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Tributação do Comércio Eletrónico
Prof.ª Doutora Glória Teixeira, Profª Associada, FDUP. Coordenadora do CIJE (gteixeira@direito.up.pt)
Tributação do Comércio Eletrónico
. Definição de Comércio Eletrónico.
. Necessidade de um novo sistema fiscal?
. Recomendações da OCDE e da OMC.
. O Conceito de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico.
. O tratamento em sede de IVA: Perspetiva interna e comunitária.
. Novos conceitos: Cloud Computing e Apostas Online
Definição de Comércio Eletrónico
Necessidade de um novo sistema fiscal?
Tributação do Comércio Eletrónico
. O Comércio Eletrónico consiste em qualquer transação comercial que envolva quer organizações quer indivíduos e que seja baseada no processamento e transmissão de dados por via eletrónica, incluindo texto, som e imagem.
. Nesta definição incluem-se as designadas ―vendas à distância‖, relativamente às quais importa considerar a Diretiva 2011/83/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de outubro.
. Permite a criação de um verdadeiro mercado global, em que não existem as limitações inerentes à distância física.
. Distingue-se do comércio tradicional pelo facto de, nas transações efetuadas entre as partes intervenientes, a informação ser transmitida eletronicamente, sem necessidade de um contato pessoal entre as partes.
Tributação do Comércio Eletrónico
Através do Comércio Eletrónico e das redes globais de informação é
possível atingir mercados anteriormente fora do alcance da maioria das
empresas portuguesas. Por outro lado, as novas possibilidades abertas
pelas tecnologias da informação e das comunicações permitem
aumentar a produtividade, reduzir custos, flexibilizar a resposta às
transformações do mercado e abrem ainda a porta a novas formas de
cooperação entre empresas espacialmente afastadas, tornam possíveis
estruturas de produção e distribuição inovadoras, bem como o
aparecimento de novos produtos e serviços.
(Cfr. Resolução de Conselho de Ministros Nº 94/99, DR nº198, I Série
B, de 25 de agosto)
Tributação do Comércio Eletrónico
. No entanto, o desenvolvimento do Comércio Eletrónico, fruto das suas
caraterísticas, acarretou uma série de desafios ao Direito,
particularmente ao Direito Fiscal.
- Capacidade de atingir um mercado de qualquer país;
- Inexistência de fronteiras físicas;
- Inexistência de intermediários físicos;
- Dificuldades em identificar o comprador e o vendedor;
- Necessidade de relacionar o comércio eletrónico com o conceito de
estabelecimento estável;
- Dificuldades em qualificar os rendimentos obtidos.
Tributação do Comércio Eletrónico
. No sentido de dar resposta às dificuldades associadas à difusão do
comércio eletrónico questionou-se a necessidade de estabelecer novas
regras de tributação, especialmente dirigidas ao mesmo.
. Desta forma, colocou-se a hipótese de implementar o designado Bit
Tax, imposto sobre as transações eletrónicas remuneradas, calculado
por aplicação de uma determinada taxa sobre a quantidade de bits
transmitidos
. No entanto, de modo consensual, esta hipótese foi rejeitada porque
assentava essencialmente no tratamento indiferenciado dos bens
online, não acautelando uma correspondência entre o valor real dos
bens transmitidos eletronicamente e a quantidade de bits que o
compõem.
Tributação do Comércio Eletrónico
Bit Tax
Exemplo:
Atentemos por exemplo à compra de um livro digital.
Nesta operação, dependendo do software de leitura utilizado para a sua
conversão em texto, assim como da maior ou menor qualidade do
mesmo, o mesmo livro poderia ter dimensões distintas em quantidade
de bits, o que originaria, exatamente para o mesmo bem, diferentes
níveis de tributação.
Recomendações da OCDE e da OMC
Tributação do Comércio Eletrónico
Postura Relativamente ao Comércio Eletrónico –
Recomendações da OCDE
. A OCDE, através do seu Comité para os Assuntos Fiscais, apresentou, em
Ottawa, 8 de outubro de 1998, na Conferência Inter-Ministerial subordinada ao
tema ―A Bordeless World. Realising the Potential of Electronic Commerce‖,
importantes conclusões, que importa assinalar e reter.
. Considera a OCDE, através do seu Comité para os Assuntos Fiscais, que os
princípios fiscais que orientam a tributação do designado comércio convencional
devem ser aplicados ao comércio eletrónico, nomeadamente:
1. Princípio da Neutralidade: A tributação não poderá induzir os
contribuintes a determinados comportamentos económicos, como forma de
reação aos diferentes encargos tributários. Desta forma, não deverá ser
promovida uma discriminação fiscal das transações efetuadas por via eletrónica
relativamente às transações efetuadas no comércio convencional.
Tributação do Comércio Eletrónico Postura Relativamente ao Comércio Eletrónico – Recomendações da OCDE
(Continuação)
2. Princípio da Eficiência: Nos termos do qual os custos administrativos relativos à cobrança de impostos deverão ser minimizados.
3. Princípio da Certeza e Simplicidade: Afirmando a OCDE que as normas fiscais devem ser claras e simples, no sentido de permitir que o contribuinte possa compreender os seus efeitos.
4. A prevalência da substância sob a forma, segundo o qual, para efeitos fiscais, se deve ter em conta o conteúdo material de um determinado negócio e não a denominação ou qualificação que lhe foi atribuída pelas partes.
. Com isto, a OCDE manifestou a necessidade de não onerar o comércio eletrónico com tributos que pudessem originar uma discriminação do mesmo em relação ao comércio convencional, reconhecendo igualmente a importância do desenvolvimento do comércio eletrónico
Tributação do Comércio Eletrónico
Postura Relativamente ao Comércio Eletrónico – Recomendações
da OMC
. A Organização Mundial do Comércio reconheceu a importância do
comércio eletrónico no desenvolvimento da atividade comercial em
geral, defendendo que os Estados devem adotar uma postura de
recetividade e incentivo relativamente a este fenómeno.
. No mesmo sentido da OCDE, a Organização Mundial do Comércio
defendeu que fossem aplicadas ao comércio eletrónico as mesmas
normas utilizadas na regulamentação das práticas comerciais
convencionais.
