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TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E IDEOLOGIA GEOGRÁFICA NO IMPÉRIO DO BRASIL
Leandro Macedo Janke 1
I – O Memorial Orgânico de F. A. de Varnhagen
Antes de notabilizar-se com a publicação, em 1854, de sua História Geral do Brasil,
Francisco Adolfo de Varnhagen exerceu inúmeras atividades a serviço do governo imperial,
sobretudo no que se refere a pesquisas de documentos em arquivos de diversos países da
Europa e no ofício diplomático enquanto representante do Estado imperial brasileiro.
Entre março e novembro de 1846, Varnhagen é enviado pelo governo imperial à
Espanha com a finalidade de coletar documentos relativos aos limites do Império que
pudessem auxiliar na resolução dos impasses existentes entre o Brasil e as nações hispano-
americanas com que possuía fronteiras. Percorreu inúmeras cidades europeias e ao retornar
para Madri redige e publica, em 1849, o Memorial Orgânico que à consideração das
Assembléias geral e provinciais do Império, apresenta um brasileiro. Dado à luz por um
amante do Brasil2. Varnhagen inicia seu texto com um diagnóstico nada animador do Império
do Brasil. Neste capítulo introdutório, denominado Alguns Enunciados, o autor do Memorial
Orgânico descreve que
“O Brasil é uma nação cujas raias com as vizinhas estão por assinar; um império cujo centro governativo não é o mais conveniente; um país cujo sistema de comunicações internas, se o há, não é filho de um plano combinado; um território enfim cuja subdivisão em províncias é desigual, monstruosa, não subordinada a miras algumas governativas [...]. E que é a nossa população? Para tão vasto país como uma gota de água no caudaloso Amazonas. Mas pior é a sua heterogeneidade que o seu pequeno número. Temos cidadãos brasileiros; temos escravos africanos e ladinos, que produzem trabalho, temos índios bravos completamente inúteis ou antes prejudiciais, e temos pouquíssimos (infelizmente) colonos europeus”. (VARNHAGEN, 1851: 357)
Após diagnosticar o que ele próprio denomina como as chagas do país – limites
indefinidos; subdivisão desigual das províncias; localização inapropriada da capital;
população pequena e heterogênea – Varnhagen conclui observando que, “assim o Brasil
1 Doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP); Pesquisador bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) com o projeto “Território e Territorialidade no Império do Brasil”. 2 Esta primeira publicação do Memorial Orgânico, em Madri, não é assinada por Varnhagen. Apenas em 1851, quando é reeditado no Brasil pela Revista Guanabara, é que o texto identifica o responsável por sua autoria.
declarou-se independente; e depois de um quarto de século acha-se quase na mesma: com
mais ar de colônia, ou de muitas colônias juntas que de nação compacta”. (VARNHAGEN,
1851: 358)
Os motivos para que o Brasil se encontrasse com mais ar de colônia, que de nação
compacta, passados cerca de 25 anos da emancipação política, residiriam na falta de
estabilidade política e na ausência de uma organização administrativa mais centralizada e
eficaz. Elementos estes característicos do contexto sócio-político do Estado imperial brasileiro
desde sua emergência enquanto corpo político autônomo até o início da década de 1850. De
acordo com Varnhagen,
“[...] a falta de coragem política para levar avante as medidas que poderiam prejudicar as eleições da seguinte legislatura, embora vitais ao país [...] tem feito que os ministérios e as legislaturas se sucedam, uns a outros, mandando [grifos do autor] mais ou menos todos, poucos governando [grifos do autor]. As oposições contentam-se em gritar na resposta ao discurso da Coroa, a ver se é chegada a ocasião de irem ao poder; [...] e raras vezes se fala em melhoramentos materiais do país, a não ser com relação a interesses provinciais”. (VARNHAGEN, 1851: 359)
Portanto, e este é um elemento essencial para a compreensão das motivações e
intenções de Varnhagen, o Memorial Orgânico foi produzido e insere-se em um contexto
sócio-político característico do Império que vai da década de 1840 ao início dos anos 1850.
