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INSTITUTO BÍBLICO PORTUGUÊS ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA EVANGÉLICA
SANTO ANTÃO DO TOJAL
A CONQUISTA DA
TERRA PROMETIDA
Teorias Liberais e Teorias Conservadoras
PROJECTO
DISCIPLINA: PENTATEUCO E LIVROS HISTÓRICOS
Maria Lucinda Tomaz Ribeiro
1999/2000
2
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 3
ANTECEDENTES BÍBLICOS SOBRE A CONQUISTA DA TERRA PROMETIDA 4
O LIVRO DE JOSUÉ 6
Autoria do livro de Josué 6
Distribuição da terra 8
Autoria do livro de Josué segundo a tradição 8
Relação com o livro de Juízes, forma canónica e tradição histórica 9
TEORIAS ACERCA DA CONQUISTA E DISTRIBUIÇÃO DA TERRA 11
O modelo da conquista 11
O modelo da infiltração pacífica 12
O modelo da revolução social 13
A CONQUISTA DAS CIDADES 14
Jericó 14
Outras cidades 16
A CONQUISTA DA TERRA SEGUNDO A ARQUEOLOGIA 18
A evidência arqueológica 18
Os Habiri 18
A data da conquista 19
A TERRA PROMETIDA NA ACTUALIDADE 20
CONCLUSÃO 22
BIBLIOGRAFIA 23
3
INTRODUÇÃO
Uma pequena porção de terra, próxima dos rios do Éden, o primeiro paraíso, tornou-
se o “paraíso” desejado por muitos homens e muitos povos desde a antiguidade remota.
Mas se se discute a localização onde foi cometido o primeiro pecado, contudo sabemos com
certeza onde a redenção foi consumada: Canaã, Palestina, ‘eretz Israel,... Este território,
aparentemente insignificante, tem sido motivo de viagens, guerras e paixões, que
percorreram a História até à actualidade, e ele abriga a Jerusalém física que aguarda pela
Jerusalém que virá de cima (Ap 21:2).
“Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, saindo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia. Pela fé peregrinou na terra da promessa, como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque esperava a cidade que tem os fundamentos, da qual o arquitecto e edificador é Deus... Todos estes morreram na fé, sem terem alcançado as promessas; mas tendo-as visto e saudado, de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Ora, os que tais coisas dizem, mostram que estão buscando uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquela donde haviam saído, teriam oportunidade de voltar. Mas agora desejam uma pátria melhor, isto é, a celestial...” (Hb 11:8-40)
O direito a esta terra tem sido disputado e questionado, assim como se questiona
Deus, pois toda a terra lhe pertence e Ele pode dá-la a quem quer. Deste modo,
abordaremos neste estudo as diversas teorias e opiniões acerca da entrada dos Hebreus na
chamada “Terra Prometida”.
4
ANTECEDENTES BÍBLICOS SOBRE A CONQUISTA DA TERRA PROMETIDA
Após o dilúvio, a terra foi distribuída pelos descendentes de Noé: Sem, Cão e Jafé.
Canaã, filho de Cão, gerou os povos que povoaram o território de Sidom até Gaza.
“Canaã gerou a Sidom, seu primogénito, e Hete, e ao jebuseu, o amorreu, o girgaseu, o heveu, o arqueu, o sineu, o arvadeu, o zemareu e o hamateu. Depois se espalharam as famílias dos cananeus. Foi o termo dos cananeus desde Sidom, em direcção a Gerar, até Gaza; e daí em direcção a Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa.” (Gn 10:15-19)
No entanto, a maldição de Noé sobre o seu neto, em paralelo com a benção sobre
Sem, parece ser uma das causas para que o direito a este território fosse transferido
divinamente para os semitas.
Tera, era servo do Deus verdadeiro (Gn 31:53), e por algum motivo decidiu sair da
Babilónia com o objectivo de ir para a terra de Canaã.
“Tomou Tera a Abrão seu filho, e a Ló filho de Harã, filho de seu filho, e a Sarai sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos Caldeus, a fim de ir para a terra de Canaã; e vieram até Harã, e ali habitaram.” (Gn 11:31)
Esta é a primeira vez que a Bíblia se refere a Canaã como terra e não como uma
pessoa. No entanto, Tera morreu antes de cumprir este desejo. A Bíblia não nos dá mais
informações, mas Tera moveu-se de acordo com o que era um grande propósito divino: dar
Canaã à semente do seu primogénito.
O Senhor falou a Abraão, mandando-o sair de Harã para uma outra terra que lhe iria
mostrar (Gn 12:1). Quer por revelação divina ou pelo desejo passado de seu pai, Abraão foi
imediatamente para Canaã. Assim que chegou, deu-se a primeira teofania após a queda do
homem, acompanhada de uma promessa que seria o inicio do plano de redenção da
humanidade.
“Apareceu, porém, o Senhor a Abrão, e disse: À tua semente darei esta terra. Abrão, pois, edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera.” (Gn 12:7)
5
Sem que Abraão o soubesse ainda, Deus planeava criar um povo, e através dele
trazer a “semente da mulher que pisaria a serpente” (Gn 3:15). Seria ali, naquela terra
onde habitavam os cananeus, onde tudo começaria e onde tudo seria consumado.
Por diversas vezes a promessa foi reafirmada e numa delas o Senhor falou-lhe do
futuro dos seus descendentes:
“Então disse o Senhor a Abrão: Sabe com certeza que a tua descendência será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos; sabe também que eu julgarei a nação a qual ela tem de servir; e depois sairá com muitos bens. Tu, porém, irás em paz para teus pais; em boa velhice serás sepultado. Na quarta geração, porém, voltarão para cá; porque a medida da iniquidade dos amorreus não está ainda cheia.” (Gn 15:13-16)
Assim, a promessa foi transferida para o seu filho Isaque e depois para Jacob, e como
o Senhor dissera, a sua descendência multiplicou-se e tornou-se cativa no Egipto. Ali,
quando o povo clamava de desespero, apareceu novamente a um homem que seria o
instrumento de libertação.
“Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus. Então disse o Senhor: Com efeito tenho visto a aflição do meu povo, que está no Egipto, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exactores, porque conheço os seus sofrimentos; e desci para o livrar da mão dos egípcios, e para o fazer subir daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel; para o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu.” (Ex 3:6-8)
Como o Senhor planeara assim sucedeu e Israel saiu do Egipto com grandes riquezas
em direcção à terra prometida. No deserto, Deus deu-lhes a Lei, um tabernáculo para que
Ele mesmo habitasse no meio deles, deu-lhes alimento e vitória sobre os seus inimigos. O
povo, por seu lado, retribuiu com murmuração, dúvida, pecado e ingratidão. Quando
chegaram finalmente à terra, voltaram a rebelar-se contra o Senhor (Nm 13,14) e como
consequência, peregrinaram no deserto durante quarenta anos (Nm 33). Aquela geração foi
condenada a perecer sem entrar na promessa. Até mesmo Moisés e Arão não puderam
entrar, apenas dois foram fieis: Josué e Calebe.
Josué tornou-se o sucessor de Moisés, aquele que, com o mesmo nome do Messias
que havia de vir, liderou o povo para tomar posse da Terra Prometida.
6
O LIVRO DE JOSUÉ
O livro de Josué pretende mostrar a ocupação da Terra Prometida como cumprimento
da promessa divina. Divide-se em duas partes principais: a Ocupação da Terra (Js 1-12) e a
Divisão da Terra (Js 13-24).
“O livro de Josué pressupõe a instalação de Josué no cargo antes da morte de Moisés (Dt 31.2ss; cf 3.21ss; Nm 27.15ss) e conduz da confirmação desta tarefa (Js 1) até à morte de Josué (Js 24). Objectivamente descreve a tomada da terra de Israel em duas etapas principais: conquista (cap 2-12) e distribuição da terra (13 ss).”1
A ordem para a destruição dos cananeus tem sido objecto de muita discussão. Muitos
consideram injusto que Deus destrua um povo para dar a sua terra a outro povo. No
entanto, existe um direito divino sobre a vida e sobre a terra, que não pode, nem deve ser
julgado. Por outro lado, os povos cananitas estavam corrompidos em todo o pecado e
idolatria, e a não ser que fossem destruídos corromperiam a Israel, como acabou por
acontecer.
A confirmação divina da liderança de Josué perante o povo deu-se através de sinais
semelhantes aos que aconteceram sob a liderança de Moisés. Talvez o mais significativo
seja a passagem do Jordão, em que, à semelhança da passagem do Mar Vermelho, as
águas abriram-se para Israel passar.
“A região do Jordão, e de toda a Palestina, é muito dada a terremotos e abalos sísmicos. É possível que, em outras oportunidades, fenômenos parecidos tenham ocorrido pois um pequeno abalo na região do rio corta facilmente o seu curso, abrindo outra rota, logo após fechado. Isso poderia também ter acontecido aqui, mas, com todas as circunstâncias devidamente medidas, de sorte que, apreciando os fatos, anteriores e posteriores, não podemos deixar de ver neste caso a direta intervenção divina.”2
Autoria do livro de Josué
A alta crítica começou durante os séculos XVIII e XIX. Na última metade do séc. XIX,
Wellhausen tornou popular a teoria de que existe um Hexateuco (sendo o livro de Josué o
1 SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento, pág. 143 2 MESQUITA, António Neves de Estudo nos Livros de Josué, Juízes e Rute, pág. 58
7
sexto livro) e que foi escrito no quinto século a.C., embora contivesse material escrito
anteriormente. Considerou que existiam diversos autores, acerca dos quais criou uma teoria
denominada “Hipótese Documental”.
“For liberal critics, therefore, the first twelve chapters consist primarily of JE and D material, with occasional post-exilic redactions… The remainder of book, dealing with the disposition of the tribes and certain priestly matters, was assigned almost completely to the post-exilic P document, with the activity of “Deuteronomic historian” being conceded for portions of chapters 23 and 24.” 3i
Entre os estudiosos modernos emergiram duas opiniões críticas diferentes acerca dos
dozes primeiros capítulos de Josué: a crítica literal (Eissfeldt e Fohrer) e a crítica tradicional
(Alt, Noth e estudiosos mais novos como Kaiser, Soggin).
Segundo a crítica literal, existe um Hexateuco, sendo os primeiros doze capítulos do
livro de Josué a continuação do Pentateuco. Mantêm que a narrativa mais antiga da
conquista é Juízes 1 com alguns fragmentos distribuídos pelo livro de Josué (Js 15:13-19;
15:63; 17:11-13, etc). Consideram que a figura de Josué, um herói benjaminita local, foi
introduzida posteriormente na fase pré-deuteronómica e a forma final do livro foi o
resultado de uma reorganização deuteronómica, baseando-se na narrativa mais antiga. O
livro possui, desta forma, diversos autores.
A crítica alternativa a esta teoria foi proposta por Alt (1926) e desenvolvida por Noth
com mais pormenor.
“Ao comentar o livro de Josué (1938), M. Noth foi levado por suas percepções a supor que haja uma Obra Historiográfica Deuteronomística (=dtr) que se estende do Dt até ao Segundo livro dos Reis (Uberlie ferungsge schichtlche Studien, 1943, 1957). A. Jepsen chegou a resultados parecidos (Die Quellen des Konigsbuches, 1953).”4
Noth considerou este como uma colecção antiga de sagas independentes que se uniu
a histórias militares e a um herói local. Uma redação deuteronómica de um só indivíduo
teria colocado o material antigo numa ordem histórica.
3 HARRISON, R. K. Introduction to the Old Testament, pág. 667 4 SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento, pág. 134
8
“In spite of the real differences between these two currently held critical positions regarding the composition of chs. 1-12, there are large areas of agreement which are as significant as the disagreements. Both critical positions hold that the present account of the conquest is a historical construct with no clear-cut relationship to the actual historical events, which is thought to be more accurately portrayed by Judges 1.” 5ii
Distribuição da terra
Quanto aos capítulos de Josué 13-21, a crítica literária mais antiga atribui estes
capítulos a um escritor sacerdotal, desenvolvendo a tradição E e acrescentando material
antigo. As fronteiras tribais são apenas um ideal teológico.
