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Mútuo e Abertura de Crédito, Garantias Reais e Dação em Cumprimento
Joaquim Manuel Seco de Faria Carneiro, Notário
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FORMAÇÃO PARA NOTÁRIOS ESTAGIÁRIOS1
MÚTUO E ABERTURA DE CRÉDITO, GARANTIAS REAIS E DAÇÃO EM CUMPRIMENTO
I. INTRODUÇÃO
1. Razão da alteração da ordem proposta (dação em cumprimento, mútuo e abertura de
crédito e garantias reais):
a. Constituição das obrigações;
b. Garantias das obrigações;
c. Extinção das obrigações.
II. CONSTITUIÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
2. Fontes das obrigações:
a. Contratos [artigo 405.º e seguintes do Código Civil (CC)];
b. Negócios unilaterais (457.º ss. CC);
c. Gestão de negócios (464.º ss. CC);
d. Enriquecimento sem causa (473.º ss. CC);
e. Responsabilidade civil (483.º ss. CC).
3. Contratos:
a. Mútuo (1.142.º ss. CC);
b. Abertura de crédito.
1 V Curso de Formação de Estágio Notarial (Fase Inicial), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa, em 19 de maio de 2018.
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III. MÚTUO
4. Conceito: contrato pelo qual uma das partes (mutuante) empresta à outra (mutuário)
dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo
género e qualidade (1.142.º CC).
5. Objeto:
a. Dinheiro;
b. Outra coisa fungível (conceito: coisa que se determina pelo seu género,
qualidade e quantidade, quando constitua objeto de relações jurídicas – 207.º
CC); verbi gratia, cereais, vinho, DVD (destinado a ser gravado).
6. Dinâmica (processa-se em 2 momentos):
a. 1.º momento: empréstimo;
b. 2.º momento: restituição.
7. Efeitos:
a. transferência da propriedade da coisa mutuada para o mutuário, pelo facto da
entrega (1.144.º CC); esta deslocação da propriedade é indispensável, como
meio ou instrumento jurídico, ao gozo da coisa, que o mutuante proporciona
ao mutuário, dado a natureza fungível daquela;
b. é esta característica que distingue o contrato de mútuo do contrato de
comodato, no qual uma das partes (comodante) entrega à outra
(comodatário) certa coisa, móvel ou imóvel, para que se sirva dela, com a
obrigação de a restituir (1.129.º CC), mas sem que a coisa se torne
propriedade deste último; v.g., DVD com filme;
c. A razão de ser da transferência de propriedade está na impossibilidade prática
de distinguir, no património do mutuário, principalmente tratando-se de
dinheiro, aquilo que representa e coisa entregue e o que deve ser restituído. É
precisamente esta circunstância que imprime ao contrato uma natureza
distinta da que reveste o comodato, em que a individualização da coisa se
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mantém durante toda a vida do negócio.
8. Modalidades (1.145.º CC):
a. Mútuo oneroso: quando, a título de retribuição, é convencionado pelas partes
o pagamento de juros;
b. Mútuo gratuito: quando as partes convencionam o não pagamento de juros;
c. Em caso de dúvida sobre a intenção dos contraentes: o mútuo presume-se
oneroso (1.145.º, n.º 1, 2.ª parte); mas não se exige qualquer declaração
expressa de vontade; tal declaração pode ser tácita ou, mesmo, resultar das
circunstâncias do contrato ou da qualidade das pessoas dos contraentes ou do
objeto do contrato; v.g., mútuo de dinheiro junto de um banco
(necessariamente oneroso) ou junto de um familiar próximo (as mais das vezes
gratuito); mútuo (“pedido de empréstimo”) de ½ quilo de arroz ao vizinho, a
“devolver” no dia seguinte (parece, neste caso, afastada a presunção de
onerosidade).
9. Remuneração do mútuo – os juros [ou interesses (interests, intérêts, interés, interessi)]:
a. Autonomia do crédito dos juros em relação ao crédito principal (561.º, CC);
qualquer um deles pode ser cedido ou extinguir-se sem o outro;
b. Essa autonomia é justificada pela função específica de cada uma das
realidades: mútuo> satisfação da necessidade específica do mutuário; juros>
remuneração ou retribuição do mútuo;
c. Não é obrigatória a correspondência entre a coisa mutuada e os respetivos
juros (v.g., cereais> dinheiro, ou o contrário);
d. A medida do juro pode ser levada a efeito através da fixação de uma taxa ou
de um quantitativo (559.º, n.º 1, CC);
e. Os juros legais e os estipulados sem determinação de taxa ou quantitativo são
fixados nos termos do número 1, do citado artigo 559.º (portaria conjunta dos
Ministros da Justiça e das Finanças);
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f. Atualmente a taxa de juro a que se refere a alínea anterior é, no mútuo civil,
de 4% (Portaria n.º 291/2003, de 8 de abril);
g. Caso os contraentes pretendam acordar numa taxa de juro superior à referida
na alínea anterior, deverão fazê-lo por escrito, sob pena de ser devido apenas
o juro legal (559.º, n.º 2, CC).
