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Processo de construção da
em São Félix do Xingu-PAsustentabilidade
Paulo Sérgio Ferreira NetoRuth Corrêa da Silva
Processo de construçãoda sustentabilidade emSão Félix do Xingu-PA
Paulo Sérgio Ferreira NetoRuth Corrêa da Silva
Projeto Xingu Ambiente Sustentável
Realização Parceria Apoio
Copyright © 2014 by IEB
AutoresPaulo Sérgio Ferreira Neto
Ruth Corrêa da Silva
Revisão gramatical e ortográficaGlaucia Barreto
glauciabarreto@hotmail.com
Design editorial e capa Higo Okada e Luciano Silva
www.rl2design.com.br
Ferreira Neto, Paulo Sérgio; Silva, Ruth Corrêa da Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu
– PA / Paulo Sérgio Ferreira Neto; Ruth Corrêa da Silva . – Belém: Instituto Internacional de Educação do Brasil [IEB], 2014.116 p.
Inclui bibliografia. ISBN 978-85-60443-27-7
1. São Félix do Xingu – Meio ambiente – Sustentabilidade. 2. Sustentabilidade – Pará. 3. Problemas Socioambientais – Amazônia. 4. Economia – Sustentabilidade I. Título.
CDD 363.70428115
Dados Internacionais de catalogação na publicação (CIP)
F383p
IEBRuth Corrêa da Silva
Manuel Amaral
GRETPhilippe Sablayrolles
AdafaxCelma Gomes de Oliveira
MMAViviane Araújo Gonçalves Nazaré Soares
TNCFrancisco FonsecaRaimunda de Mello
ImafloraMatheus Teixeira Pires do Couto
Governo do Pará – Programa Municípios VerdesJustiniano de Queiroz Netto
Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará – Sema-PADiana da Silva CastroAndré Costa
Participantes do processo de sistematização
Secretaria Municipal de Meio Ambiente de São Félix do XinguLuiz Alberto Araujo (ex-secretário)
EmaterAntonio Oliveira da Silva
Sindicato dos Produtores RuraisWilton Batista Costa FilhoJosé Wilson Alves Rodrigues
Lideranças de São Félix do XinguNoeci Batista Gama – Conselho Gestor APA Triunfo do XinguMaria Florinda de Oliveira – STTROtair José Julião Ovides – STTRSanta Trindade Santos de Almeida – AspraverilJoaquim Carlos Barbosa – ApraxAngelo Pereira – ApraxItamar Dias Gonçalves – AHFIron Eterno de Faria – CappruIlson Martins Souza – CappruDanilo Lago – CPTReinaldo José de Barcelos – CPT Rogel Abreu de Melo – AgavaxAntonio Vieira Barros – ApririnCarlos Silvestre Paxêco – AAFCN José Alves Batista – Asproveri José Ribamar Vieira – Asproveri Domingos Mendes da Silva – AdafaxRaimundo Freires dos Santos – CacuxiQécio da Silva – Colônia de Pescadores Z65Lenice Ramos Bezerra – ACFR - Associação da Casa Familiar RuralJosé Justino de Morais – AstrunCreone Oliveira dos Santos – AsmopRosely Alves Dias – CFR São Felix do Xingu
ÍndiceLista de siglas ................................................................................................6APRESENTAÇÃO ........................................................................................10METODOLOGIA .........................................................................................12
Conceito e dinâmica ...................................................................................13Etapas da sistematização ............................................................................16Apresentação das informações ..................................................................18
CONTEXTO ................................................................................................20AÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE ........................28
Regularização ambiental ............................................................................33Monitoramento do desmatamento ...........................................................37Pacto pela redução do desmatamento ......................................................38Uso sustentável - produção, mercado, certificação .................................49
RESULTADOS .............................................................................................54Participação das organizações locais na construção da sustentabilidade .................................................................56Intervenção de organizações não governamentais supralocais .............60Influência dos agentes governamentais intervindo sobre o processo local .............................................................63Institucionalização da discussão da sustentabilidade .............................66
DESAFIOS ..................................................................................................70Condições para a produção sustentável ...................................................71Atuação do governo ....................................................................................74Articulações institucionais .........................................................................77Fortalecimento institucional ......................................................................78
APRENDIZADOS .......................................................................................82Citações Bibliográficas ................................................................................88ANEXO I - Pacto Municipal .........................................................................90ANEXO II - Resumo da agenda Pós- Pacto ................................................101ANEXO III - Estrutura de governança da Comissão Municipal do Pacto pelo fim do desmatamento ilegal em São Félix do Xingu ................113
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Lista de siglas
AAFCN Associação de Agricultores Familiares da Colônia Vila Nazaré
ACFR Associação da Casa Familiar Rural
Astrun Associação dos Trabalhadores Rurais do Nereu
Adafax Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu
AFP Associação Floresta Protegida
Agavax Associação do Grupo Adventista Vale do Xingu
AHF Associação dos Horticultores Familiares
APA Área de Proteção Ambiental
Apatx Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu
APP Área de Proteção Permanente
Aprax Associação dos Produtores Rurais Aliança do Xingu
Apriri Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Rio Iriri
ARL Área de Reserva Legal
Arpa Áreas Protegidas da Amazônia
Asmop Associação dos Moradores da Vila Primavera
Asproveri Associação dos Médios, Pequenos e Microprodutores Rurais da Colônia Fernando Velasco
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Cacuxi Caixa Agrícola dos Colonos Unidos do Xingu
Cappru Cooperativa Alternativa dos Pequenos Produtores Rurais e Urbanos
CAR Cadastro Ambiental Rural
Ceaal Conselho de Educação de Adultos da América Latina
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Ceplac Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira
CFR Casa Familiar Rural
CGAPATX Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu
CNFP Cadastro Nacional de Florestas Públicas
Comam Conselho Municipal de Meio Ambiente de São Felix do Xingu
Conab Companhia Nacional de Abastecimento
Contag Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura
CPT Comissão Pastoral da Terra
Diap/Sema Diretoria de Áreas Protegidas da Sema
Emater Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Faepa Federação da Agricultura do Estado do Pará
FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação
Fetagri Federação dos Trabalhadores na Agricultura
Funai Fundação Nacional do Índio
GPS Sistema de Posicionamento Global (do inglês Global Positioning System)
GRET Grupo de Pesquisa e Intercâmbios Tecnológicos
GIZ Cooperação Técnica Alemã
Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Ideflor Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará
Idesp Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará
IEB Instituto Internacional de Educação do Brasil
IFT Instituto Floresta Tropical
Imaflora Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Imazon Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
Incra Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
Ipam Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
Iterpa Instituto de Terras do Pará
LAR Licença Ambiental Rural
Mapa Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário
MMA Ministério do Meio Ambiente
MPF Ministério Público Federal
MPE Ministério Público Estadual
ONG Organização Não Governamental
PA Pará
PAA Programa de Aquisição de Alimentos
PDS Projeto de Desenvolvimento Sustentável
PMV Programa Municípios Verdes
Pnae Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNF Programa Nacional de Florestas
PPCDAm Plano de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
Procera Programa Especial de Crédito para Reforma Agrária
Prodes Programa de Cálculo de Desflorestamento da Amazônia
PSA Pagamento por Serviços Ambientais
REDD Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal
Resex Reserva Extrativista
SAF Sistema Agroflorestal
Sagri-PA Secretaria Estadual de Agricultura do Pará
SDRS Secretaria de Desenvolvimento Rural Sustentável
Sebrae Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Seduc Secretaria de Estado de Educação
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Sema-PA Secretaria Estadual de Meio Ambiente
Semagri Secretaria Municipal de Agricultura de São Félix doXingu
Semma Secretaria Municipal de Meio Ambiente
SFB Serviço Florestal Brasileiro
SFX São Felix do Xingu
Simlam Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental
Sinima Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente
Snuc Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SPR Sindicato dos Produtores Rurais
STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
TAC Termo de Ajustamento de Conduta
TNC The Nature Conservancy
UC Unidade de Conservação
UFPA Universidade Federal do Pará
Ufra Universidade Federal Rural da Amazônia
UsaidAgência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (do inglês United States Agency International Development)
XAS Xingu Ambiente Sustentável
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Esta publicação relata a sistematização do processo de construção da sustentabilidade no município de São Fé-lix do Xingu, Pará. A história recente vivida no municí-pio estimulou o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) a resgatar as motivações e como diferentes
segmentos envolvidos com o município passaram a buscar um futuro diferente da realidade existente na região. O processo de desenvolvimento do município esteve historicamente baseado na ilegalidade, na exclusão, na falta de governança e na ausên-cia do Estado, provocando problemas socioeconômicos, o des-matamento e, consequentemente, a perda da biodiversidade.
O resgate dessa história foi feito a partir da análise crítica manifestada por representantes das instituições e organizações locais e de lideranças comunitárias.
A sistematização teve como foco principal o processo de construção da sustentabilidade no município a partir do mo-mento em que o governo federal adotou medidas responsabi-lizando os municípios pela redução do desmatamento ilegal. Portanto, o marco político e definidor cronológico da história aqui resgatada é o período 2007-2008, ou seja, quando o gover-no federal incluiu São Félix do Xingu na lista dos municípios amazônicos prioritários para ações de prevenção, monitora-mento e controle do desmatamento ilegal.
APRESENTAÇÃO
Objetivo dasistematização
Promover uma análise sobre a construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu a partir das percepções e dos caminhos trilhados pelas organizações e instituições locais e supralocais, com destaque para o envolvimento das organizações locais representativas ou que atuam com agricultores familiares.
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METODOLOGIA
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Desde a década de 1970 que instituições e pessoas de-dicadas à educação popular vêm trabalhando com a sis-tematização de experiências como produção coletiva de co-nhecimento, desenvolvimento de aprendizagens e incorpo-ração à prática do produzido e aprendido, o “que permite a construção de sentido da ação humana e sua reorientação” (SOUZA, 1998).
Conceito e dinâmica
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
A partir de 1993 a sistematiza-ção de práticas de Promoção e Edu-cação Popular recebeu incentivo es-pecial do Conselho de Educação de Adultos da América Latina (Ceaal), que passou a estruturar o Programa de Apoio à Sistematização.
Na elaboração da sistema-tização do processo em São Félix do Xingu, foi feito um esforço para identificar o que influenciou para que a história tivesse aquela tra-jetória, quais foram as principais atividades realizadas, os resultados obtidos, os desafios enfrentados e a serem superados e os aprendizados das pessoas e instituições que par-ticiparam dessa experiência.
Para narrar esse processo e revelar a interpretação feita pelos diferentes atores envolvidos, fo-ram entrevistados representantes do governo municipal, estadual e federal, de organizações locais (as-sociações comunitárias, sindicatos, cooperativas) e de Organizações Não Governamentais (ONG).
Um dos protagonistas desse movimento é Oscar Jara1, para quem:“A sistematização de experiências pressupõe como fundamento a Concepção Metodológica Dialética, que entende a realidade histórico-social como uma totalidade, como processo histórico: a realidade é, ao mesmo tempo, uma mutante e contraditória porque é histórica, porque é produto da atividade transformadora, criadora dos seres humanos”.
1 Holliday, Oscar Jara. Para sis-tematizar experiências. Brasília: MMA, 2006. p.24 (Série Monito-ramento & Avaliação, 2).
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Além das entrevistas individuais e coletivas, os docu-mentos gerados pelas instituições e organizações também fo-ram fonte de informação da sistematização.
O ordenamento e reconstrução da história vivida pelos atores envolvidos na busca pela sustentabilidade em São Félix do Xingu foram orientados pelos seguintes aspectos, principal-mente na definição dos resultados obtidos:
Aspectos Orientadores• a participação das organizações locais na construção da
sustentabilidade;• a intervenção de organizações não governamentais supra-
locais nesse processo;• a influência dos agentes governamentais intervindo sobre
o processo local; e• a institucionalização da discussão da sustentabilidade pelas
organizações locais.
