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Liana de camargo Leão
Márcia Széliga
Sou professora de literatura inglesa na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e já ministrei vários cursos sobre Shakespeare, dentro e fora da universidade. Tenho artigos publicados sobre as peças e sobre Shakespeare no cinema. Organizei também, junto com a professora doutora Marlene Soares dos Santos, o livro Shakespeare, sua época e sua obra (2008), onde vários especialistas brasileiros falam sobre a obra de Shakespeare. Há quatro anos organizo, em Curitiba, para alunos da UFPR e também para o público leigo, um evento em homenagem ao nascimento do dramaturgo: o “Abril de Shakespeare”.
Meu desejo, nesta adaptação, é oferecer às crianças, jovens e professores a oportunidade de encenar as peças, mantendo a linguagem teatral e o espírito da obra do dramaturgo.
Aquarela poderia ter sido o material utilizado nas ilustrações deste livro. Afinal, combina com água, mares, garoa, chuva, tempestade. Mas a escolha mesmo acabou sendo o lápis de cor, cores suaves podendo se tornar fortes, vivas... Como uma chuva pode se transformar numa tempestade.
Para dar mais alimento à minha inspiração, usei como ponto de partida o filme Prospero’s book, de Peter Greenaway, onde as cenas percorrem páginas de um livro vivo.
Sim, os livros são vivos! Ilustrar também é mexer com algo muito vivo. A tempestade, de Shakespeare, coloca qualquer um nessa dimensão de tocar o sentido mágico das coisas e os sentimentos da vida.
Trazer essa vida para as ilustrações é um jeito de fazer com que as imagens e as palavras entrem pelas janelas da alma, que possam tocar fundo, através dos olhos leitores, a porção mais viva de cada um.
Liana Leão
Ilustrado por Márcia Széliga
a tempestade
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A tempestade
Adaptação da peça teatral de William Shakespeare A tempestade, em 7 cenas
Ilustrado por Márcia Széliga
Liana de Camargo Leão
A temp estade
A temp estade
Adaptação da peça teatral de William Shakespeare A tempestade, em 7 cenas
Ilustrado por Márcia Széliga
Liana de camargo leão
2009 © Liana de Camargo Leão
Direção geral: Ailton A. dos SantosDireção administrativa: Edson Donizetti Castilho
Coordenação editorial: Alex CriadoEquipe editorial: Agueda Cristina Guijarro Deborah Quintal Luiz Eduardo Baronto Ana Cláudia Ramacciotti VieiraEquipe de arte: Gledson Zifssak Luciene CardosoEquipe de comunicação: Ana Cosenza Elisa RodriguesRevisão: Cristina Kapor Danielle Mendes SalesProjeto gráfico e capa: Gledson ZifssakSecretaria editorial: Suzete Oliveira
Impressão e acabamento: Escolas Profissionais Salesianas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Leão, Liana de CamargoA tempestade / [traduzido e adaptado por] Liana de
Camargo Leão; ilustrado por Márcia Széliga. – São Paulo : Editora Salesiana, 2009.
“Adaptação da peça teatral de William Shakespeare A tempestade, em 7 cenas”.
1. Teatro – Literatura infanto-juvenil 2. Shakespeare, William, 1564-1616 I. Széliga, Márcia. II. Título.
08-11807 CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático:1. Teatro : Literatura infantil 028.52. Teatro : Literatura infanto-juvenil 028.5
Todos os direitos reservados
EDITORA SALESIANARua Dom Bosco, 441 - Mooca03105-020 São Paulo - SPFones: (11) 3274-4906 / 3274-4953Fax: (11) 3209-4084vendaslivros@editorasalesiana.com.brwww.editorasalesiana.com.br
Shakespeare se despede do teatro:
A tempestade, sua última peça
A tempestade é uma comédia que trata de magia e de encantamento, e também de amor, de vingança e de perdão.
Alguns personagens são espíritos, como Ariel. De certa maneira, quando Shakespeare fala dos espíritos, ele está falando de nós, dos sentimentos humanos e do nosso mundo.
A peça trata de ambição e de vingança. Antônio e o rei Alonso roubam o ducado de Próspero, que sobrevive ao naufrágio por milagre e pela ajuda do conselheiro Gonzalo. Próspero permanece anos exilado em uma ilha e planeja uma vingança contra seu irmão, o rei Alonso. Os nobres Antônio e Sebastião quando chegam à ilha veem a oportunidade de matar o rei Alonso e ficar com a coroa. Da mesma forma, o mordomo e o bufão planejam com Caliban matar Próspero e reinar sobre a ilha.
Em geral, os personagens de classe alta falam em verso: Miranda, Fernando, Próspero e todos os nobres. Os personagens de classe baixa utilizam a prosa: os marinheiros, o mordomo e o bufão. Mas, às vezes, Shakespeare faz um personagem que deveria falar em prosa usar o verso: esse é o caso de Caliban, escravizado por Próspero. É ele quem descreve a ilha de maneira mais bonita e poética, é ele quem nos faz perceber a beleza do lugar, seus cheiros e sons.
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PERSONAGENS
De Milão:
PRÓSPERO, legítimo duque de Milão
ANTÔNIO, irmão de Próspero, duque usurpador de Milão
MIRANDA, filha de Próspero
GONZALO, um velho e honesto conselheiroDe Nápoles:
ALONSO, rei de Nápoles
SEBASTIÃO, nobre e irmão de Alonso
FERNANDO, príncipe e filho de Alonso
TRÍNCULO, um bufão
ESTÉFANO, um mordomo
CAPITÃO
PILOTO
MARINHEIROS
Da ilha:
CALIBAN, habitante da ilha, filho da bruxa Sicorax, que é escravizado por Próspero
ARIEL, um espírito do ar
ESPÍRITOS DA ILHA, que servem a Próspero
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1a cena – no navio
Trovões e relâmpagos. O navio enfrenta uma tempestade. Marinheiros correm de um lado para o outro. Muitos gritos e confusão. O capitão dá ordens para o piloto manobrar a embarcação e tentar salvá-la do naufrágio. A situação é de perigo
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CAPITÃO – Piloto!
PILOTO – Sim, capitão?
CAPITÃO – Manobrar, rápido! Baixar velas! Cuidado, vamos afundar!
REI ALONSO – Onde está o capitão?
PILOTO – Por favor, fiquem lá embaixo!
ANTÔNIO – Onde está o seu chefe, piloto?
PILOTO – Fiquem nas cabines. Estão atrapalhando o nosso trabalho e ajudando a tempestade.
GONZALO – Mais calma, amigo.
PILOTO – Calma? O senhor não é o conselheiro? Aconselhe a tempestade a ter calma. Se não conseguir, desça para a cabine!
