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Mariana Socoloski Fernandes de Jesus (Secretária Acadêmica)
Bruno Oliveira Simonetti Marinho (Diretor Acadêmico)
Luma Rossana Fernandes de Araujo (Diretora Acadêmica)
João Pedro de Macedo Silva (Diretor Assistente)
Omar Tavares Guerreiro Neto (Diretor Assistente)
Maria Luiza de Lima Cavalcanti (Diretora Assistente)
ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE
Operação UnifiedProtector: implementação da resolução de1973 do Conselho de Segurança no
conflito civil da Líbia.
Guia de Estudo apresentado ao Projeto de Extensão UNISIM-RN –
Simulação Intermundi, do Centro Universitário do Rio Grande do
Norte (UNI-RN), a ser realizado na data de 10 a 13 de agosto de
2016.
Orientadora Geral: Vânia Vaz Barbosa Cela
Orientador específico: Marcelo Maurício
Tutor-orientador: Rodrigo Damásio Rodrigues
Natal/RN
31/05/2016
LISTA DE ABREVIATURAS
OTAN – Organização do Tratado Atlântico Norte
UNISIM – Simulação Inter Mundi do Centro Universitário do Rio Grande do Norte
ONU – Organização das Nações Unidas
CSNU – Conselho de Segurança das Nações Unidas
URSS – União Soviética
EUA – Estados Unidos da América
IFOR - Força de Implementação mandatada pelas Nações Unidas
SFOR - Força de Estabilização Forte
ISAF - Força Internacional de Assistência à Segurança
NTM-I - Missão de Treino da OTAN
AMIS - Missão União Africana no Sudão
SACEUR - Comandante Supremo Aliado na Europa
SACT - Comandante Supremo Aliado de Transformações
ICISS - InternationalComissiononInterventionandStateSovereignty
MEPI - MiddleEastPartnershipInitiative
FPLP - Frente Popular de Libertação da Palestina
LEA - Liga dos Estados Árabes
OCI - Organização da Conferência Islâmica
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
AGNU - Assembleia Geral das Nações Unidas
TPI - Tribunal Penal Internacional
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Mapa mostra os integrantes da aliança 1
8
Quadro 1 – Estados membros da OTAN 1
8
Ilustração 2 – Mapa de expansão da Primavera Árabe 2
7
Ilustração 3 – Manifestante líbio antigoverno observa do alto na cidade de
RasLanouf
3
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 7
2 A ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE 9
2.1 HISTÓRICO 9
2.1.1 As investidas da OTAN no tempo 12
2.2 ESTRUTURA 16
2.2.1 Mecanismos de trabalho 16
2.2.2 A capacidade de adaptação 17
2.2.3 Estados membros da OTAN 18
2.3 COMPETÊNCIA 19
3 CONCEITOS CHAVES DO DIREITO E DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
21
3.1 RESPONSABILIDADE DE PROTEGER E INTERVENÇÃO
HUMANITÁRIA
21
3.1.1 O caso da Operação UnifiedProtector 24
4 A PRIMAVERA ÁRABE E O CONFLITO NO ÂMBITO DA LÍBIA 25
4.1 A CRISE NA LÍBIA 28
4.1.1 Linha do tempo 32
5 O CONFLITO LÍBIO NO CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES
UNIDAS (CSNU)
35
5.1 O FUNCIONAMENTO DA CSNU E SUA INFLUÊNCIA NAS
INVESTIDAS DA OTAN
35
5.1.1 Resoluções 1970(2011) e 1973(2011) 36
5.1.2 Processo de Aprovação das Resoluções 36
a. Sobre o conteúdo das Resoluções 36
i. Pontos Fundamentais das Resoluções 37
1. Resolução 1970 (2011) 37
2. Resolução 1973(2011) 39
ii. Caráter discricionário da Resolução 39
iii. Visões sobre a Resolução 40
1. Intervencionista 40
7
1 INTRODUÇÃO
É com muito orgulho e entusiasmo que nós, staff 2016 da X UniSim, trazemos a
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) como um de seus comitês universitários,
para esta edição comemorativa, deste projeto tão apaixonante!
A UniSim, hoje, enquanto um projeto de pesquisa e extensão, surgiu e continua a trilhar
seu caminho como um meio de aproximar os acadêmicos de Direito, e de todos os outros cursos
envolvidos e interessados pelas relações internacionais, de uma realidade que por muitas vezes
nos parece distante. Simular um organismo internacional significa dar contornos a uma arena de
debates de onde se originam todas as decisões mais importantes que lideram o mundo atual.
Não se pode falar sobre a conjuntura global, atual, sem mencionar as expressões
globalização e sociedade em redes. Nossas distâncias foram encurtadas e nossas relações foram e
continuam, cada vez mais, sendo oportunizadas de um extremo do planeta a outro. É neste
contexto que as relações políticas, jurídicas e governamentais estão sendo moldadas e
aperfeiçoadas.
Ao falarmos em determinado evento conflituoso, em qualquer ponto do planeta, falamos
de um evento que repercute, por muitas vezes, em todos os cantos do planeta. Eventos que se
iniciam da forma mais banal, se expandem para eventos globalizados e, portanto, de interesse
internacional. Nações estão, a cada dia que passa, delimitando suas políticas externas como ponto
crucial para seu desenvolvimento interno. A cultura da cooperação nunca foi tema tão discutido e
importante como o é hoje.
É diante deste cenário irreversível que urge a necessidade de conscientização acadêmica
acerca da importância das relações internacionais para o dia a dia doméstico, seja na ceara
jurídica, política, informacional, assistencial ou de todas as suas diversidades.
Enquanto futuros operadores do direito, ou de qualquer outra especialidade que vise se
aprofundar nas relações que pautam a conjuntura atual, o agir diplomático nunca foi tão
importante. Aprender a se portar em público; aprender a solucionar conflitos por meio do
diálogo; aprender a colocar as verdadeiras prioridades da humanidade em pauta e, mais do que
tudo, aprender a tomar decisões difíceis, porém, necessárias, são exemplos de legados carregados
8
por cada um de nós, estudantes, em vivenciar a UniSim. Portanto, antes de mais nada, obrigada
por confiarem esta experiência ao nosso staff.
É neste contexto, portanto, a nossa proposta em trazer a OTAN. No decorrer deste guia de
estudos, os senhores e senhoras delegados e delegadas terão a oportunidade de construir uma
visão mais geral acerca do órgão e do tema que serão simulados em agosto. No entanto,
reforçamos a ideia de necessidade de os senhores e senhoras expandirem suas pesquisas, no
sentido de se aprofundarem cada vez mais nos temas aqui abordados e, principalmente, se
inteirarem sobre a política externa que será representada por vocês, ao incorporarem
representantes de estado, para os dias de simulação.
Nossas expectativas são que as senhoras e os senhores possam compreender um pouco do
que é solucionar conflitos delicados; compreender a forma de agir da OTAN, enquanto
organismo militar que visa solucionar tais conflitos através de seu aparato bélico, ou seja, através
de uma intervenção militar decidida por diversas nações do globo. Ainda, adianto que toda a
análise por vocês desenvolvida, deverá ter respaldo no Tratado de Washington e na própria
defesa dos direitos humanos, que fundamenta a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU).
Neste momento, adentraremos no desenvolvimento da organização e do tema a ser
simulado, tendo em mente a seguinte reflexão: existe um limite para a soberania estatal? Seriam
os direitos humanos a base deste limite?
Assim, compreendendo o conflito perpetuado no solo líbio; reforçado através de
massacres que desembocaram em uma verdadeira guerra civil, as senhoras e os senhores
analisarão, sob perspectiva dos princípios que regem o direito internacional público e as relações
internacionais, se existe respaldo a uma intervenção militar, que afronta a soberania e autonomia
dos Estados em gerirem sua própria administração interna, quando esta falha ao admitir a
violação de direitos humanos contra a sua população, pelas mãos do Estado que a rege.
Desejamos a cada um de vocês um ótimo tempo de estudo, para que venham preparadas e
preparados para vivenciarem estes dias tão incomparáveis que marcarão suas vidas acadêmicas.
Que venha a UniSim!!!!
9
2 A ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE
Durante o período da II Guerra Mundial o continente europeu passou por grandes
dificuldades, uma vasta parte do seu território foi devastado, aproximadamente 36,5 milhões de
europeus morreram durante o conflito, sendo 19 milhões civis, a mortalidade infantil chegou a
níveis alarmantes, morriam uma em cada quatro crianças e muitas pessoas ficaram desabrigadas.
Além disso, os comunistas, em conjunto com a União Soviética (URSS), começaram a ameaçar
governos democráticos em toda a Europa; neste contexto foi que surgiu a Organização do
Tratado do Atlântico Norte, em reação não apenas à ameaça representada pela URSS, mas
também visando frear o expansionismo soviético e a integração política do continente europeu.
2.1 HISTÓRICO
Em 1947 os Estados Unidos da América (EUA) dissuadiu sua política de isolacionismo
diplomático através do financiamento do Plano Marshall, este plano trouxe estabilidade
econômica, no entanto os Estados europeus precisavam ter certeza de que estavam seguros, para
que pudessem começar a negociar entre si, havia a necessidade de desenvolver um tratado que
garantisse a cooperação militar e o progresso económico e político. Foi com essa perspectiva que
vários Estadosda Europa Ocidental se uniram para implementar projetos de cooperação militar e
defesa coletiva, incluindo a criação de um órgão denominado União Ocidental, em 1948, que em
1954 tornou-se União da Europa Ocidental. Posteriormente acentuou-se a necessidade de um
acordo transatlântico, para deter a agressão soviética, evitar o retorno do militarismo na Europa e
estabelecer bases para a integração política.
