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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
MESTRADO EM CONSTITUIÇÃO E GARANTIA DE DIREITOS
LINHA DE PESQUISA 1 – CONSTITUIÇÃO, REGULAÇÃO ECONÔMICA E
DESENVOLVIMENTO
MARCUS MENDONÇA GONÇALVES DE JESUS
O CONFLITO CULTURAL COMO ELEMENTO DO DIREITO E
DESENVOLVIMENTO NO MUNDO COMPLEXO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE
O CRIME DE TERRORISMO A PARTIR DA INTERNET
NATAL/RN
2017
MARCUS MENDONÇA GONÇALVES DE JESUS
O CONFLITO CULTURAL COMO ELEMENTO DO DIREITO E
DESENVOLVIMENTO NO MUNDO COMPLEXO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE
O CRIME DE TERRORISMO A PARTIR DA INTERNET
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Direito da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Constituição e Garantia de Direitos.
Nome da orientadora: Profª. Drª. Patrícia Borba
Vilar Guimarães
NATAL/RN
2017
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Jesus, Marcus Mendonça Gonçalves de.
O conflito cultural como elemento do direito e desenvolvimento no mundo complexo:
um estudo de caso sobre o crime de terrorismo a partir da internet / Marcus Mendonça
Gonçalves de Jesus. - Natal, 2017.
146f.: il.
Orientador: Profa. Dra. Patrícia Borba Vilar Guimarães.
Dissertação (Mestrado em Direito) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Direito.
1. Mundo virtual - Brasil - Dissertação. 2. Direito - Desenvolvimento - Dissertação. 3.
Conflitos culturais - Dissertação. 4. Terrorismo - Dissertação. 5. Operação Hashtag -
Dissertação. I. Guimarães, Patrícia Borba Vilar. II. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 34:004.056.53(81)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
MESTRADO EM CONSTITUIÇÃO E GARANTIA DE DIREITOS
A dissertação “O conflito cultural como elemento do direito e desenvolvimento no mundo
complexo: um estudo de caso sobre o crime de terrorismo a partir da internet”, de
autoria do mestrando Marcus Mendonça Gonçalves de Jesus, foi avaliada e aprovada pela
comissão examinadora formada pelos seguintes professores:
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Profª. Drª. Patrícia Borba Vilar Guimarães - UFRN
Presidente
________________________________________________
Profª. Drª. Adriana Carla Silva de Oliveira - ESMARN
1º Examinadora
________________________________________________
Prof. Dr. Yanko Marcius de Alencar Xavier – UFRN
2º Examinador
Natal/RN, 10 de Outubro de 2017
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Symone Fernandes, Yuri Marques, Naline
Araújo, Josi Venâncio, Patrícia Borba, Andreia Regina e Ziliane
Marques, pelo apoio incessante na vida pessoal e acadêmica.
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar à minha orientadora, a professora Patrícia Borba Vilar Guimarães, pessoa
extraordinária e profissional dedicada, a qual me acompanha desde a graduação, sempre me
ensinando, oferecendo-me oportunidades de aprimoramento e me orientando com tanta paciência e
presteza, a quem tenho como exemplo para o exercício da docência e da pesquisa acadêmica.
Agradeço ao professor Yanko Marcius de Alencar Xavier, que me acompanha desde a época do PRH,
sempre acreditando no meu trabalho, pelas oportunidades e pela participação nas bancas de
qualificação e defesa.
Agradeço à professora Adriana Carla Silva de Oliveira, por aceitar tão gentilmente em compor as
bancas de qualificação e defesa e pelas contribuições valiosas para o aprimoramento deste trabalho.
Agradeço ao professor Erick Wilson Pereira, pessoa gentil e profissional marcante na minha carreira.
Agradeço à professora Maria dos Remédios Fontes Silva, sempre atenciosa comigo e que admiro pela
forma responsável com que dirige o PPGD há tanto tempo.
Agradeço à professora Ana Beatriz Presgrave, profissional de referência para mim, por quem tenho e
de quem recebo grande consideração.
Agradeço aos professores José Orlando Ribeiro Rosário, Cristina Foroni Consani, Fabrício Germano,
Ingrid Zanella, Ivan Lira, Samuel Gabbay, Adamo Perrucci, Vladimir da Rocha França, Otacilio
Silveira e Artur Cortez Bonifácio, professores nas épocas de graduação e de mestrado, pelos
conhecimentos transmitidos.
Agradeço a toda minha turma do mestrado 2015, em especial aos amigos da linha 1: Higor Kalliano,
Mário Augusto, Carlos Alexandre, Carlos Rios, Ana Cláudia Barros, Mariana Rocha, Sânzia Mirelly,
Cíntia Dantas e Caio Ramon e de forma mais especial ainda, Ziliane Marques, minha amiga sempre
presente e parceira acadêmica desde a época da graduação. Vocês contribuíram decisivamente para
que a experiência de fazer mestrado fosse prazerosa e memorável. Fizemos história no PPGD com
nossa união e nossa dedicação. Sinto orgulho de todos vocês e torço para que cada um conquiste tudo
aquilo que almeja. Lembrarei tudo pelo que passamos juntos, as aulas, cada trabalho acadêmico,
nossos happy hours, a festa de aniversário surpresa para mim em 2016, as brincadeiras e acima de
tudo, a forma solidária com que sempre convivemos.
Agradeço a Symone Fernandes de Melo, pessoa sublime e de caráter ímpar com quem eu sempre pude
contar em todas as horas e compartilhar a minha vida.
Agradeço à minha ex-professora e hoje grande amiga Andreia Regina, que sempre me estendeu a mão
e que me faz buscar o melhor de mim mesmo.
Agradeço a Yuri Marques de Melo Santiago, meu grande amigo desde a graduação, que se tornou um
irmão para mim com sua presença cativa e sempre solícita, sobretudo nas dificuldades.
Agradeço à minha amiga Naline Araújo, pessoa inteligente, lutadora e formidável conselheira. Sempre
esteve ao meu lado, nutro por ela um afeto inexplicável e uma conexão sólida, de muita confiança e
respeito.
Agradeço à minha amiga Josi Venâncio, minha guerreira, um exemplo de determinação e um ponto de
equilíbrio para mim.
Agradeço à minha família: meus pais, Ana Lúcia e Saturnino; meus irmãos, Karla e Carlos; e meu
sobrinho Pedro Augusto, os quais aguardaram tanto por este momento em minha vida.
Agradeço a Liete Coelho, exímia professora e pessoa extremamente querida e virtuosa.
Agradeço a Noeli Vitorino, amiga e servidora exemplar da UFRN, que me acolheu de forma tão
afetuosa desde a época da graduação.
Agradeço às minhas amigas de longa data Luana Andréa, Luciana Araújo e Ranielle Oliveira, que
desde 2009 são presenças marcantes em minha vida, concedendo-me momentos tão alegres e
significativos.
Agradeço aos meus amigos Gabriel Souza, Jonathan Rocha, Alexandre Carlos, Isaac Igor, Daniel
Kaynan, Felipe Brito, Wagner Gouveia, Michael Otaviano, Fernando Galvão e Benjamim Deyvison,
grandes camaradas, homens de bem, que me fazem sentir a genuína amizade.
Agradeço às minhas amigas Priscila Henriques e Taliny Mendonça, com quem compartilho momentos
tão hilários e por serem pessoas que sempre acreditaram no meu potencial.
Agradeço às minhas amigas da época da graduação Diana Silva e Angélica Almeida, que ainda se
fazem presentes em minha vida, torcendo pelos meus êxitos.
Em memória de Maria de Lourdes Pinheiro Costa, minha inesquecível professora da época escolar, de
quem eu recebi tantos conhecimentos e cuidados.
Em memória de Felipe Gabriel da Silva Alvares, grande amigo, de quem sinto tanta saudade.
Agradeço a Girlene Fernandes, Ilda Pinheiro, Erica Fonseca e Ivoneide Pereira, pessoas especiais, que
de diferentes maneiras se fazem presentes na minha vida.
Agradeço a Maria Aliete Nascimento Paiva, Manoella Batista, Maria Claudia Saldanha e Roberto
Silvestre, pessoas responsáveis e profissionais honrados, sempre prestativos comigo.
Agradeço a Nancy Franco e Marta Franco e toda sua família, pelo carinho e acolhimento.
Agradeço a todos os que trabalham na secretaria do Programa de Pós-graduação em Direito (PPGD) e
no Nepsa II, em especial aos servidores Maria Lígia Pipolo, Dulce Vilela e Gilvan Bernardo, e
também aos bolsistas e funcionários da manutenção e da segurança, pelo comprometimento que
sempre denotaram em suas atividades, tornando mais agradável a estadia neste período acadêmico.
Agradeço a Denise Maciel de Paula, pela generosidade com que me apoiou quando precisei e de quem
guardo ótimas lembranças.
Agradeço a Erick Leonardo, exímio profissional, que me deu um suporte valioso durante o mestrado.
Agradeço ao meu grande mestre de muay thai Fábio Fontes, a quem devo gratidão e honra por ter me
transmitido as técnicas dessa nobre arte marcial, a qual tem suma importância na minha vida.
Em atenção aos meus queridos padrinhos Edna Lúcia, João Luzia e Maria Lúcia de Souza.
Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio institucional e financeiro
imprescindível para que eu pudesse realizar este mestrado.
Agradeço a todos os autores das obras que foram utilizadas na produção deste trabalho.
Agradeço ao apoio do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), na figura da drª Paula
Suylane, e ao IDEMA, instituições que me ofereceram suporte para que eu pudesse realizar produções
científicas durante este mestrado.
Agradeço ao Ícaro Colégio e Curso, onde concluí meu ensino médio, à direção, a toda equipe
pedagógica, docente e de manutenção, em especial à diretora Terezinha Martins e à professora
Marilene Lima da Guia.
Agradeço a Adriana Teixeira, Adriana Nara e à juíza Leila Nunes, pessoas responsáveis e afáveis com
quem eu tive a honra de trabalhar.
Agradeço ao cantor Jay Vaquer, esse artista talentoso e tão atencioso, que tive o prazer inenarrável de
conhecer, cujas músicas me acompanharam na produção desta dissertação.
Agradeço a todos os que de forma direta ou indireta contribuíram para a conclusão deste mestrado.
“E nada vai desmerecer tudo que ainda somos
toda certeza que supomos
mas a vida lá fora
tá chamando agora
e não demora!
quem dá mais?
na falta que a falta faz”.
(Jay Vaquer, em trecho da música “A falta que a falta faz”).
“Há quem procure o padre, outros se refugiam na poesia, eu procuro os meus amigos”
(Virginia Woolf).
“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam
escutar a música” (Friedrich Nietzsche).
“A verdade não resulta do número dos que nela creem” (Galileu Galilei).
“A sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade irá terminar sem igualdade e
liberdade” (Milton Friedman).
O meu nirvana
No alheamento da obscura forma humana,
De que, pensando, me desencarcero,
Foi que eu, num grito de emoção, sincero
Encontrei, afinal, o meu Nirvana!
Nessa manumissão schopenhauereana,
Onde a Vida do humano aspecto fero
Se desarraiga, eu, feito força, impero
Na imanência da Idéia Soberana!
Destruída a sensação que oriunda fora
Do tato - ínfima antena aferidora
Destas tegumentárias mãos plebéias -
Gozo o prazer, que os anos não carcomem,
De haver trocado a minha forma de homem
Pela imortalidade das Idéias!
(Augusto dos Anjos).
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o âmbito da segurança virtual no Brasil como
um elemento imprescindível para o desenvolvimento, uma vez que a internet e os meios
eletrônicos fazem parte da maior parte da população. Sendo assim, será verificada a forma
como o direito chancela essa área e como consequência, será oferecido o entendimento de
como o direito está aliado ao desenvolvimento. A título de estudo de caso, será verificada a
Operação Hashtag, da Polícia Federal, em 2016, a qual antecedeu o início dos Jogos
Olímpicos no Rio de Janeiro nesse mesmo ano. Nesse prisma de abordagem, é ressaltado um
estudo a respeito dos conflitos religiosos e culturais que ocorrem pelo mundo, na seara dos
choques entre civilizações, o que em tantos casos se manifesta em forma de terrorismo, cujo
conceito é esmiuçado nesta pesquisa, dado o fato de que ele começa, em muitos casos, no
ambiente virtual. Este trabalho se utiliza do método hipotético-dedutivo, o método de
procedimento que prevalece é o monográfico e de fontes secundárias, com ênfase em obras da
doutrina jurídica, análise da Constituição Federal e da legislação pertinente à área virtual,
além de livros nas áreas da antropologia cultural e da história, bem como da sentença da
Justiça Federal que condenou oito réus de acordo com a Lei Federal 13.260/2016, a qual
representa um marco no Brasil no combate ao terrorismo. O que se pode concluir é que o
Brasil demonstrou grande avanço no que se refere às exigências internacionais para
confrontar os grupos terroristas no momento em que sancionou uma lei específica para o tema
e que possui um aparato legal para disciplinar o uso da internet no país, como por exemplo, a
Lei Federal nº 12.965/2014, o Marco Civil da Internet.
Palavras-chave: Mundo virtual. Direito e Desenvolvimento. Conflitos culturais. Terrorismo.
Operação Hashtag.
ABSTRACT
The present work aims to analyze the scope of virtual security in Brazil as an essential
element for the development, since the internet and electronic media are part of the larger part
of the population. Thus, it will be verified how the law will seal this area and as a
consequence, will be offered the understanding of how law is allied to development. As a case
study, Operation Hashtag, of the Federal Police, will be verified in 2016, which preceded the
beginning of the Olympic Games in Rio de Janeiro that same year. In this approach, a study is
made of the religious and cultural conflicts taking place around the world, in the midst of the
clashes between civilizations, which in many cases manifests itself in the form of terrorism,
the concept of which is explored in this research, given the fact that it starts, in many cases, in
the virtual environment. This work uses the hypothetical-deductive method, the prevailing
method of procedure is monographic, and and secondary sources, with emphasis on works of
legal doctrine, analysis of the Federal Constitution and legislation pertinent to the virtual area,
besides of books in the areas of cultural anthropology and history, as well as the sentence of
Federal Court that convicted eight defendants in accordance with Federal Law 13.260/2016,
which represents a milestone in Brazil in the fight against terrorism. What can be concluded is
that Brazil has shown great progress in relation to international demands to confront terrorist
groups at the time it has sanctioned a specific law for the subject and that has a legal
apparatus to discipline the use of the Internet in the country, such as Federal Law No. 12.965 /
2014, the Civil Internet Framework.
Keywords: Virtual world. Law and Development. Cultural conflicts. Terrorism. Hashtag
Operation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – O Islamismo no mundo....................................................................................... 34
Figura 2 - Distribuição de muçulmanos por continente..................................................... 35
Figura 3 – Conversa no grupo “JUNDALLAH” do Telegram.......................................... 97
Figura 4 – Conversa no grupo “JUNDALLAH” do Telegram.......................................... 98
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Grupos fundamentalistas cristãos...................................................................... 37
Tabela 2 – Grupos fundamentalistas muçulmanos............................................................. 39
Tabela 3 – Mudanças trazidas pelo Marco Civil da Internet............................................ 78
Tabela 4 – Pedidos de nulidade na ação penal nº 504686367.2016.4.04.7000..................100
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABIN – Agência Brasileira de Inteligência
CF – Constituição Federal
COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras
D&D – Direito e Desenvolvimento
DIDH – Direito Internacional dos Direitos Humanos
EI – Estado Islâmico
FBI - Federal Bureau of Investigation
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IPS – Índice de Progresso Social
MPF – Ministério Público Federal
ONU – Organização das Nações Unidas
PF – Polícia Federal
PNAVSEC - Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência
Ilícita
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14
2 CULTURA, RELIGIÃO E TERRORISMO NO CENÁRIO DO MUNDO
COMPLEXO: O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES ............................................................. 19
2.1 ORIGENS, DEFINIÇÃO E MANIFESTAÇÃO DO TERRORISMO .............................. 23
2.2 O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO E AS PRÁTICAS TERRORISTAS: UM
OLHAR SOBRE O ISLÃ ......................................................................................................... 32
2.2.1 O fundamentalismo islâmico.........................................................................................36
2.2.2 A presença do Islamismo no Brasil..............................................................................41
2.3 A DIVERSIDADE CULTURAL E RELIGIOSA DO BRASIL FRENTE AO MUNDO
GLOBALIZADO......................................................................................................................43
3 O CONSTITUCIONALISMO E A RELAÇÃO COM O DIREITO E
DESENVOLVIMENTO (D&D)............................................................................................49
3.1 O CONSTITUCIONALISMO E SEU ADENSAMENTO HISTÓRICO..........................50
3.2 OS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 ... 56
3.2.1 A proteção da liberdade de crença, culto e organização religiosa na Constituição
Federal de 1988........................................................................................................................59
3.3 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E O DESENVOLVIMENTO...................61
3.4 A CONSTRUÇÃO TEÓRICA DO DESENVOLVIMENTO E SUA INSERÇÃO NO
DIREITO CONTEMPORÂNEO..............................................................................................67
4 A INTERFACE ENTRE O MUNDO VIRTUAL E O TERRORISMO: CASO
EXEMPLIFICADO DA OPERAÇÃO HASHTAG.............................................................74
4.1 O ARCABOUÇO JURÍDICO BRASILEIRO DE SEGURANÇA AO MEIO VIRTUAL....
.................................................................................................................................................. 75
4.2 O TRATAMENTO DO TERRORISMO NO ARCABOUÇO JURÍDICO BRASILEIRO...
.................................................................................................................................................. 81
4.3 AS OLIMPÍADAS DE 2016 NO BRASIL E OS RISCOS DE ATENTADOS
TERRORISTAS DURANTE O EVENTO...............................................................................88
4.4 A LEI FEDERAL Nº 13.260/2016 COMO ELEMENTO DE SEGURANÇA PARA OS
JOGOS OLÍMPICOS DE 2016................................................................................................91
4.5 A OPERAÇÃO HASHTAG E O USO DO MEIO VIRTUAL PARA A PRÁTICA DO
TERRORISMO.........................................................................................................................95
5 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 103
REFERÊNCIAS....................................................................................................................108
14
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho terá como objetivo geral estabelecer uma relação entre a tríade:
desenvolvimento, mundo virtual e terrorismo, e analisar como o direito contribui e interfere
nesse elo, uma vez que forem analisadas as normas jurídicas que regem essas temáticas.
Tendo em vista que a escalada de grupos terroristas e a forma como eles têm se apropriado de
recursos virtuais para propagar seus ideais e expandirem suas áreas de influência, torna-se
cabível ver como os aparatos virtuais e digitais são manipulados para ações claramente
destoantes do desenvolvimento, o que representa o grande problema a ser examinado nesta
pesquisa.
Esta obra deriva de artigo científico anterior, publicado como capítulo de livro, acerca
da possibilidade de ataques terroristas diante da ocorrência dos Jogos Olímpicos de 2016 na
cidade do Rio de Janeiro e como o arcabouço jurídico nacional encontrava-se à época para
prevenir e coibir esse tipo de ato.
Justifica-se este trabalho pela necessidade de criar um referencial teórico para estudos
acerca do terrorismo na realidade brasileira, área a qual carece de estudos mais profundos no
que se refere ao novo marco legal sobre a matéria, representado pela Lei Federal nº
13.260/2016, bem como entendê-la no atual contexto de combate ao terror e de disseminação
das informações nos meios virtuais, como se relaciona ao que se concebe como
desenvolvimento e as primeiras condenações penais com base nessa Lei.
Com o advento da internet, as relações humanas mudaram, os diferentes povos
ganharam um novo meio de se comunicarem. Em meio às relações mais dinâmicas,
propiciadas pela rede virtual, também se facilitou o intercâmbio cultural, em que comunidades
de costumes tão distintos passaram a ter contato com elementos intrínsecos à cultura de
outrem. Mas essa situação é visível, antes de tudo, pelo fenômeno da globalização, na qual há
intensa mobilidade de bens, serviços, pessoas e patrimônio imaterial entre as nações. Apesar
de que, essas trocas sempre aconteceram na história da humanidade, mas, na hodiernidade,
estão mais intensas, o que gera duas consequências marcantes: por um lado, a assimilação de
elementos de culturas diversas por cada povo, por outro lado, a resistência a esse processo, o
que leva a movimentos de autoafirmação nacional e cultural em vários pontos do planeta.
Nesse contexto de absorção de novos hábitos, as religiões, sistemas presentes desde as
épocas mais remotas da humanidade, resguardada sua importância de cunho subjetivo, têm
assistido emanarem em suas congregações movimentos de viés fundamentalista, conceito a
ser exposto neste trabalho, cujos membros mostram-se resignados na ideia de repúdio às
15
mudanças de comportamento social, fato muitas vezes agravado se as novas formas de agir e
fazer passarem a ser vistas como provenientes de um povo dito inimigo, fato que gera os
choques entre os civilizações no mundo complexo.
O fundamentalismo religioso contemporâneo traduz-se muitas vezes em terrorismo,
conjunto de atos que coloca em risco a integridade física de pessoas, destrói propriedades e
interfere na estabilidade política de países, inclusive conduzindo muitos desses a elaborarem
planos contra o terror sem muitas vezes considerar as perdas humanas e materiais que são
causadas.
O terrorismo, muitas vezes, associado unicamente ao Islamismo, pode ser verificado
em várias religiões, mas neste trabalho a explanação será voltada a essa religião, pela forma
como grupos terroristas, tais quais o Estado Islâmico (EI), Boko Haram e Taliban, sobretudo
o primeiro, vieram ganhando notoriedade na imprensa mundial, por sua atuação destrutiva
que não respeita fronteiras nacionais e vidas humanas. Por conta disso, tem-se visto um
crescimento no preconceito contra esse sistema de crenças por todo mundo, baseado em uma
visão simplista dela, que generaliza a conduta de todos os seus fiéis. No entanto, entenda-se
que o fundamentalismo também tem crescido no seio muçulmano, e grupos como o
supracitado tem conquistado a simpatia de indivíduos que aderem às causas propostas e
encontram no terrorismo um sentido para suas vidas.
Nesse panorama, a forma de fazer terrorismo também vem ganhando seus
incrementos, e a mais notória dessas novidades é o uso da internet como forma de
organização para esses grupos, inclusive na formação de células em países até então não
violados por atentados desse tipo, além da própria disseminação de suas ideias e conquista de
novos membros.
A internet desfaz fronteiras e a imprensa leva informações às massas, elementos que
grupos terroristas têm buscado aproveitar para difundir o pânico generalizado. A mídia, que
em tantos casos vive do sensacionalismo, tem sua pauta dirigida aos espectadores, ouvintes e
leitores alimentada pelos atos de crueldade de grupos terroristas. E se for pensado nas redes
sociais, em que o indivíduo tem maior liberdade, chegam ao conhecimento do público casos
de barbáries como execução de prisioneiros, às vezes, acompanhados de fotos e vídeos
estarrecedores.
Desde os ataques terroristas que atingiram os Estados Unidos em 11 de setembro de
2001, assumidos pela Al Qaeda, então liderada por Osama Bin Laden, o mundo passou a
refletir mais profundamente acerca do tema, o que inclui a busca por formas de combate a
esse fenômeno que está, ao que parece, em ascensão. Múltiplos ataques vêm sendo registrados
16
desde 2015, sobretudo, na Europa, sendo reivindicados em sua maior parte pelo Estado
Islâmico.
O modus operandi e os propósitos dos grupos terroristas são diferentes entre si, mas é
recorrente o registro de que vários deles carregam consigo o repúdio a costumes e valores
tidos como ocidentais, muitas vezes positivados nos ordenamentos jurídicos internos dos
Estados-nação e contemplados em tratados internacionais.
A ideia de direitos fundamentais ou direitos humanos encontra forte respaldo nos
países ocidentais como o Brasil. Esses direitos são diretamente afrontados pelos grupos
terroristas, a exemplo do Estado Islâmico, que vê no seu conjunto de ações uma forma de
reconstrução de um califado que abrace e proteja toda a comunidade muçulmana sunita.
Outro fato relevante acerca desse tema é a questão da imigração, em que países
europeus e Estados Unidos, principalmente, têm assistido a um aumento no número de
habitantes seguidores do Islã provenientes do Oriente Médio e do norte da África, além da
conversão de indivíduos próprios do país. Os imigrantes, muitas vezes, encontram-se alijados
na sociedade, não conseguem emprego e boas condições de vida nos países em que foram
morar, e essa marginalização repercute diretamente na absorção deles por grupos terroristas,
que lhes oferecem uma nova perspectiva de vida.
Nesse prisma de abordagem, pensa-se no desenvolvimento. O conceito é amplo e ele
pode ser visto como um direito fundamental, mas pensa-se em como ele entrelaça com as
questões do uso da internet e do terrorismo. A Constituição brasileira de 1988 menciona o
termo em vários pontos, e da leitura dela depreende-se um desenvolvimento que vai além da
questão econômica e da produção de riquezas, mas que também tem a ver com questões
sociais.
O desenvolvimento também é um objetivo a ser alcançado e a própria fruição dos
demais direitos fundamentais é indissociável desse fim, por isso mesmo, o acesso à internet e
dos meios tecnológicos faz parte de tal propósito, enquanto o terrorismo coloca em risco a
segurança virtual e física, comprometendo de forma incisiva o desenvolvimento pretendido.
Concomitante a isso, a exclusão de imigrantes do processo de desenvolvimento nos países
mais ricos explica, em partes, o fortalecimento do terrorismo.
Passando para a realidade do Brasil, ele entrou no contexto dos megaeventos
esportivos, tanto que foi sede dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007, a Copa
Mundial de Futebol Fifa em 2014 e sediou os Jogos Olímpicos em 2016, também no Rio de
Janeiro. É sabido que esse tipo de espetáculo envolve a participação de múltiplas delegações
estrangeiras, vultosos recursos humanos e financeiros, a criação de uma infraestrutura para
17
práticas esportivas e recepção dos atletas e evidentemente, para o desenvolvimento de um
aparato de segurança que atenda às exigências das entidades organizadoras.
Além disso, já existiam pressões internacionais para que todos os países, inclusive o
Brasil, criassem normas internas para tipificar e combater o terrorismo, situação que ganhou
força com a “Guerra ao Terror” declarada pelo Presidente estadunidense George W. Bush
após os ataques de 11 de setembro de 2011. Outro fator que fomentou a tipificação do
terrorismo na seara penal brasileira é que eventos esportivos já sofreram atentados que
dizimaram vidas, como nas Olimpíadas de Munique de 1972; nas Olimpíadas de Atlanta de
1996 e na Maratona de Boston de 2013.
Diante disso, houve no país um projeto para a inserção no Código Penal do crime de
terrorismo, que dividiu opiniões. Por um lado, o Brasil nunca foi alvo de ataques terroristas e
os Jogos Pan-Americanos de 2007 e a Copa do Mundo de 2014 transcorreram sem esse tipo
de acontecimento, mas por outro lado, era provável que as normas de direito internacional e a
existência da Lei Federal nº 7.170/1983 (Lei de Crimes contra a Segurança Nacional) não
fossem suficientes para coibir esse tipo de ato, além do mais naquele momento, em que
grupos extremistas ganhavam amplitude pelo mundo e mais ainda, quando recaía sobre o
Brasil a suspeita de que cidadãos nacionais estivessem sendo recrutados para servir ao Estado
Islâmico.
A polêmica que envolveu a tipificação penal do terrorismo estava na imprecisão de
defini-lo e, sobretudo, na possibilidade de participantes de movimentos sociais, que
porventura ocorressem nas Olimpíadas de 2016, fossem enquadrados nesse crime, o que
poderia significar a construção de um Estado de exceção e arriscar direitos humanos
fundamentais consagrados na Constituição Federal de 1988. Por isso mesmo, será feita uma
análise da Lei Federal nº 13.260/2016, a qual disciplina o terrorismo e que foi aprovada em
regime de urgência antes de os jogos começar.
No capítulo 2 serão explorados os conceitos e características de cultura, religião e
terrorismo, a fim de se oferecer um entendimento acerca de sua correlação. Será verificada o
arcabouço normativo do Brasil no que tange à proteção da liberdade de crença e culto, a partir
de uma retrospectiva das constituições que já vigoraram no país e como a legislação corrobora
com o cumprimento desse direito. Na mesma esteira, serão analisados os conceitos de
fundamentalismo religioso e terrorismo no cenário do Cristianismo e, sobretudo, do
Islamismo. Ademais, apontar-se-á a presença dessa segunda religião no Brasil e como os
movimentos mais radicais se fazem presentes nele.
18
No capítulo 3, haverá uma reconstrução histórica e teórica do constitucionalismo, o
que enseja apontar a gênese dos direitos fundamentais, tendo como marco a Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, que inspirou a inserção dessas normas nas
constituições de diversos países, consagrando uma nova forma de agir do homem perante o
Estado. Ainda, será analisada a disposição dos direitos fundamentais na Constituição Federal
de 1988, considerando seus aspectos subjetivos e objetivos, funções e a divisão deles em
gerações. Será dada ênfase à liberdade de consciência e crença, de proteção dos cultos
religiosos e das organizações religiosas, previsões constitucionais. A partir disso, adentrar-se-
á na ideia de desenvolvimento e de como ele está inserido na mesma Constituição, suas
vertentes, as considerações teóricas que se fazem a respeito dele e o mais importante: o nexo
dele com o direito e a consideração que ele ganha no Estado Democrático de Direito.
No capítulo 4, será feita a análise da interseção entre o terrorismo e o mundo virtual,
que será exemplifica com o estudo de caso da Operação Hashtag, da Polícia Federal, a qual
antecedeu as Olimpíadas de 2016, em um esquema de investigações para encontrar possíveis
mobilizações para realizar atentados terroristas no país, e mais do que isso, serão exploradas
as repercussões jurídicas dessa investigação, com a denúncia elaborada pelo Ministério
Público Federal (MPF) e julgamento e condenação de oito réus pela Justiça Federal em 2017 a
crimes previstos na Lei Federal nº 13.260/2016, situação inédita para a justiça brasileira. O
capítulo trará uma explanação dos riscos que o Brasil apresentava naquele contexto em
relação a sofrer um ataque terrorista, considerando a ocorrência de um megaevento que
atrairia visibilidade midiática e a presença de pessoas de vários países e o histórico de
atentados em eventos esportivos que se registra pelo mundo. Consoante à pertinência com o
assunto, será mostrado o arcabouço normativo que o país apresenta para coibir crimes virtuais
e garantir a segurança e liberdade dos usuários na internet. Na mesma esteira, será esmiuçado
o arcabouço normativo brasileiro de combate ao terrorismo, com ênfase na Lei 13.260/2016.
O método de abordagem que predominará nesta pesquisa será o hipotético-dedutivo,
os métodos de procedimento predominantes serão o monográfico e o histórico e a análise será
qualitativa. O trabalho se valerá de fontes secundárias, o que incluirá a análise de disposições
da Constituição Federal de 1988, da legislação brasileira sobre a internet, além das leis,
decretos e tratados internacionais acerca do combate ao terrorismo. Ademais, será usada a
doutrina jurídica, em especial nas áreas de direito penal e constitucional, livros sobre a
internet e o direito digital, obras de antropologia, filosofia, história, obras acadêmicas, artigos
científicos em periódicos eletrônicos e documentos com dados oficiais de organismos
competentes e sítios eletrônicos com reportagens pertinentes aos temas destacados.
19
2 CULTURA, RELIGIÃO E TERRORISMO NO CENÁRIO DO MUNDO
COMPLEXO: O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES
Pode-se afirmar que o homem é resultado meio cultural no qual convive, tomando para
si as influências das gerações que o antecederam em termos de conhecimento e experiência.
Ao interferir no legado cultural em um processo de dimensão comunitária, e não, individual,
permite-se as inovações e invenções1.
O surgimento da cultura pode ser assinalado a partir do momento em que se criou a
primeira norma: a proibição do incesto, que estava presente em todas as sociedades humanas2.
Essa vedação está no limiar da cultura, ao mesmo tempo em que seria a própria cultura3.
Enquanto outra corrente defende que a transição do estado animal para humano foi possível a
partir do momento em que o cérebro se tornou capaz de gerar símbolos4.
Dentre as características da cultura, pode-se destacar sua transmissibilidade não
genética; suprapessoalidade e anonimato; obediência a padrões e manifestação de valores.
Sobre a suprapessoalidade, percebe-se que um dado elemento torna-se cultural porque ele se
desprende do(s) indivíduo(s) que o criou/criaram e ganha outras proporções ao ser
reproduzido por outras pessoas e comunidades5.
A globalização representa um fenômeno que interliga todo o mundo. Graças a esse
fenômeno, avanços científicos, bens de consumo, técnicas e conhecimentos conseguem ser
disseminados, mas também por meio dele, vê-se a difusão de padrões normativos e
1 LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 22. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 45.
2 Laraia faz esse apontamento a partir do exame de Claude Lévi-Strauss. Ibid. p. 54. 3 “O problema da proibição do incesto apresenta-se à reflexão com toda a ambiguidade que, num plano diferente,
explica sem dúvida o caráter sagrado da proibição enquanto tal. Esta regra, social por sua natureza de regra, é ao
mesmo tempo pré-social por dois motivos, a saber: primeiramente pela universalidade, e, em seguida, pelo tipo
de relações a que impõe sua norma. Ora, a vida sexual é duplamente exterior ao grupo. Exprime no mais alto
grau a natureza animal do homem, e atesta, no próprio seio da humanidade, a sobrevivência mais característica
dos instintos. Em segundo lugar, seus fins são transcendentes, novamente de duas maneiras, pois visam a
satisfazer os desejos individuais, que se sabe suficientemente constarem entre os menos respeitosos das
convenções sociais, ou tendências específicas que ultrapassam igualmente, embora em outro sentido, os fins
próprios da sociedade. Notemos, entretanto, que se a regulamentação das relações entre os sexos constitui uma
invasão da cultura no interior da natureza, por outro lado a vida social é, no íntimo da natureza, um prenúncio da
vida social, porque, dentre todos os instintos, o instinto sexual é o único que para se definir tem necessidade do
estímulo de outrem”. LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. Tradução de Mariano
Ferreira. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. p. 49. 4 Corrente defendida pelo antropólogo estadunidense Leslie White. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um
conceito antropológico. 22. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 55. 5 “As qualidades da cultura são: 1 – É transmitida e continuada, não pelo mecanismo genético de hereditariedade
mas pelo intercondicionamento de zigotos. 2 – Quaisquer que sejam as suas origens nos, ou através dos,
indivíduos, a cultura depressa tende a tornar-se suprapessoal e anónima. 3 – Obedece a padrões ou regularidades
de forma, estilo e significação. 4 – Personifica valores, os quais podem ser formulados (abertamente, como
costumes) ou sentidos (implicitamente, como nos hábitos populares) pela sociedade portadora da cultura, e que o
antropólogo tem como tarefa caracterizar e definir”. KROEBER, Alfred Louis. A natureza da cultura. Tradução
de Teresa Louro Peres. Lisboa: Edições 70, 1993. p. 159.