GONZALO – Mais respeito! Lembre-se de que o rei está a bordo!
PILOTO – E por acaso as ondas respeitam algum rei? E rei se afoga menos que a gente?
SEBASTIÃO – Que a peste devore a sua garganta, seu imbecil!
Com raiva
Com raiva
Nervoso
Tentando acalmar os ânimos
Mais nervoso ainda
Sobem ao convés o rei Alonso, o duque de Milão, Antônio, os nobres Gonzalo e Sebastião para saber o que está acontecendo, mas acabam atrapalhando as manobras dos marinheiros
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ANTÔNIO – Covarde! Tenho menos medo de morrer do que você!
PILOTO – Falar é fácil. Venha trabalhar.
GONZALO – Confio no piloto, ele não tem cara de quem vai morrer afogado. Tem mais cara de quem vai morrer enforcado. Tomara que a forca, e não o fundo do mar, seja o seu destino. Senão estamos todos perdidos!
MARINHEIROS – Estamos perdidos. Vamos rezar!
PILOTO – Vamos ao fundo!
MARINHEIRO – Adeus, mulher, filhos e mundo!
GONZALO – Seja feita a vontade de Deus. Mas eu preferia ter morte mais seca...
Com muita raiva
Muito nervoso
Aparte
Desesperados
Resignado
Saem o piloto, Antônio, Sebastião e Alonso
Voltam o piloto e os marinheiros, com as roupas encharcadas
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2a Cena – na ilha
Da praia, a jovem Miranda e seu pai, Próspero, veem o navio afundar. Ela pede ao pai que ajude os náufragos. Próspero conta a Miranda sobre o passado
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MIRANDA – Pai querido, o que fez?Vi o navio afundar,Sofri com os que vi sofrer.
PRÓSPERO – Calma, calma, minha filha.Ninguém sofreu um só arranhão:Foi tudo mágica que eu prepareiPara vingar a traição.Anos atrás, eu era duque de Milão,E confiei todo o governoÀs mãos de Antônio, meu irmão,Que, traiçoeiro e vil,Se juntou ao rei AlonsoPara me tirar do poder.E, em noite escura,Eu e você –Que tinha apenas 3 anos –Fomos abandonados em um barco,Sem água e sem comida,Para morrer.
MIRANDA – Eu não me lembro de nada.Como nos salvamos?
PRÓSPERO – Gonzalo, amigo fiel,Escondido de todos,Nos levou água, livros e alimentos.Por sorte, querida filha,Sãos e salvos chegamos à ilha.Mas chega de perguntas.Vejo que está com sono.
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ARIEL – Salve, meu grande mestre.Salve, meu grande senhor.Sei voar, sei nadar,E no fogo penetrar.As vossas ordens todasVou rápido executar.
PRÓSPERO – Você fez a tempestade,Como eu ordenei?
ARIEL – Sim, mestre.Criei fogo,Fiz o mar levantar.E, com medo enorme,Marinheiros e nobresSe jogaram ao mar.Mas estão todos vivos,Como o senhor ordenou:Suas roupas estão secas,E até mais novas que antes.Escondi o navio na enseada,E os marinheiros fiz dormir.O príncipe Fernando,Deixei sozinho, pensandoQue o rei, seu pai, se afogou.E o rei Alonso, em outro canto,Imagina que o filho morreu.
Próspero faz um gesto de magia sobre a cabeça de Miranda. Ouve-se uma música suave, e ela adormece. Entra Ariel, um espírito bom, que serve a Próspero
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PRÓSPERO – Muito bem, fiel servidor!Agora, mais tarefas para você.
ARIEL – Mais tarefas?Quero a minha liberdade!
PRÓSPERO – Ainda não chegou a hora!Já se esqueceu de que eu o salveiDos feitiços de Sicorax,A bruxa má de olho azul?E que ela o prendeu numa árvore,E que, quando morreu,Você ficou preso para sempre?
ARIEL – Perdão, meu mestre,Perdão, meu nobre senhor.Pode ordenar,Não vou mais reclamar.
PRÓSPERO – Obedeça e logo, logo,A liberdade vai ter.Agora, vista este manto,Fique invisível a todo e qualquer olhar.Vá depressa se trocar.
PRÓSPERO – Querida filha, acorde.Vamos ver meu escravo, Caliban.
Sai Ariel. Próspero acorda Miranda e os dois vão à caverna de Caliban
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MIRANDA – Pai, não quero ir.Ele é um vilãoQue eu não consigoNem olhar.
PRÓSPERO – É um monstrengo de terra,Tartaruga muito esquisita,Sapo feio e venenoso.Mas nos traz lenhaE acende o nosso fogo.
PRÓSPERO – Caliban, escravo! Responda!
CALIBAN – Já tem muita lenha cortada!Fora daqui!
PRÓSPERO – Vem cá, tartaruga! Rápido!
CALIBAN – Que caia sobre vocêsOrvalho tão venenosoQue fiquem cobertos de feridas!
PRÓSPERO – Só por isso, esta noite,Ouriços vão andar pelo seu corpo,Você vai ter cãibras e sofrer muitas dores,Vai ter pesadelos e sonhar horrores.
Próspero e Miranda se postam diante da caverna onde vive Caliban
Responde com raiva, de dentro da caverna
Praguejando, enquanto sai da caverna
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CALIBAN – Está na hora do meu jantar.Não quero trabalhar.Esta ilha é minha,Herdada de minha mãe, Sicorax.Quando você aqui chegou,Gostava de mim,E me ensinou o nomeDa luz grande que queima no céu de dia,E da luz pequena que queima no céu à noite.E eu mostrei para você toda a ilha:Onde encontrar água fresca e terra boa.Que todos os feitiços de Sicorax –Besouros, sapos, morcegos –Caiam sobre você!Eu sou seu único súdito,Eu, que antes era meu próprio rei.
MIRANDA – Monstro mentiroso!Tive pena de você,E o ensinei a falar,Quando você só sabia grunhir.
PRÓSPERO – Você atacou minha filha!Merecia mais que a prisão nesta caverna.
CALIBAN – Você me ensinou a falar,E, agora, eu sei praguejar!Que a peste caia sobre vocêPor me ensinar a sua língua!
PRÓSPERO – Fora daqui, filho de bruxa!Vá buscar lenha! Rápido!Ou quer sentir dores pelo corpo todo?
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CALIBAN – Não, por favor.Vou obedecer.
PRÓSPERO – Vá, escravo!
ARIEL – O rei, seu pai, dorme agoraNo fundo, bem no fundo do mar.Só um grande amorHá de curar essa dor.Venha se apaixonarAqui perto do mar.
