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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
REFLEXÃO SOBRE O USO DE CONTOS DE HUMOR
NO DESENVOLVIMENTO DA COMPREENSÁO LEITORA E DA
PRODUÇÃO TEXTUAL
Clediane Aparecida Ferreira dos Santos1
Greice da Silva Castela2
Resumo
O presente artigo objetiva apresentar o resultado de um trabalho desenvolvido
durante o Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná –
PDE. Durante os períodos inseridos nesse programa realizamos leituras de
variados estudiosos que se dedicam a questões acerca do ensino da leitura,
sobretudo quanto ao uso de estratégias de leitura, com a finalidade de
melhorar a compreensão leitora, a produção textual e a oralidade dos alunos,
ou seja, o nível de letramento de nossos educandos. Assim, o intuito é
apresentar o trabalho realizado com duas oitavas séries do Ensino
Fundamental, período matutino do Colégio Estadual Padre Anchieta da rede
estadual de ensino em Salgado Filho, PR, a fim de desenvolver nos estudantes
estratégias de leitura para ampliar sua compreensão leitora. Para isso, foi
utilizada a produção didático-pedagógica denominada “Contos de humor como
instrumento para desenvolver a compreensão leitora e a produção textual”. O
gênero textual abordado nesse material levou alunos e a professora à reflexão
e discussão em relação a questões culturais, sociais e comportamentais;
conheceram também estratégias de leitura e fizeram uso delas para auxiliá-los
na compreensão, reflexão e interação dos textos lidos, ouvidos e produzidos,
criticidade em relação aos mesmos e consequentemente produção escrita
reflexiva, crítica, criativa e desenvolvimento da oralidade.
Palavras-chave: contos de humor, leitura, escrita.
1 Professora PDE. Email: cledianesantos@seed.pr.gov.br
2 Orientadora PDE. Professora Adjunta na UNIOESTE – campus Cascavel. Professora do
Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) e do mestrado em Letras (PPGL) na
UNIOESTE. Email: greicecastela@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
Diante de tantas preocupações, discussões e teorias relacionadas ao
ensino e à aprendizagem da leitura e escrita; por meio deste artigo que conclui
a nossa participação no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional
dedicamo-nos à leitura de teóricos que abordam em suas obras questões
referentes ao ensino da leitura e, principalmente, ao uso de estratégias de
leitura. Assim, o objetivo é apresentar o trabalho realizado com duas oitavas
séries do Ensino Fundamental no período matutino do Colégio Estadual Padre
Anchieta da rede estadual de ensino em Salgado Filho, PR, a fim de
desenvolver de maneira efetiva nos estudantes estratégias de leitura com o
propósito de melhorar o nível de letramento, no que tange a compreensão
leitora, a produção textual e a oralidade.
Há dificuldades encontradas em relação à leitura e à escrita por parte de
todo professor, aqui me restrinjo ao de Língua Portuguesa, que seu trabalho é
ainda mais árduo no sentido de mediador do desenvolvimento para ampliar o
nível de letramento dos educandos.
Percebe-se a falta de motivação dos estudantes em relação a
determinadas leituras que poderiam levá-los a melhorar seu nível de
compreensão leitora, reflexão (criticidade e criatividade) e escrita. O problema
encontra-se desde a leitura de um mero enunciado em que se pode perceber
que o aluno decodifica, porém não compreende e, portanto, não é capaz de
resolver a atividade, até a capacidade de ler, ou seja, pouco compreender
pequenos ou grandes textos de variados gêneros textuais.
Assim, o intuito do nosso trabalho foi produzir um material-didático que
abordasse a prática da leitura, pois precisamos transformar nossos alunos em
leitores autônomos “capazes de aprender a partir dos textos” (SOLÉ, 1998,
p.72). Por isso visamos, por ser uma de nossas inquietações, ajudá-los a
adquirir essa autonomia através de estratégias de compreensão leitora.
Com o objetivo de melhorar o nível de letramento dos alunos, buscando
sanar deficiências em leitura, compreensão e produção textual elaboramos e
aplicamos a produção didático-pedagógica: “Contos de humor como
instrumento para desenvolver a compreensão leitora e a produção textual”, na
qual trabalhamos diversificados contos, envolvendo a diversidade cultural e
críticas e reflexões em relação à realidade que nos cerca. Em todas as
atividades realizadas a partir desse gênero textual, procuramos ensinar aos
alunos estratégias que os auxiliassem na compreensão dos textos, na
produção escrita e na oralidade.
Visando socializar a pesquisa teórica abordada neste trabalho e relatar a
metodologia utilizada na sala de aula e seus resultados, dividimos este artigo
nos seguintes passos: relevância da leitura, texto, leitor e interação social,
contos de humor, produção de texto, elaboração do material didático, relato
sobre a implementação, considerações finais e referências bibliográficas.
RELEVÂNCIA DA LEITURA
A prática da leitura é o elemento central em torno do qual devem ser
pensadas, repensadas e organizadas estratégias de trabalho em sala de aula.
Fazer com que o aluno leia e entenda o que lê é um dos maiores desafios da
escola, pois “a aquisição da leitura é imprescindível para agir com autonomia
nas sociedades letradas, e ela provoca uma desvantagem profunda nas
pessoas que não conseguem realizar essa aprendizagem” (SOLÉ, 1998, p.32).
A leitura tornou-se um poderoso instrumento e, é através dela que o ser
humano apropria-se de conhecimentos relativos ao mundo exterior.
