se a hipótese de
que a região desintegra-se, por não possuir um núcleo comum. Não há
uma região, mas três micro-regiões, cada uma ligada a um pólo específico
localizado fora de suas fronteiras. Todavia, balizando-se no conceito de
região enquanto um lugar marcado por uma paisagem natural, histórica e
cultural, um lugar com uma paisagem, seus aspectos naturais e sócio-
econômicos, tendo como foco de diferenciação e identidade do homem
68
que a habita e constrói, sua cultura e sua história, a análise toma outro
rumo, bem expressado pelas palavras de Erildo do Nascimento,
historiador e estudioso de cultura de Diamantina: “O Vale do
Jequitinhonha é um patrimônio cultural que deve ser tombado. Não como
um conjunto de construções físicas, mas como um conjunto material e
humano. A cultura e história dos homens que vivem lá, formam um
movimento cultural vivo.” Aí, há que se aceitar a idéia do Vale do
Jequitinhonha como uma região.
O Vale do Jequitinhonha é uma região, embora não se conheça lá,
um modelo de governança regional. Nem mesmo políticas públicas
voltadas ao desenvolvimento regional, a partir das potencialidades do
próprio território, como preconiza a corrente regionalista, em
contraposição aos ventos da globalização, podem ser observadas. Do
ponto de vista da nova regionalidade, o Vale pode ser entendido como
um espaço regional em condições bastante razoáveis, a um processo de
desenvolvimento estruturado na sua economia cultural. Se lugar, cultura
e economia são altamente simbióticos, como defende Scott (1997), essa
interposição carece, na região, de um grau mais alto de efetividade, em
que os seus bens e serviços culturais possam imprimir a sua revitalização
econômica.
No Vale, a matéria-prima cultural é abundante. Tem história cultural
e tem preservação da cultura. Os trabalhadores culturais são dotados de
imaginação e de capacidade técnica para realização da sua criação. O
homem dessa região sempre manteve uma relação muito próxima com a
natureza, na sua luta pela sobrevivência. Seja diamante, ouro, feijão,
barro,...foi extraindo da terra, a duras penas, que ele encontrou a energia
69
mínima para continuar a existir. A adversidade econômica esteve sempre
presente no cotidiano do cidadão comum.Talvez resida nesse viver menos
favorecido a força da produção cultural. Para Dilma de Melo e Silva
(1997) “Nesse mundo de carências e recursos mínimos surge uma relação
profunda com o pré-existente, com as forças-vivas que permeiam o
universo; daí resultam as concretudes de entidades mítico-religiosas
presentes da produção plástica: santos, anjos, espíritos malignos ou
celestiais; mortos, mulas-sem-cabeça e também na dança, na música e no
teatro”. Observa-se um esforço vigoroso dos criadores da cultura popular
em fazer e em conservar viva a cultura do seu lugar. Falta uma ação de
coordenação dos agentes públicos, no sentido de canalizar os esforços
produtivos locais, na direção de um objetivo de transformação da
realidade econômica. Falta uma política que sintonize produtos, cultura e
lugar, de tal sorte a dar visibilidade e vantagem competitiva à produção
local e a conseqüente ampliação do seu mercado.
70
3 DESEMPENHO INSTITUCIONAL, ASSOCIATIVIDADE E DESENVOLVIMENTO
3.1 A Região e o Desempenho Institucional
Esta parte do estudo será dedicada à análise e comentários dos
resultados do questionário estruturado aplicado junto às administrações
locais com o objetivo de entender o funcionamento dos governos locais.
Foram encaminhados 55 questionários aos municípios do Vale do
Jequitinhonha, integrantes das três associações micro-regionais, assim
distribuídos conforme relação das próprias associações:
71
AMAJE – Associação dos Municípios da Microregião do Alto
Jequitinhonha 21 Municípios: Angelândia, Aricanduva, Capelinha,
Carbonita, Coluna, Couto de Magalhães de Minas, Datas, Diamantina,
Felício dos Santos, Gouveia, Itamarandiba, Leme do Prado, Minas Novas,
Presidente Kubitschek, Rio Vermelho, São Gonçalo do Rio Preto, Senador
Nordestino Gonçalves, Serra Azul de Minas, Serro, Turmalina, e Veredinha
AMEJE – Associação dos Municípios da Microregião do Médio
Jequitinhonha - 16 Municípios: Araçuaí, Berilo, Cachoeira do Pajeú,
Chapada do Norte, Comercinho, Coronel Murta, Francisco Badaró,
Itaobim, Itinga, Jenipapo de Minas, José Gonçalves de Minas, Medina, Novo
Cruzeiro, Padre Paraíso, Ponto dos Volantes, e Virgem da Lapa.
AMBAJE – Associação dos Municípios da Microregião do Baixo
Jequitinhonha 18 Municípios: Águas Vermelhas, Almenara, Curral de
Dentro, Divinópolis, Felisburgo, Jacinto, Jequitinhonha, Joaíma, Mata
Verde, Monte Formoso, Palmópolis, Pedra Azul, Rio do Prado, Rubim, Salto
da Divisa, Santa Maria do Salto, Santo Antônio do Jacinto e Jordânia.
O questionário foi respondido por onze dos municípios,
representando 20% do total. O quadro 6, a seguir, identifica o município
respondente, o partido da administração atual e a micro-região a que
pertence:
Quadro 4 – Identificação dos Municípios respondentes da pesquisa
%
CIDADE PARTIDO MICROREGIÃO Do Total Respondido
Por Microregião
Carbonita PT
72
Gouveia PFLMinas Novas PSB Alto 45 24
Presidente Kubitschek PSDB JequitinhonhaVeredinha PSDB
Araçuaí PT Médio 18 13Itaobim PT Jequitinhonha
Águas Vermelhas PMDBFelisburgo PSDB
Jequitinhonha PSDB Baixo 36 22Pedra Azul PDT Jequitinhonha
Com relação à quantidade de respostas, pode-se observar o
seguinte:
A micro-região do Alto Jequitinhonha foi a que mais contribuiu com as
respostas (45% do total), a seguir, aparece a micro-região do Baixo
Jequitinhonha (36% do total) e, por último, a micro-região do Médio
Jequitinhonha (18% do total).
A micro-região do Alto Jequitinhonha teve 24% das suas administrações
respondendo ao questionário, a micro-região do Baixo Jequitinhonha teve
22% e apenas 11% das administrações do Médio Jequitinhonha se
prontificaram a respondê-lo.
A partir destas constatações, algumas questões podem ser
levantadas: Por que 80% das administrações municipais não responderam
ao questionário? Por que as administrações do Médio Jequitinhonha foram
as que menos responderam? Não é propósito deste trabalho responder a
estas questões. Preocupar-se e refletir sobre elas deve ser tarefa de todos
nós. Se se tratasse de uma pesquisa envolvendo empresas privadas ou
pessoas físicas, o percentual de retorno poderia até ser considerado alto.
Mas aqui não. Trata-se da coisa pública e, até pela sua natureza,
esperava-se que os gestores em questão se mostrassem mais
73
comprometidos em dar um retorno. Provavelmente se tivesse sido feito
um trabalho de cobrança via telefone, ou uma segunda carta expondo às
administrações municipais a importância das informações e solicitando
empenho para que houvesse um retorno, o número de respostas teria
sido maior. Mas optou-se, neste estudo, pela não insistência, até como
método para avaliar a atitude dos governantes em dar respostas rápidas
ao que é solicitado pela comunidade. O questionário foi enviado
nominalmente ao Prefeito(a) com uma carta que mostrava o objetivo da
pesquisa e pedia empenho na devolução da resposta.
Em seu trabalho, Putnam nos mostra a existência de uma relação
entre a eficiência administrativa e a sensibilidade burocrática em dar
respostas à sociedade. “Nas regiões mais eficientes (Emília-Romana e
Vale d’Aosta), duas das três solicitações obtiveram respostas completas
no prazo de uma semana, a contar do primeiro contato pelo correio, e a
terceira exigiu uma única chamada telefônica. Nas regiões menos
eficientes (Calábria, Campânia e Sardenha), nenhuma das cartas recebeu
qualquer resposta, e duas das três solicitações levaram muitas semanas e
exigiram várias chamadas telefônicas e uma visita pessoal para serem
atendidas”, diz Putnam (op. cit. p. 87).
Ao analisar os partidos políticos que estão no poder, nas cidades
que responderam ao questionário, observa-se que cerca de 80% dos
respondentes pertencem às siglas com posicionamento político mais à
esquerda, os chamados partidos progressistas. Embora reconhecendo que
em muitos casos a sigla partidária não represente com fidelidade a
posição ideológica do governante, o dado é bastante relevante. Ainda
mais que ao analisar a distribuição dos vários partidos, no poder,
74
constata-se que apenas algo em torno de 45% deles podem ser
classificados como progressistas. Os dados parecem indicar que os
governantes com formação política mais à esquerda estão mais
propensos a fornecer informações sobre sua administração.