FERNANDO – De onde vem essa música?Da terra? Do céu? Do ar?A música me lembra meu pai.Vou segui-la.
MIRANDA – Será um deus?É tão bonito!
FERNANDO – Ó maravilha!Será humana ou divina?
MIRANDA – Não sou maravilha, senhor.Sou apenas uma moça.
Com medo
Canta
Sai Caliban. Ariel volta, ele está invisível para todos, menos para Próspero. Ele toca e canta, e o príncipe Fernando, apenas ouvindo a música, o segue
Miranda vê Fernando
Fernando vê Miranda
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FERNANDO – Ela fala a minha língua!
Eu sou o rei de Nápoles.
PRÓSPERO – O que diria o rei de Nápoles,Se o ouvisse falar?Você rouba o nome do reiE vem aqui para me roubar?
FERNANDO – Deixe-me explicar, senhor.O rei era meu paiE morreu na tempestade.
PRÓSPERO – Mentira!Você veio aqui me roubar!Agora será meu escravo!Para mim vai trabalhar!
FERNANDO – Antes, vai precisar me vencer.
PRÓSPERO – Guarde a espada, traidor!Com um só gesto do meu bastão,Eu faço fraca a sua mão.
MIRANDA – Pai, compaixão!
Para si mesmo
Para Miranda, se apresentando
Acusando Fernando
Sacando a espada
Fernando está encantado e não consegue levantar a espada
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PRÓSPERO – Silêncio, filha!Siga-me, traidor,Agora é meu prisioneiro.
FERNANDO – ...e mais prisioneiro desse doce olhar...
Vou, estou sem forças para lutar.
Fala para si mesmo, olhando para Miranda
Saem todos de cena
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3a Cena – Em outra parte da ilha
Entram Alonso, Sebastião, Antônio e Gonzalo. Conversam sobre o naufrágio e sobre como sobreviveram
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GONZALO – Senhor, alegre-se.Nós nos salvamos.É um milagre!
REI ALONSO – Deixe-me em paz, por favor.Perdi meu filho.É imensa a minha dor.
GONZALO – Senhor, ele pode estar vivo.Eu o vi nadando,Na direção da praia.Tenho certeza de que se salvou.
REI ALONSO – Não. Ele se afogou.
GONZALO – Quando nosso rei está triste,Também nós choramos.
REI ALONSO – Por favor, não tente me consolar.
GONZALO – Sinto um cansaço esquisito,Meus olhos estão pesados...
REI ALONSO – Já dormiu?Ah, como eu queria dormirPara esquecer minha dor.
Entra Ariel, vestindo a capa da invisibilidade, tocando música que enfeitiça e faz adormecer
Gonzalo adormece
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ANTÔNIO – Durma, senhor.Eu e SebastiãoVamos proteger o seu sono.
REI ALONSO – Que cansaço estranho!
SEBASTIÃO – Caíram no sonoComo por magia...
ANTÔNIO – Deve ser o clima.
SEBASTIÃO – Mas por que nós não dormimos?Não estou com sono.
ANTÔNIO – Nem eu. Estou bem acordado.E mais acordada aindaEstá minha ambição.Sebastião, essa é uma rara chance,Quando o rei e todos dormem...Pense bem, você, do rei, é irmão,E o príncipe está morto...
SEBASTIÃO – O que quer dizer?
ANTÔNIO – Veja se me entende:Com o príncipe morto,Quem herda o trono?Você me compreende?
Alonso adormece. Ariel sai
Bocejando
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SEBASTIÃO – Começo a entender...Lembro que você roubouO poder de Próspero, seu irmão,Aliando-se a Alonso, com traição.
ANTÔNIO – E hoje eu sou duque de Milão.
SEBASTIÃO – E a sua consciência?
ANTÔNIO – Consciência? O que é isso?Uma frieira no pé?Vinte consciências não me impediriamDe conseguir o poder...
SEBASTIÃO – Amigo, vou seguir seu exemplo.Você virou duque de Milão,Vou virar rei de Nápoles.Vou me livrar do meu irmão!
ANTÔNIO – Muito bem. Vamos sacar as espadas...
SEBASTIÃO – Mas, antes, uma palavra.Venha aqui.
ARIEL – Enquanto dorme tranquilo,A traição está acordada.Se quer viver,Acorda, acorda.
Sebastião e Antônio conversam em um canto. Ariel entra, vestido com a capa da invisibilidade, e canta no ouvido de Gonzalo
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ANTÔNIO – Vamos ser rápidos!
GONZALO – Anjos do céu,Protejam o rei!
REI ALONSO – O que houve?Por que as espadas puxadas?
GONZALO – Sonhei que estavam nos matando.
SEBASTIÃO – Ouvimos um ruído horrível.Parecia um leão,Ou vários leões,Ou um touro louco...O senhor não ouviu nada?
REI ALONSO – Não ouvi nada.
ANTÔNIO – Foi um barulhão de dar medo.Parecia um terremoto.
REI ALONSO – Gonzalo, ouviu algo?
Antônio e Sebastião levantam as espadas sob a cabeça de Gonzalo e Alonso
Fala para Sebastião
Acordando
Acordando
Disfarçando
Gonzalo grita, ainda de olhos fechados, como se estivesse tendo um pesadelo
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GONZALO – Apenas um sussurro esquisito,Uma música no meu ouvido.Então, acordei assustado,E vi Antônio e SebastiãoCom as espadas puxadas.É melhor irmos embora,Vamos, rápido, agora!
REI ALONSO – Vamos! Vamos procurar meu filho.Se ele está vivo, corre perigo.E nós precisamos de abrigo.
Saem todos
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4a Cena – Em outra parte da ilha
Entra Caliban, carregando lenha. Ouve-se um ruído de trovão
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CALIBAN – Que todas as pestes caiam sobre Próspero!Que ele fique coberto de feridas!Os espíritos que ele comandaPodem me escutar,Mas eu sinto tanta raivaQue preciso praguejar!Próspero manda seus espíritosMe assustarem à noite,E, por todo lado,Me seguirem como assombrações.Às vezes, feito porco-espinho,Os espíritos me espetam,E, como cobras, se enroscam no meu pé.
CALIBAN – Aí vem um dos espíritos maus,Só porque eu demorei a levar lenha.Vou me deitar aqui na terra,E quem sabe ele não me enxerga.
TRÍNCULO – Acho que vem outra tempestade, o vento está soprando forte. Preciso encontrar um abrigo.
Entra Trínculo, bêbado, e não vê Caliban. Caliban vê Trínculo e pensa que ele é um espírito malvado enviado por Próspero
Trínculo vê Caliban deitado
Olha para o céu
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TRÍNCULO – Mas o que é isso? É um homem? Ou é um peixe?
