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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
CURSO DE ZOOTECNIA
RAYANNE VIANA COSTA
ULTRASSONOGRAFIA COMO FERRAMENTA PARA AVALIAÇÃO DE CARCAÇA BOVINA
CUIABÁ - MT 2014
RAYANNE VIANA COSTA
ULTRASSONOGRAFIA COMO FERRAMENTA PARA AVALIAÇÃO DE CARCAÇA BOVINA
CUIABÁ - MT 2014
Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Zootecnia. Orientador: Prof. Dr. Daniel de Paula Sousa Orientador do Estágio
Supervisionado:
Eng. Agr. Ricardo Campelo Pereira
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Edivaldo Ferreira Costa e Vilma Viana da Silva Costa pelo
amor incondicional, por acreditarem em mim e ser a razão de todos os meus
esforços.
Ao meu irmão Rafael Viana Costa, por estar presente em todas as minhas
conquistas, sempre disposto a me corrigir e ajudar.
As minhas sobrinhas Sophia Arguelho Viana e Anna Samara da Silva
Costa por sempre colorir os meus dias com suas alegrias.
Dedico.
AGRADECIMENTOS
Á Deus, pelo dom da vida e pela eterna sabedoria para enfrentar todas as
situações.
A Universidade Federal de Mato Grosso por me dar condições para concluir a
graduação.
Ao Grupo Bom Futuro, pela oportunidade de realização do meu estágio final
em uma de suas propriedades.
Á Bruna e o Zezinho, pelo acompanhamento, paciência, dedicação e amizade
durante o período de estágio. Ao pessoal do curral, Tonho do boi, Dito, Cleiton,
Pecuária, Carcaça, Guina, Tiririca, Celso, Júnior e Grilo pelos ensinamentos e
conversas. Ao pessoal da cozinha, Dona Polaca, Dona Marta, Josi, Edilson e Nice,
pelas conversas e cafés da tarde, que sempre adoçavam o meu dia. A Larissa
Marchioro, minha eterna companheira de fins de semana, pela companhia e
amizade. E a todos os funcionários da Fazenda Agromar, onde fui muito bem
recebida.
À empresa PecUS – Pecuária US Assessoria de Produção, pela
disponibilização dos dados para que esse relatório fosse elaborado.
Ao professor Joadil Gonçalves de Abreu pela amizade e pelos ensinamentos,
paciência, compreensão e sabedoria nas orientações de projetos de iniciação
científica. Ao professor Daniel de Paula Sousa, que além de orientador ao longo da
graduação, também soube ser amigo e companheiro.
A todos os professores do curso de graduação em Zootecnia da UFMT,
campus Cuiabá, por transmitir seus conhecimentos. Em especial Marinaldo Divino
Ribeiro, Luciano da Silva Cabral, Gerusa da Silva Salles Corrêa e Janaína Januário
da Silva, Lisiane Pereira de Jesus e Rosemary Laís Galati, que acreditaram da
fundação do curso e fizeram o possível e impossível para que esse sonho fosse
concretizado.
Ao Núcleo de Estudos em Ruminantes e Pastagens – NERP/UFMT, pelo
aprendizado e discussões tanto em reuniões quanto em cursos e viagens,
principalmente por me ensinar a controlar minha ansiedade e nervosismo ao falar
em público (da pior – ou melhor - maneira possível, rs). E em especial à professora
Dra. Isis Scatolin de Oliveira, pela paciência em aturar todas as minhas crises pré-
apresentação, pelos conselhos e amizade. Tenho uma admiração enorme por você.
Aos amigos da pós, Mariane, Leni, Lilian, Joelson, Camila, Wagner, Eduardo
e Arthur, pela convivência e aprendizado.
As minhas companheiras de faculdade Sharmilla Gonçalves da Silva
Godinho, Morgana Zanchetin e Laura Aline Zanelatto de Souza pelas conversas,
piadas e pela amizade.
Aos meus amigos cuiabanos, Naiara, Hygor, Silvinho e Elvio, que sempre me
apoiaram e compreenderam minha ausência nos fins de semana.
As minhas amigas de Sapezal Andréia, Aline, Débora, Francine e Kecilén.
Obrigada por fazerem minha adolescência numa cidade de interior muito mais
divertida. Espero vocês na minha formatura.
A minha prima Jennyfer Furlan da Costa, por ser a minha família fora de casa
e por proporcionar que meus dias em Cuiabá fossem mais bem vividos.
Aos atuais e ex-integrantes da família “bovino de leite”, pelo companheirismo,
discussões, coletas, comportamentos, churrascos, gargalhadas, confidências e a
amizade, que levarei para o resto da minha vida: Anna Flávia Plothow, Ana Paula da
Silva Carvalho, Isabela Eloísa Bianchi, Bruna Gomes Macedo, Ronyatta Weich
Teobaldo, Camila Garcia Neves, Karine Dalla Veccia, Luis Henrique Cunha,
Vaguimar Júnior, Julian Kelly e Amanda Menezes.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para minha formação
profissional.
MUITO OBRIGADA!
EPÍGRAFE
Ando devagar porque já tive pressa,
E levo esse sorriso, porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei.
[...]
Cada um de nós compõe a sua história,
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz,
E ser feliz!
