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POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA
COMANDO DE APOIO ESPECIALIZADO
COMPANHIA DE POLICIAMENTO COM CÃES
APOSTILA PARA A PROVA DE
HABILIDADE ESPECÍFICA
POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA
COMANDO DE APOIO ESPECIALIZADO
COMPANHIA DE POLICIAMENTO COM CÃES
MANUAL CINOTÉCNICO
INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DE
ADESTRAMENTO
AUTORES: CAPITÃO PM CLAYTON MARAFIOTI MARTINS
1º TENENTE PM CLAUDIONIR DE SOUZA
3º SARGENTO PM JOÃO CARLOS DA SILVEIRA
Ago/2003
REVISADO: Sub Ten PM JOÃO CARLOS DA SILVEIRA
1. INTRODUÇÃO
Quem se propõe a educar e ensinar corretamente um cão deve ter, como
primeira condição, um grande amor pelo mesmo, muita paciência, calma, firme-
za, perseverança e força de vontade.
É fundamental que o adestrador reduza suas exigências ao real nível de
condicionamento do cão e o capacite para os exercícios que irá praticar.
Com uma educação com base na firmeza, carinho e palavras afetuosas, se
obterá uma obediência e submissão perfeita, e não por meio de medo ou castigo.
Como em todos os animais, encontramos também nos cães alguns desanimados,
outros bem vivos, uns atentos, outros distraídos, uns dóceis, outros ferozes, com
ou sem facilidade para aprender. Portanto, é de suma importância que o adestra-
dor estude e conheça seu cão para logo se adaptar, obtendo o resultado a que se
propõe.
2. DESENVOLVIMENTO
O segredo de toda a educação e adestramento é saber descobrir e explorar
as qualidades já existentes no cão. Um cão de temperamento dócil e, portanto,
sensível, não pode ser tratado com a rudeza de um que tenha temperamento for-
te. Quem conhece bem o animal e é capaz de se compenetrar e entender o seu
íntimo tem facilitado a metade de seu trabalho.
O cão pode ser muito esperto e logo perceberá a falta de domínio de seu
dono e de como tirar-lhe proveito. Portanto, temos que tomar o máximo cuidado
para que o cão não se converta em senhor de seu dono.
Princípios básicos de todo adestramento:
1. Nunca é bom demorar muito tempo na execução de um mesmo exercí-
cio, pois isso cansa e aborrece o animal. Temos que nos preocupar em fa-
zer com que o animal trabalhe sempre entusiasmado, efetuando pequenas
pausas, mudando de lugar, etc.
2. Quando o cão tiver aprendido vários exercícios, não fazê-lo executá-los
sempre na mesma ordem, a fim de não os mecanizar.
3. Nunca devemos nos esquecer de elogiar e estimular o cão quando ele
executa o exercício satisfatoriamente.
4. Se notarmos que o cão aprendeu um exercício e apesar disso o mesmo
não quer executá-lo, e isso não for devido a falha do adestrador, devemos
obrigá-lo a efetuar novamente duas ou mais vezes, ainda que contra sua
vontade. Uma vez realizado perfeitamente, se concederá ao cão alguns
instantes de folga e brincadeira pelo prêmio de seu trabalho. A alegria do
cão, ao ver-se solto, será grande, sendo que momentos após, possivelmen-
te efetuará o exercício com mais vontade.
5. Devemos dominar o cão com vigor e justiça, nunca permitindo a sua in-
subordinação.
6. Elogiá-lo sempre que fizer uma proeza, corrigi-lo sempre que fizer algo
errado.
7. Nunca terminar uma lição sem o cão executá-la, nem após corrigi-lo,
pois o mesmo poderia tornar-se caprichoso.
8. O adestrador deve usar o timbre de voz adequado nos comandos.
9. Nunca brincar com o cão durante a lição.
10. As lições devem ser freqüentes e curtas.
11. Nunca devemos soltar o animal sem ter o perfeito controle sobre ele.
12. Nunca correr atrás do cão quando ele foge do adestramento, devemos
sim atraí-lo para nós, para que atenda nosso chamado.
Observação: Todo o trabalho de adestramento será executado a um terço
de guia, afim de não haver falhas no condicionamento, pois para corrigi-las será
muito difícil e em alguns casos não se recupera mais o animal, criando vícios.
3. EQUIPAMENTOS PARA O ADESTRAMENTO
1. Guia de 1,5m e 10m
2. Enforcador de elos, pesado, médio e leve
3. Rasqueadeira
4. Halter
5. Sisal para mordedura
6. Luva ou Manga de proteção
7. Macacão de Couro para proteção
8. Bastões para desenvolver guarda e proteção
9. Peitoral
4. POSIÇÕES E PARTES DA GUIA
1. Partes da Guia
A guia divide-se em cinco partes a saber:
1. Alça da guia;
2. Suporte da alça;
3. Corpo da guia;
4. Suporte do mosquetão;
5. Mosquetão;
2. Posições da Guia
Posição 1:
Finalidade: para a condução do cão em adestramento.
Descrição: O adestrador segurará a guia pelo suporte do mosquetão com a
mão esquerda, punho cerrado para baixo, enquanto a mão direita, seguran-
do a alça da guia e dando-lhe uma volta sob seu corpo, fica posicionada na
altura do abdômen.
Posição 2:
Finalidade: Para condução do cão em solenidade, ordem unida, policia-
mento ostensivo e apresentação pessoal.
Descrição: Nesta posição, a guia será segurada na mão esquerda pelo su-
porte do mosquetão, dando-lhe uma volta sob seu corpo, com o punho cer-
rado para baixo e posicionando-se na altura do abdômen.
Posição 3:
Finalidade: Para o emprego do cão em controle de distúrbio civil e guarda
e proteção.
Descrição: Mão esquerda com o punho cerrado para cima e segurando no
suporte do mosquetão; enforcador travado; mão direita introduzida pela al-
ça da guia e segurando-a pelo seu suporte; as pernas afastadas para dar o
devido equilíbrio (posição de combate).
5. PROCEDIMENTOS INICIAIS
Com cautela, o adestrador irá se dirigir ao canil a fim de verificar seu cão.
Aproximar-se-á da porta chamando-o pelo nome para que o mesmo familiarize-
se com a entonação de sua voz e com seu odor; fará uma laçada com a guia;
abrirá a porta do box pelo lado esquerdo, afim de evitar fuga e acidentes desne-
cessários; introduzirá a mesma pela cabeça do cão e em seguida segurará seu
pescoço com a mão direita, colocando o enforcador com a argola voltada para a
sua direita; logo após, prenderá o mosquetão na argola retirando a laçada de seu
pescoço.
No caso de filhote deverá travar o enforcador para não o traumatizar até
que se acostume e fique indiferente ao colar.
Verificará o estado geral do animal: se está alegre ou apático; estado das
fezes; se possui verminoses; se está com feridas; verificará em baixo do estrado
se há animais mortos como escorpiões, ratos, aranhas, cobras etc; verificará se o
animal alimentou-se, se bebeu água e se há vômitos; no caso de fêmea se está no
cio.
Percebendo qualquer anormalidade, o adestrador deverá comunicar de
imediato a enfermaria veterinária.
Feito todos estes procedimentos acima, sairá com o cão do canil dando-
lhe o comando “passear” e levando-o para fazer suas necessidades fisiológicas.
Feito isso, o colocará sob o raspador e lhe fará uma massoterapia para verificar
se há algum ectoparasita, fraturas, dermatites, dentes quebrados ou algum feri-
mento em seus coxins plantares. Seguindo, fará o rasqueamento do mesmo, sen-
tido cabeça calda, primeiramente com a parte mais grossa da rasqueadeira, de-
pois sentido oposto; em seguida com o lado mais fino, nas partes mais sensíveis
como cabeça, peito e patas.
Após, se fará uma limpeza com um produto a base de água, extrato de ci-
tronela, álcool e vinagre. Havendo alguma alteração de saúde no animal, deverá
de imediato comunicar o médico veterinário. Após estes procedimentos, ele es-
tará pronto para iniciarmos o treinamento ou o trabalho diário de patrulhamento,
salvo problema de saúde que demande repouso ou atendimento veterinário ime-
diato.
6. AMIZADE
1. Introdução
Antes do início do adestramento, o futuro adestrador deverá levar o cão
em passeios durante mais ou menos duas semanas, dependendo da evolução do
mesmo, quando procurará se fazer entender pelo animal e aproveitará para estu-
dá-lo e descobrir suas habilidades e debilidades, tudo isso para poder explorá-las
sutilmente. Fará brincadeiras e elogios para firmar o vínculo de amizade e confi-
ança entre ambos, facilitando assim o início do adestramento. Observará sua es-
trutura física, saúde, caráter, temperamento, grau de memorização e sua disposi-
ção particular, lembrando que o adestramento consiste em tornar agradável o
comportamento do animal em relação ao homem, através de métodos e técnicas
de ensino, não deixando que ele torne-se caprichoso, preguiçoso e inconvenien-
te.
2. Desenvolvimento
Primeiramente, devemos levar o cão a passeios, já introduzindo em sua
memória os primeiros comandos como: passear, junto e aqui, que serão muito
úteis para o seu desenvolvimento futuro; no caso de filhotes, o enforcador deve-
rá estar travado para não o traumatizar, pois nesta fase podemos predispô-lo se
aplicarmos as técnicas corretas, observando sempre a paciência, perseverança,
firmeza e muita força de vontade. Assim conseguiremos êxito naquilo a que nos
propusermos a fazer; caso contrário, iremos destruir um bom cão por estar agin-
do de forma errada sem observarmos as técnicas já citadas acima.
O cão estando em toda extensão da guia e a vontade, o adestrador fará
brincadeiras, levando-o de um lugar para outro sempre elogiando e agradando o
mesmo, de modo a introduzir nesta hora o comando de aproximação "aqui",
chamando-o pelo nome e encurtando a guia, trazendo-o a sua frente e logo após
liberando-o novamente. Fará brincadeiras também com o halter para que o cão
familiarize-se com objetos. Alguns cães pegarão espontaneamente o objeto lan-
çado ao solo, juntamente com o comando busca, o que facilitará muito no futuro,
enquanto noutros teremos que introduzir o objeto em sua boca, deixando-o a
vontade para que brinque e passeie, a fim de acostumar-se com o mesmo. Brin-
cando também com uma bolinha maciça e mini sisal para mordedura, reforçare-
mos ainda mais seu interesse por objetos.
Nesta fase devemos conhecê-lo bem, o aproximando das pessoas e outros
cães, a fim de verificar seu comportamento. Se investir contra alguém, deverá
ser imediatamente controlado, introduzindo aí o novo comando que é o "Não",
pois essa atitude não está de acordo com as regras do adestramento, devendo re-
preendê-lo quantas vezes forem necessárias, utilizando suaves golpes no colar
junto com o comando, ressaltando que nunca devemos castigá-lo com brutalida-
de. Lembre-se que se trata de uma fase de amizade, em que estamos conhecendo
o animal, portanto, muito cuidado! Este é um dos motivos porque não devemos
liberar o animal da guia sem ter total domínio, pois tanto pode investir contra
uma pessoa ou outro cão, como até mesmo contra seu condutor, além de que ao
tentar tirá-lo de uma possível briga, será muito difícil controlá-lo estando solto.
POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA
COMANDO DE APOIO ESPECIALIZADO
COMPANHIA DE POLICIAMENTO COM CÃES
MANUAL CINOTÉCNICO
TEORIA CINOTÉCNICA
AUTORES: CAPITÃO PM CLAYTON MARAFIOTI MARTINS
1º TENENTE PM CLAUDIONIR DE SOUZA
3º SARGENTO PM JOÃO CARLOS DA SILVEIRA
Ago/2003
REVISADO: Sub Ten PM JOÃO CARLOS DA SILVEIRA
Mar/2013
I - INTRODUÇÃO
'' O melhor amigo do homem é o cão ''. Esta frase é antiga, mas exprime a
maior e extraordinária realidade que se tem notícia, sobretudo, porque o cão é
um ser que acompanha o homem desde a pré-história e tem se tornado, até os di-
as de hoje, um amigo leal e inseparável.
A cinofilia aspira assegurar ao cão, condições de vida adequadas à sua na-
tureza, que incluem a presença e assistência contínua de seu dono. Quem se pro-
põe a ter um cão, como companheiro, deverá também ter a obrigação de lhe ofe-
recer condições adequadas para satisfazer todas as necessidades básicas para a
sobrevivência deste animal, tão querido pelo homem.
Muitos criadores ou proprietários tentam estabelecer a pureza das raças,
em função de seu emprego, em contrapartida, muitos executam cruzamento ao
invés de acasalamento, até mesmo para criar uma nova raça canina. Para isso
devemos saber a diferença entre cruzamento e acasalamento:
- Acasalamento - é a cobertura de cães entre raças idênticas;
- Cruzamento - é a cobertura de cães de raças diferentes.
Através do cruzamento, pode-se criar, sim, uma nova raça, mas é preciso
estabelecer a utilidade que se propõe neste cruzamento. Já o acasalamento, tende
a apurar uma determinada raça, através do estudo da árvore genealógica, que é o
que vai determinar a pureza de uma raça. Mas o que significa realmente uma ra-
ça pura?
Em zootecnia diz-se que pertence a uma raça pura, aqueles animais do-
mésticos que ao se reproduzirem, transmitem de maneira constante as próprias
características da raça em questão, ou seja, características morfológicas, psíqui-
cas e suas aptidões para cumprir determinadas tarefas. Entretanto, podemos con-
siderar puras, as raças depois de 05 gerações semelhantes. Gerações semelhan-
tes, quer dizer que os filhotes nascidos desses animais, guardam as mesmas ca-
racterísticas de aparência geral de cor e proporções.
Em suma, a seleção, portanto, tende à aperfeiçoar paulatinamente as ca-
racterísticas típicas de cada raça, de modo que os dotes físicos e psíquicos perpe-
tuem-se nos filhos, tornando o cão cada vez mais apropriado para a vocação da
raça a qual pertence.
II - APARECIMENTO DO CÃO
Qual será o cão mais antigo que se possa encontrar na história do mundo?
Bem; a maioria dos paleontólogos reconhece o antepassado do cão no MYACIS,
um pequeno mamífero, maior que uma doninha , com pernas curtas, rabo com-
prido, corpo alongado, pescoço relativamente longo e orelhas pontudas, mem-
bros relativamente curtos, providos de 05 dedos preênsis, dotados de garras par-
cialmente retráteis e mostrava características muito primitivas, especialmente no
crânio, que carecia de ampola timpânica ossificada, por esse motivo alguns ci-
nólogos acreditam ser ele o percursor dos gatos e ursos, lobos chacais e que al-
guns tipos canídeos evoluíram a partir de suas ramificações. Viveu na era Eoce-
nio, à 60 milhões de anos na região que hoje fica a Ásia.
O myacis é um ancestral tanto dos canídeos como de famílias como a do
Guaxinim, do Urso, da Fuinha, da Hiena e de outros. O myacis deu origem a
uma variedade de canídeos primitivos com características que se assemelhavam
a hienas, outros aos ursos e outros aos cães modernos. Há 20 milhões de anos, existia um animal semelhante ao cão, chamado de
Mesocyon. Tinha mandíbulas menores, cauda e corpo compridos e pernas atar-
racadas. As patas traziam 5 dedos separados, diferente do cão atual que tem 4
dedos juntos.
Entre 15 à 20 milhões de anos atrás, o Myacis evoluiu para um animal
chamado de CYNODICTIS , que era um animal de tamanho médio, mais com-
prido que alto e com pelagem densa. O Cynodictis evoluiu, por volta de 10 à 15
milhões de anos, para o chamado TOMARCTUS , que tinha mandíbula comprida
e cérebro maior, cauda longa e peluda e já revelava instintos sociais, sendo esse
possivelmente o predecessor dos cães atuais, pois tinha formas mais assemelha-
das ao gênero Canis: com ampola timpânica volumosa e bem ossificada e solda-
da completamente no crânio. É possível que os primeiros cães surgiram à apro-
ximadamente 100.000 anos, oriundos dum pequeno lobo que vivia na Índia. A
tese mais difundida pelos cinófilos é que através do tomarctus, o cão doméstico
compartilha um ancestral comum com todos os outros animais do gênero Canis,
inclusive os lobos, chacais, raposas e cães selvagens.
Raças caninas que hoje conhecemos, apresentam uma diversidade muito
acentuada de aspectos distintos, cuja explicação, não está somente na tendência
natural do Canis familiaris à variação, mas também nos efeitos de uma domesti-
cação muito antiga, ou seja, na intervenção do homem que através dos tempos
trabalhou para obter a fixação dos distintos caracteres físicos e psíquicos, apro-
priados para satisfazer diferentes interesses utilitários ou esportivos ou ainda pa-
ra desenvolver a inclinação à fidelidade e ao afeto que o cão, único entre os
animais, não tardou em manifestar-se.
1. Os Ancestrais do Cão
Distinguimos nos sítios arqueológicos da Europa vários tipos de cães: os
maiores teriam se originado dos grandes lobos do Norte (tinham o tamanho, na
cernelha, dos atuais Dogues alemães) e teriam dado origem aos cães Nórdicos e
aos grandes cães pastores. Os menores, morfologicamente perto dos dingos sel-
vagens atuais, achariam suas origens nos lobos menores da Índia ou do Oriente
Próximo.
Os mais antigos esqueletos de cães descobertos datam de cerca de 30.000
anos depois do aparecimento do homem de Cro-Magnon (Homo sapiens). Eles
sempre foram exumados em associação com o resto das ossadas humanas e é a
razão pela qual mereceram, em seguida, a denominação de Canis familiaris. Pa-
rece lógico pensar que o cão doméstico descende de um canídeo selvagem pré-
existente. Entre estes ascendentes em potencial figuram o lobo (Canis lupus), o
chacal (Canis aurus) e o coiote (Canis patrans).
Por outro lado, é na China que os antigos vestígios de cães foram desco-
bertos, enquanto que, nem o chacal, nem o coiote foram identificados nestas re-
giões. Na China também, foram encontradas as primeiras associações entre o
homem e uma variedade de lobos de tamanho pequeno (Canis lupus variabilis)
que remonta a 150.000 anos. A coexistência dessas duas espécies, num estágio
precoce de sua evolução, parece confirmar a teoria do lobo como ancestral do
cão.
Essa hipótese foi reforçada recentemente por várias descobertas, notada-
mente: o aparecimento de certas raças de cães nórdicos diretamente originados
do lobo; o resultado de trabalhos genéticos comparando o DNA mitocondrial
destas espécies, revelando uma semelhança superior a 99,8% entre o cão e o lo-
bo, enquanto ela não ultrapassa 96% entre o cão e o coiote; a existência de mais
de 45 subespécies de lobos que poderiam estar na origem da diversidade racial
observada nos cães; a semelhança e compreensão recíproca da linguagem de
postura e da linguagem vocal entre essas duas espécies.
A grande semelhança entre cães e lobos complicam o trabalho dos arqueó-
logos para fazer uma distinção precisa entre os vestígios do lobo e do cão quan-
do estes são incompletos ou quando o contexto arqueológico torna a coabitação
pouco provável. Com efeito, o cão primitivo só se diferencia do seu ancestral
por alguns detalhes pouco fiáveis, como o comprimento do focinho, a angulação
do stop ou ainda à distância entre os molares cortantes e os tubérculos superio-
res.
O número de canídeos predadores certamente foi muito inferior ao de suas
presas, o que vem a diminuir as chances de se descobrir os seus fósseis. Todas
essas dificuldades, as quais se juntam as possibilidades de hibridação cão-lobo,
permitem entender porque os numerosos elos sobre as origens do cão restam
ainda a serem descobertos e, notadamente, as formas de transição entre Canis
lupus variabilis e Canis familiaris que talvez permitirão, algum dia, encontrar
uma resposta entre as diferentes teorias.
Observamos, no entanto, que toda teoria “de difusão” que atribui às mi-
grações humanas as responsabilidades de adaptações do cão primitivo, não ex-
clui a teoria “evolucionista” que sustenta que as variedades de cães provém de
diferentes centros de domesticação do lobo.
2. A Batalha das Teorias.
Numerosas teorias fundadas em analogias ósseas e dentárias, há muito
tempo se enfrentaram para atribuir a uma ou outra espécies que são o lobo, o
chacal e o coiote, a qualidade de antepassado do cão. Outras lançaram a hipótese
segundo a qual as raças de cães, tão diferentes quanto à do Chow-Chow ou a do
Galgo, poderiam descender de espécies diferentes do mesmo gênero Canis.
Fiennes, em 1968, atribuía mesmo às quatro subespécies distintas de lobos
(lobo europeu, lobo chinês, lobo indiano e lobo norte-americano) a origem dos
quatro grandes grupos de raças de cães atuais.
