View
219
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1322
MULTIMODALIDADE E GNERO DISCURSIVO NO ENSINO DE
ESPANHOL: ANLISE DE TEXTO EM LIVRO DIDTICO
Larisse Lzaro Santos PINHEIRO
larisselazaro@hotmail.com
Universidade de Braslia (UnB)
Orientadora: Dr Janana de Aquino Ferraz
RESUMO
O mundo globalizado potencializa o aprendizado de lnguas, uma vez que as fronteiras
geogrficas no mais representam barreiras para o contato entre diferentes culturas. Entre vrios
outros idiomas, a Lngua Espanhola entra em evidncia no contexto do ensino bsico regular no
Brasil. Diante dessa perspectiva, o estudo aqui proposto busca analisar quatro livros didticos -
LD atualmente adotados no ensino regular do espanhol no Brasil, tendo como objetivo observar
como os gneros discursivos esto inseridos nesses livros, e como esses textos so
ressemiotizados, ao serem transferidos de suporte. Entre os vrios aspectos a serem analisados
est a constituio multimodal, que possibilita o estudo sobre como o uso de gneros pode
contribuir para o ensino de uma lngua estrangeira, o espanhol. A metodologia de natureza
qualitativa em que se privilegia a interpretao e reinterpretao de dados, caracterizando-se
como estudo de caso, por meio de anlise documental. Para a seleo do corpus desta pesquisa,
focamos em LD de lngua espanhola, formado pelas colees Saludos e Ventana e o volume
nico Sntesis e Espaol nico, publicados pelas editoras tica e Moderna, que se destacam no
mercado nacional, segundo o PNLD 2015. A anlise desse corpus guiar-se- pelas seguintes
perguntas de pesquisa: Como esto inseridos os gneros discursivos nos livros didticos de
Lngua Espanhola, do Ensino Fundamental II e Mdio? Como esses textos so ressemiotizados
ao serem transferidos de suporte? Como o trabalho com gneros discursivos em livros didticos
de espanhol pode colaborar para o ensino/aprendizagem, sob aspecto da Multimodalidade? A
base terica da pesquisa centrada na Teoria Semitica Social/Multimodalidade (KRESS; van
LEEUWEN, 2006), Ressemiotizao (IEDEMA, 2011) e Gneros Discursivos (BAKHTIN,
1979). As anlises permitem reflexo sobre o trabalho dos gneros discursivos nesses LD, numa
perspectiva multimodal, demonstrando as peculiaridades tanto inerentes ao tipo de gnero,
como de composio semitica, com vistas a reflexividade crtica sobre a formao de sentidos
em LD de espanhol e como esses textos podem ser melhor trabalhados quando se conhece a
potencialidade de significao de diferentes semioses em lngua estrangeira.
Palavras-chave: Multimodalidade; Gneros; Ressemiotizao.
1. INTRODUO
A Lngua Espanhola, no contexto educacional brasileiro, um idioma em
processo de expanso. Os textos destacam-se no ensino/aprendizagem dessa lngua, mas
muitos ainda so utilizados como exerccios de traduo e verso, alguns temas
mailto:larisselazaro@hotmail.com
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1323
abordados so desconexos da realidade do aluno e o foco principal so estruturas
gramaticais da lngua e memorizao de listas de palavras, pois a nfase est no
domnio de lxico e assim a leitura, a interpretao, a pronncia e a entonao so
exerccios secundrios.
O ensino de lnguas no deve ficar limitado apenas ao lxico e s regras
gramaticais. Os livros didticos devem ter informaes lingusticas e culturais. Segundo
a Semitica Social, base terica dos estudos da Multimodalidade, [...] o significado
surge nas situaes e interaes sociais. O social a origem e o criador do significado.
(KRESS & VAN LEEUWEN, 2006, p. 6).
necessrio internalizar novos hbitos lingsticos e inserir diversos gneros
discursivos com potencialidades de significao. Textos que combinam cores, imagens
e layouts criativos, ou seja, textos multimodais, que segundo Kress & van Leeuwen
(2006, p. 3) aquele que utiliza mais de um recurso semitico na sua construo
textual (usam tanto recurso verbal e no-verbal). Desse modo, a combinao dos
recursos semiticos, contribui na construo de sentido do texto, tornando-o mais eficaz
no processo ensino/aprendizagem de lnguas.
