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Itabaiana 13 a 15 de agosto de 2018
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SERVICcedilO PUacuteBLICO FEDERAL
MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CAMPUS PROF ALBERTO CARVALHO
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
Itabaiana
13 a 15 de agosto de 2018
Itabaiana 13 a 15 de agosto de 2018
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FICHA CATALOGRAacuteFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA BICAMPI UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
S471e
Semana da Geografia (8 2018 Itabaiana SE)
Estado e reformas poliacuteticas em tempos de crise
[recurso eletrocircnico] ANAIS da VIII Semana da
Geografia Estado e reformas poliacuteticas em tempos
de crise de 13 a 15 de agosto organizadores
Ana Rocha dos Santos et al ndash Itabaiana SE
Departamento de Geografia Universidade Federal
de Sergipe 2018
642 p
ISBN 978-85-7822-636-7
1 Geografia ndash Congresso 2 Reformas poliacuteticas
3 Crise I Universidade Federal de Sergipe II
Santos Ana Rocha dos III Tiacutetulo
CDU 911(8137)
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REALIZACcedilAtildeO
APOIO
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SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 04
Comissatildeo Organizadora 05
Comissatildeo Cientiacutefica 06
Eixos de Trabalho 07
Anais 09
Eixo 1 - Espaccedilo Agraacuterio 10
Eixo 2 - Espaccedilo Urbano 284
Eixo 3 - Natureza e Sociedade 353
Eixo 4 - Ensino de Geografia 503
Eixo 5 - Estado Trabalho e Poliacuteticas 500
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APRESENTACcedilAtildeO
A Semana da Geografia do Departamento de Geografia
do Campus Prof Alberto Carvalho eacute um momento particular
na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores por reunir os
interessados na produccedilatildeo do conhecimento geograacutefico e
apresentar os resultados de trabalhos e pesquisas
desenvolvidos por docentes alunos e demais pesquisadores
Desde a sua primeira ediccedilatildeo (em 2008) a realizaccedilatildeo da Semana
da Geografia se destaca por evidenciar estudos de natureza
geograacutefica sobre o estado sergipano notadamente sobre a
microrregiatildeo de Itabaiana
Os resultados dos trabalhos apresentados durante a
oitava versatildeo do evento estatildeo reunidos nestes anais que
comportam os temas os debates e a reflexatildeo empreendidos
pelos convidados estudantes e professores que participaram
dos Gts
Desejamos uma boa leitura
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COMISSAtildeO ORGANIZADORA
Profordf Drordf Ana Rocha dos Santos - DGEI
Acadecircmica Andressa Arauacutejo Souza - DGEI
Profa Drordf Diana Mendonccedila de Carvalho - DGEI
Prof Dr Joseacute Hunaldo Lima ndash DGEI
Me Josimar de Souza Lima
Acadecircmico Juacutenio Andrade Menezes - DGEI
Prof Dr Marcelo Alves Mendes - DGEI
Graduado Franklin da Cruz Pereira ndash DGEI
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COMISSAtildeO CIENTIacuteFICA
Andrea Coelho Lastoacuteria - USP
Andreacutea Lourdes Monteiro Scabello - UFPI - Universidade
Federal do Piauiacute
Cristiano Apriacutegio dos Santos - UFS
Daniel Almeida da Silva - UFS
Daniel Rodrigues de Lira - UFS
Fabriacutecia de Oliveira Santos - UFS
Geisedryelli Castro Santos - SEED
Josefa de Lisboa Santos - UFS
Larissa Monteiro Rafael - UFS
Luiz Henrique de Barros Lyra - UPE - Universidade de
Pernambuco
Maacutercia da Silva - UNICENTRO - Universidade Estadual do
Centro Oeste - PR
Marleide Maria Santos Seacutergio - UFS
Oscar Alfredo Sobarzo Mintildeo - UFS
Vanessa Dias de Oliveira ndash UFS
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EIXOS DE TRABALHO
EIXO 1 - ESPACcedilO AGRAacuteRIO
Objetiva promover a discussatildeo sobre as questotildees ligadas
ao campo a natureza da produccedilatildeo agriacutecola e os modelos de
desenvolvimento os movimentos sociais e a relaccedilatildeo campo-
cidade
EIXO 2 - ESPACcedilO URBANO
Objetivo analisar a cidade quanto ao seu conteuacutedo e
formas os processos socioespaciais que permeiam a produccedilatildeo
do espaccedilo urbano a problemaacutetica ambiental que coloca em
evidecircncia os limites impostos pela apropriaccedilatildeo da natureza e
revela os riscos que a loacutegica de produccedilatildeo capitalista impotildee para
a reproduccedilatildeo social
EIXO 3 - NATUREZA E SOCIEDADE
A relaccedilatildeo sociedade-natureza estaacute no cerne nos estudos
da Geografia Este eixo eacute dedicado aos trabalhos e pesquisas
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que abordam a dinacircmica proacutepria da natureza e sua apropriaccedilatildeo
para a (re) produccedilatildeo da sociedade capitalista considerando os
graves problemas que resultam da sua exploraccedilatildeo
EIXO 4 - ENSINO DE GEOGRAFIA
Eixo centrado na anaacutelise da poliacutetica educacional
curriacuteculo praacuteticas pedagoacutegicas metodologias experiecircncias e
vivecircncias de ensino
EIXO 5 - ESTADO TRABALHO E POLIacuteTICAS
PUacuteBLICA
Para compreender e explicar a produccedilatildeo do espaccedilo
geograacutefico eacute necessaacuterio o aprofundamento da leitura e anaacutelise
do trabalho como centralidade para estudar a sociedade
contemporacircnea assim como o Estado e as poliacuteticas puacuteblicas
As transformaccedilotildees ocorridas no campo e na cidade satildeo
resultantes da atuaccedilatildeo do Estado atraveacutes de poliacuteticas de
planejamento e ordenamento territorial assim como de
poliacuteticas sociais e econocircmicas que redesenham o espaccedilo para
atender interesses especiacuteficos
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ANAIS
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EIXO 1 - ESPACcedilO AGRAacuteRIO
CONFLITOS SOCIOESPACIAIS NO CAMPO
AGRONEGOacuteCIO E CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS
Ana Paula Almeida Silva1 Universidade Federal de Sergipe (Mestranda-PPGEOUFS)
aninha18rodriguez15hotmailcom
Marleide Maria Santos Sergio2 Universidade Federal de Sergipe (DGEI PPGEOUFS)
marleidesergiogmailcom
RESUMO Os antagonismos entre as classes sociais no campo
brasileiro tecircm acirrado as disputas territoriais entre proprietaacuterios de terra e trabalhadores camponeses desterritorializados pelo capital A poliacutetica agriacutecola do paiacutes incentiva a expansatildeo do agronegoacutecio enquanto modelo de desenvolvimento para o campo impregnado por uma ideologia que tem no siacutembolo da modernizaccedilatildeo uma de suas marcas Esse modelo tem gerado desdobramentos perversos como o agravamento da concentraccedilatildeo de terras a precarizaccedilatildeo
1 Membro do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOCNPQPPGEO) e do Laboratoacuterio de
Estudos territoriais (LATERPPGEOUFS) 2 Profordf do DGEI PPGEO pesquisador do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e Produccedilatildeo do Espaccedilo Geograacutefico (PROGEOCNPQPPGEO) Membro do Laboratoacuterio de Estudos
territoriais (LATERPPGEOUFS)
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das relaccedilotildees de trabalho e o desemprego O presente estudo objetiva fazer uma anaacutelise dos conflitos socioespaciais que se articulam na produccedilatildeo do espaccedilo do municiacutepio de Divina Pastora em Sergipe atraveacutes da atividade canavieira pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral A metodologia partiu de levantamentos bibliograacuteficos leituras em teses artigos pesquisas de campo com observaccedilatildeo da realidade espacial e tambeacutem no banco de dados do IBGE Esses procedimentos contribuiacuteram para realizar um estudo qualitativo das relaccedilotildees espaciais que se materializam no campo brasileiro na atualidade Desse modo constatamos o agravamento da questatildeo agraacuteria pela expansatildeo do agronegoacutecio no campo legitimada pelo Estado Identificou-se a segregaccedilatildeo espacial promovida pela concentraccedilatildeo da terra trabalhadores desterritorializados no campo e nas periferias urbanas em constante situaccedilatildeo de vulnerabilidade social pela negaccedilatildeo do acesso agrave terra Ao mesmo tempo aponta os laccedilos de solidariedade que marcam as relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeo resistecircncia cotidiana frente a segregaccedilatildeo espacial presente em Divina Pastora aleacutem da persistecircncia dos resquiacutecios histoacutericos do modelo escravocrata de produccedilatildeo que sobrevive materializado na paisagem sob a forma do agronegoacutecio Palavras-chave Agronegoacutecio Questatildeo Agraacuteria Vulnerabilidade Social
INTRODUCcedilAtildeO
O sistema de produccedilatildeo presente no espaccedilo agraacuterio brasileiro ligado ao modelo de desenvolvimento agroexportador expotildee a inserccedilatildeo do Brasil no pacto colonial sob a marca do extermiacutenio das populaccedilotildees nativas e do escravismo ao mesmo tempo em que produz diversos conflitos no campo As bases desse sistema foram produzidas ao longo de quatro seacuteculos sendo a terra explorada a partir do
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latifuacutendio presenccedila da monocultura e exploraccedilatildeo do trabalho humano
Essas caracteriacutesticas de utilizaccedilatildeo da terra no campo brasileiro resultaram na formaccedilatildeo de um grave problema agraacuterio A concentraccedilatildeo da terra e seus desdobramentos socioespaciais tecircm suscitado processos conflituosos que tiveram iniacutecio com a escravizaccedilatildeo do trabalho indiacutegena posteriormente dos trabalhadores africanos e exploraccedilatildeo do trabalho assalariado A predominacircncia das grandes propriedades formadas a partir da colonizaccedilatildeo conjuntamente com as oligarquias rurais no campo formou um enorme contingente de trabalhadores sem acesso agrave terra e extremamente explorados Como aponta Andrade (1987 p 6) foi a partir desse momento que ldquoa maioria da populaccedilatildeo perdeu a liberdade na forma mais ampla possiacutevel tornando-se objeto mercadoria e onde a concentraccedilatildeo fundiaacuteria levada ao extremo impedia que pobres livres tivessem acesso agrave terra para cultivaacute- lardquo
Eacute nesse contexto que a questatildeo agraacuteria vai se delineando e de forma crescente a terra passou a servir aos interesses mercantilistas do capitalismo A realidade no espaccedilo agraacuterio brasileiro hoje representa os desdobramentos desse processo histoacuterico que impocircs um modelo de produccedilatildeo agriacutecola de exploraccedilatildeo da terra que ignora a necessidade de reformas estruturais a exemplo da reforma agraacuteria Com isso o papel da terra no Brasil foi produzir mateacuterias primas para a exportaccedilatildeo enriquecendo antigas metroacutepoles de colonizaccedilatildeo com os ganhos da acumulaccedilatildeo primitiva de capital O resultado da poliacutetica agraacuteria instituiacuteda foi a negaccedilatildeo do direito a uma vida digna agrave maioria da populaccedilatildeo que sobrevive agraves margens da sociedade como matildeo de obra disponiacutevel para exploraccedilatildeo
A partir de 1930 os processos econocircmicos direcionam o Brasil para uma integraccedilatildeo agrave ordem econocircmica mundial
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incompatiacutevel com o modelo agroexportador dominante no paiacutes ateacute entatildeo De acordo com Lisboa (2007) a coerecircncia desse processo estava na unidade entre a economia cafeeira e o surgimento da industrializaccedilatildeo em um contexto de realizaccedilatildeo de uma nova divisatildeo internacional do trabalho na qual a dependecircncia do capital industrial em relaccedilatildeo ao capital cafeeiro estava associada agrave posiccedilatildeo subordinada da economia brasileira a economia-mundo
Natildeo obstante essa realidade e a opccedilatildeo do Estado brasileiro por uma modernizaccedilatildeo de base teacutecnica como saiacuteda para os problemas do campo a questatildeo da terra manteve centralidade no Brasil sem alteraccedilatildeo na legitimaccedilatildeo do domiacutenio desse meio de produccedilatildeo pelas oligarquias rurais e amparadas em um pacto de classes que as incluiacutea A luta de classes foi apaziguada pelo poder dominante atraveacutes da repressatildeo uso da forccedila ou com poliacuteticas paliativas eou compensatoacuterias
A modernizaccedilatildeo sustentada com vultosos financiamentos puacuteblicos e embalada com o falso discurso de resolver os problemas no campo estimulou a mecanizaccedilatildeo da agricultura e com isso a concentraccedilatildeo de terra ecircxodo rural reduccedilatildeo do trabalho no campo e desemprego em massa contribuindo para o aumento das desigualdades sociais no campo Esse processo em curso a partir da deacutecada de 1960 atuou em benefiacutecio do latifuacutendio que passou a ser valorizado pelas poliacuteticas puacuteblicas para o pseudo desenvolvimento do campo
Agora com outra denominaccedilatildeo o latifuacutendio assume a condiccedilatildeo de empresa agropecuaacuteria manteacutem a presenccedila da concentraccedilatildeo fundiaacuteria agravada pela compra da terra por grandes grupos empresariais expansatildeo das monoculturas no campo com agravamento das consequecircncias ambientais e exploraccedilatildeo do trabalho humano Assim o latifuacutendio moderno denominado de agronegoacutecio agrava a problemaacutetica agraacuteria no
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cenaacuterio brasileiro trazendo diversos conflitos territoriais que emergem da relaccedilatildeo sociedade natureza
Neste trabalho abordaremos o agravamento da questatildeo agraacuteria pelo agronegoacutecio da cana de accediluacutecar pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral no territoacuterio do municiacutepio sergipano de Divina Pastora bem como os processos gerados pela concentraccedilatildeo da terra na reproduccedilatildeo dos trabalhadores rurais que por sua vez sobrevivem em situaccedilatildeo de grave vulnerabilidade social condiccedilatildeo essa agravada pela ampliaccedilatildeo dos territoacuterios do capital no campo que retira a terra de subsistecircncia camponesa para os empreendimentos de acumulaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo do lucro
Como procedimentos metodoloacutegicos foram realizados estudos em fontes secundaacuterias e primaacuterias para a compreensatildeo da realidade analisada atraveacutes de levantamentos bibliograacuteficos leituras em livros artigos teses e dissertaccedilotildees que contribuiacuteram para a compreensatildeo dos processos espaciais inerentes a este estudo pesquisa no banco de dados do IBGE Aleacutem disso foi fundamental estudos de campo para a observaccedilatildeo das relaccedilotildees socioespaciais que marcam o espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora onde realizou-se trabalho de campo com a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios (um total de 47) e realizaccedilatildeo de entrevistas com trabalhadores camponeses no espaccedilo rural e urbano Todos esses procedimentos contribuiacuteram para levantar reflexotildees e discussotildees a respeito da concentraccedilatildeo fundiaacuteria e sua relaccedilatildeo com o agronegoacutecio aleacutem das relaccedilotildees socioespaciais presentes no municiacutepio de Divina Pastora situando as desigualdades sociais e vulnerabilidades enfrentadas pelos trabalhadores locais
AGRONEGOacuteCIO E A PERMANEcircNCIA DA QUESTAtildeO AGRAacuteRIA
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A instalaccedilatildeo das grandes empresas agropecuaacuterias no campo tem sido financiada pelas poliacuteticas puacuteblicas brasileiras com o fortalecimento e consolidaccedilatildeo do agronegoacutecio no campo Cavalcante e Fernandes (2008) afirmam que o agronegoacutecio eacute expressatildeo do capitalismo e suas diretrizes neoliberais no campo atraveacutes de forte atuaccedilatildeo das agecircncias de regulaccedilatildeo financeiras internacionais Ainda para os autores esse termo surgiu na deacutecada de 1990 como forma de restabelecer a agricultura comercial exportadora apoacutes uma das grandes crises do capital Na concepccedilatildeo de Campos (2011 p 109) o agronegoacutecio deve ser compreendido como
() uma complexa articulaccedilatildeo de capitais direta e indiretamente vinculados com os processos produtivos agropecuaacuterios que se consolida no contexto neoliberal sob a hegemonia de grupos multinacionais e que em alianccedila com o latifuacutendio e o Estado tem transformado o interior do Brasil em um locus privilegiado de acumulaccedilatildeo capitalista produzindo simultaneamente riqueza para poucos e pobreza para muitos e por conseguinte intensificando as muacuteltiplas desigualdades socioespaciais
Entendemos assim que os novos empreendimentos
articulados pelo agronegoacutecio aumentam as contradiccedilotildees no campo As desigualdades sociais geram cada vez mais pobreza e tambeacutem conflitos entre proprietaacuterios de terras e trabalhadores expropriados Para Ramos Filho (2008) o cenaacuterio de grave desigualdade na estrutura fundiaacuteria a improdutividade da maioria das grandes propriedades associado aos projetos puacuteblicos e privados de modernizaccedilatildeo da agricultura apresentam-se como as causas da expulsatildeo da expropriaccedilatildeo e da exclusatildeo nodo campo De acordo com as
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anaacutelises de Conceiccedilatildeo (2011) o agronegoacutecio possui uma loacutegica concentradora de terras de tecnologia e riquezas expropriando famiacutelias produzindo desemprego e baixa qualidade de alimentos Shimada (2014 p 100) acrescenta que ldquoo agronegoacutecio se estabeleceu pela junccedilatildeo do grande capital agroindustrial da grande propriedade fundiaacuteria do capital financeiro e de creacutedito priorizando o fortalecimento dos grandes proprietaacuterios de terra com a oligopolizaccedilatildeo do espaccedilo agriacutecola e a dinacircmica do mercado de terrasrdquo Lopes (2017 p 96) analisa que o agronegoacutecio eacute ldquoum modelo de desenvolvimento agroexportador e de produtividade em que seus conjuntos de relaccedilotildees praticam a superexploraccedilatildeo do trabalho peonagens e trabalho escravo contemporacircneordquo
Partindo dessas consideraccedilotildees ratificamos que o agronegoacutecio intensifica a pobreza no campo pois centraliza a terra nas matildeos de poucos proprietaacuterios contribuindo para a exclusatildeo social e degradaccedilatildeo ambiental Assim eacute nas aacutereas de expansatildeo das atividades produtivas ligadas ao agronegoacutecio que ocorre simultaneamente a intensificaccedilatildeo da pobreza no campo Essa realidade eacute uma contradiccedilatildeo dos discursos presentes nas propagandas veiculadas pelos meios de comunicaccedilatildeo no Brasil Os mesmos afirmam que o agronegoacutecio diante da grande produtividade eacute o principal meio de produccedilatildeo de alimentos para o consumo humano Entretanto a realidade agraacuteria demonstra que o agronegoacutecio natildeo produz alimentos mas sim mateacuterias primas agrocombustiacuteveis destinados ao mercado externo Aleacutem disso a ideologia presente nesse modelo produtivo se expande destruindo comunidades tradicionais camponesas e suas relaccedilotildees de produccedilatildeo igualmente os recursos naturais Conforme aponta Conceiccedilatildeo (2013 p 94) ldquoa modernizaccedilatildeo do campo natildeo alterou a estrutura de concentraccedilatildeo de terra mas reforccedilou a perda da condiccedilatildeo camponesa na medida em que acentuou o monopoacutelio da
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produccedilatildeo subordinando o trabalho e a terra com o objetivo do lucrordquo
Nesse contexto percebemos a violecircncia gerada pelo avanccedilo do agronegoacutecio concomitante aos problemas e conflitos socioespaciais no campo e nas cidades O resultado eacute a exclusatildeo social inter-relacionada com o processo de desigualdade e de pobreza (LOPES 2017 p101) Nesse sentido afirma-se que o agronegoacutecio brasileiro e as poliacuteticas agraacuterias aprofundam a histoacuterica questatildeo agraacuteria vivenciada no Brasil ao longo de seacuteculos subjugando significativa parcela da populaccedilatildeo brasileira Carvalho (2010 p 399) em suas anaacutelises justifica que a questatildeo agraacuteria ldquodiz respeito ao fato de que a grande maioria da populaccedilatildeo rural brasileira se encontra privada da livre disposiccedilatildeo da mesma terra em quantidade que baste para lhe assegurar um niacutevel adequado de subsistecircnciardquo Essa condiccedilatildeo eacute resultado da estrutura agraacuteria controlada pelo poder das oligarquias rurais dominantes De acordo com os estudos de Azar (2011 p 2)
[] a questatildeo agraacuteria brasileira eacute o reflexo das relaccedilotildees de favorecimento que ao longo do tempo o Estado proporcionou agrave classe dominante promovendo-lhe condiccedilotildees de privileacutegios que tecircm por base a apropriaccedilatildeo da terra atraveacutes de mecanismos de expropriaccedilatildeo a exemplo do arcabouccedilo juriacutedico que foi sendo desenvolvido ao longo da histoacuteria
Compreende-se que a concentraccedilatildeo da terra nas matildeos
de poucos proprietaacuterios encontra respaldo no aparato juriacutedico produzido pelo Estado e a classe dominante com o objetivo de manter a riqueza atraveacutes da exploraccedilatildeo da terra na perspectiva da acumulaccedilatildeo do capital Por isso a terra no Brasil tem em sua histoacuteria de colonizaccedilatildeo a concentraccedilatildeo e expropriaccedilatildeo O relatoacuterio da Oxfam (2016) apresenta as diferenccedilas entre grandes e pequenas propriedades em nuacutemero
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de estabelecimentos e no percentual que representam no total das aacutereas rurais do paiacutes a partir de dados obtidos no censo agropecuaacuterio 2006 As anaacutelises mostram que os grandes estabelecimentos somam apenas 091 do total dos estabelecimentos rurais brasileiros mas concentram 45 de toda a aacuterea rural do paiacutes os estabelecimentos com aacuterea inferior a 10 hectares representam mais de 47 do total de estabelecimentos do paiacutes e ocupam menos de 23 da aacuterea total Essa disparidade eacute uma realidade presente em todos os Estados brasileiros
No contexto do estado de Sergipe mesmo tendo dimensotildees territoriais pequenas em relaccedilatildeo aos demais estados brasileiros a concentraccedilatildeo da terra reflete as desigualdades e as condiccedilotildees de pobreza vividas pelos trabalhadores no campo O iacutendice de Gini responsaacutevel por apresentar indicativos das disparidades sociais mostra que a concentraccedilatildeo de terra no estado ainda eacute um grave problema Em 2006 o iacutendice correspondia segundo dados do IBGE a 0821 Esse dado acompanha a situaccedilatildeo dos demais estados Em Sergipe ocorreu uma pequena queda em relaccedilatildeo aos dois uacuteltimos censos em funccedilatildeo de algumas accedilotildees pontuais de reforma agraacuteria motivadas pela luta dos movimentos camponeses que resultaram no acesso agrave terra principalmente no Sertatildeo do estado
Entretanto nas terras de expansatildeo do agronegoacutecio a histoacuterica concentraccedilatildeo fundiaacuteria se manteacutem com fortes reflexos nos arranjos espaciais produzidos como observa-se nas aacutereas agriacutecolas ocupadas pela cana de accediluacutecar na chamada regiatildeo do Cotinguiba aleacutem das extensas aacutereas de pastagens destinadas a atividade de pecuaacuteria no territoacuterio sergipano e outras culturas como o milho e a laranja Contudo a realidade a ser analisada e discutida nesse trabalho eacute direcionada a entender as relaccedilotildees e conflitos espaciais inerentes ao territoacuterio
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da produccedilatildeo canavieira da pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral tendo como recorte espacial o municiacutepio de Divina Pastora
PRODUCcedilAtildeO DO ESPACcedilO E CONFLITOS NO TERRITOacuteRIO DE DIVINA PASTORA SERGIPE
O municiacutepio de Divina Pastora tem como atividades econocircmicas principais a cana de accediluacutecar pecuaacuteria e a extraccedilatildeo mineral do petroacuteleo Possui uma extensatildeo territorial de 90 328 Km2 e situa-se na regiatildeo Leste de Sergipe na microrregiatildeo do Cotinguiba Zona da Mata sergipana As terras situadas nesse territoacuterio desde o processo da colonizaccedilatildeo foram destinadas para a exploraccedilatildeo agropecuaacuteria Isso decorre das condiccedilotildees climaacuteticas como pluviosidade solos propiacutecios para o desenvolvimento dessas atividades As aacutereas de terras do municiacutepio satildeo propriedades de grandes fazendeiros empresas de exploraccedilatildeo mineral e poucas aacutereas ocupadas com pequenas propriedades Aleacutem disso no municiacutepio tem a presenccedila de dois assentamentos de reforma agraacuteria (Flor do Mucuri 1 e 2) resultados da luta pela terra Segundo estudos da Emdagro a concentraccedilatildeo de terras eacute algo peculiar no municiacutepio onde a terra eacute tradicionalmente utilizada para o cultivo da cana de accediluacutecar e tambeacutem para pastagens destinadas agrave pecuaacuteria bovina A populaccedilatildeo desse municiacutepio estaacute em torno de 5058 habitantes em 2017 IBGE no uacuteltimo censo de 2010 correspondia a 4326 hab com 2099 na aacuterea urbana e 2227 na rural Eacute importante destacar que grande parte da populaccedilatildeo rural reside em comunidades aglomerados sendo os maiores o Bomfim e a Maniccediloba
Os estudos de Shimada (2014) apontam que no territoacuterio accedilucareiro do agronegoacutecio ocorre a privatizaccedilatildeo das atividades agroindustriais accedilatildeo que eacute regulada pelo Estado de maneira indireta peacutessimas remuneraccedilotildees de trabalho aleacutem de
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desemprego crescente e precarizaccedilatildeo Desse modo essas condiccedilotildees aumentam as desigualdades sociais nas aacutereas de expansatildeo do agronegoacutecio Nessas aacutereas a agricultura eacute praticada sobretudo a partir da perspectiva do lucro para a acumulaccedilatildeo de capital A cana de accediluacutecar principal atividade agriacutecola do municiacutepio eacute realizada em grandes propriedades e tambeacutem em terras arrendadas por usinas que produzem a mateacuteria prima para ser beneficiada em municiacutepios vizinhos Em relaccedilatildeo agraves aacutereas de pastagens essas ocupam grande extensatildeo e servem para o desenvolvimento da pecuaacuteria extensiva com a criaccedilatildeo de gado de corte Assim as terras do municiacutepio em sua maioria satildeo utilizadas para o setor sucroenergeacutetico atividade da pecuaacuteria e exploraccedilatildeo mineral Essa realidade eacute acompanhada por graves disparidades sociais vivenciadas pela populaccedilatildeo que natildeo possui acesso agrave terra
Esse contexto representa as heranccedilas histoacutericas dos latifuacutendios marca da realidade local bem como as relaccedilotildees de trabalho imbricadas no seio da exploraccedilatildeo das relaccedilotildees de trabalho escravas nos antigos engenhos que ainda hoje mesmo como resquiacutecios materializados na paisagem representam poder para as elites locais Por outro lado a populaccedilatildeo negra remanescente de escravos sobrevive em condiccedilatildeo de pobreza nas encostas da cidade marginalizada hoje pelo agronegoacutecio Esse contexto por sua vez tem suas raiacutezes na aboliccedilatildeo da escravidatildeo que mesmo com o discurso de liberdade aos trabalhadores escravizados negou o acesso agrave terra a esse contingente de trabalhadores expropriados A Lei de terras de 1850 representou a legitimaccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria quando instituiu um aparato juriacutedico que legalizava o acesso agrave terra somente atraveacutes da compra tornando propriedade privada Miralha (2006) destaca que foi uma soluccedilatildeo encontrada pela elite brasileira para manter inalterada a estrutura agraacuteria impedindo o acesso livre a terra por parte da populaccedilatildeo pobre que era maioria Assim os trabalhadores escravos receacutem
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libertos natildeo tinham capital para adquirir a terra mantendo-se expropriados e marginalizados Mais uma vez ficaram refeacutens da exploraccedilatildeo de seus antigos senhores como uma massa de trabalhadores desempregados e sem terra
Visualiza-se essa realidade no espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora o natildeo acesso agrave terra fez com que os afrodescendentes em sua esmagadora maioria na busca por sua reproduccedilatildeo social ou seja sobrevivecircncia natildeo tivessem opccedilatildeo senatildeo as periferias das cidades as encostas de morros Isso para poder exercer alguma atividade agriacutecola para produzir o que comer normalmente desenvolveram suas praacuteticas agriacutecolas nas piores terras que natildeo serviam para o latifuacutendio Nesse espaccedilo geograacutefico a populaccedilatildeo negra foi segregada nas periferias da cidade A anaacutelise da realidade mostra que sobrevive hoje ocupando as terras dos morros da cidade exercendo praacuteticas agriacutecolas como fonte de renda Assim nas periferias da cidade muitas famiacutelias dependem da ocupaccedilatildeo de pequenos espaccedilos para sobreviveram do cultivo de pequenas roccedilas Observa-se a presenccedila do cultivo de alimentos baacutesicos como mandioca batata cana milho horticulturas banana aboacutebora e uma diversidade de alimentos utilizados como principal fonte de reproduccedilatildeo social dessas famiacutelias As praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas ocorrem com a utilizaccedilatildeo da forccedila de trabalho da famiacutelia e com poucos instrumentos a exemplos da enxada da foice e do arado O excedente da produccedilatildeo eacute muitas das vezes compartilhado entre os vizinhos e tambeacutem comercializado em pequenas barracas do municiacutepio ou ainda vendido para atravessadores que compram a produccedilatildeo para revender em outros municiacutepios
Percebe-se o quanto a terra representa espaccedilo e condiccedilatildeo de vida para o desenvolvimento das relaccedilotildees de trabalho Mesmo com dificuldades muitas famiacutelias na aacuterea perifeacuterica de Divina Pastora retiram o seu sustento de pequenas roccedilas em terrenos iacutengremes com uma produccedilatildeo de
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mandioca expressiva alimento baacutesico para sobrevivecircncia Assim a resistecircncia das relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeo satildeo valores histoacutericos que viabilizam a reproduccedilatildeo social dessas famiacutelias que sobrevivem as margens das grandes plantaccedilotildees de cana de accediluacutecar e pastagens de criaccedilatildeo de gado Entretanto mesmo com essa resistecircncia muitas famiacutelias natildeo possuem terras para produzir e cultivar alimentos sobrevivem do trabalho informal Por isso percebe-se que a concentraccedilatildeo de terra retira a possibilidade do trabalhador rural produzir alimentos E nas aacutereas com a predominacircncia do agronegoacutecio esse problema eacute mais acentuado Destaca-se que a terra eacute condiccedilatildeo de vida e trabalho E o agronegoacutecio retira esse valor pois ocupa grandes espaccedilos aumentando a pobreza e os conflitos no campo ldquoA estrutura fundiaacuteria montada sobre o latifuacutendio eacute estruturalmente violenta no sentido de negar o outro de impedir uma existecircncia digna para a ampla maioriardquo (CARVALHO 2010 p 400)
Diante disso nas aacutereas dominadas pelo agronegoacutecio da cana e pecuaacuteria em Divina Pastora o desemprego eacute uma realidade para a populaccedilatildeo local o percentual da populaccedilatildeo ocupada com empregos formais eacute de 86 segundo dados do IBGE no municiacutepio As poucas possibilidades de ocupaccedilatildeo satildeo trabalhos perioacutedicos e com peacutessimas remuneraccedilotildees ocorrem no corte da cana de accediluacutecar e como caseiro em alguma fazenda A maior parte da populaccedilatildeo na cidade natildeo tem acesso a empregos pois a dinacircmica econocircmica do municiacutepio eacute reduzida a exploraccedilatildeo agropecuaacuteria e mineral que normalmente satildeo exercidas por trabalhadores que natildeo satildeo do municiacutepio aleacutem de natildeo gerar renda para a populaccedilatildeo local Nesse territoacuterio as disputas espaciais satildeo de grande expressatildeo A concentraccedilatildeo de terra eacute um problema graviacutessimo O que corresponde ao fato da maioria da populaccedilatildeo se concentrar em nuacutecleos urbanizados como povoados e na cidade segregados ao acesso agrave terra O conflito de classes sociais no campo
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brasileiro representa a contradiccedilatildeo do agronegoacutecio com famiacutelias camponesas desterritorializadas em grave situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Aleacutem disso no municiacutepio de Divina Pastora a territorializaccedilatildeo do capital situa-se tambeacutem na exploraccedilatildeo mineral do subsolo Na comunidade Maniccediloba povoado com grande concentraccedilatildeo de famiacutelias quase todas as terras nas proximidades foram apropriadas pela Petrobraacutes ou satildeo de domiacutenio de fazendeiros para a instalaccedilatildeo de poccedilos com o objetivo da extraccedilatildeo mineral do petroacuteleo As terras segundo relatos orais de trabalhadores que moram no povoado eram utilizadas para o cultivo de mandioca e o posterior beneficiamento da farinha Ateacute alguns anos atraacutes essa era a principal atividade econocircmica de subsistecircncia da maior parte das famiacutelias A apropriaccedilatildeo da terra pelo capital atraveacutes da mineraccedilatildeo transformou essas terras em aacuterea de instalaccedilatildeo de poccedilos para retirada de petroacuteleo
Assim as famiacutelias foram expropriadas de suas terras bem como as relaccedilotildees e modo de vida alterados diante da perda do territoacuterio de sobrevivecircncia e cultivo de produtos alimentiacutecios Outra questatildeo que atinge a reproduccedilatildeo da comunidade satildeo os impactos ambientais relacionados a contaminaccedilatildeo da aacutegua pela extraccedilatildeo mineral Inicialmente alguns trabalhadores conseguiram emprego na instalaccedilatildeo da atividade mineral relata um trabalhador () ldquodepois que terminou a instalaccedilatildeo dos poccedilos ficamos desempregadosrdquo Assim atualmente os trabalhadores da localidade vivem em constante mobilidade em busca de trabalhos principalmente no corte da cana de accediluacutecar em municiacutepios vizinhos em fazendas ou trabalhando para usinas Pois satildeo poucos moradores que natildeo perderam suas terras ainda alguns resistem com pequenas roccedilas ocupando as terras da mineradora ldquoPara as empresas a preocupaccedilatildeo eacute sua inserccedilatildeo na economia-mundo com sua poliacutetica de espacializaccedilatildeo enquanto que as
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populaccedilotildees locais tecircm como objeto maior de preocupaccedilatildeo a fixaccedilatildeo e a perenidade de seus processos de reproduccedilatildeordquo (HENRIQUES PORTO 2015 p 1366) Esse conflito entre as empresas de exploraccedilatildeo mineral e as comunidades camponesas representa a apropriaccedilatildeo da terra pelo capital e a perda de territoacuterio pela populaccedilatildeo pobre
Constatamos entatildeo a grave situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivenciada pelas comunidades camponesas em Divina Pastora tanto no meio rural como nas periferias urbanas evidecircncia da intriacutenseca relaccedilatildeo entre esses espaccedilos Reconhecemos que a questatildeo agraacuteria no municiacutepio eacute marcada pela segregaccedilatildeo espacial pobreza miseacuteria desemprego e degradaccedilatildeo ambiental Desse modo percebemos o aprofundamento das desigualdades sociais ligado a problemaacutetica da terra apropriada por fazendeiros e empresas de exploraccedilatildeo mineral Assim a terra se torna uma temaacutetica central para a compreensatildeo das relaccedilotildees estabelecidas entre as classes sociais no campo Os conflitos emergem a partir das diferentes perspectivas de utilizaccedilatildeo da terra as elites expropriam os camponeses da terra buscando incessantemente o lucro enquanto as famiacutelias camponesas usam a terra como trabalho moradia e meio de reproduccedilatildeo social CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Compreendemos que as dimensotildees histoacutericas e
geograacuteficas materializadas no espaccedilo geograacutefica estatildeo diretamente relacionadas agrave estrutura fundiaacuteria e as disputas entre as classes sociais refletem os conflitos protagonizados pela expansatildeo do capital no campo
A anaacutelise do espaccedilo agraacuterio de Divina Pastora ilustra o quanto a questatildeo agraacuteria eacute agravada pelo controle histoacuterico exercido pela elite agraacuteria brasileira cujo vieacutes defende e
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viabiliza a poliacutetica agraacuteria consubstanciada no agronegoacutecio enquanto perspectiva de desenvolvimento para o campo A realidade vivenciada pelos trabalhadores no campo aponta a perversidade e a violecircncia acentuadas pela apropriaccedilatildeo dos recursos naturais diante da poliacutetica agriacutecola voltada para atender os interesses empresariais A concentraccedilatildeo de terras pobreza desigualdades sociais precarizaccedilatildeo das relaccedilotildees de trabalho desemprego em massa no campo conflitos ambientais satildeo expressotildees concretas da questatildeo agraacuteria vivenciada pela maioria de trabalhadores camponeses desterritorializados pela acumulaccedilatildeo do capital no campo seja atraveacutes do agronegoacutecio da cana de accediluacutecar da pecuaacuteria ou exploraccedilatildeo mineral
Portanto consideramos de grande urgecircncia a implantaccedilatildeo de uma poliacutetica fundiaacuteria que cumpra a funccedilatildeo social da terra como a Lei juridicamente institui esse direito aos trabalhadores O acesso agrave terra eacute um direito de todos significa lugar de sobrevivecircncia A terra democratizada eacute justiccedila social ocupaccedilatildeo e renda para os trabalhadores camponeses que resistem em uma luta cotidiana no campo e nas periferias urbanas frente a segregaccedilatildeo espacial gerada pelo latifuacutendio realidade presente nas relaccedilotildees entre camponeses historicamente explorados pelos donos de terra em Divina Pastora Por fim ratificamos a compreensatildeo de que a pobreza e a miseacuteria ampliadas na atualidade satildeo produzidas por um modelo de desenvolvimento regido pela loacutegica de mobilidade do capital com destaque para as empresas de mineraccedilatildeo e do agronegoacutecio voltadas para a exportaccedilatildeo e natildeo raro com resquiacutecios do regime escravocrata
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ANDRADE Manuel Correia de Aboliccedilatildeo e Reforma Agraacuteria Editora Aacutetica Satildeo Paulo 1987
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(2003 ndash 2006) Tese de doutorado- Universidade Estadual Paulista Presidente Prudente Agosto 2008 ROCHA Rosaly Justiniano de Souza CABRAL Joseacute Pedro Cabrera Aspectos histoacutericos da questatildeo agraria no Brasil REVISTA PRODUCcedilAtildeO ACADEcircMICA ndash NUacuteCLEO DE ESTUDOS URBANOS REGIONAIS E AGRAacuteRIOS NURBA ndash Vol 2 N 1 (JUNHO 2016) p 75-86 Disponiacutevel em httpssistemasuftedubrperiodicosindexphpproducaoacademicaarticle9286 SHIMADA Shiziele Oliveira de CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz O agronegoacutecio da cana e a (des)configuraccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio num processo localregionalnacional Disponiacutevel em observatoriogeograficoamericalatinaorgmxegal12Geografiasocioeconomica16p SHIMADA Shiziele de Oliveira Dos ciclos e das crises do capital agraves formas de transvestimento da barbaacuterie no trabalho Tese de doutorado em Geografia (UFS) Satildeo Cristoacutevatildeo 2014
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ATRAVEacuteS DO ROacuteTULO PRESENCcedilA DO AGRONEGOacuteCIO NA FEIRA DE ITABAIANA
SERGIPE
Rafael dos Santos Oliveira Graduando em geografia
Email rafaelstooutlookcom RESUMO
O presente artigo tem como objetivo discutir indiacutecios
da loacutegica o capital na feira livre do municiacutepio de ItabaianaSE que por meio de uma discussatildeo preliminar de uma fonte de pesquisa relacionada agrave propaganda (roacutetulos de embalagens) um estranhamento para uma questatildeo de pesquisa sobre a invasatildeo silenciosa do agronegoacutecio na feira como tambeacutem outros rebatimentos um alerta para a presenccedila do capital estrangeiro na compra de terras no paiacutes Poreacutem as feiras livres costumam ser partes das formas de reproduccedilatildeo camponesa Desta maneira enxergar a feira como forma de reproduccedilatildeo do camponecircs eacute uacutetil para entender como estes sujeitos encontram formas de resistir a esta imposiccedilatildeo do capital mesmo com a presenccedila de marcas do agronegoacutecio Estranhamento obtido a partir das atividades de campo na feira em conjunto com levantamento e anaacutelise bibliograacutefica relativa ao processo visualizado eacute a metodologia empregada na escrita das primeiras impressotildees obtidas Como resultados preliminares procura-se entender para quem e principalmente o porquecirc destas mercadorias no mercado local uma vez que em sua maioria eram destinadas agrave exportaccedilatildeo Palavras-Chave Propaganda Agronegoacutecio Feira INTRODUCcedilAtildeO
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Na perspectiva de ler as contradiccedilotildees da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergipe um projeto de pesquisa ldquoSiacutetio e roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e uma geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo (COPESUFS) O questionamento aqui discutido ocorreu no interior deste projeto a partir da observaccedilatildeo sobre os produtos que satildeo comercializados na feira livre do municiacutepio sergipano de
Itabaiana principalmente a produccedilatildeo camponesa Mas diante da orientaccedilatildeo do meacutetodo que guia o olhar na observaccedilatildeo em campo foram visualizadas contradiccedilotildees Desta feita um refletir tanto a partir da vivecircncia do pesquisador sobre os produtos que chegam agrave feira de Itabaiana quanto a um olhar teoacuterico sobre as marcas de empresas com nomes estrangeiros estampados nas embalagens o que possibilitou a indagaccedilatildeo de entender o porquecirc e para quequem se produz
A sutileza a qual as accedilotildees capitalistas adentram este mercado o estranhamento do fato de caixotes viajarem com roacutetulos com nomes estrangeiros a vivecircncia do pesquisador que aleacutem da pesquisa acadecircmica tambeacutem estaacute em seu campo de trabalho Trabalho aqui entendido como ontoloacutegico ao homem que na loacutegica capitalista ldquoo sujeito eacute o capital e o homem e o seu trabalho transformam-se em predicado destesrdquo (TASSIGNY 2003 p 157) Logo a reflexatildeo eacute inicial e comeccedila a visualizar marcas territoriais do agronegoacutecio ao lado das camponesas Territoriais no sentido de delimitar mas tambeacutem de definir relaccedilotildees de poder Para essa reflexatildeo segue um entendimento inicial sobre a ocorrecircncia das palavras-chave deste artigo propaganda agronegoacutecio feira
Karl Marx alerta para o uso da propaganda como parte do sucesso do capitalismo para Marx (2004 p 80) ldquocom a valorizaccedilatildeo do mundo das coisas aumenta em proporccedilatildeo direta a desvalorizaccedilatildeo do mundo dos homensrdquo Os roacutetulos por sua vez fazem parte da propaganda e de suas ideologias
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capitalistas que propagam eles natildeo apenas informam Assim atraveacutes de roacutetulos observados na feira de Itabaiana Sergipe foram iniciados alguns questionamentos um exerciacutecio teoacuterico-praacutetico sobre o que estaria nas entrelinhas dessas marcas de outras escalas geograacuteficas e de divisatildeo de classes e natildeo camponesas
Segundo dados da Escola Superior de Agricultura Luiacutes de Queiroz ESALQUSP 2215 do PIB1 brasileiro eacute do agronegoacutecio e entende-se como as poliacuteticas puacuteblicas valorizam este modo de se produzir e acima de tudo infere-se que esta produccedilatildeo eacute voltada para o mercado externo natildeo se produz em larga escala mercadorias que fazem parte da cesta baacutesica do brasileiro tem-se em maior quantidade a produccedilatildeo de gratildeos a exemplo da soja do milho dentre outros produtos Deixa-se de lado a produccedilatildeo de alimentos como batata doce macaxeira inhame acompanhados distantes dos recordes de outras lavouras de commodities agriacutecolas
A ascensatildeo do agronegoacutecio no paiacutes deu-se a partir da deacutecada de 1990 natildeo eacute coincidecircncia tambeacutem ser o apogeu do neoliberalismo e a consequente mecanizaccedilatildeo da agricultura assim ldquoo fato teria derivado da presente lsquodominaccedilatildeo triunfal do capitalrsquo na agricultura obtida graccedilas aos padrotildees vigentes de eficiecircncia produtiva e de gestatildeo baseados na lsquoinovaccedilatildeorsquo sob o comando dos lsquooperadores do capitalrdquo (TEIXEIRA 2013 p 15)
O problema do agronegoacutecio brasileiro estaacute impliacutecito em vaacuterios pontos relativos agrave produccedilatildeo do espaccedilo brasileiro contemporacircneo um deles eacute a estrangeirizaccedilatildeo da terra por meio do capital financeiro e a realizaccedilatildeo de compra do terreno para este fim dando assim o entendimento que aleacutem da expropriaccedilatildeo do camponecircs e da relaccedilatildeo de trabalho que se altera em seus conceitos temos a constante desnacionalizaccedilatildeo do territoacuterio nacional
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As argumentaccedilotildees que se seguem ainda que incipientes satildeo de um pesquisador que comeccedila a sua problematizaccedilatildeo sobre a produccedilatildeo do espaccedilo Pensar a chegada destes produtos na feira local representa pensar como o camponecircs pode ser deixado de lado ao longo da histoacuteria do capitalismo Nesta perspectiva acredita-se que esta classe sendo expropriada perde espaccedilo nos locais que eles proacuteprios criaram para relacionarem-se altera-se tambeacutem a sua espacializaccedilatildeo a relaccedilatildeo campo cidade e consequentemente os produtos dos pequenos e meacutedios produtores perdem valor de mercado os consumidores preferenciam os produtos vindos do agronegoacutecio E a feira como um dos locais de reproduccedilatildeo camponesa torna-se um espaccedilo de contradiccedilatildeo entre oferta de um determinado produto que tem uma melhor qualidade para a sauacutede por um outro que apresenta beleza soacute que esconde nesta lsquoboa aparecircnciarsquo um maior uso de agrotoacutexicos o uso de forccedila de trabalho quase escrava e o descarte de parte da produccedilatildeo que vem a lhe dar prejuiacutezo (uma quantidade maior de produtos de baixa qualidade) em relaccedilatildeo ao preccedilo no mercado ou seja a superproduccedilatildeo deve ser descartada
Com o apelo de recursos da oferta raacutepida e esteacutetica adequados ao mercado o agronegoacutecio vem representar um grande prejuiacutezo agrave sociedade apesar de seus apelos contraditoacuterios grande produccedilatildeo conservaccedilatildeo do meio ambiente dentre outras bandeiras levantadas por estas agroinduacutestrias contudo natildeo passam de falaacutecias para impregnar o senso comum e fazer os sujeitos verdadeiramente prejudicados perderem a consciecircncia de classe fazendo-os ficar ao lado dos burgueses e grandes empresaacuterios nas questotildees de luta pela terra
Aleacutem destes fatores o agronegoacutecio conteacutem o problema da desnacionalizaccedilatildeo do agraacuterio no paiacutes e que se reflete tambeacutem na Ameacuterica Latina Os recursos da terra e do subsolo
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estatildeo em constante exploraccedilatildeo a niacutevel mundial Assim as accedilotildees do capital para o agronegoacutecio satildeo a via da espoliaccedilatildeo da monocultura e de um produtivismo sem medir consequecircncias levando a uso intensivo de agrotoacutexicos de hormocircnios herbicidas e de sementes hiacutebridas transgecircnicas e mutagecircnicas aleacutem de exercitarem ordeiramente o desprezo sociocultural pelos povos do campo e a desterritorializaccedilatildeo dos camponeses (CARVALHO 2013) E principalmente garante tambeacutem a desnacionalizaccedilatildeo da terra para fim do capitalismo Uma accedilatildeo sob um modo de produccedilatildeo que oprime e desfaz as relaccedilotildees na terra e com a terra do homem e a natureza negando a humanidade do mesmo homem Somados a essa loacutegica fatores histoacutericos que contribuem para os interesses da burguesia que sempre visaram a pilhagem e a exploraccedilatildeo de novos territoacuterios
DESENVOLVIMENTO
A pesquisa visou obter assim atraveacutes da pesquisa
bibliograacutefica e de trabalho de campo um primeiro olhar da presenccedila do conhecimento camponecircs na feira de Itabaiana E principalmente devido ao meacutetodo de interpretaccedilatildeo contemplar a escala da totalidade das relaccedilotildees que produzem o espaccedilo geograacutefico foi possiacutevel observar algumas contradiccedilotildees como uma diminuiccedilatildeo da presenccedila de mercadorias resultantes da produccedilatildeo camponesa e um aumento daquelas resultantes da poliacutetica do agronegoacutecio E como este se espacializa de forma sutil No caso do lsquoestranhamentorsquo obtido roacutetulos em caixotes (Figura 1)
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Figura 1 ndash Um dos roacutetulos identificados na Feira de Itabaiana - caixas de alho com slogan de famiacutelia estrangeira
Fonte Oliveira 2018
Os roacutetulos do agronegoacutecio satildeo constituiacutedos sob os
pilares de excelecircncia em produccedilatildeo respeito ao meio ambiente e valorizaccedilatildeo do profissional Faz parte da falaacutecia do modo de produccedilatildeo capitalista pois sabe-se que importa eacute produzir bater recordes ampliar a fronteira agriacutecola acima de tudo e de todos desacreditando qualquer zelo pelos fatores sociais mas disfarccedilando em suas bandeiras as suas accedilotildees
Valorizam-se ainda o caraacuteter empreendedor que estes estrangeiros criam aliado agrave imagem da famiacutelia sendo esta a marca de sua empresa o siacutembolo maior de poder econocircmico
O agronegoacutecio-latifundiaacuterio-exportador tem sido considerado como siacutembolo da modernidade no campo pelo uso de alta tecnologia e intensa produtividade mas tambeacutem esconde por traacutes desta aparecircncia moderna a barbaacuterie da exclusatildeo social e
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expropriaccedilatildeo dos povos do campo que sua concentraccedilatildeo de terra e de renda provoca (CAMACHO CUBAS GONCcedilALVES 2011 p 1)
Na feira livre podemos ver o quanto este sistema estaacute
sendo valorizado por seu lado moderno empreendedor lucrativo A roccedila camponesa o seu sentido eacute reinventado define-se agora como grande propriedade capaz de produzir vaacuterias toneladas com grandes tratores tecnologia capaz de substituir o homem como um ser social excluir dele a categoria ontoloacutegica do trabalho o homem natildeo se realiza no trabalho
Partindo deste pressuposto ldquoentre a resistecircncia camponesa e as investidas do agronegoacuteciordquo entende-se que as feiras livres dos municiacutepios sergipanos estatildeo sendo lsquoinvadidasrsquo por mercadorias resultantes de fazendas cujas terras pertencem a famiacutelias estrangeiras como japoneses em sua maioria3 isto eacute de faacutecil percepccedilatildeo ao percorrer a feira livre de Itabaiana nos dias que se realiza a feira voltada para a venda em retalho (nas quartas-feiras e aos saacutebados) como assim eacute chamada e nos dias que se vendem em grosso (nas terccedilas-feiras quartas-feiras quintas-feiras e sextas-feiras) que significa dizer a presenccedila de muitos produtos em sacos caixas destinadas agrave revenda
