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PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: ANÁLISE DA REVISTA MOTRIZ (1995-2011)
Diego Fernandes Santos Silva*
Anibal Correia Brito Neto
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo mapear o estágio de desenvolvimento da produção do conhecimento sobre o campo de estudo “Formação de professores de educação física (FORPEF)”, veiculada no periódico científico Motriz (1995- 2011) do departamento de educação física- UNESP/Rio Claro, através de uma pesquisa bibliográfica a partir da análise de conteúdo que possibilitou a visualização mais sistemática quanto a produção do FORPEF em relação as regiões do país, autores, grupos de pesquisas, metodologias,temáticas priorizadas e aporte teórico em 50 produções no Periódico. Conclui que as produções se concentraram no Sudeste e sul do país, com predomínio da produção coletiva utilizando – se apenas de métodos e técnicas no fazer científico, a partir de temáticas como princípios orientadores, prática pedagógica e currículo com aporte teórico do professor reflexivo.
Palavra-chave: Formação de Professores de educação física; Periódico; Produção
do Conhecimento em educação física.
INTRODUÇÃO
O presente estudo insere-se entre as ações investigativas do “Ressignificar”,
grupo de pesquisa que problematiza as “experiências inovadoras na Formação de
Professores e Prática pedagógica em Educação Física”, este é institucionalizado
pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP) no âmbito do Centro
de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará
(CCBS/UEPA) e encontra-se cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da
Ciência e Tecnologia (CNPq/MCT). Diretório este que se constitui como bancos de
dados contendo grupos de pesquisas/instituições/ centros tecnológicos estatais e
privados com o propósito de intercâmbio e trocas de informações técnico científica
(http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm.)
* Graduando em licenciatura em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará(UEPA).
terceirarua@hotmail.com Prof. Mestre da Universidade Estado do Pará (UEPA).anibalcbn@yahoo.com.br
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O grupo Ressignificar tem início a partir da acumulação de informação de longo
alcance através de pesquisas especificas que se aglomeram na busca de uma
“pesquisa matricial” (TAFFAREL, 2005). E intitulada pelo grupo como “Estágio de
desenvolvimento do campo de estudo em 'Formação de professores de Educação
Física' no Brasil”, a qual visa mapear e analisar a produção teórica do campo de
estudo em questão, na tentativa de explicar e avaliar o nível de desenvolvimento
científico do mesmo em determinado tempo histórico, revelando o grau de
rigorosidade e radicalidade da elaboração teórica, assim como, os limites e
possibilidades de avanços neste (BRITO NETO et al., 2010).
Fundamenta-se na concepção de “monografia de base”, desenvolvido por
Saviani (1991), que indica um estudo detalhado sobre um campo de grande
relevância e que ainda não tenha sido suficientemente explorado. Para este autor,
uma ação como esta traz uma contribuição significativa para o avanço do
conhecimento científico, pois prepara o terreno para futuros estudos, desta vez, mais
amplos e aprofundados, com interpretações mais arrojadas e sínteses orgânicas de
amplo alcance, que seriam inviáveis ou demandariam um tempo excessivo sem esse
trabalho preliminar.
Enquanto campo da produção sobre formação de professores de Educação
Física(FORPEF) surgiu a necessidade conjunta de aprofundamento das referências
conceituais, teóricas e epistemológicas do coletivo de pesquisadores, ou seja, a
partir da produção de um estudo que enfatizou a articulação do ensino, extensão e
pesquisa no curso de Educação Física da universidade do Estado do Pará
(CEDF/UEPA) que me aproximei definitivamente da temática e da possibilidade de
participação nas ações investigativas do grupo Ressignificar no âmbito da formação
de professores em educação física e também da necessidade de apropriação e
organização minuciosa do material produzido neste campo, por parte dos novos
estudantes e pesquisadores que se vinculavam as discussões gestadas no grupo de
pesquisa, não precisando, desta forma, voltar periodicamente às mesmas angústias
e imprecisões daqueles que já concluíram suas pesquisas.
Portanto, com base na análise da estruturação científica no Brasil, o grupo
Ressignificar definiu indicadores que permitissem apontar o estágio de
desenvolvimento e o grau de maturidade científica de um campo de estudo, a saber:
a) Produção de teses e dissertações em programas de Pós-Graduação stricto sensu
na área da Educação e Educação Física recomendados e reconhecidos pela
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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); b)
Produção de artigos científicos publicados em periódicos Qualis-CAPES da área da
Educação e Educação Física; c) Produção de trabalhos científicos em eventos
consolidados (mais de dez anos) da área da Educação e Educação Física; d)
Produção de livros com indexação e conselho editorial; e) Formação de grupos de
pesquisa reconhecidos institucionalmente e cadastrados no diretório do CNPQ; f)
Constituição de linhas de pesquisa em Programas de Pós-Graduação stricto sensu
em Educação e Educação Física recomendados pela CAPES; g) Organização de
Grupos de Trabalho Temático organizados em entidades científicas da Educação e
Educação Física; h) Formatação de eventos científicos para a discussão do campo
de estudo.
Desta forma, as primeiras constatações (BRITO NETO et al., 2009; 2010)
permitiram ao grupo de pesquisa inferir que o volume de produção neste campo tem
se elevado por ocasião do enfático debate originado pela aprovação das novas
Diretrizes Curriculares para a Formação em Educação Física do Conselho Nacional
de Educação no início do século XXI constituindo, desta forma, um cenário
extremamente fértil em proposições e experiências inovadoras, momento em que os
pesquisadores voltaram-se a indicação de princípios orientadores para formação e
também de verificação dos primeiros impactos destes dispositivos legais nas
reformas curriculares dos cursos superiores em Educação Física no Brasil, tornando-
se extremamente relevante a apropriação crítica desta produção, assim como, a
discussão dos limites e possibilidades de avanço para o campo.