20
comportamentais do Ocidente. Nesse cenário, ocorre uma antítese: enquanto a globalização
tende a unificar, surgem ao redor do mundo movimentos de reafirmação e preservação de
identidades nacionais, culturais e religiosas, que repudiam esses padrões ocidentais. Tal
persistência ganhou força com o ceticismo no progresso. Antes disso, os indivíduos
acreditavam que a humanidade ficaria em condições melhores, o que se poderia chamar de
desenvolvimento ou de progresso, trazido pelo crescimento econômico e pela
industrialização. No entanto, essa visão foi corrompida com a gênese de fatos considerados
regressivos: ao mesmo tempo em que se via a ciência e a indústria evoluírem e propiciarem
itens de bem-estar para as pessoas, viu-se a criação de armas nucleares, as indústrias
produzem insumos cada vez mais acessíveis à população, ao mesmo tempo em que indivíduos
são escravizados em algumas delas, além da própria degradação da natureza6.
A globalização, que a priori se traduz em um processo de ocidentalização, e por isso
não é integral. Antes de tudo, o mundo se ocidentaliza por que existe uma busca pela
tecnologia, como se pode verificar no caso do Irã, o qual demonstrou aversão às influências
ocidentais, mas nem por isso deixou de buscar ter armamentos mais modernos7.
A ideia de ocidentalização fora definida como a civilização do progresso, e várias
outras tomaram para si esse modelo. Ainda nesse panorama, destaca-se a ascensão de regimes
totalitários pelo globo, com extermínios em massa. Ainda que a paz tenha sido restabelecida,
os alegados benefícios da ciência e da técnica foram colocados em xeque, bem como as
instituições políticas, os princípios filosóficos e as manifestações da vida social surgidas no
século XVIII não tiveram êxito em dirimir as controvérsias e conflitos típicos da condição
humana8.
A identidade do ser humano reside em sua complexidade, já que possui
concomitantemente uma jaez biológica e outra metabiológica. Essa identidade se assenta na
6 BAUDRILLARD, Jean; MORIN, Edgar. A violência do mundo. Tradução de Leneide Duarte-Plon. Rio de
Janeiro: Anima, 2004. p. 65-67. 7 Ibid. p. 89-90.
8 “Há cerca de dois séculos, a civilização ocidental definiu a si mesma como a civilização do progresso.
Irmanadas no mesmo ideal, outras civilizações acreditaram dever toma-la como modelo. Todas partilharam a
convicção de que a ciência e as técnicas avançariam sem cessar, proporcionando aos homens mais poder e
felicidade; que as instituições políticas, as formas de organização social surgidas no final do século XVIII na
França e nos Estados Unidos, e a filosofia que as inspirava, dariam a todos os membros de cada sociedade mais
liberdade na conduta de suas vidas pessoais e mais responsabilidade na gestão dos negócios comuns; que o
julgamento moral, a sensibilidade estética, em suma, o amor ao verdadeiro, ao bom e ao belo se propagariam por
um movimento irresistível e ganhariam o conjunto da terra habitada”. LÉVI-STRAUSS, Claude. A antropologia
diante dos problemas do mundo moderno. Tradução de Rosa Freire D‟aguiar. 1. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2012. p. 9-10.
21
dupla natureza humana, em parte no mundo tangível, físico e biológico, e a outra parte no
mundo transcendental, concernente à consciência e ao espírito9.
A complexidade supracitada expressa uma relação dos indivíduos com o universo cujo
entendimento é trazido de diferentes formas pelos filósofos, os quais, em muitos casos,
reduzem a ideia de complexidade em vez de revelá-la. Partindo para o campo científico, nesse
a ideia de complexidade é rejeitado. A ciência, ao que parece, fragmentou áreas do
conhecimento e fechando-as para que não sofressem a interferência uma da outra, fato que
dificulta a visão de um todo, que seria a complexidade10
.
Na ideia de auto-eco-organização de Morin, que representa uma organização viva, a
qual depende do ambiente em que está para dele retirar energia e informação para assim se
automanter e por despender energia para realizar o seu trabalho, necessita retirar energia desse
ambiente. No sistema de autopoiese proposto pelo autor, a sociedade é resultado das
interações entre indivíduos, ao mesmo tempo em que os produz ela oferecendo-lhes a
linguagem e a cultura com a qual ela própria se constitui11
.
No contexto de sociedades complexas e nas mais simples, nenhum indivíduo é capaz
de imiscuir-se em todos os elementos da cultura em que está inserido. Vários fatores definem
limites a essa participação, a questão etária e de gênero, por exemplo. Nesse prisma, é válido
que o indivíduo tenha um mínimo de participação no rol de conhecimentos sobre a cultura da
qual participa para assim poder estabelecer conexões com os demais membros da sociedade12
.
Na sociedade complexa, faltam metas e objetivos coletivos. As necessidades deixam
de ser o motor da sociedade, elas se tornam modificáveis e indefiníveis. O que importa na
sociedade complexa não são os indivíduos, mas os macrossistemas, as grandes organizações.
Os indivíduos se tornam meras “peças” em um sistema que pode subsistir sem eles, os quais
ficam relegados a uma função residual13
.
9 BAUDRILLARD, Jean; MORIN, Edgar. A violência do mundo. Tradução de Leneide Duarte-Plon. Rio de
Janeiro: Anima, 2004. p. 93-94. 10
“A ciência clássica rejeitou a complexidade em virtude de três princípios explicativos fundamentais. 1. O
princípio do determinismo universal, ilustrado pelo demónio de Laplace, capaz, graças à sua inteligência e aos
seus sentidos extremamente desenvolvidos, não só de conhecer todo o acontecimento do passado, mas ainda de
prever todo o acontecimento do futuro. 2. O princípio da redução, que consiste em conhecer um todo compósito
a partir do conhecimento dos elementos primeiros que o constituem. 3. O princípio da disjunção, que consiste
em isolar e separar as dificuldades cognitivas umas das outras, o que conduziu à separação entre disciplinas que
se tornaram herméticas umas às outras”. MORIN, Edgar; MOIGNE, Jean-Louis. Inteligência da complexidade:
epistemologia e pragmática. Tradução de João Duarte. Lisboa: Instituto Piaget, 2009. p. 36. 11
Ibid. p. 45-46. 12
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 22. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 80-
82. 13
FERRAROTTI, F. et al. Sociologia da religião. Tradução de Bertilo Brod. São Paulo: Edições Paulinas, 1990.
p. 303-304.
22
A cultura é estudada pela antropologia, a qual ganhou legitimidade científica na
segunda metade do século XIX, em que ela toma para si como objetos empíricos autônomos
os povos considerados primitivos, não correlacionados aos povos europeus e norte-
americanos14
. Não só a cultura, mas também as sociedades, os indivíduos e os acontecimentos
constituem temas de interesse de outros campos de estudo, tais quais a sociologia, a
psicologia e a história, mas vale o adendo de que o antropólogo deve entender a cultura como
atributo do comportamento humano e do que exerce influência sobre ele15
. Esses primeiros
estudos não são anteriores a 1850, período histórico em que Darwin inaugurava as bases do
evolucionismo biológico, teoria essa que corroborava com uma evolução social e cultural16
.
Cada sistema cultural encontra sua razão de ser e constitui um ato etnocêntrico aplicar
a lógica em que se estrutura um desses sistemas para outro, ou seja, utilizar-se de sua própria
cultura como parâmetro para avaliar outras, atribuindo a essas um caráter de inferioridade ou
irracionalidade17
. Quanto a isso, os antropólogos estão na função de demonstrar as múltiplas
possibilidades de comportamentos e conjuntos de valores que permitem que diferentes
comunidades humanas possam encontrar a felicidade. Dessa forma, essa ciência humana abre
espaço para o contato com os conhecimentos sobre outras culturas, ensejando o respeito a
elas18
.
Ao considerar-se uma multiplicidade cultural, também é possível adotar um conceito
genérico de cultura, que se revela pelas características inerentes e comuns à espécie humana,
distinguindo-a das demais, em clara contraposição à hierarquização das culturas19
. Essa noção
é uma quebra do paradigma filosófico que opõe espiritual e real, pensamento e matéria, corpo
e mente. Por isso, a única qualidade distintiva fundamental e insubstituível desse conceito é o
14
LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 14. “Olhar as dimensões
simbólicas da ação social – arte, religião, ideologia, ciência, lei, moralidade, senso comum – não é afastar-se dos
dilemas existenciais da vida em favor de algum domínio empírico de formas não-emocionalizadas; é mergulhar
no meio delas. A vocação essencial da antropologia interpretativa não é responder às nossas questões mais
profundas, mas colocar à nossa disposição as respostas que outros deram – apascentando outros carneiros em
outros vales – e assim incluí-las nos registros de consultas sobre o que o homem falou”. GEERTZ, Clifford. A
interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. p. 21. 15
KROEBER, Alfred Louis. A natureza da cultura. Tradução de Teresa Louro Peres. Lisboa: Edições 70, 1993.
p. 159. 16
LÉVI-STRAUSS, Claude. A antropologia diante dos problemas do mundo moderno. Tradução de Rosa Freire
D‟aguiar. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 28-29. 17
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 22. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 87. 18
LÉVI-STRAUSS, Claude. A antropologia diante dos problemas do mundo moderno. Tradução de Rosa Freire
D‟aguiar. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 33-34. 19
BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de cultura. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Zahar, 2012. p. 130-131.
23
processo de estruturação, englobante das estruturas produzidas pelo homem com seus
resultados objetificados20
.
Por tudo isso, será analisado no seguinte tópico o terrorismo em seus aspectos
históricos e sociais, características principais, entendendo-o como fenômeno de natureza
cultural que se construiu ao longo do tempo e se ramificou em diferentes locais cada qual com
suas peculiaridades.
2.1 ORIGENS, DEFINIÇÃO E MANIFESTAÇÃO DO TERRORISMO
O Brasil não contava, até pouco tempo, com uma definição oficial do que seria
terrorismo em sua Constituição ou em suas leis. A divergência nas definições dadas ao
terrorismo pelos diferentes Estados dificulta uma ação integrada por parte deles e o
compartilhamento de informações entre seus respectivos sistemas de inteligência, inclusive no
que se refere a determinar quais grupos podem ser considerados terroristas ou não21
.
Há a ideia de que as dificuldades de se combater o terrorismo começam na falta de
uma definição exata para ele, ou até mesmo de um consenso entre as nações para tanto. A
ideia de terrorismo surgiu, antes de qualquer coisa, por necessidades estatais, no contexto da
Revolução Francesa para reprimir quaisquer atitudes que se opusessem ao regime que se
instalou após a derrubada do Absolutismo na França. Surgiu daí a vinculação do terror ao
âmbito político, diferente do que se via na Idade Antiga, em que a concepção estava ligada a
questões religiosas22
.
Elencam-se alguns critérios que podem caracterizar o terrorismo23
:
a) a natureza indiscriminada: quaisquer pessoas ou grupos podem ser acometidos por
atos dessa natureza, contudo pode haver alvos específicos, seja em termos de grupos de
pessoas ou patrimônio, como, por exemplo, um grupo étnico rival ou um monumento que seja
símbolo de poder político, econômico ou militar;
b) imprevisibilidade e arbitrariedade: é muito difícil identificar quando, como e onde
ocorrerá um atentado terrorista. Essa intempestividade mostra-se muito danosa, já que nem
20
BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de cultura. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Zahar, 2012. p. 153. O referido autor nessa obra aponta “estrutura” como antônimo de “estado de
desordem”, op. cit., p. 157. 21
COSTA, Sérgio Miguel Correia. A atividade de inteligência na prevenção da ameaça terrorista no Brasil.
2013. 65 f. Monografia (Graduação em Relações Internacionais) – Departamento de Economia e Relações
Internacionais, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2013. p. 60. 22
VERGUEIRO, Luiz Fabrício Thaumaturgo. Terrorismo e crime organizado. São Paulo: Quartier Latin, 2009.
p. 16-17. 23
Ibid. p. 20-22.
24
sempre as pessoas e entidades de segurança estão aptas a reagir nessas situações, e por isso
estão mais vulneráveis aos efeitos de um ataque desse tipo;
c) gravidade ou espetacularidade: os terroristas procuram realizar ataques que causem
danos em massa, não ataques pontuais a um indivíduo ou outro, mas que provoquem o
máximo de lesividade possível a um número indiscriminado de pessoas, utilizando-se, por
exemplo, de armas biológicas ou de dispositivos explosivos. Consequentemente, atos como
esse ganham grande visibilidade na mídia, tal qual é o intuito dos praticantes.
d) Caráter amoral e de anomia: os praticantes de atos terroristas não consideram
valores éticos vigentes e atentam contra a vida de pessoas e patrimônios se isso permitir que
eles atinjam seus objetivos, dentre eles o de desmantelar a organização política que se
apresenta para conseguirem firmar seu poder.
Uma definição que merece ser considerada é aquela adotada pela Agência Brasileira
de Inteligência (ABIN), elaborada pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional
(Creden), do Conselho de Governo (organismo do Poder Executivo), definição essa que
considera um amplo conjunto de atos violentos contra indivíduos, grupos sociais específicos
ou contra o governo com o propósito de atingir objetivos políticos ou sociais24
.
Passando para o século XIX, o terrorismo ganhou nova acepção, com o surgimento do
movimento anarquista, no qual os seus partidários incitavam, por intermédio da propaganda, a
sociedade a se rebelar contra o Estado. Esse movimento tinha por intuito acabar com toda
forma de autoridade sobre o ser humano, dentre elas a do Estado, sugeriam a destruição do
poder político e se contrapunham ao capitalismo25
.
O primeiro registro da utilização do termo terrorismo no âmbito jurídico ocorreu em
1930, na III Conferência Internacional para a Unificação do Direito Penal, a qual foi sediada
em Bruxelas. Já em 1931, ocorreu em Paris a IV Conferência, na qual se propôs a criação de
24
Definição do Creden para o terrorismo: “ato de devastar, saquear, explodir bombas, seqüestrar, incendiar,
depredar ou praticar atentado pessoal ou sabotagem, causando perigo efetivo ou dano a pessoas ou bens, por
indivíduos ou grupos, com emprego da força ou violência, física ou psicológica, por motivo de facciosismo
político, religioso, étnico/racial ou ideológico, para infundir terror com o propósito de intimidar ou coagir um
governo, a população civil ou um segmento da sociedade, a fim de alcançar objetivos políticos ou sociais.
Também é o ato de: Apoderar-se ou exercer o controle, total ou parcialmente, definitiva ou temporariamente, de
meios de comunicação ao público ou de transporte, portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias,
instalações públicas ou estabelecimentos destinados ao abastecimento de água, luz, combustíveis ou alimentos,
ou à satisfação de necessidades gerais e impreteríveis da população. Trata-se de ação premeditada, sistemática e
imprevisível, de caráter transnacional ou não, que pode ser apoiada por Estados, realizada por grupo político
organizado com emprego de violência, não importando a orientação religiosa, a causa ideológica ou a motivação
política, geralmente visando destruir a segurança social, intimidar a população ou influir em decisões
governamentais”. PANIAGO, Paulo de Tarso Resende e outros. Uma Cartilha para melhor entender o
terrorismo internacional: conceitos e definições. Revista Brasileira de Inteligência, Agência Brasileira de
Inteligência, Brasília, v. 3, n. 4, p. 13-22, set. 2007. p. 14-15. 25
GUIMARÃES, Marcello Ovidio Lopes. Tratamento Penal do Terrorismo. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p.
14-15.
25
um texto com cinco artigos, o qual não foi analisado, e consequentemente, não foi aprovado.
Dois anos depois, em 1933, aconteceu a V Conferência em Madri, o assunto terrorismo foi
abordado com superficialidade, de forma que os participantes se detiveram em analisar os
delitos terroristas e os delitos de perigo comum. Depois de várias tentativas de dá um
tratamento penal ao terrorismo, é que houve uma alteração significativa de orientação nesse
âmbito, fato que se deu em 1935, na VI Conferência, sediada na capital dinamarquesa,
Copenhagen26
.
O objetivo era de fato compelir os países a imputarem punições drásticas contra os
praticantes de atos terroristas. Essa necessidade surgia do contexto que a Europa vivia desde o
fim do século XIX até a metade do século XX: a ocorrência de atentados por parte de
organizações insurgentes para desestabilizar o poder de Estados Nacionais, o que incluía o
assassinato de altas autoridades, como foi o do Rei Alexandre I, da Iugoslávia, praticado por
um terrorista croata27
. Antes mesmo desse episódio, para se ter uma ideia das proporções que
esses atentados vinham provocando à época, pode-se citar o assassinato do Arquiduque
Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, e de sua esposa, em 28 de junho de 1914,
pelo estudante sérvio Gavrilo Princip, de 19 anos, membro do grupo Mão Negra. Esse fato
representou a causa imediata para a deflagração da I Guerra Mundial, a partir do momento em
que o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia, gerando um conflito que durou até
191828
.
O autor Mário Pessoa fala sobre a ideia de segurança coletiva como aquela de maior
realce entre as seguranças políticas. Essa concepção coloca todos os povos em um sistema de
superlativização e universalidade da segurança29
, tendo sido prevista no Pacto da Sociedade
das Nações de 1919, que ocorreu após a Primeira Guerra Mundial, no qual os países
signatários se propõem a não recorrer à guerra com o fito de garantir a paz e a segurança aos
povos. Entre as previsões desse pacto estava a de que se houvesse um litígio entre países-
membros que pudesse trazer rompimento, eles deveriam se submeter ao processo de
arbitragem ou ao exame do Conselho antes de deflagrar uma guerra, conforme o artigo 1230
.
26
GUIMARÃES, Marcello Ovidio Lopes. Tratamento Penal do Terrorismo. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p.
15-16. 27
Ibid. p. 16. 28
DW. 1914: Atentado em Sarajevo. Disponível em: <http://www.dw.com/pt/1914-atentado-em-sarajevo/a-
584424>. Acesso em: 20 mar. 2016. 29
PESSOA, Mário. O direito da segurança nacional. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1971. (Coleção
General Benício, v. 91, publ. 416). p. 15. 30
PACTO DA SOCIEDADE DAS NAÇÕES – 1919. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-Internacionais-da-Sociedade-das-
Na%C3%A7%C3%B5es-1919-a-1945/pacto-da-sociedade-das-nacoes-1919.html>. Acesso em: 15 fev. 2016.
26
Foi a Liga das Nações que deu início às discussões que estão presentes no direito
internacional até hoje. Mesmo com o intuito de tornar a guerra ilícita na seara internacional, a
Liga das Nações não obteve êxito nesse sentido, uma vez que o período entre as duas grandes
guerras mundiais foi marcado pela ocorrência de vários conflitos armados. Pelo contrário,
viu-se nessa mesma época a ascensão de regimes totalitários na Europa, como o Fascismo na
Itália, o Nacional-Socialismo na Alemanha e o Bolchevismo na Rússia, caracterizados pelas
ideias ultranacionalistas e antiliberais, além da postura beligerante para resolver conflitos31
.
Nesse contexto de instabilidades políticas e crise econômica na Europa, emergiu a Segunda
Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945.
Com o fim desse conflito, surgiu a Organização das Nações Unidas (ONU), como
iniciativa para evitar a ocorrência de novos conflitos com tamanha proporção, uma vez que a
própria Liga das Nações não se mostrou apta a evitar esses eventos bélicos. A ONU foi
estabelecida por intermédio da entrada em vigor da Carta das Nações Unidas em 25 de
outubro de 1945, na cidade estadunidense de São Francisco. Dentre as disposições desse
documento, está a disciplina do uso da força em âmbito internacional, em que ficou de fato
firmada a ilicitude do recurso à guerra32
.
Outrossim, é importante destacar o papel do Conselho de Segurança, órgão criado com
previsão na Carta das Nações Unidas, de forma que ele tem que atuar recomendando às
nações a adoção de meios pacíficos para que elas dirimam suas contendas. Além disso, é
importante destacar que esse mesmo Conselho pode autorizar que os Estados intervenham em
nome da ONU em caso de surgirem situações que coloquem em risco a segurança entre
nações ou dentro de uma mesma nação33
.
Posto isso, não há dúvidas de que o surgimento da ONU representou um grande
avanço no que se refere à segurança internacional e a busca por consolidar meios pacíficos
para solucionar tensões entre países, no entanto, a existência desse ente não tem sido capaz de
coibir a formação e atuação de grupos terroristas, o que enseja uma nova forma de cooperação
entre os Estados com esse objetivo e mais do que isso, exige que cada país encontre as
abordagens, em termos de legislação e de atuação de seus órgãos internos de segurança, que
se mostrem pertinentes para atingir tal fim.
O fim da Segunda Guerra Mundial marcou o início da Guerra Fria, um conflito, antes
de tudo ideológico, entre Estados Unidos e União Soviética, defensores do capitalismo e do
31
MEZZANOTTI, Gabriela. Direito, guerra e terror: os novos desafios do Direito Internacional Pós 11 de
Setembro. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 31-32. 32
Ibid. p. 33-37. 33
Ibid. p. 50-52.
27
socialismo, respectivamente. Os embates para difundir seus sistemas político-econômicos
ganharam grandes proporções ao longo da segunda metade do século XX, ocasionado
conflitos armados como a Guerra do Vietnã e a Guerra da Coreia, golpes de Estado
instauradores de regimes ditatoriais em várias nações apoiados por essas superpotências,
corrida espacial e disputas acirradas nos Jogos Olímpicos, como nas edições de Montreal,
Moscou e Los Angeles.
O fim da Guerra Fria deu azo para a transição de uma ordem mundial bipolar, marcada
pela hegemonia daquelas duas nações, para uma ordem mundial multipolar, além de que, a
desagregação da União Soviética formou vários outros países, os quais somados ao
surgimento de vários países no processo de descolonização da África e da Ásia, elevou o
número de nações soberanas reconhecidas no âmbito internacional. Ao mesmo tempo em se
viu a proliferação de conflitos armados em Estados independentes, cujos governos centrais
mostraram-se inaptos para contornar problemas internos, que Eric Hobsbawm chamou de
“Estados falidos”34
.
Destaca-se também que entre as heranças deixadas pela Guerra Fria, uma delas é o
enorme suprimento de armas pequenas, com grande potência nas mãos de grupos que
afrontam os Estados sustentados com recursos financeiros emanados de atividades paralegais
presentes na economia capitalista global. Essa situação ensejou massacres, como o de Ruanda,
em 199435
.
Apontam-se ainda como fatores que corroboram com a crise das nações e do
nacionalismo os efeitos causados pela acelerada globalização na mobilidade dos seres
humanos, de forma que há intensos movimentos migratórios de países com economia menos
desenvolvida para aqueles de economia mais desenvolvida, situação fomentada pelo
aprimoramento das comunicações e dos transportes36
.
Outro fator para essa crise é a xenofobia, presente tanto na Europa marcada pelo
nascimento dos movimentos nacionalistas como em países com histórico de forte recebimento
de imigrantes desde sua formação, como os Estados Unidos. Essa xenofobia se perfaz porque
movimentação de força de trabalho não teve a ampla liberdade de movimento que o capital e
o comércio obtiveram no contexto de liberdade de mercado proposta pelo capitalismo
34
HOBSBAWM, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 87. 35
Ibid. p. 87. 36
Ibid. p. 89-90.
28
globalizado. O futebol é uma atividade que tem exemplificado bem a conjugação entre
globalização, identidade nacional e xenofobia37
.
Samuel P. Huntington já sinalizara em 1993 sobre o choque de civilizações que iria ser
visto no Pós-Guerra Fria, o que representaria o fim da história, o retorno às tradicionais
rivalidades entre Estados Nacionais e o arrefecimento do Estado Nacional. Ele ainda afirma
que a causa principal para essas tensões seria ideológica e não, econômica38
.
O mesmo autor aponta que a humanidade se divide nas seguintes civilizações:
ocidental, confuciana, japonesa, islâmica, hindu, eslavo-ortodoxa, latino-americana e africana.
Ele vaticinou que os conflitos mais sérios no futuro se dariam devido às fraturas culturais que
separam essas civilizações, que se diferenciam por vários elementos como: história,
linguagem, cultura, tradição e pela religião, considerado por ele o mais importante. As
características inerentes a cada uma dessas civilizações ensejariam diferentes pontos de vistas
de seus respectivos povos em relação aos mais diferentes assuntos, a exemplo, as relações
humanas, as relações divinas, igualdade e liberdade39
.
A ocorrência desse choque de civilizações se dá não só por essa diversidade cultural,
mas também porque o mundo tem se tornado cada vez menor em termos de relações humanas,
dado o aumento da interação entre os povos, o que intensificaria a consciência da própria
civilização e das diferenças com outras civilizações40
.
Ainda se aponta o fenômeno de modernização na segunda metade do século XX, nas
esferas econômica, cultural e social, como causadora do arrefecimento de antigas fontes de
identidade (como o pertencimento a um Estado Nacional, por exemplo), o que abriu espaço
para a religião assumir essa função, inclusive dado azo à formação de movimentos
fundamentalistas. Tal fenômeno provocou o reerguimento das religiões pelo mundo41
. Essa
situação pode ser verificada com a atuação dos vários grupos terroristas islâmicos presentes
em diferentes países, mas que têm em comum a ideia de Guerra Santa contra o Ocidente42
.
Além disso, pode-se destacar a atuação do Ocidente para aumentar a consciência de
37
HOBSBAWM, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 91-
92. 38
HUNTINGTON, Samuel P. ¿Choque de civilizaciones? 1. ed. Madri: Tecnos, 2002. p. 1. 39
Ibid. p. 23. 40
Ibid. p. 24. 41
HUNTINGTON, Samuel P. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. Tradução de M. H.
C. Côrtes. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. p. 118. 42
LIMA, Leonardo Perez. Terrorismo, doutrina Bush e a estabilidade do sistema internacional. Fronteira, Belo
Horizonte, v. 4, n. 7, p. 109-131, jun. 2005. Disponível em: <
http://periodicos.pucminas.br/index.php/fronteira/article/viewFile/5301/5250>. Acesso em: 29 mar. 2016. p. 112.
29
civilização, o qual, apesar do seu poder de influência, enfrenta a oposição de outras
civilizações que querem moldar o mundo com elementos não ocidentais43
.
De igual forma, o choque de civilizações é fomentado pelo fato de que as diferenças
culturais não poderem ser alteradas com a mesma facilidade com a qual as diferenças políticas
e econômicas podem, afinal é possível haver mudança na classe sociofinanceira a que um
indivíduo pertence, até mesmo pode carregar em sua formação genética características de
duas ou mais etnias, ou ter mais de uma cidadania, porém é mais difícil que professe mais de
uma religião44
.
Por último, é válido salientar o regionalismo econômico como fator que aumenta as
transações comerciais entre diversos povos, reforçando a consciência de civilização, mas para
Huntington, a formação de blocos econômicos só é possível quando os seus integrantes
pertencem a uma civilização comum45
.
Após essa explanação sobre os fatores que têm estimulado o surgimento de grupos
terroristas, é necessário compreender como a abordagem em relação terror se alterou após os
famigerados ataques de 11 de Setembro de 2001, os quais ensejaram a forma contemporânea
de tratar e combater o terrorismo, segundo o poder de influência dos Estados Unidos. A
derrubada das Torres Gêmeas foi mais do que física, foi simbólica, pois elas representavam
uma manifestação do liberalismo mundial e do poder financeiro, e revelou uma fragilidade na
maior potência política, econômica e militar do mundo, nunca antes atacada em sua área
continental, fato que pode ser nomeado como fato simbólico total46
.
O referido episódio deu espaço para que fosse inaugurada a Doutrina Bush, a qual
idealizada pelo então Presidente estadunidense George W. Bush, representada por um
documento denominado “A estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos”,
configurava um conjunto de medidas propostas para combater a ação de grupos terroristas no
Globo. Entre tais medidas pode-se enunciar a busca por cooperação internacional, sem
prejuízo de ações unilaterais, além de que é afirmado que os Estados Unidos se utilizarão de
todo seu poder de influência para disseminar suas concepções pelo mundo. Por intermédio
desse mesmo documento, os Estados Unidos afirma um compromisso de investir em países
43
HUNTINGTON, Samuel P. ¿Choque de civilizaciones? 1. ed. Madri: Tecnos, 2002. p. 25-26. 44
Ibid. p. 26-27. 45
Ibid. p. 27. 46
BAUDRILLARD, Jean; MORIN, Edgar. A violência do mundo. Tradução de Leneide Duarte-Plon. Rio de
Janeiro: Anima, 2004. p. 35-42.
30
periféricos de forma a criar um ambiente menos favorável ao surgimento desses grupos
extremistas47
.
No entanto, um ponto que se mostrou polêmico na referida doutrina foi o da guerra
preventiva, em que os Estados Unidos realizaram ofensivas contra qualquer localidade onde
houvesse a presença de recursos humanos e materiais, como armas de destruição em massa,
que pudessem colocar em risco a segurança da nação48
.
A partir dos ataques de 11 de Setembro de 2001, a concepção de inimigo, a partir de
então denominado combatente inimigo, tornou-se um paradigma do sistema jurídico-político,
exercendo influência sobre o entendimento de guerra, estado de exceção e legalidade. No caso
dos próprios Estados Unidos, um exemplo foi a ampliação dos poderes do Presidente da
República para que ele possa utilizar de todos os meios que se fizerem necessários para
combater o terrorismo49
.
Situações como essa dão margem ao aparecimento de um Direito Penal do Inimigo50
,
no qual se segue a diretriz de punir todo e qualquer ato preparatório para um delito e ainda faz
incidir uma ação penal sobre um indivíduo ou um grupo, baseando-se no estado de
periculosidade presumido por fatores como religião, etnia, origem nacional, por exemplo51
.
A situação dos Estados Unidos pode levar a um questionamento sobre a realidade
brasileira atual, em que com a aprovação da Lei Federal nº 13.260/2016, derivada do projeto
de lei nº 2016/2015, não seria essa norma por si só um criador de estado de exceção no país e
se não abriria espaço para arbitrariedades por parte do Poder Público contra aqueles que
fossem acusados de terrorismo.
Sendo assim, vê-se que a novo panorama de combate ao terror produzido pelos
Estados Unidos, ao que parece, tem influenciado o arcabouço normativo de outras nações,
como procede com o Brasil, que na iminência de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, na
47
LIMA, Leonardo Perez. Terrorismo, doutrina Bush e a estabilidade do sistema internacional. Fronteira, Belo
Horizonte, v. 4, n. 7, p. 109-131, jun. 2005. Disponível em: <
http://periodicos.pucminas.br/index.php/fronteira/article/viewFile/5301/5250>. Acesso em: 29 mar. 2016. p. 122. 48
Ibid. p. 122. 49
ECHEVERRIA, Andrea de Quadros Dantas. Combatente inimigo, Homo Sacer ou inimigo absoluto? O
Estado de exceção e o novo Nomos na Terra: o impacto do terrorismo sobre o sistema jurídico-político do século
XXI. 1. ed. Curitiba: CRV, 2013. p. 96. 50
Sobre esse termo, faz-se necessário considerar essa afirmativa: “[...] Portanto, o Estado pode proceder de dois
modos com os delinquentes: pode vê-los como pessoas que delinquem, pessoas que tenham cometido um erro,
ou indivíduos que devem ser impedidos de destruir o ordenamento jurídico, mediante coação. Ambas
perspectivas têm, em determinados âmbitos, seu lugar legítimo, o que significa, ao mesmo tempo, que também
possam ser usadas em um lugar equivocado”. JAKOBS, Günther; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito penal do
inimigo: noções e críticas. Organização e Tradução de André Luis Callegari e Nereu José Giacomolli. 2. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p. 42. 51
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Direito Penal do inimigo e o terrorismo: o “progresso ao retrocesso”.
Coimbra: Almedina, 2010. p. 64-65.
31
cidade do Rio de Janeiro, e tendo compromissos internacionais com o fito de combate ao
terror, teve seu Poder Legislativo federal mobilizado para aprovar uma lei que pudesse
tipificar o terrorismo.
É partir das considerações teóricas supracitadas e da análise histórica de como o poder
punitivo do Estado sempre foi utilizado, em tese, para permitir uma harmonização social, em
detrimento de determinados grupos sociais os quais foram marginalizados e estigmatizados
como perigo para a sociedade, é que se torna possível discorrer acerca das possíveis
consequências de um conceito de terrorismo para o Brasil e se isso pode fomentar o já citado
Direito Penal do Inimigo. Além disso, entender se a atuação de determinados grupos pode, de
fato, ser entendida como terrorista, ou se na verdade, a pretensa punição de tais grupos serve
apenas para reprimi-los porque caíram no imaginário da sociedade como perigo em potencial.
O risco de o Brasil sofrer atentados terroristas mostra-se um fato recente, diferente de
países da Europa, que convivem com essa realidade há décadas, como por exemplo, a
Espanha. Nesse país, o terrorismo nem sempre esteve ligado à atuação de grupos islâmicos
estrangeiros, como foi o atropelamento que feriu e matou várias pessoas na cidade de
Barcelona, em 17 de agosto de 2017, cuja autoria foi assumida pelo Estado Islâmico52
.
A Espanha assistiu à ação de grupos terroristas anarquistas no século XIX, que
buscaram atentar contra a vida de representantes do alto escalão político e causaram danos
patrimoniais, mesmo quando a não violência era ressaltada pela maioria dos seguidores dos
movimentos anárquicos. O anarquismo hispânico teve grande adesão popular e maior atuação
nas comunidades autônomas da Andaluzia e Catalunha. Quanto aos que tinham a violência
como artifício a ser aplicado para cumprimento de seus objetivos, eles consideravam que esse
tipo de ato teria mais capacidade de insuflar a população do que discursos. Um grupo que
marcou essa época foi o andaluz “Mano Negra”53
.
Ainda houve grupos terroristas de esquerda na Espanha como o “Frente
Revolucionario Antifascista y Patriótico (FRAP)”, segmento armado do Partido Comunista da
Espanha, de cunho marxista-leninista e o “Grupo de Resistencia Antifascista Primero de
Octubre (GRAPO)”, segmento armado do Partido Comunista da Espanha reconstituído. Por
outro lado, também houve grupos terroristas de direita no país, como “Guerrilleros del Cristo
Rey” (GCR), “Alianza Apostólica Antiterrorista (Triple A, „AAA‟)”, “Antiterrorismo ETA
52
EL PAÍS. Atropelamento em Barcelona: atentado terrorista deixa vários mortos e feridos. Disponível em: <
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/17/internacional/1502982054_017639.html>. Acesso em: 15 set. 2017. 53
SEGURA, Agustín Alcázar. Historia del terrorismo español: del anarquismo a ETA. [S.l.]: CreateSpace
Independent Publishing Platform, 2015. E-book. Passim.
32
(ATE)”, o “Batallón Vasco Español (BVE)”, de extrema-direita, e “Grupos Antiterroristas de
Liberación (GAL)”, vinculado a determinados setores da administração estatal espanhola54
.
