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André Carlos de Oliveira Rocha
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Pará: da luta posseira à construção de um bloco histórico
camponês (1984-2009).
Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Movimentos Sociais, pela Universidade do Estado do Pará. Orientadora: Profª Drª Maria Marize Duarte.
Data de Aprovação: ____/____/2009 Banca Examinadora ____________________ Orientadora
Profª Dra. Maria Marize Duarte Doutorado em Ciências Sociais – Área Política – PUC/SP
Universidade do Estado do Pará - UEPA
____________________Membro
Prof. Ms. Henry Willians Silva da Silva
Mestre em Sociologia - UFPA Universidade do Estado do Pará - UEPA ____________________Membro
Profa. Ms. Maria Suely Ferreira Gomes
Mestre em Ciências Sociais - UFCG
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA
2
Às camponesas e camponeses do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e
a todas e todos que, na luta pela reforma agrária,
pela terra e por uma sociedade sem explorados e
sem exploradores, tombaram no caminho ou se
mantém firmes de pé. Essa é nossa história.
3
AGRADECIMENTOS
Às/Aos militantes e dirigentes do MST que, com toda disponibilidade
revolucionária, cederam as entrevistas, especialmente ao Zequinha e Rosângela,
por cederem fotos e doarem documentos pessoais.
Às/Aos companheiras/companheiros de militância, por assumirem minhas
tarefas nos momentos de dedicação ao curso/pesquisa.
À professora Dra. Marize Duarte, minha orientadora, pela compreensão
das minhas tarefas e pelo carinho e orientação dispensada.
Às camaradas Bianca Rückert e Marilia Gaya, por ajudarem na revisão e
correção do texto.
À companheira Gladys Miyashiro, por contribuir traduzindo o resumo para
castelhano.
À minha amada-amante e companheira Mercedes por tudo e um pouco
mais.
4
“A luta continua! Para os que já morreram a paz e a glória Para o que ainda não nasceram a vitória
E para nós, em vida, a feitura da História. (...)
A luta continua no Pará A luta sempre continuará...
Não se iludam os fazendeiros
Junto com os madeireiros Que são tão maus brasileiros
Quanto o são seus pistoleiros.
A luta continuará No interior do Pará Até o triunfo final Da justiça social.”
(Canto de Cisne no Grito da Terra - Nazareno Tourinho, 2004)
5
RESUMO
ROCHA, André Carlos de Oliveira. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Pará: da luta posseira à construção de um bloco histórico camponês (1984-2009). 2009_ f. Monografia (Especialização em Movimentos Sociais), - Universidade do Estado do Pará, Belém, 2009. Motivado a contribuir para colocar os/as camponeses/camponesas na centralidade do debate acadêmico e do debate político, optou-se por estudar a história do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST no Pará, uma vez que este é o movimento social de maior expressão no Brasil. O objetivo geral da pesquisa foi estudar a formação do MST-PA, no período de 1984 - 2009, a partir da luta pela terra. Para esta investigação foi utilizada a pesquisa qualitativa com enfoque materialista histórico e dialético. A coleta de dados foi feita através de entrevistas individuais semi-estruturadas, de observação participante, de pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e na Internet, bem como registros fotográficos. O método utilizado para a análise dos dados foi a hermenêutica-dialética, sendo que a análise foi feita a partir de três categorias básicas, todas elas propostas por Gohn (2004), que são: as práticas, a articulação externa e o projeto sócio-político. Observou-se quatro fases distintas da formação do MST-PA, na primeira fase, “A Luta Posseira (1984 – 1990)”, determinada pela utilização da forma de luta posseira como forma de ocupação do latifúndio e de luta pela terra. As práticas foram encontros, cursos de formação e ocupações de terras. As relações externas com entidades de mesmo caráter eram incipientes e algumas vezes conturbadas. O projeto político do MST-PA não estava muito bem definido, o que se queria naquele momento era fazer a luta pela terra. A segunda fase, “A Retomada da Luta pela Terra (1990 – 1996)”, é marcada pela originalidade e inovação no método de ocupação. As práticas constituíram-se de ocupações de terras, cursos de formação, marchas e ocupações de prédios públicos. Nas relações externas inicialmente houve dificuldade para conquistar confiança, mas aos poucos foi sendo construída. Nesta fase tem um projeto político de reforma agrária, além do projeto de lutar por terra. “A Estadualização do MST-PA (1996-2000)” é a terceira fase, que se delimita pela estadualização do MST no Pará e pelo fortalecimento dos setores internos. A ocupação de prédios públicos, os cursos de formação, as marchas e as ocupações de terras continuam sendo as práticas do Movimento. A força e ampliação das articulações com outras entidades e partidos políticos marca as relações externas nesta fase. O projeto político alinhado com o projeto nacional do MST, passando a dar mais atenção a organicidade interna e aumentando o campo de relações com outros setores da sociedade. A quarta fase “A Construção de um Bloco Histórico Camponês (2000 - )” gira em torno da construção de um novo bloco histórico camponês no estado. As práticas são ocupações de terras, cursos de formação, marchas, ocupações de prédios públicos acampamentos pedagógicos. As relações externas giram principalmente em torno da Via Campesina e entidades locais, nacionais e internacionais. O projeto político assume caráter anticapitalista, antineoliberal e anti-imperialista, comprometendo-se com uma sociedade livre de exploração e opressão. Palavras-chave: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Movimentos Sociais. Questão Agrária.
6
RESUMEN
ROCHA, André Carlos de Oliveira. El Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra - Pará: de la lucha posseira a la construcción de un bloque histórico campesino (1984-2009). 2009_ f. Monografía (Especialización en Movimientos Sociales), - Universidad del Estado de Pará, Belém, Brasil, 2009. Motivado a contribuir para colocar los/las campesinos/campesinas en el centro del debate académico y político, se optou por estudiar la historia del Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra – MST en el estado de Pará (PA), Brasil, devido que es el movimiento social de mayor expresión en el Brasil. El objetivo general de la investigación fue estudiar la formación del MST-PA, durante el período 1984 – 2008, a partir de la lucha por la tierra. Para esta investigación fue utilizada la pesquisa cualitativa con el enfoque materialista histórico y dialéctico. La recolección de datos fue realizada a través de entrevistas individuales semiestructuradas, de observación participante, de investigación documental, investigación bibliográfica y en la Internet, así como en registros fotográficos. El método utilizado para el análisis de los datos fue la hermenéutica-dialéctica, a partir de três categorías básicas propuestas por Gohn (2004), que son: las prácticas, la articulación externa y el proyecto sócio-político. En la constitución del MST-PA se observaron cuatro fases diferentes. En la primera fase “La Lucha posseira (1984 – 1990)” fue determinada por la utilización de la forma de lucha por la ocupación del latifundio y de la lucha por la tierra. Las prácticas predominantes fueron encuentros, cursos de formación y ocupaciones de tierra. Las relaciones externas con entidades del mismo carácter eran incipientes y algunas veces conturbadas. El proyecto político del MST-PA no estaba muy bien definido, lo que se quería en ese momento era realizar la lucha por la tierra. La segunda fase, “La Retomada de la Lucha por la Tierra (1990 – 1996)”, es caracterizada por la originalidad e innovación en el método de ocupación. Las prácticas fueron constituidas por ocupaciones de tierras, cursos de formación, marchas y ocupaciones de edificios públicos. En las relaciones externas, inicialmente hubo dificultad para conquistar la confianza política, pero esto se fue construyendo poco a poco. En esta fase existe un proyecto político de reforma agraria, además del proyecto de lucha por la tierra. “La Estadualización* del MST-PA (1996 – 2000)” es la tercera fase, que se delimita por la expansión del MST-PA y por el fortalecimiento de los sectores internos. La ocupación de edificios públicos, los cursos de formación, las marchas y las ocupaciones de tierras continuan siendo las prácticas del Movimiento. La fuerza y la ampliación de las articulaciones con otras entidades y partidos políticos marca las relaciones externas en esta fase. El proyecto político en sintonía con el proyecto nacional del MST, pasó a dar más atención a la organicidad interna y al aumento de las relaciones con otros sectores de la sociedad. La cuarta fase “La Construcción de un Bloque Histórico Campesino (2000 - ) gira alrededor de la construcción de un nuevo bloque histórico campesino en el estado de Pará. Las prácticas son ocupaciones de tierra, cursos de formación, marchas, ocupaciones de edificis públicos, campamentos con finalidad de formación política. Las relaciones externas ocurren principalmente alrededor de la Via Campesina y entidades locales, nacionales e internacionales. El proyecto político asume carácter anticapitalista, antineoliberal y antiimperialista, comprometiéndose con una sociedad libre de explotación y opresión. * El Brasil está dividido em 26 estados y un Distrito Federal – Brasilia. Palabras claves: Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST).
Movimientos Sociales. Cuestión Agraria.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................09 CAPÍTULO 1 – A LUTA POSSEIRA (1984 – 1990)...................................................14 CAPÍTULO 2 – A RETOMADA DA LUTA PELA TERRA (1990 – 1996)....................19
2.1 O Massacre de Eldorado dos Carajás.............................................25 CAPÍTULO 3 – A ESTADUALIZAÇÃO DO MST-PA (1996 – 2000)..........................30 CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE UM BLOCO HISTÓRICO
CAMPONÊS (2000 – ?)....................................................................35 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................39 REFERÊNCIAS..........................................................................................................41
APÊNDICES...............................................................................................................44
ANEXOS.....................................................................................................................45
8
INTRODUÇÃO
A história do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é a
história da luta pela terra. O MST é fruto da luta de todos os povos que, expropriados
ou ameaçados de serem expropriados da terra, passaram a lutar por ela. O
Movimento foi e está sendo construído a partir das experiências passadas,
principalmente dos movimentos ocorridos no Brasil após a invasão portuguesa em
1500.
Contudo, para efeito deste estudo, foi considerado apenas o período de
sua fundação oficial, em 1984, no Encontro Nacional em Cascavel-PR, até os dias
atuais. Como a quantidade de pesquisas sobre o Movimento a nível nacional é
abrangente, este trabalho ficou delimitado ao MST no estado do Pará. Obviamente,
sempre que necessário, foram feitos paralelos à sua organização e à luta no restante
do Brasil, uma vez que possui uma unidade nacional.1
A sociedade mundial vive atualmente em uma espécie de “ditadura”, a do
“pensamento único”, ou “globalitarismo”, para utilizar os termos de Santos (2000),
em que os aparelhos ideológicos tentam convencer que o capitalismo venceu, que o
neoliberalismo veio para ficar e o melhor a se fazer é se adaptar a ele. Como no
caso de Fukuyama (1992), que lançou sua tese de “o fim da História”, em que afirma
que o (neo)liberalismo triunfou, e que as relações humanas já chegaram ao seu mais
alto grau desenvolvimento com o capitalismo.
Contudo, a realidade insiste em afirmar o contrário, com um mundo
marcado pela fome, pela miséria e pelas guerras. E como defende Bogo (2006,
p.11), “devemos confiar que a transformação da sociedade virá porque a história não
deu a última palavra, e a certeza disto nos vem da confirmação de que estamos
vivos. Enquanto houver vida sobre a terra, haverá história”.