Aconteceu então, no ano de 1949, depois de muitos debates, a implementação do
Tratado do Atlântico Norte. A assinatura do documento criou alianças entre os Estados,
entretanto não havia criado uma estrutura militar para coordenar suas ações efetivamente; este
quadro inverteu-se quando a União Soviética detonou duas bombas atômicas, uma no mesmo ano
e outra no início da Guerra da Coréia, em 1950. Essas ações causaram um grande efeito sobre a
Aliança, a OTAN logo definiu seu quartel general numa cidade francesa chamada Rocquencourt,
10
próxima de Versalhes; logo depois a aliança estabeleceu um secretariado civil permanente em
Paris e nomeou LordIsmay, do Reino Unido, como primeiro secretário-geral da OTAN.
Com a implementação do OTAN a estabilidade política na Europa Ocidental começou a
ser restaurada, e o “milagre pós-guerra” começou; mais países aderiram ao tratado, foram eles
Grécia e Turquia, em 1952, e Alemanha Ocidental em 1955, e em resposta a este fato a União
Soviética e seus estados da Europa oriental formaram o Pacto de Varsóvia. Foi então, em 1961
que aconteceu a construção do Muro de Berlim, sendo o lado socialista da Alemanha o
responsável pela obra, que se destinava a separar a cidade de Berlim entre o setor capitalista e o
socialista.
Neste período a Organização do Tratado do Atlântico Norte adotou doutrina estratégica
de retaliação maciça, esta corrente pregava que se a União Soviética atacasse, a OTAN
responderia com ataques nucleares, o efeito pretendido era impedir que qualquer um dos lados
assumisse riscos, uma vez que qualquer ataque, mesmo que ínfimo, poderia levar a uma guerra
nuclear; que tal doutrina estratégica permitiu que os membros do tratado concentrassem suas
energias no crescimento econômico, uma vez que não precisavam manter grandes exércitos
convencionais. Todavia, desde a fundação do tratado os aliados menores apontavam para a
necessidade de uma maior cooperação não militar, a crise do Suez, em 1956 trouxe à tona a
necessidade de conjuntura política e o lançamento do satélite Sputinik, no ano de 1956, da União
Soviética, chocou os aliados para uma maior cooperação científica. Em consequência de um
relatório entregue ao Conselho do Atlântico Norte pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros da
Noruega, Itália e Canadá, “os Três Sábios”, que apelava por mais cooperação científica no seio
da aliança, deu-se a criação do Programa Científico da OTAN.
Na década de 1960, a situação de tensão em consequência da Guerra Fria se agravou, os
Estados Unidos descobriram que haviam mísseis nucleares de posse soviética instalados em Cuba
e este fato levou a um dos momentos de maior ameaça do período, para contornar essa situação o
então presidente americano John F. Kennedy e o líder soviético NikitaKruschev entraram em
uma Détente, ou seja em um acordo diplomático, entretanto o envolvimento americano na Guerra
do Vietnã aumentou. Durante esta década, a OTAN mudou de sede devido à França ter anunciado
a intenção de se retirar da estrutura de comando militar e solicitado a remoção de todas as
estruturas ligadas à OTAN do território francês, a nova sede do secretariado civil foi então
realocada para Casteau, Bélgica, e mesmo após estes acontecimentos a França se manteve no que
11
tange à Aliança e deixou claro sua intenção de manter-se junto com seus aliados em caso de
eventuais ataques, o pais também mostrou-se um grande colaborador durante operações de
manutenção da paz.
Durante o período de Détente estabelecido após a Crise dos Mísseis, em 1967, foi
entregue para o Conselho do Atlântico Norte, através do ministro dos Negócios Estrangeiros
belga Pierre Harmel, um relatório nominado as “Tarefas Futuras da Aliança”, este documento
recomendava que a Organização do Tratado do Atlântico Norte deveria promover uma via
política de diálogo entre si e o Pacto de Varsóvia, foi nesse período que a OTAN adotou a postura
de preservar os avanços que já haviam sido alcançados e de ajudar encontrar novas soluções para
problemas que surgiram. O relatório anteriormente citado ajudou colaborou para a convocação da
Conferência sobre a Segurança na Europa, no ano de 1973, que posteriormente levou à
negociação da Ata Final de Helsínquia; o ato obrigava seus signatários, entre eles União
Soviética e todos os membros do Pacto de Varsóvia, a respeitar os direitos fundamentais dos
cidadãos, as liberdades individuais, a liberdade de pensamento, consciência, religião ou crença.
A Checoslováquia, em 1968, que era aliada ao Pacto de Varsóvia, iniciou um período de
liberação política, em decorrência da Ata que fora anteriormente assinada, e por essa razão o país
foi invadido pela União Soviética, esse episódio ficou conhecido como Primavera de Praga, os
soviéticos passaram a adotar, durante e posteriormente, a Doutrina Brejnev, que pregava a união
dos partidos comunistas, mas durante sua atuação veio a retirar por completo a independência dos
mesmos, vetou a saída dos Estados que haviam assinado o Pacto de Varsóvia.
No final de 70 e início de 80 a União Soviética invadiu o Afeganistão e implementou o
SS-20, operação para teste de mísseis, isso acarretou à suspensão da détente que havia sido
acordada em 60, este fato levou o à Aliança a implantar mísseis de cruzeiro com capacidade
nuclear pela Europa Ocidental, no passo que seguia negociando com os soviéticos; não havia sido
programada a implantação de tal armamento até 1983, dentro desse período os Aliados
esperavam alcançar um acordo de controle de armamentos que eliminaria a necessidade das
mesmas, no entanto esse acordo não se deu, e aconteceu um desequilíbrio interno de ideologia na
OTAN. Após a ascensão de Mikhail Gorbachev, em 1985, como Premier soviético, os EUA e a
URSS assinaram o um tratado que visava regular o alcance da atuação das forças nucleares, em
1987, eliminando todos os mísseis nucleares. Este passo é considerado o principal indicativo de
12
que a Guerra Fria estava rumando ao fim. Aconteceu também a adesão de um novo membro à
Aliança desde 1955, a Espanha recém democratizada aderiu ao tratado em 1982.
Foi nessa década que, segundo observadores da política internacional, que o comunismo
soviético perdeu a batalha ideológica contra o Ocidente, os regimes comunistas perderam seu
suporte ideológico, um processo fundamentado pela própria adesão da união soviética aos
princípios dos direitos humanos promovidos através Ata Final da Helsínquia. Ao fim dos anos
80, o governo comunista da Polônia se viu obrigado a negociar com o Sindicato Independente
Solidário e seu líder, Lech Walesa, após essa negociação outros ativistas democráticos que
atuavam na Europa Ocidental e na União Soviética iriam começar a exigir os mesmos direitos.
Nesse momento as economias de comando do Pacto de Varsóvia foram se
desintegrando, a URSS gastara três vezes a mais que os Estados Unidos no campo de defesa;
Mikhail Gorbachev assumiu o poder intencionado de reformar os fundamentos do sistema
comunista, quando o regime Alemão ocidental começou a ruir, em 1989, a União Soviética não
interveio, contradizendo, desse modo, a Doutrina Brenjnev, e esse fato levou a dissolução do
Pacto de Varsóvia.
A queda do Muro de Berlin, em no dia 09 de novembro de 1989, aparentemente, dava
início a uma nova era para a economia, democracia e paz, os aliados reagiram de uma forma
muito positiva e os manifestantes pró democracia ficaram encorajados a derrubar governos
comunista da Europa Oriental; foi também uma época de muitas incertezas, tais como a dúvida
quanto a neutralidade da Alemanha unificada, ao que seria feito com as armas nucleares
pertencentes a já extinta República Soviética, e para a OTAN a questão tratava sobre a
necessidade de sua existência.
A organização do Tratado do Atlântico Norte manteve-se existindo para conter o
nacionalismo militante e para fornecer base de segurança coletiva que iria incentivar a
democratização e integração política na Europa. Em 1991 a OTAN deveria ser o alicerce para a
segurança Pan-Europeia; em dezembro do mesmo ano o órgão estabeleceu o Conselho de
Cooperação do Atlântico Norte, rebatizado para Conselho de Parceria Euro-Atlântico em 1997.
Este conselho trouxe a Europa central e seus vizinhos asiáticos do Leste Europeu para consultas
conjuntas; posteriormente a cooperação se estendeu para o sul. Em 1994, a Aliança fundou o
Diálogo do Mediterrâneo com seis países terceiros mediterrâneos, sendo eles Egito, Israel,
Jordânia, Mauritânia, Marrocos e Tunísia; a Argélia se juntou em 2000.
13
2.1.1 As investidas da OTAN no tempo
Durante a Guerra Fria, a Organização do Tratado do Atlântico Norte possuía a tarefa de
agir contra a agressão militar, obteve êxito e durante este período não esteve envolvida em
nenhum conflito militar armado. Após este período a aliança passou por grandes mudanças no
que tange à segurança internacional, e em decorrência destas mudanças vieram também novos
deveres, a OTAN passou a assumir um papel mais ativo na comunidade internacional. Antes de
dar início à sua primeira grande operação, em resposta a crise dos Balcãs, houvera outras
operações militares.
A primeira, Operação Anchor Guarda, se deu em 10 de agosto de 1990 a 09 de março de
1991. Após a invasão das tropas do Iraque ao Kuwait, em agosto de 1990 a OTAN implantou
aeronaves em Konya, Turquia, para dar suporte em caso de investidas do Iraque durante a
primeira crise do Golfo; dentro deste período iniciou no dia 03 de jaeiro de 1991 a 08 de março
de 1991, a Operação Ace Guarda, em resposta ao pedido turco de apoio militar.
Logo após iniciou-se a Operação Allied Goodwill I e II, nos dias 04 a 09 e 27 de
fevereiro a 24 de março de 1992, depois do fim da União Soviética e da quebra de seu sistema
econômico, a OTAN enviou para a Rússia equipes de perítos em assistência comunitária e
médicos. Dois meses depois, 01 a 19 de maio, do mesmo ano, a tensão na Líbia começou a se
alarmar depois de o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSNU) impor
sanções com o fim de incentivar o pais a entregar os suspeitos do bombardeio de uma aeronave
que sobrevoava a Escócia, em 1988.
a) Atuação da OTAN na Bósnia e Herzegovina: (1992-2004)
Os conflitos na Bósnia e Herzegovina, em abril de 1992, começaram em decorrência do
fim da divisão da Jugoslávia, a Aliança respondeu de prontidão no mesmo ano, aplicando o
embargo de armas das Nações Unidas no mar Adriático e executada na no-fly-zone atravéz do
conselho de segurança da ONU; foi durante o acompanhamento desta operação que a OTAN
entrou pela primeira vez em combate armado.
