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Módulo 5 – Exames de Locais
Apresentação do módulo
A cena de um crime guarda uma série de elementos materiais que contam
uma história, a história do fato delituoso.
A função de quem examina a cena de um crime é perpetuar o fato,
reconstituir a dinâmica do evento e estabelecer o diagnóstico diferencial.
Toda vez que neste cenário houver a participação de uma arma de fogo,
pode haver vestígios como armas, estojos de cartuchos, projéteis, além de
impactos nos mais variados suportes e superfícies. O exame desses
vestígios reveste-se de significativa importância pelo que podem responder
sobre a dinâmica do evento.
Quanto aos vestígios, é importante verificar, dentre outras observações:
suas posições em relação ao local;
seus elementos de identificação;
a correlação entre a arma encontrada e os ferimentos apresentados
pela vítima(s) – quando uma arma suspeita encontra-se no local – e;
a eficiência da arma e sua capacidade em produzir os danos e lesões
verificadas.
Especificamente, quanto à munição, pode-se observar a presença de
projéteis e estojos de cartuchos percutidos e suas posições em relação ao
local, bem como os elementos aderidos aos projéteis, tais como as manchas
e detritos provenientes dos impactos, possibilitando correlacionar esses
projéteis com as marcas verificadas nos suportes que eram constituídos ou
tinham como revestimento os materiais semelhantes aos aderidos ou
incrustados nos projéteis. No caso de armas semi automáticas, ainda, a
posição relativa dos estojos percutidos pode permitir estabelecer a posição
do atirador.
Para o estabelecimento de uma possível dinâmica do evento, é importante
considerar que cada vestígio, pelo menos em parte, representa uma ação
ou omissão. Interpretá-los e analisá-los com vistas a determinar de que
forma eles se compõem e se relacionam permite estabelecer a dinâmica do
fato delituoso. Uma vez constatados e analisados os vestígios, após
estabelecida a possível dinâmica do fato delituoso em apuração, cumpre ao
perito estabelecer o diagnóstico diferencial entre suicídio, homicídio e
acidente o que, às vezes, pode constituir-se em tarefa muito difícil.
Neste módulo você estudará sobre a dinâmica do exame no local.
Objetivo do Módulo
Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de:
Identificar os impactos tangenciais e perfurações de entrada
produzidas por projéteis de armas de fogo em superfícies metálicas;
Identificar as perfurações de saída e as mossas deixadas quando o
projétil não apresenta energia para perfurá-la;
Descrever o estabelecimento de trajetória.
Caracterizar as entradas em paredes de alvenaria;
Identificar as características dos orifícios produzidos por passagem de
projéteis oriundos de ricochete.
Estrutura do módulo
Aula 1 - Impacto contra suportes variados
Aula 2 – Ricochetes
Aula 1 – Impacto contra suportes variados
1.1 Impactos contra superfícies metálicas
Observe a sequência de fotografias abaixo:
Fotografia 64
Fotografia 65
Fotografia 66
Fotografia 67
Fotografia 68
Fotografia 69
Fotografias 64 a 69. Fotografias extraídas de filmagem realizada pela Academia de Policia Civil
do Distrito Federal em disciplina ministrada pelo autor.
O veículo acima foi atingido por disparos de diversos calibres e em ângulos
de impactos diferentes. As fotografias são frutos de filmagem com cadência
de vinte e quatro quadros ou fotografias por segundo. Tais disparos foram
efetuados no Estante de tiro da Acadêmia de Policia Civil do Distrito Federal,
quando da realização de Curso para Peritos Criminais de diversos estados
brasileiros, com o objetivo de retratar as características e detalhes do
impacto e ricochete em superfícies metálicas, observe que:
Na fotografia 64 verifica-se apenas as perfurações resultantes dos
impactos dos projéteis de três disparos de “calibre .38” SPL, assinalados
pela seta,em disparos diretos contra a tampa do porta-malas. Os demais
disparos, tanto na tampa do porta-malas quanto no vidro, são de calibres
diferentes, e serão descritos em seguida.
Na fotografia 65 verifica-se, assinalado pela seta de cor branca, o ponto
de impacto do projétil de arma de fogo de “calibre .38” na tampa do porta-
malas; o impacto no vidro posterior traseiro, assinalado pela seta, e uma
fina nevoa esbranquiçada, formada pela desintegração do vidro, demarcada
por outra seta simples. O interessante nesta fotografia é o fato de que,
embora já tenha ocorrido o impacto sobre a tampa do porta-malas e no
vidro, quase não é perceptível a deformação, nem tão pouco a ruptura
desse vidro.
Nas fotografias 66 e 67, tanto a deformação na tampa do porta-malas,
quanto a perfuração no vidro estão mais visíveis. Percebe-se, ainda, em
ambas as fotografias, a névoa formada a partir da desintegração do vidro. A
fotografia 65 associada às de números 66 e 67 demonstra que essas
deformações e perfurações levaram algumas frações de segundo, após o
impacto, para se formarem e, considerando ainda a velocidade do projétil,
que este estaria à uma distância considerável, quando elas ocorreram.
A imagem perceptível na fotografia 68, bem como, a fotografia 67, são
praticamente idênticas, variando apenas nas dimensões do quebramento do
vidro do veículo. A fotografia 69 é apenas a ampliação da imagem da
fotografia 67.
Observe que a fotografia 68 apresenta todas as deformações concluídas,
tanto da lataria do veículo, quanto do quebramento do vidro.
Observou?
Nas superfícies metálicas, nos vidros ou em outros tipos de superfície, o
rompimento da superfície suporte, quando a trajetória do projétil é tendente
a tangencial, pode induzir a erros na análise da trajetória dos disparos, por
uma interpretação de transfixação.
Fotografia 70. Foto operada por cursando na ocasião do curso
ministrado pelo autor na Academia de Policia Federal pela
SENASP.
O impacto pode não romper a superfície suporte, resultando numa
deformação característica, como na fotografia 70. Nela, percebe-se o sulco
deixado pelo projétil quando da sua passagem, cuja largura é muito
próxima à largura do projétil. Nessa fotografia percebe-se, ainda, o
raiamento do projétil, fato que não é muito comum de ser visualizado, e as
linhas transversais ao sulco, formando setas que indicam o sentido de
deslocamento do projétil.
Pode ocorrer que, em algum momento do impacto do projétil contra a
superfície metálica, ele venha a aderir a essa superfície, resultando que, na
sequência do seu movimento, este acabe por arrastar a parte da superfície
aderida, rompendo-a como se a rasgasse. Em situações como essa, a
análise que permite determinar o sentido da trajetória e a comprovação do
ricochete é simples de ser deduzida, como pode ser observado na fotografia
71.
Fotografia 71. Foto operada por cursando na ocasião
do curso ministrado pelo autor na Academia de Policia
Federal pela SENASP.
Fotografia 72. Foto operada por cursando
na ocasião do curso ministrado pelo autor
na Academia de Policia Federal pela
SENASP.
É importante observar que para determinadas situações, como aquela
verificada nos seis fotogramas iniciais, o projétil, ao impactar-se contra a
superfície suporte, e na continuidade de seu movimento, pode vir a
ricochetear e apresentar como resultado o rompimento da superfície
suporte, deixando a impressão de transfixação (que ocorre em função da
energia dissipada no impacto). Em superfícies metálicas, da mesma forma
que nos casos em que a superfície suporte do impacto seja o vidro, uma
análise prematura do cone de fratura ou da ruptura da superfície pode
induzir a erros. Veja a fotografia número 72, nela tem-se a nítida impressão
de que, como resultado dos dois impactos, houve a transfixação da
superfície metálica, no entanto, esta só ocorreu na primeira das
deformações, assinalada pela seta.