Centro de Formação Santiago, local da assi-natura do pacto pelo fim do desmatamento ilegal em São Félix do Xingu, celebrado no dia 26 de agosto 2011.
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Etapas da sistematizaçãoA sistematização foi realizada entre os meses de janeiro
e março de 2013, seguindo o cronograma de atividades abaixo.
Definição das bases da sistematização e elaboração do Plano de Trabalho – reunião por Skype entre o consultor contratado e a representante do IEB que atua em São Félix do Xingu.
Identificação e ordenamento das informações existentes em registros/documentos (relatórios de projetos, memórias de eventos e reuniões, termos de compromisso e de acordos, entre outros) que orientaram a elaboração dos roteiros para as entrevistas semiestruturadas.
Obtenção de informações em campo por meio de entrevistas: • em São Félix do Xingu-PA, com: coordenadora do Pro-
jeto Xingu Ambiente Sustentável (XAS) executado pelo IEB; ex-secretário de meio ambiente do município; técni-ca da Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do Alto Xingu (Adafax); ex-presidente e o atu-al do Sindicato dos Produtores Rurais (SPR); técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ema-ter); técnica da The Nature Conservancy (TNC); e repre-sentantes do movimento social em entrevista coletiva, da qual participaram membros de associações comunitárias,
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR), da Cooperativa Alternativa dos Pequenos Pro-dutores Rurais e Urbanos (Cappru), da Casa Familiar Ru-ral (CFR) de São Félix do Xingu, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e membros do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu;
• em Belém-PA, com: técnica da Sema-PA; gestor da APA Triunfo do Xingu; coordenador do IEB Belém; Coorde-nador de Produção Sustentável da TNC; Secretário do Programa Municípios Verdes Pará;
• em Brasília, com: coordenadora do Projeto “Pacto Mu-nicipal para a Redução do Desmatamento no Município de São Félix do Xingu” da Secretaria de Desenvolvimento Rural Sustentável (SDRS)/Ministério do Meio Ambiente (MMA); consultora do Projeto do MMA; e
• por Skype, com: coordenador do Grupo de Pesquisa e Intercâmbios Tecnológicos (GRET); técnico do Imaflora responsável pelo projeto executado pela instituição em São Félix do Xingu.
Organização/sistematização das informações.
Elaboração da versão preliminar do documento.
Devolução aos participantes da sistematização dos princi-pais aspectos abordados no texto, em oficina realizada em São Félix do Xingu.
Elaboração do documento final contendo o processo de sistematização.
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Apresentação das informações
O texto da sistematização foi organizado em cinco blo-cos: contexto, ações para a construção da sustentabilidade, re-sultados, desafios e aprendizados.
O contexto contém dados sobre São Félix do Xingu, o processo de ocupação da região e suas consequências e as ini-ciativas mais recentes para conter o desmatamento.
Nas ações para a construção da sustentabilidade estão descritas as principais atividades realizadas, abordando os se-guintes aspectos: regularização ambiental, monitoramento do desmatamento, pacto pela redução do desmatamento e o uso sustentável – produção, mercado, certificação.
Rio Xingu
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Os resultados foram estruturados considerando-se os quatro aspectos previstos para a orientação da sistematiza-ção: a participação das organizações locais na construção da sustentabilidade; a intervenção de ONGs supralocais nesse processo; a influência dos agentes governamentais intervindo sobre o processo local; e a institucionalização da discussão da sustentabilidade pelas organizações locais.
Os desafios foram agrupados nos seguintes aspectos: condições para a produção sustentável, atuação do governo, articulações institucionais, fortalecimento institucional.
E, ao final, os aprendizados refletem os conhecimentos gerados com a experiência na perspectiva das pessoas que a vivenciaram.
A seguir, e seguindo essa estrutura, é apresentado o re-sultado da sistematização do processo de construção da sus-tentabilidade em São Félix do Xingu.
20
CONTEXTO
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O município de São Félix do Xingu, lo-calizado ao sul do
Estado do Pará, possui uma área territorial de 84.213 Km², que abriga 91.340 habi-tantes, sendo 49,4% na zona urbana e 50,6% no meio rural (IBGE, 2010 a).
Sua estrutura fundiária é bastante concentrada: apro-ximadamente 17% dos esta-belecimentos rurais conside-rados não familiares detêm em torno de 82,5 % da área e mais de 80% dos estabele-cimentos familiares ocupam apenas 17,5% do total de ter-ras. (IBGE, 2010 a).
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
A maior parte da área do município (aproximadamen-te 78%) corresponde a assentamentos, que representam 5,47% (4.608 km²), e a áreas protegidas, das quais 6,05% (5.097 km²) são Unidades de Conservação (UC) de Proteção Integral, 13,28% (11.177 km²) são UCs de Uso Sustentável e 53,34% (44.902 km²) são Terras Indígenas (TI) (Kayapó, Menkranoti-re, Apyterewa, Arawete e Trincheira Bacajá).
A localização de São Félix do Xingu lhe confere uma po-sição estratégica por representar uma zona de amortecimento ao avanço do desmatamento vindo do sul do estado em direção à denominada “Terra do Meio”, ou seja, às principais reservas de floresta do Pará. Porém, também determina uma pressão sobre os recursos naturais do município por estar em uma re-gião de penetração e abertura para a exploração da Amazônia: a frente Xingu-Iriri.
O município, que se emancipou em 1961, tem uma histó-ria relativamente recente de colonização, baseada no avanço da fronteira agrícola em substituição aos processos extrativistas de reprodução socioeconômica (castanha, seringa/látex, jabo-randi, ouro e cassiterita) que tiveram sua decadência acelerada com a abertura de novas estradas (CASTRO et al., 2002).
Entre as décadas de 1970 e 1980, foram abertas estradas para viabilizar a extração de minerais (cassiterita e ouro) e de mogno, além de outras espécies florestais de valor econômico.
A construção da rodovia PA-150 proporcionou a ligação do porto de Belém à rodovia Belém-Brasília, conectando a re-gião de São Félix do Xingu com os mercados consumidores do Sudeste do País. E a rodovia PA-279 ampliou o fluxo de pessoas para o município, com a consequente abertura de novas terras
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
e estradas internas, que facilitaram a atividade madeireira e a grilagem de terras (IEB, 2009).
No final da década de 1990 e início dos anos 2000, ini-ciou-se um novo ciclo de atividades, desta vez de fazendeiros, especuladores e pecuaristas que se apropriaram da terra utili-zando a densa rede de estradas deixada pelas madeireiras, ace-lerando a ocupação da região (ESCADA et al., 2005).
Atualmente, a economia do município está baseada na pecuária extensiva, com a implantação de grandes fazendas de gado de corte abertas por meio da grilagem e invasão de terras públicas, definindo um dos maiores rebanhos bovinos do País: 2.110.172 cabeças de gado (IBGE, 2010 b).
O processo migratório e de ocupação da região teve como consequência os altos níveis de desmatamento observa-dos nos últimos anos, que colocou o município entre os líderes do desmatamento nacional, com 17.129,9 Km² (20,3% de sua área total) desmatados até 2011 (PRODES, 2011), sendo que quase metade dessa área foi desflorestada em apenas nove anos (2000 a 2009). Esses dados demonstram a relação direta en-tre o aumento da velocidade do desmatamento nos anos 2000 e a pecuarização do município, cujo rebanho bovino cresceu 594,4% entre 1999 e 2010 segundo dados do IBGE (BARRETO et al., 2008).
À medida que é ampliada a área de pastagem é reduzida a área de plantio das lavouras temporárias, estabelecendo-se uma relação de causa e efeito direta entre o avanço da pecuária praticada por grandes, médios e pequenos proprietários e o de-clínio na produção agrícola. Segundo dados do IBGE, entre os anos 2000 e 2010 houve uma redução na área plantada de 98%
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
para o arroz, 96% para o feijão, 90% para a mandioca e 88% para o milho (IBGE, 2010 b).
Além da pecuária extensiva praticada nas grandes propriedades, a implantação de assentamentos do Institu-to Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em meados da década de 1990 contribuiu com os altos índices de desmatamento em São Félix do Xingu. A distância da sede municipal e a deficiência na infraestrutura e no apoio à produção de alimentos levaram e têm levado famílias de as-sentados a venderem a madeira e transformarem suas áreas em pastagens, alimentando a cadeia da pecuária. Assenta-dos, agricultores familiares e ribeirinhos geralmente ficam subordinados aos grandes fazendeiros na manutenção de estradas, na viabilização do transporte, no oferecimento de trabalho, já que historicamente o estado esteve alheio ao de-senvolvimento rural e ao controle e fiscalização dos recur-sos naturais do município.
Com o objetivo de reduzir o avanço do desmatamento sobre as florestas da Amazônia, o MMA, no âmbito do Plano de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), em parceria com o Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) iniciaram, em 2004, uma série de ações de fiscalização e inibição de atividades ilegais, que tiveram como efeito a que-da nas taxas de desmatamento no bioma.
Na região de São Félix do Xingu, uma iniciativa para conter o desmatamento foi a criação de um mosaico de UCs entre 2004 e 2006, no âmbito do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), pela implantação da APA Triunfo do Xingu,
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
do Parque Nacional da Serra do Pardo e da Estação Ecológica da Terra do Meio.
Tanto as ações de fiscalização como a criação das UCs abrandaram, mas não impediram o avanço do desmatamento sobre as florestas de São Félix do Xingu e dos demais muni-cípios amazônicos. Diante disso, nos anos de 2007 e 2008, o governo federal lançou uma série de medidas para combater o desmatamento. Entre elas o Decreto nº. 6.321/2007, que criou a “lista dos municípios amazônicos prioritários para ações de prevenção, monitoramento e controle do desmatamento ile-gal” e que transferiu aos municípios a responsabilidade por combater o desmatamento, restringiu o crédito a produtores irregulares, responsabilizou toda a cadeia produtiva por des-matamentos ilegais e tornou pública a lista dos municípios considerados críticos. Por sua vez, o Ibama empreendeu, em 2008, a operação de fiscalização Arco de Fogo, com ações de combate ao desmatamento ilegal nos municípios prioritários (Municípios Verdes, 2012).
Como São Felix do Xingu constava na lista de municípios desmatadores e estava na área de atuação da operação Arco de Fogo, o município passou a ser alvo de atenção do governo e teve que se adequar para cumprir metas que o retirasse da lista e o liberasse das restrições impostas.
Em 2009, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ibama acionaram judicialmente pessoas e empresas pelo desmata-mento no Pará. Um dos focos foram os frigoríficos, que tive-ram que fazer adequações para que a cadeia produtiva da car-ne reduzisse seu impacto sobre as florestas. Os frigoríficos que atuavam no Estado do Pará assinaram Termos de Ajustamento
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
de Conduta (TAC) com o MPF nos quais se comprometeram a cumprir determinações, entre elas, informar aos consumidores a origem da carne, exigir dos fornecedores a moratória total do desmatamento, o reflorestamento de áreas degradadas e o licenciamento ambiental.
Em 2010, a Prefeitura Municipal de São Félix do Xin-gu, perante o MPF, firmou um Termo de Compromisso com o Estado do Pará, Federação da Agricultura do Estado do Pará (Faepa) e Ibama, no qual se comprometeu a prorrogar o licen-ciamento ambiental, manter o desmatamento controlado em 40 km² ao ano, realizar 80%2 do Cadastramento Ambiental Ru-ral (CAR) e celebrar um pacto pelo controle do desmatamento em conjunto com as organizações dos produtores e as organi-zações sociais do município. Esse termo buscou promover a qualidade socioambiental da atividade produtiva nos municí-pios paraenses.
A atuação do governo federal em São Félix do Xingu in-cluiu também a implementação da segunda fase do PPCDAm – entre 2009 e 2011 –, na qual estava contemplada a criação de
2 Os 80% correspondem a 2.666.198 ha, tendo como referência o valor da área total cadastrável do município, que é de 3.332.748 ha. Entende-se por área ca-dastrável as propriedades que estão fora do domínio de Unidades de Conserva-ção e Terras Indígenas.