Nessa perspectiva, este artigo examina como os gneros discursivos esto
inseridos nos livros didticos de espanhol. E como esses textos so ressemiotizados, ao
serem transferidos de suporte, ganhando semioses no presentes em seu suporte
original. Para a seleo do corpus desta pesquisa foca no livro didtico de lngua
espanhola Espaol nico publicado, pela editora Santillana (Moderna), que destaca-se
no mercado, segundo o PNLD 2015.
Neste artigo, recorro a tpicos relevantes como ensino de Lngua Espanhola no
Brasil e os livros didticos; os pressupostos dos gneros discursivos; a natureza do texto
multimodal, e as perspectivas da Gramtica Visual (KRESS & VAN LEEUWEN,
2006); Anlise de Clusters (BALDRY & THIBAULT, 2006) e Ressemiotizao
(IEDEMA, 2003), aspectos sobre os quais discorro nas sees seguintes.
2. O ENSINO DE ESPANHOL NO BRASIL
O espanhol hoje considerado a terceira lngua mais falada no mundo. Alm
da Espanha, o idioma oficial de outros 20 pases, concentrados sobretudo em dois dos
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1324
mais importantes continentes, na Europa e na Amrica. importante enfatizar que no
se limita apenas aos falantes de lngua materna, destaca-se no mundo econmico, que
juntamente com o ingls so os idiomas mais utilizados para acordos comerciais,
principalmente na Europa. Joo Sedycias (2005, p. 39) ressalta que "O espanhol ,
depois do ingls, a segunda lngua mundial como veculo de comunicao internacional
[...]".
No Brasil, durante muito tempo a lngua espanhola no era devidamente
valorizada. Na primeira metade da dcada de 1960, o pas encontrava-se em isolamento
lingustico e cultural em relao aos seus vizinhos latinos americanos, o espanhol tinha
pouca ateno no currculo escolar, e essa possvel indiferena lingustica dava-se ao
fato de acreditarem que devido semelhana entre portugus e espanhol no era
necessrio estudo sistemtico.
No decorrer dos anos, esse cenrio tem sofrido mudanas acentuadas
com a proximidade dos pases "hispanohablantes" e aumento das relaes comerciais
incitadas pelo MERCOSUL (Mercado Comum do Sul). O governo brasileiro viu como
necessrio introduzir a Lngua Espanhola como oferta obrigatria nas escolas, por meio
da Lei n 11.161, em 05 de agosto de 2005. Essa lei impe a insero do ensino de
espanhol nas escolas pblicas e privadas, tendo em vista, em princpio, que o ensino do
idioma era facultativo do 6 ao 9 ano e que essa obrigatoriedade era apenas para o
ensino mdio.
Atualmente, um ensino muito debatido e tem melhorado em relao a
formao profissional de professores e principalmente em livros didticos como
componente curricular obrigatrio.
2.1 O LIVRO DIDTICO
O livro didtico no ensino de lnguas fundamental no planejamento de cursos
e currculos escolares, muitas vezes, a nica fonte para professores conduzirem suas
aulas. Por isso, necessrio que esses livros ofeream condies de aprendizado com
atividades que proporcionem a construo de sentido e a familiarizao com textos
diversos. (DELLISOLA, 2009).