Por outro lado, Noth rejeitou atribuir estes capítulos ao escritor sacerdotal e
argumenta que a divisão da terra se baseia num sistema de fronteiras tribais que
delimitavam o território no período dos juízes e numa lista de doze distritos administrativos
de Judá no tempo de Josias.
“Os diversos acontecimentos e diferentes tradições são interpretadas no livro de Josué como sendo um complexo único (cf. 10.42) em conformidade com a vontade de Javé. A tomada da terra se realiza a seu mando (1,2ss.) e ocasionalmente por meio de sua intervenção milagrosa (10.12s.; cf. Jz 5.20). Assim, em última análise, o próprio Javé concede a terra (Js 1.11, 15; 9.24; 24.13). Na segunda e extensa parte principal do livro de Josué se destaca este direito de posse de Javé procedendo-se à distribuição da terra por sorteio (18.8ss.; 14.2 ), isto é, segundo a decisão de Javé (cf. 7.14ss; Is 10.20ss.); deste modo o direito de escolha e a auto-suficiência do povo se rompem. Além disto a tomada da terra representa o cumprimento da promessa que já havia sido dada aos pais e tinha sido reforçada por ocasião da vocação de Moisés (Êx 3.8,17 RDtr): “Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras (...); tudo se cumpriu.” (Js 21.43-45). Já que a posse da terra não é uma condição natural, não é automática. Segundo o raciocínio do profetismo, pode-se afirmar que Deus pode retirar suas boas dádivas de Israel quando este se mostrar desobediente.”6
Autoria do livro de Josué segundo a tradição
“The traditional view, which assessed the book as simply a unified composition of Joshua, has surely been proven erroneous. The presence of an extended history with resulting literary and historical tensions can not be successfully denied.” 7iii
5 CHILDS, Brevard S. Introduction to the Old Testament as Scripture, pág. 243 6 SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento, pág. 145 7 CHILDS, Brevard S. Introduction to the Old Testament as Scripture, pág. 244
9
Ao contrário das teorias modernas, que optam por uma multiplicidade de autores, o
Talmud associa a actividade literária de Josué à autoria do livro com o seu nome.
“Jewish authorities, however, invariably tended to differentiate clearly between the Torah and subsequent literature in the Hebrew canon, so that their tradition never subscribed to a theory of a Hexateuch, Heptateuch, or Octateuch (cf. Ecclus. 48:22ff.; Josephus, Contra Apionem, I, 7ff)” 8iv
Os samaritanos adoptaram o Pentateuco, que consideravam tradicionalmente material
mosaico, independentemente do livro de Josué.
Em Josué 10:13, é referido o livro de Jashar como fonte, um épico nacional pré-
monarquico. Em relação a este facto, Harrison faz os seguintes comentários:
“The view that it was an anthology in which poetic compositions by David (cf 2Sm. 1:19ff) and Solomon (1 Kgs. 8:53 LXX) were included is based upon a mistaken interpretation of the gloss in 1 Samuel 1:18, which should read, “he instructed them to train the Judaeans in bowmanship, the training-poem, for which is written in the Book of Jashar.”… The Book of Jashar thus belongs to the Heroic Age, and as such is definitely pre-Davidic.” 9v
“The most direct evidence for an early date for the book is the fact that the account in which the Sidonians were designated for expulsion does not mention the city of Tyre (Josh 13:6). According to ancient tradition, Sidon was the first Phoenician city to be founded, and the absence of Tyre from the list of cities conquered by Tuthmosis III about 1485 B.C. has been taken by some scholars as an indication that it had not been founded at that time as a colony of Sidon.” 10vi
Harrison defende que se deve distinguir entre a ocupação do território e a subjugação
dos seus habitantes, pois alguns inimigos foram deixados com o fim de serem expulsos
posteriormente (David ainda continuou a expulsá-los). O objectivo era a ocupação da terra.
Relação com o livro de Juízes, forma canónica e tradição histórica
O livro de Juízes descreve os acontecimentos posteriores à morte de Josué.
“Como os cananeus eram então muito poderosos, a morte de Josué fê-los esperar poder vencer os israelitas e eles reuniram para esse fim, um grande exército perto da cidade de Bezeque, sob o comando do rei Adoni-Bezeque, isto é, Senhor dos Bezequinianos, pois Adonis em hebreu significa Senhor.”11
8 HARRISON, R. K. Introduction to the Old Testament, pág, 665 9 HARRISON, R. K. Introduction to the Old Testament, pág, 670 10 HARRISON, R. K. Introduction to the Old Testament, pág, 672 11 JOSEFO, Flávio, História dos Hebreus, pág. 111
10
A conquista tendo como fonte Josué 1-12, é vista como um ataque único contra os
habitantes da terra, liderado por Josué. Por outro lado, Juízes 1 com paralelo em Josué
(15:13-19,63; 16:10; 17:11-13; 19:47) descreve uma conquista por tribos individuais,
estendendo-se depois de Josué, mas não conseguindo expulsar totalmente os cananitas. A
conquista das nações remanescentes surge no futuro e o sucesso de toda a conquista é
tornado condicional pela obediência de Israel à Lei de Moisés. As discrepâncias entre Js 1 e
Js 23 são resolvidas pelo editor canónico apelando à tradição antiga de uma conquista
gradual e condicional. Devido à desobediência do povo, as nações tornam-se em armadilha
e não são expulsas definitivamente. Assim, os elementos de Js 23 já se encontravam em Dt
7. A derrota em Ai, torna clara a condição da obediência.
“In sum, from a canonical perspective no individual integrity has ever been assigned to the ‘Deuteronomic law’, but it serves as a normative formulation of the one divine will revealed to Moses at Sinai.” 12vii
12 CHILDS, Brevard S. Introduction to the Old Testament as Scripture, pág. 247
11
TEORIAS ACERCA DA CONQUISTA E DISTRIBUIÇÃO DA TERRA
O período da conquista estende-se desde a morte de Moisés até à morte de Josué (Js
1:1 – Jz 1:1).
