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Resumo / Abstract:
- Relatório de estágio curricular no âmbito do Mestrado em
Edição de Texto. Descrição das actividades efectuadas no âmbito
de estágio, nomeadamente nas áreas de Coordenação Editorial e
Comunicação
Palavras-chave: Relatório; Edição; Coordenação Editorial;
Comunicação; Marketing
____________________________
- Report on the internship taken during the Master Degree on
Publishing. Description of its activities, mainly in areas such as
Publishing Coordination and Communication
Key Words: Report; Publishing; Publishing Coordination;
Communication; Marketing
2
Aos meus pais e irmão pelo apoio incondicional.
Aos Professores Rui Zink, meu orientador de Estágio, e Fernando Cabral Martins, por
terem sabido acentuar, com os seus ensinamentos, o meu amor aos livros e à edição.
A toda a equipa da Chiado Editora, que me recebeu de braços abertos.
3
ÍNDICE
Introdução……………………………………………………………………………………………………………………..4
1 A Chiado Editora
1.1 Dados gerais……………………………………………………………………………………………………………5
1.2 A equipa da Chiado: departamentos, organigrama e funcionamento…………………….7
1.3 O Escritório e a Gráfica……………………………………………………………………………………………10
2 A Coordenação Editorial
2.1 Processo e organização………………………………………………………………………………………….12
2.2 A escolha de paginador e designer. A “negociação” com o autor………………………….15
2.3 A conclusão do processo de coordenação. Cuidados necessários…………………………17
3 A comunicação
3.1 Do contacto inicial à Sessão de Lançamento………………………………………………………….20
3.2 O “Agenciamento” e as Sessões de Apresentação…………………………………………………22
3.3 As Press Releases, Notas de Imprensa e Planos Promocionais……………………………….25
4 Eu e o livro: parceiros de viagem no circuito da edição
4.1 Da coordenação editorial…………………………………………………………………………………………27
4.2 À comunicação………………………………………………………………………………………………………..28
Conclusão……………………………………………………………………………………………………………………….30
Bibliografia……………………………………………………………………………………………………………………..32
Anexos……………………………………………………………………………………………………………………………33
4
Introdução
O presente relatório sintetiza a minha experiência de estágio curricular,
exercido na Chiado Editora, no âmbito do Mestrado de Edição de Texto da Faculdade
de Letras da Universidade Nova de Lisboa.
Este estágio decorreu ao longo de 400 horas, distribuídas por um período de 3
meses, sob a orientação do Professor Rui Zink, Professor das disciplinas de Teoria da
Edição e Técnicas de Edição, e de Marisa Mendes, editora da Chiado.
Procurei descrever o meu percurso, desde o Departamento de Coordenação
Editorial ao Departamento de Comunicação, onde hoje exerço funções na qualidade de
profissional, tentando fazer uso de um registo descritivo mas também reflexivo e crítico,
que pudesse estabelecer a correlação entre os desafios que me foram colocados e a
minha capacidade de resposta, e entre as exigências que decorreram da minha
actividade e a forma como as mesmas foram moldando as minhas perspectivas pessoais
e a minha capacidade de adaptação profissional.
Comecei por estabelecer um perfil da Chiado Editora, através dos seus dados
biográficos e orgânicos, e da descrição do seu organigrama, funcionamento prático,
modelo empresarial e missão, bem como os desafios que se lhe colocam.
No capítulo dedicado à primeira etapa do meu estágio, a da Coordenação
Editorial, analiso as funções que compõem o trabalho desenvolvido neste departamento,
desde a chegada do original à ida para a gráfica. Estabeleço igualmente uma relação
entre as dificuldades sentidas e as virtudes, ou privilégios, que este trabalho acarreta, na
sua constante exigência de disciplina e organização.
No capítulo relativo ao trabalho realizado no Departamento de Comunicação,
esquematizo as diversas etapas que constituem o percurso convencional da obra e do
autor, no trabalho constante de divulgação e promoção de cada livro. Estabeleço as
diferentes facetas deste trabalho, que vão da comunicação e das etapas tradicionais que
se lhe encontram associadas, ao agendamento, e ao próprio conceito de agenciamento, e
ao porquê de considerar que este último é parte das funções diariamente exercidas neste
sector.
Termino com uma vertente reflexiva, ou um balanço pessoal e crítico, que é no
fundo uma relação das minhas emoções e impressões: uma visão pessoal, sem
5
condescendência, das dificuldades e virtudes de exercer funções numa editora com o
modelo de negócio da Chiado Editora, e com a sua identidade e perspectivas.
6
1 A Chiado Editora
1.1 - Dados gerais
A Chiado Editora tem sete anos de existência (criada em 2008 num pequeno
apartamento ), cujos escritórios em Lisboa se situam na Avenida da Liberdade, Palácio
Lambertini, N.º 166. Está também fisicamente presente, com escritório, no Brasil (São
Paulo) e Espanha (Barcelona). A abertura destes escritórios (o de São Paulo nasceu no
passado ano de 2014) atesta, aliás, o padrão de crescimento exponencial que tem
manifestado ao longo do seu ainda curto percurso . A este propósito, pode dizer-se que a
Editora tem tido a plena consciência de que as “oportunidades podem vir da abertura
de um novo mercado, da emergência de novos modos de consumo”.1
Actualmente, esta editora distribui nos seguintes países: Portugal, Espanha,
Brasil, Alemanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Estados Unidos da América e Reino
Unido. Publica um número superior a mil novos títulos por ano, possuindo os seus
próprios meios gráficos, e sendo já considerada a maior editora de autores portugueses
contemporâneos. Os seus canais de comunicação, a Chiado Magazine e a página
facebook da editora, têm enorme popularidade (a página de facebook possui cerca de 2
000 000 de amigos), que fazem com que a Chiado comece a criar um impacto
significativo não só na tradicional actividade editorial, mas também nas áreas dos media
e da produção e difusão de conteúdos.
A editora tem também aperfeiçoado a sua rede de distribuição, sendo possível
adquirir os seus exemplares nas maiores cadeias livreiras dos países onde opera:
Bertrand, FNAC, Wook, Note!, El Corte Inglés, Livraria Cultura (Brasil), ou Saraiva
(Brasil), através de uma expansão contínua de meios, contactos, e de uma crescente
experiência e depuração dos seus métodos. Neste particular, soube igualmente
compreender um pilar determinante da indústria editorial, ao “caracterizar os circuitos
de distribuição existentes” 2, optando por investir num sistema próprio.
A Chiado garante hoje um serviço editorial que vai da publicação de um
original ao agendamento de sessões de lançamento e apresentação, da promoção dos
1 FURTADO, José Afonso, A edição de livros e gestão estratégica, Booktailors, 2009, p. 29 2 Idem, p. 35
7
seus títulos em todos os órgãos de comunicação social à colocação de exemplares em
qualquer ponto de venda do país.
