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UFES – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CCJE – CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
DCC – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS
EMILIANA BARBOSA DA SILVA
IVONE GONÇALVES LUIZ
MUTAÇÕES NO NÍVEL DE EVIDENCIAÇÃO DE
INFORMAÇÕES AMBIENTAIS:
O CASO PETROBRAS
VITÓRIA 2002
4
EMILIANA BARBOSA DA SILVA
IVONE GONÇALVES LUIZ
MUTAÇÕES NO NÍVEL DE EVIDENCIAÇÃO DE
INFORMAÇÕES AMBIENTAIS:
O CASO PETROBRAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de graduação em Ciências Contábeis. Orientador: Prof. Valcemiro Nossa
VITÓRIA 2002
5
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS .................................................................................................6 RESUMO....................................................................................................................7 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................8
1.1 Antecedentes do tema e situação problema............................................................ 8 1.2 Objetivo da pesquisa ............................................................................................. 11
1.2.1 Objetivo Geral................................................................................................................. 11 1.2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 12
1.3 Hipótese de trabalho.............................................................................................. 12 1.4 Justificativa e contribuições esperados ................................................................. 13 1.5 Delimitação do tema .............................................................................................. 16
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................18
2.1 História da Contabilidade Ambiental...................................................................... 18 2.2 Normatização da Contabilidade Ambiental............................................................ 22 2.3 Usuário da Contabilidade Ambiental...................................................................... 27 2.4 Tipos de informações contidas no Balanço Ambiental .......................................... 31 2.5 Indicadores Econômicos e Ambientais .................................................................. 37 2.6 Riscos Ambientais na Indústria Petroquímica ....................................................... 43 2.7 Acidentes Ecológicos e a Petrobrás ...................................................................... 46 2.8 Pesquisas anteriores ............................................................................................. 51 2.9 Processo evolutivo do Disclosure Ambiental ......................................................... 54
2.9.1 O custo e aumento do Disclosure Ambiental na última década..................................... 58 3 METODOLOGIA DE PESQUISA..........................................................................61 4 ANÁLISE DOS DADOS AMBIENTAIS DA PETROBRAS ...................................64
4.1 Considerações Iniciais ........................................................................................... 64 4.2 Análise das categorias........................................................................................... 64
4.2.1 Categoria Políticas ambientais....................................................................................... 64 4.2.2 Categoria auditoria ambiental ........................................................................................ 65 4.2.3 Categoria sistema de gerenciamento ambiental............................................................ 66 4.2.4 Categoria impactos ambientais ...................................................................................... 67 4.2.5 Categoria parque industrial e instalações de proteção ambiental ................................. 67
4.2.6 Categoria legislação ambiental........................................................................... 68 4.3 Análise dos Resultados ......................................................................................... 71
5 CONCLUSÕES .....................................................................................................75 6 REFERÊNCIAS.....................................................................................................78 7 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.....................................................................83
6
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Stakeholders e informações ambientais ..........................................................28 Tabela 2: Normas previstas para série ISO 14.000: ........................................................39 Tabela 3: Parque industrial e instalações de proteção ambiental – Subcategorias e números
de sentenças por ano............................................................................................68 Tabela 4: Energia– Subcategorias e números de sentenças por ano................................69 Tabela 5: Informações financeiras ambientais – Subcategorias e números de sentenças por
ano......................................................................................................................70 Tabela 6: Outras informações ambientais – Subcategorias e números de sentenças por ano
...........................................................................................................................70 Tabela 7: Quantidade de sentença apresentadas – por ano e por tipo de relatório.............72 Tabela 8: Quantidade de sentença apresentadas – por ano e por tipo de relatório.............73 Tabela 9: Quantidade de sentenças apresentadas por ano e por tipo de relatório..............74
7
RESUMO Análise do conteúdo dos relatórios ambientais da Petrobrás (Petróleo Brasileiro
S.A.). Objetiva este trabalho investigar, com base nas práticas correntes, qual o nível
de evidenciação ambiental nas demonstrações contábeis e relatórios ambientais da
Petrobrás entre os anos de 1999, 2000 e 2001. Apresenta-se na revisão da literatura
os principais aspectos relacionados à contabilidade e ao disclosure ambiental, as
regulamentações e normartizações dos relatórios ambientais, bem como citações de
várias pesquisas realizadas sobre disclosure e relatório ambiental. São realizadas
análises do conteúdo dos relatórios de três anos consecutivos da empresa. As
conclusões da pesquisa confirmam as hipóteses citadas de que o houve um
acréscimo não significante na quantidade de informações ambientais evidenciadas
no ano de 1999 para 2000; houve um acréscimo significante na quantidade de
informações ambientais evidenciadas no ano de 2000 para 2001 e que houve um
acréscimo significante na quantidade de informações ambientais evidenciadas no
ano de 1999 para 2001.Concluiu-se também que acidentes ecológicos, ramo de
atividade de risco, são fatores que motivam o aumento do disclosure ambiental em
relatórios anuais. O desta pesquisa se restringe à amostra analisada.
8
1 INTRODUÇÃO
1.1 Antecedentes do tema e situação problema
A contabilidade, ao longo da evolução da sociedade humana com suas
transformações, invenções, desenvolvimento cultural, técnico e científico,
transações, permuta, venda, compra, entre outros eventos, esteve sujeita a
mudanças. Desde a simples contabilização dos gastos e receitas dos lares, até a
mais complexa ou grande empresa privada, do menor ente social ao maior estado
ou país, há certa necessidade da contabilidade.
Historicamente, nota-se que existe uma relação de troca entre o ambiente e a
humanidade. Para satisfazer suas necessidades, o homem procura aproveitar os
diversos recursos oferecidos pela natureza.
Assim, retiram seus alimentos da flora e da fauna. Constroem suas habitações com
materiais extraídos das rochas (minerais) e das árvores (madeira). Confeccionam
suas vestimentas utilizando fibras de origem vegetal (algodão), animal (lã) ou
mineral (fibras sintéticas, obtidas a partir do petróleo). Utilizam a água para
agricultura, como os célebres exemplos do vale do Nilo, no Egito e rios Tigres e
Eufrates na Antiga Mesopotâmia. Bem como os diferentes processos energéticos
implementados em diversas fases da história, o uso da lenha, do carvão, a máquina
a vapor, durante a Revolução Industrial, posteriormente, os sistemas de energias
das correntes de água, petróleo, energia nuclear são fontes de recursos renováveis
e não-renováveis, como ilustrou Moreira (1988, p.129).
Ao procurar a satisfação de suas necessidades, o homem modifica a natureza,
alterando as paisagens naturais e construindo o espaço em que vive - o espaço
geográfico, baseado nos meios de produção de acordo com a época em que
culturas e grupos sociais, em distintos momentos fazem utilização do ambiente no
qual estão inseridos. Desta forma, desde o antigo testamento até a atualidade, a
contabilidade tem tido entre outros objetivos, registrar nos livros os ganhos e perdas
9
da relação entre a humanidade e o ambiente, principalmente, nas últimas décadas,
como ilustrou Jöhr (1994, p.22).
Cada vez mais a sociedade vem buscando maior clareza quanto à revelação dos
resultados econômicos, financeiros, sociais e ambientais das empresas. De fato,
estas consomem recursos naturais, humanos, físicos e tecnológicos, renováveis ou
não, direta ou indiretamente, que constituem parte integrante do patrimônio da
humanidade. As entidades se mantêm em função desses fatores de produção, por
esse motivo devem fornecer informações sobre a exploração, manutenção e
investimentos no ambiente em que atuam.
Segundo Andrade, Tachizawa e Carvalho apud Tinoco (2001, p.99):
[...] a preservação do meio ambiente converteu-se em um dos fatores de maior influência da década de 90, com grande rapidez de mercado. Assim, as empresas começam a apresentar soluções para alcançar o desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo aumentar a lucratividade dos seus negócios.
Durante o consumo dos recursos ambientais, por meio de processos de
transformação e novas tecnologias de produção, as empresas estão procurando
conter, se não eliminar, os efeitos poluentes de suas atividades produtivas. A
agressão ao meio ambiente coloca em risco a continuidade e a qualidade da vida
humana. Aquelas que não fornecem condições adequadas de trabalho contribuem
para a degeneração psicológica e social de seus trabalhadores; já as que não
agregam valor à economia da comunidade, fazem com que a aplicação de recursos
do governo não resulte em benefícios esperados para os habitantes da região.
Assim, as empresas que não se adequarem a esta nova situação, estarão
condenadas a desaparecerem, caso não modifiquem seu comportamento, tamanha
pressão sofrida por parte da sociedade civil, bancos financiadores, organizações não
governamentais - ONG´s (Ex: Greenpeace1, WWF-World Wildlife Fund2) e acordos
1 Greenpeace: Fundado em 1971 no Canadá, é uma entidade internacional sem fins lucrativos que se baseia em alguns princípios básicos: Não estabelece alianças com partidos políticos - e não toma posições políticas exceto no que diz respeito à proteção do meio ambiente e da paz; É adepto do princípio da não violência, mas não recua na defesa de suas causas; Rejeita ataques a pessoas ou propriedades privadas; Mantém uma política rígida de não solicitar contribuição financeira de governos ou empresas - a única fonte dos recursos que financiam o Greenpeace são as doações de pessoas físicas, e, em pequena escala, a venda de produtos com a marca da organização.(Greenpeace, 2002).
10
resultantes de conferências internacionais (Ex.:Conferência de Estocolmo, realizada
no México em 1971 e em Nova Iorque em 1972; e a Cúpula da Terra, Rio 92, ou Eco
92, todas patrocinadas pela Organização das Nações Unidas - ONU). Quando
acontecem acidentes de grande impacto ecológico no setor petrolífero, como
resultado há um maior nível de evidenciação ambiental, a exemplo do ocorrido em
1989, com o petroleiro Valdez da empresa Exxon, no Alasca. A companhia viu-se
obrigada a demonstrar os gastos com a recuperação ambiental e com prevenção de
novas ocorrências, bem como, destacar uma série de informações de caráter
qualitativo, entre as quais as mais importantes são: informações relativas à ecologia,
onde se evidencia o esforço por parte da entidade, para resguardar a flora, a fauna e
a vida humana em suas interações com o meio ambiente; dados relativos ao
treinamento e a formação continuada dos trabalhadores; condições de higiene e
segurança; relações profissionais, explicitando sua responsabilidade social e
corporativa, segundo Walden & Schwartz (1997 p.125).
Walden & Schwartz (1997, p.125) argumentam que:
[...] A problemática ambiental tem sido e continua sendo o maior ponto de discussão para muitas corporações. Ações judiciais e regulamentações para promoção da conservação ambiental são instrumentos legais de mudanças sociais, as quais levaram as entidades a relatar suas ações e gastos perante o meio ambiente. Essas ações aceleraram a necessidade para a mensurabilidade e evidenciação das informações sobre os processos produtivos que atingem o meio ambiente. (tradução nossa)3
Por meio, de trabalho publicado em 1997, Walden & Schwartz (1997, p.144)
comprovaram que as companhias após acidentes ecológicos aumentaram o nível de
suas divulgações ambientais, respondendo assim, à pressão da política pública a
respeito do meio ambiente. Para conclusão desta publicação, foram analisadas e
2 WWF-World Wildlife Fund: A história do WWF começou na década de 60. Mais precisamente, em 1961, quando um grupo de cientistas preocupados com a devastação da natureza criou o WWF, na Suíça. Até hoje, é nesse país que fica a sede da rede WWF. Ao longo de quatro décadas, a organização cresceu e transformou-se, ampliando suas atividades. Assim, passou de um pequeno grupo de defensores da natureza para uma rede mundial de defesa do meio-ambiente. A rede é apoiada por pessoas de origens diferentes, preocupadas com o mesmo objetivo: garantir a preservação do planeta em que vivemos.(WWF, 2002) 3 Environmental issues have been and continue to be a major social issue facing many corporations. Laws and regulations promoting a cleaner environment are due to social changes, which in turn have led corporations to take actions relating to the environment which are costly. These actions have accelerated the need for a measurement and reporting system dealing with environmental issues.
11
confrontadas as divulgações ambientais categorizadas como não-monetárias contra
divulgações monetárias de várias empresas do setor petroquímico. Utilizando-se de
análise estatística, os autores observaram que as divulgações ambientais não-
monetárias estariam influenciadas, principalmente, pela repercussão social dos
eventos do que, propriamente, pelos órgãos reguladores (legislação ambiental,
organizações não-governamentais, governo...).
No Brasil, dentre os vários desastres ambientais, dos quais muitos envolveram a
Petrobrás (Petróleo Brasileiro S.A.), o mais expressivo ocorreu na Baía de
Guanabara, Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 2000, com o rompimento de um
oleoduto, causando o vazamento de mais de 1.200 mil litros de óleo, a princípio
provocado por falha humana; o outro em 2000, no Paraná, provocado pelo
derramamento de toneladas de nafta na Baía de Paranaguá. O navio Norma,
"pilotado" por um "prático", bateu contra as rochas e a contaminação foi imediata,
como relatou Berna (2000).
Com base nesses acontecimentos busca-se neste estudo responder à seguinte
questão: Qual o nível de evidenciação ambiental nas demonstrações contábeis e relatórios ambientais da Petrobrás entre os anos de 1999, 2000 e 2001?4
1.2 Objetivo da pesquisa 1.2.1 Objetivo Geral O objetivo geral deste trabalho é verificar o nível de evidenciação de informações
ambientais da Petrobrás entre os anos de 1999, 2000 e 2001.
4 A escolha dos referidos anos resultou da necessidade de se mostrar como era o nível de evidenciação antes e após os citados acidentes.
12
1.2.2 Objetivos Específicos Para atendimento do objetivo geral são delineados os seguintes objetivos
específicos:
O1 - Verificar se houve aumento significante de evidenciação de informações
ambientais do ano de 1999 para 2000;
O2 - Verificar se houve aumento significante de evidenciação de informações
ambientais do ano de 2000 para 2001;
O3 - Verificar se houve aumento significante de evidenciação de informações
ambientais do ano de 1999 para 2001;
1.3 Hipótese de trabalho
As hipóteses são tidas como uma afirmação provisória que se espera como suposta
resposta ao problema da pesquisa. Como argumenta Gil (1996, p.154):
[...] hipótese e problema formam um todo indivisível, tem-se no projeto quer metodológica quer teoricamente. Elementar, mas correta é a definição da hipótese como resposta provisória ao problema. Tanto o problema quanto à hipótese são formulados dentro do marco teórico de referência adotado pelo pesquisador...
Assim, em função da questão e objetivos da pesquisa são propostas as seguintes
hipóteses:
H1 - Houve um acréscimo não significante na quantidade de informações
ambientais evidenciadas no ano de 1999 para 2000;
H2 - Houve um acréscimo significante na quantidade de informações ambientais
evidenciadas no ano de 2000 para 2001;
H3 - Houve um acréscimo significante na quantidade de informações ambientais
evidenciadas no ano de 1999 para 2001.
13
1.4 Justificativa e contribuições esperados
Nas últimas décadas, o homem vem tomando consciência de que não deveria visar
apenas o progresso, sem preocupar-se com o meio ambiente, pois ele é elemento
integrante deste meio e sua degradação comprometeria a qualidade de vida. Por
isso, a procura por uma relação mais harmoniosa entre esses fatores intensificou-se,
mesmo que muitas vezes isso ocorra de maneira antagônica.
À luz da Contabilidade observa-se que a relação entre o homem e os recursos
naturais caracteriza fluxos de movimentos de um “estoque” natural, com
fornecimentos e recebimentos para realização de atividades de produção e
consumo, como observa Litlzen apud Jöhr (1994, p.134). Desta maneira, sem ser
capital nem trabalho, a natureza cumpre funções como: fornecer alimentos,
matérias-primas e energia, oferecer bens inesgotáveis como o ar, ser depósito de
resíduos, entre outros. Contudo, é válido destacar o grande problema econômico da
escassez, que surge porque as necessidades humanas são virtualmente ilimitadas e
os recursos econômicos (recursos naturais, capital e trabalho), limitados. Esse não é
um problema tecnológico, e sim de disparidade entre os desejos humanos e os
meios disponíveis para satisfazê-los.
