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CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT
ALINE ALVESNAIARA BARROS
O TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS.
Desafios e limites na prática profissional do Assistente Social.
Santos2010
ALINE ALVESNAIARA BARROS
O TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS.
Desafios e limites na prática profissional do Assistente Social.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Monte Serrat como exigência parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Serviço Social, orientado pela Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra.
Orientadora: Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra
Co-orientadora: Profª Ms. Carla Bornhausen Gonzaga
Santos
2010
ALINE ALVESNAIARA BARROS
O TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS.
Desafios e limites na prática profissional do Assistente Social.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Monte Serrat como exigência parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Serviço Social, orientado pela Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra.
Orientadora: Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra
Co-orientadora: Profª Ms. Carla Bornhausen Gonzaga
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________________________________Nome do examinador: Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno GuerraTitulação: Mestre em Serviço SocialInstituição: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE
___________________________________________________________________Nome do examinador: Carla Bornhausen Gonzaga Titulação: Mestre em Serviço SocialInstituição: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE
Local: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pois sem a fé não teria conseguido realizar
esse sonho, sem Ele não teria encontrado o Serviço Social e essa maravilhosa
profissão que escolhi.
A meu querido companheiro Adriano, pela dedicação e paciência em todos os
momentos dessa caminhada, pelo carinho e amor com que me confortou nos
momentos mais difíceis e pelo incentivo quando o cansaço chegava.
Minha família, mãe, irmãs e meu sobrinho querido pelo apoio, em especial a
meu pai Damião que acreditou em mim, me incentivou e acompanhou essa fase de
minha vida.
Agradeço muito a equipe da SENAT por ter nos recebido, principalmente a
Luciana que foi muito importante nesse momento, tirando nossas dúvidas sempre
que possível.
Um muito obrigada a todos que entrevistamos, principalmente aos usuários e
as famílias que se disponibilizaram em nos ajudar na construção de nosso trabalho,
expondo suas vidas, compartilhando suas dores e esperanças.
Agradeço de coração a minha orientadora Nathália pela dedicação, incentivo
e carinho em todo o processo, assim como a nossa co-orientadora.
E enfim, agradeço aos meus queridos amigos que construí nesse período, em
especial a Daniely pelo carinho e apoio, mas principalmente a minha querida amiga
Naiara pela parceria que formamos nesses quatro anos de faculdade, pela
paciência, pelas risadas, pela sintonia, enfim por essa amizade que formamos e que
vamos levar para nossa vida.
AGRADECIMENTOS
“Ao amanhecer, todas as
coisas de ontem pertencem ao
passado. Hoje é um novo dia e
a vida pode recomeçar”
(Autor desconhecido)
RESUMO
A dependência química do Crack vem crescendo e agravando as consequências do uso para o sujeito dependente, sua família e a sociedade. Inicialmente o uso dessa droga era associado as pessoas de baixa renda ou em situação de rua, mas esse quadro sofreu alterações significativas, atingindo as classes média e alta. O crescimento da dependência dessa droga, que possui um preço acessível, efeito mais rápido e agressivo no organismo, desafia os profissionais a pensar em novas estratégias de intervenção de atendimento e trabalho para essa nova demanda que vem afetando de forma tão dramática milhares de famílias. A pesquisa foi realizada com o objetivo de compreender o universo vivenciado pelo usuário de Crack, identificar as Políticas Públicas que vem trabalhando para o enfrentamento da dependência química, o tratamento oferecido a esses usuários pela Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente - SENAT e a atuação dos profissionais na instituição, com ênfase no trabalho do Assistente Social. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, contribuindo para a valorização dos sujeitos. Utilizamos observação participante e entrevistas semi estruturadas, com os sujeitos, familiares e profissionais. Através da pesquisa revelamos as dificuldades apresentadas pelos sujeitos e suas famílias no processo de adesão ao tratamento da dependência química, a relevância do envolvimento da família nesse processo. Possibilitou revelar a importância do Assistente Social na instituição para o tratamento do dependente químico e que a participação da família nesse processo é fundamental, bem como a necessidade de uma equipe trabalhando de maneira interdisciplinar, contribuindo para um acolhimento humanizado que é essencial para adesão do sujeito ao tratamento e ao serviço de saúde.
Palavras-chaves: Crack. Dependência Química. Tratamento ao usuário de crack. Serviço Social.
ABSTRACT
Keywords: The Crack addiction is increasing and aggravating the consequences of using the subject to subject, his family and society. Initially this drug was associated with people of low income or homeless, but this picture has changed significantly, reaching the middle and upper classes. The growth of drug addiction, which has an affordable, faster and more aggressive effect in the body, challenges the students to think about new strategies of intervention and treatment work for this new demand that has so dramatically affecting thousands of families. The survey was conducted with the aim of understanding the universe experienced by crack users, identify the public policy which has been working to combat the addiction, the treatment offered to these users by Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente - SENAT and the performance of professionals in the institution, with emphasis on the work of the Social Worker. We conducted a qualitative research, contributing to the enhancement of the subjects. Used participant observation and semi structured interviews with the subjects, families and professionals. Through the research revealed the difficulties presented by the subjects and their families in the process of accession to the addiction, the importance of family involvement in this process. Allowed to reveal the importance of the social worker at the institution for the treatment of chemically dependent and that family involvement is crucial in this process, as well as the need for a team working in an interdisciplinary manner, contributing to a humanized approach that is essential for adhesion of the subject treatment and health service.
Keywords: crack, Chemical dependency and treatmant for crack users. Social Worker
LISTA DE TABELAS, FIGURAS E QUADROS
Tabela 1: Levantamento do uso de droga nos anos de 2001 e 2005........................27Figura 1: Principais causas de óbito pelo uso do Crack..............................................27Quadro 1: Grupos desenvolvidos na SENAT............................................................42 .......................................................................................................................................
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS (Sindrome da Imunodeficiência Humana)AS (Assistente social)BA (Bahia)CAPS (Caixas de Aposentadoria e Pensões)CAPSad (Centro de Atenção Psicossocial - Ácool e Drogas) CEBRID (Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas)C.F. (Constituição Federal)CRAS (Centro de Referência da Assistência Social)DISE (Divisão de Investigação sobre Entorpecentes)DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) IAPS (Instituto de Aposentadoria e Pensão)INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) M.G. (Minas Gerais)MS (Ministério da Saúde)NAPS (Núcleo de Atenção Psicossocial)OMS (Organização Mundial de Saúde)PT (Partido do Trabalhador)RD (Redução de Danos)SENAT (Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente)SP (São Paulo)SUS (Sistema Único de Saúde)TCLE ( Termo de Concentimento Livre e Esclarecido)URSS(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas)UBS (Unidade Básica de Saúde) USF (Unidade de Saúde da Família)VD (Visita Domiciliar)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................13
CAPÍTULO I...............................................................................................................16
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE NO BRASIL................................................................................................................16
1.1 A saúde no Brasil.................................................................................................16
1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio Psicossocial (NAPS)..................................................................................................20
CAPÍTULO II..............................................................................................................25
CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA..........................................25
2.1 O que é dependência química?..........................................................................25
2.2 O que é o Crack?.................................................................................................25
2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil.........................................................26
2.2.2 O usuário de Crack...........................................................................................28
CAPÍTULO III.............................................................................................................34
SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS................................................34
3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao tratamento..................................................................................................................34
3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química........35
3.2 Metodologia da pesquisa.....................................................................................38
3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa.............................................................39
3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química............................40
3.5 Análise dos dados................................................................................................43
3.5.1 O usuário de Crack...........................................................................................43
3.5.2 A realidade vivida pelas famílias.......................................................................46
3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento......................................48
3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente Social.........................................................................................................................50
3.5.5 Trabalho Interdisciplinar....................................................................................53
3.5.6 Redução de Danos...........................................................................................54
3.5.7 Trabalho em rede.............................................................................................55
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................60
FONTES ELETRÔNICAS..........................................................................................62
ANEXO I....................................................................................................................63
ANEXO II...................................................................................................................64
ANEXO III..................................................................................................................65
ANEXO IV..................................................................................................................66
ANEXO V...................................................................................................................67
INTRODUÇÃO
O presente estudo procurou conhecer mediante pesquisa o tratamento de
saúde oferecido aos dependentes químicos, usuários de crack, no município de
Santos e o papel profissional do Assistente Social no enfrentamento dessa
problemática.
Busca revelar o universo vivenciado pelo usuário de crack, demanda que
atualmente vem crescendo significativamente, devido ao crack possuir um preço
acessível e efeito rápido no organismo. Esta droga que surgiu no Brasil em meados
dos anos 80/90 tem efeitos avassaladores e negativos na vida do indivíduo e de sua
família, causando à dependência física e psíquica e com graves consequências
sociais.
Inicialmente o crack era considerado uma droga utilizada predominantemente
por população de baixa renda e população em “situação de rua”, porém, dados de
pesquisas do Ministério da Saúde comprovam que a droga tem sido consumida por
todos os segmentos e classes sociais nos últimos anos.
Com o decorrer do tempo na história do uso abusivo de drogas surgem novas
substâncias, como o crack, mais baratas e potentes, que impõe a necessidade de se
criar também novas estratégias de intervenção de trabalho, devido ao seu poder
devastador e baixo custo, facilitando o acesso e consumo de grandes parcelas da
população. Desafia o Estado, a sociedade e as famílias a enfrentarem um problema
tão grave que muitas vezes impõe ao ser humano uma condição que atenta contra a
vida.
Vamos identificar como as Políticas Públicas vem historicamente trabalhando
com os dependentes químicos, onde inicialmente não havia um tratamento
específico para essa demanda. Através da reforma psiquiátrica, em meados dos
anos 90, foi possível identificar as diferenças entre os usuários da saúde mental,
pessoas com transtornos mentais e o usuário de substâncias psicoativas e assim,
garantir diretrizes para um tratamento específico para os dependentes de álcool e
outras drogas na busca da qualidade do atendimento e tratamento.
13
A história revela que as Políticas Públicas são recentes no enfrentamento
dessa questão, e por haver o crescimento expressivo dessa demanda e por
consequência, aumento dos graves problemas sociais, no nível familiar e também
seu vínculo com o tráfico de drogas, com a violência, com danos graves para a
saúde individual e coletiva. Há preocupação do governo frente a esta questão social
e a recente definição de diretrizes políticas do Ministério da Saúde - MS, através da
formulação das políticas de prevenção, enfrentamento e de redução de danos, como
as lançadas recentemente no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras
Drogas, em junho de 2010 que tem como uma das suas diretrizes fundamentais a
Atenção Integral aos usuários de Crack.
O tratamento aos dependentes de crack é uma questão recente e
desafiadora, encontramos poucos materiais que apresentam trabalhos
especificamente sobre essa problemática. O presente estudo pretende contribuir
para essa reflexão e através da análise das informações obtidas, aprofundar
questões relevantes para o acesso e tratamento ao usuário de crack nos serviços de
saúde.
Nesse sentido, sentimos a necessidade de realizar uma pesquisa para
conhecer qual é o tratamento oferecido aos usuários de crack no município de
Santos, como se dá a adesão dos usuários ao programa, seu olhar frente ao
tratamento em que estão inseridos e o acolhimento que se dá a esse sujeito na
instituição.
Buscaremos também no processo deste estudo, identificar e aprofundar o
trabalho interdisciplinar desenvolvido pelo serviço de saúde, considerando a
importância deste para o tratamento de dependência do Crack. Estaremos aqui,
ressaltando o papel do Assistente Social dentro da instituição, sua proposta de
atuação, desafios e limites da prática profissional.
Nosso objetivo é que possamos contribuir para a compreensão desse
fenômeno tão complexo, que é a dependência química do Crack, e através da
análise aprofundar o trabalho desenvolvido para o seu enfrentamento. Sabemos da
importância de combater as formas de preconceito e discriminação que não
contribuem para enfrentar a dependência química. É preciso discutir o uso abusivo
de drogas como um fenômeno social, onde a família, a sociedade civil e o Estado
14
tem responsabilidades a serem compartilhadas, na prevenção, no combate e no
tratamento aos usuários de Crack.
No capítulo I fazemos um breve histórico da Política de saúde no Brasil, e as
ações voltadas ao tratamento da dependência química no decorrer da história do
país.
No capítulo II abordaremos a dependência química, com ênfase no Crack e
suas problemáticas, referências de consumo no país e o perfil do usuário de Crack.
No capítulo III por meio da pesquisa de campo apresentaremos o serviço de
saúde que é referência no município de Santos no tratamento da dependência
química, a prática do Assistente Social e demais profissionais da instituição, o olhar
dos sujeitos e familiares que acessam o serviço. Buscaremos através da análise das
falas desses sujeitos, revelar a vivencia desses usuários e familiares no
enfrentamento a dependência química, limites e possibilidades no processo de
tratamento. E ainda identificar o trabalho profissional da Assistente Social neste
contexto.
No percurso deste estudo, temos a certeza da urgência, da sociedade
brasileira, agir no combate a este fenômeno. E é isto que este estudo e
principalmente, os sujeitos da pesquisa, em suas trajetórias aqui reveladas vão nos
mostrar.
15
CAPÍTULO I
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE NO BRASIL.
1.1 A saúde no Brasil
No início do século XX, a saúde da população brasileira não era reconhecida
como um direito do cidadão e dever do Estado, ficando a mercê de atendimento
filantrópico nos hospitais de caridade mantidos pela Igreja Católica. A saúde era
entendida como um serviço de caráter individual, paliativo e curativo.