Almir Sater
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Local de coleta de imagens por ultrassom em bovinos de
corte.......................................................................................................... ................. 17
Figura 2. Exemplo de AOL e EGS pela técnica da ultrassonografia.................. ....... 17
Figura 3. Correlação simples de algumas variáveis como parâmetro da composição
corporal......................................................................................................... ............. 18
Figura 4. Cocho para arraçoamento dos animais ...................................................... 21
Figura 5.. Bebebouro dividido entre piquetes ............................................................ 22
Figura 6. Disponibilidade de forragem dos módulos ................................................. 23
Figura 7. Caminhão tratador com capacidade de 15 toneladas. ............................... 26
Figura 8. Arraçoamento dos animais. ........................................................................ 27
Figura 9. Obtenção de medida de AOL e EGS (esquerda) e, para MARM (direita) .. 28
Figura 10. Padrões de Quality Grade do sistema USDA, conforme a maturidade e a
marmorização........................................................................................... ................. 30
Figura 11. Imagem do software de apartação de lotes por ultrassom. ...................... 31
Figura 12. Aparte de lotes. Fonte: arquivo pessoal ................................................... 32
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Composição percentual da ração concentrada fornecida.......................... 24
Tabela 2. Relatório de abate dos meses de agosto e setembro de 2014 ................. 25
Tabela 3. Peso e EGS inicial de animais Nelore ....................................................... 33
Tabela 4. Peso e EGS inicial de animais cruzados ................................................... 33
Tabela 5. Relação entre o Yield Grade e o rendimento de carne nos principais
cortes¹ ....................................................................................................................... 34
Tabela 6. Estimativa da qualidade de carcaça de animais da raça Nelore e cruzados
.................................................................................................................................. 34
Tabela 7. Estimativa dos valores médios de peso, EGS e dias de cocho de animais
cruzados .................................................................................................................... 35
Tabela 8. Estimativa dos valores médios de peso, EGS e dias de cocho de animais
Nelore ....................................................................................................................... .35
LISTA DE ABREVIATURAS
AOL – Área de Olho De Lombo
APP – Área de Preservação Permanente
BIF - Beef Improvement Federation
EGS – Espessura de Gordura Subcutânea
GMD – Ganho Médio Diário
MARM - Marmoreio
NDT – Nutrientes Digestíveis Totais
QG - Quality Grades
PCH – Pequena Central Hidrelétrica
PV – Peso Vivo
RC – Rendimento de Carcaça
SISBOV - Sistema de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e
Bubalinos
USDA - United States Department of Agriculture
YG - Yield Grades
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13
2. OBJETIVOS .................................................................................................... 14
3. REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... 15
4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO ............................................................................ 20
4.1 Grupo Bom Futuro ..................................................................................... 20
4.2 Terminação de bovinos de corte ................................................................ 21
4.3 Fábrica de ração ........................................................................................ 25
5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO .......................................... 28
5.1 Apartação de lotes ..................................................................................... 28
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 37
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 38
RESUMO
A técnica de ultrassonografia possibilita predizer em animais vivos a
composição da carcaça através da avaliação de musculosidade e grau de
acabamento de bovinos. Esta metodologia é comum, sendo rotina de manejo em
grandes confinamentos dos Estados Unidos, que visam bom rendimento de
carcaças com boa espessura de gordura subcutânea e gordura intramuscular
(gordura de marmoreio). Objetivou-se neste trabalho avaliar o uso da técnica de
ultrassonografia para predição da área de olho-de-lombo (AOL) e espessura de
gordura subcutânea (EGS) a partir de imagens em bovinos vivos na apartação de
lotes de animais para alimentação em confinamento. O estágio final supervisionado
foi desenvolvido na Fazenda Agromar, em São José do Rio Claro - MT, sendo uma
das propriedades do Grupo Bom Futuro. Foi realizado entre 22 de setembro a 22 de
outubro de 2014, totalizando 180 horas. Foram avaliados 680 animais, sendo 339
animais cruzados (Aberdeen Angus x Nelore e Red Angus x Nelore) e 341 animais
da raça Nelore. A apartação através de ultrassonografia proporciona redução dos
custos, pois diminui os riscos de penalização no frigorífico por falta de acabamento e
despadronização de carcaças e ainda maximiza a eficiência, pois proporciona
gerenciamento mais preciso do tempo em confinamento dos animais avaliados.
Palavras-chaves: área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea,
marmoreio, nelore
13
1. INTRODUÇÃO
Técnicas para determinação do ponto ideal de abate dos animais de
diferentes grupos genéticos em cada um dos diversos sistemas de produção (pasto,
semi-confinamento ou confinamento), são ferramentas interessante para garantir
maior rentabilidade na terminação de bovinos.
A técnica de ultrassonografia em tempo real é uma alternativa para predição
in vivo da composição da carcaça. A avaliação dos parâmetros AOL, marmoreio
(MARM) e EGS também auxilia no manejo de apartação de lotes homogêneos para
arraçoamento e na identificação dos animais a serem abatidos (mínimo de três
milímetros de EGS). Também fornece informações úteis para serem incorporadas
tanto em modelos de crescimento como de seleção animal (BERGEN et al., 1996,
citado por SUGUISAWA, 2002).
A gordura subcutânea é um isolante térmico da carcaça. Maiores espessuras
desta camada evita a contração das fibras musculares e o endurecimento da carne,
além de prevenir o escurecimento e a redução do peso da mesma, dado a perda
excessiva de água (FIGUEIREDO, 2001).
A AOL é utilizada como indicador de composição de carcaça. Esta medida
tem sido relacionada à musculosidade e como indicador de rendimento dos cortes
de alto valor comercial, como contra-filé, filé mignon e picanha. Luchiari Filho (2000)
relata também que esta característica tem uma correlação positiva com a porção
comestível da carcaça.
A quantidade de gordura entremeada aa carne, entenda-se marmoreio, é o
principal fator que influi no sabor, devido às diferenças no perfil de ácidos graxos
(ALVES e MANICO, 2007). Além de conferir características organolépticas à carne,
que estão diretamente associadas à aceitabilidade pelo mercado consumidor, o
marmoreio evita a dissipação de calor da carcaça durante o resfriamento (BOIN e
MANELLA, 2002).
O Grupo Bom Futuro, em busca de melhores resultados no sistema de
terminação de bovinos de corte em sistema de confinamento vêm utilizando essa
técnica, como uma ferramenta prática e precisa no aparte dos lotes de animais.
14
2. OBJETIVOS
Objetivou-se relatar as atividades desenvolvidas ao longo do estágio final e
apontar os benefícios do uso da ultrassonografia na bovinocultura de corte.