10. Mútuo usurário:
a. É o contrato de mútuo em que sejam estipulados juros anuais que excedam os
juros legais, acrescidos de 3% ou 5%, conforme haja ou não garantia real
(1.146.º, n.º 1, CC);
b. Se esses máximos forem excedidos, considera-se a taxa reduzida àqueles
máximos, ainda que outra seja a vontade dos contraentes (1.146.º, n.º 3, CC).
11. Constituição – Forma (1.143, CC):
a. Contrato de mútuo de valor até € 2.500,00: sem exigência de forma; mas não
pode ser convencionado juro superior ao legal, proibindo a lei a convenção
verbal de juros (559.º, n.º 2, ex vi 1.145.º, n.º 2, CC);
b. Contrato de mútuo de valor superior a € 2.500,00: documento assinado pelo
mutuário;
c. Contrato de mútuo de valor superior a € 25.000,00: escritura pública (ou
documento particular autenticado);
d. Sem prejuízo do disposto em lei especial; v.g., Procedimento casa pronta;
Decreto-Lei n.º 32765, de 29 de Abril de 1943: Artigo único – Os contratos de
mútuo ou usura, seja qual for o seu valor, quando feitos por estabelecimentos
bancários autorizados, podem provar-se por escrito particular, ainda mesmo
que a outra parte contratante não seja comerciante (ainda em vigor: Ac. RE,
26-04-2012).
12. Extinção – Restituição
a. Havendo prazo estabelecido: extinção na data do vencimento; mas, sendo o
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mútuo oneroso, pode o mutuário antecipar a restituição, desde que satisfaça
os juros por inteiro (1.147.º CC);
b. Não estando fixado prazo (1.148.º, CC):
i. Se o mútuo for gratuito: a obrigação do mutuário só se vence 30 dias
após a exigência do cumprimento (n.º 1);
ii. Se o mútuo for oneroso: qualquer das partes pode pôr termo ao
contrato, desde que o denuncie com a antecedência mínima de 30
dias (n.º 2).
13. Incidência na prática notarial
a. O crédito bancário; brevíssima informação acerca da evolução histórica do
crédito à habitação em Portugal; o Decreto-Lei n.º 349/98, de 11 de
novembro;
b. Referência ao Decreto-Lei n.º 74-A/2017 de 23 de junho (aprova o regime dos
contratos de crédito relativos a imóveis), em vigor desde 1 de janeiro de 2018;
c. Referência ao Decreto-Lei n.º 58/2013 de 08 de maio (normas referentes à
classificação e contagem de prazos das operações de crédito, aos juros
remuneratórios, à capitalização de juros e à mora do devedor, aplicáveis às
entidades bancárias e afins sujeitas à supervisão do Banco de Portugal);
d. O empréstimo entre particulares.
14. Regime fiscal
a. Incidência: o contrato de mútuo [1.º, n.º 1, do Código do Imposto do Selo (CIS)
e Verba 17 (máxime 17.1) da Tabela Geral do Imposto do Selo (TGIS)];
b. Encargo do imposto: o utilizador do crédito [3.º, n.º 3, al. f), CIS], ou seja, o
mutuário;
c. Nascimento da obrigação tributária: no momento em que forem realizadas
[5.º, n.º 1, al. g), CIS];
d. Sujeitos passivos do imposto: os notários [2.º, n.º 1, al. a), CIS]:
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i. relativamente a atos, contratos e outros factos em que sejam
intervenientes (v.g., escritura pública, testamento, instrumento
notarial avulso), exceto os relativos a crédito e garantias concedidas
por instituições de crédito (ou equiparadas); e
ii. quando os contratos ou documentos lhes sejam apresentados para
qualquer efeito legal (v.g., reconhecimento de assinatura, termo de
autenticação), nos termos do 5.º, n.º 1, al. n), ou seja, nos quais não
intervenham, a qualquer título, pessoas coletivas ou pessoas coletivas
no exercício de atividade de comércio, indústria ou prestação de
serviços.
e. Competência para a liquidação do imposto: os sujeitos passivos referidos no
2.º, n.ºs 1 e 3; inclui, pois, os notários (23.º, n.º 1, CIS);
f. Menção da liquidação do imposto: obrigatória a menção do valor e da data da
liquidação do imposto nos documentos e títulos a ele sujeitos (23.º, n.º 6, CIS).