Em outra instância, vê-se a atuação de grupos de cunho nacionalista com propósitos
separatistas no referido país europeu, como por exemplo, o ETA (Euskadi Ta Askatasuna,
traduzido do basco „Pátria Basca e Liberdade‟), que luta pela independência do País Basco,
tendo sido responsável por assassinatos em massa e sequestros no intuito de atingir seu
propósito. Além disso, registram-se na história atuações terroristas de grupos separatistas na
Catalunha, Galícia e Ilhas Canárias55
.
Vendo que o fenômeno do terrorismo contemporâneo carrega consigo um plano de
fundo religioso, será feita uma explanação sobre o fundamentalismo islâmico e como ele tem
se fortalecido nessa religião, considerando o crescimento no número de adeptos desse sistema
de crenças pelo mundo, incluindo a presença de adeptos no Brasil.
2.2 O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO E AS PRÁTICAS TERRORISTAS: UM
OLHAR SOBRE O ISLÂ
O Islamismo56
, predominante na Ásia e na África (ver figuras 1 e 2), é,
costumeiramente, associado a práticas fundamentalistas, e a outros desvirtuamentos também
atribuídos a religiões diversas57
. Muitas vezes, a herança cultural das gerações precedentes
persuade um ou mais indivíduos a demonstrar repúdio ao comportamento daqueles que
54
SEGURA, Agustín Alcázar. Historia del terrorismo español: del anarquismo a ETA. [S.l.]: CreateSpace
Independent Publishing Platform, 2015. E-book. Passim. 55
Ibid. 56
“É difícil generalizar o islã. Para começar, a própria palavra é usualmente empregada com dois significados
relacionados, mas distintos, equivalendo tanto a cristianismo quanto a cristandade. No primeiro sentido, indica
uma religião, um sistema de crença e culto; no outro a civilização que cresceu e floresceu sob a égide daquela
religião. Assim, a palavra “islã” denota mais de 14 séculos de história, 1,3 bilhão de pessoas e uma tradição
religiosa e cultural de enorme diversidade. [...] Em termos espaciais, o domínio do islã estende-se do Marrocos à
Indonésia, do Cazaquistão ao Senegal. Temporalmente, retrocede a mais de 14 séculos, ao advento e à missão do
profeta Maomé na Arábia, no século VII d.C., quando criou a comunidade e o Estado islâmicos”. LEWIS,
Bernard. A crise do islã: guerra santa e terror profano. Tradução de Maria Lúcia de Oliveira. Rio de Janeiro:
Zahar, 2004. p. 25. 57
De acordo com Edgar Morin: “As religiões universalistas – o cristianismo, o islamismo e o budismo –
dirigem-se a todos, qualquer que seja a origem dos crentes. São religiões que insistiram sempre no valor da
relação com o outro, seja o valor do amor ao próximo, muito forte no Evangelho, ou a idéia de clemência, muito
forte no Islã. Essas religiões têm imensas virtudes, os vícios foram sobretudo o monolitismo ou o fechamento, o
sectarismo, a rejeição das outras religiões: a gente viu as consequências nas cruzadas e agora corremos o risco de
as vermos recomeçarem. Na minha opinião, essas religiões deveriam ser capazes de se unir a partir do ponto que
têm em comum: a universalidade, a solidariedade, a caridade, no sentido profundo da palavra “verdu”, que vem
do coração, a compaixão que pode desempenhar um papel muito fecundo para o nosso planeta. Será que as
religiões não correm o risco, hoje, de continuarem enclausuradas cada uma na sua pretensão de ser o absoluto”.
BAUDRILLARD, Jean; MORIN, Edgar. A violência do mundo. Tradução de Leneide Duarte-Plon. Rio de
Janeiro: Anima, 2004. p. 95-96.
33
destoam do modo de viver e agir da maioria da sociedade58
. É a partir desse pensamento que
muitas vezes se faz a cisão entre o que é dito civilizado e o que é selvagem59
. A respeito disso,
pode-se verificar uma carga pejorativa sobre o Islã que se arrasta há anos no Ocidente,
sobretudo após os atentados do 11 de Setembro.
Como qualquer instituição cultural, a religião será reconhecida por suas
especificidades e funções. Analisar o Islamismo e as religiões diversas não configura tarefa
fácil, uma vez que uma instituição cultural pode estar estreitamente ligada a outra, inclusive
de outro viés60
. No caso do Islamismo, é válida a análise a respeito da relação que ele tem
com a política, o que explica, em partes, o fundamentalismo que se perfaz em atos terroristas
em tantos casos.
As religiões, em sua maioria, constroem-se em cima de concepções de imutabilidade,
mesmo assim, é certo dizer que sofrem alterações como qualquer outra instituição. Trazendo
essa questão para o âmbito secular, vê-se que a religião não é a materialização do divino, mas
uma concepção sobre ele. Por isso mesmo, os homens envolvem-se com os elementos que
ensejem essa relação, mas na verdade, esses elos dependem do lugar e do tempo. Sendo
assim, os fenômenos sociais incidem na fé e nos símbolos que lhe dão suporte61
.
Quando se pensa na aculturação que acontece pelo mundo, a modernização é vista
como exclusividade do Ocidente e por isso, as mudanças em termos de valores, ideias e
instituições são avaliadas de acordo com o que se verifica no Ocidente. Tanto é assim, que o
nível de modernização de uma sociedade é medido pelo quanto está próximo da realidade
ocidental62
.
No contexto do colonialismo, registrou-se a demanda dos europeus por bens de
consumo em países de maioria muçulmana como a Indonésia e o Marrocos, além de aqueles
realizarem mudanças na estrutura política desses e em seus instrumentos de poder. Mesmo
com a ingerência ocidental do período, houve uma resistência dos colonizados em termos
espirituais, ainda que verificadas reformas. A elite colonial podia adotar itens da alimentação,
58
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 22. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 67. 59
“Cada civilização tende a superestimar a orientação objetiva de seu pensamento; é, por isso, então, que ela
nunca está ausente. Quando cometemos o erro de crer que o selvagem é exclusivamente governado por suas
necessidades orgânicas ou econômicas, não reparamos que ele nos dirige a mesma censura, e que, a seus olhos,
seu próprio desejo de saber parece melhor equilibrado que o nosso”. LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento
selvagem. Tradução de Maria Celeste da Costa e Souza e Almir de Oliveira Aguiar. 2. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1976. p. 21. 60
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem: filosofia da cultura. 1. ed. São Paulo: Contexto,
2008. p. 137. 61
GEERTZ, Clifford. Observando o Islã: o desenvolvimento religioso no Marrocos e na Indonésia. Tradução de
Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 67. 62
Ibid. p. 69.
34
decoração e arquitetura dos indonésios e marroquinos, mas jamais a religião. Por isso, a
expressão islamita foi um componente para a autodefinição desses povos no panorama de
contato com o Ocidente. Ser muçulmano deixava de ser apenas uma questão de condição
cultural para ser uma questão política63
. O hibridismo cultural entre Islã e europeus deu-se em
vários momentos da história, não sendo exclusivo do período colonial, seja por conta de
relações comerciais ou pelas fronteiras64
.
Apesar da oposição, o Islã, em todos os aspectos, está mais próximo da tradição
judaico-cristão, do que de outras religiões orientais, como o Budismo e o Hinduísmo. Pode-se
afirmar, inclusive, que o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo são ramificações de uma
mesma tradição religiosa. Quanto às diferenças, elas são patentes, quanto aos dogmas, e a
forma como elas encaram e se envolvem com política, religiosidade e sociedade65
.
Figura 1 – O Islamismo no mundo
Fonte: BBC. O Islamismo no mundo. Disponível em: < http://www.bbc.com/portuguese/especial/1626_islam_world_sa>. Acesso em: 15 set. 2017.
63
GEERTZ, Clifford. Observando o Islã: o desenvolvimento religioso no Marrocos e na Indonésia. Tradução de
Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 74-75. 64
“Outro fator que favorece a troca e a hibridização é a fronteira. Um exemplo famoso de fronteira cultural é a
área intermediária entre o mundo cristão e o islã no leste europeu. Nos séculos XVI e XVII,nobres poloneses e
húngaros lutaram regularmente contra os turcos. Apesar disso, para seus vizinhos do lado oeste, eles eram muito
parecidos com os turcos, já que usavam túnicas compridas (caftã) e cimitarras em vez das espadas retas da
tradição ocidental. Estes nobres viam a si mesmos como distintos dos turcos por serem cristãos, mas se
distinguiam dos ocidentais se recusando a adotar o estilo de vestimenta deles, ou então abandonando o estilo
europeu ocidental, como o fizeram os poloneses no século XVII, e voltando a suas tradições étnicas” BURKE,
Peter. Hibridismo cultural. Tradução de Leila Souza Mendes. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003. p. 72. 65
LEWIS, Bernard. A crise do islã: guerra santa e terror profano. Tradução de Maria Lúcia de Oliveira. Rio de
Janeiro: Zahar, 2004. p. 26-27.
35
Figura 2 – Distribuição de muçulmanos por continente
Fonte: Dados de 2009, divulgados em relatório do instituto americano Pew Forum on Religion & Public Life.
FOLHA DE SÃO PAULO. Quase 67% dos muçulmanos do mundo estão na Ásia, veja mapa. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2009/10/635475-quase-67-dos-muculmanos-estao-na-asia-veja-
mapa.shtml>. Acesso em: 15 set. 2017.
O Islamismo está espalhado por todo globo, presente em quase todos os países. Com a
queda da URSS, essa religião se reergueu em países onde estava condicionado à
clandestinidade como Cazaquistão, Tadjiquistão, Quirguistão e Uzbequistão. Ainda vale
ressaltar que não se sabe ao certo sobre a firmeza da comunidade muçulmana em países onde
ele sofre com a perseguição e o desamparo político, como China, Camboja e Vietnã66
.
66
PACE, Enzo. Sociologia do Islã: fenômenos religiosos e lógicas sociais. Tradução de Ephraim Ferreira Alves.
Petrópolis: Vozes, 2005. p. 286.
36
Passada essa análise sobre o que significa fundamentalismo e como o Islamismo tem
se configurado atualmente, passar-se-á ao estudo sobre o como correntes radicais têm estado
presentes nessa religião, mas fazendo a ressalva que movimentos fundamentalistas também
constam no Cristianismo. A partir daí vislumbrar o porquê desse tipo de organização
extremista ter se mostrado mais evidente dentro do Islã na atualidade.
2.2.1 O fundamentalismo islâmico
As mais diversas religiões ao longo da história já apresentaram movimentos
fundamentalistas. Dando ênfase ao Cristianismo e ao Islamismo neste estudo, vê-se que um
sistema de crenças pode ser corrompido e manipulado pelos detentores de poder político.
Tanto é assim, que em os fatos mostram que essas duas religiões muitas vezes foram pretextos
para perseguições e guerras, contrariando princípios que elas próprias dizem cultivar e
disseminar67
.
O fundamentalismo sempre esteve presente na história das mais diversas religiões. Ele
deve ser entendido como qualquer ideologia religiosa que analisa a realidade conforme
preceitos antigos, conduzindo a uma postura conservadora perante os acontecimentos da
modernidade. Os fundamentalistas seguem suas convicções à risca, e em se tratando de
sistemas de crença que adotam livros sagrados, os textos devem ser seguidos sem
questionamentos e considerando as circunstâncias e época em que foram escritos, sendo
vedada qualquer oposição àquilo que é passado aos seus fiéis68
.
No próprio Cristianismo em solo estadunidense, veem-se atitudes do tipo, quando no
século passado a sociedade desse país assistia a mudanças rápidas nos costumes, como a
conquista de maior espaço pelas mulheres. Diante desse processo de secularização, pastores
conservadores de igrejas cristãs protestantes se uniram e formaram a World‟s Christian
Fundamentals Association (WCFA) em 1919. Estiveram por trás, inclusive, da aprovação da
Lei Seca de 1920, que proibia o comércio e consumo de bebidas alcoólicas nos Estados
Unidos. Ganharam vigor durante a Guerra Fria por conta de sua propaganda anticomunista,
inclusive conquistando amplitude no campo eleitoral. No campo político, foram contra os
acordos propostos pela URSS para a restrição a mísseis e armas nucleares, pois isso poderia
reduzir o seu poder frente ao país comunista, além de terem apoiado fortemente o Estado de
Israel, desde os primórdios da década de 80, em apoio ao general Ariel Sharon. No campo
67
KÜNG, Hans. Islão: passado, presente e futuro. Lisboa: Edições 70, 2010. (Extra colecção). p. 56. 68
SCHILLING, Voltaire. Ocidente x Islã. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2003. p. 127.
37
educacional, combatem veementemente a Teoria Evolucionista de Charles Darwin, e exigem
o ensino do Criacionismo nas escolas. Atualmente, a luta desses grupos concentra-se no
combate ao aborto, contra a emancipação feminina, contra os direitos dos homossexuais e em
favor das orações obrigatórias nas escolas (Ver Tabela 1)69
.
Tabela 1 – Grupos fundamentalistas cristãos País Igrejas Características
E.U.A. Batista, Presbiteriana,
Evangélica, Adventista
Contra os costumes modernos. São contra o divórcio e o aborto.
Politicamente, são anticomunistas e, no campo do ensino, defendem o
criacionismo antidarwinista.
Fonte: SCHILLING, Voltaire. Ocidente x Islã. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2003. p. 133. Tabela adaptada.
Passando para o Islã, afirma-se que é a religião que mais cresce no mundo hodierno.
Há algumas razões que podem explicar essa realidade. A primeira é uma causa demográfica, a
qual consiste na alta taxa de natalidade observada nos países de maioria muçulmana. A
segunda causa seria propriamente religioso, uma vez que um dos preceitos da religião é a
conversão, em que há uma obrigação de os muçulmanos disseminarem sua crença a toda
humanidade. Uma terceira razão seria estatística, dado a dificuldade de conversão de pessoas
que estão nessa religião a outras, até porque abandonar o Islamismo é proibido, configurando
uma infração passível de pena de morte. Isso é corroborado pela pressão social contra
conversões, além da solidez constatada, em geral, nas comunidades muçulmanas ao redor do
mundo. Apesar desses motivos, há um fenômeno a ser frisado: a redescoberta do Islã por
membros, até então, afastados. Alguns motivos podem ser apontados para esse retorno: a
influência de pregadores ou conhecidos da religião, pressão social, problemas pessoas e
espirituais, etc. Muitas vezes esse regresso envolve uma nova postura política e até mesmo no
estilo de vida individual70
.
Aquilo que se chama de fundamentalismo, geralmente associado ao Islã, surgiu no
seio do protestantismo estadunidense71
, como já dito acima. No caso do extremismo islâmico,
vê-se que é uma política de repúdio aos costumes do Ocidente, antimoderna e confessional. O
seu propósito maior é conseguir converter o maior número de indivíduos possível, formando
uma grande comunidade muçulmana inclinada ao serviço de Deus. Ao que parece, a corrente
fundamentalista é a que mais tem se fortalecido hoje nessa religião. Entretanto, ressalte-se que
é um movimento recente, que cresceu nas últimas décadas, em contraposição aos ímpetos
69
SCHILLING, Voltaire. Ocidente x Islã. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2003. p. 127-129. 70
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 193-194. 71
Ibid. p. 194.
38
modernizadores da globalização, especialmente no Oriente Médio72
, tendo como marco de sua
ascensão a Revolução Xiita no Irã, em 197973
.
O fundamentalismo islâmico, nas últimas décadas, tem mostrado suas ações mais
incisivas no Afeganistão, Argélia, Israel-Palestina, Caxemira, Nova York74
e Europa75
. Os
entraves do Islamismo com outras religiões têm ocorrido em cinco pontos principais do
mundo76
:
a) contra o Cristianismo Ortodoxo na Rússia, nos Bálcãs e no Mediterrâneo Oriental;
b) contra o Judaísmo na Palestina;
c) contra o fundamentalismo hinduísta na Índia;
d) contra as minorias cristã, chinesa e outras na Indonésia e na região chinesa do
Xinjiang77
;
e) contra o Cristianismo na Nigéria e no Sudão.
Como dito antes, a tendência fundamentalista aparenta ser o segmento de maior
proeminência no Islã, mas a maioria dos seguidores dessa religião não é fundamentalista, e
dos que são, nem todos são terroristas. No entanto, não se pode negar a existência marcante de
grupos extremistas (Ver Tabela 2) que buscam justificar suas ações a partir do texto do Corão
e das tradições do Profeta Maomé, mas denotando uma interpretação que lhes convém78
.
Comparando com a história do Cristianismo, a forma como o Islamismo tem lidado
com a prática da guerra no decorrer de sua história como forma de atacar os fiéis de outras
crenças e de convertê-los ao Islã, os cristãos, com exceção das Cruzadas, realizaram guerras
mais internas de combate a cismas e heresias79
.
As diásporas muçulmanas no Ocidente deixam os seguidores dessa religião mais
suscetíveis às influências do fundamentalismo, sobretudo os indivíduos da nova geração, pois,
72
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 201. 73
SCHILLING, Voltaire. Ocidente x Islã. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2003. p. 130. 74
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 247. 75
Na Europa e Turquia, foram confirmados vários ataques desde 2015. A cronologia é: 7-9 de janeiro de 2015 –
França (ocasião em que a sede da revista Charlie Habdo, em Paris, foi atacada); 13 de novembro de 2015 –
França; 22 de março de 2016 – Bélgica; 14 de julho de 2016 – França; 19 de dezembro de 2016 – Turquia; 19 de
dezembro de 2016 – Alemanha; 22 de março de 2017 – Reino Unido; 22 de maio de 2017 – Reino Unido; 3 de
junho de 2017 – Reino Unido; 17 de agosto de 2017 – Espanha. ESTADÃO. Cronologia: 10 últimos principais
ataques na Europa. Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/blogs/radar-global/10-atentados-mais-
recentes-realizados-na-europa/>. Acesso em: 15 set. 2017. 76
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 268. 77
Região separatista da China, onde vive a minoria étnica Uigur, seguidora do Islamismo, que enfrenta
problemas com a etnia han e o governo central chinês. Esse povo é acusado de atos terroristas. LE MONDE
DIPLOMATIQUE BRASIL. Uigures, entre a modernidade e a repressão. Disponível em: <
http://diplomatique.org.br/uigures-entre-a-modernidade-e-a-repressao/>. Acesso em: 15 set. 2017. 78
LEWIS, Bernard. A crise do islã: guerra santa e terror profano. Tradução de Maria Lúcia de Oliveira. Rio de
Janeiro: Zahar, 2004. p. 129-130. 79
Ibid. p. 133.
39
na maioria dos casos, eles nasceram na Europa e nos Estados Unidos, diferente de seus pais, e
por isso, têm menos tendência a aceitarem o alijamento que os acomete por parte da mesma
sociedade em que nasceram e foram criados. Uma minoria deles se envolve em movimentos
extremistas, seja porque neles encontram uma identificação social ou um alento a sua crise
espiritual. Entretanto, mesmo com poucos membros e isolados, esses grupos radicais se
fortalecem e angariam novos membros à medida que a marginalização de muçulmanos
aumenta, bem como esses integrantes vão se capacitando e conhecem bem os alvos que
querem atingir, daí a alta periculosidade que representam80
.
Tabela 2 – Grupos fundamentalistas islâmicos País Grupos ou movimentos Características e objetivos
Afeganistão Taliban (seminaristas
islâmicos)
Revogar os costumes modernos e aplicar a lei corânica em seus
fundamentos.
Argélia Frente Islâmica de
Salvação (FIS) e Grupo
Islâmico Armado (GIA)
Luta contra o regime militar secular. Tenta impor uma república
islâmica. Organiza massacres indiscriminados contra a população
aldeã, persegue jornalistas, mulheres emancipadas e assassina os
estrangeiros.
Egito Irmandade muçulmana e
Jihad Islâmica
Advoga uma república muçulmana. Ataque a elementos do
governo (assassinato de Anuar Sadat) e a turistas ocidentais (58
mortos em Luxor, 1997).
Líbano Hezbollah (O partido de
Deus)
Luta contra a ocupação israelense do sul do Líbano, chamada
Zona de Segurança. É apoiado pelo Irã.
Cisjordânia e
Gaza Hamas Luta contra Israel e não aceita o acordo firmado pela OLP
(Organização para a libertação da Palestina) de Arafat com os
israelenses. Advoga as leis corânicas para o futuro estado da
Palestina.
Irã Movimento xiita Derrubou o governo pró-ocidental do xá Reza Pahlevi em 1979,
fundando a República Islâmica. Os EUA foram seu principal
inimigo. Rejeição da vida ocidental e volta aos costumes
islâmicos.
Fonte: SCHILLING, Voltaire. Ocidente x Islã. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2003. p. 133-134. Tabela adaptada.
Além desses grupos, é válido ressaltar a atuação da Al Qaeda, que ganhou amplitude
sob a liderança de Osama Bin Laden. Filho de uma prestigiada família da Arábia Saudita,
envolvida com a produção de petróleo, rompeu laços com seu país de origem por considerá-lo
ligado aos interesses norte-americanos e pouco religioso. Bin Laden fazia declarações
públicas e reverberou com veemência o repúdio ao Ocidente, conquistando jovens pobres e
sem perspectivas, mas também membros da classe média. Sem dúvidas, depois de vários
atentados de sua autoria, como a explosão de duas embaixadas estadunidenses, na Tanzânia e
no Quênia, a Al Qaeda demonstrou seu nível de organização com os ataques de 11 de
Setembro de 2001, quando dezenove membros, a maioria deles sauditas que moravam na
Alemanha, sequestraram quatro aviões, dos quais dois foram usados para explodir o World
80
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 287.
40
Trade Center, as Torres Gêmeas em Nova York, símbolo do poder econômico daquele país;
outro causou danos ao Pentágono, em Washington, símbolo do poder militar e o último tentou
a atingir a Casa Branca, símbolo político, o qual foi interceptado pelos próprios americanos,
matando passageiros e tripulação. Esse fato foi pretexto para a invasão dos Estados Unidos ao
Afeganistão e o início da “Guerra ao Terror” por George W. Bush, Presidente dos Estados
Unidos à época, que conseguiram bombardear a base da Al Qaeda no referido país asiático,
mas mesmo assim o governo afegão não cedeu à exigência de entregar tal terrorista, que
assumiu a autoria do atentado, o qual conseguiu fugir, mas o país ocidental perseguiu os
membros do grupo terrorista que estavam no Afeganistão e destruíram seus locais81
.
Pode-se destacar também a atuação do grupo terrorista Boko Haram, da Nigéria,
fundado em 2002. Com propósito de combater a “educação ocidental” e formar um estado
islâmico, começou a se lançar operações militares a partir de 2009, conseguindo tomar
cidades do país africano e declarando a formação de um califado envolvendo as áreas sob seu
controle em 201482
.
Dentre os grupos terroristas atuantes e de maior notoriedade atualmente é o Estado
Islâmico (EI), antes chamado de Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) ou Estado
Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS), ou pelo acrônimo em inglês ISIS. A sua mensagem
política envolve o retorno do Califado, uma nova era de glória para o Islamismo. No contexto
de instabilidades políticas no Oriente Médio e Egito, guerras na Síria e Iraque, conflitos entre
israelenses e palestinos, o EI apresenta-se como uma resolução para esses impasses ao
estabelecer uma organização política bem-sucedida83
.
O Estado Islâmico pode parecer para muitos um poderoso Estado teocrático a proteger
os muçulmanos sunitas onde quer que eles estejam, sendo uma esperança para os jovens
muçulmanos desassistidos em seus países de origem, marcados por instabilidades políticas,
opressão, corrupção e desigualdade social, bem como dos imigrantes que vivem na Europa e
na América, que convivem com a falta de oportunidades e dificuldades de integração com a
sociedade ocidental84
.
Além de usarem da luta armada para se impor, o EI conta com outra estratégia: “a
propaganda do medo”, pela qual utilizam as redes sociais para publicar vídeos e imagens das
81
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 287-291. 82
BBC. Who are Nigeria's Boko Haram Islamist group? Disponível em: <http://www.bbc.com/news/world-
africa-13809501>. Acesso em: 15 set. 2017. 83
NAPOLEONI, Loretta. A fênix islamita: o Estado Islâmico e a reconfiguração do Oriente Médio. 3. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2016. p. 15-17. 84
Ibid. p. 19-20.
41
atrocidades cometidas, pois sabe que tamanho sensacionalismo logo se torna notícia pelo
mundo, ofertando material para o espetáculo midiático85
.
Dessa forma, o EI se destaca por sua atuação intermediada pelos recursos virtuais, mas
também porque, diferente do Talibã ou da Al Qaeda, sustenta-se financeiramente ao tomar
controle de áreas produtivas como campos de petróleo e usinas elétricas na Síria, bem como
pela cobrança de tributos de empresas comerciais e sobre negócios que envolvem artefatos
bélicos e produtos em geral, a maior parte deles transportados em um sistema de contrabando
que se desenvolve nas fronteiras entre a Síria com a Turquia e o Iraque86
.
Tamanho poder tem se mostrado pelos múltiplos ataques que o EI realizou em pelo
menos um ano contra Estados Unidos, Tunísia, Paquistão, Rússia, Turquia, Espanha, França,
Alemanha, Bélgica e Reino Unido87
.
Diante de ataques terroristas em vários países, muitos deles de autoria de grupos
extremistas islâmicos, será exposta no próximo tópico a presença dos muçulmanos no Brasil
desde seu período colonial, até para reconhecer que historicamente nesse país a chegada dos
primeiros seguidores dessa religião não veio acompanhada de uma tendência fundamentalista.
2.2.2 A presença do Islamismo no Brasil
No Brasil, o islamismo ainda aparenta uma religião estranha para parte expressiva da
população, mas sua inserção no país se deu em dois contextos temporalmente distantes.
Primeiro, com os malês na Bahia, termo genérico usado para designar todos os escravos
africanos muçulmanos à época, que trouxeram de sua terra original uma característica: o nexo
entre política e religião. Assumiram uma postura opositiva à situação escravista e também à
restrição para a profissão de sua fé, já que a Constituição Imperial de 1824 só permitia que as
religiões diversas da Católica fossem professadas em âmbito doméstico. Tamanho
descontentamento fez com que esse povo se realizasse um levante junto a escravos de outras
etnias, no dia 25 de janeiro de 1835, a chamada Revolta dos Malês, que durou apenas algumas
horas e foi duramente reprimida, deixando revoltosos mortos e levando outros a julgamento
com consequentes punições severas. Não há dúvidas de que a religião teve papel primordial
para que acontecesse esse evento, além da experiência militar adquirida dos conflitos travados
na África. Ainda que minoria, os malês deixaram suas influências culturais no país, como o
85
NAPOLEONI, Loretta. A fênix islamita: o Estado Islâmico e a reconfiguração do Oriente Médio. 3. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2016. p. 20. 86
Ibid. p. 26. 87
DW. Cronologia do terrorismo após o 11 de Setembro. Disponível em: <http://www.dw.com/pt-
br/cronologia-do-terrorismo-ap%C3%B3s-o-11-de-setembro/a-38093309>. Acesso em: 16 set. 2017.
42
uso de amuletos, chamados patuás, e marcaram o Candomblé, o culto aos orixás, com o uso
do turbante, por exemplo. Seu ideal de liberdade e de submissão unicamente a Deus foi outra
marca importante deixada. Essa revolta configura o único levante muçulmano da história da
América Latina88
.
O outro momento de penetração do Islã no Brasil foi com as ondas migratórias
advindas do Líbano e da Síria, a partir do século XIX, em que os imigrantes vinham
interessados em ascender financeiramente e seduzidos pela propaganda de migração
executada pelo governo brasileiro. A maior parte deles se instalou em São Paulo e região
metropolitana, e em menor quantidade no Rio de Janeiro e interior de Minas Gerais,
dedicando-se principalmente ao comércio89
.
O Brasil possui hoje a maior comunidade libanesa do mundo, tendo mais libaneses do
que o próprio Líbano. Sendo que a maior parte deles é cristã, mas verificam-se vários
muçulmanos sunitas, e em menor contingente xiitas e alawitas. Muitos libaneses vieram para
o Brasil por conta da guerra civil que assolou o seu país entre 1975 e 199190
. No início da
década de 90, houve um fortalecimento do islamismo no país, contando com a adesão de afro-
brasileiros em busca de contato com suas raízes culturais e religiosas de matriz africana91
.
O Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 apontou a
presença de 35.167 indivíduos que se declaram muçulmanos no Brasil, número bem inferior
aos da Igreja Católica Apostólica Romana, ainda majoritária no país, contando com
123.280.172 de fiéis, ficando atrás inclusive das demais denominações cristãs, do Espiritismo,
do Judaísmo, da Umbanda, do Candomblé e do Budismo92
.
88
SENA, Edmar Avelar. O Islã no Brasil: malês e “árabes”, dois momentos da presença muçulmana no contexto
brasileiro. Horizonte, Belo Horizonte, v. 13, n. 38, p. 829-861, abr./jun. 2015. Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2015v13n38p829/8104>. Acesso
em: 15 set. 2017. p. 832-839. 89
Ibid. p. 842-845. 90
“Porém, como aconteceu em outros países latino-americanos, os imigrantes nem sempre mantiveram sólidas
comunidades. Mesquitas até existem, mas o islã não floresceu. As tradições brasileiras de tolerância
intercomunitária e de mestiçagem os empurraram para uma irresistível tendência de assimilação. Em lugar da
xenofobia que dificulta a posição do islã na Europa e nos EUA, aqui a sobrevivência de uma cultura islâmica
específica tem que lidar com a presença de uma cultura geral receptiva “demais”, sendo considerada por alguns
“leviana”, em comparação aos preceitos puritanos do islã. Só nos últimos anos assiste-se a um “despertar”
islâmico, com correspondente expansão das congregações. A Arábia Saudita apóia financeira e logisticamente:
isto provocará o mesmo tipo de problemas que assinalamos na análise do islã europeu”. DEMANT, Peter. O
mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 113; 188-189. 91
ARBEX JÚNIOR, José. Islã: um enigma de nossa época. São Paulo: Moderna, 1996. p. 85. 92
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico: 2010: características gerais da
população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/94/cd_2010_religiao_deficiencia.pdf>. Acesso em: 15 set.
2017. p. 143-144.
43
É correto afirmar que o Brasil é um país multirreligioso e por isso mesmo, o próximo
tópico terá como intuito mostrar como as constituições e leis ao longo da história do país
contemplaram essa diversidade, ainda mais na atualidade, com vários acordos em âmbito
internacional que preconizam o respeito a todas as formas de crença.
2.3 A DIVERSIDADE CULTURAL E RELIGIOSA DO BRASIL FRENTE AO MUNDO
GLOBALIZADO
A religião é um elemento presente em todas as sociedades ao longo da história, na qual
fica exposta a relação do ser humano com aquilo que ele considera sagrado, agrupando
pessoas em torno de concepções transcendentais e atribuindo uma finalidade última da
existência, mas é vista, acima de qualquer de tudo, como instituição cultural93
.
A Constituição de 1824 previa a manutenção da Igreja Católica como religião do
Império, ficando o culto de outras religiões restritas à esfera doméstica, diante da proibição de
qualquer forma exterior de templo, fato que dava ao Estado Brasileiro um caráter
confessional, ainda mais quando essa Carta Política foi consagrada em nome da Santíssima
Trindade94
.
No período imperial brasileiro, verificou-se que a liberdade de consciência era aceita,
no entanto as religiões, que não fosse a Católica, não poderiam ser exercidas publicamente. A
conexão entre Estado e Igreja era forte, de forma que o primeiro estava diretamente envolvido
com as rendas da segunda e essa, por sua vez, tinha seus clérigos como braços do
funcionalismo público. Da mesma forma, havia padres proprietários de terras e responsáveis
por registros civis e de terras que estivessem confiadas às freguesias e às paróquias. E um
ponto mais contundente dessa relação se configurava no beneplácito régio, pelo qual as
decisões tomadas em concílios e constituições da Igreja só poderiam vigorar no Brasil com a
anuência do governo. Essa relação de subordinação da Igreja Católica ao Estado era uma
reminiscência do período colonial e não era exclusividade brasileira, sendo constatada
93
“Uma instituição cultural é algo que se apresenta nitidamente na sociedade com três atributos: 1. um discurso,
isto é, uma justificativa que lhe dá sentido e finalidade; 2. participantes ou membros que se agregam; e 3.
comportamentos específicos, incluindo rituais”. GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem:
filosofia da cultura. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 137. 94
“Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras
Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma
alguma exterior do Templo”. BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil, de 25 de Março de 1824.
44
também em monarquias constitucionais imbuídas dos ideais liberais que se disseminavam na
Europa do século XIX, em clara postura anticlerical95
.
Por sua vez, a Constituição de 1891, a primeira da República, não adotou uma religião
como oficial, bem como vedou à União e aos Estados interferências no exercício religioso
sem fazer qualquer distinção entre credos. Na mesma esteira, garantiu a todos os cidadãos e
confissões religiosas o exercício livre e público de seus cultos, podendo esses se associarem
para tanto96
.
A Constituição subsequente, promulgada em 1934, menciona faz menção ao exercício
religioso no seu rol de direitos e garantias individuais, vedando qualquer distinção entre
indivíduos por conta de crenças religiosas, não podendo esse quesito ser motivo para privar
alguém de seus direitos, conferiu às associações religiosas personalidade jurídica nos termos
da lei civil, a assistência religiosa em vários âmbitos e manteve a disposição da Constituição
anterior ao enunciar o caráter secular dos cemitérios97
.
Já a Constituição de 1937, a qual inaugurou um governo ditatorial sob o comando do
Presidente Vargas, o Estado Novo, manteve as disposições da Carta Magna anterior no que se
refere à liberdade de crença e culto, mas também permitiu a inserção do ensino religioso nos
currículos escolares, valendo a ressalva de que os professores não poderiam ser obrigados a
ministra-la tampouco de frequência obrigatória dos alunos98
.
Saindo do Estado Novo e retomando as tendências democráticas, a Constituição
promulgada em 1946 deu continuidade às disposições referentes aos assuntos religiosos, indo
além, equiparou o casamento religioso ao civil, desde que atendidos os ditames legais. No
âmbito escolar, o ensino religioso é explicitamente colocado como de matrícula facultativa e
devendo ser ministrado de acordo com a confissão religiosa do aluno99
.
Em novo regime de viés autoritário, dessa vez militar, o Brasil tem outorgada sua
sexta constituição. Apesar da supressão de direitos e liberdades nessa época, a Constituição de
1967 preservou as disposições referentes aos direitos de crença e culto religiosos das
constituições anteriores. Sendo que dessa vez fazendo menção aos Municípios, que se
tornaram entes federados, os quais juntos à União e aos Estados estavam vedados de realizar
95
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p.
314-315. 96
Art. 11, 2º); art.72, §3º. BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de
Fevereiro de 1891. 97
Art. 113, 1), 4), 5), 6), 7). BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de Julho
de 1934. 98
Art. 133. BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de Novembro de 1937. 99
Art. 163, §§1º, 2º; art. 168, V. BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de Setembro de
1946.