Com um catálogo constituído por milhares de autores, podemos destacar os
nomes de João Negreiros, Pedro Chagas Freitas, Pinto da Costa, Carlos Zorrinho, Edson
Athayde, Luís Osório, Filipe La Féria, Dead Combo, entre outros. O modelo da editora
passa por não privilegiar qualquer género literário, nem fechar as portas a autores de
créditos ainda não firmados no panorama literário.
Desta forma, a Chiado Editora possui no seu catálogo géneros tão diversos
como a poesia, a ficção, o ensaio, a literatura infantil, a crónica, biografias ou álbums
fotográficos.
A editora tem, em Lisboa, para além dos seus escritórios, o complexo gráfico,
situado na Portela de Sacavém, e a sua própria Livraria (que funciona igualmente como
bar e Clube Cultural e Literário), a Desassossego, situada no nº 34 da Rua de São Bento,
em frente a uma das casas onde habitou o poeta Fernando Pessoa.
1. 2 - A equipa da Chiado: departamentos, organigrama e funcionamento
Se pudéssemos acompanhar o percurso de uma obra desde a chegada do
original até à ida para a gráfica, já como livro, para as prateleiras de uma livraria,
obteríamos, através desse percurso, uma visão clara da forma como a editora se
organiza, de qual a função de cada um dos seus departamentos, e de como estes
funcionam entre si.
A equipa é constituída por 4 editores; um ou dois coordenadores editoriais
(sendo que um dos elementos acumula funções de designer e coordenador); 3 elementos
do Departamento de Comunicação; 3 elementos do Departamento Comercial e de
Distribuição; e dois elementos no Sector Financeiro e de Recursos Humanos.
O Departamento Editorial tem como função a recepção e análise dos originais
diariamente enviados. Dessa análise, individual, nasce a escolha dos originais a
publicar. Consoante as características do original, e da análise de diversos factores
(qualidade do texto, estatuto e experiência do autor, potencial trabalho a desenvolver em
torno da obra), cabe ao editor conceber as características do contrato a celebrar com o
autor. Essas características são expostas ao autor, eventualmente discutidas ou
8
negociadas com o mesmo, e é oficializado o acordo entre as partes. Nalguns casos, o
editor chama a si a responsabilidade da etapa seguinte, a da coordenação editorial,
noutros delega aos membros desse Departamento essa função. Mas nunca deixa de
acompanhar o original, nem o tratamento que é dado ao mesmo, sendo sempre o garante
do cumprimento das expectativas iniciais do autor. Não raras vezes, o autor continua a
comunicar directamente com o editor, vendo nele um representante dos seus interesses
no interior da editora, apesar de consciente de que a sua obra já não se encontra sob
supervisão do editor, e tendo como interlocutor o coordenador ou já mesmo a equipa de
comunicação ou de distribuição.
Ao coordenador editorial a quem é entregue uma obra cabe começar a dar vida
ao produto final: o livro. Após um diálogo inicial, mas que se manterá de forma
constante e mais ou menos intensa, com o autor, e analisadas as características do texto,
cabe ao coordenador a escolha do designer e do paginador certos para a obra, de entre
os vários que colaboram na condição de freelancers com a Chiado Editora. Enquanto os
designers e paginadores começam a trabalhar nas primeiras provas, o coordenador abre
caminho por entre as formalidades necessárias à publicação, solicitando um ISBN e um
Número de Depósito Legal para o futuro livro. Quando o designer e o paginador enviam
as primeiras propostas, o coordenador reencaminha as mesmas ao autor, que tem uma
palavra determinante no produto final, estabelecendo críticas, sugestões e eventuais
mudanças a realizar. Deste diálogo entre 3 partes, que pode ter vários episódios de
viagem de provas entre designer, paginador e autor, tendo o coordenador um papel de
intermediário, nascerá o produto final, que culmina com o consenso entre todas as
partes de que a obra está pronta para seguir para a gráfica.
Na gráfica, cujo funcionamento e relação com o escritório será referido no
próximo ponto deste relatório (Ver 1.3 – A gráfica e o Escritório), a obra nasce
fisicamente, num período de tempo que ronda, em média, as seis semanas.
Dez dias depois da partida da obra para a gráfica, o Departamento de
Comunicação inicia as suas funções no circuito editorial. Contacta o autor, estabelece
com este qual a melhor altura e local para realizar o evento de lançamento, e inicia
contactos de agendamento de sessão com o local escolhido, que pode ser uma
Biblioteca, uma associação, uma livraria, ou outra hipótese sugerida pelo autor, ou pelo
próprio Departamento de Comunicação, que tem em conta diversos factores de decisão:
9
região de onde é proveniente o autor, características da obra, público-alvo ou
características que o evento possa vir a tomar.
Estabelecido o agendamento do local, a sessão é inscrita na agenda interna da
editora, e mais tarde é nomeado o representante que estará presente no evento de
lançamento, e que pode ser qualquer membro da equipa da Chiado Editora. Nesta fase é
essencial promover a sessão de lançamento, o que é feito através da realização de uma
press release, difundida por uma mailing list constituída por diversos contactos de
órgãos de comunicação social, naturalmente seleccionados como os mais adequados
tendo em conta as características da obra. Após o agendamento, procede-se igualmente
ao pedido de material promocional, sob a forma de marcadores, cartazes e convites,
feito pelo mesmo designer que teve a seu cargo a concepção da capa da obra, e que é
também difundido pelo próprio autor, em muitos casos.
Mas as funções do Departamento de comunicação não se esgotam,
naturalmente, cumprido o evento de lançamento da obra. Os autores da Chiado Editora
continuam, após o lançamento, a manter um diálogo activo com este departamento, no
sentido de serem realizadas diversas acções de promoção e divulgação da sua obra:
agendamento de sessões de apresentação e de autógrafos, planos promocionais, envio de
obras para órgãos de comunicação específicos3, contactos com televisão , rádio e
jornais, parcerias com blogs literários, destaque no facebook, produção de materiais
promocionais de caraterísticas específicas e para diversos fins, etc.
Quando ocorre o lançamento, entra em acção o Departamento Comercial e de
Distribuição, responsável pela colocação de exemplares nas diversas livrarias, pela
gestão de stock, pelas reposições, pelo abastecimentos de livros para um determinado
evento, pela gestão de encomendas. Neste sentido, existe uma relação estreita entre o
Departamento de Comunicação e de Distribuição, que funcionam aliás no mesmo
espaço físico, uma vez que a marcação de qualquer sessão ou evento que exija
colocação de livros num determinado local é imediatamente sinalizado pela
comunicação à distribuição.
3 O Departamento de Comunicação tem neste aspecto a noção de um importante factor: “a perspectiva
geográfica, alusiva a factores relativos à localização, espaço” e identidade - sentido de pertença –
regional de cada autor, mencionado em FURTADO, Op. cit., p. 35
10
Fig. 1 - Organigrama e esquema de funcionamento da Chiado Editora
1.3 - O Escritório e a Gráfica
Muito do sucesso da Chiado e da sua capacidade de resposta aos desafios que
são diariamente colocados joga-se no nível de rapidez e na eficácia com que se
desenrola a relação entre o escriório da Avenida da Liberdade, e a Gráfica, situada na
Portela de Sacavém, e por isso relativamente distanciada.