Nos disparos efetuados contra
superfícies metálicas (da mesma forma
ocorrida contra superfícies de madeira
ou vestes, dentre outras), o formato da
perfuração varia de acordo com a
inclinação da trajetória do projétil
expelido por arma de fogo. Quando a
trajetória do projétil é perpendicular, o
orifício de entrada é, em geral,
arredondado, o que pode ser observado
na fotografia número 73, nos três
disparos assinalados no ponto A. Os
outros três disparos, apontados pela
letra B, apresentaram trajetória oblíqua.
Logo, a perfuração é tendente a ovalar.
Fotografias 73. Imagem extraída
de filmagem realizada pela
Academia de Policia Civil do
Distrito Federal em disciplina
ministrada pelo autor.
Veja também as fotos de números 74 e 75:
Fotografia 74. Fotografia operada pelo
autor em veículos submetidos a exame de
vistoria no ICDF.
Foografia 75. Fotografia operada pelo autor
em veículos submetidos a exame de vistoria
no ICDF.
Os orifícios de saída em chapas metálicas, normalmente, apresentam as
bordas evertidas, demonstrando claramente o sentido da trajetória do
projétil. Quando não possuem energia cinética suficiente para romper o
anteparo deste impacto, ocorrem, geralmente, deformações de formato
característico, que reproduzem, em parte, a forma do projétil, como pode
ser observado nas fotografias de números 76 e77 abaixo:
Fotografia 76. Fotografia obtida de
filmagem ou operada por cursando,
quando de curso ministrado pelo autor
no Rio de Janeiro oferecido pela
SENASP.
Fotografia 77. Fotografia obtida de
filmagem ou operada por cursandos,
quando de curso ministrado pelo autor
no Rio de Janeiro oferecido pela
SENASP.
No caso específico dos veículos, uma análise mais acurada permite definir o
trajeto desenvolvido pelo projétil em seu interior e inferir sobre a(s)
posição(ões) do atirador. Dependendo da sequência de disparos e de suas
características, permite ainda concluir se o veículo estava parado ou em
movimento, se estava com as portas abertas ou fechadas e, reconstruir,
pelo menos em parte, a dinâmica do evento. Veja como exemplo as
fotografias de números 78, 79 e 80. Nelas é possível inferir que a trajetória
foi da esquerda para a direita do veículo e de cima para baixo, e que a
porta atingida encontrava-se fechada no momento do disparo.
Fotografia 78. Fotografia operada pelo autor em veículos submetidos a exame de vistoria no ICDF.
Fotografia 79. Fotografia operada pelo autor em veículos submetidos a exame de vistoria no ICDF.
Fotografia 80. Fotografia
operada pelo autor em veículos submetidos a exame de vistoria no ICDF.
As fotografias de números 81, 82, 83 e 84 demonstram o impacto de
projéteis oriundos de espingardas. A fotografia de número 18 trata do
impacto resultante de projétil singular (balote), calibre 12, na estrutura de
um veículo. A fotografia de número 82 mostra o impacto de projéteis
múltiplos do tipo SG, também de calibre 12, com disparo efetuado a uma
distância de 10 metros. A terceira e quarta fotografias, de números 83 e
84, demonstram as perfurações deixadas pelos projéteis múltiplos de
disparo de calibre 12, do tipo 3T, na mesma distância. Observe que nesta
última fotografia ampliada, fotografia de número 84, alguns dos impactos
não perfuraram a lataria.
13
08
75 3
Fotografia 81. Fotografia obtida de
filmagem ou operadas por cursandos,
quando de curso ministrado pelo autor
no Rio de Janeiro oferecido pela
SENASP.
Fotografia 82. Fotografia obtida de
filmagem ou operadas por cursandos,
quando de curso ministrado pelo autor
no Rio de Janeiro oferecido pela
SENASP.
Fotografia 83. Fotografia obtida de
filmagem ou operada por cursando,
quando de curso ministrado pelo autor
no Rio de Janeiro oferecido pela
SENASP.
Fotografia 84. Fotografia obtida de
filmagem ou operada por cursando,
quando de curso ministrado pelo autor
no Rio de Janeiro oferecido pela
SENASP.
1.2 Impactos contra estruturas
As marcas de disparos em paredes de alvenaria, muros ou outras partes de
edificações, apresentarão deformações e características distintas, conforme
a resistência estrutural dessas peças e da energia cinética do projétil.
O impacto em estruturas como vigas, pilares, lajes ou outras estruturas de
concreto, geralmente, se caracteriza por uma pequena deformação na qual
se verifica a impregnação ou a incrustação de material constituinte do
projétil, tanto nos casos de ricochete do projétil, como nos casos em que
ele dissipa totalmente sua energia no impacto, caracterizando a ação
contundente do projétil.
Quando se observa alguns casos de ruptura
e transfixação dessas estruturas (estruturas
de concreto), geralmente verifica-se que a
energia cinética do projétil é muito grande
(projéteis de fuzis). Sendo assim, a ruptura,
normalmente, está associada a uma série
de impactos simultâneos na mesma região e
não a um único impacto.
As características observadas em casos de tijolos maciços, cerâmicas,
alvenarias com blocos de concreto, são as mesmas das estruturas de
concreto, ressalvadas as diferenças quanto à menor resistência estrutural.
No caso de paredes ou muros constituídos de tijolos furados, é comum
verificar perfurações produzidas por projéteis de armas de fogo. A
perfuração se caracteriza pelo efeito da quebradura devido a impacto
pontual. Novamente, a ação contundente é a mais perceptível.
Normalmente, não guarda dimensões que permitam estabelecer calibres,
apenas excluir calibres diferentes, quando for o caso. Na fotografia 85,
observa-se uma pequena parede em que foram efetuados, contra ela,
disparos de diferentes calibres. Acima de cada perfuração produzida pelo
Fotografia 85. Fotografia
obtida de filmagem ou
operadas por cursandos,
quando de curso ministrado
pelo autor no Rio de Janeiro
oferecido pela SENASP.
impacto, encontra-se assinalado o calibre. Note que as dimensões dos
orifícios são semelhantes apesar de terem sido produzidas por calibres
diferentes. No caso de tijolos de oito furos, comumente utilizados em nosso
país, os projéteis de calibres mais comuns como o “.380 ACP”, “.38 SPL”,
apesar de serem capazes de perfurá-los, geralmente não possuem energia
cinética que permita a sua transfixação. A transfixação é observada, na
maioria dos casos, para projéteis de calibre “.40 S&W”, “9mm Luger”, “.45
ACP”, dentre outros, dependendo do tipo de ponta (ponta oca ou totalmente
encamisada) que irá configurar um projétil mais expansivo ou não.
Aula 2 - Ricochete
2.1. O que é ricochete?
Ricochete é o fenômeno que se observa quando, em consequência de
impacto contra uma superfície em ângulo específico, o projétil tem a sua
trajetória modificada. Após este impacto, o projétil, ao ricochetear,
apresenta, como conseqüência, trajetória irregular e falta de direção.
De acordo com Juan C. Larrea (apud LOCLES, 1992, p. 83), os ricochetes
podem ser entendidos como fenômenos que alteram notavelmente a
trajetória de um projétil, resultantes de um impacto deste contra superfícies
resistentes (como solos rígidos, superfície d’água, chapa metálicas, dentre
outros) em uma faixa de ângulos, geralmente de pequeno valor; e que
apresentam, como consequência, perda de estabilidade, avanço irregular,
falta de direção e perda de força (energia).