45
interferências no que dizia respeito à liberdade religiosa100
. A Emenda Constitucional nº
1/1969, considerada por vários juristas como outra constituição, trouxe alterações sutis ao
texto da Constituição de 1967 na temática religiosa, a exemplo disso, tem-se a proibição às
Câmaras de apresentarem pronunciamentos que envolvam ofensas às Instituições Nacionais,
propaganda de guerra, de subversão da ordem política ou social, de preconceito de raça, de
religião ou de classe, configurarem crimes contra a honra ou contiverem incitamento à prática
de crimes de qualquer natureza101
.
No entanto, foi a Constituição Federal de 1988 que consolidou os direitos e garantias
fundamentais, o que inclui a previsão da liberdade de consciência e crença, o livre exercício
de cultos religiosos e a inviolabilidade dos locais em que eles aconteçam e suas liturgias.
Ficam mantidas a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva e a vedação a qualquer restrição de direitos a um indivíduo por motivos de
convicção religiosa ou filosófica, bem como a previsão de o casamento religioso ter efeitos
civis, nos termos da lei102
.
Na interseção entre religião e educação, a mesma Constituição instituiu a
facultatividade da matrícula na disciplina de ensino religioso, mas podendo essa estar no
horário normal das escolas públicas de ensino fundamental. No mesmo prisma, recursos
públicos poderão ser destinados a escolas confessionais, desde que comprovem finalidade não
lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação e em caso de encerramento de
suas atividades, assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola, seja ela
comunitária, filantrópica ou confessional também103
.
Um ponto relevante a ser considerado acerca do tratamento constitucional à liberdade
de crença e culto é a previsão do art. 150, inciso VI, alínea “b”, em que fica vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituírem impostos sobre templos de
qualquer culto, mas conforme o §4º do mesmo artigo, essa vedação só se aplica ao
patrimônio, à renda e aos serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades
referidas104
. Essa disposição de tal parágrafo foi alvo de discussão quando o Tribunal de
Justiça de São Paulo decidiu que o benefício do não pagamento do Imposto Predial Territorial
Urbano (IPTU) só é cabível aos espaços onde ocorrem os cultos religiosos e outras
dependências que atendam diretamente às finalidades das entidades religiosas, e por conta
100
Art 9º, II. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de Janeiro de 1967. 101
BRASIL. Emenda Constitucional nº 1, de 17 de Outubro de 1969. 102
Art. 5º, VI, VII, VIII; art. 19, I; art. 226, §2º. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. 103
Art. 210, §1º; art. 213, I, II. Ibid. 104
Art. 150, VI, b; art. 150, §4º. Ibid.
46
disso, considerou cabível a cobrança do tributo supracitado para 61 imóveis pertencentes à
Mitra Diocesana de Jales, a qual interpôs recurso, uma vez que alegava que tais imóveis
tinham funcionalidades ligadas ao propósito religioso, como locais de reunião e administração
e como residências de religiosos, por exemplo105
.
Sobre o caso em questão, o Recurso Extraordinário nº 325.822 foi julgado em 18 de
dezembro de 2002, em que o Relator do caso, o Ministro Ilmar Galvão não reconheceu o
recurso, juntamente com os Ministros Ellen Gracie, Carlos Velloso e Sepúlveda Pertence. No
entanto, com a maioria dos membros em posição contrária, o Tribunal conheceu e deu
provimento ao Recurso Extraordinário para assentar a imunidade requerida pela Diocese do
município paulista de Jales. Sendo assim, foi reconhecido que os imóveis em questão
correspondiam às finalidades daquela congregação religiosa106
.
O Decreto-Lei nº 2.848/1940, o Código Penal, define como crime em seu art. 208 o
ato de ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo107
. A previsão desse
artigo tipifica três figuras como crimes: escárnio por motivo da religião; impedimento ou
perturbação do culto religioso; e vilipêndio público de ato ou de objeto para culto religioso. A
primeira modalidade só se adequa ao tipo penal se for realizada publicamente, de forma que
chegue ao conhecimento das pessoas em geral, em que há zombaria contra alguém motivada
pela crença ou função religiosa, que envolve a missão religiosa exercida por alguém, como
padre, pastor ou rabino. Na segunda modalidade, há adequação típica quando se busca
impedir ou perturbar culto ou cerimônia religiosa, independente de onde estejam sendo
105
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. STF decide: entidades religiosas têm imunidade tributária sobre
qualquer patrimônio (atualizada). Disponível em: <
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=59828>. Acesso em: 3 set. 2017. 106
EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Imunidade tributária de templos de qualquer culto. Vedação de
instituição de impostos sobre o patrimônio, renda e serviços relacionados com as finalidades essenciais das
entidades. Artigo 150, VI, b e § 4º, da Constituição. 3. Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de sua
propriedade que se encontram alugados. 4. A imunidade prevista no art. 150, VI, b, CF, deve abranger não
somente os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e os serviços "relacionados com as
finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas". 5. O § 4º do dispositivo constitucional serve de vetor
interpretativo das alíneas b e c do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal. Equiparação entre as hipóteses
das alíneas referidas. 6. Recurso extraordinário provido. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso
Extraordinário nº 325.822 SP. Tribunal Pleno. Relator: Min. Ilmar Galvão. Data de Julgamento: 18/12/2002.
Data de Publicação: DJ 14/05/2004. Disponível em: <
https://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/STF/IT/RE_325822_SP-
_18.12.2002.pdf?Signature=4vhvdIXVLiH93HCbDeqDyVxVTMA%3D&Expires=1504469966&AWSAccessK
eyId=AKIAIPM2XEMZACAXCMBA&response-content-type=application/pdf&x-amz-meta-md5-
hash=3e25f36de4cae243a5d6d80d23c5ec41>. Acesso em: 3 set. 2017. 107
“Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou
perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena
- detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de
um terço, sem prejuízo da correspondente à violência”. BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de Dezembro de
1940.
47
realizados. Por fim, a terceira modalidade remete a vilipendiar objetos destinados,
necessariamente, à celebração do culto religioso108
.
No âmbito legal, a discriminação por motivos religiosos é contemplada pela Lei
Federal nº 7.716/1989, popularmente conhecida como Lei do Racismo, de forma que estão
previstas punições para crimes de discriminação ou preconceito motivados por tal razão,
assim como se forem por raça, cor, etnia, ou procedência nacional109
.
A Carta Internacional dos Direitos Humanos é composta pela Declaração Universal
dos Direitos Humanos (DUDH), essa proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
em Paris, em 10 de dezembro de 1948; pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e sobre pena de
morte); e pelo Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e
seu Protocolo Opcional110
. Quanto ao segundo Pacto, foi promulgado no Brasil por
intermédio do Decreto nº 592/1992, o qual determinou a execução e o cumprimento de seu
inteiro teor no país111
, que dentre suas disposições está a proteção das minorias étnicas,
religiosas ou linguísticas para que elas possam professar livremente suas religiões, usar suas
línguas e manifestar suas culturas nos Estados112
.
As sociedades contemporâneas perderam muito sua homogeneidade, abrindo cada vez
mais espaço para o multiculturalismo e a multietnicidade. Posto isso, em sociedades mais
inclusivas113
, haverá a coexistência de minorias étnicas, religiosas, linguísticas e culturais. A
acepção de minorias e os direitos referentes a cada uma delas levanta questionamentos,
108
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v.
3. p. 448-450. 109
Art. 1º. BRASIL. Lei Federal nº 7.716, de 05 de Janeiro de 1989. 110
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/>. Acesso em: 3 set. 2017. 111
BRASIL. Decreto nº 592, de 6 Julho de 1992. 112
“Art. 27. Nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou lingüísticas, as pessoas pertencentes a essas
minorias não poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua
própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e usar sua própria língua”. ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. Disponível em:
<http://www.cjf.jus.br/caju/tratados.pdf>. Acesso em: 3 set. 2017. 113
Um exemplo de sociedade inclusiva é a canadense, na qual há um sistema de bibliotecas públicas que busca
contemplar essa diversidade linguística presente na nação. Em trabalho acadêmico realizado, houve coleta de
dados referente a essa diversidade no acervo das bibliotecas do referido país americano em que os resultados
foram comparados com um documento, de 2009, da International Federation of Library Associations and
Institutions (IFLA), em português “Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias”.
Constatou-se nas bibliotecas pesquisadas a presença de um expressivo material multilíngue, o qual consiste em
itens impressos, de multimídia, softwares, serviços de referência multilíngue, funcionários que falam mais de um
idioma e parcerias com representantes de diversas comunidades culturais. CASTRO, Daniele Brandini de.
Multiulturalismo no Canadá: a biblioteca pública canadense frente à diversidade cultural. 2012. 80 f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) – Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2012. Disponível em: <
http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/54260>. Acesso em: 6 set. 2017.
48
sobretudo no que se refere à integração e participação delas na sociedade, isso engloba a
garantia de que receberão tratamento igual aos demais cidadãos e direitos específicos de
proteção às suas particularidades culturais114
.
A Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais,
de 2005, realizada pela UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization, em português „Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura‟), órgão executivo da Organização das Nações Unidas (ONU), ratificada pelo Brasil
por meio do Decreto Legislativo 485/2006115
, tem como um de seus objetivos promover o
diálogo entre culturas e intercâmbios culturais para propiciar uma cultura de paz116
.
Após toda essa explanação sobre cultura e religião, o capítulo seguinte inserirá esses
elementos no contexto do constitucionalismo e do desenvolvimento, uma vez que as
liberdades culturais e de crença conquistaram o status de direitos fundamentais, adensando-se
no fortalecimento do Estado Democrático de Direito.
114
“No campo dos direitos fundamentais existem dois grupos diferentes: (1) direitos dos indivíduos pertencentes
às minorias; (2) direitos das minorias propriamente ditas. Indivíduo e grupo e grupo/indivíduo surgem
estreitamente relacionadas. Como pessoas, não podem reivindicar outra coisa senão a do tratamento como igual
quanto aos direitos fundamentais. Enquanto grupo, põe-se o problema de direitos colectivos especiais dada a sua
identidade e forte sentimento de pertença e de partilha (língua, religião, família, escola). Neste sentido se fala da
minorias by will (em contraposição às minorias by force): aquelas que atribuem valor à sua diferença e
especificidade relativamente à maioria, exigindo a protecção e garantia efectiva desta diferença e especificidade
[...]”. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra:
Almedina, 2003. p. 387. 115
BRASIL. Decreto Legislativo nº 485, de 2006. 116
UNESCO. Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. Disponível
em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001502/150224por.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2017.
49
3 O CONSTITUCIONALISMO E A RELAÇÃO COM O DIREITO E
DESENVOLVIMENTO (D&D)
A interpretação hodierna de direitos humanos básicos preconiza minimamente os
pilares para a tolerância mútua, o que, no entanto, não implica estabelecer as bases para a
solidariedade mútua. Essa nova interpretação rompe com a antiquada hierarquização das
culturas, pela qual se acredita que as culturas tendem a adentrar em um processo de
assimilação o qual representaria uma evolução progressiva até se atingir um modelo pré-
estabelecido. Sendo assim, as relações culturais não são mais verticais e sim, horizontais. Por
consequência, tende a decair toda ideia de superioridade de uma cultura sobre a outra117
.
Neste capítulo, cumpre-se tratar do desenvolvimento, em seus aspectos jurídico e
teleológico, enquanto um direito fundamental, ao mesmo tempo um objetivo a ser alcançado
por intermédio da fruição dos demais direitos fundamentais, considerando sua ampla acepção,
que está além do viés econômico.
A construção histórica dos direitos fundamentais inevitavelmente possibilitou o
desenvolvimento do ser humano, enquanto amparado pelas liberdades que lhe foram
conferidas, os titulares desses direitos ganharam mais espaço e opções para aproveitar suas
próprias potencialidades, para desfrutar do que produzem e para poder se autoafirmarem em
suas particularidades, podendo reivindicar, a partir de então, uma segurança contra os abusos
do Estado ou de outros indivíduos.
Por isso, à medida que o fenômeno do constitucionalismo foi se adensando, os
titulares dos direitos fundamentais foram conquistando mais autonomia e mais perspectivas
para alcançar seu bem-estar, em outras palavras, pôde-se aferir desenvolvimento nesse
cenário.
A concepção do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) surgiu como alternativa
ao uso do Produto Interno Bruto (PIB) para averiguar a qualidade de vida dos países, pois
esse só considera o desenvolvimento da perspectiva econômica, enquanto aquele tem como
critérios renda, saúde e educação. Foi criado pelo economista Mahbub ul Haq com a
colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de
1998118
. O Brasil encontra-se em 79º lugar no ranking mundial composto por 188 países,
117
BAUMAN, Zygmunt. A cultura no mundo líquido moderno. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. 1. ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 2013. p. 38-39. 118
PNUD. Desenvolvimento humano e IDH. Disponível em:
<http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0.html>. Acesso em: 19 set. 2017.
50
sendo considerado de desenvolvimento humano alto, no resultado divulgado em 2017, a partir
de dados coletados em 2016119
.
Um índice que se mostra mais profícuo no sentido de avaliar a qualidade de vida dos
cidadãos é o Índice do Progresso Social (IPS), elaborado pela organização sem fins lucrativos
estadunidense Social Progress Imperative, que analisa três dimensões: necessidades humanas
básicas (nutrição e cuidados médicos básicos, água e saneamento, moradia e segurança
pessoal); fundamentos de bem-estar (acesso ao conhecimento básico, acesso à informação e à
comunicação, saúde e bem-estar e sustentabilidade dos ecossistemas) e oportunidades
(direitos individuais, liberdades e escolhas individuais, tolerância e inclusão e acesso à
educação superior)120
. De acordo com o resultado de 2016, o Brasil ocupa a 46ª posição
dentre 133 países pesquisados, sendo considerado de progresso social alto121
.
O avanço na qualidade de vida tem muito a ver com o cristalização dos direitos
fundamentais nas constituições, e por isso mesmo, no próximo tópico o constitucionalismo
será tratado com vistas a fazer uma mostra do panorama em que eles se constituíram desde
sua gênese até o momento atual.
3.1 O CONSTITUCIONALISMO E SEU ADENSAMENTO HISTÓRICO
Para iniciar essa abordagem é necessário discorrer sobre a origem do
Constitucionalismo, a qual muitos estudiosos colocam como marco a Revolução Francesa,
que permitiu novas modelações na política, entre elas o surgimento da constituição, que por
sua vez, determinava limites ao poder governamental. Esse marco histórico é defendido na
doutrina jurídica brasileira, em que se destaca a importância dessa carta política, fruto dos
ideais do Liberalismo, para que houvesse a separação dos poderes122
.
Analisando o contexto em que vivia a Europa antes desse evento histórico, os países
de tal continente eram governados por monarquias absolutistas, em sua maioria, em que o
monarca concentrava as deliberações dos três poderes, desconhecia limites para suas ordens e
a sua figura se confundia com a do próprio Estado.
119
UNDP. Human Development Report 2016: Human development for everyone. Disponível em: <
http://hdr.undp.org/sites/default/files/2016_human_development_report.pdf>. Acesso em: 19 set. 2017. p. 198-
201. 120
PROGRESSO SOCIAL BRASIL. O que mede? Disponível em: <http://www.progressosocial.org.br/que-
mide/>. Acesso em: 19 set. 2017. 121
SOCIAL PROGRESS IMPERATIVE. Índice de Progresso Social 2016: resumo executivo. Disponível em: <
http://www.progressosocial.org.br/wp-content/uploads/2016/07/PT_SPI-2016-Executive-Summary.pdf>. Acesso
em: 19 set. 2017. p. 17-18. 122
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 36-37.
51
A Revolução Francesa, articulada pelos ideais liberais da burguesia e executada pelas
classes sociais mais desfavorecidas financeiramente, deu margem ao surgimento desse
instrumento de cunho político, que é a Constituição, o que se tornaria então objeto de estudo
daquilo que surgiria posteriormente: o Direito Constitucional. Esse ramo do direito não se
restringe a estudar a constituição, quando presente em um país, mas a organização do poder
político em uma nação e compreender as relações que se estabelecem entre ele e a sociedade.
A formação do Estado e sua organização envolvem uma institucionalização jurídica do
poder, mas também se depreende que a Constituição sofre transformações no sentido de que
passa a conter não só as questões relativas ao poder, envolvendo outros conteúdos123
.
O adensamento do constitucionalismo conferiu às Constituições o objetivo de
preservar a unidade política concomitantemente à elaboração e mantença do ordenamento
jurídico. Com o transcorrer do tempo, as Constituições foram adquirindo três funções para
alcançar tal objetivo, a saber124
:
a) função de integração: a existência do Estado como estrutura una deve contemplar o
pluralismo visto na sociedade, o qual gera conflitos entre os diferentes grupos, dados os
diferentes interesses e opiniões. Nesse cenário, a resolução dos mesmos conflitos configura-se
como tarefa a qual é condição que justifica a existência do próprio Estado, quando o consenso
e as decisões majoritárias já não cumprem os objetivos políticos.
b) função de organização: a Constituição atribui aos órgãos estatais competências
específicas com o fito de organizar a estrutura do Estado para que ele possa cumprir as
funções que lhe cabem. A função de organização e a de integração se complementam.
c) direção jurídica: o ordenamento jurídico se legitima por aquilo que é considerado
moralmente reto, os chamados cânones, frutos da tradição jurídica. Assim, cabe às
Constituições assumirem esses cânones e eivá-los de força vinculante para todo o
ordenamento jurídico, dessa forma, permitindo a convivência na sociedade.
No entanto, essa posição de destaque que a Constituição adquiriu só veio após a
Segunda Guerra Mundial, inaugurando uma nova corrente de pensar o direito: o
Neoconstitucionalismo. Essa nova teoria do direito em muito diverge da sua antecessora, o
Positivismo. Enquanto essa segunda oferece à lei a primazia enquanto fonte do direito, o
Neoconstitucionalismo dá destaque aos preceitos e à jurisprudência, sobretudo às construções
123
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 4. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1981. Tomo II. p. 7. 124
HESSE, Konrad. Constitución y Derecho Constitucional. In: BENDA, Ernesto et al (Orgs.). Manual de
Derecho Constitucional. 2. ed. Barcelona: Marcial Pons, 2001. p. 1-16. p. 3-5. Capítulo Traduzido por Carlos
dos Santos Almeida que consta na obra “Temas Fundamentais do Direito Constitucional”, publicada pela editora
Saraiva em 2009.
52
interpretativas das cortes constitucionais. Bem como, essa corrente mais moderna dá espaço
para a valorização da moral e da racionalidade como aspectos para a interpretação das
normas.
Apesar de o Neoconstitucionalismo ter galgado grandes espaços na seara jurídica, não
representou uma aniquilação do Positivismo, que encontra força ainda por meio das obras de
autores como Hans Kelsen e Herbert Hart.
Também chamado de Pós-Positivismo, o Neoconstitucionalismo traz as seguintes
enunciações125
:
a) princípios jurídicos, que são normas gerais que estabelecem uma solução normativa,
mas sem definir o caso. Eles dão sentido às regras;
b) a relação que os princípios estabelecem entre si pode ser de coerência ou
incoerência, em que dois princípios podem ser aplicados a um caso concreto, sem um excluir
o outro, desde que haja coerência valorativa entre eles, enquanto no conflito entre leis, uma
exclui a outra;
c) há crítica à concepção de bilateralidade atributiva, ou seja, de que o direito de
alguém de alguém corresponde ao dever de outrem. Sendo assim, entende-se que o direito de
alguém corresponde ao dever de outro indivíduo, mas o contrário nem sempre é verdadeiro;
d) há uma contraposição entre a subsunção de normas jurídicas, processo de raciocínio
em que se busca encaixar a regra no caso concreto. Mas no caso dos princípios o raciocínio é
outro, o da ponderação, que sobrepõe o caráter valorativo e justificativo do direito, permitindo
o sopesamento dos princípios com possível produção de uma regra que resolva o caso
concreto;
e) no Pós-Positivismo não há, de fato, uma separação entre o raciocínio político ou
moral e o raciocínio jurídico. Isso porque o raciocínio político do legislador sofre um processo
de juridicização, diante do fato de que a edição de uma lei é um desdobramento de princípios
constitucionais. Da mesma forma, bem como o raciocínio jurídico se politiza e/ou moraliza,
para atender aos objetivos constitucionais;
f) No Pós-Positivismo nem todo direito está baseado em fontes, pois há normas que
são válidas apenas materialmente, mas não formalmente;
125
REGLA, Josep Aguiló. Do “Império da Lei” ao “Estado Constitucional”: dois paradigmas jurídicos em
poucas palavras. Tradução de Eduardo Moreira. Revista Jurídica da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ,
Rio de Janeiro, v. 1, n. 4, p. 17-28, maio 2010. Disponível em: <
https://drive.google.com/file/d/0BxKmLGvt_TFSNzhlNDFkN2ItMTcxZi00NDUzLWFiZGYtZDM0OWE2ZDlj
YWE1/view?ddrp=1&hl=en#>. Acesso em: 31 ago. 2017. p. 21-28.
53
g) Há o entendimento de que casos fáceis são aqueles que envolvem a aplicação de
uma regra existente no ordenamento jurídico. Por outro lado, os casos difíceis são aqueles que
envolvem uma intensa atividade deliberativa e justificativa;
h) No Pós-Positivismo, o jurista é um sujeito atuante no desenvolvimento do direito e
não, um mero estudioso de um objeto que está fora dele;
i) O Direito não está fora dos indivíduos, mas depende da prática social deles;
j) O Direito não é formado apenas por regras, até porque a produção delas não tem
como enquadrar todas as situações fáticas, por isso, ele também é formado por princípios, os
quais permitem uma visão mais abrangente do Direito em relação à realidade.
O que se entende como direitos do homem tem diferença de outros direitos, uma vez
que aqueles são126
:
a) universais: todos os indivíduos são titulares deles. Mesmo sendo partícipes de uma
comunidade, busca-se garantir a proteção do indivíduo em sua particularidade, de forma que
até os direitos coletivos servem a esse fim;
b) morais: direitos morais podem ser considerados antítese de direitos positivados, mas
vale a ressalva de que os primeiros não precisam ser positivados para ter validade, basta que
as normas que eles contêm tenham validade moral;
c) preferenciais: se existe um direito moral para proteger determinada esfera,
depreende-se que deva existir um direito a que aquele direito moral seja imposto, o que deve
se dar por meio de um direito positivo, que ganha legitimidade no momento em que os
direitos do homem são considerados.
d) fundamentais: os direitos do homem devem contemplar interesses e carências dos
indivíduos que possam ser acobertados por direito. Nessa esteira, a necessidade desses
interesses e carências serem salvaguardados deve encontrar-se em um nível que enseje a
fundamentação pelo direito. O caráter de fundamentabilidade desses direitos é verificável
quando perante uma afronta, possa ter como consequências morte, sofrimento grave ou abalo
da autonomia.
e) abstratos: a abstração dos direitos do homem fica mais evidente quando há
necessidade de limitá-los, limite a ser definido pela ponderação. Esses direitos justificam a
existência do Estado e do próprio direito, dadas as necessidades que de que eles sejam
impostos, de que haja coerção para que eles sejam cumpridos e de sua interpretação e
ponderação.
126
ALEXY, Robert. Constitucionalismo discursivo. Tradução de Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007. p. 45-49.
54
Perante as novas perspectivas dadas ao direito por intermédio do
Neoconstitucionalismo, emanam discussões sobre o que é Constituição e sobre o que é
Constitucionalismo. Há um ponto comum entre as diferentes concepções existentes para esses
termos: a submissão dos poderes públicos a um conjunto rígido de normas que preveem
direitos fundamentais. Sobre isso, o constitucionalismo seria um sistema jurídico, o qual
contém os limites para as fontes normativas, bem como seria uma teoria do direito, em que as
normas não possuem validade apenas por terem sido criadas dentro dos ritos procedimentais
previstos, mas também por estarem em conformidade com os princípios constitucionalmente
postos127
.
Dando-se sequência a ideia de Constitucionalismo, faz-se mister apontar as colocações
para dizer se um Estado é constitucionalizado128
:
a) Constituição rígida: a Constituição necessita de um processo legislativo mais
complexo do que o previsto para alterar uma lei;
b) Uma garantia jurisdicional da Constituição: o sistema conta com algum meio de
controle de constitucionalidade das leis.
c) A força vinculante da Constituição: a Constituição é vista como uma norma
jurídica;
d) Sobreinterpretação da Constituição: todas as controvérsias jurídicas podem
encontrar solução nas disposições constitucionais, já que os argumentos a simili, a analogia e
os princípios ampliam a presença da Constituição no ordenamento;
e) A aplicação direta da Constituição: a Constituição rege todas as relações sociais;
f) A interpretação das leis conforme a Constituição: as leis devem estar de acordo com
a Constituição, havendo a possibilidade de uma delas ser constitucional, inconstitucional e
uma possibilidade intermediária;
g) A influência da Constituição nas relações políticas: os princípios constitucionais
com seu cunho moral e político intervêm na argumentação política. Assim, a argumentação
jurídica tende a transformar-se em argumentação moral e política, reforçando assim a unidade
do raciocínio prático.
127
FERRAJOLI, Luigi. Constitucionalismo principialista e constitucionalismo garantista. In: FERRAJOLI,
Luigi; STRECK, Lenio Luiz; TRINDADE, André Karam (Orgs.). Garantismo, hermenêutica e
(neo)constitucionalismo: Um debate com Luigi Ferrajoli. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2012. p. 13-58. p.
13. 128
FIGUEROA, Alfonso Garcia. A Teoria do Direito em tempos de Constitucionalismo. Tradução de Eduardo
Moreira. In: RIBEIRO, Eduardo (Coord.). Argumentação e Estado Constitucional. São Paulo: Ícone, 2012. p.
511-536. p. 515-516.
55
Pode-se distinguir três modelos sucessivos de constitucionalismo nos países
ocidentais: Primeiro, um Direito Constitucional de geração originária, ou seja, o Direito
Constitucional do Estado liberal, que se formou da Revolução Francesa. No Direito
Constitucional de segunda geração estão as Constituições do México, da União Soviética e da
República de Weimar, exemplares do Estado Social. Esse segundo modelo conseguiu ter
vigor nos países então chamados de Primeiro Mundo, que conseguiram efetivar o Princípio da
igualdade. Já o terceiro modelo começa no contexto da Globalização e do Neoliberalismo, que
se trataria “de um Direito Constitucional avariado, decadente, estagnado, que perde densidade
institucional, normativa e jurisprudencial à medida que a fusão federativa se acelera no Velho
Continente”129
.
A leitura moral ganha relevância no Neoconstitucionalismo, sendo um corolário para
que se faça respeitar a Constituição política. Sobre isso, deve-se considerar que a maioria das
Constituições conferem direitos individuais, os quais têm um sentido muito amplo e abstrato,
ao mesmo tempo em que restringem o poder estatal. Ademais, a leitura moral indica um
entendimento de que esses enunciados abstratos referem-se a princípios morais que devem
embasar a decência política e a justiça, entendimento esse a ser seguido por cidadãos,
advogados e juízes130
.
Dessa forma, a leitura moral faz com que a moralidade política penetre o direito
constitucional. Por isso, trata-se de uma prática revolucionária, já que os juristas em seu
trabalho diário consideram instintivamente que a Constituição expressa exigências morais
abstratas aplicáveis a casos concretos por meio de juízos particulares131
.
Arrematando todos os pontos que envolvem a evolução do constitucionalismo, seus
elementos e a importância que os princípios e a proteção dos direitos fundamentais ganharam
por meio do Neoconstitucionalismo, é relevante mencionar a universalização da justiça, que
se em três vertentes: política, social e jurídica132
.
129
BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 32-
33. 130
DWORKIN, Ronald. La lectura moral y la premisa mayoritarista. In: KOH, Harold Kongju; SLYE, Ronald C.
(Orgs.). Democracia Deliberativa y Derechos Humanos. Barcelona: Gedisa editorial, 2004. p. 101-140. p. 101. 131
Ibid. p. 103. 132
“Politicamente, a facilitação do recurso às vias jurisdicionais é uma decisão de poder que vem a favorecer o
exercício da cidadania; socialmente, representa a inclusão social dos menos favorecidos, um sentido de
igualdade material; no plano jurídico, significa que as leis do processo constitucional e do processo civil serão
observadas, indistintamente, utilizando todos os meios jurídicos disponíveis na Constituição, de modo que não se
lhes retire nenhuma parcela de autonomia ou dignidade”. BONIFÁCIO, Artur Cortez. O Direito Constitucional
Internacional e a proteção dos direitos fundamentais. São Paulo: Método, 2008. (Coleção Professor Gilmar
Mendes). p. 285-286.
56
Portanto, considerando as abordagens tecidas pelos autores citados neste tópico, é
importante reiterar o quão importante foi a primazia conquistada pelos princípios jurídicos,
como um marco para o desenvolvimento do direito e para a garantia da dignidade dos
indivíduos. No entanto, para que esses princípios atinjam o objetivo de efetivar os direitos
fundamentais, é necessário que seja garantido o acesso à justiça (nesse caso, para a efetivação
em nível individual) e seja feita a devida aplicação da técnica do sopesamento, tão evidente
no Direito Constitucional alemão, para os chamados “casos difíceis”, destarte oferecendo essa
efetivação a toda coletividade.
Considerando a construção teórica apresentada neste tópico sobre a visão geral do
constitucionalismo, no próximo tópico será apontada a posição dos direitos e garantias
fundamentais na Constituição Federal de 1988, seus conceitos, funções, características e
classificações conforme gerações.
3.2 OS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988
Os direitos fundamentais133
, termo mais adequado, mas também chamados por outros
termos, como direitos humanos (mais comum nos tratados internacionais), direitos
individuais, direitos públicos subjetivos, liberdades fundamentais ou liberdades públicos, têm
sua gênese na soberania popular134
.
O art. 5º, LXXVIII, §1º da Constituição Federal de 1988 enuncia que as normas que
definem direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Mas isso por si só não
resolve a questão, pois a mesma Constituição define a necessidade de lei posterior para que
alguns direitos sociais, aqueles entendidos como direitos fundamentais, possam ser aplicados.
Em geral, as normas que resumem esses direitos são de aplicação imediata e eficácia
contida135
.
As normas de eficácia contida possuem as seguintes características136
:
a) são normas que normalmente rogam ao legislador ordinário uma legislação ulterior,
assim o fazem como forma de restringir a própria eficácia, regulamentando os direitos
133
“Direitos fundamentais são direitos público-subjetivos de pessoas (físicas ou jurídicas), contidos em
dispositivos constitucionais e, portanto, que encerram caráter normativo supremo dentro do Estado, tendo como
finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade individual”. DIMOULIS, Dimitri;
MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.
46-47. 134
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 175-
179. 135
Ibid. p. 180. 136
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p.
104-105.
57
subjetivos provenientes delas para os cidadãos, grupos ou indivíduos. Por exemplo, a norma
do art. 5º, inciso XXIV, define que a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos na própria Constituição;
b) Sua eficácia será plena, enquanto o legislador ordinário não criar a respectiva
legislação para limitá-la;
c) Elas têm aplicação direta e imediata;
d) Algumas dessas normas trazem seu escopo valores sociais ou políticos que devem
preservar, fato que limita sua eficácia;
e) Outras normas constitucionais podem afastar sua eficácia, mediante a constatação
de determinadas conjecturas, como por exemplo, o Estado de Sítio, que enquanto vigente,
permite que restrições aos indivíduos como a obrigação da permanência em localidade
determinada; detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes
comuns; limites à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação
de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; suspensão
da liberdade de reunião; busca e apreensão em domicílio; intervenção nas empresas de
serviços públicos e requisição de bens (art. 139).
Os direitos fundamentais apresentam as seguintes características137
:
a) Historicidade: surgem em dado momento histórico, podendo desaparecer conforme
os fenômenos sociais;
b) Inalienabilidade: são indisponíveis e por isso não podem ser colocados à negociação
ou transferidos, sendo conferidos a todos;
c) Imprescritibilidade: eles são sempre exigíveis e podem ser exercidos, ainda que o
indivíduo não esteja se valendo de algum deles. O instituto da prescrição só se refere aos
direitos de jaez patrimonial;
d) Irrenunciabilidade: não se pode renunciar a direitos fundamentais, apenas pode-se
não exercitá-los ou deixar de exercitá-los.
Os direitos fundamentais não estão concentrados apenas no art. 5º e podem ser
classificados em seis grupos: a) direitos individuais (art. 5º); b) direitos coletivos (art. 5º); c)
direitos à nacionalidade (art. 12); d) direitos sociais (art. 6º e arts. 193 a 224); e) direitos
políticos (arts. 14 a 17) e f) direitos solidários (arts. 3º e 225)138
.
137
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 181-
182. 138
Ibid. p. 184.
58
Em relação ao seu conteúdo material, eles representam normas constitucionais
definidoras de direitos, em sua maioria, pois criam direitos subjetivos, conferindo aos
jurisdicionados o poder de exigir prestação positivas ou negativas do Estado139
. A eles cabem
as seguintes funções: de defesa, contra as arbitrariedades do Estado; de prestação, pois
incubem o Estado de prestar determinados bens e serviços para que os indivíduos possam
fruir de direitos; de proteção perante terceiros, para coibir que entre os particulares, um
cerceie o direito do outro; e função de não discriminação, a qual envolve a obrigação de o
Estado tratar com isonomia os titulares dos direitos fundamentais, para que não haja um
tratamento diferenciado a eles de forma injustificada. Essa última função advém do princípio
da igualdade140
.
Os direitos fundamentais são dotados de um caráter de universalidade, como já se
depreendia da Declaração dos Direitos do Homem de 1789, no curso da Revolução Francesa.
Eles podem ser qualificados de acordo com sua geração141
:
a) Direitos fundamentais de primeira geração: são os direitos concernentes à liberdade,
os direitos civis e políticos, que inauguraram o constitucionalismo no Ocidente. Representam
direitos de oposição à atuação estatal;
b) Direitos fundamentais de segunda geração: tiveram sua gênese com as
Constituições de cunho marxista e de viés social-democrata. Nessa geração estão contidos os
direitos sociais, coletivos, culturais e econômicos. Representam prestações exigíveis por parte
dos titulares ao Estado;
c) Direitos fundamentais de terceira geração: o ser humano em si mesmo é titular
desses direitos, que se referem a assuntos comuns a todos os indivíduos, a saber, ao meio
ambiente, ao desenvolvimento, à paz e à comunicação. São também chamados de direitos de
solidariedade ou fraternidade142
;
d) Direitos fundamentais da quarta geração: são derivados do contexto da globalização
política, a qual influencia o arcabouço jurídico, dela fazem parte direitos como à democracia,
à informação e o ao pluralismo143
.
139
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a
construção do novo modelo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 202. 140
AGRA, Walber de Moura. Curso de direito constitucional. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 163-164. 141
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 562-572. 142
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2010. p. 48. 143
Para Uadi Bulos, esses direitos seriam a sexta geração, enquanto a quarta geração envolve os direitos relativos
à saúde, informática, softwares, biociências, eutanásia, alimentos transgênicos, sucessão de filhos gerados por
inseminação artificial, clonagens e outros ligados à engenharia genética. Para esse mesmo autor, a quinta geração
corresponde ao direito à paz. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 526-528.
