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Autor
Denilson Matos
Língua Portuguesa II: Morfologia I
2009
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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
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Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR
www.iesde.com.br
M433 Matos, Denilson. / Língua Portuguesa II: Morfologia I /Denil-son Matos. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 168 p.
ISBN: 978-85-7638-799-2
1. Língua Portuguesa – Morfologia 2. Língua Portuguesa – For-mação de palavras 3. Língua Portuguesa – Gramática. I. Título.
CDD 469.5
Capa: IESDE Brasil S.A.Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
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Sumário
morfologia | 7Conceito de morfologia | 8Estudos lingüísticos | 9Significação lexical e gramatical | 10Formas livres, presas e dependentes | 11Etimologia | 12Dupla articulação da linguagem | 13
morfema | 19Conceito de morfema | 19Análise mórfica | 22Tipos de morfema | 25
Estrutura das palavras I | 33Estrutura das palavras | 34
Estrutura das palavras II | 45Conceituação | 45modo | 45Pessoa | 47Número | 47Estruturas do verbo | 48O acento tônico nos verbos | 55
Processo de formação de palavras I | 59Afixos | 60Derivação | 63
Processo de formação de palavras II | 71Composição | 71Outros tipos de processos | 73
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Criatividade lexical | 79O que é? | 79Neologismo | 81Considerações finais | 88
Classes de palavras I | 93Algumas informações essenciais | 93
Classes de palavras II | 107Artigo | 107O adjetivo | 110Numeral | 114
Pronomes | 121Pronome | 121O pronome pode ser de seis espécies | 123Colocação pronominal | 129
Locuções e interjeições | 133Locuções | 133Interjeição | 136
Narração | 141Texto | 141
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Apresentação
Nesta etapa de nosso estudo, abordam-se as diversas partes que constituem
o léxico de nossa língua preferencialmente aquelas que determinam a for-
mação e construção dos termos que a caracterizam e a identificam. Aqui,
conheceremos os mecanismos de formação previstos no sistema da Língua
Portuguesa, bem como aqueles que transcendem às expectativas do regis-
tro padrão.
Na mesma direção, iniciaremos o estudo das classes de palavras que re-
presenta, indubitavelmente, conteúdo capaz de determinar o sucesso do
estudante diante da constituição e análise da frase e da oração em Língua
Portuguesa, a saber: a sintaxe.
Desta feita, pretende-se apresentar, sob o amparo da gramática normativa,
a língua enquanto sua formação, estrutura e classe de palavras.
Mais especificamente, enquanto estudiosos da linguagem, devemos en-
tender que todo indivíduo que pretenda estudar uma língua, seja ela qual
for, deve atentar para certas considerações que determinam e auxiliam o
reconhecimento dessa língua. Assim, o estudo da forma é uma das possi-
bilidades de análise que traz à tona o entendimento de que as palavras se
organizam não apenas numa frase, mas, também, internamente. Se por um
lado, palavras quando combinadas podem constituir frases, textos, por ou-
tro, letras, morfemas, sílabas também podem formar palavras.
Portanto, é neste espírito que se busca entender os procedimentos lingüísti-
cos que participam e atuam efetivamente na morfologia das palavras.
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Estrutura das palavras IINeste texto, trataremos de um dos mais importantes termos na construção dos sentidos e na
formulação das orações: o verbo. Vale ressaltar que nossa perspectiva abordará, mais precisamente, as partes que o constituem.
Antes, porém, vejamos alguns conceitos que se relacionam ao termo em estudo.
ConceituaçãoO verbo é uma classe de palavras muito rica, ou melhor, a mais rica em possibilidades flexivas. De
acordo com Bechara (1999), verbo é a unidade que significa ação ou processo, organizada para expres-sar algo. Vejam-se a seguir alguns termos importantes para a caracterização do verbo:
ModoO verbo toma diferentes formas para indicar atitudes de certeza, dúvida, suposição e ordem.
