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PRÁTICAS EDUCATIVAS, DIDÁTICA E O ENSINO DA
HISTÓRIA: UMA ANÁLISE SOBRE O PROCESSO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM NAS SÉRIES INICIAIS
Karla Colares Vasconcelos – Universidade Federal do Ceará
José Rogério Santana – Instituto UFC Virtual
RESUMO
O presente artigo propõe apresentar uma discussão teórica sobre a questão da prática
educativa, a didática e o ensino de história. O objetivo deste artigo é compreender como
as práticas educativas, a didática e o ensino de História estão interligadas no processo de
ensino e aprendizagem, levando em consideração a práxis do professor de história nas
séries iniciais do ensino fundamental. A metodologia utilizada para a escrita deste foi à
revisão bibliográfica embasando nos autores: Libâneo (1995), Gadotti (2005), Nèlisse
(1996), Martins (2011) e Vasconcelos (2014), que nos deram subsídios para argumentar
sobre a prática educativa e a didática. Já sobre a discussão História, nos
fundamentamos: Le Goff (2003), Lopes (2009), Chartier (1990) e Nora (1997)para
discorrer sobre o tema. Vale ressaltar a contribuição da pesquisa de Vasconcelos (2014)
sobre as Práticas Educativas Digitais e os Museus Virtuais, das quais se utiliza a
discussão sobre o contexto das práticas educativas e o papel do historiador da educação.
A reflexão tecida sobre a prática social contida nos ambientes educacionais será
detalhada com aporte na prática cotidiana dos professores que lecionam a disciplina de
história nas séries iniciais do ensino fundamental, tentando apresentar à dinâmica e a
rotina do educador dentro de sua prática e na vivência da didática no dia a dia. Constata-
se relevância social e educacional emelaborar subsídios teóricos que fomentem uma
discussão sobre os fenômenos educativos, pois estão sendo propagados e muito há de se
debater sobre tal tema.
Palavras-Chaves: Práticas Educativas- Didática- Ensino de História
Introdução
A didática é uma atividade pedagógica que tem por objetivo ensinar métodos e técnicas
para a possibilidade da aprendizagem do educando pelo o educador, assim, podemos
considerar que a didática está diretamente ligada à educação e as suas práticas
educativas. Libâneo (1995) situa que a educação como um fenômeno social universal
determinando o caráter existencial e essencial do homem, ou seja, o fenômeno
educativo está subordinado às relações sociais.Já por prática educativas, Vasconcelos
(2014) assevera que são manifestações que se realizam em sociedades como processo da
formação humana, não se limitando a escola e a família, pois vão muito além disso.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 103722
Uma prática educativa acontece em diversos contextos e âmbitos humanos sobre várias
modalidades.
De acordo com Libâneo
(1995)adidáticaéumadisciplinaqueestudaoprocessodeensinonoseuconjunto
criarascondiçõeseosmodosdegarantiraosalunosumaaprendizagemsignificativa. Esse
processo ajuda ao educador nas orientações das atividades no processo de ensino e
aprendizagem, o que lhe dá apoio a segurança dentro do contexto educacional.
Essa perspectiva é vista para todas as atividades de cunho educativo, em que exista um
professor – transmissor de conhecimento, e um aluno- cidadão que exerce o ato de
aprender. A questão de que a escola deve atuar para a produção das identidades
socioculturais em seus educandos no aspecto da cidadania, em que seja necessário
ensinar o domínio de categorias e conceitos que permitam compreender e intervir no
mundo. Desta forma, o ensino de História é caracterizado como uma disciplina que
auxilia ao cidadão – estudante- a uma possibilidade de situar-se no tempo e espaço que
vive. (BERGAMASCHI, 2000).
Para o ensino da disciplina de História, como em qualquer outra disciplina lecionada,é
necessário técnicas e fundamentos específicos para que o educador esteja habilitado a
lecionar, que segundo Freitas (2010, p. 5) são:
alicerces ou base sobre as quais edificamos alguma coisa; “teoria”, a
ação (e o resultado da ação) de observar, examinar, estudar,
investigar; e o “método”, por fim, o caminho para se chegar a algum
lugar – o conhecimento produzido sobre o ensino de História.