O Estado brasileiro restringia a sua atuação na área da saúde em ações de
saneamento nas grandes cidades e portos para combater as epidemias da época,
principalmente quando estas epidemias interferiam na economia e traziam prejuízos,
como por exemplo, o combate a febre amarela e outras doenças infecto-contagiosas
através de programas de saneamento no Rio de Janeiro e no porto de Santos que
resultou também em campanhas de vacinação obrigatória no Brasil.
Em 1923, fruto do crescimento industrial e da mobilização dos trabalhadores,
foi criada a lei Eloi Chaves que regulamenta e cria as Caixas de Aposentadoria e
Pensão (CAPS), que eram entidades públicas que possuíam autonomia em relação
ao Estado, administradas com a participação direta dos trabalhadores e
empresários, sendo financiada pela empresa, trabalhador e União, garantindo
assistência médica e aposentadoria. Os benefícios e serviços de saúde destinavam-
se a empregados de empresas específicas, sem recursos do poder público.
A saúde nesta época estava condicionada à inserção no mercado de trabalho,
onde apenas os trabalhadores urbanos assalariados com alto poder aquisitivo e a
classe social dominante tinham acesso a mesma.
Na década de 1930, na chamada Era Vargas, foi criado o Instituto de
Aposentadoria e Pensões (IAPS), organizados por categorias profissionais e não
mais por empresas. No final da década de 1930 e início da década de 1940, os IAPS
já concentravam uma grande quantidade de recursos, resultado do crescimento
contínuo da arrecadação, fruto do aumento do número de trabalhadores com
carteira assinada. Ao mesmo tempo, os gastos eram poucos já que a demanda por
16
aposentadoria ainda era pequena, porém o Governo Vargas utilizou grande parte
dos recursos dos IAPS de forma indevida, no financiamento da industrialização do
Brasil, emprestando para empresários ou investindo diretamente, como foi o caso do
desenvolvimento da indústria siderúrgica.
Com o processo de industrialização na década de 30, no país tivemos o
“êxodo rural” aumentando a população nos centros urbanos que objetivavam a
busca de emprego nas indústrias. No entanto a demanda foi maior que a oferta de
emprego, contribuindo para aceleração da urbanização e a ampliação da massa
trabalhadora, em precárias condições de higiene, saúde e habitação.
A conjuntura de 30, com suas características econômicas e políticas, possibilitou o surgimento de políticas sociais nacionais que respondessem às questões sociais de forma orgânica e sistemática. As questões sociais em geral e as de saúde em particular, já colocadas na década de 20, precisavam ser enfrentadas de forma mais sofisticada. Necessitavam transformar-se em questão política, com a intervenção estatal e a criação de novos aparelhos que contemplassem, de algum modo, os assalariados urbanos, que se caracterizavam como sujeitos sociais importantes no cenário político nacional, em decorrência da nova dinâmica da acumulação. (BRAVO, 2007, p. 91).
Nas constituições do Brasil de 1934 e 1937 notamos avanços da assistência
médica ao trabalhador:
Art.121 § 1º - A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador:[...] h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte (BRASIL, 1934)
Art 137 - A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos:[...] l) assistência médica e higiênica ao trabalhador e à gestante, assegurado a esta, sem prejuízo do salário, um período de repouso antes e depois do parto; (BRASIL, 1937)
A constituição do Brasil de 1946 amplia as competências do Estado em
relação à saúde:
Art 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores: [...] XIV - assistência sanitária, inclusive hospitalar e médica preventiva, ao trabalhador e à gestante; [...] XVI - previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da
17
maternidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da morte;
Esses avanços na Constituição foram conquistas sociais, fruto das lutas e
reivindicações dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, juntamente
com a pressão sindical e a participação de outros atores políticos. Até 1950 as
atividades de saúde baseavam–se na atenção médica curativa e de prevenção
coletiva, sendo que durante o regime militar de 1964, os problemas não foram
resolvidos intensificando ainda mais a situação.
Em face da “questão social” no período 64/74, o Estado utilizou para sua intervenção o binômio repressão-assistência, sendo a política assistencial ampliada, burocratizada e modernizada pela máquina estatal com a finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as tensões sociais e conseguir legitimidade para o regime, como também servir de mecanismo de acumulação do capital. (BRAVO, 2007, p. 93).
Em 1966 houve a unificação dos IAPS, tornando-se Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS).
Na década de 1970 após a consolidação dos serviços privados e públicos,
fica clara a divisão de acesso à saúde, isto é, entre os que podiam pagar por
serviços de saúde privada e a população carente que era atendida na saúde pública.
Em 1978 aconteceu em Alma-Ata, União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de
Saúde, expressando a necessidade de ação urgente de todos os governos, de todos
os que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da comunidade
mundial para promover a saúde de todos os povos do mundo.
Nesse contexto a sociedade civil organiza-se no país para mobilização e
conquista do direito à saúde. Como um direito universal e dever do Estado. Esse
movimento ficou conhecido como movimento sanitarista representado pelos
profissionais da saúde e sociedade civil. Os movimentos organizados participavam
das conferências propondo os seguintes princípios: universalização da saúde,
descentralização, com equidade e participação popular.
Em 1986, pós o regime militar, e em processo de abertura política no país é
realizado a 8ª Conferência Nacional de Saúde em Brasília, grande marco na história
das conferências de saúde no Brasil. Foi a primeira vez que a população participou
das discussões da conferência. Participaram dessa conferência mais de 4.000
18
delegados, impulsionados pelo movimento da Reforma Sanitária, e propuseram a
criação de uma ação institucional correspondente ao conceito ampliado de saúde,
que envolve promoção, proteção e recuperação.
Em 1988 suas propostas foram contempladas e aprovadas pela Constituição
Federal (C.F.) e o Sistema Único de Saúde (SUS) regulamentado pelas leis
orgânicas da saúde 8.080/90 e 8.142/90, garantindo legalmente a proteção e a
defesa da saúde, corroborando com a definição da Organização Mundial da Saúde
(OMS) “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a
ausência de enfermidade ou invalidez”, garantindo um direito de todos os cidadãos
brasileiros e dever do Estado.
Art. 196 - A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação (C.F BRASIL, 1988).
Concretizava -se através dos princípios do SUS:
Universalidade: atendimento a todo e qualquer cidadão, de acordo com a
necessidade (independente do pagamento a Previdência Social).
Integralidade: percepção da pessoa como um todo, que faz parte da
sociedade. Ações de prevenção e tratamento voltadas ao indivíduo e a comunidade.
Unidades prestadoras de serviços nos diversos graus de complexidade formando
um todo indivisível prestando assistência integral. Respeito a dignidade humana.
Equidade: direito ao atendimento frente às necessidades específicas, estando
atento as desigualdades existentes, ajustando as ações às necessidades de cada
parcela da população considerando suas vulnerabilidades.
Descentralização: poder de decisão na mão dos responsáveis pela execução
das ações (Comando Único) nas esferas (municipal, estadual e federal).
Regionalização / Hierarquização: serviços devem ser organizados em níveis
de complexidade tecnológica crescente, com área geograficamente definida e
definição da população a ser atendida.
Eficácia / Resolutividade: produzir resultados positivos quando for procurado
pela população ou quando um problema se apresenta na comunidade. Ter qualidade
no atendimento ao usuário e comunidade.
Participação Popular: direito de participação a todos os segmentos envolvidos
com o sistema (gestores, prestadores de serviço, trabalhadores de saúde e a
19
população usuária dos serviços). Participação através dos Conselhos de Saúde e
Conferências Municipais.
Complementaridade do Setor Privado: quando por insuficiência do setor
público, poderá ser contratado serviço privado, mantendo-se os princípios do SUS.
Deve-se dar preferência a serviços não lucrativos.
O SUS é resultado da mobilização do movimento sanitarista, da classe
trabalhadora, juntamente com outros atores da sociedade civil que reivindicavam o
direito ao acesso integral, universal e gratuito a saúde de todos os brasileiros.
Busca romper com a lógica neoliberal de insuficiência de recursos públicos
investidos em saúde no Brasil pelo Estado, que se revela através da privatização e
sucateamento da saúde.
O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. No entanto
apesar de seu caráter inovador, o SUS efetivado está longe do SUS constitucional.
Existe um hiato entre os ideais defendidos e propostos pelos movimentos e a prática
do sistema público de saúde que historicamente tem grandes desafios na garantia
da saúde pública no país.
1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de
Apoio Psicossocial (NAPS)
A Política de Saúde Mental consolidada no Brasil é consequência,
principalmente, do processo de questionamento e reflexão iniciado no final da
década de 70 pelos trabalhadores de saúde mental, familiares, sindicalistas que
colocaram “um ponto final” ao paradigma e ao modelo psiquiátrico vigente na época.
Este Movimento passa ser protagonista na defesa dos direitos das pessoas
com transtornos mentais, denúncia à violência dos manicômios, da mercantilização
da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e crítica ao chamado
saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com
transtornos mentais.
As experiências que ocorreram na Itália, de desinstitucionalização em
psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio têm repercussão positiva no Brasil,
pois revela que é possível uma ruptura ao modelo de violência asilar estabelecido na
20
época. Passaram a surgir as primeiras propostas e ações para a reorientação da
assistência.
Em 1987 na cidade de São Paulo é construído o primeiro Centro de Apoio
Psicossocial (CAPS) no Brasil. Em 1989 na cidade de Santos por meio da Secretaria
Municipal de Saúde, inicia-se o processo de intervenção para construção de uma
rede de cuidados efetivos em substituição ao hospital psiquiátrico, Casa de Saúde
Anchieta da cidade de Santos, local de maus-tratos e mortes de pacientes. A
experiência da cidade de Santos é um marco no processo de Reforma Psiquiátrica
brasileira, pois revela e transmite para o país a realidade dos hospitais psiquiátricos,
demonstra que é possível transformar essa problemática e que precisa ser
enfrentada, trazendo à tona a urgente necessidade da extinção dos manicômios do
país.
A Reforma Psiquiátrica tem o apoio do Deputado Federal Paulo Delgado
(PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos
mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país e sua substituição por
outros recursos assistenciais e regulamenta a internação psiquiátrica compulsória
através do Projeto de Lei 3.657/89.
Em 1992, surgem movimentos sociais inspirados no Projeto de Lei Paulo
Delgado, que conquistam as primeiras leis que determinam a substituição do modelo
vigente, manicomial, apesar da resistência do setor privado, propondo uma rede
integrada de atenção a saúde mental. Ainda na década de 90 é firmado pelo Brasil,
através da assinatura na Declaração de Caracas e pela realização da II Conferencia
Nacional de Saúde Mental, o compromisso em criar normas federais e serviços de
atenção diários. Sendo assim são fundados os primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-
dias e as primeiras normas para a fiscalização e a classificação dos hospitais
psiquiátricos.
Somente após 12 anos a Lei Paulo Delgado é sancionada, mas é apenas
uma substituição do Projeto de Lei 3.657/89 original e traz modificações importantes,
pois a Lei 10.216 de 06 de abril de 2001 dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental. A aprovação da Lei 10.216/01 foi um marco ético-legal da Reforma
Psiquiátrica, ratificando de forma histórica, as diretrizes básicas que constituem o
Sistema Único de Saúde - SUS; garantindo aos usuários de serviços de saúde
21
mental e consequentemente, aos que sofrem por transtornos decorrentes do
consumo de álcool e outras drogas – a universalidade de acesso e direito à
assistência, bem como à sua integralidade; valoriza a descentralização do modelo
de atendimento quando determina a estruturação de serviços mais próximos do
convívio social de seus usuários, configurando redes assistenciais mais atentas às
desigualdades existentes, ajustando de forma equânime e democrática as suas
ações às necessidades da população.
1.3 Saúde mental e usuários de álcool e outras drogas
Inicialmente os usuários de álcool e outras drogas não tinham assistência
específica, sua política de atendimento ficava restrita ao tratamento de saúde
mental. O tema era tratado com preconceito, onde os dependentes eram vistos
como marginais e não como doentes. Esse preconceito associado à criminalidade,
vinculava o tratamento a modelos de exclusão e de internação, acreditando que
manter longe e em abstinência seria a solução.
Mas a realidade contemporânea nos coloca a frente de novos desafios,
exigindo dos profissionais novas formas de atuação. A questão da dependência
química que era abordada especificadamente por médicos da saúde mental, onde
os profissionais e suas disciplinas eram compartimentalizadas e o conhecimento
fragmentado, passa a exigir novas estratégias, onde o conhecimento não é privativo
de uma única área do saber, portanto faz necessário a interlocução entre elas.
A interdisciplinaridade promove a troca de informações e de conhecimentos entre disciplinas mas, fundamentalmente, transfere métodos de uma disciplina para outras. Por exemplo: os métodos da física nuclear podem auxiliar na cura do câncer, na engenharia de alimentos ou de remédios, etc. Corresponde a um espectro mais ampliado de ação, alcançando um processo de interação entre as disciplinas capaz de promover a conjugação de conhecimentos que elevem os níveis de saber. (RODRIGUES, 2004, p. 52)
A interdisciplinaridade possibilita a complementaridade do conhecimento das
diversas disciplinas, proporciona que várias áreas do conhecimento possam dialogar
entre si, verificando as diferentes formas de abordar a realidade. O trabalho
interdisciplinar faz-se necessário cada vez mais devido a dificuldade que
encontramos para enfrentar a diversidade e a complexidade dos problemas
22
associado ao uso de substâncias psicoativas, contribuindo para compreensão do
aumento do uso abusivo de álcool e outras drogas e suas implicações que são
multidimensionais, já que envolve aspectos sociais, psicológicos, econômicos e
políticos, afetando a todos os segmentos sociais.
