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OS (AS) EDUCADORES (AS) DE JOVENS E ADULTOS COMO AGENTES DE
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Josilene MORAES QUARESMA PIRES1 - UFPAEmail: josi.quaresma@hotmail.com
Eixo 02: Formação continuada e desenvolvimento profissional de Professores daEducação Básica
Relato de Experiência – Comunicação OralAgência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Artigo inscrito no Eixo Formação continuada e desenvolvimento profissional deProfessores da Educação Básica. O tema: “Os (as) educadores (as) de jovens e adultoscomo agentes de transformação social”, discorre sobre a atuação e formação dosprofessores e coordenadores pedagógicos na EJA, em três escolas do município deIgarapé-Miri-Pa. O objetivo é discutir os desafios enfrentados pelosprofessores\educadores que trabalham na EJA e o desenvolvimento de sua prática,aponta mudanças significativas quanto à visão que se tem desses sujeitos. Este tematorna-se relevante por observar a questão da formação e atuação desses profissionais,tendo em vista que a maioria não possui uma formação especifica para trabalhar com asespecificidades desses sujeitos. Utilizei pesquisa de campo e bibliográfica, visitas,entrevistas semi estruturadas e questionários para professores e coordenadorespedagógicos. A pesquisa foi realizada em 2009 e 2010, as principais referências foram aLDBEN (1996); CUNHA (1999); FREIRE (1996); VI CONFITEA (MEC, 2008). Assim,mudar é papel de todos, somos responsáveis pelo processo de mudança, mas, exigediálogo, trabalho coletivo, trocar experiências e respeitar as diferenças, pois todos osatores envolvidos no processo educacional podem protagonizar mudanças no contextoeducacional. O agente de transformação social participa, se envolve nas ações daescola, da comunidade, desenvolve seu trabalho com comprometimento, relaciona salade aula e conteúdos com a realidade vivenciada pelos jovens e adultos.Palavras-chave: EJA. Transformação Social. Formação Continuada.
1- Introdução
Construir um projeto de transformação da realidade na qual a educação é
entendida como ato político, não é tarefa fácil, exige dos educadores compromisso e
respeito à diversidade, pois irão se deparar com os mais variados tipos de sujeitos,
inclusive aqueles que trabalham o dia todo e a noite vão até a escola, com objetivos e
vivências diferentes, que possuem conhecimentos que os educadores muitas vezes não
detêm. São homens e mulheres que na sua maioria pertencem às classes menos
favorecidas. Portanto, atender alunos Jovens e Adultos, é tarefa árdua e exige dedicação
e formação especifica para trabalhar com estes. Neste sentido, fica claro a necessidade
de formação continuada dos professores e coordenadores pedagógicos, para que
possam relacionar o saber do aluno e o saber científico pois os educadores estão mais
próximos dos alunos.
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É papel do professor conhecer os seus alunos, manter um bom relacionamento
entre eles e ultrapassar os muros da escola, não “ensinar” apenas ler e escrever, lhes
mostrar novos horizontes, motivá-los a não desistir, pois, para alguns alunos a sala de
aula é o caminho de melhores condições de vida e trabalho, de recolocação social,
sociabilidade, de desenvolvimento pessoal, de novas oportunidades. “A ação do
coordenador, tal qual a do professor, traz subjacente um saber fazer, um saber ser e um
saber agir que envolvem, respectivamente, as dimensões técnica, humano-interacional e
política desse profissional e se concretizam em sua atuação”. (ALMEIDA e PLACCO,
2001, p.19).
A atuação do professor é que diferencia uma turma da outra, como ele recebe os
indivíduos, a relação que faz entre a vivência dessas pessoas e o conhecimento formal,
dando significado as aulas, dialogando, aceitando as diferenças, convivendo com a
diversidade sem preconceitos. Potencializar a diversidade na educação pode contribuir
para a transformação social e para a formulação e execução de propostas educativas em
que esses sujeitos estejam no centro, suas necessidades e expectativas de educação,
cultura, saberes e práticas.