15
3. REVISÃO DE LITERATURA
O uso da ultrassonografia em bovinos de corte para avaliação da composição
de carcaça foi iniciado por volta de 1950 na Universidade de Cornell, EUA. Os
aparelhos utilizados na época eram primitivos, as medidas, objetos de avaliações,
eram bastante difíceis de serem obtidas, com resultados nada satisfatórios.
Entretanto, houve uma mudança significativa no início da década de 1980 com a
adoção da ultrassonografia em tempo real (Real-Time ultrassom) na qual a geração
e a recepção de sinais eram realizadas com maior rapidez (STOUFFER, 1991).
O desenvolvimento de técnicas não invasivas e não destrutivas para a
avaliação da composição e qualidade de carcaça em animais vivos têm mobilizado
consideráveis recursos em pesquisa.
Peso vivo e medidas biométricas têm recebido considerável ênfase como
importantes fatores na avaliação do mérito de carcaça do animal in vivo e,
frequentemente, são usados para predizer a porção comestível em carcaças
bovinas. As medidas biométricas permitem conhecer o desenvolvimento das
diferentes partes que compõem o exterior dos animais e predizem com relativa
acurácia o peso corporal e, também, algumas características da carcaça (NARDON
et al., 2001). Entretanto, as relações entre medidas corporais e cortes cárneos
comerciais ainda não são claras para animais zebuínos (CYRILLO et al. 2013).
A ultrassonografia entra neste contexto como técnica viável, acurada e de
custo aceitável para esta função (FROST et al., 1997, citado por SUGUISAWA,
2002). A técnica de ultrassonografia, pode ser utilizada em bovinos para estimar o
crescimento dos músculos, predizer a composição da carcaça (BAILEY et al., 1986,
citado por SUGUISAWA, 2002) e o rendimento de cortes cárneos comerciais antes
do abate (HASSEN et al., 1999 e WALDNER et al., 1992 citados por SUGUISAWA,
2002), além de poder ser utilizada para estabelecer o escore de condição corporal e
definir o estado nutricional dos animais (BRUCKMAIER et al., 1998, citado por
SUGUISAWA, 2002), além de ser utilizado na seleção de animais superiores para
reprodução (FIGUEREDO, 2001).
Há vários tipos de aparelhos de ultrassonografia no mercado. Basicamente o
aparelho de ultrassom mede a reflexão das ondas de alta frequência que ocorre
quando estas passam através dos tecidos. Após o transdutor ter sido colocado em
local apropriado no animal, o aparelho converte pulsos elétricos em ondas de alta
16
frequência (ultrassons), que ao encontrar diferentes tecidos corpóreos dentro do
animal promove uma reflexão parcial (eco) em tecidos menos densos, ou total em
tecidos de alta densidade como os ossos. Mesmo após a ocorrência do eco, as
ondas de alta frequência continuam a se propagar pelo corpo do animal e o conjunto
de informações enviadas pelas reflexões transmitidas ao transdutor é projetado em
uma tela como imagem, onde as mensurações são realizadas (FIGUEREDO, 2001).
Inicialmente, se utilizava o modo “A” ou método de amplitude, no qual o
aparelho ultrassonografia apresenta uma imagem uni direcional da amplitude e
distância do retorno do eco. Posteriormente, foi desenvolvido o método do brilho ou
método “B”, onde há duas exibições de pontos dimensionais. O transdutor é movido
através da superfície e é apresentada uma imagem de um corte anatômico
seccional. O aparelho de ultrassonografia em tempo real é a versão do modo B que
disponibiliza a imagem instantaneamente (BUSBOOM et al., 2000).
Uma das questões importantes está relacionada às avaliações e a definição
do local no animal onde os parâmetros devem ser coletados. Segundo Berg e
Butterfield (1979), citado por Suguisawa, (2002), normalmente as avaliações são
realizadas na região onde comercialmente é obtida a separação física das carcaças
(cortes cárneos), de forma que se possam estabelecer relações entre as medições
feitas no animal vivo e as medições na carcaça no mesmo local. Entretanto, os
cortes e separação das carcaças variam entre países, dificultando dessa forma a
obtenção de medidas padronizadas internacionais.
Atualmente, existem três parâmetros avaliados em carcaças de animais vivos
por ultrassonografia: EGS, AOL e MARM.
A EGS (figura 1) representa a gordura localizada entre a 12ª e 13ª costela
logo acima do músculo Longissimus dorsi (contra-filé). O uso da cobertura de
gordura como ponto de referência para medidas de ultrassom em animais vivos é
muito importante quando se pretende classificar animais para abate (WILSON, 1992,
citado por SILVA, 2002). Esse mesmo autor considera que um fator importante a ser
considerado na escolha do local de medida é a identificação do músculo, neste caso
o Longissimus dorsi, livre de outros músculos para que medida da EGS não seja
distorcida. Hedrick (1983), citado por Silva (2002) afirma que a EGS, medida a ¾ da
borda medial, sobre o músculo Longissimus dorsi, é um eficiente indicador de
acabamento da carcaça.
17
A AOL (figura 1) é uma medida também realizada sobre o músculo
Longissimus dorsi entre a 12ª e 13ª costela e tem sido relacionada com a
musculosidade, mas sua importância não fica limitada a isso, pois é um importante
indicador do rendimento dos cortes de alto valor comercial (LUCHIARI FILHO, 2000).
Stouffer (1966), citado por Silva (2002) afirma que a medida da AOL entre a 12ª e
13ª costelas pode ser mais acurada do que em outras, pois é de fácil localização, o
que aumenta a repetibilidade da medida.
O MARM (figura 1) é uma medida tomada diretamente sobre o músculo
longissimus dorsi entre a 11ª e 13ª costela e é utilizado para predizer a quantidade
de gordura intramuscular depositada (DIBIASI, 2006).