Período este marcado por intensas disputas que opunham liberais e conservadores pela
direção política do Estado imperial. Episódios como a antecipação da maioridade de D. Pedro
II e as medidas de centralização político-administrativa daí decorrentes; as revoltas liberais de
1842 ocorridas em Minas e São Paulo; a continuidade de movimentos iniciados ainda no
período regencial, como a Farroupilha; e a eclosão, em 1848, da Praieira evidenciam a
instabilidade que marcou o Império do Brasil nos anos 1840.
Tais disputas e enfrentamentos se processavam no espaço público, no interior das
instituições estatais, como a Câmara dos Deputados e o Senado, mas também por meio de
periódicos, panfletos, opúsculos, manifestos e textos em que liberais e conservadores, ou
adeptos de um desses grupos, debatiam e enfrentavam-se mutuamente defendendo seus ideais
e projetos políticos para o Império (Mattos, 2005). Publicações como “Libelo do Povo”
(1849), do então liberal Francisco Sales Torres Homem, e “Ação, Reação e Transação”
(1850), do conservador Justiniano José da Rocha, contemporâneos do Memorial Orgânico,
demonstram que a disputa não era restrita aos círculos e instituições políticas, englobando
também intelectuais e letrados de diferentes segmentos. Aqueles que estavam inseridos neste
seleto grupo tinham por ocupação principal produzir, transmitir e debater – a partir de seus
conhecimentos especializados e por meio de revistas, sociedades e panfletos – mensagens que
eram dirigidas tanto aos seus pares quanto também à arena política (Altamirano, 2008).
É participando ativamente destes debates e enfrentamentos entre liberais e
conservadores que Varnhagen elaborou o Memorial Orgânico. A própria publicação de seu
texto, em 1851, pela Revista Guanabara é bastante significativa neste sentido, na medida em
que os editores deste periódico compartilhavam, em sua grande maioria, com o projeto
político defendido pelos conservadores, revelando desta forma a aproximação entre as
reflexões de Varnhagen e este grupamento político (Sodré, 1966).
Além disso, o próprio título também não deixa de indicar que o texto tinha uma função
específica e estava direcionado para um público também bastante específico. De acordo com
o dicionarista Moraes e Silva o termo ‘memorial’ remete a um ‘livro de apontamentos para
lembrança’, ou a uma ‘petição para se lembrar o que se pede’ (Silva, 1813). Neste sentido, o
Memorial Orgânico que à consideração das Assembléias geral e provinciais do Império,
apresenta um brasileiro, tinha por intenção lembrar aos dirigentes imperiais que se
realizassem as medidas necessárias para que o Império abandonasse o ar de colônia e se
constituísse como uma nação compacta.
A Carta do Brasil e Países Limítrofes que acompanha o Memorial Orgânico articula-
se e dialoga diretamente com o diagnóstico realizado por Varnhagen no primeiro capítulo,
com o contexto sócio-político em que está inserido e com seus objetivos e intenções. O mapa
caracteriza-se, essencialmente, pela ausência de informações e dados. Não há inscrições de
topônimos identificando vilas, cidades, povoações, rede hidrográfica, acidentes geográficos,
linhas férreas e estradas.
Com relação aos limites internos e externos do Império, a Carta do Brasil também
caracteriza-se pela imprecisão. Não consta a inscrição das Províncias que constituem o
território do Império, assim como os limites administrativos que as separam entre si. Com
relação à organização interna do território há apenas, de maneira muito discreta, a indicação
de uma nova divisão territorial do país em 19 departamentos, proposta no Memorial
Orgânico. Tal indicação é realizada por pequenos números inscritos em diversos pontos do
mapa onde deveriam se situar os centros governativos de cada um desses 19 departamentos.
Ao longo do Memorial Orgânico esses departamentos são descritos detalhadamente, com suas
características e funções específicas.
