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NEWSLETTER #14 dezembro de 2019 SUMÁRIO
PROPOSTA DE LEI DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2020 – PARTE I
1. Notas introdutórias
2. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS)
3. Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)
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1. Notas introdutórias
A presente Newsletter é dedicada, exclusivamente, à análise das alterações fiscais previstas
na Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2020 (PLOE/2020), Proposta de Lei n.º
5/XIV. em sede de IRS e IVA, deixando-se para a Newsletter de janeiro, a publicar no início
do mês de fevereiro, as alterações fiscais propostas em sede de IRC e benefícios fiscais
(PARTE II).
Com efeito, optou-se por incluir apenas parte das alterações fiscais, comentando-as de modo
detalhado, ao invés de as incluir a todas, abordagem esta que, a ser seguida, teria que ser
feita de modo mais superficial e que, na verdade, nada traria de novo em virtude de já se
encontrarem disponíveis na internet várias publicações nas quais, na sua generalidade, foi
seguida precisamente esta via.
A título introdutório, importa referir que a Proposta Lei n.º 4/XIV, que apresenta as Grandes
Opções do Plano para a nova legislatura (2020-2023), define quatro agendas estratégicas:
a) Alterações climáticas e valorização dos recursos;
b) Sustentabilidade demográfica e melhor emprego;
c) Menos desigualdades e um território mais coeso;
d) Transição digital e uma sociedade da inovação.
No que ao cenário macroeconómico diz respeito, o Ministério das Finanças perspetiva, para
2020, que a economia portuguesa continue em expansão, pelo sétimo ano consecutivo,
prevendo-se um crescimento real do PIB de 1,9% (crescimento idêntico ao do ano anterior).
A taxa de inflação reportada a novembro de 2019 é de 0,3% (taxa de referência, como
veremos, na atualização dos escalões das taxas gerais de IRS), sendo que a taxa de inflação
estimada para 2020 se situa entre 1,2% e 1,4%.
O Decreto-Lei n.º 167/2019, de 21-11, fixa o valor da retribuição mínima mensal garantida
para 2020 em € 635.
A PLOE/2020 será discutida na Assembleia da República na generalidade nos dias 09 e 10
de janeiro de 2020, com votação final global marcada para 06 de fevereiro, admitindo-se,
tendo em conta a necessária promulgação pelo Presidente da República, a entrada em vigor
da Lei o Orçamento do estado para 2020 na segunda quinzena de fevereiro (mera suposição).
Tendo em conta o atual contexto político, são previsíveis muitas alterações à presente
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proposta, incluindo em matéria fiscal, adivinhando-se a inclusão de matérias não previstas na
PLOE/2020, bem como alterações às matérias abrangidas.
2. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS)
A PLOE/2020 prevê alterações aos artigos 3.º, 10.º, 31.º, 68.º, 78.º-A, 99.º-F, 101.º e 102.º
do Código do IRS, sendo ainda proposto o aditamento do art.º 2.º-B ao mesmo Código
(doravante deixaremos de fazer referência expressa ao Código do IRS).
A título de nota introdutória, importa começar por referir que, ao contrário do que se encontra
previsto nas Grandes Opções do Plano e daquilo que foi inicialmente avançado pela
comunicação social, nomeadamente no que se refere aos rendimentos prediais, não se
seguiu, nesta proposta, o “(…) caminho no sentido do englobamento de diversos tipos de
rendimentos em sede de IRS (…)”, tributados a taxas especiais, visando a eliminação das
diferenças entre taxas.
i. Isenção de rendimentos da categoria A: art.º 2.º-B (aditado) e n.os 4 e 5 do art.º 99.º-F (aditados)
É proposto o aditamento do art.º 2.º-B que consagra uma isenção parcial de IRS aplicável a
rendimentos da categoria A.
De acordo com o seu n.º 1:
“Os rendimentos da categoria A, auferidos por sujeito passivo entre os 18 e os 26 anos, que não seja considerado dependente, ficam parcialmente isentos de IRS, nos três primeiros anos de obtenção de rendimentos após o ano da conclusão de ciclo de estudos igual ou superior ao nível 4 do Quadro Nacional de Qualificações, mediante opção na declaração de rendimentos a que se refere o artigo 57.º.” (sublinhado nosso)
A isenção (parcial) em causa é circunscrita aos rendimentos da categoria A (trabalho
dependente), tipificados no art.º 2.º.
Para efeitos de composição do agregado familiar em sede de IRS consideram-se
dependentes, nomeadamente, os filhos, adotados e enteados, maiores, bem como aqueles
que até à maioridade estiveram sujeitos à tutela de qualquer dos sujeitos a quem incumbe a
direção do agregado familiar, que:
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• Não tenham mais de 25 anos (1);
• Nem aufiram anualmente rendimentos superiores ao valor da retribuição mínima
mensal garantida que para 2020 será de € 8.890 (€ 635 x 14 meses).
O disposto anteriormente não prejudica a tributação autónoma das pessoas nele referidas,
permitindo-se, assim, a opção pela tributação separada do agregado, deixando de figurar
como dependentes do mesmo.
Como se verifica, a isenção (parcial) em causa é dirigida a jovens entre os 18 e os 26 anos
(2), estando condicionada, no entanto, ao facto de não serem considerados dependentes nos
termos antes referidos.
A isenção (parcial), sendo opcional, é delimitada no tempo, circunscrevendo-se aos três
primeiros anos de obtenção de rendimentos após conclusão do nível de ensino (secundário
ou nível superior).
Coloca-se, desde logo, a questão dos jovens que em momento anterior à conclusão do ciclo
de estudos em causa já obtinham rendimentos de trabalho dependente (trabalhadores
estudantes).
Parece-nos, salvo melhor opinião, que o regime de isenção em causa também será de se
lhes aplicar, ainda que circunscrito, como refere a norma, aos rendimentos obtidos após a
conclusão do ciclo de estudos.
Outra dúvida que se nos suscita passa por aferir quais são os “três primeiros anos de
obtenção de rendimentos após o ano da conclusão de ciclo de estudos”.
Imagine-se o exemplo de um jovem que conclua a licenciatura em setembro do ano 2020 e
comece, desde logo a trabalhar.
Estamos a falar de 3 anos civis completos ou a contagem deverá ser aferida em meses?
No caso de estamos a falar de anos civis completos ainda se suscita outra dúvida. Quando o
legislador refere três primeiros anos “após o ano da conclusão”, indicia que os anos
abrangidos seriam, no exemplo apresentado, os de 2021, 2022 e 2023, deixando de fora os
(1) Com a Reforma do IRS, que entrou em vigor em janeiro de 2015, deixou de ser exigido o requisito de ter frequentado no ano a que o imposto respeita o 11.º ou o 12º ano de escolaridade, estabelecimento de ensino
médio ou superior.