Exemplo: Vou à feira. (certeza)
Talvez eu vá à feira. (dúvida)
Se eu pudesse eu iria à feira. (suposição)
Vá à feira. (ordem)
Três modos podem ser apresentados: indicativo, subjuntivo e imperativo.
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46 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Modo subjuntivoVê-se como a existência ou inexistência de um fato como incerto, duvidoso, eventual, ou mesmo,
irreal. Composto de três tempos1:
Presente–:::: Ex: Que eu chore, mas nunca desista de amar.
Pretérito Imperfeito:::: – Ex: Se eu pudesse eu entregaria meu coração à razão.
Futuro:::: – Ex: Irei ao vosso encontro quando chegardes.
Modo imperativoUtilizado com o intuito de exortar, aconselhar, convidar, comandar nosso interlocutor. Composto
de dois tempos:
Afirmativo– :::: Cale a boca!
Negativo– :::: Não furtarás. (o modo imperativo negativo sempre vem auxiliado pelo advérbio não).
Modo indicativoExprime-se, em geral, uma ação ou estado considerados na sua realidade ou na sua cer-
teza, é composto por seis tempos:
Presente:: ::::
Anuncia um fato atual: ::::
Exemplo: Cai, cai balão...;
Expressa uma ação habitual ou faculdade do sujeito: ::::
Exemplo: Como pouquíssimo, em restaurante chinês.
Para marcar um futuro próximo e para impedir qualquer ambigüidade, geralmente, vem acom-::::panhado de um adjunto adverbial:
Exemplo: Amanhã vou para São Paulo.
Para atenuar a rudeza do tom imperativo, emprega-se o presente do verbo ‘:::: querer’ seguido do infinitivo do verbo principal:
Exemplo: Quer ouvir o que falei ?
Pretérito imperfeito::::::
passado não concluído. Encerra uma idéia de continuidade do processo verbal: ::::
Exemplo: O frio ia aumentando e o vento despenteava o cabelo de ambos.
1 Tempo verbal é a variação que indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Conforme manoel Ribeiro (2003, p. 217), o tempo marca, na língua, por meio de lexemas (radicais), morfemas, perífrases (locuções), a posição que os fatos ocupam no tempo. Parte-se do chamado ponto dêitico da enunciação. Podemos enunciar o presente, o passado e o futuro, como também estabelecer outros pontos em que se subdivide o passado e o futuro.
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47|Estrutura das palavras II
Pretérito perfeito–1. ação completamente concluída:
Exemplo: Comi, bebi e fiquei satisfeito.
Pretérito mais-que-perfeito–2. indica uma ação que ocorreu antes de outra já passada:
Exemplo: Vivera intensamente cada dia (vale dizer que esse é um tempo muito erudito e pou-co utilizado atualmente).
Futuro do presente–3. indica fatos certos ou prováveis, posteriores ao momento em que se fala:
Exemplo: As aulas começarão amanhã.
Futuro do pretérito–4. designa ações posteriores à época de que se fala; exprime incerteza sobre fatos passados e refere-se a fatos que não se realizaram e que, provavelmente, não se realizarão:
Exemplo: Sem a sua interferência, eu estaria perdido.
Duas outras considerações podem ser feitas sobre o verbo, são elas: pessoa e o número.
PessoaRelacionada diretamente com o termo gramatical que lhe serve de sujeito (eu, tu, ele(a), nós,
vós, eles(as)).
Sobre os usos das pessoas do verbo, vale acrescentar, conforme Infante (1995, p. 147), que no Português atual do Brasil, as formas da segunda pessoa “tu” e “vós” têm uso limitado a algumas regiões ou à linguagem litúrgica, surgindo, às vezes, em textos literários. No entanto, como a língua é dinâmica, outra forma tem assumido o lugar do “tu” e do “vós”, difundindo-se amplamente. Tais formas são os pro-nomes você/vocês, respectivamente, levando o verbo automaticamente para a terceira pessoa.
NúmeroSingular e plural (primeira, segunda e terceira pessoas do singular (eu, tu e ele) e do plural (nós, vós e eles)).
