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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA
COMPUTAÇÃO
Andréia Alves dos Santos Schwaab
MODELAGEM DINÂMICA-FUZZY APLICADA A UM MODELO DE ENVELHECIMENTO E RISCO
Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ciência da Computação
Paulo José de Freitas Filho
Florianópolis, agosto de 2009.
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ii
MODELAGEM DINÂMICA-FUZZY APLICADA A UM MODELO DE ENVELHECIMENTO E RISCO
Andréia Alves dos Santos Schwaab
Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Ciência da Computação, Área de Concentração Inteligência Computacional, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação.
________________________________ Mauro Roisenberg, Dr.
Banca Examinadora
________________________________ Paulo José de Freitas Filho, Dr.
________________________________ Silvia Modesto Nassar, Dra.
________________________________ Reginaldo Santana Figueiredo, Ph.D.
________________________________ Renato de Mello, Dr.
________________________________
André Junqueira Xavier, Dr.
iii
Aos meus grandes amores: meus pais e meu esposo.
iv
Agradecimentos
Agradeço aos meus queridos pais, Amélia e José, que me apoiaram em tudo o que
foi necessário durante toda a trajetória de meus estudos. Vocês foram a base
imprescindível.
Ao meu querido esposo Fernando, companheiro de todas as horas, apoio em todos
os momentos do desenvolvimento deste trabalho. Obrigada por tudo.
Às minhas irmãs, minhas amigas, sempre. Obrigada por toda ajuda prestada e
pelos sobrinhos lindos.
Ao professor Mauro Roisenberg, obrigada pela oportunidade de ingresso no
mestrado.
Ao professor Paulo Freitas, orientador e amigo. Obrigada pela disponibilidade
para auxiliar e contribuir a todo o momento com esta pesquisa. Obrigada pela
oportunidade, confiança e paciência.
À professora Silvia, que não economizou esforços para me ajudar no mestrado.
À Beatriz e ao Gustavo, por todas as palavras de motivação e pela amizade.
A todos os amigos do Núcleo de Processamento de Dados, em especial à Kátia
Moresco, ao Carlos Alberto Moresco, ao Dagoberto e ao José Marcos, que muito me
apoiaram na finalização deste trabalho. Muito obrigada!
A CAPES, pelo amparo financeiro.
Enfim, a todos que de alguma forma colaboraram.
v
Sumário
Lista de Figuras .............................................................................................................. vii
Lista de Quadros.............................................................................................................. ix
Lista de Quadros.............................................................................................................. ix
Lista de Tabelas ................................................................................................................ x
Resumo ............................................................................................................................ xi
Abstract........................................................................................................................... xii
Abstract........................................................................................................................... xii
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 1
1.1 Contextualização ....................................................................................................1
1.2 Justificativa e Motivação........................................................................................2
1.3 Problema.................................................................................................................4
1.4 Proposta ..................................................................................................................5
1.5 Objetivo geral .........................................................................................................7
1.6 Objetivos específicos..............................................................................................7
1.7 Estrutura do trabalho ..............................................................................................7
CAPÍTULO 2 ................................................................................................................... 9
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 9
2.1 Simulação de Sistemas ...........................................................................................9
2.1.1 Modelagem e Simulação ...............................................................................11
2.1.2 Conceitos da modelagem dinâmica contínua ................................................12
2.1.3 Blocos de Construção ....................................................................................15
2.1.4 Padrões Estruturais: Ciclos de retroalimentação (Feedback Loops) .............16
2.1.5 Padrões Comportamentais .............................................................................19
2.1.6 Metodologia de Construção dos modelos de sistemas dinâmicos.................23
2.1.7 Softwares para a modelagem dinâmica contínua...........................................25
2.2 Modelagem Fuzzy.................................................................................................25
2.2.1 Conjuntos e operações fuzzy ..........................................................................27
2.3 Trabalhos de Modelagem e Simulação Dinâmica Fuzzy......................................30
2.3.1 O tratamento da incerteza na simulação ........................................................30
vi
2.3.2 Desenvolvimento de equações diferenciais fuzzy ..........................................32
2.3.3 Aplicações de Simulação Dinâmica Fuzzy de propósito geral ......................34
2.3.4 Aplicações de Simulação Dinâmica Fuzzy na área de saúde.........................35
2.4 Sobre teorias e modelos de envelhecimento.........................................................37
2.4.1 Teorias de envelhecimento ............................................................................37
2.4.2 Modelos de Simulação para o envelhecimento .............................................41
CAPÍTULO 3 ................................................................................................................. 44
MODELO DE SIMULAÇÃO DINÂMICO-FUZZY ..................................................... 44
3.1 Modelo Estocástico de Envelhecimento e Morte .................................................45
3.2 Procedimentos Metodológicos .............................................................................52
3.2.1 Validação.......................................................................................................55
3.2.2 Delimitações ..................................................................................................56
3.3 A proposta de ampliação do modelo base ............................................................57
3.3.1 Implementação do sistema fuzzy....................................................................61
3.4 Considerações.......................................................................................................66
CAPÍTULO 4 ................................................................................................................. 67
ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO .......................................................... 67
4.1 O projeto de experimentos....................................................................................67
4.1.1 Planejamento .................................................................................................67
4.1.2 Resultados......................................................................................................69
4.2 Validação..............................................................................................................72
4.2 Considerações.......................................................................................................80
CAPÍTULO 5 ................................................................................................................. 81
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 86
vii
Lista de Figuras Figura 1.1. Estrutura básica dos elementos envolvidos na vida de um indivíduo............ 5
Figura 2.1. Classificação dos Sistemas para fins de modelagem. .................................. 10
Figura 2.2. Quatro níveis de pensamento. ...................................................................... 14
Figura 2.3. Diagrama de fluxo implementado no Software Stella.................................. 16
Figura 2.4. Influência positiva de uma variável A em uma variável B. ......................... 17
Figura 2.5. Influência negativa de uma variável A em uma variável B. ........................ 17
Figura 2.6. Diagrama de Ciclo Causal de uma população, adaptado de Ford (1999). ... 18
Figura 2.7. Diagrama de fluxo de uma população, adaptado de Ford (1999). ............... 19
Figura 2.8. Padrão linear de comportamento.................................................................. 20
Figura 2.10. Padrão Goal Seeking de comportamento. .................................................. 21
Figura 2.11. Padrões de oscilação de comportamento. .................................................. 22
Figura 2.12. Padrão S-Shaped. ....................................................................................... 23
Figura 2.13. Fases do Systems Thinking e metodologia de modelagem......................... 24
Figura 2.14. Modelo de ignorância................................................................................. 26
Figura 2.15. Conjuntos fuzzy: a) trapezoidal; b) triangular; c) sigmóide e d) gaussiano.29
Figura 2.16. Sistema de inferência fuzzy. ....................................................................... 29
Figura 2.17. Distribuição de Maxwell-Boltzmann. ........................................................ 40
Figura 2.18. Representação de um indivíduo no modelo Penna. ................................... 42
Figura 3.1. Diagrama do Modelo Estocástico de Envelhecimento e Morte (Hargrove,
1998)............................................................................................................................... 46
Figura 3.2. Comportamento da Função de um indivíduo ao longo da vida considerando
três diferentes taxas de crescimento. .............................................................................. 48
Figura 3.3. Comportamento da Reserva de um indivíduo ao longo da vida considerando
três diferentes taxas de crescimento. .............................................................................. 49
Figura 3.4. Comportamento do Envelhecimento de um indivíduo ao longo da vida
considerando três diferentes taxas de crescimento. ........................................................ 50
Figura 3.5. Capacidade Relativa de um indivíduo.......................................................... 52
viii
Figura 3.6. Diagrama do modelo base com as influências dos fatores, adaptado de
Hargrove (1998). ............................................................................................................ 54
Figura 3.7. Distribuição da taxa de mortalidade no ano de 2007 no estado de Santa
Catarina, considerando a população total e os hipertensos. ........................................... 56
Figura 3.8. Módulo de impacto e recuperação. .............................................................. 61
Figura 3.9. Função de pertinência para a idade. ............................................................. 62
Figura 3.10. Função de pertinência para o impacto........................................................ 63
Figura 3.11. Função de pertinência para a recuperação. ................................................ 63
Figura 3.12. Superfície de resposta: recuperação de um indivíduo................................ 64
Figura 3.13. Modelo ampliado. ...................................................................................... 65
Figura 3.14. Modelo ampliado implementado no software Stella®............................... 65
Figura 4.1. Gráfico da probabilidade normal dos resíduos............................................. 69
Figura 4.2. Efeito individual de cada fator no tempo médio de vida. ............................ 71
Figura 4.3. Interação entre os fatores Risco Independente de Idade e Fator de Risco. .. 72
Figura 4.4. Resultados das simulações com o modelo ampliado para a mortalidade geral
no estado de Santa Catarina em 2007............................................................................ 76
Figura 4.5. Resultados das simulações efetuadas com o modelo original para a
mortalidade geral no estado de Santa Catarina em 2007............................................... 77
Figura 4.6. Resultados das simulações com as mudanças propostas implementadas para
a mortalidade por hipertensão no estado de Santa Catarina em 2007. ........................... 79
ix
Lista de Quadros Quadro 3.1.Base de regras para a recuperação.........................................................................60
Quadro 4.1. A influência dos fatores na taxa de mortalidade de uma população. ...................70
x
Lista de Tabelas Tabela 4.1. Determinação dos níveis superior e inferior dos parâmetros para a realização
do projeto experimental. ...........................................................................................................68
Tabela 4.2. Distribuição dos percentuais de mortalidade considerando o grupo geral (de
todas as causas) e a hipertensão. Ano base: 2007.....................................................................73
Tabela 4.3. Resultados do simulador e intervalo de confiança para a população geral. ..........75
Tabela 4.4. Resultados do simulador e intervalo de confiança para a mortalidade por
hipertensão................................................................................................................................78
xi
Resumo
A elaboração de modelos de simulação computacionais para o tratamento da
complexidade existente em sistemas reais é um trabalho importante. A área médica e de
saúde apresenta variadas situações em que a modelagem e simulação podem ser
aplicadas como, por exemplo, nos estudos epidemiológicos, na realização de
diagnósticos, no estudo do envelhecimento, etc. Pesquisas apontam que trabalhos de
modelagem do envelhecimento e estratégicos na área de saúde não são numerosos.
Neste contexto, esta dissertação realizou o estudo e a ampliação de um modelo de
simulação de envelhecimento existente com o intuito de aperfeiçoar a representação da
realidade e tratar da complexidade envolvida na recuperação de indivíduos diante de
situações de risco. O modelo base contempla a representação da capacidade fisiológica
e a geração de eventos de risco na vida de um indivíduo, situações estabelecidas pela
determinação de valores de parâmetros. A ampliação do modelo base foi realizada com
a inclusão de um módulo que estima o impacto e recuperação de indivíduos. Este
módulo foi elaborado por meio da modelagem fuzzy (difusa) para o tratamento da
incerteza inserida neste assunto. Os resultados do modelo final foram validados por
meio da reprodução de curvas reais de mortalidade. Os dados reais utilizados são
provenientes de estatísticas de mortalidade do estado de Santa Catarina. Os resultados
mostraram-se adequados, aproximados dos reais, principalmente quando comparados
aos resultados relativos ao modelo em sua forma original. O modelo final pode ser
válido para compreensão e avaliação de riscos associados a doenças que possuem alto
impacto financeiro para planos de saúde tanto públicos quanto privados.
xii
Abstract
The preparation of computational simulation models to deal with the complexity
of real systems is an important task. There are various situations in the medical and
healthcare field in which modeling and simulation can be applied, such as
epidemiological studies, diagnostics, aging studies, etc. Studies indicate that modeling
of aging and healthcare strategies are not numerous. In this context, this dissertation
conducted the study and broadening of an existing simulation model of aging in order to
perfect its representation of reality and account for the complexity involved in the
recovery of individuals given situations of risk. The base model considers the
representation of the physiological capacity and the generation of risk events in the life
of an individual, situations established by the determination of values for parameters.
The expansion of the base model was conducted with the inclusion of a module that
estimated the impact and recovery of the individuals. This module was prepared by
means of fuzzy modeling to account for the uncertainty in this issue. The results of the
final model were validated by means of the reproduction of real mortality curves. The
real data used come from mortality statistics from Santa Catarina State. The results
prove to be adequate, and close to reality, principally when compared to the model’s
original results. The final model can be valid for understanding and evaluating risks
associated to diseases that have high financial impact for public and private health
plans.
1
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
A complexidade inerente aos sistemas reais é uma situação comum. Esta condição
diz respeito ao elevado e diferenciado número de elementos presentes e das relações
entre estes. As mudanças ocorridas em um sistema são decorrentes das transformações e
relacionamentos entre os elementos assim como de fatores e acontecimentos aleatórios.
De acordo com Mitchell e Newmann (2002), mesmo tendo o conhecimento prévio do
comportamento de cada parte, não é tarefa trivial fazer previsões de acontecimentos
para o sistema como um todo. Sistemas da natureza, que envolvem organismos vivos e
transformações biológicas podem ser classificados neste contexto de complexidade.
Em muitas situações é difícil e necessário entender a evolução e a dinâmica de
sistemas complexos, e é neste sentido que a modelagem é ressaltada, para contemplar
esta expectativa. Para Rothember (1989), o modelo é a transformação de um sistema
real em uma representação que possa facilitar o entendimento da dinâmica e dos
elementos a ele pertencentes. Além disso, contribui para a realização de estudos como a
previsão e planejamento.
Na criação do modelo leva-se em consideração a natureza dos acontecimentos,
que pode ser de tempo discreto ou contínuo, o tipo de informação e o conhecimento
disponível sobre o assunto. A respeito da informação, é comum que sistemas
apresentem a presença de incerteza, ocorrência que pode ser observada na definição de
parâmetros e na relação entre as variáveis (CECONELLO, 2006), por exemplo. Isto
quer dizer que a incerteza não está embutida somente na definição de valores
numéricos, mas na forma em que como o sistema evolui. A aleatoriedade pode ser
exemplificada como um caso de incerteza existente em um sistema.
Em se tratando da representação da aleatoriedade em um modelo, a mesma
poderia ser realizada através de uma distribuição de probabilidade. Tomando a
ocorrência de um evento aleatório qualquer como um exemplo, pode-se dizer que o
episódio se daria de acordo com alguma distribuição apropriada ao contexto, extraída do
2
conhecimento do problema. A aleatoriedade, no entanto, representa somente um dos
tipos de incerteza encontrados em um sistema. Outros exemplos são de informações
qualitativas vagas e imprecisas.
Enfim, dadas a significação de sistemas complexos e as características que devem
ser levadas em conta na modelagem, têm-se exemplos de sistemas naturais que
poderiam ser pesquisados: os ecológicos e biológicos. Os estudos desta natureza estão
cada vez mais fazendo uso de ferramentas computacionais é cada vez mais evidente e
necessária a integração de outras áreas com a informática (SBC, 2008) no intuito de
contribuir para o avanço, na agilidade e qualidade das pesquisas.
A área de saúde, ou de uma maneira geral, a área de biologia é marcada por uma
diversidade de temas e pela importância de pesquisas nestes temas para os seres vivos,
que contribuem para a melhoria da qualidade de vida com as descobertas de curas,
medicamentos e procedimentos, etc. Alguns dos temas abordados quando da simulação
na área de saúde são modelos para a representação de doenças e para a simulação de
unidades de atendimento (BRAILSFORD, 2007). Outro tema, muito discutido (porém
não muito tratado por modelos de simulação) está focalizado no estudo do
envelhecimento dos seres vivos através da elaboração de diversas teorias (HAYFLICK,
1997). Uma representação para simulação de envelhecimento, processo considerado
complexo por representar variados fatores e riscos de vida, pode ser útil para o
acompanhamento de populações.
1.2 Justificativa e Motivação
O apoio de técnicas computacionais, como a Modelagem e Simulação de Sistemas
e a Inteligência Artificial (IA), para diferentes áreas de conhecimento que envolvem
complexidade é o que se observa em trabalhos realizados nos últimos anos (AHMAD,
2005) (AHMAD e FRANZ, 2008) (JAFELICE, 2003) (KARAVEZYRIS; TIMPE;
MARZI, 2002). A simulação computacional representa uma tentativa de imprimir maior
rapidez aos resultados e minimizar as dificuldades encontradas no estudo de sistemas
reais, que em muitos casos são caracterizados pela complexidade. Técnicas de IA são
conhecidas por proporcionarem amplos recursos à modelagem e a resolução de
problemas complexos.
3
A integração da IA na modelagem e simulação de sistemas faz com que o modelo
resultante se torne mais consistente em sua representação, isto porque são variadas as
formas de relações destas duas abordagens, como por exemplo na estimação de
parâmetros, na tentativa de amenizar o alto custo associado a esta atividade. A
verificação e validação, o planejamento dos testes de simulação e a análise de resultados
representam outras etapas promissoras para esta integração.
No desenvolvimento de um modelo o uso da IA pode contribuir para o
aperfeiçoamento da representação das informações (WIDMAN e LOPARO, 1989) apud
(DURAN e COSTAGUTA, 1998), por isso, o objetivo desta pesquisa é ampliar um
modelo de simulação de envelhecimento (HARGROVE, 1998) fazendo uso destas duas
técnicas com o intuito de torná-lo mais robusto, com capacidades adicionais, para o
aperfeiçoamento dos resultados e com aptidão para reproduzir situações reais.
Este trabalho pode ser considerado importante para:
• Estudar populações de indivíduos com características similares, diante de
situações de risco;
• Entender o resultado de mudanças de parâmetros nas populações (o que pode
levar ao estudo de estratégias de prevenção de problemas);
• Calcular o custo financeiro de pessoas com determinados problemas de saúde
Isto porque certas doenças podem levar a invalidez, que possui alto custo para a
iniciativa pública e privada. Além do alto valor financeiro que deve ser investido
para a recuperação da saúde.
Com a composição de um modelo que seja capaz de realizar as atividades citadas
anteriormente é possível focalizar problemas, como as doenças cardiovasculares, que
são expressivas nas causas de mortalidade. Desta forma, através de um modelo de
simulação seria possível verificar medidas alternativas para que a mortalidade por estas
doenças diminua, contribuindo para a qualidade de vida e para a redução de custos de
planos de saúde.
4
1.3 Problema
O anseio pela longevidade e pela qualidade de vida ocorre com mais intensidade
com o passar dos anos pelas pessoas e o aumento da expectativa de vida já é sentido nos
últimos anos. Atualmente a expectativa de vida no estado de Santa Catarina é de 75,3
anos (IBGE, 2008). Os tratamentos médicos disponíveis são apontados como um dos
fatores responsáveis por esta mudança que ocorre na população, fato que também foi
notado por um modelo de simulação (RACCO, 2003). Contudo, certas doenças, como
por exemplo, as relacionadas ao sistema circulatório (derrames cerebrais, problemas
cardíacos, etc), estão entre as maiores causadoras de morte. Em Santa Catarina, no ano
de 2007, o percentual dos casos classificados neste grupo chegou a 30%. Vale ressaltar
que este percentual vem sofrendo aumento nos últimos anos (DATASUS, 2008). A
ocorrência deste tipo de doença poderia ser amenizada com a adoção de hábitos de vida
adequados.
As despesas do Sistema Único de Saúde com as doenças crônicas, dentre elas as
doenças associadas ao aparelho circulatório, são muito elevadas e vêm sofrendo
aumento nos últimos anos, como apontado pelo Instituto de Medicina Social – UERJ
(2008) e pelo Ministério da Saúde et al (2009). Cabe ainda ressaltar que estes custos
não ficam limitados a um setor econômico somente, como por exemplo, planos de
saúde. Isto porque se a doença deixar sequelas, outros sistemas como o previdenciário
também pode ser atingido. Este fato já foi relatado pelo Instituto de Medicina Social –
UERJ (2008), que revela que cerca de 40% das aposentadorias precoces são decorrentes
de doenças crônicas.
Um modelo de simulação contemplando teorias de envelhecimento é uma forma
de pesquisar o desenvolvimento de populações e realizar o estudo dos fatores
envolvidos neste processo. Principalmente para a avaliação dos fatores dependentes de
riscos modificáveis. Desta forma, seria possível conferir estratégias que poderiam ser
adotadas para amenizar o agravamento de doenças que surgem com hábitos de vida
pouco saudáveis e que só poderiam ser observadas no longo prazo em populações reais.
O que é notado, no entanto, é que são poucos os simuladores para a modelagem do
envelhecimento, assim como os modelos de planejamento estratégico para a área de
saúde (STAUFFER, 2007) (BRAILSFORD, 2007). A elaboração de tal modelagem
5
estaria contemplando um dos desafios de pesquisa em computação, que é a modelagem
de sistemas complexos naturais (SBC, 2008).