59
Nessa temática, é pertinente dizer que direitos não se confundem com garantias
fundamentais, pois os primeiros referem-se a bens e prestações previstos na Constituição
Federal, como por exemplo, a liberdade de associação para fins lícitos e o direito de
propriedade (art. 5º, incisos XVII e XXII, respectivamente), enquanto essas se referem a
instrumentos jurídicos que oportunizam o exercício de direitos, restringindo o poder do
Estado, como por exemplo, a vedação para se excluir da apreciação do Poder Judiciário a
lesão ou ameaça a direito e a obrigação de o Estado prestar assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (art. 5º, incisos XXXV e LXXIV,
respectivamente)144
. Ainda é possível diferenciar garantias fundamentais de garantias
institucionais145
.
Além disso, há normas que conferem concomitantemente um direito e uma garantia,
como é o caso da norma contida no art. 5º, VI da CF o qual garante a inviolabilidade da
liberdade de consciência e crença (esse é o direito) e assegurando o livre exercício dos cultos
religiosos, bem como a proteção dos locais de culto e as liturgias, na forma da lei
(garantias)146
.
Entendidos os aspectos dos direitos e garantias fundamentais na Constituição Federal
de 1988, o tópico seguinte dará ênfase à liberdade de crença, culto e organização religiosa.
Isso se justifica pela relevância que essa disposição constitucional para o que se está
trabalhando nesta pesquisa.
3.2.1 A proteção da liberdade de crença, culto e organização religiosa na Constituição
Federal de 1988
Os motivos que levam as pessoas a se apegarem às diferentes religiões são diversos,
situação que depende de como cada religião se compatibiliza com o pensar e o sentir dos
indivíduos147
.
144
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 528. 145
“O conceito de garantias fundamentais se aparta da noção de garantias institucionais. As garantias
institucionais desempenham função de proteção de bens jurídicos indispensáveis à preservação de certos valores
tidos como essenciais. [...] As garantias institucionais resultam da percepção de que determinadas instituições
(direito público) ou institutos (direito privado) desempenham papel de tão elevada importância na ordem jurídica
que devem ter o seu núcleo essencial (as suas características elementares) preservado da ação erosiva do
legislador. O seu objeto é constituído de um complexo de normas jurídicas, de ordem pública e privada. A
garantia da família (art. 226) e a da autonomia da universidade (art. 207) exemplificam essa categoria de normas
entre nós”. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso
de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 192-193. 146
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 528. 147
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2006. p. 471.
60
A liberdade religiosa é uma das liberdades espirituais, e contempla três formas de
expressão: a liberdade de crença, a liberdade de culto e a liberdade de organização religiosa.
A primeira abre a possibilidade de o indivíduo escolher qualquer sistema de crenças ou até
mesmo de não aderir a nenhum, sendo um escudo contra qualquer tentativa de tolher a crença
ou a descrença de alguém. A liberdade de culto representa a exteriorização da crença, e a
Constituição de 1988 demonstrou um progresso em relação às anteriores no momento em que
não condicionou o exercício desse direito ao seguimento da ordem pública e dos bons
costumes. Esses preceitos acabavam sendo meios para se limitar a expressão de determinadas
religiões de forma arbitrária. E por último, a liberdade de organização religiosa abre a
possibilidade de estabelecer congregações religiosas e a relação delas com o Estado148
.
O art. 5º, inciso VIII, da CF de 1988 enuncia que “ninguém será privado de direitos
por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
fixada em lei”149
, ou seja ninguém poderá sofrer privações de direitos por estar envolvido com
alguma religião (ou por não estar), com um sistema filosófico ou partido político, sendo um
direito universal e de status negativo. Essa colocação abre espaço para a escusa de
consciência, quando um indivíduo vê-se obrigado a determinada prestação que confronte suas
convicções religiosas, políticas ou filosóficas, pode eximir-se dela, mas a lei pode impor-lhe
uma prestação alternativa, por isso é uma norma de eficácia contida150
.
Sabendo que pela CF de 1988, o Estado Brasileiro é laico, já que não adota nenhuma
religião como oficial, realidade à época da Constituição de 1824. Enquanto princípio
constitucional, a laicidade impõe a separação entre Estado e religião e garante que cada
cidadão possa ter e professar uma religião, bem como o de não ter. A laicidade não se opõe a
qualquer religião, pelo contrário garante que haja um ambiente para que todas elas possam ser
professadas e respeitadas151
.
A separação entre Estado e Igreja é fonte de muitas discussões jurídicas e uma das
mais emblemáticas é a que envolve os crucifixos pendurados em paredes de repartições
148
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 92-94. 149
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 150
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 95-96. 151
“A laicidade não é o antirreligioso na sociedade, mas o a-religioso na esfera pública. É a separação entre a fé
(domínio privado) e a instituição Igreja (domínio público). A laicidade une de forma indissociável a liberdade de
consciência, fundada sobre a autonomia individual, ao princípio de igualdade entre os homens. Tem como ideal a
igualdade na diversidade, o respeito às particularidades e a exclusão dos antagonismos [...]”. DOMINGOS,
Marília De Franceschi Neto. Laicidade: o direito à liberdade (Secularity: the right to freedom). Horizonte, Belo
Horizonte, v. 8, n. 19, p. 53-70, out./dez. 2010. Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2010v8n19p53/2608>. Acesso em:
19 set. 2017. p. 67.
61
públicas, situação questionada a partir do princípio da laicidade e da norma de direito
fundamental do art. 5º, VI, da Constituição Federal de 1988. A presença de símbolos
religiosos em repartições públicas mostra-se inconstitucional na medida em que tanto cabe ao
Poder Estatal respeitar todas as crenças e os símbolos referentes a ela, como também pode o
titular do direito fundamental não se submeter a atos, práticas e símbolos externos a suas
convicções religiosas, bem como não exercer qualquer religiosidade. Mesmo o crucifixo,
enquanto símbolo do Cristianismo, maioria religiosa no Brasil, não torna legítima sua
afixação nos referidos ambientes152
.
O proselitismo religioso pode ser exercido como manifestação das liberdades de
crença e de expressão, tendo sua legitimidade, mas também tem limites para evitar abusos.
Para que não haja a necessidade de se invocar o Estado para evitar possíveis conflitos, o
primeiro agente limitador deve ser a tolerância, que ocorre quando uma religião busca de
todas as formas não ter contendas com outras153
.
Analisada a norma constitucional extraída do art. 5º, VI, da CF de 1988, e os bens
tutelados por ela, passar-se-á para o próximo tópico com a posição ocupada pelo
desenvolvimento no cenário do Estado Democrático de Direito em uma perspectiva histórica.
3.3 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E O DESENVOLVIMENTO
Antes de se falar em Estado Democrático de Direito, falava-se em Estado de Direito,
que se tomada por base a doutrina alemã clássica, ele tem os seguintes aspectos: a) o Estado
está separado de ideais divinos e transpessoais, configurando-se como uma comunidade (res
publica) que foca no interesse comum de todos os indivíduos. Nessa esteira, questões mais
subjetivas dos seres humanos, como a ética e a religião, não fazem parte do escopo de
competências do Estado de Direito; b) as obrigações do Estado circunscrevem a proteção da
integridade física e da vida das pessoas, a propriedade e a liberdade, ensejando a autonomia
dos indivíduos na capacidade que eles têm de se desenvolverem; c) princípios racionais
152
MARTINS, Leonardo; DANTAS, Diogo Caldas Leonardo. Crucifixos em repartições públicas: do exame
de constitucionalidade de uma prática administrativa baseada na tradição. Espaço Jurídico Journal of Law
[EJJL], Joaçaba-SC, v. 17, n. 3, p. 885-912, set./dez. 2016. Disponível em: <
http://editora.unoesc.edu.br/index.php/espacojuridico/article/view/10247/pdf>. Acesso em: 31 ago. 2017. p.
907. 153
FELDENS, Priscila Formigheri; TONET, Fernando. Intolerância religiosa: limites à liberdade de expressão
diante da jurisprudência. Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL], Chapecó-SC, v. 14, n. 1, p. 127-148, jan./jun.
2013. Disponível em: <http://editora.unoesc.edu.br/index.php/espacojuridico/article/view/1407/1434>. Acesso
em: 19 set. 2017. p. 144.
62
decorrentes do reconhecimento de direitos básicos de cidadania conduzem a organização do
Estado e a regulação de suas atividades154
.
O Neoconstitucionalismo trouxe como inovação a equiparação da natureza jurídica
dos princípios presentes, explicitamente ou implicitamente, na Constituição, às normas
constitucionais nos quesitos de eficácia e imediata exigibilidade. Com isso, o não acatamento
dos princípios passa a ter consequências jurídicas155
.
A inserção de princípios na Constituição foi alvo de discussão na Convenção da
Filadélfia, de 1787, o que não logrou êxito de imediato, uma vez que se preconizava uma
nova forma de governo. No entanto, dois anos após a entrada em vigor da Constituição dos
Estados Unidos, que ocorreu em 1789, advieram as emendas, as quais, inevitavelmente,
representavam uma declaração de direitos. Mesmo assim, a conquista de eficácia desses
novos dispositivos foi paulatina. Até então, o tema foi controverso na própria Suprema Corte
para se definir o sentido e a extensão desses dispositivos. Chegando ao século XX, a Suprema
Corte demonstrou progresso referente à força jurídica e alcance dos direitos e garantias
fundamentais contidos na Constituição estadunidense. Importantes decisões foram tomadas
pela referida instituição sobre a integridade racial e igualdade de gênero em todos os setores
da vida social, a partir da reinterpretação de dispositivos constitucionais conforme princípios
expressos ou implícitos na Constituição, decisões essas que tiveram repercussão pelo
mundo156
.
Há a menção de que a democracia, pela forma como é entendida, reclama que os
governantes escolhidos pelo povo para criar uma Constituição, também tenham o poder de
enunciar o que ela quer dizer. Entretanto, considerando a própria história da elaboração da
Constituição dos Estados Unidos, os seus fundadores não tinham o pretenso nível de
aproximação com a população que lhes justificasse tal função, até porque grupos sociais como
mulheres, escravos e pobres foram excluídos dessa participação, sem contar que a escolha dos
elaboradores não foi precedida de um direito nacional anterior. O patamar democrático da
época também não dava respaldo suficiente para um argumento democrático de equidade que
validasse as opiniões dos legisladores sobre qual era a opinião pública na época. Além disso, a
154
Sobre esses direitos básicos de cidadania, Inocêncio Mártires Coelho dá como exemplos a liberdade civil, a
igualdade jurídica, a garantia da propriedade, a independência dos juízes, um governo responsável, o domínio da
lei, a existência de representação popular e sua participação no Poder Legislativo. MENDES, Gilmar Ferreira;
COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 5. ed. São
Paulo: Saraiva, 2010. p. 197-198. 155
DALLARI, Dalmo de Abreu. A Constituição na vida dos povos: da Idade Média ao século XXI. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 322-323. 156
Ibid. p. 324-325.
63
equidade não é cabível para compelir os cidadãos a seguirem as convicções de pessoas eleitas
em época anterior, quando as circunstâncias sociais e econômicas eram diferentes157
.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789,
decorrente da Revolução Francesa, consagrou em seu artigo 16 que a garantia de direitos e o
estabelecimento da separação de poderes como condições para que se possa afirmar que uma
sociedade tem constituição158
. A partir dessa declaração, de viés liberal-burguês, estavam
lançadas as bases para limitar a intervenção do poder estatal, uma vez que foram fixados
direitos fundamentais e a separação de poderes com esse intuito. Dessa forma, pode-se
considerar que esses dois itens somados a outros, como a definição da forma de Estado e do
sistema de governo, vão constituir o cerne da Constituição material, não sendo apenas partes
da Constituição formal159
. A divisão da Constituição em seus âmbitos material e formal
referem-se ao conteúdo dela160
.
Os juristas da Revolução primaram por declarar o jaez inato e universal dos direitos
fundamentais do homem, dentro de uma esfera antropocêntrica, sem que Deus fosse sua fonte
originária, sem ingerência da Igreja e dos princípios canônicos. Essa concepção marca o auge
do racionalismo no Direito. Dessa experiência, ser sujeito de direito é o mesmo que ser
cidadão, em que o homem passa a ser sujeito de direitos pelo fato de ser homem, cristalizando
a posição desse ante o Estado do Antigo Regime161
.
A ideia de democracia moderna está além de seu caráter representativo, em oposição à
democracia direta vista na Grécia Antiga, mas também como oposição de autocracia. Sua
força está na soberania dos cidadãos e não do povo, pois esse é uma abstração, enquanto
157
DWORKIN, Ronald. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes,
2003. (Coleção justiça e direito). p. 436-437. 158 “
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos
poderes não tem Constituição”. DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO – 1789.
Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-
cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-
do-homem-e-do-cidadao-1789.html>. Acesso em: 7 set. 2017. 159
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2010. p. 58. 160
“A constituição material é concebida em sentido amplo e em sentido estrito. No primeiro, identifica-se com a
organização total do Estado, com regime político. No segundo, designa as normas constitucionais escritas ou
costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus
órgãos e os direitos fundamentais. Neste caso, constituição só se refere à matéria essencialmente constitucional;
as demais, mesmo que integrem uma constituição escrita, não seriam constitucionais. A constituição formal é o
peculiar modo de existir do Estado, reduzido, sob forma escrita, a um documento solenemente estabelecido pelo
poder constituinte e somente modificável por processos e formalidades especiais nela própria estabelecidos”.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 40-41,
grifos do autor. 161
REALE, Miguel. Nova fase do direito moderno. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 76-77.
64
aqueles uma realidade, fato derivado da concepção individualista da sociedade, como já
verificada pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão162
.
A adesão aos direitos do homem se mostra ampla no âmbito internacional, com
exceção dos Estados islâmicos. Ao mesmo tempo, essa carta de direitos é pautada em
concepções ocidentais, vindo posteriormente a encontrar adaptações em outros países, a
exemplo do Irã, cuja Proclamação de Teerã de 1968 enunciou uma coexistência equilibrada
entre direitos individuais e coletivos, bem como que a crescente desigualdade entre nações
desenvolvidas e em desenvolvimento é um obstáculo para a efetivação dos direitos do homem
no plano internacional163
.
Considerando a gênese dos direitos fundamentais em um contexto de coibir abusos do
Estado sobre os indivíduos, é possível estabelecer um nexo entre tais direitos e a democracia,
havendo entre eles interdependência ou reciprocidade. Por intermédio dessa conexão é que
surge o Estado Democrático de Direito, cujas estruturas e funcionalidade de suas instituições
jurídico-políticas se assentam e visam à concretização da dignidade da pessoa humana164
.
Em consonância à ideia supracitada, pode-se citar as premissas para uma concepção
política completa, em que os elementos constitucionais essenciais e as questões de justiça
básica formariam uma categoria a caracterizar essa concepção165
.
No modelo liberal, a interligação entre justiça e administração da lei dá azo para a
divisão de poderes, o que em um Estado de Direito, deveria ordenar as arbitrariedades
162
“Só se pode falar apropriadamente em soberania do povo a partir do momento em que foi construído o
sufrágio universal, mas dele se falou também nos séculos precedentes, a propósito do démos grego e do populus
romanus, a propósito de comunidades nas quais existiam até mesmo escravos, que não tinham direitos políticos e
tampouco direitos civis, de governos populares das cidades italianas onde povo era apenas a fidalguia, distinta da
arraia-miúda, do povo dos Estados representativos bem antes que os direitos políticos fossem atribuídos a todos
os cidadãos maiores de idade de ambos os sexos”. BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia
política e as lições dos clássicos. Organização de Michelangelo Bovero. Tradução de Daniela Beccaccia
Versiani. Rio de Janeiro: Campos, 2000. p. 375-380. 163
ROULAND, Norbert. Nos confins do direito. Tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. São
Paulo: Martins Fontes, 2003. (Coleção justiça e direito). p. 270-271. Ver item 12 da Proclamação de Teerã de
1968. PROCLAMAÇÃO DE TEERÃ – 1968. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Confer%C3%AAncias-de-C%C3%BApula-das-
Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas-sobre-Direitos-Humanos/proclamacao-de-teera.html>. Acesso em: 1 out. 2017. 164
BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos fundamentais, democracia e
constitucionalização. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 50-51. 165
Para John Rawls os elementos constitucionais essenciais são de dois tipos: “a. os princípios fundamentais que
especificam a estrutura geral do Estado e do processo político: as prerrogativas do legislativo, do executivo e do
judiciário; o alcance da regra da maioria; b. os direitos e liberdades fundamentais e iguais de cidadania que as
maiorias legislativas devem respeitar, tais como o direito ao voto e à participação na política, a liberdade de
consciência, a liberdade de pensamento e de associação, assim como as garantias do império da lei. Esses
elementos fazem parte de uma história complexa; apenas sugiro o que significam. No entanto, há uma diferença
importante entre os elementos constitucionais essenciais em a), que especificam a estrutura geral do Estado e do
processo político, e os elementos essenciais em b), que especificam os direitos e liberdades fundamentais e
iguais dos cidadãos”. RAWLS, John. O liberalismo político. Tradução de Dinah de Abreu Azevedo. 2. ed. São
Paulo: Ática, 2000. p. 277-278.
65
cometidas pelo poder absolutista. A distribuição das competências nas esferas de poder do
Estado pode ser inferida “dos eixos históricos de decisões coletivas”. As decisões judiciais
são baseadas em atos do passado advindos do legislador político, dispersos no direito vigente;
paralelo a isso, o legislador toma decisões pensando nas consequências futuras, enquanto a
administração gerencia imbróglios que surgem na atualidade. Esse modelo é depreendido da
premissa que no Estado de Direito Democrático, deve-se coibir ameaças advindas do Estado
aos direitos e liberdades dos cidadãos, já que o primeiro detém o monopólio do poder e os
segundos são os particulares, entendidos como vulneráveis. Enquanto que nas relações
horizontais entre as pessoas privadas, sobretudo as intersubjetivas, não se servem à
estruturação da divisão dos poderes166
.
A Revolução Francesa conferiu universalidade à cidadania, ideal que seria
aprofundado posteriormente por Hannah Arendt167
. Tomando por base a concepção arendtiana
de liberdade, que não é sinônimo de livre-arbítrio, mas sim, circunscreve-se à soberania, na
qual homens e mulheres exercitam a ação e decidem em consenso seu futuro comum. De
forma mais clara, a liberdade seria um campo para o exercício da ação, sendo assim, a
liberdade não teria um determinado fim. Como requisito mínimo para se praticar a liberdade,
os indivíduos devem preservar o espaço público. Para que isso aconteça, faz-se necessário a
mantença da cidadania, a qual significa “o direito a ter direitos”. Em suma, do exercício da
cidadania emana o espaço público e partir dele, torna-se concretizável a liberdade168
.
Além disso, Hannah Arendt viveu no contexto do regime totalitário nazista na
Alemanha, presenciando as barbáries da ditadura e a supressão de direitos, inclusive tolhendo
o exercício da cidadania de alguns indivíduos por meio da desnacionalização, a qual afetou os
judeus, por exemplo. Para ela a nacionalidade confere um vínculo jurídico entre um ser
humano e determinado Estado, permitindo que aquele possa gozar de direitos civis e políticos.
Antes do surgimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH), a nacionalidade
era requisito prévio para se exercer a cidadania. Atualmente, até mesmo os apátridas, aqueles
que não possuem nacionalidade e não são reconhecidos como cidadãos por qualquer Estado,
têm que ter seus direitos fundamentais assegurados onde quer que se encontrem, conforme a
previsão do art. 15 da Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948, a qual enuncia o
166
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução de Flávio Beno
Siebeneichler. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. v. 1. p. 305. 167
REALE, Miguel. Nova fase do direito moderno. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 76. 168
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do direito. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2002. p. 382-383.
66
direito que todos têm a uma nacionalidade, bem como a vedação de se privar alguém
arbitrariamente de sua nacionalidade ou de mudá-la169
.
Vale salientar que essa conquista em termos de direitos humanos foi precedida por
atos do regime nazista que chamaram a atenção da comunidade internacional para tal questão
no Pós-Segunda Guerra, uma vez que a Lei de Nuremberg, de 15 de setembro de 1935,
manteve a nacionalidade alemã dos judeus, mas subtraiu-lhes a condição de cidadãos, por
consequência, os judeus que estavam refugiados em outros países foram subjugados à
situação de estrangeiros de segunda categoria, já que sem uma cidadania, não podiam contar
com a tutela de seu Estado de origem. Mesmo com o progresso na seara do DIDH, veem-se
casos de desnacionalização na era contemporânea, como o que ocorreu no Butão, pequeno
país asiático de maioria budista, que procedeu assim contra uma etnia habitante do país,
gerando um grande número de refugiados. Na visão hodierna propiciada pelo sistema do
DIDH, o ser humano não precisa ter uma nacionalidade ou ser reconhecido como cidadão por
qualquer Estado para ser sujeito de direitos170
.
Nesse prisma de abordagem, foi com o advento da Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948, prevendo direitos intrínsecos à condição humana, que os princípios nas
constituições começaram a ganhar ênfase. A própria Constituição Brasileira de 1988
representa um avanço no constitucionalismo, já que o texto de seu preâmbulo enuncia valores
a nortearem a sociedade brasileira, sendo a Constituição um meio de resguardar o exercício de
determinados direitos, configurando-se como um texto que está além do campo abstrato da
ética em clara ligação com o campo jurídico171
. Na mesma esteira, vê-se a consagração de
fundamentos da República Federativa do Brasil, instituída como Estado Democrático de
169
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do direito. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2002. p. 384-385. “Artigo XV: 1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será
arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”. ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/>. Acesso em: 3 set. 2017. 170
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do direito. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2002. p. 384-386. 171
DALLARI, Dalmo de Abreu. A Constituição na vida dos povos: da Idade Média ao século XXI. 2 ed. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 325-327. Dallari faz menção ao preâmbulo da Constituição Federal de 1988, aos
fundamentos da República Federativa do Brasil no art. 1º, enquanto valores ético-jurídicos, e ao art. 4º, que
enuncia os princípios que regem as relações internacionais do Brasil. O preâmbulo constitucional é: “Nós,
representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,
com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988.
67
Direito por tal Constituição, a saber: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana,
os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político172
.
O projeto de direito e desenvolvimento atual envolve agentes transnacionais173
,
instituições, fomentando a participação comunitária, a qual se vale de dispositivos de
participação democrática, contribuindo para a afirmação dos direitos humanos174
. Tal
afirmação é importante no cenário global do século XXI, no qual regimes democráticos e
novas formas de autoritarismo coexistem, colocando o desenvolvimento multifacetado em
risco, o que envolve, inclusive, novas gerações de direitos fundamentais, como o direito à
diversidade cultural; maior representatividade das minorias, o que inclui os povos nativos
oprimidos desde o processo de colonização dos países, fazendo valer a justiça histórica e dar
coesão às diferentes lutas e reivindicações por direitos, sejam eles individuais ou coletivos,
pela liberdade, pela igualdade, por exemplo175
.
Entendendo a relação entre direito e desenvolvimento, e como no panorama daquele,
esse conseguiu surgir e ser amparado, será exposto no próximo tópico um referencial teórico
acerca do desenvolvimento, mediante suas diversas vertentes e como ele se entrelaça com o
direito contemporâneo.
3.4 A CONSTRUÇÃO TEÓRICA DO DESENVOLVIMENTO E SUA INSERÇÃO NO
DIREITO CONTEMPORÂNEO
O direito e desenvolvimento não forma por si só um campo coeso de estudo, pois o
que ele representa de fato é um conjunto de projetos esparsos conduzidos por agentes
motivados e que contam com financiamentos. O que se percebe é que esses diferentes projetos
realizados pelos diversos países carecem de um elemento comum, que vá além da ideia de que
os ordenamentos jurídicos podem se desenvolver ou regredir. Nações diversas ao redor do
globo vão, obviamente, ter diferenças em termos de pujança econômica, industrialização,
idioma, diversidade étnica, sistemas de governo, grau de urbanização, posição no comércio
172
Art. 1º. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 173
“Ou seja, é necessário que percebamos que o espaço da democracia, em razão de um processo conjunto de
desterritorialização e reterritorialização consectário da complexidade das relações contemporâneas, se multiplica,
não ficando mais restrito aos limites geográficos do Estado-Nação, mas incluindo o espaço internacional,
comunitário, além das experiências locais – como, e.g., no caso dos projetos de democracia participativa”.
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política e teoria do Estado. 6. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2008. p. 131. 174
WOLKMER, Antonio Carlos; WOLKMER, Maria de Fátima S. Direitos humanos e desenvolvimento. In:
BARRAL, Welber (Org.). Direito e desenvolvimento: análise da ordem jurídica brasileira sob a ótica do
desenvolvimento. São Paulo: Singular, 2005. p. 61-72. p. 67-68. 175
SANTOS, Boaventura de Sousa; CHAUÍ, Marilena. Direitos humanos, democracia e desenvolvimento. São
Paulo: Cortez, 2013. p. 122-125.
68
global etc. No fim, o único elemento comum é que muitos ou todos eles são alvos de projetos
na área do direito e desenvolvimento176
.
No caso do Brasil, a discussão sobre o direito e o desenvolvimento é recorrente, pois
são sempre observados questionamentos sobre se devem ser realizadas mudanças no direito e
nas instituições, inclusive ao se considerar a influência dos estudos elaborados em
universidades estrangeiras177
.
O desenvolvimento é tratado como um direito fundamental de terceira geração, dada a
sua titularidade coletiva178
. Além da menção ao termo “desenvolvimento” em seu preâmbulo,
a Constituição Federal de 1988 o repete em inúmeros artigos. Vale ressaltar a previsão do art.
3º, II, que coloca a garantia do desenvolvimento nacional como um dos objetivos da
República Federativa do Brasil179
. Esse desenvolvimento pode ser entendido em sua ampla
acepção, não remetendo unicamente a objetivos econômico-financeiros.
De uma perspectiva histórica, os estudos sobre direito e desenvolvimento no
Hemisfério Norte começaram antiformalistas, pois o formalismo seria um entrave ao
desenvolvimento, uma vez que a função precípua do D&D deveria ser a elaboração de normas
jurídicas que guiassem e concretizassem as políticas econômicas. Nessa ótica, os raciocínios
formalistas não permitiriam prever os efeitos dessas normas. As culturas jurídicas que
visassem fins econômicos deveriam estar eivadas de instrumentalidade e não de formalismo.
Era isso que se pensava do formalismo no momento em que se primava por fortalecer o
Estado para transformar a sociedade e promover o desenvolvimento. Entretanto, com a
disseminação dos ideais neoliberais no início da década de 90, do século 20, a posição que o
Estado ocupava como instrumento do desenvolvimento começa a ser rechaçada e esse ente
passa a ser visto como um obstáculo para o efetivo andamento da economia. Tanto foi assim,
que alguns estudiosos começaram a defender que o raciocínio formalista dos juízes seria útil
para mitigar a ação do Estado180
.
176
TAMANAHA, Brian Z. O primado da sociedade e as falhas do Direito e Desenvolvimento. Rev. Direito
GV, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 175-212, jan./jun. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-24322010000100010&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 31 ago. 2017. p. 179-181. 177
RODRIGUEZ, José Rodrigo (coord.); MACHADO, Ana Mara et al. O novo direito e desenvolvimento:
entrevista com David Trubek. Rev. Direito GV, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 305-330, jul./dez. 2007. Disponível em:
< http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/rd-06_13_pp.305-330_o_novo_direito_e_desenvolvimento_-
_entrevista_com_david_trubek.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2017. p. 309. 178
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 569-570.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 10 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2010. p. 48. 179
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 180
RODRIGUEZ, José Rodrigo (coord.); MACHADO, Ana Mara et al. O novo direito e desenvolvimento:
entrevista com David Trubek. Rev. Direito GV, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 305-330, jul./dez. 2007. Disponível em:
69
Das características e fatos aferidos da época do protagonismo estatal, como da época
de primazia do mercado, pode-se afirmar que as práticas promotoras do direito e
desenvolvimento não podem se restringir à reprodução de modelos institucionais e à adesão a
práticas pré-moldadas, pois isso impede a concretização dos resultados esperados. É
necessário considerar a impermanência do direito, que está sujeito a variáveis como
conjunturas políticas, tradições culturais e comportamentos sociais181
.
No âmbito do direito e desenvolvimento é possível pensar no etnocentrismo. Pensando
no passado, as lacunas intelectuais patentes nessa área de estudo, visíveis nos países mais
pobres, fazia com que eles aderissem às ideias e instituições dos países ricos, da mesma forma
como adquiriam bens e serviços deles, em uma análise comparativa182
.
A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural de 2001, elaborada pela
UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, em português
„Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura‟) prevê a diversidade
cultural como fator para o desenvolvimento, dado o seu potencial em satisfazer o ser humano
em diversas áreas afetas ao seu bem-estar183
.
O tema do desenvolvimento passou muito tempo esquecido nos âmbitos acadêmico e
político, mas voltou a ser alçado ao rol de assuntos de interesse de pesquisadores e
<http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/rd-06_13_pp.305-330_o_novo_direito_e_desenvolvimento_-
_entrevista_com_david_trubek.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2017. p. 313. 181
SCHAPIRO, Mario G.; TRUBEK, David M. Redescobrindo o Direito e desenvolvimento: experimentalismo,
pragmatismo democrático e diálogo horizontal. In: SCHAPIRO, Mario G.; TRUBEK, David M. (Orgs.). Direito
e Desenvolvimento: um diálogo entre os BRICS. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 27-70. (Coleção direito,
desenvolvimento e justiça: série direito em debate). p. 65-66. 182
“A “elite compradora” apreciava a modernização. Construía casas de ópera, por exemplo. Sempre achei que
um símbolo deste tipo de comportamento da elite brasileira é o fato de as mulheres mais ricas do Rio de Janeiro
usarem casacos de pele para assistir à ópera. Não existe estação do ano no Rio de Janeiro em que se possa usar
um casaco de pele. Mas, como as mulheres os usam nas óperas de Paris e a casa de ópera do Rio é uma cópia da
casa de ópera de Paris, é preciso usar casacos de pele no Rio. Se há uma casa de ópera, é preciso usar casacos de
pele; assim como é preciso haver instituições jurídicas francesas, italianas, alemãs e, mais tarde, norte-
americanas. A cumplicidade entre exportadores e importadores assemelha-se a isso. A importação de idéias
recentes e modernas sobre Direito reforçava o poder da elite, pelo menos enquanto não resultassem nas
mudanças que os exportadores queriam implantar. Pois os exportadores não apoiavam o domínio da elite, ao
menos o pessoal técnico: talvez isso não fosse verdade entre os tipos cínicos e os políticos. Este era um jogo
complexo e atingia a todos. Achávamos que sabíamos quais eram as respostas e as elites sabiam que podiam
importar estas instituições. Assim como os casacos de pele não eram necessários, as instituições provavelmente
também não o fossem. Todo esse processo talvez fosse dar em nada, mas todos sentiriam que algo estava
acontecendo; e se sentiriam mais importantes ainda se conseguissem viagens para Paris ou para a Inglaterra”.
RODRIGUEZ, José Rodrigo (coord.); MACHADO, Ana Mara et al. O novo direito e desenvolvimento:
entrevista com David Trubek. Rev. Direito GV, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 305-330, jul./dez. 2007. Disponível em:
<http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/rd-06_13_pp.305-330_o_novo_direito_e_desenvolvimento_-
_entrevista_com_david_trubek.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2017. p. 318-320. 183
“Artigo 3 – A diversidade cultural, fator de desenvolvimento: A diversidade cultural amplia as possibilidades
de escolha que se oferecem a todos; é uma das fontes do desenvolvimento, entendido não somente em termos de
crescimento econômico, mas também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e
espiritual satisfatória”. UNESCO. Declaração Universal sobre a diversidade cultural. Disponível em: <
http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2017.
70
formuladores de políticas públicas. Esse retorno foi marcado pela importância conquistada do
ambiente jurídico-institucional, tanto no que se refere às agências multilaterais de fomento,
como nos governos nacionais. Desde meados da década de 1990, tem-se visto a formação de
uma agenda nos países em desenvolvimento com apontamentos para a qualificação
institucional, que pode ter como metas a reforma do Poder Judiciário, criação de novas leis,
novas regulações no mercado financeiro e a adoção de boas práticas de governança
corporativa184
.
No paradigma do Rule of Law, o Império do Direito, vê-se o desenvolvimento
econômico ganhando forma a partir da confluência de noções econômicas, de direito e de
estratégia política. E já que as transações privadas permeiam esse desenvolvimento, sua
otimização depende de fatores jurídicos, como proteção à propriedade privada e cumprimento
dos contratos, e de políticas públicas, nas quais a interseção entre Estado e economia deve se
assentar na preservação de mercados enquanto espaços para a destinação de recursos185
.
No Brasil, o sistema de financiamento de longo prazo tem sido centrado na atuação de
bancos estatais, com a prevalência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES). Ao pensar esse aspecto sob o prisma do Rule of Law, critica-se esse modelo
tão centrado no Estado e a necessidade de reformas financeiras para proteger os agentes
privados e por consequência, fomentar os mercados. Além disso, pode-se pensar de forma
objetiva o aproveitamento dessa posição de destaque ocupada pelo BNDES para que ele
estimular o mercado nacional de capitais, tendo como efeito o benefício de todo mercado
financeiro186
.
No entanto, é necessário pensar a contribuição do direito para o desenvolvimento para
além da esfera econômica187
. Corrobora com isso a própria disposição da ONU, em sua
184
“O traço comum dessa agenda, cujos desdobramentos podem ser identificados em países tão diferentes como
os latino-americanos e os da África subsaariana, é a confiança na promoção do desenvolvimento a partir da
promoção de boas regras do jogo, capazes de amparar um ambiente econômico estável e seguro para as
transações privadas”. SCHAPIRO, Mario Gomes. Repensando a relação entre Estado, direito e desenvolvimento:
os limites do paradigma rule of law e a relevância das alternativas institucionais. Rev. direito GV, São Paulo , v.
6, n. 1, p. 213-252, jan./jun. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-24322010000100011&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 31 ago. 2017. p. 214. 185
Ibid. p. 216-217. 186
Ibid. p. 246-247. 187
“Em teoria, o direito é essencial ao desenvolvimento econômico, porquanto fornece elementos necessários ao
funcionamento de um sistema de mercado. Esses elementos incluem leis universais uniformemente aplicadas, as
quais geram previsibilidade e permitem planejamento; um regime de lei contratual que assegure expectativas
futuras; e lei de propriedade para proteger os frutos do trabalho. Na teoria, o Direito auxilia o desenvolvimento
político servindo de espinha dorsal ao estado liberal democrático. Além disso, é o meio pelo qual o governo
atinge seus objetivos e, ainda, serve para restringir ações governamentais opressivas ou arbitrárias”.
TAMANAHA, Brian Z. As lições dos estudos sobre direito e desenvolvimento. Rev. direito GV, São Paulo, v.
5, n. 1, p. 187-216, jan./jun. 2009. Disponível em:
71
Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, de 1986, que prevê o direito ao
desenvolvimento como direito humano inalienável, podendo ele ser econômico, social,
cultural e político188
.
A Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento da ONU não se mostra tão eficaz
no sentido de exigir dos Estados Nacionais um cumprimento, até porque tal documento carece
de previsões sancionatórias. Mas nem por isso ela deixa de ter sua importância no sentido de
alçar o direito ao desenvolvimento ao patamar de direito humano, inclusive, conferindo-lhe
suas dimensões individual, coletiva, interna e internacional, bem como prescreve princípios
normativos norteadores do processo de desenvolvimento. Em seu texto, a Declaração engloba
as aspirações dos países desenvolvidos concomitantemente às reivindicações dos países em
desenvolvimento. E o mais importante: o ser humano é o cerne do processo de
desenvolvimento, enquanto seu articulador e destinatário189
.
Há uma corrente cética de que não há relação entre os sistemas jurídicos das
sociedades e o desenvolvimento delas, ou seja, o direito não funcionaria nem como
intermediador para que os fatores econômicos, políticos e sociais pudessem suscitar
modificações. O sistema jurídico seria apenas uma das várias formas viáveis de exercício do
controle social. Nesse contexto, normas informais também têm sua preponderância para
determinar os impactos das normas de direito público. A efetividade dessas normas informais
dependerá do quanto foram internalizadas no seio social e no poder que os agentes não
jurídicos têm para impor sanções àqueles que as violarem190
.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-24322009000100011&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 31 ago. 2017. p. 191. 188
Artigo 1º §1. O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável, em virtude do qual toda pessoa e
todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, para ele
contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente
realizados. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento.
Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direito-ao-Desenvolvimento/declaracao-sobre-o-
direito-ao-desenvolvimento.html>. Acesso em: 31 ago. 2017. 189
COSTA SOUSA, Mônica Teresa. Direito ao desenvolvimento como direito humano: implicações decorrentes
desta identificação. Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL], Joaçaba-SC, v. 11, n. 2, p. 422-443, jul./dez. 2010.
Disponível em: <http://editora.unoesc.edu.br/index.php/espacojuridico/article/view/1956>. Acesso em: 2 set.
2017. p. 425-426. 190
“A força dessas normas informais dependerá, em parte, do grau em que foram internalizadas e da capacidade
das facções oponentes de impor sanções não jurídicas aos atores políticos que as violam. A potência das sanções
não jurídicas dependerá, por sua vez, da distribuição do poder político na sociedade pertinente e isso, como já
discutimos, dependerá de fatores como a relativa riqueza das facções oponentes, da presença de recursos naturais
que possam ser apropriados por aqueles que controlam o Estado, da presença de divisões étnicas profundamente
arraigadas, etc”. DAVIS, Kevin E.; TREBILCOCK, Michael J. A relação entre direito e desenvolvimento:
otimistas versus céticos. Rev. direito GV, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 217-268, jan./jun. 2009. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-24322009000100012&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 31 ago. 2017. p. 244-246.
72
No entanto, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2000 apresentou
proposições de desenvolvimento e direitos humanos as quais revelam que a concatenação de
várias áreas do conhecimento, como sociologia, antropologia, economia, geografia, política e
história, ensejam a elaboração de diretrizes que contribuem para ajudar os mais pobres. É
dedutível que poder e saber estão em conexão. A ideia de direito ao desenvolvimento enfatiza
subjetividades emanadas de determinada situação social, para, a partir daí, incutir nos
indivíduos condições que concretizem práticas sociais viabilizadoras do desenvolvimento
humano191
.
Mas tal perspectiva não se restringe à esfera pública. Partindo para a esfera privada, é
necessário que o direito, enquanto propiciador do desenvolvimento, seja revisto em algumas
áreas, como a falimentar, com o fito de criar alternativas à política liquidaria como forma de
resolver os problemas econômicos das empresas. Isso porque a mantença da atividade
empresária está diretamente ligada à geração de empregos e geração de riquezas192
.
O direito ao desenvolvimento assumiu a dimensão de universal, o que implica o
fortalecimento dos laços entre os membros da sociedade atual hodierna. Diante disso, é
possível afirmar, inclusive, que ele tem potencial para definir uma nova ordem internacional,
balizada pela justiça social e solidariedade entre os povos, sendo de mais relevante ainda para
os países subdesenvolvidos. Mais do que isso, por intermédio dele, pode-se vislumbrar um
mundo mais equânime em termos de desenvolvimento e mais harmônico nas relações entre os
países193
.
O desenvolvimento pode ser avaliado conforme o nível de liberdade desfrutada pelos
indivíduos. Liberdade e desenvolvimento têm uma relação dialética, em que a primeira é ao
mesmo tempo meio e fim para a concretização do segundo. O desenvolvimento se expande à
medida que as capacidades individuais e a liberdade de escolha também se expandem194
.
191
REZENDE, Maria José de. Direito ao desenvolvimento e direitos humanos no Relatório do Desenvolvimento
Humano de 2000. Estudios Sociales, Centro de Investigación en Alimentación y Desarrollo, A.C. Hermosillo,
México, v. 26, n. 48, p. 11-40, jul./dic. 2016. Disponível em:
<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=41746402001>. Acesso em: 1 set. 2017. p. 34-35. 192
SILVA, Érica Guerra da. El desarrollo como núcleo de expansión entre el derecho privado y el derecho
público. Revista de la Secretaría del Tribunal Permanente de Revisión, Asunción, p. 205-217, mar. 2014.
Disponível em: <http://www.revistastpr.com/index.php/rstpr/article/view/75/55>. Acesso em: 31 ago. 2017. p.
216. 193
BEDIN, Gilmar Antonio. Direitos humanos e desenvolvimento: algumas reflexões sobre a constituição do
direito ao desenvolvimento. Desenvolvimento em questão, Ijuí-RS, v. 1, n. 1, p. 123-149, jan./jun. 2003.
Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=75210107>. Acesso em: 1 set. 2017. 194
“[...] a ideia básica de que a expansão da liberdade humana é tanto o principal fim como o principal meio do
desenvolvimento. O objetivo do desenvolvimento relaciona-se à avaliação das liberdades reais desfrutadas pelas
pessoas. As capacidades individuais dependem crucialmente, entre outras coisas, de disposições econômicas,
sociais e políticas. Ao se instituírem disposições institucionais apropriadas, os papéis instrumentais de tipos
distintos de liberdade precisam ser levados em conta, indo-se muito além da importância fundamental da
73
No novo desenvolvimento (ND), vivenciado pelo Brasil após a promulgação da
Constituição de 1988 e com um Estado assumindo uma posição mais reguladora a partir da
década de 90, ficou clara a pertinência de adequação das instituições jurídicas e políticas do
país, as quais devem estar em consonância com os direitos de minorias e a construção de
programas de inclusão social e distribuição de renda195
.
Após a exploração de várias possibilidades conceituais de desenvolvimento, no
próximo capítulo será exposto como o mundo virtual se insere nele, ao mesmo tempo em que
serve de espaço para a organização de grupos terroristas. E partir disso, adentrar nos fatos
referentes aos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro e à Operação Hashtag.
liberdade global dos indivíduos. Os papéis instrumentais da liberdade incluem vários componentes distintos,
porém inter-relacionados, como facilidades econômicas, liberdades políticas, oportunidades sociais, garantias de
transparência e segurança protetora. Esses direitos, oportunidades e intitulamentos instrumentais possuem fortes
encadeamentos entre si, que podem se dar em diferentes direções. O processo de desenvolvimento é
crucialmente influenciado por essas inter-relações. [...]”. SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade.
Tradução de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 71. 195
GUIMARÃES, Patrícia Borba Vilar. Contribuições teóricas para o direito e desenvolvimento. Texto para
discussão, IPEA, Brasília, v. 1824, p. 1-45, 2013. p. 33.
74
4 A INTERFACE ENTRE O MUNDO VIRTUAL E O TERRORISMO: CASO
EXEMPLIFICADO DA OPERAÇÃO HASHTAG
O terrorismo é uma representação do estado de guerra, já que envolve atentar contra a
vida de outras pessoas, e também é uma forma de opressão, pois busca subjugar pessoas por
mecanismos bárbaros, revelando um estado de inimizade e destruição, no qual aqueles que
estão sob ameaça ficam no mesmo estado, inclusive, prontos para atacar antes ou os que
sobrevivem podem querer fazer as represálias, usando da violência física também196
.
No ranking do Índice Global do Terrorismo de 2016, o Brasil ficou em 80ª posição,
estando na faixa de mais baixo risco para a ocorrência de atentados terroristas. O ranking é
encabeçado por Iraque, Afeganistão, Nigéria, Paquistão e Síria. O risco é calculado
considerando o número de incidentes terroristas, o número de pessoas mortas, o número de
pessoas feridas e a quantidade de danos ao patrimônio por conta do terrorismo, tudo isso no
transcorrer de um ano. Verificou-se nesse estudo que a maioria dos ataques foi contra
cidadãos e propriedade privada197
.
O impacto do terrorismo é um dos critérios de aferição do Índice Global da Paz, cujo
resultado de 2017 aponta a Islândia em 1º lugar, o Brasil em 108º lugar, os Estados Unidos
em 114º lugar e a Síria em 163º lugar, como última colocada, tendo as ações do Estado
Islâmico como fator preponderante para colocar o referido país asiático nessa posição198
.
É necessário afirmar que diante os fundamentalismos religiosos, a intolerância e o
combate ao terrorismo representam alguns dos desafios para a efetivação dos direitos
fundamentais no cenário internacional. Sobre esse terceiro item, vê-se o risco a que ficam
submetidos os direitos e liberdades públicos quando se observam a atuação da Doutrina Bush,
abordada na seção 2.1, que consiste em um plano de segurança dos Estados Unidos contra o
terror no contexto do pós-11 de Setembro, que envolve unilateralismo, ataques preventivos e
prevalência do poder militar estadunidense. O segundo ponto se coaduna com o pensamento
lockeano supracitado, uma vez que o país norte-americano assumiu uma postura beligerante
de fazer ataques preventivos contra tudo que pudesse colocar em risco a ordem e a segurança
196
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil: ensaio sobre a origem, os limites e os fins verdadeiros
do governo civil. Tradução de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994. (Coleção
clássicos do pensamento político. p. 91-92. 197
INSTITUTE FOR ECONOMICS AND PEACE. Global Terrorism Index 2016. Disponível em: <
http://economicsandpeace.org/wp-content/uploads/2016/11/Global-Terrorism-Index-2016.2.pdf>. Acesso em: 19
set. 2017. p. 10-24. 198
INSTITUTE FOR ECONOMICS AND PEACE. Global Peace Index 2017. Disponível em: <
http://visionofhumanity.org/app/uploads/2017/06/GPI17-Report.pdf>. Acesso em: 30 set. 2017. p. 2-11.
75
do país. No entanto, é necessário considerar o que estado de caos e violência que seria gerado
caso todos os Estados Nacionais resolvessem adotar a mesma conduta199
.
Sendo assim, o estado de guerra lockeano e a Doutrina Bush encontram um ponto de
convergência, que em um visão pragmática, pode ser necessário para combater o terror e as
consequências nefastas advindas dele, com as lesões a direitos fundamentais, mas também
gera a reflexão a respeito das medidas a serem usadas nesse combate para que não acabe
gerando os mesmos resultados que tanto se deseja eliminar com ataques preventivos. Tanto é
assim, que os Estados Nacionais celebram voluntariamente entre si tratados de guerra com o
intuito mais abrangente de conter a destruição que ela provoca, minimizando os efeitos sobre
os civis inocentes, tanto dos países beligerantes, como dos países neutros200
.
Considerando os riscos que o terrorismo apresenta a partir da internet, no próximo
tópico, será analisada a legislação brasileira para garantir a segurança virtual e a presença da
rede como garantidora do direito à informação e a forma tal qual se relaciona com o
desenvolvimento.
4.1 O ARCABOUÇO JURÍDICO BRASILEIRO DE SEGURANÇA AO MEIO VIRTUAL
A globalização não se circunscreve à economia e à sociedade, pois normas jurídicas
que excedem o princípio da territorialidade vêm ganhando maiores contornos, sobretudo, no
direito penal e no direito comercial. Quando se pensa no direito digital, é premente a criação
de normas a serem seguidas por todos os usuários da internet, com o fito de oferecer maior
segurança nas correspondências que se constroem no meio virtual201
.
O Brasil conta com um arcabouço muito recente em relação à proteção do ambiente
virtual, para prevenir e reprimir crimes nesse âmbito. No entanto, a primeira tentativa de
tipificar penalmente delitos cibernéticos foi com o Projeto de Lei nº 84/1999, que só foi
transformado em lei ordinária em 2012. O projeto de autoria do Deputado Luiz Piauhylino,
foi encaminhado à Câmara dos Deputados, tendo assumido uma posição mais atuante o
199
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e justiça internacional: um estudo comparativo dos sistemas regionais
europeu, interamericano e africano. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 48-69. 200
“O objetivo do desenvolvimento do direito à neutralidade era o de preservar o comércio internacional civil
privado, mesmo entre países “inimigos”, do ataque por parte de um dos lados em guerra. O objetivo mais
abrangente, portanto, era limitar a âmbito de qualquer guerra e, especificamente, o de limitar o seu impacto
destrutivo sobre os cidadãos dos países neutros e até dos países em guerra”. ROTHBARD, Murray N. A
anatomia do estado. Tradução de Tiago Chabert. 1. ed. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises, 2012. p. 42. 201
PINHEIRO, Patricia Peck. Direito digital. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 69.
76
Senador Eduardo Azeredo, tanto que mesmo sendo ainda um projeto ficou conhecido como
„Lei Azeredo‟202
.
O referido PL foi transformado na Lei Federal nº 12.735/2012 com vetos. Enquanto
projeto final, havia a previsão de fazer alterações no Decreto-Lei 2.848/1940, o Código Penal;
no Decreto-Lei nº 1.001/1969, o Código Penal Militar; e na Lei Federal nº 7.716/1989, a Lei
de Racismo, tipificando condutas realizadas por sistema eletrônico, digital ou similar. Depois
da sanção, seu texto ficou restrito a determinar que os órgãos da Polícia Judiciária
estruturassem delegacias especializadas na investigação de delitos pela internet e alterou a Lei
nº 7.716/1989203
.
Antes disso, algumas condutas delituosas no meio virtual eram previstas em leis
esparsas204
:
a) Os crimes contra honra, calúnia, difamação e injúria, previstos nos artigos 138 a
145 do Decreto-Lei 2.848/1940 (Código Penal), quando praticados por meio das redes sociais;
b) O crime de estelionato, previsto no art. 171 do Decreto-Lei 2.848/1940 (Código
Penal), o qual visa obter vantagens ilícitas prejudicando terceiros, quando se obtêm senhas de
contas bancárias pela rede;
c) Crimes praticados contra a administração pública previstos nos arts. 313-A e 313-B
do Decreto-Lei 2.848/1940 (Código Penal), quando um funcionário público insere dados
falsos ou faz modificações ou alterações não autorizadas nos sistemas de informação da
administração pública205
;
d) A Lei Federal nº 7.716/1989 prevê punição, no art. 20, para quem praticar, induzir
ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional,
com pena de reclusão de um a três anos e multa. No entanto, se essas práticas forem
cometidas por intermédio dos meios de comunicação social, a pena prevista é reclusão de dois
a cinco anos e multa;
e) Os crimes referentes à pornografia infantil previstos nos arts. 241 a 241-E, que
constam na Lei Federal nº 8.069/1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
202
BRITO, Auriney. Direito penal informático. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 169. 203
Antes da sanção da Lei 12.735/2012, a Lei nº 7.716/1989 versava que o juiz poderia, a pedido do Ministério
Público ou a pedido dele, antes mesmo do inquérito policial, determinar a cessação de transmissões radiofônicas
e televisivas em caso de cometimento de crimes resultantes do preconceito de raça ou cor (art. 20, §3º, II). A Lei
de 2012 incluiu na redação do inciso as transmissões eletrônicas ou a publicação por qualquer outro meio.
BRASIL. Lei Federal nº 12.735, de 30 de Novembro de 2012. 204
BRITO, Auriney. Direito penal informático. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 170-171. 205
Art. 313-A; art. 313-B. BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940.
77
havendo alusão à publicação e à divulgação de material pornográfico envolvendo crianças por
meio de sistemas de informática206
;
f) Quanto aos direitos autorais, o art. 184 do Código Penal pune a violação deles e a
Lei Federal nº 9.610/1998 prevê sanções civis em alguns casos de violação de direito
autoral207
.
Com o caso da atriz Carolina Dieckmann, a qual teve fotos íntimas publicadas na
internet sem autorização após seu e-mail ter sido alvo de hackers, como constatou a polícia208
,
o Projeto de Lei nº 2.793/2011 foi aprovado em regime de urgência pelo Congresso Nacional,
ao que parece, pelo fato de uma figura pública ter sido a vítima. Assim, foi aprovada a Lei
Federal nº 12.737/2012, a qual tipifica delitos informáticos.
A referida norma legal ficou popularmente conhecida como „Lei Carolina
Dieckmann‟, a qual alterou disposições do Código Penal, possui um texto conciso com a
previsão de alguns poucos crimes cibernéticos, mas isso não foi por acaso, buscou-se evitar o
grande número de tipos penais apontados no PL nº 84/1999, em que alguns deles
demonstravam textos muito abertos, prevendo como crimes algumas práticas sem mesmo
considerar o resultado obtido ou a intenção do agente. Esse mesmo projeto tratava de questões
relativas à guarda e o fornecimento de registros e obrigações a provedores de internet, o que
seria mais cabível para uma norma de regulamentação civil209
.
A Lei Federal nº 12.737/2012, por sua vez, considera como crimes a invasão de
dispositivo informático; a interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico,
informático, telemático ou de informação de utilidade pública; a falsificação de documento
particular e a falsificação de cartão, inclusive equiparando o cartão de crédito ou de débito a
documento particular210
.
O advento da Lei Federal nº 12.965/2014, o Marco Civil da Internet, veio preencher
uma lacuna no país no que se à regulamentação do uso da internet, definindo que o uso da
206
BRASIL. Lei Federal nº 8.069, de 13 de Julho de 1990. 207
Art. 184. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940. “Art. 105. A transmissão e a retransmissão, por
qualquer meio ou processo, e a comunicação ao público de obras artísticas, literárias e científicas, de
interpretações e de fonogramas, realizadas mediante violação aos direitos de seus titulares, deverão ser
imediatamente suspensas ou interrompidas pela autoridade judicial competente, sem prejuízo da multa diária
pelo descumprimento e das demais indenizações cabíveis, independentemente das sanções penais aplicáveis;
caso se comprove que o infrator é reincidente na violação aos direitos dos titulares de direitos de autor e
conexos, o valor da multa poderá ser aumentado até o dobro”. BRASIL. Lei Federal nº 9.610, de 19 de
Fevereiro de 1998. 208
G1. Lei 'Carolina Dieckmann', que pune invasão de PCs, entra em vigor. Disponível em: <
http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/04/lei-carolina-dieckmann-que-pune-invasao-de-pcs-passa-valer-amanha.html>. Acesso
em: 15 set. 2017. 209
BRITO, Auriney. Direito penal informático. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 177. 210
BRASIL. Lei Federal nº 12.737, de 30 de Novembro de 2012.
78
internet no Brasil deve ter como fundamento a liberdade de expressão211
. Tal norma tem em
seu escopo a concatenação de direitos como a manifestação de pensamento e as liberdades de
expressão e comunicação com o caráter participativo da rede para efetivar o direito à
informação. Ela trouxe segurança jurídica para os usuários no que tange à privacidade e
salvaguarda dos dados pessoais, coibindo a vigilância sobre eles e explicitando a
responsabilização daqueles que venham a infringir essa garantia. Além disso, a mesma Lei
preceitua a estabilidade da rede, por meio da adoção de medidas técnicas que estejam
conforme padrões internacionais212
. Dentre outras mudanças que essa Lei implementou, pode-
se destacar:
Tabela 3 – Mudanças trazidas pelo Marco Civil da Internet Temática Antes do Marco Civil da Internet Depois do Marco Civil da Internet
Garantia da
liberdade de
expressão,
privacidade,
intimidade dos
usuários e
inviolabilidade das
comunicações
Até a aprovação do marco civil, havia
grandes incertezas jurídicas em como
adaptar as garantias constitucionais ao
mundo virtual. Havia dúvidas, por
exemplo, se comentários em redes sociais
ou blogs poderiam ser censurados caso
estivessem em desacordo com a política
interna das empresas, se páginas poderiam
ser bloqueadas e se a intimidade das
pessoas poderia ser violada por
aplicativos que coletam dados pessoais
sem consentimento ou conhecimento do
usuário.
A nova lei esclarece e consolida que os
direitos constitucionais, como o de
inviolabilidade das comunicações e de
direito à informação, são válidos também
para o mundo virtual. Comentários ou
críticas não podem ser censurados
previamente, ainda que em desacordo com
políticas internas, e estas devem ser
explícitas. Além disso, o acesso a páginas
de internet não pode ser bloqueado sem
ordem judicial e a intimidade e a
privacidade possuem maior proteção, pois
a coleta de dados será regulamentada.
Coleta de dados
pessoais
Anteriormente, havia dúvidas em como
traspassar para o mundo virtual a vedação
constante no Código de Defesa do
Consumidor que impedia o repasse de
qualquer tipo de dado pessoal a terceiros
sem notificação ou autorização expressa
do usuário. Ademais, não havia garantia
da retirada desses dados da rede, caso
solicitados. Na internet, hábitos do
usuário (como sítios acessados ou
compras realizadas) e os assuntos nos
conteúdos de e-mails ou posts podiam ser
repassados a outras empresas para fins
comerciais.
Com a nova lei, somente podem ser
coletados dados com consentimento prévio
do usuário e
somente aqueles que não sejam excessivos
com relação à finalidade da coleta. O
usuário terá que dar consentimento
expresso para a coleta de seus hábitos de
navegação, embora, em algumas situações,
possa não ter a opção de continuar a
utilizar o serviço se não aceitar os termos
ditados pelo sítio. Coletas abusivas (por
exemplo, compras efetuadas coletadas por
sítios de notícias) são proibidas.
Registros de conexão
à internet
Até a aprovação da lei, os provedores de
conexão à internet em banda larga podiam
guardar os registros de conexão e de
navegação por prazo indeterminado, mas
não havia obrigatoriedade. O provedor de
conexão podia coletar não só quando e
por quanto tempo o usuário ficou
conectado (registro de conexão), mas
também quais sítios haviam sido
Na nova lei, os provedores de conexão à
internet deverão guardar os registros de
conexão por 1 ano e não poderão guardar
os registros de navegação do usuário.
Deve-se ressaltar, porém, que a lei permite
ao provedor de conexão continuar
coletando o registro de conexão dos
usuários indefinidamente.
211
BRASIL. Lei Federal nº 12.965, de 23 de Abril de 2014. 212
CARVALHO, Ana Cristina Azevedo P. Marco Civil da Internet no Brasil: análise da Lei 12.965/14 e do
direito de informação. Rio de Janeiro: Alta Books, 2014. p. 113.
79
acessados.
Registros de
navegação do
usuário
Anteriormente, não havia a
obrigatoriedade da guardar os registros de
navegação dos internautas e era permitido
que aplicações (sítios) de internet os
conservassem por prazo indeterminado.
Qualquer sítio ou aplicação de internet
podia coletar, indefinidamente, qualquer
tipo de dado acerca da navegação do
usuário (bastando, para isso, a instalação
de cookies no terminal do usuário), o que
podia ocorrer sem o consentimento ou
conhecimento deste.
Pelo novo instrumento, os provedores de
aplicações de internet deverão guardar os
registros de navegação por 6 meses, mas
não há obstáculo que os impeça de
continuar armazenando os dados
por tempo indeterminado. Os sítios ou
aplicações deverão informar seus usuários
caso coletem e guardem registros de
navegação em outros sítios. Os dados
coletados, no entanto, não poderão ser
excessivos ou estranhos à finalidade da
aplicação. Em todos os casos, os usuários
terão que consentir, explicitamente, com a
coleta e guarda dos dados.
Retirada de
conteúdos
infringentes (notice
and take down)
Previamente, o atingido solicitava à
aplicação (sítio) de internet que o
conteúdo por ele considerado infringente
fosse retirado do ar e, caso a empresa de
internet não atendesse à solicitação,
poderia entrar com pedido judicial para
esse fim. Por vezes, os representantes
legais das empresas não atendiam às
demandas judiciais alegando que não
detinham acesso aos dados armazenados
no exterior.
Além do notice and take down, a nova lei
prevê que, caso o conteúdo infringente
tenha caráter sexual, a aplicação (sítio) de
internet passa a responder
subsidiariamente por violação à intimidade
e poderá responder, juntamente com o
autor da ofensa, por crimes como violação
à honra ou divulgação de segredo, caso
não retire o conteúdo quando notificado
diretamente pela vítima. A exemplo da
situação anterior, a nova lei não determina
explicitamente que os sítios estendam
automaticamente a retirada e o bloqueio
dos conteúdos quando o material for
replicado em outro local no mesmo sítio
(por exemplo, um vídeo infringente
postado no Youtube por diferentes
usuários). Representantes legais de sítios
ou aplicativos terão que atender às
demandas judiciais sob pena de multa.
Neutralidade da
internet
Não havia anteriormente nenhuma regra
que explicitamente garantisse o princípio
da neutralidade ou que proibisse o
tratamento diferenciado a pacotes na rede.
Empresas podiam, em que pese
contrariando a legislação concorrencial e
do consumidor, caso aceita a transposição
destas para o mundo virtual, diminuir a
velocidade ou deteriorar certos tipos de
tráfego em detrimento de outros.
Ademais, empresas de conexão à internet
podiam degradar a qualidade de ligações
Voip (Skype) ou de vídeos (Netflix) e
favorecer aplicações com as quais
detivessem interesses comerciais.
Também podiam ofertar pacotes com
franquia de dados (por exemplo,
10Gb/mês para celulares) ou gratuidade a
serviços específicos (por exemplo,
Facebook ou Twitter grátis para celulares
pré-pagos).
Com a nova lei, o tráfego da internet
poderá ser gerenciado desde que o usuário
seja informado das políticas e das
condições do contrato. As empresas de
conexão e demais empresas de
telecomunicações deverão agir com
transparência, isonomia, em condições não
discriminatórias e que garantam a
concorrência. A defesa do consumidor e da
concorrência é reforçada explicitamente
para que empresas não degradem
aplicações e serviços de concorrentes
(Skype, Netflix, etc.), em atitudes lesivas
aos usuários. A nova lei indica que o
tráfego poderá ser discriminado
(gerenciado) para a prestação adequada
dos serviços e aplicações contratadas.
Planos por franquia continuam permitidos.
Fonte: Tabela adaptada de: BRASIL. Câmara dos Deputados. Marco Civil da Internet: Lei n. 12.965, de 23 de
abril de 2014, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. 2. ed.
Brasília: Câmara dos Deputados, 2015. (Série Legislação; n. 164). p. 12-14.
80
Outro ponto importante da Lei Federal nº 12.965/2014 é a previsão de sanções como
advertência e multa, além da suspensão ou proibição das atividades em casos específicos, sem
prejuízo da aplicação das sanções penais, civis e administrativas cabíveis213
. Em suma, diante
da insegurança jurídica no que se refere à tutela de direitos na internet, tais quais a dignidade
da pessoa humana e a liberdade de expressão, a referida lei representa um aporte relevante
para afastar tal insegurança, inclusive quanto a oferecer fluidez ao desenvolvimento humano
no âmbito das novas tecnologias, já que resguarda direitos dos usuários214
.
No âmbito internacional, tem se notabilizado a Convenção de Budapeste, de 2001,
também chamada de Convenção sobre o cibercrime, elaborada pelo Conselho da Europa. O
Brasil ainda não é signatário dela, no entanto, vale ressaltar a importância dela, uma vez que
busca atingir propósitos como a cooperação internacional entre órgãos responsáveis por
investigação criminal, a previsão de novos atos pela internet prejudiciais às vítimas e fazer
com que os países aderentes criem legislações específicas sobre o tema. Sobre esse último
ponto, o Brasil vem construindo seu arcabouço normativo, mas seria de suma importância
aderir a essa Convenção, a qual ainda não considera a organização de grupos e atos terroristas
pela internet em seu texto, para poder estabelecer laços de ajuda mútua com os demais países
para combater crimes nesse meio215
.
Na conjuntura mundial contemporânea, não se justifica a marginalização de pessoas às
benesses do desenvolvimento e à tecnologia da informação. Isso porque os dois fatores se
relacionam de maneira a criar condições mais firmes para a produção, disseminação e acesso
à informação, a qual se constitui como requisito primordial para propiciar o desenvolvimento.
Daí, deve-se conceber que a internet mostra-se como espaço imprescindível para o fluxo das
informações, e por isso, ela ganha o status de direito social, de forma que se possa acessá-la,
haja qualidade no serviço e continuidade na conexão216
. Mesmo não constando no rol de
direitos sociais do art. 6º na Constituição Federal de 1988, o acesso à internet já foi alçado à
213
Ver art. 12. BRASIL. Lei Federal nº 12.965, de 23 de Abril de 2014. 214
GOULART, Guilherme Damasio. O impacto das novas tecnologias nos direitos humanos e fundamentais: o
acesso à internet e a liberdade de expressão. Rev. Direitos emergentes na sociedade global, Santa Maria, v. 1, n.
1, p. 145-168, jan./jun. 2012. Disponível em:
<https://periodicos.ufsm.br/REDESG/article/view/5955/pdf_1#.Wb3tGciGPIU>. Acesso em: 15 set. 2017. p.
165. 215
WENDT, Emerson; JORGE, Higor Vinicius Nogueira. Crimes cibernéticos: ameaças e procedimentos de
investigação. 2 ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2013. E-book. Seção 6.1.9. 216
CINTRA, Fausto Gonçalves; VENTURA, Carla Aparecida Arena. O desenvolvimento no contexto da
sociedade da informação e o acesso à internet como direito humano na ordem internacional. Revista
Internacional Interdisciplinar INTERthesis, Florianópolis, v. 10, n. 2, p. 263-281, jul./dez. 2013. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/article/view/1807-1384.2013v10n2p263>. Acesso em: 15 set.
2017. p. 277.
81
categoria de direito humano, em 2011, pela ONU, entidade que condena bloqueios à rede
mundial de computadores por países, mesmo que em períodos de instabilidade política217
.
Exposta a proteção legal com que os usuários da internet contam no Brasil, serão
vistos no próximo tópico todos os instrumentos normativos com que o país contava para
prevenir e coibir o terrorismo até o ano de 2015, o que incluirá convenções internacionais
com esse intuito.
4.2 O TRATAMENTO DO TERRORISMO NO ARCABOUÇO JURÍDICO BRASILEIRO
A segurança mundial se assenta em dois fatores: as forças estatais e os detentores
dessas forças das quais a comunidade internacional se vale e também forças extraestatais, as
quais podem estar acima dos próprios Estados218
. Considerando essa colocação, destaca-se
que o Brasil possui em ordenamento jurídico as previsões com o intuito de garantir a
segurança, bem como assumiu compromissos com outras nações com o fito de promover a
paz em âmbito internacional.
A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 4º, os princípios que regem a
República Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, dentre eles, o repúdio ao
terrorismo e ao racismo, como consta no inciso VIII. Mais à frente, no art. 5º, inciso XLIII, o
terrorismo é colocado no mesmo rol da prática da tortura, do tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, os definidos como crimes hediondos, enquanto crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia219
.
Analisando o arcabouço infraconstitucional, o terrorismo está previsto no art. 20, da
Lei Federal nº 7.170/1983, a Lei de Segurança Nacional, que prevê esse ato como crime
punível com 3 a 10 anos de reclusão, caso seja praticado por inconformismo político ou para
obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou
subversivas220
.
217
G1. ONU afirma que acesso à internet é um direito humano. Disponível em: <
http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/06/onu-afirma-que-acesso-internet-e-um-direito-humano.html>. Acesso em: 30 set. 2017. 218
PESSOA, Mário. O direito da segurança nacional. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1971. - (Coleção
General Benício, v. 91, publ. 416). p. 18. 219
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 220
“Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar,
provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção
de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. Pena: reclusão, de 3 a
10 anos. Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; se resulta
morte, aumenta-se até o triplo”. BRASIL. Lei Federal nº 7.170, de 14 de Dezembro de 1983.
82
A Lei Federal nº 8.072/1990 coloca o terrorismo ao lado dos crimes hediondos, da
prática de tortura e do tráfico ilícito de entorpecentes, regulamentando a disposição da
Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso XLIII221
.
Em 1995, foi aprovada a Lei Federal nº 9.034, a qual dispunha sobre a utilização de
meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações
criminosas, posteriormente alterada pela Lei Federal nº 10.217/2001. Dentre as disposições
daquela norma legal estava a infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas
de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada
autorização judicial, conforme o art. 2º, inciso V222
.
Esse dispositivo foi revogado pela Lei Federal nº 12.850/2013, que define organização
criminosa e dispõe sobre a investigação criminal. Essa Lei é aplicável também às
organizações terroristas internacionais, que sejam reconhecidas pelas normas de direito
internacional, como consta no art. 1º, §2º, inciso II. Dentre os diversos mecanismos que a
referida lei prevê para combater organizações criminosas está a infiltração de agentes223
.
Outro mecanismo que se apresenta como útil no combate a organizações criminosas é
a interceptação telefônica. A Constituição Federal de 1988 garante, em seu art. 5º, inciso XII,
a inviolabilidade das comunicações telefônicas, com exceção dos casos em que houver ordem
judicial, em conformidade com o que a lei estabelecer para investigação criminal ou instrução
processual penal224
. Com fins de regulamentar essa disposição constitucional, foi promulgada
a Lei Federal nº 9.296/1996, porém as restrições que ela prevê para que seja feita uma
interceptação telefônica, a princípio, não corroboram com a prevenção de atos terroristas,
como se pode verificar pelo seu art. 2º, em que não se admite a quebra de sigilo de ligações
telefônicas quando não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração
penal; a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; ou o fato investigado constituir
infração penal punida, no máximo, com pena de detenção225
.
Pela Lei Federal n° 10.744/2003 verifica-se que a União assumiu a responsabilidade
civil perante terceiro em casos de ataques a aeronaves de matrícula brasileira operadas por
empresas brasileiras de transporte aéreo público (com exceção das empresas de táxi aéreo),
seja por atentados terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos. Pelo art. 1º, §4º da referida
lei, ato terrorista é todo aquele praticado por uma ou mais pessoas, sendo ou não agentes de
221
BRASIL. Lei Federal nº 8.072, de 25 de Julho de 1990. 222
BRASIL. Lei Federal nº 9.034, de 3 de Maio de 1995. 223
BRASIL. Lei Federal nº 12.850, de 2 de Agosto de 2013. 224
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 225
BRASIL. Lei Federal nº 9.296, de 24 de Julho de 1996.
83
um poder soberano, com fins políticos ou terroristas, seja a perda ou dano dele resultante
acidental ou intencional, cabendo ao Ministro de Estado da Defesa reconhecer o ato como
terrorista226
.