Em 2002, junto às recomendações da III Conferência Nacional de Saúde
Mental, o Ministério da Saúde implementa o Programa Nacional de Atenção
Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, voltando sua
estratégia de atuação para a ampliação do acesso dos usuários ao tratamento, a
compreensão integral e dinâmica da problemática, a promoção de seus direitos e a
abordagem de redução de danos. Afirma-se assim, através do Estado uma
estratégia que visa enfrentar um problema que passa a ser considerado de saúde
pública. De acordo com as Organizações Mundiais de Saúde, 10% da população
dos centros urbanos do mundo consomem substâncias psicoativas, sem distinção
de idade, sexo, nível de escolaridade e poder aquisitivo.
Ao ser organizada essa nova rede de trabalho no enfrentamento dessa
problemática, visa-se a reabilitação e a reinserção social do dependente, o que
levou o Ministério da Saúde a instituir ao Sistema Único de Saúde (SUS), o Plano
Nacional de Atenção Comunitária e Integral aos usuários de Álcool e outras drogas,
que tem como uma de suas diretrizes a intersetorialidade, a atenção integral, a
prevenção, a promoção e proteção a saúde de consumidores de álcool e outras
drogas, o modelos de atenção (CAPS) e redes assistenciais e o controle de
entorpecentes – padronização de serviços. Estabelecendo serviços extra
hospitalares específicos para essa demanda articulada junto à rede de atenção
psicossocial e abordando em conjunto a redução de danos.
São criados os CAPSad, Centros de Atenção Psicossocial para o atendimento
de pacientes com dependência e/ou uso prejudicial de álcool e outras drogas,
devendo ser trabalhado todo o cenário do usuário: o sistema de saúde, assistência
social e familiar.
Os CAPSad devem oferecer atendimentos diários a sujeitos que fazem uso
prejudicial de álcool e outras drogas, desenvolver atividades que envolvam desde
atendimentos individuais (medicamentoso, psicoterápicos, de orientação, dentre
outros) até atendimentos em grupos ou oficinas terapêuticas e visitas domiciliares.
Devem oferecer também, espaços de repouso para desintoxicação ambulatorial de
23
pacientes que necessitem desses cuidados e que não seja necessário atendimento
hospitalar.
O trabalho de prevenção pelo CAPSad pode ser definido como um processo
de planejamento, implantação e implementação de múltiplas estratégicas voltadas
para a redução dos fatores de riscos específicos e fortalecimento dos fatores de
proteção, o que implica a inserção comunitária das práticas propostas juntamente
com a colaboração de todos os segmentos sociais.
A lógica sugerida pelo Ministério da Saúde é a Redução de Danos que visa
minimizar as consequências causadas pelo uso de drogas como a transmissão de
doenças, como hepatite e Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, através de
utensílios perfuro cortantes compartilhados entre os usuários, como seringas e
cachimbos.
Segundo o Ministério da Saúde para funcionar o CAPSad deve oferecer a
seguinte equipe multiprofissional: médico psiquiatra; enfermeiro com formação em
saúde mental; médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e
acompanhamento das intercorrências clínicas; profissionais de nível superior entre
as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro,
terapeuta ocupacional, pedagogo, ou outro profissional necessário para o processo
terapêutico; profissionais de nível médio: técnico e / ou auxiliar de enfermagem,
técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
Destacamos neste capítulo aspectos relevantes do desenvolvimento da
política de saúde no Brasil, e nesse processo, a necessidade de priorizar de forma
que se organize uma atuação diferenciada junto aos usuários de álcool e outras
drogas na política de saúde local.
24
CAPÍTULO II
CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA
2.1 O que é dependência química?
A dependência é, essencialmente, uma relação alterada entre o usuário e o seu modo de consumo. Todo o consumo de substâncias psicoativas, seja ele lícito ou ilícito, é influenciado por uma série de fatores que diminuem ou aumentam o risco de complicações agudas e crônicas. (COMUDA, 2006, p. 117).
Durante a vida, cada indivíduo adquire um modo particular de consumo de
substâncias, que sofre influência de diversos fatores de proteção e risco, podendo
serem de natureza biológica, psicológica e social. Esses fatores se influenciam
mutuamente, podendo comprometer vários campos da vida. Vale ressaltar que
nunca um fator de risco isolado leva a dependência, é necessário que haja outros
fatores sobre a história de cada um conduzindo-o ao abuso ou à dependência.
Assim, fica claro que os fatores ligados ao indivíduo, a natureza das
substâncias e seu ambiente social, desenvolvem padrões diferentes de consumo
dessas substâncias. Tomando como exemplo o álcool, um consumo em baixas
doses, com precauções necessárias é considerado de baixo risco, o eventual
acompanhado de brigas, perda de compromissos é considerada nociva ou abuso e
quando o consumo é frequente, compulsivo, é considerado dependência.
2.2 O que é o Crack?
O Crack é uma substância psicoativa, resultado da mistura da cocaína (pasta
da coca ou ela pura) e substâncias alcalinas, como bicarbonato de sódio e amônia.
Atualmente, nota-se o crescimento da utilização de outras substâncias na
composição do Crack para aumentar sua produção, o que causa efeitos ainda mais
graves ao organismo do usuário.
Essa mistura é consistente e cortada em pequenos pedaços que são as
pedras, que os usuários fumam em um cachimbo que pode ser facilmente
improvisado com latas. Durante o aquecimento, cristais da cocaína são queimados e
fazem o barulho que deu nome a droga “Crack”.
25
O Crack inicialmente foi tido como uma droga de rua, de pessoas conhecidas
popularmente como “nóias”, indivíduos de baixa renda ou em situação de rua.
Atualmente ela atinge todos os segmentos da sociedade independente de gênero,
idade, sexo e classe social.
Quando a pessoa experimenta o Crack, o corpo cria uma espécie de memória
biológica das sensações que obteve independente de serem prazerosas ou
desagradáveis. A pessoa deseja sentir a sensação de êxtase, de bem estar e euforia
da primeira vez novamente, acredita que a parte ruim não vai se repetir.
O Crack age no cérebro de 05 a 10 segundos, e tem um efeito de
aproximadamente 15 minutos. Causa fortes efeitos psíquicos como euforia, que dá a
sensação de que ele pode tudo; redução da fadiga e da fome; irritabilidade e
impulsividade; sintomas depressivos e junto a uma forte necessidade de consumir
mais; ansiedade, sensação de pânico, mania de perseguição e perda do auto
controle. Esses efeitos, como nas demais drogas, agem conforme cada indivíduo e
seu organismo, seu estado psicológico e físico. Os efeitos físicos são o aumento da
frequência cardíaca e da pressão arterial; alta temperatura corpórea; aumento do
ritmo intestinal; tremores; dilatação da pupila; sudorese. Os efeitos sociais surgem
de acordo com o grau de dependência do usuário, quando está na “fissura”, não tem
respeito por nada nem ninguém, seu único “amigo” é o Crack, nada tem sentido,
sem a droga sente-se perdido e em seus poucos instantes de lucidez vem a
depressão, o sentimento de culpa, a raiva por se sentir incapaz, a preocupação, o
medo e a insegurança. Aos que possuem o apoio da família, mesmo com vergonha,
conseguem pedir ajuda, mas logo a vontade volta e o “cega”, levando - o novamente
a correr atrás da droga. É capaz de tudo para conseguir o Crack, engana, inicia
pequenos furtos, rouba, faz qualquer coisa e passa por cima de tudo e todos para
conseguir mais uma pedra.
2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil
Os dados mais recentes sobre o consumo do Crack no país estão disponíveis
pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). O seu
II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil divulgado
em 2005 demonstra que houve um aumento do uso de Crack no Brasil em
26
comparação com o I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas
no Brasil divulgado em 2001. Conforme podemos observar na tabela abaixo, que é
a comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005, sobre o uso do crack em sua
vida, distribuído segundo sexo e a faixa etária dos entrevistados das 108 cidades
com mais de 200 mil habitantes do Brasil.
Tabela 1: Levantamento do uso de droga nos anos de 2001 e 2005.
DROGA ANO 2001 ANO 2005
CrackMasc.
0,7
Fem.
0,2
TOTAL
0,4
Masc.
1,5
Fem.
0,2
TOTAL
0,7
Fonte: CEBRID, 2005.
O II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil
divulgado em 2005 revela a quantidade do consumo de crack na vida, sendo 0,7 %
equivalente a 381 mil usuários de crack, no ano 0,1 % e no mês 01%. Entre os
brasileiros a porcentagem é maior no sexo masculino (3,2%) e na faixa etária de 25
a 34 anos.
Cerca de 600.000 pessoas fumam Crack hoje no Brasil, segundo estimativa
do Ministério da Saúde. Em 2005, esse número era de 380.000. O aumento foi de
58%. (VEJA São Paulo, 2010. p. 37).
Figura 1: Principais causas de óbito pelo uso do CrackFonte: Veja São Paulo, data abr. 2010.
27
Um em cada três usuários de Crack morre nos primeiros cinco anos de
consumo da droga, segundo estudo da Unifesp, divulgado pela revista Veja. As
principais causas de óbito pelo uso de Crack são demonstradas através da figura
acima e por meio dela podemos constatar que o maior índice de mortes é em
decorrência da violência por traficantes ou pela polícia e em segundo por
decorrência da Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS).
2.2.2 O usuário de Crack
Há poucas informações sobre a chegada do crack ao Brasil, em sua maioria
provenientes da imprensa leiga ou de órgãos policiais. Segundo os primeiros
estudos iniciados no final da década de 80, a cidade de São Paulo foi a mais
atingida. A primeira apreensão da substância no município registrada nos arquivos
da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (DISE), aconteceu em 1990
(Uchôa, 1996). Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em
bairros da Zona Leste da cidade (São Mateus, Cidade Tiradentes e Itaim Paulista)
para em seguida alcançar a região da Estação da Luz (conhecida como
"Cracolândia") e o centro da cidade (Uchôa, 1996). A partir daí espalhou-se para
vários pontos da cidade, estimulado pelo ambiente de exclusão social (Uchôa,
1996).
O Crack era usado pela população de baixa renda, em específico, pessoas
em situação de rua. Geralmente homens, com menos de 30 anos, desempregados,
com baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo, e oriundos de ambiente familiar em
situação de vulnerabilidade social.
Foi analisado que o usuário de Crack tem um padrão mais alto de
necessidade de consumo, maior envolvimento em atividades ilegais e prostituição.
Possuem também, maior número de problemas de saúde e sociais que os usuários
dos demais entorpecentes.
Geralmente o usuário de Crack usou outras drogas pesadas e teve seu início
em idade precoce, o que dificulta ainda mais seu tratamento, pois estão
biologicamente mais prejudicados devido ao início danoso em sua fase de
crescimento e desenvolvimento bio-psicossocial.
Esse quadro inicial veio se modificando com o desenvolvimento de nossa
sociedade e a falta de intervenção de Políticas Públicas específicas aos usuários de
28
álcool e outras drogas e em especial para o usuário de Crack que, atualmente, não
tem distinção de classe social, raça ou nível de escolaridade. São indivíduos que
buscam a droga por motivos que são diversos e complexos, pois são subjetivos para
cada sujeito em seu contexto.
Segundo o “Guia Prático sobre Uso, Abuso e Dependência de Substâncias
Psicotrópicas para Educadores e Profissionais da Saúde”, elaborado pela Prefeitura
Municipal de São Paulo, podemos tentar analisar o usuário de Crack avaliando
fatores que possam influenciar e potencializar seu uso.
Fatores Biológicos: nos usuários de Crack a depressão e os transtornos de
ansiedade são os mais apresentados, mostrando uma correlação significativa entre
esses sintomas e a gravidade da dependência.
Fatores Individuais: depressão, ansiedade, alienação, comportamento
compulsivo, isolamento, timidez, dificuldades de concentração e pessimismos. É
válido acrescentar que, o uso precoce aumenta em até quatro vezes a chance de
uso contínuo e de dependência.
Fatores Sociais: fatores relacionais se referem ao grupo social a que pertence
aquele indivíduo, de onde ele quer fazer parte, se destacar, ser reconhecido. Grupo
esse em ambiente que ele cresceu e aprendeu, tendo como referência suas
características.
Fatores Familiares: que vão variar de acordo com o que ele vivencia e
aprende cotidianamente, desde a infância, como a violência, situação
socioeconômica, falta de comunicação entre os membros da família, dentre outros.
Fatores Escolares: variam desde problemas de adaptação e de relação entre
escola e estudante, onde não há o reforço do valor da escola, ao invés disso, exclui,
estigmatiza, rejeita e reforça negativamente, não possui regras, nem informações, e
apresentam professores não capacitados para lidar com essa questão, dentre
outros.
Os fatores apresentados se referem ao que pode potencializar o uso e a
dependência, mas precisamos analisar como ficam comprometidas essas relações
quando a dependência já está instalada.
O dependente de Crack vive para a droga, só pensa nela e na próxima dose,
assim tudo o mais fica irrelevante para o usuário.
29
Em casa, com sua família, começam as pequenas mentiras, em pouco tempo
é percebido seu uso, pois o usuário não consegue segurar a “fissura”1 e passa a
usá-la em casa, improvisando cachimbos com latas de refrigerante e usam
constantemente o incenso para tentar disfarçar o cheiro característico da droga.
