View
0
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Perguntas e Respostas sobre Licença a Maternidade1
Regina Madalozzo
Adriana Carvalho
Ao longo desses 10 últimos anos trabalhando com as questões relacionadas
a participação das mulheres no mercado de trabalho, em especial, nas
grandes empresas e liderança, a questão da licença maternidade sendo
apresentada como uma “desvantagem” das mulheres no mundo do trabalho
tem sido recorrente. Temos sempre o compromisso de falar que as questões
vão muito além do tema da maternidade, mas quando achamos que já
existe mais esclarecimento em relação ao tema, escutamos testemunhos
de mulheres preteridas nas entrevistas, de perguntas abusivas sobre a vida
das mulheres em relação a seus filhos e nos deparamos com indicadores
que mostram a saída das mulheres, voluntárias e involuntárias, após o
nascimento dos filhos.
Para trazer dados, informações e mais luz a essa questão elevando o nível
do debate preparamos esse documento. A grande pergunta a ser
respondida foi: mulheres realmente se afastam mais do que os homens por
licença remunerada? Mas outras questões também foram abordadas como:
qual o real custo para a empresa da licença maternidade? É justo comparar
a saída por licença maternidade ou paternidade com saídas por doenças e
acidentes de trabalho?
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Esperamos que esse guia de perguntas e resposta seja útil para
disseminarmos uma informação fidedigna com relação aos afastamentos do
trabalho - em especial a ínfima diferença de afastamento médio entre
homens e mulheres -, bem como servir para um debate melhor informado
e baseados em dados reais a respeito da importância desse benefício não
só para as mulheres, como também para os homens que aqui trabalham.
Q1: Quando surgiu a licença maternidade em no Brasil e quanto
tempo ela permitia de afastamento do trabalho?
R1: A licença maternidade foi introduzida no Brasil pela introdução da CLS
(Consolidação das Leis Trabalhistas) de 1948. Ela tinha duração de 84 dias
corridos e era paga pelos empregadores. Somente a partir de 1973, os
custos da licença maternidade foram assumidos pela Previdência Social.
Entretanto, mesmo naquela época, a gravidez não significava estabilidade
no emprego, ou seja, as empresas podiam demitir mulheres grávidas.
Na Constituição de 1988, as reformas permitiram a garantia do emprego
para as grávidas e o aumento da licença para 120 dias. Em 2008, as
empresas afiliadas ao programa Empresa Cidadã – e funcionárias públicas
federais - passaram a conceder 180 dias de licença maternidade.
Fonte da informação: Agência Senado
(https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/02/09/primeira-pec-de-2018-
amplia-duracao-das-licencas-maternidade-e-paternidade)
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Q2: E a licença paternidade?
R2: Em 1948, na CLT que criou a licença maternidade, também se
estabeleceu a licença paternidade: 1 dia. A Constituição de 1988 aumentou
a licença para 5 dias, mas ela continua sendo paga pelos empregadores.
Fonte da informação: Agência Senado
(https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/02/09/primeira-pec-de-2018-
amplia-duracao-das-licencas-maternidade-e-paternidade)
Q3: Como a Previdência “paga” a licença maternidade? Existe um
teto para esse benefício?
R3: Em comparação com outros países do mundo, o Brasil tem uma
legislação avançada, garantindo não somente os dias de licença do trabalho,
mas também a remuneração integral – até o teto de R$29.400, o valor do
salário de um Ministro do Supremo Tribunal Federal – para essas mulheres.
Quem efetivamente paga o salário maternidade é a previdência social. Se
a gestante for trabalhadora com carteira assinada, a empresa pagará o
salário a ela e descontará esse valor de seus devidos tributos ao INSS. Para
os 60 dias adicionais que a Empresa Cidadã concede, o pagamento direto à
trabalhadora é feito pela empresa e ressarcido pelo Governo Federal no
pagamento de Imposto de Renda da empresa.
Fontes de informação:
Agência Senado (https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/02/09/primeira-
pec-de-2018-amplia-duracao-das-licencas-maternidade-e-paternidade)
Jusbrasil:
https://jairoegeorgemeloadvogados.jusbrasil.com.br/noticias/311053922/entenda-como-
funciona-a-licenca-maternidade
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Konkero: https://www.konkero.com.br/financas-pessoais/seus-direitos/as-regras-do-
salario-maternidade
https://www.contabeis.com.br/noticias/40630/empresa-cidada-como-funciona-e-quais-
sao-as-vantagens-ao-se-filiar/
Q4: O que justifica a existência de licença maternidade e também a
licença paternidade?
