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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
Por: Vania Regina Andrade de Souza
Orientador
Prof. Dr. Fernando Arduini
Prof. Ms. Jean Alves Pereira Almeida
Rio de Janeiro
2006
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em processo civil.
Por: Vania Regina Andrade de Souza
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Ilustre Advogado Sergio
Guimarães Xavier, pelo apoio à minha
carreira profissional e pelos inúmeros
incentivos prestados durante este
curso de pós-graduação; aos meus
pais pelo amor, carinho e amparo; aos
amigos pelo companheirismo e alegria;
à Deus pela vida e saúde; aos
professores que insistem em acreditar
que ainda é possível educar; ao Willian
e Rosane, funcionários da AVM, pela
atenção, respeito e carinho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico o presente trabalho ao colega de
trabalho e Ilustre advogado Sergio
Guimarães Xavier dos Santos, sem o qual
não teria concluído este curso, e; aos
meus pais, alicerces da minha vida.
RESUMO
5
Após atuar em várias audiências de conciliação do rito sumário
tipificadas no art. 277 do CPP, nas quais foi requerida a denunciação da lide
da seguradora, constatei que decisões divergentes a respeito da intervenção
de terceiros foram proferidas, ora deferindo a denunciação da lide, ora
recebendo a intervenção de terceiros como chamamento ao processo, ora
indeferindo a intervenção de terceiros. Assim, surgiu o interesse de realizar um
trabalho que tratasse de intervenção de terceiros, de suas modalidades,
aplicabilidade, além, da alteração e interpretação do art. 280 do CPC e seus
respectivos reflexos na prática jurídica, com o fito de esclarecer a celeuma em
torno da intervenção de terceiro no rito sumário, quando há relação de
consumo entre as partes.
METODOLOGIA
6
Após a constatação de que os juízes do Tribunal do Rio de Janeiro têm
proferido decisões divergentes no que tange a intervenção de terceiros no rito
sumário quando entre as partes estabelece-se relação de consumo, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica sobre intervenção de terceiros e suas
modalidades. Retornei a pesquisa teórica apresentando algumas decisões
proferidas pelo Tribunal do Estado do Rio de Janeiro ao estudar a
aplicabilidade da intervenção de terceiros nos ritos processuais, adentrando na
alteração do art. 280 do CPC e respectivas interpretações divergentes. Por
ultimo realizou-se uma análise dos reflexos jurídicos das decisões.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
7
CAPÍTULO I - Da intervenção de terceiros 10
CAPÍTULO II - Das modalidades de intervenções de terceiros 14
CAPÍTULO III – Da intervenção de terceiros nos ritos sumários 29
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41
ÍNDICE 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO 46
INTRODUÇÃO
A relação jurídica processual não é estanque, podendo o terceiro
adentrar ao processo depois de formado o trinômio autor-juiz-réu. O CPC
8
estabelece as hipóteses de intromissão do terceiro no processo. Ocorre que
este diploma sofreu alterações em 2002, inclusive no artigo que trata da
intervenção de terceiros no rito sumário. Esta modificação, ao invés de trazer
serenidade jurídica, abriu espaço para interpretações antagônicas.
O terceiro que, devido à existência de relação jurídica com qualquer
das partes, puder ter algum direito seu prejudicado por efeito de sentença,
poderá adentrar ao respectivo processo através da modalidade de intervenção
de terceiros que a legislação lhe permitir.
Em sede de Juizado Especial Cível, por força do artigo 10 da Lei nº
9.099/95, é vedada a intervenção de terceiros. No rito sumário o terceiro
poderá intervir sob as modalidades da assistência, nomeação à autoria,
oposição, denunciação da lide, chamamento ao processo, além de recurso de
terceiro prejudicado. No rito sumário, após a alteração do art. 280 do CPC,
instaurou-se uma celeuma ao ser empregado o termo impreciso “intervenção
fundada em contrato de seguro”.
Esse termo possibilitou a aplicabilidade do chamamento ao processo e
denunciação à lide, antes vedados. Diante da redação do texto do art. 101, II
do CPC, nasceu um impasse doutrinário, tendo o Tribunal de Justiça sumulado
em 2005 pela inadmissibilidade da denunciação da lide quando há relação de
consumo entre as partes. Contudo, como demonstrado no presente trabalho os
nossos julgadores ainda divergem entre si. Muitos ainda admitem a
denunciação da lide da seguradora quando há relação de consumo entre as
partes.
Certa é a importância da intervenção de terceiros, não só por tratar dos
direitos de terceiros que possam vir a ser prejudicados por sentença proferida
em processo em que não sejam partes; mas, sobretudo, porque a modalidade
de intervenção de terceiros a ser empregada altera os direitos e obrigações
das partes e do terceiro e a prestação jurisdicional.
9
CAPÍTULO I
DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
1.1 – Da relação jurídica processual
10
A relação jurídico-processual possue três sujeitos: o Estado, o
demandante e o demandado, caracterizando sua configuração tríplice. O
Estado participa da relação exercendo o poder de jurisdição, estando as partes
sujeitas ao juiz – mero agente do sujeito do Estado. Esse binômio poder-sujeito
é a característica principal da relação jurídica processual.
A relação jurídica processual distingue-se da substancial. O bem que
constitui objeto da relação jurídica processual é a prestação jurisdicional;
enquanto, o objeto da relação jurídica substancial é o bem da vida, ou seja, o
próprio objeto dos interesses em conflito.
A relação jurídica processual depende de requisitos próprios para sua
validade. Para sua configuração válida é necessária a existência de requisitos
como a correta propositura da ação, perante autoridade jurisprudencial, por
pessoa com capacidade para ser parte em juízo. Conclui-se pela
insubordinação desta a relação jurídica substancial.
1.2 – Das partes
São partes do processo o autor e o réu.
Autor é “aquele que deduz em juízo uma pretensão (quis res in
indicium deducit); e réu, aquele em face de quem aquela pretensão é deduzida
(is contra quem res in iudicium deducitur)”1.
As partes praticam o contraditório perante o Estado-juiz e a ele estão
sujeitos. São titulares de todas as situações jurídicas que caracterizam a
relação jurídica processual.
A parte pode ser legítima ou ilegítima. Mesmo quando ilegítima não
perde sua condição de parte. As partes são legítimas quando configurar, no
11
pólo ativo, o titular do direito subjetivo material e; no pólo passivo, o titular da
obrigação correspondente.