27
mecanismos de atuação mais integrada com os estados e mu-nicípios, apoiando a elaboração de planos estaduais de controle do desmatamento, o estabelecimento de pactos municipais de redução do desmatamento e o fortalecimento do diálogo e da negociação com os atores econômicos para a redução de ativi-dades produtivas associadas à destruição da cobertura florestal (BRASIL, 2009).
Essa nova situação gerou para os diferentes setores en-volvidos com o município a oportunidade de construir e im-plementar ações que garantam o desenvolvimento futuro em bases menos impactantes e mais sustentáveis.
Propriedade do pequeno agricultor Altamiro Lourenço, morador da vila Tancredo Neves
28
AÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE
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O fato de São Félix do Xingu ter que cum-prir metas de redução
nas taxas de desmatamento, promoveu um movimento en-volvendo ONGs, órgãos públi-cos municipais, estaduais e fe-derais e a sociedade civil local, que se intensificou a partir de 2009, e que, inicialmente, ti-nha como foco a adequação do município às metas do governo federal. Entretanto, ao longo desses quatro anos, os debates ganharam outra dimensão, e os envolvidos passaram a elaborar e implementar iniciativas na perspectiva da promoção do desenvolvimento de São Félix com sustentabilidade, sendo a redução do desmatamento uma de suas consequências.
30
Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Embora o debate sobre a sustentabilidade em São Félix do Xingu tenha ocorrido somente após sua inclusão na lista de desmatadores do MMA, há aproximadamente 25 anos a reali-dade vivida no município e principalmente a falta de inserção de setores desassistidos aos processos de desenvolvimento já eram motivos de preocupação do movimento social, que, por meio da Igreja, discutia a necessidade da organização social para superar os problemas provocados e enfrentados, princi-palmente pela ausência do Estado.
A luta desse movimento definiu algumas conquistas es-truturais, como a eletrificação rural, o crédito (Programa Es-pecial de Crédito para Reforma Agrária - Procera), a abertura de estradas e a chegada de órgãos públicos (Emater, Incra) ao município; e organizativas, com a criação de dezenas de as-sociações comunitárias, embora muitas tivessem como único objetivo acessar fontes de crédito, que, por falta de alterna-tivas, acabavam por promover ainda mais o desmatamen-to. Porém, também formaram-se associações que visavam à diversificação da produção, comercialização e reivindicação por políticas de crédito e assistência técnica para as famílias, como é o caso das associações do Km 21, Tancredo Neves e Maguary, e da Cappru, criada em 1992, que iniciou suas atividades comerciais com produtos agrícolas (farinha, arroz, milho, frutos, hortaliças, entre outros) e, em 1998, ampliou para a comercialização de cacau.
Também em 1992, as lideranças locais conseguiram se apropriar do STR e passaram a se articular com instâncias es-taduais (Federação dos Trabalhadores na Agricultura - Feta-gri) e nacionais (Confederação Nacional dos Trabalhadores da
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Agricultura - Contag) de re-presentação dos trabalhadores rurais e a reivindicar políticas públicas que beneficiassem as comunidades rurais de São Fé-lix do Xingu.
Em 2001, os Projetos CPT Verde e Terra Verde, este último apoiado pelo Grupo de Pesquisa e Intercâmbios Tec-nológicos (GRET), apoiaram a criação da CFR de São Fé-lix do Xingu, na perspectiva de uma educação adequada à realidade rural. Em 2004, foi criada a Adafax, fruto de uma articulação institucional envolvendo a Cappru, CPT e CFR de São Félix do Xingu, cujo objetivo foi promover a fixação dos pequenos agricul-tores em suas terras produ-zindo de forma diversificada e sustentável, bem como contri-buir para o estabelecimento de bases estruturais, técnicas e de concepção, para dinamizar e consolidar a agricultura fami-liar no Alto Xingu.
Essa trajetória do movimento social, apesar de todas as fragilidades organizativas e das adversidades contextuais e históricas, facilitou um processo diferenciado em São Félix do Xingu na busca pela sustentabilidade do município, pois quando agentes governamentais e ONGs supralocais intensificaram suas ações a partir de 2009, encontraram o início de um caminho traçado pelas organizações locais.
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
Esse caminho foi aproveitado por ONGs, como GRET, TNC, IEB e Imaflora, que iniciaram a implantação de projetos em São Félix do Xingu em parceria com instituições públicas e com organizações locais da sociedade civil. Apesar de as parcerias di-ferenciarem-se nas abordagens, fontes de financiamento e nos ob-jetivos das iniciativas, essas organizações têm buscado a sensibili-zação local para a importância do combate ao desmatamento e a articulação de políticas públicas que gerem governança socioam-biental no município. Além do Fundo Vale que financiou as três organizações (TNC, IEB e Imaflora) para atuarem em São Félix do Xingu, o IEB recebeu apoio financeiro da Comissão Europeia na implementação do Projeto Fronteiras Florestais, e a TNC recebeu apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e So-cial (BNDES) e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvol-vimento Internacional (Usaid).
Pequeno agricultor, Pedro Aguiar, mora-dor da região de Xadá, localizada na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu.
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A seguir são apresentadas as principais ações desenvol-vidas em São Félix do Xingu sobre os seguintes aspectos: regu-larização ambiental, monitoramento do desmatamento, pacto pela redução do desmatamento e o uso sustentável – produção, mercado, certificação.
Regularização ambientalA partir de 2009 agentes governamentais, como o MMA,
e as secretarias estadual e municipal de meio ambiente passa-ram a executar algumas ações de combate ao desmatamento no município, priorizando a regularização ambiental a partir do ca-dastramento das propriedades rurais no CAR3, que visa obter dados sobre as propriedades rurais e, assim, tornar mais eficiente o controle, monitoramento e licenciamento ambiental. Para isso, foram estabelecidas parcerias com ONGs e organizações locais.
No início de 2009, com apoio de parceiros, a Prefeitura Municipal iniciou debates sobre a necessidade de regularização ambiental de São Félix do Xingu e a realização do CAR, com a intenção de alcançar uma das metas exigidas para retirar o município da lista dos que mais desmatam na Amazônia. Esse
3 Trata-se do georreferenciamento da propriedade rural e de áreas utilizadas para plantio ou pastagem, remanescentes de vegetação nativa e áreas legalmen-te destinadas à preservação ambiental (Área de Proteção Permanente - APP e Área de Reserva Legal - ARL). Foi instituído em 2009, no âmbito do MMA, como parte integrante do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambien-te (Sinima), com a finalidade de integrar as informações federais referentes às propriedades rurais com aquelas armazenadas nos sistemas estaduais.
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diálogo gerou um Termo de Cooperação Técnica, firmado em julho de 2009 entre a Sema-PA, Prefeitura Municipal de São Félix do Xingu, TNC, SPR e a empresa frigorífica do Grupo Frigol, para que fossem realizados o CAR e a regularização ambiental dos imóveis rurais, tendo como aporte financeiro o Projeto “Legal é Ser Verde”, executado pela TNC.
A estratégia utilizada nessa parceria foi sensibilizar os grandes proprietários a aderirem ao CAR, para que a meta de 80% de cadastramento ambiental rural fosse alcançada mais rapidamente. O projeto executado pela TNC garantiu a pre-sença de um técnico em geoprocessamento no município, a aquisição de infraestrutura (equipamentos, imagens) e a capa-citação de técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) para que o órgão estivesse apto e em condições de ir a campo para cadastrar as propriedades.
Apesar do foco nas grandes propriedades, a TNC e parcei-ros apoiaram a Semma para atuar também no cadastramento das médias e pequenas propriedades, dada a dificuldade de se obter os 80% da área cadastrável apenas com as grandes propriedades.
Com o início da implementação do projeto do MMA4 “Pac-to Municipal para a Redução do Desmatamento no Município de São Félix do Xingu” em 2011, houve um entendimento entre par-ceiros para que o MMA assumisse o cadastramento das pequenas propriedades, viabilizando o cadastramento dos 20% restantes, contemplando, assim, todas as propriedades cadastráveis do mu-
4 Projeto em desenvolvimento desde 2011 no município de São Félix do Xingu, Pará, com duração prevista de quatro anos, tendo o MMA como responsável nacional por sua execução e a Organização das Nações Unidas para a Agricul-tura e a Alimentação (FAO), por sua administração.
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nicípio. Para cumprir essa meta, o MMA contratou, em 2012, em-presas de geoprocessamento e assinou um Acordo de Cooperação Técnica com o Incra para que os lotes dos assentamentos também fossem cadastrados. O projeto executado pelo MMA também apoiou a Semma financiando equipamentos e veículos e contri-buiu com a capacitação de seus técnicos.
Durante esses quatro anos em que as parcerias têm via-bilizado o cadastramento das propriedades em São Félix do Xingu, houve um aprimoramento técnico nos dados que iden-tificam e caracterizam as propriedades. Inicialmente era regis-trada apenas uma coordenada que identificava a propriedade, caracterizando o atestado digital. Daí houve a evolução para pontos que definiam o perímetro das propriedades e, mais re-centemente, além do perímetro, o registro dos usos do solo, da área desmatada, dos cursos d`água, APPs e ARLs.
Além da capacitação de técnicos dos órgãos públicos para realizar o cadastramento das propriedades, algumas ini-ciativas aconteceram com o objetivo de sensibilizar e capacitar lideranças comunitárias e promover o debate sobre o tema. Em março de 2010, foi realizado um seminário no município para discutir os aspectos que envolvem o CAR, do qual participaram representantes da Adafax, IEB, Fundo Vale de Desenvolvimen-to Sustentável, TNC, MMA e Sema-PA. O evento resultou na formulação do documento “Posicionamento da Adafax acerca do Cadastro Ambiental Rural”, que evidencia a importância do debate sobre reserva legal, o fortalecimento da agricultura familiar e a regularização fundiária como bases para a discus-são sobre o CAR em São Félix do Xingu. A equipe da Adafax contou com o apoio do IEB e do GRET nos debates sobre a re-
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gularização ambiental da agricultura familiar e na elaboração de modelos de recuperação de ARLs.
Com o cadastro das propriedades em andamento, em ju-nho de 2010 foi firmado outro Termo de Cooperação Técnica entre a Sema-PA, Prefeitura Municipal de São Félix do Xingu, TNC do Brasil e o SPR de São Félix do Xingu, com o objetivo de efetuar a regularização ambiental das propriedades rurais do município a partir de diagnósticos ambientais das propriedades, que servirão como base aos arranjos de adequação ambiental e à promoção de alternativas econômicas de cadeias sustentáveis.
Em maio de 2012 foi instaurado o Observatório Ambien-tal do município, a partir da extensão das ações realizadas na “Sala de Situação do CAR”, no âmbito do Projeto Municipal de Monitoramento do Desmatamento Ilegal de São Félix do Xingu.
A partir de março de 2011 São Félix do Xingu passou a contar com o apoio do Programa Municípios Verdes (PMV), do Governo do Pará, que atua juntamente com o Ministério Público e outras organizações na implementação de ações de combate ao desmatamento. A inserção do município no PMV foi formalizada por meio de um TAC com o MPF, que estabe-leceu metas para promover a melhoria da qualidade socioam-biental da atividade produtiva e a saída do município da lista de municípios desmatadores. O PMV se articulou com a Se-ma-PA na atualização do laudo do CAR e nos procedimentos para a liberação das Licenças Ambientais Rurais (LAR) que es-tão protocoladas no órgão. O programa capacitou técnicos da Semma em São Félix do Xingu para que o órgão estivesse apto a emitir as 1icenças ambientais.