Portanto, devido à grande quantidade de material produzido e de indicadores
de estágio de desenvolvimento por parte do Ressignificar. Delimitamos para fins
deste artigo, o indicador: “Produção de artigos científicos em periódicos Qualis-
CAPES da Educação Física”, em particular, o periódico Motriz – Revista de
Educação Física, da Universidade Estadual Paulista (UNESP- Rio Claro). A
prioridade dada aos periódicos científicos Qualis-CAPES justifica-se por ser este, na
atualidade, o principal veículo de publicação da produção intelectual e instrumento
de classificação para os programas de Pós-Graduação stricto sensu no Brasil
(CAPES, 2008).
Em virtude desse veículo ter se tornado a grande ferramenta de difusão
científica da Pós-Graduação no Brasil, o mesmo tem concentrado as principais
pesquisas sobre Formação em Educação Física, tornando-se, assim, indispensável
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o estudo rigoroso deste material para a compreensão aprofundada deste campo, já
que o mesmo pode contribuir significativamente com a identificação do efeito
causado no âmbito dialético da produção/reprodução de propostas para a formação
humana.
Desta forma, a análise da produção científica veiculada na principal ferramenta
de difusão científica da atualidade pode fornecer elaborações teóricas
comprometidas com a construção de possibilidades imediatas para a qualificação da
formação em Educação Física e com possibilidades históricas acumuladas pelos
movimentos de resistência que perspectivam a construção de uma formação não
alienada, tal possibilidade é ratificada por Taffarel (1997) que tem defendido
permanentemente que a Formação de Professores é uma prática social que pode
contribuir significativamente para construção de outro patamar de desenvolvimento
humano-social. Como também onde se localiza essa produção, quem produz, quais
os referenciais mais utilizados, que metodologia utilizada e quais contribuições
trazem para o campo de estudo.
Logo, o estudo se configurou com o seguinte objetivo geral: Mapear e analisar
o estágio de desenvolvimento da produção do conhecimento sobre o campo de
estudo “Formação de Professores de Educação Física”, veiculada no periódico
científico Motriz (1995- 2011), submetendo os parâmetros teórico-metodológicos
orientadores desta produção ao processo de crítica radical, rigorosa e de conjunto.
Como desdobramento deste objetivo maior, elencamos os seguintes objetivos
específicos: a) Caracterizar os indicadores, referente à autoria dos trabalhos: regiões
de origem, titulação, vínculos institucionais e participação em grupos de pesquisa; b)
Categorizar as temáticas priorizadas, emergentes, pouco estudadas e silenciadas; c)
Verificar a recorrência de terminologias para definir o campo de estudo em questão
e as concepções subjacentes a estas; d) Configurar as formas de tratamento teórico-
metodológico privilegiadas nas investigações; e) Averiguar os autores mais
utilizados no aporte teórico da discussão das problemáticas deste campo; f) Discutir
as principais contribuições do conjunto de trabalhos na compreensão do campo de
estudo.
Para exposição do estudo, a primeira seção aborda o percurso metodológico,
com a indicação dos fundamentos, materiais utilizados e métodos, na segunda
seção, incursionamos pelo campo da produção do conhecimento em educação
física, mostrando as principais tendências da área e do campo específico da
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formação em educação física, tratamos ainda da estruturação da difusão do
conhecimento no Brasil, com um olhar especial para os periódicos científicos, na
terceira seção apresentamos e discutimos os principais resultados obtidos no âmbito
da revista científica Motriz, para então, finalizarmos com a proposição de síntese
superadora e indicação de novas pautas de investigação.
Sendo assim, entendemos que tal investida pode contribuir consideravelmente
com a elevação qualitativa da discussão sobre o campo da Formação em Educação
Física e, consequentemente, refletir na intervenção e no papel social que a mesma
desempenha, levando, quiçá, a linha Ressignificar e consequentemente a UEPA ao
patamar de instituição referência nesta pauta de grande relevância acadêmica,
científica e social.
METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida a partir da concepção teórica e metodológica de
uma “monografia de base”, conforme propõe Saviani (1991), que caracteriza a
mesma como sendo um estudo completo e detalhado sobre temas relevantes que
ainda não tenham sido suficientemente explorados, seguido da organização das
informações segundo critério lógico e metodológico adequado e exposição dos
dados de maneira que permita o acesso ágil ao assunto tratado.
Desta forma, podemos classificar nossa pesquisa como bibliográfica, pois é
uma pesquisa constituída de materiais já publicados, ou seja, documentos
secundários que já estão disponível ao público, impresso ou digitalizado (GIL, 2010),
ou ainda, por tratar-se de “uma modalidade de estudo e análise de documentos de
domínio científico tais como livros, enciclopédias, periódicos, ensaios críticos,
dicionários e artigos científicos” (OLIVEIRA, 2007, p. 69). A potencialidade desta
modalidade de pesquisa está na possibilidade da “[...] cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.”
(GIL, 2010 p. 30).
O universo da pesquisa está compreendido no âmbito dos artigos e ensaios
científicos publicados em periódicos. O acesso a lista completa de periódicos da
Área 21 da CAPES (Educação Física, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia
Ocupacional) foi realizado através do aplicativo WebQualis. Consideramos apenas
os periódicos científicos que se enquadraram nos seguintes critérios: a) Serem
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periódicos classificados no Qualis/CAPES da área Educação Física, b) Serem
periódicos típicos da Educação Física, c) Serem periódicos científicos com
interlocução na subárea pedagógica e sociocultural da Educação Física, d) Serem
periódicos científicos Brasileiros, e) Terem conteúdo disponibilizado na internet.
Nesta pesquisa priorizamos a Revista de Educação Física da UNESP, Revista
Motriz, acessada através do seu sítio na internet:
http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/motriz.