Todas as superfícies apresentam ângulos críticos de incidência de projéteis
de armas de fogo, para os quais, as consequências do impacto são
totalmente divergentes.
Disparos cujo projétil esteja em ângulo de incidência maior que o ângulo
crítico podem perfurar a superfície suporte do disparo, transfixando-a ou
dissipando toda a sua energia no trajeto desenvolvido no interior da
superfície.
Outra hipótese verifica-se no caso em que a superfície suporte seja muito
resistente. Nesta situação, o projétil pode transferir toda a sua energia no
choque, se deformando acentuadamente, perdendo a sua forma construtiva
(como na fotografia número 1), e, por fim, aderindo ao suporte ou caindo
próximo a ele; ou ainda, se fragmentando, fazendo com que esses
fragmentos apresentem, normalmente, pequenos ângulos de trajetórias.
Porém, na hipótese do ângulo de incidência ser menor que o ângulo crítico,
os projéteis devem ricochetear.
A medida desses ângulos críticos irá
variar em função de uma série de
fatores, tais como o tipo da superfície
suporte de impacto (superfícies
metálicas, concreto, asfalto vidros,
madeira, etc), numa mesma superfície,
em função da homogeneidade e
característica dessas, pois um projétil
que venha se impactar contra um nó
de uma peça de pinho, não
apresentará a mesma reação que
outros impactos no restante da peça,
nem tampouco, o mesmo
comportamento de pedaços de
madeira de aroeira ou cedro quando
comparado ao pinho.
Fotografia 86. Fotografia operada
pelo autor.
Importante!
No dia a dia do exame pericial, a grande maioria das superfícies não é
homogênea, como pisos ou paredes, podendo apresentar, no ponto de
impacto, aditivo mineral ou vazio em sua estrutura com resistência,
elasticidade e módulo de flexão totalmente diferentes.
Os projéteis de fuzis possuem maiores velocidades e energia que os
projéteis de armas de porte. Esses projéteis, normalmente, têm maiores
comprimentos e menores diâmetros, o que faz com que apresentem uma
maior tendência a se fragmentar do que a ricochetear. Os ângulos críticos
para esses projéteis são menores que os demais.
Os ângulos críticos variam com a natureza e a forma do projétil.
Os projéteis com formato ogival apresentam uma maior tendência ao
ricochete que projéteis do tipo canto-vivo, semi canto-vivo e cone truncado
com pontas planas.
Nos projéteis ogivais, o formato progressivo do ângulo da ogiva, formando
um segmento de esfera, associado aos movimentos de rotação e precessão
do projétil, facilita a interação com o meio, a mudança de inclinação e o
ricochete. Com isso, um maior valor de ângulo crítico.
Projéteis com curvatura da ogiva menos acentuadas, como os projéteis
ogivais do calibre 9 x19 mm ou 9 mm Luger, apresentam um maior ângulo
crítico do que aqueles, também ogivais, mas de curvaturas mais intensas,
como os projéteis montados em cartuchos de calibre “.45 ACP” ou “.380
ACP”. Normalmente, apresentam ainda, um menor ângulo de ricochete.
Outro fator que altera o ângulo crítico é a natureza do material constitutivo
do projétil. Projéteis encamisados ou jaquetados totais apresentam uma
maior possibilidade de ricochetear que os projéteis nus de liga de chumbo
ou que os projéteis semi-encamisados. Provavelmente, tal fato se deve à
maior possibilidade de deformação e a uma maior transferência de energia
cinética que os projéteis nus ou semi-encamisados apresentam, o que faz
com que os projéteis encamisados tendam a ricochetear com maiores
ângulos de incidência. As munições glaser da Winchester, que apresentam
uma elevada taxa de transferência de energia cinética e uma grande
deformação, possuem remotíssimas possibilidades de ricochetear devido à
constituição da ogiva em material sintético, à ruptura do involucro, e à
liberação dos balins e fragmentos.
Os ângulos de ricochete, nos impactos contra superfície sólida, geralmente
são muito menores que os ângulos de incidência e tendem a aumentar na
medida em que aumentam os ângulos de incidência. Excetuam-se os casos
em que a ruptura do suporte, quando do impacto, forma uma “rampa de
projeção”, com inclinações mais elevadas, que propicia maiores ângulos de
ricochetes.
Entretanto, nos casos de maior ângulo de incidência, também serão maiores
as deformações e danos na superfície suporte do impacto no projétil e
haverá maior possibilidade de fragmentação. Nesses casos, a energia
cinética e velocidade residual do projétil diminuem. Em uma experiência
realizada para observar este fato, utilizou-se blocos de plastilina,
compactados pra obter densidade da ordem de 800 vezes em relação à
densidade do ar (que é semelhante à densidade dos tecidos moles do corpo
humano), cartuchos dotados de projéteis ogivais nus de liga de chumbo de
calibre “.38 SPL”, todos de uma mesma caixa de munição, com o emprego
de uma mesma arma, variando-se apenas o ângulo de incidência dos
projéteis sobre lajes de concreto. Verificou-se que o volume da cavidade
obtida na massa de plastilina com ângulos de incidência de cinquenta graus
(500 )era de cerca da metade do volume obtido quando o ângulo de
impacto era da ordem de trinta graus (300 ).
Segundo Di Maio (2010, p. 158), os ângulos de incidência que promovem
ricochetes na água são muito pequenos, da ordem de 3 a 8 graus, e os
ângulos de ricochete de duas a três vezes maiores que os ângulos de
incidência.
Todo ricochete segue, em princípio, as leis clássicas da física. O projétil
alcança uma superfície com um ângulo α encontrando-se animado com uma
velocidade (V), que pode ser decomposta em duas componentes:
Figura 10
A primeira, perpendicular à superfície, cuja equação seria VP = V sen ά e, a
segunda paralela à superfície, que pode ser representada pela equação VT
= V.cos.ά. Em tese, somente a componente vertical da velocidade atua na
superfície e no projétil causando os danos e deformações em ambos. Para
pequenos valores do ângulo α, o valor do sen de α é tendente a zero (0) e
os efeitos de deformação na superfície e no projétil são mínimos. Para
valores de α próximos a 90.º, (disparos perpendiculares à superfície) o
valor do sen de α é 1 (máximo). Por conseguinte, toda a energia será
dissipada com o impacto e não haverá nenhum ricochete.
Teoricamente, a componente paralela da velocidade permaneceria
inalterada, uma vez que não está atuando sobre a superfície. No entanto,
VP = V sen ά
VT = V cos ά
V
ά
parte da velocidade seria reduzida em função do atrito com a superfície,
independente da elasticidade desta.
No caso de disparos efetuados com ângulos pequenos que viessem a
ricochetear (próximos a zero grau), os valores de cosseno de α são
próximos a 1, o que implica que o projétil assumiria uma nova trajetória,
animado com uma velocidade próxima a do impacto. Entretanto, é provável
que, em função do impacto, o projétil viesse a perder o movimento de
rotação em torno do seu eixo, desestabilizando-se e assumindo uma
trajetória errática (rotação em torno do seu eixo longitudinal), o que levaria
a um significativo aumento do coeficiente aerodinâmico e,
consequentemente, reduziria o seu alcance máximo1.