Neste contexto está a Educação de Jovens e Adultos, e para analisar melhor essa
problemática realizei esta pesquisa no município de Igarapé-Miri-Pará, em três (03)
escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental – 1º ao 5º Ano – e Educação de
Jovens e Adultos – 1ª e 2ª Etapas – todas na periferia do município.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Edmundo Dantes de Almeida, possui 01
turma de 1ª e 2ª etapas; a Escola de E. F. Regime de Convênio Talcídio de Oliveira
Pantoja funciona com 02 turmas, sendo 01 de 1ª etapa e 01 de 2ª etapa; e a Escola
Regime de Convênio Irmã Barros Lima tem 01 Coordenadora Pedagógica responsável
pela administração e a parte pedagógica da escola, possui 02 turmas, 01 de 1ª etapa e
01 de 2ª etapa. Esta última, por questões de segurança, tem um horário de
funcionamento diferente, as aulas vão de 17hm às 20h.
A pesquisa realizada foi de campo e bibliográfica e surgiu a partir do Curso de
Especialização em Educação do Campo, Desenvolvimento e Sustentabilidade. Primeiro
conversei com as professoras e coordenadoras indagando se poderiam contribuir com a
pesquisa. Depois visitei as turmas, falei com alunos, entrevistei as coordenadoras
pedagógicas e professoras e lhes forneci um questionário devolvido posteriormente.
2 – A Trajetória da Educação de Jovens e Adultos no Brasil
A história da educação de jovens e adultos no Brasil vem acontecendo desde o
Brasil Colônia, de uma forma mais assistemática. E as iniciativas governamentais nesse
sentido são recentes. No Brasil Colônia a menção à população adulta era visando à
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educação como uma doutrina religiosa, vista como mais importante que a educacional.
Pois a educação não era responsável pela produtividade, muito importante na época,
acabava por gerar desinteresse dos dirigentes do país (CUNHA, 1999).
Já no Brasil Império, com algumas reformas educacionais, indicavam a
necessidade do ensino noturno para adultos analfabetos e as escolas noturnas eram a
única forma de educação dos adultos brasileiros.
De acordo com Cunha (1999), a partir do desenvolvimento industrial, no início do
século XX, inicia-se um processo lento, mas crescente, de valorização da educação de
adultos. E afirma que com a criação da UNESCO (Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e Cultura), esta solicitou os países educassem os adultos
analfabetos. Assim, em 1947, foi criado pelo governo brasileiro a 1ª Campanha de
Educação de Adultos para alfabetizar os adultos analfabetos do país em três meses. E o
adulto analfabeto era visto como elemento incapaz e marginal psicológica e socialmente,
submetido à menoridade econômica, política e jurídica, não podia votar ou ser votado.
E segundo Soares (1996), essa 1ª Campanha foi lançada que foi lançada após a
guerra levou a ONU a fazer recomendações aos países, entre estas, um olhar específico
para a educação de adultos e também o fim do Estado Novo, que trazia um processo de
redemocratização, que gerava a necessidade de ampliação da quantidade de eleitores no
país.
Em 1949, aconteceu a I Conferência Internacional de Educação de Adultos,
realizada na Dinamarca. E com a II Conferência Internacional de Educação de Adultos
em Montreal, em 1963, a Educação de Adultos passou a ser vista como uma continuação
da educação formal e também uma educação comunitária.
No final da década de 50 e início da década de 60, começou uma mobilização da
sociedade civil em torno das reformas de base, o que ajudou para que ocorressem
mudanças das iniciativas públicas de educação de adultos. Surge assim, um novo olhar
sobre o problema do analfabetismo, junto à consolidação de uma nova pedagogia de
alfabetização de adultos, que tinha como referência fundamental Paulo Freire, este
afirmava que: “O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu
discurso, às vezes necessário, ao aluno em uma fala com ele.” (FREIRE, 1996 p. 128).
A seguir as ideias de mudanças e transformações de Paulo Freire espalharam-se
por todo o país, sendo ele reconhecido nacionalmente por seu trabalho com a educação
popular e, mais precisamente, com a educação de adultos. Em 1963, o Governo encerrou
a 1ª Campanha e incumbiu Freire de organizar e desenvolver um Programa Nacional de
Alfabetização de Adultos. Porém, com o Golpe Militar em 1964 a conscientização
proposta por Freire passou a ser visualizada como ameaça aos que detinham o poder.
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Dentro desse contexto, como afirma Cunha (1999), em 1967 o Governo assumiu o
controle da alfabetização de adultos, criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização
(MOBRAL), para atender pessoas de 15 a 30 anos, objetivando a alfabetização funcional:
leitura, escrita e cálculo. Mas, as orientações metodológicas e materiais didáticos
deixaram de ter sentido crítico e problematizador como havia sido proposto por Freire.
Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 5.692/71, implantou-se o Ensino
Supletivo, sendo dedicado um capítulo específico para a Educação de Jovens e Adultos.
Em 1972 a III Conferência Internacional de Educação de Adultos em Tóquio,
reintroduziu jovens e adultos, principalmente analfabetos, no sistema formal de
educação. E a IV Conferência em Paris, em 1985, caracterizou-se pela pluralidade de
conceitos e surgiu o conceito de Educação de Adultos.
3 – A Educação de Jovens e Adultos no contexto atual
O período que vai do fim da ditadura militar até a aprovação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, foi marcado por intensa mobilização dos
movimentos sociais visando à inclusão, nos grandes marcos legais do país, da garantia
do direito a uma educação pública de qualidade para crianças, jovens e adultos, este
período foi marcado por melhorias, mas também retrocessos, principalmente na
aprovação do FUNDEF e logo a seguir os movimentos sociais se articularam em defesa
da escola pública e a partir desta luta conseguiram a aprovação do FUNDEB, que
contempla os educandos de EJA na contabilização e na destinação de recursos, porém
não foi integral, sendo criado o limite de destinação de 15% dos recursos do Fundo, em
cada estado, o que não deixa de ser um avanço. E alguns programas foram criados a
partir das lutas dos movimentos sociais, universidades, fóruns, que contribuíram e
contribuem para o processo de alfabetização e conclusão do ensino fundamental.
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) criado em 1998
como iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Conselho
de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), oferta alfabetização, educação básica
e profissional, além da formação e habilitação de professores nas regiões de
assentamentos e de acampamentos.
Foi dada também atenção à educação profissional integrada à educação básica
através da implementação do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional
com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA),
garantindo a obrigatoriedade da oferta de EJA na rede de escolas técnicas e estimulando
as redes estaduais a ofertarem essa modalidade, a fim de proporcionar formação
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profissional com escolarização para jovens e adultos, inserindo-os no mundo do trabalho,
melhorando a qualidade de vida, a autoestima e receberem uma certificação profissional.
Outro programa também importante em relação integração entre formação em
nível fundamental e qualificação social e profissional em agricultura familiar é o Saberes
da Terra criado em 2005. Contempla a formação de jovens agricultores ribeirinhos,
quilombolas, indígenas e assentamentos. A proposta pedagógica e curricular se
desenvolve em sistema de alternância (tempo-escola e tempo-comunidade). Atualmente
o Programa integra a Política Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM,
denominado ProJovem Campo – Saberes da Terra e atende jovens entre 15 e 29 anos de
idade.
O Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM, lançado em
2005 e executado pela Secretaria Especial de Juventude da Presidência da República,
reafirma a integração da educação básica com a profissional, focalizando o público jovem
entre 18 e 24 anos com baixa escolaridade e sem emprego formal.
Ressalto ainda que, a UNESCO tem organizado a Conferência Internacional de
Educação de Adultos – CONFINTEA, maior evento internacional na área de Educação de
Adultos, que acontece desde o final da década de 40 e no Brasil em 2009. A VI
CONFINTEA teve como objetivo principal avaliar as políticas implementadas para a
Educação de Jovens e Adultos em âmbito internacional e definir diretrizes que nortearão
as ações para essa modalidade de educação nos próximos anos.
O Governo Brasileiro percebe a VI CONFINTEA como uma oportunidade
estratégica para desencadear processos articulados de fortalecimento nacional da EJA.
Como preparação foram feitas oficinas regionais de formação para fazer diagnóstico da
EJA nos estados, comitês estaduais, UNDIMEs, universidades, encontros estaduais,
encontros regionais, encontro nacional e Fóruns de Eja. Foi organizado também o
primeiro Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos – ENEJA – que
posteriormente passou a ser anual. (BRASIL, 2009 p.91).
Foi apresentado na Conferência o Relatório Global sobre Aprendizagem e
Educação de Adultos (2008) este aponta a variedade e o desequilíbrio das medidas
adotadas em políticas públicas, governança e financiamento da educação de adultos.
Relata também que poucos países possuem políticas específicas para a educação de
adultos, além de que, o nível de financiamento atual para essa área está muito abaixo
dos recursos necessários para permitir que o setor atinja o resultado desejado.