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1325
O livro didtico d suporte veiculao de vrios outros gneros de diferentes
esferas e contextos socioculturais. As experincias e a realidade social so por ele
representadas e construdas, contribuindo para a construo de significados durante o
processo ensino/aprendizagem. (TILIO, 2009)
Nesse sentido, adotei os pressupostos tericos de Marcuschi (2003) que afirma
que o livro didtico um suporte textual, que contm muitos gneros, dando-os outra
funcionalidade, o que ele chama de reversibilidade da funo. Ou seja, o livro didtico
um suporte de gneros direcionado para uma didatizao que necessria. Ainda nessa
perspectiva, segundo o autor supracitado, os gneros so atividades discursivas
socialmente estabilizadas que se prestam aos mais variados tipos de controle social e at
mesmo ao exerccio de poder. (MARCUSCHI, 2003, p. 20)
2.2 GNEROS DISCURSIVOS
Desse modo, No h enunciado (oral ou escrito) que no esteja materializado
em um gnero, ele constitudo socialmente. Bakhtin (1986) classifica o gnero do
discurso em primrio - simples ou secundrio complexo. Os gneros primrios so as
formas genricas bsicas caractersticas de ampla gama de situaes sociais encontradas
na vida cotidiana (troca dialgica, cartas pessoais, memorandos, instrues, explicaes,
entre outros). J os gneros secundrios so formas complexas de discurso (textos
cientficos, artsticos, jornalsticos,...)
Bakhtin (1986) tratou gnero sob uma tica scio-histrica e dialgica, ou seja,
ele examina os gneros por meio de sua historicidade, e atribui-lhes natureza social,
discursiva e dialgica. Em relao viso Bakhtiniana de gneros, Baldry & Thibault
(2006), afirmam que a lngua vista de forma dinmica produzida pela histria e, ao
mesmo tempo, como produtora da histria.
Baldry & Thibault (2006) conceituam gneros como formas tpicas de discurso
que so usados de acordo com a situao de fala. E sugerem que a distino entre
gneros primrios e secundrios podem ser estendidos para textos multimodais.
3. TEXTO MULTIMODAL
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1326
Os textos multimodais so conceituados por Baldry & Thibault (2006) como a
parte constitutiva de algum evento de construo de significado ou atividade na qual o
texto participa. Ou seja, a parte inseparvel das atividades de construo de
significado, que envolvem muitos sistemas semiticos que interagem de diferentes tipos
em diferentes nveis de organizao textual.
Conforme essa premissa, textos nunca so monomodais. O princpio
multimodal difundido em todos os textos, em maior ou menor grau. Os textos
multimodais combinam e integram os recursos de construo de significado de vrias
modalidades semiticas (linguagem, gesto, movimento, imagens visuais, som...) para
produzir significados especficos do texto. Diferentes tipos de recursos so combinados
para produzir um significado global textual. (BALDRY & THIBAULT, 2006)
Um aspecto crucial da anlise de texto multimodal que importante citar nesse
artigo a intertextualidade, pois nenhum texto feito ou interpretado isoladamente de
outros textos. Desse modo, Baldry & Thibault (2006) afirmam que as formaes
multimodais intertextuais so construdas com base em recursos verbais e visuais.
O texto multimodal possui um papel socialmente significativo, ele explora
vrias semioses e, assim, a Multimodalidade extrapola muitas possibilidades para se
trabalhar com os diversos gneros discursivos como anncios publicitrios, cartoons,
filmes, msicas, reportagens entre outros.
Os textos em si podem recontextualizar significados e prticas em uma
modalidade para outra modalidade. Por exemplo, uma verso cinematogrfica de um
romance (romance uma recontextualizao dos gneros do discurso da vida cotidiana
e outras modalidades semiticas) (BALDRY & THIBAULT, 2006).
A proposta de inserir nos livros didticos leitura e produo de texto baseado
em gneros discursivos, em princpio, propicia a prtica social de leitura e possibilita
maior expresso verbal (oral ou escrita) do aprendiz. (DELLISOLA, 2009). Como
afirma Tilio (2009, p. 205) A lngua precisa ser contextualizada em prticas
discursivas, que se materizalizam em gneros do discurso.
Nessa perspectiva, Baldry & Thibault (2006) afirmam que tcnicas de
transcrio multimodal podem ser usadas para comparar diferentes textos do mesmo
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1327
gnero, com vista a destacar as suas diferentes funes dentro deste ou como estes
textos foram ressemiotizados.
3.1 ANLISE DE CLUSTERS BALDRY &THIBAULT
Um texto multimodal integra diferentes recursos semiticos como elementos
visuais, espaciais e lingusticos em vrios nveis de organizao textual, e os diversos
tipos de recursos so combinados na construo de significados.
