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Referência: Protocolado nº 4882/09 – DPCap.
Documento referência: Ofício nº 1055/2009 – 2º Juizado Especial Criminal do Foro Central da
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba.
Douta Corregedora Geral:
Trata-se de ofício da Excelentíssima Juíza de Direito do 2º Juizado
Especial Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba, Doutora Fabiana Silveira Karam, encaminhado ao Delegado
de Polícia do 9º Distrito Policial da Capital, a fim de, querendo, manifestar-
se acerca do parecer do Ministério Público nos autos de Pedido de
Providências nº 2008.0008055-9.
Referidos autos tiveram início mediante provocação do então
Delegado de Polícia XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXX,
questionando o Juízo acerca do procedimento a ser adotado com
relação ao crime organizado, representado pela máfia das caça-níqueis e
do jogo do bicho, ou seja, se em tais situações, existiria plausibilidade
jurídica ou justa causa na autuação em flagrante por crime de
contrabando e/ou estelionato, em concurso com a contravenção de jogo
de azar, ou se deveria continuar somente lavrando Termos
Circunstanciados.
Em sua análise, a Excelentíssima Promotora de Justiça da Promotoria
de Justiça junto ao Juizado Especial Criminal de Curitiba, Doutora Wilma
Erichsen de Sottomaior, assim concluiu:
“Do exposto pelo solicitante tem-se
primeiramente que o desejado enquadramento
1
em crime de estelionato daquele que é detido na
posse da máquina explorando-a e que nunca é
proprietário da mesma, mas apenas arrendatário
do maquinário, não caberia, vez que o delito de
estelionato exige para sua configuração a
existência de vítima certa e determinada. Se o
crime é dirigido “in insertam personam” o delito é
de exploração da credulidade do art. 2º, inciso, IX
da Lei 1521/51, contudo para tal configuração,
necessária a perícia comprobatória da fraude na
máquina, como a pena máxima abstratamente
cominada é de dois anos e a competência seria
também deste Juizado Especial Criminal.
De igual modo, pretender-se a subsunção da
conduta na regra do art. 174 do Código Penal,
que além de exigir vítima determinada esta ainda
deve ter a condição específica exigida pelo tipo:
inexperiência, simplicidade ou inferioridade
mental.
Relativamente a eventuais diligências que
porventura queira a autoridade policial
desenvolver, seja encaminhando máquinas à
perícia, juntamente com questionário que poderá
permitir a verificação de eventual crime mais
grave, com posterior remessa à Justiça ordinária e
ou remessa à Justiça Federal e ou
encaminhamento de peças à Polícia Federal, tais
providencias ficam a critério da autoridade
solicitante, contudo, o encaminhamento do
explorador das máquinas a este Juízo deve
2
continuar por ser da competência deste Juízo a
prática contravencional de exploração e aposta
na máquina caça-níquel, considerada até então
jogo de azar.
Na eventualidade de restar comprovada
eventual fraude na máquina e ou em seus
componentes e apurada a autoria de tais fatos e
ou importação de referentes produtos, se legal ou
não, tais procedimentos seguirão nos Juízos
competentes, não sendo possível pretender-se a
prisão em flagrante do “dono do bar” onde a
máquina caça-níquel foi apreendida para
apuração de conduta mais grave, até porque,
ele não importou a máquina, salvo raríssima e
desconhecida exceção, não instalou seus
componentes, e acredito desconheça o
funcionamento da mesma.”
Por fim, sugere a Excelentíssima Promotora discussão dos fatos seja
levada a todas as autoridades envolvidas, a nível Estadual e Federal,
Judiciária, Ministério Público e Polícias.
Inicialmente, vamos à rotina a ser estabelecida quando do
conhecimento do fato pela Autoridade Policial nos casos em questão,
independentemente de como lhe chega a notícia.