Apesar de o mapa conter uma anotação na parte inferior, feita pelo próprio Varnhagen,
em que ressalta que “esta Carta tem por fim dar uma idéia aproximada das fronteiras” 3 entre
o Império e os Estados confinantes, observa-se, contudo, a inexistência do topônimo
‘Fronteira’, indicando a respectiva linha divisória. O topônimo ‘Império do Brasil’, inscrito
no centro do mapa e de maneira bastante espaçada, é o único recurso utilizado para
identificar, de maneira bastante precária, a fronteira entre o Brasil e os demais países que o
cercam. Estes por sua vez, também se encontram precariamente representados no mapa, sendo
3 Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RIHGB). Vol. 223, p.153.
difícil identificar a fronteira destes países com o Império. Todas essas ausências de
informações toponímicas, aliado às imprecisões relativas aos limites territoriais dos países ali
representados, expressam a noção de um imenso vazio em que o território do Império se
confunde com o dos países vizinhos e vice-versa. Tal noção coloca em evidência a clara
indefinição do Estado imperial brasileiro em relação à sua política de limites e de sua
incapacidade em defini-los com os países confinantes em fins da década de 1840.
A representação do território do Império como um grande vazio dialoga também com
uma percepção em torno da concepção de tempo que tinha a noção de progresso, conceito-
chave do mundo moderno, como principal categoria temporal. Os principais aspectos que
definem esta concepção de tempo estruturante do mundo moderno são: a aceleração; a busca
do progresso; e a imprevisibilidade com relação ao futuro. Quanto mais rápido se atingisse
este futuro desconhecido, controlando-o, mais rápido os homens e a sociedade atingiriam o
progresso tanto material, quanto social e político (Koselleck, 2006).
Neste sentido, a representação de um território desconhecido, quase selvagem, sem
marcos da soberania estatal sobre o mesmo, articula-se ao propósito de expor a percepção de
que o Brasil encontrava-se estagnado, com mais ar de colônia, ou de muitas colônias juntas
que de nação compacta. Mesmo independente há cerca de 25 anos, o Império ainda se
encontrava organizado sob bases coloniais e não nos moldes de uma nação moderna (limites
definidos, população homogênea e organização interna eficiente), o que representaria um
atraso na marcha do Império rumo ao progresso, impossibilitando-o de inserir-se no conjunto
das Nações Civilizadas.
É importante salientar que esse vazio marcante, representado no mapa, não é resultado
de um completo desconhecimento que o autor do Memorial Orgânico e os demais dirigentes
imperiais possuíam do território nacional. Se não havia um conhecimento minucioso e
detalhado do território do Império, já se tinha, contudo, uma noção considerável do mesmo,
como bem atesta a Carta Corográfica do Império do Brasil, do coronel Conrado Jacob
Niemeyer, constituída a partir de cartas estrangeiras, mapas, roteiros, memórias e corografias
(Peixoto, 2004) e elaborada entre 1842 e 1846, ou seja, anterior ao próprio Memorial
Orgânico.
Portanto, o ocultamento de informações e dados no mapa incorporado ao Memorial
Orgânico é intencional. De acordo com Harley (2005: 36), o silêncio contido nos mapas é o
veículo de significado mais original e provocativo de todos que uma representação
cartográfica pode conter. No caso específico, este ocultamento intencional tem por finalidade
principal demonstrar aos dirigentes imperiais o estado de completo abandono com relação aos
limites externos e organização interna do território nacional. Abandono este resultado das
disputas políticas que colocavam os interesses locais acima dos nacionais, o que por sua vez
fragilizava interna e externamente o Império. Alertar para os riscos que tais disputas políticas
representavam à soberania nacional do Estado imperial é, sem dúvida, o principal esforço
retórico contido neste mapa, na medida em que a inexistência de topônimos identificando
vilas, povoações, rios e fortalezas expressam a noção de uma completa ausência do Estado
sobre o território, colocando em dúvida sua autoridade e legitimidade jurídica (soberania)
sobre o mesmo. Tendo em vista todos estes elementos, torna-se possível compreender que o
mapa contido no Memorial Orgânico é a representação iconográfica de uma manifestação
política: persuadir os dirigentes imperiais da necessidade de incorporar mudanças na
administração estatal.