Como passos metodológicos do estudo, enveredamos em um primeiro
momento em compreender a história do periódico. Utilizamos como fonte a leitura de
todos os editoriais das 49 revistas disponíveis da Revista Motriz , pois é uma seção
da revista onde os editores caracterizam os períodos vividos pela revista, as
polêmicas e barreiras enfrentadas, assim como, apresentam seus posicionamentos,
realizamos o que Gil (2010) chama de “leitura exploratória”, leitura que abre
possibilidade para análise de uma compreensão mais ampla sobre o periódico.
Posteriormente foi realizada à identificação dos artigos científicos destinados
ao estudo. Para este delineamento no campo da “Formação de Professores de
Educação Física” adaptamos o esquema conceitual proposto por Roldão (2007) para
a nossa área específica. Para esta especialista, a delimitação e estruturação do
campo nuclear da “Formação de Professores” envolve o estudo dos processos de
construção e desenvolvimento do conhecimento e do desempenho profissional
docente, tendo nos conceitos estruturantes e nas dimensões de operacionalização
da formação, os seus fundamentos.
No entanto, devido percebemos a existência de várias palavras sinônimas para
formação de professores como, por exemplo: preparação profissional, formação
profissional, formação superior etc., foi descartado a área de busca da revista Motriz
e decidimos fazer uma “leitura seletiva” (GIL, 2010) abrindo todas as edições dos
dezessete volumes do periódico, onde procedemos inicialmente análise dos títulos
dos artigos, verificando se os mesmos estão compatíveis com os objetivos do
estudo, em caso de títulos duvidosos foram realizadas leituras dos resumos para
comprovar se o texto pertence a pesquisa. Esse passo é considerado por Triviños
(1987) como a “pré-análise”, que se destina a organizar o material para o estudo,
primeira etapa da análise de conteúdo que segundo Bardin (1977, p.21 apud
TRIVIÑOS, 1987, p.160).
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[...] é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens.
Posteriormente a catalogação dos artigos e ensaios circunscritos no campo
nuclear da “Formação de Professores de Educação Física”, evidenciamos as
características quantitativas e qualitativas do objeto de estudo, partindo na
sequência para o terceiro momento que é o que Triviños (1987) chama de
“descrição analítica”. Trata-se do passo onde foram feitas leituras mais profundas
para categorizar os artigos.
Por último, realizamos “interpretação referencial” (TRIVIÑOS, 1987, p. 162),
etapa, com base nos referenciais teóricos a fim de “[...] descobrir ideologias,
tendências etc. das características dos fenômenos sociais”. Por fim, partimos para a
“construção lógica do trabalho” e “redação do relatório”, finalizando com os seus
encaminhamentos, resultados e discussões.
PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E A VIGÊNCIA DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS
Desde o primórdio da história do ser humano, o homem sempre esteve na
busca de perpetuar suas experiências de vida por via de gestos, pinturas feitas nas
rochas e pela fala. Mas foi “o aparecimento da escrita [que] acelerou um processo
de artificialização, de exteriorização e de virtualização da memória [...]” (LÉVY, 1996,
p. 38 apud PEREIRA, 1998, p.207), ou seja, com dois instrumentos (objeto plano e
tinta), com a técnica da escrita e uma vida cheia de experiência conseguimos expor
a um determinado grupo, nossas experiências em um tempo cronológico e
armazenar um número significativo de informação.
Como a sociedade é dinâmica e sempre se transforma no espaço e tempo, os
processos também se transformaram: da rocha para o papel celulose, de uma pedra
para caneta/lápis e chegando aos computadores; de uma sociedade rural a uma
sociedade urbana. Esse dinaminismo tornou-se mais rápido a partir da queda do
feudalismo onde a “[...] ciência2 constituiu-se por afastar a explicação animista dos
“[...] sistema político-social-econômico gestado no século IX [...] com o monopólio educacional exercido pela igreja[...]”(OLIVEIRA, 2006 p.33-34)
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acontecimentos da natureza em concebê-los como fenômenos submetidos a leis”
(PLEKHANOV, 2011 p.15), levando os escritos a crescerem exponencialmente para
explicar os fenômenos naturais e os fenômenos sociais a partir do crescimento das
cidades no século XVIII3.
Esse aumento significativo está relacionado com a terceira revolução
industrial4, impactando todo o pensamento científico. Milhões de livros, artigos, teses
e dissertações são publicados anualmente, aglutinando um quantitativo de
informações que nenhum ser humano conseguiria ler durante toda a sua existência.
O que não é diferente para a área da educação física, principalmente por apresentar
“tendência interdisciplinar” (SACARDO, 2007, p.81).
Neste desenvolvimento histórico que são cunhados os periódicos científicos,
veículo de comunicação criado em 1665, com propósito restrito de divulgação das
noticias científicas, mas que na atualidade é o principal divulgador da produção do
conhecimento científico, cumprindo sua função de registrar documentos oficiais
públicos a partir de critérios científicos exposto pelo editor-avaliador e arquivado em
um banco de dados de reconhecimento internacional (MIRANDA; PEREIRA, 1996)
como é o caso do Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas
(ISSN), número que irá identificar em qualquer local o periódico em questão.
No presente momento os periódicos científicos gozam de grande prestígio no
âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
já que este “desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pós-
graduação stricto sensu (mestrado e doutorado)” (CAPES, 2011) e tem como uma
de suas atividades o acesso e divulgação da produção científica no âmbito nacional
a partir de sua avaliação e classificação por área no Qualis5.