Dispõe os incisos do artigo 6º do Decreto-lei nº 3.689/41, acerca das
providências que deverão ser adotadas pela autoridade policial, logo que
tiver conhecimento da prática da infração penal:
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática
da infração penal, a autoridade policial deverá:
3
I - dirigir-se ao local, providenciando para que
não se alterem o estado e conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com
o fato, após liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o
esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll,
deste Livro, devendo o respectivo termo ser
assinado por duas testemunhas que Ihe tenham
ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e
coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a
exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo
processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar
aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o
ponto de vista individual, familiar e social, sua
condição econômica, sua atitude e estado de
ânimo antes e depois do crime e durante ele, e
quaisquer outros elementos que contribuírem
para a apreciação do seu temperamento e
caráter.
4
Mais adiante, em seu artigo 11, estabelece que os instrumentos do
crime, bem como os objetos que interessarem a prova, acompanharão os
autos do inquérito.
O Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça, na Seção
20 do Capítulo 6, que trata do DEPÓSITO E GUARDA DE APREENSÕES,
estabelece no item 6.20.1 a 6.20.23, normas para recebimento e guarda
de armas e demais objetos apreendidos, dispondo que estes deverão ser
encaminhados pelas autoridades policiais, com os respectivos autos,
relacionados em duas vias, ao juízo competente, e, tendo na comarca
mais de uma vara criminal, serão encaminhados à vara a qual forem
distribuídos, e que, tratando-se de veículos, nos quais a adulteração de
chassis inviabilize a descoberta do verdadeiro proprietário ou de qualquer
outro bem cujo dono não possa ser identificado o juiz deverá deixar em
mãos do Depositário Público da Comarca. Proíbe, porém, Seção 21, item
6.21.1, o recebimento, pelas escrivanias criminais, de substâncias
entorpecentes ou explosivas, seja com os autos de inquérito policial,
separadamente, ou com os laudos de constatação ou toxicológicos,
determinando que essas substâncias deverão permanecer em depósito na
delegacia de polícia ou no órgão médico-legal.
Também no item 17.3.9.1 do Capítulo 17, que trata dos Juizados
Especiais, Cível e Criminal, não há qualquer menção sobre a
obrigatoriedade de objetos, exceto os legalmente estabelecidos,
permanecerem sob a guarda da autoridade policial, o mesmo ocorrendo
na Lei nº 9.099/95.
17.3.9.1 – As armas e objetos apreendidos ou
arrecadados poderão permanecer em depósito
com a autoridade policial competente. Não
obstante, ainda assim deverão ser registrados no
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livro Registro de Apreensões, com anotação de
observação constando o local em que está
realizado o depósito.
Assim também em seus Adendos F e J, dos Livros do Ofício Criminal e
do Juizado Especial Criminal, respectivamente, onde constam os de
Registros de Apreensões (4-F e 4-J), destinado ao registro de armas, objetos
e valores apreendidos, não se observa, em nenhum momento, proibição
quanto ao recebimento de máquinas caça-níqueis apreendidas, nem que
a responsabilidade pela guarda cabe às autoridades policiais.
Aliás, tal fato parece pacífico na doutrina quando o assunto é
tratado. Fernando da Costa Tourinho Filho, em seu Manual de Processo
Penal (Ed. Saraiva, 8ª edição, São Paulo, 2006, p. 84), esclarece:
“Deverá, também, a Autoridade Policial
determinar a apreensão dos instrumentos do
crime e de todos os objetos que tiverem relação
com o fato, após a liberação feita pelos peritos. A
importância dessas diligências é facilmente
constatável. Nos termos do art. 11 do CPP, ‘os
instrumentos e objetos do crime, bem como os
objetos que interessarem à prova,
acompanharão os autos do inquérito’ ”.
Fernando Capez, na obra Curso de Processo Penal (Ed. Saraiva, 14ª
edição, São Paulo, 2007, p. 89):
“Deve também apreender os instrumentos e
todos os objetos que tiverem relação com o fato,
após liberado pelos peritos criminais (cf. Lei nº
6
8.862/94), fazendo-os acompanhar os autos do
inquérito (CPP, art. 11)”.
