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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Pós-Graduação – Projeto Vez do Mestre
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROCESSO CAUTELAR
Por: Marcius dos Santos Gomes
Orientador
Prof. José Roberto Borges
RIO DE JANEIRO
2005
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PROCESSO CAUTELAR
Apresentação de monografia à
Universidade Candido Mendes como
condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Docência do Ensino Superior.
Por: Marcius dos Santos Gomes
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos Professores
Desembargadores Dr. Jorge
de Miranda Magalhães e Dr.
Wilson Marques, por terem
me auxiliado em minha
formação profissional e em
meu crescimento pessoal,
colaborando de forma
incisiva para elaboração
desse trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia a
minha mulher Tathianne pelo
incentivo e pelo apoio
sempre dedicado nas horas
em que precisei e pude
contar com sua atenção e
carinho. Também aos meus
filhos Bruno e ao que irá
nascer no final deste ano
(ainda sem nome), que muito
alegram a minha vida.
5
RESUMO
Modernamente, sobreleva a noção de que o processo
deve ser manipulado de modo a proporcionar uma ordem
jurídica justa. Para assegurar esta finalidade, surgiu o
processo cautelar, com o objetivo de garantir o processo
principal, de modo que este possa produzir resultado
útil, profícuo, a ação de outra natureza, de conhecimento
ou de execução, ou seja, a cautelar visa assegurar a
efetividade do resultado final do processo principal.
Por de existirem várias situações que envolvem
direitos que necessitam da satisfação urgente do
judiciário, não podendo nos sujeitar à demora normal
processual, sob pena de não poderem mais ser satisfeitos,
foi criada uma teoria processual procurando dar uma maior
adequação das formas da prestação da tutela
jurisdicional, ao lado dos processos de conhecimento e de
execução.
O processo cautelar tem como características a
acessoriedade e a provisoriedade. As medidas cautelares
servem ao processo principal, não sendo um fim em si
mesmas. Como peculiaridades do processo cautelar
destacam-se a instrumentalidade, provisoriedade,
revogabilidade e autonomia. A ação cautelar apresenta
como condições específicas o fumus boni iuris e o
periculum in mora.
Existe um misto de jurisdição de conhecimento e
processo de execução, tendo como elemento específico à
6
prevenção. Ele protege aquilo que protege o direito de
cada um de nós.
A medida é concedida não porque o autor tem a
razão, mais porque ele pode ter razão, basta haver fumus
boni júris ou periculum in mora. A tutela cautelar é
provisória no sentido de que ela vai durar até que venha
a decisão definitiva. Depois que vier a definitiva ela
perde sua razão de ser.
A ação cautelar por ser acessória da ação principal
não significa que não seja uma ação autônoma, pois
notamos que geralmente por razões ligadas ao princípio da
economia processual, a lei permite que o juiz determine
medidas cautelares nos autos da própria ação principal –
de conhecimento ou de execução.temos como exemplo,o
arresto, na execução (artigo 653 do CPC).
As ações cautelares são classificadas em: Ações
típicas ou nominadas (arresto, seqüestro, busca e
apreensão, etc.) e atípicas ou inominadas (sustação de
protesto, suspensão de deliberações de sociedades,
indisponibilidade de bens, etc.) quanto a sua tipicidade
e ANTECEDENTE E INCIDENTE quanto ao seu momento.
O arresto e o seqüestro não se confundem, uma vez
que o arresto garante a execução por quantia certa, não
visa um vem específico e qualquer bem disponível no
patrimônio do devedor, pode prestar-se ao arresto e no
seqüestro, atua para a entrega de coisa, visa um bem
específico, ou seja, o bem em litígio, mais precisamente
aquele sobre cuja posse ou domínio se trava a lide.
7
O uso das ações cautelares nominadas, próprias do
Direito de Família, não exclui a utilização das ações
cautelares inominadas e das ações cautelares nominadas.
8
METODOLOGIA
O projeto da presente monografia foi desenvolvido
através de pesquisas realizadas nas bibliotecas do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e da
Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/RJ, onde procurei
analisar as obras bibliográficas dos principais autores
que dissertam sobre o tema escolhido, para conceituar o
que é o Processo Cautelar, além fazer um estudo
aprofundado das jurisprudências de nossos tribunais.
Contei com a orientação dos Desembargadores Jorge
de Miranda Magalhães e Wilson Marques, com quem tive a
honra de trabalhar, que me cederam vasto material sobre a
matéria.
Assisti, ainda, palestras sobre “O PROCESSO
CAUTELAR” ministradas pelos ilustres Desembargadores
Silvio Capanema e Alexandre Câmara.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
CAPITULO I 12
PARTE GERAL 12
CAPITULO II 23
PROCESSO CAUTELAR E MEDIDA CAUTELAR 23
CAPITULO III 24
A LIMINAR 24
CAPITULO IV 32
CLASSIFICAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES 32
CAPITULO V 33
PETIÇÃO INICIAL 33
CAPITULO VI 38
PROCEDIMENTO CAUTELAR ESPECÍFICO 38
CAPITULO VII 51
AS AÇÕES CAUTELARES NOMINADAS
NO DIREITO DE FAMÍLIA 51
10
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 79
BIBLIOGRAFIA CITADA 82
ÍNDICE 84
11
INTRODUÇÃO
Em virtude de existirem várias situações que
envolvem direitos que necessitam da satisfação urgente do
judiciário, não podendo nos sujeitar à demora normal
processual, sob pena de não poderem mais ser satisfeitos,
foi criada uma teoria processual procurando dar uma maior
adequação das formas da prestação da tutela
jurisdicional, ao lado dos processos de conhecimento e de
execução: o processo cautelar, como um tertium genus
capaz de assegurar o resultado útil da tutela
jurisdicional mediante determinadas medidas adotadas
provisoriamente por meio de uma cognição sumária.
A seguir veremos a parte geral do Processo Cautelar
assim como dois de seus procedimentos específicos:
Arresto e Seqüestro, apresentando seus conceitos,
jurisprudências, suas diferenças e identificando os casos
em que são cabíveis.
Veremos ainda as ações cautelares nominadas
específicas do Direito de Família, onde passaremos a
tecer breves considerações sobre os seguintes temas:
separação de corpos, arrolamento de bens, guarda e
educação dos filhos e alimentos provisionais.
12
CAPITULO I
AÇÃO CAUTELAR - PARTE GERAL
1.1 - CONCEITO
Ação Cautelar é a ação que se intenta com
finalidade de garantir resultado útil, profícuo, a ação
de outra natureza – de conhecimento ou de execução.
Presta-se uma tutela – cautelar – com finalidade de
garantir, através dela, a efetividade de outra tutela –
de conhecimento ou de execução.
As tutelas de conhecimento e de execução não podem
ser prestadas instantaneamente. Entre a propositura da
ação e a satisfação do direito do autor medeia um certo
espaço de tempo. Esse espaço de tempo freqüentemente é
utilizado por devedores mal intencionados para desviar
bens, escondê-los, dilapidá-los, com a finalidade de
frustrar a satisfação do direito credor, ou seja, o
credor ganha, mas não leva.
Se o órgão investido de jurisdição fosse impotente
para coibir essa atividade maliciosa, a tutela
jurisdicional, de conhecimento e de execução,
freqüentemente seria ilusória.
Mas o órgão dispõe de meios para evitar o êxito da
atividade maliciosa. Há forma de acautelar os bens, de
modo a impedir a frustração da tutela de conhecimento e
da execução. Esse resultado pode ser obtido através da
13
ação cautelar, se houver perigo de dano em razão da
demora na entrega da prestação jurisdicional.
1.2 - Natureza Jurisdicional do Processo
Cautelar
Já se pôs em dúvida a natureza jurisdicional do
processo cautelar, emprestando-lhe natureza jurídica de
atividade administrativa.
Partindo do próprio conceito de jurisdição – poder
de formular e tornar efetiva a regra jurídica abstrata
que deve disciplinar uma situação jurídica concreta,
trazida ao conhecimento do juiz – já se ponderou que se o
formular a regra correspondente ao processo de
conhecimento e o tornar efetiva ao de execução, o
processo cautelar está fora do conceito de jurisdição.
Isso, no entanto, não é verdade. O processo
cautelar é jurisdicional, mas a jurisdição, no processo
cautelar, não é diferente da jurisdição do processo de
conhecimento e do processo de execução.
O que ocorre é que no processo cautelar há um misto
de jurisdição de conhecimento e o processo de execução,
tendo como elemento específico a prevenção.
14
1.3 - Características Fundamentais dos
Provimentos Cautelares
1.3.1 - A INSTRUMENTALIDADE
O conceito apresentado de Ação Cautelar revela que
ela é um verdadeiro instrumento. Instrumento através do
qual se pode garantir o resultado de outro processo,
principal, de conhecimento ou de execução.
Portanto, são duas ações, dois processos, distintos
e autônomos:
- a ação e o processo cautelar
(acessórios); e
- a ação e o processo principal (de
conhecimento ou de execução).
Porém, o processo principal – de conhecimento ou de
execução – também é um instrumento. Instrumento para a
composição dos conflitos de interesses.
Dessa forma, chega-se à conclusão de que o processo
cautelar é um instrumento do instrumento. Ele protege
aquilo que protege o direito de cada um de nós.
Segundo Calamandrei, essa instrumentalidade é
hipotética na medida em que é concedida para o caso de o
autor ter razão. Não é porque ele tem razão, mas porque
ele pode ter razão.
15
É por isso que para obter a tutela cautelar o autor
não precisa provar que tem o direito que alega ter. Basta
demonstrar que provavelmente ele tem razão (fumus boni
júris).
Se, ao final, se verificar que o autor não tem
razão - havia a aparência do bom direito, mas não havia o
direito, ou havia a “fumaça” do direito, mas não havia
“fogo” - isso de modo algum significará que a tutela
cautelar foi mal concedida e que deverá ser considerada
retroativamente ilegítima.
Além do Fumus boni iuris, cabe a parte demonstrar o
periculum in mora, ou, seja, o fundado temor de que,
enquanto aguarda a tutela definitiva, venham a faltar
circunstâncias de fato favoráveis a própria tutela, seja
o perecimento do objeto, destruição, enfim qualquer
mutação que torne ineficaz a atuação do provimento
jurisdicional.
A garantia obtida através da ação cautelar não é
apenas da efetividade do próprio direito material
litigioso discutido em outro processo, mas também de
direito reflexo, decorrente daquele. Por esta razão
é que se diz que na ação cautelar a instrumentalidade
pode ser direta ou reflexa.
Assim, a título de exemplo, se o devedor já propôs ou
pretende propor uma ação de anulação de um negócio
jurídico e/ou do título de crédito dele originário, nada
impede que peça, no curso do processo ou antes de
deflagrá-lo, através de ação cautelar, a suspensão do
protesto do título.
16
Aqui não há coincidência entre o objeto da ação
principal (anulação do título) e o objeto da ação
cautelar (suspensão do protesto) mas esse direito,
digamos assim, ao não protesto do título é um direito
decorrente ou reflexo do direito à anulação do título.
É um direito decorrente ou reflexo porque se o
autor conseguir anular o título, adquirirá, também, de
maneira reflexa, ou seja, em decorrência, o direito ao
não protesto do título e esse direito é perfeitamente
tutelável por meio de ação cautelar.
Em suma: reunidos todos os requisitos legais, o
autor pode pedir ao juiz que lhe assegure, por meio de
ação cautelar, todos os resultados que obterá, se
vitorioso no processo principal. Mesmo aqueles que
continuam simples reflexo da vitória que obteve no
capítulo principal.
Neste caso, podemos falar em uma instrumentalidade
hipotética reflexa, em oposição à outra, que
denominaremos instrumentalidade hipotética direta.
Exemplo clássico, referido por todos os tratadistas
e relatado por Calamandrei no seu Introduzione allo
studio sistemático dei provvedimenti cautelari, é o da
artista célebre que e vira retratada em trajes sumários
num clube noturno de Paris, e que se propusera ação de
condenação do clube a cancelar a pintura dita ultrajante,
antecedida de ação cautelar inominada em que pediu que,
até o julgamento do pedido principal o quadro ficasse
coberto com um pano, para livrá-la da curiosidade
17
pública. A tutela cautelar pedida - cobertura do quadro
com um pano - ostentava natureza jurídica de tutela
reflexa em relação à tutela principal - cancelamento ou
de destruição da pintura do quadro. Aqui o reflexo se
manifesta em uma relação de majus – a destruição do
quadro – para minus – a cobertura do quadro, podendo ser
pleiteada ainda com base em outro princípio, o de quem
pode o mais (obter a destruição do quadro), pode o menos
(obter a sua simples cobertura).