Pediu-se, na pesquisa, para que fosse identificado o Deputado
Estadual mais votado em cada uma das cidades para os três últimos
mandatos. O resultado aparece no quadro 7 a seguir:
Quadro 7 – Candidatos a Deputados Estaduais mais votados na região
Legislatura Deputados mais votados na Cidade Domicílio Eleitoral
Atual
Márcio CangussúRomeu QueirózErmano BatistaAdelmo LeãoAlberto Ávila
Vanderlei Ávila
No ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do Vale
Anterior
Romeu QueirózErmano BatistaVanderlei Ávila
Agostinho PatrusMaria José Haveissein
Maria ElviriaKamil Kumaira
Fora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do Vale
Penúltima
Romeu QueirozVanderley Ávila
Agostinho PatrusOsmano Pereira
José Ferrais da Silva
Fora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do Vale
No Vale
Os dados mostram que, de doze candidatos a deputados estaduais
apontados, apenas dois deles são do Vale do Jequitinhonha. Os outros dez
candidatos, mais votados no Vale do Jequitinhonha, são de outras regiões.
Uma informação importante é que, na atual legislatura, já aparece um
candidato local como sendo um dos mais votados na região. De qualquer
75
maneira existe uma questão a ser respondida: O que leva o eleitor do
Vale Jequitinhonha a votar mais em candidatos forasteiros para sua
representação estadual?
Para Marcos Josevaldo Lemos, prefeito de Carbonita e Presidente da
Associação dos Municípios da Micro-região do Alto Jequitinhonha, a
principal causa está na pobreza, associada à falta de informação da
população. O candidato de fora, normalmente com maior poder
econômico, impõe a sua condição às lideranças locais na troca por
ambulâncias, cestas básicas, jogo de camisas para futebol, etc. A posição
de Edmundo Correia e Santos Júnior, prefeito de Cachoeira do Pajeú e
Presidente da Associação dos Municípios da Micro-região do Médio
Jequitinhonha, é idêntica. Ele acrescenta que é responsabilidade das
lideranças locais reverterem esse quadro e buscarem maior
representatividade política do Vale do Jequitinhonha na Assembléia
Legislativa, elegendo candidatos da própria região. Fica evidente a
prática da velha política do cabresto, do paternalismo, da compra do
voto.
É necessário que os mais necessitados continuem necessitando
para que no próximo ano o velho político tenha uma boa moeda de troca.
O que se constata, até aqui, é que o eleitor faz a sua escolha seguindo a
orientação de quem paga a sua conta do dia. Na verdade a escolha do
eleitor não é de natureza política, ela é de natureza fisiológica. Melhor
dizendo não existe uma escolha, o que há é a imposição de uma
condição.
Noutro ponto, esta pesquisa buscou identificar as relações dos
governos municipais com o Governo do Estado nas três últimas
76
administrações, relativamente ao posicionamento político-partidário e
constatou o que aparece no quadro 8 a seguir:
Quadro 8 – Relação Político-Partidária dos Governos Municipais com o Governo do Estado
Governo Estadual
Administração Municipal
de
Relações com o Governo do Estado da Época
Mesmo Partido
Coligação Oposição
Itamar Franco PMDB
99-20022001 a 2004 10% 36% 54%
Eduardo AzeredoPSDB
95-981997 a 2000 10% 27% 63%
Newton CardosoPMDB91-94
1993 a 1996 20% 50% 30%
O quadro mostra uma ligeira tendência de mudança política no Vale
do Jequitinhonha, com os governos municipais assumindo postura mais de
oposição ao governo estadual, rompendo com a tradição clientelista,
segundo a qual os governos municipais, normalmente, buscam conviver
numa relação de adesão, mesmo que forçada, ao Governo do Estado.
Esta pesquisa buscou, também, conhecer a relação político-
partidária das últimas administrações com a Câmara de Vereadores e o
resultado aparece no quadro 9 a seguir:
Quadro 9 – Relação Político-Partidária da Administração com a Câmara de Vereadores
Administração Municipal Formação da CâmaraSituação Oposição
Atual (2001-2004) 45% 55%Anterior (1997-2000) 64% 36%
Penúltima (1993-1996) 73% 27%
Os resultados mostraram uma tendência no sentido da redução do
nível de adesão das câmaras de vereadores à Administração Municipal.
77
No atual mandato os prefeitos iniciam a gestão dos seus mandatos, na
sua maioria, com câmaras municipais de oposição. Estes resultados
indicam, ainda, que as Câmaras Municipais, sob o aspecto político-
partidário, permanecem mais conservadoras em relação aos executivos,
visto que a maioria dos prefeitos respondentes da pesquisa situa-se no
campo dos partidos chamados de progressistas. Resta verificar se,
durante o transcorrer do mandato, não haverá cooptação ou adesão
voluntária de vereadores à gestão municipal, anulando assim, o esforço
de oposição.
Com relação aos indicadores do Desempenho Institucional,
utilizados neste trabalho, observou-se o que segue, tomando cada um
deles separadamente:
Continuidade Administrativa
Este indicador buscou medir se os governos subseqüentes deram
ou darão continuidade aos projetos de governos anteriores. As respostas
dos prefeitos atuais indicam uma intenção clara de dar continuidade a
estes projetos. 73% dos prefeitos afirmaram que nenhum projeto do
governo municipal anterior a essa gestão será paralisado. É importante
ressaltar que esta afirmação foi assumida por 100% dos prefeitos de
partido político diferente daquele que estava no poder. Apenas três
administrações declaram a intenção de paralisar projetos da
78
administração anterior e nesses casos trata-se de governos que foram
reeleitos, ou seja, estão paralisando projetos de sua própria
administração. Tudo indica, nesses casos, que esses projetos serão
retomados futuramente, já que os motivos alegados para a paralisação
estão relacionados à falta de recursos ou problemas de projetos
executivos. São os casos da construção de uma Igreja em Felisburgo e da
construção de uma Usina de reciclagem de lixo em Araçuaí.
Das administrações que responderam ao questionário, 50% são de
governos que foram reeleitos, o que já indica um índice razoável de
continuidade administrativa. Vale, contudo, ressaltar que, apesar da
intenção dos atuais prefeitos em dar continuidade aos projetos das
gestões anteriores, a prática política no Vale do Jequitinhonha tem
deixado registros diferentes desta posição. Em entrevistas com a
população e líderes comunitários, quando de nossa viagem com
estudantes em 1998 e 1999, registrou-se uma imagem de
descontinuidade administrativa, de interrupção de projetos iniciados em
administrações adversárias, de perseguição a adversários políticos e,
assim por diante. São realmente animadores os sinais de mudança
observados. Naquela oportunidade, estivemos presentes em quatro das
cidades que agora responderam à pesquisa (Araçuaí, Itaobim, Minas
Novas e Pedra Azul) e em outras que não responderam a pesquisa (Berilo,
Chapada do Norte, Coronel Murta, Diamantina, Itinga, Ponto dos Volantes,
Serro e Turmalina); em todas elas a população aponta a questão de
descontinuidade administrativa como também responsável pelos
problemas locais. As falas da população e dos líderes comunitários podem
ser sintetizadas pelo que diz uma moradora: “Aqui é assim, meu filho,
79
aquilo que um prefeito começa, o outro pára, não dá continuidade, isso
aqui é uma politicagem... é só briga que dá nojo.” Isso querendo dizer
que: sendo o governo que assume de um grupo político contrário ao
governo que sai, os projetos do anterior são, normalmente, paralisados.
Essa nova posição, dos prefeitos atuais, representa mudança de postura
no gerenciamento da atividade e do bem público e abre para a região
perspectivas concretas de desenvolvimento.
Presteza Orçamentária
Este indicador visou conhecer a capacidade do governo em ter seu
orçamento atualizado, bem como identificar o grau de envolvimento da
comunidade com o orçamento municipal e os procedimentos para sua
elaboração. A seguir, um perfil de como esta questão é tratada na região:
73% das atuais administrações mantêm, de alguma forma, a
população informada sobre as contas públicas do município.
Os meios de comunicação mais utilizados para informar a população
sobre o orçamento municipal são: a rádio local, as sessões da câmara e
reuniões com associações e sindicatos, indicados por seis dos onze
municípios respondentes; informativos, placas e quadros de aviso na
prefeitura, indicados por três das onze cidades e; jornal da administração,
página na internet e os conselhos municipais, indicados cada um por um
município.
80
Na maioria dos municípios que informam à população sobre as contas
públicas, o processo iniciou-se a partir de 1997.
A periodicidade mais freqüentemente utilizada para essa informação é
mensal.
Com relação ao processo para elaboração do orçamento, o mais
comum é aquele que segue os padrões tradicionais: O executivo prepara
uma proposta, encaminha até o final do mês de setembro à Câmara
Municipal para discussão, emendas e aprovação até o final do exercício.