Está vivo ou morto? É peixe!
Pelo cheiro é peixe. É um bacalhau muito velho, meio podre.
Mas é um peixe muito esquisito! Se eu estivesse agora na Inglaterra, eu levava este monstro para a feira de domingo. Ia ficar rico: todo mundo ia querer ver esse bicho fedorento. Lá ninguém dá nem uma moedinha pra ajudar um mendigo, mas dão um monte de moedas pra ver um índio empalhado. Vou examinar bem este peixe: as pernas parecem de gente; as barbatanas parecem braços... E esta coisa está quente! Acho que não é peixe. Deve ser um habitante da ilha que um raio acabou de atingir!
Ai, que medo! Outra tempestade! É melhor eu me esconder debaixo do casaco desse monstro. A miséria nos traz companheiros muito esquisitos.
ESTÉFANO – Não volto mais pro mar,Quero morrer na terraQuero morrer sequinhoSó na bebida me afogar.
Que música horrível! Não serve nem pra cantar num enterro.
Ah, aqui está meu consolo.
Entra Estéfano, bêbado, cantando e trançando as pernas, com uma garrafa de bebida
Canta
Cheirando Caliban
Tocando Caliban
Examinando melhor
Falando para si mesmo
Cheirando Caliban de novo
Ouve trovões
Bebe
Olha para a garrafa
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CALIBAN – Não me torture, espírito!
ESTÉFANO – O que é isso? Será um demônio da ilha? Ou algum índio fantasiado querendo me assustar? Mas eu não escapei de morrer afogado pra ficar com medo dessas uma, duas, três, QUATRO PERNAS! Não, isso deve ser um monstro da ilha, um monstro de quatro pernas, que pegou uma febre e está delirando!
CALIBAN – Ó espírito, tenha pena!Já vou levar lenha.
ESTÉFANO – Onde será que ele aprendeu a falar a minha língua? Vou lhe dar um fortificante.
Toma, abra a boca, esse vinho faz a febre passar!
Mais um pouco, abre mais essa mandíbula!
TRÍNCULO – Acho que conheço essa voz. Não, não pode ser. Ele morreu afogado. Deve ser um espírito! Socorro! Socorro!
ESTÉFANO – Nossa! Quatro pernas e duas vozes! Que monstro maravilhoso! Acho que vou dar um pouco de vinho pra outra boca também. Ela merece.
TRÍNCULO – Estéfano? É você, Estéfano?
Estéfano olha para a capa onde estão escondidos Caliban e Trínculo. Ele só vê pés e pernas saindo de cada lado da capa; as cabeças estão escondidas. Caliban e Trínculo estão tremendo de medo
Abre a boca de Caliban e lhe dá vinho
Abre, de novo, a boca de Caliban
Caliban bebe
Com a cabeça ainda coberta
Pensando que Estéfano é um espírito enviado por Próspero
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ESTÉFANO – O quê? A outra boca me chamou pelo nome? Socorro, socorro, deve ser um demônio!
TRÍNCULO – Estéfano! Se você for você, fale, porque eu sou Trínculo, seu amigo. Não tenha medo. Sou seu velho amigo Trínculo.
ESTÉFANO – Trínculo, se é você mesmo, saia daí. Vou puxar você pelas pernas. Essas aqui são pernas finas, parecem as pernas de Trínculo.
É Trínculo mesmo! Mas como é que você virou pum de monstro? Será que esse monstro peida Trínculos?
TRÍNCULO – Oh, Estéfano, você está vivo!
Não morreu afogado, ou morreu? Eu estava com tanto medo da tempestade que me escondi debaixo da capa desse monstro. Oh, Estéfano, que bom que você está vivo!
ESTÉFANO – Por favor, pare de me sacudir. Meu estômago está meio fraco, com tanto vinho.
CALIBAN – Acho que são espíritos.Este que me deu de beberDeve ser um deusPois a bebida é celestial!Vou me ajoelhar aos seus pés.
ESTÉFANO – Como você se salvou? Eu consegui me agarrar a um barril de vinho e cheguei até a praia, boiando e bebendo.
Puxa Trínculo pelas pernas
Sem ter certeza se Estéfano é apenas um espírito
Ele abraça forte Estéfano, sacudindo-o
Fala, sem que os outros o ouçam
Para Trínculo
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CALIBAN – Juro por esta garrafaQue serei seu súdito fiel.Esta bebida deve ser do céu!
ESTÉFANO – Ajoelhe aqui, jure e beba.
E você me conta como se salvou da morte.
TRÍNCULO – Eu nadei até a praia. Sei nadar como um cachorrinho. Tem mais bebida?
ESTÉFANO – Um barril inteiro! Escondi todo o vinho perto da praia.
CALIBAN – O senhor veio do céu?
ESTÉFANO – É, eu caí da lua. Eu era o homem da lua.
CALIBAN – Eu já vi o senhor na lua.Minha mãe sempre me mostravaO deus da lua e seu dragão.
ESTÉFANO – Vamos. Jure logo por essa garrafa.
TRÍNCULO – Que monstro idiota! Acreditar no homem da lua! Esse monstro gosta de beber!
CALIBAN – E vou beijar os seus pés.Seja o meu rei!
ESTÉFANO – Então, pode beijar. Ajoelhe, beije e beba.
Pergunta a Estéfano
Ainda ajoelhado
Diz para Caliban
Caliban bebe
Para Estéfano
Para Estéfano
Para Caliban
Para Caliban
Para Trínculo
Para Estéfano
33
TRÍNCULO – O monstro está bêbado! Beijar estes pés sujos?
CALIBAN – Eu vou mostrar pro senhorTodas as terras férteisE as fontes de água mais limpaE vou pescar os melhores peixesE colher as frutas mais docesE lhe trazer lenhaE acender o fogo.Mas, antes, o senhor precisaMatar o tirano que me escraviza.
ESTÉFANO – Monstro, chega de falar. Beba mais um pouco.
Trínculo, o rei, os nobres e todos os marinheiros estão mortos. Nós vamos tomar posse desta ilha! Nós agora somos donos de tudo isso! Vamos reinar!
CALIBAN – Bã, bã, bã, Caliban tem outro rei! Liberdade! Liberdade!
ESTÉFANO – Monstro-criado, beba à saúde de seu novo rei. Nunca mais vamos beber água até o vinho acabar.
CALIBAN – Como passa a vossa honra?Deixe-me lamberA sola dos vossos pés.
Mas não vou servir a ele.Ele não é corajoso,Debaixo da minha capa ele se escondeu,E como vara verde tremeu.