Figura 11
O esperado pela análise teórica, em consequência da perda da componente
vertical da velocidade, e normalmente observado, é que o ângulo de
incidência seja superior ao ângulo de ricochete. Em alguns casos,
modelados experimentalmente, verificou-se que o ângulo de ricochete foi
1 de acordo com Rinker, 1999, p. 112, poderia atingir um terço da distância máxima alcançada caso não
ocorresse o ricochete
VP = V sen ά
VT = V cos ά
V
ά
V’P = V’ sen
V’T = V’ cos
V’
superior ao ângulo de incidência. Este fato pode ser explicado tendo em
vista que, durante o impacto, o projétil produz um sulco sobre a superfície,
e irregularidades na constituição da superfície suporte podem favorecer as
condições para que o ângulo de ricochete seja superior ao ângulo de
incidência.
Para cada conjunto superfície suporte/projétil, têm-se valores de ângulos
específicos para os quais os projéteis penetrem na superfície suporte e/ou
se fragmentem (podendo ocorrer ricochete de fragmentos) ou ricocheteiem.
É importante observar
que, para determinadas
situações, o projétil ao
impactar-se contra a
superfície suporte e
ricochetear, pode gerar o
rompimento da superfície
suporte deixando a
impressão de transfixação
em função da energia
dissipada no impacto.
Como mencionado anteriormente, não existem valores fixos de ângulos
para os quais certamente irá ocorrer um ricochete. Eles variam com o tipo
de projétil, com a espessura e o tipo da superfície suporte. Em
experimentos práticos realizados com pratos metálicos, observou-se que
para ângulos de incidência entre 40.º e 50.º, os ângulos de ricochete
obtidos foram inferiores a 10.º, com diversos calibres e tipos de projétil.
Entretanto, a partir de disparos efetuados com arma de calibre 7,65 mm
Browning, com projéteis encamisados e mesmo suporte, observou-se que,
para ângulos compreendidos entre 17.º e 22.º, iniciou-se a penetração no
anteparo. Para ângulos menores que 17.º, observou-se o fenômeno dos
Fotografia 87. Fotografia operada pelo autor. Incrustações de chumbo e da camisa do projétil sobre uma superfície de vidro oriunda de impacto tangencial.
ângulos de ricochete maiores que os ângulos de incidência e, ainda, a
fragmentação do projétil para ângulos superiores a 35.º.
O projétil, ao ricochetear, muda a sua trajetória, deforma-se e,
normalmente, perde o seu movimento de rotação em torno do seu eixo
longitudinal. Quando esses projéteis são recuperados, é possível perceber
incrustações e aderências da superfície suporte que impactou
originariamente.
Além de incrustações, as superfícies deixam deformações características
nos projéteis, como quando o impacto do qual resultou o ricochete ocorreu
contra uma superfície metálica ou contra vidros que não se rompem, neste
exemplo, as deformações resultantes no projétil são planificações polidas.
Nesses casos, geralmente não se verifica presença de sulcos na superfície
do projétil que sofreu o impacto.
No caso de impactos contra superfícies menos flexíveis, como o caso de
pisos de cerâmicas, concreto ou asfalto, a tendência é que este impacto
apresente ruptura do suporte e, devido à rugosidade desses materiais,
resulte em sulcos irregulares dispostos na superfície de impacto. Caso seja
o primeiro impacto, o sentido de produção desses sulcos geralmente é
paralelo ao eixo longitudinal do projétil.
A superfície também se deforma. Na
fotografia de número 88, ao lado,
verifica-se um piso de concreto que
apresenta deformação e incrustações
de liga de chumbo, resultante de
impacto de projétil de arma de fogo
que ricocheteou.
Fotografia 88. Fotografia operada
pelo autor.
Os impactos sobre metais, paredes de alvenaria e madeira são perceptíveis
e podem ser caracterizados como deformações resultantes de impactos de
armas de fogo. Todavia, impactos contra água ou areia são imperceptíveis e
os sinais destes impactos no suporte são efêmeros, por isso não são
identificáveis.
As entradas de projéteis oriundos de ricochete em vestes e, principalmente,
na pele, ou em qualquer outro suporte, geralmente são irregulares, com
dimensões bem maiores do que as de um disparo direto, com os bordos
escoriados, lacerados, não se confundindo com um disparo direto. Nas
lesões, não se verifica a perda do tecido, evidenciando-se muito mais a
ação contundente do projétil que a ação perfurante. Pode-se verificar a
deposição junto ao orifício de entrada do material constituinte da superfície
de impacto.
As lesões produzidas em consequência do ricochete de um projétil
apresentam características distintas das normalmente verificadas em
disparos diretos, tais como:
1. Ausência de orla de enxugo – as sujidades que o projétil
normalmente carrega consigo, geralmente advindas de sua
passagem forçada pelo cano da arma, devem ficar
depositadas, pelo menos em parte, no primeiro impacto,
podendo carregar materiais constituintes do suporte para a
lesão e regiões circunvizinhas.
2. Lesão de entrada irregular – o formato regular da lesão de
entrada, com o arrancamento circular ou elíptico dos tecidos,
deve-se ao movimento de rotação do projétil. Com a perda do
movimento de rotação do projétil, a ação é de natureza
contundente, com a ruptura irregular (denteada) do tecido e,
ainda, em consequência das deformações sofridas, sem o
formato característico. Embora possa ocorrer perda de tecido,
ela será menor e apresentará os bordos invertidos.
Na fotografia 89, verifica-se, à
esquerda, uma laceração
produzida por projétil nu de
calibre .38, após ricochetear em
piso de concreto e, à direita,
observa-se a marca de um
disparo direto com o mesmo
tipo de munição. Associado a
isto, pode-se verificar, ainda, o
projétil entrando lateralmente;
dessa forma, a lesão deve
apresentar uma maior
extensão. Considerando ainda
uma maior ação contundente, é
de se esperar uma maior
aureola equimótica.
3. Ausência dos efeitos secundários do disparo – as zonas
características dos efeitos secundários, como a zona de
chama, esfumaçamento e tatuagem, devem ficar retidas no
suporte do primeiro impacto.
4. Perda de energia cinética – em consequência da parcela de
energia dissipada no primeiro impacto, o projétil pode não
penetrar no tecido; apresentar uma penetração superficial
somente até as camadas subcutâneas; penetrar normalmente,
inclusive com a transfixação de órgãos vitais; ou, por fim, pode
até mesmo apresentar uma lesão de saída, entretanto,
certamente terá a sua energia cinética diminuída.
Fotografia 89. Fotografia operada
pelo autor.
Aula 3 – Exames em locais de crimes violentos
Nos exames de locais de crimes violentos praticados com emprego de
armas de fogo, cabe ao perito estabelecer, sempre que possível, o
diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio ou acidente, o que pode
constituir-se em uma tarefa muito difícil. Geralmente, esse diagnóstico é
fruto de um conjunto de fatores que acaba por formar um quadro sugestivo
ou mesmo característico de uma hipótese ou outra.
A proposta que você estudará a seguir, não diz respeito às metodologias e
procedimentos de busca em local de crime, de levantamentos descritivos,
fotográficos, levantamentos planialtimétricos e de coleta e transporte de
evidências. Será apresentada uma série de observações ou questões a
serem consideradas pelos peritos, quando do levantamento do local,
relacionadas a vestígios balísticos em locais de crimes violentos. Tais
questões e observações não se constituem em um roteiro a ser seguido.
Embora de caráter básico, elas podem ajudar na interpretação do ocorrido e
no estabelecimento da dinâmica do fato. Muitas dessas observações foram
extraídas de apostilas e laudos do perito Saul de Castro Martins, com
grande experiência em exames de local de Mortes Violentas. Pode ser que
para alguns peritos muito pouco se acrescente, no entanto, para a maioria,
essas observações trarão pontos importantes que poderão ser acrescidos à
experiência e metodologia de análise de cada um.