Considerando o fato de o sistema educacional ser acessível a todos os
cidadãos, não deveria haver analfabetismo, entretanto percebe-se que o índice
é altíssimo. E essa realidade agrava-se ainda mais quando acrescentamos a
ela os dados relativos ao número de “analfabetos funcionais”, pessoas que,
apesar de terem frequentado a escola possuem um nível de letramento que
não lhes permite utilizar de forma autônoma a leitura e a escrita nas relações
sociais, pois leem, porém não são capazes de compreender o texto lido.
O termo letramento no sentido atribuído pelos estudos científicos hoje, faz referência a algo que é mais amplo e mais complexo do que aquilo que chamamos de alfabetização no Brasil; em outras palavras faz referência a práticas relacionadas à leitura e à escrita que são \próprias de cada sociedade, de cada grupo social e de cada época, de cada momento histórico. Ou seja, diferentes sociedades e diferentes grupos sociais, em um mesmo momento histórico, podem estar associados a diferentes práticas e eventos de letramento, o que também ocorre, em uma mesma sociedade, em diferentes momentos históricos (SILVEIRA et al, 2012, p.69).
Na Educação Fundamental, a leitura e a escrita são fundamentais, por
isso espera-se que os alunos leiam e entendam textos adequados para sua
idade, bem como consigam exprimir opiniões próprias sobre o que leram. À
medida que se progride na escolaridade, a diversidade de gêneros textuais
deve se diversificar, bem como a complexidade aumentar, posto que, a leitura
é um dos meios mais importantes na escola para a consecução de novas
aprendizagens.
A leitura é um objeto de conhecimento em si mesmo e um instrumento
necessário para a realização de novas aprendizagens. Então, a escola, torna-
se um espaço privilegiado para a prática da leitura e “o único reduto onde a
leitura ainda tem a chance de ser desenvolvida é a escola. O fracasso da
escola nessa área significa a morte dos leitores através dos mecanismos de
repetência, evasão, desgosto e ou frustração (SILVA, 2005, p.7).
Espera-se sempre que os alunos consigam ler textos adequados para a
sua idade de forma autônoma, que tenham preferências na leitura e que
possam exprimir opiniões próprias sobre o que leram. Dessa forma,
A leitura é um processo de criação e descoberta, dirigido ou guiado pelos olhos perspicazes do escritor. De fato, por trabalhar duplamente a linguagem e os aspectos da vida social, entrecalando-os na imaginação, o escritor faz ver, ilumina, conduz o seu leitor a esferas mais amplas e profundas de percepção (SILVA, 2005, p. 6).
Por isso a leitura é fundamental para a inserção do ser humano na
sociedade e, é a partir dela, que o homem terá acesso às informações para
então interagir com diferentes textos e contextos, tornando-se fluente e crítico.
Uma boa leitura, segundo Silva “é aquela que, depois de terminada gera
conhecimentos, propõe atividades e analisa valores, aguçando, adensando,
refinando os modos de perceber e sentir a vida por parte do leitor” (SILVA,
2005, p.6).
Ler é dar significado ao texto. Para ler o leitor deve ativar o seu
conhecimento prévio, isto é, pensar sobre o que já sabe sobre o assunto em
questão. O leitor também pode levantar hipóteses, formular perguntas, verificar
se elas se confirmam com a leitura, também pode verificar se compreende o
que está lendo e observar as informações mais relevantes em cada parágrafo.
Nesse sentido Roman e Castela mencionam,
Após a leitura pode-se realizar um resumo, reescrevendo o texto de forma mais concisa, contendo apenas o que foi relevante. Formular perguntas e respostas que ajudam na compreensão, tornando o processo de leitura mais eficaz, pois compreendendo o que se lê, você provoca mudanças em si mesmo e no que está ao seu redor (ROMAN e CASTELA, 2011, p.01).
A falta de leitura é tema frequente nos meios educacionais e, para que
os resultados se tornem satisfatórios, “Precisamos transformar nossos alunos
em leitores autônomos, capazes de aprender a partir do que leem” (ROMAN E
CASTELA, 2011, p.02). Ler com compreensão, fazer inferências, reconhecer
diferentes gêneros textuais e identificar suas características, favorece e orienta
o leitor diante do texto. Resumir, explicar, discutir e avaliar um texto requer tê-lo
compreendido e então, a escrita, surge automaticamente. Nesse contexto as
mesmas autoras abordam que,
O ler e o escrever são uma preocupação desde as civilizações antigas, pois significavam ter uma boa educação, com o objetivo de desenvolver no indivíduo capacidades intelectuais, espirituais e até mesmo físicas, tornando-o um cidadão que faz parte da sociedade. No entanto, isso era para poucos e a abordagem tradicional abarcava a decodificação, o soletrar e a memorização. (ROMAN e CASTELA, 2011, p. 03)
Tanto hoje como antigamente, a sociedade requer do cidadão, muito
mais do que um mero conhecimento das “primeiras letras”, quer um cidadão
competente na leitura, oralidade e escrita, capaz de produzir textos orais e
escritos de modo a atender a múltiplas demandas sociais. Os educadores
devem ter uma postura de preocupação para que sua prática não seja formal e
mecânica, mas sim uma busca de conhecimentos, uma interação entre o texto,
o leitor e o contexto. Na concepção interacional de leitura, o leitor deixa de ser
passivo e começa realmente a participar do processo de leitura. Leffa defende
que,
A leitura não é um ato solitário, mas coletivo, exercido dentro de uma comunidade que tem suas regras e convenções. Ler é um verbo de valência múltipla: não se lê apenas adverbialmente, mas também direta e indiretamente, de modo acusativo e ablativo. Isto é, o leitor não lê muito ou pouco: ele lê algo com alguém e para alguém (LEFFA, 1999, p.34)
Dessa forma há interação e cumplicidade entre texto/leitor/contexto. A
prática de leitura é um ato dialógico, é um processo de interação do texto com
o leitor. O leitor não pode simplesmente ler e aceitar o que está escrito, mas
sim construir novos significados diante da escrita do outro. Precisa ser capaz
de estabelecer relações entre elementos de próprio texto e entre este e a
realidade social a que o tema faz referência. É o que consta também nos
Parâmetros Curriculares Nacionais,
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que se sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (BRASIL, 1998, p.69)
A leitura, de acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa
é compreendida como: “um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas
sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de
determinado momento” (PARANÁ, 2008, p.56). São várias as vozes que a
constituem, experiências, conhecimentos prévios, formação familiar, religiosa,
cultural, entre outros, por isso “No ato da leitura, um texto leva a outro e orienta
para uma política de singularização do leitor que, convocado pelo texto,
participa da elaboração dos significados, confrontando-o com o próprio saber,
com a sua experiência de vida” (PARANÁ, 2008, p.57).