R4: A licença maternidade se justifica não somente pela saúde da mãe,
mas também por benefícios à saúde física (o leite materno protege as
crianças de várias doenças, infecções, diarreias e doenças respiratórias) e
mental (afinal, crianças que são melhores cuidadas têm mais facilidade de
aprendizado e maior autoestima, o que incentiva) da própria crianças, o
que reduz gastos públicos e privados em saúde no futuro. Embora o
aleitamento exclusivo pudesse ser feito também com a mãe retornando ao
trabalho, existem evidências que o retorno ao trabalho antes dos seis meses
de idade da criança implica na introdução de outros alimentos
precocemente, o que diminui os benefícios do próprio aleitamento.
Em relação a saúde da criança parte dos benefícios pode ser também
assegurado se o pai faz sua parte em relação aos cuidados. Um bom
exemplo dessa lógica é a Suécia que tem uma licença parental remunerada
de 480 dias tem sendo que cada pessoa do casal tem que tirar 90 dias cada
um e o restante pode ser decidido pelo casal, e a licença pode ser usufruído
até o 8 ano. Outros países nórdicos como Finlândia e Islândia tem políticas
parecidas com a Suécia. Países como Uruguai, Reino Unido e Canadá tem
licenças paternidades mais modestas, ao redor de 2 meses, período
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
parecido com as empresas que adotam a política de empresa cidadã no
Brasil. E para nossa surpresa o Japao oferece 12 meses para homens e
mulheres, mas não é o empregador que paga a licença, homens e mulheres
devem requer os benefícios oferecidos pelo governo enquanto estão de
licença. Em todos esses países o grande desafio é aumentar o % de homens
que usufruem da licença paternidade. Estudo da ONG Promundo “Situação
da Paternidade no mundo: desbloqueando o poder de cuidado dos homens”
mostra que o % de homens que usufruem da licença paternidade é: Japão
apenas 1%, Brasil 32% (dos 5 dias obrigatórios), Canadá 40% e Inglaterra
44%.
Portanto, além da legislação em si é necessário investimento em educação
e campanhas para incentivar os homens a exercerem esse papel, não é a
toa, que a as empresas brasileiras no Brasil que adotam o sistema de
empresa cidadã devem implementar treinamentos para conscientizar os
homens de qual o papel deles ao ficar em casa.
Fontes das informações:
Aleitamento.com:
http://www.aleitamento.com/amamentacao/conteudo.asp?cod=181
VENANCIO, Sonia Isoyama; REA, Marina Ferreira; SALDIVA, Silvia Regina Dias Médici. A
licença-maternidade e sua influência sobre a amamentação exclusiva. BIS, Bol. Inst.
Saúde (Impr.), São Paulo, v. 12, n. 3, 2010.
(http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-
18122010000300013&lng=pt&nrm=iso)
Documentário: O Começo da Vida. Disponível em:
https://ocomecodavida.com.br/filme-completo/
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Época Negócios: Conheça empresas que concedem licença paternidade estendida e estão
com vagas abertas: https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2019/08/conheca-
empresas-que-oferecem-licenca-paternidade-estendida-e-estao-com-vagas-abertas.html
Organização Pan-Americana de Saúde:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5631:oms-
e-unicef-lancam-novas-orientacoes-para-promover-aleitamento-materno-em-unidades-
de-saude-de-todo-o-mundo&Itemid=820
Sweden Quick Facts: https://sweden.se/quickfact/parental-leave/
https://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=1109&langId=en&intPageId=4514
http://www.nordiclabourjournal.org/i-fokus/in-focus-2019/future-of-work-
iceland/article.2019-04-11.9299118347
https://promundoglobal.org/wp-
content/uploads/2019/06/BLS19063_PRO_SOWF_REPORT_015.pdf &
https://promundo.org.br/2019/06/05/segundo-relatorio-situacao-da-paternidade-no-
mundo-2019-85-dos-pais-dizem-que-fariam-qualquer-coisa-para-se-envolverem-muito-
no-cuidado-de-uma-nova-crianca-mas-ainda-estao-assumindo-bem-menos-respon/
Q5: Existe alguma racionalidade do ponto de vista de sociedade
para mantermos a licença maternidade e melhorarmos as condições
da licença paternidade?
