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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
LUCCAS LUZZANNIQUI PEREIRA
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO, UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O
MODELO TRADICIONAL E O MODELO DINÂMICO DE FLEURIET
FORTALEZA
2013
2
LUCCAS LUZZANNIQUI PEREIRA
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO, UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O
MODELO TRADICIONAL E O MODELO DINÂMICO DE FLEURIET
FORTALEZA
2013
Monografia submetida à aprovação da
Coordenação do Curso de Administração de
Empresas do Centro Superior do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Graduação.
Orientador: Prof. Francisco Almeida Barroso,
Ms.
3
LUCCAS LUZZANNIQUI PEREIRA
ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO, UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O
MODELO TRADICIONAL E O MODELO DINÂMICO DE FLEURIET
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Professor Ms. . Francisco Almeida Barroso
Orientador
___________________________________________
Professor Ms. Tiago Figueiredo de Moura
___________________________________________
Professor Ms. Luis Carlos Queiroz de Alencar
Monografia como pré-requisito para a
obtenção do título de Bacharelado em
Administração de Empresas, outorgado
pela Faculdade Cearense – FAC, tendo
sido aprovada pela banca examinadora
composta pelos professores.
Data de aprovação: 21/06/2013
4
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida e por tudo que me tem proporcionado.
Aos meus pais, José Carlos e Erice, por me ensinarem o caminho a ser trilhado.
À minha esposa Cintia que me apoia no dia-a-dia.
Aos meus colegas de sala que sempre me ajudaram nos trabalhos de equipe.
Ao meu orientador Professor Almeida por me ter mostrado os caminhos para a
realização deste trabalho.
Ao Coordenador do Curso de Administração de Empresas professor Ricardo Cesar
por me ter ajudado, de maneira direta e indireta, nesta caminhada em busca da
formação.
A todos os professores que me ensinaram durante esta jornada.
5
RESUMO
A gestão do capital de giro é uma importante área empresarial e que preocupa os administradores financeiros pelo fato de que a sua insuficiência constitui um dos problemas que ocorrem frequentemente nas organizações. Constata-se que a maior parte do tempo dos administradores financeiros é gasta fazendo esta gestão. Neste contexto a análise do capital de giro fornece informações para o administrador financeiro nortear suas decisões. Partindo desta perspectiva evidenciam-se dois instrumentos que permitem analisar o capital de giro. O primeiro é a análise tradicional do capital de giro e o segundo é a análise dinâmica. Este estudo tem como objetivo principal confrontar essas duas teorias de análise do capital de giro, com o intuito de averiguar qual é o mais eficaz em termos de proporcionar informações efetivas para embasar a tomada de decisão. Para obtenção do resultado realizou-se uma pesquisa qualitativa-quantitativa , descritiva, bibliográfica, documental e estudo de caso. O objetivo foi alcançado através da realização de um levantamento bibliográfico, um estudo documental com aplicação dos dois modelos de análise do capital de giro na Petrobras e na Vale nos anos de 2009 a 2011 e a utilização do método comparativo. Os resultados mostraram que as teorias são semelhantes, porém o modelo dinâmico fornece informações mais precisas e é mais sensível a alterações na situação financeira, proporcionando um conhecimento efetivo quanto ao comportamento da estrutura financeira em relação ao seu giro, permitindo ainda classificar e qualificar essa estrutura. Conclui-se que a utilização do modelo dinâmico é mais apropriada para realizar a análise do capital de giro com foco na obtenção de informações para subsidiar a tomada de decisão.
Palavras-chave: Administração do Capital de Giro. Análise Tradicional do Capital de Giro, Modelo de Fleuriet. Modelo Dinâmico. Liquidez.
6
ABSTRACT
La gestión del capital del giro es una importante area empresarial y que preocupa los administradores financieros por el facto de que su insuficiencia constituía uno de los problemas que sucede frecuentemente en las organizaciones. En este sentido constatase que la mayor parte del tiempo de los administradores financieros es gastado haciendo esa gestión. En este contexto la análisis del capital del giro fornece informaciones para el administrador financiero direccionar sus decisiones. Arrancando de esta perspectiva , evidenciase dos instrumentos que permitem analizar el capital del giro. El primero es la anáisis tradicional del capital del giro, y el segundo es la análisis dinámica. En este estudio tiene como objetivo principal confrontar las dos teorías de la análisis del capital del giro, con el intuito de averiguar cual es la más eficaz en término de propocionar informaciones efectivas para subsidiar la toma de decisión. Para obtención del resultado se realizó una búsqueda cualitativa, cuantitativa , descritiva, bibliografica, documental y estudio del caso . El objetivo fue alcanzado a través de la realización de un levantamiento bibliografico un estudio documental con aplicación de los dos modelos de análisis del capitsl del giro en la petrobras y en la Vale en los años de 2009 hasta 2011, y la utilización del método comparativo. Los resultados exhibiron que las teorías son semejantes pero el modelo dinámico suministra informaciones más fijas y es más sensible al alteraciones en la situación financiera, proporcionando un saber efectivo cuanto al comportamiento de la estructura financiera en relación al su giro, permitiendo todavía clasificar y cualificar esa estructura. Se concluye que la utilización del modelo dinámico es más adecuada para realizar la análisis del capital del giro con foco en la abtención de informaciones para subsidiar la toma de decisión.
Palavras-llave: Administración del Capital del Giro. Análisis tradicional del Capital del Giro, Modelo de Fleuriet. Modelo Dinámico. Liquidez.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 - Modelo do Ativo ................................................................................................. 18
Figura 2 - Modelo do Passivo ............................................................................................ 20
Figura 3 - Ciclo Operacional .............................................................................................. 22
Figura 4 - Capital Circulante Líquido Negativo ................................................................... 31
Figura 5 - Capital Circulante Líquido Positivo..................................................................... 32
Figura 6 - Ciclo Econômico e Ciclo Financeiro ................................................................... 34
Figura 7 - Balanço Patrimonial Reclassificado ................................................................... 35
Figura 8 - CDG e CCL no Balanço Patrimonial .................................................................. 38
Figura 9 - Variáveis do modelo dinâmico como fontes e aplicações .................................. 40
Figura 10 - Tipos 1 e 2 mais comuns de Balanço Patrimonial .............................................. 41
Figura 11 - Tipos 3 e 4 mais comuns de Balanço Patrimonial .............................................. 42
GRÁFICOS
Gráfico 1 - Indicadores de Liquidez da Petrobras de 2009 a 2011 ...................................... 58
Gráfico 2 - Oscilação das contas do BP da Petrobras ......................................................... 59
Gráfico 3 - Indicadores de Liquidez da Vale ........................................................................ 60
Gráfico 4 - Oscilação das contas do BP da Vale ................................................................. 61
Gráfico 5 - Oscilação nos Indicadores do Modelo Dinâmico da Petrobras .......................... 65
Gráfico 6 - Oscilação nos indicadores do Modelo Dinâmico da Vale ................................... 66
QUADROS
Quadro 1 - Estrutura do Balanço Patrimonial ..................................................................... 16
Quadro 2 - Modelo de padronização de Balanço Patrimonial ............................................. 47
Quadro 3 - Balanço Patrimonial da Petrobras Padronizado .............................................. 51
Quadro 4 - Balanço Patrimonial da Vale Padronizado ...................................................... 52
Quadro 5 - Liquidez Geral da Petrobras e da Vale ............................................................. 53
Quadro 6 - Liquidez Corrente da Petrobras e da Vale ........................................................ 54
Quadro 7 - Liquidez Seca da Petrobras e da Vale ............................................................. 55
Quadro 8 - Liquidez Imediata da Petrobras e da Vale ........................................................ 56
Quadro 9 - Capital Circulante Líquido da Petrobras e da Vale ........................................... 57
Quadro 10 - NCG da Petrobras e da Vale ........................................................................... 62
Quadro 11 - CDG da Petrobras e da Vale ............................................................................ 63
Quadro 12 - T da Petrobras e da Vale ................................................................................. 64
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BP Balanço Patrimonial
CCL Capital circulante líquido
CDG Capital de giro
LG Liquidez geral
LS Liquidez seca
LI Liquidez Imediata
LC Liquidez corrente
NCG Necessidade de Capital de Giro
T Saldo de Tesouraria
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11
2 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ..................................................................................... 14
2.1 Balanço patrimonial como fonte de informação para análise financeira ........................ 15
2.1.1 Ativo ............................................................................................................................ 17
2.1.2 Passivo ....................................................................................................................... 19
2.2 Capital de giro ............................................................................................................... 21
3 ADMINISTRAÇÃO DO GAPITAL DE GIRO .................................................................... 24
3.1 Análise tradicional do capital de giro ............................................................................. 25
3.1.1 Indicadores de liquidez ............................................................................................... 25
3.1.2 Liquidez geral ............................................................................................................. 26
3.1.3 Liquidez corrente ........................................................................................................ 27
3.1.4 Liquidez seca .............................................................................................................. 28
3.1.5 Liquidez imediata ........................................................................................................ 29
3.1.6 Capital circulante líquido ............................................................................................. 30
3.2 Análise dinâmica do capital de giro ................................................................................ 32
3.2.1 Reclassificação do balanço patrimonial ...................................................................... 33
3.2.2 Necessidade de capital de giro (NCG) ........................................................................ 36
3.2.3 Capital de giro no modelo dinâmico ............................................................................ 37
3.2.4 Saldo de tesouraria ..................................................................................................... 39
3.2.5 Tipos de balanço do modelo dinâmico ........................................................................ 40
4 METODOLOGIA ............................................................................................................... 44
4.1 Natureza ........................................................................................................................ 44
4.2 Tipologia ........................................................................................................................ 45
4.3 Instrumento de pesquisa ................................................................................................ 46
4.4 Universo ........................................................................................................................ 46
4.5 Tratamento .................................................................................................................... 46
4.6 Procedimento Operacional ............................................................................................. 48
5 ESTUDO DE CASO .......................................................................................................... 49
5.1 Apresentação das empresas ......................................................................................... 49
5.1.2 Petrobras .................................................................................................................... 49
5.1.2 Vale ............................................................................................................................ 50
5.2 Balanços Padronizados ................................................................................................. 50
5.3 Análise tradicional do capital de giro .............................................................................. 53
5.3.1 Liquidez geral ............................................................................................................. 53
10
5.3.2 Liquidez corrente ........................................................................................................ 54
5.3.3 Liquidez seca ............................................................................................................. 55
5.3.4 Liquidez imediata ....................................................................................................... 56
5.3.5 Capital circulante líquido ............................................................................................. 57
5.3.6 Diagnóstico da análise tradicional da Petrobras .......................................................... 58
5.3.7 Diagnóstico da análise tradicional da Vale .................................................................. 60
5.4 Análise dinâmica do capital de giro ................................................................................ 62
5.4.1 Necessidade de Capital de giro .................................................................................. 62
5.4.2 Capital de giro ............................................................................................................. 63
5.4.3 Saldo de tesouraria ..................................................................................................... 63
5.4.4 Tipo de balanço .......................................................................................................... 64
5.4.5 Diagnóstico da análise dinâmica da Petrobras ............................................................ 64
5.4.6 Diagnóstico da análise dinâmica da Vale .................................................................... 66
5.5 Análise dos resultados: modelo tradicional X modelo dinâmico ..................................... 67
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 70
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 72
8 ANEXOS .......................................................................................................................... 74
8.1 Balanços da Petrobras ................................................................................................... 75
8.2 Balanços da Vale ........................................................................................................... 79
11
1 INTRODUÇÃO
A Administração Financeira atravessou uma significativa evolução nas
ultimas décadas desenvolvendo novos conceitos, ferramentas e instrumentos,
contribuindo efetivamente para a evolução das empresas.
Neste contexto a administração do capital de giro vem ganhando
expressiva importância devido à sua relevância para o equilíbrio financeiro das
empresas e pelo fato da insuficiência de capital de giro constituir um dos problemas
que acontecem frequentemente nas organizações.
Uma administração ineficaz do capital de giro pode implicar em grandes
problemas financeiros, corroborando para uma circunstância de insolvência,
podendo incorrer na falência da empresa.
As decisões que envolvem a gestão do capital de giro dependem da
capacidade analítica do administrador financeiro de analisar os dados financeiros,
compreender o problema e decidir a melhor estratégia para evitar a insolvência
(ASSAF NETO; SILVA, 2012).
No processo decisório a qualidade das informações é imprescindível para
o alcance de bons resultados. O método para realizar a análise do capital de giro é
preponderante para os resultados empresarias, já que as informações financeiras
obtidas subsidiam as tomadas de decisões.
Em uma conjuntura de aumento, redução das vendas, acréscimo
exagerado dos estoques ou inovações de mercado, a administração da empresa
precisa focar sua atenção na análise do capital de giro, visando identificar a liquidez,
possibilitando antecipar-se e modificar suas estratégias organizacionais, a fim de
evitar resultados indesejados ou até mesmo o fim das atividades da empresa.