Alguns, enfim, supuseram que cruzamentos entre essas espécies poderiam
estar na origem da espécie canina, argumentando o fato de que os acasalamentos
lobo-coiote, lobo-chacal ou ainda chacal-coiote são férteis e podem produzir hí-
bridos férteis, apresentando todos 39 pares de cromossomos. Esta última teoria
de hibridação, parece agora inválida pelo conhecimento das barreiras ecológicas
que separam essas diferentes espécies na época do aparecimento do cão e torna-
vam notadamente impossíveis os encontros entre coiotes e chacais.
Os lobos, quanto a eles, estavam onipresentes, mas a diferença de com-
portamento e de tamanho com as outras duas espécies tornavam os acasalamen-
tos interespecíficos altamente improváveis, o que refutava entre outras, a hipóte-
se atribuindo a "paternidade" do cão a uma hibridação entre o chacal (Canis au-
reus) e o lobo cinzento (Canis lupus).
3. Conclusão
A diversidade de opiniões e a fragilidade encontrada na maioria das teori-
as impedem os estudiosos chegarem a uma conclusão concreta.
Os biólogos e cinólogos especulam permanentemente a respeito de qual
canídeo teria sido domesticado para produzir o cão doméstico, sendo que o lobo
e o chacal são tidos como candidatos mais prováveis.
4. A Domesticação do Cão
Como em toda domesticação, o processo de familiarização do lobo se fez
acompanhar de várias modificações morfológicas e comportamentais em função
de nossa própria evolução. Assim, as mudanças observadas nos esqueletos de-
monstram um tipo de regressão juvenil denominada "pedomorfose", como se os
animais, quando se tornavam adultos, tivessem guardado, com o passar das ge-
rações características e certos componentes imaturos: redução do tamanho, di-
minuição da cana nasal, pronunciamento do stop, latidos, gemidos, atitudes lúdi-
cas... que fazem certos arqueozoólogos afirmarem que o cão é um animal que
permaneceu no estágio de adolescência, cuja sobrevivência depende estritamen-
te do homem. Paradoxalmente, este fenômeno é acompanhado de uma redução
do período de crescimento, levando a um avanço do período de puberdade e
permitindo assim, um acesso à reprodução mais precoce, que explica porque,
nos dias de hoje, a puberdade é mais precoce nas raças de cães de pequeno porte
do que nas raças grandes, em todos os casos mais precoces do que nos lobos
(cerca de dois anos).
O Homem e o cão pertencem a grupos sociais diferentes, mas sua associa-
ção mostrou-se vantajosa para ambas as espécies. Por outro lado o cão fica a
mercê do controle e seleção feita pelo homem.
Segundo dados arqueológicos a domesticação do cão teria ocorrido há
aproximadamente 14.000 anos quando o lobo foi trazido para dentro da estrutura
social humana. Para tanto o processo de amansamento já estaria ocorrendo desde
o momento que agrupamentos de lobos passaram, graças a facilidade na obten-
ção de alimentos, a habitar próximos aos assentamentos humanos. Esses grupos
tornaram-se isolados reprodutivamente da população mais selvagem dando iní-
cio ao processo que levaria a linhagem dos cães.
Segundo Hemmer (1990) a principal mudança ocorrida seria a sua "per-
cepção de mundo". Isto significa que enquanto uma alta sensibilidade e estado
de alerta combinado com reações rápidas ao estresse seriam necessárias para a
sobrevivência do animal no estado selvagem, características opostas de docili-
dade, diminuição do medo e tolerância ao estresse, são os requisitos da domesti-
cação. Para que isto fosse possível mudanças estruturais deveriam ocorrer. Entre
outras, mudanças hormonais, redução no tamanho do cérebro, diminuição da
acuidade e sensibilidade da audição e visão e retenção das características e com-
portamentos juvenis na vida adulta. Os primeiros cães domesticados, foram provavelmente exemplares de
uma espécie de lobo que se alimentavam de restos da caça que o homem primi-
tivo deixava ao redor de suas habitações no oriente antigo.
Talvez os primeiros " homo sapiens " tenham caçado estes animais como
alimento e ao criarem os filhotes deles, tenham descoberto sua utilidade para re-
alização de determinadas tarefas.
Muito embora, a importância histórica não seja equivalente a domestica-
ção do cavalo, por exemplo, a relação entre o homem e o cão, qualquer que seja
a sua origem, levou de maneira rápida, que houvesse uma simbiose e consequen-
temente resultados significativos para a cultura e a solidariedade humana, onde o
homem passou a explorar todo potencial existente no cão em beneficio próprio e
de outrem.
O cão, dentre os animais domésticos, têm uma importância fenomenal,
pois nas várias virtudes existentes nele , principalmente no que tange o seu em-
prego (guia de cegos, pastor, companhia, de guarda etc.) , eles causam um efeito
psicológico positivo no ser humano.
5. Vejamos agora alguns parentes próximos do cão:
- LOBO CINZENTO - América do Norte, Europa, Ásia e Oriente Médio;
- LOBO CASTANHO - Sudeste dos Estados Unidos;
- COIOTE - Canadá e Estados Unidos;
- CHACAL - África, Europa e Ásia;
- RAPOSA - Em quase todas as partes do mundo;
- CACHORRO DO MATO - Florestas Sul-americanas.
# Estes são os mais conhecidos, entretanto, existem outros, mas sem im-
portância para o nosso estudo cinotécnico.
III - ZOOLOGIA
É o ramo da biologia que estuda os animais, assim como a botânica ou fi-
tologia, é outro ramo que estuda os vegetais. Para melhor compreender o campo
de ação da zoologia, é necessário fazer uma pequena exposição sobre o domínio
da biologia; como esta ciência estuda os seres vivos, convém desde logo conhe-
cer os aspectos principais pelos quais se pode estudar um ser vivo, animal ou
vegetal. São eles:
a) Morfologia - estuda formas ou estruturas. É dividida em anatomia, que estuda
os órgãos e aparelhos; histologia, que estuda os tecidos que compõe os ór-
gãos e citologia que estuda as células que formam os tecidos;
b) Fisiologia - estuda as funções;
c) Embriologia - estuda o desenvolvimento dos embriões;
d) Filogenia - estuda o parentesco com outras espécies e sua evolução;
e) Biogeografia - estuda as distribuições geográficas (origem de raça e espé-
cie);
f) Ecologia - estuda o meio que o cerca;
g) Genética - estuda a herança dos seres e suas características com relação aos
pais;
h) Sistemática - estuda a classificação dos seres;
i) Evolução - estuda a evolução através dos tempos;
j) Paleontologia - estuda vidas passadas através de fósseis;
l) Patologia - estuda as doenças;
m) Psicologia - estuda as manifestações mentais e comportamentais dos seres;
n) Sociologia - estuda determinados comportamentos em sociedade.
1. Classificação dos Animais.
Classificar , como o próprio nome indica, é reunir em classes, a partir de
uma sistemática lógica, de forma à separar e ordenar os animais conforme su-
as designações científicas. A tarefa da classificação é importante, pois, há mais
de 1 milhão de espécies de animais catalogados, cujo o reconhecimento não se-
ria fácil se os animais não fossem agrupados em conjuntos homogêneos.
Muitos animais aparentemente semelhantes pertencem a grupos diferen-
tes, assim como há animais aparentemente diferentes que pertencem, também
ao mesmo grupo. Um exemplo notório: as aves e os morcegos são animais voa-
dores, assim como peixes e baleias são animais que nadam e vivem na água, to-
davia, as baleias e os morcegos, de aparência tão diferentes, são do mesmo gru-
po, isto é, mamíferos, pois as estruturas fundamentais são semelhantes.
Por isso não basta conhecer as semelhanças ou diferenças externas dos
animais, mas as vezes, comparar toda a anatomia interna e o seu desenvolvimen-
to embrionário.
2. Nomenclatura e Classificação.
Os animais classificados cientificamente, recebem determinadas designa-
ções, estando elas submetidas a um conjunto de regras aceitas internacionalmen-
te conhecidas sob o nome de Regras Internacionais de Nomenclatura Zooló-
gica. Na classificação de um animal, empregam-se diversas categorias de nomes
que correspondem a grupos de hierarquia sistemática (classificação científica) .
Qualquer animal, é submetido às seguintes designações científicas: espé-
cie, família, ordem, classe, ramo ou filo, sub-reino e reino.
Para o nosso estudo, o cão doméstico, é assim classificado:
1. ESPÉCIE ....................................... Canis familiaris
2. GÊNERO ....................................... Canis
3. FAMÍLIA ....................................... Canidae
4. ORDEM ........................................ Carnívoro
5. CLASSE ........................................ Mamalia
6. FILO ............................................. Chordata
7. SUB-REINO .................................. Metazoa
8. REINO. ......................................... Animal
A espécie é o conjunto dos indivíduos semelhantes entre si e descendentes
um dos outros, e que em condições naturais cruzam-se entre si e raramente com
outra espécie próxima;
A espécie é a única categoria que possui nomenclatura binomial, ou se-
ja, é designada por dois nomes: o nome do gênero iniciando com letra maiúscu-
la, seguido do nome específico com letra minúscula; assim quando se referir ao
nome científico do cão, não se diz apenas canis, mas sim Canis familiaris;
O gênero é o conjunto de espécie, exemplo: o cão doméstico (Canis fa-
miliaris), o lobo (Canis lúpus), o chacal (Canis aureus), pertencem ao gênero
Canis .
A família é formada pelo conjunto de gêneros, assim Canis, formam a
família Canidae;
A ordem é constituída pelo conjunto das famílias, por exemplo: as famí-
lias - Felidae, Canidae, Ursidae, formam a ordem carnívora;
A classe é composta das ordens, assim os carnívoros, edentada, ungulata,
primatas, cetáceos..., formam a classe Mamalia;
O filo ou ramo, é formado pelo conjunto de classe, assim, os Pisces, os
Mamalias, as Aves, os Reptilias ...., formam o Filo Chordata;
O sub-reino, é formado pelo conjunto dos ramos, assim os Chordatas, os
Moluscos, os vermes..., formam o sub-reino Metazoa (pluricelulares);
O reino, é formado pelo conjunto dos sub-reinos: Metazoa (pluricelula-
res) e Protazoa (unicelulares).
Como já foi colocado o nome científico de qualquer ser vivo é dado de
acordo com um método padrão: primeiro, o nome do gênero, começando por
uma letra maiúscula, e em seguida a espécie, sempre em minúsculas. Os nomes
científicos usualmente são derivados do latim ou grego, ou ainda "latinizações"
de nomes próprios. O uso desse tipo de nomenclatura é muito importante para a
comunicação científica: torna possível referir-se a um ser vivo sem problemas
de traduções ou ambigüidades. Você pode não saber o que é um volk, susi, warg
ou wolf, mas qualquer zoólogo, não importa se na Patagônia ou na Sibéria, sabe
o que é um Canis lúpus!
Esse é o nome científico do lobo, Canis lúpus. Isso significa que o lobo
pertence ao gênero Canis, que abarca também os coiotes, chacais e o cão selva-
gem africano, e à espécie lúpus, que é ligeiramente distinta dos coiotes, chacais
e do cão selvagem africano.
Porém, no caso do cão existem muitas divergência quanto a sua origem, e
conseqüentemente diferentes opiniões quanto ao seu nome científico. Com
relação a isto Breno Pannia Espósito, na página da internet,
http://home.wolfstar.com/~infolobo/Cao.html, coloca que:
"Até há relativamente pouco tempo, o cão doméstico era designado
pelo nome científico Canis familiaris, indicando que ele pertencia ao
mesmo gênero do lobo, chacal, coiote e cão selvagem africano, po-
rém com algumas diferenças específicas que seriam suficientes para
classificá-lo como outra espécie, separada de qualquer uma das ou-
tras. Como veremos no ponto seguinte, muita coisa mudou aqui!"
"Além da espécie, um terceiro termo pode entrar ainda na composi-
ção do nome científico do animal, que é o da subespécie, ou raça, ou
variedade, e que quando existe aparece logo em seguida ao da espé-
cie, também em minúsculas. Normalmente, a subespécie discrimina
populações da mesma espécie com pequeníssimas singularidades
causadas, por exemplo, pelo isolamento geográfico. E é à ciência da
taxonomia que compete classificar os seres vivos de acordo com
Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie."
"Em 1993, a Sociedade Americana de Mamalogistas e o Smithsonian
Institute publicaram o manual: Espcies de mamíferos do Mundo:
Uma referência taxonômica e geográfica (em inglês), editado por
D.E. Wilson e D.A.M. Reeder. Nessa obra, conviu-se que o nosso
cão doméstico deveria ser designado como Canis lúpus familiaris, ao
invés do anterior Canis familiaris, confirmando portanto o consenso
da comunidade científica que o cão é de fato exatamente da mesma
espécie que o lobo, o que é a mesma coisa que dizer que o cão é uma
"raça" (ou uma variedade, ou uma subespécie) de lobo, como por
exemplo o lobo ártico, Canis lúpus arctos, que é uma outra variedade
de lobo. "
"Qualquer uma das mais de 400 raças de cães tem, no máximo, 0,2%
de diferença genética com um lobo. Ou seja, o Poodle ou o Pequinês
são, na realidade, um lobo! Logicamente, um lobo que foi incrivel-
mente alterado em aparência e comportamento através de gerações e
gerações de seleção artificial. Mas geneticamente um lobo, afinal!"
"Cães e lobos podem cruzar entre si, gerando descendência fértil (os
famosos "cães-lobo"). A definição clássica de "espécie" é justamente
o conjunto de indivíduos que são capazes de reproduzir-se entre si.
Cavalos e burros não são da mesma espécie, o que significa que o
produto do seu cruzamento, a mula, tenha baixíssima fertilidade (ali-
ás, desde os romanos o dito Cum mula peperit, "Quando a mula pa-
rir", é usado para acontecimentos improváveis)."
"Um dos procedimentos que os esquimós empregam algumas vezes
para "melhorar o sangue" dos seus cães de trenó é justamente deixar
as fêmeas no cio numa floresta, à espera de que ela seja coberta por
um lobo. Algumas vezes, entretanto, ela pode ser devorada sem mai-
ores delongas..."
"Na verdade, todos os membros do gênero Canis (lobos, coiotes,
chacais e o cão selvagem africano) podem cruzar entre si, em cativei-
ro, gerando descendência fértil. Portanto, se poderia perguntar, "En-
tão, todos eles são da mesma espécie?". A resposta, entretanto, é não.
Eu perguntei isso ao corpo técnico do National Museum of Natural
History, e a resposta que me deram era mais ou menos a seguinte:
"Embora animais silvestres possam cruzar entre si em cativeiro, isso
não implica que o façam na natureza. Portanto, não se aceitam regis-
tros de intercruzamento em cativeiro para estabelecer a "sinonimi-
zação" das espécies. Ou seja, o conceito de "espécie" leva em conta
apenas àqueles cruzamentos que ocorrem na natureza, devidamente
comprovados, e não em cativeiro."
"As semelhanças entre cães e lobos são tantas, que um cruzamento
entre ambos produzirá um animal que pode parecer-se com o cão, o
lobo, ou qualquer coisa intermediária, e apenas observando é difícil,
senão impossível, saber qual a porcentagem de cada no filhote. To-
das as vacinas que são usadas em lobos podem ser usadas em cães e
vice-versa, por exemplo."
"Portanto, se você tem algum cão, parabéns! Saiba-se desde já parte
de uma alcatéia doméstica!"
Sendo assim, em virtude de existirem diferentes teorias, e uma grande
quantidade de informações, muitas vezes contraditórias, o cinotécnico deve co-
nhecer todas elas, principalmente as mais importantes e saber identificá-las.
Segundo Espósito, Naturalmente, há algumas diferenças entre os cães e os
lobos, e embora a aparência seja a mais chamativa, porém não é a mais impor-
tante. As distinções que vamos discutir servem na verdade para comparar qual-
quer animal doméstico com o seu antepassado selvagem.
Em primeiro lugar, os cães apresentam neotenia, isto é, a permanência de
características juvenis nos animais adultos. Isto quer dizer que, nos filhotes de
todos os animais, e nos bebês humanos, as proporções entre os membros do cor-
po são muito diferentes das dos adultos. Por exemplo, animais jovens tipicamen-
te têm cabeças, patas e orelhas “grandes demais” para os seus corpos, mas essa
relação vai diminuindo conforme vão atingindo a maturidade. (Portanto, se você
é um adolescente traumatizado com o tamanho descomunal das suas orelhas,
braços, mãos ou pés, não se preocupe, que isso vai passar!) Focinhos, por outro
lado, são pequenos em relação ao resto do crânio nos animais jovens e maiores
nos adultos. Pois bem, quando esse ajuste natural não acontece, ou não acontece
totalmente, temos a chamada neotenia: animais adultos que ainda apresentam
pelo menos algumas proporções típicas de filhotes.
Quando se diz que um cão apresenta neotenia, isso significa que, quando
comparamos um cão adulto com um lobo, as proporções corporais do cão estão
mais para o filhote de lobo do que para o lobo adulto. Seu esqueleto está, em
certo sentido, “acriançado”. Além das diferenças físicas, os comportamentos são
distintos: os filhotes de lobo podem ser amansados até uma determinada idade
(antes de que atinjam a maturidade sexual, aos 22 meses), e durante esse período
de tempo estão abertos para interações sociais, ou seja, têm aberta a "janela de
socialização". Depois disso, já são mais agressivos. Cães, porém, são consisten-
temente mais amigáveis. Aliás, é precisamente por isso que eles são domésticos:
a última coisa que qualquer dono desejaria seria um animal que, de repente, não
fosse mais tão dócil e amigável. Animais domésticos foram precisamente seleci-
onados para viverem junto com o homem, de acordo com as regras humanas.
Finalmente, o padrão de reprodução dos cães é também diferente. Os lo-
bos, e todos os canídeos selvagens, acasalam-se geralmente no inverno e, após
uma gestação de aproximadamente 63 dias, têm sua única prole do ano. Acredi-
ta-se que na natureza, o cio das fêmeas seja regulado pelo fotoperíodo, ou seja,
pela duração do dia. No inverno, os dias são mais curtos (o período de claridade
é menor), e essa diferença, aliada a outros possíveis fatores, seria o “sinal” para
o organismo da fêmea de que chegou o período de acasalamento. As cadelas, ao
contrário, podem entrar no cio até duas vezes ao ano, e normalmente esse ciclo
não apresenta influências ambientais. A domesticação altera o mecanismo hor-
monal nativo dos animais.
É por isso que se insiste muito em que um animal doméstico não é a mes-
ma coisa que um animal amansado. Embora ambos possam ser simpáticos e
amigáveis, o primeiro é física, psicológica e biologicamente distinto do segundo.
IV - UTILIZAÇÃO DO CÃO PARA MISSÕES EM TEMPO DE
GUERRA E PAZ
Há muito tempo e em quase todos os lugares do mundo, foram confiadas
aos cães as mais diversas tarefas, algumas delas pouco pacíficas. São relatados
casos de cães-de-guerra entre os egípcios, os sumérios e nos exércitos de Ciro e
Alexandre Magno. Os romanos utilizavam de cães, em suas legiões, cobertos
de couro e portando fogo em recipientes de bronze, para incendiar acampamen-
tos inimigos. Estes também portavam colares com pontas de ferro e lancetas pa-
ra ferir e lacerar cavalos e homens.
No século XIV, cães eram forçados a engolir tubos de metal que conti-
nham mensagens e informações, pois só os animais tinham livre trânsito, entre
fronteiras. Ao chegarem em seus destinos, eram sacrificados, e assim recupera-
va-se a mensagem. No século XVI, na guerra franco-britânica, Henrique VIII
utilizou-se de mais de 500 cães contra Carlos V da França. Os conquistadores
também usaram cães no aniquilamento dos impérios inca e asteca. Os índios dos
Estados Unidos da América (EUA) aproveitavam seus cães como sentinelas em
seus acampamentos, na captura de invasores e como fonte alimentar.
No final do século XIX, os alemães utilizaram cães de grande porte como
agentes de ligação ou sentinelas. A Alemanha entrou na guerra em 1914, com
aproximadamente 6.000 cães treinados, em clara vantagem contra os cerca de
250 cães sanitários do exército francês que, em virtude da evolução do conflito
para a guerra de trincheiras, foram desativados e posteriormente utilizados para
com seu faro apurado, detectar a presença de gases tóxicos e outros engenhos
químicos.
Com a experiência na utilização dos "pioneiros" cães transportadores de
mensagens, teve início o uso de cães de ligação que, além de transportar uma
mensagem na sua coleira, ainda transportavam um pombo correio em um colete
destinado à resposta da mensagem. Outra função bastante desempenhada pelos
cães durante a 1ª Guerra foi a de transportador de víveres e munições. Esses cães
foram bastante utilizados no pós-guerra na reconstrução das cidades e na reabili-
tação dos mutilados no conflito. Também está registrado o emprego de cães na
vigilância de campos de prisioneiros e no rastro de foragidos.