A partir da breve apresentação sobre os conceitos de modo, tempo, número e pessoa, seguiremos nosso estudo em direção às estruturas de palavras dos verbos. Embora possa parecer que trataremos de outro assunto, de fato, as estruturas verbais servem exatamente para indicar o modo, o tempo, o nú-mero e a pessoa do verbo. Assim, cada pedaço, morfema2, de um verbo pode ter significação suficiente para indicar tais conceitos.
2 O morfema é a menor unidade de significação morfológica da palavra.
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48 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Estruturas do verboApesar da aparente complexidade, a estrutura do verbo pode ser simbolizada por uma fórmula
relativamente simples, a saber:
R = radical
VT = Vogal temática
DMT = desinência modo temporal
DNP: desinência número pessoal
verbo R + vT + DMT + DNP
Andávamos and á va mos
Vejamos pontualmente cada um desses morfemas:
O radical é o responsável pelo léxico, presente em toda conjugação, sendo um dos quatro ele-mentos que não pode faltar; ou seja, o radical é o morfema determinante para a estruturação de uma palavra. Por outro lado, a vogal temática, que nos nomes serve apenas para formar o tema e criar am-biente para inserção de novos morfemas, nos verbos tem a função de indicar a conjugação.
Tradicionalmente, entende-se como vogal temática uma vogal que se agrega ao radical, formando o tema, definido como a base morfológica para a flexão. A vogal temática é, portanto, um elemento de definição flexional: define-se em
oposição ao radical, caracterizando a base da flexão. BASíLIO (1993 p. 295).
Assim, a vogal temática é o morfema categórico que distribui os verbos em três conjugações. Para confirmar se a vogal temática é de primeira, segunda ou terceira conjugação, basta identificar o infinitivo do verbo em questão, por exemplo:
Exemplo Verbo no infinito Conjugação Vogal
temática
Ele cantava nas festas de fim de ano. Cantar Primeira a
Se eu pudesse, eu venderia meu telefone para você vender Segunda e
Se você sentisse o mesmo que eu, entender-me-ia sentir Terceira i
A desinência modo temporal, conhecida por DMT, expressa modo e o tempo; já a desinência número-pessoal, DNP, representa, também de forma cumulativa, o número e a pessoa do verbo.
A seguir, um exemplo de análise mórfica dos verbos cantar, comer e partir (um para cada tipo de conjugação), em todos os tempos verbais, inclusive nas formas nominais (gerúndio, parti-cípio e infinitivo):
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49|Estrutura das palavras II
Quadro geral dos morfemas verbais3
Modo Indicativo
Cantar Comer Partir
Presente Presente Presente
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant Ø Ø o Com Ø Ø o Part Ø Ø o
Cant a Ø s Com e Ø s Part e Ø s
Cant a Ø Ø Com e Ø Ø Part e Ø Ø
Cant a Ø mos Com e Ø mos Part i Ø mos
Cant a Ø is Com e Ø is Part Ø Ø is
Cant a Ø m Com e Ø m Part e Ø m
Pretérito perfeito Pretérito perfeito Pretérito perfeito
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant e Ø i Com Ø Ø i Part Ø Ø i
Cant a Ø ste Com e Ø ste Part i Ø ste
Cant o Ø u Com e Ø u Part i Ø u
Cant a Ø mos Com e Ø mos Part i Ø mos
Cant a Ø stes Com e Ø stes Part i Ø stes
Cant a Ø ram Com e Ø ram Part i Ø ram
Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a va Ø Com i a Ø Part i a Ø
Cant a va s Com i a s Part i a s
Cant a va Ø Com i a Ø Part i a Ø
Cant á va mos Com i a mos Part í a mos
Cant á ve is Com i e is Part í e is
Cant a va m Com i a m Part i a m
Pretérito mais-que-perfeito Pretérito mais-que-perfeito Pretérito mais-que-perfeito
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a ra Ø Com e ra Ø Part i ra Ø
