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INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
Autora: Lurdes Bellandi1
Orientadora: MS. Ana Aparecida de Oliveira Machado Barby2
RESUMO
Este artigo discute a importância do estudo sobre a Inclusão de alunos com deficiência intelectual na EJA (Educação de Jovens e Adultos) com o objetivo de oferecer aos alunos que frequentam o Ensino Comum e a Escola Especial a oportunidade de manifestarem sua opinião através da organização de grupos de estudos com os alunos, momentos de reflexão com professores e família sobre o trabalho realizado nestas escolas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e empírica, realizada com 5 alunos que participam da Escola Especial e do Ensino Comum concomitantemente. Foram realizados 6 encontros trabalhando conteúdos diversificados com os alunos e os resultados evidenciaram que ainda estamos trilhando um caminho cheio de dúvidas, expectativas, frustrações e vontade de acertar. Precisamos dar as pessoas com deficiências o mesmo direito de aprender, porém pelos caminhos nos quais sejam capazes de responder afirmativamente aos objetivos que lhes são propostos.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos – Inclusão – Autonomia
INTRODUÇÃO
A Educação Especial pode acontecer em parceria com o processo de
inclusão social e educacional, através da qual o aluno com deficiência intelectual
tem acesso à informação, ao aprendizado e sua integração social com pessoas de
seu meio.
O tema proposto surgiu a partir das dificuldades que os alunos com
deficiência apresentam em relação a sua Inclusão na Educação de Jovens e Adultos
(EJA), apesar de frequentarem assiduamente o programa, demonstrando seu
esforço no sentido de ampliar sua possibilidade de participação e do fato de procurar
na escola o espaço e os instrumentos para a concretização da inclusão.
1 Professora - PDE, 2010, LETRAS, Escola de Educação Básica Zilda Arns – Modalidade de Educação Especial.2 Mestre em Educação – UNICENTRO
A partir deste contexto, será realizada uma investigação das condições e
possibilidades de participação deste alunado, nas práticas de Inclusão Escolar,
procurando facilitar seu acesso, permanência, aprendizagem e sua socialização.
A Legislação coloca a questão nos termos mais amplos possíveis: a Inclusão
Escolar é para todos aqueles que se encontram à margem do sistema educacional,
independente de idade, gênero, etnia, condição econômica ou social, condição física
ou intelectual.
No Estado do Paraná, a oferta de atendimento educacional aos alunos com
deficiências segue as orientações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional e as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica e a
Deliberação n° 02/03, CEE, e prevê a oferta ao aluno com necessidades
educacionais especiais, de um atendimento especializado, em um contexto
inclusivo, tanto nas Escolas Comuns como em Escolas Especializadas, respeitando
suas necessidades e oferecendo atenção individualizada ou adaptações curriculares
necessárias para o mesmo.
No caminho de uma escola inclusiva, que aparentemente será um processo
de longo prazo que sofre a influência direta das próprias contradições da sociedade,
uma vez que, como destaca Barroco (2007, in: Revista Maringá Ensina, p.12), “as
pessoas refletem o modelo de sociedade à qual pertencem”, nessa esfera da
educação de jovens e adultos temos duplo desafio: resgatar aqueles que ficaram
afastados do convívio escolar por questões sociais e buscar a superação da
diferença/deficiência através de uma educação que atenda as suas necessidades.
A constituição Brasileira de 1988 garante a todo o cidadão o direito a
liberdade e igualdade, o que garante aos alunos com deficiência as mesmas
oportunidades de aprendizagem.
Diante deste cenário, o que fazer então para que haja realmente uma
integração e conscientização dos profissionais que atendem aos alunos com
deficiências nas Escolas Comuns ou mesmo nas especializadas?
De acordo com Sassaki (1997), o movimento de inclusão começou por volta
de 1985 nos países mais desenvolvidos e tomou impulso na década de 1990 nos
países em desenvolvimento e configurou-se fortemente nos primeiros dez anos do
século XXI, em todos os países.
No Brasil, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação e a Declaração de
Salamanca, representam o marco inicial em relação à educação inclusiva, quando
ambas enfatizam o direito de todos à educação, inclusive das crianças e jovens com
deficiência intelectual e múltipla.