Alguns municípios utilizam o orçamento participativo envolvendo,
inicialmente, os conselhos comunitários que indicam as prioridades de
cada comunidade.
Outros municípios utilizam-se do trabalho de empresas de assessoria
especializados na feitura de orçamento público.
De maneira geral, o quadro atual apresenta pouca inovação no
modo de operar as contas públicas. Salvo raras exceções, prevalece o
modelo tradicional, mais preocupado com os aspectos formais. Observou-
se, também, a intenção dos gestores atuais em buscar alternativas para a
formulação do futuro orçamento municipal, de tal modo a envolver a
população na sua feitura.
Serviços Estatísticos de Informação
Este indicador buscou medir o nível de informação que a
administração municipal tem sobre as atividades do município e
necessidades da população. O quadro 10, na pagina seguinte, mostra os
resultados das pesquisa.
81
Perguntou-se se o município possuía informações precisas sobre os
itens listados. Não foi preocupação deste estudo averiguar se a
informação estava ou não disponível, mais o nível de conhecimento do
gestor sobre a situação. Existindo
ou não a informação, por exemplo, em nível nacional ou estadual, é
irrelevante para efetividade da gestão local, se for desconhecida sua
existência e/ou utilidade. Excetuando a base das informações sobre a
oferta e déficit de vagas escolares, as administrações locais encontram-se
fragilizadas com relação a informações importantes para formulação de
planos de governo coerentes e sustentados. Significa que, em muitos
casos, as decisões de gestão são puramente intuitivas ou baseadas em
interesses pontuais. Duas das principais atividades da região, a produção
mineral e a produção artesanal, acontecem sem que a governança
municipal tenha conhecimento da sua real dimensão. Apenas para citar
dois exemplos! E aí, necessariamente, vem a questão: Como elaborar
políticas públicas para o desenvolvimento, ou tomar outras ações eficazes
próprias das relações de governo com o ambiente produtivo, se não
existem informações para subsidiar o gestor público?
Quadro 10 – Serviços Estatísticos e de InformaçãoÍtens Pesquisados O município possui informações
precisas?Sim Não
Oferta e déficit de vagas nas escolas 100% -Oferta e déficit de leitos hospitalares 64% 36%
Nível de emprego/desemprego 9% 91%Produção agrícola 55% 45%
Produção industrial 18% 82%Produção pecuária 55% 45%Produção mineral - 100%
Produção artesanal 18% 82%Condições de moradia 9% 91%Níveis pluviométricos 27% 73%Inadimplência fiscal 36% 64%
82
Mortalidade infantil 82% 18%
Legislação Reformadora e inovação legislativa
Os presentes indicadores de desempenho institucional buscaram
examinar a produção legislativa, levando em conta a sua abrangência,
coerência e capacidade de proposição de soluções inovadoras. Apenas
quatro cidades atenderam a esta questão: Felisburgo, Minas Novas, Pedra
Azul e Presidente Kubitschek. No questionário pedia-se que fossem
informados os cinco principais projetos aprovados pela Câmara Municipal
anterior, destacando a abrangência de cada projeto, ou seja, para qual
público foi direcionado e em que área geográfica. Pedia-se, também, para
destacar o objetivo e metas de cada projeto. De maneira
geral, os projetos apresentados pelos legislativos municipais estão
voltados para as necessidades dos moradores das zonas urbanas e
comunidades rurais. Destacam o atendimento à criança, saúde,
educação, saneamento básico, cultura, moradia e melhoria das condições
de vida e produção na zona rural. O quadro 11, na página seguinte,
mostra os projetos apresentados.
Os projetos apresentados pela câmara municipal de Felisburgo,
mais direcionados às dimensões social e cultural, parecem ser bastante
identificados com as necessidades regionais. Apresentam certo grau de
inovação na medida em que atuam sobre o homem, colocando-o no
centro dos processos de mudança.
83
Quadro 11 – Projetos aprovados pelas Câmaras MunicipaisProjeto/ Objetivo e Abrangência
Cidade: Felisburgo1. Assistência à Criança e ao Adolescente: Atender crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social na rua e no trabalho.2. Programa de Agentes Comunitários de Saúde – PACS: Diminuir a mortalidade e desnutrição infantil, dando assistência à gestante e acompanhamento à criança até os seis anos de idade.3. Projeto para Terra: Estruturar a vida de muitas famílias carentes que não têm onde morar e trabalhar. Aumentar a produção agrícola e incentivar o associativismo no campo.4. Ampliação do Sistema de Água e Esgoto: Melhorar as condições de saneamento básico na cidade.5. Proteção do Patrimônio Cultural do Município: Fornecer às comunidades, informações básicas sobre o patrimônio cultural e sua preservação. Preservar as manifestações culturais locais. Melhorar a qualidade de vida das comunidades e garantir o exercício da cidadania.
Cidade: Minas Novas1. Plurianual para o Período 1998/2001: Definir o planejamento do governo local para os três anos.2. Orçamento Anual do Município: Estimar as receitas e fixar as despesas do município.3. Pró-Moradia: Atender às famílias sem habitação ou com habitação de alto risco, moradores de baixa renda da sede do município e distritos de Baixa-Quente e Cruzadinha.4. Autoriza Convênio com a CEMIG: Atender necessidades de eletrificação em comunidades da zona rural.
Cidade: Pedra Azul1. Calçamento de Avenidas: Melhorar o tráfego no centro da cidade.2. Construção de Escola Municipal: Criar condições para que os moradores do bairro Plataforma freqüentem a escola próxima de sua residência.3. Construção da Policlínica: Propiciar melhores condições de atendimento 24h à comunidade em geral.4. Rede de Esgotos: Melhorar as condições de saneamento básico da zona urbana5. Curso Superior de Educação: Não definido.
Cidade: Presidente Kubitschek1. Eletrificação Rural: Contribuir para o desenvolvimento rural e fixação do homem no campo. Atende à comunidade Raiz.2. Eletrificação Rural: Idem. Comunidades Trinta Reis e Capela Velha.3. Implantação do Sistema de Tratamento de Água, Esgoto e Lixo Urbano: Contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população da sede do município.4. Pró-Café: Criar alternativas de geração de emprego e renda no município (comunidades rurais).5. Nucleação de Escolas Rurais, Transporte Escolar e Capacitação de Professores: Melhorar a qualidade de ensino no município, sede e comunidades rurais.
Serviços de atendimento à criança
84
Este indicador busca avaliar a capacidade da administração em
implementar políticas que atendam às crianças. Os prefeitos atuais
identificaram que as duas administrações anteriores desenvolveram
projetos de atendimento à criança. Isto aconteceu em sete das onze
administrações que responderam ao questionário. Atualmente, 100% dos
municípios assumem que os projetos direcionados ao atendimento às
crianças são considerados prioritários para seus governos.
Ao analisar os projetos aprovados, pelas câmaras municipais na
legislatura anterior, nota-se que quatro, de um total de dezenove que
foram relacionados, estão diretamente identificados com a criança: um
trata da atenção para redução de risco na rua e no trabalho; outro da
redução de mortalidade e desnutrição e; dois outros estão ligados à
educação e transporte escolar. Pôde-se constatar, também, in loco
durante a viagem com estudantes por doze cidades da região em 1998 e
1999, a existência de alguns programas voltados à criança, nas áreas de
educação, saúde e proteção contra a exploração no trabalho, a exemplo
da Escola-família em Turmalina e outras cidades.
A Escola-família Agroindustrial de Turmalina é um projeto bastante
interessante. Utiliza a Pedagogia da Alternância. As crianças, divididas em
dois grupos, um masculino e outro feminino, alternam-se a cada quinze
dias entre atividades presenciais na escola e atividades na sua
comunidade e com a família. Em regime de semi-internato, quando estão
na escola, as crianças têm aulas teóricas pela manhã e à tarde vão a
campo para as aulas práticas. Nos quinze dias em que estão com a família
desenvolvem atividades junto à comunidade relativas a aplicação dos
85
conhecimentos adquiridos na escola, conforme conta o professor Marcio
Antunes Maciel, ex-coordenador da escola.
O professor Marcio observa que tudo, na escola, funciona de
maneira integrada e sustentada, inclusive interagindo com outros
projetos e programas da municipalidade: A padaria da escola produz 2600
pães por dia, que além de atender as necessidades da própria escola,
abastecem outras escolas da rede municipal, na cidade e na zona rural.
Existe a criação de aves de engorda e aves de “postura”. Os ovos
abastecem a padaria, a cozinha e, outros são colocados para chocar. Dos
pintinhos que nascem, alguns ficam na escola para repor a criação e
outros são entregues aos alunos que os levam para casa. O esterco das
aves é utilizado para adubação das hortas. Os porcos são alimentados
com os restos das atividades da própria escola e sobras de merendas das
outras escolas públicas e creches, recolhidos todos os dias. Este sistema
atende 80% dos custos com alimentação dos porcos. Os animais são
abatidos, a carne é vendida e os recursos empregados na aquisição de
outras necessidades da escola, como: adubos, rações, medicamentos,
alimentação e outros complementos. A horta, também, atende às
necessidades de alimentação dos alunos da escola e de outras escolas e
creches municipais. O excedente é utilizado para alimentar os porcos e as
aves. A Escola-família Agroindustrial mantém, ainda, uma relação de
intercâmbio com um outro projeto local: o Centro de Agricultura
Alternativa Vicente Nica, que funciona como uma espécie de laboratório
para a capacitação de produtores agrícolas e desenvolvimento da
produção.