O modelo da conquista (Albright)
O Modelo de uma Conquista militar unificada foi formulado nos anos vinte e trinta.
Yehezkel Kaufmann defendeu que as descrições da conquista em Josué e em Juízes 1
estavam de acordo com a realidade histórica. Rejeitou a ideia de um Hexateuco e que estes
livros fizessem parte de uma história deuteronómica. Defendeu uma conquista conjunta de
Canaã por parte das diversas tribos de Israel lideradas por Josué, que considerou um
estratega de guerra excelente. Considerou que Juízes não descreve um tipo diferente de
conquista, mas simplesmente mostra a continuação desta após a morte de Josué.
Kaufmann recusou-se a dar atenção a tudo o que fosse extra-bíblico, inclusive os achados
arqueológicos.
W. F. Albright datou a conquista em 1220 a.C.. Cidades como Debir (que identificou
com Tell-Beit-Mirsim), Betel, e Laquis possuiam evidências de destruição aproximadamente
naquela data, seguindo-se um período de prosperidade. Albright rejeitou a ideia de uma
ocupação pacífica e gradual por grupos separados de israelitas, crendo que se deu uma
conquista unificada. Procurou estabelecer uma ligação entre a arqueologia e os textos
bíblicos. Albright escreveu o seguinte:
“Excavations show that there was only a short interval between the destruction of such Canaanite towns as Debir and Bethel, and their reoccupation by Israel. This means that the Israelite invasion was not a characteristic irruption of nomads, who continued to live in tents for generations after their first invasion. Neither was the Israelite conquest of Canaan a gradual infiltration, as often insisted by modern scholars.” 13viii
13 LAPP, Paul W. The Conquest of Palestine in the Light of Archaeology, pág. 285
12
G. Ernest Wright, um discípulo de Albright, conciliou a narrativa de Josué 1-12 com
Juízes 1, defendendo que Josué atacou um determinado número de cidades ao sul de
Canaã, deixando depois que grupos locais terminassem a conquista.
“Although early excavations in Palestine seemed to support the critical contention that the conquest was neither rapid nor complete, later work demonstrated that cities such as Bethel, Lachish, Kiriath-Sepher, Hazar, and others were destroyed in the second half of the general picture of conquest as presented by Joshua.” 14ix
O modelo da infiltração pacífica (Alt)
Esta teoria foi formulada nos anos sessenta, pela escola alemã de Albrecht Alt e Martin
Noth15, baseando-se na distribuição do território e na história das tradições. Segundo eles,
os israelitas entraram na terra de forma pacífica procurando pastagens e terras pouco
habitadas, embora possam ter-se dado excepções. Um exemplo de infiltração pacífica seria
a história da aliança com os Gibeonitas. Os capítulos de Josué 1-12 são considerados
etiológicos, isto é, foram escritos com o objectivo de dar explicações para situações cujas
causas não eram conhecidas. Deste modo, foram inventadas histórias para explicar a razão
da existência de ruínas em Jericó ou em outras cidades. Os israelitas deixaram a sua vida
nómada para se fixarem como camponeses. Segundo Noth este processo durou entre a
segunda metade do século XIV a.C. e aproximadamente 100 a.C.. Noth e Alt não se
mostraram impressionados com as descobertas arqueológicas, considerando que os
vestígios de destruição também poderiam ser atribuídos a conflitos entre a próprias cidades
estado e a invasões dos Povos do Mar cerca de 1200 a.C.
“Referring to Albright’s attempt to relate a number of 13th-century destructions of Palestinian cities to the Israelites, Noth says, «But so far there has been no absolutely certain evidence is in fact hardly likely to be found. For the Israelite tribes did not acquire their territories by warlike conquest and destruction of Canaanite cities, but usually settled in hither to unoccupied parts of the country.»” 16x
14 HARRISON, R. K. Introduction to the Old Testament, pág. 673 15 KAISER, Walter C. A History of Israel, pág. 147 16 LAPP, Paul W. The Conquest of Palestine in the Light of Archaeology, pág. 284
13
O modelo da revolução social
G. E. Mendenhall17 afirmou que os antepassados dos israelitas não eram nómadas. As
tribos eram o resultado da aglomeração social e não fruto de uma árvore genealógica.
Tendo em conta as semelhanças entre os hebreus bíblicos e os Habiru, opina que ambos
têm a mesma origem.
Os conflitos não sucederam entre nómadas e camponeses, mas tiveram origem numa
revolta dos camponeses contra os habitantes das cidades. Esta situação deu-se
paralelamente à fuga de um grupo de prisioneiros do Egipto que trouxeram o culto a um
novo Deus. O resultado da revolta foi a destruição e controlo das cidades.
Norman Gottwald18 desenvolveu esta teoria. Este movimento terá começado com os
Apiru ou Habiru de Amarna. Os camponeses uniram-se devido a interesses religiosos,
sociais e militares. Gottwald chamou-lhes o Israel Elohistico.
Este modelo foi modificado por Israel Finkelstein19, considerando a possibilidade de
existir alguma veracidade histórica na tradição bíblica. Terão vindo do sul conquistadores,
mas também se levantaram dentro dos próprios cananitas.
17 ZERTAL, Adam Israel Enters Canaan – Following the Pottery Trail, pág. 30 18 KAISER, Walter C. A History of Israel, pág. 149 19 KAISER, Walter C. A History of Israel, pág. 150
14
A CONQUISTA DAS CIDADES
Jericó
“Quem crê que a cidade caiu no tempo de Ramsés dá a essas muralhas o ano 2000 a.C., e à sua queda o ano de 1200 a.C. Os que colocam o Êxodo em 1440 dão à cidade destruída os anos de 1400 a.C. Os estudos feitos por Garstang e a sua esposa em 1931, quando recolheram dos escombros mais de 1400 peças e fragmentos de cerâmica e fizeram estudos acurados, deram à destruição da cidade o ano de 1400 a.C.”20
Segundo a Bíblia, a conquista de Jericó foi o inicio de uma estratégia para conquistar
toda a terra. O episódio de Jericó é um ponto muito importante na defesa do Modelo da
Conquista e está mesmo ligado à exactidão do relato bíblico do êxodo.