No deflagrar da 2ª Grande Guerra, outra vez os cães foram utilizados. princi-
palmente na prevenção de sabotagens e para economia dos efetivos em funções
de guardas e sentinelas. No dia 15 maio 1941, quando se discutia uma lei de
emergência, para autorizar o sacrifício de todos os animais domésticos, inclusive
os cães, para atenuar a crescente escasses de alimentos produzida pelo bloqueio
dos submarinos alemães. Foi nesse teatro de guerra que o cão pastor aparece pe-
la primeira vez como elemento ativo e perfeitamente coordenado, causando pâ-
nico nas linhas de defesa britânicas. Os alemães utilizaram cerca de 30.000 cães
de guerra, que dissolveram 18 centros de resistência, fazendo uma ocupação fan-
tástica, no que culminou com a prisão de 1830 soldados ingleses e gregos. De-
ve-se ressaltar, nessa fase, o emprego por parte da antiga União Soviética de
cerca de 40.000 cães "suicidas", armados com bombas e usados para conter o
avanço da divisão Panzer alemã. Em agosto do mesmo ano, quando os alemães
preparavam um grande ataque à Moscou, as autoridades moscovitas enfrentaram
então um grave problema: o de preparar com urgência um sistema de defesa e
ataque contra os blindados alemães. Foi então que o Capitão Smirnoff sugeriu a
idéia do emprego de cães, criando uma novidade no adestramento para a guerra.
Um adestramento de emergência foi preparado para cães de salvamento e para "
vira-latas", que consistia em condicionar os animais a receberem alimentação
em baixo de veículos blindados semelhantes aos dos alemães. Na madrugada de
09 de outubro de 1941, com uma temperatura de 20º abaixo de zero, foi ordena-
do o emprego de todas as unidades caninas em todas as rotas e em todos os pon-
tos de partida considerado ideais para o avanço das tropas russas. A alimentação
dos cães fora cortada anteriormente e os soldados russos permaneceram imóveis
com seus cães famintos nas trincheiras especialmente preparadas para permitir a
passagem das força mecanizadas alemãs. Cerca de 3000 tanques atravessaram as
defesas Soviéticas, deixando atrás de si, núcleos Soviéticos de resistência provi-
dos de cães perfeitamente organizados. Estes animais, ao presságio do ataque
inimigo tinham ficado sem comer por dois dias e foram adaptados ao dorso dos
cães, cargas explosivas acionadas por uma antena magnética. Posteriormente foi
dada a ordem para que os cães fossem soltos, partindo velozmente em direção
aos comboios alemães destruindo-os com muita eficiência. De acordo com um
comunicado posterior, foram destruídos 1500 tanques e mais de 1200 veículos
motorizados alemães. Moscou, Leningrado, Kiev, eram algumas das cidades ti-
das como referência para treinamento de cães de guerra. Durante o período da
guerra fria, os russos davam tamanha importância ao cão de guerra e seus cães
tinham um regime alimentar superior aos do povo.
Na década de 70, os cães também foram bastante utilizados no Oriente
Médio; o exército israelense formou diversas unidades de treinamento para cães
de guerra. Com o advento da Guerra da Coréia, pela primeira vez foram utiliza-
dos cães treinados de forma homogênea e com destinação definida, os “cães pa-
trulheiros”. Dados estatísticos do K-9 Unity creditam aos cães empregados nesse
conflito uma diminuição em cerca de 60% nas baixas de combatentes norte-
americanos nas missões de patrulhas.
Após o término da guerra da Coréia e a observação do emprego de cães
pelo exército dos EUA durante o conflito do Vietnã, o Exército Brasileiro viabi-
liza a utilização de Cães-de- Guerra; por meio da portaria nº 318-GB, de 12 de
outubro de 1967, que aprovava e mandava pôr em execução o Manual C42-30
Adestramento e Emprego de Cães-de-Guerra e da portaria nº 932, de 24 de ju-
nho de 1970, que autorizava o emprego de Cães-de-Guerra nas organizações mi-
litares de Polícia do Exército, no Curso de Operações na Selva e Ações de Co-
mando e na Brigada de Infantaria Pára-quedista.
Já nos tempos de paz, o cão é empregado principalmente em missões poli-
ciais, em ações de salvamento, busca e salvamento de pessoas desaparecidas e
ou fugitivas, no combate ao narcotráfico e em competições desportivas, na segu-
rança de pontos e áreas sensíveis, desfiles cívico-militares, escolta e guarda de
presos, operações de controle de distúrbios e de garantia da lei e da ordem, re-
vista de instalações e patrulhamento de área e revista de pessoas.
V - DAS CLASSIFICAÇÕES CANINAS
As primeiras enumerações de raças, remontam a Aristóteles, no mundo
greco-romano, que classificava os cães de acordo com sua conformação física
(grandes e pequenos).
Em 1576, Caio escreve o Trattato Delle Razze Canine (Tratado de raça
canina).
Uma outra classificação, surge no ano de 1755, feita por Buffon, que or-
dena 30 raças segundo a forma e o porte das orelhas: eretas, semi-eretas e tom-
badas.
Sessenta anos depois (1815) , Cuvier (criador da anatomia comparada) es-
tabelecia uma classificação baseada na conformação do cérebro.
Um inglês, chamado Hugh Dalziel, um cinólogo menos ligado a anatomia
e mais prático, simplificava a classificação canina como: de caça, de utilidade e
caseiro.
Na metade do século XIX, Pierre Mégnin, classificou os cães em 04 (qua-
tro) tipos: Lupo, braco, molosso e lebreiro.
A partir de 1952, os cinólogos se inspiraram ao sistema de Mégnin,
adaptando-o às condições atuais dividindo-o em 06 (seis) tipos:
1. MOLOSSÓIDES (cães do tipo molosso)
2. LUPÓIDES (cães do tipo lobo)
3. LEBREIRÓIDES (cães do tipo lebreiro ou galgo)
4. BRACÓIDES (cães do tipo braco)
5. VULPINÓIDES (cães do tipo vulpino)
6. BASSETÓIDES (cães do tipo bassê)
VII - CRIAÇÃO
Criação é o ramo da Cinofilia em que, através do processo de seleção dos
reprodutores, podemos aprimorar os nossos grupos caninos, produzindo novos
valores e novos exemplares, para engrandecimento e popularização da nossa ci-
nofilia.
1. Escolha dos Reprodutores.
Na escolha dos reprodutores, existem quatro pontos importantes que de-
vem merecer especial atenção, que são:
- qualidade dos genitores;
- estado de saúde;
- idade;
- consangüinidade ou grau de parentesco.
A qualidade dos genitores é importante quando se trata de reprodução de
animais “selecionados”, os “pedigrees” nos orientam, pois neles devem constar
o visto do permitido da comissão de criação da entidade em que estiver registra-
do.
Quanto a idade, o cão só poderá reproduzir, quando atingir 02 (dois) anos
de idade, sendo macho, 20 (vinte) meses ou quando tiver o terceiro cio, para as
fêmeas. Antes desse limite de idade, o cão não tem capacidade de transmitir suas
boas características, podendo inclusive nascer filhotes com defeitos congênitos.
A consangüinidade se caracteriza pelo acasalamento de cães, com grau
de parentesco, ou seja: irmão com irmã, pai com filha. A consangüinidade se ve-
rifica dentro da árvore genealógica até os bisavós, podendo, dentro de análises
técnicas e com intenção de reforçar determinada característica, ser aplicada em
determinados casos. O criador é sempre o dono da fêmea reprodutora, que deve-
rá ter canil aberto, e registrado, se for Pastor Alemão, na SBCPA, e, nas demais
raças, no Kennel Club, ou outros órgãos especializados da raça.
2. Pedigree - CRO (Certificado de Registro de Origem).
O pedigree é a certidão de nascimento de um cão. Nele estão inseridos
dados sobre a genealogia, sobre os irmãos, sobre as características individuais,
inclusive as ocorridas no decorrer da vida do cão, e informações complementa-
res referentes ao criador, às provas disputadas, às transferências, etc.
No caso dos Pastores Alemães, o caminho a ser percorrido para a obten-
ção do pedigree é o seguinte:
- Cobertura entre macho e fêmea com pedigree, sendo que ambos devem ter o
“permitido” para o acasalamento ou serem “selecionados”;
- Comunicar o acasalamento através de formulário próprio;
- Verificação da ninhada após 45 (quarenta e cinco) dias do nascimento e ta-
tuagem dos filhotes. Verifica-se dentição, testículos e pigmentação.
VIII - STANDARDS
Como já foi dito anteriormente, há mais de um século o homem ocupa-se
em selecionar as raças caninas toda raça tem em seu país de origem uma associ-
ação que se preocupa com sua defesa e propagação, estabelecendo o seu stan-
dard.
STANDARD é, portanto, a descrição minuciosa do cão; é o retrato padrão
da raça a qual se refere. O que se leva em consideração no standard, são aspec-
tos como: características gerais (conjunto de aptidões), altura, peso, conforma-
ção anatômica (cabeça, olhos, orelhas, membros, tronco, cauda...), pelagem ,
defeitos anatômicos, defeitos que implicam desqualificação etc..
1. Aspectos a se considerar num Standard.
1. MEDIDAS - Muito importante no julgamento de um cão, pois não está
em jogo apenas os seus valores, mas sim a harmonia do conjunto ou conforma-
ção do animal.
Dessa forma, temos como medidas usuais:
a) altura;
b) comprimento do corpo;
c) perímetro torácico;
d) comprimento do crânio;
Damos a seguir, as diversas medidas e as maneiras de obtê-las:
A) Altura - Caracteriza o conjunto das dimensões do cão; se o mesmo é
de porte médio, grande, pequeno ou diminuto. A medição é feita do solo (almo-
fadas plantares) até à cernelha. De acordo com a sua altura, os cães se dividem
em: hipermétricos (altos), eumétricos (médios) e elipométricos (baixos).
B) Comprimento do corpo - Quanto ao comprimento do corpo, os cães
podem ser divididos em;
- Longilíneos: Quando possuem o corpo comprido; são em geral mais
finos e com o focinho mais comprido, como nos galgos;
- Brevilíneos: Possuem corpo curto e em geral são fortes, atarracados e
com cabeça ossuda e grande, como nos buldogs;
- Mediolíneos: Cães do tipo, intermediário entre os dois tipos anteriores.
C) Perímetro toráxico - é a medida obtida com uma fita métrica que con-
torna o tórax, passando pelo esterno e pouco atrás da cernelha.
D) Comprimento do crânio - é a distância entre a parte posterior do crâ-
nio (occipital) e os incisivos superiores. Divide-se em:
- Dolicocéfalo: próprio das raças de focinho comprido, (Collie, Afhan
hound, doberman);
- Braquicéfalo: próprio das raças com focinho curto e achatado (Bulldog,
pequenês);
- Mesaticéfalo: próprio dos cães com comprimento intermediário às duas
divisões anteriores (Pastor alemão),
2. PELAGEM - A pelagem é uma característica importante, podendo ser
curto (chamado liso) ou longo. Os aspectos da pelagem podem ser:
Pêlo:
- Ausência de pêlo (alopecia) - pele nua e muito pigmentada;
- Pêlo curto - mais ou menos espessos (Braco, boxer, ...);
- Pêlo longo - pode ter comprimento e forma:
Reto - (vulpinos, Pastor Alemão, Collie,...);
Cortina - (Spaniel, Maltês, Setter, ...);
Arame - (Schnauzer, alguns Terriers ...);
Lanoso - (Poodle, Cães d’água, ...);
Cores - Podem ser agrupadas em 10 tipos:
- Totalmente negro; negro com manchas brancas os pés e peito;
- Negro-fogo - em todas as raças caninas as extensões avermelhadas são
sempre dispostas da mesma maneira, variando apenas no tamanho e na
intensidade do vermelho. Essa disposição é a seguinte: em volta dos
olhos e do focinho, sobre os olhos, nas pernas, no peito, no ventre e so-
bre a cauda; o negro - fogo pode ter manchas brancas no focinho, peito e
pés.
- Azul, cinza, cinza escuro, totalmente amarelado, ou com manchas
brancas no peito e pés;
- Completamente branco, ou com manchas mais ou menos grandes;
- Fulvo (da cor palha ao castanho) , freqüentemente com máscara negra,
podendo também ter manchas brancas;
- Vermelho com várias gradações - do laranja pálido ao mogno intenso
do Setter Irlandês, com ou sem manchas brancas;
- Ruão, ou seja, um fundo branco pontilhado, uniforme e intimamente de
marrom ou negro, com ou sem manchas marrons e negras;
- Marrom mais ou menos intenso, com ou sem branco;
- Tigrado, ou seja, estrias negras mais ou menos clara sobre um fundo
fulvo ou cinza, ou estrias fulvas sobre um fundo negro (Buldog In-
glês ...);
- Cinza - lobo com pêlos claros na base e negro nas extremidades.
3. MORDEDURA - A disposição dos dentes pode ser de vários tipos, de-
pendendo da posição dos incisivos superiores com relação aos inferiores.
- Em tesoura - considerada mordedura normal, onde os incisivos superi-
ores deslizam sobre os inferiores, tocando-lhes a parte dianteira com sua
parte superior;
- Em torquês - a extremidade inferior dos incisivos superiores coincide
com a extremidade superior dos incisivos inferiores;
- Mordedura prognata inferior - os incisivos inferiores são mais avan-
çados em relação aos superiores;
- Mordedura prognata superior - os incisivos superiores são mais
avançados em relação aos inferiores.
4. OLHOS E ORELHAS - nas diferentes raças, os olhos variam em for-
ma e cor:
- Cor: - Vermelhos (Chihuahua albino);
- Quase negros (Schnauzer gigante);
- Castanhos com variadas intensidades (Quase
todas as raças);
- Amarelos (Pudelpointer);
- Âmbar (Weimaraner e alguns molossos)
- Forma: - Salientes (Pequinês);
- Afundados (São Bernardo);
- Amendoados (Collie) ;
- Arredondados (Molossos)
- Orelhas: são de formas variadas, dividem-se em:
- Eretas (Pastor Alemão);
- Tombadas (Cocker);
- Sem - eretas (Fox Terrier).
Podem ser também amputadas, sendo justificada, por razões históricas
(tradição da raça, higiênicas, estéticas e utilitárias) .
5. TRONCO, MEMBROS, CAUDA:
- Tronco - parte a que se ligam o pescoço e as pernas podendo ser: lon-
go, médio ou curto ;
- Membros - podem ser: - Regulares: bem perpendiculares;
- Irregulares (Buldog);
- O posterior pode ser
reto (Chow Chow), anguloso (Galgo), ou mui-
to anguloso (Pastor Alemão).
- Cauda - pode ser: - Íntegra, mais ou me-
nos amputada e amputada;
Sua forma pode variar: sobre o dorso (vulpinos) ; cimitarra curva (Collie).
6. NACIONALIDADE, USO, HISTÓRIA:
- Nacionalidade: é o país de origem, ou aquele que adotou a raça. Ex.: O
Pequinês vem da China mas foi adotada pela Inglaterra;
- Uso: Embora se diga que todos os cães e todas as raças sejam simultane-
amente de caça, guarda e companhia; há as variantes físicas e psicológicas que
tornam cada uma delas particularmente adequada a certo uso; para o qual foram
selecionadas em função dessas variantes.
- História: Na história de cada raça estão inseridas principalmente a ori-
gem da raça ou de como foi feito a seleção da mesma.
Um dos maiores cinólogos do mundo, o belga Charles Huge, após 60
anos de estudos, escreveu que o melhor standard é um bom desenho. É, entre-
tanto, o que poderíamos acrescentar como sendo uma boa foto a cores .
IX – TERMINOLOGIAS TÉCNICAS
É chegado o momento de esclarecer o significado de algumas expressões
cinotécnicas que serão ditas pelos futuros cinotécnicos com certa freqüência.
Alguns destes conceitos estão também relacionados nos diversos standards.
- ALTURA: é a medida da cernelha , ou seja, traça-se uma linha perpendicular
da cernelha ao solo. Com freqüência determina os limites duma determinada
raça;
- ANDADURA: toda raça tem sua própria andadura, relacionada com o esquele-
to e a musculatura (a passo, trote, galope, marcha) ;
- APRUMO: direção (em linha reta ou não) das pernas dianteiras ou traseiras
(membros anteriores e posteriores);
- BARBELA: pele abundante sob o pescoço. É requerido em algumas raças
(mastins), em outras é um defeito (galgos);
- CANA NASAL: parte da cabeça que vai do stop à ponta do nariz propriamen-
te dito. Nos galgos e lupóides a cana nasal é longa, nos molossóides mais ou
menos curta;
- CARACTERÍSTICAS GERAIS: é o conjunto de aptidões dentro de uma de-
terminada raça;
- CAUDA: apêndice traseiro do corpo do cão, com formas bastante variadas e
próprias de cada raça. Tem a função de proteger o aparelho genital e o ânus.
Manifesta também às condições psicológicas do cão (alegria, medo, agressivi-
dade). A caudotomia também é praticada em determinadas raças para efeitos
estéticos, muito embora, em alguns países essa prática é proibida;
- CERNELHA: ponto de encontro entre as omoplatas (escápulas) e a base do
pescoço. É o local onde é feita a medição da altura dos cães;
- CRÂNIO: vai do pescoço ao ângulo formado pelo stop. Pode ser largo nos
molossóides , médio nos lupóides e estreito nos lebreiróides;
- DENTADURA: o filhote nasce desprovido de dentes; por volta da 3ª semana
despontam os incisivos e caninos superiores, na 4ª os inferiores, no 1º mês os
pré-molares e molares. A dentição primária (dentes de leite) se completa até o
início do 4º mês com 30 dentes. A dentição permanente inicia-se no final do 4º
mês de vida, podendo variar do 5º mês em diante, que quando completada terá
um total de 42 dentes. A fórmula dentária dum cão adulto é a seguinte: 2 (I 3/3
C 1/1 P 4/4 M 2/3) = 42 ;
- DORSO: vai da cernelha à garupa e conforme a raça pode ser reto, selado ou
carpado;
- ERGOTS: unha dos membros posteriores, semelhante à espora do galo,
também chamada de dedo de lobo, podendo ser simples ou dupla;
- FOCINHO: osso que liga o stop ao nariz;
- GARUPA: parte do dorso que vai da bacia à raiz da cauda;
- JARRETE: parte que corresponde, nos membros posteriores, à articulação da
tíbia com o tarso;
- LÁBIOS: é composta por mucosa que contorna a boca do cão, variam con-
forme a raça;
- MANCINO: cão com os pés posteriores (somente os pés) voltada para fora, ou
seja, são divergentes. Geralmente o mancinismo é um defeito, mas por vezes
solicitado em alguns cães, como por exemplo no buldogue;
- TRUFA OU MÁSCARA: pigmentação mais ou menos acentuada que se es-
tende sobre o focinho, muitas vezes rodeando-o;
- NARIZ: ponta do focinho, geralmente negra, podendo ser marrom;
- OUVIDO: órgão da audição. Constituído em grande parte por uma cartilagem
em forma de concha que varia de indivíduo para indivíduo: curta, longa, ereta,
tombada pequena, grande .... Dependendo da raça, até por questão de estética
pode ser amputada (conchectomia);
- PEDIGREE: Genealogia registrada em livros de origem; também chamado
de CRO (Certificado de Registro de Origem);
- PÉS: podem ser de várias formas: tipo gato (recolhido e compacto), lebre (oval
e alongado, aberto (com dedos abertos). São evidentemente em nº de 04, sendo
os anteriores providos de 05 dedos e os posteriores de 04 dedos ;
- PESCOÇO: vai da cernelha ao crânio, podendo ser curto (molossóides), mé-
dio (lupóides) e longo (lebreiróides);
- POSTERIOR: é aparte traseira, incluindo os membros; pode ser reto (chow-
chow), anguloso (lebreiros), muito anguloso (pastor alemão). São defeitos do
posterior: jarrete de vaca (são os jarretes voltados para dentro) e as pernas em
0 (arqueadas, com jarretes voltados para fora);
- QUADRADO / RETÂNGULO: é a construção corpórea, da cernelha à garu-
pa.
- QUALIFICAÇÃO: definição dada pelo juiz em mostras e provas para sinte-
tizar o valor do cão que está sendo submetido à avaliação (bom, muito bom,
excelente).
Bom: cão que se enquadra no tipo da raça, embora tenha desfeitos;
Muito bom: é o cão verdadeiramente típico e com defeitos que não são
graves;
Excelente: cão propriamente típico e com muitas qualidades. Esse pode,
portanto, receber CAC (certificado de aptidão ao campeonato), ou
CACIB (certificado de aptidão ao campeonato internacional de beleza)
ou ainda CACIT (certificado de aptidão ao campeonato internacional de
trabalho em prova),
- RAÇA: grupo canino diferenciado, com características comuns e hereditárias,
inclusive as psicológicas;
- RAIZ DA CAUDA: também chamada de inserção da cauda, é o lugar da ga-
rupa onde se insere a mesma;
- STOP: (depressão naso - frontal), é o ângulo formado pelo fim da fronte e o
inicio da cana nasal;
- TÓRAX: pode ser alto (não chegando até o cotovelo), baixo (até o cotovelo),
muito baixo (além do cotovelo);
- TRABALHO: cães das mais variadas raças, entre os quais algumas de guarda,
de defesa, de utilidade, pastoreio, alguns terriers, sabujos, cães de caça etc. E
são submetidos à provas de trabalho para obter o título de campeão.
