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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
1 Professora da Rede Estadual de Ensino, participante do PDE 2013, com formação em Letras: Português / Inglês pela UNICENTRO e com especialização em Metodologia do Ensino pela UEPG. E-mail adoniscristina@hotmail.com 2 Professora do Departamento de Letras Vernáculas da UEPG, orientadora do PDE 2013, doutora em Linguística pela Unicamp. E-mail pbosaleh@gmail.com
FÁBULAS: UM CAMINHO PARA A LEITURA E A SENSIBILIDADE
Adonis Cristina Bronguel¹
Pascoalina Bailon De Oliveira Saleh²
RESUMO Este artigo relata uma intervenção realizada em sala de aula que consistiu em propor um caminho para abordar, nas aulas de Língua Portuguesa, a responsabilidade social em relação aos animais abandonados. O material elaborado foi uma Unidade Temática realizada durante o segundo período do curso de capacitação PDE e aplicada em uma turma de 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Santo Antônio, no Município de Imbituva PR, envolvendo 32 alunos do período da tarde. A implementação das atividades aconteceu nos meses de fevereiro a abril do ano de dois mil e quatorze. Buscou-se desenvolver, através da leitura de fábulas e outros gêneros, atitudes de cooperação, respeito, dignidade, promovendo assim a tomada de consciência de que a ação individual ou em grupo pode fazer a diferença para a melhoria da sociedade e de que a leitura e a produção de texto têm um papel relevante nessa ação. Na perspectiva de uma estratégia de ação qualitativa com pesquisa exploratória realizada na comunidade, fundamentaram os estudos autores como: Silva, Zilberman, Marcuschi, Freire, Saviani, dentre outros. Durante o processo de implementação, os alunos passaram a demonstrar mais interesse pela leitura, aumentando assim o nível de letramento, que inclui o conhecimento sobre os gêneros; também ampliaram sua visão de mundo e desenvolveram valores importantes para a vida em sociedade. Palavras-chave: Leitura. Gêneros. Fábula. Responsabilidade social.
INTRODUÇÃO
A ideia de um trabalho de intervenção na comunidade envolvida com o
Colégio Estadual Santo Antônio, no Município de Imbituva, surgiu quando muitos
casos de maus-tratos e abandono começaram a ser postados no facebook por uma
ONG, denominada Amigos Leais, que existe na cidade do Paraná, conhecida como
a cidade das malhas. Um dos tristes casos postados na página da entidade foi a
história de uma família que queria se livrar de um cão que estava doente e bastante
velho. O cão foi amarrado atrás de um carro, arrastado por quilômetros e depois
preso em uma árvore debaixo de chuva e sol para que ali morresse. Os vizinhos
encontraram o cão e avisaram os Amigos Leais que o recolheram e medicaram e
mais tarde ele foi adotado.
Por meio das práticas de linguagem, buscou-se fazer com que os alunos e a
comunidade viessem a conhecer leis que protegem os animais e que também se
sensibilizassem por casos semelhantes ao já citado. E nesta tentativa de fazer com
que os animais sejam respeitados, as fábulas, cartazes e panfletos foram o caminho
para mostrar que a leitura é um elemento formativo importante que possibilita um
alargamento do exercício da cidadania proporcionando momentos de prazer,
distração, mas principalmente de conhecimento e participação ativa perante a
sociedade. Para Silva (2005, p. 24):
[...] a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade mais justa, democrática e feliz.
Portanto, este trabalho se justifica por propor o desafio de ensinar o aluno a
refletir, ou seja, fazer dele um leitor competente que compreenda o que lê e se torne
sujeito do conhecimento, de forma a contribuir para a formação de comportamentos
e motivar atitudes que o levem à reescrita e à produção de bons textos. Segundo as
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (DCEs/PARANÁ, 2008, p. 57) “O
aperfeiçoamento da escrita se faz a partir da produção de diferentes gêneros, por
meio das experiências sociais, tanto singular quanto coletivamente vividas”.