As batalhas que se travam hoje, através dos Enejas, Fóruns de Eja, Confitea,
Movimentos Sociais buscam garantir a qualidade da educação para todos independente
de classe, raça, sexo, cor, etnia, e outros, esta é também uma luta do educador (a), que
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acima de tudo precisa se perceber e agir como agente de transformação social. Mas,
será que ele (a) tem consciência de que é ou pode ser um agente de transformação
social? Quais as suas dificuldades? A vida real do educando está relacionada a teoria
estudada nas aulas?
4 – O Educador (a) da Eja
A EJA é constituída predominantemente por jovens e adultos que moram nas
periferias urbanas. A realidade do analfabetismo e dos sujeitos pouco escolarizados se
mistura com o quadro da pobreza em nosso país, em decorrência do processo de
exclusão social produzido pelo sistema capitalista, assim é necessário que o educador
conheça quem são esses sujeitos, sua cultura e o contexto social em que vivem.
A escola tem exercido seu papel diante de uma realidade descontextualizada. O
novo mundo que invade a escola exige posicionamento, tomada de decisões coerentes e
atitude conscientes, o desafio é sem dúvida grande para os educadores de todas as
modalidades de ensino, em especial aqueles que trabalham com jovens e adultos.
“[...] meu papel no mundo não é só de quem constata o que ocorre mastambém o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não souapenas objeto da História mas seu sujeito igualmente. No mundo daHistória, da cultura, da política, constato não pra me adaptar mas paramudar [...] Constatando nos tornamos capazes de intervir na realidade,tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberesdo que simplesmente a de nos adaptar a ela”. (FREIRE, 1996. p. 85)
Como cita Paulo Freire, o educador precisa intervir, pois faz parte dessa realidade,
conhece a vivência dos alunos e só observar não vai contribuir na formação de cidadãos
críticos e conscientes dos seus direitos. As lutas pelo direito à educação se articulam às
lutas pela terra, pela preservação da cultura dos povos e pela garantia de acesso aos
diversos bens culturais.
A EJA é um espaço de aprendizagem em diferentes ambientes de vivências que
contribuem para a formação de jovens e adultos como sujeitos da história. É um grupo
diverso e múltiplo com situações referentes às questões de etnia, credo, orientação
sexual, gênero, condições mentais, físicas e psíquicas, culturais, regionais e geográficas.
E neste contexto, a escola contribui com o processo escolarização e formação do adulto,
pois é através da educação que passa a ser no mundo um agente de transformação.
Precisamos visualizar uma concepção mais ampla de educação de jovens e
adultos, a qual entende educação pública e gratuita como direito universal de aprender,
de ampliar e partilhar conhecimentos e saberes acumulados ao longo da vida, e não
apenas de se escolarizar. Observa-se então que, a visão de mundo de uma pessoa que
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retorna aos estudos depois de adulta e que há muito tempo está afastada da escola é
bastante peculiar, estes alunos jovens e adultos representam tipos humanos diversos.
São homens e mulheres que chegam á escola com crenças e valores já constituídos.
É neste contexto, que estão inseridos os coordenadores pedagógicos e
professores, pois atendem jovens e adultos com características e realidades específicas
e que por algum motivo ficaram fora da escola, por isso sua maneira de agir precisa
também estar direcionada a solução de problemas como à evasão escolar, por exemplo,
que nesta modalidade chega a ser assustadora.
Neste sentido, refletir sobre os sujeitos da EJA implica visualizar também as
especificidades de seus educadores/professores, que configuram trajetos de respeito e
de busca permanente pela integração do processo pedagógico às particularidades dos
sujeitos jovens, adultos e idosos. Essa articulação envolve a necessidade de adequação
tanto curricular, quanto de organização dos tempos escolares.
Pensando então, a Educação de jovens e adultos do Município de Igarapé-Miri,
observei para este ensaio Coordenadores Pedagógicos e Professores das EMEF
Edmundo Dantes de Almeida, Talcídio de Oliveira Pantoja e Irmã Barros Lima.