X - OS SENTIDOS DO CÃO
É muito difícil para uma pessoa, compreender como o seu cão percebe o
mundo. No corpo humano grande parte das informações sensitivas que recolhe-
mos são visuais, portanto torna-se difícil imaginar um universo dominado pelos
cheiros. Sem o objetivo de detalhar as capacidades sensoriais da espécie canina,
mas sim oferecer algumas informações, para elucidar como os cães percebem o
mundo a sua volta, vamos analisar cada um dos sentidos caninos.
Os sentidos dos cães são bem desenvolvidos e dotados de órgãos recepto-
res, cuja função é perceber os estímulos externos e transmiti-los ao cérebro para
a ação apropriada.
Entenda melhor o comportamento dos cães, conhecendo os seus sentidos.
Vejamos os sentidos:
- Visão: Podemos afirmar que o cão não tem uma boa visão, independente das
variações da acuidade visual de raça para raça. O cão distingue cores, ao con-
trário da lenda que se criou de que sua visão seria em preto e branco, a verdade
é que sua capacidade de diferenciar os matizes das cores é muito menor do que
a do homem. Ele tem no fundo do olho um membrana chamada retina que
apresenta dois tipos de foto-receptores, os cones e os bastonetes Os bastonetes
transmitem as sensações de claridade e os cones, além dessas sensações, tam-
bém transmitem as cores, assim os cães enxergam todas as cores no espectro
entre violeta e vermelho, mas sem diferenciar sua tonalidades, ou seja, as en-
xergam num só tom. Em alguns aspectos o cão leva vantagem sobre o homem,
seu campo de visão é mais largo, em virtude da posição dos olhos tenderem pa-
ra os lados da cabeça, fazendo com que eles fiquem mais bem inteirados do
que ocorre a sua volta, além de enxergarem melhor que o homem em ambien-
tes com pouca luz. Os cães apresentam uma melhor visão diurna, porém após
quarenta minutos de permanência em ambiente escuro, a sensibilidade da retina
aumenta, permitindo também uma boa visão noturna. A visão não é um senti-
do primordial para o cão, mas sim secundário, os estudos até agora efetuados
não avançaram muito no conhecimento da visão na espécie canina, ainda não
se pode saber exatamente como os cães vêem o mundo que os rodeia. Todo o
cão tem que aprender a utilizar seus olhos. Em primeiro lugar, tem que apren-
der o aspecto de sua mãe, de seu dono e associar certos fatos com aparência. Se
for mordido por um cão preto, é possível que venha a ter medo de todos os
cães pretos que ele vê. Se uma pessoa de chapéu lhe pisa nas patas, pode sentir
medo de qualquer pessoa que use chapéu, até que aprenda que nem todas lhe
pisam. Se toca um pedaço de carvão quente, cor vermelho vivo, e se queima,
rejeitará todo objeto de cor semelhante por algum tempo. Deste modo, pode-
mos observar que o cão associa muitos agrados e desagrados por meio de sen-
tido da visão, o que estará sempre presente no adestramento.
- Audição: Ao contrário da visão, a audição do cão é muito desenvolvida, fa-
zendo com que ele perceba vibrações sonoras de altíssima freqüência, que o
ouvido humano não capta, além de ter a capacidade de diferenciar sons diver-
sos, como por exemplo, identificar o ruído do automóvel do dono entre outros
automóveis da mesma marca e cilindrada. A audição também é determinante
na socialização do cão, a aptidão para reconhecer os diferentes sons emitidos
pelos seus semelhantes, marca o inicio da socialização do filhote, fazendo com
que os exemplares que ouvem mal, desde a sua infância, por causa de uma de-
ficiência auditiva, encontrem muitas dificuldades em se integrarem num grupo
social. O cão percebe vibrações sonoras entre 10.000 a 40.000 hertz; o homem,
entre 16.000 a 20.000 hertz. Assim, o cão percebe sons que o homem é incapaz
de ouvir: os infra-sons e os ultra-sons. Em relação à intensidade, um homem
pode perceber um som leve a quatro metros de distância, enquanto o mesmo
som é percebido pelo cão a vinte e cinco metros, e o localiza com precisão. Daí
a conveniência de recordar que o volume e o tom de voz empregados no ades-
tramento são de suma importância para o seu sucesso.
- Paladar: Talvez de todos os sentidos dos cães, o que menos conhecemos é o
paladar, sabemos que paladar e faro estão interligados entre si, mas o faro pre-
valece sobre o paladar, basta notar que diante de um alimento o cão primeiro
cheira, para depois o abocanhar. O cão efetivamente não saboreia, mas engole
sem mastigar ou com poucas mastigadas. Por esta razão, o cão é um dos ani-
mais mais fáceis de se envenenar. Se a substância tóxica não tiver nenhum
odor, ele poderá ingeri-la independentemente do gosto que tenha.
- Tato: Da sensibilidade externa dos cães, sabemos que eles respondem bem as
carícias. Sensações táteis, térmicas e dolorosas são recebidas pela pele e pela
mucosa, mas nosso conhecimento do seu sentido do tato permanece rudimen-
tar, parece que o tato do cão é muito pouco desenvolvido, pois o tecido das al-
mofadas plantares não permite que colham informações muito precisas. O tato
é menos importante para os cães, que qualquer dos outros sentidos. Um cão
sente o choque elétrico muito mais forte que o homem, provavelmente por ter
um pouco mais de sal no sangue do que os seres humanos. Daí nossa contra-
indicação aos métodos de treinamento que utilizam correntes elétricas.
- Olfato: Para nós o mundo é feito essencialmente de imagens, enquanto o dos
cães é um mundo de cheiros. Para o homem um objeto deixa de existir assim
que desaparece da sua visão, mas para o cão mesmo quando o objeto já não es-
tá fisicamente ali, ele continua presente durante várias horas ou mesmo dias,
graças a seu cheiro. Entre os sentidos dos cães o mais desenvolvido é o faro,
embora existam diferenças muito grandes de raça para raça. A sensibilidade ol-
fativa é ainda muito importante para eles, pois o faro tem um grande papel na
sua vida social. Os cães, como os seres humanos, possuem atitudes e limitações
intrínsecas em relação aos sensores olfativos. Sabe-se muito bem que um cão
possui a capacidade de detectar rastros de certos odores e que sua capacidade
olfativa é muito superior à do homem. Algumas raças possuem o sentido do ol-
fato melhor desenvolvido que outras. A herança, a inteligência e o adestramen-
to variam segundo cada cão. No entanto, a prática contínua de exercícios, me-
lhora não só a produção no trabalho, como a atitude discriminatória de sua ca-
pacidade olfativa. O mundo, para o cão, é composto de dezenas de odores que
se misturam e mudam continuamente. Mesmo assim ele é capaz de diferenciar
odores que o homem não tem condições sequer de detectar. Qualquer cão é ca-
paz de detectar uma gota de sangue em cinco litros de água e pode distinguir
com facilidade cheiros de indivíduos diferentes. No nariz do homem, o setor
que contém células olfativas tem uma área aproximada de quatro centímetros
quadrados, enquanto num cão Pastor Alemão esta área é de cerca de cinqüenta
centímetros quadrados. O número de células olfativas que o homem possui li-
mita-se a cerca de cinco milhões, enquanto que um Basset possui cerca de du-
zentos milhões. Nada mais, nada menos que quarenta vezes mais do que o
homem!
- O sexto sentido: O que permite que um cão afastando-se da sua casa, volte pa-
ra ela mesmo depois de semanas de sacrifícios físicos? Tudo seria explicável se
o cão apenas tivesse percorrido caminhos já conhecidos, mas o que dizer da
capacidade de voltar para casa de lugares distantes, as vezes centenas de qui-
lômetros e por caminhos desconhecidos até então. Como explicar essas proezas
que certos cães são capazes. Será que realmente existe um sexto sentido? Pode-
rá existir telepatia entre o cão e seu dono? Alguns fatos parecem confirmar a
existência do sexto sentido, mas esse fenômeno foge do nosso conhecimento e
ainda está envolto em muitos mistérios.
POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA
COMANDO DE APOIO ESPECIALIZADO
COMPANHIA DE POLICIAMENTO COM CÃES
MANUAL CINOTÉCNICO
NOÇÕES DE VETERINÁRIA
AUTORES: CAPITÃO PM CLAYTON MARAFIOTI MARTINS
1º TENENTE PM CLAUDIONIR DE SOUZA
3º SARGENTO PM JOÃO CARLOS DA SILVEIRA
Ago/2003
I - HIGIENE CANINA
1. Introdução:
Os cães naturalmente são limpos: eles jamais sujarão o local onde dor-
mem, salvo se estiverem doentes. Aos dois meses, o controle de fezes e urina es-
tão completamente desenvolvidos.
Sua adaptação ao ambiente humano e às regras da casa não é tão compli-
cada, um pouco de paciência no início e sobretudo saídas freqüentes e regulares
pela manhã e após as refeições são a chave do sucesso. Mas não se esqueça: re-
colha as fezes que seu cão fizer em local público.
O cão não tem a menor noção da diferença entre um pano de chão e um
tapete persa. Para ensiná-lo, podemos colocar jornais no local onde ele fizer pi-
pi, e aos poucos ir levando o jornal para fora de casa, ele compreenderá rapida-
mente.
2. Higiene Periódica:
O cão, devido, às suas peculiaridades não pode nem deve ser banhado se-
guidamente. Usando sempre um produto neutro (sabão de coco ou xampu espe-
cial para cães), os produtos destinados ao uso humano (mesmo para bebês), são
bastante ácidos e podem irritar a pele do cão, podemos banhar à cada 15 ou 30
dias preferindo sempre dias ensolarados que facilitarão sua secagem. Diariamen-
te sua pelagem deverá ser rasqueada para retirada dos pêlos "mortos" os quais
quando em grande quantidade, mantêm a pele úmida e diminuem a sua resistên-
cia às patologias. Ao rasquearmos contra o sentido do pêlo, observamos altera-
ções da pele (cor, presença de parasitas, falha de pêlo, descamação excessiva,...)
e em seguida fazemos o mesmo trabalho no sentido de crescimento do pêlo.
Os banhos terapêuticos poderão ser à intervalos menores por critério mé-
dico-veterinário.
Os ouvidos serão protegidos da entrada de água e sabão com uso de algo-
dão parafinado antes do banho. O ouvido deve ser limpo semanalmente usando
apenas algodão hidrófilo seco.
Quando acostumamos desde filhotes, os cães permitem que sua higiene
bucal seja feita diariamente com o uso de escova dental comum, o que diminui a
incidência de cálculos dentários (tártaros) aumentando a sobrevida dos dentes e
do próprio animal, sem se falar da estética.
II - NUTRIÇÃO CANINA
Basicamente o cão passa por 3 fases de vida: filhote-desmame, filhote-
crescimento e maturidade-manutenção
- Filhote-Desmame: ocorre por volta da quarta semana de vida, quando o
filhote passa a não contar com o leite materno, recusando algumas vezes comer
outros alimentos. Para diminuir o trauma da mudança na alimentação, devido a
diminuição no aleitamento, a partir da 3ª ou 4ª semana deve ser oferecido ali-
mento sólido ou papa para desmame em comedouro de fácil acesso. Assim co-
mo na próxima fase, não devemos super alimentar o filhote, o que poderia vir a
agravar certas patologias.
- Filhote-Crescimento: Após o desmame total, quando o filhote necessita
duas vezes mais energia que o cão adulto, além de maiores níveis de proteína
(27 à 30%), gordura (9%), necessita de 110 à 120 calorias/Kg peso ao dia po-
dendo ser suprido com quatro alimentações diárias, sendo duas sólidas e duas lí-
quidas.
- Maturidade-Manutenção: Os nutrientes necessários ao cão adulto de-
penderão do tipo de atividade física desenvolvidas por este. Suas exigências ca-
lóricas variam de 72 à 110 Cal/Kg peso, devendo ser alterada gradativamente
sua alimentação a partir dos 8 meses para 3 tomadas diárias até alcançar a idade
adulta (16 à 18 meses), se alimentando duas vezes ao dia.
Atualmente existem rações específicas para cada fase da vida do animal
além de tipos diferenciados para cada atividade física desenvolvida ou estado de
saúde pelo qual esteja passando.
NUTRIÇÃO:
Os cães apresentam uma variação muito grande de tamanhos, cores, con-
formação; e isto faz com que eles tenham necessidades diferentes quanto a ali-
mentação, manejo, etc.
Enquanto um São bernardo ainda está fazendo traquinagens, um Chihua-
hua da mesma idade já pode estar tendo sua segunda cria. O que queremos dizer
é que além do tamanho que fica fácil de se notar, existem ainda diferenças,
quanto a maturidade e fase de vida. Para que possamos entender melhor estes
aspectos, seguem algumas informações.
- Tipos de Cães por Tamanho:
Classificação da raça Peso quando adulto Kg
PEQUENAS 1 a 10
MÉDIAS 11 a 25
GRANDES 26 a 45
GIGANTES 46 a 90 ou +
- Raças Pequenas, Médias e Grandes:
O alcance da escala de pesos e de tamanhos entre as diferentes raças cani-
nas é um dos mais amplos do reino animal. Pode-se distinguir três grupos de
cães na idade adulta: as raças pequenas com menos de 10 kg, as raças médias de
11 a 25 kg e as raças grandes e gigantes com 25 a 90 kg ou mais. Essa amplitude
conduz a diferenças morfológicas, fisiológicas, metabólicas e comportamentais
entre as diferentes raças. Assim, pode-se observar que:
- A duração média de vida é de 15 anos para as raças pequenas, 13 anos para as
médias e de 10 a 11 anos para as raças grandes.
- A amplitude e duração do crescimento: um filhote de raça pequena na idade
adulta terá multiplicado seu peso ao nascimento por 20 em comparação a
cerca de 50 para um filhote de raça média e 80 ou mais para outro de raça
grande.
- Um cão de raça pequena se torna adulto com 8 meses de idade enquanto que
para um cão de raça grande isto ocorre entre 18 e 24 meses.
- O peso e o número de filhotes no nascimento são diferentes: uma cadela de
raça pequena irá gerar de um a três filhotes, cada um deles com peso de 5%
do seu, enquanto que uma cadela de raça grande terá ninhadas de oito a doze
filhotes, cada um deles com peso aproximado de 1% ao da mãe.
- O tamanho de determinado órgãos é proporcionalmente diferente: assim, por
exemplo, o peso do tubo digestivo dos cães de raça grande é duas vezes me-
nor que o dos cães de raça pequena.
- As necessidades energéticas de um cão de 50 kg são 3,3 vezes maiores do que
as de um cão de 10 kg, e não 5 vezes. Portanto eles apresentam metabolismo
diferente conforme seu peso.
- O temperamento difere também com o tamanho: os cães de raças grandes em
geral são mais calmos dos que os de raças pequenas mas, diferentemente
desses últimos, eles precisam de mais espaço vital.
- Determinadas doenças, como a displasia da anca e a torção gástrica, atingem
especialmente os cães de raças grandes.
- Essas diferenças entre raças pequenas, médias e grandes têm conseqüências
maiores no que se refere à saúde, alimentação e às relações de harmonia que
devem prevalecer entre o homem e o cão.
- Fases do Cão na Alimentação: filhote, crescimento, adulto, sênior.
Nascimento: 0 – 3 semanas alimentação exclusivamente à partir do leite ma-
terno. Importante oferecer leite materno nas primeiras 48 horas, pois é neste
período que o filhote absorve o colostro, que é um leite com anticorpos. Após
este período desaparecem os anticorpos do leite gradativamente, ao mesmo
tempo que o filhote perde a capacidade de assimilar os mesmos.
Desmame: 3 – 8 semanas. A partir da terceira semana inicia-se uma oferta de
alimento sólido, o filhote deve então começar a troca do leite materno pelo
alimento sólido, que nesta fase é normalmente uma papinha.
Filhote em crescimento (desmamado): este período muda de acordo com a
raça. Raças pequenas ( 2 aos 10-12 meses), raças médias (2 aos 12-14 meses),
raças grandes (2 aos 18 meses), raças gigantes (2 aos 24 meses). Somente ao
final deste período é que o animal apresenta uma completa estruturação corpo-
ral( ossos, músculos, tecidos, sentidos e aptidão reprodutiva).
Adulto: varia de acordo com a raça do cão. Este período vai do final do cres-
cimento até os 8 anos nas raças pequenas, 7 anos nas raças médias, 6 anos nas
raças grandes e gigantes.
Sênior ou terceira idade ou idade avançada: vai do final do período de adul-
to até o final da vida, que em alguns casos de registros já se estendeu até 28
anos.
- Necessidade Energética Diária (kcal / dia).
Necessidade Energética de Manutenção NEM = 132 x PV (0,73) , onde
PV é peso vivo.
- Alimentos Industrializados: rações.
As indústrias conhecendo a história evolutiva dos carnívoros procurou,
fazer alimentos que além de serem completos, tenham um atrativo para os ani-
mais que a consomem, pois não adianta ter o melhor produto do mundo se ele
não é consumido.
- Conceitos:
- DIGESTIBILIDADE – significa o quanto ou o percentual do alimento ingerido
que foi absorvido pelo animal, isto é o quanto foi aproveitado. Num exemplo
fácil, de cada 100g de alimento o quanto que é aproveitado. Este valor vai ser
expresso num percentual. Existem alimentos que apresentam quase que zero de
digestibilidade como as fibras, e existem alimentos com 100% de digestibilida-
de como a caseína do ovo. É a digestibilidade que vai ser o ponto principal pa-
ra classificação das rações, existem outros fatores que classificam as rações,
mas todos irão acabar exprimindo uma menor ou maior digestibilidade do ali-
mento, então não seria incorreto afirmar que a digestibilidade é o fator que
classifica as rações.
- PALATABILIDADE: significa o quão palatável é determinado alimento, o
quão saboroso ou atrativo ele pode ser, sendo normalmente expressa por: bai-
xa, média e alta. Normalmente é acompanhada de uma comparação com outro
alimento semelhante ou produto concorrente.
- Classificação das Rações:
As rações são classificadas de acordo com a ANFAL (Associação Nacional dos
Fabricantes de Alimentos para animais de companhia ) em:
- SUPER PREMIUM: produtos com digestibilidade superior à 84%. São ex-
tremamente tecnificados, os únicos no mundo a apresentar um conceito de nu-
trição que leva em conta o tamanho, fase de vida e idade do animal, tendo pro-
dutos específicos para cães de raças pequenas, médias, grandes e gigantes. Tem
um programa nutricional que inicia com o leite artificial de cadela, papinha pa-
ra desmame e rações que acompanham os diferentes estágios da vida dos cães.
- PREMIUM: alimentos com digestibilidade entre 80% e 84%. Estes produtos já
tem um apelo afetivo, tem a inclusão de sabores, porém ainda são de alta qua-
lidade e grande digestibilidade. Procuram apresentações mais genéricas, menos
específicas.
- STANDARD: são rações com digestibilidade entre 72% e 75%. Estes produtos
são os que constituem o maior volume em quilogramas no mercado. São um
meio termo entre preço e qualidade.
- ECONÔMICA: As rações com esta classificação têm 60% ou menos de diges-
tibilidade, podendo chegar até 40%, são produtos de baixo valor nutritivo e
econômico; com um forte apelo ao proprietário dos animais e não à nutrição.
Encarando a alimentação canina como se fosse igual a humana, atribuindo
mesmos sabores e opções!
III – SAÚDE CANINA
1. Introdução:
A saúde dos cães depende principalmente de condições básicas para a
manutenção de seu bom estado e qualidade de vida.
Se oferecermos uma alimentação completa e sadia, cuidados corporais di-
ários, alojamento adequado, repouso racionalmente dosado com sua atividade e
toda atenção necessária, sem esquecer dos cuidados rotineiros do médico veteri-
nário, teremos um animal feliz, saudável e com uma longa expectativa de vida.
2. Sinais de Saúde:
Diariamente o animal deve ser submetido a uma inspeção criteriosa na
qual avaliaremos as condições de pêlo, pele, secreções (ocular, nasal, prepucial e
vaginal), desenvolvimento ao passo e ao trote, postura e atitude. Os cães não
conseguem falar o que sentem nem descrevem os sintomas, cabendo ao condutor
perceber sinais de possível doença e relatar tão logo possa ao médico veteriná-
rio. Detalhes revelam o estado de saúde do animal, quando verificados com re-
gularidade. Um cão saudável tem postura ereta e atitude pronta, sempre alerta,
observando atentamente o que se passa no ambiente que o cerca com a cabeça
erguida e orelhas seguindo o som. O pêlo deve se apresentar uniforme e sem fa-
lhas, brilhante e sem excesso de gordura e mantendo sua tonalidade, a pele é ro-
sada, de aparência saudável e sem escoriações, podendo apresentar leves calosi-
dades em jarrete e cotovelos, as quais podem vir a se inflamar eventualmente.