De acordo com Varnhagen, o Império somente conseguiria superar o atual estado de
atraso se direcionasse suas atenções para o território. Ao longo dos três capítulos que
compõem o Memorial Orgânico, é apresentado um minucioso plano de reorganização
administrativa do Império que possibilitariam que o mesmo se estruturasse nos moldes de
uma nação moderna (Guerra, 2003). Dentre as medidas defendidas, algumas são consideradas
como prioritárias, tais como: a transferência da capital para o interior; a redivisão interna do
território; a definição de suas fronteiras com os países confinantes; o fim do tráfico de
escravos e a constituição de uma população homogênea. Tratarei aqui das propostas
relacionadas à organização do território nacional, pois estas acabam por influenciar e
direcionar aquelas referentes à população. A importância direcionada ao território fica
bastante evidente no seguinte comentário de Varnhagen: “Estudemos bem o nosso território;
e à vista dele tratemos de organizar uma administração mais fácil, mais econômica, e um
sistema de colonização próprio a civilizar a nação e a formá-la”. (VARNHAGEN, 1851:
425)
Partindo de uma herança da antiga metrópole – o território – Varnhagen idealiza uma
construção – que o Império do Brasil se constitua como Nação Civilizada. E para que essa
construção se realize é necessário o estabelecimento de uma ‘administração mais fácil, mais
econômica’ e que se desenvolva a partir de um conhecimento detalhado do território nacional.
Varnhagen defenderá uma nova organização administrativa do território nacional pautada em
dois objetivos centrais: 1) estabelecer a harmonia e articulação entre as partes (províncias) que
compõe o todo (Império do Brasil) por meio de uma nova divisão territorial; 2) transferir a
capital do Império do litoral para o interior.
Das anomalias e desigualdades provenientes da divisão territorial do Império em
meados do XIX apresentadas no Memorial Orgânico, destaca-se a pouca preocupação ou o
quase abandono com o interior. Segundo Varnhagen, as rivalidades e desarmonias existentes
entre as províncias têm suas raízes no processo de ocupação e colonização do território ao
longo da experiência colonial. Desde então, privilegiou-se as regiões litorâneas, articuladas ao
comércio externo, em detrimento da região central, gerando assim extensos fundos territoriais
(Moraes, 2008): os sertões. É a partir desta assimetria entre litoral e sertão, resultado da
administração metropolitana, que Varnhagen defende também como objetivo da nova divisão
territorial a ocupação e o desenvolvimento das forças produtivas do interior. Neste ponto faz a
seguinte observação:
“[...] Como colônia, [o Império] vende seus produtos à porta de casa; e como colônia se sustenta, e vive quase exclusivamente do comércio exterior. Com tanto território fertilíssimo de sertão continua a descuidar deste, e a esquecer-se de que só daí lhe podem vir sólidos recursos, e legítima segurança e energia. Convençamo-nos que é da maior urgência proteger por todos os modos o tráfico interno, e nivelá-lo ao menos ao comércio marítimo, a fim de que a riqueza pública e o bem estar dos súditos brasileiros dependa o menos possível do comércio externo, e possa n’uma crise nutrir-se a si mesmo.” (VARNHAGEN, 1851: 371)
Para que o Império consiga superar o ar de colônia, faz-se necessário abandonar
determinadas estruturas herdadas da experiência colonial. E dentre estas heranças, a
dependência com relação ao comércio externo é identificada como a principal a ser combatida
para que seja possível solucionar as chagas enunciadas na abertura do primeiro capítulo do
Memorial Orgânico. Tendo em vista estes elementos, Varnhagen propõe que o território do
Império seja dividido em 19 departamentos, e que cada um, considerando sua localização,
população e riqueza, tenha uma função específica (defesa, administração, colonização
agrícola). Contudo, o sucesso da nova divisão do território em departamentos encontra-se
condicionada a uma outra medida: a transferência da capital do Império. Varnhagen critica a
permanência da capital no Rio de Janeiro argumentando que,
“Fez-se a independência, e desde então não se tem quase pensado nisso, dando por negócio decidido que a capital do Império tem de ser o Rio para sempre; e o que se lembra de tocar neste ponto é tido por utopista ou visionário. [...] Ora pois hoje que já não somos colônia; que não necessitamos de estar em dependência de Lisboa, e que as vantagens de ter a capital sobre o mar, não compensam a fraqueza e comprometimentos que daí podem resultar para a nação [...];
assentamos por princípio que a capital do Império não deve ser em um porto de mar”. (VARNHAGEN, 1851: 426)
Além de reforçar a autoridade do poder central sobre todo o território, incentivar a
ocupação dos inúmeros sertões, garantir a segurança da Corte frente a possíveis ataques
externos e incentivar o desenvolvimento das comunicações internas, a transferência da capital
para o interior também era de extrema importância para combater as rivalidades existentes
entre as províncias, que de acordo com Varnhagen representavam um dos maiores cancros do
império. Rivalidades essas que também não deixavam de representar mais uma herança
deixada pela experiência colonial e que se acentuaram principalmente quando, em 1808, o Rio
de Janeiro tornou-se a cabeça do Império Português, com a transmigração da Corte para esta
cidade. Transferir a capital para o interior e desenvolver um sistema de comunicações
internas, por meio de estradas e caminhos de ferro, que colocasse a Corte em contato
permanente com todas as províncias era essencial para pôr fim às rivalidades regionais. Isso
porque, possibilitaria que as tradições da corte e da nação se vão associando passo a passo
pelas inúmeras partes que, somadas organicamente, deveriam constituir um todo harmônico e
integrado: o Império do Brasil.