A partir destes pressupostos surgem muitas dificuldades e resistências para a
implantação destas práticas. Tanto a educação especial quanto o ensino regular
necessitam de algumas mudanças para facilitar esta ação tão polêmica, pois a Lei
assegura o direito do aluno em fazer sua matrícula onde preferir.
As escolas devem adotar uma nova postura, propondo no Projeto Político
Pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e nas estratégias
de ensino, ações que favoreçam a inclusão escolar e as práticas educativas
diferenciadas para que assim ocorra a verdadeira oportunidade para todos, inclusive
os alunos com deficiência intelectual.
Segundo Werneck (2010, p.1), “As escolas têm que esquecer a ideia de que o
aluno tem que se adaptar a ela. Pelo contrário, elas devem tornar-se o meio mais
favorável para o aluno, dando-lhes recursos para enfrentar desafios”.
Assim, incluir jovens e adultos com necessidades educacionais especiais nas
salas de EJA, deve ser uma prática em que a escola busque democratizar o acesso,
permanência e a qualidade do ensino para todos, realizando projetos e situações de
ensino que possibilitem a estes educandos exercerem o direito à igualdade de forma
a se perceberem capazes de aprender, capazes de produzir, de se integrar ao
mundo da leitura e da escrita, com igualdade de condições.
Observando os aspectos históricos da Educação Especial e agora, Educação
Inclusiva, percebemos uma luta constante em prol desses alunos com necessidades
educativas especiais. A educação é uma questão de direitos humanos, e os
indivíduos com deficiências devem fazer parte sem qualquer forma de discriminação.
Conforme o texto da Declaração de Salamanca, 1994, apud Carneiro (2007,
p. 36-37), “o princípio básico da Educação Especial é a Inclusão”, todas as crianças
devem aprender juntas, porém faz-se necessário ter condições para que isso ocorra,
ou ficará apenas no papel e continuaremos a ver experiências de exclusão em vez
de inclusão. Podemos entender que a Educação Especial perpassa os diversos
níveis de escolarização, mas ela não constitui um sistema paralelo de ensino, é um
instrumento, um complemento que deve estar sempre presente na Educação Básica
e Superior para os alunos com necessidades educativas especiais que dela
necessitarem.
As dificuldades encontradas ao longo da caminhada escolar dos alunos com
necessidades especiais os levam na maioria das vezes ao fracasso escolar devido
os moldes da escola tradicional, onde percebemos um ensino fragmentado, sem
levar em consideração o desenvolvimento geral da criança.
Diante disso questiona-se o que fazer para que haja realmente uma
integração e conscientização dos profissionais que atendem aos alunos com
deficiências nas Escolas Comuns?
Ao realizar trabalhos com alunos com deficiências, a tendência é fixar-se na
síndrome, no problema apresentado por eles. Devemos projetar nosso foco no aluno
e não nas suas limitações. Portanto, fica evidente a necessidade de lhes dar voz,
sentir suas necessidades a partir de suas próprias palavras e assim determinar até
que ponto realmente está acontecendo à aprendizagem e intensificar a apropriação
de valores culturais como base de uma aprendizagem realmente eficaz.
Desta forma, buscamos desenvolver um trabalho tendo como objetivo geral,
oportunizar a aprendizagem do aluno com deficiências através de sua participação
na EJA, posicionando-se diante das informações e interagindo de forma adequada
com o meio escolar, contribuindo para seu conhecimento e aprendizagem de forma
eficiente.
Como objetivos específicos foram priorizados os seguintes aspectos: Propor
situações problemas onde os alunos com deficiências pudessem participar do
contexto escolar; Identificar as causas que levam o aluno com deficiência intelectual
a ser excluído do ambiente escolar; Propiciar ao aluno, condições para desenvolver
as habilidades de aprendizagem e interação dentro do programa que tem direito a
frequentar.
II - MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo empírico qualitativo, embasado na metodologia da
pesquisa-ação, fundamentado na aplicação de um projeto de intervenção. A
pesquisa situa-se na área da Educação, enfocando a Educação Especial, o
atendimento específico a jovens e adultos que frequentam Escolas de Ensino
Comum, programas de EJA, séries iniciais e concomitantemente a Escola de
Educação Especial Recanto Feliz, mantida pela APAE, no município de Pato
Branco. O estudo desenvolveu-se ao longo do ano de 2011.