A especificidade da feira de ItabaianaSE se daacute por sua importacircncia em escala regional sendo a maior do agreste sergipano Mercadorias circulam de diferentes estados para caacute de caacute para os estados de origem a exemplo da Bahia Dos comerciantes que compram mercadoria naquele municiacutepio e as levam para este estado para feiras de municiacutepios como Ribeira do Pombal Siacutetio do Quinto dentre outros E tambeacutem
3 Os roacutetulos satildeo sobrenomes das famiacutelias destes produtores de mercadorias como forma de imposiccedilatildeo do seu nome da sua famiacutelia do poderio financeiro tambeacutem
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abastece as feiras do estado de Sergipe A questatildeo levantada surge justamente a partir dos caixotes os quais carregam em si a marca de mais uma problemaacutetica no campo brasileiro voltado agrave agroinduacutestria e ao poder do capital financeiro consequentemente da desnacionalizaccedilatildeo das terras uma abertura econocircmica que implica na ldquocrenccedila de que o lsquocaminho do campo eacute o da grande empresa e do trabalho assalariadorsquordquo (VEIGA 1998 apud SAUER 2008) Este caminho leva ao subdesenvolvimento do paiacutes
Uma estrangeirizaccedilatildeo de terras brasileiras questionada a partir da observaccedilatildeo teacuteorico-praacutetica sobre produtos embalados de forma diferente do habitual antes condicionados em sacos passam a ser colocados em caixas e estas caixas trazem estampadas a marca do agronegoacutecio com nomes estrangeiros certamente produtos voltados para o mercado externo e revendidos como sobras lucrativas O estranhamento agrega tambeacutem a dinacircmica da escala do agronegoacutecio de que as relaccedilotildees que acontecem neste mercado satildeo de grande importacircncia para a economia regional de Sergipe o que era lsquocomumrsquo passa a se enquadrar contraditoriamente nos sistemas de rede nacionalmundial (uma vez que terras satildeo desnacionalizadas) de forma que satildeo encontrados produtos vindos de Minas Gerais Bahia Goiaacutes dentre outros estes satildeo citados por serem a procedecircncia recorrentes nos roacutetulos
Esse debate pode ter seu iniacutecio a partir do ano de 2007 apoacutes um grande periacuteodo de estabilidade financeira e com o advento da crise mundial o Brasil viu no agronegoacutecio a saiacuteda para natildeo se lsquoafundar nesta crisersquo investindo em poliacuteticas puacuteblicas as quais incentivam as estrateacutegias deste modo de produccedilatildeo O que aponta para uma fragilidade econocircmica que existe desde os primoacuterdios do Brasil uma economia erguida numa base primaacuterio exportadora ldquoA Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina e Caribe (CEPAL) jaacute na deacutecada de 1940 diagnosticou que a maior causa das dificuldades da Ameacuterica
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Latina no setor externo era que a entrada de divisas dependia das exportaccedilotildees de poucos produtos primaacuteriosrdquo (CARVALHO SILVA 2005)
Parte-se de que a atual desnacionalizaccedilatildeo do campo brasileiro se deve tambeacutem por conta das empresas transnacionais de insumos agriacutecolas pois os grandes capitalistas tornam-se lsquorefeacutensrsquo do proacuteprio sistema Como assinala Assis Moreira (apud CARVALHO 2015 p 36)
A corrida por terras levou investidores estrangeiros a adquirir pelo menos milhotildees de hectares em paiacuteses em desenvolvimento O Brasil eacute um dos alvos da cobiccedila estrangeira liderada por China Bahrein e investidores dos EUA as compras de terras brasileiras somaram 26 milhotildees de hectares no periacuteodo
Este fenocircmeno pode ser explicado pelas commodities
para a agro-exportaccedilatildeo As commodities satildeo a forma que as mercadorias satildeo tratadas no mercado financeiro podem ser definidas como mercadorias principalmente mineacuterios e gecircneros agriacutecolas produzidos em larga escala e comercializados em niacutevel mundial As commodities satildeo negociadas em bolsas de valores de mercadorias O capital financeiro eacute quem define seus preccedilos em niacutevel global pelo mercado internacional Desta maneira a agro-exportaccedilatildeo acontece quase que lsquonaturalmentersquo A produccedilatildeo eacute voltada principalmente para o mercado externo pois a exemplo da soja brasileira a maior parte do gratildeo eacute destinado ao mercado chinecircs para servir a criaccedilatildeo de gado
Desta maneira a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo pode alterar consciecircncia de classe dos produtores rurais O camponecircs passe a natildeo se reconhecer como tal Passam a se inserir ou natildeo nas poliacuteticas puacuteblicas de Estado Estimula-se inclusive a mudar a sua consciecircncia para Agricultor Familiar levando-o a lsquoentrarrsquo no rol do agronegoacutecio e
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consequentemente do capital financeiro na expropriaccedilatildeo de terras
Deste modo capital financeiro vem ser o elo fundamental para introduzir o estrangeiro nesta jogada de marketing ldquoeacute o discurso do lsquodesenvolvimentorsquo e da teacutecnica como forma de levar a sociedade a um patamar ldquosuperiorrdquo (SOUZA CONCEICcedilAtildeO 2008) Embasado no discurso das potencialidades naturais do paiacutes garantem a apropriaccedilatildeo de novos territoacuterios para os capitalistas Os resultados das revoluccedilotildees que a ideologia deste modo de produccedilatildeo prega natildeo servem a pequenos e meacutedios produtores e sim a uma fatia privilegiada de grandes empresaacuterios com poder poliacutetico sobretudo que regem ainda mais estes discursos a seu favor
O discurso agroindustrial vem como citado anteriormente adentrar aacutereas que desde o princiacutepio eram do ser camponecircs como a feira livre utilizada no princiacutepio como forma de vender os excedentes da produccedilatildeo que o pai a matildee e seus filhos produziram em seus lotes de terra siacutetios eou roccedilas para conseguir adquirir o que da terra eles natildeo podem produzir mas fundamental para sobrevivecircncia
Estranhar os roacutetulos nos faz questionar as lsquosoluccedilotildeesrsquo que este modo de produccedilatildeo faz ressoar em alto e bom som
Da mesma forma os produtos de origem agropecuaacuteria destinam-se crescentemente a agroindustriais especializados no processamento de mateacuterias primas e de alimentos industrializados consumidos no mercado interno urbano e exportadosrdquo (ABAG4 2015)
A contradiccedilatildeo estaacute tambeacutem no incentivo ao aumento
da produccedilatildeo por meio do uso de agrotoacutexico e da transgenia e
4 Associaccedilatildeo Brasileira do Agronegoacutecio Disponiacutevel em lthttpwwwabagcombrgt
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da produccedilatildeo de orgacircnicos que agora faz parte do discurso do capital Reforccedila-se ainda mais as questotildees que abalam o campo e o campesinato brasileiro ldquona monoacutetona e monocolorida paisagem da planiacutecie maacutequinas possantes vencem o tempo e o espaccedilo e diluem da imagem qualquer presenccedila humanardquo (WANDERLEY 2015 p 12)
O discurso neoliberal daacute passagem agraves grandes maacutequinas Na feira natildeo podemos vecirc-las mas os resultados que elas causam vecirc-se na diminuiccedilatildeo da quantidade de mercadorias provenientes do campesinato brasileiro devendo-se isso a luta desigual que eles enfrentam diariamente a feira de Itabaiana registra em suas modalidades de venda atacado ou varejo estes fatos
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS OU CONCLUSOtildeES
O vivenciar a feira como campo de pesquisa nos faz
refletir como as poliacuteticas puacuteblicas brasileiras influenciaram o avanccedilo do agronegoacutecio no paiacutes Podemos perceber a crueldade do capitalismo de suas ideologias as formas pelas quais o sistema vem se modificando para parecer mais suscetiacutevel a todos disfarccedilar a divisatildeo de classes implementar em todos os locais e sobretudo no campo o modo que se deve agir para sobreviver diante das dificuldades
Mas a feira ainda representa um lugar de resistecircncia do camponecircs nela podemos ver as marcas de uma agricultura de base familiar e principalmente comunitaacuteria Basta o olhar atento do pesquisador para ver produtos em pequena quantidade como frutas ciacutetricas a exemplo da laranja as raiacutezes como o inhame que apesar de ter uma cor mais escura pouco lsquochamativo aos olhosrsquo disputa o espaccedilo com o que vem de Rondocircnia mas resistem ao tempo no espaccedilo Vale salientar tambeacutem os pesos e medidas que se visualizam na feira as formas as quais os camponeses se utilizam para vender seus
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produtos como a medida da banana as pencas o lsquopeacutersquo de coentro o peso no uso de balanccedilas antigas revendidas repassadas entre feirantes entre geraccedilotildees Continuam a pesar natildeo soacute as mercadorias mas tambeacutem o valor do trabalho deles da venda de sua mercadoria
Ressaltar assim uma cultura camponesa na feira livre como resistecircncia ao capital com ldquovalores expressotildees tradiccedilotildees transformaccedilotildees que ressignificam a todo instante a memoacuteria dos que as frequentam representando as suas identidades mesmo que de caraacuteter muacuteltiplordquo (ARAUacuteJO 2013)
Deste modo mesmo com a ideologia e a homogeneidade que se infunde pela loacutegica do capital mesmo com a proliferaccedilatildeo de roacutetulos que representam as marcas do agronegoacutecio da desnacionalizaccedilatildeo da terra o camponecircs ainda faz parte da feira resiste REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS ABAG Disponiacutevel em lthttpwwwabagcombrgt Acessado em 19022018 ARAUacuteJO Giovanna de Aquino Fonseca Trajetoacuteria histoacuterica conceitual sobre patrimocircnio imaterial e cultural no Brasil e em Portugal tendo as Feiras como lugar de investigaccedilatildeo In SIMPOacuteSIO NACIONAL DE HISTOacuteRIA 28 2013 Natal Anais Natal Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria 2013 CAMACHO Rodrigo Simatildeo CUBAS Tiago Agrocombustiacuteveis soberania alimentar e poliacuteticas puacuteblicas as disputas territoriais entre o agronegoacutecio e o campesinato Boletim DATALUTA ndash fev 2011 ISSN 2177-4463
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CARVALHO Horaacutecio Martins de A expansatildeo do capitalismo no campo e a desnacionalizaccedilatildeo do agraacuterio no brasil Boletim DATALUTA ndash Artigo do mecircs dezembro de 2013 ISSN 2177 4463 isponiacutevel em lthttpwww2fctunespbrgruposneraartigodomes12artigodomes_2013pdfgt acessado em 19022018 CARVALHO Maria Auxiliadora de SILVA Ceacutesar Roberto Leite da Vulnerabilidade do comeacutercio agriacutecola brasileiro Rev Econ Sociol Rural vol 43 no1 Brasiacutelia JanMar 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0103-20032005000100001gt Acessado em 21042018 MARX Karl Manuscritos Econocircmico-filosoacuteficos Boitempo Editorial 2004 OLIVEIRA Rafael dos Santos Um dos roacutetulos identificados na Feira de Itabaiana - caixas de alho com slogan de famiacutelia estrangeira1 Foto Color 27042018 SAUER Seacutergio Agricultura familiar versus agronegoacutecio a dinacircmica sociopoliacutetica do campo brasileiro Brasiacutelia DF 2008 EMBRAPA informaccedilatildeo tecnoloacutegica WANDERLEY Maria de Nazareth Baudel O Campesinato Brasileiro uma histoacuteria de resistecircncia RESR Piracicaba-SP Vol 52 Supl 1 p S025-S044 2014 ndash Impressa em fevereiro de 2015
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MEacuteTODOS ESTATIacuteSTICOS PARA A COMPREENSAtildeO DA ESTRUTURA AGRAacuteRIA UM
ESTUDO DE CASO DA CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS EM LARANJEIRAS
Camila de Jesus Resendesup1
(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana)
E mail camilageo22hotmailcom
Gislaine Santos Oliveirasup2 (Universidade Federal de Sergipe)
(Graduanda e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana) E mail gislaineo458hotmailcom
Joseacute Hunaldo Limasup3
(Professor Doutor do departamento de Geografia - UFS e Tutor do PET Geografia ndash Itabaiana)
E mail hunaldolimahotmailcom RESUMO
Para entender a concentraccedilatildeo de terras no Brasil eacute necessaacuterio compreender o processo da Invasatildeo Portuguesa expropriaccedilatildeo de terra dos nativos e doaccedilatildeo pela Coroa aos portugueses (Capitanias Hereditaacuteria) inaugurando a concentraccedilatildeo de terras no paiacutes e agravada com a Lei de Terra de 1850 e que perdura ateacute os dias atuais a exemplo de Laranjeiras Para a estruturaccedilatildeo do trabalho foi necessaacuterio pesquisas nos Censos Agropecuaacuterios e com base em DINIZ (1982) foram elaborados a Curva de Lorenz e o Iacutendice de Gini e com base em EMBRAPA (2012) foi realizada a classificaccedilatildeo por tamanho das propriedades atraveacutes do moacutedulo fiscal aliados a bibliografias da Questatildeo Agraacuteria Fica
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niacutetida a extrema concentraccedilatildeo de terras em Laranjeiras que desde o Periacuteodo Colonial se destaca na monocultura canavieira que perdura ateacute os dias atuais Esta concentraccedilatildeo se daacute com altiacutessimos iacutendices de Gini para todos os anos As grandes propriedades satildeo ocupadas com a cana que abarca quase os 100 das terras a mandioca o milho e o feijatildeo juntos natildeo alcanccedilam 1 ao se comparar com a produccedilatildeo da cana Esta alta concentraccedilatildeo de terras e monocultura da cana contribui para aumento da pobreza Laranjeiras eacute um dos municiacutepios de maiores arrecadaccedilotildees em Sergipe conta com alta produccedilatildeo de cana e de accediluacutecar e a instalaccedilatildeo da Usina Pinheiros a maior do estado no entanto a populaccedilatildeo camponesa se insere como uma das mais pobres do estado e um dos maiores iacutendices de deacuteficit habitacional em todo Sergipe Palavras-chave Concentraccedilatildeo de terras monocultura Laranjeiras INTRODUCcedilAtildeO
Esse estudo tem como objetivo analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de LaranjeirasSE O trabalho em curso orientado pela abordagem histoacuterica e geograacutefica que envolve a questatildeo fundiaacuteria brasileira busca analisar os niacuteveis de concentraccedilatildeo de terras em LaranjeirasSE entre os anos de 1970 1985 1995-1996 e 2006 Essa pesquisa parte da hipoacutetese de que a distribuiccedilatildeo de terras no paiacutes permanece com caracteriacutesticas coloniais estabilizada e em altos niacuteveis de concentraccedilatildeo de modo que as poliacuteticas agraacuterias e fundiaacuterias natildeo tecircm sido suficientes no sentido de modificar a estrutura fundiaacuteria brasileira
No caso de Sergipe e em especial na Cotinguiba se caracteriza por diferentes processos de constituiccedilatildeo da estrutura fundiaacuteria concentrada No sertatildeo a concentraccedilatildeo
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segundo ANDRADE (1986) se daacute com o processo de ocupaccedilatildeo do sertatildeo nordestino a partir da Promulgaccedilatildeo da Lei que proibia a criaccedilatildeo bovina nas proximidades dos canaviais Soacute era permitida por esta lei a criaccedilatildeo bovina com distacircncia de 10 leacuteguas dos canaviais favorecendo a expansatildeo da pecuaacuteria e consequentemente da accedilatildeo dos latifundiaacuterios os coroneacuteis por vez no Sul aleacutem da pecuaacuteria recentemente com a citricultura No caso da Cotinguiba a estrutura fundiaacuteria concentrada estaacute intimamente ligada agrave cultura da cana
Para constatar esta realidade que perdura ateacute os dias atuais foram necessaacuterios estudos e coleta de dados extraiacutedos dos Censos Agropecuaacuterios e do SIDRA referentes agrave quantidade de propriedades e tamanho de aacutereas das mesmas no municiacutepio de Laranjeiras Em seguida foram realizados os tratos estatiacutesticos para se elaborar a Curva de Lorenz e o Iacutendice de Gini municipal
Para classificar as denominadas Grandes Meacutedias e Pequenas propriedades no municiacutepio foi necessaacuterio empregar o criteacuterio utilizado pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica que pontua Laranjeiras com Moacutedulo Fiscal de 30 hectares Para ser considerada pequena a propriedade natildeo pode ultrapassar 4 quatros moacutedulos para ser meacutedia tem que ter entre 4 e 15 moacutedulos e grande superior a 15 moacutedulos Em laranjeiras segundo esta determinaccedilatildeo nacional toda e qualquer propriedade com tamanho ateacute 120 hectares satildeo classificadas como pequenas as que forem maiores que 120 ateacute 450 hectares satildeo meacutedias e as que tiverem tamanho maior que 450 hectares satildeo classificados como grandes propriedades
Para demonstrar a alta concentraccedilatildeo na produccedilatildeo de cana que eacute causa e consequecircncias da concentraccedilatildeo de terras em forma de comparativo se elegeu trecircs cultivos para a anaacutelise o feijatildeo a mandioca e o milho devido constarem como os uacutenicos ao lado da cana a ter produccedilatildeo em todos os anos
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analisados por serem os outros de maior impacto no municiacutepio e por ser alimento baacutesico da produccedilatildeo camponesa em Sergipe
A metodologia de elaboraccedilatildeo de graacuteficos mapas e outros aliados a meacutetodos estatiacutesticos eacute de consideraacutevel importacircncia para se observar e analisar natildeo somente de Laranjeiras mais qualquer municiacutepio que se tenha condiccedilotildees de estrutura fundiaacuteria semelhante aleacutem de servir como material que possa oferecer suporte para futuras implantaccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas na esfera municipal estadual e nacional
A escolha por temas que possam desvelar a estrutura fundiaacuteria brasileira se torna importante para detectar quatildeo necessaacuteria e urgente eacute a Reforma Agraacuteria o que possibilitaraacute o acesso de pequenos proprietaacuterios a terra e o aumento da diversificaccedilatildeo na produccedilatildeo agriacutecola municipal aliado ao crescimento da produccedilatildeo de cultivo na regiatildeo para alimentar sua prole e o que sobra poder comercializar nas feiras livres
Tambeacutem fica evidente a necessidade de se debater com maior afinco a concentraccedilatildeo de terras em todo o paiacutes que contribuiraacute para o entendimento do elevando nuacutemeros de trabalhadores sem terras no paiacutes e compreender porque em pleno Seacuteculo XXI a incidecircncia de Conflitos de terras eacute extremamente alta
QUESTAtildeO AGRAacuteRIA NO BRASIL
Por apresentar fortes traccedilos de sua raiz colonial para entender a questatildeo agraacuteria no Brasil eacute necessaacuterio voltar no tempo a fim de compreender como se deu a formaccedilatildeo territorial e sobretudo a divisatildeo de terras neste paiacutes de vasta extensatildeo Neste quadro pode-se perceber que os problemas sociais estaratildeo sempre lado a lado a esse sistema de concentraccedilatildeo de terras devido a distribuiccedilatildeo totalmente desigual e expropriadora que se inicia nesse periacuteodo da
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histoacuteria brasileira e que perdura ateacute os dias atuais (STEDILE 2013)
Considerada como uma das primeiras formas de divisatildeo e concentraccedilatildeo da terra o sistema de Capitanias Hereditaacuterias dividiu as terras do territoacuterio e a Coroa Portuguesa doou a 12 pessoas denominadas como donataacuterios que passariam a tomar conta desses lotes
Dividiu-se a costa brasileira (o interior por enquanto eacute para todos os efeitos desconhecido) em doze setores lineares com extensotildees que variavam entre 30 e 100 leacuteguas Estes setores chamar-se-atildeo capitanias e seratildeo doadas a titulares que gozaratildeo de grandes regalias e poderes soberanos caber-lhes-aacute nomear autoridades administrativas e juiacutezes em seus respectivos territoacuterios receber taxas e impostos distribuir terras etc (PRADO 2006)
O primeiro acesso juriacutedico agrave terra foram as sesmarias os indiviacuteduos podem fazer o que lhes interessassem com a terra como se fosse uma propriedade privada Poreacutem desde que fosse branco ldquopuro de sanguersquorsquo e catoacutelico Ou seja aleacutem de uma forma de divisatildeo foi uma maneira de selecionar e restringir quais pessoas teriam poder Essas terras inicialmente foram marcadas pelo sistema do ldquoplantationrdquo com a monocultura da cana de accediluacutecar o trabalho escravo (primeiramente indiacutegena e logo foi inserida a forccedila de trabalho dos negros) e os grandes latifuacutendios de terras Somente em 1822 foi suspensa a concessatildeo de terras por sesmarias
Posteriormente em 1850 estrategicamente surge a Lei de Terras ateacute entatildeo natildeo existia nenhuma lei que regulamentasse a aquisiccedilatildeo de terras no paiacutes Esta lei instituiacutea que a partir deste momento a compra seria o uacutenico meio de se obter o direito de posse e uso sobre a terra Poreacutem isto se tornaria inviaacutevel para as pessoas sem poder aquisitivo como ex-escravos posseiros e imigrantes Vale lembrar que esta lei foi elaborada por poderosos latifundiaacuterios da eacutepoca pessoas
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que sempre estiveram e continuam como deputados senadores e outros cargos do legislativo executivo e judiciaacuterio no paiacutes sendo uma forma de dificultar o acesso agrave terra as pessoas de baixo poder aquisitivo Sendo assim um dos grandes problemas da desigualdade social refletidos no Brasil atual
Com todo aparato via institucionalizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de terras primeiramente via doaccedilatildeo e depois com a Lei de Terras as aacutereas de maiores interesses econocircmicos passam a ser dominadas por grandes proprietaacuterios que com a ajuda do Estado passa a se manter e dominar grandes extensotildees de terras obrigando os pequenos proprietaacuterios posseiros e trabalhadores sem terras a se submeter a trabalhos precaacuterios e em condiccedilotildees muitas vezes sub-humanas como destaca SHIMADA (2014)
Algumas cidades trazem consigo ateacute a atualidade muitos aspectos desse periacuteodo colonial Em Sergipe se destaca a cidade de Laranjeiras que eacute uma das principais cidades histoacutericas do estado Sua povoaccedilatildeo ocorreu no fim do seacuteculo XVI sendo concedida atraveacutes de sesmaria em 1594 a Tomeacute Fernandes que teve participaccedilatildeo nas lutas pela ldquoconquistardquo de Sergipe
Dentre as cidades que compotildeem a microrregiatildeo do Baixo Cotinguiba se encontra Laranjeiras no centro-leste do estado Segundo dados do IBGE possui uma aacuterea de aproximadamente 163 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada de 26902 habitantes no uacuteltimo censo demograacutefico e densidade demograacutefica de 16578 habitantes por kmsup2 CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS EM LARANJEIRAS
O municiacutepio de Laranjeiras se caracteriza por apresentar sua sede municipal como o segundo siacutetio urbano de Sergipe que surge nos primeiros anos de ocupaccedilatildeo
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portuguesa atraveacutes da substituiccedilatildeo da exportaccedilatildeo de Pau Brasil pela implantaccedilatildeo da cultura canavieira que rapidamente se desenvolveu na regiatildeo com solos extremamente feacuterteis (solos denominados de massapeacute) uma formaccedilatildeo geomorfoloacutegica plana e proximidade do rio Cotinguiba principal arteacuteria de transporte de carga em Sergipe agrave eacutepoca
Com todos estes predicados naturais aliados a Invasatildeo Portuguesa com doaccedilatildeo das melhores terras aos donataacuterios em pouco tempo Laranjeira se tornara o mais rentaacutevel polo de atraccedilatildeo canavieira do estado concentrando grande parte do capital com instalaccedilotildees dos maiores engenhos agrave eacutepoca e que ao passar dos anos transformaram-se nas Usinas de accediluacutecar neste caso merece destaque a Usina Pinheiros a maior do estado e atualmente a uacutenica em atividade
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Com o avanccedilo da cana por toda a regiatildeo e posteriormente com a Lei de Terras os menores proprietaacuterios foram expropriados e passaram a exercer sua funccedilatildeo como forccedila de trabalho para os grandes proprietaacuterios Elevando Laranjeiras a patamares jamais alcanccedilados na produccedilatildeo formando o verdadeiro mar de cana
No Graacutefico 01 apresentado anteriormente eacute visiacutevel agrave concentraccedilatildeo de terras ao se observar deve-se levar em conta que quanto mais proacutexima do centro a curva ficar menor seraacute a concentraccedilatildeo e quanto mais proacutexima das extremidades (100 tanto na horizontal como vertical) maior eacute a concentraccedilatildeo
Ainda com relaccedilatildeo ao graacutefico anterior se percebe que os desenhos satildeo bem semelhantes em todos os anos analisados ou seja a concentraccedilatildeo de terras praticamente natildeo alterou nestes mais de 30 anos pelo contraacuterio ocorreu um leve aumento na concentraccedilatildeo de terras No graacutefico que representa o ano de 1970 a curva eacute menos densa que nos demais anos em anaacutelise diminui um pouco no ano de 2006 algo praticamente insignificante estas pequenas diferenccedilas praticamente ficam inexistentes a populaccedilatildeo camponesa continua com as mesmas dificuldades para se reproduzir nas suas unidades
Para complementar estes graacuteficos da curva de Lorenz tambeacutem foram calculados os Iacutendices de Gini com base em (DINIZ 1982) para os mesmos anos em anaacutelise dos graacuteficos anteriores Os Iacutendices de Gini apresentam uma variaccedilatildeo de 0 a 1 sendo que o 0 representa a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria ou seja todos tecircm o mesmo tamanho por vez o valor 1 apresenta a concentraccedilatildeo maacutexima eacute quando um uacutenico proprietaacuterio tem todas as terras e o restante natildeo tem nada
A tabela 01 corrobora com a curva de Lorenz mostra que em Laranjeiras a concentraccedilatildeo de terras cresceu principalmente no intervalo entre 1970 e 1985 e se estabilizou nos outros anos seguintes Para DINIZ (1982) quando o
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valor do iacutendice ultrapassa os 09 deve ser classificado como extremamente concentrado caso que ocorre em Laranjeiras desde o segundo ano em anaacutelise (1985) chegando ao extremo de 094 em 2006 Tabela 01 Iacutendice de GINI para o municiacutepio de Laranjeiras - Sergipe 2018
Iacutendice de
Gini 1970 1985 95-96 2006
Laranjeiras 088 092 094 094
Fonte Censos agropecuaacuterios de 1970 85 95-96 e 2006
Dentre os fatores que contribuiacuteram para o aumento da concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio destaca-se o Proaacutelcool na deacutecada de 1970 com estiacutemulos governamentais para a produccedilatildeo de cana com a crise do petroacuteleo aliado a incorporaccedilatildeo de novas terras por grandes proprietaacuterios para o plantio da cana e em menor destaque o processo de minifundiarizaccedilatildeo os pequenos proprietaacuterios sem condiccedilotildees de adquirir ldquonovos pedaccedilos de terrasrdquo dividem com os filhos atraveacutes de heranccedila contribuindo para o aumento da disparidade na relaccedilatildeo nuacutemero de estabelecimento e aacuterea total dos estabelecimentos
A compreensatildeo da proporcionalidade de terras de pequenos meacutedios e grandes propriedades eacute importante para se perceber o quanto eacute desigual esta relaccedilatildeo Com a definiccedilatildeo destes trecircs componentes atraveacutes do moacutedulo fiscal foi possiacutevel identificar nos diferentes anos em anaacutelise a disparidade no nuacutemero de propriedades com o nuacutemero da aacuterea ocupada por cada um dos trecircs
No graacutefico de 1970 se observa que as pequenas propriedades alcanccedilam mais de 90 do nuacutemero de estabelecimentos no entanto ocupam somente cerca de 15 das aacutereas agriacutecolas em Laranjeiras no outro polo se observa
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que grandes proprietaacuterios contam com nuacutemero reduzido de propriedades aproximadamente 3 estes abarcam aproximadamente 40 da aacuterea agriacutecola municipal neste predominam propriedades que contam com aacutereas maiores que 1000 hectares
Os meacutedios proprietaacuterios encontram em cerca de 10 do total de estabelecimentos e ocupam aacuterea equivalente a 30 das terras estes em alguns casos ocupam suas terras com a pecuaacuteria e em consideraacutevel quantidade das propriedades usam a terra para o plantio da cana com venda garantida a usina de accediluacutecar no municiacutepio
Nos anos de 1985 e 1995-1996 se observa um aumento do poderio dos grandes proprietaacuterios e uma fragmentaccedilatildeo das pequenas propriedades aumento no nuacutemero de estabelecimentos considerados pequenos mais de 95 e aumento na aacuterea das propriedades mas o que chama a atenccedilatildeo eacute uma leve diminuiccedilatildeo na participaccedilatildeo do nuacutemero de estabelecimentos considerados grandes cerca de 2 e um elevado aumento nas aacutereas com grandes propriedades que nos dois periacuteodos em anaacutelise ultrapassam o valor de 50 das terras ocupadas por grandes proprietaacuteriosCom relaccedilatildeo aos meacutedios proprietaacuterios sua participaccedilatildeo tanto no nuacutemero de estabelecimentos quanto da aacuterea ocupada as mudanccedilas satildeo quase imperceptiacuteveis
No que tange aos graacuteficos que representam o ano de 2006 se observa um maior crescimento do nuacutemero de pequenos estabelecimentos (minifundiarizaccedilatildeo) com mais de 95 de todos os estabelecimentos municipais sendo considerados pequenos e um consideraacutevel aumento no tamanho da aacuterea com mais de 30 por vez ocorreu um decreacutescimo tanto no nuacutemero como na aacuterea ocupada pelas denominadas grandes propriedades O que chama a atenccedilatildeo eacute o aumento da participaccedilatildeo das meacutedias-grandes propriedades
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O graacutefico 02 vem para confirmar o quanto eacute elevada a concentraccedilatildeo de terras em Laranjeiras demonstra que no municiacutepio existem poucos proprietaacuterios que abarcam extensas aacutereas de terra enquanto uma gama elevada de pequenos proprietaacuterios tem iacutenfimas faixas de terras que na sua maioria natildeo consegue produzir o suficiente para alimentar toda a famiacutelia vatildeo agrave busca de trabalho na cidade ou em Aracaju e outra parte vende sua forccedila de trabalho no campo mesmo passam a trabalhar nos canaviais ou ateacute mesmo na Usina Pinheiros
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Como em todo o pais a alta concentraccedilatildeo de terras estaacute intimamente ligada a pecuaacuteria e em parte a monocultura do agronegoacutecio em Laranjeiras natildeo eacute diferente Como dito anteriormente a produccedilatildeo canavieira eacute causa e consequecircncia da concentraccedilatildeo fundiaacuteria o que se constata ao comparar o cultivo da cana como os demais cultivos presentes no campo laranjeirense
A associaccedilatildeo da cana com a concentraccedilatildeo fundiaacuteria em Laranjeiras foi possiacutevel ao se debruccedilar com a coleta de dados da produccedilatildeo agriacutecola dos mesmos anos em anaacutelise da concentraccedilatildeo fundiaacuteria
Na tabela 02 fica niacutetida a forccedila do latifundiaacuterio (grande produtor) no municiacutepio que destina suas terras para a produccedilatildeo do agronegoacutecio da cana por vez o camponecircs (pequeno produtor) destina suas terras para produzir alimentos (milho feijatildeo e mandioca) que se verte para o proacuteprio consumo e o excedente eacute vendido em feiras locais ou destina-se a fabricaccedilatildeo da farinha no caso da mandioca ou para a alimentaccedilatildeo bovina caso do milho
Ainda com relaccedilatildeo agrave tabela se observa que em todos os anos analisados a produccedilatildeo de cana (em destaque) dominou praticamente todas as terras do municiacutepio com uma produccedilatildeo em toneladas que equivalem a quase 100 do total de toneladas produzidas tendo como menor participaccedilatildeo o ano de 1970 como anteriormente dito com a Poliacutetica do Proaacutelcool favoreceu a expansatildeo da cana em Laranjeiras que por vez tambeacutem incorporam terras de meacutedios proprietaacuterios e chegam a alguns casos as unidades camponesas que vendem diretamente sua produccedilatildeo de cana para as usinas
A mandioca plantada em Laranjeiras tem ocorrecircncia em siacutetios e pequenas propriedades em todos os anos analisados foi o segundo cultivo mais plantado no municiacutepio mesmo assim a quantidade eacute iacutenfima se comparada com a produccedilatildeo de cana com destaque para o ano de 1970 uacutenico
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que ultrapassou a margem de 1 que nas deacutecadas seguintes ocorreu uma consideraacutevel diminuiccedilatildeo na participaccedilatildeo o que mais uma vez pocircde constatar que a partir da deacutecada de 1970 alguns camponeses perderam (venderam) suas terras para a expansatildeo do agronegoacutecio da cana e outros foram incorporados pelo setor sucroalcoleiro do municiacutepio
Com relaccedilatildeo aos cultivos de milho e feijatildeo se encontram com uma produccedilatildeo praticamente inexistente no municiacutepio com um percentual em todos os anos natildeo passando de 003 na participaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola municipal estas culturas satildeo plantadas nas menores unidades predominam em estabelecimento em ateacute 5 hectares
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Tabela 02 Principais cultivos do municiacutepio de Laranjeiras - Sergipe 2018
Cultivos
1970 1985 1996 2006
Produccedilatildeo (Ton)
Produccedilatildeo (Ton)
Produccedilatildeo (Ton)
Produccedilatildeo (Ton)
Cana 166759 9832 303120 9961 261128 9960 357000 9945
Mandioca 2800 165 1092 035 921 035 1800 050
Milho 32 002 67 003 110 003 144 003
Feijatildeo 5 001 4 001 5 001 25 001
Total 169596 100 304283 100 262164 100 358969 100
Fonte SIDRA-IBGE
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A tabela deixa bem clara qual a funcionalidade do cultivo da cana para o setor agroindustrial que encontra neste municiacutepio as condiccedilotildees ideais para se instalar com o tradicional cultivo da cana extensas aacutereas de domiacutenio dos grandes proprietaacuterios solos feacuterteis geomorfologia plana que facilita o escoamento da produccedilatildeo ateacute as usinas aliadas aos inuacutemeros incentivos dado pelo poder puacuteblico sem esquecer do principal fator de atraccedilatildeo da induacutestria sucroalcoleira o consideraacutevel nuacutemero de forccedila de trabalho barata e disponiacutevel natildeo somente no municiacutepio mas em toda regiatildeo da Cotinguiba
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho demonstra o quanto eacute importante o uso de meacutetodos estatiacutesticos e elaboraccedilatildeo de graacuteficos para se compreender uma realidade municipal estadual e nacional aleacutem de facilitar a interpretaccedilatildeo dos diferentes temas abordados na pesquisa em especial destaque para a compreensatildeo da concentraccedilatildeo de terras
O avanccedilo do agronegoacutecio da cana fica evidente na anaacutelise principalmente apoacutes a institucionalizaccedilatildeo do Proaacutelcool na deacutecada de 70 que impulsionou o cultivo da cana no municiacutepio que distanciou cada vez mais o camponecircs do grande produtor
O domiacutenio das terras agriacutecolas pelos usineiros eacute observada a partir do uso do solo para o plantio da cana hora feito pela famiacutelia grande parte das terras de Laranjeiras pertence agrave famiacutelia do dono da maior usina do estado que sempre esteve ligado ao poder puacuteblico seja nas esferas do legislativo (deputados estaduais federais e senado) ou no executivo (prefeituras de Laranjeiras e Riachuelo - municiacutepio vizinho e no Governo do Estado) aliados a grandes proprietaacuterios que tem venda direta da cana para a usina
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Com anaacutelise dos materiais fica evidente a concentraccedilatildeo de terras e a necessidade de se rediscutir a importacircncia da Reforma Agraacuteria e de planos de accedilatildeo visando o camponecircs que vive a margem deste processo econocircmico e luta de todas as formas para se manter na terra e sobreviver na mesma
A cana que sempre foi vista na regiatildeo como uma fonte inesgotaacutevel de riqueza se transveste como o maior contribuinte para a concentraccedilatildeo de terras na regiatildeo e fomentador das desigualdades em Laranjeiras que contraditoriamente se insere como um dos municiacutepios mais ricos do estado e um dos maiores geradores de pobrezas AGRADECIMENTOS Agradecemos ao PET - Programa de Educaccedilatildeo Tutorial PET de Geografia do Campus Professor Alberto Carvalho em Itabaiana pelo apoio que possibilitou a elaboraccedilatildeo deste artigo sem o Programa natildeo seria possiacutevel desenvolver tal trabalho REFEREcircNCIAS ANDRADE Manuel Correia de A terra e o homem no Nordeste contribuiccedilatildeo ao estudo da questatildeo agraacuteria no Nordeste 5ordf ed Satildeo Paulo Editora Atlas 1986 BRASIL IBGE Censo Agropecuaacuterio 1970
_____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 1985 _____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 1995-1996
_____ IBGE Censo Agropecuaacuterio 2006
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DINIZ Joseacute Alexandre Felizola Geografia da agricultura Satildeo Paulo Difel 1982 EMBRAPA Variaccedilatildeo Geograacutefica do Tamanho dos Moacutedulos Fiscais no Brasil Sete Lagoas-MG 2012 LOPES Eliano Seacutergio Azevedo Lopes CARVALHO Diana Mendonccedila de COSTA Joseacute Eloizio da (Org) Distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos agropecuaacuterios e Iacutendice de Gini do estado de Sergipe - 1985 -199596 - 2006 Satildeo Cristoacutevatildeo editora UFS 2015 SHIMADA Shiziele de Oliveira Dos Ciclos e das Crises do Capital agraves Formas de Travestimento da Barbaacuterie no Trabalho Canavieiro (Tese de doutorado) PPGEO-UFS Satildeo Cristoacutevatildeo 2014 STEacuteDILE Joatildeo Pedro (org) A questatildeo agraacuteria no Brasil o debate na deacutecada de 1990 Satildeo Paulo Expressatildeo popular 2013 httpssidraibgegovbrhomepnadcm
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ldquoDESENVOLVIMENTOrdquo DONO CAMPO UMA VISAtildeO A PARTIR DA REALIDADE CAMPONESA EM
ITABAIANA SERGIPE
Joatildeo Pedro Celestino dos Santossup1 (Universidade Federal de Sergipe)
(Graduando em GeografiaLicenciatura) E mail jpedrocelestino_2012hotmailcom
Daniel Menezes Damacenasup2
(Universidade Federal de Sergipe) (Graduando em GeografiaLicenciatura)
E-mail danieelbinho62gmailcom RESUMO
O artigo tem por objetivo discutir a real condiccedilatildeo da terra e do trabalho para os camponeses e a ideia de desenvolvimento dono campo sobremodo no municiacutepio de Itabaiana Sergipe A terra camponesa estaacute para aleacutem da sua condiccedilatildeo de propriedade de mercadoria e de produtividade comercial Do mesmo modo o trabalho camponecircs representa uma forma de reproduccedilatildeo social e de sociabilidade em que os mesmos tecircm o total controle sobre suas jornadas de trabalho As anaacutelises aqui realizadas decorrem de leituras discussotildees e registros de memoacuterias camponesas por meio de entrevistas feitas com camponeses de povoados de ItabaianaSE Nesse vieacutes destaca-se a questatildeo das falaacutecias de ldquodesenvolvimentordquo no campo que eacute visto como algo benevolente sobretudo em funccedilatildeo do poder alienador do capital e dos recursos midiaacuteticos mas que na verdade tem sido nocivo para a vida no campo Diante desses aspectos eacute importante natildeo perder de vista que a realidade camponesa estaacute emaranhada de dificuldades sobretudo em virtude das determinaccedilotildees do modo de
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produccedilatildeo capitalista ndash que se apropria e usufrui de todos os recursos possiacuteveis ndash que visa o acuacutemulo de capital Palavras-chave Terra Trabalho ldquoDesenvolvimentordquo INTRODUCcedilAtildeO
Este artigo tem por objetivo analisar o real valor da terra do trabalho e do ldquodesenvolvimentordquo no ldquomundo camponecircsrdquo no municiacutepio sergipano de Itabaiana Aleacutem de desvelar e elucidar questotildees contraditoacuterias que asseguram a exploraccedilatildeo material e subjetiva dos camponeses imbuiacutedas neste territoacuterio
Portanto eacute pertinente iniciar inquirindo o que eacute a terra para o camponecircs Ateacute que ponto a terra eacute realmente importante O que eacute preciso para desvelar contradiccedilotildees inerentes agrave terra camponesa tendo em vista sua condiccedilatildeo frente o modo de produccedilatildeo capitalista E o trabalho E os discursos de desenvolvimento nopara o campo
Eacute notoacuterio que o campo sobretudo nos dias de hoje vem sendo atacado por diferentes meios ndash como as determinaccedilotildees capitalistas com seus pacotes tecnoloacutegicos de produccedilatildeo agropecuaacuteria e ateacute mesmo o desenfreado ataque midiaacutetico que esses camponeses estatildeo expostos ndash a fim de mascarar sua realidade e existecircncia e ainda ser dimensionado como atrasado e desimportante sobremodo quando natildeo atende aos interesses do capital Tendo em vista essa situaccedilatildeo eacute parte fundamental do presente artigo procurar realccedilar algumas questotildees que povoam a existecircncia do campo diante da ldquocrueldaderdquo capitalista que expropria expulsa e cria novas formas de reproduccedilatildeo conforme suas determinaccedilotildees
Os camponeses se encontram vulneraacuteveis agraves imposiccedilotildees do modo de produccedilatildeo vigente Mas isso natildeo compete afirmar que sua existecircncia tende a ser fadada ao fracasso pois se encontram resistindo e lutando para de
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formas distintas permanecerem na terra Ainda que essas lutas agraves vezes sem muita consciecircncia e negadas no interior da proacutepria academia como se leu em avaliaccedilatildeo de relatoacuterio de iniciaccedilatildeo cientiacutefica do qual esta proposta decorre
Entatildeo o ldquocerco das terrasrdquo ndash como bem discorreu Joseacute de Souza Martins (1986) em ldquoNatildeo haacute terra para plantar nesse veratildeordquondash tem sido pertinente E isso natildeo eacute uma situaccedilatildeo recente remonta meados do seacuteculo XIX no Brasil quando da institucionalizaccedilatildeo da Lei de Terras em 1850 que privou a disposiccedilatildeo de terra somente para aqueles que a pudesse compraacute-la Ou seja a terra passou a ser mercantilizada Com esse processo de mercantilizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo da terra o trabalhador do campo ficou diante de uma grande dificuldade pois era preciso ter meios de se reproduzir socialmente e sem a terra natildeo seria possiacutevel
Percebe-se que a terra eacute pois um ldquobemrdquo muito relevante sobretudo para a realizaccedilatildeo do trabalho camponecircs Natildeo o grande latifuacutendio mas a terra para plantar Pois eacute atraveacutes dela que o camponecircs cria suas condiccedilotildees de sobrevivecircncia e de sua famiacutelia e encontra meios de efetivar-se na terra Terra em conjunto com o trabalho satildeo essenciais para a reproduccedilatildeo social e representam condiccedilatildeo ontoloacutegica do ser camponecircs
Aleacutem do trabalho uma outra categoria inerente o tempo do camponecircs com sua famiacutelia ndash mulheres homens e crianccedilas ndash para que a socializaccedilatildeo desse trabalho seja concreta e ainda o saber (que lhe eacute proacuteprio) seja disseminado para geraccedilotildees futuras Eacute claro que este trabalho (no siacutetio camponecircs ou qualquer outro espaccedilo) enfrenta algumas dificuldades para sua realizaccedilatildeo o que leva esses camponeses se submeterem a condiccedilotildees diversas de existecircncia
Muitos camponeses e a populaccedilatildeo do campo no geral diante dessa dificuldade de possuir a terra de exercer seu trabalho tambeacutem enfrenta a ideologia do desenvolvimento
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Esse ideal de desenvolvimento aliena e garante que o progresso dono campo soacute eacute possiacutevel quando da inserccedilatildeo do capital no campo representado pelo agronegoacutecio pela quimificaccedilatildeo pela maquinificaccedilatildeo e ainda pelas melhorias dos aparatos teacutecnicos de urbanizaccedilatildeo (como os calccedilamentos rede de aacutegua encanada ou esgoto) Diante dessa conjuntura a sociedade a comunidade camponesa ldquonatildeo se daacute contardquo de que esse ldquodesenvolvimentordquo eacute fruto de uma necessidade de exploraccedilatildeo sobretudo econocircmica (SANTOS DAMACENA 2018)
A partir disso o municiacutepio de Itabaiana ou melhor seus camponeses possibilitam realizar a anaacutelise apontando os enfrentamentos que os mesmos desempenham para continuar na terra para reproduzir-se socialmente Possibilidade desvelada a partir das anaacutelises que estatildeo sendo realizadas no Projeto de Pesquisa ldquoSitio e roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo (COPESUFS) em desenvolvimento pelo Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe Campus Professor Alberto O Projeto busca analisar as questotildees camponesas (nas memoacuterias nas materialidades dono campo na feira) e esclarecer as contradiccedilotildees que satildeo impostas pelo modo de produccedilatildeo vigente reconhecendo o camponecircs e seu valor enquanto produtor do espaccedilo sobretudo do territoacuterio de Itabaiana
Outra questatildeo importante de destacar eacute que o resultado do presente texto decorre da realizaccedilatildeo de levantamento e discussatildeo de referecircncias bibliograacuteficas aleacutem das socializaccedilotildees com pesquisadores do grupo supracitado e entrevistas a camponeses do municiacutepio de Itabaiana que conferiu a possibilidade de promover uma anaacutelise acerca das questotildees e contradiccedilotildees que permeiam sua realidade
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O ldquoVALORrdquo DA TERRA E DO TRABALHO CAMPONEcircS
Existem vaacuterias discussotildees em relaccedilatildeo a terra o que tem gerado divergecircncias entre pesquisadores devido ao ldquoolharrdquo que eacute lanccedilado sobre a mesma Com este artigo algumas questotildees seratildeo explicadas sobre a terra e o seu valor bem como o valor do trabalho camponecircs pois resistem agraves deliberaccedilotildees do modo de produccedilatildeo vigente Diante de entrevistas realizadas por camponeses por camponeses de alguns povoados de Itabaiana SE foi possiacutevel chegar a estas conclusotildees
De fato a terra para o camponecircs estaacute para aleacutem dos princiacutepios monetaacuterios estabelecidos pelo capital Ele tem uma visatildeo camponesa da terra como algo essencial para sua reproduccedilatildeo seja em caraacuteter comercial ndash pelo fato de estar integrado de certa forma ao capitalismo onde eacute necessaacuterio produzir para aleacutem do proacuteprio consumo no sentido de suprir as demandas do mercado interno e conseguir manter-se na terra e garantir o sustento da famiacutelia Mas a terra para ele estaacute diretamente ligada agrave sua reproduccedilatildeo social pois a veem como algo que faz parte de si ou seja natildeo se enxergam vivendo longe da mesma cultivando-a tendo relaccedilotildees mais intriacutensecas com a comunidade com o trabalho que se materializa sobre ela ndash estes camponeses vivem na terra por vaacuterias geraccedilotildees e seus conhecimentos costumes e tradiccedilotildees satildeo perpassados como heranccedila pelos pais familiares ou camponeses mais velhos que vivem nos povoados certificando a pertinecircncia dessa socializaccedilatildeo
Ao realizar uma leitura histoacuterica sobre a condiccedilatildeo da terra no Brasil ressalta-se que desde o periacuteodo das Grandes Navegaccedilotildees ela exerceu um enorme interesse para os colonizadores da ldquoAmeacutericardquo e do ldquoBrasilrdquo (mais precisamente) onde usufruiacuteram das terras para extrair seus recursos naturais ndash
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mateacuterias-primas para produccedilatildeo de utensiacutelios alimentos e metais preciosos A busca incansaacutevel por metais preciosos como o ouro a prata e os diamantes era o maior atrativo dos colonizadores devido ao alto preccedilo que essas mercadorias valiam no mercado e pelo poder que estes lhes conferiam ndash e tal situaccedilatildeo jaacute faz refletir que a terra brasileira jaacute neste momento comeccedilou a ser explorada economicamente Mesmo assim os povos nativos viam-na como um bem sagrado e de extrema importacircncia para sua reproduccedilatildeo (JUNIOR 2006)
Ainda nesse momento o uso da terra para plantaccedilotildees e demais tarefas foi posto em segundo plano pelo fato da busca por metais preciosos conquistando e dominando territoacuterios a qualquer custo para acumular riquezas para a Metroacutepole europeia Foi a partir daiacute que a terra comeccedilou a representar um grande valor monetaacuterio para os colonizadores
Por possuir terras feacuterteis o Brasil foi de grande importacircncia econocircmica para Metroacutepoles como Portugal Espanha e com alguns relatos de invasotildees francesas e holandesas exploraram o seu territoacuterio e que a terra no periacuteodo da colonizaccedilatildeo portuguesa o Brasil passou por trecircs ciclos econocircmicos Entre eles a agricultura destacou-se pelo fato de que a Ameacuterica possuir terras feacuterteis para a produccedilatildeo de algumas mercadorias que possuiacuteam um alto valor monetaacuterio no mercado Se a agricultura se destaca vale dizer tem sua grande importacircncia para esse desenvolvimento deste ciclo que nada mais nada a menos que percorre um ciclo de produccedilatildeo atualmente Por esses movimentos a terra passou a ser mais que um simples lugar que seria para plantar ou morar mas que despertou olhares ambiciosos que se preocupa apenas com o acuacutemulo de capital sem perceber as causas e consequecircncias que o mau uso do solo causa na natureza
Enfim essa leitura histoacuterica confere a possibilidade de analisar a situaccedilatildeo da terra no Brasil pois desde o processo de ldquocolonizaccedilatildeordquo que sua condiccedilatildeo de bem comum e de
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relevacircncia para a sociedade ganhou importacircncia econocircmica Ela passou a ser ldquoprivadardquo (com a Lei de Terras em 1850) e soacute a possuiacutea quem tivesse poder aquisitivo suficiente para compraacute-la ou seja tornou-se mercadoria e com finalidades lucrativas
A medida que a exploraccedilatildeo das terras avanccedilava deixara para traacutes rastros violentos sobre os trabalhadores do campo que perderam suas terras pela falta de conhecimento na regularizaccedilatildeo de documentos referente a terra na qual criou bases para atender os interesses de uns em detrimento de outros A perda da terra por sua vez corroborou para as vaacuterias ldquofugasrdquo de trabalhadores do campo que saem de seu lugar de origem para outras regiotildees devido a natildeo aceitaccedilatildeo da venda da sua proacutepria forccedila de trabalho e exploraccedilatildeo do mesmo realizado por esses compradores ou mesmo pela dificuldade de se manter na terra diante das imposiccedilotildees capitalistas