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A parceria do Instituto do Ho-mem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon (parceiro do IEB no proje-to fronteiras florestais) com o PMV contribuiu para qualificar o monito-ramento do desmatamento em São Félix do Xingu. Essa qualificação foi alcançada com a capacitação de téc-nicos da Semma e de lideranças em técnicas de geoprocessamento, o re-passe de equipamentos para a Ada-fax (computadores, imagens, GPS) e a publicação de boletins divulgando os índices de desmatamento do mu-nicípio e região.
Entre fevereiro de 2010 e ju-lho de 2012, o Imazon ministrou três cursos em São Félix do Xingu e dois em Belém, dos quais partici-param 74 pessoas entre lideranças locais e técnicos de órgãos públi-cos do município. Um dos cursos foi o treinamento em geoteconolo-gia básica (ênfase em elaboração de
As informações geradas pelas organizações locais e pelo Imazon em Belém-PA serviram de referência para os debates públicos sobre o desmatamento em São Félix do Xingu. Um desses debates ocorreu na reunião realizada em outubro de 2011 com o Ministério Público Estadual (MPE), que contou com o apoio do IEB e Imazon, cujo objetivo foi discutir o aumento do desmatamento na APA Triunfo do Xingu e elaborar uma estratégia para sua redução.
Monitoramento do desmatamento
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mapas e mapeamento participativo) para técnicos da Adafax e jovens da CFR. O objetivo foi torná-los aptos para elaborar mapas do potencial florestal das propriedades rurais familia-res, com análise da viabilidade econômica e ambiental, servin-do como instrumentos para influenciar políticas públicas de apoio à agricultura familiar para restauração florestal.
Foram publicados cinco “Boletins Transparência Flores-tal” com foco na APA Triunfo do Xingu, nos quais são analisa-dos os índices de desmatamento nos anos de 2007, 2008 e 2009, e nos períodos de agosto de 2010 a julho de 2011 e agosto de 2011 a janeiro de 2012.
Pacto pela redução do desmatamento
A busca pela redução do desmatamento em São Félix do Xingu foi traçada inicialmente por dois caminhos diferentes, mas complementares, e que posteriormente se encontraram. Enquanto IEB, Adafax e organizações da sociedade civil pro-moviam debates e ações com foco no desenvolvimento susten-tável do município e na redução do desmatamento, a prefeitura do município, via Semma, implementava ações para alcançar 80% do CAR e para a assinatura de um pacto pela redução do desmatamento, cumprindo, assim, dois dos requisitos exigidos para a retirada do município da lista do MMA.
O IEB e a Adafax, no âmbito do Projeto XAS, promove-ram uma série de ações e eventos com o objetivo de diagnos-
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ticar a realidade do município, sensibilizar os moradores e as instituições e promover debates sobre a sustentabilidade, tendo como perspectiva o estabelecimento de pactuações entre so-ciedade civil e Estado na contenção do desmatamento.
A Adafax realizou várias ações com grupos de agriculto-res para experimentação de práticas produtivas sustentáveis na região da APA Triunfo do Xingu e em áreas de assentamentos. A ação da Adafax na APA ampliou-se quando a Sema anun-ciou a criação da Unidade de Conservação, no ano de 2006. Neste período, a associação começou a realizar uma campanha de informação, com distribuição de cartilhas e reuniões, para discutir com os moradores as seguintes questões: o que é uma unidade de conservação, o que é uma APA, sua forma de fun-cionamento, o papel do Conselho Gestor, seus mecanismos de gestão e a importância da participação das comunidades nesse processo. A partir de 2008, a Adafax novamente atuou em par-ceria com a Sema na mobilização e organização de reuniões informativas nas comunidades da APA Triunfo do Xingu.
Em 2009, a Adafax e o GRET elaboraram o “Diagnóstico Socioambiental” da APA Triunfo do Xingu e vizinhanças, e o IEB realizou o “Diagnóstico Institucional - Capacidades e Li-mites da Sociedade Civil de São Félix do Xingu” para o ordena-mento territorial e manejo dos recursos naturais. Os resultados dos diagnósticos auxiliaram os moradores a refletirem sobre a realidade onde vivem e serviram de base para outras capacita-ções, que permitiram aos participantes se articularem em prol de uma agenda socioambiental para o município.
Cerimônia de assinatura do pac-to para o fim do desmatamento ilegal em São Félix do Xingu.
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Ainda em 2009, a Adafax, com apoio do IEB, iniciou a discussão sobre a constituição do Conselho Gestor da APA Triunfo do Xingu, buscando vincular a necessidade de refletir ações para as questões ambiental e fundiária.
No ano de 2010, o IEB e a Adafax promoveram dez ofici-nas e dois seminários com o objetivo de debater e capacitar as pessoas para atuarem na busca pelo desenvolvimento sustentá-vel de São Felix do Xingu. Entre eles destacam-se:
• oficina “Planejando um Município Sustentável” (maio/2010);
• rodada de reuniões entre lideranças de São Felix do Xingu e órgãos públicos (Sema, Instituto de Terras do Pará (Iterpa), Instituto de Desenvolvi-mento Florestal do Estado do Pará (Ideflor), MPE) (junho/2010);
• oficina para definição do Conselho Gestor da APA Triunfo do Xingu (junho/2010);
• capacitação de lideranças - Fortalecendo Processos para a Construção de Agenda Socioambiental (ju-lho/2010);
• seminário “Construindo um plano coletivo para a conservação do meio ambiente e do desenvolvi-mento em São Felix do Xingu” (agosto/2010).
Em todos os eventos houve uma participação significa-tiva de agricultores, lideranças locais e representantes de orga-nizações da sociedade civil, além de agentes públicos. Estes in-cluem as quatro oficinas realizadas com foco “Planejando um
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município sustentável”, que derivou na realização de uma ro-dada de reuniões em Belém com a participação de cinco lide-ranças de São Felix do Xingu e órgãos públicos (Sema, Iterpa, Ideflor e MPE) para discussões sobre ordenamento territorial, gestão florestal, CAR, Conselho Gestor e plano de manejo da APA Triunfo do Xingu.
Esses eventos contribuíram para que os envolvidos e prin-cipalmente os representantes dos agricultores familiares se mo-bilizassem para o processo de construção da sustentabilidade em São Felix do Xingu e participassem da elaboração do Pacto Mu-nicipal pelo fim do desmatamento ilegal no município.
No âmbito da gestão da APA Triunfo do Xingu, o IEB, Adafax e parceiros realizaram diversas atividades de sensibi-lização, informação e capacitação de moradores para a consti-tuição do seu Conselho Gestor, que tomou posse em abril de 2011. As ações realizadas pelo IEB e Adafax colaboraram para a inserção mais representativa dos moradores da UC no conse-lho5. Durante o ano de 2010, o IEB realizou capacitações sobre gestão territorial (Conselho Gestor, plano de manejo, UC, zo-neamento territorial, CAR, LAR, regularização fundiária, Sis-tema Nacional de Unidades de Conservação - Snuc), as quais facilitaram o entendimento das lideranças representantes dos
5 A APA foi criada pelo Decreto Estadual nº. 2.612/2006 e o seu Conselho Ges-tor foi instituído pela Portaria nº. 583/2011 – GAB/Sema /2011. O Conselho Gestor é composto por 32 membros (16 da sociedade civil e 16 de entidades governamentais), sendo que 10 setores da APA têm representatividade. A par-ticipação de moradores da APA no conselho foi amplamente discutida pelas lideranças durante a capacitação realizada pelo IEB em julho de 2010, tendo sido apresentada à Sema como proposta de composição na assembleia de for-mação do conselho, em setembro de 2010.
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moradores da APA sobre os conceitos que envolvem uma UC. O processo de mobilização e sensibilização das comunidades para a criação do Conselho Gestor da APA e o mapeamento institucional em São Felix do Xingu e Altamira foi iniciado pela Diretoria de Áreas Protegidas (Diap) da Sema, em dezem-bro de 2009, estendendo-se até julho de 2010. Ao todo foram realizadas 11 oficinas dentro da APA Triunfo do Xingu para discutir a criação do conselho.
Em novembro de 2010, o Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento do MMA promoveu uma oficina de Planejamento de Ações para a Redução do Desmatamento em São Félix do Xingu, no âmbito do Projeto “Pacto Municipal para a Redução do Desmatamento”, que contou com a partici-pação de representantes do MMA, Sema-PA, Semma, Emater, Iterpa, IEB, TNC, Idesp, Adafax e Cooperação Técnica Alemã (GIZ). Um dos resultados previstos no projeto do MMA era o estabelecimento de um pacto para a redução do desmatamento que fosse negociado e endossado pelos atores públicos, privados e pela sociedade civil do município. A partir de então, o IEB e o MMA passaram a estabelecer um diálogo mais estreito visando ao estabelecimento de um espaço público de discussão do pacto.
Pressionada pelo Ministério Público, a Prefeitura Munici-pal de São Felix do Xingu teria que promover a assinatura de um Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal no município como uma das metas a serem cumpridas para sair da lista dos municípios desmatadores. Para isso, em maio de 2011 promoveu uma audiência pública que não resultou imediatamente na assi-natura do pacto visto que ainda não havia uma discussão mais ampla com a sociedade local. A partir dessa audiência pública
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e com o apoio do IEB, MMA e de organização locais (Adafax, Cappru, STTR, CPT, associações comunitárias e SPR), estabe-leceu-se um processo mais amplo e consistente na construção do pacto. Tal processo foi organizado pela Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal, criada em maio de 2011 e liderada pela Semma, cuja finalidade foi promover as dis-cussões e ações necessárias à celebração do pacto.
A comissão foi constituída inicialmente com a representa-ção das seguintes instituições e organizações: Semma/São Felix do Xingu, MMA, Incra/São Felix do Xingu, Emater, Secretaria Municipal de Agricultura (Semagri)/São Félix do Xingu, Ceplac/São Felix do Xingu, Sema/PA, STTR/São Felix do Xingu; e SPR/São Félix do Xingu, Adafax, Cappru, IEB, TNC, Conselho Muni-cipal de Meio Ambiente de São Felix do Xingu (Comam), Con-selho Gestor da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu (CGAPATX) e Banco da Amazônia. Com o tempo, outras ins-tituições aderiram à comissão, como o Imaflora, Fundação Na-cional do Índio (Funai) e a Associação Floresta Protegida (AFP).
Avanço do desmatamento na região do Xingu.
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Entre maio e julho de 2011 foram realizadas audiências pú-blicas em dez comunidades e uma audiência setorial com o em-presariado local para a discussão do pacto, seguindo a orientação definida na audiência pública de maio de 2011, onde foi acorda-do que o processo de construção do pacto se daria com ampla consulta aos moradores da zona rural de São Felix do Xingu. A Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal
Compromissos a serem cumpridos na visão das comunidades
Sociedade civil: Não desmatar ilegalmente, fazer a adesão ao CAR, assinar o pacto, fortalecer as associações.
Governos municipal, estadual e federal: Agilizar os recursos financeiros para aquisição de máquinas agrícolas, educação ambiental, agilizar o processo de licenciamento ambiental para os produtores, regularização fundiária, disponibilizar máqui-nas para não utilizar o fogo, mostrar alternativas para novas culturas de produção, assistência técnica, infraestrutura (estra-da, energia, telefonia) saúde, educação e segurança.
Órgãos e entidades que devem fazer parte do pacto na visão das comunidades
Banco do Brasil, Banco da Amazônia, Sema/PA, Sematur, Conse-lho Gestor da APATX, Iterpa, Incra, Ideflor, Prefeitura Municipal, Semagri, Ministério Público, Emater, Ceplac, Celpa, Secretaria Municipal de Saúde, Seduc, Secretaria Municipal de Educação, Telemar, Polícia Militar, STTR, SPR, Adafax, Cappru, CPT, CFR.
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Compromissos a serem cumpridos na visão das comunidades
Sociedade civil: Não desmatar ilegalmente, fazer a adesão ao CAR, assinar o pacto, fortalecer as associações.
