View
214
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Taxas de juro e racionamento do crédito em Lisboa (1715-1800)1
Leonor Freire Costa* Maria Manuela Rocha*
Paulo Brito**
1- Introdução
Em economias com capacidade para produzir excedentes, em relação ao consumo,
operam-se transferências inter-temporais de recursos, e portanto, de valor. A taxa de
juro é a taxa de variação do preço implícito nas transacções inter-temporais e nos
contratos a elas associados. É uma das variáveis fundamentais da economia porque
sintetiza várias dimensões, nem todas operando no mesmo sentido.
As estruturas tecnológicas, institucionais e demográficas determinam as taxas de juro. A
primeira diz respeito não só a capacidade reprodutiva dos recursos poupados uma vez
investidos (produtividade marginal do capital), mas também aos custos de transacção
associados à existência e disseminação da informação. A segunda diz respeito aos tipos
de contratos que se podem fazer, à protecção dos direitos de propriedade, à protecção
das partes quando há incumprimento, através de contratos bilaterais ou multilaterais, e à
coordenação das diferenças de informação que tipicamente estão presentes em contratos
inter-temporais. Se estas estruturas serão determinantes da evolução da taxa de juro no
tempo muito longo (multi-secular), em prazos mais curtos (digamos, dentro de um
século) o comportamento das taxas de juro é influenciado conjuntamente por flutuações
macroeconómicas, variações do risco agregado e pela política económica.
No caso do século XVIII, estando relativamente ultrapassadas razões de ordem moral
ou religiosa na regulação do juro, princípios de economia política orientaram a
promulgação de leis que estipularam um tecto máximo para a taxa de juro. Julgava-se
esta regulação como uma forma de promoção da actividade económica em geral, ou um
incentivo necessário ao investimento de juros de certos sectores considerados
prioritários na óptica dos poderes.
1 Texto de um trabalho em progresso. Por favor não citar sem conhecimento dos autores. Primeira divulgação de resultados de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia “Money Supply and credit market in pre-modern economies” (EXPL/ EPH-HIS/ 1742/ 2012). * GHES, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade de Lisboa. ** UECE, Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade de Lisboa.
1
Os limites legais decorrentes de uma proto política monetária não é tema central num
significativo filão de trabalhos na historiografia que se tem interessado pelas relações
entre crédito e actividade económica. Embora não se descure a sua existência, não se lhe
tem dado a devida importância na análise do mercado de crédito. O trabalho inaugural
de North e Weingast (North e Weingast, 1989) secundarizou a política económica como
determinante da variação do juro, porquanto pretendeu destacar as transformações
institucionais que permitiram ao Estado financiar-se a taxas cada vez mais baixas. Os
constrangimentos ao executivo e alterações na fiscalidade, com incremento de receitas,
tornam-se o argumento explicativo da redução do risco agregado. A gradual
mobilização de poupanças individuais terá sido o resultado da segurança incutida pelo
Estado nos mercados financeiros, negligenciando estes autores a possibilidade de
crowding out.
Estudos subsequentes criticaram várias destas asserções, mas nem por isso ofereceram
uma visão consensual sobre tendências do juro e suas repercussões na oferta de crédito.
Por um lado, o impacto positivo das alterações institucionais na esfera dos
investimentos privados, que pressupunha uma articulação entre mercado da dívida
pública e mercado de crédito privado, foi questionado (Buchinsky e Polak, 1993; Clark,
1996). Por outro, uma série da dívida pública alargada a todo o século XVIII mostrou
que a remuneração do capital se manteve relativamente elevada e que as taxas flutuaram
em resposta a choques externos, instabilidade política e a guerra (Sussman e Yafeh,
2002). Por fim, uma observação estritamente centrada no sector privado, através da
actividade de um banco londrino entre 1680 e 1705, não encontrou comprovação para a
redução do risco agregado, já que as taxas de juro não cederam e revelaram mesmo uma
subida depois da guerra de Sucessão de Espanha (Quinn, 2001). Uma tendência que só
seria interrompida com a administração da taxa a 5% por legislação de 1714.
Estudos sobre crédito privado em Paris questionaram por outras vias as asserções de
North e Weingast, embora mantivessem em destaque o papel das instituições e
dispositivos de minimização de risco (Hoffman, et. al., 2000). O notariado destaca-se
como instituição fundamental, em particular na solução para problemas de assimetria de
informação. Ao centralizar informação sobre activos hipotecados e capacidade de
cumprimento dos devedores, esta instituição contribuiu para superar a falta de bancos na
mobilização de poupanças. Apesar de o regime francês em nada se assemelhar ao caso
inglês, o sistema financeiro beneficiou de mecanismos de redução do risco, cuja eficácia
2
está atestada no crescente volume de crédito transaccionado depois de 1726, uma vez
superadas as perturbações causadas pelas reformas de John Law.
A secundarização dos impactos de taxas de juro administradas na evolução do mercado
de dinheiro constitui uma fragilidade do estudo sobre Paris na visão dos mais recentes
trabalhos sobre crédito privado em Inglaterra (Temin e Voth, 2013). Estes autores
destacaram a importância de uma avaliação conjunta das taxas administradas e do
volume do crédito, pois comprova-se que estando o limite legal abaixo do ponto de
equilíbrio teórico (de encontro livre entre oferta e procura) há alterações no mercado por
ajustamento das quantidades oferecidas. Por seu lado, os casos de taxas indicadas em
Paris, abaixo dos 5% administrados, forneceriam informação pertinente para questionar
a operabilidade do limite legal para a existência de racionamento de crédito. Na obra
destes autores, atentos aos efeitos da regulação da taxa na curva da oferta de dinheiro, é
acrescentada mais uma crítica ao argumento de North e Wiengast. A imposição de uma
taxa máxima restringiu o crédito privado, enquanto a segurança depositada na dívida
pública não exclui o crowding out como causa adicional da escassa participação dos
bancos privados ingleses no financiamento da revolução industrial.
A relevância das taxas de juro, mesmo que administradas, está confirmada pelas suas
consequências na variação dos montantes mutuados. Os estudos sobre crédito em
Portugal não têm caracterizado a evolução do mercado, nas suas vertentes de juro e
quantidades, pelo que é notória a falta de uma perspectiva dinâmica e secular deste
problema.
Verificando-se a ausência de casas bancarias na intermediação financeira a literatura
focou-se no papel de certas instituições (misericórdias e conventos) e na identificação
sociológica dos devedores e credores (Sá, 2002; Amorim, 2006; Rocha, 1996). A
imagem obtida revela grande dispersão da oferta e acentuada difusão social e
institucional do empréstimo (Rocha, 1996). Apesar da existência de alguns casos de
especialistas na actividade creditícia (sobretudo negociantes e desembargadores), a
análise baseada nos inventários post-mortem assinala a frequência com que o
empréstimo era concedido de forma esporádica por uma multiplicidade de indivíduos,
sinalizando uma pulverização do mercado. Embora não se obtenha informação de
volume total de crédito nos períodos estudados, algumas referências pontuais dão
notícia de 6,25% ser a taxa mais frequente até à intervenção pombalina.