IV. ABERTURA DE CRÉDITO
15. Em busca de um conceito:
a. Inexistência de noção legal, constituindo um contrato atípico, ainda que
nominado (previsto no 362. º CCom);2
b. «Para efeitos deste artigo, entende-se por abertura de crédito a obrigação que
alguém assume, por meio de instrumento público, escrito particular ou
correspondência, de fornecer a outrem fundos, mercadorias ou outros valores,
quer seja para utilizar no País quer no estrangeiro» - 1.º da revogada Tabela
Geral do Imposto do Selo, aprovada pelo Decreto-Lei número 21.916, de 28 de
novembro de 1932;
2 Sob a epígrafe «Natureza comercial das operações de banco», este artigo prescreve: «São comerciais
todas as operações de bancos tendentes a realizar lucros sobre numerário, fundos públicos ou títulos
negociáveis, e em especial as de câmbio, os arbítrios, empréstimos, descontos, cobranças, aberturas de
créditos, emissão e circulação de notas ou títulos fiduciários pagáveis à vista e ao portador.»
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c. «O contrato de abertura de crédito é aquele pelo qual o banco – creditante –
se obriga a colocar à disposição do cliente – creditado – uma determinada
quantia pecuniária – acreditamento ou linha de crédito – por tempo
determinado ou não, ficando o último obrigado ao reembolso das somas
utilizadas e ao pagamento dos respectivos juros e comissões» - Ac. RC, 19-12-
2012;
d. «Contrato pelo qual uma instituição de crédito se obriga a colocar dinheiro à
disposição de um cliente, que este, mediante o pagamento de capital, de juros
e de comissões, pode utilizar, à medida da sua conveniência, até um certo
limite e em determinadas circunstâncias.» - Carlos Ferreira de Almeida;
e. Necessidade de um conceito que revele uma relação creditória que não se
limite à disponibilização de dinheiro, embora sem esquecer que toda a relação
creditória é redutível a um valor pecuniário.
16. Função:
a. concessão, ao creditado, de uma disponibilidade de crédito que este poderá
ou não utilizar, de acordo com as suas necessidades, durante determinado
período e até a um determinado montante, que as partes hajam acordado;
b. «constitui-se uma simples relação obrigacional entre creditante e creditado:
aquele deve ter à disposição do creditado as quantias fixadas no contrato; o
creditado tem o direito de decidir quando e como vai utilizar o crédito» – José
Carlos Gouveia da Rocha;
c. tal utilização terá por base um instrumento bancário específico; v.g.:
i. contratos de empréstimo;
ii. desconto de letras;
iii. abertura de crédito em conta corrente;
iv. descobertos em conta de depósitos à ordem;
v. garantias bancárias.
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17. Natureza: é um contrato consensual, pois fica perfeito com o acordo entre as partes,
não sendo a entrega elemento necessário à sua formação (ao contrário do contrato de
mútuo);3
18. Constituição – Forma:
a. não está sujeito a qualquer exigência de forma (219.º CC);
b. na prática bancária é um contrato que se celebra sob forma escrita ou por
escritura pública se a abertura for assegurada por uma garantia que exija esta
forma (v.g., hipoteca).
V. GARANTIAS DAS OBRIGAÇÕES
19. Garantia geral das obrigações (601.º ss. CC):
a. pelo cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor
suscetíveis de penhora (601.ºº CC);
b. conservação da garantia patrimonial (tutela dos credores):
i. declaração de nulidade;
ii. sub-rogação do credor ao devedor;
iii. impugnação pauliana;
iv. arresto.
20. Garantias especiais das obrigações (623.º ss. CC):
a. Prestação de caução (623.º ss. CC); admissibilidade da sua prestação através
de depósito de dinheiro, títulos de crédito, pedras ou metais preciosos ou por
penhor, hipoteca ou fiança bancária; mas também através da fiança comum,
desde que o fiador renuncie ao benefício da excussão;
b. Fiança (627.º ss. CC);
3 «A abertura de crédito é um contrato que fica perfeito com o acordo das partes, sem necessidade de
qualquer entrega monetária» - Ac. STJ, 15-05-2001.
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c. Consignação de rendimentos (656:º ss. CC);
d. Penhor (666.º ss. CC);
e. Privilégios creditórios (733.º ss. CC);
f. Direito de retenção (754.º ss. CC).
g. Hipoteca (686.º ss. CC).
VI. CONSIGNAÇÃO DE RENDIMENTOS
21. Conceito (656º, ss., CC): estipulação pela qual o cumprimento da obrigação é
assegurado através da atribuição ao credor dos rendimentos de certos bens imóveis, ou de
certos bens móveis sujeitos a registo.
22. Objeto: os rendimentos dos bens, os seus frutos civis;
23. Obrigações cujo cumprimento garante:
a. condicionais ou não;
b. presentes ou futuras;
c. apenas o cumprimento da obrigação (capital);
d. apenas o pagamento dos juros;
e. o pagamento do capital e dos juros.
24. Legitimidade para constituir a garantia (657.º CC):
a. Quem puder dispor dos rendimentos consignados;
b. Possibilidade de a consignação ser constituída por terceiro.