Governos municipal, estadual e federal: Agilizar os recursos financeiros para aquisição de máquinas agrícolas, educação ambiental, agilizar o processo de licenciamento ambiental para os produtores, regularização fundiária, disponibilizar máqui-nas para não utilizar o fogo, mostrar alternativas para novas culturas de produção, assistência técnica, infraestrutura (estra-da, energia, telefonia) saúde, educação e segurança.
Órgãos e entidades que devem fazer parte do pacto na visão das comunidades
Banco do Brasil, Banco da Amazônia, Sema/PA, Sematur, Conse-lho Gestor da APATX, Iterpa, Incra, Ideflor, Prefeitura Municipal, Semagri, Ministério Público, Emater, Ceplac, Celpa, Secretaria Municipal de Saúde, Seduc, Secretaria Municipal de Educação, Telemar, Polícia Militar, STTR, SPR, Adafax, Cappru, CPT, CFR.
realizou oito reuniões preparatórias para ir a campo e contou com apoio metodológico do IEB e do MMA na condução das discussões e na defi-nição da dinâmica que seria utiliza-da nas comunidades. As audiências públicas nas comunidades seguiram uma dinâmica definida pela comis-são, que permitiu aos participantes abordar e entender o que é o pacto, suas implicações e benefícios para o município. Além disso, tratou-se sobre quais as entidades/órgãos que deveriam participar do pacto e quais os compromissos governamentais e da sociedade civil na assinatura do protocolo.
A Semma coordenou as audiências públicas ocorridas na zona rural do município, que contaram com o envolvimento de aproximadamente 1.800 pessoas e tiveram como principal produto as demandas das comunidades e os compromissos a serem assumi-dos para o fim do desmatamento, contribuindo, assim, para a elabo-ração do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal.
O principal recado dado pelas comunidades aos gestores públicos foi o de que não bastava apenas assinar o pacto. É preciso que as famílias recebam apoio de políticas públicas para que possam produzir de forma a não acentuar o desmatamento e que haja investimento na regularização fundiária, assistência técnica, crédito, infraestrutura, entre outros.“Assinar o pacto é um compromisso, porém a ação de assinar não resolve a questão do desmatamento, tem que haver proposta de melhorar as alternativas para a classe de produtores e agricultores como contrapartida de governo. Reuniões como estas fortalecem e aproximam as representações dos governos com a realidade local.” (Otair José/STTR)
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As demandas das comunidades foram sistematizadas pela comissão, apresentadas e debatidas na audiência pública realizada em 25 agosto de 2011 previamente à assinatura do pacto, ocorrida em 26 de agosto de 2011. O Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal, contendo 14 cláusulas, foi assinado por 41 representantes de instituições públicas muni-cipais, estaduais e federais, organizações da sociedade civil e ONGs (Anexo I). Como condição para garantir o cumprimen-to do pacto, foi elaborada pela Comissão Municipal a Agenda Pós-Pacto, tendo como base as demandas das comunidades sis-tematizadas e organizadas em temas e em dois níveis de priori-dade. As consideradas de maior prioridade por estarem direta-mente relacionadas com o desmatamento no município foram agrupadas nos seguintes temas: i) regularização fundiária; ii) infraestrutura (manutenção de estradas principais e vicinais e o serviço de energia elétrica nas vilas e áreas rurais); iii) as-sistência/assessoria técnica que permita a transição do sistema produtivo convencional para sistemas sustentáveis; (iv) apoio à produção com o fortalecimento de cadeias produtivas sus-tentáveis; e v) adequação ambiental das propriedades (CAR, LAR, PSA). E as consideradas no segundo nível de prioridade e que, a princípio, não seriam foco de discussão da comissão foram agrupadas nos temas: i) infraestrutura de equipamentos urbanos para sede e vilas municipais; ii) saúde; iii) educação; e iv) segurança pública.
Em outubro de 2011, elaborou-se um plano de trabalho da Agenda Pós-Pacto com detalhes sobre metas e prazos, ten-do a Comissão Municipal como espaço de gestão coletiva e de monitoramento desse planejamento (Anexo II).
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A partir desse momento, os diversos atores envolvidos passaram a ter a Agenda Pós-Pacto como orientadora de suas ações e, em alguns momentos, como referência para o estabe-lecimento de articulações e ações comuns. Um exemplo disso foi a reunião ocorrida entre membros da Comissão Municipal e o Governo do Estado do Pará/Programa Municípios Verdes, que teve como objetivo articular ações para o atendimento das demandas que têm relação direta com políticas públicas esta-duais. O resultado dessa reunião, ocorrida em junho de 2012, foi a definição de uma agenda mínima para a contenção do desmatamento em São Felix do Xingu, contendo prioridades apresentadas pela comissão.
A Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmata-mento ilegal passou a se reunir periodicamente e extraordi-nariamente quando há a convocação por algum membro para debater assuntos de interesse.
Em fevereiro de 2012, foi iniciada a parceria do IEB com a Semma visando à cooperação técnica para o fortaleci-mento da Comissão do Pacto Municipal enquanto instância de articulação e de gestão da Agenda Pós-Pacto, à sustentabi-lidade socioambiental e, ainda, ao apoio à gestão da secretaria para o monitoramento do desmatamento, com a colaboração do Imazon.
Reunião da Comissão Municipal para o fim do Desmatamento Ilegal em São Félix do Xingu com representantes de secreta-rias do Governo do Pará. Belém, junho de 2012.
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A partir de abril de 2012, o segmento indígena do município passou a integrar a comissão, in-corporando na Agenda Pós-Pacto suas demandas e ações, visando a uma articulação positiva para conter o desmatamento ilegal que pressiona as terras indígenas.
Em junho de 2012, a Co-missão retomou o planejamento da Agenda Pós-Pacto, incorporan-do demandas de monitoramen-to e fiscalização e gestão de áreas protegidas, definindo metas e ór-gãos responsáveis pela gestão da agenda (Anexo II - Resumo da Agenda Pós-Pacto). Além disso, a comissão aprovou uma estrutu-ra de funcionamento (Anexo III) que pudesse viabilizar espaços de discussões temáticas e de encami-nhamentos do planejamento e a participação de comunidades no acompanhamento e encaminha-mentos da Agenda Pós-Pacto.
A audiência pública e a criação da comissão foram momentos significativos, pois foi quando ocorreu a intersecção entre os caminhos trilhados pelas instituições e organizações na busca pela sustentabilidade e pela redução do desmatamento em São Félix do Xingu. A partir desse momento o debate ganhou densidade com a ampliação da participação e com as ações sendo planejadas de forma mais integrada e articulada.
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No âmbito dos projetos executados pelo IEB em São Félix do Xingu em parceria com a Adafax e com o GRET, algumas al-ternativas sustentáveis para a agricultura familiar têm sido gera-das com a assessoria dada às organizações locais e aos grupos de agricultores familiares. A abordagem adotada é a de construção do conhecimento agroecológico juntamente com as famílias e a partir de reuniões de planejamento, dias de campo, reuniões te-máticas, visitas de acompanhamento técnico, cursos de capacita-ção abordando temas específicos (manejo, boas práticas e bene-ficiamento dos subprodutos do cacau, manejo e plantio do açaí, processamento de alimentos, implantação de Sistemas Agroflo-restais (SAFs), mecanização, horticultura, pecuária familiar etc.) e troca de conhecimento estimulada por intercâmbios.
Uso sustentável produção, mercado, certificação
Desde sua constituição, organizações locais como a Ada-fax, a Cappru e algumas associações comunitárias estavam bus-cando alternativas produtivas para além da criação do gado a partir de uma produção diversificada e sustentável. A parceria estabelecida com ONGs que passaram a atuar em São Félix a partir de 2009 ampliou a capacidade dessas organizações em gerar novos conhecimentos rumo à produção sustentável e que contribuíssem com a redução do desmatamento. O apoio técni-co, metodológico e financeiro do IEB, TNC e GRET e, mais re-centemente, do Imaflora e MMA, contribuiu para potencializar o que já havia sido iniciado pelas organizações locais.
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Os intercâmbios entre iniciativas existentes no municí-pio e para outras regiões têm gerado novos conhecimentos e, portanto, novas práticas. Como exemplo, há os grupos das co-munidades Maguary, Tancredo Neves e Xadá que trabalham com polpa de frutas, que ao conhecer experiências de benefi-ciamento e comercialização de polpas passaram a desenvolver ações de forma articulada.
Alguns levantamentos estratégicos também colaboraram na identificação dos potenciais e na implantação das propostas técnicas. O GRET e a Adafax analisaram a viabilidade econô-mica e ambiental da piscicultura e o potencial botânico para manejo florestal comunitário, levantaram dados sobre a pro-dução cacaueira e sobre a viabilidade de implantação de vivei-ros (Vila dos Crentes, Chapéu Preto e Campo Verde), e ainda realizaram um diagnóstico sobre o potencial florestal em Vila dos Crentes. Outro estudo importante feito pela Adafax, que contou com o apoio técnico do Imazon e apoio metodológico do GRET, foi o levantamento realizado em uma região da APA Triunfo do Xingu utilizando o mapeamento participativo e fer-ramentas de GIS para calcular os passivos ambientais de agri-cultores familiares, cruzando com dados do CAR e gerando vá-rios mapas. De posse desse levantamento, o GRET estimou os valores necessários para a recuperação de áreas de agricultores familiares. Esses são dados importantes para o debate e formu-lação de políticas públicas para o município.
O Imaflora, a partir do Projeto “Produção e Mercado de Cacau com Responsabilidade Socioambiental: São Felix do Xingu como um Local de Disseminação de Práticas Inovado-ras para a Amazônia”, apoiado pelo Fundo Vale, estabeleceu
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uma parceria formal com a Cappru e tem assessorado seus associados no manejo do cultivo do cacau (podas, uso de biofertilizantes, con-sórcios), na adequação das estruturas de beneficiamen-to/fermentação do cacau, no acesso a novos mercados para a comercialização e nos processos de certificação, este último realizado com trinta produtores de cacau.
O Imaflora, IEB e Adafax realizam ações conjuntas no acompanhamento aos associados da Cappru, nas quais o IEB e Imaflora, a partir de seus projetos, mantêm dois técnicos da Ada-fax para assistirem as famílias com o manejo e a certificação do cacau. A parceria garantiu a realização de importantes eventos, como o Workshop de Pecuária Sustentável, realizado pelo Imaflo-ra, e o seminário de divulgação do estudo/diagnóstico realizado pelo IEB em 2011, que aborda a transição agroecológica “Agricul-tura familiar camponesa na amazônia: perspectivas da transição agroecológica no município de São Felix do Xingu - PA”.
A TNC, que inicialmente concentrou suas atividades na regularização ambiental, mais recentemente está atuando com a adequação ambiental de propriedades rurais. Para isso, esta-beleceu parcerias com o SPR para implantar ações articuladas (CAR, LAR, pecuária sustentável) em vinte grandes proprie-dades e com a Cargill para assessorar cem proprietários produ-
Pequeno agricultor, Altamiro Lourenço. Cacau é fonte de renda para a família.
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tores de cacau. Além de ter os produtores assessorados como referência, a meta é recuperar áreas degradadas com o cacau e, assim, ampliar a área do fruto no município a partir da par-ceria com a Cargill, uma das grandes empresas compradoras desse produto. Nessa ação estão envolvidos também a Ceplac, com a assessoria técnica, e a Cappru, com os seus associados produtores de cacau, um potencial de mercado para a Cargill.
Além dessas ações, a TNC pretende implantar o Projeto REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degrada-ção Florestal), no qual está prevista a capacitação de agentes comunitários e técnicos de instituições públicas nos conceitos de REDD para que esse mecanismo seja implementado no mu-nicípio, com estudos de metodologias de mensuração de car-bono na floresta e sua aplicação no setor econômico.
Um dos componentes do Projeto do MMA “Pacto Mu-nicipal para a Redução do Desmatamento” tem como meta es-tabelecer um plano de recuperação de áreas degradadas. Uma das atividades previstas é a implantação de iniciativas pilotos em trinta propriedades de agricultores familiares, que serão as-sessoradas pela Adafax e que deverão servir como referência no município para a sensibilização e divulgação da recuperação de áreas degradadas a partir do manejo e da produção sustentável.