Ler é estar em contato com variados gêneros textuais produzidos em
diversas esferas sociais e, no ato da leitura, deve-se considerar também as
linguagens não-verbais, bem como levar o aluno a atribuir sentidos a sua
leitura, objetivando um sujeito crítico e atuante nas práticas de letramento da
sociedade, com condições de se posicionar diante do que lê.
É imprescindível que o aluno tenha acesso a diferentes gêneros textuais,
pois no seu cotidiano estará em contato com uma diversidade de textos, com
diferentes estruturas, intencionalidades, temas e informações, dado que, leitura
e escrita fazem parte de nosso cotidiano. Quando o aluno faz uso da leitura,
seja ela de textos verbais ou não-verbais, informativos, ficcionais, científicos,
poéticos, entre outros, certamente apresentará maior clareza e coerência na
exposição das ideias, por isso a leitura constante instigará o aluno a elaborar
seu pensamento, sua forma de falar ou escrever sobre assuntos diversos.
Nesse processo o encaminhamento metodológico realizado pelo professor é
muito relevante. Cremos que,
O hábito da leitura é criado a partir de estímulos em idade adequada e a forma como esta é trabalhada colabora muito para se criar uma geração habituada a ler, que certamente, terá uma linguagem muito mais ampla e valiosa, fazendo parte de uma sociedade onde poderá participar e argumentar (SOARES, 2001, p.78).
A leitura, compreensão e interpretação não é tarefa única e exclusiva do
professor de língua materna, e sim de todos os profissionais da educação.
Todos os professores precisam auxiliar os alunos a serem leitores autônomos e
isso é possível por meio de estratégias de leitura. Para Solé “as estratégias
são procedimentos de caráter elevado, que envolvem a presença de objetivos
a serem realizados, o planejamento das ações que se desencadeiam para
atingi-los, assim como sua avaliação e possível mudança.”(SOLÉ, 1998, p.69)
As estratégias podem ser ensinadas, porém não podem ser vistas como
técnicas precisas. Segundo a autora é necessário que os alunos saibam utilizar
as estratégias adequadas para a compreensão do texto. É imprescindível que o
professor use métodos e técnicas diferenciadas, planeje cuidadosamente as
atividades, para que seus alunos pensem, busquem, interajam, pesquisem e
principalmente aprendam.
Faz-se necessário oferecer ao aluno contato com textos de gêneros
diferentes para que ele perceba que o texto foi produzido por alguém com uma
determinada intenção, possui linguagem, leitor específico e organização
específica. “O aluno para ser um leitor ativo que compreende o que lê deve
observar as características do texto: organização, gênero, marcas, ilustrações;
deve, principalmente, perceber se está ou não compreendendo o que lê”
(ROMAN e CASTELA, 2011, p. 09).
Por inúmeros motivos, muitas crianças não têm contato com a leitura de
qualidade e com eleitores eficientes. Então, a escola, passa a ser, o único
vínculo de interação dessas crianças com os textos. Para que a prática de
leitura seja eficiente, há que se considerar inúmeros fatores, como por
exemplo, o conhecimento de mundo, os conhecimentos linguísticos e a
situação comunicativa que ela traz para a escola. É importante que o professor
realize atividades que propiciem a reflexão e a discussão e que ele também se
mostre como um leitor assíduo e crítico diante daquilo que lê.
A escolha dos textos a serem trabalhados em sala, pelo docente, não
deve ser aleatória, mas contemplar objetivos concretos, começando por textos
curtos e simples e, gradativamente aumentar o nível de complexidade. É
importante que o professor, a princípio, atenda as expectativas de seus alunos,
levando em consideração o gosto e a sugestão de leituras. Sobre isso, afirmam
as DCEs:
o contexto da sala de aula, as experiências de leitura dos alunos, os horizontes de expectativas deles e as sugestões sobre textos que gostariam de ler, para, então, oferecer textos cada vez mais complexos, que possibilitem ampliar as leituras dos educandos (PARANÁ, 2008, p.74).
TEXTO, LEITOR E INTERAÇÃO SOCIAL
Há uma estreita relação entre o texto, o leitor e o contexto; sendo que o
leitor é o elo construtor dos significados construídos a partir de seu contexto e
também do texto. Leffa (1999) faz um panorama das concepções de leitura
considerando três grandes perspectivas: a do texto, a do leitor e a da interação
entre texto – leitor - contexto. A seguir abordaremos cada uma delas.