O que hoje, os periódicos científicos têm de prestígio como divulgador da
produção do conhecimento em todas as áreas, levaram-se quase dois séculos para
que os primeiros trabalhos demonstrassem seus resultados e discussões no formato
2 Conjunto sistematizado de informações decorrente de um objeto; estuda os fenômenos utilizando
métodos científicos (OLIVEIRA, 2006) 3 Revolução industrial (OLIVEIRA, 2006)
4 “[...] modelo que se caracteriza pela integração e flexibilidade, baseado na racionalização sistêmica
[...]”(VEIGA E VIANA,2010 p.14) 5 Qualis é o conjunto de procedimentos utilizados pela Capes para estratificação da qualidade da
produção intelectual dos programas de pós-graduação. Tal processo foi concebido para atender as necessidades específicas do sistema de avaliação e é baseado nas informações fornecidas por meio do aplicativo Coleta de Dados. Como resultado, disponibiliza uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/avaliacao/qualis>. Acesso em: 25 nov. 2011.
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que temos hoje. Isso porque já existiam publicações de artigos curtos, mas essa
inovação segundo Miranda e Pereira (1996) levou a resistência de muitos cientistas
desse período. Mas isso foi sendo superado, devido o crescimento bastante
significativo dos periódicos, contando com a fragmentação das áreas como fator
decisivo para esse aumento.
Desde o início, os periódicos cumprem diversas funções, entre os quais
destacam-se o estabelecimento de prioridade da descoberta científica, definição e
legitimação de novas pesquisas e campos de estudos, permissão e ascensão do
cientista para efeito de promoção, reconhecimento e conquista de poder em seu
meio e disseminação de informações para os cientistas (MIRANDA; PEREIRA, 1996,
p.376).
Atualmente, os periódicos científicos encontram-se sob forte discussão sobre
sua funcionalidade para comunidade científica brasileira por ser instrumento de
avaliação da Pós-Graduação stricto- sensu em âmbito nacional, considerado um
fator de excelência nos cursos, o que tem gerado severos questionamentos.
Este movimento tem gerado uma busca desenfreada pelos periódicos devido
ao reconhecimento internacional através das indexações, na busca por alcançar alto
impacto na produção de artigos, segundo Coimbra Junior (1999 apud
MARCHLEWSKI; SILVA; SORIANO, 2011) para a maioria dos pesquisadores, o fato
do periódico está indexado nas bases de dados de maior reconhecimento sugere
que a qualidade dos artigos seja excelente, gerando, consequentemente, uma maior
quantidade de publicações e aumento da citação do periódico, o que pode levar a
situações anti-éticas no meio científico, como é o caso da “fraude científica”
(MIRANDA; PEREIRA, 1996, p.377) na busca desordenada por reconhecimento e
prestigio por seus pares, como afirma Marchlewski, Silva e Soriano (2011)
Acreditamos que a quantificação da produção cientifica priorizada pelo sistema de avaliação pode influenciar nas ações dos sujeitos, que direcionam suas praticas para investigações que permitam um acúmulo de capital científico, buscando reconhecimento e prestígio no meio científico [...] (p.106).
Outro agravante é o surgimento de novos periódicos pelas instituições
acadêmicas, trazendo baixa concorrência e circulação reduzida (MIRANDA;
PEREIRA, 1996) e o antagonismo quantitativo nas publicações de artigos das
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ciências humanas e sociais com as ciências biológicas e da saúde nos periódicos
científicos, algo muito característico na área da educação física, fazendo com que as
ciências naturais tenham maior reconhecimento levado pelo grande volume de
publicações das ciências biológicas e da saúde em relação às humanas e sociais
em periódicos científicos. Pois a baixa produção decorre também das características
teóricas, metodológicas e análises nas ciências humanas e sociais que é muito mais
abrangente, mas é impossibilitado pela quantidade de páginas estabelecida no
periódico, o que dificulta a qualidade do estudo. Nisso opta-se então pela publicação
de livros ou capítulos de livros. Essa disparidade é visível nos periódicos científicos,
especialmente no caso da educação física, o que gera muita discussão nesta área a
respeito da avaliação feita pelo CAPES.
A REVISTA MOTRIZ E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO “EM FORMAÇÃO”
A palavra “motriz”, muito utilizada nas ciências naturais para referir a existência
de uma força de movimento, atuante contra outra força, contrária a ela foi dada ao
periódico científico vinculado ao departamento de Educação Física - Instituto de
Biociências – UNESP/Rio Claro. Departamento que na fala do professor doutor
Lorenzetto demonstra os motivos para o surgimento da revista em 1995 à
superação, uma força de movimento, do órgão na consolidação de anos de
trabalhos como também para produção do conhecimento no sentido de sua
divulgação.
Grandes, complexas e significativas mudanças abalaram o mundo há muito tempo, destruindo valores antes bem alicerçados e construindo novas convicções. Com velocidades nem sempre programadas e com consequências nem sempre previsíveis, o poder da palavra vem encantando ou assustando multidões. (LORENZETTO, 1995, p.1).
Nestes dezessete volumes de publicação da produção do conhecimento na
revista Motriz ocorreram “grandes, complexa e significativas mudanças”, nos seus
primeiros anos de divulgação (1995-2001) tinha como periodicidade apenas duas
publicações ao ano devido o custo com a publicação impressa, o mundo acadêmico
ainda estava conhecendo o periódico, o que não levou muito tempo, conforme
expressa Gonçalves (1998, p. 1)
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[...] não limitamos esforços para que o Departamento de Educação Física mantivesse o apoio no custeio parcial desta Revista, pois apostamos que no final de nossa gestão, haveria um início de independência. A manutenção do rigor científico e da qualidade dos artigos apresentados nestes dois anos foi motivo para o aumento do número de assinantes e consequentemente uma exigência menor do Departamento no custo e na ampla divulgação da produção científica [...]
A partir da segunda metade da década de 90, período conturbado no mundo do
trabalho e para formação na área de educação física, foi à aprovação pela
regulamentação do profissional de educação física pela lei 9696/98 que determina
de forma intrínseca através dos conselhos federal e estaduais a abertura da
graduação em bacharel em educação física nas universidades. Levando a área a
diversas discussões sobre o tema, como também o posicionamento da revista a
partir dos editores, sendo favorável, percebido pelas publicações, em prol da
regulamentação.