1 Sobre a gênese do MST, cf. FERNANDES, Bernardo Mançano. Contribuição ao estudo do campesinato brasileiro: formação e territorialização do MST no Brasil. São Paulo, 1999. Tese (Doutorado em Geografia) – Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
9
Ao apresentar uma proposta teórico-metodológica para a análise dos
movimentos sociais na América Latina, Gohn (2004, p. 247) elabora uma primeira
dedução: “movimento social refere-se à ação dos homens na história”. A autora
propõe algumas categorias básicas para se analisar os movimentos sociais, dentre
elas, o princípio articulatório externo, as práticas e o projeto sócio político.
Dentro desta conjuntura, levantam-se alguns questionamentos: como
agiram na história os movimentos sociais? Quais seus projetos políticos? Quais
foram suas práticas? Como se relacionaram na sociedade?
Neste sentido, é importante estudar a história do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST no Pará, seus projetos políticos, suas
práticas, suas relações externas com a sociedade e como, o movimento social de
maior expressão no Brasil, se comportou na luta pela terra e na luta de classes. Para
Silva (2006), o MST-PA politiza a luta pela terra, suas ações vão além desta, suas
ações e o discurso são de contestação ao sistema capitalista e transmitem os ideais
socialistas.
Os homens sempre construíram suas próprias histórias sociais, a história dos homens da Amazônia está sendo construída sobre, e a partir dos movimentos sociais e dos conflitos das classes e grupos subordinados, como resposta à política e à ação do Estado e das oligarquias. Não se está aqui negando a existência de classes e da luta de classes, mas sim defendendo a idéia de que esta se expressa, atualmente, em especial, através dos movimentos sociais e dos conflitos, e que estes têm, portanto, o caráter de classe. (LOUREIRO, 2001, p. 25).
Outro motivo de estudar este tema é a necessidade de colocar os/as
camponeses/camponesas na centralidade do debate acadêmico e do debate
político, uma vez que estes/estas sempre foram marginalizados/marginalizadas pela
academia e pela sociedade2.
Cabe então saber de que maneira o MST-PA se posicionou e agiu nesse
período histórico. Um estudo desta natureza é muito rico no sentido da contribuição
para todo movimento camponês, possibilitando refletir sobre uma parte de seu
passado e assim (re)planejar e (re)direcionar as lutas presentes e futuras, visando
uma sociedade socialmente justa. Reforçando a afirmação de Gohn (2004, p. 171)
de que o paradigma marxista, na análise dos movimentos sociais, tem como
característica geral o estudo dos movimentos sociais sob o prisma materialista-
histórico, referindo-se “a processos de lutas sociais voltadas para a transformação
2 Sobre a centralidade dos camponeses no debate político, cf. documento base da I Assembléia dos Movimentos Sociais da Amazônia, Imperatriz-MA, abr. 2008. (ANEXO 01)
10
das condições existentes na realidade social, de carências econômicas e/ou
opressão sócio-política e cultural”.
O objetivo geral da pesquisa foi estudar a formação do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra no Estado do Pará, no período de 1984 - 2008, a
partir da luta pela terra.
Para esta investigação foi utilizada a pesquisa qualitativa com enfoque
materialista histórico e dialético, que Triviños (1987) considera válido para nossa
realidade social, sendo capaz de assinalar causas e conseqüências dos problemas,
suas contradições e relações, suas qualidades e dimensões quantitativas, se
existirem, visando um processo de transformação da realidade que interessa.
A coleta de dados foi feita através de entrevistas individuais semi-
estruturadas, com um dirigente, uma dirigente e um ex-dirigente do MST-PA, além
de uma militante do MST-ES, que contribuiu no início da organização do Movimento
nos estados do Maranhão, Pará e Ceará. Também se valeu da técnica de
observação participante, realizada em reuniões da Direção Estadual do MST-PA, em
reuniões da coordenação da Vía Campesina-PA e na I Assembléia dos Movimentos
Sociais da Amazônia. Para Fernandes (1980, p. 9) “A prática da ‘observação
participante’, (...) facilita o acesso ao mundo íntimo dos sujeitos-investigados, reduz
as barreiras emocionais ou morais à observação e estimula a projeção endopática
do observador nas atitudes, concepções de vida e valores sociais estranhos”.
Além destas técnicas, realizou-se pesquisa documental em acervo
particular e na secretaria estadual do MST-PA, pesquisa bibliográfica e na Internet,
bem como registros fotográficos.
O método utilizado para a análise dos dados foi a hermenêutica-dialética,
pois está “leva a que o intérprete busque entender o texto, a fala e o depoimento
como resultado de um processo social (trabalho e dominação) e processo de
conhecimento (expresso em linguagem) ambos frutos de múltiplas determinações,
mas com significado específico”.(MINAYO, 2000, p. 227, grifo da autora). Minayo
(2002, p.101) afirma que a “análise hermenêutica-dialética busca apreender a
prática social empírica dos indivíduos em sociedade em seu movimento
contraditório”, pelo fato de permitir uma reflexão fundada na práxis, sendo produtiva
no processo de compreensão e análise crítica da realidade social.
A análise foi feita a partir de três categorias básicas, todas elas propostas
por Gohn (2004, p. 257 - 261), que são: as práticas, a articulação externa e o projeto
11
sócio-político. Para a autora, “as práticas de um movimento social se compõem de
ações diretas e discursos, podendo ser mais ou menos organizadas”. Já “o princípio
articulatório externo resulta das relações entre as diferentes redes de movimentos
sociais”. Por último, sobre o projeto sócio-político ela afirma que são “construídos
mais no plano das ideologias e não projetos formais”.
Por questões éticas, está garantido o anonimato das(os) participantes,
que autorizaram as entrevistas por meio de termo de consentimento livre e
esclarecido (APÊNDICE 01).
A estruturação do trabalho se deu em quatro capítulos. O capítulo 1 – A
Luta Posseira (1984 – 1990) – trata da primeira fase do MST no Pará, buscando
entender que o MST utilizou esta forma de ocupação posseira e que precisou
superá-la para não ser derrotado. Possuía alguns representantes, que eram ligados
ao Departamento Rural da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Estes
representantes eram responsáveis, dentre outras coisas, a passar um relatório
semestral para a Executiva Nacional do Movimento. Contudo, as ações se davam de
modo diferente do nível nacional, tendo aqui a luta posseira como forma de
ocupação do latifúndio.
No capítulo 2 – A Retomada da Luta pela Terra (1990 – 1996) – se
discute a segunda fase do MST-PA. Esta fase é marcada pela inovação no método
de ocupação, que passa a ser massiva, com a família e com acampamento coletivo,
diferindo da luta posseira, caracterizada por ser armada, com o homem e lotes
individuais. O Movimento passa a ser então uma grande frente de massas3, fazendo
grandes ocupações, com centenas de famílias; territorializando-se, porém, apenas
no sul e sudeste do Pará. Essa fase se encerra com Massacre de Eldorado dos
Carajás, fato destacado como um item no capítulo.
A terceira fase do Movimento no Pará é discutida no capítulo 3 – A
Estadualização do MST-PA (1996-2000). Os dois pontos principais nesta fase são a
estadualização do MST no Pará, quando o Movimento passa a ocupar latifúndios na
região nordeste do estado, instalando um escritório político na capital Belém, e
quando o Movimento passa a fortalecer outros setores internos, como educação,
cultura, comunicação, etc., deixando de ser somente uma grande frente de massas.
3 Frente de Massa é um setor interno ao MST, responsável, principalmente, por organizar as ocupações e os acampamentos, porém nesta passagem se refere ao método, a atuação da ocupar terras.
12
Por último, no capítulo 4 – A Construção de um Bloco Histórico Camponês
(2000 – ) – é abordada a quarta fase do MST-PA, em que o Movimento se propõe a
construir um novo bloco histórico camponês4 no estado, para promover um análise
política e travar a luta social nesta região da Amazônia.
4 Por bloco histórico entende-se a conceituação dada por Gramsci (1977; 1989), que será tratada no capítulo IV. Ao se referir por camponês, utiliza-se a categorização defendida pela Vía Campesina – Amazônia, que entende como sendo o ribeirinho, o indígena, o quilombola e o lavrador.
13
CAPÍTULO 1 – A LUTA POSSEIRA (1984 – 1990)
É certo os despossuídos Armados de coragem
Desobedecer às Leis de oprimir!
Provocar uma ceia de fartura E combates Preciosos...
(CHARLES TROCATE, 2002)
Para as(os) autoras(es) que escreveram sobre o MST no estado do Pará,
esta não é a primeira fase do Movimento, consideram seu início em 1989 com o
processo que resultou na ocupação da fazenda Ingá, em 10 da janeiro de 1990, no
município de Conceição do Araguaia (MORISSAWA, 2001; BRELAZ, 2006;
BASTOS, 2002; SILVA, 2003).
Apesar das bibliografias não tratarem do MST no período de 1984 a 1990,
o Movimento tinha ações e articulações no estado, além de um projeto político. Até
1988 a secretaria estadual do MST funcionava dentro da CUT, em Belém, que tinha
como uma das tarefas, passar para a Direção Executiva Nacional, um “Relatório
Descritivo Semestral”.
O relatório do primeiro semestre de 1988, prova que o MST já atuava no
Pará, relatando um “Encontro Estadual do Movimento Sem Terra em Belém”, para
“avaliação do trabalho em 87 e estruturação da coordenação”. O documento também
registra reuniões e encontros com posseiros5 em muitas áreas e municípios da
região sul, sudeste e nordeste do estado, além do baixo Tocantins. Reuniões da
coordenação e cursos de formação política, também estão registrados.
Lidar com os posseiros, que já possuíam uma lógica e organização
própria, foi uma das maiores dificuldades que o MST encontrou no estado do Pará.
Em entrevista, R.P., militante do Movimento, afirma que uma das dificuldades era “os
posseiros, tinham uma lógica muito da individualista”.
Para Silva (2003, p. 55), o movimento dos posseiros é “forma mais
tradicional de luta pela terra” na Amazônia. O autor defende ainda que “o movimento
dos posseiros – é um movimento que invade, mas de forma desorganizada” (SILVA,
5 Para entender melhor sobre os posseiros, cf. GUERRA, G. A. D. O Posseiro da Fronteira: Campesinato e Sindicalismo no Sudeste Paraense. Belém: UFPA / NAEA, 2001, 169 p.
14
2003, p. 56) e que “na 'fronteira' amazônica, o posseiro não é passivo, aspira para a
mudança, é uma categoria ativa no processo de luta pela terra” (SILVA, 2003, p. 18).
Esse relatório de 1988 inicia com o seguinte parágrafo: “em nosso Estado,
as organizações, lutas e mobilizações sempre se dá em conjunto, Movimento dos
Sem Terra, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e Central Única dos
Trabalhadores”, demonstrando que ações do MST não eram as mesmas da CUT e
de alguns sindicatos de trabalhadores rurais.