Figura 1. Local de coleta de imagens por ultrassom em bovinos de corte. 1. obtenção da imagem do MARM, 2. Obtenção da imagem da AOL e da EGS
Fonte: BIF Guidelines (2002).
Figura 2. Exemplo de AOL e EGS pela técnica da ultrassonografia. AOL – contornada em amarelo – e da EGS medida a 2/3 do músculo.
Fonte: Dibiasi (2006).
18
A avaliação destes parâmetros por técnicos experientes, têm apresentado alta
repetibilidade, assim como são altas as correlações destas com as medidas
correspondentes tomadas na carcaça após o abate dos animais (HASSEN et al.,
1998). Silva et al., (2003) trabalhando com 22 novilhos Nelore, com peso médio de
279 kg e 24 meses de idade, confinados por um período de 98 dias obteveram
correlação de 0,87 e 0,74 para EGS e AOL, respectivamente, quando comparado as
medidas obtidas via ultrassonografia in vivo e as medidas obtidas 24 horas após o
abate.
Suguisawa et al. (2002) utilizou 115 bezerros Nelore, ½ Angus-Nelore, ½
Simental-Nelore e Canchim, machos não-castrados, com peso médio inicial de 329
kg, confinados por 120 dias, observaram correlações positivas da EGS da carcaça
com a porcentagem e quantidade de tecido adiposo (figura 3).
Figura 3. Correlação simples de algumas variáveis como parâmetro da composição corporal.
Fonte: Suguisawa, (2002).
Variáveis importantes como o conhecimento e experiência do técnico, tipo e
fabricante do equipamento, sondas utilizadas, software de interpretação e o
parâmetro da característica estudada são fundamentais para determinar a exatidão
da técnica de ultrassonografia (BUSBOOM et al., 2000).
19
A ultrassonografia em países em que o sistema de produção de bovinos
prioriza a obtenção de carcaças com a alta deposição de MARM, auxilia a detecção
do ponto ideal de abate dos bovinos. Dessa forma evita o aumento nos custos com
alimentação, uma vez evita-se a manutenção de animais já terminados no sistema, o
excesso de gordura subcutânea e a perda na indústria frigorífica pela realização de
aparas. Nos programas de terminação de bovinos destes países a ultrassonografia
já tem sido utilizada para prever a quantidade de músculo e gordura e a composição
química da carcaça antes do abate, e também na predição do período necessário
destes animais em confinamento para atingir um determinado grau de acabamento
(BRETHOUR, 2000).
No Brasil, a técnica de ultrassonografia poderia contribuir na determinação do
ponto ideal de abate dos animais nos diferentes sistemas de produção, porém com
enfoque diferente, em que a prioridade seria a obtenção do mínimo de EGS indicado
para prevenir a perda da qualidade da carcaça por resfriamento (SUGUISAWA,
2006). Esta metodologia também poderia auxiliar a identificação de práticas de
manejo e nutrição que aperfeiçoem a deposição de músculo e na seleção de
animais de crescimento rápido e com bom rendimento de cortes cárneos.
O uso da ultrassonografia foi comprovada por diversos autores como, Perkins
et al. (1992), citado por Figueiredo (2001), Brethour (1992) citado por Figueiredo
(2001) e Renand e Fisher (1997), que concluíram que medidas feitas por ultrassom
antes do abate podem ser preditores relativamente acurados das medidas reais na
carcaça em gado de corte.
20
4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO
4.1 Grupo Bom Futuro
O Grupo Bom Futuro, de propriedade dos irmãos Eraí, Elusmar e Fernando
Maggi Scheffer compreende uma área de 445 mil hectares, divididos em 86
fazendas. Destas, 20 se dedicam a pecuária de corte.
O início das atividades do grupo ocorreu em São Miguel do Iguaçu, no oeste
do Paraná, em uma pequena propriedade contendo 27 alqueires. A família Scheffer
foi umas das primeiras na região a mecanizar as lavouras, o que permitiu prestar
serviços de plantio e colheita para os vizinhos, a arrendar terras na região e ampliar
a capacidade produtiva, com isso, conseguir oportunidades de financiamentos.
No final dos anos 70, Eraí buscou novas oportunidades no estado de Mato
Grosso. Foi para o norte do estado, em Juara, onde comprou um sítio na esperança
de produzir café, o que se tornou inviável. Em 1982, a convite do tio, André Maggi,
arrendaram juntos a Fazenda Bom Futuro em Rondonópolis. Logo nos primeiros
anos a fazenda se mostrou rentável o que oportunizou a aquisição de novas áreas.
Em 1995, Eraí deixou de trabalhar para o tio, comprou o direito de arrendamento
que cabia a André Maggi na Fazenda Bom Futuro e passou a dedicar-se
integralmente à fazenda.
Adquiriram ou arrendaram terras em Campo Verde, Primavera do Leste, no
médio norte e no Vale do Araguaia. Através do plantio em rotação de culturas, o
Grupo Bom Futuro apresenta média de 54 a 55 sacas de soja por hectare, cerca de
8% a 10% maior que a média do estado, que fica em torno de 50 sacas e da média
nacional. Os mesmos bons índices são estendidos as culturas do algodão e do
milho.
Em média, o Grupo Bom Futuro planta quase 240 mil hectares de soja, 70 mil
hectares de algodão na safra, e 70 mil de milho na safrinha. Colhe 1 milhão de
sacas de soja para ser utilizada como semente, engorda 40 mil bois em sistema de
confinamento a pasto, (integração lavoura-pecuária), e produz dez toneladas de
pescado por ano com outros produtores integrados.
Mais recentemente, o grupo passou a atuar no setor de energia,
prospectando locais apropriados para a construção de PCHs (Pequenas Centrais
Hidrelétricas). Cerca de um terço da área cultivada é propriedade do grupo. As
21
demais áreas são arrendadas ou em sistema de parceria, modelo que ele trouxe do
Paraná e que lhe permitiu crescer, permitindo faturamento em 2009 perto de 1 bilhão
de reais.