Aparte
Canta, bêbado
Falando para Caliban
Caliban bebe da garrafa e beija os pés de Estéfano
Para Caliban
Para Estéfano
Vira-se para Trínculo
Apontando para Trínculo
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TRÍNCULO – Monstro mentiroso, monstro idiota! Já viu algum covarde beber tanto quanto eu?
CALIBAN – Vê como ele me xinga, vossa grandeza?Como pode permitir esse desrespeito, vossa alteza?
TRÍNCULO – Vossa grandeza? O monstro está chamando Estéfano de vossa alteza? Que monstro pateta!
CALIBAN – Por favor, majestade,Corte-o pela metade.
ESTÉFANO – Trínculo, guarde essa língua suja. O pobre monstro é meu súdito e vou protegê-lo.
CALIBAN – Obrigado, meu soberano.Gostaria de ouvir o meu plano?
ESTÉFANO – Sim, ajoelhe-se e conte... Eu e Trínculo ficamos em pé.
CALIBAN – Sou escravo de um tirano,Que por meio de magia,Roubou a ilha de mim.
ARIEL – Que mentira!
CALIBAN – Você é que mente!Se eu fosse meu amo,Acertava seu dente!
Indignado
Implora a Estéfano
Com raiva, vira-se para Trínculo
Fala perto de Trínculo, para que pensem que é Trínculo quem está falando
Entra Ariel vestido com o manto da invisibilidade
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ESTÉFANO – Trínculo, não interrompa mais o monstro.
TRÍNCULO – Mas eu não falei nada.
ESTÉFANO – Quieto.
Continue.
CALIBAN – Como eu já disse,O mago PrósperoRoubou a ilha de mim.Se o senhor o matar,Fica com a ilhaE eu viro seu escravo.
ESTÉFANO – Uma boa ideia! Mas como vou fazer isso? Onde está o inimigo?
CALIBAN – Próspero tem o costumeDe dormir à tarde.Vou levar o senhor à cavernaE, com uma pancada...
ARIEL – Que plano idiota!
CALIBAN – Idiota é você!Vossa alteza, por favor,Dê umas pancadas neste estupor!
ESTÉFANO – Trínculo, se você interromper mais uma vez o monstro com uma única palavra, eu juro que faço você virar bacalhau.
Para Trínculo
Para Caliban
Fingindo que é Trínculo
Diz para Trínculo
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TRÍNCULO – Mas o que eu fiz? Não fiz nada. Não abri a boca, nem para beber. Vou mudar de lugar.
ESTÉFANO – Continue, monstro.
CALIBAN – Como eu dizia,O mago dorme à tarde.O senhor vai lá,Rouba os livrosE acaba com ele.Mas, primeiro,Precisa pegar os livros.Sem eles,O mago não tem poder algum...
ARIEL – É mentira!
ESTÉFANO – O quê? Atrapalhando o monstro de novo? Tome isso!
E mais isso! E mais isso!
TRÍNCULO – Eu não disse nada. Você bebeu tanto que está ouvindo coisas que não existem. Vão pro inferno, você e esse seu monstro.
CALIBAN – Ah! Ah! Ah!
ESTÉFANO – Monstro, continue com o plano. E você, Trínculo, fique bem longe pra não atrapalhar. Mais longe!
Pode continuar, monstro.
CALIBAN – O senhor o mata,Fica com a casaE casa com a filha.
Fingindo que é Trínculo
Para Caliban
Para Trínculo
Bate em Trínculo
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ESTÉFANO – Monstro, vou matar esse homem. Sua filha e eu seremos rei e rainha. Trínculo e você serão vice-reis. Gostou do plano, Trínculo?
TRÍNCULO – Excelente.
ESTÉFANO – Vamos, aperte aqui a minha mão. Vamos fazer as pazes. Desculpe ter batido em você.
ARIEL – Com música suave,Atraio os três para o pântano,E os deixo lá,Com os pés presos no lodo,E para Próspero vooPara ligeiro contar o plano.
ESTÉFANO – Que música é essa?
TRÍNCULO – Deve ser um fantasma tocando.
ESTÉFANO – Se for homem, apareça.
E se for fantasma também.
TRÍNCULO – Oh! Eu me arrependo de todos os meus pecados!
CALIBAN – Está com medo?
ESTÉFANO – Eu não, monstro! Eu não!
Para Trínculo
Enchendo-se de coragem
Com medo, ajoelhando-se
Aparte para a plateia
Ariel toca uma melodia numa flauta
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CALIBAN – Não tenha medo.A ilha é cheia de sons,Música e mil ruídos,Que não fazem malE encantam os ouvidos.Às vezes, mil instrumentos e vozes suavesCantam para eu dormir.E em meus sonhos, os céus se abremE despejam tesouros sobre mim.E, quando acordo,Choro para dormir de novoE sonhar outra vez.
ESTÉFANO – Que lugar ótimo! Vamos ter música sem ter que pagar.
CALIBAN – Mas, antes, é preciso Próspero assassinar.
ESTÉFANO – Monstro, vá na frente. Vamos seguir a música. Avante, minha gente.
Saem todos
39
5a Cena – diante da caverna de Próspero
Entra Fernando, carregando lenha
40
FERNANDO – O trabalho é pesado,Mas, quando vejo o seu rosto,Tudo fica leve.
MIRANDA – Oh! Não trabalhe tanto!Eu ajudo a levar lenha.Meu pai agora está lendo.Descanse por um momento.
FERNANDO – Não, anjo precioso.Não me canso se posso vê-la.Qual o seu nome?
MIRANDA – Miranda.
FERNANDO – Admirável Miranda!Já conheci muitas moças,Mas nenhuma tão amável,Perfeita e incomparável.
MIRANDA – Eu não me lembro de ter vistoOutro rosto humano,A não ser o de meu pai,E agora o seu, meu bom amigo.E não posso imaginarOutro homem mais perfeito.
Entra Miranda. Próspero a segue a certa distância
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FERNANDO – Miranda, eu sou um príncipe,Ou talvez já seja até rei.Mas aguento este serviço escravoSó para vê-la.
MIRANDA – Então me ama?
FERNANDO – Mais que tudo no mundo!Quer casar comigo?
MIRANDA – Aqui está minha mãoE nela ponho meu coração.
PRÓSPERO – Estão perdidamente apaixonados.Fico feliz pelos dois.
PRÓSPERO – Se eu o tratei com dureza,Foi para conhecer com certezaO que há em seu coração.Está livre. Agora tem sua recompensa:Minha filha e minha bênção.
FERNANDO – Obrigado, senhor.Ela vale todos os sofrimentosPelos quais, sorrindo, passei.