. Neste âmbito, importa fazer referência à Conferência Ministerial em
Genebra no ano de 1998
O Conceito de Estabelecimento Estável e
o Comércio Eletrónico
Tributação do Comércio Eletrónico
O Conceito de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
. Nos termos do artigo 5º do CIRC, estabelecimento estável é definido
como ―qualquer instalação fixa através da qual seja exercida uma
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola.‖
. Resultando da redação dada pelo legislador ao artigo 5º do CIRC que,
para que se considere a existência de um estabelecimento estável, é
necessária presença de uma qualquer instalação física.
. Quanto a isto, a evolução do comércio eletrónico obriga a que o
conceito de estabelecimento estável se adapte a uma realidade para a
qual não estaria inicialmente vocacionado.
Tributação do Comércio Eletrónico
O Conceito de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
. Em conformidade com o disposto no artigo 5º da Convenção Modelo
da OCDE, ―a expressão "estabelecimento estável" significa uma
instalação fixa, através da qual a empresa exerça toda ou parte da sua
atividade.‖
. O conceito de estabelecimento estável revela a existência de uma forte
ligação económica de um determinado facto tributário a um território,
exigindo-se para tal uma conexão física com o mesmo.
Tributação do Comércio Eletrónico
Definição de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
. Para que se verifique a existência de um estabelecimento estável, é
necessário que se verifique o cumprimento dos seguintes requisitos:
1: A existência de uma instalação fixa, em que releva o controlo
efetivo do espaço por parte da empresa, fazendo-se prevalecer a
substância sobre a forma. Isto é, a instalação fixa cumprirá os
requisitos necessários para poder ser qualificada como estabelecimento
estável se forem encontrados elementos de disposição, de controlo e de
efetiva ligação à atividade desempenhada pela empresa;
Tributação do Comércio Eletrónico
Definição de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
2: O exercício contínuo de uma determinada atividade através
dessa instalação fixa, impondo-se uma ligação direta entre a
organização física existente e a atividade desenvolvida pela empresa,
devendo a mesma ser efetuada de modo regular
. Não se considera estabelecimento estável o exercício por parte de uma
determinada empresa de uma atividade ocasional ou até mesmo
isolada, sendo que àquele conceito está diretamente associada a
caraterística de permanência.
Tributação do Comércio Eletrónico Definição de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
Atividades Instrumentais
. A propósito da atividade desenvolvida diga-se que, para que possamos estar
perante um estabelecimento estável, esta não poderá ser de natureza
meramente preparatória, instrumental ou auxiliar.
. Será necessário verificar a essencialidade da atividade desenvolvida.
. Relativamente às instalações fixas que se destinem ao exercício de atividades
acessórias dispõe a alínea e) do nº 4 do artigo 5º da Convenção Modelo da OCDE
em matéria de imposto sobre o rendimento e sobre o património que, ―a
expressão estabelecimento estável não compreende uma instalação fixa, mantida
unicamente para exercer, para a empresa, qualquer outra atividade de carácter
preparatório ou auxiliar.‖
Tributação do Comércio Eletrónico Definição de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
. Atentando ao disposto no nº 8 do artigo 5º do CIRC, e como exemplo de instalações que não são consideradas estabelecimento estável:
a) As instalações utilizadas unicamente para armazenar, expor ou entregar mercadorias pertencentes à empresa;
b) Um depósito de mercadorias pertencentes à empresa mantido unicamente para as armazenar, expor ou entregar;
c) Um depósito de mercadorias pertencentes à empresa mantido unicamente para serem transformadas por outra empresa;
d) Uma instalação fixa mantida unicamente para comprar mercadorias ou reunir informações para a empresa;
e) Uma instalação fixa mantida unicamente para exercer, para a empresa, qualquer outra atividade de carácter preparatório ou auxiliar;
f) Uma instalação fixa mantida unicamente para o exercício de qualquer combinação das atividades referidas nas alíneas a) a e), desde que a atividade de conjunto da instalação fixa resultante desta combinação seja de carácter preparatório ou auxiliar.
Tributação do Comércio Eletrónico
O Conceito de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
. Necessidade de adaptação do conceito de Estabelecimento
Estável
. O comércio eletrónico, caraterizado por uma realidade virtual e
incorpórea, coloca dificuldades de articulação com os conceitos atrás
descritos, que implicam a existência de uma realidade física.
. No âmbito do comércio eletrónico, o espaço físico com fronteiras
delimitadas dá lugar a um espaço virtual, em que o fluxo de operações
se revela difícil de controlar.
Tributação do Comércio Eletrónico
O Conceito de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
. Na verdade, será necessário adaptar o conceito de estabelecimento
estável às caraterísticas próprias do comércio eletrónico, adaptando-se
assim os requisitos tradicionais a esta nova realidade.
. Isto porque, uma determinada empresa que desenvolva toda a sua
atividade através de meios eletrónicos, pode operar inteiramente num
determinado país sem que para isso tenha qualquer instalação física ou
ainda qualquer funcionário.
. Operando, por exemplo, através de um Website, alojado num servidor
desse mesmo país.
Tributação do Comércio Eletrónico O Conceito de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
. No entanto, a existência de um determinado servidor não implica necessariamente a existência de um estabelecimento estável.
. Isto porque, será necessário verificar que esse mesmo servidor é o que permite a uma determinada empresa exercer a sua atividade contínua e substancial.
. A título de exemplo, uma empresa que se dedica à venda de livros online não terá um estabelecimento num determinado país só por ter alojado num servidor aí instalado um website através do qual faz publicidade à sua atividade. Neste caso estaremos perante uma atividade acessória, instrumental à atividade principal, a venda de livros.
. Por outro lado, se esse mesmo website se assumir como a plataforma através da qual a empresa opera as vendas de livros online, atividade central da mesma, poderemos admitir a existência de um estabelecimento estável.
