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POR QUE CRESCE A
VIOLÊNCIA NO BRASIL ?
Luis Flavio Sapori
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Brasil
• A criminalidade violenta é o principal problema público da sociedade brasileira na atualidade.
E o fenômeno não se restringe mais às regiões metropolitanas
A interiorização da violência.
Da década de 1980 até o ano 2000 os municípios com população de 500 mil ou mais habitantes foram os que se destacaram no recrudescimento dos homicídios, acompanhados de perto pelos municípios com mais de 100 mil habitantes.
Desde então, identifica-se vigoroso crescimento da incidência dos homicídios nos municípios pequenos, especialmente com população entre 20 e 100 mil habitantes. A taxa de crescimento dos homicídios nesse segmento superou o patamar de 50 % entre 2000 e 2010, ao passo que nos municípios mais populosos houve estabilização ou mesmo crescimento modesto que não ultrapassou 10 %.
NÚMERO ABSOLUTO DE VÍTIMAS DE CRIMES LETAIS INTENCIONAIS
BRASIL
FONTE: Sistema de Informações sobre Mortalidade/DATASUS
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
700001985
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2011
2012
2013
2014
TAXA DE CRIMES LETAIS INTENCIONAIS – BRASIL
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade/DATASUS
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5,0
10,0
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25,0
30,0
35,0
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
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1994
1995
1996
1997
1998
1999
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2005
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2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Taxas de crimes letais intencionais - Regiões do Brasil
Fonte : DATASUS
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
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2011
2012
2013
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Região Norte
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Região Nordeste
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
Região Centro-Oeste
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
Região Sul
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
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2014
Região Sudeste
0
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10
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20
25
30
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45
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1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
ESTADO DE GOIÁS
A violência urbana no Brasil não se limita aos homicídios. Os crimes contra o
patrimônio, em especial os roubos, também devem ser considerados na análise.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou em 2013
cerca de 1.188.245 roubos, o que equivale à taxa de 589 roubos por 100 mil
habitantes.
Taxa de roubos por 100 mil habitantes - Países selecionados - 2011
0,0 100,0 200,0 300,0 400,0 500,0 600,0 700,0
Japão
Finlândia
Filipinas
Israel
Bulgaria
Nova Zelândia
Alemanha
Canada
Russia
Itália
Suécia
Estados Unidos
Colombia
Jamaica
Portugal
França
Paraguai
Brasil
Mexico
Fonte: UNODC. Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes
0
500
1000
1500
2000
2500
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
VÍTIMAS DE LATROCÍNIO – BRASIL
Número absoluto
FATORES DE RISCO DOS
HOMICÍDIOS NO BRASIL
Idade (jovens de 15 a 24 anos)
sexo ( homens )
raça ( negros)
espaço urbano (territórios de alta
vulnerabilidade social )
tipo de armamento ( arma de fogo)
• O recrudescimento da violência tem sido acompanhado
de nítida melhoria dos indicadores sociais.
»Queda na proporção de pobres
»Queda da miséria
» Avanços nos indicadores de saúde e educação
» Melhoria do IDH
Há um processo caracterizado por crescente inclusão social
Taxa de desemprego . Regiões Metropolitanas.
Fonte: IPEADATA
0
2
4
6
8
10
12
1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013
PROPORÇÃO DE PESSOAS EM EXTREMA POBREZA - BRASIL
Fonte: IPEADATA
0
2
4
6
8
10
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16
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1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012
COEFICIENTE DE GINI - BRASIL
Fonte: IPEADATA
0,48
0,5
0,52
0,54
0,56
0,58
0,6
0,62
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012
Desde o início dos anos 2000 houve um notável crescimento do contingente de brasileiros que ascenderam à classe média. Ela correspondia a 31 % da população brasileira em 1993 , passando a 60 % em 2014.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014 2015
EVOLUÇÃO DO IDH - BRASIL
A crescente vitimização dos jovens de 15 a 24 anos é a chave para se compreender a deterioração da segurança pública na sociedade brasileira em décadas recentes.
a consolidação do tráfico de drogas, com destaque para o crack, e suas implicações na violência
os territórios urbanos com alta vulnerabilidade social tornaram-se o locus privilegiado da venda de drogas ilícitas estruturada em redes de bocas
a participação no varejo do tráfico de drogas tem oferecido aos jovens da periferia uma série de utilidades que não se restringem ao aspecto monetário
Estudo realizado em Belo Horizonte por Luis Flavio Sapori, Lucia Lamounier e Braulio Figueiredo constatou que entre 1995 e 2009 as motivações relacionadas com o “tráfico de drogas” saltaram de 8 % para 33 %, tornando-se a principal motivação dos homicídios na cidade.