Agrave medida que o capitalismo adentra no campo causa diversos rebatimentos socioeconocircmicos devido agraves exigecircncias que satildeo impostas para que suas demandas sejam atendidas E um desses rebatimentos natildeo eacute o que se produz para se comercializar mas sim o valor que esta terra vai apresentar para os ditos capitalistas que almejam lucro com a terra de negoacutecios gerando ldquoconflitosrdquo no campo Diante disso a mercadoria produzida no campo tem um alto significado para os dois polos ndash camponeses para subsistecircncia e os capitalistas que visam o acuacutemulo de capital ndash ldquoa mercadoria tem o poder de subjugar os camponeses devido ao fato de possuir o poder de destruir ou modificar as relaccedilotildees sociais no campordquo (MARTINS 1986 p 16) E essa mercadoria tambeacutem eacute a forccedila de trabalho do camponecircs que a vende como mecanismo para manter-se na terra ldquovendendo seu diardquo nas propriedades daqueles que a podem compraacute-la o que acaba reformulando seus costumes e relaccedilotildees sociais Pois ldquoa terra mercantilizada
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segue os princiacutepios dos avanccedilos capitalistasrdquo (MARTINS 1986 p 18)
Jaacute o trabalho no campo ndash que ganha o mesmo caraacuteter que a terra camponesa ndash segue o sentido de suprir apenas suas necessidades no qual os camponeses interagem entre si na divisatildeo do trabalho que eacute por meio de familiares e pessoas que trabalham em terras vizinhas para ajudar na renda da famiacutelia Dentro dessa loacutegica de trabalho no campo existe uma forma de ldquotroca de trabalhordquo ndash uma cooperaccedilatildeo uma ldquoajudardquo ou um mutiratildeo ndash entre os camponeses Por exemplo um camponecircs A trabalha na terra de um camponecircs B sem receber nada em troca e quando esse camponecircs B for cultivar em suas terras o camponecircs A iraacute retribuir da mesma forma o trabalho exercido pelo camponecircs B em suas terras Eis o que Martins (1986 p 102) chamou de ldquoorganizaccedilatildeo coletiva do trabalho no campordquo aleacutem de reunir no mesmo os integrantes da proacutepria famiacutelia do camponecircs
O trabalho por sua vez eacute definido pelo camponecircs como um trabalho real e que atraveacutes dele ndash associado agrave terra ndash eacute possiacutevel se reproduzir socialmente O trabalho camponecircs eacute sistematizado pelo proacuteprio camponecircs que estabelece seu horaacuterio suas funccedilotildees do dia e em que trabalhar (seja a agricultura ou a criaccedilatildeo direta ou indiretamente) Mas tambeacutem haacute a possibilidade do mesmo camponecircs buscar novos mecanismos que lhe proporcionem a permanecircncia na terra como vender a sua forccedila de trabalho no campo ou na cidade e isso natildeo faz do trabalho camponecircs um trabalho de caraacuteter parcial
Terra e trabalho comungam entre si Eles natildeo estatildeo dissociados e representam grande importacircncia para o camponecircs
Essa anaacutelise associa-se ao territoacuterio em questatildeo ndash ItabaianaSE ndash que por meio de entrevistas realizadas aos camponeses de alguns povoados deste municiacutepio foi
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destacado a ideia do que seria a terra para eles que vai na contramatildeo das ideias capitalistas A terra para os camponeses tem significados maiores que a loacutegica de mercantilizaccedilatildeo ndash do valor monetaacuterio da propriedade privada ndash ou seja a veem como um meio de existecircncia e subsistecircncia e imprimem nessa posiccedilatildeo uma forma de resistecircncia frente o modo de produccedilatildeo capitalista
Eacute possiacutevel compreender a realidade camponesa quando nos trabalhos de campo evidenciam-se relatos e realidades que satildeo enfrentadas por eles bem como os desafios que passam todos os dias E nesses relatos percebe-se que em virtude das dificuldades encontradas no campo ndash como as imposiccedilotildees do capital ou mesmo a violecircncia ndash muitos camponeses ldquoabandonamrdquo suas terras encaram a ideia de irem agrave cidade (a expulsatildeo desses trabalhadores no campo foi um dos principais fatores que auxiliou que a populaccedilatildeo urbana ultrapassa a populaccedilatildeo rural (DAVIS 2004)) em busca de uma melhoria de vida que tambeacutem deve ser questionada pois com a realidade urbana os camponeses perdem ldquosua liberdaderdquo seja no trabalho seja na socializaccedilatildeo
Como em Itabaiana natildeo eacute diferente com a ida dos camponeses para a cidade o capital avanccedila no campo por meio do agronegoacutecio que tem como ideias a larga produccedilatildeo em pequenos periacuteodos de tempo utilizando produtos quiacutemicos que prejudicam tanto o alimento e causa doenccedilas em seus consumidores ao mesmo tempo em que tem gerado discussotildees diversas sobre a (im)pertinecircncia desses produtos Vale ressaltar que a maior parte da produccedilatildeo realizada pelo agronegoacutecio eacute direcionada para a exportaccedilatildeo e no caso de Itabaiana para abastecimento de mercados do municiacutepio de Sergipe e outros estados do Brasil Mas a produccedilatildeo camponesa atende agrave necessidade do proacuteprio camponecircs e de boa parte dos cidadatildeos brasileiros
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Entatildeo dar ouvidos e visibilidade para esses produtores do espaccedilo que representa um papel importante de resistecircncia diante do modo de produccedilatildeo vigente pois os camponeses tecircm a terra como algo que vai aleacutem de um simples ldquopedaccedilo de terrardquo com um mero valor comercial mas que tecircm ldquoa terra como algo necessaacuterio para sobreviver e se reproduzir socialmenterdquo (MARTINS 1986 p 18) e como um ldquotesourordquo que garante o sustento de sua famiacutelia ldquoDESENVOLVIMENTOrdquo NO CAMPO A FALACIOSA IDEIA DO PROGRESSO
A sociedade brasileira no geral o operaacuterio da induacutestria o trabalhador urbano o trabalhador do campo enfim todos eles ldquotecircm em menterdquo que eacute preciso fazer coisas como construir edificaccedilotildees explorar minerais entre outras para se chegar ao progresso
O capitalismo por sua vez tem determinado essas situaccedilotildees agrave medida que monopoliza e territorializa o capital mediante conjuntura possiacutevel de promover a exploraccedilatildeo a acumulaccedilatildeo da mais-valia E ainda que ldquoa tendecircncia do capital a de tomar conta progressivamente de todos os ramos e setores da produccedilatildeo no campo e na cidade na agricultura e na induacutestriardquo (MARTINS 1981 p 152) Essa atuaccedilatildeo se daacute numa escala abrangente em todo o Brasil principalmente para assegurar a condiccedilatildeo de ldquoemergenterdquo e que suas riquezas (sobretudo naturais) satildeo a base para o seu desenvolvimento
Essa ideia de desenvolvimento tambeacutem chega ao campo Atualmente o campo brasileiro recebe grande importacircncia pois tem nele o ldquoseleirordquo de mercadorias para equilibrar a balanccedila comercial do paiacutes Eacute pois grande responsaacutevel por boa parte da participaccedilatildeo do Produto Interno Bruto nacional Eis que ocorre com veemecircncia a ldquopenetraccedilatildeo do capitalismo no campordquo (MARTINS 1981 p 151) e o
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mesmo subjuga o trabalhador camponecircs agraves suas determinaccedilotildees olvidando ao mesmo que ldquoo desenvolvimento do capital acontece de maneira desigual e combinada com a tendecircncia de amaacutelgama entre as formas arcaicas e modernasrdquo (SOUSA 2015 p 352)
A partir dessa perspectiva o que se tem analisado junto aos camponeses no municiacutepio de Itabaiana eacute que haacute uma ldquofalsardquo ilusatildeo de que o campo tem alcanccedilado aos poucos o desenvolvimento sem compreender o seu real significado E essa ideia eacute ratificada sobretudo pelas determinaccedilotildees capitalistas e tambeacutem pela accedilatildeo midiaacutetica quando fornece informaccedilotildees onde contemplam a necessidade de uma nova realidade para o campo
Por quais questotildees esses camponeses satildeo levados a acreditar na ideologia do desenvolvimento Pois bem satildeo questotildees que visam atender as necessidades capitalistas mas que promovem uma seacuterie de empecilhos para que o camponecircs permaneccedila na terra realize seu trabalho e consiga reproduzir-se socialmente Seratildeo em seguida citadas algumas dessas questotildees que os entrevistados apontaram como relevantes para essa situaccedilatildeo
Primeiro a facilidade para a produccedilatildeo de suas culturas sobretudo a facilidade do acesso a sementes ndash mesmo ciente da importacircncia da semente crioula ndash a maacutequinas que aumentam a produccedilatildeo e a demais recursos que motivam a renda para manutenccedilatildeo de suas propriedades Mas vale aqui apontar um adendo quanto a essa questatildeo pois a substituiccedilatildeo da semente crioula por uma semente geneticamente modificada (que eacute mais acessiacutevel economicamente) torna o camponecircs submisso ao mercado pois jaacute que esse tipo de semente natildeo gera sementes feacuterteis ele teraacute a necessidade de sempre compraacute-las e ser consumidor dos insumos de uma grande empresa O mesmo pode acontecer quando da
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utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos (praacutetica que encontra resistecircncia pelos camponeses)
E a maquinificaccedilatildeo tambeacutem configura um empecilho para a manutenccedilatildeo do camponecircs no seu espaccedilo Ela substitui a forccedila de trabalho humana expropriando-o e expulsando o camponecircs da terra Este sai do campo (como eacute comum em Itabaiana natildeo soacute pela questatildeo das maquinas mas por lsquon situaccedilotildeesrsquo) e vai morar na cidade em busca de melhores condiccedilotildees de vida de trabalho Mas quando chegam agrave cidade a sua vivecircncia torna-se diferenciada as socializaccedilotildees natildeo se configuram mais como no campo A violecircncia que haacute no campo haacute em maior intensidade da cidade e aleacutem disso o camponecircs torna-se proletaacuterio pois
[] na sociedade capitalista a reduccedilatildeo da remuneraccedilatildeo dos camponeses significa que a renda do solo (renda imputada agrave propriedade) eacute anulada e que a remuneraccedilatildeo do trabalho ndash a que se reduz o preccedilo dos produtos ndash equipara-se ao valor da forccedila de trabalho proletaacuteria (SOUSA 2015 p 348)
Com isso o camponecircs ndash quando sai do campo para a cidade ndash e vai trabalhar como proletaacuterio acaba natildeo tendo mais a mesma relaccedilatildeo com trabalho que tinha antes Ele natildeo mais conseguiraacute definir seus proacuteprios horaacuterios e nem mesmo definir o que fazer no seu siacutetio Agora ele vai atender agraves determinaccedilotildees daquele que compra sua forccedila de trabalho
Mas isso natildeo eacute exclusivo da cidade No campo muitos camponeses ndash para natildeo saiacuterem de laacute ndash tambeacutem vendem sua forccedila de trabalho para aqueles que a costumam ldquocomprar um dia de trabalhordquo Logo o camponecircs se acha tambeacutem subordinado ao capital Mas
Em meio ao avanccedilo do capital no campo satildeo muitas as alternativas criadas pelos
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trabalhadores para voltarem ou permanecerem na terra por meio da combinaccedilatildeo da mobilidade e permanecircncia por meio da combinaccedilatildeo de trabalhos camponeses e natildeo camponeses e por meio dos processos de resistecircncia e luta pela terra (SOUSA 2015 p 333)
Voltando agrave maquinificaccedilatildeo (que tambeacutem representa desenvolvimento no campo) ela eacute resultado de um grande aperfeiccediloamento teacutecnico (logo depois da Primeira Guerra Mundial) mas sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial como ressaltou Campos (2011 p102) que
[] poacutes Segunda Guerra Mundial se difundiu a chamada ldquoRevoluccedilatildeo Verderdquo que consistiu em uma grande mudanccedila na base teacutecnica dos processos agropecuaacuterios tornando-os menos dependentes das condiccedilotildees naturais e mais dependentes de insumos e equipamentos artificiais ampliando muito o mercado de produccedilatildeo e venda desses produtos
Entatildeo a maacutequina no campo aleacutem de promover o aumento da produtividade agriacutecola ou pecuaacuteria estaacute inerente a ela a substituiccedilatildeo da forccedila de trabalho do camponecircs a expropriaccedilatildeo do camponecircs por se ver pressionado por este artifiacutecio teacutecnico Eacute oacutebvio que a maacutequina serviraacute para propor uma maior acumulaccedilatildeo de capital Natildeo perdendo de vista eacute claro a perda da essecircncia do trabalho camponecircs junto agrave sua famiacutelia e agrave comunidade do campo
Segundo o aparato teacutecnico de urbanizaccedilatildeo tambeacutem eacute um dos motivos que proporcionam aos camponeses a noccedilatildeo de que seu povoado eacute tambeacutem desenvolvido Nomeia-se aqui aparato teacutecnico de urbanizaccedilatildeo os calccedilamentos as praccedilas os sistemas de abastecimento de aacutegua e tratamento de esgoto (quando existe) Os camponeses contatados assimilam esses
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aparatos como sendo fatores de desenvolvimento esquecendo que esses fatores satildeo fundamentais para toda a sociedade satildeo considerados serviccedilos baacutesicos Geralmente quando explanam sobre a configuraccedilatildeo dos povoados onde vivem chamam atenccedilatildeo para o ldquoatrasordquo que (segundo eles) apresentavam o que provoca o questionamento do que realmente significa ldquoatrasordquo e mesmo como esse termo eacute interpretado ideoloacutegica e cientificamente
Uma terceira questatildeo eacute a atuaccedilatildeo da miacutedia que transmite informaccedilotildees diversas enfatizando que o desenvolvimento do campo eacute possiacutevel quando haacute sobretudo a inserccedilatildeo e expansatildeo do capital e de suas determinaccedilotildees A miacutedia tem explorado e os camponeses que a acompanha (por meio da televisatildeo ou do raacutedio e do celular) a relevacircncia do uso de um pacote tecnoloacutegico a aquisiccedilatildeo creacuteditos agriacutecolas a necessidade de produzir para participar das relaccedilotildees comerciais o que compete dizer que a partir disso os camponeses que aderem a tais perspectivas se veem submetidos e de certa forma ldquoaprisionadosrdquo ao sistema que usurpa sua liberdade e explora o trabalho e sua socializaccedilatildeo bem como a sua subjetividade
Entatildeo estaacute claro que o ldquodesenvolvimentordquo no campo na verdade serve para mascarar a ideia de crescimento econocircmico As sementes transgecircnicas as maacutequinas bem como os aparatos teacutecnicos de urbanizaccedilatildeo de alguns povoados que certamente satildeo naqueles que contribuem com a produccedilatildeo agriacutecola para a economia do municiacutepio O desenvolvimento no campo eacute e estaacute sendo pautado nas propostas do agronegoacutecio ndash que produz riqueza e assola a pobreza no campo Natildeo se defende aqui que o camponecircs esteja totalmente distante do mundo capitalista pois seria impossiacutevel pois este modo de produccedilatildeo rodeia quase todo o globo
O camponecircs natildeo estaacute imune Ele pode vender o excedente do milho do feijatildeo da batata-doce ele precisa
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comprar mantimentos para sua famiacutelia etc A criacutetica estaacute sobre como esse ldquodesenvolvimentordquo eacute concebido e como o mesmo eacute interpretado Numa palestra sobre a luta pela terra pela aacutegua e pelo territoacuterio foi discutido justamente que eacute preciso sempre indagar como para quecirc e para quem eacute esse desenvolvimento Tanto eacute que Conceiccedilatildeo (2004) discute a ldquoinsustentabilidaderdquo desse conceito na aacuterea ambiental mas pode-se aderir a mesma reflexatildeo quando elucida que o desenvolvimento eacute mais uma tentativa de exploraccedilatildeo do capitalismo sobremodo no campo Ele eacute sem duacutevida uma falaacutecia CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A terra e o trabalho satildeo para o camponecircs a essecircncia da reproduccedilatildeo social da possibilidade de existecircncia e resistecircncia frente agraves determinaccedilotildees do capital que gera riqueza e pobreza na mesma proporccedilatildeo ou mais ainda
Eacute oacutebvio que o camponecircs enfrenta dificuldade de permanecerem na terra como o uso das maacutequinas de agrotoacutexicos do dito desenvolvimento e com isso satildeo obrigados a deixar a terra e migrarem para a cidade na busca de uma melhoria de vida que eacute por ora questionaacutevel Percebe-se portanto que a terra camponesa natildeo se trata de uma ldquoterra de negoacuteciosrdquo mas sim de uma terra que representa condiccedilatildeo de vida
Com o trabalho natildeo eacute diferente Ele representa a materialidade da forccedila do camponecircs em cultivar a sua terra em definir seu tempo e suas funccedilotildees Evidencia-se entatildeo uma autonomia do camponecircs em relaccedilatildeo ao trabalho que lhe confere pois admite-se que tem a liberdade de desempenhar esse exerciacutecio em seu siacutetio com sua famiacutelia de forma coletiva com outros camponeses de sua comunidade Esse trabalho representa a condiccedilatildeo ontoloacutegica para o camponecircs
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A terra e trabalho satildeo sobremodo ameaccedilados por uma falaciosa ideia de desenvolvimento A sociedade alienada vecirc no avanccedilo do capital no campo uma forma de desenvolvimento ndash representado sobretudo pelo agronegoacutecio ndash eacute um fator decisivo para o progresso Eacute loacutegico que o desenvolvimento justo para o camponecircs eacute a autonomia a liberdade a possibilidade de se manter na terra de tirar dela seu sustento de continuar socializando seus costumes e tradiccedilotildees entre outras situaccedilotildees
Entatildeo a partir do momento que os camponeses do municiacutepio de Itabaiana foram ouvidos a partir de entrevistas de registros de memoacuterias que satildeo construiacutedas socialmente possibilitou a presente anaacutelise mostrando como a terra para esses camponeses e como o trabalho satildeo encarados pelos mesmos Entender a importacircncia desses camponeses eacute extremamente relevante pois proporciona a compreensatildeo da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Aleacutem eacute claro de proporcionar clareza das relaccedilotildees sociais espaciais por parte dos pesquisadores que se debruccedilam em averiguar a condiccedilatildeo camponesa valorizando seus costumes tradiccedilotildees o campo e esse sujeito social que eacute histoacuterico e atuante REFEREcircNCIAS CAMPOS Christiane Senhorinha Soares A territorializaccedilatildeo do agronegoacutecio no Brasil In ______ A face feminina da pobreza em meio agrave riqueza do agronegoacutecio Outras Expressotildees Clacso Livros 2011 p 101 - 132 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz A Insustentabilidadade do desenvolvimento sustentaacutevel SalvadorBA III Encontro Nacional do Meio Ambiente 2004 p 1 - 13 Disponiacutevel em lt httpsgpectfileswordpresscom201311a-
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insustentabilidadade-do-desenvolvimento-sustentc3a1velpdf gt Acesso em 130617 DAVIS Mike Planeta de Favelas a involuccedilatildeo urbana e o proletariado informal New LeptReview nordm26 abril 2004 Disponiacutevel em lt fileCUsersUsuarioDownloadsMike20Davis20Planeta20de20Favelas20NLR202620March-April202004pdf gt Acesso em 230317 JUacuteNIOR Caio Prado Histoacuteria Econocircmica do Brasil Ed 1a Satildeo Paulo Brasiliense 2006 MARTINS Joseacute de Souza A sujeiccedilatildeo da renda da terra ao capital e o novo sentido da luta pela reforma agraacuteria In ______ Os camponeses e a poliacutetica no Brasil Editora Vozes ed 5 Petroacutepolis 1981 p 151 - 177 ______ Natildeo haacute terra para plantar nesse veratildeo o cerco das terras indiacutegenas e das terras de trabalho no renascimento poliacutetico do campo ndash Petroacutepolis Editora Vozes 1986 SANTOS Joatildeo Pedro Celestino dos DAMACENA Daniel Menezes O ldquovalorrdquo da terra camponesa na contramatildeo do ldquodesenvolvimentordquo Resumo II Congresso Internacional de Educaccedilatildeo (CONEduc-UFS) VII Encontro Nacional de Educaccedilatildeo do Campo e Movimentos Sociais Escola da Terra VII Foacuterum Identidades e Alteridades III Congresso Educaccedilatildeo e Diversidade (CONED-UFS) III Coloacutequio de Estudos Territoriais Mar 2018 SOUSA Ronilson Barboza de A luta pela terra na (contra)matildeo da ordem capitalista uma anaacutelise a partir da realidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)
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In CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz SANTOS Fabriacutecia de Oliveira (orgs) A natureza imperialista do capital e a falaacutecia do fim da crise Editora UFS Satildeo CristoacutevatildeoSE 2015 p 331 - 356
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O VENENO ESTAacute NA MESA UMA REFLEXAtildeO SOBRE O USO DE VENENOS AGRIacuteCOLAS NOS ALIMENTOS PRODUZIDOS NOS PERIacuteMETROS IRRIGADOS DO MUNICIacutePIO DE ITABAIANASE
Joseacute Davi Ferreira Limasup1
(Graduando em Geografia na Universidade Federal de Sergipe Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em Geografia Filosofia e
Educaccedilatildeo) E mail davi-lima16hotmailcom
Thaiacutes Moura dos Santossup2
(Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe)
E mail thaissou14hotmailcom
Rosana de Oliveira Santos Batistasup3 (Docente do Departamento de Geografia da Universidade
Federal de Sergipe Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo MPROFCIAMB Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em
Geografia Filosofia e Educaccedilatildeo) E mail rostosgeohotmailcom
RESUMO
O municiacutepio de Itabaiana-Sergipe se apresenta no cenaacuterio estadual como maior produtor de hortaliccedilas no entanto essa produtividade estaacute atrelada aos altos iacutendices de utilizaccedilatildeo dos mais variados tipos de venenos agriacutecolasagrotoacutexicos Nesse contexto objetivou-se analisar a questatildeo agraacuteria em Sergipe procurando compreender a dinacircmica do agronegoacutecio que no estado estaacute ancorado na utilizaccedilatildeo intensiva dos agrotoacutexicos bem como categorizar dados coletados em fontes primaacuterias e secundaacuterias de
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informaccedilotildees sobre morbidade e mortalidade via agrotoacutexicos na produccedilatildeo de alimentos do municiacutepio de Itabaiana Este artigo possui o intento de demostrar a contaminaccedilatildeo por venenos agriacutecolasagrotoacutexicos no municiacutepio de Itabaiana-SE e os processos ideoloacutegicos existentes na produccedilatildeo agriacutecola desse municiacutepio Concluiacutemos que o uso dos venenos agriacutecolasagrotoacutexicos eacute uma constante nos periacutemetros irrigados de Itabaiana-SE Constatamos ainda que existe a utilizaccedilatildeo de venenos dos mais variados graus de toxidade o que resulta em casos de intoxicaccedilotildees e oacutebitos entre os trabalhadores bem como a ocorrecircncia de suiciacutedios O desenvolvimento dessa pesquisa permitiu desvelar problemas ainda pouco conhecidos que eacute a contaminaccedilatildeo humana e do ambiente responsaacutevel por fazer da vivecircncia dos trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana uma constante problemaacutetica em relaccedilatildeo agrave sauacutede fato que vai aleacutem da realidade local pois os alimentos produzidos nos referidos periacutemetros satildeo comercializados em todo o estado de Sergipe e em mais alguns estados do Nordeste Palavras-chave Alimentos Agrotoacutexicos Sauacutede INTRODUCcedilAtildeO
Segundo (CARSON 1962) desde o surgimento da vida no planeta Terra haacute 45 bilhotildees de anos o ambiente sempre agiu sobre os seres vivos definindo as condiccedilotildees necessaacuterias agrave existecircncia ou natildeo deles Os estudos geoloacutegicos comprovam que as ocorrecircncias de grandes erupccedilotildees vulcacircnicas lanccedilaram no ar grandes quantidades de gases cinzas e vapor de aacutegua gerando uma alteraccedilatildeo na composiccedilatildeo atmosfeacuterica em relaccedilatildeo agrave existente anterior ao evento Os periacuteodos glaciais tambeacutem foram protagonistas na accedilatildeo sobre as formas de vida existentes no planeta Pois associadas a esses dois tipos de eventos geoloacutegicos citados anteriormente estatildeo as extinccedilotildees em massa
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de algumas espeacutecies Continuamente os processos e a dinacircmica da Terra e da atmosfera atuaram e continuam atuando sobre os seres animados residentes no planeta
A partir do seacuteculo XVI houve o rompimento com o paradigma medieval O Medievo ficou conhecido como idade das trevas justamente pelo pouco avanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica devido ao forte domiacutenio ideoloacutegico da Igreja Catoacutelica A partir desse periacuteodo o homem comeccedila a aprofundar os estudos sobre a natureza usando a razatildeo e empiria O avanccedilo da ciecircncia fez com que a relaccedilatildeo entre ser humano e natureza aos poucos comeccedilasse a mudar
A intensificaccedilatildeo da transformaccedilatildeo da natureza em produtos manufaturados fez com que houvesse uma inversatildeo nos papeacuteis a partir daiacute um dentre todos os seres vivos o homem passa a exercer seu domiacutenio ldquoconscienterdquo sobre a natureza Conhecendo a fundo as leis da natureza o grupo detentor da ciecircncia passa a apropriar-se e explorar cada vez mais os recursos naturais transformando-os em mercadorias no modo de produccedilatildeo capitalista
Com a transiccedilatildeo do sistema feudal para o capitalista toda a estrutura da sociedade foi modificada tanto no meio social quanto no poliacutetico e econocircmico A burguesia passa a dominar a poliacutetica e a ciecircncia e todos as instituiccedilotildees do Estado moderno tendo como objetivo favorecer o mercado e acumular capital A estrutura da sociedade capitalista eacute baseada em relaccedilotildees de produccedilatildeo exploraccedilatildeo dos trabalhadores e da natureza e acumulo de capital pela mais-valia ou seja o trabalho natildeo pago Isso promove na sociedade um engessamento das relaccedilotildees e da forma como o homem enxerga a natureza utilizando-a apenas para um fim obter lucro (MARX 2010)
Nesse contexto infere-se que o dualismo presente na relaccedilatildeo sociedade versus natureza eacute
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resultante do processo desigual e combinado do capital Pois a natureza eacute concebida como mercadoria um objeto exterior ao homem e passiacutevel de apropriaccedilatildeo pelo mesmo por meio da teacutecnica (ARAUacuteJO BATISTA p2)
A intensificaccedilatildeo desse processo agora inverso onde o homem age sobre o ambiente de forma muito mais intensa impactando nas diversas formas de vida inclusive na dele mesmo se daacute no seacuteculo XX com a descoberta de substacircncias quiacutemicas que passam a ser usadas para controlar insetos e plantas indesejadas nos campos agriacutecolas do mundo inteiro A induacutestria de agroquiacutemica tem sua gecircnese apoacutes a Primeira Guerra Mundial no momento em que as grandes corporaccedilotildees quiacutemicas internacionais criaram subsidiaacuterias produtoras de agrotoacutexicos que visaram aproveitar as moleacuteculas quiacutemicas desenvolvidas para fins beacutelicos No entanto somente apoacutes a Segunda Guerra Mundial tais produtos passaram a desempenhar papel importante na agricultura com o advento da Revoluccedilatildeo Verde Esta foi a aplicaccedilatildeo de um conjunto de praacuteticas associadas ao uso de insumos agriacutecolas necessaacuterios para assegurar niacuteveis crescentes da produtividade da agricultura baseado no uso intensivo de agrotoacutexicos e fertilizantes sinteacuteticos Os defensores da Revoluccedilatildeo verde pregavam a erradicaccedilatildeo da fome no mundo no entanto infelizmente natildeo resultou nessa falaacutecia Mas serviu para aumentar ainda mais o monopoacutelio burguecircs Os usos em larga escala dessas substacircncias perigosas passaram a contaminar as aacuteguas os solos e os animais e os seres humanos
Em todas as amostras foi detectada a presenccedila de venenos Somente nas caixas drsquoaacutegua puacuteblicas em que a aacutegua jaacute estava armazenada para ser canalizada para as residecircncias foram
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encontrados pelo menos 5 venenos diferentes Em uma delas havia 8 tipos de agrotoacutexico Em alguns pontos de coleta foram detectados mais de 12 agrotoacutexicos diferentes na mesma amostra de aacutegua (LONDRES 2011 p 65)
As consequecircncias de toda essa infecccedilatildeo eacute a movimentaccedilatildeo ilimitada desses materiais mortiacuteferos (Agrotoacutexicos) nos corpos dos seres vivos pois na natureza uns sobrevivem se alimentando dos outros pela cadeia alimentar estando alguns seres contaminados todo o resto estaacute condenado a conviver com a toxidade dentro do proacuteprio corpo A contaminaccedilatildeo vai das plantas agraves entranhas dos animais que se alimentam delas O homem modificou a natureza ao seu modo sem calcular as consequecircncias que isso resultaria O uso de agrotoacutexicos nas plantaccedilotildees contaminou tudo em sua volta e essa contaminaccedilatildeo estaacute se tornando permanentes nos solos aacuteguas e no proacuteprio corpo humano (CARSON 1962)
A agricultura quando voltada para atender as demandas capitalistas de mercado natildeo respeita o tempo da natureza Existe um periacuteodo de desenvolvimento estabelecido para cada coisa por exemplo em algumas espeacutecies de plantas a germinaccedilatildeo da semente o crescimento floraccedilatildeo e frutificaccedilatildeo satildeo fases que demandam certo tempo tudo isso instituiacutedo naturalmente
Como reflete (BOMBARDI 2011) o tempo do capital sobrepotildee o tempo da natureza com a ambiccedilatildeo de acelerar a produccedilatildeo para satisfazer as necessidades criadas pelo mercado e garantir a reproduccedilatildeo capitalista assim mantendo a ordem vigente e transformando os alimentos e trabalhadores em mercadorias Essa eacute a essecircncia do Estado burguecircs que busca sempre a reproduccedilatildeo do capital atraveacutes da grande exploraccedilatildeo
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do trabalho humano e da natureza para dar continuidade ao movimento de seu mecanismo de acumulaccedilatildeo da riqueza produzida consequentemente ocorre a alteraccedilatildeo da relaccedilatildeo sociedadenatureza como condiccedilatildeo sustentadora de sua estrutura
O modo de produccedilatildeo capitalista soacute funciona se houver mercado consumidor e que consuma diariamente mesmo sem necessidade As pessoas satildeo levadas pelo fetiche ou seja o desejo de consumir mesmo sem necessidade que eacute despertado nelas pelas propagandas que satildeo veiculadas nos meios de comunicaccedilatildeo Por isso os bens produzidos satildeo cada vez mais descartaacuteveis para que logo depois que comprado um produto jaacute seja necessaacuterio substitui-lo por outro Assim agrave medida que se produz mais em menos tempo tambeacutem eacute exigido da natureza tal rapidez mesmo ela tendo seu proacuteprio tempo
Foram necessaacuterios centenas de milhotildees de anos para se produzir a vida que agora habita a Terra idades de tempo para que essa vida desenvolvendo-se evoluindo e diversificando-se alcanccedilasse um estado de ajustamento e de equiliacutebrio com o seu meio ambiente O meio ambiente dando conformaccedilatildeo e dirigindo rigorosamente agrave vida que amparava continham elementos que eram ao mesmo tempo hostis e sustentadores (CARSON 1962 p 16)
Ainda para CARSON (1962) ldquoa vida ajustou-se e um equiliacutebrio foi conseguido Porquanto o tempo eacute ingrediente essencial mas no mundo moderno natildeo haacute tempordquo Para que nunca faltem mateacuterias primas provenientes da agricultura as aacutereas de cultivo satildeo aumentadas as sementes modificadas geneticamente e satildeo aplicados venenos para combater as ldquopragasrdquo nas plantaccedilotildees Uma seacuterie de problemas eacute criada a
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partir desse modelo de produccedilatildeo agriacutecola que tem como objetivo contribuir para a fluidez necessaacuteria ao mercado capitalista
O avanccedilo das aacutereas de cultivo destroacutei as florestas no entanto os insetos e plantas que antes viviam naquelas selvas insistem em ficar no local onde sempre viveram agora ocupado pelas grandes plantaccedilotildees Eles passam a serem considerados problemas no desenvolvimento da lavoura (CARSON 1962) essa que eacute destinada ao abastecimento da induacutestria para ser transformada em bens de consumo indo para o mercado gerar lucro para umas poucas pessoas que deteacutem os meios de produccedilatildeo Ou seja problemas satildeo gerados para sustentar uma agricultura que natildeo tem como objetivo alimentar as pessoas com produtos saudaacuteveis e diversificados pois predominam os cultivos de soja milho e cana-de-accediluacutecar e outros commodities para a exportaccedilatildeo Os pequenos produtores tambeacutem entram no jogo do agronegoacutecio natildeo porque queiram mas pelas obrigatoriedades que lhe satildeo impostas Poliacuteticas de creacuteditos rurais satildeo atreladas ao incentivo do uso dos agrotoacutexicos o marketing promovido na miacutedia faz com que os agricultores acreditem no discurso do aumento da produtividade sem que faccedilam anaacutelise alguma das consequecircncias que o uso de tais substacircncias pode provocar Assim passam a serem tambeacutem consumidores dos insumos agriacutecolas gerando mais lucros para as multinacionais do agronegoacutecio
E para que essa produccedilatildeo agriacutecola continue servindo de meio para a acumulaccedilatildeo de capital eacute sustentada a grande problemaacutetica que eacute o uso de substacircncias toacutexicas e letais para expulsar viventes de seus habitats naturais e contaminar os alimentos produzidos Os insetos que sobrevivem agraves cargas de venenos aplicados sobre eles criam resistecircncia aos determinados tipos agrotoacutexicos Deste modo a geraccedilatildeo seguinte natildeo seraacute mais afetada pelos mesmos venenos Assim
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sendo satildeo desenvolvidas novas substacircncias quiacutemicas cada vez mais destrutivas para combater as ldquopragasrdquo que a cada novo borrifo cria nova resistecircncia Eacute a guerra da vida contra a vida (CARSON 1962)
Alguns dos provaacuteveis arquitetos do nosso futuro olham para uma eacutepoca em que seraacute possiacutevel modificar o plasma germinal humano de acordo com planos bem delineados Mas noacutes podemos facilmente estar fazendo isso agora por inadvertecircncia visto que muitas substacircncias quiacutemicas como as radiaccedilotildees provocam mutaccedilotildees nos genes Eacute irocircnico pensar que o Homem possa determinar seu proacuteprio futuro por meio de alguma coisa tatildeo aparentemente trivial como a escolha de um borrifamento contra insetos (CARSON 1962 p 18)
O agronegoacutecio que eacute a representaccedilatildeo do capital na agricultura natildeo deixa a sociedade a par do que estaacute acontecendo do grau de envenenamento de seus produtos que satildeo utilizados na induacutestria alimentiacutecia e que satildeo ingeridos pelas pessoas todos os dias Existem formas de trabalhar a agricultura sem que seja necessaacuterio o uso de substacircncias mortiacuteferas tais como satildeo os agrotoacutexicos Natildeo eacute por falta de conhecimento que se continua a matar a natureza mas por falta de interesse da classe dominante pois eacute destruindo o meio ambiente e escravizando as pessoas que ela manteacutem seu monopoacutelio
Grande parte do conhecimento indispensaacutevel jaacute se encontra disponiacutevel mas noacutes ainda natildeo fazemos uso dele Noacutes treinamos ecologistas nas nossas universidades e ateacute os empregamos nas nossas reparticcedilotildees governamentais mas raramente lhes seguimos os conselhos
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Deixamos que a chuva de morte quiacutemica desabe como se natildeo houvesse alternativa alguma ao passo que a verdade eacute que haacute muitas alternativas ademais o nosso engenho e as nossas aptidotildees logo descobriratildeo muitas alternativas mais desde que se lhes decirc oportunidade para isso (CARSON 1962 p 21)
As poucas pessoas que deteacutem o poder econocircmico e poliacutetico no mundo natildeo se importam com o preccedilo que a Terra e tudo o que nela existe estatildeo pagando pois a ganacircncia pelo acumulo de riquezas parece os deixar ldquocegosrdquo Para eles o que importa eacute o lucro e os recursos naturais que deveriam ser bens comuns agrave toda humanidade aleacutem de estarem sendo muito explorados natildeo satildeo cuidados nem preservados comprometendo o futuro de todas as formas de vida
Todo este risco foi enfrentado ndash para quecirc Os historiadores futuros bem poderatildeo sentir-se admirados em face do nosso distorcido senso das proporccedilotildees Como poderiam seres inteligentes procurar controlar umas poucas espeacutecies natildeo-desejadas por meio de um meacutetodo que pode contaminar todo meio ambiente e que corporifica ameaccedila de enfermidades e de morte ateacute mesmo da sua proacutepria espeacutecie (CARSON 1962 p 19)
Assim o Homem continua a envenenar a natureza pensando talvez que estaacute fora da desgraccedila feita por ele mesmo Envenena-se agrave medida que coloca veneno na terra adoece quando torna as plantas doentias sacrifica o futuro e morre quando mata sua fonte de vida
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USO DE VENENOS AGRIacuteCOLAS NOS PERIacuteMETROS IRRIGADOS DO MUNICIacutePIO DE ITABAIANASE
O municiacutepio de Itabaiana estaacute localizado na regiatildeo central do estado de Sergipe tem uma precipitaccedilatildeo meacutedia anual eacute de 1500 mm quanto agrave temperatura a posiccedilatildeo geograacutefica juntamente com o relevo sem grande expressatildeo em termos altimeacutetricos contribui para que seja regular sem grandes amplitudes oscilando de 24ordm a 25ordmC O municiacutepio estaacute parcialmente inserido no poliacutegono das secas com clima do tipo megateacutermico seco e sub-uacutemido O municiacutepio estaacute inserido em duas bacias hidrograacuteficas a do rio Sergipe e a do rio Vaza Barris Constituem a drenagem principal o rio Jacarecica e os riachos Ribeira e Coqueiro fato que contribui muito para o desenvolvimento das atividades agriacutecolas (CPRM 2002) Sendo que nos uacuteltimos trinta anos Itabaiana foi sede da consolidaccedilatildeo de algumas poliacuteticas territoriais como a construccedilatildeo de trecircs barragens Accedilude da Marcela Jacarecica I e Poccedilatildeo da Ribeira (ver mapa abaixo) Por estas poliacuteticas o municiacutepio tem diversificado sua produccedilatildeo como tambeacutem vem sediando espaccedilos de armazenamento
Eacute o mais importante municiacutepio da microrregiatildeo do Agreste de Itabaiana e apresenta uma das maiores economias do estado com niacutevel elevado de empregos nos setores de serviccedilo induacutestria e comeacutercio A mineraccedilatildeo tambeacutem contribui para a economia com a atividade de lavra de pedreiras Outra atividade importante nesse municiacutepio eacute a fabricaccedilatildeo de blocos e telhas nas olarias A agricultura nesse municiacutepio desempenha um papel fundamental no que se refere a circulaccedilatildeo de alimentos tendo como principais produtos a mandioca batata doce tomate alface coentro quiabo e outras variedades de hortaliccedilas sendo que em quase todos os cultivos haacute a
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utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Na pecuaacuteria os principais efetivos satildeo os bovinos suiacutenos e ovinos haacute tambeacutem uma criaccedilatildeo muito significativa de galinaacuteceos (CPRM 2002)
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O padratildeo de utilizaccedilatildeo dos agrotoacutexicos eacute disseminado para todas as partes do Brasil e em Sergipe assim como o resto do paiacutes eacute levado a se inserir no modelo atual de produccedilatildeo tanto em velocidade como em forma e por encontrar-se entre os estados que mais utilizam agrotoacutexico seriam necessaacuterias maiores fiscalizaccedilotildees para natildeo permitir o abuso dos venenos poreacutem natildeo eacute isto que acontece (MOURA 2015)
Dentro do contexto do estado de Sergipe o municiacutepio que mais utiliza agrotoacutexico eacute Itabaiana e por ser uma aacuterea de grande exploraccedilatildeo agriacutecola os recursos satildeo muito utilizados permitindo que os solos e plantaccedilotildees sejam ainda mais expostos a produtos nocivos agrave vida humana Assim como existe a dificuldade de no Brasil os alimentos serem produzidos de forma saudaacutevel em Itabaiana esta dificuldade eacute acentuada pelo descaso nas fiscalizaccedilotildees pois aleacutem do trabalho ruinoso que os agricultores vivenciam cotidianamente dos perigos a que estatildeo expostos esses ainda satildeo viacutetimas do modelo de produccedilatildeo dominante (MOURA 2015)
No periacutemetro irrigado do Accedilude da Marcela em Itabaiana os trabalhadores agriacutecolas satildeo constantemente expostos agraves substacircncias quiacutemicas maleacuteficas A necessidade de cumprir a grande demanda por produtos soacute acelera os danos agrave sauacutede deles Apesar dos indiacutecios e sintomas apresentados os trabalhadores natildeo conseguem associa-los aos agrotoacutexicos exatamente pela manipulaccedilatildeo e inibiccedilatildeo das informaccedilotildees que eacute promovida pela miacutedia dominante na sociedade para que as pessoas continuem ignorando os malefiacutecios dessas substacircncias Os trabalhadores se referem aos venenos como se fossem remeacutedios pelo fato de ter sido isto que ouviram refletindo aquilo que lhes foram ensinados e para aleacutem de aprender passarem para outras pessoas a ideia de que os agrotoacutexicos natildeo fazem mal (BATISTA SANTOS 2015) Aleacutem disso muitos dos trabalhadores tecircm uma sensaccedilatildeo de seguranccedila usando os equipamentos de proteccedilatildeo por isso promovem descuidos
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bem como no descarte indevido das embalagens como se o veneno natildeo se espalhasse ou natildeo fosse contamina-los de outras formas sendo ineficaz a utilizaccedilatildeo de equipamentos pois estes natildeo mudam o fato de que aquele veneno vai ser disperso em todo ambiente
No periacutemetro irrigado do Accedilude da Marcela accedilude que fica vizinho agrave sede do municiacutepio haacute a predominacircncia de produtores mais velhos acima de 50 anos estes natildeo datildeo muita importacircncia ao uso do equipamento de proteccedilatildeo individual pois natildeo acreditam que os produtos sejam toacutexicos e perigosos para a sauacutede humana Jaacute alguns dos mais jovens tecircm consciecircncia dos danos poreacutem seguem utilizando de forma inadequada ou natildeo utilizando o Equipamento de Proteccedilatildeo Individual (EPI) assim tambeacutem natildeo datildeo muito creacutedito ao uso da proteccedilatildeo aceitando de maneira consciente as ameaccedilas agrave sauacutede e ao meio ambiente Alguns agricultores tecircm conhecimento dos danos que podem ser causados pela aplicaccedilatildeo dos agrotoacutexicos nas lavouras no entanto natildeo tecircm como fugir da contaminaccedilatildeo pois a atividade agriacutecola representa a renda necessaacuteria agrave sobrevivecircncia da famiacutelia e eles relatam natildeo saberem de outra forma de produzir
Entre as pessoas que trabalham nas plantaccedilotildees do entorno do accedilude da Marcela eacute notoacuterio que a maioria jaacute tem idade acima de 50 anos Associado a isso estaacute tambeacutem a pouca escolaridade dos agricultores sendo um dos motivos que justifica a faacutecil manipulaccedilatildeo de suas opiniotildees em relaccedilatildeo aos venenos agriacutecolas e ldquoaceitaccedilatildeordquo de que natildeo existem perigos no uso desses Pois natildeo tendo acesso a informaccedilotildees verdadeiras sobre os venenos os trabalhadores ficam refeacutens da grande miacutedia (esta que eacute o instrumento de disseminaccedilatildeo das ideias do agronegoacutecio) assim como tambeacutem grande parte das pessoas natildeo ficam a par da nocividade dessas substacircncias
O capital usa de uma estrateacutegia para que os agricultores fiquem refeacutens em toda a cadeia produtiva Essa taacutetica
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materializa-se no Pacote Tecnoloacutegico no qual eacute oferecido aos produtores sementes transgecircnicas fertilizantes quiacutemicos agrotoacutexicos assistecircncia teacutecnica e entre outros produtos que impulsionam a produccedilatildeo e tambeacutem a criaccedilatildeo de leis pelo parlamento por exemplo para que o agricultor acesse poliacuteticas de creacuteditos voltadas para a agricultura nos bancos ele tem que estaacute enquadrado no modelo de produccedilatildeo proposto pelo agronegoacutecio O fetiche da alta produtividade e de lucros maiores faz com que os agricultores se insiram no modelo imposto pelo agronegoacutecio abandonando seus conhecimentos tradicionais que satildeo originalmente de cuidado e respeito ao meio ambiente
O uso de sementes geneticamente modificadas obriga os agricultores a usarem os adubos e venenos que satildeo oferecidos pelo mercado porque existe a dependecircncia por parte das sementes transgecircnicas para com esses componentes quiacutemicos Todo esse processo de dominaccedilatildeo do capital no campo eacute facilitado pelos governantes e principalmente por aqueles que tecircm ligaccedilatildeo com o agronegoacutecio no Brasil (a bancada ruralista no congresso nacional) que atuam pelos proacuteprios interesses e das empresas de agroquiacutemicos que apoiam suas campanhas eleitorais Natildeo haacute outro motivo se natildeo esse para que eles faccedilam uma grande defesa e incentivo ao uso de agrotoacutexicos no paiacutes atacando incessantemente o meio ambiente os povos e comunidades tradicionais Uma das consequecircncias satildeo as intoxicaccedilotildees que satildeo constantes e ao mesmo tempo ignoradas pelo Estado Natildeo existe a perspectiva de que essa populaccedilatildeo estaacute doente pela forma que trabalha natildeo eacute interessante para o Estado o esclarecimento e combate desses problemas mas ao contraacuterio promove o ocultamento tanto das doenccedilas como das causas
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Enquanto isso estaacute ocorrendo os problemas com os
agrotoacutexicos se tornam maiores do que anos atraacutes com relatos de suiciacutedios por consequecircncia destes venenos Como essas substacircncias mexem com o organismo inteiro eacute esperado que acontecessem efeitos neuroloacutegicos tambeacutem mas se o Estado natildeo percebe nem as doenccedilas como o cacircncer pelo uso de agrotoacutexicos eacute suscetiacutevel que ignore os casos de suiciacutedios como fatos isolados e natildeo problema de sauacutede puacuteblica (BATISTA SANTOS p17)
Esses efeitos neuroloacutegicos pelo uso de produtos quiacutemicos ambientais como alumiacutenio mercuacuterio caacutedmio e fluacuteor provocam no organismo uma seacuterie de problemas destrutivos a sauacutede doenccedilas como depressatildeo (que vai influenciar diretamente no suiciacutedio) esquizofrenia transtornos
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de ansiedade insocircnia autismo e entre muitas outras que estatildeo em estados progressivos (SENEFF SWANSON LI 2015)
O aumento de substacircncias nocivas como o glifosato proporciona uma seacuterie de mudanccedilas negativas no organismo mesmo em longo prazo que consolidam ainda mais este adoecimento da populaccedilatildeo que natildeo se restringe apenas a um estado ou paiacutes mas que eacute uma realidade de muitos Estados industrializados Haacute uma interaccedilatildeo do glifosato com o alumiacutenio que suscitam em muitas dessas doenccedilas mas principalmente na insocircnia anemia e o autismo Portanto se apenas uma substacircncia jaacute tem efeitos nocivos no organismo o conjunto de todas as substacircncias utilizadas no ambiente tem um efeito ainda mais pernicioso as reaccedilotildees no organismo com substacircncias toacutexicas provocam reaccedilotildees quiacutemicas principalmente no ceacuterebro e iratildeo se dispersar por todo sistema orgacircnico (SENEFF SWANSON LI 2015)
O efeito agravante acontece na glacircndula Pineal responsaacutevel por secretar a melatonina hormocircnio responsaacutevel pela regulaccedilatildeo dos ritmos do corpo (ciclo circadiano) reloacutegio bioloacutegico e o sono eacute diretamente afetada com relaccedilatildeo agrave insocircnia que o glifosato juntamente com o alumiacutenio provocam esta natildeo consegue cumprir a tarefa de regular o sono e o organismo tem uma seacuterie de reaccedilotildees por falta de um reloacutegio bioloacutegico saudaacutevel o que aleacutem da insocircnia pode promover um quadro depressivo (SENEFF SWANSON LI 2015)
Satildeo a esses riscos que os trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana estatildeo expostos E no entanto natildeo existe sequer uma accedilatildeo do Estado no tocante a conscientizaccedilatildeo e promoccedilatildeo de cuidados com a sauacutede das pessoas que estatildeo inseridas num contexto de maior contato com os venenos agriacutecolas no referido municiacutepio sergipano RESULTADOS
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Os processos domesticadores que satildeo desenvolvidos pela parcela da sociedade que domina e se beneficia com o comeacutercio dos agrotoacutexicos satildeo notoacuterios nas falas e accedilotildees de muitos dos trabalhadores nas plantaccedilotildees dos periacutemetros irrigados de Itabaiana A maneira como eles pensam falam e agem em relaccedilatildeo aos venenos agriacutecolas mostra como os processos ideoloacutegicos satildeo usados para fazer com que eles tenham uma visatildeo ingecircnua da proacutepria realidade Somente estando sob o julgo de manipulaccedilotildees das informaccedilotildees sobre os agrotoacutexicos eacute que os agricultores de tal municiacutepio podem acreditar que venenos agriacutecolas sejam remeacutedios
Pode-se analisar na fala de um dos trabalhadores que ele demostra conhecer os riscos agrave que os agrotoacutexicos o expotildee mas ao mesmo tempo relata atitudes contraditoacuterias tal como ter o equipamento de proteccedilatildeo individual e natildeo utiliza-lo por completo Outro ponto que se pode observar eacute a natildeo leitura da bula que consta nas embalagens
ldquoEu tenho o EPI neacute Eu utilizo macacatildeo A maacutescara eu natildeo gosto muito natildeo eu natildeo se acostumo mas uso a maacutescara tambeacutem Eacute difiacutecil eacute raro ler a bula eacute porque a gente que peleja com qualquer coisa se vocecirc trabalha com aquilo vocecirc jaacute sabe que tem um limite de colocar Aiacute as vezes vem as pessoas que satildeo estudadas que estuda tal aiacute diz natildeo eacute pra colocar esse tanto Mas a gente peleja aiacute com isso muitos anos sabe que com aquela dose faz efeito aiacute a gente nem procura saber a gente jaacute sabe o jeito da gente trabalhar mesmo que aquela quantidade que a gente utiliza serverdquo ldquonatildeo pra sauacutede natildeo pra sauacutede eu acredito que veneno nenhum Jaacute tem o nome veneno neacute Eu acredito que veneno nenhum eacute bom pra sauacutede Jaacute tem o nome veneno E tem o nome toacutexico neacute Eu acredito
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que veneno nenhum eacute bom pra sauacutede Neacute Mas eu acredito que tem gente que se prejudica mais raacutepido de que outros Porque tem o organismo depende do organismo Por aqui eu natildeo conheccedilo ningueacutem que se prejudicou por aqui natildeo Eu vejo falar no raacutedio que algueacutem jaacute se prejudicou utilizando veneno por causa do veneno porque natildeo se daacute com aquele veneno aiacute passa mal mas aqui nessa regiatildeo nunca vi falar natildeordquo (Entrevistado 10)