1.2 – Do terceiro
Como diz Ada Pellegrini:
“Há situações em que, embora já integrada a relação processual
segundo seu esquema subjetivo mínimo (juiz – autor – réu), a lei permite
ou reclama o ingresso de terceiro no processo (...)”2
Terceiro é quem não é parte. Seu conceito, portanto, atinge-se através
de negação. O terceiro não é parte da demanda. Torna-se parte do processo
no momento em que participa dele.
1.3 – Do limite subjetivo da coisa julgada
Os efeitos da sentença geralmente alcançam as partes, todavia,
podem refletir sobre terceiros que estejam ligados às partes, interferindo na
relação jurídica existente entre eles.
Para defender direito ou interesse próprio, o Código permite, nos casos
previstos no CPC, que terceiro participe do processo em que não é parte,
auxiliando ou excluindo os litigantes através do instituto da intervenção de
terceiros.
Assim, o terceiro evita que os efeitos da sentença produzam
conseqüências prejudiciais a seus direitos.
1.3 – Do conceito e classificação da intervenção de terceiros
1 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.
12
Como estudado anteriormente, além das partes, podem interferir no
processo terceiros, denominados intervenientes.
O ingresso em processo pendente entre outras partes consiste no
fenômeno processual denominado intervenção de terceiros.
O Código de Processo Civil (CPC) traz em seu capítulo VI – art. 56 a
80 – quatro modalidades de intervenção de terceiros:
Oposição;
Nomeação à autoria;
Denunciação da lide; e
Chamamento ao processo.
Apesar de não se encontrar no referido capítulo, e sim no anterior, a
assistência é atualmente considerada, pacificamente, pela doutrina como
intervenção de terceiros. Como diz o ilustre doutrinador Alexandre Freitas
Câmara:
“embora não esteja incluída no capítulo do Código de Processo Civil
que trata da intervenção de terceiros, a assistência é, sem sobra de dúvida, a
mais relevante entre todas as espécies desta categoria” 3
Essas modalidades de intervenções de terceiros podem ser
classificadas da seguinte maneira:
Espontâneas ou voluntárias – a intervenção ocorre por ato de
vontade do terceiro, ingressando no processo por desejar ser
parte da relação processual. Como ocorre na assistência, na
oposição e no recurso de terceiro.
2 Ada Pellegrini e outros. Obra Cit. 3 Cámine Antonio Savino Filho. Direito Processual. 4ª ed. RJ: Editora América Jurídica, 2005.
13
Forçada, provocada ou coacta – a intervenção ocorre através do
requerimento de alguma das partes originárias. Não podendo
jamais serão determinadas de ofício pelo juiz. É o caso da
nomeação a autoria, a denunciação da lide e o chamamento ao
processo. O autor poderá provocar apenas a denunciação da
lide, enquanto o réu, os três.
O estudo das modalidades de intervenção de terceiros será objeto
do próximo Capítulo.
CAPÍTULO II
DAS MODALIDADES DE INTERVENÇÃO DE
TERCEIROS
Neste capítulo, será estudada a assistência, a oposição, a nomeação à
autoria, a denunciação a lide e o chamamento ao processo.
2.1 – Da assistência
2.1.1 – Da previsão legal e conceito
14
A assistência está prevista no art. 50 do Código de Processo Civil
(CPC). Embora tratada no Capítulo V, junto com o litisconsórcio, é intervenção
de terceiros. É uma intervenção ad coadjuvandum 4.
Nesta modalidade o terceiro ingressa no processo para apenas auxiliar
uma das partes originárias por ter interesse jurídico – diferente do interesse
moral ou econômico – em evitar potencial prejuízo que a sentença possa
acarretar a seus direitos.
2.1.2 – Do momento
O terceiro pode intervir no processo em qualquer grau de jurisdição, mas
o receberá no estado em que se encontrar.
A assistência é inadmissível nos Juizados Especiais Cíveis, por força do
artigo 10 da Lei nº 9.999/95. E é incompatível com o processo de execução.
2.1.3 – Do procedimento
O assistente deverá ingressar com requerimento demonstrando o
interesse jurídico ou a influência da sentença sobre o requerente e a parte
adversária, pedindo a intimação dos litigantes. As partes terão prazo de 5 dias
do protocolo da petição para impugnar o pedido. Silentes, aperfeiço-a se o
ingresso e o processo segue normalmente. Se houver impugnação, o juiz, sem
suspender o processo, determinará o desentranhamento do pedido e da
impugnação, apensando-os aos autos principais. Autorizará a produção de
provas e decidirá o incidente. Não constituindo processo autônomo, a decisão
será interlocutória e, sujeita, portanto, a agravo.
2.1.4 – Das espécies
4 Neste sentido Cármine Antonio Savino Filho e Alexandre Freitas Câmara.
15
Há duas espécies de assistência:
Assistência qualificada – aqui o terceiro tem relação jurídica com
o adversário do assistido, a qual é a própria res in iudicium
deducta, ou seja, o terceiro é titular da relação jurídica deduzida,
embora não tenha sido parte na demanda. Segundo o art. 54 do
CPC, o assistente qualificado não é litisconsorte, apenas recebe
tratamento formal similar exercendo faculdades que são
outorgadas pelo sistema aos litisconsortes.
Assistência simples ou adesiva – nesta o terceiro não é sujeito da
relação jurídica in iudicium deducta, e sim titular de uma outra
subordinada a essa. O assistente simples não recebe o
tratamento formal dispensado aos litisconsortes.
Interessante tecer comentário sobre a aplicabilidade do parágrafo único
do artigo 52 do CPC. Aplica-se esse dispositivo somente ao assistente simples,
o qual poderá agir como gestor de negócios, quando revel o assistente; isto
porque, aquele não pode praticar atos de disposição de direito material. Prevê-
se, aqui, uma substituição processual. Já o Assistente litisconsorcial poderá
contestar, o que afasta os efeitos da revelia face ao assistido; sendo ineficaz a
aplicabilidade do dispositivo aludido.
2.2 – Da oposição
2.2.1 – Da previsão legal, conceito e momento
A oposição está prevista nos artigos 56 a 61 do CPC. A oposição é
intervenção de terceiro que tem por escopo excluir do direito material tanto
autor como réu, numa ação pendente de julgamento. O objetivo não é excluir
da relação processual autor e réu, mas a coisa ou o direito pelo qual litigam,
afirmando que lhe pertence.
