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OLHAR CRIMINOLÓGICO ( OC )
Revista internacional da Associação Brasileira de Criminologia
Vol.1 Ano.2, 2018
1
OLHAR CRIMINOLÓGICO ( OC )
Revista internacional da Associação Brasileira de Criminologia
Vol.1 Ano.2, 2018
2
Olhar criminológico /
Associação Brasileira de Criminologia. Vol, 1, ano 3 2019.
Quixadá (CE): ABC.
217 p. : il.
Semestral
Anual, até ano 1 (2017)
Vol. 1, ano 3 (2017-2019)
ISSN 2594-4223
1. Crime – Aspectos sociais. 2. Criminologia. 3. Segurança. I. Título.
CDD-364
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Vol. 1 Ano 3, 2019 ISSN 2594-4223
SUMÁRIO
EDITORIAL .......................................................................................................................................... 6
CORPO EDITORIAL ............................................................................................................................. 8
APONTAMENTOS ACERCA DA ANTROPOFAGIA ............................................................................ 10
HALLAZGOS EN PESQUISAS DE NEUROTRANSMISSORES COMO UM INDICIO MÁS EN EL
COMPORTAMIENTO SUICIDA .......................................................................................................... 25
DA BREVE ANÁLISE CRIMINOLÓGICA DO TRANSGRESSOR A CLASSIFICAÇÃO DAS MANCHAS
DE SANGUE POR MEIO DA HEMATOLOGIA FORENSE RECONSTRUTORA................................... 32
POLICIAL MILITAR: INIMIGO DA SOCIEDADE ............................................................................... 43
ARMAS, TECNOLOGIA E CRIME ORGANIZADO ............................................................................. 54
UTILIDADE DA TECNOLOGIA DE RECONHECIMENTO AUTOMÁTICO DA EXPRESSÃO FACIAL
APLICADA NA ANÁLISE DA CONDUTA CRIMINAL. UM ESTUDO DE CASO. ............................... 66
DA RESPONSABILIDADE PENAL NOS CRIMES COMETIDOS COM EXCESSO DO AGENTE
POLICIAL NA INFILTRAÇÃO POLICIAL .......................................................................................... 76
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE INTERNAÇÃO E A INADEQUAÇÃO INSTITUCIONAL NA
EFETIVIDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO DOS ADOLESCENTES ....................................................... 91
O INSIDER TRADING OU USO INDEVIDO DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA NO MERCADO DE
CAPITAIS NO CONTEXTO DO DIREITO PENAL ECONÔMICO BRASILEIRO ................................ 118
PSICOPATÍA EN LA INFANCIA Y ADOLESCENCIA ....................................................................... 129
DROGAS DE SUMISIÓN QUÍMICA Y SU RELACIÓN CON LA DELINCUENCIA. INTERÉS MEDICO
LEGAL. ............................................................................................................................................. 152
A SELETIVIDADE PENAL E A RESTRIÇÃO DO SUFRÁGIO UNIVERSAL AOS CONDENADOS ... 160
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DIGNIDADE NÃO HUMANA: OS ANIMAIS COMO SUJEITOS DE DIREITOS NO BRASIL ............ 177
O USO DO FENTANIL COMO ADULTERANTE EM DROGAS DE ABUSO ...................................... 202
ANEXO A .......................................................................................................................................... 214
ANEXO B .......................................................................................................................................... 215
ANEXO C .......................................................................................................................................... 216
ANEXO D .......................................................................................................................................... 217
EDITAL ............................................................................................................................................. 220
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EDITORIAL
Não posso deixar de demonstrar o orgulho por ter acompanhado a evolução da Revista Internacional da
Associação Brasileira de Criminologia.
Começamos em 2017 com três artigos e hoje, próximo do nosso segundo Simpósio de Criminologia Forense
que acontecerá na cidade de Vitória/ES, são treze produções científicas, selecionados por processo seletivo,
com temáticas de grande repercussão social que ecoam no mundo acadêmico e profissional.
Inobstante, não seria esse o propósito da Revista Internacional da Associação Brasileira de Criminologia?
Divulgar artigos científicos sobre temas relevantes, visando o aperfeiçoamento e atualização dos profissionais
correlacionados à área da Criminologia?
Sem sombras de dúvidas esse é nosso propósito. Com amor e dedicação angariamos novos adeptos.
Estudiosos, das diversas áreas, que contribuem com aprimoramento da intervenção no fenômeno criminal,
buscando não mais a repressão do crime e sim, métodos preventivos para que o crime não aconteça.
E pensar, o interesse surgiu em Quixadá/CE, através de grupos de estudos encabeçado por nosso editor
responsável, Francisco Geraldo Fernandes de Almeida e sua esposa Maria Isllingthia Dantas do Ó, embora,
acredito, eles nem remotamente possa ter ideia do que representou aqueles trabalhos.
Como diz a criminóloga Mônica Resende Gamboa, voltar os olhos para o estudo da CRIMINOLOGIA é
abrir novos horizontes na busca do aprimoramento jurídico, deixando um pouco de lado o saber dogmático e
tradicional para dar espaço as novas concepções acerca do estudo da criminalidade e seus fatores, em busca
de mudanças e soluções eficazes principalmente no que tange a conscientização popular e jurídica sobre a
importância do aprimoramento de magnifica ciência contemporânea.
Trazemos aqui, apontamento acerca da Antropofagia, pesquisas laboratoriais de Hematologia e
concentrações liquóricas de 5-HIAA, orientado por peritos criminais do Estado de Minas Gerais, que ao longo
de suas carreiras depararam com casos particulares de canibalismo, identificação criminal e suicídio.
Outrossim, apresentamos as perspectivas daqueles que atuaram na preservação da ordem pública nas
periferias do Estado de São Paulo, mesmo duramente criticados não ousaram em manifestar seus pontos de
vista.
Na oportunidade, apresentamos metodologias de investigações utilizadas pela polícia civil da 44ª Delegacia
de Polícia do Estado de São Paulo que angariou a prisão de membros de uma rede criminosa sofisticada que
fabricava armamentos de qualidade, utilizando-se de tecnologia avançada, maquinários eletrônicos e softwares
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de desenho industrial 4D.
De fato, a polícia não está aquém das organizações criminosas, prova disso, são as novas tecnologias
especializadas no reconhecimento da expressão facial conforme assevera os Autores Sergio Pacheco, Rafael
Pérez, Juan Soto Castro, Anderson Tamborim e Alicia Juárez em seus artigo científico; Utilidade da
Tecnologia de Reconhecimento Automático da Expressão Facial aplicada na Análise da Conduta Criminal.
E o que dizer da técnica de dissimulação utilizada pela polícia civil e federal, atuando junto à organização
criminosa como criminoso fosse parte, tudo regulamentado pela Lei nº 11.343/2006 e Lei nº 12.850/2012.
Noutro norte, fazemos reflexões sobre a problemática entre integralidade, prevista na Constituição e
regulamentada na legislação especial do Estatuto da Criança e Adolescente, em contraste com a inadequação
de aplicação de medida socioeducativa de internação no Estado do Mato Grosso. Isocronamente, fazemos
referências ao delito de uso indevido de informações privilegiadas ("insider trading"), praticado por pessoas
de elevado poder aquisitivo.
Não podemos olvidar que nossa Revista transcende os estudos nacional, por esse motivo trazemos os
ensinamentos do professor Jose Luis Alba Robles da Universidade de Valencia - Espanha e de Estefanía
Romero Guitart enfatizando o desenvolvimento da psicopatia durante a infância e adolescência, muito embora
exista entendimento consolidado que o transtorno de personalidade se desenvolva apenas na fase adulta.
Trouxemos também, considerações de especialistas forense espanhóis, enfatizando aspecto criminológico
e jurídico de seu país, diante a utilização de substancias químicas e/ou sedativas como justificativa de
cometimento de delitos.
Senão fosse o bastante, ainda damos vozes aqueles que não tem voz. Quem melhor que o advogado para
clamar por eles? Como disse o eterno advogado criminalista Heráclito Fontoura Sobral Pinto: “ A advocacia
não é profissão de covarde”. Aqui, o advogado Anderson Burke do Estado do Espirito Santo levanta-se a
bandeira dos condenados que não possuem direito ao voto, já advogada Graziele Cristina Lima de Abreu de
Minas Gerais clama pelos animais como sujeito do direito.
A semente foi lançada…
Boa Leitura!!!!
Walter de Lacerda Aguiar
Membro da Comissão Executiva e Revisor Editoral
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CORPO EDITORIAL
Editor responsável
Francisco Geraldo Fernandes de Almeida
Comissão executiva e Revisão Editorial
Gilmar Dias Rodrigues
Janderson Morais da Silva
Maria Isllingthia Dantas do Ó
Renata Karla Peres Rodrigues
Walter de Lacerda Aguiar
Maxson Luiz da Conceição Motta Souza
Bruno Noronha de Lima
Armstrong Braga Ferreira
Comissão Internacional
Ivette Irene Cardenas Ramirez
Jose Luis Alba Robles
Melissa Cano Quesada
Fabiel Augusto Bück Cuevas
Nathalia Carolina Coronel Espínola
Paula Inés Aramburu
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Conselho Editorial
Bruno Bezerra de Macedo
Francisco de Assis Roberto Santiago
Julio Cesar Ischiara
Nestor Manieri da Cunha Pinto
Rildo Tavares Silveira
Taciana de Lima Machado
Fabio Cândido de Souza
Mônica Chiodi Pinto
Michele Rocha Gomes
Capa
Janderson Morais da Silva
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APONTAMENTOS ACERCA DA ANTROPOFAGIA
Caroline Marcele de Rezende Faria1, Iasmin Garcia Carneiro2,
Jordana Alves da Cunha Silva3, Thassiana Saara Santos Ferreira4
Orientadores: Gilmar Dias Rodrigues5, Renata Karla Peres Rodrigues6 (Peritos Criminais)
1,2,3,4 Universidade Federal de São João del-Rei (MG)
5,6 Seção Técnica Regional de Criminalística de Conselheiro Lafaiete/MG
pericialafaiete@gmail.com
“A normalidade, ainda que não o pareça, não tem
padrão, porque jamais é igual a si mesma, e, se
bem existe, é impossível de concretá-lo.”
Gregorio Marañón [1]
Figura 1:
https://imgs.jusbr.com/publications/images/38cbe325c
b2120209a145e294b2961b3
Resumo: Através de revisão bibliográfica, o objetivo
principal deste estudo contextualizou as práticas
canibais ao longo da história, pontualmente, a
antropofagia a suas interpretações sociais,
mitológicas, religiosas, históricas, psicanalíticas e
criminológicas. Especificamente associou o ponto
de vista jurídico à prática canibal conforme
entendimento Penal, no caso da conduta de
indivíduos com algum componente psicopático e
serial killers.
Concluiu-se que a antropofagia é um hábito
existente ao longo da história, revestida de diferentes
conotações no decorrer do tempo; e, quando presente
na prática de crimes como homicídio ou outros que
vilipendiem cadáveres, está vinculada a transtornos
mentais ou comportamentais dos autores;
requerendo intervenção criminológica para melhor
caracterização e entendimento.
Palavras-chave: CANIBALISMO,
CONSIDERAÇÕES, CRIMINOLOGIA.
Resumen: A través de la revisión bibliográfica, el
objetivo principal de este estudio contextualizó las
prácticas caníbales a lo largo de la historia, la
antropofagia, sus interpretaciones sociales,
mitológicas, religiosas, históricas, psicoanalíticas y
criminológicas. Específicamente, asoció el punto de
vista legal con la práctica caníbal de acuerdo con el
entendimiento penal, en el caso de la conducta de
individuos con algún componente psicopático y
asesinos seriales.
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Se llegó a la conclusión de que la antropofagia es
un hábito que existe a lo largo de la historia, con
diferentes connotaciones y cuando está presente en
la práctica de delitos como el homicidio u otros que
vilipendian los cadáveres, está vinculado a los
trastornos mentales o de comportamiento de los
victimários. Se requiere intervención criminológica
para una mejor caracterización y comprensión.
Palabras clave: CANIBALISMO,
CONSIDERACIONES, CRIMINOLOGÍA
I. INTRODUÇÃO
Antropafagia e Canibalismo
Antropofagia é um ato ritual de comer parte(s)
de um ser humano. O sentido etimológico original
da palavra "antropófago" (do grego anthropos,
"homem" e phagein, "comer") foi sendo
substituído pelo seu uso comum, que designa o
caso particular de canibalismo na espécie humana.
Por sua realização em contexto mágico-cerimonial
ou patológico, não deve ser classificada ou
compreendida como hábito alimentar, o que não se
aplica ao canibalismo, na maioria das vezes,
associado ao comportamento predatório; vez que o
termo se refere ao animal que consome seu
semelhante ou partes deste. Mesmo assim e apesar
das diferentes nuances de interpretação, muitos
autores utilizam esses termos indistintamente.
Um dos grupos canibais mais famosos são os
astecas, que sacrificavam seus prisioneiros de
guerra e comiam alguns deles. Eles os comiam
(bem como a outras vítimas de guerra), numa
prática conhecida como exocanibalismo ou
exofagia, ou seja, canibalismo praticado em
indivíduos de tribos diferentes. O canibalismo que
consiste no ato de consumir partes dos corpos de
seus parentes e amigos mortos é chamado de
endocanibalismo. [2]
A maioria de casos de canibalismo de humanos
registrados na história da sociedade ocidental
moderna estão ligados a situações-limite de fome,
como satisfação do instinto de sobrevivência, ante
opção de vida ou morte. [2]
O canibalismo não é algo extremamente raro
entre os serial killers, particularmente pelos
homicidas com motivos sexuais sádicos. [3], [4]
A tabela abaixo elenca casos reportados,
envolvendo práticas canibais, ao longo dos séculos.
Data Fato Atos canibais
100.000 anos
atrás
Ossada de seis Neandertais encontrados na Caverna Moula-Guercy,
na França, com ossos quebrados por outros Neandertais de forma
que extraíram a medula e o cérebro.
Endocanibalismo
— Algumas descobertas feitas na caverna El Sidrón na Espanha
também demonstraram sinais de antropofagia Endocanibalismo
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Séc. XVI a séc.
XIX
Por breve período na Europa, ocorreu uma forma incomum de
canibalismo: milhares de múmias egípcias preservadas em betume
foram destruídas e vendidas como remédios (até o início do século
XIX, ainda acreditava-se que as múmias possuíam propriedades
médicas).
Exocanibalismo
Séc. XI Nas Cruzadas durante o Cerco de Maarate Anumane, região da atual
Síria). Canibalismo
1315 - 1317 Europa, em período conhecido como “A Grande Fome’ . Níveis extremos de canibalismo
— Povo indígena de Akokisa e Atakapa (região do Texas moderno). Canibalismo
Séc. XV Os caraíbas (caribes ou karibs) índios das ilhas das Pequenas
Antilhas. Canibalismo
— Índios do norte de Rondônia, wari' ou uaris. Endocanibalismo mortuário
1200 - 1201 Registros durante a seca na região do rio Nilo. Canibalismo
— Povo asteca Exocanibalismo
1503 Qizilbaches (grupo de militantes xiitas) em guerra, após
reivindicarem um forte, no leste do Irã. Exocanibalismo
—
Povo Korowai (ou kolufo), de Papua – Nova Guiné afirmou
continuar com tais práticas nos dias de hoje, como tentativa de
incentivo ao turismo local.
Canibalismo
1533-1592
O filósofo francês Michel de Montaigne escreveu o ensaio intitulado
“Dos Canibais” para pensar a própria forma de organização da
civilização europeia de sua época. Multidões de europeus chegaram
a ver índios canibais tupinambás capturados e levados à Europa com
a ideia de explorar o “exótico” do então Novo Mundo.
Canibalismo
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Séc. XVII
Indígenas do Recife comiam fetos abortados, e quando a criança
nascia normalmente, a mãe comia o cordão umbilical e a placenta
cozidos. Crianças que morriam eram comidas pela própria mãe, num
ato de compaixão e amor. Quando um parente morria, era assado e
devorado pelos familiares e os ossos eram guardados para serem
posteriormente moídos e ingeridos. Os cabelos eram calcinados e as
cinzas bebidas com água. Moças que passavam da idade de se casar
e não achavam pretendentes eram defloradas pelo chefe. Se no
processo havia perda de sangue ele era bebido pelo chefe, o que
consistia em grande honra.
Endocanibalismo
1609-1610
Em Jamestown (ilha americana, do atual estado da Virgínia), os
colonos, em período conhecido como o “Tempo da Fome”, para
sobrevivência.
Endocanibalismo
1612 Tropas polacas estacionadas no Kremlin - Moscou, após cerco
prolongado. Endocanibalismo
1672 Uma multidão cristã linchou e comeu partes de Johan de Witt,
holandês, líder político e seguidor de Spinoza. Canibalismo
1727
Dados sobre o naufrágio do navio inglês Luxborough Galley relatam
atos entre os sobreviventes, durante duas semanas, em um pequeno
barco no meio do Atlântico.
Canibalismo
1763 Índios norte-americanos realizaram ritual em um soldado britânico
durante o Cerco do Forte Detroit. Exocanibalismo
1809
Incidente conhecido como “o Massacre de Boyd”, quando cerca de
66 passageiros da tripulação do navio Boyd foram mortos e
devorados por indivíduos maoris, na península Whangaroa, norte da
Nova Zelândia.
Exocanibalismo
1816
A fragata francesa Méduse encalhou na Mauritânia: 147 passageiros
e a tripulação chegaram ao mar em uma jangada construída às
pressas. Durante caóticos 13 dias esperando o regaste, cometeram
suicídio, assassinato e canibalismo. Restaram 15 sobreviventes.
Canibalismo
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1820
O navio Essex foi naufragado por um cachalote, no Oceano Pacífico.
A maioria dos sobreviventes passou 90 dias em pequenos barcos
baleeiros até serem resgatados. Foi documentado que sete membros
da tripulação foram comidos, uns após morrerem e outros
sacrificados para esse propósito, depois de realizado sorteio. Um dos
pequenos barcos foi encontrado contendo dois sobreviventes
sugando a medula de um osso humano. Tal fato teria inspirado
Herman Melville a escrever seu romance Moby-Dick.
Canibalismo
séc. XIX
Em Porto Alegre, um crime que recebeu o nome do "Caso do
linguiceiro". O casal José Ramos e Catarina Palsen foi preso e
acusado de atrair e matar homens para posteriormente produzir
linguiças que seriam vendidas em seu açougue.
Canibalismo
1846
Um grupo de 90 pessoas liderado por George Donner ficou preso em
uma nevasca no alto de Serra Nevada, na Califórnia. Os
sobreviventes tiveram que comer seus companheiros mortos, em
virtude da fome.
Canibalismo
1901
Os missionários protestantes James Chalmers e Oliver Fellows
Tomkins foram assassinados e devorados na Ilha Goaribari, na
Papua-Nova Guiné.
Exocanibalismo
1902
Durante a Revolta de Bailundo (Angola), um grupo de rebeldes
ovimbundos, da etnia bantu, decapitou, cozinhou e devorou um
comerciante nativo chamado Antônio de Silveira. A matança teve
propósito ritualista com objetivo de produzir "sucesso mágico", com
os perpetradores pertencentes ao culto ao espírito de Kandundu.
Endocanibalismo
1921
a “Fome Russa”, que resultou do efeito conjugado da interrupção da
produção agrícola (seca intermitente nesse período), Primeira
Guerra Mundial, os distúrbios da Revolução Russa de 1917, a Guerra
Civil Russa; agravando a situação ao nível da catástrofe nacional.
Canibalismo
Década de 1920
O assassino em série Albert Fish tinha o hábito de devorar suas
vítimas. Ele confessou molestar mais de 400 crianças em 20 anos, e
acredita ter assassinado entre 6 e 15 crianças. Quando o psiquiatra
Fredric descreveu Fish como um "velhinho manso e inócuo, gentil e
benevolente, amável e educado”; porém louco, Fish discordou e
afirmou que ele era apenas "estranho".
Canibalismo
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1924
O alemão Fritz Barman, conhecido como o Vampiro de Hanover, foi
condenado pelo assassinato de 30 garotos. Ele fazia salsicha da carne
dos meninos, para consumo próprio e para venda.
Canibalismo
1932-1933
Durante o Holodomor (também conhecida como “a grande fome da
Ucrânia”) autoridades soviéticas chegaram a emitir cartazes
informando que "comer seus próprios filhos é um ato bárbaro".
Endocanibalismo
1943
Após a rendição alemã na Batalha, cerca de 100 mil soldados
alemães foram feitos prisioneiros de guerra, por soviéticos. A imensa
maioria fora enviada para campos de prisioneiros na Sibéria ou Ásia
Central, onde foram subjugados a privações por seus captores
soviéticos.
Endocanibalismo
Década de 1950
Tribo Fore, da Papua para compensar carências de proteínas,
passaram a realizar um ritual onde os homens ficavam com os
músculos, enquanto as mulheres e crianças, com o cérebro de outros
membros da tribo que tinham falecido. O canibalismo foi praticado
desde finais do século XIX e durou até a chegada dos colonizadores.
Endocanibalismo
1966-1976 Violência faccional na região de Guangxi Zhuang, no sudeste da
China em 1968, durante a Revolução Cultural. Canibalismo
1972
Sobreviventes do voo 571 da Força Aérea do Uruguai, que
transportava uma equipe de rugby e alguns de seus familiares,
incomunicáveis no local do acidente, sofreram privações. As
operações de resgate encontraram o último sobrevivente em 22 de
dezembro de 1972.
Canibalismo
1977-1978
Richard Trenton Chase, também conhecido como "O Vampiro de
Sacramento", bebeu o sangue de suas vítimas e canibalizou seus
órgãos internos.
Canibalismo
1978-1990 O russo Andrei Chikatilo, que matou pelo menos 53 pessoas,
também era praticante do canibalismo com conotações sexuais. Canibalismo
1978-1991
O estadunidense Jeffrey Dahmer, conhecido também como o
"Canibal de Milwaukee", assassinou e devorou suas vítimas, homens
os quais haviam tido relações sexuais com ele.
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2002
Alemão Armin Meiwes (cognominado “o canibal de Rothenburg”),
ficou conhecido mundialmente por matar e comer Bernd Jurgen
Brandes, que se voluntariou ao ato de canibalismo, após convites
pela internet. Na data, fizeram sexo, e após pedido de Bernd, o
canibal amputou-lhe o pênis, cozinhou-o, e ambos consumiram o
membro. Todo o fato foi registrado em vídeo, no qual Bernd Brandes
faz uma declaração dizendo-se em pleno acordo com o canibalismo
e a própria morte. Apesar do êxtase sexual esperado por Bernd não
ter acontecido, ele manteve a decisão para que Meiwes o matasse.
Essa notícia apresentou uma série de elementos inéditos,
despertando o interesse de diversos criminalistas e cientistas sociais.
O código penal alemão não contempla o canibalismo como crime, e
por haver consentimento da vítima ao ato, trazia nova problemática
para o direito penal.
Canibalismo
2006-2007 O assassino em série indiano Surinder Koli matou e canibalizou 19
pessoas, em sua maioria, crianças. Canibalismo
2008
“Os canibais de Garanhuns”, interior de Pernambuco: trio de
homicidas usou carne humana como recheio para salgados, vendidos
na cidade. Foram condenados pelo homicídio de três mulheres. Eles
pertenciam à seita “Cartel”, que pregava a purificação do mundo e a
diminuição populacional. A escolha das vítimas (pessoas que não
trabalhavam e possuíam mais filhos que poderiam sustentar) era feita
quando os acusados, próximos a elas, eram alertados por uma
“entidade” de que seriam pessoas “más”. Daí, eram atraídas até a
casa dos criminosos, através de falsa promessa de emprego. Comer
a carne, segundo um dos suspeitos, servia para purificar a vítima e
eles mesmos. O homem suspeito de comandar o trio nos assassinatos
escreveu um livro, ilustrado, no qual conta detalhes dos crimes e de sua
vida.
Canibalismo
2009
Foi relatado que cinco membros da tribos (ou Kulinas), no sudoeste
do Amazonas, estavam sendo procurados pelas autoridades
brasileiras pelo ato de assassinar e comer um fazendeiro, como parte
de um ritual.
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2011
Em Palmas (TO), uma discussão entre quatro amigos culminou no
assassinato de um deles, que teve seus membros superiores e
inferiores, além de sua genitália, cortados; afirmando os autores
terem comido o fígado da vítima como “tira-gosto”. [7], [8]
Canibalismo
2011
Em Alfenas (MG), um cabelereiro homossexual foi assassinado de
forma cruel por um suposto amigo, que ele acolhia em sua casa para
consumo de drogas. A vítima fora esquartejada e seu fígado, assado
em uma sanduicheira. Por achar que estava “sem sal”, o homicida
deu-o a seu cachorro. Sem arrependimento, justifica o ocorrido
porque a vítima tentou ter relações sexuais com ele. [9]
Canibalismo
2011
Em Castanheiras (RO), um suposto furto de algumas “pedras de
crack” e a quantia de R$50,00, por parte da vítima, findou em seu
assassinato. O autor confessou ter perfurado o tórax da vítima e em
seguida retirado seus rins, comendo-os junto com um pastel.
Afirmou não se arrepender de seus atos. [10]
Canibalismo
2013
Durante a Guerra Civil Síria, um rebelde chamado Abu Sakkar foi
filmado mutilando o corpo de um soldado inimigo caído e mordendo
um de seus órgãos.
Exocanibalismo
2017 Uma roda de canibais foi detida pela polícia na África do Sul. Canibalismo
2017
Dmitry Baksheev e Natalia Baksheeva foram presos em Krasnodar,
na Rússia, por suspeita do cometimento de mais de 30 assassinatos
envolvendo práticas canibais.
Canibalismo
—
Hoje em dia, os ianomâmis ainda conservam o hábito de comer as
cinzas de um amigo morto em sinal de respeito e afeto. Alguns
estudiosos atribuem este costume à identificação mística entre
homens e plantas. Os indígenas notaram que o emprego de cinzas
dos vegetais queimados na coivara davam vigor às novas plantas e
deduziram que a ingestão das cinzas dos entes mortos lhes permitiria
adquirir e perpetuar as boas características do defunto.
Endocanibalismo póstumo
Tabela 1: Práticas canibais, ao longo dos séculos. [5], [6]
Interpretações à prática canibal
Sob o olhar da mitologia grega, A deusa Gaia
gerou sozinha Urano e, juntos, mãe e filho-esposo
(a antecipação de Édipo), geraram uma infinidade
de entes e criaturas; Cronos dentre todos. Cronos
comia seus filhos porque o Oráculo avisou-o que
um deles o mataria. De fato, Zeus emancipou os
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deuses na morte de seu pai (outro “Édipo”). [11]
No catolicismo, por exemplo, a Virgem Maria
concebeu, diretamente do Espírito Santo, Jesus
Cristo. E a santificação do homem requer, na
tradição judaico-cristã, um “rito canibalístico” do
Corpus Christi, capaz de divinizar o homem. [11]
Segundo Castro, num esboço de classificação
dessas práticas de tipo sacrificial, podemos
subdividir o ato canibal em um possível esquema
interpretativo da concepção/inclusão aos ritos
funerários: Canibalismo Póstumo; e o Canibalismo
bélico-sociológico, classicamente representado
pelos ritos de destruição dos inimigos. [12]
Para Castro, a caça é uma forma de guerra na
perspectiva estabelecida pela mitologia indígena.
O xamã sacrificador – vítima (é relativamente
comum eliminarem-se xamãs acusados de
feitiçaria) tem um papel fundamental nas
“declarações” de guerra e existem armistícios cuja
causa declarada é a vingança ou combate à
feitiçaria inimiga. [12]
Em algumas civilizações, como os tupinambás
e celtas, o consumo da carne de seus inimigos era
visto como uma importante estratégia de sua
cultura guerreira. A ingestão de partes do corpo de
um oponente poderia oferecer a habilidade, força e
inteligência do mesmo. Dessa forma, quanto mais
difícil o oponente vencido mais cobiçada era a
ingestão de suas carnes e órgãos. [13]
O canibalismo, sob olhar do colonizador, era
uma evidência da selvageria a ser banida das
culturas nativas, por conflito ou aculturação. No
entanto, é possível compreender que essa prática
envolve questões intrínsecas a cada cultura onde o
canibalismo se fez presente. [13]
Numa perspectiva psicanalítica, a prática
canibal está associada aos bizarros
comportamentos da psicose e perversão sádico -
psicopática. Freud referiu-se algumas vezes a essa
manifestação patogênica, inclusive nominando-a
fase oral por fase canibalesca enquanto um
conjunto (complexo) de pulsões. Em sua avaliação
do processo civilizatório, situa o canibalismo como
um comportamento possivelmente controlado, ao
lado dos desejos instintuais do incesto e da ânsia de
matar, desejos inconscientes que ameaçam o
indivíduo e a civilização, e que todos parecem
unânimes em repudiar. [6]
O ato canibal sob ótica jurídica
“Comer alguém” está nos registros
mitológicos, religiosos e sociais; e, por não
existir tipificação penal, consumir carne humana
não é crime, visto que, para que haja um delito, a
conduta precisa estar descrita como tal em alguma
lei penal (ou seja, “tipificada”).
Isto posto, dada a raridade de alguns delitos e
mesmo que não sejam moralmente repugnantes
para a sociedade, o legislador não faz lei específica
para regulamentá-los, advindo a punição para tais,
em outro crime, mais abrangente. Esse é o caso do
canibalismo.
Algumas condutas associadas a referida conduta
podem ensejar outras punições (por exemplo, a
participação direta e/ou indireta do canibal, nos
crimes de homicídio: artigo 121 do Código Penal
Brasileiro; ocultação de cadáver: artigo 211 do
C.P.B.; e vilipêndio a cadáver: artigo 211 do C.P.B.
(a expressão cadáver aqui identificado como o ser
humano consumido pelo canibal).
Mas nota-se que nenhum desses crimes estão
restritos ao canibal.
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Toda essa tipificação soçobra diante da
tradição, da história, do mito. Não obstante toda a
repugnância do ato canibalístico, isso estará para
sempre na constituição da cultura humana. [11]
E há outra situação jurídica aqui: o consumo de
restos humanos é algo que fere preceitos morais tão
básicos que muitas vezes é possível à defesa alegar
que quem praticou o canibalismo não possuía o
desenvolvimento mental mínimo necessário para torná-
lo punível penalmente, ou que culturalmente tal pessoa
não estava totalmente integrada à nossa sociedade. [14]
Circunstancialmente, o ato isolado de alguns
serial killers e psicopatas faz o assunto manifestar-
se novamente. Em outros casos, situações
extraordinárias ameaçam o limite entre os valores
da cultura e a luta pela sobrevivência. [13]
Polêmico, há que ser mencionado o escritor
Sandel, que sustenta o canibalismo como sendo a
última fronteira para os libertários justificarem a
autonomia da vontade máxima que cada ser
humano possui, pela Lei da Natureza. Os
libertários defendem o Estado Mínimo para
garantir o Estado da Natureza (“o Estado não deve
intervir nas relações, contratos entre cidadãos” -
exemplo, o Canibal de Rothenburg). Segundo
referido autor, o Estado deve agir somente para
proteger que os contratos sejam respeitados e,
consequentemente, que cada partícipe não seja
violado em seu livre direito de negociação. É o
contrato rígido, sem justificativas [pacta sunt
servanda] posteriores. [15], [16].
Psicopatas e serial killers
Há que se considerar que quando o homicida
canibaliza, este poderia se enquadrar em alguma
psicopatia ou até mesmo personificar um ato de serial
killer. É importante considerar que existe grande
diferença entre os psicopatas e os serial killers.
Psicopatas são pessoas que possuem um desvio
de personalidade, ou seja, uma anormalidade
psíquica que interfere em seu comportamento e em
suas condutas éticas e morais (não possuem
sentimento de culpa e sentem prazer pelo que
fazem); e em sua maioria, não são violentos, por
vezes enquadrando em várias configurações de
comportamentos.
Já o serial killer apresenta um complexo
fenômeno multicausal, gerado por algum distúrbio
biológico, psicológico e/ou social. Possui um
instinto assassino, age em série, com intervalo de
tempo entre seus atos. Além disso, as vítimas, em
sua grande maioria, são escolhidas por motivos
específicos; padrão elaborado por ele próprio.
Entretanto, esses conceitos interligam-se. A
maioria dos assassinos em série possui alguma
psicopatia. [17]
Imputabilidade e aplicação das penas
Tipificadas as ações do canibal (claro,
excetuando-se a punição para o consumo dos
despojos humanos) estas serão enquadradas como
preceitua o C.P.B., em nosso caso. Assim remetem
à readaptação do delinqüente à sociedade, e, como
medida preventiva, inclinam-se no sentido de
evitar que o criminoso reincida. Destarte, e de
modo simplificado, para determinar qual pena será
aplicada é fundamental avaliar a capacidade
psicológica que o sujeito tem de receber uma
sanção penal. [18]
Há diversos problemas quanto a ressocialização
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desses criminosos, devido ao fato de terem como
característica a falta de sentimentos em relação a
outras pessoas e ao não arrependimento. Essas
atitudes dificultam a aplicação de tratamento
eficaz, aumentando a probabilidade de
reincidência. A pena privativa de liberdade
causaria uma intensificação na periculosidade do
assassino com distúrbios mentais e, quando esse
indivíduo retornasse ao convívio social, ofereceria
um perigo ainda maior à sociedade. [19]
A medida preventiva é generalizada à situação de
periculosidade do agente, limitando-se a duas
espécies: internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico. A partir disso, é necessário
avaliar a culpabilidade que recai sobre o agente, para
ser responsabilizado por não ter agido conforme a
norma, mas também ser avaliado sob o aspecto
psicológico para definir se é realmente capaz ou não
de responder pelos atos que praticou. [20], [21]
Aqui faz-se necessário pequena descrição dos
termos imputável, inimputável e semi-imputável
(terminologia essa adotada quase que
exclusivamente em nosso país), uma vez que para
que o agente responda por um crime, há que se
avaliar sua capacidade de perceber a ilicitude do
ato praticado e agir conforme o Direito. [18], [20].
Capacidade Características Aplicação da pena Quem são?
Imputável
Aquele que possui a
capacidade de entender o
caráter criminoso do seu ato e
de determinar-se de acordo
com esse entendimento.
Privativas de liberdade e/ou
restritivas de direito
Os acima de 18 anos que não se
classificam como semi-
imputáveis ou inimputáveis
Semi-imputável
O agente tem parcialmente
diminuída sua capacidade de
entendimento e de
determinação para o fato
questionado.
Enseja a redução da pena de
um a dois terços. Não há
exclusão da imputabilidade,
persistindo a culpabilidade do
agente e a consequente
aplicação de pena, ainda que
reduzida.
Situa-se entre os imputáveis e
os inimputáveis, dependendo da
avaliação do seu entendimento
no cometimento do ato
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Inimputável
É aquele incapaz de discernir
seus atos, que comete infração
penal, porém, no momento do
crime é inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do
fato, seja de forma absoluta ou
relativa.
Não pode responder pelo que
praticou e é excluído
penalmente, ficando sujeito a
medidas de segurança ou às
normas estabelecidas na
legislação especial.
Os doentes mentais ou os que
possuem o desenvolvimento
mental incompleto ou retardado;
os menores de 18 anos; os que
cometeram crime em estado de
embriaguez completa, desde que
seja proveniente de caso fortuito
ou força maior; os maiores de
setenta anos, que possuem
benefícios para cumprir a pena
tendo em vista a idade
avançada; e os que sofrem
dependência de substância
entorpecente.
Tabela 2: Características da imputabilidade [22]
Cumpre destacar que existem três sistemas que
explicariam as causas da inimputabilidade: o
biológico, o psicológico e o biopsicológico (ou
misto). A tabela a seguir os contempla.
Sistema Entendimento
Biológico (ou
cronológico)
O agente é portador de uma enfermidade ou grave deficiência mental e deve ser declarado
irresponsável. Condiciona-se, portanto, a responsabilidade à saúde mental.
Psíquico
Não interessa se existe ou não uma doença mental, bastando, para declarar-se a irresponsabilidade do
agente, que este, ao tempo do crime, não tenha a faculdade de apreciar a criminalidade do fato e de
determinar-se de acordo com essa apreciação (momento volitivo).
Biopsíquico (ou misto)
É a junção dos dois anteriores, como sugere o próprio nome. A responsabilidade só é excluída se em
razão de enfermidade ou retardamento mental, o agente é incapaz de entendimento ético-jurídico e
autodeterminação no momento em que comete o crime.
Tabela 3: Os sistemas biológico, psíquico e biopsíquico. [22]
Quanto às penas, a pena privativa de liberdade
tem a função de proteger a sociedade dos que não
têm condições de viver em liberdade. É um
instrumento de defesa social que dificilmente será
extinto dos ordenamentos jurídicos. Elas podem
ser: de reclusão, que deve ser cumprida
inicialmente em regime fechado ou semiaberto; e
de detenção, está inicialmente cumprida em regime
semiaberto ou aberto. [21]
O Código Penal brasileiro adota o sistema em
que os psicopatas são considerados semi-
imputáveis; portanto, a eles deverá ser reduzida a
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pena de um a dois terços, ou substituí-la por medida
de segurança, caso seja necessário
tratamento/internação. Porém, dependendo do grau
de sua compulsão por matar, como casos em que o
criminoso não seja capaz de racionalizar e
controlar seus atos, o assassino deve ser
considerado inimputável. Dessa forma, nota-se
ainda um grande conflito em relação a penalização
dos assassinos em série, visto que a Constituição
Federal veda a pena perpétua, e esses criminosos
representam risco à sociedade (ainda não há cura e
nem estão aptos a viver em sociedade). [18]
O ideal para aplicação de algum tipo de
restrição a esses indivíduos seria um estudo
aprofundado do caso, de seu perfilamento criminal;
com a colaboração de Criminólogo competente,
Psiquiatra e Psicólogo forenses, bem como demais
profissionais de áreas afins; vez que, por
associação, o canibal tem desvio de personalidade,
mas não seria criminoso. [23], [20]
II. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente estudo expôs breve revisão
bibliográfica do tema proposto, mencionando a
evolução histórico-cronológica, cultural e alguns
apontamentos jurídicos que permitiram uma visão
ampla da temática abordada.
III. CONCLUSÃO
O canibalismo, tão condenado por questões
éticas e morais contemporâneas, é um hábito
existente ao longo da história. Dissociado de uma
velha conotação que associa o consumo de carne
humana a algum tipo de ritual religioso, o
canibalismo é uma prática dotada de diferentes
motivações e características no decorrer do tempo,
a saber:
• Alimento (períodos de privação alimentar);
• Vingança pela vitória contra o inimigo e pelas
mortes dos antepassados em guerras contra
mesmo grupo tribal;
• Agradecimento ritualístico e ligação dos deuses
com os reis mundanos;
• Meio de incorporação das características do
capturado (virilidade, força, poder,
conhecimento, respeito, etc);
• Forma de respeito ao ente falecido.
Atualmente a caracterização do canibalismo
sustenta-se em referências que desconsideram a
prática cultural de alguns povos, a imensa maioria
quase que isolados da sociedade que conhecemos,
evidentemente. Por sua vez, a antropofagia
manifestada durante a prática de outros delitos
(homicídio, vilipêndio e/ou ocultação de cadáver),
invariavelmente está associada a verificação de
graves transtornos mentais ou comportamental(is)
do(s) autor(es) envolvido(s), requerendo avaliação
multisistêmica para a determinação casuística do
fato e culpabilidade relacionados.
REFERÊNCIAS
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Rio de Janeiro – 7ª. Ed. – 2004.
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12. CASTRO, Eduardo Viveiros de. A inconstância
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universitário “Antônio Eufrásio de Toledo”.
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22. Disponível em:
<https://marjoly.jusbrasil.com.br/artigos/454087
924/quem-sao-os-inimputaveis>. Acesso em
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23. Disponível em:
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10/canibal_desvio_personalidade_nao_criminos
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HALLAZGOS EN PESQUISAS DE NEUROTRANSMISSORES COMO UM
INDICIO MÁS EN EL COMPORTAMIENTO SUICIDA
R. Gilmar Dias1, R. Renata Karla Peres2, G. Michele Rocha3, S. Janaína Aparecida Dias Salgueiro4
1,2 Peritos Criminais da PCMG, 2ª. Seção Técnica Regional de Criminalística - Minas Gerais, Brasil
3 Advogada, Pós graduada em Direito Penal, Pós graduada em Ciências Forenses e Mestranda em Criminologia
Forense, E-mail: michelerochag@gmail.com
4 Estagiária de Criminalística/Criminologia 2ª. STRC/PCMG - Universidade Federal de São João del Rei
Resumo - O suicídio figura entre as principais causas
de morte da atualidade e, a despeito de tentativas de
prevenção, suas taxas são crescentes, o que tem
estimulado as pesquisas na biologia do suicídio, com
o objetivo de auxiliar na identificação do potencial
suicida. Existem, hoje, muitas evidências vindas de
estudos com diferentes metodologias (estudos post-
mortem, estudos de concentrações liquóricas de 5-
HIAA, estudos neuroendocrinológicos) mostrando
que anormalidades no sistema serotoninérgico
estariam associadas ao comportamento suicida e com
características psicobiológicas básicas bem como
impulsividade e agressividade. Essa abordagem é
promissora e seus resultados sugerem que, pelo
menos em parte, os neurotransmissores influenciam
o comportamento suicida através do sistema
serotoninérgico.
Palavras-chave: neurotransmissores, serotonina,
suicídio.
Resumen - El suicidio es una de las principales
causas de muerte hoy y, a pesar de los intentos de
prevenir, sus tasas están aumentando, lo que ha
estimulado la investigación en la biología de suicidio,
con el fin de ayudar a identificar el potencial de
suicidio. Hoy en día, existen muchas pruebas de
estudios con diferentes metodologías (estudios post-
mortem, estudios de las concentraciones de líquido
cefalorraquídeo de 5-HIAA, estudios
neuroendocrinos) que muestran que las
anormalidades en el sistema serotoninérgico estarían
asociados con el comportamiento suicida y
características psicobiológicas básicas, así como la
impulsividad y agresividad. Este enfoque es
prometedor y sus resultados sugieren que, al menos
en parte, los neurotransmisores afectan el
comportamiento suicida a través del sistema
serotonérgico.
Palabras clave: neurotransmisores, la serotonina, el
suicidio.
Summary - Suicide is among the leading causes of
death today and, despite attempts to prevent, their
rates are increasing, which has stimulated research
in the biology of suicide, in order to help identify the
suicide potential. Today, there are many evidence
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from studies with different methodologies (post-
mortem studies, studies of cerebrospinal fluid
concentrations of 5-HIAA, Neuroendocrine studies)
showing that abnormalities in the serotonergic
system would be associated with suicidal behavior
and basic psychobiological characteristics as well as
impulsivity and aggressiveness. This approach is
promising and their results suggest that, at least in
part, neurotransmitters affect suicidal behavior via
the serotonergic system.
Keywords: neurotransmitters, serotonin, suicide.
I. PROBLEMA
El suicidio es una de las tres causas principales
de muerte de las personas de 15-44 años de edad.
De acuerdo con los registros de la Organización
Mundial de la Salud (OMS), el acto suicida es
responsable cada año por un millón de muertes, lo
que corresponde al 1,4% del total de muertes.
(Organización Mundial de la Salud [OMS], 2014).
Cada 45 segundos hay un suicidio en alguna
parte del mundo. Hay un contingente de 1.920
personas que ponen fin a la vida diariamente. En la
actualidad, esta cifra supera, al final de un año, la
suma de todas las muertes causadas por
homicidios, accidentes de tráfico, las guerras y los
conflictos civiles (OMS, 2013).
El Brasil está entre los diez países que registran
mayor número absoluto de suicidios, según los
datos recopilados por la OMS. En 2011, hubo
9.852 suicidios registrados oficialmente en el país,
lo que representa un promedio de 27 muertes al día
(DATASUS, 2015). A medida que la población
aumentó en un 17,8% entre 1998 y 2008, el número
de muertes por suicidio aumentó un 33,5%
(Botega, 2015). Del total de muertes registradas en
Brasil, el 1% se debe a los suicidios. En las
personas que tienen entre 15 y 29 años de edad, esta
proporción alcanza el 4% de todas las muertes
(Trigueiro, 2015).
Por lo general, hay un factor que complica en el
caso de las muertes violentas: ¿Fue un accidente,
homicidio, suicidio? Para la determinación de un
suicidio, es necesario establecer si había la
intención de morir, y esto no siempre puede ser
definido de manera inequívoca por el examen
criminalistico y investigatorio policial en la escena
del crimen (Torre, 2006).
¿Es posible la utilización de los
neurotransmisores como un indicio más en el
comportamiento suicida?
II. JUSTIFICACIÓN
La ampliación de los criterios de investigación
de muertes sospechosas o violentas; a partir de los
resultados de las investigaciones fisiológicas suele
ser más un indicador del comportamiento suicida.
Estos criterios están relacionados
principalmente con la neurociencia, que se
engloban factores neuroquímicos y hormonales
prevalente y diferente en cada persona. Estas
relaciones asumen un neurotransmisor serotonina
llamado 5HT, que, asociado con el
comportamiento emocional puede servir como un
valioso indicador de las características
individuales.
La serotonina se metaboliza a 5-hidroxiindol
ácido acético (5-HIAA) material transportado fuera
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del cerebro y que se excreta en la orina
(Ramamoorthy S, et al, 1993). La investigación
pionera en el cerebro del cadaver y niveles de
5HIAA proporcionan valiosa información de la
serotonina en el comportamiento suicida. Estos
resultados tienen una gran importancia, ya que era
bastante consistente y reproducida por numerosos
investigadores en muchos países, por primera vez,
que mostró la asociación entre comportamiento
suicida y un parámetro biológico (Corrêa, 2006).
III. MARCO CONCEPTUAL
Antes de la década de los sesenta, los estudios
sobre el suicidio procuraban principalmente
abordar el tema desde una perspectiva psicosocial.
Durkheim preconizó que el suicidio era
condicionado socialmente y que las fuerzas
extraindividuales lo determinaban. Según este
autor, el aislamiento social estaría ligado, de
manera directamente proporcional, a las tasas de
suicidio en una determinada sociedad.
La vertiente psicológica, se apoya, por el
contrario, en la individualidad de cada suicidio.
Freud, en su libro Duelo y melancolía, postula que
el suicidio correspondería a una "hostilidad
inconsciente dirigida a un objeto previamente
introyectado y hacia el que se manifiestan
emociones ambivalentes". El comportamiento
suicida era visto como un comportamiento
exclusivamente humano, en sus dimensiones
sociales y psicológicas, y la contribución biológica
era minimizada cuando no despreciada.
Shneidman, un suicidólogo relevante escribió:
"hay muchos estudios realizados con diversos
métodos que denotan una enorme energía de
pensamiento, decenas de pesquisas a centenares de
individuos, mas, en resumen, ellos son más
equivocados que claros, como un líquido turbio en un
tubo de ensayo congelado de apariencia ambigua".
Se debe resaltar, sin embargo, que las teorías
sociales y psicológicas seductoras y poderosas teorías
explicativas del comportamiento suicida se mostraban
muy poco útiles desde el punto de vista clínico.
Un estudio prospectivo publicado por Pokorny
en 1983 acerca de 4.800 pacientes egresados de un
hospital psiquiátrico en los que fueron aplicados
una serie de indicadores psicosociales disponibles
para evaluar el potencial suicida consideró que
1.206 de ellos estaban calificados de alto riesgo. A
los 5 años, 63 personas habían consumado el
suicidio y, de ellos, 28 no formaban parte del grupo
de riesgo de suicidio.
La prevención del suicidio podría, sin embargo,
ser una realidad, ya que cerca del 50 al 70% de los
pacientes que cometen suicidio consultaron a un
médico unos días o algunas semanas antes de
realizar dicho acto, expresaron claramente sus
propósitos suicidas y no es raro que lo hayan
cometido utilizando la medicación indicada por los
facultativos que les atendieron.
Estos datos alarmantes han estimulado las
investigaciones biológicas del suicidio y, entre
estos, los más consistentes son los que se refieren a
la serotonina.
La serotonina, un neurotransmisor, ha sido
objeto de estudio desde la década de los cincuenta,
cuando los investigadores Wolley y Shaw sugerían
que un metabolismo serotoninérgico anormal podría
estar asociado al desencadenamiento de cuadros
psicóticos. Estos autores usaban como argumento
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que había semejanza estructural entre la molécula de
la serotonina y algunas sustancias alucinógenas, e
indicaban que los síntomas psicóticos podrían ser
causados por un "alucinógeno endógeno", que
estaría formado a partir de un defecto en el
metabolismo de la serotonina.
Posteriormente, con el descubrimiento de los
efectos depresogénicos de la reserpina (que depleta
serotonina) y la potencialización de la serotonina
causada por los fármacos antidepresivos surgió la
hipótesis serotoninérgica de la depresión,
formulada en 1969 por Lapin y Oxenkrug. A partir
de esas hipótesis, varios investigadores se lanzaron
al estudio del papel de la serotonina en el sistema
nervioso central. Naturalmente, debido a las obvias
dificultades del estudio de la función
serotoninérgica en el cerebro, in vivo, los primeros
estudios se llevaron a cabo en cerebros de suicidas.
Los estudios pioneros tenían como objetivo
realizar una evaluación neuroquímica de las neuronas
monoaminérgicas a través de la medición de los
valores absolutos de la amina y de sus metabolitos.
Entretanto, esos índices ofrecen información limitada
y, sin duda, sujeta a grandes variaciones, que
dependen de varios factores como el tiempo
transcurrido entre el momento de la muerte del
individuo y la realización del examen, la edad, el
sexo, drogas eventualmente en uso, entre varios otros.
IV. OBJETIVOS
Objetivo general
• Establecer la relación entre 5-HIAA y el
comportamiento suicida.
Objetivos específicos
• Evaluar sí la agresividad, impulsividad y otros
correlatos psicopatológicos podrían estar
asociados a níveles de 5HIAA que mediarían el
comportamiento suicida.
• Pesquisar sí la violencia de un método puede
reflejar una mayor determinación o la mayor
intención de morir, ya que da como resultado
tentativas más letales.
V. METODOLOGIA
Investigación bibliográfico-documental.
VI. DESARROLLO
Estudios post mortem de los valores de
serotonina y/o de su metabolito, el-5-HIAA
Los primeros estudios de ese tipo en pacientes
psiquiátricos procuraban estudiar las
concentraciones de serotonina y de 5-HIAA en el
encéfalo de víctimas de suicidio, como una forma
de estudiar la bioquímica de la enfermedad
depresiva. Algunos de estos estudios, mas no
todos, mostraban una modesta reducción de
serotonina y del 5-HIAA en regiones del tronco
encefálico de los suicidas, de forma general,
encontraron concentraciones normales en la
corteza cerebral.
Es llamativo que en la época de realización de
esos estudios existía un falso concepto de que el
suicidio estaría asociado exclusivamente a la
depresión, por lo que, estudiando los cerebros de
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suicidas, los investigadores consideraban estar
estudiando la bioquímica de la depresión. Revisando
dichos estudios, por lo menos de aquellos en que los
datos estaban disponibles, mostraban que muchos de
esos suicidios ocurrían no sólo en deprimidos, sino
que estaban asociados a varios diagnósticos. Eso es
importante, porque demuestra que una reducción de
serotonina o de 5-HIAA no está asociada con un
diagnóstico psiquiátrico particular ni con un
síndrome en particular.
El interés despertado por esos estudios
pioneros, unido a la creciente sofisticación
tecnológica con el desenvolvimiento de la
cromatografía de alta precisión, incrementó las
investigaciones de las concentraciones en el
líquido cefalorraquídeo de 5-HIAA. Esos estudios
fueron realizados porque se consideraba que la
concentración de 5-HIAA en el líquido
cefalorraquídeo reflejaba la actividad
serotoninérgica en el cerebro. Hoy, esto se ha
resuelto, porque se sabe que existe también
producción de 5-HIAA en la médula espinal.
Asimismo existe una correlación entre las
concentraciones de 5-HIAA en el córtex cerebral y
en el líquido cefalorraquídeo y dichas
concentraciones de 5-HIAA aumentan o
disminuyen en función del uso de determinados
agentes farmacológicos conocidos por afectar al
sistema serotoninérgico.
Inicialmente esos estudios fueron realizados en
pacientes deprimidos y, en algunos, se puede mostrar
una distribución bimodal de 5-HIAA, donde un
subgrupo de pacientes deprimidos, cerca de 40% de
ellos, mostraba bajas concentraciones de 5-HIAA.
Este dato llevó a considerar que la depresión podría
ser heterogénea desde el punto de vista bioquímico, y
que existiría un subgrupo particular de pacientes
deprimidos, aquellos con bajas concentraciones de 5-
HIAA. Desde el punto de vista clínico, entretanto, no
se observó ninguna relación con esa característica
bioquímica, ya que los pacientes no se diferenciaban,
por ejemplo, en relación con la gravedad de la
depresión o sus subtipos.
En 1976, Asberg et al, en un nuevo estudio con
pacientes deprimidos, confirmaron lo encontrado
por Van Praag y Korf y su propio grupo, la
distribución bimodal de las concentraciones en el
líquido cefalorraquídeo de 5-HIAA. Es curioso el
hecho de que 2 pacientes se suicidaran. Las
investigaciones constataron que los suicidas y los
que realizaban tentativas de suicidio, en particular
utilizando los métodos más violentos, se situaban
en el grupo con concentraciones más bajas de 5-
HIAA en el líquido cefalorraquídeo.
En los años siguientes estos estudios fueron
confirmados por una serie de trabajos, y no sólo en
pacientes deprimidos, sino también en pacientes
esquizofrénicos y en portadores de trastorno de
personalidad. Desde el estudio pionero de Asberg
et al, en 1976, se llevaron a cabo cerca de 30
estudios y, la mayoría de ellos, usando diferentes
entrevistas diagnósticas y diferentes instrumentos
para evaluar el comportamiento suicida, llegaron a
la conclusión de la existencia de una relación entre
bajas concentraciones de 5-HIAA y el
comportamiento suicida. Curiosamente, esa
asociación fue hallada en una amplia gama de
diagnósticos psiquiátricos, pero con un consistente
predominio del trastorno bipolar.
Quienes realizan tentativas de suicidio y los que
se suicidan pueden ser poblaciones diferentes en
varios aspectos, aunque se puede considerar que
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existe una superposición de las características de
esos 2 grupos.
Existe hoy una considerable evidencia que una
baja concentración de 5-HIAA en el líquido
cefalorraquídeo en una persona que ha intentado
suicidarse puede prever una futura tentativa o un
suicidio completo. Traskman et al en un estudio
prospectivo de un año observó que la mortalidad por
suicidio era de 22% para los pacientes que habían
realizado una tentativa de suicidio y tenían
concentraciones de 5-HIAA por debajo de la media
en el grupo de pacientes que habían intentado el
suicidio. Resultados semejantes fueron descritos por
Roy et al, que encontraron que los pacientes que
repetían sus tentativas de suicidio mostraron
menores concentraciones de 5-HIAA que los que no
los repetían. Nordstrom et al, por su parte,
reportaron que entre 92 pacientes con trastorno del
humor que habían sido admitidos para diversos
estudios posteriores a una tentativa de suicidio, el
17% de los que tenían bajas concentraciones de 5-
HIAA en el líquido cefalorraquídeo se suicidaron 1
año después, frente a apenas un 7% de los que tenían
concentraciones elevadas de dicho metabolito.
Serotonina, agresión, violencia e impulsividad
En muchos estudios sobre la investigación de 5-
HIAA en el líquido cefalorraquídeo, su relación
con el suicidio era mucho más fuerte en pacientes
que usaron métodos violentos en sus tentativas de
suicidio. Ese hallazgo sustentó la hipótesis de que
la agresividad y otros correlatos psicopatológicos
podrían estar asociados o mediarían el
comportamiento suicida. El hecho de escoger un
método violento o no, por ejemplo, puede reflejar
impulsividad, en la medida en que se escoge el
primer método disponible, sin que se evalúen las
consecuencias. La violencia de un método puede
también reflejar una mayor determinación o la
mayor intención de morir, ya que da como
resultado tentativas más letales.
Con el objetivo de corroborar esas hipótesis,
varios estudios fueron realizados investigando si el
5-HIAA en el líquido cefalorraquídeo estaba
asociado a la agresividad y/o la impulsividad.
Brown et al, en 1979 y 1982, estudiaron a militares
con trastorno de personalidad y hallaron una
correlación negativa significativa entre una historia
de concentración de 5-HIAA en el líquido
cefalorraquídeo y el comportamiento agresivo.
Después de esos hallazgos de Brown et al, se
llevaron a cabo otros trabajos, que mostraron una
relación entre las bajas concentraciones de 5-
HIAA, el comportamiento suicida y la
impulsividad y/o la agresividad
VII. ANÁLISIS Y CONCLUSIONES
Las investigaciones pioneras en cerebros de
suicidas y las pesquisas de 5-HIAA en el líquido
cefalorraquídeo nos ofrecieron informaciones
valiosas sobre el posible papel de la serotonina en
el comportamiento suicida. Esos hallazgos tienen
gran importancia, porque fueron bastante
consistentes, reproducidos por múltiples
investigadores en varios países, y, por primera vez,
mostraron la posible asociación entre el
comportamiento suicida y un parámetro biológico.
Esos estudios pioneros mostraron también que
características psicopatológicas, como la
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agresividad y la impulsividad, podrían estar
asociadas con el comportamiento suicida o lo
mediarían, y abrieron el camino para las modernas
pesquisas sobre la biología del comportamiento
suicida con estudios psiconeuroendócrinos, de
genética molecular y de imagenología.
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DA BREVE ANÁLISE CRIMINOLÓGICA DO TRANSGRESSOR A
CLASSIFICAÇÃO DAS MANCHAS DE SANGUE POR MEIO DA
HEMATOLOGIA FORENSE RECONSTRUTORA
Michele Rocha Gomes (Esp)1, Bruna Ladeira Lau (Ms)2
1 michelerochag@gmail.com, Advogada, Pós graduada em Direito Penal, Pós graduada em Ciências Forenses e
Mestranda em Ciências Forenses
2 brunallau@gmail.com, Perita Criminal e Professora do Curso de Pós Graduação de Ciências Forenses do Unilavras
RESUMO - GOMES, M. R. DA BREVE ANÁLISE
CRIMINOLÓGICA DO TRANSGRESSOR À
CLASSIFICAÇÃO DAS MANCHAS DE SANGUE
POR MEIO DA HEMATOLOGIA FORENSE
RECONSTRUTORA. 2019. 72f. Monografia (Pós-
graduação Lato Sensu em Ciências Forense)1 –
Centro Universitário de Lavras - UNILAVRAS –
Lavras, 2019. Desde sua gênese, a humanidade
sempre teve como base o convívio em sociedade.
Entretanto, para viver em sociedade o ser humano
precisa aprender a respeitar os costumes e tradições
que ela possui. O amadurecimento social pode ser
entendido como indício de bom ajustamento que é o
processo que visa a satisfação de necessidades. A
Criminologia é uma ciência moderna e autônoma
que tem como um de seus objetivos, apresentar
métodos de prevenção dos delitos para auxiliar o
poder público e a sociedade na diminuição de
condutas delitivas, pois analisa o crime, o criminoso,
o controle social e a vítima. Quanto a resolução de
crimes, há mais de 100 anos são analisadas manchas
de sangue como ferramenta. O estudo das manchas
de sangue faz uma análise do sangue depositado em
uma superfície por meio do seu tamanho, formato e
distribuição. Este trabalho resumiu os principais
pontos sobre a Criminologia e a Hematologia
Forense Reconstrutora, gerando referência rápida e
eficiente para identificação das características de
manchas de sangue que pode diferenciar homicídio
de suicídios ou acidentes, identificar posições e
movimentações da vítima.
Palavras-chave: crime, criminalística, vítima.
RESUMEN - GOMES, M. R. DE BREVE
ANÁLISIS CRIMINOLÓGICO DEL
TRANSGRESOR A LA CLASIFICACIÓN DE
MANCHAS DE SANGRE A TRAVÉS DE LA
HEMATOLOGÍA FORENSE
RECONSTRUCTIVA. 2019. 72f. Monografía
(Postgrado Lato Sensu en Ciencias Forenses) 1 -
Centro Universitario de Lavras - UNILAVRAS -
Lavras, 2019. Desde su inicio, la humanidad siempre
se ha basado en la convivencia en la sociedad. Sin
embargo, para vivir en sociedad, el ser humano debe
aprender a respetar las costumbres y tradiciones que
tiene. La maduración social puede entenderse como
una indicación de un buen ajuste, que es el proceso
que apunta a satisfacer las necesidades. La
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criminología es una ciencia moderna y autónoma que
tiene como uno de sus objetivos, presentar métodos
de prevención del delito para ayudar al poder
público y a la sociedad a reducir el comportamiento
delictivo, ya que analiza el delito, el delito, el control
social y la víctima. . En cuanto a la resolución de
delitos, durante más de 100 años las manchas de
sangre han sido analizadas como una herramienta.
El estudio de las manchas de sangre hace un análisis
de la sangre depositada en una superficie por su
tamaño, forma y distribución. Este documento
resumió los puntos principales sobre la criminología
forense reconstructiva y la hematología forense,
generando una referencia rápida y eficiente para
identificar las características de las manchas de
sangre que pueden diferenciar el homicidio del
suicidio o los accidentes, identificando las posiciones
y los movimientos de la víctima.
Palabras-clave: crimen, criminalística, víctima
I. INTRODUÇÃO
Desde sua gênese, a humanidade sempre teve
como base o convívio em sociedade. Entretanto,
para viver em sociedade o ser humano precisa
aprender a respeitar os costumes e tradições que ela
possui. O amadurecimento social pode ser
entendido como indício de bom ajustamento que é
o processo que visa a satisfação de necessidades. A
Criminologia é uma ciência moderna e autônoma
que apresenta métodos de prevenção dos delitos,
pois analisa o crime, o criminoso, o controle social
e a vítima e a Hematologia Forense Reconstrutora
estuda a forma das manchas de sangue no local do
crime, podendo diferenciar homicídio de suicídios
ou acidentes, identificar posições e movimentações
da vítima. Entrelaçando as duas ciências, o objetivo
é apresentar métodos de prevenção dos delitos
auxiliando o poder público e a sociedade na
diminuição de condutas delitivas por meio da
prevenção. Com este intuito, foram utilizadas
diferentes estratégias de pesquisa bibliográfica, tais
como: pesquisa doutrinária, análise documental
por meio de artigos, leis como o Código Penal
Brasileiro e Código de Processo Penal Brasileiro.
Assim, foi feita uma breve análise criminológica
do transgressor até a classificação das manchas de
sangue por meio da hematologia forense
reconstrutora. Foi abordado sobre a classificação
da perícia, cena do crime, estudos de casos e
morfologia das manchas de sangue: mancha
arterial, o gotejamento em trilha, o perfil de
escorrimento (diferentes direcionamentos mostram
momentos distintos, antes e depois da queda da
vítima), perfil típico de manchas impactadas e o
espargimento de dissociação (Cast-off) e manchas
que obedecem ao sentido da movimentação do
objeto. Pode-se concluir que o sistema penal deve
ser reformulado sendo levados em conta: seus
objetivos reais, o conhecimento histórico do
ensinamento criminológico e sua contextualização
na atualidade. Infelizmente, no Brasil, a teoria da
rotulagem é muito presente. O transgressor quase
sempre será visto com maus olhos, pois não poderá
retornar à sociedade, porque uma vez removido
anteriormente, provavelmente recorrerá mais uma
vez ao crime. Torna-se indispensáveis nessa
“batalha”, o suporte da família, da escola e do
poder público para que jovens não se tornem
futuros transgressores. Então, com o auxílio da
Criminologia e da Hematologia Forense
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Reconstrutora pode-se fazer uma leitura do perfil
do transgressor e assim diminuir os índices de
criminalidade e potencializar o controle social do
comportamento transgressivo.
II. OBJETIVOS
Resumir os principais pontos sobre a
Criminologia e a Hematologia Forense
Reconstrutora, gerando referência rápida e
eficiente para identificação das características de
manchas de sangue que pode diferenciar homicídio
de suicídios ou acidentes, identificar posições e
movimentações da vítima. Entrelaçando as duas
ciências, o objetivo é apresentar métodos de
prevenção dos delitos auxiliando o poder público e
a sociedade na diminuição de condutas delitivas
por meio da prevenção.
III. MATERIAIS E MÉTODOS
Foram utilizadas diferentes estratégias de
pesquisa bibliográfica, tais como: pesquisa
doutrinária, análise documental por meio de
artigos, leis como o Código Penal Brasileiro e
Código de Processo Penal Brasileiro.
IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foi feita uma breve análise criminológica do
transgressor até a classificação das manchas de
sangue por meio da Hematologia Forense
Reconstrutora. Foi abordado sobre a classificação
da perícia, cena do crime, estudos de casos e
morfologia das manchas de sangue: mancha
arterial, o gotejamento em trilha, o perfil de
escorrimento (com diferentes direcionamentos
mostram momentos distintos, antes e depois da
queda da vítima), perfil típico de manchas
impactadas e o espargimento de dissociação (Cast-
off) e manchas que obedecem ao sentido da
movimentação do objeto.
V. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CRIME
Existem três momentos históricos mais
relevantes na evolução do crime, quais sejam:
1) A lei de talião, do latim lex talionis (lex: lei e
talio, de talis: tal, idêntico), consiste na rigorosa
reciprocidade do crime e da pena.