Do local do fato
Observações:
Vias de acesso, a existência de pegadas, manchas de sangue e a dinâmica da
sua formação (espargimento, gotejamento, projeção, etc), objetos deixados nas
rotas de acesso;
Localização dos projéteis e pontos de impactos no local;
Marcas de impactos em paredes, lajes e pisos ou transfixação em mobiliários,
objetos, vidraças ou outras peças;
Existência de estojos no local e/ou existência de cartuchos não deflagrados,
buchas e outros elementos balísticos;
No caso de munições não deflagradas, verificar a existência de marcas de
percussão em sua espoleta, ou outras marcas;
Objetos na periferia do cadáver; a integridade e disposição desses objetos.
O objetivo particular da Criminalística no exame de local de crime é
proteger, observar e fixar o local do fato delituoso, por meio das diversas
formas de levantamento, bem como coletar e submeter as evidências ao
Laboratório de Criminalística, para fins de exames específicos.
3.1 O Local
A preocupação aqui é retratar o local como foi encontrado, informando suas
dimensões, condições de iluminação, delimitações, formas de acesso, tipo
de construção, disposição de ambientes e de objetos que contém etc.
Devem-se indicar todos os vestígios encontrados, tais como: cadáveres;
veículos; desordem de objetos; avarias; objetos quebrados e seus
fragmentos; instrumentos utilizados ou possíveis de terem sido utilizados no
crime; marcas de impacto e perfurações, indicando a orientação de
produção e os tipos de instrumentos que os produziram; pelos; manchas de
substâncias, biológicas ou não, e a forma como foram produzidas, tais
como, gotejamentos, espargimentos, contatos indefinidos, contatos com
estampa e escorrimentos, informando o sentido de produção; entre outros.
Começar a busca de provas na cena do crime pelos prováveis acessos e
saídas, onde, em casos de homicídios, armas e ferramentas são
frequentemente deixadas durante a fuga.
A localização e análise dessas evidências físicas que estão associadas ao
fato, sejam de caráter identificador ou reconstrutor, podem propiciar ao
perito a possibilidade de fazer as reflexões indutivas e dedutivas a respeito
do fato, a fim de formar juízo sobre ele e poder emitir opiniões técnico-
científicas.
Dessa forma, a metodologia se dirige a efetuar a busca de provas em
qualquer área onde o criminoso possa ter permanecido com o objetivo de
cometer o crime; no ponto de entrada, determinar a possível rota tomada
pelo criminoso na cena do crime, analisar todos os objetos que possam ter
merecido a atenção do criminoso ou de qualquer forma por ele
manuseados, como cigarros, fósforos, etc. É importante pesquisar alguns
locais pouco usuais onde possa ser encontrada alguma prova, por exemplo,
vaso sanitário, fogão, geladeira, latas de mantimentos, etc.
3.2 A Posição
Deve-se descrever a posição em que o cadáver foi encontrado, já que é um
vestígio importante e, não raras vezes, nos auxilia na determinação da
dinâmica do evento: decúbito ventral, decúbito dorsal, decúbito lateral
esquerdo/direito, genopeitoral, sentado, suspensão completa/incompleta,
submersão completa/incompleta, boxeador e fetal; membros superiores e
inferiores estendidos/semifletidos/fletidos e posição dos membros em
relação ao tronco e/ou à cabeça.
A posição em que o corpo foi encontrado é de grande importância para
estabelecer a dinâmica do fato, principalmente nos casos de suicídio, como
também a posição da arma em relação ao corpo. As mãos de um suicida
podem revelar dados como manchas de espargimento de sangue e massa
encefálica e, nos casos em que a arma empregada é uma pistola, pode-se
verificar no dorso da mão, no espaço entre o dedo polegar e o indicador,
lesão produzida pela movimentação do ferrolho. A existência de tal lesão é
prova inconteste de que a pistola estava segura por aquela mão quando da
movimentação do ferrolho, sendo muito provável estar a mão empunhando
a arma quando do disparo.
Com os pontos de impactos, transfixações e pontos de repousos finais de
estojos e projéteis determinados, torna-se possível estabelecer a posição
relativa de todos os atores envolvidos, e reconstruir, pelo menos em parte,
a dinâmica do local.
3.3 Vestes
Em relação às vestimentas, o perito deve fazer as seguintes observações:
O estado e a disposição das vestes no corpo, bem como os demais
pertences, bolsos revirados, relógio, anéis, documentos, dinheiro,
etc.
Existência de coincidência dos orifícios verificados nas vestes em
número e sentido de produção com os orifícios verificados nas
mesmas regiões anatômicas, cobertas por estas vestes.
Existência ou não de coincidência dos orifícios verificados nas vestes
em relação ao alinhamento com os das lesões,
Se as vestes apresentam-se amarfanhadas, rasgadas ou portam
outros sinais de violência,
As vestes geralmente são analisadas de fora para dentro e de cima para
baixo ou de baixo para cima, ou seja, primeiro o boné, depois o casaco,
depois a camisa, a calça, a bermuda, peças intimas, os sapatos e as meias
ou, de outro modo, primeiro os sapatos, depois as meias, a calça, a
bermuda, a cueca, o casaco, a camisa e o boné.
Todos os vestígios observados
nas vestes devem ser
registrados, indicando-se em
que regiões estão localizados.
Como a disposição no corpo (se
estão alinhadas ou não;
amarfanhados; havendo
manchas, definir quais as
substâncias que as produziram
e formas de produção, a
exemplo de gotejamentos;
contatos; espargimentos e
escorrimentos, informando,
sempre que possível o sentido
de produção; etc);
Importante descrever os orifícios, cortes e rasgos, informando as dimensões
e para que face estão voltadas as fibras do tecido (face externa ou interna);
zonas de enxugo, de queimadura e de tatuagem; fecho éclair aberto, etc.
As vestes são a superfície suporte de uma quantidade enorme de vestígios.
As observações acima, sobre a existência ou não de coincidência e
colinearidade entre os orifícios na veste e no corpo, sobre o estado em que
se apresentavam essas vestes, como sujidades aderidas, rasgões, ou outros
sinais de violência, em alguns casos, permitem estabelecer a dinâmica do
fato ocorrido neste local.
Fotografia 90. Foto operada em
exames de local do ICDF.
A posição das vestes pode indicar se uma
pessoa foi arrastada ou não, pode
demonstrar que a pessoa encontrava-se
caída no momento do disparo e, em casos
de trama de tecidos diferentes, pode
permitir identificar se determinado projétil,
possivelmente encontrado no local, atingiu
alguma região especial pela análise das
deformações indumentárias encontradas
nele, como as vistas na fotografia número
91, ao lado.
Outro fator a ser observado são as características de distância de disparo
que ficam mais evidenciadas nas vestes de cores claras do que em outros
anteparos. Observe-se que, quando verificada zona de tatuagem ou de
queimadura, é recomendável recolher a veste para a realização de
pesquisas de chumbo e de pólvora em laboratório. As vestes, além de
permitir o seu transporte para análises em ambientes com melhores
recursos, permitem ensaios químicos para melhor materializar esses
vestígios.
Uma das questões mais importantes sobre a dinâmica do local é a distância
métrica em que o disparo aconteceu. Pode ser essa distância métrica o fator
principal para definir a cena de crime entre suicídio, homicídio e acidente.