A fazenda Agromar, localizada na cidade de São José do Rio Claro – MT a
275 km de Cuiabá-MT se dedica ao cultivo de grãos e a terminação de bovinos de
corte em sistema de confinamento a pasto. Atualmente a fazenda compreende área
total de 25.676 ha, divididos em 12.000 ha de área agrícola durante o período de
safra, 3.500 ha de área fixa destinada a pecuária durante a safra de grãos e de
6.500 ha na entressafra em decorrência da integração lavoura-pecuária, além de
9.000 ha de áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal.
4.2 Terminação de bovinos de corte
O sistema de terminação de bovinos em confinamento na fazenda Agromar
compreende uma área de 1.676 ha e é realizado em módulos. Cada módulo
apresenta área entre 60 e 100 ha, dividido em 2 piquetes cada, totalizando 25
módulos (24 de terminação e 1 módulo de enfermaria). Os cochos com capacidade
de armazenar 8 toneladas de ração por piquete, são cobertos, com dimensões de 60
metros de comprimento e 1 de largura (Figura 4).
Fonte: arquivo pessoal
Figura 4. Cocho para arraçoamento dos animais
22
Os bebedouros são independentes, um por módulo (Figura 5) com
capacidade de armazenar 15.000 litros de água e um reservatório central de
1.000.000 de litros Além disso, 2.000 ha são destinados a pastagem definitiva, onde
os animais são suplementados uma vez na semana com 0,4% do PV, com
suplemento mineral de auto regulação de consumo.
Fonte: arquivo pessoal
As espécies forrageiras utilizadas são Brachiaria ruziziensis em sistemas de
integração lavoura-pecuária, Panicum maximum cv. Mombaça nos módulos,
Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã, nas pastagens definitivas e Panicum maximum
cv. Massai para os equídeos. A taxa de lotação dos módulos e nos pastos definitivos
era de 5,83 3 3,50 UA/ha, respectivamente.
Durante o acompanhamento do arraçoamento dos animais, foi possível
observar que os piquetes apresentavam baixa disponibilidade de forragem (figura 6).
A ração concentrada fornecida supria mais do que 1% do Peso Vivo (PV) o que
caracterizava o sistema de produção como “confinamento a pasto”, levando em
consideração que o fornecimento de nutrientes dos animais era feito todo no cocho.
Os lotes de animais são apartados de acordo com sua condição corporal e
peso. Animais zebuínos com bom escore corporal e de maior peso são direcionados
para os módulos de terminação, enquanto animais com menor escore corporal,
Figura 5. Bebebouro dividido entre piquetes
23
leves e/ou oriundos de sistema de criação extensivo são mantidos a pasto, para que
ocorra uma adaptação do animal ao cocho e/ou recuperação de sua condição
corporal, para então, ser direcionado aos módulos de terminação.
Fonte: arquivo pessoal
Quanto aos animais cruzados, estes são apartados através do peso de
entrada, AOL e MARM, medidas obtidas via ultrassonografia de carcaça. O aparte
tem como base o uso de equações para estimar o tempo de permanência dos
animais nos módulos de terminação, com o objetivo de formar lotes homogêneos,
pesados e bem acabados no menor tempo possível.
Mesmo que os animais tivessem atingido o peso de abate estipulado como
meta, seu envio ao abate só é realizado caso o seu prazo mínimo de permanência
na propriedade tenha sido cumprido, isso se dá pelo fato de que a fazenda aderiu ao
Sistema de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV).
No caso de abate para exportação, os requisitos sanitários exigidos são
determinados pelo mercado comprador. Atualmente, os animais destinados à União
Europeia, por exemplo, devem cumprir os prazos de 40 dias na última propriedade
Figura 6. Disponibilidade de forragem dos módulos
24
(a que enviará o animal para o abate) e de 90 dias na área habilitada para
exportação (propriedade que também aderiu ao SISBOV).
Os animais são arraçoados uma vez ao dia, de segunda-feira a sábado, Aos
domingos eles não foram arraçoados, pois o trabalhador tem direito ao descanso
semanal remunerado, preferencialmente aos domingos (art. 6.º, da Lei 605/49). A
ração é disponibilizada ad libitum nos cochos, sempre no período da manhã.
A composição percentual da ração concentrada fornecida (Tabela 1) tem
como base a torta de algodão, casca de soja peletizada, milho moído e núcleo
mineral e contém 16% de proteína bruta e 75% de NDT. Em média, são fornecidos
12 kg de ração/animal, o que corresponde a 2,5% do PV.
A adaptação dos animais à dieta não é realizada, pois os animais com boa
condição corporal são direcionados ao módulo de engorda com o fornecimento total
da dieta.
Tabela 1. Composição percentual da ração concentrada fornecida
Fonte: Grupo Bom Futuro
A ração concentrada fornecida tem como meta proporcionar um ganho médio
diário (GMD) de 1,50 kg. Porém os animais enviados ao abate entre os meses de
agosto e setembro de 2014 tiveram grande variação no ganho de peso (1,20 a 1,40
kg/dia) (Tabela 2), que pode ter sido influenciado por diversos fatores.
Um dos fatores pode ser a idade. Animais mais jovens são mais eficientes
quanto à conversão alimentar, pois o ganho se dá principalmente pelo crescimento
da massa muscular, que é um tecido com teor de água relativamente elevado. Ao
contrário, animais mais pesados demandam comparativamente maior quantidade de
alimento por kg de ganho, pois estarão sintetizando gorduras a taxas mais elevadas
(DE QUADROS, 2002).