No passado, a leitura era tratada na perspectiva do texto. Nos Estados
Unidos, nas décadas de 50 e 60, “buscava-se a invisibilidade do texto,
combatendo-se com rigor toda e qualquer opacidade. O que se queria era que
o texto fosse transparente, mostrando o conteúdo da maneira mais clara
possível” (LEFFA, 1999, p.16). E ainda, o mesmo autor salienta que:
ao tentar extirpar o texto de qualquer estranhamento, lexical ou sintático, visava-se não apenas deixá-lo transparente e cristalino para o leitor – qualquer leitor – mas partia-se também, do pressuposto de que o texto deveria ser processado na sua totalidade ( LEFFA, 1999, p.18)
A leitura era vista de modo passivo, onde tudo era importante, cada frase, cada
palavra. Os leitores, tanto os principiantes quanto os mais proficientes
processavam as mesmas palavras. Sobre isso era dito “quem tem um
vocabulário maior entende melhor um texto, ou seja, parece haver uma relação
de causa e efeito entre quantidade e qualidade; quanto maior o vocabulário
melhor a compreensão”. (LEFFA, 1999, p.2)
Embora o ensino do vocabulário devesse garantir uma melhor
compreensão do texto, isso nem sempre acontece. Inúmeros estudos já
realizados comprovam isso. Sabe-se que não é o vocabulário que melhora a
compreensão do texto, mas sim variáveis associadas a ele como, por exemplo,
a capacidade de identificar o contexto, acionar o conhecimento de mundo e
estabelecer conexões com diferentes partes do texto.
De acordo com Leffa: “o ato da leitura, na perspectiva do texto,
pressupõe que para haver compreensão é necessário que cada leitor, em cada
leitura, acione exatamente os mesmos significados na mesma variação de
possbilidades” (LEFFA, 1999, p.23). Entretanto, esse mesmo autor aborda que
isso não é verdadeiro e nem possível; uma vez que, não só leitores diferentes,
mas até o mesmo leitor em leituras e releituras do mesmo texto, pode acionar
diferentes significados.
Leffa (1999) também descreve a leitura na perspectiva do leitor. Nessa
concepção o sentido da leitura é construído de modo descendente, acionado
pelos conceitos, que envolvem conhecimentos linguísticos, textuais,
enciclopédicos e fatores afetivos. Diz ainda que: “é nas vivências do dia a dia
que o leitor vai construindo uma representação mental do mundo, resumindo,
agrupando e guardando o que acontece num arquivo mental chamado memória
episódica” (LEFFA, 1999, p.24). Essa memória é responsável pela construção
de sentido do texto.
Ler envolve a capacidade de avaliar e controlar a própria compreensão,
permitindo, a qualquer momento, intervenções e correções. Leffa assevera
que “o leitor proficiente sabe também que há estratégias adequadas e
inadequadas, dependendo dos objetivos de uma determinada leitura” (LEFFA,
1999, p.25). Os objetivos de uma leitura também variam muito. No entanto,
ninguém lê sem um objetivo, nem mesmo na escola, mesmo que muitas vezes
seja para obter nota.
A atividade da leitura só é possível na medida em que o leitor usa seu
conhecimento prévio para direcionar sua trajetória pelo texto, eliminando
antecipadamente as opções inválidas.
Quanto mais se avança num texto, mais exatamente pode-se prever o que vem a seguir, e quanto maior for nossa experiência geral de leitura maior será nossa capacidade de prever o que um texto pode conter, antes mesmo de iniciar sua leitura (LEFFA, 1999, p.26).
A preocupação do leitor proficiente vai além da análise linguística e da
classificação do texto em determinado gênero. O leitor proficiente também se
preocupa “em localizar a origem do texto, quem editou, quem escreveu,
quando foi publicado, para quem foi escrito e com que propósito, isso o ajuda a
fazer previsões” (LEFFA, 1999, p.27). Na perspectiva do leitor, a preocupação
maior é ver a leitura como processo, como algo que acontece na mente do
leitor, opondo-se à leitura vista como produto, resultado obtido.
Por isso o leitor é visto como construtor do significado e tem o poder de
atribuir o significado que lhe aprouver. “Não há significado certo ou errado, há
apenas o significado do leitor” (LEFFA, 1999, p.28).
A leitura pode também ser vista não apenas como uma atividade mental,
mas como uma atividade social, com ênfase na presença do leitor. Assim, “ler
deixa de ser uma atividade individual para ser um comportamento social, onde
o significado não está nem no texto nem no leitor, mas nas convenções de
interação social em que ocorre o ato da leitura” (LEFFA, 1999, p.30).
A leitura deve ser vista como uma atividade social, com ênfase na
presença do outro. Como comportamento social, pode excluir o leitor,
considerando que um texto exige pré-requisitos que a própria escola e a
sociedade sonegaram a determinados alunos. Nesse contexto, o aluno pode se
tornar um excluído, pois não consegue se inserir como consumidor de texto.
É preciso que o leitor tenha a competência necessária para não dar ao
texto lido uma interpretação equivocada. Nesse sentido, a leitura não é um ato
solitário, mas coletivo, que acontece dentro de uma comunidade que tem suas
regras e convenções. O leitor lê algo com alguém e para alguém, com o
objetivo de atribuir sentido dentro de um contexto.
CONTOS DE HUMOR
O conto é um gênero textual que acompanha a história de vida de cada
um e é um instrumento muito rico de trabalho em sala de aula. São escritos de
muitas maneiras e falam de diferentes temas. Suas narrativas podem ser
buscadas tanto na fantasia quanto nos fatos do nosso dia a dia. Assim, ficção e
realidade podem ser somadas para a produção de um conto.