3
Por alvará de 17 de Janeiro de 1757 este mercado foi regulado pela fixação
administrativa da taxa de juro a 5%. De forma distinta do que ocorreu em Inglaterra, a
intervenção pública não vem na sequência da guerra de Sucessão de Espanha, mas é
possível associa-la a outro tipo de choque externo, com uma dimensão mais destrutiva
de capital que as guerras noutros contextos europeus: o terramoto de 1755. Pela sua
inserção nesta conjuntura específica podemos supor que a motivação da legislação
portuguesa, visando acautelar o aumento do custo do dinheiro, era uma resposta directa
a uma fase marcada pelo aumento da procura decorrente da necessária reconstituição do
capital destruído pelo terramoto. A lei não explicita este propósito, evocando-se apenas
a pretensão de incentivo “ao comércio”, no que se equipara à legislação inglesa.
Ensaios sobre o século XVIII não ignoram esta lei, embora as suas consequências
económicas sejam secundárias nas preocupações dos autores que a citam. Elencada no
conjunto das iniciativas que procuravam superar os rescaldos nefastos do terramoto
(Cardoso, 2007), o leitor é levado a crer na sua eficácia. Quando citada nos estudos
específicos do mercado de crédito, é tomada como uma ordenação que, como qualquer
outra, pode ser contornada e suscita um quadro mais apertado de controlo dos poderes
públicos (Madureira, 1994, Rocha, 1996). Está por esclarecer se a lei pombalina visava
resolver um problema casuístico decorrente do terramoto ou se pretendeu disciplinar um
mercado onde as taxas flutuariam livremente havia várias décadas muito acima dos 5%.
Desconhece-se, portanto, se as taxas nominais portuguesas antes da sua regulação
estavam muito ou pouco afastadas das praticadas nas praças europeias onde a fixação
foi realizada nas primeiras décadas do século. Por último ignora-se a consequência desta
administração: se imprimiu ou não um ritmo distinto à variação do volume de crédito.
Este texto procura avaliar quais as consequências da intervenção pública no mercado de
crédito privado, por uma análise do volume e da evolução da taxa de juro a partir de
dados recolhidos na instituição notarial de Lisboa. Beneficia da riqueza informativa
desta documentação e da possibilidade de construção de séries temporais longas e
homogéneas sobre quantidades e juros. Coloca como hipótese que a administração da
taxa de juro interferiu negativamente nas quantidades emprestadas, podendo ter-se
repercutido nos ritmos de recuperação da catástrofe. Utilizando outros detalhes dos
contratos, superiores aliás aos que estiveram na base dos estudos do crédito em Paris e
Londres (que omitem as aplicações que suscitaram o pedido de empréstimo), o presente
trabalho questiona ainda que sectores e que tipo de despesas mais recorreram a
4
empréstimos. Uma avaliação das aplicações antes e depois da intervenção política no
mercado permite completar o estudo das implicações de uma legislação que interferiu
numa das variáveis macroeconómicas de mais complexas dimensões.
2- Dados: notários em Lisboa
As informações sobre crédito notarial em Lisboa exploradas no presente trabalho
suportam-se na recolha exaustiva de contratos de obrigação de um ofício entre os
dezoito existentes na cidade, uma vez confirmados os seus requisitos para servir de
amostra representativa. Os critérios de selecção consideraram: a) existência de uma
série contínua de livros de notas para todo o século XVIII; b) possibilidade de
identificação da sucessão de tabeliães e dos momentos em que se alterou a serventia do
ofício; c) exibição de um ritmo de actividade sem grandes variações conjunturais, e com
uma ponderação regular no conjunto de todos os ofícios da cidade. Estes requisitos
presumem que o cartório notarial escolhido tem uma actividade próxima da média e,
sobretudo, que não revela as oscilações acentuadas que tantas vezes acompanham a
mudança de notário ou os acidentes específicos que afectam o estado de preservação
arquivística.
A selecção do cartório exigiu, portanto, um conhecimento prévio da instituição notarial,
no seu conjunto. Nela se espelha a importância da contratualização formal ao longo do
século XVIII, envolvendo todo o tipo de transacções. Permite identificar o lugar das
obrigações por empréstimos de dinheiro e quais os ofícios que poderiam respeitar os
critérios enunciados. Os fundos do chamado Distribuidor, organismo responsável por
arrolar as escrituras celebradas nos 18 ofícios, prestam-se a esse inquérito com relativa
segurança até 1776. Registam os ritmos de actividade de todos os cartórios (mesmo os
que hoje não se encontram em depósito arquivístico) e incluem os múltiplos tipos de
escrituras (Figura1).
Figura 1- Ritmo de actividade dos 18 ofícios notariais de Lisboa
5
Fonte: ANTT – Arquivo Distrital de Lisboa, Cartório do Distribuidor
O número de transacções com sinal público experimentou um crescimento acentuado
entre 1700 e 1725 (6000 para 9000), altura em que se encetou uma tendência
descendente, pelo que a redução da participação de notários nos mercados de diferentes
activos não aparenta uma relação directa com o terramoto. Certamente a catástrofe
traumatizou a vida quotidiana da cidade, e verifica-se que provocou uma quebra abrupta
de 7000 para pouco mais de 4000 contratos no próprio ano de 1755, mas não nos anos
subsequentes. O que quer que tenha sucedido na cidade de Lisboa após o 1º de
Novembro de 1755, a instituição notarial não o espelha, ao menos pelos ritmos de
elaboração de escrituras, mantendo-se a linha descendente iniciada na década de 1720.
Os múltiplos factores desta lenta e continuada retracção da actividade dos notários
extravasam a questão específica do mercado de crédito. Qualquer pesquisa dependente
de registos emanados de contratos públicos levanta o problema de alterações nos
incentivos dos agentes para recorrerem a instrumentos com validade judicial, enquanto
dispositivos de minimização de risco. Mas também não será de excluir uma leitura da
actividade notarial pelo seu conteúdo facial, o que supõe que ela oferece uma
informação robusta sobre o dinamismo dos mercados que mais frequentemente
recorreram a contratualização com sinal público: compra-venda, arrendamento,
aforamento, quitação, fretamento, obrigação de empréstimo, além da sempre presente e
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
1703
1709
1712
1719
1724
1727
1730
1733
1736
1744
1747
1750
1753
1756
1759
1762
1765
1768
1771
1776
nº d
e es
critu
ras
6
esmagadoramente representada escritura de procuração2. Deste modo, a ponderação das
escrituras de obrigação no conjunto dos contratos pode ser reveladora das flutuações do
mercado de dinheiro (Figura 2).
Figura 2- Percentagem de obrigações no conjunto das escrituras notariais
Fonte: ANTT – Arquivo Distrital de Lisboa, Cartório do Distribuidor
Nota-se, com efeito, que houve um acréscimo percentual de obrigações até 1723,
chegando a perfazer 25% de todas escrituras. Fixam-se depois em torno dos 15% até
1755; decrescem para os 10% e aí estabilizam, pelo que o retraimento do mercado de
obrigações terá tido o mesmo ritmo dos demais que procuraram a mediação notarial.
Estas observações baseadas no universo global dos ofícios escondem, todavia,
diferenças importantes entre cartórios. A apreensão da diversidade facultou o
reconhecimento do(s) ofício(s) que poderiam fornecer os dados para uma amostra
representativa das regras correntes nas transacções de dinheiro (Figura 3).