86
No município de Araçuaí, pode-se observar a implementação de
alguns importantes serviços de apoio à criança, por exemplo: Na faixa
etária de 0 a 6 anos, o município atende 1.272 crianças em creches e pré-
escolas na zona urbana e na área rural, em parceria com as associações
comunitárias. Na faixa etária dos 7 aos 14 anos, o projeto “Ser Criança”
em parceria com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, a
Natura Cosméticos e o Colégio Nazareth. O projeto atende cerca de 200
crianças e visa desenvolver a auto-estima, a socialização, a
aprendizagem, a criatividade, a higienização e a cidadania.
Instrumentos de política de produção
Este indicador visa analisar como o governo local instrumentaliza o
apoio ao desenvolvimento da produção. Puderam ser constatadas poucas
ações no sentido de apoiar a produção. Dos dezenove projetos aprovados
pelas câmaras municipais na legislatura anterior, apenas um deles está
ligado ao desenvolvimento da produção, o Pró-café, em Presidente
Kubitschek, que visa criar alternativas de geração de emprego e renda no
município.
Durante a viagem com estudantes pela região em 1998 e 1999,
pôde-se observar a existência de alguns projetos para o desenvolvimento
da fruticultura irrigada, ainda incipiente, mas já mostrando resultados.
Um deles, o projeto Frutaboa, em Araçuaí, e que começa a se expandir
para outras cidades da região visa fomentar a produção de frutas típicas
da região, utilizando um sistema de irrigação. O governo local estruturou
o projeto com o apoio do FAT, Fundação Banco do Brasil, Caixa Econômica
87
Federal e GTZ - entidade alemã que apóia formas alternativas de
produção agrícola. Depois de implantado o projeto é gerido pela
Associação dos Produtores, e a administração pública fica na retaguarda,
apenas como suporte. No município de Turmalina, pôde-se conhecer o já
citado, Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica, um bom exemplo
de apoio ao desenvolvimento da produção agrícola de forma integrada. O
centro funciona como um laboratório e como agente capacitador de
agricultores. Os agricultores locais recebem cursos de treinamento e
acompanham novos experimentos na produção e estocagem agrícola.
Na avaliação dos atuais prefeitos, as administrações anteriores
(última e penúltima) pouco fizeram no sentido de apoiar a produção. Ao
se perguntar quais seriam os projetos de apoio à produção prioritários em
seus governos, manifestaram-se como se segue: 100% acham que os
programas de apoio à produção agrícola são prioritários; 91% são a favor
de programas de apoio à produção artesanal/cultural; 55% acham que
devem apoiar a produção industrial; e 45% avaliam que devem apoiar a
produção da pecuária.
Nesse campo, a população reclama da falta de apoio institucional. O
senhor João dos Santos, de 78 anos, na zona rural em Itaobim, diz que
trabalha na roça plantando milho, feijão e mandioca, mas nunca recebeu
nenhum tipo de orientação e/ou apoio. Assim diz ele: “A vida aqui tá
atrapalhada... Aqui no nosso lugar, a gente não tem ajuda. A gente
peleja... peleja... e tá vivendo. Nunca fiquei sem fazer a minha rocinha.
Nasci e cresci nessas raízes e nunca parei, e não posso parar. Mas era
bom se a gente tivesse uma orientação”. Ouvindo a fala do senhor João,
frente-a-frente, fica a nítida impressão que ele sabe que poderia produzir
88
mais. Só não sabe como. A sua manifestação demonstra ainda, que ele e
outros na sua mesma situação esperam que o gestor público forneça
algum de tipo de infra-estrutura de apoio a produção rural.
Muitas categorias de trabalhadores no Vale do Jequitinhonha -
Garimpeiros, artesãos, pequenos agricultores, comerciantes e
trabalhadores rurais – manifestam-se sobre as carências de apoio e
informação no seu campo de atuação e, normalmente, creditam todas as
dificuldades à inoperância do(a) prefeito(a).Isso pode ser observado nas
frases a seguir: “prefeito só lembra da gente na véspera da eleição...”;
“...a prefeitura não ajuda em nada...”; ” ...o prefeito só sabe cobrar
impostos e cuidar da parte dele...”. E assim vão as lamentações. Observa-
se que as pessoas esperam que o administrador público resolva o seu
problema em particular. E de certa forma esse posicionamento é
alimentado nas campanhas políticas através da distribuição de uma série
de pequenos favores e pequenas ajudas econômicas individuais.
Se são poucos os projetos de incentivo à produção, se persiste um
vazio na formulação de políticas públicas, a população parece não ter
uma noção muito clara sobre a questão. A não ser aqueles que estão
organizados em torno de uma associação. Cada um vê o poder público
muito mais como um protetor do seu interesse em particular do que como
fomentador de uma política setorial.
Instrumentos de Política de Saúde
Este indicador busca medir a capacidade do governo de investir e
implementar programas de saúde. Ao serem questionados sobre os
89
projetos de atendimento à saúde, os gestores reconhecem, em 63% dos
municípios respondentes do questionário, que as gestões anteriores -
última e penúltima - implementaram serviços de atendimento à saúde.
Dos dezenove projetos aprovados pelas câmaras municipais da legislatura
anterior (1997/2001), cinco são relacionados à saúde: Programas de
Agentes Comunitários de Saúde, em Felisburgo, Sistema de água e
esgoto e lixo urbano, em Felisburgo, Pedra Azul e Presidente Kubitschek.
Em Araçuaí, pode-se verificar programas interessantes como o
serviço de saúde mental, que prioriza a saúde preventiva e presta
atendimento individual, atendimento de grupos, oficinas terapêuticas,
atividades de socioterapia, visitas domiciliares, atendimento à família,
atividades enfocando a integração e a (re)inserção do portador de
sofrimento mental ao meio. Outro programa é o UBAM – Unidade Básica
de Atendimento da Mulher. Este programa visa prevenir o câncer do colo
do útero e da mama, identificar e controlar doenças sexualmente
transmissíveis, desenvolver atividades de planejamento familiar e
incentivar o aleitamento materno. Outros programas foram identificados
em Araçuaí: Programa de saúde da família, o Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional, Atendimento odontológico e serviço de vigilância
sanitária.
Apesar de alguns projetos serem importantes e até inovadores no
campo da saúde, trata-se de programas localizados. A região carece de
uma política integrada de saúde, capaz de combater, por exemplo, surtos
de determinada doença epidêmica. No geral, existe, ainda, carência de
leitos hospitalares, unidades básicas de saúde e médicos na região.
90
91
Instrumentos de política de habitação e desenvolvimento urbano
Este indicador avalia os investimentos e os programas em melhoria
das condições das habitações da população. Ao analisar os projetos
aprovados pelas câmaras de vereadores das onze cidades que
responderam ao questionário, observa-se que quatro dos projetos são
relacionados à melhoria das condições de habitação e ao
desenvolvimento urbano. Trata-se do Pró-Moradia, que visa atender às
famílias sem habitação ou com habitação de alto risco, em Minas Novas;
tratamento de água, esgoto e lixo em Felisburgo, Pedra Azul e Presidente
Kubitschek. O desenvolvimento urbano foi colocado como prioridade por
73% dos atuais prefeitos e eles entenderam que, apenas, 50% das
gestões anteriores cuidaram deste problema.
De maneira geral, o que se pode observar nas três micro-regiões, é
um certo descuido do poder público com relação ao desenvolvimento
urbano e à moradia. Normalmente, as cidades são mal cuidadas nos
aspectos de limpeza, estética e saneamento básico.
Sensibilidade da burocraciaEste indicador mede a sensibilidade do governo em encaminhar com
eficiência as demandas do cidadão comum. Neste aspecto, a condição da
92
região é bastante desfavorável. Das onze prefeituras que responderam à
pesquisa, apenas duas (Presidente Kubitschek e Araçuaí) reconheceram
ter sido criados mecanismos para facilitar o acesso dos munícipes às
informações sobre documentação, pagamentos de taxas e impostos.
Essas ações consistiram de divulgação através de rádio, TV, quadros de
aviso, impressos, reuniões com associações comunitárias e, ainda,
apresentações teatrais. O próprio fato desta pesquisa não ter sido
respondida por 80% das administrações reflete e revela a pouca atenção
dos governos locais em encaminhar e facilitar o atendimento das
necessidades de informação do cidadão comum.