Dá-se início então a venda de seus pertences particulares, celular, tênis, até
roupas, passando a fazer pequenos furtos na própria família, televisão, DVD, tudo o
que acreditar ter valor de troca para o traficante. Quando já não tiver mais nada para
vender em casa passa a fazer pequenos furtos na rua, sendo violento quando
necessário, pois não pode perder tempo, “precisa do Crack” e é capaz de tudo para
consegui-lo. Sua relação familiar passa a ficar comprometida, brigas constantes,
pois o usuário não aceita sua dependência, se acha capaz de tudo e que tem
controle sobre a droga, dizendo que pode parar de usar quando quiser. Sem
entender a droga, a família não sabe como agir e tentam de tudo para ajudar, mas
chega o momento em que perdem a esperança, pois o usuário de Crack passa a
ficar extremamente violento, já que uma das características da droga é que quando
está ativa dá uma forte sensação de poder. Geralmente apenas um membro da
família insiste no usuário, os demais, perdem a esperança, chegando a acreditar que
a morte é a solução mais esperada, tamanho o desespero e a desilusão, não
acreditando no tratamento, pois o usuário de Crack costuma ter diversas recaídas.
A abstinência do Crack é extremamente estressante para o usuário, suor,
calafrios, tremores, dores abdominais, fazendo-o colocar a droga como um objetivo
a ser conquistado naquele momento e quando seus meios materiais terminam passa
a se prostituir, independente de sexo e idade, o usuário vende seu corpo por uma
pedra de Crack. É físico, é biológico, ele precisa, ele tem que ter mais uma pedra e
qualquer coisa que o faça conquistá-la é válida. Não pensa nas consequências e
nas doenças que pode adquirir e transmitir, sob efeito da droga ele não consegue
pensar, não consegue raciocinar, assim não vai usar preservativo, nem é capaz de
lembrar.
Na escola, a frequência diminui consideravelmente, chegando a deixá-la
definitivamente quanto instalada a dependência, pois não consegue acompanhar os
demais e nem há o interesse. Os profissionais da escola não estão capacitados para
1 Fissura é um termo utilizado para se referir ao momento de abstinência que o usuário não consegue suportar, em que não esta usando droga, mas sente o desejo incontrolável.
30
lidar com o usuário de drogas, sendo assim, sentem-se impotentes e pouco ou nada
podem fazer para mudar o quadro.
O Usuário de Crack não consegue exercer atividade remunerada, seu
comprometimento não o deixa se concentrar no trabalho, tem tremores e passa a
ficar dias somente usando a droga, o que o impossibilita de continuar em um
emprego. Destacamos também que o usuário de Crack não é confiável, quando
precisa de uma pedra não pensa antes de enganar, mentir, sendo assim, o
empregador não abre precedentes, prefere mandá-lo embora a ter prejuízos.
Fisicamente os efeitos do Crack se instalam visivelmente, emagrecem até que
fiquem com aspecto cadavérico, pois a droga inibe completamente o apetite, os
deixando dias sem comer. Apresentam feridas nos lábios decorrentes das
queimaduras no uso da droga, assim como em seus dedos, alem das rachaduras e
da cor amarelada.
2.3 O desenvolvimento das ações de Redução de Danos - RD no Brasil no
enfrentamento da dependência química.
A Redução de Danos é uma estratégia da saúde pública que visa diminuir as
consequências adversas decorrentes da prática de risco ao uso de drogas (lícitas e
ilícitas) ocasionando danos à saúde, como por exemplo, compartilhar apetrechos de
seringas e cachimbos, que podem transmitir doenças como hepatite, AIDS, Sífilis,
Herpes entre outras.
A primeira experiência de Redução de Danos no Brasil começou em
dezembro de 1989 no município de Santos – SP. O então prefeito da cidade,
preocupado com o rápido crescimento de contaminação pelo vírus HIV/AIDS nos
usuário de drogas injetáveis, usou como estratégia para controle da epidemia a
proposta de distribuir seringas e agulhas para uso do indivíduo. Essa medida gerou
muita polêmica e controversas. Inclusive foi enquadrada, na época pelo Ministério
Público, que entendeu que o objetivo era incentivar o uso de entorpecentes
conforme a Lei 6.368 de 1976 “qualquer forma de auxílio /incentivo àqueles que se
utilizam de substâncias entorpecentes” é considerado crime. Inviabilizando assim a
proposta naquele momento.
31
No ano de 1995 em Salvador – BA e em outros estados o trabalho de
Redução Danos já estava sendo desenvolvido mesmo sem uma legislação que a
liberasse ou se opusesse. Os avanços passam a surgir após a participação e
mobilização da população e profissionais em conferências e debates. Em 1998 foi
aprovada a lei que protegia os Redutores de Danos, que atuavam junto aos usuários
de drogas. Atualmente o Ministério da Saúde incentiva à parceria e o fortalecimento
entre os Programas de Saúde Mental, de Hepatite Virais e o de DST e AIDS
objetivando promover a integralidade da atenção e a visibilidade da Redução de
Danos como uma política de saúde pública.
A Portaria nº. 1.028 de 4 de julho de 2005 do Ministério da Saúde preconiza
estabelecer diretrizes que orientam a implantação das ações e, desta forma,
subsidia municípios e estados na manutenção ou implantação de ações de Redução
de Danos voltadas aos dependentes usuários de drogas.
O objetivo é reduzir os danos daqueles usuários que não querem ou não
conseguem parar de usar drogas, pelo menos naquele momento, e, portanto,
compartilham muitas vezes a seringa, o cachimbo ou praticam atividades sexuais
sem o uso do preservativo e se expõem à infecção pela AIDS, Hepatite e outras
doenças. A Redução de Danos surge como uma alternativa de prevenção ao usuário
de drogas que não está preparado para aderir ao tratamento que tem por objetivo a
abstinência.
A redução de danos propõe a escuta e o acolhimento sem julgamento,
reconhecendo cada usuário e sua singularidade e o uso que ele faz das drogas e,
partindo disso, traça com ele estratégias para reduzir tanto quanto possível os
eventuais prejuízos que vem sendo acarretados a esse indivíduo pelo uso indevido
das drogas, bem como, orientá-lo no sentido de fazer um uso menos prejudicial a
sua saúde. O objetivo a ser alcançado não é o da abstinência, tem como principal
meta a ser alcançada a defesa da vida humana, o direito a saúde, gerar informações
adequadas sobre riscos e danos, estimulando práticas de cuidado e valorizando
suas escolhas, diminuindo os impactos social, físico e mental.
Não podemos confundir as estratégias de Redução de Danos com o incentivo
ao uso indevido de drogas, pois se trata de uma estratégia de prevenção de
doenças decorrentes do uso contínuo de substâncias psicoativas. Pressupõe avaliar
junto ao usuário os danos causados pelo uso sem controle da droga em sua vida, e
32
junto com ele, estabelecer estratégias para maior controle para sua dependência,
diminuindo riscos e danos, para si, para outros e sua família.
33
CAPÍTULO III
SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS.
3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso
ao tratamento.
A SENAT é um serviço que atua no enfrentamento da dependência química
em atendimento ambulatorial, ou seja, trata o usuário na instituição, mas oferece
encaminhamentos para as comunidades terapêuticas quando diagnosticado pela
equipe técnica sua necessidade. Faz parte da Secretaria Municipal de Saúde e
funciona como um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad).
Oferece atendimento diário a sujeitos que fazem uso prejudicial de álcool e
outras drogas, desenvolvendo atividades desde atendimentos individuais até
atendimentos em grupos ou oficinas terapêuticas e visitas domiciliares. Oferecem
também, espaços de repouso para desintoxicação ambulatorial de pacientes que
necessitem desses cuidados mas que não precisam de atendimento hospitalar.
A Instituição conta com equipe multiprofissional: Assistente Social,
Psicólogos, Psiquiatras, Acompanhantes Terapêuticos, Enfermeiro e Técnicos de
Enfermagem.
O usuário que chega a SENAT tem o entendimento de sua dependência, ou
seja, quer se tratar e parar de usar a droga. Mas há também os casos que são
encaminhados pelo judiciário, como os adolescentes ou pela Central de Penas e
Medidas Alternativas de Santos, onde pessoas que não tem condições de prestar
serviço comunitário por causa da dependência química, após autorização do juiz,
fará seu tratamento que servirá como prestação de serviço a comunidade. Vale
ressaltar que nesses dois últimos casos é muito difícil a adesão ao tratamento pois
muitos não se consideram dependentes e assim desistem quando passado o prazo
exigido ou simplesmente o abandona. O maior índice de desistência vem justamente
dessa demanda onde o juiz determinou um tratamento em que eles não acreditam,
segundo técnicos da equipe.
34
Grande parte dos que acessam a SENAT vem encaminhados de outros
serviços, como as unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Saúde da
Família (USF), Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), dentre outros.
O usuário que chega por conta própria já está em estado de “aceitação” devido as
perdas, onde sua família, seu trabalho, sua vida social, está prejudicada de forma
desastrosa pelo vício. Segundo pesquisa de campo existe pouca divulgação da
instituição, e essa divulgação é realizada por outros equipamentos da prefeitura,
dificultando o acesso da demanda que não passa por esses equipamentos. Porém
percebemos que a demanda do município é grande para a quantidade de
profissionais, sendo necessário que essa estrutura seja revista, pois mesmo que a
equipe esteja de acordo com as exigências do Ministério da Saúde, ela também
deve ser adequada com o fluxo de atendimento do município. Vale ressaltar que
conforme informações na instituição, está previsto a implementação de um novo
SENAT, para adolescentes, que mudará a estrutura de funcionamento do serviço,
pois deixará de atender a essa demanda.
3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química.
Conforme levantamento disponibilizado pela SENAT referente ao mês de
Agosto de 2010, foram atendidos 226 usuários de drogas, 199 são homens e 27 são
mulheres, destes 68 utilizam o Crack, associado a outras drogas, representando
30% dos pacientes atendidos no mês.
O tratamento dá inicio com o acolhimento. Definimos acolhimento como
sendo todo contato com o usuário onde a intenção seja de receber de forma
humanizada favorecendo a criação de vínculos, sendo realizado durante o
atendimento na recepção, na sala de espera ou atendimento pelo plantonista, pois
todas essas formas visam o contato com o usuário.
O acolhimento e o espaço para a criação de vínculos nos atendimentos[...] acontecem, inicialmente, através de pequenas atitudes dos profissionais, tais como: chamar o usuário ou familiar pelo nome, fazê-los aguardar pouco pelo atendimento e mantê-los informados em casos de atraso, disponibilizar um espaço de privacidade para o atendimento, ouvir o que o usuário tem a dizer e direcionar a conversa sem causar desconforto. Outro aspecto fundamental é a forma e a linguagem utilizada para que as informações ou orientações possam ser compreendidas de maneira satisfatória. (FERNANDES, 2006, p.7)
35
Nessa primeira fase o usuário chega ao serviço e passa pelo profissional de
plantão, que é rotativo entre o Assistente Social, Psicólogo, Enfermeiro, Terapeuta
Ocupacional e Acompanhante Terapêutico, cada dia um desses profissionais fica de
plantão. Esse profissional faz uma primeira avaliação e o orienta quanto ao
tratamento em que irá seguir, sobre os atendimentos e grupos que frequentará, o
que se chama Projeto Terapêutico, que é individual respeitando a subjetividade dos
sujeitos. Neste momento é agendado com os demais profissionais da instituição e
com os grupos que fazem parte do tratamento, grupos de acolhimento, de
abstinência e de manutenção. Esses são os principais, mas ele também poderá
fazer parte da Terapia Comunitária e do Grupo de Serviço Social e das Oficinas
oferecidas.
Assim o fluxo do atendimento segue a seguinte lógica: Acolhimento pela
recepção – acolhimento pelo plantonista – agendamento com os profissionais de
assistência social, psicólogo, enfermeiro e psiquiatra – agendamento nos grupos de
acolhimento e depois de determinado tempo neste grupo ele passa ao grupo de
abstinência e quando estiver preparado passa ao grupo de manutenção, sendo este
o último, preparando-o para deixar a instituição. Reforçamos que os Projetos
Terapêuticos são individuais e seguem a necessidade de cada um, assim após cada
caso ser avaliado é ou não encaminhado aos demais grupos e oficinas oferecidas na
SENAT.
Vale ressaltar que quando o indivíduo chega a SENAT, ele está muitas vezes
em situação de rua, fragilizado, precisando de atendimento imediato, assim esse
primeiro acolhimento é de extrema importância e os agendamentos são realizados o
mais rápido possível, cerca de três dias conforme informações da SENAT, para que
esses pacientes não desistam do tratamento.
A família do usuário também é acolhida e seu papel é importantíssimo para o
desenvolvimento do mesmo. A família passa por atendimento com o plantonista e
com os demais profissionais da instituição sempre que houver necessidade e
participa do Grupo de Família, especialmente criado para essa demanda.
Após a avaliação dos profissionais, é estudado o grau de dependência do
usuário, para que assim possa ser feito seu Projeto Terapêutico dentro da
instituição, não há uma escala de dependência, mas a equipe avalia a vontade de
parar de usar a droga, o tipo de droga em específico, pois no caso do Crack é muito
36
difícil esse primeiro momento de abstinência, onde o paciente pode ser risco para si,
como em casos de tentativa anterior de suicídio ou para o outro, em casos de
violência aos familiares ou externos para conseguir a droga, assim, pode ser
sugerida também a internação em Comunidades Terapêuticas.
São três as Comunidades Terapêuticas conveniadas com a Secretaria
Municipal de Saúde:
Comunidade Terapêutica Recanto das Garças, em Bragança Paulista-SP,
que atende adolescentes de 12 a 18 anos. São 10 vagas e a duração do tratamento
é de 6 meses.
Comunidade Terapêutica Vitória, em Mariporã-SP, que atende adultos
homens. São 10 vagas e a duração do tratamento é de 6 meses.
Comunidade Terapêutica Respeitar, em Pedro de Toledo-SP, que atende
adultos, homens e mulheres. São 10 vagas e a duração do tratamento é de 7
meses.