O que se pretendeu é que, ao ler e produzir textos de vários gêneros, o aluno,
além de mudar o seu comportamento, também tentasse mudar o das pessoas da
comunidade e percebesse os benefícios que a escrita traz, por ser um veículo que
auxilia na organização de ideias, na realização interpessoal, na propagação de
informações e relações sociais, que permite transportar o conhecimento para
lugares e épocas diferentes imortalizando pessoas e fatos históricos. Para isso,
durante as aulas foram desenvolvidas atividades que conduziram o aluno a:
_ Reconhecer as características de uma fábula e estabelecer diferenças e
semelhanças entre outros gêneros.
_ Despertar o interesse pela leitura e aumentar o nível de letramento,
praticando-a de forma agradável e prazerosa.
_ Favorecer o aspecto emocional a partir do confronto entre o mundo
imaginário com a realidade.
_ Aprofundar, por meio da leitura e escrita, a capacidade de pensamento
crítico, conforme necessidades sociais.
- Utilizar a linguagem escrita (leitura e produção de textos) em práticas sociais
que envolvem o exercício da cidadania.
1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este artigo está embasado numa abordagem teórica, que defende e privilegia
a mudança, na qual o homem é compreendido como ser histórico que tem a
capacidade de transformar seu meio na interação sujeito-objeto a partir de ações
socialmente mediadas, como afirma Vygotsky (1991, p. 81):
O seu esforço de mapear as mudanças ao longo do desenvolvimento deve-se, em parte, à tentativa de mostrar as implicações psicológicas do fato de os homens serem participantes ativos e vigorosos da sua própria existência e de mostrar que, a cada estágio de seu desenvolvimento, a criança adquire os meios para intervir de forma competente no seu mundo e em si mesma. Portanto, um aspecto crucial da condição humana, e que começa na infância, é a criação e o uso de estímulos auxiliares ou "artificiais"; através desses estímulos uma situação inédita e as reações ligadas a ela são alteradas pela intervenção humana ativa.
Além disso, este trabalho está de acordo com a pedagogia histórica crítica,
para a qual a educação deve estar vinculada ao tipo de sociedade que queremos.
Para isso, o educador precisa, segundo Saviani (1996, p.133), considerar que “[...]
os problemas educacionais não podem ser compreendidos a não ser na medida em
que são referidos ao contexto em que se situam”. Entende-se que não há
transformação da sociedade sem a ajuda da educação, pois todo projeto educativo
tem a ver com a sociedade e, embora todos nasçam com habilidades, é o ensino
que vai aprimorar, pois é na escola no sentido amplo (lugar onde se ensina), que
todos têm o direito de se alfabetizar e de se letrar.
Freire (1996) e Saviani (1984) compartilham dessa mesma visão quando
afirmam que a escola só contribui com a transformação da sociedade quando
apresenta e discute as condições em que os indivíduos vivem. A partir daí os
educandos começam a entender que como cidadãos podem manifestar seus pontos
de vista como reais sujeitos da transformação.
Quando a criança começa a frequentar a escola, cabe ao educador encontrar
métodos que, bem direcionados, vão levar o aluno ao conhecimento e, de acordo
com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná
(DCEs/PARANÁ, 2008, p.56):
Devemos lembrar que a criança, quando chega à escola, já domina a oralidade, pois cresce ouvindo e falando a língua, seja por meio das cantigas, das narrativas, dos causos contados no seu grupo social, do diálogo dos falantes que a cercam ou até mesmo pelo rádio, TV e outras mídias.
O trabalho educativo deve estabelecer mediações, partindo do conhecido
para um saber mais aprimorado, na busca de formar pessoas com atitudes e valores
essenciais à formação de todo cidadão, o que vai ao encontro da posição assumida
por Cristóvão (2002, p.44):
Nosso trabalho busca exatamente mostrar como a construção de modelo
didático de gênero pode se constituir como uma ferramenta alternativa, na
medida em que faz o aluno refletir sobre a tríade didática-aluno, professor e
objeto do conhecimento a fim de justificar suas escolhas e guiar suas
atividades.
Ao pensar nesse trabalho, devem-se classificar atividades significativas, sem
ignorar as necessidades dos alunos, priorizando uma relação interpessoal. Assim
define Saviani (1984, p.86): “É pressuposto de toda e qualquer relação educativa
que o educador está a serviço dos interesses do educando. Nenhuma prática
educativa pode se instaurar sem este suposto”.