Esses textos possibilitam vrias anlises multimodais e dentre essas destaca-se
a anlise de clusters que, segundo Baldry e Thibault (2006, p. 31), [...] um termo que
se refere a um agrupamento local dos itens, em uma pgina impressa ou em uma pgina
da Web. Os itens definem uma regio da pgina, podem ser no verbais ou verbais,
sendo funcionalmente relacionados uns com os outros.
Desse modo, analisar clusters ajuda a visualizar, em uma abordagem macro,
como esses clusters esto contidos dentro de outros maiores e tambm, de forma mais
detalhada, a disposio dos itens multimodais de maior escala e os de menor escala.
Esta anlise ferramenta muito importante para a compreenso de como recursos
semiticos esto dispostos na pgina e como estes interagem para produzir significados.
3.2 GRAMTICA VISUAL KRESS & VAN LEEUWEN
Os recursos semiticos so ao mesmo tempo os produtores de histrias
culturais e os recursos cognitivos que usamos para criar significado na produo e
interpretao de mensagens visuais e verbais (JEWITT & OYAMA, 2007 apud KRESS
& VAN LEEUWEN, 2006). Eles funcionam juntos em um texto na forma como so
combinados, pois h harmonia entre a semiose verbal e no-verbal.
A Gramtica do Design Visual, de Kress & van Leeuwen (2006), desenvolvida
a luz da Teoria da Semitica Social relaciona-se s nossas formas de interao social e
cultural, prope-se a descrever como indivduos, coisas e lugares so combinados em
totalidade constitutiva de sentido.
A razo pela qual elaboraram a Gramtiva Visual foi devido importncia e
necessidade de se desenvolver um mtodo de anlise, que possibilite verificar como
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1328
todos os recursos semiticos presentes no texto constroem, de maneira conjunta,
significados sociais (KRESS & VAN LEEUWEN, 2006).
Em relao anlise multimodal, Iedema (2003) ressalta que esta deve ser
complementada por uma exibio dinmica da semiose, o que ele chama de
ressemiotizao, que sobre como significados fazem mudanas de contexto para
contexto.
3.3 RESSEMIOTIZAO IEDEMA
Os textos ao serem transferidos de suporte, deslocam-se de seu contexto
primrio de circulao, na instncia social para o qual foi idealizado, para um novo
contexto de circulao, desta vez na instncia pedaggica, e assim, ganham semioses
no presentes em seu suporte original, configurando-se no que chamamos de
ressemiotizao. Segundo, Iedema (2003, p. 29):
Ressemiotizao destina-se a fornecer os meios analticos para rastrear
como recursos semiticos so traduzidos a partir de um para o outro
como processos sociais se desenrolam, bem como por perguntar por
que essas semiticas (e no outras) so mobilizadas para fazer certas
coisas em determinados momentos.
A ressemiotizao busca analisar a complexidade dos textos e representaes,
sobre como significados fazem mudanas de contexto para contexto e como que
algumas construes acontecem (IEDEMA, 2003, p. 41). um principio que parece
apoiar uma srie de processos scio-organizacionais e manifesta-se em diferentes
esferas da vida social.
A anlise multimodal, muitas vezes, orientada para textos acabados e finitos,
considera a complexidade dos textos ou representaes como eles so, e, menos
frequentemente como que tais construes acontecem, ou como que transformamos
(parte de) maiores processos dinmicos (IEDEMA, 2003, p 30). Portanto, ambas as
perspectivas complementam-se para uma anlise mais detalhada que possibilita uma
reflexo sobre o trabalho dos gneros discursivos nos livros didticos de lngua
espanhola.
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1329
4. METODOLOGIA
O presente artigo tem como orientao a pesquisa de natureza qualitativa.
Segundo Chizzotti (2006, p. 26), [...] pesquisas qualitativas admitem que a realidade
fluente e contraditria e os processos de investigao dependem tambm do pesquisador
(concepes e valores).