Guilherme de Souza Nucci, Código de Processo Penal Comentado
(Ed. Revista dos Tribunais, 5ª edição, São Paulo, 2006, p. 108, itens 66 e 67):
“Instrumentos do crime e objetos de prova: os
instrumentos do crime são todos os objetos ou
aparelhos usados pelo agente para cometer a
infração penal (armas de fogo, documentos
falsos, cheques adulterados, facas, etc.) e os
objetos de interesse da prova são todas as coisas
que possuam utilidade para demonstrar ao juiz a
realidade do ocorrido (livros contábeis,
computadores, carro do indiciado ou da vítima
contendo vestígios de violência etc.). Ao
mencionar que os instrumentos e os objetos
acompanharão os autos do inquérito, quer-se
dizer que devem ser remetidos ao fórum, para
que possam ser exibidos ao destinatário final da
prova, que é o juiz e os jurados, conforme o caso.
Além disso, ficam eles à disposição das partes
para uma contraprova, caso a realizada na fase
extrajudicial seja contestada.”
“Guarda dos instrumentos e objetos do delito:
quanto aos instrumentos do delito, são eles
encaminhados juntamente com os autos do
inquérito, para serem armazenados em local
apropriado no fórum...”
7
O próprio Departamento da Polícia Civil do Estado, através de seu
Assessor Jurídico, Doutor Antonio Aparecido Felício, em informação nº 026,
já se pronunciou acerca de assunto semelhante:
“...tem esta Assessoria a esclarecer que a
legislação penal não contempla a possibilidade
de permanência de veículos ou outros objetos
(salvo em caso de apreensão de drogas), nos
pátios das Delegacias de Polícia.”
Manifestou-se também o Senhor Assessor, no sentido que os
instrumentos que interessarem à prova deverão acompanhar os autos de
inquérito policial, e, em se tratando de veículos, permanecerão sob a
guarda do depositário público.
Também a Corregedoria Geral da Justiça, nos protocolados nº
2008.0076145-6/0 e nº 2008.0127062-6/0, respectivamente, proferiu
manifestação em situações semelhantes, provocadas por esta
Corregedoria, e que podem servir como parâmetro na questão aqui
tratada:
“Parecer nº 29/2008 – 1. Consulta acerca da
guarda de veículo apreendido em sede de
procedimento especial a fim de apurar eventual
prática de ato infracional. 2. Autoridade Policial
que remete veículo apreendido ao Juízo
competente. 3. Decisão exarada pela Juíza de
Direito que preside os autos no sentido de ser
competência da Autoridade Policial a guarda do
bem. 4. Situação que deve ser analisada com
base no caso concreto, com base nos critérios da
proporcionalidade e da razoabilidade, a fim de
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evitar o perecimento ou deterioração do
veículo.”
“Denota-se, por ora, a inexistência de falta
funcional praticada por servidor da justiça, uma
vez que foi a autoridade policial quem restituiu o
veículo à vítima sem lavrar o respectivo auto de
restituição, bem como deixou de encaminhar o
veículo à autoridade judiciária juntamente com
os autos de inquérito policial, após a sua
conclusão.” (grifo nosso)
Outrossim, também não parece adequado que as máquinas caça-
níqueis permaneçam sob a guarda da Autoridade Policial depois de
concluído os procedimentos, de vez que não mais poderá decidir sobre o
destino das mesmas, e o que vemos atualmente não se trata de questão
legal, e sim de costume, pois é mais cômodo deixar às Autoridades
Policiais a responsabilidade pela guarda, destinação de local e o mais
grave, por responsabilidades administrativas, criminais e cíveis por
eventuais irregularidades ocorridas.
Já o art. 69, da Lei 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais para julgar as infrações penais de menor potencial ofensivo, ou
seja, nos termos do art. 61, as contravenções e os crimes a que a lei
comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com
multa, também orienta quanto às providências a serem adotadas pelas
autoridades policiais ao tomarem conhecimento de tais ocorrências:
Art. 69. A autoridade policial que tomar
conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente
9
ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a
lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao Juizado ou assumir o
compromisso de a ele comparecer, não se
imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.
Por outro lado, o artigo 144 da Constituição Federal preceitua que a
segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública, da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, por meio dos seguintes órgãos: polícia federal,
polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias
militares e corpos de bombeiros militares.
