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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA
CURSO DE LICENCIATURA
JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTOS
PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ-MÚSICA – ONDAS MUSICAIS: O PAPEL INTEGRADOR DA BANDA DE MÚSICA
Natal/RN 2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA
CURSO DE LICENCIATURA
JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTOS
PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ-MÚSICA – ONDAS MUSICAIS: O PAPEL INTEGRADOR DA BANDA DE MÚSICA
Orientadora: Profa. Dra. Tamar Genz Gaulke
Natal/RN
2017
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Música.
JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTOS
PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ-MÚSICA – ONDAS MUSICAIS: O PAPEL INTEGRADOR DA BANDA DE MÚSICA
Aprovado em: 20 de Novembro de 2017.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________ Profa. Dra. TAMAR GENZ GAULKE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ORIENTADORA
_______________________________________________ Profa. Dra. ELIANE LEÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE MEMBRO DA BANCA
_______________________________________________ Profa. Esp. CAMILA LARISSA FIRMINO DE LUNA PREFEITURA MUNICIPAL DE NÍSIA FLORESTA
MEMBRO DA BANCA
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Música.
Dedico este trabalho, especialmente, ao Senhor José Lourenço dos Santos Filho, meu pai, que graças a sua forma de enxergar a vida me proporcionou todos os meios para as conquistas que tive, incentivou-me e me apoiou. Infelizmente, em abril recente, Deus, achou por bem que ele ao seu lado passasse a morar, e nos deixou, e hoje o sinto todos os dias em meu coração, ainda me iluminando e guardando meu caminho. Obrigado Pai! De seus gestos de atenção para comigo jamais esquecerei, sempre o honrarei.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus por sua infinita misericórdia e que muito tem
me guardado, dando-me saúde, paz e força para ter suportado tantas adversidades que
a vida tem me colocado.
Também à minha família, em especial a meu saudoso pai, que infelizmente quis
Deus que ao seu lado fosse descansar, mas que enquanto esteve ao meu lado nunca
mediu esforços para que atingisse meus objetivos, exigindo-me sempre a dedicação
integral aos estudos, algo que todo bom pai deve buscar. Nada pode expressar o
quanto sou grato a ti, saiba que nunca esquecerei o quão importante foi para minha
vida. E minha mãe e irmã, que sempre estiveram comigo, nos bons e maus momentos,
amo demais vocês duas. Minha esposa, pela paciência, e claro, por cuidar de nosso
mais valioso bem, nossa filha Melissa, que amo tanto, muito obrigado.
A professora Tamar, por ter dispensado especial atenção em me ajudar neste
trabalho.
Aos amigos e companheiros de trabalho e colegas de turma pela grandiosa,
honrosa e maravilhosa companhia de curso. Desejo a todos vocês todas as bênçãos de
Deus em suas vidas.
Muito Obrigado.
“Nenhum de nós é tão bom, quanto todos nós juntos”.
(Ray Kroc)
RESUMO Com este trabalho se pretende compreender a importância do ensino de música para a formação integral dos jovens participantes da Banda Ondas Musicais, oriunda do Projeto de Musicalização Pró-música - Ondas Musicais, assim também, evidenciar a importância da prática musical no âmbito de programas ou projetos sociais, em específico, aqueles apoiados por agências de financiamento, segundo a definição de Freitas e Weiland (2014). Quanto a metodologia, optou-se pelo estudo de caso, empregando-se a pesquisa exploratória com questionários em formato de formulário, entrevistas semiestruturadas e também a observação participante como meio de obtenção de dados. Serão explicitados os principais aspectos do Projeto de Musicalização Pró-Música Ondas Musicais, que muito embora tenha pouco tempo em atividade, vêm desempenhando significativas alterações na vida de seus participantes. Baseando-se em trabalhos como Kleber (2006, 2014) e Penna (2006); Maciel (2011, 2014); Campos (2008); Cislaghi (2011) que tratam tanto das práticas musicais em projetos sociais, quanto do emprego da Banda de Música como ferramenta do processo pedagógico-musical. A partir das entrevistas e questionário foi possível avaliar que houve mudança de nível de autoestima, sociabilidade, aprendizagem musical e alterações comportamentais e o quão relevante é, para os jovens participantes do projeto, o aprendizado de um instrumento musical, assim como, a integração social proporcionada pela participação naquela banda de música. Palavras-chave: Programas Sociais; Educação Musical; Musicalização; Banda de Música.