A escolha deste tema ocorreu devido à importância da análise do capital
de giro para a sobrevivência e competitividade das organizações e de ao fato de que
a maior parte do tempo de um administrador financeiro é dedicada à análise do
capital de giro (GITMAN, 2004).
Partindo desta perspectiva esta pesquisa estuda os métodos de análise
do capital de giro tendo em vista a sua importância para as tomadas de decisões e,
conseqüentemente, para o sucesso das organizações.
Tradicionalmente a análise do capital de giro é realizada mediante a
utilização dos indicadores de liquidez e do valor do capital circulante líquido, visando
12
avaliar a saúde financeira da empresa, verificando se existem recursos financeiros
suficientes para a entidade quitar seus débitos. Existe também o modelo dinâmico
de analise do capital de giro que busca conhecer a liquidez da empresa
considerando a realidade dinâmica, através da diferenciação dos ativos e passivos
circulantes em cíclicos e erráticos e dos resultados das variáveis: Necessidade de
Capital de Giro (NCG), Capital de Giro (CDG) e Saldo de Tesouraria (T).
O estudo aborda dois métodos para análise do capital de giro: o modelo
tradicional e o dinâmico, de maneira a verificar qual proporciona informações
completas e precisas sobre a real situação econômico-financeira das empresas.
Diante do exposto a pesquisa se propõe a responder o seguinte
questionamento: Qual o modelo de análise do capital de giro qualifica com maior
perfeição a situação e o risco financeiro que a empresa apresenta?
A pesquisa tem como objetivo principal confrontar duas teorias de análise
do capital de giro com o intuito de investigar qual a mais eficaz em termos de
proporcionar informações efetivas para apoiar a tomada de decisão.
Visando alcançar o objetivo principal foram definidos os seguintes
objetivos específicos: apresentar os conceitos relacionados à administração
financeira, expor os conceitos relacionados à administração do capital de giro,
apresentar a fundamentação teórica do modelo tradicional e do modelo dinâmico de
análise do capital de giro, aplicar os dois modelos de análise do capital de giro nas
demonstrações financeiras da Petrobras e da Vale e comparar os resultados obtidos
por cada modelo.
O estudo torna-se relevante na medida em que demonstra para o leitor
qual o melhor método para analisar o capital de giro, tendo em vista que a qualidade
das decisões empresariais depende da qualidade das informações ou do diagnóstico
da situação econômico-financeira da entidade.
Para obtenção do resultado foi realizado um estudo bibliográfico sobre
Administração Financeira, capital de giro, o modelo dinâmico e o tradicional de
análise, bem como um estudo de caso no balanço patrimonial dos anos de 2009 a
2011 da empresa Petróleo Brasileiro S/A e da empresa Vale S/A com a aplicação
dos dois modelos na análise do capital de giro destas empresas a fim de confrontar
os resultados obtidos.
A pesquisa classifica-se como quali-quanti, bibliográfica, documental,
descritiva e estudo de caso, tendo em vista que foi realizado um levantamento
13
teórico embasado em produções científicas, utilizando para construção prática e
comparativa dos modelos o balanço patrimonial que constitui um documento
empresarial.
Este trabalho está estruturado em oito partes. Neste primeiro capítulo é
feita a introdução ao trabalho, expondo o tema e sua importância para a gestão das
empresas, bem como a justificativa, o problema da pesquisa, os objetivos, a
metodologia e a estrutura do trabalho. O segundo e terceiro capítulos apresentam a
fundamentação teórica referente ao tema, o quarto capítulo mostra a metodologia
científica utilizada na pesquisa, o quinto capítulo expõe o estudo de caso com a
aplicação prática dos modelos de análise do capital de giro bem como a comparação
das teorias. Por fim o sexto capítulo apresenta as conclusões do trabalho e
posteriormente são apresentadas as referências, seguidas pelos anexos.
14
2 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA
No atual mercado globalizado e de empresas extremamente competitivas,
um dos pilares da gestão empresarial tem sido a estratégia e estabelecê-la sem
levar em consideração os aspectos financeiros é receita ideal para o fracasso. Todo
tipo de administrador deve conhecer como as operações da empresa afetam a
lucratividade e em linhas gerais tem de saber quais atividades geram valor para a
instituição (ROSS, 2009).
Observa-se neste contexto a importância da Administração Financeira,
que é uma das principais áreas empresariais já que está estreitamente relacionada
ao alcance do principal objetivo organizacional, que para Vieira (2008, p. 7), “é a
maximização da riqueza dos proprietários o que, por sua vez, significa maximizar o
preço das ações”.
A Administração Financeira é a área da empresa que faz a gestão
dos recursos financeiros tendo a responsabilidade de conseguir o maior retorno
possível sobre o valor investido no negócio e sem deixar de honrar seus
compromissos.
Deste modo o administrador financeiro atua coordenando as
atividades de: contabilidade de custos e financeira, pagamento de impostos,
sistemas de informações gerenciais, administração do caixa e dos
créditos da empresa, planejamento financeiro e despesas de capital
(ROSS, 2009).
A principal atividade do administrador financeiro consiste em administrar
as finanças de curto prazo, pois seu desdobramento resulta em ações imediatas,
tendo em vista que os impactos das decisões refletem imediatamente na saúde
financeira da rotina operacional das empresas.
De acordo com Gitman (2004, p. 510):
A administração financeira de curto prazo – a gestão de ativos e passivos circulantes – é uma das atividades mais importantes e mais intensas do administrador financeiro. Um estudo feito com as mil maiores empresas, segundo a revista Fortune, revelou que mais de um terço do tempo dos administradores financeiros é gasto gerindo ativos circulantes e que cerca de um quarto é consumido gerindo passivos circulantes.
15
De acordo com Ross (2009, p. 599) “As finanças a curto prazo consistem
em uma análise das decisões que afetam os ativos e passivos circulantes, com
efeitos sobre a empresa dentro do prazo de um ano”. Logo, abordar-se-á neste
estudo, o segmento da Administração Financeira que engloba a administração do
capital de giro, as finanças de curto prazo.
Para administrar efetivamente as finanças de curto prazo os gestores
precisam subsidiar as tomadas de decisões, embasando-as em informações
precisas. Estas informações são extraídas a partir das análises dos dados
das demonstrações financeiras das instituições. De acordo com Matarazzo
(2010, p. 3):
As demonstrações financeiras fornecem uma série de dados sobre a empresa, de acordo com regras contábeis. A Análise de Balanços transforma esses dados em informações e será tanto mais eficiente quanto melhores informações produzir.
As demonstrações financeiras são compostas basicamente por cinco
partes, conforme preconiza a lei das sociedades por ações (Lei nº 6.404 –
modificada pelas leis nº 11.638/07 e 11.941/09), são elas: balanço patrimonial,
demonstração do resultado do exercício, demonstração do valor adicionado,
demonstrações das mutações do patrimônio líquido e demonstração dos fluxos de
caixa (MATARAZZO, 2010).
No próximo tópico serão abordados conceitos essenciais a respeito do
balanço patrimonial que é a principal fonte de dados para realizar as análises do
capital de giro.
2.1 Balanço Patrimonial como Fonte de Informação para Análise Financeira
O balanço patrimonial é uma demonstração financeira que descreve, de
maneira organizada e resumida, o patrimônio da empresa em determinado
momento. Braga (2006, p. 8) afirma que “o balanço patrimonial tem por objetivo
demonstrar a situação do patrimônio da empresa, em determinada data”.
Greco e Arend (2011, p. 79) definem o balanço patrimonial como
sendo “a demonstração contábil destinada a evidenciar quantitativa e
16
qualitativamente a posição patrimonial e financeira da entidade em
determinada data”.
Iudícibus (2010, p. 2), afirma que o balanço patrimonial “tem por finalidade
apresentar a posição financeira e patrimonial da empresa em determinada data”.
Para Matarazzo (2010, p. 26) o balanço patrimonial é “a demonstração
que apresenta todos os bens e direitos da empresa – Ativo – assim como as
obrigações – Passivo Exigível – em determinada data”.
Ross (2009, p. 39) afirma que o balanço patrimonial, “diz o que a
empresa possui e como é financiada. A definição contábil subjacente ao balanço e
que o descreve é”:
Ativos = Passivos + Patrimônio dos acionistas
O quadro abaixo ilustra o balanço patrimonial e suas divisões.
PASSIVO
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO
Quadro 1 - Estrutura do Balanço Patrimonial
Fonte: Iudícibus, (2010, p. 2).
Conforme apresentado na figura 1 o balanço patrimonial possui dois
lados: no lado esquerdo localizam-se os ativos e no lado direito os passivos e o
patrimônio dos acionistas (ROSS, 2009).
Considerando as afirmações e conceitos dos autores citados
anteriormente pode-se inferir que, em síntese, o balanço patrimonial é uma das
demonstrações financeiras obrigatórias previstas em lei e que proporciona uma
visão, uma fotografia, das atividades da empresa em um momento específico,
disponibilizando uma imagem dos dados contábeis, englobando o ativo, o passivo e
o patrimônio líquido.
17
As contas do balanço são classificadas segundo os elementos
do patrimônio que representam sendo agrupadas de maneira a facilitar o
conhecimento e análise da situação financeira da instituição, onde as contas
do ativo são dispostas em ordem decrescente de realização ou liquidez e as
contas do passivo e patrimônio líquido em ordem decrescente de exigibilidade
(BRAGA, 2006).
O balanço fornece uma sequência de dados sobre a instituição, conforme
as regras contábeis. Para a tomada de decisão é essencial a utilização das técnicas
de análises de balanços para transformar esses dados em informação.
Matarazzo (2010, p. 3) afirma que a análise de balanços “objetiva extrair
informações das demonstrações financeiras para a tomada de decisões.”
O administrador financeiro utiliza os dados do Balanço patrimonial para
realizar análises relacionadas ao ativo, ao passivo e ao patrimônio líquido de modo a
identificar a liquidez da empresa.
Para Matarazzo (2010, p. 5) a análise de balanços permite deduzir,
Se a empresa merece ou não crédito, se vem sendo bem ou mal administrada, se tem ou não condições de pagar suas dívidas, se é ou não lucrativa, se vem evoluindo ou regredindo, se é eficiente ou ineficiente, se irá falir ou se continuará operando.
Nos próximos tópicos será realizado um aprofundamento nas divisões do
balanço patrimonial e suas principais contas.
2.1.1 Ativo
O ativo é a parte do balanço patrimonial que apresenta o que existe na
empresa, os bens e direitos, as exceções são as despesas antecipadas e as
diferidas, que também compõem o ativo (MATARAZZO, 2010).
Para Greco e Arend (2011, p. 80) o ativo “compreende as aplicações de
recursos representadas por valores, direitos e bens. Os componentes do ativo são
18
classificados de acordo com a destinação específica e variam segundo os fins da
entidade”.
Iudícibus (2010, p. 3) afirma que o ativo compreende “os recursos
controlados por uma entidade e dos quais se esperam benefícios econômicos
futuros”.
Unger (1976, p. 118) afirma que:
O ativo do balanço mostra o emprego dos fundos que foram colocados à disposição da empresa: - bens imobiliários, construções, maquinário produtivo, estoques, dinheiro em banco ou em caixa, empréstimos feitos a terceiros, particularmente sob a forma de clientela.
Verifica-se assim que o ativo constitui a parte do balanço patrimonial que
reúne as aplicações de recursos ou os bens e direitos da instituição.
A figura abaixo ilustra o ativo e suas divisões.
Ativo
Ativo circulante
Ativo não circulante
Realizável a Longo Prazo
Investimentos
Imobilizado
Intangível
Figura 1 - Modelo do Ativo
Fonte: Iudícibus (2010, p. 3) – Adaptado pelo Autor
A figura 2 apresenta a divisão do ativo em circulante e não circulante,
conforme a estrutura atualmente proposta pela lei 11.941/2009.
Ross (2009, p. 599) comenta que “Ativos circulantes são saldos de caixa
e outros ativos que se espera converter em numerário dentro do prazo de um ano.”
19
O ativo circulante é composto pelos seguintes grupos de contas:
disponibilidades, direitos realizáveis no curso do exercício social subsequente
e as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte. As principais
contas do ativo circulante são: caixa, bancos c/movimento, aplicações de
liquidez imediata, duplicatas a receber, títulos a receber e estoques (IUDÍCIBUS,
2010).
Para Greco e Arend (2011, p.82) o ativo não circulante compreende
“todos os bens de permanência duradoura destinados ao funcionamento normal da
sociedade e do seu empreendimento, assim como os direitos exercidos com essa
finalidade”.