Anos mais tarde, em um de seus últimos trabalhos, Varnhagen voltaria a defender a
transferência da capital para o interior e apresentaria como um de seus argumentos a ausência
de uma pretensão do Império em expandir-se territorialmente.
“O Rio seria boa capital se o Brasil tivesse em vista absorver a África, assim como o seria a cidade de Cuiabá ou de Mato Grosso se nos quiséssemos estender para o Ocidente; ou Bagé se quiséssemos ameaçar os Estados do Sul. Mas se a nossa missão for só conservarmos integro o território que era de nossos pais; e melhorá-lo quanto possível, a capital n’um lugar forte e central é melhor”. (VARNHAGEN, 1877: 15)
Ao apontar que a missão daqueles que se encontravam na direção do Estado imperial
em meados do século XIX deveria ser ‘conservar integro o território que era de nossos pais,
e melhorá-lo quanto possível’, os argumentos de Varnhagen evidenciam o afastamento dos
dirigentes imperiais de uma territorialidade (Sack, 1986) estatal característica de uma
concepção clássica de império pautada, entre outros elementos, no anseio em expandir-se
territorialmente por domínios ilimitados e não necessariamente contíguos no espaço.
II – A Carta Geral de 1873 de Duarte da Ponte Ribeiro
Mesmo não possuindo o destaque de homens como o Visconde do Uruguai e, mais
tarde, do Barão do Rio Branco, Duarte da Ponte Ribeiro contribuiu decisivamente para a
formulação e execução da política de fronteiras do Império. Além de participar ativamente da
negociação de tratados e elaborar centenas de memórias e pareceres sobre as fronteiras do
Brasil com as repúblicas vizinhas, Ponte Ribeiro teria também participação ativa e destacada
no desenvolvimento da cartografia nacional a partir dos anos 1850. Até 1878, ano de seu
falecimento, dedicou-se exaustivamente na pesquisa, aquisição e confecção de mapas do
Império e de regiões específicas, sobretudo onde existiam disputas na demarcação fronteiriça.
Destacar-se-á neste trabalho a elaboração da Carta do Império do Brasil, de 1873.
Durante o 1º Reinado e Regências, a produção cartográfica no Império caracterizou-se
pela elaboração de cartas e mapas das províncias ou de áreas específicas das mesmas, sendo
que a grande maioria eram recuperações de cartas do período colonial, de caminhos, trajetos
de rios, povoações, etc. Alguns elementos explicam a ausência na produção de cartas gerais
do Império ao longo das duas primeiras décadas após a emancipação política, dentre os quais
destacam-se: a) o conturbado processo político do período (Confederação do Equador – 1824;
Guerra da Cisplatina – 1828; Abdicação de D. Pedro I – 1831; Revoltas Regenciais;
Maioridade de D. Pedro II); b) falta de recursos financeiros; c) falta de recursos técnicos
(profissionais especializados).
Além dos motivos de ordem política, técnica e financeira, um outro fator, não menos
importante e ainda pouco estudado pela historiografia, também contribuiu para esta ausência
de mapas e Cartas Gerais que representassem todo o território nacional, pelo menos até
meados do século XIX. Trata-se das conflitantes concepções de império existentes entre
aqueles que se situavam na direção política do Estado. Diferentes ideologias geográficas
(Moraes, 2005) se confrontavam no interior do governo do Estado, seja nas tribunas do
Senado e da Câmara dos Deputados, seja em debates travados nos inúmeros periódicos que
circulavam neste período.