Lendo contos de humor, os educandos podem adquirir gosto pela leitura
e produção textual e, consequentemente, buscarem outros gêneros para ler por
conta própria. Cabe ao professor conduzir o jovem leitor para desenvolver
intimidade com o texto até que ele adquira, através do hábito, o perfil de leitor
experiente e, junto com essa conquista, vem uma série de outras, como
produzir textos com coerência e coesão.
O humor na linguagem resulta de desvios em determinados padrões
semânticos, estruturais e de pensamento para revelar o ridículo ou o absurdo
que há em pessoas, fatos ou situações. O humor torna nossa vida mais fácil,
prazerosa e aventureira, assim nos ocorre com a leitura de textos de humor
que podem nos proporcionar grandes alegrias, novas visões, críticas,
criatividade e nos transformar em leitores assíduos e ativos.
Textos de humor além de poderem nos levar a incorporar o hábito da
leitura em nosso cotidiano, também podem se apresentar como um caminho
para encurtar a distância cultural cada vez maior existente entre as gerações
de professores e de alunos melhorando as relações interpessoais da sala de
aula, contribuindo para uma efetiva aprendizagem. Favorece o diálogo,
promove vínculos e, principalmente, humaniza o relacionamento.
PRODUÇÃO DE TEXTO
Para oportunizar a socialização das produções textuais, o professor
pode utilizar-se de variadas estratégias, como: afixar os textos dos alunos no
mural da escola, publicá-los na internet, no jornal, site ou facebook da escola,
enviar cartas do leitor para determinado jornal, produzir blog, publicar um livro
em forma de uma coletânea de textos de alunos e professor, etc.
De acordo com Leffa, “não podemos perceber a língua se ela não estiver
sendo usada por alguém em algum tipo de interação com o outro. A língua é
um objeto naturalmente complexo que reveste e é revestida por toda e
qualquer prática social” (LEFFA, 1999, p. 391). Nossa língua deve ser vista
dentro do sistema comunicativo que a constitui, ou seja, como prática social,
como objeto de uso, em momento de interação com o outro.
Muitas vezes “a situação de emprego da língua é, pois, artificial. Afinal,
qual a graça em escrever um texto que não será lido por ninguém ou que será
lido apenas por uma pessoa (que por sinal corrigirá o texto e dará nota para
ele)?” (GERALDI, 2004, p.65). Isso ocorre no decorrer da prática pedagógica
de muitos professores de Língua Portuguesa, somente o professor lê os textos,
quando os lê, os alunos os recebem corrigidos e com sugestões, entretanto
não os reescrevem, podendo melhorá-los, simplesmente os atiram ao cesto de
lixo.
Como preconizam as DCEs, “É desejável que as atividades com a
escrita se realizem de modo interlocutivo, que elas possam relacionar o dizer
escrito às circunstâncias de sua produção” (PARANÁ, 2008, p.69). Isso requer
que o produtor do texto assuma o papel de locutor do mesmo, tendo o que
dizer, razão para dizer, como dizer e interlocutores para quem dizer, a partir da
proposta de produção textual elaborada e mediada pelo professor. Quiçá,
dessa forma os alunos sintam-se mais motivados para escrever e reescrever
seus textos.
Atualmente é consenso entre linguistas e professores de língua de que o
ensino dessa deve ocorrer através de textos, “recurso fundamental para
atividades em língua portuguesa, já que sem o texto não é possível estudá-lo.
E sem estudar textos, ninguém aprende a produzi-los...” (GERALDI, 2014, p.
73), dado ao fato das inúmeras possibilidades de exploração linguística e
consequente aprendizagem para produções textuais. Entretanto “nem por isso
deve-se imaginar que o trabalho com o texto tenha virtudes imanentes naturais,
a ponto de tornar uma espécie de panaceia geral para todos os problemas de
língua” (MARCUSCHI, 2008, p.52).
Por meio de textos podemos perceber que a língua com o passar dos
tempos, se modifica consideravelmente, inclusive na escrita, ou seja, ela não é
estanque. E ao mostrar isso para nosso aluno já nos abre um grande leque de
possibilidades de trabalho com o texto.
Ensinar o funcionamento da língua por meio de variados gêneros de
textos orais e escritos, de escritores renomados ou deles mesmos (amadores)
através da reescrita e refacção textual, sobretudo em conjunto, auxilia muito
nossos educandos, leitores e escritores em formação, a melhorar suas
produções textuais.
A escrita precisa ser trabalhada de forma contextualizada, mediada, e
não como um simples exercício utilizado como forma de preencher o tempo
escolar e que venha contribuir para enfatizar o fato de que muitos não sabem
escrever, e que a escrita é privilégio de alguns. É preciso considerar que
“Durante a produção de texto, o estudante aumenta seu universo referencial e
aprimora sua competência de escrita, apreende as exigências dessa
manifestação linguística e o seu sistema de organização próprio” (PARANÁ,
2008, p. 71).
ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO
Considerando o pressuposto apontado nas Diretrizes Curriculares do
Estado do Paraná onde consta que para “o processo de ensino-aprendizagem,
é importante ter claro que quanto maior o contato com a linguagem, nas
diferentes esferas sociais, mais possibilidades se tem de entender o texto, seus
sentidos, suas intenções e visões de mundo” (PARANÁ, 2008, p.55). Elaborou-
se uma unidade didática com o intuito de possibilitar aos professores de oitavo
ano do ensino fundamental um roteiro de exploração didática de leitura, escrita
e oralidade por meio de uma seleção de alguns contos de humor dos autores
Stanislaw Ponte Preta, Luís da Câmara Cascudo, Paulo Mendes Campos,
Fernando Sabino, Luís Fernando Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade.