(2) Recorde-se que a situação pessoal e familiar relevante para efeitos de tributação deverá ser aferida a 31 de dezembro de cada ano civil.
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rendimentos auferidos no próprio ano da conclusão do ciclo de estudos (2020, no exemplo),
o que, à partida, não pareceria muito razoável.
Talvez a interpretação mais plausível fosse a contagem do prazo em meses, interpretação
esta que, no entanto, complica a aplicação do n.º 3 daquela norma, como veremos.
Todavia, tendo em conta que o IRS tem um base anual (o período de tributação corresponde
ao ano civil), enquanto imposto periódico, admite-se a contagem em anos civis completos
(desde logo pela maior simplicidade na aplicação do regime), sendo certo que, a ser assim,
a aplicação imediata ao ano da conclusão do ciclo de estudos (que não resulta da letra da lei)
teria a agravante de consumir o benefício num ano em que, muito provavelmente, o benefício
não será necessário (4 meses de remunerações, no exemplo apresentado), fruto da aplicação
da dedução específica de modo integral e da aplicação do mecanismo do mínimo de
existência.
Conclui-se, salvo melhor opinião, que se tratará de anos civis e que apenas se aplica a
isenção a partir do ano (civil) posterior ao ano (civil) da conclusão do ciclo de estudos.
Ainda no que se refere ao âmbito de aplicação desta isenção parcial, questiona-se o
tratamento a dar aos denominados “falsos recibos verdes”.
Sabe-se que o n.º 8 do art.º 28.º do Código do IRS dispõe que se os rendimentos auferidos
resultarem de serviços prestados a uma única entidade (3), o sujeito passivo pode, em cada
ano, optar pela tributação de acordo com as regras estabelecidas para a categoria A.
Não obstante, aquela opção não altera a natureza do rendimento, que continua a configurar
um rendimento da categoria B e, por via de tal facto, não está abrangido pelo teor da norma
em análise.
Esta é, no entanto, uma situação muito frequente em jovens à procura do primeiro emprego,
facto que, a nosso ver, deveria ser equacionado na definição do âmbito de aplicação deste
benefício.
Prosseguindo, de acordo com o n.º 2 do art.º 2.º-B:
“O disposto no número anterior determina o englobamento dos rendimentos isentos, para efeitos do disposto no n.º 4 do artigo 22.º.”
(3) Exceto tratando-se de prestações de serviços efetuadas por um sócio a uma sociedade abrangida pelo regime de transparência fiscal, nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 6.º do Código do IRC.
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Estamos na presença de uma isenção com progressividade, ou seja, não obstante parte dos
rendimentos estarem isentos de IRS, os mesmos serão considerados no englobamento para
efeito de determinação da taxa aplicável aos restantes rendimentos englobados e não
isentos.
De acordo com o seu n.º 3:
“A isenção a que se refere o n.º 1 é aplicável a sujeitos passivos que tenham um rendimento coletável, incluindo os rendimentos isentos, igual ou inferior ao limite superior do quarto escalão do n.º 1 do artigo 68.º, sendo de 30% no primeiro ano, de 20% no segundo ano e de 10% no terceiro ano, com os limites de 7,5 x IAS, 5 x IAS e 2,5 x IAS, respetivamente.”
Constitui ainda requisito da isenção a existência de um limite máximo aplicável ao rendimento
coletável total (que resulta do englobamento, quando aplicável, dos rendimentos das várias
categorias auferidos em cada ano, depois de feitas as deduções e os abatimentos respetivos,
incluindo a componente isenta aqui referida) de € 25.075.
Tendo como referência um sujeito passivo que apenas aufira rendimentos da categoria A,
equivale a um rendimento bruto anual máximo de € 29.179, dado que a dedução específica
é, no mínimo, de € 4.104, ou seja, uma remuneração média mensal bruta de cerca de €
2.084,21 (€ 29.119/14).
No entanto, a componente isenta do rendimento terá limites anuais regressivos, da seguinte
forma (tomando como referência o IAS 2019 de € 435,76):
• 1.º ano: 30% do rendimento bruto, com o limite de € 3.268,2 (corresponde a um
rendimento bruto máximo de € 10.894);
• 2.º ano: 20% do rendimento bruto, com o limite de € 2.178,8 (corresponde a um
rendimento bruto máximo de € 7.262,67);
• 3.º ano: 10% do rendimento bruto, com o limite de € 1.089,4 (corresponde a um
rendimento bruto máximo de € 3.631,33).
Obviamente que para rendimentos bastante baixos pode até nem existir qualquer benefício,
tendo em conta, desde logo, a aplicação do mínimo de existência previsto no art.º 70.º, de
acordo com o qual pode não haver qualquer IRS a pagar mesmo na ausência do benefício
fiscal em apreço.