Em 1995, com a finalidade de acabar com a violência liderada pela Sérvia, a ONU
solicitou ataques aereos da aliança, foi então que começou, em 30 de agosto, a operação Deadeye,
contra as forças aéreas sérvias e bósnias, sendo essa campanha de ataques aéreos um dos pontos
principais para levar os servios a pôr fim à guerra na Bósnia. Em dezembro de 1995 houve a
14
assinatura do Acordo de Paz de Dayton, a OTAN implantou uma Força de Implementação
mandatada pelas Nações Unidas (IFOR); a operação, denominada Operação Articulação,
aconteceu em dezembro de 1996 atravéz da implantação de uma Força de Estabilização Forte
(SFOR).
Após ter a segurança aprimorada, a aliança iniciou sua operação de apoio à paz, em
dezembro de 2004, e a União Europeia enviou uma nova força, denominada Operação Althea.
A Aliança mantêm uma base miliar no país para realizar atividades relacionadas à dar
suporte ao governo para que aconteça a reforma das suas estruturas de defesa.
b) Atuação na República jugoslava da Macedonia: (2001 - 2003)
O governo de Skopje pediu à ajuda da Aliança para mitigar a crescente tensão étnica,
foram implantadas três operações sucessivas, desde agosto de 2001 a março de 2003. A
EssentialHarvest foi a primeira, desarmava grupos de etinia albanesa; a segunda, Operação
Amber Fox, fornecia proteção de observadores internacionais que atentavam à implementação do
plano da paz; por fim, a Operação AlliedHarmony, fornecia elementos para consultoria que
ajudava o governo a manter a estabilidade em todo o país. Estas operações demonstraram o forte
instinto de cooperação entre a OTAN, União Europeia e Organização para a Segurança e
Cooperação na Europa.
c) Primeira Operação antiterrorismo: (2001-2003)
Em 2001 a OTAN assinou um acordo com oito propostas em apoio aos Estados Unidos,
uma vez que 9 em cada onze ataques terroristas em Nova York e Washington DC tinha vindo do
exterior. A operação foi nomeada como EagleAssist, começou em outubro de 2001 e durou até
maio de 2002, trata-se da primeira operação artigo 5. Foram sete aviões da Aliança que
patrulhavam os céus sob o território americano, foram mais de 360 missões.
d) O segundo conflito no Golfo:
Este conflito aconteceu de 20 de fevereiro até 16 de abril de 2003, foi chamada de
operação Tela de Dissussão, nesta ocasião a OTAN implantou aviões radar para fortalecer a
defesa da Turquia, foram 100 missões.
e) A Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) no Afeganistão:
A ISAF foi criada, em 2001, por razão de um pedido das autoridades afegãs e de um
mandato da ONU, foi conduzida pela OTAN a partir de 2003. Tinha como missão desenvolver
novos instrumentos de segurança que possibilitassem a proteção de todo o país, com a finalidade
15
de possibilitar o funcionamento de instituições democráticas e de estabelecer o Estado de direito,
para garantir que o Afeganistão não se tornaria novamente um refúgio para terroristas; a atuação
da ISAF contribuiu diretamente com a reconstrução do país.
f) Grécia durante os jogos Olímpicos:
A assistência da OTAN, solicitada pelo governo grego, aconteceu durante os Jogos
Olímpicos e Paraolímpicos, realizados em Atenas, de 18 de junho a 29 de setembro de 2004. A
Aliança forneceu apoio de inteligência, elementos químicos, instrumentos de defesa e aviões
radar.
g) Atuação no Iraque:
A OTAN prestou assistência ao pais na formação e orientação para as Forças de
Segurança do Iraque. Começou em 2004 e foi até 2011, ano em que o conflito terminou. Em
2004 a Aliança concordou em esquecer as diferenças em prol de um esforço internacional para
ajudar o Iraque, o resultado foi a criação da Missão de Treino (NTM-I) da OTAN, esta operação
ajudou à formação da Força de Segurança do Iraque; todos os países aliados contribuíram para a
formação, através de ajuda financeira ou doação de equipamentos, e em conjunto a isso a Aliança
trabalhou em conjunto com o governo iraquiano para estabelecer uma relação com o Iraque.
h) Atuação nos EUA após o Furacão Katrina:
Em 29 de agosto de 2005, quando o furacão Katrina atingiu o sul dos Estados Unidos,
houveram muitas mortes, destruição em massa e inundações, o governo norte americano solicitou
ajuda de alimentos, suprimentos e assistência médica, bem como ajuda na locomoção desses
suprimentos para as áreas atingidas. O Conselho do Atlântico Norte, em 9 de setembro do
mesmo ano, aprovou um plano militar para dar assistência aos EUA, o plano visava ajudar e
coordenar o movimento do material e apoiar operações de ajuda humanitária; durante esta
operação foram fornecidas cerca de 189 toneladas de materiais para os Estados Unidos.
i) Atuação no Paquistão após o terremoto:
Em 8 de outubro de 2005 um terremoto atingiu o Paquistão, morreram cerca de 53 mil
pessoas, 75 mil ficaram feridas e aproximadamente quatro milhões ficaram desabrigadas. Em
resposta a um pedido do Paquistão, a OTAN ajudou no socorro urgente, transporte aéreo e 3.500
toneladas de suprimentos, assim como ajudou na implantação de unidades médicas e
equipamentos especializados. Esta foi uma das maiores iniciativas de ajuda humanitária da
OTAN, que terminou em 1 de fevereiro de 2006.
16
Ao longo dos anos a Aliança ajudou a coordenar a assistência a outros países atingidos
por catástrofes naturais, atuando através do órgão Euro-AtlanticDisaster Response.
j) Atuação no Sudão:
A atuação da OTAN se dá através da Missão União Africana no Sudão (AMIS), que tem
por finalidade acabar com a violência e melhorar a situação humanitária no país, que vem
passando por conflitos desde 2003. A Aliança forneceu transporte aéreo para apróximadaemnte
37.000 pessoas ligadas a AMIS, como também treinou e orientou mas de 250 funcionários da
instituição, no período de junho de 2005 a 31 de dezembro de 2007. Mesmo o apoio da OTAN
tendo cessado quando a AMIS foi acolhida peça missão da ONU mp Darfur (UNAMID), a
Aliança se mostrou disponível para considerar qualquer pedido de apoio à nova missão de paz.
k) Atuação no Golfo de Aden e Corno de África:
A OTAN, de outubro a dezembro de 2008, lançou a Operação ProviderAllied, em
resposta a um pedido do Secretário Geral da Somália, que visava combater a pirataria ao longo da
costa do país; as forças navais da OTAN transitaram pelo perigoso Golfo de Aden, onde a
crescente pirataria ameaçava minar os esforços internacionais na África.
Em março de 2009 a OTAN lançou a operação AlliedProtector, que visa combater a
pirataria, para garantir a segurança das rotas marítimas ao largo do corno de África. A operação
promove vigilância e proteção, para reprimir a atividade de pirataria e assaltos à mão armada que
possam ameaçar as rotas de comunicação marítima e dos interesses econômicos.
2.2 ESTRUTURA
A organização e estruturação da OTAN compreende todos os atos e formações militares
que são utilizadas para implementar decisões políticas que acarretam em implicações militares.
Os principais elementos da organização militar são o Comitê Militar, que é composto por chefes
dos países membros da defesa da Aliança; o órgão executivo, o estado Internacional e a estrutura
de comando militar, que é composta pela Aliança de Comando de Operações e pelo Comando
Aliado de Transformações, liderada pelo Comandante Supremo Aliado na Europa (SACEUR) e
Comandante Supremo Aliado de Transformações (SACT). A estrutura de força é formada por
forças colocadas à disposição da Aliança pelos países membros, em conjunto com as estruturas
de comando e do controle dos associados.
17
2.2.1 Mecanismos de trabalho
O presidente do Comitê Militar preside o Comitê Militar, onde cada país membro possui
um representante militar, ou seja, seu Chefe de Defesa, sendo esta a comissão de maior
autoridade militar da OTAN, dispõe o Conselho do Atlântico Norte e do Grupo de Planejamento
Nuclear com conselho-militar baseada na concordância em por todos os chefes de Estado da
OTAN.
O comitê Militar trabalha em conjunto com a OTAN, e SACEUR e SACT, ambos
responsáveis pela condução de tudo que tange assuntos militares da Aliança. O comitê Militar
trabalha em plena colaboração com os Comandantes Estratégicos, apresentando as avaliações
militares, planejamentos, questões e recomendações, levando em consideração cada pais
membro. O comitê Militar trabalha criando um elo entre os líderes políticos e os dois
Comandantes Estratégicos.
2.2.2 A capacidade de adaptação
Além dos mecanismos de trabalho, existem dois fatos que geram impacto direto na
estrutura militar, a maneira como funciona e evolui, são eles, os desenvolvimentos e a constante
interação entre os órgãos políticos e militares.
Eventos políticos que surtem efeitos de logo alcance, como o fim da Guerra Fria e as
operações militares, como a ISAF, no Afeganistão, desencadeiam reformas extensas,
especialmente dentro estrutura de comando militar da OTAN; e para manter o ritmo de atuação,
mesmo com todos os desafios futuros, a OTAN mantêm-se em constante transformação; além da
constante troca de informações e conhecimentos entre os especialistas militares e políticos que
fazem parte do órgão. A interação entre civis e militares é o que torna a OTAN uma organização
tão bem estruturada.
As agências da Aliança são uma parte fundamental do organismo, são estabelecidas com
a finalidade de atender as necessidades coletivas dos Aliados, no que tange à contratos, logística e
outras formas de serviço, suporte ou colaboração; embora possuam autonomia, elas devem
cumprir os termos estabelecidos pelos estatutos.