Cant a ra s Com e ra s Part i ra s
3 O quadro foi criado a partir das informações das gramáticas de Ribeiro (2003) e Hildebrando (1923).
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50 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Cant a ra Ø Com e ra Ø Part i ra Ø
Cant á ra mos Com ê ra mos Part í ra mos
Cant á re is Com ê re is Part í re is
Cant a ra m Com e ra m Part i ra m
Futuro do presente Futuro do presente Futuro do presente
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a re i Com e re i Part i re i
Cant a rá s Com e rá s Part i rá s
Cant a rá Ø Com e rá Ø Part i rá Ø
Cant a re mos Com e re mos Part i re mos
Cant a re is Com e re is Part i re is
Cant a rã o Com e rã o Part i rã o
Futuro do pretérito Futuro do pretérito Futuro do pretérito
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a ria Ø Com e ria Ø Part i ria Ø
Cant a ria s Com e ria s Part i ria s
Cant a ria Ø Com e ria Ø Part i ria Ø
Cant a ría mos Com e ría mos Part i ría mos
Cant a ríe is Com e ríe is Part i ríe is
Cant a ria m Com e ria m Part i ria m
Modo Subjuntivo
Presente Presente Presente
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant Ø e Ø Com Ø a Ø Part Ø a Ø
Cant Ø e s Com Ø a s Part Ø a s
Cant Ø e Ø Com Ø a Ø Part Ø a Ø
Cant Ø e mos Com Ø a mos Part Ø a mos
Cant Ø e is Com Ø a is Part Ø a is
Cant Ø e m Com Ø a m Part Ø a m
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51|Estrutura das palavras II
Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a sse Ø Com e sse Ø Part i sse Ø
Cant a sse s Com e sse s Part i sse S
Cant a sse Ø Com e sse Ø Part i sse Ø
Cant á sse mos Com ê sse mos Part í sse mos
Cant á sse is Com ê sse is Part í sse is
Cant a sse m Com e sse m Part i sse m
Futuro Futuro Futuro
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a r Ø Com e r Ø Part i r Ø
Cant a r es Com e r es Part i r es
Cant a r Ø Com e r Ø Part i r Ø
Cant a r mos Com e r mos Part i r mos
Cant a r des Com e r des Part i r des
Cant a r em Com e r em Part i r em
Modo Imperativo
afirmativo afirmativo afirmativo
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
- - - - - - - - - - - -
Cant a Ø Ø Com e Ø Ø Part e Ø Ø
Cant Ø e Ø Com Ø a Ø Part Ø a Ø
Cant Ø e mos Com Ø a mos Part Ø a mos
Cant a Ø i Com e Ø i Part Ø Ø i
Cant Ø e m Com Ø a m Part Ø a m
Negativo Negativo Negativo
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
- - - - - - - - - - - -
Cant Ø e s Com Ø a s Part Ø a s
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52 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
afirmativo afirmativo afirmativo
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant Ø e Ø Com Ø a Ø Part Ø a Ø
Cant Ø e mos Com Ø a mos Part Ø a mos
Cant Ø e is Com Ø a is Part Ø a is
Cant Ø e m Com Ø a m Part Ø a m
Formas nominais
Infinitivo pessoal Infinitivo pessoal Infinitivo pessoal
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a r Ø Com e r Ø Part i r Ø
Cant a r es Com e r es Part i r es
Cant a r Ø Com e r Ø Part i r Ø
Cant a r mos Com e r mos Part i r mos
Cant a r des Com e r des Part i r des
Cant a r em Com e r em Part i r em
Infinitivo impessoal Infinitivo impessoal Infinitivo impessoal
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a r - Com e r - Part i r -
Gerúndio Gerúndio Gerúndio
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a ndo - Com e ndo - Part i ndo -
Particípio Particípio Particípio
RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP RAD vT DMT DNP
Cant a do - Com i do - Part i do -
Obviamente, não há necessidade de fazer-se para todos os verbos uma tabela como a aqui apresentada. Nosso objetivo precípuo é o de explicitar as possibilidades mórficas dos verbos. Em-bora na escola perca-se muito tempo em conjugar-se vários verbos a partir, exclusivamente, dos morfemas verbais.