A secreção ocular é produzida durante a limpeza dos olhos pela lágrima,
não devendo se apresentar em excesso e/ou purulenta. A secreção nasal é liqui-
da, transparente, incolor e nunca abundante devendo apenas umidificar as nari-
nas. Não há secreção ótica, vaginal (exceto durante o cio) ou prepucial perceptí-
veis.
Os movimentos ao passo e ao trote são naturais, harmoniosos e sem clau-
dicações. O cão sadio não é gordo, devendo a gordura existente ser suficiente
para cobrir as costelas, não impedindo que sejam palpadas com facilidade. Nor-
malmente evacua 2 a 3 vezes por dia, fezes firmes com coloração constante.
Os parâmetros fisiológicos normais, para um animal de porte grande em
repouso são: temperatura retal entre 38°C e 39°C, respiração entre 8 e 16 movi-
mentos por minuto, que devem ser suaves e sem esforço demasiado; freqüência
cardíaca entre 70 à 100 batidas por minuto.
3. Stress:
Soma das perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por diversos
agentes agressores, tais como: trauma, emoções, choque cirúrgico, intoxicação,
fadiga, exposição ao calor ou ao frio etc.
Os cães que trabalham estão submetidos a diversos graus de stress, como
o exercício físico intenso, condições climáticas extremas e a carga psicológica.
Ainda que em um grau mínimo um certo nível de stress é necessário ao adestra-
mento e à melhora do rendimento do animal.
Os animais com a maior predisposição ao stress são exatamente os que
são submetidos aos extremos de suas rotinas, ou vida cotidiana, algo por exem-
plo que fuja do seu dia a dia. Uma dieta bem equilibrada e de alta qualidade,
formulada para o cão que trabalha, ajudará a prevenir o início do quadro de
stress, ainda que não possa compensar outras situações da vida do cão.
Basicamente o que buscamos é uma dieta que considere a densidade ener-
gética necessária ao desempenho da função do animal, e uma alta digestibilida-
de. De um modo geral uma alimentação do tipo com alta energia já seria o sufi-
ciente.
4. Principais Anunciadores dos Problemas de Saúde:
Incidentes com os filhotes: eles tem a tendência de colocar a boca em tu-
do que encontram. Vigie-o ao máximo, tome dele tudo o que possa engolir.
Os 1° sinais revelam-se no comportamento do cão: ele se torna melancóli-
co, introvertido e sem energia. Não confie no focinho do cão como indicador do
estado de saúde ou temperatura, devendo a mesma ser medida com auxílio do
termômetro. Consulte seu médico veterinário.
Aparência estranha: mesmo aparentando todos os sinais de boa saúde, o
cão pode apresentar comportamento estranho associado ou não a outros sinais.
Vômito: quando ocorrer com freqüência, associado ou não a outros sinais.
Diversas causas provocam vômitos nos cães. Com facilidade é provocado por
excesso de volume ingerido ou velocidade de ingestão dos alimentos, excitação
excessiva, ingestão de objetos estranhos, perturbações, condução no interior de
veículos e outros.
Diarréia: Evacuação líquida ou semi-líquida, presença de muco ou san-
gue e associado ou não a outros sintomas.
Respiração: deve ser suave e uniforme, estando alterada fisiologicamente
sob efeito do calor excessivo ou exercícios. Respiração lenta e pesada, respira-
ção ofegante associada a tosse, respiração rápida ou difícil com corrimento nasal
e ou ocular, são sinais dignos de nota.
Hemorragia: geralmente tem caráter emergencial, e o médico veterinário
deve ser contactado com rapidez. Se ocorrer em local onde existe a possibilidade
de se proceder a aplicação de ataduras, ganha-se tempo e evita-se maior perda de
sangue.
Prurido: a coceira mesmo quando persistente não costuma ser grave, ex-
ceto pelo excessivo stress que causa ao animal. Devemos observar se é localiza-
da ou não, possibilidade de comprometimento do ouvido, presença de material
escuro/arenoso na pelagem e perda de sub pêlo.
Ferimento: lesões, expostas ou não, claudicações etc., também são dignas
de notas.
POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA
COMANDO DE APOIO ESPECIALIZADO
COMPANHIA DE POLICIAMENTO COM CÃES
MANUAL CINOTÉCNICO
PSICOLOGIA CANINA
AUTOR: FERNANDO SOARES DE CARVALHO
REVISÃO: 1º SGT FÁBIO ANSELMO DE SOUZA
Ago/2015
COMPORTAMENTO
INTRODUÇÃO:
Psicologia é a ciência que estuda o comportamento dos seres vivos, preo-
cupando-se principalmente em pesquisar e/ou estudar a diferença e semelhanças
entre as espécies.
Etologia é o ramo da biologia que estuda o comportamento animal em seu
meio natural, ou seja, estuda as regras de conduta, dos animais em liberdade,
com o objetivo de resolver problemas de sobrevivência e reprodução.
COMPORTAMENTO PROPRIAMENTE DITO
O comportamento animal se refere a todos os processos pelo qual este
animal percebe o mundo externo e o seu mundo interno (seu corpo) e reage
“respondendo” as mudanças por ele percebidas. Um estímulo ambiental qual-
quer (sons, movimentos etc.) irá provocar uma resposta no animal, que deverá
reagir de acordo com o perfil de sua raça e com seu temperamento.
O comportamento humano é dirigido e orientado através da sua personali-
dade.
Para o comportamento canino, em lugar de personalidade, que vem da pa-
lavra persona, vamos adotar a palavra cinolidade, que vem de cino (do grego
Kyon, Kynós, pelo latin cyno=cão).
Temperamento – é a bagagem genética; não pode ser mudado.
Caráter – é adquirido através da educação, adestramento, normas sociais de
conduta etc...
A cinolidade (personalidade do cão) vai depender diretamente do nível de
socialização que o cão tiver.
Num cão selvagem, o temperamento predomina sobre o caráter; ele age
por instinto, acionado pelos impulsos primordiais. Com a vivência social, o cará-
ter de um cão que teve instrução vai se equilibrar com o temperamento e o resul-
tado será uma cinolidade diferente do cão selvagem. A educação e a instrução
são, portanto, o tijolo e o cimento na construção do caráter. A instrução por
adestramento é o aperfeiçoamento do caráter, como a escola o é para o ser hu-
mano.
Digamos então, que o comportamento é qualquer movimento observável
ou mensurável no animal, externos ou internos.
COMPREENDENDO A MATILHA E SUA ORGANIZAÇÃO
O cão só pode viver e crescer dentro de um grupo organizado, por isso a
importância de compreendermos a organização da matilha para podermos co-
nhecer melhor o comportamento dos cães.
Para garantir a própria sobrevivência e manter a coesão do grupo, todos os
indivíduos devem respeitar as regras da matilha que regem o comportamento ge-
ral.
Em todas as situações os machos dominantes se arrogam o privilégio de
matar a caça, da posse da comida e da distribuição do território.
GRUPOS HIERÁRQUICOS
HIERARQUIA ALFA: Aqui se pode agrupar os exemplares com muito caráter e
temperamento, dotados especialmente para lutar e conseguir a liderança da mati-
lha, manter a harmonia do grupo, guiar e projetar a caça, encarregando-se tam-
bém das agressões mortais.
HIERARQUIA BETA: A esta categoria pertencem exemplares muito parecidos
aos anteriores, ideais para constituírem-se líderes na falta destes, a quem respei-
tam. Em sua vez como líderes alternativos dominam o restante da matilha. Ge-
ralmente não são férteis.
HIERARQUIA ÔMEGA E Y: São os serventes da matilha. Estes são sujeitos
muito submissos, débeis de caráter e temperamento, não tendo aspirações de ne-
nhum tipo, evitando a luta direta. Por natureza não estão dotados para viver em
estado selvagem e geralmente morrem rapidamente, tão pouco são férteis.
ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL
O cão vive em um espaço coletivo, organizado em volta de uma zona cen-
tral onde vivem os machos e as fêmeas dominantes com os filhotes. Os outros
animais se distribuem em porções do território, organizados em círculos concên-
tricos, sendo que os hierarquicamente inferiores (machos adolescentes) ficam
afastados do centro.
Para formar essas divisões de espaço, não é necessária uma grande área.
Essa organização pode ser feita em alguns metros quadrados, porque o lugar on-
de os dominantes descansam é que marca o centro do território.
REFEIÇÃO
O comportamento do cão durante a refeição é complexo, pois é nesse
momento que as regras da matilha são mais evidentes. A alimentação não tem
por uma única função levar os nutrientes necessários ao animal. Ela também
permite, por meio de rituais, garantir a coesão do grupo e relembrar a cada um a
sua posição hierárquica em relação a matilha.
Os animais não se servem de acordo com a fome, e nem por ordem de
chegada. São os machos dominantes que tem o privilégio de começar as refei-
ções. Em algumas ocasiões eles toleram as fêmeas dominantes. O restante da
matilha tem que esperar os dominantes se saciarem para disputarem a carcaça.
Nesse sistema há uma grande ostentação: o importante é ser visto comen-
do. Os dominantes comem lentamente. Se os dominados se afastam ou param de
olhar, os dominantes param de comer e só recomeçam quando os dominados
voltam a atenção pra eles. Ao chegar a vez dos dominados, eles comem freneti-
camente e se mostram agressivos durante toda a refeição. Em compensação,
embora os dominantes sejam hostis no início da refeição para controlar os su-
bordinados, logo depois eles toleram a aproximação lentamente, adotando atitu-
des conhecidas como “posturas de apaziguamento”. O comportamento alimentar
dos dominantes é, portanto, caracterizado pela prioridade de acesso a comida,
pela lentidão na ingestão e pela necessidade de serem observados pelos subordi-
nados.
A APRENDIZAGEM DA HIERARQUIA
A socialização é igualmente um período de aprendizagem de hierarquia. O
filhote vai aprender a controlar as próprias vontades em função das regras em
vigor na matilha.
A refeição é a primeira situação em que ele aprende esse controle. Até a
idade de 2 meses, quando a fome torturava o filhote, só precisava procurar a mãe
e conseguir pegar uma das tetas.
Quando começa a participar das refeições dos adultos, o filhote aprende
que deve esperar os dominantes comerem para poder se aproximar. A aquisição
desse tipo de controle (inibição social) é indispensável para que o futuro adulto
seja um cão perfeitamente equilibrado.
Do mesmo modo o filhote vai aprender a controlar a força da mandíbula e
o uso dos dentes. Isso feito por meio de brincadeiras, por volta da 5º semana de
vida.
Quando um filhote pega o outro com um pouco mais de força, este último
começa a ganir alto e se deita de costas. O filhote então aprende a controlar a
pressão dos maxilares e a interromper a agressão, nesse caso involuntária, quan-
do o outro se deita de costas (postura de submissão).
A mãe também participa dessa aprendizagem ao reprimir as mordidas
muito fortes: ela pega o filhote pela pele do pescoço, e depois de sacudi-lo, dei-
xa-o no chão. Mas ela só solta realmente quando o filhote assume uma postura
de submissão.
A brincadeira é sempre pedagógica, de forma que os filhotes aprendem as
regras de vida em grupo e os outros rituais de comunicação.
COMPORTAMENTOS SEXUAIS
Como o acesso a comida, a sexualidade é um dos pontos essenciais da or-
ganização da matilha. Aí também, tudo é ostentação: o macho dominante deve
ser visto acasalando.
O macho sempre cruza com a fêmea na presença dos outros machos da
matilha. Isso foi comprovado ao se mostrar que uma parte do cruzamento é pu-
ramente fictícia; esse comportamento é desencadeado pela presença de vários
machos em torno de uma fêmea no cio, e tem uma função meramente social.
A fêmea que se torna parceira de um macho dominante tem acesso a uma
posição social dominante. A fêmea favorita é a que recebe mais vezes os favores
do dominante de posição mais alta (alfa), que brinca com ele e divide o lugar
onde ele descansa.
As fêmeas mais novas, no primeiro cio, procuram atrair a atenção do alfa,
e são alvo das fêmeas que já ocupam um lugar mais elevado e que possuem ar-
mas químicas que lhes permitem limitar a expressão dos cios das fêmeas mais
novas e dominadas. As armas são os feromônios (substâncias voláteis que agem
como hormônios no organismo dos machos que os captam).
Realmente, as fêmeas adolescentes que vivem juntas com as fêmeas mais
velhas apresentam os primeiros cios mais discretos. Porém, os feromônios não
são o único meio de limitar a sexualidade dos dominados. A estrutura hierárqui-
ca tem tanta importância, que basta a presença de um dominante para inibir a
sexualidade dos dominados.
As fêmeas do alto escalão tendem a rejeitar os machos mais novos e os
dominados. Isso ocorre principalmente quando a matilha está presente.
COMUNICAÇÃO ENTRE OS CÃES
Todos os animais sociais necessitam trocar informações (inclusive o ser
humano). Toda comunicação supõe a existência de um emissor e de um recep-
tor. Para que a mensagem seja perceptível, ela deve ser construída com elemen-
tos que sejam percebidos pelo sistema sensorial do receptor e, em especial por
aqueles que estão ativados em uma situação especifica.
Todo sistema sensorial tem seus canais de comunicação. O cão usa nor-
malmente três: o visual, o auditivo, e o olfativo. O cão usa pouco o canal tátil.
A VISÃO
O canal visual é o mais complexo, não só pela diversidade de informações
que passam por ele, mas pela capacidade de se modificar e de se adaptar a co-
municação com outras espécies, especialmente com o homem, mas também com
o gato e o cavalo. Por esse canal passam informações codificadas em forma de
postura, mímicas faciais, velocidade de deslocamento e olhares (por exemplo: o
olhar de ameaça).
A AUDIÇÃO
As mensagens que passam pelo canal auditivo são emitidas em forma de
vocalizações. A quantidade dessas vocalizações variam de acordo com a raça.
Exemplos de vocalizações e seus significados:
UIVO – “Estou aqui”. “Este é meu território”. Um animal confiante muitas ve-
zes uiva para anunciar sua presença.
GANIDO / UIVO – “Estou sozinho, quero companhia”
GANIDO – Situações de medo ou dor
LATIR – Num contexto agradável = “Vamos interagir”
LADRAR – Situação de alerta, aviso.
Tudo vai depender do contexto que acompanha as vocalizações.
O OLFATO
Ainda não sabemos muita coisa sobre ele, sabemos que o olfato é um dos
sentidos mais usados pelo cão. Porém podemos dizer que existem dois tipos de
mensagens químicas: as que ele mesmo produz e outras substâncias do meio
ambiente.
SECREÇÕES DA PELE – Várias zonas do corpo do cão parecem estar implica-
das na síntese de substâncias que tem um papel de comunicação. A pele, as
glândulas sebáceas e sudoríparas secretam diferentes substâncias, sendo que al-
gumas facilitam o reconhecimento entre indivíduos da espécie.
Algumas dessas glândulas parecem particularmente envolvidas nas ocasiões de
contato entre os cães. O mesmo ocorre com as almofadas plantares e com a pele
dos espaços interdigitais, que poderiam ser responsáveis por mensagens quími-
cas descarregadas quando o dominante arranha o solo para recusar um estranho.
SECREÇÕES ANAIS – Outras secreções são mais bem conhecidas, particular-
mente as das glândulas anexas ao ânus que veiculam informações descarregadas
nas fezes, nos comportamentos de eliminação voluntária (provavelmente infor-
mações de ordem hierárquica), como também os feromônios de alarme por oca-
sião das defecações por medo. Esse feromônio é bem conhecido dos veteriná-
rios, que sabem que quando o cão tem uma crise de pânico durante um exame,
os cães seguintes ficam muito mais tensos.
As glândulas anexas ao ânus desempenham assim um papel no reconhe-
cimento individual, sendo, aliás, sistematicamente exploradas nos contatos entre
os animais.
Parece que algumas infecções sediadas por elas modificam a tal ponto a
composição química das suas secreções que chegam a desencadear brigas entre
cães acostumados a uma boa relação.
URINA – A urina é um importante veículo de feromônios que dá informações
sobre a espécie, o sexo, o grau hierárquico e a receptividade sexual do emissor.
A urina não é apenas um marcador de território. O cão quando urina está
também pedindo uma resposta. As mucosas do pênis e da vagina são produtoras
de feromônios, do qual boa parte é excretada na urina. Em geral os feromônios
agem sozinhos, mas, as vezes, são associados a mensagens visuais. O fato de o
cão urinar levantando a perna é uma associação da mensagem química com a vi-
sual (quando se é dominante levanta-se a perna o mais alto possível).
MENSAGENS OLFATIVAS DO AMBIENTE – Ao lado dessas mensagens
químicas produzidas por essas glândulas diferentes, o cão faz uso de mensagens
olfativas que ele recolhe do meio ambiente. Quem nunca viu o cão se esfregar
em uma carniça, num excremento ou numa poça de urina? Isso não é por acaso.
Ele procura impregnar-se com o cheiro, principalmente no dorso e no pescoço,
pois essas zonas são invariavelmente exploradas nos contatos entre a mesma es-
pécie.
Várias hipóteses sobre esse comportamento foram levantadas: uma delas é
serem vistos como dominantes, mas por falta de conhecimento do “alfabeto
químico” dos cães, ainda é uma hipótese; outra, seria que, agindo dessa forma o
cão estaria se “camuflando” com odores diferentes, isso tanto como predador,
para enganar a presa, ou como presa, para despistar o predador.
AÇÕES INSTINTIVAS NORMAIS
São reações que ocorrem com os animais no cotidiano e dentro de uma
certa normalidade. Vejamos alguns exemplos:
Agressividade quando ameaçado.
Procura de alimento quando necessário.
Busca por acasalamento no período certo.
Proteção da ninhada.
Proteção da matilha...
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SUAS FORMAS
Os cães de maneira geral evitam o máximo o confronto propriamente dito
(brigas físicas) ou os chamados encontros “AGONISTAS”, pois os sistemas de
comunicação permitem evitar o uso dos maxilares.
No entanto diferentes comportamentos de agressão podem ser observados
nos cães: por medo, territorial, maternal.....
AGRESSÃO POR DOMINÂNCIA
Esse tipo de agressão é desencadeada pelo questionamento de um domi-
nado sobre a posição hierárquica de um dominante, ou quando existe uma com-
petição entre dois cães da mesma posição pela predominância.
A agressão sempre evolui em 3 fases: ameaça, ataque e reconciliação. Ge-
ralmente a ameaça basta para resolver o problema: eriçar os pelos, mostrar as
presas, dilatar as pupilas, projetar a cabeça a frente e estufar o peito são algumas
das expressões e sinais que acompanham a ameaça.
O ataque é usado quando só a ameaça não resolve. O objetivo é morder o
pescoço do adversário e deitá-lo de costas em uma posição submissa. Depois o
dominado se levanta com orelhas e cabeça baixas e cauda entre as pernas. O
dominante ao contrário se mantém ereto e põe um dos membros dianteiros sobre
o dorso do outro, enquanto este lhe mordisca os lábios ou o pescoço. É a recon-
ciliação.
AGRESSÃO POR IRRITAÇÃO
Este tipo de agressão é desencadeado pela dor, fome ou pela frustração. O
animal mantém as orelhas na direção do pescoço, cabeça baixa e ligeiramente
apontada para a região da dor. Ele encolhe os lábios e dá pequenas pancadas
com a cauda, que fica abaixada ou entre as pernas. Nesse ponto, o cão associa
posturas de ameaças, ou sinais de reconciliação (a pessoa que o trata é, geral-
mente, reconhecida como dominante), o que poderíamos transcrever em lingua-
gem humana por: cuidado, você está me machucando, ou me incomodando, se
isso se perdurar vou me defender.
O animal morde se a dor persiste. É uma mordida rápida, seguida de fuga
para o lugar onde o cachorro se retira habitualmente, em caso de conflito. Essa
fuga pode ser acompanhada de rosnados se formos atrás do animal.
AGRESSÃO POR MEDO
Essa agressão ocorre quando o cão se vê na impossibilidade de fuga. Va-
mos tomar o exemplo do animal no qual fazemos um tratamento e imaginar que
ele apresente um comportamento de irritação, pulando da mesa onde estava ins-
talado para se refugiar atrás de algum objeto. O dono furioso por ter sido mordi-
do, vai atrás do cão para corrigi-lo, e se posiciona no único lugar onde ele pode-
ria fugir. O animal acuado atira-se em cima do dono sem nenhuma ameaça pré-
via, urinando, defecando e esvaziando as glândulas anais. Ele saliva muito e
morde profundamente o dono por várias vezes, escapando para outro refúgio,
onde levará uns 3 minutos para recuperar o fôlego e a frequência cardíaca nor-
mal.