R5: Estamos em um período de inversão da pirâmide etária no Brasil. A
penalização da licença maternidade diminui a propensão das mulheres – em
especial, as que estão ou pretendem ser ativas no mercado de trabalho –
de terem filhos. A diminuição da taxa de natalidade já é uma realidade no
Brasil - em 1980, a taxa de natalidade era de 4,07 filhos por mulher e, em
2016, já era de 1,73, abaixo da taxa de reposição populacional, que seria
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
de 2,1 filhos por mulher. Países que já enfrentaram essa diminuição da taxa
de natalidade (Alemanha, França e Japão são bons exemplos) enfrentam
problemas com relação ao financiamento das aposentadorias, dos planos
de saúde e à própria tendência de crescimento econômico, pois a população
em idade ativa fica muito reduzida e a taxa de dependência (idosos e
crianças com relação à população em idade de trabalho) aumenta
potencialmente. E esses países, com menos jovens e mais pessoas de idade
- que denominamos “pirâmide etária invertida” -, têm vários problemas, e
não é à toa que alguns países desenvolvidos têm adotado política para
incentivar as pessoas a terem filhos.
Fontes das informações:
Bloomberg Businessweek: https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-09-
14/humans-having-fewer-babies-is-a-big-economic-problem-quicktake
Business Insider: https://www.businessinsider.com/dropping-fertility-rates-will-affect-
the-economy-2016-11
Q6: A licença maternidade pode ser boa para a criança e para a mãe,
mas será que não é muito complicada de ser organizada pelos
empregadores?
R6: A licença maternidade é um dos poucos tipos de afastamento altamente
previsível. As empresas e os empregadores ficam cientes de que a
trabalhadora ficará afastada do trabalho meses antes disso ocorrer. Ter um
planejamento que envolva rotatividade de cargos ou até mesmo a
contratação de substitutos temporários para substituição da pessoa
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
afastada é essencial para o bom funcionamento na empresa. As outras
licenças – por doença, acidentes dentro e fora do trabalho – são tiradas por
homens e mulheres, altamente imprevisíveis e impactam mais a
organização das empresas.
Q7: Existe uma diferença grande nos dias de afastamento de
homens e mulheres do trabalho, contado a licença maternidade?
R7: Para responder essa questão, usamos os dados do Relatório Anual das
Informações Sociais (RAIS) de 2017. A RAIS tem entrega obrigatória por
todas as empresas com relação a seus funcionários. Elas reportam dados
sobre a demografia dos funcionários (idade, cor/raça, sexo) e trabalhistas
(remuneração, horas trabalhadas, etc). O dado que utilizamos se refere ao
número de dias que cada funcionário esteve afastado da empresa. Os
motivos possíveis são: acidente de trabalho típico ou no trajeto, doença
relacionada ou não ao trabalho, licença maternidade, serviço militar
obrigatório e licenças sem remuneração.
Analisando somente pessoas que trabalharam o ano todo – isto é, não
estiveram desempregadas no período, o que potencialmente viesaria o
número de dias afastados - , os homens ficaram afastados, em média 13,5
dias no ano e, as mulheres, 16 dias. A diferença média é de dois dias e
meio no ano. Dessa forma, parece que a licença maternidade não impacta
tão significativamente as empresas como poderíamos imaginar.
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Para termos uma melhor descrição dos dados, dividimos as pessoas que
estavam trabalhando com carteira assinada por faixas etárias e
comparamos o número de dias que homens e mulheres ficaram fora do
trabalho. A Figura 1 mostra o resultado.
Entre os 20 e 25 anos, as mulheres ficam, em média, 12,6 dias por ano
afastadas do trabalho. Já os homens – mesmo contando a licença
paternidade do período – ficam 5,8 dias. Isso significa, em média 6,8 dias
de diferença de afastamento. É menos de uma semana por ano! Na faixa
etária seguinte (entre 25 e 30 anos), tanto homens quando mulheres
aumentam o número médio de dias de licença (eles, 6,8 e elas, 14,9, uma
diferença de 8 dias a mais de licença por ano para elas) e o mesmo se
repete entre os 30 e 35 anos. Após os 35 anos, a diferença começa a cair:
entre 35 e 40 anos, os homens ficam afastados, em média, 10,3 dias e, as
mulheres, 15,4 (uma diferença de 5 dias no ano). Entre 40 e 45 anos, a
diferença dos dias de afastamento cai para menos de um dia por ano (ainda
em favor das mulheres) e, a partir dos 45 anos, os homens passam a tirar
mais dias de licença do que as mulheres. Ou seja, o quadro se reverte e
homens mais velhos se afastam mais do trabalho do que as mulheres.