93
4.2 A região e a associatividade
Os onze municípios que responderam à pesquisa, apresentaram um
número bastante diversificado de associações e sindicatos. Foram 11
(onze) associações de produtores, normalmente pequenos produtores
agrícolas e produtores de bens artesanais; 105 (cento e cinco)
associações comunitárias, envolvendo associações de bairros,
associações comunitárias rurais, associações beneficentes e outras; 12
(doze) sindicatos de trabalhadores rurais, 1 (uma) associação de
profissionais liberais; 1 (um) sindicato de professores e 1(um) sindicato de
funcionários públicos municipais.
Durante nossa visita à região, pudemos constatar, em várias
cidades, a existência de um elevado número de associações profissionais,
culturais e comunitárias, estruturadas em nível local e também regional.
Uma delas, o CCVJ –Centro Cultural do Vale do Jequitinhonha, congrega
várias associações culturais locais para difusão de produção cultural
regional.
Do ponto de vista político-administrativo, a associatividade dos
municípios se dá a partir de três associações micro-regionais: AMAJE –
Associação dos Municípios da Micro-região do Alto Jequitinhonha, AMEJE –
Associação dos Municípios da Micro-região do Médio Jequitinhonha e
AMBAJE – Associação dos municípios da Micro-região do Baixo
Jequitinhonha. Essas associações foram criadas na década de 80 para dar
suporte político aos prefeitos no encaminhamento de suas reivindicações.
A idéia era que, atuando em conjunto, os prefeitos teriam mais força.
Tanto junto ao governo estadual quanto em nível federal. Com o passar
94
do tempo, os objetivos das associações foram se desvirtuando e elas
passaram a atuar mais como agentes de assessoramento técnico às
prefeituras, desenvolvendo projetos de engenharia ou dando
encaminhamento a processos burocráticos em órgãos estaduais e
federais. Passaram a manter patrulhas de equipamentos e máquinas
pesadas para socorrer os associados nas necessidades municipais de
conserto de estradas, barragens, limpezas diversas, etc. Essa posição
mais conservadora e, clientelista assumida pelas associações,
certamente, empobreceu a sua natureza principal que deve ser buscar o
fortalecimento político da região.
O Sr. Edimundo Correia e Santos Júnior, atual presidente da AMEJE e
o Sr. Marcos Josevaldo Nunes, presidente da AMAJE, têm com bastante
clareza sobre qual deve ser o papel das associações micro-regionais. Para
eles, as associações devem ser articuladoras das políticas para o
desenvolvimento regional. Devem atuar em torno de projetos e propostas
regionais e não limitar a sua atuação às necessidades pontuais de
determinado município associado. O foco deve ser a organização regional,
fortalecimento político e busca de maior representatividade dos
municípios e da região no cenário estadual. A esse respeito, é importante
o depoimento de Maria do Carmo Ferreira da Silva, prefeita de Araçuaí e
ex-presidente da AMEJE: (sic) “Avaliamos nossa atuação à frente da
presidência da AMEJE como extremamente positiva, pois o trabalho de
discussão aberta com os outros administradores municipais da região,
independente de coloração partidária, nos proporciona uma supervisão ou
visão mais acurada da situação dos municípios do médio Jequitinhonha. E
esta compartilha de problemas comuns que resultou em muitos
95
encaminhamentos de busca de soluções em conjunto, criando um
elemento facilitador nas reivindicações: o grupo. Não se tratava mais da
reivindicação individual do município a, b ou c, mas de um conjunto de 16
municípios com características e problemas comuns, localizados numa
mesma região historicamente exclusa das políticas dos governos Estadual
e Federal”.
Um outro exemplo de associatividade, com resultados bastante
positivos para a região, é o da FEDI - Fundação Educacional de Itaobim. A
FEDI foi criada com o objetivo de apoiar projetos educacionais na região
do Vale do Jequitinhonha. Foi em 1983 com a chegada do Padre Felici
Bontempi que surgiu a idéia de se criar um projeto que pudesse financiar
a formação universitária de jovens do Vale, firmando estes um
compromisso de desenvolver a sua profissão na terra natal. Este projeto é
parte de uma experiência já vivida pelo pároco na Itália. A ajuda
financeira viria de amigos e familiares italianos. Os jovens a serem
beneficiados seriam escolhidos em vista a sua carência econômica, sua
vontade de estudar e sua participação na vida da sociedade local. O
projeto visava ainda sensibilizar as prefeituras do Vale para que estas
pudessem assim assumir esta responsabilidade ou participar dela. Ao
longo do tempo, o projeto acabou por sensibilizar pessoas que passaram
a contribuir direta e indiretamente com as suas propostas. A Fundação
adquiriu um apartamento em Belo Horizonte em 1992 e passou a usar
outro, em 1993, no Rio de Janeiro, que foram fundamentais para a
formação universitária de muitos jovens. Inicialmente os estudantes
completaram o segundo grau, ou freqüentaram um curso de pré-
vestibular para que pudessem, assim, concorrer a uma vaga na
96
universidade. Deste grupo, hoje já estão graduados: médico, enfermeiras,
párocos, farmacêutica, advogado, matemática, filósofo e alguns em
formação na área de biológicas, humanas e exatas. Jean Mark, um dos
beneficiados com o projeto esclarece que “a função deste grupo agora, é
manter viva esta idéia: dar direito ao jovem daquela região a freqüentar
universidades públicas e particulares, sobretudo dar direito a sonhar. É
com idéias assim que se forma cidadãos, e o povo do Vale percebe que
tem valor. Que é procurando conhecer melhor o lugar onde se vive que o
transformaremos”.
A FEDI continuou a acreditar no potencial do vale do Jequitinhonha
e criou o Centro Santa Luzia - em uma fazenda que já pertencia a
Fundação - que funciona como centro de convenções e funcionou como
escola profissionalizante. Neste ano, será implementado no Centro a
Escola Família. É uma idéia nova de escola, onde a família será parte
integrante dela, como uma extensão.
97
4.3 A região, políticas sociais e
desenvolvimento
O desenvolvimento na região do Vale do Jequitinhonha, como em
qualquer outra região passa, necessariamente, pela capacidade dos
governos em implementar políticas públicas nos vários segmentos, que
atendam às necessidades da população e sejam coerentes com as
características e com os recursos regionais.
Seguindo a orientação da pesquisa de Putnam, entende-se neste
trabalho que o desenvolvimento da região depende do desempenho
institucional dos governantes e da ação associativa da comunidade cívica.
Neste sentido, propõe-se a implementação de políticas públicas e ações
de governos com as seguintes características:
Os planos dos novos governantes devem resgatar projetos do
antecessor em função do seu interesse público;
O orçamento público bem realizado e atualizado é um importante
instrumento para efetividade de ação administrativa do governo;
Para eficiência e eficácia da gestão pública há que se contar com
serviços estatísticos e informações precisas. O governo tem de conhecer
os mais variados aspectos da vida da população, suas necessidades e
potencial de recursos, o que efetivamente se produz ou deixa de produzir;
O legislativo deve ser criativo e inovador, buscando gerar projetos e
programas que economizem recursos e sejam abrangentes e coerentes
com a realidade local/ regional;
98
Os governos eficientes devem criar infra-estrutura de serviços públicos
e políticas de apoio ao desenvolvimento da produção. Parcerias,
programas de capacitação profissional, estradas, programas de incentivo
ao associativismo, centros de comercialização de produção, são alguns
dos exemplos de ações.
Há que dirigir investimentos para implementar programas de saúde
que atendam a população urbana e rural, principalmente aqueles
programas de caráter preventivo;
Espera-se do poder público, programas efetivos de melhoria das
condições de moradia tanto na zona urbana quanto na rural;
O cidadão comum precisa ter sua vida facilitada. Compete à
administração pública criar mecanismos que ajudem os munícipes a
terem acesso rápido às informações e documentos de que necessitem.
Enquanto ao governo compete gerir a coisa pública com zelo,
competência e inovação buscando melhorar os serviços públicos de apoio
à comunidade, ao cidadão compete a organização associativa para se
fazer representar e adquirir maior poder de influência nas decisões
administrativas e políticas que vão interferir na sua condição de vida na
cidade e no campo. Também o poder público local associando-se em nível
regional adquire melhores condições para atuar no benefício de sua
comunidade e da comunidade regional.
Tendo a regionalidade como referência e orientando-se nas
propostas regionalistas de Scott destaca-se a necessidade de articulação
no sentido da formação de alianças estratégicas com base na entidade
regional (envolvendo, por exemplo, governos locais, associações
regionais, associações profissionais, órgãos do governo central e
99
produtores individuais) como mecanismo para garantir uma unidade
produtiva em melhores condições de competição no ambiente
globalizado. Essas alianças devem privilegiar a produção de bens e
serviços com forte vínculo cultural dentro do próprio território e,
desenvolver estratégias de comunicação que valorizem a diferenciação
desses bens e serviços ampliando, assim, os mercados de consumo.