Na escolarização, a aprendizagem também deve estar relacionada ao
pensamento, na relação entre ideias, ou seja, em todo universo de significados que
se aprende ao longo da vida. Para Alves (2002, p.169) “Ensinar a pensar é ensinar o
pensamento a dançar no espaço onde as coisas que não existem, existam”.
Assim, para um trabalho eficaz com a leitura, de acordo com Pressley (2002
apud SOUZA e COSSON, 2013), os alunos devem desenvolver as habilidades do
conhecimento prévio, que é o que o aluno já conhece sobre o assunto lido, a
conexão deste com fatos vividos ou já lidos em outros textos. Reconhecer as
inferências, que são as informações implícitas no texto, fazer a visualização do que
lê (imaginário); outro aspecto importante é saber reconhecer o que é importante,
essencial do texto, fazendo assim a sumarização e, por último, a estratégia da
síntese, tomando cuidado para não fazer um simples resumo e sim retirar
informações principais e adicionar outras a partir do que já se conhece. De acordo
com Girotto e Souza (2010, p.63), “[...] o professor precisa ainda retomar o processo
de leitura a fim de verificar o quê, para quê, como e em que momento os alunos
utilizaram a referida estratégia de leitura”.
A leitura proposta deve promover sempre uma reflexão crítica sobre a
realidade, com dificuldades, desafios a vencer, tendo sempre como tarefa refazer a
sociedade e também a si mesmo.
Marx (1998) já dizia que todos devem viver e ter condições de fazer história,
para tanto, dependem dos meios de existência já encontrados e que precisam ser
reproduzidos.
A leitura e a escrita são indispensáveis para que essa constante construção
da vida social aconteça, isso deve-se segundo Filipouski, Marchi e Simões (2009,
p.54):
- ler textos de gêneros variados, de modo a reagir diante deles, e, com atitude crítica, apropriar-se desses textos para participar da vida social e resolver problemas; - produzir textos de modo seguro e autoral, não apenas em situações cotidianas da esfera privada, como em esferas públicas de atuação social.
Muitas vezes o aluno não observa o mundo ao seu redor, e só o fará quando
algo lhe parecer familiar; é como se precisasse sair do seu próprio mundo para
então conhecê-lo naquilo que lê. Afirma Solé (1998, p.172) “[...] aprender a ler
significa aprender a encontrar sentido e interesse na leitura. Significa aprender a se
considerar competente para a realização das tarefas de leitura e a sentir a
experiência emocional da aprendizagem”.
Assim, a tarefa de conhecer não pode ser delegada ao aluno, embora ele
deva desenvolver sua autonomia para buscar o que necessita, mas alguém precisa
lhe dar as condições para que consiga alcançar seu próprio mérito e sentir-se mais
capaz e importante para a sociedade. Segundo Costa (2007, p.20), a mediação do
professor é fundamental “[...] na condução dos trabalhos em sala de aula e no
exemplo que ele dá aos seus alunos, lendo e demonstrando, sempre que possível, a
utilidade do livro e o prazer que a leitura traz para o intelecto e a sensibilidade”. É
papel da escola promover leituras de qualidade para seus alunos, dessa forma os
educandos certamente conseguirão produzir bons textos e diferenciar os diferentes
gêneros, pois, de acordo com os Parâmetros curriculares nacionais - Língua
Portuguesa (BRASIL, 1998, p.36),
Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que
lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando
elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros
textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um
texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de
elementos discursivos que permitam fazê-lo.
De acordo com Andrade, Campos e Cardoso (2010), para que o aluno
escreva bons textos é preciso que ele tenha um preparo anterior; não basta lhe
indicar ou explicar o tema proposto, é preciso que ele seja um leitor eficiente, pois
uma boa produção só acontece por meio do que já ouviu, leu e do que lembra, bem
como através de um trabalho de leitura e de reconhecimento do conteúdo dizível
pelo texto.
Neste momento é importante citar o que afirma Bronckart (1999 apud
Marcuschi 2008, p.154): “[...] a apropriação dos gêneros é um mecanismo
fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas
humanas”. Diante disso, o ato de ler como exercício crítico necessita inserir-se
permanentemente na formação e na prática do professor para que ele possa criar as
condições de incentivo e investimento na formação de seus alunos, pois trata-se de
um estudo motivado pela necessidade de formação de bons leitores.