16
Para Alexandre de Freitas Câmara, Pontes de Miranda e Barbosa
Moreira a oposição não seria modalidade de intervenção de terceiros e sim
uma ação. Seria uma demanda meramente declaratória em face do autor da
demanda original e condenatória em face do réu dessa. E quando a demanda
originária for declaratória negativa, inverteria a natureza da ação em relação às
partes-opositoras. Diz o primeiro jurista :
“(...) demanda autônoma, em que o opoente é o autor, e serão réus, em
litisconsórcio necessário, as partes da demanda original (...)”5.
A oposição pode ser proposta até a sentença, conforme reza o art. 56
do CPC.
2.2.2 – Do procedimento
O pedido de ingresso deve seguir os requisitos legais exigidos para
petição inicial de rito ordinário. Será distribuída por dependência no Juízo onde
tramita a principal. Os opostos serão citados na pessoa dos seus advogados
para contestar no prazo de 15 dias. Podem os opostos oferecer as demais
espécies de respostas.
Sendo a oposição requerida antes da audiência de instrução e
julgamento (AIJ), os autos ficam apensados aos principais, devendo ser
decididas a demanda originária e a oposição por sentença única. Caso
oferecida após o início da AIJ, a oposição tramitará pelo procedimento
ordinário e será julgada por sentença distinta da demanda principal; ou, neste
caso, o juiz poderá sobrestar o andamento da causa, por prazo não superior a
90 dias, juntando para tanto, os autos da oposição aos da demanda original.
5 Lições de Direito Processual Civil. Alexandre de Freitas Câmara. Pág: 193.
17
2.3 – Da denunciação de lide
2.3.1 – Da previsão legal e do conceito
A denunciação da lide está prevista nos art. 70 a 76 do CPC que pertencem ao
Capítulo de Intervenção de terceiros.
Como diz Alexandre Freitas Câmara:
“a denunciação da lide é, sem sombra de dúvida, a modalidade de
intervenção de terceiro que mais dificuldades e polêmicas provoca na
doutrina”.
A polêmica inicia-se na natureza jurídica da Denunciação da Lide. Para
Sérgio Luiz Monteiro Salles “a verdadeira denunciação à lide é mera
comunicação de um fato a outrem; no entanto, nossa lei instrumental
transformou o instituto, em dois incisos (CPC, art. 70, I e III) em chamado em
garantia”6. E acrescenta: “mas a lei (art. 70, II do CPC) cuida da verdadeira, da
real denunciação da lide.” Já para Alexandre Freitas (201): “a denunciação da
lide não é apenas uma comunicação (denúncia) acerca da existência de em
processo, mas contém verdadeira demanda incidental de garantia, através da
qual se formula pretensão em face do terceiro convocado a integrar o processo
(...) Não, parece porém, que a denominação do instituto seja capaz de afirmar
sua natureza”. Tornaghi afirma que o CPC não regula denunciação da lide,
mas chamamento ao Processo (Comentários ao CPC, vol. I, pp. 257-258).
Dependendo do processo, a parte vencida terá direito de regresso
contra terceiro que é seu garante; tendo, pois, o dever de reembolsá-la pelo
que tiver perdido. Em razão do princípio da economia processual, o CPC,
permite, à parte, fazer a denunciação à lide, ou seja, chamar o garante ao
6 SALLES, Sergio Luiz Monteiro. Breviário Teórico e Prático de Direito Processual Civil. Pág.: 141.
18
processo para, em caso de sucumbência na ação principal, seja reconhecido o
seu direito de reembolso. A pretensão indenizatória de reembolso será julgada
no mesmo processo da demanda principal. Assim, haverá um único processo
para duas demandas. Daí surge a definição da denunciação da lide como “uma
ação regressiva in simultaneus processus”7.
Importante salientar sobre a possibilidade de denunciar a lide a quem
seja parte, o que se dará, quando entre os réus houver relação de garantia.
Neste caso, um litisconsorte poderá denunciar à lide o outro.
2.3.2 – Das hipóteses de denunciação da lide
O art. 70 do CPC aponta os casos de cabimento da denunciação a lide.
O inciso I trata do primeiro caso, in verbis:
“I – ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi
transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção
lhe resulta”.
Neste caso, a denunciação da lide é oferecida por quem tem em litígio
direito de propriedade sobre em bem que lhe foi transferido por terceiro. Cita-
se o alienante, denunciando-lhe a lide, para que a sentença, reconhecendo
que o litisdenunciante não é titular do domínio, defina a relação entre réu e
litisdenunciado que lhe transferiu a coisa no que tange a evicção.
O inciso II do art. 70 do CPC prevê a segunda hipótese de denunciação
da lide:
“II – ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou
direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o
réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada”.
7 Alexandre Câmara. O. Cit. Pág. 202
19
Cabe ao possuidor indireto garantir o exercício pacífico da posse pelo
possuidor direto. Assim, quando é parte o possuidor direto, este poderá
denunciar a lide ao possuidor indireto, para que, no caso de sentença
desfavorável, a mesma defina eventual responsabilidade do possuidor indireto
perante o direto.
Na situação prevista neste inciso, o possuidor direto é parte legítima
para a causa, o qual pretende exercer seu eventual direito de regresso no
mesmo processo da demanda principal. Não trata, portanto, de hipótese de
exigência de alteração do pólo passivo da relação processual, que ensejaria a
nomeação a autoria.
O inciso III do art. 70 do CPC, que prevê a terceira e última hipótese de
denunciação da lide alude:
“III – àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em
ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda”.
O referido dispositivo trata da denunciação da lide em caso de garantia.
Há grande controvérsia hermenêutica em relação à matéria que oriunde do
reconhecimento de dois tipos de garantia: a própria e a imprópria.
Para alguns autores, dentre eles Greco Filho e Sanches, somente os
casos de garantia própria, em que o direito de regresso da parte perante o
terceiro decorre da transmissão de um direito como a evicção, permitiriam
denunciação da lide. Plínio Gonçalves, Milton Flaks, Alexandre Freitas
Câmara, entre outros entendem que é cabível denunciação da lide nos casos
de garantia imprópria que na verdade trata da responsabilidade de ressarcir o
degurado.
Barbosa Moreira diz que os termos do inciso III do art. 70 são
“louvavelmente genéricos”.
20
Sobre os termos do art. 70, III do CPC expõe sabiamente o jurista
Alexandre Câmara:
“Estes termos, incapazes de permitir qualquer tipo de distinção pelo
intérprete (afinal como é sabido, onde a lei não distingue não é lícito ao
intérprete distinguir), têm como conseqüência inafastável, a nosso sentir, a
adoção da teoria mais extensiva, segundo a qual a denunciação da lide é
adequada tanto nos casos de garantia própria como nos de garantia
imprópria”8.