1.4 Proposta
No contexto dos modelos de simulação para envelhecimento, esta pesquisa parte
de um modelo de simulação existente, elaborado por Hargrove (1998). O modelo
estocástico implementado por Hargrove apresenta aspectos relacionados à fisiologia dos
indivíduos, o que relaciona características como crescimento, reserva e envelhecimento
(que juntos compõe a capacidade). De forma geral, o sistema é capaz de simular o curso
da vida de um indivíduo, realizando para isto a representação do envelhecimento e dos
eventos de risco que podem acontecer durante a vida. A ocorrência de um evento de
risco no modelo relaciona os riscos tanto dependentes quanto independentes de idade,
assim como a capacidade do sujeito. Já a intensidade de um evento de risco dependerá
de um indicador, que associará as condições da saúde do sujeito para a determinação de
um parâmetro numérico. A Figura 1.1 apresenta uma estrutura abstrata para estas
considerações.
Figura 1.1. Estrutura básica dos elementos envolvidos na vida de um indivíduo.
Pela Figura 1.1 um indivíduo é influenciado por riscos e por sua capacidade. A
capacidade representa a aptidão de sobrevivência e recuperação (formada por elementos
que compõe a sua fisiologia). O modelo de Hargrove (1998) se enquadra nas teorias
estocásticas, que levam em consideração que eventos acontecem de forma aleatória, e
6
por mais que se saiba que há predisposição para um acontecimento, não se sabe
exatamente o momento.
Notou-se que, em seu trabalho, Hargrove não considerou dois casos:
• Que a ocorrência de um evento de risco (que representa acontecimentos como
acidentes e doenças, por exemplo) causa impacto e recuperação na condição de
vida de um sujeito e;
• Que fatores de risco provenientes de hábitos de vida são diferentes para faixas
etárias distintas.
Dadas as situações levantadas como necessidades para o aprimoramento do
modelo base, é proposta a ampliação deste com a inclusão de um módulo para o cálculo
do impacto e da recuperação de indivíduos (com tratamento da incerteza na
recuperação) e da mudança da aplicação do fator de risco, que passará a ser distinta para
faixas etárias diferentes, dependendo do caso analisado. Para a realização desta
proposta, é concretizada a integração do modelo de simulação com um sistema de
inferência fuzzy. O objetivo é que se obtenha um modelo que possa ser usado para fins
estratégicos, capaz de reproduzir curvas de mortalidade reais.
Para a criação do modelo dinâmico é empregada a técnica systems dynamics
(FORRESTER, 1961), com a elaboração de um simulador dinâmico contínuo. Esta
técnica mostra-se notável pelo seu principal objetivo que é aprofundar o entendimento
dos elementos envolvidos em um sistema complexo, o que é consequencia da definição
dos processos, da observação de tendências e padrões de um sistema (DEATON e
WINEBRAKE, 2000). Além disso, através desse tipo de modelagem é possível
representar a mudança contínua das variáveis.
Para o módulo de recuperação emprega-se um sistema de inferência fuzzy. Este
sistema é utilizado no intuito de representar o conhecimento empírico a respeito da
recuperação de indivíduos, que no problema em questão, envolve a idade e a
intensidade do impacto sofrido. Esta é uma questão incerta e que não possui valores ou
equações matemáticas determinados. Este tipo de incerteza é um dos que aparece em
sistemas da área médica ou de saúde (ORTEGA; SALLUM; MASSAD, 2003).
7
1.5 Objetivo geral
Desenvolver uma ferramenta de simulação estocástica para estudos de processos
de envelhecimento de indivíduos humanos através da associação da modelagem
dinâmica contínua e da modelagem fuzzy.
1.6 Objetivos específicos
Dentre os objetivos específicos do trabalho encontram-se as seguintes etapas:
• Entender o modelo de envelhecimento e morte proposto por Hargrove (1998)
através de um projeto de experimentos, principalmente para a compreensão da
sensibilidade dos fatores.
• Implementar o módulo de inferência fuzzy para a representação da recuperação
de indivíduos;
• Implementar a utilização de um fator de risco modificável para diferentes faixas
etárias, considerando o contexto da saúde do indivíduo.
• Parametrizar o modelo e simular a reprodução de curvas de mortalidade para o
estado de Santa Catarina (Brasil) e para o caso de mortalidade provocada por
hipertensão no mesmo estado.
1.7 Estrutura do trabalho
Esta dissertação está organizada em 5 capítulos.
O Capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica dos principais assuntos
relacionados à pesquisa. Primeiramente são apresentados os conceitos relacionados à
modelagem dinâmica contínua através da metodologia Systems Dynamics, os padrões
comportamentais observados nos sistemas e os blocos de construção de um simulador.
O Capítulo 2 ainda traz os conceitos acerca da modelagem de sistemas fuzzy
(difusos) e trabalhos tanto na área de saúde quanto outros tipos de sistemas complexos
que incluem simulação dinâmica e modelagem fuzzy. Além disso, apresenta uma síntese
8
das teorias de envelhecimento e das ideias que serviram de embasamento para este e
para outros trabalhos inseridos neste contexto.
O capítulo 3 é que agrega toda a modelagem da proposta. Primeiramente o
modelo de Hargrove (1998) é detalhado e discutido, as equações e o comportamento dos
elementos deste sistema são apresentados. Posteriormente é apresentada a proposta de
ampliação realizada no modelo base, o que inclui os procedimentos metodológicos e a
especificação do módulo de inferência fuzzy.
Os resultados dos estudos realizados no modelo de Hargrove, através de um
projeto experimental, assim como a validação dos resultados obtidos através do modelo
final são apresentados no Capítulo 4.
Por fim, as conclusões e as indicações de trabalhos futuros para continuidade
desta pesquisa são apontadas no capítulo 5.
9
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O desenvolvimento do modelo de simulação desta pesquisa envolve os conceitos
de simulação dinâmica contínua, de modelagem fuzzy e de envelhecimento. Desta
forma, este capítulo apresenta os principais conceitos relacionados a estes temas assim
como os trabalhos relacionados a eles, tanto na área de saúde quanto para os de
propósitos gerais.
Este capítulo apresenta uma breve revisão do que vem a ser a modelagem e a
simulação de sistemas, com enfoque principalmente nos sistemas de comportamento
dinâmico contínuo. O texto provê uma introdução do assunto, explica conceitos básicos
relacionados a sistemas, a motivação da simulação, bem como a simulação dinâmica
contínua. Ainda são abordadas as metodologias de modelagem de sistemas contínuos
mais conhecidas.
2.1 Simulação de Sistemas
O funcionamento de diversas atividades geralmente segue uma ordem, seja ela
natural ou imposta, que apresenta etapas e evolução ao longo do tempo. Esta ideia pode
ser percebida, por exemplo, no processo de envelhecimento de uma pessoa, que passa
por várias fases da vida, cumprindo uma sequência de estados, até chegar a sua fase
idosa. Já em um sistema bancário, os clientes devem seguir ordens pré-determinadas
para concluir uma transação pretendida. Ambos os exemplos podem ser denominados
de sistemas, um de envelhecimento e o outro como um sistema de transação bancária.
Sendo assim, um sistema é formado por um conjunto de elementos que se
relacionam entre si e constituem a realização de um processo global. Ainda podem ser
classificados, de acordo com o seu comportamento temporal, em estáticos e dinâmicos.
Os sistemas dinâmicos são os que sofrem alterações estruturais ao longo do tempo, seja
pela ocorrência de eventos ou por mudanças que ocorrem naturalmente, já no caso de
sistemas estáticos não há ocorrência de transformações (RUSSEL, 1971). Como
exemplos de sistemas pode-se citar os:
10
• Biológicos;
• Ecológicos;
• Econômicos
• De transporte;
• De produção, etc.
Os sistemas dinâmicos ainda possuem subdivisões de tipos: determinísticos e
aleatórios. O determinismo implica em conhecer a forma como o sistema responderá
sob determinadas condições. Nos aleatórios, ao contrário, não se sabe como será
exatamente a reação, contudo pode-se saber as distribuições de probabilidades que
regem tais respostas. Dentre os sistemas aleatórios, existem os subtipos denominados
contínuos e discretos. A classificação “contínua” prevê que as variáveis de estado do
problema sofram continuamente variação em seus valores. Na classificação “discreta”,
as mudanças são discretas e ocorrem através de eventos em um determinado tempo.
Esta classificação pode ser visualizada na Figura 2.1.
Figura 2.1. Classificação dos Sistemas para fins de modelagem.
Fonte: Freitas (2008).
Em se tratando de modelagem, que é discutida logo adiante, os modelos contínuos
são delineados através de equações diferenciais; e os discretos são reproduzidos através
de equações de diferenças. As equações de diferença expressam o valor das variáveis
com base na diferença do último estado para o estado atual. Segundo Kelley e Peterson
(2001), este tipo de equação pode ser chamada ainda de recorrente ou recursiva. As
11
equações diferenciais são formadas a partir de termos que sofrem variações contínuas
em relação ao tempo, melhor dizendo, são derivadas destes termos em relação ao tempo.
Estas são questões que podem ser resolvidos por meio de simulação computacional.
As denominações comumente utilizadas para a modelagem e simulação de
sistemas dinâmicos contínuos e discretos são, respectivamente, Dinâmica de Sistemas
(Systems Dynamics) (FORRESTER, 1961) ou Simulação Dinâmica Contínua e
Simulação Dinâmica Discreta ou Simulação Discreta. A Simulação Discreta pode ser
empregada em problemas de Pesquisa Operacional e de suporte à decisão, ou em outras
situações em que os processos podem ser considerados de natureza discreta. A
simulação contínua é adequada para situações mais abrangentes, em que muitos são os
casos a serem consideradas no modelo, como por exemplo, em transformações
químicas, biológicas e físicas (KETTENIS, 1982).
O uso de uma ou de outra técnica de simulação deve ser eleita com base na
essência do problema. Para Thesen e Travis (1989), a finalidade da Simulação Dinâmica
Contínua é capturar mudanças suaves que acontecem ao longo do tempo ocasionadas
por controles, como a mudança gradual que ocorre ao se girar o volante de um carro. A
Simulação Discreta é apropriada para os casos em que há mudança instantânea quando
da ocorrência de um evento, como por exemplo, a chegada de mais um lote de materiais
em um estoque.
2.1.1 Modelagem e Simulação
Depara-se, muitas vezes, com situações onde é necessário, ou pelo menos
interessante, que se faça uma simulação do que poderia acontecer com um dado sistema
em funcionamento, ou para avaliar a sua implementação real. Para o treinamento de
pilotos, por exemplo, é preciso que o mesmo esteja familiarizado com as possíveis
ocorrências de um vôo, antes da sua realização. Para sistemas populacionais, o desejo
poderia ser o de verificar o quanto o crescimento de uma população comprometeria os
estoques alimentícios e, neste sentido, poder-se-ia criar políticas que tentassem
amenizar impactos negativos futuros nos estoques. Ou seja, utilizar um modelo de
simulação como ferramenta de apoio à decisão (THESEN e TRAVIS, 1989).
12
Para realizar a experimentação com um sistema real, existem alguns custos
relacionados, não somente financeiros, que podem determinar o uso de métodos
alternativos como a simulação. Há casos em que o sistema não existe, e o que se deseja
fazer é justamente simular como o mesmo seria se existisse. Outros em que ele existe,
mas associado a um alto custo financeiro para implementar algum tipo de mudança ou
atualização. Ou, em se tratando de um sistema que envolve risco de vida, o modelo de
simulação seria a forma ideal para treinamentos, uma vez que o teste com o sistema real
poderia ser classificado como inadequado (FREITAS, 2008).
A modelagem e simulação é uma técnica utilizada como forma de representação
aproximada de sistemas reais. É utilizada quando se torna difícil verificar determinadas
suposições com o sistema real. De acordo com Taffe (1991) o modelo serve para
representar as partes envolvidas no processo e as relações quantitativas entre elas. A
simulação, então, resolve matematicamente estas relações com vários tipos de entradas
e parâmetros.
O emprego da simulação traz aspectos positivos e negativos. As vantagens se
fundamentam em fatos como o de se poder testar diversas hipóteses, a facilidade do
emprego em relação a métodos analíticos, o controle do tempo de modo que melhor
reflita a realidade, o próprio entendimento do sistema e a influência de suas partes no
todo e a identificação de problemas. Em relação às desvantagens estão questões
relacionadas à qualificação do modelador, que deverá estar apto a desempenhar tal
função, bem como todas as tarefas posteriores de testes e interpretação de resultados.
Outra desvantagem é que pode haver casos em que o tempo necessário para a realização
de modelagem e simulação pode se tornar muito grande, cabendo nestes casos uma
alternativa, como os métodos analíticos (FREITAS, 2008).
2.1.2 Conceitos da modelagem dinâmica contínua
A técnica de Dinâmica de Sistemas (System Dynamics) surgiu na década de 60 e
foi proposta por Jay Forrester. Os trabalhos clássicos de tal época foram o Industrial
Dynamics (FORRESTER, 1961) e o Urban Dynamics (FORRESTER, 1969) que é
muitas vezes apontado como o marco inicial. De acordo com Radzicki (1997), o
13
primeiro trabalho foi produzido após longa aplicação em problemas corporativos e
administrativos; e o segundo surgiu da observação de problemas urbanos na época.
Para Forrester (1998), no entanto, a Dinâmica de Sistemas não fica restrita a esses
tipos de sistemas, podendo ser aplicada em áreas como medicina, economia, política,
meio-ambiente, engenharia, etc. Isto porque esta prática "combina teoria, métodos e a
filosofia necessária para analisar o comportamento de sistemas; [...] fornece um
fundamento comum que pode ser aplicado onde quer que queiramos entender e
influenciar em como as coisas mudam com o tempo".
A Dinâmica de Sistemas pode então ser classificada como uma forma de
aprendizado e não simplesmente como de predição. Existem diferenças entre técnicas
para predição e para o aprendizado. As de predição são utilizadas para apontar valores
futuros de certa variável, o que não é o caminho da modelagem para o aprendizado, cujo
objetivo é proporcionar entendimento tal que se possa identificar pontos problemáticos
no sistema e assim testar diversas políticas (FORD, 1999).
Ao se falar em construção de sistemas dinâmicos, vem à tona outro conceito
muito conhecido pelos especialistas da área: Systems Thinking (Pensamento Sistêmico).
É uma disciplina, utilizada em de teoria dos sistemas, cujo ideal é abranger todas as
etapas de modelagem e entendimento de sistemas. De acordo com a Sociedade de
Dinâmica de Sistemas (2008), o que essas duas técnicas (Systems Dynamics e System
Thinking) têm em comum é o fato de focarem os mesmos tipos de sistemas, além do uso
de ciclos causais na modelagem.
Systems Thinking é o nome que se dá ao processo de entendimento de
complexidade de um determinado problema, de diversas áreas de conhecimento. Possui
três componentes: o paradigma, a linguagem e a metodologia. O paradigma incorpora as
tarefas de estudo e entendimento inicial do sistema, ou seja, a compreensão que se tem
do sistema antes da construção de um modelo. A linguagem representa os meios de
expressar e apresentar o conhecimento a respeito do sistema, isso em termos visuais.
Por fim, a metodologia é composta pelas ferramentas tecnológicas que darão suporte a
todos os passos da modelagem (MAANI e CAVANA, 2000).
14
Eventos
Padrões
Estruturas do Sistema
Modelo Mental
Figura 2.2. Quatro níveis de pensamento.
Fonte: Maani e Cavana (2000).
A pirâmide da Figura 2.2 exibe os níveis de pensamento colocados por Maani e
Cavana (2000). Os eventos, localizados no topo, são a forma de pensamento mais
superficial porque se referem a fatos que acontecem no dia-a-dia e que passam a ser
conhecidos pelas pessoas. Os padrões dão um passo adiante em relação aos eventos
porque revelam um conhecimento um pouco mais aprofundado, proporcionando uma
visão mais abrangente, como o histórico de acontecimentos. As estruturas do sistema
empenham-se em entender como as coisas acontecem, explorando a identificação de
fatores que influenciam os padrões, por exemplo. O modelo mental, localizado na base,
é o nível mais profundo de pensamento. Neste nível de pensamento o objetivo é
entender o porquê dos acontecimentos baseado em crenças e valores.
O que se pretende alcançar com a modelagem e simulação de sistemas dinâmicos
é justamente a representação do modelo mental.
Apesar do nível avançado de conhecimento, os modelos mentais são intrínsecos a
cada pessoa e por isso se revelam de diferentes formas quando são expostos. Além
disso, possuem características como imprecisão, incompletude, e raciocínios implícitos.
Devido à complexidade dos modelos mentais, torna-se difícil para o cérebro realizar e
sintetizar a dinâmica de todas as partes envolvidas. É então que a simulação
computacional passa a ter um papel importante, uma vez que á capaz de representar o
modelo e simular a dinâmica. Desta forma os analistas e pesquisadores podem explicitar
os seus pensamentos, bem como testá-los e melhorá-los (DEATON e WINEBRAKE,
2000).
15
2.1.3 Blocos de Construção
Em um ambiente de simulação, de acordo com o preceito da metodologia Systems
Dynamics, o modelo dinâmico é constituído por três componentes: estoques, fluxos e
conversores. O estoque, também conhecido como nível, transmite a ideia de
armazenamento; os fluxos propiciam a transformação de estoques e os conversores os
auxiliam neste processo (DEATON e WINEBRAKE, 2000) (FORD, 1999). De forma
mais detalhada, as definições destes blocos de construção são dadas a seguir:
• Estoques: são utilizados para representar o acúmulo de entidades em uma dada
parte do sistema. Representa o estado em que se encontra determinada variável
ao longo do tempo, sendo considerados os substantivos do modelo. Possuem
características como memória (o cálculo do seu valor no próximo tempo leva em
consideração o valor no tempo anterior), modificação da forma dos fluxos com o
tempo (podem influenciar os processos de mudanças de estados), separação de
fluxos (pode ter fluxos de entrada e de saída que se comportam de forma
diferente) e criação de delays (representação de estágios pelos quais as entidades
permanecem e passam) (RADZICKI, 1997).
• Fluxos: representam um processo pelo qual as entidades passam, tanto para
adentrar estoques, quanto para deixá-los. Pode ser "uma atividade, ou
movimento, ou fluxo que contribui para a mudança por unidade de tempo em
um estoque (ROBERTS et al, 1994)". São os verbos do modelo, e trabalham
através de taxas de mudanças. A Figura 2.3 possui um fluxo cujas extremidades
são o esboço de uma nuvem e um estoque. A nuvem significa que não se sabe
de onde vêm as entidades que passarão pelo fluxo. E o estoque é o receptor das
entidades.
• Conversores: servem para auxiliar os fluxos e, para isto, representam valores
discriminados de taxas de mudanças, constantes, cálculos em geral. Para
Richmond (2001), por atuarem junto aos fluxos, os conversores desempenham
papel de advérbios, quantificando as mudanças que ocorrem por unidade de
tempo nos fluxos e estoques. A função principal é a de tornar o modelo mais
fácil de entender, haja vista que seria possível para o próprio fluxo representar
16
todos os valores (RADZICKI, 1997). No entanto não ficaria tão claro o
entendimento de todos os componentes responsáveis pelos cálculos de fluxos.
Estoque
Fluxo
Conv ersor
Figura 2.3. Diagrama de fluxo implementado no Software Stella.
Os três elementos apresentados representam juntos a estrutura básica de um
modelo de simulação e são chamados também por diagrama de fluxo, que pode ser
visualizado na Figura 2.3. A ligação entre o conversor e o fluxo é realizada através de
uma seta denominada conector, que é utilizado para representar as relações extras. A
próxima seção apresenta uma abordagem alternativa em que o modelo pode ser
especificado a priori por diagramas de ciclo, que posteriormente são traduzidos para
diagramas de fluxos.
Ford (1999) recomenda que, quando se for desenvolver um modelo diretamente
por um diagrama de fluxos, uma ordem adequada a se seguir é a identificação de
estoques, a adição de fluxos, a direção dos fluxos e a inserção dos conversores.
2.1.4 Padrões Estruturais: Ciclos de retroalimentação (Feedback Loops)
De acordo com a definição de sistema apresentada no início do capítulo, as
entidades se relacionam executando um processo. Muitas vezes os resultados
intermediários gerados exercem influências em outras partes do sistema e assim
sucessivamente. Quando este efeito retorna para as variáveis de entrada, nota-se a
ocorrência de um ciclo, em que uma determinada saída exerce influência na entrada
(RADZICKI, 1997).
“Retroalimentação é o processo pelo qual um sinal se move por uma cadeia de
relações causais para afetar a si próprio (MARTIN, 1997)”. Existe, portanto, uma
relação de causa e efeito que une as variáveis. Um feedback loop pode ser negativo ou
17
positivo. As influências que as variáveis exercem umas nas outras ao longo do ciclo
devem ser observadas para que se faça tal classificação.