Os primeiros indícios do princípio de talião
foram encontrados no Código de Hamurábi, em
1780 a.C. no reino da Babilônia. Esse princípio
impede que as pessoas façam justiça por elas
mesmas e de forma desproporcionada, é o princípio
do "olho por olho, dente por dente", é a
correspondência de correlação e semelhança entre
o mal causado a alguém e o castigo imposto a quem
o causou: tal crime, tal pena.
2) Humanitário: não existe mais penas cruéis,
pois o homem é o centro.
3) Científico, que se divide em:
3.1) Clássico: adotou o livre-arbítrio, a fim de
fazer repousar a responsabilidade moral. O Direito
Penal brasileiro o aceita como pressuposto da
imputabilidade. Autodeterminação da vontade.
3.2) Positivista: o estudo está no criminoso e
não no crime, ou seja, tem uma visão biológica do
crime. Segue a linha de raciocínio em que a pena
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recai em detrimento da personalidade do
criminoso, sua capacidade de ressocialização, sua
periculosidade, e não mais sobre sua natureza.
Assim teve três grandes influenciadores, que
foram: Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Garófolo.
Figura 1- Diagrama de Cesare Lombroso
Figura 2 - Diagrama de Henrico Ferri
Figura 3 - Diagrama de Rafael Garófolo
É presente nos dias atuais a análise da
personalidade do réu quando usada para cálculo e
definição de pena, assim como seus antecedentes,
culpabilidade e sua conduta social, conforme a
visão positivista.
3.3) Tradicional: se concentra no criminoso e na
vítima.
3.4) Atual: segue os princípios da tradicional
sendo acrescidos os elementos da vítima e o
controle social.
VI. CONCEPÇÕES DOS CRIMINOSOS
No período clássico imperava o livre arbítrio,
não havendo diferença entre os criminosos e os
não-criminosos.
Para os positivistas, o homem criminoso já
nasce com essas características criminológicas
(biológica e social).
Para a teoria Marxista o criminoso é a vítima de
um sistema econômico social.
Para a Filosofia o criminoso é estudado como
um ser inferior e por isso necessita de tutela do
Estado.
Na concepção moderna o criminoso é uma
pessoa normal, passível ou não de acatar normas.
VII. O PERFIL DO CRIMINOSO
Fazer o perfil do criminoso é mais fácil quando
já se sabe a motivação, mas é necessário um
conhecimento profundo em psiquiatria, psicologia
e ciência forense, envolvendo criminologia e
criminalística.
Podendo ser utilizado passado, histórico médico
e características comportamentais do agressor,
tentam descrever a pessoa que cometeu o crime,
facilitando a busca da polícia.
VIII. PERSONALIDADE CRIMINOSA
Por que algumas pessoas se formam criminosas,
outras não?
Por séculos achavam que os criminosos
nasciam assim, incapazes de controlar seus
instintos antissociais.
Freud decidiu que o centro da razão ficava no
cérebro.
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Conforme Innes (2009, p. 06):
Em 400 a.C., o famoso médico grego Hipócrates
descreveu uma série de transtornos mentais
similares àqueles reconhecidos hoje, e defendeu
energicamente os direitos legais dos cidadãos com
perturbações mentais. Nessa época, as leis de
Atenas reconheciam os direitos dos deficientes
mentais em assuntos cíveis, mas deixavam de
fazê-lo se fossem culpados de crimes graves.
No século XVII começaram a ser reconhecidas
as características físicas.
A frenologia, que é a teoria que determina o
caráter, personalidade e o grau de criminalidade
pelo formato do crânio, não contribuiu para o
entendimento da mente criminosa.
Cesare Lombroso fez um dos primeiros estudos
sérios sobre a criminalidade. Para ele, o crime era
um fenômeno biológico.
Já Alexandre Lacassagne defendia que a causa
do crime era do tipo social.
No século XIX, em Paris, Alphonse Bertillon
começou a fazer uso da fotografia tanto dos presos
quanto das cenas dos crimes. Estabeleceu o
processo de retratar o rosto inteiro e o perfil.
Introduziu assim o “retrato falado”.
No século XX outros países adotaram as
impressões digitais e o sistema francês de
Bertillonage foi eliminado.
IX. TEORIAS MODERNAS DA
CRIMINALIDADE
A teoria freudiana concentra a atenção sobre
como as relações no seio da família afetam a
maneira como uma pessoa cria formas de lidar com
outras fora do círculo familiar.
O psicanalista alemão Eric Erikson começou
estudando a influência da sociedade e da cultura no
desenvolvimento de crianças. Ele identificou a
ocorrência de oito “crises de identidade” durante a
vida do indivíduo.
Em destaque são as fases 3 a 5 que são as mais
prováveis que surja a personalidade patológica
criminosa se as crises de identidade forem muito
graves.
Eis as fases:
Fase 3 é a fase da locomoção, dos 3 aos 6 anos.
A criança se torna independente e assertiva, mas
pode desenvolver culpa se os comportamentos
agressivos não forem controlados.
Fase 4 é a fase da latência, dos 6 aos 12 anos. A
criança está na escola e deve dominar novos
desafios, caso contrário, podem desenvolver
sentimentos de inferioridade e fracasso.
Fase 5 é a fase da adolescência, dos 12 aos 18
anos. O adolescente tem que se identificar nas áreas
da sexualidade, trabalho, política e religião.
O psicólogo experimental norte-americano B.
F. Skinner acreditava que o comportamento de um
indivíduo era desenvolvido a partir do resultado da
vivência das consequências do comportamento e
do aprendizado. Ele aplicou o princípio do
“condicionamento operante” que é repetir um
comportamento que é “reforçado”. Assim, evita
aqueles que são dolorosos.
O psicólogo britânico Hans Eysenck,
considerava que a personalidade criminosa era uma
combinação de fatores hereditários e ambientais.
Também assumiu que o crime pode ser uma
escolha racional e natural de certos indivíduos por
conta da possibilidade de maximizar o prazer e
minimizar a dor.
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Figura 4 - Diagrama representando escala de tipos de
personalidade de Hans Eysenck
Fonte:
http://pasdemasque.blogspot.com/2011/10/teorias-
modernas-da-criminalidade.html
X. TIPOS DE MANCHAS DE SANGUE
O formato da macha de sangue gerada está
intimamente ligado às propriedades do sangue, à
energia com que o volume de sangue atinge a
superfície e as propriedades da superfície.
Figura 5 - Manchas geradas por gotas de mesmo
volume lançadas a 60 cm de altura em diferentes
XI. MORFOLOGIA DA MANCHA DE
SANGUE
A morfologia das manchas de sangue pode
indicar como ela se formou.
A chamada coroa é a borda que indica em que
direção de produção da mancha era perpendicular
em relação à superfície do anteparo.
Já a cauda é a mancha com essa borda indica
que sua direção de produção era inclinada em
relação à superfície do anteparo. Quanto mais
inclinado o seu comprimento em relação à sua
largura, menor o ângulo entre superfície e direção
de produção.
Com relação aos espinhos, é o tipo de borda
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presente em manchas que foram produzidas devido
a impacto. Espinhos em maior quantidade e
extensão indicam maior velocidade de impacto do
sangue contra o anteparo.
Figura 6 - Tipos de borda em mancha de sangue
XII. MANCHAS REGULARES GOTEJADAS
OU POR PRECIPITAÇÃO
O mecanismo de geração é predominantemente
à ação da gravidade. Podendo formar uma trilha,
indicando a direção do deslocamento da fonte. O
sentido de deslocamento pode ser observado pela
morfologia das manchas.
Possuem o formato circular, mas podem ser
também da forma elíptica.
Figura 7 - Manchas formadas por gotejamento em
trilha no sentido da esquerda para a direita aumentando
a velocidade do deslocamento.
Figura 8 - Exemplo do que pode ocorrer em algumas
manchas gotejadas em trilha, onde o movimento dos
braços pode também gerar manchas com sentidos
contrários ao do movimento.
Figura 9 - Gotejamento em trilha antes da posição
final. Inúmeras manchas gotejadas indicam um dado
percurso.
O sequenciamento dos gotejamentos em trilha pode
indicar qual sentido a fonte de sangue percorreu. Por
meio de sua análise pode-se verificar se a fonte de
sangue estava parada ou se deslocando.
XIII. ARTERIAL
Apresentam formato elíptico e distribuição
ondulatória devido à frequência da pressão
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sanguínea correspondente. Geralmente este meio
de produção gera grande volume de sangue, pois o
sangue é projetado a partir de uma artéria.
Figura 10 - Mancha de perfil arterial com uma
ondulação típica e escorrimentos devido ao maior
volume das gotas.
XIV. ESPARGIMENTO DE DISSOCIAÇÃO
(CAST-OFF)
As manchas geradas pelas gotas de sangue
obedecem ao sentido da movimentação do objeto.
Este sangue dissociado perfaz um voo livre em
formato de gota até atingir uma determinada
superfície.
Figura 11 - Desenho esquemático de um cast-off
gerado por uma barra de ferro contendo sangue
Figura 12 - Manchas de cast-off geradas a partir da
dissociação de sangue pela movimentação da faca em
um movimento mais prolongado. Resultado: manchas
mais espelhadas.
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Figura 13 - Manchas de cast-off geradas a partir da
dissociação de sangue pela movimentação da faca em
um movimento mais fechado. Resultado: manchas
mais próximas
Figura 14 - Manchas deixadas e acordo com
movimento de ataque do instrumento
XV. CAST OFF “DE PARADA”
São perfis complexos e podem confundir o
perito levando-o a acreditar ser mancha impactada.
Neste caso, um instrumento embebido por
sangue tem sua trajetória interrompida por algum
anteparo de defesa ocasionando o desprendimento
simultâneo das gotas de sangue gerando o perfil de
cast-off “de parada”.
Figura 15 - (a) cast-off (b)cast-off de parade
Figura 16 - Cast-off de parada no escorrimento, o que
é indicado por espinhos alongados saindo do
escorrimento (setas)
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XVI. IMPACTADAS, PROJETADAS OU
RESPINGADAS
Manchas provocadas em virtude de impacto de
algum instrumento contra pessoa, provocando
projeção e respingos de sangue. As dimensões do
agrupamento de sangue podem auxiliar na
identificação do instrumento utilizado.
Figura 17 - Perfil típico de manchas impactadas
geradas pelo impacto de uma marreta na cabeça de um
homem.
Figura 18 - Perfil típico de manchas impactadas geradas
pelo impacto de uma marreta na cabeça de um homem.
No detalhe, observa-se o perfil em formação com
abertura à medida que se afasta do centro lembrando um
leque. As manchas vão se tornando mais oblíquas e
espalhadas à medida que se afasta do centro.
XVII. CONCLUSÕES
Pode–se concluir que o sistema penal deve ser
reformulado sendo levados em conta: seus
objetivos reais, o conhecimento histórico do
ensinamento criminológico e sua contextualização
na atualidade. Infelizmente no Brasil, a teoria da
rotulagem é muito presente. O transgressor quase
sempre será visto com maus olhos, pois não poderá
retornar à sociedade, porque uma vez removido
anteriormente, provavelmente recorrerá mais uma
vez ao crime. Torna-se indispensáveis nessa
“batalha”, o suporte da família, da escola e do
poder público para que jovens não se tornem
futuros transgressores. Então, com o auxílio da
Criminologia e da Hematologia Forense
Reconstrutora pode-se fazer uma leitura do perfil
do transgressor e assim diminuir os índices de
criminalidade e potencializar o controle social do
comportamento transgressivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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manchas de sangue: do local de crime à
elaboração do laudo. São Paulo: Lura Editorial,
2017.
2. INNES, Brian. Perfil de uma mente criminosa: a
psicologia solucionando os crimes da vida real.
São Paulo: Editora Escala, 2009.
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ciências sociais: a pesquisa qualitativa em
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enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia
Foundation, 2019. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Lei
_de_tali%C3%A3o&oldid=51973705>. Acesso
em 3 mai. 2019.
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POLICIAL MILITAR: INIMIGO DA SOCIEDADE
Anderson Soares Custódio1; Walter de Lacerda Aguiar2
1 Investigador de Polícia do Estado de São Paulo, com especialização em Ciências Criminais pela Escola Superior do
Ministério Público de São Paulo (2017) e aperfeiçoamento técnico em Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem
Pública I pela Escola Superior de Sargentos da Policia Militar do Estado de São Paulo (2012); E-mail:
andercust@gmail.com
2 Advogado Criminalista e Delegado Regional da ABCriminologia, mestrando em Criminologia pela Universidad de
Ciencias Empresariales y Sociales de Bueno Aires - Argentina, com especialização em Direito Penal pela Escola
Superior do Ministério Público de São Paulo (2012) e aperfeiçoamento técnico em Polícia Ostensiva e Preservação da
Ordem Pública I pela Escola Superior de Sargentos da Policia Militar do Estado de São Paulo (2011); E-mail:
walterlacerda@abcriminologia.com.br.
Resumo – O objetivo deste artigo é demonstrar que
os policiais militares, sobretudo os policiais militares
do Estado de São Paulo, não são tão violentos,
consoante costumeiramente é noticiado pela mídia
policial brasileira ao ponto de compara-los à
“soldados espartanos” e/ou “Robocops”, outrossim,
atribui-los os supostos aumentos de índices
criminais. Traremos aqui, estudos criminológicos
que justificam a atuação policial em meio cenário de
insegurança pública, potencializado por uma
imprensa que nem sempre retrata a realidade dos
fatos.
Palavras-chave – policia ostensiva, insegurança
pública, abordagem policial
Resumen – El propósito de este artículo es demostrar
que la policía militar, especialmente la policía militar
del Estado de São Paulo, no son tan violentos, como
diariamente es reportado por los periódicos
brasileños hasta el punto de compararlos con
"soldados espartanos" o "robocops", también,
atribuirlos a los supuestos aumentos en las
estadísticas penales. Traeremos aquí, estudios
criminológicos que justifican la acción policial en un
escenario de inseguridad pública, potenciado por un
periódico que no siempre retrata la realidad de los
hechos.
Key-Words – polícia, inseguridad pública,
acercamiento policial
I. INTRODUÇÃO
No presente artigo apresentaremos a
perspectiva de quem atuou com a preocupação de
fornecer um serviço de qualidade e eficiente na
preservação da ordem pública nas comunidades
carentes do Estado de São Paulo.
Tivemos a oportunidade de atuar em bairros
periféricos, onde o sentimento de descaso e
abandono por parte do Poder Público é evidente.
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A cada dia que se passa, aumenta a sensação de
insegurança no território brasileiro, principalmente
nos grandes centros urbanos. Episódios como os
ocorridos no ano de 2006 no Estado de São Paulo,
ataques coordenados e organizados por facções
criminosas contra a vida e a integridade física de
agentes responsáveis por aplicar a lei, revelam a
ineficiência do Estado em promover a segurança de
quem faz a segurança, quiçá, do cidadão comum.
Crimes ocorrem em praticamente todo o
Estado. O crime organizado aproveita a
desorganização estatal para aplicar mais medo e
terror às pessoas, que, sem acreditar na
possibilidade de mudança, calam-se, não
denunciam os criminosos e até mesmo, parece
irônico dizer, repudiam a atividade policial em suas
comunidades.
Abordaremos aqui, conhecimentos
criminológicos, que retratarão o cenário de
insegurança pública no Estado de São Paulo,
potencializado, por uma mídia que nem sempre
retrata a realidade dos fatos.
No primeiro momento, traremos dados
estatísticos que ponderarão a atividade policial
militar no Estado de São Paulo e na oportunidade
questionaremos: Os policiais são violentos? A
política criminal de prevenção é ineficaz nas
regiões periféricas?
A Posteriori, discutiremos a influência da teoria
da subcultura delinquente na atividade policial
ostensiva e a celeuma dos direitos individuais
frente abordagem policial. Não olvidaremos
enfatizar os fundamentos legais que viabilizam a
atuação do policial militar.
Esperemos que aproveite a abordagem e que
tenham uma boa leitura!!!
II. MATERIAIS E MÉTODOS
pesquisa tem como base estudos empíricos,
apresentado por aqueles que combateram o bom
combate e sentiram na pele o repúdio daqueles que
viviam/vivem em regiões precárias de
infraestrutura, saneamento básico, educação e
saúde, outrossim, enxergavam em nós, época
policiais militares, a única esperança de Justiça e
resgate de dignidade humana.
Trazemos também dados estatísticos que
confrontam as informações veiculadas pela
imprensa policial. Isso porque são informações
quantitativas do número de ligações recebidas pelo
serviço 190, número de armas recuperadas, pessoas
presas em flagrante, atos infracionais de crianças e
adolescentes, veículos localizados e apreensão de
entorpecentes registradas em sede policial.
Ademais, trouxemos estudos científicos de
Alessandro Barata (2011), Albert Cohen (1955),
Roque de Barros Laraia (2009), Michael Foucault
(1975 e 2008) que solidificamos a estrutura
proposta.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
III.I. DA PONDERAÇÃO DAS ATIVIDADES
POLICIAL MILITAR
Por que tanta violência policial? Há algo de
errado na polícia? Será que os policiais são
violentos? O policiamento ostensivo não funciona
nas regiões periféricas?
Pois bem. Em recente estudo realizado pela
Policia Militar do Estado de São Paulo (PMESP,
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2015) aponta que existe dois policiais militares
para cada mil habitantes no Estado de São Paulo.
O estudo traz que, no ano de 2015, a Policia
Militar teve contato com aproximadamente 35
milhões de cidadãos, desde abordagem policial à
prestação de informações diversas. Na
oportunidade, foi registrado 5.520 reclamações
contra policiais militares, das quais, 1.113 podem
ser relacionadas ao uso excessivo da força,
representando 0,003% de todos os contatos
ocorridos entre a sociedade e a polícia.
O resultado apresentado traz que a cada 31 mil
contatos realizados entre a sociedade e polícia,
apenas um gera reclamação. Das 1.113
reclamações relacionadas ao uso excessivo da
força, apenas 7% foram processadas com algum
fundamento ou evidência.
O estudo em questão também trouxe correlação
entre alguns crimes de rua, ou seja, mais de 10 mil
pessoas foram vítimas de estupro, mais de 7 mil
foram mortas em acidentes de trânsito e mais de 4,5
mil foram vítimas de homicídio.
Nesse sentido, podemos asseverar que o
cidadão que mora no Estado de São Paulo está 57
vezes mais propenso a ser vítima de homicídio, 90
vezes mais propenso a perder a vida em um
acidente de trânsito e 128 vezes mais propenso a
ser estuprado do que propenso à força excessiva
por parte de um polícia militar.
Por outro lado, observa-se o quadro anual de
estatística criminal abaixo, elencando alguns dos
crimes que assolam a sociedade no Estado de São
Paulo.
Tabela 01 – Quadro anual de Estatística Criminal do
Estado de São Paulo (2015)
Partindo das informações mencionadas, ao
analisar os dados estatísticos, podemos criar uma
ideia próxima da realidade dos fatos (dos crimes, no
caso) mas que, logicamente, não pode ser posta como
informação real, uma vez que o conceito de cifras
negras, tratado na ciência criminológica, evidencia
que nem todos os crimes ocorridos necessariamente
chegam ao conhecimento do Estado.
No ensejo, podemos verificar que a Polícia
Militar tenta justificar a violência policial ao tratar
das estatísticas enquanto problemas graves, como
os casos de roubo que, no referido ano, chegaram a
307.392 mil. Partindo da ideia de que o ano possui
365 dias, chega-se à conclusão de que ocorreu no
Estado de São Paulo 842,16 roubos por dia,
retratando aproximadamente 36 roubos por hora,
ou seja, 1 roubo a cada dois minutos.
Tal constatação mostra a ineficiência da política
criminal aplicada no Estado e no âmbito nacional,
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uma vez que a segurança pública é de
responsabilidade de todos os entes da Federação,
ainda que cada um com suas atribuições
constitucionais e características de
desenvolvimento. Por exemplo, com base em
preceito constitucional, cabe ao Estado, por
intermédio da Polícia Militar, realizar o
policiamento ostensivo e preventivo, à Policia
Civil a apuração do delito; ao município, a
iluminação pública, pavimentação de vias e
garantias de urbanização.
Com isso, busca-se evidenciar que segurança
pública não é apenas um problema de polícia, mas
sim um trabalho em conjunto entre os entes da
Federação, a Sociedade e o Ministério Público, sendo
este último vigia e fiscal no controle externo da
atividade policial, conforme assevera SANTIN
(2013):
[...] o controle externo da atividade policial é uma
das funções institucionais do Ministério Público,
dever inexistente no regime constitucional
anterior. O constituinte estabeleceu como função
institucional do ministério Público "exercer o
controle externo da atividade, na forma da lei
complementar respectiva" (art. 129, VII Carta
Magna), não previu limites nem restringiu a
possibilidade de controle externo, porque
"atividade policial" é ampla pelo exercício
funcional da polícia na prevenção, repressão,
investigação e cooperação com autoridades
judiciárias do Ministério Público, pelo que se
percebe no art. 144 da Constituição Federal.
(SANTIN, 2013, p. 124).
Sabendo disso, porque apenas os policiais
militares são os inimigos da sociedade???
A resposta é simples, são os policiais militares
“a ponta da espada da justiça”, são os policiais
militares que fazem o primeiro contato com o
cidadão insatisfeito e/ou vilipendiado.
Destarte, trazemos o quadro de atendimentos
realizados pela Polícia Militar do Estado de São
Paulo no último mês, disponibilizado em seu site,
com informações quantitativas do número de
ligações recebidas pelo serviço 190, número de
armas recuperadas, pessoas presas em flagrante,
atos infracionais de crianças e adolescentes,
veículos localizados e apreensão de entorpecentes,
senão vejamos:
Tabela 02 – O que a PM está fazendo por você
A pergunta que fica, será mesmo que a Policia
Militar é o inimigo da sociedade?
Em verdade, a linguagem matemática tida como
a mais objetiva das linguagens pode e é
constantemente manipulada pela mídia, para isso,
basta que se dêem informações parciais (publica-se
uma parte da pesquisa) ou que não se publique um
resultado que se sabe que pode desagradar a um
segmento ou privilegiar outro.
Não debateremos aqui, porque os dados
estatísticos são manipulados, mesmo porque, só
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esse assunto renderia um novo artigo, para
melhores esclarecimentos, analisaremos a
influência da teoria da subcultura dos delinquentes.
III.II. A INFLUÊNCIA DA SUBCULTURA
DELINQUENTE NA ATIVIDADE POLICIAL
Trataremos aqui as chamadas “teorias das
subculturas delinquente” e haverá uma tentativa de
fundamentá-las e exemplificá-las de forma não
taxativa. Tais subculturas constituem-se em um dos
possíveis motivos do fenômeno criminal nas
regiões periféricas da capital e nos grandes centros
urbanos e municípios do Estado de São Paulo.
Traçaremos um paralelo com o policiamento
ostensivo, fundada suspeita e busca pessoal.
A ideia da existência de uma subcultura
pressupõe a existência de uma cultura como
principal, conforme aborda LARAIA (2009):
No final do século XVIII e no primeiro do
seguinte, o termo germânico Kultur era utilizado
para simbolizar todos os aspectos espirituais de
uma comunidade, enquanto a palavra francesa
Civilization referia-se principalmente às
realizações materiais de um povo. (LARAIA,
2009, p. 25)
BARATTA (2011), com base nos estudos
relacionados a sociologia criminal e antropologia
criminal, elucida que a criminologia tem origem
principalmente nos Estados Unidos na década de
1930, sendo que esses estudos visam explicar o
comportamento do delinquente nos bairros
periféricos, visando explicar o fenômeno criminal
e a possibilidade de “correcionalismo”
(BARATTA, 2011, p. 30).
Na obra “Sociedade de esquina”, publicada em
1943, ele analisou a estrutura social do bairro
italiano pobre de Chicago, Cornerville, e
especialmente a forma como este afetava as
crianças e adolescentes que ali viviam. Para
entender as relações sociais daquela comunidade,
WHYTE (2005) defendia que era necessário viver
nela, pois a partir de um conhecimento mais íntimo
e detalhado da vida local, a área se revela sob um
aspecto diferente do que é apresentado pelos
jornais. O autor conclui que o problema de
Cornerville é o fracasso de sua própria organização
social em se conectar com a estrutura da sociedade
à sua volta. Isso explica o desenvolvimento de
organizações políticas e mafiosas locais. O
fenômeno torna-se aparente quando se examina os
meios pelos quais o homem dessa comunidade
italiana pode progredir e ganhar reconhecimento
em seu próprio distrito ou na sociedade ampla.
(TEORIAS..., 2015).
O primeiro a abordar a teoria da subcultura
delinquente é Albert Cohen, criminólogo
americano PhD em sociologia pela Universidade
de Harvard, no ano de 1955, com a obra
Delinquents Boy. O autor defende que todo
grupamento humano possui subculturas, sejam elas
provenientes de seu gueto ou de sua filosofia de
vida, em que cada um se comporta de acordo com
as regras do grupo, que não correspondem com as
regras da cultura geral (GAMBOA, 2013).
Sendo assim, a subcultura é entendida como o
conjunto de normas e valores considerados
corretos e ideais por um determinado grupo de
pessoas. Trata-se da categoria que usa violência
como modo normal de resolução de conflitos, cujos
adeptos praticam crime como sinal de protesto com
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o objetivo de que seus valores sejam aceitos na
sociedade. Acreditam no caráter pluralista da
norma, adotando valores culturais e morais
distintos, cabendo mencionar grupos formados por
máfias, facções criminosas, gangues urbanas e
delinquentes juvenis (GAMBOA, 2013).
A aplicação das teorias da subcultura não são
suficientes para explicar o fenômeno criminal que
a cada dia cresce no Estado. Assim, o que
buscamos aqui não visa fundamentar e estereotipar
a condição do cidadão que está inserido no
ambiente social no qual a presente teoria se
reproduz e se desenvolve. O fundamento aqui é
enfatizar que a atuação da polícia ostensiva na
prevenção criminal relaciona-se como ferramenta
de ação para a preservação da ordem.
III.II.I. ABORDAGEM POLICIAL
Entre outros fatores como a denúncia, o
chamado de emergência, etc., a abordagem policial
é sem dúvida uma das principais ferramentas para
impedir a ocorrência de um crime. Porém, essa
abordagem não deve jamais ser utilizada como
fundamento ou enumeração de ação policial1. Ela
deve respeitar os limites estabelecidos de defesa à
dignidade humana, bem como estar condicionada
ao elemento fundamental de sua execução, que se
1 Existem ações realizadas por comandantes da PMESP que
são relacionadas com dados estatísticos, “abordar para
mostrar”, sem base fundamental de suspeita, a uma
possibilidade de enumerar e quantificar a ação policial. Nesses
termos, somos contrário à abordagem que não seja realizada
com fundamento na fundada suspeita, pois a quantidade de
abordados não está relacionada à eficiência que ela pode gerar.
Abordar só para apresentar altos números de produtividade
policial não é o caminho a ser seguido. 2 Meirelles (2016, p. 120) diz que “discricionariedade” traduz-
encontra exarado nos artigos 244 e 249 do Código
de Processo Penal (BRASIL, 1941), que é a
fundada suspeita.
É na busca pessoal que o policial militar
assegurado por princípios constitucionais,
processuais e administrativos, realiza sua função
primordial: evitar a prática de crimes, sem esquecer
de seu caráter fundamental, que é o respeito à
dignidade humana e a realização de uma atividade
de polícia cidadã.
Porém, nem sempre essa abordagem é realizada
de forma pacífica, haja vista a colisão de direitos
existentes: de um lado, o policial, que, no momento
da sua atuação, exerce o poder originário do Estado
para restringir o direito do cidadão. Do outro lado,
o próprio cidadão, que tem que obedecer a ordem
emanada pelo policial que, em nome da lei,
restringe seus direitos individuais.
É a abordagem policial um dos maiores motivos
de reclamação de violência policial e práticas de
abuso, pois, por muitas vezes, o policial não tem a
paciência ou até mesmo a capacitação técnica e
jurídica para conter a abordagem e explicar, com base
na discricionariedade2 e autoexecutoriedade3, ao
abordado os motivos que o levou a deliberar pela
abordagem. Além disso, em muitos casos, o cidadão
se recusa a obedecer a ordem do policial, pois entende
que o fato de este abordá-lo está relacionado à
se na livre escolha pela administração e define o termo como
a oportunidade e conveniência de exercer o poder de polícia,
bem como a de aplicar as sanções e empregar os meios
conducentes para atingir o fim colimado, que é a proteção de
algum interesse público. 3 Meirelles (2016, p. 121) define “autoexecutoriedade” como
a faculdade de a administração pública decidir e executar
diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem
intervenção do Poder Judiciário.
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imputação de conduta delituosa. Daí surge a
execução de coercibilidade4 por parte do policial, que
tenta efetuar a abordagem, ocorrendo a resistência
por parte do cidadão, que não se vê na obrigação de
cumprir a ordem para pôr as mãos na cabeça.
Esse argumento não visa justificar a violência
policial, o que infelizmente é fato em nossa
sociedade, mas sim trazer que, muitas vezes, o
cidadão não sabe que o policial na realização de
suas funções tem respaldo legal para restringir,
porém, jamais sucumbir, direitos individuais.
Assim, são apresentados os motivos legais que
viabilizam a busca pessoal, atrelados ao
entendimento de que a fundada suspeita é realizada
por meio de leitura corporal por parte do agente
público. A fundamentação da busca pessoa com
bases nesses critérios de leitura corporal torna-se
subjetiva e perigosa, pois ao agente da lei cabe se
desprender de valores preconceituosos e rotulantes,
pois, no sentido legal, a abordagem visa buscar
materialidade de conduta delitiva e não se prender
a estereótipos ou comportamentos inadequados,
uma vez que as ações realizadas que não encontram
respaldo na lei margeiam a ilegalidade e o abuso.
No Estado de São Paulo, é frequente a
indagação “Por que o policial que atua na Av.
Paulista é diferente do policial que atua nas
periferias? ”, feita nos centros de estudos e
ambientes acadêmicos.
Não queremos aqui minimizar a relação da
existência de abusos e atos de violência praticados
por policiais militares no exercício de suas funções,
mas vislumbramos que o meio social em que o
policial atua na Av. Paulista é diferente e
4 Meirelles (2016, p. 121) afirma que o termo se trata da
imposição coativa das medidas adotadas pela administração.
contrastante com o das periferias, onde o policial
está inserido na comunidade e a todo o momento
depara-se com comportamentos provenientes de
uma subcultura delinquente.
Essa subcultura surge em um ambiente
favorável e fértil para a instalação do crime
organizado, que age nas comunidades carentes,
estabelecendo regras e ordens que visam
enfraquecer o poder constituído, bem como a
atuação e a aproximação dos órgãos encarregados
de realizar a segurança pública, criando um
ambiente de intolerância e ódio em contextos de
atuação policial.
Com isso, a atuação do policial, que também é
passível dos mesmos ódios e paixões por também
se constituir em um ser humano, muitas vezes vê
na comunidade um ambiente proliferado e
dominado pelo crime organizado, que, no Estado
de São Paulo, em 2016, é investigado por
determinar a morte de policiais. Nesse sentido, o
índice de morte de policiais em 2016 teve uma alta
de 68,7% em relação a 2015, constituindo-se no
maior índice em 7 anos (MORTE..., 2016).
É nesse ambiente que o policial cria uma
subcultura5, fruto de um pensamento social
inserido no povo brasileiro que reproduz a ideia
“bandido bom é bandido morto” e que pode ser o
motivo que enseja e se repercute em violência
policial.
Conforme exposição de CALHAU (2002):
Em se tratando de crime organizado, a sociedade
é duplamente agredida. Em primeiro lugar, é
ofendida pela ação nefasta da organização
5 Guerra Social: POLICIA x BANDIDO.
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criminosa e, em segundo lugar, é vítima do
próprio agir artificial do Estado que,
incompetente e inoperante para evitar ou punir o
crime organizado, ilude a sociedade com soluções
enganosas que ardilosamente cria no afã de gerar
uma imagem de eficiência funcional na persecutio
desse criminoso. (CALHAU, 2002, p. 41)
É nesse ambiente social, mutante e
diversificado em relação ao local de atividade, que
o policial militar, responsável por promover e
proteger direitos e garantias individuais, encontra-
se inserido para a realização de suas atividades,
para as quais exige, muito mais do que um
conhecimento supérfluo e teórico, uma gama de
conhecimentos interdisciplinares como direito,
psicologia, antropologia, sociologia, etc. Assim, na
coexistência da aplicação da lei e da restrição de
direitos do cidadão, um policial pode adotar a
medida, dentro de um leque de oportunidades e
conveniências, menos lesiva ao cidadão e ao
mesmo tempo a mais benéfica à sociedade.
IV. CONCLUSÃO
Conforme mencionado acima, o policial militar
atua em todo território do Estado e é para muitos
cidadãos o primeiro, talvez o único contato com a
ideia de sistema de justiça.
É o policial militar que atua com as adversidades
e o primeiro problema existente na sociedade; assim,
sua atuação não se restringe somente preservação da
ordem pública, mas também como promotor dos
direitos humanos e garantidor e fiscal do exercício e
gozo dos direitos individuais.
Embora a Polícia Militar disponha de
tecnologia de ponta para auxiliar na vigilância e
organização social, é dever de toda sociedade
promover e preservar a paz pública.
Dados estatísticos. Nem todo material
disponibilizado pela imprensa tem relação com a
realidade. Na maioria das vezes, são referência
indireta da realidade, que distorce a realidade dos
fatos. Tudo se passa como se a imprensa se
referisse à realidade apenas para apresentar outra
realidade, irreal, que é a contrafação da realidade
real. É uma realidade artificial, não real, irreal,
criada e desenvolvida pela imprensa e apresentada
no lugar da realidade real. [...] (ABRAMO,
2003:23-24)
Na realização do policiamento ostensivo entre
os mecanismos e tecnologia utilizada, ainda é o
policial o responsável pela aplicação da técnica
adquirida e da leitura corporal e pela atenção na
realização do serviço, capaz de reconhecer
mudanças repentinas de comportamento ou
atitudes capazes de fundar a suspeita de estar o
cidadão na realização da prática de um ato ilícito
que viole a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outro cidadão.
As periferias padecem de uma maior atenção
dos órgãos públicos. Segurança pública é o
calcanhar de Aquiles do governo do Estado, porém,
não é a única lacuna por este praticada. Um dos
apontamentos ao efeito criminal é um resultado de
causa e consequência. Causa é a incompetência do
Estado em gerir programas sociais e garantir as
condições adequadas de saúde, educação, cultura,
urbanização, habitação, capacitação profissional,
etc. Consequência é a ocorrência desenfreada da
violência em todas as classes sociais.
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V. AGRADECIMENTOS
Primeiro à Deus, oportunidade de estarmos vivos.
Aos familiares, combustível de vida.
E a Policia Militar do Estado de São Paulo, por
oportunizar experiências inesquecíveis e oportunizar
amigos inestimáveis.
REFERÊNCIAS
1. ABRAMO, P. (2003). Padrões de manipulação
na grande imprensa, São Paulo:Fundação Perseu
Abramo.
2. ANNELI, L. (2006) Abordagem policial.
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Paulo, São Paulo. Monografia apresentada à
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concurso de seleção de professores.
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ARMAS, TECNOLOGIA E CRIME ORGANIZADO
André Militão de Lima1
1 Mestre, Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu (2008-2015), Pós-graduado em
Direito Penal (2018) e pós-graduando em Direito Processual Penal (2018-atual) pelo Complexo Educacional Damásio
de Jesus. Investigador de Polícia - Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Resumo - O objetivo deste artigo é apresentar
aspectos referentes ao uso da tecnologia pelo crime
organizado na fabricação de armas de fogo em escala
industrial, à utilização de mão de obra qualificada no
seu desenvolvimento e à consequente disseminação
nos estados brasileiros. Será analisado, à luz de
legislações pertinentes, um caso específico em que foi
descoberta uma rede criminosa sofisticada que
fabricava armamentos de qualidade, utilizando-se de
tecnologia avançada, maquinários eletrônicos e
softwares de desenho industrial 4D, contribuindo para
a violência institucionalizada na sociedade brasileira.
Palavras-chave: Armas, tecnologia, crime
organizado.
Abstract - The purpose of this paper is to present
aspects concerning the use of technology by
organized crime in the manufacture of firearms on
an industrial scale, the use of skilled labor in its
development and the consequent dissemination in
Brazilian states. In the light of pertinent legislation,
a specific case will be analyzed in which a
sophisticated criminal network that manufactured
quality weapons was discovered using advanced
technology, electronic machinery and 4D industrial
design software, contributing to the institutionalized
violence in Brazilian society.
Key-Words – weapon, technology, organized crime.
I. INTRODUÇÃO
Atualmente, um dos maiores problemas para a
segurança nacional é, sem dúvida, a violência no
território brasileiro. Tais ações criminosas são em
grande parte exercidas por meio do uso de armas
de fogo, sejam elas de calibre de uso restrito ou
irrestrito.
Muitas perguntas surgem a respeito do tema:
como estas armas chegam às mãos de criminosos
violentos? Como elas se disseminam pelo território
nacional? Existe a possibilidade de sua prevenção?
Neste artigo, será proposta uma reflexão acerca
de uma nova modalidade de crime organizado que,
antes mesmo de adquirir armamentos de empresas
legais, passam a fabricá-las em escala industrial,
utilizando-se de maquinários industriais, e
comercializam-nas em estados brasileiros.
É importante ressaltar a utilização de aplicativo
de mensagens instantâneas na comunicação com os
mais diversos compradores e a ineficiência estatal
em controlar o tráfico de armas. Também será
apresentado brevemente aspectos da Lei
10.826/2003 (BRASIL, 2003) – Estatuto do
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Desarmamento –, que disciplina o assunto
(principalmente o artigo 17, que versa sobre
comércio ilegal de armas de fogo) e da Lei
12.850/2013 (BRASIL, 2013), que conceitua
“organização criminosa”.
Assim, responder as perguntas apresentadas e
traçar políticas públicas preventivas seriam passos
importantes para que o Estado garanta segurança –
de acordo com o art. 6 da Constituição Federal
(BRASIL, 1988) e paz para a população.
II. MATERIAIS E MÉTODOS
O método de investigação do presente estudo
empírico consistiu em um estudo de caso de um
crime de tráfico, fabricação e utilização em crimes
violentos de armas em diversos estados brasileiros.
Nota-se que é importante observar o fenômeno da
globalização e a utilização de tecnologia pelo crime
organizado, aspectos importantes da ciência
criminológica.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do estudo de caso
Policiais civis do Estado de São Paulo, em 16
de outubro de 2017, desenvolviam um trabalho
sobre comércio ilegal de armas de fogo e, nessa
data, tomaram conhecimento que indivíduos
estariam reunidos na cidade de Poá fazendo
transação de armas.
Diligências foram envidadas no endereço
mencionado, com o apoio de grupos operacionais
de outras equipes policiais. Todavia, os indivíduos
já haviam deixado o local.
Na mesma oportunidade, os policiais tomaram
conhecimento de um possível imóvel na região de
Ferraz de Vasconcelos, que, segundo informações
passadas à polícia, estava sendo utilizado
clandestinamente para fabricação de armas de fogo.
Imediatamente, os policiais deslocaram-se
àquele município. Chegando ao imóvel, o infrator
foi surpreendido em seu interior na posse de grande
quantidade de peças metálicas próprias para
confecção de submetralhadoras, além de grande
quantidade de munições de diversos calibres
(.40, .45, .50, .12 e 9mm).
Figura 1. Foto da apreensão inicial em 16 de outubro
de 2017.
A casa, constituída por dois cômodos (quarto e
cozinha) e banheiro, era guarnecida por poucos
móveis. Na parede, sob um quadro, foi encontrado
uma espécie de cofre, com tampa móvel, contendo
uma submetralhadora devidamente montada, pronta
para uso, duas submetralhadoras parcialmente
acabadas, faltando apenas o gatilho, e quatro
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submetralhadoras na iminência de serem montadas,
haja vista a composição completa das peças
pertinentes. As peças sobressalentes encontradas eram
constituídas por 48 cabos de madeira já com
acabamentos, três canos perfurados e acabados, seis
ferrolhos internos já devidamente torneados, 10
carregados semiacabados, uma fita de tecido para
confecção de bandoleiras e 15 molas devidamente
preparadas para composição interna dos carregadores.
Figura 2. Foto da apreensão inicial em 16 de outubro
de 2017.
No local também foi encontrado um notebook
com grande quantidade de imagens de armas de
foto, principalmente automáticas, que vinham
acompanhadas dos respectivos projetos industriais,
com indicações das peças pertinentes e instrução de
montagem, bem como vídeos nos quais o infrator
manuseava uma submetralhadora idêntica àquela
encontrada no imóvel.
Também foram encontrados no notebook
projetos industriais de uma metralhadora
calibre .50, calibre .40, calibre .45, calibre .12 e até
mesmo o projeto de um arpão.
Figura 3. Pasta no diretório do Notebook com projetos
industriais de diversos calibres.
Cada pasta continha o desenho unitário de cada
componente dos armamentos idealizados no
software SolidWorks, ferramenta tecnológica para
desenhos industriais em 3D.
Figura 4. Pasta com o desenho industrial dos
componentes da metralhadora calibre .50.
Figura 5. Metralhadora calibre .50 completamente
confeccionada.
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Figura 6. Pasta com o desenho industrial dos
componentes da metralhadora calibre .40.
Figura 7. Pasta com o desenho industrial dos
componentes da metralhadora calibre .45.
Figura 8. Pasta com o desenho industrial dos
componentes de cada metralhadora.
Figura 9. SubMetralhadora completamente
confeccionada.
No decorrer da investigação realizada pela
Polícia Civil Paulista, notou-se que o infrator
utilizava o símbolo da Estrela de Davi na lateral da
metralhadora, o que funcionava como um logo de
uma marca exclusiva de armas.
Figura 10. Desenho industrial dos componentes de
uma arma calibre .12.
Figura 11. Desenho industrial dos componentes de
uma arma calibre .12.
Figura 12. Foto do infrator preso portando a arma
calibre .12.
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As fotos evidenciaram que aquilo que se
imaginava ser apenas um projeto foram, na
verdade, já fabricadas, o que configurava que o
crime já havia passado para uma nova etapa: venda
de armamentos de calibre de uso restrito. No
celular apreendido do infrator, foi observada a
negociação de armas com terceiros.
Durante interrogatório, apesar de todo o
material apreendido, o infrator negou a propriedade
e o comércio ilegal de armas na região.
A Autoridade Policial inicialmente, na etapa de
cognição sumária, considerando os elementos
probatório de materialidade e autoria,
consubstanciados pelos depoimentos uníssonos
dos policiais que descrevem as condições internas
do imóvel, no qual não foi observado qualquer
maquinário de tornearia e/ou ferramentaria para
confecção das peças, denotando-se, assim, tratar-se
de local propriamente para montagem e
armazenamento de armas.
As imagens, os vídeos e áudios constantes no
celular e notebook do indiciado demonstraram a
intenção de comercializar as armas produzidas no
local.
Figura 13. Foto em 3D de Submetralhadora.
Figura 14. Vídeo em que a submetralhadora é testada
pelo autor intelectual do projeto.
A justificativa apresentada pelo indiciado não
ofereceu qualquer credibilidade: ele afirma ter
ofertado sua casa para moradia compartilhada a um
indivíduo que teria conhecido recentemente no
centro da cidade. O indiciado afirmou que
conheceu esse indivíduo apenas pela alcunha, não
se preocupando em saber nome e/ou origem, o que
se presume que se trata de algum integrante de uma
organização voltada para o comércio ilegal de
armas de fogo. Assim, presume-se ter o indiciado
infringido os artigos 16, caput;17, parágrafo único,
da Lei 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento
(BRASIL, 2003) –; e 2º da Lei 12.850/13 – Lei do
Crime Organizado (BRASIL, 2013).
O local, em face das evidências, foi
devidamente periciado.
As armas, peças, o notebook e os celulares
foram apreendidos em auto próprio.
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Coleta de dados em meios de comunicação: da
investigação e dos meios de obtenção da prova
– Lei n 9.296/96 (BRASIL, 1996)
É necessária autorização judicial para que o
investigador possa buscar informações nos casos
em que é necessário acessar dados informáticos,
seja de aparelhos de telefonia móvel, seja em
computadores, para que, no decorrer do processo,
a materialidade delitiva apresentada pelos
investigadores de polícia não se torne inválida.
Aspectos principais das organizações
criminosas: caracterização, elementos (divisão
de tarefas) e mescla de atividades lícitas com
ilícitas
No caso específico, foram extraídos do
notebook e aparelhos de telefonia móvel provas
que evidenciam um esquema sofisticado,
envolvendo pessoas com capacidade técnica
(engenheiros e técnicos em mecânica) e uma longa
rede de contatos que comprariam tais armamentos.
Figura 15. Foto de um infrator portando a arma
calibre .12 com o uniforme de uma empresa.
Isso permite inferir que o processo passaria para
uma nova etapa, trazendo para a lide outras pessoas,
cada qual com sua função e tarefa, destinadas ao fim
único de fabricar armas e obter lucro.
A partir dessas fotos e contatos telefônicos, foi
possível chegar a um comércio de molas e outro de
madeira.
Foram tiradas fotografias que demonstravam os
trabalhos realizados pela organização criminosa no
interior de indústrias, com maquinários específicos
e de alto custo, o que possibilitou chegar a
empresas legalizadas.
O século XXI e os novos modelos de
organizações criminosas – Rede (network,
retecriminale, netzstruktur)
Redes criminosas são organizações informais em
que pessoas desconhecidas se unem em prol de lucro,
cada um desempenhando determinadas tarefas. Hoje,
é na Informática, nas telecomunicações e na alta
tecnologia eletrônica que as organizações criminosas
viabilizam novas formas de cometimento de crimes
(QUEIROZ, 2002, p. 260).
Principais atividades das organizações
criminosas de tráfico de armas
O crime organizado dispõe de meios
instrumentais de alta tecnologia. Paralelamente
às formas tradicionais de crimes, a moderna
tecnologia permite a sofisticação da atuação
criminosa. (LAVORENTI et al, 2000, p. 36)
Autoria pelo domínio do fato e organizações
criminosas
É importante ressaltar que durante as
investigações ficou evidente o mentor intelectual
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do projeto. Também foi perceptível que não fora
localizada a produção de armas em um único
estabelecimento, pois em cada local era realizada a
confecção de apenas uma parte da arma.
Figura 16. Foto a esquerda de uma submetralhadora
com silenciador e a direita o projeto 3d de um
silenciador.
Figura 17. Fotos de diversas submetralhadoras semi
acabadas.
Dessa maneira, a atividade dificilmente
levantaria suspeita, pois em uma empresa era
realizada a confecção de carregadores; em outra,
das coronhas; em outra, das molas, e assim
sucessivamente, dificultando até mesmo os
trabalhos da Polícia Judiciária.
Figura 18. Carregadores das submetralhadoras.
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Figura 19. Coronhas como no projeto industrial.
Figura 20. Munições de diversos calibres (uma
de .50).
Em uma das etapas da investigação, fora
constatada a utilização de máquina de corte de
metal a laser, ou seja, foi percebido o trabalho de
uma indústria não identificada.
Figura 21. Vídeo em que uma máquina de corte a
laser de alto custo é utilizada para fazer os cortes das
laterais das submetralhadoras e em alta velocidade.
Dos dados cadastrais em outros órgãos estatais
– fontes abertas (open source intelligence)
No caso apresentado, após cruzamento de
informações existentes tanto no aparelho de
telefonia móvel quanto em fotos e a descoberta de
empresas, foram solicitadas ao Ministério do
Trabalho e Emprego informações com o rol de
funcionários das empresas investigadas; e a quebra
de dados cadastrais às empresas de telefonia
móvel. Também foram buscadas informações em
fontes abertas inteligentes, como na Junta
Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), no
Google, na Receita Federal e no Facebook; e fontes
fechadas inteligentes.
Estratégias de atuação – estudo de dados –
documentos coletados – planejamento
Através da análise documental podemos
identificar grupos, seus membros, líderes, modus
operandi e, principalmente, como gastam seus
lucros criminosos, em que nomes figuram seus
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patrimônios e onde podem ser encontrados, a fim
de que se possa efetuar prisões, e, também,
solicitar o sequestro de seus bens. (QUEIROZ,
2002, p. 266)
Investigação de uma organização criminosa –
Legislação – Poder Judiciário – Ministério
Público – Polícia – Medidas legais – Meios de
provas
Durante a atuação dos investigadores, foram
realizados:
• campana, com fotos e filmagens
• obtenção de documentos, como Relação Anual
de Informacoes Sociais (RAIS), fornecidos pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, pela Junta
Comercial e por dados cadastrais em empresas
de telefonia
• busca e apreensão de armas, dinheiro,
computadores e outros objetos relacionados ao
crime
• depoimentos
• prisões temporárias e preventivas
O trabalho resultante da investigação permitiu a
identificação de um comprador de
submetralhadoras conhecido apenas pelo apelido
que constava em conversas com o vendedor.
Do processo penal e sigiloso
É importante ressaltar a necessidade do sigilo nas
investigações contra o crime organizado, pois,
durante o cumprimento de buscas, fora constatado
que, dias antes, um dos locais fora invadido por outras
forças policiais à procura de submetralhadoras.
Busca e apreensão – objetos da busca – atuação
policial – participação de outros órgãos de
persecução – idoneidade da prova – análise do
material apreendido
O conjunto de materiais apreendidos e as provas
observadas demonstraram tratar-se de uma grande
organização criminosa, na qual o infrator preso
inicialmente, com plena anuência de funcionários
de diversas empresas, fornecia armamentos ao
crime organizado nacional, haja vista as fotos
armazenadas no notebook nas quais havia diversos
armamentos apreendidos em outros estados
brasileiros. O indiciado armazenava inclusive
noticiário de homicídio com referência ao calibre
utilizado pelas forças policiais consubstanciado
com os dados cadastrais de números de origem no
estado do Rio de Janeiro, demonstrando a efetiva
compra e venda de armamentos para outra unidade
federativa, caracterizando o tráfico interestadual de
armas de fogo.
O conjunto de materiais analisados
comprovaram que, após a realização de projetos
industriais e o seu repasse a terceiros, torna-se
difícil controlar a fabricação em território nacional,
pois este projeto industrial desenhado em
ferramentas inteligentes facilita a fabricação de
armas de fogo de diversos calibres em qualquer
empresa com maquinários industriais no Brasil.
Assim, foram sugeridas à autoridade policial
medidas cautelares emergenciais necessárias para
neutralizar a organização criminosa, pois até
mesmo as forças policiais não são autorizadas a
utilizar metralhadora do calibre .50, ficando, assim,
em desvantagem com o crime organizado.
Foi realizada operação com um total de 25 alvos,
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dos quais quatro eram empresas e os demais, sócios
destas, constituindo-se de funcionários e pessoas
que se relacionavam com o infrator principal.
Fora apreendido nesta etapa mais uma
submetralhadora e duas espingardas calibre .12 de
fabricação caseira. Além disso, foram descobertas
outras pessoas que até então não estavam
identificadas.
Foi realizada a busca nas empresas,
acompanhadas por um perito da Polícia Técnico-
Científica que realizou laudos indicando quais
maquinários seriam utilizados para confeccionar
peças de determinadas armas.
O subdesenvolvimento como gerador da
criminalidade
Se o desenvolvimento é um processo de
construção em uma sociedade trabalhadora, as
ações criminosas funcionam como uma espécie
de “antidesenvolvimento”, destruindo relações
sobre as quais a sociedade é baseada. O crime
interfere diretamente na economia do País,
provocando estagnação econômica, e com ela, o
subdesenvolvimento. Criminalidade e economia
enfraquecida são dois fatores de maior
insatisfação da população, porque são causas
principais do subdesenvolvimento.
(MENDRONI, 2016, p. 505)
A utilidade econômica da delinquência
As submetralhadoras eram vendidas por valores
entre R$ 3.000,00 e R$8.000,00, gastando-se em
torno de R$ 500,00 para a sua confecção.
Determinado alvo chegou a encomendar mais de
50 armamentos.
Gestão da violência institucionalizada
O governo deve observar como o avanço
tecnológico é constante na sociedade industrial
atual e como novos aparatos tecnológicos podem
ser usados pelo crime organizado, tais como
impressoras 3D, que podem ser utilizadas inclusive
para fabricar armas modernas, haja vista que a
maior parte destas é feita por polímeros. Deve-se,
assim, buscar uma maior fiscalização em empresas
que possuem máquinas industriais e que podem ser
utilizadas pelo crime organizado. No caso
discutido no presente artigo, o infrator fora
colocado no presídio onde está o crime organizado
e, em sua soltura, pode muito bem receber
investimentos e criar uma indústria semelhante à
investigada no presente caso.
IV. CONCLUSÃO
Foi desenvolvida ao longo deste artigo uma
análise de um caso de Polícia Judiciária em que são
extraídos diversos conceitos da criminologia.
Tratava-se de uma rede organizada cuja tarefa
principal era a fabricação de armas de qualidade,
sendo confeccionadas em empresas que forneciam
mão de obra especializada.
O caso apresentado demonstra como a
revolução tecnológica, ainda em andamento, pode
fomentar atividades não esperadas pelos
responsáveis pelo desenvolvimento industrial.
Assim, este artigo relata um caso real para que
gestores da segurança pública comecem a ter
atenção para uma modalidade criminosa (fabricação
de armas), que deve aumentar nos próximos anos.
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V. AGRADECIMENTOS
Agradeço à Associação Brasileira de Criminologia
(ABCrim) pela oportunidade de ter participado no II
Simpósio Brasileiro de Criminologia Forense realizado
na Sede da Ordem dos Advogados do Brasil – Unidade
Federativa no Estado do Espírito Santo (ES).
Agradeço ao Presidente da ABCrim, o Sr. Francisco
Geraldo Fernandes de Almeida pela oportunidade de
participara novamente de mais um Simpósio.
Agradeço ao Sr. Valter Lacerda de Aguiar pela
parceria nos eventos acadêmicos de Criminologia.
Parabéns aos membros da ABCrim pela sublime
atitude com o implemento da Criminologia no mundo
acadêmico. Atitude maior não há.
Por fim, agradeço aos palestrantes e participantes do
Simpósio, pela possibilidade de compartilhar ideias com
a comunidade acadêmica.
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2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal); revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de
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UTILIDADE DA TECNOLOGIA DE RECONHECIMENTO AUTOMÁTICO DA
EXPRESSÃO FACIAL APLICADA NA ANÁLISE DA CONDUTA
CRIMINAL. UM ESTUDO DE CASO.
Sergio Pacheco1, Rafael Pérez2, Juan Soto Castro1, Anderson Tamborim3, Alicia Juárez1
1 Polícia Nacional Espanhola. Sección Análisis de Conducta (SAC)
2 Fundación Universitária Behavior & Law,
3 Social Intelligence Group
Resumo – Com o presente estudo se trata de validar
a incorporação do uso de nas novas tecnologias
especializadas no reconhecimento da expressão
facial, ao âmbito do estudo da conduta criminal.
Fruto da colaboração de dois mundo distintos mas
totalmente complementares como são o campo
acadêmico-investigador e o campo aplicado, surge a
possibilidade de implementar o uso do software de
codificação facial que automatiza a descriminação
das denominadas Unidades de Ação na face de
indivíduos de um caso concreto selecionado pela
unidade policial encarregada de realizar estudos de
comportamento não verbal. Através da confrontação
dos resultados extraídos pelos analistas do SAC
frente aos resultados inferidos pelo software de
reconhecimento automático, chega-se a conclusão de
que o mesmo pode ser de grande utilidade, porém
sendo supervisionados por analistas experientes.
Palavras-chave – Comportamento não verbal,
Estudo Comparativo, Investigação Policial
Abstract – This study aims to validate the
incorporation of the use of new technologies
specialized in the recognition of facial expression in
the scope of the study of criminal conduct. As a result
of the collaboration of two distinct but totally
complementary worlds, such as the academic-
researcher field and the applied field, the possibility
arises to implement the use of facial coding software
that automates the discrimination of the so-called
Units of Action on the faces of individuals in a case.
selected by the police unit responsible for conducting
non-verbal behavior studies. Comparing the results
obtained by the analysts of the SAC against the
results inferred by the automatic recognition
software, it is concluded that it can be very useful,
but being supervised by experienced analysts.
Key-Words – Nonverbal Behavior, Comparative
Study, Police Investigation
I. INTRODUÇÃO
A análise do comportamento não verbal tenta
vislumbrar o que uma pessoa pensa, o que a motiva
e o que sente, através dos três processos básicos
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psicológicos de maior interesse: a cognição, a
motivação e a emoção (López, Gordillo, & Gran,
2016). A presente investigação se centra no último
deles, em um intento de analisar o que nos dizem
as emoções sobre o que estamos sentindo, se
existem maneiras de avaliar exteriormente, a partir
de um observador alheio à situação estas ditas
emoções e se as mesmas podem ser igualmente
identificadas e avaliadas por um analista treinado
e/ou por um software especializado.
Como lembram Fernandez-Abascal, Jimenes &
Martin (2003), as emoções se entendem como um
“processo que implica uma série de condições
desencadeantes (estímulos relevantes), a existência
de experiências subjetivas ou sentimentos
(interpretação subjetiva), diversos níveis de
processamento cognitivo (processos avaliadores),
alterações fisiológicas (ativação) e padrões
expressivos e de comunicação (expressão emocional)
que tenham seus efeitos motivadores (mobilização
para ação) e uma finalidade: A adaptação a um
entorno em constante alteração” (p.50).
Com respeito a estes padrões expressivos de
comunicação, os mesmos tomam um papel
fundamental em cumprimento de sua função social,
em quanto permitem tanto a transmissão das
emoções e sentimentos a outros interlocutores,
como, por outro lado, serem capazes de reconhecê-
los, tudo isso sem que haja necessidade de
desenvolver capacidades extras a àquelas que já
trazemos naturalmente(1).
A partir de nossa percepção, a interpretação do
mundo, em geral, e o reconhecimento das emoções
em particular, esta determinada pela interação e a
estrutura biológica do cérebro e a experiência que
modifica esta estrutura.
Dentro dos múltiplos canais de expressão das
emoções, a expressão facial tem sido
provavelmente o canal expressivo mais presente na
investigação científica, considerada por sua vez
como a principal via de comunicação das
experiências emocionais voluntárias e
espontâneas, tendo um papel fundamental nas
interações sociais por ter uma influencia de via de
mão dupla, por um lado enquanto possui sua
capacidade de modular o nível de intensidade
gerado pelo emissor e por outro contagiar com
aquela emoção o receptor, convertendo-se em um
poderoso transmissor de sentimentos (Frith, 2009).
A importância desde o âmbito cientifico deu a
expressão facial da emoção foi outorgada à própria
evolução das investigações levadas a cabo.
Iniciando nos anos sessenta com números estudos
(RW Buck, Savin, & Miller, 1972; Ekman &
Friesen, 1971, Tourangeau & Ellsworth, 1979;
Zuckerman, Hall, DeFrank, & Rosenthal, 1976),
passando pelos anos oitenta que aprofundou em
diferentes aspectos como a assimetria dos
movimentos faciais estudada no campo da
detecção de mentiras quanto para discernir entre
expressões espontâneas das deliberadas (Ekman,
1980, Ekman, Hager, & Friesen, 1981) , estudos
relancionando entre a dita assimetria com a
implicação diferencial entre os hemisférios
cerebrais e com o processamento emocional
(Borod, Caron, & Koff, 1981; Bruyer, 1981; R.
Buck, 1980; Moscovitch & Olds, 1982), a inibição
social da expressão facial como representação do
comportamento em presença de outras pessoas
(Yaczower & Daruns, 1982), implicações do
estudo da dor (Craig & Patrick, 1985; Leresche &
Dworkin, 1984), a teoria do feeback facial (Duclos
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et al. 1989), diferentes usos no campo da influencia
e atração com relação aos outros (Mueser, Grau,
Sussman, & Rosen, 1984; Muller et al., 1986), até
finalmente chegar a década de noventa até nossos
dias atuais, onde se estudam os déficits na
percepção e expressão das emoções (Cornellá &
Llusent, 2003, Rourke, 1995; Torgeson, 1993),
novos havais na teoria do feedback facial
(Hennenlotter et al., 2009; Mojzisch et al., 2006;
Schilbach et al. 2006; Schilback, Eickhoff,
Mojzisch, & Vogeley, 2008) interpretando a
expressão das emoções como um potencializador das
mesmas (se ficamos irritados e colocamos uma
expressão facial de raiva, ficaremos ainda mais
raivosos), assim como as inferências realizadas,
errôneas ou não, sobre traços de personalidade
através da expressão facial (Bar, Neta, & Linz, 2006;
Knutson, 1996), inclusive em campos aplicados
como a percepção de juízo sobre personalidade de
políticos (Olivola & Todorov, 2010).
A criação de sistemas de codificação
específicos para medir expressões faciais tornou-se
um ponto de partida para uma infinidade de novas
linhas de investigação. Estes mesmos sistemas
proporcionaram a classificação da expressão facial
em função do ponto de vista subjacente de cada um
dos observadores.
Deste modo podemos falar de sistemas como o
FACS (Ekman & Friensen, 1978), FAST (Ekman,
Friesen, & Tomkins 1971), EMFACS (Friesen &
Ekman, 1983), FACSAID (Hager, 2003), e MAX
(Izard, 1979), onde as emoções são consideradas
como entidades discretas independentes umas das
outras ou membros de uma dimensão global na
qual situariam todas elas, destacando autores deste
enfoque categorial como Darwin (1872), Tomkins
(1862) com sua teoria do feedback facial, Ekman
& Friesen (1978), e Izard (1979). Em contra
partida, outros sistemas como o FACES (Kring &
Sloan, 2007), se situariam em conceitos do enfoque
dimensional, onde as emoções se posicionam em
um ponto de um continuo determinado por
aspectos como a valência (entre prazer e
desprazer), arousal ou ativação (entre ativação e
desativação) e controle (entre situação sentida
como totalmente controlada pelo sujeito e situação
sentida como totalmente incontrolada pelo sujeito).
Existem estudos levados a cabo com o software
utilizado no prezado artigo, FaceReader (Noldus,
2014), em diferentes campos do conhecimento,
como psicologia social (Chentsova-Dutton & Tsai,
2010), as ciências do comportamento do
consumidor (Chan, Boven, & Andrade, 2014), ou
o mundo publicitário (Lewinski, Fransen, & Tan,
2014), onde testaram o uso de programas de
computador para o estudo da expressão facial da
emoção, porém não existem tantas investigações
no âmbito criminológico, a o que o presente artigo
deseja contribuir com a validação das ferramentas
citadas acima
Tem sido considerado importante a partir do
âmbito policial (Magariños, 2015) a promoção de
investigações sobre comportamentos não verbais
através de projetos de colaboração acadêmica que
possam materializar-se no desenvolvimento de
estudos de campos que consigam implementar os
resultados obtidos na metodologia já existente
pelas unidades de policias especiais, já que, ao
contrário da crença popular de que os policiais
possuem uma capacidade especial para detectar
mentiras, nenhum estudo demonstrou que os
agentes sejam melhores que qualquer outra pessoa
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na rua na hora de distinguir interlocutores
mentirosos dos sinceros (Akehurst, Kohnken, Vrij,
& Bull, 1996; de Paulo & Pfeifer, 1986; Garrido,
Masip, & Herrero, 2004; Vrij, 2008).
Portanto, são diferentes os campos de
conhecimento onde foi testada a ferramenta
FaceReader (FR) para a codificação da expressão
facial da emoção. Igualmente se tem refletida a
importância da colaboração entre o mundo
acadêmico e o mundo profissional. Por tudo isso, é
muito interessante o estudo a seguir, para que os
resultados obtidos se possam repercutir de maneira
direta no trabalho diário dos analistas de conduta
criminal.
II. MATERIAIS E MÉTODOS
A hipótese de partida será que a análise
realizada com a ferramenta informática de
codificação facial coincidirá com a análise
realizada pelos especialistas da Sessão de Análise
de Conduta da policia nacional da Espanha.
Para a presente investigação foi recorrido o
estúdio do comportamento realizado por analistas
da Seção de Análise de Conduta (SAC) sobre uma
vídeo-reconstituição judicial feita no ano de 2015,
com uma duração total de seis minutos e vinte e
cinco segundos.
Na reconstituição o protagonista nas imagens
narra a realização de um roubo violento e posterior
assassinato de uma turista que se encontrava
realizando o Caminho de Santiago, após confessar
ser o autor dos feitos em presença da Comissão
Judicial, pelo qual foi condenado posteriormente
em Juízo Oral à soma de 23 anos de prisão.
Os analistas da SAC levaram a cabo o estudo
mediante uma ferramenta de trabalho denominada
Protocolo NBAM (López, Gordillo, & Soto 2016).
Este protocolo se baseia em uma matriz na qual se
cruzam diferentes fontes de dados que se vão
estruturando ao longo de cinco níveis, numerados
desde o nível 0 até o nível 4. Para a presente
investigação, levou-se somente em conta a fase do
nível 1, que corresponde a codificação da
expressão facial para que se possa comparar com
os resultados obtidos pelo FaceReader.
Vale lembrar que referente ao nível do
protocolo NBAM no qual centrou-se a codificação
(Nível 1: Dados), em nenhum momento foram
incluídos opiniões sobre o observado, senão única
e estritamente dados referentes a expressão facial
registrada nas imagens, posto que o objetivo
principal era enfrentar os dados obtidos pelos
analistas da SAC frente aos codificados pelo
software automático.