Quanto ao financiamento do terrorismo, o Brasil previa na Lei Federal nº 9.613/1998 a
criminalização da lavagem de dinheiro e a dissimulação ou a ocultação de bens e valores
provenientes de atividade terrorista, conforme se verificava no art. 1º, inciso I. Outra
realização ensejada por essa norma foi a criação do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF), cuja finalidade é disciplinar, aplicar penas administrativas, receber,
examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas na mesma lei,
sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades227
. Contudo, tal Lei foi alterada
pela Lei Federal nº 12.683/2012, a qual retirou a previsão da lavagem de dinheiro proveniente
de terrorismo228
. Nesse caso, observa-se uma falta de rigor no Brasil para criminalizar o
financiamento do terrorismo, podendo-se dizer que houve, aparentemente, uma
descriminalização da prática. Sobre isso, as autoridades nacionais, ao serem interpeladas a
respeito, afirmaram que o país possui um sistema idôneo para combater a lavagem de
dinheiro, além do mais, a referida norma legal de 2012 seria abrangente o suficiente, de forma
a incluir implicitamente o terrorismo229
.
Na seara dos compromissos internacionais, o Brasil ratificou pelo menos 15 protocolos
e convenções consoantes com o combate à violência e ao terrorismo, além dos compromissos
assumidos por ser membro da Organização das Nações Unidas (ONU), a qual imputa
obrigações por meio das resoluções de seu Conselho de Segurança àqueles que dela
participam230
.
Quanto ao combate ao financiamento do terrorismo, o Brasil conta com a função
precípua do COAF, uma Unidade de Inteligência Financeira. Já no âmbito de repressão a
possíveis atentados terroristas, há uma divisão de competências entre as polícias Federal,
Civil e Militar. Por sua vez, o Exército, conjugado com o Ministério da Defesa, pode atuar de
forma repressiva a ataques terroristas por meio de sua Brigada de Operações Especiais (BOE)
e, no caso de ciberterrorismo, conta com o Centro de Defesa Cibernética (CDCiber)231
.
226
BRASIL. Lei Federal nº 10.744, de 9 de Outubro de 2003. 227
BRASIL. Lei Federal nº 9.613, de 3 de Março de 1998. 228
BRASIL. Lei Federal nº 12.683, de 9 de Julho de 2012. 229
LASMAR, Jorge Mascarenhas. A legislação brasileira de combate e prevenção do terrorismo quatorze anos
após 11 de Setembro: limites, falhas e reflexões para o futuro. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v. 23, n.
53, p. 47-70, mar. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
44782015000100047>. Acesso em: 10 mar. 2016. p. 60. 230
Ibid. p. 58. 231
Ibid. p. 54.
84
Em Nova York, no ano de 1999, foi concluída a Convenção Internacional para a
Supressão do Financiamento do Terrorismo, a qual foi promulgada no Brasil por meio do
Decreto nº 5.640/2005232
.
No que se refere ao transporte e espaço aéreos, o Brasil expediu o Decreto nº
66.520/1970, o qual promulgou a Convenção relativa às infrações e a certos outros atos
cometidos a bordo de aeronaves, assinada em Tóquio, aplicáveis a infrações contra aeronaves
que estejam em voo desde o momento em que se aplica a força motriz para decolar até que
termina a operação de aterrissagem233
.
Ainda na área aeronáutica, o Brasil é signatário da Convenção para a Repressão ao
Apoderamento Ilícito de Aeronaves, concluída na cidade canadense de Montreal, em 1970,
promulgada no país por meio do Decreto nº 70.201/1972, que dentre suas disposições, obriga
os Estados contratantes a punirem severamente o referido crime (art. 2º)234
. A aviação civil,
especificamente, ganhou guarida com a adesão do Brasil na Convenção para a Repressão aos
Atos Ilícitos contra a Segurança da Aviação Civil, concluída também em Montreal, em 1971,
promulgada no país por intermédio do Decreto nº 72.383/1973235
. Com a adesão do Brasil ao
Protocolo para a Repressão de Atos Ilícitos de Violência em Aeroportos que Prestem Serviços
à Aviação Civil Internacional, concluída em Montreal, no ano de 1988, promulgada pelo
Decreto nº 2.611/1998, ganhou-se mais um instrumento normativo para garantir o
funcionamento seguro e ordenado da aviação civil pelo mundo236
.
Posteriormente, a proteção da aviação ganha mais um reforço pelo Decreto nº
7.168/2010, o Brasil tem disposto sobre o Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil
Contra Atos de Interferência Ilícita (PNAVSEC), que dentre as previsões de seu anexo está a
de seu art. 4º, inciso XXXII, que elenca os atos que podem ser enquadrados como
interferência ilícita contra a aviação civil237
.
232
“Artigo 2 - 1. Qualquer pessoa estará cometendo um delito, em conformidade com o disposto na presente
Convenção, quando, por qualquer meio, direta ou indiretamente, ilegal e intencionalmente, prover ou receber
fundos com a intenção de empregá-los, ou ciente de que os mesmos serão empregados, no todo ou em parte, para
levar a cabo: a) Um ato que constitua delito no âmbito de e conforme definido em um dos tratados relacionados
no anexo; ou b) Qualquer outro ato com intenção de causar a morte de ou lesões corporais graves a um civil, ou a
qualquer outra pessoa que não participe ativamente das hostilidades em situação de conflito armado, quando o
propósito do referido ato, por sua natureza e contexto, for intimidar uma população, ou compelir um governo ou
uma organização internacional a agir ou abster-se de agir”. BRASIL. Decreto nº 5.640, de 26 de Dezembro de
2005. 233
BRASIL. Decreto nº 66.520, de 30 de Abril de 1970. 234
BRASIL. Decreto nº 70.201, de 24 de Fevereiro de 1972. 235
BRASIL. Decreto nº 72.383, de 20 de Junho de 1973. 236
BRASIL. Decreto nº 2.611, de 2 de Junho de 1998. 237
Art. 4º [...] XXXII - ato de interferência ilícita contra a aviação civil: ato ou atentado que coloca em risco a
segurança da aviação civil e o transporte aéreo, a saber: a) apoderamento ilícito de aeronave em voo;
b) apoderamento ilícito de aeronave no solo; c) manutenção de refém a bordo de aeronaves ou nos aeródromos;
85
O Brasil é signatário da Convenção sobre a Proteção Física do Material Nuclear de
1980, promulgada no país pelo Decreto nº 95/1991238
. Esse acordo prevê que todos os países
podem se utilizar da energia nuclear para fins pacíficos e define diretrizes para o transporte
internacional de material nuclear239
.
Em 1973, o Brasil assinou a Convenção sobre a Prevenção e Punição de Crimes contra
Pessoas que Gozam de Proteção Internacional, inclusive Agentes Diplomáticos, em Nova
York, promulgada no país por meio do Decreto nº 3.167/1999, que em seu conteúdo define
quem são os destinatários dessa proteção240
.
O Decreto nº 3.018/1999 promulgou no país a Convenção para Prevenir e Punir os
Atos de Terrorismo Configurados em Delitos Contra as Pessoas e a Extorsão Conexa, quando
eles tiverem transcendência internacional. Por intermédio dessa convenção, os Estados
signatários se comprometem a tomar todas as medidas de acordo com suas respectivas
legislações para coibir e punir atos de terrorismo241
.
O Decreto nº 3.517/2000 promulgou no país a Convenção Internacional contra a
Tomada de Reféns242
, a qual obriga os Estados signatários a punir aqueles que se utilizem de
reféns como meio de satisfazer pretensões por parte de um Estado, uma organização
intergovernamental internacional, uma pessoa física ou jurídica, bem como, a amenizar a
situação do refém, garantir sua libertação e facilitar a partida dele243
.
d) invasão de aeronave, de aeroporto ou das dependências de instalação aeronáutica; e) introdução de arma,
artefato ou material perigoso, com intenções criminosas, a bordo de aeronave ou em um aeroporto;
f) comunicação de informação falsa que coloque em risco a segurança de aeronave em voo ou no solo, dos
passageiros, tripulação, pessoal de terra ou público em geral, no aeroporto ou nas dependências de instalação de
navegação aérea; e g) ataque a aeronaves utilizando Sistema Antiaéreo Portátil [...].BRASIL. Decreto nº 7.168,
de 5 de Maio de 2010. 238
BRASIL. Decreto nº 95, de 16 de Abril de 1991. 239
AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA. Convenção Sobre a Proteção Física do Material
Nuclear. Disponível em: <http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/multilaterais/convencao-sobre-a-
protecao-fisica-de-materiais-nucleares-e-emendas/at_download/arquivo>. Acesso em: 10 mar. 2016. 240
“Artigo 1 Para as finalidades da presente Convenção: 1. A expressão "pessoa que goza de proteção
internacional", aplicar-se-á: a) a todo Chefe de Estado, inclusive a todo membro de um órgão colegiado que, por
delegação da constituição do respectivo Estado, possa desempenhar as funções de Chefe de Estado, a todo Chefe
de Governo, ou a todo Ministro das Relações Exteriores, sempre que tal pessoa encontre-se em um Estado
estrangeiro, assim como aos membros de sua família que o acompanham; b) a todo representante ou funcionário
de um Estado, inclusive a todo agente oficial ou outro de uma organização intergovernamental, que, na ocasião e
no local em que se comete um crime contra a sua pessoa, contra o seu local oficial de trabalho, contra a sua
residência particular ou contra o seu meio de transporte, tenha direito, em conformidade com a legislação
internacional, a proteção especial contra qualquer atentado à sua pessoa, liberdade ou dignidade, ou aos
membros de sua família que constituem o seu lar; 2. A expressão "autor presumido do crime" aplicar-se-á a toda
pessoa sobre a qual existem elementos de prova suficientes para determinar prima facie que a mesma cometeu
um ou mais dos crimes estipulados no Artigo 2, ou deles participou”. BRASIL. Decreto nº 3.167, de 14 de
Setembro de 1999. 241
BRASIL. Decreto nº 3.018, de 6 de Abril de 1999. 242
BRASIL. Decreto nº 3.517, de 20 de Junho de 2000. 243
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção Internacional Contra a Tomada de Reféns.
Disponível em: < http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/refens/refens.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
86
Por sua vez, o Decreto nº 5.639/2005 promulgou a Convenção Interamericana contra o
Terrorismo244
. A referida convenção, concluída em 2002, prevê em seu art. 4º que os Estados
signatários devem estabelecer um regime jurídico e administrativo para prevenir, combater e
erradicar o financiamento do terrorismo e conquistar uma cooperação internacional eficaz
com esse intuito245
.
No âmbito do direito internacional do mar, o Brasil é signatário da Convenção para a
Supressão de Atos Ilegais contra a Segurança da Navegação Marítima de 1988 e o Protocolo
para a Supressão de Atos Ilícitos contra a Segurança das Plataformas Fixas Situadas na
Plataforma Continental, promulgados no país por meio do Decreto nº 6.136/2007246
. Dentre as
disposições da referida Convenção, rol exposto no art. 3º, há a definição do que é navio e
busca coibir atos que possam colocar em risco a navegação segura do navio247
.
A Convenção sobre a Marcação de Explosivos Plásticos para Fins de Detecção,
concluída em 1991, foi promulgada no Brasil por intermédio do Decreto nº 4.021/2001, tendo
como um de seus objetivos fazer com que o trânsito de explosivos sem marcação seja coibido
entre os Estados-membros248
.
Por fim, destaca-se a Convenção Internacional para a Supressão de Atentados
Terroristas com Bombas de 1997, promulgada no Brasil por meio do Decreto nº
4.394/2002249
. Dentre as disposições dela está a previsão de punir qualquer pessoa que use
explosivos ou use outros dispositivos letais em uma instalação do Estado ou pública, em um
sistema de transporte público ou infraestrutura, com o intuito de causar mortes, danos físicos
ou elevadas perdas nesses patrimônios250
.
244
BRASIL. Decreto nº 5.639, 26 de Dezembro de 2005. 245
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Convenção Interamericana Contra o Terrorismo.
Disponível em: <
http://www.cicte.oas.org/Rev/En/Documents/Conventions/AG%20RES%201840%202002%20portugues.pdf>.
Acesso em: 14 mar. 2016. 246
BRASIL. Decreto nº 6.136, de 26 de Junho de 2007. 247
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção para a Supressão de Atos Ilícitos Contra a
Segurança da Navegação Marítima. Disponível em: <http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-
internacionais/multilaterais/convencao-para-a-supressao-de-atos-ilicitos-contra-a-seguranca-da-navegacao-
maritima-sua-88-e-protocolo-para-a-supressao-de-atos-ilicitos-contra-a-seguranca-de-plataformas-fixas-
localizadas-na-plataforma-continental-sua-prot-88/>. Acesso em: 18 mar. 2016. 248
“Artigo I - Para os fins desta Convenção: 1. "Explosivos" significa os produtos explosivos comumente
conhecidos como "explosivos plásticos", inclusive os explosivos em forma de lâmina flexível ou elástica,
descritos no Anexo Técnico desta Convenção. [...] Artigo III - 1. Cada Estado-Parte adotará as medidas
necessárias e eficazes para proibir e impedir a entrada ou saída de seu território de explosivos sem marcação”.
BRASIL. Decreto nº 4.021, de 19 de Novembro de 2001. 249
BRASIL. Decreto nº 4.394, de 26 de Setembro de 2002. 250
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção Internacional para Repressão a Atentados
Terroristas à Bomba. Disponível em: <http://www.cedin.com.br/wp-
content/uploads/2014/05/Conven%C3%A7%C3%A3o-Internacional-para-a-Repress%C3%A3o-de-Atentados-
Terroristas-a-Bomba.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2016.
87
Posto isso, verifica-se que o Brasil possui farta participação no que se refere a tratados
internacionais para coibir atos terroristas, por outro lado, possuía até pouco tempo um tímido
arcabouço jurídico interno para tratar o terrorismo, situação que ensejava a existência de uma
lei interna para prever e punir atos considerados terroristas, o que veio a acontecer com a
promulgação da Lei Federal nº 13.260/2016, a ser estudada na seção 4.4.
Diferente de países europeus, o Brasil promulgou tardiamente uma lei antiterrorismo,
provavelmente por conta do baixo risco que o país demonstrou até pouco tempo para esse tipo
de ocorrência. A exemplo da Espanha, cujo histórico de terrorismo foi apontado na seção 2.1,
o conceito de terrorismo nesse país europeu fundamenta-se nas finalidades buscadas pelo
indivíduo ou organização terrorista, o que envolve alterar gravemente a paz pública e
subverter a ordem constitucional, tendo a previsão das práticas de terrorismo e penas
respectivas em seu Código Penal de 1995251
.
No caso dos Estados Unidos, os atentados de 11 de Setembro de 2001 provocaram
modificações na conduta do processo legislativo para combater o terror. Já havia prerrogativas
do Presidente da República no que se referiam às questões de defesa, segurança e comércio
exterior, no entanto, o Congresso começou a elaborar leis penais em branco com margem para
uma interpretação discricionária por parte do chefe do Poder Executivo Federal, sem nem
mesmo definir instrumentos de controle político. Em partir de então, em nome da segurança
nacional, direitos fundamentais começaram a ser mitigados252
.
Na próxima seção será analisada a situação do Brasil enquanto país-sede de um
megaevento esportivo, as Olimpíadas de 2016, e os riscos que essa situação representaria para
a segurança nacional, considerando o histórico de atentados terroristas que acometeram
eventos esportivos diversos.
251
CUESTA, José Luis de la. Legislación antiterrorista en España. In: SOS ATTENTATS. Terrorismo, víctimas
y responsabilidad penal internacional. Paris: [s.n.], 2003. Capítulo II. Disponível em: <http://www.sos-
attentats.org/publications/spanish.htm#cuesta>. Acesso em: 28 set. 2017. 252
“Foi precisamente na aplicação destas leis quando a primeira administração Bush concentrou toda a retórica
contra a guerra e terrorismo; o lema era “derrubar as leis para chegar ao diabo”. Portanto, já que o Estado
constitucional, os direitos fundamentais e as garantias legais reconhecidas pelo mesmo supõem um obstáculo, o
que procede é suprimi-las (temporariamente), privilegiando a segurança nacional. Ademais, o executivo não se
mostra especialmente inclinado à transparência e trata de manter em segredo a informação relativa à legislação, à
administração e ao exercício da justiça. Sob o mandato da primeira administração Bush, esse secretismo excedeu
todos os limites e estendeu ao máximo aspectos essenciais do princípio da legalidade: uma legislação acessível,
uma maior abertura do Governo e uma administração pública da justiça. O isolamento passou a fazer parte do
sistema e inclusive os advogados tiveram sérias dificuldades pra poder exercer sua profissão, enquanto o
princípio da legalidade era erodido constantemente em áreas da segurança. O secretismo obscurece a luz da
justiça e faz com que os postulados essenciais do iluminismo e do moderno direito penal se vejam
obscurecidos”. VERVAELE, John A. E. A Legislação Antiterrorista nos Estados Unidos: um Direito Penal do
Inimigo? Revista Eletrônica de Direito Penal e Política Criminal, Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 29-68, dez. 2014.
Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/redppc/article/view/52029/32055>. Acesso em: 3 out. 2017. p.
66.
88
4.3 AS OLIMPÍADAS DE 2016 NO BRASIL E OS RISCOS DE ATENTADOS
TERRORISTAS DURANTE O EVENTO
Como se sabe, o Brasil sediou os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos na cidade do Rio
de Janeiro, nos períodos de 5 a 21 de agosto e 7 a 18 de setembro, respectivamente. A
estimativa para as Olimpíadas é que houvesse a participação de 10.500 atletas de 206 países, e
para as Paraolimpíadas, 4.350 atletas de 176 países253
. Diante da quantidade de público
estimado para assistir ao espetáculo, da quantidade atletas que competiram, dos vultosos
valores gastos, da complexa e ampla infraestrutura montada para sediar as competições e da
visibilidade midiática, os Jogos Olímpicos e os Jogos Paraolímpicos podem ser considerados
megaeventos esportivos.
Não há dúvidas de que um espetáculo como esse atrai a atenção dos meios de
comunicação, de empresas interessadas em patrociná-lo e da população em geral, além de
fazer com que políticos do mundo inteiro venham prestigiar o evento. Diante de tanta
atratividade, não se poderia desconsiderar tal evento como um alvo em potencial para ataques
terroristas, uma vez que é uma situação propícia para que grupos com esse intuito possam
provocar tragédias, espalhar o terror e obter visibilidade para ter seus objetivos alcançados.
A história registra alguns casos de atentados em eventos esportivos. O primeiro a ser
considerado foi aquele executado nas Olimpíadas de Munique de 1972, na Alemanha, em que
um grupo de palestinos, membros da facção Setembro Negro, invadiram o alojamento dos
atletas israelenses, fazendo nove deles de reféns. A exigência do grupo é que 200 prisioneiros
fossem libertos em Israel e ainda reivindicavam um avião para escapar das terras germânicas.
A Primeira-ministra de Israel à época, Golda Meir, recusou-se a atender a exigência e mesmo
após tentativas de negociação por parte das autoridades alemãs, os terroristas não cederam e
ao tentarem fugir da Alemanha, depararam-se com uma armadilha das forças policiais do país
anfitrião, que teve um desfecho trágico: resultou na morte de nove reféns israelenses, cinco
terroristas palestinos e um policial. A Organização do Comitê Olímpico daquele ano foi
acusada de ter negligenciado a segurança no evento, mesmo com as tensões que ocorriam
simultaneamente no Oriente Médio254
.
253
RIO 2016. Os Jogos Olímpicos. Disponível em: <http://www.rio2016.com/jogos-olimpicos>. Acesso em: 28
mar. 2016. RIO 2016. Os Jogos Palímpicos. Disponível em: <http://www.rio2016.com/jogos-olimpicos>.
Acesso em: 28 mar. 2016. 254
DW. 1972: Atentado na Vila Olímpica em Munique. Disponível em: < http://www.dw.com/pt/1972-atentado-
na-vila-ol%C3%ADmpica-em-munique/a-622972>. Acesso em: 28 mar. 2016.
89
Já em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos, o evento foi abalado
pela explosão de uma bomba no Centennial Olympic Park, um parque usado como local para
festejos durante as competições. O atentado matou duas pessoas e feriu cerca de 120. O autor
do atentado, Eric Rudolph era, pelo que se especulava na época, membro de uma seita que
pregava a supremacia branca e era contra o aborto255
.
Já em jogo da semifinal da UEFA Champions League de 2002, famoso campeonato de
futebol, em que disputavam Real Madrid e Barcelona, um carro-bomba explodiu nas
proximidades do estádio Santiago Bernabéu, de Madri. O ataque foi assumido pelo grupo
separatista ETA, proveniente do País Basco e deixou 17 feridos256
.
O Rali Lisboa-Dacar 2008 foi cancelado por conta da sensação de insegurança
promovida por ataques do grupo terrorista Al Qaeda na Mauritânia257
.
Já em 2008, foi a vez de o Sri Lanka vivenciar um ataque terrorista em um evento
esportivo. Na maratona ocorrida na capital Colombo, um atentado suicida causou 13 mortes,
sendo uma das vítimas o ministro Estradas e Desenvolvimento, Jeyaraj Fernandopulle, e ainda
deixou vários feridos. A autoria do atentado foi atribuída a um membro do grupo separatista
Tigres Tâmeis258
.
Em 2009, a ônibus que transportava a seleção de críquete do Sri Lanka, com destino
ao estádio Gaddafi, na cidade paquistanesa de Lahore, para uma competição, foi alvejado,
matando policiais e deixando feridos. O ataque foi atribuído a um grupo insurgente islâmico,
o mesmo que causara, provavelmente, ataques em Mumbai, na Índia, no ano anterior259
.
Em 2010, a seleção de futebol de Togo foi vítima de um ataque quando passava pela
província angolana de Cabinda, rumo às competições da Copa Africana de Nações. O
motorista do ônibus morreu e alguns membros da seleção ficaram feridos. A assunção do
ataque foi do grupo Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), que tem o intuito de
separar a província de Cabinda de Angola260
.
255
BBC. Americano confessa atentado das Olimpíadas de 96. Disponível em: <
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/story/2005/04/050413_atlantacg.shtml>. Acesso em: 28 mar. 2016. 256
ESPN FC. O dia em que o Real quase foi vítima do terrorismo. Disponível em: <
http://espnfc.espn.uol.com.br/real-madrid/conexao-merengue/6833-o-dia-em-que-o-real-quase-foi-vitima-do-
terrorismo>. Acesso em: 28 mar. 2016. 257
O GLOBO. Rali Lisboa-Dacar é cancelado. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/esportes/rali-lisboa-
dacar-cancelado-3853680>. Acesso em: 28 mar. 2016. 258
PÚBLICO. Não é a primeira vez que há um atentado num evento desportivo. Disponível em: <
https://www.publico.pt/desporto/noticia/nao-e-primeira-vez-um-atentado-num-evento-desportivo-1591475>.
Acesso em: 28 mar. 2016. 259
BBC. Ataque contra seleção de críquete mata cinco policiais no Paquistão. Disponível em: <
http://www.bbc.com/portuguese/lg/noticias/2009/03/090303_paquistaoataque.shtml>. Acesso em: 28 mar. 2016. 260
ESTADÃO. Ataque à seleção do Togo em Angola deixa 1 morto e 9 feridos. Disponível em: <
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,ataque-a-selecao-do-togo-em-angola-deixa-1-morto-e-9-
90
Outro ataque de grande repercussão no âmbito esportivo ocorreu na Maratona de
Boston de 2013, em que a explosão de duas bombas caseiras próximo à multidão que assistia
à competição provocou a morte de três pessoas e deixou mais de 260 feridas. Os autores do
atentado, os irmãos Dzhokhar Tsarnaev e Tamerlan Tsarnaev, nascidos na Chechênia e fiéis
do Islamismo, realizaram o ataque em represália a campanhas militares dos Estados Unidos
em países de maioria muçulmana, ao que parece261
.
Não se podem olvidar os ataques terroristas em Paris, ocorridos em 13 de novembro
de 2015, os quais ocorreram em vários pontos da cidade, entre eles, nas proximidades do
Estádio da França, onde ocorria uma disputa entre a seleção anfitriã e a seleção alemã. O fato
é que após investigações, descobriu-se que um dos suicidas foi impedido de entrar no estádio,
que se encontrava com aproximadamente 80.000 pessoas, dentre elas o Presidente francês
François Hollande. O Estado Islâmico assumiu a autoria dos atentados262
.
Expostos os casos mais emblemáticos de ataques terroristas durante eventos esportivos
pelos mais diversos motivos, e na atual conjuntura atual, em que grupos terroristas, como o
Estado Islâmico e o Boko Haram, têm ganhado notoriedade por conta do nível de
consequências trágicas em suas atuações, é necessário compreender que isso deveria ter sido
um alerta para o Brasil ao sediar os Jogos Olímpicos.
Pode-se discutir, inclusive, se a ocorrência de um ataque terrorista durante as
Olimpíadas no país não ensejaria o decreto de estado de defesa, conforme prevê o art. 136 da
Constituição Federal de 1988, situação possível para preservar ou restabelecer de imediato a
ordem pública ou a paz social, quando a ordem pública ou a paz social forem ameaçadas por
grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes
proporções na natureza. Vale salientar que o estado de defesa aplica-se se quando a ameaça
for em locais restritos e determinados, o que seria compatível caso tivesse ocorrido algum
atentado no momento de uma competição, ou seja, o caso estaria restrito a uma localidade
específica. O estado de defesa, que é decretado pelo Presidente da República, ouvidos o
Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, enseja restrições aos direitos de
reunião, sigilo de correspondência e sigilo de comunicação telegráfica e telefônica263
.
feridos,492682>. Acesso em: 28 mar. 2016. BBC. Entenda o ataque contra a seleção de Togo em Cabinda.
Disponível em: < http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2010/01/100111_entenda_cabinda_mv.shtml>.
Acesso em: 28 mar. 2016. 261
DW. Autor do atentado à Maratona de Boston é condenado à morte. Disponível em: <
http://www.dw.com/pt/autor-do-atentado-%C3%A0-maratona-de-boston-%C3%A9-condenado-%C3%A0-
morte/a-18453148>. Acesso em: 28 mar. 2016. 262
EL PAÍS. Estádio se salvou de um massacre. Disponível em: <
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/14/internacional/1447525914_371439.html>. Acesso em: 28 mar. 2016. 263
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
91
O exame de admissibilidade para decretar o estado de defesa é de competência do
Presidente da República, sendo assim os pareceres expedidos pelo Conselho da República e
pelo Conselho de Defesa Nacional não são vinculantes. O período de duração é de trinta dias,
podendo ser prorrogado uma vez por tempo igual. O estado de defesa submete-se ao controle
jurisdicional e político, pois ele não pode dar margem a arbitrariedades, o primeiro é exercido
pelo Poder Judiciário para coibir abusos e ilegalidades durante o período de vigência, já o
segundo é de competência do Congresso Nacional264
.
Na próxima seção será esmiuçada a Lei Federal nº 13.260/2016, as possíveis
motivações para aprová-la, o conceito de terrorismo que ela traz e as polêmicas que
envolveram sua promulgação, sobretudo no que se refere ao cerceamento da liberdade de
reunião prevista na CF de 1988.
4.4 A LEI FEDERAL Nº 13.260/2016 COMO ELEMENTO DE SEGURANÇA PARA OS
JOGOS OLÍMPICOS DE 2016
Considerando as informações supracitadas quanto aos atentados terroristas cometidos
em eventos esportivos relevantes, que há previsão no art. 4º, inciso VIII, da Constituição
Federal de 1988 do repúdio ao terrorismo e ao racismo como princípio das relações
internacionais do país e que hoje a humanidade assiste ao fortalecimento de grupos
extremistas, é possível dizer que há uma grande pertinência que exista uma lei antiterrorismo
no Brasil, mas é necessário discutir quais as motivações para que se tenha aprovado tal lei e se
ela representa, de fato, um elemento que pode coibir atos terroristas no Brasil.
Por outro lado, o Brasil não apresenta em sua história casos de atentados em eventos
esportivos e mesmo na Copa do Mundo de 2014, situação que aparentemente era propícia
para esse tipo de ocorrência, as competições transcorreram sem esse percalço. Além disso,
diante do panorama mundial com a forte atuação de grupos terroristas, há cooperação
internacional se fortalece e busca formas mais incisivas de coibir ações de tal natureza.
Ao que parece, a Lei Federal nº 13.260/2016 foi aprovada em razão da ocorrência dos
Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro no mesmo ano da aprovação de tal norma,
derivada do Projeto de Lei nº 2016/2015. No entanto, antes dessa promulgação, tramitou no
Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 499/2013, que provavelmente tinha o intuito de ser
aprovado antes da Copa do Mundo de Futebol que o Brasil sediou em 2014. Quanto ao
projeto de lei de 2013, houve manifestações no sentido de que a definição dada a terrorismo
264
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 1435-1436.
92
estava muito ampla e generalizada, o que poderia ensejar a criminalização de pessoas
envolvidas em movimentos de rua, dada a disposição de seu art. 2º, no qual se falava sobre
“Provocar ou infundir terror ou pânico generalizado”265
.
Outro ponto a ser analisado é que desde 2013 a população brasileira vem se
mobilizando em manifestações de rua pelos mais diversos motivos: protestar contra o
aumento em tarifas do transporte coletivo, corrupção ou até mesmo, contra a aprovação de
projetos de lei, como é o foi o caso da Lei de Terceirização. A questão é que quase sempre
esses protestos são conspurcados por atos de vandalismos e confrontos com policiais, o que
dá azo à indagação se a aprovação da Lei Antiterrorismo em 2016 não seria uma forma, na
verdade, de intimidar aqueles que pretendessem realizar protestos durante a ocorrência dos
Jogos Olímpicos266
.
A Lei Federal nº 13.260/2016, aprovada com vários vetos, traz uma definição que
considera que há crime de terrorismo quando um ou mais indivíduos agem por motivações de
xenofobia, preconceito ou discriminação de vários tipos objetivando provocar terror social ou
generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública,
conforme seu art. 2º. Entretanto, no §2º do referido artigo, o legislador fez uma ressalva em
relação aos participantes de movimentos políticos e sociais de organizações civis com fito
social ou reivindicatório, em que eles não responderão pelo crime de terrorismo quando
visarem defender direitos, garantias e liberdades constitucionais267
.
Nesse sentido, fica evidente que se considerado apenas o texto normativo, a Lei
Federal nº 13.260/2016 não fere a disposição do art. 5º, XVI, da Constituição Federal de
265
“Art. 2º. Provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à
integridade física, à saúde ou à liberdade de pessoa, quando: I – tiverem por fim forçar autoridades públicas,
nacionais ou estrangeiras, ou pessoas que ajam em nome delas, a fazer o que a lei não exige ou deixar de fazer o
que a lei não proíbe; II – tiverem por fim obter recursos para a manutenção de organizações políticas ou grupos
armados, civis ou militares, que atuem contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; ou III – forem
motivadas por preconceito de raça, cor, etnia, religião, nacionalidade, origem, gênero, sexo, identidade ou
orientação sexual, condição de pessoa idosa ou com deficiência, ou por razões políticas, ideológicas, filosóficas
ou religiosas. Pena - reclusão, de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos”. BRASIL. Projeto de Lei nº 499, de 2013.
TAQUES, Pedro. Emenda nº 1- Plenário (PLS nº 499, de 2013). Disponível em: <
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=145100&tp=1>. Acesso em: 29 mar. 2016. 266
BARBOSA, Ruchester Marreiros. Lei 13.260/2016 é um ato terrorista à hermenêutica constitucional. Conjur,
22 mar. 2016. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2016-mar-22/academia-policia-lei-132602016-ato-
terrorista-hermeneutica-constitucional>. Acesso em: 29 mar. 2016. Dentre as considerações tecidas pelo autor,
ele destaca a imprecisão do termo “terror social” na referida lei. 267
“Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por
razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a
finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a
incolumidade pública”. [...] § 2o O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de
pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria
profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou
apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação
penal contida em lei”. BRASIL. Lei Federal nº 13.260, de 16 de Março de 2016.
93
1988, o qual garante o direito de reunião pacífica aos cidadãos268
. Sendo assim, não há o que
se falar, a priori, em colisão entre direitos fundamentais269
. Ainda que alguns indivíduos
resolvessem jogar bombas caseiras para atingir patrimônio público em meio a um protesto
pacífico de cunho político com o intuito de causar terror social para chamar a atenção de
autoridades para a reivindicação do grupo manifestante, mesmo assim eles não poderiam ser
enquadrados no crime de terrorismo, já que não teriam agido por xenofobia, discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia e religião.
Sobre as funções da pena, destaca-se o art. 59 do Código Penal Brasileiro, que confere
ao juiz o poder de aplicá-la conforme seja necessário e suficiente para reprovar e prevenir os
crimes, seguindo alguns critérios270
. Ou seja, pela lei nacional, a pena tem seu caráter
retributivo e preventivo, encaixando-se na teoria mista ou unificadora da pena. Seu aspecto
retributivo envolve a busca por oferecer uma resposta à sociedade punindo o indivíduo que
cometeu uma infração. No âmbito preventivo, a pena tem o fito de incutir na sociedade a
consciência de que os indivíduos sofrerão as mesmas consequências, caso incorram no mesmo
ato do infrator (prevenção geral negativa ou por intimidação) ou para fazer com que a
sociedade se comporte de acordo com determinados valores (teoria geral positiva ou
integradora). Ainda no aspecto preventivo, pode-se considerar que a aplicação da pena serve
para que o sujeito delitivo, ao sofrer as sanções estatais, reflita e não cometa de novo o ato
(prevenção especial positiva, ideia que não encontra respaldo diante da realidade do sistema
penitenciário brasileiro, o qual deixa o detento em condições sub-humanas, na maioria dos
casos, não o ressocializando) ou pelo fato de impedir que ele esteja vivendo livremente em
meio à sociedade, em caso de pena restritiva de liberdade, ele não cometa novos delitos
(prevenção especial negativa)271
.
É relevante considerar também que a mera existência de uma lei que tipifique e puna o
crime de terrorismo não é por si só um fator que teria o poder de intimidar os grandes grupos
terroristas que têm atuado na contemporaneidade, ou seja, ela não tem uma eficiência
preventiva nesse sentido. Mas como o que se espera é que esse tipo de episódio seja, acima de
268
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 269
“A colisão deve ser enfrentada somente no momento da possível justificação de uma intervenção estatal,
como aqui feito, porque um direito fundamental de um outro titular de direito pode estar limitando o exercício do
direito fundamental atingido pela medida ou omissão estatal. [...] Tarefa da doutrina jurídica e dos tribunais é
traçar limites que permitam o exercício harmônico daqueles direitos fundamentais colidentes, por mais difícil
que seja a definição dos critérios para a solução da colisão”. DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria
geral dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 153-154. 270
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940. Código Penal. 271
GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. v. 1. p. 481-485.
94
qualquer coisa, prevenido, faz-se mister a criação de uma estrutura de segurança ostensiva e
de inteligência para evitar algo desse cunho.