2.3.3 – Da obrigatoriedade da denunciação da lide
O art. 70 do CPC tratada obrigatoriedade da denunciação da lide. Sobre
esta matéria, encontramos quatro correntes doutrinárias. Alguns autores
afirmam que a inércia da parte terá como corolário o perecimento do direito de
regresso. Outros entendem que o direito de regresso somente poderá ser
exercido em demanda autônoma. Há, ainda, os que afirmam haver perda do
direito de regresso se a denunciação da lide não for efetuada, nos casos de
garantia própria. Por fim, há os que consideram que a não realização da
denunciação da lide, nos casos do inciso I do art. 70, ensejaria perda do direito
de regresso e, nos casos dos incisos II e III desse artigo, incidiria a preclusão,
isto é, perda da faculdade de oferecer demanda capaz de permitir o exercício
do direito de regresso no mesmo processo. Recebe a última corrente o apoio
de Alexandre Câmara.
2.3.4 – Do momento e do procedimento
O momento para denunciar a lide é o da petição inicial, para o autor e o
do prazo para contestação para o réu. Não exige a lei que a denunciação da
lide seja requerida no corpo da contestação, podendo ser, portanto, formulada
em petição distinta. Neste caso, deverá oferecê-la dentro do prazo de 15 dias e
antes ou simultaneamente com a contestação.
21
O ato do juiz que determinar a citação do litisdenunciado, suspenderá o
processo, conforme reza o art. 72 do CPC. Não haverá paralisação total do
processo; apenas impedir-se-á o desenvolvimento normal do processo.
A citação ocorrerá no prazo de 10 dias, quando o litisdenunciado residir
na mesma comarca ou em 30 dias, se em comarca diversa ou não estiver em
lugar certo. Sendo ultrapassado o prazo de citação e tendo o litisdenunciado
contribuído para o atraso da realização do ato, considerar-se-á inexistente a
denunciação da lide.
O art. 73 do referido Código autoriza denunciação da lide sucessivas,
permitindo que o litisdenunciado convoque ao processo o terceiro-garantidor.
Feita a denunciação da lide pelo demandante, o litisdenunciado poderá
aditar a petição inicial. A citação do réu ocorrerá após esse momento. Assim,
versa o art. 74 do CPC.
Quando realizada pelo réu, segundo o art. 75 do CPC, o litisdenunciado
poderá:
aceitar a denunciação e contestar o pedido;
não comparecer, implicando-lhe os efeitos da revelia, na referida
demanda incidental;
negar a qualidade de garante, podendo, o réu prosseguir na
defesa até o fim do processo;
confessar os fatos pelo demandante da causa principal, devendo
o litisdenunciante prosseguir na defesa.
Parte da doutrina discorda do enquadramento do litisdenunciante e do
litisdenunciado como litisconsortes, preferem afirmar que o litisdenunciado se
8 Alexandre Câmara. O. Cit..Pág.: 206.
22
torne mero assistente do litisdenunciante. Neste sentido Nelson Nery Junior e
Alexandre Freitas Câmara. Este afirma:
“O litisdenunciado não se torna, com a denunciação da lide, parte da demanda
principal, o que faz concluir que, em não sendo autor nem réu, não pode ser
considerado litisconsorte. A denunciação da lide é verdadeira demanda
incidental, cujo julgamento fica condicionado à sucumbência do
litisdenunciante na demanda principal. Por esta razão, tem o litisdenunciado
interesse jurídico na vitória do litisdenunciante na demanda principal, podendo
assim atuar como assistente. Assistente simples, diga-se desde logo, haja vista
ser ele sujeito de relação jurídica diversa da deduzida no processo, a relação
de garantia, o que não permite que seja ele considerado assistente
litisconsorcial”.
O litisdenunciado além de assistir o litisdenunciante objetivando obter
sentença favorável na demanda principal, na qualidade de réu da demanda
incidental de garantia, cabe-lhe contestá-la, sob pena de revelia.
Em consonância com o art. 76 do CPC, a demanda principal e a
incidental de garantia serão julgadas numa única sentença, sendo aquela
julgada primeiramente. Na hipótese do litisdenunciante vencer a demanda
principal, a denunciação da lide é considerada prejudicada; se vencido, será
julgada a demanda de garantia. A sentença que reconhecer a responsabilidade
do garante de indenizar o litiscenunciante valerá como título executivo.
Não é permitida a condenação do litisdenunciado diretamente em favor
do adversário do litisdenunciante. Tal sentença seria extra petita e, portanto,
nula.
2.4 – Do chamamento ao processo
2.4.1 – Da previsão legal e conceito
23
Previsto no art. 77 ao 80 do CPC. O chamamento ao processo está
diretamente ligado às situações de garantia simples, situação em que duas ou
mais pessoas se apresentam responsáveis pela efetivação da prestação
perante terceiro, podendo exigir de qualquer uma o pagamento integral. O
cumpridor da prestação poderá cobrar daquele que, na verdade, era o devedor
de toda ou de parte da obrigação.
O chamamento ao processo possibilita a ampliação subjetiva da relação
processual, com a formação de um litisconsórcio passivo posterior entre
chamado e chamante.
2.4.2 – Do momento e do procedimento
O réu pode provocar a intervenção, chamando os coobrigados ao
processo, no prazo da resposta, através de petição ou no corpo da
contestação.
Há forte crítica ao chamamento do processo. Há quem entenda que a
ampliação do pólo passivo fere diretamente as vantagens decorrentes do
instituto da solidariedade passiva que assegura ao credor a liberdade de
escolha do devedor em face do qual pretende litigar. Assim, estaria em direção
oposta ao da efetividade do processo, tornando-o mais cara e onerosa para o
credor.
A sentença condenatória atingirá diretamente a todos os integrantes do
pólo passivo – chamante e chamado – tendo assim o credor a formação de
título executivo em face deles, sendo-lhe permitida a execução forçada sobre
qualquer dos co-devedores. O qual na mesma sentença condenatória
encontrará título executivo hábil a permitir a execução forçada dos demais
coobrigados.
24
2.4.3 – Das hipóteses de chamamento ao processo
O art. 77 do CPC aponta os casos de chamamento ao processo,
vejamos:
“Art. 77. É admissível o chamamento ao processo:
I – do devedor, na ação em que o fiador for réu;
II – dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles;
III – de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou
de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum”.
A primeira hipótese é aquela em que o fiador, demandado poderá
chamar ao processo o devedor principal. A segunda é supérflua por se
enquadrar na terceira hipótese que diz respeito aos devedores solidários.