Assim, de forma mais sucinta, apresentamos um quadro de morfemas que certamente vai ajudá-los na identificação dos verbos, principalmente no que se refere aos verbos regulares (que possuem uma regularidade nas suas flexões):
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53|Estrutura das palavras II
Quadro das desinências modo-temporais (indicam modo e tempo)
Modo indicativo
Tempos 1ª CONJUGaÇÃO 2.ª e 3.ª CONJUGaÇÕES
Presente – –
Pretérito perfeito – –
Pretérito imperfeito va / ve a / e
Pretérito mais-que-perfeito ra / re (átonas) ra / re (átonas)
Futuro do presente ra / re (tônicas) ra / re (tônicas)
Futuro do pretérito ria / rie ria / rie
Modo subjuntivo
Presente e a
Pretérito imperfeito sse sse
Futuro r r
Formas nominais
Tempos Desinências
Gerúndio ndo
Iinfinitivo r
Particípio do, to
Quadro das desinências número-pessoais(indicam o número (singular/ plural) e as pessoas (1ª, 2ª, 3ª) dos verbos)
Tempo / modo Pessoas: 1.ª, 2.ª, 3.ª do singular e 1.ª, 2.ª, 3.ª do plural
Presente do indicativo o / s / – / mos / is / m
Pretérito perfeito do indicativo i / ste / u / mos / stes / ram
Pretérito imperfeito do indicativo – / s / – / mos / is / m
Pretérito mais-que-perfeito do indicativo. – / s / – / mos / is / m
Futuro do presente do indicativo i / s / – / mos / is / o
Futuro do pretérito do indicativo – / s / – / mos / is / m
Presente do subjuntivo – / s / – / mos / is / m
Pretérito imperfeito do subjuntivo – / s / – / mos / is / m
Futuro do subjuntivo – / es/ – / mos / des / em
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54 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Então, a partir do quadro somos capazes de, através dos paradigmas verbais, identificar o tempo, o modo, e número e a pessoa dos verbos.
Observações:
P:::: ara podermos trabalhar com a análise mórfica, convém que sigamos o princípio da fórmula básica dos verbos:
R + VT + DmT + DNP
O:::: utro ponto importante é respeitar a ordem da fórmula quando for procurar os morfemas, ou seja, primeiro procuramos o radical, depois a VT, a DmT e a DNP (só partimos para o morfema seguinte quando já tivermos procurado o morfema anterior).
P:::: odem faltar quaisquer dos morfemas, exceto o radical.
Vamos fazer um teste?
A partir do verbo em destaque, diga quais os morfemas e o que eles indicam.
Todos queriam que corrêssemos mais do que podíamos.
Primeiro identificamos o radical: corr-
Em seguida, verificamos se a letra seguinte coincide com a vogal temática para esse verbo. Lem-brando que a vogal temática indica a conjugação do verbo. No caso de “corrêssemos”, o infinitivo é: correr. Assim, a vogal temática é o “e”. Coincide também com a conjugação do verbo correr que é de segunda conjugação, assim como o “e” representa a vogal temática da segunda conjugação.
Vogal temática: e-
Agora procuraremos a DmT. No caso do verbo “corrêssemos” o conjunto de letras que mais se assemelha como nosso quadro de DmT é o -sse-:
Quadros das desinências modo-temporais (indicam modo e tempo)
Modo Indicativo
Tempos 1.ª Conjunção 2.ª e 3. ª Conjugações
Presente – –
Pretérito perfeito – –
Pretérito imperfeito va / ve a / e
Pretérito mais-que-perfeito ra / re (átonas) ra / re (átonas)
Futuro do presente ra / re (tônicas) ra / re (tônicas)
Futuro do pretérito ria / rie ria / rie
Modo subjuntivo
Presente e a
Pretérito imperfeito sse sse
Futuro r r
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55|Estrutura das palavras II
Assim, podemos intuir que o “sse”, de “corrêssemos”, é a DmT do verbo. Logo, pertence ao modo subjuntivo e ao pretérito imperfeito.