E “significativas mudanças” foram o que a capa da revista Motriz sempre
demonstra com a foto escultura de Carusto, escultura representando um salto. O
início do século XXI foi um grande salto para o periódico. A busca pelo
reconhecimento e prestígio levou a revista a buscar excelência na qualidade de seu
corpo editorial, na normatização, periodicidade da revista e divulgação do
conhecimento científico em educação física exclusivamente pela internet. São mais
de setenta consultores avaliando trabalhos enviados, dentre os quais, estão
professores pesquisadores de grande reconhecimento no campo da pesquisa na
área da educação física.
Em relação à normatização, trabalhos que eram enviados pelos correios agora
são anexados em “software” o que torna muito mais rápido o fluxo dos textos entre
os avaliadores e os autores, o que trouxe um aumento de publicações no periódico.
As citações, que são elementos importantíssimos dentro de textos científicos para
confrontar ou estruturar concepções podem ser consultados direto dos textos
publicados na revista, como também, tabelas, gráficos, áudios e vídeos no formato
mais dinâmico. Todos esses avanços levaram a revista a ser indexada por bases de
dados de reconhecimento internacional, o que é uma das metas de um periódico
científico. Todas essas transformações confirmam o que Miranda e Pereira (1996)
dizem que “em um quadro crescente de produção científica que se materializa
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principalmente em artigos, a avaliação do periódico e da comunidade de pesquisa e
uma exigência de mercado” (p.376), ou seja, a maioria da produção do
conhecimento não está direcionada à qualidade do desenvolvimento científico, mas
sim ao prestígio dos pesquisadores pelos seus pares para possíveis financiamentos
em outras pesquisas, por órgãos públicos e privados e a busca pelo reconhecimento
internacional tanto do pesquisador quanto do periódico.
No entanto, não podemos negar os avanços que a revista Motriz trouxe a área
da educação física. Hoje com referência de estrato A2 pela WebQualis 2011 em
educação física, que pela escala de estratificação do sistema da CAPES de - A1,
o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C - com peso zero, a revista tem um fator de
alto impacto na área de educação física tanto pelo aumento de citações feito em
outros trabalhos quanto por envio de artigos de autores reconhecido pelo público da
área o que leva o periódico a aumentar seu grau de excelência na qualidade dos
trabalhos.
Neste sentido, sua missão está sendo cumprida: “a divulgação da produção
científica em Ciências da Motricidade Humana e áreas correlatas, objetivando
contribuir com a discussão e o desenvolvimento do conhecimento nestas áreas.”
(MOTRIZ, 2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No âmbito do material relacionado ao campo da formação em educação física,
dos dezessete volumes analisados, foram identificados 631 artigos de todas as
seções do periódico, dentre eles, foram selecionados 50 artigos sobre (FORPEF), ou
seja, menos de dez por cento de toda produção da Motriz são artigos direcionados a
produção do conhecimento sobre a formação do professor em educação física.
13
0
20
40
60
80
100
120
forpef
outros
Quadro 1. Fonte Revista Motriz
O salto significativo entre os anos de 2005 e 2011 do número de publicações,
como demonstra o quadro 1 foi ocasionado pela inserção do periódico em 2007 no
sistema eletrônico de editoração de revistas (SEER). “Software” que otimiza o fluxo
dos artigos avaliados entre os editores e como os autores, o que torna o tempo de
avaliação do artigo mais rápidos. E também em relação a periodicidade que neste
mesmo ano a revista torna-se trimestral.
Esses fatores favoreceram para publicação de artigos sobre Forpef durante
esse período, como também a iniciativa de eventos científicos (seminários,
congressos etc,) que foi o caso do IV Seminário de Estudos e Pesquisas em
Formação Profissional no Campo da Educação Física- NEPEF, realizado na
UNESP/Bauru em 2008, pois possibilitou a construção e publicação dos artigos na
revista o que superou mais de cem por cento de artigos em relação aos onze anos
anteriores que foram 20 artigos publicados no periódico.
Quanto a autoria Foram identificados 79 autores vinculados aos 50 textos
circunscritos no campo FORPEF. Visualizamos um predomínio de textos produzidos
coletivamente (31 textos) em detrimento da produção individual (19 textos). No
conjunto desta produção, destacamos 20 textos que expressam relação de
orientação e 11 produções que denotam trabalho em grupo, demarcando, assim,
uma relação profícua para o campo de estudo, devido oportunizar a convivência de
pesquisadores experientes e acadêmicos em diferentes fases de formação durante a
produção do conhecimento, tal iniciativa deve ser estimulada já que indica
possibilidade de consolidação de novos quadros de pesquisadores para o campo em
questão.
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Quanto à proveniência dos autores dos estudos em Forpef, identificamos a
grande centralidade das produções advindas da Região Sudeste do País, tal região
apresentou 41 trabalhos, sendo que 2 trabalhos houve parceria com outra região,
dos quais, existe uma predominância do estado de São Paulo com 49 autores em 39
trabalhos, sendo que a pesquisadora que mais produziu sobre Forpef na Revista
Motriz também provém deste estado, trata-se da professora Dra Dagmar Hunger
assumiu autoria de 07 estudos, seguido da professora Dra. Irene c. a. Rangel, com
04 trabalhos. Como mostra o quadro 2.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
ARTIGOS
Dagmar Hunger
Irene C. A. Rangel
Fernanda Rossi/José M. C. Barros/Juarez V. Nascimento/samuel S. Neto
Carine Collet/Daniel Marcon/Juliana M. Pereira/Larissa C. Benites/Michél A. Saad/Sheila A. P. S. SilvaOutros
Na Região Sul, caracterizamos 25 autores organizados em 09 trabalhos,
sendo 03 textos de autoria de Juarez Vieira do Nascimento. Identificamos 02
autores estrangeiros em 02 trabalhos. Como também, encontramos apenas 01
autora do Nordeste com um único trabalho, trata-se de Lívia Tenório Brasileiro e da
região Centro-Oeste, Evandro Carlos Moreira. Já na região Norte não possui textos
acerca do campo de estudo.