O economista Daniel Cerqueira, por sua vez, constatou em abrangente pesquisa que o aumento da demanda por armas e drogas nos últimos anos da década de 1980 ajuda a explicar a explosão de homicídios ocorrida nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo na virada da década e nos anos 1990.
A partir dos anos 2000, a expansão do mercado de drogas ilegais atingiu outros estados brasileiros, especialmente os nordestinos o que aumentou as taxas de homicídios.
A outra face da violência urbana no Brasil é a IMPUNIDADE, entendida como baixo grau de certeza e de severidade da punição.
baixa elucidação dos homicídios e de roubos
morosidade na fase processual
superlotação e baixo grau de profissionalização do sistema prisional
ineficiência da gestão nas secretarias estaduais de segurança pública
NOTIFICAÇÃO DE CRIMES À POLÍCIA (% SOBRE O TOTAL) - Brasil
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
TOTAL
ROUBO DE CARRO
ROUBO DE MOTO
FURTO DE MOTO
FURTO DE CARRO
SEQUESTRO
ROUBO DE OBJETO
FURTO DE OBJETO
AGRESSÃO
FRAUDE
OFENSA SEXUAL
DISCRIMINAÇÃO
Fonte: Pesquisa Nacional de Vitimização. DATAFOLHA e CRISP/UFMG.2013
Relação entre crimes registrados e crimes investigados pela Polícia –
Crimes de roubo e extorsão. Município de São Paulo
159578
145923150299
9759 9107 89446778 6510 6129
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
140000
160000
180000
2009 2010 2011
BO's
IP instaurados
IP relatado com autoria
Fonte: Instituto Sou da Paz
A excessiva lentidão da justiça no processamento dos crimes de homicídios
o tempo médio entre o acontecimento de um homicídio e seu julgamento chega a 7,3 anos em cinco capitais do país.
Belo Horizonte, com 9,3, lidera o ranking,
Goiânia (8,3),
Recife (7,1),
Belém (6,2)
Porto Alegre (5,6)
De todos os homicídios que acontecem no Brasil, apenas 8% chegam aos tribunais anualmente
Destes 8% de casos, apenas 30% terminam em condenação — 70% são absolvidos ou arquivados
Fonte: Ludmila Ribeiro - O tempo do processo de homicídio doloso em cinco capitais. Ministério da Justiça .
2015
O uso abusivo da violência por parte dos agentes do Estado é um
importante complicador.
A violência, letal e não letal, da ação policial no Brasil, é muito
elevada. Há um excesso de mortes nas ações operacionais da
polícia, ainda que com importantes variações entre as unidades da
federação.
Segundo levantamento do Forum Brasileiro de Segurança Pública,
somente em 2012 cerca de 1.890 pessoas foram mortas pela ação
de policiais militares e civis em situações de confronto em todo o
país. Em termos comparativos, a letalidade da polícia brasileira é
cinco vezes superior à norte americana
O processo civilizador na sociedade
brasileira ainda está por acontecer. E a
persistente impunidade é um dos
obstáculos nesse sentido.
O Estado de Direito em nenhum momento
da história brasileira obteve o monopólio
efetivo da violência. A sociabilidade violenta
é traço marcante da história do Brasil,
incorporando tanto a relação Estado -
sociedade como também as relações entre
os indivíduos na sociedade
O QUE FAZER ?
A reversão desse quadro passa pela
efetiva priorização política da segurança
pública
◦ vontade política do governante
◦ alocação de recursos financeiros
◦ planejamento estratégico
◦ combinação de ações repressivas e preventivas
Diretrizes básicas
1) Ampliação da capacidade preventiva da Polícia mediante a focalização em hotspots
2) Ampliação da capacidade investigativa da Polícia mediante o fortalecimento dos Departamentos de Homicídios
3) Ampliação e profissionalização do sistema prisional e do sistema socioeducativo
4) Ampliação da capacidade de processamento das varas criminais e do Tribunal do Juri
5) Implementação de programa específico de prevenção social da criminalidade focado na juventude residente em territórios de alta vulnerabilidade social
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