Um pouco afastado, Próspero fala para si mesmo
Próspero se aproxima do casal e fala para Fernando
Ajoelhando-se diante de Miranda
Estica a mão
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PRÓSPERO – Para o noivado comemorar,Seres misteriosos vão dançar.
PRÓSPERO – Quase esqueciDo plano de Caliban para me matar.
Agora, chega! Saiam, espíritos!
FERNANDO – Por que seu pai terminou a peçaCom tanta raiva e tanta pressa?
MIRANDA – Nunca o vi agir dessa maneira.
PRÓSPERO – Parecem espantados, queridos filhos.Alegrem-se.Nossa peça acabou,E os espíritos que por aqui passaramEram apenas ar, não mais que ar.E assim como essa peçaTeve um fim,Um dia, o globo inteiro,Sim, tudo o que está à nossa volta,Também vai sumir,Sem deixar rastro.Nós somos feitos
Entram espíritos e realizam uma dança para os noivos, oferecendo aos dois trigo, uvas, flores e outros presentes. Fernando e Miranda assistem,
encantados. De repente, Próspero, interrompe o espetáculo
Para si mesmo
Para os espíritos
Admirado com o comportamento de Próspero, fala para Miranda
Percebendo o espanto de Miranda e Fernando, tenta se justificar
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Da matéria dos sonhosE a nossa vidaEstá envolta em um sono.
Perdoem meu estranho comportamento.Vou caminhar um pouco, estou nervoso.Entrem na caverna e descansem por um momento.
PRÓSPERO – Preciso aos meus livros retornarE com meus inimigos acabar.
Miranda e Fernando entram na caverna. Próspero fica sozinho no palco
Próspero sai
Para Fernando
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6a Cena – em outra parte da ilha
Entram Alonso, Sebastião, Antônio e Gonzalo
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GONZALO – Como estou cansado!Não consigo dar nem mais um passo.
REI ALONSO – Também estou exausto.Vamos sentar.Não adianta mais procurar.Quem buscamosNão está entre os vivos.
ANTÔNIO – Fico feliz por vê-lo tão triste.Hoje à noite,Quando todos estiverem dormindo...
SEBASTIÃO – Combinado. Hoje à noite, então.
GONZALO – Que música suave!
REI ALONSO – Mas que figuras são essas?
SEBASTIÃO – São fantoches vivos!
GONZALO – Se eu contasse isso em Nápoles,Será que acreditariam?Devem ser habitantes da ilha.São monstruosos, mas delicados.
Sumiram, desapareceram no ar!
Com voz cansada
Aparte, para Sebastião
As figuras estranhas desaparecem
Ouve-se uma música e entram figuras estranhas, trazendo uma mesa
com um banquete. Dançam ao redor da mesa e, com gestos, convidam o rei e os outros para comer
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SEBASTIÃO – Mas deixaram a comida.Estou com uma fome...
REI ALONSO – Vou comer, mesmo que pela última vez.
ARIEL – Três pecadores expulsaram Próspero de Milão,Abandonando-o com sua filha ao mar.Agora, o mar os puniu:Roubou do rei Alonso, o filho.Vocês vão enlouquecer,A comida vai desaparecer.No arrependimento está a salvaçãoPróspero precisa lhes dar o perdão.
REI ALONSO – Ouvi as ondas, os ventos e os trovõesFalarem do meu crime,Repetindo o nome de Próspero.Falaram do meu filho morto.Com ele, no fundo do mar,Quero me deitar.
SEBASTIÃO – Vou derrotar esses seres horríveis.
Com voz poderosa
Com a espada em punho
Alonso sai, enlouquecido
Trovões e relâmpagos. Entra Ariel sob a forma de um homem-pássaro
As figuras estranhas entram novamente, dançando e se contorcendo e
depois carregam a comida e a mesa
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ANTÔNIO – Eu vou junto.
GONZALO – A culpa pelo crime os enlouqueceu.Os três se desesperaram.Vou atrás, impedir uma desgraça.
Também com a espada em punho
Saem Sebastião e Antônio, enlouquecidos
Sai atrás dos outros
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7a Cena – Diante da caverna de Próspero
Próspero, com a ajuda de Ariel, planeja uma armadilha contra Caliban, Estéfano e Trínculo
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PRÓSPERO – Ariel, apareça!
ARIEL – Que deseja, poderoso mestre?
PRÓSPERO – Onde estão Caliban e os seus comparsas?
ARIEL – Senhor, beberam tantoQue ficaram corajosos.Querem matar o senhorE agora estão vindo para cá.
PRÓSPERO – Ariel, vamos preparar uma armadilhaPara apanhar os moleques.Traga roupas brilhantesE as pendure nesta corda.
ARIEL – Vou já!
PRÓSPERO – Agora, invisíveis, vamos observar.
CALIBAN – Por favor, pisem de leve,Próspero não pode acordar.
TRÍNCULO – Monstro, aquela música suave nos enganou.Perdemos as garrafas de bebida na lama.
Entra Ariel
Ariel sai e volta com as roupas brilhantes. Pendura na corda
Próspero e Ariel vestem os mantos da invisibilidade. Entram Caliban, Estéfano e Trínculo
Fala baixinho
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ESTÉFANO – Monstro, foi uma perda terrível! Preciso voltar ao pântano e procurar minha garrafa.
TRÍNCULO – Monstro, estou fedendo a xixi de cavalo. Meu nariz está muito indignado.
ESTÉFANO – E o meu também.
CALIBAN – Fique calmo, majestade.Ali está a caverna.É só entrar,E Próspero matar.
ESTÉFANO – Me dê sua mão, monstro. Começo a ter pensamentos sanguinários!
TRÍNCULO – Ó, rei Estéfano! Olhe que roupas brilhantes para vossa majestade!
CALIBAN – Deixem as roupas pra lá.
TRÍNCULO – Monstro, nós conhecemos muito bem roupas boas!
ESTÉFANO – Tire esse casaco, Trínculo. Quero esse casaco pra mim.
TRÍNCULO – Pois não, majestade.
CALIBAN – Por que perdem tempoCom roupas que são só lixo?Próspero vai acordarE, com certeza, nos castigar.
ESTÉFANO – Calado, monstro! Veja que casaco bonito! É debruado de prateado!
Trínculo veste um manto
Vendo a corda com os trajes brilhantes
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TRÍNCULO – Vamos pegar essas roupas. Venha, monstro, carregue isso aqui.
CALIBAN – Não quero nada.Perdemos tempo com esses cacos.Se Próspero acordarNos transforma em macacos.
ESTÉFANO – Monstro, carregue isso ou expulso você do meu reino.
TRÍNCULO – Carregue isso também. E mais isso.