A pesquisa foi realizada a partir do acompanhamento de um grupo de cinco
alunos da referida Escola, que não obtiveram sucesso no Ensino Comum, com idade
superior a 16 anos; realizaram-se seis encontros para ouvir seus relatos sobre suas
experiências na educação inclusiva e quais seus interesses na EJA, mostrando-lhes
o direito de pertencer e não de ficar de fora.
Além dos encontros de discussão também foram realizadas visitas às escolas
frequentadas pelos alunos em questão, para ouvir os demais alunos e os
professores sobre as dificuldades e experiências de sucesso; encontro entre pais e
professores da Escola Especial, com a participação de especialistas na área para
esclarecer dúvidas; troca de experiência com os professores que atuam na área.
Foram realizados seis encontros com cinco alunos previamente definidos por
participarem do Ensino Comum na EJA – Fase I e da Escola Especial,
disponibilizando-se materiais diversos, como jogos, quebra-cabeça, fichas de leitura,
livros, filmes e intercâmbios entre os envolvidos para observar ou conhecer a
capacidade de aprendizagem dos mesmos. Como instrumentos de Coleta de Dados
foram utilizados: gravador, questionários, diários de campo.
III – DESENVOLVIMENTO
3.1 ANÁLISE DO PROJETO DE INTERVENÇÃO
Antes de dar início aos encontros com os alunos, foram realizadas visitas às
Escolas de Ensino Comum onde os alunos pré-selecionados frequentavam a EJA –
Educação de Jovens e Adultos, séries iniciais. No início pode-se constatar certo
receio por parte da direção e dos professores em atender as pesquisadoras. Porém,
após alguns contatos conseguiu-se estabelecer um vínculo onde foi possível
observar que as angústias desses professores são as mesmas dos profissionais que
atuam na Educação Especial e estão relacionadas à busca por uma inclusão
consciente em que o aluno com deficiência seja o objetivo principal do trabalho.
No primeiro encontro utilizou-se a dinâmica: Apresentação pelos amigos, de
“Dinâmicas de Grupo”, organizado por Voltaire e Scaini, (2003, p.11). Buscou-se o
entrosamento entre os alunos que fizeram parte dos encontros, os quais
responderam muito bem, participando, caracterizando-se como espertos,
estudiosos, tranquilos. Também foram confeccionados crachás com os nomes dos
alunos que foram usados durante os encontros.
Com o auxílio de um gravador, conversou-se com os alunos sobre a
experiência de cada um na EJA. Ressalta-se que ao serem questionados sobre qual
o motivo que os levou a procurar pela EJA, os alunos dizem que a sugestão foi dada
por professores que atuaram junto a eles.
Quando a pesquisadora os questionou sobre a forma como foram recebidos
ao ingressarem na EJA, relataram experiências de amizade, mas disseram que
sentiam alguma rejeição, na maioria das vezes de forma velada.
Ao se referir a como se sente frequentando a EJA, o aluno 5 diz sentir-se
rejeitado, principalmente no horário de informática, cada um conta suas
expectativas, seus limites e suas frustrações.
Em geral ao relatarem o que gostariam de aprender, os alunos pesquisados
revelaram querer aprender a fazer contas, utilizar o dinheiro e saber ler.
A este respeito, Stainback, (1999, p. 240), destacou que:
Um número crescente de alunos previamente excluídos estão sendo integrados ao ensino regular. [...] Entretanto, esses alunos precisam mais do que apenas serem colocados nas escolas regulares. Também precisam ser incluídos como membros iguais e valorizados da classe. Tem havido uma ênfase considerável sobre de que maneira incluir todos os alunos na vida social da classe, mas uma atenção consideravelmente menor tem sido dada à maneira como todos os alunos podem ser envolvidos em uma aprendizagem ativa nas salas de aula inclusivas.
No segundo encontro foram trabalhadas as deficiências e a Inclusão
utilizando, para isso, a leitura do texto do livro: “Na minha escola todo mundo é
igual”, de Ramos (2010), o livro trata da busca pela igualdade na escola, onde todos
têm os mesmos direitos, numa inclusão consciente e sem preconceitos.
A partir dessa discussão, os alunos relataram que em algumas situações
sofreram preconceitos, os “loucos da APAE”, deficientes. Eles demoraram algum
tempo para iniciar seus relatos demonstrando que isso os deixa chateados e que
sofrem com a discriminação.