1.3.2 - A PROVISORIEDADE
Costuma-se dizer que a tutela cautelar é temporária
e provisória. Tem-se por temporário aquilo que dura um
certo tempo. E por provisório, o que serve por algum
tempo até que venha o definitivo.
Tudo o que é provisório é temporário. Mas nem tudo
o que é temporário é provisório.
A tutela cautelar é provisória no sentido de que
ela vai durar até que venha a definitiva. Depois que vier
a definitiva ela perde sua razão de ser.
Segundo o Des. Wilson Marques, “sendo provisória, a
tutela cautelar é sempre temporária, daí porque encerra
uma certa redundância a afirmação, freqüentemente
encontrada nos manuais, no sentido de que a tutela
cautelar é provisória e temporária.”
18
1.3.3 - A ACESSORIEDADE
Acessórias são as ações que visam complementar ou,
mais genericamente, modificar outras ou destas outras são
resultantes. A Ação de Majoração ou de Redução de
Alimentos, por exemplo, é uma ação acessória da Ação de
Alimentos.
No Código de Processo Civil em vigor, o caráter de
acessoriedade que se deve emprestar à Ação Cautelar fica
evidente logo no artigo 796, primeiro dos dispositivos
com os quais o estatuto processual regula as ações
cautelares: “O procedimento cautelar pode ser instaurado
antes ou no curso do processo principal e deste é sempre
dependente”.
Mas há outros dispositivos dos quais se pode
extrair o caráter de acessoriedade, que é da natureza e
da essência da ação cautelar. O artigo 806, que dispõe
sobre o ônus da propositura da ação principal no prazo de
30 dias; os artigos 807 e 808, que dispõem sobre a
eficácia das medidas cautelares na pendência do processo
principal, e assim por diante.
1.3.4 - A REVOGABILIDADE
A medida cautelar se caracteriza por ser, a todo
tempo, substituível (artigo 805), revogável e modificável
(artigo 807).
Na interpretação do artigo 807, que dispões sobre a
matéria, Galeno Lacerda sustenta que o juiz pode revogar
ex officio a medida cautelar, concedida initio litis ou
19
ao final, dispensando iniciativa do interessado, alegação
de fatos novos, propositura de ação e audiência da parte
contrária.
Autores como Humberto Theodoro Júnior e José
Frederico Marques exigem iniciativa da parte, propositura
de ação incidental e contraditório. O último exige,
também, alegação de fatos novos.
O entendimento do prof. Galeno Lacerda não nos
parece o melhor porque contrário ao princípio da
iniciativa (ne procedat judex ex officio) e ao princípio
do contraditório (audiatur et altera parte).
Segundo o Professo Wilson Marques, a tese de
Humberto Theodoro Júnior e de José.Frederico Marques
também não está imune às críticas: “soa como um atentado
ao princípio da economia processual que para se obter uma
simples revogação de medida cautelar se tenha de propor
uma ação incidental, com petição inicial, citação,
resposta, sentença e apelação, receptível no duplo
efeito, à falta de regra expressa em contrário.”
Wilson Marques entende que, aqui, como alhures, in
medio virtus. Segundo ele, se admitirmos petitio simplex,
entranhada nos mesmos autos da ação cautelar, sobre a
qual o juiz ouvirá a parte contrária, decidindo em
seguida o incidente do processo, teremos atendido os dois
primeiros princípios mencionados (iniciativa e
contraditório), sem ofender o terceiro (o da economia
processual).
20
Questão relevante, também, é a que consiste em
saber se, ao proferir, no processo principal, sentença de
mérito desfavorável ao autor, pode o juiz, em
decorrência, revogar a medida cautelar que lhe concedeu
initio litis.
Como vimos, a revogação da medida cautelar não é
efeito da sentença de improcedência do pedido inicial,
pois depende de instauração de incidente de revogação,
nos moldes referidos. Portanto, sem que seja instaurado e
nele se observem as formalidades legais pertinentes, a
revogação da medida cautelar não será admissível, na
sentença ou fora dela.
Mais: a cessação da eficácia da medida cautelar não
é efeito da sentença de improcedência do pedido inicial.
É efeito do trânsito em julgado dessa sentença (artigo
807).
Logo ao proferir, no processo principal, sentença
de mérito desfavorável ao autor, o juiz, por mais essa
razão, não pode revogar a medida cautelar que concedeu
initio litis.
Autores como Galeno Lacerda, Humberto Theodoro
Júnior e Pestana de Aguiar acham que a sentença proferida
no âmbito da ação cautelar não faz coisa julgada material
porque não julga a lide, o mérito, o conflito de
interesses e somente as sentenças de mérito, ex vi do que
dispõe o artigo 468, fazem coisa julgada material.
Wilson Marques concorda com a conclusão, mas não
com a fundamentação. Segundo ele, a sentença que julga
procedente ou improcedente o pedido cautelar julga o
21
mérito da ação cautelar, que não se confunde com o mérito
da ação principal.
Quando o juiz afirma ou nega a existência do
direito à cautela alegado pelo autor e impugnado pelo
réu, ele está decidindo o mérito da causa cautelar.
Se julgar o mérito é afirmar ou negar a existência
do direito e se é exatamente isso o que o juiz faz
quando, afirmando ou negando a existência do direito à
cautela, julga procedente ou improcedente o pedido
cautelar, então é claro que a sentença que profere, em
tais circunstâncias é sentença de mérito.
Mas não faz coisa julgada material, não pela razão
mencionada, mas por outra: é que essa sentença é mutável,
pois pode ser revogada ou modificada a qualquer tempo
(artigo 807) e o conceito da coisa julgada material, como
se sabe, repousa exatamente na imutabilidade do
dispositivo da sentença.
Há, no entanto, casos em que, por exceção, a
sentença, na ação cautelar, faz coisa julgada material.
Por não estarem compreendidas na permissão de
revogação ou de modificação, contempladas no mesmo artigo
807, fazem coisa julgada material (e, em decorrência,
podem ser objeto de rescisória) as sentenças:
a) de acolhimento ou de rejeição da
alegação de prescrição e de decadência;
b) de julgamento de improcedência de
pedido inicial;
22
c) de condenação no pagamento das custas
do processo, no de honorários
advocatícios e o de indenização de danos
(artigo 811).
1.3.5 - A AUTONOMIA
O fato de a ação cautelar ser acessória da ação
principal não significa que só por isso não seja uma ação
autônoma. São duas questões inteiramente diferentes.
Pelas razões já indicadas, a Ação Cautelar é ação
acessória. Mas, a despeito disso, é uma ação autônoma.
O problema da autonomia está em saber se a ação
cautelar e ação principal são uma e a mesma ação ou se
são duas ações distintas, conquanto ligadas entre si pelo
vínculo da acessoriedade.
Ora, se lembrarmos que toda vez que alguém vai a
juízo pedir a prestação jurisdicional ele está exercendo
um direito – o de ação – do que resulta sempre,
necessariamente, um processo, e se nós não nos
esquecermos que, no caso de ação cautelar, o autor
comparece em juízo duas vezes, uma para pedir a tutela
cautelar, outra para pedir a tutela principal, fácil será
concluir que as ações são duas, os processos também dois
e, portanto, a ação cautelar e a ação principal são ações
autônomas.
23
No Código, a autonomia da ação cautelar, em relação
à ação principal, pode ser extraída:
a) da circunstância de o processo
cautelar ter um fim próprio – garantir
resultado profícuo à tutela de outra
natureza;
b) do fato de que a procedência ou a
improcedência do pedido cautelar não
acarreta, necessariamente, a procedência
ou a improcedência do pedido principal –
argumento ex artigo 810 – (”...nem influi
no julgamento desta...”);
c) da circunstância de um ser o livro de
conhecimento (I), outro o de execução
(II) e outro, ainda, o cautelar (III).
São, pois, três processos autônomos,
distintos, diferentes: o processo de
conhecimento, o processo de execução e o
processo cautelar.
CAPITULO II
PROCESSO CAUTELAR E MEDIDA CAUTELAR
Nem todas as medidas cautelares, para serem
obtidas, reclamam a propositura de ações cautelares.
Algumas vezes, geralmente por razões ligadas ao
princípio da economia processual, a lei permite que o
juiz determine medidas cautelares nos autos da própria
24
ação principal – de conhecimento ou de execução. Assim: o
arresto, na execução (artigo 653).
Costuma-se indicar como exemplos de medidas
cautelares deferíveis sem a propositura de ação cautelar,
também, o embargo liminar na ação de nunciação de obra
nova (artigo 937), as liminares nas ações possessórias e
no mandado de segurança, mas esses casos, em regra, são
casos de antecipação da tutela, não de medidas
cautelares.
Como bem ressalta o Des. Wilson Marques, o que é
certo é que o Livro III, que trata do processo cautelar
não esgota o âmbito das providências cautelares.
Segundo o ilustre jurista também é certo que a
epígrafe do título único do Livro III – Das Medidas
Cautelares – é inadequada. O conceito de medida cautelar
extravasa-se dos limites do processo cautelar. Há, como
já dito, medidas cautelares sem processo cautelar. A
epígrafe, portanto, diz mais do que nela se contém.
CAPITULO III
A LIMINAR
Como anota, com muita precisão, Galeno Lacerda “se
a função cautelar se justifica, exatamente, pela
necessidade de pronta e eficaz segurança contra
determinado risco, a tal ponto que constitui um de seus
pressupostos fundamentais a existência de periculum in
mora, a concessão de mandado liminar assecuratório se
25
revela instrumento indispensável à consecução desse
objetivo”.
“Não teria sentido – acrescenta o processualista
gaúcho – a preocupação em acudir à urgência do caso, se a
lei não autorizasse o juiz a prover de imediato”
(Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, 7ª.
Edição, Volume III, Tomo I, nº 58, página 242).
É claro que se exige para a concessão da tutela
cautelar, a coexistência do fumus boni júris e do
periculum in mora, a falta de qualquer um desses
requisitos, como de outros que revelem a probabilidade de
malogro da ação cautelar – ilegitimidade de parte,
inexistência de interesse específico, etc. –
impossibilitará a concessão da liminar.
A lei pode proibir e proíbe, em certos casos, a
concessão de liminar, mesmo estando presentes todos os
requisitos exigidos para a sua concessão. Assim: o artigo
1º da Lei nº 2.770, de 4.5.56, que proíbe liminar para
liberação de bens, mercadorias ou coisas de procedência
estrangeira; o artigo 1º da Lei nº 8.437, de 30.6.92, que
veda a concessão de liminar “contra atos do Poder
Público, no procedimento cautelar ou em quaisquer outras
ações de natureza cautelar ou preventiva, toda vez que
providência semelhante não puder ser concedida em ações
de mandado de segurança, em virtude de vedação legal
etc.”.
A liminar pode ser concedida com ou sem
justificativa prévia e com ou sem audiência da parte
contrária. A concessão da liminar supõe que o periculum
26
in mora seja de tal ordem que não se possa esperar sequer
pela sentença do processo cautelar.
Pelo nosso Código de Processo Civil, a concessão da
medida inaudita altera parte somente é admissível se o
juiz se convencer de que o réu “sendo citado poderá
torná-la ineficaz” (artigo 804).
Predomina, no entanto, no Superior Tribunal de
Justiça, o entendimento de que “justifica-se a concessão
de medida liminar inaudita altera parte, ainda quando
ausente a possibilidade de o promovido frustrar a sua
eficácia, desde que a demora de sua concessão possa
importar em prejuízo, mesmo parcial, para o promovente”
(RSTJ 47/517).
3.1 - JURISPRUDÊNCIA
Vejamos alguns acórdãos recentes do Superior
Tribunal de Justiça:
Acórdão
RESP 153633 / SP ; RECURSO ESPECIAL
1997/0078043-0
Fonte
DJ DATA:01/07/2002 PG:00272
Relator
Min. FRANCIULLI NETTO (1117)
Data da Decisão
26/03/2002
Órgão Julgador
T2 - SEGUNDA TURMA
Ementa
PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 105, INCISO
27
III, ALÍNEAS "A" E "C" , DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LIMINAR
CONCEDIDA. INAUDITA ALTERA PARTE. ART. 151, V, DO CTN. IUS
SUPERVENIENS. INEXIGIBILIDADE DO DEPÓSITO INTEGRAL DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO ACERCA DA INCLUSÃO DE
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS NO VALOR INTEGRAL. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL SUPERADA. No caso excepcional dos autos, mostra-se
cabível o deferimento da liminar pelo magistrado, sem a audiência
das partes, porquanto "justifica-se a concessão de medida liminar
'inaudita altera parte', ainda quando ausente a possibilidade de o
promovido frustrar a sua eficácia, desde que a demora de sua
concessão possa importar em prejuízo, mesmo que parcial, para o
promovente" (ROMS 335/CE, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, RSTJ 47/517).