Tributação do Comércio Eletrónico
O Conceito de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
. Os conceitos de ―permanência‖ e de ―instalação física‖ não estão
adaptados à nova realidade do comércio eletrónico:
1) Um Website é facilmente deslocável de um país para outro,
desafiando o critério de permanência mínimo exigido pelo conceito
de estabelecimento estável;
2) Também não pressupõe uma instalação física num determinado
território, podendo estar alojado num servidor estrangeiro.
Tributação do Comércio Eletrónico
O Conceito de Estabelecimento Estável e o Comércio Eletrónico
(Continuação)
. Exige-se o repensar do critério da ―existência física‖, de modo a que
este possa abranger a questão dos intangíveis e do comércio
eletrónico.
. Na verdade, este critério não acompanha a nova realidade constituída
pelo comércio eletrónico, sendo que, mesmo nos comentários feitos
ao artigo 5º da Convenção Modelo da OCDE, ainda não é feita
referência à necessidade de relegar para um plano subalterno a
questão da ―existência física‖ e de, por outro lado, atentar à
determinação daquilo que poderá ser designado por ―centro de
negócios da empresa‖.
O tratamento em sede de IVA: Perspetiva
interna e comunitária
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
. O comércio eletrónico, fruto das suas caraterísticas, colocou vários
desafios à tributação, nomeadamente em sede de IVA.
. Neste domínio, os principais problemas prendem-se com a dificuldade
de localizar as operações sujeitas a IVA, assim como apurar a
identidade dos intervenientes, tarefa dificultada pelo frequente
anonimato que carateriza o comércio eletrónico.
. Ademais, é necessário distinguir quando tratamos, para efeitos de
IVA, de uma transmissão de bens ou de uma prestação de serviços.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Será considerada prestação de serviços para efeitos de IVA, por
exemplo:
- A prestação de serviços de ensino à distância, através de uma
plataforma online;
- O fornecimento de Websites informáticos, a domiciliação de páginas
Web, ou a manutenção à distância de programas e equipamentos.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Por outro lado, serão consideradas transmissão de bens, as seguintes
operações:
- A encomenda de um livro através de um Website da livraria, sendo o
referido livro entregue através dos correios ou transportadora na
morada do adquirente;
- A encomenda de um programa de software através de website, com a
sua entrega a ser efetuada por correios ou transportadora para a
morada do adquirente.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. No âmbito do comércio eletrónico, em sede de IVA, o legislador ainda
não acompanhou com eficiência a evolução dos conceitos, exigindo,
para que se considere transmissão de bens, que exista um determinado
bem físico.
. No entanto, um bem será sempre um bem, independentemente do seu
suporte.
. Por exemplo, um livro, seja em formato de papel ou formato
eletrónico, deverá ser considerado como um bem, e não como um
serviço.
Tributação do Comércio Eletrónico Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Considerando que a aquisição de um bem em formato eletrónico é uma prestação de serviços, poderemos atentar contra o princípio da neutralidade fiscal, onerando especialmente as transações eletrónicas.
Por exemplo, no ponto 2.1 da Lista I do CIVA, relativa a bens e serviços sujeitos a taxa reduzida, verificamos que os jornais, revistas de informação geral e outras publicações periódicas que se ocupem predominantemente de matérias de caráter científico, educativo, literário, artístico, cultural, recreativo ou desportivo, e livros em todos os suportes físicos, estarão sujeitos à taxa reduzida de IVA, 6%.
. No entanto, os mesmos bens, em formato eletrónico, estarão sujeitos à taxa de IVA de 23%, o que representa uma clara violação do princípio da neutralidade fiscal.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Impõe-se que o legislador se adapte à realidade do comércio
eletrónico, e atente à substância das transações.
Por exemplo, andou bem o legislador quando, no nº 2 do Anexo D ao
CIVA, ao qual é feita referência na alínea d) do nº 12 do artigo 6º do
CIVA, indica como prestação de serviços por via eletrónica o
―Fornecimento de programas e respetiva atualização‖, operação da qual
claramente faz parte a prestação de um serviço.
. Por outro lado, no nº 4 do mesmo Anexo, relativamente ao
fornecimento de música, filmes e jogos, o legislador não específica com
o rigor que lhe seria exigível o que pretende abranger com esta
previsão, carecendo a mesma de uma maior explicitação.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Além disso, importa ainda determinar a natureza do adquirente na
operação, isto é, se estamos perante um sujeito passivo em sede de IVA
ou não.
. Assim, poderemos estar perante operações:
- B2B (Business to Business), em que o adquirente é sujeito passivo de
IVA;
- B2C (Business to Consumer), em que o adquirente não é sujeito
passivo de IVA.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Em sede de IVA, assume um papel fundamental a determinação da
localização das operações, com o intuito de aferir qual o Estado-
Membro em que a mesma deverá ser sujeita a tributação.
. Assim, destaca-se a Diretiva 2008/8/CE do Conselho, de 12 de
fevereiro, que vem alterar a Diretiva 2006/112/CE do Conselho,
no que concerne ao lugar das prestações de serviços,
estabelecendo novas regras de localização das mesmas.
. Na sequência da Diretiva 2008/8/CE do Conselho, de 12 de fevereiro,
a determinação da localização das prestações de serviços vai depender
da qualidade do adquirente, isto é, se é ou não sujeito passivo de IVA.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Na sequência das novas regras impostas pela Diretiva 2008/8/CE do
Conselho, de 12 de fevereiro, refletidas no ordenamento jurídico português na
redação que foi dada ao artigo 6º do CIVA, deveremos, para determinar a
localização das operações obedecer aos seguintes critérios:
- Quando o destinatário dos serviços não seja um sujeito passivo de IVA
(operação B2C) as operações são localizadas na sede, estabelecimento estável
ou domicílio do prestador dos serviços (Regra Geral).
Por exemplo, se um sujeito passivo português prestar um serviço a um
consumidor particular francês a operação será localizada, cumprindo-se a regra
geral, em Portugal, devendo o prestador liquidar IVA na operação à taxa em
vigor em Portugal.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. De outro modo, quando um determinado serviço é prestado a um sujeito
passivo de IVA (operação B2B), a regra geral de localização da operação
determina que a mesma seja localizada no local em que o adquirente tem a
respetiva sede, estabelecimento estável ou domicílio fiscal.