Quando duas variáveis interligadas sofrem variações no mesmo sentido, diz-se
que há uma influência positiva de uma na outra. Logo, o aumento de uma causa o
aumento da outra, ou a diminuição de uma causa a diminuição da outra. Agora, quando
a variação ocorre em sentido oposto, a ligação é classificada como negativa. Desta
forma o aumento de uma causa a diminuição da outra, ou a diminuição de uma causa o
aumento da outra. As Figuras 2.4 e 2.5 dão exemplos de uma influência positiva e uma
negativa, respectivamente. A seta com sinal de adição (+) na extremidade é atribuída à
influência positiva. O sinal de subtração (-) é colocado para influências negativas.
Figura 2.4. Influência positiva de uma variável A em uma variável B.
O fato de as nomenclaturas utilizarem as palavras ‘positiva’ e ‘negativa’ não
significa que o resultado esperado seja bom ou ruim. Somente tem a ver com a direção
de crescimento/decrescimento (MARTIN, 1997).
O feedback positivo é relacionado ao crescimento desenfreado dos sistemas, que
pode ser descrito por um crescimento exponencial. De acordo com Ashford (1995) este
é um comportamento típico de aplicações financeiras e de dívidas com altos juros, de
epidemias, do avanço tecnológico que se tem visto ultimamente, etc. Em se tratando de
modelagem do diagrama de fluxos, significa dizer que a taxa que rege a mudança do
estoque é dependente do próprio estoque.
Figura 2.5. Influência negativa de uma variável A em uma variável B.
18
O feedback negativo tem efeito no sentido de amenizar alguma mudança ocorrida
no sistema. Por isso esse tipo de estrutura tende a manter o sistema regulado, em
controle. O equilíbrio que uma pessoa que está aprendendo a andar de bicicleta precisa
manter caracteriza um feedback negativo, porque existem momentos em que a bicicleta
pode se inclinar para a direita ou para a esquerda, e o aprendiz então se apoiará de forma
que não caia (MARTIN, 1997).
Um diagrama de ciclo causal é a forma gráfica de representação de um feedback
loop. A Figura 2.6 apresenta um exemplo composto de retroalimentação negativa e
positiva (FORD, 1999). É uma exemplificação do processo de crescimento de uma
população, que por um lado é aumentada pelos nascimentos, e por outro é diminuída
pelas mortes. O número de nascimentos depende do tamanho da população e da taxa de
nascimento. Quanto maior for a taxa e a população, maior será o número de
nascimentos. Este processo constitui um feedback positivo, que por si só faria com que
a população crescesse desordenadamente. O número de mortes também é dependente do
tamanho da população e da taxa de mortalidade. Quanto maior for o número de mortes,
menor ficará a população. Desta forma, constitui uma estrutura reguladora, o que não
permite que o tamanho da população cresça desordenadamente.
PopulaçãoHumana
nascimentos
taxa denascimentos
+
++
mortes
taxa demortalidade
-
+
+
Figura 2.6. Diagrama de Ciclo Causal de uma população, adaptado de Ford (1999).
A Figura 2.7 exibe o diagrama de fluxo que é equivalente ao diagrama de ciclo da
Figura 2.6. A população então é entendida como sendo um estoque, uma vez que esta é
a variável que acumula entidades. As mortes e os nascimentos representam os processos
19
que os indivíduos sofrem. O andamento desses processos é quantificado por
conversores (que armazenam uma taxa fixa) e pela própria população.
População Humana
Nascimentos Mortes
Taxa de Nascimento Taxa de Mortes Figura 2.7. Diagrama de fluxo de uma população, adaptado de Ford (1999).
Quando há dúvida se um ciclo é positivo ou negativo, deve-se contar o número de
ligações negativas. Se o resultado for zero ou qualquer número par o ciclo é positivo. Se
a soma for ímpar o ciclo é negativo (FORD, 1999).
2.1.5 Padrões Comportamentais
Conhecer o comportamento temporal das partes envolvidas no sistema é um passo
importante para que a análise e a construção do sistema sejam realizadas de forma
adequada (RADZICKI, 1997). As variáveis em um modelo dinâmico contínuo
apresentam diferentes tipos de comportamentos. Implícitos nestes tipos estão os padrões
estruturais apresentados na seção anterior. Os comportamentos mais conhecidos são:
Padrão Linear: o comportamento de uma variável de padrão linear poderá ser
constante, o que denota uma situação de equilíbrio, ou ainda poderá ser crescente ou
decrescente. Os tipos linear crescente e linear decrescente não são tão comuns em
sistemas dinâmicos (RADZICKI, 1997). Já o comportamento constante pode ser devido
a algum estado de equilíbrio que é possível ser alcançado. Para que um estoque tenha
um comportamento linear é necessário que as taxas de mudanças sejam fixas e que a
soma de todos os fluxos de entrada menos os fluxos de saída sejam constantes. Se a
constante for positiva, existe um crescimento linear. Se negativa significa que há
decrescimento. Ou ainda, se for zero não há mudança, o que indica a situação de
equilíbrio. Quando esses tipos de situações são identificados não existem ciclos de
retroalimentação relacionados com a variável. Um exemplo prático seria um
20
gerenciamento de recursos que possuem entradas e saídas constantes (DEATON e
WINEBRAKE, 2000). A Figura 2.8 mostra os três tipos de linearidade.
Figura 2.8. Padrão linear de comportamento.
• Padrão Exponencial: este tipo é caracterizado pelo crescimento ou
decrescimento exponencial. Em se tratando de sistemas dinâmicos, já se pode
dizer que é um comportamento comum. As mudanças que ocorrem nos estoques
são proporcionais a eles próprios. Ciclos de retroalimentação positivos são
associados ao crescimento e os ciclos negativos são relacionados ao
decrescimento exponencial. Os modelos exponenciais podem ser observados em
dinâmicas populacionais, transferência de calor e mecânica de fluidos
(DEATON e WINEBRAKE, 2000). Pela Figura 2.9 é possível visualizar o
crescimento e o decrescimento exponencial.
21
Figura 2.9. Padrão exponencial de comportamento.
• Goal Seeking: é parecido com o padrão exponencial, exceto pelo fato de que
existe um valor meta a ser alcançado, o que faz com que a variável permaneça
em um estado de equilíbrio. Este equilíbrio é ocasionado por retroalimentação
negativa, uma vez que um “feedback negativo causa comportamento goal
seeking (MARTIN, 1997)”. A Figura 2.10 exibe o goal seeking com crescimento
e o goal seeking com decrescimento.
Goal Seeking Decrescimento
X
Y
Goal Seeking Crescimento
X
Y
Figura 2.10. Padrão Goal Seeking de comportamento.
• Oscilação: representa a classe de padrões mais comuns em sistemas dinâmicos
(RADZICKI, 1997). Os subtipos de oscilação mais conhecidos são:
o Amortecida: possui inicialmente valores mais altos que vão suavizando
ao longo do tempo.
22
o Sustentado: os valores seguem movimentos periódicos iguais ao longo
do tempo.
o Explosão: os valores se comportam de maneira mais suave no início e, a
cada período, vão se tornando maiores.
o Caos: não existe padrão definido para os dados, que não seguem e não
repetem períodos.
Quando há oscilação existe a presença de um ciclo negativo que força a variável a
mudar em torno de um conjunto de condições. Esta conduta pode ser observada em
sistemas de presa e predador e sistemas com consumidores e recursos renováveis
(DEATON e WINEBRAKE, 2000). A Figura 2.11 apresenta os quatro subtipos de
oscilação explicados.
Sustentado
X
Y
Amortecida
X
Y
Explosão
X
Y
Caos
X
Y
Figura 2.11. Padrões de oscilação de comportamento.
• S-Shaped: é uma combinação de crescimento exponencial e goal seeking
(RADZICKI, 1997). Pela Figura 2.12 é possível observar que o comportamento
S-Shaped começa com um crescimento exponencial e segue até um determinado
ponto, chamado de ponto de inflexão, em que passa a assumir um crescimento
23
assintótico. Mais adiante entrará em uma situação de equilíbrio. O crescimento
exponencial é devido a um ciclo de retroalimentação positivo, que perde a força
na hora em que um ciclo de realimentação negativo passa a dominar a situação,
o que causa o crescimento assintótico e posterior equilíbrio (GLICK e DUHON,
1994). Este equilíbrio é encontrado porque o sistema possui uma capacidade que
ele suporta, denominada capacidade de carga. Sistemas populacionais com
recursos limitados e sistemas de epidemiologia são exemplos em que pode se
observar este comportamento (DEATON e WINEBRAKE, 2000).
S-Shaped Crescente
X
Y
S-Shaped Decrescente
X
Y
Figura 2.12. Padrão S-Shaped.
2.1.6 Metodologia de Construção dos modelos de sistemas dinâmicos
O processo de modelagem de um sistema é um passo que merece atenção, uma
vez que é fundamental para que o modelo seja consistente, o que pode tornar esta etapa
mais importante que o modelo em si (RADZICKI, 1997).
As metodologias de modelagem de sistemas dinâmicos contínuos são parecidas.
Duas são as abordagens mais conhecidas: a adotada por pesquisadores do MIT
(Massachusetts Institute of Technology) (FORRESTER, 1994) e a sistêmica (MAANI e
CAVANA, 2000). A diferença básica entre as duas propostas é que uma delas, a
sistêmica, classifica o uso de diagramas de ciclos como um passo a ser realizado, sendo
este antes da construção do diagrama de fluxos e a outra coloca a modelagem de
diagrama de ciclos como opcional, podendo ser executada após a construção do
diagrama de fluxos.
24
O principal ponto negativo dos diagramas de ciclos colocado por Richardson
(1986) é o fato destes não deixarem claro a relação entre estoques e fluxos, uma vez que
através de um diagrama de fluxo é possível saber se o crescimento de um estoque é
linear ou exponencial, por exemplo, o que não é possível somente através da
identificação de relações positivas e negativas.
Figura 2.13. Fases do Systems Thinking e metodologia de modelagem.
Fonte: (Maani e Cavana, 2000).
A Figura 2.13 apresenta os passos da metodologia sistêmica sugerida por Maani e
Cavana (2000):
• A estruturação do problema: consiste em identificar o problema a ser tratado,
coletando dados e informações iniciais.
• O segundo passo, que é a modelagem do ciclo causal, abrange a identificação
das variáveis principais do problema, o desenho das relações entre essas
variáveis e a identificação de padrões.
• A seguir é a realizada a modelagem dinâmica, que é a criação das equações
matemáticas do modelo, que pode ser através de um software de simulação.
• A etapa de planejamento e modelagem do cenário envolve as atividades de
planejamento de testes, os testes de políticas. Para isto, é necessário
conhecimento dos fatores que mais interferem no modelo, os que mais afetam a
resposta. Cabe também avaliar o desempenho das políticas e estratégias.
25
• Implementação e laboratório de aprendizagem: consiste em fazer uso de
interfaces amigáveis, os chamados Flight Simulators, que tornam mais fáceis a
experimentações.
Neste trabalho optou-se por adotar o uso de diagramas de ciclo, uma vez que se
acredita que o mesmo facilita o entendimento do problema e as relações entre os
elementos.
2.1.7 Softwares para a modelagem dinâmica contínua
Para a realização da simulação em computador existem alguns softwares que
suprem a necessidade de construção do diagrama de fluxos e do diagrama de ciclo. O
Stella® (2008) é um software para simulação dinâmica que possui interface amigável.
Permite a construção do diagrama de fluxos, do diagrama de ciclos (a partir de um de
fluxo), a construção de interface com usuário, bem como documentação detalhada.
Outro programa muito utilizado é o Vensim® (2008). É possível construir as
mesmas coisas que no Stella, porém a interface de uso não parece ser de aprendizado
intuitivo tanto quanto o Stella. Nota-se, no entanto, que a interface de construção de
diagramas de ciclos é melhor, uma vez que tal diagrama não é construído a partir de um
diagrama de fluxos e sim a partir do que o usuário desejar.
2.2 Modelagem Fuzzy
No raciocínio empregado na lógica clássica, as variáveis envolvidas em um dado
problema possuem valores determinados com precisão, como verdadeiro ou falso, por
exemplo. Na teoria clássica dos conjuntos, isto pode ser evidenciado com a classificação
de um elemento como pertencente ou não a determinado conjunto (BARROS, 1997).
Por outro lado, sabe-se que nem todo o tipo de informação é desta natureza. Muitas são
classificadas como qualitativas que carregam indefinição nos limites de valor de
veracidade de uma variável. Dessa forma, a lógica clássica apresenta uma carência por
não realizar a modelagem desse tipo de informação, ou já não supre a necessidade de
modelagem.
26
No decorrer dos anos, foi necessário criar modificações da lógica clássica
incorporando a ela as características que eram observadas para a resolução de problemas
que a mesma não conseguia contemplar, daí o surgimento das lógicas não-clássicas.
Dentre elas encontra-se a lógica fuzzy: técnica de inteligência artificial utilizada para o
tratamento de informações incertas, por vagueza ou por imprecisão.
De acordo com Ross (2004): A lógica pode ajudar a organizar as palavras de modo que faça sentido, mas não pode ajudar na determinação de qual sentença usar em vários contextos. A lógica fuzzy é um método de formalizar a capacidade de raciocínio impreciso humano. Tal raciocínio representa a habilidade de pensar aproximadamente e sobre incertezas. Na lógica fuzzy todas as verdades são parciais ou aproximadas.
A escolha da técnica de modelagem depende da condição da informação que se
está trabalhando. Para o caso em que existem dificuldades com esta informação, há que
se considerar o tipo de problema para a escolha adequada da forma de modelagem. A
Figura 2.14 apresenta um modelo de ignorância e sugere algumas formas de tratamento.
Figura 2.14. Modelo de ignorância.
Fonte: Bracarense (1999).
O modelo de ignorância proposto por Bracarense (1999), Figura 2.14, aborda
alguns problemas com as informações quando da modelagem de um sistema. A origem
deste problema parte da ignorância de alguma informação, ou seja, da ausência de
conhecimento a respeito de algo. Esta ignorância pode ser considerada irrelevante ou
um erro. Sendo caracterizada por um erro, a informação pode estar com distorção, que
acaba por modificar os verdadeiros dados, ou pela incompletude da base. A
27
incompletude agrupa as noções de incerteza acerca de determinado assunto e ausência
da informação. A incerteza é o caso em que existem informações, mas não se pode ter
certeza plena nos resultados, por estarem condicionados a uma margem de erro. A
incerteza pode ser por aleatoriedade, vagueza, imprecisão ou ambiguidade. Na incerteza
por aleatoriedade, é possível construir uma distribuição de probabilidades para as
variáveis em estudo, o que pode ser tratado pelas redes bayesianas (Bayes). Já a vagueza
e a imprecisão estão em um domínio onde o raciocínio é aproximado, o que pode ser
tratado pela teoria dos conjuntos fuzzy (Zadeh, 1965).
A teoria dos conjuntos fuzzy foi elaborada por Zadeh (1965), que propôs que
elementos deveriam ter graus de pertinência aos conjuntos, ou seja, os elementos não
precisariam necessariamente pertencer inteiramente a determinado conjunto, como na
teoria clássica de conjuntos.
O significado dos tipos de incerteza que podem ser tratados pela lógica fuzzy,
vagueza e imprecisão, são mencionados a seguir :
• Vagueza: a variável em análise não possui uma medida de comparação pré-
estabelecida. Por exemplo, na determinação da qualidade de um alimento pode
ser vaga a ideia de associar termos como ‘bom’ ou ‘ruim’, ou seja, não se tem
um parâmetro para a realização desta definição.
• Imprecisão: no contexto do problema, a variável possui alguma referência ou
algum valor associado a ela, porém os limites não são precisos. A classificação
da temperatura como alta ou baixa pode ser um exemplo, uma vez que se pode
ter como referência intervalos de temperaturas suportáveis por seres humanos,
por exemplo.
2.2.1 Conjuntos e operações fuzzy
A classificação de elementos em conjuntos difusos é realizada com base no
conceito de grau de pertinência. O grau de pertinência especifica o quanto um elemento
pertence a um dado conjunto em um intervalo que varia de 0 a 1. Isto permite que se
possa pertencer a mais de um conjunto, respeitando o grau de pertinência. Supondo que
28
existe um conjunto fuzzy A definido e um universo X, todos os elementos x de X são
mapeados em A da seguinte forma (KLIR e YUAN, 1995):
]1,0[: →XAµ (2.1)
O mapeamento apresentado na equação 2.1 atribui grau de pertinência de um
elemento a um conjunto, o que significa fuzzificar o dado de entrada. Os valores
numéricos dos elementos do universo X estão em um intervalo denominado suporte.
Supondo um grau de pertinência α , os elementos x do suporte que possuírem grau de
pertinência maior ou igual α pertencem a um conjunto denominado α -cut, conceito
que traz novamente estes elementos ao universo crisp (universo dos números
convencionais).
Assim como na lógica clássica, a lógica difusa também apresenta as operações de
união, intersecção e complemento. Dados dois conjuntos fuzzy A e B, definidos sobre
um universo X (KLIR e YUAN, 1995):
• Intersecção (T-norma): )](),(min[))(( xBxAxBA =∩ , para Xx∈ (2.2)
• União (T-conorma): )](),(min[))(( xBxAxBA =∪ (2.3)
• Complemento: )(1)( xAxA −= (2.4)
Cabe salientar que o modo como as operações de intersecção, união e
complemento são realizados em (2.2), (2.3) e (2.4) é considerado padrão. A teoria de
conjuntos difusos é dotada de outras maneiras para realização destes cálculos.
Em sistemas especialistas faz-se o uso de regras do tipo Se-Então. Nos sistemas
convencionais, o raciocínio é feito baseado nos valores lógicos ‘verdadeiro’ e ‘falso’
dos antecedentes e consequentes das regras. No caso dos sistemas especialistas difusos,
o antecedente da regra representa um grau de pertinência e o consequente representa um
novo conjunto difuso.
Sejam A e B dois conjuntos fuzzy definidos sobre o universo X e Y,
respectivamente, a regra Se A então B pode ser definida da seguinte forma (ROSS,
2004):
RYABABA =×∪×=→ )()( (2.5)
Observa-se que o conjunto A irá caracterizar a entrada e o conjunto B a saída. A
relação R expressa a relação entre a entrada e a saída.
29
Com uma nova entrada A’ no sistema, pode-se fazer a dedução da regra Se A’
então B’ através da composição Ross (2004):
RABA o''' ≡→ (2.6)
Os conjuntos fuzzy podem ter diversas formas de representação, sendo que
dentre as mais conhecidas encontram-se a representação triangular, trapezoidal,
gaussiana e a sigmoidal. Estas formas são representadas pela Figura 2.15.
Figura 2.15. Conjuntos fuzzy: a) trapezoidal; b) triangular; c) sigmóide e d) gaussiano.
A determinação da forma de um conjunto fuzzy na ocasião da modelagem vai
depender do problema que se está analisando, logo, certos conjuntos fuzzy que
representam a mesma ideia podem ser representados de maneira muito diferente para
contextos diversos (KLIR e YUAN, 1995).
Um sistema de inferência fuzzy é estruturado conforme o demonstrado na Figura
2.16. As etapas realizadas compreendem a fuzzificação, a inferência e a desfuzzificação.
Figura 2.16. Sistema de inferência fuzzy.
Fonte: Nassar (2007).
30
As entradas, que são valores numéricos convencionais (também denominados
“crisp”), passam por um processo de fuzzificação, que é um mapeamento para a função
de pertinência dos conjuntos fuzzy definidos a priori. Após a fuzzificação os valores
passam pela máquina de inferência que realiza as ativações de todas as regras
paralelamente. Toda regra gera como saída um conjunto fuzzy, e ao final todas as saídas
devem ser agregadas para formar o conjunto resultante. Se for de desejo, esse conjunto
pode ser desfuzzificado para se tornar um valor numérico. Existem alguns métodos de
desfuzzificação tais como: centróide, média do máximo, maior do máximo, menor do
máximo, etc.
O método centróide tem como resultado o centro da área do conjunto fuzzy de
saída. A média do máximo resulta na média entre os elementos com o maior grau de
pertinência do conjunto final. Por sua vez o menor o maior do máximo resultam no
menor e no maior elemento entre os que possuem maior grau de pertinência,
respectivamente.
2.3 Trabalhos de Modelagem e Simulação Dinâmica Fuzzy
Esta seção introduz o interesse na aplicação da Inteligência Artificial (IA) na
Modelagem Simulação de Sistemas, tratando principalmente no que se refere à presença
de incerteza nos modelos, verificando quais são os tipos de tratamento para tal conflito,
mais precisamente com a abordagem de modelos fuzzy. Para isto, justifica o uso da
teoria fuzzy na simulação contínua, aponta alguns trabalhos que utilizam as duas
técnicas e a maneira como a integração vem sendo feita. Por fim são apresentados
trabalhos de simulação na área da saúde.