A Lei Complementar n. 104, de 10 de janeiro de 2001, ao alterar o
inciso V do artigo 151 do Código Tributário Nacional, passou a
indicar como causa de suspensão da exigibilidade do crédito
tributário a concessão de medida liminar em outras espécies de ação
judicial, afastando a tese restritiva, segundo a qual somente a
medida liminar em mandado de segurança produziria tal efeito.
Incidência do ius superveniens à espécie.A teor do disposto no
artigo 151, incisos VI e V, do Código Tributário Nacional,
independentemente do depósito do crédito tributário, é cabível a
concessão da liminar, se presentes os seus pressupostos, com a
conseqüente suspensão da exigibilidade do crédito tributário.
Precedentes. Ausência de prequestionamento da questão de que o
depósito do montante integral do crédito tributário, ao qual alude o
inciso II do artigo 151 do Código Tributário Nacional, deve
compreender juros e correção monetária. Divergência jurisprudencial
superada. Recurso especial não conhecido.
Decisão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA TURMA do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos
termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Laurita
Vaz, Francisco Peçanha Martins e Eliana Calmon votaram com o Sr.
Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Paulo
Medina.
Acórdão
28
AGRMC 4490 / BA ; AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR
2001/0190130-0
Fonte
DJ DATA:04/03/2002 PG:00183
Relator
Min. JOSÉ DELGADO (1105)
Data da Decisão
18/12/2001
Órgão Julgador
T1 - PRIMEIRA TURMA
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO QUE DEFERIU
PROVIMENTO LIMINAR EM MEDIDA CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO
ESPECIAL. EXISTÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DO FUMUS BONI JURIS E DO
PERICULUM IN MORA. ELEIÇÃO DE MESA DIRETORA DE ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA. INEXISTÊNCIA DE CHAMAMENTO À LIDE.
1. Agravo Regimental interposto contra decisão que concedeu
provimento liminar em ação cautelar para fins de suspender a
execução do acórdão a quo, o qual, em sede de mandado de segurança,
afastou o autor do cargo de 4º Secretário da Mesa Diretora da
Assembléia Legislativa do Estado da Bahia, sem que o mesmo tivesse
sido chamado a integrar à lide como litisconsorte passivo
necessário. 2. A adoção de medidas cautelares (inclusive as
liminares inaudita altera pars) é fundamental para o próprio
exercício da função jurisdicional, que não deve encontrar
obstáculos, salvo no ordenamento jurídico. Portanto, o poder geral
de cautela há que ser entendido com uma amplitude compatível com a
sua finalidade primeira, que é a de assegurar a perfeita eficácia da
função jurisdicional. Insere-se, aí, sem dúvida, a garantia da
efetividade da decisão a ser proferida. 3. O provimento cautelar tem
pressupostos específicos para sua concessão. São eles: o risco de
ineficácia do provimento principal e a plausibilidade do direito
alegado (periculum in mora e fumus boni iuris), que, presentes,
determinam a necessidade da tutela cautelar e a inexorabilidade de
sua concessão, para que se protejam aqueles bens ou direitos de modo
a se garantir a produção de efeitos concretos do provimento
jurisdicional principal. 4. Em tais casos, pode ocorrer dano grave à
parte, no período de tempo que mediar o julgamento no tribunal a quo
e a decisão do recurso especial, dano de tal ordem que o eventual
resultado favorável, ao final do processo, quando da decisão do
29
recurso especial, tenha pouca ou nenhuma relevância. 5. Os deputados
que compõem a Mesa Diretora não foram chamados em nenhum instante
para compor a lide, consoante faz prova certidão, inclusa nos autos.
O periculum in mora está evidenciado pelo fato de que o Autor,
embora eleito para integrar a Mesa Diretora da Assembléia
Legislativa do Estado da Bahia, 4º Secretário, função que exerce,
poderá ser destituído por força da concessão da segurança. 6. Tais
elementos, por si só, dentro de uma análise superficial da matéria,
no juízo de apreciação de medidas cautelares, caracterizam a
aparência do bom direito. 7. A busca pela entrega da prestação
jurisdicional deve ser prestigiada pelo magistrado, de modo que o
cidadão tenha, cada vez mais facilitada, com a contribuição do Poder
Judiciário, a sua atuação em sociedade, quer nas relações jurídicas
de direito
privado, quer nas de direito público. 8. Agravo regimental
improvido.
Decisão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo
regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Francisco Falcão, Luiz Fux, Garcia Vieira e Humberto Gomes
de Barros votaram com o Sr. Ministro Relator.
Acórdão
RESP 293797 / AC ; RECURSO ESPECIAL
2000/0135393-4
Fonte
DJ DATA:11/06/2001 PG:00131
Relator
Min. GARCIA VIEIRA (1082)
Data da Decisão
13/03/2001
Órgão Julgador
T1 - PRIMEIRA TURMA
Ementa
PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO CAUTELAR DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA –
CONCESSÃO DE LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS – PRESENÇA DE PERICULUM IN
MORA – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – USO DE BEM PÚBLICO POR EMPRESA
PARTICULAR – LEI Nº 8.437/92 – INAPLICABILIDADE. Na hipótese de ação
30
cautelar de produção antecipada de prova ajuizada com o fito de se
constatar a utilização de maquinário e mão-de-obra municipais por
empresa particular, é lícito ao juiz conceder liminar inaudita
altera pars, pois esta é efetivada em benefício do poder público,
não sendo caso de invocação do artigo 1º da Lei nº 8437/92. Recurso
provido.
Decisão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Exmºs. Srs.
Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na
conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por
unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Exmº.
Sr. Ministro relator. Votaram com o Relator os Exmºs. Srs. Ministros
Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e Francisco Falcão.
Ausente, justificadamente, o Exmº. Sr. Ministro José Delgado.
Nosso Tribunal de Justiça comunga do mesmo
entendimento:
“MEDIDA LIMINAR
DEFERIMENTO
APONTE DO NOME COMO DEVEDOR INADIMPLENTE
MEDIDA CAUTELAR INOMINADA - LIMINAR.
Justifica-se a concessão de medida
liminar, inaudita altera parte, para
evitar a restrição do crédito, uma vez
comunicado aos serviços específicos a
existência de débito não legítimo. A
natureza da medida é apenas instrumental
para possibilitar a eficácia da tutela
definitiva. Recurso não provido.” (Tipo
da Ação: APELAÇÃO CÍVEL - Número do
Processo: 2003.001.01901 - Data de
Registro: 11/06/2003 - Órgão Julgador:
SÉTIMA CÂMARA CÍVEL - DES. PAULO GUSTAVO
HORTA - Julgado em 08/04/2003).
31
“BUSCA E APREENSÃO DE VEICULO
MEDIDA LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE
DEFERIMENTO
Agravo de instrumento - Medida cautelar
Seqüestro - Busca e apreensão de veículo
concedida inaudita altera parte -
Permanência do veículo com a agravante -
Provimento parcial do recurso.” (Tipo da
Ação: AGRAVO DE INSTRUMENTO - Número do
Processo: 2003.002.01691 - Data de
Registro : 29/10/2003 - Órgão Julgador:
DÉCIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL - DES.
MARIANNA PEREIRA NUNES - Julgado em
27/08/2003).
“CONCURSO DE PROVAS E TÍTULOS
REPROVAÇÃO
EXAME DE SAÚDE
Agravo de instrumento. Medida cautelar
inominada, com pedido de liminar.
Concurso público do Corpo de Bombeiros do
Rio de Janeiro, Cabo Bombeiro Militar.
Atendente de consultório dentário.
Reprovação no exame saúde, em face de ter
sido enquadrado na classificação de visão
Subnormal. 1- Tendo a candidata sido
reprovada em Exame Médico - porque seria
portadora de deficiência visual, de
acordo com a CID Classificação
Internacional de Doenças H54 (Cegueira e
Visão Subnormal), e possuindo Laudo
32
Médico subscrito por médico
oftalmologista conceituado, que atesta
que a candidata tem visão normal, é de se
lhe conceder a medida liminar inaudita
altera parte para que a mesma permaneça
no processo seletivo do concurso, sendo-
lhe facultado tentar comprovar o
desacerto do Expert Oficial.” (Tipo da
Ação: AGRAVO DE INSTRUMENTO - Número do
Processo: 2002.002.14142 - Data de
Registro: 20/08/2003 - Órgão Julgador:
DÉCIMA CÂMARA CÍVEL - DES. IVAN CURY -
Julgado em 20/05/2003).
Segundo o Professor Wilson Marques, apesar de,
aparentemente, o juiz não pode conceder medida cautelar
inominada ex officio (artigos 797 e 798), se assim o
fizer afrontará o princípio da iniciativa, consagrado no
artigo 2º: ne procedat judex ex officio.
Em sentido contrário: Galeno Lacerda, conforme
explicitado anteriormente.
CAPITULO IV
CLASSIFICAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES
As medidas cautelares podem ser classificadas de
várias maneiras.
A mais importante classificação talvez seja a que
se faz segundo a tipicidade: Ações típicas ou nominadas
(arresto, seqüestro, busca e apreensão, etc...) e
33
atípicas ou inominadas (sustação de protesto, suspensão
de deliberações de sociedades, indisponibilidade de bens,
etc.).
Mas alude-se, também, à classificação:
a) segundo o momento (antecedente e
incidente); e
b) segundo a finalidade da segurança (dos
bens – arresto, seqüestro, caução); da
prova (produção antecipada de prova,
justificação); antecipação provisória de
tutela jurisdicional (alimentos
provisionais, guarda provisória de
filhos).
Alude-se, ainda, à classificação das medidas
cautelares segundo a natureza da tutela cautelar, em
jurisdicionais e administrativas.
CAPITULO V
PETIÇÃO INICIAL
A petição inicial da ação cautelar, como qualquer
petição inicial, há de ser elaborada com observância dos
requisitos constantes dos artigos 282 e 283 do Código de
Processo Civil.
Deve indicar, inclusive, o valor da causa, que não
corresponderá necessariamente ao valor da causa
34
principal, mas sim ao valor do benefício patrimonial que,
com a ação cautelar intentada, se pretende obter.
O artigo 801, que trata da matéria, não alude ao
pedido como requisito essencial da petição inicial da
ação cautelar. Entretanto, é obvio que a ninguém é dado
intentar ação cautelar sem formular pedido algum.
Exige o referido dispositivo legal que o autor
indique, na inicial, “a lide e seu fundamento” (inciso
III). A lide a que se refere o dispositivo é a lide
principal; é a ação que ainda será intentada, se de ação
antecedente se tratar. Não é a lide cautelar.
A particularidade da contestação está no prazo, que
é de cinco dias, contados da juntada do mandado, e não de
quinze, como no processo de conhecimento submetido ao
procedimento ordinário.
Apesar de o artigo 802 afirmar que o réu será
citado para contestar, nada impede que com a contestação
ou sem ela o réu ofereça exceção (de incompetência, de
suspeição, de impedimento).
Reconvenção não, porque a reconvenção é ação
principal, contrária à outra ação, também principal
(argumento ex artigo 315).
A sentença, na ação cautelar, obedecerá,
naturalmente, aos requisitos do artigo 458 – relatório,
motivação, dispositivo.
35
Obviamente, o juiz, se não julgar extinto o
processo, sem julgamento do mérito, por alguma razão,
julgará o pedido inicial procedente ou improcedente.
A sentença poderá ter natureza de ato inibitório
(sustação de protesto), de ato de execução (arresto,
seqüestro, busca e apreensão).
O vencido será condenado a reembolsar ao vencedor
as custas do processo e os honorários do advogado que
contratou – artigo 20 do Código de Processo Civil.
Todavia, considerando que o processo cautelar é
acessório do principal - e o acessório segue o destino do
principal (princípio da gravitação jurídica) – o autor,
se vencedor na ação cautelar e perdedor na ação principal
terá de restituir ao réu o que dele recebeu, por força da
aplicação do artigo 811 do mesmo diploma legal. O mesmo
acontecerá com o réu que, vencedor no processo cautelar,
sucumbir no processo principal.
Os recursos no processo cautelar são os normais.
Das decisões interlocutórias cabe agravo e das sentenças,
apelação, que a lei manda receber só no efeito devolutivo
(CPC - artigo 520, IV).
Também serão admissíveis, igualmente, nos casos
previstos em lei, Embargos de Declaração, Embargos
Infringentes, Recurso Especial, Recurso Extraordinário
etc.
As sentenças cautelares não comportam execução, no
sentido técnico da expressão, porque não são sentenças
36
condenatórias (a não ser, nos casos em que o Código
considera como de Ação Cautelar mas que na verdade não o
são (v.g. Alimentos Provisionais).
Entende Humberto Theodoro Júnior que, em razão da
predominância do interesse público e do princípio da
fungibilidade dos provimentos de segurança (artigo 805),
não configura decisão extra petita a sentença que defere
providência cautelar diversa da postulada pela parte.