Desde 1808, com a transferência da sede do Império português para o Rio de Janeiro e
a conseqüente reordenação dos pesos políticos das diversas partes que compunham este
conjunto imperial (Gouveia, 2005), aqueles que viviam na América experimentaram o projeto
imperial português pautado, entre outros elementos, por estratégias expansionistas, como bem
evidenciam as campanhas militares sobre Caiena e a Banda Oriental.
O rompimento dos laços políticos entre o Brasil e sua antiga metrópole não
representou, de imediato, o afastamento com uma territorialidade na qual o Brasil se
constituiu ao longo de três séculos de colonização, e que foi revitalizada com o deslocamento
da sede do Império português para o Rio de Janeiro. Inúmeros portugueses americanos, que
desde 1808 foram incorporados à burocracia estatal portuguesa ao longo do período joanino e
que se tornaram brasileiros por terem aderido à causa da independência, de acordo com a
Carta de 1824, continuaram defendendo para o recém independente Império do Brasil uma
territorialidade ainda bastante associada àquela do Império Português.
Eventos ocorridos ao longo do Reinado de D. Pedro I, como o incidente com a
província boliviana de Chiquitos (Santos, 2002) e a missão do marquês de Santo Amaro
(Bandeira, 2012), representam, ainda que não tenham logrado êxito, o esforço do Estado
imperial, ao menos durante o Primeiro Reinado, em incorporar uma territorialidade associada
a uma concepção clássica de império.
A partir dos anos 1850, com a consolidação de um projeto político vencedor sob a
liderança dos saquaremas (Mattos, 2004) e de uma territorialidade estatal vinculada a este
projeto, pautada na definição das fronteiras, há um interesse maior por parte dos dirigentes
imperiais em delimitar e mapear o território nacional. Desde então, a cartografia deixa de ser
resultado de iniciativas individuais e/ou locais e torna-se, de fato, uma ação política estatal.
Se no mapa apresentado por Varnhagen no Memorial Orgânico as linhas de fronteiras
eram bastante tímidas, quase imperceptíveis, na Carta no Império do Brasil, de 1873, estes
tracejados encontram-se bem definidos e destacados. A questão fronteiriça é, sem dúvida, o
discurso central apresentado na Carta de 1873 produzida por Duarte da Ponte Ribeiro. Como
bem destacou Biaggi (2011: 12), tanto o título (Figura IV) - Carta do Imperio do Brazil,
reduzida no Archivo militar em conformidade da publicada pelo Coronel Conrado Jacob de
Niemeyer em 1846. E das especiaes das fronteiras com os Estados limitrophes – quanto a
legenda (Figura V), apresentam referências diretas aos termos ‘fronteira’ e ‘limite’. Como
pode ser observado, a expressão ‘Estados limítrofes’ adquire, juntamente com os termos
‘Carta’ e ‘Império do Brasil’, destaque no título.
Vale notar que o uso de diferentes tonalidades, tamanho da fonte e o fato de não
compartilhar a linha com nenhuma outra palavra ou expressão, acaba por estabelecer uma
hierarquia entre as palavras e expressões que compõem o texto do título. No topo desta
hierarquia figura a expressão ‘Império do Brasil’, que se sobrepõe, de forma destacada, ao
restante do título. Em uma dimensão inferior, destacam-se a palavra ‘Carta’ e em seguida a
expressão ‘Estados limítrofes’.