Desse modo, o estudo, caracteriza-se tambm como estudo de caso. Conforme
Flick (2004, p. 27), a pesquisa qualitativa trabalha, sobretudo, com textos. Nesta
perspectiva, os mtodos de interpretao, comparao e descrio do presente estudo
ser a partir dos textos do aporte terico. Ludke (1986, p. 1) reitera que [...] para se
realizar uma pesquisa preciso promover o confronto entre os dados, as evidncias, as
informaes coletadas, sobre determinado assunto e o conhecimento terico acumulado
a respeito dele.
Nesse sentido o tipo de estudo de caso o interpretativista. Que caracteriza-se
por investigao detalhada do objeto de estudo e suas relaes com o contexto no qual
est inserido.
A compreenso interpretativa dos textos de suma importncia para o
desenvolvimento do estudo. Por meio de anlise documental, na coleta de dados
observei a abordagem dos gneros discursivos, da multimodalidade e da
ressemiotizao presente nos livros didticos de lngua espanhola, assim, a pesquisa
qualitativa permite ampla anlise e interpretao dos dados.
5. TEXTO MULTIMODAL: UMA PROPOSTA DE ANLISE
Analisei uma lio do livro didtico Espaol nico, de Adriana de Almeida,
Roberta Amendola, e Lvia Baptista, da editora Santillana (Moderna), considero-a como
texto multimodal, uma vez que assumo a abordagem proposta por Kress & van
Leuween (1996) que definem o texto multimodal como aquele que tem seus
significados realizados por meio de mais de uma semiose.
A anlise baseada na perspectiva da Anlise de Clusters (BALDRY &
THIBAULT, 2006); Gramtica Visual (KRESS & VAN LEEUWEN, 2006) com as
seguintes categorias de anlise: Participantes representados, dado e novo, real e ideal,
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1330
projeo e salincia; Ressemiotizao (IEDEMA, 2003). Ela possibilita observarmos a
interao dos recursos semiticos entre a semiose verbal e no verbal, e tambm
constatar como esse texto multimodal ressemiotizado, a ser transferido de suporte,
ganhando semioses no presente em seu suporte original.
A abordagem macro traz tona os aspectos sociais de um texto que foi inserido
no livro didtico (anncio de classificados de uma imobiliria chilena). A ele
acrescida proposta de leitura que enfatiza o gnero discursivo anncio classificado.
Conforme a figura 1:
Figura 1: Lio Nuestras Viviendas
Fonte: BAPTISTA, 2011, p. 20-21.
5.1 ANLISE DE CLUSTERS
Destaquei cinco clusters com potencialidades de significao presentes na
lio. Eles so interdependentes e h relao funcional que define a trajetria de leitura
e permite mltiplas articulaes na construo do sentido. Vejamos as figuras 2 e 2.1:
Figura 2 - Anlise dos clusters 1, 2 e 3
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1331
Fonte: BAPTISTA, 2011, p. 20.
O cluster 1 refere-se ao ttulo do captulo Nuestras Viviendas, que est em uma
posio centralizada na parte superior, em letras maisculas, destacadas no primeiro
plano.
O cluster 2 composto por vrios subclusters (marcados de vermelho na Fig.
2) e refere-se ao contexto, que tem como objetivo preparar os alunos para a leitura do
texto base. Os subclusters so perguntas essenciais para as reflexes sobre casas que
conduziro s atividades de compreenso e interpretao textual. Esto diretamente
relacionados com as imagens do cluster 3 e proporcionam leitura interativa com o
propsito de estimular o viewer/usurio a ativar os conhecimentos prvios.
Os componentes do cluster 3 so definidos por meio de cones visuais, ou seja,
imagens relativas aos diferentes tipos de casas dentro e fora dos centros urbanos. Elas
so grandes, possuem cores vibrantes e naturais, contm fotografias. Nesse sentido, que
qualquer imagem no s representa o mundo (abstratas ou concretas), mas tambm
desempenha um papel em algum tipo de interao e, com ou sem modalidade escrita,
constitui uma espcie reconhecvel de texto (JEWITT & OYAMA, 2007 apud KRESS
& VAN LEEUWEN, 2006).