Esse agricultor se mostra ciente dos danos que os agrotoacutexicos podem causar a sauacutede mas natildeo acredita que os prejuiacutezos afetam as pessoas de maneira similar para ele depende da singularidade de cada um sendo o que define o grau de risco agrave contaminaccedilatildeo Sobre a utilizaccedilatildeo do EPI temos as informaccedilotildees dispostas no graacutefico abaixo
Muitos dos agricultores do periacutemetro irrigado do accedilude
da Marcela natildeo associam as doenccedilas os mal-estares e os transtornos psicoloacutegicos agrave exposiccedilatildeo e contato com os agrotoacutexicos Sobre casos de suiciacutedios na regiatildeo dos periacutemetros
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irrigados do municiacutepio de Itabaiana alguns dos trabalhadores que foram entrevistados comentaram
ldquoVeneno De vez em quando a gente ver uns querendo tomar veneno Neacute Tem gente que toma Morreu um uns tempos desse aiacute no bairro Bananeirardquo (Entrevistado 5) ldquoJaacute soube do caso laacute da outra barragem o cara tomou mas tomou porque queria mesmordquo (Entrevistado 8) ldquoTomando os venenos neacute Jaacute Natildeo aqui nessa regiatildeo Nunca soube que ningueacutem morreu em tomar veneno mas teve outras regiotildees por aiacute que sim Eu jaacute ouvir falar no raacutedio que jaacute utilizaram o veneno para se matarrdquo (Entrevistado 10)
A maioria dos venenos utilizados nas plantaccedilotildees dos periacutemetros irrigados de Itabaiana apresentam altos niacuteveis de toxidade (apresentados no quadro abaixo) tais como satildeo o Dithane que eacute um fungicidaacaricida produzido pela empresa Dow e estaacute classificado como extremamente toacutexico e o Cypitrin um inseticida produzido pela Sanachen e assim como o veneno anterior apresenta classificaccedilatildeo toxicoloacutegica I ou seja extremamente toacutexico Ainda assim alguns agricultores repetem o discurso de que os venenos satildeo fracos e natildeo satildeo nocivos nem a sauacutede nem ao meio ambiente
ldquoO veneno que utiliza aqui eacute fraco Eacute fraquinho eacute soacute para natildeo queimar a folha do coentrordquo (Entrevistado 2) ldquoAssim quem informa noacutes eacute eles laacute eles laacute tecircm os agrocircnomos laacute pronto Soacute que assim eacute carecircncia baixa sem ser que natildeo prejudica muitordquo (Entrevistado 4)
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Esses problemas satildeo acentuados com as constantes intoxicaccedilotildees que satildeo muito comuns entre os agricultores pois estatildeo muitas vezes em contato direto com as substacircncias desde o preparo da mistura que eacute colocada nos pulverizadores ateacute a aplicaccedilatildeo na lavoura Sobre as intoxicaccedilotildees as falas dos trabalhadores mostradas abaixo revelam o quanto eacute danoso agrave sauacutede o contato dos seres humanos com os venenos agriacutecolas
ldquoQuando eu trabalhava laacute em Propriaacute eu comecei a trabalhar pulverizando milho repolho essas coisas Eacute porque esses venenos de hoje que a gente usa aqui natildeo eacute que nem esses venenos que eu passava laacute em Propriaacute Aquele Politrin na eacutepoca tatildeo forte que ele era na hora que ele batia no coro da pessoa ele queimava Teve uma vez que eu tava passando numas dez tarefas de milho mais meu patratildeo aiacute nisso ele conversando mais eu aiacute o poacute do veneno entrou na boca entrou natildeo sei como
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foi aquilo Mim deu aquela tontura eu caiacute com bomba com tudo eu natildeo morri porque Eu fui pro hospital natildeo tinha nem soro A sorte foi que eu tava com um dinheiro em caixa neacute Eu tava com mil reais emprestado de um colega meu natildeo morri por causa desse dinheiro porque senatildeo eu tinha morrido Porque o patratildeo nem assistecircncia deu E eu com dez anos de trabalha agrave elerdquo (Entrevistado 1) ldquoEu tava ali cortando uma salsinha ali Se eu natildeo mim engano foi numa quinta-feira aiacute tava comeccedilando a chover e eu tava colocando um farelo no coentro farelo desses de daacute raccedilatildeo a gado pra o cachorrinho natildeo comer a semente Aiacute eu usei um veneno chamado Folisuper servia pra matar o cachorrinho pra natildeo comer as sementes do coentro Depois que eu botei o farelo com chuva chonendo neacute Quando cheguei em casa ave Maria mim arriei na hora Fui pro hospital o meacutedico perguntou em que eu trabalhava eu disse trabalho em siacutetio Ele perguntou vocecirc utilizou agrotoacutexico Eu disse Utilizei Depois disso pra caacute eu nunca mais peguei em veneno Hoje a gente usa soacute um veneno baacutesico fraquinho Nesse dia eu senti tontura dor de cabeccedila terriacutevel ave Maria eu passei foi ruim (Entrevistado 2)
No que se refere as embalagens estas satildeo descartadas sem muito cuidado isso associado a outras irregularidades soacute contribui no aumento de intoxicaccedilotildees natildeo soacute em Itabaiana mas em todo o Brasil Apesar de uma pequena maioria dos trabalhadores afirmarem que faz a devoluccedilatildeo das embalagens dos agrotoacutexicos para que sejam descartadas corretamente natildeo eacute bem essa a realidade no periacutemetro irrigado do accedilude da Marcela Eacute corriqueiro ver embalagens jogadas agraves margens das estradas nas aacutereas de cultivo em galpotildees e nos arredores das casas dos agricultores Aleacutem dos descartes indevidos das
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embalagens dos venenos por natildeo compreenderem e natildeo serem alertados da gravidade das consequecircncias que o uso dos agrotoacutexicos provoca na sauacutede e na natureza alguns trabalhadores tambeacutem natildeo datildeo a devida importacircncia ao Equipamento de Proteccedilatildeo Individual (EPI) Percebemos que muitos fatores favorecem o agravamento da situaccedilatildeo que jaacute eacute de risco dos trabalhadores do campo de Itabaiana Embalagens descartadas irregularmente no periacutemetro irrigado do accedilude da Marcela em ItabaianaSE
Fonte Trabalho de campo 02102017 Foto Joseacute Davi Ferreira Lima 2017
Nesse processo eacute perceptiacutevel a violecircncia que o homem do campo sofre desde o descaso com a sauacutede ao descaso em esclarecer e informaacute-lo Sendo essas as realidades dos trabalhadores dos periacutemetros irrigados de Itabaiana bem como de todos do paiacutes vivem sem saber dos riscos que correm e isso vai aleacutem de quem trabalha atingindo todos que consomem os alimentos contaminados pelos produtos toacutexicos que satildeo utilizados na agricultura Enquanto todo esse descaso acontece os iacutendices de suiciacutedios por agrotoacutexicos soacute aumentam
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e os casos de intoxicaccedilotildees se alastram entre os trabalhadores E os indiviacuteduos afetados direta eou indiretamente por consequecircncias do modelo de produccedilatildeo agriacutecola proposto pelo agronegoacutecio tornam-se apenas mais nuacutemeros para as estatiacutesticas CONCLUSAtildeO
Compreender a dinacircmica do agronegoacutecio no estado de Sergipe e os processos ideoloacutegicos impregnados nesse modelo de produccedilatildeo agriacutecola e a forma que a ideologia eacute utilizada para manipular as pessoas desde as que produzem agraves que consomem diariamente os alimentos envenenados eacute a forma mais eficaz de promover mudanccedilas na estrutura do sistema econocircmico este que causa grande degradaccedilatildeo para beneficiar as classes dominantes da sociedade Eacute atraveacutes do conhecimento que se pode ir de encontro aos problemas que satildeo causados aos seres humanos e ao meio ambiente pelo uso intensivo de agrotoacutexicos na produccedilatildeo de alimentos
O grande aparato que eacute montado para que o agronegoacutecio continue a escravizar os povos camponeses degradar o meio ambiente e contaminar com substacircncias perigosas quase que todos os seres do planeta tem o apoio do Estado que natildeo busca o bem estar social mas a manutenccedilatildeo do monopoacutelio burguecircs juntamente com a grande miacutedia que tambeacutem estaacute a serviccedilo da classe dominante Juntos Estado e miacutedia promovem apoio legal e midiaacutetico manipulador respectivamente agraves empresas produtoras de venenos e outros agroquiacutemicos e aos latifundiaacuterios monocultores Os camponeses natildeo ficam fora desse modelo de produccedilatildeo pois para eles satildeo impostos de vaacuterias maneiras os pacotes tecnoloacutegicos para o capital o que importa eacute que eles estejam
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consumindo seus insumos agriacutecolas (fertilizantes agrotoacutexicos e outros)
Assim a problemaacutetica que eacute o uso indiscriminado de agrotoacutexicos nos periacutemetros irrigados de ItabaianaSE e em outras aacutereas de cultivos do Brasil natildeo deve ser somente uma preocupaccedilatildeo dos agricultores sendo estes que satildeo os mais afetados por estarem em contato direto com os agrotoacutexicos mas de toda a sociedade brasileira que estaacute sujeita a consumir alimentos envenenados Pois alimento natildeo deve ser tratado como raccedilatildeo nem como comida envenenada mas como fonte de vida e que gere sauacutede para as pessoas produzidos agroecologicamente e de forma soberana diferente dos oferecidos pelo agronegoacutecio esses que soacute causam doenccedilas e mortes
REFEREcircNCIAS ARAUJO Ronaldo Marcos de Lima A Respeito da Centralidade do Trabalho Universidade Federal de Minas Gerais 200- BATISTA R O S Natureza e Sociedade as contribuiccedilotildees de Rousseau acerca da moral e da eacutetica ambiental Satildeo Cristoacutevatildeo 2009 BOMBARDI Larissa Mies Intoxicaccedilatildeo e morte por agrotoacutexicos no Brasil a nova versatildeo do capitalismo oligopolizado Boletim DATALUTA 2011 CARNEIRO F F ET (org) Dossiecirc ABRASCO um alerta sobre os impactos dos agrotoacutexicos na sauacutede Satildeo Paulo Expessatildeo Popular 2015
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CARSON Raquel Primavera silenciosa Satildeo Paulo Gaia 2010 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIacuteSTICA ndash IBGE IBGE Cidades Brasil 2017 LONDRES Flavia Agrotoacutexicos no Brasil um guia para accedilatildeo em defesa da vida ndash Rio de Janeiro AS-PTA ndash Assessoria e Serviccedilos a Projetos em Agricultura Alternativa 2011 MARX Karl O Capital criacutetica da economia poliacutetica Livro I Vol I Trad Reginaldo SantacuteAnna 27ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010 MOURA Thaiacutes dos Santos Dinacircmica espacial do uso de agrotoacutexicos em sergipe e os impactos na sauacutede do trabalhador Programa Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash PIBIC Universidade Federal de Sergipe 2015 SANTOS Clecircane Oliveira dos Territoacuterios e espaccedilos vividos no municiacutepio de ItabaianaSE Ateliecirc Geograacutefico Goiacircnia-GO v 3 n 3 dez2009 pp152-174 SENEFF Stephenie SWANSON Nancy LI Chen Alumiacutenio and glyphosate iacutendice pineal gland pathology cannection tocirc gut dysbiosis and neurological disease Agricultural Sciences Vol 6 nordm 01 2015 SERVICcedilO GEOLOacuteGICODO BRASIL Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais ndash CPRM Brasil 2002
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OS DESDOBRAMENTOS DA ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR EM TEMPOS DE GOLPE
Faacutebio Ferreira Santossup1
(Universidade Federal da Paraiacuteba) (Doutorando em Geografia)
E mail fabinhoufsgmailcom
Maria Franco Garciasup2 (Universidade Federal da Paraiacuteba)
(Professora e Orientadora do programa de poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia)
E mail mmartillogmailcom RESUMO
As contradiccedilotildees do sistema capitalista nos impotildeem a pensar as transformaccedilotildees no espaccedilo geograacutefico de forma dialeacutetica A conjuntura atual em que vivemos no Brasil nos permite compreender que as poliacuteticas puacuteblicas em especial o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) insere-se numa fase de extrema delicadeza no que diz respeito ao seu gerenciamento Nesse sentido pensar na produccedilatildeo de alimentos do campesinato para este programa nos permite entender a relaccedilatildeo Estado-camponecircs num momento de incerteza Dessa forma as mudanccedilas no PNAE no decorrer dos seus sessenta e dois anos de existecircncia fazem parte das transformaccedilotildees capitalistas que subordina as relaccedilotildees econocircmicas no territoacuterio Contudo a resistecircncia camponesa e sua loacutegica produtiva vatildeo de encontro a esse modelo de desenvolvimento e nos oferenda a pensar uma sociedade melhor e justa Assim diante do golpe de Temer no paiacutes e os retrocessos na poliacutetica agraacuteria e agriacutecola o camponecircs continua
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resistindo e se recriando nas diferentes lutas pela terra e pela reproduccedilatildeo de sua famiacutelia Palavras-chave Golpe Campesinato poliacuteticas puacuteblicas INTRODUCcedilAtildeO
Este texto traz reflexotildees acerca do Programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar nos seus 62 anos de existecircncia destacando se suas transformaccedilotildees ao longo de deacutecadas Todavia a conjuntura poliacutetica atual nos referenda a pensar estrateacutegias de resistecircncias diante o golpe poliacutetico instaurado no paiacutes Nesse aspecto os retrocessos nas poliacuteticas puacuteblicas para o campo atraveacutes da extinccedilatildeo do ministeacuterio do desenvolvimento agraacuterio e da suspensatildeo da assistecircncia teacutecnica rural tiveram rebatimentos significativos na agricultura camponesa
Nesse aspecto o meacutetodo dialeacutetico e as pesquisas bibliograacuteficas nos impulsionaram a explicar as contradiccedilotildees na conjuntura poliacutetica atual e seus desdobramentos para o campo
O PNAE faz parte de um dos eixos de acesso aos alimentos no qual estaacute inserido dentro da poliacutetica nacional de seguranccedila alimentar e nutricional (PNSAN) desde o ano de 2005 Para tal o contexto em que se insere o PNAE no Brasil deve ser posto em evidencia para que fique claro o programa e sua atuaccedilatildeo
Alguns autores no dar suporte teoacuterico nas anaacutelises do PNAE como Carvalho e Castro (2009) Belik (2006) Coimbra (1982) Fialho (1993) Costa (2001) Sturion (2003) entre outros que nos mostram que o programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar tem possibilitado aos camponeses a permanecircncia na terra e que o PNAE eacute o mais antigo programa social do Governo Federal na aacuterea de educaccedilatildeo e eacute o maior programa de alimentaccedilatildeo em atividade no Brasil
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Nesse acircmbito a importacircncia do PNAE para a educaccedilatildeo eacute de extrema importacircncia pois visa a merenda escolar Segundo Carvalho e Castro (2009)
O Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) foi criado em 1979 mas somente com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Cidadatilde em 1988 foi assegurado o direito agrave alimentaccedilatildeo escolar a todos os alunos do ensino fundamental como programa suplementar agrave poliacutetica educacional Logo na primeira metade da deacutecada de 1990 os formulados foram totalmente abolidos dos cardaacutepios (CARVALHO CASTRO 2009 p3)
Nesse sentido O PNAE vincula-se como um programa suplementar a poliacutetica educacional uma vez que direciona a produccedilatildeo de alimentos da agricultura para a alimentaccedilatildeo escolar
Historicamente o ano de 2016 foi marcado pelas contradiccedilotildees e resistecircncia na poliacutetica brasileira O golpe poliacutetico que resultou no impeachment de Dilma Rousseff assegurou as elites dominantes deste paiacutes no poder A forjaccedilatildeo de pedaladas fiscais e de irregularidades durante a gestatildeo da presidenta (2011 a 2016) marcaram um cenaacuterio poliacutetico contraditoacuterio de retrocessos significativos para a sociedade
No espaccedilo agraacuterio a tomada de poder pelo Golpista Michel Temer foi aclamada como um retrocesso nas discussotildees das poliacuteticas puacuteblicas para o campo Diante desse contexto os avanccedilos conquistados pelo Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar nos uacuteltimos 10 anos foram rapidamente deteriorados pela bancada ruralista no Congresso Nacional
Nesse acircmbito a contextualizaccedilatildeo do programa ao longo de seus 62 anos de existecircncia e principalmente a partir de 2010 torna-se essencial para entendermos a relaccedilatildeo do
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campesinato com o PNAE Por ser um programa direcionado a aquisiccedilatildeo de alimentos a alimentaccedilatildeo escolar se tornou nos uacuteltimos 7 anos um mercado institucional para o campesinato Dessa forma a aprovaccedilatildeo da lei 11947 em 2009 prevecirc em seu art 14
Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE no acircmbito do PNAE no miacutenimo de 30 (trinta por cento) deveratildeo ser utilizados na aquisiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizaccedilotildees priorizando-se os assentamentos da reforma agraacuteria as comunidades tradicionais indiacutegenas e comunidades quilombolas (BRASIL FNDE 2012)
Observa-se que a lei tem avanccedilos para o campesinato uma vez que objetiva fomentar a aquisiccedilatildeo de alimentos a agricultura camponesa proporcionando aos alunos da rede puacuteblica uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel equilibrada Nesse aspecto o PNAE tem como objetivo atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanecircncia em sala de aula contribuir para o crescimento o desenvolvimento a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes aleacutem de promover a formaccedilatildeo de haacutebitos alimentares saudaacuteveis (FNDE 2012)
Apesar disso a partir do golpe de 2016 as poliacuteticas puacuteblicas vecircm sofrendo alteraccedilotildees significavas atraveacutes de medidas provisoacuterias e a extinccedilatildeo do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) Tais medidas contra a agricultura camponesa significam retrocessos para o campo
Dessa forma iremos suscitar o PNAE e suas faces no campo em seu processo histoacuterico de implementaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo para que possamos entender a conjuntura atual
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de golpe e desmonte das poliacuteticas puacuteblicas de produccedilatildeo de alimentos pelo campesinato O PNAE E SUAS FACES NO CAMPO
O surgimento da Alimentaccedilatildeo Escolar no territoacuterio brasileiro estaacute ligado a poliacutetica de assistencialismo Surgido no iniacutecio do seacuteculo XX a merenda escolar estava alicerccedilada pelos programas de combate agrave fome e a pobreza no Brasil
As primeiras experiecircncias brasileiras efetivas de oferta de alimentaccedilatildeo escolar eram de caraacuteter beneficente e natildeo constituiacuteam campo de intervenccedilatildeo do Estado Destaca-se como exemplo a Caixa Escolar (embriatildeo da Associaccedilatildeo de Pais Amigos e Mestres-Apams) que passou a mobilizar a atenccedilatildeo para o tema (CARVALHO amp CASTRO 2010 p 2)
A partir de 1930 os movimentos sociais passaram a pressionar o governo com atos puacuteblicos exigindo accedilotildees do Estado para os problemas da fome e pobreza que assolavam o Brasil no qual teve repercussotildees anos seguintes no governo populista de Vargas no qual se iniciava as primeiras accedilotildees relacionadas a alimentaccedilatildeo no pais
Data de 1942 o desenvolvimento de um dos primeiros programas de alimentaccedilatildeo Tratava-se de um programa idealizado pelo Dr Dante Costa que partira de um inqueacuterito nutricional de crianccedilas em idade escolar e resultou no ldquoserviccedilo de desjejum escolarrdquo [] Aberto gratuitamente para mil crianccedilas filhos de trabalhadores requeria o comparecimento da crianccedila para receber a merenda natildeo permitia que a crianccedila tivesse acesso a outro lanche e ainda tinha data regularmente marcada para
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acompanhamento meacutedico O Desjejum consistia em um sanduiche um copo de leite e uma fruta (BITTENCOURT 2007 p63)
Apesar de serem iniciativas isoladas os primeiros programas de alimentaccedilatildeo na escola dariam bases para que o governo populista de Vargas comeccedilasse a se preocupar com a educaccedilatildeo e com a merenda escolar Nesse sentido natildeo podemos deixar de enfatizar que o periacuteodo populista no paiacutes foi influenciado pelas ideias de Josueacute de castro no acircmbito dos programas de combate agrave fome e a pobreza
A frente do SAPS Josueacute de Castro passa a observar os problemas da fome e da maacute distribuiccedilatildeo de alimentos no paiacutes de maneira mais abrangente Para Castro (1977) ldquoO SAPS tinha como objetivo assegurar condiccedilotildees favoraacuteveis e higiecircnicas agrave alimentaccedilatildeo dos segurados dos Institutos e Caixas de Aposentadorias e Pensotildees subordinados ao Ministeacuterio do Trabalho Induacutestria e Comeacuterciordquo (CASTRO 1977 p195)
Apoacutes o fim do Estado Novo (1937-1945) Gaspar Dutra assumi a presidecircncia do Brasil em 1946 e sua poliacutetica alimentar natildeo ocorreu avanccedilos significativos na educaccedilatildeo De acordo com Teixeira (2008)
Sua poliacutetica de alimentaccedilatildeo fazia parte do que se chamou plano SALTE que se constituiu tambeacutem numa tentativa de planejamento governamental Este plano revia um grande investimento em quatro aacutereas Sade Alimentaccedilatildeo Transporte e Energia Os recursos viriam da Receita Federal e de empreacutestimos externos Poreacutem este plano foi logo abandonado por falta de recursos (TEIXEIRA 2008 p19)
Embora o governo de Gaspar Dutra retomasse a democracia no paiacutes sua gestatildeo significou um retrocesso nas
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poliacuteticas puacuteblicas pois prosseguiu o pacto com as classes dominantes mantendo o conservadorismo poliacutetico nas matildeos das elites brasileiras
Na deacutecada de 1950 o paiacutes despunha-se com programas assistencialistas para manipular e alienar a sociedade as oligarquias e elites brasileiras Eacute nesse periacuteodo foi elaborado um abrangente Plano Nacional de Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo denominado Conjuntura Alimentar e o Problema da Nutriccedilatildeo no Brasil Eacute nele que pela primeira vez se estrutura um programa de merenda escolar em acircmbito nacional sob a responsabilidade puacuteblica
No ano de 1965 a CNME foi reformulada atraveacutes do Decreto nordm 56886 de 20091965 no qual altera o nome de CNME para Campanha Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (CNAE) As alteraccedilotildees previstas no decreto permitiram ao governo brasileiro um elenco de programas atraveacutes da ajuda norte-americana como alimentos para paz financiado pela agencia dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional (USAID) O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para a agricultura e a alimentaccedilatildeo (FAOONU) o Programa de alimentos para o desenvolvimento voltado ao atendimento das populaccedilotildees carentes e a alimentaccedilatildeo de crianccedilas em idade escolar
A deacutecada de 1970 foi marcada pela participaccedilatildeo prioritaacuteria de gecircneros comprados nacionalmente com o consequente crescimento de vaacuterias empresas nacionais fornecedoras de alimentos configurando uma terceira etapa desse processo A partir daiacute os alimentos formulados como sopas e mingaus ndash produzidos pelas induacutestrias alimentiacutecias passam a ter presenccedila marcante na cesta de produtos da alimentaccedilatildeo escolar (PEIXINHO 2013 p911)
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No ano de 1981 eacute criado o Instituto Nacional de Assistecircncia ao educando (INAE) que passa a gerenciar o PNAE ateacute o ano de 1983 quando o governo decreta a lei Nordm 7091 e eacute criado a Fundaccedilatildeo de assistecircncia ao estudante (FAE) resultante da fusatildeo da Fundaccedilatildeo Nacional do Material Escolar (FENAME) com o INAE
Ao longo de deacutecadas os objetivos do PNAE permaneceram os mesmos apesar de algumas mudanccedilas organizacional Somente com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 eacute que o PNAE passa a modificar suas accedilotildees e estrateacutegias na distribuiccedilatildeo de alimentos para a escola
CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 TRANSFORMACcedilOtildeES NO PNAE E SEUS REBATIMENTOS NO CAMPO
A deacutecada de 1980 eacute marcada pelas contradiccedilotildees no
territoacuterio brasileiro A efervescecircncia das lutas no campo e na cidade expressam a insatisfaccedilatildeo com o regime militar Esse momento histoacuterico revela que era preciso eleiccedilotildees diretas para que o paiacutes saiacutesse da crise poliacutetico-econocircmica que assolava a sociedade brasileira
Desde o iniacutecio de sua criaccedilatildeo ateacute o ano de 1988 o PNAE manteve sua poliacutetica assistencialista Caracterizado pela centralizaccedilatildeo todas as decisotildees referentes a alimentaccedilatildeo escolar eram tomadas pela esfera federal antes de chegar aos Estados e municiacutepios Esse centralismo administrativo autoritaacuterio natildeo permitia uma participaccedilatildeo efetiva dos que eram favorecidos pela PNAE
A poliacutetica de alimentaccedilatildeo durante a Nova Repuacuteblica (1985-1990) previa os seguintes programas foram previstos para 1986 os seguintes programas PSA - Programa de suplementaccedilatildeo alimentar e o PNAE com o apoio aos programas de creches e ao programa nacional do leite para
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crianccedilas carentes Estas accedilotildees passaram a ser prioridades no que se refere a alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo no paiacutes
Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 assegurou-se o direito universalizado agrave alimentaccedilatildeo escolar a todos os alunos do ensino fundamental a ser oferecido pelo governo Federal estadual e os municiacutepios
O PNAE tem sua base legal no artigo 205 incisos IV e VII do artigo 208 da constituiccedilatildeo federal assumindo como princiacutepios a universalidade do atendimento e a equidade agrave alimentaccedilatildeo escolar gratuita No inciso IV ldquoeducaccedilatildeo infantil em creche e preacute-escolar agraves crianccedilas ateacute 5 (cinco) anos de idaderdquo (Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 ndash art 205)
O governo de Fernando Collor de Mello eacute marcado pelo pioneirismo na introduccedilatildeo das poliacuteticas neoliberais e na abertura do mercado interno obedecendo aos ditames do capital presentes no consenso de Washington Essas medidas aprofundaram as desigualdades sociais aumentando as contradiccedilotildees no territoacuterio brasileiro
Ao assumir a presidecircncia do Brasil Itamar Franco percebe que os movimentos sociais estavam com a bandeira de luta acenando para mudanccedila na conjuntura poliacutetico-econocircmica brasileira No campo da alimentaccedilatildeo
Os movimentos sociais como o da ldquoAccedilatildeo da cidadania contra a fome a miseacuteria e pela vidarsquorsquo liderada pelo socioacutelogo Betinho reforccedilavam a expectativa de os cidadatildeos poderem ter maior poder de influecircncia na implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas incluindo a alimentaccedilatildeo (TEIXEIRA 2008 p40)
As manifestaccedilotildees sociais forcaram o governo de Itamar Franco em 18 de marccedilo de 1993 a assumir o compromisso de implementar uma poliacutetica nacional de seguranccedila alimentar e
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sequentemente constituir um Conselho Nacional de Seguranccedila Alimentar (CONSEA) Embora as accedilotildees do Estado busquem tentativas de suprir as necessidades alimentares da populaccedilatildeo brasileira o modelo de agricultura voltado para o agronegoacutecio sucumbe qualquer projeto de combate agrave fome e a pobreza no paiacutes
Desde sua criaccedilatildeo ateacute o ano de 1993 o PNAE manteve seu sistema de execuccedilatildeo de forma centralizada atrelado ao governo Federal no qual o oacutergatildeo gerenciador do programa planejava os cardaacutepios contratava laboratoacuterios para o controle de qualidade alimentar adquiria gecircneros alimentiacutecios atraveacutes de licitaccedilotildees e responsabilizava pela distribuiccedilatildeo dos alimentos
Essa forma de gerenciamento do PNAE perpetuou ateacute 1994 quando o governo Federal institui a Lei nordm 8913 de 12 de julho de 1994 onde o programa passava a ser descentralizado adquirindo uma nova configuraccedilatildeo no acircmbito alimentar O processo de descentralizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo escolar ocorre atraveacutes do repasse dos recursos do PNAE para os Estados Distrito Federal e Municiacutepios Isso implica num novo arranjo espacial do programa visto as mudanccedilas no gerenciamento e execuccedilatildeo do Programa
O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) eacute mercado pela poliacutetica neoliberal onde a poliacutetica do Estado miacutenimo e a desregulamentaccedilatildeo econocircmica atendessem os interesses do capital Nesse aspecto vaacuterias empresas puacuteblicas e serviccedilos puacuteblicos foram privatizados consolidando o neoliberalismo econocircmico no Brasil
Em relaccedilatildeo ao PNAE vemos uma relaccedilatildeo intriacutenseca com o censo escolar uma vez que eacute a partir dos dados da matriculas dos alunos que o governo federal repassa os recursos financeiros que seratildeo destinados a compra dos gecircneros alimentiacutecios que iratildeo suprir a alimentaccedilatildeo dos alunos
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O periacuteodo que se seguiu entre 1995 e 2002 embora significando um retrocesso na relaccedilatildeo entre governo e sociedade foi rico na elaboraccedilatildeo conceitual sobre o tema da seguranccedila alimentar e nutricional e na organizaccedilatildeo da sociedade civil com a criaccedilatildeo do Foacuterum Brasileiro de Seguranccedila Alimentar e Nutricional (FBSAN) em 1998 (MENEZES 2012 p17)
Percebe-se claramente as contradiccedilotildees na poliacutetica econocircmica de FHC no qual os retrocessos sociais marcaram seu governo Contudo a criaccedilatildeo da FBSAN significou avanccedilos importantes no campo alimentar brasileiro
Em 28 de junho de 2001 o governo FHC aprova a medida provisoacuteria nordm 2178-34 no qual dispotildee os repasses financeiros do PNAE e institui o programa dinheiro direto na escola Essa medida provisoacuteria
determinou que 70 por cento dos recursos do FNDE para alimentaccedilatildeo escolar deveriam ser usados na compra de itens baacutesicos de alimentaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo os haacutebitos alimentares regionais locais e a disponibilidade de culturas locais para promover o desenvolvimento local e reforccedilando a necessidade de comprar produtos alimentares locais para as refeiccedilotildees escolares Aleacutem disso a Resoluccedilatildeo nordm 15 do FNDE (de 16 de junho de 2003) estabeleceu os criteacuterios e as modalidades de transferecircncia de recursos do FNDE para as entidades executoras ndash as secretarias de educaccedilatildeo dos municiacutepios e estados (BRASIL 2013 p22)
Nesse aspecto as compras de alimentos atenderiam a agricultura camponesa local permitindo ao campesinato inserir-se na venda de seus produtos ao PNAE Contudo o
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assistencialismo poliacutetico excluiacutea uma parcela significativa dos camponeses beneficiando apenas os produtores ligados a grupos poliacuteticos locais
A partir de 2003 o PNAE passa por transformaccedilotildees importantes que e repercutiratildeo no campo educacional e alimentar do paiacutes Veremos a seguir o governo de LULA (2003 ndash 2010) que traraacute modificaccedilotildees significativas instaurando uma poliacutetica alimentar visando maior flexibilidade eficiecircncia e eficaacutecia na gestatildeo do Programa nos Estados e municiacutepios e os Governos Dilma e o Governo ilegiacutetimo de Michel Temer
O PNAE NO PERIacuteODO 2003-2017 MUDANCcedilAS SIGNIFICATIVAS NA POLIacuteTICA DE ALIMENTACcedilAtildeO ESCOLAR NO PAIacuteS
A partir de 2003 o PNAE passa a estar na pauta do
governo brasileiro O iniacutecio do governo LULA eacute marcado pela instauraccedilatildeo do programa Fome Zero no qual visava atender as questotildees relativas a fome por meio da integraccedilatildeo dos vaacuterios programas e poliacuteticas relacionadas a assistecircncia social transferecircncia de renda reforma agraacuteria alimentaccedilatildeo escolar e outras No campo alimentar o PNAE sofreu alteraccedilatildeo significativa em seu gerenciamento e na poliacutetica de recursos destinados aos municiacutepios e Estados Esse fato se deve a relaccedilatildeo com o programa fome zero (PFZ) que possibilitou o aceso aos alimentos de forma abrangente em todas as regiotildees do paiacutes
A partir de 2003 pela primeira vez verificou-se a inserccedilatildeo de um nutricionista na coordenaccedilatildeo geral do programa dentro da sua esfera de gestatildeo federal ou seja junto ao FNDE Assim sendo o PNAE passa a reafirmar que a responsabilidade teacutecnica pela
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alimentaccedilatildeo escolar nos Estados no Distrito Federal nos Municiacutepios e nas escolas federais cabe ao nutricionista As atribuiccedilotildees do nutricionista como responsaacutevel teacutecnico do Programa vatildeo desde a anaacutelise do perfil nutricional dos escolares atendidos para elaboraccedilatildeo de cardaacutepios e listas de compras a realizaccedilatildeo de accedilotildees educativas em alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo que perpassem pelo curriacuteculo escolar (PEIXINHO 2013 p 912)
A inserccedilatildeo de nutricionista no gerenciamento do PNAE reafirmou o compromisso do Governo Lula com a alimentaccedilatildeo escolar Para se ter ideia em 2003 havia 12 de nutricionista atuando no programa nos Estados e municiacutepios Jaacute em 2011 esse nuacutemero foi ampliado para mais de 82 significando uma abrangecircncia do nuacutemero de nutricionista do programa no paiacutes
Nesse contexto O Artigo 14 do PNAE pode ser encarado como uma evoluccedilatildeo do PAA (Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos da Agricultura Familiar) que propiciou a criaccedilatildeo de um mercado institucional que visa agrave compra de produtos alimentiacutecios da agricultura familiar para formaccedilatildeo de estoques estrateacutegicos ou doaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de inseguranccedila alimentar () a merenda escolar acabou por se tornar a maior demandante da modalidade do PAA ldquoCompra com Doaccedilatildeo Simultacircneardquo representando 50 das aquisiccedilotildees (SILVA 2013 p3)
A criaccedilatildeo de um mercado institucional de alimentos
provenientes da agricultura camponesa incentivou os camponeses a produzir alimentos direcionados aos programas Federais Importante frisar que os produtos agriacutecolas do PAA
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passaram a ser consumidos pelo PNAE uma vez que a merenda escolar passou a ser a maior demandante de compras da aquisiccedilatildeo de alimentos Nesse acircmbito observa-se que a ampliaccedilatildeo dos recursos financeiros e do nuacutemero de alunos atendidos pelo PNAE no governo Lula pode ser verificada na tabela 5
Tabela 5 Distribuiccedilatildeo dos recursos financeiros executados (em milhotildees de reais) e do nuacutemero de alunos atendidos pelo Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) no periacuteodo de 2003 a 2010
ANO Recursos financeiros
(Em milhotildees de R$)
Alunos atendidos (Em milhotildees)
2003 9542 373
2004 1025 378
2005 1266 364
2006 1500 363
2007 1520 357
2008 1490 346
2009 2013 470
2010 3034 456 Fonte FNDE dados estatiacutesticos 2017
Organizaccedilatildeo SANTOS 2017
O aumento dos recursos destinados ao PNAE estaacute ligado diretamente ao valor da nutriccedilatildeo por aluno que subiu de R$ 006 em 1996 para R$ 022 em 2003 Esse aumento promoveu ampliaccedilatildeo das verbas federais aos municiacutepios e Estados Percebe-se que em 2009 e 2010 o aumento do nuacutemero de alunos refletiu substancialmente no aumento dos recursos financeiros uma vez que o caacutelculo das verbas destinadas ao PNAE eacute calculado com base no censo escolar do ano anterior
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A ampliaccedilatildeo na oferta de educaccedilatildeo puacuteblica nos uacuteltimos anos impulsionou tambeacutem o aumento dos recursos para o programa Aleacutem do surgimento de outras modalidades de ensino entre elas a mais educaccedilatildeo e a oferta e escola em tempo integral
No periacuteodo de 2003 a 2010 observa-se que houve aumento dos valores per capita transferidos pelo FNDE aos Estados municiacutepios e DF Em 2003 o FNDE passou a assumir a alimentaccedilatildeo escolar no ensino infantil (creches) repassando recursos de forma diferenciada para essa modalidade de ensino Nos anos seguintes os recursos foram aumentando significativamente no qual os valores per capita para creches escolas indiacutegenas e quilombolas tiveram aumento substancialmente
A grande conquista para o PNAE sem duacutevida veio com a publicaccedilatildeo da Lei nordm 11947 de 16 de junho de 2009 Conquista esta fruto de um processo intersetorial no Governo Federal e de ampla participaccedilatildeo da sociedade civil por meio do Conselho Nacional de Seguranccedila Alimentar e Nutricional (CONSEA) Avanccedila quando dispotildee sobre alimentaccedilatildeo escolar e natildeo somente sobre um Programa Universaliza o PNAE para toda educaccedilatildeo baacutesica ou seja da educaccedilatildeo infantil ao ensino meacutedio aleacutem dos jovens e adultos define a educaccedilatildeo alimentar e nutricional como eixo prioritaacuterio para o alcance dos objetivos do Programa fortalece a participaccedilatildeo da comunidade no controle social das accedilotildees desenvolvidas pelos Estados DF e Municiacutepios formaliza a garantia da alimentaccedilatildeo aos alunos mesmo quando houver suspensatildeo do repasse dos recursos por eventuais irregularidades constatadas na execuccedilatildeo do PNAE (PEIXINHO 2013 p913)
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Percebe-se que a universalizaccedilatildeo do PNAE por toda
educaccedilatildeo baacutesica significa avanccedilos no campo educacional e alimentar promovendo rebatimentos significativos na sociedade Assim O Programa tem como objetivo atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanecircncia em sala de aula contribuir para o crescimento o desenvolvimento a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes aleacutem de promover a formaccedilatildeo de haacutebitos alimentares saudaacuteveis (Brasil FNDE 2012)
A partir da Lei nordm 11947 observamos duas grandes inovaccedilotildees o atendimento aos alunos do Ensino Meacutedio e da Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos (EJA) e a aquisiccedilatildeo de gecircneros alimentiacutecios da Agricultura Familiar De acordo com o FNDE (2015)
O PNAE induz e potencializa a afirmaccedilatildeo da identidade a reduccedilatildeo da pobreza e da inseguranccedila alimentar no campo a (re) organizaccedilatildeo de comunidades incluindo povos indiacutegenas e quilombolas o incentivo a organizaccedilatildeo e associaccedilotildees das famiacutelias agricultoras e o fortalecimento do tecido social a dinamizaccedilatildeo das economias locais a ampliaccedilatildeo da oferta de alimentos de qualidade e a valorizaccedilatildeo da produccedilatildeo familiar (FNDE 2015 p 04)
Nesse contexto a lei 119472009 contribui para a comercializaccedilatildeo camponesa e a oferta de alimentos saudaacuteveis nas unidades escolares do paiacutes Para tanto segundo Amaral (2007) a unidade executora do programa PNAE deve obedecer agraves normas para a compra direta nas quais ldquoas formas de compra prevista em lei satildeo as seguintes compra direta carta convite tomada de preccedilos concorrecircncia puacuteblica sistema de registro de preccedilo pregatildeo e pregatildeo eletrocircnicordquo
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No governo Dilma o PNAE continuou seus avanccedilos destacando-se com o aumento da compra de produtos alimentiacutecios oriundo da agricultura familiar Nesse contexto o
FNDE nos oferece subsiacutedios para analisar os valores dos recursos disponiacuteveis por municiacutepios na aquisiccedilatildeo de alimentos da agricultura camponesa Esse fato nos permite compreender a dimensatildeo do mercado institucional na compra de gecircneros alimentiacutecios direcionados aos programas PNAE e PAA
A transferecircncia de recursos do governo Federal para municiacutepios e Estados cresceram nos uacuteltimos anos Em 2011 o total de recursos financeiros disponiacuteveis para o PNAE foi de 3051 bilhotildees de reais para atender 444 milhotildees de alunos matriculados na rede de ensino puacuteblica Jaacute em 2015 os recursos aumentaram para 3762 bilhotildees de reais para atender 415 milhotildees de alunos da educaccedilatildeo puacuteblica
No espaccedilo agraacuterio as atuais medidas entre elas a suspensatildeo por parte do governo golpista de Michel Temer da assistecircncia teacutecnica para os camponeses ldquoA Chamada Puacuteblica estava programada para contratar entidades de assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural (ATER) para apoiar a gestatildeo e a qualificaccedilatildeo de mais de 930 associaccedilotildees e cooperativas da agricultura familiar e da reforma agraacuteria em todo o paiacutes para participarem dos mercados institucionais e privados afirmou o liacuteder da bancada deputado federal Afonso Florence (PTBA)5 foi um retrocesso inexplicaacutevel para a produccedilatildeo de alimentos pelos camponeses
Nesse aspecto esta medida golpista natildeo afeta apenas a contrataccedilatildeo dos serviccedilos de ATER mas promove um desmonte de estrateacutegias em curso para a inserccedilatildeo da agricultura familiar na comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo seja nos
5wwwbrasil247compt247brasil237594Bancada-do-PT-denuncia-suspensatildeo-de-programa-para-agricultura-familiarhtm
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mercados institucionais das compras puacuteblicas como PAA e o PNAE seja nos negoacutecios privados
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O avanccedilo das contradiccedilotildees no sistema capitalista tem fortes rebatimentos no mundo do trabalho Nesse aspecto a classe trabalhadora busca diferentes formas para sobreviver a barbaacuterie do capital
As transformaccedilotildees do PNAE ao longo de sua implementaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo nos mostraram que o programa se especializou e territorializou abrangendo todos estados e municiacutepios do paiacutes Esse fato foi importante porque a poliacutetica alimentar permitiu ao campesinato inserir-se no mercado institucional na comercializaccedilatildeo agriacutecola contribuindo para a reproduccedilatildeo da unidade familiar camponesa
As poliacuteticas puacuteblicas para o campo em especial o PNAE tecircm sido uma alternativa camponesa de reproduccedilatildeo familiar embora a forma em que estaacute ocorrendo o processo vem sendo alvo de interesses do capital privado no campo que busca subordinar o camponecircs as suas relaccedilotildees desiguais
Os retrocessos nas poliacuteticas puacuteblicas para o campo repercutem diretamente na aquisiccedilatildeo de alimentos do campesinato para os programas de suplementaccedilatildeo alimentar como PAA e PNAE A extinccedilatildeo do MDA e a nomeaccedilatildeo de novos ministros da Educaccedilatildeo e da Agricultura este um expoente do agronegoacutecio no Brasil o ex-senador Blairo Maggi tambeacutem conhecido como Rei da Soja e diversos cortes e flexibilizaccedilotildees trabalhistas satildeo sinais dos retrocessos do governo golpista para o campo
Embora o governo golpista lance propostas de aumento dos recursos do PNAE para este ano as medidas tomadas anteriormente como a extinccedilatildeo da assistecircncia teacutecnica rural - ATER repercutiu diretamente nas estrateacutegias da
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inserccedilatildeo do campesinato na comercializaccedilatildeo de sua produccedilatildeo via PAA PNAE e nos negoacutecios privados dos camponeses
Sendo assim mesmo diante do contexto de golpe a resistecircncia e luta camponesa vai aleacutem da produccedilatildeo de alimentos para o PNAE e as dificuldades enfrentadas pelo desmonte de governo podem servir de incentivo para que a luta na terra possa se especializar em outros campos econocircmicos que permitam o campesinato se reproduzir e recriar-se no espaccedilo agraacuterio
REFEREcircNCIAS ANDRADE M C de Josueacute de Castro o homem o cientista e seu tempo Revista de Estudos Avanccedilados vol11 no29 Satildeo Paulo JanApr 1997 BELIK W CHAIM N A A gestatildeo do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar e o desenvolvimento local BrasiacuteliaDF Sober jul 2006 p 1-19 BEZERRA Juscelino Eudacircmidas Perspectivas teoacutericas nos estudos da classe trabalhadora apontamentos e reflexotildees Presidente Prudente Revista Pegada ndash vol 14 n1 BITTENCOURT Jaqueline Marcela Villafuerte Uma avaliaccedilatildeo efetiva do programa de alimentaccedilatildeo escolar no municiacutepio de Guaiacuteba Porto Alegre UFRGS 2007 Brasil Portaria Normativa Interministerial ndeg 17 de 24 de abril de 2007 Institui o Programa Mais Educaccedilatildeo que visa fomentar a educaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio do apoio a atividades socioeducativas no contraturno escolar Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 2007 26 abr
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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo ResoluccedilatildeoCDFNDE Nordm 25 de 4 de julho de 2012 Altera a redaccedilatildeo dos artigos 21 e 24 da Resoluccedilatildeo nordm 38 de 16 de julho de 2009 no acircmbito do Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 4 de julho de 2012 Disponiacutevel emlthttpportalmdagovbrportalsafarquivosviewalimenta-oescolarResoluC3A7C3A3o_252012_-_Altera_artigo_21_e_24_res_38pdfgt Acesso em 19032017 CARVALHO Daniela Gomes de CASTRO Vanessa Maria de O programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar ndash PNAE como poliacutetica puacuteblica de desenvolvimento sustentaacutevel poliacuteticas puacuteblicas e instrumentos de gestatildeo para o desenvolvimento sustentaacutevel In Encontro da sociedade brasileira de economia ecoloacutegica 2009 COIMBRA Marcos (et al) Comer e aprender uma histoacuteria da alimentaccedilatildeo escolar no brasil Belo Horizonte MEC 1982 COSTA EQ et al Programa de alimentaccedilatildeo escolar espaccedilo de aprendizagem e produccedilatildeo de conhecimento Revista de Nutriccedilatildeo Campinas 14(3) 225-229 setdez 2001 FIALHO A M R Merenda escolar no Brasil a ilustraccedilatildeo da assistecircncia como poliacutetica social de loacutegicas contraacuterias Dissertaccedilatildeo Mestrado em Poliacutetica Social-UnB Brasiacutelia 1993 FNDE- Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Escolar Disponiacutevel em lthttpwwwfndegovbrcomponentk2itemlisttagPNA
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E2028AlimentaC3A7C3A3o20Escolar29gt Acesso em 19032017 Silva Denise Boito Pereira da Os agentes sociais e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) a percepccedilatildeo dos agricultores familiares Rio Claro (SP) Encontro Internacional Participaccedilatildeo Democracia e Poliacuteticas Puacuteblicas aproximando agendas e agentes 2013 SINATORA et al Poliacutetica Agriacutecola Porto Alegre Editora Mercado Aberto 1985 STURION GL et al perfil dos usuaacuterios do programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar estudo realizado em 10 municiacutepios brasileiros V Simpoacutesio Latino Americano de Ciecircncia de Alimentos Universidade Estadual de Campinas 2003 TEIXEIRA Eliane de Oliveira Lima A Merenda Escolar e seus aspectos Poliacuteticos Sociais e Nutricionais Satildeo Paulo Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica de Satildeo Paulo 2008 Sites httpwwwfndegovbr wwwbrasil247compt247brasil237594Bancada-do-PT-denuncia-suspensatildeo-de-programa-para-agricultura-familiarhtm httpagenciabrasilebccombrpoliticanoticia2017-02governo-anuncia-reajustes-para-merenda-escolar
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AS FAMIacuteLIAS CAMPONESAS DO POVOADO MANGUEIRA EM ITABAIANASE O PROBLEMA
QUE ENFRENTAM POR CAUSA DA TERRA COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA RODOVIA ESTADUAL SE-255
Crisnara dos Santos Bisposup1
(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)
E mail crisnarahotmailcom
Larissa de Lima Cunha sup2
(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)
E mail larilimac96gmailcom
RESUMO
A ideia de desenvolvimento e crescimento econocircmico no mundo capitalista estaacute em todos os lugares seja urbano ou rural Natildeo estaacute sendo diferente no povoado Mangueira em ItabaianaSE que vem sofrendo mudanccedilas em seu espaccedilo devido a construccedilatildeo da rodovia estadual que interligaraacute o municiacutepio itabaianense agrave Itaporanga DAjuda a SE-255 Buscamos analisar as questotildees que assolaram as famiacutelias camponesas da comunidade que dependem exclusivamente da terra e como discursos satildeo produzidos para servirem a interesses daqueles que visam a obtenccedilatildeo de lucros em seus setores natildeo levando em consideraccedilatildeo todo o sofrimento do camponecircs ao ter sua fonte de sustento tirada Usamos como metodologia o levantamento de bibliografias que deram a base conceitual aleacutem de uma pesquisa a campo coletando o relato de algumas pessoas que foram atingidas negativamente por essa obra do governo Com isso notou-se que esses impactos ainda natildeo acabaram e deixaratildeo marcas para sempre natildeo soacute no
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territoacuterio como tambeacutem na vida das pessoas que foram obrigadas a aderirem a mudanccedila imposta Palavras-chave Camponecircs sustento mudanccedila INTRODUCcedilAtildeO
O camponecircs possui com a terra uma relaccedilatildeo de extrema parceria pois dela consegue extrair todos os meios essenciais para sua sobrevivecircncia Partindo desse princiacutepio e analisando o que vem ocorrendo em algumas comunidades rurais do municiacutepio de Itabaiana abordaremos neste trabalho a situaccedilatildeo do povoado Mangueira ressaltando os impactos sofridos devido a construccedilatildeo da rodovia para aquelas famiacutelias que satildeo camponesas
A loacutegica capitalista acaba destruindo essa relaccedilatildeo de parceria do homem com a terra de todas as formas visando que esse processo gere lucro E eacute nesse vieacutes que alguns povoados estatildeo sendo utilizados nos uacuteltimos anos para a construccedilatildeo da Rodovia SE-255 Com o discurso de ldquodesenvolvimentordquo o camponecircs vem tendo suas terras ldquoinvadidasrdquo ou seja vem perdendo espaccedilo de trabalho e toda liberdade obtida por eles na terra Santana (2010) escreve ldquoa terra para o camponecircs representa muito mais que o cultivo o labor Ela representa a liberdade Liberdade essa que se fundamenta no poder controlar o tempo de trabalho e o da famiacutelia em manter-se na terrardquo
Foi feito um levantamento bibliograacutefico e leitura de textos para a construccedilatildeo deste artigo assim como notiacutecias jornaliacutesticas Atraveacutes da anaacutelise criacutetica feita sobre a forma que a construccedilatildeo da rodovia era noticiada ficava niacutetido qual lado estava sendo enaltecido que era o econocircmico do desenvolvimento Por essa razatildeo buscamos fazer esse questionamento sobre o desenvolvimento que eacute pregado por parte das instituiccedilotildees e do Estado e que tem o auxiacutelio da