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Fonte: RAIS (2017), tabulação própria. Agradecemos o assistente de pesquisa Bruno
Fava que compilou os dados para esse estudo.
Somente para efeitos de argumento, calculamos o número médio de dias
de afastamento de homens e mulheres retirando os dias de licença
maternidade e paternidade. E, nesse caso, para quase todas as faixas
etárias (a exceção é para a faixa de 35 a 40 anos de idade, onde as
mulheres tiram 0,11 dias a mais de licença do que os homens por ano), os
homens tiram mais dias de licença do que as mulheres. Quando jovens
(entre 20 e 25 anos), eles tiram 1 dia e meio a mais do que as mulheres.
Quando mais velhos – entre 50 e 60 anos – a diferença é de 3 a 5 dias por
ano a mais do que as mulheres.
0
5
10
15
20
25
30
(20,25](25,30](30,35](35,40](40,45](45,50](50,55](55,60]
FIGURA 1: MÉDIA DE DIAS DE LICENÇA DO TRABALHO POR ANO - RAIS 2017
Masculino Feminino
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Olhando os dados acima, fica a pergunta, porque as pessoas dão um peso
tão grande para a licença maternidade e não questionam quando as pessoas
saem de licença remunerada por acidentes de trabalho ou problemas de
saúde ou acidentes fora do trabalho. Muitas pessoas acham que devem
perguntar sobre os planos de ser mãe ou não, mas quase nenhuma
pergunta se a pessoa faz esporte de risco, questiona a saúde da pessoa. Na
verdade é tão proibido perguntar sofre filhos como sobre atividades fora do
trabalho (esportes) e saúde, nenhuma dessas questões deve ser
considerada na contratação de uma pessoa. A avaliação deve ser focada na
capacidade da pessoa e suas habilidades para o trabalho em questão.
Q8: Escutei muitas vezes dizerem que as mulheres são remuneradas
com salários menores do que os homens porque recebem a licença
maternidade. Mas, a partir desses dados informações, será que isso
faz sentido?
R8: Tanto pela lógica do gasto financeiro – que não pesa para os
empregadores – como pelo tempo de afastamento do trabalho, não se
justifica uma penalidade em salários ou diferenças tão exageradas nas
promoções e contratações de mulheres pela licença maternidade. Por outro
lado, em termos de bem-estar social (que inclui a saúde da mãe, do bebê
e os gastos presentes e futuros com saúde), faz muito mais sentido permitir
uma licença maternidade estendida do que discriminar o trabalho feminino
por ela. A discriminação contra as mulheres no mercado de trabalho não
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
somente é ilegal - De acordo com a Constituição Federal e os artigos 461-
462 da CLT, não é possível remunerar diferente o trabalho de igual valor -
, mas também gera menor crescimento econômico. De acordo com diversos
estudos, a discriminação salarial contra as mulheres está altamente
relacionada a um menor crescimento econômico. Então, do ponto de vista
social e de crescimento econômico, também não é razoável penalizarmos
as trabalhadoras por terem filhos.
Sendo assim, a diferença de dias que homens e mulheres, em média, ficam
afastados das empresas não justifica, de forma alguma, diferenças salariais.
Fontes das informações:
MeuSalário.org.br: https://meusalario.uol.com.br/trabalho-decente/tratamento-justo
Cavalcanti, Tiago; Tavares, José. The Output Cost of Gender Discrimination: A Model‐
based Macroeconomics Estimate. The Economic Journal, v. 126, n. 590, p. 109-134,
2016. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/ecoj.12303
Klasen, Stephan; Lamanna, Francesca. The impact of gender inequality in education and
employment on economic growth: new evidence for a panel of countries. Feminist
Economics, v. 15, n. 3, p. 91-132, 2009. Disponível em:
http://chicagopolicyreview.org/wp-content/uploads/2014/09/Gender-and-Economic-
Growth.pdf
Santos, Rafael Ribeiro dos “Relação entre a discriminação salarial de gêneros e o
crescimento do PIB per capita no Brasil: Análise por municípios”, dissertação defendida
no Mestrado Profissional em Economia do Insper, 2017. Disponível em:
http://dspace.insper.edu.br/xmlui/bitstream/handle/11224/1754/Rafael%20Ribeiro%20d
os%20Santos_Trabalho.pdf?sequence=1
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
Q9: Crianças nos seus primeiros meses de vida não são as únicas
que exigem cuidados. Como pensar a divisão de tarefas e apoio de
infraestrutura para diminuir a sobrecarga do trabalho do cuidado
que impacta as mulheres?