Essa questão pode ser respondida, em algumas situações, comparando a
disposição dos vestígios metálicos e não metálicos obtidos nas diversas
distâncias, em superfícies suporte semelhantes à veste com o emprego da
arma incriminada e munição idêntica e a veste incriminada. Somente desta
forma será possível inferir sobre a distância de disparo, comparando os
residuogramas padrões com o residuograma verificado na peça de vestuário
examinada nos exames de Residuogramas.
Fotografia 91. Foto operada em
exames de local do ICDF.
Mostra as deformações
indumentárias ocorridas
quando da transfixação do
projétil sobre determinada
veste.
3.4 O exame perinecroscópico
Exame perinecroscópico é a análise externa do cadáver e de tudo que está
ao seu redor.
3.4.1 Observações
É importante verificar:
Existem sinais positivos de morte – em alguns casos, quando o perito
chega para a realização do exame de local, se depara com a situação
de que a vítima não está morta. Por isso, é de bom alvitre verificar a
existência de sinais positivos de morte.
A vítima foi atingida naquele local e não teve sua posição modificada.
A vítima foi deslocada (Quem o fez? Por que motivo? ).
A vítima foi arrastada, carregada ou de alguma forma transportada?
O local em exame é o local do fato ou a vítima foi posta naquele
local?
Informações como as observações relacionadas anteriormente, bem como
todas as informações sobre o tempo de morte (cronotanatognose),
permitem inferências fundamentais para toda e qualquer análise sobre o
fato delituoso, além de permitir reconhecer se o local do fato é o principal,
ou se existem outros locais correlatos que também devem ser periciados.
3.4.2 Número de ferimentos
Localização anatômica e identificação dos ferimentos relativos a
armas de fogo:
o Número dos orifícios de entrada;
o Número de orifícios de saída;
o Número de lesões tangenciais;
o Número de reentradas;
o Sinais de disparos encostados;
o Sinais de disparo a curta distância;
o Sinais de disparo com a vítima caída. O sentido de
escorrimento das manchas de sangue, além de outros
vestígios, indica a posição relativa da vítima;
o Existência de lesões de defesa nas mãos ou no antebraço;
o Existência de projéteis subcutâneos;
o Existência de projéteis retidos na roupa;
o Lesões provenientes de ricochete;·
o Se as lesões verificadas imobilizam ou matam rapidamente;
o Se as lesões impedem de deambular;
o Ordem sequencial dos disparos e das lesões;
o Movimentos e sobrevida da vítima;
o Posição relativa da vítima e do atirador.
3.4.3 Localização anatômica e identificação de outros ferimentos
relativos a outros instrumentos:
o Lesões de que tipo físico (perfurocontusas, pérfuro-incisas,
contusas, lacerocontusas, cortocontusas, punctórias, incisas,
escoriativas,);
o Em que localização.
Fotografia 92. Foto operada
em exames de local do ICDF.
de propriedade daquele
Instituto.
3.4.4 Notas importantes
No exame perinecroscópico é importante observar todos os vestígios
externos no corpo, iniciando pelos sinais de cronotanatognose, como
a rigidez cadavérica; passando pelos livores hipostáticos ou, quando
for o caso, sinais de putrefação; em seguida, pelas feridas,
agrupadas por tipo (perfurocontusas, pérfuro-incisas, contusas,
lacerocontusas, cortocontusas, punctórias, incisas, escoriativas, etc);
pelas demais lesões, tais como hematomas, equimoses, marcas de
compressão, fraturas constatadas por apalpação, etc. E, por fim,
materiais, biológicos ou não, presos às unhas; pele anserina; língua
protrusa; cianose da face e das extremidades; congestão da face, do
pescoço e do tronco; manchas de sangue e de qualquer outra
substância, informando o tipo e, para aquelas decorrentes de
escorrimentos, espargimentos e arrastamentos, o sentido de
produção; etc.
Importante!
Não custa lembrar o explicitado no artigo 164 do Código de Processo Penal:
“Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem
encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e
vestígios deixados no local do crime.” (Redação dada pela Lei nº 8.862, de
28.3.1994). Grifo nosso.
Ao relacionar as feridas de um mesmo tipo, é de boa prática procurar
ordená-las, em relação à região corpórea, como, por exemplo, de
cima para baixo (cabeça, tronco, membros superiores e membros
inferiores) e da frente para trás (frontal, parietal, occipital, facial,
cervical, torácica, abdominal, dorsal, lombar, glútea, etc).
Sugere-se que as feridas perfurocontusas produzidas por projéteis
expelidos por arma de fogo sejam descritas, respeitado o parágrafo
precedente, na seguinte ordem: primeiro todas as de entrada; depois
todas as de saída, relacionando-as, caso seja possível, com as de
entrada; e, por fim, as de reentrada, relacionando-as com as de
saída.
Observe-se que a relação de entrada/saída/reentrada de projétil só
deve ser feita se for possível identificá-la ao exame perinecroscópio.
Informar sempre, ao descrever a ferida, as correspondências com
perfurações, cortes e rasgos verificados nas vestes.
Observar que esta correspondência nem sempre é direta, haja vista
que, quando de sua produção, a veste poderia estar amarfanhada
e/ou em desalinho com o corpo, sendo que essa informação pode
revelar detalhes importantes da dinâmica do fato.
Na descrição de várias feridas de um mesmo tipo, sugere-se que as
características comuns sejam agrupadas e, a seguir, para cada uma,
seja informada a região anatômica em que se localiza e suas
características particulares.
O acompanhamento da necropsia é sempre importante, haja vista
que este exame pode fornecer informações necessárias ao correto
estabelecimento da dinâmica do evento. Por exemplo, um edema
equimótico orbitário não necessariamente é decorrente de ação direta
contra aquela região anatômica – pode ter como origem uma fratura
de base de crânio; podemos citar, ainda, lesões importantes para a
correta interpretação da dinâmica dos fatos, tais como escoriações e
equimoses, que se tornam mais evidentes depois de decorrido certo
tempo do óbito e que, quando do exame externo do corpo no local,
podem passar despercebidas pelos peritos.
Lesões e fraturas na medula espinhal; fraturas da pelve óssea,
principalmente nos ossos do quadril, fratura do sacro e fraturas do
cóccix; e fraturas do fêmur; imobilizam suas vítimas e impedem de
deambular.
Disparo no cérebro, em especial no tronco cerebral ou no sistema
reticular, lesões de grandes vasos, como a ruptura da artéria
carótida, que pode levar a anoxia cerebral quase que imediatamente,
entre outras, são lesões que imobilizam ou levam à morte
rapidamente.
A partir da análise dos vestígios, é possível reconstituir mecanismos ou
manobras exercidas tanto pelo autor quanto pela vítima de determinado
fato, principalmente nos delitos contra a pessoa e, com isso, detalhar a
dinâmica, e a participação dos envolvidos.
Como exemplo da importância da análise conjunta destes vestígios, perceba
a análise feita pelo perito Saul de Castro Martins:
A localização e o sentido de produção dos orifícios que havia no boné que se
encontrava junto à cabeça da vítima, em correspondência com as duas feridas
produzidas por saída de projétil de arma de fogo e com uma daquelas produzidas
por entrada, indicam que a vítima, ao ter aquela região corpórea atingida por tais
instrumentos, encontrava-se de pé e usando o boné.
O escorrimento de sangue verificado a partir da ferida perfurocontusa que havia no
dorso da mão direita do cadáver, em conformidade com a posição desta região
anatômica no solo, indica que tal ferida fora produzida quando a vítima estava com
a mão no local e na posição em que foi encontrada, portanto, após sua queda ao
solo.