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miacutedia para passar essa ideia a populaccedilatildeo que em sua grande maioria possui uma fragilidade para problematizar esses discursos que ouve e assim natildeo entende para quem interessa esse desenvolvimento falado
Aleacutem disso uma pesquisa de campo foi realizada na comunidade Mangueira a fim de coletar depoimentos de camponeses que foram diretamente afetados de forma negativa por causa da construccedilatildeo da rodovia Os nomes dessas pessoas natildeo seratildeo revelados no trabalho e assim optamos por utilizar nomes fictiacutecios Destacamos algumas falas de trecircs pequenos produtores que foram entrevistados nelas podemos perceber o quanto estatildeo sofrendo e perdendo com toda essa situaccedilatildeo Pois aleacutem da terra que tira o sustento para a sobrevivecircncia de toda a famiacutelia perde-se tambeacutem o bem-estar A indenizaccedilatildeo recebida natildeo traraacute o sossego de volta porque agrave vida dessas pessoas jaacute foram alteradas em todos os aspectos e muitas outras mudanccedilas ainda podem acontecer
Este artigo estaacute dividido em trecircs partes a introduccedilatildeo o desenvolvimento e as consideraccedilotildees finais A introduccedilatildeo de forma sucinta trata dos temas que seratildeo tratados no decorrer do trabalho jaacute no desenvolvimento destacamos o sentido que a terra tem para o camponecircs e sua famiacutelia assim como os depoimentos que foram obtidos com a pesquisa em campo aleacutem do discurso do desenvolvimento que em sua verdadeira face gera transtornos para as pessoas do povoado que foram atingidas por causa da construccedilatildeo da SE-255 Duas figuras foram utilizadas para mostrar como era antes do projeto da obra e como estaacute agora com a construccedilatildeo em andamento estas relacionadas com os depoimentos de trecircs moradores afetados ajudaraacute a entender melhor o que vem acontecendo Nas consideraccedilotildees finais ressaltamos a questatildeo da luta para buscar o sustento pois como forma de buscar o necessaacuterio a sua sobrevivecircncia e dos seus esses camponeses buscaratildeo trabalhar em outros serviccedilos e se manter no campo
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DESENVOLVIMENTO
O povoado Mangueira caracteriza-se pela predominacircncia do campesinato muitas famiacutelias dessa comunidade trabalham principalmente com o cultivo de batata doce macaxeira amendoim coentro pimentatildeo alface e cebolinha Essa produccedilatildeo tem como destino a mesa do proacuteprio produtor pois o sustento da famiacutelia eacute o mais importante e o excedente desses alimentos eacute vendido na feira livre de Itabaiana para comprar aquilo que natildeo produzem em suas terras Eacute o que Silva (2001 p63) destaca
A natureza humana e a natureza terra se relacionam em perfeita simbiose natildeo haacute fetichismo coisificaccedilatildeo O produtor produz para sua sobrevivecircncia e de seus familiares tira da terra o seu sustento vendendo o excedente para comprar o que natildeo produz Ele eacute em princiacutepio um produtor de valores de uso os produtos que ele troca em relaccedilatildeo aos que ele consome satildeo poucos []
Diariamente eacute possiacutevel perceber as mais variadas formas de ocupaccedilatildeo do pequeno produtor que juntamente com a famiacutelia visa trabalhar na terra para garantir sua satisfaccedilatildeo pessoal Seja plantando arando ou mesmo irrigando semanalmente a vida do homem do campo itabaianense vai se reproduzindo
Entretanto se pararmos para analisar as terras ocupadas pelas praacuteticas camponesas vecircm perdendo espaccedilo para tal uso isso pode ser justificado pelo avanccedilo do capital que acaba ldquoexpulsandordquo o ser humano do campo No caso da comunidade Mangueira nos uacuteltimos anos o fato da construccedilatildeo da rodovia estadual que interligaraacute os municiacutepios de Itabaiana agrave Itaporanga DrsquoAjuda vem interferindo de forma negativa e direta na vida das famiacutelias que estatildeo tendo suas
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pequenas propriedades destruiacutedas para dar espaccedilo ao ldquodesenvolvimentordquo pregado pelos que visam interesses com essa obra Os donos das terras que acabam sendo compradas para utilizar na rodovia satildeo indenizados pelo Estado que em parceria com empresas privadas objetivam o lucro e natildeo compreendem o real sentido da terra para o camponecircs
A propriedade camponesa eacute representada pela terra e esta por sua vez simboliza trabalho e vida Eacute com essas palavras de tamanho significado que se pode definir a terra para o camponecircs Se comparado o valor (enquanto significado) da terra para o camponecircs e para o capitalista a diferenccedila seraacute gritante Tendo em vista que o valor dela para o segundo eacute monetaacuterio (maximizaccedilatildeo de lucro) e para o primeiro ela tem o valor da vida do alimento da histoacuteria ndash desta forma cifras natildeo dariam conta de pagar esse valor (SANTANA 2010)
Como eacute possiacutevel perceber nas figuras abaixo as feiccedilotildees da paisagem estatildeo sendo brutalmente modificadas e junto com elas vatildeo sendo levadas todo o sentimento de liberdade e autonomia que o produtor possui na sua relaccedilatildeo iacutentima de parceria e dependecircncia da terra A figura 1 e a figura 2 retratam o mesmo lugar em diferentes anos ou seja a primeira retirada do Google maps evidencia uma pequena parte do povoado Mangueira antes do iniacutecio da construccedilatildeo da rodovia no ano de 2015 Nela eacute possiacutevel perceber ainda a existecircncia de uma casa e a propriedade que mantem-se inteira Jaacute na segunda retirada no ano de 2018 nota-se natildeo mais a existecircncia da casa e o limite do terreno foi diminuiacutedo isto porque para a construccedilatildeo da rodovia foram tomados 30 metros de largura da propriedade evidenciada Isto natildeo foi um caso isolado da mesma forma tantas outras propriedades vatildeo sendo tomadas e apropriadas pela loacutegica do capital e o
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pequeno produtor acaba sendo o mais prejudicado pois a sua voz natildeo eacute ouvida Eacute o que diz Silva (2001 P62) ldquo[] uma legiacutetima feiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Pouquiacutessimos determinam decidem mandam e haacute a grande massa de subordinados espoliados e expropriadosrdquo Figura 1 Paisagem anterior ao processo de construccedilatildeo da rodovia SE-255 povoado Mangueira 2015
Foto Google Maps 2015
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Figura 2 Paisagem alterada pelo processo de construccedilatildeo de rodovia povoado Mangueira 2018
Foto BISPO Crisnara dos Santos 2018
Diante deste fato obtivemos o relato da moradora da
casa que desde sempre trabalhou com a terra e tem com o lugar uma relaccedilatildeo de identidade e pertencimento para aleacutem de qualquer dinheiro que recebeu de indenizaccedilatildeo da construccedilatildeo da rodovia Dona Maria eacute uma senhora de 73 anos que viveu a maior parte da sua vida no lugar retratado na imagem Desde os 20 anos de idade ela e o marido utilizaram a terra para realizar suas plantaccedilotildees ldquoque eram poucas mas eram o suficiente para mim e meu esposo Foi desse pedacinho de terra que noacutes comemos da macaxeira batata coentro foi daqui que noacutes sobrevivemosrdquo diz ela em depoimento com tristeza pois perdeu aleacutem da terra a casa em que morava Sendo forccedilada a se retirar desse lugar pelo qual tinha uma ligaccedilatildeo e buscar moradia em outro povoado
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Um outro depoimento que colhemos foi do senhor Joatildeo Ele eacute um dos donos do terreno que aparece agrave direita nas figuras E nos relatou que ldquoaleacutem de ficar sem a minha terra vou ficar sem o dinheiro que eles pagaramrdquo Isso porque o terreno foi cortado ao meio e a propriedade foi deixada de heranccedila pelos pais para ele e os 5 irmatildeos Poreacutem somente Joatildeo e um dos irmatildeos satildeo os quem fazem o uso dessa terra para sobrevivecircncia entretanto todos os irmatildeos querem parte da indenizaccedilatildeo paga pelo Estado Dessa forma seu Joatildeo na sua condiccedilatildeo de camponecircs estaacute prejudicado ateacute porque todo o povoado faz parte do periacutemetro irrigado da Ribeira e um dos lados do terreno (jaacute que houve uma divisatildeo) ficou comprometida por conta da dificuldade que passou a existir para que a irrigaccedilatildeo chegue ateacute a parte que ficara do outro lado da rodovia
Com tudo que foi apresentado ateacute aqui deixa evidente que os pequenos produtores ficam sem saiacuteda Pois o discurso que eacute usado nas miacutedias locais como por exemplo sites de notiacutecias jornais do estado e raacutedios bem como o utilizado diretamente com os camponeses por aqueles que os abordaram para a negociaccedilatildeo da terra eacute o do ldquodesenvolvimentordquo Isso corrobora para que parcela da populaccedilatildeo em virtude da ignoracircncia ldquocomprerdquo o discurso gerado por esses meios chegando por vezes a reproduzi-lo acreditando que de fato essa construccedilatildeo soacute traraacute benefiacutecios e desconsiderem o outro lado o qual existe a parte dos desapropriados e completamente prejudicados ndash os camponeses
Fato como este se encontra em uma notiacutecia divulgada pelo Jornal do Dia de Sergipe disponiacutevel na internet do dia 20 de maio de 2017 quando ainda estava em fase de iniacutecio das obras Trazendo aleacutem desse discurso expliacutecito de desenvolvimento o relato de duas pessoas que falam com apropriaccedilatildeo sobre os benefiacutecios que conseguem enxergar a
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priori sem fazer anaacutelises dos efeitos negativos que podem e vatildeo ser sentidos em longo prazo Visotildees como estas podem ser notadas nesse trecho do jornal
ldquoAleacutem de interligar as duas principais rodovias federais que atravessam o estado a SE-255 facilitaraacute o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola e mineral oportunizaraacute melhores condiccedilotildees de vida e seguranccedila para a populaccedilatildeo valorizaraacute as diversas propriedades agraves suas margens e nas proximidades encurtaraacute distacircncias entre as sedes dos povoados e os municiacutepios e sobretudo contribuiraacute para a ampliaccedilatildeo da malha viaacuteria e o desenvolvimento socioeconocircmico de Sergiperdquo
Assim como no site da Secretaria de Estado da Infraestrutura e do Desenvolvimento Urbano do estado de Sergipe quando informa que as obras estatildeo seguindo o cronograma e natildeo parou podemos observar nessa notiacutecia o orccedilamento e a fonte do recurso para as obras Foram R$ 5814059281 que o governo utilizou do Programa de Apoio ao Investimento dos Estados (Proinveste) Com tudo percebe-se que nessa crise tatildeo falada em nosso paiacutes falta dinheiro e qualidade em diversos setores mas natildeo faltou para a construccedilatildeo dessa rodovia Em nome do capital os que deteacutem o poder ditam as regras e absorvem os lucros de um desenvolvimento que natildeo eacute para todos
Desenvolvimento Para quem Como coloca Goacutemez (2007 p43) ldquoos expertos do
desenvolvimento pertencentes a certas instituiccedilotildees (as instituiccedilotildees ldquocertasrdquo) satildeo os detentores da verdade capazes de forjar a realidade ao mesmo tempo em que falam delardquo e eacute dessa forma que representantes das instituiccedilotildees envolvidas na construccedilatildeo dessa rodovia se apropriam da falaacutecia do
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desenvolvimento Nessa tentativa de convencer os moradores de que essas mudanccedilas em suas vidas traratildeo benefiacutecios futuros como por exemplo a valorizaccedilatildeo da terra visam somente seus interesses natildeo levam em consideraccedilatildeo o real ldquovalorrdquo da terra para os camponeses
Isso pode ser constatado na fala de seu Antocircnio que nos contou sobre a visita que recebeu em sua casa do engenheiro responsaacutevel pela obra estadual ldquoO moccedilo me disse pra que eu natildeo me preocupasse porque depois da rodovia construiacuteda eu vou lucrar muito Ele falou que assim que a pista tiver pronta vatildeo construir pousadas e restaurantes aqui pertinho da gente e minha terra seraacute valorizadardquo diz o senhor camponecircs casado e pai de 3 filhas que tem como uacutenica fonte de renda a terra A propriedade dele assim como a de seu Joatildeo citada anteriormente tambeacutem eacute herdada e divide com os irmatildeos e aleacutem disso teraacute uma parte do terreno cortada para a construccedilatildeo da rodovia
Portanto essa perspectiva de desenvolvimento pregada para as famiacutelias daquela comunidade eacute tambeacutem a mesma que podemos encontrar nas notiacutecias divulgadas que informam sobre a construccedilatildeo elas acabam influenciando muitas pessoas a pensarem da mesma forma sem analisar o outro lado da problemaacutetica Falam muito da diminuiccedilatildeo das distacircncias melhores condiccedilotildees de vida para as pessoas e tambeacutem a facilidade do transporte de mercadorias mas natildeo levam em consideraccedilatildeo as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo no campo pois as indenizaccedilotildees pagas para os que tiveram seus terrenos ldquoinvadidosrdquo natildeo trazem garantia de que o camponecircs se manteraacute na terra e sustentaraacute sua famiacutelia CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Cada vez mais nos deparamos em todos os espaccedilos
com esses discursos propagados que para obter o
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desenvolvimento e o crescimento econocircmico eacute necessaacuterio modernizar-se Poreacutem tudo isso mascara o fato de que existem outras questotildees No fato abordado neste artigo vemos que a vida camponesa acaba sendo sacrificada em prol de interesses do Estado e de capitalistas E que assim como os camponeses do povoado Mangueira estatildeo sofrendo sabe-se que muitos outros de outras comunidades tambeacutem estatildeo nesse turbulento modo de produccedilatildeo que desconsidera o valor que a terra tem para quem dela retira todo o sustento
Aleacutem disso deve-se ressaltar que os fatos relatados no decorrer desse trabalho natildeo satildeo suficientes pra elucidar todos os aspectos dessa construccedilatildeo por completo porque tem-se a convicccedilatildeo de que muitos outros efeitos negativos seratildeo percebidos posteriormente com o avanccedilo e consequente conclusatildeo da mesma quando muitas outras propriedades forem cortadas ao meio e os proprietaacuterios natildeo tiverem mais o privileacutegio de se reproduzir exclusivamente com o trabalho no campo Conseguir superar os transtornos e consequecircncias dessa construccedilatildeo eacute algo que natildeo parece faacutecil Eacute uma mudanccedila brusca na vida do pequeno produtor Natildeo daacute pra desconsiderar o fato de que as pessoas que moram nessas comunidades jaacute estatildeo acostumadas a ver seus filhos com a liberdade que por eles proacuteprios jaacute foi vivenciada que eacute justamente o fato da liberdade do poder reunir-se com os vizinhos e brincar sem medo na rua Realidade essa que pode e sem duacutevidas vai sendo modificada visto que natildeo daacute pra deixar crianccedilas brincando proacuteximo agrave rodovia por conta do perigo que existe
Os interesses que levaram a construccedilatildeo da rodovia estadual motivaram a retirada de pessoas de suas casas plantaccedilotildees foram destruiacutedas com o passar da retroescavadeira e o pequeno produtor vai perdendo o bem-estar e sofrendo a angustia ao ver essas situaccedilotildees Anos de histoacuteria e muito trabalho sendo desfeitos contra sua vontade Supomos que
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toda essa alteraccedilatildeo que atinge profundamente na forma de subsistecircncia da vida camponesa que para muito aleacutem do sustento momentacircneo almeja poder transferir a cultura que a ele jaacute foi repassada em algum momento pela famiacutelia (como nos casos citados dos camponeses que tem a terra como heranccedila deixada pelos pais e que pretendem aleacutem das terras deixarem os valores Camponeses agraves geraccedilotildees futuras) satildeo algumas das muitas consequecircncias que podem ser observadas Pois a paisagem de uma forma brusca vai tomando outras feiccedilotildees ou seja vai sendo totalmente alterada devastada
Dessa forma temos a convicccedilatildeo de que a busca incessante pelo lucro eacute o foco principal dessa e de tantas outras obras O pequeno produtor eacute o alvo pois existe a necessidade por parte do mercado de coloca-los na situaccedilatildeo de subordinado tentando fazer com que eles tambeacutem se submetam a loacutegica do capital Pagar uma indenizaccedilatildeo para poder se apropriar das suas terras eacute algo completamente perverso e por vezes inacreditaacutevel no entanto eacute uma realidade que assim como podemos especificar com os relatos dos trecircs entrevistados tomou e toma proporccedilotildees inacreditaacuteveis E a questatildeo do desenvolvimento para que e para quem que foi discutida anteriormente deixa evidente que existem dois lados o lado dos que dominam e com esse fato lucram ou seja se desenvolvem e o lado dos que perdem satildeo dominados encurralados e se veem a mercecirc das imposiccedilotildees dos capitalistas e esse ldquodesenvolvimentordquo tatildeo pregado acaba sendo apenas uma grande fachada mascarada de incertezas desafios e mesmo falta de oportunidades e autonomia que eacute a chave do modo de vida desses camponeses
No entanto a partir do momento que natildeo eacute possiacutevel se manter apenas da terra porque foram expropriados ou mesmo porque a terra que possuem natildeo eacute suficiente para sua manutenccedilatildeo entra o trabalho acessoacuterio como uma opccedilatildeo Muitos integrantes dessas famiacutelias acabaratildeo optando por
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buscar outras formas de fonte de renda para que natildeo falte o sustento e nem tenham que sair do campo Dessa forma acabam se sujeitando agrave loacutegica do sistema perdendo sua liberdade e vendendo sua matildeo-de-obra para o capitalista que eacute quem ganha
REFEREcircNCIAS Depoimentos Google maps GOacuteMEZ Jorge Ramograven Montenegro Desenvolvimento em des (construccedilatildeo) provocaccedilotildees e questotildees sobre desenvolvimento em geografiain FERNANDES Bernado Manccedilano MARQUES Marta Inez SUZUKI Juacutelio Ceacutesar (orgs) Geografia Agraacuteria teoria e poder Satildeo Paulo 2007 Parte 1p39-53 JORNAL DO DIA Rodovia que liga Itabaiana a Itaporanga recebe camada de imprimaccedilatildeo Jornal do Dia Aracaju 20 mai 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwjornaldodiasecombrnoticias_lerphpid=24116gt Acesso em 27 abr 2018 MELO Amanda Obras da Rodovia SE 255 que ligaraacute Itabaiana agrave Itaporanga natildeo param SEINFRA Aracaju 10 mai 2018 Disponiacutevel em lthttpwwwseinfrasegovbrindexphppag=8ampid=2ampcod=757gt Acesso em 26 abr 2018 SANTANA Gleice Campos As diferentes formas de reproduccedilatildeo do campesinato no municiacutepio de Itabaiana SE Universidade Federal de Sergipe 2010
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SILVA Lenyra Rique A natureza contraditoacuteria do espaccedilo geograacutefico 2 Ed Satildeo Paulo 2001
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A RESISTEcircNCIA CAMPONESA DIANTE DA EXPANSAtildeO DO AGROHIDRONEGOacuteCIO DE
EUCALIPTO NO CAMPO SERGIPANO
Edeacutesio Alves de Jesussup1
PPGEOUFS (Graduado e Mestre em Geografia) E-mailedesio0467yahoocombr
RESUMO
A expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto no campo sergipano mostra os interesses do capital natildeo apenas de explorar a renda da terra e a subordinaccedilatildeo dos trabalhadores camponeses mas de apropriar-se da terra e da aacutegua sob agrave loacutegica dos proprietaacuterios que controlam a produccedilatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda no estado de Sergipe Nosso principal objetivo neste trabalho eacute analisar e compreender as transformaccedilotildees no campo sergipano e a complexidade expressa no espaccedilo produzido o que afeta diretamente as formas e processos de auto realizaccedilatildeo do homem diante do trabalho Na elaboraccedilatildeo deste trabalho os procedimentos metodoloacutegicos adotados pautaram-se em revisotildees bibliograacuteficas de livros teses dissertaccedilotildees perioacutedicos revistas eletrocircnicas e artigos referentes agrave questatildeo agraacuteria e ao mundo do trabalho Conclui-se que a apropriaccedilatildeo da terra e da aacutegua repercute na renda dos trabalhadores no campo o que os torna submisso a comercializar sua produccedilatildeo a preccedilos inferiores no circuito capitalista Fato que revela a compreensatildeo do processo da reestruturaccedilatildeo produtiva no campo sob a materialidade das transformaccedilotildees e perdas de direitos trabalhistas diante da expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda (SE)
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Palavras-chave Camponecircs Agrohidronegoacutecio Eucalipto INTRODUCcedilAtildeO
Os rebatimentos no mundo do trabalho no campo brasileiro se intensificam a partir da deacutecada de 1990 com a substituiccedilatildeo de culturas tradicionais por aacutereas destinadas para o plantio monocultivo de eucalipto com ampla modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica de interesse do agrohidronegoacutecio6 resultando em alta produtividade
A propagaccedilatildeo do monocultivo de eucalipto ocorre em vaacuterios estados e municiacutepios do Brasil desde a deacutecada de 1990 a partir dos investimentos em pesquisas e desenvolvimento do setor florestal pelas empresas que crescem anualmente
Anualmente eacute divulgado pela Induacutestria Brasileira Aacutervores (IBAacute 2015) que priorizaram a manutenccedilatildeo de investimentos em pesquisas e desenvolvimento buscando primordialmente a melhoria da geneacutetica dos plantios e das teacutecnicas de manejo florestal o que faz crescer a produtividade
O melhor exemplo do sucesso dessa estrateacutegia foi o impressionante desenvolvimento da produtividade do eucalipto no Brasil ndash 57 ao ano no periacuteodo de 1970 a 2008 ndash comparativamente aos 26 da Ameacuterica Latina 09 dos paiacuteses desenvolvidos e 19 para o conjunto de paiacuteses em desenvolvimento (p 31)
6 O Agrohidronegoacutecio eacute o padratildeo de produccedilatildeo com especialidades em
monocultivos (soja milho trigo e mais recente eucalipto) sob a concentraccedilatildeo fundiaacuteria e apropriaccedilatildeo dos recursos da natureza (terra e aacutegua) atrelados a grandes grupos econocircmicos nacionais e internacionais (TOMAZ JUNIOR 2008 2010)
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No estado de Sergipe a expansatildeo que acontece devido agraves condiccedilotildees edafoclimaacuteticas favoraacuteveis ao raacutepido crescimento e excelente produtividade de mateacuteria-prima o que se torna uma realidade com aumento da aacuterea total do efetivo destinadas ao plantio de eucalipto que atinge 3129 hectares distribuiacutedos em 19 (dezenove) municiacutepios de acordo com os dados da Produccedilatildeo da Extraccedilatildeo Vegetal e da Silvicultura ndash IBGE do ano de 2014
A pesquisa jaacute consolidada fizemos recorte espacial do municiacutepio de Estacircncia com 336 ha (1073 da aacuterea do efetivo da silvicultura em Sergipe) e o municiacutepio de Itaporanga drsquoAjuda que jaacute foram destinados 1200 ha equivalente a 3835 da aacuterea total existente do efetivo da silvicultura do estado de Sergipe apresentado no mapa 01
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Conforme o mapa 01 a expansatildeo do monocultivo de
eucalipto no estado de Sergipe se configura principalmente na zona de clima quente e uacutemido com meacutedias pluviomeacutetricas que variam entre 2000mm na faixa litoracircnea adentrando ao interior prosseguindo a meacutedia de 1200 mm localizando-se predominantemente sobre as aacutereas da Mesorregiatildeo Leste Sergipano (MACEDO 2014)
Para tanto a centralidade da questatildeo agraacuteria eacute pertinente ao debate das disputas territoriais da concentraccedilatildeo e do monopoacutelio da terra acesso e controle dos recursos hiacutedricos que se redefinem a partir das distintas formas de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo agrohidronegoacutecio (THOMAZ JUNIOR 2010)
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Desse modo a territorializaccedilatildeo e a monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital impotildee aos camponeses e trabalhadores buscar alternativas de resistecircncia para manter o modo de vida e trabalho de caraacuteter heterogecircneo e coletivo com a agriacutecola e produccedilatildeo agraacuteria diversificada e muacutetua absorccedilatildeo de forccedila de trabalho sob a perspectiva da sustentabilidade socioeconocircmica e ambiental TERRA DE TRABALHO CONVERTIDA PARA TERRA DE NEGOacuteCIO PELO AGROHIDRONEGOacuteCIO DO EUCALIPTO
Compreender as transformaccedilotildees no campo brasileiro eacute
analisar a complexidade expressa no espaccedilo produzido o que afeta diretamente as formas e processos de auto realizaccedilatildeo do homem diante do trabalho Nesta perspectiva a expansatildeo do monocultivo de eucalipto implica numa seacuterie de discussotildees que necessitam de amplos debates sobre a concentraccedilatildeo da terra apropriaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos oferta de emprego geraccedilatildeo de renda substituiccedilatildeo da produccedilatildeo alimentiacutecia disputas e os conflitos territoriais fato se intensifica no cenaacuterio mundial e brasileiro com a transiccedilatildeo energeacutetica natildeo renovaacutevel para as fontes renovaacuteveis
Para tanto o interesse pelas terras e pela forccedila de trabalho nos municiacutepios de Itaporanga drsquoAjuda e Estacircncia representa o suporte central para reproduccedilatildeo capitalista estes satildeo produtores que integra o circuito capitalista de produccedilatildeo com o controle das terras pelo agrohidronegoacutecio sob o monopoacutelio fundiaacuterio e das disputas pela terra o que amplia e acentua efetivamente o processo de expropriaccedilatildeo dos trabalhadores que vive e tem a terra como meio de trabalho
Paralelo a integraccedilatildeo dos grandes produtores de eucalipto tambeacutem deu a inserccedilatildeo camponesa no circuito produtivo atraveacutes da expansatildeo do monocultivo de eucalipto
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mas dar-se pela sujeiccedilatildeo do trabalho e da renda da terra para os grandes produtores fato que teremos de analisar que ldquo[] a terra sob o capitalismo tem que ser entendida como renda capitalizada [] pois assim ele (o capital) pode subordinar a produccedilatildeo de tipo camponecircs pode especular com a terra comprando-a e vendendo-a e pode por isso sujeitar o trabalho que se daacute na terrardquo (OLIVEIRA 2007 p11)
No estado de Sergipe essa inserccedilatildeo se daacute inicialmente no decorrer da deacutecada de 1990 periacuteodo de reduccedilatildeo de impostos e grandes incentivos fiscais pelo governo estadual em que foram expandidos os distritos industriais que tambeacutem aumentaram paralelo agrave necessidade de mateacuteria-prima energeacutetica para dar suporte ao aceleramento do consumo de mateacuteria-prima pelo setor industrial pela implantaccedilatildeo do Programa Sergipe de Desenvolvimento Industrial - PSDI7 (MATOS e ESPERIDIAtildeO 2011)
Nas pesquisas de campo constatou-se que a expansatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda segundo os relatos dos pequenos e grandes produtores que haacute mais 20 anos jaacute existem aacutereas com plantios cujos cortes da lenha varia entre o periacuteodo inicial da deacutecada de 1990 com implantaccedilatildeo do PSDI e os incentivo industrial demandando novas fontes energeacuteticas o que permitiu classificar o plantio de cada estabelecimento por etapa cronoloacutegica do cultivo de eucalipto entre o trato da terra e o corte da madeira lenhosa
O avanccedilo dos plantios de monocultivo de eucalipto acirra as disputas entre os camponeses e os proprietaacuterios de
7O Programa Sergipe de Desenvolvimento Industrial foi implantado na
deacutecada de 1990 com o objetivo de incentivar estimular e acelerar o desenvolvimento socioeconocircmico e industrial estadual sergipano mediante a concessatildeo de apoio a investimentos que passou a investir na produccedilatildeo de lenha proveniente do monocultivo de eucalipto como fonte alternativa para suprir a demanda energeacutetica
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terra materializam-se em decorrecircncia da apropriaccedilatildeo da aacutegua e da sua mercantilizaccedilatildeo via comercializaccedilatildeo das mercadorias produzidas em que haacute uma pressatildeo sobre a terra
Os estabelecimentos rurais visitadas destinam a terra exclusivamente para produzir lenha que gera energia para as induacutestrias concentradas nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda com plantios de seis meses a trecircs anos em que o proprietaacuterio tinha disponiacutevel uma produccedilatildeo para efeito de colheita de eucalipto
Em relaccedilatildeo ao destino da terra o plantio de mudas clonais representa entre grande propriedades a pequenos estabelecimentos rurais mais tambeacutem em lotes de assentamentos rurais Ou seja apresentando uma variaccedilatildeo do tamanho do moacutedulo rural8 em que o plantio de eucalipto representa a eficiecircncia produtiva defendida pelos capitalistas com o intenso estiacutemulo aos camponeses que satildeo cooptados agrave produzir eucalipto nas pequenas e meacutedias propriedades
A condiccedilatildeo de extraccedilatildeo tanto da renda da terra e da mais valia se efetiva pela condiccedilatildeo da terra a negar a sua funccedilatildeo social para reproduccedilatildeo socioeconocircmica da sociedade excluindo a condiccedilatildeo como nos relembra Martins (1991) que a terra eacute meio de produccedilatildeo e de vida o que revela a transformaccedilatildeo da terra em terra de negoacutecio
8 Paracircmetro de classificaccedilatildeo das propriedades rurais estaacute de acordo com a
Lei 8629 de 25 de fevereiro de 1993) segundo Landau et al (2012) dos estabelecimentos pesquisados 40 das propriedades possuem menos de um moacutedulo rural classificados como minifuacutendios em que 50 destas unidades visitadas satildeo terras conquistadas pelo processo de reforma agraacuteria considerada como terra de vida e de trabalho com forte relaccedilatildeo de trabalho pelos camponeses 20 satildeo classificados como pequena propriedade 33 tecircm entre 16 a 380 moacutedulos rurais sendo consideradas grandes propriedades Apenas 7 representam as meacutedias propriedades conforme visto no graacutefico 02
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A par da eficiecircncia de extraccedilatildeo da renda da terra os proprietaacuterios produtores vendem mudas clonais de eucalipto no municiacutepio de Itaporanga drsquoAjuda e induzem os assentados de reforma agraacuteria e pequenos proprietaacuterios rurais ao cultivo de eucalipto visto que o entusiasmo dos grandes produtores eacute determinante para que um nuacutemero de pequenos de assentados iniciasse a plantar o monocultivo de eucalipto nos lotes mesmo com o tamanho da terra restrito a poucos hectares O interesse em cultivar eucalipto fez crescer o negoacutecio de mudas clonais na regiatildeo pela demanda em atacado e varejo com retorno de lucro agrave curto prazo sendo tratadas nos hortos das grandes propriedades rurais
O cultivo do monocultivo de eucalipto tornou-se para os camponeses uma alternativa promissora pelo fato de obterem lucro no ciclo final de desenvolvimento poreacutem muitos cultivadores dependem de um comprador intermediaacuterio porque natildeo tem o destino da produccedilatildeo certo
Nos assentamentos rurais visitados os relatos sobre a garantia da venda e a inserccedilatildeo do mercado sendo que para muitos pequenos proprietaacuterios a venda do eucalipto natildeo seria problema porque sempre vatildeo compradores visitaacute-lo com o intuito de negociar a lenha do eucalipto
Estes municiacutepios revelam uma relaccedilatildeo de sujeiccedilatildeo da renda da terra pelo processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital onde o agricultor deteacutem a terra produz nela e depois revende diretamente ao capitalista que eacute quem define o preccedilo fato que se intensifica no Brasil desde a deacutecada de 1990 (OLIVEIRA 1991)
Esse quadro situa uma perspectiva de controle do espaccedilo de produccedilatildeo tornando-o um territoacuterio para o consumo capitalista Enquanto haacute interesse da induacutestria de celulose no eucalipto o camponecircs se torna uacutetil ao sistema ao tempo que se coloca vulneraacutevel no que tange agrave produccedilatildeo de alimentos e a sua autonomia
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Desse modo a transferecircncia da riqueza produzida pelos camponeses se daacute mediante a sujeiccedilatildeo da renda da terra pelo processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio em que ldquo[] Nestes casos o capitalista natildeo imobiliza dinheiro na compra da terra ele natildeo territorializa-serdquo (PAULINO e ALMEIDA 2010 p 45)
Observa-se uma tendecircncia de disputa territorial posta entre os estabelecimentos rurais com cultivos tradicionais pecuaacuteria e moradia a introduccedilatildeo do monocultivo de eucalipto sob a loacutegica das contradiccedilotildees e antagonismos devido a produccedilatildeo de biomassa via do processo de monopolizaccedilatildeo do territoacuterio camponecircs e a territorializaccedilatildeo do capital (OLIVEIRA 1991 2004) O MODO DE TRABALHO NO CORTE DO MONOCULTIVO DE EUCALIPTO
Os trabalhadores rurais satildeo sujeitos concretos ativos
preocupados com sua reproduccedilatildeo social em meio agraves contradiccedilotildees do processo de modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e agem em reciprocidade com as nuances imposta pelo sistema capitalista e que no iniacutecio do seacuteculo XXI intensificam-se a precarizaccedilatildeo e precariedade da forma de organizaccedilatildeo e oferta de emprego no campo
Segundo Harvey (2005) as transformaccedilotildees oriundas do sistema capitalista resultam das inuacutemeras crises de acumulaccedilatildeo do capital que obriga a classe trabalhadora nesta anaacutelise referente ao campo a conviver de forma hostil para sobreviver
Para tanto Harvey (2005) ressalta que haacute uma coordenaccedilatildeo de produccedilatildeo capitalista atrelado ao capital financeiro do preccedilo da forccedila de trabalho nos distintos recortes espaciais
A ascensatildeo do capital financeiro foi resultado do ressurgimento de formas agressivas brutais de
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procurar aumentar a produtividade do capital em niacutevel macro econocircmico a comeccedilar pela produtividade do trabalho tanto dos operaacuterios como das massas de trabalhadores (HARVEY 2005 p 16)
Thomaz Juacutenior (2002) afirma que este periacuteodo eacute decorrente dos impulsos do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que atinge o campo o que cresce o contingente de trabalhadores desempregados a niacutevel nacional
O processo de produccedilatildeo capitalista impotildee a classe trabalhadora uma seacuterie de demanda para suprir as necessidades voltadas para a esfera produtiva excluindo a necessidade de reproduccedilatildeo dos trabalhadores o que Antunes (2007) defenderaacute como uma nova transformaccedilatildeo do metabolismo social destrutiva agrave classe que vive do trabalho
As poliacuteticas econocircmicas do estado de Sergipe no iniacutecio da deacutecada de 1990 com a adoccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento regional favoreceram o aumento do PIB estadual e as articulaccedilotildees das diversas cadeias produtivas entre a produccedilatildeo agropecuaacuteria e o capital agroindustrial O esforccedilo do Estado em garantir os benefiacutecios para o setor produtivo industrial reativou o aumento da demanda energeacutetica consolidando o agravamento das condiccedilotildees de trabalho a partir da expansatildeo do monocultivo de eucalipto no campo sergipano
A inserccedilatildeo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Itaporanga drsquoAjuda e Estacircncia promove a intensificaccedilatildeo e a substituiccedilatildeo das aacutereas com culturas alimentares e de produccedilatildeo familiar demonstra o aumento e a geraccedilatildeo de emprego em detrimento do aquecimento industrial
Tendo em vista o interesse em ampliar os parques fabris e tornaacute-los competitivos no cenaacuterio regional e nacional a implantaccedilatildeo da induacutestria de celulose e papel tornou justificativa do Estado para legitimar a necessidade de expandir o monocultivo de eucalipto e os investimentos puacuteblicos para
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reforccedilar as vantagens econocircmicas e sociais para a Microrregiatildeo de Estacircncia
Poreacutem a eficaacutecia da promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico estaacute travestida da eficaacutecia do desenvolvimento social do aumento de emprego geraccedilatildeo de renda e das responsabilidades ambientais pelas induacutestrias instaladas nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga dAjuda natildeo demonstram os riscos que causam a substituiccedilatildeo da policultura para as famiacutelias que vivem e trabalham no campo
Entretanto no tocante agrave geraccedilatildeo de empregos e a relaccedilatildeo de trabalho constata-se a contrataccedilatildeo temporaacuteria de trabalho que duram de trecircs a quatro meses entre o periacuteodo de preparo da terra e o corte da madeira de eucalipto No periacuteodo de manutenccedilatildeo dos plantios apoacutes seis meses com tratos culturais o nuacutemero de contratados pode chegar a zero em algumas propriedades retornando as contrataccedilotildees apenas para o periacuteodo de corte
O nuacutemero de contratos temporaacuterios pode variar de 20 a 30 trabalhadores no curto periacuteodo de 90 dias do plantio das mudas clonais primeira e segunda adubaccedilatildeo Jaacute as contrataccedilotildees de trabalhadores por um tempo maior variam de 2 a 7 trabalhadores
Os engenheiros florestais agrocircnomos teacutecnicos agriacutecolas motoristas tratoristas satildeo pessoas responsaacuteveis pela manutenccedilatildeo dos talhotildees de eucalipto no controle agraves pragas fazendo a pulverizaccedilatildeo gradeamento e araccedilatildeo da terra Esses uacuteltimos atuam evitando a incidecircncia de ervas daninhas competindo com o plantio de eucalipto
Nas entrevistas do trabalho de campo com a comunidade e os camponeses sitiantes o nuacutemero maior de trabalhadores contratados eacute no periacuteodo de plantio com valor pago a cerca de R$ 4000 diaacuterio com carga horaacuteria exaustiva e de forma verbal A contrataccedilatildeo dos trabalhadores temporaacuterios
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natildeo garante nenhuma condiccedilatildeo de melhoria seja no plantio oue corte do monocultivo de eucalipto
A reduccedilatildeo dos trabalhadores no campo sergipano justifica-se pelo aumento da mecanizaccedilatildeo em todo o processo do monocultivo de eucalipto sendo reflexo da modernizaccedilatildeo no campo sergipano que ocorre com a reduccedilatildeo de empregos e a substituiccedilatildeo da forccedila de trabalho humano pela mecanizaccedilatildeo e isto ocorre nas propriedades com grandes extensotildees de terra
O uso das maacutequinas nas grandes propriedades impotildee aos trabalhadores a subordinaccedilatildeo do trabalho agraves relaccedilotildees de produccedilatildeo que se mostram extremamente precaacuterias em que vaacuterios trabalhadores temporaacuterios vecircm se negando a aceitar trabalhos com niacuteveis de precarizaccedilatildeo relevantes no corte de eucalipto
A inserccedilatildeo tecnoloacutegica na substituiccedilatildeo do trabalho manual nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda eacute uma tendecircncia para todas as etapas do processo produtivo desde o preparo da terra plantio colheita ateacute o transporte da lenha para as faacutebricas da regiatildeo poreacutem natildeo eacute comum em todas as propriedades visitadas
A intensificaccedilatildeo do uso da mecanizaccedilatildeo implica na baixa contrataccedilatildeo de trabalhadores para realizar o serviccedilo de carregamento e quando haacute a contrataccedilatildeo dos trabalhadores eacute temporaacuteria que varia de acordo com a quantidade de aacuterea plantada cujos contratos tecircm duraccedilatildeo de ateacute noventas dias periacuteodo da segunda adubaccedilatildeo
Os salaacuterios pagos variam de acordo com a demanda da lenha de eucalipto com salaacuterios de acordo com cada funccedilatildeo que um trabalhador iraacute exercer No caso dos trabalhadores que fazem o trabalho com motosserra o ganho eacute maior em relaccedilatildeo daqueles que faz arrumaccedilatildeo das toras de madeira para o carregamento dos caminhotildees pelas maacutequinas
A execuccedilatildeo das atividades laborais no campo expotildee o trabalhador agraves condiccedilotildees adversas em situaccedilotildees
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desconfortaacuteveis que comprometem a sua sauacutede bem como a seguranccedila Dentre as situaccedilotildees adversas enfrentadas pelos trabalhadores no corte do eucalipto existem os altos ruiacutedos fuligens vibraccedilatildeo do manuseio das motosserras exaustatildeo por movimentos repetitivos e intensa forccedila braccedilal condiccedilotildees climaacuteticas adversas com altas temperaturas no veratildeo e baixa umidade no inverno sem contar do uso inapropriado dos Equipamentos de Proteccedilatildeo Individual (EPIs) em que apenas alguns acessoacuterios satildeo usados pelos trabalhadores
A utilizaccedilatildeo dos EPIs como capacetes calccedilas jaquetas protetor auricular protetor facial perneira coturno e luvas satildeo recomendados para minimizar riscos de acidentes como ressalta Rodrigues (2004) afirmando que o manuseio da motosserra deve considerar certas precauccedilotildees visto que os acidentes acontecem pelo desconhecimento dos trabalhadores ou falta de preparaccedilatildeo pelas empresas que negligecircncia o fornecimento dos EPIs descumprido a legislaccedilatildeo trabalhista
No entanto entre os trabalhadores que se colocaram a disposiccedilatildeo um esclareceu que a rotina diaacuteria no corte de eucalipto eacute de extrema cautela com trabalho com alta jornada e que a melhor hora para o corte eacute antes das 8 horas em que o vento natildeo atrapalha poreacutem no decorrer o dia eles ficam expostos aos acidentes
Em relaccedilatildeo aos trabalhadores do corte do eucalipto pocircde-se constatar a mobilidade cotidiana de trabalhadores residentes nos municiacutepios circunvizinhos de Boquim e Salgado inclusive trabalhadores dos assentamentos de reforma agraacuteria de Estacircncia e de Itaporanga drsquoAjuda Um dos motivos dessa mobilidade eacute a oportunidade de trabalho pelas baixas condiccedilotildees econocircmicas das famiacutelias que vivem no espaccedilo urbano
O salaacuterio pago eacute um salaacuterio miacutenimo para os trabalhadores envolvidos no plantio e na adubaccedilatildeo Jaacute no corte o salaacuterio pago varia de acordo com a quantidade de
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madeira em tora cortada Haacute diferenccedila entre os donos dos motosserras que podem alcanccedilar R$ 15000 diaacuterios e os contratos firmados entre os trabalhadores e as empresas variam de R$ 600 a R$1000 por metro cuacutebico (m3) de madeira cortada Esse eacute um serviccedilo terceirizado pela empresa responsaacutevel pelos contratos dos trabalhadores que recebem em meacutedia R$ 2800 por metro cuacutebico de madeira cortada
Esse quadro leva os trabalhadores a cumprirem uma determinada meta com corte de eucalipto ao dia sem considerar as perdas de horas extras trabalhadas uma vez que os trabalhadores soacute recebem pela quantidade de metros cuacutebicos por hectare de aacutervores derrubadas combinado com a empresa que terceiriza e contrata os trabalhadores que adotam posturas repetitivas crescendo o risco de doenccedilas e acidentes
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Como produto das contradiccedilotildees dessa reestruturaccedilatildeo produtiva no campo com repercussotildees no mundo do trabalho conforme discutimos a precarizaccedilatildeo a substituiccedilatildeo do trabalho vivo pelo trabalho morto aleacutem de todos os entraves para a vida do camponecircs os conflitos por terras acabam por se constituiacuterem parte do cotidiano do trabalhador rural
A compreensatildeo do processo da reestruturaccedilatildeo produtiva no campo revela a materialidade das transformaccedilotildees e perdas de direitos trabalhistas na expansatildeo do agrohidronegoacutecio do eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda em consonacircncia com a Divisatildeo Internacional do Trabalho nas uacuteltimas deacutecadas no Brasil pelo fato de que se exige mais do trabalhador com longa jornada de horas de trabalho precaacuterio com baixos salaacuterios e por meio de contratos temporaacuterios
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Portanto nota-se que o trabalho no monocultivo do eucalipto aparece como uma atividade que daacute esperanccedila pela garantia de renda certa Poreacutem prevalece a escassez de emprego e o aumento da mecanizaccedilatildeo do processo produtivo do monocultivo de eucalipto nos municiacutepios de Estacircncia e Itaporanga drsquoAjuda O que coloca a ideia de empregabilidade como uma falaacutecia do setor florestal quanto ao discurso de geraccedilatildeo de renda e emprego para as famiacutelias que vivem proacuteximas aos estabelecimentos rurais
REFEREcircNCIAS ANTUNES Ricardo Dimensotildees da precarizaccedilatildeo estrutural do trabalho In DRUCK G FRANCO T (Orgs) A perda da razatildeo social do trabalho Terceirizaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo Satildeo Paulo Boitempo 2007 FEITOSA Cid Olival A distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas de Sergipe In Cadernos de Ciecircncias Sociais Aplicadas Vitoacuteria da Conquista nordm 17 p 187-206 2014Disponiacutevel em lthttpperiodicosuesbbrindexphpcadernosdecienciasarticleviewFile49244719gt Acesso em 20 jan 2016 HARVEY D Condiccedilatildeo poacutes-moderna 14 ed Satildeo Paulo Ed Loyola 2005 p117-183 INDUacuteSTRIA BRASILEIRA DE AacuteRVORES IBAacute Indicadores de desempenho do setor nacional de aacutervores plantadas referentes ao ano de 2014 Ano 2015 Elaboraccedilatildeo Poumlyry Gestatildeo e Negoacutecios Ltda Brasiacutelia Disponiacutevel em lthttpwwwibaorgimagessharediba_2015pdfgt Acesso em 30 mar 2016
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OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino Geografia agraacuteria perspectivas no iniacutecio do seacuteculo XXI In O campo no seacuteculo XXI territoacuterio de vida de luta e de construccedilatildeo da justiccedila social OLIVEIRA A U e MARQUES M I M (Orgs) Satildeo Paulo Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra 2004 p 29-70 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino Modo de Produccedilatildeo Capitalista Agricultura e Reforma Agraacuteria Satildeo Paulo FFLCH 2007 184 p Disponiacutevel em lthttpwwwgeografiafflchuspbrgraduacaoapoioApoioApoio_ValeriaPdfLivro_aripdfgt Acesso em 28 abr 2014 PAULINO Eliane Tomiasi ALMEIDA Rosemeire Aparecida Terra e territoacuterio a questatildeo camponesa no capitalismo Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2010 THOMAZ JUacuteNIOR Antonio Por uma geografia do trabalho Revista Pegada Presidente Prudente (SP) v 3 Nuacutemero Especial p 4-26 ago 2002 THOMAZ JUNIOR Antonio O agrohidronegoacutecio no centro das disputas territoriais e de classe no Brasil do Seacuteculo XXI Campo Territoacuterio V 5 Ndeg 10 Uberlacircndia 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwseerufubrindexphpcampoterritorioarticleview12042gt Acesso em 16 jul 2015
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A QUESTAtildeO DA TERRA E O ENSINO DE GEOGRAFIA A IMPORTAcircNCIA DESSE ESTUDO
PARA A COMPREENSAtildeO DO ESPACcedilO AGRAacuteRIO E AS SUAS CONTRADICcedilOtildeES
Mara Iacuteris Barreto Limasup1
(Universidade Federal de Sergipe) (Graduanda em GeografiaLicenciatura)
E mail mara21irisgmailcom
Joyce Kelly de Jesus Santossup2 (Universidade Federal de Sergipe)
(Graduanda em GeografiaLicenciatura) E mail kellysts17gmailcom
RESUMO
Este artigo tem como finalidade discutir a importacircncia do estudo da questatildeo agraacuteria no Brasil com base nas contradiccedilotildees encontradas na estrutura fundiaacuteria em diferentes eacutepocas assim como adentrar no ensino de Geografia para uma maior compreensatildeo da realidade nacional posto que haacute a necessidade de abordar tais temaacuteticas na Educaccedilatildeo Baacutesica e no Ensino Superior Dessa maneira eacute observar atraveacutes da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo realizada pelos bolsistas do Pibid na IV Semana Acadecircmico-Cultural da Universidade Federal de Sergipe ndash no Campus Universitaacuterio Prof Alberto Carvalho em Itabaiana com a oacutetica de refutar toda disseminaccedilatildeo da miacutedia que transmite o agronegoacutecio como resoluccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico nacional Assim como ressaltar a importacircncia dessas problematizaccedilotildees para desmascarar os ldquobenefiacuteciosrdquo do modelo agroexportador no territoacuterio brasileiro pautando assim na formaccedilatildeo educativa e consciente dos ouvintes que fazem parte dessa dinacircmica alusiva ao espaccedilo
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agraacuterio do paiacutes em diferentes contextos histoacutericos quais marcaram e marcam a questatildeo fundiaacuteria de nossa sociedade as lutas e resistecircncias dos camponeses bem como a discussatildeo com o uso dos agrotoacutexicos que vatildeo parar nas mesas dos brasileiros sem perder de vista ainda todas as contribuiccedilotildees para a compreensatildeo e reflexatildeo da educaccedilatildeo na realidade social estudada Ademais eacute resgatar todos esses elementos que foram encadeados no rol das discussotildees desses processos histoacutericos validando-se tambeacutem na expressatildeo da questatildeo agraacuteria ao ensino de Geografia como indispensaacuteveis para se fazer uma leitura das contradiccedilotildees atuais no espaccedilo agraacuterio brasileiro com o olhar criacutetico e questionador Palavras-chave Geografia Agraacuteria Ensino Agronegoacutecio INTRODUCcedilAtildeO
O debate sobre a questatildeo agraacuteria no Brasil eacute recente surgiu em meados do seacuteculo XX dentro dos partidos de esquerda (STEacuteDILE 2012) Essa discussatildeo se faz de grande relevacircncia no paiacutes pois predomina a concentraccedilatildeo de terra e a criminalizaccedilatildeo dos movimentos sociais que lutam pela reforma agraacuteria Dessa maneira a Geografia eacute uma das ciecircncias que estudam essa questatildeo tatildeo importante para a leitura social e espacial da sociedade
Haja vista o ensino de Geografia deve proporcionar ao aluno uma visatildeo criacutetica da sociedade por conseguinte estudar o espaccedilo agraacuterio brasileiro busca evidenciar suas contradiccedilotildees e desmitificar os estereoacutetipos tornando-o fundamental e imprescindiacutevel para essa ciecircncia Nessa perspectiva foi realizada a oficina de ldquoMuacutesica e Geografiardquo que abordou esses temas atraveacutes da muacutesica ldquoReis do Agronegoacuteciordquo do cantor Chico Ceacutesar apresentando assim as relaccedilotildees de exploraccedilatildeo e expropriaccedilatildeo nas dinacircmicas capitalistas
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A metodologia utilizada para o desenvolvimento dessa oficina foi um levantamento bibliograacutefico sobre a temaacutetica e dramatizaccedilatildeo Constituiu-se como uma pesquisa qualitativa pautada no meacutetodo do materialismo-histoacuterico dialeacutetico uma vez que buscamos resgatar o caraacuteter histoacuterico e a dialeacutetica da ocupaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio e como a terra se estabelece como um elemento essencial para a reproduccedilatildeo do capitalismo legitimando assim a constante apropriaccedilatildeo da Natureza pela accedilatildeo humana