Felizmente, a agressão por medo é um comportamento excepcional (al-
guns autores a chamam de reação crítica), mas que, pela rapidez e violência, po-
de gerar sérios ferimentos.
AGRESSÃO TERRITORIAL E MATERNAL
Essas agressões se apresentam de formas diferentes, dependendo se o in-
truso está diante de um dominado ou de um dominante. Apenas os dominantes
estão habilitados a aceitar ou a recusar a entrada no território, sendo que os do-
minados estão lá para indicar a intrusão e apoiar o dominante na hora do ataque.
O dominante rosna, late e arranha o solo onde, antes terá defecado e urinado. Se
isso não for suficiente, ele ataca o intruso (em geral com a ajuda de outros ma-
chos da matilha) e o empurra para os limites do território.
Os dominados se limitam a latir e rosnar e investir com pequenas mordi-
das e fugas, mas se o intruso os ameaça, eles fogem.
Quando se trata de uma mãe que amamenta, as coisas se passam de ma-
neira diferente. Durante o 1º período de educação dos filhotes, a fêmea se man-
tém afastada da matilha e monta guarda aos arredores do ninho. Qualquer estra-
nho que se aproxime do ninho é ameaçado e atacado em seguida, caso permane-
ça.
DESVIOS COMPORTAMENTAIS
É quando o animal apresenta reações com comportamentos extremos, le-
vando para o excesso a reação de uma ação instintiva normal, enfim, é o com-
portamento em excesso que foge da normalidade.
Vejamos alguns exemplos:
Agressividade com o dono, outras pessoas e animais sem nenhuma moti-
vação aparente;
Felação (ato de lamber os órgãos genitais dele e de outros animais);
Coprofagia (animal come as próprias fezes);
Canibalismo;
Copulação (tentar copular com pessoas, objetos e outros animais);
Auto-mutilação;
Ansiedade de separação (animais que não conseguem ficar só, na ausência
do dono);
Hiperatividade (muito ansiosos, agitados, latem demais, destroem obje-
tos...);
Medos e fobias (medo exagerado de sons, nervosismo diante de novas si-
tuações, problemas de socialização).
POSTURAS CORPORAIS
POSTURA RELAXADA:
Nesta postura, o corpo ficará relaxado com a cauda caindo naturalmente. As ore-
lhas ficam em posição natural, sem apontar para frente. A boca pode estar aberta
ou fechada e os cantos da boca não estão puxados nem para trás nem para frente.
Esta é a postura que naturalmente vemos quando o cão está numa situação con-
fortável.
POSTURA ALERTA:
Esta é a postura do cão que está atento. O animal manterá a cabeça alta, apon-
tando a base das orelhas para frente e dirigindo seu olhar para o objeto ou algo
que lhe chamou atenção.
Normalmente, sua boca estará fechada. Ficará de pé, como se estivesse na ponta
das patas e com a cauda levantada na altura do dorso. Poderá ocorrer uma leve
ereção dos pelos ao longo do dorso.
Esta postura indica interesse. O que acontecerá depois dependerá do que desper-
tou o interessse do cão e de como ele irá reagir. Ele poderá descobrir que não há
nenhum motivo para se preocupar e continuará o que estava fazendo anterior-
mente. A postura alerta sempre é um prelúdio para outro comportamento.
POSTURA DE AMEAÇA OFENSIVA:
Quando um cão exibe esta postura, ele é perigoso, agressivo e está pronto para
atacar. Atacará frente à menor provocação. Nesta postura todo o corpo do cão é
levado para cima e para frente. Ele se mantém bem na ponta dos dedos, pare-
cendo mais alto. Os pelos da base da cauda até as orelhas se eriçam, aumentando
seu tamanho corporal, sua cauda é mantida o mais alto possível e as orelhas es-
tão voltadas para frente. O focinho fica franzido, expondo os dentes pelos cantos
da boca, puxados para frente. Normalmente a postura é acompanhada de um
rosnado baixo, que deve ser levado a sério!
POSTURA DE AMEAÇA DEFENSIVA:
O cão que exibe esta postura também é perigoso, mas atacará somente em últi-
mo caso. Nesta postura o cão está se protegendo e somente atacará se for encur-
ralado. Caso contrário, escolherá fugir. Ele está assustado e poderá ser provoca-
do a ponto de morder. Seu corpo ficará rebaixado e levado para trás, a cauda
baixa, normalmente entre as pernas e, mesmo com pelos eriçados, a estatura do
cão parecerá menor. Existem semelhanças na expressão facial de cães que apre-
sentam postura de ameaça ofenciva e de cães que apresentam postura de ameaça
defensiva. Ambos expõem os dentes enrugando o focinho, mas na defensiva os
cantos da boca são puxados para trás. O cão poderá rosnar e as pupilas estarão
dilatadas.
POSTURA DE SUBMISSÃO ATIVA:
Na submissão ativa, o cão encolhe o corpo, abaixa a garupa com o rabo entre as
pernas. A frente do corpo também é rebaixada.
A expressão facial não é ameaçadora. Todas as partes do corpo são mantidas pa-
ra trás: as orelhas, os cantos da boca, os cantos dos olhos. O cão desviará o
olhar, evitando o contato visual.
O cão se movimentará de forma rastejante em frente do outro cão ou pessoa.
Quando estiver nesta postura, o cão irá lamber a boca de seu superior na escala
hierárquica.
POSTURA DE SUBMISSÃO PASSIVA:
Nesta postura o cão fica paralisado. Vira de barriga pra cima, cauda firmemente
apertada contra a barriga, cabeça virada para um lado, tentando evitar contato
visual. Poderá urinar quando nesta postura, mas não se moverá. Poderá lamber
seus próprios lábios e nariz.
POSTURA PARA BRINCAR:
Postura que convida outro membro para brincar. O cão abaixa a parte da frente
do corpo e levanta a traseira, como se fizesse uma mensura podendo abanar a
cauda que se mantém na horizontal ou acima da linha do dorso. Poderá também
correr em pequenos círculos com a garupa e a cauda encolhidas.
POSTURA DE ESTRESSE:
Mesmo não sendo exatamente uma postura, é importante reconhecer seus sinais.
Quando um cão está sob estresse, mantém o corpo e a cauda abaixados, orelhas
e cantos da boca para trás e estará ofegante ou passando a língua pelos lábios.
Um cão estressado transpira pelas almofadas plantares e dependendo do piso se-
rá possível ver suas marcas de pegadas molhadas. As pupilas estarão dilatadas.
Quando um cão está sob estresse, não poderá ocorrer aprendizado.
TEMPERAMENTO:
O comportamento canino, motivado pelas ações instintivas e de memória,
algumas congênitas, outras influenciadas pelo meio ambiente e as demais adqui-
ridas, mostra sua forma de reacionar através de seu caráter e temperamento.
Com respeito a esse último sabe-se que existem quatro classes de temperamento:
DÉBIL: São exemplares instáveis que não acatam regularmente as ordens do
seu condutor. Os exercícios que lhes resultam incômodos ou que sejam difíceis,
se negam a cumpri-los, assuntando-se facilmente com estampidos, ruídos muito
fortes ou movimentos bruscos. Em suma, diz-se que esses exemplares são des-
providos de caráter e não são aptos para o trabalho com o homem.
DESEQUILIBRADO: Indivíduos pertencentes a este grupo aprendem rapida-
mente os exercícios, podendo desenvolver uma grande atividade, mas possuem
pouca capacidade para obediência e subordinação, perdem facilmente a concen-
tração, sendo por esse motivo não aptos ao rastreio e tão pouco são seguros em
outras funções de trabalho.
LINFÁTICO: Geralmente são exemplares estáveis e equilibrados, mas um
pouco lerdos para aprender; suas reações diante de estímulos externos são lentas,
o que representa um problema na hora de treiná-los. No trabalho de rastreio não
interpretam, ou seja, não codificam de forma satisfatória suas captações olfati-
vas.
SANGUÍNEO: São cães vivazes, bem dispostos para a aprendizagem e levam
ao fim os exercícios de desdobramento ativo, assim como os de obediência, com
total precisão; de sistema nervoso equilibrado e bem estruturado em sua estabi-
lidade emocional.
Catalogado como cão ideal para o trabalho, apto para qualquer coisa e de exce-
lente temperamento e caráter.
Sabemos que os cães nascem com um conjunto de fatores e qualidades in-
corporadas genotipicamente, mas uma criação inadequada, isolada socialmente
do homem, maus tratos ou uma má educação e adestramento, podem arruiná-los
definitivamente.
POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA
COMANDO DE APOIO ESPECIALIZADO
COMPANHIA DE POLICIAMENTO COM CÃES
MANUAL CINOTÉCNICO
EMPREGO POLICIAL DO CÃO
AUTORES: CAPITÃO PM CLAYTON MARAFIOTI MARTINS
1º TENENTE PM CLAUDIONIR DE SOUZA
Ago/2003
I - EMPREGO DO CÃO
1. Vantagens do Emprego do Cão
O emprego de cães em missões policiais será sempre vantajoso, observan-
do-se logicamente os critérios e a adequabilidade, se for usado com a devida
técnica, obtêm-se seguramente:
- Economia de efetivo;
- Maior efeito psicológico;
- Segurança do policial;
- Valorização da tropa;
- Em determinadas missões resultará em maior possibilidade de êxito;
- O cão facilita a ação policial quando desenvolvida em locais de difícil
acesso ou em locais onde o risco é mais iminente.
2. Critérios para o Emprego de Cães
O cão, sendo uma suplementação do policiamento ostensivo, pelas suas
próprias características, somente será empregado após observados critérios táti-
cos e técnicos, tais como:
- o planejamento: é a condição essencial para o emprego do animal e po-
derá ser definido em nível estratégico, tático e técnico;
- em nível de decisão estratégica, o alto escalão da corporação decidirá
sobre a conveniência e circunstâncias do emprego da fração de cães nas diversas
operações;
- não deve haver limite jurisdicional para o emprego de cães. Por decisão
de quem de direito, atua onde sua presença se faça necessário, quer de forma
isolada, quer em apoio a outra OPM;
- ainda no tocante ao planejamento, há que se ressaltar a necessidade de
ser o mais detalhado possível, de forma a possibilitar uma perfeita execução.
3. Emprego de Cães Doentes (proibição)
O cão sofre os mesmos problemas de saúde do homem, com a desvanta-
gem de nem sempre poder se expressar, estando sujeito a ser acometido de qual-
quer doença, podendo até vir a desmaiar ou morrer em plena atividade operacio-
nal.
É importante lembrar que cabe ao condutor do animal a primeira verifica-
ção quanto ao seu estado sanitário. O cão que apresentar qualquer sintoma de
doença será levado a presença do veterinário, para análise dos sintomas eviden-
ciados, devendo ser afastado das atividades de instrução e serviço, sendo baixa-
do para tratamento.
4. Emprego de Cães Não Adestrados (proibição)
O adestramento constitui princípio eliminatório para o emprego de cães.
O cão pode ser aproveitado para inúmeras modalidades de serviço, desde
que seu adestramento concilie com a característica da missão. As qualidades na-
tas do cão concorrem para o seu correto emprego, dado ao seu temperamento, a
sua atividade e tendência naturais, bastando ao homem saber aproveitá-las.
O adestramento mínimo do cão de polícia é o básico.
Para se iniciar um trabalho de rua com cão na PMSC, deve este passar por
aprovação (certificação) junto a comissão julgadora da CiaPolCães.
5. Situações Incompatíveis para o Emprego do Cão
O cão é demasiado versátil para ser empregado em suplemento aos diver-
sos tipos de policiamento. Contudo, certas circunstâncias tornam o seu emprego
desaconselhável, haja vista seu temperamento e outras características próprias,
que colocam sua presença em desarmonia com o próprio ambiente. Vejamos al-
guns exemplos:
- Policiamento numa exposição de animais;
- Policiamento em locais de grande movimento, principalmente por ocasi-
ão do “rush”;
- Representação em um funeral;
Além dos aspectos supra mencionados, durante o planejamento para o
emprego do cão, os seguintes critérios ainda devem ser observados:
- Evitar submeter o animal a longas caminhadas, quando o mesmo puder
ser transportado;
- Cargas pesadas de trabalho devem ser também evitadas;
- Utilizar número adequado de cães em consonância com a tipicidade da
missão;
- Cadelas prenhas, cães reprodutores em período de cobertura, cadelas no
cio ou lactantes não devem ser lançadas em serviço.
- Não deve ser feito policiamentos ostensivo a pé em dias quentes ou lo-
cais em que o chão atinja altas temperaturas, uma vez que nessas situações o cão
pode sofrer hipertermia e ter problemas de saúde.
6. Emprego de Cães com PM Não Habilitado (proibição).
Somente o PM com Curso de Cinotecnia (aprovado pela DIE) ou Estágio
Cinotécnico (da CiaPolCães PMSC) poderá conduzir o cão em via pública.
A inobservância dessa cautela poderá acarretar incidentes desagradáveis
que afetarão o animal, o PM, a corporação e, principalmente a sociedade. Embo-
ra adestrado, se o cão ainda não está adaptado a trabalhar com determinados po-
liciais militares, não é conveniente a união dos mesmos para o empenho opera-
cional, isto porque o cão mal conduzido equipara-se a uma arma ou um veículo
nas mãos de pessoas não habilitadas.
7. Aspectos Jurídicos.
Sob o enfoque jurídico duas hipóteses poderão ser aventadas:
1) Responsabilidade do homem para com o animal
2) Responsabilidade do homem pelos danos provocados pelo animal
Dentro da 1ª hipótese, vamos encontrar o assunto estabelecido no art 64
da Lei das Contravenções Penais (decreto-lei nº 3.688, de 03 out 1941):
“Crueldade contra animais....
Art. 64 - Tratar com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo”.
O ilícito é agravado se o tratamento é praticado em exibição ou espetáculo
público.
Com relação a 2ª hipótese, o assunto é tratado no art 31 da LCP que diz:
“Omissão de cautela na guarda ou condução de animais.
Art. 31 - Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou
não guardar com a devida cautela animal perigoso:
Pena: - .....
Parágrafo único - incorre na mesma pena quem:
a - ...
b - excita ou irrita o animal, expondo a perigo a segurança alheia;
c - conduz animal em via pública, pondo em perigo a segurança alheia.”
O policial-militar deve ter em mente que além da possibilidade de eclosão
da contravenção penal, antes de mais nada deve cuidar da proteção e segurança
do animal, e, principalmente, zelar pela proteção do indivíduo, impedindo o
animal de provocar-lhe lesões desnecessárias, causadas, às vezes, por descuido
ou por displicência.
8. Cautela e Segurança
O Cão pode ser equiparado a uma arma, onde seu emprego exige cautela e
segurança. O adestrador sempre deve inspecionar o equipamento de condução
do cão para evitar que ocorra algum incidente.
II - MISSÕES DE UM CANIL PM
a - Policiamento ostensivo;
b - Operação de busca e captura;
c - Demonstração de cunho educacional/ recreativo;
d - Policiamento em praças desportivas;
e - Controle de distúrbios civis;
f - Controle de rebelião e/ou fuga de presos;
g - Formaturas e desfiles de caráter cívico - militar;
h - Detecção de entorpecentes, armas e artefatos explosivos.
Os cães poderão ser empregados em outras missões para as quais estejam
treinados, desde que sejam relacionadas com as atividades da Corporação.
III - GUARDA DE INSTALAÇÕES
Desde os primórdios de sua convivência com o homem o cão é utilizado
para guarda. Basicamente, esta é uma atividade instintiva, sendo fácil perceber
que até mesmo os cães mais dóceis e sem treinamento executam-na de maneira
espontânea e, dentro do possível, eficaz. Quem de nós já não teve o desprazer de
ser assustado por um “vira lata” que corre de dentro de um quintal qualquer? Es-
tá aí o rudimento do primeiro e mais antigo serviço atribuído ao cão.
O trabalho de guarda pelo cão pode ser realizado de duas maneiras básicas
e diferentes entre si. A primeira maneira é a executada com base no exposto
acima, isto é, o instinto e a oportunidade do cão, onde ele executa a atividade de
guarda sem o concurso do homem.
Para que seja eficaz a segurança realizada pelo cão sozinho, devemos le-
var em conta alguns fatores :
a. área a ser coberta;
b. dispositivos de segurança existentes;
c. existência ou não de um “corredor de segurança”;
d. vias de acesso e fuga;
e. pontos vulneráveis.
A área de cobertura de um cão vai variar de acordo com sua compleição
física, idade, raça e condições do terreno. A existência de outros dispositivos de
segurança aumenta a extensão da cobertura na medida em que indique a presen-
ça de intrusos por meio de sinal identificável pelo cão. O corredor de segurança
a que nos referimos nada mais é que um delimitador do espaço de atuação do
cão, local em que o cão fica solto, realizando somente a segurança do perímetro
do terreno demarcado. Este corredor deve ser de passagem obrigatória para
qualquer intruso que decida adentrar ao terreno. Nas vias de acesso e de fuga
devemos reforçar a guarda, diminuindo o terreno a ser coberto, idem aos pontos
vulneráveis.
A segunda modalidade de segurança é a tradicional, onde o cão acompa-
nha o homem. Neste caso devemos levar em conta os mesmos aspectos anterio-
res, descartando o “corredor de segurança”.
O condutor deverá levar em conta que seu cão é uma arma, pronta a ser
utilizada, e que o mesmo responderá legalmente pelos resultados provocados pe-
la sua utilização. Em casos de utilização em portarias ou locais de acesso fácil
do público, devemos ter sempre o cuidado de verificar a segurança de terceiros.
Atualmente, a PMSC não utiliza este tipo de serviço com cães.
IV - POLICIAMENTO A PÉ COM CÃES
O policiamento a pé é uma variável de utilização do PM onde podemos
utilizar o cão. O policiamento com cães é eminentemente preventivo, sendo por
isso a área de atuação ideal aquela que reúna um índice de criminalidade alto, tal
como furtos e roubos a transeuntes, desde que não seja área de risco, uma vez
que o cão é utilizado e considerado uma arma não letal (imobilizadora).
A patrulha é formada por dois policiais e um cão, sendo possível, a crité-
rio de cada comandante, a manutenção de uma patrulha com dois policiais e dois
cães.
Para que o emprego do cão alcance seus objetivos é necessário que o poli-
cial conheça seu setor e esteja munido de comunicação para que, em precisando
de apoio, o tenha rápido e eficazmente.
Em virtude das características físicas, de saúde e mentais do cão de polí-
cia, o policiamento a pé não poderá ultrapassar 04 (quatro) horas consecutivas
nem ser realizado em períodos quentes ou onde o solo esquente a altas tempera-
turas, pois o cão possui nas palmilhas plantares alta sensibilidade ao calor, o que
pode ocasionar hipertermia e levá-lo a morte.
V - K-9 (Cão de Patrulha)
O K-9 surgiu nos Estados Unidos da América, durante a década de 60,
devido à polícia daquele país estar enfrentando grandes problemas com o com-
bate ao narcotráfico.
Inicialmente os "times K-9" foram concebidos para a descoberta de narcó-
ticos que entravam camuflados nos Estados Unidos nas mais variadas formas.
Com o intuito de localizar essas drogas sem a necessidade de despender grande
quantidade de policiais e tempo, iniciou-se um programa de treinamento de cães
para realizar o trabalho de detecção de drogas no menor tempo possível e com
grande percentual de acerto.
Já em 1965, o Governo Americano colhia os primeiros resultados, com
apreensões recordes de maconha e cocaína em todas as suas fronteiras. Diante
dos resultados obtidos no combate ao narcotráfico, o policiamento com cães que
apenas era destinado a detecção de drogas, foi estendido ao patrulhamento roti-
neiro e diário.
Várias cidades pelo mundo adotaram a modalidade de K-9 após os resul-
tados alcançados pelos americanos. Apenas para exemplificar tal afirmação, po-
demos citar o Departamento de Polícia da cidade de Calgary no Canadá, que no
ano de 1999, através de sua unidade canina, atendeu 7.681 ocorrências, sendo os
cães responsáveis diretamente por 198 prisões e mais 257 prisões realizadas em
apoio ao policiamento rotineiro.
O K-9 foi implantado na PMSC em 2000 e constituiu-se na maior mudan-
ça na maneira de emprego de cães dos últimos anos. Criado com base na pre-
missa de que o cão adestrado pode multiplicar a presença do policiamento osten-
sivo preventivo, através de sua característica intimidatória, foi posto à prova di-
versas vezes, sempre sendo aprovado como um importante instrumento de baixa
de criminalidade localizada.