Segundo Litlzen apud Jöhr (1994, p.137) aqui nasce à problemática ambiental:
[...] para que este agente fornecedor natural tenha sua utilização e manutenção evidenciadas por meio da contabilidade ambiental, dirigida a obter um equilíbrio onde a taxa de extração não deverá superar a taxa de renovação ou reposição; impedindo que a de contaminação exceda a taxa de regeneração da fonte. No caso das não renováveis, onde seu esgotamento depende do tempo e da velocidade de sua extração, deverá levar em conta o mais longo prazo para ter maior tempo de duração.
14
Considerando que preservar é guardar, proteger, pôr antecipadamente a resguardo
de um dano ou perigo uma pessoa ou coisa, neste caso a referência é o meio
ambiente, chega-se então ao desenvolvimento sustentável, termo criado em 1987
pela ex-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland apud Jöhr (1994, p.194), e pode
ser definido como:
[...] aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem suas próprias necessidades, como também é uma forma de otimizar o uso racional dos recursos naturais e a garantia de conservação e do bem estar para as gerações futuras.
Com o aumento da consciência social a população civil e governo passaram a não
aceitar a justificativa das entidades existirem apenas para gerar lucros a seus
proprietários. E como resultado desta conscientização, as empresas viram-se
obrigadas a emitir relatórios contábeis com evidências de ações como: programas
de treinamento, reciclagem e desenvolvimento de pessoal, políticas de benefícios
sociais e atitudes de preservação e recuperação do meio ambiente. Esse tipo de
divulgação tornou-se positiva para as empresas, tanto do ponto de vista de melhoria
da sua imagem perante a sociedade, como o da qualificação das informações
contábeis.
A atividade contábil deve refletir em suas demonstrações e relatórios a existência
material e imaterial do meio ambiente, não se limitando em evidenciar os resultados
de processos como o de desflorestamento de grandes áreas, os efeitos ligados à
contaminação pelo uso indiscriminado de substâncias químicas, impactos
ambientais5 resultantes de grandes acidentes ecológicos, como aborda Marques
apud Tinoco (2001 p.103). Devem demonstrar também a soma, acúmulo ou
estimação por intermédio de informações e números a real dimensão destes
acontecimentos e seus efeitos para o futuro.
5 Impactos ambientais segundo Moura (2000, p.204) pela resolução do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) n. 1, de 23 de janeiro de 1986, art. 1º, impacto ambiental, é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria, resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam: I. a saúde, a segurança e o bem estar da população; II. as atividades sociais e econômicas; III. a biota; IV. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V. a qualidade dos recursos ambientais.
15
De acordo com Tinoco (2001, p.10), essa forma de evidenciar informações sociais e
ambientais é discutida no Brasil desde 1961, pela ADCE - Associação dos Dirigentes
Católicos de Empresa. Foi também objeto do anteprojeto de lei do, então, deputado
Valdir Campelo em 1991, e posteriormente (1996-1997) o sociólogo Herbert de
Souza - o Betinho (1935-1997) e as, então, deputadas Martha Suplicy, Sandra
Starling e Maria da Conceição Tavares motivaram a retomada das discussões sobre
os mesmos.
Segundo Herbert de Souza apud Tinoco (2001, p.13):
[...] as empresas, públicas ou privadas, queiram ou não, são agentes sociais no processo de desenvolvimento. A dimensão delas não se restringe apenas a uma determinada sociedade, cidade, país, mas no modo que se organiza e principalmente atua, por meio de atividades essenciais.
Este estudo pretende verificar o nível de evidenciação de informações ambientais da
Petrobrás, pois a história desta empresa se confunde com a própria história do
petróleo brasileiro, recurso não-renovável, que passou a ser propriedade exclusiva
da União Federal por meio da Lei 2.004 em 3 de outubro de 1953. Nessa Lei, foi
constituída a Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobrás, como empresa estatal para
execução do monopólio, incluindo a execução de quaisquer atividades correlatas ou
afins àquelas monopolizadas. O então presidente Getúlio Vargas, do Palácio do
Catete, antiga sede do Governo Federal, enviava mensagem ao povo brasileiro,
dando conta de que o Congresso acabara de transformar em lei o plano
governamental para a exploração do petróleo. A seguir alguns trechos do discurso
do Presidente:
[...] constituída com capital, técnica e trabalho exclusivamente brasileiros, a Petrobrás resulta de uma firme política nacionalista no terreno econômico, já consagrada por outros arrojados empreendimentos, em cuja viabilidade sempre confiei. (...) É, portanto, com satisfação e orgulho patriótico que hoje sancionei o texto de lei aprovado pelo poder legislativo, que constitui novo marco da nossa independência econômica. (Petrobrás, 2002).
Estavam lançadas as bases da política petrolífera nacional, estabelecida em lei. Foi
um momento histórico, e o início de um longo caminho a percorrer. Este, no entanto,
16
foi marcado por expressivos acidentes ambientais que geraram maior consciência no
que tange a responsabilidade social e ambiental da entidade, não somente na
sociedade brasileira, mas em grande parte da comunidade internacional. Uma vez
que a Petrobrás, também atua no exterior está presente em diversos países como
Angola, Argentina, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos, Guiné Equatorial, Nigéria, e
Trinidad & Tobago e com escritórios em Nova Iorque, Londres e Japão. Mantendo
assim, uma consistente atividade internacional, tais como: compra e venda de
petróleo, tecnologias, equipamentos, materiais e serviços; acompanhamento do
desenvolvimento das economias americana e européia; operações financeiras com
bancos e bolsas de valores; recrutamento de pessoal especializado; afretamento de
navios entre outros. (Petrobrás, 2002).
Refletindo sobre o panorama histórico e o campo de atuação da Petrobrás, levando
em consideração a magnitude da responsabilidade social e ambiental do setor
petroquímico, justifica a execução do presente estudo, uma vez que este pretende
demonstrar, por meio de análise de conteúdo, o impacto no nível de evidenciação
ambiental nos relatórios e demonstrações contábeis, decorrentes dos acidentes
ecológicos envolvendo a Petrobrás.
1.5 Delimitação do tema
O estudo fez a análise de conteúdo nos Demonstrativos Contábeis da Petrobrás
(Petróleo Brasileiro S.A.), uma companhia integrada que atua na exploração,
produção, refino, comercialização e transporte de petróleo e seus derivados no
Brasil e no exterior. A análise de conteúdo será pautada na investigação das
mutações nos níveis de Evidenciação Ambiental nos Demonstrativos Contábeis e
Relatórios Ambientais dos anos de 1999, 2000 e 2001, pelo fato de que nos anos de
2000 e 2001 terem ocorrido os mais expressivos acidentes ambientais envolvendo a
companhia.
A princípio, a intenção era realizar um trabalho de análise qualitativa do conteúdo
dos relatórios contábeis e ambientais, no entanto, não foi possível dispor de um
17
parâmetro comparativo. Para o teste das hipóteses seria adequado o uso da
estatística, entretanto, como se trata estudo de três períodos de uma única empresa,
impossibilitando a análise estatística. Para tal análise, seriam necessários no mínimo
30 observações, seja de número de períodos, seja de número de empresas.
18
2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 História da Contabilidade Ambiental
Desde o século XIX, a preocupação com o meio ambiente vem apresentando uma
tendência de crescimento, tornando-se presente em todos os campos da sociedade
mundial, proporcionalmente à diversidade de interesses de seus agentes.
No Brasil, em 1933 quando a expressão “meio ambiente” não era amplamente
disseminada como nos dias atuais, um grupo de cientistas, jornalistas e políticos
organizaram no Rio de Janeiro a primeira reunião para discutir políticas de proteção
ao “patrimônio natural”. A pauta desta, era ampla o bastante para incluir a defesa da
flora, fauna, sítio de monumentos naturais, em resumo a proteção e o melhoramento
das fontes de vida no país. Todavia, a discussão estava voltada apenas para a
preservação dos recursos vegetais. Compreensível, pois a realidade da época era a
de que a maior parte da população encontrava-se no campo, vivendo de atividades
extrativistas e agrícolas como ilustrou Almeida (2002, p.28).
Posteriormente, nas décadas de 40 e 50, em conseqüência das políticas
governamentais baseadas na industrialização, primeiramente com Getúlio Vargas e
seus investimentos e siderurgia e energia e em seguida com Juscelino Kubitschek
promovendo a aceleração e aumento da indústria, os ideais conservadoristas da
década de 30 ficaram esmaecidos.
A publicação nos Estados Unidos da obra “Silent Spring” (Primavera Silenciosa) de
autoria da bióloga Rachel Louise Carson, pela primeira vez denunciava a sociedade
leiga a contundente contaminação do meio ambiente por resíduos tóxicos
decorrentes da utilização de pesticidas químicos, como por exemplo, o DDT
(diclorodifeniltricloroetano), inseticida responsável por disfunção reprodutiva em
animais superiores. (ex. ser humano). Este livro contribuiu para a proibição do uso
da substância e, posteriormente, para a criação da EPA – Environmental Protection
Agency (Agência de Proteção Ambiental), órgão fiscalizador americano do meio
ambiente, como relata Almeida (2002, p.29).
19
Em conseqüência da citada publicação, nas décadas de 60 e 70, surge um novo
fenômeno social com impacto econômico nas empresas: o interesse da sociedade
na mensuração da qualidade de vida, monitoramento de mudanças sociais e a
demanda de divulgação de indicadores e informativos sociais, como relata Marques
apud Tinoco (2001, p.99).
Segundo Moura (2000, p.4), foi também na década de 80 que surgiu o conceito de
desenvolvimento sustentável, que admite a utilização dos recursos naturais de que
temos necessidade hoje, para permitir uma boa qualidade de vida, porém sem
comprometimento da utilização desses recursos pelas gerações futuras.
A ONU (2001, p. 06) entende por meio ambiente todo o conjunto físico natural,
inclusive o ar, a água, a terra, a flora, a fauna e os recursos não renováveis, como os
combustíveis fósseis e os minerais.
Atualmente, as empresas, como produtoras de bens e serviços, estão em grande
evidência ambiental. As pressões exercidas pelas comunidades têm motivado uma
postura pró-ativa de melhoria de seus processos produtivos, com redução da
quantidade de resíduos e poluentes e um consumo sustentável de matérias primas e
energia. Utilizando-se para isso a gestão ambiental, que é a forma pela qual a
empresa se mobiliza, interna e externamente na conquista da qualidade desejada.
Segundo Marques apud Tinoco (2001, p.99):
[...] não, a empresa já não tem o direito de produzir e vender o que queiram, de licenciar novos produtos quando queiram, de justificar por sua rentabilidade financeira a incitação permanente ao consumismo.
Neste âmbito também está inserida a questão ambiental, que afeta toda a sociedade
e impacta dos mais diferentes modos o futuro existencial da humanidade e de suas
relações.
20
Os impactos ambientais de hoje conduzem a efeitos degradáveis que têm suas
soluções e benefícios sensíveis em longo prazo. Portanto, as empresas vêm
percebendo a necessidade de correção de danos passados e de se evitar a
reincidência de novos impactos, através da avaliação da degradação possivelmente
propiciada por seus processos produtivos no futuro e da maximização da utilização
de recursos naturais, fechando assim o fluxo de degradação, recuperação e
conservação do meio ambiente em que estão instaladas.
Essa percepção pode surgir dentro de uma empresa por imposição legal ou pelo fato
dela se achar responsável pelos estragos causados ao meio ambiente, durante seu
processo produtivo, ou até mesmo, propiciados por outras empresas.
A internacionalização da economia e o controle estrangeiro no capital das empresas
brasileiras trazem ao país os primeiros indícios do desenvolvimento de uma cultura
de prestação de contas no ambiente empresarial, muito evidente em países
europeus como, por exemplo, na Alemanha, França e Reino Unido, como relata
Antunes. (2000, p. 13).
As empresas, como parte integrante da sociedade, estão sendo fortemente
demandadas a cumprirem metas ambientais, além das econômicas, demonstrando
que além do retorno econômico gerado aos acionistas, também estão gerando
retorno social às comunidades onde se encontram inseridas.
Nesse contexto, Bergamini Junior (2000, p.14) comenta como se tornou vital a
adoção de uma política de gestão ambiental pelas companhias, considerando, entre
outros fatores: as práticas impostas pela rígida legislação ambiental brasileira; o
mercado consumidor, cada vez mais consciente e exigente em relação a uma
postura social e ambiental responsável; a minimização dos riscos e a maximização
do retorno do capital dos acionistas e investidores e os benefícios financeiros da
análise estratégica de ativos, passivos e custos ambientais.
21
A contabilidade e a auditoria ambientais são ferramentas essenciais que geram
dados para avaliação do efetivo funcionamento dos processos de gestão e
programas ambientais implantados nas empresas. Possibilitam meios de verificação
do que foi estabelecido como política, objetivos e métodos, para a possível
identificação de falhas e indicativos de melhorias.
Segundo a ONU apud Bergamini Júnior (2000, p.311) a Contabilidade Ambiental tem
o objetivo de registrar as transações da empresa que impactam o meio ambiente. E,
também os efeitos que influenciam, ou deveriam influenciar, a posição econômica e
financeira dos negócios da empresa que reportam tais transações, devendo
assegurar que os custos, os ativos, os passivos ambientais estejam contabilizados
de acordo com os princípios fundamentais da contabilidade ou, na ausência desses,
com as práticas contábeis geralmente aceitas, e que o desempenho ambiental tenha
ampla transparência aos usuários da informação contábil.
As necessidades dos usuários da informação contábil mudaram e deram indícios do
surgimento de uma subdisciplina da ciência derivada deste novo fenômeno: a
Contabilidade Econômico-Social ou Contabilidade Social.
Riahi-Belkaoui apud Machado (2002, p.04) afirma que:
[...] contabilidade Econômico-Social resulta da aplicação da contabilidade nas ciências sociais. Ela refere-se à organização, mensuração, análise e divulgação das conseqüências sociais e econômicas do comportamento governamental e empresarial. Ela inclui estas atividades nos níveis “macro” e “micro”. No nível “micro”, seus objetivos são a mensuração e comunicação do impacto do comportamento organizacional das empresas nos seus ambientes de atuação. No nível “macro”, seus objetivos são a mensuração e divulgação da performance econômica e social da nação [...].
Uma pesquisa realizada pela KPMG6 em 1996, de uma amostra de 100 empresas
de cada um dos seguintes países: EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Reino
Unido, Holanda, Bélgica, Suíça, Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia. Os
6 Empresa de auditoria contábil.
22
resultados mostrados a seguir foram extraídos de 804 relatórios anuais e dos 192
relatórios ambientais recebidos:
∙ 71% das empresas mencionaram o meio ambiente em seus relatórios, em contraste com 58% da pesquisa anterior (1993); ∙ 95% das empresas norueguesas mencionaram meio ambiente em seus relatórios financeiros. Nos Estados Unidos o índice ficou em 86%. O único país onde o índice ficou abaixo de 50% foi a Nova Zelândia (39%); ∙ 18% das empresas incluíram custos ambientais nas demonstrações financeiras ou nas Notas Explicativas e/ou explicitaram suas políticas ambientais. Nos Estados Unidos este número chegou a 70%. O alto percentual é explicado pelas exigências do órgão regulador das companhias abertas, SEC – Securities and Exchange Commision; ∙ 31% das companhias mencionaram meio ambiente no Relatório da Auditoria; ∙ 24% das empresas produziram algum tipo de relatório ambiental em separado. Na pesquisa anterior foram 15%; ∙ Mais de 70% das empresas da indústria química produziram relatórios ambientais.
2.2 Normatização da Contabilidade Ambiental
Embora os eventos que envolvem a Contabilidade Ambiental possam ser definidos
pelos mesmos critérios utilizados para o reconhecimento dos demais fatos contábeis
da empresa, em muitos casos isto não vem sendo evidenciado. Quando o são,
apresentam inconsistência em relação ao tipo e à quantidade de dados
apresentados, como ilustra Moura (2000, p.24).
A contabilidade é classificada como ciência social, haja vista, que é influenciada por
mudanças nos campos político, econômico e cultural. Iudícibus (2000, p.19)
considera que: [...] o objetivo da Contabilidade é fornecer aos usuários, independentemente de sua natureza, um conjunto básico de informações que, presumivelmente, deveria atender igualmente bem a todos os tipos de usuários [...].