O artesanato é, certamente, uma categoria de produtos culturais
que poderia contribuir de maneira muito positiva para o desenvolvimento
econômico da região. Os seus artesãos são possuidores de altíssima
capacidade técnica e de elevada reserva de inventividade e imaginação;
existe uma sólida tradição na formação de novos trabalhadores culturais;
a produção apresenta um alto grau de identidade com a história e com a
cultura local e; existem vários núcleos de produção artesanal, distribuídos
pelo território. Essa produção artesanal acontece sem a orientação de
uma diretriz aglutinadora do interesse regional. Desconhece-se uma ação
conjunta efetiva para distribuição da produção e, tampouco uma ação
comunicativa direcionada a dar maior visibilidade à região e sua produção
cultural, como também, a criação de novos mercados de consumo. Os
esforços nesse sentido têm sido implementados de maneira isolada, por
instituições, grupos informais ou pessoas, individualmente. Além do
artesanato e, interagindo com ele, a região apresenta potencialidades
para a pequena indústria, principalmente, aquela que utiliza o
conhecimento acumulado pela tradição cultural da população. É o caso da
pequena produção de cachaça, farinha de mandioca, rapadura, queijos,
tijolos, telhas, sucos, doces e biscoitos. As atividades de turismo podem,
100
também, representar importante fonte de recursos para a revitalização
regional.
A CODEVALE – Comissão de Desenvolvimento do Vale do
Jequitinhonha foi criada em 15 de dezembro de 1965 com a finalidade de
conhecer todos os serviços, atividades, programas e estudos de
competência dos municípios, do estado e da união e integrá-los pensando
no desenvolvimento regional. Segundo seu diretor geral, Edimar Antonio
Godinho Pimenta, “compete à CODEVALE planejar, elaborar e executar os
planos e programas pertinentes ao desenvolvimento do Vale, com
destaque à potencialização dos recursos locais, sobretudo os humanos,
para coordenar e orientar a aplicação de recursos nas diversas áreas”,
sejam esses recursos estaduais, federais ou de instituições internacionais.
Tivesse, a CODEVALE, cumprido esse papel, o Vale seria outro. Pode-se
constatar em entrevista com prefeitos e outra lideranças municipais, a
existência de um consenso reconhecendo a ineficácia da CODEVALE,
enquanto agente fomentador do desenvolvimento regional. A ação
reconhecidamente positiva destacada diz respeito à promoção e
distribuição do artesanato local. Nesse sentido, a CODEVALE, adquire as
peças para revenda, como também promove feiras e amostras buscando
ampliar o campo de venda desses produtos. Edimar Pimenta destaca dois
outros programas desenvolvidos pela CODEVALE: O PAPP - Programa de
Apoio ao Pequeno Produtor Rural, que consiste na realização de obras –
açudes, estradas, pontes, escolas, abastecimento de água – e orientação
técnica na elaboração de projetos comunitários, para implementação de
pequenas fábricas de farinha, rapadura, povilho e, incentivo a criação de
pequenos animais. Outro programa é o PARATERRA, destinado à
101
aquisição de terras para o assentamento de famílias carentes sem terra.
Atualmente, discute-se a extinção da CODEVALE, sendo o seu patrimônio
e funções incorporados pelo IDENE – Instituto de Desenvolvimento do
Norte e Nordeste de Minas Gerais, a ser criado.
Efetivamente, nesses 39 anos de existência, a estrutura criada com
a CODEVALE não atendeu aos interesses do desenvolvimento regional e a
sua derrocada final é inevitável. Tarde, talvez. Também não será a sua
transformação, em um outro órgão, a solução para a situação-problema.
Entendemos que o melhor encaminhamento para o desenvolvimento do
Vale do Jequitinhonha passa pela articulação das lideranças locais e das
comunidades, a partir da problematização das suas dificuldades e
carências e, da potencialização dos recursos da região.
O exemplo organizativo da região do Grande ABC paulista – na sua
caminhada de revitalização - poderia servir de referência para a
organização do Vale do Jequitinhonha no seu processo de reestruturação
e desenvolvimento. No Grande ABC a ação regional conta com os
seguintes organismos:
O Consórcio Intermunicipal das Bacias do Alto Tamanduateí
e Billings, criado em 1990, é uma associação das sete prefeituras da
região, que nasceu voltado a gestão dos recursos hídricos e, hoje trata de
diversos temas regionais, por meio dos seus grupos de trabalho.
Representa o conjunto dos municípios em matérias de interesse comum,
planeja e executa ações prioritárias ao desenvolvimento regional e,
promove formas articuladas de gestão e planejamento para o
desenvolvimento da região.
102
0 Fórum da Cidadania do Grande ABC, criado em 1995 pela
sociedade civil, com o objetivo de fortalecer a representação política da
região, promove ações e debates, por meio dos seus vários grupos de
trabalho e, fornece subsídios e propostas para solução dos problemas
regionais, ao sistema político formal.
A Câmara Regional do Grande ABC, criada em 1997, é uma
instância de articulação política que reúne: o governo do Estado, as sete
prefeituras, os parlamentares da região e a sociedade civil para definição
e implementação de ações regionais, que promovam o desenvolvimento
sustentável da região.
Por último, a Agência de Desenvolvimento Econômico do
Grande ABC, criada em 1998, para ser o braço executivo da Câmara
Regional em conjunto com o Consórcio Intermunicipal. Trata-se de uma
ONG mista, que tem como objetivo promover e fomentar o
desenvolvimento econômico sustentável da região. Dela fazem parte, o
Consórcio Intermunicipal, e segmentos representativos da sociedade civil
– Associações Industriais, Associações Comerciais, Empresas do Setor
Petroquímico, SEBRAE, Sindicatos dos Trabalhadores e Universidades da
região.
Embora sendo uma região com características bastante diferentes
da região exemplificada acima, o modelo organizativo impregnado da
participação civil e de discussões em torno da problemática regional,
poderia ser muito proveitoso para a formulação e implementação de
políticas sociais voltadas ao desenvolvimento sustentável do Vale do
Jequitinhonha.
103
CONCLUSÃO
A análise das informações sobre a região do Vale do Jequitinhonha
permite concluir que, é possível identificar nessa área três regiões com
características particulares e que se complementam em torno da idéia de
totalidade, principalmente pela sua referência cultural.
As informações permitem, ainda, concluir que sob o aspecto
político-administrativo, a região passa por um processo de mudança. O
velho modelo conservador e clientelista, tido como padrão local de fazer
política e ainda em evidência está, aos poucos, sendo superado.
Atualmente muitos municípios são administrados por meio de modelos
mais dinâmicos, participativos e comprometidos com as causas populares
e regionais. Alguns são os sinais dessas mudanças: Em pelo menos três
municípios de treze visitados, as contas públicas são efetivamente
tornadas públicas, por meio de placa, boletins, página na internet e pela
imprensa; em alguns municípios o orçamento passou a ser elaborado com
a participação de conselhos comunitários; as mulheres sempre colocadas
numa posição política inferior despontam e estão no comando da
administração, em prefeituras da região; dois prefeitos que também são
presidentes de associações de municípios vêem o papel das associações
104
mais voltado para a articulação de políticas para o fortalecimento e
desenvolvimento regional e não como uma instância assistencialista.
Situações e/ou posições com estas não eram normais à uma década
atrás.
A partir destas constatações, abrem-se amplas perspectivas para o
desenvolvimento local e regional, embora haja que se considerar a
existência de muitas dificuldades a serem vencidas. Principalmente
aquelas relacionadas à velha concepção do modo de fazer política. Há, aí,
uma grande barreira cultural a ser vencida; a superação do modelo
tradicional, paternalista, dominante e centralizador e a construção de
uma nova cultura política regional baseada na flexibilidade, na integração
e na autodeterminação regional. Essa nova visão pressupõe a formulação
de políticas sociais, voltadas para o desenvolvimento regional integrado e
sustentado tendo como pano de fundo a vocação local. Para a formulação
dessas políticas sociais, capazes de realizar mudanças de qualidade na
vida das pessoas, faz-se necessária a participação coletiva da sociedade
civil discutindo e propondo ações abrangentes e transformadoras.
As características naturais da região e a tradição de seu povo
apontam o seu potencial para o desenvolvimento de atividades
produtivas necessárias à revitalização regional nos seguintes segmentos:
Indústria moveleira, notadamente em parte da micro-região do Alto
Jequitinhonha, com o aproveitamento da madeira das extensas
plantações de eucalipto;
Agroindústrias para produção de queijo, manteiga, farinha de
mandioca, rapadura, aguardente, sucos, etc;. Aproveitando o
conhecimento da população e as características naturais da região;
105
Exploração e processamento (sustentado) de granito face às reservas
existentes;
Ecoturismo e turismo histórico. O primeiro em praticamente toda a
região e, o segundo especificamente na micro-região do Alto
Jequitinhonha;
Centros de comercialização e divulgação do artesanato local, um dos
principais bens culturais da região;
Processamento de pedras semipreciosas criando melhores condições
de comercialização da produção local.