O objetivo deste artigo é compreender como as práticas educativas, a didática e o ensino
de História estão interligadas no processo de ensino e aprendizagem. A metodologia
utilizada para a escrita deste foi à revisão bibliográfica embasando nos autores: Libâneo
(1995), Gadotti (2005), Nèlisse (1996), Martins (2011) e Vasconcelos (2014); que nos
deram subsídios para argumentar sobre a prática educativa e a didática. Já sobre a
discussão acerca da História, nos embasamos nos escritos de Le Goff (2003), Lopes
(2009), Chartier (1990) e Nora (1997)para discorrer sobre o tema. Vale ressaltar que
muito se foi embasado nos estudos da pesquisa de Vasconcelos (2014), em sua
dissertação sobre as Práticas Educativas Digitais e os Museus Virtuais, no qual iremos
utilizar a discussão realizada pela autora sobre o contexto das práticas educativas e o
papel do historiador da educação.
As práticas educativas digitais e a didática
A Educação é um fenômeno em que as relações sociais são predominantes, além de
proporcionar a sociedade meios de dominar recursos científicos e tecnológicos que
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auxiliarão no uso das possibilidades existentes para o bem estar do homem. Sendo
assim, o fenômeno educativo é uma ação que acontece em todos os ambientes, como:
lares, –família, trabalho, rua, meios de comunicação, política, escola, indústria, igreja.
(LIBÂNEO, 2001). Podemos entender que a educação não ocorre somente dentro dos
ambientes escolares, mas, em qualquer ambiente em que o ensino e aprendizagem sejam
praticados.
A educação é, assim, uma prática humana, uma prática social, que
modifica os seres humanos nos seus estados físicos, mentais,
espirituais, culturais, que dá uma configuração à nossa existência
humana individual e grupal. (LIBÂNEO, 2001, p. 07).
O papel social da educação é a “formação” de caráter e o desenvolvimento da
personalidade social, o que temos como resultado as ideologias, morais e políticas.
Dessa forma, a educação se torna uma instituição social que zela pelas ações educativas,
constitui-se processo de transformações sucessivas no sentido histórico e social do país.
São as interrelações que afluem para a formação de traços de personalidade social e do
caráter que possibilita desenvolver o indivíduo capaz de estabelecer essas relações de
uma concepção de mundo, ideias, valores e como agir em sociedade. De acordo com o
pedagogo alemão Schmied-Kowarzik:
A educação é uma função parcial integrante da produção e reprodução
da vida social, que é determinada por meio da tarefa natural e, ao
mesmo tempo, cunhada socialmente da regeneração de sujeitos
humanos, sem os quais não existiria nenhuma práxis social. A história
do progresso social é simultaneamente também um desenvolvimento
dos indivíduos em suas capacidades espirituais e corporais e em suas
relações mútuas. A sociedade depende tanto da formação e da
evolução dos indivíduos que a constituem, quanto estes não podem se
desenvolver fora das relações sociais. (SCHMIED-KOWARZIK,
1983 apud LIBÂNEO, 2001, p.160)
A educação é entendida como um processo formativo social que varia de acordo com as
organizações política, jurídica, religiosa e os costumes de sua sociedade. Uma prática
humana e social que influência o homem enquanto cidadão no seu estado cultural,
físico,mental e espiritual; o que o configura a existência individual e grupal (LIBÂNEO,
2001).
Compreendendo a educação com um fenômeno, podemos encontrar nas ações em que
são praticadas como prática educativa, que pode ser considerada como um meio eficaz
para o desenvolvimento social. Suas ações não se dão de forma isolada das relações
sociais, políticas, culturais e econômicas da sociedade. Assim, ela a prática educativa é
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caracterizada como o conhecimento acumulado pela sociedade como processo
formativo que ocorre como necessária à atividade humana. Por conseguinte, um
fenômeno social e universal, que apresenta caráter existencial e essencial do ser
humano. Não há sociedade sem prática educativa nem prática educativa sem sociedade.
A educação – ou seja, a prática educativa – é um fenômeno social e
universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e
funcionamento de todas as sociedades. [...] A prática educativa não é
apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo
de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais
que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em
função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade
(LIBÂNEO, 1995, p. 16-17).