A Contabilidade Ambiental apresenta-se como o sistema de informações que tem
por finalidade principal coletar, mensurar e evidenciar as transações ambientais
23
visando exercer o importante papel de veículo de comunicação entre empresa e
sociedade.
Neste sentido, as demonstrações contábeis merecem atenção e estudo especiais,
haja vista, que representam o principal canal de evidenciação de itens financeiro-
ambientais do qual faz uso a Contabilidade.
Teixeira (2000, p.03) afirma que:
[...] há uma tendência das empresas em abrir para a comunidade uma grande quantidade de dados sobre sua política ambiental, seus programas de gerenciamento ambiental e o impacto de seu desempenho ambiental em seu desempenho econômico e financeiro.
Ao mesmo tempo, segundo Teixeira (2000, p.03), a contabilidade do meio ambiente
tem crescido de importância para as empresas em geral, pois a disponibilidade e/ou
escassez de recursos naturais, e a poluição do meio ambiente tornaram-se objeto de
debate econômico, político e social em todo o mundo.
Por todas as razões citadas preliminarmente, Martins e Ribeiro (1998, p.24) expõem
que:
[...] a Contabilidade evoluiu o bastante para identificar, mensurar, registrar e tornar público todos os eventos de relevância envolvidos no desenvolvimento das atividades de uma empresa, com isso fornecendo fundamentos para a escolha mais acertada entre as alternativas possíveis em relação à alocação de recursos escassos e, em seguida, oferecendo elementos para avaliação dos recursos consumidos comparativamente aos rendimentos obtidos.
De forma análoga Antunes (2000, p.06) afirma:
[...] a Contabilidade Ambiental [...] tem por objetivo registrar e controlar toda e qualquer atividade, desenvolvida ou em desenvolvimento, ocorrida ou a incorrer, não importando se em maior ou menor relevância, desde que, mensurável em moeda, que cause ou possa vir a causar qualquer ação destinada a amenizar e/ou extinguir tais danos, devendo ser registrada contabilmente em
24
contas contábeis específicas, na data de sua ocorrência, em consonância com o disposto nos Princípios Fundamentais de Contabilidade – Resolução 759/93 do Conselho Federal de Contabilidade.
Então, simplificando e ao mesmo tempo conceituado de maneira genérica, pode-se
dizer que o objetivo da contabilidade ambiental é direcionar o sistema de
informações, já adotado pela contabilidade tradicional, para a mensuração e
evidenciação, aos usuários da informação contábil, do impacto ambiental no
patrimônio das organizações e na conduta da empresa em relação ao meio
ambiente.
Para isso a padronização da informação é de fundamental importância. Os padrões
oferecem base confiável e segura para registrar, comparar e analisar a situação e
desempenho das companhias, afastando interpretações dúbias na análise de dados,
segregando fatos reais de opiniões individuais.
Há um consenso, para padronizar a informação ambiental nas Demonstrações
Contábeis e Relatórios Ambientais, entre vários órgãos reguladores como a SEC
(Securities and Exchange Commission), IASC (International Accounting Standards
Committee), AICPA (American Institute of Certified Public Accountants), Fasb
(Financial Accounting Standards Board) segundo Moura (2000, p.56)
De acordo com Hochman apud Nossa (2002, p.65-66), no encontro promovido pelo
AICPA, realizado em 1993, no Estados Unidos, foi concluído o seguinte:
∙ A necessidade de diretrizes contábeis para o reconhecimento e
mensuração de obrigações ambientais;
∙ A necessidade de mais conhecimento dos elaboradores e usuários de
demonstrações contábeis sobre leis federais de recuperação ambiental e
conceitos de obrigação solidária.
25
Todavia, tanto no Brasil quanto no exterior, a sistematização de conceitos e rotinas
ainda não foi totalmente estabelecida. É um processo que se encontra em
andamento em várias frentes no mundo – empresas, universidades, ONG´s.
Como relata Almeida (2002, p.152) um dos mais consistentes esforços para
consolidar diversas iniciativas e chegar a um consenso quanto a normatização das
informações ambientais é o GRI (Global Reporting Initiative). Trata-se de um esforço
internacional, iniciado em 1997 pela CERES (Coalition for Environmentally
Responsible Economies), pelo programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
e por diversos stakeholders7, para desenvolver e institucionalizar diretrizes e
padrões para os relatórios de desempenho ambiental, econômico e social das
companhias.
Consolidadas em um guia, periodicamente revisado e atualizado, as orientações do
GRI procuram melhorar o conteúdo dos relatórios tanto para seus elaboradores,
quanto para seus usuários. Este relatório relata: [...] quer seja um investidor institucional em busca de informação ambiental para avaliar riscos ou um ativista tentando estabelecer diálogo com uma empresa, ou uma autoridade pública buscando possíveis parceiros corporativos, ou um alto executivo interessado em elevar os padrões de eficiência e inovação de sua organização – todos precisam de informação clara e organizada para avaliação de desempenho econômico, ambiental e social. (Almeida, 2002, p.156)
Desta forma os relatórios de sustentabilidade econômicos, ambientais e sociais das
empresas devem, essencialmente seguir os princípios, de acordo com Almeida
(2002, p.153):
- Ser pertinente com relação à proteção do meio ambiente, à saúde humana e/ou à melhoria da qualidade de vida; - Subsidiar o processo de tomada de decisão; - Reconhecer a diversidade das empresas; - Permitir a comparação entre as empresas; - Ser objetivo, mensurável, transparente e verificável; - Ser compreensível e significativo para os stakeholders; - Ser baseado numa avaliação global (holística) da organização. Aspectos relacionados com os fornecedores e com os consumidores devem ser também considerados.
26
Almeida (2002, p.153 e 154) ainda cita que o GRI aborda três dimensões de
sustentabilidade para as companhias, que são:
• Econômica: Aborda informações de caráter financeiro, mas não se restringindo neste aspecto. Inclui políticas de salários, benefícios, produtividade dos empregados, gerações de empregos, incentivos a pesquisa e desenvolvimento novas tecnologias, despesas com terceirização e investimentos em recursos humanos. • Ambiental: Aborda questões como, os impactos de processos produtivos, produtos e serviços sobre o ar, água, solo, biodiversidade e saúde humana. • Social: Aborda informações sobre segurança do trabalho e saúde dos empregados, direitos trabalhistas, rotatividade da mão-de-obra, direitos humanos, condições de trabalho.
Sobre a organização dos relatórios de sustentabilidade, o GRI estabelece o seguinte
layout, conforme Almeida (2002, p.155):
∙ Categorias: grandes áreas constituídas por temas ou conjuntos de interesse (por exemplo, ar, energia); ∙ Aspectos: tipos gerais de informações relacionadas as suas respectivas categorias (por exemplo, emissões de gases, economia de energia); ∙ Indicadores: as medições de cada aspecto individualmente para demonstrar o nível de desempenho (por exemplo, toneladas de emissões, kw de energia usados para cada processo).
Além dos números dos indicadores absolutos, o GRI recomenda a adoção de
indicadores relativos, que permitam comparar produtos e processos em diferentes
organizações. Por exemplo, de acordo com Almeida (2002, p.156), os indicadores de
ecoeficiência8 ajudam a explicitar a relação entre o desempenho financeiro e
ambiental. Uma forma de indicar a ecoeficiência é por meio da relação entre a
unidade de valor do produto ou serviço e a unidade ambiental:
Ecoeficiência = valor do produto ou serviço impacto ambiental
A unidade de valor pode ser expressa por indicadores monetários, como vendas
líquidas ou valor agregado, por unidade de nível de atividade, como a quantidade de
7 Interessados nas informações das empresas como fornecedores, clientes, bancos, governos, etc. 8 A fórmula para calcular o índice de ecoeficiência foi proposta pelo WBCSD (World Business Council for Sustainable Development). Dentre os diversos trabalhos publicados sobre o tema pela entidade, destaca-se o documento Measuring Eco-efficiency: a Guide to Reporting Company Performance, de Hendrik. A. Verfaille e Robin Bidweel. ( WBCSB apud Almeida, 2002, p.156)
27
produtos vendidos, ou pelo valor funcional que um produto oferece a seu usuário,
como mobilidade pessoal, segurança. Já a unidade de impacto ambiental pode ser
calculada a partir de indicadores como o uso da energia, consumo de matérias-
primas, poluição da água e ar.
Todavia, não é simples calcular a unidade de impacto ambiental. A maneira pela
qual as empresas farão a integração destes dados é um desafio a ser superado
futuramente. O próprio GRI admite que sua aplicação está num nível primário e
oferece indicadores como ferramentas experimentais.
Para Schaltegger & Burritt (2000, p. 230-231),
[...] A determinação da ecoeficiência para uma companhia requer que os sistemas gerenciais de informação incorporem os impactos financeiros dos problemas ambientais e computem também a informação sobre impactos ambientais de atividades corporativas. A informação ambiental é definida como um conhecimento sobre o impacto das atividades corporativas no ambiente natural.(tradução nossa)9
2.3 Usuário da Contabilidade Ambiental As empresas estão inseridas em um contexto onde a adoção de políticas e diretrizes
de gestão ambiental são imprescindíveis. Na condução dos negócios, a empresa
pratica e é submetida a uma série de eventos de natureza ecológica que são
refletidos em seu patrimônio de forma variada.
No entanto, não basta apenas a implementação de uma política ambiental, torna-se
igualmente vital a sua divulgação para a sociedade, acompanhada da evidenciação
dos volumes financeiros envolvidos.
A Contabilidade, no cumprimento de seu papel de fornecedora de informações
diferenciadas para os diversos tipos de usuários, possui normas e procedimentos
aplicáveis no tratamento de itens ambientais para informar seus “stakeholders”
9 Determination of eco-eficiency for a company requires the information management systems to incorporate the financial impacts of environmental issues and also to compute information about environmental impacts of corporate activities. Environmental information is defined a knowledge about the impact of corporate actives on the natural environment.
28
(acionistas e demais interessados na organização, como fornecedores, clientes,
empregados, governo, etc) quando aplicadas pelas empresas na questão ambiental.
De acordo com Proto & Supino apud Nossa (2002, p.65) como usuários com
necessidades de informações ambientais, apresentam uma relação de stakeholders
e suas principais necessidades de informações:
Tabela 1: Stakeholders e informações ambientais
Stakeholders Interesses primários Ferramentas de comunicação
Fornecedores e
Clientes Qualidade, preço, segurança e
responsabilidade dos produtos.
Marketing, rótulos dos produtos, linha
direta, correspondências para os
clientes e grandes fornecedores.
Financiadores Resultados contábeis, relatórios
de todas as obrigações e
limitações das obrigações futuras.
Relatórios ambientais, informes
contábeis anuais, boletins
informativos, informações da
imprensa.
Empregados Políticas ambientais, metas e
resultados.
Relatório ambiental, relatório social,
informes contábeis anuais, notícias do
conselho, boletins informativos
internos.
Comunidades
Limitação da poluição,
gerenciamento de resíduos com
responsabilidade, atenção com a
preocupação da vizinhança.
Relatório ambiental, visitas à fábrica,
boletins informativos, departamento de
informações, boletins de imprensa,
grupos de diagnóstico ad hoc.
Autoridades Atividades ambientalmente
responsáveis, avaliação de custos
e benefícios de ações ambientais.
Relatórios ambientais, certificações
EMAS/ISO, negociações.
Organizações
ambientais
Aperfeiçoamento do desempenho
ambiental, interesse em
cooperação para questões de
melhorias.
Relatórios ambientais, visitas,
relatórios contábeis anuais,
negociações, boletins informativos e
informações da imprensa. Fonte: Proto & Supino apud Nossa (2002, p. 65-66).
Somente com uma divulgação eficaz e verdadeira de informações ambientais os
agentes interessados na empresa poderão ter instrumentos para análise,
acompanhamento e comparação da conduta ambiental da empresa e de seu real
estado patrimonial. Portanto, as empresas necessitam de parâmetros, normas e
procedimentos para mensurarem, registrarem e evidenciarem com certo nível de
exatidão os itens econômico-ambientais.
29
Assim, como a contabilidade financeira convencional e a contabilidade ambiental
devem corresponder às exigências de informação de stakeholders externos. Por
muitas razões diferentes, como afirmam Schaltegger & Burritt (2000, p.230-231), os
stakeholders externos estão interessados no desempenho ambiental das
companhias:
[...] ∙ Financiadores, investidores e seguradores anseiam para assegurar-se de que os riscos ambientais estejam sendo controlados sensivelmente. ∙ Governos estão preocupados acerca da conformidade com regulamentos. ∙ A confiança que as comunidades locais necessitam para se assegurar se os planos futuros da corporação serão realizados. ∙ Empregados que são responsáveis pela internalização dos valores centrais da corporação e defender a existências do negócio. ∙ Outros grupos de pressão (por exemplo, organizações não-governamentais (ONG´s) que procuram garantias e conhecimento sobre a companhia, bem como a confirmação de atividades ambiental saudáveis. (tradução nossa)10
Para Christophe apud Tinoco (2001, p.103), justifica-se o uso de dados físicos num
balanço ambiental, por permitirem, apesar das falhas inerentes a seu modo de
cálculo (as informações em quantidades físicas são insuficientes por que não levam
em conta os efeitos sobre o ecossistema dos rejeitos de poluição, efeitos que podem
variar segundo a situação geográfica ou do período do ano) demonstrar análise da
situação ambiental de uma empresa.
Segundo Schaltegger & Burritt (2000, p.231):
10
. Lenders, investors and insures wish to ensure that environmental risks are being sensibly managed.
. Governments are concerned about compliance with regulations.
. The trust of local communities needs to be assured if future corporate plans are to be realised.
. Employees are responsible for internalising core corporate values and being held to account.
. Other pressure groups (e.g. non-governmental organisations [NGO]) seek assurances about company learning as well as confirmation of environmentally benign activities.
30
[...] Em 1995, mais de 300 companhias, provenientes de vários setores industriais, publicaram extensivos relatórios ambientais anuais com dados detalhados de suas descargas de poluentes em 71.670 relatórios. A princípio, a contabilidade e relatórios externos fornecem informações de uma forma mais generalizada e de caráter consolidado do que a contabilidade ecológica interna.(tradução nossa)11
Moura (2000, p.24) relata que a melhoria do desempenho ambiental das empresas,
principalmente nos Estados Unidos, tem sido obtida, em grande parte graças à
aplicação de auditorias ambientais, realizadas por pessoal interno à própria
empresa, ou eventualmente externas. O termo "auditoria" nos Estados Unidos, cujo
conceito originou-se de avaliações contábeis, tem sempre o sentido "conforme
determina a lei", ou seja, auditoria de cumprimento (compliance). Os objetivos da
auditoria ambiental são voltados, sobretudo ao cumprimento da lei, regulamentos da
empresa, preservar os diretores e executivos de riscos de sua responsabilização
legal como resultado de acidentes ambientais, identificar passivos ambientais que
são necessários para a definição de preços da empresa em situação de venda,
aquisições e fusões.
11 In 1995 over 300 companies from various industries published extensive annual environmental reports with detailed data on their discharge of pollutants in 71.670 reports. In principle, external accounting and reporting provides information of a more general form and consolidated nature than does internal ecological accounting.
31
2.4 Tipos de informações contidas no Balanço Ambiental O Conselho Econômico Social das Nações Unidas recomenda uma internalização
das externalidades negativas que representam os ataques ao meio ambiente no
sentido de calcular-se um custo ambiental completo.
Segundo as Nações Unidas apud Tinoco (2001, p.102):
[...] o primeiro passo a transpor consiste em separar as despesas ambientais de outras despesas e, objetivamente, mensurar o passivo ambiental das empresas. Essa individualização das despesas ambiental favorece a apresentação de quadros em termos financeiros dos balanços ambientais. No que tange ao passivo ambiental permite avaliar, de vez, os investimentos que poderão ser provisionados e alocados no Balanço Ambiental.