Tell-es-Sultan (antiga Jericó), foi explorada pela primeira vez, ainda no século XIX,
por Sir Charles Warren que não chegou a nenhuma conclusão. Ernst Sellin e Carl Watzinger
fizeram escavações entre 1907 e 1911, e Garstang dos seus trabalhos entre 1930 e 1936,
concluiu que Jericó foi destruída em 1400 a.C.
“Ernest Sellin e Carl Watzinger, os primeiros a examinarem as estruturas da cidade, ficaram pasmados ante a sua antiguidade, e calcularam que ela teria sido construída, pela primeira vez, 2000 anos antes da era antiga. O autor acredita que deva ter mais de 5000 anos. Talvez seja mais antiga que Damasco, considerada a cidade mais velha do Globo. Admitem outros ainda que as casas mais antigas remontam a uma era de 7000 anos. Foram postas a descoberto duas muralhas concêntricas: a primeira, ao redor da colina, e a outra, um pouco mais abaixo. Muralhas, construídas com tijolos secos ao sol, de três e quatro metros de espessura e separadas uma da outra por um espaço de quatro metros...”21
Em relação a Js 2:15, algumas dificuldades foram levantadas relacionadas com o uso
de duas palavras que significam muro. A frase é traduzida por Almeida como “sobre o muro
da cidade”, mas o significado literal é “sobre o muro do muro”. Garstang descobriu que o
muro fora construído em cima de outro mais frágil e que o muro visível de Jericó caíra
porque o mais fraco cedeu.
“However, with very few exceptions, most scholars today doubt if anything like what the Bible describes took place at this site. This is remarkable, for the first archaeologist to excavate Jericho reported that his findings confirmed the biblical narrative. John Garstang excavated Jericho from 1930 to 1936. He argued that City IV came to a violent end around 1400 B.C., based on pottery types found in the destruction debris, the dates of Egyptian scarabs with Eighteenth Dynasty pharaohs on them from nearby tombs, and the absence of Mycenaean pottery war (an imported pottery found at some sites by this time).” 22xi
20 MESQUITA, António Neves de Estudo nos Livros de Josué, Juízes e Rute, pág. 69 21 MESQUITA, António Neves de Estudo nos Livros de Josué, Juízes e Rute, pág. 62 22 KAISER, Walter C. A History of Israel, pág. 151
15
Questionando os métodos de Garstang, a arqueóloga Kathleen Kenyon23 reviu as
descobertas. Concluiu que Jericó foi destruída cerca de 1550 a.C., permanecendo quase
totalmente desocupada até cerca de 1200 a.C.
Imagens retiradas de: www.geocities.com/Athens/Academy/9062/jerico/jer_arqu.htm
O muro duplo pertencia à Antiga Idade do Bronze, sendo portando muito mais antigo
que a época em que se pensa ter sido a conquista (cerca de 1400 a.C.). Segundo Kenyon, a
Cidade IV tinha os seus próprios muros e havia evidências de terem caído diversas vezes.
Os muros da Cidade IV de Jericó mostram que foram destruídos de dentro para fora e não
de fora para dentro como seria norma em resultado de um ataque militar.
Mais recentemente, Bryant Wood24 analisou os resultados de Kenyon, concluindo que
realmente o muro por cima do tell não pertencia à Cidade IV. No entanto todos concordam
que Jericó foi violentamente destruída por um tremor de terra que resultou num incêndio.
Kenyon, Sellin e Watzinger defenderam que a Cidade IV caiu em 1550 a.C.. Por outro
lado Garstang e Wood defenderam a data de 1400 a.C..
Escaravelhos egípcios foram encontrados com nomes reais da 18ª Dinastia inscritos:
Hatshepsut (1503-1483 a.C.), Thutmosis III (1504-1450 a.C.), e Amenhotep III (1417-
1379 a.C.). Estes escaravelhos foram considerados demasiado comuns por terem existido
durante muito tempo. No entanto, Wood mostrou que quanto ao escaravelho de Hatshepsut
23 KAISER, Walter C. A History of Israel, pág. 152 24 KAISER, Walter C. A History of Israel, pág. 152
16
era um caso diferente. Quando ela morreu, foi ordenado que o seu nome fosse apagado de
todos os documentos públicos, logo a presença deste em Jericó é algo raro. Deste modo,
tornou-se um bom indício de que a Cidade IV tenha a data de 1400 a.C., sendo a cidade
que Josué destruiu no início da Conquista.
Devido à utilização do método do Carbono 14, às datas dos escaravelhos e aos tipos
de cerâmica encontrados, os arqueólogos e os historiadores bíblicos estão mais abertos à
possibilidade de Jericó ter sido destruída em 1400 a.C..
Outras cidades
Embora não existam provas arqueológicas, Ai25 tem sido identificada com Khirbet-et-
Tell. O nome de Ai no hebraico está associado a “ruínas”. Bimson e Livingstone defenderam
a sua conquista, assim como de outras cidades, pelos invasores israelitas, cerca de 1400
a.C..
As escavações de Pritchard em El-Jib26 (identificado com Gibeon) mostraram a
existência de uma cultura que remonta ao período entre 1300 e 1200 a.C. O nome do lugar
está inscrito em hebraico arcaico nas escavações de uma grande piscina de pedra associada
a II Sm 2:13. A Bíblia descreve uma aliança entre Israel e os Gibeonitas.
A bíblica Dabir ficava a cerca de vinte quilómetros a sudoeste de Hebrom. No Tell-
Beit-Mirsim, Albright e Kyle encontraram vestígios de grandes destruições. As camadas de
cinzas contêm cerâmica do séc. XIII a.C.. Em Laquis (Tell-ed-Duweir), Starkey encontrou
também vestígios de um incêndio destruidor.