Atuando sempre por saturamento, ocupa determinada área impedindo a
ocorrência de delitos, ao mesmo tempo em que permite atuar de maneira repres-
siva, apoiando também outras viaturas. O K-9 tem demonstrado sua eficiência
em razão dos suspeitos, ao serem abordados pela polícia, sentirem-se receosos
devido à presença intimidatória do cão e seguirem fielmente as instruções dadas
pelos policiais.
Ressalte-se que o exposto para policiamento a pé também se aplica nesta
modalidade.
1. Vantagens:
- Proporciona mais confiança ao PM;
- Maior área de atuação;
- Serviço simpático à população;
- Difusão de uma especialidade da PMSC;
- O cão dá sinais de perigo;
- Segurança nas revistas de suspeitos;
- Imobilizar e conduzir presos;
- Guardar objetos e a própria Vtr;
- Desarmar, perseguir e atacar o oponente;
- Abordagem de edificações e veículos;
- Localizar meliantes escondidos em buracos, túneis, etc.
2. Área de Atuação.
O emprego pode ser realizado em qualquer área que demande uma pre-
sença policial mais qualificada, podendo ocorrer em áreas de risco e áreas em
que é alto o índice de crimes contra o patrimônio como o furto e o roubo (co-
mércio).
3. Viatura mais Adequada ao K-9
A viatura para o policiamento K9 deverá ser, preferencialmente, com veí-
culo do tipo “SUV” ou Camionete, com 04 portas e compartimento para a con-
dução de detidos, adaptada no banco traseiro com estrado para a acomodação do
canino ao lado do passageiro.
A viatura contará com 03 policiais e 01 cão, podendo a adaptação conter
espaço para condução de mais cães, o que poderá permitir uma patrulha com 03
policiais e 02 cães.
4. Meios para Execução do Serviço
a. Pessoal: motorista + comandante + PM cinotécnico/condutor
b. Canino: cão adestrado aprovado por comissão especializada
c. Vtr: tipo padrão, com alterações para a condução do cão
d. Fardamento: O 5 P ou 5 O
e. Armamento: pistola .40, CTT .40, Espingarda cal. 12.
f. Equipamentos: Kit operacional padrão PMSC, lanternas de mão, docu-
mentação operacional, kits de primeiros socorros, colete balístico, enforcador e
guias curta e longa.
g. Comunicações: rádio portátil (HT).
5. Execução do Serviço.
a) O tempo de policiamento K9 deverá ser de no máximo 06 horas conse-
cutivas, salvo situações extraordinárias que obrigam sua permanência no local
por tempo superior, desde que possibilitado tempo para descanso ao cão e que
este esteja em condições para o trabalho, conforme entendimento do cinotécnico
presente.
b) Todo e qualquer atendimento e informação deve o PM atender fora da
vtr, sempre com o cão ao seu lado e sob seu controle (na guia).
c) O Policial Militar deve se manter no setor determinado, realizando
abordagens de suspeitos a pé, em veículos ou motos.
d) Pessoa detida será transportada na VTR e conduzida a DP.
e) Os vidros traseiros da viatura devem sempre manter uma abertura de
aproximadamente 10 centímetros para que o ar possa circular no compartimento
reservado para o cão. A abertura não deve possibilitar a fuga do cão nem que o
cão permaneça com a cabeça para fora, pois qualquer descuido poderá ocasionar
um acidente de mordida.
f) O condutor nunca deve deixar o cão solto, pois mesmo adestrado pode-
rá considerar erroneamente uma situação de estresse e acabar atacando ou prati-
cando um ato sem comando, colocando em risco pessoas inocentes.
g) Nas abordagens pessoais, o cão deverá ficar ao lado de seu condutor e
sob controle deste, sempre na guia e no comando de "Atenção", atrás do suspeito
que está sendo revistado a fim de intimidá-lo enquanto outro policial executa a
revista.
6. Finalidade do K-9:
1- Dar cobertura ao PM/Cão e Vtr nos pontos críticos (criminalidade) ou
lugares de nível de alta insegurança.
2- Cobrir setores tidos como perigosos.
3- Realizar abordagens a pessoas, edificações e veículos.
4- Capturar meliantes, delinqüentes, etc.
5- Policiar parques, jardins, praias ou lugares difíceis de serem patrulha-
dos somente pelo PM (homem), para coibir a ação de delinqüentes que utilizam
estas áreas para assalto, depredação, uso e tráfico de tóxicos, etc.
6- Cumpre lembrar que embora de cunho preventivo, a missão pode trans-
formar-se essencialmente repressiva, caso a situação assim exija. Nesta, o em-
prego do cão ficará a critério do seu adestrador, que fará uso de seu discerni-
mento e dos conhecimentos profissionais imprescindíveis.
7. Atribuições da Guarnição K-9.
a. Efetuar a manutenção de primeiro escalão na viatura, antes do patru-
lhamento (óleo, combustível, pneus, lanterna, possíveis danos e equipamento).
b. Patrulhar durante 06 horas o setor definido pelo Cmdo.
c. Procurar estabelecer um bom contato com a comunidade, fornecendo e
colhendo informações e demonstrando o policiamento nos pontos críticos.
d. Apoiar à vtr de área de ofício ou por solicitação do COPOM.
e. Proceder no distrito policial da seguinte forma: estabelecer comunica-
ção com o OF. de Sv, sendo que o cão permanecerá na Vtr (segurança).
f. Observar nas abordagens as condições mínimas de segurança, como:
- Número de meliantes (até 02, se houver mais, pedir apoio);
- Local;
- Armamento possível dos meliantes, etc.;
h. Obedecer a velocidade do patrulhamento, com velocidade máxima de
40 km/h.
g. Providenciar via rádio o cerco, quando a situação exigir, não efetuando
perseguição motorizada;
h. Em hipótese alguma abandonar o cão, pois além de se tratar de uma
dupla, há muitos transeuntes no local;
i. Durante o patrulhamento, independente do risco da área patrulhada, a
Viatura deverá permanecer com pequenas frestas nos vidros para o cão respirar.
j. No caso de perseguição a pé a vários elementos, o patrulheiro não deve
se separar do cão.
l. Atender todo e qualquer solicitante fora da viatura, seja qual assunto for,
tendo sempre o cão junto ao seu lado e sob controle na guia.
m. Realizando o patrulhamento a pé, o PM deverá trancar a viatura, mes-
mo que o deslocamento seja de poucos metros, tendo em vista a possibilidade de
envolvimento em ocorrência.
n. No patrulhamento a pé com o cão, o patrulheiro deve dar ciência ao
Oficial de ronda, esclarecendo sua ausência nas comunicações, não perdendo a
viatura de vista.
VI - BUSCA EM MATA
1. Procedimentos em Ocorrências dessa Natureza:
a. Comunicar o COPOM imediatamente;
b. Isolar a área e os recintos que possam ter pistas do fugitivo ou desapa-
recido, principalmente:
I - nos locais onde tenha se assentado, deitado ou tocado com as mãos;
II - nas trilhas ou locais por onde tenha passado;
III – nas pegadas visíveis;
IV- em qualquer pertence, mantendo-o sem tocar as mãos (roupas, isquei-
ro, maço de cigarros, sapatos, meias, documentos...). Em casos de necessidade,
poderão ser transportados com o uso de luvas novas para lugar seguro e prefe-
rencialmente fresco, entretanto, esses objetos poderão servir para auxiliar o cão
em sua busca e deverão ser acondicionados em sacos plásticos, evitando assim a
vazão do odor para não confundir o animal;
V) Não conversar, fumar, quebrar galhos de árvores, jogar pedras...
VI) Evitar brincadeiras e ou contato com os cães integrantes da equipe;
VII) Na zona de conflito, isolar o local, evitando aproximação de pessoas
alheias à operação;
VIII) Dependendo do local, os policiais que chegarem primeiro deverão
apenas isolar a área do conflito, bem como realizar o cerco para evitar a possível
fuga do meliante, guarnecendo os possíveis pontos de fuga e deixar que só a
equipe do Canil adentre ao local.
c. Evitar :
I - Destruição das pistas;
II - Inutilização de partículas odorantes, causadas pelo pisoteamento de-
sordenado dos locais suspeitos;
III - Procedimento inadequado de Policial Militar estranho ao Canil junto
à equipe em ação;
IV - Demora na solicitação para o emprego efetivo da equipe.
2. Formação da Equipe.
A equipe que atuará na ocorrência será formada basicamente por 05 poli-
ciais, podendo haver 02 policiais que ficarão na reserva.
Será assim distribuída:
- Condutor do cão;
- Segurança do condutor (responsável pela negociação);
- Segurança do flanco esquerdo;
- Segurança do flanco direito;
- Segurança da retaguarda (cerra-fila).
Os componentes da equipe deverão estar munidos dos seguintes arma-
mentos e equipamentos:
- Pistolas .40 ou 9mm;
- Magnum carabina 3.57;
- CTT .40 ou CT .40;
- Escopeta cal 12;
- Granadas de efeito moral e luz e som;
- GPS; - Luva; - Bússola; - Faca;
- Material de 1º socorros;
- Coletes balísticos;
- Capacetes balísticos;
- Cantil;
- Lanterna;
- Cordas;
- Rádio de comunicação individual;
- Fardamento camuflado;
- Guias longas e curtas.
VII - DETECÇÃO DE ENTORPECENTES, ARMAS E
ARTEFATOS EXPLOSIVOS
1. Formação da Guarnição.
A equipe que atuará na ocorrência será formada no mínimo por 02 polici-
ais e 01 cão.
Será assim distribuída:
- Guia do cão;
- Auxiliar do Guia.
2. Procedimentos da Guarnição em Ocorrências.
a. A equipe irá atuar em reforço ou operação própria, caso em que realiza-
rá as abordagens e procedimentos policiais cabíveis;
b. Após ser feita a abordagem e a área já estar segura, o auxiliar irá segu-
rar o cão pela guia e o “GUIA” realizará uma revista preliminar no local, obser-
vando:
I - qualquer material que possa oferecer perigo ao cão (fios desencapados,
caco de vidro, materiais suspensos que possam cair e machucar o canino ou dis-
traí-lo), etc;
II - produtos alimentícios, restos de comida, etc;
III - animais de estimação;
IV- Se as janelas estiverem abertas, fechá-las. Se estiverem fechadas, de-
verão ser abertas para renovação do ar e em seguida fechá-las novamente;
V) No interior da residência deverá ficar o mínimo de pessoas possível, de
preferência apenas o “GUIA” e seu auxiliar, o proprietário e um segurança;
c. Após feita a revista, o cão deverá ser retirado do local e recompensado;
d. Os componentes da equipe deverão estar munidos dos seguintes arma-
mentos e equipamentos:
- Pistolas .40 ou 9mm;
- luva; - Faca;
- Material de 1º socorros;
- Coletes balísticos;
- Cantil;
- Lanterna;
- Cordas;
- Rádio de comunicação individual;
- Fardamento camuflado;
- Guias longas e curtas;
- Peitoral;
- Marmita (para oferecer água e alimentação para o cão);
- Pequena quantidade de maconha e cocaína, para treinamento.
VIII - O EMPREGO DO CÃO EM EVENTOS ESPORTIVOS E
CULTURAIS
Justificando a diversidade de missões que o cão pode desempenhar é
aconselhável também seu emprego em eventos onde há acúmulo de pessoas, tais
como:
a. Nas revistas pessoais;
b. Segurança de autoridades;
c. Policiamento ostensivo nas imediações do estádio;
d. Segurança interna do campo;
e. Busca a entorpecentes, armas e explosivos.
Os empregos mais comuns são aqueles relativos à segurança interna e ex-
terna dos eventos. Quanto à segurança externa podemos realizá-la através do Po-
liciamento a Pé com Cães e do K-9, adequando sempre que necessário suas ca-
racterísticas de execução às do evento. Já quanto à segurança interna, devemos
observar alguns preceitos para que o cão realize sua missão. O emprego mais
freqüente de segurança interna neste tipo de eventos é realizado em jogos de fu-
tebol, em apoio às unidades responsáveis pela segurança geral do evento. São
medidas necessárias ao bom andamento da missão:
a. Adentrar à pista em volta do gramado após a entrada das equipes;
b. Manter-se voltado de lado ou de frente para a torcida com o cão em po-
sição confortável;
c. Não deixar que se distraia com a bola, gandulas ou torcedores;
d. NUNCA SOLTAR O CÃO, mesmo que ocorra uma invasão;
e. Não segurar o cão pelo mosquetão da guia;
f. No intervalo lhe oferecer água e local para descanso e necessidades fisi-
ológicas, não devendo em hipótese alguma permanecer no interior do gramado,
pois sua presença com certeza irá atrair a atenção da torcida, fazendo com que o
cão seja alvo de provocações;
g. Evitar executar este serviço sob chuva intensa, salvo necessidade extra-
ordinária, caso em que o policial deverá secar o cão assim que retornar ao canil
para que não permaneça molhado e suscetível a doenças;
i. Deixar o gramado após a saída das equipes e da arbitragem.
Em caso de tentativa de invasão de campo as patrulhas devem se reunir no
local da tentativa de invasão reforçando sua segurança. Se não for possível con-
ter o público ou se a tentativa de invasão ocorrer por pontos diversos deverão se
reunir no centro do gramado ou outro local designado previamente para que em
conjunto com o restante da tropa faça-se a varredura e desocupação do gramado.
Em se tratando de show, os cães podem ser utilizados para fazer a segu-
rança dos artistas.
A PRESENÇA DO CÃO NO CAMPO TEM CARÁTER ÚNICO DE
OSTENSIVIDADE, VISA APENAS PREVENIR INVASÕES, NO
ENTANTO, ELE JAMAIS SERÁ SOLTO SE TAL ATO ACONTECER, POIS
AS CENAS QUE PODERÃO OCORRER SERÃO GRAVADAS PELA
IMPRENSA E SEM DÚVIDAS NADA DE BOM TRARÃO PARA A NOSSA
CORPORAÇÃO.
IX - CONTROLE DE DISTÚRBIOS CIVIS COM CÃES
A integração de cães na tropa de choque ocorreu naturalmente pela seu al-
to poder intimidatório. Assim como os cavalos, os cães causam um alto impacto
psicológico nas pessoas, despertando o temor. Porém, a tropa com cães não pode
atuar isoladamente em situações de Controle de Distúrbio Civis, pois não dispõe
de proteção coletiva (escudos). Por este motivo, o Pelotão de Canil atua sempre
em apoio a um Pelotão ou Companhia de Choque convencional.
A constituição de um Pelotão de CDC com Cães é a seguinte:
- 01 Oficial, 03 Sargentos, 12 Cabos e Soldados, 01 Motorista e 10 Cães,
sendo que os dois Soldados que não estiverem conduzindo cães ficarão com ar-
mamento não letal (calibre 12 com munição de elastômero).
As formações do pelotão de cães são:
a. COLUNA POR DOIS - É a posição básica de onde partem normalmen-
te as demais formações. O pelotão obedecerá uma distância e intervalo entre os
homens de aproximadamente 02 (dois metros). O intervalo de 02 metros entre os
homens também será obedecido nas demais formações quando executadas em
demonstração de força. Quando o pelotão for preparado para ação repressiva
(carga), esse intervalo será elevado para 03 metros. Nas mudanças de uma for-
mação para outra que houver a necessidade do recuo do grupo, o homem fará a
conversão da esquerda para direita individualmente, retornando ao seu lugar na
formação anterior.
b. EM LINHA - Partindo da formação em coluna por dois, mediante o
comando, os dois grupos se abrem rapidamente tomando a formação indicada. O
OFICIAL se posicionará atrás e a direita do homem base nº 1 facilitando uma
maior visão e ação de Comando. Os Sgts se posicionarão atrás, ficando o Cmt
do 1º grupo (granadeiro) entre os números 5 e 7 na esquerda e o Cmt do 2º gru-
po (atirador Gas-Gun) entre os nº 4 e 6 na direita. O Sargento Auxiliar do Cmt
ficará um passo atrás e a esquerda do Oficial. Os Soldados portando calibre 12
ficarão um em cada ala e receberão a ordem de disparo do Sgt Auxiliar do Cmt.
c. EM CUNHA - Partindo da formação em coluna por dois, os dois grupos
formam a cunha. Nas outras formações, para passar para a cunha, simplesmente,
formam em cunha, sem deslocamento do homem - base.
d. ESCALÃO À ESQUERDA - O homem base permanece enquanto o
grupo da direita avança à frente formando uma diagonal com o grupo da esquer-
da, isto é, a direita avança.
e. ESCALÃO À DIREITA - O homem base permanece parado enquanto o
grupo da esquerda avança a frente formando uma diagonal com o grupo da direi-
ta. A esquerda avança.
Cada formação tem sua finalidade específica:
a. ESCALÃO À DIREITA OU À ESQUERDA - para dispersar pessoas
junto a paredes, recuos de portas, alambrados, etc. e para desviar a direção da
massa e obrigar o seu deslocamento para uma via de escoamento.
b. EM CUNHA - Para penetrar em massa ou público com a finalidade de
dividir, deter agitadores, líderes, delinqüentes, etc.
c. EM LINHA - É uma formação de contenção e prevenção, tendo como
finalidade empurrar a massa em única direção, permitindo uma evacuação total
dos manifestantes.
d. EM COLUNA - É ideal para avançar em ruas estreitas, recebendo pro-
teção junto a parede dos edifícios, de onde poderão estar sendo lançados objetos.
É a formação de princípio de todas as outras, propiciando embarcar, desembar-
car, enumerar, etc.
Porém, como atua basicamente em apoio, são realizadas as seguintes for-
mações de apoio:
a. CENTRAL : realizado à retaguarda do pelotão principal, em coluna por
dois. Tem a finalidade de facilitar o deslocamento e permitir a rápida mudança
para outras formações.
b. COMPLEMENTAR : realizada na mesma formação do pelotão princi-
pal. O pelotão de apoio se divide em dois, entrando ao lado do último homem de
cada grupo do pelotão principal. Tem como finalidade aumentar a frente do pe-
lotão principal.
c. LATERAL : o pelotão de apoio subdivide-se em dois, entrando cada
grupo atrás do último homem do pelotão principal. Tem como finalidade impe-
dir a penetração de indivíduos da turba pela lateral do pelotão principal.
d. RETAGUARDA: o pelotão do canil faz a formação em linha atrás do
pelotão de choque, virado para trás de forma a segurar a retaguarda deste.
A guia nas operações de CDC, quando dado o comando de preparar para a
carga, deve ser utilizada na posição número três.
Os comandos na operação de CDC devem ser dados com clareza e objeti-
vidade, principalmente em razão da dificuldade que é se fazer entender em meio
a uma operação, onde além de todos os obstáculos já conhecidos, temos ainda o
alto grau de excitação dos cães, que latem a todo momento e requerem a atenção
dobrada de seus adestradores. São os comandos:
a. COMANDO A VOZ - três tempos:
1) Voz de advertência - pelotão com cães
2) Comando propriamente dito - em linha, em cunha
3). Voz de execução - marche ou marche - marche
b. COMANDO POR GESTOS - quando necessário os comandos por
gestos poderão ser empregados pelos Comandantes em conexão com os coman-
dos à voz.
GESTOS:
REUNIR - braço direito na vertical sobre a cabeça descrevendo pequenos
círculos.
EM COLUNA - braço direito levantado na vertical com os dedos médios
e indicador acima da cabeça, determina a formação de pelotão em coluna por
dois.
EM LINHA - braços estendidos na lateral horizontal do corpo.
EM CUNHA - braços e mãos estendidas acima da cabeça, formando uma
figura triangular.
EM ESCALÃO À DIREITA - braços estendidos ao lado do corpo for-
mando uma diagonal com este, o braço direito abaixado.
EM ESCALÃO À ESQUERDA - braços estendidos ao lado do corpo
formando com este uma diagonal, o braço esquerdo abaixado.
MARCHE - o braço direito na lateral do corpo e punho fechado, execu-
tando um movimento de cima para baixo.
MARCHE - MARCHE - mesma situação, só que executa-se dois movi-
mentos.
Por atuar em apoio, muitas vezes não há necessidade de ser feito uso de
munição química, porém se for necessário, estes são os procedimentos:
a. Os Sgts lançarão granadas entre os intervalos dos homens formados em
linha, são os granadeiros lançadores e Cmts de grupos.
b. O Sgt portará sacola de munição química, gas-gun, exercendo dupla
função (remuniciador e atirador gas-gun).
Para que cada homem saiba exatamente sua posição dentro do pelotão de
choque devemos comandar ENUMERAR, sendo que na posição de descansar o
homem levanta a mão direita, segurando o suporte da alça da guia, e pronuncia
em voz alta “CONDUTOR NÚMERO TAL”.
Como veremos ainda, o transporte do pelotão de cães pode ser feito por
vários meios, porém sempre que houver o embarque, o pelotão entra em forma
em coluna por dois, em seguida será deslocado para junto da viatura onde pro-
cederá o embarque. Ao comando de "EMBARCAR", cada homem deverá em-
barcar primeiramente o seu animal, em seguida embarca o condutor. Em veículo
onde não haja compartimento para o animal, o homem deverá sentar-se em uma
posição que permita o seu cão ficar sentado entre as pernas do seu condutor,
permitindo uma total vigilância lateral.