Schaltegger & Burritt (2000, p. 168-169) afirmam:
[...] Hoje, as emissões ambientais podem ser consideradas imprescindíveis, tanto na contabilidade e relatórios financeiros, quanto na análise financeira moderna porque influenciam substancialmente os riscos e oportunidades que a companhia pode enfrentar. Exemplos de influências ambientais sobre impactos financeiros são obrigações ambientais, taxas, multas, custos do abandono do local, redução no valor de aquisição de aparelhos poluidores de produção e responsabilidades ambientais. [...] as companhias que operam em negócios ambientalmente sensíveis devem, conseqüentemente, reconhecer, medir e evidenciar os impactos financeiros relacionados separadamente de todas as informações restantes. (tradução nossa)12
Segundo Tinoco (2001, p.102):
[...] O balanço ambiental, que tem sua origem no Balanço Social, pode, às vezes comportar informações físicas e monetárias. O fulcro de tal apresentação é duplo:
12 Today, environmental issues must be considered in financial accounting and reporting as well a in modern financial analysis because they substantially influence the risks and opportunities company may face. Examples of environmentally induced financial impacts on are environmental charges, fees, fines, site abandonment costs, a reduction in value of heavily polluting production devices and environmental liabilities. Companies operating in environmentally sensitive businesses should, therefore, recognises, measure and disclose related financial impacts separately from all other items.
32
a) os relatórios entre dados físicos e dados monetários devem permitir acumular, ao menos parcialmente, as insuficiências em matéria de avaliação; b) a colocação em paralelo de dois sistemas de dados permitirá evidenciar os custos específicos.
De acordo com o IASC apud Schaltegger & Burritt (2000, p.169):
[...]
∙ Reconhecimento envolve a descrição da informação em palavras e por quantidade monetária e a inclusão dessa quantidade nos totais do balanço patrimonial ou na demonstração do resultado. A falha no reconhecimento de tais itens não é retificada pela divulgação das políticas de contabilidade usadas nem por notas nem pelo material explicativo; ∙ Mensurabilidade é o processo de determinar as quantidades monetárias em que os elementos das demonstrações contábeis devem ser reconhecidos e transportados para o balanço patrimonial e demonstração de resultado. Isto envolve a seleção de “base particular de mensurabilidade”; ∙ Evidenciação é apropriada quando o conhecimento da informação a ser considerada for relevante à avaliação da posição financeira, do desempenho e das mudanças na posição de uma empresa pelos usuários de demonstrações contábeis; Demonstrações contábeis representam os efeitos financeiros das transações e dos outros eventos agrupando-os em classes amplas de acordo com suas características econômicas. Estas classes amplas são denominadas elementos de demonstrações (tradução nossa)13
Para Schaltegger & Burritt (2000, p.169): [...] Reconhecimento é o registro formal de informações passadas e futuras ou prováveis (gastos influenciadas ambientalmente) no corpo principal das demonstrações contábeis, visto que a medida trata da
13 • Recognition involves the depiction of the item in words and by a monetary amount and inclusion of that amount in the
balance sheet or income statement totals. The failure to recognise such items is not rectified by disclosure of the accounting policies used nor by notes nor explanatory material” (IASC 1995, p.63)
• Measurement is the process of determining the monetary amounts at which the elements of the financial statements are to be recognised and carried in the balance sheet and income statement. This involves the selection of the “particular basis of measurement” (IASC 1995, p.63)
• Disclosure is appropriate when knowledge of the item is considered to be relevant to the evaluation of the financial position, performance and changes in financial position of an enterprise by the users of financial statements” (IASC 1995, p.63)
∙ Financial statements portray the financial effects of transactions and other events by grouping them into broad classes according to their economic characteristics. These broad classes are termed elements of financial statements. (IASC 1995, p.63)
33
determinação da quantidade monetária de gastos reconhecidos. (tradução nossa)14
Carvalho apud Tinoco (2001, p.106) afirma que:
[...] Deveriam ser divulgados os ativos, as despesas e os passivos relacionados com o meio ambiente, onde: • Ativos e despesas: são os recursos financeiros aplicados em equipamentos de proteção a danos ecológicos e as despesas de sua manutenção ou de correção dos efeitos de tais danos. • Os passivos são de três categorias: 1. regulatória: referente à conduta mandatória vigente decorrente de atos legais; 2. corretiva: para fazer face a contaminações provocadas por danos ecológicos; e 3. indenizatória: para atender a reclamações judiciais de danos à pessoa ou à propriedade decorrentes de desastres ecológicos.
Antunes (2000, p.07) declara que:
[...] ativos ambientais representam os estoques dos insumos, peças, acessórios, etc utilizados no processo de eliminação ou redução dos níveis de poluição; os investimentos em máquinas, equipamentos, instalações, etc, adquiridos e/ou produzidos com intenção de amenizar os impactos causados ao meio ambiente; os gastos com pesquisas visando o desenvolvimento de tecnologias modernas, de médio e longo prazo, desde que constituam benefícios ou ações que irão refletir nos exercícios seguintes.
Já os passivos contingentes diferem-se dos passivos normais, pois são
exigibilidades sem valor objetivo (apenas uma estimativa é disponível), não possuem
data de exigibilidade definida. Entende-se por passivos contingentes as obrigações
advindas da probabilidade de ocorrência de determinada transação ou evento futuro,
normalmente ligado a incertezas. Neste contexto, encontram-se os passivos
ambientais.
De acordo com Antunes (2000, p.07):
14 Recognition is the formal recording of past or of probable future items (environmentally induce outlays) in the main body of the financial statements whereas measurement deals with the determination of the monetary amount of recognised outlays.
34
[...] o passivo ambiental representa toda e qualquer obrigação de curto e longo prazo, destinado única e exclusivamente a promover investimentos em prol de ações relacionadas à extinção ou amenização dos danos causados ao meio ambiente, inclusive percentual do lucro do exercício, com destinação compulsória, direcionado a investimentos na área ambiental...
A ONU (2001, p.06) define passivo ambiental como sendo:
[...] uma possível obrigação derivada de acontecimentos anteriores existentes na data de fechamento do balanço, sendo que o resultado só se confirmará no caso de ocorrência no futuro de tais eventos ou de outros que escapem do controle da empresa.
O IBRACON – Instituto Brasileiro de Contadores que, a partir de 08/06/01, passou a
se chamar Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, conceitua “passivo
ambiental como toda agressão que se praticou/pratica contra o Meio Ambiente e
consiste no valor dos investimentos necessários para reabilitá-lo, bem como multas
e indenizações em potencial” (IBRACON, 1996, p.05).
Quanto às despesas e custos, Iudícibus (2000, p.155) aponta que “despesa, em
sentido restrito, representa a utilização ou o consumo de bens e serviços no
processo de produzir receitas”. Ainda segundo Iudícibus “o que caracteriza a
despesa é o fato de ela tratar das expirações de fatores de serviços, direta ou
indiretamente relacionados com a produção e a venda de produto (ou serviço) da
entidade”. Martins (1990, p.24) conceitua custo como “gasto relativo à bem ou
serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços”.
Transpondo os conceitos acima expostos para o foco dos gastos de natureza
ambiental, derivam as definições de custos e despesas ambientais apresentadas por
alguns autores.
Antunes (2000, p.06) defende que:
35
[...] os custos ambientais representam todo o empenho, todo o esforço direta ou indiretamente vinculado a qualquer gasto, independentemente de desembolso, relativo a bens e/ou serviços que visem única e exclusivamente à preservação do meio ambiente.
Ressalta-se, portanto a diferença entre custo e despesa ambiental. Consideram-se
custos ambientais os gastos em função da preservação, redução ou eliminação da
produção simultaneamente ao processo produtivo; e como despesas ambientais os
gastos com a recuperação e reparação de danos com fatos geradores correntes ou
ainda os passados não provisionados como contingências, e também aqueles
incorridos sem estar diretamente relacionados com o processo produtivo da
empresa, como por exemplo, os gastos administrativos incorridos em função da
causa ambiental e as taxas e emolumentos decorrentes da legislação ambiental,
segundo Tinoco (2001 p.79).
No estudo da ONU (2001, p.16), o grupo de trabalho apresenta diversas
recomendações com a finalidade de melhorar a contabilidade e a apresentação de
relatório contábil sobre medidas ambientais, como:
[...]
• Relatório da Administração, onde se deve evidenciar informações sobre as classes de questões ambientais que se aplicam à empresa e seu ramo de atividade, etc;
• Notas Explicativas, onde se deve descrever sobre as normas adotadas para contabilizar as medidas de proteção do meio ambiente relativas, por exemplo, a consignação dos passivos.
Schaltegger & Burritt (2000, p.366), mencionam que:
[...] Não é simples para a administração considerar, aceitar, compreender e implantar etapas e módulos sobre seu trajeto à ecoeficiência, se desejarem ganhar valor para seus stakeholders. Como todo o controle administrativo, o eco-controle requer o complemento e a sistemática da contabilidade e dos relatórios.15
White & Zinkl apud Schaltegger & Burritt (2000, p.366), afirmam que:
15 It is simply not enough for management to consider, accept, understand and implement steps and modules along their eco-efficiency path if they wish to gain value for their stakeholders. As with all management control, eco-control requires complement and systematic accounting and reporting .
36
[...] Um procedimento comum na contabilidade financeira e gerencial é examinar o desempenho sobre um número de períodos precedentes (anos), considerar o sucesso, ou insucesso, de tendências observadas e fazer um plano para o futuro e um plano para as ações. Essencialmente, esta aproximação do planejamento e o controle conta com medidas do desempenho e da avaliação passados e se o desempenho foi aceitável após o evento. Benchmarking, ou comparação com outras companhias, processos ou atividades similares, indica ao longo do desempenho, o movimento da parte vital no planejamento e no processo de controle. (tradução nossa)16
16 A common procedure in financial and management accounting is to examine performance over a number of previous periods (years), to consider the success, or otherwise, of observed trends and to make a plan for the future and plans for actions. Essentially, this approach to planning and control relies on measures of past performance and assessment of whether if performance was acceptable after the event. Benchmarking, or comparison with other companies or similar processes or activities along of performance indicates, plays a vital part in the planning and control process.
37
2.5 Indicadores Econômicos e Ambientais
Notadamente a partir dos anos 60, teve-se uma ruptura na premissa básica que se
defrontavam os administradores de empresas: o que, como e para quem produzir
com o objetivo constante de maximização dos lucros e do retorno sobre o capital dos
investidores. Como afirma Donaire (1995, p.20):
[...] em muitos casos, o crescimento está afeto à deterioração física do ambiente, a condições insalubres de trabalho, exposição a substâncias tóxicas, discriminação a certos grupos sociais, deterioração urbana e outros problemas sociais.
Segundo Queiroz & Queiroz (2000, p.78),
[...] o crescimento econômico tem que ser planejado mediante correta análise das características ambientais, sociais e culturais regionais, bem como ser conduzido de forma consciente, integrando e dimensionando custos ambientais e ecológicos, respeitando valores culturais identificados, além dos tradicionais interesses financeiros.
A problemática da limitação do consumo de matérias primas deve fazer parte da
agenda dos dirigentes empresariais de todo o mundo. Há a necessidade de se
buscar equilíbrio entre os níveis de atividade econômica e as conseqüências
ambientais, espelhando crescimento econômico através do desenvolvimento
sustentável da empresa e da sociedade onde ela está inserida.
Corrêa (1997, p.26 ) sugere que o conceito de responsabilidade ambiental implica na
adoção pelas empresas de práticas produtivas “limpas” como o extrativismo
sustentável, a agricultura orgânica, o manejo sustentável de madeira, tecnologias
produtivas advindas de conceitos de biotecnologia, entre outros.
Em decorrência, necessária torna-se a inclusão de novas contingências na análise
de viabilidade de processos produtivos. Além da capacidade de absorção do
mercado, das regulamentações específicas do setor de atuação, da existência de
38
fornecedores e riscos pós-consumo, algumas contingências ambientais precisam ser
verificadas e amplamente estudadas.
Por exemplo, verificar se a matéria-prima é natural, renovável ou reciclável; o
processo produtivo exige uso intensivo de energia; como é a produção de resíduos:
lixo sólido, líquido ou gases poluentes; existência de passivos ambientais e sua
mensuração por parte da empresa.
Ainda, segundo Corrêa (1997, p.26), devido à dimensão financeira que tais
contingências causam na performance das companhias, suas análises estão sendo
priorizadas pelos administradores e investidores. O valor econômico da exploração e
uso dos recursos naturais precisa ser considerado como parte integrante do valor
econômico dos serviços prestados e dos produtos elaborados.
Resulta deste ponto a importância das certificações internacionais como a ISO
(International Standardization Organization) que em português significa
"Organização Internacional do Normatização", é uma entidade mundial fundada em
1946, com sede em Genebra-Suíça, que após grande sucesso obtido com as
normas de qualidade dos produtos executados por indústria e comércio, da série
ISO 9000, lançou à elaboração das normas da série ISO 14000, voltadas
especificamente à qualidade ambiental em produtos e serviços, aplicáveis a
qualquer tipo e porte de organizações, como ilustra Moura (2000, p.50).
A primeira das normas da série é a ISO 14001, que fixa as especificações para a
certificação e avaliação de um sistema de gestão ambiental de uma organização.
Essa norma foi fortemente inspirada na norma inglesa British Standard 7750,
Specification for Environmental Management Systems (Especificação para Sistemas
de Gerenciamento Ambiental). Essa norma foi editada em caráter experimental em
1992, passou dois anos sendo avaliada pelas empresas e pela BSI, e teve sua
edição definitiva publicada em 1994, dentro da seguinte seqüência, ainda segundo
Moura (2000, p.50):
39
- criação de EMAS (Eco Management and Audit Scheme), que é a
regulamentação ambiental da Comunidade Européia, e que colaborou para
determinar as condições da elaboração da BS 7750;
- a BSI iniciou estudos a respeito da norma, em conjunto com o Environmental
and Pollution Standards Policy Comitte;
- em junho 1991 foi emitido um rascunho (draft) para comentário público;
- em março de 1992 foi feita a publicação oficial;
- corrigidas as imperfeições, a norma foi reemitida em 2 de janeiro de 1994;
- com a emissão da ISO 14.001, a BS 7750 foi desativada em 1º de janeiro de
1997.
É interessante apresentar a diferença entre normalização e regulamentação.
Segundo Moura (2000, p.57):
[...] - Norma – é um documento de caráter privado, elaborado voluntariamente por alguma entidade credenciada, apresentando requisitos resultantes de um consenso entre as opiniões técnicas dos diferentes especialistas participantes do grupo encarregado de sua elaboração, representantes de diferentes entidades que têm interesse naquela norma. Esses representantes discutiram e votaram o conteúdo da norma, na verdade uma especificação técnica sobre um assunto específico. A aplicação ou adoção da norma por uma determinada entidade ou empresa é totalmente voluntária. - Regulamentação – por sua vez, é decidida pelos poderes públicos (federal, estadual ou municipal) para questões de saúde, segurança, ordem pública, meio ambiente, proteção e defesa do consumidor, e se aplica de maneira obrigatória.
Tabela 2: Normas previstas para série ISO 14.000: Número
ISO
Título 14000 Sistemas de Gestão Ambiental.
14001 Sistemas de gestão ambiental – Especificação e diretrizes para uso (NBR
ISO 14001, emitida em outubro de 1996).
14004 Sistemas de gestão ambiental – Diretrizes gerais sobre princípios,
sistemas e técnicas de apoio. (NBR ISO 14004, emitida em novembro de
1996).
40
14010 Diretrizes para auditoria ambiental – Princípios gerais (NBR ISO 1410,
emitida em novembro de 1996).
14011 Diretrizes para auditoria ambiental – Procedimentos de auditoria –
Auditoria de sistemas de gestão ambiental (NBR ISO, emitida em
novembro de 1996).
14012 Diretrizes para auditoria ambiental – Critérios de qualificação para
auditores ambientais (NBR ISO 14012, emitida em novembro de 1996).
14014 Diretrizes para auditoria ambiental – Diretrizes para realização de
avaliações iniciais.
14015 Diretrizes para auditoria ambiental – Guia para avaliação de locais e
instalações.
14020 Rotulagem Ambiental – Princípios básicos.
14021 Rotulagem Ambiental – Definições para aplicação específicas e
autodeclarações.
14022 Rotulagem Ambiental – Simbologia para rótulos.
14023 Rotulagem Ambiental – Metodologias para testes e verificações
14024 Rotulagem Ambiental – Procedimentos e critérios para certificação.
14031 Avaliação de desempenho ambiental.
14032 Avaliação de desempenho ambiental de sistemas operacionais.
14040 Análise do ciclo de vida – Princípios gerais.
14041 Análise do ciclo de vida – Inventário.
14042 Análise do ciclo de vida – Análise dos impactos.
14043 Análise do ciclo de vida – Uso e aplicações.
14050 Gestão Ambiental – Termos e definições – Vocabulário.
ISO
Guide 64
Guia de inclusão dos aspectos ambientais nas normas para produto.