Ingredientes % na dieta
Milho moído 60,5
Casca de soja peletizada 15,0
Torta de algodão 21,0
Núcleo Mineral 3,5
% Proteína Bruna 16
NDT 75
25
Segundo Thiago e Costa (1994) o potencial genético do animal, interferindo
na capacidade de consumo e taxa de conversão alimentar, é um dos principais
fatores determinantes do desempenho animal. Cruzamentos de zebuínos com raças
europeias (principalmente o meio-sangue) têm mostrado alto desempenho em
provas de ganho de peso. Observações mostraram que entre o grupo Nelore e os
mestiços, há uma nítida diferença favorável aos últimos, de aproximadamente 8 a 10
meses na idade de abate, com um mesmo peso da carcaça.
Porém, possivelmente o fator limitante em relação ao desempenho dos
animais foi a baixa disponibilidade de forragem.
Tabela 2. Relatório de abate dos meses de agosto e setembro de 2014
Data Total de animais
Peso Médio (Kg)
GMD Média (@) RC (%)
Classificação de gordura
01/08/2014 748 600 1,37 24,18 60,47 3
01/08/2014 306 650 1,35 25,84 59,64 3
01/08/2014 459 650 1,40 25,66 59,23 3
11/09/2014 204 614 1,20 23,55 57,55 3
12/09/2014 510 600 1,20 23,16 57,92 3
15/09/2014 306 620 1,30 23,76 57,49 2
Fonte: Grupo Bom Futuro
4.3 Fábrica de ração
Toda a ração fornecida aos animais foi obtida através da mistura de
ingredientes realizada na própria fazenda. Os ingredientes utilizados foram oriundos
do próprio grupo, com exceção da casca de soja peletizada, e o núcleo mineral,
fornecidos pela Bunge Alimentos e a Novanis, respectivamente.
A formulação da ração é alterada de acordo com a disponibilidade dos
ingredientes, pela consultoria técnica realizada pela empresa Novanis, a qual
desenvolve todo plano nutricional dos animais do grupo.
26
A fábrica de ração produz em média 150 toneladas de ração/dia, com
capacidade estática para 180 toneladas. Funciona de forma ininterrupta, para suprir
não só a demanda diária do confinamento de bovinos, mas também para a granja de
suínos e galinha de postura, utilizados para consumo próprio.
Os ingredientes são armazenados individualmente a granel, transportados até
a balança e ao misturador através de esteiras e roscas transportadoras helicoidais
que são acionadas pelo painel de controle.
O milho utilizado na ração é triturado em peneira de 8 mm, para então ser
incorporado aos demais ingredientes. Os ingredientes são transportados ao
misturador em cerca de três minutos. Posteriormente são misturados por mais trinta
segundos, totalizando um tempo total de operação de três minutos e meio. O
misturador tem capacidade de misturar 1 tonelada de ração por batida.
Para abastecer os módulos e arraçoar os animais, são utilizados dois
caminhões tratadores. Os caminhões têm capacidade de transportar 8 e 15
toneladas (figura 7) e são abastecidos através de uma bica. A ração estocada pode
suprir a demanda dos animais por três dias, caso ocorra algum problema técnico nos
equipamentos da fábrica que necessite de manutenção.
Fonte: arquivo pessoal.
Figura 7. Caminhão tratador com capacidade de 15 toneladas.
27
Durante o acompanhamento do arraçoamento foi possível notar o grande
desperdício de ração (figura 8); possivelmente pelo grande volume de ração que era
distribuída nos cochos, que acaba extrapolando sua capacidade ou pelo desperdício
animal.
Fonte: arquivo pessoal
Figura 8. Arraçoamento dos animais.
28
5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO
5.1 Apartação de lotes
Foram avaliados 680 machos cruzados (Angus x Nelore) e zebuínos (Nelore),
provenientes de compra pela Fazenda Agromar de propriedade do Grupo Bom
Futuro.
O trabalho de “apartação de lotes através de software de ultrassom para
gestão de resultados em confinamentos”, foi realizado nos dias 16 e 17 de outubro
de 2014 e teve coordenação da técnica Ana Elisa Bardi/PecUS – Pecuária US
Assessoria de Produção, certificada pela UGC (Conselho Ultrassonografia USA)/
ATUBRA/ ABCZ.
As medidas de ultrassom possibilitam o conhecimento do nível de
musculosidade, da espessura de gordura subcutânea do animal e do grau de
marmorização da carne através da mensuração no animal vivo da AOL, EGS e
MARM, respectivamente (Figura 9).
Para a Apartação de Lotes foi utilizado software ultrassom BIA
INTERNATIONAL FEEDLOT®
Fonte: arquivo pessoal.
Figura 9. Obtenção de medida de AOL e EGS (esquerda) e MARM
(direita)
29
A AOL foi mensurada de modo a fornecer uma medida em centímetros
quadrados (cm²). Tem-se que valores de AOL acima de 75 cm² são indicativos de
animais de alto rendimento de cortes cárneos (LUCHIARI FILHO, 2000).
A EGS foi medida em milímetros (mm). Para Magnabosco et al. (2006) a
gordura subcutânea realiza o isolamento térmico, a fim de, evitar o processo de cold-
shortening que é conhecido vulgarmente como “queima da carne”, que se resume na
perda de água, encurtamento das fibras musculares e escurecimento da carne
desprovida de gordura externa.
Dado a importância do MARM na suculência e sabor da carne, principalmente
quando consumida na forma grelhada, tem-se esta característica como critério de
sobrepreço das carnes de qualidade superior nos EUA, Canadá, Japão e Austrália.
Apesar de não haver um sistema de classificação e tipificação de carcaças
brasileiro que bonifique por maior marmoreio e prioriza apenas características como
sexo, maturidade fisiológica e grau de acabamento, sabe-se que o MARM é
condição básica para atender as exigências de mercados de exportação mais
exigentes e também nichos de mercado (restaurantes de cortes especiais), que
remunerem por esta qualidade.