Dessa forma, o gênero Fábula é uma ferramenta rica que pode ser utilizada
no contexto que motiva essa intervenção devido ao fato de ser um texto leve, que
pode servir para pensar na vida, sendo possível desenvolver atividades que
promovam a sensibilidade e a reflexão sobre valores, que são indispensáveis para a
convivência em grupo e por conter uma conclusão moralizadora.
As fábulas eram histórias contadas oralmente, quase sempre com a intenção
de transmitir ensinamentos, criticar, aconselhar o comportamento humano. Com o
passar do tempo, elas foram registradas por fabulistas importantes como, Fedro, La
Fontaine e ainda o brasileiro Monteiro Lobato, autor de muitas obras, entre as quais
se destaca o Sítio do pica-pau amarelo. Dessa maneira é importante trabalhar este
gênero porque de acordo com Aveline (2013):
Uma fábula é uma história carregada com simbolismo, que traz em si uma lição de vida e na qual os animais possuem o dom da fala. Esopo é o fundador do gênero, e suas fábulas reúnem três atributos principais: são curtas, belas e úteis. Elas nos ensinam, entre outras coisas, que a vida é um dom de supremo valor; mas que viver é perigoso, e que, por esse motivo, cada alma deve desenvolver ao máximo virtudes como atenção, vigilância, coragem, prudência e equilíbrio.
Dentro dessa perspectiva, a fábula assume um papel relevante, à medida que
pode se tornar uma importante mediadora na abordagem dos problemas universais
e do cotidiano do aluno/leitor, mostrando que os valores não estão ultrapassados,
mas continuam sendo fundamentais no comprometimento com uma sociedade justa
e humana.
2- METODOLOGIA
A metodologia de todas as atividades esteve fundamentada numa abordagem
qualitativa. Os alunos foram observados durante todo o processo numa ação
pedagógica de construção do conhecimento, partindo de fatos que eles já
conheciam para atividades elaboradas de modo a fazer sentido para eles.
Além do incentivo à escrita e à leitura como forma de ampliar a cultura
letrada, pretendeu-se resgatar valores que nos dias de hoje estão aos poucos se
perdendo. Segundo as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (PARANÁ,
2008, p. 58), “No ato de leitura, um texto leva a outro e orienta para uma política de
singularização do leitor que, convocado pelo texto, participa da elaboração dos
significados, confrontando-o com o próprio saber, com a sua experiência de vida”. Ao
pensar nisso, foram desenvolvidas atividades para propiciar ao aluno uma leitura na
qual prevalecesse a emoção, a curiosidade, a comparação daquilo que lê com a
realidade, e não um mero aprendizado de um conteúdo gramatical, favorecendo,
com isso, o seu despertar para a consciência social.
Partindo da leitura de fábulas, que é um gênero que atrai as crianças por
apresentarem personagens animais, trabalhou-se também com cartazes e panfletos.
As fábulas são narrativas curtas e de fácil entendimento; as lições transmitem
ensinamentos de solidariedade, carinho, respeito, comportamentos éticos e outros
valores que puderam ser trabalhados. A moral que aparece no final da história pode
ser trazida para o comportamento humano podendo ser realizada uma reflexão
sobre as atitudes, os vícios, defeitos, virtudes, espertezas, caráter e etc.
Para desenvolver o trabalho, o gênero fábula foi bastante explorado para que
o aluno pudesse partir do ficcional para a realidade. E, como já foi dito, foi de grande
importância trabalhar outros gêneros que abordam o mesmo tema ou a ele
relacionado, para que o aluno aprendesse a identificar cada tipo de texto, lembrando
que a intenção maior, além de despertar o interesse e mostrar a importância da
leitura, foi relacionar o comportamento das personagens com atitudes humanas, a
fim de fazer a contextualização das histórias com fatos sociais, bem como evidenciar
o papel da escrita nas ações de intervenção para promover melhorias na sociedade.
As atividades foram desenvolvidas em uma Unidade Temática que foi dividida
em seis seções, sendo a segunda a mais longa por tratar das fábulas, o carro-chefe
do material. No final de cada seção o aluno teve a oportunidade de refletir sobre
casos de animais abandonados e assim perceber a necessidade de uma
intervenção social na sua comunidade. Também receberam uma tarefa para casa no
final de cada seção que deveria ser entregue na aula seguinte.