Possuir meios gráficos próprios permite à Chiado Editora uma boa autonomia e
capacidade de resposta, que a torna versátil e ágil na resposta às necessidades de
exemplares, princialmente a curto prazo. Avançar para a aquisição de espaço de
trabalho e de maquinaria foi por isso uma das apostas, ganhas, mais arrojadas da
editora, o que resulta de um atributo muito importante na sua identidade: “a capacidade
de resposta às ameaças e oportunidades”4.
A gráfica não é apenas o local onde se produzem as centenas de novos títulos
da Chiado: é também o local de armazenamento do seu stock. A relação física entre o
escritório, a gráfica, as lojas, e os locais onde ocorrem os diversos eventos de
lançamento, apresentação ou sessão de autógrafos, é assegurada por um estafeta, que
conduz uma viatura de mercadorias pertencente à empresa, e cuja rota se encontra bem
definida diariamente. No espaço da gráfica fica situado o serviço de publicação de
4 IBIDEM, p. 54
11
exemplares, de material promocional, e da Logística. Todos estes serviços se encontram
em permanente comunicação e articulação com o Departamento de Comunicação e de
Distribuição, localizados no escritório.
Os documentos alojados em plataforma comum permitem uma colaboração em
tempo real entre as diversas componentes da Editora. Quando o Departamento de
comunicação assinala um evento na sua agenda interna, o Departamente de Logística
fica desde logo notificado para o facto de ser necessário colocar um determinado
número de exemplares num local. Da mesma forma, quando o Departamento de
Distribuição recebe uma encomenda, ou se depara com uma necessidade de exemplares
de uma obra, estabelece um contacto imediato com a Gráfica, no sentido de saber se é
necessária uma reimpressão, se deve avançar-se para uma segunda edição, e em que
circunstâncias e tempo se podem colocar exemplares numa determinada livraria ou
ponto de venda.
Para uma editora que chega a realizar dezenas de eventos num só mês, a saúde
desta desta relação e o nível de coordenação entre os espaços e os departamentos torna-
se verdadeiramente decisiva.
Da gráfica para o escritório saem igualmente os exemplares que se destinam a
cumprir planos promocionais, a enviar para os diversos agentes do “jogo”, como
autores, jornais, revistas, canais de televisão, rádios, ou blogs.
Os documentos informativos, internos, de cada departamento, são diariamente
consultados pelos outros departamentos. A logística e a distribuição consultam
diariamente a agenda construida pelo Departamento de comunicação, para saberem que
obras devem produzir com maior urgência, que eventos se devem preparar para
abastecer de exemplares, ou para consultarem o local e a hora das entregas. Da mesma
forma, a Comunicação consulta diariamente o Plano da Gráfica, para saber quando é
seguro agendar um evento, ao qual não poderão faltar exemplares, ou para irem
informando os autores com quem mantêm uma comunicação constante, sobre o
andamento das suas publicações.
12
2 A Coordenação Editorial
2.1 - Processo e organização
Negociado com o autor o contrato de publicação da sua obra, o seu original está
pronto para seguir para a fase de coordenação editorial.
O papel do coordenador é o de estabelecer a relação com paginadores e
designers, de forma a ir de encontro ao que autor realmente deseja, até que a obra esteja
pronta para seguir para impressão.
As obras são enviadas ao coordenador pelos respectivos editores, levando em
anexo o original revisto, e possíveis indicações ou ideias iniciais, se existirem, para a
capa.
O original recebido vem sempre na sua versão final. É enviado ao paginador
com as seguintes indicações: título, autor, colecção onde a obra estará inserida (este
elemento determina ligeiras variações na paginação e no aspecto gráfico, final, da obra),
editor, coordenador, designer, revisor, edição, ISBN e Depósito Legal. Nem sempre
estes dados estão inteiramente disponíveis quando se remete a obra ao paginador, mas
devem ser transmitidos logo que possível, para inclusão na Ficha Técnica.
No trabalho do paginador é necessária uma atenção constante à ficha técnica,
aos cabeçalhos e rodapés, a frases penduradas de página para página, à hifenização.
Ao designer é pedida a capa, com as seguintes indicações: título, autor, sinopse
e biografia (que constarão da badana e da contracapa), e ideias iniciais para a capa. Caso
não existam ideias iniciais para a capa, por parte do autor, cabe ao designer, em
conjunto com editor e coordenador, basear-se no conteúdo da obra para produzir a capa.
No trabalho do designer é necessário ter em atenção a qualidade estética final
da capa, e se está em consonância com as ideias do autor e do editor em relação à
mesma. É igualmente necessária, uma vez que a capa determina a imagem da obra e da
própria editora, uma atenção especial à forma como estão escritos o título, o nome do
autor, a sinopse e a biografia, não podendo estes conter qualquer erro, e devendo ser
redigidos de forma clara e correcta.
São dados, em condições normais, cerca de quatro dias a paginador e designer,
para enviarem a primeira proposta de paginação e capa. Esta primeira proposta é
13
enviada ao autor, que faz as suas sugestões, e as propostas são devolvidas a designer e
paginador, que deverão alterar o trabalho até que o autor esteja plenamente satisfeito.
Em nenhuma parte do processo existe um contacto directo entre autor, paginador e
designer. Cabe ao coordenador o papel de intermediário, para proteger todas as partes
envolvidas, e para gerir e controlar todo o processo.
Cabe então ao coordenador, estabelecer a ponte de comunicação, ou seja a
mediação, entre o autor, e aquilo que são as suas expectativas em relação ao resultado
final da sua obra enquanto objecto físico, e o trabalho de designers e paginadores. No
fundo, o coordenador sabe que “é necessário que todos os passos da produção sejam
devidamente controlados e aprovados, para que o produto final não desiluda nenhum
dos intervenientes”5.
A organização é um dos pilares do trabalho do coordenador, uma vez que
existem prazos a respeitar. É necessário um controlo e uma noção constantes, com o
acumular de obras, de qual a fase em que cada obra se encontra e qual o passo seguinte.
O objectivo é impedir atrasos e exercer, a cada momento, uma gestão rigorosa do
trabalho a efectuar e possuir um conhecimento exímio do ponto de situação de cada
obra, essencial numa relação de comunicação próxima e constante com o autor, que
deve sentir uma dedicação permanente da editora à sua obra.
Desta forma, o primeiro passo é a construção, e posterior manutenção de um
documento “Excel” 6, que permite o armazenamento e actualização de dados relativos às
obras em fase de coordenação editorial.
Num documento deste género é possível colocar dados como título, autor,
ISBN, Depósito Legal, nome de designer, nome de paginador, ponto de situação, editora
responsável, etc.
5 BARBOSA, Conceição, Manual prático de produção gráfica, Principia, 2012, p. 50 6 Ver Anexo 1
14
Fig. 2 – Excel da Coordenação Editorial
Ainda antes do início de todo o processo de intermediação entre o trabalho do designer,
do paginador, das indicações editoriais e das próprias expectativas do autor, é necessário
salvaguardar a resolução burocrática de dois aspectos obrigatórios no estabelecer do
livro enquanto objecto físico e comercial: o pedido de ISBN e o Depósito Legal.