Neste caso, voltando ao exemplo anterior, o sujeito passivo de IVA português ao
prestar um serviço a um sujeito passivo de IVA francês, verá a operação, em
cumprimento com a regra geral, ser localizada em França, cabendo ao
adquirente francês, sujeito passivo de IVA, liquidar o IVA à taxa em vigor em
França.
Neste caso, assistimos ao mecanismo do reverse charge, através do qual a
responsabilidade tributária é transferida para o adquirente do serviço prestado.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. A Diretiva 2008/8/CE do Conselho, de 12 de fevereiro tende a aproximar a
tributação do local de consumo, recorrendo, nos casos em que o adquirente é
um sujeito passivo de IVA, ou seja, quando estamos perante uma operação B2B,
ao mecanismo do Reverse Charge, que inverte a obrigação tributária, fazendo-a
recair sobre o adquirente, que será responsável pela respetiva liquidação do IVA.
. No entanto, as regras gerais atrás descritas não seriam suficientes para
acautelar todas as operações, nomeadamente aquelas em que o operador não
tem qualquer conexão com o território da Comunidade e o adquirente é um
consumidor final, não sujeito passivo de IVA, residente na Comunidade.
. Neste caso, uma vez que não se poderia tributar a operação na sede do
prestador (fora da Comunidade), e que o adquirente não é sujeito passivo de
IVA, poderíamos cair numa situação de não tributação. Por isso, foi criado um
regime especial, que passamos a expor.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
Regime especial para sujeitos passivos não estabelecidos na
Comunidade que prestem serviços por via eletrónica a não sujeitos
passivos residentes
. Este regime foi introduzido pela Diretiva 2008/8/CE do Conselho, de
12 de fevereiro, com o intuito de acautelar em sede de IVA a tributação
de uma operação B2C, em que o prestador do serviço não é residente
na Comunidade e o adquirente, residente, não é sujeito passivo de IVA.
. Desta forma, cria-se para o prestador do serviço a obrigação de registo
e identificação num Estado-Membro, para que possa posteriormente
dar cumprimento a todas as obrigações tributárias decorrentes da sua
atividade.
Tributação do Comércio Eletrónico Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Dita este regime especial que o sujeito passivo não comunitário se registe no espaço comunitário.
. Ser-lhe-á atribuída a possibilidade de optar pelo Estado-Membro em que pretende efetuar o registo para efeitos de IVA, cumprindo aí todas as obrigações tributárias inerentes a todas as prestações realizadas em espaço comunitário.
. Refira-se que apenas os operadores de países terceiros que prestem serviços a não sujeitos passivos de IVA residentes no espaço Comunitário são obrigados a proceder a este registo.
. Os operadores de países terceiros que prestem serviços a sujeitos passivos de IVA sediados em território comunitário não detêm qualquer obrigação de registo, uma vez que as operações serão tributáveis em espaço comunitário, sendo o sujeito passivo adquirente o responsável pelo pagamento do respetivo imposto.
Tributação do Comércio Eletrónico Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação)
. Podendo o prestador de serviços de país terceiro optar pelo Estado-Membro em que pretenda efetuar o seu registo para efeitos de IVA, poderia eventualmente levantar-se a questão de, existindo diferenças ao nível das taxas de IVA nos mais diversos Estados-Membros, o prestador de serviços de país terceiro optar sempre pelos Estados-Membros com taxas mais reduzidas.
. No entanto, e para evitar que tal sucedesse, o prestador de serviços, devendo cumprir no Estado-Membro em que tenha efetuado o registo, todas as obrigações tributárias, no que diz respeito à taxa de imposto, terá que aplicar a que vigore no Estado-Membro do adquirente, e não a do Estado-Membro em que se encontre registado.
. Ou seja, a taxa de IVA aplicável às operações corresponderá àquela que vigore no Estado-Membro do adquirente e não àquela que vigore no Estado que o operador de país terceiro optou para efeitos de registo.
Tributação do Comércio Eletrónico Operação Localização da Tributação Normas Aplicáveis
B2B (operação em que o
adquirente é sujeito passivo de
IVA)
Local em que o adquirente tem a
respetiva sede, estabelecimento
estável ou domicílio fiscal.
Mecanismo do Reverse Charge.
• Artigo 44º da Diretiva
2006/112/CE, com as alterações
impostas pela Diretiva
2008/8/CE
• Alínea a) do nº 6 do artigo 6º do
CIVA.
B2C (operação em que o
adquirente não é sujeito passivo
de IVA)
Localizadas na sede, estabelecimento
estável ou domicílio do prestador
dos serviços
• Artigo 45º da Diretiva
2006/112/CE, com as alterações
impostas pela Diretiva
2008/8/CE
• Alínea b) do nº 6 do artigo 6º do
CIVA, a contrario.
B2C (Operação em que o
prestador não é residente na
Comunidade e o adquirente,
residente, não é sujeito passivo
de IVA)
Tributada à taxa vigente no local da
residência do adquirente, impondo-
se ao prestador o registo, para
efeitos de IVA, num Estado-Membro.
• Regime Especial introduzido pela
Diretiva 2008/8/CE, constante
dos Artigos 369º - A e seguintes
da Diretiva 2006/112/CE.
• Alínea d) do nº 12 do artigo 6º
do CIVA.
Tributação do Comércio Eletrónico Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação) – O Caso das Vendas à Distância
. No que diz respeito à transmissão de bens, em que destacamos, no âmbito do comércio eletrónico, as vendas à distância, importa referir que estas são objeto de previsão da Diretiva 2011/83/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de outubro, que salvaguarda os direitos dos consumidores.
. Ademais, em sede de IVA, as vendas à distância são objeto de um regime especial de tributação para as operações intracomunitárias, constante do Regime do IVA nas Transações Intracomunitárias (RITI), nomeadamente nos seus artigos 10º e 11º.
. A aplicação deste regime especial determina a localização da transmissão de bens no Estado membro da chegada dos bens – princípio da tributação no destino.