Ainda em 1988, a partir da necessidade de alguns trabalhadores
sindicalistas, que já estavam se organizando no MST, de estarem mais próximos dos
camponeses e de onde o conflito da luta pela terra estava mais agudizada, a
Direção Executiva Nacional, a secretaria estadual foi transferida de Belém para o sul
do Pará, em Xinguara. A idéia era “tirarmos a secretaria da capital e levar para um
lugar onde realmente houvesse luta, houvesse sem terra para poder fazer a luta”6.
Com a secretaria em Xinguara, os coordenadores responsáveis tentaram
organizar a primeira ocupação7 de caráter massivo, fora da lógica posseira. O
dirigente do MST-PA na época, J.B., afirma que:
Foram várias reuniões, preparações e fizemos daí a primeira ocupação ali no município de Xinguara, entrando na localidade chamada de Gogó da Onça. Foi em 88, 89, por aí 88, 89. Aí então fizemos uma articulação grande, com muita gente, era a previsão muita gente participar da ocupação, Ourilândia com muita gente, Redenção, e ocorre que não sabemos como que aconteceu, na noite da ocupação houve uma desmobilização total. (...) Nós chegamos com 37 famílias só na área, deu tudo errado, houve uma desarticulação total, enfim. Organizamos lá o pessoal, os barracos, começou a brocar mato e ajeitar cozinha, arrumamos uma segurança lá, um pessoal com umas espingardas e eu depois sai para ir à cidade comprar uns produtos lá, não lembro exatamente o que, na cidade de Xinguara, andava um tempão a pé. Eu fiquei de um dia para o outro, quando eu estava vindo embora, voltando, já recebi a notícia que a polícia tinha ido lá e despejado, tomado as espingardas dos nossos companheiros e despejado as 37 famílias.
Com esta experiência frustrada, o MST decidiu ir para Conceição do
Araguaia, pois lá contava com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Este
6 Entrevista com J.B. ex-coordenador do MST-PA. 7 Para Morissawa (2001, p.132), “na maioria das vezes, a imprensa usa a palavra invasão, em vez de ocupação, para designar a entrada e o acampamento dos sem-terra dentro de uma fazenda. É preciso que fique claro que a área ocupada pelos sem-terra é sempre, por princípio, terra grilada, latifúndio por exploração, fazenda improdutiva ou área devoluta” (Grifos da autora). Também sobre a diferença entre ocupação e invasão Cf. BASTOS, R. C. A atuação do MST (movimento dos trabalhadores rurais sem terra) na estrutura jurídica-agrária do Pará. Belém: Cejup, 2002.
15
apoio e vinda de militantes mais experientes, dos estados do Espírito Santo, Goiás,
Maranhão e Sergipe, resultou na ocupação da fazenda Ingá em janeiro de 1990.
Mas antes da ocupação foi realizado um Encontro Estadual do MST-PA. Nas
mobilizações para esta ocupação que começou a fazer parte do Movimento o
“Fusquinha”, o qual se tornou dirigente no estado e, em 1998, foi friamente
assassinado.
FOTO 01: Encontro Estadual do MST-PA, 1989. Da esquerda para a direita: Jaime, Dozinha e Zequinha. FONTE: Arquivo particular de J.B.
A origem das pessoas que vinham para as ocupações neste período era
posseira, mas também do garimpo. A militante R.P. relata que:
“ali naquelas cidades tinham muitas pessoas que eram da roça e iam viver no garimpo por uma outra alternativa de não ter contato com pessoas que reorganizassem eles, e muitas vezes fomos formar esses grupos onde os sindicatos nos ajudavam, e foi quando saíam as ocupações”.
O projeto político do MST-PA não estava muito bem definido, apesar do
MST nacional ter um projeto político explícito, marcado nos seus objetivos
estratégicos e, especificamente para este período, os desafios surgidos no seu 1º
Congresso Nacional (1985), que eram: “1º Colocar a reforma agrária na agenda do
país; 2º Consolidar a organização do MST nacionalmente; 3º Buscar a unidade dos
16
camponeses e das lutas isoladas pelo país; 4º Definir e implementar uma forma de
luta contra os latifúndios” (JST, 2007, p.4).
Sobre o projeto político J.B. relata que:
Nesse período, na verdade a gente não tinha clareza disso. (...) Nós queríamos o que na nossa cabeça? Era fazer a luta pela terra, de forma diferente do que tradicionalmente se fazia com os posseiros. Que a gente ouvia falar do sul, das outras regiões do Brasil, que havia uma possibilidade organizada, onde haveria muito mais segurança das famílias e um outro jeito de fazer a luta. Isso que nos vislumbrava no sentido de organizar o MST ali, mas a gente não tinha muita clareza para onde que ia tudo isso, era muito limitado, nem experiência nenhuma de ocupação nós não tínhamos, é tanto que na primeira os caras tiraram nós de bandeja, aí nos perdemos todo. Então não tínhamos clareza, mas sabíamos que estávamos numa região de tensão altíssima. O nível de enfrentamento se dava pela história, a região sul do Pará era onde recentemente ocorreu todo o episodia da guerrilha do Araguaia, então o nível de enfrentamento ali ia lá para as cabeças, não tinha esse negócio, era na bala mesmo. Diferente do que a gente discutia nas outras regiões, sul. O pessoal gozava de nós para caramba, porque a gente não conseguia massificar, tinha dificuldade. Mas não tinha muita clareza do projeto, não tinha.
Silva (2003, p. 60) corrobora esta afirmação quando diz que os militantes
desse período “não tinha a clareza da proposta do MST”.
As relações externas com entidades de caráter similar eram incipientes e,
por isso, algumas vezes conturbadas, dificultando a organização do Movimento na
região, tudo era “visto como uma disputa, era terrível, como eu disse no caso da
CPT mesmo (...). Era horrível, simplesmente não nos aceitavam. (...) Na última
ocupação (...) tomaram literalmente o comando da ocupação”8 (J.B. EX-
COORDENADOR DO MST-PA).
É importante ressaltar que a CPT e as Comunidades Eclesiais de Base
tiveram papel fundamental na gestação e formação do MST a nível nacional.
Morissawa (2001, p.123) afirma que sem a CPT “em anos de ditadura, o Movimento
não teria nascido ou talvez demoraria ainda muito tempo para surgir”. Bernardo
Mançano Fernandes (1999) concorda com esta afirmação, porém para Gohn (2003)
“os conflitos entre a CPT (Comissão Pastoral da Terra), órgão ligado à Igreja
Católica, e o Movimento dos Sem-Terra, (...) são reveladores das relações sociais
contraditórias que eles sempre trouxeram em seu bojo”.
“A militarização no campo procurava reprimir e desmobilizar as lutas dos
movimentos camponeses e neste período, alguns fatos, antecederam e
possibilitaram o aparecimento do MST no campo paraense” (SILVA, 2003, p.34).
8 Comissão Pastoral da Terra – CPT, é uma pastoral vinculada a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.
17
As contradições, geradas pelos grandes projetos na Amazônia, permitiram
o aparecimento dos posseiros e em seguida o surgimento do MST no Pará. O MST
supera a forma de luta posseira, entendida pela tríade homem-arma-lote, mas não
nega sua contribuição histórica.
A forma de luta posseira, alcançada pelo Estado, uma vez que não
conseguia estabelecer conflitos institucionais, rebaixada pela violência dos
latifundiários e do Estado, foi superada por outra forma de luta, com ocupações
coletivas e massivas e que passou a estabelecer conflitos institucionais com o
Estado.
18
CAPÍTULO 2 – A RETOMADA DA LUTA PELA TERRA (1990 – 1996)
...para o vôo é preciso tanto o casulo
como a asa. (MAURO IASI, 2008)
Com a ocupação da fazenda Ingá, o MST inaugura uma nova forma de
luta pela terra no estado do Pará. A luta posseira, entendida pela tríade homem-
arma-lote, estabelecia um conflito de classes, entre posseiros e latifundiários, mas
não conseguia estabelecer conflitos institucionais e, consequentemente, conquistar
a desapropriação da terra, não conseguindo derrotar o latifúndio.
“O MST não rompe com as heranças. Apesar do movimento ter tido
herança de alguns setores como por exemplo, os sindicatos, ele não rompe com
essas influências históricas e procura fazer uma luta de novo tipo” (SILVA, 2003, p.
58).
Com as ocupações feitas pelo MST a família passa a ser responsável
pelas decisões e não apenas o homem. As ações são massivas, com muitas famílias
e em acampamentos coletivos, favorecendo a convivência social, a resistência sem
o uso de armas de fogo e diminuindo os riscos de assassinato de trabalhadoras(es)
rurais.
“Antes do aparecimento do MST, na região, as mortes e assassinatos
ocorridos com as lideranças sindicais eram mais recorrentes, devido a sua forma
peculiar de organização sindical no campo” (SILVA, 2003, p. 32).
Gohn (2003, p. 145) afirma que “as ocupações são sempre planejadas
com muita antecedência. Elas também têm um forte aparato organizacional à base
da atuação de comissões”. Sobre as ocupações, a autora completa dizendo que
“hinos, gritos de alarme, estratégias contra a repressão, estudos sobre o solo, a
distribuição dos lotes, a irrigação, serviços coletivos etc.; tudo é cuidadosamente
planejado antes da entrada maciça na área”. E para ela, essas são diferenças
fundamentais das formas de ocupação anteriores.
Há uma distinção do movimento dos sem-terra e o movimento dos posseiros. O MST utiliza uma ação mais ofensiva, ocupando terras, além do que, é mais organizado. Enquanto que, o movimento dos posseiros, é mais espontâneo, e de forma armada, que no final acaba se desfazendo. (SILVA, 2003, p.55-56)
19
O MST passa também a estabelecer um conflito institucional, passa a
responsabilizar e cobrar do Estado a reforma agrária. Em entrevista, um dirigente do
MST, C.T, relata que “diferentemente dos posseiros, o MST começa a exigir que o
Estado articule uma política de reforma agrária, via INCRA, ou as demais
instituições.”
Ao se referir à estratégia da luta pela reforma agrária do MST em relação
ao governo, Bruno Konder Comparato (2003, p. 94) explica que:
a luta pela reforma agrária dá origem a duas formas de pressão sobre o governo. A primeira forma de pressão é aquela exercida por sem terra acampados e só se faz quando o acampamento é conquistado. Surge então o segundo tipo de pressão que é aquele exercido pelos assentados para ter acesso aos créditos de reforma agrária, para viabilizar a produção até que o assentamento adquira autonomia suficiente para ser emancipado. 9
Nesse período os dirigentes se voltam para as ações da Frente de Massa,
realizando várias ocupações após a fazenda Ingá. Uma segunda ocupação é
relatada por J.B., que pelas dificuldades de articulação com outras forças, o MST-PA
perdeu o comando da direção da ocupação. Segundo o ex-coordenador do
Movimento aqui no Pará:
esse grupo já tava novamente com outra ocupação engatilhada para acontecer (em Conceição do Araguaia), e eu fiquei ali 30 dias com eles e ajudei fazer a ocupação. Não me lembro agora o nome da fazenda, mas eu soube que depois a CPT terminou dirigindo, tomando a frente do processo.