A polícia federal, conforme § 1º, do art. 144, destina-se, dentre
outras, a apurar infrações penais em detrimento de bens, serviços e
interesses da União, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
segundo se dispuser em lei, prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho e exercer,
com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
As polícias civis, conforme § 4º, do artigo acima citado, dirigidas por
delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência
da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado,
direito e responsabilidade de todos, é exercida
10
para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal
....
IV - polícias civis;...
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como
órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política
e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e
de outros órgãos públicos nas respectivas áreas
de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima,
aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de
polícia judiciária da União.
...
...
§ 4º - Às polícias civis, dirigidas por delegados de
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
11
competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares.
Quanto às infrações penais que, em tese, podem estar ocorrendo na
questão suscitada, estão aquelas dispostas pelo art. 50 do Decreto-lei
3688/41 (Lei das Contravenções Penais), inciso IX do art. 2º da Lei nº
1521/51 (Crime Contra a Economia Popular), arts. 171 e 334 do Decreto-lei
2848 (Código Penal).
Art. 50 - Estabelecer ou explorar jogo de azar em
lugar público ou acessível ao público, mediante o
pagamento de entrada ou sem ele:
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano, e multa, estendendo-se os efeitos da
condenação à perda dos móveis e objetos de
decoração do local.
§ 1° - A pena é aumentada de um terço, se existe
entre os empregados ou participa do jogo pessoa
menor de 18 (dezoito) anos.
§ 2° - Incorre na pena de multa, quem é
encontrado a participar do jogo, como ponteiro
ou apostador.
§ 3° - Consideram-se jogos de azar:
a) o jogo em que o ganho e a perda dependem
exclusiva ou principalmente da sorte;
b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de
hipódromo ou de local onde sejam autorizadas;
c) as apostas sobre qualquer outra competição
esportiva.
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§ 4° - Equiparam-se, para os efeitos penais, a
lugar acessível ao público:
a) a casa particular em que se realizam jogos de
azar, quando deles habitualmente participam
pessoas que não sejam da família de quem a
ocupa;
b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos
hóspedes e moradores se proporciona jogo de
azar;
c) a sede ou dependência de sociedade ou
associação, em que se realiza jogo de azar;
d) o estabelecimento destinado à exploração de
jogo de azar, ainda que se dissimule esse destino.
Art. 2º (Lei 1.521/51). São crimes desta natureza:
IX - obter ou tentar obter ganhos ilícitos em
detrimento do povo ou de número indeterminado
de pessoas mediante especulações ou processos
fraudulentos ("bola de neve", "cadeias",
"pichardismo" e quaisquer outros equivalentes);
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos, e multa, de dois mil a cinqüenta mil
cruzeiros
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício,
ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
13
Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida
ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de
direito ou imposto devido pela entrada, pela
saída ou pelo consumo de mercadoria:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem:
a) pratica navegação de cabotagem, fora dos
casos permitidos em lei;
b) pratica fato assimilado, em lei especial, a
contrabando ou descaminho;
c) vende, expõe à venda, mantém em depósito
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência
estrangeira que introduziu clandestinamente no
País ou importou fraudulentamente ou que sabe
ser produto de introdução clandestina no
território nacional ou de importação fraudulenta
por parte de outrem;
d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência
estrangeira, desacompanhada de
documentação legal, ou acompanhada de
documentos que sabe serem falsos
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para
os efeitos deste artigo, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
14
§ 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de
contrabando ou descaminho é praticado em
transporte aéreo.
Quando tratam do assunto, os tribunais têm decidido que, em razão
do ordenamento jurídico penal brasileiro não permitir revogação da lei
pelo costume, a exploração do jogo de azar mediante máquinas caça-
níqueis, trata-se de atividade ilícita, que traz risco de grave lesão à ordem
social e à ordem jurídica.
PENAL. RECURSO ESPECIAL. APREENSÃO DE
MÁQUINAS "CAÇA-NÍQUEIS". MANDADO DE
SEGURANÇA. CONCESSÃO. REEXAME
NECESSÁRIO. CONFIRMAÇÃO. ART. 50 DA LCP.