3- RESULTADOS
SEÇÃO 1: CONVERSANDO E REFLETINDO SOBRE LEITURA
Primeiramente houve uma longa conversa sobre o tema, todos refletiram
sobre a importância do ato de ler e perceberam que o assunto a ser trabalhado teria
reflexo na sociedade imediata da qual fazem parte. Os alunos desenvolveram as
atividades propostas com boa participação e interesse, alguns comentaram sobre
animais abandonados em seus bairros e vários casos de maus-tratos, a turma toda
ouviu com muita atenção os relatos feitos pelos colegas, o que ratifica o que propõe
Saviani (1996, p.133), uma vez que a realidade e o conhecimento prévio dos alunos
foram aproveitados e aprimorados para que eles compreendessem melhor a
realidade social em que vivem. No término da seção os alunos foram orientados
para que conversassem em casa e vizinhos sobre a ação social que iriam
desenvolver em defesa dos animais através de leituras, produções de fábulas,
cartazes e panfletos.
SEÇÃO 2: AS FÁBULAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A LEITURA E A
CIDADANIA
Esta seção foi iniciada com o relato das conversas que tiveram. Verificou-se
que, assim como os alunos, as outras pessoas também pensam que os animais
merecem receber cuidados, somente uma pessoa entrevistada sugeriu que eles
deveriam ser mortos e os alunos ficaram horrorizados. Através dessa atividade
houve o incentivo para a interação dos alunos com outras pessoas da comunidade,
através das conversas os alunos obtiveram mais informações e também falaram do
que aprenderam em sala de aula, foi uma troca de informações.
Em seguida os educandos desenvolveram todas as atividades propostas
sobre as fábulas, discutiu-se sobre a estrutura composicional, a moral, as
personagens, tempo, espaço e seus autores, bem como os aspectos linguísticos dos
textos analisados. A primeira fábula apresentada foi A Cigarra e a Formiga; fez-se a
leitura, a interpretação do texto, relacionando com a realidade (estações do ano,
valorização do trabalho principalmente dos pais, solidariedade e amor às pessoas,
natureza e animais). O trabalho com as fábulas proporcionou momentos de
descontração e oportunidade aos alunos de se expressarem e darem suas
opiniões, confirmando o que diz Pressley (2002 apud SOUZA e COSSON, 2013). Os
alunos envolveram-se com a leitura, escrita, interpretação e com o desenvolvimento
criativo através das mais variadas atividades que permitiram produções de textos,
ilustrações e reflexão sobre os valores que cada fábula traz.
Ao final desta seção cada aluno recebeu uma autorização que foi redigida
pela secretaria da escola. Nela constava local, data e horário para uma visita à ONG
que protege animais abandonados ou maltratados. Os pais que assinassem
autorizariam o(a) filho(a) a participar da visita.
SEÇÃO 3: BUSCANDO DADOS NA COMUNIDADE
Depois de recolher a autorização assinada e verificar se todos os alunos a
entregaram, a turma foi conduzida até uma ONG, observaram os textos que
circulavam nesse ambiente: cartazes, panfletos, recados afixados, também
aproveitaram para tirar várias dúvidas com a veterinária. Nas duas aulas seguintes
todos os textos foram analisados, características e finalidades. E como em todas as
unidades o momento de descontração e intervenção social também foi desenvolvido
e agora com mais entusiasmo, porque neste momento os alunos se encontravam
totalmente envolvidos com o assunto. Na última aula da seção levaram um
compromisso muito sério, pesquisar sobre as leis que protegem os animais.
SEÇÕES 4 e 5: CARTAZ E PANFLETO
Foram discutidas e esclarecidas algumas dúvidas sobre as leis, muitos alunos
ficaram surpresos com as punições que podem ser aplicadas a quem praticar maus-
tratos aos animais. A maioria dos alunos possui um animal de estimação e quase
todos tinham uma história para contar.