Em entrevista, I.F., dirigente do MST-PA, relata que “em 91 houve a
primeira tentativa, aqui em Marabá (...). Já tinham passado por Belém, Conceição do
Araguaia, então a idéia era vir para cá para essa região”. J.B. fala que “já
defendíamos a idéia que tinha que sair de Conceição do Araguaia e vir para Marabá,
porque era onde tinha maior força política, tinha possibilidade de articulação, e que
realmente tinha um peso de famílias sem terra”. O objetivo era “tentar recomeçar o
MST”, completa J.B.
I.F. relata ainda que, no ano de 1991,
começaram uma articulação para fazer trabalho de base na região, foi quando foram presos sete companheiros nosso que estavam nessa questão do trabalho de base, se preparando para ocupar a terra. Estavam nessa primeira tentativa e entre os convidados tinha um espião da polícia federal.
J.B. completa dizendo que “o Fusquinha, que também era do grupo,
conseguiu sair”.
9 O acampamento é formado quando se ocupa um latifúndio e até se ter a posse legal da terra, enquanto o assentamento é quando se legaliza a posse da terra e se conquista os créditos para produção e moradias; é o resultado dos meses ou anos de lutas no acampamento, marchas etc.
20
FOTO 02:Presos políticos do MST-PA, em ação da Polícia Federal em 1991. FONTE: Arquivo da Secretaria Estadual do MST-PA.
Em 1992 o MST, contando com apoio de militantes do estado do
Maranhão, se rearticula no Pará. Para I.F., dirigente do MST-PA, “a partir de 92,
quando houve uma articulação aqui na região de Parauapebas e Marabá, é quando
o Movimento se torna um movimento de massa aqui no estado”.
Essa rearticulação gerou a ocupação da fazenda Rio Branco no ano de
1992. Segundo Morissawa (2001, p. 192), no dia 30 de novembro daquele ano, “541
famílias ocuparam a Fazenda Rio Branco, 12.500 hectares”. Silva (2003) e
Morissawa (2001) afirmam que este foi o primeiro acampamento massivo no estado
do Pará; com a “cara” do MST.
Conforme documento de registro da história do MST, da Secretaria
Estadual do MST-PA, depois de passarem por um violento despejo, ficaram
acampados seis meses no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
INCRA em Marabá, reocupando a área em 1993 e conquistando o assentamento de
250 famílias. “Em junho de 1993, após meses de fome, doenças e pressões
21
policiais”, as famílias “reocuparam a fazenda e conquistaram o assentamento
definitivo”, afirma Morissawa (2001, p.192).
O mesmo documento registra que o ano de 1993 foi voltado para a
organicidade interna do Movimento, no qual se estruturou a Secretaria Estadual e
também uma Direção Estadual. Além disso, 20 jovens participaram de um curso de
formação política no Maranhão, o chamado Curso Prolongado, para formação de
militantes.
Um dos frutos dessa organicidade interna, com curso de formação política
de 20 jovens militantes, foi a realização da maior ocupação já feita no estado do
Pará. “Em 1994, 2.200 famílias acamparam no Cinturão Verde da Vale do Rio Doce,
em Parauapebas. O despejo levou as famílias a ocuparem a prefeitura do município
e posteriormente a sede do INCRA em Marabá” (MORISSAWA, 2001, P.192). É
importante ressaltar que neste período a Companhia Vale do Rio Doce – CVRD
ainda era uma estatal.
A repercussão em nível nacional e internacional, possibilitou a
mobilização de setores e entidades da sociedade, como a CPT e a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Nesse momento o MST-PA já conseguia
avançar na articulação com outros setores e outras entidades da sociedade.
Sobre as relações externas, a dirigente MST-PA, I.F., relata que no início
desse período “houve uma rejeição muito grande por parte das entidades” sendo
que “a única que recebeu naquela época foi o Serviço de Paz e Justiça. Recebeu o
pessoal, cedeu o espaço, arrumou casa para morar, naquela época ajudou a
arrumar telefone, deu um certo apoio”. Afirma que na época existia muito ciúme,
medo de perder espaço, mas
logo após a primeira ocupação, o pessoal viu que o Movimento não veio para tomar espaço das outras que tinham aqui, das entidades, era FASE, era CUT, era CPT, que naquela época tinha outros coordenadores. O primeiro momento foi assim, em seguida, depois que foi feito o trabalho da ocupação, que foi abrindo as portas para o Movimento. Aí começaram a se relacionar normalmente, a apoiar, a ajudar e ir para luta.
O documento da Secretaria Estadual do MST-PA registra que, em
setembro de 1994, dois dirigentes do Movimento foram presos pela Polícia Militar do
Pará, sendo torturados física e psicologicamente, passando cinco meses presos em
Marabá.
Em entrevista, I.F. relata esse processo que gerou o Assentamento
Palmares.
22
Fomos despejados, acampados em área do INCRA, passaram 6 meses, voltaram de novo para Parauapebas, ficaram acampados. Na verdade, foram 8 acampamentos, mudando, oito áreas, para chegar até o assentamento Palmares, que é uma parte da Fazenda Rio Branco.
É importante ressaltar que esta área foi a primeira em que o Movimento
conseguiu, com sucesso, implantar seu método. Atualmente, o Assentamento
Palmares II possui a maior escola do campo em número de educandas/os, a escola
Crescendo na Prática, com 1332 estudantes, incluindo o ensino regular (educação
infantil e ensinos fundamental e médio) e educação de jovens e adultos, como
mostra a tabela abaixo.
MODALIDADE NÚMERO ABSOLUTO DE
EDUCANDAS/OS POR MODALIDADE
PORCENTAGEM DE EDUCANDAS/OS POR
MODALIDADE EM RELAÇÃO AO TOTAL DE
EDUCANDAS/OS Educação Infantil 132 9,91
Ensino Fundamental 829 62,24
Educação de Jovens e Adultos 149 11,18
Ensino Médio 222 16,67
Todas as modalidades 1332 100,00
TABELA 01: número absoluto e porcentagem de educandas/os por modalidade de ensino, da escola Crescendo na Prática. FONTE: Pesquisa de campo10.
Percebe-se a constante ocupação do INCRA, como forma de pressionar o
Estado a desapropriar a áreas ocupadas e reivindicadas pelo MST-PA, tendo
sempre resultados positivos. Bastos (2002, p. 91) ressalta que “o MST procurou
diversificar as ocupações, incluindo em sua investida prédios públicos, como sedes
do INCRA”. Silva (2006, p.59) concorda com esta afirmação, pois o autor defende
que “para o MST, a ocupação é uma das formas mais eficientes, por ela ir além da
ocupação de terra”.
O relato da dirigente I.F, ajuda a entender o projeto político do MST-PA
nesse período, afirmando que toda essa luta estava dentro do projeto do MST, “do
projeto de sociedade, de Reforma Agrária e construção da educação na região” e
que era “um projeto diferente, projeto de vida, projeto com as famílias”. Ela conclui 10 Informações colhidas com a direção da escola Crescendo na Prática.
23
dizendo que o Movimento, nessa fase, “tem um outro projeto social, um projeto de
inserção das pessoas na sociedade”.
Nota-se que o projeto político do MST-PA, ainda não estava alinhado com
as linhas políticas tiradas no Congresso Nacional do MST, mesmo porque o
Movimento já estava mais consolidado em muitos estados, mas no Pará, ainda dava
os primeiros passos dessa consolidação.
O Jornal Sem Terra (2007, p. 4) explicita os desafios tirados no 2º
Congresso Nacional do MST, em 1990.
Os desafios se voltaram para os cuidados internos da organização: o fortalecimento dos setores, a organização interna dos assentamentos e acampamentos, a busca da autonomia política e financeira da organização e os debates e a elaboração de uma proposta política e organizativa para o setor de produção. Desafios que foram sintetizados na palavra de ordem “Ocupar, Resistir e Produzir!”.
A dirigente I.F. relata ainda que “naquela época, o objetivo central nosso
não era se preocupar com os setores, porque se tu não tens movimento organizado
na base, não precisa setor”.
No ano de 1995 começa a se gestar antecedente imediato do Massacre
de Eldorado do Carajás. O Movimento iniciou uma marcha de Parauapebas até
Curionópolis, que tinha o objetivo de negociar a área da fazenda Rio Branco, que
hoje é o Assentamento Palmares, assim registra o documento da Secretaria
Estadual do MST-PA.
Morissawa (2001, p. 193) afirma que em setembro deste ano formou-se
“um acampamento com mais de 2 mil famílias”, às margens da rodovia PA-275, em
Curionópolis, nas proximidades da antiga fazenda Macaxeira. A autora, afirma ainda
que
o então presidente do INCRA, Francisco Graziano, esteve na região e prometeu fazer a vistoria da fazenda, desde que os sem-terra não a ocupassem (...). O abandono das áreas era tal que os técnicos do INCRA tiveram dificuldades de vistoriá-las. Mas elas foram consideradas produtivas!!! A suspeita e comprovação da corrupção envolvendo o laudo acabou levando à exoneração do superintendente do INCRA Pará.
Estes foram os antecedentes imediatos que geraram o Massacre de
Eldorado do Carajás, em 17 de abril de 1996, cometido pelo Governo do Estado do
Pará, através da Polícia Militar.
24
2.1 O MASSACRE DE ELDORADO DO CARAJÁS
Como o laudo da vistoria da fazenda Macaxeira foi negativo à
desapropriação, as/os Sem Terra organizaram uma marcha até a capital, Belém.
Para Campos (2002, p. 60), “Os sem-terras não concordaram (...). No dia 10 de abril
de 1996, em torno de 2.000 iniciaram nova marcha para Belém”, como também
afirma Brelaz (2006, p. 35), dizendo que “partiram do município de Curionópolis”.
O documento de registro histórico da secretaria estadual do MST
menciona mobilizações em Curionópolis desde o dia 08 de abril. Segundo o
documento, essa mobilização estava ligada a uma mobilização nacional, as
“Marchas Rumo à Capital do Estado”, ficando conhecida como “Marcha Estadual 10
de Abril”.
Por volta de 09:00h os Sem Terra ocuparam o Km 95 da rodovia PA-150,
conhecido como Curva do “S”. O major José Maria Pereira Oliveira, negociou a
liberação da pista, com o compromisso de garantir ônibus e alimentação. A rodovia
ficou liberada até as 11:00h do dia seguinte, quando outro oficial da Polícia Militar
chegou ao acampamento para informar do rompimento do acordo, ou seja, nem
transporte, nem alimentação. Esse fato levou as/os Sem Terra a ocuparem
novamente a pista (BRELAZ, 2006; CAMPOS, 2002; MORISSAWA, 2001, MST,
1999).
Em Belém, estavam reunidos o governador do estado, Almir Gabriel, o
secretário de segurança pública, Paulo Sette Câmara11, o superintendente estadual
do INCRA, Walter Cardoso e o presidente do ITERPA – Instituto de Terras do Pará,
Ronaldo Barata (MORISSAWA, 2001, MST, 1999). Morissawa (2001, p. 156, grifo da
autora) afirma que nessa reunião “decidiram que os sem-terra deveriam ser
removidos da estrada de qualquer maneira”.