Percebi claramente nas conversas que os profissionais que atuam atuarão nesta
modalidade precisam ser preparados com formação específica, visando alcançar
avanços para uma educação contextualizada, significativa e, sobretudo, libertadora que
impulsione os indivíduos a conhecer e lutar por seus direitos. Tais observações
possibilitam que se observe a equipe escolar em exercício e lhe ofereça condições para
melhorar sua atuação, incentivando o interesse pela continuidade de sua formação como
o caminho para a atualização e qualificação profissional. Como afirma Paulo Freire,
O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que nãose esforce para esta à altura de sua tarefa não tem força moral pracoordenar as atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que aopção e a prática democrática do professor ou da professora sejamdeterminadas por sua competência científica. Há professores eprofessoras cientificamente preparados mas autoritários a toda prova. Oque quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica aautoridade do professor. (FREIRE, 1996 p. 103)
Partindo então do princípio que o trabalhador da educação deve ser estimulado a
permanecer na escola não só como profissional, mas, também como educando, dando
continuidade em sua formação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB no Título
VI, Dos Profissionais da Educação no Art.61 relata.
A formação de profissionais da educação, de modo a atender aosobjetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e àscaracterísticas de cada fase do desenvolvimento do educador, terá comofundamentos:
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I – a associação entre teoria e prática, inclusive mediante a capacitaçãoem serviço.II – aproveitamento da formação e experiências anteriores eminstituições de ensino e outras atividades.
A Lei 9.394 de 2006 garante que o profissional da educação precisa de uma
formação que o habilite a relacionar-se com as diversas clientelas que se encontram no
processo educacional, compreendendo as particularidades destes sujeitos, ou seja, o
educador precisa estar apto para acolher as diferenças e neste aspecto se observa que a
escola ainda percebe e deseja que os educandos sejam iguais, buscando homogeneizar
um grupo que na sua essência é heterogêneo. A Lei reforça ainda, o fato de que nossos
profissionais devem relacionar teoria e prática, as duas não podem estar dissociadas,
separadas, pois se complementam e quando esta relação não acontece à aprendizagem
não se desenvolve plenamente. Nota-se então, a necessidade de formação dos
professores e coordenadores na construção de concepções e práticas político-
pedagógicas e metodológicas que os oriente no processo educacional, não é possível
colaborar com a mudança social quando o próprio educador não se sente ou não é um
agente de transformação, quando este não contribui para formação do homem enquanto
cidadão.
Com a finalidade de ressaltar a importância da qualificação do coordenador
pedagógico e do professor, onde estes são os principais agentes de transformação desta
sociedade excludente em que vivemos, observa-se que eles tem o papel de contribuir na
luta pela garantia de políticas públicas que atendam os reais dos alunos da Eja.
5 – Os educadores (as) da Eja como agentes de transformação social
O coordenador pedagógico é fundamental para o pleno desenvolvimento da
escola, mas não é o único, todos que estão na escola são responsáveis pelo processo de
ensino e aprendizagem, este é um trabalho coletivo e também um desafio, exige acima
de tudo diálogo, troca de experiências e aceitação das diferenças, sem qualquer tipo de
preconceito.
O coordenador é apenas um dos atores que compõem o coletivo daescola. Para coordenar, direcionando suas ações para a transformação,precisa estar consciente de que seu trabalho não se dá isoladamente,mas nesse coletivo, mediante a articulação dos diferentes atoresescolares, no sentido da construção de um projeto político-pedagógicotransformador. (ALMEIDA e PLACCO, 2001, p. 19)
A seguir, tentarei fazer uma reflexão sobre as entrevista realizadas e as respostas
do questionário respondido. Cada entrevistada recebeu um questionário com perguntas
direcionado as atividades que desenvolvem.
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Entrevistei 4 educadoras, 2 professoras e 2 coordenadoras pedagógicas com a
intenção de analisar a visão dos dois lados, aqui as chamo de educadoras. Ressalto aqui
que as mesmas preferiram não se identificar, por isso vou chamá-las de Educadora 1
(E1); Educadora 2 (E2); Educadora 3 (E3) e Educadora 4 (E4).
As pedagogas possuem pouco tempo de contato como coordenação em escolas
que oferecem a modalidade Eja. A Educadora 1 (E1), ainda está terminando seu curso de
Pedagogia e a Educadora 2 (E2), que tem formação em Pedagogia, trabalhou por dois
anos como professora de Eja e a partir de janeiro de 2009, assumiu a coordenação
pedagógica da escola.