Tributação do Comércio Eletrónico
Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação) – O Caso das Vendas à Distância
. Este regime tem aplicação, para as vendas à distância localizadas fora
do território nacional, em cumprimento com o artigo 10º do RITI,
quando verificadas, simultaneamente, as seguintes condições:
1: O adquirente é um particular ou uma entidade não abrangida pelo
regime geral de tributação das aquisições intracomunitárias no Estado-
Membro de chegada da expedição ou transporte dos bens;
2: Os bens não sejam meios de transporte novos, bens a instalar ou
montar, nem bens sujeitos a imposto especial de consumo;
3: O valor global, líquido do IVA, das transmissões de bens efetuadas
no ano civil anterior ou no ano civil em curso, tenha excedido o
montante a partir do qual são sujeitas a tributação no Estado-Membro
do destino (valor calculado separadamente por cada Estado).
Tributação do Comércio Eletrónico Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação) – O Caso das Vendas à Distância
. Nos casos em que as vendas à distância se localizem no território nacional, o RITI (artigo 11º) exige que estejam preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:
1: O adquirente seja um sujeito passivo que se encontre abrangido pelo disposto no nº 1 do artigo 5º do RITI ou um particular;
2: Os bens não sejam meios de transporte novos, bens a instalar ou montar nos termos do nº 2 do artigo 9º nem bens sujeitos a impostos especiais de consumo;
3: O valor global, líquido do IVA, das transmissões de bens efetuadas por cada fornecedor, no ano civil anterior ou no ano civil em curso exceda os € 35 000.
Tributação do Comércio Eletrónico Tratamento em sede de IVA – Perspetiva Interna e Comunitária
(Continuação) – O Caso das Vendas à Distância
. Do exposto, resulta que, para a aplicação do regime especial de vendas à distância constante dos artigos 10º e 11º do RITI, foi imposto que o fornecedor dos bens transmitidos tenha efetuado no ano civil anterior ou no ano civil em curso transmissões superiores a um determinado montante que, no caso de Portugal, se quantifica em € 35 000.
. No entanto, nos termos do nº 3 do artigo 10º do RITI, existe a possibilidade de, preenchendo todos os pressupostos referidos, à exceção do respeitante ao volume das transmissões efetuadas, o fornecedor pode optar pela tributação no Estado-Membro de destino, devendo permanecer no regime pelo qual optaram durante um período de dois anos.
. Da mesma forma, serão tributadas em Portugal as transmissões de bens cujo valor global não exceda os € 35 000 quando os sujeitos passivos tenham optado, nesse outro Estado-Membro, por um regime de tributação semelhante ao do nº 3 do artigo 10º do RITI.
Tributação do Comércio Eletrónico
Vendas à Distância
Realizadas a partir
de Portugal com
destino a outro
Estado-Membro
(Artigo 10º RITI)
O total das vendas efetuadas com
destino ao Estado-Membro adquirente
não ultrapassou o limite aplicável
nesse Estado-Membro
A venda está sujeita a IVA em
Portugal, tendo o vendedor de faturar
com IVA em Portugal ao cliente do
outro Estado-Membro, a não ser que
opte pelo nº 3 do artigo 10º do RITI,
caso em que o IVA será devido no local
do consumo
O total das vendas efetuadas com
destino ao Estado-Membro do
adquirente já ultrapassou o limite
aplicável nesse Estado-Membro
A venda está sujeita a IVA
no Estado-Membro de chegada dos
bens, pelo que o vendedor
terá de faturar o IVA à taxa aplicável
nesse Estado-Membro, onde terá de o
entregar, nomeando representante fiscal
nesse Estado-Membro
Tributação do Comércio Eletrónico
Vendas à Distância
realizadas a partir
de outro Estado-
Membro com
destino a Portugal
(Artigo 11º do RITI)
O total das vendas efetuadas com
destino a Portugal ainda não
ultrapassou o limite aqui aplicável (€
35 000)
A venda não está sujeita a IVA em
Portugal, mas no EM do vendedor,
salvo se este tiver optado
expressamente pela sua tributação em
Portugal
O total das vendas efetuadas com
destino a Portugal já ultrapassou o
limite aqui aplicável (€ 35 000)
A venda está sujeita a IVA em Portugal,
tendo o vendedor do outro EM de
faturar com IVA português, nomeando
representante fiscal em
Portugal, para cumprimento das suas
obrigações, incluindo a de
pagamento
Tributação do Comércio Eletrónico
Posição dos Impostos Aduaneiros relativamente ao Comércio
Eletrónico
Os impostos aduaneiros não conseguem alcançar as transações
efetuadas no âmbito do comércio eletrónico, na medida em que não
existe a presença física de um determinado produto.
Este facto poderá condicionar a neutralidade da tributação, onerando o
comércio tradicional relativamente ao comércio eletrónico.
Por exemplo: A compra de livros provenientes dos EUA, pela via
tradicional está sujeita a tributação aduaneira, ao passo que a
aquisição dos mesmos livros em formato eletrónico não será objeto de
tributação em sede aduaneira.
Novos conceitos: Cloud Computing e
Apostas Online
Tributação do Comércio Eletrónico
Novos Conceitos – Cloud Computing
. O conceito de cloud computing refere-se à utilização da memória e das
capacidades de armazenamento e cálculo de computadores e
servidores compartilhados e interligados por meio da Internet, seguindo
o princípio da computação em rede.
. O armazenamento de dados é feito em
serviços a que se poderá aceder de
qualquer parte do mundo, a qualquer
hora, não havendo necessidade de
instalação de programas ou de
armazenamento de dados. O acesso a
programas, serviços e arquivos é
remoto, através da Internet - daí a
alusão à nuvem.
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Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
. Permite aos utilizadores procederem ao armazenamento online de
dados e de informação.
. Os utilizadores poderão aceder ao armazenamento de dados de
qualquer parte do mundo, a qualquer hora, não havendo necessidade
de instalação de programas ou de armazenamento de dados.
. É um serviço em clara expansão, fruto da sua utilidade prática.
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Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
. Como exemplos de empresas que atualmente se dedicam ao Cloud
Computing, destacam-se:
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Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
. O uso deste modelo proporciona aos utilizadores diversas vantagens
relativamente ao uso das tradicionais unidades
. Num sistema operacional disponível na Internet, a partir de qualquer
computador e em qualquer lugar, pode-se ter acesso a informações,
arquivos e programas num sistema único, independente de qualquer
plataforma física.