Apesar das dificuldades de integração social relatadas pelo grupo, os
participantes relataram que sempre tentam ajudar seus colegas ignorando as criticas
destrutivas, feitas com maldade.
Ao registrarem de forma escrita seus relatos, o resultado foi surpreendente: a
aluna 2 desenhou-se entre a professora e outro colega, o aluno 3 desenhou-se no
canto de trás da sala, longe de todos; o aluno 4 entre a professora e a mãe, que
frequenta a EJA com ele; o aluno 1 preferiu escrever algumas palavras, dizendo que
há muito espaço entre eles e que gostaria de uma sala menor, o aluno 5 preferiu
falar comentando que, muitas vezes, não lhe dão espaço para falar.
Destaca-se que esses relatos foram feitos sobre a EJA no Ensino Comum,
curso que os participantes frequentam à noite.
Figura 1 - Trabalho realizado pela aluna 2Fonte: Professora pesquisadora
Figura 2 – trabalho realizado pelo aluno 3
Fonte: professora pesquisadora
Figura 3 – trabalho realizado pelo aluno 4
Fonte: professora pesquisadora
No terceiro encontro foram utilizados jogos como: Primeiras Palavras (ed.
Pais&filhos), material composto de figuras e letras; Memória sí-la-bas, (EDITORA
GROW), material composto de gravuras e sílabas; outras gravuras de seu cotidiano
e alfabeto móvel.
O objetivo principal deste encontro foi o de verificar o nível de alfabetização
de cada aluno. Foi possível observar que o aluno 1 e o aluno 3 conseguem ler, com
limitações e conseguem interpretar o que lêem, a aluna 2 e o aluno 4 conseguem
identificar as vogais, com ajuda reconhecem o nome, e o aluno 5 não reconhece as
vogais, mas, com a utilização do alfabeto móvel, consegue montar seu nome.
Figura 4 – trabalho realizado pelo aluno 4Fonte: professora pesquisadora
Figura 5 – trabalho realizado pela aluna 2Fonte: professora pesquisadora
Figura 6 – trabalho realizado pelo aluno 5Fonte: professora pesquisadora
No quarto encontro falou-se sobre as profissões, a inclusão no mundo do
trabalho. Iniciando com as experiências que cada um teve no trabalho, onde
trabalharam e a noção de responsabilidade que cada um adquiriu com as
experiências. Os participantes relataram que a maior dificuldade está em cumprir os
horários, sempre acabavam perdendo o horário. A aluna 3 diz que se sentia sozinha
e discriminada, que fez amizade com mais duas colegas, mas só no trabalho e, que
a culpavam de tudo o que acontecia de errado. O aluno 1 e o aluno 5 que já
estiveram no mercado de trabalho reforçam que se sentiam discriminados.
Neste encontro trabalhou-se também com os documentos necessários e
obrigatórios na vida em sociedade. Dizem ajudar nas tarefas de casa, onde cada um
tem suas atividades pré-determinadas pela família. A seguir, trabalhou-se a
documentação necessária para todo cidadão, para isso, utilizaram-se exemplos
similares dos documentos. O que é CPF, RG, Alistamento Militar, Carteira de
Trabalho, Título de Eleitor, Cartão do SUS, qual sua importância e como utilizar
corretamente cada um deles, onde cada um completou o seu demonstrando
entender bem a importância dos mesmos.
A este respeito, Shevin, apud Stainback, (1999, p. 288), destaca:
A criação de uma Escola Inclusiva onde todos os alunos sintam-se reconhecidos, valorizados e respeitados envolve cuidar dos conteúdos ensinados e da maneira como o currículo é transmitido. Não somente as estratégias de ensino devem ser designadas e as áreas curriculares determinadas para responder a uma ampla variedade de diferenças entre os alunos, mas o próprio currículo deve destinar-se às muitas maneiras em que os alunos se diferenciam.
No quinto encontro buscou-se desenvolver aspectos da Leitura incidental,
utilizando atividades como: Placas de trânsito, semáforo; Gravuras com placas,
principalmente as que existem no caminho que percorre entre sua casa e escola;
Montamos uma faixa de pedestre, utilizando sinais de trânsito, incluindo o semáforo
e a importância das cores. A participação de todos foi intensa, envolveram-se na
organização e o aluno 3 destacou-se na leitura incidental, descrevendo com
detalhes o que via. Os alunos 1, 4 e a aluna 2 têm acesso a livros e revistas em
casa e o aluno 5 diz gostar de gibis.