ABSTRACT This work intends to understand the importance of music teaching for the integral formation of the young participants of the Band Musical Waves, coming from the Project of Music Music Pro-music - Musical Waves, as well, to highlight the importance of the musical practice in the scope of programs or social projects, specifically, those supported by funding agencies, as defined by Freitas and Weiland (2014). As for the methodology, we chose the case study, using the exploratory research with questionnaires in form of form, semi-structured interviews and also the participant observation as a means of obtaining data. It will be explained the main aspects of the Music Music Pro Project Music Waves, that although it has little time in activity, have been making significant changes in the life of its participants. Based on works such as Kleber (2006, 2014) and Penna (2006); Maciel (2011, 2014); Campos (2008); Cislaghi (2011) who deal with both the musical practices in social projects and the use of the Music Band as a tool of the pedagogical-musical process. From the interviews and questionnaire it was possible to evaluate that there was a change in the level of self-esteem, sociability, musical learning and behavioral changes and how relevant it is for the young participants of the project, learning a musical instrument, as well as social integration provided by the participation in that band of music. Keywords: Social Programs; Music education; Musicalization; Music Band.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - NAVIO HOSPITAL DA FORÇA AÉREA BRASILEIRA...................26
FIGURA 2 - BANDA ONDAS MUSICAIS EM APRESENTAÇÃO REALIZADA EM
SANTA CRUZ - RN............................................................................................34
FIGURA 3 - ORQUESTRA ONDAS MUSICAIS EM APRESENTAÇÃO EM
ESCOLA PRIVADA...........................................................................................35
FIGURA 4 - A ORQUESTRA FILARMÔNICA ONDAS MUSICAIS EM SUA
PRIMEIRA APRESENTAÇÃO PÚBLICA COM INSTRUMENTAL DE
CORDAS............................................................................................................36
FIGURA 5 - SEDE DA ASSOCIAÇÃO DE VETERANOS DO CFN, LOCALIZADO
NO BAIRRO DAS QUINTAS..............................................................................37
FIGURA 6 - SALÃO ONDE SÃO REALIZADOS OS ENSAIOS E AULAS
INDIVIDUAIS......................................................................................................38
FIGURA 7 - BANDA ONDAS MUSICAIS EM ENSAIO REALIZADO NO DIA
18/10/2017.........................................................................................................39
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACISO Ação Cívico-Social CF Constituição Federal FA Forças Armadas GptFNNa Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal LC Lei Complementar MB Marinha do Brasil MD Ministério da Defesa PROFESP Projeto Força no Esporte
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13
2. APORTES TEÓRICOS .............................................................................................. 15
2.1 Música e projetos sociais ...................................................................................... 15
2.2 Música como fator de integração social ................................................................ 18
2.3 Metodologia adotada na pesquisa ........................................................................ 21
3. AS AÇÕES SUBSIDIÁRIAS E OS PROGRAMAS SOCIAIS DO MINISTÉRIO DA DEFESA ......................................................................................................................... 25
3.1 As Bandas Militares .............................................................................................. 27
4. O PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ MÚSICA - ONDAS MUSICAIS - IDEALIZAÇÃO ............................................................................................................... 31
4.1 Banda Ondas Musicais ......................................................................................... 33
4.2 Ensaios e aulas individuais ................................................................................... 36
4.3 Sobre o Professor ................................................................................................. 40
5. O PAPEL INTEGRADOR DE UMA BANDA DE MÚSICA ......................................... 42
5.1 O nível de autoestima apresentado pelos participantes ....................................... 45
5.2 Sociabilidade ........................................................................................................ 47
5.3 A aprendizagem musical ....................................................................................... 47
5.4 Alterações comportamentais ................................................................................ 48
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 50
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 52
APÊNDICE ..................................................................................................................... 55
13
1. INTRODUÇÃO
Torna-se cada vez mais evidente que a prática educativo-musical tornou-se uma
praxe bastante difundida no âmbito dos projetos sociais. Kleber (2006) aponta nesse
sentido, ao dizer que existe “uma significativa quantidade de projetos sociais ligados à
educação, arte e cultura”. Além das ações realizadas pelas Organizações Não
Governamentais (ONG`s1), também os programas ou projetos sociais, apoiados, direta
ou indiretamente, por instituições do Estado, de alguma maneira se utilizam do
processo pedagógico-musical em seus trabalhos. Foram vários os motivos, de cunho
social e também cultural das práticas assistencialistas, que culminaram, a partir da
década de 90, em uma expansão do número de práticas de ações sociais em todo
país, essas em sua maioria relacionadas à ideia de assistência social e educacional
ofertadas por movimentos organizados: associações, fundações, igrejas (KLEBER
2014, p. 26).