25. Espécies (658.ª CC):
a. Voluntária: constituída por negócio inter vivos (contrato) ou mortis causa
(testamento);
b. Judicial: resulta de decisão do tribunal.
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26. Prazo (659.º CC):
a. Por determinado número de anos (neste caso nunca pode exceder o prazo de
15 anos);
b. Até ao pagamento da dívida garantida.
27. Modalidades quanto ao poder sobre (entrega dos) bens (661.º CC):
a. Que continuem em poder do concedente;
b. Que os bens passem para o poder do credor, o qual fica, na parte aplicável,
equiparado ao locatário, sem prejuízo da faculdade de por seu turno os locar;
c. Que os bens passem para o poder de terceiro, por título de locação ou por
outro, ficando o credor com o direito de receber os respetivos frutos.
28. Constituição – Forma (660.º, n.º 1, CC)
a. escritura pública ou testamento, se respeitar a coisas imóveis;
b. escrito particular, quando recaia sobre móveis.
29. Registo (660.º, n.º 2, CC): sujeição a registo; mas se tiver por objeto os rendimentos de
títulos de crédito nominativos, deve ser averbada aos títulos respetivos a existência da
consignação.
30. Extinção (664.º CC):
a. Decurso do prazo estipulado;
b. Extinção da obrigação que lhe serve de garantia, decorrente, as mais das vezes
da satisfação integral do crédito, mercê das sucessivas entregas feitas ao
credor em virtude da consignação estipulada; caráter acessório da
consignação de rendimentos;
c. Perecimento da coisa cujos rendimentos foram consignados;
d. Renúncia do credor.
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VII. PENHOR
31. Conceito (666.º CC): direito conferido ao credor de se pagar do seu crédito, bem como
dos juros, se os houver, com preferência sobre os demais credores, pelo valor de certa coisa
móvel (stricto sensu + créditos ou outros direitos não suscetíveis de hipoteca), pertencentes ao
devedor ou a terceiro.
32. Objeto: abrange toda a coisa empenhada, assim se distinguindo da consignação de
rendimentos, que tem por objeto os frutos dela.
33. Obrigações cujo cumprimento garante:
a. condicionais ou não;
b. presentes ou futuras;
34. Legitimidade para constituir a garantia (667.º CC):
a. Quem puder alienar os bens;
b. O penhor poder ser constituído por terceiro.
35. Espécies:
a. Penhor de coisas;
b. Penhor de direitos.
36. Penhor de coisas (669.º ss.):
a. Forma: liberdade de forma (219.º CC);
b. Formalidade externa (publicidade): o penhor só produz os seus efeitos pela
entrega:
i. da coisa empenhada; ou
ii. de documento que confira a exclusiva disponibilidade dela ao credor
ou a terceiro.
c. Execução do penhor (675.º CC); Vencida a obrigação:
i. adquire o credor o direito de se pagar pelo produto da venda executiva
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da coisa empenhada;
ii. a venda pode ser feita extrajudicialmente, se as partes assim o tiverem
convencionado;
iii. a coisa empenhada pode ser adjudicada ao credor, pelo valor que o
tribunal fixar, se assim tiverem os interessados convencionado.
d. Extinção (677.º):
i. Entrega da coisa empenhada ou do documento indicado supra, em b.
ii;
ii. Extinção da obrigação que lhe serve de garantia; caráter acessório da
consignação de rendimentos;
iii. Perecimento da coisa cujos rendimentos foram consignados;
iv. Renúncia do credor.
37. Penhor de direitos (679.º ss.):
a. Remissão: extensão ao penhor de direitos, com as necessárias adaptações, das
disposições acerca do penhor de coisas, em tudo o que não seja contrariado
pela natureza especial desse penhor ou pelo preceituado em 679.º ss. CC;
b. Objeto (680.º): direitos sobre coisas móveis suscetíveis de transmissão
c. Forma e publicidade: a mesma que é exigida para a transmissão dos direito
empenhados (681.º, n.º 1, CC); v.g., penhor de créditos hipotecários:
i. Forma: a escritura pública ou forma equiparada, se a hipoteca incidir
sobre bens imóveis (578.º, n.º 1, CC);
ii. Publicidade: sujeição a registo [2.º, n.º 1, al. o), CRPredial], sob pena de
não produzir efeitos em relação a terceiros.
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VIII. PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS
38. Conceito (733.º CC): direito conferido a certos credores, de serem pagos com
preferência aos demais credores, em atenção à natureza do seu crédito e
independentemente do registo;
39. Fonte: exclusivamente a lei (idem); não há privilégios nascidos de negócio jurídico;
40. Garantia (734.º CC):
a. Crédito;
b. Juros relativos aos últimos 2 anos, se devidos.