Às 17:00h, do dia 17 de abril de 1996, iniciou-se o massacre. As/os Sem
Terra foram encurralados, por um lado 69 policiais militares vindos de Parauapebas
e, por outro, 85 policiais militares vindos de Marabá. Campos (2002, p. 60) afirma
que não vieram para negociar, “chegaram atirando e jogando bombas de gás
lacrimogêneo”.
11 Brelaz (2006, p. 38) cita a fala do Secretário de Segurança Pública do Pará, Paulo Sette Câmara ao jornal O Libera dia 19 de maio, quando justifica o fato: “porque a estrada não podia ficar obstruída e a desobstrução dela era uma necessidade óbvia”.
25
Em seu livro sobre o Massacre, Brelaz (2006, p. 44), ao resgatar a versão
do Ministério Público, cita o Processo nº 786/96 (Denúncia do MP, fl. 42), afirmando
que “a tropa militar recebeu ordens do Comandante-Geral da Polícia Militar Coronel
Fabiano Diniz Lopes – por telefone – para desobstruírem-na (a rodovia) e a eles foi
informado que a referida ordem havia partido do governador do Estado Almir
Gabriel”.
O Ministério Público demonstra indícios de que a ação foi premeditada,
ponderando que a maioria dos policiais estava sem identificação nos uniformes, que
o local do crime foi violado pela própria Polícia Militar antes da chegada dos peritos
criminais e que a tropa de Parauapebas não assinou a cautela das armas.12
Várias entidades relacionadas aos Direitos Humanos, organizações não-
governamentais e movimentos sociais, responsabilizaram o Governador Almir
Gabriel e pediram o indiciamento do mesmo (JORNAL O LIBERAL, 1996). Após
muita pressão de organizações nacionais e internacionais, além de muitas
controvérsias das autoridades judiciais,
em setembro de 1996, o Ministro do Superior Tribunal de Justiça, José Dantas, determinou ao Departamento de Polícia Federal a instauração de inquérito policial para apurar a responsabilidade do governador Almir Gabriel. Inquérito que, meses depois, foi arquivado a pedido do Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro. (BRELAZ, 2006, p. 66)
O saldo do Massacre foi contabilizado por Morissawa (2001, p. 156):
“12 trabalhadores receberam tiros certeiros na cabeça e no tórax; 7 foram mortos com instrumentos de corte retirados deles, prova que já estavam dominados pelos policiais. A operação deixou 19 mortos, 69 feridos e pelo menos 7 desaparecidos. Segundo os laudos, 13 foram executados depois de rendidos”.
12 Processo nº 786/96. Denúncia do MP, fl. 44.
26
Foto 03: Os corpos dos 19 trabalhadores rurais Sem Terra assassinados pela Polícia Militar do Pará. Fonte: Arquivo da Secretaria Estadual do MST-PA.
“Os números de vítimas foram desencontrados”, é o que afirma Brelaz
(2006, p. 47), os números divulgados pela imprensa, pela nota oficial do MST e pela
polícia foram todos diferentes entre si. No jornal O liberal de 19 de abril de 1996, por
exemplo, levanta a suspeita de mortes de crianças e casais, porém nada ficou
comprovado.
Pode-se perceber durante a pesquisa, em conversas às famílias
sobreviventes, com militantes e dirigentes, que vivenciaram o Massacre, que
existiram muito mais mortos que os números oficiais. Relatam ter visto corpos de
crianças e mulheres no asfalto, no entanto não se tem registro de mulheres ou
crianças mortas. Uma ponderação que sempre fazem é: “Se uma família inteira foi
morta, mãe, pai e filha/o e não tem nem um parente, quem ia reclamar o
desaparecimento?”
O Massacre de Eldorado dos Carajás, suas origens e sua consequência
na luta do MST podem ser resumidos nas palavras de Eduardo Galeano (2008, p.
337):
Numa tarde de 1996, dezenove camponeses foram metralhados, a sangue-frio, por membros da Polícia Militar do estado do Pará, na Amazônia brasileira. No Pará, e em boa parte do Brasil, os amos da terra reinam, por roubo roubado ou por roubo herdado, sobre imensidões vazias. Seu direito de propriedade é direito de impunidade. Dez anos depois da matança, ninguém estava preso. Nem os amos, nem seus instrumentos armados.
27
Mas a tragédia não tinha assustado nem desalentado os camponeses do Movimento dos Sem Terra. Os havia multiplicado, e neles havia multiplicado a vontade de trabalhar, de trabalhar a terra, embora neste mundo isso seja delito imperdoável ou incompreensível loucura.
A ação praticada pela Polícia Militar, nada mais foi do que o Estado
cumprindo sua função. Para Engels (2006), o Estado, via de regra, está a serviço da
classe economicamente dominante, a qual se converte também em classe
politicamente dominante, passando a reprimir e explorar a classe oprimida.
O Estado “é a forma pela qual os indivíduos de uma classe dominante
fazem valer seus interesses comuns e na qual se resume toda a sociedade civil de
um período” (MARX; ENGELS, 2006, p. 98).
Em relação ao Estado brasileiro, Loureiro (2001) afirma que este, sempre
agiu repressivamente e violentamente em relação aos grandes movimentos e
conflitos sociais, principalmente os de origem camponesa e ligados à terra; sem
resolver, porém, os problemas que os originaram.
A História tem mostrado que sempre que a classe trabalhadora ousa se
organizar e questionar a ordem, as classes dominantes tentam rebaixá-las, primeiro
pelo consenso, segundo pela cooptação e terceiro, quando nem conseguem o
consenso nem a cooptação, pela repressão.
A avaliação do MST sobre os acontecimentos de 17 de abril de 1996
pode ser expressa nas palavras de C.T., dirigente do Movimento no Pará:
do ponto de vista do MST, isso também foi uma mudança de natureza do latifúndio e de natureza do próprio Estado em relação aos camponeses. Na nossa avaliação é que Eldorado do Carajás é como Canudos, Caldeirão e Contestado, todas as vezes que o povo tentou entrar na política, o Estado brasileiro o rebaixou pela violência. Eldorado do Carajás é uma tentativa de lição do Estado, toda vez que o povo tenta entrar na política através de suas organizações, de suas formas organizativas o Estado brasileiro reage com força da violência para que a situação fique a mesma (...).o ato de violência estatal desenfreado contra camponeses que estavam marchando, nada mais é do que um comportamento histórico do Estado brasileiro que sempre reage às mudanças para não mudar, ou seja, uma concepção de que todos aqueles que infringem a lei precisam ser punidos com rigor da lei.
Silva (2003, p. 109), “O Estado que acaba sendo uma espécie de coação
física em relação aos grupos que tentam se contrapor à “ordem” estabelecida”, seja
quando as/os trabalhadoras/es reivindicam, por exemplo, “a desapropriação de um
latifúndio que é improdutivo ou pelo simples fato de fazerem protestos nas cidades”.
O autor completa a reflexão, afirmando que “neste caso, o Estado procura ter uma
posição a favor em relação à “classe” agrária dominante em desprezo dos
trabalhadores rurais”.
28
Como já dito anteriormente, o Massacre entrou na pauta da conjuntura
nacional e internacional, bem como na história do movimento camponês e da classe
trabalhadora, pois o dia 17 de abril passou a ser o Dia Internacional de Luta
Camponesa e Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
Até hoje nenhuma pessoa está presa pelo ocorrido, o coronel Mário
Pantoja e o Major José Maria Oliveira, foram condenados por terem comandado a
ação, mas estão recorrendo da decisão em liberdade. Já os soldados, foram
promovidos em 2007 a cabos da Polícia Militar, pela governadora do Estado Ana
Júlia Carepa.
A marcha interrompida encerra esta fase do MST-PA, com o Massacre, o
Movimento sofre profundas transformações, deixando de ser apenas uma grande
frente de massa, passando a fortalecer os outros setores da organicidade do
Movimento e a ocupar o nordeste paraense.
29
CAPÍTULO 3 – A ESTADUALIZAÇÃO DO MST-PA (1996 – 2000)
Vamos criar a nova sociedade,
com a união do campo e da cidade. Com camponeses, estudantes e operários
vamos repartir o chão agrário. (ANDRÉ ROCHA, 2006)
Esta fase é marcada por dois grandes acontecimentos internos no MST-
PA, ocorridos a partir dos aprendizados trazidos pelo Massacre. Primeiramente a
estadualização do Movimento, voltando à capital paraense e ocupando latifúndios na
região nordeste do estado. Segundo, deixa de ser uma grande Frente de Massas e
passa a fortalecer outros setores da organicidade interna.
O fato ocorrido na Curva do “S” mostrou a necessidade de uma
articulação mais forte com outras forças sociais, levando o MST a instalar um
escritório político em Belém, onde estão mais fortemente presentes, os partidos
políticos, os movimentos sociais e entidades de defesa dos direitos humanos, bem
como as instituições do Estado.
Nas palavras de C.T., dirigente do MST-PA: “Nós deixamos de ser um
Movimento localizado no sul e sudeste do Pará e ampliamos a nossa base social,
ampliamos o nosso raio de aliados na luta pela Reforma Agrária no estado do Pará”.
Somente nesse período começa a haver um paralelo entre o projeto
político do MST-PA e as linhas tiradas no Congresso Nacional do MST, neste caso o
terceiro, em 1995. Segundo o Jornal Sem Terra (2007, p. 4),
como desafios, continuamos priorizando a política de fortalecimento interno da nossa organização. Promovemos esforços na elaboração do Programa Agrário, no aperfeiçoamento dos métodos organizativos e nas formas de lutas e nas articulações com outros setores sociais do país, organizações camponesas da América Latina e de outros continentes. A palavra de ordem foi: “Reforma Agrária: uma luta de todos”.
A proposta de instalação de um escritório político na capital veio
acompanhada de outra, a de ocupação dos latifúndios próximos a Belém e no
nordeste paraense. Em novembro de 1998 as/os Sem Terra ocuparam a fazenda
Bacuri/Tanary no município de Castanhal, distante 70 Km da capital, que se
consolidou no assentamento João Batista II, graças a uma ocupação, de 10 dias, do
INCRA/Belém. Duarte (2005, p. 177) relata a pauta que negociava o assentamento
das famílias durante a ocupação do órgão público: “desapropriação do complexo
Bacuri / Tanary e assentamento imediato de duzentas (200) famílias”.
30
Em sua dissertação, Silva (2003, p. 68) afirma que “esta ocupação
acabou sendo o marco inicial do MST nas proximidades da capital, como forma de
pressionar os órgãos públicos”. O autor defende ainda, que “a força de luta do MST
intensifica-se quando ele se estabelece na capital. Grosso modo, com a criação da
Secretaria do MST, em Belém, suas ações, expansão e luta ganharam mais força”
(SILVA, 2003, p. 75).
A segunda ocupação na região foi realizada na fazenda TABA, em
Mosqueiro, distrito de Belém, no ano de 1999. Sobre esse processo de ocupação e
resistência, até a criação do assentamento Mártires de Abril em 2001, Abe (2004, p.