Havendo solidariedade passiva, pode o credor escolher um dos credores para
exigir a dívida no todo. Esse credor poderá chamar ao processo seus co-
devedores. Como bem aduz Alexandre Câmara, “quem pode o mais pode o
menos”, ou seja, o devedor tem a liberdade de chamar ao processo todos ou
apenas alguns outros co-devedores.
2.5 – Da nomeação à autoria
2.5.1 – Da previsão legal e conceito
Prevista no art. 62 que diz:
“Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe
demandada em nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o
possuidor”.
A nomeação à autoria é forma de intervenção de terceiros provocada.
Indica-se e nomeia-se quem deve ficar no pólo passivo da relação processual.
25
Em determinadas situações, não se pode exigir do demandante a
ciência da legitimidade do demandado, casos em que o demandado indicará o
nome do verdadeiro legitimado passivo, e diante da anuência deste e do autor,
ocorrerá a substituição do réu. Assim o mérito será apreciado diante dos
verdadeiros legitimados.
Segundo Alexandre de Freitas Câmara, a nomeação a autoria não tem
como fim corrigir vício de legitimidade passiva, o que feriria a teoria da
asserção (técnica utilizada para analisar a presença das condições da ação).
Para o jurista, existem dois casos a serem observados: num primeiro, o autor
afirma na inicial que o réu é detentor e em outro, afirma ser o demandado
possuidor da coisa pretendida, quando este na verdade é mero detentor. Neste
caso incidiria o instituto da nomeação à autoria e naquele haveria ilegitimidade
passiva ad causam, devendo o processo ser extinto sem julgamento do mérito.
2.5.2 – Das hipóteses de nomeação à autoria
Os art. 62 e 63 prevêem os casos de nomeação à autoria. São eles:
quando alguém é demandado como possuidor de um bem,
quando na verdade é dele mero detentor, caso em que deverá o
demandado nomear à autoria o possuidor ou o proprietário da
coisa;
quando, em demanda indenizatória, o responsável alegar que
praticou ato lesivo a mando ou por instruções de outrem;
Observa-se que sem a substituição no pólo passivo seria inevitável a
improcedência do pedido, pois o detentor não possuiria a posse e o
“responsável” não teria culpa.
2.5.3 – Do momento e do procedimento
26
O réu fará a nomeação à autoria no prazo de oferecimento da resposta.
Deferido o requerimento de nomeação à autoria, o juiz suspenderá o processo,
devendo ouvir o autor, no prazo de 05 dias. Silente, entende-se pela anuência.
Quanto ao procedimento, verificam-se várias hipóteses:
o autor poderá aceitar a nomeação, caso em que o processo
prosseguirá entre autor e nomeante. Devolvendo o prazo para a
contestação ao nomeante;
o autor poderá aceitar tácita ou expressamente a nomeação,
devendo requerer a citação do nomeado;
o nomeado poderá recusar a nomeação, seguindo o processo
entre autor e nomeado;
o nomeado poderá aceitar tácita ou expressamente a nomeação;
sendo o nomeante extrometido do processo.
Verifica-se que a substituição do réu pelo nomeado, ocorrerá somente
havendo dupla concordância; a do autor e a do nomeado. Caso contrário o réu
original permanecerá na demanda.
Responderá por perdas e danos o réu que, nas hipóteses em que se
mostrar cabível a nomeação à autoria, não a fizer ou indicar pessoa diversa
daquela que possui legitimidade.
Pelo exposto acima, nota-se que a nomeação a autoria interrompe o
prazo para oferecimento da resposta, pois o juiz poderá conceder novo prazo
para o demandado contestar.
Outro ponto a ser salientado, quanto a nomeação à autoria, é a
condição do nomeado após a intervenção que além de fazer parte do
processo, torna-se parte da demanda.
27
É ponto pacífico na doutrina que ao nomeado não é possível realizar
nomeação à autoria, pois o nomeado apenas poderá aceitar a nomeação nas
condições que lhe foi imputada pelo nomeante ou repudiar a nomeação, não
se tornando parte da demanda, logo, impossibilitado de nomear outrem à
autoria.
2.6 – Do recurso de terceiro prejudicado
O recurso de terceiro prejudicado é modalidade de intervenção de
terceiros previsto nos artigos 280 e 499 do Código de Processo Civil, onde o
terceiro interpõe recursos.
O CPC se refere a essa modalidade como recurso de terceiro
prejudicado, porém, alguns doutrinadores excluem o adjetivo “prejudicado” por
entenderem desnecessária a existência de prejuízo para interposição do
recurso.
O terceiro poderá interpor recurso de qualquer espécie, no prazo que as
partes dispõem para recorrer. Devendo, para tanto, demonstrar interesse
jurídico na ação e, para alguns, também, o prejuízo que a sentença acarretou à
sua esfera de interesse.
Parte do doutrina afirma que o recurso de terceiro é assistência em grau
recursal. Contudo se assim fosse, o artigo 50 parágrafo único esvaziaria seu
conteúdo, uma vez que autoriza a assistência em qualquer grau de jurisdição.
28
CAPÍTULO III
DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NOS RITOS
PROCESSUAIS
3.1 – Das disposições gerais
A intervenção de terceiros, em todas as suas modalidades, não é
cabível em sede de Juizados Especiais Cíveis, conforme preceitua o art. 10 da
Lei nº 9099/95.
A aplicabilidade da intervenção de terceiros, no rito ordinário, ocorre nos
casos estudados anteriormente.
A polêmica surge no rito sumário, quando há relação de consumo entre
as partes do processo principal. Analisar-se-ão as modalidades de intervenção
de terceiros cabíveis, no rito sumário; a alteração da norma jurídica que trata
do instituto e as novas interpretações a ela dada e; as vantagens e
desvantagem da denunciação da lide e do chamamento ao processo para o
autor, réu, terceiro e celeridade processual.
3.2 – Da alteração do artigo 280 do CPC
29
A Lei nº 10.444 de 2002 alterou o corpo do dispositivo - artigo 280 do
Código de Processo Civil. In verbis o artigo 280, I do CPC, antes de sofrer a
alteração:
“Art. 280. No procedimento sumário:
I – não será admissível ação declaratória incidental, nem a intervenção
de terceiro, salvo assistência e recurso de terceiro prejudicado”.
Hodiernamente, preceitua o artigo 280 do CPC:
“Art 280. No procedimento sumário não são admissíveis a ação
declaratória incidental e a intervenção de terceiros, salvo a assistência, o
recurso de terceiro prejudicado e a intervenção fundada em contrato de
seguro”.