2.3.1 O tratamento da incerteza na simulação
O aperfeiçoamento da simulação através de técnicas de IA já vem sendo
investigado há algum tempo. Rothenberg (1989) apresentou os trabalhos iniciais desta
proposta que foi denominada de Simulação Baseada em Conhecimento. O autor enfatiza
que a simulação poderia melhorar a resposta para a sua principal questão, que é "o que
aconteceria se?", se o pesquisador buscar utilizar métodos de raciocínio, inferência e
31
busca existentes na IA. De acordo com Durán e Costaguta (1998), a Simulação Baseada
em Conhecimento tem por objetivo "obter simulações mais poderosas e
compreensíveis", o que ajuda na modelagem e simulação de muitos tipos de sistemas
complexos. Widman e Loparo (1989) (apud DURAN e COSTAGUTA, 1998) apontam
em quais passos da simulação poderia ser utilizada alguma técnica da IA: no
desenvolvimento do modelo (ajudando na construção do modelo, principalmente para
iniciantes; melhorando a representação do sistema real; reduzindo os cálculos
computacionais pela simulação qualitativa); no projeto do experimento da simulação; na
análise dos resultados; na visualização, explanação e interpretação dos resultados.
A realização da simulação requer que o modelo contenha os dados numéricos
necessários para a representação do comportamento do sistema real. No entanto, muitas
vezes, certos parâmetros não são conhecidos, são conhecidos parcialmente ou ainda de
forma qualitativa. Neste contexto, o modelo de simulação se encontrará em um domínio
de incerteza, sendo que a probabilidade é o recurso mais utilizado nestes casos. Muitos
simuladores já vêm com módulos para este tipo de tratamento embutido. Neste caso o
conhecimento das variáveis pode prover informações que permitam sejam atribuídas
distribuições, ou ainda são de natureza totalmente aleatória. Para Bontempi (1995) o que
caracteriza incerteza no âmbito da teoria da probabilidade é a variabilidade dos dados
ou a fraca representatividade dos mesmos. Sendo assim, os dados acerca de
determinados parâmetros podem existir, porém não serão capazes de representar com
certeza o modelo do sistema. Parâmetros de representação de frequência de eventos
gerais, como, por exemplo, número de problemas gerados por uma máquina industrial,
são exemplos que podem ser construídos através de distribuição de probabilidades. Isto
porque os dados podem ser coletados durante certo período de tempo e então a
distribuição pode ser construída. Este tipo de modelagem, que faz uso de probabilidade
em um contexto de aleatoriedade também foi levantada por Bracarense (1999).
Existe, contudo, a incerteza por imprecisão, que não é contemplada pela solução
probabilística. Hüllermeier (1997) explica que na simulação dinâmica contínua, a
presença da incerteza vaga e imprecisa é comum. Este tipo de acontecimento pode estar
presente nos parâmetros, nos relacionamentos funcionais ou nas condições iniciais.
“Um tipo especial de incerteza é a vagueza na linguagem natural. Modelos baseados em
linguagem natural podem ser vistos como uma formalização vaga de modelos mentais,
32
o que é em muitos casos mais adequado do que modelos matemáticos precisos
(HÜLLERMEIER, 1997)”.
Na atividade de modelagem de sistemas complexos o amparo de especialistas da
área auxilia na elaboração e validação do modelo, isto porque neste processo é
necessário o levantamento de informações importantes, que podem ser apresentadas por
meio de dados coletados ou por meio do conhecimento do especialista. A experiência do
especialista pode fazer com que o mesmo consiga determinar dados com alguma
precisão, ou ainda tratar o problema com informações qualitativas, o que caracteriza um
domínio de incerteza. De acordo com Karavezyris, Timpe e Marzi (2002), quando se
trabalha com mais de um especialista, existem aspectos importantes que são relatados
de forma divergentes por ambos, fazendo com que os resultados da simulação sejam
muito diferentes. Nestes casos, a utilização da lógica fuzzy para o tratamento da
informação qualitativa se torna uma ferramenta aliada, não fazendo parte do sistema em
si, mas como um elemento externo.
Para que um sistema dinâmico esteja em um domínio fuzzy, ele deve ter ao menos
uma das características: possuir variáveis de estado que sejam fuzzy, possuir relações
que possam ser expressas como regras de condição Se-Então, possuir relações que
possam ser substituídas por algoritmos fuzzy. É comum na modelagem dinâmica o uso
de variáveis cujos valores não são conhecidos precisamente, outra situação em que se
enquadra neste domínio (LEVARY, apud GHAZANFARI, ALIZADEH e JAFARI,
2002).
A realização da integração da lógica fuzzy e da simulação dinâmica foi observada
de duas maneiras: através de equações diferenciais fuzzy, que faz uso da aritmética
fuzzy, e através de sistemas especialistas, que faz uso de regras linguísticas.
2.3.2 Desenvolvimento de equações diferenciais fuzzy
Uma equação diferencial fuzzy é uma extensão de uma equação diferencial
comum, onde é possível representar estados iniciais ou parâmetros com imprecisão. O
resultado de tal equação é a evolução de um dado conjunto fuzzy no tempo t (Bontempi,
1995), onde 0Y é a condição inicial fuzzy, representada por um número fuzzy, o que
pode ser visualizado na equação (2.7).
33
0)0(,),( YyRyyFy n =∈=•
(2.7)
Uma forma de representar valores de parâmetros e condições iniciais de forma
não probabilística é através de uma equação diferencial fuzzy, sendo este tipo uma
extensão de uma equação diferencial tradicional. Uma equação diferencial fuzzy traduz a
evolução no tempo de uma região de incerteza (BARROS, 1997), o que poderia ser
entendido como uma distribuição de possibilidade de determinada variável.
São muitos os trabalhos que exploram este tema com o intuito de propor
resolução para as equações diferenciais fuzzy. Bontempi (1996) desenvolveu um sistema
para a resolução baseado em α -cuts. Embora o sistema tenha utilizado um algoritmo de
otimização que ajudou com que os resultados fossem mais próximos do real, a partir da
determinação de trajetórias, a complexidade do sistema e o custo computacional são
altos, de ordem exponencial. Isto acontece porque cada vez que o sistema vai calcular o
estado atual ele tem que calcular desde o tempo inicial, não podendo calcular a partir do
último tempo contado ( t∆ ). Sendo assim, quanto maior o tempo, maior é a dificuldade
de se realizar o cálculo. Outras maneiras de resolução foram adotadas por Pearson
(1997) e Xu, Liao e Hu (2007), que buscaram a resolver as equações diferenciais através
da notação de números complexos. Já o trabalho de Bede, Rudas e Bencsik (2007),
utilizou um conceito denominado diferenciabilidade fortemente generalizada com o
intuito de obter soluções com grau de incerteza menor (diminuir o tamanho do suporte
da solução resultante). Apesar de ter cumprido com o esperado por ser condizente com
a representação comportamental de sistemas reais, de acordo com Bede, Rudas e
Bencsik (2007) o resultado da equação não foi único para um dado número fuzzy inicial.
O uso de equações diferenciais fuzzy não é pertinente a todos os tipos de
aplicações, isto porque possui ainda possui algumas limitações que estão sendo
estudadas (aumento da incerteza com o tempo, complexidade computacional), além de
que, se o problema for marcado por relações não-lineares, o aumento da complexidade
de resolução se torna ainda maior (ORTEGA; SALLUM; MASSAD, 2000). Para
sistemas em que as variáveis apresentem relações em que há presença de incertezas é
aconselhado que equações diferenciais fuzzy também não sejam utilizadas
(CECCONELLO, 2006). Deste modo, cabe a modelagem fuzzy, como já apontado por
Bracarense (1999).
34
2.3.3 Aplicações de Simulação Dinâmica Fuzzy de propósito geral
São numerosos os trabalhos existentes para variadas áreas de conhecimento que
utilizam modelagem e simulação dinâmica, assim como aplicações práticas que utilizam
a teoria fuzzy. Alguns modelam um sistema fuzzy de modo que o mesmo seja
responsável pela representação do dinamismo do sistema, o que acaba não levando em
conta a transformação contínua das variáveis de estado (CECCONELLO, 2006),
(ORTEGA; SALLUM; MASSAD, 2000, 2003). Outros realizaram agregação de
ferramentas de simulação com sistemas especialistas fuzzy, por exemplo (LEVARY e
LIN, 1991) (RAMIL e LEHMAN, 1998) (KARAVEZYRIS; TIMPE; MARZI, 2002)
(KUNSCH e SPRINGAEL, 2008). Estes tipos de trabalhos relacionam assuntos como o
processo de desenvolvimento de software, o meio-ambiente, dinâmica populacional,
dentre outros.
No contexto do processo de desenvolvimento de software o objetivo foi o de
utilizar a simulação dinâmica para compreender todas as atividades envolvidas, que
além de possuir muitas etapas, são caracterizadas por vagueza e imprecisão. Levary e
Lin (1991) desenvolveram e simularam um modelo dinâmico conectado a dois sistemas
especialistas fuzzy, que realizavam o tratamento das entradas e das saídas do simulador.
O sistema que realizava o tratamento das entradas trabalha com as variáveis fuzzy do
modelo, já o sistema de saída analisa os resultados da simulação. Abordando o mesmo
tema, Ramil e Lehman (1998) indicam a simulação dinâmica fuzzy como técnica
adequada para o aprimoramento do processo de desenvolvimento de software, contudo,
não desenvolve um trabalho prático.
No âmbito de sistemas relacionados à ecologia, Karavezyris, Timpe e Marzi
(2002) produziram um sistema dinâmico para avaliação do gerenciamento de lixo sólido
municipal, uma vez que entendem que este assunto possui dinamismo com
complexidade acentuada. O objetivo foi compreender o futuro do lixo sólido municipal
para planejamento e tomada de decisão, utilizando a cidade de Berlim como estudo de
caso. Levaram em consideração o desenvolvimento demográfico, como também
instalações e despesas de recuperação de materiais, tratamento e esquemas de
disposição, atividades de produção, comportamento ambiental e mudanças de leis. Para
o tratamento das informações imprecisas, o autor propôs o uso de base de regras porque
35
acredita que a natureza do problema é qualitativa, porém, não apresentou resultados da
aplicação. Outro trabalho na área da ecologia é proposta de Kunsch e Springael (2008),
que desenvolveram uma proposta híbrida de um modelo dinâmico contínuo com
raciocínio fuzzy para simulação de políticas fiscais para redução de CO2 nos domicílios.
O objetivo foi simular o comportamento dos consumidores perante as políticas fiscais
adotadas, bem como utilizar o raciocínio fuzzy para tratar de parâmetros dinâmicos
vindos de diferentes bases de dados com diferentes níveis de credibilidade.
Para representação de dinâmica populacional com presença de incerteza,
Cecconello (2006) desenvolveu um controlador fuzzy, denominado de sistema p-fuzzy,
responsável pela evolução do sistema através de um conjunto de regras, de modo que o
objetivo é utilizar as mesmas informações que um conjunto de equações diferenciais
utilizaria. O autor justifica que neste tipo de modelagem é necessário ter um
conhecimento aprofundado das relações existentes entre as variáveis e suas variações,
por isso não utiliza as equações diferenciais padrão.
Ghazanfari, Alizadeh e Jafari (2002) abordaram os próprios passos da
metodologia de Dinâmica de Sistemas com o intuito de aprimorar o entendimento dos
diagramas de ciclos causais. Para isso, utilizaram um sistema especialista e de um grafo
fuzzy. Pelo fato das relações entre variáveis em um diagrama de ciclo causal ser
expressa por rótulos como “positivo” ou “negativo”, o pretendido foi associar termos
como “alto”, “baixo”, “pouco”, etc., para expressar a força dessa relação, que não é
compreendida em termos quantitativos ou qualitativos por este diagrama. O sistema
especialista em execução vai atualizando os valores das variáveis em seus estágios
qualitativos, como por exemplo, de “alto” para “muito alto”.
2.3.4 Aplicações de Simulação Dinâmica Fuzzy na área de saúde
A modelagem através de técnicas de sistemas dinâmicos e fuzzy na área médica e
de saúde é um esforço válido, uma vez que é um domínio caracterizado por incertezas e
conceitos qualitativos. Além disso, viabiliza a análise de cenários futuros e aplicação de
políticas necessárias para a amenização de determinados problemas. A exemplo do
diagnóstico Ortega, Sallum e Massad (2003) esclarecem que é uma atividade que
envolve muitas incertezas por alguns motivos: a manifestação das doenças pode ser
36
diferente em pessoas diferentes; pessoas que possuem um mesmo sintoma podem não
possuir a mesma doença, pois um sintoma pode indicar várias doenças. Ainda existe a
dificuldade de encontrar funções matemáticas capazes de descrever as variáveis
envolvidas. Então a maioria dos modelos é descrita através da experiência de um
especialista da área. Exemplos de simulações para a área de saúde incluem a raiva
canina, a AIDS, o sistema nervoso central e o tabagismo.
A respeito da raiva canina, Ortega, Sallum e Massad (2000), desenvolveram um
trabalho que possuía como objetivo estudar a dinâmica desta doença considerando o
estado de São Paulo. Os autores construíram um sistema fuzzy fazendo uso de uma base
de regras que era aplicada iterativamente. Assim, a saída de uma dada simulação das
regras era a entrada para a próxima. Este trabalho, no entanto, se enquadra no que se
poderia chamar de sistema dinâmico de tempo discreto, pois não está analisando as
variáveis continuamente ao longo do tempo. Outro problema está no fato de que quando
se tem muitas variáveis de estado, a base de regras pode se tornar muito grande,
dificultando o desenvolvimento do sistema. Alguns anos depois, utilizando também o
caso da raiva canina Ortega, Sallum e Massad (2003) buscam, através do uso do
princípio da extensão, uma forma adequada de auxiliar o especialista na construção da
base de regras, principalmente no que se refere a definição dos consequentes das regras.
Em ambos os trabalhos os resultados foram condizentes com os dados reais.
O problema do dinamismo da AIDS com presença de incerteza foi tratado por
Jafelice (2003). O modelo busca acompanhar a dinâmica do vírus no que se refere a
transição de da infecção assintomática para sintomática. Para isso, faz uso de equações
diferencias ordinárias com parâmetro fuzzy. Este parâmetro representa a taxa de
mudança de um estado para outro, e isso depende de aspectos como a carga viral e das
células de defesa do organismo. A evolução do modelo em execução não considera o
tratamento de indivíduos.
A modelagem do sistema nervoso central foi pesquisada por Nebot et al (2003),
que observa que esta é um assunto de interesse aos profissionais da Medicina, uma vez
que envolve questões que não são conhecidas em sua totalidade. Considerando que o
sistema nervoso central não possui funções matemáticas que o definem precisamente, o
autor opta por modelá-lo através de um sistema especialista fuzzy. O objetivo é alcançar
um modelo genérico que possa ser usado para pacientes com características comuns,
37
com o intuito de prever o futuro dos mesmos. Por fim, é proposta a junção do modelo
desenvolvido com um modelo de um sistema hemodinâmico, desenvolvido por
equações diferenciais somente, para se ter uma estrutura de um sistema cardiovascular
humano.
O tabagismo também já foi alvo de estudos (AHMAD, 2005) (AHMAD e
FRANZ, 2008). Algumas pesquisas, fazendo uso de ferramentas específicas para
simulação contínua, se concentraram em avaliar a dinâmica das pessoas em relação ao
uso do cigarro. Para isso, a população foi classificada em não fumante, fumantes ou
fumantes em recuperação. O modelo de simulação formulado, e validado a partir de
dados coletados de bases públicas, foi executado a fim de se medir o impacto
econômico e na saúde ao se aumentar os impostos sobre o cigarro. Os resultados
demonstraram que é possível reduzir o número de fumantes a partir desta medida e,
consequentemente, melhorar a saúde dessas pessoas, que poderão inclusive economizar
em gastos com a saúde. Este modelo dinâmico contínuo não levou em consideração
possíveis incertezas presentes no modelo.
2.4 Sobre teorias e modelos de envelhecimento
O envelhecimento é o processo geral que ocorre no modelo de simulação estudado
e ampliado nesta pesquisa, haja vista que leva em consideração a vida de um indivíduo
desde início até o fim. Por isto, este capítulo faz uma breve revisão a respeito de
algumas teorias do envelhecimento. Apresenta ainda a alguns modelos de simulação
desenvolvidos a respeito deste assunto.
2.4.1 Teorias de envelhecimento
O envelhecimento é uma transformação natural (não considerada doença); “[...]
representa perdas na função normal que ocorrem após a maturação sexual e continuam
até a longevidade máxima para os membros de uma espécie (HAYFLICK, 1997)”. As
perdas decorrentes de tal acontecimento levam ao aumento da probabilidade de morte
em um ambiente normal (STHRELER, 1960).
38
Com o passar do tempo o sistema imunológico vai perdendo o vigor, o que
aumenta a probabilidade de erros na defesa, o que consequentemente aumenta a
probabilidade de morte. As doenças que acontecem durante o envelhecimento não são
consideradas normais, elas ocorrem justamente pelo declínio funcional. Já e respeito do
que acontece no início da vida, o que se observa é que existe uma concentração de
mortes no nascimento e imediatamente após (HAYFLICK, 1997).
De acordo com Hayflick (1997), as teorias de envelhecimento podem ser
divididas em dois tipos: as baseadas em eventos propositais e as baseadas em eventos
aleatórios. No primeiro grupo a hipótese é que existe um futuro programado para a vida
dos seres vivos. Nas teorias de eventos aleatórios o processo de envelhecimento é
influenciado por eventos causais.
Algumas das teorias classificadas como de eventos propositais são (HAYFLICK,
1997):
• Teoria da substância vital: propõe a existência de uma substância vital em cada
indivíduo, ao nascer, e que perde intensidade no decorrer da vida. Esta
substância vital pode ser interpretada de diferentes formas, como por exemplo,
com o número de batimentos cardíacos, respiração, DNA dos genes, etc.
• Teoria da mutação genética: associa o envelhecimento às mutações que ocorrem
nos genes, que tanto podem trazer benefícios quanto prejuízos. Nesta teoria
supõe-se que a radiação (que causa mutação) acelera o envelhecimento.
• Teoria da exaustão reprodutiva: considera que após o período de reprodução os
seres logo envelhecem e morrem. Esta teoria, no entanto, não é universal porque
não se aplica a todos os seres vivos.
Exemplos de teorias de envelhecimento baseadas em eventos aleatórios são
(HAYFLICK, 1997):
• Teoria do desgaste: parte do princípio de que o desgaste diário é acumulado e de
que o organismo não tem capacidade de renovação infinita. O problema
identificado nesta suposição se refere à medição do desgaste, que não possui
métricas definidas.
39
• Teoria do ritmo de vida: considera que ao nascer o indivíduo possui uma
quantidade de energia que é diminuída de acordo com o ritmo de vida. Quanto
mais rapidamente esta energia for consumida, mais rápido é o processo de
envelhecimento.
• Teoria do acúmulo de resíduos: sugere que no decorrer da vida as células são
acometidas por substâncias prejudiciais e que acumulam o montante que não
conseguem eliminar. O acúmulo leva, então, ao envelhecimento e morte.
• Teoria do sistema imunológico: sustenta que o sistema imunológico é
responsável pela queda funcional e consequente envelhecimento. Isto porque
com o passar do tempo o sistema imunológico se torna menos eficaz permitindo
até a autodestruição.
• Teoria dos erros e reparos: considera que o envelhecimento é semelhante ao que
acontecem com máquinas durante a sua vida útil, que eventualmente necessitam
de reparos. Com o tempo, os reparos não são mais suficientes e pára de
funcionar quando não é mais possível reparar os danos.
As teorias modernas de envelhecimento não podem ser consideradas como
totalmente corretas ou totalmente incorretas, isto porque podem deixar de considerar
aspectos relevantes para o envelhecimento, sempre pode estar faltando algum. Além
disso, a falta experimentação é um problema existente na elaboração destas teorias
(HAYFLICK, 1997). Nota-se que a complexidade é característica inerente aos
acontecimentos durante a vida de um indivíduo, portanto, encontrar um conjunto que
defina tanto os elementos envolvidos quanto o modo de evolução destes acontecimentos
não é tarefa trivial. Por isto, este assunto instiga o interesse de muitos pesquisadores há
anos.
Uma dos mais antigos estudos, utilizado até os dias atuais, é a proposta de
Gompertz1, que ilustra que a taxa de mortalidade cresce exponencialmente após os 30
anos de idade. A equação (1) apresenta esta ideia, já com um termo adicional (que
representa situações de risco independentes de idade).