18
A reforma das agencias da OTAN faz parte de um processo de reforma em curso, que
está estudando também efetuar alterações à estrutura do Comando Militar; esta reforma tem como
finalidade aprimorar os serviços prestados pela Aliança, para tornar mais coêsa e aumentar a
transparencia e prestação de contas.
Em 2010 os chefes de Estado e de Governo da OTAN acordaram em reformar as 14
agências existentes e agilizar as agências em três temas fundamentais, aquisição, apoio,
comunicação e iformação, para simplificar as estruturas, melhorar os métodos e maximizar a
eficiência.
2.2.3 Estados membros da OTAN
Ilustração 1 – Mapa mostra os integrantes da aliança.
Fonte - http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/03/saiba-o-que-e-otan.html
1. Albânia;
2. Alemanha;
3. Bélgica;
4. Bulgária;
5. Canadá;
6. Croácia;
7. Dinamarca;
8. Estônia;
9. Eslováquia;
19
10. Eslovênia;
11. Espanha;
12. Estados Unidos da América;
13. França;
14. Grécia;
15. Holanda;
16. Hungria;
17. Islândia;
18. Itália;
19. Letônia;
20. Lituânia;
21. Luxemburgo;
22. Noruega;
23. Polônia;
24. Portugal;
25. Romênia;
26. Reino Unido;
27. República Checa;
28. Turquia.
Quadro 1 – Estados membros da OTAN
Fonte: Autoria própria
2.3 COMPETÊNCIA
A competência da OTAN encontra respaldo em sua Carta de formação – o Tratado de
Washington, o qual está vinculado aos princípios e preceitos da ONU. Assim, depreende-se a
partir de seu texto que a competência centra-se na zona de ratificação do próprio Tratado, ou seja,
entre aqueles que o ratificaram, funcionando como um mecanismo de auto-defesa coletiva.
“As Partes concordam em que um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa
ou na América do Norte será considerado um ataque a todas, e, consequentemente,
concordam em que, se um tal ataque armado se verificar, cada uma, no exercício do
direito de legítima defesa, individual ou coletiva, reconhecido pelo artigo 51.° da Carta
das Nações Unidas, prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas, praticando sem
demora, individualmente e de acordo com as restantes Partes, a ação que considerar
20
necessária, inclusive o emprego da força armada, para restaurar e garantir a segurança na
região do Atlântico Norte”. (Art. 5 do Tratado de Washington)
Desta forma, fica evidente a característica atribuída à Organização enquanto um
mecanismo de defesa entre seus membros.O já comentado respeito e submissão aos princípios e
preceitos da Organização das Nações Unidas, em especial, de seu Conselho de Segurança, está
presente em diversos dispositivos do Tratado, tal qual:
“O presente Tratado não afeta e não será interpretado como passível de afetar de
qualquer forma os direitos e obrigações decorrentes da Carta, pelo que respeita às Partes
que são membros das Nações Unidas, ou a responsabilidade primordial do Conselho de
Segurança na manutenção da paz e da segurança internacionais”. (Art. 7º do Tratado de
Washington)
Logo em seu artigo 1º, os membros signatários do Tratado se comprometem a utilizar-se
de todos os meios pacíficos possíveis para solucionar as controvérsias internacionalistas,
valorizando a manutenção da paz e da segurança internacional e se esforçando para garantir o
desenvolvimento de relações internacionais pacíficas e amigáveis além de suas instituições livres,
trabalhando em prol da estabilidade e do bem-estar entre as nações. Vale salientar a evidência
que o Tratado põe no conceito de atuação conjunta, em nome da cooperação mútua entre nações.
No entanto, após a sua formação, mais especificamente, após o contexto histórico da
Guerra Fria quando surgiu a Organização, esta passou a utilizar diversas justificativas para
intervenções humanitárias e, não mais se restringindo ao direito de auto-defesa em seu próprio
território, acolhe mandatos atribuídos por deliberação da ONU, através de seu Conselho de
Segurança, como no exemplo do tema em discussão neste Guia, qual seja: a intervenção na Líbia.
Assim, mais à frente, estaremos discutindo sobre o teor das resoluções expedidas pelo
CSNU em que autoriza uma ação militarizada para conter o governo líbio de atentar belicamente
contra a própria população, resoluções estas que revolucionam os limites atribuídos à
competência de atuação da OTAN e trazendo novos entornos a diversos conceitos do direito
internacional público.
21
É importante sempre ter em mente que, apesar desta nova forma de agir da OTAN, no
mecanismo original, a Organização tem competência para agir somente em seu território antes
mesmo de deliberação e autorização da ONU.
3 CONCEITOS CHAVES DO DIREITO E DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Inicialmente, antes mesmo de adentrar num conceito propriamente dito da chamada
“responsabilidade de proteger”, é imprescindível fazer um resgate à sua origem, ainda que breve.
De acordo com a Carta das Nações Unidas, a não intervenção é tratada como princípio basilar
deste sistema, enquanto o uso da força somente é permitido em casos excepcionais como, por
exemplo, de legítima defesa ou ameaça à paz e segurança internacionais. Assim surge uma
tentativa de relativização desses princípios, de modo que a intervenção estrangeira nos territórios
seja legítima. Diante de casos de emergência humanitária, surge uma necessidade de conciliação
entre os institutos da soberania e proteção dos indivíduos presentes em um território
(BIERRENBACH, Ana Maria. 2011, p. 13)1.
É a partir dessas tentativas de relativização do alcance dos princípios da não intervenção e
do uso da força que surge formalmente no Documento Final da Cúpula das Nações Unidas de
2005, o conceito de responsabilidade de proteger, possibilitando, a partir de então, que “violações
maciças de Direitos Humanos dentro das jurisdições nacionais passam a ser objeto de
responsabilidade internacional” (BIERRENBACH,2011, p. 14). Sendo assim, a Organização das
Nações Unidas passa a ter legitimidade, por meio de seu Conselho de Segurança, de autorizar
ações militares se, das crises humanitárias, surgem ameaças.
1BIERRENBACH, Ana Maria. “O conceito de responsabilidade de proteger e o Direito Internacional Humanitário”.
2011.
22
Nesse contexto, a responsabilidade de proteger torna a tutela de Direitos Humanos um
exercício cuja competência toma dimensão internacional, haja vista a necessidade de proteção
desses direitos diante da possibilidade de grandes violações.
3.1 RESPONSABILIDADE DE PROTEGER E INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA
Como já foi mencionado, o conceito da responsabilidade de proteger resulta da
relativização dos conceitos de soberania e de proteção dos indivíduos. Assim, a soberania passa a
ser tratada como uma responsabilidade, mas a mudança mais significativa quanto à soberania é da
InternationalComissiononInterventionandStateSovereignty (ICISS), a qual introduz o conceito de
soberania como uma responsabilidade relativa a catástrofes que podem ser evitadas,
principalmente violência em massa (THIBAULT, 2009, p. 03)2.
Dessa forma, a responsabilidade agora pertence ao Estado em relação à sua população. É
indispensável, no entanto, le0mbrar que o Documento Final da Cúpula Mundial prevê a
responsabilidade de proteger diante de graves violações de direitos humanos, limitada “a casos de
genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade.” (BIERRENBACH, p.
18). Isso significa dizer que o Direito Internacional, aliado ao conceito de soberania poderia
justificar intervenções humanitárias em territórios nacionais com propósitos humanitários, ainda
que exista o princípio da não intervenção e que o uso da força seja proibido.
Assim, o Documento Final, em seus artigos 1383 e 1394 fazem referência direta à
responsabilidade de proteger, concebendo tal conceito como um dever individual de cada Estado
2Jean-François Thibault. The ResponsibilitytoProtect. 2009. 3 Artigo 138, do Documento Final da Cúpula Mundial: “Each individual Statehastheresponsibilitytoprotect its
populationsfromgenocide, war crimes, ethniccleansingand crimes againsthumanity.
Thisresponsibilityentailsthepreventionofsuch crimes, includingtheirincitement,
throughappropriateandnecessarymeans. Weacceptthatresponsibilityandwillact in accordancewith it. The
internationalcommunityshould, as appropriate, encourageand help Statestoexercisethisresponsibilityandsupportthe
United Nations in establishinganearlywarningcapability.”
Tradução livre: “Cada Estado individual tem a responsabilidade de proteger suas populações de genocídios, crimes
de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade. Essa responsabilidade acarreta a prevenção de tais crimes,
incluindo a incitação a estes crimes, por meio de medidas necessárias e apropriadas. Nós aceitamos essa
reponsabilidade e agiremos de acordo. A Comunidade Internacional deve, apropriadamente, encorajar e ajudar os
Estados a exercer esta responsabilidade e dar subsídio às Nações Unidas para que seja estabelecida uma capacidade
de aviso prévio.” 4Art. 139, do Documento Final da Cúpula Mundial: 139. The internationalcommunity, throughthe United Nations,
alsohastheresponsibilityto use appropriatediplomatic, humanitarianandotherpeacefulmeans, in
accordancewithChapters VI and VIII ofthe Charter, to help protectpopulationsfromgenocide, war crimes,
ethniccleansingand crimes againsthumanity. In thiscontext, we are preparedtotakecollectiveaction, in a
23
signatário, obrigando-lhes, ainda, a se utilizarem dos meios apropriados para prevenir os crimes
originados de grandes violações, além de se utilizarem de meios pacíficos, diplomáticos e
humanitários para tal. Ademais, o Documento Final reconhece, em seu artigo 139, a necessidade
da proteção às populações como objeto de proteção coletiva, devendo esta, ocasionar uma ação
coletiva, com análise específica de cada caso.