Sobre o vínculo institucional dos autores, a maior recorrência foi de
pesquisadores que tem vínculo direto com instituições de ensino superior, são 76
autores, destes, 36 são professores lotados em departamentos, 07 cursando
Quadro 2. Fonte Revista Motriz
15
mestrado ou doutorado, 02 bolsistas pela CNPq, 02 egressos e o restante identificou
apenas a instituição de ensino superior; e 02 autores não apresentaram vínculos
institucionais. Apenas 01 autor acusou vínculo com a educação básica, mas possui
vínculo com universidade. Encontramos apenas 01 autor que registrou vínculo com
a área não escolar, mais especificamente, com a Embrapa.
Quanto ao grupo de pesquisa foram identificados 06 grupos distribuídos em
12 artigos dos quais 05 artigos são do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Formação
Profissional no Campo da Educação Física (NEPEF) UNESP- Rio Claro, seguido do
Laboratório de Pedagogia do Esporte/UFSC com 03 artigos.
AS BASES TEÓRICAS PRIORIZADAS
Uma das possibilidades de verificação do quadro teórico orientador da
produção do conhecimento em FORPEF é a identificação de correspondências entre
citações de subsídio teórico e referências, seguida da análise das recorrências
destas referências no conjunto da produção dos 50 textos, neste sentido,
procedemos à demarcação, ao longo da leitura dos textos, daquelas citações que
correspondiam aos pilares de sustentação do aporte teórico, acompanhada da
verificação da sua correspondência na lista de referência, a precaução adotada
nesta pesquisa eram de que as citações não poderiam recair em caso de
autocitação.
No campo da discussão referente à área específica da Educação Física,
localizamos prioritariamente as contribuições de Mauro Betti e Go Tani, o primeiro
aparece em 08 produções diferentes, com expressão para o texto que apresenta 05
ocorrências, intitulado “Novas perspectivas na formação profissional de educação
física”, elaborado em parceria com Irene Betti (BETTI; BETTI, 1996), já as
contribuições de Go Tani é identificada em 08 textos do campo FORPEF, com
destaque para o texto “Vivências Práticas no curso de Graduação em Educação
Física: necessidade, luxo ou perda de tempo? (TANI,1996), com 03 recorrências.
Em seguida as elaborações de José Maria de Camargo Barros ganha
destaque no subsídio aos argumentos de autores da FORPEF na revista Motriz,
sendo utilizado em 07 textos diferentes, dos quais, 02 textos ganharam notoriedade
entre os autores, trata-se dos estudos intitulados “Educação física: perspectivas e
16
tendências na Profissão” (BARROS, 1996) e “Educação Física e Esportes:
Profissões?” (BARROS, 1993), ambas com 03 ocorrências em produções diferentes.
O professor Elenor Kunz também alcançou expressividade, localizando-se no
aporte teórico de 06 textos diferentes, entre os quais, 03 fazem uso da obra
“transformação didático-pedagógica do esporte” (KUNZ, 1994), Suraya Darido
também subsidiou a elaboração de 06 textos, ganhando destaque o artigo “Teoria,
prática e reflexão na formação profissional em Educação Física” (DARIDO, 1995),
com 02 ocorrências.
José Guilmar Mariz de Oliveira vem na sequência, ao lado de Jocimar Daólio,
o primeiro apresentou 05 recorrências em textos diferentes, com o material intitulado
“Preparação profissional em educação física” (MARIZ DE OLIVEIRA, 1988)
apresentando 03 ocorrências, já Daolio a mesma média com destaque para o texto
“A representação no trabalho do professor de Educação Física na escola do Corpo
Matéria-prima ao Corpo Cidadão” (DAOLIO, 1992), também com 03 aparições.
Na Educação Física, ganha ainda destaque as contribuições de Cecília
Borges e Amauri Bassoli de Oliveira, ambos contribuindo com a reflexões teóricas
contidas em 04 textos, sendo 04 ocorrências para “Mercado de trabalho em
educação física e a formação profissional” (OLIVEIRA, 2000) e 03 ocorrências para
o livro “O professor de educação física e a construção do saber” (BORGES, 1998).
No campo educacional mais amplo, a obra mais representativa foi de Donald
Schön (1992), intitulada “Formar professores como profissionais reflexivos”, com 08
recorrências em textos diferentes, no entanto, o autor mais utilizado para aporte
teórico foi Maurice Tardif, localizando-se em 9 produções do campo, com frequência
expressiva da sua obra intitulada “Saberes docentes e formação profissional”
(TARDIF, 2002) em 05 textos diferentes.
Outros autores expressivos no subsídio do campo FORPEF foi Angel Pérez-
Goméz e Philipe Perrenoud recorrentes em 08 textos, o primeiro com destaque para
a obra “o pensamento prático do professor – a formação do professor como
profissional reflexivo” (PÉREZ-GOMÉZ, 1992), com 07 visualizações e o segundo
com evidência para a obra “Práticas pedagógicas, profissão docente e formação:
perspectivas sociológicas” (PERRENOUD, 1993), com 05 recorrências.
Em seguida temos a contribuição de Hal Lawson que computou 07
ocorrências em textos diferentes, com destaque para o artigo intitulado “teachers
uses of research in practice: a literature review” (LAWSON, 1993) e logo após,
17
Kenneth Zeichner com 05 textos, com destaque para “A formação reflexiva de
professores” (ZEICHNER, 1993) a partir de 02 recorrências.
Um autor externo ao campo, mas utilizado com significativa aparição foi Pierre
Bourdieu, com 14 obras localizadas em 05 textos, sendo inclusive utilizado como
fundamento principal para a discussão dos elementos que constituem o habitus
profissional de professor (SOUZA NETO; BENITES; SILVA, 2010).