Quanto à assistência e recurso de terceiro prejudicado, não houve
alteração; logo, não há divergência doutrinária quanto a admissibilidade dessas
modalidades de intervenção de terceiros no rito sumário. O mesmo não ocorre
com o chamamento ao processo e a denunciação a lide, havendo uma
instabilidade jurídica quanto ao cabimento dessas modalidades. Quando há
relação de consumo entre autor e réu, parte da doutrina entende que, por força
do artigo 101, II do CDC somada a finalidade protecionista ao consumidor do
CDC, não é admissível a denunciação da lide e sim o chamamento ao
processo. A corrente minoritária entende que por estar o art. 13 no Capítulo
destinado a produtos, a vedação da denunciação da lide não se estenderia aos
casos de prestação de serviço. Porém o Tribunal do Rio de Janeiro já sumulou
seguindo o primeiro entendimento exposto. Os desembargadores, em encontro
realizado em maio de 2005, em Búzios, editaram 6 enunciados referentes à
matéria de Defesa do Consumidor, tendo a quarta o seguinte teor e
justificativa:
“Inadmissível, em qualquer hipótese, a denunciação da lide nas ações que
versem relação de consumo”. Justificativa: “Não obstante a proibição da ação
de regresso ter previsão expressa, somente na hipótese do art. 13, da Lei nº
8078/90 (art. 80 do mesmo diploma), o sistema desta legislação é de proteção
30
ao consumidor. Assim, a exegese mais correta é proscrevê-la em todos os
casos, solução consentânea com os princípios encontrados naquele diploma”.
O Código de Processo Civil, após a modificação ocorrida em função da
Lei nº 10.444/2002, admitiu a “intervenção fundada em contrato de seguro” no
procedimento sumário. Sendo inadmissível a oposição e a nomeação à autoria
por não se enquadrarem na relação jurídica de contrato de seguro, a nova
configuração do art. 280 do CPC abre caminho para que possa o segurado
denunciar a lide ou chamá-la ao processo.
3.3 – Das interpretações do art. 280 do CPC
Há doutrinadores que admitem a denunciação à lide a seguradora;
outros, não. Ora decisões são proferidas indeferindo a denunciação da lide,
ora deferindo essa modalidade de intervenção de terceiros e, ora recebe a
intervenção de terceiro como chamamento ao processo, mesmo diante do
silêncio do autor.
A seguir serão expostas algumas decisões. Nesta a Juíza da 30ª Vara
Cível da Capital no processo nº 2004.001.058321-6 indefere o pedido de
denunciação da lide à seguradora, desconsiderando a alteração do artigo 280
do CPC, fundamentando que essa modalidade de intervenção de terceiros
somente deva ser admitida nos casos de ação de garantia e não para as
hipóteses de direito de regresso. Na integra trecho da decisão:
“esta modalidade de intervenção de terceiros (denunciação de lide) somente
deve ser admitida para os casos de ação de garantia e não para as hipóteses
de direito de regresso”.
A 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em agravo
de instrumento de nº 2005.002.04674, tendo como relator o desembargador
Cláudio de Mello Tavares, proferiu sentença no sentido de que não deva ser
31
dada interpretação restritiva ao art. 280 do CPC, entendendo ser aplicável o
chamamento ao processo. Assim decidiu:
“Na ação principal foi adotado o rito sumário (...), embora o Juízo tenha
proferido decisão saneadora, inclusive, ordenando a realização do prova
pericial. Portanto, ajuizada a ação sob a égide da Lei nº 10.44/02, que alterou
a redação do artigo 280 do Código de Processo Civil, admitindo no
procedimento sumário a intervenção fundada em contrato de seguro, não há
que se cogitar da interpretação restritiva exarada na decisão hostilizada.
Ademais, analisando-se a questão sob a ótica do direito do consumidor,
calcada na aplicação do artigo 17, que trata dos consumidores por
equiparação quando há acidente de consumo, hipótese na qual se enquadram
os agravados, também não se pode desconsiderar que o artigo 101, II da Lei
nº 8.078/90, admite o chamamento ao processo do segurador, vedando
apenas a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil.
(...)
Face ao exposto, conhece-se e dá-se parcial provimento ao recurso,
para admitir o chamamento ao processo da empresa seguradora indicada pela
agravante, observando-se o disposto no artigo 101, II do Código de Defesa do
Consumidor”.
O Juiz de Direito da 01ª Vara Cível Regional da Leopoldina da Comarca
da Capital - RJ, no processo nº 2005.210.001034-6 proferiu decisão deferindo
a denunciação da lide a seguradora, in verbis:
“Defiro a intervenção do terceiro. Determino a anotação onde couber
como denunciada da lide a empresa (...)”.
Indeferiu o pedido de denunciação da lide a empresa seguradora
formulado pela ré o Juiz de Direito do 02ª Vara Cível da Comarca de Nilópolis
– RJ ao proferir a seguinte decisão:
“A parte ré requereu incidentalmente a denunciação da lide de empresa
seguradora. Pelo MM. Dr. Juiz foi proferida a seguinte decisão: Indefiro a
32
modalidade de intervenção de terceiros por expressa vedação legal.
Estabeleceu-se entre as partes relação de consumo pelo contrato de
transporte celebrado. O Egrégio Tribunal deste Estado sedimentou a matéria
através da uniformização de jurisprudência para não permitir a denunciação da
lide em hipóteses de relação de consumo”.
3.4 – Paralelo entre denunciação da lide e o chamamento
ao processo
A denunciação da lide e o chamamento ao processo são modalidades
de intervenção de terceiros com fins diversos; como visto no Capítulo anterior
anterior, a primeira visa convocar terceiro ao processo para que a sentença
julgadora da demanda principal defina também a relação entre o
litisdenunciado e o litisdenunciante, sendo este vencido. Na segunda
modalidade, chama-se o terceiro co-devedor para que os efeitos da sentença
recaiam, em caso de procedência do pedido, também sobre o chamado.
Para obter uma análise ampla e satisfatória sobre as vantagens e
desvantagem do chamamento ao processo e a denunciação da lide, no rito
sumário, quando houver contrato de seguro é necessário observar a questão
do ponto de vista do segurado, da seguradora, do consumidor e a celeridade
processual.