Garantir o direito à educação é ainda um longo caminho a ser percorrido. Alcançar um atendimento de qualidade à esta população, que vem crescendo e que luta pela sobrevivência e participação em todos os setores da sociedade, requer um grande amadurecimento de todos, além de otimismo em relação ao nosso futuro, e habilidade nas relações interpessoais [...] (SIMÃO, p. 15)
No sexto encontro nos voltamos para o desenvolvimento das Noções Básicas
de matemática, como um pré-teste, a fim de verificar os conhecimentos dos alunos
em relação as noção de quantidade, tempo, orientação espacial, dinheiro.
Com o uso de material dourado, foram trabalhadas quantidades, relacionando
com os números; Com o uso do relógio, observou-se o tempo: Hora, minuto e
segundo; dia, noite; Quais os tipos de relógios conhecidos; Por que precisamos do
relógio; a localização de lugares conhecidos como igrejas, supermercados, suas
residências tendo sempre como base a Avenida Tupi, ponto de referência da cidade
de Pato Branco.
Quanto à noção de valor monetário, conversou-se sobre como faz quando
quer ir às compras, se depende dos familiares, ou consegue por si só. Realizaram-
se algumas atividades de pesquisa onde usamos os números, como: endereço;
número de telefone; idade; data de nascimento; número do sapato; peso; altura.
Neste encontro os resultados foram surpreendentes, todos demonstraram
interesse, pois aprender a utilizar o dinheiro é de fundamental importância para eles,
sentem-se de certa forma enganados quando vão fazer compras, como diz o aluno
5: “sempre levo o dinheiro suficiente quando saio de casa, mas sempre falta quando
vou pagar.” Demonstram entender o uso dos números nos endereços, telefones, que
auxiliam na localização dos lugares onde precisam ir.
Educando todos os alunos juntos, as pessoas com deficiências têm oportunidade de preparar-se para a vida na comunidade, os professores melhoram suas habilidades profissionais e a sociedade toma a decisão consciente de funcionar de acordo com o valor social da igualdade para todas as pessoas, com os consequentes resultados de melhoria da paz social. Para conseguir realizar o ensino inclusivo, os professores em geral e especializados, bem como os recursos, devem aliar-se em um esforço unificado e consistente. (STAINBACK & STAINBACK, 2008, p. 21)
Com relação às discussões com as mães, foram elencadas várias colocações
relevantes para entendermos o que pensam, vivenciaram e vivenciam esses alunos
e suas famílias. As mães relatam que sentem saudades do tempo das classes
especiais onde aprendiam mais, “memorizavam as contas”. Na APAE, tiveram
oportunidades para o primeiro emprego, um ensino diferenciado, modo diferenciado
de aprender. Consideram que os alunos que frequentam a APAE, falta
conhecimento para eles. Falam também da discriminação por parte de vizinhos,
colegas, por estarem frequentando a APAE. Na EJA tem uma mãe que os
acompanha ficando junto na mesma sala e isso faz com que se sintam protegidos,
porém, mesmo assim dizem sentirem-se isolados. As mães fazem questão de
lembrar que eles tem amigos na EJA e que são mais vividos, isso demonstra o
quanto se preocupam com a socialização, mesmo em detrimento a verdadeira
aprendizagem.
Neste contexto, foi possível observar o quanto aprendemos com o dia a dia
dos alunos, eles têm uma vivência na sua comunidade, na família e isso tudo, de
uma maneira ou outra, torna-se um meio de aprendizagem. A cada dia aprendemos
algo de novo, apesar de suas limitações.