O ISBN é pedido 7 através do preenchimento de um formulário dirigido à APEL
(Associação Portuguesa de Editores e Livreiros), com a indicação clara de título, autor e
suporte (e-book, monografia, outros). Em resposta, a APEL comunica o número de
ISBN a ser atribuído à obra, onde constam dados, codificados em 13 dígitos, da língua,
editor, número que distingue a obra, algarismos de verificação, etc.
Da mesma forma, é necessário solicitar à Biblioteca Nacional o número de Depósito
Legal, que implica a obrigatoriedade de envio, por parte da editora e após a conclusão
da publicação da obra, de 11 exemplares, a serem distribuídos pelas bibliotecas
designadas de “depósito legal” do país.
7 Ver anexo 2
15
2.2 - A escolha de paginador e designer. A “negociação” com o autor.
O primeiro grande passo da coordenação editorial propriamente dita consiste na
escolha do designer e do paginador certos para cada obra. Por vezes, acontece que esta
escolha é ditada simplesmente pela agenda de cada designer ou paginador, mas na maior
parte das ocasiões a escolha tem em conta uma série de factores mais abrangente: se o
designer ou paginador está ou não mais ocupado, se é cumpridor de prazos, se os seus
últimos trabalhos têm evidenciado qualidade, o seu estilo estético, a sua especialidade.
A Chiado Editora trabalha com uma carteira de designers e paginadores em
regime de freelancing. Todos eles recebem uma formação prévia de InDesign, e em
torno dos requisitos necessários para realizar uma paginação, uma capa, um cartaz, um
convite ou um marcador para a Chiado Editora. São-lhes fornecidos templates, e
recebem as indicações necessárias para executar o seu trabalho dentro das normativas da
editora, desde a primeira prova à forma como devem ser enviadas para a gráfica as
Artes Finais de cada trabalho (embora este envio não seja feito pelos próprios designers,
mas sim pelos editores).
Tudo começa, por parte dos editores e coordenador, por uma análise a um
original acabado de chegar: ao seu estilo, tom, género, personagens, enredo. Esta análise
irá sugerir em que designer e paginador poderá recair o trabalho a efectuar. Cada
profissional possui a sua expertise, e na tabela de contactos dos mesmos existe uma
coluna com observações, que incluem, a título de exemplo, os seguintes comentários,
sobre cada um: “faz paginações complicadas em diversos formatos”; “Expert em obras
infantis”; “Paginações de poesia e obras simples”; “Paginações muito complexas”;
“Capas fortes, vectoriais, chamativas”. Naturalmente, um coordenador com experiência
começa a conhecer com maior profundidade cada um dos profissionais que trabalham
consigo, começando a avaliar intuitivamente o seu nível de eficácia, profissionalismo,
adequação a um trabalho específico, capacidade de lidar com a pressão, especialidade,
grau de qualidade em relação à necessidade de rapidez. Garantido este conhecimento
exímio de cada colaborador, resta ao coordenador “envolver toda a equipa, para que a
nossa urgência seja também a urgência dos outros8”, de cada um dos envolvidos.
Dadas as primeiras indicações a designer e paginador, espera-se deles a
apresentação das primeiras propostas. No caso do designer, esta primeira proposta surge
8 BARBOSA, Op. cit., p. 150
16
apenas sobre a forma da parte da frente de uma capa. Se a mesma for aprovada, por
autor, coordenador e paginador, é-lhe pedido então o estudo completo de capa. Muitas
vezes a primeira proposta esbarra desde logo no coordenador, que é o primeiro filtro
para apurar erros grosseiros ou uma desadequação gritante e evidente em relação aos
requisitos básicos ditados pelas primeiras indicações.
A capa 9, em especial, é particularmente importante, porque é quando o autor
começa efectivamente a ver o seu sonho concretizado, a ganhar um rosto. É
normalmente geradora de reações extremas de felicidade ou desilusão, sendo por isso
um trabalho de algum melindre. Naturalmente, quando a primeira prova é enviada a um
autor e este responde com reparos ou sugestões, terá que ser avaliado o nível de
razoabilidade das suas expectativas. Alguns prazos derrapam na tentativa de fazer com
que a capa possa convergir com a visão do autor. Em muitas ocasiões, é necessário
adoptar perante um autor alguma firmeza, seja no estabelecer de limites para tentativas
de capas, seja na obrigatoriedade de manter padrões esteticamente razoáveis, uma vez
que cada capa traduz também a imagem da própria editora. Nem sempre é fácil reunir o
consenso entre todas as partes: é necessário gerir a expectativa do autor, o facto de
designer ou paginador terem de ser respeitados dentro da sua integridade artística, a
necessidade de manter uma boa imagem estética editorial, e de haver, no fim de tudo,
um prazo a cumprir. Nesta gestão se joga o verdadeiro trabalho de um coordenador.
Na paginação, as alterações a efectuar podem passar pela alteração das
margens; pelo espaço entrelinhas; pelo tipo de fonte a utilizar; pelo posicionamento dos
títulos; pela configuração de cabeçalhos ou citações. O processo é em tudo semelhante
ao da produção da capa, na gestão de expectativas, padrões técnicos e estéticos, e
prazos.
Nesta gestão, e como vimos no ponto anterior, é fundamental manter a
confluência de obras devidamente organizada, assinalando no ficheiro em que ponto se
encontra cada uma delas. Por vezes um prazo de capa derrapa, ou o de uma paginação, e
é necessário analisar o histórico de mensagens trocadas entre autor, paginador, designer
e coordenador, sendo necessária um constante sentido de orientação, firmeza,
organização e método.
O desbloquear de algumas situações complicadas, como um total desencontro
entre o trabalho de paginador e designer e a expectativa do autor, obriga a que o método
9 Ver Anexo 5
17
de troca de mensagens constantes via e-mail seja substituído por algumas reuniões
presenciais.
Ao coordenador não cabe, na maioria dos casos, impor a sua vontade ou gosto.
Cabe-lhe, sobretudo, interpretar a expectativa inicial do autor; fazer a salvaguarda da
imagem da editora; respeitar a experiência do editor (e do seu conhecimento do
mercado, do tipo de autor, e das suas indicações gerais); proteger a integridade artística
e valorizar o trabalho dos seus designers e paginadores; e gerir todos estes factores no
sentido de serem respeitados os prazos e as imposições de cada tipo de obra.
2.3 - A conclusão do processo de coordenação. Cuidados necessários.
Para concluir a fase da Coordenação são necessários alguns passos que se
destinam a assegurar de que a obra está pronta para seguir para a gráfica, e que todos os
que sobre ela trabalharão nas fases seguintes, do Departamento Gráfico ao da
Comunicação, possuem a informação e os instrumentos necessários para o fazer: “na
arte final, as medidas devem ser as correctas, e todos os elementos – textos, imagens,
ilustrações, gráficos – devem situar-se nos sítios certos”10.