Para o desembarque, ao se chegar próximo ao destino, os homens já se
preparam, deixando a viatura assim que esta pare, entrando em forma ao lado do
veículo, em coluna por dois. Ao comando de “DESEMBARCAR”, primeira-
mente desembarca o homem, em seguida o cão, entrando em forma em coluna
por dois.
Quando houver necessidade de executar-se a carga, devemos adotar a se-
guinte postura:
a. “PREPARAR PARA CARGA” – Nesse momento, cada homem do pe-
lotão deverá ficar com intervalo de 03 (três) metros aproximadamente do outro
(os que estão a direita do homem base afastam-se para a direita e os que estão a
esquerda do homem base afastam-se para a esquerda) e segurar a guia na posi-
ção nº 3, ou seja, a mão direita introduzida pela alça da guia segurando o suporte
da alça e a mão esquerda de punho serrado para cima segurando o suporte do
mosquetão. O homem toma uma posição confortável colocando o seu pé direito
a frente, tendo o cão a sua esquerda em posição de alerta. Com a mão direita,
baixa a viseira do capacete.
b. AO COMANDO DE “CARGA” - liberamos a mão esquerda e segura-
mos a guia firmemente com a mão direita, impulsionando o cão para a frente em
direção aos manifestantes ao mesmo tempo que rompemos passo com o pé direi-
to.
c. AO COMANDO DE “ALTO” - o pelotão retorna e entra em forma em
coluna por dois no local determinado pelo Comandante.
O pelotão de CDC com Cães pode ainda atuar em rebeliões e estabeleci-
mentos penais. Nestes casos obedecerá a Planos e Ordens específicos, sendo cer-
to que o emprego será sempre realizado no sentido de oferecer segurança à tro-
pa, tal como na permanência da vigilância dos presos amotinados ou então em
auxílio no transporte destes, das celas aos pátios.
No caso de revistas, o Pelotão de CDC com Cães atuará também como
segurança da tropa, utilizando seu poder intimidatório.
X - CONDIÇÕES DE EMPREGO
Para empregarmos cães nas mais diversas tarefas temos de levar em con-
sideração algumas limitações a eles impostas pelas variáveis de tempo, clima,
local, e transporte. Ao planejarmos qualquer missão em que iremos trabalhar
com cães temos que respeitar alguns pontos que irão determinar um melhor re-
sultado. A ignorância a estes limitadores pode não trazer uma conseqüência
imediata aos cães, porém com certeza estará contribuindo para uma redução
drástica em seu tempo útil de vida, bem como concorrerá para a ocorrência mais
freqüente de problemas com o plantel.
São os aspectos mais importantes:
1. Tempo de emprego: estabeleceu-se como regra que o tempo máximo de
emprego de um cão policial é de 06 (seis) horas de efetivo trabalho, podendo es-
tender-se em caso de necessidade, porém, dando um tempo de descanso e desde
que o cão esteja em condições de continuar em serviço. Estas seis horas contam-
se do momento em que o cão deixa o canil até o momento em que retorna à ele.
Isto nos leva ao caso prático em que o policial retira o cão do canil às 1300h e
sai em seguida para o patrulhamento, devendo retornar às 1900h.
Desta regra excetuam-se os cães de farejadores em geral e o serviço de K-
9, que pela sua característica de trabalho já explanada, têm um regime diferente
de trabalho. Das missões do cão de policiamento, a mais estressante é a de Con-
trole de Distúrbios Civis, pois o cão excita-se quando do deslocamento e muitas
vezes, por não ser empregado de imediato, volta à calma, voltando a se excitar
quando do efetivo emprego. Como em muitas ocasiões este processo se repete
inúmeras vezes, ao final da missão o cão estará exausto. Cabe salientar também
que uma vez começada a operação de CDC não há como fazer a troca dos cães,
o que acaba por determinar um emprego excessivo.
Esta regra não deve ser levada em consideração isoladamente, pois como
veremos a seguir, as condições climáticas e o local influenciam no tempo de
emprego.
2. Condições climáticas: como sabemos, os cães têm condições de se ade-
quar aos mais diversos climas, porém, para que protejamos sua integridade e
poupemos sua saúde, devemos levar em conta que como os seres humanos as
variações de temperatura e clima também os afetam. Em climas mais quentes o
tempo de emprego deve ser reduzido ou então subdividido, a fim de que o cão
tenha condições de se restabelecer prontamente, estando apto a responder quan-
do for solicitado. Em climas frios este tempo pode ser estendido, porém sempre
se levando em conta se o benefício desta extensão irá trazer resultados importan-
tes.
O cão deverá ser poupado também de trabalhar na chuva, devendo ser se-
co com muito cuidado, tendo em vista que seu sistema de pêlo e subpêlo nor-
malmente mantêm o subpêlo úmido, podendo causar problemas de saúde. O
emprego de cães nestas condições deverá ocorrer somente em casos de necessi-
dade, sendo realizada sua secagem após o término do serviço e, caso necessário,
poderá haver acompanhamento posterior dos cães pela Veterinária.
3. Local: o local irá influenciar no emprego do cão na medida em que não
oferecer a mínima condição para que o mesmo possa ter satisfeitas suas necessi-
dades. Deste modo, locais onde não haja água ou com solo que machuque suas
patas são desaconselháveis para o emprego e se aí forem utilizados deverá ser
previsto todo o suporte necessário para tal.
4. Transporte: para o patrulhamento diário o melhor transporte do cão é
aquele realizado em viatura individual, sobre um tablado, que propicia ao animal
conforto e segurança ( K-9 ). Porém muitas vezes é necessário transportar um ou
mais cães em determinada missão. Para realizar este transporte colocaremos
aqui os melhores meios, sendo que infelizmente nem sempre estes estão dispo-
níveis:
a. Aéreo em avião : ideal para longas distâncias, devendo o cão ser acon-
dicionado em caixas de fibra ou madeira, com dimensões compatíveis com seu
tamanho, sendo que o cão deverá caber dentro de sua caixa de transporte, deita-
do e em pé, no mínimo. Para transporte em aviões de carreira, há necessidade de
retirar junto ao Ministério da Agricultura um documento de Atestado de Saúde e
Vacinação, pois somente com este documento é liberado o embarque pela em-
presa aérea. Os cães geralmente são embarcados como carga e colocados no
compartimento de carga do avião.
b. Aéreo em helicóptero: ideal para distâncias médias quando há necessi-
dade de rapidez. O cão acompanha seu adestrador preso pela guia. É interessante
que se realizem treinamentos com os cães para prepará-los para tal viagem, po-
rém o cão adestrado, em companhia de seu adestrador, tende a não apresentar
qualquer tipo de problema.
c. Terrestre em veículo especial: veículo especial para transporte de cães
dotado de caixas individuais que possibilitam ao cão uma viagem até para dis-
tâncias longas com um mínimo de conforto. Tal veículo é dotado ainda de caixa
d’água e local para armazenagem de ração, servindo por isso de suporte para
deslocamentos mais longos.
d. Terrestre em ônibus: alternativa improvisada para transportar cães e
homens, porém, impossibilita viagens longas tendo em vista que devem ser exe-
cutadas paradas freqüentes para que os cães façam suas necessidades fisiológi-
cas e também recebam água.
e. Terrestre em “trailler”: ideal para transporte de um pequeno contingente
de cães, podendo ser construído em módulos de caixas, permitindo o desloca-
mento rápido e seguro. Pode ser tracionado por veículos pequenos.
f. Terrestre em viaturas “pick-up” : meio improvisado para transporte de
pequeno contingente de cães. Os cães são colocados na caçamba, sendo que esta
deverá ser coberta. Se forem construídas caixas em seu interior tornam-se aptas
ao transporte seguro de cães.
g. Fluvial ou marítimo : pode ocorrer de termos de transportar cães em-
barcados. Se a embarcação permitir, podemos transportá-los como no avião,
com o benefício de que o mesmo possa receber tratamento durante a viagem.
Existem certos navios que dispõe inclusive de canis para hospedagem dos cães.
Porém, se a embarcação for pequena devemos transportar os cães no mesmo
procedimento do helicóptero, sempre ao lado do adestrador, que deve tomar to-
das as medidas de segurança tal como a colocação de colete salva vidas.
IMPORTANTE : nem sempre aquele que planeja ou comanda uma opera-
ção com cães tem conhecimento a respeito destas regras, cabe ao especialista in-
formar seus superiores de como proceder o emprego de seus meios; o sucesso do
emprego de cães é de seu comandante, e o fracasso também!
XI - DEMONSTRAÇÕES CANINAS
A Polícia Militar, normalmente, recebe grande número de solicitações pa-
ra que sejam efetuadas demonstrações com emprego de cães, principalmente por
ocasião das datas cívicas, dia das crianças e festejos diversos.
Pelas demonstrações realizadas, a PM ingressa num seleto grupo de ór-
gãos estatais que, sem prejuízo de suas atividades principais, prestam grande au-
xílio à sociedade, sendo uma forma de venda de imagem positiva da Corpora-
ção.
As demonstrações visam expor ao público tudo aquilo que um cão policial
pode realizar, ao mesmo tempo que animam e divertem crianças, jovens e adul-
tos.
Realizadas de maneira educacional têm ainda o poder de aproximar a po-
pulação da Polícia Militar. Dividem-se em 03 partes:
a. Obediência: são realizados exercícios de adestramento básico, secundá-
rio e ornamental;
b. Transposição de Obstáculos: é realizada uma pista com obstáculos que
simulam as possíveis exigências que o cão irá enfrentar em seu dia a dia (agi-
lity).
c. Trabalho Policial: são simuladas atuações policiais, onde o adestrador
irá empregar seu cão, demonstrando que o cão adestrado pode ser dócil, porém
quando exigido, irá substituir a arma de fogo na proteção da sociedade
Para este emprego o cão deverá ter adestramento BÁSICO,
SECUNDÁRIO e ORNAMENTAL.
Poderemos também realizar demonstração com os cães farejadores de
drogas.
XII - DEMONSTRAÇÕES COM CÃO DE FARO
Demonstrações são valiosas ferramentas para a equipe de faro. Uma de-
monstração próspera dará para a equipe de faro mais confiança, credibilidade e
aceitação dentro da comunidade.
Demonstrações tem um propósito bem útil, elas provém meios para:
Comunicar ao público as funções de um Programa de Cão de Faro;
Prover uma base para melhorar as relações públicas entre a Polícia Militar e a
comunidade.
Promover a cooperação entre agências, demonstrando as capacidades da e-
quipe de faro canino como um recurso investigativo que pode ser comparti-
lhado.
1. Diretrizes para administrar uma Demonstração:
a. Planejamento e preparação:
O "Guia" deve se preparar tendo um esboço por escrito do tópico a ser a-
presentado. Este esboço pode ser um pequeno cartão com anotações (3x5), que
permita que a apresentação flua com conhecimento e preparação.
Onde for possível o "Guia" deve inspecionar a localização física da de-
monstração, avaliando possíveis problemas ambientais que possam fazer parte
do exercício. Se o tempo permitir, o "Guia" deveria montar sua demonstração
com um dia de antecedência ou, ao menos, 30 minutos antes da apresentação.
b. Conheça sua audiência: grupos cívicos, estudantes, grupos de profissionais
liberais, agências de Execução de Lei, etc.:
Um "Guia" bem preparado é aquele que prepara sua apresentação, para
ajustar-se a sua platéia.
Em uma demonstração com estudantes a área a ser enfocada deve ser dife-
rente da apresentação para Juízes e Advogados.
O "Guia" deveria planejar adequadamente a apresentação verbal e a apre-
sentação física.
c. O Cão deve se divertir durante a demonstração:
Esta é uma seção freqüentemente negligenciada em uma demonstração;
lembre-se, a razão da platéia é olhar o cão e seu desempenho, não o "Guia".
Explique à platéia que quando o cão está procurando o odor de entorpe-
centes é uma brincadeira, de forma que quando ele dá o alerta, é recompensado,
sendo-lhe permitido brincar.
Ao permitir um tempo de “brincadeiras” para o cão durante a demonstra-
ção, esta união da equipe de faro se traduz em uma visão positiva do policial pe-
la platéia.
Se o "Guia" permitir que a platéia participe da brincadeira recompensando
o cão, então é vital que conheça a fundo sua platéia e tenha pleno controle sobre
a brincadeira. A participação da platéia na brincadeira, pode ser interpretada pe-
lo seu cão como um desafio, o que poderia ocasionar que o mesmo defendesse
sua recompensa, podendo resultar em um desastre para a demonstração.
d. O Critério de Demonstração:
A demonstração deve ser clara à todas as pessoas e, para as pessoas que
não estão familiarizada com a maneira de trabalho dos cães de faro, deve ser-
lhes dito quais as ações que o cão está demonstrando.
Explique a forma mecânica com que seu cão descobre a fonte de odor de
entorpecentes.
Descreva os sinais físicos que a platéia verá no cão, ex: cauda levantado,
o uso intensivo do nariz e a língua para fora, bem como o pêlo eriçado, que de-
monstram a proximidade de drogas.
Discuta a terminologia usada com cães de faro, alerta de área, alerta espe-
cífico, mudança de comportamento, odor residual, etc..
Algumas platéias tentarão direcionar o "Guia" em direção a uma discus-
são legal de aplicações caninas, a menos que o "Guia" esteja bem ciente da lei,
esta área deveria ser deixada com o Promotor de Justiça ou setor jurídico da cor-
poração.
É importante que o "Guia" tenha junto a si um esboço de sua apresenta-
ção.
e. O Canino sempre deve ter êxito:
Não há nada mais embaraçoso que após ter preparado a demonstração, o
cão não ache o objeto do treinamento.
Apesar deste acontecimento ser remoto, acontece principalmente por falta
de preparação por parte do "Guia" ou quando este, deseja demonstrar suas capa-
cidades de “handler” e as capacidades do cão.
O "Guia" deve dirigir o cão para uma procura na área de demonstração,
apenas depois da seguinte preparação:
1) O cão foi treinado para encontrar a substância:
Porquanto, isto pode soar como um pouco de bom senso, incidentes acon-
teceram onde o "Guia" colocou seu cão para procurar odores para os quais ele
não tinha sido treinado para descobrir. Por que um "Guia" faria tal coisa? Pode-
mos visualizar várias razões.
Demonstrações pobremente executadas, que normalmente aconteceram
em situações momentâneas, podem conduzir a situações embaraçosas. Enquanto
a maioria das platéias podem entender o porque do cão não ter encontrado a
substância, algumas pessoas podem ficar com a dúvida quanto a utilidade e efi-
cácia do uso de cães.
2) A demonstração deve ser fixada para a correta exibição dos talen-
tos de olfato de seu cão:
Lembre-se de manter uma demonstração simples, mas efetiva. Padrões de
procura complicados só servirão para confundir sua platéia e assim mascarar os
talentos de olfato de seu cão.
Uma exibição simples de cheirar bagagem e mostrar um alerta é freqüen-
temente uma demonstração clara da habilidade do canino. Geralmente, a locali-
zação física da demonstração ditará que exercício demonstrará a equipe de faro.
Se organizando fora de exercícios, o "Guia" deveria recordar que alguns fatores
externos como vento, temperatura e odores de distração normalmente estão além
do controle do "Guia" e podem ter um efeito dramático no resultado da demons-
tração.
Há momentos em que uma demonstração externa é muito efetiva. Em vá-
rias ocasiões se usou um campo de futebol para a descoberta de odores escondi-
dos dentro de cones, com resultados muito bons.
3) O "Guia" deve ter controle completo na organização da demons-
tração:
Houve várias instâncias onde a equipe de faro foi colocada em uma situa-
ção de prova em lugar de promover uma demonstração.
Isto normalmente aconteceu quando as pessoas que organizaram a de-
monstração conheciam muito pouco em relação ao trabalho de cães de faro de
entorpecentes. Estes incidentes criaram situações em que a procura vai além da
demonstração.
Pessoas sem experiência e os de pouco conhecimento como transferência
de odor, odor residual e outras áreas de teoria de odor só podem servir para con-
fundir a equipe de faro e não ajudar na demonstração. Existem ainda, pessoas
dispostas a montar um exercício para derrotar a equipe de faro e com isto de-
monstrar sua falibilidade para a platéia. Isto normalmente acontece quando o
"Guia" deixa de coordenar a demonstração.
Geralmente, a demonstração será a primeira vez em que a platéia verá seu
cão. A primeiro impressão é muito importante, a platéia tem que observar um
exercício canino eficiente.
f) Introdução da Demonstração (comentários sobre o "guia" e áreas de perícias):
Comece a demonstração com uma introdução breve de você e seu canino.
Neste primeiro contato com a platéia, você poderá decidir deixar seu cão
de fora, caso queira falar em outras áreas de execução de entorpecentes. Descre-
va os treinamentos que você e seu cão receberam para a descoberta de entorpe-
centes e de outras substâncias controladas que seu cão é treinado para descobrir.
Informações adicionais como a rotina de treinamento de sua equipe de faro, as-
sim como a história de suas descobertas reais, são importantes.
Se sua platéia é formada por pessoas do Poder Judiciário, você pode ter
que explicar que o cão procura o odor que emana das substâncias controladas e
os odores residuais.
Finalmente, esteja sempre disposto e honrado ao dar uma demonstração,
pois nunca sabe quem está sentado na platéia.
g. Assuntos confidenciais:
Freqüentemente, enquanto administrando uma demonstração vocês rece-
berão perguntas que enfocam aspectos confidenciais de descoberta de entorpe-
centes. Tópicos como: “como enganar os cães; e escondendo entorpecentes as-
sim o cão não os pode descobrir; etc..
Quando esta situação surge, e como isto é freqüente, responde-se que a
pergunta concerne a uma área que é confidencial em natureza e não será discuti-
da. A maioria das platéias aceitará aquela resposta e passará à outros tópicos de
discussão.
h. Demonstrações de sala de tribunal:
Advogados de defesa podem determinar que você execute uma demons-
tração na sala do tribunal, enfocando o caso em questão. Este é um dos meios
pelos quais a defesa tentará desacreditar as habilidades do cão.
Afortunadamente, muitos Juízes e Magistrados demonstraram sabedoria
ao negar tais pedidos aos advogados de defesa.
A maioria dos tribunais sabe que a cena onde a droga foi descoberta
não poderia ser recriada com precisão na sala do tribunal.
O tribunal revisará as equipes de cães, sua confiabilidade, e os credenciará
como parte da fundação para a admissibilidade de equipes de faro.
É responsabilidade de “Guias” a educação e informação aos prossecutores
das equipes de faro, treinamento e confiabilidade.
Uma demonstração é uma avaliação dos caninos perante a comunidade.
Se divirta, seja profissional, mostre a platéia que você está orgulhoso de seu
“sócio canino”, e uma demonstração próspera será sua recompensa.
XIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. MARTINS, Clayton Marafioti (1º Ten PMSC). Cinotecnia, a Arte de Ades-
tramento de Cães, Florianópolis, 1999.
2. SOUZA, Claudionir (1º Ten PMSC). Apostila do Curso de Cinotecnia Para
Oficiais - 01/2001, da PMESP, São Paulo, 2001.
3. GRANDJEAN, Dominique. Enciclopédia do Cão, aniwa publishing, Paris,
2001.
4. VILÀ, Carles; SAVOLAINEN, Peter; MALDONADO, Jesús E.; AMORIM,
Isabel R.; RICE, John E.; HONEYCUTT, Rodney L.; CRANDALL, Keith A.;
LUNDEBERG, Joakim; WAYNE, Robert K.. "Multiple and ancient origins
of the domestic dog", Science 1997, 276, 1687-1689.
5. TSUDA, Kaoru; KIKKAWA, Yoshiaki; YONEKAWA, Hiromichi;
TANABE, Yuichi. "Extensive interbreeding occurred among multiple matri-
archal ancestors during the domestication of dogs: "Evidence from inter-and
intraspecies polymorphisms in the D-loop region of mitochondrial DNA
between dogs and wolves" Genes Genet. Syst. 1997, 72, 229-238.
6. WILSON, D. E.; REEDER, D. M.. Mammal Species of the World, Smith-
sonian Institution Press, 1993, 1206 pp.
7. GEARY, Michael. Tudo sobre cães. Círculo do Livro, São Paulo, 1978.
8. COREN, Stanley. A Inteligência dos Cães, Editora Ediouro, São Paulo,
1996.
9.ESPÓSITO, Breno Pannia. Em http://home.wolfstar.com/~infolobo/Cao.html
10. FILHO, Hugo Biagi. Texto em http://www.allcompany.com.br/selectdog/p
_especial.html.
11. Seção de cães de Guerra do Exército Brasileiro texto retirado do site
http://www.exercito.gov.br/05Notici/VO/173/caes.htm
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