Cabe aqui ressaltar também, que além desses contistas, muitos outros
também foram lidos e pesquisados por meio de suas biografias, seus livros e
textos a partir de pesquisas na biblioteca e na internet. Com a finalidade de
levar os alunos ao conhecimento de uma boa quantidade de escritores e textos
fictícios, oportunizando possibilidades de novas experiências a partir de leituras
e sua compreensão oral e escrita.
Temos várias metas que pretendemos atingir com esse trabalho a partir
de contos de humor, exemplo disso é fazer uma relação da ficção com a
realidade; levando o aluno, leitor em formação, a perceber que esses meios
estão geralmente interligados, sobretudo em seu contexto, e que muitas vezes
também existe a intertextualidade (no decorrer de minha implementação
mencionei e mostrei para os alunos essa relação coma realidade e com a
intertextualidade). Nesse âmbito acreditamos que esses textos possam
contribuir para uma melhor compreensão daquilo que se lê, bem como, auxiliar
para o desenvolvimento de uma postura crítica frente às ideologias e valores
presentes em nossa sociedade.
Muitas produções escritas (contos, crônicas, piadas) que foram lidas,
ouvidas e produzidas contêm humor, criatividade, criticidade e
intertextualidade, bem como possuem também estreita relação com o cotidiano
de nossos educandos. Pensamos que dessa forma, por serem leituras
prazerosas possam colaborar para o desenvolvimento da criticidade,
criatividade e compreensão leitora (oral e escrita) de nossos educandos.
Pensando no fato de que muitas de nossas metodologias no ensino de
nossa língua materna tendem a formar leitores com apenas capacidades mais
básicas de leitura, relacionadas à extração simples de informação de textos
relativamente simples. E que a dificuldade que a escola e, principalmente, o
professor de Língua Portuguesa enfrenta no que se refere ao ensino de leitura,
em tornar o aluno um leitor de variados gêneros textuais, não medimos
esforços em levar para os educandos uma gama de textos que os levaram a
pesquisar mais textos, vocábulos desconhecidos e se tornarem críticos em
relação aos textos que tiveram acesso.
E provavelmente a partir desse trabalho minucioso realizado por meio de
diferentes estratégias de leitura nossos alunos serão leitores diferenciados,
mais reflexivos e exigentes no tocante à busca de conhecimento, bem como
leitura-prazer.
Quando se ensina as crianças a ler diferentes tipos de textos, também lhes ensinamos que em alguns deles, a leitura é que vai ajudá-las a entender e oferecerá novas informações sobre o tema que a motivou. Elas aprendem então que, embora em um primeiro
momento não saibam o que significam determinadas palavras, conhecerão seu significado mediante a leitura (SOLÈ,1998, p.130).
Nesse sentido, sabemos que reler o texto, muitas vezes, é a melhor
estratégia para haver uma compreensão adequada diante daquilo que se lê,
posto que não corta o ritmo da leitura nem a interrompe a fim de pesquisar ou
perguntar sobre vocabulário desconhecido, o próprio contexto auxilia para uma
melhor compreensão.
Para o desenvolvimento desse trabalho, partimos do pressuposto de que
o prazer proporcionado pelas leituras que oportunizamos aos alunos viesse a
encantar esses leitores (em nossa concepção conseguimos atingir esse
objetivo, entre outros), pois acredito que um professor que lê e é apaixonado
por leitura consegue motivar os seus alunos passando esse encantamento aos
mesmos. “Para formar leitores devemos ter paixão pela leitura” (Kleiman, 2000,
p. 15).
RELATO SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO
A implementação ocorreu com os 8ºs anos A e B do Ensino
Fundamental, matutino no Colégio Estadual Padre Anchieta- Ensino
Fundamental e Médio, totalizando 46 alunos. O trabalho foi realizado durante
os meses de março a junho de 2014, utilizando quatro aulas semanais,
totalizando trinta e duas aulas.
Quando se iniciou o primeiro semestre de 2014, os alunos dos 8º A e
8ºB (matutino) foram informados sobre o projeto e de como seu
desenvolvimento aconteceria. Após trinta dias de convivência, demos início ao
trabalho utilizando a produção didático-pedagógica “Contos de humor como
instrumento para desenvolver a compreensão leitora e a produção textual”.
A primeira ação foi a apresentação da unidade didática em slides
mencionando para os alunos o que seria trabalhado e como ocorreria o
desenvolvimento da produção didático-pedagógica.
Fizemos uma justificativa do porquê da opção por um trabalho por meio
de estratégias de leitura, compreensão leitora e produção textual, abordando
teóricos que embasaram minha pesquisa para elaboração de meu projeto.
Percebemos que ficou bem claro para os alunos nossa concepção sobre
leitura, a convicção que tenho em relação à diferença que a mesma pode fazer
na vida de cada sujeito, bem como a importância de sermos capazes de ler,
entender, escrever, expor e argumentar (nos posicionarmos) acerca do que
lemos.
Mencionamos também o fato por ter feito a opção por trabalhar com
contos de humor, abordando que não é a questão do simplesmente riso pelo
riso, porém aquilo que o motivou a rir. Ou seja, para rir daquilo que lemos ou
ouvimos é necessário ter compreendido, e neste caso, às vezes é preciso ter
compreensão da realidade, de intertextualidade e criticidade.