Antes de mais, é necessário que quem conclui este processo se certifique de que
o autor aprovou todo o trabalho realizado até esse momento, da paginação à capa, e que
aprovou não só a primeira prova da capa, mas também o estudo de capa completo
(incluindo badanas, lombada e contracapa).
Depois, pede-se ao paginador as artes finais, dando-lhe os nomes de revisor,
bem como todos os elementos em falta na ficha técnica. São ainda pedidas as fontes
utilizadas, em ficheiros passíveis de serem carregados para o programa InDesign,
formatos pdf, e editáveis (ficheiros de InDesign e Ilustrator passíveis de serem
trabalhados e modificados). Este cuidado prende-se com a necessidade de, no futuro, e
caso o paginador tenha que efectuar alterações para uma edição subsequente, ou mesmo
no caso de haver uma alteração de paginador, a editora possua, numa base de dados os
ficheiros que permitam essas alterações. Todos estes materiais ficam depositados na
Base de Dados que compõe a Plataforma, a network, da empresa, e são extremamente
10 BARBOSA, Op. cit., p. 12
18
úteis aos Departamentos de Comunicação e Distribuição, como veremos no próximo
capítulo. De referir que este procedimento, estes cuidados, são extensíveis à capa, e não
só à paginação.
Uma última análise à capa destina-se a evitar erros grosseiros no título, no
nome do autor, no texto da biografia, na sinopse, e na lombada, que podem prejudicar a
imagem da editora e a qualidade intrínseca da obra.
Na paginação é necessário certificar-se que a data desta primeira edição aponta
para daí a dois meses, altura em que a publicação estará concluída no Departamento
Gráfico. O Título e demais elementos não poderão conter erros grosseiros, da mesma
forma, na página de rosto. Deve igualmente certificar-se que o título se encontra bem
escrito no cabeçalho, e que este cabeçalho não aparece nas páginas de início de cada
capítulo.
Quando tudo é enviado ao editor, que se encarrega do envio das artes finais ao
Departamento Gráfico, devem ser preenchidas a Ficha da Obra 11 e a Ficha da Gráfica
12, que alimentarão a plataforma da editora, para uma utilização constante de todos os
profissionais dos Departamentos de Comunicação e Distribuição.
Da ficha da obra constam elementos como os dados biográficos do autor e os
seus contactos, o tipo de contrato que estabeleceu com a editora, uma nota biográfica e
uma sinopse. Esta ficha ajuda o Departamento de Comunicação a entrar em contacto
com o autor, a estabelecer um perfil da obra no sentido de preparar planos
promocionais, a retirar elementos que são obrigatórios e necessários no pedido de
acolhimento de uma sessão de promoção junto de uma livraria, etc.
A ficha da gráfica contém elementos mais técnicos que devem ser transmitidos
ao Departamento Gráfico, como por exemplo se a capa deve ser composta de forma
brilhante ou em mate, se possui capa dura, se terá algum formato especial, por quantos
exemplares é composta a 1ª edição, etc.
Todo este processo termina com a cordialidade necessária, efectuando as
despedidas junto do autor e naturalmente desejando-lhe sorte e sucesso.
11 Ver Anexo 3 12 Ver Anexo 4
20
3 A comunicação
3.1 - Do contacto inicial à Sessão de Lançamento
Na Chiado Editora existe a perfeita noção e reconhecimento da importância do
Departamento de Comunicação. De resto, existe noção de que muitos especialistas
reconhecem até: “publishing companies today are run by marketers”13.
No Departamento de Comunicação, tudo começa 10 dias após a ida da obra para
a gráfica, altura em que é estabelecido o contacto inicial com o autor. A data em que
cada autor deve ser contactado é indicada por um documento “excel” disponível na
plataforma geral, que indica a data em que cada obra foi enviada pelo respectivo editor
para o Departamento Gráfico.
Este contacto inicial destina-se a explicar ao autor aquilo em que consiste uma
sessão de lançamento, qual a sua estrutura tradicional, e os locais mais adequados para
realizar um evento deste género. Numa sessão de lançamento, é importante que tudo
inspire confiança ao autor, e que a própria sessão seja prestigiante para todos os
envolvidos. Por norma, o representante da Chiado Editora inicia a sessão, apresentando
a Editora, os seus aspectos mais atractivos e factores de prestígio da mesma, e a razão
pela qual, de forma muito breve, a editora apostou naquela obra e autor específicos.
Posto esta intervenção inicial, a palavra é tomada pelo orador convidado, escolhido
quase invariavelmente pelo próprio autor. O autor conclui a sessão, mencionando alguns
factos sobre a obra, sobre si mesmo, e sobre si como escritor.
Tal como na fase da coordenação, a escolha do local é fruto de uma negociação
com o autor, sendo que é necessário gerir as expectativas deste último em relação ao
período em que a sessão de lançamento será realizada (nunca antes de 6 a 8 semanas
após o contacto inicial, período necessário ao Departamento Gráfico para concluir a
publicação da obra), e em relação ao próprio local, cuja escolha deverá ter em conta
diversos factores.
A escolha do local ideal deve ter em conta a popularidade ou o grau de
implantação do autor no mercado livreiro: um autor inédito, praticamente desconhecido
13 BAVERSTOCK, Alison, How to market books: the essential guide to maximizing profit and exploiting
all channels to market, 2008, p. 4
21
do grande público, não deve aspirar à realização do seu evento de lançamento num local
com capacidade superior a cerca de 60 pessoas. Uma sala relativamente pequena ou
média, mas devidamente preenchida pelo círculo de amigos, familiares e alguns
curiosos, pode conferir ao evento um ambiente acolhedor mas animado, transmitindo
confiança e sentimento de realização a um autor em início de carreira. Uma sala
pomposa, de grande lotação e amplitude, mas vazia, terá seguramente o efeito contrário,
causando frustração no autor e uma aura de desprestígio e ineficácia à editora. Da
mesma forma, um autor residente numa localidade do interior, deve ser desaconselhado
a realizar o Lançamento da sua obra numa cidade como Porto ou Lisboa: Na sua
localidade sentir-se-á confiante e acarinhado, ao passo que numa daquelas cidades corre
o risco de não haver afluência à sua sessão, o que será igualmente um factor de
desmotivação. Um último factor a ter em conta é a venda dos exemplares: se os mesmos
pertencerem ao autor ou à própria editora, a realização do evento numa livraria é
desaconselhada, uma vez que nestes espaços as vendas reverterão quase exclusivamente
a favor da própria livraria, ao abrigo de acordos comerciais.
Estabelecido com o autor a data e o local ideais para o lançamento, é necessário
entrar em contacto com o local, com vista ao agendamento da sessão. Neste contacto
com o local é necessário ser o mais claro posível, comunicando com objectividade.