VIGÊNCIA. COSTUME. REVOGAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE NO DIREITO PENAL. PRINCÍPIOS
DA ISONOMIA E DA LIBERDADE. NÃO-
FUNDAMENTAÇÃO PARA CONDUTAS ILÍCITAS.
RECURSOS PROVIDOS.
1. O ordenamento jurídico penal brasileiro não
permite revogação de lei pelo costume.
2. "Evidencia-se o risco de grave lesão à ordem
social e à ordem jurídica conquanto a
exploração de jogo de azar mediante máquinas
de “caça-níqueis”, definida no art. 50 da Lei de
Contravenções Penais já foi reconhecida como
atividade ilícita por inúmeras decisões desta
Corte, dentre as quais destaca-se o REsp
474.365/SP, Quinta Turma, Rel. Min. GILSON DIPP,
DJ 5/8/03; ROMS 15.593/MG, Primeira Turma, DJ
15
2/6/03 e ROMS 13.965/MG, Primeira Turma, DJ
9/9/02, ambos da relatoria do Min. JOSÉ
DELGADO". (AgRg no AgRg na STA 69/ES, Rel. Min.
EDSON VIDIGAL, Corte Especial, DJ 6/12/04)
3. Os direitos fundamentais da isonomia e da
liberdade consagrados na Constituição Federal
não podem servir de esteio às condutas ilícitas,
não importando a condição social do agente
infrator.
4. Recursos providos para reformar o acórdão e
cassar a segurança anteriormente concedida.
(STJ Resp.745954/RS RECURSO ESPECIAL
2005/0070033-3 Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA)
PROCESSUAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO
ESPECIAL. REGRA LEGAL TIDA COMO VULNERADA.
FALTA DE INDICAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
EXPLORAÇÃO COMERCIAL DE MÁQUINAS DE
JOGOS ELETRÔNICOS. ILICITUDE.
1. É necessária a indicação precisa do dispositivo
de lei federal vulnerado, não basta fazer
considerações genéricas sobre a matéria
debatida nos autos. Incidência da Súmula
284/STF.
2. A exploração de máquinas eletrônicas de
concursos prognósticos, como as caça-níqueis, as
de vídeopôquer e similares, configura a prática
de jogo de azar, vedada pelo ordenamento
jurídico.
Precedentes.
16
3. A aplicação do entendimento jurisprudencial
ao caso concreto prescinde do reexame de
prova. Primeiro, porque a própria recorrida afirma,
na peça vestibular da impetração, que "passou a
operar máquinas de jogos eletrônicos de sorteio
de números, com simuladores de corridas de
cavalo e de jogo de bingo eletrônico, entre
outros, modalidades de concursos de
prognósticos". Depois, com base em perícia
acostada à exordial, o tribunal a quo concluiu
que o equipamento de jogo eletrônico
apreendido caracteriza-se pela "aleatoriedade
das vitórias e derrotas que proporciona",
qualidade que, associada ao reconhecimento
da parte, é suficiente para classificar a
exploração da máquina como prática de jogo
de azar.
4. Recurso especial conhecido em parte e
provido.
(REsp 653020/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,
SEGUNDA TURMA, julgado em 24.10.2006, DJ
08.11.2006 p. 175)
HABEAS CORPUS PREVENTIVO. EXPLORAÇÃO DE
MÁQUINAS ELETRÔNICAS. JOGOS DE AZAR.
CONFIGURAÇÃO DE ILÍCITOS PENAIS:
CONTRAVENÇÃO (ART. 45, CAPUT, DO DECRETO
LEI N.º 6.259/44) E CRIME CONTRA A ECONOMIA
POPULAR (ART. 2º, INCISO IX, DA LEI N.º 1.521/51).
PRETENSÃO DE IMPEDIR A INSTAURAÇÃO DE
17
INQUÉRITOS POLICIAIS E A APREENSÃO DE
EQUIPAMENTOS. IMPOSSIBILIDADE.