A prática educativa é originada por fim e exigência social, política e ideológica. Isto
quer dizer que a organização e a experiência comunitária, bem como o papel da
educação estão implicados nas maneiras em que as relações sociais vão assumindo pela
ação prática concreta do ser humano, veículo entre sociedade e educação. O que se
torna uma parte complementar das relações entre a sociedade.
Se levarmos pelo sentido amplo da palavra educação, podemos entender como o
processo de formação que acontece no meio social, em que cada pessoa desenvolve
habilidades para conviver dentro da sociedade. Assim, a prática educativa é realizada
através de valores, normas, e a estrutura social a qual está inserida. O fenômeno
educativo está presente nas formas sociais nas ações práticas e concretas que o ser
humano desenvolve. A prática educativa, contudo, está diretamente interligada com as
dinâmicas sociais.
Libâneo (2001, p. 3) define que a educação é “Um dos fenômenos mais significativos
dos processos sociais contemporâneos é a ampliação do conceito de educação e a
diversidade das atividades educativas”. Através da fala do autor, podemos entender que
as práticas educativas estão presentes em vários contextos da sociedade atual, seja ela
dentro de casa, na escola e outros ambientes sociais.
Dessa maneira, compreendemos que a educação é um dos requisitos básicos para que o
cidadão possa ter acesso à convivência em sociedade, Gadotti (2005, p. 1) complementa
essa ideia afirmando que “ela é um direito de todo ser humano como condição
necessária para ele usufruir de outros direitos constituídos numa sociedade
democrática.” A questão educativa aparece também no relatório da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura(UNESCO) para o século XXI
como uma prática que deve ser consciente e ativa, nesse documento, encontramos que a
educação não deve ficar restrita aos espaços e tempos de ambientes da educação voltada
para as instituições escolares. E ainda, faz alusão às sociedades da informação, que
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impõem aos sistemas educativos adaptarem-se às novas dinâmicas e modos de
socialização.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB9394/96), no artigo 1º,
encontramos que a Educação é um direito de todos, em que pode se efetivar nos
diversos âmbitos sociais, seja nas instituições familiares, instituições escolares ou fora
das instituições tradicionais educativas. A LDB quando define a educação para todos,
não está restrito apenas a crianças, engloba todos aqueles que desejam ter acesso ao
ensino e as práticas educativas que encontramos no contexto educacional.
De acordo com Libâneo (2005),as práticas educativas são manifestações que se
realizam em sociedades como processo da formação humana, não se limitando a escola
e a família, vão muito além disso, pois acontecem em diversos contextos e âmbitos
humanos sobre várias modalidades. Martins (2011, p. 111) complementa essa ideia
inferindo que“os desafios da contemporaneidade direcionam, portanto, a ação em
espaços não escolares como lugar para se pensar o fenômeno educativo.”
Se a educação pode ocorrer em diversos contextos sociais, o fenômeno
educativo pode e deve ser realizado em qualquer espaço e tempo que ocorra atividades
educativas. Então, podemos considerar a Educação em Formal, ou seja, aquela que é
aplicada dentro de instituições educacionais conhecidas como padrão; e a Educação Não
Formal, que são aquelas aplicadas fora das instituições educacionais. Gadotti (2005) nos
apresenta um conceito claro da diferença entre Educação Formal e Não Formal, o autor
nos diz que:
A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada
principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma
diretriz educacional centralizada como o currículo, com estruturas
hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com
órgãos fiscalizadores dos ministérios da educação. A educação não-
formal é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática. Os
programas de educação não-formal não precisam necessariamente
seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem
ter duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de
aprendizagem. (GADOTTI, 2005, p. 2)
Na sociedade atual, tem-se verificado a que a educação está expandindo em
todos os espaços e ambientes. A Educação Formal tem o seu espaço e tempo bem
definido e está disponível para todos. Mas, com a educação direito para todos e que se
estende ao longo da vida, a educação não-formal está ganhando mais espaços dentro e
fora dos perímetros urbano, de acordo com Gadotti (2005, p. 3) apresenta:
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A educação não-formal estendeu-se de forma impressionante nas
últimas décadas em todo o mundo como “educação ao longo de toda a
vida” (conceito difundido pela UNESCO), englobando toda sorte de
aprendizagens para a vida, para a arte de bem viver e conviver.