Os dados que se registram sobre expressão
facial são denominados Unidades de Ação (AU),
que são realizadas por um ou vários músculos que
estão em contração ou relaxamento (Fernadez-
Abazcal & Choliz, 2001). Este sistema pode
codificar praticamente qualquer expressão facial
possível através de sua desconstrução em Unidades
de Ação facial e seus segmentos temporais. As
AUs são independentes de qualquer interpretação,
o que proporciona ao sistema uma alta utilidade
para o âmbito cientifico.
Na Figura 1 a seguir se observa como se
realizou o estudo por parte dos analistas com ajuda
da matriz do protocolo NBAM. Cada fotograma
analisado é adicionado gerando uma nova fileira de
dados, especificando sempre a verbalização
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associada ao mesmo e uma descrição da conduta
facial observada em forma de unidades de ação.
Figura 1. Dados do Protocolo NBAM
A análise realizada através do computador foi
feita usando o software FaceReader (Noldus,
2014), em sua sétima versão. Em investigações
prévias já se alcançava até 89% em precisão de
reconhecimento com as seis emoções básicas (den
Uyl & van Kuilenburg, 2005), aspecto igualmente
validado em estudos posteriores (Lewinski, den
Uyl, et al. 2014), valores que podem se ajustar
muito bem à capacidade de reconhecimento de
emoções na expressão facial (Nelson & Russel,
2013; Russell, 1994).
O software trabalha em três fases, começando
pela detecção do rosto da pessoa que irá avaliar,
identificando posteriormente os pontos chave ao
largo da face (Figura 2) que contrasta com os de
um modelo tridimensional (Cootes & Taylor,
2004) e por ultimo classificando a face com o
modelo de emoção identificada. O Software pode
dar um resultado triplo de classificação como, uma
emoção propriamente dita entre as seis emoções
básicas, uma face neutra, ou como uma imagem na
qual se possa identificar o rosto sem que se faça
qualquer análise (por exemplo pelo fato da face
analisada estar em ângulo em que o software não
consiga mapear tridimensionalmente).
Figura 2. Fotograma de Análise com FaceReader 7.1
A ferramenta avalia cada frame do vídeo com
um range numérico de 0 a 1, significando aqueles
valores mais altos (os mais próximos da unidade) a
maior probabilidade de estar experimentando a
emoção descrita e vice-versa, baixas pontuações
estariam indicando uma baixa probabilidade de que
dita emoção esteja sendo sentida pela pessoa objeto
da análise.
Em primeiro lugar, para a composição da matriz
do protocolo NBAM se realizou uma seleção dos
fotogramas mais relevantes, segundo o critério dos
analistas da SAC, com base a aqueles momentos onde
resultava mais interessante observar se o conteúdo
verbalizado pelo protagonista das imagens resultava
congruente ou não com o que era expressado em nível
facial, isto é, selecionando aqueles frames de vídeo
mais conflitantes e convenientes em um hipotético
informe de comportamento não verbal solicitado pelo
grupo investigador do caso para a autoridade judicial
apropriada.
Uma vez extraídos os fotogramas, os mesmos
foram codificados através de unidades de ação facial
por um primeiro analista designado para o caso.
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Posteriormente, os resultados foram revisados por
um segundo especialista durante a realização de
laudos sobre comportamento não verbal.
Em segundo momento, o analista encarregado
da codificação facial informatizada realizou a
mesma análise utilizando o FaceReader,
destacando aquelas partes onde o rosto da pessoa
objeto de estudo era discriminado e analisado.
Finalmente, a matriz resultante fruto das
avaliações dos analistas da SAC foi confrontada
com a codificação efetuada pelo FR.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em vista dos resultados obtidos, os mesmos se
enquadram em dois grandes blocos para uma
melhor interpretação a posteriori.
Por um lado, temos fotogramas onde os
analistas codificavam unidades de ação enquanto o
FR não o fazia (Figura 3), e outros casos onde o
processo era o inverso, isto é, o programa
codificava a expressão enquanto os analistas não
consideraram aquele fotograma relevante como
objeto de estudo.
Figura 3. Matriz de discrepância Analista vs FR
Por outro lado, temos outro grande bloco onde
tanto analistas quanto FR coincidiram na seleção
do fotograma objeto de estudo. Para isso, se
construiu uma matriz, denominada matriz de
discrepâncias, onde se colocaram em comum os
resultados dos analistas e do FR.
Nesta matriz, os resultados foram igualmente
dispares, observando-se como tônica geral que o FR
discriminava maiores quantidades de unidades de ação
que os analistas, especialmente aqueles fotogramas
onde a qualidade da imagem não era tão boa.
IV. CONCLUSÃO
Levando em conta a hipótese de partida de que
as analises realizadas com a ferramenta FaceReader
coincidiram em sua maior parte com aqueles feitos
pelos especialistas da SAC, cabe dizer à luz dos
resultados, que o software se mostra, naqueles
segmentos do vídeo onde coincidem as codificações
com dos analistas, como uma ferramenta
inestimável para o analista dada sua maior
capacidade de discriminação de unidades de ação.
Também é importante ter em mente uma série
de limitações técnicas que se encontraram e que
deveriam ser levadas em conta em estudos futuros,
assim como melhorias para futuras versões do
software para que se possa ser potencializado
[Figura 4]. Entre estas limitações, destacam-se a
necessidade de delimitar um tipo de plano
especifico onde o programa realize a analises de
forma continuada e sem interrupções, já que no
caso do estudo nem sempre se analisava a imagem
independente do tipo de plano em que se estava
filmando. Fruto da limitação anterior, se vê
fotogramas de plano frontal onde se ve o rosto com
total nitidez, porém não existem codificações (1), e
outros onde a pessoa se encontra lateralmente e se
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consegue codificar as unidades de ação (2). Outra
dificuldade observada é a necessidade de manter a
imagem limpa de ruídos ou contaminações em
forma de outros rostos de outras pessoas que
possam aparecer na gravação. Em algumas
situações o programa passava a analisar o rosto de
terceiros que estavam presentes no fotograma ao
invés da pessoa objeto de estudo (3). E finalmente
alguns momentos onde o software acreditava estar
observando e codificando um rosto quando na
verdade era um ombro (4).
Figura 4. Limitações encontradas
AGRADECIMENTOS
À Sessão de Análise de Conduta da Policia Nacional
da Espanha pelo trabalho árduo na avaliação a conduta
delitiva e seus estudos em associação com a Conduta
Não Verbal. À Fundação Universitária Behavior & Law
pelo amplo trabalho de divulgação científica assim
como por ter gerado tão interessante trabalho científico.
Parceria Brasil x Espanha. Ciência e Justiça.
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DA RESPONSABILIDADE PENAL NOS CRIMES COMETIDOS COM
EXCESSO DO AGENTE POLICIAL NA INFILTRAÇÃO POLICIAL
Chiodi Pinto Mônica1
1Especialista em Investigação Forense e Perícia Criminal e em Direito Penal e Processo Penal, Sinop, Mato Grosso
Resumo – O objetivo foi trazer reflexões sobre a
responsabilidade do agente infiltrado, tendo como
base a motivação que leva a investigação policial
adotar estratégia de policial, civil ou federal atuando
junto ao Crime Organizado como se dele fosse parte,
com o propósito de obter informações praticando atos
tipificados no direito penal como crime, mas que em
função de sua ação policial podem invocar a proteção
de seus atos pela prática justificada pela própria
natureza da operação policial como agente infiltrado.
Na legislação brasileira, o dispositivo legal que dá
sustento a ação policial infiltrada nas Organizações
Criminosas, com objetivo de desmantelamento e
produção de provas é regulamentada pela Lei nº
11.343/2006, Lei de Drogas e pela Lei nº 12.850/2012,
Lei do Crime Organizado. A análise em abordagem,
tem por prioridade trazer a responsabilidade penal do
agente infiltrado, consoante os crimes praticados com
excesso em razão da sua condição de agente infiltrado.
Traz a análise da Lei nº 12.850/2013, que dispõe sobre
as Organizações Criminosas, delimitando os
principais pontos, com o propósito de esclarecer as
inovações trazidas pela lei e, com essa base, ressaltar a
responsabilidade e critérios estabelecidos ao que
compete ao agente infiltrado. A discussão versa sobre
a possibilidade do agente infiltrado cometer ilícito
penal e ter a lei que ampara a excludente de ilicitude,
por vez em decorrência do desempenho como agente
infiltrado, mas que em muitos casos é meio para
macular o crime cometido em excesso.
Palavras-chave – Crimes com excesso; Investigação
Criminal; Responsabilidade Penal.
Abstract – The bring reflections on the responsibility
of the undercover agent, based on the motivation that
leads the police investigation to adopt a strategy of
police, civil or federal acting with the organized crime
as if it were part, for the purpose of obtaining
information by practicing acts typified in criminal law
as a crime, but that according to his police action can
invoke the protection of his acts by the practice
justified by the very nature of the police operation as
agent Undercover. In Brazilian legislation, the legal
device that sustenance the police action infiltrated in
criminal organizations, with the objective of
dismantling and production of evidence is regulated
by Law n. 11.343/2006, Drug Law and by Law n.
12.850/2012, Law of Crime Organized. The analysis in
approach has as priority to bring the criminal liability
of the undercover agent, depending on the crimes
committed with excess due to its condition of
undercover agent. It brings the analysis of the Law n.
12.850/2013, which provides on the criminal
organizations, delimiting the main points, with the
purpose of clarifying the innovations brought by the
law and, with this basis, to emphasize the
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responsibility and criteria established to what the
undercover agent. The discussion deals with the
possibility of the undercover agent committing illicit
criminal offences and having the law that ampoints the
excludent of illegality, at a time due to performance as
an undercover agent, but in many cases it is a means to
macular the crime committed in excess.
Key-Words – Excessive Crimes; Criminal
investigation; Criminal Liability.
I. INTRODUÇÃO
O objetivo geral deste trabalho é analisar a
Infiltração Policial como meio de Combate ao
Crime Organizado, refletindo sobre a
responsabilidade dos crimes cometidos em excesso
pelo agente infiltrado nas organizações criminosas.
Na delimitação do tema levanta-se o seguinte
problema: Os crimes eventualmente cometidos por
um agente infiltrado em organizações criminosas
são punidos criminalmente?
Para o equacionamento do problema levanta-se
a seguinte hipótese: Os crimes eventualmente
cometidos por um agente infiltrado em
organizações criminosas são punidos
criminalmente quando praticados com excesso.
II. METODOLOGIA
A metodologia de pesquisa teve por base a
pesquisa indutiva do tipo bibliográfica com base
em leis, doutrina e jurisprudência, a fim de
compreender a juridicidade do agente infiltrado e
os limites para a tipificação penal nos crimes
cometidos com excesso.
III. REVISÃO DE LITERATURA
A infiltração do agente é um dos meios
instrumentais que o direito brasileiro tem adotado
a fim de coletar e produzir provas para desmantelar
as organizações criminosas, usando de um agente
policial para fazê-lo. [1]
No ordenamento jurídico penal brasileiro há
diversidade de institutos que compõem e são regidos
por lei para que haja o colhimento de provas e com
o objetivo de resolver conflitos e para embasar com
fundamentos jurídicos e legais a ação dos órgãos
jurisdicionados, o que nem sempre é fácil diante da
dificuldade de produção de provas. [2]
O direito penal possui diversidade de leis
esparsas que a cada natureza típica do delito produz
meios de obtenção e procedimentos que justificam
e procuram se embasar no princípio da legalidade e
nos modelos de contraditório e de ampla defesa a
fim de solucionar conflitos e trazer a punibilidade
de poder estatal proporcional a cada tipo de crime
cometido sem sobrepor a pessoalidade do réu. [1]
No entanto, nos crimes em que a organização
criminosa está presente, a obtenção de provas e a
instrumentalidade legal nem sempre logra êxito,
considerando a complexidade da própria natureza
da operação e pela fidelidade de seus membros e os
resultados caso algum membro decida deletar e
corroborar com a polícia, assim sendo, o Estado
institui meios que possam ser instrumentos de
investigação criminal, consagrando como instituto
jurídico pela qual é possível instituir no modelo de
agente infiltrado dentro da Organização Criminosa
e este agir como se dela fosse, mas com o propósito
de contribuir com a investigação e desmantelar a
própria organização. [3].
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Esse instituto munido de juridicidade é apontado
pela Lei nº 11.343/2006, Lei de Drogas, e pela Lei
nº 12.850/2013, Lei do Crime Organizado, obtendo
em seu teor a previsão da infiltração policial nos
crimes que decorem da conduta característica do
comércio de drogas e das relações que configuram a
Organização Criminosa. [3].
De acordo com Masson [4] o apontamento
compreendido pela doutrina quanto as técnicas
especiais de investigação, são indicadas a
infiltração de agentes como meio de colhimento de
informações que possibilitam contribuir com as
investigações nas organizações criminosas, e as
características desse agente infiltrado são:
A dissimulação, ou seja, a ocultação da condição
de agente oficial e de suas verdadeiras intenções;
o engano, posto que toda a operação de
infiltração se apoia numa encenação que permite
ao agente obter a confiança do suspeito; e,
finalmente, a interação, isto é, uma relação direta
e pessoal entre o agente e o autor potencial. [4]
Essa atuação policial, mesmo que por
autorização judicial, gera discussões e
compreensão com base nos institutos jurídicos já
consagrados, sendo levando discussões sobre
critérios de direito e seu alcance como
determinante na conduta humana, sendo apontado
por Masson [4], o avanço dos conceitos dentro da
criação de leis que instituem e autorizam a
infiltração de agentes policiais, apontando a
revogada Lei nº 9.034/1995, que continha a
descrição no seu art. 2º, inc. V, “estabelecia ser
possível, em qualquer fase de persecução criminal
que versasse sobre ação praticada por organizações
criminosas”, ou seja, “infiltração por agentes de
polícia ou de inteligência, em tarefas de
investigação, constituída pelos órgãos
especializados pertinentes, mediante
circunstanciada autorização judicial”. [4]
No sentido da lei brasileira, com a Lei nº
9.034/1995 era permitido que houvesse a
infiltração de agente policial desde que fosse
autorizada, com o objetivo de contribuir com a
investigação criminal contra as organizações
criminosas, sendo que na Convenção das Nações
Unidas contra, na tentativa de coibir as práticas do
Crime Organizado Transnacional (Convenção de
Palermo), o dispositivo legal indica que a
investigação criminal com o uso de agente
infiltrado indicaria o procedimento de técnicas
especiais de investigação, sendo descrito como
“operações de infiltração” conforme o artigo 20, no
item 1, da Convenção das Nações Unidas. [5]
Similarmente, o texto legal da Lei 11.343/2006,
constante no art. 53, inc. I, trouxe de modo mais
detalhado, a infiltração de agente policial, podendo
ocorrer em qualquer momento da persecução penal,
ou seja, não importando a fase em que a investigação
se encontrava, mas sim, havendo a autorização pela
lei de dispor de agente infiltrado, com foco aos
crimes previstos na Lei de Drogas, necessitando que
fosse autorizada por decisão judicial, bem como pela
oitiva do Ministério Público. Nesse aporte, trazida
pela denominada lei, indicava em seu texto legal
que: “a infiltração por agentes de polícia, em tarefas
de investigação, constituída pelos órgãos
especializados pertinentes”. [6]
A Lei nº 9.034/1995 e a Lei nº 11.343/2006, não
trataram com especificidade da infiltração quanto
aos detalhes necessários para deixar claro a postura
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do agente e deixando de especificar os critérios e as
ações de modo claro, o que com a inovação trazida
pela Lei nº 12.850/2013, buscou abrange a questão
do crime organizado, estruturando todas as suas
características e situações que vinham sendo
praticadas, mas que a lei obtinha brechas, sendo
indicada a Lei do Crime Organizado, como uma
inovação e melhora quanto ao sentido de buscar a
produção de provas, trazendo detalhamento quanto
a infiltração de policiais, com enfoque a investigação
criminal, concedendo a interpretação e importância
como meio especial de obtenção de provas e
desmantelamento das organizações criminosas. [4]
O avanço legislativo, trouxe a regulamentação
desses procedimentos tidos como especiais, assim
sendo, com a Lei do Crime Organizado, o agente
infiltrado possui amparo e especificação sobre a
sua legitimidade na atuação para os procedimentos
de investigação criminal, trazendo para o direito
um mecanismo que procurou se adequar as
necessidades já tentadas pelas leis anteriores, mas
que com essa inovação trazida pela lei, inseriu
detalhes de como pode proceder e quem tem
legitimidade, além de tratar dos crimes que podem
haver a exclusão da punibilidade dos casos que o
agente em procedimento de colhimento de provas
e informações, pode não ser responsabilizado caso
venha a cometer o crime em razão de não ser
descoberto pela organização criminosa. [2]
Há divergências doutrinárias quanto a conduta
ser ou não adequada a ética, que ao infiltrar o
agente, o Estado estaria numa tentativa de
produção e de incitação ao crime, ou ainda, quanto
o envenenamento das provas, pois seriam
produzidas diante de eventos que não seria de fato
concretizados pela forma como o agente inserido
estaria presenciando e não seria absoluto afirmar os
fatos pois a ação de punibilidade decorre da
consumação, ficando confuso quanto a esse
sentido. [7]
Nos dizeres de Juarez Cirino dos Santos [6],
essa modalidade de técnica de colhimento de
informações e produção de provas, que utiliza da
figura do agente infiltrado, poderia ser considerada
como uma conduta que viola o princípio da ética,
onde a previsão é vedada a imoralidade na atuação
decorrente do próprio Estado.
A figura do agente infiltrado em quadrilhas ou
organizações e/ou associações criminosas, como
procedimento de investigação e de formação de
provas, com a inevitável participação do
representante do poder em ações criminosas
comuns, infringe o princípio ético que proíbe o
uso de meios imorais pelo Estado para reduzir a
impunidade. [6]
Noutro sentido, Antonio Magalhães Gomes
Filho [8], remete a interpretação dada a
possibilidade de que esse agente pudesse ser
influenciado pelas dificuldades da profissão e nos
mais variados casos, pela diferença de ganhos no
ilícito e pelo desenvolvimento de sua profissão que
é perigosa e com remuneração diferente aos lucros
que o crime ínsita, teorizando sobre os perigos
desse agente infiltrado cometer e agir de forma
cooperativa para fomentar o crime organizado.
Contrapondo a interpretação que indica a
discordância sobre a Lei nº 12.850/2013, Eugênio
Pacelli [9], entende que as normas contida nos
dispositivos bem como a sua matéria e seu alcance
podem ser consideradas como excessivas, e não
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corresponde ao discurso estatal de um Estado de
Direito, pois vai contra o artigo 37 da Constituição
Federal que preceitua sobre a moralidade
administrativa, e ao fazê-lo, uma vez autorizada
pelo próprio Estado, em função da lei que
disciplina e pela autorização do agente infiltrado,
considera que a conduta é imoral, contrário ao
princípio administrativo
Na concepção de Rogério Sanches Cunha e
Ronaldo Batista Pinto [10], consideram que a
infiltração do agente traz alguns pontos complexos
dentro da própria essência do direito, quando refere
a imparcialidade do juiz e o respeito ao
contraditório e ampla defesa.
No apontamento contrário, a justificativa que se
pretende e se promove é de que os casos que
envolvem as organizações criminosas transcendem
a moralidade, e pautar-se apenas nessa questão,
diante dos procedimentos tradicionais que não
conseguem desmantelar essas organizações, o
próprio poder e dever do estado em proteger os
cidadãos estaria sendo questionado, pois, na
mensuração dos danos que as organizações
criminosas expõe a sociedade, por vezes é
complexo tratar de qual seria a preferência entre as
questões de moralidade e de efeitos devastadores
no campo social e no poder do próprio Estado. [7]
Contudo, a legislação veio de encontro com a
realidade criminal vivenciada no Brasil, trazendo
por meio legal a infiltração de agente com a
autorização do Estado, para que possa contribuir
com a nova técnica de investigação para
desmantelar as organizações criminosas, sendo
descrito no tópico que segue, a definição dada pela
doutrina e as características regulamentadas em lei,
sobre o agente infiltrado. [7]
2.1 Definição de agente infiltrado
A definição de agente infiltrado indica a postura
de um agente policial que recebe a autorização e é
alocado dentro de uma organização que pratica atos
ilegais, configurados na legislação como crime e
suas mais diversas condutas que levam ao direito de
punição estatal, agindo com base no propósito de
descobrir a conduta, os atos práticas e informações
sobre a operação e os envolvidos, concedendo as
autoridades policiais informações de dentro dessa
organização, agindo como se fosse um integrante da
própria organização, mas com a finalidade
justificada pelos seus atos ilícitos, cometido a fim de
não ser descoberto e não prejudicar o andamento de
toda a investigação policial.[4]
Na visão de Masson [4] o agente infiltrado pode
ser compreendido da seguinte forma:
A infiltração de agentes consiste em um meio
especial de obtenção da prova – verdadeira
técnica de investigação criminal –, por meio do
qual um (ou mais) agente de polícia,
judicialmente autorizado, ingressa, ainda que
virtualmente, no seio da narcotraficância ou em
determinada organização criminosa, forjando a
condição de integrante, com o escopo de alcançar
informações a respeito do funcionamento do
crime e de seus membros. [4]
Similarmente, Mendroni [1], aponta a
infiltração do agente é uma conduta que vem por
meio de uma autorização policial para finalidade de
descoberta dos procedimentos da organização
criminosa, ou a serviço de inteligência militar ou
policial, sendo atribuído a um membro da
corporação policial, que se passe por um dos
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membros, mas com a finalidade única de descobrir
como a organização criminosa atua, se infiltrando
no meio desta, cometendo os mesmo atos e crimes,
mas por autorização e com a finalidade de obtenção
de provas que possa condenar nos modelos penais
e sancionatórios.
Os meios de produção de provas e a técnicas
com autorização da justiça, consoante a própria lei
preconiza, dispõe na interpretação doutrinária de
quatro tipos de agente que contribui com a
produção de provas e se passa por integrante da
organização criminosa.
Corrobora com a ideia central de finalidade da
prática de ações em razão dos procedimento de
investigação criminal, adotando essa postura,
Távora e Arújo [11] ao compreender que o agente
infiltrado indica aquele agente policial que está a
serviço do Estado, e por essa motivação, comete
ato ilícito que lhe permite buscar a excludente de
ilicitude, atribuído pela própria lei que autoriza a
sua atuação e o cometimento de ato ilícito, caso
seja necessário para não ser descoberto, e em razão
da finalidade de obtenção de provas dos atos
cometidos pela organização criminosa, sua conduta
e prática de ilícito penal é justificado em razão de
contribuir com a investigação criminal.
1.2 Legitimados
Para atuar nas organizações criminosas como
agente infiltrado, deve o agente ser definido e
indicado quanto a sua legitimidade, considerando
que na Lei nº 9.034/1995, permitia-se a infiltração
de agente de inteligência, sendo revogado, e com o
advento da Lei nº 11.343/2006, que traz a
possibilidade de infiltração policial em operações de
investigação, não trouxe de forma clara quem é
legitimidade a ser autorizado a infiltrar-se em
organização criminosa com respaldo na legislação.
[12]
Na Lei de Drogas, Lei nº 11.343/2006, apenas
era mencionado no artigo 53, I, que de acordo com
os interesses e necessidade, poderia ser autorizada
a infiltração de agentes policiais, não indicando se
poderia ser policial civil, federal, militar, apenas o
critério mencionado firmava a finalidade de
investigação e a indicação de ser órgãos
especializados. [12]
Com a nova lei, Lei do Crime Organizado, Lei
nº 12.850/2013, insculpido no artigo 10, indica que
a infiltração de agentes de “polícia”, com o mesmo
texto sugestivo de “em tarefas de investigação”,
conforme já descrito evidente na Lei de Drogas,
explicitando a forma como deverá ser feito o
procedimento, mas não indicando que é legitimado
a ser agente infiltrado, ou seja, indica como deverá
proceder para que se torne oficial a sua infiltração,
por vez deverá ser requerida pelo órgão do
Parquet, manifestação técnica do delegado,
podendo ser no percurso do inquérito policial, em
quaisquer das hipóteses devendo ser autorizada
judicialmente. [12]
No entanto, consoante o artigo 144 da
Constituição Federal de 1988, contido no referido
artigo os órgãos que tem o dever de prestar
segurança aos cidadãos, sendo que para os
procedimentos de investigação, imputa-se que a
legitimidade é indicada para a polícia civil e polícia
federal, assim sendo, os legitimados encontram
respaldo na Carta Maior, devendo ser autorizado a
infiltração apenas a polícia civil e polícia federal,
pela juridicidade de sua função com respaldo
constitucional. [13]
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Como somente será admitida a infiltração se
houver indícios do crime de organização
criminosa (LCO, art. 10, § 2º) ou de
narcotraficância (LD, art. 53, I), entendemos que
apenas os agentes policiais incumbidos de
investigar esse delito poderão agir como
infiltrados, ou seja, tão somente os integrantes da
Polícia Federal (CR/1988, art. 144, § 1º, I) e da
Polícia Civil (CR/1988, art. 144, § 4º), por seus
“órgãos especializados pertinentes” (LD, art. 53,
I). [1]
Noutro aspecto, quanto a legitimidade para
requerer que o agente seja autorizado a infiltração
nas organizações criminosas, com finalidade de
investigação criminal, Everton Luiz Zanella [7],
indica que a lei é clara quando refere a participação
do delegado por meio de parecer técnico, pois
considera que apenas o Ministério Público requere
e autorizar sem que haja o parecer da possibilidade
e condições de agente com o perfil adequado ou
ainda das questões técnicas operacionais em
encaminhar um agente policial para que atue nesse
sentido, devendo assim, ser acompanhado pelo
Ministério Público, pois caso o próprio MP
requeira sem o parecer técnico do delegado, o juiz
tenderia a autorizar judicialmente de ofício, o que
a lei em questão não permite.
A infiltração de agentes de polícia em tarefas de
investigação, representada pelo delegado de
polícia ou requerida pelo Ministério Público,
após manifestação técnica do delegado de polícia
quando solicitada no curso de inquérito policial,
será precedida de circunstanciada, motivada e
sigilosa autorização judicial, que estabelecerá
seus limites. Assim, conforme o artigo em
estudo, a infiltração de agentes de polícia em
tarefas de investigação pode ser deflagrada a
partir (a) de representação do delegado de polícia
ou (b) de requerimento do Ministério Público. [7]
Pode-se indicar que os legitimados para a
infiltração de agente de polícia é o Delegado e o
Ministério Público, considerando que na prática
deve haver uma concordância entre o delegado e o
MP, pois assim como não faz sentido jurídico o
delegado requerer e excluir o acompanhamento do
MP, pois esse é interessado quando as
investigações e desmantelamento das organizações
criminosas, também não resulta em efeito nos casos
em que o delegado, mediante parecer técnico
requeira para o magistrado sem haver o pedido do
titular da Ação Penal. [7]
O momento da decretação da infiltração
policial, é apontada por Rogério Sanches Cunha
[10] Ronaldo Batista Pinto [10], Cezar Roberto
Bitencourt [14] e Paulo César Busato [14], como
sendo devida no momento que se inicia os
procedimentos investigatórios, pois consideram
que não haveria razão de no curso da persecução
penal ser decretada a infiltração.
Nada impede, como a colaboração premiada, seja
realizada igualmente durante a instrução
criminal. Em reforço à segunda posição, sem
embargo do uso da locução “em tarefas de
investigação” (LCO, art. 10, caput, e LD, art. 53,
I), a Lei do Crime Organizado parece abrir
caminho para que a infiltração policial se
desenvolva também na fase processual. [1]
Numa segunda vertente, a infiltração deve
ocorrer: “Durante a investigação policial, por
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sugestão do delegado ou do Ministério Público,
autorizada pelo juiz”.[15]
1.3 Proporcionalidade como regra de atuação
O agente encoberto [16], como é denominado,
nos moldes legais, diante de sua atuação como
agente infiltrado deverá responder aos preceitos
limitativos a sua atuação, não podendo cometer
excessos, ou seja, apenas atuar de acordo com o
necessário para sua própria proteção e não ser
descoberto, mas obtendo o dever de obter as provas
com prioridade aos princípios da:
Legalidade, especialidade, subsidiariedade,
controle (judicial, ministerial e interno) e
proporcionalidade. Obedecendo a estes
postulados de extração constitucional, a atuação
encoberta” será compatível com as bases de um
processo penal garantista, tornando-se lícitas as
condutas realizadas pelo infiltrado, desde que em
consonância com o objeto da investigação e com
os limites estabelecidos em decisão judicial.[17]
O procedimento mediante conduta do agente
infiltrado deve obedecer tais preceitos normativos,
agindo de modo proporcional, não podendo que a
sua atuação dentro da organização e sua conduta
considerada desnuda da ilicitude seja utilizada para
agir livremente de acordo com o desejo de cometer
atrocidades ou excessos em razão disso, devendo
agir pelo máximo possível dentro dos limites a se
evitar e manter a proporcionalidade das práticas na
organização criminosa. [18]
O artigo 13, da Lei nº 12.850/2013, dispõe sobre
os agentes que não cumprirem a orientação e agir
contrário a atuação mantendo a proporcionalidade
para fins da investigação, deverá responder em
conformidade com os excessos praticados. [1]
De acordo com Mendroni [1] a
proporcionalidade em razão da conduta do agente
deve ser evidente e compatível com o nexo causal
que tipificaria a conduta do agente como ilícito em
razão da natureza da operação em que a
organização criminosa atua, não havendo o nexo
causal que destaca a proporcionalidade das ações
do agente, que condiz com a investigação, o agente
infiltrado responderá pelos excessos praticados.
Embora tendo fixados os limites de sua atuação,
haverá casos e circunstâncias em que a decisão
sobre determinadas condutas lhe parecerá
inerente à ‘finalidade’ da investigação. O termo
‘finalidade’ é abstrato, não delimitando ou
fixando condutas – e nem poderia. Se ao agente
infiltrado parecer haver um link da conduta com
a finalidade da investigação, desde que
plenamente justificável e considerando a situação
vivenciada, nessas condições não poderá
responder pelo ‘excesso’. [1]
Por vez, diante do cometimento de excesso na
atuação como agente infiltrado, o policial estará
passível de ser condenado por crime, pois não
estará amparado da excludente de ilicitude, pois
não cumpriu com a orientação quando foi
decretado a sua infiltração, ou seja, não manteve o
nexo causal e a proporcionalidade que fosse
condizente com a atuação dentro dos
procedimentos adequados a investigação,
rompendo e não cumprindo com tal orientação
prevista em lei.[3]
De outra banda, se o agente cometer o ato ilícito
compatível e presente o nexo causal com relação a
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organização criminosa na proporcionalidade das
atividades e condutas em razão da operação
criminosa, e condizente aos meios de investigação,
o agente infiltrado, pela própria autorização
judicial terá a ilicitude afastada, pois entende-se,
que ao cometer um crime em razão da sua
infiltração, estava no exercício policial, ou seja, no
cumprimento de sua atividade, com respaldo na
legislação diante da situação eivada de legalidade
(CP, art. 23, III). [19]
O agente, consoante o entendimento legal,
doutrinário, deve conduzir sua ação no seio da
organização criminosa com cautela e não exceder
na prática desproporcional entre a ação exigida e os
fins da organização, caso ocorra, deverá responder,
ou seja, será responsabilizado criminalmente, pois
não haverá a excludente de ilicitude, conforme será
melhor descrito a segui no tópico que aborda
especificamente essa vertente.
1.4 Natureza jurídica da exclusão da
responsabilidade penal: inexigibilidade de
conduta diversa
Segundo Lima [19], a agente infiltrado, após a
sua infiltração terá a mesma conduta e fará as
mesmas coisas dentro do limites da natureza da
organização criminosa, em tese, terá a mesma
responsabilidade aos olhos da legislação penal, se
considerar apenas a sua conduta e não a razão de
sua infiltração, porém é possível considerar que
maculado pela autorização e finalidade
investigativa, o agente policial não possui o animus
associativo, “de caráter estável e permanente e da
atipicidade conglobante”. [19]
Há que considerar que entre a conduta e os
resultados nessa questão do agente infiltrado,
diante do direito em tela, há divergência e ponto de
vista na doutrina que procuram explicitar as
possibilidades interpretativas quanto aos elementos
de relação entre a legalidade, a infiltração e a
responsabilidade ou não nos crimes que ocorrem
dentro dos limites e com excesso em razão da
infiltração do agente. [19]
Considera Masson [4]:
O policial infiltrado poderá comprometer a
finalidade do instituto caso opte por não
participar ativamente das atividades criminosas
levadas a cabo pelos investigados. Dito de outro
modo, é forte a compreensão no sentido de ser
quase impossível a execução da operação de
infiltração sem ao menos a participação do
agente em alguma prática delitiva em dado
momento de sua atuação. [4]
No entanto, diverge Pacheco [20]:
Essa concepção, entretanto, não é de todo
verdadeira e precisa ser corrigida. Com efeito,
“levando-se em conta que a maioria das
organizações criminosas está em situação pré-
mafiosa, empresarial, torna-se factível integrar-
se em sua estrutura sem o cometimento
obrigatório de crimes”. Isso porque o
cometimento de delitos como forma de
comprovação de fidelidade, em regra, é prática
compatível com as chamadas organizações
criminosas do tipo tradicional, mafiosas, que
atuam com extrema violência.
Os casos em que envolvem a infiltração nem sempre
serão por motivadores de crimes que podem levar o
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agente a cometer, mas sim apenas a sua participação em
situações que condizem com os processos de negócios,
dependendo da natureza da organização criminosa,
assim sendo, quando o agente cometer algum crime que
não condiz com a natureza de sua infiltração deverá
responder pelo excesso e não haverá a excludente de
ilicitude. [20]
Nem sempre será necessário praticar crimes, pois
pode o infiltrado atuar em diversos níveis da
organização, inclusive em uma de suas faces lícitas, pela
qual poderá cumprir seu dever sem a necessidade
imperiosa de delinquir. [...] pode agir desde uma forma
leve e periférica, ou de forma profunda, quando está
infiltrado sob uma identidade falsa. [20]
A responsabilidade dependerá da análise, pois pode
um agente ter a intenção de entrar na organização para
cometer o crime, assim, a análise será de acordo com a
natureza da organização e das circunstâncias que
evidenciam a necessidade de cometer um crime, não
sendo excluída a responsabilidade apenas pela
infiltração em si, mas analisada as questões que envolve
toda a operação de infiltração. [4]
A responsabilidade dependerá da análise, pois pode
um agente ter a intenção de entrar na organização para
cometer o crime, assim, a análise será de acordo com a
natureza da organização e das circunstâncias que
evidenciam a necessidade de cometer um crime, não
sendo excluída a responsabilidade apenas pela
infiltração em si, mas analisada as questões que envolve
toda a operação de infiltração. [4]
No entanto, diferente de organizações que não
possuem a natureza da extremidade de conduta delitiva
em prol da vida ou de crimes graves, há aquelas que pela
própria natureza da ilicitude deve ser amenizada e
excluída a característica de ilicitude do agente infiltrado,
como a seguir descrito:
Para algumas modalidades de crime ou de
organizações criminosas, a infiltração pode ser
de antemão altamente desrecomendada, porque o
investigador muito provavelmente seria chamado
a praticar crimes graves, incompatíveis com a
conduta que se espera de agente público, mesmo
na condição de infiltrado. Pode ser o caso, entre
outros, de grupos de extermínio e de quadrilhas
dedicadas à extorsão ou a tráfico de órgãos ou
seres humanos. Se, para conquistar a confiança e
desempenhar seu trabalho, o agente infiltrado
precisaria cometer homicídio, extorsão ou
traficância de órgão humano, extraído mediante
prévio homicídio ou lesão corporal gravíssima,
parece certo que não poderia prosseguir na ação.
Nessa circunstância, teria que recusar, o que
provavelmente não só frustraria a operação como
poria em sério risco o próprio agente. [21]
Contudo, a doutrina é diversa quando refere a
responsabilidade do agente infiltrado diante do
cometimento do crime nas organizações
criminosas, havendo correntes divergentes, que
entendem de modo diferente a infiltração e a
responsabilidade do agente infiltrado. [18]
1ª posição: Escusa absolutória. O agente infiltrado
agiria sob a proteção de uma escusa absolutória,
na medida em que, por razões de política criminal,
não seria razoável nem lógico admitir a sua
responsabilidade penal. A importância da sua
atuação estaria associada à impunidade do delito
perseguido. Essa corrente encontra amparo, por
exemplo, nas legislações portuguesa, argentina e
espanhola sobre o tema. [4]
Nessa primeira vertente, apena o fato de o
agente infiltrado estar sob a autorização e expor-se
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em perigo, na tentativa de colaborar com as
investigações, teria a proteção estatal de forma
inquestionável quanto a suas ações, pois a própria
autorização e requerimento seriam necessários para
que se visse diante a política criminal. [4]
Noutro sentido, há uma segunda corrente
doutrinária:
2ª posição: Estrito cumprimento do dever legal.
Ainda por ocasião da vigência da Lei 9.034/1995.
Se executar a infiltração conforme o plano de
operações de infiltração, o agente infiltrado
estará agindo no estrito cumprimento do dever
legal de descobrir as atividades da organização
criminosa infiltrada, seus integrantes e redes de
contato, seu modus operandi, sua área geográfica
de atuação, seus objetivos de curto, médio e
longo prazo, a quantidade de recursos
financeiros, materiais e humanos que possui etc.
Enfim, o princípio da proporcionalidade acarreta
a exclusão da ilicitude, justificando legalmente as
condutas típico-penais eventualmente praticadas,
desde que sejam inerentes ao conceito de
infiltração e instrumentalmente ligadas à
infiltração concretamente realizada. [20]
Em defesa da não responsabilização, o princípio
da proporcionalidade é interpretado pelo autor pela
própria ação em si, que considera uma vez prestando
seu dever legal enquanto policial, e em função da
investigação venha a cometer um crime dentro da
organização em função das atividade ilícitas,
compreende ser proporcional ao cumprimento do
dever legal do agente infiltrado. [20]
3ª posição: Atipicidade penal pelo risco
permitido (imputação objetiva). Nesse sentido,
Damásio de Jesus pondera que o tema se inclui
“no princípio do risco permitido da teoria da
imputação objetiva. Na infiltração, a ação do
policial é permitida pelo Estado e ‘precedida de
circunstanciada, motivada e sigilosa autorização’
do Juiz-Estado (art. 10 da Lei n. 12.850). Ora, se
a ação é permitida pela lei e autorizada pelo Juiz,
como considerá-la típica? Essa corrente,
excluindo a tipicidade, afasta a persecução penal
do infiltrado. Se o Estado lhe permite a atividade,
havendo a prática de um crime pela organização,
que contou com sua execução ou participação, o
correto é reconhecer a ausência de tipicidade em
suas ações e não a licitude ou a inculpabilidade
em fases posteriores. [22]
Nesse posicionamento, o autor compreende que
diante da legalidade, requerida pelo Ministério
Público, com parecer técnico do delegado e
permitido judicialmente, além do dispositivo que
prevê na própria lei a licitude da conduta, não
haveria que falar em conduta típica quando aos
efeitos penais, pois não trata de tipificação do tipo
penal quando refere a infiltração, ao contrário é
lícita a conduta do agente infiltrado em favor da
investigação e da persecução penal que possui
natureza investigativa. [22]
Na quarta corrente, indica a atipicidade
conglobante [23], ou seja:
4ª posição: Atipicidade conglobante. Para essa
corrente, “as condutas aparentemente criminosas
perpetradas pelo agente infiltrado, dentro de uma
proporcionalidade e, portanto, permitidas e até
mesmo incentivadas pela legislação respectiva,
configuram aquilo que Zaffaroni e Batista
denominam de ‘atipicidade conglobante’, a
afastar, desde logo a tipicidade da conduta [...].
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Nesse posicionamento, considera que pela
própria conduta estar prevista na legislação a sua
tipicidade estaria automaticamente excluída, o que
é denominado pelo autor como atipicidade
conglobante.
Já na quinta posição, a conduta do agente
infiltrado é apontada como sendo fruto de
Inexigibilidade de conduta diversa (causa de
exclusão de culpabilidade).[21]
5ª posição: Inexigibilidade de conduta diversa
(causa de exclusão de culpabilidade). Cassio
Roberto Conserino assevera que “se o agente
infiltrado executar alguma conduta criminosa,
estará acobertado pelo manto de causa de
exclusão de culpabilidade, sob a modalidade
inexigibilidade de outra conduta, vez que se não
agisse, se não tivesse decidido participar do
crime ou crimes da organização criminosa, o
desiderato da infiltração restaria prejudicado, isto
é, caberia ao agente infiltrado realizar,
efetivamente, o crime ou crimes. Não lhe seria
cabível optar pela não realização, sob pena de
comprometimento do propósito ao qual se dispôs
a infiltração. [21]
Diante de todas a vertentes expostas, há
similaridade da última vertente com a descrição
trazida pela Lei nº 12.850/2013, constante no
parágrafo único do art. 13 reza que “não é punível,
no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo
agente infiltrado no curso da investigação, quando
inexigível conduta diversa”.[14]
Como a decisão de infiltração não constitui uma
“carta branca” para a prática de crimes, sendo,
muito ao contrário, um legítimo meio especial de
obtenção de prova, o legislador optou por
presumir a inexigibilidade de conduta diversa a
fim de excluir a culpabilidade do policial
infiltrado nas situações em que ele seja envolvido
por circunstâncias nas quais a prática delitiva no
curso da operação apresente-se inevitável. [4]
Segundo Masson [4], ao considerar a conduta do
agente infiltrado, quando presente o cometimento de
crimes em razão de sua infiltração, não pode
entender como o amparo legal para cometer crime e
não ser responsabilizado, mas que em função dessa
ocorrência há que considerar a presunção da
inexigibilidade de conduta diversa, por meio da
qual, resta a excludente da culpabilidade do agente
infiltrado, indicando que será esse o entendimento
caso seja inevitável tal prática.
Conquanto seja essa a sistemática legal, Cezar
Roberto Bitencourt e Paulo César Busato traçam
contornos diversos sobre o ponto. Inicialmente,
propõem uma verificação a fim de se definir se o
crime praticado pelo agente infiltrado tem
relação com a própria atividade investigada.
Desse modo, “se o crime realizado encontra-se
na esfera do previsto pelo projeto de infiltração,
igualmente deverá estar coberto pelo dever de
atuação do agente infiltrado”. Assim, se sobre o
delito já “paira um juízo de suspeita a respeito de
sua prática que a infiltração do agente visa
confirmar”, estar-se-á diante de uma “situação de
justificação” (exclusão de ilicitude pelo estrito
cumprimento do dever legal).[14]
A natureza da prática dentro da organização
criminosa será considerada inicialmente, como
exercício do cumprimento da atividade que o
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agente se propôs a desempenhar mediante a
autorização e pela compreensão de sua facilitação
a contribuir com informações relevantes para a
investigação, assim, diante do entendimento
doutrinário e do apontamento da lei, versará a
obediência ao princípio da proporcionalidade nos
casos que fique a mercê de interpretações diversas
quanto a culpabilidade na conduta do agente
infiltrado, e a prerrogativa que sustenta a sua
responsabilidade criminal nos crimes em
decorrência de sua infiltração. [24]
a) Crimes praticados contando com a
cumplicidade do agente infiltrado: todos os casos
de cumplicidade (mera contribuição material) –
necessariamente menor em face da autoria –, “em
princípio, parecem isentar a responsabilidade do
agente infiltrado”, rendendo ensejo a aplicação
do parágrafo único do art. 13 da Lei
12.850/2013134.
b) Crimes praticados em coautoria pelo agente
infiltrado: nesses casos, a solução há de ser
casuística. Essa situação “remete para a análise
de necessidade e proporcionalidade no que diz
respeito à imputação, sendo realmente
impossível pretender a fixação de uma regra
geral a respeito de até que ponto estará o agente
infiltrado autorizado a contribuir em uma
repartição de tarefas a respeito da realização de
um crime.
c) Crimes praticados em autoria direta ou autoria
mediata pelo agente infiltrado: esses casos
“parecem estar completamente fora da norma de
cobertura, devendo ele responder completamente
pelo delito, porque, obviamente, as normas que
regulam a infiltração de agente jamais podem ser
interpretadas como fomento à prática de delitos”.
Não há falar, pois, em qualquer causa de
justificação ou exculpação. O infiltrado
responderá criminalmente pelos crimes.
d) Crimes praticados pela organização criminosa
em face de provocação ou instigação por parte do
agente infiltrado: aqui o agente infiltrado atua,
em verdade, como “agente provocador e ou faz
nascer no autor do delito a vontade de praticar o
crime, ou o incentiva a levar a cabo uma vontade
criminosa que aquele já possui. Essa hipótese não
guarda a menor relação com a finalidade da
operação de infiltração. Evidente que não estará
o agente isento de responsabilidade criminal,
afastando-se a incidência do parágrafo único do
art. 13. Aliás, pelo regramento do CPP Espanhol
(art. 282 bis, 5), as situações que constituam
provocação ao delito afastam a isenção da
responsabilidade penal do agente infiltrado. [25]
A responsabilização do agente infiltrado está na
natureza de sua conduta, priorizando, conforme foi
exposto a necessidade inevitável de cometimento
do crime, e a sua proporcionalidade no momento
da execução, sendo analisada a excludente com a
necessidade do comportamento do agente, não
sendo justificado os crimes que excedem a
necessidade de sua atuação, como é o caso de
autoria direta, onde o agente é quem decide pela
prática do crime, não restando dúvidas quanto a sua
intenção, diferentemente dos casos em que este se
vê obrigado a pratica para que não ocorra a
desconfiança de sua infiltração, o que levaria ao
perigo de sua integridade física se descoberto. [1]
IV. CONCLUSÃO
A análise trouxe reflexões sobre a
responsabilidade do agente policial infiltrado nos
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crimes cometidos com excesso, restando evidente
que há divergência doutrinária quanto a
responsabilidade criminal do agente infiltrado,
diante do cometimento de excessos, havendo
apontamentos de não considerar a conduta como
típica e culpável, ainda, indicando a atipicidade
conglomerante, sendo possível tratar semelhança
com o entendimento da excludente de ilicitude pela
inexigibilidade da conduta diversa.
Contudo, responsabilidade criminal do agente
será possível quando não observado o princípio da
proporcionalidade na sua conduta no cometimento
de crimes no decorrer de sua infiltração nas
organizações criminosas, considerando que a
análise deverá ser feita quanto a sua
responsabilidade diante da natureza e fins da
organização e na incompatibilidade com uma
conduta adequada e proporcional, não deixando
margem para o cometimento de crimes em excesso,
uma vez identificado responderá pelos crime de
acordo com a tipificação penal.
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São Paulo: Saraiva.
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MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE INTERNAÇÃO E A INADEQUAÇÃO
INSTITUCIONAL NA EFETIVIDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO DOS
ADOLESCENTES
Chiodi Pinto Mônica1
1 Universidade Especialista em Investigação Forense e Perícia Criminal e em Direito Penal e Processo Penal, Sinop,
Mato Grosso
Endereço eletrônico: monicachiodipinto@gmail.com
Resumo – O presente trabalho trouxe uma reflexão
sobre a problemática entre a norma protetiva na
integralidade, prevista na Constituição e
regulamentada na legislação especial ECA, em
contraste com a inadequação de aplicação, onde os
adolescentes institucionalizados sob medida
socioeducativa de internação, não possuem a
assistência adequada para a ressocialização. Por
meio da análise dos fundamentos de proteção e
punibilidade previsto na lei foi descrito todos os
preceitos que visam a proteção e o dever do estado,
da família e da sociedade em dispor de meios que
proporcione ao adolescente um ambiente que forme
um cidadão apto a convivência social e em
desenvolver-se. No entanto, por meio do tipo de
pesquisa bibliográfica, com o levantamento dos
principais doutrinadores, com pesquisa em livros,
artigos, leis e jurisprudência, verificou-se que o
problema enfrentado pelo adolescente que comete
ato infracional tem raízes pela ausência do estado,
família e sociedade suprir suas necessidades de
desenvolvimento e por vezes sofrem abandono, maus
tratos, e no momento de internação não são acolhidos
por instituição que prioriza a assistência por
profissionais e o acompanhamento adequado, assim
voltando a reincidir e sendo verificado que diante da
complexidade de fatores que corroboram para a
vulnerabilidade ao crime, tornam-se a cada dia mais
constante e permanecendo como a realidade
cotidiana desses. Verificou-se que a legislação
especial e a Constituição Federal consagraram à
proteção integral à criança e ao adolescente.
Palavras-chave – Eficácia; Menor. Ressocialização.
Abstract – This work brought a reflection on the
problems between the protective standard in
entirety, provided for in the Constitution and
regulated in special legislation, in contrast to the
inadequacy of implementation, where the
adolescents institutionalized size youth detention, do
not have the appropriate assistance to the
resocialization. Through the analysis of the reasons
of criminality and protection provided for in law was
described all the precepts for the protection and the
duty of the State, the family and society to have
means giving adolescents an environment that form
a citizen fit to social coexistence and develop.
However, by using the type of bibliographic
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research, with the lifting of the main scholars with
research in books, articles, laws and jurisprudence,
it was found that the problem faced by the teenager
who commits Act "has roots by the absence of the
State, family and society meet their development
needs and sometimes suffer neglect, abuse, and at the
time of hospitalization are not hosted by an
institution and the appropriate follow-up, so
returning to reoccur and being checked on the
complexity of factors that support for vulnerability
to crime, become increasingly more constant and
remaining as the everyday reality of these. It was
found that the special law and the Federal
Constitution guaranteed the full protection to
children and adolescents.
Key-Words – Effectiveness; Minor; Resocialization.
I. INTRODUÇÃO
O tema abordado visa desenvolver uma
pesquisa com o objetivo de analisar as atuais
medidas socioeducativas e, se de fato, estas têm
contido efeito promissor sobre os jovens que
cometem ato infracional e são penalizados por seus
atos. A criminalidade é crescente em todo o
mundo, principalmente entre os menores. Amiúde
a mídia enfoca o envolvimento de adolescentes e
até crianças cometendo diversos tipos de crimes
tenebrosos, causando revolta e inconformidade em
toda a nação.
O foco principal, além de analisar as medidas
aplicadas atualmente e suas penas, é trazer a análise
sobre a implementação de questões sociais de
ressocialização do adolescente com o intuito de
devolver à sociedade jovens reeducados e prontos
para recomeçar a vida social com novos objetivos
e com pretensão de ter uma vida tranquila longe do
mundo do crime.
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente),
é a principal norma para tutelar tais menores, visto
que em seu texto abrange-se completamente, todos
os instrumentos que garantem a trajetória do menor
às oportunidades de superação de sua situação de
exclusão, bem como de acesso à formação de
valores para uma convivência social. No entanto,
seria melhor se houvesse a real aplicabilidade desta
norma.
Indaga-se ainda sobre a eficácia da aplicação do
sistema que engloba as questões sociais, cuja
finalidade é amparar, proteger e assegurar ao
adolescente que possam possuir um meio que
proporcione a assistência física, psicológica e
educacional, na promoção de um ambiente
completo a ofertar-lhe os mecanismos de
ressocialização e volta a sociedade como cidadão
preparado para desenvolver-se como ser humano
nas diversas formas que o contexto social
proporciona.
Com o desenvolver desta pesquisa, buscou-se
analisar as deficiências institucionais apontadas como
fatores que não proporcionam a ressocialização de
adolescentes que estão institucionalizados com
medida de internação, trazendo o aparato doutrinário
quanto a projeção do sistema que é amparado por lei
em proteger integralmente e atender aos interesses
dos adolescentes, mas que em contraste com a prática
e a jurisprudência que destaca os casos de
reincidência, apontar que fatores favorecem a
inadequação.
A seguir foram observados a criminalização dos
menores infratores, abordando sobre a perspectiva
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da criminologia crítica. De igual modo foi analisado
as medidas socioeducativas com o devido destaque
a internação do menor em foco. Semelhantemente
foram estudadas as medidas socioeducativas, dando
ênfase à internação dos mesmos.
Por fim, foi visto a finalidade da reinserção social
dos menores infratores no sistema brasileiro, com o
objetivo de compreender a perspectiva crítica.
A problemática desdobra-se no seguinte
questionamento: o modelo normativo inclusivo por
meio da proteção integral do adolescente,
preconizado no texto constitucional e pelo ECA,
garantem que o adolescente institucionalizado no
cumprimento da medida de internação é amparado
por um sistema que lhe proporciona a
ressocialização?
Essencialmente, o trabalho objetiva fazer uma
análise entre os preceitos normativos e
doutrinários, quanto a defesa pelos direitos de
proteção integralizada do adolescente, na oferta de
sistema que ampara o adolescente
institucionalizado e atende as questões sociais de
ressocialização em contraste com a prática
jurisprudencial e estatística, a fim de demonstrar as
deficiências que envolvem a expectativa normativa
e a sua eficácia na aplicabilidade.
E, como objeto específico compreender a
sistemática legal e doutrinária, descrevendo os
direitos do adolescente pela proteção de princípios
e de legislação especial, apresentando o
desenvolvimento histórico e evolução dos direitos
em que apresentam os meios de conceituação e
progresso quanto ao reconhecimento do Estado
como ser em especial dever de proteção dado ao
adolescente, bem como na adequação para que ao
cometer ato infracional seja lhe aplicado a medida
socioeducativa de internação, com disposição a
observância dos direitos humanos.
Buscou-se descrever os fundamentos
doutrinários que elevam o adolescente ao direito de
proteção integral, destacando o Estado como
responsável, bem como a sociedade e família em
buscar meios de atender aos seus interesses até que
tenha a formação integral e esteja preparado para
os atos civis e políticos, bem como na formação
integral enquanto cidadão.
É importante trazer reflexões sobre a adequação
prática dos direitos preconizados, destacando que
deficiências são apontadas como a responsáveis
por não atender as necessidades do
institucionalizado quanto as questões sociais para
pleno desenvolvimento de ações psicopedagógicos
no sentido integral destes indivíduos.
Percebe-se ser indispensável o tratamento deste
tema uma vez que se depara, cotidianamente, com
situações de menores infratores sendo
“devolvidos” à sociedade sem o devido
atendimento, seja por falta de infraestrutura, seja
por falta de profissionais habilitados, fazendo com
que a reincidência deste no mundo do crime se
torne habitual.
Tem-se por contribuição da presente pesquisa a
conscientização por parte da sociedade acadêmica
em geral, sobre a relevância de se olhar,
humanamente acima de tudo, a condição de
reinserção a qual este indivíduo se depara ao
regressar na sociedade depois da reeducação social
advinda do poder público. Se de fato esta mesma
sociedade que o julgou e consequentemente o
sentenciou cria agora condições para que este
reescreva sua história enquanto sujeito sem débitos
judiciais.
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II. METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi a pesquisa do tipo
bibliográfica, com a análise em doutrinas,
jurisprudências, leis e artigos que tratam da análise
sobre as questões que envolvem os fundamentos
legais que discursam sobre a proteção integral do
adolescente e a realidade enfática destacada na
jurisprudência que demonstra a inadequação do
sistema que institucionaliza os adolescente, onde
estão em cumprimento da medida de internação,
assim sendo não atendendo as expectativas sociais,
individuais e de todo o aparato que fundamenta a
proteção integral do adolescente quanto ao
atendimento das necessidades de questões sociais
pelas inúmeras deficiências do sistema.
III. REVISÃO DE LITERATURA
DOS FUNDAMENTOS PROTETIVOS E
PUNITIVOS AO ADOLESCENTE
Os fundamentos que regem a evolução quando
se refere ao adolescente quanto a assistência estatal
e quanto a condição de menor institucionalizado
com a aplicação de medidas socioeducativas, devem
ser consideradas pelo aparato histórico e espaço que
conquistou na legislação no decorrer dos anos e por
influências de questões sociais, levando a proteção
do adolescente pelo reconhecimento da necessidade
de amparo em questões sociais que devem ser
atendidas e por meio do sistema, o Estado discursa
sobre esta expectativa, pautando no texto
constitucional e na legislação especial do Estatuto
da Criança e do Adolescente.
Para melhor compreensão do enfoque do
trabalho, aspectos que buscam efetivar os direitos
que regulamentam e dão fundamento a
punibilidade estatal é necessário que sejam
apresentadas a evolução do direito da criança e do
adolescente, trazendo os institutos legais e
conceituais que os fundamentam.
RECONHECIMENTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE NA LEGISLAÇÃO
A defesa aos direitos da criança e do adolescente,
bem como a importância de proteção ao seu
desenvolvimento passou a ser considerada na
transição dos acontecimentos sociais entre o século
XIX e século XX, por influência das transformações
econômicas por levar a necessidade das mulheres ao
mercado do trabalho. [1]
Com a necessidade de trabalhar para ajudar no
sustento da casa, as mulheres iniciam um novo
panorama histórico e deixam de desempenhar o
papel integral de educação e acompanhamento,
unicamente exclusivo das mulheres dado à época.
Em consequência desta transformação social,
crianças e adolescente iniciam um novo modelo de
educação familiar com a ausência de seus
genitores, levando ao início do cometimento de
atos ilegais.
Contudo a legislação da época volta-se a legislar
em face de punir os menores infratores. Outro
aspecto condiz ao tratamento dado a criança e ao
adolescente da época que eram denominados como
criminosos ou delinquentes não havendo tratamento
específico, e apenas posteriormente com a evolução
da redação e dos direitos e garantias fundamentais à
criança, é que a denominação fica estabelecida por
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tratamento diferenciado e especial àqueles dado no
Direito Penal. [2]
As formas de punição dada a criança e ao
adolescente evoluiu para medidas protetivas e o ato
infracional cometido por este, mas isso apenas após
a aprovação de do Código de Menores de 1927
(Decreto nº 17.943-A), a primeira legislação a
tratar de “crimes” cometidos por crianças e
adolescentes da época. [3]
O século XX recebeu a marca do controle
jurídico-disciplinar sobre infância, representado
especialmente pela aprovação do Código de
Menores de 1927, que inseriu o direito do menor
do ordenamento jurídico brasileiro, e sua versão,
com nova roupagem, em 1979, fundada na ideia
de situação irregular. [4]
A importância e proteção dada a criança e ao
adolescente é prerrogativa recente, sendo que o
status da criança e do adolescente era de baixo
valor e sem nenhum direito, equiparando-se aos
direitos dos escravos na época, refletindo no
entendimento que dado aos fatos históricos os
direitos do adolescente e direcionados ao menor
não era previsto nas normas, não havendo direitos
que lhes assegurassem os aspectos gerais em torno
de seu reconhecimento como ser humano e ser
social. A figura da criança era tida como
propriedade de uma sociedade patriarcal e com os
tempos, evidenciou-se que se fazia necessário
proteger as crianças diante de inúmeros abusos e
barbaridades cometidas ao longo dos anos. [5]
No Brasil a primeira legislação que passou a
tratar das crianças foi o Código Criminal de 1830,
e posteriormente manteve-se no Código Penal de
1890, reflexo da legislação vigente na forma da
Carta Constitucional de 1824, não abordava
especificamente a proteção ou garantias essenciais
em defesa da criança e dos adolescentes. [6]
Na Constituição dos Estados Unidos do Brasil
do ano de 1891, o legislador ainda não inclui a
defesa de tais direitos, contribuindo com a ausência
de prerrogativas jurídicas que determinasse a
situação das crianças e dos adolescentes, vindo a
ser modificado o tratamento referente a estes pelo
Código de Menores no ano de 1927, nascendo nova
forma de tratamento à criança e ao adolescente,
denominando-se daí por diante como “menor”. [3]
Timidamente a legislação foi se aperfeiçoando
e a cada Constituição foi gravado novos meios de
tratamento dada a criança e ao adolescente como
Serviço de Assistência ao Menor (SAM) em 1941,
posteriormente ao Código Penal de 1940,
objetivando ampliar os deveres estatais de proteção
e assistência à criança e ao adolescente com
punições de natureza penal. [7]
O propósito da SAM era o de buscar de forma a
punir aqueles infratores e em dar a devido
assistência as crianças e aos adolescentes de classe
baixa, aqueles que encontravam-se em abandono e
por muitas vezes entraram a criminalidade como
efeitos da falta de proteção e assistência familiar
adequada. [8]
Neste período o Estado se encontrava com
problemas decorrentes de aplicações de sentenças
judiciais a unir tais menores e com complexo de
problemas sociais e econômicos, o que
acreditavam influenciar diretamente no aumento da
criminalidade praticadas por crianças e por
adolescente, assim sendo a criação da SAM teve
como essência principal acolher as decisões
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proferidas pelo juiz nas medidas disciplinares aos
menores infratores. [9]
As práticas e abusos que ocorriam na SAM
levou a sua extinção e a instituição da FUNABEM
(Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor) e
após o golpe Militar a PNBEM (Política Nacional
de Bem-Estar do Menor) como medida de buscar
solucionar o crescente impacto que os problemas
envolvendo crianças e adolescente se tornaram.
Após a extinção dessas instituições criou-se a
Fundação Casa. [3]
Segundo Lima [7] o Código de Menores não
condiz a proteção do menor, mas marcou uma
época onde crianças e adolescentes de classe baixa
e que encontravam-se em situações irregulares
sofreram com a imposição de um código atuando
nos preceitos morais das famílias burguesas e na
punição com a intenção de controle, excluindo-se
por classe social, onde os comportamentos e
padrões morais da burguesia deviam ser
observados ou havia a punição por meio das leis
que vigoravam no Código do Menor.
Com a Funabem a criança e ao adolescente
começam a ganhar espaço e direciona-se para além
das medidas punitivas e inicia-se o entendimento de
que para a o bem estar dos menores é necessário que
haja o convívio com a comunidade, trazendo assim
práticas de inserção no meio comunitário. [10]
Com a Constituição Federal de 1988, momento
em que a busca por uma nação democrática iniciou
seus primeiros passos, foi gravado no artigo 227 da
Carta Constitucional a obrigatoriedade do Estado,
da família e da sociedade em assegurar às crianças,
aos adolescentes e aos jovens, com prioridade os
direitos essenciais que hoje são universalmente
reconhecidos. [11]
O teor do referido artigo prevê direitos
essenciais a todo e qualquer ser humano, mas dá
ênfase no dever de buscar meios que proteja-os de
meios cruéis e de qualquer forma de violência.
A criança e ao adolescente são resguardadas por
este dispositivo constitucional e em decorrência
deste aprimoramento da legislação e tratamento
específico e diferenciado, o modo como eram
tratados tanto socialmente quando legalmente se
modifica após este dispositivo.
Na forma do artigo e com o intuito de efetivar
os direitos agora estabelecidos e priorizados no
texto Constitucional dá espaço e é criado por meio
da Lei nº 9.069/1990 o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
OS DIREITOS E GARANTIAS À CRIANÇA E
AO ADOLESCENTE TRAZIDOS PELO ECA –
LEI Nº 8.069/1990
Por meio de legislação complementar o ECA é
consagrado na sistemática que emoldura a ordem
jurídica brasileira, o arcabouço de garantias e
princípio que tornaram a criança, o adolescente e o
jovem cidadão de direitos, reconhecendo-o como
ser humano digno e merecedor de atenção especial
na sociedade moderna.
Com o ECA podem ser especificados três
requisitos que tornam o estatuto de ordem especial
protetora a criança e ao adolescente, por trazer
prerrogativas que intervém na obrigatoriedade de
instituir políticas públicas a dar assistência e a
atender as necessidades, como também a afirmação
do dever estatal, social e familiar de proteção além
de destacar medidas socioeducativas para aqueles
que cometerem ato infracional. Outro marco
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importante é a igualdade de tratamento, não
criando estereótipos ou discriminando por classe
social ou qualquer que seja o fator, considerado que
em legislações anteriores havia tal discriminação e
exclusão social por estereótipos. [12]
Conceito de criança e adolescente
Na definição dada pela Corte Internacional de
Direitos da Criança de 1989 “é todo ser humano
que não atingiu idade superior aos 18”,
considerando assim até a idade de 18 anos o
entendimento é de que refere-se a essência de
criança em si. [4]
A definição é fundada sobre a estipulação do
limite de idade atribuído à criança e ao adolescente,
caráter positivista e que após inúmeras tentativas
do legislador em evoluir na sua definição e sanar
problemas de correntes da ausência protetiva a
criança e ao adolescente, mesmo considerando que
o regimento preza por evitar e punir ao qual que
cometer ato contrário aos preceitos legais e morais,
é notório que não alcança a interpretação
subjetivista e limita o entendimento na idade.