3.2. ANÁLISE DO GTR
Durante o GTR – Grupo de Trabalho em Rede – tivemos três momentos
distintos que nortearam o desenvolvimento do trabalho. No primeiro momento, com
o objetivo principal de promover uma discussão sobre o Projeto de Intervenção
Pedagógica percebemos o interesse e a participação das cursistas de maneira
positiva, relatando fatos vivenciados e expectativas de uma melhora na qualidade de
ensino dos alunos com deficiência intelectual incluídos na EJA. Por se tratar de
professores que atuam na área podemos perceber que os fatos narrados
demonstram a grande preocupação existente para com a terminalidade e o
aprendizado eficaz desses alunos. A grande preocupação da maioria dos cursistas
está na forma como a inclusão vem sendo realizada, que ainda falta muito para que
se efetive realmente. Podemos observar isso em alguns depoimentos, como o da
professora 1 que diz:
Realmente há muitas dificuldades quando se fala do ensino/aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual na EJA, vejo que uma das mais relevantes é a questão da temporalidade, nos que somos professores de alunos especiais,vivenciamos o tempo de cada um, e lá na EJA isso é crucial, pois em um ano letivo se conclui dois é ai que nossos alunos se perdem e os professores encontra muita dificuldade para atender esse aluno nas suas especificidades dentro desse tempo. Os recursos, materiais, estruturas as adaptações ainda não estão adequadas para o atendimento a esse aluno, acredito que muitas escolas já está conseguindo, porém na minha realidade ainda há muito para avançarmos.
Podemos observar que ainda há muito por se fazer e estamos vivendo um
momento de transição que precisa ser pensado, discutido, sem esquecer do objeto
maior de nosso ensino que é o aluno. Fica claro também a preocupação com a
forma de ensinar, um repensar do por que nosso aluno com deficiência intelectual
está sendo tão excluído do ensino comum, aí mais uma vez a preocupação com a
temporalidade, a necessidade em se concluir o ensino dentro de uma faixa etária
não compatível com a da aprendizagem de nossos alunos.
Num segundo momento com a apresentação da Produção Didático-
Pedagógica tivemos uma discussão sobre os objetivos e a metodologia
apresentada. Podemos concluir que a aceitação do projeto foi muito boa. Os
comentários e depoimentos das cursistas são unânimes ao afirmar que nossos
alunos precisam de um tempo maior para aprender, mas que demonstram interesse
e vontade de aprender. Dentro de suas limitações podem chegar a nos surpreender
com o que são capazes. Precisamos ousar querer mais, utilizar uma metodologia
diferenciada. Observe-se o que diz o depoimento da professora 3, ao se referir aos
seus conhecimentos práticos na Educação Inclusiva:
A inclusão dos alunos na EJA não tem sido uma barreira para o deficiente físico, mas para os demais vejo com preocupação, pois na realidade muitos deles não acompanham as atividades, fazem de conta que estão produzindo. Eles estão inclusos socialmente, fazem parte de um grupo, mas ficam a parte. Os professores fingem que eles produzem e eles tentam acompanhar os colegas. Os professores têm dificuldade para entender como apresentar as atividades de forma que todos os alunos possam interagir e produzir. Com isso o quadro que se apresenta é de muitas dificuldades para os alunos com déficit na aprendizagem para que ele não tenha um desempenho adequado, e sua permanência ocorre e persiste porque ele sente-se incluído num grupo e que fazem parte da sociedade como todos. Devemos persistir na inclusão coerente e responsável com o comprometimento de todos, oportunizando currículos inclusivos, estratégias diferenciadas e adequadas a cada aluno, para que ele possa adquirir conhecimentos e produzir saberes para a sua vida escolar e acadêmica.
Portanto, quando incluídos no ensino comum devemos usar das diferenças
existentes entre cada um para aprender com elas, todos nós temos nossas
especificidades que precisam ser respeitadas para que haja aprendizagem.
Num terceiro momento com a função de socializar os avanços e desafios
enfrentados durante a fase de Implementação Pedagógica do Projeto, os relatos
foram ainda mais emocionantes por parte dos professores que atuam na área, que
buscaram desenvolver as atividades propostas e mostram os resultados obtidos com
a certeza de que podemos transformar a realidade se acreditarmos no potencial de
nossos alunos. Como podemos observar no relato da professora 2, ao descrever
como desenvolveu a proposta:
Desenvolvemos na escola que trabalhei um projeto de visitas de alunos da rede regular de ensino a nossa escola de educação especial. Fizemos contato com a direção da escola de ensino fundamental, pedimos a lista de alunos que frequentavam e diante desses dados enviamos cartas aos
colegas. Cada aluno nosso escolheu um amigo para convidá-lo a conhecer a escola. Preparamos a escola para receber a visita, deixamos exposto em cada sala o material que utilizávamos: cadernos, cartazes e até uma lembrancinha de agradecimento, tomamos um delicioso lanche e conversamos muito com nosso amigo. Para os alunos da escola especial, foi muito emocionante e gratificante receber pessoas a comunidade em sua escola, para os visitantes tivemos o feedback da direção que foi muito importante a quebra de tabus, mitos, e que esta iniciativa trazia novos olhares, novas aceitações para estes alunos.