Grande parte dos usuários da SENAT, principalmente os usuários de Crack,
chega solicitando internação, devido ao grau de fragilidade em que se encontram e o
de suas famílias, já esgotadas com o vício. Mas como já dito anteriormente, a
internação acontece após o diagnóstico da equipe técnica.
Ao iniciar o tratamento o usuário passa pelos atendimentos com os
profissionais e nos grupos. Inicia no grupo de acolhimento e com mais ou menos 3
meses passa ao grupo de abstinência, esse tempo não é determinado, ele será de
acordo com a evolução do usuário, após mais ou menos 3 meses passa ao grupo de
manutenção, onde será preparado para retornar as suas atividades. Esse último
grupo é de extrema importância para o usuário, pois a dependência química não tem
cura, a vontade de usar a droga vai permanecer por muito tempo e ele vai ter que
aprender a lidar com essa vontade a partir das mudanças de comportamento que se
fazem necessárias.
É importante ressaltar que durante a pesquisa na instituição e participação
nos grupos, percebemos que há uma quantidade significativa de usuários que são
trabalhadores das mediações do Porto de Santos. Em um dos grupos um usuário
relatou sobre seu medo de terminar o tratamento na SENAT, pois em seu ambiente
de trabalho sente vontade de usar a droga e tem medo de não conseguir resistir sem
as reuniões da SENAT, ele já está trabalhando e seu tratamento está no final. Por
37
isso a importância de avaliar se esse paciente está preparado para concluir o
tratamento, sentir-se seguro é primordial para que ele não recaia.
Muitos pacientes que chegam a SENAT não tem condições de trabalhar,
assim são orientados sobre o direito de afastamento do trabalho durante o
tratamento. Esta orientação é feita pelo serviço social ou pelo médico. Alguns
pacientes já possuem o conhecimento desse direito. Ressaltamos que o laudo só é
oferecido quando o paciente está fazendo o tratamento regularmente, participando
dos grupos, das terapias, dos atendimentos e consultas médicas, caso contrário é
negado.
3.2 Metodologia da pesquisa
Realizamos uma pesquisa qualitativa na SENAT, que está subordinada a
Coordenadoria de Saúde Mental e da Secretaria Municipal de Saúde, que
possibilitou valorizar o conhecimento que os sujeitos possuem sobre a realidade
vivida, contribuindo assim para o desenvolvimento deste trabalho. A pesquisa
qualitativa é importante, pois dá voz ao sujeito, reconhecendo-o como protagonista
da pesquisa e consequentemente do processo de conhecimento.
A pesquisa qualitativa:
[...] tem por objetivo trazer à tona o que os participantes pensam a respeito do que está sendo pesquisado, não é só a minha visão de pesquisador em relação ao problema, mas é também o que o sujeito tem a me dizer a respeito. (MARTINELLI, 1999, p.21).
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, onde obtivemos o conhecimento
teórico sobre a droga, suas características e as dos usuários, os efeitos do Crack no
organismo e suas consequências psicossociais, bem como as Políticas e Diretrizes
propostas para o enfrentamento da mesma. Na pesquisa de campo realizada foram
utilizados os seguintes instrumentais:
Entrevista semi - estruturada (Anexo I): foi realizada com os usuários do
serviço no intuito de obter a opinião dos sujeitos a respeito do tratamento oferecido,
sua história de vida, as dificuldades enfrentadas durante o tratamento, os conflitos
familiares e suas sugestões para melhorar o atendimento;
38
Os usuários entrevistados foram convidados durante processo de grupo em
que participavam, são 5 usuários: sexo masculino e sexo feminino, de faixas etárias
diversas e que aceitaram participar da pesquisa.
Entrevista semi – estruturada: foi realizada com a Assistente Social (Anexo II)
e a equipe interdisciplinar (Anexo III) que compartilhou suas experiências, o seu
conhecimento sobre os usuários de Crack, o que observa sobre as dificuldades para
adesão ao tratamento, a opinião sobre o papel da família e as dificuldades
enfrentadas no cotidiano, no trabalho interdisciplinar e no trabalho em rede;
Observação participante: foi realizada durante todo o processo de
desenvolvimento da pesquisa de campo, proporcionou conhecer a rotina de trabalho
da instituição, dos profissionais, o fluxo da demanda, o acolhimento e a participação
dos usuários nos grupos.
A pesquisa foi realizada em dias agendados com a direção da Unidade, onde
permanecemos durante os meses de setembro e outubro de 2010. Realizamos
entrevistas com profissionais da assistência social, psicologia e funcionário
acompanhante terapêutico. Os sujeitos da pesquisa foram selecionados em uma
amostragem intencional sendo orientados sobre seu objetivo através do termo de
consentimento livre e esclarecido – TCLE.
As entrevistas realizadas foram gravadas com o consentimento dos
entrevistados, através do TCLE, com o intuito de valorizar o seu conhecimento e
experiências, dando maior visibilidade ao sujeito por meio da sua fala sobre essa
problemática, expondo suas formas de pensar e avaliar o processo de tratamento.
Foi garantido a não identificação no relatório final da pesquisa, resguardando-se sua
privacidade.
3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa.
Entrevistamos os profissionais e funcionários da SENAT, que é referência no
tratamento da dependência química no município de Santos. Para a seleção dos
funcionários e profissionais foram escolhidos conforme sua área de atuação e
interesse em participar da pesquisa, Assistentes Sociais, Psicólogos e
Acompanhantes Terapêutico. A entrevista foi previamente agendada conforme
disponibilidade dos mesmos, sendo realizadas na SENAT. Os usuários e familiares
39
foram convidados durante sua participação nos grupos de acolhimento e de família.
Os integrantes dos grupos que se sentiram a vontade em participar, após o término
do mesmo nos acompanharam para aplicação da entrevista na própria instituição.
Foi explicado o objetivo do trabalho e firmado o compromisso da devolutiva do
mesmo, bem como foram convidados a assistir a apresentação do trabalho de
conclusão de curso – TCC.
Para aplicação da pesquisa foram selecionados 4 sujeitos entre profissionais
e funcionários, 3 usuários e 2 familiares. Vale ressaltar que dentre os entrevistados
profissionais, havia 2 Assistentes Sociais, onde uma atualmente atua como gestora
da unidade, mas por muito tempo atuou como Assistente social, e sua opinião como
profissional do serviço social foi de extrema importância para a compreensão do
quanto essa área é requisitada na SENAT. Para que os profissionais não sejam
identificados, garantindo sua privacidade, principalmente por que a equipe da
SENAT é pequena, optamos por não relacioná-los por profissão, vamos utilizar as
letras A, B, C e D de maneira aleatória. Quando nos referirmos a atuação do
Assistente Social – A.S. vamos utilizar os números 1 e 2, para que não seja
identificado qual profissional citou determinada frase. Os usuários e familiares
também serão apresentados pelas letras E, F, G, H e I, para manter o sigilo.
Estaremos desta forma buscando garantir o sigilo e a privacidade dos sujeitos
de pesquisa e destacando o que é mais importante, suas formas de pensar e avaliar
a problemática do dependente químico do Crack.
3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química
No contexto grupal, o indivíduo pode encontrar maior possibilidade de perceber a si mesmo e ao outro, através daquilo que podemos chamar “reação espelho” (enxergar-se a si a partir do outro), além disso, pode se familiarizar com novas maneiras de sofrimento e de soluções, representadas por pessoas reais colocadas na mesma sala. (MELO e FIGLIE, 2010, p.429).
A abordagem grupal no processo de tratamento da dependência química
possibilita oferecer ao indivíduo um espaço no qual ele não é discriminado /
excluído, ao contrário, proporciona um ambiente onde todos são iguais frente a sua
problemática, favorecendo para que ele sinta-se um integrante do grupo, identifique–
se com o outro, troque experiências, compartilhe os seus sentimentos, sua história
40
de vida, saindo do individual para o coletivo, um fortalecendo o outro, criando saídas
e alternativas para problemática enfrentada.
[...] aqui nas terapias a gente fala e desabafa, coloca tudo pra fora, mas tem gente que não fala uma palavra e vai pra casa, fica quieto, aqui você descarrega. (Usuário F).
Além desses aspectos a intervenção em grupo permite atender um número
maior de pessoas, sendo uma técnica e estratégia viável, levando em consideração
a demanda e a quantidade de profissionais para realizar o atendimento.
A SENAT conforme foi dito anteriormente é um serviço ambulatorial, portanto
possui uma grande rotatividade de pessoas no tratamento. Dessa forma para facilitar
o atendimento existem grupos abertos que possibilita a entrada de um novo
integrante no grupo que está iniciando o tratamento independente do momento. Os
grupos abertos são: Serviço Social, Família e Terapia Comunitária.
Grupo de Serviço Social: é coordenado pela assistente social e
acompanhante terapêutico. O grupo é realizado com os dependentes
químicos que estão em tratamento. Seu objetivo é abordar assuntos
pertinentes ao enfrentamento da dependência química, por exemplo, projeto
de vida.
Grupo de Família: é coordenado pela assistente social e acompanhante
terapêutico. O grupo é composto pelos familiares dos dependentes químicos
que estão em tratamento. Seu intuito é discutir as questões trazidas pelos
familiares e fazer a reflexão junto com seus integrantes.
Terapia Comunitária: é realizada pela enfermeira e acompanhante
terapêutico. Os integrantes do grupo são os dependentes químicos em
tratamento e os seus familiares.
Existem os grupos fechados que tem o propósito de caminhar juntos durante
o tratamento e tendo um tempo pré determinado para início e fim do mesmo.
Entretanto é respeitado o tempo de cada pessoa em cada grupo, levando em
consideração a singularidade do sujeito.
[...] Não existe tempo certo para o fim do tratamento em média 1 ano mas algumas pessoas aparentam estar bem, quando chega no final precisa de
41
um apoio maior, nada vai impedir que ele fique mais 2 ou 3 meses, não tem essa coisa muito certa não, esta avaliação é constante com os pacientes e com os técnicos. (Profissional B).
Os grupos fechados são: Acolhimento, Abstinência e Manutenção.
Grupo de Acolhimento: é coordenado pela terapeuta ocupacional e
acompanhante terapêutico. Os participantes do grupo são dependentes
químicos que estão iniciando o tratamento ou estão retornando, em casos de
recaída. O grupo tem duração prevista de três meses.
Grupo de Abstinência: é coordenado pela psicóloga. O grupo é freqüentado
por dependentes químicos que já estão um tempo sem usar drogas e que já
passaram pelo grupo de acolhimento. O grupo tem duração prevista de dois
meses.
Grupo de Manutenção: é coordenado pelo psicólogo. Os participantes desse
grupo são dependentes químicos que já passaram pelos grupos de
acolhimento e abstinência. Sua duração tem previsão de dois meses.
Na SENAT também existe o Grupo de Adolescentes: que é coordenado pela
psicóloga, no entanto a nossa pesquisa foi realizada somente com usuários adultos.
42
Quadro 1: Grupos Desenvolvidos na SENAT
Grupo: Funcionamento:
Grupo de Serviço Social Quinta – feira ás 13h00
Grupo de Família Segunda – feira ás 15h00
Terapia Comunitária Segunda – feira ás 10h00
Grupo de Acolhimento Segunda – feira ás 09h00
Grupo de Abstinência Quarta – feira ás 16h00
Grupo de Manutenção Sexta – feira ás 08h00
Grupo de Adolescente Quinta – feira ás 15h00
Fonte: Pesquisa de Campo, set. e out., 2010
Conforme ilustração do Quadro I, os grupos da SENAT acontecem
semanalmente, entre os grupos, o de Manutenção é o único que acontece no
primeiro horário, o que não é por acaso. Segundo relato dos profissionais, no início
do tratamento o usuário chega com a sua rotina comprometida dependendo do grau
de dependência em que se encontra, sendo difícil sua participação. No início do
tratamento os usuários têm dificuldade em cumprir com os horários estabelecidos
pela SENAT, seja dos grupos ou dos atendimentos individuais, entretanto a partir do
grupo de Manutenção é importante que o usuário já comece se acostumar com sua
rotina de trabalho, estudo, enfim suas responsabilidades e compromissos do
cotidiano, pois estão no final do tratamento e precisam estar preparados para voltar
a sua rotina de vida.
Todos os grupos da SENAT são heterogêneos, isto é, não existe uma divisão
por gênero, tipo de droga (lícita ou ilícita) e o tipo de dependência (álcool, maconha,
crack e etc).
O grupo heterogêneo proporciona aspectos positivos e negativos, enriquece
a interação, troca de informações e ajuda mútua entre os integrantes do grupo.
Entretanto ainda que o assunto tratado no grupo seja o mesmo, isto é, a
dependência química, o coordenador do grupo precisa estar preparado e atento
para trabalhar questões que possam surgir, como por exemplo: o preconceito entre
os usuários de drogas lícitas para com os que usam drogas ilícitas, já que os tipos
de perdas, o comportamento, a maneira de encarar a dependência são diferentes,
por exemplo, um alcoolista em relação a um usuário de crack, ou seja, um
dependente de álcool não se acha tão debilitado quanto um dependente de Crack.
3.5 Análise dos dados
3.5.1 O usuário de Crack
Podemos confirmar através das falas dos sujeitos que não existe um único
motivo ou modo de se iniciar o uso de drogas, cada indivíduo é único e tem sua
subjetividade. Assim as decisões são tomadas por cada um de maneira que
satisfaça suas próprias necessidades. Para cada um algo diferente os tocou, os
43
afetou de maneira que o entorpecente e seus prazeres seja uma espécie de
paliativo, fuga para seu dia a dia e dificuldades que enfrentam.