No entanto, “(...) tanto criança quanto
adolescente são indivíduos com condições de
receber cuidados pessoais”, direciona a essência da
vulnerabilidade presente na criança e no
adolescente e é com tal propósito que a legislação
desenvolveu-se e adotou critérios protetivos,
levando a criança e adolescente a serem sujeitos de
direitos protegidos pelo próprio Estado. [13]
De acordo com a descrição do Estatuto da
Criança e do Adolescente Lei nº 8.069/1990:
“criança é a pessoa que possui idade inferior a 12
anos completos e os adolescentes se enquadram na
faixa etária entre 12 e 18 anos”. [11]
Princípios protetivos elencados no artigo 100
do ECA
Os princípios que norteiam a proteção integral
garantida pela ECA, após convenções
internacionais que levaram em discussão o
tratamento e o reconhecimento da criança e do
adolescente, como seres de maior prioridade do
que aos adultos, com a justificativa de estarem em
desenvolvimento, regam, tais princípios sobre: a)
Princípio da condição da criança e do adolescente
como sujeito de direitos; b) Princípio da
reponsabilidade primária e solidária do Poder
Público; c) Princípio da intervenção mínima; d)
Princípio da proporcionalidade e atualidade; e)
Princípio da responsabilidade parental; e) Princípio
da prevalência da família; f) Princípio da
obrigatoriedade da informação. [14]
Em essência, diante de obscuridade ou de
equivalência de normas que regulamente o direito
em tela, debate voltado a solucionar, punir ou
extinguir fato ou direito, preza-se prioritariamente
a superior interesse da criança, devendo tal
requisito estar presente sempre que houver
qualquer dúvida ou medida a ser tomada,
baseando-se nos princípios com razoabilidade e
sempre com o fim de proporcionar a criança o
desenvolvimento integral e pleno. [3]
Os princípios elencados pelo ECA, todos
derivam da superioridade do interesse da criança e
do adolescente. Contudo, o princípio da condição
da criança e do adolescente como sujeito de
direitos concede autonomia como titulares de todos
os direitos estabelecidos na lei como forma de
proteção integral enquanto criança e adolescente,
não resumindo-se a objetos de proteção mas sim a
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sujeito de direitos, essencialmente por tratar-se de
pessoas que estão em fase de desenvolvimento, por
assim o ser tornam-se vulneráveis a influências
desde o seio familiar até os efeitos sociais e
econômico e é dever do Estado lhe proporcionar a
eficiência no seu desenvolvimento com o
necessário a sua formação como cidadão. [9]
O princípio da responsabilidade primária e
solidária do Poder Público refere-se ao dever que o
Estado tem desde o acompanhamento na gestão da
criança e após seu nascimento, obrigando ao
município contribuir para aqueles deveres que for
de sua competência e aqueles que não são de sua
alçada recairão sobre a obrigação do Estado em
atender a todos os direitos descritos no ECA,
devendo investir e buscar meios que façam com
que os direitos se concretizem. [14]
Paralelamente o artigo 17 do ECA funda no
princípio da privacidade, por meio do qual deve ser
respeitado a intimidade e tudo o que proporcione a
manter os assuntos com envolvimento de criança e
do adolescente bem como que lhes diz respeito na
forma de privacidade. [11].
No princípio da intervenção precoce ampara-se a
o procedimento com a ação de autoridades e
membros responsáveis por efetivar os direitos
elencados no ECA, adotando medidas que previnem
ou que busquem solucionar os fatos com menor
dano possível a criança e ao adolescente. [14]
No mesmo sentido, o princípio da intervenção
mínima preconiza as autoridades a limitação de
intervenção o mínimo possível, concorrendo com
medidas baseadas na proporcionalidade, não
admitindo-se posturas que não se apresentem
necessárias. [3]
Aponta-se ainda, os princípios da
proporcionalidade e da atualidade, onde os fatos
devem ser analisados não apenas à época da
ocorrência, mas sim de acordo com os requisitos
atuais, ou seja, se na época da tomada de medida
ocorreram fatos negativos e no presente a situação
mudou, seja por capacidade familiar ou
comportamentos que poderiam prejudicar o
desenvolvimento da criança, mas que agora não
mais ocorre, deverá ser observada tal circunstância
nova, não devendo providenciar mudanças na vida
da criança e do adolescente apenas fundado em
fatos anteriores, assim sendo, aplica-se a
proporcionalidade e a atualidade. [5]
Não menos importante, mas essencial no
desenvolvimento da criança e do adolescente está
o princípio da responsabilidade parental, ao qual
vigora a obrigatoriedade dos pais em: “assistir,
criar e educar os filhos menores, pois a família é
lugar ideal para o seu crescimento sadio”. [14]
Pelo princípio da prevalência da família
destaca-se a proteção do legislador em dar
referência a família natural, preferindo em vez da
família substituta, mantendo-se a família natural ou
aquela que a criança e ao adolescente possua
vínculos afetivos e de preferência a família
extensiva, caso não seja possível manter-se na
família natural. [14]
A preferência é dada a família natural, no
entanto é sabido que nem sempre está tem bases
sólidas que proporcionem o desenvolvimento
necessário à criança e ao adolescente e na falta da
família natural, em vez de mandar aos cuidados de
uma família substituta o legislador entendeu ser
mais benéfico legislar em favor do
encaminhamento à família extensiva, presumindo
que pelos laços de parentesco poderá existir maior
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envolvimento afetivo o que contribuirá
minimamente para traumas e interferência na vida
do menor. [7]
Em concordância com o princípio do menor ser
possuidor de direitos garantidos pela legislação
vigente, encera-se com o princípio da oitiva
obrigatória e participação. A criança e ao
adolescente, são sujeitos de direitos, e por assim o
ser devem ser ouvidos quando tratar-se de debate
sobre sua condição ou encaminhamento, seja em
guarda, seja em qualquer envolvimento que esteja
em debate fatores aleatórios que influenciarão no
seu pleno desenvolvimento. [14]
Medidas de proteção
Dentre as medidas de proteção à criança e ao
adolescente estão as descritas em seus incisos que
tratam de possíveis comportamentos que sujeitos
adultos ou que integram a sociedade, o Estado ou
por representação legítima e natural de seus
próprios pais.
Com fundamento no artigo 98 do Estatuto da
Criança e do Adolescente a criança e ao
adolescente são amparados por medidas de
proteção aos seus direitos legalmente
reconhecidos. Sua aplicação dependerá de direitos
ameaçados ou diante de uma lesão ao seu direito.
Segundo Rossato, Lépore e Cunha [14] “por
medidas protetivas entendem-se as ações ou
programas de caráter assistencial, aplicadas e
isolada ou cumulativamente, quando a criança ou
adolescente estiver em situação de risco, ou quando
da prática do ato infracional”.
O legislador dividiu em três requisitos para
serem observadas as medidas de proteção à criança
e ao adolescente. No inciso primeiro “por ação ou
omissão da sociedade ou do Estado”. Nota-se que
diante da ação quando o Estado ou a sociedade
representar ameaçam aos direitos fundamentais da
criança e do adolescente, mas também quando a
letra de lei for negligenciada ou seja quando diante
da necessidade e do direito legítimo do menor tanto
a sociedade quanto o Estado não tomar nenhuma
providência, resultando na omissão aos direitos
constitucionais, aos princípios e aos fundamentos
do ECA. [1]
Noutro aspecto, o inciso II do artigo 98 do ECA,
retrata a realidade vivenciada por muitos menores
no Brasil. Pais que deveriam ser o exemplo e
proporcionar aos seus filhos a educação adequada
e buscar junto a sociedade e ao Estado os melhores
programas e benefícios, bem como educa-los no
seio familiar, proporcionando um ambiente
saudável para seu desenvolvimento até a idade
adulta, muitas vezes são omissos e não concedem
nem mesmo as condições mínimas de dignidade
humana. [3]
Não raro são anunciados nos veículos de mídia
os abusos dos próprios genitores em exploração
sexual, trabalhista e a própria ausência de cuidados,
além de maus tratos ou situações de abandono,
ferindo o direito essencial do melhor interesse da
criança e do adolescente.
Os reflexos da omissão e abusos descritos nos
incisos I e II do artigo 98 direcionam a uma
sociedade que presencia cotidianamente o
envolvimento de menores no submundo do crime.
Seja por serem em menor potencial sua
punibilidade que não aufere as condições de crimes
ou de contravenções, o menor é aliciado por
criminosos que dão a falsa ideia de suprir a
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negligência Estatal, social e familiar desses
menores, aproveitando-se de sua vulnerabilidade e
instabilidade no processo de desenvolvimento até a
sua vida adulta.
Conforme descrito no artigo 99 do ECA, as
medidas de proteção têm caráter pedagógico, a fim
de pôr o menor em contato com atividades e com o
meio da comunidade, onde o objetivo prioritário é
educa-los de acordo com as normas sociais de
convivência e conduta a ser seguida. [11]
No artigo 101 do ECA o legislador deixou
explícito que medidas devem ser aplicadas caso
ocorra ameaça ou lesão aos direitos do menor,
mediante preceitos básicos descritos no artigo 98 e
100, ao qual traz a essências dos responsáveis por
desenvolver e protegê-los, correspondendo ao
Estado, a sociedade e a responsabilidade dos pais,
além de trazer os princípios que fundamentam para
a efetiva aplicabilidade das normas e proteção
integral, atendendo sempre o melhor interesse da
criança e do adolescente. [1]
O disposto deste artigo versa sobre a previsão
do artigo 98, por meio do qual, diante da ocorrência
de quaisquer das hipóteses poderá a autoridade
competente aplicar as medidas de proteção em
favor do menor, podendo ser encaminhar o menor
para os cuidados dos responsáveis, constituir
família substituta, encaminhar a tratamento
médico, psicológico e nos mais severos ao
tratamento ambulatorial. Preza também, por trazer
na letra de lei a possibilidade de inscrever os
menores para serem assistido, abrigados e sob
orientação desempenharem serviços em programas
oficiais ou comunitários de proteção.
De acordo com o supra citado dispositivo legal,
deverá os órgãos de assistência e órgãos oficiais
judiciais a incumbência da tarefa de decidir a
reintegração do menor ao seio familiar ou não,
dependendo de relatório pormenorizado para
encaminhar ao judiciário e manifestar pela não
integração o qual após recebimento do relatório
pelo ministério público este terá o prazo de 30 dias
para manifestar-se e destituir o poder familiar, caso
entenda que necessite de maiores estudos poderá
solicitar para fazê-lo. [3]
A lei determina em diversos dispositivos o
interesse em manter a criança e ao adolescente no
convívio familiar e busca todos os meios para que
ao final a criança seja reintegrada a sua família e
caso, após todos os requisitos legais serem
cumpridos e a manifestação dos órgãos assistências
e a quem lhe é incumbido proporcionar ao menor
ambiente e programas de reintegração, entende que
este está apto e a família também a reintegrá-lo irá
encaminhar ao juiz e este dará vistas ao Ministério
Público que no prazo de 5 dias reintegrará o menor
ao seio familiar.
Da prática de ato infracional
Conceito
O ato infracional é a prática cometida pela
criança e pelo adolescente e descrito nestes moldes
no Estatuto da Criança e do Adolescente, não sendo
de denominação como crime ou mesmo
contravenção penal o que afasta a ideia de
incidência do Direito Penal ou a punibilidade
estatal a quem lhe é aplicável, mas sim tem caráter
pedagógico e de medidas de proteção e
socioeducativas por tratar-se de menor, diverso da
pena ou sanção aplicável ao adulto.
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101
A definição de ato infracional é transcrita no
artigo 103 do ECA: “Considera-se ato infracional a
conduta descrita como crime ou contravenção
penal”. Observa-se que relaciona a conduta
verossímil ao crime e a contravenção penal, mas,
no entanto lhe atribui nome diverso, equiparando a
mesma forma de atuar do menor, como se fosse o
meio de atuação do adulto, assim sendo, o nome
mencionado é de ato infracional. [1]
O legislador procurou retirar a carga de
delinquência ou de criminalidade sobre seus efeitos
devastadores na vida do ser humano, e por se
encontrar em fase de desenvolvimento, a criança
ou o adolescente que comete um ato infracional,
tem a proteção integral para que busque ser
reinserido na sua família e na sociedade. Porém, se
a denominação dada à conduta do menor fosse
unicamente vista como a prática de crime ou de
contravenção penal, o tipo penal recairia de forma
injusta, então equivaleria a igualdade de tratamento
entre] o menor e o adulto, este já em formação
completa de sua personalidade.
Na interpretação de Rossato, Lépore e Cunha
[14], os direitos e descrição do ato infracional são
repetitivos aqueles que determina a conduta ilícita
dos adultos, por assim o ser, o caráter do teor
descrito na legislação à criança e ao adolescente
possuem “papel histórico e pedagógico: reafirmam
que crianças e adolescentes são pessoas como todas
as outras que possuem direitos, embora estejam em
situação de desenvolvimento”.
Contudo o ato infracional somente será
cometido por aquele que for penalmente
inimputável e este são considerados juridicamente,
consoante ao artigo 104 do ECA: “São penalmente
inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos
às medidas previstas nesta Lei”.
Segundo Capez [15], a condição da criança e do
adolescente para serem considerados como
inimputáveis não se limita apenas na idade
estabelecida em lei, mas também na decorrência de
que este é sujeito consciente do ato ilícito que está
cometendo, tendo a capacidade penal de
compreender que a sua ação infringe a lei. Não se
trata de inocência da criança e do adolescente, mas a
proteção e denominação diversa por encontrar-se em
idade de desenvolvimento, e aqui também, não se
verifica a capacidade civil, apenas nos limites de
compreensão dos crimes tipificados no código penal.
Do princípio da reserva legal e da
inimputabilidade penal e o ato infracional
Uma vez que a criança ou adolescente comete
ato infracional, previsto como nomenclatura para o
ato criminoso ou contravenção penal, pelo
princípio da reserva legal, deve ser direcionado a
Vara da Infância e da Juventude, pois lhe é de
competência apurar o ato infracional. [3]
O princípio da reserva legal no ECA, assim
como no sistema penal, limita-se a definição de ato
infracional para aqueles contidos na norma como
ato ilícito, deste modo apenas poderá cometer o ato
infracional a criança ou adolescente por serem
inimputáveis, no entanto a medida protetiva recairá
a criança e ao adolescente, já as demais medidas
recairão apenas aos adolescentes.
Segundo Rossato, Lépore e Cunha [14], o ato
infracional possui semelhança ao delito tipificado
nos artigos da norma penal,, sendo que a sua
estrutura também é um fato antijurídico,
estruturando-se pelo ato infracional dever ser
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advindo de uma ação dolosa ou culposa, onde
quem irá praticar poderá ser uma criança ou como
também um adolescente, ainda, devendo haver um
resultado e apresentar a tipicidade, que no caso em
questão será a tipicidade delegada, também, deve-
se analisar quanto a inexistência de excluir a
antijuridicidade.
Neste sentido, “o adolescente somente
responderá pelo seu ato se demonstrada à
ocorrência de conduta típica, antijurídica e
culpável”. [14]
A legislação, como meio de proteger o
desenvolvimento da criança e do adolescente, que
estão em transição entre a vida infantil, adolescente
até a vida adulta, onde há a formação integral de
sua personalidade e desenvolvimento completo
como ser humano, tendo o legislador a intenção de
proteger de efeitos que venham a prejudicar sua
vida, por isso a medida de proteger e socializar o
menor sem que haja a gravidade da pena do sistema
penal, mas sim de legislação especiais.
A criança e o a adolescente são inimputáveis,
com proteção Constitucional descrito no artigo 228
da CF/88: “são penalmente inimputáveis os
menores de 18 anos, sujeito a norma de legislação
especial”. [3]
O menor está amparado pela Constituição
Federal e por lei especial, que visa sempre em
primeiro momento à proteção do seu
desenvolvimento e por ser a criança e os
adolescentes protegidos pela legislação e o Estado,
a sociedade e seus responsáveis possuírem o dever
de garantir seus direitos fundamentais, muitas vezes
ocorrem atos infracionais nos quais a comunidade
ou a sociedade em geral questionam senão seria
viável reduzir a menoridade penal, uma vez que por
serem inimputáveis e protegidos por cláusula pétrea,
não se aplica punibilidade Estatal, mas sim medida
protetiva e medida socioeducativa ao menor.
Ocorre que a proteção é Constitucional e
protegida por cláusula pétrea, e mesmo havendo
correntes doutrinárias no sentido de reduzir a
menoridade penal, observa-se que a questão
protetiva está alicerçada na defesa de condições
que garantem a dignidade da criança e do
adolescente por isso o tratamento especial, já que
não possui a capacidade completa, o que vem a
atingir apenas na vida adulta, por isso reconhecido
legalmente como inimputável e não são passíveis
de aplicabilidade de sansões penais sobre a criança
e ao adolescente.[9]
A aplicação de sanção penal recairá apenas a
maiores e imputáveis, no qual a legislação penal
prevê a sanção pelo ato ilícito na prática do delito,
e ao adolescente, cabe medida protetiva e medias
socioeducativas, por não possuírem o pleno
desenvolvimento. Vale ressaltar que o ato
infracional possui algumas diferenças na sua
aplicação quando recai sobre a criança, em
comparação a aplicação da medida a adolescente.
Para a criança sempre deverá ser aplicada
apenas a medida protetiva, sendo que esta será de
responsabilidade do conselho tutelar, bem como no
caso de não cumprimento da medida a criança não
terá a sua liberdade restrita.
Constante no artigo 105, do ECA, a criança que
cometer ato infracional somente poderá sofrer
medida elencadas no artigo 101, incisos I a IV, ou
seja: A) poderá ser encaminhada para cuidados de
acompanhamento temporário, junto aos pais ou
com os responsável legal, por meio de elaboração
de termo de responsabilidade; b) deve ser
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observado que a criança esteja matriculada em
instituição de ensino com reconhecimento oficial;
c) buscará incluir a criança em programas sociais e
inserir junto a atividades dentro do seio da
comunidade. [3]
Apenas estes dispositivos podem ser aplicados
a criança que comete ato infracional, sendo que o
teor do inciso V a IX, são aplicáveis apenas aos
adolescentes.
Outro requisito inserido pela Lei 12.010/2009,
trata da necessidade de autorização judicial nos
casos em que são aplicadas medidas de caráter
institucional ou familiar, referindo-se ao artigo
101, § 3º, do ECA. [11]
No entanto, no caso do adolescente poderá o
juiz determinar tanto medida protetiva, como
também a medida socioeducativa, assim sendo, ao
adolescente lhe é imposto medida com maior
severidade e no caso do não cumprimento da
medida poderá ser aplicada a restrição de sua
liberdade com a internação.
Medidas socioeducativas
As medidas socioeducativas destinam-se a
criança e a adolescentes que portaram-se com a
conduta contrária as normas legais.
Aspectos conceituais
A medida socioeducativa é denominada como
um mecanismo de reeducar a criança e ao
adolescente fazendo com que este se integre e tenha
uma conduta adequada ao convívio social, e saiba
respeitar as normas deste contexto, aceitando e
comportando-se de acordo com a legalidade e os
preceitos morais.
Segundo a definição dada por Rossato, Lépore
e Cunha [14], “medida socioeducativa pode ser
definida como uma medida jurídica aplicada em
procedimento adequado ao adolescente autor do
ato infracional”.
O rol taxativo vem acentuado no artigo 112 do
ECA, que define quais são as medidas
socioeducativas que serão aplicadas, caso o menor
venha a cometer um ato infracional. [11]
O menor ao cometer o ato infracional deve
sofrer a medida cabível para que seja reeducado, e
responderá no rol taxativo descrito no artigo 112 do
ECA, de acordo com a sua conduta, será aplicado
a medida socioeducativa sempre com a intenção de
garantir-lhe os direitos essenciais e aplicar medidas
que não interferem negativamente no seu
desenvolvimento, mas sim, que possa reeduca-lo
para ser reintegrado ao convívio familiar e social
como cidadão. [9]
As medidas descritas nos moldes do Estatuto da
Criança e do Adolescente ainda devem ser revistas
pelo legislador, essencialmente quando a sua
aplicação prática na efetividade a fim de proteção
integral.
Advertência
Nos moldes do artigo 115, do ECA, a medida
socioeducativa de advertência “consistirá em
admoestação verbal, que será reduzida a termo e
assinada”. Assim sendo, a advertência é uma medida
socioeducativa que é considerada pela doutrina e
apontada pela própria legislação com menor
potencial de gravidade, ou seja, mais branda. [11]
A aplicabilidade da advertência se dá de forma
verbal e pode ser reduzida a termo assinado,
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considerando sua finalidade com efeitos jurídicos,
o menor deve atentar-se que a advertência, apesar
de mais branda que as demais medidas
socioeducativas focam registrada e é base para a
internação, dando essa condição e gerando efeitos
jurídicos neste sentido.
O menor deve atentar-se que não se trata de uma
advertência sim, mas sim de medida que requer
contraditório e ampla defesa, além de ser
necessário a prova de materialidade e ao menos de
indícios de autoria. [14]
Para que seja aplicado o teor do artigo 112 do
ECA, a admoestação que é a representação do menor,
ocorrerá por meio de audiência, onde o juiz irá
presidir os fatos, observar o ato infracional praticado
pelo menor e como meio pedagógico irá explicar e
conscientizar o adolescente da prática inadequada e
ilegal cometida por meio do ato infracional, e após
será reduzido a termo e diante da possibilidade ou do
cabimento da aplicação da medida socioeducativa o
menor será sócio educado. [3]
Esta audiência ocorrerá na Vara da Infância e da
Juventude, com a advertência explanada pelo
próprio juiz, cuja finalidade é que o adolescente
não venha a praticar novas infrações
Segundo Lima [7]: “só é cabível na ocorrência
de prática de atos infracionais análogos a
contravenções penais ou crimes de natureza leve,
que não importem em grave ameaça ou violência à
pessoa e para adolescentes sem antecedentes.”
Obrigação de reparar o dano
Quando a criança ou adolescente cometer ato
infracional que por algum modo reflete na lesão ao
patrimônio de terceiro, este, após determinação da
autoridade competente, será obrigado a reparar o
dano que causou a vítima, ou ainda, tendo a
possibilidade de compensar a vítima de outro modo.
A obrigação de reparar o dano recai sobre o
adolescente quando praticado sobre o patrimônio
da vítima, está tendo seu bem jurídico tutelado
lecionado pelo adolescente, no qual o Estado
previne por meio de norma, que uma vez que o
adolescente venha a praticar este ato infracional,
deverá ressarcir a quem lhe deu prejuízo, a quem
lesionou o direito de propriedade. [3]
De acordo com Rossato, Lépore e Cunha [14],
como características da obrigação de reparar o dano,
se encontram a “prova de autoria e da materialidade
da infração, bem como o gerenciamento realizado
pelo próprio Poder Judiciário e quando reparado o
dano, extingue-se a medida”.
Neste sentido, o autor afirma que não basta ter
indícios de autoria, mas sim devem ser
comprovadas a materialidade e a autoria do ato
infracional cometido pelo adolescente, já na
advertência o indicio de autoria é considerado,
devendo haver prova da materialidade ou indício
de autoria.
Noutro aspecto, a obrigação de reparar o dano
extingue-se quando este ato ocorre, extingue a
medida socioeducativa, uma vez que não há mais
motivação para sua continuidade.
Prestação de serviços à comunidade
A medida socioeducativa aplicada ao menor
infrator como prestação de serviços à comunidade
deve obedecer aos critérios de gratuidade, de
tarefas diversas em geral, mas que condizem com
as aptidões do adolescente, não podendo ser
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explorado em trabalho forçoso.
A limitação dos serviços destinados ao
cumprimento da medida socioeducativa, quando
aplicada a prestação de serviços à comunidade,
deve seguir as exigências contidas no artigo 117,
do ECA, devendo encaminhar a estabelecimentos
ou instituições de natureza governamental ou de
assistência, não podendo ser qualquer tipo de
serviço, mas sim aqueles que condizem aos
serviços oferecidos por tais instituições. [3]
Apesar de ser o trabalho uma das formas de
dignificar o homem e fazer com que o menor
aprenda uma profissão, no artigo 117, do Eca, é
claro que este trabalho deverá condizer com as
aptidões do menor, ou seja, não basta que a
atividade como medida sócio educativa tem uma
instituição que é descrita no corpo do artigo, mas
sim, uma atividade onde o menor terá caraterísticas
e afinidades, devendo haver convênio entre as
instituições públicas e que tem o dever de manter
um plano que acolha este menor e o oriente a fim
de realizar as suas atividades dentro de um
cronograma que contribui com seu
desenvolvimento enquanto cidadão. [7]
Ainda, no parágrafo único do artigo 117, do
ECA, o legislador limitou a jornada de trabalho do
menor que esteja cumprindo a medida
socioeducativa de prestar serviços à comunidade:
“[...] devendo ser cumpridas durante jornada
máxima de oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a
não prejudicar a frequência à escola ou à jornada
normal de trabalho”. [11]
No entanto, com a proteção dada a criança e ao
adolescente pela Constituição Federal de 1988, em
seu artigo 227: “[...] § 3º O direito a proteção
especial abrangerá os seguintes aspectos: I – idade
mínima de quatorze anos para admissão ao
trabalho, observando o disposto no art. 7º,
XXXIII”. [11]
A jornada de trabalho ao menor aprendiz poderá
ser de até 8 horas semanais, protegendo de lugares
insalubres pela proibição, trabalho exploratório, que
intentam ao adolescente risco a sua integridade
física, psicológica e em ambientes nocivos a sua
saúde, bem como em situações de trabalho
degradante e que comprometam o seu
desenvolvimento integral e sobre a proteção integral
determinada pela carta maior em sua defesa. [5]
A Constituição em harmonia com o ECA deve
ser aplicada desde que não seja desrespeitada a
Carta Constitucional de 1988.
Ou seja, a medida socioeducativa somente será
aplicada aos adolescentes que já possuírem idade
para iniciar no trabalho como menor aprendiz.
Liberdade assistida
A liberdade assistida é trazida pelo legislador
como meio de tornar a ressocialização do menor
infrator com maior garantia, por entender que a ele
não pode deixar passar sem que seja aplicado a
devida medida, mas também não lhe cabe medida
com maior severidade, dando-lhe uma
oportunidade para que seja assistido e amplie as
chances de se desenvolver como adolescente, com
dignidade e com adequação as normas, bem como
desenvolver-se educacionalmente e
profissionalmente. [7]
A finalidade da medida socioeducativa, tem o
condão de possibilitar a oportunidade do menor
infrator de reconhecer sua pratica incorreta e em
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um meio adequado e com a devida assistência e
métodos, ressocializar e tornar um adulto pautado
nos benefícios da cidadania. [12]
As obrigações do orientador condizem em
atender e buscar efetivar a proteção integral da
criança e do adolescente já descritos pela própria
constituição de 1988, e reafirmado nos moldes dos
artigos que tratam de buscar a contribuição de
assistências e de orientação por pessoas cuja
determinação judicial será apresentado ao menor
como meio de uma alternativa para ressocializá-lo
e assim poder gozar de direitos e de garantias
essenciais ao desenvolvimento pleno e pautado na
dignidade humana.
Medida de semiliberdade
Esta medida está ligada a pena privativa de
liberdade, enquanto as já citadas não privam o
adolescente da liberdade, assim sendo, na medida
de semiliberdade, ocorre a privação desde em
função das condições que lhes são impostas pelo
artigo 120 do Estatuto da Criança e do
Adolescente: “O regime de semiliberdade pode ser
determinado desde o início, ou como forma de
transição para o meio aberto, possibilitada a
realização de atividades externas,
independentemente de autorização judicial”. [14]
Medida de internação
A internação do menor deverá sempre ser a
última alternativa de aplicação como medida.
Sempre se deve buscar medidas mais branda,
levando em consideração as demais medidas,
sempre como meio protetivo a integridade, aos
direitos essências do menor, e em últimos casos
aplica-se a internação.
Por ser a medida que é aplicada apenas ao
adolescente, a criança este cenário é protegida
quando esta modalidade de sanção aplicável cujo
objetivo é demonstrar ao adolescente que a sua
conduta é imoral e ilícita ao convívio de uma
sociedade estruturada e precedida em normas que
tipificam os crimes e contravenções e na tentativa
de demonstrar a esta que para seu desenvolvimento
e bem estar o caminho a ser seguido difere do
envolvimento com atividades ilegais. [3]
Conforme descreve o artigo 121 do ECA, a
medida de internação possui alguns requisitos que
devem ser observados, em especial a
individualidade do adolescente, bem como optar
pelo menor tempo possível quanto ao período de
internação e aplicada excepcionalmente, apenas
quando não haver como ser aplicada medida com
menor severidade. [11]
DOS DIREITOS HUMANOS
Os diretos fundamentais não existem por
natureza, pois o que podem ser relevantes em
determinado contexto ou direcionado a um grupo
social ou povos, e em demais situações poderão ser
alterados em função das necessidade e conceitos
que se alteram e transformam, mas sempre em
consideração ao respeito as limitações humanas,
sofrendo as influências culturais dos povos e dos
grupos sociais. Não se aceita a ideia de que os
direitos inerentes ao ser humano sejam tidos como
em caráter absoluto, nos quais a direitos relativos
historicamente. [16]
Os direitos dos homens são heterogêneos.
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Assim não se deve falar em fundamento que visam
estabelecer as bases normativas que vinculam
condições do ser humano, mas sim em
fundamentos, pois são diversos os fundamentos de
acordo com o direito a se defender.
As declarações dos direitos do homem não recai
apenas quanto aos direitos individuais (liberdades),
como também os direitos sociais (poderes). Os
primeiros exigem obrigações negativas por parte
dos outros indivíduos, pois implicam na abstenção
de comportamento, ao passo que os segundos só se
realizam se forem impostos a outros (obrigações
positivas). Dessa forma, quanto mais aumentam os
poderes dos indivíduos mais sua liberdade diminui.
[16]
Na doutrina se destaca o entendimento de que
se deve buscar um argumento que destaque quanto
a fundamentação desse caráter absoluto que se
refere a tais direitos inerentes ao homem, mas sim
os fundamentos possíveis, de acordo com as
condições do meio e das situações em que o direito
pode ser realizado, pois quando se refere a
fundamentação da matéria, associa-se ao
desenvolvimento de estudos que se embasam em
conflitos e o fundamento dos direitos do homem
está associado ao estudo dos problemas
dificuldades históricas, sociais, econômicos e
psicológicos. [16]
Na contemporaneidade há desafios sobre a
concretização desses direitos, quer pela liberdade
concedida ao indivíduo ou pela limitação dada pelo
poder social ao fazê-lo cumprir a norma pelo
interesse da coletividade, ainda: "(...) não é saber
quais e quantos são esses direitos naturais ou
históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o
modo mais seguro para garanti-los, para impedir
que, apesar das solenes declarações, eles sejam
continuamente violados". [16]
Com a “Declaração Universal dos Direitos do
Homem”, aprovada pela “Assembleia Geral das
Nações Unidas”, em 10 de dezembro de 1948, os
direitos humanos tiveram seu marco de
reconhecimento”. [16]
Sobre a Declaração Universal dos Direitos do
Homem, esta: "(...) representa a manifestação da
única prova através da qual um sistema de valores
pode ser considerado humanamente fundado e,
portanto, reconhecido e, essa prova é o consenso
geral acerca de sua validade". [19]
Junto a declaração dos direitos humanos se
ressalta a valoração dos direitos individuais, da
igualdade, da proteção de condições básicas e
protetivas além da dignidade da pessoa humana.
Assim sendo, os direitos individuais podem ser
identificados como sendo aqueles relativos à
dignidade da pessoa humana, tal como a liberdade,
a vida, a segurança, a propriedade e outros mais.
Estes direitos estão garantidos nas Constituições,
que enuncia os valores básicos e fundamentais da
pessoa humana, trazendo declarações de conteúdo
valorativo como a Liberdade, a Igualdade, a Justiça
e a Dignidade, todos estes, próprios de um Estado
Social e Democrático de Direito.
A dignidade da pessoa humana não pode ser
mensurada nem controlada pelo Estado, tampouco
estipulada por fins econômicos, sendo absoluta,
inalienável, intransferível. A definição dada ao
termo e a sua representação atribuída ao ser humano
teve seu início na Grécia e foi mencionado por
pensadores como Emanuel Kant que enuncia a
dignidade como a essência dor ser humano não
podendo lhe ser atribuída, descrita, identificada ou
referenciada. [5]
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Pela sua complexidade de definição é possível
verificar a extensão do direito e da magnitude da
dignidade da pessoa humana, que uma vez lesada
deve ser prioritariamente observada pela norma
que busca manter a ordem, pois a dignidade do ser
humano é o bem mais valioso ao homem, sem ela
não há sentido ao existir e coexistir em sociedade e
a finalidade para quais as leis foram elaborados e
tentam-se manter-se a ordem de convivência entre
os seres humanos.
A dignidade é tida como um meio para atingir
outros fins e deve ser sempre respeitada, cabendo
aos órgãos públicos o dever de observá-la.
A dignidade da pessoa não quer dizer outra
coisa senão a dignidade do ser humano, sendo que
o termo ‘pessoa’ traz um sentido moral, independe
da posição social, política que o indivíduo ocupe na
sociedade. Basta ser humano para ser dotado de
dignidade. [17]
O livre desenvolvimento da personalidade
significa dizer que o indivíduo é quem faz o seu
projeto de vida, possuindo liberdade de escolha. Seu
conceito está diretamente atrelado à ideia de moral,
pois o indivíduo, no desenvolvimento de sua
personalidade, possui a liberdade, baseada na moral,
para escolher o seu verdadeiro projeto de vida.
Reconhece ao indivíduo uma liberdade geral de
ação, poder de autonomia dado pelo Estado ao
permitir que o ser humano conviva em sociedade e se
desenvolva, fazendo suas próprias escolhas, dotado
de liberdade e autonomia para dirigir a sua vida.
Liberdade é a ausência de impedimentos para
realizar determinada ação. Os indivíduos não
gozam de uma liberdade geral de ação, mas sim de
um livre desenvolvimento da personalidade. [18]
Deste modo, a liberdade geral de ação não é
uma liberdade de ação qualquer, mas sim uma
liberdade da qual, baseado em conceitos morais e
espirituais, o indivíduo se utiliza para o
desenvolvimento de sua personalidade.
Há o dever fundamental de respeitar-se a
dignidade humana e o desenvolvimento da
personalidade, assim como o de respeitar a lei, os
direitos próprios e os dos demais.
Neste sentido, os direitos humanos são negados
a criança e ao adolescente quando o Estado, a
sociedade e a família não conseguem manter o
desenvolvimento pleno deste e muitas vezes os
expõem a condições de abandono, de maus tratos,
de violência e abusos sofridos dentro do próprio
seio familiar. [6]
INSTRUMENTALIDADE E INADEQUAÇÃO
ENTRE A NORMA E PRÁTICA
A finalidade em que o legislador se pautou para
estabelecer a prevenção de condutas do
adolescente, com a punição por meio de medidas
socioeducativas, tem o condão de possibilitar que
o Estado possa intervir diante da ação quando o
menor comete o ato infracional e assim, a medida
socioeducativa vem no seu modo instrumental
cumprir a tutela que se desenvolve na aplicação da
medida, cuja finalidade não é unicamente de punir
ou sancionar o menor infrator, mas em educá-lo
dentro dos preceitos morais, éticos e as lhes
garantir que sejam punidos com medida de caráter
pedagógico.
O controle social, o dever do Estado em garantir
a paz social e o equilíbrio entre a conduta humana
baseada na moralidade, na licitude se contrasta
com a desmoralização em condutas ilícitas, que
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como modo de controle estatal e do dever de
assegurar uma sociedade justa e sem infração por
parte do menor criou meios mais brandos de não
interferir negativamente no seu desenvolvimento,
mas ao mesmo tempo de não lhe deixar impune e
que venha a reincidir.
A paz social é uma das primeiras preocupações
do Estado e a sua busca se faz por meio da
efetivação de intervenções de natureza
preventiva e repressiva. O ato infracional –
enquanto também manifestação de desvalor
social – enseja a movimentação da máquina
estatal no sentido de verificar-se a necessidade de
efetiva intervenção com o objetivo de educar o
adolescente e, mesmo inconscientemente, puni-
lo, como estratégia pedagógica. [14]
De acordo com Rossato, Lépore e Cunha [14],
o Estado buscou prevenir a conduta do menor e
trazer de forma instrumental a medida
socioeducativa, porém resulta na precariedade,
pois esta mesma medida é provisória não
solucionando e dando continuidade à formação
integral do adolescente, assim sendo, a
instrumentalidade reflete a tutela de defesa social e
também com finalidade educativa, mas que ao
mesmo tempo sua forma não pode ser efetivada
com eficiência pelo decurso de prazo que mantêm
o adolescente provisoriamente aos cuidados e
exposição a sócio educação.
Segundo a instrumentalidade, a tutela consiste
em instrumento de defesa social e educação do
adolescente. A precariedade conduz à
provisoriedade das medidas jurídicas adotadas,
de modo que, cumprida a sua finalidade,
esgotada está a finalidade da tutela. [14]
Ocorre que no texto constitucional, bem como
na legislação especial, oferece ao menor, condições
que direcionam os meios pelos quais a eficiência
deveriam ser presente, diante da ocorrência de ato
infracional, bem como nos critérios protetivos que
visam amparar o menor na plenitude do seu
desenvolvimento.
Destarte, a legislação é robusta quanto a
prevenção e previsão medidas socioeducativas, que
devem ser aplicadas ao menor no caso do
cometimento do ato infracional.
A finalidade pedagógica e em não interferir na
vida adulta do menor, se apresentou como meio de
reinserir na sociedade e buscar desenvolver
programas que integram o menor e venha a
reeduca-lo, porém na realidade vivenciada pelos
jovens no Brasil, o que se vê é a cada dia com maior
frequência, adultos que usam da vulnerabilidade do
menor e pela legislação protetiva fazem com que o
menor volte à prática do ato infracional.
Frente a tais apontamentos, a jurisprudência
vem de encontro com a interpretação que direciona
ao cometimento de inúmeros atos infracionais,
destacando para a ineficiência de medidas
socioeducativas aplicadas na prática como meio de
contribuir com a formação, a conduta e a educação
do menor infrator, como abaixo destacado:
APELAÇÃO DA VARA DA INFÂNCIA E DA
JUVENTUDE. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO
CRIME DE RECEPTAÇÃO. RECURSO DA DEFESA.
ALEGAÇÃO DE QUE O RÉU NÃO SABIA DA
PROCEDÊNCIA CRIMINOSA DOS APARELHOS
CELULARES. CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS QUE
DEMONSTRAM A CONSCIÊNCIA DA ORIGEM ILÍCITA
DOS BENS. ABRANDAMENTO DA MEDIDA DE
INTERNAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. REITERAÇÃO NO
COMETIMENTO DE INFRAÇÕES GRAVES.
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INEFICÁCIA DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
APLICADAS ANTERIORMENTE. (...) 3. NA ESPÉCIE,
MOSTROU-SE ADEQUADA A APLICAÇÃO DA
MEDIDA DE INTERNAÇÃO AO ADOLESCENTE EM
FACE DA REITERAÇÃO NO COMETIMENTO DE
INFRAÇÕES GRAVES, JÁ QUE O ADOLESCENTE
OSTENTA MAIS DE DEZ PASSAGENS PELA VARA
DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE, COM APLICAÇÃO
DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE LIBERDADE
ASSISTIDA E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À
COMUNIDADE, BEM COMO EM RAZÃO DE QUE O
QUADRO EM QUE SE INSERE O ADOLESCENTE
SINALIZA A REAL NECESSIDADE DE O ESTADO
INTERVIR, COM O INTUITO DE RESSOCIALIZÁ-LO,
REINTEGRANDO-O À VIDA EM SOCIEDADE. 4.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO, PARA
MANTER A SENTENÇA QUE APLICOU AO
ADOLESCENTE A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE
INTERNAÇÃO, POR PRAZO INDETERMINADO NÃO
SUPERIOR A 03 (TRÊS) ANOS, COM BASE NO ARTIGO
112, INCISO VI, DA LEI Nº 8.069/1990. (TJ-DF - APE:
226547020098070009 DF 0022654-70.2009.807.0009,
Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, Data de
Julgamento: 09/09/2010, 2ª Turma Criminal, Data de
Publicação: 22/09/2010, DJ-e Pág. 249).
Observa-se para o entendimento de que a medida
socioeducativa de internação, somente deve ser
considerada nos casos de maior incidência e da
previsibilidade de que o menor, diante de reiteradas
práticas, com o acúmulo de cometimento de atos
infracionais com a prática de crimes, e diante disse,
se verifica que o menor, caso não venha a ser
internado, continuará na prática de atos ilícitos e
assim sendo, verificada a aplicação de medidas
socioeducativas mais branda, constatou-se a
ineficiência da medidas, uma vez que o menor
voltou a reincidir.
Neste intento, como medida de buscar a
ressocialização e a aplicação por meio da
internação com prazo indeterminado, mas não
ultrapassando os 3 anos previstos no ECA, obsta o
Estado por mais uma intervenção condenando o
menor a medida socioeducativa de internação, com
a pretensão de vê-lo ressocializado e reinserido na
sociedade, findando a corrente de atos infracionais
cometidos pelo mesmo.
DA PROTEÇÃO A VIOLAÇÃO DE DIREITOS
SOCIAIS BÁSICOS
O “problema do menor” não é assunto recente e
nem mesmo possui uma única vertente
interpretativa quanto as raízes da concorrência para
o ato infracional cometido por esses. Há quem
discurse no mesmo contexto de sempre, relatando
a pobreza, a estrutura familiar, mas observasse que
esses são apenas alguns dos fatores que contribuem
com a realidade que se retroalimentam com o
passar dos anos.
A problemática está envolta em diversos
mecanismos e dentre eles o aparato doutrinário,
constitucional, e pelo próprio ECA em si, que
apresentam os mecanismo e elementos necessários
para conduzir que a realidade seja segregada, no
entanto, no contexto prático a realidade diverge das
intenções do legislador em proteger integralmente
os meios que ressocialize o adolescente
institucionalizado, ou seja, há fundamentos
necessários que devem ser observados e que visam
a eficácia na ressocialização de adolescentes que se
encontram em cumprimento da medida de
internação, porém os próprios estabelecimentos
não suportam e promovem as ferramentas
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necessárias a atender as necessidades desses
menores, não lhes proporcionando amparo as
questões sociais.
Nesse sentido, o problema é decorrente das
bases da estrutura social, envolvendo desde as
famílias, o estado bem como o próprio instituto de
acolhimento que deveria atuar como promotor de
efetivação dos direitos necessários e básicos ao
desenvolvimento do adolescente, remetendo as
questão que já se apresentaram desde o início da
prática de abandono, de exposição de
vulnerabilidade em que esses foram expostos,
sendo que a legislação diante da problemática
social que emergia das vertentes sociais, veio como
meio de prevenir os abusos e tentar garantir a
proteção dos menores, instituindo leis e instituições
para amparar os menores. Como falar em
dignidade humana, quando os genitores
abandonam seus recém nascidos a sorte de ter a
assistência do Estado, gerando o primeiro
problema que irá acompanhar o desenvolvimento
desta criança e assim sendo, se este ser humano
obtiver sorte irá se bem cuidado, não irá sofrer
abusos na instituições que deveriam ampará-lo. [2]
Porém, a realidade já gravada na história,
destaca um problema humano que tem origem na
própria estrutura social e na concepção de
moralidade do ser social, onde ao iniciar os
primeiros casos de abandono nas rodas de casas de
misericórdia, sujeitos que violaram a entidade
familiar, instituição consagrada com a modalidade
social, procuravam acabar com seu “problema” e
não assumiam a concepção e vida de crianças que
eram abandonadas a própria sorte. [3]
Mais tarde, quando os números de abandonos
foi acumulando números e passaram-se alguns
anos, esses mesmos abandonados cresceram e
percorreram caminhos de condições de
miserabilidade, de maus tratos, de baixo
desenvolvimento e rendimento escolar, tornando-
se vulneráveis a criminalidade.
Por resultado, no seio social passa a emergir
problemas envolvendo pequenos furtos com o uso
de crianças e adolescente órfãos, chamando a
atenção do estado em procurar algum mecanismo
que pudesse solucionar tal problema social, criando-
se assim até chegar o ECA leis e modelos de
proteger a entidade familiar e ao mesmo tempo de
amparar o que ficou chamado de “filhos do
governo”. [5]
O que se pretende explicitar é que o problema
de menores infratores, convivem e se multiplicam
por diversas vertentes e dentre elas está a precária
estrutura familiar e social que é minada de
problemas complexos, e está longe de se resolver.
Tais aspectos são parte dos problemas que
envolvem os casos de adolescentes infratores, não
podendo ser avaliado os fatores isolados, pois
quando um menor comete ato infracional verifica-
se, de acordo com a literatura, que as influências e a
vulnerabilidade ao crime advém da problemática
social e sentido amplo, muitos estudos apontam para
a questão de exclusão social, pobreza e abandono,
levando-os a não uma base essencial de
desenvolvimento, sofrendo muitas vezes maus tratos
e sendo-lhes negado as condições dignas de
sobrevivência e o desenvolvimento dentro de
estruturas tanto social quanto familiar adequada,
sendo assim, os problemas os reflexos de toda a
situação que envolve esses menores, e ao serem
institucionalizados enfrentam novo processo de
exclusão, pela ausência de um sistema completo e
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que lhes proporcione a adequada ressocialização,
para que após a internação tenha o futuro diferente de
todos os desafios que enfrentou até esse momento.
Contudo, há que se destacar quando a evolução
do amparo ao menor, tanto para o abandono como
meio de proteger e manter a ordem como era visto
na década de 60, 70 e 90, bem como de aplicar
medidas de segurança àqueles menores que
cometiam algum ato infracional. (BARROS, 2014).
Nesse sentido, traz Sposati (2013, p. 33) que
“são inúmeros os relatórios de organizações de
direitos humanos que atestam o alto grau de
violência no interior das instituições de
internações”.
Percebe-se no estudo doutrinário, que o menor
passou por estágios iniciais onde eram entregues a
casas de misericórdia como meio de “higienizar”
as relações que atentavam contra a moralidade da
família, e por este início pode-se perceber que uma
das primeiras formas que dão origem a ineficácia
das medidas hoje adotada são os exageros, abusos
institucionais que visam proteger, mas que na
prática foram denunciados por utilizar-se do poder
sobre a vida de crianças e adolescentes deixados
nessas casas, em lares e instituição direcionadas ao
menor, criando estereótipos desde cedo aplicada a
essas crianças e aos adolescente.
Na ideia de Lima [7] desde o início de
instituições que propagam acolher, seja de forma
assistencialista, higienistas ou em nome do estado
para dar ordem social e segurança a comunidade,
desde esse início vem manchada com a inversão de
valores, ou seja, uma criança em abandono seja
pelo genitor que não lhe aceitou por ser fruto de
uma relação extraconjugal, ou qualquer que seja a
justificativa, já inicialmente impõem a criança o
sentimento de rejeição, bem como a entrega a
instituições que bem como já visto nos casos reais,
muitas vezes abusivas aos seus direitos humanos,
sua liberdade, estigmatizando esses menores e lhe
determinando um futuro que será diverso daquele
menor que terá o amor da família, o sentimento de
aceitação e o bom trato educacional e moral.
Nesta esteira, também compreende Marcela
Geske [8], que o menor infrator e aquele menor em
condições de assistencialismo ou de higienismo
social, contam com circunstâncias que fazem seu
desenvolvimento direcionar a uma vida cotidiana de
cometimento de atos infracionais, motivados pela
degradação social, por condições de miserabilidade,
ausência de reparo escolares sendo analfabetas
situações extremas de fome, sendo vítimas de
ideologias que generalizam a violência e incentivam
que “o fraco não tem vez por isso o crime é a melhor
saída, caso contrário não serão ninguém”.
Junto a estes fatores, se enquadram a ausência
de estruturação familiar, os abusos e maus tratos
sofridos pelo menor até mesmo advindo de
referências que deveriam contribuir na sua
formação da personalidade e ser cidadão, sofrendo
abusos de familiares e de instituições que os
acolhem, invertendo e confundindo a pisque do
menor, levando a vulnerabilidade ao mundo do
crime e contribuindo com o crescimento de
organizações criminosas. [8]
Considera Sposato [13] que a o futuro da
interpretação dada ao direito que envolve a criança
e ao adolescente não mais irá remeter apenas as
questões pelo qual foram interpretadas
inicialmente, ou seja, de crianças e adolescentes
abandonados e menores infratores, mas uma
mesclagem entre o direito que as protege a
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definição em maior concentração quando a sua
garantia de efetividade de direitos inerente a sua
proteção integral, não vislumbrando direcionar o
problema que influencia adolescentes e menores a
entraram no contexto do crime, assim sendo, frisa-
se que neste aspecto, as mudanças interpretativas
acerca do contraste real definido pelos fatos e
quando comparados ao teor das normas não mais
enfrentaram disparidade quando a expectativa e a
efetividade em si.
Esses tribunais se transformarão, em todas as
partes, em centros de ação para a luta contra a
criminalidade juvenil. Não somente ajudando-os
a recuperar a infância decaída, mas também a
preservar a infância em perigo moral. Esses
tribunais poderão transformar-se, além disso, em
auxiliares de aplicação das leis escolares e das
leis do trabalho. Em torno deles se agruparão as
obras admiráveis da iniciativa privada, sem as
quais a ação dos poderes públicos não pode ser
eficaz. Ao mesmo tempo, a melhor proteção da
infância abandonada e culpável e a salvaguardar
mais eficaz da sociedade. [13]
No entanto, apesar desse texto ser mencionado
no ano de 1911, a intepretação parece recente, onde
se verifica a mudança em favor da criança e do
adolescente quando se remete a ideia de retirar os
aspectos morais e ao estigma que por vezes lhes era
direcionados, dando o caráter moralizado e com as
novas aspirações à época, presumia-se que a
mudança de interpretação e de amparo a proteção,
como bem preceituada nas intenções e mais tarde
gravados no texto constitucional e a legislação
especial do ECA, hoje consagrados como superiores
ao buscar os meios de apontar, pelo menos
legalmente falando, sustentam, a mais de cem anos
o mesmo discurso, que no entanto continua em
inadequação pela ineficiência de aplicabilidade.
Observasse, eu a vertente que buscou retirar a
doutrina do delinquente menor infrator, trouxe com
o texto constitucional a doutrina da proteção
integral, mas em conjunto não houve a alteração na
realidade fática, mantendo-se apenas as questões
normativas e de desenvolvimento abstrato, não
efetivando tais direitos que pudessem realmente
contribuir com a promoção de suprir as
necessidades de questões sociais do adolescente
que transgrediu.
O modelo normativo de inclusão dos menores,
esses em condição de institucionalizados por meio
da internação, no qual deveriam ter seus direitos
atendidos quanto aos acompanhamento
psicopedagógico e de equipe multidisciplinar, bem
como acompanhamento escolar, por vezes não tem
nem mesmo a avaliação com o profissional, como
descrito em pesquisa realizada na Febem, antes
mesmo de ser consagrado em termos moderno como
Fundação Casa, ou seja, veja-se o relato da descrição
sobre os casos de internos que se encontravam a pelo
menos seis meses institucionalizados:
A informações eram dificultadas e acabavam por
serem inexistentes, uma vez que em relatórios
anteriores, o que deveria ser feito, mas não se
faziam pela ausência de tais informações. Nos
relatórios técnicos anteriores, não existiam
indicadores dos trabalhos realizados. Além disso,
muitos adolescentes não tinham relatórios
técnicos de seus prontuários, mesmo já estando
há mais de seis meses na casa. O total de casos
era sessenta, que se foram somando a outros, na
medida em que os adolescentes iam sendo
liberados. [12]
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O relato destacado por Alves [12] retrata a
ausência de acompanhamento regular e relato do
caso em si, destacando que pode-se tirar a
conclusão de que os adolescentes nem sempre
recebiam a devida atenção, individualizada e para
que pudessem ser observados e aplicado o devido
tratamento adequado, seja por meio de terapias, de
relatos individualizados, de acompanhamento
profissional, onde seus medos, angústias e demais
fatores emocionais pudessem ser acompanhados
por profissionais, bem como na condição em que
se encontravam, institucionalizados, e por vezes
longe de suas famílias, tentativa de fugas, pela
ansiedade de retorno ao lar, a liberdade.
A avaliação pela qual os adolescentes eram
submetidos, quando de seu ingresso, baseava-se
numa primeira “impressão diagnóstica”.
Realizado por meio de entrevistas. A ausência de
uma avaliação diagnóstica, por meio de testes
psicológicos ou outros procedimentos de
investigação clínica de personalidade, redundava
em menor fidedignidade dos pareceres técnicos.
Sabemos da importância que uma entrevista bem
conduzida possa ter na alocação de dados, mas
são inúmeros os profissionais dentro da
instituição, suas formações são distintas e nem
sempre pudemos ter controle do fator “relação
transferencial”, entre o psicólogo e o
adolescente. [10]
No que concerne a eficiência quanto a
equiparação de todos os preceitos legais garantidos
ou ao menos na intencionalidade do legislador em
proporcionar que os adolescentes, assim que sejam
internados, com a aplicação da medida
socioeducativa, compreendendo o amparo do
Estado que por meio de seus representante na
execução das medidas e da efetividades de
proporcionar os meios de ressocialização ao menor
infrator, tenha por fim, desenvolver e acolher esses
adolescentes em instituição que tenha ao menos
profissionais que lhes promoverão a devida
assistência e como descrito acima, esse
acompanhamento profissional por vezes não é
prestado, assim, o menor que já se encontra
vulnerável, não encontra o meio adequado para a
sua condição de institucionalizado.
As relações da instituição com os adolescentes sob
seus cuidados transpareciam estar fortemente
inseridas no registro da repressão e do
autoritarismo, com uma desconsideração para
com o adolescente e sua família, o que nos levou
a questionar a categoria atribuída a eles como
grave e a indagar a ausência de um
psicodiagnóstico processual na instituição como
um todo, no qual pudesse auxiliá-los em seu
percurso de vida. As relações institucionais, em
nossa percepção, foram mais uma sobreposição
aos aspectos afetivos com que os adolescentes
tinham de se deparar, impedindo o timing e a
reorganização psicológica deles, para que
pudessem dar novos sentidos para suas vidas. [15]
Um vez que não é dado o suporte necessário a
criança e ao adolescente, atendendo e lhes
concedendo todos os meios de assistência para que
se desenvolvam e se recupere de condutas ilícitas,
verificasse que o encaminhamento do menor as
instituições não tem outro sentido senão agravar
ainda mais a situação de vulnerabilidade deste, pois
o Estado tem o direito de aplicar a sanção, mas
deve para isso cumprir com as exigências legais de
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ressocialização, não havendo embasamento para
que ocorra uma vez que não são respeitados a
devido amparo que deve ser dado ao menor
infrator, assim sendo, viola sua dignidade humana,
se assemelhando as instituições prisionais que
apenas retiram o direito de liberdade e não
proporciona as condições necessárias a suprir as
deficiências da problemática e não lhes garantes a
solução das questões sociais, o eleva ainda mais a
severidade, onde adolescentes não recebem o
tratamento adequado e por vezes podem ainda mais
se rebelar contra as autoridades pela
incompreensão de estar privado da liberdade mas
sem a devida assistência.
Nesse mesmo sentido, Waiselfisz [19], considera
que a realidade envolvendo o menor infrator e seu
desenrolar nas estatísticas bem como nos fatores que
cercam e envolve todo esse contexto, onde os
cidadãos não sabem compreender se o adolescente é
vítima ou o algoz social, representa tamanha
vergonha ao pais ao chegar a elevação dos atos
infracionais que a cada ano tem se elevado em
100%, retratando diversos problemas sociais que
levam em conta que nem mesmo o Estado, a
sociedade e a família tem protegidos esses
adolescentes e os reflexos estão a olhos visto numa
realidade que se pretende solucionar com a redução
da menor idade penal, como discursado por muitos,
no entanto, considera-se que o elevado número de
maus tratos, abusos e condições desumanas
atribuídas a condutas contra a criança e ao
adolescente, verte para o enfoque que deve priorizar
reestruturar a moralidade e ética social, bem como
em interpretar que o problema está para além do ato
infracional ou conduta ilícita em si praticada pelo
menor, mas que é originária de diversos fatores de
deficiência social que não garantem as questões
sociais que devem ser supridas para a criança e para
o adolescente e por assim ser ineficiente o discurso
entre a normatização protetiva e a prática violadora
de direitos básicos do menor, põem em questão a
necessidade de urgentes mudanças para essa
realidade.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, com a análise e reflexão da
normatização e doutrina da proteção integral,
garantido no texto constitucional ao adolescente,
explanando sobre os conceitos fundamentais que
amparam para os direitos e a sanção aplicada nos
casos em que envolvem menores regidos pela lei
especial do ECA, verificou-se que as medidas
socioeducativas aplicadas ao menor infrator,
destacando reflexões sobre o tema e demonstrando
que a medida socioeducativa não tem eficácia, uma
vez que com a internação, por ser o último recurso
na tentativa de ressocializar o menor infrator, tem
demonstrado que muitos casos se esgotam as
possibilidades e o menor volta a cometer ato
infracional.
Quanto a legislação, foi possível analisar e
destacar que está traz meios que são de grande
importância e até mesmo além do que a sociedade
na prática consegue promover com eficiência,
havendo dispositivos de proteção integral de dever
e responsabilidade ao Estado, à família e
sociedade, porém, na prática está longe de ser
efetivada pelo complexo que envolve os meios
criminógenos.
Dentre as principais causas que levam o menor
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a reincidir está uma diversos fatores que remetem
a base estrutural social, destacando-se as situações
de abandono em lares em instituições direcionadas
ao acolhimento de menores, estado de miséria,
fome, baixo grau de escolaridade, estrutura
familiar negligência, desvios de fins de instituições
de amparo, com índice de abusos e maus tratos,
expondo o menor a vulnerabilidade e vislumbre ao
crime como meio de melhorar de vida e sair do
abandono, da miséria, da pobreza e ter uma melhor
vida igual aos que possuem mais que eles.
Pelo exposto, foi possível concluir que há uma
discrepância entre a normatização protetiva que traz
todos os elementos para que o menor se ressocialize,
mas que em contraste com as medidas de internação
e situação de institucionalizado, a prática é
inadequada ao texto normativos e pela reincidência
destaca na doutrina, verifica-se a ineficácia da
atuação estatal, bem como podendo ser verificada
pelo apontamento doutrinário em considerar que
não há avaliação nem mesmo acompanhamento
profissional no tempo adequado e atenção
individualizada ao menor dentro da instituição.
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O INSIDER TRADING OU USO INDEVIDO DE INFORMAÇÃO
PRIVILEGIADA NO MERCADO DE CAPITAIS NO CONTEXTO DO
DIREITO PENAL ECONÔMICO BRASILEIRO
Lunas da Silva Machado1
1 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará, UFC. Mestre em Direito - Ordem Jurídica Constitucional
pela Universidade Federal do Ceará, UFC. Especialista em Direito Administrativo pelas Faculdades Integradas de
Jacarepaguá (FIJ) e Especialista em Direito Penal pela Faculdade Internacional Signorelli. Foi Técnico Judiciário e
Analista Judiciário no Tribunal de Justiça do Ceará - TJCe. Foi Professor Adjunto das disciplinas Introdução a Ciência
do Direito, Hermenêutica Jurídica, Deontologia Jurídica e Estágios Supervisionados III e IV na Graduação em Direito
na Universidade de Fortaleza, UNIFOR. Técnico Judiciário no TJRN.; E-mail: lunasdasilvamachado@gmail.com
Resumo – Este artigo de investigação faz uma análise
conceitual referentemente ao delito de uso indevido
de informações privilegiadas ("insider trading"),
inserido no âmbito do Direito Penal Econômico.
Buscamos elucidar as razões pelas quais o legislador
inseriu essa conduta entre os tipos penais, fazendo
uma investigação legal e doutrinária da identificação
precisa dos seus agentes passíveis e os elementos
normativos de caracterização do delito como
atentatório ao Sistema Financeiro Nacional. O
presente estudo tem por finalidade também fazer
uma análise sintética do conteúdo do injusto penal
em seus aspectos objetivo e subjetivo a fim de
determinar a configuração da conduta incriminada.
Palavras-chave – Insider Trading, Elementos
Normativos de caracterização do uso indevido de
Informações Privilegiadas, Proteção da lealdade para
com o mercado, Mercados Financeiros, Sanções.
Abstract – Este artículo de investigación hace un
análisis conceptual sobre el delito de abuso de
información privilegiada dentro del alcance del
Derecho Penal Económico. Buscamos dilucidar las
razones por las cuales el legislador insertó esta
conducta entre los tipos criminales, haciendo una
investigación legal y doctrinal de la identificación
precisa de sus agentes responsables y los elementos
normativos de caracterización del delito como
infractor del Sistema Financiero Nacional. El
propósito de este estudio también es hacer un análisis
sintético del contenido del castigo injusto en sus
aspectos objetivos y subjetivos para determinar la
configuración de la conducta incriminada.
Palabras Claves – Insider Trading, Elementos
normativos de caracterización del Uso Indebido de
Información Privilegiada, Mercados Financieros,
Protección de la lealtad con el mercado, Sanciones.
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I. INTRODUÇÃO
No ordenamento jurídico brasileiro, a conduta
denominada insider trading é considerada crime,
conforme disposto no art. 27-D, da Lei 6.385, de
07 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o
mercado de valores mobiliário, sendo que tal
dispositivo, inserido pela Lei 10.303, de 31 de
outubro de 2001, tipifica o uso indevido de
informações nos mercados de capitais, capazes de
originar assimetria de informação e seleção adversa
daqueles que não têm acesso ou têm acesso tardio
à informação.
A prática da conduta positivada como uso
indevido de informações privilegiadas leva a perda
da confiabilidade nos mercados de capitais,
tornando-o tão vulnerável que justifica a
intervenção necessária do direito penal.
Tem ocorrido cada vez mais uma intensificação
da importância e centralidade do mercado de
capitais, em decorrência da hegemonia mundial e
também local do capitalismo financeiro em relação
ao capitalismo industrial, e práticas passaram a ser
analisadas por serem pervertedoras da
transparência e eficiência dos mercados.
A questão em abordagem neste artigo é
importante para o desenvolvimento dos mercados
financeiros e de capitais, não somente no Brasil,
mas ao redor do mundo.
A Bolsa de Valores, instrumento de grande
importância para a transformação e
desenvolvimento dos mercados de capitais é a
arena do capitalismo financeiro de
desenvolvimento natural da figura típica criminal
analisada neste trabalho.
Nesta etapa de financeirização do capitalismo, a
Bolsa de Valores é o instrumento hábil e mais
eficiente para dar liquidez e visibilidade ao
mercado de valores mobiliários. Os mercados
acionários, através das Bolsas de Valores, são
considerados pelos investidores iniciantes e
inexperientes uma espécie de cassino, pois acham
equivocadamente que podem ter lucros fáceis
como se fosse a Bolsa um local eletrônico para
apostas randômicas em ações, derivativos, futuros
e vendas a descoberto.
No entanto, para os grandes investidores e
players do mercado, a realidade é de todo diversa,
e por isso estes se cercam dos melhores
especialistas em finanças, análise técnica,
valuation, economia principalmente em seus
aspectos de análise macroecônomica, direito do
mercado de capitais e outras especialidades
correlatas, tudo no intuito de ter o mínimo risco e o
máximo de retorno do capital investido. Para tais
grandes players do mercado acionário,
principalmente Bancos e Fundos de Pensão, o mais
importante é a informação, tanto advindas da
microeconomia das empresas quanto da
macroeconomia enquanto contexto.
É, pois, no âmbito do Direito Penal Econômico,
que tem como escopo a defesa da ordem
econômica, que aparece na norma penal a conduta
de insider trading ou uso indevido de informação
privilegiada, que pode ser verificada na perspectiva
de um enriquecimento individual, desequilibrando
o mercado financeiro em detrimento dos demais
investidores, como quando se deu a prisão
preventiva de Wesley Batista, presidente da JBS,
ao qual se imputou o uso de informações
privilegiadas para obtenção de lucros no mercado
financeiro, com transações ocorridas entre abril e
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17 de maio de 2017 de ações da JBS antes que
viesse a ocorrer o vazamento da delação dos
controladores, evitando um prejuízo potencial de
milhões de reais aos irmãos Batista.
É perceptível que condutas tais quais esta são
capazes de se amoldar a tipificação prevista no art.
27-D da Lei nº 6.385/76 e causam sérios danos a
um considerável número de investidores e agentes
do mercado. O acesso e a utilização de informações
privilegiadas abrem a possibilidade de retornos
extraordinários para alguns poucos investidores e
prejuízos para aqueles que não possuiodores da
informação, abrindo a possibilidade para a quebra
de confiança na transparência do mercado.
O conteúdo normativo inserido em nosso
ordenamento pelo artigo 27-D da lei n.º 6385 de 07
de dezembro de 1976, com nova redação dada pela
lei reformadora do mercado de capitais, qual seja,
a lei 10303 de 31 de outubro de 2001, está
intimamente relacionado com o dever de
divulgação, configurativo da boa-fé que deve estar
presente em todo o campo negocial e também com
a adequada proteção dos consumidores de serviços
financeiros e dos investidores, efetivos e em
potencial, e a confiança dos mesmos no regular
funcionamento dos mercados.
A criação desta nova norma penal ocorreu com
base na necessidade de se obter maior controle das
operações financeiras, em face de um perceptível
crescimento das negociações de ações e debêntures
no mercado de capitais. Tal conduta, antes da
tipificação penal, já era caracterizada como um
ilícito de cunho administrativo, inclusive com a
aplicação de sanções pela Comissão de Valores
Mobiliários. Embora ocorram críticas da doutrina a
atuação do direito penal no âmbito do uso da
informação privilegiada, havendo inclusive juristas
como a Professora da Universidade de Zaragoza,
Esther Hernández Sainz, que defendem a
desnecessidade de punição criminal do insider
trading, mesmo assim a criminalização desta
conduta tem se apresentado contemporaneamente,
no contexto de um globalizado e financeirizado,
como uma tendência mundial.
Segundo a análise de Esther Hernández Sainz
entende-se por transferência de informações a
garantia de divulgação de todas as informações
relevantes por parte das empresas que tem valores
custodiados em mercados de capitais, sendo que tal
interesse se protege por meio do princípio do full
and fair disclosure, adotado no Brasil e América
Latina sob inspiração estadunidense, princípio este
que é um pressuposto lógico do funcionamento dos
mercados. Segundo esta jurista a melhor forma de
proteger a transparência informacional nos
mercados não é pela via da criminalização, pois a
proibição criminal do uso indevido de informação
privilegiada não é garantia de transparência, pois
não implica, de per si, em um aumento dos níveis
de informação do mercado, o que se consegue, na
visão da autora, não com a tipificação da conduta,
mas com a obrigação de difusão imediata de toda
informação relevante.