. O requisito mínimo é um computador compatível com os recursos
disponíveis na internet. O computador torna-se apenas um chip ligado
à Internet — a "grande nuvem" de computadores — sendo necessários
somente os dispositivos de entrada (teclado, rato) e de saída (monitor).
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Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
. Em sede de tributação, levantam-se desafios relativos à definição de
critérios que permitam tributar os serviços prestados pelas empresas
de Cloud Computing aos seus utilizadores.
. Também aqui, como no comércio eletrónico em geral, em que não
existem evidências físicas das operações efetuadas, uma das grandes
dificuldades será determinar a identidade dos utilizadores deste tipo de
serviços.
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Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
. Por outro lado, importa também referir que, maioritariamente, os
serviços prestados pelas empresas de Cloud Computing não envolvem a
transferência de qualquer software.
. O que acontece é que os utilizadores pagam para armazenar online
um determinado conjunto de dados ou de aplicações.
. Não existindo em Portugal qualquer regulação especificamente
dirigida ao Cloud Computing, revela-se necessário analisar as principais
operações efetuadas, enquadrando-as do ponto de vista tributário.
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Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
. Posto isto, e analisando a substância das principais operações
efetuadas pelas empresas que se dedicam ao Cloud Computing
verificamos que estas consistem na prestação de um serviço aos
utilizadores que, com este novo mecanismo, garantem um determinado
espaço online, em que podem armazenar dados ou aplicações.
. Desta forma, e uma vez que, como referido, as empresas que
atualmente se dedicam ao Cloud Computing provêm dos EUA, não
poderemos tributá-las em sede de impostos sobre o rendimento, tal que
as mesmas não detêm sequer um estabelecimento estável em Portugal.
Tributação do Comércio Eletrónico Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
. No entanto, este serviço deverá ser objeto de tributação em sede de IVA, na medida em que um utilizador português usufrui de um recurso providenciado pelo prestador, o cloud, podendo armazenar online a sua informação.
. Desta forma, poderemos obter três resultados distintos:
1. O serviço de Cloud Computing é prestado por um determinado operador a um sujeito passivo residente, que será responsável pela liquidação do IVA através do mecanismo do Reverse Charge, cumprindo-se assim o artigo 44º da Diretiva 2006/112/CE, com as alterações impostas pela Diretiva 2008/8/CE, transpostos para a alínea a) do nº 6 do artigo 6º do CIVA.
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2. O serviço de Cloud Computing é prestado por um determinado
operador residente no Espaço Comunitário a um adquirente não sujeito
passivo de IVA, situação em que a tributação será efetuada na sede,
estabelecimento estável ou domicílio do prestador dos serviços, em
cumprimento com o artigo 45º da Diretiva 2006/112/CE, com as
alterações impostas pela Diretiva 2008/8/CE, transposto para o
ordenamento jurídico português na Alínea b) do nº 6 do artigo 6º do
CIVA, a contrario
Tributação do Comércio Eletrónico Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
3. Situação em que o serviço de Cloud Computing é prestado por um operador que não é residente na Comunidade e o adquirente, residente, não é sujeito passivo de IVA.
Considerando que as empresas dominadoras no âmbito do Cloud Computing provem dos EUA, esta será uma operação bastante frequente.
Desta forma, será a mesma tributada em sede de IVA à taxa vigente no local da residência do adquirente, impondo-se ao prestador o registo, para efeitos de IVA, num Estado-Membro.
Tal decorre do Regime Especial introduzido pela Diretiva 2008/8/CE, constante dos Artigos 369º - A e seguintes da Diretiva 2006/112/CE, com expressão no ordenamento jurídico português na alínea d) do nº 12 do artigo 6º do CIVA.
Tributação do Comércio Eletrónico Novos Conceitos – Cloud Computing (Continuação)
Conclusões:
. Existe uma grande dificuldade em tributar as operações relacionadas com o Cloud Computing.
. Em sede de tributação do rendimento, seria necessário que as empresas referência que desenvolvem este tipo de serviços estivessem sediadas ou mantivessem qualquer tipo de conexão territorial com Portugal, o que, na prática, não acontece.
. Ainda assim, e mesmo com a definição das regras de tributação em sede de IVA dos serviços prestados por via eletrónica, será extremamente complicado garantir que as operações são declaradas à Administração Tributária.
. Para que seja efetivada a tributação deste tipo de serviços, exige-se uma colaboração máxima do contribuinte com a Administração Tributária, o que nem sempre acontecerá, e uma eficiente fiscalização por parte da Autoridade Tributária das transações eletrónicas efetuadas, com recurso nomeadamente à consulta dos movimentos financeiros efetuados pelos utilizadores através de cartões de crédito ou débito.
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Novos Conceitos – Apostas Online
. Os jogos online são uma atividade ainda não regulamentada em
Portugal, sendo que, nos termos da Lei do Jogo (Decreto-Lei 114/2011,
de 30 de novembro), o direito de explorar jogos de fortuna ou azar é
reservado ao Estado, só podendo ser exercido por entidades a quem o
Governo adjudique a respetiva concessão mediante contrato
administrativo.
. Neste sentido, a legislação fiscal não prevê ainda de modo expresso
como se deverá processar a tributação do jogo online, quer no que
respeita às apostas, quer no que respeita aos prémios obtidos.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. Não existindo previsão legal que acautele a tributação das apostas
online, estaremos a ignorar uma realidade que se difundiu nos últimos
anos em Portugal e que movimenta milhões de euros.
. Aliás, o jogo em Portugal, é tributado em conformidade com o previsto
nos artigos 84º e seguintes do Decreto-Lei 114/2011, de 30 de
novembro.
. Nos termos desta norma, ―As empresas concessionárias ficam
obrigadas ao pagamento de um imposto especial pelo exercício da
atividade do jogo‖.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. No entanto, no que diz respeito às apostas online, a sua promoção e exploração
é reservada à Santa Casa da Misericórdia, o que impede que qualquer outra
entidade, legalmente, explore em Portugal este tipo de jogo.