Nestas seções as atividades com os cartazes e os panfletos foram
conduzidas de forma que os alunos descobriram como é feito e para que é feito um
cartaz e um panfleto, aprenderam diferenciar um gênero do outro. Vários cartazes e
vários panfletos foram analisados além dos que foram sugeridos. Também foi no
final da quinta seção que os alunos produziram seus cartazes e panfletos. Isso foi
feito em grupo com muita organização para que todos participassem. Foi muito
atrativo para os alunos, pois durante duas aulas escolheram gravuras, fotografias
em revistas e jornais, fizeram desenhos e tiveram também muitos momentos de
leitura com a finalidade de elaborarem muitos dizeres para a confecção dos cartazes
e panfletos, sempre com as orientações necessárias com relação à ortografia e
sentido, confirmando o que diz Costa (2007, p.20).
Os alunos ficaram motivados e ansiosos, até mesmo os mais tímidos
ousaram a falar em defesa dos animais abandonados. Cem por cento dos alunos
participaram desta atividade que foi um sucesso.
SEÇÃO 6: DIVULGAÇÃO DAS ATIVIDADES
Após o término dos trabalhos, os panfletos e cartazes foram espalhados pela
comunidade em alguns ambientes públicos tais como: Posto de saúde, biblioteca
comunitária, Igreja, supermercado e etc. Também foram espalhados em lugares
estratégicos pelo pátio da escola e uma grande parte dessas produções serviu para
a confecção de um lindo painel. Todos os professores, alunos e funcionários fizeram
vários elogios, alguns procuraram saber mais sobre o projeto e mostraram muito
interesse em contribuir. Ficou evidente para todos que a finalidade era de
sensibilizar as pessoas sobre maus-tratos e sobre o grande número de animais
abandonados. Abaixo alguns dos trabalhos produzidos.
Figura 1 – Panfletos Figura 2 - Cartazes
Os resultados alcançados foram excelentes, graças ao apoio recebido de toda
a Equipe Pedagógica e a participação dos alunos. É importante mencionar que o
material produzido para esse fim não sofreu alterações quanto aos conteúdos,
apenas algumas horas excederam, das trinta e duas programadas foram
necessárias quarenta horas para a implementação.
Todas as atividades foram desenvolvidas com muita cautela para que nada
passasse despercebido pelos alunos, mas a ênfase maior foi na interpretação dos
textos lidos e na moral de cada história, ou seja, nos ensinamentos que as fábulas
transmitem, trazendo à tona questões sobre amor, ódio, inveja, mau-humor,
solidariedade, etc. Trabalhar valores, principalmente, fazendo indagações sobre
questões de comportamento diante do nosso próximo e dos animais, foi de grande
valia para que cada aluno refletisse sobre suas próprias atitudes.
Notou-se que os objetivos traçados no projeto de intervenção foram
alcançados. Os alunos, além do conhecimento adquirido sobre os gêneros e sobre a
importância da leitura e da escrita para a vida, também melhoraram como cidadãos,
isso ficou comprovado perante atitudes de respeito e cobranças entre os próprios
alunos, pois ao fazer as atividades se ajudavam falando e ouvindo na hora certa.
À medida que iam realizando as atividades, foram se mostrando mais
interessados, aumentando a participação e a interação entre eles. As discussões
fizeram das aulas um espaço de aprendizado de todos, e principalmente de
crescimento pessoal. Cada estudante pode expor seu conhecimento, o que foi muito
importante para uma aprendizagem significativa e para que as aulas se tornassem
mais agradáveis, asseverando o que dizem Freire (1996) e Saviani (1984), isto é, se
a escola promove discussões sobre a realidade dos alunos, ela está dando
condições para que eles comecem a participar da transformação da sociedade como
cidadãos capazes de manifestar seus pontos de vista. As fábulas possibilitaram
introduzir as narrativas de forma lúdica e, como já foi dito, oferecendo aos alunos
oportunidades de descobrir conceitos, valores e atitudes que ajudaram tanto na
aprendizagem como na mudança de comportamento. (AVELINE, 2013).