3.4.1 – Das vantagens da denunciação a lide
3.4.1.1 – Para o litisdenunciante
A vantagem de denunciação da lide para o litisdenunciante reside no
fato da litisdenunciada não precisar propor demanda autônoma em face da
seguradora para buscar o direito de regresso; assim, nos autos da ação
principal, será examinado o direito de regresso entre litisdenunciada e
33
litisdenunciante, se vencido. Valendo a sentença com título judicial. Quanto às
custas, se vencido, o litisdenunciante será ressarcido pela seguradora. Neste
sentido a decisão proferida pelo Juiz de Direito da 01ª Vara Cível Regional da
Comarca da Capital – RJ, no processo nº 2005.210.001034-6, in verbis:
“condeno (...) a pagar ao autor a quantia de (...). Condeno a ré a pagar
metade dos custas judiciais e da taxa judiciária, cuja base de calculo será o
valor da condenação. (...) Deverá a ré – enunciada restituir à ré – denunciante
os ônus sucumbenciais na forma acima exposta”.
3.4.1.2 – Para a litisdenuncida
A litisdenunciada não poderá ser executada pelo adversário da
litisdenunciante. Sendo uma grande vantagem para a seguradora-
litisdenunciada. O litisdenunciante, se procedente o pedido do adversário do
litisdenunciante, terá título executivo em face da seguradora, que somente
poderá ser executado após o cumprimento da sentença pelo réu.
Conforme sentença proferida pelo Juiz de Direito da 4ª Vara Cível da
Comarca de Niterói – RJ, no processo nº 2003.002.016546-2 que passa a
expor:
“condeno a empresa ré a pagar (...)condenando, via de conseqüência, a
litisdenunciada a ressarcir a empresa ré e litisdenunciada ao pagamento de
50% (cinqüenta por cento) das custas, tendo em vista a sucumbência
recíproca”.
Quanto às custas processuais, o litisdenunciado não arcará com as
custas processuais se o litisdenunciante for vencedor e a seguradora não
discutir a relação securitária.
3.4.1.3 – Para adversário do lisdenunciante
Não há vantagens para a parte oposta a litisdenunciada. Vide item
3.2.1.3. A vantagem somente pode ser vislumbrada quanto à possibilidade da
seguradora entrar no processo para compor o conflito.
34
3.4.1.4 – Para a celeridade processual
Evita-se a propositura de demanda autônoma pelo segurado vencido em
face da seguradora. O número de processos, no Poder Judiciário, aumentaria
expressivamente se não fosse permitida a intervenção de terceiros no caso em
tela.
3.4.1 – Das desvantagens da denunciação à lide
3.4.1.1 – Para a litisdenunciante
A litisdenunciante somente poderá executar a seguradora, após o
cumprimento da sentença, não sendo permitido ao adversário do
litisdenunciante executar diretamente o litisdenunciado. Assim, terá primeiro
que cumprir com a obrigação, para efetivar o direito de regresso já reconhecido
pelo Poder Judiciário. Além do exposto, se vencedor e reconhecida a relação
securitária pela seguradora , o litisdenunciante terá o ônus de arcar com as
custas processuais, uma vez que se configura a perda do objeto da
demananda secundária; assim sendo, o autor da demanda secundária - o
litisdenunciado – é condenado a pagar as custas e honorários advocatícios
para a seguradora.
3.4.1.2 – Para a litisdenuncida
Não há desvantagens para a litisdenunciada. Para litisdenunciada a
denunciação à lide é mais benéfica do que o chamamento ao processo, pois
não poderá ser executada diretamente pelo adversário do litisdenunciante,
somente pelo litisdenunciante através da sentença que reconhecer o seu
direito de regresso e após o cumprimento da ordem.
35
3.4.1.3 – Para o adversário do litisdenunciante
É desvantajoso para o adversário do litisdenunciante a denunciação á
lide. Para o adversário do litisdenunciante não haverá ampliação da garantia à
efetividade do direito reconhecido judicialmente; à medida que ,como dito
anteriormente, é vedada a execução direta da seguradora pelo adversário do
litisdenunciante, a qual somente deverá ser executada pelo litiscenunciante,
depois do cumprimento da sentença. Ademais, com a entrada da seguradora o
processo torna-se mais moroso, pois abre-se prazo para recolhimento das
custas e fornecimento de cópias para citação da seguradora, há designação de
nova audiência de conciliação, que muitas vezes é remarcada por não ser
realizada a citação da seguradora no lapso temporal previsto. Há desvantagem
também no fato da seguradora agir como litisconsorte da litisdenunciada na
demanda principal.
3.4.1.4 – Para a celeridade processual
Não havendo possibilidade da seguradora ser executada no processo, o
litisdenunciante deverá executar o litisdenunciado através do título executivo
formado pela sentença, devendo ser o Poder Judiciário novamente acionado.
3.4.1 – Das vantagens do chamamento ao processo
3.4.1.1 – Para o chamante
Poderá o chamado - co-obrigado - ser executado no próprio processo,
cumprindo diretamente a sentença judicial; evitando a propositura de ação de
regresso ou execução pelo chamante. Quanto às custas processuais, o
terceiro-chamado poderá arcar integralmente com esse ônus, devido a
responsabilidade solidária.
36
3.4.1.2 – Para o chamado
As vantagens para o terceiro ocorrem na denunciação da lide.
3.4.1.3 – Para o adversário do chamante
Em decorrência da solidariedade entre o terceiro e o chamante, o
adversário do chamante poderá executar o terceiro para cumprimento integral
da obrigação. Residindo aqui a ampliação da efetividade de seu direito
recolhecido jucidialmente. Há quem entendo que é desvantajoso o
chamamento ao processo, como estudado no Capítulo anterior.
3.4.1.4 – Para a celeridade processual
A possibilidade da execução do chamado no processo pelo adversário
do chamado evita a propositura de ação pelo chamante e execução quando o
chamado indenizar diretamente o autor.
3.4.2 – Das desvantagens do chamamento ao processo
3.4.2.1 – Para o chamante
Em relação a denunciação a lide não há desvantagens para o chamante
os efeitos do chamamento ao processo. Repete-se: é mais vantajoso o
chamamento ao processo que a denunciação à lide.
3.4.2.2 – Para o chamado
O chamamento ao processo é desvantajoso para o terceiro; pois,
diferente do que ocorre na denunciação à lide, poderá o terceiro ser executado
37
diretamente e assumindo toda a obrigação, caso em que lhe restará direito de
regresso em face dos outros co-obrigados.
3.4.2.3 – Para o adversário do chamante
Há quem entenda que há lesão ao direito de escolha da parte
adversária ao chamado, pois o chamante chamaria outro co-obrigado
anteriormente não indicado pelo credor. Tema abordado no capítulo anterior.