Depois realizamos um breve debate sobre as seguintes questões: Quem
conhece alguma anedota? Se alguém gostaria de contar alguma para a turma?
(Ninguém contou, eu contei uma). Que textos vocês já leram ou ouviram e
acharam engraçados? Comentamos também que além de anedotas, há outros
textos que provocam o riso e o humor, por exemplo, crônicas, programas de
televisão (exemplos foram citados pela professora e pelos alunos), contos e
outros.
Em seguida realizamos a leitura do conto “A estranha passageira” de
Stanislaw Ponte Preta (que estava exposto no datashow e cada aluno dispunha
de uma cópia do mesmo em suas mãos). Explicações e comentários acerca do
mesmo e das atividades propostas ocorreram. Com o auxílio do dicionário, da
professora e de um colega que estava sentado ao seu lado, os alunos
puseram-se a responder às questões sugeridas.
Percebeu-se no decorrer destas atividades que os alunos tinham uma
dificuldade enorme de compreensão do texto, bem como em relação às
atividades propostas e consideramos isso desafiante.
Após a correção das atividades realizadas, propusemos a produção de
um pequeno conto narrando uma situação inusitada que ocorreu com alguém,
considerando (refletindo) o assunto do conto estudado “A estranha passageira”
de Stanislaw Ponte Preta.
Em grupos, o texto foi dramatizado, ensaiado e apresentado para a
turma. Pesquisou-se também, no laboratório de informática, a biografia do
autor Stanislaw Ponte Preta e outros textos do mesmo.
Continuando o trabalho, realizaram-se atividades de pré-leitura e em
seguida leitura do conto “O milagre” do mesmo autor que estava sendo
estudado. Percebemos novamente o quanto é grande a dificuldade de
compreensão em relação àquilo que eles leem, tanto alunos do 8º ano A
quanto 8º B, uma vez que pediram para que explicássemos o texto mais do
que duas vezes, em ambas as turmas. E no momento de desenvolver as
atividades de interpretação, uma mesma questão, às vezes, eu explicava até
três vezes, a pedido deles.
No decorrer da correção dessas atividades indagamos dos educandos
se conheciam ou já tinham ouvido falar sobre algum milagre ocorrido em sua
família ou com pessoas conhecidas ou desconhecidas. Foram vários relatos
comentados, a partir dos quais pedimos que registrassem no caderno algum
desses acontecimentos abordados ou outro que tivessem conhecimento. Foi
uma atividade prazerosa e empolgante realizada também com o auxílio do
dicionário sempre que necessário.
Na aula seguinte, iniciamos perguntando se alguém conhecia um
escritor denominado Luís da Câmara Cascudo. Os discentes disseram que
não. Comentamos um pouco acerca de sua biografia e falamos que o próximo
conto a ser trabalhado era de sua autoria “O caboclo, o padre e o estudante”.
Ao trabalhar esse conto o lemos de forma dramática com entonação
apropriada. Os alunos adoraram. Na aula seguinte explicamos as atividades
referentes ao texto em questão. Foram realizadas ainda com dificuldades de
compreensão e escrita.
Depois pedi para que se dividissem em grupos e encenassem o texto
estudado. Consideramos as apresentações, de um modo geral, bastante
criativas. Foi emocionante e animador.
Como proposta de produção textual, propusemos a seguinte atividade:
refletindo acerca do texto estudado, produza um pequeno conto envolvendo
situação semelhante ao texto lido, podendo ser essa verdadeira ou fictícia ou
até mesmo embasada numa anedota já lida ou ouvida.
Com as produções já realizadas, pedimos que os alunos lessem-nas em
voz alta para a turma.
Para dar continuidade ao trabalho, distribuímos uma cópia do texto
“Continho” de Paulo Mendes Campos. Fizemos perguntas orais de pré-leitura
acerca do texto, que foram prontamente respondidas pelos alunos. Então
realizamos uma leitura silenciosa do mesmo, explicamos o conto com suas
respectivas atividades e eles começaram a responder atividades de
interpretação. Percebemos mais facilidade de compreensão dessa vez.
Fizemos a correção das atividades propostas e a produção de um novo
conto de humor a partir daquele que havia sido estudado. Ao fazer a correção
desses textos, selecionamos dois, que após serem digitados, sem a
identificação de quem os escreveu, foram projetados no Datashow. Juntamente
com os alunos fizemos a refacção textual. Eram textos que apresentavam
vários problemas relacionados à concordância verbal e nominal, ortografia,
coerência e coesão. Foi uma atividade produtiva em que os alunos
participaram para reelaborar e melhorar os textos expostos.
A próxima ação foi trabalhar com atividades de pré-leitura sobre o tema
do conto “O homem nu”, de Fernando Sabino. Em seguida fez-se leitura
silenciosa do mesmo com reflexão e debate, sobretudo, da situação
constrangedora que o protagonista da história passou ao tentar se esconder do
cobrador da prestação da televisão. As atividades foram realizadas com o
auxílio do dicionário e da professora, sempre que solicitada. Após correção das
atividades, em dupla, os alunos produziram um novo (diferente) final para o
conto estudado. Em seguida foi feita a troca dos textos entre os alunos para
correções e sugestões, voltando os textos aos seus autores para
reestruturação, observando as correções e sugestões dos colegas. Foi uma
atividade trabalhosa, entretanto percebeu-se a empolgação dos alunos no
decorrer da mesma.