A maioria dos doutrinadores, no entanto, é
favorável a criminalização da conduta em estudo,
em busca de uma hipótese de mercado eficiente.
Em decorrência da relevância econômica do
mercado de valores mobiliários nas economias
capitalistas de livre mercado e a necessidade de
garantir sua eficiência, deve ser combatido,
inclusive no âmbito criminal, o uso de informações
privilegiadas.
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II. MATERIAIS E MÉTODOS
Foi efetivado um estudo buscando interpretar o
conteúdo normativo do art. 27-D da Lei nº 6.385/76
usando o ornamento de modo exegético, sistemático
e finalístico, usando-se a lei, a doutrina nacional e a
jurisprudência, buscando uma conceituação e
compreensão normativa e dos efeitos financeiros de
tal delito, tangenciando aspectos relativos a
competência e natureza do bem jurídico tutelado no
brasil no âmbito de identificar o bem jurídico
penalmente tutelado pelo delito de insider trading,
bem como buscando respostas legais e doutrinárias
para outras questões atinentes a tal crime.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O que busca perquirir como sendo informação
privilegiada no âmbito do direito penal econômico
brasileiro? Existe efetividade no combate a tal
delito no sistema jurídico brasileiro? Tal delito
configura-se como próprio ou comum? Qual a
finalidade de tal norma penal no ordenamento
jurídico brasileiro? Quem pode ser vir a ser
condenado pela prática de insider trading no
contexto do direito pátrio? Qual a razão para que o
tipo penal em comento como uma norma penal em
branco? Trata-se de delito de ordem financeira? De
quem é a competência para processar o crime do
artigo 27-D da Lei n.º 6.385/1976?
Estas são as questões postas e discutidas, para
as quais se buscou resposta usando a doutrina
nacional e jurisprudência. Para algumas destas
questões houve uma resposta mais aprofundada,
para outras a natureza da resposta foi perfunctória,
contudo buscou-se objetividade dentro das fontes
de direito nacional.
O QUE VEM A SER ESTA INFORMAÇÃO
PRIVILEGIADA NO ÂMBITO DO DIREITO
PENAL ECONÔMICO?
Nos mercados financeiros, a informação é uma
ferramenta estratégica e nem todos os participantes
têm acesso a ela com as mesmas taxas de fluxo e
qualidade. O conhecimento de informações é o que
torna possível a realização de negócios. Entretanto,
falar de igualdade de informação de mercado igual,
embora seja um principio basilar, é quase uma
utopia, pois que alguns agentes do mercado por
serem detentores de um conhecimento maior de
análise técnica e/ou fundamentalista, e com maior
percepção para os fluxos e volumes do mercado de
valores bem como por serem capazes de uma
melhor compreensão dos balanços contábeis das
empresas de capital aberto, tornam-se sabedores de
movimentos do mercado antes mesmo que estes
venham a ocorrer.
No caso do insider trading, a informação
relevante não foi revelada ao mercado, tornando-se
uma informação privilegiada. O que poderia ser
definido como fato relevante, tendo em vista que a
legislação criminal não traz conceito?
O que vem a ser esta informação privilegiada?
Podemos dizer que são as informações e dados que
não se tornaram públicos, e que dizem respeito a
valores mobiliários ou outros instrumentos
financeiros, bem como as empresas emissoras dos
mesmos, as quais seriam idôneas a partir do
momento que lhes fosse dada publicidade, para
influenciarem nos preços do mercado financeiro. A
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negociação dos títulos deve ocorrer em
uniformidade de informação, na medida do
possível. Caso as negociações sejam baseadas em
informação privilegiada, qual seja, que não seja
disponível a todas as partes nas operações de
mercado, configura-se como presente um distorção
econômica grave assim como uma pertubadora
disfunção do mecanismo societário nas
companhias de mercado aberto.
O problema torna-se de maior magnitude
quando certos atores do mercado passam a violar
essas obrigações abusando da sua posição com
vistas a obtenção de informações privilegiadas,
afetando, assim, a transparência e a confiabilidade
que deve ser oferecido aos investidores que atuam
nos mercados de valores mobiliários.
Ocorre que o agente, destarte, tem um dever de
sigilo e o mesmo é quebrado, de acordo com o tipo
penal em questão. Os possíveis sujeitos ativos são
pessoas obrigadas, legalmente ou contratualmente,
a dever de sigilo para com a informação. Os
sujeitos que tem o dever legal de sigilo estão
estabelecidos em diversos dispositivos da Lei das
Sociedades Anônimas, qual seja, a de n.º 6404/76,
sendo os mesmos os insiders: são os
administradores, diretores, membros do conselho
de administração e fiscal e o acionista controlador
das companhias abertas. E quem são os sujeitos que
tem o dever contratual de sigilo informacional? Tal
dever é decorrente da prestação de serviços, de
forma contínua ou eventual, relacionados às
atividades da companhia, sendo insertos em tal
contexto os advogados, consultores, auditores e
operadores de mercado, dentre outros, que
porventura tenham tido acesso à informação de
natureza relevante.
É o crime em análise, o insider trading, próprio
ou comum? Trata-se de crime próprio, o que não
afasta a possibilidade da co-autoria, pois que o
dever de sigilo se caracteriza como circunstância
elementar do tipo penal, comunicando-se ao
partícipe ou co-autor, conforme está disposto no
artigo 30 do Estatuto Penal. Não é qualquer pessoa
que possui a obrigação de manutenção de sigilo,
exigindo o preceito normativo em questão que o
agente, qual seja, o sujeito ativo, além de ser
detentor da informação privilegiada, tenha também
a obrigação legal de guardar sigilo.
O combate ao insider trading foi incluído no
âmbito dos ilícitos penais no artigo 27-D da lei n.º
6385 de 07 de dezembro de 1976, o qual estabelece
como crime a prática do uso indevido de
informação privilegiada, passando, assim, a figurar
como objeto das investigações do Direito Penal
Econômico brasileiro. Tal preceito, entre nós, foi
inserido pela Lei 10.303, de 31 de outubro de 2001.
Até tal data a conduta era punida tão só
administrativamente, pela Comissão de Valores
Mobiliários, a CVM. Tal fato tem sido cada vez
mais combatido ao redor do mundo, não apenas nas
esferas administrativa e civil, assim como também
no âmbito penal, sendo crescente o número de
países que vêm tipificando e estabelecendo um
arcabouço normativo referente a tal prática a nível
criminal.
Há, pois, que vislumbrar o artigo 27-D da
referida lei, em sua literalidade:
DOS CRIMES CONTRA O MERCADO DE
CAPITAIS
Art. 27-D. Utilizar informação relevante ainda
não divulgada ao mercado, de que tenha
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conhecimento e da qual deva manter sigilo,
capaz de propiciar, para si ou para outrem,
vantagem indevida, mediante negociação, em
nome próprio ou de terceiro, com valores
mobiliários: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5
(cinco) anos, e multa de até 3 (três) vezes o
montante da vantagem ilícita obtida em
decorrência do crime.
Qual o conceito simples de insider trading? É tal
como preleciona Nelson Eizirik, "simplificadamente
a utilização de informações relevantes sobre uma
companhia, por parte das pessoas, que, por força do
exercício profissional, estão por dentro de seus
negócios, para transacionar com suas ações antes
que tais informações sejam de conhecimento
público”. Ou seja, o insider negocia valores
mobiliários de emissão duma companhia,
conhecendo as mesmas informações relevantes,
antes que tais informações cheguem ao mercado e
ao público investidor pelos meios institucionais de
divulgação adotados no mercado de capitais.
Segundo José Marcelo Martins Proença, o
conceito do insider trading ou uso indevido de
informação privilegiada vem a caracterizá-lo como
sujeito ativo de transações desleais e insidiosas
realizadas no âmbito do mercado de capitais. Os
insiders, enquanto sujeitos ativos do delito presente
no artigo 27-D da lei n.º 6385/76 praticam insider
trading quando compram ou vendem títulos, cujos
valores ainda não são reflexivos do impacto de
determinadas informações, relevantes e
privilegiadas, que são de conhecimento exclusivo
do insider ou de um pequeno grupo. Assim se
pronuncia o mesmo autor:
Verdadeira cilada para a comunidade do
mercado de capitais, o comportamento do
chamado insider trading (negociação por aquele
que está “por dentro”) consiste no efetivo
aproveitamento de informações confidenciais ou
reservadas, acerca do estado e dos negócios de
determinada companhia, por parte de
administradores, principais acionistas e outros
que a elas têm acesso, para negociar com
investidores que a tanto se recusariam, pelo
menos pelas bases estabelecidas, caso
conhecedores das mesmas informações.
A informação privilegiada pode ser usada de
duas maneiras, dependendo do conteúdo positivo
ou negativo da informação. Se a informação for
positiva o insider pode comprar ações ou
derivativos no mercado, antes que tais valores
mobiliários venham a ser influenciados pelo
conteúdo da informação, e as vende no mercado
após a alta obtida com a valorização decorrente do
referido conteúdo. De tal forma o insider obtém
lucros, maiores que a média do mercado,
dependendo do valor que tenha investido. Se a
informação for negativa o insider pode vir a vender
as ações no mercado no mercado mobiliário, ou
operar com derivativos, antes que o conteúdo das
informações as faça desmoronar ou venha a abaixar
o seu valor de maneira considerável, deixando de
se expor, desta forma ao iminente prejuízo
decorrente da desvalorização dos ativos
mobiliários. A informação é considerada relevante
em decorrência de seu relevo patrimonial.
O insider, estando na posse de informações
confidenciais, e ainda não públicas de um certo
valor mobiliário, faz a compra ou venda de tal valor
ou título ou derivativo do mesmo. A norma penal
referente a conduta descrita no artigo 27-D da lei
n.º 6385/76 como sendo insider trading ou uso
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indevido de informação privilegiada, pode ser
verificada interpretativamente na perspectiva de
um enriquecimento individual, desequilibrando o
mercado financeiro em detrimento dos demais
investidores. O que, portanto, a norma visa
proteger é a simetria informativa de todos os
operadores e investidores do mercado. Este é o fim
da norma, sua potência finalística.
DOS AGENTES PASSÍVEIS DE RESPONDER
PELO CRIME DE INSIDER TRADING
Quem pode ser vir a ser condenado pela prática
de insider trading? Parte dos doutrinadores
defende tratar-se de crime próprio, mas assim
sendo, quem seriam os possíveis sujeitos ativos do
delito? Só os que apresentam um dever de fidúcia
para com a companhia ou para com os
investidores? Ou também outras pessoas que
tiveram acesso à informação, sabendo que se
tratava de informação sigilosa? É delito de mão
própria, portanto? A teor da maior parte dos
doutrinadores, o sujeito ativo do uso de informação
privilegiada é aquele obrigado, por força de lei ou
de contrato, a guardar sigilo das informações
obtidas em razão do referido vínculo, como os
administradores, conselheiros e diretores,
incluindo-se neste rol os acionistas, tanto
controladores quanto minoritários, prestadores de
serviços jurídicos ou contábeis à empresa, bem
como os agentes privados e públicos, que atuam no
mercado mobiliário.
A reforma introduzida em 2001 na Lei 6.404/76
pela Lei 10.303/01, adotou a posição defendida
pela Comissão de Valores Mobiliários na Instrução
31/84, apenas com a reserva de que é necessária
sempre a presença do vínculo funcional ou
profissional entre a companhia e o insider, para
compreender quem pode ser o sujeito ativo do
crime em análise.
A lei que tipificou o uso de informação
privilegiada, criminalizando tal conduta, ampliou a
proibição quanto à utilização de informações
privilegiadas, incluindo o § 4º no artigo 155 da Lei
nº 6.404/76, o qual prevê expressamente que 'é
vedada a utilização de informação relevante ainda
não divulgada, por qualquer pessoa que a ela tenha
tido acesso, com a finalidade de auferir vantagem,
para si ou para outrem, no mercado de valores
mobiliários.'
Quem pode ser o sujeito ativo do delito em
estudo? Pelo que se depreende do art. 155, § 4º, da
Lei 6.404/1976, seria qualquer pessoa? Em
consequência, para efeitos civis e/ou
administrativos, a partir das alterações normativas
promovidas pela Lei 10.303/01, é vedado a
qualquer pessoa que tiver acesso à informação
relevante utilizá-la com a finalidade de auferir
vantagem no mercado de valores mobiliários.
Entretanto, tendo em vista fins penais, a Lei nº
10.303/2001 somente criminalizou a conduta
daquele que tem o dever legal de manter em sigilo
a informação relevante e a utiliza, mediante
negociação, no mercado mobiliário, sendo assim
nitidamente o tipo em estudo um crime próprio.
A conduta típica somente pode ser realizada pelo
sujeito ativo que detenha essa especial qualidade,
qual seja, a resultante do dever legal de manutenção
de sigilo quanto a informação relevante ao mercado,
de que venha a ter conhecimento em razão da sua
atividade profissional. No direito brasileiro foi
consagrado o padrão normativo do “disclose or
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refrain from trading”, tendo em vista o princípio do
full and fair disclosure.
O administrador de companhia aberta tendo em
vista seu dever fiduciário com relação à companhia,
aos acionistas minoritários e aos investidores, deve,
em virtude de sua obrigação de informar,
normatizada no artigo 157 da Lei das Sociedades
Anônimas, divulgar o ato ou fato relevante ou, como
consequência do seu dever de lealdade a teor do
artigo 155, abster-se de utilizar a informação
confidencial em proveito próprio ou de terceiro.
A condição especial do agente relativamente ao
dever de guardar sigilo das informações é
disciplinada pela CVM – Comissão de Valores
Mobiliários por meio do seu artigo 8º da Instrução
n.º 358 de 03 de janeiro de 2002 que estabelece:
DEVER DE GUARDAR SIGILO
Art. 8º Cumpre aos acionistas controladores,
diretores, membros do conselho de
administração, do conselho fiscal e de quaisquer
órgãos com funções técnicas ou consultivas,
criados por disposição estatutária, e
empregados da companhia, guardar sigilo das
informações relativas a ato ou fato relevante às
quais tenham acesso privilegiado em razão do
cargo ou posição que ocupam, até sua
divulgação ao mercado, bem como zelar para
que subordinados e terceiros de sua confiança
também o façam, respondendo solidariamente
com estes na hipótese de descumprimento.
O delito em estudo é de cunho financeiro? Não
existem dúvidas de que o Mercado de Capitais é
parte integrante do Sistema Financeiro Nacional.
Uma análise de tal tipo penal possibilita aduzir que
o bem jurídico tutelado por esta norma vem a se
adequar ao quadro geral dos delitos contra o
sistema financeiro e isso porque é óbvio que o
mercado de capitais, órgão integrante do sistema
financeiro, é um dos principais responsáveis pelo
financiamento das sociedades empresárias que o
compõem possuindo como principal função, pois,
a captação de recursos não exigíveis para o
financiamento de projetos de investimento.
O que vem a ser esta captação de capital não
exigível? Em regra a sociedade emissora de valores
mobiliários não se obriga a devolver os recursos
dos investidores, mas apenas a remunerá-los
através do pagamento de dividendos, sendo
exceções os recursos obtidos com a emissão de
debêntures e os assim chamados commercial
papers, que tratam-se de títulos que servem para a
realização de empréstimos entre empresas
intermediados por bancos.
Os delitos cometidos contra o mercado de
capitais são crimes, portanto, contra o Sistema
Financeiro Nacional.
O tipo penal em comento é permeado de
elementos normativos de cunho jurídico, que
remetem a outros ramos do direito, em especial do
direito societário. Alguns doutrinadores afirmam,
desta forma, que o delito penal em análise é uma
norma pena em branco, pois não é possível
descrever de forma plena a conduta típica descrita
no tipo em estudo sem que o hermeneuta ou
aplicadordo Direito faça uso de conhecimentos
técnicos jurídicos ligados à área das sociedades
anônimas e do mercado de valores mobiliários.
É uma norma penal em branco pois só é possível
completar o tipo penal através da analise de outros
dispositivos normativos que expliquem conceitos
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tais quais o de valor mobiliário, do dever de
lealdade, dever de informar bem como o conceito
de informação relevante. O dever de informar, o de
lealdade e o conceito de informação privilegiada
estão ligados aos preceitos normativos presentes na
Lei das Sociedades Anônimas nos artigos 157 e
155. Já o conceito de valores mobiliários pode ser
obtido através da leitura do artigo 2º da lei 6.385/76
que elenca uma série de documentos específicos
como valores mobiliários.
DA COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E
JULGAMENTO DO DELITO DE USO
INDEVIDO DE INFORMAÇÕES
PRIVILEGIADAS
De quem é a competência para o processo e
julgamento do delito em análise? Segundo aduzem
César Roberto Bittencourt e Juliano José Breda
trata-se de delito de competência da Justiça Federal:
“Em face do evidente interesse da União na
manutenção do mercado de capitais imune à
utilização de informações privilegiadas e como a
fiscalização e a regulamentação do mercado de
capitais são de atribuição da autarquia da
União, parece indiscutivelmente presente o
requisito constitucional que determina a
competência da Justiça Federal para o processo
e o julgamento desse crime.”
Recentemente reafirmou o STJ no RHC 82.799,
interposto por Eike Batista, que mesmo que a Lei
6.385/76 (que dispõe sobre o mercado de valores
mobiliários) não venha a trazer em seu bojo a
previsão de competência da Justiça Federal, o relator
destacou que, nos termos da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de
Justiça, os crimes contra o sistema financeiro e a
ordem econômica devem ser julgados pela Justiça
Federal em havendo fato que demonstre a existência
de lesão a bens, serviços ou direitos da União, de
suas autarquias ou empresas públicas. Assim sendo,
a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça veio a
negar petitório do empresário Eike Batista para que
fosse remetido à Justiça estadual processo que apura
delitos de insider trading (uso indevido de
informações privilegiadas) e de manipulação de
mercado. O colegiado veio a concluir que os crimes
de forma suposta praticados pelo empresário, com
prejuízos potenciais de mais de R$ 70 milhões,
vieram a ter reflexos na credibilidade do sistema
financeiro como um todo.
Assim se expressou o colendo STJ em Decisão
no âmbito do Recurso em Habeas Corpus n.º
82.799, de lavra do Ministro Rogério Schietti Cruz.
A competência da Justiça Federal para
processar o crime do artigo 27-D da Lei n.º
6.385/1976 não reside exclusivamente no artigo
109, inciso VI, da Constituição Federal, mas no
inciso IV do mesmo dispositivo constitucional, em
vista da violação direta e fontal, pela prática do
crime de insider trading, dos serviços de
fiscalização e do notório interesse da Comissão de
Valores Mobiliários, autarquia federal de regime
especial, na preservação de um transparente,
saudável, eficiente mercado de capitais.
Dá-se a necessidade de se fixar a competência
da Justiça Federal para julgamento dos crimes nos
quais ocorra a propensão ofensiva à ordem
econômica que se faça sentir em localidades
diversas e em territórios distintos. E os ilícitos
contra o mercado de capitais, tal como o previsto
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no 27-D da Lei nº 6.385/76, possuem nítido caráter
pluri estadual ou transnacional e, sem dúvida, são
do flagrante interesse da Comissão de Valores
Mobiliários, autarquia federal.
É prevalecente o entendimento doutrinário e
jurisprudencial de que o mercado de capitais é parte
integrante do Sistema Financeiro Nacional e que
há, desta forma, o interesse da União e, logo, da
Justiça Federal, pois as informações privilegiadas
podem afetar todo o sistema do mercado de
capitais, causando prejuízos ao país, gerando a
desconfiança de todos os players do mercado
financeiro, o que pode implicar mudanças no fluxo,
na quantidade e direcionamento dos investimentos
realizados tanto por pequenos investidores, as
sardinhas, quanto por grandes investidores, os
tubarões do mercado, descontentes e desconfiados
com a falta de integridade presente no mercado.
Quanto a efetividade da norma instaurada pelo
artigo 27-D da lei n.º 6385 de 07 de dezembro de
1976, com nova redação dada pela lei de reforma
do mercado de capitais, lei 10303 de 31 de outubro
de 2001? A verdade é que, até onde sabemos,
poucos são os procedimentos administrativos
instaurados para apurar o insider trading, e no
campo criminal poucas ações penais tramitam até
o momento perante a Justiça brasileira.
IV. CONCLUSÃO
Em nossa sociedade capitalista financeirizada o
mercado de capitais tem papel de relevada
importância no desenvolvimento da sociedade e da
economia, devendo ocorrer uma tutela, inclusive
criminal, de suas funções, pelo ordenamento. Neste
sentido deu-se a reforma do mercado de capitais
que criminalizou a conduta do uso indevido de
informação privilegiada nos mercados de capitais
pela lei 10303 de 31 de outubro de 2001 que buscou
possibilitar que todos os agentes partícipes do
mercado de capitais participem do mesmo em
verdadeira igualdade de condições informacional.
O que o preceito 27-D da lei n.º 6385 de 07 de
dezembro de 1976 criminalizou? Tipificou a
conduta dos insiders que são agentes do mercado
que, em virtude de certas circunstâncias têm acesso
a informações sigilosas com possibilidade de
influenciar na decisão dos investidores do mercado
de vender ou comprar valores mobiliários emitidos
pela empresa. Os insiders têm o dever de divulgar
o fato relevante a que tiveram conhecimento ou
absterem-se de utilizar a informação considerada
privilegiada em benefício próprio ou de outrem.
Busca-se proteger o dever de divulgação e a boa-fé
que deve estar presente em todo o campo negocial
e também a adequada proteção dos consumidores
de serviços financeiros e dos investidores, efetivos
e em potencial, e a confiança dos mesmos no
regular funcionamento dos mercados de capitais.
O bem jurídico protegido pelo crime de insider
trading é a confiança e as regras de transparência e
de informação plena vigentes no mercado de
capitais enquanto um bem jurídico supraindividual:
a norma visa fundamentalmente a proteção da
simetria informativa de todos os operadores e
investidores do mercado. O bem jurídico tutelado
por esta norma vem a se adequar ao quadro geral
dos delitos contra o sistema financeiro nacional.
É da Justiça Federal a competência para
processar o crime do artigo 27-D da Lei n.º
6.385/1976, a teor de interpretação majoritária da
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doutrina e da jurisprudência. É, ademais, uma
norma penal em branco, pois só é possível
completar o tipo penal através da analise de outros
dispositivos normativos presentes no ordenamento,
principalmente no direito societário, A mesma
precisa ser complementada pela lei que prevê a
finalidade a ser executada. E sem quaisquer
dúvidas, trata-se de crime próprio, pois tão só as
pessoas que tem o dever de manter sigilo sobre a
informação ou fato relevante é que, ao utilizarem a
informação privilegiada, cometerão o delito.
REFERÊNCIAS
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sociedade por ações. Disponível em:
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PSICOPATÍA EN LA INFANCIA Y ADOLESCENCIA
Estefanía Romero Guitart1, Jose Luis Alba Robles1
1 Universidad de Valencia (España)
Resumen: El constructo de la psicopatía ha
despertado el interés de diferentes disciplinas
científicas debido a su complejidad conceptual y por
las controversias que han existido siempre acerca de
ella. La psicopatía se concibe como un trastorno de
la personalidad que se desarrolla en la etapa adulta,
sin embargo existen diferentes estudios que intentan
tratar la psicopatía desde edades tempranas para
poder averiguar su origen. En este trabajo
trataremos de averiguar si se puede considerar la
existencia de la psicopatía infanto-juvenil, cuáles son
las variables que influyen en su origen y desarrollo,
si se trata de un trastorno con predisposición
genética o que se desarrolla a lo largo del tiempo
debido a una serie de acontecimientos en el
desarrollo vital del sujeto. Por último trataremos de
ver qué instrumentos se utilizan para poder realizar
un diagnostico del constructo de la psicopatía infantil
(en caso de existir) y valorar las posibles alternativas
de tratamiento.
Palabras-clave – factores psicopatía en edades
tempranas, psicopatía y asesinos seriales, psicopatía
y problemas de conducta.
Abstract – The construct of psychopathy has aroused
the interest of different scientific disciplines due to its
conceptual complexity and the controversies that
have always existed about it, it is conceived as a
personality disorder that develops in the adult stage,
however there are different studies that try to treat
psychopathy from an early age to be able to find out
its origin. In this work we will try to find out if the
existence of child-juvenile psychopathy can be
considered, which are the variables that influence its
origin and development, see if it is a disorder with
genetic predisposition or that develops over time due
to a series of events in the subject's life development
and we will also try to see what instruments are used
to make a diagnosis of the child psychopathy
construct and evaluate the possible treatment
alternatives.
Key-Words: – psychopathic factors at an early age,
psychopathy and serial killers, psychopathy and
behaviour problems.
I. INTRODUCCIÓN
El constructo de la psicopatía ha sido una
incógnita a lo largo de la historia debido a las
dificultades para encontrar los factores que
expliquen la causa de este trastorno de la
personalidad. ¿Pero qué pasa cuando hablamos de
la psicopatía infantil y juvenil? Este fenómeno
resulta aun más complicado de definir, pues los
sujetos de estudio se encuentran en una etapa de su
vida en la que tratan de encontrarse a sí mismo, su
personalidad se encuentra en pleno desarrollo y por
ello es que en estas etapas tiendan a realizar ciertas
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conductas que luego no vuelven a mostrarse con el
paso del tiempo. Además muchos de estos jóvenes
suelen mostrar patrones de conducta disruptivos
que suelen confundirse con la faceta de desviación
social de una psicopatía. la hipótesis que trataremos
de avalar en este trabajo de investigación es que
dado que la psicopatía tiene una base biológica, es
posible encontrar restos de una psicopatía en
edades muy tempranas.
II. MÉTODOS
El método empleado para la realización de este
trabajo de investigación ha sido de una revisión
bibliográfica de los estudios realizados por
expertos en la materia sobre la psicopatía en la
infancia y la adolescencia. También se han
analizado las investigaciones que se han realizado
sobre población joven, centrándonos en los
menores que presentan problemas de conducta
graves o se encueran internados.
III. RESULTADOS
1. Concepto psicopatía y asesino en serie
1.1. Concepto psicopatía
El término psicopatía ha sufrido diversas
modificaciones a lo largo de la historia. Existen
numerosas controversias a la hora de ponerse de
acuerdo en su concepto y origen, de hecho estas
controversias siguen existiendo hoy en día.
Cleckey ha supuesto un hito en desarrollo de la
psicopatía, supone un salto cualitativo ante las
teorías de los años 60. Cleckey otorga mayor
importancia a la esfera afectiva de la psicopatía, es
decir a la incapacidad de realizar vínculos afectivos
reales con su entorno, lo que actuaria como móvil
de la conducta antisocial del sujeto. Cleckey (1941)
unificó una serie de criterios conductuales y de
personalidad que han sentado las bases para el
diagnostico de la psicopatía.
Por tanto Cleckey (1976) estableció una
diferencia entre la psicopatía y la delincuencia
habitual, ya que para este autor los indicadores que
permitían identificar al psicópata se centraban en la
esfera afectiva e interpersonal, y no en criterios de
desinhibición comportamental que es propio de los
delincuentes ordinarios.
Cleckey habla sobre lo que él denomina
demencia o afasia semántica, que hace referencia a
la incapacidad de experimentar emociones, la
incomprensión del significado de las vivencias
emocionales de la que se caracterizan los
psicópatas, aunque en apariencia no lo muestren ya
que se relacionan con los demás de manera normal.
Por otro lado Hare (1970) creó el Psychopathy
Checklist Revised (PCL-R), que se trata de una
escala de estimación formada por 20 ítems
divididos en dos factores que conforman la
psicopatía, además de una serie de ítems
adicionales que no pertenece ninguno de los
factores. Los ítems son expuestos en la tabla
siguiente:
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Tabla 1: Ítems PCL-R
FACTOR 1: Personalidad FACTOR 2: Desviación social Ítems adicionales
• Locuacidad/encanto superficial
• Grandiosos sentimiento de
autovalia
• Mentira patológica
• Manipulador
• Falta de remordimiento/culpa
• Afecto superficial
• Crueldad/falta de empatía
• No acepta responsabilidad de sus
actos
• Necesidad de estimulación
• Estilo de vida parásito
• Escaso autocontrol
• Precocidad en mala conducta
• Sin metas realistas
• Impulsividad
• Irresponsabilidad
• Delincuencia juvenil
• Conducta sexual promiscua
• Muchas relaciones maritales breves
• Versatilidad delictiva.
Se ha demostrado la efectividad de este
instrumento para la identificación de sujetos
psicópatas a pesar de incluir ambos factores, pues
para este autor lo importancia es la manera en la
que interrelacionan todos los factores entre sí, la
PCL-R incluye características conductuales,
interpersonales, afectivas y cognitivas. (PCL-R
"Escala de Evaluación de Psicopatía" de Hare
Revisada, 2015)
La problemática de diagnosticar la psicopatía
como un TAP (como hace el DSM-V) es que se
puede generalizar la psicopatía a todo delincuente
habitual, ya que los criterios del trastorno antisocial
de personalidad se trata de un paradigma en el que
se encuentran los infractores reincidentes sin
necesidad de tener ningún tipo de trastorno. Puede
que algunos de los sujetos diagnosticados con
psicopatía únicamente tengan algún problema de
control de impulsos o antecedentes personales o
biológicos que le inciten a llevar una vida desviada,
por lo que no podemos identificar a este tipo de
delincuentes con la psicopatía, ya que la psicopatía
implica muchos más factores que conlleven más
dificultad identificarlos a priori. Pero no por ello se
debe realizar un etiquetaje a todo delincuente
habitual cuyo comportamiento contradiga nuestros
valores sociales y morales. Pero precisamente la
problemática que existe aun hoy en día para definir
a un psicópata y su diagnóstico del todo fiable es lo
que provoca ese etiquetaje, ya que cuando nos
encontramos ante un sujeto en el que es difícil
explicar su comportamiento mediante los
trastornos clasificados en los manuales
psiquiátricos y escapa a nuestra comprensión
conforme a nuestros esquemas mentales
directamente los derivamos a la psicopatía. Y a
pesar de que la prevalencia de la psicopatía en la
población es baja (entre 0,7% y 3%) a priori se
suele diagnosticar con relativa facilidad, lo que
aumenta este fenómeno de etiquetaje.
En el CIE-10 el TAP pasa a denominarse
trastorno disocial (TDP) e incluye características
sociopáticas, amorales, asociales, antisociales y
psicopáticas (Esteban y Alonso, 1995). Los
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criterios de la CIE-10 son similares a los ítems de
la PCL-R y por tanto al concepto original de
Cleckey, por lo que el diagnostico de psicopatía a
través de la CIE-10 se diferencia del diagnostico
realizado por el DSM-V como un trastorno
antisocial de la personalidad.
Por tanto podemos observar que las
controversias que existen aun hoy en día para
distinguir la psicopatía del TAP se ha reflejado
también en los sistemas clasificatorios de
trastornos: DSM y CIE, pues el DSM alude a los
aspectos conductuales del individuo para el
diagnostico de la psicopatía, mientras que el CIE
otorga mayor importancia a la personalidad del
sujeto. Pero la clasificación del DSM ha sido
criticado por varios autores por establecer un
diagnostico de psicopatía centrándose en aspectos
comportamentales y por tanto no ser válido para
discriminar un psicópata de un delincuente
habitual, pues ni todo delincuente es psicópata ni
todos los psicópatas son delincuentes. Aunque es
cierto que en la última versión del DSM se han
incluido algunos aspectos de la personalidad
propuestas por Cleckey y Hare, se siguen dando
mayor importancia a los aspectos conductuales.
En resumen, la categoría central de los psicópatas
es el déficit afectivo en las relaciones
interpersonales de estos sujetos, relacionándose esta
característica con rasgos como la insensibilidad, la
falta de empatía, la falta de remordimientos y la
manipulación. Este déficit emocional se relaciona
con una pobre capacidad defensiva, bajos niveles de
ansiedad y alto deseo de control y dominio sobre los
demás. Por otro lado las características de
comportamiento desviado más destacables son
violación de las normas sociales de manera
repetitiva y aprovechamiento de los demás para
lograr los propios objetivos, además hay que decir
que se trata de una conducta persistente y que llama
particularmente la atención por los altos niveles de
violencia con los que se llevan a cabo.
1.2. Psicopatía infanto-juvenil
El fenómeno de la psicopatía infantil tiene una
difícil conceptualización, pues existen
contradicciones entre los autores en cuanto a
considerar que existe la psicopatía infantil, debido
a sus implicaciones teóricas y a las derivaciones
prácticas con menores problemáticos. Mientras que
unos defienden que si puede darse otros consideran
que la psicopatía no es válida en la población joven
debido a que se encuentran en una fase de
desarrollo, y por tanto las características de
personalidad que presenten no son estables,
pudiendo modificarse en la etapa adulta.
También hay que tener en cuenta que muchos
factores definidores de la psicopatía son propios de
la fase del ciclo vital en la que se encuentran estos
sujetos, por ejemplo los ítems de grandiosidad, falta
de empatía y remordimientos y la falta de
responsabilidad propios del factor interpersonal se
da en los adolescentes, antes de que lleguen a la
etapa adulta los jóvenes se caracterizan por ser
egocéntricos y una falta sensibilidad hacia los
demás, pero se trata únicamente de características no
estables que van cambiando a lo largo del tiempo,
por ello resulta peligroso confundir estas
características con los rasgos de la psicopatía. (Frick
y White, 2008). Lo mismo podemos ver en cuanto a
la dimensión de conducta antisocial, pues en los
adolescentes se suele dar ciertos niveles de
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impulsividad, búsqueda de sensaciones y gusto por
el riesgo debido a esa búsqueda de identidad del
sujeto dando lugar a cierto tipo de conductas de
riesgo (probar sustancias, transgresión de normas,
rebelión contra la autoridad…), pero como ya hemos
dicho anteriormente se tratan de características
propias de la fase de desarrollo y que por tanto no
tienden a mantenerse en el tiempo, al contrario,
tienden a desaparecer conforme el sujeto se va
desarrollando y avanzando hacia la etapa adulta.
Por tanto no podemos confundir las
características propias de la fase de desarrollo
durante la adolescencia con los rasgos definitorios
de la psicopatía, aunque siempre existe la
posibilidad de que esas características se sigan
dando incluso en la etapa adulta dando lugar a la
psicopatía, la dificultad reside en diferenciar un
problema de conducta propio de la edad de una
patología. Y a pesar de lo descrito anteriormente
hay autores que postulan que es posible detectar la
psicopatía durante la infancia y la adolescencia a
partir de unos rasgos específicos: la falta de
empatía, encanto superficial, falta de culpa… son
características que podrían delimitar un problema
de conducta de la psicopatía (Johnstone y Cooke,
2004), también se han realizado estudios acerca del
temperamento de los niños y adolescentes y se
determinó que los niveles de temerosidad se
relacionan notablemente con el desarrollo de la
conciencia de los niños, y que bajos niveles de
temerosidad provoca que el sujeto no sea
vulnerable a los efectos de la socialización, por lo
que tiene un déficit en el desarrollo de la empatía y
es incapaz de detectar en otros las emociones,
provocando una insensibilidad hacia los sujetos de
su entorno, además de no presentar ningún tipo de
culpa (Nohmi Romo P, Barbara G, 2008). El sujeto
al no verse afectado por las consecuencias de la
socialización no siente la reacción emocional que
sienten la mayoría de jóvenes cuando se produce el
castigo de los padres y que tiene como finalidad
inculcarles la culpa, por ello no han sido capaces de
desarrollar esta emoción, y es por esto que los
sujeto siguen transgrediendo las normas de forma
indiscriminada. Por ello la culpa resulta un factor
de importancia para la detección de la psicopatía
temprana, además que podemos corroborarlo con
datos estadísticos, ya que se ha demostrado que la
mayoría de adultos que muestran puntuaciones
elevadas en psicopatía durante su infancia
mostraban menos miedo e inhibición y mayor
búsqueda de sensaciones.
Es decir, la insensibilidad afectiva (falta de
empatía, falta de culpa, de remordimientos y
insensibilidad hacia las emociones de los demás) es
el componente central que permite identificar la
psicopatía en la infancia (Frick, O´Brien, Wootton
y McBurnett, 1994), siendo el factor clave para
distinguir la psicopatía de la simple presencia de
unos factores que la componente como la
impulsividad o el narcisismo. La existencia de este
factor hace que los niños presente pautas de
conducta más severos y estables a lo largo del
tiempo, pues debido a este factor psicológico los
sujetos tienden a minimizar el impacto que pueden
provocar sus agresiones, no tienen empatía y por
ello no identifican la tristeza en los demás.
Por último, hemos de decir que hoy en día aun
no es posible demostrar la existencia de la
psicopatía infantil, sin embargo sí que podemos
hablar de la presencia de rasgos psicopáticos que se
muestran antes de la etapa adulta y que sirve como
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un factor de riesgo para predecir patrones de
conducta de elevada gravedad y que tienden a
mantenerse en el tiempo (Edgar Jesús Martínez
Serrano, 2008). Así pues destacamos la
importancia de seguir esta línea de investigación,
pues esto nos permite abordar la evolución de los
problemas conductuales para así poder realizar una
detección temprana de conductas antisociales
favoreciendo el éxito de tratamiento. Y a pesar de
las dificultades existentes para el diagnostico de la
psicopatía infanto-juvenil, la mayoría de autores
coinciden en que los rasgos de personalidad y
comportamentales que definen la psicopatía no
aparecen de manera repentina en la adultez, sino
que empiezan a aparecer en edades tempranas.
2. Influencia de factores en el desarrollo de la
psicopatía temprana
A lo largo de la historia se ha intentado buscar
una explicación científica a la psicopatía, pasando
por diferentes teorías que se han ido sucediendo
unas a otras, y ninguna ha logrado proporcionar
una explicación totalmente válida. La psicopatía es
un fenómeno complejo y aunque hay mucha
información acerca de ella sigue siendo una
incógnita en muchos aspectos, desde múltiples
disciplinas se ha intentado dar respuesta a la gran
pregunta: PSICOPATA SE NACE O SE HACE?
Lo que es cierto es que no podemos atribuir la
psicopatía a un solo factor, sino que este es el
resultado de la confluencia de factores
neurobiológicos, sociológicos, educacionales,
psicológicos y sociales; y aunque es cierto que la
mayoría de autores insisten en el peso de las
variables biológicas en el origen de la psicopatía,
muchos autores han marcado la importancia de las
variables ambientales y el contexto para el
desarrollo de la misma.
2.1. Factor neurobiológico
Numerosas investigaciones revelan que los
psicópatas presentan alteraciones en las técnicas de
neuroimagen, actividad eléctrica cerebral,
funcionamiento bioquímico y en la actividad el
sistema nervioso autónomo, así como un déficit en
el procesamiento emocional y las funciones
ejecutivas, pero a pesar de esto el psicópata no se
considera un enfermo que posee afectación
orgánica. (Juan Jesus Muñoz García, 2003)
Gracias a las técnicas de neuroimagen se ha
logrado averiguar con más claridad el
funcionamiento y mecanismos cerebrales
afectados en sujetos psicópatas, con esto se intenta
buscar diferencias en las estructuras cerebrales que
sirvan para atribuir a la personalidad psicopáticas,
así como a los comportamientos criminales una
patología que tenga su origen en los correlatos
neurológicos. Desde un punto de vista biológico se
ha integrado las dos teorías anteriores y sugiere que
las dificultades de estos sujetos para experimentar
emociones proviene de una disfunción en la
amígdala, ya que esta es la encarga del
reconocimiento de las expresiones
emocionales.(Raine, 2001) La amígdala se
considera una estructura esencial para el
procesamiento emocional de las señales
sensoriales, pues percibe proyecciones de todas las
áreas de asociación sensorial, además la amígdala
también recibe referencias talámicas. Las
proyecciones tanto talámicas como corticales hacia
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la amígdala son lo que hace posible que se les dote
de un significado de tipo afectivo a las señales
sensoriales que percibe. Estudios realizados acerca
de las emociones revelan que la lesión de la
amígdala bloquea la respuesta de sobresalto ante
las emociones de miedo y asco, lo que demuestra
su implicación en el control emocional. Las
investigaciones que sean hecho en este campo
sobre los psicópatas nos muestran que la reacción
de sobresalto se producía de igual manera al
visionar imágenes positivas y negativas, algunos
autores defiende que esta respuesta anormal se
debe más a un déficit emocional que a un factor
antisocial. (Raine, 2000)
Pero la amígdala no parece ser la única
estructura afectada en los psicópatas, si no que hay
otras regiones como la corteza prefrontal
ventromedial u orbitaria, que es la única área
prefrontal que tiene conexiones reciprocas con la
amígdala y es una región clave en el proceso de
toma de decisiones. La corteza prefrontal
ventromedial se encarga de la modulación
emocional, de la actividad cognitiva y funciona
como intermediario entre las estructuras cerebrales
que se encargan de la cognición y las que controlan
las emociones, por ello que una disfunción de esta
área provoque un cese en la vía más importante de
comunicación entre las áreas encargadas de las
emociones y las estructuras de procesamiento
cognitivo, de manera que estas últimas carecerían
de información de tipo afectivo. Los sujetos
lesionados en la corteza prefrontal ventromedial
también tienden a mostrar una pauta de conducta
más impulsiva, en cuanto a que toman decisiones
que les puede beneficiar a corto plazo pero que
puede suponer una perdida mayor a largo plazo,
esta tendencia se observa también en niños con
rasgos psicopáticos y adultos psicópatas. Pues
mientras que la región dorsolateral del córtex
prefrontal se relaciona con conductas de agresión
física, la región orbital se relación con la expresión
de conductas deshinbidas –no agresivas.
Por tanto, los daños en las estructuras
neurobiológicas pueden dar lugar a un déficit de
socialización de los sujetos, debido a las
dificultades que poseen para identificar las
emociones de los demás y que no posee los frenos
naturales que poseen el resto de sujetos. Se habrá e
buscar una alternativa al proceso de socialización
de estos sujetos que no se base en el castigo y en
inducir miedo, pues se trata de sujetos que no
reaccionan de igual manera al resto de los sujetos
ante estas situaciones, es más produce en ellos una
situación de indiferencia, por lo que el proceso de
socialización estaría destinado al fracaso.
Sin embargo los daños neurológicos como
factor explicativo ha sido criticado por diversos
autores por su falta de validez y defienden que los
psicópatas no tienen esas lesiones en dichas áreas
cerebrales, sino que los pacientes con esas lesiones
nos recuerdan a sujetos con personalidad
psicopática.
Para determinar las diferencias cerebrales a
nivel estructural se ha empleado la resonancia
magnética funcional (MRI) y los resultado revelan
que los sujetos psicopáticos presentan una
reducción de la sustancias gris en regiones límbicas
y paralimbicas, la corteza frontal y temporal,
especialmente en el polo temporal izquierdo, zona
relacionada con la formación de juicios morales, lo
que explicaría las dificultades de adaptación a las
normas culturales y sociales de su entorno y a una
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valoración de sus actos conforme a unos valores
morales sobre “el bien y el mal”, pues para estos
sujetos estas connotaciones carecen de sentido;
también presentarían una reducción del tamaño de
la corteza prefrontal. En la siguiente imagen se
mostrarán las áreas cerebrales que presentan
disminución del tamaño de la corteza cerebral en
sujetos psicópatas.
Las áreas que presentan esta disminución de la
corteza cerebral (áreas del sistema límbico y
paralimbico) están asociadas a un funcionamiento
intelectual superior y con las los mecanismos que
modulan las emociones y inhiben la conducta.
En cuanto a las diferencias funcionales se han
realizado pruebas con la tomografía por emisión de
positrones (TEP) mostrando diferencias en la
activación cerebral en las áreas de procesamiento
emocional (córtex prefrontal, amígdala y otros del
sistema límbico). Se han realizado estudios
comparativos sobre el cerebro de asesinos y de
personas normales que han evidenciado una
reducción del metabolismo de glucosa en las
regiones prefrontales y temporales mediales en los
asesinos, estos estudios son los que corrobora que
la disfunción prefrontal sería la causa de una
vulnerabilidad del sujeto hacía comportamiento
antisociales, violentos y psicopáticos. También se
han encontrado evidencias de que en estos sujetos
se daría una activación menor en el cuerpo calloso,
así como anomalías subcorticales en la amígdala,
el hipocampo y el tálamo con una reducción de la
actividad en el lado izquierdo, lo que corroboraría
la hipótesis de lo que los criminales psicópatas
emplean una serie de estrategias cognitivas sin
utilizar el sistema límbico para el procesamiento de
la información de tipo afectivo. Por otro lado
también se considera que la lesión prefrontal sería
la causa de una disminución de la capacidad para
razonar, siendo esta determinante para el fracaso
escolar, problemas económicos… es decir un tipo
de conductas que predisponen hacia el estilo de
vida criminal y/o violento.
Siguiendo aún en las diferencias funcionales, se
han realizado estudio de potenciales evocados
(PE), para verificar que los psicópatas realizan un
procesamiento anormal de la información afectiva
verbal. Los resultados son que los sujetos
reconocían las palabras pero no se veían afectados
por el significado emocional, pues tenían el mismo
patrón de respuesta ante palabras neutras y
emocionales, además estos sujetos mostraban una
onda negativa larga en la corteza fronto-central, lo
que sería la causa de las dificultades de estos
sujetos para integrar el significado de las palabras
en estructuras lingüísticas más largas.
También se han realizado estudios de la
psicopatía desde un punto de vista bioquímico, en
esta línea se ha querido averiguar si los andrógenos
se vinculan de alguna manera con la conducta
agresiva. Para ello se analizaron los niveles de
testosterona y quedó en evidencia que tanto los
hombres como mujeres que habían cometido
crímenes violentos y que mostraban conductas
violentas no provocadas presentaban niveles de
testosterona más elevados. (Williamson, Harpur y
Hare, 1991)
Por otro lado, la psicopatía también se relaciona
con la enzima monoamino oxidasa (MAO) que
degrada la serotonina y la nerepinefrina, de modo
que los sujetos psicopáticos presentan una
actividad baja de esta enzima, dando lugar a
patrones de conducta caracterizados pos una
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elevada agresividad.
En cuanto a los estudios realizados sobre el
sistema nervioso autónomo, se ha relacionado la
psicopatía con la actividad electrodérmica y
cardiovascular, de manera que estos sujetos
presentan una baja respuesta electrodérmica, así
como una bajo arousal y un menor rendimiento de
las tareas en las que el nivel de activación es bajo.
Se produce pues una reducción de la respuesta
autonómica, que da lugar a un déficit en el
procesamiento emocional del miedo y por tanto
mayores dificultades de condicionabilidad. Dicho
déficit en la condicionabilidad de los sujetos
provoca mayores dificultades para percatarse de las
consecuencias negativas que puede dar lugar sus
actos. Por tanto los psicópatas muestran una
respuesta electrodérmicas reducida ante estímulos
afectivos, mostrando el mismo patrón de respuesta
ante estímulos amenazantes y neutros, del mismo
modo presentan una baja respuesta cardiovascular
ante situaciones de estrés. (Ishikawa,2001).
En conclusión, los déficits frontales que poseen
los psicópatas son la causa de sus déficits
cognitivos y emocionales, caracterizándose así por
tener un mayor control sobre la impulsividad y para
planear sus conductas.
En cuanto al procesamiento emocional de los
psicópatas, ha quedado demostrado que los déficits
frontales son la causa de los déficits cognitivos y
emocionales, y aunque las personas caracterizadas
por altos niveles de violencia suelen estar guiadas
por las emociones, pero en el caso de los psicópatas
suelen presentar conductas frías y distantes.
(Patrick, 2000). Las diferencias que se hallan en el
procesamiento emocional de estos sujetos da lugar a
una serie de consecuencias: los psicópatas tienen
mayores dificultades de condicionar su conducta a las
consecuencias negativas de su conducta, lo que
explicaría las dificultades de aprendizaje y de las
normas morales y sociales; un déficit emocional
caracterizado por al ausencia de remordimientos y de
culpa; disminución del arousal emocional, de modo
que el psicópata necesita estímulos aversivos de gran
intensidad para que provoquen en él rechazo.
También resulta determinante para la conducta
antisocial las funciones cognitivas ejecutivas, que
está vinculado con el funcionamiento de los lóbulos
frontales, y aunque es cierto que un correcto
funcionamiento de las funciones cognitivas son
importantes para la importante socialización adulta
del sujeto, no se ha podido determinar en qué
medida se asocia los daños de las funciones
cognitivas a la personalidad psicopática.
Aunque existen críticas, diversos estudios
revelan la afectación en las estructuras cerebrales,
especialmente en áreas de la corteza frontal y
temporal que se asocian a las conexiones afectivas
y emocionales, siendo este déficit emocional la
causa de la conducta problemática en los sujetos.
Pero aun es necesario realizar estudios para
averiguar en qué medida el factor neurobiológica
afecta a la génesis de la psicopatía, ya que aun
existen muchas incógnitas acerca en qué medida
afecta por ejemplo los daños en las funciones
ejecutivas o el tamaño de la sustancia gris en
corteza prefrontal en el origen de la psicopatía.
2.2. Factor ambiental
La forma en que se desarrollan los lazos
afectivos y la relación de los niños con sus
padres y con su entorno durante la infancia y la
adolescencia influye en su psicología y en el
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desarrollo de su personalidad. (Thomas, 2010)
El factor educativo también resulta de gran
importancia en el desarrollo de la psicopatía,
aunque no podemos decir que por sí solo este factor
sea capaz de desarrollarla. Debemos tener en
cuenta que la vida de un sujeto queda marcada por
los acontecimientos que se producen sobre todo en
dos momentos a lo largo de su vida: su infancia y
su adolescencia, y su vida adulta puede quedar
marcada por estos acontecimientos.
En este punto resulta crucial la relación que se
dé con los padres, en la historia de los asesinos en
serie podemos ver que ha tenido un papel muy
importante el rol de la madre, una madre
dominante, maltratadora, distante e indiferente con
una moralidad religiosa… y aunque suele tener
mayor influencia el papel de la madre, el padre
también es un factor influyente, hablamos de
padres autoritarios, violentos y machistas entre
otras características.
La interacción de los padres con sus hijos está
estrechamente relacionada con la regulación
emocional, de modo que una buena interacción
favorecerá las habilidades de regulación emocional
del sujeto ejerciendo de factor protector para el
desarrollo de rasgos psicopáticos, mientras que un
patrón educativo basado en la coerción favorecerá la
aparición de problemas de conducta tempranos, que
unidos a los problemas de regulación emocional
aumentará el riesgo de aparición de una
personalidad psicopática. (Fowles y Krueger, 2009)
En los casos en que se da la ausencia del padre
nos enfrentamos a que el niño tiene mayor riesgo
de enfermedad mental y más obstáculos a la hora
de controlar sus impulsos siendo más vulnerable a
la presión del entorno, por lo que cuando se suelen
encontrar en situaciones que no les agrada o que
sienten reactivas hacia ellos muestran conductas
agresivas o de evitación como mecanismo de
defensa.
Por otro lado si lo que se da es un padre violento
y controlador, las consecuencias se magnifican,
pues hay una alteración a nivel emocional que
produce el progresivo aislamiento del sujeto
alimentando su agresividad e ira, así como su
desconfianza en los demás. El sujeto no es capaz de
aprender adecuadamente las normas que rigen las
relaciones sociales, lo que va aumentando su
sentimiento de impotencia al no poder predecir los
actos de los demás y sobre todo los actos de
agresividad hacia él, lo que hace que surja esa
fantasía de poder y control que podrán culminar en
asesinatos violentos y torturas. El sujeto aprende a
mentir y manipular, y el único respeto que tiene a
las normas morales es el que le permite evitar
consecuencias negativas, ya que ha aprendido que
este método es eficaz para evitar los castigos en su
niñez. Pero sobre todo una de las consecuencias
más fatales es el odio que se produce en el niño o
adolescente, pues el sujeto tomará su pasado como
una justificación a sus brutales actos, se creerá
legitimado para matar y actuar de forma violenta,
ya que lo estará haciendo de forma defensiva, lo
que a su vez aumentará más su odio y no existe
ningún tipo de arrepentimiento, por lo que seguirá
actuando de forma indiscriminada, aunque el sujeto
tomará como objetivos a personas que
simbólicamente representen el origen de su odio y
de su malestar, pero esta asociación es únicamente
simbólica y al realiza la psique del individuo en
función de sus propios criterios.
Estudios realizados sobre este tema revelan que
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la falta de la figura materna en los primeros cinco
años de vida del sujeto conlleva una serie de
consecuencias en la psicología del individuo que
tienden a cronificarse y que dan lugar a que el sujeto
muestre un carácter frío y caracterizado por una falta
de afecto hacia los demás.(Farrington, 2006)
Por tanto, el rechazo parental, un padre
antisocial, patrones disciplinarios erráticos y un
déficit en la supervisión parental son factores que
correlacionan positivamente con el desarrollo de la
psicopatía, actuando como predictores de la misma.
Pues algunas investigaciones más recientes lo
corroboran, ya que al comparar población joven
con rasgos psicopáticos de jóvenes sin psicopatía,
los primeros suelen presentar con mayor frecuencia
negligencia en el ámbito familiar (Marshaall y
Cooke, 1999). También se ha demostrado que la
mayoría de los sujetos psicópatas sufrieron durante
su infancia baja supervisión paternal, técnicas
disciplinarias pobres y una escasa implicación
afectiva y emocional.
En definitiva, se ha demostrado que la relación
entre padres e hijos así como las prácticas
educativas parentales influyen en el desarrollo de
la psicopatía y en su posterior evolución, sobre
todo en los primero 5-6 años de vida, recayendo la
influencia de las variables familiares sobretodo en
el factor afectivo-interpersonal del sujeto. (Salekin
y Lochman, 2008). La dimensión que mayor
correlación parece tener con la personalidad
psicopática es el dialogo, de esta manera la
comunicación entre padres e hijos y el empleo del
dialogo y del razonamiento como forma de resolver
los conflictos favorecen el desarrollo emocional, y
por el contrario déficits en la comunicación entre
padres e hijos favorecen la estabilidad de rasgos de
inestabilidad emocional.
Por otro lado se han realizado investigaciones
que tratan estas variables desde otra perspectiva,
teniendo en consideración los rasgos psicopáticos
unidos a las prácticas educativas disfuncionales
como factores de riesgo de los problemas de
conducta infantil, pues los niños caracterizados por
un temperamento duro, y sobre todo por rasgos
psicopáticos de tipo afectivo tienen mayores
probabilidades de presentar problemas de conducta
independientemente del entorno educativo en el que
crezca, y por otro lado niños que no presentan dichas
características de personalidad pero están expuestos
a patrones de crianza anómalos aumenta la
probabilidad de presentar problemas de conducta.
(Lykenn, 1995). Aunque resulta necesario realizar
más estudios para ver la relación que hay entre
rasgos psicopáticos, practicas educativas y
problemas de conducta, los últimos estudios nos
muestran las prácticas coercitivas, pero sobre todo
cuando la relación entre padres e hijos se basa en
diálogos disfuncionales, se relaciona con los
problemas de conducta en sujetos con rasgos
psicopáticos sobre todo con altos niveles en la
dimensión de dureza emocional. En definitiva, las
prácticas educativas basadas en un dialogo
disfuncional durante edades tempranas favorecen y
tienden a mantener las conductas desviadas, pero es
el constructo de la psicopatía lo que provoca que
estas aumente en intensidad y frecuencia.
Pero las contradicciones entre distintos autores
nos hacen plantearnos si en realidad las prácticas
educativas disfuncionales se puede considerar una
causa de la psicopatía, o únicamente correlacionan
positivamente entre ellas por la relación que se da
entre las prácticas coercitivas y los problemas de
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conductas que podrían confundirse con la
dimensión de antisocialidad de la psicopatía, y las
practicas educativas disfuncionales ser en realidad
la causa de los problemas de conducta en jóvenes y
no del constructo de psicopatía.
Otra línea de investigación que se ha seguido ha
sido la de clarificar la influencia de los eventos
traumáticos en el desarrollo de la psicopatía.
Cuando un niño o adolescente sufre el rechazo,
ya sea de sus padres, entorno escolar o del sexo
contrario provoca un mermamiento de su
autoestima, esta baja autoestima produce una
situación de inestabilidad emocional que impulsa
al sujeto a tener una serie de conductas antisociales
como forma de compensar su baja autoestima,
estos sujetos suelen comportarse de forma agresiva
e impulsiva, tienden a ser menos sociables por lo
que puede producirse un aislamiento del sujeto con
las consecuencias que eso puede conllevar ara la
psicología del individuo, como son una
retroalimentación de su odio y ira hacia los demás.
(Laura Lopez Romero, 2012)
El rechazo se interioriza en la psique del
individuo y se va retroalimentando pudiendo llegar
a convertirse en un odio patológico hacia los
demás, las reiteradas ridiculizaciones y
humillaciones provocarán un sentimiento de
venganza, por lo que el sujeto trasladará su odio
hacia objetivos a los que asocia con esas
humillaciones que ha sufrido en su niñez.
Un hecho que puede ser decisivo en el
desarrollo de la personalidad del individuo son las
situaciones de maltrato infantil, este puede llegar a
producir una serie de lesiones cerebrales y
distorsionar el desarrollo psicológico del sujeto, de
tal forma que incorporen su esquema cognitivo al
violencia como solución a los problemas. De
hecho, muchos adultos que durante su infancia han
sido víctima de abuso presentaban una disminución
en la actividad del hemisferio izquierdo en tareas
de memoria del trabajo, y otro grupo de sujetos
violentos y víctimas de abuso mostraban una
reducción en el hemisferio derecho en las mismas
tareas, dando lugar a un déficit del procesamiento
emocional, en especial en el condicionamiento al
miedo, percepción del dolor y reconocimiento de
ira y miedo (Raine,2001.)
El efecto en la psicología del niño maltratado es
un deterioro de la capacidad de empatía, además de
ver mermada la confianza en su mismo y
seguridad, lo que dificulta las relaciones sociales
con otras personas mientras se va desarrollando
internamente las ansias de dominación y control,
que surgen ante la impotencia del sujeto al
percibirse a s í mismo como un fracasado y un
inadaptado, ya que el maltrato en edades tan
tempranas y realizado de forma continua provocan
un sentimiento de humillación de e inferioridad que
te acaba acompañando a lo largo de su desarrollo
vital, sobre todo si el maltrato viene del entorno
familiar, pues empieza a desencadenar distorsiones
cognitivas y generaliza esa visión que creen que
tiene los padres sobre él a su entorno, y además lo
magnifica, porque empieza a pensar que si su
propia familia tiene esa consideración sobre él la
visión que tienen los demás es aún más terrible, lo
que empieza a producir en el sujeto pensamientos
totalmente negativos que van alimentando su odio
y ira junto al sentimiento de desconfianza hacia los
demás. Pero los abusos físicos no solo se
relacionan con la dimensión emocional de la
personalidad psicopática, sino que también se
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vincula con la dimensión conductual.
Por tanto se observa que la exposición a eventos
traumáticos en edades tempranas afecta de manera
directa al desarrollo de las estructuras cerebrales y
de sistemas neurobiológicos. Los eventos
traumáticos inciden de múltiples formas en el
desarrollo de las regiones prefrontales afectando por
ejemplo a los estímulos recibidos de la amígdala.
De hecho investigaciones actuales demuestran
que al comparar sujetos con puntuaciones altas en
PCL-YV con sujetos que muestran puntuaciones
bajas, el grupo que presenta rasgos psicopáticos han
sufrido en mayor medida abusos físicos y han vivido
la separación de sus padres, por lo que se demuestra
la relación entre exposición a eventos traumáticos
(abuso físico, sexual y emocional) con el constructo
de la psicopatía. (Porter y Santor, 2004). Pero
debemos destacar que el abuso emocional se vincula
a grandes rasgos con psicopatía, y esto puede
deberse al déficit de los lazos afectivos en edades
tempranas con sus padres, cuidadores o personas
cercanas, provocando un déficit de establecer estos
mismos lazos en la etapa adulta y por consiguiente
también una incapacidad para desarrollar
sentimientos de empatía y de culpa. Por tanto los
sucesos traumáticos son un potenciador de los
rasgos psicopáticos.
Pero al igual que sucede con las prácticas
educativas parentales, la influencia de los eventos
traumáticos para el desarrollo de la psicopatía
viene modulada por la una predisposición genética,
en este caso los bajos niveles de la enzima MAO
provoca en los sujetos una mayor sensibilidad a la
exposición a eventos negativos y de ahí que
aumenten las conductas agresivas.
A pesar de todo lo expuesto anteriormente, no
podemos decir que la presencia de estos factores
determinan que un sujeto sea o vaya a ser un
psicópata, pues ha de darse una combinación de
estos factores para que se de ese resultado.
Por lo que nuevamente hemos de tener cautela
a la hora de realizar el diagnostico de psicopatía, es
más puede darse que la presencia de factores
neurobiológicos en un sujeto pero con un patrón
educacional positivo, este ultimo puede actuar
como factor protector de la conducta antisocial, e
incluso la existencia de factores educacionales que
tiendan a ciertas conductas antisociales si se dan en
un sujeto que posee unas características de
personalidad adaptativas no tienen por qué darse
esa conducta antisocial.
Varios autores destacan que la línea de
investigación más adecuada sería centrarse en el
estudio de la relación entre los factores biológicos
y psicosociales en el seno familiar, y no centrase en
un único factor de forma aislada. No olvidemos que
la psicopatía se puede desarrollar de distintas
formas en diferentes persona, pero la postura
mayoritaria es la presencia de una predisposición
de los factores neurobiológicos como base de la
génesis de la psicopatía, que se ve potenciada por
las variables del entorno comprometiendo el
desarrollo cognitivo y emocional.
Por tanto la psicopatía es una interacción de
diversos componentes, de manera que los
individuos con una predisposición genética por
poseer bajos niveles de MAOA, que en edades
tempranas se desenvuelven en ambientes adversos
caracterizados por altos niveles de hostilidad y
además han sufrido episodios de maltrato
provocará en los sujetos una serie de deficiencias
estructurales dificultando el procesamiento
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emocional, su capacidad de socialización y por
consiguiente aprenderán a desarrollar conductas
antisociales como un mecanismo de defensa y
supervivencia a un entorno hostil.
3. Relación Psicopatía, y Problemas de
Conducta
Diferentes autores han intentado extender la
psicopatía a los jóvenes, el propio Lynam defendía
que la presencia de características
comportamentales tales como agresión severa y
peor pronóstico, y características
neuropsicológicas como funciones ejecutivas
deficitarias o mal aprendizaje de la evitación pasiva
en niños diagnosticados simultáneamente de
ADHD, trastrono desafiante oposicional y
trastornos de conducta estaban ampliamente
relacionadas y además son muy similares a las
características que poseen adultos con rasgos
psicopáticos.
Algunos autores como Patrick (2000) y Blair
(2003) utilizan los criterios que delimitan una
categoría de psicopatía de otra para distinguir la
psicopatía del trastorno antisocial de personalidad
(TAP), pues aunque sean considerados como un
mismo trastorno realmente no lo son, ya que existen
una serie de factores causales que permite
diferenciarlos; según estos autores la psicopatía
como tal se correspondería con la psicopatía
primaria con sus carencias afectivas y emocionales
y alto egoísmo y egocentrismo, mientras que por el
contrario el TAP lo asocian con la psicopatía
secundaria, en la que aparecen conductas desviadas
sin la existencia de déficits emocionales. Además
según el CIE-10, los trastornos de personalidad
tienden a presentarse en la infancia y en la
adolescencia y persisten durante la etapa adulta,
mientras que los trastornos de conducta existen a
partir de los 18, por lo tanto de seguir la linea
conceptual que considera la psicopatía como un
trastorno de personalidad (la que se sigue
internacionalmente) si que podríamos considerar la
existencia del constructo de la psicopatía en edades
tempranas.
El TAP supone sobre todo un problema de
socialización, caracterizado por conductas
disruptivas y falta de autodisciplina, estos sujetos
poseen fallos de atención y por ello lo que motiva
su conducta es la un fallo en el procesamiento de la
información , es decir, estos sujeto han sufrido un
aprendizaje erróneo en etapas vitales en su
desarrollo, y debido a una distorsión cognitiva tiene
la creencia de que la forma de lograr sus metas y
autoafirmarse es actuando de forma disruptiva, y si
siguen sin obtener lo que desean aumentaran los
niveles de violencia y agresividad. El TAP por
tanto no se debe a factores congénitos, sino a unos
factores de personalidad que dan lugar a una
inadaptación social (De Corral, 1996), y esto es lo
que permite también distinguirlo de la psicopatía,
pues la psicopatía se compone de factores
biológicos y psicológicos
Por tanto no debemos confundir psicopatía con
TAP, aunque el propio Hare (2003) considera que
“la psicopatía es un trastorno de personalidad
definido por una serie de conductas y rasgos de
personalidad característicos que socialmente no se
consideran positivos.” La diferencia radica en que
la psicopatía se define por características de
personalidad y conductas desviadas, mientras que
el TAP hace referencia al conjunto de conductas
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delictivas y antisociales. De hecho esta distinción
se puede corroborar con los datos aportados a partir
de la aplicación del Psychopathy Checklist-
Revised, pues mientras que el 90% de los
delincuentes psicópatas presentan TAP, solo el
25% de los que presentan TAP podrían
diagnosticarse de psicopatía.