41. Seleção dos credores privilegiados: é efetuada em função da natureza dos seus
créditos (736.º ss. CC); v.g.:
a. O Estado e as autarquias locais para garantia dos créditos por determinados
impostos;
b. O crédito por despesas do funeral do devedor, conforme a sua condição e
costume da terra;
c. O crédito por despesas com doenças do devedor ou de pessoas a quem este
deva prestar alimentos, relativo aos últimos seis meses;
d. O crédito por despesas indispensáveis para o sustento do devedor e das
pessoas a quem este tenha a obrigação de prestar alimentos, relativo aos
últimos seis meses;
e. Os créditos emergentes do contrato de trabalho, ou da violação ou cessação
deste contrato, pertencentes ao trabalhador e relativos aos últimos seis
meses.
42. Espécies (735.º CC):
a. Privilégios creditórios mobiliários;
i. Gerais: abrangem o valor de todos os bens móveis existentes no
património do devedor à data da penhora ou ato equivalente;
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ii. Especiais: compreendem apenas o valor de determinados bens móveis;
b. Privilégios creditórios imobiliários: os previstos no CC são sempre especiais
(735.º, n.º 3, CC);
43. Concorrência de privilégios (745.º ss. CC):
a. Preferência entre si (746.º ss. CC);
b. Oponibilidade em relação a direitos (incluindo garantias) de terceiro (749.º ss.
CC).
44. Extinção da hipoteca (752.º SS. CC):
a. Extinção da obrigação que lhe serve de garantia; caráter acessório do
privilégio;
b. Prescrição, a favor de terceiro adquirente do prédio gravado com o privilégio,
uma vez decorridos 20 anos sobre o registo da aquisição e 5 anos sobre o
vencimento da obrigação;
c. Perecimento da coisa;
d. Renúncia do credor:
i. Expressa (731.º, n.º 1, CC);
ii. Escrita em documento com reconhecimento presencial da assinatura
do renunciante (idem).
IX. DIREITO DE RETENÇÃO
45. Conceito (754:º CC): direito conferido ao credor, que se encontra na posse de certa
coisa pertencente ao devedor de, recusar a entrega dela enquanto o devedor não
cumprir, mas também de executar a coisa e se pagar à custa do valor dela, com
preferência sobre os demais credores.
46. Casos especiais de direito de retenção (755.º CC):
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a. O transportador, sobre as coisas transportadas, pelo crédito resultante do
transporte;
b. O albergueiro, sobre as coisas que as pessoas albergadas hajam trazido para a
pousada ou acessórios dela, pelo crédito da hospedagem;
c. O mandatário, sobre as coisas que lhe tiveram sido entregues para execução
do mandato, pelo crédito resultante da sua atividade;
d. O gestor de negócios, sobre as coisas que tenha em seu poder para execução
da gestão, pelo crédito proveniente desta;
e. O depositário e o comodatário, sobre as coisas que lhe tiverem sido entregues
em consequência dos respetivos contratos, pelos créditos deles resultantes;
f. O beneficiário da promessa de transmissão ou constituição de direito real que
obteve a tradição da coisa a que se refere o contrato prometido, sobre essa
coisa, pelo crédito resultante do não cumprimento imputável à outra parte,
nos termos do artigo 442º.
g. O Notário sobre todos os bens, tornas e indemnizações do interessado que
não procedeu ao pagamento dos honorários e despesas por este devidos ao
primeiro no âmbito do processo de inventário (25.º, n.º 2, Port. n.º 278/2013
de 26-08-2013).
47. Retenção de coisas móveis (758.º, CC): o titular do direito de retenção goza dos
direitos e está sujeito às obrigações do credor pignoratício, salvo pelo que respeita à
substituição ou reforço da garantia;
48. Retenção de coisas imóveis (759.º, CC): o titular do direito de retenção, enquanto não
entregar a coisa retida, tem a faculdade de a executar, nos mesmos termos em que o
pode fazer o credor hipotecário e de ser pago com preferência aos demais credores do
devedor, prevalecendo, neste caso, sobre a hipoteca, ainda que esta tenha sido
registada anteriormente.
49. Extinção do direito de retenção (761.º, CC):
a. Entrega da coisa;
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b. Extinção da obrigação que lhe serve de garantia; caráter acessório da hipoteca;
c. Prescrição, a favor de terceiro adquirente do prédio hipotecado, uma vez
decorridos 20 anos sobre o registo da aquisição e 5 anos sobre o vencimento
da obrigação;
d. Perecimento da coisa hipotecada;
e. Renúncia do credor:
i. Expressa (731.º, n.º 1, CC);
ii. Escrita em documento com reconhecimento presencial da assinatura
do renunciante (idem).