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1332
Figura 2.1 - Anlise dos clusters 4 e 5
Fonte: BAPTISTA, 2011, p. 21.
Na Fig. 2.1, o cluster 4 com vrios subclusters expe o texto base, anncio de
imobiliria chilena. O anncio revela-se colorido e atraente. Observamos nele a
interao entre texto e imagem.
No cluster 5, h enquadramento com texto explicativo sobre o que so os
anncios classificados e qual a sua funo social.
Portanto, com essa anlise de Clusters, observei a interao dos recursos
semiticos, que Kress e van Leuween (1996) afirmam haver entre a semiose verbal e a
no verbal, ou seja, h combinao de diferentes recursos semiticos advindos de duas
modalidades para construir significado. A seguir, analisei a mesma lio na perspectiva
da Gramtica Visual.
5.2 ANLISE DA GRAMTICA VISUAL
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1333
Com o objetivo de analisar os gneros discursivos inseridos nos LDs de E/LE
elenco a seguir as categorias analticas aplicadas nesta anlise, da Gramtica Visual,
propostas por Kress e van Leeuven (2006). Como na figura 3:
Figura 3 Anlise da Gramtica Visual
Fonte: BAPTISTA, 2011, p. 20-21.
5.2.1 PARTICIPANTES
So os objetos e elementos presentes em uma composio multimodal. H dois
os tipos de participantes na modalidade grfico-visual, os representados e os interativos.
Os Participantes Representados so os objetos da comunicao (pessoas,
lugares e coisas), representadas no e pelo discurso escrito ou visual. So os participantes
sobre os quais se fala, se escreve ou se produz imagens (KRESS & VAN LEEUWEN,
2006). Ou seja, so aqueles que se encontram dentro dos textos, verbais ou visuais, so
os diferentes tipos de casas dentro e fora de centros urbanos na figura 1 e as casas de um
condomnio chileno na figura 3.
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1334
Participantes Interativos so os receptores (leitores/viewers) para os quais se
dirige a mensagem. Ou seja, so os professores e os alunos, pois a composio
multimodal nos LDs dirigida a eles.
5.2.2 DADO E NOVO
Essa categoria relaciona-se ao valor que dado informao, dependendo se
ela se encontra na esquerda ou na direita do layout da pgina. Os elementos localizados
esquerda so representados como dado (algo j conhecido pelo participante) e os
elementos localizados direita como novo (algo no conhecido), exigindo maior
ateno do participante interativo (KRESS & VAN LEEUWEN, 2006).
Por isso, importante ressaltar a relao do dado e do novo na lgica
organizacional, em que, na pgina 20, esquerda, apresenta o dado, ou seja,
informaes que os alunos j conhecem em relao aos diferentes tipos de casas, e na
pgina 21, direita, o novo apresentado com informaes novas sobre os anncios
classificados.
5.2.3 REAL E IDEAL
Na composio visual, alguns dos elementos constitutivos esto localizados na
parte superior, e outros na parte inferior do espao da foto ou da pgina. O que est
localizado em cima apresentado como ideal (apresentado como o idealizado ou,
generalizado, como ausncia de informao), o que est localizado embaixo
apresentado como real (trazem informaes mais detalhadas e especficas referentes
composio grfico-visual) (KRESS & VAN LEEUWEN, 2006).
Nesse sentido, podemos observar na figura 1.1 que a parte superior do anncio
revela o ideal, ou seja, o desejvel, o fantstico por meio das imagens ilustrativas de
casas, ao passo que a parte inferior, o real, refere-se aos recursos semiticos da escrita,
na qual so apresentadas informaes e caractersticas mais detalhadas e realistas sobre
as casas no condomnio.
5.2.4 PROJEO E SALINCIA
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1335
Esta categoria bastante multiforme, e tem o objetivo de demonstrar o grau da
ateno que um elemento chama para si mesmo. Os elementos como contraste de cores,
localizao em primeiro ou segundo plano, tamanho, e forma de foco so designados
para atrair a ateno do participante interativo para diferentes graus (KRESS & VAN
LEEUWEN, 2006).