O MMA e a GIZ, durante os últimos anos, também pro-moveram capacitações de técnicos locais de São Felix do Xingu para atuarem com os agricultores familiares.
São Félix possui alguns viveiros de mudas para fomentar a diversificação da produção. A Prefeitura Municipal produz em seu viveiro mudas de cacau, frutíferas, açaí, ornamentais, entre outras, e distribui para produtores e população em geral.
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Existem também viveiros em alguns setores e comunidades. Na Lindoeste, ao norte do município, foi construído um vivei-ro em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Prefeitura, Associação de Traba-lhadores Rurais ALTRUBI e Vale S.A, e outro na área da CFR de São Félix, destinado a atender os agricultores familiares vin-culados à instituição, em parceria com o IEB e Fundo Vale.
Como perspectiva futura existe a parceria entre a Ada-fax e a Semagri. A Adafax estava fazendo um estudo sobre beneficiamento e comercialização de polpas de frutas, e a Se-magri pretendia criar um programa de certificação para fa-cilitar a compra dos alimentos pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Outra potencial parceria é entre o IEB e a Conab visando à ampliação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) em São Felix do Xingu.
O técnico da CFR, Cristiano Pereira (à direta), orienta o bol-sista do programa Xingu dos Saberes, Adriano Cruz (à es-querda), a sombrear mudas de cacau em meio ao milharal.
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RESULTADOS
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O conjunto de ações realizadas e promo-vidas pelos diferen-
tes atores em São Felix do Xingu produziu alguns resul-tados, que são apresentados a seguir, destacando os seguin-tes aspectos: participação das organizações locais na cons-trução da sustentabilidade; intervenção de organizações não governamentais supra-locais; influência dos agentes governamentais intervindo sobre o processo local; e ins-titucionalização da discussão da sustentabilidade.
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Participação das organizações locais na construção da sustentabilidade
A busca por direitos e melhoria da qualidade de vida que o movimento social já vinha reivindicando para as comuni-dades rurais em São Felix do Xingu foi ampliada a partir da intervenção do Estado no município e com o estabelecimento de novas parcerias. As articulações institucionais, os processos de desenvolvimento e fortalecimento institucional e as capaci-tações promovidas por organizações supralocais e por órgãos públicos, contribuíram para que lideranças e organizações locais se tornassem mais bem informadas e preparadas para dialogar e debater o ordenamento territorial com os órgãos pú-blicos e com maior capacidade de propor ações para que o mu-nicípio reduza o desmatamento e tenha um desenvolvimento mais sustentável.
O processo de discussão do pacto pelo fim do desmata-mento ilegal contou com um protagonismo do setor da agri-cultura familiar, representado pela Adafax, STTR e associações comunitárias, tanto na dinâmica para a construção do pacto, com a realização das audiências públicas nas comunidades, como na constituição da Comissão do Pacto Municipal e na elaboração do planejamento das ações pós-assinatura do pac-to. Um indicador desse envolvimento foi a participação de 21 organizações da agricultura familiar entre as 41 instituições que assinaram o protocolo. Esse é um espaço onde os repre-
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sentantes da sociedade civil e, particularmente da agricultura familiar, têm tido oportunidade de debater temas importantes como a regularização fundiária e ambiental, o crédito, a assis-tência técnica e a infraestrutura nas comunidades rurais. As organizações locais conseguiram inserir cláusulas na Agenda Pós-Pacto para atender aos principais problemas das comuni-dades e assentamentos do município.
“Os trabalhadores têm um pacto com a questão ambiental há muito tempo. O pacto de hoje é uma ampliação do pacto do passado”.
Angelo PereiraAprax
“Com as leis apertando e com a conscientização aumen-tando, vimos que só desmatar não era solução”.
Noeci Batista GamaConselho Gestor APA Triunfo do Xingu
Creone Oliveira dos SantosAsmop
“O pacto iria acontecer se estivéssemos dentro ou não. Daí a importância de estarmos dentro. Nós que temos que cor-rer atrás”.
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Além da Comissão do Pacto Municipal pelo fim do des-matamento ilegal, lideranças, representantes de associações locais e organizações como Adafax, CFR de São Felix do Xin-gu e CPT participam de outros fóruns onde se discute o orde-namento territorial, como o Conselho Gestor da APA Triunfo do Xingu, onde contribuem com o debate e o monitoramento da área juntamente com outros setores e com a Sema-PA.
Mas não é apenas o setor da agricultura familiar que am-pliou sua articulação institucional. O SPR também estabeleceu parcerias com o governo (Sema-PA, Semma, MMA) e com or-ganizações, como a TNC, para superar as dificuldades impos-tas pelo embargo ao setor, e conseguiu mobilizar seus associa-dos para realizarem o cadastro das propriedades.
“Ampliou a cabeça do produtor que era muito fechada”.
José Wilson A. RodriguesSPR
As organizações ligadas à agricultura familiar têm apre-sentado alternativas para a redução do desmatamento que vão além de medidas de fiscalização e controle. As alternativas produtivas implementadas pela assessoria da Adafax têm pro-movido a diversificação da produção e a adequação ambiental das propriedades tanto para os onze grupos diretamente acom-panhados como para as aproximadamente 300 famílias que se beneficiam dos resultados obtidos com os grupos. Dentre as alternativas produtivas, os agricultores têm melhorado a pro-
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dução cacaueira em consórcio com outros plantios e desenvol-vido um processo de certificação socioambiental das proprie-dades e do cacau, atividade desenvolvida pela articulação de ações entre Imaflora, IEB, Cappru e Adafax.
Segundo o Imaflora, o cacau para o pequeno produtor pode ser uma alternativa de renda à pecuária, pois seu rendi-mento é de US$ 1.196,72/ha/ano, enquanto a pastagem rende US$ 164,44/ha/ano. Esses dados demonstram a possibilidade de se obter renda maior com o cacau, ocupando áreas menores do que as necessárias para a criação de gado.
No campo da comercialização existe uma experiência envolvendo famílias de três grupos que, com o apoio da Ada-fax, desenvolveram um estudo de mercado sobre a cadeia de comercialização das polpas de frutas na região e implantaram uma miniusina de armazenamento e comercialização desse produto. Estão vendendo na sede do município e integram a entrega de produtos para a merenda escolar através do Pnae.
As instituições que assessoram os agricultores familiares (Adafax, Cappru, CPT) estão, junto com as famílias e com o apoio do IEB, Imaflora e GRET, desenvolvendo sistemas di-versificados de produção, tendo o cacau como uma alternativa de renda. Já a TNC, em parceria com o SPR, está desenvol-vendo iniciativas piloto de pecuária sustentável, além do apoio também a pequenos e médios produtores no cultivo do cacau em parceria com a Cargill. Essas iniciativas apontam para dois modelos distintos: a diversificação na agricultura familiar e a pecuária em sistemas de manejo menos impactante. Mas esses modelos ainda não são objeto de debate nem pelos associados do SPR, nem pelos agricultores familiares. De uma forma ge-
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ral, os grandes proprietários têm o interesse imediato na regu-larização ambiental para que possam continuar produzindo, e os agricultores familiares e assentados estão preocupados com a sua reprodução socioeconômica, e demandam políticas pú-blicas para viabilizar suas propriedades e lotes.
“O pacto foi importante para a redução do desmatamento em São Felix do Xingu. Paramos de desmatar e estamos esperando as políticas públicas. E para isso temos que pressionar”.
Carlos Silvestre PaxêcoAAFCN
Intervenção de organizações não governamentais supralocais
Atraídas por uma situação adversa, mas que poderia ge-rar oportunidades de mudanças, as ONGs que passaram a atu-ar em São Félix a partir do embargo do município tiveram um papel fundamental no combate ao desmatamento e na articu-lação de políticas públicas.
Suas abordagens, focos e públicos muitas vezes eram di-ferentes, mas as capacidades no alcance dos resultados foram similares. A disponibilização de conhecimentos, de técnicos
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e consultores, e o apoio metodo-lógico e estrutural fornecido pelas organizações supralocais garanti-ram eficiência aos processos co-letivos e às assessorias aos grupos de famílias.
A TNC concentrou suas ações na regularização ambiental e mais especificamente na realização do CAR. A TNC, que já tinha uma parceria com a Sema-PA e com o PMV em outros municípios do Es-tado, foi um importante parceiro na capacitação dos técnicos e na estruturação da Semma para que o órgão fizesse o seu trabalho de ges-tão ambiental. Em parceria com o SPR, também atuou na sensibili-zação dos proprietários rurais, na adesão e inserção do CAR no Sis-tema Integrado de Monitoramento
Uma grande contribuição dessas organizações foi a promoção da aproximação dos diferentes setores locais - agentes públicos municipais, SPR, STTR, associações comunitárias - com órgãos públicos estaduais e federais, que criou condições para a implementação das ações necessárias para o combate ao desmatamento. Isso foi possível dada a credibilidade institucional e a habilidade das organizações supralocais em estabelecer o diálogo com agentes públicos no Pará e no governo federal.
“Se não fossem as organizações de fora não teríamos os resultados que tivemos em São Félix até agora”.
Wilton Batista Costa FilhoSPR
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e Licenciamento Ambiental (Simlam), contribuindo, assim, para que no período de três anos o município se aproximasse da meta de 80% de CAR da área cadastrável, um dos critérios para que o município saia da lista dos desmatadores6.
Um diferencial de São Felix do Xingu em relação a outros municípios do Pará que também passaram a constar na lista de desmatadores foi o processo de construção do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal. Em São Félix do Xingu, a formulação e assinatura do pacto foi um processo participati-vo que contou com o envolvimento de diferentes setores, teve uma ampla consulta pública e foi assinado por 41 instituições. O IEB e parceiros, entre eles a Adafax, imprimiu um direcio-namento metodológico aos debates e dinâmicas das inúmeras reuniões e audiências, que foi fundamental para que o processo acontecesse com ampla participação, e ainda conduziram a ela-boração do documento do pacto e a sistematização das deman-das das comunidades. Isso ocorreu não apenas na elaboração do pacto, mas também na constituição da Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal e na definição da Agenda Pós-Pacto, que se constituíram em instrumentos de gestão coletiva.
Outras contribuições importantes do IEB e parceiros se deram na efetivação do Conselho Gestor da APA Triunfo do Xingu e no apoio metodológico e de abordagem à Adafax,
6 O Boletim do Cadastro Ambiental Rural publicado pela Sema em maio de 2013 apresenta o município de São Félix do Xingu com uma área de CAR de 2.602.775,907 ha, que representam 78% da área cadastrável.
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associações e grupos locais para que essas organizações locais evidenciassem a importância da agricultura familiar na busca pela sustentabilidade do município tanto nos fóruns e debates públicos como na implantação de práticas produtivas sustentá-veis com os grupos e famílias.
Influência dos agentes governamentais intervindo sobre o processo local
O processo participativo para a construção do Pacto Mu-nicipal pelo fim do desmatamento ilegal contou com a colabora-ção do IEB e parceiros. Contudo, só foi possível porque o então secretário municipal de meio ambiente acreditou que esse seria o caminho mais efetivo e, ainda, porque o MMA, ao executar o Projeto “Pacto Municipal para a Redução do Desmatamento”, forneceu o aporte necessário para que isso acontecesse.