Por Práticas Educativas, podemos considerar algumas definições já usadas por
teóricos que fizeram suas reflexões sobre o tema. Na concepção de Nélisse (1997) a
prática educativa é uma ação de “fazer ordenado”, ou seja, deve ser uma ação planejada,
em que cada momento contempla o seu ato feito com reflexão e crítica de cada etapa a
ser seguida.
Já Libâneo (1995) defende como sendo fenômenos sociais para o processo de
formação humana, não ficando restrito ao contexto escolar e familiar, ou seja, a ação da
prática educativa pode ser aplicada em diversas variáveis que se interrelacionam. Um
exemplo de prática educativa descrita pelo autor citado acima, foi aplicado por Paulo
Freire (2006) que usou os espaços não escolares para a alfabetização de adultos.
Considera-se as práticas educativas mais do que uma mera lição de repetição, pois
aprender significa as ações de construir, reconstruir e constatar para mudar.
Essa discussão se fez necessária para entendermos com o processo de ensino e
aprendizagem está presente no contexto social na forma de um fenômeno que apresenta
como a maneira de se estudar o conjunto de transmissão do conhecimento que é
pensado neste contexto, em que o educador se torna parte integrante deste processo. Na
concepção de Libâneo (2005) a didática se apresenta como mediação do conhecimento
entre objetivos e conteúdos dos ensinos, ele acrescenta que ela “trata dos objetivos,
condições e meios de realização do processo de ensino, ligando meios pedagógico-
didáticos a objetivos sócio políticos.” (LIBÂNEO, 1995, p. 2).
Diante do que expomos acima, podemos entender que a educação e os fenômenos
educativos podem, e devem, estar presentes dentro contexto da didática, para
desenvolver o processo de ensino e aprendizagem da História enquanto disciplina nas
séries iniciais.
O papel do historiador da educação
Muito se ouve falar do papel do educador como transmissor de conhecimento, mas, para
conhecer o trabalho do professor de história, torna-se interessante ser apresentado o
perfil do historiador da educação – muitas vezes figura que está presente em sala de aula
mediando o conhecimento- para verificarmos como a figura do educador e historiador,
também professor, faz-se presente neste contexto atual.
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Para compreender o fator histórico na concepção da evolução do pensamento que se
desenha a historiografia atual, encontramos na Escola dos Annales- designa uma linha
de análise histórica que busca uma história total, na qual a vida dos grupos humano no
âmbito social, política, econômica sejamcaptadas e escritas (LOPES, 2009, p.74) -o
ponto de partida para as discussões sobre a proposta da história atual, o que serviu de
base para outras correntes historiográficas seguissem seus passos. A Escola de Annales
percebe a história como ciências em construção, por isso, a coloca aberta a novas
perspectivas nas suas abordagens:
[...] dos Annales, repousa sua novidade em três processos: novos
problemas põem em causa a própria história; novas contribuições
modificam, enriquecem, transformam os setores tradicionais da
história; novos objetos aparecem no campo epistemológico da história
(LOPES, 2009, p. 27).
Nessa perspectiva, temos a consciência de que os historiadores da educação observam
uma crescente mudança nas fontes historiográficas dentro dos ambientes virtuais, e
encontramos nos museus, hospedados na web, um local propício de pesquisa e práticas
educativas. De acordo com Le Goff e Nora (1977) as “novas tendências”
historiográficas não devem ficar presas apenas ao passado, à história é “feita” de acordo
com a necessidade do presente, ou seja:
[...] o essencial não é sonhar, hoje, com um prestígio de ontem ou de
amanhã. É saber fazer a história de que temos hoje necessidade.
Ciências do domínio do passado e da consciência do tempo, deve
ainda definir-se como ciência da mudança, da transformação
(LOPES, 2009, p. 28).