Fonte: Adaptado de Moura (2000, p. 55-56).
A obtenção deste tipo de certificação traz grandes benefícios econômicos
proporcionados pelo acesso a mercados exigentes, proporcionando a amortização e
compensação dos investimentos destinados a recuperação e preservação ambiental.
Os programas de preservação ambiental e certificação normalmente exigem grande
volume de investimento uma vez que requerem a implantação de tecnologia
sofisticada e propiciam um retorno em longo prazo.
41
Corrêa (1997, p.35) conclui que, atualmente, uma vantagem adicional que se tem é
a existência de uma centena de fundos de investimento especializados na aplicação
de recursos em empresas ambientalmente responsáveis.
Almeida (2002, p.92-93) relata que algumas bolsas de valores criaram índices sócio-
ambientais específicos para mensurar o desempenho de empresas ambientalmente
corretas, como por exemplo, a agência Dow Jones que criou, em 1999, um índice
exclusivo para companhias ecologicamente corretas: o Dow Jones Sustainability
Group Index (DJSGI). Quatro empresas brasileiras fazem parte do Índice Dow Jones
de Sustentabilidade, que auxilia os investidores internacionais em busca de ações
diferenciadas no mercado e privilegia empreendimentos que aliem solidez e
rentabilidade financeira a uma postura de ecoefiência e responsabilidade social. A
Cemig, os bancos Itaú e Unibanco e a Embraer integram o seleto grupo internacional
de 312 empreendimentos escolhidos em 2001 para compor o índice. Para fazer
parte do Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DSJI, da sigla em inglês) as
empresas submetidas a uma rigorosa seleção. Na última análise, 2.500
empreendimentos de 26 países foram avaliados. Os que passam no teste sinalizam
os investidores que sua capacidade de gerar mais lucros em longo prazo para os
acionistas está associada a uma filosofia de desenvolvimento sustentável. A Cemig
(Companhia Energética de Minas Gerais) é um dos empreendimentos brasileiros
escolhidos por dois anos consecutivos. Como resultado da exposição de seu nome
em revistas financeiras especializadas, a empresa comemora um número cada vez
maior de consulta de investidores do exterior. Entre as atividades sustentáveis que
contribuíram para inclusão da empresa mineira no DJSI estão a produção anual de
um milhão de alevinos para repovoamento dos reservatórios de suas hidrelétricas e
o investimento contínuo em inovação tecnológica. A Cemig criou um sistema de
redes de transmissão protegidas que reduz o desmatamento para implantação de
projetos de eletrificação e desenvolveu um método de regeneração que evita o
descarte anual de um milhão de litros de óleo mineral isolante. Recentemente, a
empresa que investiu cerca de R$ 20 milhões por ano em ações ambientais,
patenteou também o sistema de reaproveitamento de óleo de turbina. Além disso,
em parceria com uma ONG, o Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio), e a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), criou em 2000, o Centro de Estudos
42
da Transposição de Peixes – outra iniciativa importante para manutenção da
biodiversidade nas represas.
Se na Cemig a política ambiental predominou na avaliação para inclusão no índice
de sustentabilidade, no banco Itaú foi decisivo o trabalho social, caracterizado nas
ações de incentivo à cultura. Desde a década de 1980, o banco mantém o Instituto
Itaú Cultural, por onde passam a cada ano 250 mil pessoas para ver exposições e
eventos culturais. O Instituto também patrocina a edição de livros e privilegia a
revelação de novos talentos em diferentes segmentos artísticos, como ilustrou
Almeida (2002, p.92-93).
A relação de empresas que compõem do DJSI é revista anualmente em setembro,
para garantir que de fato inclua as mais representativas em sustentabilidade. A
seleção, baseada num questionário de quinhentas perguntas que cobrem as três
dimensões - econômica, ambiental e social – do desenvolvimento sustentável, é
auditada pela PricewaterhouseCoopers, ainda segundo Almeida (2002, p.92-93).
Além disso, a assinatura do Protocolo de Kyoto em 2001, por 178 países, exceto os
Estados Unidos17, que determina a redução da emissão de gases na atmosfera,
principalmente o CO2 (dióxido de carbono)18, desencadeou uma outra vantagem
competitiva para alguns países e empresas: a negociação de uma nova 'commodity'
ambiental: o crédito de carbono. Segundo Cançado (2001, p.34), os países emitirão
“cartas de crédito com validade internacional para empresas locais que demonstrem
o volume de gás carbônico retirado do ambiente”, conforme Almeida (2002, p.92-93).
Os títulos de CO2 já são negociados nas bolsas de Chicago, Londres e Sydney,
formando um incipiente mercado. Desde então o preço da tonelada de gás
carbônico apresenta-se em alta. No aspecto interno brasileiro, o governo demonstra
interesse em conceder benefícios tributários aos menos poluentes e vice-versa, a
17 São os maiores emissores de gases causadores do efeito estufa. Cerca de 22% do total mundial anual. Desde 1992, o país aumentou suas emissões em 15% segundo Samuelson e Novaes apud Moreira (p.129,1988). 18 CO2 (Dióxido de Carbono) - gerado a partir da combustão de materiais fósseis (petróleo, carvão, madeira) em indústrias, geração de energia, veículos, queima de florestas, etc. As conseqüências principais são o aumento da temperatura global e poluição do ar.
43
espelho de alguns países europeus, como cita Almeida (2002, p.92-93).
De acordo com Schaltegger & Burritt (2000, p.366):
[...] Idealmente, da perspectiva econômica todas as interferências ambientais devem ser expressas nas mesmas unidades de medida monetárias e devem ser incluídas na contabilidade gerencial e financeira e nos sistemas de informação. Entretanto, como a contabilidade convencional já se mostrava inadequadamente, porque não podia medir todas as interferências ambientais com uso de um métrico comum: dinheiro.
A internalização insuficiente de impactos ambientais não é uma ‘falha’ da contabilidade convencional, porque os eventos externos (ex: a poluição) não são simplesmente levados em consideração, ao menos que haja: • um ‘mix’ regulador dos conjuntos dos instrumentos a ponto de aproximar o a seu resultado (ex.: incentivos econômicos são usados conquistar políticas ambientais); • instrumentos reguladores (ex: incentivos econômicos) promova a medida do dinheiro ou dos custos monetários daquilo que pode ser incluído na contabilidade gerencial e financeira. (tradução nossa)19
2.6 Riscos Ambientais na Indústria Petroquímica A preocupação das empresas de petróleo com a preservação do meio ambiente
precisa ser constante devido, naturalmente, ao seu setor de atuação. Tratando-se de
empresas cujas atividades podem causar impactos ambientais, as companhias
petrolíferas estão sempre sob o risco de serem identificadas como empresas
poluidoras e, portanto, nocivas à sociedade.
Segundo Moura (2000, p.32), em sua fase de exploração, observam-se riscos
principalmente para os trabalhadores envolvidos e riscos de incêndio e vazamentos
19 Ideally, from an economic perspective all environmental interventions should be expressed in the same monetary units of measurement and should be included in management and financial accounting and reporting systems. However, as already shown, conventional accounting is inadequate because it has not been able to measure all environmental interventions with use of a common metric: money. Insufficient internalisation of environmental impacts is not a ‘fault’ of conventional accounting because external events.(e.g. pollution) are simply not taken into account unless to have: . the regulatory ‘mix’ of instruments sets about to design such an outcome(e.g. economic incentives are used to achieve
environmental policies). . Regulatory instruments (e.g. economic incentives) provide a measure of money or money’s worth that can be included in
management and financial accounts.
44
para o mar (a maior parte do nosso petróleo é extraída da plataforma continental, no
mar). Em vista dos cuidados tomados e do histórico de eventos, pode-se dizer que
os problemas ambientais são mínimos.
Já em fase de transporte (sobretudo com relação ao petróleo importado) os riscos já
são maiores, ocorrendo com relativa freqüência acidentes na descarga de petróleo
dos terminais da Petrobrás (São Sebastião-RJ, por exemplo), acidentes com
oleodutos e outros.
Com relação à produção, além dos riscos envolvidos com segurança, há os
ambientais, com a liberação de gases tóxicos (CO, SO2, etc. )20 e particulados, uso
de grande quantidade de água que é liberada carregando produtos prejudiciais (
fenóis, amônia, etc.) e liberação de CO2 ( são liberados 0,412g de CO2 para cada
litro de petróleo processado) segundo Moura (2000, p.53).
A utilização dos combustíveis causa problemas bastante conhecidos de poluição do
ar, sobretudo nas grandes cidades, por veículos e indústria. Os combustíveis mais
pesados causam os maiores danos, o óleo combustível pesado que faz parte do
grupo dos “ultraviscosos ou do fundo do barril”, que contém enxofre e metais
pesados de modo próximo ao carvão, depois vêm os demais como o óleo diesel,
gasolina e, finalmente, o gás natural, considerado um combustível “limpo”, ainda
segundo Moura (2000, p.53).
Dessa forma, elas devem sempre minimizar os possíveis efeitos prejudiciais à
natureza decorrentes de suas atividades, adotando rígidos controles de preservação
ambiental.
20 CO (Monóxido de Carbono) – resultado da combustão incompleta de materiais fósseis em veículos, fábricas, siderurgia, refinarias, etc. Em altas concentrações afeta o sistema nervoso, o sistema cardiovascular e os pulmões e provoca dores de cabeça. Favorece o acúmulo de gordura no sangue. SO2 (Dióxido de Enxofre) – Gerado por combustão de materiais fósseis (motores a diesel, combustão em caldeiras, automóveis, etc.). A conseqüência principal é a chuva ácida, problemas respiratórios, asma e aumenta a incidência de rinite, faringite e bronquite.
45
Vazamento de petróleo é um tipo de poluição que freqüentemente ocorre em mares,
causadas por acidentes com navios-tanques, oleodutos e outros equipamentos.
Grandes quantidades de óleo, derramadas em massas líquidas, prejudicam por
muito tempo seu estado de equilíbrio, provoca a morte de centenas de milhares de
animais e de vegetais, portanto, impactando também o dia-a-dia de comunidades
humanas, como as de pescadores, assim como o lazer de praias. Em cerca de duas
semanas, o óleo (que se mantém na superfície da água) passa por processo de
decantação e, em parte, desce no corpo líquido, prejudicando também espécies
fixas do habitat marinho, como relata Tommasi (1976, p. 127-8).
Um dos maiores vazamentos de petróleo foi o que ocorreu com o navio petroleiro
Exxon Valdez na costa do Alasca, em 1989. Vazaram cerca de 200 mil toneladas de
petróleo. De 1997 a 2000, a Petrobrás foi responsável por cinco vazamentos de óleo
na Baía de Guanabara. O maior deles foi motivado por acidente com o navio Tarik,
em 1975 (cerca de 6 milhões de litros de óleo derramados). Outro, ocorrido em
18/01/2000, teve origem em um dos 14 dutos de transporte de óleo refinado da
Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) para a Ilha do Governador: o rompimento da
tubulação derramou cerca de 1 milhão e 300 mil litros de óleo. O fato levou à
abertura de inquéritos, a multas de milhões de reais, à conscientização da
necessidade de constante manutenção de equipamentos antipoluente. (Greenpeace,
2002).
Assim, além do despejo de navios petroleiros, acidentes, lavagens de porões etc., há
uma introdução de petróleo, que poderíamos denominar ‘natural’, no mar, e que
constitui, portanto, em seu antigo processo de poluição. Os efeitos do petróleo e de
seus derivados (benzeno, tolueno, xilol, fenol etc.) sobre a vida marinha dependem
de muitos fatores como, por exemplo, o tipo de seres que serão atacados, a
quantidade de óleo despejado no mar, a circulação do oceano na região, a estação
do ano, a presença de outros poluentes etc. O petróleo refinado é mais tóxico que o
cru. É, porém, importante lembrar que mesmo os mais sérios acidentes com navios
petroleiros, que provocaram enormes e profundas perturbações biológicas, não
foram irreversíveis. Assim, em alguns anos, houve restauração da fauna e flora na
estrutura das comunidades, como descreve Tommasi (1976, p. 127-8).
46
Na verdade, acidentes poluidores com petróleo tornam-se notícias quando alcançam
grandes proporções. Entretanto, os derramamentos acidentais de óleo – e
igualmente os despejos – são comuns em vários locais, no mundo inteiro.
2.7 Acidentes Ecológicos e a Petrobrás
A década de 80 foi marcada como sendo aquela em que surgiram em grande parte
dos países leis regulamentando a atividade industrial no tocante à poluição.
Também nessa década teve impulso o formalismo da realização de Estudos de
Impacto Ambiental e Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambiente (EIA-RIMA), com
audiências públicas, aprovações em diferentes níveis de organizações do governo,
etc.
Ao longo das décadas de 70 e 80, ocorreram acidentes com grande impacto sobre o
meio ambiente, como cita Moura (2000, p.4).Cabem ser mencionados:
a) acidente com o pretroleiro Exxon Valdez no Alasca. Esse navio desviou-se do
canal de navegação vindo a chocar-se com blocos de gelo. O vazamento de óleo
foi combatido com grande ineficiência (falta de definição de responsabilidades
entre a empresa e a administração do terminal, falta de recursos materiais, etc.)
acarretando a contaminação de extensas áreas, inclusive viveiros de peixes e
frutos do mar. Os prejuízos à Exxon já ultrapassaram 10 bilhões de dólares
(indenizações, etc.) além de problemas sérios de desgaste da imagem comercial
da Companhia. Relembra-se que a Exxon participava da “Atuação Responsável”
com a indústria química, com bom desempenho ambiental;
b) acidente em Bhopal, na Índia. Vazamento acidental de resíduos tóxicos de uma
fábrica associada à Union Carbide, resultando em aproximadamente 2.500
mortos. No dia seguinte ao acidente, as ações da empresa caíram à metade,
levando a companhia, que detinha uma posição de liderança mundial, a perder
terreno para a concorrência, além de prejuízos incalculáveis financeiros e de
imagem;
c) acidente em Seveso, na Itália, com vazamento de dioxina (TCDD – tretracloro
dibenzeno dioxina). Em 10/07/76, ocorreu uma explosão na indústria química
ICMESA, do grupo Giuvandan-La Roche, 30 km ao norte de Milão (região
47
densamente povoada), durante uma síntese de triclorofenol, com liberação de
cerca de 100 kg da substância tóxica. A empresa tentou minimizar o acidente e
as autoridades locais demoraram a agir e, somente no quinto dia, começando a
ocorrer mortes de animais, internações de 19 crianças com queimaduras
cáusticas e lesões, iniciou-se um trabalho mais sério. Foram definidas duas
zonas, uma zona A com de cerca de 100 hectares, onde a concentração de
dioxina era superir a 0,01 ppm, e da qual todas as pessoas foram evacuadas
(733 pessoas) e mortos todos os animais, e uma zona B, muito maior, onde a
concentração de dioxina era inferior a 0,01 ppm, da qual não se fez a evacuação,
porém exigiu um significativo trabalho de monitoração das 5.904 pessoas que lá
habitavam e a morte de todos os animais. A área afetada foi de 1.800 hectares.