R9: Segundo levantamento da Organização Internacional do Trabalho, em
todas as regiões do mundo as mulheres gastam mais horas na soma das
horas do trabalho produtivo + horas do trabalho do cuidado não
remunerado que homens, 448 minutos versus 404 minutos é a média por
dia no mundo. Em países de baixa renda, essa situação é mais grave ainda
455 minutos versus 378.
Essa questão e seus impactos negativos na vida das mulheres e a
necessidade tanto de envolver mais os homens nas tarefas do cuidado não
remunerado como melhor a oferta de serviços, desde creches até facilidade
de conseguir atendimento médico, está na agenda da igualdade de gênero
e empoderamento das mulheres a bastante tempo, e é a meta 5.4
(Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não
remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos,
infraestrutura e políticas de proteção social, bem como a promoção da
responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, conforme os
contextos nacionais) do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável # 5 –
Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Segundo a economista feminista Diane Elson, mencionada na publicação do
Promundo Situação da Paternidade no mundo: desbloqueando o poder de
cuidado dos homens, é necessário trabalhar em 3 pontos: reconhecimento
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
do da importância vital do papel do cuidado nas sociedades; redução da
sobrecarga do trabalho do cuidado feito pelas mulheres através de políticas
e programas, não só de temas como creches mas também de temas
indiretos que aumentam o número de horas nas tarefas do cuidado como
falta de saneamento básico (mais pessoas doentes e portanto mais tempo
dedicado ao cuidado dessas pessoas) e agua potável (mais tempo para
pegar agua e realizar tarefas) & redistribuição das tarefas, homens e
meninos fazendo mais pelo cuidado da casa, criança e idosos do que
mulheres e meninas. Segundo o mesmo relatório do Promundo, mais
recentemente foi acrescentado um quarto ponto que é a representatividade
e visibilidade da questão do cuidado no contexto político, em negociações
coletivas, sindicatos. Hoje poucos países ao redor do mundo calculam o
impacto do trabalho do cuidado não remunerado no PIB e infelizmente o
Brasil não é um deles.
As empresas podem fazer sua parte assegurando políticas de apoio as
necessidades do cuidado (creche própria, auxílio creche, política para
ausência no trabalho para levar filhos ao médico) iguais para homens e
mulheres. Governos, empresas e sociedade podem dar luz a essa questão
da divisão de tarefas e realizar campanhas para engajamento dos homens
e meninos no trabalho do cuidado não remunerado. Políticas públicas
devem ser criadas ou ajustadas com essa perspectiva e o acesso a serviços
públicos e privados de saúde e educação facilitados (por exemplo, será que
Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia 04546-042 São Paulo SP Brasil 55 11 4504-2400 www.insper.edu.br
realmente precisamos ficar fisicamente em uma fila para conseguir a vaga
na creche? Será que não tem maneiras mais eficazes de agendar consultas
médicas em serviços públicos do que ir até o posto para fazer ao
agendamento?)
Source:
Care Work and Care Jobs for the future of decent work
https://www.ilo.org/global/publications/books/WCMS_633166/lang--en/index.htm
Objetivos do Desenvolvimento Sustentavel - https://nacoesunidas.org/pos2015/ods5/
publicação do Promundo Situação da Paternidade no mundo: desbloqueando o poder de
cuidado dos homens https://promundoglobal.org/wp-
content/uploads/2019/06/BLS19063_PRO_SOWF_REPORT_015.pdf (página 18)
Autoria do Conteúdo:
Adriana Carvalho - gerente dos WEPs no Brasil e coordenadora do programa Win-Win da ONU Mulheres
Regina Madalozzo – coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero e
professora associada do Insper.
Recommended