O Ativo não circulante é dividido em: realizável a longo prazo,
investimentos, ativo imobilizado e ativo intangível. As principais contas são: contas
a receber a longo prazo, empréstimos a controladas, depósitos judiciais,
participações em coligadas, provisões para perdas, imóveis, veículos,
depreciação, amortização acumulada, marcas e patentes, direito de concessão
e direto autoral (IUDÍCUBUS, 2010).
2.1.2 Passivo
O passivo é a parte do balanço que agrupa as contas que identificam as
origens dos recursos, bem como as obrigações da instituição. Ele é dividido em
passivo circulante e passivo não circulante.
Para Berti (1999, p. 24) o passivo é a parte do balanço patrimonial
“que registra as origens dos recursos de uma entidade. Os recursos de terceiros
são representados pelas obrigações da entidade e os recursos próprios
são registrados no patrimônio líquido”.
De acordo com Greco e Arend (2011, p. 84) o passivo “ compreende as
origens de recursos representados por obrigações”.
Iudícibus (2010, p. 18) afirma que o passivo “compreende basicamente as
obrigações a pagar, isto é, as quantias que a empresa deve a terceiros”.
20
A figura abaixo apresenta o passivo e suas divisões.
PASSIVO
PASSIVO CIRCULANTE
PASSIVO NÃO CIRCULANTE
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
CAPITAL SOCIAL
RESERVAS DE CAPITAL
AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL
RESERVAS DE LUCROS
AÇÕES EM TESOURARIA
PREJUÍZOS ACUMULADOS
Figura 2 – Modelo do Passivo
Fonte: Iudícibus (2010, p. 3) – Adaptado pelo Autor
A figura 3 apresenta a divisão do passivo em circulante, não circulante,
e patrimônio líquido, conforme a estrutura atualmente proposta pela lei
11.941/2009.
O passivo circulante é a parte do passivo que reúne as obrigações da
companhia vencíveis no exercício seguinte (GRECO; AREND, 2011).
Para Matarazzo (p. 44, 2010) o passivo circulante
Compreende todas as obrigações da empresa vencíveis no prazo de um ano ou, se o ciclo operacional for maior que um ano, as obrigações vencíveis no prazo do ciclo operacional. Essas obrigações devem ser tanto as conhecidas (por exemplo, duplicatas a pagar, promissórias a pagar, salários a pagar) como as calculáveis com precisão, tais como variações cambiais e juros, quanto às calculáveis apenas aproximadamente, como provisões para férias e 13º salário dos empregados.
As principais contas do passivo circulante são: fornecedores, salários e
encargos a pagar, empréstimos, debêntures, encargos financeiros a pagar, impostos
a recolher e imposto de renda a pagar (IUDÍCIBUS, 2010).
21
Para Matarazzo (2010, p.45) o passivo não circulante “Compreende todas
as obrigações da empresa vencíveis a prazo superior a um ano ou superior ao ciclo
operacional da empresa”.
O passivo não circulante é subdividido em exigível a longo prazo e
patrimônio líquido. O exigível a longo prazo reúne as obrigações da entidade
vencíveis em um prazo superior ao exercício seguinte. (GRECO; AREND, 2011).
O patrimônio líquido consiste na diferença entre o valor total dos ativos e
o valor total do passivo, ele também pode ser chamado de capital dos acionistas ou
capital próprio (ROSS, 2009).
Segundo Matarrazzo (2010, p. 45) o patrimônio líquido
Representa os recursos dos acionistas formados por capital – dinheiro ou bens – entregues pelos acionistas à empresa ou por lucros gerados pela empresa e retidos em diversas contas de reservas.
Desta forma verificamos que o patrimônio líquido apresenta a parte dos
recursos aplicados no negócio, que é de propriedade da organização (acionistas) e
pode ser representado matematicamente pela expressão:
Patrimônio Líquido = Ativo - Passivo
2.2 Capital de Giro
O capital de giro corresponde ao ativo circulante que apoia as
transações do cotidiano de uma organização e traduz a parte do investimento
que circula de um formato a outro, durante o desenvolvimento das operações dos
negócios.
Para Hoji (2001, p. 109) “O capital de giro é conhecido também como
capital circulante líquido e corresponde aos recursos aplicados em ativos circulantes,
que se transformam, constantemente, dentro do ciclo operacional”.
Na expressão capital de giro, a palavra giro traduz os recursos correntes
da empresa, normalmente com a capacidade de serem transformados em caixa no
prazo de um ano (ASSAF NETO; SILVA, 2012).
22
Segundo Ross (2009, p. 40) “A expressão capital de giro refere-se aos
ativos de curto prazo da empresa tais como estoques e aos passivos a curto prazo,
tais como pagamentos devidos a fornecedores.”
Para Assaf Neto e Silva (2012, p. 3),
O capital de giro representa os recursos demandados por uma empresa para financiar suas necessidades operacionais identificadas desde a aquisição de matérias-primas (ou mercadorias) até o recebimento pela venda do produto acabado.
Unger (1976, p. 33) afirma que o capital de giro,
é o montante total do qual a empresa necessita para fazer funcionar suas instalações e aprontar o produto para a venda e é provocado pela existência dos seguintes fatores: - estoque de matérias-primas; -estoque de matérias-primas secundárias, matérias de manutenção e produto em curso de elaboração; - estoque de produto acabado; - valor acrescido na fabricação; - financiamento dos clientes que não pagam à vista, e - necessidade de caixa para movimentação de contas bancárias.
Percebe-se que o capital de giro está intimamente ligado ao cotidiano dos
negócios, tendo em vista que revela o ciclo de vida das empresas, ou seja: comprar,
estocar, vender, pagar e receber. Neste ciclo operacional está a grande importância
do capital de giro, pois suas implicações refletem diretamente e no curto prazo na
saúde financeira das empresas.
A figura abaixo retrata o ciclo operacional de um negócio.
Compra de Início da Fim da Recebimento Matéria-prima fabricação fabricação Venda da Venda
Figura 3 - Ciclo operacional
Fonte: Assaf Neto e Silva (2012, p. 9) – Adaptado pelo Autor
Na figura 4 é possível identificar, sequencialmente, todas as etapas do
ciclo operacional de um negócio.
23
De acordo com Assaf Neto e Silva (2012, p. 8) “o ciclo operacional
incorpora, sequencialmente, todas as fases operacionais presentes no processo
empresarial de produção-venda-recebimento”.
O capital de giro pode ser dividido em fixo e variável. O fixo retrata o
volume mínimo do ativo circulante necessário para manter a instituição em
condições normais de funcionamento, ou seja, compreende a quantidade de
recursos mínimos necessários para honrar os compromissos da empresa de
maneira a possibilitar o funcionamento do negócio. A variável trata das
necessidades adicionais de recursos que ocorrem em determinados períodos e que
são motivadas por compras antecipadas de estoques, maior morosidade no
recebimento de clientes, recursos do disponível em trânsito, maiores vendas em
determinados meses do ano (ASSAF NETO; SILVA, 2012).
24
3 ADMINISTRAÇÃO DO GAPITAL DE GIRO
A administração do capital de giro implica na gestão sobre as decisões
de compras, vendas, e das diversas atividades operacionais do negócio, tendo
como objetivo principal a manutenção da saúde financeira da empresa
(ASSAF NETO; SILVA, 2012).
Para Ross (2009, p. 40) “A administração do capital de giro da empresa
é uma atividade cotidiana que assegura que os recursos sejam suficientes
para continuar a operação, visando evitar interrupções dispendiosas.” Segundo
Assaf Neto e Silva (2012, p. 5) “a administração do capital de giro diz
respeito à administração das contas dos elementos de giro, ou seja, do ativos e
passivos correntes (circulantes) e às inter-relações existentes entre eles.”
O administrador financeiro é o profissional que irá definir o nível adequado
de estoques, os investimentos em créditos a clientes, princípios de gerenciamento
de caixa e a estrutura dos passivos correntes, com o objetivo de manter determinado
nível de rentabilidade e liquidez da empresa, alinhando aos objetivos
organizacionais. (ASSAF NETO; SILVA, 2012).
Neste contexto é de suma importância para o processo decisório e
consequentemente para uma boa administração do capital de giro, a qualidade das
informações que irão embasar as decisões financeiras. Essas informações são
obtidas pelos administradores financeiros a partir da análise das demonstrações
financeiras das empresas.
Berti (1999, p.11) afirma que a administração do capital de giro
é uma tarefa difícil, dado o volume de informações que envolvem a tomada de decisão. Para que esta seja sempre no sentido de conseguir os resultados esperados, o administrador precisa ter informações que sirvam como subsídios no contexto administrativo.
A análise do capital de giro tem como principal objetivo conhecer
a capacidade de uma organização em pagar seus compromissos nos
prazos acordados, com o intuito de fornecer informações que sirvam para embasar
a tomada de decisão.
25
Nos próximos tópicos serão abordados dois modelos para realizar a
análise do capital de giro de uma empresa.
3.1 Análise Tradicional do Capital de Giro
A análise tradicional constitui o modelo mais utilizado pelos
analistas financeiros e é realizada mediante a utilização de um conjunto de
indicadores, onde através deles é possível conhecer a saúde financeira das
empresas.
Este método de análise busca conhecer a capacidade financeira de uma
empresa em liquidar seus compromissos nos prazos acordados. Assaf Neto e Silva
(2012, p. 65) afirmam que esta metodologia objetiva “explicar e qualificar essa
capacidade de pagamento da empresa”.
Segundo Vieira (2008, p. 65) a análise do capital de giro “é
tradicionalmente realizada através do cálculo dos chamados índices de liquidez e do
valor do capital circulante líquido (CCL) obtidos a partir das informações extraídas do
balanço patrimonial.”
Uma dos motivos para realizar a analise o capital de giro, segundo Berti
(1999, p. 35), é conhecer se existem “recursos para saldar as obrigações e os
indicadores de liquidez mostram exatamente a capacidade de pagamento”.
Nos próximos tópicos serão apresentados os conceitos e interpretações
das medidas financeiras utilizadas para realizar a análise tradicional do capital de
giro.
3.1.1 Indicadores de Liquidez
Os indicadores são definidos como uma relação entre contas ou grupo
de contas das demonstrações financeiras com o objetivo de identificar algum
aspecto da situação financeira de uma organização. Eles demonstram a
26
situação financeira da empresa através da relação entre ativos circulantes
e as dívidas (MATARAZZO, 2010).
Através da utilização dos indicadores de liquidez é possível identificar se
a empresa possui capacidade de pagamento, ou seja, se existem recursos
suficientes para saldar as obrigações (BERTI, 1999).
Para Matarazzo (2010, p. 99), uma
empresa com bons índices de liquidez tem condições de ter boa capacidade de pagar suas dívidas, mas não estará, obrigatoriamente, pagando suas dívidas em dia em função de outras variáveis como prazo, renovação de dívidas etc.
Os principais indicadores de liquidez são: liquidez geral, liquidez corrente,
liquidez seca, liquidez imediata e o capital circulante líquido.
3.1.2 Liquidez Geral
O índice de liquidez geral retrata quanto a instituição possui de recursos
a curto e longo prazo para o pagamento das obrigações a curto e longo prazo
(BERTI, 1999).
Ele apresenta, em síntese, como anda a saúde financeira global da
empresa, indicando se será possível liquidar todas as dívidas de curto ou de longo
prazo.
Para calcular a liquidez geral, Marion (2011), apresenta a fórmula
abaixo:
LG = AC + RLP
PC + PNC
Onde:
AC = Ativo Circulante
RLP = Realizável a Longo Prazo
PC = Passivo circulante
27
PNC = Passivo não Circulante
O resultado obtido a partir do cálculo deste índice informa quanto a
empresa tem no ativo circulante e realizável a longo prazo para cada R$ 1,00 de
dívida total (MATARAZZO,2010).
Referente à interpretação do resultado deste indicador, Marion (2011, p.
168), afirma que quando a liquidez geral
for igual ou superior a 1, pode-se afirmar, em princípio, que a entidade se encontra satisfatoriamente estruturada do ponto de vista financeiro. Por outro lado, quando esse quociente for inferior a 1, pode-se, em princípio, dizer que a empresa se encontra em situação de insolvência, pois os capitais de terceiros (obrigações totais) financiam todo o Ativo Circulante e Realizável a Longo prazo, além de parte do ativo fixo, revelando que a empresa se encontra nas mãos de terceiros.
Ainda a respeito da interpretação da liquidez geral pode-se inferir que:
quanto maior for o resultado melhor. Se o resultado obtido, portanto, for maior que 1,
a empresa consegue pagar todas as suas dívidas e ainda dispõe de uma folga
financeira, porém, quando o resultado for menor que 1, significa que a empresa
precisa gerar recursos para pagar suas dívidas.