Tendo em vista ilustrar a aplicação da isenção, comecemos por considerar um sujeito passivo
solteiro, sem dependentes, com um rendimento bruto anual de € 29.179 (cujo rendimento
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coletável é de 25.075, correspondente ao limite superior do 4.º escalão), desconsiderando
quaisquer deduções à coleta e considerando as taxas projetadas pela PLOE/2020:
2020 2021 2022 Rendimento bruto 29 179,00 29 179,00 29 179,00 Dedução específica 4 104,00 4 104,00 4 104,00 Rendimento coletável 25 075,00 25 075,00 25 075,00 Taxa média 24,967% 24,967% 24,967% IRS a pagar sem benefício 6 260,48 6 260,48 6 260,48 Rendimento isento 3 268,20 2 178,80 1 089,40 Rendimento coletável não isento 21 806,80 22 896,20 23 985,60 Taxa média 24,967% 24,967% 24,967% IRS a pagar com benefício 5 444,50 5 716,49 5 988,48 Benefício 815,97 543,98 271,99
Admita-se agora a hipótese de um jovem (solteiro e sem dependentes), com um rendimento
bruto de € 14.000 (ou seja, com uma remuneração bruta mensal de € 1.000), que paga uma
renda mensal de um imóvel de € 300 e possui € 750 de despesas gerais familiares anuais,
ou seja, que teria direito a uma dedução à coleta anual de € 752 (€ 502 + € 250):
2020 2021 2022 Rendimento bruto 14 000,00 14 000,00 14 000,00 Dedução específica 4 104,00 4 104,00 4 104,00 Rendimento coletável 9 896,00 9 896,00 9 896,00 Taxa média 16,891% 16,891% 16,891% Coleta bruta 1 671,53 1 671,53 1 671,53 Deduções à coleta 752,00 752,00 752,00 IRS a pagar sem benefício 919,53 919,53 919,53 Rendimento isento 3 268,20 2 178,80 1 089,40 Rendimento coletável não isento 6 627,80 7 717,20 8 806,60 Taxa média 16,891% 16,891% 16,891% Coleta bruta 1 119,50 1 303,51 1 487,52 Deduções à coleta 752,00 752,00 752,00 IRS a pagar com benefício 367,50 551,51 735,52 Benefício 552,03 368,02 184,01
Finalmente, admita-se o cenário de um jovem com um rendimento bruto de € 10.500 (ou seja,
com uma remuneração bruta mensal de € 750) que, tal como na hipótese anterior, paga uma
renda mensal de um imóvel de € 300 e possui € 750 de despesas gerais familiares anuais,
acrescendo, ainda, despesas de formação e educação anuais no valor de € 600, ou seja, que
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teria direito a uma dedução à coleta anual de € 932 (€ 502 + € 250 + € 180):
2020 2021 2022 Rendimento bruto 10 500,00 10 500,00 10 500,00 Dedução específica 4 104,00 4 104,00 4 104,00 Rendimento coletável 6 396,00 6 396,00 6 396,00 Taxa média 14,500% 14,500% 14,500% Coleta bruta 927,42 927,42 927,42 Deduções à coleta 932,00 932,00 932,00 IRS a pagar sem benefício 0,00 0,00 0,00 Rendimento isento 3 268,20 2 178,80 1 089,40 Rendimento coletável não isento 3 127,80 4 217,20 5 306,60 Taxa média 14,500% 14,500% 14,500% Coleta bruta 453,53 611,49 769,46 Deduções à coleta 932,00 932,00 932,00 IRS a pagar com benefício 0,00 0,00 0,00 Benefício 0,00 0,00 0,00
Finalmente, retomando o novo art.º 2.º-B, de acordo com o seu n.º 4:
“A isenção prevista nos números anteriores só pode ser utilizada uma vez pelo mesmo sujeito passivo e depende da submissão através do Portal das Finanças, até 15 de fevereiro do ano seguinte ao primeiro ano de rendimentos após a conclusão do ciclo de estudos, de certificado comprovativo da referida conclusão.”
Como se vê, cada sujeito passivo só pode beneficiar uma vez da referida isenção (podia
colocar-se a dúvida na conclusão sucessiva, por exemplo, do secundário e da licenciatura)
sendo que a opção em causa, apesar de formalizada na declaração de rendimentos, deverá
ser antecipada mediante entrega, via Portal das Finanças, até 15 de fevereiro do ano seguinte
ao primeiro ano de rendimentos após conclusão do ciclo de estudos, do respetivo certificado.
Por outro lado, não existem limitações quanto à existência de diferentes empregadores no
período em causa.
Naturalmente que a isenção (parcial) em apreço terá também consequências em matéria de
retenção na fonte, no sentido da sua redução, propondo-se, para o efeito, o aditamento dos
n.os 4 e 5 ao art.º 99.º-F.
Assim, as entidades empregadoras devem aplicar a taxa de retenção que resultar das
respetivas tabelas para a totalidade dos rendimentos, incluindo os isentos, embora dirigida
apenas à parte dos rendimentos que não esteja isenta, devendo os sujeitos passivos invocar,
junto das entidades devedoras, a possibilidade de beneficiar do referido regime de isenção
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parcial, através da comprovação da conclusão de um ciclo de estudos.
Quanto à forma de aplicação das taxas de retenção na fonte, supra descrita, justifica-se
perfeitamente tendo em conta que estamos perante uma isenção com progressividade, ou
seja, também as taxas finais serão as correspondentes ao rendimento coletável total embora
aplicadas apenas à parcela do rendimento não isenta.
Suscita-se aqui a dúvida sobre se a retenção mensal deverá incidir sobre a parte sujeita e
não isenta independentemente do valor dos rendimentos (por exemplo, sobre 70% do
rendimento no 1.º ano) ou se deverão ser tidos em conta os limites máximos aos quais é
aplicável a isenção, solução esta que tornaria mais complexa a aplicação prática da lei.
A nosso ver, salvo melhor opinião, a melhor interpretação será a primeira, ou seja, aplica-se
a retenção na fonte à parte dos rendimentos não isenta independentemente do valor mensal
dos rendimentos (até porque num ano podem ser obtidos rendimentos mensais elevados em
apenas 3 ou 4 meses), tal como sucede, aliás, nos rendimentos da propriedade intelectual
em que a retenção na fonte é aplicada apenas sobre 50% dos rendimentos,
independentemente do seu montante, mesmo sabendo-se que a parte isenta tem um limite
máximo de € 10.000/ano.
Em todo o caso, sendo retenções na fonte com natureza de pagamentos por conta do imposto
devido a final (meros adiantamentos), tratar-se-á de uma questão sem grande relevância.
Atente-se, ainda, à disposição transitória prevista no art.º 207.º da PLOE/2020, de acordo
com a qual o disposto no artigo 2.º-B é apenas aplicável aos sujeitos passivos cujo primeiro
ano de obtenção de rendimentos após a conclusão de um ciclo de estudos seja o ano de
2020 ou posterior.
Embora com algumas dúvidas, face à redação da norma, tratando-se de uma disposição
transitória, afigura-se poder concluir-se que o benefício fiscal apenas se aplica a rendimentos
obtidos em 2020 e nos anos seguintes, mesmo que os jovens tenham concluído o ciclo de
estudos em 2019 (ou em anos anteriores).
ii. Mais-valias imobiliárias (restituição ao património particular de imóvel habitacional): art.º 3.º, n.º 9 (alteração) e art.º 10.º, n.º 15 (aditamento)
De acordo com o art.º 10.º, n.º 3, alínea b), no caso concreto de afetação de um bem imóvel
da esfera particular à atividade empresarial (categoria B) ocorre, desde logo, o facto gerador
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de IRS, ficcionando-se uma mais-valia a tributar em sede de categoria G. A tributação deste
ganho fica, no entanto, suspensa até se verificar uma de duas situações:
• A ulterior alienação onerosa dos bens em causa;
ou
• A ocorrência de outro facto que determine o apuramento de resultados em condições
análogas (como será o caso de restituição de um prédio ao património particular do
empresário).
No caso de se verificar, a posteriori, a transferência do imóvel do património empresarial ao
património particular, teremos uma mais-valia sujeita a IRS no âmbito da categoria B, nos
termos do art.º 3.º, n.º 2, alínea c).
Com a Lei do Orçamento do Estado para 2017 (Lei n.º 42/2016, de 28-12) foi aditado o n.º 9
do art.º 3.º, à luz do qual deixou de configurar uma transferência para o património particular
do empresário, com consequente ficção de uma mais-valia imobiliária tributada em IRS como
rendimento da categoria B, a afetação de bem imóvel habitacional (conforme definição
estatuída no artigo 6.º, n.º 2 do Código do IMI) à obtenção de rendimentos da categoria F.