De tal modo ainda dentro do estudo em Geografia e mais especificamente a Geografia Agraacuteria haacute vaacuterias vertentes ao qual nesse artigo trabalhamos com conceito de camponecircs e a sua resistecircncia frente ao capitalismo enfatizando a luta pela terra identificando assim os confrontos e conflitos no campo as lutas sociais como vozes dos grupos oprimidos e dentre outros aspectos que compreendem a leitura do espaccedilo geograacutefico brasileiro UM BREVE HISTOacuteRICO DA ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA BRASILEIRA A questatildeo da terra inicia-se com a proacutepria exploraccedilatildeo colonial tendo em vista a loacutegica do Capitalismo Comercial que se originava no bojo das relaccedilotildees de poder e economia em continente europeu Haja vista o paiacutes ainda natildeo tinha a dimensatildeo territorial que se compreende na atualidade e as terras de Pindorama eram as riquezas dos povos nativos que existiram nessa porccedilatildeo da Ameacuterica do Sul Natildeo obstante as relaccedilotildees que se sucederam foram baseadas primordialmente na agricultura tendo como pilares as extensas aacutereas voltadas para a Plantation com a exploraccedilatildeo de matildeo de obra escrava como ressalta Eduardo Galeano a sua configuraccedilatildeo inicial de apropriaccedilatildeo da terra
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[] A plantaccedilatildeo nascida da demanda de accediluacutecar no ultramar era uma empresa movida pelo afatilde do lucro de seu proprietaacuterio e posta a serviccedilo do mercado que a Europa ia articulando internacionalmente Por sua estrutura interna no entanto ndash e considerando que em boa medida bastava-se a si mesma - alguns de seus traccedilos dominantes eram feudais (GALEANO 2017 p 92)
Assim como o ldquoassassinato da terrardquo no Nordeste brasileiro no periacuteodo colonial se legitimou na figura da exploraccedilatildeo que era particular e combinada do capitalismo crescente fazendo surgir novos perfis de ocupaccedilatildeo e uso das terras brasileiras Consoante a isso ldquoAs terras foram cedidas pela Coroa Portuguesa em usufruto aos primeiros e grandes terras-tenentes do Brasil A faccedilanha da conquista deveria correr paralela com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeordquo (GALEANO 2017 p 94)
Com o correr do tempo o caraacuteter da exploraccedilatildeo capitalista incorporava novas condiccedilotildees que discriminavam os primeiros camponeses nas aacutereas mais distantes das colocircnias tropicais e subtropicais da Ameacuterica O valor dos escravos jaacute se configurava antes mesmo das terras brasileiras os periacuteodos coloniais e imperiais foram basilares para a construccedilatildeo de estereoacutetipos na cultura nacional na pujanccedila das relaccedilotildees econocircmicas administrativas e poliacuteticas quais se delimitavam nos seacuteculos que sucederam no ldquolongo seacuteculo XVIrdquo (MORAES 2000) Desse modo eacute importante estabelecer uma compreensatildeo referente a grandes e pequenas propriedades de terras em conformidade com Caio Prado Juacutenior em ressaltar
[] O regime de posse da terra foi o da propriedade alodial e plena Entre os
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poderes dos donataacuterios das capitanias estava como vimos o de disporem das terras que se distribuiacuteram entre os colonos As doaccedilotildees foram em regra muito grandes medindo-se os lotes por muitas leacuteguas O que eacute compreensiacutevel sobravam as terras e as ambiccedilotildees daqueles pioneiros recrutados a tanto custo natildeo se contentariam evidentemente com propriedades pequenas natildeo era a posiccedilatildeo de modestos camponeses que aspiravam ao novo mundo mas de grandes senhores e latifundiaacuterios (PRADO JR 2008 p 33)
A concentraccedilatildeo de terras no Brasil eacute de caraacuteter histoacuterico suas influecircncias se remetem aos contextos histoacutericos de outrora A estrutura fundiaacuteria presente atualmente no paiacutes vem desde a colonizaccedilatildeo inicialmente com a divisatildeo das terras em Capitanias Hereditaacuterias e posteriormente com a Lei das Sesmarias Nesse sistema todas as terras pertenciam agrave Coroa e eram distribuiacutedas para os donataacuterios atraveacutes da ldquoconcessatildeo de usordquo que se caracterizava como
[] de direito hereditaacuterio ou seja os herdeiros do fazendeiro-capitalista poderiam continuar com a posse das terras e com a sua exploraccedilatildeo Mas natildeo lhes dava direito de venderem as terras ou mesmo de comprarem terras vizinhas Na essecircncia natildeo havia propriedade privada das terras ou seja as terras ainda natildeo eram mercadorias (STEacuteDILE 2012 p 24)
Com efeito as concentraccedilotildees de terras se consolidaram com o latifuacutendio pautado na matildeo de obra escrava e em extensas aacutereas de produccedilatildeo em 1850 no paiacutes Nesse periacuteodo o governo imperial vivia um impasse visto
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que a Inglaterra pressionava o Brasil para abolir a escravatura Dessa forma para impedir que os ex-escravos se apossassem das terras devolutas foi proclamada a Lei nordm 601 de 18 de setembro de 1850 popularmente conhecida como Lei de Terras Agrave vista disso ldquo[] foi uma soluccedilatildeo encontrada pela elite brasileira para manter inalterada a estrutura agraacuteria impedindo o acesso livre agrave terra por parte da populaccedilatildeo pobre que era maioriardquo (MIRALHA 2006 p 153) Pela primeira vez no paiacutes a terra eacute vista como mercadoria tendo um valor atribuiacutedo agraves aacutereas brasileiras Para Steacutedile a caracteriacutestica principal dessa lei
[] eacute implantar no Brasil a propriedade privada das terras Ou seja a lei proporciona fundamento juriacutedico agrave transformaccedilatildeo da terra ndash que eacute um bem da natureza e portanto natildeo tem valor do ponto de vista da economia poliacutetica ndash em mercadoria em objeto de negoacutecio passando portanto a partir de entatildeo a ter preccedilo A lei normatizou entatildeo a propriedade privada da terra (STEacuteDILE 2012 p 24)
A deacutecada de 1930 marcou um novo periacuteodo na histoacuteria da economia brasileira A Grande Crise de 1929 acarretou a crise do modelo agroexportador obrigando o paiacutes a se industrializar poreacutem surgiu uma induacutestria ligada ao campo e dependente dos paiacuteses centrais em virtude que nesse primeiro momento foram compradas maacutequinas usadas de faacutebricas falidas dos paiacuteses ricos atingidos pela crise econocircmica Como o Brasil natildeo possuiacutea matildeo-de-obra especializada precisou ainda se importar maacutequinas (FURTADO 2007) assim como explorar a matildeo-de-obra ldquodisponiacutevelrdquo em solo brasileiro valendo ressaltar que ldquo[] a importaccedilatildeo dessas maacutequinas soacute era possiacutevel pela continuidade das exportaccedilotildees agriacutecolas que geravam divisas para seu
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pagamento fechando o ciclo da loacutegica da necessidade do capitalismo dependenterdquo (STEacuteDILE 2012 p 30) Nesse contexto agravou-se a contradiccedilatildeo no campo brasileiro dado que
[] os camponeses ao mesmo tempo em que se reproduziam e se multiplicavam enquanto classe tiveram parcelas crescentes de seus membros migrando para as cidades e se transformando em operaacuterios Na estrutura da propriedade da terra [] Por um lado havia a multiplicaccedilatildeo de pequenas propriedades pela compra e venda e reproduccedilatildeo das unidades familiares E por outro lado em vastas regiotildees a grande propriedade capitalista avanccedilava e concentrava mais terra mais recursos (STEacuteDILE 2012 p 32)
A partir de meados do seacuteculo XX surgem os primeiros debates sobre a questatildeo agraacuteria no Brasil dentro dos partidos de esquerda nesse periacuteodo o ecircxodo rural se consolidou no paiacutes devido agrave mecanizaccedilatildeo do campo e uma massa de camponeses comeccedilou a ser expropriada e migrou para a cidade aleacutem de se tornar subordinada ao capital industrial Foi nesse cenaacuterio que surgiram movimentos sociais que lutam por transformaccedilotildees estruturais da sociedade (STEacuteDILE 2012) Dentre os quais podemos destacar As Ligas Camponesas e na deacutecada de 1990 o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ao qual exerceu e exerce um papel importante na miacutenima distribuiccedilatildeo de terras que haacute no paiacutes na contemporaneidade
Deste modo o novo contexto diante da situaccedilatildeo agraacuteria em todo o paiacutes ganhava novas nuances diante da conjuntura poliacutetico-econocircmica e ideoloacutegica que se formavam no territoacuterio brasileiro Ademais o MST em sua origem de
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formaccedilatildeo passou a desempenhar papel preponderante na luta pela reforma agraacuteria pela equidade de direitos contra a concentraccedilatildeo fundiaacuteria e pela desobediecircncia aos latifundiaacuterios expropriadores das terras brasileiras eou ao proacuteprio Estado tomando-os como reinvindicaccedilotildees na realizaccedilatildeo de poliacuteticas para assentamentos no campo e para a legitimaccedilatildeo desse movimento social no paiacutes Outrossim a maacute distribuiccedilatildeo de terras foi concomitante ao proacuteprio processo de subordinaccedilatildeo das massas populares passando de cenaacuterios histoacutericos a novos contextos soacutecio-poliacuteticos de caraacuteter paulatinamente explorador Nessas circunstacircncias os personagens eram os mesmos o senhor de engenho versus o escravo o latifundiaacuterio versus o camponecircs ambos imbricados na teia de relaccedilotildees de poder e subordinaccedilatildeo constante em diferentes espacializaccedilotildees em territoacuterio nacional Sendo assim a dialeacutetica das relaccedilotildees sociais vai se impondo dentro desses quadros bem como na percepccedilatildeo de entender o espaccedilo geograacutefico a partir de confrontos fundamentados na propriedade privada das terras e nas ideologias que vatildeo se formando em diferentes temporalidades na sociedade A OFICINA DE MUacuteSICA E GEOGRAFIA A Geografia deve propiciar ao aluno um olhar emancipador que seja possiacutevel enxergar as contradiccedilotildees sociais e espaciais e como se estabelecem as relaccedilotildees de poder assim como colocaacute-los como agentes ativos e participativos na produccedilatildeo do espaccedilo a fim de melhor compreendecirc-lo Outro fator importante eacute a aproximaccedilatildeo dos conteuacutedos da realidade do estudante assim haveraacute uma maior motivaccedilatildeo em aprender e permite ainda um diaacutelogo essencial para o estudo geograacutefico Para Oliveira eacute necessaacuterio
[] um ensino que busque incutir nos alunos
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uma postura criacutetica diante da realidade comprometida com o homem e a sociedade natildeo com o homem abstrato mas com o homem concreto com a sociedade tal qual ela se apresenta dividida em classes com conflitos e contradiccedilotildees E contribua para sua transformaccedilatildeo (OLIVEIRA 1989 p 143)
Nesse contexto eacute vaacutelido trabalhar a questatildeo da terra e seus desdobramentos tendo em vista que a estrutura fundiaacuteria do Brasil eacute altamente concentrada e os conflitos que satildeo muito presentes em todo o territoacuterio nacional satildeo relevantes para o entendimento de tais problemaacuteticas e as suas particularidades Nesse sentido essa temaacutetica pode ser abordada tanto na Educaccedilatildeo Baacutesica quanto no Ensino Superior pois permite uma interlocuccedilatildeo entre os sujeitos participativos dessas questotildees sociais no Brasil
Dito isto foi realizada a atividade de extensatildeo Praacutexis Pedagoacutegica o Pibid na formaccedilatildeo de professores de Geografia na IV Semana Acadecircmico-Cultural da Universidade Federal de Sergipe ndash no Campus Universitaacuterio Prof Alberto Carvalho em Itabaiana - SE com a oficina de ldquoMuacutesica e Geografiardquo ministrada por bolsistas do Pibid O principal objetivo dessa oficina foi tratar a questatildeo agraacuteria no espaccedilo geograacutefico brasileiro atraveacutes da muacutesica ldquoReis do Agronegoacuteciordquo de Chico Ceacutesar que mostra os malefiacutecios do agronegoacutecio e os seus rebatimentos na sociedade desmistificando assim toda a propaganda beneacutefica que eacute feita deste por meio da miacutedia e por suas consequentes alienaccedilotildees
O principal recurso da oficina foi a muacutesica jaacute referida A partir dela ocorreu uma problematizaccedilatildeointeraccedilatildeo com os participantes envolvidos revelando nesse vieacutes a sistematizaccedilatildeo do processo de espacializaccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas aos quais exploravam e exploram as terras e as
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forccedilas de trabalho em territoacuterio brasileiro considerando-se a consolidaccedilatildeo dos proacuteprios interesses econocircmicos do agronegoacutecio Concomitantemente os discentes puderam participar da oficina ao debaterem e estarem inseridos na canccedilatildeo por meio das problematizaccedilotildees propostas pelos pibidianos como eacute verificado na figura 1 ao explicitar o envolvimento destes no momento interativo em questatildeo contribuindo ainda na discussatildeo referente aos conhecimentos dos estudantes como forma de abrir espaccedilo para as diferentes oacuteticas e aprendizagens na oficina (ver figura 1) Figura 1 - Dinacircmica envolvendo a participaccedilatildeo de discentes do curso de Geografia de diferentes periacuteodos com grande contribuiccedilatildeo teoacuterica acerca das temaacuteticas trabalhadas durante a oficina
Fonte acervo do Pibid 2017
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Aleacutem disso foram feitos cartazes com frases e dados que mostravam os danos causados por esse sistema tais quais destacaram os domiacutenios do agronegoacutecio em distintas regiotildees do paiacutes Os ministrantes da oficina se caracterizaram com os personagens que satildeo descritos na muacutesica como a exemplos de latifundiaacuterio camponesa representante do MST e entre outros personagens interpretando os muacuteltiplos papeacuteis e as suas resistecircncias sendo de suma importacircncia destacar os esforccedilos dos pibidianos ao elaborarem os materiais para a realizaccedilatildeo da atividade citada e pelas simbologias construiacutedas em todo o periacuteodo proposto na semana acadecircmica referida (ver figura 2) Figura 2 - Bolsistas durante a apresentaccedilatildeo da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo com a discussatildeo da muacutesica ldquoReis do agronegoacuteciordquo de Chico Ceacutesar
Fonte acervo do Pibid 2017
Paralelamente as caracterizaccedilotildees foram pautadas em
toda a coerecircncia da canccedilatildeo possibilitando ao puacuteblico alvo um
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momento de aproximaccedilatildeo e revelaccedilatildeo de questotildees natildeo abordadas em sala de aula tendo em vista ainda a dinacircmica existente entre todos os sujeitos ao propiciar discussotildees sobre casos proacuteximos de suas experiecircncias com relatos de alguns ouvintes que assistiam agraves encenaccedilotildees Os recursos utilizados na oficina foram primordiais para a realizaccedilatildeo desta com a utilizaccedilatildeo de materiais (cartazes objetos imagens e recursos de viacutedeos) desenvolvidos pelos proacuteprios bolsistas como resultados de intensa labuta e dedicaccedilatildeo para a concretizaccedilatildeo da oficina supracitada (ver figura 3) Figura 3 ndash Apresentaccedilatildeo da oficina ldquoMuacutesica e Geografiardquo com ecircnfase nas questotildees de intoleracircncia o agronegoacutecio a concentraccedilatildeo das terras e outras temaacuteticas abordadas
Fonte acervo do Pibid 2017
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Por conseguinte o puacuteblico se constituiu por discentes
de vaacuterios cursos de graduaccedilatildeo permitindo a estes um debate imprescindiacutevel para uma leitura do espaccedilo agraacuterio brasileiro e as suas contradiccedilotildees atraveacutes de assuntos como a questatildeo agraacuteria o uso de agrotoacutexicos e o agronegoacutecio Desse modo permitiram-se revelar ao puacuteblico os problemas gerados pelo uso dos agroquiacutemicos os derramamentos de sangue de grupos que defendem o campesinato e entre outras questotildees proporcionando assim um momento de autoconhecimento e discussotildees sobre as problemaacuteticas que circulam nossa sociedade
Do mesmo modo eacute ressaltar a importacircncia do diaacutelogo que ocorreu entre o puacuteblico e os ministrantes como uma forma de construccedilatildeo de conhecimentos e autorreflexatildeo desmistificando ainda algumas ideias equiacutevocas dos jovens na tentativa de tornar puacuteblico as atrocidades que estavam e estatildeo nas entrelinhas das relaccedilotildees econocircmico-sociais existentes Bem como questionar a alienaccedilatildeo que a propaganda do agronegoacutecio vem acometendo paulatinamente todas as parcelas da sociedade fazendo destas os seus alvos e consequentemente suas presas CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Diante disso foi perceptiacutevel que a temaacutetica da questatildeo
da terra eacute importante ser debatida na escola e na universidade para desmitificar ideias fundamentadas no que a grande miacutedia propaga Nessa via alguns alunos ainda possuiacuteam uma visatildeo de senso comum a respeito da induacutestria do agronegoacutecio do mesmo modo que havia uma visatildeo marginalizada de movimentos sociais do campo a exemplo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) sendo possiacutevel destacar a tentativa de reversatildeo dessas concepccedilotildees tatildeo ldquonaturalizadasrdquo
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por parte dos ministrantes Considerou-se ainda a importante questatildeo da terra brasileira possibilitando o debate e a criaccedilatildeo de um momento iacutempar para a formaccedilatildeo de novos conhecimentos sobre a realidade do campo brasileiro O trabalho desenvolvido permitiu a construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo de conceitos como por exemplos os conceitos de ocupaccedilatildeo e invasatildeo bem como a reflexatildeo de cada termo usado suas contextualizaccedilotildees e repercussatildeo da realidade fundiaacuteria em terras nacionais transformando o imaginaacuterio dos envolvidos em um momento de diaacutelogo e trocas de experiecircnciasrelatos no acircmbito universitaacuterio assim como para ir aleacutem dos muros da universidade Em conformidade com todos os aspectos explorados eacute plausiacutevel ainda trazer a necessidade de enfatizar a estrutura fundiaacuteria e as suas consequentes desigualdades sociais como leituras de todo esse processo analiacutetico e fazer questionamentos nele apoiados na visatildeo criacutetica-construtiva como foco de revelaacute-las e natildeo reproduzir essas correntes que ainda aprisionam as ideias e os seus sujeitos Assim eacute mister tambeacutem observar as abordagens da questatildeo agraacuteria desde seu contexto histoacuterico ndash com a leitura de outrora ndash ateacute entender o perfil dessa questatildeo fundiaacuteria na atualidade sendo que os malefiacutecios causados pela agroinduacutestria e o uso de agrotoacutexicos que vatildeo para as mesas dos brasileiros satildeo frutos de uma estrutura desigual e exploradora pois fazem parte da loacutegica do capitalismo a desigualdade e todas as contradiccedilotildees nos espaccedilos analisados
Em suma a oficina serviu para descontruir esses estereoacutetipos proporcionou aos ouvintes uma visatildeo mais criacutetica e analiacutetica em relaccedilatildeo agrave questatildeo agraacuteria do paiacutes propiciando ainda uma maior reflexatildeo diante da conjuntura histoacuterica-social em formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo no Brasil Com isso a Geografia e particularmente a Geografia Agraacuteria juntamente com o
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ensino dessa ciecircncia reforccedilam tais laccedilos pautados na anaacutelise histoacuterica e dialeacutetica na (re)produccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico legitimando assim uma importante temaacutetica que necessita de mais discussotildees e inclusotildees de ideias para se compreender as relaccedilotildees impostas pelo modo de produccedilatildeo capitalista e agraves suas incessantes contradiccedilotildees e discursos de desenvolvimento nacional quais devem ser desmascaradas e reavaliadas em prol de um bem comum propiciado a todos e natildeo a uma minoria
REFEREcircNCIAS FURTADO Celso Formaccedilatildeo Econocircmica do Brasil 34 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 2007 GALEANO Eduardo H As Veias Abertas da Ameacuterica Latina Traduccedilatildeo de Sergio Faraco ndash Porto Alegre RS LampPM POCKET v900 2017 MIRALHA Wagner Questatildeo agraacuteria brasileira origem necessidade e perspectivas de reforma hoje Revista NERA Presidente Prudente Ano 9 n 8 pp 151-172 jan-jun 2006 MORAES Antocircnio Carlos Robert A Europa no ldquoLongordquo Seacuteculo XVI (1460-1640) In MORAES Antocircnio Carlos Robert Bases da Formaccedilatildeo Territorial do Brasil O Territoacuterio Colonial Brasileiro no ldquoLongordquo Seacuteculo XVI 2 ed Satildeo Paulo Hucitec 2000 p 31 a 49 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de Educaccedilatildeo e Ensino de Geografia na Realidade Brasileira In OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de (Org) Para onde vai o ensino de Geografia Satildeo Paulo Editora Contexto 1989 p 135 a 144
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PRADO JR Caio A Ocupaccedilatildeo Efetiva (1530-1640) In PRADO JR Caio Histoacuteria Econocircmica do Brasil Satildeo Paulo Brasiliense 2008 p 29 a 40 STEacuteDILE Joatildeo Pedro (org) A Questatildeo Agraacuteria no Brasil o debate na esquerda ndash 1960-1980 2 ed Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2012
lsquoNEGAR-SE PARA PERSISTIR-SErsquo INFORMALIDADE DO TRABALHO NO CAMPO
Bruno Andrade Ribeirosup1
(Universidade Federal de Sergipe) (Mestrando em Geografia PPGEOCNPqUFS)
E mail ribeiropensadorgmailcom
RESUMO
O escrito constitui-se em consideraccedilotildees iniciais sobre um objeto analiacutetico de pesquisa em andamento acerca do aumento da informalidade do trabalho no espaccedilo agraacuterio sergipano tendo como recortes espaciais os municiacutepios de Itabaiana e Lagarto A partir do mapeamento de dados secundaacuterios e de observaccedilotildees preacutevias objetiva-se compreender o aumento da informalidade no campo suas causas e impactos na reproduccedilatildeo das famiacutelias camponesas Diante disso o primeiro caminho passa por considerar o campesinato enquanto classe inserida na contramatildeo do desenvolvimento combinado e desigual do capitalismo A crise estrutural do modo de produccedilatildeo vigente trouxe problemaacuteticas a serem pautadas para que se compreenda a situaccedilatildeo atual do campo brasileiro natildeo eacute por simples acaso
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que cada vez mais o camponecircs perpasse pela precarizaccedilatildeo de seu labor tornando-se moacutevel supeacuterfluo e andarilho Nesse sentido o aumento da informalidade do trabalho dono campo se encontra incluso no processo de acumulaccedilatildeo pois rebaixa os custos de produccedilatildeo e assegura a manutenccedilatildeo e reproduccedilatildeo do excedente estrutural de forccedila de trabalho inclusive no campo Uma informalidade difundida enquanto instrumento de autonomia independecircncia e transformaccedilatildeo do trabalhador em lsquopequeno empreendedorrsquo e que em seu movimento de desterritorializaccedilatildeo do camponecircs possibilita essa classe buscar mecanismos de perpetuaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo social um negar-se para continuar sendo aquilo que nunca deixaram de ser Palavras-chave Campesinato Reestruturaccedilatildeo Produtiva Informalidade INTRODUCcedilAtildeO percalccedilos de uma classe revolucionaacuteria
O presente escrito constitui-se em um estudo inicial sobre a informalidade do trabalho9 no espaccedilo agraacuterio sergipano considerando as diferentes formas buscadas pelo camponecircs para vencer as revezes da reestruturaccedilatildeo produtiva do capital (THOMAZ JUNIOR 2004) Ao considerar a categoria trabalho enquanto instrumento de autorealizaccedilatildeo da humanidade reconhecendo o metabolismo social do capital possibilita que a Geografia apreenda o movimento dialeacutetico entre sociedade e natureza compreendendo desse modo a polissemia do labor no mundo atual
9 As consideraccedilotildees dados e leituras expressos e detalhados no texto advecircm
da Pesquisa em andamento sobre informalidade dono espaccedilo agraacuterio sergipano empreendida no acircmbito do Mestrado Acadecircmico em Geografia (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Universidade Federal de Sergipe) sob orientaccedilatildeo da Professora Dra Josefa de Lisboa Santos
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De acordo com os estudos de Oliveira (2007) e Thomaz Junior (2004) a reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no campo brasileiro caracteriza-se por transformaccedilotildees territoriais que se expressam no aumento da concentraccedilatildeo de terra dos conflitos agraacuterios e pelos pacotes tecnoloacutegicos que pregam a modernizaccedilatildeo do campo As imposiccedilotildees do Consenso de Washington por exemplo defendem uma lsquorevalorizaccedilatildeo da agricultura de exportaccedilatildeorsquo juntamente com uma seacuterie de medidas que incluem o ajuste fiscal reduccedilatildeo do tamanho do Estado privatizaccedilatildeo abertura comercial fim das restriccedilotildees ao capital externo abertura financeira desregulamentaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do sistema previdenciaacuterio (NOVAES 2008) Dentre as consequecircncias para o camponecircs um visiacutevel aumento da informalidade atrelada agrave precarizaccedilatildeo e precariedade do trabalho aprofundado a partir dos anos 1990 e as medidas de flexibilizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo trabalhista caracterizada pela vulnerabilidade e inseguranccedila na relaccedilatildeo de trabalho (OLIVEIRA GOMES TARGINO 2011)
No contexto das lsquomarchas e contramarchasrsquo da informalidade a ocupaccedilatildeo agriacutecola tem sido cada vez mais caracterizada pela precariedade e maacute qualidade dos postos de trabalho com um aumento de contratos temporaacuterios e precarizados Ao mesmo tempo a expropriaccedilatildeo da renda da terra atraveacutes da territorializaccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo do capital desloca o ser social do campo em direccedilatildeo aos centros urbanos sujeitos a atividades heterogecircneas e complexas a exemplo da camelotagem (loacutecus de comercializaccedilatildeo de mercadorias) (OLIVEIRA GOMES TARGINO 2011)
De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos (DIEESE) em
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2013 594 dos trabalhadores natildeo possuiacuteam carteira assinada totalizando 24 milhotildees sob condiccedilotildees de informalidade10
Trata-se de grande retrocesso nas condiccedilotildees de trabalho alcanccediladas em deacutecadas de lutas dos trabalhadores que apenas com a Constituiccedilatildeo de 1988 tiveram seus direitos equiparados ao do trabalhador urbano e que antes disso contaram com o Estatuto do Trabalhador Rural de 1963 conquistado apoacutes os conflitos agraacuterios dos anos 50 (BUZATO PINTO 2017 p1)
Os nuacutemeros revelam que a condiccedilatildeo de informalidade na maioria das vezes associada ao acircmbito urbano configura-se em tendecircncia ascendente no campo brasileiro As formas precaacuterias de trabalho caracterizadas por ofiacutecios de curta duraccedilatildeo acabam sendo aceitas pelos trabalhadores que natildeo conseguem empregos ligados ao cultivo da terra A baixa escolaridade e a remuneraccedilatildeo piacutefia tambeacutem satildeo elementos considerados ao analisarmos a informalidade no campo pois em 2013 os 2383473 milhotildees de empregados rurais sem carteira assinada recebiam em meacutedia R$ 57920 muito abaixo dos R$ 112079 recebidos pelos 1612917 milhotildees de empregados rurais com carteira assinada (DIEESE 2013)
No acircmbito dos trabalhadores rurais sem carteira assinada 276462 de sujeitos estatildeo ligados aos serviccedilos o que pode incluir bicos pequenos favores a exemplo de faxineiros moto-taacutexis bicheiros auxiliares em geral vendedores ambulantes etc Um nuacutecleo amplo e heterogecircneo de pessoas que para resistirem no campo se deslocam diariamente para cumprirem suas funccedilotildees e sobreviverem materializando deslocamentos interurbanos entrecampos e campo-cidade
10 Ver httpwwwmstorgbr20141105pesquisa-revela-aumento-da-informalidade-e-precarizacao-no-campohtml
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(THOMAZ JUNIOR 2004) Estes sujeitos buscam na cidade e no proacuteprio campo estrateacutegias de reproduccedilatildeo social como forma de permanecerem camponeses
No estado de Sergipe o DIEESE calcula que dos 77365 trabalhadores que habitam o campo 70132 (907) correspondem a parcela que integra a Taxa de Ilegalidade ou informalidade (percentual de sem carteira no total de empregados) proporccedilatildeo esta que eacute superada apenas pelos estados do Cearaacute e do Acre Portanto percebe-se a necessidade de estudo sobre tal panorama que tecircm implicaccedilotildees diretas no espaccedilo atraveacutes de reordenamentos territoriais Uma realidade que nos faz resgatar a afirmaccedilatildeo de Thomaz Junior (2004 p 8) quando diz que
[] quase tudo que ateacute meados dos anos 80 era considerado ilegal como viacutenculo de trabalho sem carteira assinada ou sem registro contrato temporaacuterio instabilidade jornada com duraccedilatildeo variaacutevel ganharam natildeo somente a dimensatildeo da legalidade mas tambeacutem a chancela da legitimidade
As formas atuais de valorizaccedilatildeo do valor trazem embutidos novos modos de geraccedilatildeo da mais-valia (em sua forma absoluta) Desse modo o trabalho torna-se sobrante descartaacutevel expandindo o nuacutemero de desempregados deprimindo a remuneraccedilatildeo da forccedila de trabalho retraindo o valor necessaacuterio agrave sobrevivecircncia dos trabalhadores e trabalhadoras (THOMAZ JUNIOR 2004) No campo onde persistem algumas formas natildeo-capitalistas de produccedilatildeo a terra eacute a garantia de sobrevivecircncia tendo um valor de uso atribuiacutedo ao proacuteprio trabalho (OLIVEIRA 2012) contudo no contexto da reestruturaccedilatildeo produtiva do capital o que se assiste eacute um processo de precarizaccedilatildeo do trabalho em todos os acircmbitos
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econocircmico fiacutesico mental emocional etc (DAL ROSSO 2008 TAVARES 2004 THOMAZ JUNIOR 2004)
O modelo de acumulaccedilatildeo flexiacutevel implica em utilizaccedilatildeo de teacutecnicas cada vez mais inovadoras de produccedilatildeo para o encurtamento do ciclo do capital com a modernizaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de novos equipamentos a enxada eacute substituiacuteda pelas tecnologias e venenos Diminuem-se as chances de trabalho camponecircs seja na lavoura temporaacuteria ou permanente e a informalidade atrelada agrave precarizaccedilatildeo torna-se um horizonte de busca de manutenccedilatildeo e realizaccedilatildeo das condiccedilotildees baacutesicas para sobrevivecircncia
Portanto a partir do mapeamento de referecircncias teoacuterico-metodoloacutegicas de dados sobre a situaccedilatildeo do trabalho camponecircs no Brasil e mais especificamente em Sergipe bem como de relatos e observaccedilotildees nos recortes espaciais de anaacutelise emerge a possibilidade de discussatildeo e apreensatildeo sobre como o discurso da informalidade tem se disseminado no campo possibilidade de lsquoautonomiarsquo e status de lsquocapitalistarsquo Instrumento de expropriaccedilatildeo do trabalhador e obtenccedilatildeo de Mais-Valia Ou estrateacutegia re (criativa) de persistecircncia no modo de serviversaber camponecircs
DESENVOLVIMENTO o camponecircs sob o signo dialeacutetico
De acordo com Tavares (2002 p 5) ldquoo novo milecircnio inaugura a era do trabalho informalrdquo o que se leva a indagar o que isso significa ou o que pode significar
A priori considerar a informalidade dono um processo em expansatildeo ndash que tem abarcado natildeo somente o urbano mas tambeacutem o agraacuterio ndash natildeo se faz em mero ponto de vista O lsquolerrsquo e o lsquoverrsquo expressos aqui se fundamentam atraveacutes de argumentos teoacutericos fundamentados em um meacutetodo a
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oacutetica de busca da essecircncia dos fatos valendo-se de um ir aleacutem da aparecircncia
Desse modo o camponecircs eacute considerado um sujeito histoacuterico e contraditoacuterio que se refaz e recria na medida em que a luta de classes o expulsa o expropria e o envenena Enquanto classe revolucionaacuteria resiste em sua coletividade mesmo inserido em tempos e espaccedilos de individualidade autentica-se moderniza-se (natildeo necessariamente em maacutequinas e venenos mas em estrateacutegias de continuar sendo um ser social dentro de um mundo tecnicista)
De acordo com Oliveira (2004) existem algumas concepccedilotildees teoacutericas sobre o campo e o camponecircs a partir de oacuteticas distintas Positivismo Fenomenologia (percepccedilatildeo do modo de ser do camponecircs) o campo enquanto resquiacutecio do Feudalismo e desse modo o sujeito histoacuterico como lsquosobrantersquo fadado ao desaparecimento na sociedade capitalista Em meio a tais concepccedilotildees emerge o pensarsaber contextualizado no pressuposto de produccedilatildeo desigual e combinada do territoacuterio brasileiro ldquo() ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento avanccedila reproduzindo relaccedilotildees especificamente capitalistas o capitalismo produz tambeacutem igual e contraditoriamente relaccedilotildees camponesas de produccedilatildeordquo (OLIVEIRA 2004 p 36)
Desse modo sob essa perspectiva afirma-se a centralidade da categoria Trabalho em sua relaccedilatildeo com a Geografia siacutentese contraditoacuteria e totalidade concreta do modo de produccedilatildeo capitalista Nesse sentido o territoacuterio natildeo eacute um lsquoa priorirsquo mas uma contiacutenua luta da sociedade pela socializaccedilatildeo da natureza uma unidade dialeacutetica ndash construccedilatildeo e destruiccedilatildeo valorizaccedilatildeo produccedilatildeo e reproduccedilatildeo
Informalidade dono campo sergipano
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De iniacutecio deve-se atentar e fazer a devida criacutetica para as leituras que consideram a informalidade sinocircnimo de autonomia e emancipaccedilatildeo do trabalhador podendo ateacute chegar ao status de capitalistas (TAVARES 2002) Tal visatildeo acriacutetica traz consigo a ilusatildeo de que o trabalhador adquire independecircncia simplesmente porque natildeo sai de casa e natildeo sofre uma vigilacircncia no trabalho Na verdade o suposto lsquotrabalho independentersquo eacute executado segundo uma obrigaccedilatildeo por resultados portanto sob rigoroso controle e sob maior exploraccedilatildeo Seja qual for a organizaccedilatildeo do trabalho nesta ordem permanece inalterada a lei do valor (MARX 1974 MEacuteSZAacuteROS 2011)
Nesse contexto a expansatildeo da informalidade eacute funcional ao sistema lsquoOs fios invisiacuteveisrsquo podem ser observados quando se ultrapassa o discurso falseado de autonomia Deve-se observar que o trabalho informal natildeo comporta apenas ocupaccedilotildees excluiacutedas do trabalho coletivo e menos ainda que se restringe agraves atividades de estrita sobrevivecircncia Toda relaccedilatildeo entre capital e trabalho na qual a compra da forccedila de trabalho eacute dissimulada por mecanismos que descaracterizam a condiccedilatildeo formal de assalariamento dando a impressatildeo de uma relaccedilatildeo de compra e venda de mercadorias configura-se um trabalho informal (OLIVEIRA TARGINO 2011)
Fica claro portanto que a informalidade deve ser considerada enquanto adaptaccedilatildeo do trabalho agraves novas formas de obtenccedilatildeo de mais-valia articulada agrave produccedilatildeo capitalista Desse modo a tendecircncia eacute que cada vez mais o trabalho formal estaacutevel decirc lugar ao trabalho precarizado parcial temporaacuterio informal fundamental para o sociometabolismo do capital pois os custos de produccedilatildeo satildeo transferidos para o sujeito vendedor de sua forccedila de trabalho
Aleacutem disso as formas precarizadas de trabalho informal se fazem enquanto processo universal perceptiacutevel tanto nos paiacuteses pobres quanto nos paiacuteses ricos Nas grandes
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metroacutepoles nas pequenas cidades e tambeacutem no campo Nessa discussatildeo tornam-se comuns os deslocamentos pendulares para aacutereas urbanas reconfigurando a relaccedilatildeo campo-cidade concomitante ao gradual desaparecimento de praacuteticas de manejo do solo saberes sobre a lavoura e modos de ser e (re) produzir o campo e o camponecircs As perspectivas satildeo obscuras fim do campo enquanto loacutecus de resistecircncia e de haacutebitos que vatildeo na contramatildeo das relaccedilotildees capitalistas de produccedilatildeo que buscam o lucro acima de tudo
O que aparece como expressatildeo dessa questatildeo eacute que haacute um caraacuteter dual na informalidade ora ela se constitui funcional ao capital ora ela eacute instrumento de resistecircncia camponesa Ao argumentar sobre a funcionalidade da informalidade do trabalho na produccedilatildeo capitalista Tavares (2004) aponta que natildeo haacute a anulaccedilatildeo da extraccedilatildeo de mais-valia mas a preservaccedilatildeo e a intensificaccedilatildeo de sua exploraccedilatildeo cancela-se a proteccedilatildeo ao labor e reduzem-se os custos de produccedilatildeo Ao mesmo tempo a informalidade emerge enquanto instrumento de resistecircncia campesina pois a mobilidade territorial do trabalho revela que o camponecircs manteacutem a sua condiccedilatildeo de ser social persistem no locus de realizaccedilatildeo e na maioria das vezes continuam em atividades intriacutensecas com o trato da terra plantam colhem e cultivam Nas palavras de Paulino Almeida (2010) ldquo() os camponeses interferem resistem criam estrateacutegias para escapar das necessidades do capital que tem na sujeiccedilatildeo da renda da terra um filatildeo de produccedilatildeo de capitalrdquo (PAULINO ALMEIDA 2010 p 54)
Portanto emerge a possibilidade de desvelar o papel desse sujeito na produccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio que atraveacutes de seu trabalho ato teleoloacutegico apropria-se do espaccedilo e resiste contra as forccedilas contraditoacuterias do modo de produccedilatildeo capitalista no jogo de relaccedilotildees de poder caracteriacutestico de um territoacuterio
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Neste momento as perguntas se enumeram e as respostas necessitam ser buscadas para que se construa uma leitura criacutetica interdisciplinar que possa oferecer argumentos soacutelidos confrontadores da expropriaccedilatildeo do trabalho pelo capital Uma relaccedilatildeo doentia que pode ser comparada com a pintura de Francisco de Goya11 em que Saturno devora o seu proacuteprio filho em uma macabra cena de negaccedilatildeo de tudo o que se considera humano O capital da mesma forma consome a forccedila humana para a sua sobrevivecircncia e persistecircncia na acumulaccedilatildeo de valor e na produccedilatildeo de desigualdades precarizando trabalho informalizando camponeses adoecendo-os matando-os Resta-se portanto que a teoria os relatos as leituras e as anaacutelises sobre o espaccedilo para a luta (em seus vaacuterios sentidos) sejam concretizados e embasados criticamente
Para a compreensatildeo desse objeto delimita-se como recorte espacial os municiacutepios de Lagarto e Itabaiana no estado de Sergipe que aparecem como os dois municiacutepios onde o fenocircmeno da informalidade no campo eacute maior (OIT 2012) O recorte temporal eacute delineado pela reestruturaccedilatildeo produtiva do capital no poacutes-1970 a partir das determinaccedilotildees impostas aos paiacuteses durante o Consenso de Washington No Brasil12 os efeitos mais imediatos datam dos anos de 1990 atraveacutes da poliacutetica neoliberal de Fernando Collor perpetuada pelos seus sucessores barrando as benesses sociais asseguradas
11 FRANCISCO GOYA Saturno Devorando um Filho 1819-1823 Oacuteleo s reboco 146 cm x 83 cm Col Museu do Prado Madrid Espanha 12 No Brasil a flexibilizaccedilatildeo nas relaccedilotildees trabalhistas foi anterior agrave reestruturaccedilatildeo produtiva natildeo se configurando em uma decorrecircncia imediata Poreacutem eacute inegaacutevel que houve a intensificaccedilatildeo da precarizaccedilatildeo que passa a ter um caraacuteter de legalidade O proacuteprio governo sugere que o trabalhador se autosustente incentivando e disseminando o empreendedorismo enquanto emancipaccedilatildeo do ser humano (MALAGUTTI 2000 TAVARES 2004)
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pela Constituiccedilatildeo de 1988 que representava os anseios da populaccedilatildeo incluindo os povos nativos quilombolas e camponeses (THOMAZ JUNIOR 2005) No contexto apontado o campo brasileiro se insere na loacutegica de reestruturaccedilatildeo produtiva na medida em que se observa o avanccedilo do discurso de modernizaccedilatildeo atrelado ao agronegoacutecio desse modo a expropriaccedilatildeo da terra e do trabalho expressa o caraacuteter moacutevel dos camponeses desapropriados de sua fonte de sobrevivecircncia sujeitam-se agrave informalidade
No campo sergipano a reestruturaccedilatildeo significou a ampliaccedilatildeo de vastas aacutereas para a pecuaacuteria e lavouras permanentes com destaque para o latifuacutendio do milho Entre as lavouras temporaacuterias (minifuacutendios de mandioca feijatildeo e milho) mesmo atreladas agrave subsistecircncia e resistecircncia de comunidades camponesas natildeo se encontram isentas do modelo neoliberal e das diretrizes do Consenso ou seja agrotoacutexicos creacutedito rural empreendedorismo e maquinaacuterio (MELO SOUZA 2009)
A informalidade no campo aparece como expressatildeo da acumulaccedilatildeo flexiacutevel Eacute um tipo de atividade relativamente antigo estando presente desde os primoacuterdios da I Revoluccedilatildeo Industrial como uma das formas de sujeiccedilatildeo da populaccedilatildeo excedente natildeo absorvida pelas faacutebricas e complexos industriais (TAVARES 2004) Contudo com o (novo) precaacuterio mundo do trabalho os trabalhadores que fazem bico os terceirizados subcontratados e domiciliares se tornam sujeitos simboacutelicos de um mundo regido sob os ditames do capital em sua fase de barbaacuterie social (ALVES 2007 ANTUNES 1995)
O conceito de informalidade se configura necessaacuterio para uma leitura geograacutefica que considera as relaccedilotildees sociais em sua totalidade Nesse sentido os estudos que enfocam a informalidade no espaccedilo agraacuterio e os seus diversos sujeitos lsquoandarilhosrsquo e lsquosupeacuterfluosrsquo inclui os trabalhos elaborados por pesquisadores de alguns grupos espalhados pelo paiacutes a
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exemplo do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeTUNESP) economistas geoacutegrafos e socioacutelogos Em relaccedilatildeo ao estado de Sergipe no acircmbito do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da Universidade Federal de Sergipe (PPGEOUFS) os estudos sobre a informalidade do trabalho ressaltam variadas abordagens a citar a mobilidade do trabalho associada agrave descentralizaccedilatildeo da induacutestria de calccedilados (SANTOS 2015) a resistecircncia camponesa diante da monopolizaccedilatildeo do territoacuterio (NETO 2014) a degradaccedilatildeo humana no trabalho canavieiro (SHIMADA 2014) as poliacuteticas puacuteblicas enquanto instrumentos de expropriaccedilatildeo do trabalho camponecircs (RODRIGUES 2012) e o trabalho na mediaccedilatildeo campo-cidade (LIMA 2012) Em sua dissertaccedilatildeo de mestrado Oliveira (2007) investiga a introduccedilatildeo do discurso de lsquomodernizaccedilatildeorsquo no espaccedilo agraacuterio de Lagarto Sergipe mais especificamente tecnologias atreladas ao agronegoacutecio da laranja do fumo e teacutecnicas de irrigaccedilatildeo que concorrem para a emergecircncia da informalidade Silva (2016) por sua vez discursa sobre a precariedade do trabalho a partir dos Arranjos Produtivos Locais nas ceracircmicas vermelhas e olarias sergipanas
No artigo ldquoPor uma Geografia do Trabalhordquo Thomaz Junior (2004) expotildee que o final do seacuteculo XX e iniacutecio do XXI tem significado uma cada vez maior mobilidade territorial do trabalho para os que habitam o campo vagueando de lugar a lugar ldquo() em busca de novas colocaccedilotildees sendo que para garantir seu sustento se enquadram em diferentes atividades urbanas que exprimem formas assalariadas semi-assalariadas autocircnomas mas todas reunidas no quadro de precarizaccedilatildeo do trabalhordquo (THOMAZ JUNIOR 2004 p 15)
O Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Pesquisas Socioeconocircmicas (DIEESE 2013) revelou que 907 dos camponeses do estado de Sergipe vivem sob condiccedilotildees de informalidade em suas formas de se manterem
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Portanto uma realidade agraacuteria marcada por um trabalho cada vez mais reduzido intensificado e explorado sendo a informalidade um caminho utilizado pelo capital para ampliar a acumulaccedilatildeo em escala global atraveacutes da extraccedilatildeo de mais valiamais valor (MENEZES 2007)
Os dados organizados pela Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) tendo como base o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e o Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) contribuiacuteram para a delimitaccedilatildeo do recorte espacial a ser analisado fornecendo nuacutemeros para cada municiacutepio sergipano cujos temas incluem taxa de participaccedilatildeo da populaccedilatildeo na forccedila de trabalho desemprego informalidade13 e deslocamento de casa para o trabalho
A definiccedilatildeo de informalidade atribuiacuteda pela base de dados pesquisada estaacute vinculada aos trabalhadores que natildeo possuem carteira assinada e natildeo satildeo assalariados14 aleacutem disso a classificaccedilatildeo em setores da economia (agropecuaacuteria induacutestria e serviccedilos) natildeo considera a mobilidade heterogeneidade e o caraacuteter hiacutebrido dessa classe-que-vive-do-trabalho Ou seja natildeo eacute levada em consideraccedilatildeo a complexidade das relaccedilotildees contemporacircneas de trabalho o ser social do campo que eacute terceirizado em uma induacutestria lsquoformalizadarsquo os que trabalham nas feiras municipais como vendedores ambulantes e que plantam e cultivam roccedilas aqueles que prestam serviccedilos
13 A definiccedilatildeo de informalidade atribuiacuteda pela base de dados estaacute vinculada aos trabalhadores que natildeo possuem carteira assinada e natildeo satildeo assalariados aleacutem disso a classificaccedilatildeo em setores da economia (agropecuaacuteria induacutestria e serviccedilos) natildeo considera a mobilidade e heterogeneidade e o caraacuteter hiacutebrido dessa classe-que-vive-do-trabalho 14 De acordo com Malagutti (2000) eacute preciso fazer a devida criacutetica ao conceito de lsquosetor informalrsquo pois na atual configuraccedilatildeo das forccedilas produtivas o formal e o informal se tornam um hiacutebrido em que um se encontra associado ao outro
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variados na proacutepria residecircncia localizada em uma aacuterea caracterizada por atividades agropecuaacuterias Contudo como relata Thomaz Juacutenior (2004) os dados sobre informalidade no campo ainda satildeo rarefeitos de modo que se faz necessaacuterio recorrer aos nuacutemeros da OIT IBGE e MTE mesmo com as limitaccedilotildees da perspectiva de lsquosetorrsquo
Na tabela organizada abaixo (QUADRO 1) encontram-se sistematizados os dados municipais sobre trabalhadores informais no setor agropecuaacuterio sergipano destacando os cinco primeiros colocados
QUADRO 1 ndash Municiacutepios sergipanos com maior nuacutemero de trabalhadores informais no setor agropecuaacuterio 2010
Municiacutepio Nuacutemero de trabalhadores informais
Lagarto 13219
Itabaiana 8394
Nossa Senhora da Gloacuteria
5435
Tobias Barreto 4980
Riachatildeo do Dantas
3818
Fonte OIT IBGE MTE 2010
A anaacutelise dos dados revela que os municiacutepios com mais informais vinculados agrave agropecuaacuteria estatildeo ambos localizados na porccedilatildeo agreste do estado de Sergipe De um lado Lagarto que perpassa ao longo da uacuteltima deacutecada a crise da laranja e do fumo expulsando levas de forccedila de trabalho camponesa De outro Itabaiana municiacutepio com forte tendecircncia agrocomercial ligada ao mercado hortifrutigranjeiro cuja estrutura fundiaacuteria eacute caracterizada pela presenccedila de minifuacutendios A princiacutepio dois recortes aparentemente distintos mas cuja leitura geograacutefica pode oferecer contribuiccedilotildees sobre a informalidade do trabalho no campo
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Aleacutem disso tanto Lagarto quanto Itabaiana apresentam uma intensa mobilidade do trabalho com 29210 e 26986 trabalhadores respectivamente que se deslocam de casa para o local de trabalho A reestruturaccedilatildeo produtiva do capital fortalece o discurso do agronegoacutecio com o uso intensivo de venenos herbicidas e de maacutequinas no trato com a terra e cultivos Desse modo ao ver a renda da terra ser furtada de sua posse o camponecircs busca formas de resistecircncia para se manter enquanto tal direciona-se para centros urbanos a fim de exercerem ofiacutecios diversos ou em alguns casos debruccedilam-se em atividades comerciais no proacuteprio espaccedilo agraacuterio
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS caminhos a se trilharem
Diante da possibilidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios entre camponeses nos municiacutepios recortados a Pesquisa se encaminha para descortinar lsquoliamesrsquo que o Capital cria em seu curso que se configuram enquanto lsquoamarrasrsquo para o Campesinato
Em relaccedilatildeo agrave informalidade dono trabalho haacute que se desmistificarem os discursos e ideologias geograacuteficos encobridores da intensa mobilidade territorial do trabalho (natildeo soacute urbana mas tambeacutem agraacuteria) da precarizaccedilatildeo e precariedade das formas lsquoatiacutepicasrsquo do labor contemporacircneo - poacutes-modelo toyotista de uma reestruturaccedilatildeo produtiva - pautada na exploraccedilatildeo cada vez mais intensa do trabalho humano mediada pelo Estado como forma de mitigar os efeitos de uma crise estrutural do Capital
Os camponeses se tornam sujeitos sujeitados agraves distintas formas de trabalhos informais bicos domeacutesticos donos de quitandas e mercearias ambulantes etc Jovens adultos idosos e crianccedilas andarilhos e lsquosupeacuterfluosrsquo retornando ao loacutecus de resistecircncia (re-existecircncia) que persiste enquanto
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modo de ser e viver contraditoriamente contraacuterio ao Capital enquanto relaccedilatildeo social