3.1.3 Liquidez Corrente
A liquidez corrente retrata a situação financeira de curto prazo da
organização indicando se existe dinheiro disponível ou recursos rapidamente
realizáveis para liquidar somente as dívidas de curto prazo.
Segundo Marion (2011, p. 169) esse “quociente relaciona quantos reais
temos imediatamente disponíveis e conversíveis, a curto prazo, em dinheiro com
relação às dívidas de curto prazo”.
Para calcular a liquidez corrente Matarazzo (2010) apresenta a fórmula
abaixo:
LC = AC
PC
Sendo:
28
LC= Liquidez corrente
AC= Ativo circulante
PC= Passivo circulante
O resultado do índice de liquidez corrente apresenta quanto a
organização possui no seu ativo circulante, para cada R$ 1,00 de dívida de curto
prazo (ASSAF NETO; SILVA, 2012).
Para Berti (1999, p.35) a “liquidez corrente mostra quanto a empresa
possui de recursos a curto prazo, para pagar as obrigações a curto prazo. Para cada
real de obrigação a curto prazo, quanto ela possui de recursos”.
Referente à interpretação do resultado deste indicador, Vieira (2008, p.
51) afirma que sob “a ótica da liquidez, quanto mais elevada melhor”. Para Marion
(2011, p. 170), quando a liquidez corrente
for superior a 1, a empresa poderá, em certos momentos, não dispor de dinheiro suficiente para cobrir compromissos imediatos. Entretanto, se a folga financeira for muito pequena ou o quociente for inferior a 1, a empresa poderá encontrar dificuldades para cobrir seus compromissos, bem como para captar dinheiro no mercado”.
Quanto maior for o resultado obtido, entretanto, mais disponibilidade de
recursos a empresa possui para saldar suas dívidas.
3.1.4 Liquidez Seca
Este indicador retrata a situação financeira de curto prazo da empresa,
excluindo a incerteza da transformação dos estoques em recursos monetários,
portanto, ele mostra se todas as obrigações de curto prazo podem ser pagas sem
considerar os estoques.
O índice de liquidez seca para Assaf Neto e Silva (2012, p. 22) mede “ o
percentual das dívidas de curto prazo em condições de serem liquidadas mediante o
uso de ativos monetários de maior liquidez”.
29
Para Marion (2011, p. 170) esse indicador “apresenta uma posição bem
realista e conservadora da liquidez da empresa em determinado momento, sendo
preferido pelos emprestadores de capitais”.
Para obtenção do índice de liquidez seca Vieira (2008) apresenta a
fórmula abaixo:
LS = AC – E
PC
Onde:
LS = Liquidez Seca
AC = Ativo Circulante
E = Estoques
PC = Passivo Circulante
O resultado da liquidez seca indica quanto a empresa possui de ativo
líquido para cada R$ 1,00 real de dívidas de curto prazo, portanto, quanto maior o
resultado melhor (MATARAZZO, 2010).
3.1.5 Liquidez Imediata
Este indicador verifica se a organização possui a capacidade de honrar
suas obrigações correntes apenas com o saldo disponível (ASSAF NETO; SILVA,
2012).
Segundo Berti (1999, p.35) a liquidez imediata “é a relação entre o
disponível (caixa, banco c/movimento etc.) e as obrigações a curto prazo. Quanto a
empresa possui recursos imediatos para pagamento de obrigações a curto prazo”.
Vieira (2008, p. 51) afirma que a liquidez imediata representa
o montante de valores disponíveis para fazer frente a cada unidade monetária dos compromissos registrados no passivo circulante, sem levar em consideração a eventual utilização de recursos que não os existentes no caixa, bancos e aplicações financeiras de liquidez imediata.
30
Para obtenção da liquidez imediata Berti (1999) apresenta a fórmula
abaixo:
LI = D
PC
Sendo:
LI = Liquidez Imediata
D = Disponível
PC = Passivo Circulante
Quanto à interpretação do resultado da Liquidez Imediata Vieira (2008, p.
51) afirma que na “ótica da liquidez, quanto mais elevada melhor”.
3.1.6 Capital Circulante Líquido
O capital circulante líquido para Vieira (2008, p. 49) é
um valor monetário (um montante de dinheiro) calculado pela diferença entre os recursos que se prevê estarão disponíveis e as obrigações vencíveis a curto prazo. Representa uma folga financeira da empresa em fazer frente aos seus compromissos registrados no passivo circulante. Sob a ótica da liquidez, quanto mais elevada melhor.
Segundo Matarazzo (2010, p. 96) o capital circulante líquido, “representa
a folga financeira a curto prazo, ou seja, financiamentos de que a empresa dispõe
para o seu giro e que não serão cobrados a curto prazo”.
Para a obtenção do valor do capital circulante líquido, Assaf Neto e Silva
(2012) apresenta a fórmula abaixo:
CCL = AC - PC
Sendo:
CCL = Capital circulante líquido
31
AC = Ativo circulante
PC = Passivo Circulante
Quando o passivo circulante for superior ao ativo circulante a
empresa terá o seu capital de giro circulante negativo, significando que os
recursos de longo prazo não conseguem pagar suas aplicações de
longo prazo, tendo que usar recursos do passivo circulante para esta
operação. A instituição está utilizando, portanto, os recursos passivos
correntes para cobrir seus investimentos permanentes (ASSAF NETO; SILVA,
2012).
A figura abaixo mostra de maneira resumida a localização do capital
circulante líquido negativo no balanço patrimonial.
Ativo Circulante (AC)
Passivo Circulante (PC)
Ativo não Circulante (ANC)
CCL < 0 (Negativo)
Passivo não Circulante (PNC)
Patrimônio Líquido (PL)
Figura 4 - Capital Circulante Líquido negativo.
Fonte: Assaf Neto e Silva (2012, p. 7) – Adaptado pelo Autor
A parte cinza da figura 5 retrata o CCL negativo, portanto, a parte do
passivo circulante que está pagando as aplicações de longo prazo.
Quando o ativo circulante for maior que o passivo circulante o
capital de giro líquido será positivo, significando que parte do ativo circulante
está sendo financiado pelo passivo não circulante, por recursos de longo
prazo. Os recursos arrecadados no longo prazo estão aplicados em ativos
de longo prazo e a sobra está sendo utilizada para cobrir o capital de giro
da instituição, denotando uma folga financeira (ASSAF NETO; SILVA, 2012).
32
A figura abaixo retrata a situação do balanço patrimonial de uma empresa
que possui o CCL positivo.
Ativo Circulante (AC)
Passivo Circulante (PC)
CCL > 0 (Positivo)
Passivo não Circulante (PNC)
Ativo não Circulante (ANC)
Patrimônio Líquido (PL)
Figura 5 - Capital Circulante líquido positivo.
Fonte: Assaf Neto e Silva (2012, p. 6) – Adaptado pelo Autor
A parte cinza da figura 6 representa o CCL positivo, sendo assim, a parte
do ativo circulante que está sendo paga por recursos de longo prazo.
3.2 Análise Dinâmica do Capital de Giro
O modelo dinâmico foi desenvolvido por Michael Fleuriet e Georges Blanc
com a Fundação Dom Cabral, nos anos 1975-1978, e aprimorado vinte e
cinco anos depois com o apoio de outros autores. Atualmente o modelo, também
conhecido como modelo Fleuriet, é utilizado em instituições financeiras como
Serasa, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
Banco Itaú e Banco do Brasil, Caixa Econômica entre outras (FLEURIET; KEHDY;
BLANC, 2003).
Este modelo é estruturado em três conceitos: Necessidade de Capital
de Giro, Capital de Giro e Saldo de Tesouraria. Para aplicar o método dinâmico é
preciso realizar uma reclassificação do balanço patrimonial (FLEURIET; KEHDY;
BLANC, 2003).
33
Nos próximos tópicos deste trabalho serão abordados os principais
conceitos e métodos para aplicação do modelo dinâmico no balanço patrimonial das
empresas.
3.2.1 Reclassificação do Balanço Patrimonial
Para aplicar o modelo dinâmico de análise do capital de giro é necessário
reclassificar as contas do balanço patrimonial com o objetivo de enfatizar os ciclos
econômico e financeiro. (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003).
A apresentação tradicional do balanço patrimonial, segundo Vieira (2008,
p. 71) “se mostra inadequada para uma análise de liquidez, principalmente à luz
da empresa no desenvolvimento normal das suas operações, ou seja, em
funcionamento”.
A reclassificação do balanço patrimonial consiste em uma nova
classificação das contas levando em consideração o ciclo econômico e o
ciclo financeiro, dividindo o grupo dos ativos e passivos circulantes em
erráticos (financeiro) e cíclicos (operacional), tendo em vista que algumas
contas do ativo e passivo circulantes se renovam na medida em
que se desenvolvem as atividades empresariais (FLEURIET; KEHDY; BLANC,
2003).
Para Vieira (2008, p.74) a reclassificação do balanço patrimonial “se
fundamenta na dinâmica financeira da empresa e reflete o seu ciclo”.
O ciclo econômico corresponde ao prazo transcorrido entre as entradas
de insumos e as saídas de produtos acabados. Já o ciclo financeiro corresponde ao
prazo entre as saídas de caixa e as entradas de caixa (FLEURIET; KEHDY;
BLANC, 2003).
A figura abaixo ilustra os ciclos econômico e financeiro de uma empresa.
34
Figura 6 - Ciclo econômico e ciclo financeiro.
Fonte: Vieira (2008, p. 75)
A figura 7 apresentou o ciclo econômico e financeiro tornando visível a
defasagem entre os ciclos o qual é resultado do relacionamento da organização com
os clientes e fornecedores.
A reclassificação do balanço vislumbra evidenciar estes ciclos na análise
do capital de giro, proporcionando uma análise da dinâmica do negócio.
A figura abaixo apresenta o balanço patrimonial reclassificado para
análise do modelo dinâmico.
35
ATIVO
PASSIVO
ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE
ATIVO ERRÁTICO (FINANCEIRO)
- Caixa e Bancos
- Aplicações financeiras
- Outras contas não operacionais
ATIVO CÍCLICO (OPERACIONAL)
- Clientes
- Estoques
- Outras contas operacionais
PASSIVO ERRÁTICO (FINANCEIRO)
- Empréstimos e financiamentos
- Debêntures
- Dividendos a pagar
- Outras contas não operacionais
PASSIVO CÍCLICO (OPERACIONAL)
- Fornecedores
- Salários e encargos
- Impostos operacionais
- Outras contas operacionais
ATIVO NÃO CIRCULANTE
PASSIVO NÃO CIRCULANTE
- Realizável a longo prazo
- Permanente
- Exigível a longo prazo
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Figura 7 - Balanço patrimonial reclassificado
Fonte: Vieira (2008, p. 74) – Adaptado pelo Autor
A figura 8 apresenta o balanço patrimonial pronto para a aplicação do
modelo dinâmico dividindo o ativo e passivo circulantes em errático e cíclico.
O ativo circulante errático ou financeiro é composto pelas contas que não
possuem uma ligação direta com as atividades operacionais, já o ativo circulante
36
cíclico ou operacional é composto por valores que mantêm relação direta com as
atividades operacionais da empresa. O passivo circulante errático ou financeiro é
formado pelas dívidas das empresas com as instituições financeiras e outras
obrigações que não possuem vinculação direta com as atividades operacionais. O
ativo circulante cíclico ou operacional é formado pelas obrigações de curto prazo
com relação direta com a operacionalização do negócio (ASSAF NETO; SILVA,
2012).
3.2.2 Necessidade de Capital de Giro (NCG)
A necessidade de capital de giro é um conceito econômico-financeiro que
faz referência ao saldo de contas cíclicas ligadas ao desenvolvimento operacional
dos negócios (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003).
Matarazzo (2010, p. 284) afirma que a necessidade de capital de giro
representa “quanto a empresa necessita de capital para financiar o giro”.
Segundo Vieira (2008, p. 78) a necessidade de capital de giro “aparece
quando no ciclo financeiro as saídas operacionais ocorrem antes das entradas de
caixa, ou seja, quando o ciclo financeiro é positivo”.
Para Matarazzo (2010, p.283) a “necessidade de capital de giro é a chave
para a administração financeira de uma empresa”.
A fórmula da necessidade de capital de giro é definida por Fleuriet, Kehdy
e Blanc (2003, p. 7) como sendo:
NCG = ativo cíclico – passivo cíclico
A NCG para Vieira (2008, p.86) “representa uma demanda operacional de
recursos permanentes e de longo prazo que a empresa precisa para financiar
enquanto estiver em operação”.
Habitualmente, na maioria das empresas, a necessidade de
capital de giro é positiva, portanto, a atividade operacional do negócio
proporciona um fluxo de saídas de caixa mais rapidamente do que as
37
entradas necessitando, assim, de investimento constante em seu giro
(ASSAF NETO; SILVA, 2012). Segundo Matarazzo (2010, p. 284) quando
a NCG for positiva “a empresa deve encontrar fontes adequadas de financiamento”.
Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p.11) corroboram com esta interpretação afirmando
que “quando positiva reflete uma aplicação permanente de fundos que,
normalmente, deve ser financiada com os fundos permanentes utilizados pela
empresa”.
Entretanto a NCG também pode ser negativa, significando a existência de
recursos disponíveis que podem ser aplicados em outras atividades, ou seja, as
entradas de caixa ocorrem antes das saídas (ASSAF NETO; SILVA, 2012). Para
Matarazzo (2010, p. 285) a NCG negativa indica que “Sobram recursos das
atividades operacionais os quais poderão ser usados para aplicação no mercado
financeiro ou para a expansão da planta fixa”. De acordo com Fleuriet, Kehdy e
Blanc (2003, p. 10) quando a NCG é negativa “O passivo cíclico torna-se maior do
que o ativo cíclico, constituindo-se em fonte de fundos para a empresa”.
A NCG ainda pode ser igual a zero indicando que o ativo cíclico é igual ao
passivo cíclico, implicando que a empresa não tem necessidade de financiamento
para o capital de giro (MATARAZZO, 2010).
3.2.3 Capital de Giro no Modelo Dinâmico
Para Vieira (2008, p.84), o capital de giro
representa as fontes das quais a empresa deve lançar mão para financiar a NCG, de forma a manter a compatibilidade entre as características temporais das fontes e aplicações operacionais.
Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 12) afirmam que o capital de giro
constitui “uma fonte de fundos permanente utilizada para financiar a necessidade de
capital de giro da empresa”.
O capital de giro, no modelo dinâmico, possui o mesmo valor que o capital
circulante líquido definido no sentido financeiro clássico como a diferença entre o
ativo e o passivo circulantes. Porém no modelo de Fleuriet o capital de giro é obtido
38
a partir da diferença entre as contas não cíclicas do ativo e as contas não cíclicas do
passivo (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003). O capital de giro, portanto, é obtido a
partir da fórmula abaixo:
CDG = (PL + PNC) - ANC
Onde:
CDG = Capital de Giro
PL = Patrimônio Líquido
PNC = Passivo não Circulante
ANC = Ativo não Circulante
Apesar de o CDG possuir o mesmo valor do CCL sua base de
interpretação é diferente. Enquanto o CCL retrata o excedente de bens e direitos
disponíveis a curto prazo, o CDG representa um excedente de fontes a longo prazo
em relação às aplicações de longo prazo (VIEIRA, 2008). A figura abaixo apresenta
essa diferença.
Ativo Circulante (AC)
Passivo Circulante (PC)
(CCL)
(CDG)
Ativo não Circulante (ANC)
Passivo não Circulante (PNC)
+
Patrimônio Líquido (PL)
Figura 8 - CDG e CCL no Balanço patrimonial
Fonte: Vieira (2008, p. 85) – Adaptado pelo Autor
39
A figura 9 ilustra a diferença conceitual entre o capital circulante líquido do
modelo tradicional e o capital de giro do modelo dinâmico, evidenciando que o CCL
relaciona contas de curto prazo e o CDG as contas de longo prazo.
O Capital de giro pode ser positivo ou negativo. Quando positivo o CDG
representa uma fonte de recursos de longo prazo que podem ser utilizados para
financiar a NCG e outras aplicações. Quando negativo ele retrata uma aplicação de
longo prazo que precisa ser financiada (VIEIRA, 2008).
3.2.4 Saldo de Tesouraria
O saldo de tesouraria corresponde a uma fonte de curto prazo para
financiar as atividades operacionais quando os recursos de longo prazo do capital de
giro (NCG) não são suficientes (ASSAF NETO; SILVA, 2012).
Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 13) definem o saldo de tesouraria como
“a diferença entre o ativo e o passivo erráticos” ou financeiros. Ou ainda Fleuriet,
Kehdy e Blanc (2003, p. 14) “o Saldo de Tesouraria representa um valor residual
correspondente à diferença entre o Capital de Giro e a Necessidade de Capital de
Giro”.
O saldo de tesouraria possui duas fórmulas, conforme abaixo:
T = AE – PE ou T = CDG – NCG
Sendo:
T = Saldo de tesouraria
AE = Ativo errático
PE = Passivo errático
CDG = Capital de Giro
NCG = Necessidade de Capital de giro
40
O saldo de tesouraria pode ser positivo ou negativo, quando positivo, a
empresa possui fundos de curto prazo que poderão ser aplicados em outras
atividades, como por exemplo, em títulos de liquidez imediata, aumentando assim a
folga financeira da organização. Quando o Saldo de tesouraria for negativo, implica
que o capital de giro não é suficiente para financiar a necessidade de capital de giro,
ou seja, a empresa está financiando parte da NCG com fundos de curto prazo,
aumentado assim o risco de insolvência (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003).
3.2.5 Tipos de Balanço do Modelo Dinâmico
A partir das variações no capital de giro, na necessidade de capital de giro
e no saldo de tesouraria o modelo dinâmico enquadra os balanços das empresas em
quatro tipos. O enquadramento é realizado mediante o resultado e interpretação de
cada variável do modelo dinâmico.
Vieira (2008, p. 107) afirma que a “NCG, CDG e T podem posicionar-se
como fontes ou aplicações de recursos em função do sinal algébrico que tenham
assumido”.
A figura abaixo ilustra essas interpretações.
Variáveis Positiva Negativa
NCG Aplicação Fonte
CDC Fonte Aplicação
T Aplicação Fonte
Figura 9- Variáveis como fontes e aplicações de recursos
Fonte: Vieira (2008, p. 107)
O ciclo econômico e a rentabilidade das empresas atribuem a seus
balanços patrimoniais uma característica particular que permite enquadrá-los em
quatro tipos (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003). A seguir serão apresentados os 4
tipos de balanços.
41
A figura abaixo apresenta os dois tipos de balanços mais comuns.
.
Figura 10 – Tipos 1 e 2 de Balanço patrimonial
Fonte: Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 15)
O tipo 1 retrata uma empresa em que a necessidade de capital de giro
é maior que o capital de giro e por este fato o saldo de tesouraria é
negativo. Significando que a instituição financia parte de sua NCG com créditos a
curto prazo. Neste tipo de balanço a liquidez estará ameaçada se a NCG estiver
normal e se os créditos de curto prazo não forem renovados (FLEURIET; KEHDY;
BLANC, 2003).
Para Vieira (2008, p 109) a situação apresentada no tipo 1 evidencia
“uma demanda operacional que é financiada através de uma composição de
recursos de longo prazo oriundos do CDG (CDG>0) e de recursos de curto prazo
originários de T (T< 0)”.
TIPO 1 TIPO 2
CDG > 0 (no passivo) CDG > 0 (no passivo)
NCG > 0 (no ativo) NCG > 0 (no ativo)
T < 0 (no passivo) T > 0 (no passivo)
T
CDG
T
CDG
42
O tipo 2 apresenta uma empresa com estrutura financeira sólida já que
possui o saldo de tesouraria positivo, o que permite suportar aumentos temporários
da NCG (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003).
Na conjuntura apresentada no tipo 2, Vieira (2008, p.110) afirma que é “
uma estrutura bastante confortável do ponto de vista financeiro, pois existe uma
disponibilidade de recursos de longo prazo aplicados no curto prazo”.
A figura abaixo apresenta os tipos 3 e 4.
Figura 11 – Tipos 3 e 4 de Balanço patrimonial
Fonte: Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 15)
O tipo 3 retrata uma empresa que batalha para permanecer viva no
mercado, pois sua estrutura financeira apresenta risco de insolvência elevado já que
financia a NCG e parte do ativo não circulante com fundos de curto prazo que
podem não ser renovados (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003).
TIPO 3 TIPO 4
CDG < 0 (no ativo) CDG > 0 (no passivo)
NCG > 0 (no ativo) NCG < 0 (no passivo)
T < 0 (no passivo) T > 0 (no ativo)
T
CDG
T
CDG
43
Segundo Vieira (2008, p.109) as empresas que se enquadram no balanço
tipo 3 possuem uma “situação de auto risco financeiro por causa da elevada
dependência dos empréstimos bancários de curto prazo”.
O tipo 4 apresenta uma empresa com alto grau de sensibilidade a
variações nas vendas, quando aumentam as vendas a estrutura financeira é
excelente, quando ocorre redução nas vendas o risco de insolvência aumenta
(FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003).
Para Vieira (2008, p. 110), na situação do tipo 4,
a NCG representa uma fonte de recursos operacionais devido ao ciclo
financeiro negativo (NCG < 0), que, somados aos recursos de longo prazo
proporcionados pelo CDG (CDG>0) são aplicados a curto prazo no saldo de
tesouraria (T) (T>0). É uma estrutura sólida decorrente, em geral, de uma
gestão financeira voltada para a manutenção de baixos níveis de risco
financeiro.
44
4 METODOLOGIA
Este capítulo tem como objetivo apresentar o método científico utilizado
para responder à problemática da pesquisa, bem como para atingir os objetivos
desta monografia.
De acordo com Lakatos e Marconi (2008, p. 44) “não há ciência sem o
emprego de métodos científicos”. Para Ruiz (2008, p. 48) é o “método de abordagem
de um problema em estudo que caracteriza o aspecto científico de uma pesquisa.”
A seguir será realizado o enquadramento científico desta monografia
quanto à natureza, tipologia, instrumento da pesquisa, universo, tratamento e
procedimento operacional.
4.1 Natureza
Este trabalho possui a natureza qualitativa-quantitativa tendo em vista a
utilização dos balanços patrimoniais e de fórmulas algébricas para calcular as
variáveis inerentes ao estudo do capital de giro, visando à extração de informações
para realização da análise do capital de giro pelo modelo tradicional e dinâmico,
interpretando os resultados e comparando as teorias aplicadas.
A abordagem quantitativa, para Oliveira (2002, p.115) “significa quantificar
opiniões, dados, nas formas de coleta de informações, assim como o emprego de
recursos e técnicas estatísticas”.
A abordagem qualitativa, para Leite (2008, p.100), é decorrente “de
pesquisas teóricas, pesquisas exploratórias documentais e outras que possuem
caráter de investigação lógica ou histórica”. Ainda para Leite (2008, p.100) “Uma das
características da aplicabilidade dos métodos qualitativos são as situações em que
se necessita realizar classificações comparativas”.
45
4.2 Tipologia
Para classificar o tipo da pesquisa foi utilizada a taxonomia de Vergara
(2009) classificando o estudo quanto aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins esta monografia é do tipo descritiva pois não vislumbra
interferir nas teorias referentes ao capital de giro e sim descrever os modelos de
análise, possibilitando uma comparação através dos resultados de cada modelo.
Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p.61) afirmam que a pesquisa descritiva “observa,
registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los.”
Quanto aos meios esta monografia classifica-se como bibliográfica-
documental e estudo de caso.
Bibliográfica pois foi realizado um levantamento teórico através da
pesquisa em livros acerca do capital de giro e os seus métodos de análise. Para
Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p.60) a “pesquisa bibliográfica procura explicar um
problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos, livros, dissertações
e teses. Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa
descritiva”. Segundo Oliveira (2002, p. 119) a “pesquisa bibliográfica tem por
finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram
sobre determinado assunto ou fenômeno”. Conforme Andrade (2009 p. 115) a
pesquisa bibliográfica “utiliza fontes secundárias, ou seja, livros e outros
documentos”
Documental tendo em vista a utilização dos balanços patrimoniais da
Petrobras e da Vale os quais constituem um documento empresarial para aplicação
prática das teorias de análise do capital de giro. Segundo Andrade (2009 p.115) a
pesquisa documental “ baseia-se em documentos primários originais”. Para Cervo,
Bervian e Da Silva (2007, p.62) na pesquisa documental “são investigados
documentos com o propósito de descrever e comparar”.
Para o estudo de caso foram escolhidos dois casos específicos, Petrobras
e Vale para a aplicação prática da teoria e comparação dos resultados obtidos por
cada método de análise. Para Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p.62) o estudo de
caso “é a pesquisa sobre determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade”.
46
4.3 Instrumento de Pesquisa
O instrumento utilizado para a realização da pesquisa foram os
documentos, os balanços patrimoniais os quais foram obtidos a partir das
demonstrações financeiras disponíveis no site das respectivas empresas.
4.4 Universo
Esta monografia trata de um estudo de caso e o universo definido foram
duas empresas de diferentes áreas de atuação. A escolha das empresas se deu
devido à relevância das mesmas para a economia brasileira e por se tratar de
empresas de capital aberto que possuem as demonstrações financeiras auditadas
por auditores independentes, proporcionando maior credibilidade aos resultados
obtidos.