Indústria oleira para produção de telhas, tijolos e congêneres.
Além de abrigar importantíssimo patrimônio histórico-cultural, a
área conta com uma formação geológica que proporciona belas paisagens
e oportunidades de lazer, seja pela sua formação rochosas, seja pelas
suas praias fluviais. Uma política que articulasse programas nas áreas de
cultura e turismo, poderia trazer importantes resultados para o
desenvolvimento regional.
De maneira geral, o que se conclui é que a região do Vale do
Jequitinhonha apresenta condições bastante viáveis para um processo de
desenvolvimento. Apesar das características pluviométricas
desfavoráveis, a região apresenta outras características naturais e de
cultura que podem favorecer o surgimento de projetos de
desenvolvimento ancorados no campo do turismo, da produção artesanal
e da pequena indústria. Esse processo de desenvolvimento requer,
contudo, políticas que garantam uma infra-estrutura básica para melhorar
as condições de vida das pessoas e o funcionamento das atividades
econômicas. Notadamente, deve haver investimentos para ampliar e
106
modernizar: estradas, meios de comunicação, abastecimento de água e
saneamento, irrigação, geração de energia elétrica, conservação
ambiental, educação, unidades de saúde, capacitação de pessoal, como
medidas mais emergentes. Pelo que se pode observar há uma carência
de políticas públicas, em nível das três instâncias de governo, para o
desenvolvimento regional integrado e sustentado. As ações são muito
mais emergenciais e paliativas, o que tem deixado a região em um alto
grau de dependência em relação ao governo central.
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110
Anexo 1QUESTIONÁRIO
A. Identificação
Nome da Cidade:Micro região: ( )Alto Jequit. ( ) Médio Jequit. ( ) Baixo Jequit.
Cargo ou função do respondente:Órgão/representação a qual o respondente está vinculado:
B. Questões
1. Anote nos espaços correspondentes os partidos que estiveram no poder nas duas últimas administrações municipais e o partido que estará governando na próxima administração. Depois assinale com um “X” qual a relação entre esses partidos e o Governo Estadual.
Administração Municipal
Partido Relações com o governo do Estado da época
(assinale com x)Mesmo partido
Coligação Oposição
Próxima administração-2001
[ ] [ ] [ ]
Administração anterior [ ] [ ] [ ]Penúltima administração [ ] [ ] [ ]
2. Assinale com um "X" qual foi a formação da Câmara de Vereadores nos dois últimos mandatos e qual será a formação da Câmara para a próxima administração .
Administração MunicipalNa formação da
Câmara a maioria é da situação
Na formação da Câmara a Maioria é
da Oposição Próxima administração (2001) [ ] [ ]Administração anterior [ ] [ ]Penúltima administração [ ] [ ]
111
3. Agora, pensando na esfera estadual, anote o NOME e o PARTIDO dos Deputados Estaduais mais votados na sua cidade, nas três últimas eleições e qual a cidade ou região domicílio eleitoral de cada um deles.
Legislatura
Anote o NOME do deputado Anote o PARTID
O
Anote o DOMICÍLIO ELEITORAL do
deputado atualanteriorlegislatura
4. Na sua cidade, existe algum projeto do governo municipal anterior a essa administração que será paralisado. ( ) 1. Sim - responda questão 4.a. ( ) 2. Não – vá para a questão 5
4.a. Se sim, anote o nome do(s) projeto(s) que será ou serão foram paralisado(s) e o principal motivo da paralisação de cada um deles.
Nome do projeto paralisado Anote, para cada projeto, apenas o que considera ser o principal motivo da sua paralisação
1)
2)
3)
5. O governo local mantém, de alguma forma, a população informada sobre as contas do município?
[ ] 1. Sim - vá para questão 6 [ ] 2 Não – vá para a questão 96. Se sim na questão anterior, assinale quais são as formas de
comunicação
112
utilizadas para informar a população?
( ) 1. Jornal da cidade ( ) 2. Rádio local ( ) 3. Televisão local( ) 4. Sessões da Câmara( ) 5. Reuniões em associações, sindicatos ou cooperativas( ) 6. Informativos encaminhados para associações, sindicatos ou cooperativas( ) 7. Placas ou Outdoor( ) 8. Faixas( ) 9. Cartas encaminhadas aos munícipes e outros segmentos da sociedade( ) 10. Outra forma não indicada acima. Anote qual ____________________ ___________________________________________________________
7. Desde que ano, o governo local vem informando a população sobre suas contas?
[____|____|____|____] anote o ano
8. Assinale com que periodicidade esse governo informa a população sobre suas
contas?
ASSINALE APENAS A PERIODICIDADE MAIS FREQUENTEMENTE
UTILIZADA.
( ) 1. periodicidade semanal ( ) 2. periodicidade quinzenal ( ) 3 .periodicidade mensal ( ) 4. periodicidade bimestral ( ) 5. periodicidade trimestral ( ) 6. periodicidade semestral ( ) 7. periodicidade anual ( ) 8. Outra periodicidade. Anote qual_________________________
9. Vamos pensar na forma como é elaborado o orçamento de um município.
Descreva, resumidamente, como é elaborado o orçamento da sua cidade? Você
pode anotar, por exemplo, em que época é elaborado o orçamento, como as pro-
113
postas são encaminhadas, quanto tempo demora, quando e onde é levado para a
aprovação, tempo para a aprovação, etc.
10. A forma de elaborar o orçamento da sua cidade já foi diferente desta queacabou de escrever? ( ) Não ( ) Sim. Poderia descrever como era __________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
11. Por favor, anote quem participa da elaboração do orçamento municipal de sua Cidade, ou seja, quais os cargos dos participantes desse processo?
12. A elaboração do orçamento sempre foi realizada por quem indicou acima?
[ ] 1. Sim, sempre foi assim [ ] 2. Não, já foi diferente. Poderia descrever por quem era elaborado o orça- mento de sua cidade?
114
13. O quadro abaixo apresenta alguns itens que podem ou não compor um banco de informações sobre um município. Essa prefeitura mantém algum banco de dados contendo informações coletadas de forma precisa e que possa ser usado como fonte de dados sobre os itens descritos abaixo?
Assinale com um [ X ]ITENS Sim Não
Oferta e déficit de vagas nas escolas [ ] [ ]Oferta e déficit de leitos hospitalares [ ] [ ]Nível de emprego / desemprego [ ] [ ]Produção agrícola [ ] [ ]Produção industrial [ ] [ ]Produção pecuária [ ] [ ]Produção mineral [ ] [ ]Produção artesanal [ ] [ ]Condições de moradia [ ] [ ]Níveis pluviométricos [ ] [ ]Inadimplência fiscal [ ] [ ]Mortalidade infantil [ ] [ ]
14. Agora, no quadro a seguir, anote os nomes/temas dos 05 principais projetos aprovados pela Câmara Municipal anterior, destacando a abrangência de cada projeto, ou seja, para que público foi direcionado e em que área geográfica. Destaque, também, qual o objetivo ou meta de cada projeto.
Nº Nome/ tema do projeto Abrangência objetivo
1.
115
2.
3.
4.
5.
15. O quadro a seguir apresenta alguns itens que podem ser ou não projetos realizados pela sua cidade. Indique se, entre esses itens, existe algum projeto realizado pelo penúltimo governo.
Projetos do atual governoAssinale com um [ X ] os projetos realizados pelo
penúltimo governoApoio à produção industrial [ ]Apoio à produção artesanal/cultural
[ ]
Apoio à produção agrícola [ ]Apoio à produção pecuária [ ]Projeto de atendimento a saúde [ ]Projeto de atendimento a criança [ ]Projeto de desenvolvimento urbano
[ ]
116
Projeto de saneamento básico [ ]Outro. Anote qual._______________ [ ]
16. Ainda em relação aos mesmos itens apresentados, indique se o governo anterior realizou algum projeto.
Projetos do governo anteriorAssinale com um [ X ] os projetos realizados pelo
governo anteriorApoio à produção industrial [ ]Apoio à produção artesanal/cultural [ ]Apoio à produção agrícola [ ]Apoio à produção pecuária [ ]Projeto de atendimento a saúde [ ]Projeto de atendimento a criança [ ]Projeto de desenvolvimento urbano [ ]Projeto de saneamento básico [ ]Outro. Anote qual._______________ [ ]
17. Agora, na sua opinião quais seriam os projetos prioritários do futuro governo (2001), ainda em relação aos mesmos itens?
Projetos do futuro governoAssinale com um [ X ] os projetos prioritários do
futuro governoApoio à produção industrial [ ]Apoio à produção artesanal/cultural [ ]Apoio à produção agrícola [ ]Apoio à produção pecuária [ ]Projeto de atendimento a saúde [ ]Projeto de atendimento a criança [ ]Projeto de desenvolvimento urbano [ ]Projeto de saneamento básico [ ]Outro. Anote qual._______________ [ ]
18. Na sua cidade, nos últimos 4 anos?, foram criados mecanismos ou formas
que auxiliassem o munícipe a ter acesso às informações sobre documentação,
pagamentos de taxas, impostos, etc.?