ESTÉFANO – E mais isso. E isso aqui também.
PRÓSPERO – Que espíritos sob a forma de cãesPersigam Caliban e seus comparsas.Que meus duendes lhes deem fisgadasMordidas, arranhões e alfinetadas.
PRÓSPERO – Todos os meus inimigosEstão sob o meu poder.Que horas são?
ARIEL – Seis horas, mestre,A hora em que o senhor disseQue acabariam os feitiços.
Enquanto falam, Estéfano e Trínculo tiram as roupas da corda e jogam em cima de Caliban
Ouvem-se latidos e barulho. Entram duendes e espíritos sob a forma de cães enviados por Próspero. Perseguem Estéfano, Trínculo e Caliban, que fogem
Aparte
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PRÓSPERO – Onde estão o rei e seus companheiros?
ARIEL – No bosque, enfeitiçados.Tanto o rei quanto Sebastião e Antônio estão loucos.O nobre Gonzalo chora.Se eu fosse humano,Teria pena deles.
PRÓSPERO – Se você, que é apenas ar,Tem tanta pena da dor humana,Então eu, que sou da mesma espécie,Terei também piedade deles,Que cometeram crimes, é verdade,Mas sofrem agora, arrependidos.Vou perdoá-los.Pois o perdão é mais nobre que a vingança.Quebre o encantamento, Ariel,Vá libertá-los,Faça com que recuperem a razão.Todos terão minha compaixão.
ARIEL – Vou buscá-los, senhor.
PRÓSPERO – Estão imobilizados por minha magia.Essa música vai curá-los.
Gonzalo, meu salvador, acorde.Rei Alonso, que, influenciado por seu irmão,Expulsou a mim e à minha filha, de Milão,
Ariel sai. Próspero faz um círculo no chão. Ouve-se uma música. Ariel volta com Alonso e os outros, que ainda estão enfeitiçados. Todos entram no círculo feito por Próspero
Toca uma música suave
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Desperte.Sebastião, que quis roubar a coroa do próprio irmão,Acorde.E Antônio, meu sangue e minha carne,Que cedeu à ambição,E roubou o meu ducado,Olhe nos meus olhos.Todos têm o meu perdão.
PRÓSPERO – Boas-vindas a todos.Sou Próspero,O antigo duque de Milão.Não me reconhecem?
Nobre amigo Gonzalo,Que me salvou a vida,Deixe-me aqui abraçá-lo.
GONZALO – Será que sonho?
PRÓSPERO – Bem-vindos, amigos.
REI ALONSO – Próspero, eu lhe peço perdãoPelo mal que causei a você e à sua filha.E lhe concedo de volta o seu ducado.Nós naufragamos e viemos dar nesta ilha.Meu filho Fernando, o príncipe, morreu afogado.
Próspero veste seu antigo manto de duque de Milão e sua coroa
Aos poucos, todos vão acordando e recuperam a razão
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PRÓSPERO – Sinto muito, senhor.
REI ALONSO – Nada pode me consolar.
PRÓSPERO – Senhor, eu tive uma perda igual.
REI ALONSO – Perdeu sua filha?Quem dera estivessem agora em Nápoles,Vivos e reinando como rei e rainha...Quando perdeu a sua filha?
PRÓSPERO – Na última tempestade, senhor.Mas, por favor, entrem em minha caverna,Que é meu único palácio.São bem-vindos.E, agora, rei Alonso,Por ter me devolvido o poder,Vai receber um presente precioso.
SEBASTIÃO – Um milagre!
REI ALONSO – Meu filho! Como se salvou?
Próspero abre a cortina da caverna e todos veem Fernando e Miranda jogando xadrez
Fernando vê seu pai. Os dois se abraçam
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MIRANDA – Oh! Maravilha!Quantos humanos vejo aqui!Como é bela a natureza humana!Ó, admirável mundo novoQue tem tão nobres habitantes!
PRÓSPERO – É um mundo novo para você.
REI ALONSO – Quem é essa jovem, meu filho?
FERNANDO – Meu bom pai,Quando pensei que estivesse morto,Pedi a mão dessa moça em casamento.Ela é filha do duque de Milão.
REI ALONSO – Serei para ela um segundo pai.Sei que é estranho um paiPedir perdão à própria filha.
Perdão, minha filha.
PRÓSPERO – Senhor, vamos esquecerAs lembranças tristes do passado.
GONZALO – Peço agora que os céusDerramem bênçãos sobre estes jovens.
REI ALONSO – Amém, bom Gonzalo!
GONZALO – Assim, o duque de Milão foi de Milão expulso,E agora sua filha reinará em Nápoles.Alegria, senhores.
Vendo os nobres
Em tom irônico
Para Miranda
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Pai e filho se reencontram.O duque Próspero tem de volta o seu ducado.Nesta ilha perdida, nós perdemos a razãoE encontramos o arrependimento e o perdão.
GONZALO – Vejam, meu pedido se realizou.O piloto não morreu afogado!Ele foi feito para a forca, como eu previa!E, então, piloto, o que tem a dizer?
PILOTO – Que estamos felizes por ter encontradoO rei e os nobres sãos e salvos.E que o navio,Que eu pensava destruído,Está novinho em folhaE pronto para partir.
REI ALONSO – Mas como conseguiram se salvar?
PILOTO – Não sei, senhor.Apenas me lembroQue fomos acordadosPor estranhos barulhos, rugidos horríveis.Vimos, então, o navio em perfeito estado.E, como num sonho,Fomos trazidos para cá.
ARIEL – Fiz tudo como o senhor ordenou, mestre.
PRÓSPERO – Meu bravo espírito!Em breve, estará livre.Agora, vá, liberte Caliban.
Para Próspero
Para Ariel
Entra Ariel com o capitão e o piloto
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REI ALONSO – Esta ilha é mágica,E toda essa históriaDesafia a nossa razão.
PRÓSPERO – Meu soberano, não procure explicação.Na hora certa, com calma, eu contoComo tudo aconteceu.Senhor, não faltam, ainda,Dois homens da comitiva?
CALIBAN – Que belos espíritos!E como está bem-vestido o meu amo!Tenho medo que me castigue.
ESTÉFANO – Coragem, monstro! Coragem!
SEBASTIÃO – Que coisas são essas, Antônio?
ANTÔNIO – Um deles parece um peixe.Podemos vendê-lo no mercadoE ainda ganhar algum trocado.
REI ALONSO – É a coisa mais estranha que eu já vi.
PRÓSPERO – Os três tentaram me roubar.Esse monstro das trevas,Planejou com os outros me matar.