4.5 Tratamento
Vislumbrando uma análise mais eficiente os balanços patrimoniais das
empresas foram tratados e reorganizados antes da realização das análises do
capital de giro. Esta organização se deu por meio da utilização da padronização de
balanços proposta por Matarazzo (2010) adaptando este modelo de padronização à
lei 11.941/2009.
Matarazzo (2010, p.70) afirma que “As demonstrações financeiras
devem ser preparadas para a análise da mesma forma que um paciente que vai
submeter-se a exames médicos”. A padronização de balanços consiste numa
transcrição das contas para um modelo previamente definido, proporcionando
simplificação, comparabilidade e adequação aos objetivos da análise (MATARAZZO,
2010).
Através deste procedimento pretende-se obter um resultado preciso,
tendo em vista que o modelo de Matarazzo prepara o balanço para a análise do
capital de giro tanto para o modelo tradicional quanto para o dinâmico.
O quadro abaixo apresenta o modelo de padronização utilizado neste
estudo.
47
Quadro 2 - Modelo de padronização de Balanço
2009 2010 2011
Ativo
Ativo Circulante
Financeiro (errático)
Disponibilidades
Outros valores financeiros
Operacional (cíclico)
Clientes - Valor Líquido
Estoques
Outros valores operacionais
Não Circulante
Realizável a longo prazo
Empr.a PF e/ou PJ ligadas
Outros valores
Despesas do exercício seguinte
Investimentos
Investimentos
Imobilizado líquido
Imobilizado - valor bruto
Depreciação acumulada
Intangível
Intangível
Passivo
Passivo circulante
Financeiro (errático)
Emprést./Financ./Dup.Descontadas
Imposto de renda e contribuição social
Dividendos a pagar
Outros valores financeiros
Operacional (cíclico)
Fornecedores
Adiantamentos de clientes
Obrig. trabalhistas e fiscais a recolher
Outras contas valores operac. a pagar
Não Circulantes
Empréstimos e financiamentos
Empr.a sócios/diret./empresas ligadas
Outros valores
Patrimônio líquido
Capital Social
Reservas de capital e de lucro
Ajuste de Aval.Patrim./Ações em Tes.
Prejuízo acumulado
BALANÇOS EM:
Fonte: Matarazzo (2010, p. 73) – Adaptado pelo autor
48
4.6 Procedimento Operacional
A coleta de dados foi realizada na internet na última semana do mês de
março de 2013. No dia 25.03.2013 foi realizado o dowload dos balanços
patrimoniais da Petrobras e Vale dos anos de 2009 a 2011 no site das respectivas
empresas. Entre os dias 08 e 15 de maio os balanços foram padronizados, utilizando
o modelo de Matarazzo (2010) e colocados em uma planilha do Microsoft Excel
2003.
Entre os dias 16 e 18 de Maio as fórmulas algébricas inerentes aos dois
modelos de análise do capital de giro foram inseridas em uma planilha do Microsoft
Excel 2003. Posteriormente foram obtidos os resultados de cada variável.
De posse dos valores numéricos das variáveis dos dois modelos entre os
dias 20 e 22 de Maio foi realizada a interpretação dos resultados de acordo com o
referencial teórico.
Após aplicação dos modelos foi utilizado o Método Comparativo para
realizar a avaliação e comparação das teorias, visando alcançar o objetivo principal
desta monografia. Para Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p.32) “a comparação é a
técnica científica aplicável sempre que houver dois ou mais termos com as mesmas
propriedades gerais ou características particulares”.
49
5 ESTUDO DE CASO
Este capítulo apresenta o estudo de caso nas empresas Petróleo
Brasileiro S/A e na Vale S/A.
Inicialmente as empresas serão apresentadas, posteriormente serão
apresentados os balanços padronizados seguidos pela análise tradicional e
dinâmica do capital de giro, tendo como fonte o balanço patrimonial das respectivas
empresas. Por fim será efetuada uma comparação entre os resultados obtidos a
partir de cada modelo.
5.1 Apresentação das Empresas
Nesta parte do trabalho será realizada a apresentação resumida de cada
empresa abordando o perfil, a importância e área de atuação.
5.1.2 Petrobras
A Petrobras é uma sociedade anônima de capital aberto fundada em
1953, cuja razão social é: Petróleo Brasileiro S/A. A empresa possui atividades em
24 países e em todos os continentes.
Ela é líder do setor petrolífero no Brasil e a quinta maior companhia de
energia do mundo, com base no valor de mercado, segundo o ranking da consultoria
PFC Energy.
A Petrobras atua na indústria de óleo, gás e energia de forma
integrada e especializada nos segmentos de exploração e produção,
refino, comercialização, transporte de óleo e gás natural, petroquímica, distribuição
de derivados, energia elétrica, bicombustíveis e outras fontes renováveis de
energia.
É a quarta marca brasileira mais valiosa de 2012 segundo pesquisa
realizada pela Interbrand, líder mundial há mais de 30 anos em consultoria,
50
estratégia e estudos de marcas. A IR Magazine premiou a Petrobras pelo Melhor
Programa de Relações com Investidores para Acionistas Individuais, e ainda,
concedeu menção honrosa em três categorias: Melhor Website de RI, Melhor
Relatório Anual e Melhor Marca Corporativa (branding).
5.1.2 Vale
A Vale S.A, é uma sociedade anônima de capital aberto com sede no
estado do Rio de Janeiro, Brasil. Obteve seu primeiro registro em outubro de 1943
na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e hoje tem seus papéis negociados nas
bolsas de São Paulo (BM&F BOVESPA), Nova York (NYSE), de Paris
(NYSEEuronext) e de Hong Kong (HKEx).
Ela é líder mundial na produção de minério de ferro e pelotas e a segunda
maior produtora de níquel. É uma mineradora brasileira presente em 38 países, nos
cinco continentes, com a missão de transformar recursos minerais em riqueza e
desenvolvimento sustentável.
A Companhia e suas controladas diretas e indiretas têm como atividade
preponderante a pesquisa, produção e comercialização de minério de ferro e
pelotas, níquel, fertilizantes, cobre, carvão, manganês, ferro-ligas, cobalto, metais do
grupo de platina e metais preciosos. Atua nos segmentos de energia, logística e
siderurgia.
5.2 Balanços Padronizados
Nesta parte do trabalho serão apresentados os balanços padronizados
das duas empresas de 2009, 2010 e 2011. O modelo de padronização utilizado
apresenta apenas as contas essenciais do ativo e do passivo, tornando o balanço
pronto para análise.
Segue abaixo, no quadro 3 os balanços padronizados da Petrobras de
2009 a 2011.
51
Quadro 2 - Balanço Padronizado da Petrobras
2009 2010 2011
Ativo 350.419 516.846 599.150
Ativo Circulante 74.374 105.902 121.164
Financeiro (errático) 29.158 55.429 52.555
Disponibilidades 29.034 29.416 35.747
Outros valores financeiros 124 26.013 16.808
Operacional (cíclico) 45.216 50.473 68.609
Clientes - Valor Líquido 14.062 18.069 22.053
Estoques 19.448 19.675 28.447
Outros valores operacionais 11.706 12.729 18.109
Não Circulante 276.045 410.944 477.986
Realizável a longo prazo 34.923 37.718 41.187
Empr.a PF e/ou PJ ligadas 3.288 5.432 6.103
Outros valores 15.404 15.248 17.828
Despesas do exercício seguinte 16.231 17.038 17.256
Investimentos 5.772 11.592 12.248
Investimentos 5.772 11.592 12.248
Imobilizado líquido 227.079 280.095 342.267
Imobilizado - valor bruto 227.079 280.095 342.267
Depreciação acumulada
Intangível 8.271 81.539 82.284
Intangível 8.271 81.539 82.284
Passivo 350.419 516.846 599.150
Passivo circulante 55.161 55.948 68.212
Financeiro (errático) 31.182 31.739 36.800
Emprést./Financ./Dup.Descontadas 15.166 14.915 18.884
Imposto de renda e contribuição social 10.590 10.060 10.969
Dividendos a pagar 3.828 5.286 5.438
Outros valores financeiros 1.598 1.478 1.509
Operacional (cíclico) 23.979 24.209 31.412
Fornecedores 17.082 17.374 22.252
Adiantamentos de clientes -
Obrig. trabalhistas e fiscais a recolher 2.304 2.551 3.182
Outras contas valores operac. a pagar 4.593 4.284 5.978
Não Circulantes 128.363 151.070 198.714
Empréstimos e financiamentos 86.545 100.667 136.405
Empr.a sócios/diret./empresas ligadas 52 - -
Outros valores 41.766 50.403 62.309
Patrimônio líquido 166.895 309.828 332.224
Capital Social 78.967 205.357 205.380
Reservas de capital e de lucro 83.479 101.324 122.623
Ajuste de Aval.Patrim./Ações em Tes. 4.449 3.147 4.221
Prejuízo acumulado - -
PETROBRAS ( EM R$ MILHÕES)BALANÇOS EM:
Segue abaixo, no quadro 4, os balanços padronizados da Vale.
52
Quadro 4 - Balanço Padronizado da Vale
2009 2010 2011
Ativo 177.738 214.662 241.782
Ativo Circulante 36.793 54.268 42.095
Financeiro (errático) 19.957 16.543 8.695
Disponibilidades 13.221 13.469 7.458
Outros valores financeiros 6.736 3.074 1.237
Operacional (cíclico) 16.836 37.725 33.400
Clientes - Valor Líquido 5.643 13.962 16.236
Estoques 5.913 7.592 10.351
Outros valores operacionais 5.280 16.171 6.813
Não Circulante 140.945 160.394 199.687
Realizável a longo prazo 10.995 8.088 10.913
Empr.a PF e/ou PJ ligadas 286 282 1.303
Outros valores 7.654 5.112 5.412
Despesas do exercício seguinte 3.055 2.694 4.198
Investimentos 4.562 3.945 10.917
Investimentos 4.562 3.945 10.917
Imobilizado líquido 108.948 130.087 158.105
Imobilizado - valor bruto 108.948 130.087 158.105
Depreciação acumulada
Intangível 16.440 18.274 19.752
Intangível 16.440 18.274 19.752
Passivo 177.738 214.662 241.782
Passivo circulante 17.470 31.384 22.225
Financeiro (errático) 11.801 23.522 10.403
Emprést./Financ./Dup.Descontadas 5.956 6.010 3.872
Imposto de renda e contribuição social 622 1.765 2.037
Dividendos a pagar 2.907 8.104 2.207
Outros valores financeiros 2.316 7.643 2.287
Operacional (cíclico) 5.669 7.862 11.822
Fornecedores 3.849 5.804 9.157
Adiantamentos de clientes
Obrig. trabalhistas e fiscais a recolher 1.556 1.966 2.527
Outras contas valores operac. a pagar 264 92 138
Não Circulantes 59.975 66.952 72.866
Empréstimos e financiamentos 36.132 37.779 42.753
Empr.a sócios/diret./empresas ligadas 103 3 230
Outros valores 23.740 29.170 29.883
Patrimônio líquido 100.293 116.326 146.691
Capital Social 56.556 55.650 79.371
Reservas de capital e de lucro 49.272 72.487 78.105
Ajuste de Aval.Patrim./Ações em Tes. (11.538) (11.811) (10.785)
Prejuízo acumulado 6.003
BALANÇOS EM:VALE ( EM R$ MILHÕES)
53
5.3 Análise Tradicional do Capital de Giro
Para a realização da analise tradicional serão aplicados os indicadores de
liquidez geral, corrente, seca, imediata e o capital circulante líquido (CCL).
5.3.1 Liquidez Geral
O índice de liquidez geral apresenta como anda a saúde financeira
global da empresa, avaliando a solubilidade no curto e longo prazo.
O quadro abaixo apresenta o resultado da liquidez geral da Petrobras e
da Vale de 2009 a 2011.
Quadro 5:Liquidez geral da Petrobras e da Vale
LIQUIDEZ GERAL
2009 2010 2011
PETROBRAS 0,59 0,69 0,60
VALE 0,61 0,63 0,55
FÓRMULA: LG = (AC+RLP) / (PC+PNC)
EMPRESA
ANO
Fonte: BP da Vale e da Petrobras de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
Os resultados da liquidez geral da Petrobras de 2009 a 2011 foram
inferiores a 1, denotando que a organização não possuía capacidade para pagar
suas dívidas de curto e longo prazo, portanto, a liquidez geral apresenta-se
desfavorável.
Os números indicam uma circunstância indesejável em que para cada R$
1,00 em dívidas a Petrobras possuía para saldá-las: R$ 0,83 em 2009, R$ 0,92 em
2010 e R$ 0,80 em 2011.