Não houve mortos (humanos), se não forem computados os 51 abortos
espontâneos e 28 terapêuticos, porém foi necessário um enorme e dispendioso
trabalho de descontaminação, tendo sido removida uma camada de 10cm de
solo sempre que a concentração de TCDD era superior a 5µg/m2.
d) Acidente de Chernobyl, na então União Soviética, hoje Ucrânia. Em 29 de abril
de 1986, os técnicos da usina nuclear desligaram os sistemas de segurança,
para realizar um teste para medir a capacidade dos equipamentos da planta em
gerar energia elétrica suficiente para operar os sistemas de resfriamento do
núcleo do reator e dos sistemas de emergência durante o período de transição
entre a perda do suprimento elétrico principal e o início da produção de
eletricidade pelo diesel-geradores de emergência. A baixa coordenação entre as
equipes de operação, assim como problemas de projeto do reator culminaram em
uma excursão descontrolada de potência e na explosão do reator número 4, com
vazamento de material radioativo que contaminou toda região da Ucrânia,
Belarus e norte da Europa. A rigor, apenas o hemisfério sul ficou livre da
contaminação radioativa. Mais de 100.000 pessoas tiveram que ser evacuadas, a
maioria num raio de 30 km da usina. Trinta e uma pessoas morreram
diretamente, muitas outras ao longo do tempo, sendo que cerca de 27.000
pessoas vivem hoje em ares contaminadas com Césio-137 em níveis elevados,
acima de 555 kBq/m2, com sérios problemas de contaminação do solo,
plantações, florestas, depósitos de água, peixes, etc.
e) Incidente em Love Canal, nos Estados Unidos. Um dos maiores canais
abandonados, usados para a construção da usina de Niagara Falls foi utilizado
48
nas décadas de 30 e 40 para depósito de tambores com produtos químicos
tóxicos (20.000 toneladas). Após ser coberto com terra, foram construídas casas
e uma escola nas imediações e, sobre o canal aterrado foi construído um
playground. Ao longo de anos de contaminação, as crianças passaram a
apresentar graves problemas de saúde, problemas neurológicos e psicológicos,
além de defeitos congênitos. Em 1978 a situação atingiu um ponto crítico, tendo
o governo sido obrigado a adquirir cerca de 100 casas para demoli-las, além de
recolocar as populações.
Um outro indicativo da globalização das preocupações ambientais foi a emissão do
Relatório da Comissão Mundial sobre o meio Ambiente e Desenvolvimento,
publicado em 1987 como Relatório Brundtland, derivado do nome da coordenadora
da Comissão, a Sra. Gro Brundtland, que foi várias vezes primeira-ministra da
Noruega. Esse relatório contribuiu para disseminar o conceito de desenvolvimento
sustentável.
Na década de 90, ao mesmo tempo em que os governos passaram a dedicar-se à
busca de soluções para os problemas ambientais, por meio de organismos
reguladores específicos e a tentativa de implantação de acordos resultantes de
conferências internacionais (Conferências de Estocolmo e Rio-92 patrocinadas pela
ONU, entre outras), organismos normalizadores passaram a trabalhar em normas
técnicas de orientação às empresas, visando o desenvolvimento de uma
mentalidade de melhoria contínua, segundo Moura (2000, p.36).
Com o advento da evolução dos meios de comunicação (um acidente ambiental
sério é acompanhado hoje ao vivo e em cores instantaneamente por grande parte da
humanidade), as empresas constataram que demonstrar qualidade ambiental é um
item considerado importante por seus clientes. E as pessoas são hoje mais
informadas e motivadas para o assunto, sendo raro o dia em que a televisão, os
jornais e revistas não abordam temas ambientais.
A estratégia das empresas em obter melhorias de desempenho ambiental, está
inserida na sua função social, pois além de atender à vontade de seus clientes,
melhora os relacionamentos com os órgão ambientais de controle, com as ONGs
49
(organizações não governamentais) e com a sociedade em geral. Apenas seguir os
padrões mínimos expressos na legislação não é mais considerado suficiente para
manter vantagens competitivas.
A Petrobrás está entre as dez maiores empresas de exploração de petróleo no
mundo, e detém hoje os recordes de perfuração e produção em águas profundas.
(Petrobrás, 2002)
No mês de janeiro de 2000, a Petrobrás foi acusada pelo acidente de derramamento
de óleo na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro:
[...] Em janeiro de 2000, houve o rompimento de um duto da Petrobrás que deveria levar óleo combustível para a Refinaria Duque de Caxias (REDUC). Por quatro horas, 1,3 milhão de litros de óleo se misturaram às águas da Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, causando danos aos manguezais da região e a morte dos peixes, crustáceos e aves marinhas. O relatório oficial da empresa deduz que o duto se rompeu por fadiga de material. O problema teria decorrido de um erro de projeto e de uma falha no programa de computador que controla o transporte de óleo. Se o programa tivesse funcionado, o vazamento seria detectado num prazo máximo de meia hora. Não funcionou, e o desastre demorou quatro horas para aparecer nos monitores. (Revista Época, 2000, p.47)
Para a limpeza do óleo derramado, a Petrobrás deslocou para a Baía 2.213
trabalhadores, importou 22.000 metros de bóias de contenção para evitar que a
mancha se espalhasse ainda mais e trouxe especialistas estrangeiros em
preservação do meio ambiente.
Numa ação reativa aos danos causados aos pescadores da região, a Petrobrás
distribuiu 8.234 cestas básicas a quem estivesse sem condições de sobreviver em
razão da decadência da atividade pesqueira na Guanabara. Além disso, "segundo a
assessoria da Petrobrás, (...) foram indenizadas, no valor total de R$ 6,7 milhões,
9.523 pessoas, que exerciam atividades ligadas à pesca e captura de caranguejos
nas áreas afetadas", declarou Henri Philippe Reichstul (Revista Época, 2000, p.48).
Perguntado pela Revista Época (2000, p. 47) se a imagem da empresa tinha sido
afetada, Henri Philippe Reichstul, o presidente da Petrobrás naquela época, disse
50
que: "Sim, com certeza. Mas no momento estamos preocupados com ações muito
mais concretas, de recuperação da área atingida."
Estimulado pela indignação dos fluminenses, traduzida pelo tom áspero do noticiário
de jornais, revistas e emissoras de TV, o governo acabou aplicando uma multa
ambiental à Petrobrás no valor de R$ 51 milhões, que ao ser paga no final de janeiro
de 2000 teve um desconto de 30%, passando para R$ 35,7 milhões.
Reichstul declarou que a diferença de R$ 15,3 milhões, referente ao desconto, foi
depositada numa conta no Banco do Brasil sob a rubrica Petrobrás-Fundo da Baía
de Guanabara para serem usados na despoluição da Baía.(Berna,2000)
Em julho de 2000, a Petrobrás esteve envolvida em outro acidente de derramamento
de óleo, desta vez na refinaria Presidente Getúlio Vargas no Paraná, e que provocou
um estrago maior. Quatro milhões de litros de óleo vazaram no rio Barigui e
atingiram o rio Iguaçu, em Araucária (PR).
Pressionada pela opinião pública, que colocava em dúvida sua capacidade de
prevenir e evitar acidentes, a empresa teve de melhorar seu Programa Tecnológico
de Dutos (PRODUT), criado em 1998, para desenvolver tecnologia para seu sistema
dutoviário.21
A Petrobrás passou a fazer parcerias com universidades brasileiras para
desenvolver mais rapidamente novas tecnologias para enfrentar o desafio que o
crescimento na malha de dutos nos últimos anos vem exigindo. A empresa estima
que a malha dutoviária nacional passe dos atuais 12.000 km para 21.000 km ainda
no ano de 2002. Mesmo após os acidentes, a Petrobrás mostrou que conseguiu se
recuperar e terminou o ano de 2000 com um lucro recorde de 5 bilhões (Revista
CREA-SP, 2001, p.54).
21 De acordo com o engenheiro mecânico Jorge Luiz Krauer, coordenador do PRODUT, “o programa procura diminuir riscos de vazamentos, custos operacionais e de investimentos, além de reduzir o tempo de reparo e o impacto no meio ambiente." (Revista CREA - SP, 2001, p.53).
51
2.8 Pesquisas anteriores A Exxon opera nos Estados Unidos e em mais de 79 outros países. A maior parte de
sua receita é derivada da exploração do petróleo e do gás natural, refinação e
marketing (Lowe, 1993, p.24).
Em 1989, a Exxon esteve envolvida no maior derramamento de petróleo em território
norte-americano, ocorrido no Alasca. Stoner e Freeman (1989) relataram os
acontecimentos do pior vazamento de óleo da história dos EUA no caso ilustrativo
"O Exxon Valdez: Responsabilidade das Empresas e o Meio Ambiente":
[...] Logo depois da meia-noite do dia 24 de março de 1989, o petroleiro Exxon Valdez, levando mais de 1,2 milhão de barris de petróleo, bateu [em um recife] (...) no Alasca. Durante vários dias, o navio ficou precariamente encalhado num recife, ameaçando partir-se. Mais de 300.000 barris de petróleo vazaram no mar, cobrindo mais de 1.600 km de costa com uma mancha venenosa que matou milhares de pássaros, peixes e criaturas marinhas, e pôs em perigo todos os que dependiam do estreito. (...) A administração da Exxon foi culpada de causar o derramamento. Mais tarde revelou-se que (...) o navio [estava] nas mãos de um terceiro oficial, que não era licenciado para pilotar o petroleiro. (Stoner e Freeman, 1989, p.71)
Stoner e Freeman (1989, p.76) destacam que a Exxon, ao ficar ciente do problema,
tomou uma decisão reativa (reatividade social) que foi o esforço da companhia em
limpar o vazamento: "Na primavera de 1991, a Exxon avaliou ter gasto 2,5 bilhões
de dólares em esforços de limpeza nos verões de 1989 e 1990, parando apenas no
inverno."
As imagens marcantes dos esforços de limpeza do meio ambiente foram mostradas
pela mídia americana por vários meses, representando um instrumento de
publicidade negativa da empresa: [...] Durante meses os meios de comunicação estiveram ocupados por imagens dos esforços remunerados e de voluntários para limpar as praias e resgatar pássaros e outros animais doentes e agonizantes. Talvez essa tenha sido a imagem que mais ficou marcada nas mentes dos americanos entre as vistas em 1989. (Stoner e Freeman, 1989, p.71)
A Exxon, como todos os imensos conglomerados petrolíferos, químicos e minerais,
"anda num campo minado", onde um passo em falso pode detonar uma explosão de
52
animosidade pública (Lowe, 1993, p.23). Desde o início do caso Exxon Valdez, a
companhia recebeu críticas dos seus stakeholders e sofreu uma elevada queda na
estima pública, principalmente, por parte de alguns stakeholders - a comunidade e
os clientes:
[...] Naquele mesmo ano [1989], mais de 330 processos foram instaurados contra a Exxon por causa do acidente, inclusive por parte de pescadores de salmão e mais de uma dúzia de tribos nativas do Alasca. Cinqüenta mil portadores de cartões de crédito da Exxon, enojados, devolveram seus cartões à companhia. (Lowe, 1993, p.20).
Lowe (1993, p.20) comenta que stakeholders, como os acionistas e ambientalistas,
também desaprovaram o acidente no Alasca:
[...] apenas um mês depois do derramamento de óleo do Exxon Valdez (...) o Presidente da Junta Diretora da Exxon, Lawrence G. Rawl teve que encarar uma turba de acionistas irados, sem falar em um bando de ambientalistas que conseguiu entrar como acionistas, tendo comprado algumas ações da Exxon. (Lowe, 1993, p.19-20).
Stoner e Freeman (1989) resumem quais foram as lições que ficaram deste caso
para a Exxon e para a indústria petrolífera:
[...] Ao mesmo tempo em que o derramamento ajudou a lançar estrondosamente um movimento ambiental vindo das bases da população e que passou a fazer parte da agenda política, ele deixou a Exxon e a indústria petrolífera com um "olho roxo" e levantou questões sobre a responsabilidade social e ética das empresas que ainda permanecem. (Stoner e Freeman, 1989, p.71)
Tais acontecimentos refletiram, nos anos seguintes, drasticamente na forma das
empresas do setor petroquímico publicar suas demonstrações contábeis. Passaram
a ter uma maior preocupação quanto ao nível de evidenciação de sua política de
gestão ambiental.
Como argumentam Walden & Schwartz (1997 p.144) “divulgar a informação
ambiental em relatórios anuais pode afetar as percepções de uma empresa e seus
resultados financeiros”.
53
Walden & Schwartz (1997 p.145) investigaram numa amostra de 53 empresas do
setor petroquímico, as mudanças nos níveis das divulgações ambientais
subseqüentes ao derramamento de óleo do Exxon Valdez em 1989 e de mais quatro
indústrias similares. Os dados ambientais foram obtidos usando uma busca
computadorizada de relatórios anuais incorporando os anos de 1988, 1989 e 1990.
No estudo foram usados dois métodos de avaliação: um para a quantidade e outro
para qualidade.
O objetivo do estudo Walden & Schwartz foi determinar se houve diferenças
positivas significativas entre os citados anos. Os resultados sugeriram diferenças
positivas significativas nos níveis de divulgações ambientais entre os anos 1988 a
1989 e 1989 a 1990, usando ambas as medidas de avaliação.
Freedman e Stagliano apud Walden & Schwartz (1997, p.126) sugerem que o
aumento nas divulgações podem ser o resultado das empresas em resposta à
pressão das políticas públicas.
Patten apud Walden & Schwartz (1997, p.129) indica que “as divulgações
ambientais das grandes corporações estejam ligadas aos esforços de legitimar suas
ações incorporadas ao desenvolvimento de uma imagem positiva devido às
mudanças sociais”, principalmente após acontecimentos como o do caso Exxon
Valdez.
Acidentes ecológicos, imagem sólida da empresa, ramo de atividade de risco, como
é o caso do setor petroquímico, são fatores que motivam divulgações ambientais em
relatórios anuais. O aumento ou diminuição da quantidade dessas informações pode
afetar as percepções sobre a gestão financeira e econômica da entidade. Patten
apud Walden & Schwartz (1997, p.134), sugerem que os investidores podem
interpretar as divulgações ambientais mais extensivas como um sinal positivo do
controle e exposição aos custos ambientais futuros, notando isso, as informações
ambientais podem impactar dramaticamente a curto prazo sobre a posição financeira
e a longo prazo, as possibilidades para sucesso de uma empresa.
54
Walden & Schwartz (1997 p.144) mostraram que as firmas passaram a responder à
pressão da política pública a respeito do meio ambiente após eventos significativos
(acidentes ecológicos), e assim aumentaram o nível de suas divulgações ambientais.
Para esta análise, foram confrontadas as divulgações ambientais categorizadas
como não-monetárias contra divulgações monetárias. Observou-se que divulgações
ambientais não-monetárias estariam influenciadas principalmente pela repercussão
social dos eventos do que, propriamente, pelos efeitos regulatórios (multas,
intervenções do governo...).
Como afirma Corrêa (1997, p. 35):
[...] Os ganhos empresariais obtidos a partir da responsabilidade social é passível de se revestir de um valor econômico direto. Embora a primeira obrigação das empresas seja a obtenção de lucros, estas podem, ao mesmo tempo, contribuir para o cumprimento de objetivos sociais e ambientais mediante a integração da responsabilidade social, enquanto investimento estratégico, no núcleo da sua estratégia empresarial, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações.[...] Assim, a responsabilidade social de uma empresa deve ser considerada como um investimento, e não como um encargo. Demonstrar comprometimento social deixou de ter uma conotação puramente filantrópica e ganhou dimensão estratégica para as empresas, uma espécie de garantia de sucesso econômico no longo prazo. Atualmente, uma das condições para a empresa obter lucro e ser competitiva é relacionar sua marca a conceitos e valores éticos. Afinal, para conquistar o consumidor, que exerce com mais consciência a sua cidadania, as companhias precisam comprovar que adotam uma postura correta, tanto na relação com funcionários, consumidores, fornecedores e clientes, como no que diz respeito às leis, aos direitos humanos e ao meio-ambiente.
2.9 Processo evolutivo do Disclosure Ambiental A internalização da consciência pelo equilíbrio na exploração dos recursos naturais,
é resultado, numa fase inicial, de influências externas, como pressões exercidas
pelas comunidades internacional e local, que repercutem no nível interno das
organizações. Nesse contexto, reativa ou pró-ativamente, as companhias estão
incorporando a variável ambiental em suas decisões, posicionamentos,
planejamento e estratégias. A constante demanda pelo "desenvolvimento
sustentável" vem exigindo que as empresas despertem de sua limitada dimensão
quantitativa para uma visão social cada vez mais abrangente e comprometida.