Lá atrás, teve o acidente com meus pais, que morreram os dois juntos, eu tinha 19 anos, eles morreram e para mim foi um bum, eu não usava nada, eu era tranquilo, eu tinha irmãos que usavam, eu era contra, eu tinha ódio de ver eles usando, até quando aconteceu essas coisas, então fui usando, usando, vi meus irmãos usando e naquela de provar, provei, gostei e pronto. Comecei com 20 anos com a cocaína, o Crack foi depois (Usuário E).
A partir dos 13 anos passei a usar cigarro, meio que pra chamar a atenção dos pais, não sei, não tenho certeza disso, eu tinha liberdade total em casa, horário, não tinha esse problema. (Usuário E).
[...] eu tive algumas dificuldades na família de ver pai bebendo, brigando e tal, não sei dizer se de alguma forma foi isso que ficou, mas que eu lembro é, minha mãe também mas só que eles pararam [...].A primeira droga que usei foi a maconha, aquela famosa história eu tava só conhecendo, [...], mas eu já saia, já bebia e se eu não me engano foi 6 meses depois ou um ano que eu conheci a cocaína, como sendo a cura da bebedeira, você bebia muito, e ficava bem legal, e isso progrediu bem rápido, eu não sabia que eu tinha esta pré disposição e fui cada vez aumentando as doses. (Usuário F).
[...] alguma droga tinha que ter no dia, foi aumentando o uso em qualquer horário, antes era só a noite, até que chegou a qualquer dia, qualquer horário, de manhã eu não tinha horário e já era uma característica da minha dependência e aos dezesseis anos eu conheci o crack e nessa época ainda, nem existia, a gente fazia o crack, a gente pegava a cocaína, de boa qualidade, já tinha pronto mais era mais fácil você fazer, você misturava bicarbonato com água, fervia e quando secasse ficava aquela pasta, que era o crack,[...]. (Usuário - G).
Podemos fazer uma relação com os informações citadas anteriormente no
capítulo 2, que fala a respeito de fatores que possam influenciar e potencializar o
uso, como as questões familiares do cotidiano, da vivência de presenciar brigas,
alcoolismo dos pais, questões sociais de influências de amigos, experimentando
para fazer parte do grupo, são alguns destaques que podemos relacionar.
Seja pelo excesso de liberdade em casa, pela perda de pessoas queridas,
somada as questões de propensão a dependência química, faz com que esses
sujeitos percam sua identidade para o Crack. Perde sua dignidade, o controle de si e
acabam ferindo sua família e as pessoas que estão a sua volta.
Você desliga do mundo, da família, de tomar um banho, é onde a pessoa chega nesse ponto de ficar na rua, não tem nada, não corta o cabelo, não escova o dente. Você tem tudo ali, mais você não faz, fazendo da sua casa
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uma loucura, você tem toda a estrutura mas você não faz nada, o negócio é impressionante mesmo [...] a recaída é pior que no começo, a gente fica num estado que pior que um chão. (Usuário E)
O Crack tem o efeito instantâneo, trago já deu a deixa, a primeira tragada é um prazer, depois você vai se transformando no seu problema, vou me transformando num bicho. (usuário G)
Esse estado de “bicho”, define como eles realmente se sentem quando estão
sobre o uso do Crack, o prazer é só no início, depois a pessoa se transforma
conforme o uso da droga. Deixa de comer, de fazer sua higiene pessoal, perde a
percepção da realidade, só pensa na próxima pedra, chegando a ficar dias em
situação de rua. Só cai em si quando o corpo se esgota e não agüenta mais, é o
momento em que vem o sentimento de culpa pelas atitudes que teve durante seu
estado de uso e chora, até que seu corpo se restabeleça, mas depois a vontade vem
e novamente retoma o uso e volta “ao chão”.
Sua família sofre junto, se esgota, sem saber como ajudar, acolhe quando o
ente querido retorna a casa, cuida e protege. Mas chega ao ponto em que todos o
“abandonam”, pois estão cansados dessa situação. A mãe, é a mais presente no
acompanhamento do usuário, depois dela um outro parente ou amigo que é
referência para o sujeito, pessoa em quem ele confia.
Eu chegava no ponto de que a loucura era tão grande que se minha mulher estivesse pra chegar, eu pensava “pô daqui meia hora ela tá aqui”, eu saia trancava a casa e ia pra rua, com medo dela chegar, isso era uma coisa minha, da minha cabeça. Só que eu não tinha a noção de ela chegar em casa e a porta trancada e ela ficava uma noite lá fora, e eu tava duas quadras de casa sentado, com medo dela falar alguma coisa, só que eu não tinha noção que eu tranquei ela na rua. Ela chegou a passar uma noite sentada na escada me esperando, com a roupa do trabalho e tudo. Ela ligava no meu celular e falava “vem pra casa, vem pra casa”. Você faz cada coisa absurda meu, não tem como segurar, eu ficava no carro, sabendo que ela tava lá sentada mas não saia do lugar, uma hora, duas horas, três horas da manhã e eu lá sentado. (Usuário E).
O meu dinheiro é meu advogado quem administra, se dá na minha mão vai sumir, eu gasto 1200 reais em dois dias. Pra você ver, eu mesmo entreguei tudo pro meu advogado,”toma aqui o cartão”, quando peço ele dá, mas fica direto com ele. (Usuário F).
[...] há quatro meses a trás eu tava lá no centro, eu tava oito dias lá, ai eu voltava pra casa e minha mulher começava a falar, eu saia de novo, e ficava lá, enfim [...]. (Usuário G).
Chegou a um ponto que eu por exemplo, essa ultima recaída foi tão forte que eu me tranquei no quarto, minha esposa do lado de fora e meu filho
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também, eu usando aqui dentro, ela querendo entrar e eu segurando a porta. (Usuário G).
É muito difícil retomar a vida após tantos momentos de sofrimento, deixar
tudo pra trás e iniciar uma nova fase. Dos três usuários entrevistados, dois são
casados e suas esposas os apóiam, mas muitos perdem a família e esse processo é
irreversível. Readquirir a confiança das pessoas e encarar o preconceito de ser
dependente químico em uma sociedade como a nossa, preconceituosa e cheia de
estigmas é um desafio, que deve ser trabalhado durante o tratamento na SENAT
para que o sujeito se sinta seguro com relação a sua condição e se fortaleça nesse
processo de retomada da vida social. Voltar ao trabalho ou procurar um emprego e
rever seus colegas, amigos e familiares, reconquistá-los, são questões que
preocupam os usuários e é fundamental trabalhar com os mesmos.
3.5.2 A realidade vivida pelas famílias
A família é importante nesse processo [...] pois ela que irá assegurar o retorno, será a base para a pessoa conseguir se reestruturar [...]. (Profissional A).
A família é super importante, é uma das coisas principais [...] para trabalhar a família como lidar com ele, questão de regras, de limites [...]. (Profissional B).
Como vimos através das entrevistas com os profissionais, o usuário no
processo de tratamento precisa de alguém da família ou um amigo em quem ele
confie, que o incentive a realizar o tratamento, que possa num primeiro momento
acompanhá-lo a instituição.
Os profissionais deixam claro a importância da participação da família durante
todo o processo. Inicialmente é ela a quem o sujeito vai recorrer, pedir ajuda, assim,
precisa saber lidar com essa situação, além de levar o paciente a SENAT ela
também precisa participar para entender essa problemática e como agir diante da
mesma.
Até então a droga era só na vida dos outros, na minha não. Nunca pensei! (Família H).
As famílias não estão preparadas para lidar com essa situação, ficam
fragilizadas, sentem-se culpadas e muitas vezes chegam a entrar em depressão,
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pois nunca imaginaram que essa situação poderia ocorrer em suas vidas. Ver seus
filhos em situação de rua, debilitados, sem tomar banho, sujos, machucados, causa
muito sofrimento. A situação chega a ponto de não conseguirem encontrar uma
solução para o “problema”, não entendem a dependência como uma doença. Seu
acompanhamento durante o tratamento é importante para que ela se fortaleça, para
que ela tenha conhecimento do que é a dependência química e perceba que não
está sozinha, existem outros em igual situação e os profissionais estão ali para dar a
orientação que necessitam, conseguindo assim contribuir para o tratamento de seu
filho.
Durante o período em que a família frequenta a SENAT ela participará dos
grupos e se necessário dos atendimentos individuais, assim irá se fortalecendo
durante todo o processo de tratamento do sujeito, entendendo a dependência e suas
consequências. Aprendendo a “conviver” com a dependência química, e sua
participação é fundamental na manutenção do indivíduo após SENAT.
A efetividade do tratamento depende do usuário, a função da família é o de
dar apoio ao mesmo e ficar atenta as demais implicações, não se culpabilizando
pelo que acontece ao indivíduo, é preciso que a família perceba a necessidade de
separar as responsabilidades, o que é seu papel e o que não lhe cabe.
[...]o que ele tem que fazer agora é trabalhar esse problema por que o refúgio dele é a droga, a gente pensa assim, é safadeza, mas não é safadeza ele precisa de ajuda, mas não falou, então agora eu já sei o que ele tem [...] só a internação não adianta, por que eles são pessoas que precisam de ajuda [...]. (Família I).
[...] eu não tinha entendido porque meu filho chegava do trabalho, largava a mochila e ia pra rua, daqui a pouco ele volta e ia dormir e ia trabalhar, eu nunca vi vestígio de droga por que maconha deixa o olho vermelho, a cocaína não[...]. (Família I).
[...] começou a chorar e contou que ele já estava tentando sair sozinho, mas não estava conseguindo e estava com medo de contar para mim que estava usando [...]. (Família I).
Os indivíduos raramente assumem que precisam de ajuda, negam a si próprio
essa necessidade. Acreditam ter o controle. Os familiares demoram para admitir que
um membro da família esta usando drogas, por falta de atenção ou até mesmo por
negação, não querem aceitar que um membro de sua família seja um “drogado”.
Dessa maneira, na maioria das vezes só descobre quando a situação está
avançada. Cada família passa por essa problemática de formas diferentes, reagem
47
de acordo com os seus valores, compreensão da situação e os recursos internos
que possuem para lidar com o problema.
[...] acho que dá um negócio no cérebro que dá mais vontade e mais vontade sei lá, aí vai com tudo, começam a pegar coisa de casa [...] é difícil agora eu estou mais calma estou aprendendo mais a lidar com essa situação por causa da terapia, mas no começo eu chorava muito, eu emagreci 6 quilos [...]. (Família H).
A substância química causa mudanças de comportamento e impactos no
usuário, mas também em seus familiares e pessoas no qual possui convivência.
Assim que aumenta a frequência do uso da substância e sua quantidade, a
pessoa começa a vender os seus bens materiais e cometer pequenos furtos em
casa, distancia-se dos familiares e amigos, passa a frequentar lugares que permitem
o fácil acesso as drogas.
[...] quando ele me contou aí o mundo acabou [...]. (Família H)
Conforme o grau de dependência e perdas do indivíduo, maior o sofrimento
da família que sentem a sensação que o “mundo caiu”, de frustração e impotência.
As famílias que acompanham o tratamento e participam do grupo, percebem que
existem outras famílias vivendo situações parecidas e conseguem através da troca
de saberes, das experiências, enxergar novas maneiras de lidar com a situação.
O apoio da família é fundamental para re-estruturação do dependente
químico. Por isso se faz necessário a orientação e apoio as famílias, pois somente a
internação e o tratamento não são suficientes, o indivíduo precisa ter alguém da
família ou um amigo em que ele possa confiar e buscar ajuda nas horas difíceis.
Este trabalho é fundamental que seja mantido e ampliado pela equipe de
profissionais do serviço de saúde.
3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento
[... ] eu sabia que existia, por que eu passava aqui perto, eu conheço aqui, ai eu vi a placa ali e falei é bom pra quem usa drogas, ai me falaram por que você não vai lá [...]. (Família – I).
A SENAT eu conheci através do médico, eu tive tuberculose e ele me encaminhou para cá. (Usuário G).
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[...] eu nunca falei mal do tratamento oferecido aqui na SENAT [...] eu indico aqui pra quem quiser vir. (Família H).
A SENAT é a referência do município de Santos no enfrentamento da
dependência química, entretanto para chegar na instituição, conforme entrevistas
com usuários, ocorre através de encaminhamentos dos demais serviços do
município ou por indicação. Não há divulgação do mesmo, o que dificulta o acesso,
já que desconheciam o serviço.
[...] o tratamento é ele que tem que querer...eles pensam que nunca precisam de tratamento, acham que consegue parar sozinho [...]. (Família I).
A instituição atende uma demanda difícil, que precisa estar ciente do
tratamento e querer realmente parar de usar a droga.
Percebemos que o acolhimento influência na adesão, pois o individuo que
chega a SENAT está inseguro, assim precisa confiar no profissional que o atende,
seja ele o recepcionista, o plantonista, ou qualquer outro que tenha contato com o
sujeito, já que o acolhimento é toda e qualquer relação com o usuário. Assim é
necessário um bom acolhimento, possibilitando a criação de vínculos entre as
partes, caso contrário não sentirá segurança no tratamento que é oferecido,
favorecendo para o abandono de tratamento. O envolvimento de todos os
funcionários neste processo é fundamental, cuidar e estar atento na rotina torna-se
exigência diária nesse serviço.
[...] que nem o médico, é as 13h, mas não chega antes das 14h ou 15h, eles ficam todos nervosos ali, o cara já é ‘psico’ por causa das drogas e o médico demora [...]. (Família H).
Eu tenho uma boa sugestão...eles ficam ai esperando o médico...ao invés de ficarem sentados, fumando, falando de drogas, bota para trabalhar enquanto esperam a hora do médico. (Família H).