Em decorrências da técnica da ultrassonografia de carcaças de bovinos in
vivo ter sido desenvolvida nos EUA (BRANNEN, 2008 e GOMIDE, RAMOS e
FONTES, 2006), é utilizado o sistema de classificação americano, o USDA Grade
para avaliação das características de carcaça obtidas. Este sistema se divide em
duas categorias: o Yield Grades que avalia o rendimento da carcaça e o Quality
Grades que avalia quanto a qualidade dos cortes (GOMIDE, RAMOS e FONTES,
2006).
O Yield Grade (YG) é a relação negativa quanto ao rendimento de carne na
desossa, expresso em números que vão de 1 a 5, onde 1 corresponde a maior
rendimento a desossa e 5 ao meno rendimento. O rendimento de carne é estimado
por uma equação de regressão múltipla, onde os indicadores são:
EG = medida de espessura de gordura entre 12° e 13° costela (mm)
AOL= área de olho de lombo entre a 12° e 13° costela (cm²)
PCQ= peso de carcaça quente (kg)
PG= porcentagem de gordura renal, pélvica e torácica
YG= 2,5 + (0,1. EG) + (0,0084. PCQ) + (0,2. PG) – (0,0496. AOL)
30
O grau de marmoreio é o segundo critério de avaliação considerado na
determinação do Quality Grade no sistema USDA grade. A avaliação é realizada nos
abatedouros e utiliza informação da quantidade e qualidade de gordura de
marmoreio na seção transversal no lombo entre a 12ª e 13ª costelas (GOMIDE,
RAMOS e FONTES, 2006); exatamente o mesmo ponto utilizado pelo sistema de
ultrassonografia in vivo. O USDA Quality Grade classifica as carcaças em sete
categorias quanto ao grau de marmoreio. De uma carne extremamente marmorizada
a uma carne sem marmoreio as classificações são Prime, Choice, Select, Standard,
Commercial, Utility e Cutter (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006). As carcaças
Choice possuem um valor de venda entre 5% e 10% maior que as carcaças Select
no mercado mundial (MAGNABOSCO et al., 2006) (figura 10).
Figura 10. Padrões de Quality Grade do sistema USDA, conforme a maturidade e a marmorização.
Fonte: The best Beef
O software de ultrassom utilizado pela Pecus (Figura 11) substitui o aparte
tradicional (peso e escore visual) separando os indivíduos em lotes e predizendo
quantos dias de cocho serão necessários para alcançar a meta estipulada pela
fazenda (rendimento de carcaça, peso de abate e acabamento de carcaça). A
interpretação do software é individual e automática, realizada em segundos (média:
50 a 90 animais avaliados/hora).
31
Fonte: Adaptado de Suguisawa et al. (2009)
Os animais são apartados em 3 ou 4 lotes (Figura 12.), de acordo com a taxa
de ganho do animal ao sistema de confinamento, obtida através de estimativa via
ultrassonografia. No final da apartação, todos os 4 lotes irão atingir a meta
estipulada, porém em diferentes datas de abate (intervalo de 20 ou 21 dias). A
diferença entre os lotes é a taxa de ganho individual do animal no sistema de
produção, onde o lote 1 é o de rápido ganho o lote 4 os animais de ganhos mais
lentos no confinamento.
Desta forma, os animais são direcionados ao abate dentro das datas
programadas, evitando quebra de lotes e realocar os animais restantes, o que gera
estresse e redução no desempenho dos animais logo após a reapartação.
.
.
Figura 11. Imagem do software de apartação de lotes por ultrassom.
32
Figura 12. Aparte de lotes.
Fonte: Grupo Bom Futuro
A apartação por meio de ultrassom se dá pela seguinte maneira: no início do
trabalho, é delineada a meta da fazenda (rendimento de carcaça, peso e
acabamento dos animais). Em seguida, cada animal é avaliado e coletam-se
parâmetros de composição de carcaça pela ultrassonografia (AOL, EGS e MAR) e
pesagem. O software utilizado associa estas informações ao GMD proporcionado
pela dieta instantaneamente. O mesmo direciona o animal para o lote adequado, e
ainda informa o número de dias necessários para atingir a meta e prediz seu
desempenho para período de cocho.
A apartação foi delineada para atender a meta da fazenda de máxima de
deposição de carne com mínimo de acabamento. Atualmente a fazenda não recebe
premiação por qualidade de carcaça. Assim, o aparte respeitou os seguintes
parâmetros para abate:
Rendimento de Carcaça: 58%;
Peso ao Abate: 640 kg (variação 620 - 660 Kg);
Ganho diário: 1,5 kg;
Gordura na carcaça (YG): 2 (mediana);
33
Peso Médio do Lote no momento da avaliação: 480 kg
(Cruzados), 485 kg (Nelore).
Os animais apartados foram oriundos de pastos da própria fazenda, onde
foram suplementados com sal mineral antes do aparte. As tabelas 3 e 4 mostram o
peso e EGS inicial de cada lote.
Tabela 3. Peso e EGS inicial de animais Nelore
Lote Quantidade Peso (kg) EGS (mm)
1 92 512 2,9
2 124 472 2,6
3 140 445 2,6
4 21 415 2,5
Total 341 461 2,65
Fonte: Grupo Bom Futuro
Tabela 4. Peso e EGS inicial de animais cruzados
Lote Quantidade Peso (kg) EGS (mm)
1 147 512 3,0
2 104 470 2,9
3 66 438 2,7
4 22 409 2,5
Total 339 457 2,8
Fonte: Grupo Bom Futuro
A variação quanto escore de marmoreio nos animais avaliados foi encontrada
tanto para animais cruzados (1,56 a 1,97) quanto para os Nelores (1,25 a 1,72).
Sabe-se que a média de marmoreio da raça Angus está em torno de 3,5 de escore
de ultrassom (KING et al., 2010). Embora o escore de marmoreio da carne ainda
seja muito pouco difundido no Brasil, sua mensuração pode vir a se tornar uma
34
ferramenta de seleção inovadora, agregando valor aos cortes especiais produzidos,
já que esta característica afeta diretamente a suculência e o sabor da carne.