A disposição da mão esquerda do cadáver, com a face dorsal voltada para cima e
com os dedos fletidos, tendo a porção dorsal das extremidades voltada para o solo,
indica que o ferimento no segundo dedo daquela mão fora produzido antes da
vítima tombar.
Com a vítima no solo, considerando a posição em que foi encontrada, não é
possível estabelecer correlação entre ângulo de disparo admissível e o alinhamento
das feridas perfurocontusas em seu braço esquerdo, produzidas por entrada e saída
de um mesmo projétil de arma de fogo, o que leva os peritos a inferir que a vítima
se encontrava de pé e em movimento ao experimentar tais lesões.
Pelo exposto nos parágrafos precedentes e considerando que a gravidade das
lesões verificadas na cabeça da vítima é suficiente para a perda imediata, senão da
consciência, ao menos do equilíbrio, levando-a a tombar ao solo, os peritos inferem
que estas feridas foram promovidas após a vítima ter sido atingida no braço
esquerdo e no segundo dedo da mão direita.
Considerando o tipo de solo no qual a vítima se chocou ao tombar, pode-se afirmar
que a ausência de escoriações em seus membros indica que o tombamento se dera
de forma gradual, não abrupta.
Com base nas proposições supra, na orientação ascendente dos projéteis que
transfixaram o tronco da vítima, a partir da região dorsal, e na ausência de
manchas de sangue produzidas por gotejamentos nas partes inferiores de seu
corpo e na camiseta que ela trajava, os peritos inferem que os ferimentos nesta
região anatômica foram produzidos quando a vítima não mais se encontrava com o
tronco ereto.
As proposições anteriores, associadas ao fato de não haver projétil de arma de fogo
encravado no solo, indicam que, quando a vítima tivera o tronco transfixado por
tais instrumentos, esta região corpórea ainda não estava em contato com o solo e
os projéteis, após a terem transfixado, ricochetearam em alguma região do solo e
foram ter sua posição de repouso final em área que os peritos não lograram êxito
em determinar.
Aula 4 - Balística
4.1 Questões e laudos
Veja a seguir o que deverá orientar a busca de resposta.
o Existência ou não de arma com a vítima
o A quem pertence a arma
Da vítima
De alguém da família
Origem desconhecida
o Localização da arma.
Empunhada
Mão direita
Mão esquerda
Caída junto ao cadáver
Onde?
A que distância
Sinais de impacto da arma no chão,
Incrustações do piso na estrutura da arma,
o Tipo de arma
Pistola
Revólver
Disposição dos cartuchos íntegros e deflagrados
no tambor
Espingarda
Fuzil
Outros;
o Calibre
o Tipo de munição utilizada
o Número de disparos, disposição dos cartuchos íntegros e
estojos percutidos no interior do tambor quando for o caso.
o Descrição e análise dos projéteis e outros elementos
balísticos.
Todas as observações acima podem representar elementos muito
significativos na análise e interpretação do local do crime, a maioria de
caráter reconstrutivo. Quando associadas às demais observações anteriores,
permitem elaborar hipóteses, inferir probabilidades e, mesmo que de
caráter presuntivo, explicar o fato em estudo.
Na construção da prova, é importante a descrição de todas as armas de
fogo, bem como de peças a elas ligadas, como carregadores, cartuchos,
entre outros, informando sinais que os particularizem, avarias relacionadas
ou não com o evento em apuração, e as condições de seus mecanismos.
No tocante às condições do mecanismo, é importante relembrar que o Art.
17 do Código Penal Brasileiro explicita:
“Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.
Grifo nosso.
Fotografia 93. Fotografia operada quando de
exame no instituto de criminalística
demonstrando a posição do estojo percutido
no tambor da arma
Para atender a necessidade de demonstrar a propriedade do objeto, o
Código de Processo Penal no artigo art. 175. Estabelece:
“Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da
infração, a fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência”.
Do exposto, os testes realizados com as armas e os instrumentos e,
principalmente no caso de armas de fogo, objetivam verificar o
funcionamento dos seus mecanismos de percussão, repetição, extração e
segurança, ou seja, todos os seus sistemas e bem como os resultados
obtidos. Esses ensaios devem ser realizados tanto para disparos em ação
simples, como para disparos em ação dupla. Da mesma forma, devem ser
ensaiados os sistemas de funcionamento das armas de fogo; esses ensaios
devem ser feitos no sistema semi-automático e no sistema automático,
quando for o caso. Especial atenção deve ser dada no caso de ineficiência
dessa arma. Quando em ensaios verifica-se que uma arma é ineficiente
deve-se determinar as causas dessa ineficiência e, se possível, a época em
que se deu tal problema.
Outros exames podem ser realizados nas
armas de fogo, tais como confrontos
balísticos, residuogramas, força para tração
do gatilho, testes de precisão de pontaria,
regeneração de numeração de série,
logomarca do produtor e outras gravações.
Fotografia 94. Operada quando
de exame no instituto de
criminalística, demonstrando
exames de regeneração da numeração de série original.
Fator importante de ser observado é a intercambialidade de cartuchos, ou
seja, a utilização de um cartucho que, embora não seja do calibre específico
da arma, mesmo que de forma inadequada, acaba sendo utilizado, como,
por exemplo, a utilização de cartuchos de calibre “.380 ACP” em algumas
pistolas de calibre 9 x 19mm. Embora seja possível efetuar o disparo, não
acontece a ejeção do estojo deflagrado e a introdução de novo cartucho na
câmara. Outro exemplo é a utilização de projéteis característicos de um
calibre na produção de cartuchos recarregados, com o objetivo de induzir a
erro os peritos do caso. Como por exemplo, a utilização de munição de
“calibre .32” ACP em revólveres de calibre “.32 SWL”, imprópria, mas
intercambiável, conforme descrito no trecho do laudo abaixo:
Trecho do Laudo
“A denominação 7,65mm, de origem européia, é equivalente à
denominação .32" Auto, de origem norte americana.
Embora os cartuchos de tais calibres sejam produzidos para
armas semi-automáticas (pistolas) de calibre 7,65mm Browning, ambos
podem ser utilizados em revólveres de calibre .32".
O projétil de “calibre .32" longo, constituinte de cartucho
produzido industrialmente, não pode ser utilizado em pistolas, entretanto,
quando montados artesanalmente (recarga) em estojos de calibre 7,65mm
ou .32" Auto, também podem ser utilizados em pistolas.
Quanto aos ressaltos e cavados impressos nos projéteis pela alma
do cano de arma de fogo, embora existam pistolas que as promovam com
largura compatível com a largura produzida por revólveres, tais pistolas
existem em número muito reduzido, em relação àquelas comumente
encontradas, e são produzidas no exterior, assim, é lícito afirmar ser muito
pequena a possibilidade de encontrarmos projéteis com largura de ressaltos
e cavados compatíveis com revólveres, que tenham sido disparados por
pistolas.
Apenas como exemplo, segue trecho de Laudo contendo a descrição de
projéteis de armas de fogo, lembrando que as deformações acidentais
guardam características dos impactos deste projétil. Além das deformações,
os projéteis carregam também incrustações ou simples aderências e
algumas vezes uma análise acurada permite determinar a ordem desses
impactos.
Trecho do Laudo
Os projéteis são todos do tipo semijaquetado, de ponta oca, calibre .38"
(trinta e oito centésimos de polegada).
Aquele identificado como P1 tem massa de 8,96g (oito gramas e noventa e
seis centigramas) e está semideformado, com amolgaduras na ponta e em
parte do corpo cilíndrico e da base e com dilaceração parcial da jaqueta.