Martins (2011) apresenta que escola de Annales ajudou na construção do percurso
histórico das demais correntes historiográficas, então na perspectiva da História Cultural
encontramos que:
A valorização de uma história das representações, do imaginário
social e da compreensão dos usos políticos do passado pelo presente
promoveu uma reavaliação das relações entre história e memória e
permitiu aos historiadores repensar as relações entre passado e
presente e definir para a história do tempo presente o estudo dos usos
do passado. (FERREIRA 2002 apudMARTINS, 2011, p. 35).
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Segundo Chartier (1990) podemos encontrar na História Cultural diferentes lugares e
momentos de uma realidade social, que é construída, pensada, dada a ler. Portanto, ao
voltar-se para a vida social, esse campo pode tomar por objeto as formas e os motivos
das suas representações e pensá-las como análise do trabalho de representação das
classificações e das exclusões que constituem as configurações sociais e conceituais de
um tempo ou de um espaço, e assim, podemos encontrar as práticas culturais digitais.
Completando essa ideia, Martins (2011, p.37) nos fala que:
Seja qual for o período histórico, o homem sempre será em sua
essência um “ser social” inserido em redes de comunicação
caracterizadas no decorrer da História pelos seus artefatos culturais
que mediam as relações, construções e representações humanas.
Estudar sobre o papel do historiador enquanto professor e historiador da educação,
assim como conhecer as suas práticas didáticas e educativas de acordo com a
perspectiva de ensino, nos faz refletir sobre como a história é ensinada nos mais
diversos contextos. Pensar no educador como cidadão que transmite o conhecimento
nos faz refletir sobre o que Le Goff (2003) afirma no tocante a História como ciência
que define as relações a uma realidade sobre a qual se “testemunha”, se “indaga”. A
História como um relato, a narração daquele que pode dizer “eu vi, eu senti”, tornando-
se a posteriori documentos escritos como testemunha. Seguindo essa linha de
raciocínio, as fontes históricas não podem ser consideradas história e sim um artefato
que nos ajude compreender a formação do processo histórico. Assim, podemos definir
fontes históricas digitais como artefato cultural histórico digital.“O sentido de um
artefato ou de uma ferramenta é o dispositivo que seríamos obrigados a empregar para
obter o mesmo resultado se ele não tivesse sido inventado” (LEVY, 1996, p. 84). Os
artefatos, em congruência, “são a cola que mantém os homens juntos e implica o mundo
físico ao mais íntimo de sua subjetividade”. (LEVY, 1996, p. 136).
De acordo com Belting (2012) qualquer história tem alguma relevância, ela é uma
história coletiva, no qual existe algo de proeminente para a comunidade, seja ela para o
bem ou para o mal. Para o historiador da educação, as ações pedagógicas podem ser
encontradas nas discussões sobre a história, a cultura e a arte transformada em história
em nome do Estado.
Os ambientes educacionais são espaços em que encontramos possibilidades para o
historiador da educação ser educador, além de exercer a sua função de mediador do
conhecimento, pôr em prática o planejamento de ensino que traz consigo o propósito da
preparação do educando para a vida social.
O ensino de história e a sua importância didática
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Dentro das instituições de educação formal, o ensino da disciplina de História nas séries
iniciais do Ensino Fundamental é caracterizado com o nome genérico de “Estudos
Sociais”. Outra característica que se observa é que a disciplina de História é ensinada
em torno das datas comemorativas, heróis e grandes feitos “contribuindo para canonizar
uma verdade, naturalizar uma narrativa, onde não cabe a multiplicidade e nem
tampouco a vida das pessoas que a estudam.” (BERGAMASCHI, 2000, p. 02). Marin e
Schmidt(2011) descreve essa canonização como “irracionalização” da História. Neste
sentindo, podemos observareducadores que encontram ensinando a História com o viés
eurocêntrico, ou seja, em que o Brasil ainda está sendo compreendido desde a
percepçãoda cultura europeia. Isto retira a exclusão de competências como a reflexão e
a combinação com a vida prática.
Mas, a cultura escolar não é passiva, de acordo com Farias (2009) ela é produtora de
conhecimento e modos próprio de pensar. Por isso, algumas abordagens mais recentes
passaram a serem postas em prática e o seu método de ensino tornou-se concêntricos,
em que embasa uma teoria dinâmica da criança, considerando o ensino de História
desde as relações próximas desenvolvidas pela criança até chegar ao mais distante,
tornando o conhecimento significativo. Ou seja, inicia comconteúdo mais concretos,
como a família, até ser contemplado o ensino das relações mundiais.