No entanto, os crimes previstos para invocar a responsabilidade de proteger são
caracterizados por consistirem em ameaças à paz e à segurança internacionais, gerando, assim,
uma obrigação de os Estados cumprirem o disposto na Convenção para a Prevenção e Repressão
do Crime de Genocídio5, o qual aduz que há uma necessidade coletiva internacional quanto à
responsabilidade de proteger, a qual pode ser exercida pelo Conselho de Segurança da ONU,
dando a ele legitimidade para autorizar intervenções militares como um último recurso, caso os
timelyanddecisivemanner, throughthe Security Council, in accordancewiththe Charter, includingChapter VII, on a
case-by-case basisand in cooperationwithrelevant regional organizations as appropriate,
shouldpeacefulmeansbeinadequateandnationalauthoritiesmanifestlyfailtoprotecttheirpopulationsfromgenocide, war
crimes, ethniccleansingand crimes againsthumanity. We stress theneed for the General Assembly to continue
considerationoftheresponsibilitytoprotectpopulationsfromgenocide, war crimes, ethiniccleansingand crimes
againsthumanityand its implications, bearing in mindtheprinciplesofthe Charter andinternationallaw.
Wealsointendtocommitourselves, as necessaryandappropriate, tohelpingStates build
capacitytoprotecttheirpopulationsfromgenocide, war crimes, ethniccleansingand crimes
againsthumanityandtoassistingthosewhich are under stress before crises andconflicts break out.4Tradução livre:“A
Comunidade Internacional, por meio das Nações Unidas também é responsável por usar meios apropriados
diplomáticos, humanitários e outros meios pacíficos, de acordo com os Capítulos VI e VIII deste Documento, para
ajudar a proteger as populações de genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade. Nesse
contexto, estamos preparados para uma ação coletiva de forma tempestiva e decisiva, por meio do Conselho de
Segurança, em concordância com o Documento, incluindo o Capítulo VII, numa análise de caso a caso e em
cooperação com organizações regionais relevantes, se meios pacíficos são inadequados e autoridades nacionais
manifestadamente falharem em proteger suas populações de genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes
contra a humanidade. Salientamos que a necessidade de a Assembleia Geral continue a considerar a responsabilidade
de proteger as populações de genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade e suas
implicações, levando em consideração os princípios deste Documento e da Lei Internacional. Também nos
comprometemos a ajudar os Estados, caso seja necessário e apropriado, a se capacitar para proteger suas populações
de genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade e a dar assistência àqueles que estão
sob ameaça antes do avanço de crises e conflitos.”
5Documento A/59/565. “Weendorsetheemergingnormthatthereis a collectiveinternationalresponsibilitytoprotect,
exercisablebythe Security Council, authorizingmilitaryintervention as a last resort, in
theeventofgenocideandotherlarge-scalekilling,
ethniccleansingorseriousviolationofinternationalhumanitarianlawwhichsovereigngovernmentshaveprovedpowerlesso
runwillingtoprevent.”Tradução livre: “Endossamos a norma emergente de que há uma responsabilidade de proteger
coletiva internacional, a qual pode ser exercida pelo Conselho de Segurança, autorizando a intervenção militar como
último recurso, em caso de genocídio ou outros assassinatos em massa, limpeza étnica ou violações sérias de Leis
Humanitárias Internacionais sobre as quais governos estrangeiros se mostraram comprovadamente incapazes ou
relutantes de prevenir.”
24
governos tenham se mostrado sem forças ou sem interesse de prevenir diante de casos de
violações de direitos humanos graves.
E então, deixando um pouco a questão da soberania de um país de lado, surge a
perspectiva da necessidade de proteção da população de um Estado. Dessa forma, foi
estabelecido uma lista de critérios determinantes para que haja uma intervenção humanitária em
um país. Portanto, estabelece seis critérios importantes a serem preenchidos para que seja
legítima a intervenção, quais sejam: dano irreparável sério, ou ameaça à integridade de seres
humanos, autorização por parte da autoridade legítima, que este seja o último recurso para
solução do conflito, assim como força-tarefa proporcional, e uma perspectiva razoável, uma vez
que as consequências das ações não devem causar um dano pior do que em caso de inação6.
Desse modo, fazendo-se a junção do produto da relativização da soberania somada à
relativização do princípio da não intervenção e do não uso da força e, ainda, considerando que a
proteção aos Direitos Humanos deve ser prioridade, e assim é tratada como tal pela Comunidade
Internacional, surge a responsabilidade de proteger esses direitos, em caso de violação, ou de
forte ameaça de violação.
3.1.1 O caso daOperação UnifiedProtector
O caso da Líbia e da intervenção chamada Operação UnifiedProtector teve como base o
instituto da Responsabilidade de Proteger, o qual não só dá legitimidade ao Conselho de
Segurança das Nações Unidas para autorizar a intervenção, como também confere ao órgão a
responsabilidade de pesar os meios a serem usados para que tal intervenção ocorra. Dessa forma,
dado o contexto político e histórico da Líbia, o qual desencadeou numa Guerra Civil, surge o
questionamento: deve-se utilizar a Responsabilidade de Proteger e intervir no país, diante das
ameaças a violações de Direitos Humanos, ou deve-se permitir que o próprio governo Líbio
resolva a situação?
6 Documento A/59/565: “Just cause (a seriousandirreparableharmorimminentlikelihoodofharmtohumanbeings);
Rightauthority (Security Councilauthorizationshould in all cases besought, butalternativeavenuescanbepursued);
Rightintention (theprimarypurpose must betohaltoraverthumansuffering); Last resort (na
interventioncanonlybejustifiedwhenevery non-militaryoptionhasbeenexplored); Proportionalmeans
(theinterventionshouldaim for theminimumnecessarytosecurethedefinedhumanprotectiongoal); Reasonableprospects
(theconsequencesofactionshouldnotbeworsethantheconsequencesofinaction).”
25
Dessa forma, associando o fato da Guerra Civil na Líbia à criação de uma zona de
exclusão aérea envolvendo aproximadamente 8.000 militares e inúmeros equipamentos aéreos e
navais, somando 26.500 operações, cria-se a discussão na implementação das resoluções 1970 e
1973 do Conselho de Segurança da ONU, as quais autorizam que a OTAN pode se utilizar de
“todos os meios necessários” para evitar maiores violações em massa. Assim, resta claro que
diante de violência e morte em massa na Líbia, surgiu a necessidade da intervenção militar da
OTAN, para garantir e evitar que mais Direitos Humanos acabassem sendo violados, invocando a
Responsabilidade de Proteger como seu instituto norteador. Assim, deu-se legitimidade à
Operação UnifiedProtector, primeira operação militar com base na Responsabilidade de Proteger
a ocorrer contra os interesses de um país.
4 A PRIMAVERA ÁRABE E O CONFLITO NO ÂMBITO DA LÍBIA
A primavera árabe teve os seus primórdios em dezembro de 2010 e atingiu o seu ápice no
ano de 2011. O fenômeno ficou marcado por intensas ondas de protestos e manifestações às quais
reivindicavam por liberdades civis e direitos políticos.
Esses inúmeros protestos não ficaram restritos a um único país, se espalhando por toda
uma região. Todos os países que fizeram parte desses movimentos possuíam um fator em
comum: a repressão pelos seus governos. É necessário lembrar que a população se mostrava
cansada com as políticas regimentadas em seus países desde os primórdios, pois esses sempre
estiveram “comandados” por alguém, seja por um ditador ou por um país colonizador. Essas
formas de governo vêm se perpetuando por muitas décadas e até séculos e, dessa forma, a
situação se tornou insustentável. O povo, indignado e insatisfeito, decidiu clamar por seus
direitos.
26
É de suma importância lembrar que incialmente a população que lutava não clamava por
democracia. As revoltas tinham como principal intuito a luta por maiores direitos, melhores
governantes e liberdades. Porém, as repressões perpetuadas pelas autoridades, contra o povo,
fizeram com que essa luta se tornasse ainda maior e a população passou a enxergar a democracia
como única saída.
Nesse contexto, é premente explicitar que os civis não tinham como objetivo a tomada do
poder, apenas buscavam maiores direitos e uma nova estrutura política. Esses objetivos se
dissiparam de formas diferentes, variando em cada país. Em alguns dos países essas revoltas
trouxeram um novo governo e em outros apenas algumas aberturas políticas.
Na época, o país que está situado no Norte africano, a Tunísia, não se mostrava nada
satisfeita com a política utilizada pelo Presidente Zeni El Abdine Bem Ali, uma vez que este se
encontra no poder desde 1987 e, a partir de então, nunca garantiu o básico para o povo tunisiano,
além das repressões que ocorriam durante o seu regime. Como forma de protesto ao governo
infame, um jovem decidiu atear fogo em seu próprio corpo. A partir dessa repulsa, a revolta só
aumentou e se espalhou por toda a Tunísia, onde o povo clamava para que o presidente fosse
deposto. Após dez dias de revolta nas ruas, a população conseguiu fazer com que o Presidente
saísse do poder.
O ocorrido na Tunísia fez com que alertasse todo o “mundo árabe”, sendo agora a vez dos
egípcios pedirem a saída de seu Presidente: Hosni Mubarak, que entrou no poder em 1981 e
permaneceu até 2011. O povo alegava que este tinha preceitos ditatoriais e exigiam eleições
diretas para a escolha de um novo representante. O povo egípcio, se mostrava muito inspirado
após o sucesso da população tunisiana, e também decidiram ir às ruas protestar contra o ditador
Hosni Mubarak. Porém, é importante ressaltar que o inicio desses protestos remete a junho de
2010, onde um jovem veio a óbito após ser espancado por policias que o acusaram de ter postado
um suposto vídeo no qual os mesmos eram vistos negociando uma apreensão de drogas.
Então, após o ocorrido, foi criada uma página no facebook chamada: We are allKhaled
Said1 e a partir dela alguns protestos passaram a ser organizados. Durante esse período de
protestos, o governo egípcio também se utilizou dos meios de comunicações para enviar
mensagens de apoio ao presidente (operadoras telefônicas) e os serviços de Internet foram
cortados no país com o intuito de fragilizar as forças que se organizavam por meio dela. Porém,
27
após dezoito dias de luta, a população que reivindicava nas ruas e praças conseguiu fazer com
que o presidente renunciasse.