Além de colaborar com a elaboração do pacto, com a constituição da Comissão, da qual faz parte, e nas ações para a definição e implementação da Agenda Pós-Pacto, o MMA tam-bém investiu na melhoria da estrutura da Semma para que o órgão assumisse a regularização ambiental. A contratação pelo MMA de empresas de geoprocessamento e a parceria com o Incra possibilitaram que os pequenos proprietários e assenta-dos tivessem acesso gratuito ao CAR, o que também contribuiu para que fossem alcançados os 80% de cadastramento no CAR
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da área cadastrável do município. Em abril de 2012, o municí-pio já havia cadastrado 2.696.980 ha, ou seja, uma área superior aos 2.666.198 ha, que correspondem a 80% da área total cadas-trável de 3.332.748 ha. Nessa área cadastrada até abril de 2012 estavam consideradas as sobreposições de propriedades. Com a exclusão das sobreposições, o percentual chegava a 78%.
“O CAR é uma ferramenta muito interessante para resolver o problema do município”.
Matheus Teixeira P. do CoutoImaflora
“O CAR é uma ferramenta poderosa, que ajudou a me-diar a discussão. Eu mesmo fui reticente no início”.
Philippe SablayrollesGRET
O MMA auxiliou na estruturação da Semma com veícu-los e equipamentos e também favoreceu a aproximação entre a Semma e a Sema-PA, o que possibilitou, entre outros acordos, que o órgão municipal estivesse autorizado a licenciar proprie-dades de até 1.000 ha.
Um dos resultados do apoio que o MMA vem dando na qualificação dos servidores da Semma é o aumento da eficiên-cia do órgão público na implantação da gestão ambiental mu-
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nicipal. O município encontra-se habilitado para a gestão ambiental compartilhada, estando autoriza-do a dar andamento às 177 ativida-des e empreendimentos que desde novembro de 2009 estão sujeitos ao licenciamento e fiscalização ambiental municipal.
A parceria estabelecida com o PMV também têm contribuído com o município ao apoiar a Co-missão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal e a capacitação dos servidores públicos da Semma. A dificuldade do município em alcançar a última meta para sair da lista dos desmatadores, ou seja, a taxa de 40 Km²/ano de desmatamento, deverá contar com o apoio de um Grupo de Trabalho consti-tuído no Comitê Gestor do PMV e que está construindo argu-mentos para propor novos critérios para o embargo.
Algumas pessoas envolvidas nesse processo afirmam que o esforço para realizar o CAR e a presença mais firme do Ibama foram as principais causas para as reduções nas taxas do des-matamento. Mas também analisam que o aumento observado em 2011/2012 em relação a 2010/2011 já é um reflexo da pouca efetividade no encaminhamento dos compromissos assumidos pelo governo quando da elaboração do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal.
Até o início de 2013 havia uma apreensão com relação à mudança na gestão municipal, pois não se tinha certeza qual seria a postura do novo prefeito diante do processo estabele-
Um resultado importante obtido em São Félix foi a redução das taxas de desmatamento, que passaram de 761 Km² em 2007/2008 para 140,1 Km² em 2010/2011, embora tenha havido um aumento para 169,5 Km² em 2011/2012.
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cido no município e se o novo secretário de meio ambiente assumiria o planejamento elaborado pela Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal. Mas a pressão do Ministério Público e a parceria das organizações e instituições envolvidas no pacto fizeram com que a nova gestão municipal se envolvesse no processo.
Institucionalização da discussão da sustentabilidade
A partir de 2009, São Felix do Xingu passou de uma si-tuação de baixíssima governança, onde a ausência do Estado determinava a ilegalidade e não estimulava atitudes produtivas sustentáveis, para um município onde os diferentes setores, a partir da formalização de uma agenda pactuada entre socieda-de civil e governo, começaram a avaliar suas práticas e a buscar o desenvolvimento com base na sustentabilidade.
“O município atraiu projetos de ONGs importantes. O muni-cípio não está só”.
Justiniano de Queiroz NettoPMV
E nessa busca a Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal se transformou no espaço privilegiado de debate e formulação de ideias e ações. A constituição de um planejamento pactuado e construído por diferentes atores e que teve como base as demandas apontadas pelas comuni-dades rurais, serve como referência para que os órgãos públi-cos e os diversos setores da sociedade civil orientem seus pro-jetos e ações e busquem articulá-los com outras iniciativas.
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“São Félix do Xingu era sempre vista como vilã, mas a imagem está mudando”.
Wilson Alves RodriguesSPR
Segundo depoimentos dos envolvidos, foi a partir da co-missão que começou a haver um nivelamento de informações, e tanto técnicos como lideranças passaram a ter uma maior clareza sobre a necessidade de fazer a gestão ambiental para produzir de forma sustentável.
Apesar de as diferentes instâncias do governo estarem representadas na comissão, este não é um espaço apenas do governo, o que a torna diferente de outras comissões em outros municípios embargados.
O processo da construção do pacto e da constituição da Comissão Municipal aproximou setores do município historica-mente antagônicos, como o SPR e o STTR. Isso não significa a constituição de alianças, mas ao menos a disposição de dialogar
E nessa busca a Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal se transformou no espaço privilegiado de debate e formulação de ideias e ações. A constituição de um planejamento pactuado e construído por diferentes atores e que teve como base as demandas apontadas pelas comuni-dades rurais, serve como referência para que os órgãos públi-cos e os diversos setores da sociedade civil orientem seus pro-jetos e ações e busquem articulá-los com outras iniciativas.
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“O pacto é um documento que vem casado com outras de-mandas que vão além do controle do desmatamento e da regularização ambiental”.
Ruth Corrêa da SilvaIEB
acerca de objetivos comuns. E a Comissão Municipal, apesar de contar com uma expressiva participação das organizações locais, gradativamente vai agregando novas instituições, como o Ima-flora, o ICMBio, organizações indígenas, entre outros.
“A comissão foi importante para juntar as organizações e lutar por objetivos comuns”.
Wilton Batista C. FilhoSPR
“A comissão foi capaz de identificar demandas produtivas, organizar o CAR, colocar na mesa atores antagônicos”.
Celma Gomes de OliveiraAdafax
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“A Comissão é a guardiã do pacto”.
Celma Gomes de OliveiraAdafax
Apesar da importância que a Comissão Municipal repre-senta para São Felix do Xingu, não há um consenso sobre o seu destino. Para as organizações e instituições que atuam como animadoras das reuniões, como o IEB e a Adafax, entre outras, a comissão tem um papel fundamental na articulação de ações e na implementação do que foi pactuado. Para outros, o papel da comissão será concluído assim que o município conseguir baixar os índices de desmatamento e sair da lista de desma-tadores. E ainda há os que sugerem que ela seja associada ao Comam, sendo uma câmara técnica.
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DESAFIOS
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Condições para a produção sustentável• Dificuldade de implemen-
tar sistemas de produção sustentáveis que recupe-rem áreas degradadas, minimizem o impacto so-bre os recursos naturais e, portanto, contribuam para a redução do desmatamen-to, com o estágio precário de São Félix em alguns as-pectos considerados fun-damentais por grandes, médios e pequenos pro-
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prietários. São eles: infraestrutura (estrada para escoamento da produção, estruturas de produção – silos, casa de fari-nha, maquinário etc.); regularização fundiária para viabili-zar o financiamento e o crédito, garantindo segurança para investir na produção; crédito que financie a diversificação da produção; acesso a novos mercados e aos mercados ins-titucionais; assistência técnica com tratamento diferenciado para os grandes proprietários e agricultores familiares.
• Necessidade de desenvolver novas cadeias produtivas (não madeireiros, polpa de fruta, alimentos), pois grande parte dos produtos/alimentos consumidos pela população de São Félix vem de fora.
“Se não tiver estrutura/estrada a produção continuará sendo via pecuária. Frete é mais caro do que insumos”.
Wilton Batista C. FilhoSPR
• A assistência técnica, juntamente com a regularização fun-diária, é citada como uma necessidade estruturante, pois os agricultores dizem que não produzem para além do gado porque não há assistência técnica.
“A velocidade para a regularização ambiental é maior do que a regularização fundiária, por isso as alternativas de produção são importantes, além da aquisição de do-cumentação, mesmo que provisória, que permita aos produtores conseguirem financiamentos”.
André CostaSema-PA-APA Triunfo do Xingu
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“Tem que ter regularização fundiária. Na assinatura do pacto, o Ibama, Incra e o Iterpa assumiram de resolver a questão fundiária e não resolveram em função da burocracia, falta de pessoal, licitação, logística”.
Antonio Oliveira da SilvaEmater
“Orientação é fundamental, pois tem muita gente que des-mata porque não tem orientação de outra alternativa”.
Matheus T. P. do CoutoImaflora
“Os colonos estão desmatando porque não têm assistên-cia, enquanto os fazendeiros já desmataram. Quem adota a pecuária se torna escravo”
Otair José J. OvidesSTTR
• Na busca pela sustentabilidade, tem havido investimentos, ainda que com um público restrito, em dois modelos dis-tintos: pecuária sustentável com os grandes proprietários e diversificação na agricultura familiar com o cacau como gerador de renda. E não há um debate entre os promotores desses sistemas e os grandes produtores e agricultores fa-miliares sobre o futuro da convivência entre esses sistemas. Haverá rota de colisão? Serão antagônicos? Serão comple-
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mentares? Apesar de não haver respostas para essas pergun-tas, já existem algumas preocupações, como a possibilidade de ampliação da área de cultivo do cacau, principalmente com a entrada da Cargill no município, e que mudanças isso pode trazer para o mercado e no uso dos recursos naturais.
Atuação do governo• Falta integração das políticas públicas. Lideranças do movi-
mento social afirmam que não entendem por que o Incra, MDA e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento (Mapa) não estão atuando no município na imple-mentação de sistemas sustentáveis de produção juntamente com as iniciativas do MMA de combate ao desmatamento.
• Baixa acessibilidade de políticas importantes, principal-mente para os agricultores familiares, como as dificulda-des burocráticas enfrentadas para aderir aos programas da Conab-PAA e Pnae.
• Na percepção de vários atores locais, o MMA ainda não conseguiu articular o seu projeto implementado em São Fe-lix do Xingu com os demais ministérios do governo federal, o que poderia ter facilitado a integração entre políticas fo-mentadoras de práticas sustentáveis de produção.
• Dificuldade em atingir os 40 km² de desmatamento como a última condição que resta para o município sair da lista dos desmatadores, quando se observa um aumento no índice em 2011/2012 comparado a 2010/2011. A grande dificuldade está
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na sua dimensão, pois é o segundo maior município do Pará em área e ainda no controle em áreas onde as pressões sobre os recursos naturais são maiores. É o caso da APA Triunfo do Xingu, onde o desmatamento em 2012 teve o acréscimo de 13% em relação a 2011; das grandes propriedades ao sul do município, responsáveis por aproximadamente 30% da área total desmatada; e dos assentamentos, onde em 2012 foi registrado um aumento de 52% no índice de desmatamento com relação a 2011.
“O governo elege a sustentabilidade como marco, mas não viabiliza seus instrumentos - Incra, MDA, Mapa não disponi-bilizam e articulam seus programas”.
Philippe SablayrollesGRET
“A expectativa era que o desmatamento continuasse cain-do, mas, ao contrário, subiu de 140 km² para 160 km²”.
Ruth Corrêa da SilvaIEB
Otair José J. OvidesSTTR
“Não tem havido integração entre as políticas. Vem o MMA, mas sem o MDA e o Mapa”.
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• As expectativas geradas de atendimento às demandas levan-tadas na ocasião da construção do pacto pelo fim do desma-tamento ilegal e a morosidade na implementação das ações previstas na Agenda Pós-Pacto têm gerado frustração e des-crédito nas organizações locais.
“O resto do município ganha mecanismo de controle e os assentamentos não. E é justamente lá onde há uma gestão pública – é uma incoerência”.
Philippe SablayrollesGRET
“O problema é gerar expectativa e não cumprir. Por exem-plo, na criação da APA, os moradores tiveram a promessa de que com a criação da UC teriam acesso à educação, saúde, produção, mas nada aconteceu. No caso da Agen-da Pós Pacto isso também está ocorrendo”.
José Wilson A. RodriguesSPR
“Ficamos de repassar ao povo o que está acontecendo, mas foi passando o tempo e até agora estamos apenas participando de reuniões. Estamos perdendo a credibilida-de. À medida que vai passando o tempo vai ficando mais difícil”.