Pero la relación entre psicopatía y problemas de
conducta en la infancia es tan estrecha que con el fin
de conseguir más información sobre los problemas
de conducta también se han realizado estudios
acerca de la presencia de rasgos psicopáticos en
sujetos jóvenes, lo que constata que la psicopatía
tiene su origen en las primeras etapas del desarrollo
vital de los sujetos (Frick y White, 2008), esto
implica comportamientos de tipo agresivo, delictivo
y antisocial con una gran persistencia, por lo que una
temprana manifestación de este tipo de conductas
dificulta el tratamiento.
En cuanto a los problemas de conducta debemos
diferenciar los patrones persistentes de conducta en
el ciclo vital, caracterizados por un inicio temprano
de las conductas desviadas a causa de la relación
entre un sujeto vulnerable y un entorno adverso,
por otro lados nos encontramos con patrones de
conducta que se limitan a la adolescencia, que
surgen de forma repentina y exagerada como parte
de una fase del desarrollo que implica la búsqueda
de identidad del sujeto y que tiene una duración
corta. Los problemas de inicio temprano son los
que peor pronóstico para su tratamiento ya que se
vincula con comportamientos más agresivos,
severos y persistentes, por ello es que autores
suelen considerar que el origen de la psicopatía
podría darse durante las primeras etapas del ciclo
vital (Frick y White, 2008).
La psicopatía en estas edades tan tempranas se
concibe como un factor de riesgo y predictor de
conductas severas, agresión y violencia (sobre todo
instrumental) o conductas delictivas, la dificultad
viene para distinguir un sujeto que presenta rasgos
psicopáticos de un sujeto que simplemente muestra
problemas de conducta. Aunque podemos
diferenciar entre los sujetos que presentan
problemas de conducta durante en la infancia de los
que lo presentan durante la adolescencia, pues los
primeros tienden a persistir a lo largo del tiempo
dichas características, mientras que en los
segundos se suele restringir a un periodo de tiempo
limitado. Para ello se han realizado una serie de
estudios comparativos que muestran que aunque no
hay diferencias significativas en comportamiento
agresivo sí que hay una tendencia por presentar
conductas disruptivas con mayor frecuencia y de
mayor gravedad en los sujetos con rasgos
psicopáticos, del mismo modo la psicopatía infantil
aumenta la probabilidad de que este tipo de
conductas se mantengan estables a lo largo del
tiempo. En estos estudios de nuevo aparece la
relevancia del factor de insensibilidad emocional,
pues los sujetos que presentan rasgos psicopáticos
y además tienen mayores niveles en el factor de
dureza emocional tienden a presentar una mayor
diversidad y severidad de comportamientos
disruptivos, y se ha demostrado que los rasgos
asociados a insensibilidad emocional tienden a
mostrar estabilidad desde la infancia a la
adolescencia y de la adolescencia a la etapa adulta
Y aunque los problemas de conducta en la
infancia tienden a mostrar continuidad en la etapa
adulta, la mayoría de niños con trastorno de
conducta no se convierten en adultos antisociales,
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solo un pequeño porcentaje de jóvenes con
trastorno de conducta se puede considerar en riesgo
de psicopatía. (Laura López Romero, 2012)
Las causas de los problemas de conducta
también pueden variar en función del periodo
evolutivo en el que se encuentre el sujeto, pues la
investigación revela que los problemas de conducta
que aparecen durante la niñez se suelen dar por
disfunciones neuropsicológicas, a entornos
familiares disfunciones y desestructurados, y a
psicopatologías de los padres, lo que provocaría en
el sujeto dificultades para poder lograr una
conducta socialmente adaptativa, mientras que los
problemas de conducta desarrollados durante la
adolescencia se suele dar por grupos de iguales
desviados, y no suele aparecer ningún tipo de
psicopatología, por lo que su conducta no sería más
que un instrumento para reforzar su identidad y
lograr un sentimiento de madurez y potencia.
Por tanto es evidente, que si hemos de buscar
los antecedentes de la psicopatía los hemos de
buscar en los problemas de conducta de inicio
temprano, ya que son los que tienden a persistir en
el tiempo y los que menos dependen de la voluntad
del sujeto, pero al mismo tiempo hemos de
delimitar aquellos sujetos que presentan problemas
conducta de inicio temprano de aquellos que
realmente muestran consistencia en este tipo de
conducta a lo largo del tiempo, pues no todos los
sujetos con problemas de conducta de inicio
temprano se convierten en sujetos antisociales o
psicópatas en la etapa adulta, y la distinción radica
en la presencia de rasgos afectivos, interpersonales
y conductuales similares a las que definen la
psicopatía adulta, pero sobretodo el factor de
dureza e insensibilidad emocional.
Concluimos que la presencia de rasgos
psicopáticos en edades tempranas tiene una gran
relación con los problemas de conducta, siendo un
predictor de estos, además de generar conductas
problemáticas de mayor variedad, frecuencia y
gravedad.
4. Evaluación
Hasta la actualidad se han creado diferentes
pruebas psicométricas para proceder a al
evaluación de la psicopatía, entre las cuales
podemos mencionar algunas como la escala de
Desviación psicopática y/o Hipomanía del MMPY
(Hathaway y McKinley, 1943; Dalshtrom y Welsh
1960; Butcher, Dalshtrom, Graham, Tellengen y
Kaemer 1898) que correlaciona con el factor II de
Hare (desviación social). También la escala de
Maquiavelismo (Match IV) y de Narcisismo (NPI)
que correlacionan con el factor I de Hare
(personalidad). Otras escalas que resultan de
utilidad son las que empleadas para evaluar la
impulsividad como son la Eysenck impulsivity
scale o el IVE (Impulsividad, aventura y empatía).
Sin embargo la escala que mayor fiabilidad
presenta hasta el momento es la Psychopathy
Checklist Screenin-Revised(PCL-R), pues las
escalas antes mencionadas únicamente evalúan
algunos parámetros que componen la psicopatía,
mientras que la PCL-R evalúa todos los criterios de
Hare que definen la psicopatía. La PCL-R se
compone de 22 ítems que valoran dos factores:
• Factor 1: Componentes interpersonales o
afectivos del trastorno. (egocentrismo, ausencia
de remordimientos…). Se correlaciona con
rasgos clínicos de psicopatía, de trastorno
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narcisista e histriónico de personalidad y as u
vez se correlaciona de menra negativa con la
empatía y la ansiedad.
• Factor 2: desviación social. (impulsividad,
comportamiento antisocial, estilo de vida
inestable…). Este factor correlaciona con el
TAP.
Diferente es el caso de la evaluación de la
psicopatía infantil, pues se ha tenido que diseñar
una escala que sea capaz de detectar los rasgos
psicopáticas a una edad temprana debido a sus
características, pues en la PCL-R existen ítems que
no son apropiados para estos sujetos. Ha habido
diferentes intentos por lograr un instrumento de
evaluación de psicopatía infanto-juvenil que sea
suficientemente valida debido a las dificultades
conceptuales y metodológicas. La mayoría de
escala de evaluación de psicopatía infanto-juvenil
derivan de la PCL-R, y son las siguientes:
➢ Psychopathy Checklist- Youth Version (PCL-
YV)
Este instrumento es una versión del PCL-R
adaptada a la población joven. Se trata de una
escala clínica que basa sus resultados en los datos
aportados a partir de las entrevistas
semiestructuradas (antecedentes personales,
familiares, laborales, afectivos, delictivos) así
como de la información aportada de los archivos
penitenciarios (datos obtenidos de entrevistas a
familiares, informes psicológicos, antecedentes
penales, pruebas sicométricas, informes escolares)
que complementan la información aportada a la
entrevista semiestructurada y dan mayor
objetividad a los resultados, pues la entrevista
puede ser manipulable con gran facilidad. Esta
escala incide en el ambiente del sujeto con sus
iguales, sus familiares, y el entorno escolar.
En cuanto a la validez de este instrumento se ha
demostrado su capacidad para predecir el
comportamiento criminal en un período de 10 años,
sobre todo para delincuentes violentos.(Gretton,
Hare y Catchpole, 2004)
Tal ha sido el éxito de este instrumento que su
uso en el ámbito forense se está expandiendo
debido a la correlación que tiene con variables
penitenciarias, sociodemograficas y delictivas. Y
aunque este instrumento es considerado uno de los
mejores para la evaluación de la psicopatía infanto-
juvenil nos encontramos con una serie de
problemas, el primero de ellos es que debido a la
edad del sujeto este no dispone de un historial lo
suficientemente amplio que este registrado para
poder compararlo con lo expuesto a la entrevista,
esto solo se suele dar en sujetos sometidas a alguna
medida judicial, lo que supone el riesgo de
generalizar los resultados a la población no reclusa.
Del mismo modo también resulta difícil generalizar
los resultados debido a la existencia de ítems que
requieren que el sujeto haya estado necesariamente
en un proceso judicial. (Violación de la libertad
condicional..). Por ello, debido a las limitaciones
que aun tiene este instrumento su uso se debería
limitar para la investigación y no tanto para la
evaluación clínica.
En cuanto a la investigación, las variables mas
estudias han sido la criminalidad parental, abuso
sexual, supervisión, uso del castigo, comunicación,
apego, separación… aunque los resultados aun
muestran ciertas inconsistencias, y algunos autores
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defienden que el factor de la conducta social este más
relacionado con el entorno familiar y el ambiente,
mientras que el factor afectivo- interpersonal se
vincule mas a rasgos biológicos del sujeto.
➢ APSD (Antisocial Process Screening Device)
Se trata de un instrumento auto-informe
pretende detectar rasgos psicopáticos a partir de los
6 años de edad y para ello cuenta con 20 ítems
similares al PCL-R y que ha de ser completada por
las personas cercanas al niño, (padres, profesores)
o en caso de adolescentes existe la versión
autoinformada.
En un primer momento esta escala se estructuró
en dos factores: “Dureza/insensibilidad” (falta de
empatía, superficialidad de las emociones,
ausencia de culpa..) y “impulsividad/problemas de
conducta” (déficit en control de impulsos,
conductas antisociales), pero en 2002 se amplió y
se añadió “narcisismo” es decir la dimensión
interpersonal (fanfarronea, se cree superior a los
demás..), pero Frick insistía en la
dureza/insensibilidad como factor central en el
diagnostico de la psicopatía infanto-juvenil.
Sin embargo los estudios realizados acerca de la
APSD han creado dudas acerca de su validez y
fiabilidad. Además, el factor más relevante de esta
escala (dureza/insensibilidad) ha sido la menos
consistente en sus resultados, ya que la evaluación
del componente afectivo siempre presenta mayores
dificultades, tanto en niños como en adultos,
incluso podemos decir que en el ámbito en el que
aplicamos este instrumento aumentan estas
dificultades de conceptualizar el factor de dureza e
insensibilidad debido a la procedencia de los
sujeto, ya que se desenvuelven en ambientes
psicosociales desfavorables provocando un
precario desarrollo emocional y de la empatía de
estos sujetos. Por todo esto resulta necesario
recabar más información, aun así esta es la línea de
investigación que se ha de seguir para lograr
resultados prometedores.
En cuanto a su aplicación práctica, esta escala
ha sido utilizada sobretodo en población general y
muestras clínicas, en sujeto que denotan una
trayectoria delictiva notable y que debido a las
desventajas psicosociales la intervención resulta
más difícil. Mientras que a penas se ha utilizado en
pacientes institucionalizados, ámbito en el que
resultaría de gran utilidad debido al elevado riesgo
de desarrollo emocional y a la necesidad de
intervención
La aplicación de esta escala también nos
muestra que en niños el factor narcisismo se
correlaciona con mayor fuerza con las conductas
disruptivas, lo que plantea que el narcisismo sea un
predictor más fiable de los rasgos psicopáticos en
jóvenes, sobre todo debido a la mayor facilidad de
observación de los factores interpersonales. Esto
podría decirnos que la naturaleza y la forma en que
se manifiesta la psicopatía es distinta en función de
la fase del ciclo vital en que se encuentre el sujeto,
y por ello según la edad del sujeto en cuestión
deberá ser evaluado y tratado de forma distinta.
Para poder validar esta prueba resultaría
conveniente realizar otras escalas y autoinformes en
los que se evalúan variables relacionadas con la
personalidad psicopática, tales como los problemas
conductuales y emocionales, ansiedad, empatía e
inteligencia.
A pesar de los problemas de validez que
presenta este instrumento se ha demostrado la
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consistencia de los rasgos evaluados a lo largo de 4
años, pero habría que realizarse estudios a largo
plazo para poder validar este instrumento como un
predictor de la psicopatía adulta.
Estos instrumentos son los más utilizados y los
que mejores resultados han presentado hasta el
momento, aun así existen otras escalas pero que
representan niveles inferiores de fiabilidad, por
ejemplo: Child Psychopathy Scale (CPS), Youth
Psychopathic Taits Inventory (YPI) o Psychopathy
Conten Scale (CPS)
Por otro lado, debido a la creciente importancia
del factor de la inestabilidad emocional como factor
central y explicativo en la etiología y predicción de
problemas de conducta ha hecho que se inviertan
muchos esfuerzos por averiguar mas sobre esta
variable, y por ello se han creado instrumentos con
la finalidad de evaluar este rasgo y que resultara de
gran importancia para el diagnostico de la
psicopatía. En esta línea Frick (2004) crea Inventory
of Callous-Unemotional (ICU)
Por tanto, a la hora de evaluar a un joven se ha de
tener en cuenta las características propias de la edad
y analizar si las características que a priori pudieran
parecer rasgos psicopáticos realmente se trata de una
psicopatía o de factores que a lo largo del tiempo
tienden a desaparecer para dar paso a la creación de
una personalidad consistente sin rastros de
patología, y para ello hay que ir con suma cautela
cuando se observa dichos factores teniendo en
cuenta que además que los jóvenes con rasgos
psicopáticos, se diferencian del resto de los niños en
cuanto a que muestran mayores niveles de
agresividad, son más complicados, mentirosos, son
desafiantes con la autoridad, manipuladores y
muestran una frialdad inhumana que les impide
experimentar ciertas emociones, factor que dificulta
la socialización del sujeto y con ello la
internalización de las normas. También debemos de
tener en cuenta la edad de los sujetos evaluados a la
hora de elegir una escala u otra, pues APSD y el CPS
son los únicos que pueden utilizarse en niños,
mientras que cuando se traten de sujetos que se
encuentren en la adolescencia tardía se recomienda
utilizar auto-informes. Es crucial el poder
diagnosticar con seguridad un sujeto con rasgos
psicopáticos, sobre todo en sujetos tan jóvenes, para
evitar falsos positivos, y que no se cree un proceso
de etiquetaje y estimación social hacia sujetos que
únicamente puedan presentar problemas de
conducta corregibles con la intervención adecuada o
que simplemente se trate de características que
formen de un proceso evolutivo.
5. Tratamiento
La psicopatía se concibe como un trastorno de
la personalidad, una variante de la variedad de los
seres humanos, desde el psicoanálisis se incluye la
psicopatía como una patología del super yo en la
medida que tiene como origen la internalización de
ciertas pautas sociales, entre las éticas o morales,
por ello actualmente los profesionales consideran
que no es posible un tratamiento de la psicopatía.
La mayoría de autores coinciden en que no existe
ninguna intervención efectiva para tratar la
psicopatía, e incluso algunos se atreven decir que
los programas de intervención pueden agravar la
situación. Esto tiene una serie de consecuencias
prácticas, pues como hemos dicho anteriormente se
tiende a etiquetar y generalizar la psicopatía a
sujetos que no la padecen, por lo que estos sujetos
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pueden verse en una situación en las que se les
niegue el tratamiento por asociar su conducta a la
psicopatía.
Probablemente la causa del fallo terapéutica a
este tipo de sujeto se deba a la inestabilidad
emocional, ya que este rasgo produce que los niños
respondan negativamente ante cualquier tipo de
disciplina, y también a la presencia de un
componente biológico en la génesis de la psicopatía,
pues no hay una tipología de tratamiento suficiente
eficaz para modificar las variables genéticas, sin
embargo podría intentarse un tipo de terapia que se
centre en la variables ambientales.
A pesar de que el tratamiento de la psicopatía
resulta muy difícil a día de hoy por no existir
estrategias que estén consolidadas, sí que se podría
intentar una prevención de actos criminales de
estos sujetos, ya que cuando actúan lo hacen
mediante actos atroces que conmocionan toda la
sociedad por sus elevados niveles de violencia, se
debería realizar un control y un seguimiento de los
sujetos potencialmente peligrosos, que aunque no
hayan actuado mediante una valoración de riesgo
se estime que pueda hacerlo pronto, sin embargo
debido a su motivaciones y fantasías puede que
actúen de igual forma de forma encubierta, a la
sombra de la sociedad.
Sin embargo existen líneas de investigación que
postulan que dado que durante las primeras fases
del ciclo vital las características de personalidad
son más susceptibles al cambio pueden conseguirse
ciertos avances en el tratamiento de la psicopatía
utilizando la psicoterapia.
Lo que es cierto es que resulta necesario
disminuir la conducta delictiva y reducir la
reincidencia, pero no se ha podido lograr hasta el
momento ya que hay una preferencia por
tratamientos centrado la conducta,
mayoritariamente coercitivos dejando a un lado los
factores de personalidad centrales en la psicopatía,
pero estas terapias no se llevan a cabo por su larga
duración y por requerir de una levada cualificación
de los profesionales, por lo que se opta por una
línea de tratamiento más fácil de llevar a cabo a
pesar del fracaso en sus resultados.
6. Conclusiones
Existen numerosas controversias a la hora de
considerar la existencia de una personalidad
psicopática en la infancia, debido a que se puede
confundir las características propias de la fase del
ciclo vital del sujeto con las características del
constructor de psicopatía, pues muchos autores
coinciden en que ambas son muy parecidas, y que
mientras muchos sujetos dejan de presentar dichas
características pasados unos años otros tienden a
mantenerlas en el tiempo. A pesar de dichas
controversias, podemos decir que se puede
demostrar la presencia de rasgos psicopáticos con
anterioridad a la etapa adulta, y dichos rasgos no
solo son un percusor de la psicopatía propiamente
dicha sino que además son útiles como factores de
riesgo de la conducta antisocial y persistente. Pero
se ha de ir con suma cautela a la hora de considerar
dichas características como rasgos de la psicopatía
para evitar un proceso de etiquetaje y estimación del
sujeto, pues puede que únicamente presente un
patrón de conducta antisocial, resulta crucial tener
en cuenta la el factor afectivo del sujeto, en concreto
la dimensión de dureza emocional para poder
distinguir un sujeto antisocial de un sujeto con
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rasgos psicopáticos. Pues un factor esencial para el
diagnostico de la psicopatía es la disfunción afectiva
en el ámbito interpersonal, relacionando dicha
disfunción de la afectividad con rasgos como
insensibilidad, falta de empatía, ausencia de
remordimientos, egocentrismo, mentira patológica y
la manipulación; mientras que de la dimensión
comportamental la psicopatía se caracteriza por una
violación reiterada de las normas, explotación de los
demás y altos niveles de violencia y agresividad.
En cuanto al origen de este trastorno de la
personalidad se han evidenciado daños en las
estructuras cerebrales, especialmente en la corteza
frontal y temporal, asociadas con las conexiones
emocionales, así como diferencias en los niveles
bioquímicos, por ejemplo de la enzima MAOA,
relacionada con los niveles de agresividad y
violencia. Dichas diferencias en las estructuras
neurobiológicas puede darse desde el nacimiento o
asociarse a sucesos que el sujeto ha vivido a lo
largo de su vida, sucesos caracterizados por altos
niveles de agresividad y que han calado en la
psique del individuo afectando a las conexiones
cerebrales, de hecho también existen estudios que
defienden que los sucesos traumáticos o los
patrones educativos recibidos durante su infancia
han podido influir en el origen de la psicopatía, sin
embargo nosotros abogamos por una mayor
influencia de os factores neurobiológicos para el
origen de este trastorno, mientras que los factores
ambientales actuarían como un factor de riesgo que
desencadenarían las conductas antisociales a las
que estas predispuestos estos sujetos por sus
características biológicas, de modo que ambos
factores se relacionan entre ellos para favorecer
este tipo de conductas. Por otro lado debemos tener
en cuenta que la influencia de os factores
ambientales tiene una gran relación con la conducta
violenta, y por ello resultaría interesante seguir una
línea de investigación hasta que punto estos son
determinantes en el desarrollo de una psicopatía o
ver si simplemente se relaciona con la conducta
violenta del sujeto, que unido a unos factores
neurobiológicos, preexistente actúan como
detonante de dicha conducta, o incluso se podría
considerar que los factores ambientales
dependiendo de la intensidad en la que son vividos
por el sujeto calan en la psique del sujeto de tal
manera que le provocan una inestabilidad
emocional que en muchos casos se expresa al
exterior a través de la agresividad.
Otra dificultad a la que nos enfrentamos es el
diagnóstico de la presencia de rasgos psicopáticos
en edades tempranas, pues las escalas existente
para el diagnóstico de la psicopatía esta prevista
para la población adulta y las que se utilicen en los
sujetos jóvenes debería adaptarse las circunstancias
de su edad. Pero debido a lo complicado que resulta
distinguir un joven con rasgos psicopáticos de un
sujeto con simples problemas de conducta estos
instrumentos deberían utilizarse únicamente para
predecir la conducta violenta futura y no realizar un
diagnostico temprano que pueda provocar un
etiquetaje en el menor.
Por último debemos decir que dado que la
psicopatía se relaciona con factores biológicos y
con los rasgos de personalidad de un individuo
resulta muy complicado crear una técnica para su
tratamiento, las que se han utilizado hasta el
momento no parecen mostrar resultados muy
fiables, por lo que deberíamos plantearnos utilizar
otro tipo de estrategias, una estrategia no intrusiva
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y que no trate de cambiar la personalidad del
individuo, cosa prácticamente imposible y más en
este tipo de sujetos, sino que deberíamos crear un
tratamiento que trate de inculcar en el sujeto una
serie de estrategias para que el sujeto sepa
identificar las conductas violentas y que en un
momento dado sea capaz de controlarlas.
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DROGAS DE SUMISIÓN QUÍMICA Y SU RELACIÓN CON LA
DELINCUENCIA. INTERÉS MEDICO LEGAL.
Álvarez Seguí, M.1, Ferrer Gómez, C.2, Barreiro Osende, M. J.3
1 Médico Forense. Jefe de Sección de Policlínica y Especialidades
2 Médico Forense. Jefe de Sección de Genética Forense y Criminalística
3 Jurista experta en Instrucción
Correspondencia: alvarez_merseg@gva.es; ferrer_cargom@gva.es
Centro de trabajo: Instituto de Medicina Legal y Ciencias Forenses de Valencia (Ciudad de la Justicia). Profesor López
Piñero nº 14, 46013- Valencia.
Resumen – La sumisión química puede definirse
como la administración de sustancias sedantes o
narcóticas a una persona, sin el conocimiento de ésta,
con una finalidad delictiva, de diversa naturaleza;
desde la agresión sexual, pasando por la coacción
para la firma de documentos, hasta los delitos de
índole patrimonial, como el robo.
En el ordenamiento jurídico español es una figura
relativamente novedosa pues hasta la reforma del
Código penal español de 2010, no se introduce
referencia alguna respecto a la sumisión química.
Las sustancias que se utilizan son de lo más
diverso; son sustancias que inducen a una marcada
depresión del nivel de conciencia, por lo tanto, a una
falta de resistencia activa por parte de la víctima.
Consideramos las autoras que el uso de fármacos,
drogas u otras sustancias naturales o químicas que
anulen la voluntad de la víctima en la comisión de
hechos delictivos, debería considerarse una
agravante en todas las formas delictivas, no solo por
la indefensión que generan en la víctima, sino
también por el riesgo que suponen para la salud y la
vida de las victimas, en especial aquellas que poseen
patologías previas tales como: sensibilidades o
alergias a ciertos compuestos tóxicos, patologías
respiratorias e incluso cardiacas entre otras.
Palabras clave: drogas, sumisión química,
toxicología, indefensión.
Abstract – Chemical submission can be defined as
the administration of sedative or narcotic substances
to a person, without their knowledge, with a criminal
purpose, of different nature; from sexual assault,
through coercion for signing documents, to crimes of
a property nature, such as theft.
In the Spanish legal system it is a relatively new
figure because until the reform of the Spanish
Criminal Code of 2010, no reference is made
regarding chemical submission.
The substances used are the most diverse. They
are substances that induce a marked depression of
the level of consciousness, therefore, a lack of active
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resistance on the part of the victim.
We the authors consider that the use of drugs or
other natural or chemical substances that annul the
will of the victim in the commission of criminal acts
should be considered an aggravating factor in all
criminal forms. Not only because of the helplessness
they generate in the victim, but also because of the
risk they pose to the health and life of the victims,
especially those that have previous pathologies such
as: sensitivities or allergies to certain toxic
compounds, respiratory and even cardiac
pathologies among others.
Keywords: drugs, chemical submission, toxicology,
defenselessness.
I. INTRODUCCIÓN
La sumisión química puede definirse como la
administración de sustancias sedantes o narcóticas
a una persona, sin el conocimiento de ésta, con una
finalidad delictiva, de diversa naturaleza; desde la
agresión sexual, pasando por la coacción para la
firma de documentos, hasta los delitos de índole
patrimonial, como el robo. Tal como ha ocurrido
recientemente con “la reina de la burundanga de 24
años de edad: una adicta al póker que drogaba a
familiares para robarles en León”. Esta sumisera,
fue detenida, por la policía, por utilizar esta droga
en personas de su circulo más cercanos
(familiares), incluido su abuelo de 90 años, para
robarles más de 40.000 euros. Iban al cajero y ella
se quedaba el dinero, poniendo en peligro la vida
de algunos de ellos, según una publicación de fecha
4 de mayo del año en curso, en el periódico digital
El Español de Brais Cedeira.
Aunque no es un fenómeno actual, tiene su
máximo interés en estos momentos por los fines
criminales de su uso. Se sabe, que prisioneros
militares, tal como ocurrió en la antigua Unión
Soviética, fueron sometidos "farmacologicamente
con butirofenonas" para arrancarles confesiones de
interés estratégico desde el punto de vista bélico.
Con el mismo fin, algunos servicios de
inteligencia, fundamentalmente en la guerra fría, se
supone que utilizaron "sueros de la verdad"
basados en la combinación de barbitúricos
(pentotal) y anfetaminas.
Según Cruz-Landeira, A. et al, 2008 fueron
Poyen y Jouglard en el año 1982 quienes acuñaron
por primera vez el termino "sumisión por drogas”
o “soumission chimie” según la doctrina francesa.
En el ordenamiento jurídico español es una
figura relativamente novedosa pues hasta la
reforma del Código penal español de 2010, no se
introduce referencia alguna respecto a la sumisión
química.
Es con esta reforma, llevada a cabo por la Ley
orgánica 10/1995, de 23 de noviembre, cuando se
introduce en el Código penal el artículo 181.2, que
tipifica como delito de abuso sexual la comisión
del mismo, anulando la voluntad de la víctima
mediante el uso de fármacos, drogas o cualquier
otra sustancia natural o química idónea a tal efecto.
Art. 181.2 CP: “A los efectos del apartado
anterior, se consideran abusos sexuales no
consentidos los que se ejecuten sobre personas que
se hallen privadas de sentido o de cuyo trastorno
mental se abusare, así como los que se cometan
anulando la voluntad de la víctima mediante el uso
de fármacos, drogas o cualquier otra sustancia
natural o química idónea a tal efecto”
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Antes de esta reforma, simplemente, se
tipificaba el abuso sexual, que hace mención al
ataque a la libertad sexual de la víctima sin
violencia o intimidación.
Por otro lado, según datos aportados por el
Instituto Nacional de Toxicología y Ciencias
Forenses, los delitos cometidos por la acción de
estas drogas se han incrementado en un 30%
justamente desde ese año 2010.
II. MODALIDADES DE SUMISIÓN
QUÍMICA DESDE EL PUNTO DE VISTA
CRIMINOLÓGICO Y JURÍDICO
Desde el punto de vista criminológico,
contamos con diferentes tipos de victimarios en
función de la finalidad perseguida por éstos al
consumar el delito.
De ese modo, tenemos:
a) Los victimarios acechadores. Son los que esperan
a que surja una oportunidad para atacar. Son
individuos que solo persiguen satisfacer su instinto
sexual y ven en la sumisión química el método más
idóneo para conseguirlo. Son los que se aprovechan
de a situación de inconsciencia de la víctima tras el
consumo voluntario por ésta de los tóxicos.
b) Los victimarios instrumentalistas. Para ellos, la
sumisión química es la forma o instrumento
adecuado para su fin y no un medio para la
comisión del delito. Son los que usan
intencionadamente la droga, para ellos la droga es
el arma del crimen.
De igual modo, y desde el punto de vista
jurídico nos encontramos con dos modalidades de
sumisión química:
a) La oportunista: es la conducta en la que el sujeto
activo se aprovecha la alteración mental producida
por el consumo voluntario de tóxicos del sujeto
pasivo (sin ser él, por tanto, quien le administra
tales sustancias).
b) La premeditada o proactiva: es una conducta
típica consistente en la administración deliberada de
tóxicos, por parte del agresor, con el fin de realizar
un acto delictivo posterior sobre el sujeto pasivo.
III. SUSTANCIAS UTILIZADAS EM LA
SUMISIÓN QUÍMICA
Las sustancias que se utilizan son de lo más
diverso; son sustancias que inducen a una marcada
depresión del nivel de conciencia, por lo tanto, a
una falta de resistencia activa por parte de la
víctima.
Para tal fin se pueden usar tanto medicamentos
del tipo de los ansiolíticos, hipnóticos, sedantes,
antitusígeno (diazepam, zolpirem, citalopram,
venlafaxina, quetiapina, codeína, codeína asociada
a morfina…) como otras drogas no legales,
también con acción sobre el sistema nervioso
central, tales como: la cocaína, MDMA (3,4
metilen dioxi metil anfetamina), MDEA (3,4
metilen dioxi etil anfetamina), metanfetaminas,
metadona, alucinógenos (cannabis,
gamahidroxibutirato –GHB-, ácido lisérgico –
LSD-, fenilciclidina, escopolamina, etc.).
Por otro lado, se sabe desde tiempos
inmemoriales, que también se puede llegar a esos
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extremos de sumisión, a través de la sugestión e
hipnosis, con lo que puede lograrse una
desinhibición y amnesia anterógrada, que llevan a
la victima a realizar actos en contra de su voluntad,
sería la sumisión psicológica.
Por lo general, por los intereses espurios del
criminal, cuando este utiliza drogas para conseguir
sus fines, utiliza sustancias de efecto rápido y de
corta duración. La vía de administración elegida,
por lo general, es la oral, si bien la literatura expone
algún caso en los que se ha usado la vía inhalatoria
(vapores de eter, cloroformo..).
Los síntomas que producen pueden solaparse
con los de otras intoxicaciones, que en ocasiones
puede que coexistan como es el caso de la
intoxicación alcohólica, el cual (alcohol) es tomado
de forma voluntaria por la víctima en la mayoría de
los casos.
Organolépticamente son sustancias, incoloras,
inodoras e insípidas para poder ser enmascaradas
con una bebida, por lo general alcohólica. Como ya
se ha dicho, son drogas que deben ser activas a
bajas dosis, para de este modo pasar
desapercibidas.
Habitualmente los efectos buscados por el
agresor son:
• Una amnesia anterógrada (imposibilidad de
memorizar hechos nuevos),
• El síndrome de amnesia-automatismo (estado
confusional con conducta automática y actitud
de consentimiento).
• Efecto alucinógeno (la desorientación en
tiempo, espacio incluso persona, todo ello
sumado a la distorsión de la realidad que lo
rodea).
• Desinhibición, lo que constituye una ventaja
para el agresor, sobre todo para las situaciones
de agresión sexual, ya que la victima puede dar
curso a situaciones, que en un estado de
conciencia normal, no se darían.
En los casos de agresión sexual por sumisión
química las víctimas suelen ser mujeres
relativamente jóvenes (18-35 años) que han
consumido más o menos bebidas alcohólicas de
forma voluntaria y que se despiertan en un lugar
desconocido, semidesnudas, en un estado de
desorientación, con la sensación haber sido
violadas o abusadas sexualmente.
Por lo general refieren, durante la exploración
médico forense, episodios amnésicos y de
confusión respecto a lo ocurrido, incluso refieren
pérdida de conciencia. En muchos casos, las
víctimas, son reticentes a denunciar
inmediatamente los hechos por vergüenza.
También son frecuentes los casos en los que la
víctima es menor, y los abusos se producen en el
entorno familiar.
IV. MANIFESTACIONES CLÍNICAS DE
ALGUNOS TÓXICOS EMPLEADOS EN LA
SUMISIÓN QUÍMICA
4.1.- Alcohol. Estudios recientes llevados a cabo
por el Instituto Nacional de Toxicología y Ciencias
Forenses, con los datos que toman los médicos
forenses que practican tanto la exploración, como
la toma de muestras de la víctima para su estudio
toxicológico, ponen de manifiesto, que un 77% de
ellas, en los momentos previos a los delitos
relacionados con la sumisión química, tomaron
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bebidas alcohólicas. Siendo los resultados de las
alcoholemias, en muchos de ellos de 2,2 y 3,3 gr/l.
tasa de alcohol en sangre, lo suficientemente
elevada como para alterar la conciencia y memoria
en muchos de ellos, así como para no poder prestar
un consentimiento valido, al encontrarse bajo los
efectos de una intoxicación alcohólica aguda.
4..2.- Benzodiacepinas Son fármacos inductores
del sueño, ansiolíticos y relajantes musculares.
Entre sus efectos secundarios consta la triada
constituida por automatismo y amnesia
anterógrada. Los distintos estudios efectuados
reconocen que las benzodiazepinas están presentes
en un elevado número de víctimas de hechos de
esta naturaleza (sumisión química). El
flunitrazepam o “droga de la violación” como se
conocía popularmente sobre los años 90, ha dejado
de usarse para estos fines dado a que se prohibió en
EEUU y el laboratorio que la produce tuvo que
reformular el fármaco cambiando algunas
características, entre ellas añadieron propiedades
que dificultaban su disolución, dejando un polvo
azul brillante una vez introducida en la bebida.
Según (Bismuth, C. et al. 1997), entre los efectos
de las benzodiacepinas se encuentran que pueden
producir ilusiones y fantasías sexuales, que
conduzcan a denunciar hechos que no existieron
que en realidad no existieron.
4.3.- Cannabis. Es la segunda sustancia más
frecuentemente encontrada en los casos de
agresiones sexuales mediadas por sumisión
química. Este tóxico, después del alcohol, adquiere
protagonismo como droga recreativa, que tomada
en forma voluntaria puede colocar en estado de
vulnerabilidad a quien la consume, a merced de
agresiones oportunistas, dada su condición de
generar una alteración de la percepción del tiempo
y realidad circundante.
4.4.- Escopolamina o burundanga. Conocida como
“la droga del diablo”. En la clínica, se usa por sus
efectos antiespasmódicos y de dilatación pupilar.
La vía de ingreso en el organismo, más común, es
la oral, también la vía inhalatoria (fumada). Su
efecto máximo se alcanza a las 1-2 horas de la
absorción, tiene una vida media de dos horas y
media, aproximadamente. Su efecto depende de la
dosis. Se produce una alteración de la conciencia,
taquicardia, midriasis, retención urinaria, sequedad
de boca y piel…
La amnesia es anterógrada, con una duración
aproximada de unas 72 horas posteriores a su
administración, que se acompaña de un déficit de
atención y alteraciones de la conducta.
4.5.- GHB (gamahidroxibutirato). A mediados del
siglo pasado fue utilizado como anestésico, y
también se pautaba a personas adictas al alcohol y
otras drogas para aminorar los síntomas de la
abstinencia. Su efecto euforizante es muy rápido y
corto, la droga se puede encontrar en sangre hasta
6 a 8 horas después de su ingesta y hasta unas 12
horas en la orina. La actividad depresora del
sistema nervioso central del GHB, es
probablemente sinergista con otras sustancias
depresora como el alcohol, opiáceos,
benzodiacepinas, etc.
4.6.- Cocaína. Los efectos fisiológicos a corto
plazo derivados del consumo de cocaína incluyen
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contracción de los vasos sanguíneos, dilatación de
las pupilas y aumentos en la temperatura corporal,
la frecuencia cardiaca y la presión arterial. Pueden
tener temblores, vértigos, espasmos musculares o
paranoia. Existe una interacción potencialmente
peligrosa entre la cocaína y el alcohol. Además,
puede haber graves complicaciones médicas
asociadas con el abuso de la cocaína. Entre las
complicaciones más frecuentes se encuentran
algunos efectos cardiovasculares como
alteraciones en el ritmo cardiaco y ataques al
corazón; algunos efectos neurológicos incluyendo
ataques cerebrovasculares, convulsiones, dolores
de cabeza y hasta coma; y complicaciones
gastrointestinales, como dolor abdominal y náusea.
En ocasiones (aunque no existen muchos casos
referenciados), puede ocurrir la muerte súbita la
primera vez que se prueba la cocaína o de forma
inesperada al consumirla subsiguientemente. Las
muertes ocasionadas por la cocaína suelen ser el
resultado de un paro cardiaco o de convulsiones
seguidas por un paro respiratorio.
V. RECOMENDACIONES DE INTERÉS
MÉDICO FORENSE EN LA SUMISIÓN
QUÍMICA
5.1.- Se recomienda tomar muestras tanto de sangre
como de orina, dentro de las 48 horas desde el
hecho; entre las 48 horas y 7 días se recomienda
tomar muestras de orina, si la victima toma
contacto con los servicios médicos y por
consiguiente, de acuerdo con lo protocolizado, con
el médico forense luego de 7 días de la agresión, se
recomienda el análisis del cabello, el cual se
considera como una matriz biológica que tiene la
capacidad de incorporar a su composición
sustancias químicas presentes en la sangre; por lo
que conocido crecimiento (aproximadamente 1 cm
por mes), se pueden determinar la sustancia
administrada o sus metabolitos. Su principal
desventaja son las bajas concentraciones que se
pueden encontrar en dosis única, a veces poco
perceptibles. Cabe tener presente que la detección
de metabolitos en el cabello puede ser útil para
diferenciar entre la contaminación externa y el
consumo.
5.2.- Examen del lugar de los hechos, también debe
ser tenido en cuenta a la hora de búsqueda y
preservación de indicios, son de interés los blisters
hallados y los posibles vómitos, pues los mismos
deben recogerse y analizarse, pues se puede
detectar en ellos la droga consumida voluntaria y/o
involuntariamente.
Los residuos del lugar de los hechos deben
resguardarse cada uno por separado para evitar la
contaminación cruzada de las muestras biológicas,
primordialmente si en la presunta agresión se han
utilizado compuestos volátiles.
5.3.- Todas las muestras al ser trasladadas al
laboratorio deben controlarse por medio de de
“cadena de custodia”, que es toda la
documentación relativa al transporte y manejo de
las muestras desde el lugar que se obtienen hasta el
laboratorio que va a realizar los análisis.
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VI. ASPECTOS MÉDICO LEGALES DE
INTERÉS EN LAS INTOXICACIONES
El consumo de drogas, incluido el alcohol, entre
los problemas que general desde el punto de vista
médico legal, son tanto en personas vivas, como en
cadáveres-
6.1.- En el vivo.
a - Determinar consumo de sustancias de tráfico
ilegal.
b - Determinar si el detenido, en el momento de la
acción se encontraba intoxicado o bajo el
síndrome de abstinencia.
c - Valorar, en el caso de condenas penales, si el
condenado puede o no cumplir su condena en el
centro penitenciario o es conveniente cualquier
otro centro.
d - Valorar la repercusión del consumo crónico de
alcohol en el consentimiento de actos civiles.
e - Valorar posibles repercusiones de las
intoxicaciones en el lugar del trabajo.
f - Valorar en cuestiones derivadas de problemas
en la circulación vial.
6. 2.- En el cadáver.
a - Determinar si la muerte ha sido o no violenta o
sospechosa de criminalidad.
b - Establecer la etiología médico legal de la
muerte (suicida, homicida o accidental)
c - Establecer causa de la muerte.
d - Establecer el mecanismo de la muerte.
e - Establecer la data de la muerte.
f - Valorar las causas y concausas de la muerte.
g - Valoraciones retrospectivas de actos civiles
llevados antes de la muerte.
VII. CONCLUSIONES
En definitiva, estas drogas son de uso frecuente
entre las víctimas que alegan una agresión sexual,
constatándose un incremento de personas asistidas
por estas causas en centros hospitalarios.
Existe un grave problema en el diagnostico por
encontrarse éste, supeditado a numerosos factores,
como la demora en la solicitud de asistencia por
parte de la víctima y, sin duda a la rápida
desaparición en el organismo de algunos tóxicos.
Sin olvidar que estas drogas, utilizadas para la
comisión de estos tipos de delitos son también
empleadas con finalidad recreativa e incluso suicida,
causando intoxicaciones potencialmente mortales.
Por tal motivo, a efectos de prevención del
consumo y comisión de delitos por su uso, es
necesario disponer de protocolos que permitan la
atención de este tipo de víctimas, realizar una
anamnesis cuidadosa acerca del consumo
voluntario previo, y obtener precozmente las
muestras biológicas.
En este sentido, en el caso de víctimas de
violencia sexual y de sospecha de sumisión
química, se recomienda tomar muestras de sangre
y orina dentro de las 48 horas desde el hecho; entre
las 48 horas y 7 días se recomienda tomar muestras
de orina (Griffiths, D., Xifro, A., Barberia, E.,
Pujol, A.; Arroyo, A., Bertomeu, A., y Montero, F.,
2013). Después de 7 días de la agresión, se
recomienda el análisis del cabello (García-Repetto,
R; Soria, M, 2011).
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Asimismo, consideramos las autoras que el uso
de fármacos, drogas u otras sustancias naturales o
químicas que anulen la voluntad de la víctima en la
comisión de hechos delictivos, debería
considerarse una agravante en todas las formas
delictivas, no solo por la indefensión que generan
en la víctima, sino también por el riesgo que
suponen para la salud y la vida de las victimas, en
especial aquellas que poseen patologías previas
tales como: sensibilidades o alergias a ciertos
compuestos tóxicos, patologías respiratorias e
incluso cardiacas entre otras.
Las autoras declaran no tener ningún conflicto
de intereses.
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A SELETIVIDADE PENAL E A RESTRIÇÃO DO SUFRÁGIO UNIVERSAL
AOS CONDENADOS
Anderson Burke1
1 Advogado e sócio da Burke Advogados. Atuação docente nos cursos de graduação em Direito e Pós-Graduação em
Ciências Criminais da Faculdade de Direito de Vitória (FDV/ES). Mestre em Direitos e Garantias Fundamentais pela
Faculdade de Direito de Vitória (FDV/ES). Especialista em Ciências Criminais, Direito Constitucional e Direito
Tributário. Membro da Comissão de Advocacia Criminal e de Política Penitenciária da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB/ES)
E-mail: anderson@burke.com.br
RESUMO: No texto constitucional brasileiro temos
a previsão da suspensão dos direitos políticos na
ocasião de alguma sentença penal condenatória a um
indivíduo, precisamente no art. 15, III, da CRFB. No
que diz respeito aos direitos políticos, daremos
enfoque ao direito ao voto dos sujeitos que são
condenados criminalmente, para a realização de
estudo acerca da proporcionalidade da suspensão de
referido direito que recai sobre o agente infrator e as
consequências que referida medida pode causar aos
valores do regime democrático. O problema da
presente pesquisa consiste na interpretação sobre
quais crimes devem gerar a referida restrição à
capacidade ativa e passiva de sufrágio. Ou seja, o que
buscamos analisar é se a mencionada norma é
aplicável irrestritamente a quaisquer crimes
presente em nossa legislação penal ou se ela deve se
dirigir a apenas alguns crimes determinados, ou até
mesmo se é pertinente, à luz da criminologia crítica
e ditames constitucionais. A diferenciação quanto
aos mencionados crimes se dará quanto ao estudo da
natureza de seus bens jurídicos e as consequências
que representam à democracia. Tentaremos concluir
quais bens jurídicos tutelados pela lei penal quando
violados por algum indivíduo devem gerar a ele o
efeito negativo de restrição de seus direitos políticos,
principalmente no que tange ao direito ao voto,
objeto de nossa análise.
Palavras-Chaves: Suspensão de Direitos Políticos.
Condenação Criminal. Direito ao Voto. Bens
Jurídicos Penais. Direitos e Garantias
Fundamentais. Art. 15, III. CRFB. CF. Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988. Direito
Penal. Criminologia.
Abstract – In the Brazilian constitutional text we
have the provision of the suspension of political
rights on the occasion of some condemnatory
criminal sentence to an individual, precisely in art.
15, III, of the CRFB. With regard to political rights,
we will focus on the right to vote of subjects who are
criminally convicted, to conduct a study on the
proportionality of the suspension of that right that
falls upon the offending agent and the consequences
that this measure may cause to the values. of the
democratic regime. The problem of the present
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research is the interpretation of which crimes should
generate the restriction to the active and passive
capacity of suffrage. That is, what we seek to analyze
is whether the aforementioned rule applies
unrestrictedly to any crimes present in our criminal
law or whether it should address only certain
determined crimes, or even if it is pertinent, in light
of critical criminology and constitutional dictates. .
The differentiation regarding these crimes will be
related to the study of the nature of their legal assets
and their consequences for democracy. We will try
to conclude which legal assets protected by criminal
law when violated by any individual should generate
to him the negative effect of restricting his political
rights, especially with regard to the right to vote,
object of our analysis.
Key-Words – Suspension of Political Rights. Criminal
conviction. Right to vote. Criminal Legal Goods.
Fundamental Rights and Guarantees. Art. 15, III.
CRFB. CF. Constitution of the Federative Republic
of Brazil 1988. Criminal Law. Criminology.
I. INTRODUÇÃO
Os direitos políticos são direitos fundamentais
que devem ser promovidos e protegidos em nosso
ordenamento jurídico, haja vista a sua natureza
constitucional que os eleva a um nível de
hierarquia legal superior, bem como pela sua
importância para o bem-estar do regime
democrático previsto em nossa Constituição da
República Federativa Brasileira.
Como qualquer direito fundamental, os direitos
políticos não absolutos e plenos em seu plano de
eficácia, ou seja, podem ser restringidos em
determinadas situações.
No tocante à carta magna brasileira, é prevista a
vedação à cassação dos direitos políticos, os quais
apenas podem ser perdidos ou suspensos em
hipóteses constantes nos incisos do art. 15, da
CRFB, lembrando-se que o tão importante e
singelo direito ao voto está englobado na citada
restrição.
Nossa preocupação se dá sobre o inciso III, do
art. 15, do já mencionado dispositivo legal, o qual
permite a suspensão de direitos políticos do
indivíduo que é condenado criminalmente por uma
sentença transitada em julgado enquanto durarem
os seus efeitos.
A aflição sobre o mencionado dispositivo
consiste na interpretação sobre quais os tipos e
naturezas de crimes quando julgados procedentes
numa sentença condenatória devem dar ensejo à
suspensão dos direitos políticos, leia-se neles o
direito ao voto, dos indivíduos condenados, objeto
de nossa pesquisa.
Para chegarmos a essa conclusão, qual seja, se
todos os crimes devem ser considerados
irrestritamente ou se apenas alguns determinados
devem ser considerados, faremos uma análise
sobre os bens jurídicos dos tipos penais e quais
reflexos eles irradiam ao regime democrático para
que se possa justificar a restrição do direito ao voto
dos condenados por sentença condenatória
irrecorrível.
O que se pretende é questionar a interpretação
do art. 15, III, da CRFB, quanto aos crimes a serem
considerados como causa de suspensão de direitos
políticos.
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II. MATERIAIS E MÉTODOS
Foi escolhido o método dedutivo a ser
trabalhado na pesquisa, haja vista que se pretendeu
partir das premissas para se chegar na hipótese
através de diversas bibliografias para demonstrar
os conceitos e peculiaridades dos institutos
investigados, com a finalidade de relacioná-los e se
possibilitar responder a pergunta proposta na
investigação.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. O DIREITO AO VOTO
O direito ao voto é uma espécie do gênero
direito político previsto em nossa Constituição,
este considerado um direito fundamental
assegurado a todo cidadão, ou seja, àqueles que
cumprem os requisitos legais para tanto e não
sejam restringidos ao seu exercício por algum
motivo legal.
A nossa pesquisa dará enfoque ao voto dos
indivíduos que são condenados criminalmente por
sentença transitada em julgado, este direito uma
espécie do gênero direitos políticos, os quais são
objetos de suspensão na dita ocasião.
O professor Ferreira Filho [1] classifica o
direito ao voto como uma das formas de
participação num governo democrático, conforme
se verifica na transcrição a seguir:
Nas democracias como a brasileira, a
participação no governo se dá por dois modos
diversos: por poder contribuir para a escolha dos
governantes ou por poder ser escolhido
governante. Distinguem-se, por isso, duas faces
na cidadania: a ativa e a passiva. A cidadania
ativa consiste em poder escolher; a passiva em,
além de escolher, poder ser escolhido. Essa
distinção importa porque, se para ser cidadão
passivo é mister ser cidadão ativo, não basta ser
cidadão ativo para sê-lo também passivo.
Deste modo, conforme explicado pelo autor, o
direito ao voto se trata da face ativa da cidadania, ou
seja, o poder que o indivíduo possui de se manifestar
e exercer o poder que pertence a si, ao povo, de
eleger seus representantes e tomar determinadas
decisões em contextos como plebiscitos, referendos
e iniciativa popular, por exemplo.
Com a finalidade de reforçar o conceito relativo
ao direito ao voto, importante a leitura do
ensinamento do autor Moraes [2] o qual manifesta
que
A alistabilidade, também denominada cidadania
ativa ou capacidade eleitoral ativa, é reconhecida
como aptidão para aquisição e exercício do
direito de votar ou ius sufragii, em decorrência
de procedimento administrativo de qualificação
e inscrição dos eleitores, com a atribuição do
título eleitoral.
Mais uma vez temos a ideia de cidadania ativa,
porém, desta vez, temos o termo capacidade
eleitoral ativa, o qual nos remete a um conceito
mais completo do direito fundamental sobre o qual
estamos debatendo.
O professor Tavares [3] faz uma explicação
sobre as espécies de natureza do voto e afirma que
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O voto é um ato de natureza dúplice, pois tanto é
político como jurídico. É político porque
configura uma das formas de participação do
indivíduo no poder (exatamente no momento de
escolha dos representantes que exercerão o
poder). Mas nem por isso deixa de ser um ato
jurídico, porque regulamentado pelo Direito e
por este reconhecido e assegurado.
Percebe-se que o voto pode ter uma dupla
natureza, qual seja, política e jurídica. Na presente
investigação nos interessa os valores da natureza
política do voto, haja vista que estamos buscando o
espírito constitucional que reveste a forma jurídica
do caput das normas do art. 14, e 15, ambos da
CRFB, os quais garantem o pleno exercício dos
direitos políticos.
Portanto, o voto garante o valor de soberania
popular pretendido pelo art. 14, da CRFB, uma vez
que é uma das formas de participação dos
populares no poder.
Conhecida a natureza política do voto,
importante se compreender a sua importância
como direito político e o que esse instituto
representa para a sociedade e regime democrático,
assim como para o indivíduo visto isoladamente.
Neste ponto, o professor Silva [4] tem uma
importante visão, segundo a qual
[...] o voto é um direito público subjetivo, uma
função social (função da soberania popular na
democracia representativa) e um dever, ao
mesmo tempo. Dever jurídico ou dever social?
Não resta dúvida de que é um dever social, dever
político, pois, “sendo necessário que haja
governantes designados pelo voto dos cidadãos,
como é da essência do regime representativo, o
indivíduo tem o dever de manifestar sua vontade
pelo voto. Esse dever sociopolítico do voto
independe de sua obrigatoriedade jurídica [...]
Pelo exposto acima, se depreende que o voto
representa primordialmente uma função social
ligada à soberania popular na democracia
representativa, uma vez que diante da necessidade
de existência de governantes que são escolhidos
através dos votos dos membros do povo, o voto
representa um dever sociopolítico ao cidadão e do
mesmo modo à coletividade, para que haja a
representatividade.
Ainda com o intuito de se desvelar o espírito
constituinte que reveste o direito ao voto, o autor
espanhol Royo [5] também faz uma análise sobre a
natureza do instituto e traz o seguinte ensinamento:
El cuerpo electoral es el punto de intersección de
la Sociedad y el Estado. Es el instrumento a
través del cual la sociedade <<mayor de edad>>
se expressa <<políticamente>>, dirigiéndose a sí
misma a través del ejercicio del derecho de
sufragio. Em consequencia, el cuerpo electoral
puede ser definido también como la expresión
jurídica de la sociedad a través de la cualésta
procede a la creación del derecho y a la dirección
política del país por medio de la elección de sus
representantes, pudiendo eventualmente también
adoptar decisiones de especial transcedencia de
manera directa. [...]
Royo afirma que o eleitorado é ponto de
interseção da sociedade com o Estado. Um
instrumento através do qual a sociedade se expressa,
seja como a criação do direito ou igualmente na
administração do Estado de seus representantes,
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bem como no controle das decisões destes.
Percebemos uma grande relevância do direito
ao voto para a dignidade da pessoa humana. O
exercício de votar é imprescindível para a
materialização da democracia, haja vista que esse
regime se traduz como o instrumento do governo
do povo. Há a necessidade de termos a participação
de todos nesse processo, ou seja, que tenhamos a
ideia de representatividade de todos os grupos e
camadas sociais.
Quaisquer restrições que venham recair sobre o
mencionado direito fundamental devem ser
proporcionais e adequadas ao que preza nosso
regime de governo.
Nesse sentido, para que possamos ter essa
representatividade do voto, necessária ao regime
democrático, o ministro do STF, Barroso [6],
demonstra uma característica importante a ser
explorada por nós, qual seja característica de
qualificação universal, pela qual se “abriga a ideia
de igual participação de todos”, o que será objeto
de discussão ao longo dos próximos capítulos.
2. A SUSPENSÃO DE DIREITOS
POLÍTICOS PREVISTA NO ART. 15, III, DA
CRFB
Demonstrada a grande relevância do direito ao
voto e dos direitos políticos como um todo,
entendeu-se a grande importância que representam
à pessoa humana e por isso possuírem o status de
direito fundamental.
A norma prevista no art. 15, III, da CRFB vem
restringir o exercício dos direitos políticos em
virtude de uma sentença penal condenatória
transitada em julgado. Neste ponto nos
perguntamos, é possível a restrição a um direito
fundamental tão importante ao ser humano como o
direito ao voto e outros modos de exercício do
poder? Prosseguimos ainda com outra indagação: é
possível, pelo mesmo motivo, a restrição de se
ocupar cargos públicos?
No que diz respeito à restrição a direitos
fundamentais, Queiroz [7] leciona que
Os direitos previstos na Constituição não são
absolutos. Isto não quer dizer, todavia, que desta
afirmação se possa inferir a relatividade dos
direitos e liberdades jusfundamentais. Pelo
contrário, pretende-se, unicamente, sublinhar a
necessidade de se proceder com clareza, à
delimitação dos conceitos de “restrição” e
“configuração” de direitos fundamentais.
Pelo o que foi explicado acima pela autora,
principalmente no que diz respeito ao ponto de que
os direitos previstos na Constituição não são
absolutos, verifica-se que é legítima a restrição
prevista no art. 15, III, da CRFB, uma vez que se
faz necessária diante de alguma justificativa
visualizada pelo constituinte na elaboração de
nossa carta, esse espírito da norma que será um de
nossos desafios em se desvelar ao longo da
presente pesquisa.
Porém, mesmo que tenhamos da possibilidade
da restrição aos direitos políticos, é preciso se ter o
foco de que qualquer relativização a direitos
fundamentais deve vir amparada por clara
necessidade objetivada pelo nosso constituinte.
Com relação à suspensão dos direitos políticos
decorrentes de uma sentença penal condenatória
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transitada em julgado, no julgamento proferido
pelo Supremo Tribunal Federal no RMS 22470, o
ministro Mello [8] nos explica como ela ocorre:
[...] A norma inscrita no art. 15, III, da
Constituição reveste-se de auto-
aplicabilidade, independendo, para efeito de
sua imediata incidência, de qualquer ato de
intermediação legislativa. Essa circunstância
legitima as decisões da Justiça Eleitoral que
declaram aplicável, nos casos de condenação
penal irrecorrível - e enquanto durarem os seus
efeitos, como ocorre na vigência do período de
prova do sursis -, a sanção constitucional
concernente à privação de direitos políticos do
sentenciado [...]
Percebe-se que a suprema corte brasileira
considera a aqui tratada restrição a direitos
fundamentais como uma norma auto-aplicável que
prescinde de intermediação legislativa.
Tendo em vista a complexidade da matéria
sobre direitos políticos e toda a diversidade de
direitos que descendem do seu gênero, a aplicação
automática do art. 15, III, da CRFB, pode ocasionar
um efeito devastador para a dignidade do agente
infrator, assim como para o regime democrático,
haja vista toda a natureza política presente na alma
de nossa Constituição quando os positivou em seu
Capítulo IV.
A interpretação dada ao aqui tratado dispositivo
constitucional que dispensa norma para regular as
situações objetivas e o modo pelo qual se opera a
suspensão dos direitos políticos na ocasião de uma
condenação, abre espaço para uma exegese
ilimitada da norma, de modo que todos os crimes
de nossa legislação penal podem causar a referida
restrição, esse o grande problema de nossa
investigação. Consideramos desproporcional tal
leitura da norma constitucional em análise, pois
muitos crimes não representam quaisquer riscos
aos interesses estatais.
No mesmo sentido de nosso posicionamento,
Sarlet, Marinoni & Mitidiero [9] dizem o seguinte:
[...] A exegese dominante – mas não
necessariamente a melhor – de afirmar que a
resposta constitucionalmente correta é a de
suspender sempre em havendo condenação
criminal está, no mínimo, a reclamar uma
reavaliação, não sendo sequer, para o efeito de
uma interpretação conforme, necessária uma
regulamentação legal [...]
Nota-se que os autores igualmente defendem a
regulamentação legal da norma restritiva para
propriamente operacionalizá-la, haja vista que se
demonstra desarrazoável o entendimento da auto-
aplicabilidade diante de uma interpretação
sistemática de nosso sistema de direitos
fundamentais.
Deste modo, discordamos veementemente do
posicionamento do Supremo Tribunal Federal e
entendemos que a referida norma não pode ser
autoaplicável e que é necessária a regulamentação
do dispositivo pelo próprio constituinte ou
legislador infraconstitucional, de modo que apenas
os crimes que sejam adequados e necessários aos
valores buscados na elaboração da norma
fundamental sejam capazes de restringir o
exercício de direitos políticos, frise-se, o interesse
primordial da nossa pesquisa, o direito ao voto.
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3. OS BENS JURÍDICOS TUTELADOS
PELO DIREITO PENAL QUE SÃO
OBJETOS DE UMA SENTENÇA CRIMINAL
CONDENATÓRIA CAUSADORA DA
SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS
Visto o atual entendimento sobre a auto
aplicabilidade da norma prevista no art. 15, III, da
CRFB, o objeto central de nossa pesquisa é revelar
quais são os crimes de nossa legislação que
possuem a justificativa objetivada pelo nosso
constituinte na positivação no texto constitucional
da restrição aos direitos políticos decorrente de
uma sentença penal condenatória transitada em
julgado.
Sobre a problemática aqui proposta, Carvalho
[10] fez os seguintes apontamentos:
[...] o disposto no art. 15, III, da Constituição
abrange todos os tipos de infração legal
cometida, seja crime doloso, seja culposo ou as
contravenções penais, pois o que visa a norma
constitucional é reservar os cargos públicos para
os insuspeitos. A aduzida cláusula constitucional
alcança, portanto, toda e qualquer condenação
criminal definitiva e a duração de seus efeitos
limita-se ao término de duração das respectivas
penas [...]
Diante do exposto pelo autor acima, nota-se que
ele segue a interpretação do STF e entende que não
há qualquer restrição à aplicação da suspensão de
direitos políticos em virtude da natureza do crime,
sendo, portanto, a norma aplicável a todo tipo penal
objeto de uma sentença criminal condenatória
transitada em julgado, pouco importando se foi
uma contravenção penal, um ato culposo, doloso,
ou até mesmo ignorando-se o bem jurídico tutelado
da norma e os valores sociais que ele afeta.
No mesmo sentido, mas fazendo expressa
menção à indiferença do constituinte inclusive
quanto à natureza do bem jurídico tutelado pela
norma penal, os autores Sarlet, Marinoni &
Mitidiero [11] afirmam que
[...] A referência genérica à condenação criminal
conduziu ao entendimento ainda prevalente,
inclusive no STF, de que a perda dos direitos
políticos se dará mesmo que a condenação se dê
por crime culposo ou contravenção, não
importando também a natureza do bem jurídico
tutelado pela norma penal ou mesmo a natureza
da pena cominada e/ou aplicada, visto que a
Constituição Federal não estabeleceu qualquer
diferenciação quanto a tais aspectos.
É dito acima que a suspensão se opera sobre
quaisquer infrações penais previstas em nosso
ordenamento, em virtude do silêncio do
constituinte quanto à diferenciação sobre referidos
aspectos de incidência da restrição. Sobre referido
entendimento, ousamos discordar novamente, haja
vista que é desproporcional a privação de um
indivíduo que pratica uma infração penal
desvirtuada de qualquer conseqüência aos
interesses estatais ou à plenitude do regime
democrático.
No intuito de se chegar a uma solução
constitucionalmente adequada sobre a
problemática aqui investigada, os autores Sarlet,
Marinoni & Mitidiero [12] sugerem que
A solução constitucionalmente adequada, no
nosso sentir, não está em negar aplicabilidade
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imediata à norma contida no art. 15, III, da CF,
mas, sim, reside ou na aprovação de lei que
regulamente as hipóteses de suspensão e preserve
casos de não suspensão (lei que ainda poderá ser
fiscalizada mediante o controle incidental e
abstrato de constitucionalidade), ou, enquanto tal
não se verificar, na referida avaliação, de cada
caso, devidamente justificada e amparada em
criteriosa consideração das exigências da
proporcionalidade.
Pelas ideias expostas, ficou entendido que é
necessária uma regulamentação legal para se
procedimentalizar a suspensão de direitos políticos
na hipótese da sentença penal condenatória
transitada em julgado. Restou claro que existem
infrações penais que não devem ser causa de
restrição e algumas outras que devem sim ser
motivo para se privar algum indivíduo do exercício
de seus direitos políticos, até porque a preocupação
do constituinte não foi em vão, mas a justificativa
deve ser alcançada à risca para se evitar a violação
de direitos fundamentais.
Através do desvelamento da razão da norma
prevista no art. 15, III, da CRFB, será possível se
identificar sobre quais crimes deve-se ter a
incidência da suspensão do direito de votar ou
ocupar cargos públicos, ou seja, do exercício ativo
e passivo de sufrágio.
4. A RAZÃO DA SUSPENSÃO DE DIREITOS
POLÍTICOS DECORRENTE DE UMA
CONDENAÇÃO CRIMINAL
Conhecida a importância dos direitos políticos
para o indivíduo e ao Estado, com enfoque do direito
ao voto, e quais crimes são objetos de incidência da
norma prevista no art. 15, III, da CRFB, vamos agora
buscar a compreensão da restrição idealizada pelo
constituinte, qual seja a possibilidade de suspensão
dos já mencionados direitos fundamentais daqueles
indivíduos que são condenados por sentença criminal
transitada em julgado.
Importante se deixar claro, mais uma vez, a
grande preocupação de nossa pesquisa acerca da
interpretação do mencionado dispositivo
constitucional, haja vista que a norma
constitucional, tampouco a infraconstitucional,
define quais crimes, quando julgados procedentes,
devem ensejar a suspensão dos direitos políticos.
Tal condição dá abertura para uma exegese
ilimitada da norma, de modo que todos os crimes
de nossa legislação penal podem causar a referida
restrição. Consideramos desproporcional tal
leitura, pois muitos crimes não representam
quaisquer riscos aos interesses estatais.
Retomando a busca da razão constitucional da
suspensão dos direitos políticos em virtude de uma
condenação penal transitada em julgado, é preciso
relembrar que é sim possível a restrição sobre
direitos políticos, haja vista que os direitos
fundamentais não são absolutos. Entretanto, dando
enfoque ao direito ao voto aqui objeto de
investigação, diante da grande importância que
possui, temos que ter cuidado e responsabilidade
na aplicação da norma restritiva em trabalho.
O professor Bullos [13] comentando alguns
precedentes do STF (RE 179.502-6/SP) e TSE (MS
2.471/PR, Rec. 9.900/RS e Resp. 0013293/MG)
afirma que
[...] a terminologia “condenação criminal
transitada em julgado”, presente no art. 15, III,
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não faz distinções quanto ao tipo do crime
cometido. Abrange, ao mesmo tempo, os delitos
dolosos e culposos, bem como as contravenções
penais, independentemente da aplicação, ou não,
da pena privativa de liberdade. O que prepondera
aqui é o sentido ético na aplicação da norma
constitucional, isto é, o princípio de que os
cargos públicos devem ser ocupados por
cidadãos insuspeitos, de bons antecedentes e
moral ilibada.
Pelo o que foi exposto pelo autor acima, nota-se
que a interpretação atualmente dada pelo Supremo
Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral,
cortes máximas que tratam sobre direitos políticos,
é que qualquer crime julgado procedente e
transitado em julgado, independentemente de sua
natureza ou bem jurídico tutelado, é capaz de
causar a suspensão de direitos políticos.