Com este trabalho se pretende compreender a importância do ensino de música
para a formação integral dos jovens participantes da Banda Ondas Musicais, oriunda
do Projeto de Musicalização Pró-música - Ondas Musicais, assim também, evidenciar a
importância da prática musical no âmbito de programas ou projetos sociais, apoiados
ou não por instituição de governo. Proposto, no ano de 2015, pela associação
Voluntárias Cisne Branco, seccional Natal, a qual é um departamento da Casa do
Marinheiro, instituição vinculada à Marinha do Brasil e ofertando a possibilidade de uma
formação musical para dependentes de militares e de servidores civis da Marinha,
residentes em Natal-RN, o Pró-Música tem alcançado excelentes resultados no tocante
ao seu papel de agente integrador dos adolescentes participantes. Além de atingir
outros objetivos que serão explanados com mais detalhes.
A escolha por este projeto se deu pela proximidade que há entre a profissão
deste autor, que atua como músico integrante da Banda de Música do Corpo de
Fuzileiros Navais (CFN), e o referido projeto, vinculado à Marinha do Brasil (MB) e que
tem como Coordenador/Regente um Suboficial (FN) Músico, também integrante
1 “O conceito de ONG foi utilizado pela primeira vez em 1950 na Organização das Nações Unidas para referir-se a
organizações internacionais de caráter permanente e constituídas por suas características e finalidades específicas, em diferentes países, sem fins lucrativos” (KLEBER, 2006, p. 20).
14
daquela Banda de Música. Tendo atuado como professor monitor em aulas práticas de
trombone e já realizado apresentações públicas com a banda dos alunos em conjunto
com a Banda do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal (GptFNNa).
Este trabalho está estruturado em 5 capítulos, logo após esta introdução, são
indicados os aportes teóricos, que alicerçaram este trabalho, destacando-se alguns
autores que são referências na área da música em projetos sociais, como Kleber
(2006, 2014), Penna (2006); A música como fator de integração social, Maciel (2011,
2014), Severo (2015); e a importância das bandas de música no contexto do ensino e
aprendizagem musical, Campos (2008); Cislaghi (2011) e Ferreira (2015).
O terceiro capítulo busca contextualizar o trabalho sob a perspectiva dos
programas sociais oferecidos no âmbito do Ministério da Defesa (MD), pois são parte
das atividades subsidiárias das Forças Armadas (FA). Para tanto, a pesquisa apoiou-se
no trabalho de Lourenço (2012). Também neste capítulo foi realizado um pequeno
esboço do papel das Bandas Militares junto à sociedade onde se tratam as várias
perspectivas abordadas nos trabalhos de Binder (2006) e Passos (2017).
O quarto capítulo trata do Projeto de Musicalização Pró-Música Ondas Musicais
em si, descrevendo os principais pontos relacionados a sua criação, aos ensaios e a
perspectiva que tem o seu Coordenador no tocante ao projeto. Já no quinto capítulo
apontam-se os resultados obtidos a partir das entrevistas, do questionário e das
observações realizadas em campo, com vistas a que se busque afirmar o papel
integrador que tem a banda de música como instrumento da prática educativo-musical.
Por fim, realizar-se-ão as considerações finais, tecendo alguns comentários
concernentes aos resultados da pesquisa.
15
2. APORTES TEÓRICOS
2.1 Música e projetos sociais
O fato de a música estabelecer-se como um elemento de grande relevância para
a transformação de realidades sociais faz com que as práticas educativo-musicais se
pautem com este sentido transformador, quando postas no âmbito dos projetos sociais.
Segundo Bezerra (2011, p.16), “os projetos que envolvem música têm o interesse em
oferecer alternativas às realidades de carência e de violência”. Carência esta que se
refere tanto a fatores afetivos, quanto ao de lazer ou ao financeiro. Nesse sentido, é
que se observa um grande número de projetos sociais no país, envolvendo o ensino
musical em suas muitas possibilidades, bandas de música, canto coral ou mesmo aulas
especializadas de instrumento.
Em relação às práticas musicais em projetos sociais e seus mantenedores,
torna-se importante salientar o trabalho de Freitas e Weiland (2014) que ao realizarem
um levantamento da produção bibliográfica voltada para as práticas musicais no
contexto dos projetos sociais identificam e definem as “agências de financiamento de
projetos sociais” como sendo:
a) Universidades que promovem projetos de extensão e estágios supervisionados; b) Órgãos públicos com vários programas de fomento e incentivo às artes e cultura; c) Instituições que financiam pesquisas de mestrado/doutorado; d) Escolas que fazem parcerias com profissionais da área da música (FREITAS E WEILAND, 2014 p. 69).