1 Gompertz, 1825. Este trabalho, embora antigo, é referenciado em vários trabalhos, como por exemplo: Hallén (2007), Filkelstein (2006), Maksymowicz (2001), Hargrove (1998), etc.
40
teRRIIR α0+= (2.8)
Na equação (2.8) RII é um termo que representa um risco independente de idade,
R é a taxa de mortalidade em uma dada faixa de idade, R0 representa a taxa de
mortalidade inicial, t corresponde à idade e α representa a taxa de envelhecimento.
A equação de Gompertz é válida para idades entre 35 e 85 anos. É utilizada para
explicar e reproduzir curvas de mortalidade, assim como para derivar outras equações.
No entanto, não considera doenças não relacionadas à idade e leva em conta que os
indivíduos vivem em um ambiente bom e com hábitos de vida saudáveis (HALLÉN,
2007).
Um clássico da área, que apresenta uma teoria geral de envelhecimento
(STREHLER, 1960), faz um levantamento de conceitos que podem ser implantados
para facilitar os estudos. A vitalidade, por exemplo, é considerada a capacidade de um
indivíduo permanecer vivo. É uma característica que sofre declínio com o aumento da
idade. No trabalho de Zuev et al (2000), os autores sugerem que a vitalidade seja
medida pelo metabolismo dos indivíduos.
Uma maneira de realizar analogia ao envelhecimento é através teoria cinética dos
gases (distribuição de Maxwell Boltzmann) (HALLÉN, 2007). Strehler (1960, 2000)
sugere que a distribuição de energia dos seres vivos é parecida com a energia cinética de
distribuição das moléculas, dada a temperatura a que são submetidas. O comportamento
desta distribuição pode ser observado na Figura 2.17.
Energia
Núm
ero
de P
artíc
ulas
Figura 2.17. Distribuição de Maxwell-Boltzmann.
41
Ainda de acordo com a distribuição de Maxwell-Boltzmann, o movimento das
moléculas varia de acordo com a temperatura a que são submetidas, quanto maior a
temperatura, maior a velocidade das moléculas. Após o encontro do valor de máximo o
sistema apresenta decrescimento até que chegue a uma temperatura mínima. Através da
Figura 2.17 é possível observar que, no início da reação poucas moléculas possuem
pouca energia. Após um tempo a maioria possui energia moderada e ao final possuem
pouca energia (CLARK, 2002).
Apesar da complexidade que envolve o envelhecimento, a modelagem pode ser
realizada através de ferramentas estocásticas simples (FINKELSTEIN, 2006).
2.4.2 Modelos de Simulação para o envelhecimento
Sabe-se que embora seja numerosa a quantidade de teorias acerca da biologia do
envelhecimento, é reduzido o número de modelos de simulação computacional para esta
questão. Dentre os existentes, destaque para o trabalho desenvolvido por Penna (1995),
que é baseado na teoria de acúmulo de mutação.
Considerado um dos modelos de simulação mais usados atualmente para o estudo
de questões de envelhecimento em populações (OLIVEIRA; OLIVEIRA; STAUFFER,
1999) (STAUFFER, 2007) (RACCO, 2003), a ideia principal do modelo Penna é ter
condições de se observar a criação, desenvolvimento e morte de indivíduos de uma
população. Tais indivíduos já nascem com uma carga genética que determina a data
para o início de doenças assim como a ocorrência de mutações. As mutações podem
acarretar no adiantamento de sua morte, quando forem maléficas, ou no retardo, quando
forem consideradas boas. Todo o processo que envolve o desenvolvimento do modelo é
estocástico.
Cada indivíduo é representado por uma string de bits, representada na Figura 2.18,
que é o modo de reproduzir as características genéticas. A posição no vetor pode ser
associada a uma medida de tempo indicativa da idade, já o valor de cada posição indica
se o indivíduo passará a sofrer de determinada doença genética naquela determinada
idade, e assim sofrerá desta doença pelo resto da vida, inclusive podendo haver acúmulo
de doenças genéticas.
42
0 0 0 0 1 0 0 0
0 1 2 3 4 5 ... n idade
doença
Figura 2.18. Representação de um indivíduo no modelo Penna.
Existe uma idade máxima que um indivíduo pode atingir. Por isso a morte pode
acontecer de acordo com uma probabilidade ou, quando o acúmulo de doenças for
superior a um determinado limiar T, que sugere um limite de sobrevivência. Tanto a
idade máxima quanto o limiar T são definidos para a população.
Além disso, o modelo leva em consideração as questões de alimento e espaço para
a população através de um fator denominado Verhults, que é calculado da seguinte
maneira:
max
)(1N
tNV −= (2.9)
Na equação (2.9) N(t) revela o número de indivíduos em uma população no tempo
t; e Nmax é o número máximo de indivíduos que pode haver em determinado espaço. O
resultado desta expressão é utilizado como valor de probabilidade de morte de um
indivíduo, para qualquer tempo de simulação.
Desde que foi formulado, o modelo de Penna vem sofrendo muitas adaptações que
variam de acordo com a necessidade de cada problema. Percebeu-se que a expectativa
de vida das pessoas aumentou nos últimos anos e que se trata, portanto, de pouco tempo
para atribuir este fato a uma mudança genética, mas sim a uma mudança em outras
situações, como a melhora na qualidade de vida, por exemplo. Como a proposta original
tratava somente de doenças genéticas, o que não contempla as muitas doenças que são
adquiridas ao longo da vida Oliveira, Oliveira e Stauffer (1999) promoveram uma
modificação na idade de morte do indivíduo, que pode ser reduzida se ele contrair
alguma doença, ou ampliada em casos de melhora. Há ainda outros tipos de
características que foram incorporadas, como a estrutura social das sociedades
tecnológicas. Além disso, implementou-se a diminuição do número de parâmetros livres
(STAUFFER e RADOMSKI, 2001). Makowiec, Stauffer e Zielínski (2001)
modificaram o tempo de reprodução dos indivíduos para que os resultados refletissem o
previsto pela equação de Gompertz.
43
Os trabalhos desenvolvidos com base nestes simuladores chegaram a bons
resultados. Racco (2003) observa que a taxa de mortalidade sofreu mudanças com o
avanço da tecnologia e de outras melhorias como o saneamento básico. Em seu trabalho
realizado chegou à conclusão de que o avanço da medicina anulou o efeito de mutações
genéticas letais.
Ao contrário dos trabalhos apresentados anteriormente, que fazem uso da teoria
genética, o modelo utilizado nesta dissertação se enquadra dentro das teorias
estocásticas de envelhecimento. O próximo capítulo apresenta de forma detalhada este
modelo assim como a implementação da ampliação realizada no mesmo.
44
CAPÍTULO 3
MODELO DE SIMULAÇÃO DINÂMICO-FUZZY
A modelagem e simulação é uma técnica empregada no auxílio de estudos de
variados tipos de sistemas, com enfoque principalmente nos que apresentam
complexidade em sua estrutura. A complexidade abrange o grande número de fatores
envolvidos no progresso dos acontecimentos. Sendo assim, a técnica de modelagem
dinâmica permite que se busque uma representação aproximada para tais situações,
dado que pesquisas empregando sistemas reais podem demandar altos custos e tempo. O
estudo de sistemas complexos através de modelagem e simulação dinâmica tem o
intuito de propiciar o entendimento do dinamismo e dos elementos envolvidos.
Além da modelagem dinâmica, o emprego da lógica fuzzy se mostra relevante para
problemas complexos. É um modo de representar o conhecimento incerto em um
contexto em que o conhecimento prático pode ser utilizado para esta representação.
Pesquisas na área da saúde frequentemente envolvem sistemas complexos, como
por exemplo, o estudo da evolução de um vírus em um organismo vivo. Um caso mais
abrangente poderia ser o acompanhamento da vida de populações, visando identificar e
analisar os fatores que influenciam neste caminho. Neste segundo exemplo encontram-
se os esforços realizados para o estudo de teorias de envelhecimento.
As teorias de envelhecimento são resultados de levantamentos realizados para o
entendimento do processo do envelhecimento, o que envolve hipóteses e equações
matemáticas. Muito embora sejam numerosos estes estudos, não se pode afirmar que
algum deles esteja correto ou incorreto em sua totalidade (HAYFLICK, 1997). Existe
falta de experimentação (HAYFLICK, 1997) e de modelos de simulação
computacionais para este tipo de representação (STAUFFER, 2007). Das hipóteses de
envelhecimento, a que possui maior destaque na implementação de simuladores é a
teoria genética com o trabalho desenvolvido por Penna (1995). O modelo utilizado e
ampliado neste trabalho, porém, é classificado nas teorias estocásticas de
envelhecimento.
A lei de Gompertz (1825) é resultado de uma das mais antigas pesquisas
realizadas no âmbito do envelhecimento, que estima que a mortalidade cresça
45
exponencialmente a partir dos 35 anos de idade. Esta informação é ainda utilizada pelos
simuladores atuais como forma de avaliação de resultados (STAUFFER, 2007).
A teoria cinética elaborada por Maxwell Boltzmann apresenta um comportamento
que foi indicado como análogo ao processo ocorrido no envelhecimento (STREHLER,
2000), em que uma reação apresenta crescimento e decrescimento assintótico. Este fato
estaria relacionado à capacidade de uma pessoa, que é crescente até determinada fase da
juventude, e apresenta decrescimento à medida que envelhece.
Pretende-se nesta pesquisa alcançar uma ferramenta de simulação dinâmica com
representação de incerteza através de uma modelagem fuzzy para a representação dos
acontecimentos decorrentes na vida de um indivíduo. O objetivo do sistema fuzzy é de
determinar a capacidade de recuperação de um indivíduo. Como resultado, espera-se
obter a reprodução de curvas mortalidade reais. A motivação para este trabalho, de
forma ampla, parte do anseio da aplicação de técnicas computacionais para auxiliar
áreas de pesquisa, como a da saúde. De forma mais específica, o desejo é de obter uma
ferramenta que possa auxiliar o estudo de mortalidades causadas principalmente por
fatores de risco modificáveis. O modelo base utilizado neste trabalho (HARGROVE,
1998) foi eleito pelo fato de retratar não somente questões relacionadas à genética,
como também os problemas de saúde que são adquiridos durante a vida. Este modelo,
no entanto, deixou espaço para inclusões e alterações em sua estrutura.
Este capítulo apresenta os conceitos do modelo base utilizado para o
desenvolvimento desta pesquisa, assim como o detalhamento da modelagem da
proposta de ampliação. É exposto um módulo difuso de tratamento de incerteza e as
estratégias adicionais inseridas ao modelo de simulação. O objetivo foi o de aplicar
técnicas computacionais para agregar mais características ao trabalho original assim
como buscar proporcionar ainda mais adequação à realidade, sendo possível, com isso,
a reprodução de curvas de mortalidade reais.
3.1 Modelo Estocástico de Envelhecimento e Morte
Esta dissertação tem por objetivo desenvolver um modelo de simulação capaz de
representar alguns acontecimentos e situações semelhantes aos que ocorrem com
indivíduos de populações humanas, desde o nascimento até a morte. Para realizar tal
46
representação é necessário especificar episódios complexos e dinâmicos. Neste
contexto, escolheu-se o uso da técnica de simulação dinâmica que, como apresentado no
Capítulo 2, se mostra adequada para esta representação.
O desenvolvimento do trabalho baseia-se em um modelo estocástico de
envelhecimento e morte proposto por Hargrove (1998). A essência deste trabalho, de
acordo com o autor, é fundamentada no livro de Strehler (1977), em que são
apresentadas teorias quantitativas a respeito do envelhecimento. Este modelo,
representado pelo diagrama da Figura 3.1, propicia a simulação de eventos de risco que
podem ocorrer durante a vida de um indivíduo. Desta forma, retrata as forças favoráveis
à sobrevivência de uma pessoa, bem como as desfavoráveis ou que se constituem em
risco.
Taxa deCrescimento
Taxa deReserva
Taxa deEnvelhecimento
FunçãoReserva
Envelhecimento
CapacidadeTotal
CapacidadeRelativa
Risco Independentede Idade
Fatores Dependentesde Idade
Chance de Eventode Risco
Nível de Risco
Limite deSobrevivência
Fator de Risco
Morte
Fim
Figura 3.1. Diagrama do Modelo Estocástico de Envelhecimento e Morte (Hargrove,
1998).
Na Figura 3.1 observa-se que a capacidade total, que tem o propósito de denotar
as funções fisiológicas de uma pessoa, é composta por três elementos denominados:
Função, Reserva e Envelhecimento. O elemento Reserva pode ser entendido como um
quantum de energia que todos possuem até a morte. A Função está relacionada à
capacidade funcional, que se estabiliza gradativamente a partir da fase adulta
(autonomia). E o Envelhecimento se opõe à Função e à Reserva sendo um vetor que faz
a capacidade total diminuir. A intensidade de cada elemento pode ser calibrada por meio
de taxas: a taxa de crescimento, a taxa de reserva e a taxa de envelhecimento. Estas
47
taxas exprimem questões relacionadas à genética e ao ambiente em que vive o
indivíduo.
O modelo também contempla a ocorrência de problemas acidentais ao longo da
vida (através do parâmetro Risco Independente de Idade) assim como os problemas que
podem ocorrer com a idade (através do parâmetro Fatores Dependentes de Idade). A
partir destes dois parâmetros e da Capacidade relativa (resultante da capacidade total)
do sujeito, a ocorrência de um evento de risco é determinada, via método estocástico de
Monte Carlo, o qual é executado a cada passo da simulação. Havendo a ocorrência, o
Nível de Risco determinará a intensidade do evento. Este valor será comparado a um
Limite de Sobrevivência. Se este limite for superior à intensidade do evento, o sujeito
sobrevive ao episódio.
O modelo básico incorpora elementos vindos das tábuas de sobrevida de Geller-
Gesner (HALL e ZWEMER, 1979), para calcular o Fator de Risco. Desta forma é
possível incluir características ao indivíduo como: sexo, etnia e idade a partir da qual o
indivíduo passa a sofrer de algum problema de saúde. Os índices estão relacionados ao
estado de saúde e aos hábitos de vida.
A estrutura da Figura 3.1 é composta em sua maioria por conversores que
realizam os cálculos que determinam o futuro de um indivíduo a cada espaço de tempo
dt. Cada simulação produz acontecimentos para um indivíduo, sendo que n replicações
de uma simulação representam uma população de n indivíduos com características
semelhantes.
Os parâmetros controláveis são:
• Taxa de Crescimento: especifica a velocidade com que se dará a Função de
crescimento de um indivíduo. A Função exibe um comportamento de
crescimento que atinge um valor máximo e então se mantém constante pelo
restante da vida. Seja F a função, TC a taxa de crescimento e T o tempo de
simulação (que representa a idade do indivíduo), o cálculo da função é realizado
de acordo com a Equação (3.1) (HARGROVE, 1998).
)))exp(1(40(40 TTCF ×−−×+= (3.1)
Pela Equação (3.1) observa-se que o valor mínimo da função é quarenta. Com o
aumento do tempo o resultado da exponencial vai se aproximando de zero, o que faz
com que, no máximo, o valor da função se aproxime de oitenta.
48
01020
30405060
708090
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100
Anos
Funç
ãoTC = 0,14
TC = 0,195
TC = 0,25
Figura 3.2. Comportamento da Função de um indivíduo ao longo da vida considerando
três diferentes taxas de crescimento.
A Figura 3.2 apresenta o resultado da aplicação de três diferentes valores de taxa
de crescimento a Função de Crescimento, para observar o comportamento do resultado.
No modelo em questão, a taxa de crescimento pertence ao intervalo 50,000,0 ≤< TC .
É possível observar que quanto maior a taxa de crescimento, mais rápido o ponto de
máximo é encontrado e que os três tipos diferentes de taxas alcançam os mesmos
valores após a estabilização.
• Taxa de Reserva: determina a velocidade de crescimento da função de Reserva,
que apresenta crescimento até por volta dos vinte anos de idade e, após esta
idade, decrescimento gradativo até o fim da vida, como pode ser observado na
Figura 3.3. A Reserva busca representar a energia vital que é expressiva na
juventude e que diminui com o passar dos anos. Sendo R a Reserva e TR a taxa
de reserva, a equação para estes termos pode ser observada em (3.2)
(HARGROVE, 1998).
))04,0exp(1(10))exp(1(1010 TTTRR ×−−×−×−−×+= (3.2)
A Figura 3.3 apresenta a equação da reserva sob três diferentes taxas de reserva,
dentro do intervalo existente que é 50,000,0 ≤< TR . Quanto maior a taxa, mais rápido
é o crescimento da função. Nota-se que esta função apresenta crescimento e
decrescimento. O decrescimento dá início na fase adulta.
49
0
24
68
1012
1416
18
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100
Anos
Res
erva
TR = 0,14
TR = 0,195
TR = 0,25
Figura 3.3. Comportamento da Reserva de um indivíduo ao longo da vida considerando
três diferentes taxas de crescimento.
• Taxa de Envelhecimento: influencia a função de envelhecimento. O
envelhecimento é um processo que passa a ocorrer após o organismo do
indivíduo ter atingido um estágio máximo de desenvolvimento, o que Hargrove
(1998) considera que seja a partir de vinte e cinco anos de idade. Quanto maior a
taxa de envelhecimento, mais rápido o indivíduo envelhece. Esta função é
expressa pela Equação (3.3) (HARGROVE, 1998). Considere E o
envelhecimento e TE a taxa de envelhecimento.
⎩⎨⎧
<≥−×−−×
=25,0
25))),25(exp(1(90Tse
TseTTEE (3.3)
A Figura 3.4 mostra a aplicação de três diferentes taxas de envelhecimento na
equação (3.3). O intervalo de valores para a taxa de envelhecimento é de
05,000,0 ≤< TE . Nota-se, tanto pela equação (3.3) quanto pela Figura 3.4, que o
envelhecimento se dá a partir dos vinte e cinco anos de idade e é mais acentuado para
maiores taxas.
50
0
10
20
30
4050
60
70
80
90
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100
Anos
Enve
lhec
imen
toTE = 0,018
TE = 0,024
TE = 0,03
Figura 3.4. Comportamento do Envelhecimento de um indivíduo ao longo da vida
considerando três diferentes taxas de crescimento.
• Risco Independente de Idade: o risco independente de idade é um valor que
busca representar qualquer outro tipo de risco que um indivíduo possa vir a
sofrer, que não esteja relacionado a sua condição de saúde, como por exemplo, o
risco de acidentes (HARGROVE, 1998).
• Fatores Dependentes de Idade: representam a vulnerabilidade a riscos
imprevisíveis que podem acontecer com a idade, como por exemplo, a exposição
a microorganismos patogênicos, cujo impacto é maior em pessoas mais idosas
(HARGROVE, 1998).
• Fator de Risco: agrega valores de tábuas de sobrevida (HALL e ZWEMER,
1979) que são calculados de acordo com as condições de saúde do público em
estudo. O cálculo é, então, realizado de acordo, por exemplo, com a presença de
doenças (diabetes, colesterol, etc) e hábitos de vida (práticas esportivas,
sedentarismo, etc).
A Capacidade Total é uma característica determinada pela Função (F), pela
Reserva (R) e pelo Envelhecimento (E). A Função e a Reserva agregam valor à
Capacidade Total. O Envelhecimento, por sua vez, faz com que a capacidade de um
indivíduo diminua. Isto pode ser observado pela equação (3.4), onde CT é a capacidade
total, F é a função, R é a reserva, E o envelhecimento e T o tempo (HARGROVE,
1998).
51
))01.0exp(1(10)1,0( TTERFCT ×−−×−×−−+= (3.4)
Na equação (3.4), além do envelhecimento, existem outros ajustes que reduzem a
Capacidade Total. Tais ajustes são baseados no tempo de vida de um sujeito.
A Capacidade Relativa, estabelecida através da capacidade total, é responsável
por representar a aptidão efetiva com que um indivíduo enfrentará situações de risco,
como a imunidade, por exemplo. Na equação (3.5), considere CR a capacidade relativa
e CT a capacidade total (HARGROVE, 1998).
10067,87
×=CTCR (3.5)
O Limite de Sobrevivência representa a força existente em um dado momento
para suportar com vida uma situação de risco. Significa dizer que se acontecimento de
risco tiver valor maior que o limite de sobrevivência, o indivíduo não sobreviverá. Na
equação (3.6) observa-se que o limite de sobrevivência representa 45% do total da
capacidade relativa. Considere LS o limite de sobrevivência e CR a capacidade Relativa
(HARGROVE, 1998).
CRLS ×= 45,0 (3.6)
Para que ocorra um evento de risco a saúde é necessária a influência de três
fatores: a capacidade relativa do indivíduo, os riscos independentes de idade e os fatores
dependentes de idade. Isto pode ser observado pela equação (3.7), que executa um
método Monte Carlo. Considere OER a Ocorrência de Evento de Risco, RII os Riscos
Independentes de Idade e FDI os Fatores Dependentes de Idade (HARGROVE, 1998).