55
De acordo com Schaltegger & Burritt (2000, p.181):
[...] No passado, a questão ambiental não teve uma prioridade elevada para a gerência das empresas até que foi mostrada a responsabilidade nos livros de contabilidade. Entre os principais desastres nos anos 80 estão Bophal (Union Carbide), Schweizerhalle (Sandoz) e Prince Willian Sound (Exxon), com substanciais conseqüências financeiras para as companhias envolvidas. Entretanto, nos EUA, a legislação teve uma grande influência no que tange as responsabilidades ambientais de alguns destes acidentes. Notavelmente Resource Response, Compensation, and Liability Act de 1980, que autoriza a Agência de Proteção ambiental dos E. U. (EPA) para reforçar a remediação pelas companhias, resultou no maior crescimento por responsabilidade ambiental. Deste modo, responsabilidade ambiental, se transformou não somente comum, mas também muito mais ampla do que dez anos de atrás. (tradução nossa)22
Schaltegger & Burritt (2000, p.340-341) mencionam, que na contabilidade ecológica,
as características qualitativas são os itens de dados sobre uma variável que fazem a
informação fornecida em demonstrações ecológicas de valor aos usuários: “As
características qualitativas são os atributos que fazem a informação, fornecida pelas
demonstrações financeiras, útil aos usuários”. A idéia de índices das características
qualitativa que foram definidas pelo IASC, para as demonstrações financeiras, pode
também ser considerada para a aplicação à contabilidade ecológica. Neste
argumento, as quatro características qualitativas principais para demonstrações
ecológicas são: Confiabilidade, Relevância, Compreensibilidade e Comparabilidade.
Confiabilidade
Para ser útil, a informação também tem que ser confiável e para fornecer uma
descrição válida, consistente de edições ambientais (por exemplo ar ou emissões da
água expressadas em termos técnicos). Para dados ecológicos, isto implica que a
informação tem alguma qualidade e que o impacto ecológico tenha sido avaliado
corretamente.
22 In the past, environmental issues were not a high priority for management enterprise's until they showed as liabilities in the books of account. Among the major disasters in the 1980s were Bophal (Union Carbide), Schweizerhalle (Sandoz) and Prince William Sound (Exxon), all of which had substantial financial consequences for the companies involved. However, in the USA, legislation had a greater influence on environmental liabilities than some of these accidents. Notably, the Resource Responds, Compensation, and Liability Act of 1980, which enable the US Environmental Protection Agency (EPA) to enforce landfill remediation by companies, resulted in a major increase of corporate environmental liabilities. Thus, environmental liabilities have become not only much more common but also much greater than ten years ago.
56
Relevância
A informação ecológica divulgada deve ser relevante aos usuários de
demonstrações ecológicas se sua publicação for justificada. A informação preparada
deve ajudar a integrar ecologicamente pessoas aos fatores orientando em suas
decisões para ajudar a avaliar passado, presente e eventos do futuro, ou
confirmando ou corrigindo após avaliações.
Compreensibilidade
Os benefícios das demonstrações ecológicas (relatórios) têm que exceder os custos.
Conseqüentemente, o benefício é determinado por sua utilização para decisões, sua
capacidade de ajuda para alocar eficientemente os recursos e também pela melhora
do relacionamento contábil com os stakeholders e melhora da competitividade.
Daqui, os padrões da contabilidade ecológica e das demonstrações são emitidos
somente se são benéficos e importantes para companhias e seus críticos
stakeholders. Para as companhias, os custos das demonstrações ecológicas
levantam-se da compilação, processamento, análise, instrução, verificação,
informação, aumento da pressão dos stakeholders e qualquer perda de vantagem à
concorrência, mas os custos diretos da companhia e os custos de oportunidade da
compilação, da análise e da interpretação são indiretamente gerados por seus
stakeholders.
Comparabilidade
Os usuários devem poder comparar as demonstrações ecológicas das empresas
através do tempo a fim identificar mudanças na posição e mudança no desempenho
(comparação longitudinal). Além disso, os usuários devem também poder para
comparar demonstrações ecológicas de empresas diferentes em ordens para avaliar
também suas posições, desempenho e mudanças ambientais relativas a
mensurabilidade e exposição de intervenções ecológicas e sobre o excesso de
passivo e ativos ambientais de empresas diferentes.
Consistência foi reconhecida como uma característica qualitativa importante para a
preparação das demonstrações (interpretado de acordo com IASC 1994, p.45).
57
Supõe-se que as políticas de contabilidade sejam estruturas consistentes um
período a outro, assim forçando a uniformidade nos métodos usados durante um
período e ao comparar períodos sobre épocas. A finalidade desta convenção é
assegurar a comparabilidade da informação contábil sobre o tempo. Para a
contabilidade ecológica, a hipótese da consistência significa que uma informação
específica tem que ser tratada com o uso dos mesmos métodos. A informação em
demonstrações ecológicas deve ser comparável através do tempo. Isto certamente é
motivo essencial para a comparação. (tradução nossa) 23
23 In ecological accounting, qualitative characteristics are the attributes that make the information provided in ecological statements of value to users. Interpreted according to IASC (1994, p.42): “Qualitative characteristics are the attributes the make information to provided in financial statements useful to users”. The idea an contents of the qualitative characteristics which have been defined by the IASC(1994,p.42) for financial statements can also be considered for application to ecological accounting. In this case, the four main qualitative characteristics for ecological statements are: Understandability, Relevance, Reliability and Comparability. Reliability
To be useful, information has also to be reliable and to provide a valid, consistent description of environmental issues (e.g. air or water emissions expressed in technical terms). For ecological data, this implies that information has a certain quality and that ecological impact has been correctly assessed. Relevance
Ecological information disclosed must be relevant to the users of ecological statements if its publication is to be justified. The information prepared should help people integrate ecologically oriented factors into their decisions by helping to evaluate past, present and future events, or by confirming or correcting past evaluations (interpreted according to IASC 1994, p.42). Understandability
The benefits of ecological statements (reports) have to exceed the costs. Therefore, the benefit is determined by its usefulness for decisions, its ability to help to allocate resources efficiently and also by the resulting improved accountability relationships with stakeholders and improved competitive advantage. Hence, ecological accounting standards and statements are issued only if they are seen to be beneficial and important to companies and their critical stakeholders. For companies, the costs of ecological statements arise from compilation, processing, analysis, education, verifying, reporting, increased pressure of stakeholders and any loss in competitive advantage, but the direct company costs and opportunity costs of compilation, analysis and interpretation are indirectly borne by stakeholders. Comparability
Users have to be able to compare an enterprise’s ecological statements over time in order to identify changes in the ecological position and change in performance (longitudinal comparison). Furthermore, users should also be able to compare ecological statements from different enterprises in orders to evaluate their relative environmental positions, performance and changes in the measurement and display of ecological interventions and eco-assets over time as well for different enterprises. Consistency has been recognised as an important qualitative characteristic for the preparation of financial statements (interpreted according to IASC 1994, p.45). It is assumed that accounting policies are consistent form one period to another, thus stressing the uniformity in methods used during a period e when comparing periods over times. The purpose of this convention is to ensure comparability of accounting information over time. For ecological accounting, the consistency assumption means the a specific item has to be treated with use of the same methods. Information in ecological statements should be comparable over time. This certainly essential for comparison’s sake.
58
2.9.1 O custo e aumento do Disclosure Ambiental na última década Segundo Schaltegger & Burritt (2000, p.37), a maioria de companhias empregam os
sistemas de contabilidade que foram projetados para antecipar quaisquer custos ou
impactos ambientais importantes para o dia-presente. Até os anos 90 os custos
ambientais e os impactos causados pelas atividades da empresa eram não-
significativos ou não-natural ou custo-efetivo, para que a maioria de firmas de
fabricação os monitorassem. Ao mesmo tempo, os custos de mensuração e registro
eram relativamente elevados.
As agências reguladoras do governo e a profissão da contabilidade incentivaram a
identificação de conformidade dos custos.
A relevância de custos ambientais internos da companhia é ilustrada pelo capital e
ativo operacional usado para diminuição controle da poluição gastos pela indústrias
dos EUA, que quase dobraram em meados de 1970 até meados de 1990. Na
indústria química alemã a conformidade e os custos de controle de poluição
dobraram no mesmo período. As multas para a não-conformidade ambiental estão
sendo também muito mais elevadas do que têm sido anteriormente. Os exemplos
bem sabidos das firmas com multas elevadas para derramamentos com grande
impacto ambientais são Exxon e de Occidental Chemical. A Exxon enfrentou uma
conta maior que US$ 16,5 bilhões além ao US$ 1,1 bilhões pagos ao estado do
Alaska e as penalidades criminais federais, além dos US$ 2 bilhões com custos de
limpeza que se seguiram ao derramamento de óleo do Príncipe William Sound no
Alaska. O Occidental Petroleum concordou pagar US$ 120 milhões ao estado de
Nova Iorque como compensação pela contaminação do Love Canal, que foi
detectada no fim dos anos 70. Nos EUA, a indústria gastou aproximadamente 30% a
mais do que o governo na diminuição e no controle da poluição, conforme
Schaltegger & Burritt (2000, p.37).
Em outras palavras, o custo de oportunidade de negligenciar os problemas
ambientais foram substanciais. Para a maioria das organizações, a razão pela qual
estão agora introduzindo a contabilidade ambiental é a conseqüência lógica sobre a
relativa mudança de custos e de benefícios antes do idealismo verde. Embora haja
59
um incentivo para que as organizações sejam cuidadosas com a “linha tripla
fundamental” - impactos sociais, econômicos e ambientais - a linha fundamental
financeira, permeada de pensamentos e opiniões sobre o presente, é a principal
utilizada para manipulação de negócios de ações.
Na Figura 1 pode ser observada que a margem de custos de coleta e análise
ambiental de dados, CEA (igual a margem de custos de informação e administração
ambiental) diminui com o aumento da margem de impactos negativos no ambiente
natural, CEI. Durante a década passada os custos diminuíram também em
conseqüência da criação de sistemas avançados de informação e capacidade
(compare a linha tracejada, CEInew que correspondente aos custos com o uso da
tecnologia, com o CEAold de linha contínua, correspondente ao custo equivalente há
uma década). O mesmo aconteceu com a margem de custos de redução dos
impactos ambientais (CREI); neste caso, as diminuições nos custos são resultados
das tecnologias avançadas de prevenção e redução da poluição. Assim, a margem
de custos totais de prevenção da poluição, CTREI, incluindo a administração da
informação ambiental, têm diminuído (compare as curvas CTREIold e CTREInew), como
afirmam Schaltegger & Burritt (2000, p.37).
A margem de custos por danos ambientais causados pela companhia, CEI, por outro,
aumentou com o crescimento de impactos ambientais. Por causa de regulamentos
mais estritos (e das multas e das taxas resultantes) a margem de custos de impactos
ambientais tem aumentado em excesso à década passada (compare as curvas CEIold
e CEInew), ainda segundo Schaltegger & Burritt (2000, p.37).
60
Figura 1 – IMPACTOS AMBIENTAIS
CTREIold
CTREInew
CREIold
CREInew
CEAold
CEAnew
CEInew
CEIold
Ponto ótimo novo
Ponto ótimo antigo
IMPACTOS AMBIENTAIS C = Margem de custos CEI = Margem de custos de impactos ambientais (taxas, multas, prejuízos de reputação, etc). CEA = Margem de custos de administração ambiental (coleta de informações, organização, etc). CREI = Margem de custos de redução de impactos ambientais (tecnologias de prevenção, etc)! CTREI = CREI + CEA = Símbolo ‘old’ e ‘new’ demonstram a curva de uma década atrás e a outra, respectivamente o presente.
Mar
gem
de
cus
tos,
C
Fonte: Frey e Kirchgässner apud Schaltegger & Burritt (2000, p. 37)
A Figura 1 resume o porque durante a década passada, tornou-se cada vez mais
sensível, em termos econômicos, a introdução de sistemas de informação para o
gerenciamento ambiental lançaram um argumento similar para a coleta de todo o
tipo de informação.
Portanto, o ponto ótimo para a política ambiental da companhia tem se movido à
esquerda nos “impactos ambientais” para o eixo. Isto significa que em uma
perspectiva econômica, passados os dez anos, tornou-se econômico para muitas
companhias a introdução de administração ambiental e sistemas de administração
da informação ambiental.
Diante do que foi descrito nas citações anteriores, pode-se concluir que as empresas
estão inseridas em um panorama marcado pela emergência da preservação e
recuperação do meio ambiente, como própria questão de sobrevivência e
continuidade a médio e longo prazo.
61
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Neste estudo os documentos objeto de análise são os relatórios financeiros anuais e
os relatórios ambientais específicos da Petrobrás dos anos 1999, 2000 e 2001.
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizada a pesquisa bibliográfica e
documental. Bibliográfica por meio de artigos nacionais e internacionais, obras e
revistas especializadas, sites na internet, além de teses, textos e artigos de áreas
pertinentes. Documental por tratar da análise de documentos emitidos pela empresa,
como Demonstrações Contábeis e Relatórios Ambientais. Para a verificação dos
dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, que é definida por Bardin (1977,
p.42) como:
[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens.
A análise de conteúdo é definida por Milne e Adler (1999, p.237) como sendo um
dos métodos de pesquisa mais comumente usado para avaliação de disclosure
ambiental e social das empresas.
Berelson apud Nossa (2002, p. 172) conceitua a análise de conteúdo como "...uma
técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do
conteúdo manifesto nas comunicações, tendo por objetivo interpretá-las.
Dentre os autores que desenvolveram trabalhos específicos sobre a utilização da
análise de conteúdo no estudo da evidenciação em relatórios ambientais e sociais
pode-se destacar como exemplo: Ashcroft (1999), Burritt & Welsh (1997), Deegan &
Gordon (1996), Gamble et al. (1996), Gibson & Guthrie (1995), Gray et al. (1995a e
1995b), Hackston & Milne (1996), Salomone & Galluccio (2001), Wiseman (1982),
Williams (1999), Nossa (2002).
De acordo com Nossa (2002, p.175), com base nas várias pesquisas que abordam o
disclosure ambiental com a utilização da técnica de análise de conteúdo, é possível
62
conhecer suas aplicações, avaliar os seus resultados e traçar uma estrutura para o
desenvolvimento de trabalhos, dividida da seguinte forma: categorias e
subcategorias, unidade de análise, tipo de disclosure, tipo (categorização) de
informação e regras de decisão para análise.
Seguindo essa orientação, o presente estudo definiu as seguintes categorias
utilizadas na análise do conteúdo, muitas delas definidas previamente com base em
pesquisas anteriores e outras surgidas ao longo do desenvolvido do trabalho:
a) Políticas ambientais
∙ Declarações reais e intenções da política
∙ Contribuições para sociedade e meio ambiente
∙ Incentivos à pesquisa e tecnologia e parcerias
∙ Implementação de projetos de gestão ambiental
∙ Programas de prevenção e combate emergencial
b) Auditoria ambiental ∙ Revisão ambiental
∙ Avaliação incluindo parecer independente
c) Sistema de gerenciamento ambiental ∙ ISO 14.001
∙ BS 8800 / BHSAS 18001(Segurança e Saúde)
∙ API (American Petroleum Institute)
d) Impactos ambientais ∙ Acidentes ambientais
∙ Resíduos
∙ Embalagens
∙ Poluição
∙ Reciclagem
∙ Desenvolvimento de produtos ecológicos
∙ Contaminação e recuperação de áreas afetadas
∙ Melhoria tecnológica no processo produtivo
e) Parque industrial e Instalações de Proteção Ambiental ∙ Ampliação das instalações conforme requisitos ambientais
∙ Instalações ambientalmente seguras
∙ Inspeções e manutenção dos procedimentos e instalações
63
∙ Equipamento de monitoramento de poluição ambiental
f) Legislação Ambiental ∙ Licenciamentos para novas instalações
∙ Pendências Judiciais (contestação de multas,...)
g) Energia ∙ Uso de fontes renováveis de energia (solar, etc.)
∙ Uso eficiente no processo industrial
∙ Uso de resíduos materiais para a produção de energia
∙ Economia de energia pela reciclagem de produtos
h) Informações financeiras ambientais ∙ Despesas e investimentos ambientais operacionais
∙ Passivos ambientais
∙ Políticas contábeis de itens ambientais
∙ Contingências e comprometimentos ambientais
∙ Seguro ambiental i) Outras informações ambientais
∙ Educação ambiental (internamente e/ou comunidade)
∙ Capacitação e treinamento preventivo e combate
Segundo Nossa (2002, p.179) o tipo de disclosure pode ser definido como a maneira
pela qual a informação é apresentada nos relatórios. Assim, os tipos de disclosure
analisados neste trabalho foram classificados da seguinte maneira:
1 – Declarativa: quando somente a informação qualitativa é apresentada e expressa em termos puramente descritivos;
2 – Quantitativa não-monetária: quando a informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza não financeira;
3 – Quantitativa monetária: quando a informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza financeira.