No entanto, ainda existia uma lacuna sobre o tratamento a dar à mais-valia gerada em sede
de categoria G, pela referida afetação à esfera empresarial.
Nesse sentido, a Lei do Orçamento do Estado para 2018 (Lei n.º 114/2017, de 29-12) alterou
o art.º 10.º, n.º 3, alínea b), passando a considerar que nos casos de afetação de quaisquer
bens do património particular a atividade empresarial e profissional exercida pelo seu
proprietário, o ganho só se considera obtido no momento da ulterior alienação onerosa dos
bens em causa ou da ocorrência de outro facto que determine o apuramento de resultados
em condições análogas, “exceto no caso de restituição ao património particular de imóvel
habitacional que seja afeto a obtenção de rendimentos da categoria F, mantendo-se o
diferimento da tributação do ganho enquanto o imóvel mantiver aquela afetação” (aditamento
da parte sublinhada).
Com as alterações promovidas pela PLOE/2020 ao n.º 9 do art.º 3.º e aditamento do n.º 15
ao art.º 10.º pretende-se clarificar este regime face a algumas dúvidas que a aplicação do
mesmo suscitava.
Recorde-se que o art.º 262.º da Lei do Orçamento do Estado para 2019 continha uma
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autorização legislativa em sede de IRS, que não chegou a ser concretizada no respetivo ano,
à luz da qual o Governo ficava autorizado a rever o regime de mais-valias em sede de IRS
nos casos de afetação de quaisquer bens do património particular a atividade empresarial e
profissional exercida pelo seu proprietário. O sentido e a extensão daquela autorização
legislativa consistiam em sujeitar as mais-valias a tributação apenas no momento da
alienação do bem, indiciando que este seria o único motivo para se tributar a respetiva mais-
valia.
De acordo com a Proposta de Lei do OE/2020 a redação do n.º 9, artigo 3.º passará a ser a
seguinte:
“Para efeitos da alínea c) do n.º 2, não é considerada mais-valia a transferência para o património particular do empresário de bem imóvel habitacional que seja imediatamente afeto à obtenção de rendimentos da categoria F.”.
Afigura-se que, não obstante as várias alterações de pormenor efetuadas no texto da norma,
o mais substantivo será o facto de a lei passar a estipular que a afetação ao arrendamento
deverá ocorrer imediatamente após a transferência do património empresarial para o
património particular.
Assim, por via da alteração agora proposta ao n.º 9 do art.º 3.º, clarifica-se que a afetação do
bem imóvel habitacional à esfera particular, circunscrita à obtenção de rendimentos da
categoria F, como condição da exclusão da sua consideração como mais-valia, deverá ser
imediata, dado que, até aqui não estava definido, em concreto, o prazo para a referida
afetação. Não obstante a natureza aparentemente clarificadora da alteração, a PLOE/2020
não lhe confere caráter interpretativo.
Como vimos, o diferimento da tributação da mais valia gerada na categoria G, no caso do
regresso do imóvel habitacional à esfera particular e sua afetação (agora imediata) à
obtenção de rendimentos da categoria F, mantinha-se, conforme alteração promovida pela
Lei do Orçamento do Estado para 2018, “enquanto o imóvel mantiver aquela afetação”, sem
que se referisse qualquer limite temporal para a referida afetação.
Agora, propõe-se o aditamento do n.º 15 ao art.º 10.º, de acordo com o qual:
“Em caso de restituição ao património particular de imóvel habitacional que seja afeto à obtenção de rendimentos da categoria F, não há lugar à tributação de qualquer ganho, se em resultado dessa afetação o imóvel gerar rendimentos durante cinco anos consecutivos.”
Ou seja, nestes casos, deixa de existir um mero diferimento da tributação, previsto na parte
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final da alínea b), n.º 3, artigo 10.º (anteriormente transcrita), passando, de acordo com a
PLOE/2020, a não existir qualquer tributação da mais-valia se o imóvel gerar rendimentos
prediais durante 5 anos consecutivos (isto é, o diferimento da tributação da mais-valia
converte-se, após 5 anos, numa não tributação em definitivo da mesma).
Pode, assim, concluir-se que, cumpridos os pressupostos previstos no art.º 3.º e 10.º, não se
consumará a tributação das mais-valias de imóvel habitacional, seja na esfera da categoria
G (afetação ao património empresarial), seja na esfera da categoria B (regresso à esfera
particular).
iii. Regime simplificado tributação (alojamento local na modalidade de moradia ou apartamento): art.º 31.º, n.º 1, alínea h) (aditamento)
Subjacente à proposta de alteração legislativa em epígrafe está a alteração do coeficiente de
0,35 para 0,50 aplicável no regime simplificado de tributação aos rendimentos da exploração
de estabelecimentos de alojamento local:
• na modalidade de moradia ou apartamento e
• localizados em área de contenção
No que se refere às áreas de contenção, as mesmas são definidas pelos Municípios, podendo
os mesmos estabelecer, como sucedeu com Lisboa (4), zonas de contenção “absoluta” e
zonas de contenção “relativa”, sendo, naturalmente, ambas “zonas de contenção” como é
agora estabelecido no Código do IRS.
A alteração legislativa proposta consiste no aditamento da alínea h) ao n.º 1 do art.º 31.º cuja
redação será a seguinte: “0,50 aos rendimentos da exploração de estabelecimentos de
alojamento local na modalidade de moradia ou apartamento, localizados em área de
contenção.” (a presente alteração foi também efetuada ao art.º 86.º-B do Código do IRC).
(4) Lisboa possui atualmente (Aviso n.º 17706-C/2019) seis zonas de contenção: Baixa, Eixos Avenida da Liberdade, Avenida da República, Avenida Almirante Reis – Área de contenção absoluta; Bairro Alto, Madragoa –
Área de contenção absoluta; Castelo, Alfama, Mouraria – Área de contenção absoluta; Colina de Santana – Área
de contenção absoluta; Graça – Área de contenção relativa; Bairro das Colónias – Área de contenção relativa. No Porto, as referidas zonas foram definidas, na ausência ainda de um regulamento de alojamento, pelo edital
NUD/260310/2019/CMP, zonas essas que poderão ser consultadas em http://www.cm-
porto.pt/assets/misc/documentos/editais/EDITAIS%202019/OUTROS/Edital_NUD_260310_2019_Planta_Zonas%20suspens%C3%A3o%201%20dia%2023.pdf.