Dando continuidade às atividades, realizamos a leitura do conto “A
carta”, de Luís Fernando Veríssimo. Explicamos a mesma e as atividades que
seriam desenvolvidas: compreensão textual (e correção), produção de uma
carta digitada para alguém de quem goste, expressando seus sentimentos por
essa pessoa. Propusemos uma pesquisa sobre a biografia de Luís Fernando
Veríssimo, na qual deveria fazer a seleção de três fragmentos de obras com
seus respectivos títulos, mencionando o porquê fez tais escolhas (referente a
cada fragmento selecionado), selecionar um texto do mesmo autor para em
seguida escrever um comentário crítico em relação ao mesmo. Destacamos
aqui que muitos alunos selecionaram “O Brasil explicado em galinhas” do
referido autor. Essas atividades foram realizadas no laboratório de informática.
Terminado o trabalho referente a Luís Fernando Veríssimo, seus textos
e biografia, disponibilizamos aos alunos o conto “Vó caiu na piscina”, de Carlos
Drummond de Andrade. Primeiramente foi realizada leitura silenciosa do
mesmo, em seguida disponibilizamos o texto com suas atividades no
multimídia. Fizemos leitura e explicações acerca do texto e das atividades.
Realizamos diálogo em relação ao texto e a relação com nossos avós,
destacando diferenças referentes a vários aspectos, mencionando a
diversidade cultural, concepções e linguagem, etc.
Após correção das atividades de compreensão textual, individualmente
os alunos produziram um conto que poderia ser real ou fictício, engraçado ou
não abordando a relação deles com seus avós. Muitos desses textos foram
lidos em sala de aula para a turma. Alguns textos nos surpreenderam pela
criatividade e coerência.
No decorrer desses meses de aplicação da produção didático-
pedagógica, muitas e diversificadas leituras foram realizadas, no laboratório de
informática, na biblioteca e na sala de aula. E como trabalho de conclusão da
unidade didática orientamos os alunos para a contação de um conto de humor,
selecionado por eles, para a comunidade escolar. Elaboramos e enviamos um
convite para os pais para assistirem apresentação dos alunos. Todos nos
sentimentos satisfeitos com o resultado final desse longo e prazeroso trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho, inicialmente percebemos a enorme dificuldade de
nossos alunos em compreenderem aquilo que leem, interpretar enunciados de
questões, elaborar respostas de compreensão textual, tanto em relação ao que
está explícito quanto implícito no texto ou se posicionar criticamente. Bem
como em se expor na oralidade e nas produções textuais escritas.
No decorrer da aplicação da nossa produção didático-pedagógica,
verificamos que muitas dessas dificuldades que eram acentuadas no início,
posteriormente foram sendo amenizadas, não sanadas totalmente, pois cada
texto exposto para nossos alunos, quando ativam seus conhecimentos prévios
é sempre um novo desafio, em virtude de suas particularidades e níveis de
conhecimento (leitura), compreensão e experiência.
O professor de Língua Portuguesa precisa conhecer concepções e
estratégias de leitura variadas, pois o que se vê ainda é, muitas vezes, um
trabalho voltado apenas à localização de informações, em que cobra-se
somente o que está explicito no texto, sem considerar o implícito, o contexto e
a intertextualidade.
As aulas de leitura, oralidade e produção textual necessitam de
planejamento e escolha de textos adequados, criativos e instigantes. A leitura
precisa ser uma preocupação constante de todos os educadores, pois ler e
compreender o que se lê auxilia o aluno em todas as áreas e contribui
eficazmente para a formação de um cidadão autônomo e capaz de interagir
com criticidade no meio em que está inserido.
Ler, falar, escrever e compreender o mundo são habilidades
estritamente necessárias para a construção da cidadania. Nessa vertente é que
acreditamos que essa proposta de ação foi eficiente, visto que atrelamos a
teoria à prática, na tentativa de sanar ou pelo menos minimizar as dificuldades
que muitos alunos encontram em relação à leitura, à fala e à escrita.
O primeiro aspecto considerado foi reunir a teoria apresentada para
subsidiar o trabalho com leitura, escrita e oralidade à prática do professor
propondo atividades com textos literários, em especial com contos de humor e
aplicá-las em sequência de etapas.
O segundo aspecto refere-se à avaliação (análise, discussão, correção e
apresentação dos contos de humor desenvolvidos no decorrer do trabalho) dos
resultados das atividades desenvolvidas com os alunos, para verificar se
contribuíram para o desenvolvimento e estímulo do gosto pela leitura, escrita e
oralidade (interpretação, produção e contação de contos).
É preciso levar os jovens a criarem e a experimentarem diferentes e
diversificadas estratégias de leitura, oralidade e escrita, planejadas e
exploradas pelo professor, para enfrentarem as dificuldades encontradas,
despertando assim o interesse, o gosto e o hábito pelo fascinante mundo das
letras.
Dessa forma, o professor pode descobrir alternativas para incentivar e
ampliar as habilidades de fala, leitura e produção escrita críticas no aluno,
ampliando sua capacidade comunicativa e sua inserção social. Assim
acreditamos ter estimulado nosso aluno a ler, a falar, a escrever e a
compreender melhor o mundo em que vive com planejamento e pesquisas,
aliando teoria à prática, para ter resultados efetivos.
E temos convicção de que este deve ser um trabalho contínuo e que
podemos ter resultados cada vez melhores, desde que a leitura na concepção
interacionista seja considerada cotidianamente na sala de aula e o professor
usufrua de diversificadas estratégias de leitura e variados gêneros textuais
visando à formação de leitores e cidadãos autônomos.
REFERÊNCIAS
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