As professoras por sua vez têm anos de trabalho com jovens e adultos, estas são
funcionárias temporárias com mais de 05 anos de atuação na Eja, já passaram por
diferentes escolas durante esse período e adquiriram experiência com este público. A E3
está no segundo ano do curso de Licenciatura em História e a E4 possui formação no
curso de Magistério.
Quanto à prática de coordenadores pedagógicos e professores as entrevistadas
E1 e E2, colocaram a importância do coordenador fazer o acompanhamento dos alunos e
professores. E1 destacou que é necessário: “desenvolver ações que envolvam as
famílias, e a participação da comunidade, visitar e conhecer essas famílias”.
“Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é oda reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática dehoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O própriodiscurso teórico, necessário a reflexão crítica, tem de ser de tal modoconcreto que quase se confunda com a prática.” (FREIRE, 1996 p. 43)
As professoras E3 e E4 declararam que, o educador precisa ter objetivos claros
daquilo que deseja alcançar, ser criativo, dialogar com os alunos e ter segurança do que
está transmitindo.
A E2 relatou que: “As escolas tem muita carência de materiais didáticos,
pedagógicos e tecnológicos, bem como, a necessidade de formação específica para os
professores que atuam nesta modalidade de ensino, a falta de apoio dos gestores
também é um fator que contribui negativamente”.
Quando cada um não assume o seu papel, sobrecarrega os outros profissionais
da escola, o problema às vezes, é o caderno ou lápis que não tem, se faltar merenda é
muito pior, a violência que está do outro lado do muro da escola, e ainda falta a
motivação e o compromisso de alguns educadores.
A E4 diz: “Professora, eu preciso de acompanhamento pedagógico
frequentemente, pois muitas vezes eu me sinto sozinha, cada vez se torna mais difícil
manter os alunos na escola”.
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Percebo que, a escola parece não ter muito a oferecer aos alunos de Eja, por isso
fica complicado mantê-los frequentando as aulas, a permanência destes depende de
inúmeros fatores, uma gestão participativa e democrática, a valorização salarial e a
formação de profissionais da educação para lidar com o público jovem e adulto, a própria
estrutura física da escola, questões econômicas, sociais. Os adultos quando voltam para
a escola tem perspectivas claras sobre o porquê desse retorno, a escola precisa fazer o
seu papel de motivar e reavivar o interesse pelos estudos, e o educador (a) como peça
essencial para contribuir nesse processo, a sua prática deve refletir na sala de aula, na
vida dos alunos e principalmente na formação desses sujeitos, pois, quando as condições
são favoráveis aos educandos à permanência com sucesso é possível.
Paulo Freire diz que a partir do saber principal de que mudar é difícil mas é
possível, planejamos nossas ações, tanto políticas, quanto pedagógicas, não interessa a
causa que nos comprometemos seja ela alfabetização de adultos ou de crianças.
(FREIRE, 1996 p. 88)
Quando perguntei sobre o papel do professor ou do coordenador pedagógico, a
E3 me relata muito segura: “o professor deve conhecer a realidade dos alunos e interagir
com eles, incentivar a participação destes nas aulas, ser o mediador do conhecimento e
também planejar aulas dinâmicas e interdisciplinares”.
Um ponto bastante enfatizado foi trabalhar coletivamente, colocado pelas E1 e E2,
assim como, buscar novas metodologias de aprendizagem, ajudar alunos e professores a
enfrentar e superar as dificuldades.
Quanto à formação continuada, as professoras afirmam que, as formações são
extremamente necessárias e que estas são momentos de auto avaliação, de troca de
experiências que certamente enriquecerá sua prática em sala de aula. E questionavam
que, os cursos, oficinas ou seminários oferecidos não são específicos para educadores
de jovens e adultos, enfatizando que não deve mais existir a visão de que se pode utilizar
a mesma metodologia para adultos e crianças. Na entrevista a E3 disse: “os adultos são
‘difíceis de enganar’, o professor tem que ter ‘jogo de cintura’, estes alunos são diferentes
das crianças, tem visão de mundo, conhecem a realidade e se a professora não estiver
segura perde toda a credibilidade e eles não voltam mais para a escola”. (Entrevista no
dia 16/12/2009).
Fazendo uma avaliação da educação como um todo, percebemos que não é fácil
mudar, transformar a sociedade, por isso devemos começar por nós, essa mudança
precisa partir de mim, enquanto educadora, como posso contagiar meus alunos a lutar
por seus direitos se não faço isso, as nossas ações contribuem muito para a tomada de
consciência dos sujeitos.