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A Lei do Orçamento do Estado para 2017 já tinha procedido ao agravamento da tributação
da generalidade dos rendimentos obtidos âmbito da atividade de exploração de
estabelecimentos de alojamento local na modalidade de moradia ou apartamento, passando
então o coeficiente de 0,15 para 0,35 (ao excluir-se expressamente do primeiro coeficiente a
exploração de estabelecimentos de alojamento local na modalidade de apartamento ou
moradia).
Em resumo, de acordo com o quadro legal atual, os rendimentos provenientes da exploração
de estabelecimentos de alojamento local no âmbito do regime simplificado estarão sujeitos
aos seguintes coeficientes, para efeitos de determinação do respetivo rendimento líquido da
categoria B.
Para uma adequada compreensão da aplicação dos coeficientes mencionados no quadro
supra, importa ter presente a definição de cada uma das modalidades em que se devem
inserir os estabelecimentos de alojamento local.
A Lei n.º 62/2018, de 22-08, alterou o regime de autorização de exploração dos
estabelecimentos de alojamento local regulado pelo Decreto-Lei n.º 128/2014, de 29-08,
aditando uma nova modalidade de alojamento local designada por “quartos”, passando,
assim, a existir quatro modalidades (moradia, apartamento, estabelecimentos de
hospedagem e quartos) definidas em seguida:
a) Moradia: Estabelecimento de alojamento local cuja unidade de alojamento é
constituída por um edifício autónomo, de caráter unifamiliar.
b) Apartamento: Estabelecimento de alojamento local cuja unidade de alojamento é
constituída por uma fração autónoma de edifício ou parte de prédio urbano suscetível
de utilização independente.
c) Estabelecimento de hospedagem: Estabelecimento de alojamento local cujas
unidades de alojamento são constituídas por quartos, integrados numa fração
Modalidade alojamento local Coeficiente Articulado
Estabelecimentos de hospedagem (unidade de alojamento é o quarto, incluindo hostel) e quartos.
0,15 Art.º 31.º, n.º 1, a)
Moradia ou apartamento localizados fora de área de contenção.
0,35 Art.º 31.º, n.º 1, c)
Moradia ou apartamento, localizados em área de contenção.
0,50 Art.º 31.º, n.º 1, h) (aditada)
14
autónoma de edifício, num prédio urbano ou numa parte de prédio urbano suscetível
de utilização independente (podem utilizar denominação “hostel”, considerando -se
como tal o estabelecimento cuja unidade de alojamento predominante seja o
dormitório, considerando-se predominante sempre que o número de utentes em
dormitório seja superior ao número de utentes em quarto).
d) Quartos: Exploração de alojamento local feita na residência do locador, que
corresponde ao seu domicílio fiscal, sendo a unidade de alojamento o quarto e só
sendo possível, nesta modalidade, ter um máximo de três unidades.
Em função das tipologias acima definidas, é patente que às modalidades previstas nas
alíneas c) e d) é aplicável o coeficiente de 0,15 (conforme indicado na tabela supra), tendo
em conta que este coeficiente se aplica às atividades hoteleiras e similares (onde se insere o
alojamento local), com exclusão apenas do alojamento local nas modalidades de moradia ou
apartamento, ou seja, com exclusão apenas das modalidades a) e b) (às quais se aplicarão
os coeficientes de 0,35 ou de 0,50).
A propósito de alojamento local, importa dar nota que, conforme esclarecimento já produzido
pela AT (ficha doutrinária respeitante ao processo n.º 918/2018, com despacho concordante
da Subdiretora Geral do IR, de 27-04-2018), é o titular do direito de exploração do
estabelecimento de alojamento local que deve passar ao hóspede uma fatura-recibo sobre o
valor total do alojamento (i.e. o valor que recebeu do hóspede sem deduzir a comissão que é
devida à Booking ou a taxa de serviço que lhe é cobrada e retida pela Airbnb) (6).
iv. Taxas gerais: art.º 68.º
Os limites dos diversos (sete) escalões das taxas gerais de IRS aplicáveis aos rendimentos
objeto de englobamento foram atualizados em 0,3%, valor coincidente com a taxa de inflação
reportada a novembro de 2019, mas inferior à taxa de inflação estimada para 2020.
(6) Segundo a mesma informação vinculativa, no que se refere à retenção na fonte, nos termos do disposto no n.º
1 do artigo 101.º, e dado que a atividade exercida pela requerente não se encontra entre as previstas no referido normativo legal, não há lugar a retenção na fonte, ainda que a fatura-recibo ou o recibo sejam emitidos a pessoas
coletivas com sede ou estabelecimento estável ou a pessoas singulares com contabilidade organizada. Importa
apenas acrescentar que a retenção não existe porque se trata de um rendimento abrangido pela alínea a) do n.º 1 do art.º 3.º, tendo em conta o disposto na alínea h) do n.º 1 do art.º 4.º, logo, não previsto no n.º 1 do art.º 101.º.
15
Já no que se refere às taxas aplicáveis aos respetivos escalões, mantêm-se inalteradas.
v. Deduções (à coleta) dos ascendentes e descendentes: art.º 78.º-A, n.º 3 (aditado)
À luz das Grandes Opções do Plano para a nova legislatura (2020-2023), interessa reforçar
os apoios às famílias, facilitando a opção pelo segundo e terceiro filhos.
Refere-se naquele documento que um dos principais constrangimentos ao aumento da
natalidade prende-se com a dificuldade ou receio que muitas famílias sentem na opção de ter
um segundo ou terceiro filho. Por isso, será imperativo apoiar as famílias, dando-lhes
melhores condições para tomarem livremente esta decisão.
Para tal, o Governo compromete-se a aumentar as deduções fiscais no IRS em função do
número de filhos (sem diferenciar os filhos em função do rendimento dos pais).
À coleta devida pelos sujeitos passivos residentes em território português e até ao seu
montante é, por regra, deduzido, por cada dependente, o montante fixo de € 600 (no caso de
responsabilidade conjunta e residência alternada do menor, é deduzido o montante fixo de €
300 à coleta de cada sujeito passivo com responsabilidades parentais).
Às referidas deduções somam-se € 126 por cada dependente (ou € 63 a cada sujeito
passivo), quando o mesmo não ultrapasse três anos de idade até 31 de dezembro do ano a
que respeita o imposto.
À luz do n.º 3, agora aditado, estes montantes serão de € 300 e não € 126 (ou de € 150 e não
€ 63), a partir do segundo dependente, quando existam dois ou mais dependentes que não
ultrapassem três anos de idade até 31 de dezembro do ano a que respeita o imposto.
De acordo com a redação da norma, para que esta majoração na dedução à coleta se
concretize, terão de existir, pelo menos, dois dependentes com idade não superior a três anos
em 31 de dezembro de cada ano, parecendo-nos, assim, um incentivo, se nos é permitida a
observação, à “natalidade acelerada”!