“Uma escudela encontrada nas ruínas apresenta uma inscrição onde se cita o “Ano 4” do Faraó Merenptah, data que corresponde ao ano 1230 a.C. ”E o Senhor entregou Lakish nas mãos de Israel. (Js 10:32)”27
25 KAISER, Walter C. A History of Israel, pág. 154 26 HARRISON, R. K. Introduction to the Old Testament, pág. 677 27 KELLER, Werner E a Bíblia Tinha Razão..., pág. 180
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Alt data as listas de cidades de Js 15:21-62 no período de Josias, enquanto Cross e
Wright mostraram que as listas remontam ao século nono a.C..
“The references that associated the Jebusites with the territory of Jerusalem (Josh. 18:28) indicate that the city was not at that time the capital of Israelites.” 28xii
Na lista de cidades de Js 21 podemos observar que as fronteiras tribais29 eram
flexíveis: Siquem localiza-se em Efraim em vez de Manassés, Daberate pertence a Issacar
em lugar de Zebulom (Js 19:13), Jocneão é atribuída a Zebulom e não a Asser, e Hesbom
localiza-se em Gade e não em Ruben (Js 13:17).
As várias fases da Conquista são referidas em Js 11:16-22, descrevendo a conquista
de toda a terra:
“Assim Josué tomou toda aquela terra, a região montanhosa, todo o Negebe, e toda a terra de Gósem e a baixada, e a Arabá, e a região montanhosa de Israel com a sua baixada, desde o monte Halaque, que sobe a Seir, até Baal-Gade, no vale do Líbano, ao pé do monte Hermom; também tomou todos os seus reis, e os feriu e os matou. Por muito tempo Josué fez guerra contra todos esses reis. Não houve cidade que fizesse paz com os filhos de Israel, senão os heveus, moradores de Gibeão; a todas tomaram à força de armas. Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem destruídos totalmente, e não achassem piedade alguma, mas fossem exterminados, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Naquele tempo veio Josué, e exterminou os anaquins da região montanhosa de Hebrom, de Debir, de Anabe, de toda a região montanhosa de Judá, e de toda a região montanhosa de Israel; Josué os destruiu totalmente com as suas cidades. Não foi deixado nem sequer um dos anaquins na terra dos filhos de Israel; somente ficaram alguns em Gaza, em Gate, e em Asdode. Assim Josué tomou toda esta terra conforme tudo o que o Senhor tinha dito a Moisés; e Josué a deu em herança a Israel, pelas suas divisões, segundo as suas tribos; e a terra repousou da guerra.”
28 HARRISON, R. K. Introduction to the Old Testament, pág, 676 29 HARRISON, R. K. Introduction to the Old Testament, pág. 675
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A CONQUISTA DA TERRA SEGUNDO A ARQUEOLOGIA
A evidência arqueológica
Provavelmente a Arqueologia Bíblica terá tido inicio com a descoberta da Pedra de
Roseta, quando Napoleão invadiu o Egipto em 1799. Desde esta data até à descoberta dos
manuscritos de Qumran, diversos arqueólogos emitiram opiniões mais ou menos diferentes
relativamente à ligação entre os relatos bíblicos e os achados arqueológicos. Embora a base
de trabalho seja para todos a mesma, contudo a interpretação destes corre sempre o risco
de ser influenciadas pelas crenças pessoais ou pela ausência destas.
“The problem revolves around the relation between the primary historical documents (firsthand documents and inscriptions), the secondary documents (especially the Biblical records), and the archaeological evidence. All agree that the primary documents (critically evaluated) are of the highest significance for explicating both secondary documents and archaeological evidence –8especially when they are found in stratified deposits).” 30xiii
“The controversy is over the evaluation of the archaeological material and its relation to the Biblical conquest narratives. Professor Martin Noth has given by far the stronger weight to the literary evidence (in light of primary documents and his critical reconstruction), and he places emphasis on the precarious nature of anepigraphic archaeological evidence.” 31xiv
Os Habiri
Segundo a opinião de H. Zimmern, H. Winckler e C. R. Conder, a correspondência
encontrada em Tell-el-Amarna (1887) certifica que a Palestina foi conquistada pelos
Hebreus, que eram chamados de Habiru ou Habiri. Edward Meyer, em Geschichte des
Altertms ou História da Antiguidade (1928), também não tem dúvidas de que os Habiri,
mencionados nas placas de Amarna, são os Hebreus.
“As descobertas de Ugarite, cidade da Fenícia do Norte, tornam evidente que os Habiri eram os mesmo que os registos egípcios chamavam de ‘Apiru...
30 LAPP, Paul W. The Conquest of Palestine in the Light of Archaeology, pág. 283 31 LAPP, Paul W. The Conquest of Palestine in the Light of Archaeology, pág. 283
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Só nos registros hebraicos é que achamos o nome na sua forma ‘Ibriy (ou Hebreu) empregado para uma única descendência racial, a saber, os descendentes de Abraão, “o Hebreu”.”32
“Devemos então entender o termo ‘Apiru no sentido mais amplo, não-étnico, de hebiru, assim como é o caso dos registros cuneiformes antes da época da correspondência de Amarna.”33
Por outro lado, Kline e Greenberg não concordam que os Hebreus sejam associados
aos Habiri. Devido ao aparecimento destes nomes em relatos da Síria e da Fenícia,
argumentam que as narrativas hebraicas não referem acções militares tão a norte. No
entanto, segundo Archer34, o livro de Josué pode ter omitido alguns actos militares.
Considera que Asser e Naftali, por ocuparem o território a norte, poderiam ter feito ataques
a Sidom, Tiro e Biblos.
A data da conquista
Segundo as Cartas de Tell-el-Amarna35, Canaã estava sob influência egípcia e heteia e
era um ponto central para as maiores culturas da época. Dividia-se em cidades-estado que
dominavam a região circundante.