É válido destacar que ambas as revoltas foram marcadas por intensas violências. Estas
ocorriam tanto por parte do povo, que clamava por seus direitos, quanto pelas forças que estavam
em prol dos presidentes. Com a saída dos Presidentes, o povo teve o direito de ir às urnas para
eleger um novo candidato que os representassem. Os partidos Islâmicos conseguiram sair
vitoriosos em ambos os países.
Por fim, tivemos o Iêmen como o último país a derrubar o seu Presidente. Ali
AbdulhahSaleh sofreu um atentado na mesquita do palácio presidencial e, com isso, começou a
temer por sua vida. Sendo assim, ele decidiu renunciar à presidência e passar o cargo ao seu
Vice-Presidente AbdRabbuh Mansur Al Radi. Este, ao assumir, decretou a criação de um
governo de conciliação nacional.
Na imagem abaixo, é possível identificar todos os países que fizeram parte da Primavera
Árabe:
28
Ilustração 2 – Mapa de expansão da Primavera Árabe
Fonte – http://geografia-ensinareaprender.blogspot.com.br/2012/11/primavera-arabe.html
Contudo, não foram todos os países da primavera árabe que lograram êxito em suas lutas,
pois em alguns o governo continuou com os mesmos representantes, como por exemplo,
Marrocos, Argélia, Jordânia, Iraque, Irã, Kuwait, Bahren, Arábia Saudita, Omã e Síria.
É muito importante demonstrar o quão poderosas as redes sociais e as tecnologias móveis
podem ser em uma determinada região de conflitos. Isso fica evidente na Primavera Árabe, pois
todos os países se utilizaram desses meios tecnológicos para fortalecerem os protestos em seus
países. Essas ondas de protestos no “mundo árabe” ganharam força principalmente por causa da
internet, onde os jovens revolucionários, por meio de sites e redes sociais (Google,Facebook,
Youtube e Twitter), conseguiram atingir inúmeras pessoas que também se sentiam insatisfeitos
com o governo de seu país, fazendo com que estes se juntassem a causa.
É de grande valia destacar que também existiram outras formas de dissipação dessas
ondas de protestos, como as charges, os desenhos e os cartazes que tinham como principal
objetivo propagar as ideias políticas e mobilizar aqueles que viviam em meio a um cenário
catastrófico no âmbito político e social.
Além dessas formas citadas acima, existiram alguns atores externos, em especial os
Estados Unidos, o qual foi crucial para o aumento dessas revoltas por meio de ajuda financeira a
todos que se voltavam contra o governo de seus países. Teriam estes, a finalidade de garantir a
hegemonia politicas das regiões supracitadas.
Os Estados Unidos, promoveu uma agenda a qual os mesmos apoiariam governos
democráticos que não tivessem um certo grau de experiência e iriam encorajar os que possuíssem
a vontade de fazer uma reforma democrática, ou seja, implementar a democracia em seu país.
Em 2002, o secretário de Estado Colin Powell lançou a MiddleEastPartnershipInitiative
(MEPI) que tinha como intuito ajudar os que fossem contrários aos regimes, que não respeitavam
a liberdade e os direitos humanos na Ásia, África do Norte e no Oriente Médio. Esse programa,
para financiar ONGs americanas, passou a incentivar diretamente o Egito, com a finalidade de
apoiar grupos de direitos humanos e ativistas políticos. Na maioria dos países árabes haviam
condições internas, objetivas e subjetivas, como exemplo temos: a repressão, a corrupção e o
desemprego.
29
Embora alguns fatos, como o suicídio do jovem na Tunísia e o fenômeno do contágio
pudessem contribuir para as revoltas, eles certamente não avançariam nem atingiriam as
grandes proporções que tomaram e dificilmente haveriam triunfado, como na Líbia, sem
o encorajamento dos Estados Unidos, que desde 2005 estavam a financiar a oposição na
Síria.7
A partir do que foi exposto acima, pode-se concluir que foi de suma importância a
participação dos Estados Unidos para a expansão da primavera árabe e do fortalecimento dos
opositores aos governos infames. Os quais lutavam por maiores direitos e pela implementação da
democracia em seus países.
4.1 A CRISE NA LÍBIA
Após esta explanação inicial e geral sobre a primavera árabe, entraremos agora no
principal foco deste guia de estudos: A primavera árabe no contexto da Líbia, uma vez que a
simulação, no âmbito deste comitê, tem como tema a operação UnifiedProtector da OTAN, a qual
se deu como um meio de impedir a continuação de diversas violações de direitos humanos,
supostamente, perpetuadas pelo governo de Kaddaffi contra sua própria população.
De antemão, é importante ressaltar que a revolta que lá ocorria se deu, inicialmente,
devido a insatisfação da população líbiapara com o Presidente Muammar Kadafi, que se
encontrava no poder há 42 anos e o conquistou por meio de um golpe. No entanto, é de suma
importância relatarmos o histórico deste país, tratando de vários conflitos em solo nacional, desde
os entraves da Itália unida a Alemanha contra a Inglaterra no período que abarcou a 2ª Guerra
Mundial.
Em 1943 o povo líbio teve seu território sob a administração do Reino Unido e França,
decisão esta proferida pela Organização das Nações Unidas. Encontrando tempos depois em 1952
sua independência, acarretando em seu cenário econômico revirado pelas descobertas de reservas
de petróleo.
Em 1969 Muammar Abu Minyar al-Kadaffi, como o apoio da Frente Popular de
Libertação da Palestina (FPLP), levantaram um golpe militar que acabou com a monarquia
anteriormente instaurada no pais. Aos 27 anos de idade, o governo deste líder é marcado por
comportamentos radicais, pela transformação de atividades que contribuíam para economia em
7Documento eletrônico não paginado.
30
tesouro nacional, além da determinação de expulsão das bases militares americanas e europeias,
presente em seu território.
Durante a ditadura Kadaffi foi objetivada a nacionalização do petróleo, o sistema líbio
transforma-se em um socialismo-popular, sendo uma república de sistema oriunda do islamismo
e socialismo. Decretada uma nova Constituição que unia Estado com religião, este governo tinha
como base comitês revolucionários, que estavam espalhados por toda a Nação. Com uma nova
estratégia para integração árabe com os movimentos terroristas que aconteciam na Europa e no
Oriente Médio, havia alianças com o Exército Republicano Irlandês e novamente a FPLP. Neste
período, meados da década de 80, a relação com o Estados Unidos se tornaram perigosas,
findando em bombardeio americano nas cidades de Trípoli e Benghazi no ano de 1986, dois anos
após este ocorrido, é revidado com um atentado ao avião da Pan-Am, na Escócia. Gerando
embargos pela ONU, removendo de maneira decadente o país do cenário internacional.
Com a chegada dos anos 80, o ditador líbio rompe com o Irã, pelo apoio deste a grupos
extremistas da Líbia, o que indicou corrupção no poder de Kadaffi. Em meados de 1997 a ONU
retira as sanções impostas para o Estado da Líbia, pelo atentado em Lockebier, Escócia. Tendo
em vista a extradição do acusado. Dentro dos compromissos assumidos no combate a imigração
ilegal. De um lado estava os civis, que clamavam por um futuro com qualidade, participação e
liberdade, na outra parte grupos que davam apoio a população, porém que visavam o poder.
No ano de 2011, explodiram manifestações nas principais cidades, contra o coronel
Kadaffi, que respondeu os rebeldes com repressão violenta, ocasionando mortes civis e abalando
o cenário da comunidade internacional. Estas impetuosas opressões por parte do governante,
instigou com que os movimentos contra se tornassem agressivos e recebessem apoio para os
revoltosos que junto ao Conselho Nacional de Transição se posicionaram como grupo de
oposição armada. As respostas advindas do ambiente internacional à crise no território líbio,
surgiram em forma de condenações aos acontecimentos proveniente da ditadura, por parte de
vários organismos distintos, tais como, A Liga dos Estados Árabes (LEA), a União Africana e do
Secretário Geral da Organização da Conferência Islâmica (OCI), sendo fruto dessas reações a
aprovação da Resolução 1970 do Conselho de Segurança das Nações Unidas no dia 26 de
fevereiro. O conselho condenou totalmente a repressão contra a população civil, taxou como
crimes contra a humanidade. Este mesmo ato citou que o governo da Líbia tem a
responsabilidade de proteção para com sua população, para enfraquecer cada vez mais o poder de
31
Kadaffi, foi acionada a Corte Criminal Internacional, as sanções impostas para o líder foram de
embargo de armas, viagens proibidas e congelamentos ativos de diversos líderes do regime e
participantes da família Kadaffi.
Ilustração 3 – Manifestante líbio antigoverno observa do alto na cidade de RasLanouf
(Foto: Hussein Malla)
Fonte – http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2011/03/kadhafi-anuncia-retomada-de-
cidades-na-libia-rebeldes-negam.html
Diante de toda a condenação por parte dos organismos internacionais, Kadaffi não recuou,
as forças do regime tinham retomado a maior parte do país e ameaçavam destruir o epicentro
oriental dos rebeldes na cidade de Benghaz. Dentro da piora da crise, o reforço vindo de medidas
do CSNU, logo estaria presente, porém não foi possível por alguns fatores, como intransigência
32
do regime ditatorial, este que rejeitou as propostas da resolução de 1970, recusou-se também que
entrassem ajudas humanitárias nas cidades necessitadas e o medo constante de que o governo
poderia atacar a cidade de Benghazi para um massacre coletivo. Outro fator agravante foi a falta
de uma resposta internacional mais firme por parte do governo britânico e francês, os quais
introduziram um projeto de resolução que propunha a implementação de uma “zona de exclusão
aérea” na região. Além do total das posições assumidas por organizações regionais.
No dia 17 de março foi aprovada pelo Conselho de Segurança, a resolução 1973 que foi
baseada justamente no pedido feito pela LEA para que fosse estabelecido a zona de exclusão
aérea no território líbio. Países acionaram ações militares contra o regime de Kadaffi, procurando
realizar a decisão do Conselho de Segurança, esta ação se deu na esfera da Operação Alvorada da
Odisseia, que por relatos dos ministros dos países que estavam participando, a operação deveria
continuar até que fossem encerrados definitivamente os ataques à população civil, obviamente
também até que o regime militar de Kadaffi afastasse todas as forças militares e paramilitares de
retorno as suas bases e liberasse o acesso plenamente à ajuda médica e humanitária.