Ainda assim o legislador prevê a existência de “dois ou mais dependentes”, desde que todos
com idade não superior a 3 anos.
Nessa medida, imagine-se um agregado familiar que em 31-12-2020 possui 3 dependentes
com as seguintes idades:
Dependente A: 2 anos; Dependente B: 3 anos; Dependente C: 5 anos.
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• Dedução por dependente: A (€ 600 + € 126); B (€ 600 + €300) e C (€ 600)
De acordo com as regras agora propostas, em 31-12-2021 as deduções para aquele
agregado, na ausência de novos dependentes, seriam as seguintes:
• Dedução por dependente: A (€ 600 + € 126); B (€ 600) e C (€ 600)
vi. Retenção sobre o rendimento de outras categorias: art.º 101.º, n.º 2, al. c) (aditada)
Tratando-se de rendimentos referidos no artigo 71.º (rendimentos de capitais sujeitos a
retenção na fonte a título definitivo, por regra à taxa liberatória de 28%) a retenção na fonte
nele prevista passa a caber às entidades gestoras de plataformas de financiamento
colaborativo (Crowfunding) (7) que paguem ou coloquem à disposição rendimentos referidos
no n.º 1 do artigo 71.º e que tenham em território português a sua sede ou direção efetiva ou
estabelecimento estável a que deva imputar-se o pagamento.
O regime jurídico do financiamento colaborativo vertido na Lei nº 102/2015 prevê quatro
modalidades de crowdfunding:
• O financiamento colaborativo através de donativo, pelo qual a entidade financiada
recebe um donativo, com ou sem a entrega de uma contrapartida não pecuniária;
• O financiamento colaborativo com recompensa, pelo qual a entidade financiada fica
obrigada à prestação do produto ou serviço financiado, em contrapartida pelo
financiamento obtido;
• O financiamento colaborativo de capital, pelo qual a entidade financiada remunera
o financiamento obtido através de uma participação no respetivo capital social,
distribuição de dividendos ou partilha de lucros;
• O financiamento colaborativo por empréstimo, através do qual a entidade
financiada remunera o financiamento obtido através do pagamento de juros fixados
no momento da angariação.
Estarão em causa, portanto, em princípio, a terceira e quarta modalidades.
(7) O Crowfunding ou financiamento colaborativo é o tipo de financiamento de entidades ou das suas atividades e
projetos através do seu registo em plataformas eletrónicas acessíveis através da Internet, a partir das quais
procedem à angariação de parcelas de investimento proveniente de um ou vários investidores individuais. (https://www.cmvm.pt/pt/AreadoInvestidor/Faq/Pages/FAQs/Crowdfunding_investidores.aspx).
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vii. Pagamentos por conta: art.º 102.º, n.º 8 (alterado)
O referido articulado encerra a possibilidade (opção) dos titulares de rendimentos das
categorias A e H, cujas entidades devedoras dos rendimentos não se encontrem abrangidas
pela obrigação de retenção na fonte prevista no artigo 99.º, poderem, querendo, efetuar
pagamentos por conta do imposto devido a final, desde que o montante de cada entrega seja
igual ou superior a € 50.
Esta opção passa agora a ser extensível a todas as categorias de rendimentos, quando
aplicável, isto é, quando se trate de rendimentos não abrangidos pela obrigação de retenção
na fonte,
viii. Renovação de disposições transitórias
São extensíveis à declaração de rendimentos de 2019, duas medidas transitórias já aplicáveis
à declaração de rendimentos do ano anterior, a saber:
• Mantém-se a possibilidade de os sujeitos passivos inscreverem na Modelo 3 – Anexo
H, as deduções à coleta com despesas de saúde, formação e educação, encargos
com imóveis e com lares, em alternativa aos valores comunicados à AT pelas
respetivas entidades.
• Por outro lado, mantém-se a medida transitória sobre despesas e encargos
relacionados com a atividade empresarial ou profissional de sujeitos passivos de IRS
no regime simplificado a aplicar à declaração de rendimentos de IRS.
Tal como no passado, aquelas opções substituem a possibilidade de reclamação daqueles
valores até ao final do mês de março, prevista no n.º 7 do art.º 78.º-B do Código do IRS.
ix. Autorizações legislativas em sede de IRS
Fica o Governo autorizado a criar deduções ambientais que incidam sobre as aquisições de
unidades de produção renovável para autoconsumo, bem como bombas de calor com classe
energética A ou superior, desde que afetas a utilização pessoal, para efeitos de,
respetivamente, promoção e disseminação da produção descentralizada de energia a partir
de fontes renováveis de energia e comunidades de energia e o fomento de equipamentos
mais eficientes.
O sentido e a extensão da autorização legislativa prevista no número anterior consistem em
18
permitir a dedução à coleta do IRS de cada sujeito passivo, num montante correspondente a
uma parte do valor suportado a título daquelas despesas e que constem de faturas que titulem
aquisições de bens e serviços a entidades com a classificação das atividades económicas
apropriada, com o limite global máximo de € 1000.
Aproveita-se para sugerir que o benefício fiscal a criar, para ter verdadeira utilidade prática,
seja expressamente excluído da regra que limita as deduções à coleta, prevista no n.º 7 do
art.º 78.º, tendo em conta que a mesma abarca, entre muitas outras, as deduções à coleta
que resultam dos benefícios fiscais, em geral, aplicáveis em sede de IRS.
3. Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)
A PLOE 2020 prevê alterações aos artigos 21.º, 78.º-A, 78.º-B e 78.º-D do Código do IVA,
assim como alterações às verbas 1.7, 2.10 e 2.32 e aditamento da verba 2.34, todas da Lista
I anexa ao Código do IVA. Prevê, ainda, alterações ao Decreto-Lei n.º 84/2017, de 21-07
(Regime de Restituição do IVA a IPSS e outras entidades).
i. Exclusões do direito à dedução: art.º 21.º, n.º 2, al. h) (aditada)
Dispõe a alínea a) do n.º 1 do artigo 21.º do CIVA que se exclui do direito à dedução o imposto
contido nas despesas relativas à aquisição, locação, utilização, transformação e reparação
de viaturas de turismo.
No entanto, não se verifica a exclusão do direito à dedução, quando as despesas
mencionadas na referida norma respeitem a bens cuja venda ou exploração, constitua objeto
da atividade do sujeito passivo (cfr. al. a), n.º 2 do art.º 21.º do Código do IVA), ainda assim,
sem prejuízo do disposto na alínea b) do n.º 1 (despesas com combustíveis).