Ao relatar experiências vivenciadas, mostramos que é possível ampliarmos
nossa visão de educação. A partir dos resultados obtidos nos questionamos e
mudamos nossa maneira de avaliar o que faz da educação um constante evoluir.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos na presente pesquisa revelam que os alunos
observados e com os quais foram desenvolvidos conteúdos pré-estabelecidos para
que se pudesse ter uma visão ampla de como está ocorrendo a aprendizagem dos
mesmos, em relação a sua participação na EJA – Educação de Jovens e Adultos,
anos iniciais – no Ensino Comum, enquanto que, concomitantemente participam de
programas na Educação Especial. Pode-se constatar que, ainda são grandes os
desafios a serem enfrentados até que se possa chegar a atender os alunos com
deficiência de forma a que haja uma Inclusão eficiente em termos de aprendizagem
e participação.
Para que se possa concretizar o conceito de que a Educação Especial
representa a possibilidade de interação educacional e social, através da qual o aluno
com deficiência intelectual tem acesso à informação, ao aprendizado e sua
integração social com pessoas de seu meio, as Escolas tanto de Ensino Comum,
como as Escolas na Modalidade de Educação Especial precisam estar voltadas para
o aluno, que ele seja o motivo principal da existência das Escolas, que estas se
adaptem às necessidades educacionais especiais dos alunos e não o contrário, que
é o que vem se observando em muitos casos. Espera-se que o aluno se adapte,
mas na realidade o princípio inclusivo propõe que as mudanças ocorram também na
escola que os recebe.
Durante a implementação do projeto pode-se perceber que há um interesse
muito grande por parte dos alunos com deficiência intelectual em aprender, em
pertencer ao meio escolar, em ser aceito socialmente, em deixar de ser excluído por
causa de limitações que lhes são incompreendidas.
Os participantes demonstraram compreender claramente que são cidadãos
com os mesmos direitos e os mesmos deveres que qualquer outro considerado
“normal”.
Portanto, há a necessidade de se rever conceitos e formas de se atuar para
que o preconceito e a discriminação sejam amenizados. Concordando com Werneck
(2010, p.1), “as escolas têm que esquecer a ideia de que o aluno tem que se adaptar
a ela. Pelo contrário, elas devem tornar-se o meio mais favorável para o aluno,
dando-lhes recursos para enfrentar desafios”.
Durante o desenvolvimento do projeto propôs-se através de uma perspectiva
inclusiva, ampliação da aprendizagem do aluno com necessidades educativas
especiais e sua participação na EJA, posicionando-se diante das informações e
interagindo de forma adequada com o meio físico e social, contribuindo para seu
conhecimento e aprendizagem de forma eficiente. Pode-se afirmar que os alunos
respondem afirmativamente às atividades desenvolvidas às quais buscaram
oportunizar a eles formas diferenciadas de aprendizagem, respeitando suas
especificidades, especialmente a temporalidade, muito questionada e requerida para
a aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual.
Ao se investigar o processo de Inclusão Escolar dos alunos com deficiência
para que sejam pessoas participativas no contexto escolar e social, observou-se a
necessidade de dar voz e vez a eles, ouvir seus relatos foi primordial para se
identificar as causas que levam o aluno com deficiência intelectual ser excluído do
ambiente escolar. A partir daí pode-se desenvolver atividades que propiciem sanar
as dificuldades encontradas para a aprendizagem, seja funcional ou específica.
Assim, observando os aspectos históricos da Educação Especial agora,
Educação Inclusiva, percebe-se uma luta constante em prol desses alunos com
necessidades educativas especiais ou deficiências como se sugere a partir de
longos estudos no assunto. A educação é uma questão de direitos humanos, e os
indivíduos com deficiências devem fazer parte sem qualquer forma de discriminação.
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