69) explica que
em abril desse mesmo ano, período da Jornada de Lutas é fortalecido pela criação da Secretaria em Belém, diversas ações foram realizadas e um novo trabalho de base nas periferias de Belém, resultaram na ocupação da Fazenda TABA (...). Foram realizados quatro despejos.
Em sua dissertação de mestrado, Abe (2004, p. 68) também relata outras
ações realizadas pelo MST-PA, que foram fortalecidas pelo fato de já possuir um
Escritório Político na capital, o qual ela denomina Secretaria da Regional Belém.
Para a autora,
a criação da Secretaria da Regional Belém do MST, em 1998, com o apoio de diversas pessoas, entidades e de igrejas facilitou a implantação do MST na região e, a partir desse acampamento, várias mobilizações aconteceram em conjunto com os diversos setores dos movimentos sociais: Grito dos Excluídos, Marcha Estadual pelos dois anos de massacre de Eldorado, ocupações do INCRA, uma greve de fome de 36 militantes para pressionar o INCRA Nacional a abrir negociação em Marabá.
O Movimento se expandiu, não só na região nordeste do estado, mas
também por outros municípios e regiões do Pará, como por exemplo, nos municípios
de Marabá e São João do Araguaia, na região de Tucuruí, nos municípios de Baião
e Pacajá e, mais recentemente, Xinguara e Tucumã.
Abe (2004, p. 67) afirma que no ano de 1997, “em dezembro, no
Município de Tucuruí, 1.400 famílias ocupam a Fazenda Beija-Flor que se tornou o
Projeto de Assentamento Chico Mendes, em 1999”.
Percebe-se que a expansão se deu pela conquista de territórios no
nordeste paraense, na região de Tucuruí e no sul do Pará, ou seja, indo para regiões
onde nunca esteve antes, mas também onde fez suas primeiras ocupações. Enfim, o
Movimento consegue estadualizar-se.
31
Atualmente o MST-PA organiza famílias Sem Terra em 25 áreas, entre
assentamentos e acampamentos, organizando-se em quatro regionais: Carajás,
Eldorado, Araguaia e Cabana. A tabela abaixo detalha essa organização, com um
total de 4.874 famílias.
Regional do MST-
PA
Situação Fundiária Nome Município Área
(ha) N º de
famílias
Regional Carajás
Assentamento Palmares Parauapebas 14.921 517
Assentamento Onalício Barros Parauapebas 1.770 68
Acampamento Dina Teixeira Canaã dos Carajás ----- 700
Regional Eldorado
Assentamento 17 de Abril Eldorado do Carajás 18.000 690 Assentamento Cabanos Eldorado do Carajás 3.426 85 Assentamento Canudos Eldorado do Carajás 2.836 62
Acampamento Lourival Santana Eldorado ----- 383
Acampamento João Canuto Xinguara ----- 130
Acampamento Dalcídio Jurandir
Eldorado (terra Daniel) ----- 350
Acampamento Nega Madalena Tucumã ----- 70
Acampamento Bom Jesus Tucumã ----- 20
Acampamento Wladimir Maiakóvisk Xinguara ----- 80
Regional Araguaia
Assentamento 26 de março Marabá 9.772 206
Assentamento 1º de Março São João do Araguaia 10.960 338
Assentamento 8 de Março Pacajá 1.500 30
Assentamento Chico Mendes I Baião 3.050 42
Assentamento Chico Mendes II Pacajá 5.250 66
Acampamento Salvador Allende Baião/Pacajá e Portel ----- 160
Acampamento Helenira Rezende Marabá ----- 180
Regional Cabana
Assentamento João Batista Castanhal 1.670 157
Assentamento Mártires de Abril Mosqueiro/Belém 408 87
Assentamento Paulo Fontelles Mosqueiro/Belém ----- 68
Acampamento Olga Benário Acará ----- 55
Acampamento Luis Carlos Prestes Irituia ----- 70
Acampamento Carlos Lamarca Capitão Poço ----- 60
TABELA 02: Relação das áreas do MST - Pará, por regional, maio de 2009. FONTE: Pesquisa de campo13.
13 Informações cedidas pela Secretaria Estadual do MST-PA.
32
Em 1998, o MST-PA perdeu mais dois militantes, vítimas da violência no
campo paraense, foram assassinados a mando e pelas “mãos” do latifúndio. Abe
(2004, p. 67) relata o acontecido:
aproximadamente, quinhentas famílias ocuparam a Fazenda Goiás II, em Parauapebas, no dia 14 de março de 1998, entretanto decidiram desocupar a área diante das inúmeras ameaças dos pistoleiros da fazenda. No dia 26 de março, realizam a transferência do acampamento para uma área próxima ao Assentamento Carajás e foram emboscados pelos pistoleiros e policiais militares. Duas lideranças foram mortas: Onalício Araújo Barros, conhecido como Fusquinha, e Valentim Serra, o Doutor. As famílias reocupam a fazenda, onde foi criado o Assentamento Onalício Barros, com 69 famílias assentadas.
A relação externa nessa fase era bem forte, haja vista a repercussão do
Massacre e a instalação do Escritório Político em Belém. Referindo-se a setores da
Igreja Católica (CPT, pastorais sociais, CEBs), Sindicatos de Trabalhadores Rurais -
STR’s de diferentes municípios, partidos políticos (sobretudo o PT, o PC do B), o
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB e a Sociedade Paraense de Defesa
dos Direitos Humanos – SDDH, Silva (2003, p. 59) afirma que “o MST ainda mantém
um vínculo permanente com estes aliados”.
Uma atualização a respeito dos partidos políticos é importante,
atualmente o PSOL é o partido que mais tem apoiado e contribuído com a luta do
MST-PA.
Ainda sobre a política de alianças, C.T., dirigente do MST-PA, relata que
“ampliamos o nosso raio de aliados na luta pela Reforma Agrária no estado do
Pará.”
Seguindo a orientação política do 3º Congresso Nacional do MST, o MST-
PA passa a dar mais atenção à sua organicidade interna. A partir de 1997, “o MST
começava a se organizar e a criar setores de atividades e produção, com a
inauguração de escolas, a inauguração da Cooperativa Mista dos Assentamentos de
Reforma Agrária do Sul e Sudeste do estado” (SILVA, 2003, p. 70).
Os principais Setores e/ou Coletivos são: Formação; Saúde;
Comunicação; Finanças; Educação; Frente de Massas (FM); Direitos Humanos
(SDH); Gênero; Produção, Cooperação e Meio Ambiente; Cultura; Juventude;
Relações Internacionais e; Projetos. Todos devem trabalhar o conjunto da
organização (MST, 2005).
A dirigente do Movimento no Pará, I.F., explica que enfim
o movimento foi crescendo e surgindo realmente a necessidade de ter os setores (...), o setor de produção, o setor de educação, o setor de saúde, o
33
setor de formação, comunicação, gênero, cultura, os coletivos de jovens, tem coletivo de mulheres também, o setor de projetos, setor de finanças, são diversos os setores.
E o dirigente C.T. completa, dizendo que esse
é o período que nosso Movimento chega à universidade, ou seja, os camponeses do Pará, através de uma organização chegam a universidade, pelos cursos de Magistério e pelos cursos de Pedagogia, isso é um acontecimento muito importante pra nossa organização (...) A nossa militância começa de maneira mais organizada a estudar, seja nos cursos livres de formação político-ideológica, seja nos cursos técnicos, seja na universidade, isso foi fazendo com que nossa dinâmica interna, setores, nossas ações pudessem ter uma outra magnitude, pudessem ter uma outra estrutura de como resolver os nossos problemas.
Com esses e outros cursos superiores, os trabalhadores e trabalhadoras
rurais passaram a ter acesso à universidade, possibilitando travar uma disputa de
hegemonia também dentro da Academia.
É importante negritar que essa primeira participação das/os Sem Terra
paraense na universidade, no curso de Pedagogia da Terra, se deu em 1998 no Rio
Grande do Sul, na UNIJUI.
O primeiro curso de Pedagogia da Terra no estado, iniciou em 2001 em
parceria com a Universidade Federal do Pará – UFPA, tendo a participação de
educandas/os de cinco estados: Pará, Maranhão, Tocantins, Ceará e Piauí.
A partir das articulações políticas na capital e do seu fortalecimento
orgânico, o Movimento passou a levantar alguns questionamentos: para onde ir?
Qual método? Qual tática? Os quais o levaram amadurecer politicamente, o fazendo
pensar o seu papel na luta pela terra, estando na Amazônia.
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE UM BLOCO HISTÓRICO CAMPONÊS (2000– )
34
Alegria
Se interditam o caminho Faço uma outra via
O que hoje é supremo secará com mil sóis [que implantarei
Num ato primavera. (CHARLES TROCATE, 2007)
Foram os questionamentos sobre sua tática e método, sobre que caminho
seguir, que marcaram uma mudança política do MST-PA. É exatamente essa
mudança, a qual se reflete em uma maior maturidade política, que marca essa
quarta fase do MST no Pará.
O dirigente do Movimento no estado, explica que houve um debate
interno no MST-PA,
um grande debate para ter a seguinte compreensão: estando na Amazônia, qual seria a tarefa política do MST na Amazônia? E essa pergunta nos lançou um conjunto de reflexões. Deveríamos ter a iniciativa de fazer a luta pela reforma agrária na Amazônia, compreendendo que Amazônia é essa? Mas também assumir outras tarefas políticas que são do conjunto da sociedade. Essa reflexão fez o nosso Movimento mudar de natureza.
A partir dessas reflexões o MST-PA passou a dedicar-se, além das ações
de luta pela terra que já vinha realizando, à construção de um bloco histórico de
camponeses e camponesas no Pará, “entendendo suas diversas vertentes,
indígena, quilombola, ribeirinha e etc” (ASSEMBLÉIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DA
AMAZÔNIA, 2008 - ANEXO 01), ou seja, considerando tanto os/as
desterritorializados/as (camponeses/as de fronteira), quanto os/as territorializados/as
(indígenas, quilombolas e ribeirinhos/as). A partir de 2005, começa a ter
organicidade a Vía Campesina - Pará14.
Uma vez que o antigo bloco histórico de trabalhadoras/es rurais no
estado, representado pelo sindicalismo rural, “entrou em processo de refluxo, e cada
vez mais passava a ser incorporado pelos interesses do Estado e deixando de lado
as lutas sociais” (SILVA, 2003, p. 58), o MST passou a estimular a construção de um
novo bloco em torno da Vía Campesina. O objetivo é “para disputar a centralidade
da política, com lutas e uma nova concepção de desenvolvimento político,
14 “A Via Campesina é um movimento internacional que coordena organizações camponesas, de médios e pequenos produtores, de camponeses e comunidades indígenas, que defendem seus interesses básicos. É um movimento autônomo, pluralista, independente de qualquer filiação política, econômica ou de outra natureza. Esta integrada por organizações nacionais, representativas, cuja autonomia deve ser cuidadosamente respeitada” (VIA CAMPESINA, 2002, p. 39)
35
econômico e social na nossa região” (ASSEMBLÉIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DA
AMAZÔNIA, 2008 - ANEXO 01).