DmT: -sse-
Por fim, verificamos se “mos” pode ser uma DNP.
A partir de nosso quadro de DNP, podemos verificar que “mos” sempre será DNP de primeira pes-soa do plural (nós).
DNP: mos
Enfim, eis as estruturas do verbo “corrêssemos” e o que indicam tais estruturas:
Corr + e + sse + mos
Verbo de segunda conjugação, pertencendo ao pretérito imperfeito do subjuntivo, primeira do plural.
Acabamos. Porém, observem um pequeno e importante detalhe. Feita tal análise, podemos afir-mar que quaisquer verbos que possuam DmT + DNP iguais as do verbo “corrêssemos”, terão modo, tempo, número e pessoa iguais também. Por exemplo: vivêssemos, cantássemos, chorássemos, partís-semos corrigíssemos, chorássemos etc.
Isso significa dizer que é muito mais fácil e produtivo sabermos as estruturas verbais do que de-corar a conjugação de cada verbo.
Para concluir, observem outra classificação dos verbos, conforme a sílaba tônica nele contida.
o acento tônico nos verbos
RizotônicasÉ a forma verbal cujo acento tônico se acha no radical:
Que-ro / radical = quer-
Can-to / radical = cant-
Ven-dem / radical = vend-
ArrizotônicasÉ a forma verbal cujo acento tônico se acha fora do radical:
Vi-ve-rá / radical = viv-
Ven-di-do / radical = vend-
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56 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Na Língua Portuguesa, conforme manoel Ribeiro (2003), predominam as formas rizotônicas, nor-malmente encontradas nas três pessoas do singular e a terceira do plural do presente do indicativo e do presente do subjuntivo, e as correspondentes do imperativo. Particípios irregulares e 1.ª e 3.ª pessoas do singular do pretérito perfeito dos verbos irregulares: fiz, fez.
Nos verbos defectivos4, em geral, faltam as formas rizotônicas.
Texto complementar
Histórico do verbo(CoUTINHo, 1976, p 272-275)
Havia, no Latim clássico, quatro conjugações:
A primeira conjugação latina possuía aproximadamente 3 620 verbos e, essa é a que ainda se conserva em Português. Além de mais produtiva, oferece mais resistência à transformação: torrere (torrar) / fidere (fiar) / mollire-molliare (molhar);
A segunda conjugação resultou da fusão da “segunda” com a “terceira” com um pouco mais de 2400 verbos em -ere na língua clássica. A capacidade criadora desta conjugação em Latim limitou-se à formação de verbos incoativos: anoitecer (noite), empobrecer (pobre), entristecer (triste), florescer (flor), enrijecer (rijo), amolecer (mole), entardecer (tarde);
Quanto à terceira conjugação, aconteceu algo no mínimo interessante, com a passagem dos verbos da terceira conjugação para a segunda; as quatro, do Latim ocidental, foram reduzidas a três conjugações. No curso histórico da língua, muitos verbos arcaicos transformaram-se: aduzer (adu-zir), caer (cair), correger (corrigir), traer (trair), confoder (confundir), onger (ungir). Convém assinalar que os verbos latinos em -êre, de introdução mais recente no Português passaram à conjugação em -ir: affluere ( afluir), contribuere (contribuir), discernere (discernir), instituere (instituir), illudere (iludir), obstruere (obstruir), retribuere (retribuir).
A quarta conjugação latina foi absorvida pela terceira em Português por terem as mesmas ter-minações, com exceção do verbo “poer”, que sendo de quarta passou à segunda, apesar da contra-ção sofrida em seus fonemas, o verbo anômalo “pôr”.