Esta diferenciação entre as palavras e expressões apresentadas no título da Carta de
1873 não são simples características estéticas do mapa. Ao contrário, o conjunto de emblemas
decorativos – letras, tarjas, dedicatória, rosa dos ventos e margens – contribuem para reforçar
os signos políticos presentes no mapa, sendo errôneo concebê-los como um dado estético
marginal (Harley, 2005). Neste sentido, o destaque dado à expressão ‘Império do Brasil’,
sobretudo pelo tamanho da fonte, colocando-a em um nível superior, possui um duplo
sentido: 1) ressaltar, ao associar-se com a representação cartográfica, a extensa dimensão
territorial do império, um dos principais símbolos da única monarquia do continente
americano; 2) destacar a posição hegemônica do Império do Brasil no cone-sul, sobretudo
após o desfecho vitorioso no conflito bélico (1864-1870) que uniu Brasil, Argentina e
Uruguai – a Tríplice Aliança – contra o Paraguai e consolidou os interesses geopolíticos do
Estado imperial brasileiro na bacia do Prata. A diferença entre o tamanho das expressões
‘Império do Brasil’ e ‘Estados limítrofes’ tem por finalidade ressaltar uma pretensa
superioridade do Estado imperial brasileiro, a única monarquia do continente americano, com
relação aos seus vizinhos, concebidos como política e territorialmente inferiores.
Não apenas no título, mas também na legenda e nas inscrições realizadas no mapa,
pode-se observar o destaque dado pela Carta de 1873 à temática das fronteiras e limites do
Império. Não é por acaso que as referências ‘Limites de Fronteira’ e ‘Limites Projetados’,
estão situadas no topo da legenda, ocupando uma posição de destaque. Na mesma perspectiva,
também chama a atenção o fato da referência ‘Limites de Província’ estar situada ao fim da
lista de convenções que constituem a escala da Carta de 1873, evidenciando que a divisão
interna, administrativa do território não é o tema central, mas sim, a totalidade, daí o destaque
na legenda com as linhas de limites e fronteiras externas.
Destaque que também se expressa no próprio mapa por meio do uso constante de
topônimos em que o termo fronteira é utilizado. Biaggi (2011: 13) observa que,
acompanhando a linha fronteiriça a partir do traçado do rio Javary, é inserido no mapa em
letras maiúsculas o topônimo “FRONTEIRA COM O PERU”, reafirmando o tratado de
limites negociado pelo próprio Ponte Ribeiro com aquele país em outubro de 1851. Fica claro,
portanto, que as regiões fronteiriças acabam por merecer um destaque maior no mapa, por
meio de um conjunto de signos, símbolos e técnicas, em relação às demais.
A toponímia tornou-se importante instrumento no processo de definição das fronteiras
do Império do Brasil, sobretudo a partir de meados do século XIX quando o princípio do uti
possidetis foi adotado como base para a negociação dos tratados de limites entre o Brasil e os
países vizinhos. Neste processo, o uso geopolítico da toponímia foi constante, principalmente
em fronteiras litigiosas, como bem atesta o contencioso entre o Brasil e a Guiana Francesa em
torno do rio Oiapoque4. A fixação de topônimos em regiões estratégicas, indicando a
existência de povoações, cidades, vilas, fortalezas e marcos de conquista, tinha por objetivo
demonstrar a ocupação efetiva do Estado imperial sobre aquele espaço.
É importante salientar também que a Carta de 1873 foi elaborada não apenas para o
público interno – os dirigentes imperiais – mas também para o conjunto de países e nações
que participavam da Exposição Universal de Viena (1873). Verdadeiras ‘vitrines do
progresso’, tais exposições universais eram o símbolo da associação entre as inovações
4 Iris Kantor observa que a hidrotoponímia foi fundamental para a resolução deste contencioso entre Brasil e França e para a definição dos limites territoriais. Cf. Iris Kantor. Cartografia e diplomacia: usos geopolíticos da informação toponímica (1750-1850). In: Anais do Museu Paulista. Vol. 17, nº2, Jul-Dez/2009.
técnico-científicas implementadas pelo acelerado desenvolvimento do modo de produção
capitalista e os conceitos de progresso e civilização. Neste contexto, as exposições universais
se constituíram como um poderoso instrumento do capitalismo para demonstrar sua
exemplaridade (Pesavento, 1997). Assim, além do uso político interno, a Carta de 1873
possuía também uma função pedagógica com o objetivo de difundir externamente uma
determinada representação do espaço nacional (Peixoto, 2005). Tratava-se, portanto, de
comemorar o Império do Brasil (Garcia, 2005).