A liquidez geral da Vale de 2009 a 2011 também se manteve
abaixo de 1, indicando que a empresa não possuía disponibilidades para saldar
todas as dívidas de curto e longo prazo, mostrando uma situação desfavorável de
liquidez geral.
54
Os resultados da Vale foram indesejáveis, em que, para cada R$ 1,00
em dívidas a empresa possuía para quitá-las: R$ 0,61 em 2009, R$ 0,63 em 2010 e
R$ 0,55 em 2011.
5.3.2 Liquidez Corrente
O índice de liquidez corrente apresenta a situação financeira de curto
prazo da empresa mostrando se existe dinheiro disponível ou recursos rapidamente
realizáveis para liquidar somente as dívidas de curto prazo.
O quadro 6 apresenta respectivamente os resultados dos indicadores de
liquidez corrente da PETROBRAS e da VALE de 2009 a 2011.
Quadro 6: Liquidez corrente da Petrobras e da Vale
LIQUIDEZ CORRENTE
2009 2010 2011
PETROBRAS 1,34 1,89 1,77
VALE 2,10 1,72 1,89
FÓRMULA: LC = AC / PC
EMPRESA
ANO
Fonte: BP da Vale e da Petrobras de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
A liquidez corrente da Petrobras oscilou no período analisado,
apresentando em 2009 o menor valor, porém a empresa possuía capacidade de
saldar todas as dívidas de curto prazo, pois o passivo circulante era menor que o
ativo circulante. Nos exercícios subsequentes houve uma melhora considerável,
demonstrando que os investimentos no ativo foram suficientes para cobrir as dívidas
de curto prazo proporcionando ainda uma folga financeira de 89 % em 2010 e de 77
% em 2011.
Os resultados da Petrobras indicam que para cada R$ 1,00 de dívida de
curto prazo possuía para liquidá-las: R$ 1,34 em 2009, R$ 1,89 em 2010 e R$ 1,77
em 2011.
Nos três exercícios analisados a Vale apresentou uma liquidez corrente
acima de 1 significando que a organização possui a capacidade de saldar as
dívidas de curto prazo. Os resultados indicam que para cada R$ 1,00 em dívidas de
55
curto prazo a empresa possuía para liquidá-las: R$ 2,10 em 2009, R$ 1,72 em 2010
e R$ 1,89 em 2011. Percebe-se uma oscilação na liquidez corrente, porém, nos três
anos a empresa apresentou uma folga financeira, sendo de: 110% em 2009, 72%
em 2010 e 89% em 2011.
5.3.3 Liquidez Seca
O índice de liquidez seca apresenta o quanto a empresa possui de
recursos circulantes para fazer frente às obrigações de curto prazo sem levar em
consideração a venda dos estoques.
O quadro abaixo apresenta, respectivamente, os resultados dos
indicadores de liquidez seca da Petrobras e da Vale de 2009 a 2011.
Quadro 7:Liquidez seca da Petrobras e da Vale
LIQUIDEZ SECA
2009 2010 2011
PETROBRAS 0,99 1,54 1,36
VALE 1,77 1,49 1,43
FÓRMULA: LS = (AC- E) / PC
EMPRESA
ANO
Fonte: BP da Vale e da Petrobras de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
A liquidez seca da Petrobras demonstrou um crescimento ao longo do
período apresentando em 2009 o menor resultado, onde não possuía saldo para
quitar todas as contas de curto prazo. Nos exercícios seguintes a situação melhorou
significativamente, pois se parasse de vender seus estoques teria a capacidade de
pagar todas as contas de curto prazo e ainda dispunha de uma folga financeira de
54% em 2010 e 36% em 2011.
Os valores da liquidez seca indicam que para cada R$ 1,00 de dívida de
curto prazo a Petrobras possuía para quitá-las, desconsiderando a venda dos
estoques: R$ 0,99 em 2009, R$ 1,54 em 2010 e R$ 1,36 em 2011.
A liquidez seca da Vale foi acima de 1 nos três anos denotando uma
situação confortável de liquidez quando consegue pagar todas as dívidas de curto
prazo sem considerar a venda dos estoques. Apesar dos bons números percebe-se
56
uma redução ao longo do período, devido ao aumento de 75% nos estoques da
organização de 2009 para 2011.
Os resultados indicam que para cada R$ 1,00 em dívidas de curto prazo a
Vale possuía para saldá-las sem considerar a venda dos estoques: R$ 1,77 em
2009, R$ 1,49 em 2010 e R$ 1,43 em 2011.
5.3.4 Liquidez Imediata
O índice de liquidez imediata verifica se a organização possui a
capacidade de honrar suas obrigações correntes, de curto prazo, apenas com o
disponível imediato.
O quadro 8 apresenta os resultados do indicador de liquidez imediata da
Petrobras e da Vale de 2009 a 2011.
Quadro 8: Liquidez imediata da Petrobras e da Vale
LIQUIDEZ IMEDIATA
2009 2010 2011
PETROBRAS 0,53 0,99 0,77
VALE 0,67 0,74 0,46
FÓRMULA: LI = (D) / PC
EMPRESA
ANO
Fonte: BP da Vale e da Petrobras de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
A liquidez imediata da Petrobras se manteve inferior a 1 nos três anos,
significando que a empresa não tinha capacidade de pagar todas as obrigações de
curto prazo apenas com o saldo disponível. Observa-se uma variação durante o
período apresentando crescimento de 87% de 2009 para 2010 e uma redução de 22
%de 2010 para 2011.
Os resultados indicam que para cada R$ 1,00 de dívidas de curto prazo a
Petrobras possuía em caixa para pagamento imediato: R$ 0,53 em 2009, R$ 0,99
em 2010 e R$ 0,77 em 2011.
A Vale possui uma situação semelhante pois a liquidez imediata se
manteve abaixo de 1 nos três anos, portanto a organização não possuía valores
57
disponíveis para quitar todas as obrigações de curto prazo. Para cada
R$ 1,00 em dívidas de curto prazo a empresa possuía em caixa para
pagamento imediato das dívidas: R$ 0,67 em 2009, R$ 0,74 em 2010 e R$ 0,46 em
2011.
Os resultados da liquidez imediata das empresas foram abaixo de 1,
porém não significa que elas estejam passando por problemas financeiros, tendo em
vista que este indicador não considera os direitos a receber.
5.3.5 Capital Circulante L íquido
O capital circulante líquido é um valor financeiro, um montante de
recursos, que apresenta a folga financeira de curto prazo da instituição, podendo
assumir um valor negativo ou positivo. O quadro 9 apresenta os resultados do CCL
da PETROBRAS e da VALE de 2009 a 2011.
Quadro 9: CCL da Petrobras e da Vale
CCL (R$ MILHÕES)
2009 2010 2011
PETROBRAS 19.213 49.954 52.952
VALE 19.323 22.884 19.870
FÓRMULA: (AC - PC)
EMPRESA
ANO
Fonte: BP da Vale e da Petrobras de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
O Capital circulante líquido da Petrobras apresentou um crescimento
progressivo nos três exercícios apresentando o menor valor em 2009 e um
crescimento de 160% de 2009 para 2010 e 6% de 2010 para 2011. O CCL positivo
representa uma folga financeira de curto prazo.
O CCL da Vale nos três exercícios foi positivo remetendo uma folga
financeira de curto prazo para a empresa. Percebe-se uma oscilação no CCL ao
longo do período aumentando 18% de 2009 para 2010 e reduzindo 13% de 2010
para 2011.
58
5.3.6 Diagnóstico da Análise Tradicional da Petrobras
A Petrobras apresentou uma evolução nos seus indicadores,
aumentando os valores de 2009 para 2010 e reduzindo de 2010 para 2011,
conforme ilustrado no gráfico abaixo.
Gráfico 1 – Indicadores de Liquidez da Petrobras de 2009 a 2011
Fonte: BP da Petrobras de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
A variação na liquidez corrente foi motivada, principalmente, pelo
crescimento do ativo circulante. A liquidez seca oscilou devido ao aumento dos
estoques e do ativo circulante. A liquidez geral variou devido ao crescimento do ativo
circulante e realizável a longo prazo, passivo circulante e não circulante. A liquidez
imediata variou por causa do aumento no valor do disponível e do passivo circulante.
O gráfico 2 apresenta as variações nos grupos de contas do balanço
patrimonial que proporcionaram as oscilações nos indicadores de liquidez.
59
Gráfico 2-Oscilação das contas no Balanço Patrimonial da Petrobras
-
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
2009 2010 2011
Ativo Circulante
Disponibilidades
Estoques
Realizável a longo prazo
Passivo circulante
Passivo Não Circulante
Fonte: BP da Petrobras de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
O capital circulante líquido apresentou um crescimento ao longo do
período. Este aumento foi motivado pelo crescimento do ativo circulante e a variação
do passivo circulante.
Os resultados dos indicadores de liquidez demonstram que a empresa
aumentou sua solubilidade no decorrer dos exercícios em estudo. Em 2009
três indicadores obtiveram resultados inferiores a 1 retratando um situação com
risco de insolvência no longo prazo, porém com uma folga financeira no curto prazo
de R$ 19 bilhões. Em 2010 e 2011 a situação melhorou quando a liquidez seca foi
maior do que 1 permanecendo apenas com a LG e LI abaixo de 1, significando uma
boa liquidez de curto prazo, apresentando uma folga financeira (CCL) de R$ 49
bilhões em 2010 e de R$ 52 bilhões em 2011, refletindo decisões financeiras que
aumentaram as aplicações financeiras de curto prazo em maior proporção do que o
crescimento das obrigações de curto prazo.
Conclui-se que nos três anos a Petrobras apresentou no curto prazo uma
situação relativamente confortável, porém com dependência dos estoques em 2009
60
e dos valores a receber nos três anos, contando ainda com uma folga financeira,
representando uma margem para manobras e adaptações financeiras com o objetivo
de equilibrar as entradas e saídas de caixa ou para enfrentar sazonalidades de
mercado desfavoráveis para o negócio. Porém no longo prazo a empresa incorre em
risco de insolvência.
5.3.7 Diagnóstico da Análise Tradicional da Vale
A Vale apresentou uma oscilação em todos os indicadores de liquidez,
porém, ao longo do período todos eles reduziram, conforme ilustrado no gráfico 3.
Gráfico 3 – Indicadores de Liquidez da Vale de 2009 a 2011
Fonte: BP da Vale de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
As variações na liquidez geral e corrente foram motivadas pela oscilação
do ativo e passivo circulantes. A liquidez imediata diminuiu devido à redução das
disponibilidades. A liquidez seca diminuiu por causa do aumento progressivo dos
estoques.
61
O gráfico 4 apresenta as variações nos grupos de contas do balanço
patrimonial que resultaram em oscilações nos indicadores de liquidez.
Gráfico 4-Oscilação das contas no BP da Vale
-
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
2009 2010 2011
Ativo Circulante
Disponibilidades
Estoques
Realizável a longo prazo
Passivo circulante
Passivo Não Circulante
Fonte: BP da Vale de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
O capital circulante líquido manteve-se positivo nos três exercícios,
apresentando uma oscilação ao longo do período motivada pela variação no
passivo e ativo circulantes.
Os resultados dos indicadores de liquidez demonstram que a Vale
manteve um bom nível de solubilidade de curto prazo no decorrer dos três
exercícios. A liquidez geral e imediata obtiveram resultados inferiores a 1 nos três
anos, retratando uma situação com risco de insolvência, porém a liquidez corrente e
seca foram superiores a 1, indicando que no curto prazo a empresa possui uma boa
liquidez, contando com um excedente do CCL de RS 19,32 bilhões em 2009, RS
22,88 bilhões em 2010 e RS 19,87 bilhões em 2011, que pode ser utilizado para
enfrentar sazonalidades de mercado.
Conclui-se que a Vale possui uma excelente liquidez de curto prazo,
porém com alta dependência dos direitos a receber, tendo em vista que somente os
valores disponíveis não são suficientes para saldar as dívidas. No longo prazo a
62
instituição não é solúvel, podendo incorrer na falência se os investimentos não
renderem no futuro o fluxo de caixa suficiente para saldar as obrigações de longo
prazo.
5.4 Análise Dinâmica do Capital de Giro
Para a realização da analise dinâmica serão calculados os valores da
Necessidade de Capital de Giro (NCG), do Capital de Giro (CDG) e do Saldo de
Tesouraria (T).
5.4.1 Necessidade de Capital de Giro
A NCG é uma variável que apresenta quanto a empresa necessita de
recursos para financiar o giro.
O quadro 10 apresenta os resultados do NCG da PETROBRAS e da
VALE de 2009 a 2011.