1. A exploração de máquinas eletrônicas de
concursos prognósticos, como as caça-níqueis, as
de vídeopôquer e similares, efetivamente,
configura a prática de jogo de azar, considerada
ilegal, podendo ser enquadrada na
contravenção penal do art. 50 do Decreto-Lei n.º
3.688/41 ou do art. 45 do Decreto-Lei n.º 6.259/44,
ou, ainda, no crime contra a economia popular
do art. 2º, inciso IX da Lei n.º 1.521/51.
Precedentes do STJ.
2. Descabimento do pedido deduzido na
impetração, que se traduz em verdadeira
pretensão de conseguir do Poder Judiciário salvo-
conduto genérico contra a ação policial
investigatória e repressiva, sem qualquer respaldo
legal, porquanto não se pode dizer, de antemão,
se cada uma das instituições empresariais
envolvidas desenvolve ou não atividade lícita.
3. Habeas corpus denegado.
(HC 15923/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 18.11.2004, DJ 13.12.2004 p.
379)
“O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o
pedido de habeas-corpus de dois supostos
integrantes de uma quadrilha de contrabando e
exploração de máquinas caça-níqueis. O grupo
atuaria no interior do estado do Rio Grande do
18
Sul. Os acusados pediam o trancamento da ação
penal.
A denúncia narra que a quadrilha explorava
máquinas caça-níqueis de origem estrangeira,
cuja importação é proibida. De acordo com o
Ministério Público, agindo por meio de empresas
de fachada, os denunciados importavam
ilegalmente as máquinas de outros países, em
geral, do Paraguai. A quadrilha praticava
também o crime de estelionato, alterando a
configuração de componentes eletrônicos para
simular premiações inexistentes e reduzir as
chances de acerto dos jogadores. A denúncia
ainda atribuiu ao grupo a violação de lacres
fixados nas máquinas por autoridades públicas
após fiscalizações. Por fim, corromperia policiais,
que providenciavam meios para que as
máquinas não fossem apreendidas.
Ao decidir, a Quinta Turma baseou-se em voto do
relator, ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Ele
não verificou no caso as hipóteses em que a
jurisprudência do STJ autoriza o trancamento de
ação penal por meio de habeas-corpus. A
medida somente é possível quando está clara no
processo a inocência do acusado, a atipicidade
da conduta (o ato não configura crime), a
extinção da punibilidade ou a inépcia da
denúncia (falta de descrição clara e
particularizada do ato criminoso).
19
O relator afirma também que, ao contrário do
que alegam os acusados, a falta de identificação
na denúncia do policial ou agente público
corrompido não descaracteriza o crime de
corrupção ativa, se há provas da oferta e
promessa de vantagem. O ministro Napoleão
Maia Filho ressalta que a corrupção ativa é delito
formal que independe da aceitação do
funcionário público para sua caracterização, pois
o sujeito passivo direto é o Estado. A decisão da
Quinta Turma foi unânime.” (Notícias STJ,
07/04/2009)
PENAL. PROCESSUAL PENAL. ERRO DE PROIBIÇÃO.
NÃO CONFIGURAÇÃO. CRIME DE CONTRABANDO
CONFIGURADO. MANUTENÇÃO EM DEPÓSITO DE
MÁQUINAS DESTINADAS AO JOGO DE AZAR.
CIÊNCIA DA INTRODUÇÃO CLANDESTINA OU DA
IMPORTAÇÃO FRAUDULENTA POR PARTE DE
OUTREM. APELO IMPROVIDO.
1. O desconhecimento da lei é inescusável, nos
termos do art. 21 do CP.
2. Não há que se falar em isenção de pena se o
agente tinha a potencial consciência da ilicitude
do fato.
3. É de rigor a manutenção da sentença que
condenou o acusado no delito previsto no art.
334, § 1º, alínea c, do CP se restar demonstrado,
pelo conteúdo probatório, que o mesmo
manteve em depósito máquinas destinadas ao
20
jogo de azar ciente da introdução clandestina no
território nacional ou da importação fraudulenta
por parte de outrem.
