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A
TERCEIRA
ONDA DO
DIREITO
DO
TRABALHO
NO BRASIL. PO R M A R C E L O BU C C I A R E L L I – PE R I T O C O N T A D O R - CRC 1S P 159.525
Acompanho o direito do trabalho, já há 25 anos. Posso dizer que iniciei
quando o Lula ainda era muito ligado ao sindicato dos metalúrgicos. Sequer
havia se candidatado a presidência.
Nesta ocasião quantos eram os processos da Justiça do Trabalho no Brasil?
Talvez não chegasse a casa do milhão.
Nesta época não tão antiga, os advogados ainda se tratavam com honrarias.
Os juízes eram seres inalcançáveis e absolutamente respeitáveis. E os peritos
contadores gozavam de um conceito inabalável.
Veio à década de 90 e o Brasil começou a se modernizar. A década perdida,
de 80, ficara para trás. Fernando Henrique trouxe a estabilidade monetária e
grandes questões da perícia, como a discussão da época própria, foram
perdendo seu efeito prático até se tornar nada mais nada menos que um
recurso de retórica.
E com isso novos players surgirão no cenário. Grandes empresas estrangeiras
aportaram em nossas terras tupiniquins trazendo sua tecnologia e seu ‘modo
de pensar’ tudo.
Logicamente, o direito foi sendo gradualmente afetado por este, podemos
assim dizer ‘american way of life’. No lugar do advogado com profundo
conhecimento em direito começou a surgir o ‘advogado gerente’. Ora, o
direito como tudo mais, deixou de ser o interesse central. Passou a interessar
o resultado. Pouco importava se um recurso foi ganho com a utilização da
melhor jurisprudência, ou mesmo, se o advogado teve enorme habilidade em
usar a lei a favor de seu cliente. O que passou a importar pode se resumir em
uma única frase: “Quanto vai custar?”.
É lógico que a frase é importante, e sejamos sinceros, andava longe das
preocupações de nossos jurisconsultos. Quanto vai custar quem é que sabe?,
pensavam os advogados. ‘Interessa-me defender a empresa apenas’. E foi aí
que o advogado tradicional começou a perder seu lugar cativo no mercado
para o advogado-gerente.
A PERGUNTA SEGUINTE QUE SURGIU A “QUANTO VAI CUSTAR?” FOI: “ESTÁ
PROVISIONADO?”
E com estas duas perguntas mágicas o mundo do direito mudou de direção
por completo. Saber o custo e se esta provisionado passou a ser o alvo de
todo o gerente. Até porque seu antes abandonado
departamento se incorporou as demais estruturas da
empresa. O lucro passou a ser a oração diária de todos e a
pergunta que não quer calar começou a ganhar novas
feições: ´Porque o jurídico insiste em dar prejuízo?’
Os gerentes jurídicos começaram a medir o tamanho de
seus contenciosos. Passaram a ter uma visão do todo. Antes
mesmo de defender a ação, é preciso estimá-la, saber o
RISCO que ela envolve. Feito isso, o valor dela passa a ser
PROVISIONADO e resta ao jurídico cumprir a meta
estipulada. Meta cumprida, budget dentro do previsto,
bônus, alegria e felicidade para todos.
Mas foi justamente aí que surgiu mais uma armadilha!
Os custos passaram a ser a razão de ser do advogado gerente. O advogado
gerente cumpre metas, sejam elas quais forem. Sim, sim, sim.
Mas e a qualidade dos serviços? O que houve com a qualidade?
Ora, contratar o escritório XPTO é muito caro. Cobram horrores. É preferível
contratar o escritório do José João da Silva. Muito barato e o resultado é...
Hum, hum, o mesmo.
Como as metas foram sendo cumpridas, os advogados gerentes deixaram
completamente de lado a qualidade. Mas se esqueceram de que a
estipulação das metas deveria ser feita por gente competente, e lógico, com
honorários superiores.
Que adianta cumprir metas que foram medidas de forma equivocada?
Que adianta cumprir metas que não foram avaliadas conforme os princípios e
normas contábeis?
Que adianta cumprir metas, se um processo que poderia custar 1, custou
100?
A meta global pode ter sido cumprida, mas as metas individuais foram
camufladas pelo resultado geral.
Assim com este foco total e equivocadamente voltado para o resultado,
jurídicos de diversas empresas comemoram resultados pífios, como se
tivessem ganhado grandes campeonatos.
A visão de que os custos devem ser cortados sobre quaisquer argumentos
corresponde aquela velha história de colocar o sabugo de milho na frente do
burro. Como na história em que um dia o burro morre de fome, também no
direito isto esta acontecendo agora.
No momento que as empresas se voltarem para o verdadeiro desperdício de
dinheiro que as más contratações geram no mundo do direito, cabeças vão
rolar.
Os advogados gerentes tem sem dúvida o mérito de inserir uma nova cultura
no mercado, mas se não tomarem cuidado, em breve, a Terceira Onda da
Justiça do Trabalho No Brasil, a onda da Qualidade, vai afogá-los
impiedosamente. É pagar para ver.
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