TRABALHO ADALBERTO,GILVAN E TALITA THAU-ARQ CORPO EDITADO.docx

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RESENHA CRÍTICA: Arquitetura da felicidade

Com as grandes guerras no século XX e o aceleramento da indústria

produziu-se um grande crescimento das populações urbanas, causando assim

uma situação de urgência e gravidade, pois a estrutura da cidade já não

respondia às exigências sociais.

O modernismo nasce em meio a essas demandas causadas por um

problema urbanista de aspectos social, funcional, político e tecnológico. Esse

conjunto de fatores modifica radicalmente a figura profissional do arquiteto;

antes de ser um construtor deve ser um urbanista e projetar o espaço urbano.

Imediatamente se determina uma nítida distinção entre os inúmeros

oportunistas que se colocam a serviço da especulação imobiliária e ajudam a

piorar as condições da cidade e os poucos conscientes de sua função, sua

responsabilidade e sua dignidade de profissionais ou técnicos que tentam opor

projetos de utilização racional às explorações descontroladas dos terrenos. Já

não se trata da velha distinção entre empíricos e teóricos, entre artistas e

engenheiros e sim de uma distinção de ordem moral segundo a qual os

arquitetos que colocam concretamente o problema funcional da cidade são os

únicos a empreender uma livre pesquisa e a alcançar os resultados

esteticamente válidos.

Na envolvente e excepcional obra “Arquitetura da felicidade”, do

filósofo Alain de Botton, são cruzados paralelos entre as atuais construtoras

oportunistas que, em diversas regiões do mundo como a Inglaterra, visavam o

lucro e a exploração do solo urbano, opondo-se aos novos métodos de projeto,

às novas tecnologias e às novas formas arquitetônicas. Deixando assim de

oferecer uma arquitetura moderna e acessível às pessoas que, por outro lado,

como a Inglaterra e muitos outros casos específicos, tornam-se ao pastiche;

uma reprodução dos estilos de moradia do passado e que estão diretamente

ligadas ao sentimentalismo, tradicionalidade e conservadorismo.

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“Um mercado residencial do século XXI, que só oferecem casas que só lembram moradias rústicas do século XXVIII, é, no fundo, tão estranho e pouco eficaz quanto uma loja de roupas modernas que só venda cartolas.” (ALAIN DE BOTTON)

Alain de Botton estabelece que uma casa perfeita responda ao

ambiente, tanto geográfica quanto culturalmente. É preciso valorizar aspectos

como informalidade, flexibilidade, novas tecnologias, contato com a natureza e

uma vida familiar e social não-hierárquica. De modo geral, o ocidente moderno

tem tendência geral para o rústico e a imitação da vida no campo reflete o fato

de que estamos bem distantes desse tipo de vida. Como diria o historiador e

filósofo alemão do século XX, Wilhelm Worringer: “Na arquitetura apaixonamo-

nos por aquilo que falta em nós”.

No âmbito do que podemos chamar de “Ética fundamental da

arquitetura moderna”, distinguem-se diversas formulações problemáticas e

diversas orientações ligadas a situações objetivas, sociais e culturais. Assim,

podem distinguir-se:

a) Um racionalismo formal, que possui seu centro na França e tem à

frente Le Corbusier;

b) Um racionalismo metodológico-didático, que possui seu centro na

Alemanha, na Bauhaus, e tem à frente W. Groupius;

c) Um racionalismo ideológico, o do construtivismo soviético;

d) Um racionalismo formalista, o do Neoplasticismo holandês;

e) Um racionalismo empírico dos países escandinavos, que tem seu

máximo expoente em A. Aalto;

f) Um racionalismo orgânico americano, com a personalidade

dominante de F. L. Wright.

Ao impedir que a arquitetura enfrente os desafios da modernidade, sua

tecnologia, sua velocidade e suas energias titânicas, permitimos que o mundo

moderno se torne ainda mais feio. Estamos criando uma paisagem dividida, de

um lado em áreas comerciais e comerciais brutais, poucas inspiradoras, e de

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outro lado pastiches sentimentais de vilas-dormitórios. Estamos fugindo do

desafio de fazer algo bonito a partir dos elementos da nossa realidade

moderna.

Enfim, a arquitetura não pode nos tornar pessoas diferentes. Mas ela

pode nos lembrar permanentemente do que somos e do que queremos ser. Se

fizermos a coisa certa, teremos a chance de viver em casas que nos ajudam a

sentir que o mundo moderno pode ser o nosso lar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARGAN, G.C. “A época do funcionalismo: urbanismo, arquitetura e desenho industrial”. In: Arte Moderna. São Paulo: Cia das Letras, p. 263 a 300.

Arquitetura da felicidade. Direção: Alain de Botton. Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. 2009. 1 DVD (120 min), NTSC, color. Título original: The architecture of happiness.