Por bloco histórico, Gramsci (1977; 1989) entende a relação entre
estrutura e superestrutura, que mediadas pelos/as intelectuais, mantêm a
hegemonia em determinado espaço e período histórico. Portelli (1977, p. 15)
corrobora, para ele “devemos considerar o conceito de bloco histórico sob um triplo
aspecto”: o estudo das relações entre estrutura e superestrutura, os intelectuais
orgânicos e hegemonia. Por isso, é um “erro teórico conceber o bloco histórico como
uma simples aliança entre classes” (PORTELLI, 1977, p. 14).
Uma das ações do MST e da Vía Campesina da Amazônia foi realizar, em
abril de 2008, a I Assembléia dos Movimentos Sociais da Amazônia: “Contra o
Imperialismo, Soberania Popular na Amazônia!”, ocorrida em Imperatriz-MA.
Figura 04: Mesa de abertura da I Assembléia dos Movimentos Sociais da Amazônia. Fonte: André Rocha - Pesquisa de Campo.
O MST e a Vía Campesina, no estado do Pará, entendem que a luta
política na Amazônia é uma luta anticapitalista, antineoliberal e anti-imperialista. Em
sua dissertação de mestrado, Silva (2003, p. 108) corrobora esta afirmação, pois
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para o autor “a luta do movimento por um novo modelo econômico e tecnológico,
baseado na agricultura familiar, pauta-se contra a lógica do capital, que exclui
grande parte da população sem-terra”.
A ação mais expressiva dessa luta foi a ocupação dos trilhos da Vale,
quando o MST-PA organizou, no assentamento Palmares II, um acampamento com
5.000 trabalhadoras/es rurais – incluindo garimpeiros, pequenos produtores e
juventude urbana – e interditou a Estrada de Ferro Carajás, operada pela
transnacional Companhia Vale do Rio Doce. A mobilização teve o nome de “Jornada
de Luta pela Reforma Agrária e em Defesa dos Recursos Minerais do Povo
Brasileiro”.
Esse projeto político do MST-PA encontra-se alinhado com o 4º
Congresso Nacional do Movimento, ocorrido em Brasília, no ano de 2000. O Jornal
Sem Terra (2007, p. 4) registra os desafios colocados no evento:
Os desafios que se apresentaram à nossa luta, nesse contexto histórico, nos empurraram para: 1. O enfrentamento com o modelo neoliberal – que começa a ser implementado no campo, com a criminalização das organizações dos trabalhadores; 2. O fortalecimento e ampliação da nossa política de relações internacionais – priorizando o trabalho de formação e organização da Coordenação Latino Americana das Organizações Camponesas (CLOC), criada em 1992, e da Via Campesina; 3. As articulações, os esforços organizativos e a elaboração teórica, junto com outras forças sociais, em torno de um projeto popular de desenvolvimento para o país – nesse aspecto, cabe ressaltar a participação do MST na construção do Movimento Consulta Popular, desde 1997; 4. O enfrentamento com o projeto das elites para a agricultura. A palavra de ordem escolhida para o período foi “Reforma Agrária: por um Brasil sem Latifúndio”.
Em 1996, o MST iniciou um debate nacional, sobre a importância dos
seus assentamentos, da necessidade de fazer um trabalho de base nessas áreas,
enfim, de tê-los no centro das ações do Movimento. No Pará, essa discussão
começou a ser feita mais substancialmente no Encontro Estadual de fevereiro de
2008, porém esse assunto tem sido pouco debatido nas reuniões da coordenação e
direção estadual, não tendo ainda se materializado na prática.
As relações externas nessa fase continuam amplas, passando, o MST-
PA, a se relacionar com governos latino-americanos, como por exemplo, o da
Venezuela, comandado pelo presidente Hugo Chavez. Em Belém, o MST participou
da construção do Fórum Social Mundial – 2009, ampliando e fortalecendo suas
articulações com outras entidades, organizações não-governamentais e movimentos
37
sociais. Contudo, as organizações que compõem a Vía Campesina – Pará são as
principais entidades com as quais o MST se articula.
Por fim, não podemos prever qual o futuro do MST-PA, suas ações, seus
projetos políticos e suas relações externas, mas no seu 5º Congresso Nacional15 em
2007, o MST se comprometeu com a sociedade brasileira em: “LUTAR SEMPRE!”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
15 No Anexo 02, encontra-se a carta do 5º Congresso Nacional do MST, ocorrido em junho de 2007, em Brasília-DF.
38
Com esta pesquisa consegui-se estudar a formação do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra no estado do Pará, no período de 1984 - 2008,
destacando-se quatro fases e em cada uma delas as práticas, a articulação externa
e o projeto sócio-político do Movimento, a partir de sua luta pela terra.
Na primeira fase, “A Luta Posseira (1984 – 1990)”, determinada pela
utilização da forma de luta posseira como forma de ocupação do latifúndio e de luta
pela terra. As práticas foram encontros, cursos de formação e ocupações de terras.
As relações externas com entidades de mesmo caráter eram incipientes e algumas
vezes conturbadas. O projeto político do MST-PA não estava muito bem definido, o
que se queria naquele momento era fazer a luta pela terra.
A segunda fase, “A Retomada da Luta pela Terra (1990 – 1996)”, é
marcada pela originalidade e inovação no método de ocupação. As práticas
constituíram-se de ocupações de terras, cursos de formação, marchas e ocupações
de prédios públicos, mais especificamente o INCRA. Quanto às relações externas,
foi um período que inicialmente houve dificuldade para conquistar confiança, mas
que aos poucos esta foi sendo construída. Nesta fase o MST-PA já tem um projeto
político de Reforma Agrária, além do projeto de lutar por terra.
“A Estadualização do MST-PA (1996-2000)” é a terceira fase, que se
delimita pela estadualização do MST no Pará e pelo fortalecimento dos setores
internos. A ocupação de prédios públicos, as marchas e as ocupações de terras
continuam sendo as práticas do Movimento, só que em outras regiões do estado; os
cursos de formação, agora, incluem o nível superior. A força e ampliação das
articulações com outras entidades e partidos políticos marca as relações externas
nesta fase. O projeto político agora está alinhado com o projeto nacional do MST,
passando a dar mais atenção à organicidade interna e aumentando o campo de
relações com outros setores da sociedade.
Por fim, a quarta fase “A Construção de um Bloco Histórico Camponês
(2000 – )” gira em torno da construção de um novo bloco histórico camponês no
estado. Ressalta-se que essa construção está em processo, é uma iniciativa do
MST-PA que está em curso, para que a Vía Campesina, venha a se tornar esse
bloco histórico. As práticas permanecem as mesmas, com ocupações de terras,
cursos de formação, marchas e ocupações de prédios públicos, mas também com
39
acampamentos pedagógicos, principalmente em Belém. As relações externas giram
principalmente em torno da Via Campesina, mas também com outras entidades,
inclusive internacionais. O projeto político assume caráter anticapitalista,
antineoliberal e anti-imperialista, comprometendo-se com uma sociedade livre de
exploração e opressão.
É importante ressaltar que a demarcação das datas dessas fases tem
efeito didático, pois na verdade elas se entrelaçam.
O MST continua ocupando terras com meio de pressão, para que o
Estado realize a Reforma Agrária, contando hoje com 25 áreas, entre
acampamentos e assentamentos. Continua tentando melhorar sua organicidade
através dos setores, das brigadas e dos núcleos e grupos de famílias; encontrando-
se hoje dividido em quatro regionais no estado: Carajás, Eldorado, Araguaia e
Cabana.
Atualmente o Movimento vem discutindo, fortemente, o papel dos
assentamentos na luta social, passando a refletir sobre os assentamentos como
centro das ações do MST. Esses debates e práticas, se massificadas, podem vir a
gerar uma outra fase, uma quinta fase do MST-PA.
Faz-se necessário um estudo mais aprofundado dessas fases, analisando
mais criteriosamente o que representa cada uma delas para a luta classes no campo
paraense.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
40
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APÊNDICES APENDICE 01
43
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título: O movimento dos trabalhadores rurais sem terra no Pará: da luta posseira à construção
de um bloco histórico camponês (1984-2009).
Este trabalho visa estudar a formação do MST-PA, resgatando e registrando sua história no período de 1984 a 2008, fazendo uma análise de seu processo histórico de construção, levando em consideração seus posicionamentos, ações, lutas e contradições frente ao sistema capitalista, a questão agrária e ao Estado. A coleta dos dados será feita através de pesquisa documental, entrevista não diretivas e observação direta. A análise dos dados será feita através da hermenêutica-dialética.
Em qualquer momento do estudo o participante terá acesso ao responsável pela pesquisa, para esclarecimento de dúvidas: André Carlos de Oliveira Rocha, end: Tv. Benjamin Constant, 724 aptº 1804, fone: (91) 3242-0563, ou (91)9986-6258, e-mail: mst_andre@yahoo.com.br.
GARANTIAS É garantida aos participantes a liberdade de deixar de participar do estudo sem
qualquer prejuízo, a se manter informado a respeito dos resultados da pesquisa. Em caso de danos por negligência dos pesquisadores quanto ao sigilo dos dados informados, os participantes terão direito às indenizações legalmente estabelecidas. Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo. Este trabalho será realizado com recursos próprios do autor, não tendo financiamento ou co-participação de nenhuma instituição de pesquisa. Também não haverá nenhum pagamento por sua participação.
DECLARAÇÃO Declaro que compreendi as informações do que li ou que me foram explicadas sobre
o trabalho em questão, ficando claros para mim, quais são os propósitos da pesquisa, os procedimentos a ser realizados, os possíveis riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.
Ficou claro também que minha participação não tem despesas. Concordo voluntariamente em participar desse estudo podendo retirar meu
consentimento a qualquer momento sem necessidade de justificar o motivo da desistência, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízos.
Belém, ____ de _______________ de 2008.
___________________________________________ Assinatura do participante
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o consentimento livre e esclarecido deste participante:
______________________________________________ André Carlos de Oliveira Rocha
Pesquisador responsável ANEXOS
44
ANEXO 01
ASSEMBLÉIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DA AMAZÔNIA
Estimados Companheiros e Companheiras.
Escrevemos para juntos formularmos um espaço mais amplo do que esse por nós vivenciado nesse último período no Pará, Maranhão e Tocantins. Estamos em alerta e avançando na compreensão dos desafios e no estímulo que as lutas devem ter, como forma de politizar a questão da Amazônia e os desafios atuais.
Sobretudo queremos sugerir uma metodologia de trabalho organizativo para o ano de 2008 como um esforço conjunto para a realização da ASSEMBLÉIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DA AMAZÔNIA.
Ao nosso entendimento esse esforço ajudará a compreender os dilemas enfrentados na organização da luta dos trabalhadores frente aos inimigos centrais que hoje atuam deliberadamente no esmagamento da biodiversidade da região via políticas e práticas de saque institucionalizado pelos governos, pela força brutal do capitalismo selvagem e imperialista em marcha na Amazônia. Como também ampliar o sentido da luta nesse momento conjuntural, que estimule uma ofensiva dos interesses da classe trabalhadora.