Esse é, também, o pensamos de Pontes de Miranda,
para quem o direito é à cautela; não é à uma cautela
determinada.
Já para Wilson Marques, nada justifica afastar do
âmbito da ação cautelar as regras dos artigos 128 e 460
do Código de Processo Civil, de acordo com os quais o
juiz não pode proferir sentença de natureza diversa da
pedida pelo autor.
Segundo o supracitado jurista, “Ação cautelar
satisfativa é uma contradição nos termos. Se a ação é
cautelar, não é satisfativa. Se é satisfativa, não é
cautelar. Não existe, portanto, ação cautelar
satisfativa.”
A ação cautelar visa garantir resultado profícuo à
tutela de outra natureza. Mas, reunidos os requisitos
legais, essa tutela, que a ação cautelar visa garantir,
pode ser prestada antes do momento em que normalmente o
seria.
37
Desse modo, em princípio, ação cautelar inominada
não pode ter por objeto a antecipação da tutela de
mérito. Não é antecipando a tutela que se garante
resultado útil a processo de outra natureza.
Às vezes, no entanto, por exceção, ocorre o
inverso. Antecipar a tutela de mérito é
exatamente a forma de assegurar resultado útil a outro
processo.
Vale citar alguns exemplos:
a) há algum tempo, lojistas de certo
Shopping Center propuseram ação de
revisão de contrato de locação, por
onerosidade excessiva, com base na teoria
da imprevisão. Mas também pediram através
de ação cautelar inominada redução
provisória do aluguel, porque sem a
adoção da providência, o julgamento do
mérito da ação de revisão seria inútil,
porque, quando isso viesse a acontecer,
já teriam ido à falência;
b) certo devedor de alimentos propôs ação
de redução de alimentos, mas pediu,
também, através de ação cautelar
inominada, redução provisória desses
mesmos alimentos, ao argumento de que sem
a adoção da medida cautelar pleiteada, de
nada adiantaria obter ao final do
processo a redução pleiteada porque até
lá já teria sucumbido.
38
CAPITULO VI
PROCEDIMENTO CAUTELAR ESPECÍFICO
DO ARRESTO
(artigos 813 a 820 do CPC)
6.1 - CONCEITO
Arresto (ou embargo, como diziam os antigos
praxistas) é medida cautelar de garantia de futura
execução por quantia certa. Consiste na apreensão
judicial de bens indeterminados do patrimônio do devedor.
Assegura a viabilidade da futura penhora, na qual virá a
converter-se ao tempo da efetiva execução.
Segundo Wilson Marques, é a figura típica, com as
nítidas marcas da prevenção e da provisoriedade, posta a
serviço da eliminação do perito de dano jurídico capaz de
pôr em risco a possibilidade de êxito da execução por
quantia certa.
Garante, enquanto não chega a hora da penhora, a
existência de bens do devedor, sobre os quais haverá de
incidir a provável execução por quantia certa.
Realiza-se através de apreensão e depósito de bens,
com mencionamento fito.
É exercitado através de ação, ou seja, de ação
cautelar. Exceto no caso excepcional do arresto ex
officio, como previsto no art. 653 do CPC, que prescinde
39
da propositura de ação, constituindo-se em mero incidente
da própria ação de execução.
6.2 - ARRESTO E SEQÜESTRO
O arresto e o seqüestro não se confundem.
O arresto garante a execução por quantia certa. Não
visa um vem específico. Qualquer bem disponível, no
patrimônio do devedor, pode prestar-se ao arresto.
Já o seqüestro atua para a entrega de coisa. Visa
um bem específico, ou seja, o bem litigioso, mais
precisamente aquele sobre cuja posse ou domínio se trava
a lide.
6.3 - PRESSUPOSTOS PARA A CONCESSÃO DO ARRESTO
Os pressupostos para a concessão do arresto são:
prova literal de dívida líquida de certa (art. 814, CPC)
e fundado receio de dano, ocorrente nas situações
previstas no art. 813 do CPC. No primeiro caso, o fumus
boni júris; no segundo, o periculum im mora.
A exigibilidade da dívida não é requisito
indispensável à concessão do arresto (Simpósio de
Curitiba, Conclusão n.º 71).
Nesse caso, a eficácia do arresto persiste até 30
(trinta) dias após a dívida tornar-se exigível (Simpósio
de Curitiba, Conclusão n.º 72).
40
6.4 - BENS ARRESTÁVEIS
São arrestáveis os bens penhoráveis, pois o
arresto, como já visto, não tem outra finalidade senão a
de tornar viável uma futura penhora.
6.5 - PROCEDIMENTO
É o comum das medidas cautelares, previstos nos
artigos 802 e 803 do Código de Processo Civil.
6.6 - FORMA DE EXECUÇÃO DO ARRESTO
A forma de executar o arresto é a mesma da penhora,
ou seja, mediante a apreensão e depósito dos bens, com a
lavratura de auto (artigo 821 do CPC). A diferença entre
as duas medidas (arresto e penhora) está em que o arresto
é executado de plano, sem prévia citação oi intimação, ao
passo que a penhora pressupõe citação para pagar ou
nomear bens à penhora, no prazo de 24 horas.
6.7 - DEPÓSITO DOS BENS ARRESTADOS
O deposito dos bens arrestados é elemento essencial
do arresto, a exemplo do que sucede com a penhora. O fim
da tutela – in casu – preservação e conservação de bens
para garantia da futura execução – ficaria frustrado se
não houvesse um responsável pela guarda do objeto
afetado.
41
Na escolha do depositário serão observadas a mesmas
regras da penhora, previstas no art. 666 do Código de
Processo Civil.
6.8 - SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DO ARRESTO
Antes da execução da medida, suspender-se-á a
execução do arresto, nos casos do art. 819 do CPC, se o
devedor:
a) pagar a dívida e seus acessórios;
b) der fiador idôneo, ou prestar caução
para garantia daquele e destes.
6.9 - EFEITOS DO ARRESTO
O arresto vincula o bem à sorte do processo, como
instrumento de sua eficaz atuação e retira a coisa do
poder de livre disponibilidade material e jurídica do
devedor, para evitar a sua deterioração ou desvio.
Não é que pelo fato do arresto, o devedor não pode
alienar o bem arrestado. Só que esta alienação, posto
válida e operante entre as partes contratantes, é
ineficaz em relação ao credor, futuro exeqüente.
42
6.10 - EXTINÇÃO DO ARRESTO
Extingui-se o arresto:
a) com a sua conversão em penhora, logo
após a procedência do pedido veiculado na
ação principal (artigo 819 do CPC);
b) pelo pagamento, novação ou transação
(art. 820 do CPC).
A essas causas específicas de extinção do arresto,
devem ser acrescentadas as causas genéricas de cessão de
eficácia de todas as medidas cautelares (artigo 808 do
CPC).
6.11 - JURISPRUDÊNCIAS:
“MEDIDA CAUTELAR. RECURSO ESPECIAL.
EFEITO SUSPENSIVO. PENHORA SOBRE O
FATURAMENTO. EXCEPCIONALIDADE.
INOBSERVÂNCIA DAS FORMALIDADES EXIGIDAS
EM LEI. LIMINAR DEFERIDA.
1. No âmbito do STJ, é excepcional a
admissão de medida cautelar, nos termos
do art. 288 do seu Regimento Interno,
para se atribuir efeito suspensivo a
recurso especial.
2. Caracterizada a razoabilidade da
pretensão deduzida em juízo,
43
fundada na inconteste irregularidade do
arresto feito incidir sobre o faturamento
da empresa comercial, há de ser deferida
a tutela cautelar.
3. Medida liminar deferida.” (STJ, MC
8402, data de julgamento: DJ 30/06/2004,
pg 280, Relator Mim, João Otávio de
Noronha Segunda turma).
“Processual Civil. Demanda cautelar de
arresto de bens, deduzida por cidadã,
companheira de cantor famoso ora
envolvido em processo criminal de grande
rumor, em face de advogado que, segundo
ela, teria obrado com deficiência técnica
e ainda com malícia, no prejuízo
econômico dela. Defesa com impugnação ao
valor da causa, esta acolhida, na
elevação de um mil para cento e vinte mil
reais. Intimação desatendida para
recolhimento da diferença da taxa
judiciária. Sentença Terminativa (CPC,
artigo 267, III), condenando a Requerente
nas custas e honorários advocatícios,
estes também na monta de um mil reais.
Apelação do Requerido tão somente, no
escopo do aumento para vinte por cento do
valor da causa refixado. Conquanto, pelo
novel Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei
8906 de 1994), a honorária de sucumbência
pertença ao patrono e não mais ao cliente
vencedor, cediço entender pretoriano
assinala a legitimidade concorrente do
44
último na pugna por tal verba. Mormente
quando o faça através do mesmo procurador
judicial. O que se comenta apenas porque,
em tese, tal fator, embora não debatido
no processado, poderia ser apreciado de
ofício por esta Câmara, por se tratar de
condição acionária. Rezando o CPC, no
artigo 20, § 3º sobre as proporções de
dez a vinte por cento, nas honorárias que
incidam sobre o valor da condenação, não
sobre o valor da causa, tem-se que a
adoção sobre o último, aqui postulada, se
circunscreve a uma práxis judiciária
brasileira. Mas que não tem o condão de
superar o Direito Positivo nem o de
forçar o julgador a interpretá-lo no
diapasão. Tratando-se in casu de sentença
terminativa, em situação análoga, quanto
à esfera sucumbencial, à definitiva de
improcedência, exige a Lei Regencial,
isto sim, que o juiz estime a verba em
berlinda, no sopesar ponderado das
circunstâncias do labor profissional e
outras em correlação. Sendo que, neste
processo, não se divisa a dificuldade do
mesmo labor e há indícios de que a
Requerente e Recorrida, no máximo, tem
condição financeira mediana. Não sendo
justo que seja onerada além de certo
limite. Prevalência que se recomenda, em
corolário, da lógica da razoabilidade,
ensinada por Recasens Siches, e muito bem
explicitada pelo Eminente Par e Professor
45
Nagib Slaibi Filho. Monta de tal
honorária que se altera, na descrita
linha de raciocínio, para quatro mil
reais. Atualização pelo indexador oficial
deste Poder, desde o mesmo julgado, e até
pagamento efetivo. Provimento parcial que
se dá ao Apelo.” (Tipo da Ação: APELAÇÃO
CÍVEL - Número do Processo:
2003.001.29501 - Data de Registro:
10/05/2004 - Órgão Julgador: TERCEIRA
CÂMARA CÍVEL - DES. LUIZ FELIPE HADDAD -
Julgado em 18/03/2004).
“Ação Cautelar. Arresto decretado com
base no artigo 45, da Lei nº 6.024/74.
Procedência do pedido. Inconformismo do
devedor. Improvimento do recurso. Em se
tratando de arresto, que é imposto
obrigatoriamente ao Ministério Público,
com base na regra do artigo 45, da Lei nº
6.024/74, é desinfluente, para a sua
permanência, o fato de, após a decretação
da falência, não ter o Síndico
substituído aquele órgão, no prazo de 30
(trinta) dias, fixado no artigo 47, da
mesma lei". (Tipo da Ação: APELAÇÃO CÍVEL
- Número do Processo: 2002.001.20447 -
Data de Registro: 29/04/2004 - Órgão
Julgador: DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL -
DES. NILTON MONDEGO - Julgado em
03/03/2004).
46
“APELAÇÃO CÍVEL. MEDIDA CAUTELAR JULGADA
PROCEDENTE. ARRESTO DE BENS. PRESSUPOSTOS
DEMONSTRADOS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PARA REQUERER A MEDIDA.
DESNECESSIDADE DE CITAÇÃO DE AMBOS OS
CÔNJUGES. ART. 10, § 1º, IV, DO CPC.
IMPENHORABILIDADE DE BENS. LEI Nº.
8.009/90. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZOS A
CREDORES. QUESTÃO A SER EXAMINADA EM SEDE
PRÓPRIA. SENTENÇA CORRETA. DESPROVIMENTO
DO RECURSO. DECISÃO UNÂNIME.” (Tipo da
Ação: APELAÇÃO CÍVEL - Número do
Processo: 2003.001.17810 - Data de
Registro: 15/04/2004 - Órgão Julgador:
SÉTIMA CÂMARA CÍVEL - DES. JOSE MOTA
FILHO - Julgado em 17/02/2004).
“Medida cautelar de arresto. Réu que se
desfez de vários bens, ficando apenas com
um deles. Autor portador de título
executivo judicial, com liquidação
dependente de arbitramento. Incidência do
Art. 814 parágrafo único do CPC. Sentença
deferindo corretamente a medida liminar.