De acordo com Oliveira (2004) natildeo satildeo os nuacutemeros que determinam a realidade mas a realidade que determina os nuacutemeros Portanto em um Brasil com mais de 229 milhotildees de trabalhadores por conta proacutepria 107 milhotildees sem carteira assinada no setor privado 648 milhotildees fora da forccedila de trabalho 62 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos e 22 milhotildees de trabalhadores familiares emergem perguntas que o geoacutegrafo necessita objetivar caminhos para dialogar que sujeitos satildeo esses Quais os caminhos e formas de se manterem no espaccedilo agraacuterio Como produzem o espaccedilo sob o vieacutes contraditoacuterio de relaccedilotildees de poder conflitantes
Para finalizar (o escrito natildeo as perspectivas de pesquisa) ressalta-se que o Capital contraditoriamente cria condiccedilotildees para que os camponeses se desenvolvam enquanto classe social a partir do momento em que redefinem as relaccedilotildees de produccedilatildeo Desse modo o discurso de lsquoautonomiarsquo incrustrado na informalidade eacute re-significado enquanto os dominantes se valem em prol da expropriaccedilatildeo da forccedila de trabalho da intensa mobilidade territorial do trabalho os dominados transformam-no em instrumento de manutenccedilatildeo de sua condiccedilatildeo social um negar-se para persistir-se
REFEREcircNCIAS ALVES Giovanni Dimensotildees da Reestruturaccedilatildeo Produtiva Ensaios de Sociologia do Trabalho 2 ed Londrina Praacutexis 2007 288p ANTUNES Ricardo Adeus Ao Trabalho Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho Satildeo Paulo Editora Cortez 1995
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MELO Ricardo Oliveira Lacerda SOUZA Aldemir do Vale Anaacutelise retrospectiva da economia de Sergipe (1970-2002) In MELO Ricardo Oliveira Lacerda HANSEN Dean Lee (Orgs) Ensaios Econocircmicos Conceitos e Impasses do Desenvolvimento Regional Satildeo Cristoacutevatildeo Editora da UFS 2009 MENEZES Soacutecrates Oliveira De supeacuterfluos a sujeitos histoacutericos na contramatildeo do capital a Geografia do (des) trabalho Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo Sergipe 2007 MEacuteSZAROacuteS Istvaacuten Para Aleacutem do Capital Satildeo Paulo Boitempo 2011 NETO Raul Marques Da luta na lona preta agrave luta na casa de telha monopolizaccedilatildeo do territoacuterio pelo capital agroenergeacutetico em Capela - SE subordinaccedilatildeo e resistecircncia da classe camponesa Dissertaccedilatildeo de Mestrado Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo 2014 OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino A geografia agraacuteria e as transformaccedilotildees territoriais recentes no campo brasileiro In CARLOS A F (org) Novos caminhos da geografia Satildeo Paulo Contexto 2002 p 63-110 _________ O campo no seacuteculo XXI territoacuterio de vida de luta e de construccedilatildeo da justiccedila social Satildeo Paulo Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra 2004 372p OLIVEIRA Roberto Veacuteras de GOMES Darcilene TARGINO Ivan (orgs) Marchas e contramarchas da
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CONCENTRACcedilAtildeO FUNDIAacuteRIA E MONOCULTURA
DO MILHO EM CARIRA ndash SE
Tays Almeida dos Santossup1 (Universidade Federal de Sergipe)
(Aluna graduanda em Geografia de Itabaiana e bolsista do PET Geografia - Itabaiana)
E mail taysalmeida02gmailcom
Islane Silva Batistasup2 (Universidade Federal de Sergipe)
(Aluna graduanda em Geografia de Itabaiana e bolsista do PET Geografia ndash Itabaiana)
E mail Islane9815gmailcom
Thainar Almeida dos Santossup3 (Graduada em Geografia ndash UFS Itabaiana)
E mail Thainaralmeida28gmailcom
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de CariraSE entre os anos de 1985 199596 e 2006 atraveacutes da elaboraccedilatildeo da Curva de Lorenz e no caacutelculo do iacutendice de Gini com base em DINIZ (1982) e a consequente monoculturalizaccedilatildeo do milho atraveacutes do agronegoacutecio provocando uma nova dinacircmica produtiva no municiacutepio transformando-lhe atualmente em um dos maiores produtores de milho do estado de Sergipe Como procedimentos metodoloacutegicos foram feitos levantamentos bibliograacuteficos coletas de dados nos censos agropecuaacuterios e estudos exploratoacuterios sobre a temaacutetica a partir de fundamentaccedilatildeo teoacuterica Dessa forma considera-se que a
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expansatildeo do milho no municiacutepio estaacute associada ao pacote tecnoloacutegico inserido na loacutegica produtiva do modelo de desenvolvimento agriacutecola que permite o crescimento e a expansatildeo da produccedilatildeo Essa alta produtividade apesar de transformar Carira num grande produtor de milho em Sergipe traz consigo consequecircncias socioambientais negativas como o uso desenfreado e indiscriminado dos venenos agriacutecolas a compactaccedilatildeo do solo pelo uso intensivo do maquinaacuterio aleacutem da alta concentraccedilatildeo de terras nas matildeos de minorias Palavras-chave Concentraccedilatildeo de terras Agronegoacutecio Monocultura INTRODUCcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo da propriedade e a posse das terras no
Brasil sempre foram marcadas pela alta concentraccedilatildeo fundiaacuteria As suas raiacutezes provecircm de um processo histoacuterico antigo desde a doaccedilatildeo de terras pela Coroa Portuguesa ao donataacuterio (Capitanias Hereditaacuterias) passando pela Lei de Terras de 1850 (a terra passa a ser adquirida atraveacutes da compra) e que perpetua ateacute os dias atuais como afirma Oliveira (2003 p 15)
O Brasil caracteriza-se por ser um paiacutes que apresenta elevadiacutessimos iacutendices de concentraccedilatildeo de terra No Brasil estatildeo os maiores latifuacutendios que a histoacuteria da humanidade jaacute registrou A soma das 27 maiores propriedades existentes no paiacutes atinge uma superfiacutecie igual a aquela ocupada pelo Estado de Satildeo Paulo e a soma das 300 maiores atinge uma aacuterea igual agrave de Satildeo Paulo e do Paranaacute
Portanto procurar entender e falar de concentraccedilatildeo de terras hoje no Brasil eacute retornar ao tempo de ocupaccedilatildeo do territoacuterio pelos colonizadores que impuseram um modelo de
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produccedilatildeo agroexportador com o intuito de produzir e comercializar produtos agriacutecolas para Europa esse modelo denominado de Plantation caracterizava-se pela forma de organizar a produccedilatildeo agriacutecola em grandes latifuacutendios com a praacutetica da monocultura e o emprego da forccedila de trabalho escrava O agronegoacutecio possui suas bases nesse modelo visto que estaacute ancorado na grande concentraccedilatildeo de terras e na predominacircncia da monocultura poreacutem no cenaacuterio atual encontra-se integrado agraves novas tecnologias e estas satildeo caracterizadas pela
[] crescente mecanizaccedilatildeo e tecnificaccedilatildeo dos processos produtivos no campo pelo aumento da integraccedilatildeo entre os capitais agropecuaacuterios-industriais-financeiros bem como pela ampliaccedilatildeo das cadeias produtivas agroalimentares e de insumos sob controle de conglomerados econocircmicos via de regra multinacionais que dominam parcelas cada vez mais significativas dos mercados em que atuam (CAMPOS 2011 p 101)
Esse novo modelo de desenvolvimento agriacutecola difunde-se no poacutes II Segunda Guerra Mundial com a chamada Revoluccedilatildeo Verde que representa uma grande mudanccedila na base teacutecnica dos processos agropecuaacuterios causando diversas transformaccedilotildees na dinacircmica agriacutecola do paiacutes adequando a produccedilatildeo agrave loacutegica produtiva do novo modelo de desenvolvimento ldquoO modelo implantado de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil foi um dos principais fatores da reproduccedilatildeo da desigualdade econocircmica e social no campo A espetacularizaccedilatildeo se pautava no signo da sociedade industrial como condiccedilatildeo uacutenica necessaacuteria para o progresso e desenvolvimentordquo (CONCEICcedilAtildeO 2013 p 92)
Essa modernizaccedilatildeo agriacutecola natildeo chegou de forma uniforme no paiacutes tendo como exemplo o Sudeste e o Sul que em comparaccedilatildeo com as outras regiotildees brasileiras jaacute apresentava
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um processo acelerado enquanto que o restante ainda estava em uma fase recente Os efeitos dessa nova dinacircmica chegaram a regiatildeo Nordeste do Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e em Sergipe passou a ser introduzida por volta dos anos 1960 objetivando inserir natildeo soacute Sergipe mais todos os outros estados do Nordeste na loacutegica produtiva do capitalismo mundializado
Em relaccedilatildeo agrave concentraccedilatildeo de terras em Sergipe apesar de ser o menor estado do paiacutes estaacute em 13ordm lugar com a maior concentraccedilatildeo de terras segundo dados do IBGE (2006) contribuindo deste modo para intensificaccedilatildeo das desigualdades sociais no campo e o acirramento dos movimentos sociais pocircr a luta pela terra como declara Filho (2008 p 52)
Esse cenaacuterio de grave desigualdade na estrutura fundiaacuteria a improdutividade da maioria das grandes propriedades associado aos projetos puacuteblicos e privados de modernizaccedilatildeo da agricultura apresentam-se como as causas da expulsatildeo da expropriaccedilatildeo e da exclusatildeo nodo campo Na contramatildeo deste processo o campesinato tem se organizado e resistido mediante diferentes formas de luta Desde meados da deacutecada de 1970 a ocupaccedilatildeo de terras tem sido a principal forma de criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo do campesinato em Sergipe
Assim nota-se que aleacutem de grande parte da estrutura fundiaacuteria estaacute sob o domiacutenio de poucos a dita modernizaccedilatildeo teacutecnica no campo eacute um processo que atende os interesses dessas minorias selecionando e beneficiando determinado produto e produtores de acordo com os padrotildees capitalistas de produccedilatildeo Portanto nota-se que o espaccedilo agraacuterio brasileiro se organiza de forma complexa e predominantemente desigual ampliando as disparidades soacutecias existentes como observa Campos (2001 p 109)
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[] o agronegoacutecio deve ser compreendido como uma complexa articulaccedilatildeo de capitais direta e indiretamente vinculados com os processos produtivos agropecuaacuterios que se consolida no contexto neoliberal sob a hegemonia de grupos multinacionais e que em alianccedila com o latifuacutendio e o Estado tem transformado o interior do Brasil em um locus privilegiado de acumulaccedilatildeo de capitalista produzindo simultaneamente riqueza para poucos e pobreza para muitos e por conseguinte intensificando as muacuteltiplas desigualdades socioespaciais
Dessa maneira o objetivo central desse artigo eacute analisar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio de CariraSE entre os anos de 1985 199596 e 2006 por meio das teacutecnicas da Curva de Lorenz e do Iacutendice de Gini e a recente expansatildeo da monoculturalizaccedilatildeo do milho no municiacutepio possibilitando reflexotildees acerca das mudanccedilas que perpassam natildeo soacute o espaccedilo agraacuterio de Carira mais de todo o Brasil Porquanto como procedimentos metodoloacutegicos foram utilizadas as teacutecnicas jaacute citadas levantamentos bibliograacuteficos coletas de dados e estudos exploratoacuterios sobre a temaacutetica para construccedilatildeo do presente artigo CONCENTRACcedilAtildeO DE TERRAS E MONOCULTURA
Para compreender a expansatildeo da produccedilatildeo e gratildeos em especial do milho eacute necessaacuterio entender o processo de produccedilatildeo do espaccedilo e o avanccedilo do capital no campo atrelados a alta concentraccedilatildeo de terras em todo o paiacutes em Sergipe natildeo eacute diferente e que ao aumentar a produccedilatildeo do agronegoacutecio tambeacutem aumenta a concentraccedilatildeo de terras e as desigualdades tanto no campo como na cidade
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A expansatildeo da produccedilatildeo de milho em Sergipe obteve forccedila e importacircncia nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XXI para se ter uma ideia de acordo com anaacutelises dos dados disponibilizados pelo IBGE (2010) a produccedilatildeo de milho no estado em 2010 alcanccedilou 1 milhatildeo de toneladas enquanto que no ano 2000 natildeo atingia nem 100 mil toneladas
Dentre os motivo que contribuiacuteram para essa expansatildeo foi a participaccedilatildeo do Estado na organizaccedilatildeo e espacializaccedilatildeo do capital financeiro natildeo soacute em Sergipe mais em todo o campo brasileiro incorporando mudanccedilas nas relaccedilotildees sociais na estrutura produtiva e espacial agraacuteria como afirma Conceiccedilatildeo (2011 p3) ldquo[] com o avanccedilo da financeirizaccedilatildeo da economia via o compromisso da diacutevida externa o Estado assumiu o papel de gestor e promotor de poliacuteticas agriacutecolas inscrevendo novas formas de expansatildeo capitalistardquo Reforccedilando e intensificando ainda mais as desigualdades sociais e econocircmicas no campo O Municiacutepio de Carira encontra-se localizado no sertatildeo sergipano na regiatildeo oeste limitando-se ao norte com o municiacutepio de Nossa Senhora da Gloria ao sul com Frei Paulo e Pinhatildeo a leste com Nossa Senhora Aparecida e ao oeste com o estado da Bahia O clima eacute o tropical semiaacuterido com regime de chuvas irregulares tendo como vegetaccedilatildeo tiacutepica a caatinga A populaccedilatildeo do municiacutepio segundo dados do IBGE em 2016 era de aproximadamente 21 665 habitantes em uma aacuterea de 634 6 kmsup2 No iniacutecio do seacuteculo XX a principal cultura produzida nas terras de Carira era o algodatildeo chegando a ter 6 faacutebricas de descaroccedilar o produto o periacuteodo foi ateacute chamado de eacutepoca do ouro branco no entanto com o tempo a atividade econocircmica foi sofrendo queda por alguns fatores como a praga do bicudo e a crise do mercado externo proporcionando destaque para a pecuaacuteria extensiva entre as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Aleacutem da pecuaacuteria outras atividades tambeacutem eram praticadas
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principalmente pelos camponeses como destaca Cunha (2015 p 29)
O milho era cultivado consociado ao feijatildeo agrave mandioca e ao amendoim garantindo as bases alimentares de subsistecircncia familiar e a oferta de alimentos nos mercados locais Apoacutes os anos 1980 comeccedilou a ganhar destaque entre esses cultivos pois era um cereal que abastecia as necessidades da famiacutelia presente nos principais pratos da culinaacuteria Importante tambeacutem na alimentaccedilatildeo do gado de corte e leiteiro sendo aproveitada tanto a palha quanto o gratildeo para a raccedilatildeo animal
Dessa forma com a inserccedilatildeo do agronegoacutecio no campo carirense natildeo soacute alterou a dinacircmica da produccedilatildeo mas a paisagem rural vem tornando-se homogenia com o milho O gratildeo ganhou destaque pois serve natildeo soacute para o consumo humano como tambeacutem para o mercado da avicultura dos bovinos e suiacutenos sendo utilizado como o proacuteprio cereal ou como componente de raccedilotildees e devido garantir sua conservaccedilatildeo eacute estocado por meio de silos e rolatildeo nos periacuteodos de estiagem quando haacute necessidade do gratildeo
Fator fundamental para a consolidaccedilatildeo da monocultura do milho em Carira eacute o incentivo do Estado agente provedor da expansatildeo capitalista no campo e da dita modernizaccedilatildeo teacutecnica que atraveacutes de diferentes programas de creacutedito para o campo visa o desenvolvimento e consolidaccedilatildeo do agronegoacutecio
Considera-se ainda que a expansatildeo do milho em Carira estaacute associada ao pacote tecnoloacutegico inserido na loacutegica produtiva do modelo de desenvolvimento agriacutecola agrotoacutexicos e sementes transgecircnicos aleacutem das maacutequinas agriacutecolas que permite o crescimento e a expansatildeo da produccedilatildeo Essa alta produtividade apesar de transformar Carira em um dos
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maiores produtores de milho do estado traz consigo consequecircncias socioambientais negativas como o uso desenfreado e indiscriminado dos venenos a compactaccedilatildeo do solo pelo uso intensivo do maquinaacuterio aleacutem de promover ou ampliar a concentraccedilatildeo de terras no municiacutepio
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Para compreender a permanecircncia e ampliaccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de terras em Carira se utilizou da Curva de Lorenz com base em DINIZ (1982) Foram elaboradas curvas para os anos de coletas de dados dos censos agropecuaacuterios para os anos de 1985 1995-1996 e o de 2006 como se observa na figura anterior
Ao analisar a curva de Lorenz figura 1 eacute preciso levar em consideraccedilatildeo que quanto mais proacutexima do centro a curva ficar menor seraacute a concentraccedilatildeo e quanto mais proacutexima das extremidades (100 tanto na horizontal como vertical) maior eacute a concentraccedilatildeo
No primeiro graacutefico que se refere ao ano de 1985 a curva estaacute proacutexima da extremidade o que caracteriza uma consideraacutevel concentraccedilatildeo de terras ou seja existia um elevado nuacutemeros de propriedades que com tamanhos reduzido e um pequeno nuacutemero de propriedades que concentra grande parta das terras de Carira jaacute no periacuteodo 1995-1996 se observa um pequeno afastamento da curva indo em direccedilatildeo ao centro ou seja correu uma menor concentraccedilatildeo de terras atraveacutes da fragmentaccedilatildeo os pequenos proprietaacuterios por vez sem condiccedilotildees de adquirir propriedades divide com os filhos que se casam e recebem parcela da propriedade como heranccedila por vez no graacutefico fica niacutetido que em 2006 a curvatura se alonga em direccedilatildeo a extremidade o que caracteriza como aumento da concentraccedilatildeo de terra fator que corroborado a partir da inserccedilatildeo do milho como fonte monocultura do agronegoacutecio Os grandes proprietaacuterios passam a investir cada vez mais natildeo somente no pacote tecnoloacutegico milho transgecircnico mais tambeacutem na aquisiccedilatildeo de terras
Para evidenciar tais consideraccedilotildees foram calculados os iacutendices de Gini dos anos analisados com base em Diniz (1982) o Iacutendice de Gini apresenta uma variaccedilatildeo de 0 a 1 sendo que 0 representa a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria ou seja todos
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tecircm o mesmo tamanho de propriedade por vez o valor 1 apresenta a concentraccedilatildeo maacutexima eacute quando um uacutenico proprietaacuterio tem todas as terras e o restante natildeo possui nenhuma
Tabela 01 Iacutendice de GINI para o municiacutepio de Carira - Sergipe 2018
Iacutendice de Gini 1985 95-96 2006
Carira 083 081 085
Fonte Censos agropecuaacuterios para os anos de 85 95-96 e 2006
Na tabela fica evidente o aumento da concentraccedilatildeo de terras como demonstrado da Curva de Lorenz com alta concentraccedilatildeo da deacutecada de 80 uma pequena diminuiccedilatildeo na deacutecada seguinte e retorno do aumento da concentraccedilatildeo na deacutecada de 2000 deacutecada esta que se caracteriza com o aumento da produccedilatildeo de milho nas grandes propriedades e com objetivo de expansatildeo do agronegoacutecio na regiatildeo agora o milho deixa de ser plantado somente pelo camponecircs para o consumo venda do excedente e constituiccedilatildeo do composto alimentar do gado para ser prioritariamente produzido em grandes propriedades com destino a agroinduacutestria a exemplo da Marataacute no municiacutepio de Lagarto e venda tambeacutem para as principais granjas de Sergipe e dos estados vizinhos Para compreender a inter-relaccedilatildeo do aumento da concentraccedilatildeo de terras em Carira com a expansatildeo da produccedilatildeo de milho foi elaborada a prancha 01 que apresenta a produccedilatildeo de milho dos anos que compreende a anaacutelise da estrutura fundiaacuteria que coloca o municiacutepio de Carira entre os principais de Sergipe
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Na prancha 01 se observa que os municiacutepios de maior produccedilatildeo de milho de Sergipe se encontram no Oeste do estado em municiacutepios limiacutetrofes da Bahia que historicamente se caracterizam pela elevada quantidade do rebanho bovino com consideraacutevel concentraccedilatildeo de terras com clima de estaccedilotildees secas bem definidas no maacuteximo 4 meses de chuva
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que favorece o desenvolvimento de plantas de ciclo curto a exemplo do milho
No mapa eacute possiacutevel identificar que a produccedilatildeo de milho em Carira sofre um maior crescimento no interstiacutecio de 1995-1996 para 2006 obtendo o consideraacutevel crescimento jaacute no interstiacutecio de 1985 para 1995-1996 o crescimento eacute praticamente imperceptiacutevel Neste caso se observa que o crescimento da produccedilatildeo de milho em Carira tem certa ligaccedilatildeo com o aumento da concentraccedilatildeo de terras a partir da inserccedilatildeo do agronegoacutecio na regiatildeo com tendecircncia ao aumento exponencial da produccedilatildeo de milho nos uacuteltimos anos o que tambeacutem poderaacute contribuir com o aumento da concentraccedilatildeo de terras natildeo somente no municiacutepio como tambeacutem em toda a regiatildeo afetada pelo avanccedilo do agronegoacutecio do milho CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir da anaacutelise da Curva de Lorenz e do Iacutendice de
Gini constatou-se uma forte concentraccedilatildeo de terras no espaccedilo agraacuterio de Carira e a permanecircncia desse quadro devido a introduccedilatildeo do agronegoacutecio no campo modelo de produccedilatildeo que necessita primordialmente de grandes extensotildees de terras para seu desenvolvimento econocircmico como tambeacutem o uso de insumos para obtenccedilatildeo da produccedilatildeo acelerada juntamente com a expansatildeo do monocultivo do milho nos uacuteltimos anos situaccedilatildeo esta que poderaacute se intensificar e dar continuidade a posse desigual da terra
Portanto compreende-se que o avanccedilo do agronegoacutecio em Carira mostra-se cada vez mais excludente e concentrador visto que a estrutura fundiaacuteria permanece intocaacutevel e os problemas sociais soacute aumentam pois a dita modernizaccedilatildeo teacutecnica estaacute totalmente voltada a atender a reproduccedilatildeo do capital que impotildee novas dinacircmicas produtivas contribuindo
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para a subordinaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo do camponecircs no campo e o consequente desequiliacutebrio da biodiversidade AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao PET - Programa de Educaccedilatildeo Tutorial PET de Geografia do Campus Professor Alberto Carvalho em Itabaiana pelo apoio que possibilitou a elaboraccedilatildeo deste artigo sem o Programa natildeo seria possiacutevel desenvolver tal trabalho REFEREcircNCIAS CAMPOS Christiane Senhorinha Soares A face feminina da pobreza em meio a riqueza do agronegoacutecio Buenos Aires ClacsoOutras Expressotildees 2011 cap IV A territorializaccedilatildeo do Agronegoacutecio no Brasil p 101-132 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz Estado Capital e a farsa da expansatildeo do Agronegoacutecio MERIDIANO - Revista de Geografia nuacutemero 2 2013 - versatildeo digital Disponiacutevel em httpwwwrevistameridianoorg Acesso em 10 de marccedilo de 2017 CONCEICcedilAtildeO Alexandrina Luz A expansatildeo do Agronegoacutecio no campo de Sergipe Revista Geonordeste n 2 2011 CUNHA Jacksilene Santana O Agronegoacutecio do Milho Transgecircnico no Oeste Sergipano 2015 175 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo- SE DINIZ Joseacute Alexandre Felizola Geografia da agricultura Satildeo Paulo Difel 1982
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FILHO Eraldo da Silva Ramos Questatildeo agraacuteria atual Sergipe como referecircncia para um estudo confrontativo das poliacuteticas de reforma agraacuteria e reforma agraacuteria de mercado (2003 ndash 2006) 2008 429 f Tese (Doutorado em Geografia) - Faculdade de Ciecircncias e Tecnologias Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente- SP OLIVEIRA Ariovaldo U de Barbaacuterie e Modernidade As transformaccedilotildees no campo e o agronegoacutecio no Brasil Terra Livre Satildeo Paulo v 2 n 21 p 113-156 jul dez 2003 OLIVEIRA Narciso Lima de Modernizaccedilatildeo da Agricultura e Alteraccedilotildees Socioambientais no Municiacutepio de CariraSE sob a Loacutegica de Reproduccedilatildeo Ampliada do Capital 2010 149 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe Satildeo Cristoacutevatildeo - SE
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TERRITOacuteRIOS QUILOMBOLAS EM SERGIPE LUTA POR TERRA E ORGANIZACcedilAtildeO POLIacuteTICA
Joseacute Augusto Menezes dos Santossup1
Universidade Federal de Sergipe Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATER) Mestrando em Geografia
(PPGEOUFS) Professor de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEEDSE) E mail augustoptsocorroseyahoocombr
Josefa Lisboa Santossup2
Universidade Federal de Sergipe Professora Doutora do Departamento de Geografia (DGEICampus Itabaiana) e do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia (PPGEOUFS liacuteder do Grupo de Pesquisa Relaccedilatildeo Sociedade Natureza e
Produccedilatildeo do Espaccedilo (PROGEO) e Laboratoacuterio de Estudos Territoriais (LATER)
E mail josefalisboauolcombr
RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo avaliar o
processo de espacializaccedilatildeo da luta dos remanescentes quilombolas em Sergipe e os desafios para reconhecimento dos territoacuterios Os remanescentes de quilombo constituem-se grupos eacutetnico-raciais definidos pelo requisito da declaraccedilatildeo dos proacuteprios sujeitos e estabelecem relaccedilotildees territoriais proacuteprias A CF de 1988 nas suas Disposiccedilotildees Transitoacuterias reconheceu o direito da propriedade definitiva das terras para os remanescentes dos quilombos que estivessem ocupando suas terras cabendo ao Estado a emissatildeo dos respectivos tiacutetulos Entretanto foi somente em 2003 que o Decreto 4887 regulamentou da identificaccedilatildeo agrave titulaccedilatildeo das terras No quadro atual das relaccedilotildees capitalistas as relaccedilotildees poliacuteticas pautadas pelos interesses dos grupos detentores de terras no Brasil
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ameaccedilam esse direito expondo um cenaacuterio de intensificaccedilatildeo da luta com repercussotildees no acirramento da violecircncia no campo No estado de Sergipe existem 30 processos por titulaccedilatildeo em andamento e 4 territoacuterios titulados das 170 comunidades tituladas no paiacutes Satildeo elas Lagoa dos Campinhos e Mocambo no municiacutepio de Porto da Folha Serra da Guia em Poccedilo Redondo e Pirangi em Capela Nessa pesquisa a partir do olhar para o movimento da histoacuteria e para as contradiccedilotildees dos processos de formaccedilatildeo territorial e luta por terras em Sergipe buscaremos explicar e elucidar os desafios enfrentados pelas comunidades Mussuca e Brejatildeo dos Negros respectivamente nos municiacutepios de Laranjeiras e Brejo Grande para o reconhecimento e formaccedilatildeo dos territoacuterios de quilombos agrave luz da legislaccedilatildeo vigente dos embates e relaccedilotildees de poder e da organizaccedilatildeo dos grupos interessados Palavras-chave Produccedilatildeo do espaccedilo Territoacuterio quilombola Luta pela terra INTRODUCcedilAtildeO
Na formaccedilatildeo dos territoacuterios temos trecircs dimensotildees Na primeira dimensatildeo o territoacuterio eacute apresentado como uma construccedilatildeo beacutelica ndash militar Na segunda dimensatildeo o territoacuterio eacute colocado como uma construccedilatildeo juriacutedica e por uacuteltimo a terceira dimensatildeo onde o territoacuterio eacute apresentado como uma construccedilatildeo ideoloacutegica Nesse sentido a formaccedilatildeo territorial envolve essas trecircs dimensotildees embora natildeo necessariamente nessa sequecircncia Haacute casos de territoacuterios nos quais existia primeiramente um pleito ideoloacutegico depois se fez a conquista militar em seguida inicia-se o processo de legalizaccedilatildeo juriacutedica Todavia percebe-se que haacute casos como o de Israel em que primeiramente se fez a legalizaccedilatildeo poliacutetica e depois a efetivaccedilatildeo da conquista militar Assim como haacute casos em que a dimensatildeo ideoloacutegica vem antes desse processo Existem casos em que o
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processo de ocupaccedilatildeo do territoacuterio acontece da seguinte forma inicialmente ocorre primeiro a conquista e em seguida se impotildee um processo ideoloacutegico de afirmaccedilatildeo da nova identidade territorial ou seja nesse caso a conquista eacute efetivada primeiro e posteriormente ocorre o processo ideoloacutegico A anaacutelise dessas trecircs dimensotildees da formaccedilatildeo territorial eacute de grande importacircncia para podermos entender o processo histoacuterico de constituiccedilatildeo e formaccedilatildeo do territoacuterio e seus diferentes aspectos
Para entender a formaccedilatildeo de uma sociedade numa perspectiva histoacuterica econocircmica cultural e poliacutetica eacute preciso partir do estudo da sua formaccedilatildeo territorial e sobretudo analisar criticamente o processo em que se deu a formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio No caso do Brasil partindo da leitura do periacuteodo da colonizaccedilatildeo que se inicia no seacuteculo XVI inicialmente com a extraccedilatildeo do pau-brasil e posteriormente ainda na primeira metade do seacuteculo XVI com a introduccedilatildeo e exploraccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar Para compreender a formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro temos a necessidade de buscar estudar e pesquisar o que estaacute se passando na Europa naquele contexto e por outro lado fazer uma comparaccedilatildeo com a forma como se deu a acumulaccedilatildeo primitiva do capital na Ameacuterica Latina
A ideia central que se tem eacute que essa histoacuteria territorial eacute reveladora de componentes centrais na formaccedilatildeo de paiacuteses de passado colonial no continente americano Ao fazer um estudo dos paiacuteses de formaccedilatildeo colonial percebe-se que essa dimensatildeo espacial obteacutem um peso maior e mais significativo por uma razatildeo simples a colonizaccedilatildeo eacute em si mesma uma relaccedilatildeo sociedade-espaccedilo Logo eacute colocado algumas questotildees que podem contribuir para o entendimento da obra do processo de colonizaccedilatildeo do Continente Americano e sobretudo no caso da Colonizaccedilatildeo do Brasil Portanto eacute
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importante indagar as seguintes questotildees agrave cerca da Colonizaccedilatildeo
Na verdade o que eacute colonizaccedilatildeo Colonizaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo entre uma sociedade que se expande e os lugares onde ocorre essa expansatildeo A colonizaccedilatildeo em si eacute conquista territorial Ningueacutem fala em colonizar seu proacuteprio espaccedilo Na verdade a colonizaccedilatildeo diz respeito a uma adiccedilatildeo de territoacuterio ao seu patrimocircnio territorial (Moraes 2001)
Na situaccedilatildeo colonial o que se observa eacute que naquele periacuteodo eacute perceptiacutevel a partir de uma anaacutelise mais minuciosa perceber que se apresenta uma relaccedilatildeo intriacutenseca entre a sociedade e o espaccedilo Nesse sentido fica evidente que o que interessa para o colonizador eacute a conquista do espaccedilo Todavia a colocircnia pode ser entendida como a verdadeira efetivaccedilatildeo da conquista do territoacuterio para atender os interesses poliacuteticos e econocircmicos da metroacutepole
De imediato isso traz uma indicaccedilatildeo metodoloacutegica do ponto de vista histoacuterico muito importante que eacute a inadequaccedilatildeo total para se tentar trabalhar a questatildeo colonial em termos de uma oposiccedilatildeo interno-externo A colocircnia eacute a internalizaccedilatildeo do agente externo Percebe-se que os interesses internos da colocircnia ldquoBrasilrdquo estatildeo atrelado aos interesses externos da metroacutepole Portugal Portanto a colocircnia eacute a consolidaccedilatildeo desse domiacutenio territorial a apropriaccedilatildeo das terras a submissatildeo das populaccedilotildees defrontadas e tambeacutem a exploraccedilatildeo dos recursos presentes no territoacuterio colonial A expressatildeo que sintetiza tudo isso eacute a noccedilatildeo de conquista que traz inclusive o traccedilo de violecircncia comum em todo processo colonial (MORAES 2001)
A colonizaccedilatildeo eacute o processo de criaccedilatildeo de uma estrutura nas terras que satildeo incorporadas ao patrimocircnio da sociedade na expansatildeo territorial de forma articulada com os interesses da metroacutepole que eacute o centro de difusatildeo da poliacutetica de expansatildeo colonial De onde parte toda a loacutegica de organizaccedilatildeo desse
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novo empreendimento da poliacutetica de expansatildeo que eacute o empreendimento da colocircnia como extensatildeo da poliacutetica da metroacutepole colonial ou seja a existecircncia da colocircnia deve estar atrelada aos interesses poliacutetico e econocircmico da metroacutepole Nesse sentido o empreendimento colonial deve servir aos interesses poliacuteticos sociais e econocircmicos da Metroacutepole
Segundo Moraes (2005) a colocircnia corresponde a existecircncia de uma metroacutepole que atua como nuacutecleo irradiador do dinamismo que impulsiona a proacutepria consolidaccedilatildeo da colocircnia e o avanccedilo do movimento colonizador Portanto as novas estruturas criadas no solo colonial devem responder funcionalmente aos interesses da metroacutepole aos quais estatildeo subordinadas A colocircnia deve ser um anexo territorial do territoacuterio metropolitano uma adiccedilatildeo de espaccedilo agrave economia do paiacutes colonizador
Na anaacutelise realizada por Ruy Moreira na sua obra lsquoFormaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro publicada em 1990 a acumulaccedilatildeo primitiva do capital se realiza na passagem do seacuteculo XIX para o XX onde a cartografia jaacute difere do que era o espaccedilo brasileiro de apenas um seacuteculo atraacutes O mapa desse momento de crise do antigo regime e emergecircncia do novo mostra um arranjo espacial de manchas agraacuterias mais densas e com poucos claros Mais que isso um arranjo de manchas agraacuterias organizadas num novo eixo cidade - campo
A nova configuraccedilatildeo que as relaccedilotildees agraacuterias vatildeo adquirindo e radica-se em pelo menos quatro aspectos essenciais
1- O trabalho escravo se metamorfoseia numa diversidade horizontal de camponeses
2- A divisatildeo de trabalho interna surge na forma tripartite da monocultura policultura e induacutestria
3- A classe senhorial se lsquomolecularizarsquo territorialmente para se transformar nas oligarquias rurais regionais
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4- A relaccedilatildeo cidade ndash campo radicaliza a reorientaccedilatildeo que submete o campo agrave cidade
Compreender esses aspectos na sua forma dialeacutetica torna-se uma tarefa desafiadora que aponta para a possibilidade de se analisar e compreender como se deu o processo de formaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio no Brasil assim como as relaccedilotildees que aqui foram desencadeadas no passado colonial e analisar se houve uma relaccedilatildeo com a formaccedilatildeo do campesinato e da elite agraacuteria e sua relaccedilatildeo com o processo da acumulaccedilatildeo primitiva do capital Contudo eacute importante estudar e buscar compreender o processo de formaccedilatildeo da acumulaccedilatildeo primitiva do capital no Brasil Logo o estudo sobre o seacuteculo XIX e sobretudo a transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para seacuteculo XX buscando compreender nesse processo de transiccedilatildeo como se deu o processo de acumulaccedilatildeo primitiva do capital no Brasil eacute fundamental para possibilitar uma melhor compreensatildeo dos acontecimentos desse periacuteodo histoacuterico O seacuteculo XIX apresenta-se como um periacuteodo muito fecundo para realizaccedilatildeo de estudos e pesquisas que demonstre como se deu o processo de acumulaccedilatildeo primitiva do capital Cada aspecto deve ser estudado de forma criteriosa identificando suas caracteriacutesticas peculiaridades e as relaccedilotildees que satildeo estabelecidas entre os diferentes aspectos por exemplo analisar a formaccedilatildeo do campesinato a criaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo da Lei de Terras de 1850 e sua relaccedilatildeo com o mercado de terras a aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos o papel do Estado e sobretudo buscar compreender como se dar a relaccedilatildeo entre esses aspectos e acontecimentos no decorrer do seacuteculo XIX Nesse sentido eacute importante analisa-los de forma dialeacutetica
Um aspecto importante agrave ser analisado satildeo Relaccedilotildees de trocas e controle do campesinato a fase inicial da acumulaccedilatildeo primitiva
Eacute sobre essa base lsquomolecularizadarsquo do arranjo espacial determinada pelo nascimento do campesinato e pela
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regionalizaccedilatildeo do poder da aristocracia rural que se instaura a acumulaccedilatildeo primitiva do capital com a qual a nova ordem capitalista vai se desenvolvendo No ano de 1850 ocorre a regulaccedilatildeo formal do mercado de trabalho e de terras no Brasil Nesse periacuteodo o capitalismo aparece nessa nova organizaccedilatildeo espacial timidamente sob formas ainda entranhadamente senhoriais e rurais de relaccedilatildeo de trabalho Seus traccedilos mais claros aparecem em 1850 com os decretos que estabelecem por antecipaccedilatildeo as regras do mercado de trabalho e de terras A desagregaccedilatildeo do escravismo conduz agrave valorizaccedilatildeo da terra uma vez que com a crise escravocrata a fonte do poder senhorial deslocandashse do controle dos escravos para o controle da terra Por isso a classe senhorial por intermeacutedio do Estado procura regular juridicamente esta dupla metamorfose em curso a do mercado do trabalho e a do mercado da terra Em 1850 o Estado Imperial proclama juridicamente o estabelecimento de duas das trecircs instituiccedilotildees (a terceira eacute o mercado do dinheiro) que marcam o nascimento do mercado capitalista o surgimento do mercado de forccedila de trabalho surge atraveacutes do decreto da aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos e o mercado de terras atraveacutes da lei de terras que substituiu a Lei de Sesmarias
A aboliccedilatildeo oficial do traacutefico de escravos e o surgimento do mercado de terras no mesmo ano natildeo pode ser entendida como uma mera coincidecircncia como se natildeo tivessem relaccedilatildeo entre ambos os acontecimentos Eacute importante perceber que uma lei vem para regular a outra Num anuacutencio puacuteblico do fim do acesso agrave terra por meio de concessotildees pelo Estado a Lei de Terras de 1850 estabelece o mercado como a regra do caminho Logo soacute podem se adquirir a terra mediante a compra Por conseguinte soacute a quem pode comprar Fica ela assim franqueada Portanto Excluindo-se desse acesso quem natildeo tem recursos o que quer dizer a quase totalidade da populaccedilatildeo Dessa forma embora seja um instrumento de
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regulaccedilatildeo mercantil da circulaccedilatildeo da terra a Lei de Terras se combina com a lei da regulaccedilatildeo do mercado de trabalho uma vez que exclui automaticamente do acesso agrave terra a quase totalidade da populaccedilatildeo colonial agrave qual soacute resta oferecer-se em trabalho aos proprietaacuterios fundiaacuterios vendendo a sua forccedila de trabalho Nesse sentido a um soacute tempo a Lei de Terras serve para dois objetivos que satildeo a preservaccedilatildeo do latifuacutendio e a organizaccedilatildeo da nova relaccedilatildeo de trabalho
Outro aspecto importante para ser analisado eacute o nascimento do campesinato e sua relaccedilatildeo com a agroexportaccedilatildeo
A Lei de Terras e sua irmatilde siamesa - a lei da aboliccedilatildeo do traacutefico de escravos- satildeo o anuacutencio do nascimento do campesinato E esse fato eacute o aspecto essencial da relaccedilatildeo de trabalho do regime social Todavia em face da Lei de Terras este campesinato jaacute nasce sob absoluto controle da classe senhorial que por intermeacutedio dele preserva a agroexportaccedilatildeo como base econocircmica da sociedade burguesa e garante para si o poder de organizaacute-la com fins de sua proacutepria transformaccedilatildeo em burguesia agraacuteria (Moreira 1990)
Eacute o desdobramento dessa dupla metamorfose da classe a senhorial e a dos escravos embora o capital mercantil e o trabalho camponecircs natildeo sejam respectivamente os substitutos diretos da classe dos senhores e dos escravos um traccedilo caracteriacutestico do processo que leva a ordem capitalista ao seu desabrochamento a acumulaccedilatildeo primitiva E eacute a accedilatildeo de optar pela metamorfose das relaccedilotildees agraacuterias No lugar da ruptura estrutural o traccedilo que faz o processo da acumulaccedilatildeo primitiva no Brasil uma forma de desenvolvimento capitalista semelhante agrave via prussiana
A forma social do campesinato em surgimento tem uma niacutetida relaccedilatildeo com a espacialidade diferencial herdada do colonial - escravismo Isto eacute com o modo com que no interior de cada espaccedilo da formaccedilatildeo colonial e a metamorfose do
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escravismo desemboca no processo da acumulaccedilatildeo primitiva Por isso trecircs modalidades podem ser encontradas a do campesinato que combina em si a condiccedilatildeo de reproduccedilatildeo do trabalhador assalariado e camponecircs com o morador o colono e o seringueiro a do campesinato familiar autocircnomo como o das colocircnias de imigrantes instaladas no planalto meridional e a do campesinato de ldquofronteirardquo como o posseiro que desde os tempos iniciais da economia colonial se localiza nas aacutereas da linha de frente do espaccedilo ocupado para dedicar-se a uma policultura livre
Considerando o processo de reproduccedilatildeo camponesa e o sistema de trocas Ruy Moreira afirma que
Eacute controlando a reproduccedilatildeo do trabalho desse campesinato que o capital mercantil extrai o excedente e realiza a acumulaccedilatildeo primitiva mediando a metamorfose burguesa da classe senhorial A forma desse controle eacute mercantil diferenciando-se especialmente no sistema de barracatildeo predominante na maior parte do territoacuterio nacional e no sistema mercantil simples nas colocircnias de imigrantes do planalto meridional (Moreira 1990)
DESENVOLVIMENTO
Os quilombos natildeo foram formados apenas no periacuteodo da escravatura no Brasil Mesmo depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo novos quilombos se constituiacuteram Isso ficou provado por estudos e pesquisas ocorridas na segunda metade do seacuteculo passado num momento caracterizado pela descolonizaccedilatildeo do continente africano e pelo debate sobre a identidade nacional no qual vaacuterios historiadores mostraram as experiecircncias de organizaccedilatildeo quilombola sob uma nova perspectiva ou seja natildeo soacute como recurso uacutetil para a sobrevivecircncia fiacutesica e cultural dos quilombolas mas principalmente como instrumento de preservaccedilatildeo da dignidade
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dos descendentes africanos traficados para o Brasil que lutavam para conquistar o direito agrave liberdade e conviver de acordo com a sua cultura tradicional (SEPPIR 2004 )
As comunidades quilombolas mesmo sendo ignoradas e perseguidas neste processo constituiacuteram-se numa rica dinacircmica de ldquodiaacutelogo culturalrdquo de afirmaccedilatildeo da identidade de resistecircncia eacutetnica de luta pela terra de relacionamento peculiar com a natureza que os remete agrave compreensatildeo de sua pertenccedila agrave terra de solidariedade intereacutetnica de sua ancestralidade e de todos os valores civilizatoacuterios ligados agrave Aacutefrica e preservados mediante seacuteculos de tradiccedilatildeo (PASSOS 2007)
Os quilombos continuam sendo sociedades livres igualitaacuterias justas soberanas em busca de felicidade Eram sociedades poliacutetico-militares que nasceram de movimentos de insurreiccedilotildees levantes revoltas armadas proclamando a queda do sistema escravocrata Frequentemente aqueles movimentos tomavam a forma de quilombos agrave semelhanccedila de Palmares Os quilombos existiram em muitos pontos do paiacutes em decorrecircncia das lutas ocorridas em diferentes lugares onde houvesse negaccedilatildeo de liberdade dominaccedilatildeo desrespeito a direitos acrescidas de preconceitos desigualdades e racismo (SIQUEIRA 1995 p3)
Atualmente a ligaccedilatildeo dessas comunidades com o passado natildeo se daacute pelo isolamento geograacutefico e nem pela homogeneidade fiacutesica e bioloacutegica de seus habitantes mas pela manutenccedilatildeo de praacuteticas de resistecircncia e reproduccedilatildeo de seu modo de vida em um local determinado Sendo assim a principal caracteriacutestica que aproxima a dimensatildeo do quilombo do periacuteodo colonial agraves formas de organizaccedilatildeo dos quilombos contemporacircneos estaacute ldquonas praacuteticas econocircmicas desenvolvidas cujos modelos produtivos agriacutecolas estabelecem uma necessaacuteria integraccedilatildeo agrave microeconomia local com vistas agrave consolidaccedilatildeo de um uso comum da terrardquo (SEPPIR 2004)
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As comunidades de remanescentes de quilombos ainda natildeo satildeo em muitos casos conhecidas divulgadas e valorizadas Muitas delas ainda vivem agraves margens da sociedade brasileira construiacuteda a partir do trabalho dos seus ancestrais (CAcircNTIA BOLONI 2004) Mesmo que no imaginaacuterio popular seja comum a associaccedilatildeo dos quilombos a algo apenas ligado ao passado e que teria desaparecido com o fim do regime da escravatura Mas essas comunidades quilombolas existem em grande nuacutemero e se fazem representadas praticamente em todo o territoacuterio brasileiro
A questatildeo fundiaacuteria deve ser lavada em consideraccedilatildeo pois a terra eacute de extrema importacircncia para a continuidade do grupo e condiccedilatildeo exclusiva para sua existecircncia O territoacuterio natildeo estaria restrito ao espaccedilo geograacutefico abarcando objetos atitudes e relacionamentos ou seja tudo o que efetivamente lhe diz respeito (SEPPIR 2004) Desta forma
Territoacuterios e identidades estatildeo inteiramente relacionados enquanto um estilo de vida uma forma de viver fazer e sentir o mundo Um espaccedilo social proacuteprio especiacutefico com formas singulares de transmissatildeo de bens materiais e imateriais para a comunidade Bens esses que transformaratildeo no legado de uma memoacuteria coletiva um patrimocircnio simboacutelico do grupo (SEPPIR 2004 p 11)
Outra dimensatildeo eacute incorporada na questatildeo fundiaacuteria pois enquanto a terra eacute uma necessidade econocircmica e social o territoacuterio enquanto espaccedilo geograacutefico e cultural de uso coletivo eacute uma necessidade cultural e poliacutetica ligado ao direito de autodeterminaccedilatildeo A terra eacute uma necessidade econocircmica e social (SEPPIR 2004)
As comunidades remanescentes de quilombo se caracterizam em sua maioria pelo grande viacutenculo com o meio que ocupam observando-se grande grau de preservaccedilatildeo da biodiversidade Elas sobrevivem da agricultura de subsistecircncia baseada na matildeo- de- obra familiar assegurando os produtos
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baacutesicos para o consumo Para completar a renda satildeo criados animais de pequeno porte como galinhas porcos patos e cabritos (VICENTE 2004) Para Nascimento (1980 apud Siqueira 1995) a memoacuteria dos afro-brasileiros natildeo se inicia com o traacutefico de escravos africanos para o Brasil pois eles jaacute trouxeram consigo saberes englobando as diversas aacutereas do conhecimento (culturas religiotildees liacutenguas artes ciecircncias tecnologias etc)
A presenccedila quilombola eacute ldquoestranha e ameaccediladora pelo olhar oficial e ideoloacutegico que inventa e faz desaparecer o outrordquo O quilombola eacute uma presenccedila marcante na histoacuteria brasileira mas ao mesmo tempo ldquoinviabilizado pelo medordquo desta mesma sociedade (PASSOS 2007 p 5) Essas comunidades ficaram agrave margem do processo de modernizaccedilatildeo durante mais de um seacuteculo de repuacuteblica Frutos do processo de ldquonegaccedilatildeo do Brasilrdquo viveram ameaccediladas e desrespeitadas em suas expressotildees culturais e sem acesso agrave titulaccedilatildeo de suas terras
Atualmente existem vaacuterias ameaccedilas vivenciadas por essas comunidades sendo as principais a falta de titulaccedilatildeo pois sem isto natildeo haacute como as comunidades quilombolas garantirem o domiacutenio e a posse da terra assegurando desse modo alternativas viaacuteveis para sua sobrevivecircncia com dignidade recuperando e renovando sua cultura a falta de reconhecimento dos direitos das populaccedilotildees tradicionais na legislaccedilatildeo ambiental o que muitas vezes favorece tensotildees e conflitos nas aacutereas e frequentemente inviabiliza sua permanecircncia na terra e a educaccedilatildeo que apresenta vaacuterias deficiecircncias sendo que muitas das escolas em funcionamento nas comunidades de remanescentes de quilombos natildeo tecircm a manutenccedilatildeo garantida e nem valorizam a cultura local (SEPPIR 2004)
Um nuacutemero muito grande de quilombos no Brasil vive em situaccedilotildees consideradas alarmantes e em muitos casos
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estatildeo localizados em lugares afastados e sem condiccedilotildees necessaacuterias para desenvolver uma agricultura de maior qualidade Falta documentaccedilatildeo para obter financiamentos empreacutestimos e subsiacutedios para sua produccedilatildeo mesmo com estes fatos denunciados e atestados por organismos internacionais ligados agrave Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Isso tem de certa forma servido como pressatildeo nos uacuteltimos anos para que o governo brasileiro adote medidas miacutenimas de atenccedilatildeo poliacutetica a essas comunidades (PASSOS 2007)
As 100 famiacutelias de negros do quilombo Mocambo em Sergipe estatildeo em litiacutegio com fazendeiros da regiatildeo Os Kalunga em Goiaacutes espalhados em aacutereas dos municiacutepios de Cavalcanti Terezinha de Goiaacutes e Monte Alegre enfrentam pressatildeo de Furnas que inundaraacute cerca de 50 das terras onde estatildeo as roccedilas dessas comunidades para encher o lago da hidreleacutetrica que estaacute sendo construiacuteda Ateacute pouco tempo atraacutes soacute era possiacutevel chegar aos nuacutecleos onde vivem os Kalungas de Goiaacutes por meio de uma longa viagem em lombo de burro por caminhos difiacuteceis ao longo de um terreno acidentado Algumas pessoas idosas nunca deixaram o antigo quilombo para conhecer a cidade Poreacutem a populaccedilatildeo jovem jaacute comeccedila a se interessar pelo mundo fora do nuacutecleo (FUNDACcedilAtildeO PALMARES 2009)