4. Apelação improvida.
(TRF1 - APELAÇÃO CRIMINAL: ACR 4653 MG
2003.38.02.004653-4, Relator(a): DESEMBARGADOR
FEDERAL HILTON QUEIROZ
Julgamento:03/12/2007, Órgão Julgador: QUARTA
TURMA)
Portanto, com relação aos crimes que, em tese, estão a ser
praticados, além dos acima referidos e outros tantos que envolvem este
tipo de ilícito, tais como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha,
concussão, corrupção passiva e ativa, etc., a situação mais complexa está
na competência/atribuição, se Estadual ou Federal, surgindo daí vários
questionamentos acerca do procedimento a ser adotado pelas
Autoridades Policiais Civis:
- Máquinas apreendidas em barracões e/ou outros locais, montadas
ou não, porém, sem estarem em funcionamento;
- Máquinas apreendidas em estabelecimentos comerciais ou outros
locais, em pleno funcionamento;
- Máquinas apreendidas sendo transportadas, etc.
Do acima exposto, entendo que o posicionamento adequado a ser
adotado em situações envolvendo máquinas caça-níqueis seria aquele
sugerido pela Excelentíssima Promotora de Justiça da Promotoria de
Justiça junto ao Juizado Especial Criminal de Curitiba, Doutora Wilma
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Erichsen de Sottomaior, devendo, s.m.j., o Delegado de Polícia proceder à
análise aos casos concretos, isoladamente, porém, adotando sempre as
seguintes providências:
1)- Elaborar auto de exibição e apreensão do objeto apreendido ou
apresentado, contendo todos os elementos que possam individualizá-lo,
bem como providenciar lacre com a identificação do respectivo
procedimento;
2)- Solicitar, tão logo possível, sejam os objetos submetidos a exame
pericial, no qual, dentre outros quesitos, deverá o Delegado de Polícia
solicitar que sejam esclarecidos: se a premiação ofertada pelo
equipamento depende exclusivamente da sorte e/ou habilidade do
jogador, se existem evidências de manipulação de resultados (ex: chaves
manuais para alteração de programação) e, se os componentes são de
origem estrangeira, individualizando-os;
3)- Verificar, visando posterior definição de competência, se o
responsável pela exploração do jogo, por meio dos equipamentos, foi
também o responsável pela importação/instalação de componentes de
origem estrangeira;
4)- Elaborar Termo Circunstanciado de Infração Penal pela prática da
contravenção penal, capitulada no art. 50, caput, do Decreto Lei nº
3.688/41 em desfavor do explorador do jogo por meio de referidas
máquinas;
5)- Encaminhar por meio de ofício, nos termos legalmente definidos, os
objetos apreendidos ao Juízo competente, juntamente com os
procedimentos concluídos;
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6)- Ocorrendo recusa formal no recebimento de objetos apreendidos,
solicitar, por meio de ofício, ao Juízo respectivo, indicação do local para
onde deverão ser encaminhados.
7)- Apontando o Laudo Pericial para a existência também de crime de
competência da Justiça Federal, e que ainda dependem de apuração,
encaminhar cópia deste, juntamente com cópia das demais peças
produzidas, à Delegacia de Polícia Federal para as providências cabíveis,
solicitando ao Juízo Estadual respectivo, caso os objetos ainda se
encontrem sob a guarda da unidade policial, que determine e/ou autorize
seu encaminhamento àquela delegacia, bem como encaminhamento de
cópia à Receita Federal, para fins de conhecimento e providências
dispostas na IN/SRF nº 309/03;
8)- Encaminhamento à Divisão Policial da Capital, para conhecimento
e posterior remessa ao 9º Distrito Policial, para atendimento da solicitação
judicial (of. nº 1055/2009).
9)- Encaminhamento de cópia ao Senhor Delegado Geral da Polícia
Civil, para, se assim entender, divulgar as demais unidades policiais do
Estado, bem com adotar as providências que entender cabíveis quanto
ao contido no último parágrafo da manifestação da representante do
Ministério Público
Submeto a Vossa apreciação.
Curitiba, 04 de novembro de 2009.
Sérgio Taborda Corregedor-Geral Adjunto
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