Desprovimento.” (Tipo da Ação: APELAÇÃO
CÍVEL - Número do Processo:
2003.001.02405 - Data de Registro:
27/01/2004 - Órgão Julgador: NONA CÂMARA
CÍVEL - DES. RUYZ ALCÂNTARA - Julgado em
28/10/2003).
“PROCESSO CIVIL - MEDIDA CAUTELAR DE
ARRESTO FUNDADA EM INADIMPLÊNCIA DOS
47
PROMITENTES COMPRADORES DE EMPRESA
REVENDEDORA DE VEÍCULOS. PRETENSÃO DOS
AGRAVANTES EM VER MANTIDO O ARRESTO DOS
VEÍCULOS E DE MANTER NO PÓLO PASSIVO A
EMPRESA REJE VEÍCULOS LTDA. - DECISÃO QUE
REVOGA, PARCIALMENTE OUTRA QUE HAVIA
DECRETADO O ARRESTO, RECONSIDERADA
PARCIALMENTE E QUE DEVE SER PRESTIGIADA,
TENDO EM VISTA QUE JÁ SE ENCONTRAM
ARRESTADOS BENS IMÓVEIS DE PROPRIEDADE
DOS AGRAVADOS SUFICIENTES PARA GARANTIR A
DÍVIDA, E, PORQUE, TAMBÉM O APREENSÃO DOS
VEÍCULOS INVIABILIZARIA A ATIVIDADE DA
EMPRESA - RECURSO IMPROVIDO.” (Tipo da
Ação: AGRAVO DE INSTRUMENTO - Número do
Processo: 2003.002.16398 - Data de
Registro: 16/01/2004 - Órgão Julgador:
DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL - DES.
GAMALIEL Q. DE SOUZA - Julgado em
28/10/2003
“Medida Cautelar de Arresto.
Indeferimento de inicial, com base no
art. 267 inciso VI do CPC. Recurso de
Apelação. Manutenção, uma vez que para o
obtenção do arresto, o autor deveria
narrar no peça vestibular quaisquer das
situações previstas no art. 813 do CPC, o
que não aconteceu. Ao contrário, ele está
suficientemente garantido, pois é
portador de uma escritura de confissão de
dívida, com garantia hipotecária. por
instrumento público e tem preferência no
48
pagamento a outros credores, além do
direito de seqüela previsto nos arts. 755
e 759 do Código Civil de 1916. Logo, não
preenchendo os requisitos do artigo
citado, a demanda não tem condições de
prosseguimento. DESPROVIMENTO DO
RECURSO.” (Tipo da Ação: APELAÇÃO CÍVEL -
Número do Processo: 2003.001.25749 - Data
de Registro : 25/11/2003 Órgão Julgador:
DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL - DES.
OTAVIO RODRIGUES Julgado em 22/10/2003).
“APELAÇÃO CIVIL - CAUTELAR DE ARRESTO -
Pedido autoral para que fosse concedida a
medida pleiteada a fim de garantir a
efetividade de outro processo. - Sentença
extinguiu o feito sem julgamento de
mérito por entender inaplicável a
concessão de tal cautela nos casos em que
não haja dívida líquida e certa e os bens
tenham sido provenientes da infração.
Inadmissibilidade. Recurso autoral
requerendo reforma da sentença para que
haja julgamento do mérito da causa.
Provimento. - Regras específicas do
Código de Processo Penal autorizam a
medida de arresto nestes casos como meio
de reparação do dano ex delito. RECURSO
PROVIDO.” (Tipo da Ação: APELAÇÃO CÍVEL -
Número do Processo: 2003.001.03219 - Data
de Registro: 03/12/2003 - Órgão Julgador:
QUARTA CÂMARA CÍVEL - DES. SIDNEY HARTUNG
Julgado em 21/10/2003).
49
“EXECUÇÃO TÍTULO EXTRAJUDICIAL OUANTUM
DEBEATUR. RECONHECIMENTO EM JUÍZO EXCEÇÃO
DE PRE-EXECUTIVIDADE. O título posto, em
execução é um contrato de locação de
táxi, a preço certo, de diária No
entanto, laborou em equívoco o credor, na
inicial, ao indicar o quantum debeatur de
R$ 1.920,00, a título de débito de
diárias, quando o devedor reconheceu tal
dívida perante o JEC, como proveniente de
damos causados ao veículo de sua
propriedade. Deflagrou-se, dessa
premissa, a extinção da execução e da
cautelar de arresto, deferida, in limine
para não se levantar tal crédito
constituído naquele juízo, condenando-se,
ainda, o apelante como litigante de má
fé. Tal equívoco, não poderia engendrar a
extinção da execução por meio de exceção
de pré-executividade, nem alcandorar-se
em litigância de má fé, por três
fundamentos básicos: Primeiro em execução
consubstanciada em título executivo
judicial (art. 585, 11 do CPC) afigura-se
irrelevante a alusão à causa debendi,
sendo suficiente provar o título e o
valor do débito; segundo a dívida no
valor de R$ 1.920,00, restou reconhecida
pelo devedor, em seu depoimento pessoal
perante o I JEC, a título de danos
causados ao veículo; terceiro em tais
circunstâncias qualquer que seja o nome
que se atribua a causa debendi, não se
50
pode negar a existência da dívida no
valor declarado pelo devedor. Demais, no
plano da efetividade da Justiça,
ultrapassado o período Performulário dos
Romanos, não se pode atribuir maior valor
à forma do que ao direito material,
notadamente, no campo do direito civil
que se revela como o espectro do
verdadeiro direito e da perfeita Justiça
PROVIMENTO DO RECURSO. (Tipo da Ação:
APELAÇÃO CÍVEL - Número do Processo:
2002.001.13727 - Data de Registro:
27/11/2003 - Órgão Julgador: NONA CÂMARA
CÍVEL (DES. ROBERTO DE ABREU E SILVA -
Julgado em 02/09/2003).
“Direito Processual Civil. Art 557 da Lei
Processual. Recurso manifestamente
improcedente, ou seja, que evidentemente
não terá sucesso. Arresto. Descabimento.
Ausentes os requisitos autorizadores
previstos no art. 813 e 814 do Código de
Processo Civil. O conceito de
plausibilidade na cautelar pode ser visto
no AGRSS nº 846.3 - DF, citando Mário
Duni: "A força da lógica e o senso da
realidade induzem a não consentir na
execução de uma sentença que pareça deva
ser cassada e, em contraposição, a não
suspender a execução se tudo faz crer que
a sentença deverá ser mantida".
Desprovimento do recurso. (Tipo da Ação:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - Número do
51
Processo: 2003.002.11596 - Data de
Registro: 21/11/2003 - Órgão Julgador:
SEXTA CÂMARA CÍVEL - DES. NAGIB SLAIBI
FILHO - Julgado em 05/08/2003).
CAPITULO VII
AS AÇÕES CAUTELARES NOMINADAS
NO DIREITO DE FAMÍLIA
O uso das ações cautelares nominadas, próprias do
Direito de Família, obviamente não exclui a utilização,
quando for o caso, das ações cautelares inominadas e das
ações cautelares nominadas outras, que poderíamos chamar
de gerais. Assim, v.g., na execução de alimentos por
quantia certa – artigo 732 – arresto, o seqüestro, a
caução, etc.
Não obstante, interessa-nos, mais, no momento, as
primeiras, ou seja, as ações cautelares nominadas
específicas do Direito de Família, sobre as quais
passaremos a tecer breves considerações:
7.1 - A SEPARAÇÃO DE CORPOS
(C.C. - art. 1.562 e C.P.C. – art. 888, VI)
Conquanto tratada, no Código, como espécie do
gênero ação cautelar, com a designação um tanto imprópria
de “afastamento de um dos cônjuges da morada do casal”
(artigo 888, VI) a separação de corpos não ostenta aquela
natureza jurídica, pois a medida não tem a finalidade de
garantir resultado útil à tutela de outra natureza – a
52
separação judicial, o divórcio, a anulação de casamento
etc. – o que, como já se viu, constitui a característica
fundamental de qualquer ação cautelar genuína.
Com efeito, para que se atinja, com aquelas ações –
separação judicial, divórcio, anulação de casamento, etc.
– o resultado visado, pouco importa que os corpos estejam
juntos, separados e até interpenetrados.
Na verdade, o que se pretende, com a Separação de
Corpos, é a antecipação de um dos efeitos da dissolução
da sociedade conjugal ou do casamento – a cessação do
dever de satisfazer o debitum conjugale e, eventualmente,
mas não necessariamente, também, o de vida em comum, no
domicílio conjugal, o que implica em dizer que a
Separação de Corpos participa da natureza jurídica da
antecipação da tutela de mérito, regulada no artigo 273
do Código de Processo Civil e não de verdadeira e própria
ação cautelar, como tal regulada no artigo 888, VI.
O Código brasileiro não faz, mas o italiano faz a
distinção entre o que denomina de provvedimenti
presidenziali – o artigo 708 – (também chamados
antecipatori o interinali) incluídos na disciplina das
ações do Direito de Família – com os provvedimenti
cautelari, tratados em capítulo diferente.
Sobre o assunto há obra clássica de Mandrioli,
intitulada Per una Nozione Strutturale dei Provvedimenti
Antecipatori o Interinali, onde o autor fundamenta
cientificamente a distinção entre os provimentos
cautelares e os interinais não cautelares, incluindo
53
expressamente a separação de corpos no elenco daqueles
Provvedimenti Antecipatori o Interinali.
Da circunstância de não ostentar a separação de
corpos natureza jurídica cautelar decorrem conseqüências
importantes:
- A primeira delas consiste em que a
duração do decreto que concede a
separação de corpos, ou, para usar a
nomenclatura do Código determina ou
autoriza o afastamento de um dos cônjuges
da morada do casal, deve estender-se até
o trânsito em julgado da sentença que
venha a ser proferida na causa principal,
ficando assim imune à revogações ou
modificações, não se lhe aplicando,
portanto, o artigo 807, que permite, em
relação às verdadeiras medidas
cautelares, que sejam “a qualquer
tempo...revogadas ou modificadas”.
- A segunda – desnecessidade de ser
proposta a ação principal no prazo de 30
dias, sob pena de cessação da eficácia da
medida (artigos 806 e 808, I) – presta-se
a controvérsias.
Mas da premissa de que partimos – a separação de
corpos não ostenta natureza cautelar – a conclusão a que
se deve chegar é a de que quem a obteve não tem o ônus de
propor a ação principal, dentro do prazo legal, para
54
atender a dispositivo que trata daquilo que a separação
de corpos não é medida cautelar.
Nesse sentido, posiciona-se Galeno Lacerda.
A jurisprudência, no entanto, orienta-se no sentido
inverso, no que se faz acompanhar por doutrina de peso
(Ovídio Baptista, Humberto Theodoro Júnior, dentre
outros).
Argumenta-se que uma vez concedida a separação de
corpos terá a parte que a obteve o prazo do artigo 806 do
CPC para a propositura da ação, sob pena de a medida
perder a eficácia, mas a perda da eficácia da medida
cautelar, no caso, dá-se no plano jurídico, tornando
ilegítimo o afastamento do cônjuge da morada do casal,
não havendo qualquer eficácia condenatória ou mandamental
capaz de impor o retorno do separado à convivência
conjugal, que é mera questão de fato.
A solução preconizada, além de aplicar à medida não
cautelar, o que a lei dispõe a respeito de medida
cautelar, ainda não dá solução ao problema que consiste
em saber se, decretada a ineficácia da medida, no plano
jurídico, teria o cônjuge que se afastou da morada do
casal, voluntária ou compulsoriamente, o direito de a ela
regressar.
Pensamos, com Galeno Lacerda que a resposta é
negativa. A falta da propositura da ação, no prazo legal,
não pode trazer por conseqüência a reunião compulsória de
corpos que se odeiam. Se, acaso, o marido se julgar
injustiçado pela decisão que o afastou compulsoriamente
55
do lar conjugal, a requerimento da mulher, que se
desinteressou pela propositura da ação principal, ele que
proponha a ação principal contrária, alegando, por
exemplo, em ação de separação judicial, intentada com
base no artigo 5º da Lei do Divórcio, grave violação,
pela mulher, dos deveres do casamento, v.g. o de vida em
comum, sob o mesmo teto, o de prestar o debitum
conjugale, etc.
Como já antecipado, consideramos a expressão
“afastamento temporário de um dos cônjuges da morada do
casal” inadequada, porque o que se visa com a medida é a
obtenção da separação jurídica dos cônjuges, da qual
decorre os efeitos que já apontamos – cessação do dever
de vida em comum sob o mesmo teto e do de satisfazer o
debitum conjugale, mas para a obtenção desse resultado
não é essencial a separação física dos cônjuges, que
poderá ocorrer, ou não.