Neste tipo de comunicação indica-se muito claramente o assunto (por exemplo “Pedido
de acolhimento de sessão de lançamento da obra “x”, do autor “y”). No corpo do texto,
é necessário aferir a disponibilidade do espaço em questão para acolher uma sessão de
lançamento num dia e hora específicos; incluir uma breve nota biográfica do autor e
uma sinopse da obra, e finalizar com um agradecimento prévio pela atenção e
disponibilidade do próprio espaço. Muitas vezes estes pedidos esbarram na
indisponibilidade de agenda dos espaços, ou no reencaminhar do pedido para entidades
superioras, e nalguns casos é necessário equacionar uma data ou um local alternativos,
sendo necessário gerir simultaneamente a frustração que advém da ansiedade do autor.
Os pedidos, por motivos de segurança e salvaguarda, devem ser, em princípio,
formalizados por escrito, via e-mail, sendo que nalguns casos também é utilizado o
contacto telefónico como forma de desbloquear uma situação mais demorada, como um
pedido que não obtém resposta, por negligência do responsável ou por utilização de um
contacto e-mail indirecto ou inválido.
22
Estabelecido um consenso com o autor e o espaço em torno de uma data, a
sessão é inscrita numa agenda interna, que tem como objectivo alertar a gráfica para a
necessidade de ter uma determinada obra pronta dentro do tempo necessário, ou para
alertar o próprio Departamento de Comunicação para a necessidade de designar um
representante para a sessão. Este representante sairá de uma lista composta por diversas
pessoas que em pontos remotos de todo o país assumem a função de representar a
Chiado Editora, dentro das suas possibilidade geográficas e de agenda. Toda esta gestão
é realizada pelo Departamento de Comunicação: a angariação de representantes,
normalmente pessoas com uma óptima relação com a Editora, muitos deles autores; a
disponibilidade de cada um; a notificação dos mesmos em relação às sessões e a
transmissão de informações sobre as mesmas.
As últimas etapas desta fase consistem no pedido de material promocional 14, ao
mesmo designer que tratou da capa da obra, como forma de manter sintonia e coerência
entre a capa, o cartaz e o convite; e na promoção da sessão através da distribuição de
uma press release e da divulgação do convite através dos canais de comunicação da
editora, com destaque para a sua página de facebook, que possui milhões de
visualizadores. Uma vez mais, cabe ao Departamento de Comunicação gerir a qualidade
e eficácia do material promocional, sendo que neste caso não deve ser dada grande
margem de manobra nem ao autor nem ao próprio designer, uma vez que a política
estética da editora, bem como a necessidade de manter uma linha visual coerente,
exigem um certo conservadorismo na metodologia de composição de cartazes e
convites.
3.2 - O “Agenciamento” e as Sessões de Apresentação
O termo “agenciamento” não deve ser interpretado de forma literal, mas em
certa medida trata-se de uma das funções do Departamento de Comunicação, uma vez
que este leva a cabo um esforço constante para conquistar uma crescente visibilidade
para os seus autores, tentando que os mesmos sejam alvo das atenções dos eventos e
órgãos de comunicação mais adequados ao seu perfil e às características da sua obra.
14 Ver Anexo 6
23
Nem todos os eventos se prestam à participação de todos os autores, nem todos
os órgãos de comunicação possuem o perfil adequado à divulgação de todas as obras:
“marketing theory emphasizes the importance of segmenting the market into different
groups”15. Ao Departamento de Comunicação cabe avaliar esta adequação. Uma vez
mais, este trabalho deve resistir à constante pressão dos autores, nem sempre os agentes
de avaliação mais lúcidos e realistas das virtudes e defeitos da sua própria obra. A
Chiado Editora possui uma enorme carteira de contactos de imprensa, bem como um
catálogo consideravelmente grande de autores, havendo um esforço constante para
avaliar as reais possibilidades de exposição de uma obra, e a forma mais mais eficaz de
a promover entre o seu público-alvo. As expectativas dos autores são normalmente
elevadas, mas também difusas e pouco concretas, muitas vezes toldadas por ilusões
irrealistas e metas irrealizáveis. Ao Departamento de Comunicação não cabe o simples
tolher destas aspirações, mas sim ajudar o autor a encontrar o caminho certo, e
equilibrado, para as realizar, desde que sejam minimamente exequíveis: “the best
results are always obtained by clients who have a clear idea of what they want and can
express it effectively”16
Uma dada publicação periódica possui um cunho mais ou menos literário, mais
ou menos sofisticado. Um programa específico de televisão ou rádio podem apresentar
um cunho mais intelectual, ao passo que outro possui um perfil mais popular e
acessível. A maioria dos festivais literários possui uma especialidade, um tema,
apresentam vantagens ou desvantagens. Um dado autor, ou obra, pode não estar
preparado para se apresentar num espaço ou livraria para a qual o primeiro solicita o
agendamento de uma sessão: pode ser um perfeito desconhecido nessa área geográfica,
não possuindo por isso uma base de apoio. Certos jornais, ou jornalistas, ignoram por
completo o envio de um livro que não reúna determinadas características. Uma
conjuntura específica pode não ser a ideal para iniciar uma estratégia de divulgação, por
não ser prometedora ao nível de vendas, de afluência a um espaço por parte do público,
de sucesso ou poder de agregação em torno de um tema.
Tudo isto deverá ser levado em conta pelo Departamento de Comunicação, ao
decidir qual o melhor dia da semana para uma sessão de apresentação; se essa sessão
não deveria ser apenas de autógrafos; qual a melhor loja, em termos de localização e
15 BAVERSTOCK, Op. cit., p. 11 16 Idem, p. 77
24
configuração para realizar um dado evento, tendo em conta factores tão díspares como o
número de pessoas esperado; ou qual o melhor conjunto de órgãos de comunicação para
realizar um Plano Promocional; quem conhecemos dentro dessas publicações; se uma
obra deve ser divulgada ou não na televisão; se uma outra obra será melhor promovida
com recurso à imprensa local ou nacional. Não havendo fórmulas infalíveis, o
Departamento de Comunicação toma todas estas decisões consoante uma experiência
acumulada, uma análise ao perfil de uma obra, uma avaliação justa às pretensões do
autor, em relação às reais capacidades da sua obra.
O facebook da Chiado Editora é sempre um canal de comunicação privilegiado
para efeitos de divulgação de uma obra. Possuindo cerca de 2 000 000 de
visualizadores, os próprios autores reconhecem que se trata de uma inegável mais-valia
na promoção da sua obra, solicitando constantemente a publicação de excertos, imagens
da capa, entrevistas, recortes de imprensas, booktrailers, páginas de facebook pessoal,
ou convites para sessões em formato digital.
A relação com os diversos blogs associados à Chiado revela-se bastante
frutífera, mas a editora reserva-se o direito a trabalhar com os blogs que realmente
constituam um factor de parceria eficaz: é avaliado o seu grau de popularidade, a
qualidade da sua escrita, a frequência com que é actualizado, entre outros factores.
Muitos autores de blogs são profundamente populares entre leitores de um tipo
específico de livros, devendo a sua influência ser fortemente tomada em linha de conta.
A sua palavra ou apreciação pode ser decisiva para a formação de um eventual culto em
torno de uma obra, ajudando a decidir o maior ou menor sucesso comercial da mesma.