Eu acho que poderia melhorar, a questão de atendimento, de horário. Medicação tem bastante, mas a estrutura [...]. (Usuário E).
Eu posso falar do doutor [...] ele marca 13:00 horas e chega 14:30 horas, não é brincadeira essas coisas [...]. (Usuário F).
Conforme as falas dos entrevistados, as sugestões estão voltadas justamente
para a parte mais importante no início do tratamento que é o acolhimento, eles ficam
esperando muito tempo ociosamente para serem atendidos. E uma das
49
características principais do dependente químico é agitação e ansiedade, esse
tempo ocioso pode contribuir para que esses sintomas se intensifiquem, podendo
inclusive desmotivá-lo na adesão ao tratamento.
Essa maneira de acolher que é desrespeitosa com o usuário, foi percebida
por alguns profissionais comprometidos com a demanda, que observaram a
necessidade de implementar uma sala de espera, aproveitando esse espaço para
abordar assuntos pertinentes para otimizar esse momento no qual eles ficam
aguardando uma consulta. A proposta é dos profissionais se revezarem na sala de
espera e cada um apresente assuntos de interesse do usuário, conforme sua área
do conhecimento. Entretanto alguns funcionários e profissionais não estão dispostos
a aderirem a essa idéia, pois não concordam com a mesma, devido a sobrecarga de
trabalho e ainda frente a necessidade dos profissionais respeitarem e cumprirem os
horários agendados com os pacientes.
3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente
Social.
Santos com toda dificuldade a gente tem muito mais estrutura para se trabalhar, talvez eu tenha trabalhado com municípios que quase não tinham estrutura nenhuma [...], as mudanças que tem é interprofissional, pra dar um atendimento maior, evoluiu muito o trabalho, falta muita coisa pra equipe mesmo (A.S. 1).
No diálogo com os diversos profissionais envolvidos no atendimento revelam
uma busca e compromisso em qualificar o tratamento, porém expõe no cotidiano de
trabalho dificuldades e desafios que necessitam de respostas e maior apoio da
gestão da política pública para que possam viabilizar o atendimento mais qualificado
a esses usuários.
Nas falas abaixo destacamos tanto a falta de recursos de infra-estrutura
(veículos), como a falta de recursos humanos frente a expressiva demanda.
Questões que batem de frente com a política da prefeitura. Queríamos fazer mais Visita Domiciliar, ter um contato maior e trazer as pessoas, ter uma proximidade maior [...]. (A.S. 2).
A equipe é pequena [...] mas estamos lutando para estabelecer o grupo. (Profissional C).
50
Durante o período em que passamos na instituição, foi possível notar alguns
aspectos sobre a atuação dos funcionários e profissionais, principalmente do
Assistente Social que era um dos objetivos de nossa pesquisa.
A visita domiciliar (VD) é um instrumento importante na atuação profissional
do Assistente Social e para a demanda de dependentes químicos então é essencial,
mas não é possível realizá-la como gostaria a profissional da SENAT. A demanda é
muito grande para poucos profissionais, há somente uma Assistente Social no local,
assim para que seja possível acompanhar a demanda é necessário que se dê
“prioridade da prioridade” para alguns aspectos. No caso da VD, é levada em
consideração a idade, sendo realizada para a demanda de adolescentes, onde
grande parte é por ordem judicial, assim quando são encaminhados a SENAT,
existem obrigatoriedades e prazos a serem cumpridos, pois tem que responder
sobre a evolução do adolescente, fazer relatórios e a VD passa a ser primordial.
Somente uma vez por semana são realizadas essas visitas domiciliares, já que o
único assistente social da instituição tem outros usuários, suas famílias e grupos pra
atender, encaminhar e acompanhar.
Ela te orienta, só a orientação já te abre uma porta, porque as vezes você não sabe o que está fazendo ou o que tem que fazer, ta na sua cara mas você não está vendo [...] ela Assistente Social, sabe o caminho certo que a gente tem que tomar [...] ela pode nem estar fazendo nada, a gente tem que correr atrás, mas só de olhar e orientar é tudo.(Família H).
[...] O Assistente Social, não só na SENAT, mas em todo o lugar é visado, todos querem falar com ele. Acaba sendo uma referência [...]. (A.S. 2).
Eu acho que o Assistente Social é bom pra eles, pra família, é um apoio pra gente [...] dá bastante proteção pra gente. (Família I).
Os profissionais tentam trabalhar de maneira articulada, todos sabem dos
casos atendidos, mas é o assistente social que trabalha diretamente com todos, lida
com diversas problemáticas trazidas pelo usuário e sua família. É o Assistente
Social quem faz os encaminhamentos dos usuários aos demais serviços da
prefeitura, como os Centros de Referência da Assistência Social – CRAS, para as
UBS, hospitais, para as Comunidades Terapêuticas, bem como sua visita as
mesmas, no intuito de fiscalização, dentre outras atividades que envolvam os
sujeitos e sua família. Vale ressaltar que outros profissionais também poderiam fazer
essa articulação com a rede.
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Com os relatos dos familiares podemos sentir a importância do papel da
Assistente Social em suas vidas, existe um vínculo entre família e profissional, que
permite uma troca de conhecimento entre a realidade do sujeito e a teoria. Dos
profissionais que atendem na SENAT é o Assistente Social que passa a ser a
referência da família no tratamento, que orienta, o que contribui para o
fortalecimento dessa família no processo de tratamento. Assim, essa
responsabilidade para com os sujeitos atendidos, juntamente com suas demais
atribuições dentro da instituição, fica comprometida por ter apenas um profissional
da área atuando no local. As famílias são acompanhadas, são atendidas, mas se
houvesse outros profissionais da área esse atendimento poderia ser intensificado
com novas ações e uma aproximação maior com os usuários e seus familiares.
Viabilizando outras estratégias de trabalho.
Apesar do trabalho ser realizado com dedicação por alguns profissionais, e
existir uma estrutura de atendimento que funciona, ela é limitada pela pequena
equipe e pela falta de estrutura física e material, prejudicando seu efetivo
funcionamento. Foi indicado pela equipe a falta capacitação profissional promovida
pelo sistema público, e que além de existir deveria ser permanente. Sinalizamos
também problemáticas com relação a estrutura física, como falta de manutenção do
prédio e dificuldade de reposição a itens roubados da entidade.
[...] falta muita capacitação específica, precisamos da prefeitura na questão da capacitação [...]. (A.S. 1).
[...] uma capacitação, no caso, posso dizer da minha parte, é a prática, eu sabia de drogas aquilo que eu via falar na mídia. (Profissional D).
A falta de capacitação específica para os profissionais deixa clara a
necessidade que eles próprios sentem para aperfeiçoar sua prática, já que no
cotidiano têm o conhecimento da vivência nos atendimento que realizam, faltando
associar com embasamento teórico, desde os técnicos até o administrativo e a
recepção. O usuário de droga, principalmente o de Crack, é uma demanda muito
difícil que requer um atendimento acolhedor, participativo e especializado pois se
esse indivíduo não confiar no profissional ele não segue o tratamento.
Receber o indivíduo de maneira acolhedora e humanizada é fundamental,
sendo a recepção a porta de entrada do serviço, precisa oferecer um atendimento
personalizado, enxergar o indivíduo em sua totalidade, pois os usuários de
52
substâncias psicoativas já têm uma série de dificuldades para chegar até o serviço,
ele só procura ajuda quando percebe a gravidade de sua dependência, reconhece
que não aguenta mais a ponto de superar o preconceito e se expor. Por isso a
importância de todos os funcionários oferecerem um atendimento qualificado, com
atenção e respeito. Sendo observada essa dificuldade na instituição durante
processo de pesquisa o que pode comprometer o processo inicial de acesso ao
serviço.
3.5.5 Trabalho Interdisciplinar
A interdisciplinaridade é uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema de conhecimento, isto é, substituir a concepção fragmentária pela unitária do ser humano. (SÁ, 2010, p. 82).
A interdisciplinaridade é o trabalho realizado em conjunto, por toda a equipe,
sem distinção das áreas, os profissionais trazem seu conhecimento específico como
complemento para entender o indivíduo em sua totalidade.
No trabalho interdisciplinar o processo de interação é recíproco entre as
disciplinas, existe a socialização do conhecimento, troca de saberes entre os
profissionais e o desenvolvimento de um trabalho integrado. O que contribui para
visão ampla do tema e a produção de conhecimento.
Aqui cada especialidade depende uma da outra, a gente não atende paciente sozinho, atende em equipe [...] está tudo ligado. (A.S. 2).
Na SENAT existem reuniões semanais onde, segundo informações dos
entrevistados, são discutidos os casos e o processo de trabalho da instituição. Para
atender essa demanda tão complexa e difícil é importante que todos os profissionais
interajam no tratamento da dependência química. Observamos que os profissionais
durante a semana, conversam sobre os pacientes que estão acompanhando, trocam
informações e opiniões.
Um depende do conhecimento do outro para lidar com o usuário, assim o
trabalho na instituição não será efetivo se não houver a participação de todos,
mesmo que haja opiniões diversas quanto a algumas problemáticas, já que exige
diálogo entre diferentes saberes e disciplinas, podendo surgir conflitos entre as
equipes de trabalho e suas chefias, entraves políticos, ideológicos e subjetivos.
53
O trabalho interdisciplinar depende também de certa predisposição subjetiva
dos profissionais, que precisam estar envolvidos, animados e comprometidos com o
trabalho, saber lidar com a opinião do outro, ter maturidade para receber e fazer
críticas e tomar as decisões de modo compartilhado.
Foi percebido durante a pesquisa que todos sabem e buscam saber dos
casos em atendimentos, o que é necessário e fundamental para o trabalho
interdisciplinar, já que esse conhecimento é importante para que a equipe possa
fazer o prognóstico do paciente, ou seja, se ele precisa de internação, ou não, se o
paciente está preparado para ter alta, dentre outros aspectos. Entretanto a equipe
ainda precisa avançar em muitos aspectos para vivenciar e exercer a
interdisciplinaridade de fato.
Até certo ponto eu acho que existe (o trabalho interdisciplinar), mas no meu ponto de vista, pode melhorar muito, porque os pontos de vista são muito diferentes e as vezes há uma dificuldade de poder sentar, conversar, discutir as diferenças, então eu acho que essa é uma dificuldade que precisa ser superada, um desafio para essa equipe. (Profissional C).
Conforme relato do Profissional, apesar de ser uma equipe composta por
diversas áreas de conhecimento, a interdisciplinaridade não é realizada em sua
essência, pois ainda existem conflitos e divergências, onde os profissionais precisam
aprender a respeitar suas diferenças, para poder haver diálogo, entendimento, um
aprendendo com o outro, para enfim realizar um trabalho integrado.
3.5.6 Redução de Danos
Não que não seja discutido, mesmo porque é uma política de governo e existem cobranças...para isso a rede precisa estar integrada / estruturada. (Profissional A).
[...] você avalia até quando que esse paciente vai conseguir se manter tendo conhecido o prazer da outra [...]. (Profissional B).
Eu particularmente acho que em alguns casos pode ser positivo, mas não em todos os casos. (Profissional C).
[...]a redução de danos a meu ver, a redução de danos é uma desculpa para ele vir usando, usando[...].(Profissional D).
A Redução de Danos é uma política ainda polêmica, o que não seria diferente
na aplicação da mesma na SENAT, que trabalha exclusivamente com a abstinência,
54
mesmo que respeite o usuário que decide transferir o uso para um entorpecente que
possua um efeito menos devastador do que o Crack. Não é somente a transferência
da droga que caracteriza a redução de danos, mas também a amenização dos
riscos que o abuso de substâncias psicoativas causam ao organismo, como a
transmissão de doenças infectocontagiosas causadas pelo uso compartilhado dos
materiais pessoais, como o cachimbo, e atividade sexual sem uso do preservativo.
A falta de capacitação dos profissionais sobre o tema é um dos fatores que
impedem que a redução de danos seja efetivamente aplicada na instituição. As
opiniões colhidas dos profissionais são diferentes e discordantes, alguns acham que
não deve ser aplicada, outros acham que para algumas pessoas daria certo, ou que
a discussão deva ser analisada por todos em conjunto. Sem dúvida que esse
assunto precisa ser discutido e entendido. O que é a redução de danos? Para que
serve? Como funciona? São questões que precisam ser trabalhadas através de
estudos, capacitações, ou seja, é preciso maiores informações de como se aplica,
para que assim possam surgir opiniões fundamentadas e entendidas entre os
profissionais para atuação na SENAT, superando o estigma de que a redução de
danos incentiva que a pessoa permaneça usando a droga.
É fundamental que os profissionais compreendam e se posicionem, e assim,
possam contribuir de forma efetiva com os usuários.
3.5.7 Trabalho em rede
[...] Tem que ter, não tem como, a gente depende de outras secretarias. (Profissional C).
Trabalhar em rede é articular os serviços disponíveis na região em favor do
usuário, é quando profissionais desses diversos locais se articulam e discutem algo.
Para garantir o atendimento em sua totalidade ao sujeito é necessário um
conjunto de ações, por isso, a importância do profissional saber trabalhar em equipe,
conhecer os equipamentos, articular a rede de serviços, pois essa trama é
fundamental para o desenvolvimento do trabalho do serviço social no enfrentamento
da problemática.
Na SENAT o trabalho em rede de maneira articulada, para entendimento e
discussão dos casos não é efetivo. O que se encontra são os encaminhamentos
55
para os demais equipamentos da região, de acordo com as necessidades dos
usuários. São encaminhamentos para Unidades Básicas de Saúde, CRAS,
hospitais, dentre outros.