2 A literatura sobre o sistema notarial e sua relação com o sistema socio-económico é muito ampla e mereceu diferentes trabalhos desde a década de 1970. Chamamos a atenção para o especial contributo de Jean-Paul Poisson e para as actas dos diferentes encontros que versaram esta fonte documental, a qual, estranhamente, não tem tido muitos seguidores na historiografia portuguesa. Laffont, Jean L. (ed), 1991; Poisson, Jean-Paul (1973), Poisson, Jean-Paul (2002); Vogler, Bernard (ed) (1979).
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
1703
1709
1712
1719
1724
1727
1730
1733
1736
1744
1747
1750
1753
1756
1759
1762
1765
1768
1771
1776
7
Figura 3- Estatística das obrigações nos 18 ofícios de Lisboa e no ofício seleccionado
Fonte: ANTT – Arquivo Distrital de Lisboa, Cartório do Distribuidor
A heterogeneidade de ritmos de actividade dos vários notários no mercado de crédito
expressa-se nos elevados valores do desvio padrão que caracterizam a primeira metade
do século, coexistindo cartórios muito activos com outros quase estagnados. A
informação mais significativa é, precisamente, a redução dessa disparidade depois de
1755, adequando a maior homogeneidade dos cartórios. É, agora, possível afinar as
conclusões que a figura 2 adiantou. A descida do número de obrigações depois de 1725
espelha sobretudo a decadência de alguns dos ofícios até então mais dinâmicos, por
vicissitudes desconhecidas e que aqui não são relevantes. Já a redução do número de
contratos de obrigação depois de 1755 afectou todos os cartórios, tornando os valores
do desvio padrão bastante baixos e reduzindo a dispersão entre mínimos e máximos do
número de contratos celebrados. Deste modo se individualiza o cartório de Henrique
Barbuda, um dos que esteve na linha da média e de que conhecemos as sucessões,
reveladoras da patrimonialização do ofício, que passou de pai para filho e em pouco
recorreu a serventuários. Escapou à destruição de 1755, e pôde manter um ritmo de
actividade ligeiramente superior ao que exibiu até essa data. Dez anos após a catástrofe
aproximou-se novamente da média.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,017
03
1710
1718
1724
1728
1732
1736
1745
1749
1753
1757
1761
1765
1769
1773
desvio padrão
média
mediana
mínimo
máximo
Barbuda
desviopadrão
8
Do cartório de Henrique Barbuda foram coligidos todos os contratos de obrigação de
empréstimos de dinheiro e de crédito a risco marítimo entre 1715 e 1800, perfazendo
uma amostra de 3263 contratos3. As datas limites da pesquisa prendem-se com a
cronologia de outras séries macroeconómicas disponíveis e que serão operacionalizadas
em futuros trabalhos sobre este tema. Trata-se, concretamente, da série de oferta de
moeda metálica, cuja variação é conhecida com maior segurança a partir de 17184.
Mercê da entrada em circulação do papel-moeda em 1797, considerou-se que a análise
deveria circunscrever-se aos anos de circulação exclusiva de moeda metálica,
concebendo-se três anos à margem, para início (1715) e fim (1800) da recolha de
informação.
Em cada contrato constam clausulas relevantes para a construção de várias séries, entre
as quais as respeitantes a montantes mutuados, maturidades da dívida, aplicações a que
se destina a quantia mutuada, taxas de juros, periodicidade do pagamento dos juros,
colaterais, além de, naturalmente, nome e ocupação socio-profissional ou estatuto de
credores e devedores. No presente trabalho pretendemos incidir nas cláusulas que
facultam um quadro global da evolução do crédito no século XVIII, para dele inferir os
efeitos da lei sobre taxas de juro. As séries pertinentes para esse fim respeitam ao
volume total anual de crédito, número de contratos celebrados, seu valor médio
(nominal e real), taxas de juro e aplicações do crédito contraído. Começamos por
considerar as quantidades.
3- O volume de crédito
No estudo do volume (quantidades emprestadas) e do número de obrigações, aparece
uma fractura em torno de 1757- 1760 (Figura 4 e Figura 5).
3 ANTT, Arquivo Distrital de Lisboa, 2º Cartório Notarial de Lisboa (antigo 1º). 4 Costa, Rocha, Sousa (2013).
9
Figura 4- Valor total (anual) dos contratos (1715-1800)
Fonte: ANTT, Arquivo Distrital de Lisboa, Livros de Notas do 2º Cartório Notarial de Lisboa (antigo 1º).
Figura 5- Número de obrigações (1715-1800)
Fonte: a mesma da Figura 4.
O volume total de crédito aumenta na primeira metade do século, não só porque se
celebram mais contratos, mas também porque aumenta o seu valor médio (Figura 6).
10
Depois desta fase, apesar de haver uma manutenção do valor médio por contrato, são
perceptíveis a redução do número de escrituras de crédito e volume total.
Figura 6- Valor médio dos contratos de obrigação (1715-1800)
Fonte: a mesma da Figura 4
Em termos de valor médio dos contratos, os mínimos situam-se nos 159.996 e 175.487
réis, no início do período, (1719 e 1716) enquanto o máximo se situa em 1.545.176 réis
(1787). A mediana, 599.442 réis, reporta a uma soma longe de insignificante num
século em que os salários do trabalho não qualificado estabilizaram em torno dos 200
réis e os qualificados (carpinteiros e pedreiros) saltaram de 200 para 300 réis na década
de 17205. Aquela maquia representa um crédito que careceria de cerca de 8 anos de
trabalho qualificado para amortização. A relação entre rendimento e esforço de
amortização exigido ao devedor melhor se expressa no facto de em apenas um caso a
maturidade indicada ter sido os 9 anos. O prazo mais frequente foi um ano, ainda que a
possibilidade de prorrogação por entendimento das partes descubra a vulgaridade de
transacções que, prevendo o curto prazo, se transformaram em relações menos
exigentes, não obstante a manutenção da taxa de juro acordada inicialmente.
5 Dados sobre salários resultados de projecto “Prices, Wages and Rents in Portugal, 1300-1900”, financiado pela FCT, coordenação de Jaime Reis, em http://pwr.dev.simplicidade.com.pt/000000/1/index.htm
11
As taxas de inflação do século XVIII reforçam essa percepção do crescente
estrangulamento do mercado de crédito (Figura 7). A taxa de inflação teve uma
tendência secular positiva ainda que haja uma clara diferença entre a primeira e a
segunda metade do século, como no resto da Europa. Até ao início da década de 1750 a
variação média é cerca de 0,5%, começa a aumentar despois dessa data e ultrapassa os
2,5% na década de 1780 em diante. Significa, assim, que em termos reais o mercado de
dinheiro em Lisboa, mediado por notários, sofreu uma continuada e pronunciada
contracção depois de 1755-1757.
Figura 7 - Valor real do crédito (1715-1800) a preços de 1716.
Fonte: Preços em http://pwr.dev.simplicidade.com.pt/000000/1/index.htm6
Esta conclusão é tanto mais representativa quanto a substituição do capital destruído
pela catástrofe natural, pela sua imensa dimensão, levaria a esperar um boom de
contratos e do volume de crédito pelas décadas subsequentes, e não apenas nos dois
anos seguintes. Os dados questionam uma visão optimista sobre a rapidez com que
foram superadas as consequências da destruição. Recentes ensaios sobre impactos
6 “Prices, Wages and Rents in Portugal, 1300-1900”, projecto financiado pela FCT, coordenação de Jaime Reis. Composição do cabaz: 208kg de cereais; 26 kg carne; 7,8 lt azeite; 4,3 dúzias de ovos; 68 lt vinho; 70,8 kg carvão (cerca de 42% em cereais).