Na sequência a Lei 82- D/2014, de 31-12 (Fiscalidade Verde) foram aditadas as alíneas f) e
g) ao n.º 2 do art.º 21º do Código do IVA, as quais permitem o direito à dedução do IVA contido
nas despesas relativas à aquisição, fabrico ou importação, à locação e à transformação em
viaturas elétricas ou híbridas plug-in de viaturas ligeiras de passageiros ou mistas elétricas
ou híbridas plug-in, cujo custo de aquisição não exceda o definido na Portaria 467/2010, de
07-07.
Questionada a AT por um contribuinte sobre a possibilidade de dedução do IVA contido na
aquisição de eletricidade que abastece as viaturas elétricas e/ou híbridas afetas a exploração
19
(transporte passageiros), enquanto despesa de utilização das mesmas, esta respondeu,
conforme se retira da ficha doutrinária identificada pelo processo n.º 15054, por despacho de
30-08-2019, da Diretora de Serviços do IVA:
(…) tem sido entendimento desta Direção de Serviços que, quando a exploração de uma
viatura, ainda que de turismo, se esgota no objeto social da empresa, o IVA suportado na
respetiva aquisição, locação, utilização e reparação da mesma, é dedutível, nos termos da
alínea a) do n.º 2 do artigo 21.º do CIVA. Porém, a dedutibilidade do IVA relativo a outras
despesas, nomeadamente, eletricidade, reparações, manutenção, etc., enquanto despesas
de utilização da viatura [não referidas na alínea f) do nº 2 do art.21º do CIVA], deve submeter-
se à disciplina da alínea b) do nº1 do artigo 21º do CIVA, o qual se refere apenas às "despesas
respeitantes a combustíveis ", nos quais não se inclui, por definição, a eletricidade. Assim, o
imposto contido na aquisição da eletricidade que abastece as viaturas, enquanto despesa de
utilização das mesmas, está excluído do direito à dedução.”
Claro está, aquela interpretação resultou da aplicação estrita da lei, no entanto, não se
deixava de estranhar como é que o IVA do gasóleo de uma viatura de turismo é dedutíve50%
ou na totalidade para empresas que se dediquem ao transporte público de passageiros,
excluindo-se do direito à dedução o IVA da eletricidade, especialmente, como sucedeu no
caso em apreço, em que estava em causa uma empresa cujo objeto de atividade é,
precisamente, o transporte de passageiros (a nosso ver, mesmo tendo em conta a letra da
lei, tendemos a aceitar esta interpretação apenas nos casos não abrangidos pela alínea a)
do n.º 2 do art.º 21.º do Código do IVA).
Acrescem, ainda, dificuldades de ordem prática, nomeadamente saber como medir o
consumo de eletricidade dos carregamentos, na falta de um quadro elétrico autónomo para o
efeito, especialmente as do tipo “plug-in” cuja bateria pode ser carregada numa simples
tomada.
Por via da PLOE 2020, deixa de se verificar a exclusão do direito à dedução nas despesas
respeitantes a eletricidade utilizada em viaturas elétricas ou híbridas plug-in.
Assim, passa a ser dedutível, por força da nova alínea h) do n.º 2 do art.º 21.º do Código do
IVA, agora aditada, o IVA da eletricidade consumida por qualquer veículo elétrico ou híbrido
plug-in, independentemente do seu tipo, mas com especial enfoque para as viaturas de
turismo, independentemente de o objeto da atividade do sujeito passivo ser, ou não, a venda
ou a exploração das mesmas.
20
ii. Regularizações do IVA em créditos de cobrança duvidosa e créditos incobráveis: art.º 78.º-A, n.º 2, al. a); art.º 78.º-B, n.º 2; art.º 78.º-D, n.os 1, 2 e 3 (alterados)
A regularização do IVA respeitante a créditos considerados incobráveis e a créditos de
cobrança duvidosa sofreu, no passado, profundas alterações relativamente aos créditos
vencidos a partir de 01/01/2013, por força da introdução no Código do IVA dos artigos 78.º-A
a 78.º- D, aditados pela Lei n.º 66-B/2012, de 31 de dezembro (Lei do Orçamento do Estado
para 2013).
De conformidade com o novo normativo, os sujeitos passivos podem deduzir o IVA
respeitante a créditos:
• Considerados de cobrança duvidosa (art.º 78.º-A, n.º 2), evidenciados
como tal na contabilidade, sem prejuízo do disposto no artigo 78.º-D do
CIVA; ou
• Considerados incobráveis (art.º 78.º-A, n.º 4).
Assim, relativamente aos créditos vencidos até 31/12/2012 temos de aplicar o artigo 78.º do
Código do IVA, enquanto para os vencidos a partir de 01/01/2013 são aplicáveis os artigos
78.º-A a 78.º-D do mesmo Código.
As alterações propostas pela PLOE/2020 a este regime, com inevitáveis reflexos na Portaria
n.º 172/2015, de 05-06, que define o procedimento para apresentação do pedido de
autorização prévia, são as seguintes:
• Redução do prazo para efeitos de consideração da mora: art.º 78.º-A.
De harmonia com a alínea a) do n.º 2 do art.º 78.º-A do Código do IVA, consideram-se de
cobrança duvidosa os créditos que apresentem um risco de incobrabilidade devidamente
justificado, o que ocorre quando o crédito esteja em mora há mais de 12 meses desde a data
do vencimento ( e já não 24 meses) o que representa uma considerável redução do prazo de
vencimento.
Subsistem inalterados os restantes requisitos, a saber: existam provas objetivas de
imparidade e de terem sido efetuadas diligências para o seu recebimento (a provar através
de qualquer documento que evidencie a realização das mesmas ou por qualquer outro meio
de prova legalmente admitido).
A PLOE 2020 não estabelece qualquer regime transitório sobre a aplicação do novo prazo,
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sendo desejável que tal venha a suceder na lei final, sendo que se admite que o mesmo
possa vir a ser aplicável apenas aos créditos vencidos a partir da entrada em vigor da Lei do
Orçamento do Estado para 2020.
Ainda assim, na falta de disposição transitória, pensamos que teria lógica aplicar-se a lei nova
a créditos vencidos anteriormente caso os 24 meses de mora (prazo anterior) viessem a ser
cumpridos após os 12 meses (novo prazo), ou seja, aplicar-se o novo prazo a situações
anteriores caso termine em primeiro lugar (novo prazo este contado a partir da entrada em
vigor da lei nova), interpretação esta que, ao que julgamos, é a que mais se coaduna com o
disposto no n.º 1 do art.º 297.º do Código Civil (por outras palavras e de uma forma mais
simples, aplicar-se-á o prazo que terminar em primeiro lugar.
• Procedimentos de regularização (prazos): art.º 78.º-B.
A regularização do IVA dos referidos créditos de cobrança duvidosa está condicionada a um
pedido de autorização prévia a submeter à AT, via Portal das Finanças. Propõe-se agora a
redução do prazo conferido à AT para apreciação daquele pedido de 8 meses para 4 meses.