Certamente, um segundo elemento que nos alertou para essa possibilidade é a realização do Fórum Social Mundial e a realização do Fórum Social Pan Amazônico em Belém do Pará em janeiro de 2009, dai, nossa preocupação de nos mobilizarmos para construirmos uma linha de enfrentamentos, hoje ignorados por amplos setores da sociedade.
Tendo como preferência reunir diversas organizações da Amazônia que hoje nem se organizam nas redes das organizações não-governamentais e nem no sindicalismo. Mas em organizações, fóruns, e são dirigentes, agentes, intelectuais militantes e etc... que pautam suas lutas e tarefas no enfrentamento concreto, diário, ao modelo dos grandes projetos e do capital imperialista na região.
O esforço que iremos fazer é impulsionar um espaço para aprofundarmos a analise política e a construção da estratégia e táticas coletivas. Esse espaço estamos chamando, de Assembléia dos Movimentos Sociais da Amazônia.
1. ENTENDIMENTOS IMEDIATOS
O nosso cuidado primeiramente foi de formular uma linha de raciocínio, em que pudéssemos responder duas perguntas fundamentais: o que é a Amazônia para os amazônidas? E que tarefas políticas devem desenvolver de forma permanente, a sociedade e os movimentos sociais da Amazônia?
Dessas perguntas e outras tantas questões colocadas pelo padrão da luta política nessa região nos ajudaram a formular os desafios mais imediatos. A necessidade de construirmos um projeto de análise coletiva, do que somos e representamos; Onde estamos e quais são os bloqueios políticos que nos impedem de avançar na formulação teórica e construção de táticas de lutas que responda o atual nível de enfrentamento político e jurídico na região.
O esforço foi reunir as análises que cada organização tinha da realidade, capacitá-las com novos argumentos e torná-las coletivas. Em síntese, formulamos essas questões como ponto de partida:
1. Toda luta política na Amazônia, independentemente da nossa vontade se transformará numa
luta antiimperialista, o modelo de desenvolvimento agrário, mineral e exportador hegemonizado pelo grande capital não permitirá o avanço de outra pauta, de um outro modelo de desenvolvimento econômico, político e social.
2. As diversas frentes desse modelo, a pecuária, a soja, a madeira e o mineral, estão impondo um novo comportamento jurídico sobre a região. Alimentam a idéia que são a direção moral, política e intelectual desse novo ciclo econômico da Amazônia.
3. Que parte significativa da sociedade amazônida esta cooptada e embrutecida por esse novo ciclo de desenvolvimento. Imobilizada por não portar uma visão utópica de si mesma, alienada do que poderia ser.
4. E por último em marcos mais gerais é que o campesinato, entendendo suas diversas vertentes, indígena, quilombola, ribeirinha e etc foram rebaixados da luta política, pelo excessivo grau de violência que sofreram. Ou porque suas organizações, suas táticas de lutas foram alcançadas pelo estado ou porque se retiram do conflito opcionado, ou não. Os camponeses na sua ação política cotidiana construíram com esforço e desprendimento
enorme, suas organizações sindicais, suas federações e etc, assistiram nesse último período essas
45
organizações passarem da negação do inimigo ao consentimento do inimigo. A natureza institucional que essas organizações foram assumindo, de luta coorporativa e
economicista, freou o projeto político emancipador, deixando-os órfãos no terreno do enfrentamento. Isso fez com que a burguesia agrária dessa região aliada ao capital impusesse-lhes sucessivas derrotas, rebaixando-os da centralidade da luta política da Amazônia.
2. ENTENDIMENTOS EM CURTO PRAZO
Nessa perspectiva a análise que estamos formulando é que a nossa tarefa principal nesse novo período histórico é formar um novo bloco histórico de organizações camponesas na Amazônia. Um novo bloco histórico pressupõe a organização de três questões: a) Unidade de análise histórica e conjuntural; b) Unidade nas linhas políticas e de ação; c) Princípio de ação – que toda a luta produza conquistas econômicas, culturais e sociais, que produza organização da classe trabalhadora e acumulo de força política para o projeto de sociedade que queremos construir.
Porém, não se trata de travar lutas ideológicas e metodológicas com outras organizações camponesas indígenas, quilombolas e ribeirinhos, partimos do principio que é necessário fugir a esse preceito, porque estamos em um vasto território geográfico e político e que estamos fundamentando uma tática e uma estratégia já negada por determinados grupos e organizações.
Pra que serve um novo bloco histórico? Para disputar a centralidade da política, com lutas e uma nova concepção de desenvolvimento político, econômico e social na nossa região. O outro bloco histórico formado anteriormente e que hegemonizou a luta camponesa nessa região não tem mais disponibilidade para continuar o processo. Acham inclusive que já cumpriram sua missão.
O novo bloco histórico que se propõe, tem a tarefa de estimular uma analise política e histórica da nossa região e inaugurar novas formas de lutas. O esforço de gerirmos a construção desse espaço de debates e encaminhamentos que é a Assembléia dos Movimentos Sociais da Amazônia vem da clareza de que não podemos avançar sozinhos e mais do que em outros momentos as condições estão dadas. Percebe-se a disponibilidade das organizações e seus dirigentes, a clareza do nível de enfrentamento, por fim o momento histórico conjuntural que estamos vivendo.
3. METODOLOGIA DA ASSEMBLÉIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DA AMAZÔNIA.
Olhando nossa região a Amazônia brasileira, percebemos as distâncias que possuímos mais claramente, por isso estamos estimulando um calendário de reuniões primeiramente regionais e depois uma data única para a realização da grande assembléia. As reuniões regionais têm a tarefa de estimular reflexões e encaminhamentos políticos. Por isso construirmos os seguintes objetivos e aprofundamentos dos objetivos;
Objetivos:
a) Cada Assembléia regional tem que ser massiva (entorno de 300 participantes). b) Representativa das organizações das diversas regiões. c) Que estimule a análise política e encaminhamentos concretos das lutas.
Desafios: a) O desafio da territorialização das organizações. b) O desafio da organicidade das organizações, das novas formas de lutas. c) O desafio da formação de quadros, dirigentes e militantes, para fazer avançar a luta política. d) O desafio das lutas em defesa da Amazônia.
Contra o imperialismo, soberania popular na Amazônia
ANEXO 02
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CARTA DO 5º CONGRESSO NACIONAL DO MST
Nós, 17.500 trabalhadoras e trabalhadores rurais Sem Terra de 24 estados do Brasil, 181 convidados internacionais representando 21 organizações camponesas de 31 países e amigos e amigas de diversos movimentos e entidades, estivemos reunidos em Brasília entre os dias 11 e 15 de junho de 2007, no 5º Congresso Nacional do MST, para discutirmos e analisarmos os problemas de nossa sociedade e buscarmos apontar alternativas.
Nos comprometemos a seguir ajudando na organização do povo, para que lute por seus direitos e contra a desigualdade e as injustiças sociais. Por isso, assumimos os seguintes compromissos:
1. Articular com todos os setores sociais e suas formas de organização para construir um projeto popular que enfrente o neoliberalismo, o imperialismo e as causas estruturais dos problemas que afetam o povo brasileiro.
2. Defender os nossos direitos contra qualquer política que tente retirar direitos já conquistados. 3. Lutar contra as privatizações do patrimônio público, a transposição do Rio São Francisco e pela re-estatização das empresas públicas que foram privatizadas.
4. Lutar para que todos os latifúndios sejam desapropriados e prioritariamente as propriedades do capital estrangeiro e dos bancos.
5. Lutar contra as derrubadas e queimadas de florestas nativas para expansão do latifúndio. Exigir dos governos ações contundentes para coibir essas práticas criminosas ao meio ambiente. Combater o uso dos agrotóxicos e o monocultura em larga escala da soja, cana-de-açúcar, eucalipto, etc.
6. Combater as empresas transnacionais que querem controlar as sementes, a produção e o comércio agrícola brasileiro, como a Monsanto, Syngenta, Cargill, Bunge, ADM, Nestlé, Basf, Bayer, Aracruz, Stora Enso, entre outras. Impedir que continuem explorando nossa natureza, nossa força de trabalho e nosso país.
7. Exigir o fim imediato do trabalho escravo, a super-exploração do trabalho e a punição dos seus responsáveis. Todos os latifúndios que utilizam qualquer forma de trabalho escravo devem ser expropriados, sem nenhuma indenização, como prevê o Projeto de Emenda Constitucional já aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados.
8. Lutar contra toda forma de violência no campo, bem como a criminalização dos Movimentos Sociais. Exigir punição dos assassinos – mandantes e executores - dos lutadores e lutadoras pela Reforma Agrária, que permanecem impunes e com processos parados no Poder Judiciário.
9. Lutar por um limite máximo do tamanho da propriedade da terra. Pela demarcação de todas as terras indígenas e dos remanescentes quilombolas. A terra é um bem da natureza e deve estar condicionada aos interesses do povo.
10. Lutar para que a produção dos agrocombustíveis esteja sob o controle dos camponeses e trabalhadores rurais, como parte da policultura, com preservação do meio ambiente e buscando a soberania energética de cada região.
11. Defender as sementes nativas e crioulas. Lutar contra as sementes transgênicas. Difundir as práticas de agroecologia e técnicas agrícolas em equilíbrio com o meio ambiente.
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Os assentamentos e comunidades rurais devem produzir prioritariamente alimentos sem agrotóxicos para o mercado interno.
12. Defender todas as nascentes, fontes e reservatórios de água doce. A água é um bem da Natureza e pertence à humanidade. Não pode ser propriedade privada de nenhuma empresa.
13. Preservar as matas e promover o plantio de árvores nativas e frutíferas em todas as áreas dos assentamentos e comunidades rurais, contribuindo para preservação ambiental e na luta contra o aquecimento global.
14. Lutar para que a classe trabalhadora tenha acesso ao ensino fundamental, escola de nível médio e a universidade pública, gratuita e de qualidade.
15. Desenvolver diferentes formas de campanhas e programas para eliminar o analfabetismo no meio rural e na cidade, com uma orientação pedagógica transformadora.
16. Lutar para que cada assentamento ou comunidade do interior tenha seus próprios meios de comunicação popular, como por exemplo, rádios comunitárias e livres. Lutar pela democratização de todos os meios de comunicação da sociedade contribuindo para a formação da consciência política e a valorização da cultura do povo.
17. Fortalecer a articulação dos movimentos sociais do campo na Via Campesina Brasil, em todos os Estados e regiões. Construir, com todos os Movimentos Sociais a Assembléia Popular nos municípios, regiões e estados.
18. Contribuir na construção de todos os mecanismos possíveis de integração popular Latino-Americana, através da ALBA - Alternativa Bolivariana dos Povos das Américas. Exercer a solidariedade internacional com os Povos que sofrem as agressões do império, especialmente agora, com o povo de CUBA, HAITI, IRAQUE e PALESTINA.
Conclamamos o povo brasileiro para que se organize e lute por uma sociedade
justa e igualitária, que somente será possível com a mobilização de todo o povo. As grandes transformações são sempre obra do povo organizado. E, nós do MST, nos comprometemos a jamais esmorecer e lutar sempre.
REFORMA AGRÁRIA: Por Justiça Social e Soberania Popular!
Brasília, 15 de junho de 2007
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