12
económicos do sismo fornecem ordens de grandeza que vale a pena confrontar com o
volume máximo de crédito com registo em notários de Lisboa.
Os montantes totais anuais exibem uma dispersão superior à que se apreende nos
valores médios, com um mínimo de 5.629.193 réis registado em 1793 os dois máximos
de 68.928.170 réis e 77.308.315 registados em 1757 e 1758, significativamente anos
posteriores ao terramoto. Considerando a representatividade no cartório seleccionado no
conjunto dos 18 ofícios, e extrapolando o volume do crédito por ele intermediado para o
total da cidade, especula-se de forma fundamentada que em 1757 os empréstimos
poderão ter chegado a 891,8 contos e a 1.044, 8 contos em 1758, totais que logo terão
descido para 624 contos em 1759 e 477,8 em 1760.
Os dois anos imediatos ao cataclismo repercutiram-se num circunstancial boom de
crédito. Embora as somas em causa sejam extraordinárias, e apesar da imprecisão com
que se pode quantificar o capital destruído na cidade, é verosímil que correspondam a
1/10 dos danos estimados, só para o capital residencial (11520 contos, para as cerca de
12000 casas em ruína), além dos 4 mil contos em edifícios públicos (Cardoso, 2007, p.
166). Suspeita-se por relatos coevos que um décimo das habitações foi totalmente
arrasada, e das 90% restantes, ficaram inabitáveis 2/3, pelo que restaram de pé e em
condições, ainda que a carecer de reparações, apenas 30% (Serrão, 2007, nota 8, p.161).
Não entrando com qualquer estimativa de capital perdido em mercadorias, em armazéns
e alfândegas, assim como navios e cargas, e à parte os danos sofridos pela Igreja (mercê
dos muitos mosteiros, igrejas paroquiais e conventos arrasados) só mantendo-se tão
excepcionalmente elevado o volume do crédito transaccionado poderia a reposição levar
10 anos. Pelas figuras 4 a 6 sabe-se que os montantes mutuados estavam em 1760
reduzidos a metade de 1758. Cremos que o comportamento do mercado sugere uma
visão pouco optimista do ritmo da recuperação do abalo e compagina-se com descrições
de Lisboa com vários vestígios de escombros já entrado o século XIX (Lousada, 2007).
Os mais recentes estudos sobre os impactos económicos do terramoto abordam de
forma inovadora o acontecimento que necessariamente afectaria a evolução da
economia no médio prazo, e exploram os contributos de estudos actuais sobre
catástrofes, os quais elucidam os percalços e dificuldades de uma recuperação. Pugnam
por uma quantificação dos estragos com metodologias mais rigorosas e avançam com
conjecturas credíveis sobre a escala da destruição, sendo possível que 20% do capital
13
fixo da economia nacional tenha sido arruinado7. Convém referir, ainda, que fica
devidamente sublinhado o lado “moderno” dos caminhos da retoma da economia, uma
vez que a acção do poder político em muitos sectores deixou às forças livres do
mercado o ajustamento dos factores. Assim, após medidas estritas de urgência na
sequência do cataclismo, um dos princípios norteadores de Pombal baseou-se em
“entregar ao mercado o mais depressa possível satisfação das necessidades quotidianas
da população”. Todavia, nestas excelentes sínteses, mantêm-se intocada uma velha
imagem de eficácia da acção política, capaz de enterrar os mortos e tratar dos vivos e de
levar a acabo significativas reformas institucionais em muitos domínios. Desta imagem
de eficácia emerge a noção de uma relativa rapidez da superação dos efeitos “do abismo
insondável”, nas palavras de coevas, em que o terremoto mergulhara a reino (Cardoso,
2007, p.168).
A história do crédito notarial coloca cores distintas neste retrato pela retracção das
quantidades transaccionadas e recorda a sua possível relação com as medidas tomadas
pela acção pombalina. Em primeiro lugar, não foi um sector entregue às forças livres do
mercado, sendo administrada a taxa de juro. Em segundo lugar, e já que uma catástrofe
é também conjuntura favorável a transferências entre os que salvaram as suas fortunas e
capitais e os que tudo perderam, a administração de uma variável que interfere no preço
destas transferências é passível de muitos efeitos contraditórios entre si. Pode favorecer
a realização de contratos ilegais, com taxas especulativas, ou dar menos incentivos aos
credores que procurem remuneração superior para os seus capitais. Um mercado ilegal
pode emergir para contornar taxas de juro administradas abaixo do ponto de equilíbrio
do mercado, e este poderá estar acima por vários factores. Ou porque a informação
assimétrica entre credor e devedor eleva o risco na transacção, ou porque há uma
escassez dramática de colaterais. Qualquer destas respostas dos agentes repercute-se na
retracção das quantidades. Seja qual for a razão que favoreça a contratualização
informal a taxas superiores às administradas, o risco da ilegalidade não é o melhor dos
incentivos ao crescimento do mercado de crédito, mas sim à sua segmentação.
7 As mais recentes e enriquecedoras reavaliações do nível de destruição encontram-se nos contributos de José Luís Cardoso e de José Vicente Serrão na colectânea de ensaios O Terramoto de 1755. Impactos Históricos, editados por Araújo et al. (2007), sendo de destacar a precedência deste enfoque nos documentos de trabalho de Álvaro Santos Pereira, com versão definitiva em Pereira (2009).
14
Uma análise da evolução das taxas de juro, antes e depois de 1757, pretende testar a
verosimilhança da hipótese de uma contracção da oferta em virtude da interferência de
medidas reguladoras.
3- As taxas de juro no mercado de Lisboa
A fixação da taxa de juro a 5% é uma das principais medidas de política económica
pombalina, nunca ignorada na historiografia, mas nunca devidamente incorporada na
análise da recuperação (ou não recuperação) do terramoto, pelos seus efeitos de curto e
médio prazo na economia. No preâmbulo do diploma ecoa o postulado dos benefícios
da fixação do juro, esse preço implícito nas transacções intertemporais e nos contratos a
elas associados. Impedir-se-iam os exorbitantes juros praticados e criar-se-iam as
condições ideais ao crescimento do comércio. O legislador actuou no mercado de
crédito como actuou com as rendas urbanas imediatamente após a catástrofe,
pretendendo salvaguardar o estado de emergência do comportamento dos
especuladores8. Contudo, a medida não foi apenas de emergência. Não sendo revogada,
passou a regular o mercado de crédito de 1757 em diante.
Uma das questões de onde partimos prende-se, justamente, com uma averiguação mais
detalhada dos efeitos desta lei. Para tal, é necessário saber se contrariou as forças
“naturais” do mercado livre, interrompendo uma tendência altista das taxas de juro que
afastava a taxa nominal em Portugal da que era corrente nas praças europeias; ou se essa
tendência seria meramente casuística, por acção do terramoto.