Conforme indicam as produções de textos, os alunos aprenderam reconhecer
as características de uma fábula. A maioria dos alunos contemplaram na primeira
produção os elementos que compõem a narrativa, desde a introdução,
desenvolvimento e o desfecho. Aqueles que apresentaram algumas dificuldades
receberem orientações sobre as falhas da primeira produção e puderam refazer os
textos, melhoraram muito e os resultados foram bons. Todos se mostraram mais
capazes de produzir e refletir sobre as próprias produções e também opinar sobre os
textos dos colegas. É importante destacar que, para que as produções fossem
possíveis, abordamos a leitura e interpretação de várias Fábulas, como: A Formiga e
a Cigarra, O cão e a Carne, O Cão e a Borboleta, O Galo e a Pedra Preciosa, O Cão
Raivoso, O Lobo e o Leão, O Leão e o Ratinho, A Raposa e as Uvas, Mula Vaidosa,
A Assembleia dos Ratos, O Leão Apaixonado, entre outras.
Depois que os alunos realizaram todas essas leituras e interpretações,
mostraram-se mais interessados em praticar outras leituras, muitos buscaram fazer
suas carteirinhas na biblioteca e em quase todas as aulas de Língua Portuguesa
vários alunos pediam sugestões de leituras e permissão para emprestarem livros.
Sem dúvida foi perceptível o desenvolvimento de habilidades de leitura, bem como o
aumento no nível de letramento dos alunos, mas não foi possível uma avaliação
precisa. Porém, pode-se dizer que foi um grande passo inicial, uma ideia que deverá
ser colocada em prática para incentivar inovações na execução das aulas passando
a fazer parte do planejamento não só da disciplina de Língua Portuguesa, mas nas
demais disciplinas curriculares.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto trouxe resultados positivos, mas ainda não se pode prever
totalmente o seu impacto no aprofundamento, por meio da leitura e escrita, da
capacidade de pensamento crítico, conforme necessidades sociais, pois ainda há
um longo caminho a ser percorrido, é um trabalho que precisa ter continuidade pelos
docentes dos anos seguintes, já que a consciência crítica vai sendo adquirida aos
poucos, com dedicação e comprometimento dos educadores. Percebeu-se um
grande avanço, no que se refere à iniciativa de falar e também escrever em defesa
de suas ideias, mas, como dito anteriormente, a leitura, a escrita, bem como o
pensamento crítico vão sendo aprimorados à medida que são praticados, é uma
questão de dedicação e persistência.
Pode-se dizer que, quanto ao aspecto emocional, foi alcançado o que se
pretendia, pois percebeu-se uma notável mudança ao passo que o confronto entre o
mundo imaginário com a realidade era possibilitado aos alunos. Eles se
impressionavam com as imagens dos cães maltratados, ficavam indignados e
tentavam buscar soluções para o problema de forma que, ao final, todos tinham
certeza de que cada um precisava fazer sua parte, dando exemplos de cidadania e
praticando atitudes de respeito, as produções dos panfletos e cartazes mostraram
isso, asseverando Vygotsky (1991, p. 81). Também ficou evidente que eles
aprenderam diferenciar um gênero do outro, como fazer um cartaz e um panfleto,
mostraram também que souberam utilizar cada gênero em favor da ação social.
É certo que este tema estudado através de fábulas trouxe muita curiosidade,
criatividade e motivação aos alunos, bem como uma aprendizagem mais eficaz, pois
eles puderam trazer para a sua realidade com uma roupagem mais leve esta
problemática tão triste, levando os alunos, familiares e comunidade a refletirem mais
sobre o assunto. Tudo isso em busca de transformar o meio onde os alunos estão
inseridos, motivando-os às mudanças e a ajudar no combate às injustiças,
principalmente no que se refere ao abandono de animais. Com certeza este estudo
propiciará o surgimento de ideias para ajudar a amenizar este problema.
Com este trabalho teve-se a oportunidade de combinar o fazer pedagógico da
Professora PDE com a reflexão, ou seja, pensar sobre a prática, buscar alternativas
para mudanças, tomar decisões para a inovação da prática educacional. Procurou-
se criar situações que despertassem o interesse do aluno pela escola e que
levassem cada um a refletir e observar melhor o mundo ao seu redor, na direção do
que defende Saviani (1984, p.86). E hoje, ainda mais que antes, esta Professora
pensa que o verdadeiro profissional acredita que educar não é só ensinar a ler e
escrever, é formar pessoas capazes de participar e agir positivamente na sociedade,
fazendo parte dela como cidadãos que não se acomodam diante da maldade e
desrespeito aos animais.
5- REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. Livro sem fim. São Paulo: Loyola, 2002.
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