A justificativa dada pelo autor se dá no sentido
da busca pela ética na aplicação da norma prevista
no art. 15, III, da CRFB, uma vez que se pretende a
probidade na ocupação de cargos públicos, o que
consideramos ser razoável. Mesmo que Bullos
apenas comente sobre o porquê da norma sobre a
ideia passiva de sufrágio, ou seja, o direito de ser
votado ou nomeado para exercer funções públicas,
entendemos que muitas condutas tipificadas na lei
penal não guardam qualquer relação com a ideia de
moral ilibada necessária para se ocupar cargos
públicos.
Quando falamos à restrição do direito ao
indivíduo de votar, algumas normas penais
possuem ainda menos relação com possível
justificação do que a participação desse indivíduo
condenado poderia representar ao regime
democrático, ou seja, os danos que o poder de
escolha do condenado causaria aos interesses do
Estado e seu processo político.
O ministro do STF Lewandowksi [14], no
julgamento do RE 577012, apresentou a
justificativa da norma restritiva aqui estudada, sob
o seguinte entendimento:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. DIREITOS
POLÍTICOS. SUSPENSÃO EM
DECORRÊNCIA DE CONDENAÇÃO
CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO.
ART. 15, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
CONSEQUÊNCIA QUE INDEPENDE DA
NATUREZA DA SANÇÃO. RECURSO
IMPROVIDO. I – A substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos
não impede a suspensão dos direitos políticos. II
– No julgamento do RE 179.502/SP, Rel. Min.
Moreira Alves, firmou-se o entendimento no
sentido de que não é o recolhimento do
condenado à prisão que justifica a suspensão
de seus direitos políticos, mas o juízo de
reprovabilidade expresso na condenação. III –
Agravo regimental improvido. [grifei e negritei]
O ministro afirma de forma clara que a
justificativa da suspensão dos direitos políticos
decorrentes de uma sentença condenatória penal
consiste no juízo de reprovabilidade.
Partindo do próprio entendimento exposto por
Lewandowski, é notório, deste modo, que para
existir justificação à suspensão dos direitos
políticos na aqui trabalhada ocasião, deve haver o
juízo de reprovabilidade. Questionamos: qual é o
grau e característica do juízo de reprovabilidade
sobre um indivíduo que pratica um crime culposo
ou contravenção penal? Ora, o sujeito não possui
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sequer vontade, qual é risco que representa para
escolher seus representantes? Parece-nos que o
juízo de reprovabilidade não possui qualquer elo
com possível ameaça do poder de escolha do
condenado ou a possibilidade deste ocupar algum
cargo público.
Agora aprofundado e tocando no ponto que
queremos chegar, qual seja aos crimes dolosos,
perguntamos novamente, mencionando de modo
exemplificativo alguns bens jurídicos tutelados
pela norma penal: qual é o risco que algum
indivíduo nas condições mencionadas acima que
pratica um crime doloso contra a honra, integridade
física ou trânsito representa aos interesses estatais?
Parece-nos, mais uma vez, desarrazoado a
interpretação irrestrita a todos os crimes da
suspensão prevista no art. 15, III, da CRFB.
Comungando da mesma preocupação, o
ministro Mello [15] proferiu voto contrário ao do
relator Ricardo Lewandovski no julgamento do já
citado RE 577012, o qual afirmou que
[...] também entendo que, caso a caso, se deve
apreciar a condenação criminal. Receio poder ser
condenado por lesões corporais, considerado
acidente de trânsito, e ter meus direitos políticos
suspensos!
Pelo exposto, verifica-se que a justificativa
dada à norma que suspende os direitos políticos do
cidadão em virtude de uma sentença penal
condenatória, qual seja a “reprovabilidade”, deve
ser coerente no sentido de apenas ser aplicável a
casos em que a conduta praticada pelo sujeito
demonstre que ele possa causar danos à probidade
administrativa, sem a qual ele não teria condições
de ocupar algum cargo público, ou ao livre
exercício do regime democrático.
5. A SELETIVIDADE PENAL DOS
DESFAVORECIDOS E O RESPEITO AO
SUFRÁGIO UNIVERSAL DO VOTO
Antes de se adentrar no mérito sobre quais crimes
devem dar causa à suspensão trabalhada na presente
pesquisa, importante conhecermos brevemente a
quais grupos sociais de nosso eleitorado a norma
penal é dirigida e o modo pelo qual ela é tratada pelo
nosso sistema processual penal.
O filósofo, sociólogo e jurista italiano Baratta
[16] faz a seguinte crítica ao modelo penal,
denunciando a seletividade da norma:
As malhas dos tipos são, em geral, mais sutis no
caso dos delitos próprios das classes sociais mais
baixas do que no caso dos delitos de “colarinho
branco”. Estes delitos, também do ponto de vista
da previsão abstrata, têm uma maior
possibilidade de permanecerem imunes. Quanto
aos “não conteúdos”, começa-se, finalmente, a
procurar raiz do assim chamado “caráter
fragmentário” do direito penal (que os juristas
frequentemente assumem como um dado da
natureza), não só na pretensa inidoneidade
técnica de certas matérias ao controle mediante o
direito penal (ou na tautológica assunção da
relevância penal de certas matérias, e não de
outras), mas, antes, em uma lei de tendência, que
leva a preservar da criminalização primárias as
ações antissociais realizadas por integrantes das
classes sociais hegemônicas, ou que são mais
funcionas às exigências do processo de
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acumulação do capital. Criam-se, assim, zonas
de imunização para comportamentos cuja
danosidade se volta particularmente contras as
classes subalternas.
O autor aponta uma diferenciação de tratamento
entre os delitos praticados pelas classes ricas e
pobres. Afirma que aos crimes de “colarinho
branco”, ou seja, aqueles praticados por indivíduos
de altas classes sociais, existe uma maior
probabilidade de permanecerem imunes, seja na
criminalização da norma pelo legislador ou do
mesmo modo nas vantagens previstas na própria lei
penal que impede uma condenação por um
benefício qualquer pertinente somente a essas
espécies de crimes. A título exemplificativo, na
hipótese de sonegação fiscal (espécie de crimes de
“colarinho branco”), temos uma circunstância de
que o simples pagamento de um tributo sonegado
realizado pelo agente infrator, a qualquer tempo da
ação penal, se tem como efeito a extinção de sua
punibilidade deste, benesse esta que não é comum
aos crimes que são praticados com maior
intensidade pelas classes sociais marginalizadas.
Deste modo, percebe-se que na maioria das vezes
o crime praticado por algum indivíduo de classe
social abastada não dá ensejo a uma sentença penal
condenatória transitada em julgado, ou seja, ricos
habitualmente não tem seus direitos políticos
suspensos pela regra do art. 15, III, da CRFB do
mesmo modo que os pobres são.
Já com relação aos grupos sociais subalternos,
formados pelo eleitorado de precária situação
financeira, percebe-se pela leitura de nosso
arcabouço legislativo penal que a maioria das
condutas são realmente voltadas e de fato
praticadas por esses indivíduos pobres.
O tratamento legislativo é completamente
diverso do concedido aos crimes de “colarinho
branco”, pois na imensa maioria das vezes o
processo que julga um crime habitualmente
cometido por pessoas marginalizadas, se tem no
fim da instrução criminal uma sentença penal
condenatória transitada em julgado. Deste modo,
se tem em demasia a suspensão de direitos políticos
de indivíduos de classe social desfavorecida, haja
vista que estes são o verdadeiro alvo da norma e
sanção penal.
Saindo do campo crítico e adentrando-se na
realidade da população carcerária brasileira,
escrevi (Burke) um capítulo de livro em coautoria
com o professor Peter Filho [17] no qual
realizamos um levantamento de dados sobre o nível
de escolaridade dos presos nas penitenciárias por
todo o Brasil, realizando uma ligação com a
condição financeira destes, conforme se verifica na
transcrição a seguir:
[...] constatamos que a população carcerária
brasileira é composta de 99,52% de indivíduos
sem ensino superior completo, 89,05% sem
ensino médio completo e 60,29% sem ensino
fundamental completo.
[...] os indivíduos que cometem delitos no país
são em sua esmagadora maioria pobres e não
possuem condições financeiras de reparar o dano
que causaram com sua conduta delituosa à
vítima.
Chegamos à conclusão acima ao utilizar como
parâmetro as estatísticas de escolaridade
fornecidas pelo Depen. A capacidade financeira
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dos cidadãos autores de crime no país é precária,
pois atualmente viver no Brasil sem se possuir o
ensino fundamental, médio ou superior, é difícil
de se ter uma renda satisfatória ou estável para se
conseguir indenizar alguém pelo dano causado
por uma infração penal [...]
Os levantamentos realizados confirmam as
críticas realizadas por Baratta, no sentido de que o
público da norma penal, no Brasil, é sim a classe
marginalizada, pessoas pobres, que não possuem
acesso a uma educação de qualidade ou que possa
gerar uma razoável perspectiva profissional ou
financeira. Tomamos essa conclusão ao visualizar
que somente 0,48% dos presos no Brasil possuem
curso superior completo.
Portanto, verificamos que os indivíduos alvos do
direito penal que são em sua maioria esmagadora
pobres, tem os seus direitos políticos suspensos pela
sentença condenatória transitada em julgado.
Portanto, esse grupo de indivíduos que possui
anseios e necessidades mesmo que dentro da prisão.
Por mais que estejam reclusos ou semi-reclusos eles
não perdem a dignidade inerente de ser-humano e
dependendo do crime que praticam não há
justificativa para privá-los do direito de escolher
seus representantes e questionar determinadas
decisões. Além disso, suas famílias continuam
imersas na sociedade, e os indivíduos condenados
permanecem interessados no bem-estar destes.
Tendo em vista a possibilidade que alertamos
sobre o afastamento de determinado grupo social
na tomada de decisões políticas, notamos uma
possível violação ao valor de sufrágio universal
previsto no art. 14, da CRFB, segundo o qual o
professor Novelino [18] explica que
[...] é a própria essência do direito político,
expressando-se pela capacidade de eleger, ser
eleito e, de uma forma geral, participar da vida
política do Estado. Se o sufrágio é o direito em
si, o voto é o exercício desse direito e o
escrutínio, o modo como o exercício se realiza.
A constituição consagra como cláusula pétrea o
voto direto, a periodicidade das eleições, o
sufrágio universal e o escrutínio secreto (CF, art.
60, § 4º, II).
O professor deixa claro que o direito ao sufrágio
é essencial para a participação do indivíduo na vida
política da sociedade.
Mergulhando na discussão proposta no presente
capítulo, o autor Tavares [19] traz a seguinte
conceituação do que seria o sufrágio “universal”:
O sufrágio pode ser universal ou restrito. Será
universal quando todos os nacionais com
capacidade para tanto puderem exercer o direito
de sufrágio. Será restrito quando limitado o
direito a certos grupos ou castas sociais. Em
outras palavras, o sufrágio restrito é um sufrágio
discriminatório em função de características ou
condições econômicas, sociais e culturais ou
outros elementos.
Pelo o que foi exposto acima, o sufrágio
universal será respeitado quando todos os
nacionais habilitados puderem exercer tal direito.
O sufrágio se torna restrito quando o exercício da
democracia fica restrito a determinados grupos ou
castas sociais, por questões de discriminação de
determinadas características, condições
econômicas, sociais, culturais, dentro outros.
Sobre o mencionado processo de
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estigmatização, Royo [20] fez a advertência de que
Es el resultado de un largo proceso histórico que
ha conducido desde fórmulas extremadamente
limitadas de sufrágio censitario (voto de los
propietarios incluídos em el ceso de fortuna)
durante la mayor parte delsiglo XIX, hasta la
conquista del sufragio universal masculino a
final es del voto feminino com el advenimiento
de la Segunda República.
Ficou cristalino, portanto, que o valor exigido
pela nossa Constituição de sufrágio universal pode
ser violado com a indiscriminada suspensão de
direitos políticos decorrentes de uma sentença
penal condenatória.
Referida constatação se assevera quando
constatamos que a grande maioria dos crimes
tipificados em nossa legislação é voltada para
indivíduos pobres e marginalizados e os processos
que julgam esses fatos na maioria das vezes se chega
ao trânsito em julgado e suspende os direitos
políticos desses indivíduos, ainda que sem qualquer
justificação, com uma sustentação meramente literal
da nossa carta magna. Diferentemente do que ocorre
com as poucas condutas criminosas que são voltadas
para sujeitos de classe rica, pois nesses casos os
processos com maior frequência que os demais não
geram a condenação, em virtude de benefícios
constantes na lei penal.
Portanto, deve existir uma regulação do inciso
III, do art. 15, da CRFB, para que essa legislação
traga a justificação pretendida pelo constituinte na
positivação da aqui trabalhada suspensão.
Agora debateremos quais crimes devem
restringir o direito ao voto, e acidentalmente
também falaremos sobre quais crimes devem
restringir o direito de ocupar cargos públicos, pois
consideramos situações completamente distintas.
6. OS BENS JURÍDICOS DA TUTELA PENAL
QUE DEVEM RESTRINGIR O DIREITO AO
VOTO
Finalmente chegamos ao cerne de nossa
pesquisa, qual seja de estabelecer quais são os
crimes que devem ser considerados para causar a
suspensão de direitos políticos previstos no art. 15,
III, da CRFB.
Conforme discutimos e concluímos ao longo da
pesquisa, o voto (este uma espécie de direito
político) é um instituto essencial para a dignidade
do ser humano e para a preservação do regime
democrático previsto em nossa Constituição.
A restrição imposta pelo transito em julgado de
uma sentença penal condenatória se feito de modo
automático e indiscriminado com relação a
quaisquer tipos penais previstos em nossa
legislação podem violar o valor de sufrágio
universal também previsto em nossa Constituição.
Para evitarmos o dano apontado, necessitamos de
uma legislação que diga quais crimes devem ser
considerados.
No que diz respeito a quais crimes devem ser
considerados, importante antes de tomarmos
qualquer partido na discussão, conhecermos a
opinião exposta pelos professores Mendes &
Branco [21]
[...] tendo em vista o atual posicionamento do
Tribunal, e levando em conta o citado
entendimento do Min. Pertence no RE 179.502,
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parece razoável considerar que não são todas as
condenações criminais que geram a imediata
suspensão dos direitos políticos, mas apenas
aquelas cujos tipos contenham ínsitos, por
exemplo, a prática de atos de improbidade
administrativa, como ocorreu no denominado
“mensalão”, tais como os crimes contra a
administração pública. Isso porque, nessas
hipóteses, a decisão judicial condenatória
compreende, logicamente, a improbidade,
observado o disposto no art. 92, I, a, do Código
Penal (modificado pela Lei n. 9.268/96), o qual
impõe a perda do mandato eletivo como
decorrência da condenação penal.
Os autores fazem uma análise do julgamento da
AP 470, no qual se reservou “às Mesas das Casas
Legislativas a declaração da efetiva perda do
mandato (art. 55, § 3º).
A sugestão do raciocínio feito acima é de que
seria razoável considerar que não são todas as
condenações criminais que geram a imediata
suspensão dos direitos políticos, mas somente
aquelas nas quais os tipos penais objetos de
julgamento sejam naturais a atos de improbidade
administrativa ou crimes contra a administração
pública, por exemplo.
Concordamos com a posição demonstrada, uma
vez que demonstra justificativa para a suspensão de
direitos políticos. Porém, entendemos que devemos
dividir as hipóteses de incidência da norma, pois a
capacidade ativa e passiva do cidadão, qual seja de
votar e ser votado incide sobre diferentes valores
pretendidos pelo constituinte.
O direito ao voto é o poder de escolha, de
expressão, de identidade, de participação do
indivíduo na sociedade, haja vista que estamos
diante de um regime democrático. O direito de ser
votado e ocupar cargos públicos é um poder
conferido ao indivíduo para representar seus pares
no exercício do poder executivo, legislativo,
jurisdicional, dentre outras funções que irá afetar
uma coletividade.
Desta forma, vemos que a capacidade passiva
(direito de ser votado e ocupar cargos públicos)
requer um cuidado muito maior, uma vez que o
sujeito que entrar no exercício de algum cargo
público não pode demonstrar quaisquer valores
contrários à probidade administrativa ou moral de
determinada sociedade.
Para essa categoria de direitos políticos, qual
seja a do poder de ser votado e ocupar cargos
públicos, defendemos uma legislação que contenha
os preceitos da já vigente no art. 1º, inciso I, alínea
“e”, itens 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10, da Lei
Complementar 64/90, pelos quais se considera
serem inelegíveis em determinadas situações, que
serão demonstrada logo a seguir e que
consideramos justificáveis.
Deste modo, para fins de interpretação do art. 15,
III, da CRFB, somente pode gerar a suspensão de
direitos políticos no sentido de se impedir alguém de
ser votado e ocupar cargos públicos a sentenças
condenatórias transitadas em julgado que tenham
como objeto crimes contra a economia popular, a fé
pública, administração pública, patrimônio pública
e privado, sistema financeiro, o mercado de capitais,
falimentares, contra o meio ambiente, a saúde
pública, eleitorais, abuso de autoridade, lavagem ou
ocultação de bens, direitos e valores, tráfico de
entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura,
terrorismo, hediondos, redução à condição análoga
à de escravo, contra a vida, diginidade sexual e
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pertença à associação criminosa.
Em sentido contrário, o professor Moraes [22]
observa que
[...] a presente hipótese de suspensão dos direitos
políticos em virtude de condenação criminal
transitada em julgado enquanto durarem seus
efeitos não se confunde com a previsão de
inelegibilidade do art. 1º, inciso I, da Lei
Complementar nº 64/90, que prevê serem
inelegíveis para qualquer cargo os que forem
condenados criminalmente, com sentença
transitada em julgado, pela prática de crimes
contra a economia popular, a fé pública, a
administração pública, o patrimônio público, o
mercado financeiro, pelo tráfico de entorpecentes
e por crimes eleitorais, pelo prazo de 3 (três)
anos, após o cumprimento da pena.
Enquanto a primeira hipótese tem seu
fundamento no art. 15, III, da Constituição
Federal (suspensão), a segunda tem seu
fundamento no § 9º do art. 14 (inelegibilidade
legal) e somente abrange uma situação de
inelegibilidade, posterior ao término da
suspensão dos direitos políticos, aos condenados
pela prática dos crimes previstos no já citado art.
1º, da LC nº 64/90.
Discordamos da posição do autor acima, uma
vez que ele parte de uma interpretação meramente
literal e engessada do texto legal. Não podemos nos
distanciar do espírito legislativo, o qual foi
devidamente justificado e trabalhado na escolha
dos crimes a serem considerados para causar a
inelegibilidade. Não podemos igualmente esquecer
que a elegibilidade é um direito político e a
aplicação do art. 15, III, da CRFB causa a mesma
restrição prevista na LC 64/90. A diferença é que
hoje a aplicação da citada norma constitucional é
irrestrita e se aplica a qualquer crime, o que a Lei
Complementar já demonstra que não é qualquer
crime que gera ou tem potencial a presunção de que
algum indivíduo nessas condições gerará prejuízos
à coletividade, ao Estado, na condução de um cargo
público. O crime que cometeu deve comprometer
valores probos da administração ou drasticamente
repugnantes à moralidade e demonstrar que
provavelmente atuará impulsionado por interesses
particulares.
No mesmo sentido ao Moraes, Mendes &
Branco [23] igualmente fazem uma diferenciação
entre as hipóteses legais trabalhadas:
Nos termos da Constituição (art. 14, § 9º), a Lei
Complementar n. 64/90 estabelece serem
inelegíveis para qualquer cargo os que forem
condenados criminalmente, com sentença
transitada em julgado, pela prática de crimes
contra a economia popular, a fé pública, a
Administração Pública, o patrimônio público, o
sistema financeiro, contra o meio ambiente e a
saúde pública, entre vários outros. Nesse caso,
não se trata de suspensão de direitos políticos em
razão de condenação criminal transitada em
julgado (art. 15, III) mas de inelegibilidade
baseada em prática de determinadas infrações
penais na forma da lei complementar competente
(art. 1ª, e).
Mesmo que os autores façam uma diferenciação
mas sem debater quanto ao espírito das normas,
entendemos que deve ser aproveitado os valores
protegidos pelo art. 14, § 9º, na interpretação do art.
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15, III, da CRFB. Somente devem impedir algum
sujeito de ser votado e ocupar algum cargo público
quando o crime que cometeu causar uma presunção
de que ele no exercício de sua função causará
“danos à probidade administrativa, à moralidade
para exercício de mandato, à normalidade e
legitimidade das eleições, à influência do poder
econômico ou abuso do exercício de função, cargo
ou emprego na administração direta ou indireta”,
quais sejam, os crimes já citados acima.
No que diz respeito ao direito ao voto, o direito
fundamental mais sensível dos direitos políticos e
que representam a personalidade do ser humano
para a afirmação da sua identidade em determinada
sociedade através da manifestação de seu poder de
escolha, entendemos que a condenação por
qualquer crime não é justificável para privar
alguém do referido direito.
Qualquer crime que seja cometido pelo
indivíduo, ainda que sofra uma sanção penal
drástica ou até branda, ainda que permaneça
recluso da sociedade ou parcialmente em convívio
social, ainda que tenha praticado atos repugnantes
ou contrários aos interesses coletivos ou
individuais, o condenado não perde a condição de
ser humano e continua tendo identidade e anseios
sociais. Não pode ser excluído e privado do seu
poder de escolher seu representante e demandar por
melhorias e direitos perante ele, seja no âmbito do
presídio ou até nas condições de sua família que
necessita de educação, saúde, emprego, segurança,
dentre outros direitos sociais. Que fique bem claro,
é diferente a hipótese do indivíduo que deseja
ocupar um cargo público. No caso deste, sua
conduta deve ser ilibada no ponto de vista aos
interesses estatais, não podem existir máculas ou
presunções de que irá praticar crimes ou agir com
interesses desvirtuados no exercício da função.
Deste modo, a suspensão prevista no não se
aplica ao direito ao voto do cidadão, qualquer que
seja o crime pelo qual foi condenado.
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2003, p. 630.
21. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo
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22. MORAES, Alexandre de. Direito
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23. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo
Gustavo Gonet. Curso de Direito
Constitucional. 8ª ed. São Paulo: Saraiva,
2013, p. 721.
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DIGNIDADE NÃO HUMANA: OS ANIMAIS COMO SUJEITOS DE
DIREITOS NO BRASIL
Graziele Cristina Lima de Abreu1
1 Advogada criminalista, Mestranda em Ciências Criminológicas Forenses pela UCES, Minas Gerais, Brasil.
Resumo – O direito evolui para atender as
necessidades do homem civilizado e os direitos dos
animais pela sua historicidade, não compactuam da
equidade diante da valoração dada aos animais na
contemporaneidade. O presente trabalho versa
sobre a explanação histórica e jurídica do
reconhecimento do animal como ser passível de
valoração quanto a sua dignidade, pelo respeito a sua
integridade diante de atrocidades praticadas ao
longo da história e, que não condizem com a evolução
do direito e sua emergente necessidade de
reconhecimento do animal quanto a sua dignidade
não humana.
Palavras-chave – Animais; ética; senciente.
Abstract – The right evolves to meet the needs of the
civilized man and the rights of animals for their
historicity, do not compact from fairness to the
valuation given to animals in contemporaneity. The
present work focuses on the historical and juridical
explanation of the recognition of the animal as being
susceptible to valuing its dignity, respecting its
integrity in the face of atrocities practiced
throughout history and, which do not match the
Key-Words – Animals; Ethics; sentient.
I. INTRODUÇÃO
A evolução humana está condiciona a
estruturação das sociedades civilizadas fundada no
direito, fruto de interesses e de relações que são
alteradas com as transformações sociais e adequação
do direito para suprir as necessidades de assegurar
direitos e impor deveres ao homem como sujeito de
direitos e, junto as transformações a alteralidade do
direitos das coisas e da dignidade está o respeito a
vida em todas as suas formas e a importância que os
animais possuem dentro do cotidiano das pessoas,
sendo reconhecido como sujeitos que sentem dor e
veem sofrem maus tratos em diversos meios
explícitos no mundo contemporâneo, sujeitos que
passam a integrar a discussão que versa pela sua
dignidade enquanto ser vivo.
O homem foi no decorrer de toda a história
evolutiva considerado em sua supremacia diante
dos demais animais, sendo-lhe insculpido esse
poder em razão de sua biologia, chegando a ocupar
a supremacia sobre a própria mulher, os escravos,
e os animais em decorrência de ser eleito como
macho, razão biológica apontada por Aristóteles,
numa ideia de quem tem um desenvolvimento
biológico superior é passível de ter moral e ética,
dois elementos necessários para a construção da
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ideia de dignidade humana.
Os animais diante disso, não obtiveram espaço
valorativo diante da supremacia do homem e
mesmo que com o avanço das culturas e da
prioridade em ter na legislação preceitos que
devendo o animal como senciente, ainda nos
moldes atuais a legislação encontra barreiras em
trazer a autonomia desse tema, por vezes
compreendendo até mesmo que a violência pode
ser justificada diante dos costumes e das
manifestações do povos em razão de suas culturas.
O conceito de dignidade, atrelado ao ser humano
vem para justificar a essência e o bem mais precioso
que um ente humano ou não humano possa obter sob
a tutela de um Estado, e no decorrer de toda a
história a ideia de dignidade dada ao homem sempre
teve haver com o poder, com a sua essência
enquanto ser munido de uma vida que leve em
consideração as suas necessidades básicas e
fisiológicas mas também morais e ética, onde a sua
conduta, pela sua racionalidade, pode ser mensurada
por ações que este pode controlar, seus impulsos, já
encontra partida, o animal não seria capaz de
raciocinar, por vez não seria capaz de ser ético, e
como a ética advém como preceito básico de
atribuição a dignidade, parte dos pensadores e
doutrina consideram que o animal não humano não
seria passível de possuir ética, por não controlar as
suas ações, mas serem biologicamente condicionados
as necessidades de sua pré-disposição biológica,
agindo por extinto assim sendo, sendo inferior as
necessidades do ser humano.
No entanto, com os avanços voltado as práticas
de maus tratos e crueldade com animais, iniciou-se
a visão da necessidade de observar e conceder
validade jurídica para aquelas práticas como
Vaquejada, Farra do Boi, Galos de Rinhas, que
trazem a necessidade do posicionamento do
Supremo Tribunal Federal, diante do interesse
cultural, econômico e social para validar a norma
jurídica, por vez que as práticas de manifestações
culturais encontram respaldo na Constituição
Federal de 1988.
O objetivo do presente trabalho é trazer
reflexões sobre a dignidade não humana, a fim de
proporcionar a elucidação dos principais avanços
teóricos contidos na lei, na doutrina e na
jurisprudência, onde por meio específico, podem
ser indicados os objetivos de trazer toda
compreender a transformação do conceito de
dignidade humana quanto ao princípio da
dignidade humana e valoração do homem bem
como de sua relação em razão do animal não
humano; destacar os principais avanços que os
animais conquistaram em razão da transformação
do pensamento cultural, no reconhecimento dos
maus tratos, da crueldade e da necessidade de haver
uma legislação mais severa na punição de práticas
que causem dor ao animal bem como elevam seu
sofrimento e pelo trato como mero objeto no direito
brasileiro; evidenciar os principais pontos de
evolução e o entendimento da jurisprudência, com
apresentação de casos emblemáticos que levam a
necessidade de repensar o animal não humano
quanto a sua dignidade e reconhecimento como
sujeito de direitos.
A problemática versa na indicação do animal
não humano como ser senciente e quanto a
possibilidade de ser reconhecido como animal
possuidor de ver seus direitos respeitado quanto a
sua integridade física e quanto a tutela Estatal.
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II. MATERIAIS E MÉTODOS
O desenvolvimento dessa pesquisa teve por
base o uso de fontes bibliográficas, tecendo sua
base teórica com a visão retirada de doutrinas, leis
e jurisprudências, sendo elaborada por método
monográfico na explicitação hipotética dedutiva.
III. REVISÃO DE LITERATURA
Conceito e características
No contexto contemporâneo a quanto se
desenvolve um tema ou se fala em direitos, é notório
que a dignidade humana seja tema de especulações
e de debates com a finalidade de elucidar a sua
importância e essências para todos os sujeitos.
A dignidade humana é um dos termos mais
utilizados para justificar condutas e defesa de
direitos no contexto contemporâneo, e, por mais que
a sua existência não pode ser definida no momento
exato, a história traz inúmeras indicações de sua
abrangência e da evolução do sentido dessa palavra.
[1]
Na concepção do termo, pela sua própria
etimologia da palavra, como bem explica Bueno [2]:
Sua essência significa a atribuição a uma
qualidade ou característica sobreposta na conduta e
na posição do homem, este considerado com
superioridade, soberania diante de sua
competência, autonomia, status, cargo, e
desempenho, dignidade no sentido literal, tem
haver com a capacidade do homem de controlar
suas ações, no seu agir, atribuído a uma junção de
centralidade a sua pessoa enquanto ser humano
mas no exercício e na atribuição moral e ética.
As transformações conceituais apresentam
marcos na história, e para se compreender melhor
os institutos e qual a sua importância, em cada era
são apresentados critérios e conceitos que indicam
as características que eram vigentes na época e no
contexto em que estava inserido.
Na visão trazida pelo Ocidente, tem-se em
destaque o estoicismo, criado pelo Filósofo Zenão
de Cício (335-264 a.C.), em Atenas, denominada
por uma vertente Helenista, que derivou mais tarde
em diversos pontos debatidos na filosofia
desenvolvida posteriormente. Na visão ocidental
do estoicismo, a dignidade humana tem sua
essência vinculada pela questão ética voltada a
dignidade como algo de moralidade e tendo seu
pilar na espiritualidade e nas raízes nas civilizações
Atlântica, com base no judaico-cristão e alicerçado
na cultura greco-romana. [3]
A argumentação de Cícero parte da
superioridade da natureza do homem sobre a dos
animais. Estes obedecem unicamente aos sentidos,
são sensíveis aos prazeres do corpo e se comportam
impetuosamente, enquanto o homem, ao contrário,
com a ajuda da razão, que é o seu galardão, percebe
as consequências, a origem, a marcha das coisas,
compara-as umas com outras, liga e reata o futuro
ao passado [...]. O espírito humano, nesse sentido,
nutre-se de instrução, sua mente está sempre em
ação e o prazer de ver e entender é uma atração
contínua. E mesmo aqueles que são embrutecidos,
ao se entregarem à volúpia e aos prazeres do corpo,
são tomados por uma vergonha secreta que lhes
mostra a derrogação da nobreza da espécie humana
pelos seus comportamentos. Em seguida, sustenta
que a natureza concedeu dupla personalidade ao
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homem: “uma, comum a todos nós, quinhão de
razão e dignidade que nos eleva acima dos animais,
princípio de todos os nossos deveres, e de onde
derivam o que se chama dignidade e decência; a
outra, própria de cada um de nós.
Nessa concepção, busca a ideia de centralidade
na dignidade humana como algo pautado na ética e
na paz e tranquilidade imperturbável, onde o homem
busca em seu ser, na sua essência a resposta aos
conflitos externos e a seu desenvolvimento de poder.
Na concepção dessa abordagem filosófica,
centra-se em questões de aceitação quanto ao
destino, o olhar para as paixões humanas, os
sentimentos, a associação a divindades e ao
sobrenatural, mas um olhar para o interior humano,
com indicação da valoração humana quanto a sua
ética, a sua espiritualidade, noções de destino e
trajetos escrito por algo superior ou sobrenatural
que influencia na essência do homem em si, ao
voltar-se a sua própria humanidade.
Imputa-se a raiz e a construção da essência
humana e da sua ideologia de legado, de aspirações
influenciadas pelo judaico-cristã, e secularizada
pela filosofia Kantiana, sendo explicitada uma
teoria que universalizou a ideia de dignidade do
homem.
Observasse que a definição e alcance da ideia
voltada a compreender o ser humano em sua
essência, é marcada por influências voltadas as
crenças e pelo seu poder, dividindo uma ideia de
homem natural e outra do homem político, onde a
criação do conceito de dignidade voltasse ao
homem como o centro e tudo em volta é criado para
buscar atender aos seus interesses e para
concretizar pelas suas ações tudo aquilo que está
relacionado a sua existência e poder.
Doravante, a compreensão da dignidade
humana, versa sobre os fundamentos teológicos
judaico-cristã, com influencias iluministas e da
teoria de Emanuel Kant, com a centralidade do ser
humano munido de supremacia e de essência
espiritual e de dignidade incumbida a seu
desenvolvimento humano e pela menção ou papel
como homem político.
A priori, a dignidade humana voltava-se aos
privilegiados, numa concepção de supremacia e de
divisão pela questão biológica e num sentido de
que para a preservação da espécie, pela biologia os
animais assim como mulheres e escravo detinham
inferioridade a dignidade se elevava de acordo com
a hierarquia e com o status, além das tarefas e da
finalidade que os animais e a inferioridade nas
ocupações obtinham.
A concepção ou conceituação estão presentes
nos períodos históricos, e a ideia contida nos
registros, indicam os caminhos que foram
percorridos e possibilitam retirar semelhanças ou
diversidades que emolduram os sentidos da
existência e suas práticas sociais.
Para compreensão da ideia central do trabalho,
é imprescindível compreender a significação da
dignidade humana e sua transformação de acordo
com a época e com as influências do modo de
pensar dos povos, no entanto, para Weyne [1] ao
percorrer os avanços a historicidade sobre a
dignidade humana encontra em todo o mundo
referências que datam momentos, mas não
incumbe em definir que monto exato a dignidade
humana passou a existir no contexto de valoração
do ser humano e na sua dimensão de soberania
diante dos animais, mas podendo apontar alguns
momentos e locais que houve a tentativa de trazer
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uma conceituação e limitação para que fosse
possível compreender a dignidade humana e sua
importância no mundo social e jurídico.
O surgimento de suas primeiras aspirações é
remontado na época que condiz à era judaico-
cristã, aparecendo nos direitos fundamentais
relacionados ao ser humano. A dignidade
humana está relacionada com a divindade, ou
seja, por ser o homem filho de Deus, sua
valoração é superior aos demais animais e assim
sendo, pelas crenças, o ser humano, quanto a sua
valoração de existência, indica a condição de
dignidade.
A raiz da palavra “dignidade” vem de dignus,
que se traduz em tudo aquilo que possui honra ou
importância. Com São Tomás de Aquino, há o
reconhecimento da dignidade humana, qualidade
inerente a todos os seres humanos, que nos
separa dos demais seres e objetos. Para ele, a
dignidade humana guarda intensa relação com
sua concepção de pessoa, a qual nada mais é do
que uma qualidade inerente a todo ser humano, e
o que o distingue das demais criaturas é a
racionalidade. Defende ainda o teólogo o
conceito de que a pessoa é uma substância
individual de natureza racional, centro da criação
pelo fato de ser imagem e semelhança de Deus.
Assim, o intelecto e a semelhança com Deus
geram a dignidade que é inerente ao homem,
como espécie. [4]
No Oriente, era compreendia por meio de
influência de tradição dos povos, por profetas
como Peces-Barba e Confúcio (551 a.C. - 479
a.C.), bem como Lao-Tsé, que descrevem esse
período, pela solidificação da superioridade do
homem em razão da condição natural dos demais
animais, elevando o homem como sendo em sua
dignidade superior aos demais animais, sendo esses
inferiores pois não tinham o poder de decidir de
relacionar-se, assim como o homem era
naturalmente detentor dessa competência ou
habilidade, indicando uma imagem de quem o
homem é um ser perfeito, possuir autossuficiência,
e que pela própria natureza já sabe compreender e
ter a consciência das ações que pratica,
diferentemente dos demais animais. [5]
Já era difundido na filosofia grega o pensamento
segundo o qual os homens detêm uma
superioridade na escala dos seres, por serem os
únicos capazes de fazer uso do logos. No Coro da
tragédia Antígona, Sófocles considera
claramente superior a posição do homem no
mun- do: “De tantas maravilhas, mais
maravilhoso de todas é o homem!”14. A
criatividade, a linguagem, o raciocínio e a
liberdade de escolha são as capacidades que
permitem ao homem exercer um domínio sobre a
natureza e sobre os demais animais. [6]
Similarmente, Figueiredo [7], associa a ideia
central no Oriente, quanto a dignidade humana
tinha sua concepção de dignidade pautada pela
ideia de Kant, por meio do qual o homem como ser
superior era autônomo e por essa característica
possui “Ética”, e por essa consciência e autonomia
de escolher as suas ações, oriunda da ética está a
concepção de dignidade humana.
Já era difundido na filosofia grega o pensamento
segundo o qual os homens detêm uma
superioridade na escala dos seres, por serem os
únicos capazes de fazer uso do logos. No Coro da
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tragédia Antígona, Sófocles considera claramente
superior a posição do homem no mun- do: “De
tantas maravilhas, mais maravilhoso de todas é o
homem!”. A criatividade, a linguagem, o
raciocínio e a liberdade de escolha são as
capacidades que permitem ao homem exercer um
domínio sobre a natureza e sobre os demais
animais. Outro texto grego que faz alusão à
superioridade do homem diante das demais
espécies é o diálogo Protágoras, no qual Platão
atribui ao sofista a narrativa do mito sobre o ensino
das virtudes. Ao se referir às virtudes técnicas ou
pragmáticas, Protágoras afirma que elas se
destinam a satisfazer as necessidades superiores
ou sociais do homem dentro da cidade e que, por
essa função, os homens se separam nitidamente
dos animais e se aproximam do destino dos
deuses. [8]
Pode-se concluir, que a ideia central que no
Oriente era aceita sobre a dignidade humana,
remete ao homem com superior e que detém o
poder sobre os demais animais em todo o mundo,
atribuída pela ideia de que apenas o homem tem o
poder de raciocínio, assim sendo, incumbe ao
homem decidir o que é melhor e como pode
proceder com os demais animais.
A dignidade humana nas religiões, ou de cunho
munido a existência de um Deus, tem influências
da concepção e crenças no discurso voltado no
ocidente, sobre influência dos pensamentos e de
suas práticas do estoicismo, pois esse teve sua base
judaico-cristã, assim, a espiritualidade já era
mencionada e a divindade ganha forma a partir da
criação das religiões. [1]
Seu início na Idade Média, já com aspirações
quanto ao homem e a natureza, a sua superioridade
pela questão biológica e pela manifestação de
pensamento e de controle do prazer, pois
consideraram que os animais não possuam o
controle sobre esses impulsos, nem mesmo o
próprio domínio sob os impulsos para fins de
procriação, onde mulher era inferior aos homens
macho, assim como os demais animais, de tudo,
surgiu nesse período uma nova concepção, a ditada
a partir da ideia da divindade.
Na Idade Média predominará uma concepção
de homem que se fundamenta numa fonte
transcendente, que é a divindade. Sustenta-se que
nenhum homem pode fazer bom uso da razão se
está não for guiada e iluminada pela graça de Deus.
Isso porque o homem foi criado à imagem e
semelhança de Deus e se manteve igual ao seu
criador até o momento do pecado original. Pela
prática deste, pôs a perder todo o poder original da
sua razão. Entregue agora à própria sorte, a razão
humana sozinha nunca poderá encontrar o caminho
do retorno à sua essência anterior. Para alcançar
esse objetivo, torna-se necessária a ajuda
sobrenatural da graça divina. Essas ideias estão
presentes em todos os grandes sistemas de
pensamento cristão medieval acerca do homem,
representando um dogma fundamental.
Nesse sentido, o homem é um ser inspirado por
Deus, e os traços de sua vida, bem como a
finalidade de sua existência tem um propósito
maior, devendo seguir a vontade da divindade, agir
e escolher as suas ações, e em função dessa
divindade é que seus atos são justificáveis,
buscando agir para estar de acordo com o que Deus
quer para ele.
O homem foi criado a imagem e semelhança de
Deus, sendo filho de Deus é superior as demais
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criaturas e cuida delas direcionando seu caminho,
assim sua importância sobre as demais criaturas
são maiores, pois o home é o próprio filho de Deus.
Instituições como o papado e a realeza
ostentavam uma dignidade imortal porque
emanavam diretamente da providência divina; os
indivíduos que exerciam os respectivos cargos
dessas instituições, passando a atuar como
verdadeiros representantes mortais de Deus na terra,
automaticamente “herdavam” aquela dignidade.
Essa concepção indicava as classes dominantes
que em favor de um Deus maior exploravam e tinha
sua dignidade por serem divinos e os próprios
representantes de Deus na terra, uma época onde
eram guiados pela vertente teleológica, assim,
usava-se a ideia de dignidade voltada a moralidade
pautada na divindade, ou seja, algumas classes
privilegiadas e a força da igreja se solidifica, onde
a plebe e o sistema feudal, haviam a divisão de
classes inferiores, onde esse não possuíam uma
dignidade valorativa quanto as classes superiores
que agiam em nome de Deus. [9]
A Bíblia oferece inúmeros ensinamentos sobre o
ser humano e sua relação com Deus a partir dos
quais é possível sustentar uma concepção
teológica de dignidade humana. Na base de todos
esses ensinamentos, encontra-se a afirmação da
criação do homem à imagem e semelhança de
Deus contida neste trecho: “Façamos o homem à
nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre
os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os
animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre
todos os répteis que se arrastam sobre a terra”. [10]
Que detinha o poder de manter essa visão sobre
a dignidade humana eram as classes que
comandavam as igrejas, os padres, e Agostinho de
Hipona (354-430), integrante da Patrística, e de
Tomás de Aquino (1225-1274), ligados a
antropologia medieval, tecendo os conceitos
voltados a Deus ao controle dos povos e divisões
de atribuição da dignidade humana nessa
concepção. [1]
A ideia dos autores, vão de encontro a
superioridade quanto a dignidade humana, sempre
no contexto histórico, trazendo uma explicação que
detinha valoração suprema do homem e seu papel
e importância no mundo e agora, nas religiões,
como o próprio filho e semelhante a Deus.
Da dignidade do animal
O animal está presente desde o início de toda
existência do planeta, havendo a sua diversidade e
com o tempo o uso do animal para fins de
deslocamento e de consumo pelas civilizações mais
remotas, não sendo atribuído um valor de sentimento
e de sofrimento do animal, mas sim, obtida a seu uso
como pela superioridade humana, inspirada pelas
práticas de evolução humana, e ao longo de toda a
história o animal passa a ser usado de inúmeras
formas, mas, em toda a historicidade é lhe dado a
importância de sua existência para a vida do homem.
O animal humano, caracterizado pela literatura
por suas necessidades de semelhantes ao animal
silvestre e doméstico, possui inúmeras semelhanças
com o ser humano, não quanto a sua capacidade de
comunicação tão bem elaborada, mas em essência,
possui vontade, extinto, sente dor e dependendo de
sua classificação e importância na cadeia alimentar,
até mesmo grau comprovado de inteligência, como
são os casos de animais domésticos.
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A sua menção já na Bíblia, era trazida por sua
importância e necessidades, descrevendo sobre o
homem como aquele que iria e tem o dever de guiar
e de manter para que as diferenças entre os animais
devam ser priorizadas para que não haja o conflito
e sua lesão a integridade, independente da sua
força, da sua natureza instintiva como ficou
mensurado no transpor dos séculos:
O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se
deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho
gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará. A
vaca se alimentará com o urso, seus filhotes se
deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi.
A criancinha brincará perto do esconderijo da
cobra, a criança colocará a mão no ninho da
víbora. Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá
coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a
terra se encherá do conhecimento do Senhor como
as águas cobrem o mar. Isaías 11:6-9. (Bíblia,
2016). Assim, depreca-se que o direito à vida e a
dignidade não são atos exclusivo dos seres
humanos, mas de todas as espécies vivas
existentes. [11]
No entendimento de Kuratomi [11], o animal já
era citado na Bíblia como sujeito de direitos, pois
considera que a vida é um elemento ditado como
prioridade do animal e o homem seria quem
deveria proteger e zelar pela vida do animal,
independente de qual sua espécie, mas na essência,
pela natureza do animal selvagem ou domesticado,
esse deve ter a sua vida preservada.
Pelo reconhecimento histórico do respeito a
vida do animal, este se eleva com sujeito que possui
necessidades fisiológicas assim como o animal
homem, e uma vez que essas necessidades não são
atendidas, como tirar a sua vida, não alimentar e
maltratar, estaria o homem ferindo a dignidade do
animal, pois quem é possuidor de vida, é possuidor
de essência de dignidade.
Na visão de Pereira [12], a discussão sobre a
temática voltada ao reconhecimento do animal
como para além de seu uso, não se indica a
igualdade com o homem animal, mas em possuir o
animal um direito natural de proteção a sua vida e
para sua integridade, não justificando que o homem
pelo seu poder de raciocínio que tenha a liberdade
de fazer com o animal aquilo que entender melhor
para sim, sem limites, e questionando que o fator de
um olhar mais crítico quanto ao reconhecimento de
ser vivo está alicerçado na questão do sentimento e
da dor que o animal sente, mesmo que desprovido
de raciocínio é um ser com vida e merece a proteção
e os cuidados necessários e dignos.
Feijó (apud. Pereira) [12] destaca:
Para que a dignidade seja possível de ser dada a
outros seres vivos precisa ser conceituada de
forma subjetiva, sendo ampliada através da
aceitação do binômio dignidade/respeito.
Dizendo que algo é digno de respeito estaremos
outorgando dignidade àquilo que merece ser
respeitado. O conceito subjetivo de dignidade
pode assim ser atrelado ao animal não-humano,
entendendo-o como participe da biosfera, como
ser passível de respeito pelo papel que exerce
nesse sistema global devendo ser sua integridade
respeitada e defendida.
Como integrante dividindo a mesma Biosfera, o
animal precisa ser reconhecido na sua
subjetividade, não sendo apenas uma mera fonte de
satisfação humana quando o seu uso para alimento,
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e objeto de troca, venda, uso, gozo, propriedade
irrefutável, como no decorrer das transformações e
por sua historicidade esteve num grau de
inferioridade quanto ao respeito de sua integridade
e sua dignidade.
Para Cagnatto [13], a visão que o se busca no
mundo contemporâneo e deve considerar o animal
além de um mero objeto de consumo, e verificar
que os excesos cometidos contra os animais devem
ter novo olhar, pois indica que os animais são
sujeitos de direito e não se igualam ao homem,
mas, que pelas práticas de excesos contra esses
seres, deve-se considerar que dentro das
posibilidades, precisam ser vistos sobre o olhar de
sujeitos contados pela sensibilidade a dor, pelas
vontades e desejos fisiológicos e como sujeitos que
pela própria vida e divisão do espaço da Biosfera
com o homem, ao menos que obtenham a sua
dignidade humana considerada, e as práticas de
consumos sejam reavalidas pela dor e pela lesão a
integridade e dignidade do animal.
Como o ser humano é tão protegido em sua
dignidade, não pode perder de vista que mesmo os
animais não sendo ser humano é um ser vivo,
merecedor de respeito e dignidade também. Assim
sendo, já que a dignidade da pessoa humana é o
principal e mais amplo princípio constitucional, no
direito de família diz respeito a garantia plena de
desenvolvimento de todos os seus membros, para
que possam ser realizados seus anseios e interesses
afetivo.
Vale ressaltar, que os animais ganharam espaço
quanto a sua importância, e no olhar
contemporâneo preza por obter meios que levam a
sujeito merecedor de respeito a sua integridade e a
sensibilidade a dor, sendo necessário que haja a
penalidade e o reconhecimento nos casos em que
ocorram os excessos, priorizando por proteger e
criminalizar de modo mais severo a confuta
humana que viola a integridade dos animais.
OS ANIMAIS COMO BENS SEMOVENTES
O reconhecimento no direito brasileiro quanto aos
animais, são bens semoventes, indicando a legislação
que trata do animal do sentido amplo, sendo
importante tecer considerações sobre os
apontamentos que a legislação compreende como
defesa aos animais e regulamentação de seus direitos.
OS ANIMAIS NA LEGISLAÇÃO
A legislação protetiva ao animal não indica a
sua forma como é verificado na atribuição, no
momento que o Código Civil brasileiro trata o
animal como um bem ou uma coisa, sendo indicado
como mero objeto que tem a indicação de validade
jurídica como semovente.
O direito foi instituído quanto a sua regulação e
descrição de referências a serem seguidas, de
acordo com as necessidades do homem, e a menção
a propriedade surgiu com o aprimoramento de suas
técnicas básicas de sobrevivência, onde o homem
passou a criar meios de troca e construir meios para
sanar suas necessidades, criando objetos e
evoluindo com o tempo, e dessa técnica, surgiu
uma ideia de que tudo o que criava ou seja, o objeto
deveria ser protegido por meio de sua posse, ou
seja, se apropriou daquilo que podia manipular e
controlar, fazendo isso com objetos e coisas,
nascendo daí a ideia de propriedade e de posso
sobre os animais não humanos, que passaram a
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integrar como “coisa” sob o poder do homem. [14]
Essa ideia de apropriação, inicialmente foi
necessária, pois nos meios primitivos a disputa
pelo espaço e pelas coisas que os homens
fabricavam se tornaram objetos de cobiça entre os
povos, assim, para viver em sociedade o ser
humano se aprimorou com o tempo, e impondo
limites e meios de sobreviver, assim, os animais
sencientes passaram a ser objeto de
comercialização e de uso para consumo, ou ainda
de diversos tipos de exploração. [15]
Para Rodrigues [16], o homem tem a consciência
de que os animais são sencientes, compreendem e já
foi comprovado que sentem dor, são sensíveis ao
sofrimento, e ainda, são seres que podem
compreender o que se passa a sua volta, assim, o
sofrimento lhe causa dor psicológica. Mas, a partir
disso, coma consagração capitalista da civilização, o
homem passa a utilizar livremente o animal tendo-o
como propriedade, e o animal não humano passa de
ser natural livre a escravo do homem.
Para Leite [15] com o reconhecimento pelo
direito do animal como coisa, o homem passou a
ter total liberdade de comercialização, de troca, de
uso para consumo, e diante disso, o animal passa a
ser despersonificado como ser vivo e senciente,
sendo visto pelo seu fim de utilidade e não como
um ser passível de sentir dor e sofrimento,
desconsiderando o valor de sua vida.
Constante no Código Civil de 2002, no
dispositivo conforme o artigo 82, o animal é
conceituado e indicado como bens móveis,
indicando a responsabilização pelo dono do animal
no artigo 936, além de ser notória a questão da
propriedade descrita no artigo 1.263, ou seja, o
animal é um bem móvel, de propriedade do homem
e de responsabilidade por reparar os danos pela sua
condição de coisa/objeto. [16]
Para Rodrigues [16], a lei deve considerar que os
animais devem ser protegidos das atrocidades que o
homem comete aos animais por tê-lo como
propriedade e objeto, pois são seres que sofrem e
isso deveria ser considerado como o direito tutelado
em prol dos animais, que o homem buscasse não
ferir a sua dignidade, pois são seres sencientes.
Segundo Leite [15], o direito civil ao tratar o
animal como semovente ou bens móveis, viola a
Declaração dos Direitos do Anima, pois o Brasil é
signatário, e por essa postura, a declaração tem
força de norma supralegal, ou seja, de Emenda
Constitucional, o que torna legítimo o direito do
animal quanto a sua dignidade humana e eleva sua
importância como parte de relação jurídica, assim
sendo, diante das mudanças conceituais e dos
avanços legislativo, a lei civil que ampara o animal
como objeto ou coisa e desconsidera a sua
importância de sujeitos de direito não condiz com
os avanços do direito e com a proteção
constitucional dos animais.
Indica Leite [15], que as pessoa relativamente
incapazes, são tutelada com a guarda ou curatela
que lhes dá a assistência e a proteção dos direitos
essências a uma vida digna, considerando que em
estudos comprovados, sabe-se que quanto ao
sofrimento e desenvolvimento, muitos animais
possuem até maior capacidade que pessoas com
algum grau de deficiência, assim sendo, como
esses sujeitos de direitos que sentem dor e sofrem,
os animais não são diferentes, devendo caber aos
seus proprietários, a passarem a ser seus guardiões.
Na visão de Peter Singer [17], os animais, como
o homem, dispõem de direitos e de valoração com
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respaldo a não violação de sua dignidade, também
os animais não humanos devem possuir o equilíbrio
de direitos, procurou o autor equilibrar a valoração
do homem e do animal não humano. Na visão de
Singer, o animal deve possuir os mesmos direitos de
valoração quanto ao respeito e a convivência dessas
duas espécies, devendo haver igualdade, não
idêntica, mas que haja uma harmonia no tratamento
e na interação humana com o animal.
Na percepção de Singer [17] o animal, assim
como o homem deve ter um tratamento de
igualdade de consideração a sua existência, tem
como base a essência de respeito a igualdade de
direitos, equilibrado para o animal e condizente
com o homem, mas não haver a
desproporcionalidade como ocorre.
Segundo Cardoso [18], pela proteção
constitucional contida no artigo 225, §1º, VII da
CF/88, pelo qual não pode o animal não humano ser
maltratado, nem mesmo sofrer violência com
requintes de crueldade, considerando que o
dispositivo legal que qualifica os animais não
humanos como semoventes, não pode se sobrepor e
não concede o direito ao ser humano de violar sua
dignidade.
Para Cardoso [18], a propriedade atribuída ao
animal não humano não pode ser interpretada no
sentido literal de objetos e coisas, mas sim deve
limitar-se a concessão do Estado, como meio de
possuir o animal não humano um representante que
deverá zelar pelos seus direitos, no sentido de um
patrimônio ambiental, onde o Estado e a
coletividade possuem deveres ao considerar os
animais como sencientes, incumbindo ao homem
que obtenha a obrigação inerente a propriedade
mas, que não deve ser limitada ao término da
função social da propriedade.
No Código Penal
No ano de 1984 na reforma do código penal não
foi efetiva para criminalização dos atentados aos
animais, pois nessa ocasião só a sua parte geral foi
alterada, razão no qual não foi aproveitada para o
objeto prescrito.
Já em 1988 os atentados aos animais silvestres
se tornaram crime inafiançáveis, segundo o arts. 27
e 28 da lei 5.197/67. Os atentados continuaram sem
punição.
Constituição Federal diz em seu Artigo 225,
inciso VII:
Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma
da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.
[19]
Para os protetores dos animais, importantíssimo
é o art. 32 da Lei 9605/98:
Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou
mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza
experiência dolorosa ou cruel em animal vivo,
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ainda que para fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço,
se ocorre morte do animal. [19]
A LPCA fez uma proposta de lei para
criminalização dos crimes contra animais. Em
1993 o código penal foi estudado para assim
estabelecer com Direito Ambiental o tratado
fazendo com que esse objeto ganhasse uma
legislação própria.
O Código penal traz a tipificação de maus
tratos, sendo indicados por Prado [20], como uma
conduta, pelo qual o responsável, deixa de dar
assistência ou sob sua guarda, não presta a devida
assistência necessária ao dependente sob sua
responsabilidade, sendo que este possui o poder de
vigilância, de cuidado e de zelo.
A conduta típica prevista consiste em expor a
perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de
educação, ensino, tratamento ou custódia, através
de umas das formas alternativamente indicadas:
privando-as de alimentação ou cuidados
indispensáveis. [20]
Conforme descrição dada no artigo 3º do
Decreto 24.645/34, os animais não podem ser
maltratados, sendo proibido essa ação humana
contra qualquer tipo de animal, sendo incisivo ao
tratar das mais diversas formas que maus tratos que
são proibidas de serem praticadas contra os
animais, não devendo: ser cruel ou obter ato que
represente o abuso do animal e tratamento com
crueldade (inciso I); buscar obstáculos em
ambientes onde os animais não podem ter seu
direito as necessidades fisiológicas e necessária a
manterem-se com vida, como privar-lhe a
respiração, local onde não haja higiene, que não
tenha espaço para que possa movimentar-se ou
fazer qualquer movimento (inciso II); usar o animal
como meio de proporcionar trabalhos que exijam
além de suas forças ou de quantidade
desproporcional ao trabalho digno e adequado a
manter uma vida saudável, indicando que ao fazê-
lo sofre ou atribuir algum tipo de castigo ao animal
privando suas condições essências a uma vida
digna (inciso III); Ter atos que levam a mutilação,
ou qualquer que seja a forma de ferir o animal,
simplesmente por vontade de fazê-lo, podendo
apenas serem castrados os animais domésticos, ou
ainda quando necessário para que melhore e
mantenha a vida com qualidade para o animal,
permitindo-se ainda as experiências para fins de
investigação científica (inciso IV); bem como a
descrição apontada nos demais inciso, que
essencialmente entendem que o homem não pode
castigar, explorar, ou não conhecer uma vida que
tenha ao mínimo o alimento, a água, que não use e
nem torture esses animais, pois são serem que
sentem dor. [19]
Código Penal, arts. 163 (crime de dano), e 164
(introdução ou abandono de animais em
propriedade alheia).
Na Lei de Crimes Ambientais
Com a previsão legal voltado ao meio ambiente
e a todas as formas de vida tuteladas, o direito
ambiental traz o princípio da proteção humana,
pelo qual é criticado por Sirvinskas[21]: “acesso ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado deve
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ser preservado para todas as formas de vida e não
só a humana”, pois o entendimento versa que a
proteção em sua integralidade não deveria versa
apenas ao homem, mas a todos os animais.
A legislação brasileira possui o Direito
Ambiental do qual trata da Fauna e da Flora,
tecendo considerações aos crimes e a proteção aos
animais, mas no Brasil, ainda é simplória quando
refere a proteção e amparo ao animal como sujeito
de direitos, tendo evoluído em alguns aspectos,
mas ainda qualifica os animais como propriedade e
não abrange essencialmente este como um sujeito
de direitos de forma clara e evidente.
Com isso, em 1934 o Governo Provisório
promulgou o decreto 24.645, que foi a primeira
legislação de proteção aos animais no Brasil, nesse
marco tornou-se contravenção os maus tratos
contra os animas. Em 1941, a Lei das
Contravenções Penais proibia em seu art. 64 a
crueldade contra os animais. Até então tal prática
permaneceu apenas como contravenção.
Teve em 1933, a Liga de Prevenção da
Crueldade contra o Animal - LPCA, tinha com
meta de modernizar a legislação entrou para a linha
de frente da LPCA. Para atingir seus objetivos a
Liga trabalhou continuamente junto com a mídia,
junto às autoridades e outras entidades
ambientalistas do Brasil.
Em 1998, veio a Lei dos Crimes Ambientais Lei
nº 9.605, de 12 fevereiro de 1998 que é de muita
importância e um grande avanço para proteção dos
animais.
Na jurisprudências, os animais, tem sido um dos
meio pelo qual se gera muitas discussões e destaca a
instabilidade e insegurança jurídica quando se
contrapõem os interesses econômicos, e os animais
enquanto coisa ou direito, pois há diversos meios de
interpretação que tem sido entendido e apresentados
nas jurisprudências, tem maior ênfase os casos de
maus tratos de animais, discussões acerca da
proteção do meio ambiente e limitação as
manifestações culturais como são os casos de
vaquejada, galo de rinha e fara do boi, mas que
diante de toda a explanação doutrinária, legal e
jurisprudencial, verifica que o direito brasileiro
precisa avançar muito até que chegue a uma
concepção de equidade entre os preceitos éticos e a
observância da dignidade aos animais não humanos.
No ano de 1988 o STF compreendeu que o
Estado tem o dever que dispor de meios que
defendem a fauna e a flora, e que a crueldade não
pode ser admitida por suas práticas contra os
animais, mas em contraposto, considerou que a
manifestação cultural deve ser respeitada quanto aos
costumes, e que assim como deve defender os
animais, também deve zelar para que as
manifestações culturais sejam desenvolvidas com
base no dispositivo constitucional, artigo 225, inciso
VII.
No mesmo sentido, a Ação Direta de
Inconstitucionalidade n° 70009169624, versou no
ano de 2004, com a justificativa voltada a decisão
de práticas de rinha de Galo, por meio do qual
entende que essa prática impacta critérios de
preservação pelo qual se atribuía o aprimoramento
zootécnico, pelo qual suspendeu Lei nº 1.416/95
municipal de Quaraí, tendo declarada sua
inconstitucionalidade, indicando a
responsabilidade dos órgãos municipais de manter
a preservação e a proteção as questões ambientais,
no entendimento que tais práticas indicam o
contido nos dispositivos proibitivos da prática de
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maus tratos e crueldade contra os animais.
Outro caso interessante, de recente decisão
proferida por unanimidade é o caso de animais em
cultos e rituais de Candomblé, que foi considerado
parte integrante da manifestação religiosa, não
sendo considerado como maus tratos, pois o animal
é considerado como sagrado e usado com
alimentos, não havendo em que dizer que fere os
preceitos constitucionais, esse foi o entendimento
do STF em abril de 2019. STF, 2019).
Diversos são os casos que a jurisprudência traz,
no entanto o foco desse trabalho é demonstrar
apenas alguns casos que possibilitam a
compreensão da preocupação que há referente a
tutela do direito protetivo aos animais, na tentativa
de reconhecer que os absurdos que são cometidos
ao longo dos séculos devem ser repensados, pois a
própria legislação por sua vez vem reconhecendo
que os animais possuem sofrimento e por essa
questão devem ser considerados como a proteção a
sua dignidade como animais não humano mas que
são sencientes.
Casos emblemáticos
Os casos emblemáticos são alguns fatos que
vem sendo discutido ao longo dos anos pala base
constitucional de proteção e entendimento com
duplicidade, contrapondo a legislação e as bases de
fundamentos das decisões, pois ao mesmo tempo
que há a defesa constitucional das práticas como
culturas e manifestações populares, leva-se em
conta o ferir da dignidade não humana onde
animais em maior parte dos casos são mutilados e
tratados com requintes de crueldade.
O Caso das Vaquejadas
A prática da cultura Cearense da Vaquejada,
teve inicialmente a finalidade de aprimoramento
das técnicas de encurralar os bois para que o
rebanho segue o caminho que o vaqueiro estivesse
direcionado, com o passar, transformou-se me
espetáculo, por meio do qual há dois personagens,
um o vaqueiro e o outro o próprio boi que é puxado
pelo rabo e buscando uma queda na diagonal que
impossibilite que o boi se mexa, sendo uma prática
que causa dor ao animal e de natureza violenta,
com a narrativa ao final do “Valeu Boi”, tornando-
se um espetáculo econômico, deixando de ser
considerado algo cultural, mas uma pratica cruel
que a CF/1988 defende como proibição. [22]
Esses casos foram amplamente divulgados e
gerou muitas discussões sobre a sua violência e até
que ponto a manifestação cultural é superior a dor
do animal, estando diante dos fatos e da lei que
protege e prevê as questões oriundas das ações
humanas, devendo ser dosada entre a prática e a
legalidade contida em cada norma.
O caso das vaquejadas é um tema amplamente
discutido, pois o argumento para sua permissão
gerou discussão quanto a sua constitucionalidade,
pois por ser um costume e prática festiva no Estado
do Ceará, a vaquejada, pelos seus defensores foi
instituída como Patrimônio Cultural Histórico,
protegido pela Constituição Federal de 1988.
O STF considerou inconstitucional a Lei
15.299/2013, manifestação dada na ADI nº 4983,
considerando que mesmo que o artigo 225
considera constitucional as práticas voltada ao
patrimônio cultural, pelo qual a vaquejada consiste
num costume popular no Ceará, e mesmo com os
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argumentos tecidos pelo dispositivo constitucional
artigo 225, ainda assim entendeu pela sua
inconstitucionalidade.
Ocorre que a Emenda Constitucional nº 96, na
tentativa de buscar respaldo no artigo 225 da
CF/88, buscou lograr êxito ao contrastar que seria
constitucional e o amparo parte dos fundamentos
da própria Carta Maior que prevê a permissão nos
casos de manifestações desportivas com fins
culturais no Estado.
Contudo, o entendimento do STF foi de que
acima da cultura, ainda está a proteção do meio
ambiente e a proibição de tratamentos
considerados como cruéis, indicando que a
crueldade não integra um patrimônio cultural, mas
sim uma conduta reprovável e que causa repúdio
O Caso das Rinhas de Galo
Nos casos das Rinhas de Galo, na Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 1856, por meio do qual a
Procuradoria Geral da República, manifestou diante
do Supremo Tribunal Federal quanto a validade
jurídico constitucional de lei criada em razão da
autorização de competição, adotada pela Lei
Fluminense nº 2895/98 de 20 de março de 1998. Em
dispositivo legal apontado pela legislação, autoriza
que seja realizada competições, onde tem por
objetivo manifestação de briga entre os galos de
rinha, espetáculo para público assistir, onde veicula
finalidade remuneratório, e condiz com práticas
populares, sendo que a modalidade que caracteriza
o animal está enquadrado dentro d a legislação como
espécie de animais silvestres, ou seja, diante do
dispositivo constitucional que permite a
manifestação cultural, intitulado pelo artigo 225,
caput, foi necessário a análise da Corte Suprema a
fim de sanar a necessidade de validade ou de
invalidade diante das práticas de rinha de Galo.
De acordo com Escobar, Aguiar e Zagui [23],
ave utilizada gallus-gallus, e os procedimentos
realizados antes da competição geram discussões
pelos maus tratos e pela exposição do perigo, bem
como por compreendem a incitação ao crime, sendo
que a Carta Maior prevê a necessidade de preservação
das espécies a fim de manter um equilíbrio da
natureza e onde os interesses do homem devem
sempre entender a dignidade humana, além de ser
proibido os maus tratos de animais.
A decisão do Supremo Tribunal Federal versou
sobre a necessidade de buscar novas práticas
culturais e que atendem sempre ao olhar da
dignidade humana e da ecologia, considerando ser
inadmissível que haja a conduta cruel e os maus
tratos de animais com vertentes que buscam tornar
legal essas atrocidades, sendo que considera que as
práticas cidadãs devem pautar-se sempre na
conduta que busque a supremacia da dignidade e o
respeito a vida e qualidades dadas ao homem e aos
não humanos.