))()2((CR
TFDIRIIMonteCarloOER ×+×= (3.7)
Os valores gerados pela equação (3.7) serão 0 ou 1, que indicam a ocorrência ou
não de um evento de risco. Pela equação (3.7) entende-se que o peso dos fatores
dependentes de idade apresenta aumento com o passar dos anos. Já o risco independente
de idade é constante por toda a vida. Como a capacidade relativa diminui com o tempo,
as chances de eventos de risco ficam maiores. A Figura 3.5 apresenta a capacidade
relativa de um indivíduo que possui taxa de crescimento (TC) e taxa de reserva (TR)
igual a 0,14; e taxa de envelhecimento (TE) igual a 0,018.
52
0
20
40
60
80
100
120
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100
Anos
Cap
acid
ade
Rel
ativ
a TC = 0,14TR = 0,14TE = 0,018
Figura 3.5. Capacidade Relativa de um indivíduo.
O Nível de Risco é o valor resultante da perspectiva de o quanto a ocorrência de
um evento de risco vai significar para a saúde de um indivíduo. Esta significância
depende da Capacidade Relativa e do Fator de Risco em questão. A morte acontece se o
Nível de Risco for maior que o Limite de Sobrevivência. A determinação do Nível de
Risco é dada pela equação (3.8) (HARGROVE, 1998). Considere NR o Nível de Risco,
FR o Fator de Risco e CR a Capacidade Relativa. O Nível de Risco é calculado somente
se está programada a ocorrência de um evento de risco. Se houver a ocorrência, o valor
do nível será randômico.
⎩⎨⎧
==×
=0,0
1),,0(OERse
OERseCRFRRandonNR (3.8)
De acordo com Hargrove (1998), o modelo incorpora características estocásticas
por não se saber ao certo quando uma situação de risco ocorrerá bem como a condição
de saúde do indivíduo para enfrentar o risco.
3.2 Procedimentos Metodológicos
Os passos para o desenvolvimento da proposta de ampliação do modelo base
seguiram principalmente a metodologia systems dynamics (FORRESTER, 1961). A
simulação de sistemas dinâmicos contínuos é apropriada no contexto deste trabalho,
uma vez que envolve episódios complexos e as mudanças que ocorrem no sistema são
contínuas no tempo. A metodologia systems dynamics contribuiu para que o modelo,
53
considerando a complexidade em que está envolvido, fosse adequadamente entendido e
desenvolvido. Para isso foram realizadas as etapas:
1. Investigação preliminar do modelo: identificação das melhorias.
2. Identificação da influência (positiva ou negativa) e do sentido da
influência dos fatores;
3. Realização de um estudo do modelo base através de um projeto fatorial
completo, em que são identificados os efeitos de cada fator aos
resultados, bem como os efeitos de interações entre os fatores;
4. Implementação do simulador e do sistema fuzzy para o módulo de
impacto e recuperação de indivíduos;
5. Validação do modelo final. Para isso são realizados simulações com os
modelos (inicial e final) para comparações das taxas de mortalidade
resultantes com taxas de mortalidade reais.
A primeira das etapas consistiu no estudo inicial do modelo, com a avaliação do
comportamento das equações, das estratégias e elementos existentes. Com isso fez-se o
levantamento das melhorias que poderiam ser implementadas, e que são detalhadas na
seção 3.3.
O diagrama do modelo de Hargrove (1998), com a representação da influência das
relações entre as partes, é apresentado na Figura 3.6. Nele é possível observar todos os
elementos existentes no modelo base assim como o tipo de efeito que cada um exerce
no outro diretamente envolvido (etapa 2).
As influências apresentadas na Figura 3.6 são classificadas como positivas e
negativas. Nas positivas, o aumento no valor de um elemento causa o aumento do outro
que sofre a influência. Já a diminuição no valor de um causa a diminuição do outro. Nas
influências negativas, o aumento de um fator causa a diminuição do outro ou a
diminuição de um causa o aumento do outro.
54
Taxa deCrescimento
Taxa deReserva
Taxa deEnvelhecimento
FunçãoReserva
Envelhecimento
CapacidadeTotal
CapacidadeRelativa
++
+
-
++
+
Rsico Independentede Idade
Fatores Dependentesde Idade
Chance de Eventode Risco
Nível de Risco
Limite deSobrevivência
Fator de Risco
Morte
Fim
-
++
++
+
-
+
Figura 3.6. Diagrama do modelo base com as influências dos fatores, adaptado de
Hargrove (1998).
Para entender e identificar os parâmetros que mais influenciam o comportamento
do modelo base (HARGROVE, 1998), uma vez que as referências a este não
apresentam informação suficiente para o entendimento adequado de seus parâmetros,
foi realizado um estudo através de um projeto fatorial completo (2k, onde k é o número
de fatores de um problema). Esta atividade contempla a terceira das etapas realizadas.
Os parâmetros pesquisados foram: taxa de crescimento, taxa de reserva, taxa de
envelhecimento, riscos independentes de idade, fatores dependentes de idade e fator de
risco. No total, sessenta e quatro experimentos (26 combinações) foram realizados. Cada
experimento foi replicado três vezes e cada replicação significou a realização de mil
simulações, representando o comportamento de uma população de mil indivíduos. O
tamanho da população, de mil indivíduos, foi suficiente para que o resultado
convergisse.
Os modelos de simulação foram implementados utilizando-se duas ferramentas: o
Stella® e o Matlab® (Simulink). O Stella é uma ferramenta de simulação dinâmica
contínua com foco para projetos que utilizam a metodologia Systems Dynamics.
Proporciona elementos capazes de produzir diagramas de fluxos e diagramas de ciclo,
facilitando o entendimento do problema em estudo. O diagrama de fluxo, que representa
a modelagem matemática do simulador, foi realizado no software Stella.
O Matlab foi escolhido para a implementação do sistema fuzzy e para a elaboração
simulador geral. Isto porque possui uma ferramenta de simulação, o Simulink, que
55
possibilita o desenvolvimento de modelos dinâmicos contínuos e a integração com a
biblioteca de lógica difusa. Além disto, cabe ressaltar que a biblioteca de lógica difusa
existente no Matlab é extensa.
O sistema fuzzy foi modelado de acordo com os passos convencionais do
raciocínio difuso (ZADEH, 1965). As entradas utilizadas para a inferência são a idade e
o impacto sofrido pelo indivíduo em um evento de risco. Estes valores, provenientes do
simulador, passam por um processo de fuzzificação, que é um mapeamento para a
função de pertinência dos conjuntos fuzzy definidos. Após a fuzzificação os valores
passam pela máquina de inferência que realiza as ativações de todas as regras
paralelamente. Toda regra gera como saída um conjunto fuzzy, e ao final todas as saídas
são agregadas para formar um só conjunto. O conjunto resultante passa pela
desfuzzificação para se tornar um valor numérico, que retorna ao simulador. A cada
passo da simulação este processo é realizado.
3.2.1 Validação
A validação é a etapa em que são avaliados os resultados do modelo de simulação,
em que são realizadas comparações dos resultados produzidos pelo simulador com
informações reais. Se o modelo é capaz de produzir resultados aproximados de dados
reais, então ele se torna válido para a realidade ao qual foi testado. Para ser considerado
válido, um modelo não precisa se adequar a todas as realidades observadas, mas é
necessário que ao menos seja válido a uma delas (FREITAS, 2008).
As informações utilizadas para a validação dos resultados foram extraídas de uma
base de dados do governo federal brasileiro, o DATASUS (Banco de Dados do Sistema
Único de Saúde) (DATASUS, 2008). A população do estado de Santa Catarina foi eleita
como parâmetro de comparação para os resultados das simulações. Os dados também
foram utilizados para a determinação do parâmetro de risco, que é variável durante a
vida de um sujeito. Tomou-se como base o ano de 2007 e os valores de mortalidade
considerando como causa a hipertensão (914 indivíduos) assim como a mortalidade
geral (31106 indivíduos). A Figura 3.7 apresenta a curva de mortalidade para estes dois
casos.
56
0
5
10
1520
25
30
35
40
0 a 910 a 19
20 a 2930 a 39
40 a 4950 a 59
60 a 6970 a 79
80 ou mais
Faixa Etária (em anos)
Taxa
de
Mor
talid
ade
(%)
Todas as causas Hipertensão
Figura 3.7. Distribuição da taxa de mortalidade no ano de 2007 no estado de Santa Catarina, considerando a população total e os hipertensos.
Fonte: DATASUS (2008).
Na estratégia de simulação adotada o tamanho da amostra é igual a n = 8
elementos. Cada amostra corresponde a uma população de mil indivíduos, ou seja, mil
simulações (amostra suficiente para a convergência dos resultados). A intenção das
simulações era que os resultados refletissem os dados reais verificados nas tabelas para
o estado de Santa Catarina. A calibração do modelo se deu a partir de valores que já
haviam sido definidos no trabalho original, somado ao conhecimento adquirido com o
experimento fatorial e com os dados da população. Com a realização de testes, os
parâmetros foram reajustados para atingir os valores esperados para a representação da
realidade. Para validar os resultados foi realizado o cálculo de um intervalo de
confiança, para valor de significância (α ) de 0,05.
3.2.2 Delimitações
O modelo final é restrito a representar algumas das partes envolvidas no decorrer
da vida de um indivíduo. Por exemplo, não realiza cruzamento de informações genéticas
dos indivíduos para a geração de novos indivíduos.
57
O trabalho também não prova teorias de envelhecimento e suas particularidades,
somente pode ser classificado em uma delas e verifica a compatibilidade dos resultados
com a realidade.
O simulador apresenta a ocorrência de eventos de risco e calcula as consequências
das mesmas, porém não deixa explicito o estado de saúde em termos de condições
físicas ou mentais, por exemplo, após a ocorrência de um episódio de risco.
Além das colocações anteriores:
• A utilização de valores de tabelas de risco Geller-Gesner (HALL e ZWEMER,
1979) pode não ser aplicável a todas as realidades.
• O modelo não é uma ferramenta que substitui outros métodos de estudo de
populações, porém pode se tornar uma alternativa.
3.3 A proposta de ampliação do modelo base
Com o projeto de experimentos realizado sobre o modelo base (HARGROVE,
1998) fez-se o levantamento de algumas questões passíveis de melhorias. Foram
efetuadas alterações no parâmetro Fator de Risco e no modo em que um evento de risco
reflete seus resultados no sistema. Estas alterações são detalhadas a seguir:
• Fator de Risco - No modelo base, o Fator de Risco atua com a mesma
intensidade durante toda a vida de uma pessoa. Isto significa dizer que, ao
nascer, a pessoa já está com um valor de risco igual ao que estará no fim de sua
vida. Na proposta de mudança para este caso, o fator de risco atua de forma
distinta para diferentes faixas de idade, sendo mais intenso a partir do momento
em que se sabe que a pessoa apresenta determinado problema de saúde. Esta
alteração foi implementada principalmente pelo fato de o fator de risco
representar um dano que é formado, sobretudo, pelos hábitos de vida. Isto
permite, portanto, que este valor possa aumentar ou diminuir ao longo do tempo.
• Evento de Risco - Outra questão considerada é que na ocorrência de um evento
de risco, a capacidade total de um indivíduo não é reduzida. Logo, se o sujeito
sofre um acidente a sua saúde não é depreciada por tal acontecimento. O que se
observa na realidade é que, uma vez que eventos de risco podem levar o
58
indivíduo à morte, se isto não acontecer, o sujeito pode acumular sequelas. Para
realizar a mudança desta condição, implementou-se um módulo que calcula o
impacto do evento de risco, mas que também permite a melhora na saúde
(através de um sistema de inferência fuzzy (difuso) que avalia a idade e o
impacto para determinar a recuperação). Desta forma o simulador abrevia a vida
no momento em que ocorre uma situação de risco e permite a recuperação.
A abordagem da aplicação do fator de risco diferenciado foi norteada com o uso
das tabelas de Geller-Gesner (HALL e ZWEMER, 1979). Observou-se o valor de risco
para as faixas etárias e respectivas condições de saúde e determinou-se os valores para
cada faixa etária, de acordo com o que se desejava estudar.
O fator de risco, sendo igual para todas as idades, faz com que o peso da decisão,
no simulador, recaia para as condições fisiológicas do indivíduo (função,
envelhecimento e reserva), que são determinadas já no início da vida.
A tabela de risco (HALL e ZWEMER, 1979) evidencia que os valores de riscos
são diferenciados para faixas etárias. Por exemplo, a pessoa que é muito nova e possui
pressão alta já tem chances maiores de morte que uma pessoa mais idosa com uma
pressão considerada normal e, se não tomar nenhuma atitude preventiva poderá ter seu
risco aumentado (HALL e ZWEMER, 1979). Por isso, optou-se por tornar o risco
crescente com a idade, indicando que não há atitude preventiva por parte da população,
como, por exemplo, não praticou atividade física e não adotou hábitos alimentares
saudáveis.
Os efeitos de um evento de risco foram executados com um módulo de impacto e
recuperação. O impacto representa a parcela do limite de sobrevivência que é atingida.
O impacto ainda é cumulativo, ou seja, se o indivíduo sofre dois eventos de risco
seguidamente estes dois são acumulados. A escolha para esta equação foi realizada
utilizando-se a lógica de comparação de sobrevivência (realizada pelo simulador): se o
nível de risco é maior que o limite de sobrevivência, a pessoa não sobrevive, mas
quando sobrevive a fração é contabilizada.
O impacto sofrido pode ter algumas interpretações como sequelas deixadas pela
ocorrência de um evento de risco, as quais possivelmente se reduzem com o tempo,
como por exemplo, condições físicas que são afetadas momentaneamente, ou até
mesmo condições não aparentes. Logo são vários os tipos de interpretação para um
59
impacto. Neste modelo de simulação o impacto não se traduz, necessariamente, na
deterioração da condição física ou do estado físico aparente do indivíduo, mas em
quanto o limite de sobrevivência de um sujeito foi afetado.
O impacto na saúde (IS) depende do limite de sobrevivência (LS) e do nível de
risco (NR) e é calculado de acordo com a equação (3.9).
⎪⎩
⎪⎨⎧ <>>
=senão
LSNReLSeNRseLSNR
IS,0
)00(, (3.9)
Pela equação (3.9) nota-se que o impacto representa a grandeza afetada do limite
de sobrevivência. Este valor influencia a capacidade relativa, que passa a ter sua
estimativa alterada até que haja recuperação na saúde do indivíduo.
A representação da recuperação é caracterizada por muitas incertezas, uma vez
que não há números precisos que digam o quão rápido uma pessoa se recupera de uma
situação de risco, ainda mais quando não se sabe precisamente que situação é esta. A
dificuldade de encontrar funções matemáticas capazes de descrever as variáveis
envolvidas em um problema é levantada por Ortega, Sallum e Massad (2000), que
justifica que por este motivo a maioria dos modelos é descrita através da experiência de
um especialista da área.
Para o caso da proposta desenvolvida nesta pesquisa, deparou-se com a situação
da carência de valores precisos e funções para a representação da recuperação. Desta
forma, optou-se pela modelagem fuzzy, pelo fato do problema ser caracterizado pela
nebulosidade assim como pela falta de precisão de valores. Baseou-se para isso, nos
trabalhos (FINKELSTEIN, 2006) (HAYFLICK, 1997), (STREHLER, 2000), (HARDY
et al, 2005), que indicam que com o passar dos anos a chance de recuperação diminui.
No sistema implementado, a recuperação é um acontecimento que depende de
como a saúde foi impactada, ou seja, da proporção do acontecimento para o indivíduo,
não sendo igual para todos. A recuperação depende também da idade do indivíduo, o
que leva a concluir que quanto maior a idade, menor é capacidade de recuperação. Esta
chance de recuperação é mencionada por Hayflick (1997), que explica que a
reabilitação de um evento, como uma queda, é diferente para jovens e idosos, sendo que
para estes é mais lenta. A respeito da recuperação Finkelstein (2006) esclarece que a
qualidade da redução do dano acumulado ao longo da vida é diminuída com o aumento
60
da idade. Baseado nestas ideias o sistema fuzzy representa a habilidade de recuperação,
isto é, determina a rapidez com que a recuperação pode acontecer. Este valor é obtido
através de uma base de regras, que permite a explicitação do conhecimento da questão
que é a recuperação, e do raciocínio fuzzy.
A construção da base de regras levou em consideração o fato de que a função vital
do indivíduo diminui com o passar dos anos, o que, consequentemente faz com que a
capacidade de recuperação diminua, tornando o processo de melhora cada vez mais
lento. A base, composta por dezesseis regras se/então do tipo AND (E) pode ser
visualizada no Quadro 3.1. Observe no Quadro 3.1 que uma das sentenças formadas é:
Se a Idade for Criança e o Impacto for Fraco, então a Recuperação é Rápida.
Quadro 3.1.Base de regras para a recuperação. E
Idade Fraco Leve Moderado ForteCriança rápida rápida moderada lentaJovem rápida rápida moderada moderadaAdulto moderada moderada lenta lentaIdoso lenta estável estável estável
Impacto
De acordo com a Figura 3.8, foram agregados os seguintes elementos ao modelo
base:
• Impacto: representa o efeito sofrido pelo sujeito no momento em que uma
situação de risco ocorre. Este valor é calculado pela equação (3.9). O impacto é
refletido na capacidade relativa. Isso faz com que o risco da ocorrência de um
novo problema de saúde aumente, pois o indivíduo está com a saúde fragilizada
de alguma forma.
• Sistema fuzzy: determina o quão rápido a recuperação vai acontecer.
• Recuperação da saúde: valor que diminui o impacto sofrido, que significa o
quanto que a saúde do sujeito sofreu melhoria ou recuperação. Representa a
saída do sistema fuzzy.
61
Limite deSobrevivência
Nível de Riso
Impacto na saúde
CapacidadeRelativa
Recuperação dasaúde
Sistema Fuzzy Idade
Figura 3.8. Módulo de impacto e recuperação.
A inferência do sistema fuzzy possui como entradas a Idade e o Impacto. Com isso
a recuperação é determinada. A escolha da idade e do impacto para a verificação da
recuperação se deu por algumas questões já colocadas anteriormente: um impacto
grande é diferentemente sentido por pessoas de idade diferente (HAYFLICK, 1997) e
que a chance de recuperação decresce com a idade (FINKELSTEIN, 2006). Como não
se tem medidas numéricas, mesmo que aproximadas para a recuperação decidiu-se pela
modelagem fuzzy.
Esta abordagem foi considerada adequada pois está se tratando de termos
nebulosos (ou seja, em que não há valores que norteiam a determinação da recuperação)
e ainda o próprio contexto do problema é incerto porque o número de teorias existentes
é amplo. A aplicação de probabilidade, por exemplo, se torna mais difícil uma vez que
dados experimentais sobre este assunto são escassos.
3.3.1 Implementação do sistema fuzzy
Por não se ter o conhecimento a respeito do tipo de problema ao qual o sujeito foi
acometido, esta solução pode ser considerada um meio de representação genérico. Sabe-
se que um indivíduo, após sobreviver a uma situação de risco, passa por um período de
recuperação que pode variar de lento a rápido. Ou até mesmo pode não haver
recuperação. Desta forma, para realizar este tipo de inferência realizou-se a modelagem
com o conhecimento de especialistas.
O sistema fuzzy é formado por duas entradas, a idade e o impacto sofrido, e por
uma saída que é a recuperação. Durante a simulação estes valores são alterados
dinamicamente e então a recuperação é determinada. Desta maneira são criadas três
62
funções de pertinência, duas para as entradas e uma para a saída, sendo cada uma delas
composta por quatro conjuntos difusos.
A idade é determinada para um intervalo de 0 a 100 anos e é composta pelos
conjuntos: criança, jovem, adulto e idoso. Cada um destes conjuntos foi elaborado
como uma função de pertinência trapezoidal. A função de pertinência trapezoidal foi
escolhida para esta representação porque é simples e representa faixas de valores que
são aproximadamente conhecidas (KLIR e YUAN, 1995). A Figura 3.9 apresenta os
conjuntos definidos para a idade. A determinação destes conjuntos foi orientada com a
observação da literatura e nos conceitos apresentados pelo trabalho original.
Figura 3.9. Função de pertinência para a idade.
Pela Figura 3.9 é possível observar que o conjunto criança envolve indivíduos até
aproximadamente 10 anos de idade. Já na definição de jovem encontram-se os que
possuem entre 15 e 25 anos, com o maior grau de pertinência. O suporte do conjunto de
adultos varia de 25 a 65 anos, porém com maior precisão para valores entre 35 e 45
anos. A partir dos 65 anos o indivíduo passa a fazer parte do conjnto Idoso.