. Nos termos do artigo 2º do Decreto-Lei 282/2003, de 8 de novembro, ―A
exploração referida no artigo anterior é efetuada em regime de exclusivo, para
todo o território nacional, incluindo o espaço radioelétrico, o espectro herteziano
terrestre analógico e digital, a Internet, bem como quaisquer outras redes
públicas de telecomunicações, pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
através do seu Departamento de Jogos, nos termos dos diplomas que regulam
cada um dos jogos e do Decreto-Lei n.º 322/91, de 26 de Agosto.‖
. Com esta imposição, e considerando que só a Santa Casa da Misericórdia
poderá explorar o setor das apostas online, estaremos a ignorar uma realidade
que na prática movimenta milhões de euros.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. Ainda assim, Portugal vem revelando intenção em tributar os ganhos
obtidos através do jogo.
.Assim, com o OE de 2013, passaram a ser tributados em sede de
imposto de selo, à taxa de 20%, os prémios do Euromilhões, Lotaria
Nacional, Lotaria Instantânea, Totobola, Totogolo, Totoloto e Joker, na
parcela que exceda os € 5000, em conformidade com o ponto 11.4 da
Tabela Geral do Imposto do Selo.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. No que diz respeito ao mundo das apostas online, em que casas de
apostas como a Bwin, Bet365, BetFair ou a Betclic movimentam milhões de
euros, o principal problema prende-se com a dificuldade em identificar o
apostador que retire rendimentos provenientes das apostas efetuadas.
. Isto porque, pese embora a obrigatoriedade de um registo por parte do
apostador na casa de apostas, a Administração Tributária poderá
eventualmente ter dificuldade em aceder a essa informação.
. Por outro lado, será necessário que as casas de apostas, muitas vezes
estabelecidas em paraísos fiscais, prestem essa informação à Administração
Tributária.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. Na verdade, a legislação tributária aplicável ao jogo foi pensada para
uma época em que as operações sujeitas a tributação eram realidades
materiais atividades ou operações exercidas num determinado
território. Não foi pensada para a época das novas tecnologias de
informação e comunicação, da realidade virtual, da desterritorialização
e desmaterialização de operações.
. As novas formas de jogo, mais concretamente o jogo online (apostas
desportivas e jogos de fortuna e azar online) não foram, nem poderiam
ter sido, especificamente previstas pelo legislador.
Tributação do Comércio Eletrónico
Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
.Ainda assim, todavia, somos da opinião que ao jogo online são, em
princípio, aplicáveis as regras gerais de tributação. A este propósito é
importante recordar o teor do artigo 10º da LGT que nos diz: ―O
carácter ilícito da obtenção de rendimento ou da aquisição, titularidade
ou transmissão dos bens não obsta à sua tributação quando esses atos
preencham os pressupostos de incidência aplicáveis”.
. Existe o imposto especial sobre o jogo (IEJ). Contudo, o legislador não
tomou em consideração as novas formas de jogo, mais concretamente o
jogo online.
Tributação do Comércio Eletrónico
Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. A acrescer, tendo em conta a regulamentação nacional e os princípios
da OCDE relativos ao conceito de estabelecimento estável, não pode
afirmar-se que um ―sítio‖ na internet possa ser considerado como tal.
Assim, as empresas de jogo online que não possuem sede, direção
efetiva ou estabelecimento estável entre nós, não estão sujeitas, por
exemplo a IRC.
. Na prática, o não licenciamento e não regulação da atividade traduz-
se numa ausência de tributação quer em IEJ, quer em IRC.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. Em sede de IRS também se colocam sérios problemas. Aliás, a própria
declaração de IRS não está preparada para este tipo de rendimentos.
Mesmo que se entenda, o que não é pacífico, que o artigo 9º do CIRS é
aplicável aos rendimentos derivados do jogo online, existem
dificuldades práticas de tributação.
. Assim, a ausência de concretização de mecanismos necessários para
que a tributação se torne efetiva e as dificuldades de fiscalização neste
âmbito tornam praticamente impossível a tributação do jogo online em
sede de IRS.
Tributação do Comércio Eletrónico Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
Por exemplo:
No caso de os sujeitos passivos receberem prémios de jogo online de empresas sem sede, direção efetiva ou estabelecimento estável entre nós, o mecanismo de retenção na fonte pode sempre efetivar-se e poderá ser um incentivo para a sua declaração, em virtude do funcionamento da técnica do crédito de imposto. De qualquer forma, a tributação fica dependente da declaração voluntária do sujeito passivo ou de fornecimento de informações das empresas de jogo online. Não estando a declaração de IRS preparada para aceitar esse tipo de rendimentos, nem havendo mecanismos específicos de troca de informações, na prática, estes rendimentos tornam-se muito dificilmente detetáveis. Poderíamos recorrer ao mecanismo das manifestações de fortuna contudo as dificuldades práticas continuam a existir.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. No que toca à regulação do jogo, o TJUE tem vindo a apurar a sua
jurisprudência em várias decisões, das quais é de salientar
nomeadamente os casos Schindler (processo C275/92), Läärä
(processo C-124/97), Zenatti (processo C-67/98), Anomar (processo
C-6/01), Gambelli (processo C-243/01), Lindman (processo C-42/02)
Markus Stoss (C-359 e 360/07 e 409 e 410/07), Carmen Media
Group (C-46/08), Engelman (C64/08), Société Zeturf (C-212/08) e
Sjöberg (C-447 e 448/08), Hartlauer (C-169/07).
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. Nestes acórdãos, discutiu-se se as restrições dos Estados Membros às
atividades de jogo seriam eventualmente contrárias às liberdades
económicas fundamentais.
. A este propósito, conclui o TJUE que não serão contrárias às
liberdades económicas fundamentais as restrições que, observando o
princípio da proporcionalidade, tenham por objetivo restringir o jogo de
forma constante e sistemática para fins de proteção ao consumidor ou
aos menores, de prevenção de fraude ou de criminalidade, de questões
de saúde pública, e outros que possam integrar o conceito de ordem
pública.