Quadro 10: NCG da Petrobras e da Vale
NCG (R$ MILHÕES)
2009 2010 2011
PETROBRAS 21237 26264 37197
VALE 11167 29863 21578
FÓRMULA: NCG = AO - PCO
EMPRESA
ANO
Fonte: BP da Petrobras e da Vale de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
A NCG da Petrobras foi positiva no decorrer dos três anos apresentando
um aumento progressivo, crescendo 23% de 2009 para 2010 e 41% de 2010 para
2011, significando que cada vez mais que a empresa precisa de aplicação de
recursos constantemente em seu giro. O financiamento da NCG pode ser por meio
de fontes de curto ou de longo prazo.
A Vale apresentou uma NCG positiva nos três anos apresentando uma
variação ao longo do período, crescendo 167% de 2009 para 2010 e uma reduzindo
63
28% de 2010 para 2011. O resultado positivo indica que a empresa necessita
constantemente de recursos para financiar o seu giro.
5.4.2 Capital de Giro
O CDG apresenta o excedente de fontes a longo prazo em relação às
aplicações de longo prazo, podendo ser positivo ou negativo.
O quadro 11 apresenta os resultados do CDG da PETROBRAS e da
VALE de 2009 a 2011.
Quadro 11: CDG da Petrobras e da Vale
CDG (R$ MILHÕES)
2009 2010 2011
PETROBRAS 19213 49954 52952
VALE 19323 22884 19870
FÓRMULA: CDG = (PL + PNC) - ANC
EMPRESA
ANO
Fonte: BP da Petrobras e da Vale de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
O CDG da Petrobras apresentou um aumento, ao longo do período,
obtendo o menor resultado em 2009. O resultado positivo significa a existência de
um excedente de longo prazo para financiar suas atividades operacionais, ou seja, a
NCG é financiada por recursos de longo prazo do capital de giro.
A Vale apresentou resultados positivos indicando a existência de recursos
excedentes de longo prazo para financiar o giro. Observa-se uma oscilação,
crescendo 18% de 2009 para 2010 e reduzindo 13% de 2010 para 2011.
5.4.3 Saldo de Tesouraria
O saldo de tesouraria é um montante residual de recursos de curto prazo,
que pode admitir resultado positivo ou negativo.
O quadro 12 apresenta os resultados do T da Petrobras e da Vale de
2009 a 2011.
64
Quadro 12: T da Petrobras e da Vale
T (R$ MILHÕES)
2009 2010 2011
PETROBRAS -2148 23690 15755
VALE 1420 -6979 -1708
FÓRMULA: T = AF - PF
EMPRESA
ANO
Fonte: BP da Petrobras e da Vale de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
A Petrobras apresentou o T negativo em 2009 indicando que os recursos
de curto prazo estão integralmente financiando as atividades operacionais do
negócio. Nos anos seguintes o T foi positivo significando que existem recursos de
curto prazo excedentes.
O saldo de tesouraria da Vale oscilou durante os três exercícios,
apresentando um valor positivo em 2009 indicando a existência de recursos
excedentes de curto prazo. Nos anos seguintes o T foi negativo assumindo a função
de fonte de recursos quando financia as atividades operacionais do negócio.
.
5.4.4 Tipo de Balanço
Em 2009 a Petrobras apresentou resultados que a enquadram em
empresas com balanços do tipo 1, ou seja, CDG > 0 (no ativo), NCG > 0 (no ativo),
e T < 0 (no passivo). Nos anos seguintes a configuração mudou passando a assumir
o formato de balanços de empresas do tipo 2, ou seja, CDG > 0 (no passivo), NCG
> 0 (no ativo), e T > 0 (no passivo).
A Vale em 2009 obteve resultados que a enquadram em empresas com
balanços do tipo 2, portanto, CDG > 0 (no passivo), NCG > 0 (no ativo), e T > 0 (no
passivo). Nos anos seguintes assumiu o tipo 1, ou seja, CDG > 0 (no passivo), NCG
> 0 (no ativo), e T < 0 (no passivo).
5.4.5 Diagnóstico da Análise Dinâmica da Petrobras
65
A Petrobras apresentou durante o período analisado uma variação na
relação entre os indicadores do modelo dinâmico modificando assim sua estrutura
financeira bem como a liquidez do negócio. O gráfico 5 apresenta as oscilações nos
indicadores do modelo dinâmico.
Gráfico 5- Oscilação nos indicadores do modelo Dinâmico da Petrobras
-10000
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
2009 2010 2011
T
NCG
CDG
Fonte: BP da Petrobras de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
Em 2009 a Petrobras obteve a NCG e o CDG positivos e o T negativo,
apresentando uma situação que não é grave, porém com alta dependência da
renovação dos créditos de curto prazo, pois não existem recursos de longo prazo
suficientes para financiar toda a NCG, ficando a cargo do saldo de tesouraria
complementar o financiamento do giro, configurando o tipo 1 de balanço patrimonial,
o qual retrata empresas que financiam a NCG através de uma composição do CDG
e do T. Esta é a situação mais comum entre as empresas brasileiras.
Nos anos de 2010 e 2011 houve uma melhora obtendo resultados para a
NCG o CDG e o T positivos refletindo uma estrutura financeira sólida, em que os
recursos de longo prazo do CDG financiam integralmente a NCG e detém um
66
excedente no saldo de tesouraria. Nesses anos a Petrobras configurou o tipo de
balanço 2 que é uma estrutura bastante confortável no olhar financeiro, pois existe
uma disponibilidade de recursos de longo prazo aplicados no curto prazo, o que
permite suportar aumentos na NCG resultantes de sazonalidades de mercado.
Conclui-se que a Petrobras tomou decisões que modificaram sua
estrutura financeira, diminuindo o risco de insolubilidade, passando a ter uma
estrutura financeira sólida e confortável, em que as atividades operacionais são
financiadas por recursos de longo prazo.
5.4.6 Diagnóstico da Análise Dinâmica da Vale
A Vale apresentou durante os três exercícios uma oscilação na relação
entre os indicadores do modelo dinâmico, mudando sua estrutura financeira bem
como a liquidez do negócio. O gráfico 6 apresenta as oscilações nos indicadores do
modelo dinâmico.
Gráfico 6- Oscilação nos indicadores do modelo Dinâmico da Vale
-10000
-5000
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
2009 2010 2011
T
NCG
CDG
Fonte: BP da Vale de 2009 a 2011 – Organizado pelo Autor
67
Em 2009 a Vale obteve a NCG o CDG e o T positivos apresentando
uma situação confortável, tendo em vista que as demandas de recursos
operacionais da NCG são financiadas por recursos de longo prazo do CDG e
dispõem de recursos de curto prazo do saldo de tesouraria para realizar aplicações
de curto prazo. Neste ano a Vale configurou o balanço do tipo 2 que é uma estrutura
financeira sólida, pois existe uma reserva de liquidez que pode ser utilizada em
imprevistos no fluxo de caixa.
Em 2010 e 2011 a situação mudou obtendo resultados positivos
para o CDG e NCG e valores negativos para o T. Nesta circunstância as
demandas de recursos da NCG são financiadas por recursos de longo prazo
do CDG e recursos de curto prazo do T configurando o balanço do tipo1 que
é o mais comum em empresas brasileiras onde não existem recursos excedentes,
portanto, a liquidez pode ser ameaçada se os créditos de curto prazo não
forem renovados.
Conclui-se que a Vale tomou decisões financeiras relativas ao capital de
giro que proporcionaram mudanças na estrutura financeira da instituição saindo de
uma circunstância confortável e sem risco de insolvência em 2009 para uma
estrutura, nos anos seguintes, altamente dependente de créditos de curto prazo e
sem margem de segurança para enfrentar sazonalidades de mercado ou variações
no fluxo de caixa.
5.5 Análise dos resultados: modelo tradicional X modelo dinâmico
Ambas as análises mostraram a situação com pouco risco de insolvência
do capital de giro da Petrobras em 2009, bem como a melhora nos anos
subsequentes. Nos resultados da Vale o modelo dinâmico percebeu uma mudança
na estrutura financeira de 2009 para 2010 que não foi identificada na análise
tradicional, onde a empresa deixou de ter recursos excedentes de longo prazo. Essa
mudança de estrutura financeira, a ausência de recursos excedentes, é crucial para
o administrador nas tomadas de decisões, na definição de novos cenários e
concepção de novas estratégias.
68
Os resultados da analise tradicional do capital de giro permitem
evidenciar a capacidade de pagamento da empresa e se há existência de uma
folga financeira de curto prazo. O modelo tradicional, na concepção dos
seus indicadores, considera a organização de maneira estática como se a
cobertura de todas as suas dívidas ocorressem apenas quando da liquidação
dos ativos, ou seja, como se todos os recursos fossem destinados ao
pagamento das contas. Esta situação, porém, ocorre apenas quando a empresa
decreta a falência.
O método de análise tradicional do capital de giro pode obter resultados
que refletem uma falsa imagem de estabilidade da empresa, essa possibilidade
existe pelo fato de considerar nos seus índices ativos que só iriam se
materializar na sua falência (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003). Assaf Neto e
Silva (2012, p. 65) afirmam que os indicadores do modelo tradicional
“não costumam fornecer informações mais conclusivas a respeito de determinada
evolução na posição financeira corrente e esperada da empresa, omitindo
principalmente as efetivas necessidades de investimento em capital de giro”.
Os resultados da análise através do modelo dinâmico evidenciam
como a entidade financia o giro permitindo classificar e qualificar a estrutura e o risco
financeiro. A análise dinâmica envolve o conhecimento efetivo do capital
de giro da empresa verificando o valor necessário para o giro bem como
qual tipo de recurso é utilizado para financiá-lo. Assaf Neto e Silva
(2012, p. 65) comentam que a análise do modelo dinâmico “permite com
razoável precisão técnica melhor conhecer e avaliar a estrutura financeira
das empresas”.
Verifica-se que a diferença básica entre os modelos é o fato
de que na análise tradicional a empresa é considerada de maneira estática
como se estivesse para fechar (falir). O modelo dinâmico a considera como um
organismo vivo e em operação. Outra diferença é referente ao capital de giro
onde no modelo dinâmico ele é obtido pelas contas de longo prazo podendo
representar uma fonte de financiamento de longo prazo enquanto que no tradicional
ele é obtido pelas contas de curto prazo, sendo um excedente de bens e direitos no
curto prazo.
69
Essas diferenças proporcionam vantagens ao modelo dinâmico em
relação ao modelo tradicional, pois permite uma análise mais realista sobre
o capital de giro possibilitando ainda classificar e qualificar a estrutura financeira das
organizações.
70
6 CONCLUSÃO
Tendo em vista a relevância do capital de giro no contexto administrativo
das organizações este estudo destinou-se a confrontar os dois instrumentos de
análise do capital de giro, vislumbrando identificar qual o método mais preciso para
que o administrador financeiro extraia as informações para utilizar no processo
decisório.
A pesquisa alcançou os objetivos propostos no inicio tendo em vista a
realização do levantamento bibliográfico, a aplicação dos modelos de análise do
capital de giro na Petrobras e na Vale e a comparação dos resultados das análises
dos dois modelos.
Com base nos resultados verifica-se que o modelo dinâmico possui
vantagens em relação ao modelo tradicional permitindo identificar o montante de
recursos necessários para financiar o giro, conhecer com qual tipo de recurso a
empresa financia este giro, possibilitando classificar e qualificar a estrutura
financeira da organização.
É importante ressaltar que o modelo dinâmico é mais sensível às
mudanças nas contas circulantes e possui parâmetros com maior sensibilidade a
alterações da situação financeira, visto que enfatiza nos seus quocientes as contas
circulantes. Vale salientar, também, que as informações obtidas a partir dos
indicadores do modelo dinâmico proporcionam um efetivo conhecimento quanto ao
comportamento da estrutura financeira em relação ao seu giro.
A partir do estudo bibliográfico realizado e considerando a aplicação e
comparação dos modelos esta monografia conseguiu responder a problemática que
norteou este estudo, quando evidenciou que o modelo dinâmico qualifica com maior
perfeição o risco e a situação financeira da entidade.
Conclui-se que o modelo dinâmico é mais apropriado para realizar a
análise do capital de giro com foco na obtenção de informações para subsidiar a
tomada de decisão, pois proporciona informações concisas e importantes no
contexto administrativo. O modelo tradicional também apresenta informações
71
relevantes, porém com probabilidade de falha, com foco na capacidade de
pagamento e não esclarecendo a composição do giro.
É necessário ressaltar que as informações obtidas a partir da análise do
capital de giro constituem apenas uma das fontes de informação que o gestor
financeiro deve utilizar para embasar a tomada de decisão. Sabe-se que a decisão é
tomada considerando os objetivos organizacionais e uma série de fatores externos e
internos, cenários e riscos.
Considerando a limitação do estudo em dois casos não é possível fazer
generalizações, portanto é possível que em outros casos o modelo tradicional se
mostre mais eficiente.
72
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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8 ANEXOS
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