A evolução dos montantes transaccionados, acima apresentada, indica que o mercado de
dinheiro sofreu uma alteração. A redução das quantidades, coincidindo com a fixação da
taxa de juro por imposição legal, levanta a hipótese de em Portugal a intervenção do
Estado ter tido efeitos idênticos aos verificados em Inglaterra aquando da descida de 6%
para 5% por determinação de uma lei de 1714. A imposição de um preço máximo, se
respeitada pelos agentes, terá feito com que o mercado funcionasse em desequilíbrio e
terá introduzido um racionamento (Temine e Voth, 2013).
Convém, então, esclarecer o que se entende por racionamento. Há duas noções básicas.
A primeira é resultante da operação do mercado de crédito em situações de risco muito
elevado (ver, por exemplo Stiglitz e Weiss, 1981 ou Brito e Melo, 1995), que ocorre
8 Cardoso (2007), p. 172.
15
quando o rácio de endividamento em relação aos potenciais colaterais é muito elevado.
Devido à existência de informação assimétrica, a curva da oferta pode-se tornar
virtualmente vertical, o que significa a introdução, por parte de oferta, de um limite
máximo para o endividamento. Não é provável que a redução das quantidades em
Portugal se devesse a este tipo de racionamento “de mercado”, embora a destruição de
colaterais possa contribuir para esta forma de racionamento.
Todavia, sabendo-se da lei de 1757 é mais provável ter havido um racionamento de tipo
administrativo. Este segundo significado de racionamento existe em mercados que
operam em regimes de desequilíbrio, verificando-se usualmente em economias onde há
imposição de limites administrativos à variação da taxa de juro. Se a taxa de juro
administrada for fixada a um nível diferente da taxa de juro de equilíbrio, então há
racionamento de crédito. O lado mais curto do mercado determina as quantidades de
crédito que são contratadas: se a taxa de juro for mais baixa do que a taxa de juro de
equilíbrio, o lado mais curto do mercado é o da oferta; se for mais lata, o lado mais
curto é a procura. Caso a taxa de juro administrada seja fixada como um tecto máximo,
tal como na experiência de Pombal, há duas situações possíveis: 1- o tecto da taxa de
juro é inferior à taxa de juro de equilíbrio, tornando o limite operativo e havendo
racionamento de crédito; 2- a taxa de juro em equilíbrio é inferior ao limite legal, e este
deixa de ser operativo. Nesse caso, o equilíbrio entre oferta e procura estabelece-se
como num mercado sem intervenções.
Para averiguar a hipótese de racionamento, foi construída uma série de taxas de juro a
partir de contratos homogéneos, o que constitui a principal vantagem do recurso a
fontes notariais. Trata-se de empréstimos com clausulas idênticas, com juro anualizado,
na maioria com maturidades de um ano, e se prorrogáveis com o acordo das partes sem
alteração do juro. A amostra incide, assim, nas obrigações e exclui os contratos de
dinheiro a risco e todos os casos em que maturidades e juro não eram informação
segura. A Figura 8 mostra a evolução das taxas narradas nestes contratos:
Figura 8- Taxas de juro nominais (média ponderada por quantidades)
16
Fonte: a mesma da Figura 4.
Ao longo de Setecentos é possível identificar três fases: uma entre 1715 até 1756, uma
segunda fase entre 1757 e 1780 e uma terceira entre 1781 e 1800. As figuras 9 a 11
procuram representar o mercado de equilíbrio parcial nestas três fases acima indicadas e
discutir em que circunstancias se poderá falar de racionamento na sequência da
promulgação da lei de 1757.
Figura 9- Período de 1715-1756
Nesta e nas seguintes figuras, o eixo vertical representa a taxa de juro e o eixo
horizontal as quantidades emprestadas para uma dada taxa de juro. A curva D
17
representam a procura. Sabemos que no período de 1715 a 1756, em regime livre, as
quantidades de crédito aumentaram e as taxas de juro médias reduziram-se,
tendencialmente. Este comportamento sugere um aumento da oferta de crédito
(deslocação de S0 para S1), possivelmente associada a um aumento geral da liquidez na
economia, com uma deslocação da curva de oferta de crédito ao longo da curva da
procura. Mesmo que se tenha havido deslocação da curva da procura, a expansão da
oferta de crédito de crédito a evolução do equilíbrio do mercado.
A segunda fase, que vai de 1757 a 1780, sensivelmente, foi iniciada pela fixação do
tecto de 5% pela lei pombalina. Verificamos que neste período as taxas de juro médias
se mantiveram estacionárias ao nível de 5%, mas a quantidade de crédito se reduziu. A
Figura 10 descreve o comportamento do mercado em equilíbrio parcial nesta fase, sendo
o juro fixo.
Figura 10- Período de 1757-1780
Considera-se que o tecto estabelecido introduziu efectivamente um racionamento no
mercado do crédito e que a linha estacionária nas taxas de juro indicia ter sido operativo
na maior parte do período. Significa que a taxa de juro foi fixada abaixo do que seria
uma taxa de juro de equilíbrio no mercado sem intervenção, por isso as quantidades de
crédito transaccionadas terão sido determinadas pela oferta, que se tornou o lado "curto"
18
do mercado. Neste período houve contração da oferta de crédito (deslocando-se S0 para
S1) coincidente, ainda, com o aumento da inflação e com alteração da taxa de incidência
do imposto da décima, com nova legislação9, o que, conjuntamente, resultaria numa
redução da remuneração real para os credores. NO entanto, após 1780, o limite de 5%
parece ter correspondido a uma taxa de juro próxima da taxa de equilíbrio. Esta
evolução só terá sido possível devido a uma contracção muito significativa da procura
de crédito (deslocação de D0 para D1)
Uma alteração entre a taxa de equilíbrio e taxa administrada deverá ter ocorrido depois
de 1780. A Figura 11 descreve a fase final do século XVIII que tem a particularidade de
assistir a uma descida das taxas de juro, deixando de ser operativo o tecto administrado,
mas perpetuando a contracção das quantidades.
Figura 11- Período de 1781-1800
Ao longo deste período final do século XVIII, mesmo havendo uma pequena redução da
oferta (deslocação de S0 para S1), ter-se-á verificado a continuação da contracção da
procura de crédito, mais do que suficiente para compensar o efeito de racionamento
introduzido pelo limite da taxa de juro de 5%, (deslocando-se a curva da procura de D0
para D1) É possível conjecturar que essa contracção da procura, resultante
eventualmente da recessão da actividade geral da economia, terá feito com que a taxa de
9 Alvará de 26 de Setembro de 1762.
19
juro em equilíbrio se tornasse inferior ao limite legal. Ou, seja, a taxa de juro de
equilíbrio estaria próximo e por vezes inferior a 5%.
Em síntese, considera-se verosímil a hipótese de racionamento do crédito até 1780. E se
o limite deixa de ser operativo por contracção da procura, esta periodização do século
XVIII compagina-se com conclusões de anteriores trabalhos incidentes na oferta de
moeda. Também aqui se identificaram sinais de economia em recessão nas duas últimas
décadas do século (Costa, Rocha, Sousa 2013). Além disso, verificou-se que a
promulgação da lei no ano de 1757 não se inseriu numa tendência marcadamente altista,
que eventualmente se seguisse ao terramoto. A legislação que alega os elevados juros
praticados devolve uma avaliação do mercado que os contratos não confirmam.