Por fim, Nelson Carvalho Marcellino se destacou como grande intelectual do
campo do lazer com 10 ocorrências em 05 textos diferentes, demonstrando e
ratificando sua notoriedade nas discussões feitas ao lazer, seguido de Helder
Isayama, com 07 ocorrências em 03 textos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Identificamos quanto aos procedimentos metodológicos: o enfoque
epistemológico, os instrumentos de coleta e análise, o tipo de pesquisa e a
abordagem nas 50 produções sobre FORPEF na revista motriz, verificamos que 45
produções não declaram, nem ao menos discutem o enfoque epistemológico
priorizado na investigação, apenas 05 produções explicitamente demonstram seu
posicionamento enquanto enfoque, sendo 02 produções com posicionamento com
base fenomenológica dos autores(as) Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva e
André Bartholomeu Carneiro e do autor Vanderlei Balbino da Costa; 02 produções
com enfoque do materialismo histórico dialético de autoria da Carol Kolyniak Filho e
Vitor Andrade de Melo e 01 produção do autor Evandro Antonio Corrêa com
enfoque construcionismo.
Quanto ao tipo de produção científica característica dos 50 textos sobre
FORPEF na revista motriz categorizamos segundo Marconi e Lakatos (2009) a
partir de duas possibilidades: pesquisa científica e comunicação científica, pois
enquanto a pesquisa científica “requer um tratamento científico rigoroso e se
constitui no caminho para se conhecer a realidade[...]”(p.43) a “comunicação
científica não necessita de abundância de aspectos analíticos; basta que a
experiência, as idéias ou a teoria sejam bem fundamentadas.”(p. 80).
Neste sentido identificamos 07 produções como comunicação científica e 43
produções como pesquisa cientítica. Para Marconi e Lakatos (2009) o segundo
18
grupo se subdividi-se em documentação direta e indireta, quando consideramos os
processos para obtenção dos dados, a primeira categoria está relacionada com os
dados obtidos em locus ou indireto quando os dados foram coletados por outra
pessoa. Por isso, das pesquisas científicas foram identificadas 20 produções de
forma indireta que se constitui em pesquisa bibliográfica com 13 produções, pois
utiliza como fontes livros e artigos. E pesquisa documental com 08 produções que
utiliza documentos oficiais(resoluções, currículos, ementas do curso) e não
oficias(diario de campo e diario de aula). Já as pesquisas diretas foram identificadas
em 19 produções como pesquisa de campo que se utilizou de entrevista,
questionário e observação. Alem disso, identificamos 04 produções que
categorizamos como pesquisa mista por apresentar tanto fonte direta quanto fonte
indireta.
Para os instrumentos de coleta e análise dos dados identificamos nas 39
pesquisas sobre FORPEF que se constitui nas duas categorias: pesquisa direta e
pesquisa indireta. As 19 produções que utilizaram instrumentos de levantamento de
dados de forma direta, 12 produções utilizaram somente um instrumento,sendo que
06 textos com entrevistas, 05 com questionário e 01 com observação. E 07
produções utilizaram dois instrumentos de coleta de dados, sendo 04 textos com
observação e entrevistas e 03 textos com entrevista e questionário. Ou seja, das
pesquisas diretas a entrevista encontra- se em 13 textos, o questionário em 8 textos
e a observação em 5 textos.
Para as pesquisas indiretas as 20 produções se constitui em 17 textos que
contém somente um tipo de instrumento de levamento de forma indireta. Desta 12
textos contém revisão bibliográfica, 04 textos com análise documental e 01 texto
com análise de conteúdo. E 03 produções com dois procedimentos indiretos sendo
02 textos com revisão bibliográfica e análise documental e 01 texto com análises
documental e de conteúdo,ou seja, das pesquisas indiretas a revisão bibliográfica
encontra- se em 14 produções, a análise documental encontra- se em 7 produções e
a análise de conteúdo em 02 textos sobre FORPEF de forma indireta.
Já para os tipos de abordagem as 50 produções se constituiram em apenas
02 produções como uma abordagem quantitativa e a restante como abordagem
qualitativa. O que para uma pesquisa educacional sobre FORPEF assegurar as
19
circunstâncias relevantes das contradições e superações a abordagem qualitativa
possibilita ir além dos dados expostos.
TERMINOLOGIA
As terminologias sobre FORPEF nas 50 produções foram sub divididas em
“Formação de professor”, “Formação profissional”, “Preparação profissional” e
“Outros” pela recorrência nos textos, desta 17 produções apresentam somente uma
terminológia sendo que 12 textos mencionam “formação profissional”, 03 textos
mencionam “formação de professores”, 01 texto com “preparação profissional e um
01 texto com “formação de recursos humanos”. E 33 produções mencionaram em
seus estudos no mínimo duas terminologias sendo que 32 produções mencionam
“formação profissional”, 24 produções expõem “formação de professores”, 17
produções com “preparação profissional” e 9 textos na sub divisão “outros”. E
agrupá-los demonstra que a terminologia “formação profissional” está presente em
44 produções sobre FORPEF na Revista Motriz.
TEMÁTICA PRIORIZADA
Para as temáticas sub dividimos em: “Formação continuada”, “Prática
pedagógica”, “Currículo”, “Princípios orientadores” e “Outros” pela recorrência nas
análises. Das produções sobre FORPEF 23 produções foram identificados apenas
uma temática, destas 08 produções é referente à currículo, 10 produções é referente
à “princípios orientadores”, 02 produções traz como tema a “prática pedagógica” e
03 produções com temática “outros”. E 27 produções apresentaram no mínimo duas
temáticas destas 23 produções apresentaram como temática “princípios
orientadores”, 14 produções como “prática pedagógica”, 14 produções como
“currículo”, 03 produções como “formação continuada” e 05 como “temática outros”.