X. HIPOTECA
50. Conceito: garantia que confere ao credor o direito de se pagar do seu crédito, com
preferência sobre os demais credores (que não gozem de privilégio especial ou de
prioridade de registo), pelo valor de certas coisas imóveis ou a ela equiparadas
(caráter real), pertencentes ao devedor ou a terceiros (fiança real) – 686.º, n.º 1, CC;
51. Montante garantido (693.º CC):
a. Crédito;
b. Acessórios que constem do registo [96.º, n.º 1, al. a) CRPredial]:
i. Juros, caso em que apenas assegura os relativos a 3 anos [5 anos
tratando-se de navios (589.º CCom)];
ii. Encargos e penalidades ocasionados pela constituição, registo e
incumprimento.
52. Registo constitutivo:
a. «Estão sujeitos a registo: (…) A hipoteca, a sua cessão ou modificação, a cessão
do grau de prioridade do respetivo registo (…); Os factos jurídicos que
importem a extinção de direitos, ónus ou encargos registados [2.º, n.º 1, al. h)
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e z) CRPredial];
b. «A hipoteca deve ser registada, sob pena de não produzir efeitos, mesmo em
relação às partes» (687.º, CC);
c. «Os factos sujeitos a registo, ainda que não registados, podem ser invocados
entre as próprias partes ou seus herdeiros. 2 – Excetuam-se os factos
constitutivos de hipoteca cuja eficácia, entre as próprias partes, depende da
realização do registo» (4.º, n.º 1, CRPredial);
53. Objeto – Só podem ser hipotecados (688.º CC):
a. Prédios rústicos e urbanos (e mistos), ainda que em raiz;
b. O direito de superfície [mas também o solo, pelo seu proprietário (1540.º e
1541.º CC)];
c. Direito resultante de concessões em bens do domínio público;
d. O usufruto das coisas e direitos constantes das alíneas anteriores (os direitos
sobre direitos), pelo usufrutuário sobre usufruto já constituído;
e. As coisas móveis que, para o efeito da constituição da garantia hipotecária,
sejam por lei equiparadas às imóveis:
i. os árvores, os arbustos e os frutos naturais, enquanto estiverem
ligados ao solo [691.º, n.º 1, al. a), CC];
ii. os direitos inerentes aos prédios, às águas e às árvores, arbustos e
frutos naturais referidos na alínea anterior [idem];
iii. as partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos [idem];
iv. as acessões naturais [691.º, n.º 1, al. b), CC];
v. as benfeitorias [691.º, n.º 1, al. c), CC], salvo o direito de terceiros;
vi. as fábricas [691.º, n.º 2, CC];
54. Objeto (continuação) – Hipoteca prevista em legislação avulsa:
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a. O direito real de habitação periódica (Cfr. 10.º e 12.º DL 275/93, de 05/08;
b. Os veículos a motor e respetivos reboques [5.º, n.º 1, al. c), DL 54/75, de
12/02];
c. Os navios (584.º ss. CCom);
d. As aeronaves (cfr. 18.º DL 159/2004, de 30/06).
55. Objeto (continuação) – Hipoteca de coisa ou direito em regime de contitularidade:
a. Compropriedade: é permitida a hipoteca da quota de coisa ou direito comum
(689.º, n.º 1, CC);
b. Comunhão: é proibida a hipoteca da meação dos bens comuns do casal e da
quota de herança indivisa ou quinhão hereditário (690.º CC).
56. Natureza: a hipoteca é um direito acessório, uma vez que só existe em função da
obrigação cujo cumprimento assegura (tal como os restantes direitos de garantia –
reais e pessoais).
57. A obrigação garantida pode ser (686.º, n.º 2, CC):
a. futura; ou
b. condicional.
58. Princípios gerais:
a. Proibição do pacto comissório (694.º CC), ou seja, da convenção pela qual o
credor fará sua a coisa onerada no caso de o devedor não cumprir;
b. Proibição de cláusula de inalienabilidade ou de oneração dos bens hipotecados
(695.º CC); mas é lícito convencionar que o crédito garantido pela hipoteca se
vença logo que os bens sejam alienados ou onerados;
c. Princípio da indivisibilidade da hipoteca (696.º CC):
i. A hipoteca subsiste por inteiro sobre:
I. cada uma das coisas oneradas (hipoteca constituída sobre mais
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do que um prédio) e sobre cada uma das partes que a
constituam (hipoteca constituída sobre um prédio que foi
dividido em diversas unidades prediais);
II. mesmo que o crédito seja dividido (v.g., parcialmente cedido)
ou se encontre cumprido apenas em parte; em qualquer
destes casos, podem os credores – qualquer um deles, no
primeiro caso – executar o seu crédito, por inteiro, sobre o
imóvel ou os imóveis onerados;
ii. Caráter supletivo do princípio, que pode ser afastado por convenção
em contrário.