E não haveria lugar melhor para comemorar a conquista da civilização do que a
Exposição Universal de Viena (1873). Para o Império do Brasil, a participação nestas
exposições era fundamental para expor às demais nações que o país havia superado a
condição colonial, possuindo um amplo conhecimento de seu território e das técnicas
cartográficas de representação do mesmo. A Carta de 1873 expressava que o Império do
Brasil completara a sua tarefa: expandir até seus confins a ordem imperial estabelecida pelo
Rio de Janeiro, e difundir, por todos aqueles que habitavam o vasto território imperial, um
ideal de civilização. Por mais que existisse uma considerável distância entre aquilo que era
representado cartograficamente e a realidade stricto sensu, era esta a mensagem a ser
transmitida nos salões de Viena.
III – Considerações Finais
A análise da Carta do Brasil e Países Limítrofes, contida no texto Memorial Orgânico
de Varnhagen, e a Carta do Império do Brasil, de Duarte da Ponte Ribeiro, revelam questões
importantes com relação à história da cartografia e ao processo de constituição do Estado
imperial brasileiro.
Como bem destacou Harley (2005) nenhum mapa é neutro, sendo necessário, ao
analisá-los, desconstruir a associação entre realidade e representação, identificando o mapa
como uma construção social, política e cultural. Tal como as narrativas históricas e literárias,
os mapas são constituídos de lembranças/comemorações e esquecimentos/silêncios e são
produtos tanto das mentes individuais, como dos valores culturais – mentalidades – mais
amplos. Associar os mapas aos textos implica ressaltar o caráter discursivo e retórico dos
mesmos, bem como sua capacidade de persuasão.
Interpretar os mapas como possíveis textos e discursos históricos possibilita-nos
compreendê-los, concomitantemente, como fator e indicador (Koselleck, 1992) de uma
determinada experiência histórica. Conceber o mapa como um tipo de texto requer,
necessariamente, associá-lo à história social de um determinado país, grupo ou região e extrair
daí todo um conjunto de sentidos e significados. Tal como os conceitos, os mapas estão
diretamente articulados a um determinado contexto, sobre o qual também pode atuar,
tornando-o compreensível.
As discussões e divergências entre os dirigentes imperiais acerca da definição dos
limites territoriais do Império foram marcantes e sempre presentes ao longo de todo o
processo de construção do Estado. Elas refletem, entre outros elementos, a dificuldade que
aqueles dirigentes tinham em operar, simultaneamente, com determinadas heranças – um
território e uma concepção clássica de império – e construções – o estabelecimento de uma
nova territorialidade estatal que possibilitasse a organização do Império do Brasil nos moldes
de um Estado-nação.
Ao longo deste processo, longo e tortuoso, observa-se a incorporação de uma nova
territorialidade pautada na definição das fronteiras e colonização dos imensos fundos
territoriais e, por conseqüência, de uma nova concepção de império que tornou possível a
associação entre Império do Brasil e Nação Brasileira (Mattos, 2005).
Ao se afastarem da pretensão de que o Império do Brasil deveria possuir domínios
territoriais ilimitados e não contíguos no espaço, os dirigentes imperiais exerceram um outro
tipo de expansão: uma expansão para dentro, de um território delimitado e, ao mesmo tempo,
uma expansão para dentro dos corações e mentes daqueles que deveriam se conceber,
primeiramente, como brasileiros. Desta expansão para dentro do território nacional e daqueles
que o habitavam, resultaria a constituição da Nação brasileira e possibilitaria a inserção do
Império do Brasil no conjunto das Nações Civilizadas. Neste processo, a cartografia
apresenta-se como uma importante ferramenta para analisarmos a construção e,
principalmente, a consolidação do Estado imperial brasileiro. Seu desenvolvimento, sobretudo
a partir de meados do XIX, possibilita-nos identificar elementos específicos de uma
determinada direção – a saquarema – se considerarmos que as formas de ocupação de um
determinado espaço terrestre obedece a um dado ordenamento sócio-político do grupo que as
constrói (Moraes, 2005).
A cartografia torna-se um recurso fundamental na afirmação de uma determinada
territorialidade estatal, pois, como ressalta Harley (2005: 82), os mapas são instrumentos
importantes para legitimar a autoridade do Estado sobre o espaço, assim como na difusão de
ideologias espaciais.
IV – Bibliografia
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