4 – Quantitativa monetária e não-monetária: quando a informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza financeira e não-financeira.
64
4 ANÁLISE DOS DADOS AMBIENTAIS DA PETROBRAS
4.1 Considerações Iniciais
O objetivo deste tópico é organizar e descrever os dados coletados nos relatórios
financeiros anuais e nos relatórios ambientais da Petrobrás, nos anos de 1999, 2000
e 2001. Os relatórios anuais foram analisados separadamente e os resultados de
cada amostra foram confrontados posteriormente. Também, procura-se discutir os
resultados da análise de conteúdo relacionando-os com o que foi discutido nos
tópicos precedentes, no sentido de responder às questões de pesquisa e testar as
hipóteses propostas.
4.2 Análise das categorias
Para a análise dos relatórios anuais foram utilizadas 9 categorias divididas em
várias subcategorias, chegando-se a um total de 35 subcategorias.
4.2.1 Categoria Políticas ambientais Nesta categoria e suas respectivas subcategorias observou-se, nos anos analisados,
maior quantidade de evidenciações de natureza declarativa, chegando aos
percentuais aproximados de : 68%, 60% e 75% respectivamente para os anos de
1999, 2000 e 2001. Essa natureza é totalmente descritiva e assim foi evidenciada.
Foram agrupadas nesta categoria as seguintes subcategorias:
65
Subcategoria declarações reais e intenções da política: a empresa
apresentou, em seus relatórios, relevante aumento de sentenças sobre esse
assunto. Sendo que no ano de 1999 foram evidenciadas 15 sentenças, no ano
de 2000 foram 45 e no ano de 2001 um total de 119 sentenças. Tendo-se assim
um aumento de 794% em anos de 1999 para 2001.
Subcategoria contribuições para sociedade e meio ambiente: nesta
subcategoria o número médio de sentenças foi de 3 por ano analisado
Subcategoria incentivos à pesquisa, tecnologia e parcerias: nesta
subcategoria o número médio de sentenças foi de 4 por ano analisado, sendo
que ocorreu um aumento de mais de 50% do ano de 1999 para 2001.
Subcategoria implementação de projetos de gestão ambiental: houve
aumento no número de sentenças nos anos analisados. Sendo 5 sentenças em
1999, 10 sentenças em 2000 e 17 sentenças em 2001.
Subcategoria programas de prevenção e combate emergencial: foi verificado
o aumento de verificação desta subcategoria no ano de 2000, no qual ocorreu os
acidentes de maiores proporções.
4.2.2 Categoria auditoria ambiental
Nesta categoria foram alocadas informações referentes à existência de auditoria
ambiental, revisão de auditorias periódicas realizadas na empresa e a existência de
parecer dos auditores no relatório ambiental, dividida nas seguintes subcategorias:
66
Subcategoria revisão ambiental: não foram encontradas nenhuma sentença
nesta subcategoria.
Subcategoria avaliação incluindo parecer independente: foi somente
encontra 1 sentença no ano de 2001 referente a esta subcategoria.
4.2.3 Categoria sistema de gerenciamento ambiental
Nesta categoria a empresa evidenciou informações sobre os seus sistemas de
gerenciamento ambiental, certificação ISO 14001, BS 8800 / BHSAS 18001 e
normatização segundo o API (American Protroleum Institute).
Subcategoria ISO 14.001: a empresa demonstrou um maior número de
sentenças sobre esta subcategoria no ano de 2001, num total de 17 sentenças.
Subcategoria BS 8800 / BHSAS 18001(Segurança e Saúde): foi verificado o
aumento de sentenças nesta subcategoria no ano de 2001, subsequente aos
acidentes.
Subcategoria API (American Petroleum Institute): entre os anos de 1999 à
2000, apenas nos relatórios do ano de 2000 verificou-se sentença referente a
esta subcategoria.
67
4.2.4 Categoria impactos ambientais
Nesta categoria foram evidenciadas as informações referentes aos impactos
gerados ou percebidos no meio ambiente. Verificado aumento nesta categoria e
suas respectivas subcategorias conforme o gráfico:
Gráfico 1: Impactos ambientais – comparações anuais
0
10
20
30
40
50
60
70
NÚ
MER
OS
DE
SEN
TEN
ÇAS
1999 2000 2001ANOS ANALISADOS
IMPACTOS AMBIENTAIS
Melhoria tecnológica no processo produtivoContaminação e recuperação de áreas afetadasDesenvolvimento de produtos ecológicosReciclagemPoluiçãoEmbalagensResíduosAcidentes ambientais
S U
B C
A T
E G
O R
I A
S
4.2.5 Categoria parque industrial e instalações de proteção ambiental
Nesta categoria foram evidenciadas as informações referentes aos investimentos
realizados na ampliação das instalações, manutenção e equipamentos de
68
monitoramento de poluição ambiental. Nota-se um acréscimo de informação no ano
de 2001.
Tabela 3: Parque industrial e instalações de proteção ambiental – Subcategorias e números de sentenças por ano
Parque industrial e instalações de proteção ambiental 1999 2000 2001
Ampliação das instalações conf. requisitos ambientais 4 5 9
Instalações ambientalmente seguras 5 4 5 Inspeções e manutenção dos procedimentos e instalações 0 4 14
Equipamento de monitoramento de poluição ambiental 0 15 43
TOTAL ANUAL DE SENTENÇAS 9 28 71
4.2.6 Categoria legislação ambiental Foram elencadas informações referentes a licenciamentos para novas instalações e
pendências judiciais .
• Subcategoria licenciamentos para novas instalações: foram encontradas em
média, duas sentenças sobre esta subcategoria entre anos pesquisados.
Subcategoria pendências judiciais (contestação de multas,...): foi verificado o
aumento de sentenças nesta subcategoria no ano de 2001, subsequente aos
acidentes.
4.2.7 Categoria energia
Neste tópico estão agrupadas informações acerca da geração e utilização de
energia pela companhia e seus impactos no meio ambiente. A empresa demonstra
em média 14 sentenças nesta categoria.
69
As relações da energia com o meio ambiente são muito intensas. A produção de
energia, seu transporte, sua armazenagem, sua distribuição e o próprio uso final
causam significativos impactos sobre o meio ambiente.
Tabela 4: Energia– Subcategorias e números de sentenças por ano
Energia 1999 2000 2001
Uso de fontes renováveis de energia (solar, etc.) 0 0 8
Uso eficiente no processo industrial 6 2 6
Uso de resíduos materiais para a produção de energia 3 1 1
Economia de energia pela reciclagem de produtos 0 0 6
TOTAL ANUAL DAS SENTENÇAS 9 3 21
4.2.8 Categoria informações financeiras ambientais
Nesta categoria foram agrupadas as informações nas subcategorias sobre despesas
e investimentos ambientais, despesas ambientais extraordinárias (multas), passivos
ambientais, políticas contábeis de itens ambientais, contingências e
comprometimentos ambientais e seguros ambientais. Foi verificada uma
evidenciação mais intensa desta subcategoria no ano de 2000.
70
Tabela 5: Informações financeiras ambientais – Subcategorias e números de sentenças por ano
Informações financeiras ambientais 1999 2000 2001
Despesas e investimentos ambientais operacionais 0 0 0
Passivos ambientais 0 2 0
Políticas contábeis de itens ambientais 0 0 0
Contingências e comprometimentos ambientais 4 5 1
Seguro ambiental 0 0 1
TOTAL ANUAL DE SENTENÇAS 4 7 2
4.2.9 Categoria outras informações ambientais
Nesta categoria foram elencadas todas as informações em que não houve a
possibilidade de classificação nas subcategorias anteriores. Ressalta-se que
foram acrescentadas categorias e subcategorias durante a análise do conteúdo
dos relatórios de acordo com a necessidade.
Tabela 6: Outras informações ambientais – Subcategorias e números de sentenças por ano
Outras informações ambientais 1999 2000 2001
Educação ambiental (internamente e/ou comunidade) 17 13 60
Capacitação e treinamento preventivo e combate 3 12 13
TOTAL ANUAL DE SENTENÇAS 20 25 73
71
4.3 Análise dos Resultados Um dos objetivos específicos foi - O1 - verificar se houve aumento significante de
evidenciação de informações ambientais do ano de 1999 para 2000.
Analisando-se separadamente os relatórios nota-se que o número de sentenças
constantes no relatório ambiental teve um aumento de 27% e as notas explicativas
obteve uma queda de 22%. Enquanto o relatório da administração sofreu, em
relação aos demais, aumento significativo de 41%. Gráfico 2: Nível de evidenciação ambiental (1999 – 2000)J
30
54
11
95
41
93
9
143
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Núm
ero
de s
ente
ças
1999 2000Anos analisados
Relatório ambiental Relatório da administração Notas explicativas Total
Todavia, ao analisar a totalidade das sentenças elencadas, que é o objetivo
específico, chega-se à conclusão de que não houve um aumento significativo,
apenas 33% no total de evidenciação do ano de 1999 para 2000.
72
Tabela 7: Quantidade de sentença apresentadas – por ano e por tipo de relatório
Relatório ambiental
Relatório da administração
Notas explicativas
Totalidade das sentenças
Ano 1999 30 54 11 95
Ano 2000 41 93 9 143
Por meio desta conclusão chega-se a aceitação em parte da primeira hipótese - H1 -
houve um acréscimo não significante na quantidade total de informações ambientais
evidenciadas no ano de 1999 para 2000, todavia observou-se um aumento
significativo no número de sentenças do relatório da administração.
Outro objetivo específico foi – O2 - verificar se houve aumento significante de
evidenciação de informações ambientais do ano de 2000 para 2001.
Analisando-se separadamente os relatórios nota-se que ocorreu aumento
significativo na quantidade de sentenças do relatório ambiental e notas explicativas
do ano de 2000 para 2001.
Gráfico 3: Nível de evidenciação ambiental (2000 – 2001)
3093
9
143225
143
29
397
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Núm
ero
de s
ente
ças
2000 2001Anos analisados
Relatório ambiental Relatório da administração Notas explicativas Total
73
Ao analisar a totalidade das sentenças elencadas, que é o objetivo específico,
chega-se à conclusão de que houve um aumento significativo no total de
evidenciação do ano de 2000 para 2001.
Tabela 8: Quantidade de sentença apresentadas – por ano e por tipo de relatório
Relatório ambiental
Relatório da administração
Notas explicativas
Totalidade das sentenças
Ano 2000 41 93 9 143
Ano 2001 225 143 29 397
Por meio desta conclusão chega-se a aceitação da segunda hipótese – H2 - houve
um acréscimo significante na quantidade de informações ambientais evidenciadas
no ano de 2000 para 2001.
O último objetivo específico foi – O3 - verificar se houve aumento significante de
evidenciação de informações ambientais do ano de 1999 para 2001.
Analisando-se separadamente os relatórios nota-se que ocorreu aumento
significativo na quantidade de sentenças de todos os relatórios do ano de 1999 para
2001.
74
Gráfico 4 - Nível de evidenciação ambiental (1999 – 2001)
30 54 1195
225
143
29
397
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Núm
ero
de s
ente
ças
1999 2001Anos analisados
Relatório ambiental Relatório da administração Notas explicativas Total
Tabela 9: Quantidade de sentenças apresentadas por ano e por tipo de relatório
Relatório ambiental
Relatório da administração
Notas explicativas
Totalidade das sentenças
Ano 1999 30 54 11 95 Ano 2001 225 143 29 397
Por meio desta conclusão chega-se a aceitação da segunda hipótese – H3 - houve
um acréscimo significante na quantidade de informações ambientais evidenciadas
no ano de 1999 para 2001.
75
5 CONCLUSÕES A questão ambiental é um dos assuntos que tem atraído a atenção das pessoas,
pela atual valorização que se dá à qualidade de vida e pela percepção de que as
conseqüências do descaso com o meio ambiente têm conduzido a situações críticas
para a própria sobrevivência da humanidade em longo prazo. Verifica-se que a partir
da revolução industrial, ou seja, muito pouco tempo atrás em termos históricos em
comparação com a presença da vida humana no planeta, que o nível de poluentes
emitidos na atmosfera, nas águas e no solo tem crescido com uma velocidade
espantosa. O esgotamento dos recursos naturais, incluindo a própria água, e
principalmente, o petróleo, têm levado a sérias preocupações, sobretudo por se
verificar que o aumento populacional continua expressivo e sem controle, prevendo-
se a falta desses para as futuras gerações.
As empresas começam a se dar conta de que as medidas de proteção ambiental
não surgiram para prejudicar ou impedir o crescimento e o desenvolvimento
econômico e sim como mais uma meta a ser atingida, no objetivo de torná-las
competitivas e agregar valores aos seus produtos, no cenário globalizado do mundo
atual.
Percebe-se que as partes interessadas ligadas à empresa (stakeholders), estão
exercendo um maior poder de pressão sobre as companhias, chegando a influenciar
a visão do empresariado a respeito da responsabilidade social e exigindo maior
evidenciação acerca da questão ambiental, não somente nos relatórios ambientais,
mas também nas demonstrações contábeis. Torna-se então, de fundamental
importância a regulamentação e padronização do disclosure ambiental que garanta
base confiável para registrar, comparar e analisar a posição e o desempenho do
negócio. Isso possibilitaria maior credibilidade na comparabilidade dos relatórios entre
empresas distintas e diferentes períodos de uma mesma empresa.
Com base nesses argumentos buscou-se averiguar qual o nível de disclosure ambiental nos relatórios anuais e ambientais da Petrobrás, imediatamente antes e
após os expressivos acidentes ocorridos no ano de 2000.
76
• Surgiu desse conjunto de fatores, o objetivo geral deste trabalho que é o de
verificar o nível de evidenciação de informações ambientais da Petrobrás
entre os anos de 1999, 2000 e 2001 a partir da análise dos relatórios
ambientais, relatórios da administração e notas explicativas.
Para alcançar os objetivos delineados, foi inicialmente realizada uma pesquisa
bibliográfica por meio de artigos nacionais e internacionais, obras e revistas
especializadas, sites na internet, além de teses, textos e artigos de áreas pertinentes
que possibilitasse embasamento teórico utilizado na pesquisa documental.
Documental, por se tratar da análise de documentos emitidos pela empresa, como
Demonstrações Contábeis e Relatórios Ambientais. E posteriormente, utilizando a
técnica de análise de conteúdo, analisou-se os relatórios anuais e ambientais da
Petrobrás dos anos de 1999, 2000 e 2001, tendo como unidade de análise a
sentença (frase).
Concluiu-se que houve um aumento no disclosure ambiental da Petrobrás entre os anos
de 1999, 2000 e 2001.
A primeira Hipótese (H1) foi confirmada, uma vez que houve um acréscimo não
significante na quantidade informações ambientais analisadas em sua totalidade no ano
de 1999 para 2000. Cabe ressaltar que apenas o Relatório da Administração
apresentou isoladamente um aumento significativo entre os anos, todavia não
influenciou na análise global das informações ambientais, permitindo assim a aceitação
da primeira hipótese.
A segunda e terceira Hipóteses (H2 e H3) foram totalmente aceitas com a confirmação de
que houve acréscimos significativos de evidenciação ambiental entre os anos de
1999/2000 e 1999/2001.
Após a aceitação das hipóteses sugeridas anteriormente, chega-se a constatação de
que acidentes ecológicos, que trazem grandes danos ao meio ambiente, como os
77
casos acontecidos com a Petrobrás, são fatores que pressionam para o aumento do
disclosure ambiental em relatórios anuais devido às pressões públicas sofridas pelas
empresas. Isso corrobora o resultado de outras pesquisas mencionadas neste
trabalho, como a de Walden & Schwartz (1997).
Ressalta-se, no entanto, que este trabalho estudou apenas o caso de uma empresa,
não podendo assim os seus resultados serem generalizados para as demais
empresas.
Por fim, sugere-se que outras pesquisas sejam realizadas com o foco voltado para a
análise do conteúdo dos relatórios ambientais, principalmente de empresas ou
setores que causam ou causaram acidentes ecológicos e que ocasionaram grandes
danos ambientais para a sociedade como um todo.
78
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