Desse modo, evidencia-se na fig. 1 o ttulo do captulo Nuestras Viviendas,
localizado em primeiro plano, devido sua centralidade na parte superior da pgina, com
cores e letras destacadas. Ainda, na pgina 20, em segundo plano, possvel visualizar
tambm, com muitas cores, as imagens dos diferentes tipos de casas. Na pgina 21,
destaca-se em primeiro plano o anncio classificado, com intuito de chamar a ateno
dos viewers.
Outro aspecto que observei, em relao ao anncio classificado, apresentado na
lio foi a sua ressemiotizao no livro didtico para atender uma funo pedaggica,
segundo a anlise da prxima seo.
5.3 ANLISE DA RESSEMIOTIZAO
Conforme reconstri significados de um contexto/prtica para outro a
ressemiotizao produz sentidos, e, esses sentidos construdos se revestem de carter
ideolgico. Para isso, a perspectiva de historicizao dos significados ser adotada nessa
anlise, relacionando os textos no contexto de origem bem como no contexto onde
foram ressemiotizados, neste ltimo caso, no LD. Com base nessa relao, que
questionarei como, por que e quais significados foram/so ressemiotizados. Vejamos
nas Fig. 4 e 4.1:
Figura 4 Contexto original
Figura 4.1 Livro didtico
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1336
Fonte: BAPTISTA, 2011, p. 20-21
O texto original um anncio classificado, publicado no site
www.tarragonachile.cl (Fig. 4), localizado no link proyectos realizados e no hiperkink
Condominio Tarragona desse site, que traz anncios de diversos projetos imobilirios.
O texto do LD intitulado Casas en Condominio (Fig. 4.1), sendo seu ttulo original
Condomnio Tarragona- 100% vendido, disponvel no site da imobiliria chilena
Tarragona.
Como o texto original foi veiculado em um site imobilirio, o propsito de
divulgar o condomnio Tarragona e suas caractersticas, ressaltando que j foram
vendidas 100 % das casas. Conforme observamos na figura 5:
Figura 5 Anncio no contexto original
Fonte: www.tarragonachile.cl
http://www.tarragonachile.cl/
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1337
Fonte: www.tarragonachile.cl
A funo comunicativa de divulgar os dados relevantes sobre produtos ou
servios para pessoas interessadas em comprar ou alugar (participantes interativos)
parece ser a principal, sendo que o anncio , ainda, reforado por apenas uma
fotografia colorida que mostra o estilo de casas do condomnio e um mapa com a
localizao. Sua leitura no linear, posto que por estar em um site a possibilidade de
acessar outros contedos/semioses e a abertura de links e hiperlinks infinita.
No contexto original o anncio classificado objetivo, pontual e conciso,
possui a mesma praticidade de seus leitores/viewers que, dificilmente, ler esses textos
caso no esteja necessitando comprar uma casa. J no LD, o texto tem funo
pedagogicamente orientada, e mais atrativo para seus leitores/viewers. Objetiva
apresentar o gnero anncio e, por isso evidencia o assunto, o anunciante, a descrio
do objeto, o contato, e as informaes complementares. Vejamos na figura 6:
Figura 6 Anncio no LD
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1338
Fonte: BAPTISTA, 2011, p. 20-21
No texto do LD a leitura linear e evidencia-se que h mais semioses presentes
do que no seu suporte original, como por exemplo, as cores (vermelho e laranja), vrias
imagens que mostram detalhadamente as casas por dentro, a disposio dos elementos,
o enquadramento, a moldura, primeiro e segundo plano, tamanho e forma das letras.
Essas semiticas (e no outras) so mobilizadas no LD para atrair a ateno
dos participantes interativos (leitores/viewers), os alunos, diferentemente do texto
original que so compradores de imveis. Desse modo, observa-se que significados
mudam de contexto para contexto.
O foco desta seo na leitura e no gnero, e nas pginas subseqentes que
ter propostas de atividades de interpretao e escrita. Ento, os aspectos visuais do
anncio tambm possibilitam uma discusso inicial sobre o gnero a ser estudado,
despertando um leitor crtico e aproximando-o a situaes concretas de leitura e escrita.