4.1.1 Linha do tempo
A partir de todo o exposto, segue uma linha do tempo que visa sistematizar toda a
historicidade do conflito eclodido na Líbia, no expandir da Primavera Árabe.
1951-Prestes ao fim da Segunda Guerra Mundial foi passada a tutela da Líbia para a
Inglaterra, duas grandes principais regiões: Cirenaica e Tripolitania. Já a região de Fazzan estava
sob o domínio da França. Essa ideia do Estado da Líbia ser administrado por outra nação, foi
nascida na ONU que ficaria com o mandato do país. Os líbios reprovaram totalmente este acordo,
o país queria sua independência mesmo sem muita certeza do que estaria por vir. No ano de 1949
a Organização das Nações Unidas legitimou a resolução que apoiava a independência do país.
Porém sua independência foi realizada em 1951, onde foi dado poder ao Rei Idris concretizando-
se em Monarquia.
1959-Este ano houve uma grande mudança no cenário econômico da Líbia, até então um
dos países mais pobres da África. Com a descoberta de grandes regiões petrolíferas, o país que
antes só conseguia progredir em sua região costeira por possuir clima quente e seco, com essa
mudança o produto passa a compor quase totalmente o índice de exportações, mudando
bruscamente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do páis africano.
33
1969- Ano do golpe de Estado liderado por MuammarKaddafi, que com 27 anos de idade
derrubou a monarquia no poder e junto de seus aliados implementa a ditadura militar que se
baseava no Islamismo e tinha cunho nacionalista. O ditador ao chegar ao poder torna nacional a
maior parte das atividades econômicas da nação, principalmente a extração do tesouro nacional:
O petróleo.
1970- É proposto por Kaddafi o sistema de governo “Jamahiriya”, que seria tido como um
governo que teria as decisões tomadas por comitês tribais, sem partido político. Porém a prática
que foi colocada em ação era de que todas as decisões eram tomadas pelo ditador, que ordenava a
morte de quem ousasse ser oposição.
1980- A Ditadura Kadafi é culpado por financiar atentados terroristas na Europa e
Oriente Médio, sinalizando apoio a Frente de Libertação Palestina e o Exército Republicano
Irlandês. A Líbia passa a ser um país excluído na região por não desempenhar nada diante do
continente e sua relação com os Estados Unidos se agravava.
1986-Ocorre um bombardeio a instalações militares e áreas residências nas cidades de
Trípoli e Benghazi, por parte dos Estados Unidos, o que agrava a tensão entre os países. Dentro
deste ataque morre a filha adotiva de Kadafi em um bombardeio à casa do governante e outras
dezenas de civis morto.
1988- Acontece neste período um atentado a um jato da Pan Am, que cai no território da
cidade de Lockerbie, na Escócia. Deixando aproximadamente 270 mortos, sendo dois agentes
líbios responsabilizados, porém Kaddafi impede que ocorra a extradição dos culpados, recebendo
como resposta da ONU em 1992, um embargo. Este serviu para restringir o páis de relações
diplomáticas e teve suas linhas aéreas internacionais suspensas.
1993- A Líbia rompe relações com o Irã, impedindo o avanço do fundamentalismo
islâmico, pôr o mesmo apoiar grupos líbios extremistas. Em 1994 o relacionamento de Kaddafi
com os palestinos já estava deteriorado, conforme estes se mostraram positivos em negociar uma
paz com Israel. Em esetembro de 1995 o ditador líbio liberou a expulsão de 30 mil palestinos que
viviam no território líbio, sendo suspensa esta medida após a saída de 1500 pessoas.
1996- Foi marcado pelo Massacre de Abu Salim, onde mais de 1.200 pessoas que estavam
na prisão de Abu Salim, compostos por militantes islâmicos e presos políticos, foram mortos por
ação da polícia, o governo recusou o fato e só anunciou as mortes aos familiares em meados de
2001.
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1999- Ano de mudança no Estado da Líbia, que aceitou extraditar os acusados do
atentado de Lockerbie, porém para Holanda. Tendo sido o gesto suficiente para a ONU retirar as
sanções anteriormente impostas ao país e o Reino Unido voltar com a ser um aliado.
2001- Após um dos acusados da ação terrorista ser condenado e o outro inocentado.
Kadaffi publicamente repugna o atentado de 11 de setembro. Logo após, de forma inesperada
pelo mundo árabe, o ditador líbio dividiria dados sobre a Al Qaeda.
2003- A Líbia afirma o abandono de seu programa de produção de armas de destruição
em massa, além de assumir a responsabilidade sobre o atentado de Lockebier as famílias das
vítimas.
2005- Com 20 anos sem relações internacionais tão abertas, o Estado da Líbia realiza
leilão de direitos de exploração de gás e petróleo em suas terras, podemos ver nesta atitude o
retorno de grandes empresas norte-americanas ao território africano.
2006- A Líbia é removida da lista de países patrocinadores do terror, durante o governo
de George Bush, é retomada a diplomacia entre as nações.
2008- Durante um mês, a Líbia assume a presidência rotativa do Conselho de Segurança
da Organização das Nações Unidas.
2010- É assinado um acordo com a União Europeia, para o combate da imigração ilegal.
Pelo fato da Líbia ser uma das rotas principais de entrada na Europa.
2011- Durante todo um período de manifestações nos territórios árabes, manifestantes
invadem as ruas da Líbia em protesto a prisão do advogado ativista dos direitos humanos, no
momento responsável por ações jurídicas de famílias de prisioneiros do massacre de Abu Salim
em 1996.
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5 O CONFLITO LÍBIO NO CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS
(CSNU)
Para se compreender a atuação da OTAN, no tocante às suas investidas, é evidente a
necessidade de se discutir como e pelo o que suas decisões são respaldadas. De antemão, cumpre
ressaltar que suas decisões e atuação devem estar respaldadas por resoluções aprovadas pela
Organização das Nações Unidas (ONU), através de seu Conselho de Segurança (CSNU).
5.1 O FUNCIONAMENTO DA CSNU E SUA INFLUÊNCIA NAS INVESTIDAS DA OTAN
Inicialmente antes de falar sobre as resoluções, em si, faz-se necessário dissertar um
pouco sobre o Conselho de Segurança, o qual é vinculado à ONU e possui 15 membros, entre
eles, 10 temporários, eleitos para exercer essa função de membro por um período de dois anos e
cinco membros permanentes (China, França, Rússia, Inglaterra e os Estados Unidos da América),
sendo que estes últimos possuem o poder de veto, segundo o artigo 27 da Carta da ONU e, desta
forma, podem embargar - caso vá de acordo com seus interesses geopolíticos - qualquer
resolução do Conselho.
O Conselho de Segurança funciona como uma espécie de representante da Assembleia
Geral das Nações Unidas (AGNU), no que diz respeito à manutenção da paz e segurança
internacional, segundo o artigo 24 da Carta da ONU. Neste sentido, legitimado pela Carta da
ONU, em seu capítulo VII, o CSNU pode tomar decisões de caráter obrigatórias, assim como,
pode fazer recomendações aos demais Países-Membro e não membros. Conselho de Segurança
possui diversas funções e atribuições, todavia, o foco deste estudo deve ser as decisões de cunho
obrigatório do CSNU a Estados Membros da ONU, neste caso a Líbia.
Dessa forma, entende-se que essas decisões devem ser respeitadas devido ao Art. 25 da
Carta da ONU, no qual estabelece “Os Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e
executar as decisões do Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta”.
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A interpretação deste dispositivo permite a interpretação de que as decisões devem ser
cumpridas independentes do seu conteúdo. Vale ressaltar que todos os membros pertencentes à
Organização do Tratado do Atlântico Norte também integram a Organização das Nações Unidas,
e consequentemente, são subordinados a este mesmo artigo, logo, esses têm o dever de sustentar,
corroborar e fazer cumprir as determinações desse Conselho.
Por fim, constata-se que o termo “resolução” é designado para um ato unilateral da ONU,
obrigatório ou não.
5.1.1 Resoluções 1970(2011) e 1973(2011)
As Resoluções 1970 (2011), 26 de fevereiro, e a 1973(2011), de 17 de Março, são as
resoluções que alicerçam e que servem como base e fonte de legitimidade para a Operação
UnifiedProtector, na qual devem ser implantadas todas as medidas propostas pelo CSNU.
5.1.2 Processo de Aprovação das Resoluções
No ano de 2011, o Conselho de Segurança era formado pelos cinco países permanentes e
também pelo Brasil, Índia, Alemanha, Líbiano, Bósnia e Herzegovina, Colômbia, África do Sul,
Nigéria, Gabão e Portugal. Nesse contexto, dez países votaram a favor da resolução e cinco
países se abstiveram sendo eles: China, Rússia, Brasil, Índia e Alemanha.
A aprovação dessas resoluções pelo CSNU foi recebida com surpresa pela comunidade
Internacional, pois se era esperado que a Rússia e a China não permitissem uma intervenção
armada em território da Líbia. Além disso, a forma como a votação se desenrolou nos diz muito
sobre a geopolítica mundial, sendo fundamental perceber o alinhamento dos países do BRIC
(Brasil, Rússia, Índia e China), pois todos votaram juntos e se abstiveram. Nesta perspectiva, é
possível analisarmos que a influência em ascensão do BRIC, mas também sua ainda frágil
posição no que diz respeito à segurança internacional, uma vez que ainda não alcançaram papel
de extrema relevância. Outrossim, observa-se o posicionamento da Alemanha vinculado aos
BRICs, colocando a diplomacia à frente da unidade europeia.