SÍNTESE INTERPRETATIVA
Comparando os dados das 50 produções sobre FORPEF na revista motriz aos
estudos de Brito Neto et al.(2009, 2010) conseguimos constatar semelhança nos
resultados encontrados quanto aos objetivos específicos desta pesquisa.
Para quantidade de produção sobre FORPEF acreditamos ainda ser pequeno
pela relevância da temática, pois Brito Neto et al.(2009) também chegou ao
20
resultado de menos de 10% da produção cientifica na revista Movimento como tema
o FORPEF. Por isso, proporcionar eventos específicos sobre FORPEF pode
contribuir para aumentar a discussão desta temática, como também “[...] ao
efervescente embate em torno das Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação
de Professores de Educação Física.(BRITO NETO et al., 2010)
Quanto a produção sobre FORPEF em relação às regiões geográficas, os
textos se concentraram na região Sudeste e Sul, devido os autores estarem nestas
regiões principalmente em São Paulo. Como também, estudos oriundos destas
regiões servirem de modelos a outras regiões por ainda considerar ser uma região
de grande desenvolvimento econômico, político e científico pela presença das
universidades de grande prestígio serem os centros das discussões podem
contribuir para baixa produção ou ausência sobre FORPEF. Como exemplo a prof.
Dra Dagmar Hunger que vinculou seu estudos a região sudeste em 07 produções e
a região norte não apresentar nenhum.
Dos vínculos institucionais a maioria dos autores é vinculada a instituições
superiores, sendo que apenas uma também tem vínculo com o ensino básico. O que
demonstra a carência do fazer científico de professores do ensino básico tanto pela
inexperiência quanto pela jornada de trabalho. Visualizamos também a presença de
06 grupos de pesquisas distribuídos em 12 artigos sobre FORPEF com predomínio
do grupo NEPEF-UNESP- Rio Claro.
Constatamos os autores mais recorrente enquanto base teórica para FORPEF
na revista motriz como Mauro Betti, Go Tani, José Maria de Camargo Barros, Elenor
kunz, Célia Borges, Amauri Bassoli, Jose Gilmar Mariz de Oliveira, Suraya Darido,
Jocimar Daólio, Nelson Carvalho Marcellino mais especifico ao lazer. E como
formação mais ampla como: Donald Schön, Maurice Tardif, Angel Pérez-Goméz ,
Philipe Perrenoud Hal Lawson, Kenneth Zeichner são possibilidade compreender
sobre formação de professores e especificamente de educação física
Pensar em pesquisa educacional apenas nos métodos e técnicas é
permanecer no paradigma da neutralidade, ou seja, é não perceber que o processo
da produção do conhecimento reflete condições materiais históricas, interesses e
valores sociais (GAMBOA, 2007), que estarão diretamente relacionado ao enfoque
epistemológico da produção científico, poís é a partir dos pressupostos
21
epistemológicos que o investigador se posiciona acerca do “interesse cognitivo” que
mobiliza o seu fazer científico, fruto de processos complexos da realidade a partir da
técnica, linguagem e poder, ou seja, são esses interesses que irão nortear o
encaminhamento da pesquisa do uso das técnicas e métodos ao interesse a quem
serve e para que serve o estudo. Por isso o fazer científico deve perpassar na
busca aos resultados mas também ao seu processo enquanto interesse social,
político e ideológico.
Essa neutralidade foi verificada pela ausência e discussão de enfoque
epistemológico na maioria dos textos e pelas várias possibilidades de terminologias
que as produções demonstraram como “formação de professores”, “formação
profissional”, “preparação profissional”, “formação de recursos humanos”,
“preparação de professor”, “formação acadêmica”, “formação do educador”,
“formação do educador físico”.
E as temáticas priorizadas na revista Motriz sobre FORPEF foram recorrentes
para “princípios orientadores”, “prática pedagógica” e “currículo” a qual chegou
também os estudo de Brito Neto et al.,(2010) por estarem diretamente ligados as
transformação pela qual a legislação sobre educação fisica vem acontecendo no
seculo XXI.
CONCLUSÃO
Concluimos que se faz necessário discussões como a mesma preocupação
para as técnicas e métodos da pesquisa também para o campo teórico –
epistemológico no sentido de serem refletido em qualquer produção científico,
principalmente sobre FORPEF por ser uma pesquisa educacional com
pressupostos de âmbito social, político e ideológico. Como também incentivo para
produções de artigos sobre FORPEF a partir de eventos específicos da temática
com ênfase nas regiões onde à pouca discussão. Neste sentido, qualquer base
teórica é propícia para desenvolvimento da temática enquanto transformadora da
realidade? pois nos estudo de Brito Neto et al. (2009) em relação a revista
Movimento houve diferença significativa enquanto FORPEF.
Por isso este estudo contribui para localizar de forma sistemática os estudos
sobre FORPEF, a partir da monografia de base (SAVIANI, 1991) no sentido de
22
proporcionar para futuras produções sobre formação de professores de Educação
Fisica possibilidades de novos objetos.
Production of Knowledge on Teacher Training in Physical Education in Scientific
Journals: Analysis of Motive Magazine (1995-2011)
Abstract
The present study aims to map the development stage of knowledge production
on the field of study "Training teachers of physical education (FORPEF)," conveyed
in the journal Motive (1995-2011) Department of Physical Education, UNESP / Rio
Claro, through a literature search from the content analysis, which allowed the
visualization more systematic about the production of FORPEF over regions of the
country, authors, research groups, methodologies, and theoretical issues prioritized
in 50 productions in the Periodic . It concludes that the production is concentrated in
the southeast and south, with a predominance of collective production using - only
methods and techniques in scientific work, from issues such as guiding principles,
teaching practices and curriculum with the theoretical reflective teacher.
Keyword: Teacher Education Physical Education; Journal; Production of
Knowledge in physical education.
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