Encontrou-se uma tendência descendente desde 1715, que parte de taxas de 6,25% e que
atinge os 4,9% em 1749. Apesar da evolução descendente, em 1756, no ano anterior à
promulgação do alvará, as taxas médias praticadas em Portugal estavam a 5,6%, isto é,
0,6 pontos percentuais acima do limite que será fixado e do que era corrente no crédito
privado londrino, igualmente sujeito a este tecto administrado.
Até 1757, a evolução das taxas de juro indicam um ponto de equilíbrio parcial em
regime de mercado livre. Tendo estes créditos como colaterais em muitos casos terras e
quintas, estes valores dão informação relevante para uma análise comparada com outros
rendimentos, nomeadamente com a renda da terra (Allen, 1988). Não é este o tópico
central deste trabalho, mas não deixa de importar reconhecer que a fixação do juro a 5%
aproximaria a rentabilidade do dinheiro emprestado à renda esperada em investimentos
nos campos da cidade, sugerindo que aplicações de liquidez em empréstimos a juro
anteriormente à promulgação do alvará seriam melhor remuneradas. Recorde-se que o
valor da terra no mercado fundiário (Serrão, 2000 e Fonseca, 1996, p. 179) era
calculado por 20 anos de renda, o que a igualava a 5%. Além disso, desejando o mesmo
legislador cooptar fundos para as grandes companhias coloniais, com promessa de
dividendos não inferiores a 11% (Carreira, 1988), é possível que a alegação do
preâmbulo da lei cale outras intenções, pois asseguraria com o tecto de 5% que a
liquidez disponível se canalizaria para investimentos considerados prioritários pelas
decisões da grande política ultramarina.
Sendo ou não ocultada a totalidade de intenções da regulamentação, tornar a oferta o
lado mais curto do mercado não deveria fazer parte dos objectivos. Resta cotejar as
20
conclusões sobre o volume de crédito com uma análise das aplicações, uma vez que
menos quantidades disponibilizadas pelos credores não impediriam que a liquidez se
dirigisse à promoção do comércio como reza o preâmbulo da lei.
4- Aplicações do crédito notarial
Outras alterações de estrutura podem ser procuradas numa breve síntese sobre as
aplicações dos créditos. Poderemos colocar a hipótese de que, mesmo havendo menos
oferta de crédito, as quantidades oferecidas ter-se-ão dirigido a aplicações em capital
reprodutivo, de tipo empresarial.
Uma primeira observação ordena os contratos por categorias institucionais/ sectoriais,
distinguindo o crédito pessoal do crédito de tipo empresarial. Na primeira categoria
foram incluídos os casos de empréstimos para compras de ofícios, aquisição de bens de
raiz e obras, remissão de dívidas, além de todo o tipo de despesas que entram em
consumo familiar, seja, “acudir a necessidades”, sustento, funerais e casamentos. Na
segunda categoria vão integradas todas as aplicações indubitavelmente atribuíveis a uma
actividade económica, promovidas por instituições, nomeadamente monásticas, ou
individualmente, como por exemplo, comércio com partes do império, construção ou
manutenção de equipamentos (agrícolas), aquisição de lojas, ampliação de negócio,
manutenção de navios, ou benfeitorias em lavouras (tabela 1).
Tabela 1- Utilização do crédito por sectores institucionais
Períodos Pessoal
Tipo Empresarial Indefinido
1715-1756 62,5% 34,0% 3,5% 1757-1780 87,1% 8,7% 4,2% 1780-1800 79,2% 15,8% 5,0%
Fonte: a mesma da Figura 4
A análise dos contratos a partir destas duas genéricas categorias descobre que a
participação do tipo empresarial tem uma ponderação mais significativa na primeira
metade do século XVIII que depois de 1756. Surge uma partição de 1/3 para crédito
empresarial e 2/3 para crédito pessoal entre 1715-1756, que se modifica para ¾ do
crédito pessoal na segunda metade de Setecentos.
21
As aplicações são passíveis de uma arrumação em grandes categorias de despesa10
(consumo, investimento e financeiro)11. Constata-se que consumo, investimento e
aplicações financeiras repartiram o mercado quase sem alterações nos três períodos:
26%; 23%, e novamente 23% para o consumo; 38,8%; 37,8% e 41,4% para o
investimento e 35,2%; 39,1% e 35,6% para financeiro (Tabela 2).
Tabela 2- Aplicação por categorias de despesa (valor em milhões de réis)
Períodos Consumo Investimento Financeiro Total Valor % Valor % Valor % Valor %
1715-1756 226,9 26,0 338,7 38,8 306,8 35,2 872,5 100,0 1757-1780 143,3 23,1 234,8 37,8 242,9 39,1 620,9 100,0 1781-1800 909,5 23,0 164,2 41,4 140,8 35,6 396,0 100,0
Fonte: a mesma da Figura 4
Mas se o objectivo da legislação pombalina era incentivar o investimento de tipo
empresarial, há que duvidar da sua eficácia. Na segunda metade da centúria esta
categoria revela uma retracção, tornando o investimento pessoal (obras ou construção de
casas de morada) a principal justificação dos valores nas fases 1757 em diante (fig. 13).
10 Nesta segunda análise os casos indefinidos foram ignorados. 11 Categoria “financeiro” inclui, para crédito pessoal, resolução de dívidas anteriores, partilhas ou heranças e financiamento de dotes; na categoria crédito empresarial reporta ajuste de contas decorrentes de actividade económica e seguros; Na categoria consumo, para sector empresarial, especifica compras de mercadorias para negócio colonial; para crédito pessoal - acudir a necessidades, sustento, funerais e casamentos; na categoria investimento, no crédito pessoal, estão incluídos aplicações em compras de ofícios, aquisição de bens de raiz e obras em casas de morada. No crédito empresarial - construção de equipamentos (agrícolas), aquisição de lojas e ampliação de negócio, manutenção de navios, ou benfeitorias em lavouras
22
Fig. 13- Aplicações do crédito (1715-1800)
Esta constatação clarifica a leitura do primeiro quadro (Tabela 1), percebendo-se agora
que o maior envolvimento do sector institucional empresarial entre 1715-1756 se
associa a investimento, o qual registou nas décadas de 1720 e de 1740 os seus valores
máximos (fig 13). Depois de 1757, se houve menos crédito disponível, o que se
ofereceu destinou-se a solucionar privações pessoais, que não seriam, necessariamente,
de consumo, mas não foram seguramente afectadas a promover o comércio.
Quanto ao comportamento do crédito pessoal, em primeiro lugar, e antes de apontar as
mudanças, sublinhe-se uma das constantes menos esperadas destes dados: em nenhum
dos períodos o consumo liderou a procura de crédito (28,7%; 21,9%; 24,3%), pelo que
se destaca a ponderação do investimento ou dos fins financeiros (tabela 3). Entre 1715-
1757, a maior percentagem encontra-se na categoria financeira (50,6%). Tratando-se de
casos que alegam a contracção de crédito para ressarcir dívidas antigas, a possibilidade
de refinanciamento a menores custos acusa um dos possíveis efeitos da descida
tendencial das taxas de juro neste período. Mas se esta aplicação se mantém importante,
sempre acima do consumo, indicia que a taxa administrada não dissuadiu os credores de
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
1715
1719
1723
1727
1731
1735
1739
1743
1747
1751
1755
1759
1763
1767
1771
1775
1779
1783
1787
1791
1795
1799
milh
ões d
e
reis
investimento pessoal investimento de tipo empresarial
23
financiar devedores relapsos. Futuros estudos sobre os colaterais destes contratos talvez
venham a elucidar outros mecanismos de minimização do risco do credor.