No Museu do Cairo existe uma lápide de um templo fúnebre de Tebas que tem inscrito
o seguinte: ”Canaã foi capturada com todos os maus. Ascalão foi aprisionada, Gézer, ocupada e
Jenoam, aniquilada. O povo de Israel está desolado, não tem juventude; a Palestina tornou-se viúva
para o Egipto.”36. Este canto foi escrito em 1229 a.C., citando Israel como povo e associando-
o a cidades da Palestina.
“Os arqueólogos não concordam quanto à data da saída dos hebreus do Egipto, e a sua conquista de Canaã. Enquanto alguns continuam a defender a data de 1440 para a saída, e 1400 para a captura de Jericó, muitos já concluíram, na base das evidências recolhidas nos últimos anos, que o êxodo dos israelitas do Egipto e a sua conquista de Canaã aconteceram no período entre 1300 e 1225 a.C.”37
32 ARCHER, Gleason Merece confiança o Antigo Testamento?, pág. 189 33 ARCHER, Gleason Merece confiança o Antigo Testamento?, pág. 192 34 ARCHER, Gleason Merece confiança o Antigo Testamento?, pág. 190 35 CRABTREE, A. B. Arqueologia Bíblica, pág. 50, 55 36 KELLER, Werner E a Bíblia Tinha Razão..., pág. 180 37 CRABTREE, A. B. Arqueologia Bíblica, pág. 188
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A TERRA PROMETIDA NA ACTUALIDADE
A legitimidade de Israel possuir este pedaço de terra só existe se considerarmos Deus
como personagem histórica, com uma intervenção clara em função dos seus propósitos para
o homem. Um ateu terá sempre uma perspectiva diferente acerca deste assunto.
“Alguns sociólogos insistem, atualmente, em que Israel não tem título jurídico de propriedade da Palestina. Como não tem? A terra foi prometida em 2060, e o povo tomou posse em 1400 e lá ficou até ao ano 70 da nossa era. Isso é suficiente para justificar o direito à terra, por parte dos judeus.”38
“De 1400 a.C. até o ano 70 da era cristã lá ficaram vivendo mansa e pacificamente. Apenas 1470 anos. Dois mil anos depois de expulsos dela, para lá estão voltando, para completar a tarefa que o Deus de Abraão lhes destinou.”39
Muitos teólogos atribuíam as profecias da restauração Israel à Igreja, a qual ainda
muitos chamam de Israel espiritual, transferindo muitas profecias acerca de Israel para os
Cristãos. Por outro lado, o mundo também já não esperava que os judeus voltassem a ter
uma pátria. Apesar de tudo, no final do séc. XIX, uma brisa de esperança começou a
soprar, através do movimento Sionista. As profecias de Ezequiel começaram a cumprir-se e
de um vale de ossos secos (o holocausto) começou a erguer-se uma nação (Ez 37).
“Ora se o tropeço deles é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! Pois se tu foste cortado do natural zambujeiro, e contra a natureza enxertado em oliveira legítima, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira esses que são ramos naturais! Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado; e assim todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades;” (Rm 11:12,24-26)
O estabelecimento de Israel como nação, permite o cumprimento de profecias
intimamente ligadas à segunda vinda do Messias. Um delas, como está citado no texto
bíblico acima, é a conversão de Israel como povo.
A Terra Prometida é uma “sombra” do reino messiânico que se estabelecerá sob o
reinado directo de Cristo (Ap 20:1-6).
38 MESQUITA, António Neves de Estudo nos Livros de Josué, Juízes e Rute, pág. 50 39 MESQUITA, António Neves de Estudo nos Livros de Josué, Juízes e Rute, pág. 15
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“...pois em certo lugar disse ele assim do sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as suas obras; e outra vez, neste lugar: Não entrarão no meu descanso. Visto, pois, restar que alguns entrem nele, e que aqueles a quem anteriormente foram pregadas as boas novas não entraram por causa da desobediência, determina outra vez um certo dia, Hoje, dizendo por Davi, depois de tanto tempo, como antes fora dito: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações. Porque, se Josué lhes houvesse dado descanso, não teria falado depois disso de outro dia. Portanto resta ainda um repouso sabático para o povo de Deus. Pois aquele que entrou no descanso de Deus, esse também descansou de suas obras, assim como Deus das suas. Ora, à vista disso, procuremos diligentemente entrar naquele descanso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.” (Hb 4:4-11)
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CONCLUSÃO
Como pudemos concluir, existem diversas opiniões e teorias acerca da veracidade e
exactidão do texto bíblico relativamente à conquista de Canaã pelo povo de Israel.
Um aspecto determinante em qualquer análise acerca deste tema tem a ver com a fé
daquele que decide tomar uma opinião, pois até mesmo em relação aos dados
arqueológicos as opiniões divergem. Cada observação crítica que é feita, nunca se pode
desassociar da pessoa que a origina e desta forma todas as características culturais,
intelectuais e religiosas afectam as suas conclusões. Até o analista que se considera mais
imparcial é afectado sem que se aperceba pela sua personalidade e pelas opiniões daqueles
que lhe são queridos.
Assim como o foi para o povo de Israel, a fé continua a ser importante para
estabelecer uma posição. Só é possível alguma vez ser considerado histórico um milagre se
se considerar Deus histórico. Para mim, a conquista de Canaã foi um milagre, pois um povo
murmurador e sem convicções conseguiu vencer povos organizados e bem armados
contrariamente a qualquer probabilidade, assim como o êxodo do Egipto fora um milagre.
Desde que a Promessa foi realizada até ao seu cumprimento foram os milagres divinos que
a sustentaram no coração das sucessivas gerações até à sua concretização.
“A fé dos israelitas, embora vacilante e imperfeita, era o factor determinante na luta.”40
Na minha opinião, a conquista de Canaã, foi condicional em função da obediência do
povo ao Senhor, tornando-se o seu ritmo mais ou menos rápido de acordo com a fidelidade
do povo perante a Lei. A conquista de Ai é exemplo deste facto.