59. Espécies (703.º CC):
a. Hipotecas legais (704.º ss. CC):
i. Resultam imediatamente da lei, sem dependência da vontade das
partes;
ii. Podem constituir-se desde que exista a obrigação que garantem;
Podem: parece que inexiste qualquer garantia anteriormente a um
qualquer ato donde brote; esse ato será o registo, o qual funcionará
aqui como “título” de constituição, no qual se especificarão os
sujeitos, os bens hipotecados e o montante do crédito assegurado.
iii. Credores com hipoteca legal (706.º CC); destacam-se:
I. o menor, o interdito e o inabilitado, sobre os bens do tutor,
curador e administrador legal, para assegurar a
responsabilidade que nestas qualidades vierem a assumir;
II. o credor por alimentos;
III. o co-herdeiro, sobre os bens adjudicados ao devedor de
tornas, para garantir o pagamento destas;
IV. o legatário de dinheiro ou outra coisa fungível, sobre os bens
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sujeitos ao encargo do legado ou, na sua falta, sobre os bens
que os herdeiros responsáveis houverem do testador.
b. Hipotecas judiciais (710.º ss. CC):
i. Nascem da sentença que condena o devedor a uma prestação em
dinheiro ou outra coisa fungível;
ii. A sentença condenatória é título bastante para o registo de hipoteca
sobre quaisquer bens do obrigado, que serão, aquando do pedido,
especificados.
c. Hipotecas voluntárias (712.º ss. CC):
i. Nascem da vontade das partes, podendo constituir-se:
I. Por contrato;
II. Por declaração unilateral (em vida ou por morte).
ii. Forma (714.º CC):
I. imóveis: escritura pública, testamento ou documento
particular autenticado, sem prejuízo do disposto em lei
especial: v.g., procedimento Casa Pronta (714.º CC);
II. outros bens: documento particular (impresso próprio), como é
o caso dos automóveis e das aeronaves.
iii. Legitimidade para hipotecar: só tem legitimidade para hipotecar quem
puder alienar os bens (715.º CC);
iv. Proibição das hipotecas gerais (716.º CC):
I. As que incidem sobre todos os bens, sejam do devedor ou de
terceiro, sem os especificar;
II. A especificação deve constar do título constitutivo da hipoteca.
v. Legalidade da hipoteca omnibus (vulgarmente, mas de forma incorreta
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chamada hipoteca genérica)4; caracteriza-se por:
I. garantir uma dívida que não está determinada ab initio, sendo
apenas determinado o montante máximo que assegura;
II. as obrigações garantidas podem ter a mais variada natureza e
não é limitado o seu número: pode ser abrangida pela
hipoteca toda e qualquer obrigação, desde que integrável num
dos critérios de globalização convencionados e desde que
caiba na quantia máxima constante do registo e do título
constitutivo.
60. Substituição e reforço da hipoteca (701.º CC):
a. Podem ser exigidas pelo credor quando a coisa hipotecada:
i. Perecer; ou
ii. A hipoteca se tornar insuficiente para segurança do crédito; e
iii. Desde que tais factos não sejam imputáveis ao credor.
b. Substituição da hipoteca: é dado de hipoteca um novo bem, para garantir o
cumprimento da obrigação, em lugar do anterior;
c. Reforço da hipoteca: mantendo-se a hipoteca sobre o bem inicial, ela é
alargada a outro ou outros bens, reforçando a garantia.
61. Redução, expurgação e transmissão da hipoteca:
a. Redução (718.º ss. CC): só pode ser consentida por quem puder dispor da
hipoteca;
b. Expurgação (721.º ss. CC): direito do adquirente de bens hipotecados, desde
que assegure os direitos do credor;
4 PCT DGRN, P.º CP 35/2003 DSJ-CT, BRN, 9/2003, II Caderno, p. 24, no qual se conclui: «Não é
manifestamente nula por indeterminabilidade do seu objecto a hipoteca voluntária constituída pelo
devedor ou por terceiro para garantia de todas as responsabilidades assumidas ou a assumir pelo
devedor até determinado montante.»
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c. Transmissão (727.º ss. CC):
i. Sendo acessório do crédito, havendo transmissão deste, a hipoteca
que o garante transmite-se, também, para o cessionário, salvo
convenção em contrário (582.º CC);
ii. Porém, a transmissão da hipoteca a que nos referimos é a transmissão
da garantia separadamente do (sem o) crédito que garante;
iii. O credor pode ceder a hipoteca para garantia de crédito pertencente a
outro credor do mesmo devedor:
I. A hipoteca cedida garante o novo crédito nos limites do crédito
que originariamente garantia;
II. Aplicam-se as regras da cessão de créditos (577.º ss. CC); v.g.:
a. Não é necessário o consentimento do hipotecante,
salvo se este for terceiro (se não for o próprio
devedor), o que, aliás, já resulta implicitamente do
727.º CC;
b. Requisitos e efeitos da transmissão aferem-se em
função do tipo de negócio que lhe serve de base.