Em suma, a separação de corpos não tem por fim
obrigar os cônjuges a habitar em lugares diversos, mas
simplesmente legitimar a separação dos corpos, enquanto
suspensão temporária dos referidos deveres, sendo, pois,
perfeitamente possível a concessão de alvará de separação
de corpos, permanecendo ambos os cônjuges habitando o
mesmo prédio, quiçá a mesma cama, sem convivência
conjugal.
É claro que freqüentemente o autor pedirá e o juiz
lhe concederá, também, autorização para afastar-se do lar
conjugal, liberando o requerente, não só dever de prestar
o debitum conjugale, como, também, do de vida em comum
56
sob o mesmo teto. Aquele efeito é da natureza e da
essência da separação de corpos. Este, não.
Também é certo que o juiz pode impor, a
requerimento de uma dos cônjuges, além da separação com
eficácia apenas jurídica, aquilo que o código chama de
“afastamento temporário de um dos cônjuges da morada do
casal” (CPC - artigo 888, VI), havendo, aí, como no caso
de pedido de auto-afastamento, uma separação não apenas
jurídica, mas também fática, ou seja, física.
Deve-se, portanto, fazer a distinção entre
separação de corpos, de eficácia apenas jurídica, tratada
no artigo 1.562 do Código Civil, de acordo com o qual
“antes de mover a ação de nulidade do casamento, a
anulação, a de separação judicial, a de divórcio ou a de
união estável, requererá a parte, comprovando sua
necessidade, a separação de corpos, que será concedida
pelo juiz, com a possível brevidade” e a medida de
eficácia jurídica e fática a que o código denomina de
“afastamento temporário de um dos cônjuges da morada do
casal” e regula no artigo 888, VI, do CPC, que assim
dispõe: “O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência
da ação principal ou antes da sua propositura: VI: o
afastamento provisório de um dos cônjuges da morada do
casal”.
A separação de corpos, propriamente dita, de
natureza apenas jurídica – Código Civil artigo 1.562 – e,
de certo modo, o próprio afastamento da morada do casal,
na modalidade de auto-afastamento, depende apenas da
prova da sua necessidade, não cabendo, no seu âmbito,
57
qualquer discussão em torno da demanda principal, devendo
o juiz concedê-la com a “possível brevidade”.
O juiz não pode negá-la, desde que provada a
necessidade, porque ele não pode substituir as partes na
avaliação da existência de constrangimentos resultantes
da vida em comum ou da insuportabilidade do convívio
durante todo o transcurso da ação principal.
Tratando-se, como já se assinalou, de separação de
eficácia jurídica, a anterior separação de fato não
impede a concessão da medida, com base no artigo 1.562 do
Código Civil.
Mesmo o pedido formulado por ambos os cônjuges,
antes de completado o prazo mínimo de um ano (art. 1.574
do Código Civil) para a separação consensual, há de ser
deferido, a uma, porque inexiste vedação explícita; a
duas, porque a providência pode revelar-se conveniente ou
necessária à preservação do bem comum, no interesse que
tem a sociedade em não alimentar animosidade de casal que
não mais suporta a vida em comum.
Diverso é o tratamento a ser dado ao “afastamento
temporário de um dos cônjuges (leia-se: do outro cônjuge)
da morada do casal”.
Aqui, não bastam os singelos requisitos do artigo
1.562 do Código Civil, nem o deferimento pode ser mais ou
menos automático, como deflui ao referido dispositivo
legal, ao estabelecer que, comprovada a necessidade, o
juiz deve deferir o pedido com a brevidade possível.
58
Tratando-se de medida de antecipação de efeitos da
tutela definitiva de mérito, a sua concessão depende da
coexistência dos requisitos do artigo 273 do CPC –
probabilidade da existência do direito para o qual se
pretende pedir tutela, fundado receio de dão irreparável
ou de difícil reparação, inexistência de perigo de
irreversibilidade, etc.
Como acontece em todos os casos de antecipação da
tutela, não se exclui, sequer, a possibilidade de a
medida assumir, excepcionalmente, feição e natureza
cautelar: Se a mulher pede o afastamento do marido e
alega e prova que se ele não for afastado ele a matará,
tornando inútil a ulterior ação de separação judicial
para dissolução da sociedade conjugal que já se desfez
pela morte, a medida é cautelar, não é simplesmente de
antecipação da tutela de mérito.
Alguns autores e certa jurisprudência sustentam que
há de ficar à discrição do juiz a escolha do cônjuge a
ser afastado da morada do casal.
Não há dúvida que assim será se cada um deles tiver
pedido o afastamento do outro.
Mas se um só deles pediu o afastamento do outro, o
provimento judicial que determine o afastamento do lar
conjugal do requerente da medida, envolverá,
indisfarçavelmente, julgamento extra petita, vedado pelo
ordenamento jurídico em vigor (artigo 2º, 128 e 460,
todos do Código de Processo Civil)
59
Tudo o que foi dito, sobre separação de corpos e
afastamento de um dos cônjuges da morada do casal, vale
tanto para o caso de haver entre os litigantes casamento,
como união estável, porque, nos dois casos há conflitos
de família, que merecem tratamento idêntico.
7.2 - ARROLAMENTO DE BENS (artigos 855/856 do CPC)
7.2.1 - Conceito, natureza jurídica
Generalidades.
No nosso direito anterior, o arrolamento não tinha
natureza cautelar, eis que destinava-se, apenas, a fins
probatórios. Era utilizado para “servir de base a
ulterior inventário”, nos casos de desquite, nulidade ou
anulação de casamento, como estabelecia o artigo 676, IX,
do Código de Processo Civil de 1.939.
Cuidava-se, somente, da segurança da prova. Os bens
eram arrolados e descritos, para servir de base a
ulterior inventário, sem cogitar-se de qualquer
constrição em relação a eles. Tratava-se de um
arrolamento ad probationem.
Com o advento do Código de 73, adotamos o
arrolamento cautelar, à imagem e à semelhança do Código
Português, cujo artigo 421 assim dispõe: “Havendo justo
receio de extravio ou dissipação de bens, móveis ou
imóveis, ou de documentos pode requerer-se ao arrolamento
deles.”
60
O nosso artigo 855 é bastante parecido: “Procede-se
ao arrolamento sempre que há fundado receio de extravio
ou de dissipação de bens”.
Há, no entanto, algumas diferenças, pequenas, de
menor expressão: Assim, por exemplo, o Código Português
admite expressamente o arrolamento de documentos (artigo
421) e prevê a avaliação dos bens arrolados (artigo 424)
não se encontrando regras semelhantes no direito
brasileiro em vigor.
O nosso arrolamento atual já não tem apenas
natureza probatória, mas essencialmente conservativa.
Como anota, com precisão, Carlos Alberto Álvaro de
Oliveira, “Arrola-se para conservação (artigo 856),
havendo fundado receio de extravio ou de dissipação
(artigo 855) efetuando-se depois o depósito dos bens
(artigo 859). Por isso, deve o autor evidenciar o seu
“direito” aos bens (artigo 857, I)”.
Há, pois, no nosso arrolamento atual uma constrição
cautelar, semelhante à encontrada no seqüestro.
Não obstante, as duas providências cautelares não
se confundem.
O traço distintivo essencial está em que, no
seqüestro, o autor não desconhece quais são os bens
objeto da medida, e, por isso, o pedido deve trazer a
especificação daqueles que se pretende submeter à
constrição judicial.
61
Já no arrolamento, presume-se, em princípio,
ignorância ou desconhecimento do autor, a respeito dos
bens integrantes da universalidade, seja no aspecto
quantitativo, seja no qualitativo e, por isso mesmo,
torna-se necessário, antes da própria apreensão, a
descrição, o arrolamento dos bens aos quais se arroga ter
direito o autor da demanda.
O próprio significado da palavra “arrolamento”
abona esse entendimento, porque arrolar, segundo os
dicionários, significa “ato de tomar em rol, lançar em
memória, inventariar, para saber o que há, com descrição
de números, qualidades, etc.”
Em resumo, se não há embaraço à especificação e
identificação dos bens; se não é preciso tomar em rol
para saber o que há para ser apreendido, mostra-se
adequado o seqüestro. Mas se há dificuldade ou até
impossibilidade de o requerente individualizar os bens a
serem conservados, confundidos na universitas; portanto,
se há necessidade de primeiro identificar e especificar e
lançar em memória, para depois conservar, o caso é de
arrolamento.
O arrolamento pode ter por objeto móveis, imóveis e
documentos, apesar do silêncio da lei brasileira, quanto
a estes últimos, diversamente do que ocorre com a
portuguesa, como já vimos anteriormente (artigo 421).
Assim, podem ser objeto do arrolamento, v.g. conjunto de
documentos históricos, títulos de crédito, etc.
Quase desnecessário dizer que o arrolamento, em
virtude mesmo da sua natureza cautelar, não constitui
62
medida adequada à obtenção da posse definitiva dos bens
objeto da constrição cautelar.
7.2.3 - REQUISITOS DA MEDIDA
O arrolamento de bens, como emerge da regra
constante do artigo 855 do Código de Processo Civil,
somente tem cabimento se há “fundado receio de extravio
ou de dissipação de bens”.
Como anota Galeno Lacerda, citando José Alberto dos
Reis, “fundado receio significa risco objetivo, esteado
em motivo sério, a representar ameaça atual ou virtual.
E’ inócuo o simples temor, desacompanhado de razões
concretas: a lei não se contenta com qualquer receio,
mais ou menos vago, mais ou menos definido; exige que o
receio seja justo, isto é, fundado; exige que haja razões
sérias para temer o extravio ou a dissipação de bens”.
Chamando à colação, acórdão da 3ª. Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul,
esclarece o notável processualista gaúcho, que “a
expressão legal significa o receio baseado em fatos
positivos, que possam inspirar em qualquer pessoa sensata
medo de ser prejudicada”. (Comentários, 2ª. Edição,
volume VIII, Tomo II, n.º 159, página 245).
Extravio e dissipação encontram-se, no dispositivo,
em sentido amplo, compreendendo destruição, ocultação,
desaparecimento, alteração, desperdício, deterioração,
dentre outros
63
O teor do artigo 856 do CPC – “Pode requerer o
arrolamento todo aquele que tem interesse na conservação
dos bens” – sugere que ali se está a tratar da
legitimação para a propositura da ação de arrolamento,
mas, na verdade, não é disso que se trata.
Ter ou não interesse (material) significa ter ou
não o direito aos bens que se pretende assegurar. Trata-
se, pois de uma condição de fundo, requisito de
procedência do pedido, não de uma condição de legítimo
exercício do direito de ação. Assim, se ao final se
constatar que o requerente não tem direito algum aos
bens, o pedido deverá ser julgado improcedente, não
cabendo ao juiz julgar extinto o processo, sem julgamento
do mérito, por ilegitimidade ativa para a causa.
Para o autor ser parte legítima para o arrolamento
basta afirmar que é ou pode vir a ser titular dos bens.
Nada mais.
O credor comum, desprovido de privilégio especial
sobre determinados bens, ou titular de direito real de
garantia sobre eles, não poderá pedir o arrolamento,
porque não terá, na forma exigida pelo artigo 856 do CPC,
“interesse na conservação dos bens”.
Neste caso, o credor não tem direito aos bens e sim
direito a que, com a prestação devida, o devedor solva a
obrigação. O arrolamento não cobre essa área, reservada à
ação cautelar distinta: a de arresto. Como diz José
Alberto dos Reis, sobre o direito português, igual, nesse
ponto, ao brasileiro, o arrolamento funciona como meio de
64
obter a conservação dos bens, não como garantia de
pagamento de dívidas.
O credor, mesmo com “interesse na conservação dos
bens” e, portanto, legitimado à propositura da ação
cautelar de arrolamento, sofre ainda uma outra limitação:
diante do que dispõe o artigo 856, § 2º, só poderá
intentá-la se for credor da herança jacente.
7.2.4 - CASOS MAIS IMPORTANTES DE ARROLAMENTO
CAUTELAR
É largo o campo de aplicação do arrolamento.
Embora usado, com mais freqüência, no Direito de
Família e no de Sucessões, a fórmula ampla do artigo 856
do CPC permite que lance mão do arrolamento “todo aquele
que tem interesse na conservação dos bens”.
No Direito de Família encontramos com muita
freqüência:
a) O arrolamento como incidente ou
antecedente à demanda de separação ou
divórcio direto, de nulidade ou anulação
de casamento, se há comunhão de bens, a
reclamar posterior partilha.
Há, no caso, uma aparente superposição do
arrolamento com a medida do artigo 822, III, que autoriza
o seqüestro “dos bens do casal, nas ações de desquite e
65
de anulação de casamento, se o cônjuge os estiver
dilapidando”.