Mesmo o processo de aquilombamento ocorrendo em todo o territoacuterio brasileiro as comunidades que descendem dos quilombolas ficaram esquecidas Por vaacuterios anos ficando igualmente esquecidas suas lutas para manter seu rico patrimocircnio histoacuterico e cultural Estas comunidades vecircm enfrentando inuacutemeros problemas ao longo dos anos Aleacutem da falta de coleta de lixo de esgoto de escolas e inexistecircncia de accedilotildees puacuteblicas que visem agrave geraccedilatildeo de renda e emprego estas comunidades se defrontam com outros problemas relacionados agrave manutenccedilatildeo de seus territoacuterios accedilotildees de
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grileiros construccedilotildees de hidreleacutetricas que alagam suas terras e ateacute mesmo demora no processo de regularizaccedilatildeo
Estas comunidades por muitas vezes satildeo discriminadas e marginalizadas por segmentos refrataacuterios da sociedade e pela miacutedia As aacutereas dessas comunidades mesmo sendo reconhecidas a partir de 1988 com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal somente 15 anos depois foram instituiacutedas as formas legais de regularizaccedilatildeo dos procedimentos administrativos para a identificaccedilatildeo reconhecimento delimitaccedilatildeo e titulaccedilatildeo das terras ocupadas pelos remanescentes de quilombos no Brasil Este processo de reconhecimento dos territoacuterios quilombolas eacute um meio de saldar parte do deacutebito social da sociedade e do Estado para com a populaccedilatildeo negra Portanto mesmo sendo garantido no processo de titulaccedilatildeo e reconhecimento que os quilombolas receberatildeo tratamento preferencial assistecircncia teacutecnica e linhas de financiamento para realizaccedilatildeo de suas atividades produtivas e de infraestrutura esta garantia na praacutetica natildeo eacute confirmada pois o que vemos ainda eacute o descaso com as comunidades em relaccedilatildeo aos bens miacutenimos para sua sobrevivecircncia A COMUNIDADE QUILOMBOLA MUSSUCA
Laranjeiras municiacutepio que o povoado Mussuca pertence possui a populaccedilatildeo estimada em 2015 de 29130 pessoas reunidas em aacuterea territorial de 162280 quilocircmetro quadrado segundo o IBGE O municiacutepio tem o Iacutendice de Desenvolvimento Humano em 2012 de 0642
O Quilombo da Mussuca ainda natildeo adquiriu a titulaccedilatildeo de suas terras certificada de acordo com o livro cadastral L05-RG465-FL73 em 20 de janeiro de 2006- processo nordm 01420003078-2005-11
A Mussuca estaacute localizada no Leste Sergipano na Regiatildeo do Vale Cotinguiba cidade de Laranjeiras Este
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povoado surge ldquodurante o processo de colonizaccedilatildeo mais precisamente no seacuteculo XVIIIrdquo em que foi construiacuteda uma das igrejas mais antigas da cidade de Laranjeiras nas proximidades do Engenho Ilha que fica na proacutepria comunidade em uma aacuterea particular
Lugar de faacutecil acesso pela BR 101 principal eixo viaacuterio de Sergipe distante 19 km de Aracaju capital do Estado De altos e baixos com relevo de tabuleiros com diferenccedilas e composiccedilotildees de morros encaixados em vertentes Sua populaccedilatildeo segundo dados da secretaria de sauacutede eacute de aproximadamente 3043 habitantes sendo que a maior parte da populaccedilatildeo se auto define como negros a qual possui um grau de parentesco muito forte Por isso sempre esteve ligada agrave presenccedila de matildeo de obra escrava e agrave cultura canavieira ateacute os dias atuais As condiccedilotildees geoambientais foram fatores importantes para o cultivo da cana de accediluacutecar o clima chuvoso e o solo forte de massapeacute
A economia local estaacute baseada na pesca na agricultura extraccedilatildeo de mineacuterios nos setores puacuteblicos como prefeitura nas grandes empresas onde a oferta de empregos satildeo bem maiores A falta de uma sustentabilidade na comunidade faz com que a maior parte dos trabalhadores se desloque para a capital e cidades vizinhas e ateacute mesmo para outros estados em busca de oportunidades de empregos A Mussuca dispotildee de duas escolas puacuteblicas uma estadual e uma municipal possui rede telefocircnica e rede eleacutetrica posto de sauacutede cemiteacuterio quadra de esporte academia aacutegua potaacutevel sem tratamento ruas pavimentadas campo de futebol igrejas evangeacutelicas e uma igreja catoacutelica associaccedilotildees comunitaacuterias e de pescadores entre outras Telecentro-digital centros de umbandas uma creche que natildeo funciona e comeacutercios locais Portanto foi atraveacutes do seu autoreconhecimento de Comunidade Quilombola que passou a receber benefiacutecios do Governo Federal como cestas baacutesicas conjunto habitacional entre outros
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Em 2005 dirigentes de Associaccedilotildees se reuniram para o primeiro Encontro Estadual de Comunidades Quilombolas em Aracajuacute Sergipe para discutir sobre o processo de reconhecimento das comunidades Apoacutes o encontro os participantes ficariam responsaacuteveis de transmitir esse conhecimento e de esclarecer a populaccedilatildeo local sobre sua importacircncia
A Mussuca eacute considerada ateacute entatildeo uma das Comunidades Quilombolas mais importantes do Estado de Sergipe definida por sua identidade proacutepria aleacutem das manifestaccedilotildees culturais que resgatam o seu passado natildeo apenas por suas origens histoacutericas mas tambeacutem por sua rica importacircncia cultural Dessa maneira suas manifestaccedilotildees culturais estatildeo sempre presentes no seu dia-a-dia Haacute exemplo da danccedila do Grupo Satildeo Gonccedilalo do Amarante conhecido nacionalmente como grupo pagador de promessa que contempla o Santo Satildeo Gonccedilalo com suas cantorias Este grupo eacute composto por homens com trajes de mulheres e uma mariposa a qual carrega o Santo em sua barca acompanhado de seu violatildeo Aleacutem do Samba de Parelha que tecircm como referecircncia histoacuterica Dona Nadi festa completamente junina composta por homens e mulheres responsaacuteveis por tocar os instrumentos e as mulheres para danccedilar Haacute tambeacutem o Samba de Coco de Dona Maria e o Reisado tambeacutem conduzido por Dona Nadi Assim como o grupo de Teatro Amigos da Cultura Mussuquense que trabalha da cultura local e que eacute passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo
No municiacutepio de Brejo Grande-Sergipe localiza-se a Comunidade Quilombola de Brejatildeo dos Negros com uma aacuterea de 469 hectares O imoacutevel rural foi doado recentemente para a comunidade quilombola e que consolida o processo de reintegraccedilatildeo e acesso agraves terras para esta comunidade
A conquista do imoacutevel rural denominado de fazenda Batateiras foi entregue aos quilombolas atraveacutes de um
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documento oficial de emissatildeo de posse entregue pelo superintendente regional do Instituto de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria-IncraSE Jorge Tadeu Jatobaacute na praccedila do povoado De acordo com Leonardo Goacutees superintendente substituto do Incra a propriedade estaacute localizada bem no centro da aacuterea delimitada para a criaccedilatildeo do territoacuterio quilombola Por isso a sua posse representa um marco no processo de retomada das terras pela comunidade
Apoacutes vistoria realizada em 2006 para fins de reforma agraacuteria foi constatada que a Fazenda Batateiras classificada como improdutiva integra um amplo estudo antropoloacutegico que identificou o local como parte da aacuterea a ser demarcada para a criaccedilatildeo do territoacuterio quilombola de Brejatildeo dos Negros Portanto a fazenda que antes era objeto de disputa judicial e ocupaccedilatildeo irregular seraacute revertida para o desenvolvimento de accedilotildees produtivas pelas famiacutelias quilombolas
A comunidade quilombola de Brejatildeo dos Negros foi reconhecida pela Fundaccedilatildeo Cultural Palmares em 2005 e hoje eacute formada por 410 famiacutelias que vivem em uma aacuterea abrangida por diversos povoados Localizado na regiatildeo da foz do rio Satildeo Francisco o conjunto de terras que deveraacute compor o futuro territoacuterio quilombola eacute considerado um dos principais focos de tensatildeo agraacuteria do estado de Sergipe A tensatildeo na regiatildeo eacute ocasionada devido a ocupaccedilatildeo por fazendeiros e grileiros nas aacutereas que estatildeo sendo identificadas pelo estudo antropoloacutegico para a constituiccedilatildeo do territoacuterio
O IncraSE em parceria com o Ministeacuterio Puacuteblico Federal do Estado (MPFSE) reiniciou os trabalhos de identificaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do territoacuterio quilombola Brejatildeo dos Negros no municiacutepio de Brejo Grande (SE) O anuacutencio ocorreu nesta terccedila-feira (17022009) durante reuniatildeo com representantes dos ministeacuterios Puacuteblicos Federal e Estadual (MPE) da Poliacutecia Federal da Ouvidoria Agraacuteria Regional do Governo do Estado de Sergipe e da Caacuteritas Diocesana
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Tambeacutem participaram membros da comunidade Quilombola Brejatildeo dos Negros da Prefeitura e da Cacircmara Municipal de Brejo Grande
O trabalho do IncraSE consiste na elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio Teacutecnico de Identificaccedilatildeo e Delimitaccedilatildeo do Territoacuterio (RTID) e na consequente regularizaccedilatildeo de aacutereas pertencentes a comunidades tradicionais remanescentes de quilombos
Para o superintendente do IncraSE Jorge Tadeu Jatobaacute o objetivo do trabalho eacute beneficiar quem precisa de terras e historicamente faz jus ao territoacuterio de Brejatildeo dos Negros ldquoNoacutes iniciamos esse trabalho em Brejo Grande com a certeza de que ele ajudaraacute a combater as desigualdades fomentando mais justiccedila social na regiatildeordquo
Segundo o procurador da Repuacuteblica Silvio Roberto Oliveira de Amorim Juacutenior aleacutem de fiscalizar e fazer cumprir a lei a atuaccedilatildeo do MPF referenda acordos nacionais e internacionais que objetivam reduzir as desigualdades sociais ldquoEacute uma missatildeo constitucional do MP assegurar a defesa das comunidades tradicionais Este trabalho antes de ser uma obrigaccedilatildeo eacute uma questatildeo de justiccedila social e de poliacutetica puacuteblicardquo
A elaboraccedilatildeo do RTID eacute o primeiro passo para a regularizaccedilatildeo do territoacuterio de Brejatildeo dos Negros As fases posteriores dependem de publicaccedilatildeo de portaria do presidente do INCRA e de assinatura de decreto presidencial Jaacute a uacuteltima fase do processo consiste na titulaccedilatildeo do territoacuterio quilombola A comunidade quilombola de Brejatildeo dos Negros tem hoje 277 famiacutelias cadastradas no INCRASE A principal atividade econocircmica dessa comunidade eacute o extrativismo de coco e mariscos oriundos da aacuterea de manguezal da regiatildeo
O processo de demarcaccedilatildeo das aacutereas quilombolas em Brejo Grande ainda natildeo foi concluiacutedo O INCRA no entanto prevecirc que o Relatoacuterio Teacutecnico de Identificaccedilatildeo e Delimitaccedilatildeo que inclui estudo antropoloacutegico seja finalizado o mais breve
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possiacutevel A comunidade estaacute bastante ansiosa mas eacute um relatoacuterio que tem que ser feito com bastante cuidado Para alguns representantes do movimento quilombola local o avanccedilo no reconhecimento da aacuterea ajuda a apaziguar algumas tensotildees existentes entre os proacuteprios habitantes dos povoados O caminho ateacute aiacute entretanto foi longo
A partir do momento em que o grupo comeccedilou a manifestar interesse pela identificaccedilatildeo quilombola com o apoio do padre Isaias Nascimento hoje afastado da paroacutequia surgiram focos de rejeiccedilatildeo que cresceram com a accedilatildeo de grupos que se identificam como proprietaacuterios de terras ldquoEles diziam que as pessoas iam perder as casas iam voltar a serem escravosrdquo relatou Maria Izaltina Santos presidente da Associaccedilatildeo Santa Cruz entidade ligada a Brejatildeo dos Negros As divergecircncias chegaram a momentos de grande tensatildeo como quando um grupo desfavoraacutevel ao quilombo invadiu uma missa de Isaias aos gritos de ldquofora padrerdquo
ldquoEm determinado momento eles comeccedilaram a perder terreno As pessoas costumam acreditar quando veem acontecerrdquo avaliou o professor Gilvan Pereira tambeacutem envolvido no movimento pela demarcaccedilatildeo Segundo ele no pior momento apenas 20 famiacutelias sustentavam o pleito Hoje satildeo aproximadamente 300 famiacutelias Para ajudar reverter agrave situaccedilatildeo foram realizados diversos trabalhos em Brejatildeo cursos capacitaccedilotildees accedilotildees de resgate cultural ldquoHouve principalmente no comeccedilo do conflito uma tentativa de divisatildeo entre eles muito proacutepria do momento de afirmaccedilatildeo de identidade culturalrdquo comentou a procuradora do MPF Liacutevia Nascimento acrescentando que a alguns dos residentes foram oferecidas casas em outro povoado de Brejo Grande o Sarameacutem Mas eu acho que isso estaacute superado Mesmo aqueles que foram para o Sarameacutem hoje jaacute tecircm uma visatildeo maior de integraccedilatildeo com a comunidaderdquo informou Nascimento Para ela entretanto isso natildeo significa que as accedilotildees de resgate
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devam parar ldquoSem duacutevida nenhuma tendo em vista a grande pressatildeo que eacute feita pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos da regiatildeo eacute um trabalho que deve ser realizado permanentemente
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Portanto a presente pesquisa em andamento pretende analisar o processo de formaccedilatildeo das comunidades quilombolas refletindo-se sobre os antecedentes histoacutericos de formaccedilatildeo o processo de luta pela terra e a efetivaccedilatildeo do territoacuterio enquanto loacutecus da reproduccedilatildeo desse grupo social que forma a sociedade brasileira e que muitas das vezes satildeo colocados como indesejaacuteveis e ateacute invisiacuteveis para o Estado e para a Sociedade Para desenvolver melhor a referida pesquisa objetiva-se realizar leituras teoacutericas gerais e especiacuteficas que abordem a temaacutetica no campo das ciecircncias humanas e sobretudo na ciecircncia geograacutefica com foco na abordagem que discute a categoria territoacuterio Como procedimentos metodoloacutegicos encontram-se entrevistas aplicaccedilatildeo de questionaacuterios anaacutelise de dados censitaacuterios visitas teacutecnicas em oacutergatildeos puacuteblicos e associaccedilotildees descriccedilatildeo cartograacutefica das comunidades e mapeamento Enfatiza-se que os instrumentais utilizados tecircm como objetivo contribuir para a realizaccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa que possibilite uma anaacutelise criacutetica da temaacutetica abordada Desse modo pretende-se com esse estudo oferecer contribuiccedilotildees para a produccedilatildeo da pesquisa geograacutefica na academia e sobretudo contribuir para o processo de organizaccedilatildeo poliacutetica e luta por territoacuterio e o acesso agrave terra pelas comunidades tradicionais e em especial as comunidades quilombolas na construccedilatildeo de uma sociedade mais justa REFEREcircNCIAS
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ANJOS Rafael Sanzio Arauacutejo Quilombolas tradiccedilotildees e culturas de resistecircncia Satildeo Paulo Aori Comunicaccedilatildeo 2006 ARRUTI Joseacute Mauriacutecio Paiva Andion Mocambo antropologia e histoacuteria do processo de formaccedilatildeo quilombola Bauru SP Edusc 2006 AZANHA G 2001 A lei de Terras de 1850 e as terras dos iacutendios Brasiacutelia Centro de Trabalho Indigenista Disponiacutevel em ltHTTPWWWindiosisoladosorgbr-textos-6-gt Acesso em 12 de janeiro de 2009 BAROacute Dioniacutesio ET al Desigualdade racial e construccedilatildeo institucional a consolidaccedilatildeo da temaacutetica racial no Governo Federal In A CONSTRUCcedilAtildeO de uma poliacutetica de promoccedilatildeo da igualdade racial uma anaacutelise dos uacuteltimos vinte anos Brasiacutelia DF Governo Federal 2008 P 93-146 BRAZIL Maria do Carmo Formaccedilatildeo do Campesinato negro no Brasil Reflexotildees categorial sobre os fenocircmenos ldquoquilombordquo ldquoremanescente de quilombordquo e ldquocomunidade negra ruralrdquo In Encontro de Histoacuteria de Mato Grosso do Sul Dourados-MS AMPUH 2006 CAMPOS Andrelino Do quilombo agrave favela a produccedilatildeo do ldquo espaccedilo criminalizado ldquo no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2010 CARRIL L de F B Quilombo territoacuterio e Geografia Revista Agraacuteria n 3 Satildeo Paulo 2006 CARVALHO Eduardo Cesar Paredes de O Procedimento de Identificaccedilatildeo Reconhecimento Demarcaccedilatildeo e Titulaccedilatildeo dos Territoacuterios das Comunidades Negras
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Tradicionais no Brasil e na Colocircmbia A Legitimidade Para Atuaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblica R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 5 p 9 ndash 35 out 2012 FIABANI A Mato Palhoccedila e Pilatildeo o quilombo da escravidatildeo agraves comunidades remanescentes (1532-2004) Satildeo Paulo editora Expressatildeo popular 2005 GUSMAtildeO N M ldquo Os Direitos dos Remanescentes de Quilombosrdquo Cultura Vozes nordm 6 Satildeo Paulo Vozes Nov- dez de 1995 HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo ndashSatildeo Paulo Annablume 2005 LEITE I B ( Org) Negros no Sul do Brasil invisibilidade e territotialidade Florianoacutepolis Letras Contemporacircneas 1996 MORAES Antocircnio Carlos Robert Bases da Formaccedilatildeo Territorial do Brasil ndash Vitoacuteria Espiacuterito Santo Geografares nordm2 junho de 2001 MORAES Antocircnio Carlos Robert Territoacuterio e Histoacuteria no Brasil ndash Satildeo Paulo Hucitec 2002 MOREIRA Ruy Formaccedilatildeo do Espaccedilo Agraacuterio Brasileiro ndash Satildeo Paulo editora Brasiliense 1990 Presidecircncia da Repuacuteblica-Casa Civil ndash Subchefia Para Assuntos Juriacutedicos Decreto nordm 4887 de 20 de Novembro de 2003 2003 RAMOS A O Negro na Civilizaccedilatildeo Brasileira Rio de Janeiro Casa do Estudante Brasileiro 1953
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SANTOS Alexandra DOULA Sheila Maria Poliacuteticas Puacuteblicas e Quilombolas Questotildees Para Debate e Desafios agrave Praacutetica Extensionista Revista Extensatildeo Rural DEAER-PGExR-CCR-UFSM Ano XV nordm 16 Jul ndash Dez de 2008 SCHMITT Alessandra TURATTI Maria Ceciacutelia Manzoli CARVALHO Maria Celina Pereira Satildeo Paulo ITESP 2002 SEPPIR ndash Secretaria Especial de Poliacuteticas de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial Programa Brasil Quilombola Brasiacutelia Abareacute 2004 48 p SILVA Jesiel Souza FERRAZ Joseacute Maria Gusman Questatildeo Fundiaacuteria a terra como necessidade social e econocircmica para a reproduccedilatildeo quilombola ndash Salvador ndash Bahia Geo Textos vol 8n 1 jul 2012 SILVA L O Terras Devolutas e Latifuacutendio ndash Efeitos da Lei de 1850 Campinas Unicamp 1996 SILVA Maria Ester Ferreira da Territoacuterio Poder e as Multiplas Territorialidades nas Terras Indiacutegenas e de Pretos Narrativa e Memoacuteria como mediaccedilatildeo na construccedilatildeo do territoacuterio dos povos tradicionais ndash Tese de Doutorado PPGEO ndash UFS 2010
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FARINHADA SIacuteMBOLO DA CULTURA MATERIAL CAMPONESA EM ITABAIANA - SERGIPE
Juliana Lima da Costa
Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe
E mail jullianalimatvdgmailcom
RESUMO
O presente texto eacute um dos resultados da execuccedilatildeo de um plano de trabalho referente a um Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientifica que busca inventariar a cultura material camponesa a fim de contribuir para a valorizaccedilatildeo dos saberes camponeses Neste sentido a farinhada e a casa de farinha representam uma forma de resistecircncia e trata-se de um saber que eacute passado de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo Deste modo o artigo caracteriza e analisa a produccedilatildeo de farinha de mandioca no povoado Flexas no municiacutepio sergipano de Itabaiana a partir de um enfoque etnograacutefico que vincula a vivecircncia do pesquisador com o ambiente pesquisado resultando em uma anaacutelise minuciosa do objeto estudado Palavras-chave campesinato farinhada resistecircncia INTRODUCcedilAtildeO Este artigo eacute resultante da execuccedilatildeo de um Projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica intitulado ldquoSiacutetio roccedila costumes e trabalho fontes e conhecimento camponecircs para um pensamento geograacutefico e uma geografia histoacuterica da formaccedilatildeo territorial de Itabaiana Sergiperdquo que tem como um dos Planos de Trabalho ldquoInventaacuterio de referecircncias materiais do conhecimento camponecircs em Itabaianardquo O objetivo principal do plano eacute levantar e inventariar materialidades relacionadas ao siacutetio a
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roccedila aos costumes e ao trabalho camponecircs em aacutereas rurais de Itabaiana com o propoacutesito de (re)conhecer o conhecimento camponecircs em suas contradiccedilotildees e ressignificaccedilotildees como resistecircncia agraves formas de colonizaccedilatildeo contemporacircneas Desta forma a partir do levantamento e inventaacuterio foi possiacutevel identificar costumes e saberes proacuteprios dos camponeses Dentre as atividades camponesas levantadas destaca-se a produccedilatildeo da farinha de mandioca tema central deste artigo A farinhada eacute uma atividade predominantemente camponesa pois eacute um trabalho realizado com a famiacutelia que resiste ao tempo e ao Capital Pois mesmo com toda a tecnologia existente ainda existem casas de farinha totalmente manuais como eacute o caso da casa de farinha observada no povoado Flexas em Itabaiana O povoado Flexas eacute um dos mais antigos do municiacutepio de Itabaiana (LIMA JUNIOR 2015) e eacute formado por pequenos siacutetios Atualmente o nuacutemero de habitantes do povoado estaacute bem reduzido por causa do ecircxodo rural provocado principalmente pela violecircncia Mas as pessoas que foram morar na cidade continuam com suas propriedades no povoado e vatildeo todos os dias trabalhar Os siacutetios em sua grande maioria possuem casas de farinha ao lado da casa de morada o que nos leva a entender que a produccedilatildeo de farinha era atividade predominante no povoado Desta forma a observaccedilatildeo de caraacuteter participante ou seja aquela em que o pesquisador participa ativamente de todas as atividades (SOUZA 2013) foi realizada no referido povoado A unidade camponesa observada resulta de ocupaccedilatildeo familiar de camponeses haacute quatro geraccedilotildees
A farinhada envolve toda a famiacutelia e ateacute vizinhos que se juntam para ajudar na produccedilatildeo em troca de um ldquobeijurdquo15 Eacute
15 Massa feita com a tapioca que eacute extraiacuteda da mandioca e assada sobre o forno virando uma espeacutecie de panqueca
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um saber que eacute passado de pai para filho e se caracteriza como uma cultura material e imaterial camponesa Apesar da feitura da farinha ser trabalhosa e demandar tempo muitas famiacutelias ainda preferem produzir a farinha para consumo proacuteprio ao inveacutes de compra-la pronta na feira Esse fato demonstra uma resistecircncia ao capital que a todo custo tenta destruir o conhecimento camponecircs (MESZAacuteROS 2008) oferecendo-lhes alternativas que a princiacutepio parecem ser mais ldquovantajosasrdquo Portanto este artigo tem por objetivo analisar a farinhada como uma forma de resistecircncia e conhecimento camponecircs a partir de um enfoque etnograacutefico caracterizando as etapas da produccedilatildeo a divisatildeo do trabalho as ferramentas e os saberes envolvidos a partir da observaccedilatildeo participante e de registros fotograacuteficos DESENVOLVIMENTO O campesinato eacute significativamente responsaacutevel pela produccedilatildeo de alimentos no Brasil dentre os quais proveacutem deste setor 87 da produccedilatildeo de mandioca (WANDERLEY 2015) Eacute a mandioca (Manihot Esculenta Crantz) a mateacuteria prima utilizada para produzir a Farinha que eacute um dos alimentos mais consumidos diariamente pelos camponeses A farinha eacute produzida em um local chamado casa de farinha que tem a estrutura de uma casa como o proacuteprio nome sugere onde estatildeo dispostos os instrumentos utilizados no processo O tiacutetulo de ldquocasardquo tambeacutem pode estar relacionado ao fato de que em dias de farinhada o local se torna a segunda casa da famiacutelia onde todos ficam reunidos inclusive fazendo as refeiccedilotildees no local (SILVA SILVA 2015) Eacute um espaccedilo de sociabilidades troca de informaccedilotildees sobre teacutecnicas e o locus ideal para qualquer anaacutelise que trate de reciprocidade solidariedade e haacutebitos alimentares (COUTINHO 2015)
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As ferramentas de maior porte utilizadas na produccedilatildeo de farinha satildeo a prensa o rodete o coxo e o forno Os demais utensiacutelios utilizados satildeo faca paacute rodo peneira bacias e sacos Vale destacar que na casa de farinha observada no povoado Flexas todas as ferramentas utilizadas satildeo totalmente manuais Uma farinhada dura em meacutedia 16 horas mas a preparaccedilatildeo comeccedila muito antes Pois a mandioca leva no miacutenimo 18 meses para lsquoficar prontarsquo Depois de plantar a mandioca e passado os 18 meses ela jaacute estaacute ldquoboa de arrancarrdquo ou seja jaacute estaacute pronta para ser extraiacuteda O primeiro passo eacute arrancar a mandioca A quantidade a ser arrancada vai depender da finalidade da farinha Por exemplo se a farinha eacute apenas para consumo ldquouma terccedilardquo (30 quilos) satisfaz as necessidades da famiacutelia por mais ou menos dois meses desta forma 02 carreiras satildeo suficientes Mas se o produto seraacute vendido as medidas utilizadas seratildeo ldquomeia quartardquo (60 quilos) ou ldquouma quartardquo (120 quilos) Dessa forma a quantidade de mandioca a ser arrancada aumenta Cabe destacar que as regras de pesos e medidas observados tambeacutem podem ser considerados como fator de resistecircncia camponesa A retirada das raiacutezes da malhada (local onde satildeo produzidos alimentos para a proacutepria subsistecircncia como tambeacutem para serem vendidos nas feiras A malhada diferentemente da roccedila tem uma extensatildeo menor fica proacutexima a casa e tem uma maior rotatividade de cultivos) eacute tarefa realizada por homens por exigir mais forccedila O homem arranca a mandioca e carrega as raiacutezes em carrinhos de matildeo e despeja com cuidado dentro da casa de farinha As mulheres ou os filhos lavam as raiacutezes retirando a terra e colocam em cima de sacos Depois disso eacute a hora de ldquorasparrdquo as mandiocas Utiliza-se a palavra ldquorasparrdquo ao inveacutes de ldquodescascarrdquo pelo fato da camada de casca a ser retirada ser bem fina diferente de quando se descasca a macaxeira que pode ser cozida Essa atividade eacute realizada com uma faca bem amolada e segundo as
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falas observadas eacute preciso ldquodeixar o braccedilo molerdquo para raspar mais raacutepido Raspar as mandiocas eacute tarefa principal da mulher e dos filhos mas o homem tambeacutem participa depois que termina seus afazeres Segundo relatos haacute algum tempo atraacutes as raspagens de mandiocas eram momentos de descontraccedilatildeo onde a famiacutelia e amigos se reuniam ateacute altas horas conversando enquanto realizavam a atividade sob a luz do candeeiro Depois de terminar o trabalho iam todos tomar banho em tanques e jantar retornando para suas casas para no dia seguinte logo cedo retomar o trabalho O ato de raspar a mandioca eacute tambeacutem um momento de aprendizado onde a matildee ensina os filhos o jeito certo de realizar a tarefa Ela por possuir mais habilidade ldquocoloca a meiardquo ou seja raspa a metade da mandioca e o filho ldquotira a meiardquo descascando o resto e colocando a mandioca descascada dentro de bacias ou outros recipientes Raspar a metade aleacutem de ser uma forma de realizar o trabalho mais raacutepido eacute um meio de manter a higiene natildeo pegando na parte descascada da raiz com as matildeos sujas (Figura 01)
Figura 01- Mandiocas raspadas pela metade ldquoa meiardquo
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Fonte COSTA 2018
Esse trabalho geralmente eacute realizado no fim da tarde e
adentra a noite No dia seguinte logo cedo o trabalho eacute retomado Depois de descascadas as mandiocas satildeo ldquoreladasrdquo numa ferramenta chamada rodete Essa tarefa pode ser realizada por um homem ou mulher mas nunca pelos filhos pois pela falta de experiecircncia podem acabar se machucando As mandiocas satildeo inseridas numa espeacutecie de maacutequina que tritura e a massa vai sendo depositada dentro do coxo que eacute colocado embaixo do rodete Apoacutes serem reladas eacute o momento de retirar a tapioca que serve para fazer o beiju que natildeo pode faltar em dia de farinhada Essa atividade eacute feita por uma mulher que coloca a massa numa espeacutecie de coador e espreme ateacute que a aacutegua saia sobrando a tapioca O liacutequido extraiacutedo nesse processo eacute chamado de ldquomandipueirardquo (aacutecido cianiacutedrico) (Figuras 02 e 03)
Figura 02 ndash Mandiocas sendo trituradas no rodete
Fonte COSTA 2018
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Figura 03 ndash retirando a tapioca
Fonte COSTA 2018
O proacuteximo passo eacute ldquoprensarrdquo a massa ou seja espreme-la numa ferramenta chamada Prensa ateacute que saia completamente a mandipueira A massa eacute colocada dentro de um saco e encaixada na prensa a parte superior chamada ldquomasseirardquo eacute abaixada sendo enroscada fazendo com que a massa seja pressionada extraindo o liacutequido Por este motivo a prensa fica afastada no fundo da casa de farinha para que seja mais faacutecil de limpar depois (Figura 04) Figura 04 ndash o ato de prensar
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Depois de prensada a massa precisa passar pelo rodete novamente para que fique solta para depois ser torrada Apoacutes esse procedimento ela eacute colocada sobre o forno jaacute quente para ser ldquomuchadardquo Murchar significa desintegrar a massa separando-a que aos poucos vai ficando seca Feito isso jaacute estaacute pronta para ser mexida Mexer a farinha eacute a tarefa para os mais experientes precisa de forccedila e agilidade pois eacute a etapa mais cansativa Neste processo o forno tem que estaacute bem quente para que a farinha fique boa e os movimentos com o rodo ou a paacute precisam ser raacutepidos para que ela natildeo queime (Figura 05)
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Figura 05 ndash Mexendo a farinha
Fonte COSTA 2018
Depois de mexida o uacuteltimo passo eacute peneirar a farinha para tirar os gratildeos mais grauacutedos chamados de caroccedilos Essa atividade eacute feita pela mulher juntamente com os filhos Depois de peneirada a farinha eacute ensacada e pesada e jaacute estaacute pronta para o consumo ou para ser comercializada Nesse momento final com o forno ainda quente eacute hora de assar os beijus que podem ser apenas de tapioca ou ser acrescentado amendoim
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ou coco Eacute comum distribuir os beijus com os vizinhos ou com algueacutem que tenha participado da farinhada Todo esse processo eacute cansativo e trabalhoso principalmente por que atualmente as famiacutelias natildeo satildeo mais numerosas como haacute alguns anos atraacutes Mas mesmo assim o trabalho natildeo eacute tido como um fardo (MESZAacuteROS 2008) pois representa a autonomia do camponecircs que escolheu produzir o seu proacuteprio alimento e repassa o seu conhecimento para os filhos CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Thompson (1998 p 17) assinala que ldquoCultura eacute entendida como um sistema de atitudes valores e significados compartilhados e as formas simboacutelicas (desempenhos e artefatos) em que se acham incorporadosrdquo Dessa forma a cultura material camponesa estaacute tambeacutem relacionada aos costumes que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo as formas de lidar com a terra e fazer o trabalho aos objetos e ferramentas proacuteprios de uso camponecircs e a sua forma de enxergar o mundo Portanto a farinhada se caracteriza como expressatildeo da cultura material camponesa Eacute um saber proacuteprio dos camponeses e merece ser reconhecido e valorizado Visto que atualmente a produccedilatildeo da farinha estaacute quase que completamente mecanizada a casa de farinha estudada e as ferramentas utilizadas representam uma resistecircncia ao processo de desenvolvimento do Capital pois satildeo totalmente manuais e por isso merecem ser preservadas A farinhada eacute a representaccedilatildeo da autonomia camponesa que planta a mandioca colhe e produz a farinha sem precisar pagar nada por isso Representa tambeacutem o sentimento de solidariedade e fraternidade dessa classe simbolizado na entrega de beijus e na ajuda na raspagem da
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mandioca Aleacutem disso as ferramentas utilizadas juntamente ao saber fazer satildeo importantes para o entendimento do processo de formaccedilatildeo territorial do municiacutepio pois eacute uma atividade que persistem ao longo do tempo REFEREcircNCIAS COUTINHO Andrea Lima Duarte A ldquofeitura da farinhardquo notas etnograacuteficas de uma farinhada no Alto Sertatildeo da Bahia p 219-243 In DENARDIN Valdir Frigo KOMARCHESKI Rosilene (Orgs) Farinheiras do Brasil Tradiccedilatildeo Cultura e Perspectivas da Produccedilatildeo Familiar de Farinha de Mandioca Matinhos UFPR litoral 2015 297p LIMA JUacuteNIOR F A de Carvalho Monographia Historica do Municipio de Itabayana Revista Trimestral do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Sergipe Aracaju vol 2 ndeg 4 1914 p 128-149 Disponiacutevel em lthttpwwwihgseorgbrrevistas04pdfgt Acesso em 29 out 2015 MEacuteSZAacuteROS Istvaacuten O desafio e o fardo do tempo histoacuterico o socialismo no seacuteculo XXI Traduccedilatildeo de Ana Cotrim e Vera Cotrim Satildeo Paulo Boitempo 2008 SILVA Cirlene do Socorro Silva da SILVA Maria das Graccedilas da Casas de farinha cenaacuterios de (con)vivecircncias saberes e praacuteticas educativas P 59-81 In DENARDIN Valdir Frigo KOMARCHESKI Rosilene (Orgs) Farinheiras do Brasil Tradiccedilatildeo Cultura e Perspectivas da Produccedilatildeo Familiar de Farinha de Mandioca Matinhos UFPR litoral 2015 297p SOUZA Acircngela Fagna Gomes de Saberes Dinacircmicos o uso da etnografia nas pesquisas geograacuteficas qualitativas In
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MARAFON Glaucio Joseacute et al Pesquisa Qualitativa em Geografia Reflexotildees teoacuterico conceituais e aplicadas Rio de Janeiro- eduerj 2013 p 55-68 THOMPSON E P Costumes em Comum Traduccedilatildeo Rosaura Eichemberg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1998 WANDERLEY Maria de Nazareth Baudel O campesinato Brasileiro uma Histoacuteria de resistecircncia RESR Piracicaba-SP vol 52 supl 1 p s025-s044 2014
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A IMPORTAcircNCIA DO CONSOacuteRCIO PECUAacuteRIALAVOURA COMO ESTRATEacuteGIA
CAMPONESA NO AGRESTE DE ITABAIANA ndash SERGIPE
Weverton de Jesus Barbosa sup1
Joyce Almeida Santos sup2 Mayara de Santana Silva Santos sup3
(Universidade federal de Sergipe-Campus Professor Alberto Carvalho)
(Graduandos-Geografia) E mail wevertonfungmailcom
joycealmeida19hotmailcom Lolly_santanhotmailcom
RESUMO
A agricultura camponesa eacute uma atividade milenar mesmo ao passar por diferentes processos de produccedilatildeo do espaccedilo e expropriaccedilatildeo desvalorizaccedilatildeo e ataques constantes do grande capital mostra sua forccedila e importacircncia para o mundo eacute esta atividade que nutre boa porta da populaccedilatildeo no caso especifico do Brasil Diante dos desafios enfrentados pelos camponeses ainda eacute ele que oferece e abastece a populaccedilatildeo com os seus produtos nas feiras livres e pequenos mercados Nesse contexto mesmo com a ocorrecircncia de desajustes econocircmicos diminuiccedilatildeo do preccedilo pela superproduccedilatildeo O camponecircs consegue se sobrepor e boa parte da produccedilatildeo eacute para consumo proacuteprio e algumas culturas satildeo aproveitadas na alimentaccedilatildeo do rebanho em especial o gado bovino No entanto com a modernizaccedilatildeo a princiacutepio nas cidades contribuiu para uma mudanccedila significativa no campo Com a necessidade de se adequar a nova realidade imposta pelo modus operandi da vida citadina transforma radicalmente a vida no
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campo O investimento do grande capital no campo eleva continuamente o aumento exponencial das mobilidades de somas incalculaacutevel de camponeses para a cidade expropriado do campo sem condiccedilotildees de produzir e criar seus rebanhos Poreacutem a acessibilidade agrave modernizaccedilatildeo natildeo estaacute disponiacutevel a todos pois tem um alto custo e necessita de grande soma de investimento e capital tanto em moeda como em forccedila de trabalho especializada Sendo assim a relaccedilatildeo pecuaacuteria e pequena agricultura teve continuidade nas pequenas propriedades camponesas Essa relaccedilatildeo ainda eacute muito presente tendo grandes iacutendices na regiatildeo do Agreste sergipano iniciada seacuteculo XVII Palavras-chave Camponecircs Pecuaacuteria Lavoura INTRODUCcedilAtildeO
A agricultura camponesa eacute caracterizada por uma produccedilatildeo diversificada de alimentos em pequenas propriedades com o envolvimento da famiacutelia eacute considerada a matriz produtiva da agroecologia
No agreste Sergipano essa caracteriacutestica da agricultura camponesa tem uma profunda ligaccedilatildeo com a pecuaacuteria o agricultor camponecircs para manter seu pequeno rebanho bovino usa as sobras ou parte de sua produccedilatildeo o que natildeo serve para o consumo humano (como a ramagem da batata doce o peacute de amendoim a maniccediloba e tamboeira da macaxeira e mandioca e a palha do milho) aliado aos produtos que natildeo consegue vender eacute revertido em composto alimentar na dieta animal
Por outro lado o animal aleacutem de fornecer o leite a carne e o couro fornecem tambeacutem o adubo orgacircnico bovino (esterco) que eacute utilizado na terra para a fertilizaccedilatildeo pois a adubaccedilatildeo orgacircnica proporciona uma reduccedilatildeo de custos na produccedilatildeo menor utilizaccedilatildeo de adubos quiacutemicos Desta forma
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esta ligaccedilatildeo eacute utilizada como forma de reduccedilatildeo de custeios com consumo de insumos agropecuaacuterios pois a regiatildeo natildeo possui um alto padratildeo tecnoloacutegico em maquinaacuterios Aleacutem do fator econocircmico esta forma da agricultura camponesa traz outros benefiacutecios como por exemplo a utilizaccedilatildeo desses subprodutos na alimentaccedilatildeo bovina traz nutrientes importantes para os animais assim como o adubo bovino orgacircnico para a terra
Essa caracteriacutestica da agricultura em conciliaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de gado em pequenas propriedades natildeo eacute recente estaacute presente desde a chegada dos portugueses na regiatildeo iniciada no seacuteculo XVII embora nesse periacuteodo a concentraccedilatildeo da terra jaacute se prenunciava como caracteriacutestica marcante atraveacutes das doaccedilotildees de Sesmaria forma pela qual Portugal encontrou para a ocupaccedilatildeo do territoacuterio Apesar possibilitar agrave desconcentraccedilatildeo fundiaacuteria em muitas ocasiotildees a propriedade do agricultor camponecircs eacute tatildeo pequena que natildeo daacute para o sustento familiar a renda eacute baixa devido a minifundializacatildeo da terra uma vez que em maioria a posse da terra eacute por meio da heranccedila sendo desta forma obrigados vender sua forccedila de trabalho em grandes e meacutedia propriedades para conseguir manter o sustento da famiacutelia
Ao analisar dados do IBGE 2016 eacute possiacutevel verificar essas caracteriacutesticas de produccedilatildeo por exemplo no municiacutepio de Itabaiana em 2016 continha 3651 unidades de estabelecimento agropecuaacuterios relacionados agraves terras de ldquoagricultura familiarrdquo dessas unidades 1624 possuiacuteam rebanhos bovinos os nuacutemeros de cabeccedilas se aproxima 11189 Aleacutem das unidades tambeacutem eacute possiacutevel observar que o nuacutemero de trabalhadores nesses estabelecimentos eacute bem expressivo que os da ldquoagricultura natildeo familiarrdquo No municiacutepio de Moita Bonita por exemplo em 2016 continha cerca de 2258 pessoas trabalhando na ldquoagricultura familiarrdquo com apenas 76 na agricultura natildeo familiar
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DESENVOLVIMENTO
A PRODUCcedilAtildeO DO ESPACcedilO AGRAacuteRIO DO AGRESTE DE ITABAIANA
O processo de colonizaccedilatildeo das terras localizada no Agreste sergipano foi iniciado em 1601 segundo citado por (SANTOS 2011) conforme a carta de doaccedilatildeo datada de 10 de marccedilo de 1601 No periacuteodo do seacuteculo XVII ao XVIII a terra estava responsaacutevel por 22 sesmeiros e a principal atividade era desenvolver a criaccedilatildeo de gado embora a populaccedilatildeo tambeacutem se dedica a agricultura
[] No periacuteodo que vai do seacuteculo XVII ao XVIII o espaccedilo agraacuterio do Agreste Sertatildeo de Itabaiana estava ocupado por 22 sesmeiros [] verifica-se que a atividade principal era a criaccedilatildeo de gado [] A carta de doaccedilatildeo citada enfatiza muito bem os objetivos dos requerentes ou seja desenvolver a criaccedilatildeo de gado principalmente apesar da populaccedilatildeo se dedicar tambeacutem a agricultura (SANTOS 2011 p79)
A instalaccedilatildeo na regiatildeo via sesmarias natildeo era a uacutenica
forma de ocupaccedilatildeo havia tambeacutem a presenccedila do pequeno lavrador que ocupava principalmente terras devolutas de grandes proprietaacuterios como informa Jose de Souza Martins
[] A ocupaccedilatildeo da terra obedecia a dois caminhos distintos de um lado o pequeno lavrador que ocupava terras presumivelmente devolutas de outro o grande fazendeiro que por via legal obtinha cartas de sesmarias mesmo em aacutereas onde jaacute existiam posseiros (MARTINS apud SANTOS 2011 p41)
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Com o fim do regime de sesmarias em 1822 no Brasil aleacutem de impulsionar a transformaccedilatildeo de terras puacuteblicas em grandes latifuacutendios tambeacutem impulsiona as ocupaccedilotildees dos pequenos e meacutedios agricultores e tornou o acesso agrave terra mais ldquodemocraacuteticardquo atraveacutes do apossamento como mecanismo de apropriaccedilatildeo
[] Atraveacutes da revoluccedilatildeo de 17 de julho de 1822 teve fim o regime das sesmarias no Brasil A partir dessa data eacute bem verdade sucederam-se demarcaccedilotildees de terras puacuteblicas transformadas em imensos latifuacutendios mas tambeacutem ganharam impulso as ocupaccedilotildees de glebas menores por parte de pequenas e meacutedios agricultores (SANTOS 2011 p41)
A Lei de terras de 1850 tambeacutem traz consequecircncias era ldquonecessaacuteria uma legislaccedilatildeo que tutelasse e legitimasse a propriedade da terrardquo (SANTOS p42) Partindo de interesses dos latifundiaacuterios para que desta forma ldquoimpedisse o acesso agrave terra por parte dos ex-escravos imigrantes e dos homens livres pobresrdquo (SANTOS p42) Desta forma estabelecia a proibiccedilatildeo da aquisiccedilatildeo de terras devolutas a natildeo ser atraveacutes de compra
Embora a regiatildeo do Agreste Sertatildeo de Itabaiana tivesse como atividade criatoacuteria e agriacutecola no iniacutecio do seacuteculo XIX natildeo passava de atividade de subsistecircncia e a regiatildeo natildeo apresentava melhorias ldquoNa vila de Itabaiana principal centro urbano seus novecentos e noventa e nove habitantes eram os mais pobres de toda comarcardquo (SANTOS 2011 p 80 e 81)
De acordo com (Santos 2011 p 122) No censo Agriacutecola de 1920 foram identificadas 1211 propriedades na regiatildeo do Agreste Sertatildeo de Itabaiana As propriedades com menos de 41 hectares (490) ocupavam 100 da aacuterea total a meacutedia propriedade com 278 ocupava 202 e as grandes
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232 concentravam 698 da aacuterea No periacuteodo entre 1920 a 1925 houve um aumento no grau de concentraccedilatildeo o iacutendice de Gini passou de 058 para 063 em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo da aacuterea meacutedia das pequenas propriedades e aumento das propriedades entre 41ha a 100ha e estabilidade das grandes propriedades
No censo agraacuterio de 1920 Santos (2011) tambeacutem daacute ecircnfase a produccedilatildeo vegetal do municiacutepio de Itabaiana que pode ser considerada como o celeiro da regiatildeo sendo o maior produtor de milho feijatildeo mandioca cafeacute e algodatildeo este responsaacutevel por 455 da produccedilatildeo da regiatildeo A produccedilatildeo vegetal predominava a em relaccedilatildeo a animal pois o valor no setor chegava a 700 devido ao alto valor do algodatildeo Ele tambeacutem ressalta que desde essa eacutepoca o Agreste Sertatildeo de Itabaiana apresentava um baixo grau de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas no total de 1211 propriedades apenas 41 possuiacutea maquinaacuterios e apesar da impotecircncia do algodatildeo (considerada lavoura de pobre e cultivada em consorciamento com o feijatildeo e presente em todos tamanhos de propriedades de pequenas a grandes) na regiatildeo existia apenas 10 descaroccediladores de algodatildeo Na produccedilatildeo de cana de accediluacutecar ldquoutilizavam instrumentos rudimentares como enxada foice e faccedilatildeordquo (SANTOS p127)
Santos (2011) destaca tambeacutem as pequenas propriedades nesse periacuteodo e como alcanccedilou a atual conjuntura caracteriacutestica marcante da regiatildeo
[] No Agreste sertatildeo de Itabaiana as propriedades na faixa de -5ha correspondia a 43 daquelas situadas no estrato de -41ha (594 propriedades) enquanto os de 5-20ha representavam 325 o os de 20-41ha245 Ou seja as propriedades na faixa de -5ha eram propriedades quantitativas nesse periacuteodo provavelmente em face do processo histoacuterico
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de desmembramento das unidades agriacutecolas adquiridas principalmente por heranccedila e no desenvolvimento de culturas alimentares voltadas para o consumo familiar (SANTOS 2011 p177)
Essas propriedades enfrentavam desde essa eacutepoca
seacuterias dificuldades
[] As propriedades de aacuterea de -5 ha (255 estabelecimentos) com aacuterea meacutedia de 034 ha produzem anualmente 4207 Kg de farinha de mandioca por estabelecimento Sendo o consumo anual de 550 Kg necessitavam ainda de 993 Kg que monetarizado rendia um saldo negativo de 9$930 (SANTOS 2011 p177)
Desta forma esse grupo de saldo negativo necessitava do trabalho alugado nas meacutedias e grandes propriedades para atingir o equiliacutebrio de produccedilatildeoconsumo anual Nas meacutedias propriedades de 5-20 haacute a produccedilatildeo de farinha de mandioca do feijatildeo e criaccedilatildeo de bovinos garantia a sua reproduccedilatildeo ldquoAs propriedades de 50-20 ha (194) produzem 16087 Kg anuais de farinha de mandioca que subtraiacutedos do consumo anual necessaacuterio resultariam em 10887 Kg (108$870)rdquo (SANTOS 2011 p178)
Jaacute nas maiores propriedades de 20-41 ha garantiam o consumo anual apenas por ganhos provenientes da produccedilatildeo de farinha de mandioca e aleacutem da mandioca essas propriedades eram produtoras de feijatildeo e criaccedilatildeo de gado
[] As propriedades do grupo de 20-41 ha (145) conseguiam produzir em uma aacuterea meacutedia de 27 haacute por estabelecimentos 33412 Kg de farinha de mandioca com um excedente de 28212 Kg (282$120) Eram produzidos tambeacutem uma meacutedia de 79ha por
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propriedade 9796 Kg de feijatildeo com um excedente de 8236 Kg (164$720) [] Aleacutem disso estas propriedades tinha tambeacutem na pecuaacuteria uma receita meacutedia de 5246$911 (SANTOS 2011 p178)
Eacute notoacuteria a diferenccedila no trato com a terra e na lida da
vida no campo quando se observa as diferentes extensotildees das propriedades Nas menores os proprietaacuterios trabalham com a famiacutelia e precisam diversificar as atividades com o uso de alguns cultivares que ao mesmo tempo serve de fonte de alimentaccedilatildeo para a famiacutelia como para a venda e o que natildeo sobre eacute utilizado na alimentaccedilatildeo do rebanho bovino que aleacutem de fornecer o leite o couro e a carne tambeacutem oferece o adubo orgacircnico
LAVOURA-PECUAacuteRIA COMO ESTRATEacuteGIA CAMPONESA NO AGRESTE DE ITABAIANA
O crescente desenvolvimento tecnoloacutegico na agricultura vem possibilitando o homem transformar o meio ambiente a aumentar a produccedilatildeo mas nem sempre estaacute disponiacutevel a todos Esses recursos em sua maioria concentrados em grandes propriedades natildeo eacute viaacutevel a utilizaccedilatildeo de maquinaacuterios em pequenas propriedades os camponeses natildeo dispotildeem de recursos financeiros nem condiccedilotildees para tal
[] Para administrar com eficiecircncia e eficaacutecia uma unidade produtiva agriacutecola eacute imprescindiacutevel dentre outras variaacuteveis o domiacutenio da tecnologia e do conhecimento dos resultados dos gastos com os insumos e serviccedilos em cada fase produtiva da lavoura que tem no custo um indicador importante das escolhas do produtor [] O
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desenvolvimento tecnoloacutegico das maacutequinas e implementos agriacutecolas as alteraccedilotildees nas relaccedilotildees trabalhistas no meio rural a intensidade e os resultados de pesquisas no ramo agropecuaacuterio e as modificaccedilotildees nos marcos regulatoacuterio de mudas e sementes do uso de recursos hiacutedricos do seguro rural e dos fertilizantes e agrotoacutexicos satildeo fatos que impactam nos custos de produccedilatildeo agriacutecola (Conab 2010 p0809)
Desta forma os maquinaacuterios estatildeo geralmente voltados para grandes propriedades monocultoras e suas produccedilotildees estatildeo voltadas a exportaccedilatildeo e para produccedilatildeo de commodities
[] O agronegoacutecio se caracteriza pela produccedilatildeo baseada na monocultura especialmente de produtos cujos valores satildeo ditados pelas regras do mercado internacional pela utilizaccedilatildeo intensiva de insumos quiacutemicos e de maacutequinas agriacutecolas pela adoccedilatildeo de pacotes tecnoloacutegicos pela padronizaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos sistemas produtivos pela artificializaccedilatildeo do ambiente e pela consolidaccedilatildeo de grandes empresas agroindustriais (SANTILLI 2009 apud Conab 2010 p12)
As pequenas propriedades de agricultura camponesa por sua vez aleacutem de possibilitar a desconcentraccedilatildeo fundiaacuteria sua produccedilatildeo agriacutecola eacute diversificada e muitas vezes conciliada com outras atividades como a pecuaacuteria
[] A agricultura camponesa e familiar sempre teve como caracteriacutestica baacutesica a policultura (milho feijatildeo arroz mandioca hortaliccedilas frutiacuteferas etc) e nesse modelo a famiacutelia eacute proprietaacuteria dos meios de produccedilatildeo e assume o trabalho no estabelecimento