A anlise desses aspectos composicionais do texto em relao pgina do LD
ressalta as dimenses materiais, e sua viso alternativa favorece a lgica scio-
processual que rege como materiais significados mutuamente transformam um ao outro.
(IEDEMA, 2003).
6. CONSIDERAES FINAIS
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1339
O ensino de espanhol em escolas regulares de EM e EF no Brasil, ainda se
encontra em fase de ajustes no que tange aos envolvidos: escola, professores e alunos.
nesse contexto que se faz necessrio estudo sistematizado sobre a composio
multimodal de LD, uma vez que nele se encontra as escolhas do que se julga pertinente
para o ensino de lngua.
As anlises permitem reflexo sobre o trabalho dos gneros discursivos nesses
livros didticos, numa perspectiva multimodal, demonstrando as peculiaridades tanto
inerentes ao tipo de gnero, como de composio semitica, com vistas a reflexividade
crtica sobre a formao de sentidos em LD de espanhol e como esses textos podem ser
melhores trabalhados quando conhece a potencialidade de significao de diferentes
semioses em lngua estrangeira.
REFERNCIAS
BALDRY, Anthony; Thibault, Paul J. Introduction: multimodal texts and genres In: Multimodal
Transcription and Text Analysis: a multimedia toolkit and coursebook. London: Equinox, 2006.
p. 1-56.
BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia da linguagem. So Paulo: Hucitec, 1999.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa Qualitativa em cincias humanas e sociais. Petrpolis, RJ: Vozes,
2006.
DIAS R., DELLISOLA R. L. P., Gneros Textuais: teoria e prtica de ensino em LE.
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012.
DELLISOLA R. L. P. Gneros textuais em livros didticos de portugus lngua estrangeira: o
que falta? In: DIAS, R.; CRISTOVO, V. L. L. (Org.) O livro didtico de lngua estrangeira:
mltiplas perspectivas. Campinas, SP: Mercado de letras, 2009, p. 99-120.
DIAS R., CRISTOVO V. L. P. O livro didtico de lngua estrangeira: mltiplas perspectivas.
Campinas, SP: Mercado de letras, 2009.
FERNNDEZ, Francisco Moreno. El Espaol en Brasil. In: SEDYCIAS, Joo. (Org.). O
Ensino do espanhol no Brasil: passado, presente, futuro. So Paulo: Parbola Editorial, 2005, p.
14-34.
FERRAZ A. J. Multimodalidade e Formao Identitria: o Brasileiro em Materiais didticos de
Portugus Lngua Estrangeira (PLE) In: VIEIRA, J. A. (et al.) Reflexes sobre a lngua
portuguesa: uma abordagem multimodal. Petrpolis, RJ: Vozes, 2007, p. 109-145.
FLICK, U. Uma introduo pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004.
IEDEMA, R. Multimodality, resemiotization: extending the analysis of discourse as multi-
semiotic practice. New South Wales, Sydney, Austrlia: Sage Publications, 2003.
KRESS, Gunther; van LEEUWEN, Theo. Introduction: the Grammar of Visual Design. The
Semiotic Landscape: language and visual communication. In: ______;______. Reading images:
the grammar of visual design. London; New York: Routledge, 2006, p.1-42.
LUDKE, M.; ANDR, M. E. D. A. Pesquisa em Educao: abordagens qualitativas. So
Paulo: EPV, 1986
SEDYCIAS, Joo (Org.) Ensino do espanhol no Brasil: passado, presente, futuro. So Paulo:
Parbola Editorial, 2005, p. 223.
International Congress of Critical Applied Linguistics
Braslia, Brasil 19-21 Outubro 2015
1340
STAKE, R. E. Case studies. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Org.) Handbook of
Qualitative Research. Thousand Oaks: Sage, 1994, p. 237-261.
TILIO, R. Os gneros do discurso e o livro didtico de ingls: algumas consideraes. In: DIAS,
R.; DELLISOLA, R. L. P. (Org.) Gneros Textuais: teoria e prtica de ensino em LE.
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012, p. 205-236.
Recommended