Tabela 3- Aplicações da despesa em função dos sectores (valores em milhões de réis)
Consumo Investimento Financeiro Total 1715-1756 Valor % Valor % Valor % Valor % Particular 160,4 28,7 116,0 20,7 282,7 50,6 559,2 100,0 Empresarial 664,7 21,2 222,7 71,1 24,1 7,7 313,3 100,0 Total 226,9 338,7 306,8 872,5 1757-1780 Particular 127,8 21,9 214,4 36,8 240,4 41,3 582,7 100,0 Empresarial 15,4 40,3 20,3 53,2 2,5 6,5 38,3 100,0 Total 143,3 234,8 242,9 620,9 1781-1800 Particular 83,9 24,3 132,7 38,5 128,1 37,2 344,7 100,0 Empresarial 7,0 13,7 31,5 61,5 12,7 24,8 51,3 100,0 Total 90,9 164,2 140,8 396,0
Fonte: a mesma da Figura 4
Por fim, o tipo de activos que justificou um empréstimo completa o estudo do naipe das
mudanças introduzidas pela legislação pombalina que aqui nos propomos tratar.
Atendendo aos sectores de actividade em que se podem inscrever os investimentos, a
esmagadora maioria de casos do sector empresarial reportou-se ao sector comercial,
sempre com mais de 80%. A fase de 1757-1780 registou a maior contracção de créditos
para a agricultura (passou de 7% para 4%, recuperando para 6% depois de 1780). Face à
esmagadora presença do comércio, a discreta referência a transportes e desempenho de
fretes mal lembra tratar-se de um mercado de crédito na maior cidade portuária do
reino. Este sector teve uma representação idêntica à da agricultura (7%) até 1756. Daí
em diante, a sua ponderação reduziu-se a menos de 1% entre 1757 e 1780, recuperando
para 3% depois. Todavia, a descrição dos activos em questão desvenda, indirectamente,
a construção civil como sector dinamizado pelo crédito depois de 1757 (tabelas 3.a e
3.b).
24
Tabela 3.a- Activos que justificaram endividamento particular
Fonte: a mesma da Figura 4
Tabela 3.b- Activos que justificaram endividamento de tipo empresarial
Edifícios Navios e
Fretes Manutenção Compra equipamento
Desempenho de dívidas Total
1715-1756 19,5% 3,5% 66,7% 0,2% 10,1% 369110508 1757-1780 77,6% 0,8% 8,5% 1,4% 11,7% 354072717 1781-1800 59,5% 4,1% 4,8% 0,0% 31,5% 222877291
Fonte: a mesma da Figura 4
Obras em casas de morada ou construção de casas de raiz sobressaem como uma das
razões fundamentais do volume de crédito afectado a investimento particular depois do
terramoto. Estas aplicações saltaram de 23,9% para 42%, no crédito particular, e foi
ainda mais notável o salto no crédito de tipo empresarial, passando de 19,5 para 77,6 %,
evidenciando alterações na estrutura do investimento, com capital fixo a justificar o
crédito empresarial. Até 1757 a mais frequente situação ocorreu com manutenções,
(“reparos em fazendas” ou benfeitorias), muito provavelmente reportando-se a situações
passíveis de inscrição no sector agrícola, enquanto depois se tornam mais frequentes
empréstimos para edifícios. Seria de esperar que a catástrofe viesse a exigir a afectação
de factores a obras de reparação ou construção de raiz e, portanto, quer entre
particulares, quer entre outras categorias institucionais (empresariais/ monásticas) as
aplicações em “edifícios” haveriam de experimentar um surto que alteraria a estrutura
dos investimentos, tal como esta se apresentou até 1757. Todavia, empréstimos
contraídos para edifícios no sector empresarial também documentam outros objectivos,
com frequência incrementada depois de 1757, ao falarem da compra de lojas ou
ampliação de negócio.
Edifícios Direitos Terra
Desempenho dívidas por herança e partilhas
Desempenho de dívidas Dotes Consumo Total
1715-1756 23,9% 1,3% 2,6% 4,6% 61,2% 3,1% 3,3% 369110508 1757-1780 42,0% 0,0% 2,1% 2,6% 49,6% 0,2% 3,4% 354072717 1781-1800 43,1% 0,3% 1,7% 1,6% 51,9% 0,0% 1,3% 222877291
25
Como nota final, e pese embora, em termos comparados, o refinanciamento de dívida
seja uma marca do crédito pessoal, convém reconhecer que essa aplicação tem especial
visibilidade entre os créditos de tipo empresarial depois de 1780, possível indicação de
dificuldades na realização de lucros e, como tal, um sintoma de problemas mais gerais
na economia, dos quais o crédito é aqui apenas um barómetro.
Não obstante a profusão de aplicações em obras, surgindo o sector da construção como
um dos mais dinamizados por relações de crédito posteriormente ao terramoto, algumas
conclusões vão além da confirmação dessa suspeita quase óbvia. Uma delas prende-se
com endividamento por razões financeiras. O refinanciamento da dívida constitui,
seguramente, uma das conclusões a reter para a compreensão da dinâmica do mercado
creditício. Mas foi a condição do devedor individual, e não as vicissitudes empresariais,
o que destacou esta categoria financeira. Nesse sentido, a legislação pombalina não
alterou um quadro sempre presente desde 1715 (fig 14), em que as causas do
endividamento pessoal se repartiam, fundamentalmente, entre construção e
refinanciamento.
Fig. 14- Tipo de activos e endividamento
020
4060
1715
1718
1721
1724
1727
1730
1733
1736
1739
1742
1745
1748
1751
1754
1757
1760
1763
1766
1769
1772
1775
1778
1781
1784
1787
1790
1793
1796
1799
Milh
ões d
e re
is
desepenho divida particular edificios particular
26
Qualquer outra conclusão sobre aplicações precisa de futuros apuramentos centrados na
análise sociológica dos agentes envolvidos, de forma a apreender quem se manteve
nesta situação de devedor e em que medida encontrou credores em extractos socio-
ocupacionais ou estatutários dispostos a incorrer os riscos de incumprimento.
Conclusões
A legislação pombalina de 1757, determinando a taxa de juro em 5%, é dificilmente
dissociada dos impactos de um choque externo da maior gravidade para a economia: o
terramoto de 1755. Este texto procurou esclarecer em que contexto do mercado de
crédito surgiu esta determinação do ministro, e de que modo se revelariam os efeitos
desta medida que podemos denominar de proto política monetária.