O ensino de História para as crianças auxilia no desenvolvimento de indivíduos situados
no tempo e espaço em que vivem, sabendo viver em grupo e ser um sujeito que
participe e interaja das ações sociais enquanto partícipe interessado. Cainelli (2006)
apresenta que uma atividade interessante de ser trabalhada com crianças é o ato de
contar história, narrar os fatos:
Assim, pode-se perceber que ao narra a história aparecem valores e
opiniões sobre a sociedade [...] dessa forma a narrativa possibilitou
expressar valores culturais do grupo e a troca de experiências de suas
realidades, além de mapear lugares e temporalidade diversas.
(CAINELLI, 2006, p. 61).
Verificamos que a escola possibilita a aproximação do estudante com o conhecimento,
“aproxima o aluno do conhecimento científico e possibilitar que desenvolva suas
capacidades cognitivas.” (SOARES, 2011, P.3). Assim, questões emergentes sobre
como se ensinar história e a educação histórica com a sua realidade permite pensar
questões básicas como a didática do ensino de história, pois compreender o papel dessa
disciplina na educação e no cotidiano de seus estudantes,enseja emancipação, e
elaboraçãoda identidade pessoal; como duas principais ideias da reflexão didática
(MARIN,SCHMIDT, 2011).
Podemos verificar que esse exposto que citamos deu a didática na história uma nova
roupagem, novos caminhos e conhecimentos a serem ensinado em sala de aula, o que
expandiu para a análise das formas e funções do raciocínio e do conhecimento do
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cotidiano histórico. Marin e Schmidt (2011, p. 15-16) apontam três pontos que são
relevantes para a didática da história, são eles:
1. A consciência não pode ser meramente equacionada como simples
conhecimento do passado- ou seja, não se deve se ensinar os fatos
do passado sem uma compreensão para se entender o futuro;
2. A consciência histórica pode ser analisada como conjunto coerente
de operações mentais que definem a peculiaridade do pensamento
histórico e a função que ele exercer na cultura humana – ou seja, a
narração histórica como um procedimento mental básico que dá
sentido ao passado com finalidade de orientar a vida prática através
do tempo; e
3. A orientação da vida através da estrutura do tempo, a didática da
história- ou seja, a aprendizagem da história faz parte da
construção da identidade nos sujeitos envolvidos no processo
educativo, e que são as operações envolvidas na construção da
consciência histórica, respaldadas no uso da razão, que asseguram
que os seres humanos, frente às mudanças, persistam nas suas
metas.
A didática da história, dessa maneira, abrange a capacidade significativa de elaborar a
identidade do cidadão e a sua relação da práxis, essas duas elaborações do cidadão
direciona para o objetivo, a lógica e a dinâmica do pensamento histórico.
Considerações finais
Podemos compreender, no que foi exposto neste artigo, que a educação é um fenômeno
social que está presente em diversas áreas do cotidiano, seja ele em instituições
educacionais ou não, o que possibilita o ensino e aprendizagem dentro das instituições
educacionais seja ela formal, não formal ou informal. A didática, desta forma, se torna
uma ferramenta que auxilia ao educador no processo de ensino e aprendizagem que
envolve a intenção de ensinar, trata dos meios, objetivos e condições para a realização
do desse processo, ligado os meios pedagógicos à representação social, cultural e
política de sua sociedade.
Para ensinar História para estudantes das séries iniciais do ensino fundamental –
as crianças- é necessário criar possibilidades de r interligar o presente com o passado, e
permitir que os vestígios do tempo e o espaço sejam percebidos, para viabilizar maior
criticidade e sentimento de pertença à sociedade, fomentando a formação construção do
cidadão consciente e atuante no seu contexto. Em relação à didática da história,
observamos que é necessário que o educador esteja relacionando a teoria à prática e
estas ao processo do conhecimento científico para que haja interação ensino e
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EdUECE- Livro 103731
aprendizagem significativa para as crianças, principalmente, das séries iniciais do
ensino fundamental.
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