Creone Oliveira dos SantosAsmop
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“Há uma indignação da população pela falta de efetividade das ações”.
Wilton Batista C. FilhoSPR
Articulações institucionais• Há a necessidade de uma maior articulação entre as inicia-
tivas/projetos executados em São Felix do Xingu. Apesar de a Agenda Pós-Pacto estar sendo formulada com o envolvi-mento de várias instituições e organizações, reclama-se que o planejamento conjunto não se manifesta em ações con-juntas e articuladas. Isso é um problema, pois muitas vezes o público beneficiário é o mesmo nas diferentes iniciativas.
• Existe a necessidade de imprimir mais efetividade às ativi-dades dos projetos que estão sendo executados em São Fe-lix do Xingu. As organizações locais observam que existem muitos recursos de diferentes fontes sendo investidos no município, mas que ainda não surtiram mudanças na vida das comunidades rurais.
• As pessoas que estão à frente da Comissão do Pacto Mu-nicipal pelo fim do desmatamento ilegal sentem a necessi-dade de fortalecer a comissão e integrar as ações pactuadas na Agenda Pós-Pacto. Nesse sentido, foi definido nas duas últimas reuniões da comissão que se realizaria um traba-lho mais articulado nas áreas do município onde as taxas de desmatamento ainda são altas.
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• A Comissão Municipal pelo fim do desmatamento ilegal não é um espaço institucionalizado. Se, por enquanto, a não formalização foi a forma encontrada na definição dos acor-dos e no funcionamento da comissão, no futuro, essa situa-ção terá que ser avaliada, pois a informalidade pode trazer dificuldades no estabelecimento de parcerias ou até mesmo na sustentabilidade desses processos.
Fortalecimento institucional• Apesar do esforço de algumas organizações, como o IEB,
no fortalecimento de setores mais desassistidos, como a agricultura familiar (associações comunitárias, cooperati-va, grupos informais, coletivos), há uma preocupação das
“É preciso envolver outros setores do município - Câmara dos vereadores, professores/formadores de opinião, MPE, instituições financeiras/bancos”.
Raimunda de MelloTNC
“Os espaços são muito frágeis. Não tem acúmulo e, com a mudança do gestor municipal, isso pode ser comprometido”.
Philippe SablayrollesGRET
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lideranças locais com a desmobilização das organizações comunitárias. Essa desmobilização tem como uma das causas a falta de efetividade na implementação de políti-cas públicas que atenderiam as demandas levantadas pelas comunidades quando da construção do pacto pelo fim do desmatamento ilegal e na definição de ações previstas na Agenda Pós-Pacto.
• Outro aspecto que contribui com a desmobilização é a au-sência de organizações representativas do segmento da agri-cultura familiar com capacidade e capilaridade para debater a sustentabilidade no município. O retrospecto histórico da atuação dos movimentos sociais em São Felix do Xingu evidencia que as organizações populares já estiveram mais organizadas e mobilizadas, período em que obtiveram im-portantes conquistas, o que não tem ocorrido atualmente.
• Apesar de a Semma ter ampliado sua capacidade em efetuar a gestão ambiental no município, essa não é a situação ob-servada nas demais instituições governamentais que atuam no município. Há falta de pessoal e, em alguns casos, falta direcionamento político-institucional que possibilite que as instituições públicas apoiem e assessorem as comunidades rurais rumo à transição para a sustentabilidade.
“A questão ambiental é uma temática territorial, portanto é importante que haja atores territoriais (organizações locais) com capacidade de fazer essa discussão. Não há política séria para manutenção dos atores territoriais”.
Philippe SablayrollesGRET
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Rogel Abreu de MeloAgavax
“Já tivemos mais sucesso nas mobilizações. Hoje, esta-mos andando pouco. Está faltando participação (envol-vimento do STR etc.). Há um desânimo por causa das dificuldades”.
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“Foi importante chegar ao acordo/pacto, mas tem uma des-mobilização dos produtores por conta das demandas não estarem sendo atendidas (ex. questão fundiária não tem nada evoluindo)”.
Raimundo Freires Cacuxi
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APRENDIZADOS
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• É importante envolver to-dos os setores produtivos (agricultores familiares, assentados, grandes pro-prietários, ribeirinhos), principalmente quando se pretende cadastrar as propriedades como etapa inicial da regularização ambiental. No caso de São Felix do Xingu, foi impor-tante mobilizar os grandes proprietários para avan-çar nas metas do CAR e, mesmo considerando a sobreposição, ter chega-do em 80% de cadastro em um curto período de tempo, já que estes detêm
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o maior percentual de áreas privadas e cadastráveis do mu-nicípio, mas sem prescindir das pequenas propriedades, que representam 20 a 30% das áreas cadastráveis.
“Não dá para falar só com quem não está na ilegalidade. Conseguimos os 80% de CAR porque os grandes proprie-tários aderiram”.
Francisco FonsecaTNC
“É possível reproduzir o que foi feito em São Felix do Xingu em qualquer lugar do país”.
Luis Alberto AraújoEx-secretário Semma
“Para alcançar 80% de CAR em São Félix do Xingu, foi ne-cessário interagir com os agricultores familiares, diferente de Paragominas, em que este setor não chega a 10% do município”.
Manuel AmaralIEB
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• É possível identificar interesses comuns e estabelecer parce-rias que aproximem o governo de proprietários e comunida-des rurais na identificação de soluções que satisfaçam esses interesses. Organizações supralocais com trânsito junto aos agentes públicos podem servir de facilitadores nessa apro-ximação, desde que sob a perspectiva do fortalecimento das organizações locais, pois essas últimas são as responsáveis pela perenidade das ações nos territórios.
“É possível sentar médios, pequenos e grandes por ob-jetivos comuns”.
Celma G. de OliveiraAdafax
“Faria tudo de novo – o formato/forma foi muito oportuno para a situação/contexto do município, envolvendo técnicos e o pessoal de base. O estado é que tem que cumprir com os compromissos”.
Viviane GonçalvesConsultora MMA
• Acordos, pactos e planejamentos têm muito mais chances de serem efetivos quanto maior for o envolvimento daque-les que vivem os problemas e conhecem os potenciais dos territórios. No caso de São Felix do Xingu foi fundamental ampliar a participação envolvendo as comunidades rurais na identificação de demandas e as instituições e organiza-ções locais na elaboração do pacto e da Agenda Pós-Pacto.
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
• É importante atuar com as organizações locais, identificando suas fragilidades e necessidades e procurando fortalecê-las. É necessário também que essas organizações ampliem suas bases e a capacidade de se articularem para poder ganhar força nos diálogos e na pressão ao governo para que haja efetividade na implementação das políticas públicas. No caso específico de São Felix do Xingu, é fundamental que haja uma rearticulação das organizações populares, evidenciando e valorizando o pa-pel e a contribuição de cada organização (STTR, associações comunitárias etc.) na democratização da informação, no deba-te público e na busca pela sustentabilidade do município.
• Dada a dimensão e a importância da APA Triunfo do Xin-gu, é necessário que haja uma ação mais efetiva e enérgica nesse território, para que se consiga reduzir os índices de desmatamento e a construção de alternativas produtivas ali-cerçadas em bases sustentáveis.
• Para que a legalização ambiental ocorra de fato, é funda-mental que haja resultados econômicos efetivos para o se-tor produtivo do município. Nesse sentido, deve haver uma maior integração entre as políticas ambientais e de apoio à produção que fomente a geração de renda e de serviços, es-tabelecendo as bases necessárias para a sustentabilidade no desenvolvimento de São Felix do Xingu.
“Estamos na ponta do município e escutamos a realidade das comunidades”.
Luis Alberto AraújoEx-secretário Semma
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Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA
“Quanto mais organizada estiver a sociedade civil, com mais rapidez acontecerão as mudanças de paradigma para o desenvolvimento sustentável”
Francisco FonsecaTNC
“Existe uma carência muito grande das organizações. Atuar em São Félix com o fortalecimento da gestão da Cappru nos fez refletir sobre a ação do Imaflora em ou-tras regiões”.
Matheus T. P. do CoutoImaflora
“A Sema-PA tem que ir para dentro da APA e aplicar recursos em ações concretas. É necessário monitorar e punir quem continuar desmatando”.
Justiniano de Queiroz NetoPMV
“O diagnóstico institucional que fizemos em 2009, apre-senta a complexidade de São Félix do Xingu e a importân-cia de uma atuação na APA Triunfo do Xingu para enfrentar questões estruturantes que promovem o desmatamento”.
Manuel AmaralIEB
88
Citações BibliográficasBARRETO, Paulo; PEREIRA, Ritaumaria; ARIMA, Eugênio. A pecuária e o desmatamento na Amazônia na era das mudanças climáticas – Belém: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, 2008.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento da Ama-zônia Legal. 2ª Fase (2009 – 2011). Rumo ao desmatamen-to ilegal zero. Versão Preliminar. Brasília: MMA, nov. 2009. 175 p.
CASTRO, Edna Ramos; MONTEIRO, Raimunda; CASTRO, Carlos Potiara. Estudo sobre dinâmicas sociais na fronteira, desmatamento e expansão da pecuária na Amazônia: ATO-RES E RELAÇÕES SOCIAIS EM NOVAS FRONTEIRAS NA AMAZÔNIA: Novo Progresso, Castelo de Sonhos e São Félix do Xingu. Belém: Banco Mundial, 2002.
ESCADA, Maria Isabel Sobral; VIEIRA, Ima Célia; KAMPEL, Silvana A; ARAÚJO, Roberto; VEIGA, Jonas Bastos; DUTRA, Ana Paula; VEIGA, Iram; OLIVEIRA, Myrian; PEREIRA, José Luis Gavina; CARNEIRO FILHO, Arnaldo; FEARNSIDE, Philip Martin; VENTURIERI, Adriano; CARRIELO, Felix; THALES, Marcelo; CARNEIRO, Tiago Senna G.; MONTEI-RO, Antonio Miguel Vieira; CÂMARA, Gilberto. Processos
89
de ocupação nas novas fronteiras da Amazônia: o interflúvio do Xingu-Iriri. Estudos Avançados, 19 (54), 2005 p.9-23. IBGE. Censo Agropecuário, 2006.
IBGE, 2010 a. Banco de Dados com perfil das Cidades Brasilei-ras. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwin-dow.htm. Acesso em: 02 mar. 2013.
IBGE, 2010 b. Pesquisa Agrícola Municipal – Série histórica. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/eco-nomia/pam/2010/default.shtm.
IEB. Diagnóstico Institucional: Capacidades e limites da socie-dade civil de São Félix do Xingu para o ordenamento territorial e manejo dos recursos naturais. Belém: IEB, 2009.
MUNICÍPIOS VERDES. Série: Integração – Transformação – Desenvolvimento/Fundo Vale. – Rio de Janeiro: Report Comu-nicação, 2012, 106p.
PRODES 2011. Desflorestamento nos Municípios da Amazô-nia Legal para o ano de 2011. Disponível em: http://www.dpi.inpe.br/prodesdigital/prodesmunicipal.php.
SOUZA, João Francisco. Por que sistematizar. In: CENTRO NORDESTINO DE ANIMAÇÃO POPULAR. Almanaque de Metodologia da Educação Popular. Recife (Pe): CEPE - Compa-nhia Ed. de Pernambuco, 1998. 97p.
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Agradecimentos
A todas as pessoas que se disponibilizaram a contribuir para a re-flexão do processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu e que acreditam no futuro sustentável para o município. Em especial aos agricultores e agricultoras familiares que no dia a dia travam lutas pelo direito à terra e à vida com dignidade.
Fim de tarde em São Félix do Xingu, Pará. Encontro do Rio Fresco com o Rio Xingu.
9 7 8 8 5 6 0 4 4 3 2 7 7
ISBN 978-85-60443-27-7
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