A segurança nacional, a qual é dotada de relatividade e adaptabilidade, necessita ter
suas diretrizes moldadas de acordo com as novas demandas que aparecem a cada época272
. É
certo que o Brasil tem se recusado a militarizar suas políticas de segurança, mesmo como
todas as ameaças terroristas no mundo e com as exigências de países como os Estados Unidos
para adotar esse modelo273
. Não obstante, o Brasil conta com a Agência Brasileira de
Inteligência (ABIN) e o Departamento de Polícia Federal para prevenir atos terroristas274
.
Além disso, em 2015, foi prevista a criação do Centro Integrado de Enfrentamento ao
Terrorismo (CIET), com participação dos ministérios da Defesa (MD), da Justiça e do
Gabinete da Segurança Institucional (GSI), pasta que comanda a Agência Brasileira de
Inteligência (ABIN) e espera-se assim que esse fosse implementado para otimizar as ações de
prevenção ao terrorismo275
.
Vale ressaltar também que de acordo com o art. 12, inciso I, da Lei Federal nº
12.035/2009, o chamado Ato Olímpico, era de responsabilidade do Governo Federal, sem
nenhum custo para o Comitê Organizador, disponibilizar o aparato de segurança durante os
Jogos276
.
As Olimpíadas de 2016 tiveram grande potencial para melhorar infraestruturas na
cidade do Rio de Janeiro, bem como gerar receitas para essa cidade e estimular o turismo, no
entanto, essas metas poderiam acabar mitigadas por conta de uma ameaça terrorista, assim
como ocorreu nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, que por tal motivo, teve suas receitas
advindas da atividade turística reduzidas e fez com que a Grécia tivesse que despender mais
dinheiro em segurança277
.
Na necessidade de garantir a segurança durante os jogos contra possíveis atentados
terroristas, foi deflagrada a Operação Hashtag, que será explanada no próximo tópico,
272
PESSOA, Mário. O direito da segurança nacional. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1971. (Coleção
General Benício, v. 91, publ. 416). p. 101. 273
CUNHA, Ciro Leal M. da. Terrorismo internacional e política externa brasileira após o 11 de setembro.
2005. 216 f. Dissertação (Mestrado em Diplomacia) – Instituto Rio Branco, Brasília. 2005. p. 138. 274
COSTA, Sérgio Miguel Correia. A atividade de inteligência na prevenção da ameaça terrorista no Brasil.
2013. 65 f. Monografia (Graduação em Relações Internacionais) – Departamento de Economia e Relações
Internacionais, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2013. p. 60-61. 275
MINISTÉRIO DA DEFESA. Rio 2016: Governo criará centro de enfrentamento ao terrorismo. Disponível
em: <http://www.defesa.gov.br/index.php/noticias/16426-rio-2016-governo-criara-centro-de-enfrentamento-ao-
terrorismo>. Acesso em: 30 mar. 2016. 276
BRASIL. Lei Federal nº 12.035, de 1º de Outubro de 2009. 277
MELO, Luiz Martins de. Qual o legado dos megaeventos? In: FLORES, Maureen (Org.). Sustentabilidade,
governança e megaeventos: estudo de caso dos jogos olímpicos. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 179-
194. p. 179.
95
juntamente com seus desdobramentos jurídicos, a ressaltar a denúncia de indivíduos pelo
Ministério Público Federal e posterior condenação pela Justiça Federal por crimes previstos
na Lei Federal nº 13.260/2016, em caso inédito no Brasil.
4.5 A OPERAÇÃO HASHTAG E O USO DO MEIO VIRTUAL PARA A PRÁTICA DO
TERRORISMO
Por ocasião do evento, a Polícia Federal deu início a uma série de investigações que
ficou conhecida como “Operação Hashtag”, a qual ensejou a prisão de indivíduos, que por
meio de contatos em redes sociais denotavam ligação com o terrorismo. Essa ação policial
recebeu críticas pelo fato de os indícios restringirem-se a conversas e publicações em redes
sociais, não havendo menção à compra de artefatos terroristas ou planos de atentado,
somando-se ao fato de conversas pelo aplicativo Telegram terem sido registradas por um
agente infiltrado não policial sem autorização judicial. Apesar da alegada fragilidade das
provas pela defesa, oito réus foram a julgamento na Justiça Federal do Paraná e condenados a
penas que variam de 5 a 15 anos em regime fechado por crimes previstos na Lei Federal nº
13.260/2016 em 4 de maio de 2017278
.
Uma das funções do direito é o exercício do controle social, caracterizado pelo vínculo
que as normas de teor coercitivo têm com seus destinatários. Essa função pode se dá com o
intuito de incentivar as condutas desejáveis, ou para coibir a ocorrência de condutas
indesejáveis ou reprimir as condutas indesejáveis. Sobre essa terceira função, a qual se
coaduna bem com o caso discutido neste capítulo, a aplicação das penas não servem só como
forma de retaliação aos transgressores da lei, mas também para que fique o exemplo a todos
os demais indivíduos, como forma de evitar que incorram na mesma prática279
.
A ação, que requer a presença circunvizinha de outro, pois não pode existir no
isolamento, é eivada de ilimitabilidade, e por mais que o sistema político tente oferecer
proteção contra ela, por meio de leis e instituições, essas se mostram débeis para lidar com
outra característica da ação: a imprevisibilidade280
, que é uma das características dos
atentados terroristas, como já foi apontado na seção 2.1.
278
ALESSI, Gil. Justiça condena oito réus da Operação Hashtag por “promover Estado Islâmico”. El País, São
Paulo, 4 maio 2017. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/04/politica/1493929233_074812.html>. Acesso em: 13 jul. 2017. 279
DIAS, Reinaldo. Sociologia do direito: a abordagem do fenômeno jurídico como fato social. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2014. p. 212-213. 280
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2010. p. 235-240.
96
O Ministério Público Federal realizou uma denúncia, instruída com base em inquérito
da Polícia Federal, contra oito indivíduos, todos brasileiros, por crimes previstos na Lei
Federal nº 13.260/2016, a Lei de terrorismo, os denunciados foram acusados de promover o
Estado Islâmico, demonstrando admiração por esse grupo terrorista, intenção de cometer atos
terroristas no decurso dos Jogos Olímpicos de 2016 e mobilização para reunirem-se e
migrarem para a região de controle do EI. Os fatos foram apurados a partir de 1) publicações
em perfis da rede social Facebook, Twitter e Instagram; 2) diálogos em grupos fechados da
rede social Facebook; com troca de materiais de cunho extremista; 3) diálogos em conversas
privadas na rede social Facebook; 4) troca de e-mails compactuando a formação de célula do
Estado Islâmico no país; e 5) diálogos em grupos fechados por meio do aplicativo
Telegram281
.
Os acusados demonstraram que tinham ciência da possibilidade de estarem sendo
monitorados pelos órgãos de inteligência estatais. Por isso mesmo, a fim de obstar a
descoberta de suas conversas pelas autoridades competentes, utilizavam-se de aplicativos
especiais de mensagem para envio de mensagens de texto (inclusive chats em grupos), voz e
arquivos por meio de criptografia, impossibilitando qualquer acesso ou interceptação de
agências de segurança. Nesse aplicativo não há sequer vinculação a e-mail para abertura de
conta, praticamente excluindo as possibilidades de identificação dos usuários. Ademais, as
mensagens são autodestruídas, não ficando armazenadas em nenhum dispositivo, bem como
não há acesso sobre identificações e localizações do usuário282
.
O Federal Bureau of Investigation (FBI) conseguiu identificar os perfis dos brasileiros
no Facebook, grupos no Telegram e e-mails que tinham o propósito de manter a rede de
contato, divulgar o EI e atrair novos membros. Também se constatou que os acusados usavam
nomes diferentes em cada perfil283
.
Em um grupo do Facebook, chamado “Defensores da Sharia”, que contava com 61
membros, eram compartilhados materiais para a promoção do EI, como notícias, imagens,
vídeos, textos em pdf., e demais informações acerca da organização terrorista Estado
Islâmico. Um exemplar notório de material foi o um vídeo demonstrando a execução de
281
BRASIL. Procuradoria da República no Paraná. Denúncia dirigida à 14ª Vara da Subseção Judiciária do
Paraná – Seção Judiciária do Paraná. Membro do Ministério Público Federal: Procurador da República Rafael
Brum Miron. Data da denúncia: 15/09/2016. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pr/sala-de-
imprensa/docs/DennciaOperacaoHashtag.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017. p. 1-3. 282
Ibid. p. 4-5. 283
Ibid. p. 5-13.
97
prisioneiros pelo EI. Esse grupo teve o status alterado de “fechado” para “secreto” com o fito
de dificultar a identificação284
.
No grupo do Telegram denominado “JUNDALLAH”, trocavam mensagens de
exaltação ao EI, inclusive comemorando ações de que ele assumia autoria, como por exemplo,
um dos usuários mostrou sua satisfação com um ataque ocorrido em Orlando, Estados
Unidos, que matou mais de 50 inocentes (Figura 3).
Figura 3 – Conversa no grupo “JUNDALLAH” do Telegram
Fonte: BRASIL. Procuradoria da República no Paraná. Denúncia dirigida à 14ª Vara da Subseção Judiciária do
Paraná – Seção Judiciária do Paraná. Membro do Ministério Público Federal: Procurador da República Rafael
Brum Miron. Data da denúncia: 15/09/2016. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pr/sala-de-
imprensa/docs/DennciaOperacaoHashtag.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.
Foi nesse mesmo grupo que se demonstrou a pretensão de realizar durante as
Olimpíadas um atentado como o da Maratona de Boston. Além da intenção de envenenar
água, realizar um ataque químico e de usar bombas caseiras, nesse último caso, a conversa
incluía o modo de produzi-las (Figura 4). Como se verificou nas conversas, um ataque durante
as Olimpíadas serviria para alcançar dois objetivos: divulgação ampla dos atos de terrorismo
em nível internacional e como haveria uma presença de pessoas de várias nacionalidades,
iriam atingir uma maior de “infiéis”. Para eles, um ataque nessa ocasião específica estava
eivada de um simbolismo285
.
284
BRASIL. Procuradoria da República no Paraná. Denúncia dirigida à 14ª Vara da Subseção Judiciária do
Paraná – Seção Judiciária do Paraná. Membro do Ministério Público Federal: Procurador da República Rafael
Brum Miron. Data da denúncia: 15/09/2016. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pr/sala-de-
imprensa/docs/DennciaOperacaoHashtag.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017. p. 16-19. 285
Ibid. p. 20-32.
98
Figura 4 – Conversa no grupo “JUNDALLAH” do Telegram
Fonte: BRASIL. Procuradoria da República no Paraná. Denúncia dirigida à 14ª Vara da Subseção Judiciária do
Paraná – Seção Judiciária do Paraná. Membro do Ministério Público Federal: Procurador da República Rafael
Brum Miron. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pr/sala-de-imprensa/docs/DennciaOperacaoHashtag.pdf>.
Acesso em: 20 set. 2017.
Em outro grupo do Telegram, denominado “Defensores da Sharia”, mostrou-se a
preocupação em selecionar novos membros para o grupo e com a liderança dele.
Compartilhamento de material para promoção do EI e de ações violentas àqueles
considerados infiéis, tendo cristãos, judeus e muçulmanos xiitas como principais alvos286
.
Por fim, a denúncia envolvia o crime previsto no art. 3º da Lei Federal nº 13.260/2016,
promoção do terrorismo, e pelo crime de associação criminosa, previsto no art. 288 do
Decreto-Lei nº 2.848/1940 (Código Penal). Houve incursão pelo crime da Lei Federal nº
13.260/2016, previsto no art. 5º, §1º, I cumulado com o §2º, que envolve realizar atos
preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito. Também
alguns deles foram denunciados pelo crime de corrupção de menores, como incursos nas
sanções do artigo correspondente, art. 244-B, §§1º e 2º da Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente „ECA‟)287
.
É possível classificar os crimes cibernéticos então alegados pelo Ministério Público
Federal como impuros ou impróprios, já que os recursos tecnológicos utilizados serviram
apenas como meio para executá-los ou possibilitar que os resultados delituosos fossem
alcançados. Diferente dos crimes cibernéticos puros ou próprios, em que o fim do delito está
286
BRASIL. Procuradoria da República no Paraná. Denúncia dirigida à 14ª Vara da Subseção Judiciária do
Paraná – Seção Judiciária do Paraná. Membro do Ministério Público Federal: Procurador da República Rafael
Brum Miron. Data da denúncia: 15/09/2016. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pr/sala-de-
imprensa/docs/DennciaOperacaoHashtag.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017. p. 33-59. 287
Ibid. p. 327.
99
no próprio espaço virtual, compreendendo os sistemas informatizados com os dispositivos que
lhe dão acesso e/ou seu conteúdo288
.
Recebida a denúncia, em 19/09/2016, pela 14ª Vara Federal de Curitiba, no Paraná,
instaurou-se a Ação Penal nº 504686367.2016.4.04.7000, cuja sentença (Ver Anexo A) revela
um ineditismo no Brasil quanto à condenação de réus por crimes previstos na Lei Federal
13.260/2016. Todos os denunciados estavam presos preventivamente quando no momento da
denúncia289
.
O relatório da sentença aponta para a acusação de que os oito réus dedicaram-se a
promover o Estado Islâmico. Essa promoção teria se dado por meio de contatos, publicações e
compartilhamento de materiais extremistas em perfis do Facebook, Twitter, Instagram,
Telegram e e-mails, durante o período de 17/03/2016 a 21/07/2017. As conversas incluíam a
exaltação de atos já realizados pelo referido grupo terrorista ao redor do mundo, postagem de
fotos e vídeos mostrando a execução de pessoas pelo EI, orientações de como realizar o
juramento ao líder do grupo (“bayat”) e discussões sobre possíveis ataques a serem realizados
no Brasil (contra estrangeiros durante os Jogos Olímpicos, homossexuais, judeus e
muçulmanos xiitas), fazendo uso de bombas caseiras, armas brancas e armas de fogo290
.
A sentença faz menção a um conjunto probatório cabal para condenar os oito réus pelo
crime de promoção de organização terrorista, como previsto pelo art. 3º da Lei Federal nº
13.260/2016. Os mesmos oito indivíduos foram condenados pelo crime de associação
criminosa, previsto no art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848/1940 (Código Penal), com o propósito
de cometer delitos de terrorismo, de preconceito e contra o patrimônio. Demonstrou-se que
sete deles incorreram no crime de corrupção de menores, previsto no art. 244B, §§ 1º e 2º, da
Lei nº 8.069/90, pois tentaram recrutar dois adolescentes para o grupo, com o fito de que eles
cometessem atos terroristas e outros atos legais. E foi constatado que um deles também
incorreu no crime de recrutamento para organização terrorista, previsto art. 5º, §1º, I, c/c §2º,
da Lei nº 13.260/2016, diante das mensagens que ele teria enviado aos demais denunciados
288
BARRETO, Alesandro Gonçalves; BRASIL, Beatriz Silveira. Manual de investigação cibernética à luz do
Marco Civil da Internet. Rio de Janeiro: Brasport, 2016. p. 17-18. 289
BRASIL. 14ª Vara Federal de Curitiba. Ação Penal nº 504686367.2016.4.04.7000/PR. Sentença. Magistrado:
Juiz Federal Marcos Josegrei da Silva. Data de Julgamento: 04/05/2017. Disponível em: <
https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=70149391823625488
0059217981419&evento=701493918236254880059218218638&key=7bde0268daff68e340033e387719de6f4e8
ba77e245d6755971efa7418193aea>. Acesso em: 4 out. 2017. p. 1-2. 290
Ibid. p. 2-3.
100
com o propósito de que eles se reunissem fisicamente para fazerem parte da organização
terrorista291
.
A sentença destacou o fato de que no contexto da tipificação de organizações
criminosas em geral quanto terroristas em particular, as suas definições devem considerar “o
contexto histórico, a gravidade e os possíveis impactos da ação censurada na comunidade”.
Ao mesmo tempo que assinalou para os prejuízos humanitários causados pelos grandes
grupos terroristas, como o EI, os quais deliberadamente desrespeitam os princípios que
fundamentam a convivência entre os povos e os direitos fundamentais292
.
Outro ponto de suma importância dessa sentença é a afirmação de que o universo
semântico contido no termo “promover”, no qual cabem atos, por exemplo, de difundir,
fomentar, encorajar, estimular, impelir, impulsionar, incentivar, instigar
ou motivar organização terrorista. Havendo a ressalva de que essas condutas não devem ser
confundidas com as liberdades religiosa e de expressão ou direito de crítica garantidos pela
Constituição Federal de 1988293
.
A defesa dos réus solicitou a nulidade por três razões, pleitos os quais foram
indeferidos pelo magistrado competente:
Tabela 4 – Pedidos de nulidade na ação penal nº 504686367.2016.4.04.7000
Pedidos de
nulidade
Alegação da defesa dos réus Alegação do magistrado para indeferimento
dos pedidos de nulidade
Por cerceamento
de defesa em
razão da inépcia
da denúncia
- Ausência de delimitação clara,
discriminada e precisa das condutas que
se amoldariam distintamente aos tipos
do art. 3º da Lei nº 13.260/2016 e do art.
288 do CP, o que inviabilizaria o
exercício do direito de defesa;
- Destacou ser plurinuclear o crime
previsto no artigo 3º da Lei nº
13.260/2016, sendo indevida, por
consequência, a imputação do crime
previsto no artigo 288 do Código Penal.
- Ausência de delimitação fática e
temporal das condutas que
caracterizariam o crime de associação
criminosa;
- Aduziu se tratar de denúncia
alternativa, amplamente rechaçada pelo
entendimento jurídico dominante;
- A descrição fática constante da peça
acusatória foi suficiente para permitir aos réus o
conhecimento dos fatos que lhes foram
imputados, permitindo o exercício do direito de
defesa em sua plenitude;
- Correlação entre os fatos narrados e a
adequação típica a eles atribuída na denúncia; -
A conduta de cada acusado foi exaustivamente
narrada na denúncia;
- Os fatos imputados foram amparados em
elementos de prova constantes do inquérito
policial nº 0007/2016DPF/MJ (Eproc nº
502355769.2016.4.04.7000) e houve
ajustamento suficiente entre os fatos atribuídos
a cada um e a capitulação jurídica respectiva
para o trânsito da ação penal.
291
BRASIL. 14ª Vara Federal de Curitiba. Ação Penal nº 504686367.2016.4.04.7000/PR. Sentença. Magistrado:
Juiz Federal Marcos Josegrei da Silva. Data de Julgamento: 04/05/2017. Disponível em: <
https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=70149391823625488
0059217981419&evento=701493918236254880059218218638&key=7bde0268daff68e340033e387719de6f4e8
ba77e245d6755971efa7418193aea>. Acesso em: 4 out. 2017. p. 3. 292
Ibid. p. 22. 293
Ibid. p. 22.
101
- Afirmou também ser indevida a
imputação do crime de corrupção de
menores, tendo em vista que a
participação de menores é causa de
aumento do crime previsto no artigo
288 do CP.
Das declarações
prestadas na fase
policial
- Não houve a oportunidade de invocar
a presença de defensor nos primeiros
depoimentos realizados na Penitenciária
Federal de Campo Grande;
- Os acusados não foram
adequadamente advertidos quanto ao
exercício do direito ao silêncio,
tampouco esclarecidos quanto à
possível acusação que pesava contra
eles, além de não ter sido ofertado o
direito de solicitar a presença de um
defensor;
- Existem relatos plausíveis de que os
acusados se sentiram coagidos a assinar
os depoimentos e induzidos a fazer
declarações visando à
liberação do cárcere, sob o pretexto de
uma espécie de colaboração premiada.
- A colheita dessas declarações foi registrada
em vídeos (eventos 38 e 194), nos quais é
possível verificar a regularidade dos
procedimentos adotados pela Autoridade
Policial, inclusive com referência às garantias
constitucionais dos declarantes;
- Não há qualquer indício ou evidência de que
os acusados tenham sido coagidos a prestar
qualquer tipo de declaração. Ao contrário,
alguns optaram serenamente por fazer uso do
direito ao silêncio enquanto outros preferiram
desde logo exercer o direito de defesa
pessoalmente;
- No caso em particular, não há registro de que,
na ocasião da tomada
dos depoimentos, os presos houvessem indicado
à Autoridade Policial possuírem
advogado para representá-los ou tivessem
afirmado não terem condições de fazê-lo
e solicitado, já na oportunidade, nomeação da
Defensoria Pública da União;
- A prisão dos denunciados era do
conhecimento de seus familiares
e as informações acerca do
local de custódia sempre estiveram acessíveis
aos interessados, estando disponível a seus
familiares buscar assistência jurídica;
- Os presos foram posteriormente interrogados.
Nessa ocasião, foram previamente intimados os
advogados que os assistiam, por procuração ou
por nomeação do Juízo.
Da prova
extraída de
denúncia
anônima
- A obtenção de diálogos do grupo
JUNDALLAH no aplicativo de
mensagens instantâneas Telegram, no
curso do inquérito, foi feita por agentes
infiltrados sem autorização judicial
prévia.
- A atividade policial não exige que haja alguma
provocação externa para que se inicie uma
diligência investigatória;
- Quando se trata de apuração de engajamento
via internet ou redes sociais em ações
terroristas, os analistas policiais vasculham
cotidianamente o ambiente virtual como uma
das formas de elaboração de relatórios, e
recebem expedientes de outros órgãos públicos,
de entidades privadas de monitoramento de
internet engajadas no uso sadio da rede mundial
de computadores;
- Não existe nenhuma ilegalidade em se obter
um memorando oriundo de Embaixada ou órgão
policial estrangeiro dando conta da
prática de algum crime e a partir disso iniciar
uma investigação.
Fonte: Tabela adaptada de: BRASIL. 14ª Vara Federal de Curitiba. Ação Penal nº 504686367.2016.4.04.7000/PR.
Sentença. Magistrado: Juiz Federal Marcos Josegrei da Silva. Data de Julgamento: 04/05/2017. Disponível em: <
https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=7014939182362548800
59217981419&evento=701493918236254880059218218638&key=7bde0268daff68e340033e387719de6f4e8ba77
e245d6755971efa7418193aea>. Acesso em: 4 out. 2017. p. 9-14.
102
Afastadas as alegações de nulidade e valendo-se das provas obtidas na Operação
Hashtag e da denúncia do MPF, a referida sentença promoveu condenações dentro dos
parâmetros constitucionais, respeitando os princípios do devido processo legal, contraditório e
ampla defesa (art. 5º, LIV e V, CF 1988)294
, e legais, aplicando as penas dentro do rigor
requerido para os alegados tipos penais, de grande potencial ofensivo. Essa sentença aponta
para o início de um combate judicial ao terrorismo no Brasil, mesmo que não configure
jurisprudência, por ser uma decisão singular em primeiro grau295
, uma vez que firmou para o
caso em questão o caráter retributivo da pena e com o transcorrer do tempo, poderá ser visto
se ela cumpriu seu papel preventivo.
O Brasil está demonstrando até agora um crescente e eficiente combate ao terrorismo,
com a promulgação da Lei Federal nº 13.260/2016, a qual não atenta contra o direito de
reunião ou outros direitos fundamentais, diferente dos Estados Unidos após os atentados de 11
de Setembro, bem como pela atuação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, os
quais evitaram que se consumassem atos trágicos durante os Jogos Olímpicos de 2016 e pelo
Poder Judiciário, que garantiu condenações baseadas em provas contundentes.
294
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 295
“A prática do precedente, que nenhum juiz pode ignorar totalmente em sua interpretação, pressiona pelo
acordo; as teorias de cada juiz sobre o que realmente significa julgar vão incorporar por referência mediante
qualquer explicação e reelaboração do precedente em que ele se fundamente, aspectos de outras interpretações
correntes na época. Além disso, os juízes refletem sobre o direito no âmbito da sociedade, e não fora dela [...]”.
DWORKIN, Ronald. O Império do Direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes,
2003. (Coleção justiça e direito). p. 110.
103
5 CONCLUSÃO
Com este trabalho, foi possível concluir que o terrorismo é uma ameaça em ascensão
pelo mundo, tendo como fatos propulsores a tendência fundamentalista que germina no
mundo islâmico e a exclusão social vivida em países desenvolvidos por indivíduos
provenientes de países cuja maioria da população é muçulmana ou descendentes deles. O
terrorismo aparece como uma alternativa de vida para uma juventude alijada, que muitas
vezes, não aceita o fato de se ver à margem dos benefícios que o desenvolvimento oferece. A
questão terrorista de grupos como o Estado Islâmico é acima de tudo ideológica, ela propaga
uma mensagem antiocidental e anticristã e busca nesses grupos marginalizados que vivem em
outros países uma forma de estender sua zona de influência para destruir todos aqueles julgam
ser inimigos.
Considerando a tríade a que esta obra se propôs analisar: desenvolvimento, mundo
virtual e terrorismo, é possível afirmar que o terrorismo ao se expandir por intermédio dos
recursos digitais e virtuais coloca em risco o próprio desenvolvimento, no momento em que
desrespeita direitos fundamentais basilares para que ele exista, já que atenta contra a vida,
patrimônio, segurança e no caso específico de grupos como o Estado Islâmico, o qual tem
como objetivo reprimir todos aqueles considerados infiéis, vê-se a liberdade de crença e culto
ameaçada.
Em se tratando de religião, não se pode considerar o Islamismo uma ameaça por si só,
mesmo com o crescimento vertiginoso desses grupos extremistas, mas inspira cuidados por
parte dos países quanto à organização de atentados pelos meios virtuais, como redes sociais,
tais quais o Facebook, o Instagram e o Twitter, ou aplicativos de mensagens instantâneas,
como o Whatsapp e o Telegram. O fundamentalismo está presente em vários sistemas de
crenças e nem sempre parte para o nível do terrorismo.
A internet e os meios tecnológicos tornaram-se imprescindíveis para viabilizar
diversas atividades humanas, como a comunicação, facilitando contatos e aproximando povos,
ao mesmo tempo em que se tornou ambiente propício para a organização e realização de
crimes, diante das dificuldades que esse local apresenta para a descoberta de ocorrências
desse tipo.
No mundo globalizado, o intercâmbio cultural é forte, o conhecimento e a assimilação
de costumes de culturas diversas mostram-se viáveis, e isso possibilita mais ainda que um
indivíduo não esteja completamente envolvido com todos os elementos da cultura em que
nasceu e foi criado. O problema está nos movimentos radicais que buscam impedir a
104
disseminação de valores ocidentais, o que tem gerado essas ações de afirmação cultural e
religiosa, partindo para ofensivas militares, atos para perturbar a ordem pública, espalhar o
pânico e desestabilizar governos pelo mundo. A exemplo do Estado Islâmico, constata-se a
privação de direitos às pessoas sob seu domínio, desrespeito ao direito à vida e à liberdade de
ir e vir dos seus prisioneiros, muitas vezes executados de forma atroz. Esses grupos ganham
notoriedade pela forma como a imprensa mundial explora os atos deles, que por saberem
disso, buscam deixar suas atitudes radicais em um nível que chame a atenção, na certeza de
que serão reportados como espetáculos midiáticos.
O acesso à internet é um direito fundamental do âmbito internacional, mas ainda
precisa ser positivado no Brasil. Se a inserção e a participação na rede mundial de
computadores é um objetivo a ser alcançado, é ao mesmo tempo obrigação de os Estados-
nação oferecerem segurança nesse âmbito. A segurança é elementar para aprimorar a
qualidade de vida dos indivíduos e consequentemente, corroborar com seu desenvolvimento,
como se pode inferir do Índice de Progresso Social (IPS).
O bom funcionamento de órgãos como as polícias, da Agência Brasileira de
Inteligência (ABIN), do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), das Forças
Armadas, do Poder Judiciário e das funções essenciais da justiça, como o Ministério Público,
é fator imprescindível para o desenvolvimento, já que eles servem à proteção dos direitos
fundamentais.
O desenvolvimento econômico precisa ser visado, até porque ele repercute no bem-
estar das pessoas, mas outros fatores são necessários para que se conquiste desenvolvimento
social, como a expansão das liberdades individuais e prestações por parte do Estado, como
proteção à vida e à propriedade. Em um ambiente de liberdade e de proteção, o que inclui o
ambiente virtual, o ser humano pode aproveitar melhor suas potencialidades e ter acesso às
benesses das riquezas produzidas.
Pode-se dizer que o terrorismo tem angariado cada vez mais seguidores por conta da
marginalização de imigrantes e seus descendentes, ao mesmo tempo em que ele confronta
diretamente o ideal de desenvolvimento ao colocar em risco a vida e o patrimônio das pessoas
e ao buscar ampliar sua zona de influência com propósito de tolher a liberdade que cada ser
humano tem para escolher a religião e as os comportamentos que mais lhe forem
convenientes.
O Brasil tem construído uma legislação profícua de proteção ao ambiente virtual,
como a Lei Federal nº 12.965/2014 ao estabelecer a liberdade de expressão como pilar do uso
da internet e ao proclamar a neutralidade na rede como uma garantia isonômica aos usuários
105
da rede. No entanto, seria de suma importância que o país aderisse à Convenção de Budapeste
e solicitasse a previsão do crime de terrorismo que se organiza na internet no texto dela, para
assim dar sua contribuição ao combate dos cibercrimes e firmar para si cooperações com
outros países para investigar e combater os crimes que se organizam e/ou se concretizam
nesse meio.
Os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro tiveram um legado duvidoso para o
Brasil, mas sem dúvidas, a Operação Hashtag e suas repercussões no Poder Judiciário foram
positivas para o país, no sentido de evitar situações caóticas e trágicas no transcorrer do
evento, ao mesmo tempo em que mostrou à comunidade global que o país respeitou o
compromisso de combater o terrorismo, já firmado antes em tratados internacionais, conforme
o princípio de repúdio ao terrorismo previsto na Constituição Federal de 1988, servindo de
parâmetro em termos de segurança para os países que venham a realizar megaeventos
esportivos.
A sentença que condenou oito réus é um marco para o direito penal brasileiro e uma
conquista no que se refere à proteção de seu povo e dos estrangeiros aqui presentes sem
infringir direitos fundamentais, apesar das alegações, como aconteceu por conta da Doutrina
Bush no que concerne ao combate ao terror. No entanto, os cuidados e investimentos para que
o sucesso da Operação Hashtag não devem ficar restritos à ocorrência das Olimpíadas, mas
devem ser perenes, incluindo o aprimoramento de instituições como a Polícia Federal e a
Agência Brasileira de Inteligência e a cooperação com outros países.
A própria aprovação da Lei Federal nº 13.260/2016 representa um avanço no que se
refere ao combate do terrorismo, a qual contrariou as expectativas negativas a respeito de sua
possibilidade de criar um estado de exceção no país ao coibir manifestações durante as
Olimpíadas.
Mesmo tendo passado o referido evento, isso não significa que o país está totalmente
fora do risco de um atentado terrorista, até porque se comprovou a tentativa de formação de
uma célula do Estado Islâmico no país, algo que pode continuar acontecendo. Entretanto, esse
risco não deve ser associado à presença de seguidores do Islã que no Brasil, mas antes de
tudo, pela própria política expansionista dos grupos terroristas.
A liberdade de crença e culto no Brasil encontra ainda barreiras para ser efetivada no
Brasil, sobretudo quando se fala em minorias religiosas, mas a condenação dos réus, que são
muçulmanos, não deve ser entendida como um início de perseguição aos seguidores dessa
religião no país.
106
O terrorismo tem mudado sua forma de organização, valendo-se dos meios virtuais, o
que implica um novo olhar dos Estados nacionais para essa condição. Além de elaborar leis,
aperfeiçoar recursos humanos e infraestrutura com o propósito de combater essa celeuma, sem
desrespeitar outros direitos, como a privacidade dos usuários da rede, tudo isso corrobora com
o desenvolvimento e é sinal de progresso social.
O Estado Democrático de Direito para fazer valer seus postulados precisa respeitar a
pluralidade de ideias e crenças. Bem como, precisa adequar-se juridicamente ao aparecimento
de novas ameaças virtuais como forma de garantir a segurança na rede, como é o caso
chamado terrorismo virtual que envolve ataques em massa para invasão de servidores e
aquisição ilegal de dados dos usuários da rede.
O desenvolvimento e o Estado Democrático de Direito têm uma relação dialética e por
isso, a efetivação dos direitos fundamentais em níveis nacional e internacional é premente. Só
assim, pode-se vislumbrar um desenvolvimento mais equânime pelo mundo. Nesse contexto,
o terrorismo vai na contramão do desenvolvimento, pois a disseminação de grupos com esse
jaez impede a expansão das liberdades, como se verifica nas áreas sob domínio do Estado
Islâmico na Síria.
A sentença na ação penal nº 504686367.2016.4.04.7000 da Justiça Federal representa
um exemplo para condenações ulteriores, uma vez que respeitou as prerrogativas processuais
previstas na Constituição Federal de 1988 e na legislação vigente do Brasil, alinhando-se com
a tendência mundial de combate ao terrorismo, ao mesmo tempo em que respeitou direitos
fundamentais. A fruição desses direitos, inclusive por réus no curso de processos judiciais,
corrobora diretamente com o desenvolvimento e o progresso social de um povo, e
especificamente nesse caso, a atuação da Polícia Federal na Operação Hashtag e as seguintes
posições do Ministério Público Federal e Justiça Federal reforçaram a paz pública e a ordem
social, ao evitar atos terroristas durante as Olimpíadas de 2016 e condenando os réus à
privação de liberdade.
A presente pesquisa carece de mais dados empíricos que corroborem com a ideia de
que o fundamentalismo religioso e a ação terrorista destoam da expansão das liberdades
individuais e da fruição de direitos que garantam o bem-estar dos indivíduos em um contexto
de sociedades complexas e dotadas de pluralidade cultural e religiosa. Mais do que isso, há
necessidade de estudos mais amplos sobre como as comunidades se comportam perante as
ameaças terroristas e como elas se afetam e reagem às ações de prevenção e combate eleitas
pelos países. No viés jurídico, é necessário mais análises sobre a elaboração de leis de
107
repressão ao terrorismo pelo mundo e sobre o firmamento de sistemas de cooperação
internacional e se as primeiras afrontam direitos fundamentais.
Enseja-se que este estudo sirva de base para trabalhos ulteriores que necessitem de
uma base teórica acerca do terrorismo no Brasil, sobretudo no que envolve os dispositivos
normativos que contemplam essa temática. Ademais, encontrar nesta pesquisa um histórico
sobre a ascensão do fundamentalismo islâmico pelo mundo e os motivos para tanto, e assim,
entender as formas de organização dos Estados Nacionais para combater o terrorismo e como
isso diz respeito diretamente a políticas de segurança interna e externa, enquanto elemento
imprescindível do desenvolvimento em uma perspectiva mais social do que econômica, e
como repercute na elaboração de leis antiterrorismo.
108
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ANEXO A – EXCERTOS DA SENTENÇA NA AÇÃO PENAL Nº 5046863-
67.2016.4.04.7000 DA 14ª VARA FEDERAL DE CURITIBA-PR
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