Outro ponto interessante diz respeito aos tempos verbais, pois embora a maioria dos tempos da conjugação latina tenham se conservado no idioma Português outros desapareceram. Vejamos as relações a seguir:
Verbos que passaram a novos empregos:
4 Verbos em que não se pode conjugar todas as pessoas.
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57|Estrutura das palavras II
a) O imperfeito do subjuntivo, que provavelmente se tornou o nosso infinitivo pessoal:
b )O mais- que- perfeito do subjuntivo, passando a ser usado como imperfeito do mesmo modo;
c) O futuro perfeito do indicativo, que fundido com o perfeito do subjuntivo tornou-se nosso futuro do subjuntivo;
d) O presente do subjuntivo, que, além do emprego próprio, forneceu ao imperativo positivo a 3ª e todas as pessoas ao negativo;
e) O gerúndio que no ablativo, substituiu em parte o particípio presente.
Não passaram ao português:
a) O futuro imperfeito do indicativo;
b) O futuro do imperativo;
c) O perfeito do infinitivo;
d) O particípio presente deu apenas ao português alguns substantivos e adjetivos: acidente, poente, doente, valente, regente, crente. No idioma antigo, todavia, era empregado com força verbal;
e) O particípio do futuro ativo, de que conservamos raros vestígios nas formas cultas futu-ro, nascituro;
f ) O gerundivo, que se encontra representado, em português, por alguns substantivos e adjeti-vos: merenda, oferenda, fazenda, memorando, lenda, moenda. Vai se vulgarizando entre nós a termi-nação –ndo com valor de substantivo verbal numa série de palavras cultas: examinando, educando, graduando, professorando, doutorando.
Análise lingüística1. Em todas as palavras a vogal sublinhada é temática, exceto em:
a) correr
b) casa
c) comeu
d) comprar
2. Na palavra desgovernarão só não encontramos:
a) prefixo
b) vogal temática
c) desinência modo-temporal
d) desinência de gênero
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58 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
3. Apresente a fórmula estrutural dos verbos a seguir:
a) Eu canto – ____________________________
b) Viveremos felizes para sempre – _____________________________
c) Cantavas muito quando criança –______________________
d) Comprarei duas camisas de frio – ____________________________
e) Seguindo meus conselhos, serás feliz – ____________________________
4. A partir do exercício anterior, diga o modo, tempo, número, pessoa dos verbos analisados.
5. Encontre no caça-palavras:
a) Verbo na 1.ª pessoa do presente do indicativo.
b) Verbo no infinitivo.
c) Verbo na 3.ª pessoa do futuro do pretérito.
d) Verbo na 3.ª pessoa do imperativo negativo.
Z E R m A E B L J G E H V B N
O N F G O U N Q A E R L N P T
P A A T F T A U L C V R S T A
J O D E I X O J R U B C H S B
L P m N Z C P A R A T H R H U
V R R V E R R P U D E O S S E
C O H H S E O V I R B V R I A
H C T B S U C I P U D E S S E
L U F R E H U V I R A R I A
P R K J U O R F K R E A C L N
O E P A R A R V N P T R N S X
Q I T L D E I O X G H R T Z S
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GabaritoEstrutura das palavras II
1. C
2. d
3. a) cant + o = RAd + dNP.
b) viv + e + re + mos = RAd + VT + dMT + dNP.
c) cant + a + va + s = RAd + VT + dMT + dNP.
d) compr + a + re + i = RAd + VT + dMT + dNP.
e) segu + i + ndo = RAd + VT + dMT.
4. a) presente do indicativo, primeira pessoa do singular.
b) futuro do presente do indicativo, primeira pessoa do plural.
c) pretérito imperfeito do indicativo, segunda pessoal do singular.
d) futuro do presente do indicativo, primeira pessoa do singular.
e) gerúndio.
5. a) Verbo na 1.ª pessoa do presente do indicativo;
b) Verbo no infinitivo
c) Verbo na 3.ª pessoa do futuro do pretérito;
d) Verbo na 3.ª pessoa do imperativo negativo
Caça-palavras: deixo, fizesse, pudesse, chover, parar, viraria, não procure.
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