117
[ ] 1. SIM - responda questão 18.a [ ] 2. NÃO – vá para a questão 19
18.a . Quais seriam esses mecanismos ou formas?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
19. Gostaria que anotasse quais os nomes das associações, sindicatos e cooperativas que existem no município. Por favor, identifique da forma mais completa possível.
Associações: 1. ________________________________________________________2. ________________________________________________________3. ________________________________________________________4. ________________________________________________________5. ________________________________________________________
(e assim por diante)
Sindicatos1. ________________________________________________________2. ________________________________________________________3. ________________________________________________________4. ________________________________________________________5. ________________________________________________________
(e assim por diante)
Cooperativas:
1. ________________________________________________________2. ________________________________________________________3. ________________________________________________________4. ________________________________________________________5. ________________________________________________________
(e assim por diante)
118
Anexo 2DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS
AMAJE – Associação de Municípios da Microregião do Alto Jequitinhonha
População Produto Interno Bruto – PIB
Município 1996 2000Evolução96-2000
Urbana2000 1970 1990 1996
Evolução1970-96
Evolução1990-96
PIB 1996per capita
(hab.) (hab.) (% anual) % (US$) (US$) (US$) (% anual) (% anual) (US$)Angelândia 5 300 7 470 8,96 43 - - - - - -Aricanduva 3 862 4 254 2,45 25 - - - - - -Capelinha 28 359 31 014 2,26 64 7.020.375 44.355.995 54.348.199 8,19 3,44 1.752Carbonita 9 084 8 928 -0,43 62 3.727.148 8.806.040 18.309.316 6,31 12,97 2.051Coluna 8 634 9 993 3,72 36 5.382.306 5.807.920 9.145.234 2,06 7,86 915Couto de Magalhães de Minas 4 232 3 679 -3,44 90 1.329.934 7.916.215 9.879.354 8,02 3,76 2.685Datas 5 063 5 037 -0,13 52 1.412.228 3.706.932 5.796.981 5,58 7,74 1.151Diamantina 43 405 43 305 -0,06 86 46.016.971 84.919.770 86.739.219 2,47 0,35 2.003Felício dos Santos 5 565 5 729 0,73 35 2.190.463 5.609.044 9.023.637 5,60 8,25 1.575Gouvêa 11 424 11 675 0,54 66 11.260.326 16.653.823 21.070.512 2,44 4,00 1.805Itamarandiba 28 445 29 170 0,63 60 75.662.955 30.448.111 34.017.129 -3,03 1,86 1.166Leme do Prado 4 512 4 712 1,09 33 - - - - - -Minas Novas 28 934 30 630 1,43 25 14.658.351 18.381.661 45.221.935 4,43 16,19 1.476Presidente Kubitschek 2 554 2 948 3,65 59 842.050 2.406.627 4.351.882 6,52 10,38 1.476Rio Vermelho 15 342 14 910 -0,71 34 10.777.448 5.827.916 11.516.188 0,26 12,02 772São Gonçalo do Rio Preto 8 524 8 442 -0,24 45 - 1.538.949 4.539.177 - 19,75 538Serra Azul de Minas 4 016 4 191 1,07 40 2.913.575 1.447.926 3.027.898 0,15 13,08 722Serro 20 374 21 004 0,76 56 10.273.995 20.979.809 26.585.899 3,72 4,03 1.266Turmalina 15 932 15 644 -0,46 65 6.948.022 21.540.785 30.395.032 5,84 5,91 1.943Veredinha 5 239 5 262 0,11 59 - - - - - -
TOTAL 258 800 267 997 0,88 56 200.416.148 280.347.521 373.967.592 2,43 4,92 1.395
AMEJE – Associação de Municípios da Microregião do Médio JequitinhonhaPopulação Produto Interno Bruto – PIB
Município 1996 2000Evolução96-2000
Urbana2000 1970 1990 1996
Evolução1970-96
Evolução1990-96
PIB 1996per capita
(hab.) (hab.) (% anual) % (US$) (US$) (US$) (% anual) (% anual) (US$)Araçuaí 34 651 35 439 0,56 57 17.032.945 37.603.848 46.622.214 3,95 3,65 1.316Berilo 13 089 12 989 -0,19 23 6.656.629 8.357.338 17.316.392 3,75 12,91 1.333Cachoeira de Pajeú 9 188 8 520 -1,87 37 1.718.001 6.667.586 7.225.464 5,68 1,35 848Chapada do Norte 14 481 15 220 1,25 32 5.281.751 4.476.222 8.310.998 1,76 10,86 546Comercinho 10 216 8 705 -3,92 34 2.711.104 4.128.180 3.304.419 0,76 -3,64 380Coronel Murta 9 699 9 124 -1,52 71 3.611.099 10.164.561 18.440.056 6,47 10,44 2.021Francisco Badaro 10 350 10 294 -0,14 24 7.313.819 13.976.224 15.884.620 3,03 2,16 1.543Itaobim 21 724 21 258 -0,54 76 17.074.023 24.564.448 30.604.712 2,27 3,73 1.440Itinga 14 561 13 836 -1,27 41 10.618.140 12.431.076 20.283.921 2,52 8,50 1.466Jenipapo de Minas 7 025 6 461 -2,07 31 - - - - - -José Gonçalves de Minas 4 460 4 706 1,35 17 - - - - - -Medina 20 818 21 600 0,93 67 9.930.646 16.835.945 18.967.577 2,52 2,01 878Novo Cruzeiro 26 564 30 441 3,46 28 - - - - - -Padre Paraíso 17 221 17 466 0,35 61 - - - - - -Ponto dos Volantes 9 505 10 524 2,58 29 - - - - - -Virgem da Lapa 13 788 13 661 -0,23 43 9.930.646 16.835.945 12.336.009 0,84 -5,05 903
TOTAL 237 340 240 244 0,30 46 91.878.802 156.041.373 199.296.382 3,02 4,16 830
AMBAJE – Associação de Municípios da Microregião do Baixo JequitinhonhaPopulação Produto Interno Bruto – PIB
Município 1996 2000Evolução96-2000
Urbana2000 1970 1990 1996
Evolução1970-96
Evolução1990-96
PIB 1996per capita
(hab.) (hab.) (% anual) % (US$) (US$) (US$) (% anual) (% anual) (US$)Águas Vermelhas 10 894 11 864 2,16 68 7.243.813 23.576.610 36.102.865 6,37 7,36 3.043Almenara 32 728 35 356 1,95 79 25.944.936 38.474.907 47.653.760 2,37 3,63 1.348Curral de Dentro 5 160 5 966 3,70 60 - - - - - -Divisópolis 5 877 6 433 2,29 76 - 3.640.939 7.553.786 - 12,93 1.174Felisburgo 7 356 6 231 -4,06 73 2.389.959 9.709.749 9.508.175 5,45 -0,35 1.526Jacinto 11 850 12 067 0,45 72 7.211.389 16.646.285 20.783.023 4,16 3,77 1.722Jequitinhonha 23 457 22 855 -0,65 70 10.196.662 129.432.500 35.251.601 4,89 -19,49 1.542Joaima 14 892 14 559 -0,56 71 8.917.227 19.531.986 23.312.626 3,77 2,99 1.601Jordânia 10 112 9 869 -0,61 72 5.084.571 21.319.939 17.519.684 4,87 -3,22 1.775Mata Verde 6 403 7 056 2,46 80 - 3.262.316 8.691.344 - 17,74 1.232Monte Formoso 4 067 4 418 2,09 31 - - - - - -Palmópolis 7 350 10 706 9,86 59 - 2.435.571 9.586.452 - 25,65 895Pedra Azul 23 176 23 568 0,42 85 13.767.396 32.110.047 41.077.376 4,29 4,19 1.743Rio do Prado 5 770 5 384 -1,72 54 4.775.541 5.040.282 5.446.625 0,51 1,30 1.012Rubim 9 959 9 642 -0,81 78 7.331.055 123.675.074 117.975.743 11,28 -0,78 12.236Salto da Divisa 7 393 6 813 -2,02 82 5.768.210 15.272.123 22.575.059 5,39 6,73 3.314Santa Maria do Salto 5 024 5 283 1,26 69 3.012.194 4.543.568 6.941.427 3,26 7,32 1.314Santo Antônio do Jacinto 11 222 12 129 1,96 50 5.045.045 17.803.475 7.423.514 1,50 -13,57 612
TOTAL 202 690 210 199 0,91 71 106 688 098 466 475 543 417.403.275 5,39 -1,84 1.986Fontes: Microregiões e municípios: conforme relação fornecida. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Contagem da População-1996 e Censo Populacional-2000. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: PIB dos Municípios em US$ de 1998. Elaborado por Joaquim Antonio Andrietta
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