37
Assim,é possível depreender a formação de uma nova aliança entre A Liga Árabe e a União
Africana. Por fim,observa-se o posicionamento de Portugal sempre fiel aos seus principais
aliados europeus.
a. Sobre o conteúdo das Resoluções
Com o intuito de exercer sua função, o CSNU interpôs essas resoluções intimamente
vinculadas aos direitos humanos e claramente preocupadas com o fim das violações desses
direitos. Nesse sentido, observa-se que durante toda a fundamentação da resolução ela se
encontra vinculada aos direitos humanos, como por exemplo: “Expressando grave preocupação
em relação à situação na LibyanArabJamahiriya e condenando a violência e o uso da força contra
civis”. (Tradução nossa).
i. Pontos Fundamentais das Resoluções
1. Resolução 1970 (2011)
a) Deplora as grosseiras e sistemáticas violações aos direitos humanos, incluindo a
repressão de manifestações pacificas e reprova o incentivo e a violência contra a
população civil, por parte do governo líbio;
b) Acolhe a condenação dos eventos feita pela Liga Árabe, União Africana e pelo
Secretário Geral da Organização da Conferência Islâmica, assim como, acolhe a
resolução do Conselho de Direitos Humanos, incluindo a decisão de despachar uma
comissão internacional de inquérito independente;
c) Indica que os sistemáticos ataques contra a população civil podem ser considerados
crimes contra a humanidade;
d) Expressa preocupação com as condições dos refugiados forçados a fugir da violência
na Líbia, como também, com os relatos de escassez de suprimentos médicos;
e) Relembra ao Governo e as autoridades da Líbia a sua responsabilidade de proteger sua
população;
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f) Salienta a importância de respeitar tanto a liberdade de reunião tanto a liberdade de
expressão, incluindo a liberdade da mídia;
g) Relembra as responsabilidades básicas para a manutenção da paz internacional e
segurança nos termos da carta das Nações Unidas, assumidas pela Líbia por ser um
país membro da ONU;
Em seguida, legitima as ações que serão adotadas com base no capítulo quatro da Carta
das Nações Unidas, artigo 41:
“O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem
envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar
efetivas suas decisões e poderá convidar os Membros das Nações Unidas a
aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção completa ou
parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação ferroviários,
marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de outra qualquer
espécie e o rompimento das relações diplomáticas. ”
h) Exige um fim imediato para as violências e apela por medidas para realizar as
legítimas demandas da população;
i) Insta as autoridades líbias para que essas passem a agir com o máximo de moderação,
respeitem os direitos humanos e o direito humanitário internacional.
j) Insta, ainda, que as autoridades líbias garantam a segurança dos estrangeiros em seu
território e facilitem a saída desses se desejarem deixar o país, e ainda insta que essas
autoridades garantam, também, a circulação pelo país de ajuda humanitária no geral;
k) Decide submeter à situação da Líbia, desde 15 de fevereiro de 2011, ao promotor do
Tribunal Penal Internacional (TPI);
l) Instaura um embargo de armas e estabelece que todos os Estados Membros devem
cooperar para impedir o suprimento direto ou indireto, venda ou transferência de
armas para Líbia e estabelece que mediante a descoberta dos itens proibidos os
Estados Membros possuem a autorização para apreender e eliminá-los;
m) Encoraja que os países membros desencorajem seus nacionais de viajarem a Líbia
para participar de atividades que colaborem com as violações dos direitos humanos;
n) Proíbe o transito internacional dos listados no Anexo I da resolução e decide congelar
os bens dos listados no Anexo II;
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o) Insta que todos os Estados Membros, trabalhando juntos e agindo em consonância
com o Secretário Geral, para facilitar e apoiar o retorno de agências humanitárias e
fazer disponíveis assistências humanitárias e relacionadas na Líbia;
p) Estabelece a criação de um comitê do Conselho de Segurança, unicamente intitulado
“comitê”, que deve: monitorar a aplicação das medidas propostas, subsumir os
indivíduos qualificados para se encaixarem nos artigos específicos dessa resolução,
fornecer as orientações necessárias para o cumprimento das medidas propostas nessa
resolução, fomentar o diálogo entre as partes envolvidas com o intuito de implementar
as medidas impostas, solicitar a todos os Estados qualquer informações a respeito de
violações ou não compactação com as medidas contidas nessa resolução;
2. Resolução 1973(2011)
A resolução 1973 surge a partir da recusa e da falta de cooperação do governo líbio de
cumprir com a resolução 1970, logo, o Conselho de Segurança necessita de uma nova resolução
que não só reitere o que anteriormente havia sido estabelecido, como também, trouxesse sanções
mais duras. Nesse sentido, a resolução 1973 aborda o descumprimento da resolução anterior por
parte das autoridades líbias, reitera o que já havia sido estabelecido e são adicionados novos
dispositivos, como:
a) Invoca a resolução 1738(2006) e condena atos de violência e intimidação
cometidos pelas autoridades líbias contra profissionais da mídia;
b) Lamenta o uso de mercenários pelo governo líbio;
c) Determina que a situação na Líbia continua a constituir uma ameaça para a paz e
segurança internacional;
d) Exige um cessar-fogo imediato e o fim a violência e de todos os ataques e abusos
contra civis;
e) Demanda, mais uma vez, que as autoridades cumpram com suas obrigações, em
conformidade com o direito internacional, direito internacional humanitário, para
que todos os civis sejam protegidos e lhes seja fornecida assistência humanitária;
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f) Estabelece uma zona de exclusão aérea, ou seja, estabelece uma proibição a
circulação de todos os voos no espaço aéreo da Líbia, com o intuito de proteger os
civis, com exceção de voos com finalidade única humanitária;
g) Solicita, ao Secretário Geral, a criação de um painel de especialistas para que esses
auxiliem o Comitê em suas atribuições;
ii. Caráter discricionário da Resolução
Como analisa o cientista político da Fundação Getulio Vargas, Mauricio Santoro, "A
resolução 1973 estabelece de maneira muito forte que o objetivo da intervenção é a proteção dos
civis. No entanto, ela não diz explicitamente que ações seriam necessárias (para isso), ela dá
margem a uma certa ambiguidade.". Nesse sentido, Santoro ilustra sua fala com exemplos, como:
é possível interpretar que uma ação com o intuito de proteger civis seria não só atacar as tropas
que estavam diretamente ameaçando certa cidade, mas também destruir até mesmo a força
operacional das forças armadas dos líbios. Dessa forma, ele consegue claramente demonstrar a
força discricionária das resoluções e a flexibilidade dos dispositivos inclusos na resolução.
iii. Visões sobre a Resolução
1. Intervencionista
É claro para todo observador externo as violações e os excessos cometidos pelas autoridades
líbias, violando tanto vários artigos da carta das Nações Unidas como, também, vários artigos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além disso, entra em questão a responsabilidade de
proteger, que é o instituto invocado quando o Estado não quer/não pode proteger os Diretos
Humanos de sua população. Nesse sentido, com intuito de dar fim a essas violações à intervenção
se justifica e se legitima com base nesses e em outros argumentos.
2. Contraponto
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A priori, constata-se que as intervenções são claras violações a ideia da soberania, ou seja, ao
direito de um Estado exercer seus poderes. Nessa mesma linha de raciocínio, entra também a
ideia da autodeterminação dos povos, a qual busca garantir a independência política e econômica
a um determinado grupo social. Logo, ambos os conceitos em sintonia buscam garantir a
liberdade dos Estados, longe das influências externas, para se autogovernar da forma que lhes
convir, e essa segurança de soberania e autodeterminação é que auxilia a manutenção da paz, pois
oferece uma segurança no que diz respeito às expectativas. Não só isso, como também o histórico
de intervenções dos “capacetes azuis” é cercado de denúncias relacionadas a abusos e a violações
dos direitos humanos, e isso não só se restringe a esse segmento, as intervenções como um todo
na história recente mostram que novas violações podem vir daqueles que vieram com o objetivo
de cessar os atentados.
Por fim, vale salientar que, em termos de simulação, considerando a importância da
participação da ONU, teremos um representante das Nações Unidas para que colabore no andar
das discussões, trazendo informações que liderem os Estados membros a uma decisão consoante
ao direito internacional e à proteção dos direitos humanos.
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6 CONCLUSÃO
Assim, considerando o que a história nos conta sobre a formação e objetivo inicial da
Organização do Tratado Atlântico Norte, sua natureza defensiva, buscando uma atuação
respaldada pela mútua cooperação entre as nações membros, respeitando os preceitos da
Organização das Nações Unidas, é possível verificar o melhor método para a solução do conflito
posto diante dos senhores e senhoras delegados e delegadas nos dias de simulação.
Independente do conteúdo e da análise que se faz das resoluções do Conselho de
Segurança, é preciso analisar o campo de atuação da OTAN sob uma perspectiva contemporânea
e na conjuntura geopolítica atual na qual estas nações estão envolvidas. É preciso analisar se a
responsabilidade de proteger é um conceito que se levanta em prol da defesa e da aplicabilidade
dos direitos humanos ou se torna um pretexto para uma ação bélica em busca de velhos interesses
em terras fragilizadas por conflitos e pela pobreza.
No entanto, colocando em evidência o caráter inovador das Resoluções emitidas pelo
Conselho de Segurança, chega-se a fácil conclusão de que, pela primeira vez na história, a ONU
justificou uma investida militar internacional na responsabilidade de proteger. A reflexão gira em
torno de quais precedentes serão estabelecidos de agora em diante. Serão os conflitos internos, a
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partir de agora, passíveis de uma investida militar internacional, quando o Estado não for mais
capaz de proteger sua própria população?
A cooperação entre nações possibilita que uma intervenha na outra para garantir a
efetividade dos princípios previstos na carta da ONU, iniciando-se uma nova história para a
guerra?
A partir disto, a OTAN possui um paradoxo em suas mãos: Utilizar a guerra como
ferramenta para a proteção dos direitos humanos. Então, senhores e senhoras delegados e
delegadas, intervir seria a solução para o massacre perpetuado?
Assim, este questionamento e toda análise feita no decorrer deste guia de estudos, deverão
liderar os senhores e senhoras representantes de Estados membros da OTAN na decisão de
aprovar, ou não, a Operação UnifiedProtector.
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