Para efeitos de promoção junto de blogs, televisões, jornais, rádios, ou para
diversos agentes de promoção do livro e da leitura, são enviados diariamente dezenas de
exemplares das mais diversas obras.
Existem diversos tipos de sessões de promoção de uma obra: as mais comuns
no agendamento por parte do Departamento de Comunicação são a Sessão de
Lançamento, a Sessão de Apresentação, e a Sessão de Autógrafos.
Já antes foi referida a Sessão de Lançamento. A Sessão de Apresentação possui
grande parte das características de uma Sessão de Lançamento, mas também algumas
particularidades. Neste tipo de Sessão, apesar de já ter sido feito o lançamento oficial da
obra, pretende-se dar a conhecer o autor em espaços geográficos onde a sua obra não
tenha ainda sido apresentada. A Sessão decorre de uma forma menos formal, pois
25
pretende-se que o autor tenha um contacto mais directo com eventuais leitores. A
rigidez do lançamento, e o nervosismo e formalidade a ele associados, deverão ser
substituídos por um ambiente mais descontraído, propício ao diálogo entre o autor e os
seus leitores.
A Sessão de Autógrafos faz mais sentido num autor cujos índices de
popularidade tenham já alguma expressão. É um tipo de sessão muito directo, com uma
vertente fortemente comercial, e onde o autor tem um contacto o mais próximo possível,
e imediato, individualizado, com cada autor.
3.3 - As Press Releases, Notas de Imprensa e Planos Promocionais
Grande parte da actividade do Departamento de Comunicação passa pela
produção e difusão de instrumentos de marketing e promoção das diversas obras que
mantém a seu cargo. São exemplo destes instrumentos as Press Releases, as Notas de
Imprensa e os Planos Promocionais.
Uma Press Release 17, se quisermos estabelecer uma ordem cronológica na
metodologia de marketing aplicada a cada obra, é o primeiro documento a ser
elaborado. É um documento com uma estrutura simples, pré-formatada, cujo objectivo é
o de chamar a atenção dos meios de comunicação social para o evento de lançamento de
um livro. Visualmente, os dois elementos que sobressaem deste documento são o
logótipo da Editora e a capa do livro. A disposição do documento deve ser o mais
apelativa e “clean” possível, convidando a uma leitura fácil e instintiva: “make it
enticing but short”18. Cada elemento informativo possui um posicionamento próprio e
um tamanho de letra que corresponda à importância da informação. Os elementos mais
importantes são nesse sentido a editora, o título do livro, o local, hora e data do
lançamento. Após estes elementos surge uma nota biográfica, resumida, do autor, bem
como uma breve sinopse do livro, que deverrá sintetizar os factores mais apelativos da
mesma. Por último, aparece o contacto da pessoa responsável pela obra, no
Departamento da Comunicação, como forma de se manifestar a disponibilidade da
mesma para responder a qualquer questão prática sobre o evento, sobre o autor, ou sobre
a obra em si.
17 Ver Anexo 7 18 BAVERSTOCK, Op. cit. p. 174
26
Uma Nota de Imprensa simples, ou pelo menos aquilo que no Departamento de
Comunicação é conhecido como uma Nota de Imprensa 19, é um documento que
aproxima a obra da comunicação social. É na sua estrutura semelhante a uma Press
Release, mas não faz menção a nenhuma efeméride ou evento associado a uma obra. É
tão só uma espécie de cartão de apresentação de uma obra perante um determinado
órgão de comunicação social. Nesta nota dá-se conta da intenção da editora em
apresentar essa obra. Mais uma vez surgem nela a indicção da Editora, a capa do livro,
uma biografia, uma sinopse, e o contacto do responsável pelo marketing e comunicação
da obra, numa disposição em tudo semelhante como já dissemos, a uma Presse Release.
Estas Notas de Imprensa acompanham normalmente os livros enviados no âmbito de
um Plano Promocional.
Um Plano Promocional é, em termos muito objectivos, uma lista de destinos, na
comunicação social, de envio de exemplares de uma determinada obra, para efeitos
promocionais. Naturalmente, este plano, concretizado numa lista, encerra uma estratégia
que tem em conta determinados factores, variáveis: timing de envio (por altura de uma
efeméride, ou de uma dada conjuntura); características da obra; público-alvo; tipo de
órgãos de comunicação social para o qual é enviado (quem recebe, ou ao cuidado de
quem; que atenção é dispensada a livros; quem lê esse jornal, revista ou blog). Um
Plano Promocional encerra em si a expertise do Departamento de Comunicação: o
resultado de anteriores envios para uma dada publicação; o conhecimento dos gostos e
estilo de cada um dos profissionais que recebe as obras; a adequação de um dado órgão
de comunicação à recensão ou promoção de uma obra com determinadas características.
Cada exemplar é enviado com a respectiva Nota de Imprensa, podendo dirigir-se, de
acordo com as suas características, a um conjunto de dezenas de destinos de imprensa,
de uma base de dados constantemente aumentada, revista e actualizada no
Departamento de Comunicação da Editora.
19 Ver Anexo 8
27
4 Eu e o livro: parceiros de viagem no circuito da edição
4.1 - Da coordenação editorial
Feita uma descrição do trabalho efectuado em cada um dos Departamentos
onde o meu estágio se desenrolou, é chegado o momento em que estabeleço um balanço
de cariz mais reflexivo, assente no que considero ter sido mais, ou menos positivo.
Da fase da coordenação editorial, retenho como positivo, desde logo, o talento
técnico com que convivi, referindo-me aos paginadores e designers com quem tive o
gosto de trabalhar de forma intensa, no limiar de prazos, e por entre os constantes
avanços e recuos de provas de capas e paginações. Poder contar com o potencial de um
grupo de paginadores e designers versáteis, tecnicamente exímios e totalmente
diferentes entre si no estilo e nos conceitos, transmitiu-me a segurança e o conforto que
precisava para enfrentar o percurso que se seguiria.
Na coordenação editorial sente-se de forma próxima, vívida, o entusiasmo dos
autores, com quem diariamente dialogamos e discutimos no sentido construtivo do
termo. Podemos ver, junto deles, os seus sonhos a tomarem forma.
A coordenação permitiu-me também testemunhar um processo carregado de
solenidade: o do nascimento de um livro. A forma como ocorre a sua génese física e
conceptual.
Nesta fase, estive efectivamente envolvido na edição, propriamente dita: e
edição é sobretudo escolha, decisão.
Como coordenador pude compreender a importância do rigor, da atenção ao
detalhe, porque disso depende o sucesso de um livro, bem como a sua funcionalidade
como objecto, como mecanismo, como organismo.
Aqui, só um sentido apurado de profissionalismo, no cumprimento de prazos,
na competência necessariamente constante, tornam possível viver com plenitude o
desfecho e a sensação última, única, de enviar um livro a cujo nascimento assistimos,
para a gráfica, pronto.
Foi o meu primeiro contacto com o universo da edição. Exigiu capacidades de
contacto humano, no contacto directo com os autores; de julgamento, na constante
avaliação do equilíbrio entre as necessidades da editora e a ilusão dos autores.