3.4.2.4 – Para a celeridade processual
Há quem entenda que com a o chamamento ao processo torna mais
lento, por poder haver dilação dos prazos para os devedores. Porém se a
análise se der sobre o todo percebe-se que o chamamento ao processo
proporciona o aumento da garantia da efetividade jurisdicional, podendo ser
alcançada em espaço de tempo inferior, por trazer ao processo outros
devedores.
38
CONCLUSÃO
O legislador respondeu ao anseio da sociedade por permitir a
intervenção da seguradora no processo com rito sumário quando a lide se
baseia em contrato de seguro, porém foi infeliz ao utilizar termo genérico desse
causa a interpretação deturpada no sentido de cabimento do chamamento ao
processo.
Antes da alteração do art. 280 do CPC, a denunciação à lide era
inadmissível no rito sumário, assim, o segurado tinha que propor, quando
vencido, ação autônoma pleiteando ressarcimento da seguradora.
A Lei 10.444/02, tendo em vista a celeridade processual e efetividade
processual, admitiu a “intervenção fundada em contrato de seguro”, além da
assistência e o recurso de terceiros.
Implícita e pacífica está a inadmissibilidade da nomeação à autoria e
oposição. Pacífico, também, seria o entendimento pela admissibilidade da
denunciação da lide. Contudo, ao confrontar o art. 280 do CPC com o art. 101,
II do CDC, parte da doutrina afirma que cabe somente chamamento ao
processo no rito sumário quando há relação de consumo entre as partes.
Ocorre que esse entendimento doutrinário, já sumulado, desconsidera
a relação de garantia entre segurado e seguradora, podendo a seguradora ser
chamada aos autos pela parte autora. Por força dessa interpretação, em sede
de Juizado Especial Cível tem sido propostas ações em face do segurado-réu
e seguradora, como se esta tivesse obrigação para com o autor,
desrespeitando a tipificação do contrato de seguro e todas as normas referente
a contrato.
Veja como decidiu a Juíza Substituta do IV Juizado Especial Cível do
Comarca da Capital – RJ, no processo nº 2004.803.005112-4:
39
“Verificando os documentos que constam dos autos, não há dúvidas
de que a seguradora ré possui um contrato de seguro com a primeira ré,
inclusive com cobertura contra danos causados a terceiros. Assim, verifico que
na qualidade de contratada e estando provada a culpa da segurada ré, deve a
primeira arcar com os prejuízos sofridos pelo autor, desde que comprovados”.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
40
SAVINO FILHO, Cármine Antonio. Direito Processual Resumido. 4ª edição. Rio
de Janeiro: Editora América Jurídica, 2005.
GOMES e SILVA, Flávio Luiz e Ovídio A. Batista. Teoria Geral do Processo
Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
CÂMERA, Alexandre de Freitas. Lições de Direito Processual Civil.
SALLES, Sergio Luiz Monteiro. Breviário Teórico e Prático de Direito
Processual Civil. Vol. 1. São Paulo: Editora Malheiros, 1993.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Do chamamento à autoria: denunciação da
lide. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais: 1973
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 3º vol. Rio
de Janeiro: Forense, 2005.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Código de Processo Civil Anotado. 3º vol.
Rio de Janeiro: Forense, 2005.
Código de Processo Civil. Organizador Yussef Said Cahali. 3ª ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2001.
Vade Mecum acadêmico-forense. Série Legislação Acadêmico-forense),
Editora Vértice, 2005.
GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria Geral do Processo. São Paulo:
Malheiros Editores, 2000.
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 1997.
41
42
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
DA INTERVENÇÃO DE TERCEIRO
1.1 – Da relação jurídica processual 10
1.2 – Das partes 10
1.3 - Do terceiro 11
1.4 – Do liame subjetivo processual 11
1.5 – Do conceito e classificação da intervenção de terceiro 12
CAPÍTULO II
DAS MODALIDADES DE INTERVENÇÃO DE TRCEIROS
2.1 – Da assistência 14
2.1.1 – Da previsão legal e conceito 14
2.1.2 – Do momento 14
2.1.3 – Do procedimento 15
2.1.4 – Das espécies 15
2.2 – Da oposição
2.2.1 – Da previsão legal, conceito e momento 16
2.2.2 – Do procedimento 16
2.3 – Da denunciação da lide 17
2.3.1 – Da previsão legal e conceito 17
2.3.2 – Das hipóteses de denunciação da lide 18
2.3.3 – Da obrigatoriedade da denunciação da lide 20
43
2.3.4 – Do momento e procedimento 21
2.4 – Do chamamento ao processo 23
2.4.1 – Da previsão legal e conceito 23
2.4.2 – Do momento e procedimento 24
2.4.3 – Das hipóteses de chamamento ao processo 24
2.5 – Da nomeação à autoria 25
2.5.1 – da previsão legal e conceito 25
2.5.2 – Das hipóteses de nomeação à autoria 26
2.5.3 – Do momento e procedimento 26
2.5 – Do recurso de terceiro prejudicado 27
CAPÍTULO III
DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NOS RITOS PROCESSUAIS
3.1 – Das disposições gerais 29
3.2 – Da alteração do art. 280 do CPC 29
3.3 – Da interpretação do art. 280 do CPC 31
3.4 – Paralelo entre denunciação à lide e chamamento ao processo 33
3.4.1 – Das vantagens da denunciação à lide 33
3.4.1.1 – Para o litisdenunciante 33
3.4.1.2 – Para a litisdenunciada 34
3.4.1.3 – Para o adversário do litisdenunciante 34
3.4.1.4 – Para a economia processual 34
3.4.2 – Das desvantagens da denunciação à lide 35
3.4.2.1 – Para o litisdenunciante 35
3.4.2.2 – Para a litisdenunciada 35
3.4.2.3 – Para o adversário do litisdenunciante 35
3.4.2.4 – Para a economia processual 36
3.4.2 – Das vantagens do chamamento ao processo 36
3.4.2.1 – Para o chamante 36
3.4.2.2 – Para o chamado 36
3.4.2.3 – Para o adversário do chamante 37
3.4.2.4 – Para a economia processual 37
3.4.2 – Das desvantagens do chamamento ao processo 37
44
3.4.2.1 – Para o chamante 37
3.4.2.2 – Para o chamado 37
3.4.2.3 – Para o adversário do chamante 38
3.4.2.4 – Para a economia processual 38
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41
ÍNDICE 43
45
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
Recommended