O problema se resolve, neste caso específico, da
mesma forma como se resolve no casos genéricos: Se se
ignora quais são os bens que compõem o patrimônio do
casal, será necessário tomar em rol, para depois
conservar: o caso é de arrolamento. Capacitado o
requerente da medida a indicar os bens que serão
constritos cautelarmente, mostrar-se-á adequado o
seqüestro.
b) O arrolamento entre conviventes, como
antecedente ou incidente da ação de
recolhimento e dissolução de união
estável é admitido pacificamente pela
doutrina e pela jurisprudência.
c) Pode-se propor ação de arrolamento
antes ou no curso de ação de investigação
de paternidade ou de maternidade, se é de
temer o extravio ou dissipação dos bens.
Mas é claro que a ação cautelar somente
será admissível, se a ação de
investigação de paternidade vir cumulada,
como é freqüente, com a de petição de
herança, pois, na hipótese contrária, a
sentença será meramente declaratória da
filiação, sem qualquer repercussão
patrimonial decorrente da respectiva
sentença.
66
d) Cabível, também, o arrolamento como
incidente ou antecedente do inventário
(artigo 982) ou do arrolamento (artigo
1.031). A quem estiver na posse e
administração da herança faltará,
obviamente, interesse em requerer a
medida. Mas ausente a posse e a
administração poderão requerê-la o
conjugue supérstite, o herdeiro – legal
ou testamentário – cessionário ou
herdeiro, o síndico da Massa Falida do
herdeiro, a Fazenda Pública, quando tiver
direito aos bens, ou se tratar de herança
jacente ou vacante, etc, etc. O legatário
normalmente não se socorrerá do
arrolamento cautelar pois o legado
compreende, em regra, coisa certa e
delimitada.
7.2.5 - PROCEDIMENTO
Nada há de particular a realçar, com relação à
petição inicial, convindo, no entanto, assinalar que o
artigo 857, ao exigir que, na petição inicial, o
requerente exponha o seu direito aos bens e os fatos em
que funda o receio de extravio ou de dissipação dos bens,
revela-se um dispositivo inútil e pleonástico porque o
artigo 801, ao estabelecer o que deve conter a petição
inicial de qualquer ação cautelar já estabelece, no
inciso IV, que, na inicial, o autor deve indicar “a
exposição sumária do direito ameaçado e o receio de
lesão”.
67
Se o juiz, em juízo de probabilidade, se convencer
com ou sem justificação prévia, de que estão reunidos os
requisitos legais – aparência do direito, risco de dano –
deferirá a medida liminarmente, ouvindo o possuidor ou
detentor dos bens (previamente) “se a audiência não
comprometer a finalidade da medida” (artigo 858,
parágrafo único).
O artigo 858, como está redigido dá a impressão que
a liminar somente poderá ser concedida após “produzidas
as provas em justificação prévia”, mas evidentemente não
é assim, porque nada impede que o autor peça e obtenha a
liminar, independentemente de justificação, instruindo a
petição com prova documental suficiente.
Deferida, ou não, a liminar prossegue-se de acordo
com as regras dos artigos 802 e seguintes:
a) cita-se o demandado, para apresentar
resposta em cinco dias;
b) se não houver necessidade de produção
de prova em audiência, o juiz julgará de
plano;
c) no caso contrário determinará a
designação de dia e hora para a
realização da audiência, seguindo-se,
depois, a sentença, da qual cabe recurso
de apelação, que a lei manda receber no
só efeito devolutivo (artigo 520, IV).
68
Como a medida é cautelar e constritiva, a ação
principal deverá ser proposta no prazo de 30 dias
contados da ciência do autor de que foi efetivada a
medida, se tiver sido requerida de forma antecedente,
(artigo 806), sob pena de cessação de eficácia da medida
(artigo 808, I).
Deferido o arrolamento, liminarmente ou ao final,
os bens serão depositados com depositário, escolhido pelo
juiz, cabendo a aquele lavrar auto contendo a descrição
minuciosa dos bens.
Malgrado o teor literal do artigo 859 – “O
depositário lavrará auto – os autores discutem se o auto
deve ser lavrado pelo depositário ou pelos Oficiais de
Justiça. Se o Depositário for judicial, dotado de fé
pública, não há dúvida que ele lavrará o auto. Se o
depositário for o próprio réu também não há dúvida que
ele não lavrará o auto (porque, do contrário, a garantia
do autor seria ilusória).
Sobra o caso em que o depositário não é judicial,
nem é o próprio réu. Ovídio Batista acha que nesse caso,
como em todos os outros, o autor será lavrado pelos
Oficiais de Justiça. Carlos Alberto Álvaro de Oliveira,
com quem estamos de acordo, acha que “por questão de mera
conveniência não se deve afastar a clara opção do
legislador (pelo depositário)”.
O artigo 860 dispõe sobre a aposição de selos nas
portas das casas ou nos móveis em que se encontram os
bens, quando não for possível efetuar desde logo o
arrolamento ou concluí-lo no dia em que foi iniciado.
69
Esses selos, em tiras de papel, de pano, metal,
cera derretida ou outro material adequado, serão
assinados, marcados ou rubricados pelos participantes da
diligência. Quem os violar cometerá o crime do artigo 336
do Código Penal: “....violar ou inutilizar selo ou sinal
empregado por determinação legal ou por ordem de
funcionário público para identificar ou cerrar qualquer
objeto...”.
7.3 - GUARDA E EDUCAÇÃO DOS FILHOS
E
REGULAMENTAÇÃO DO DIREITO DE VISITAS.
(artigo 888, VII)
O Novo Código Civil estabelece novas regras sobre a
guarda de menores, destinando um capitulo para a proteção
da pessoa dos filhos.
A exemplo do art. 9º da Lei 6.515/77, o novo código
estabelece que, no caso de dissolução da sociedade ou do
vínculo conjugal pela separação judicial por mútuo
consentimento ou pelo divórcio direto consensual,
observar-se-á o que os cônjuges acordarem sobre a guarda
dos filhos (artigo 1.583 do NCC).
Já o artigo 1.584 do Novo Código Civil determina
que “Decretada a separação judicial ou o divórcio, sem
que haja entre as partes acordo quanto á guarda dos
filhos, será ela atribuída a quem revelar melhores
condições de exercê-la”.
70
Este artigo do novo Código Civil elimina o
privilégio materno nas decisões sobre guarda de filhos e
abre uma nova era de igualdade entre os pais e as mães.
Mas, ao lado dessas regras, há a “regra que desfaz
todas as regras”. É “a regra das regras”: “Se houver
motivos graves, poderá o juiz, em qualquer caso, o bem
dos filhos, regular por maneira diferente da estabelecida
nos artigos anteriores a situação deles com os pais”
(artigo 1.586 do Novo Código Civil, artigo 13 da Lei do
Divórcio e 16, § 2º, do Decreto Lei n.º 3.200, de
19.04.41, na redação que lhe deu a Lei n.º 5.582, de
16.06.70).
Em suma: prevalece, sempre, o interesse do menor. E
para descobrir onde está o interesse do menor, o juiz
examinará, em toda a sua profundidade, o caso concreto,
podendo recorrer a assessoria de técnicos especializados
que lhe fornecerão estudos sociais, familiares,
econômicos, psiquiátricos, psicológicos.
A ação de guarda e educação dos filhos e de
regulamentação de visitas não ostenta natureza cautelar,
porque não visa garantir resultado útil à tutela de outra
natureza, de conhecimento ou cautelar. Trata-se de
providência de índole satisfativa. Participa da natureza
da antecipação dos efeitos da tutela de mérito.
Por essa razão, não tem o autor, que obteve a
medida, liminarmente, ou ao final, o ônus de propor a
ação principal (que pode até nem existir) no prazo de 30
(trinta) dias (artigo 806 do CPC), sob pena de cessação
de eficácia da medida (artigo 808, I, do CPC).
71
A guarda é da natureza do pátrio poder, pois, de
acordo com o artigo 1634, I e II do Código Civil,
“compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores,
dirigir-lhes a criação e educação e tê-los em sua
companhia e guarda”, mas não é da sua essência, porque
bem pode estar despojado da guarda quem não perdeu o
pátrio-poder, como acontece, no caso corriqueiro, de o
juiz atribuir a guarda do menor à mãe, retirando-a do pai
que, não obstante, não perdeu o pátrio-poder.
A ação de guarda e educação dos filhos e de
regulamentação de visitas, que não ostenta natureza
cautelar, pode também não ostentar natureza provisória e
ser postulada, desde logo, autonomamente, em termos
definitivos, independentemente de qualquer outra ação ou
providência judicial. (v.g. ação de guarda postulada pela
mãe, em face do pai, não sendo casados, entre si, os
litigantes; ação de guarda proposta por um dos cônjuges,
em face do outro, sem pretensão de separação judicial,
mas com aspiração à resolução definitiva do problema da
guarda dos filhos, etc.)
A ação de revisão da guarda e do regime de visitas,
havendo motivos que a justifiquem, pode ser proposta
através do procedimento sumário e autônomo contemplado no
mesmo dispositivo em exame (artigo 888, VII do CPC). Há,
jurisprudência, exigindo, neste caso, a adoção do
procedimento ordinário.
Embora seja mais comum a ação de guarda proposta
pelo pai em face da mãe ou vice-versa, nada impede que a
intentem terceiros, a quem, no interesse do menor, o juiz
pode outorgar a guarda, principalmente, mas não
72
necessariamente, parentes próximos, como avós, tios,
irmãos, etc.
Em outro inciso do mesmo artigo 888, o de n.º III,
o Código dispõe a respeito da “posse” provisória dos
filhos, nos casos de desquite ou anulação de casamento.
Entretanto, nada justifica a adoção da medida
somente nos casos de “desquite ou anulação de casamento”.
Aqui a interpretação deve ser extensiva, ampliativa, para
alcançar, também, ações de outra natureza, como a ação de
nulidade de casamento, ação de dissolução de união
estável, ação de suspensão ou destituição do pátrio
poder, etc.
Esta ação de “posse provisória” é preparatória ou
incidente de outra ou outras onde as partes litigam ou
vão litigar sobre o próprio direito de guarda do menor
(inclusive da do art. 888, VII, do CPC).
A sua utilidade, no caso de ser preparatória ou
antecedente da do art. 888, VII, é, ao menos, discutível,
porque se a ação definitiva, do referido dispositivo
legal, admite a concessão de liminar, que, deferida,
importará em atribuir ao autor a mesma “posse provisória”
que ele obteria intentando a ação do 888, III,
necessidade do uso desta e, pois, interesse processual,
ele somente terá em casos outros, que não o figurado.
73
7.4 - ALIMENTOS PROVISIONAIS
(artigo 852)
O conceito jurídico de alimentos, como se sabe, não
coincide com o seu conceito comum, pois abrange, não
apenas as substâncias nutritivas de que o corpo humano
necessita para manter-se vivo, como, também, tudo o mais
que a pessoa humana necessita para viver com um mínimo de
dignidade: habitação, vestuário, remédios, instrução,
lazer, etc.
Parcela ponderável da doutrina não vê nenhuma
diferença ontológica entre os alimentos ditos
“provisionais”, do artigo 852 do Código de Processo
Civil, e os alimentos chamados provisórios, da Lei n.º
5.478, de 1.968.
“A diferenciação entre as duas espécies – diz
Sérgio Gischkow Pereira – é apenas terminológica e
procedimental; em essência, em substância, são idênticas,
significam o mesmo instituto, a saber, prestações
destinadas a assegurar ao litigante necessitado os meios
para se manter na pendência da lide”. (Ação de Alimentos,
1.983, página 49).
Outros sustentam que a diferença entre as duas
espécies de alimentos está em que os provisionais incluem
os provisórios, não, as chamadas expensa litis – verba
destinada ao custeio da causa.
Dúvida, inexistente, no entanto, que nos dois casos
é de antecipação de tutela que se trata e não de medida
cautelar.
74
Também é certo que somente pode pedir alimentos,
inclusive provisórios, pelo rito da Lei n.º 5.478, de
1.968, aquele que disponha de prova da relação de
parentesco ou da obrigação alimentar, nos exatos termos
do seu artigo 2º.
Como este dispositivo alude a parentesco ou à
obrigação alimentar e considerando que alimentos, no
regime do Código Civil, são unicamente os devidos entre
parentes (artigos 396 e seguintes), a mulher, que não é
parente do marido, em principio, não poderia lançar mão
da Ação Especial da Lei n.º 5.478, porque o marido não
lhe devia alimentos, (senão que apenas assistência, na
linguagem do artigo 231, III) mas a conviventes, na união
estável, poderia, desde que comprovada a união estável
(reconhecimento em testamento, escritura pública,
instrumento particular, existência de contrato escrito,
reconhecimento judicial de forma incidental, etc, etc.)
porque, de acordo o artigo 7º da Lei n.º 9.278, de
10.05.96, “dissolvida a união estável, por rescisão, a
assistência material prevista nesta lei será prestada por
um dos conviventes ao que dela necessitar, a título de
alimentos”.