O projétil P2 tem massa de 9,19g (nove gramas e dezenove centigramas) e
está semideformado, com amolgaduras na ponta e em parte do corpo
cilíndrico e da base.
O projétil P3 tem massa de 9,07g (nove gramas e sete centigramas) e está
semideformado, com amolgadura na ponta e com dilaceração parcial da
jaqueta.
Confrontos Balísticos
Cotejando, entre si, em microscópio óptico comparativo, os referidos
projéteis, verificaram-se justaposições, entre seus ressaltos, cavados e
micro estriamentos, que permitem afirmar que eles foram expelidos através
de um mesmo cano de arma de fogo.
Observação
Com os dados, é possível estabelecer:
o a posição relativa do corpo no momento do disparo;
o a posição do atirador;
o a dinâmica do fato.
4.2. Notas finais
Um dos grandes problemas verificados
nos tribunais refere-se à posição
relativa do corpo no momento do
disparo. O trajeto apresentado pelo
projétil dentro do corpo, quando este
corpo encontra-se em posição
anatômica (na posição anatômica o
corpo se encontra ereto, com os pés
juntos, paralelos e os dedos voltados
para frente; os braços devem estar
pendentes ao lado do corpo, com as
palmas das mãos voltadas para frente)
na maioria das vezes não corresponde
àquela posição assumida pelo corpo
durante o fato em estudo.
Os laudos de medicina legal referem-se ao trajeto do projétil dentro do
corpo. Quando este trajeto é adotado como a trajetória definitiva, este pode
levar a erros de interpretação sobre a posição da vítima e do atirador. A
determinação da trajetória é extremamente dependente dos vestígios e
passa, necessariamente, por um minucioso exame de local. Estabelecida a
Figura 12. Ilustração em 3D
referente a trajetória de
projétil de arma de fogo, em
caso submetido a exame de
local, efetuada pelo Agente
Penitenciário Augusto
Assucena de Vasconcelos
trajetória e as posições relativas da vítima(s) e atirador(es) nos momentos
que compõem a dinâmica do fato, haverá a reconstrução do acontecido.
Você iniciou seus estudos discutindo a dificuldade de estabelecer o
diagnóstico diferencial e a dinâmica do fato, certamente a resposta às
indagações e observações aqui relacionadas podem constituir-se em um
caminho pra a análise e para a busca da verdade factual e, ainda, para a
determinação do ocorrido no local do crime.
Finalizando...
Para o estabelecimento de uma possível dinâmica do crime, é
importante considerar que cada vestígio, pelo menos em parte,
representa uma ação ou omissão. Interpretá-los e analisá-los com
vistas a determinar de que forma eles se relacionam permite
estabelecer a dinâmica do fato delituoso.
Nos disparos efetuados contra superfícies metálicas (da mesma
ocorrida nas madeiras ou vestes, entre outras), o formato da
perfuração varia de acordo com a inclinação da trajetória do projétil
expelido por arma de fogo.
Os disparos em paredes de alvenaria, muros ou outras partes de
edificações, resultarão em deformações e características distintas do
projétil, conforme sua resistência estrutural e sua energia cinética.
O impacto em estruturas como vigas, pilares, lajes ou outras
estruturas de concreto, geralmente se caracteriza por uma pequena
deformação, na qual se verifica impregnação ou a incrustação de
material constituinte do projétil, tanto nos casos de ricochete do
projétil, como nos casos em que ele dissipa totalmente sua energia
no impacto, caracterizando a ação contundente do projétil.
Ricochete é o fenômeno que se observa quando, em consequência de
impacto contra uma superfície em ângulo específico, o projétil tem a
sua trajetória modificada. Após este impacto, o projétil ao
ricochetear, normalmente perde a estabilidade, velocidade e energia
cinética, apresentando, como consequência, uma trajetória irregular
e falta de direção.
As lesões produzidas em consequência do ricochete de um projétil
apresentam características distintas das normalmente verificadas em
disparos diretos.
Nos exames de locais de crimes violentos praticados com emprego de
armas de fogo, cabe ao perito estabelecer, sempre que possível, o
diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio ou acidente, o que
pode constituir-se em uma tarefa muito difícil.
A determinação da trajetória é extremamente dependente dos
vestígios e necessariamente passa por um minucioso exame de local.
Estabelecida a trajetória e as posições relativas da vítima(s) e
atirador(es) nos momentos que compõem a dinâmica do fato, haverá
a reconstrução do acontecido.
Exercícios
1. Considerando o impacto de um projétil nu, originário de cartucho de
calibre “.38 SPL”, contra uma viga de concreto armado nas dimensões
de 15 x30 centímetros (largura x altura), espera-se como resultado
desse choque:
a. A presença de uma pequena deformação com a incrustação de
material constituinte do projétil.
b. A transfixação da viga com o orifício de entrada de formato
arredondado, nos casos da trajetória do projétil ser
perpendicular ou de formato ovalar nas trajetórias oblíquas.
c. A transfixação da viga com a perfuração de entrada de formato
irregular que não guarda dimensões que permitam estabelecer
calibres.
d. A perfuração em que o orifício apresenta as bordas evertidas,
demonstrando claramente o sentido da trajetória do projétil.
2. Assinale (V) para as sentenças Verdadeiras ou (F) para as falsas:
a. (V) Definindo de forma simples, ricochete é o fenômeno que se
observa quando, em consequência de impacto contra uma
superfície em ângulo específico, o projétil tem a sua trajetória
modificada.
b. (V) Normalmente, o projétil ao ricochetear perde a estabilidade,
velocidade e energia cinética e apresenta, como consequência,
uma trajetória irregular e falta de direção.
c. (V) Todas as superfícies apresentam ângulos críticos de incidência
de projéteis de armas de fogo, para os quais, no caso do ângulo
de incidência ser menor que o ângulo crítico, os projéteis
apresentam grande probabilidade de ricochetear.
d. (F) Os ângulos críticos variam somente com a natureza da
superfície suporte do disparo e independem de outros fatores.
3. As lesões produzidas em consequência do ricochete de um projétil
apresentam características distintas das normalmente verificadas em
disparos diretos. As características observadas são:
a. Ausência de orla de enxugo;
b. Lesão de entrada de dimensões e formato irregular;
c. Ausência dos efeitos secundários do disparo;
d. todas as anteriores.
4. As deformações indumentárias são aquelas existentes nos projéteis,
originárias de impactos contra:
a. Lâminas de vidros;
b. Superfície suporte constituída de madeira;
c. Superfície suporte constituída de alvenaria;.
d. As tramas de tecidos das vestes.
5. Uma das questões mais importantes sobre a dinâmica do local é a
distância métrica em que o disparo aconteceu. Para asseverar sobre a
distância métrica em que o disparo aconteceu faz-se necessário:
a. A simples constatação da presença física da zona de chama,
enfumaçamento e/ou tatuagem..
b. Necessariamente por meio do emprego de reagentes químicos no
suporte do disparo para verificar a dispersão dos resíduos metálicos
do disparo.
c. Comparando a disposição dos vestígios metálicos e não metálicos da
superfície suporte do disparo inclinado com a disposição dos vestígios
metálicos e não metálicos obtidos nas diversas distâncias com o
emprego da arma incriminada e munição idêntica à incriminada em
superfície suporte semelhante à incriminada (veste).
(Residuogramas).
d. Por meio do que foi especificado em literatura especializada, sobre
quais os vestígios estarão presentes em distâncias específicas.
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