Tributação do Comércio Eletrónico Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. Na jurisprudência relativa às apostas online, importa ainda destacar o célebre caso Bwin, que opôs a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a Bwin International Ltd, com sede em Gibraltar.
. Diga-se que a Bwin oferece aos seus utilizadores uma diversidade de jogos de fortuna ou azar online, incluindo apostas mútuas desportivas, jogos de casino como a roleta e o póquer, e jogos baseados no sorteio de números, semelhantes aos explorados pela Santa Casa da Misericórdia.
. Ora, face à exclusividade que o Decreto-Lei 202/2003, de 8 de novembro confere à Santa Casa da Misericórdia para a exploração deste tipo de jogos em formato eletrónico, discutiu-se no Tribunal de Pequena Instância Criminal do Porto a possibilidade de a Santa Casa da Misericórdia condicionar ou impedir a Bwin de desenvolver a sua atividade.
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. No âmbito deste processo, a Bwin alegou que a legislação portuguesa
aplicável aos jogos de fortuna e azar, ao reservar a sua promoção e
exploração, em exclusivo, à Santa Casa da Misericórdia, se revela
incompatível com as normas e jurisprudência comunitárias nesta
matéria.
. Consequentemente, o Tribunal de Pequena Instância Criminal do
Porto suspendeu a instância, interrogando o TJUE relativamente a
estas questões.
. Tendo sido proferido o Acórdão do TJUE, de 8 de setembro de 2009
(C-42/07).
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. No Acórdão do TJUE, de 8 de setembro de 2009 (C-42/07), entendeu
o Tribunal que, o artigo 49º do Tratado CE exige ―a eliminação de
qualquer restrição à livre prestação de serviços, ainda que
indistintamente aplicada aos prestadores nacionais e aos outros
Estados-Membros, quando seja suscetível de impedir, entravar ou
tornar menos atrativas as atividades dos prestadores de estabelecidos
noutro Estado-Membro, onde preste legalmente serviços análogos.‖.
. No entanto, considerou o Tribunal que a legislação portuguesa nesta
matéria deverá ser considerada como compatível com o direito
comunitário, na medida em que se mostra proporcional, necessária e
adequada ao fim que prossegue, a proteção dos consumidores
nacionais contra os riscos de fraude e criminalidade.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. Em resultado desta posição, a Bwin foi obrigada a cessar os
patrocínios que oferecia às competições organizadas pela Liga
Portuguesa de Futebol Profissional, tendo-se reafirmado a legitimidade
da Santa Casa da Misericórdia para, em exclusivo, promover e explorar
estes jogos de fortuna e azar em suporte eletrónico, poder que lhe é
conferido pelo Decreto-Lei 282/2003, de 8 de novembro.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. A situação de exclusividade ou de protecionismo em matéria de jogo
online dá origem a que Portugal suporte pesadas perdas de receita
fiscal.
. Para evitar que tal suceda, terá que acautelar juridicamente uma
realidade que não pode ser ignorada, tais são os fluxos financeiros que
faz movimentar.
. Importa por isso enquadrar do ponto de vista tributário os ganhos
obtidos com o jogo online.
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Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
Proposta para tributação dos ganhos obtidos com apostas online:
. Sendo praticamente impossível tributar diretamente os contribuinte
em sede de IRS pelos ganhos obtidos com as aposta online, na medida
em que, para que tal fosse possível, estes teriam que colaborar
plenamente com a Administração Tributária ao declarar os respetivos
rendimentos, a única solução será, porventura, impor à empresa
responsável pela promoção e exploração das apostas online, um
determinado conjunto de obrigações.
Tributação do Comércio Eletrónico Novos Conceitos – Apostas Online (Continuação)
. Para que os rendimentos dos apostadores pudessem ser objeto da tributação devida, poderia ser imposta à própria empresa que promove e explora as apostas online, a obrigação de reter na fonte uma determinada percentagem de todos os rendimentos pagos aos seus apostadores que obtenham ganhos.
Por exemplo: A Bwin paga ao apostador A € 1000 resultantes de apostas online que este efetuou. Sobre este valor, seria obrigada a reter uma determinada percentagem, deixando a Administração Tributária de depender da posterior declaração do rendimento por parte do contribuinte que, provavelmente, nunca iria suceder.
. Igualmente, urge implementar uma política eficiente de inspeção tributária ao nível de apostas e jogo online, com apelo, em sede internacional, ao mecanismo das trocas de informações.
Referências Bibliográficas e
Diplomas Referência
Tributação do Comércio Eletrónico Referências Bibliográficas
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Tributação do Comércio Eletrónico Diplomas Referência
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. Diretiva 2002/38/CE do Conselho, de 7 de maio de 2002, que altera, a título tanto definitivo como temporário, a Diretiva 77/388/CEE no que se refere ao regime do imposto sobre o valor acrescentado aplicável aos serviços de radiodifusão e televisão e a determinados serviços prestados por via eletrónica;
. Diretiva 2006/112/CE do Conselho, de 28 de novembro de 2006, relativa ao imposto sobre o valor acrescentado.
. Diretiva 2008/8/CE do Conselho, de 12 de fevereiro, que altera a Diretiva 2006/112/CE no que diz respeito ao lugar das prestações de serviços.
. Regulamento De Execução (UE) Nº 282/2011 do Conselho, de 15 de Março de 2011, que estabelece medidas de aplicação da Diretiva 2006/112/CE relativa ao sistema comum do imposto sobre o valor acrescentado.
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Diplomas Referência
. Código do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas.
. Código do Imposto Sobre o Valor Acrescentado.
. Decreto-Lei 114/2011, de 30 de novembro, que reformula a Lei do Jogo instituída
pelo Decreto-Lei 422/89, de 2 de dezembro.
. Decreto-Lei 317/2002, de 27 de dezembro, que republica o Decreto-Lei 84/85, de 28
de março, relativo às lotarias e apostas mútuas, designados por ―jogos sociais‖.
. Decreto-Lei 282/2003, de 8 de novembro, que visa disciplinar o registo de apostas
nos jogos sociais do Estado, ou daqueles cuja exploração lhe venha a ser atribuída
através da plataforma de acesso multicanal.
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