O impacto pode ser: fraco, leve, moderado e forte. O suporte do impacto varia de
0 a 1. Para a representação dos conjuntos foi adotada a função de pertinência resultante
do produto de duas funções sigmóide para leve e moderado; e a sigmóide para os
conjuntos fraco e forte. Isto porque está se tratando de uma entrada com maior
imprecisão em seus limites. Pode-se dizer que este é um caso em que a nebulosidade
predomina, ou seja, não existem valores conhecidos para que se pudesse ter uma
aproximação, com faixas de valores mais bem definidas. A função de pertinência para
esta entrada está apresentada na Figura 3.10.
63
Figura 3.10. Função de pertinência para o impacto.
Pela Figura 3.10 nota-se que os conjuntos foram distribuídos de maneira
aproximadamente uniforme entre os dados do suporte.
Para a representação da saída recuperação também foi eleita a função sigmóide e
o produto de duas funções sigmóide. A recuperação pode ser classificada como estável,
lenta, moderada ou rápida. Os valores que o suporte pode assumir variam de 0 a 1. A
Figura 3.11 apresenta a definição dos conjuntos desta saída. Para valores acima de 0,6 a
recuperação de um indivíduo é considerada rápida. A modelagem da função de
pertinência da recuperação não considera situações em que a recuperação seja inferior à
estável.
Figura 3.11. Função de pertinência para a recuperação.
64
Os parâmetros do sistema fuzzy foram determinados através de ajustes (calibração
do modelo) após sucessivas simulações. Chegou-se a um resultado condizente com o
esperado (baseando-se em dados de mortalidade de populações reais) utilizando-se os
seguintes métodos para inferência:
• And (t-norma): produto
• Implicação: produto
• Agregação: máximo
• Desfuzzificação: som (smallest of maximum)
A superfície de resposta, elaborada com base nas regras do sistema, é apresentada
na Figura 3.12. Nela é possível perceber que para valores altos para idade e impacto a
recuperação é apresenta valores baixos. Já para valores pequenos nas entradas, a saída é
mais alta.
Figura 3.12. Superfície de resposta: recuperação de um indivíduo.
A estrutura do modelo final constituído, que abrange os elementos iniciais e o
módulo de impacto e recuperação é apresentado na Figura 3.13.
65
Taxa deCrescimento
Taxa deReserva
Taxa deEnvelhecimento
FunçãoReserva
Envelhecimento
CapacidadeTotal
CapacidadeRelativa
Risco Independentede Idade
Fatores Dependentesde Idade
Chance de Eventode Risco
Nível de Risco
Limite deSobrevivência
Fator de Risco
Morte
Fim
Impacto nasaúde
Recuperação daSaúde
Sistema Fuzzy Idade
Figura 3.13. Modelo ampliado.
Na Figura 3.13 é possível observar que os elementos do módulo de impacto e
recuperação são o Impacto na saúde, Recuperação da saúde, o Sistema Fuzzy e a Idade.
Taxa de Crescimento Taxa de Envelhecimento
Capacidade Total
FunçãoEnvelhecimento
Taxa de reserva
Reserva
Capacidade RelativaChance de Evento de Risco
Capacidade Relativa
Fim
Mortefinalizando
Nível de RiscoLimite de Sobrevivência
Risco Independente de Idade Fatores Dependentes de Idade
IdadeImpacto na saúde
contabilizando impacto recuperando
Limite de SobrevivênciaNível de Risco
~
Recuperação da Saúde
Chance de EventoIndependente de idade Chance de Fatores
Dependentes Idade
Fator de Risco
Figura 3.14. Modelo ampliado implementado no software Stella®.
66
A figura 3.14 apresenta o modelo final implementado no software Stella®. A
representação impacto sofrido no momento de um evento de risco é realizado através de
um estoque, pois as mudanças nesta variável de estado ocorrem continuamente ao longo
do tempo. O conversor ‘Recuperação da Saúde’ é o que representa os dados oriundos do
sistema fuzzy.
3.4 Considerações
Este capítulo apresentou a proposta de ampliação de um modelo de simulação
para envelhecimento, tendo como base o trabalho de Hargrove (1998). A ampliação
partiu da necessidade de complementar e reajustar a proposta original. A essência deste
modelo pode ser classificada nas teorias estocásticas de envelhecimento, que associa os
acontecimentos de risco a eventos aleatórios.
Foram introduzidas novas estratégias e um módulo de inferência fuzzy (difuso) de
acordo com levantamentos realizados principalmente nos trabalhos de Hayflick (1997),
Finkelstein (2006), Stauffer (2007) e Strehler (2000). A representação da incerteza,
através de um módulo de inferência difuso, foi implementada para suprir questões
relacionadas à recuperação de indivíduos em situações de risco.
Com isso, espera-se obter um modelo que reproduza curvas de mortalidade reais
para a população do estado de Santa Catarina, como um todo, e para os em que a causa
da mortalidade foi a hipertensão. No próximo capítulo estes resultados são
apresentados.
67
CAPÍTULO 4
ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO
Este capítulo apresenta os resultados obtidos nesta pesquisa com os dois modelos,
o inicial (HARGROVE, 1998) e o final, abrangendo desde a realização dos
experimentos preliminares até os testes efetuados com o finalidade da validação do
modelo final. A execução de simulações e os estudos realizados com fundamento nestes
resultados revelaram aspectos importantes do modelo base, propiciando a identificação
dos fatores mais influentes e consequentemente maior domínio na parametrização do
modelo e de sua efetiva calibração. Já as simulações efetivadas com o modelo, em sua
versão final, tiveram o objetivo de gerar resultados aproximados de dados reais, ou seja,
considerando uma margem de erro, para que então o modelo fosse considerado válido
para a realidade estudada.
4.1 O projeto de experimentos
O projeto de experimentos representa o passo inicial para entendimento adequado
dos fatores e de sua importância em relação aos resultados das simulações. Esta é uma
etapa que contribuiu também para o norteamento da parametrização do modelo. Em seu
trabalho, Hargrove (1998) não deixa explícito o efeito dos parâmetros na determinação
dos resultados, assim como deixa carente a explicação para as equações.
4.1.1 Planejamento
Em relação ao contexto operacional desta pesquisa, no total, sessenta e quatro
experimentos (26 combinações) foram realizados. Logo, foram verificados os efeitos de
cada fator individualmente assim como as possíveis interações provenientes das
combinações de todos os fatores, concretizando um projeto fatorial completo 2k. Cada
experimento foi replicado três vezes e cada replicação significou a realização de mil
simulações, para representar o comportamento de uma população de mil indivíduos.
68
Como já explanado no capítulo 3, o modelo é composto por seis parâmetros. A
Taxa de Crescimento, a Taxa de Reserva e o Envelhecimento são parâmetros que
determinam a Capacidade de um indivíduo sobreviver aos eventos de risco. Os Fatores
Dependentes de Idade (ocorrências relacionadas à idade) em conjunto com o Risco
Independente de Idade (riscos relacionados ao ambiente) produzem peso à ocorrência de
um episódio de risco. O Fator de Risco é um indicador embasado nas condições de
saúde, que é utilizado na determinação da magnitude quando da ocorrência de um
problema.
Todos os seis parâmetros do modelo foram incluídos no projeto experimental.
Dada a existência de intervalos pré-estabelecidos para estes parâmetros, utilizou-se
como limite superior e inferior valores aproximados das extremidades dos intervalos. A
Tabela 4.1 apresenta os valores adotados para os fatores. Os sinais de subtração (-) e
adição (+) indicam o limite inferior e superior, respectivamente. Observe que os limites
inferior e superior da Taxa de Crescimento são 0,05 e 0,40, respectivamente. Para o
Fator de risco o limite inferior é 0,0 e o superior é 0,94.
Tabela 4.1. Determinação dos níveis superior e inferior dos parâmetros para a realização do projeto experimental.
Limites Fatores - +
A= Taxa de Crescimento 0,05 0,4B= Taxa de Reserva 0,07 0,42C= Taxa de Envelhecimento 0,009 0,04D= Fatores Dependentes de Idade 1 5E= Risco Independente de Idade 20 180F= Fator de Risco 0,49 0,94
Através de ensaios antecedentes ao projeto experimental, notou-se que a variação
nos resultados é bem acentuada na medida da variação do fator de risco. A mortalidade
é muito reduzida quando este valor é menor que 0,49, por exemplo. Por este motivo,
adotou-se 0,49 como limite inferior.
A condição para que o experimento fatorial seja apropriado é que distribuição dos
dados seja aproximadamente normal. Assim sendo, esta condição foi verificada através
do teste de normalidade dos resíduos, que representam a diferença entre os valores
obtidos a cada ensaio e a média para cada combinação dos fatores (tratamento)
69
(BARBETTA; REIS; BORNIA, 2004). Se esta distribuição seguir o padrão de uma reta,
satisfaz a condição de normalidade.
-10 0 10-3
-2
-1
0
1
2
3
Dist
ribui
ção
Nor
mal
Resíduos
Gráfico da probabilidade normal dos resíduos
Figura 4.1. Gráfico da probabilidade normal dos resíduos.
A Figura 4.1 demonstra que a condição da normalidade é satisfeita, sendo válido,
portanto, a execução do teste fatorial.
4.1.2 Resultados
O resultado de cada simulação indica o tempo de vida de um indivíduo. No
conjunto de mil indivíduos estes valores são divididos em faixas etárias para que então
se obtenha o percentual de mortalidade de cada faixa etária.
Uma vez que se deseja estudar o resultado dos fatores em relação a mortalidade de
uma população, o tempo médio de vida e a taxa média de mortalidade até os cem anos
são as medidas descritivas escolhidas para isso. O Quadro 4.1 mostra a influência que
cada um dos fatores exerce no tempo médio de vida e na taxa de mortalidade da
população até os cem anos de vida. A primeira coluna lista cada um dos parâmetros
estudados. As flechas são utilizadas para demonstrar o tipo de influência exercida no
tempo médio de vida e na mortalidade, que pode ser positiva ou negativa. Desta forma,
a seta inclinada para cima indica que o resultado aumentou; a seta inclinada para baixa
indica que o resultado diminuiu.
70
Quadro 4.1. A influência dos fatores na taxa de mortalidade de uma população.
Fatores Variações dos níveis
Tempo Médio de
Vida
Taxa de mortalidade*
+
-
+
-
+ ----
- ----
+ ---- ----
- ---- ----
+
-
+
-
Diminui+ = Nível Superior
---- = Não há tendência bem definida para os valores
observados- = Nível Inferior
Aumenta
* = Taxa observada até os 100 anos de idade
Fator de Risco
Taxa de Envelhecimento
Risco Independente de Idade
Fatores Dependentes de Idade
Taxa de Crescimento
Taxa de Reserva
Pelo Quadro 4.1 é possível observar que no nível inferior do parâmetro Fatores
Dependentes de Idade o número de pessoas que morrem até os cem anos é reduzido e o
tempo médio de vida aumenta. Já para o nível superior, ou seja, para o caso em que o
os Fatores Dependentes de Idade possuem valor acentuado, o tempo médio de vida
diminui e a taxa de mortalidade aumenta. O mesmo comportamento acontece nos dois
níveis testados para o Risco Independente de Idade. Este resultado para os dois fatores
corrobora com o esperado, uma vez que são os dois elementos que condicionam a
ocorrência de um evento de risco durante a vida de um indivíduo.
No nível superior da Taxa de Crescimento a expectativa de vida aumenta, mas o
total de mortes quase não altera. No caso da Taxa de Reserva, não houve mudanças
significativas para ambos o tempo médio de vida e a taxa de mortalidade, para os dois
níveis testados. Notou-se que esses dois parâmetros proporcionam pequenas
modificações nos resultados para os primeiros anos de vida, porém não chegaram a
alterar os resultados de forma expressiva para os níveis testados. Isso pode ser mais bem
71
compreendido com a visualização dos gráficos mostrados no capítulo 3 (Figura 3.3 e
Figura 3.2), que de certa forma antecipa o que foi observado nos experimentos. Nota-se
por estas figuras que, aproximadamente, após os 45 anos de idade, os valores, tanto da
reserva quanto da função, convergem para um mesmo valor para diferentes taxas
testadas.
Em relação à Taxa de Envelhecimento, quanto maior, menor é a expectativa de
vida, Diferentemente das taxas de crescimento e de reserva, a taxa de envelhecimento
exerce influência melhor definida nos resultados porque a sua atuação no
envelhecimento é diferente para valores de parâmetros diferentes. Não faz o
envelhecimento convergir para valores iguais considerando taxas diferentes.
Considerando um nível de significância de 5%, os experimentos realizados
apontaram que o modelo é mais sensível aos parâmetros: Risco Independente de Idade
(E), Fator de Risco (F) e à Taxa de Envelhecimento (C). A Taxa de reserva (B), por sua
vez, foi o fator menos significativo para os resultados. O efeito de cada um dos fatores
no tempo médio de vida (y) pode ser observado na Figura 4.2. Note que -1 e 1 indicam
os níveis inferior e superior, respectivamente, de cada um dos fatores estudados
(consultar tabela 4.1).
FEDCBA
1-1 1-1 1-1 1-1 1-1 1-1
58
54
50
46
42Tem
po m
édio
de
vida
(y)
Efeito principal dos fatores no tempo médio de vida
Variação dos níveis
Figura 4.2. Efeito individual de cada fator no tempo médio de vida.
72
Além dos efeitos individuais, o Risco Independente de Idade (E) e o Fator de
Risco (F) apresentaram interação não desprezível. Isto pode ser observado na Figura
4.3. Observe ainda na Figura 4.3 que a representação dos níveis (inferior e superior) do
Fator E são duas retas, uma para cada nível. Nota-se que a variação no tempo médio de
vida acontece de forma diferente quando se fixa um nível e varia o outro, logo as duas
retas (que representam os dois níveis do fator E) não são perfeitamente paralelas.
1
-1
1-1
60
50
40
30
F
E
Tem
po m
édio
de
vida
Interação entre os fatores E e F
Figura 4.3. Interação entre os fatores Risco Independente de Idade e Fator de Risco.
A interação entre os fatores Risco Independente de Idade (E) e o Fator de Risco
(F) provavelmente deve-se ao fato de que eles são fortemente relacionados no modelo: o
Risco Independente de Idade provoca um evento e o Fator de Risco determina a
intensidade.
O percentual dos resultados atribuídos a erros ou variações ao acaso é equivalente
a 0,41%, estando de acordo com o aceitável em projetos experimentais. Isto significa
que os fatores estudados explicam o modelo, uma vez que o erro está próximo de zero.
4.2 Validação
A validação é uma maneira de avaliar um modelo de simulação, e determinar se
os resultados dele provenientes são compativeis com o sistema real modelado. Uma das
73
técnicas de validação mais empregadas é testar a capacidade do modelo em reproduzir
as respostas de um sistema real, considerando que os estímulos são semelhantes sobre
ambos. Neste sentido, o modelo ampliado, ou seja, já com as modificações
implementadas (Figura 3.13) foi analisado. Esta etapa teve o intuito de verificar a
capacidade do simulador em reproduzir curvas reais de mortalidade. Para isto, fez-se
uso de dados de mortalidade de dois grupos:
1. População geral do estado de Santa Catarina, isto é, desconsiderando as
causas de mortalidade;
2. Para os que sofreram de hipertensão, considerando o mesmo estado
brasileiro.
A distribuição do percentual da mortalidade é apresentada na Tabela 4.2. Observa-
se que o comportamento geral dos dados é parecido, com a primeira faixa de idade (0 a
9 anos) maior que a segunda (10 a 19 anos) fato que confirma o apresentado por
Hayflick (1997) e, após estas duas, o aumento é crescente até a última faixa, de acordo
com a teoria de Gompertz (1825). As faixas etárias que concentram o maior percentual
de mortalidade são as de 70 anos ou mais.
Os dados de mortalidade foram divididos por nove faixas etárias, agrupadas de
dez em dez anos, exceto uma delas, que considera os indivíduos que possuem oitenta ou
mais anos de idade. A divisão destas faixas pode ser visualizada na Tabela 4.2. A
separação foi realizada para que verificação dos resultados fosse desempenhada por
faixa etária.
Tabela 4.2. Distribuição dos percentuais de mortalidade considerando o grupo geral (de todas as causas) e a hipertensão. Ano base: 2007.
Faixa Etária (anos) Todas as causas (%) Hipertensão (%)0 a 9 4,10 0,1110 a 19 2,10 0,0020 a 29 4,41 0,5530 a 39 5,34 1,5340 a 49 9,18 5,6950 a 59 13,27 11,2760 a 69 16,98 16,5270 a 79 21,89 28,2380 ou mais 22,70 36,11Total 100 100
Distribuição do Percentual de Mortalidade
Fonte: Datasus (2008).
74
Na realização dos experimentos, parte-se da utilização do simulador ampliado e
apresentado neste trabalho para o alcance de resultados semelhantes com os dados
expostos na Tabela 4.2. O resultado da simulação representa o tempo de vida do
indivíduo. Cada simulação completa representa um indivíduo e uma amostra foi
definida como sendo composta por mil indivíduos ou mil simulações. Obteve-se
resultados relativos a oito amostras.
Para ambos os casos estudados foram necessárias adequações de parâmetros para
a obtenção de resultados aceitáveis. O objetivo não foi o de alcançar resultados iguais,
mas ao menos aproximados dos reais, com uma margem de erro aceitável. A verificação
dos resultados foi realizada com o cálculo de intervalos de confiança. Para cada faixa
etária, composta por um conjunto de oito resultados, calculou-se o intervalo de
confiança e, estando o verdadeiro valor dentro deste intervalo, o resultado foi
considerado como aceitável, para nível de confiança de 95%.
A parametrização do modelo levou em conta primeiramente o contexto dos
problemas. As estatísticas disponíveis para a mortalidade geral no estado de Santa
Catarina não levam em consideração doenças específicas, pois se trata de um conjunto
heterogêneo de causas de mortalidade. Portanto, o Fator de Risco, que é responsável
pela representação da condição de saúde e hábitos de vida, teve seus valores associados
às condições de saúde em que o risco de morte não é muito elevado.
Para determinação do parâmetro Fator de Risco foram utilizadas para
embasamento as tabelas de Geller Gesnner (HALL e ZWEMER, 1979). Estas tabelas
apresentam valores de risco para indivíduos levando em consideração a idade, o sexo e
alguns parâmetros de saúde, como por exemplo, o nível de colesterol e diabetes. A
escolha deste tipo de tabela especificamente se deu por ser considerado um bom
instrumento para a estimativa de risco (Smith; McKinlay; Thorington, 1987, 1991) e,
também, por ter sido utilizada pelo autor do modelo base.
A determinação dos outros parâmetros do modelo deu-se a partir da sensibilidade
revelada pelo projeto experimental realizado, com os parâmetros indicados no modelo
de origem e com a própria curva de mortalidade real (que revela para quais faixas de
idade a mortalidade é maior). Os parâmetros utilizados para a modelagem fuzzy
(apresentados no capítulo anterior) são fixos para todos os casos por ser considerado um
sistema genérico.
75
Considerando a mortalidade geral do estado, chegou-se aos resultados esperados
com os seguintes parâmetros:
• Taxa de crescimento: 0,14
• Taxa de envelhecimento: 0,018
• Taxa de reserva: 0,05
• Risco Independente de Idade: 100
• Fatores Dependentes de Idade: 4
O fator de risco foi variado para as faixas de idade, iniciando em 0,485 e
terminando em 0,70, sempre aumentando com o aumento da faixa etária. O significado
destes valores, para as faixas de idade em questão, indica um estado de saúde
considerado razoável. Este seria, por exemplo, os riscos atribuídos para pessoas que não
são fumantes ou que são fumantes em recuperação (HALL e ZWEMER, 1979). Ou seja,
o fato da pessoa estar aos 80 anos com um fator de risco 0,70 não significa que ela tenha
problemas graves. Optou-se por esta representação, com fatores de risco considerados
normais para a idade, pelo fato da população envolver os mais variados tipos de causa-
morte. A tabela 4.3 mostra os resultados para este grupo, considerando a saída do
simulador, o intervalo de confiança encontrado e o verdadeiro valor da população.
Tabela 4.3. Resultados do simulador e intervalo de confiança para a população geral. Faixa Etária
(anos) Resultado do simulador (%)
Intervalo Inferior
(%)
Valores Reais (%)
Intervalo Superior
(%) 0 a 9 4,16 3,39 4,10 4,93
10 a 19 1,91 1,57 2,10 2,24 20 a 29 4,03 3,61 4,41 4,46 30 a 39 6,05 5,11 5,34 6,99 40 a 49 8,80 7,44 9,18 10,15 50 a 59 12,31 10,88 13,27 13,73 60 a 69 17,85 16,90 16,98 18,79 70 a 79 22,16 21,38 21,89 22,93
80 ou mais 22,71 21,77 22,70 23,64
A Figura 4.4 apresenta o gráfico da curva dos resultados gerados pelo simulador, a
curva verdadeira e as curvas do intervalo de confiança, considerando o nível de
significância α =0,05%.