No que se refere às consequências do não cumprimento daquele prazo por parte da AT,
mantêm-se inalteradas, ou seja, se o sujeito passivo não for notificado pela AT da decisão
expressa sobre o pedido no prazo, agora, de quatro meses, presume-se o indeferimento para
créditos iguais ou superiores a € 150 000, IVA incluído, por fatura. No caso de créditos de
valor inferior a € 150 000, IVA incluído, por fatura, presume-se o deferimento.
• Procedimentos de regularização (certificação): art.º 78.º-D.
Note-se que, todos os créditos vencidos a partir de 01/01/2013 (considerados incobráveis ou
de cobrança duvidosa) estão sujeitos a certificação, sendo que, até aqui, a competência
exclusiva da mesma era atribuída a um Revisor Oficial de Contas (ROC).
Com a PLOE/2020, nos créditos de cobrança duvidosa, para situações em que a
regularização de imposto não exceda €10.000,00 por declaração periódica, a certificação
poderá ser efetuada por um Contabilista Certificado (CC) independente ou por Revisor Oficial
de Contas (ROC), reservando-se a exclusividade para o ROC acima do referido valor;
Já para os créditos considerados incobráveis, a certificação poderá ser efetuada por ROC ou
por CC independente, não sendo, neste caso, estabelecido qualquer valor limite para a
certificação do CC.
22
Recorde-se que no caso de créditos de cobrança duvidosa a certificação do ROC ou CC
independente (se aplicável) terá de incluir: i. A identificação da fatura relativa a cada crédito
de cobrança duvidosa; ii. A identificação do adquirente; iii. O valor da fatura e o imposto
liquidado; iv. A realização de diligências de cobrança por parte do credor e o insucesso, total
ou parcial de tais diligências; v. Outros elementos que evidenciem a realização das operações
em causa.
No caso de créditos incobráveis, o ROC ou o CC independente deverá certificar que se
encontram verificados os requisitos legais para a dedução do imposto (n.º 3 do artigo 78.º-
D). Para além disso, nos casos das alíneas a), b) e c) do n.º 4 do artigo 78.º-A, as certidões
judiciais respetivas devem ser, também, certificadas por ROC ou CC independente, bem
como, no caso da alínea d), a existência do referido acordo.
iii. Lista I – Bens e Serviços sujeitos a taxa reduzida de IVA
Mediante alteração à verba 1.7, passam a estar sujeitos à taxa reduzida de IVA (6% no
continente) as águas residuais tratadas.
Por via da alteração à verba 2.32, passam a estar excluídas da taxa reduzida do IVA e,
consequentemente, tributadas à taxa normal, as entradas nos espetáculos de tauromaquia.
Por outro lado, o legislador inclui na tributação à taxa reduzida do IVA de alguns serviços
excluídos da isenção do n.º 13 do art.º 9.º. Assim, ainda no âmbito das alterações introduzidas
à verba 2.32, passam a beneficiar da taxa reduzida do IVA as entradas em jardins zoológicos,
botânicos e aquários públicos quando não beneficiem da isenção do n.º 13 do art.º 9.º do
CIVA.
É aditada à lista I a verba 2.34, à luz da qual:
“As prestações de serviços que consistam em proporcionar a visita, guiada ou não,
a edifícios classificados de interesse nacional, público ou municipal e a museus
que cumpram os requisitos previstos no artigo 3.º da Lei n.º 47/2004, de 19 de
agosto, com exclusão dos fins lucrativos, e que não beneficiem da isenção prevista
no n.º 13 do artigo 9.º do Código do IVA.”
Recorde-se que à luz daquele n.º 13 do art.º 9.º, as prestações de serviços que consistam
em proporcionar a visita, guiada ou não, a bibliotecas, arquivos, museus, galerias de arte,
castelos, palácios, monumentos, parques, perímetros florestais, jardins botânicos, zoológicos
23
e semelhantes, pertencentes ao Estado, outras pessoas coletivas de direito público ou
organismos sem finalidade lucrativa, desde que efetuadas única e exclusivamente por
intermédio dos seus próprios agentes.
Afigura-se que o objetivo visado com as alterações às verbas 2.32 e 2.34, em articulação com
o n.º 13 do art.º 9.º, é, principalmente, passar abranger as prestações de serviços aí previstas
quando realizadas por entidades com fins lucrativos
iv. Restituição do IVA: Decreto-Lei n.º 84/2017, de 21 de julho
As entidades sem fins lucrativos do sistema nacional de ciência e tecnologia e o Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas, I.P. (ICNF), passam a estar incluídas nas
entidades que podem beneficiar da restituição total ou parcial do montante do IVA suportado
em determinadas aquisições de bens e serviços, nos termos deste diploma, o qual, recorde-
se, revogou o “velho” DL n.º 20/90, de 13-01.
v. Autorizações Legislativas: art.º 218.º PLOE 2020
É renovada a autorização legislativa já presente em anteriores Orçamentos do Estado no que
se refere à alteração da verba 3.1 da Lista II do Código do IVA, com o sentido de ampliar a
sua aplicação a outras prestações de serviços de bebidas, estendendo-a a bebidas que
atualmente se encontram excluídas.
Fica igualmente o Governo autorizado a proceder à alteração das verbas 2.6, 2.8, 2.9 e 2.30
da Lista I anexa ao Código do IVA, relativa a bens e serviços sujeitos a taxa reduzida, com o
sentido e extensão prevista no n.º 4 do art.º 218.º da PLOE 2020.
A autorização legislativa provavelmente mais veiculada pela comunicação social está
presente no n.º 5 daquele articulado e refere-se à criação de escalões de consumo de
eletricidade baseados na estrutura de potência contratada existente no mercado elétrico,
aplicando aos fornecimentos de eletricidade de reduzido valor as taxas previstas nas alíneas
a) e b) do n.º 1 e no n.º 3 do artigo 18.º do Código do IVA.
O sentido e extensão da autorização legislativa em causa são os seguintes:
i. Alterar as Listas I e II anexas ao Código do IVA no sentido de criar escalões de
consumo, permitindo a tributação à taxa reduzida ou intermédia de IVA dos
24
fornecimentos de eletricidade relativos a uma potência contratada de baixo
consumo;
ii. Delimitar a aplicação das taxas previstas na alínea anterior de modo a reduzir os
custos associados ao consumo da energia, protegendo os consumos finais, e
mitigando os impactos ambientais adversos que decorrem de consumos
excessivos de eletricidade.
Esta medida é previamente sujeita ao procedimento de consulta do Comité do IVA.
Braga, 07 de janeiro de 2020
Luís Filipe Esteves
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