O Caso das Farras do Boi
O caso das Farras do Boi também, assim como
a vaquejada e as rinhas de galo, são temas que
ganham espaço cada vez mais, quanto a considerar
até que ponto a lei, doutrina e jurisprudencia tem
validade jurídica para as práticas como
manifestações culturais e até que ponto implicam
na violação da dgnidade do animal com maus tratos
e tratamentos cruéis, prohibidos pela legislação
penal e ambiental.
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A proibição decorre da própria Lei de crimes
ambientais, pelo qual aponta que maultratar ou
privar o animal com atitudes e comportamentos
que levam a maus tratos é crime, e na Farra do Boi,
esse crime é explícito, pois, o boi fica días sem se
alimentar, encarcerado, e para a finalidade festiva
é solto e estimulado ou incitado a violencia, quando
na verdade diante de pau, usados pelos farristas,
apenas tenta se defender e está em estado de
exautão, assim sendo, prática muito constante no
Estado de Santa Catarina, a Farra do Boi tem
causado indignidação e varias prisões em prol da
sua tipificação pela Lei de Crimes Ambientais. [22]
O entendimiento do STF vem de encontro com
a Lei de Crime Ambiental, atribuindo a Farra do
Boi como uma manifestação de violencia e de
crueldade, considerando que diante dos meios
empregados por essa prática, não pode ser
considerada como uma prática de manifestação
popular ou que encontré amparo na constitucioção,
nos moldes dos termos insculpidos no artigo 225
da Constituição Federal de 1988.
O DIREITO ANIMAL
A abordagem sobre o direito do animal traz
teorias e a proteção do animal ao longo da história
até o seu reconhecimento dentro do ordenamento
jurídico, sendo apontado as teorias sobre o direito
do animal reconhecidas no contexto mundial e no
entendimento conceitual dentro da visão do direito
Brasileiro, num contraste entre o direito de países
que contribuem com a visão de adequação ao
reconhecimento do animal como sujeito de
direitos.
Teorias sobre o direito do animal
Desde início dos tempos, o homem se julga
superior às demais espécies. Ao ponto de vista
filosófico, inicialmente surgida na Grécia conduziu
o homem, aos poucos, ao centro do universo,
antropocentrismo, que considerava o homem
governante dos demais.
Tais Direitos para serem designados como
ciência devem ser observados nos diversos meios da
sua aplicação na sociedade. No ponto de vista
sociológico costuma dar conotação diversa à palavra
direito, relacionando como um fenômeno social, tal
como, religioso, econômico, cultural e político.
Nesse sentido, seria o conjunto de condições de
existência e de desenvolvimento de uma sociedade.
Já para os filósofos, a palavra direito comumente é
associada a algo que é devido por justiça. Então
todo animal tem vida, devem ser considerados em
seus direitos, humanos e não humanos.
A história dos primeiros filósofos aos que não
defendem e os que não defendem os animais,
como: “No século VI A.C., Pitágoras, filósofo e
matemático, já falava sobre respeito animal, pois
acreditava na transmigração de almas.
Aristóteles, escreveu no século IV a.C.,
argumentando que os animais estavam distantes
dos humanos na Grande Corrente do Ser ou escala
natural. Alegando irracionalidade, concluía assim
sendo os animais não teriam interesse próprio,
existindo apenas para benefício dos Seres
Humanos. [17]
O filósofo Ramon Bogéa no século XV descrevia
que os animais deveriam ter direitos como seres
humanos. Da mesma forma Jean-Jacques Rousseau
falava no prefácio de seus discursos sobre a
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desigualdade, que os seres humanos são animais,
embora não sem inteligência e liberdade. No
entanto, porque os animais também são seres
sencientes, devem participar na lei natural e o
homem é responsável no cumprimento de alguns
deveres, especificamente "tem o direito de não ser
desnecessariamente maltratado por outro.”[24]
Para Kant [24]:
Nossas obrigações para com os animais são
deveres indiretos a humanidade. A natureza
animal tem analogias com a natureza humana, e
para cumprir nossas obrigações para com os
animais em conexão com as manifestações da
natureza humana, estamos cumprindo nossas
obrigações para com a humanidade indiretamente.
Nós podemos julgar o coração de um homem por
seu tratamento dos animais (p. 178).
Como também dizia o filósofo Gandhi [26]: “A
grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo
que seus animais são tratados. “No que se refere a
evolução histórica, o Direito dos Animais vêm
sendo reconhecido há bastante tempo no Brasil e
no mundo. Não que não existisse marcos
anteriores, foi no século XVIII que surgiu os
primeiros debates acerca da proteção dos animais,
contra atos de crueldade:
Apesar de ter acontecido por todo o século
XVIII, ganhou força a parti da década de 1740,
surgindo mais artigos escritos sobre o tema:
ensaios filosóficos sobre o tratamento moral de
criaturas inferiores, protestos contra formas
particulares de crueldade animal e (a partir da
década de 1780) tratados edificantes como o fim
de despertar nas crianças ”uma conduta benévola
ante as criaturas brutas”. [26]
A Inglaterra foi umas das pioneiras em relação
à criação de lei de proteção de crueldades contra os
animais, frisando mais especificamente na
proteção dos animais mais próximos ao homem.
Época m que faz surgir em outros países também
criaram sociedades de proteção aos animais.
Sendo na Grã-Bretanha, onde o primeiro marco
legislativo no ano de 1800, a proposta era impedir
maus-tratos contra cães de touros e depois contra
cavalos no ano de 1821, sendo ambas rejeitadas.
Após um ano foi promulgada a primeira lei para
proteção dos animais, proibindo que alguém
submetesse a maus-tratos o animal que fosse
propriedade de outra pessoa.
Neste período foi fundada a primeira sociedade
protetora dos animais, que seria uma forma de fazer
cumprir as leis, no ano se 1922, denominada de
Royal Society for the Prevention of Cruelty to
Animals.
O segundo país a propor uma lei de proteção foi
a Inglaterra no ano de 1849, interessante se faz
notar que, foi aqui a primeira lei aprovada para
proteção animal, preconizando a proteção dos
animais domésticos.
Nos anos de 1854 surge a lei protetiva dos cães
e em 1906, passa a ser proibido o uso de cães e
gatos para experimentos científicos; que hoje
deveria ser regra em todo o mundo, não só para
pesquisa cientifica, como também mais como
alimentos do ser humanos como acontece em
determinados povos.
No ano 1921 surgiu a lei de proibição da prática
de tiro ao pombo; como no ano de 1925 vem
proibição do aprisionamento de aves em gaiolas
com espaço insuficiente para seu desenvolvimento
e sobrevivência.
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No Brasil, foi no ano 1895 criou-se uma filial
da União Internacional Protetora dos animais e em
1907 é criada a Sociedade de protetora dos animais,
houve relapso histórico anteriores a tais datas.
No ano de 1925, na República Libanesa, foi
promulgação de decreto regulamentando a
proteção animal, proibindo-se a prática de maus-
tratos, principalmente da caça para diversão.
Na Itália foi nos anos de 1913, surge a lei que
regulamenta a proteção animal, confirmando e
ampliando os dispositivos no Código Penal
italiano, dispondo sobre crueldade, trabalho
excessivo, tortura, experimento científico, animais
de carga, caça de aves migratórias e maus-tratos.
No ano de 1896, publica-se na Espanha, a
primeira lei protetiva dos animais, dispondo sobre
a proteção das aves; em 1925: sendo assinada a
ordem real, que passou a ser considerando que em
todo país civilizado deve-se fazer esforço para
tratar bem os animais; no anos de 1928, vem ordem
que dispõe sobre touradas.
Como também no ano de 1929 surge a ordem
que proíbe briga de galo e jogo de enterrar aves até
a cabeça e a ordem que dispõe sobre crueldade,
trabalhos excessivos, pássaros cegos e vivissecção;
como, no ano de 1931 é promulgado um decreto
criando um escritório central para proteção dos
animais e plantas.
Em Portugal foi no ano 1886, promulgação da
primeira lei protetiva dos animais, incorporando
aos artigos 478-481 do Código Penal português a
proteção contra o envenenamento, contra o abuso
do animal de carga e dos maus-tratos ao animal de
consumo, além de tipificar como crime matar e
ferir animais.
Sendo em 1919, assinado decreto referindo-se
aos trabalhos excessivos impostos aos animais,
impondo-se limites aos abusos. No que se refere a
Argentina no ano de 1891 foi promulgação da lei
2.786, dispondo sobre a proteção animal em todos
os seus âmbitos.
Na Alemanha surge em 1926 a lei prevendo
punição com pena de prisão e multa daquele que
tratasse o animal com crueldade. No entanto, na
Suécia houve uma certa demora para que leis
protetivas animais surgissem; porém hoje, tem
referido país uma das melhores leis concernentes ao
bem-estar animal. Como em todo comumente
Europeu.
Foi no ano de 1988, assinado The Animal
Protection Act, lei que trata do bem-estar dos
animais de consumo, além dos animais de
companhia, animais usados para corrida e exibição
e animais para propósitos científicos. Com esse ato,
aos rebanhos é concedido o direito de pastagem. Os
abates devem ser humanitários.
Para os Franceses foi em 1791 que surgiu o
Código Penal e em 1850, pela Lei Grammont,
ambos qualificando como crime o envenenamento
de animais pertencentes a terceiros e os atentados a
bestas e cães de guarda em território de outrem.
Atualmente, muitos países estão apitos a proteção
dos animais, bem como, reconhecimento de alguns
direitos universais dos animais e como eles foram
desrespeitados ao longo da história. Antigas
barbaridades que hoje não pode ser feito em razão
da proteção e inclusão como crime.
No ano de 1978 sendo aprovada A Declaração
Universal dos direitos do Animais, se deu na cidade
de Paris na França, apesar de haver divergência no
que diz que foi lido e aprovado na cidade de
Bruxelas.
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Enfim, enorme avanço, esta aprovação no
âmbito nacional e internacional. O que levou a ser
aprovada até por organizações como a UNESCO e a
ONU.
Hoje na Europa e nos Estados Unidos da
América é gigantesco o avanço em relação a
proteção dos animais. Surge uma comissão
Europeia, falando nas principais realizações em
bem-estar animal, elevando os animais a um
patamar muito importante e merecedor.
Visão Antropocêntrica
A relação do homem com o universo traz a
centralidade que pode ser considerada pela própria
existência do homem e como ele vê a sua vida e a de
todos os seres vivos que estão ao seu redor, sendo
notório diante do capitalismo e das transformações
que vive-se hoje, que o homem controla tudo o que
é de seu interesse, sendo o próprio determinante do
que é certo e o que é errado.
Nesta visão, os resquícios dos registros na
história traz a visão do antropocentrismo, essa
visão indica a crença de que o homem pela sua
própria determinação da espécie seria supremo e
superior a todos os animais, e por ele governar os
povos e os territórios, sendo de capacidade de
raciocínio e de controle de suas ações, seria o
centro de todas as coisas, sendo passível de
controlar e de impor o modo de vida sobre os
demais seres no universo. [22]
Essa base é ainda de credibilidade entre muitos
povos ao redor do mundo, mesclando com questões
voltadas a religião que edifica e torna o homem
como filho do próprio Deus, o criador de todas as
coisas, e tem as escrituras sagradas para provar a
teoria de que ele mesmo impõem aos demais povos
e de sustentação da sua própria existência e
condutas que adota. [26]
No entanto, nessa visão das essências pautadas
na religião, o homem tem o dever de cuidar de tudo
que há no planeta, dos animais, das plantas, e todo
ser vivo, sendo-lhe conferido pelas própria Bíblia
o poder de domínio sobre todas as formas de vida,
mas também o seu dever em a reservar. [21]
A visão que pauta no domínio do homem e na
sua responsabilidade sobre os demais animais e
seres vivos, o animal não humano seria portador de
um direito natural, por essa visão, pautada na
própria existência e de responsabilidade do ser
humano em guardar esse direito natural do animal,
conforme o catolicismo indica como o dever de
seguir as escrituras sagradas, onde no livro de
Gêneses Deus concede ao homem o dever de
dominar e de zelar para que os animais tenham a
sua vida e suas necessidades atendidas enquanto
aos seus interesses de animal, considerando num
sentido natural de existência.
De modo mais específico, os animais não
humanos existem antes mesmo que o próprio
homem, e por ter este os direitos voltados ao
respeito como direito natural do homem, o próprio
animal não humano também o possui, e na garantia
desses direitos, quanto aos direitos naturais, deve o
homem se pautar na ética e no dever que lhe foi
imposto, o dever de zelar pelo animais.
Visão Biocêntrica
No decorrer da evidência das necessidades de
verificas as relações humanas e o tratamento com
os animais, foi possível perceber que a visão do
homem em sua superioridade deveria ser inserida
num contexto que seja munido de quanto aos
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direitos naturais do animal não humano.
Com isso, é possível compreender o sentido do
termo biocentrismo ou a ética Biocêntrica, pelo
teor da sua defesa, que indica que: “Todos os ciclos
vitais, no contexto de uma natureza despida de
hierarquias de valor, ficam no centro, como valor
absoluto. O homem é um elemento a mais dentro
de uma natureza englobante”. [15]
Nessa visão, o que é importante são considerar
que o homem assim como os animais são seres
vivos, e não pode existir essa hierarquia, o que vale
como direito e ética é a própria essência da vida
biológica de todos os seres vivos, e por assim ser,
assim, a supremacia seria indicada pela a vida em
si, não a vida de quem ou de qual ser, mas sim,
tendo o direito natural sendo concebido ao nascer
com vida de todas as espécies e seres vivos de
animais e possuidores de vida no universo. [25]
A ética estaria relacionada a própria existência
da vida em si, não condicionada a hierarquização
de cargo ou de função, como atribui a essência da
explicação humana, mas com a valoração suprema
do respeito a vida em todas as suas formas.
A moralidade não condiz apenas aos seres
humanos, mas sim em todas as formas de vida,
sendo a moral universal e atinge a todos, não é
exclusiva do ser humano, mas dos animais não
humano também. No entanto, nesse trabalho não
será aprofundado todas as visões dentro do
biocentrismo, trazendo apenas um suporte a elevar
os animais como sujeitos de direitos e dignos
enquanto seres vivos. [23]
Visão Ecocêntrica
Como o homem é ser considerado supremo nas
denominações, tudo o que está em volta dos seres
humanos são regulamentados quanto a sua conduta
e suas ações, sendo indicado pontos de referência e
uma linha de moralidade e ética.
Na visão do ecocentrismo ou ética ecocêntrica,
isso não tem supremacia diante do valor do próprio
universo, e apenas por existirem, consideram é os
animais e todos os seres vivos possuem moralidade
e ética. [25]
Nesse sentido, o ser humano não pode ser
considerado como o centro de tudo, e indicar que
pela sua condição como homem tem moral,
enquanto o animal não humano não teria a moral e
a ética, mas sim, que todos pela existência, devem
ter o centro de todas as questões voltados a
valoração da vida dos seres, e compreende, que
pelo fato da existência com vida, todos os seres
vivos são sujeitos morais e éticos, por isso, todos
tem direitos naturais o que impulsiona a seres
reconhecidos como sujeito de direitos.
Os animais nas constituições progressistas
Na Constituição da Espanha, assim como a lei
brasileira, o animal era previsto como objeto e
relacionado aos bens, sendo que há que considerar
que está em transformação com a criação de um
projeto que incita ao reconhecimento dos animais
quanto a sua importância, com a finalidade de
retirar a sua qualidade como objeto e sim de trazer
a regulamentação, em especial aos animais
domésticos, tratando de questão quanto a sua
guarda compartilhada em casos de separação e os
efeitos que decorrem diante das questões
matrimoniais, podendo ser visto como um avanço
quanto aos direitos dos animais.
Em Portugal foi no ano 1886, promulgação da
primeira lei protetiva dos animais, incorporando
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aos artigos 478-481 do Código Penal português a
proteção contra o envenenamento, contra o abuso
do animal de carga e dos maus-tratos ao animal de
consumo, além de tipificar como crime matar e
ferir animais.
ANIMAIS COMO SUJEITOS DE DIREITOS
Os animais como sujeitos de direitos não
implica em reduzir a valoração ou o poder do ser
humano quando ao seu domínio dos povos e das
espécies, mas de mudar a visão sobre o mundo e
sobre o papel que os seres vivos possuem no
universos, é ir de encontro com a própria evolução
do pensamento humano, que não fere, não maltrata
e busca a vida em comum com consciência de que
ao ferir um ser vivo não está de acordo com a
própria lei da natureza.
Segundo Sirvinkas [21], o ser humano em sua
essência sofre das mazelas da solidão e das buscas
que o seu próprio espírito necessita, e ao não
considerar a essência da dor e do sofrimento dos
animais, se fossem retirados da existência do
planeta, por certeza o homem estaria só e não teria
a sua completude que arrastasse ao longo das
civilizações dessa relação entre o homem e os
animais. “O que é o homem sem os animais? Se
todos os animais se fossem, o homem morreria de
uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre
com os animais, breve acontece com o homem. Há
uma ligação em tudo”.
O animal, antes de tudo é um ser vivo, e seja na
visão antropocêntrica, ecocêntrica ou biocêntrica,
as considerações são de encontro que a discussão
não deve ser pautada em que lugar o animal
humano e o animal não humano deve estar, mas nos
direitos naturais quanto a seres morais, éticos e
principalmente, seres passíveis de sofrimento e de
sentirem dor, essa é a questão principal.
Há que considerar que a Declaração Universal
dos Direito Do Animais, foi aprovado pela
Organização Das Nações Unidas, no ano de 1978,
na cidade de Paris na França, apesar de não sido
oficial, a notícia que se tem historicamente é que a
Declaração Universal dos Direito Do Animais foi
linda e aprovada na cidade de Bruxelas.
Importante marco jurídico para evolução da
proteção aos animais. O que pretende proteger na
Declaração Universal dos Direito do Animais, são
direitos fundamentais e inerentes ao animal não
humano como: direito a vida, direito a igualdade,
direito a liberdade, direito atenção, direito a ser
bem cuidado, direito a ter uma morte justa, quando
necessário sem dor e angustia, direito a não ser
abandonado, direito a uma limitação razoável da
intensidade de trabalho, direito a não ser explorada
para diversão humana, direito a alimentação,
direito a ser abatido sem ansiedade ou dor quando
necessário para alimentação humana.
A declaração reconhece que a existência dos
animais é essencial e essa consciência de que
merecem proteção tem que ter abordagem
universal. O grande avanço mínimo que seja de
proteção jurídica reconhece que os animais tem
direito a dignidade própria, faz previsões muito
importantes como Biocídio e do Genocídio.
Para os brasileiros é crime hediondo, qual seria
matar a mesma espécie por puro prazer. No Brasil
na página da UNSECO não é possível encontrar o
documento das Declaração Universal dos Direito
do Animais entre os instrumentos legais de
organização, o que é vergonhoso. Em sites não
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governamentais, jornalísticos, entre outros, pode
nos informar em seu próprio site artigos,
movimentos de proteção. Em pesquisa foi
encontrado o teor da Declaração Universal dos
Direito Do Animais na página do Concelho
Nacional de Medicina, entre outras páginas.
No Brasil, por mais que há institutos de
repressão de regulamentação quanto as questões
voltadas aos animais, a lei em si não protege esses
direitos, e na maioria dos casos, são necessárias
crueldades extremas para que seja feito algo a
respeito, sendo ainda a legislação imatura quanto a
atender as necessidades e de ir de encontro com a
nova cultura que está se instalando, uma cultura
que não aceita que os animais sejam tratados como
objetos ou que não sejam levados em conta seus
direitos como sujeitos que sentem dor e sofrem.
Como mencionado, a elaboração em 1978 a
Declaração Universal dos Direito dos Animais,
recebesse o quanto ela é bonita, digna e como os
animais teriam uma vida melhor, como menos
maus tratos, se ela de fato fosse respeitada.
Apesar de ser uma declaração universal, ela não
é obrigaria, não tem força de lei, não é um
documento que foi promulgado pela UNESCO e
sim uma criação das entidades de defesa dos
animais que influencia muitas ações e construções
jurídicas pelo mundo todo.
Infelizmente, uma ideia, quase que filosófica, de
como deveria ser a relação entre homem e animal.
Ela reforça um princípio considerado fundamental
que é a de que o homem precisa entender que não é
apenas ele que tem direito à existência e nem a
usufruir da natureza e seus recursos.
De acordo com Dias [26]:
O animal como sujeito de direitos já é concebido
por grande parte de doutrinadores jurídicos de
todo o mundo. Um dos argumentos mais comuns
para a defesa desta concepção é o de que, assim
como as pessoas jurídicas ou morais possuem
direitos de personalidade reconhecidos desde o
momento em que registram seus atos
constitutivos em órgão competente, e podem
comparecer em Juízo para pleitear esses direitos,
também os animais tornam-se sujeitos de direitos
subjetivos por força das leis que os protegem.
Embora não tenham capacidade de comparecer
em Juízo para pleiteá-los, o Poder Público e a
coletividade receberam a incumbência
constitucional de sua proteção. O Ministério
Público recebeu a competência legal expressa
para representá-los em Juízo, quando as leis que
os protegem forem violadas. Daí poder-se
concluir com clareza que os animais são sujeitos
de direitos, embora esses tenham que ser
pleiteados por representatividade, da mesma
forma que ocorre com os seres relativamente
incapazes ou os incapazes, que, entretanto, são
reconhecidos como pessoas.
Nesse sentido, é importante ressaltar que um
dos grandes movimentos em prol dos direitos do
anima não humano é trazido por Peter Singer [17]
que impõem a reflexão na tentativa de considerar
os animais como sujeitos de direitos, pelo qual, a
animal não deve estar pautado em diversos
mecanismo de leis, mas pelo simples fato de ser um
ser que sente dor, deve ser a sua dignidade e sua
igualdade de tratamento a todos aqueles que
sentem dor, havendo a libertação desse animal.
(...) A extensão do princípio básico da igualdade
de um grupo para outro não implica que devamos
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tratá-los da mesma maneira, ou que devamos
conceder-lhes os mesmos direitos. O que
devemos ou não fazer depende da natureza dos
membros desses grupos. O princípio básico da
igualdade não requer tratamento idêntico, mas
sim igual consideração por seres diferentes pode
levar a tratamentos e direitos distintos. [17].
A ideia central de Singer não é considerar que o
ser humano e o ser não humano são iguais em
direitos e pela sua plenitude e necessidades, mas
que são em igualdade quanto refere-se a
consideração que são animais passíveis de
sentimento de dor e de sofrimento.
No mesmo sentido, Martha Nussbaum [25], traz
uma visão que indica o compartilhamento de
pressupostos de existência, pelo qual, todos os
animais humanos e não humanos são passíveis de
compaixão pela suas formas de direitos e que não
podem ser violados, pois devesse encontrar os meios
que assegurem a justiça e os direitos do animais para
que não sejam feridos em sua dignidade.
Nesse sentido, indica autora que as necessidades
e os direitos bem como as diferenças morais e éticas
devem ser consideradas, mas que essa base de
diferenciação não pode eximir os ser humano de
respeitar o animal com um sujeito de direitos e que
a violação deveria conter obrigações e punições
mais severas quanto a defesa dos animais.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O direito evolui ao interesse do homem e o
animal no contexto global conquistou seu espaço,
bem como sensibilizou aos humanos pela sua
importância, mesmo que ainda há comportamentos
humanos que insistem em considera-los como
objeto.
Com todo o exposto no presente, foi possível
atingir o objetivo proposto por ter trazido uma
reflexão sobre a evolução e os conceitos que
demonstram a importância da busca pela valoração
dos animais não humanos, reconhecendo a sua
dignidade, e como seres sencientes, ou seja, não se
busca a igualdade de direitos , mas assim como as
pessoas relativamente incapazes, é necessário que
haja a tutela estatal e desobjetificação como bem
móvel, compreendendo que são seres passíveis de
dor e sofrimento, e decorrido a conduta humana de
maus tratos e manifestações culturais que tratam o
animal como mero objeto ou na condição de
escravo do homem, numa superioridade suprema
como se o homem pela sua racionalidade obtém o
direito de fazer o que bem entende com o animal.
Com a evolução dos conceitos pautados na ética
e no princípio da dignidade humana, verificasse
que o animal, por ser senciente, é passível de ser
considerado animal digno e ao feri-lo o ser humano
estaria indo contra o progresso, mas no retrocesso
quando a evolução dos aspectos de consciência
humana, por vez não há equidade em condizer um
discurso de valoração de dignidade humana, onde
um animal, apenas por ser biologicamente inferior
é tratado como objeto.
Contudo, ficou demonstrado que a legislação
cada vez mais acrescenta os meios de trazer o
animal quanto a sua valoração e proibição de
práticas que levam ao sofrimento, mutilação e a
redução do animal com aspecto inferior e de
liberdade total sobre seu uso pelo ser humano,
havendo no decorrer no progresso jurídico
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manifestações que vem de encontro para elevar o
animal como ser passível de respeito quanto a sua
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Salvador, volume 13, número 02, p. 40-60, Mai-
Ago 201860. Humanos: Uma Discussão
Necessária. Belo Horizonte: Fórum.
26. Dias, E. C. (2018). A Defesa dos animais e as
conquistas legislativas do movimento de
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O USO DO FENTANIL COMO ADULTERANTE EM DROGAS DE ABUSO
Kádima Caldeira Santos1
Orientadores: Gilmar Dias Rodrigues2, Renata Karla Peres Rodrigues3 (Peritos Criminais)
1 Engenheira Química - Universidade Federal de São João del-Rei/MG
2,3 2ª Seção Técnica Regional de Criminalística de Conselheiro Lafaiete/MG
pericialafaiete@gmail.com
RESUMO: Em 2017, 18,1 milhões de pessoas
consumiram cocaína. Mas, ao contrário do que se
imagina, a droga utilizada nem sempre possui alto
grau de pureza. Em Minas Gerais por exemplo, mais
de 70% das amostras apreendidas continham menos
de 20% de cocaína pura em sua composição; vez que
a ale são adicionados “adulterantes” (substâncias
utilizadas para conferir alguma propriedade à
droga, como aumentar o volume ou potencializar o
efeito do princípio ativo do composto ilícito). O
presente estudo teve o propósito de verificar,
mediante revisão bibliográfica, quais os
componentes adicionados à cocaína; avaliar o uso
fentanil como adulterante (e seus reflexos à saúde
humana), e demonstrar como a identificação dos
adulterantes pode servir de auxílio nas investigações
policiais. Assim, diversas classes de substâncias têm
sido utilizadas com este fim, desde medicamentos até
produtos da indústria química. Entres as mais
utilizadas, o fentanil, um potente opioide sintético,
vem se destacando, pois tem sido cada vez mais
associado a mortes por overdose em todo o mundo.
Quanto à cocaína, concluiu-se que estudos que dêem
suporte à saúde pública e aos órgãos responsáveis
pela repressão ao tráfico de drogas (e em especial à
área de inteligência policial) são de extrema
relevância.
Palavras-chave – adulterante, fentanil, saúde
pública.
Resumen – En 2017, 18.1 millones de personas
consumieron cocaína. Pero, contrariamente a la
creencia popular, la droga utilizada no siempre es
pura. En Minas Gerais, por ejemplo, más del 70% de
las muestras incautadas contenían menos del 20% de
cocaína pura en su composición; Dado que se añaden
"adulterantes" (sustancias que se usan para darle a
la droga alguna propiedad, como aumentar el
volumen o aumentar el efecto del ingrediente activo
del compuesto ilícito). El presente estudio tuvo como
objetivo verificar, a través de la revisión de la
literatura, qué componentes se agregaron a la
cocaína; evaluar el uso de fentanil como adulterante
(y sus reflejos para la salud humana) y demostrar
cómo la identificación de adulterantes puede ayudar
las investigaciones policiales. Por lo tanto, se han
utilizado varias clases de sustancias para este
propósito, desde medicamentos hasta productos
químicos. Entre los más utilizados, el fentanil, un
potente opioide sintético, se ha destacado ya que se
ha asociado cada vez más con las muertes por
sobredosis en todo el mundo. Al tratar la cocaína se
ha encontrado que los estudios que apoyan la salud
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pública y las agencias responsables de tomar
medidas enérgicas contra el tráfico de drogas (y
especialmente el área de inteligencia policial) son
extremadamente relevantes.
Palabras clave - adulterante, fentanil, salud publica.
I. INTRODUÇÃO
Segundo o World Drug Report 2019, divulgado
pelo Escritório contra Drogas e Crimes
das Nações Unidas, mais de um quarto de bilhão de
pessoas em todo o mundo já usaram drogas ao
menos uma vez. Estima-se que 271 milhões de
pessoas, o equivalente a 5,5% da população global
ou 1 a cada 18 pessoas, com idades entre 15 a 64
anos, tenha usado alguma droga ilícita ao menos
uma vez em 2017, o que descreve um incremento
de 30% nos últimos dez anos. Dessas, 35 milhões
de pessoas ou quase 13% dos usuários, possuem
dependência física e/ou química, apresentando
assim um acréscimo de 4,5 milhões de pessoas de
2016 para 2017. Essa ampliação reflete
principalmente o aumento global no número de
usuários de opiáceos, bem como daqueles que
fazem uso da cocaína, o que causa um problema em
larga escala, tanto para a segurança como para a
saúde pública dos países.[1]
A última década testemunhou a expansão de um
mercado dinâmico de drogas sintéticas e o uso não
medicinal de medicamentos opióides controlados,
além das tradicionais substâncias à base de plantas
– maconha, cocaína e heroína, no qual taxas de
consumo variaram de acordo com cada região/país.
Por exemplo, em 2017 calculou-se que 18,1
milhões de pessoas, o que corresponde a 0,4% da
população mundial com idades entre 15 e 64 anos,
consumiram cocaína, sendo os percentuais mais
altos relatados na América do Norte (2,1%) e
Oceania (2,2%), seguidas pela Europa Ocidental e
Central (1,3%), e América do Sul (1,0%). Quando
analisadas apenas regiões como a América do Sul,
a Argentina, o Brasil e o Chile são os três principais
países nos quais predomina-se o uso de cocaína.[1,2]
A maconha ainda é a droga mais consumida no
mundo, com cerca de 188 milhões de pessoas fazendo
uso em 2017. Contudo é o uso não medicinal de
medicamentos opióides comercializados sob
prescrição que está tornando-se uma enorme ameaça
para a saúde e a segurança públicas. Com um
crescimento de 56% de usuários em relação às
estimativas para 2016, os opióides foram os
responsáveis por dois terços de todos os 585 mil
óbitos causados pelo uso de drogas em 2017.[1]
Em 2017, os Estados Unidos tiveram o maior
número já registrado de overdoses fatais: 70.237
casos. Quase 68% (47.600) do total destas foram
atribuídas ao uso de opióides, o que corresponderia
a uma taxa de 14,6 mortes a cada 100.000
habitantes. Destes, o maior número de óbitos por
overdose foi atribuído ao uso de opióides
sintéticos, como fentanil e seus análogos, que
aumentaram de 19.000 mortes em 2016 para mais
de 28.000 em 2017. Existem evidências que
sugerem que o Canadá e a Estônia também foram
afetados com grade número de mortes por overdose
envolvendo tais substâncias. Embora não no
mesmo nível da América do Norte, as mortes por
overdose relacionadas aos fentanílicos também
foram relatadas na Europa Ocidental e Central e na
América do Sul.[1,3]
Os opiáceos sintéticos como o fentanil e seus
derivados representam uma séria ameaça à
segurança pública, com a expansão do tráfico, e a
saúde com mortes por overdose aumentando em
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todo o planeta. Entretanto, o consumo de fentanil
nem sempre acontece espontaneamente; o mesmo
pode estar presente em outras drogas como
adulterante e/ou diluente. Desta forma, o usuário
não tem prévio conhecimento que, ao consumir tais
drogas de abuso como a cocaína, por exemplo,
consome, concomitantemente, diversas
substâncias misturadas àquela. Segundo o
departamento de justiça dos Estados Unidos, os
fentanílicos foram um dos adulterantes usados na
cocaína e na heroína, e também comercializados
como falsos opióides de usos restrito, para uma
grande população de usuários que desconheciam o
conteúdo real da substância “adquirida”.[4]
Adulterantes são substâncias acrescentadas à
droga com o intuito de modificar sua composição
final. Ainda que alguns destes possam ser
incorporados devido ao processo de
refino/produção, muitos são adicionados
intencionalmente para elevar o volume e assim
aumentar o lucro na comercialização. Além disso,
podem ser usados adulterantes para disfarçar o
sabor e facilitar a administração da substância, para
mascarar a qualidade do produto, ou realizar todas
essas funções, simultaneamente. Ademais,
conseguem simular ou potencializar os efeitos do
princípio ativo da droga nominada, e por essa razão
podem apresentar efeitos tóxicos severos,
resultando em grave problema de saúde pública,
uma vez que os profissionais da saúde
desconhecem a presença destas substâncias, em ato
médico emergencial/de resgate.[5]
Dado esse contexto, o presente estudo teve o
propósito de pontuar, às expensas de levantamento
bibliográfico, quais os principais adulterantes
usados na cocaína; avaliar o uso da fentanila como
adulterante (e seus reflexos na saúde do usuário);
demonstrar a relação entre a identificação dos
diversos adulterantes e as decisões tomadas dentro
do serviço de inteligência e investigações policias.
II. DESENVOLVIMENTO
a. COCAINA
A cocaína é um produto natural extraído das
folhas de Erythroxylon, nativas da América do Sul.
É um alcalóide, estimulante do sistema nervoso
central e anestésico local. Sua estrutura química é
apresentada na Figura 01, onde o grupo metil
carbonila é responsável pela ação tóxica; o grupo
benzoil carbonila é responsável pela ação
anestésica; e a estrutura da ecgonina é o metabólito
que se incorpora na corrente sanguínea após o
consumo, e permanece por até 72 horas. A dose
letal mínima é de 1,2g, mas para indivíduos
vulneráveis, doses a partir de 30mg, quando
aplicadas às membranas mucosas podem ser fatais.
Em contrapartida, indivíduos dependentes podem
tolerar doses diárias de até 5g.[7,8]
Figura 01: Estrutura química da cocaína
Fonte: emcdda.europa.eu/publications/drug-
profiles/cocaine
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A cocaína possui diversas formas de
apresentação final, mas é comumente encontrada e
apreendida pela polícia como pó cristalino
(cloridrato de cocaína), obtido pelo tratamento da
pasta de “coca” (purificada com ácido clorídrico ou
ácido sulfúrico), ou na forma de pasta base
(“crack”), subproduto do refinamento do
cloridrato.[5,9] Dependendo da forma de consumo
(aspiração nasal, via oral ou intravenosa) a
absorção da cocaína pelo organismo leva menor ou
maior tempo. Sua ação mais evidente ocorre no
sistema nervoso central, causando sensações
intensas de prazer, euforia, diminuição da
necessidade de sono, aumento das sensações
sexuais, redução do apetite, estado de
hiperatividade com aceleração do pulso, aumento
do ritmo respiratório, febre, hipertensão arterial,
tremor nas mãos e agitação psicomotora.[7,8]
Seu uso e tráfico expandiu-se para um fenômeno
global, desde os anos 1980. Em 2017, a fabricação
ilícita de cocaína alcançou o recorde de 1.976
toneladas (expresso em uma pureza de 100%), um
aumento de 25% em relação a 2016. A Colômbia foi
responsável por cerca de 70% do total produzido.
Embora redes globais complexas de contrabando
sustentem os mercados da cocaína, as apreensões
aumentaram 74% na última década. Em 2017, a
quantidade global de cocaína apreendida aumentou
13%, chegando a 1.275 toneladas, a maior
quantidade já registrada. A maior parte das
apreensões de cocaína está nas Américas, que
representou quase 90% do total global em 2017.[1,3]
A cocaína ilícita frequentemente é adulterada e
diluída para aumentar seu volume. Os adulterantes
utilizados são substâncias farmacológicas que
podem intensificar os efeitos psicotrópicos da
cocaína ou reduzir reações adversas após o seu
consumo. Em contrapartida, os diluentes são
substâncias inativas que se destinam a aumentam o
volume da cocaína comercializada.[5]
Inúmeras pesquisas identificaram as seguintes
substâncias: lidocaína, benzocaína, cafeína,
fenacetina, levamisol e aminopirina, como sendo
os principais adulterantes com propriedades
farmacologicamente ativas utilizados. Ademais
foram identificados bicarbonato, creatina,
açúcares, amido de milho, talco dentre outros,
como as principais substâncias utilizadas para
diluir e aumentar o volume da droga. Além dos
adulterantes e diluentes, puderam ser identificados
resquícios dos produtos químicos utilizados no
processo de refinamento como ácido clorídrico,
ácido sulfúrico e hidróxido de sódio, bem como
solventes orgânicos: gasolina, querosene e óleo
diesel, dentre outros. [5,10,11]
Estudos relataram episódios de overdoses e
mortes relatadas em várias cidades dos EUA, no qual
foi detectado a presença de cocaína e a sua possível
associação com o fentanil durante o processamento
da droga.[12, 13] Em 2016, o Centro de Controle de
Intoxicações (CCI) da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas) emitiu um alerta informando
que exames toxicológicos indicaram a presença de
fentanil em casos de intoxicação aguda em Campinas
e região.[14] Em 2018, Silva et al.[15] relataram
resultados positivos na análise qualitativa para
cocaína associada ao fentanil e lidocaína, em uma
ocorrência de óbito por processo asfíxico sucedido no
estado de Minas Gerais.
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b. FENTANIL
Descoberto em 1960 pelo farmacologista e
químico farmacêutico belga Paul Janssen, o
fentanil (Figura 02) é um opióide de curta ação,
com uma potência 50 a 100 vezes maior que a
morfina. Colocado sob controle internacional em
1964, o fentanil e seus derivados (alfentanil,
sufentanil e remifentanil) tornaram-se amplamente
utilizados na medicina humana, em anestesia e para
o controle da dor. Em medicina veterinária, para
analgesia e sedação (ou imobilização amimais de
grande porte), são usados os análogos tisfentanil e
o carfentanil (um opióide sintético 10.000 vezes
mais potente que a morfina e 100 vezes mais
potente que o próprio fentanil.[16,17]). Alguns
análogos fentanílicos também são usados para
estudar como é a reação do organismo, fornecer
insights sobre doenças ou ainda no auxílio ao
desenvolvimento de novos medicamentos.[18]
Figura 02: Estrutura química do fentanil
Fonte: emcdda.europa.eu/publications/drug-
profiles/fentanyl
Semelhante a outros analgésicos opióides o
fentanil produz efeitos como relaxamento, euforia,
alívio da dor, sedação, confusão, sonolência,
tontura, náusea, vômito, constrição pupilar, e
depressão respiratória. Este último efeito é o que
representa o maior perigo para os usuários. Devido
à alta potência dessa substância, pequenas
quantidades podem causar intoxicação; e apenas
2mg podem ser letais para a maioria dos seres
humanos adultos. Em outros casos, pessoas podem
vir a óbito ao consumir 0,25mg de fentanil. As
concentrações séricas recomendadas para
analgesia variam de 1 a 2 ng/ml e 10 a 20 ng/ml
para anestesia.[19] A administração de Naloxona
pode reverter rapidamente a depressão respiratória
grave causada pelo fentanil.[20] Entretanto, relatos
de experiências recentes nos Estados Unidos e no
Canadá sugerem que, quando comparado ao
tratamento de overdoses causados por outros
opióides, doses adicionais e maiores de naloxona
foram necessárias, em alguns casos, para reverter a
depressão respiratória pela overdose de
opioides/cocaína associados à fentanila.[21,22]
Figura 03: ilustração da proporcionalidade do que
seria uma dose letal de fentanil.
Fonte: https://www.dea.gov/galleries/drug-
images/fentanyl
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Figura 04: Comparação entre doses letais de fentanil,
carfentanil e heroína.
Fonte: https://www.dea.gov/galleries/drug-
images/fentanyl
O relato de novas substâncias psicoativas
classificadas como opióides sintéticos, em sua
maioria análogos de fentanil, e encontradas no
mercado, vem crescendo a uma taxa sem
precedentes; subindo, por exemplo, de apenas uma
substância em 2009, para 15 em 2015 e 46 em
2017. Em 2017, 15 análogos de fentanil e dois
precursores químicos foram colocados sob controle
internacional; sendo que atualmente existe um total
de 21 fentanílicos controlados em acordo à
Convenção Única das Nações Unidas sobre Drogas
Narcóticas.[1]
Normalmente, a produção de fentanil e outros
análogos é relativamente simples, o que aumenta
os desafios em relação a essas substâncias.[19]
Comercializados através dos serviços de correios e
vendido como substitutos de opióides ilícitos na
dark web, o fentanil ilícito e seus análogos podem
ser encontrados misturados em outras drogas,
como cocaína, heroína e MDMA
(metilenodioximetanfetamina - “ecstasy”), ou
comercializados como falsos opióides de
prescrição.[1,19]
Os usuários geralmente desconhecem o
conteúdo da substância que estão manipulando, o
que inevitavelmente aumenta o risco de
intoxicações. Mesmo que a presença de fentanil na
heroína ofereça um risco adicional às pessoas que
utilizam opióides, a presença de fentanil na cocaína
representa uma elevada ameaça de overdose entre
os indivíduos que usam apenas cocaína e carecem
de tolerância aos opiáceos. Várias intoxicações em
massa foram relatadas na América do Norte devido
a esse tipo de adulteração.[22, 23, 24]
Mesmo ocorrendo na América do Norte o maior
consumo de fentanil, os dados sobre apreensões
indicam que o tráfico se expandiu em todo o
mundo. Enquanto apenas quatro países relataram
apreensões de fentanil para o UNODC em 2013, 12
países o fizeram em 2016 e 16 países em 2017.[1]
Devido a sua potência e toxicidade em
overdose, a facilidade com que pode ser fabricado
e distribuído, e a sua proliferação nos mercados
internacionais, o Escritório contra Drogas e Crimes
das Nações Unidas elaborou o manual
Recommended Methods for the Identification and
Analysis of Fentanyl and its Analogues in
Biological Specimens, preparado para auxiliar os
laboratórios de saúde pública, forense e clínico,
com a identificação, análise e quantificação de
novos análogos de fentanil encontrados em casos
de overdose, envenenamento e investigação de
mortes suspeitas ou violentas.[25]
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O uso não médico de opiáceos farmacêuticos
deve ser uma preocupação para as autoridades
responsáveis pela aplicação da lei e para os
profissionais de saúde pública. Diferentes opiáceos
farmacêuticos são mal utilizados em distintas
regiões. A falta de informação e identificação pode
levar ao risco de que novas substâncias psicoativas
potentes, como o fentanil e seus derivados, passem
despercebidos em mortes por overdose,
especialmente quando são consumidas em conjunto
com drogas mais comuns, como a cocaína.[1]
c. IDENTIFICAÇÃO DOS ADULTERANTES
Ao contrário do que se possa imaginar, a
cocaína consumida no Brasil, diferente da
destinada à Europa ou América do Norte, está
longe de possuir alto grau de pureza. De acordo
com a reportagem divulgada em 2013 pelo jornal
Estado de Minas, um estudo realizado pelo
Departamento de Química da Universidade Federal
de Minas Gerais, em parceria com o Instituto de
Criminalística de Minas Gerais, verificou que a
cocaína apreendida em Minas Gerais contém mais
adulterantes que a média nacional. A pesquisa
constatou que mais de 70% das amostras da droga
apreendidas e analisadas continham menos de 20%
de cocaína pura em sua composição.[26]
Entre os diluentes identificados pela pesquisa
estão: pó de giz, talco, bicarbonato e até pó de
mármore entre outros. Já como adulterante foi
identificada a cafeína: esta produz efeitos diretos
no sistema nervoso central (SNC), rins e músculos
cardíaco, esquelético e liso, sendo que 100g de
cafeína são suficientes para causar nervosismo e
insônia e em doses maiores, tremores e convulsões.
A lidocaína, outro adulterante verificado nesse
trabalho, é um anestésico local com a capacidade
de provocar sedação, tontura, distúrbios visuais,
auditivos e inquietação.[6]
De acordo com Maldaner et al. [10], outro
adulterante foi identificado em amostras
apreendidas a partir de 2010, no Distrito Federal e
em outros estados, que estaria sendo utilizado em
conjunto com a fenacetina: a aminopirina, um
fármaco com propriedades analgésica, anti-
inflamatória e antipirética. Também conhecido por
ser mielotóxico, é capaz de desencadear quadros de
agranulocitose.
Fatos envolvendo fentanílicos foram relatados
nos Estados Unidos no final da década de 70. Na
Califórnia, em 1979, uma série de mortes foram
atribuídas a um análogo de fentanil, o alfa
metilfentanil. Na década de 90, em Nova York,
descreveram-se os primeiros casos de morte e
hospitalização envolvendo a mistura de fentanil
com heroína. Um aumento exponencial das
ocorrências, a partir dos anos 2000, resultou na pior
epidemia de dependência da história dos EUA,
chegando a 18.335 mortes, em 2016, envolvendo o
fentanil, visto que, em quase 70% destas mortes
outras substâncias, como heroína ou cocaína,
também estiveram associadas.[25,27] Igualmente, foi
reconhecido como um problema na Europa em
2012, emitiram-se alertas na Áustria, Bélgica,
Croácia, Dinamarca, Estónia, Finlândia, França,
Alemanha, Hungria, Irlanda, Polônia, Portugal
dentre outros. No Brasil, o primeiro alerta foi
emitido em 2016, pelo Centro de Controle de
Intoxicações da Unicamp.[7, 28]
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Figura 05: Relação das 15 drogas mais letais nos
Estados Unidos, em 2016.
Fonte: cdc.gov/nchs/data/nvsr/nvsr67/nvsr67_09-
508.pdf
A partir da identificação do perfil químico das
amostras apreendidas, os laboratórios forenses
poderiam implementar padrões que auxiliariam os
serviços de inteligência policial nas investigações,
a fim de descobrir-se quais as possíveis rotas de
tráfico, e, consequentemente, onde ocorreria a
fabricação da droga. Além disso, poderiam realizar
monitoramento remoto dos produtos, que devem
ter prioridade de controle sobre a produção e
comércio, a partir das substâncias detectadas, como
medidas de controle e prevenção.[29] Mais do que
auxiliar nas investigações, a análise química
também interessa como prova científica no âmbito
judicial. Conforme explica Maldener et.al.[10], as
drogas possuem uma espécie de assinatura
química, cuja análise pode contribuir tanto para a
investigação na obtenção de provas, quanto para a
inteligência, com a identificação de redes de
distribuição; fato este passível de ser utilizado até
mesmo em ações de prevenção e de atendimento.
Tarefa imprescindível na investigação criminal,
a identificação química de uma droga é realizada
inicialmente pelo exame preliminar e,
posteriormente, confirmada pelo exame definitivo.
O exame preliminar é composto de técnicas mais
simples e rápidas para materializar o objeto do
crime e amparar o auto de prisão em flagrante
delito; sendo também norteador para o exame
definitivo.[30] Os laboratórios forenses para
identificação de substâncias empregam três
procedimentos analíticos: imunoensaios, testes
colorimétricos e análises cromatográficas. A
escolha da técnica a ser empregada depende do
protocolo utilizado pelos setores de técnica
forense, do tipo da amostra e do recurso disponível.
Nos imunoensaios (imunocromatografia) a
identificação ocorre devido à reação antígeno-
anticorpo, sendo utilizados apenas para fins de
triagem, pois mesmo sendo uma técnica simples e
prática de alta sensibilidade, tem menor
especificidade e podem ocorrer falsos positivos. O
método colorimétrico tem como base a mudança de
cor em resposta à presença de dada substância com
um ácido ou álcalis. É um dos métodos mais
tradicionais em uso nos laboratórios, devido a sua
simplicidade, baixo custo e rapidez, fornecendo um
resultado analítico preliminar.[31]
Para confirmar o resultado, são empregadas
cromatógrafos a gás e espectrometria de massa. A
cromatografia é um método físico químico de
separação, baseado na migração diferencial dos
componentes por causa das interações entre as
fases imiscíveis, móvel e estacionária. É uma
técnica versátil de alta sensibilidade e
confiabilidade na cromatográficos como CLAE
(cromatografia líquida de alta eficiência) e CG-EM
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(cromatografia gasosa acoplada à espectrometria
de massas) são os mais utilizados nas análises
forenses, principalmente na etapa confirmatória
destas análises. [31]
Na ponta das atividades de polícia judiciária,
aportam aos Setores Técnicos de Criminalística,
porções e quantidades de drogas diversas, inclusive
cocaína e opióides. Nos exames preliminares de
ditas substâncias, para que sejam lavrados os autos
de prisão em flagrante e/ou procedimentos outros
afeitos à atividade-fim da Autoridade Policial, faz-
se imprescindível celeridade e técnica por parte dos
Peritos Criminais. Assim, inicialmente, exames de
triagem para a maioria das substâncias alucinógenas
mais comuns, opióides e drogas sintéticas (inclusos
a fentanil e seus derivados) serviriam de norte para
a investigação criminal da procedência de
amostragens eventualmente apreendidas.
Atualmente, existem disponíveis no mercado
diferentes testes capazes de realizar tiragem em
drogas de abuso como por exemplo os chamados
“multidrogas” que por meio de uma
imunocromatografia de detecção rápida e qualitativa
identifica múltiplos tipos de drogas,
simultaneamente, e seus metabólitos. Da mesma
forma, as “tiras reagente” qualificam amostras
individuais, já que têm, reativas, apenas uma droga
conjugada imobilizada na área do teste.[32,33]
Existem também os chamados “Narcotestes”, testes
químicos pré-fabricados, que através de reações
colorimétricas em drogas “in natura” são capazes de
constatar os princípios ativos existentes em uma
gama de narcóticos.[34] E os “kit ELISA”,
imunoensaios qualitativos desenvolvidos para a
determinação de quantidades vestigiais de drogas.[35]
Os diversos tipos de teste de triagem identificam
todas as principais drogas de abuso incluindo THC,
opióides, cocaína e anfetaminas, e até as chamadas
drogas sintéticas, como os canabinóides sintéticos,
grupo Fentanil e/ou seus metabólitos.
Figura 6: Teste para triagens de droga: A)
“Multidrogas”; B) Kit ELISA; C) “tiras reagente”.
Fonte: Interlab; Neogen.[35] do Brasil; Medical Expo.
III. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Onde a vulnerabilidade existe, a oportunidade
criminosa é explorada. A abordagem de maneira
equilibrada e abrangente é essencial. Os níveis
recorde de produção de cocaína e opiáceos nos
últimos anos, juntamente com a expansão de
drogas sintéticas, como o fentanil e seus análogos,
exigem esforços intensificados das autoridades. A
fabricação de cocaína atingiu iguais níveis
alarmantes. As quantias interceptadas também
estão maiores do que nunca, o que demonstra o
comprometimento, desenvolvimento, eficácia e
esforço dos institutos aplicados à Lei.
Os adulterantes e diluentes adicionados à
cocaína estão em constante mudança, com
variações temporais e geográficas, o que pode
tornar imprevisíveis os riscos à saúde e dificultar
sobremaneira as investigações. O desenvolvimento
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de metodologias de análise simultânea das drogas,
sintéticas ou não, e as substâncias a estas
adicionadas é de extrema importância no cenário
de investigação policial e saúde pública.
No Brasil a identificação de substâncias
utilizadas em amostras apreendidas somente é
realizada quando feita solicitação específica, já que
a nossa legislação não questiona o grau de pureza
da droga. Contudo, dados mais significativos a
respeito das análises de cocaína e demais drogas
podem proporcionar comparações úteis e seguras
entre amostras obtidas em diferentes apreensões.
Através dos procedimentos de análise, é possível
reunir um conjunto de características capaz de
atestar qual substância está presente nas porções
apreendidas ou até mesmo determinar se estas são
idênticas ou se são originalmente de mesma
produção, aliando de forma contundente, a
aplicação das ciências forenses no
desenvolvimento social, quando são requeridos
programas de atenção à saúde pública e
investigação / persecução criminais.
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Vol. 1 Ano 3, 2019 ISSN 2594-4223
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22. Sutter, M. E., Gerona, R. R., Davis, M. T.,
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24. Tomassoni, J., Hawk, K. F., Jubanyik, K.,
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Haven, Connecticut, June 23, 2016’, Morbidity
and Mortality Weekly Report 66(4), pp. 107-
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25. Recommended Methods for the Identification
and Analysis of Fentanyl and its Analogues in
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26. Estado de Minas. (2014). Estudo mostra que
cocaína comercializada em Minas é a mais
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www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/04/04/
interna_gerais,515369/estudo-mostra-que-
cocaina-comercializada-em-minas-e-a-mais-
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27. Spencer, M. R.; Bastian, B.A.; Trinidad, J. P.;
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28. United Nations Office on Drugs and Crime.
(2017) Global SMART Update Volume 17:
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29. REITZEL, L. A.; Holm N. B.; Linnet K.; Müller
I. B. (2016) A case story, involving the use of
maltitol, a sugar alcohol, as a cutting agent in
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30. Camargos A. C. F. (2018). Química Forense:
análises de substâncias apreendidas. Dissertação
(Trabalho de Conclusão de Curso Bacharel em
Química), Universidade Federal de São João
del-Rei, São João del-Rei.
31. Corrêa J. S.; Teixeira, V. M. C. (2016).
Métodos Analíticos para Identificação de
Drogas de Abuso em Toxicologia Forense.
Anais do VII CONCCEPAR: Congresso
Científico da Região Centro-Ocidental do
Paraná. Disponível em:
conccepar.grupointegrado.br/resumo/metodos-
analiticos-para-identificacao-de-drogas-de-
abuso-em-toxicologia-forense/480/1257
32. Interlab, MULTIDROGAS 10 - TESTE
RÁPIDO. Disponível em:
www.interlabdist.com.br/dados/produtos/bula/d
oc/648749073925ae9c1.pdf
33. Medical Expo, Testes rápidos de fentanil.
Disponível em:
http://www.medicalexpo.com/pt/fabricante-
medico/teste-rapido-fentanil-43684.html
34. ECO DIAGNÓSTICA, Narcoteste- Drogas
Individuais. Disponível em:
ecodiagnostica.com.br/produto/alcool-e-
drogas/narco-teste-drogas-individuais
35. Neogen do Brasil, Teste Grupo Fentanil.
Disponível em:
toxicology.neogen.com/pt/fentanil-group-
forensic.
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ANEXO A
CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO
O(s) autor(es) do presente trabalho se compromete(m) a cumprir as seguintes normas:
1) Todos os autores relacionados acima participaram do trabalho e responsabilizam-se publicamente
por ele.
2) Todos os autores revisaram a forma final do trabalho e o aprovam para publicação na revista OC.
3) Este trabalho, ou outro substancialmente semelhante em conteúdo, não foi publicado, nem está sendo
submetido a outro periódico ou foi publicado como parte de livro.
4) O(s) autor(es) concordam em ceder os direitos autorais do artigo à revista OC (OLHAR
CRIMINOLOGICO) e a reprodução total ou parcial do mesmo em outras publicações.
Ao enviar o artigo via e-mail, o(s) autor(es) concorda(m) com este anexo A.
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ANEXO B
CONCESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
Esta autorização, e ao enviar o artigo via e-mail, o(s) autor(es) concordam com este anexo B. E por
ser(em) titular(es) da propriedade literária do mesmo e em condições de autorizar(em) a edição de seu
trabalho, concede(m) à revista OC –Conselho Editorial permissão para comercializar, editar e publicar o
citado artigo impresso em papel ou on line na Internet, na “OC”, em número e volume ainda a serem
definidos pelo Conselho Editorial da revista OC. Essa concessão não terá caráter de ônus algum para o
Conselho Editorial da revista OC , ou seja, não será necessário o pagamento em espécie alguma pela
utilização do referido material, tendo o mesmo o caráter de colaboração. O(s) Autor(es) compromete(m)-
se a assegurar o uso e gozo da obra à revista OC – Conselho Editorial, que poderá explorá-la com
exclusividade nas edições que fizer e compromete(m)-se também a não autorizar(em) terceiros a
transcreverem ou traduzirem parte ou totalidade da obra sem expressa autorização do Conselho Editorial
da revista OC, cabendo ao infrator as penas da legislação em vigor.
O Autor tem ciência de que:
1. A publicação desta obra poderá ser recusada caso o Corpo Editorial da OC, responsável pela
seleção dos artigos, não ache conveniente sua publicação, seja qual for o motivo, sendo que este
cancelamento não acarretará responsabilidade de espécie alguma e nem a qualquer título por
parte do Conselho Editorial da Revista OC;
2. Os Editores, juntamente com o Conselho Editorial reservam-se o direito de modificar o texto,
quando necessário, sem prejudicar seu conteúdo, com o objetivo de uniformizar a apresentação.
Ao enviar o artigo via e-mail, o(s) autor(es) concorda(m) com este anexo B.
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ANEXO C
TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGO
Autorizo a publicação do artigo enviado, comprometendo-me a não publicá-lo em outro veículo, caso
seja aceito.
Ao enviar o artigo via e-mail, o(s) autor(es) concorda(m) com este anexo C e os A e B.
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ANEXO D
MODELO DO FORMATO DO ARTIGO DA REVISTA ELETRÔNICA
Primeiro A. Autor1, Segundo B. Autor2 e Terceiro C. Autor2*
1Departamento de Exatas, Faculdades Integradas Regionais de Avaré, Fundação Regional Educacional de Avaré, Avaré,
São Paulo, Brasil; 2Faculdade de Agronomia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, São Paulo, Brasil;
*E-mail: nonono@hotmail.com
Resumo – Este modelo descreve como preparar o
manuscrito. Use este modelo se você estiver usando o
Microsoft Word 6.0 ou posterior, ou usá-lo como um
guia se sua versão do Word for mais velho. O
manuscrito deve usar fonte Times New Roman e 11
do tamanho da fonte. O resumo deve ser em negrito,
não ultrapassar 200 palavras e o tamanho da fonte
deve ser 10. Todos os símbolos e as abreviaturas
devem ser definidos. O resumo sintetiza os principais
aspectos do estudo ou das hipóteses investigadas, o
delineamento experimental, os métodos utilizados e
os achados importantes. Usar uma síntese das
conclusões.
Palavras-chave – usar três palavras chaves em
ordem alfabética e separadas por vírgulas. Não use
palavras do título.
Abstract – This model describes how to prepare the
manuscript. Use this template if you are using
Microsoft Word 6.0 or later or use it as a guide if
your version of Word is older than 6.0. Manuscript
should use Times New Roman font and 11 font size.
The abstract should not be more than 200 words and
should contain no references. All symbols and
abbreviations in the paper should be defined. The
abstract summarizes the major aspects of the
complete paper beginning with the purpose of the
study or the hypotheses investigated, the
experimental design and methods used and the most
important findings. Include key results or trends
and then summarize the conclusions and
implications of the paper.
Key-Words – use three key words in alphabetical
order and and separated by commas. Use words not
included in the title.
I. INTRODUÇÃO
Na introdução, a razão para o estudo, a área de
investigação, objetivo(s) e/ou hipótese (hipóteses).
Faça a cópia e salve este modelo. Para referenciar
citações indiretamente no texto, usar números entre
colchetes [1]. Para citar referências diretamente,
utilizar o sobrenome do primeiro autor seguido do
número de referência entre colchetes (exemplo,
Marinho [2]). Dois autores (exemplo, Mateus &
Oliveira [3]) e mais de dois autores (exemplo,
Ferreira et al. [4]) devem colocar em seguida o
número de referência entre colchetes se for citar as
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referências diretamente. Os trabalhos não podem
ter mais que 20 páginas incluindo figuras, tabelas e
referências.
II. MATERIAIS E MÉTODOS
Nessa etapa deverá explicar como o estudo foi
realizado e como os dados foram realizados.
Deverá constar o método de análise estatística.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados deverão ser apresentados nesta
secção e deverão ser discutidos com embasamento
científico.
As tabelas devem ser enumeradas usando
números (por exemplo, Tabela 1 e Tabela 2) em
ordem a que eles são referenciados. Use o tamanho
da fonte Times New Roman de número 10 no título
da tabela e número 9 na escrita da tabela (Ver o
exemplo da Tabela 1).
Se usar figuras, elas devem ser posicionadas tão
próximo quanto possível do local onde elas são
referenciadas no corpo do texto. As figuras devem
ser enumeradas (por exemplo, Figura 1 e Figura 2)
na ordem em que são referidas no corpo do texto
(ver o exemplo da Figura 1). Use o tamanho da
fonte Times New Roman de número 10 no nome
da figura e centralizado. As figuras são fotos,
gráficos, histogramas e outros.
Tabela 1. Média e desvio padrão de pH de dois tipos de
cortes de carne de frango. Análise estatística (p<0.05).
Tipos de corte n Média ± desvio padrão
Coxa/sobrecoxa 121 6.34 ± 0.24 b1
Filé de frango 67 5.96 ± 0.27 a
Total 188 -
1 Teste de Tukey (p<0.0001)
Figura 1. Carne bovina.
IV. CONCLUSÃO
Na conclusão deverá citar as implicações mais
importantes dos resultados e as aplicações
potenciais dos resultados identificados. Não use na
conclusão um resumo da discussão ou uma cópia
do resumo.
V. AGRADECIMENTOS
Assistência de órgãos de financiamento, mentores ou
suporte técnico é geralmente reconhecido nesta parte do
manuscrito. Será utilizado um tamanho de fonte 10 em
agradecimentos.
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REFERÊNCIAS
As referências devem ser organizadas
numericamente, por ordem de citação.
As referências devem ser apresentadas no seguinte
formato:
Artigo:
1. Hayes, J. E., Stepanyan, V., Allen, P., O’Grady, M.
N., Brien, N. M. & Kerry, J. P. (2009). The effect of
lutein, sesamol, ellagic acid and olive leaf extract on
lipid oxidation and oxymyoglobin oxidation in
bovine and porcine muscle model systems. Meat
Science 83: 201-208.
Livro:
2. Swatland, H. J. (2000). Meat cuts and muscle foods.
Nottingham: NottinghamUniversity Press.
Procedimentos:
3. Muguruma, M., Tsuruoka, K., Fujino, H., Kawahara,
S., Yamauchi, K., Matsumura, S. & Soeda, T.
(1999). Gel strength enhancement of sausages by
treating with microbial transglutaminase. In
Proceedings 45th International Congress of Meat
Science and Technology (pp. 138-139), 1-6 August
1999, Yokohama, Japan.
Capítulo de livro:
4. Faustman, C. & K.-W. Wang. (2000). Potential
mechanisms by which Vitamin E improves oxidative
stability of myoglobin. In E. Decker, C. Faustman,
& C. J. Lopez-Bote, Antioxidants in muscle foods
(pp 135-152). New York: John Wiley & Sons, Inc.
Referências de Web:
O endereço URL complete deve ser administrado
juntamente com outras informações, tais como: autor,
data de publicação, referência da publicação de origem,
referências da Web, etc. Podem ser listados
separadamente após a lista de referências sob um título
diferente ou incluído na lista de referência.
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EDITAL
PROCESSO SELETIVO PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS
PARA PUBLICAÇÃO NA SEGUNDA EDIÇÃO DA REVISTA OLHAR
CRIMINOLÓGICO
O presidente da Associação Brasileira de Criminologia, no uso de suas atribuições normativas, torna
público o edital da Revista OLHAR CRIMINOLOGICO, outrossim, regulamenta a submissão, a
apresentação e o julgamento dos artigos científico da seguinte maneira:
Art. 1° Compete a Comissão Executiva e Revisão Editorial da Revista OLHAR CRIMINOLÓGICO a
decisão final quanto a publicação.
Art. 2º - O manuscrito deve ser escrito em português ou espanhol, bem como encaminhado por meio
eletrônico (presidente@abcriminologia.com.br).
Art. 3° - Os artigos devem ter relevância com a proposta da Associação Brasileira de Criminologia,
qualidade científica e adequação às normas interna, bem como ser inéditos no Brasil e não poder ser
submetido à avaliação simultânea em outro periódico.
Art. 4° - O artigo pode ser escrito por mais de um autor.
Art. 5º - Os artigos serão avaliados por dois pareceristas anônimos da Comissão Executiva, que por sua
vez terão o prazo de dez dias para aceitar, rejeitar ou recomendar reformulações.
§1° - Em caso de discordância entre os pareceristas, o trabalho será encaminhado a um terceiro
parecerista que observará o mesmo prazo.
§2° Nos casos de recomendações, será oportunizado ao(s) autor(es) justificação e/ou realização de
modificações, devendo para tanto, devolver o trabalho reformulado no prazo máximo de cinco dias.
Art. 6º - Das Disposições gerais:
I - No caso de fraude comprovada, o artigo será excluído automaticamente;
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II - A publicação será eletrônica;
III - Os trabalhos submetidos para a publicação, quando não aceitos, ficarão à disposição do(s) autor(es);
IV - O Currículos Lattes do(s) autor(es) poderá ser usado como forma desempate na classificação dos
artigos;
V - O ato de inscrição gerará a presunção absoluta de que o(s) autor(es) conhece e que adere às normas,
tais como se acham estabelecidas no presente ato;
VI - O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade de seus autores e a simples remessa do original
para apreciação da Comissão Executiva, implica em autorização para a sua publicação;
VII - Os casos omissos serão decididos, conjuntamente, pela Comissão Executiva;
Art.7° O envio de artigos pode ser feito a qualquer momento, o autor é ciente que esta publicação é
semestral.
Quixadá/CE, 30 de junho de 2019.
FRANCISCO GERALDO FERNANDES DE ALMEIDA
Presidente ABCriminologia
presidente@abcriminologia.com.br
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