Foi observado grande potencial genético dos indivíduos para deposição de
carne. É importante observar as medidas de EGS e YG ao abate, pois a EGS está
relacionada com a proteção da carcaça no resfriamento, já o YG está relacionado
com o rendimento dos principais cortes. Essa relação entre o Yield Grade e o
rendimento de carne nos principais cortes (traseiro, lombo, costela e paleta) é
apresentada na Tabela 5. Apesar destes cortes representarem 80% da carne da
carcaça, eles representam 95% do valor econômico, portanto são utilizados como
índice do rendimento econômico (SAINZ e ARAÚJO, 2001).
Tabela 5. Relação entre o Yield Grade e o rendimento de carne nos principais cortes¹
Yield grade % de carne nos principais cortes
1 52,6 – 54,6
2 50,3 – 52,3
3 48,0 – 50,0
4 45,7 – 47,7
5 43,3 – 45,4
1Principais cortes: traseiro, lombo, costela e paleta.
Fonte: AMSA, 2001, citado por Sainz e Araújo (2001).
Em relação a qualidade da carcaça, tanto os animais Nelore como os
cruzados apresentaram uma maior proporção classificada como Standard (ST), 79 e
74%, respectivamente. Dentre os 341 animais Nelore avaliados, apenas 2,05%
apresentaram condições de proporcionar carcaça Choice, enquanto os 339
cruzados, apenas 0,30% (tabela 6).
Tabela 6. Estimativa da qualidade de carcaça de animais da raça Nelore e cruzados
Nelore
Cruzados
Lote ST¹ SE² CH³ PR*
ST¹ SE² CHO³ PR*
1 74 16 2 0
119 27 1 0
2 100 23 1 0
72 32 0 0
35
3 80 20 4 0
50 16 0 0
4 16 5 0 0
11 11 0 0
¹Standard (ST), ²Select (SE), ³Choice (CH) e *Prime (PR) Fonte: Grupo Bom Futuro
A data de embarque/abate predita pelo software variou de 93 - 159 dias
(tabelas 7 e 8), o que permite avaliar custos e viabilidade para terminação de cada
lote.
Sabe-se que grupos genéticos apresentam diferentes taxas e eficiências de
deposição dos constituintes químicos corporais (NRC, 1996). O peso tem grande
influência sobre a composição corporal, pois a proporção de gordura aumenta com o
aumento do peso do animal. Animais oriundos de cruzamentos com Angus
apresentam maior precocidade na deposição de gordura na carcaça em comparação
àqueles da raça paterna zebuína (GOULART et al. 2008).
Tabela 7. Estimativa dos valores médios de peso, EGS e dias de cocho de animais cruzados
Fonte: Grupo Bom Futuro
Tabela 8. Estimativa dos valores médios de peso, EGS e dias de cocho de animais Nelore
Lote Quantidade
Peso
(kg)
EGS
(mm)
AOL
(cm²)
MARM
(%) YG
Dias de
cocho
1 147 658 5,96 95,25 2,43 1,67 93
2 104 646 6,78 92,82 2,53 1,78 114
3 66 644 6,96 88,91 2,51 2,01 137
4 22 647 7,38 86,88 2,76 2,17 156
Total 339 648,75 6,77 90,97 2,56 1,91
Lote Quantidade
Peso
(kg)
EGS
(mm)
AOL
(cm²)
MARM
(%) YG
Dias de
cocho
1 92 651 5,74 87,93 2,41 1,97 93
2 124 641 6,15 88,01 2,29 1,96 110
3 104 646 6,78 87,03 2,43 2,09 131
4 21 647 7,31 84,27 2,43 2,29 159
36
Fonte: Grupo Bom Futuro
Segundo Lopes et al., (2008), nos cruzamentos com os genótipos taurinos
britânicos, a utilização de até 25% dos genótipos zebuínos não interfere o
acabamento das carcaças e a EGS e ainda traz inúmeros benefícios que convergem
em importantes valores de heterose.
Bianchini et al. (2008) e Pacheco et al. (2010), comparando animais mestiços,
encontraram maiores valores de AOL para animais taurinos e observaram aumento
considerável nesse parâmetro conforme o grau de sangue taurino.
Delehant et al., (1998) descreveram um modelo para estimar a EGS de
animais no início da fase de terminação, utilizando a EGS inicial, GMD, percentagem
de gordura intramuscular inicial por kg de PV, EGS inicial por kg de PV e dias em
confinamento, e obtiveram um R² de 0,81. De acordo com os autores, medidas de
ultrassom tomadas no início da fase de terminação podem ser utilizadas para
estimar a EGS e propicia um meio de classificar animais em diferentes grupos com
maior padronização final dos lotes do que a simples avaliação visual.
A deposição de gordura de marmoreio apresenta diferenças entre as raças,
bem como dentro de raças. Raças de origem britânica apresentam
reconhecidamente alta capacidade de deposição de gordura de marmoreio,
enquanto que raças zebuínas e continentais apresentam baixa capacidade de
deposição de gordura intramuscular (BURROW, 2001)
Silva (2002), utilizando apenas características obtidas por ultrassonografia,
acrescidas do PV apresentou uma boa acuracidade e podem auxiliar na
classificação de animais em confinamento, com o objetivo de obterem-se animais
com acabamento mais homogêneo no momento do abate.
Total 341 646 6,30 86,81 2,39 2,08
37
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estágio final supervisionado realizado na Fazenda Agromar foi de extrema
importância para minha formação tanto profissional, como pessoal. Do ponto de
vista profissional, tive a oportunidade de vivenciar situações práticas onde foi
necessário fazer a relação das atividades com a teoria aprendida em sala de aula,
na busca por alternativas simples para resolução de problemas cotidianos.
Do ponto de vista pessoal, foi extremamente prazeroso e gratificante, pois fui
muito bem recebida e tratada, além de conhecer pessoas incríveis e fazer amizades.
38
REFERÊNCIAS
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