28
A coordenação mostrou-me a materialização de um objecto que me é querido, o
livro, e ensinou-me que editar é escolher, decidir, sacar do instinto.
Como factores menos positivos a reter desta fase, começo por considerar que
tudo o que é positivo e foi anteriormente elencado inverte-se quando em excesso, ou
possui também, intrinsecamente, uma face negativa.
A exigência de prazos impede a maturação de algumas decisões, ou o
apuramento máximo de um trabalho, ou a sua depuração ao ponto em que desejaríamos
de a realizar.
O entusiasmo dos autores pode transformar-se em pressão, manifestações de
fanatismo ou histeria. Alguns autores possuem ideias fixas descabidas, irreais, ou que
não conseguem verbalizar, o que pode tornar-se frustrante para todas as partes
envolvidas.
A confluência excessiva de obras pode ditar alguma negligência daquelas em
gostaríamos mais de apostar. E impõem-se cedências às necessidades da editora, ou aos
caprichos dos autores, ou aos ditames comerciais.
Tomar decisões também pode ser factor de angústia, porque decidir implica por
vezes o sacrifício de opções tão ou mais válidas do aquela pela qual optamos.
4.2 - À comunicação
Exercer funções no Departamento de Comunicação, onde aliás me tornei
profissional, permitiu-me ser a frente da Editora, na sua defesa, na sua projecção. Este
Departamento oferece visibilidade ao trabalho prévio, presente e contínuo de todos os
que trabalham e colaboram com a Chiado Editora, sendo por isso uma função de
enorme exigência e responsabilidade.
Trabalhar na comunicação implica contacto humano por excelência, bem como
o contacto e percepção da dimensão do marketing na indústria da edição.
Neste sector gera-se movimento, vida cultural e actividade financeira.
Agendam-se sessões de diversas naturezas que permitem a venda de exemplares.
Programam-se lançamentos de livros, que são eventos de alegria, de celebração, e que
congregam orgulho, semeiam contactos e amizades, reunem famílias. Aqui se percebe a
nobreza da escrita, e o carácter sublime e elevado da arte e da literatura.
29
Estar na comunicação permitiu-me o contacto directo com a imprensa, e com a
forma como a indústria editorial com ela se relaciona. Permitiu-me conhecer alguns
microcosmos complexos que rodeiam os livros e a leitura, como o dos blogs - com a sua
relativa influência e ascendente - ou o das comunidades de leitores.
Neste Departamento pude aperceber-me, com propriedade e usufruto, do poder
de ferramentas como o facebook, ou sentir o complexo divino de ser o centro e origem
de animação cultural.
As recompensas deste sector podem vir sob a forma da fidelização de um
espaço com que mantemos um historial de parceria, ou do contacto diário, num jogo
equilibrado de poderes, com cadeias livreiras tão decisivas como a FNAC, ou a
Bertrand, “players” incontornáveis no xadrez do negócio dos livros.
A comunicação deu-me perspectiva, a percepção verdadeiramente privilegiada,
oculta aos leigos, do negócio do livro.
Mas, uma vez mais, pude também, e com a noção de um espectador
privilegiado, experienciar o lado menos positivo. O trabalho no Departamento de
Comunicação é também o de gerir egos, expectativas irrealistas, e a ocasional desilusão
de alguns autores. O período pós-lançamento de uma obra pode trazer consigo uma
queda, um ajuste à realidade, quando não encerra um acesso rápido ao sucesso
financeiro e a uma mediatização instantânea.
A confluência excessiva de obras e autores não permite, à semelhança do que já
foi referido em relação à coordenação editorial, o prestar uma atenção plena às obras
que mais o mereciam, pelo seu mérito intrínseco.
Muito do trabalho efectuado na comunicação é simplesmente ignorado por
parceiros e interlocutores habituais, e nem todas as obras são alvo imediato de atenção.
Por vezes, agendam-se eventos que virão a estar vazios, por força de diversas
circunstâncias adversas, e existem obras que por melhor que façamos o nosso trabalho,
não geram interesse. À comunicação, tudo isso é cobrado, tudo isso pode ser imputado.
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Conclusão
O estágio desenvolvido no âmbito do Mestrado em Edição de Texto foi
sobretudo um momento de encantamento, pela oportunidade de entrar no mundo da
edição, mas também de aspereza, pela passagem de um estado de ilusão e misticismo
teórico ao contacto com a realidade prática e terrena desta actividade.
Nele, pude observar a confirmação de noções apreendidas na componente
lectiva, mas também a relativização e moldagem das mesmas, na constante
adaptabilidade ditada pela praxis diária.
Hoje sei, ou pude confirmar essa noção, que um profissional que almeja a
excelência, e que se rege pela sua procura constante, é uma fórmula de equilíbrio entre
uma necessariamente robusta bagagem teórica e o saber moldado pela prática e pela
experiência.
A edição é um ofício de muitos rostos, que combina instinto e rigor, disciplina e
irreverência, cálculo e risco. Convoca capacidades e conhecimentos literários, de gestão,
de sociologia, de marketing. É uma profissão de alguma angústia e solidão, mas de
profunda comunhão com os outros, que permite celebrar o passado, questionar o
presente e lançar pontes possíveis para o futuro.
Hoje sei, mostrou-me o trabalho desenvolvido na coordenação editorial, que um
livro não é apenas um fruto solene do seu momento de criação, mas também o rasgo de
génio de quem lhe esculpiu o rosto, a forma, a constituição. É de quem capitaneou, com
sentido de rigor e disciplina, no esforço de cumprir com zelo um prazo e um orçamento,
a sua viagem nas mãos do esforço criativo e estético até à sua materialização enquanto
objecto que a todos continua a intrigar, a maravilhar.
Hoje sei, aprendi-o no Departamento de Comunicação, que nada está feito
quando o livro nasce. Um livro só existe verdadeiramente, só é pleno no seu sentido,
quando atinge a outra margem: o leitor. Até lá existe uma travessia árdua, que se realiza
no seu anúncio, na construção de sinais e mensagens que o assinalam, na construção de
acontecimentos que celebram o seu aparecimento, na formulação de avisos que alertam
os oráculos para a necessidade de levarem o mundo contido em cada um deles aos
homens, sedentos de beleza e de sonho.
31
A consciência do caminho que me falta percorrer, devo-a aos meus mestres da
edição, aos meus professores, às aulas frequentadas, ao estágio na editora que me abriu
as portas, e ao mestrado que em boa hora decidi frequentar.
32
Bibliografia:
- FURTADO, Afonso, A edição de livros e a gestão estratégica, Lisboa: Booktailors,
2009
- BARBOSA, Conceição, Manual prático de produção gráfica, Parede: Principia, 2012
- BAVERSTOCK, Alison, How to market books: the essential guide to maximizing
profit and exploiting all channels to market, Kogan Page, 2008
33
Anexos:
1 - Excel da coordenação
2 - Pedido de ISBN
3 - Ficha de Obra
4 - Ficha de Gráfica
5 - Capa
6 - Material promocional
7 - Press Release
8 - Nota de Imprensa
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