Volta Ariel empurrando Caliban, Estéfano e Trínculo, que estão vestidos com as roupas roubadas
Vendo os nobres, pensa que são espíritos
Olhando Caliban, Estéfano e Trínculo
Rindo da aparência de Caliban e do estado de Estéfano e Trínculo
Apontando para Caliban
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CALIBAN – Ai, ai, vou ser beliscado até a morte.
REI ALONSO – Aquele não é Estéfano, o mordomo?E aquele não é Trínculo, o bufão?Mas como ficaram tão bêbados?
SEBASTIÃO – Como está, Estéfano?
ESTÉFANO – Senhor, não me toque. Não sou mais Estéfano, eu sou só uma ferida. Fui todo mordido por cachorros assombrados.
PRÓSPERO – Queria ser rei da ilha, moleque?
ESTÉFANO – Eu seria um rei bem mordido.
PRÓSPERO – Já para a minha caverna, Caliban!Ponha as roupas no lugar,Deixe tudo bem-arrumado,Se quiser ser perdoado.
CALIBAN – Já vou, senhor.E de hoje em dianteSerei bom e obediente.Fui um idiota em acharQue esse bêbado era um rei.
PRÓSPERO – Convido os nobres e vossa altezaA descansar em minha caverna.Lá, eu contarei minha históriaE todos os perigos por que passei.Amanhã, partimos para Nápoles,Onde será o casamentoDe Fernando e Miranda.
Rindo
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Prometo, para nossa viagem,Mares calmos e velas velozes.Entrem, senhores.
Ariel, deixo tudo ao seu cuidado,Está livre, espírito! Obrigado.
Saem todos
Epílogo
Fim
Pedindo aplausos
PRÓSPERO – Eu, que fiz tantos encantos,Agora renuncio à magia,Quebro a minha varinha,E volto a ser só homem.Esqueci a vingançaAprendi o perdão.
E assim como vocêsTambém precisam de compaixão,Libertem a nós, atores,Com a força das vossas mãos.
Vira-se e fala apenas para Ariel
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William Shakespeare
No céu havia uma estrela, e sob ela eu nasci.(William Shakespeare)
Nasceu em 23 de abril de 1564, na pequena cidade de Stratford-upon-Avon, no coração da Inglaterra.
Shakespeare participou das atividades teatrais de várias maneiras: foi ator, autor, diretor, membro da companhia teatral e sócio da casa de espetáculos. O teatro era uma opção de diversão para as pessoas que chegavam e partiam de Londres.
O teatro elisabetano, chamado assim por causa da rainha Elizabeth, era muito diferente dos teatros de hoje. Ele era circular e ao ar livre, onde cabiam cerca de duas mil pessoas. A encenação das peças acontecia à luz do dia. Não havia cortinas, cenários ou iluminação artificial.
O palco do teatro era projetado, a área de representação era em direção à plateia, que podia ficar em pé, nos três lados do palco, ou sentada nas fileiras de bancos.
Havia muita música nas peças daquele tempo, e os músicos ficavam à vista de todos, em um balcão sobre o palco.
Apenas atores do sexo masculino podiam representar. Assim, os papéis femininos tinham que ser feitos por jovens rapazes que ainda não tivessem mudado de voz e nem tivessem barba.
Para compreender as peças, a plateia precisava escutar com atenção o que diziam os atores. Como havia pouco cenário, bastava um personagem dizer que estava em um navio para a plateia imaginar esse navio; era suficiente falar em cavalos, para o público “ouvir” o trote de cavalos; bastava dizer que era noite para que todos aceitassem que era noite, mesmo que o sol estivesse brilhando no céu de Londres (lembre-se, o teatro era ao ar livre!). E ainda, se um personagem dissesse que estava invisível, a plateia aceitava que aquilo era verdade! Nesse caso, para auxiliar a imaginação, havia uma roupa, o manto da invisibilidade, que é usado, por exemplo, por Próspero em A tempestade.
Enfim, o teatro de Shakespeare valorizava a palavra, a interpretação do ator e a imaginação da plateia.
Shakespeare escreveu quarenta peças: tragédias, comédias e históricas (sobre a história dos reis e nobres da Inglaterra). Suas peças mais conhecidas são as tragédias Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth, Rei Lear, Otelo e as comédias Sonho de uma noite de verão, Noite de reis e A tempestade.
Aos 52 anos de idade, Shakespeare decidiu se aposentar e voltar para Stratford, sua terra natal.
Infelizmente, morreu pouco depois, e curiosamente no mesmo dia em que nasceu. Não se sabe ao certo a causa da morte; alguns acham que foi devido a uma febre, outros acreditam que ele já se encontrava doente e isso teria sido um dos motivos pelos quais ele havia voltado a Stratford.
Shakespeare está enterrado na igreja de Holy Trinity. Na lápide de seu túmulo pode-se ler:Bom amigo, pelo amor de Jesus, Não cave a poeira aqui encerrada:Abençoado seja aquele que respeitar estas pedras,E maldito seja aquele que mexer em meus ossos.
Liana de camargo Leão
Márcia Széliga
Sou professora de literatura inglesa na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e já ministrei vários cursos sobre Shakespeare, dentro e fora da universidade. Tenho artigos publicados sobre as peças e sobre Shakespeare no cinema. Organizei também, junto com a professora doutora Marlene Soares dos Santos, o livro Shakespeare, sua época e sua obra (2008), onde vários especialistas brasileiros falam sobre a obra de Shakespeare. Há quatro anos organizo, em Curitiba, para alunos da UFPR e também para o público leigo, um evento em homenagem ao nascimento do dramaturgo: o “Abril de Shakespeare”.
Meu desejo, nesta adaptação, é oferecer às crianças, jovens e professores a oportunidade de encenar as peças, mantendo a linguagem teatral e o espírito da obra do dramaturgo.
Aquarela poderia ter sido o material utilizado nas ilustrações deste livro. Afinal, combina com água, mares, garoa, chuva, tempestade. Mas a escolha mesmo acabou sendo o lápis de cor, cores suaves podendo se tornar fortes, vivas... Como uma chuva pode se transformar numa tempestade.
Para dar mais alimento à minha inspiração, usei como ponto de partida o filme Prospero’s book, de Peter Greenaway, onde as cenas percorrem páginas de um livro vivo.
Sim, os livros são vivos! Ilustrar também é mexer com algo muito vivo. A tempestade, de Shakespeare, coloca qualquer um nessa dimensão de tocar o sentido mágico das coisas e os sentimentos da vida.
Trazer essa vida para as ilustrações é um jeito de fazer com que as imagens e as palavras entrem pelas janelas da alma, que possam tocar fundo, através dos olhos leitores, a porção mais viva de cada um.
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