76
Distribuição da Taxa de Mortalidade
05
10152025
0 - 910 - 19
20 - 29
30 - 39
40 - 49
50 - 59
60 - 69
70 - 79
80 ou mais
Idade (anos)
%
Valores simulados Intervalo inferiorIntervalo superior Valores reais
Figura 4.4. Resultados das simulações com o modelo ampliado para a mortalidade geral
no estado de Santa Catarina em 2007.
Pela Tabela 4.3 é possível observar que o resultado esperado foi alcançado, uma
vez que o intervalo de confiança abrange os verdadeiros valores. Logo, foi possível
reproduzir uma curva de mortalidade com valores aproximados dos valores reais.
Como forma de comparação, as simulações, utilizando-se os mesmos parâmetros,
foram efetuadas também com o modelo em sua forma original (HARGROVE, 1998).
Os resultados aparecem na Figura 4.5. Nesta é possível observar a proporção de mortes
por faixa etária para a curva real, para as simulações realizadas e para o intervalo de
confiança de 95%. Nota-se concentração significativa da mortalidade para as faixas
etárias mais baixas e consequente diminuição nas faixas mais altas. Neste caso, o Fator
de Risco foi o responsável pelo percentual de mortalidade acentuado para as faixas
etárias mais baixas, por não fazer distinção entre as idades. Porém, mesmo em
simulações realizadas com o fator de risco diferenciado, notou-se que o modelo possuía
dificuldade em ajustar os valores para as faixas etárias mais altas. Os resultados,
portanto, não foram considerados satisfatórios.
77
Distribuição da Taxa de Mortalidade
0
5
10
15
20
25
0 - 910 - 19
20 - 29
30 - 39
40 - 49
50 - 59
60 - 69
70 - 79
80 ou maisIdade (anos)
%
Valores simulados Intervalo inferiorIntervalo superior Valores reais
Figura 4.5. Resultados das simulações efetuadas com o modelo original para a
mortalidade geral no estado de Santa Catarina em 2007.
Da mesma maneira que para a população como um todo, foram realizadas
simulações para a curva de mortalidade de indivíduos que sofrem de hipertensão. Neste
caso, portanto, existe um indicador de risco que é a hipertensão. Os resultados foram
alcançados com a utilização dos seguintes parâmetros:
• Risco Independente de Idade: 100
• Fatores dependentes de Idade: 4
• Taxa de Envelhecimento: 0,015
• Taxa de Crescimento: 0,14
• Taxa de Reserva: 0,05
O fator de risco (valor associado ao indicador de risco, neste caso, para os
hipertensos) variou de 0.453 a 1.1. Esta faixa representa desde sujeitos que apresentam
risco muito reduzido (com os parâmetros de risco aparentemente normais) até as
pessoas que estão com a pressão arterial alterada (além de outros hábitos como o fumo e
a falta de prática de atividades físicas). A Tabela 4.4 apresenta as informações acerca
destas simulações e o intervalo de confiança estabelecido. Os valores reais novamente
78
se encontram dentro do intervalo de confiança, tornando satisfatórios os resultados.
Note que na faixa de 10 a 19 anos de idade os valores dos resultados são zero. Isto, no
entanto, significa uma aproximação, não quer dizer que em todos os anos não haverá
mortalidade nesta faixa etária para a hipertensão. Pode-se interpretar que nesta fase da
vida, como causa a hipertensão, a mortalidade tende a ser zero. Os dados da Tabela 4.4
também são apresentados na Figura 4.6.
Tabela 4.4. Resultados do simulador e intervalo de confiança para a mortalidade por hipertensão.
Faixa Etária (anos)
Resultado do simulador (%)
Intervalo Inferior
(%)
Valores Reais (%)
Intervalo Superior
(%) 0 a 9 0,20 0,10 0,11 0,30
10 a 19 0,00 0,00 0,00 0,00 20 a 29 0,49 0,38 0,55 0,60 30 a 39 1,73 1,39 1,53 2,07 40 a 49 5,40 4,80 5,69 6,01 50 a 59 10,32 8,98 11,27 11,66 60 a 69 16,12 15,37 16,52 16,88 70 a 79 29,67 28,00 28,23 31,34
80 ou mais 36,06 34,18 36,11 37,94
A taxa de envelhecimento teve valor ligeiramente mais alto para a população
como um todo do que para os hipertensos. Esta característica foi adotada considerando-
se o fato de a hipertensão ocorrer principalmente nas pessoas mais idosas, poucos
jovens possuem uma situação que os leva a morte. Se a taxa fosse maior, para este
grupo, os indivíduos simulados morreriam antes. Adotou-se a taxa de envelhecimento
como medida de diferenciação (neste caso ao invés do fator de risco) porque na
população como um todo existem vários os fatores de risco envolvidos, o que torna um
pouco mais difícil o controle sobre todos estes fatores. Isso não significa
necessariamente que os que virão a sofrer de hipertensão envelheçam menos. Significa
que o envelhecimento em si interfere menos na mortalidade que os fatores de risco.
79
Distribuição da Taxa de Mortalidade
0
10
20
30
40
0 a 910 a 19
20 a 29
30 a 39
40 a 49
50 a 59
60 a 69
70 a 79
80 ou maisIdade (anos)
%
Valores Simulados Intervalo InferiorIntervalo Superior Valores Reais
Figura 4.6. Resultados das simulações com as mudanças propostas implementadas para
a mortalidade por hipertensão no estado de Santa Catarina em 2007.
As observações realizadas nos dados também contribuíram para a determinação
dos parâmetros. Realizando comparação da curva de mortalidade da população total
com a curva de mortalidade para os que sofreram de hipertensão, nota-se que pessoas
jovens são acometidas, em sua maioria, por outros problemas que a não a hipertensão.
Desta maneira o fator de risco, na população total, deve ter valores mais altos para as
pessoas mais jovens, uma vez que estas pessoas morrem mais de outras causas que não
de hipertensão. Até os 70 anos de idade o comportamento curva de mortalidade da
população geral tem valor mais elevado que o da população de hipertensos.
Especificamente para os dados de hipertensão, percebe-se que a mortalidade a
partir dos 70 anos de idade aumenta consideravelmente. A probabilidade na faixa dos 70
anos aumenta 75% em relação à faixa dos 60 anos e mais de 50% da mortalidade ocorre
após os 70 anos de idade. Por causa disto, poder-se-ia dizer que a maioria da população
de hipertensos apresenta as piores consequências da doença a partir desta dos 70 anos de
idade. Apesar disso, o risco para os que pertencem as faixas etárias mais baixas não
deixa de existir (possuem o valor do fator de risco reduzido). Se a população das faixas
mais baixas tiver características consideradas dentro da normalidade, como a pressão
arterial normal e ainda outros tipos de fatores favoráveis como não ser fumante, o risco
80
é muito pequeno. Assim, indivíduos que sofrem de hipertensão possuem outras
características que podem amenizar ou piorar o fator de risco. Neste caso foram
associados valores de risco maiores somente ao grupo em que prevalece a alta
mortalidade, e consequentemente onde o risco é maior.
4.2 Considerações
Este capítulo apresentou duas etapas de testes e simulações realizadas e seus
respectivos resultados, uma envolvendo o modelo base em um projeto experimental e
outra através da validação do modelo ampliado nesta dissertação.
A primeira das etapas, efetivada com a realização de um projeto de experimentos,
representou o estudo inicial, necessário pra o entendimento do modelo base. Com os
resultados obteve-se respaldo para a determinação dos parâmetros quando da execução
dos testes de validação do modelo final.
Na segunda etapa realizou-se a validação dos resultados gerados pelo modelo
ampliado. Para isso fez-se o levantamento de informações de dois casos de mortalidade
no estado de Santa Catarina: a mortalidade geral e a mortalidade em que a causa é a
hipertensão. Observou-se que o modelo final apresentou resultados robustos, dentro do
esperado para os casos estudados. Além disso, notou-se que os resultados foram
significativamente melhores do que os alcançados pelo modelo base.
Salienta-se que a determinação dos parâmetros não é tarefa trivial, isto porque a
simulação representa custo de tempo, e uma vez que os resultados não se mostrem
adequados é necessário verificar cada faixa e buscar associações para a causa do erro.
O módulo de inferência fuzzy contribuiu para que a taxa de mortalidade fosse
aprimorada para as faixas etárias maiores, uma das dificuldades encontradas nas
simulações em que este módulo não estava presente. Este fato pode ser evidenciado
pelos seguintes constatações: os parâmetros: Taxa de Crescimento e Taxa de Reserva,
contribuem mais para a determinação das faixas etárias menores. Já em relação a taxa
de envelhecimento, os parâmetros relacionados ao risco, se muito elevados, causam a
mortalidade precoce; se muito baixos retardam a mortalidade. Buscar uma forma de
combinação destes fatores de risco para alcançar valores ideais representa um alto custo,
principalmente de tempo de simulação.
81
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresentou a revisão e ampliação de um modelo de simulação para
estudos e experimentos sobre o envelhecimento de populações. Modelos de simulação
com estas características podem ser considerados como de alta complexidade devido à
quantidade de aspectos e variáveis envolvidos. Na dinâmica do envelhecimento existem,
por exemplo, riscos associados à idade e riscos independentes de idade. Fora estes dois
exemplos, há que se considerar fatores envolvidos na fisiologia e ainda os riscos
dependentes de hábitos de vida. Esta complexidade de fatores pode, contudo, ser
modelada através de técnicas de simulação e inteligência artificial, como no caso desta
dissertação, que fez uso da modelagem dinâmica contínua e fuzzy.
O Capítulo 2 apresentou o embasamento teórico das técnicas de modelagem
utilizadas, a dinâmica contínua (através da metodologia Systems Dynamics) e a
modelagem fuzzy. O simulador foi concretizado com o uso da metodologia Systems
Dynamics a qual, dentre outras, tem o objetivo de proporcionar entendimento acentuado
das variáveis envolvidas e a observação da evolução e comportamento dos sistemas ao
longo do tempo. Com isso, profissionais de outras áreas de conhecimento podem e
contribuir para o desenvolvimento de tais tipos de modelo com mais facilidade. Já o uso
da lógica fuzzy, em específico para o tratamento de incerteza para problemas na área
médica e de saúde, tem se consolidado através da representação do conhecimento
incerto, mas que pode ser representado pela experiência prática. Trata-se de uma técnica
adequada quando a informação disponível para a modelagem do um problema apresenta
vagueza e imprecisão.
A respeito do tema abordado pelo modelo desta dissertação, o envelhecimento, as
pesquisas mostram que o desenvolvimento de teorias e modelos matemáticos
relacionados a esse assunto vêm sendo realizado há muitos anos. As teorias de acúmulo
de mutação e a estocástica são dois exemplos destes estudos. Em relação à matemática
do envelhecimento, são referenciados os estudos de Gompertz e Maxwell Boltzmann. A
teoria de Gompertz (1825), que explica o comportamento da taxa de mortalidade, é um
dos mais antigas e empregada até a atualidade. Teorias desenvolvidas para outras áreas
82
também são utilizadas, caso da cinética dos gases de Maxwell Boltzmann: para Strehler
(1977) o comportamento de uma reação gasosa é semelhante ao que ocorre no
envelhecimento de um indivíduo, que no início da vida apresenta vigorosidade crescente
e, após a juventude, capacidade decrescente.
Apesar do número notável de teorias, a falta de experimentação (HAYFLICK,
1997) e de modelos de simulação para este tema (STAUFFER, 2007) são assuntos
levantados. Do ponto de vista de aplicações práticas, tais modelos de simulação podem
ser utilizados para o acompanhamento de populações (RACCO, 2003) e elaboração e
implementação de estratégias e políticas públicas. Para a área médica e de saúde, os
estudos apontam que são necessários modelos estratégicos e de planejamento
(BRAILSFORD, 2007), e este levantamento é ressaltado com estatísticas negativas
acerca de gastos com doenças crônicas (Instituto de Medicina Social – UERJ, 2008)
(Departamento de Ciência e Tecnologia et al, 2009).
Proposta e resultados
Nesta pesquisa foi apresentado o estudo e uma proposta de expansão de um
modelo de simulação, utilizando simulação dinâmica contínua associado ao tratamento
de incerteza através de um módulo de raciocínio fuzzy. Para isto, partiu-se do trabalho
de Hargrove (1998), o modelo de suporte, que foi importante por sua representação do
envelhecimento fisiológico, mas que não contemplou algumas situações que acontecem
durante e depois da ocorrência de eventos de risco, como por exemplo, o declínio da
capacidade e a recuperação. Este modelo se enquadra nas teorias de envelhecimento
estocásticas, uma vez que a ocorrência de riscos durante a vida é ocasionada por eventos
randômicos.
A tarefa inicial do estudo foi o planejamento e a execução de um projeto fatorial
completo para o entendimento dos parâmetros do modelo suporte, uma vez que nas
referências a este trabalho isso não fica claro. O modelo é composto por seis parâmetros
e dentre estes o projeto experimental apontou que os parâmetros Risco Independente de
Idade, Fator de Risco e a Taxa de Envelhecimento são os que mais influenciaram o
resultado da simulação medido pelas variáveis Tempo Médio de Vida e Taxa de
Mortalidade. Este resultado colaborou para a parametrização do modelo final, bem
83
como indicou que parâmetros relacionados aos riscos exercidos pelo ambiente e pelas
condições e hábitos de vida (Risco Independente de Idade, Fator de Risco) exercem
influência significativa nos resultados.
Após a concretização do projeto fatorial, realizou-se a ampliação do modelo base
de duas formas, uma na estratégia de adoção do Fator de Risco, que passou a ser
diferenciado para as faixas etárias, e outra com a inclusão de um módulo de impacto e
recuperação. Este módulo foi responsável por realizar a mensuração do evento de risco,
causando impacto na capacidade dos indivíduos inicialmente e, posteriormente,
permitindo a recuperação desta condição por meio de um sistema de inferência fuzzy.
O fator de risco, diferenciado e dinâmico, aumenta gradualmente com a idade, se
ajustando aos valores de risco adequados a faixa etária. Esta ideia, além de condizente
com os dados das tabelas de risco (HALL e ZWEMER, 1979), está de acordo com o
comportamento da capacidade de um indivíduo, que decai com o passar dos anos
(STREHLER, 1960).
O módulo de impacto e recuperação representou duas questões observadas em
sistemas vivos e que não estavam sendo consideradas: a consequência em decorrência
de um evento de risco (que pode deixar sequelas a saúde do sujeito envolvido) e a
renovação ou recuperação após este problema. Diante de um impacto é possível que o
organismo consiga se recuperar. Sendo assim, foi implementado um sistema fuzzy para
gerenciar este aspecto. Os resultados dependem de parâmetros de entrada, tais como a
idade ou o grau de impacto sofrido no momento da situação de risco. A proposta de um
sistema fuzzy se justificou por não haver expressões matemáticas precisas para esta
circunstância e pela incerteza ser caracterizada tanto por imprecisão quanto por
vagueza. De forma geral, o módulo contribui para a realização de distinção entre
capacidades de recuperação, para que sujeitos que sofreram impactos e possuem idades
diferentes possam ser particularizados.
A validação dos dados produzidos pelo modelo ampliado foi realizada com a
parametrização e a execução de simulações para a reprodução de curvas de mortalidade
do estado de Santa Catarina como um todo e para aquela parcela desta mesma
população cuja causa morte foi atribuída à hipertensão. O primeiro grupo é
caracterizado pela heterogeneidade de causas morte, já o segundo (os hipertensos) são
relativamente homogêneos por possuírem riscos de vida semelhantes. Os resultados
84
foram considerados aceitáveis quando os verdadeiros valores estivessem presentes em
intervalos de confiança gerados com os resultados das simulações. Para a obtenção dos
resultados foram efetuadas numerosas simulações com diversas variações de
parâmetros, situação guiada pelo estudo preliminar efetuado no modelo base assim
como pelas observações dos dados reais. Foi possível observar que o modelo ampliado
deu mais robustez aos resultados da simulação, em comparação aos resultados gerados
pelo modelo base, mostrando-se adequado para a reprodução de curvas de mortalidade
reais, dado um intervalo de confiança de 95%. O objetivo de reproduzir curvas reais de
mortalidade, além propiciar a validação e si, representa um passo inicial de
parametrização para a utilização do simulador para testes com situações que envolvam
doenças e outros riscos diversos.
Em relação ao ganho geral, as mudanças efetivadas no modelo base
proporcionaram o ajuste adequado dos resultados das simulações aos resultados reais,
com variações apropriadas entre as faixas. Isto porque a alteração nos valores dos
parâmetros mais influentes causava variações abruptas nas curvas de mortalidade
obtidas. Além disso, o valor constante atribuído ao fator de risco no modelo base não
permitia diferenciações notáveis de mortalidade entre as faixas etárias. Desta forma o
módulo de impacto e recuperação contribuiu para uma situação de equilíbrio. O uso
conjunto de simulação dinâmica e modelagem fuzzy resultou em uma ferramenta mais
robusta, como maior capacidade de representação da informação e alcance dos
resultados, o que foi expressa pela análise da taxa de mortalidade.
O modelo pode ser de grande importância, pois é sensível a variáveis que podem
ser associada a dados coletadas em bases epidemiológicas e tábuas de sobrevida por
fatores de risco. Além disso, atualmente se encontra sensível a fatores modificáveis que
aumentam a morbimortalidade de uma população. Por permitir a replicação de curvas
de mortalidade, poderia ser aplicado na simulação do impacto de políticas e
intervenções para a promoção da saúde de populações em longo prazo, assim como para
a realização de cálculos e planejamento de custos da saúde, por exemplo.
Para que seja aplicado a outras realidades é necessária a fixação dos parâmetros.
O que poderia contribuir para isto é a observação de características de desenvolvimento
populacional, tais como questões econômicas e sociais como apoio à determinação dos
parâmetros. Outras características importantes que podem ser apanhadas com
85
especialistas da área são: se a população é frágil, se envelhece logo, se é forte para
suportar estressores, o contexto sócio-econômico no qual a população está inserida, etc.
Limitações
O modelo não é capaz de relacionar tudo o que o que está inserido na dinâmica da
vida de um indivíduo e não esclarece ou classifica a condição física do sujeito após a
ocorrência de um evento de risco. A principal dificuldade da utilização do modelo
encontra-se na parametrização, que acaba por exigir conhecimento aprofundado da
influência dos fatores ao resultado e da população que se deseja estudar. As definições
dos parâmetros, inclusive, estão inseridas em um contexto de incerteza, uma vez que são
provenientes do desenvolvimento de teorias de envelhecimento. Logo, são estudos
complexos e que envolvem ainda muitos questionamentos.
Trabalhos Futuros
O modelo ainda necessita de melhorias na modelagem e a principal é em relação
aos parâmetros. Dada a dificuldade da determinação de valores para os parâmetros e a
natureza vaga dos mesmos, o modelo poderia ser aprimorado através de um sistema
especialista, cuja base fosse dotada de conhecimento acerca das populações. Além
disso, a modelagem do valor do parâmetro envolveria conceitos da matemática difusa,
reconhecendo que estes valores são números fuzzy. Por exemplo, a Taxa de
Crescimento é um valor vago por não possuir indicadores ou embasamento claro para a
sua determinação; poderia então ser associada a alguma característica da população e
então determinada aproximadamente através de um número fuzzy.
Ainda como trabalho futuro pretende-se explorar este modelo como uma
aplicação prática: estudar a viabilidade de estratégias assim como o estudo da
implementação de medidas preventivas de saúde, para que o risco varie dinamicamente
de acordo com isso. Espera-se que possam ser realizados estudos estratégicos
relacionados a situações de risco de populações e aos custos financeiros (investimentos
de planos de saúde, por exemplo). Espera-se que o modelo possa contribuir para a
avaliação de tais situações e assim como para o entendimento do processo que rege a
evolução do envelhecimento.
86
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94
ANEXO A – Aceites de artigos
Títulos: Dynamic-Fuzzy Simulation Model for Reproduction of Mortality Curves
Dynamic Simulation Model for Reproduction of Mortality Curves
1. Winter Simulation Conference (WSC) 2009
Segmento: Health Care
2. 22nd IEEE International Symposium on Computer-Based Medical
Systems (CBMS) 2009
3. Summer Computer Simulation Conference (SCSC) 2009
4. 21st European Modeling and Simulation Symposium (EMSS) 2009
Segmento: Simulation in Healthcare
5. The 2009 World Congress in Computer Science, Computer Engineering,
and Applied Computing (WORLDCOMP'09)
Segmento: BIOCOMP
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