Demonstrou-se que a lei pombalina se inscreveu numa tendência de mercado em que as
taxas de juro desceram de 6,25%, no princípio do século para um valor médio de 5,6%
no ano de 1756. No momento em que a lei pombalina é promulgada, o legislador
possivelmente antevia a subida do juro por efeitos do terramoto. Face à descida
tendencial anterior, a lei surge como uma medida preventiva, embora se justificasse
como um incremento ao comércio e travão ao muito elevado juro corrente na praça,
alegação não verificada nos contratos analisados. Ainda assim, a fixação dos 5%
estabeleceu um tecto num mercado cujas taxas médias estavam um pouco acima, e
igualou-o ao que era correntemente seguido nas praças europeias. Desta forma a fixação
de 5% em Portugal em 1757 surge com 43 anos de atraso do que se passara em
Inglaterra ou em França, fixando a taxa 0,6 pontos percentuais abaixo do ponto de
equilíbrio, sem racionamento, para o qual já se dirigira o mercado na década de 1740.
Verificou-se que o volume de crédito mediado por notários de Lisboa cresceu entre
1715 e 1757 enquanto desciam as taxas de juro, indicando ser esta a época de maior
expansão da oferta em todo o século XVIII. A partir desse ano, o volume
transaccionado contraiu-se em termos nominais e, em termos reais, a contracção ainda
foi mais pronunciada.
27
Constatada a retracção das quantidades, pudemos conjecturar que houve racionamento:
o credor protegeu-se de taxas administradas abaixo do ponto de equilíbrio oferecendo
menos crédito. Todavia, o racionamento não explica toda a tendência de contracção que
se desenha entre 1757 e 1800. A hipótese só é confirmada até 1780, década a partir da
qual a taxa de juro nominal passou a estar abaixo do tecto administrado, deixando este
de ser operativo. Aquele efeito de racionamento da legislação pombalina diluiu-se na
conjuntura do final do século, sendo a procura de crédito em retracção o factor que
possivelmente explica a redução de quantidades transaccionadas em simultâneo com
descida das taxas de juro. Este período abre uma questão fundamental, e que se pretende
resolver na prossecução deste projecto que se prende com a explicação desta conjuntura:
a não operabilidade do limite do crédito dever-se a uma recessão da actividade ao nível
macroeconómico ou terá ocorrido uma alteração de comportamentos ao nível
microeconómico associados ao risco financeiro?
Finalmente, há uma outra variável a merecer observação mais detalhada, devendo ser
incluída como explicação para a contracção do crédito, também do lado da oferta: a
fiscalidade. Que incentivo emprestar a juros, a taxas reais decrescentes, e ainda
mediante o ónus de um imposto anual sobre a transacção (décima de juros)? Na
compreensão dos efeitos de política monetária pombalina, a fiscalidade precisa de ser
incluída. Sem esta variável, os estudos comparados de divergência económica, assentes
ou focalizados apenas no comportamento dos mercados financeiros, estão enviesados.
No seculo XVIII, o emprestador confrontou-se com uma taxa de juro administrada e
com um imposto sobre esse rendimento. O racionamento surge como uma resposta
racional. E com ele a contracção do crédito a juro.
O estudo das aplicações do crédito completou a análise baseada nas quantidades e juros.
À parte a especificidade dos montantes mutuados para fins financeiros, a pedir futuras
pesquisas, uma ideia está desde já confirmada: o intuito de incrementar o investimento
de tipo empresarial com a administração da taxa quedou-se por parcos efeitos. A
descida administrada da taxa de juro em pouco favoreceu o “comércio”, sector que
merecia o maior desvelo no preâmbulo da lei.
28
Referências
Allen, Robert (1988), The Price of Freehold Land and the Interest Rate in the
Seventeenth and Eighteenth Centuries, The Economic History Review, Vol. 41, 1 pp.
33-50.
Amorim, I., (2006), Património e crédito: Misericórdia e Carmelitas de Aveiro (séculos
XVII e XVIII). Análise Social, 41(180), pp. 693-729.
Buchinsky Moshe e Polak, Ben (1993), The emergence of a National Capital market in
Britain, 1710-1880, The Journal of Economic History, 53 (3), pp. 1-24.
Brito, Paulo & Mello, Antonio S., (1995). "Financial constraints and firm post-entry
performance," International Journal of Industrial Organization, vol. 13(4), pp.543-565.
Cardoso, José Luís, (2007), Pombal, o terramoto e a política de regulação económica,
Araújo, Ana Cristina et. al. O Tarramoto de 1755. Impactos Históricos, Lisboa, Livros
Horizonte, pp. 165-182
Carreira, António (1988), A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (O Comércio
intercontinental Portugal-África-Brasil na segunda metade do século XVIII), 2 vol. São
Paulo, Companhia Editorial Nacional.
Clark, G., 1996. The political foundations of modern economic growth: England, 1540-
1800. Journal of Interdisciplinary History, Volume 26, pp. 563-588.
Costa, Leonor Freire; Rocha, Maria Manuel; Sousa, Rita Martins de (2013), O Ouro do
Brasil, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Fonseca, Hélder Adegar (1996), O Alentejo no seculo XIX. Economia e Atitudes
Económicas, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda.
Hoffman, P., Postel-Vinay, G. & Rosenthal, J.-L., (2000), Princeless Markets: the
Political Economy of Credit in Paris, 1660-1870. Chicago: UCP.
Laffont, Jean L. (ed), (1991), Problèmes et Méthodes d’Annalyse Historique de
l’Activité Notariale, Toulouse, Banque Populaire Toulouse-Pyrénées.
Madureira, Nuno Luís, (1994), Crédito e Mercados Financeiros em Lisboa, Ler
História, 26, pp. 21-44.
29
North, D. & Weingast, B. R., (1989), Constitutions and commitment: the evolution of
institutions governing public choice in seventeenth-century England. The Journal of
Economic History, 49(4), pp. 803-832.
Pereira, Álvaro Santos (2009), The opportunity of a disaster: the economic impact of th
1755 Lisbon earthquake, The Journal of Economic History, vol. 69, 2, 466-499
Poisson, Jean-Paul (1973), De quelques nouvelles utilisations des sources notariales en
histpire économique (XVII-XX siècles), Révue Historique, vol. 269, 5-22.
Poisson, Jean-Paul (2002), Essais de notariologie, Paris, Economica.
Serrão, José Vicente (2000), Os campos da cidade: configuração das estruturas
fundiárias da região de Lisboa nos finais do Antigo Regime [Texto policopiado]
dissertação doutoramento, História Moderna e Contemporânea, Lisboa, ISCTE, 2000.
Serrão, José Vicente (2007), Os impactos económicos do terramoto, Araújo, Ana
Cristina et. al., O Tarramoto de 1755. Impactos Históricos, Lisboa, Livros Horizonte,
pp. 141-164.
Stiglitz, Joseph E; Weiss, (1981), Andrew, Credit Rationing in Markets with Imperfect
Information , The American Economic Review, Vol. 71, 3, pp. 393-410.
Sussman, Nathan; Yafeh, Yishay (2002), Constitutions and Commitement: evidence on
the relation between institutions and the cost of capital
http://www.biu.ac.il/SOC/ec/toolbar/main/seminar/data/nathan%20sussman.pdf
Temine, Peter, Voth, Hans-Joachim (2013), Prometheus Shackled. Goldsmith Banks
and England's Financial Revolution after 1700, Oxford. Oxford University Press.
Vogler, Bernard (ed) (1979), Actes notariés. Source de l’Histoire Sociale XVI-XIX
Siècles. Actes du Colloque de Starsbourg (mars 1978), Strasbourg, ISTRA.
30
Recommended