Esse entendimento, que importa em dar à conviventes
o que se nega à mulher casada, ao que sabemos, jamais foi
sufragado pela jurisprudência e pela doutrina.
O artigo 1694 do novo Código Civil resolve o
problema ao estabelecer que os alimentos podem ser
pedidos pelos parentes, cônjuges ou companheiros.
75
A Lei n.º 5.478, em seu artigo 2º, estabelece que
“o credor, pessoalmente, ou por intermédio de advogado,
dirigir-se-á ao juiz competente, qualificando-se e exporá
suas necessidades, provando, apenas, o parentesco ou a
obrigação alimentar do devedor.
Melhor seria que tivesse dito provando apenas o
parentesco e a obrigação alimentar do devedor.
Como está na lei, os requisitos não são
cumulativos. Basta a existência de qualquer deles
isoladamente – parentesco ou obrigação alimentar – para
autorizar o uso da ação especial, com todas as
conseqüências daí decorrentes, sobretudo a obrigatória
fixação dos alimentos provisórios, desde logo, “salvo se
o credor expressamente declarar que deles não necessita”,
o que nunca vimos ocorrer em processo algum.
Assim, pela lei, toda ação de alimentos entre
parentes, é de rito especial e o autor passa a receber
desde logo, alimentos provisórios, mesmo sendo o autor
filho maior, saudável e vadio; irmão, com quarenta anos
de idade, que goza de boa saúde, mas detesta trabalhar,
e, assim, por diante.
Para evitar o despautério, acho válido um esforço
exegético no sentido de ler “provando, apenas, o
parentesco e a obrigação de alimentar do devedor, onde
está escrito”, provando, apenas, o parentesco ou a
obrigação de alimentar do devedor.
Parece que, cabível a ação de alimentos da lei
especial, em que podem ser pleiteados o os provisórios,
76
que o juiz só não concederá se a parte declarar que deles
não necessita (artigo 4º), o autor não tem interesse em
propor a ação do artigo 852, reservada, portanto, apenas
aos casos em que a primeira não é utilizável: .v.g. a
ação de alimentos do filho não reconhecido.
Note-se a diferença: na ação da Lei n.º 5.478 o
autor precisa provar que é filho. Na do artigo 852, que
provavelmente é filho (artigo 273).
Proposta a ação do artigo 852, o juiz poderá
conceder os alimentos initio litis, ou no final, se
reunidos os requisitos que a lei exige para a antecipação
da tutela (artigo 273), não sendo de se cogitar, aqui,
dos requisitos necessários à concessão de medida cautelar
– fumus boni júris e periculum in mora – porque, como já
se saliente, não é disso que se trata.
Com o advento da Lei n.º 8.952, de 13.12.94, que,
modificando o artigo 273 do Código de Processo Civil,
introduziu, entre nós, o instituto da antecipação da
tutela, a ação de alimentos provisionais, regulada, no
Código, como ação cautelar, que ela não é, perdeu muito
da sua substância.
Com efeito, uma de duas: o autor dispõe ou não
dispõe da ação especial da Lei n.º 5.478.
Se dispõe, não precisa da ação do artigo 852,
porque ao despachar a inicial, o juiz obrigatoriamente
fixará os provisórios, exceto se o autor declarar que os
dispensa.
77
Se não dispõe (exemplo: filho não reconhecido e
que, portanto, não pode ministrar, desde logo, prova do
parentesco ou da obrigação alimentar) ele pode propor a
ação de alimentos, submetida ao procedimento ordinário, e
pedir, ao juiz, desde logo, a antecipação da tutela de
condenação do réu no pagamento dos alimentos de que
necessita para viver.
CONCLUSÃO
É importante ter em vista que a Ação Cautelar é a
ação que se intenta com finalidade de garantir resultado
útil, profícuo, a ação de outra natureza, de conhecimento
ou de execução, ou seja, a cautelar visa assegurar a
efetividade do resultado final do processo principal.
Existe um misto de jurisdição de conhecimento e
processo de execução, tendo como elemento específico à
prevenção. Ele protege aquilo que protege o direito de
cada um de nós.
A medida é concedida não porque o autor tem a
razão, mais porque ele pode ter razão, basta haver fumus
boni júris ou periculum in mora. A tutela cautelar é
provisória no sentido de que ela vai durar até que venha
a decisão definitiva. Depois que vier a definitiva ela
perde sua razão de ser.
A ação cautelar por ser acessória da ação principal
não significa que não seja uma ação autônoma, pois
notamos que geralmente por razões ligadas ao princípio da
economia processual, a lei permite que o juiz determine
78
medidas cautelares nos autos da própria ação principal –
de conhecimento ou de execução.temos como exemplo,o
arresto, na execução (artigo 653 do CPC).
As ações cautelares são classificadas em: Ações
típicas ou nominadas (arresto, seqüestro, busca e
apreensão, etc.) e atípicas ou inominadas (sustação de
protesto, suspensão de deliberações de sociedades,
indisponibilidade de bens, etc.)quanto a sua tipicidade e
ANTECEDENTE E INCIDENTE quanto ao seu momento.
Já na sua parte específica concluímos que o arresto
e o seqüestro não se confundem, uma vez que o arresto
garante a execução por quantia certa, não visa um vem
específico e qualquer bem disponível no patrimônio do
devedor, pode prestar-se ao arresto e no seqüestro, atua
para a entrega de coisa, visa um bem específico, ou seja,
o bem em litígio, mais precisamente aquele sobre cuja
posse ou domínio se trava a lide.
Concluímos, ainda, que uso das ações cautelares
nominadas, próprias do Direito de Família, não exclui a
utilização das ações cautelares inominadas e das ações
cautelares nominadas.
79
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1. - AGUIAR, João Carlos Pestana. “Síntese Informativa
do Processo Cautelar”, Rev. Forense, vol. 247.
2. – ALVIM, José Eduardo Carreira - Código de Processo
Civil Reformado, Belo Horizonte, Del Rey, 2ª ed.,
1995
3. - AMARAL, Moacyr Santos, Primeiras Linhas de Direito
Processual Civil.
4. - BARBOSA MOREIRA, José Carlos, Comentários ao Código de Processo Civil.
5. - BARBI , Celso de Agrícola . Comentários ao Código
de Processo Civil , Vol I , p. 265.
6. - CÂMARA, Alexandre Freitas.Lições de Direito processual Civil p. 187.
7. - CALAMANDREI, Piero. Introduzione allo studio
sistemático dei provvedimenti cautelari – Pádua: Cedam, 1936; nº 17, p. 47/48, apud Cândido Rangel Dinamarco, O regime jurídico das medidas urgentes, Rev. Jur. 286/06.
8. – CÂMARA, Alexandre Freitas – Lineamentos do Novo
Processo Civil, Belo Horizonte, Del rey, 2ª ed., 1996.
9. - CARNELUTTI, Francesco. Diritto e processo –
Napoli: Morano, 1958; p. 357.
80
10. - DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do
Processo, 6a. ed. – São Paulo: Malheiros Editores,
1998; p. 320.
11. - FURATADO, Fabrício, Comentários, Forense, 1
Editora, n.º 315.
12. – FUX, Luiz – Curso de Direito Processual Civil – Rio de Janeiro, 2ª ed., Ed. Forense, 2004.
13. - LACERDA, Galeno. Comentários ao Código de
Processo Civil, Forense, 7ª. Edição, 1981.
14. – MACHADO, Antônio Cláudio da Costa – Código de
Processo Civil Interpretado, São Paulo, Saraiva,
1994.
15. – MARINONI, Luiz Guilherme - Efetividade do
Processo e Tutela de Urgência, Porto Alegra, Sérgio
Antônio Fabris Editor, 1994.
16. - MARQUES, José Frederico, Manual de Direito
Processual Civil, 1974.
17. - MARQUES, Wilson. Revista da Emerj, 2002.
18. - MIRANDA, Pontes. Comentários ao Código de
Processo Civil.
19. - NEGRÃO, Theotônio, Código de Processo Civil e
legislação processual em vigor, Editora Saraiva , 35ª Edição, 2002.
20. - NERY JUNIOR, Nelson, Código de Processo Civil
Comentado, Editora Revista dos Tribunais, 6ª Edição 2002.
81
21. – NEVES, Celso – Estrutura Fundamental do Processo Civil, Rio de Janeiro, Forense, 1995.
22. - THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lições de Direito
Processual Civil.
82
BIBLIOGRAFIA CITADA
1. – ALVIM, José Eduardo Carreira - Código de Processo
Civil Reformado, Belo Horizonte, Del Rey, 2ª ed.,
1995
2. - AMARAL, Moacyr Santos, Primeiras Linhas de Direito
Processual Civil.
3. - BARBOSA MOREIRA, José Carlos, Comentários ao Código de Processo Civil.
4. - CÂMARA, Alexandre Freitas.Lições de Direito
processual Civil p. 187.
5. - CALAMANDREI, Piero. Introduzione allo studio
sistemático dei provvedimenti cautelari – Pádua: Cedam, 1936; nº 17, p. 47/48, apud Cândido Rangel Dinamarco, O regime jurídico das medidas urgentes, Rev. Jur. 286/06.
6. - CARNELUTTI, Francesco. Diritto e processo –
Napoli: Morano, 1958; p. 357.
7. - DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do
Processo, 6a. ed. – São Paulo: Malheiros Editores,
1998; p. 320.
8. – FUX, Luiz – Curso de Direito Processual Civil –
Rio de Janeiro, 2ª ed., Ed. Forense, 2004.
9. - LACERDA, Galeno. Comentários ao Código de Processo
Civil, Forense, 7ª. Edição, 1981.
10. - MARQUES, José Frederico, Manual de Direito
Processual Civil, 1974.
83
11. - MARQUES, Wilson. Revista da Emerj, 2002.
12. - MIRANDA, Pontes. Comentários ao Código de
Processo Civil.
13. - NEGRÃO, Theotônio, Código de Processo Civil e
legislação processual em vigor, Editora Saraiva , 35ª Edição, 2002.
14. - NERY JUNIOR, Nelson, Código de Processo Civil
Comentado, Editora Revista dos Tribunais, 6ª Edição 2002.
15. - THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lições de Direito
Processual Civil.
84
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 8
SUMÁRIO 9
INTRODUÇÃO 11
CAPITULO I 12
PARTE GERAL 12
1.1 – Conceito 12
1.2 - Natureza Jurisdicional do Processo Cautelar 13
1.3 - Características Fundamentais dos
Provimentos Cautelares 14
1.3.1 - A Instrumentalidade 14
1.3.2 - A Provisoriedade 17
1.3.3 - A Acessoriedade 18
1.3.4 - A Revogabilidade 18
1.3.5 - A Autonomia 22
CAPITULO II 23
PROCESSO CAUTELAR E MEDIDA CAUTELAR 23
CAPITULO III 24
A LIMINAR 24
3.1 – JURISPRUDÊNCIA 26
CAPITULO IV 32
CLASSIFICAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES 32
CAPITULO V 33
PETIÇÃO INICIAL 33
CAPITULO VI 38
PROCEDIMENTO CAUTELAR ESPECÍFICO
DO ARRESTO 38
85
6.1 – Conceito 38
6.2 - Arresto e Seqüestro 39
6.3 - Pressupostos Para a Concessão do Arresto 39
6.4 - Bens Arrestáveis 40
6.5 – Procedimento 40
6.6 - Forma de Execução do Arresto 40
6.7 - Depósito dos Bens Arrestados 40
6.8 - Suspensão da Execução do Arresto 41
6.9 - Efeitos do Arresto 41
6.10 - Extinção do Arresto 42
6.11 – Jurisprudências 42
CAPITULO VII 51
AS AÇÕES CAUTELARES NOMINADAS NO DIREITO DE FAMÍLIA 51
7.1 - A Separação de Corpos 51
7.2 - Arrolamento de Bens 59
7.2.1 - Conceito, Natureza Jurídica –
Generalidades 59
7.2.3 - Requisitos da Medida 62
7.2.4 - Casos Mais Importantes de Arrolamento
Cautelar 64
7.2.5 – Procedimento 65
7.3 - Guarda E Educação dos Filhos E Regulamentação
Do Direito de Visitas 69
7.4 - Alimentos Provisionais 73
CONCLUSÃO 77
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 79
BIBLIOGRAFIA CITADA 82
ÍNDICE 84
86
87
88
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: Processo Cautelar
Autor: Marcius dos Santos Gomes
Data da entrega: 24.02.2005
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Conceito Final:
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