Esperamos no entanto que no futuro surjam provas arqueológicas irrefutáveis acerca
da comprovação racional da narrativa bíblica de modo que a ciência e a Bíblia formem uma
só verdade.
40 CRABTREE, A. B. Arqueologia Bíblica, pág. 257
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BIBLIOGRAFIA
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CHILDS, Brevard S. Introduction to the Old Testament as Scripture [Philadelphia, PA:
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ZERTAL, Adam Israel Enters Canaan – Following the Pottery Trail BAR, Vol 17, Num 5
(1991) pp. 28-47, 75
Imagem da capa retirada de: www.geocities.com/Athens/Academy/9062/jerico/jer_menu.htm
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TRADUÇÃO DAS CITAÇÕES EM INGLÊS
i “Para os críticos liberais, os primeiros doze capítulos pertencem à fonte JE com material D, e redacções ocasionais do pós-exílio... O restante do livro, que lida com a disposição das tribos e com assuntos sacerdotais, foi atribuído quase totalmente ao documento P pós-exílico, com a actividade do “historiador Deuteronómico” em porções dos capítulos 23 e 24.” ii “Apesar das diferenças reais entre estas duas posições críticas, actualmente defendidas, referentes à composição dos capítulos 1-12, existem muitas áreas de acordo que são tão significantes como os desacordos. Ambas as posições críticas mantêm que a narrativa presente da conquista é uma construção histórica sem um relacionamento claro com os eventos históricos actuais, que se pensa serem mais correctamente relatados em Juízes 1.” iii “O ponto de vista tradicional que considera o livro como uma composição simples e única de Josué tem-se mostrado errónea. A presença de uma história expandida com resultados de tensões literárias e históricas não pode ser negada com sucesso.” iv “As autoridades judaicas, no entanto, invariavelmente tenderam a diferenciar claramente entre a Torah e a literatura subsequente no canon hebraico, deste modo a sua tradição nunca subscreveu teorias de um hexateuco, heptateuco ou octateuco (cf. Ecclus. 48:22ff.; Josephus, Contra Apionem, I, 7ff).” v “A opinião de que era uma antologia em que composições poéticas de David (II Sm 1:19) e Salomão (I Rs 8:53 LXX) eram incluídas foi baseada numa interpretação errada de Samuel 1:18, que deve ser lido:” ele instruiu-os para treinarem os judeus a manejarem o arco, o poema de treino como está escrito no livro de Jashar”... O livro de Jashar pertence assim ao período Heroico, e é definitivamente pré-Davidico.” vi “A evidência mais directa para uma data antiga para o livro é o facto da narrativa, na qual os sidonios foram expulsos, não menciona a cidade de Tiro (Js 13:16). De acordo com a tradição antiga, Sidom foi a primeira cidade fenicia a ser fundada, e a ausência de Tiro da lista de cidades conquistadas por Tuthmosis III em 1485 a.c. tem sido tomada por alguns estudiosos como uma indicação de que não tinha sido fundada naquele tempo como uma colónia de Sidom.” vii “Em resumo, da perspectiva canónica nenhuma integridade individual terá sido alguma vez atribuída à “lei deuteronómica”, mas é uma formulação normativa da vontade divina revelada a Moisés no Sinai.” viii “Escavações mostraram que houve apenas um pequeno intervalo entre a destruição de cidades cananitas como Debir e Betel, e a sua reocupação por Israel. Isto significa que a invasão israelita não foi uma irrupção característica de nómadas, que continuaram a viver em tendas por gerações após a primeira invasão. Nem a invasão israelita de Canaã foi uma infiltração gradual, como insistem frequentemente os estudiosos modernos.” ix “Enquanto as primeiras escavações na Palestina pareciam apoiar a posição crítica de que a conquista não foi rápida nem completa, trabalhos posteriores demonstraram que cidades como Betel, Quiriate-Sefer, Hazar, e outras foram destruídas na segunda metade do século treze a.C., confirmando a imagem geral de conquista apresentado em Josué.” x “Referindo-se à tentativa de Albright relacionar destruições de cidades palestinianas no 13º século com os israelitas, Noth afirma: «Até onde temos chegado, não foram encontradas absolutamente provas concretas. As tribos israelitas não adquiriram os seus territórios pela guerra, conquistando e destruindo as cidades cananitas, mas entrando em partes não ocupadas do território.” xi “Salvo raras excepções, muitos estudiosos hoje duvidam se alguma coisa que a bíblia descreve terá acontecido dessa forma. Isto é marcante porque o primeiro arqueólogo a escavar Jericó relatou que as suas descobertas confirmaram a narrativa bíblica. John Garstang escavou Jericó de 1930 a 1936. Ele
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afirmou que a cidade IV teve um fim violento por volta do ano 1400 a.C., baseado em tipos de cerâmica encontrados nas ruínas destruídas, nas datas dos escaravelhos egípcios com a Décima Oitava Dinastia dos faraós de túmulos próximos, e a ausência de cerâmica de guerra micênica (cerâmica importada encontrada em alguns lugares nesta altura).” xii “As referências que associam os Jebusitas com o território de Jerusalém (Js 18:28) indicam que a cidade não era naquele tempo a capital dos israelitas.” xiii “O problema está à volta da relação entre documentos históricos primários (documentos em primeira mão e inscrições), os documentos secundários (especialmente os registos bíblicos), e a evidência arqueológica. Todos concordam que os documentos primários (criticamente avaliados) são de elevada importância para explicar os documentos secundários e a evidência arqueológica (especialmente quando se encontram em depósitos estratificados.” xiv “A controvérsia está na avaliação do material arqueológico e na sua relação com as narrativas bíblicas da conquista. O professor Martin Noth tem dado às evidências literárias (à luz dos documentos e reconstrução histórica) o maior peso e enfatiza a natureza precária da arqueologia não epigráfica. O professor William Albright defende e ilustra o significado da evidência arqueológica não epigráfica. O professor William Albright defende e ilustra o significado da evidência não epigráfica.”
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