[...]Fazemos contatos e as pessoas são abertas. Os pacientes da SENAT já passaram muitas vezes por outros órgãos[...]O cidadão precisa ter todos os direitos assegurados, por isso é necessária a articulação da rede. (A.S. 1).
A SENAT em muitos casos é a porta de entrada dos usuários para os demais
serviços da prefeitura, sendo uma referência para o sujeito. Entretanto existem
situações em que a pessoa veio encaminhada de outros equipamentos, porém não
há interação entre os mesmos, cada um faz o seu papel de forma fragmentada e
focalizada. Desta maneira o indivíduo não é visto em sua totalidade, comprometendo
a efetividade do trabalho em rede. Um exemplo é sua relação com o Núcleo de
Atendimento Psicossocial (NAPS), que faz parte da mesma secretaria atendendo
pessoas com distúrbios mentais, quando diagnosticado o uso de entorpecentes
dessa demanda elas são encaminhadas para a SENAT, sem que haja interação
entre os dois equipamentos. Muitas vezes antes do início do uso de substâncias
químicas o usuário já tinha o comprometimento mental e o entorpecente intensificou
esse distúrbio, porém há os casos em que esse comportamento veio como
conseqüência do uso de substâncias psicoativas.
O diálogo ente a SENAT e o NAPS deveria ser efetivo, pois cada um cuida do
indivíduo complementando o outro. O sujeito com comprometimento mental muitas
vezes não tem condições de acompanhar o tratamento na SENAT, não consegue
participar dos grupos, ficam muitas vezes agressivos, dificultando seu próprio
tratamento.
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho possibilitou a compreensão do universo vivenciado pelo
usuário de Crack, na maneira de como a droga afeta drasticamente a sua vida como
um todo, fisicamente, quando o seu corpo não aguenta mais, pois está fragilizado e
esgotado; socialmente, pois se afasta dos amigos e se isola para usar a droga,
tendo o Crack como único objetivo; profissionalmente, por que devido ao uso não
conseguem dar continuidade as suas atividades e acaba perdendo o emprego ou
tendo que se afastar do trabalho; e os impactos que causam em sua família, que
sofre em decorrência das consequências do uso, como a violência. Foram
reveladas histórias de vidas, suas angustias, perdas, sofrimentos e o sentimento de
estar no “fundo do poço”, a necessidade de buscar um tratamento e as expectativas
que são depositadas nele, seu olhar sobre esse tratamento oferecido, as
dificuldades enfrentadas e sugestões para melhoria do mesmo.
Através da pesquisa conhecemos o tratamento oferecido pela SENAT e o seu
funcionamento, a atuação dos funcionários e profissionais, principalmente a prática
do Assistente Social na instituição e a importância do seu papel, que foi por diversas
vezes enfatizado tanto pelos profissionais como pelos usuários e familiares
entrevistados.
O Assistente Social é referência, conhece todos os casos, atende e
acompanha os usuários e os familiares, faz encaminhamentos e relatórios, realiza
visita domiciliares e institucionais, entra em contato com os demais serviços,
interage com todos os funcionários e profissionais da equipe. Essas são atribuições
do Assistente Social, não são tarefas que possam ser divididas, pois o Assistente
Social é o profissional que trabalha com o todo, que faz a escuta dos usuários e
seus familiares, realizando a mediação entre a instituição e demais serviços com a
demanda atendida. Porém o fato de existir somente uma Assistente Social, para
exercer todas essas atividades sobrecarrega o profissional, limitando a reflexão
sobre a sua prática, a criação de novas estratégias de intervenção, principalmente
para o usuário de Crack que possui uma problemática mais intensa, tendo que dar
prioridades para alguns casos, impossibilitando de atender todos com a mesma
qualidade. Assim há necessidade da contratação de novos profissionais na
instituição principalmente de Assistente Social, para que seja realizado um
57
atendimento acolhedor, personalizado e igualitário para todos. Pois mesmo que
esteja em conformidade com as exigências do Ministério da Saúde, é necessário
que seja adequando conforme a demanda, já que até o momento existe somente um
núcleo de atendimento ao tóxico dependente.
Nossa pesquisa analisou o tema do trabalho interdisciplinar, que existe
quando há interação entre a equipe, troca de saberes, discussão dos casos, para
pensar juntos uma intervenção, compartilhando do conhecimento que cada um
possui em sua área do saber, oferecendo assim ao usuário um atendimento em sua
totalidade. Apesar da equipe ter alguns aspectos da interdisciplinaridade, ela não é
efetiva, existe uma tentativa de discussão dos casos, porém devido as divergências
de opiniões entre os profissionais e a falta de diálogo, compreensão e respeito pela
fala do outro impede que avancem em sua prática profissional de maneira
interdisciplinar.
O trabalho em rede também é necessário para oferecer um atendimento em
sua totalidade, pois o dependente químico quando procura a SENAT, traz consigo
diversas problemáticas necessitando ser atendido por outras áreas da saúde, devido
o seu estado físico, muitas vezes debilitado e demais serviços conforme a sua
necessidade. Analisamos que na SENAT o que existe são encaminhamentos aos
demais equipamentos, não há discussão dos casos com esses demais serviços,
para que haja um atendimento em conjunto do indivíduo. Cada serviço desenvolve o
seu trabalho de maneira fragmentada. Sabemos que articular a rede não é um
trabalho fácil, já que depende da disposição de outros serviços, entretanto se faz
necessário para efetivação do tratamento e sua divulgação.
Percebemos a necessidade de discutir o uso abusivo de drogas como um
fenômeno social, onde a família, a sociedade civil, o Estado e os demais serviços
tem responsabilidades a serem compartilhadas, no combate, na prevenção e no
tratamento aos usuários de Crack. Desmistificando e combatendo as formas de
preconceito e discriminação que não contribuem para enfrentar a dependência
química.
O trabalho da SENAT é ambulatorial, aguarda a chegada do sujeito a
instituição, mas apesar do tratamento ser importante, é fundamental analisar as
causas do problema, mesmo que a SENAT, não trabalhe com a prevenção em si,
58
ela pode contribuir através do conhecimento dos sujeitos e sua história de vida, nos
trabalhos de prevenção desenvolvidos pela Secretaria de Saúde.
O trabalho com o dependente químico contribui para a mudança de
comportamento, reforça a segurança do mesmo em si para que ao término ele
esteja preparado para enfrentar os conflitos do dia-a-dia. Por isso os funcionários e
profissionais precisam fazer um o acolhimento humanizado e acolhedor. Através da
capacitação os funcionários poderão entender melhor e respeitar a demanda
atendida e os profissionais aperfeiçoarão sua prática, juntando novas teorias com a
vivencia do sujeito. Concluímos que o tratamento oferecido pela SENAT é
importante na vida do usuário de Crack, pois é onde ele deposita as suas
expectativas, acendendo a esperança de mudança de vida. E os desafios estão
postos cabendo a todos nós, juntos, assumi-los e enfrentá-los para efetivamente
enfrentar essa droga que vem devastando milhares de pessoas em nosso país
colocando-as em condições sub-humanas da qual não podemos omitir.
Nesse sentido, consideramos de fundamental importância a atuação do
Estado, articulado a diversos poderes, junto com a sociedade civil para enfrentar
essa problemática.
59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PROJETO DE LEI 3.657 de 1989. Dispõe sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais e regulamenta a internação psiquiátrica compulsória.
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61
FONTES ELETRÔNICAS
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SAÚDE, Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da. O crack: como lidar com este grave problema, Disponível em: <www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/crack.html>. Acesso em: 16 Mar. 2010.
62
ANEXO I
Roteiro de Entrevista – Usuário
Nome:
Idade: Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Reside com:
Trabalho / Profissão :
Quando iniciou tratamento?
1) Fale-me um pouco sobre sua vida. E seu envolvimento com o Crack.
2) Como você chegou ao SENAT?
3) O que você acha do tratamento que recebe?
4) Como você se sente aqui?
5) O seu tratamento mudou algo em sua vida?
6) Quais suas dificuldades para se manter no tratamento?
7) Como você gostaria que fosse o tratamento?
63
ANEXO II
Roteiro de Entrevista – Profissionais
Nome:
Função:
Especialização na área?:
Desde quando atua no SENAT?:
1) Qual é a proposta de atendimento do SENAT?
2) Como desenvolve seu trabalho na instituição?
3) Qual é a problemática que envolve o dependente químico usuário de Crack?
4) Qual o papel da família no processo de tratamento?
5) Como você compreende a estratégia de Redução de Danos – RD aos usuários de
Crack?
6) Quais são as dificuldades enfrentadas no cotidiano para melhorar a adesão ao
tratamento?
7) Para você o que é trabalho interdisciplinar? Consegue ser efetivado no
atendimento?
8) Quais são as suas sugestões para melhorar o atendimento e o tratamento aos
usuários dependentes químicos de Crack?
64
ANEXO III
Roteiro de Entrevista – Assistente Social
Nome:
Formada onde: ano:
Cursos Complementares:
Especialização na área? :
Quando iniciou no SENAT?
1) Qual é a problemática que envolve o dependente químico usuário de Crack?
2) Como esses usuários chegam ao SENAT?
3) Como é realizada a abordagem ao usuário?
4) Existe trabalho interdisciplinar? Como ele acontece?
5) Como se dá o trabalho profissional do Assistente Social?
6) Qual o papel da família no processo de tratamento?
7) Como você compreende a estratégia da Redução de Danos nos usuários de
Crack?
8) O trabalho em rede consegue ser viabilizado no atendimento? De que forma?
9) Quais são as dificuldades enfrentadas no cotidiano para melhorar a adesão ao
tratamento?
10) Quais são as dificuldades para a prática profissional do Assistente Social?
11) Quais são os desafios na prática profissional do Assistente Social no SENAT?
65
CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT-UNIMONTECURSO DE SERVIÇO SOCIAL
Av. Rangel Pestana, 99 – Vila Mathias/Santos Fone: 32282100
ANEXO IV
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDODeclaro que fui informado(a) sobre a pesquisa: “O
TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS. DESAFIOS E LIMITES NA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL”. que busca estudar as dificuldades enfrentadas pelos usuários de crack no processo de adesão ao tratamento no enfrentamento da dependência química.
Fui informado(a) que o estudo pretende contribuir para a melhoria da atenção e tratamento às pessoas dependentes de crack na busca de adesão ao tratamento oferecido pelo serviço de saúde e que minha participação é voluntária.
Fui esclarecido(a) sobre a liberdade em participar ou não da pesquisa, da segurança de que não serei identificado(a); que meu nome não será divulgado nos resultados da pesquisa; que minha privacidade será mantida e que as informações que darei serão utilizadas para os propósitos da pesquisa, cujos dados poderão ser utilizados para uso científico e ou para publicação.
Fui orientado(a) que será realizada entrevista e que será registrada por um gravador para que possa ser transcrita posteriormente, garantindo o sigilo da identificação na análise da pesquisa.
Durante todo o processo de pesquisa poderei ter acesso as informações coletadas e as alunas responsáveis pelo estudo para esclarecimentos de dúvidas que possam surgir.
Estou ciente também que não receberei qualquer pagamento por participar deste estudo.
Dessa forma, declaro que aceito participar da pesquisa com as pesquisadoras Aline Alves e Naiara Barros, alunas do Curso de Serviço Social, 4º módulo, nível de graduação, da UNIMONTE que estão sob orientação da Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra.
Santos, ____ de_______________de 2010.
CIENTE:Nome:______________________________________________________________Assinatura do sujeito da Pesquisa
Nome:______________________________________________________________ Assinatura da responsável pela Pesquisa.Fone contato: (13) 91339947 Naiara e (13) 8111-1742 Aline
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CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT-UNIMONTECURSO DE SERVIÇO SOCIAL
Av. Rangel Pestana, 99 – Vila Mathias/Santos Fone: 32282100
ANEXO V
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLAREDIDODeclaro que fui informado(a) sobre a pesquisa: “O
TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS. DESAFIOS E LIMITES NA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL”. que busca estudar as dificuldades enfrentadas pelos usuários de crack no processo de adesão ao tratamento no enfrentamento da dependência química.
Fui informado(a) que o estudo pretende contribuir para a melhoria da atenção e tratamento às pessoas dependentes de crack na busca de adesão ao tratamento oferecido pelo serviço de saúde e que minha participação é voluntária.
Fui esclarecido(a) sobre a liberdade em participar ou não da pesquisa, da segurança de que não serei identificado(a); que meu nome não será divulgado nos resultados da pesquisa; que minha privacidade será mantida e que as informações que darei serão utilizadas para os propósitos da pesquisa, cujos dados poderão ser utilizados para uso científico e ou para publicação.
Fui orientado(a) que será realizada entrevista e que será registrada por um gravador para que possa ser transcrita posteriormente, garantindo o sigilo da identificação na análise da pesquisa.
Durante todo o processo de pesquisa poderei ter acesso as informações coletadas e as alunas responsáveis pelo estudo para esclarecimentos de dúvidas que possam surgir.
Estou ciente também que não receberei qualquer pagamento por participar deste estudo.
Dessa forma, declaro que aceito participar da pesquisa com as pesquisadoras Aline Alves e Naiara Barros, alunas do Curso de Serviço Social, 4º módulo, nível de graduação, da UNIMONTE que estão sob orientação da Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra.
Santos, ____ de_______________de 2010.
CIENTE:Nome:______________________________________________________________Assinatura do sujeito da Pesquisa
Nome:______________________________________________________________ Assinatura da responsável pela Pesquisa.
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Fone contato: (13) 91339947 Naiara e (13) 8111-1742 Aline
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