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“Como professor não me é possível ajudar o educando a superar suaignorância se não supero permanentemente a minha. Não posso ensinaro que não sei. Mas, este, repito, não é saber de que apenas devo falar efalar com palavras que o vento leva . É saber, pelo contrário, que devoviver concretamente com os educandos. O melhor discurso sobre ele é oexercício de sua prática”. (FREIRE, 1996 p. 107)
Um belo discurso não vale à pena se o educador não tiver comprometimento com
a educação, com o bom desenvolvimento do seu trabalho, quando consegue ultrapassar
os seus obstáculos, e tem uma prática coerente, possui condições de transformar
positivamente o espaço escolar e consequentemente os educandos.
6 – Considerações Finais
Temos um grande desafio que é a formação de professores e coordenadores que
atuam na Educação de Jovens e Adultos, o investimento nesta modalidade ainda é pouco
expressivo e as iniciativas dos sistemas na formação continuada de educadores das
redes públicas de ensino são insuficientes. Porém, com o envolvimento dos movimentos
sociais que, nas últimas décadas, disseminaram a consciência sobre os direitos
humanos, sociais, culturais e ambientais foi apontado para uma nova configuração da
EJA como um campo específico de direitos e de responsabilidades políticas e
educacionais, no entanto, ainda falta muito a se feito, mas já estamos trilhando esses
caminhos.
O educador neste contexto é aquele que está em contato com os sujeitos, que
contribui para a formação de cidadãos, de homens transformadores, críticos e
construtores de uma sociedade mais justa, participativa e democrática. Mudar é papel de
todos, somos responsáveis pelo processo de mudança, mas, exige diálogo, trabalho
coletivo, trocar experiências e respeitar as diferenças. A escola precisa ser um espaço de
conscientização, e esta tem uma relação dialética com a sociedade, pois se por um lado
reproduz, por outro transforma, estes processos são simultâneos, as práticas dos
educadores também se mostram dialéticas e certamente, todos os atores envolvidos no
processo educacional podem protagonizar as mudanças.
A EJA, na medida em que afirma a igualdade de todos como sujeitos de direitos,
nega a forma de pensar de que uns valem mais do que outros, enfrentando as
desigualdades como desafios a serem superados pela sociedade brasileira.
Para finalizar gostaria de citar Paulo Freire quando ele diz que: “Ninguém pode
estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso estar no
mundo de luvas nas mãos constatando apenas”. É preciso que os sujeitos se envolvam
no processo de mudança, de construção de uma educação de qualidade. E adiante
Freire questiona: “Que é mesmo a minha neutralidade senão a maneira cômoda, talvez,
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mas hipócrita, de esconder minha opção ou meu medo de acusar a injustiça? “Lavar as
mãos” em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele”. (FREIRE,
1996. p. 86 e 126).
O educador precisa acreditar na mudança e contribuir no processo de formação
dos indivíduos, para que eles exerçam plenamente seus direitos e lutem por políticas que
atendam as necessidades do coletivo. O agente de transformação social é aquele é
aquele que participa se envolve nas ações da escola e da comunidade, que desenvolve
seu trabalho com comprometimento, que relaciona a sala de aula, os conteúdos com a
realidade vivenciada pelo jovem e adulto. A escola sempre ganha quando consegue
estabelecer relações entre os novos conhecimentos e aqueles que os alunos trazem.
REFERÊNCIAS
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GRALE - Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos, 2008.
SOARES, Leôncio José Gomes. A educação de jovens e adultos: momentos históricos edesafios atuais. Revista Presença Pedagógica, v.2, nº11, Dimensão, set/out 1996.
Mestranda em Educação, Linha de Formação de Professores: Programa de Pós Graduação emEducação pela Universidade Federal do Pará –PPGED/UFPA. Especialista em PsicologiaEducacional com Ênfase em Psicopedagogia Preventiva e Especialista em Educação do Campo,Desenvolvimento e Sustentabilidade. Professora da Educação Básica da Rede Municipal de Ensinoem Igarapé-Miri/PA (SEMED) e Técnica em Educação da Secretaria Estadual de Educação do Pará(SEDUC). E-mail:josi.quaresma@hotmail.com
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