III. Uma vez registada a cessão, a extinção do crédito originário
não afeta a subsistência da hipoteca transmitida (728.º, n.º 2,
CC);
IV. Modalidades da transmissão:
c. Cessão efetuada pelo credor hipotecário a favor de
credor comum do mesmo devedor (cessão da
hipoteca);
d. Cessão efetuada pelo credor hipotecário a favor de
outro credor hipotecário posteriormente inscrito no
registo sobre os mesmos bens (cessão do grau
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hipotecário).
V. Registo: a transmissão encontra-se sujeita a registo; mas, da
falta deste, não decorre a não produção de efeitos em relação
às próprias partes, como acontece em relação ao registo da
sua constituição (687.º CC).
62. Extinção da hipoteca (730.º SS. CC):
a. Causas:
i. Extinção da obrigação que lhe serve de garantia; caráter acessório da
hipoteca;
ii. Prescrição, a favor de terceiro adquirente do prédio hipotecado, uma
vez decorridos 20 anos sobre o registo da aquisição e 5 anos sobre o
vencimento da obrigação;
iii. Perecimento da coisa hipotecada;
iv. Renúncia do credor:
I. Expressa (731.º, n.º 1, CC);
II. Escrita em documento com reconhecimento presencial da
assinatura do renunciante (idem).
b. Renascimento da hipoteca (732.º, CC); renasce a hipoteca:
i. se a inscrição originária da hipoteca tiver sido cancelada;
ii. se a causa extintiva da obrigação for declarada inválida ou ineficaz;
iii. apenas desde a data da nova inscrição registral.
63. Incidência na prática notarial:
a. A especificação do fundamento;
b. O montante do crédito e dos acessórios que se visa assegurar;
c. O montante máximo assegurado.
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64. Regime fiscal
a. Incidência: o contrato de hipoteca (1.º, n.º 1, CIS e Verba 10 TGIS);
i. «Garantias das obrigações, qualquer que seja a sua natureza ou forma,
designadamente o aval, a caução, a garantia bancária autónoma, a
fiança, a hipoteca, o penhor e o seguro-caução, salvo quando
ii. materialmente acessórias de contratos especialmente tributados na
presente Tabela e sejam
iii. constituídas simultaneamente com a obrigação garantida, ainda que
em instrumento ou título diferente (…)»;
iv. Aplicação das taxas ao montante máximo assegurado.
b. Encargo do imposto: a entidade obrigada à sua apresentação [3.º, n.º 3, al. e),
CIS];
c. Nascimento da obrigação tributária: no momento da assinatura pelos
outorgantes [5.º, n.º 1, al. a), CIS];
d. Referência à incidência do imposto do selo na substituição e reforço de
hipoteca: a informação número 3508-2010, de 13-09-2010, da DSIMT
XI. EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
65. Cumprimento da obrigação (762.º ss. CC): o devedor cumpre a obrigação quando
realiza a prestação a que está vinculado; a obrigação extingue-se pelo cumprimento
voluntário por parte do devedor;
66. Não cumprimento da obrigação (790.º ss. CC): se o devedor faltar culposamente ao
cumprimento da obrigação torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor
(798.º CC); pode o credor lançar mão dos meios que o ordenamento põe ao seu dispor
para a realização coativa da prestação (execução, penhora, venda executiva…)
67. Causas de extinção das obrigações para além do cumprimento:
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a. Dação em cumprimento (837.º ss. CC);
b. Consignação em depósito (841.º ss. CC);
c. Compensação (847.º ss. CC);
d. Novação (857.º ss. CC);
e. Remissão (863.º ss. CC);
f. Confusão (868.º ss. CC).
XII. DAÇÃO EM CUMPRIMENTO
68. Conceito (837.º CC): realização de uma prestação diferente da que é devida, com o
objetivo de extinguir imediatamente a obrigação, mediante acordo do credor (datio in
solutum);
69. Efeitos: a extinção da obrigação;
70. Dação em função do cumprimento, dita dação pro solvendo (840.º CC): aqui não se
verifica a extinção imediata da obrigação; com a prestação que é feita ao credor visa-
se apenas facilitar o cumprimento daquela; a obrigação mantém-se e só se extinguirá
se e à medida que for sendo satisfeita;
71. A lei presume que é esta (dação pro solvendo) a modalidade seguida se a dação tiver
por objeto a cessão de um crédito ou a assunção de uma dívida.
Braga, 18 de maio de 2018.
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XIII. BIBLIOGRAFIA
- Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, Almedina, Coimbra, Vol. II, 5.ª Ed., 1992;
- Pires de Lima e Antunes Varela, Código Civil, Anotado, Coimbra Editora, Coimbra, Vol. II, 3.ª Ed., 1986;
- Neto Ferreirinha e Zulmira Neto, Manual de Direito Notarial – Teoria e Prática, Ed. Autor, Coimbra, 4.ª Ed.,
2008;
- José Carlos Gouveia Rocha, Manual Teórico e Prático do Notariado, Almedina, Coimbra, 2.ª Ed., 1998.
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