Em sua pesquisa, as autoras categorizam a relação projeto social e seus
financiadores em: interação universidade e comunidade; Derivado de projetos de
mestrado e doutorado; Parcerias com escolas e Financiamento de órgãos públicos
(Ibid., 2014 p. 69). É nesta última categoria, a do financiamento por órgãos públicos,
em que se insere o projeto objeto desta pesquisa. O Pró-Música Ondas Musicais foi
criado e é mantido por uma associação, sem fins lucrativos, contudo, vinculada a
Marinha do Brasil.
De acordo com o Código Civil Brasileiro, em seu art. 53, uma associação é a
“união de pessoas que se organizam para fins não econômicos” (BRASIL, 2008). As
associações ou fundações são a expressão jurídica do que se conhece por
16
Organizações Não Governamentais (ONGs), as quais estão inseridas no âmbito do
Terceiro Setor. Segundo Kleber (2006) o Terceiro Setor é um segmento:
Caracterizado como um conjunto de iniciativas privadas com fins públicos e sociais, não lucrativos, que buscam formas de enfrentamento das questões sociais vividas por uma grande parcela da sociedade privada, tanto de bens materiais como simbólicos (KLEBER, 2006 p. 20).
Portanto, o Terceiro Setor é a parcela da sociedade civil que executa funções
típicas, mas não exclusivas do Estado, e ao qual não se confunde, entretanto, presta
auxílios diversos como o de proteção à natureza, trabalhos de cunho sociais e públicos,
atendimento médico, campanhas educacionais, eventos culturais e outras que visem à
qualidade de vida de determinada parcela da população.
O fato dos projetos sociais surgirem de forma bastante considerável, acarreta
em que, obviamente, sejam objetos demasiadamente estudados pelos pesquisadores
da área da educação musical, a saber: Kleber (2006, 2014); Penna (2006), Gaulke
(2010), Maciel (2011), entre outros. Isto se deve a demanda de profissionais que esta
área passa a necessitar, dos quais, espera-se que sejam capazes de atender as
expectativas e atingir as metas estabelecidas na proposta de cada projeto social.
Gaulke (2010, p. 10) ao citar Penna (2006), remete a discussão sobre os
conteúdos musicais e didáticos, os quais poderiam ser propostos pelas academias de
formação dos profissionais da educação musical. Com vistas a que tenham os meios
necessários e adequados para o exercício de suas atividades naqueles ambientes. Isto
vai ao encontro do pensamento de Penna (2006), quando, ao destacar que os
conteúdos musicais são sim importantes para a formação pretendida nesses projetos,
porém, que deve haver a consciência de que não basta que se tenha apenas o seu
domínio. (Ibid., 2006 p.40).
Obter a adequada formação obviamente é interessante, mas de nada adianta se
o profissional não atentar para as especificidades que esses espaços podem vir a
revelar. E ao observar que projetos sociais vêm se estruturando em paralelo com
aquilo que é realizado nas academias, Kleber (2014) elucida que:
O foco de interesse dos projetos sociais cujo público-alvo são jovens adolescentes tem revelado uma grande incidência de atividade voltadas para a
17
prática musical. Torna-se visível, ainda, o envolvimento de segmentos da sociedade civil na busca da redução dos problemas sociais, afim de que se garantam as condições mínimas para o que podemos chamar de dignidade humana (KLEBER, 2014 p. 28).
Por conseguinte, a preocupação com o real papel da música nos espaços de
projetos sociais, torna-se objeto de vastas reflexões, e, nesse pensamento, Penna
(2006) acrescenta que os projetos sociais “colocam [...] em pauta a reflexão sobre o
papel da música na formação global, sobre a diversidade cultural e a
interdisciplinaridade” (Ibid., 2006 p. 36). A autora indica que se busque, para as
atividades praticadas em projetos extraescolares, propostas pedagógicas com objetivos
contextualistas – que proporcionem o aumento da capacidade reflexiva do indivíduo, de
maneira que, a partir deles, obtenha-se mais eficazmente a formação plena dos jovens,
como, também, seu comprometimento social e o diálogo com as diferentes culturas
(Ibid., 2006 p. 40). Em contrapartida aos aspectos da concepção essencialistas, os
objetivos contextualistas colocam em primeiro plano a formação global do indivíduo
(ALMEIDA 2001 apud PENNA, 2006, p. 37).
É por serem os projetos sociais ambientes tão ricos em diversidades de
experiências sociais e musicais que se justifica o grande número de autores e trabalhos
cujo objetivo é trazer diferentes propostas de atuação pedagógica musical à obtenção
da plena formação dos envolvidos. E ao tratar desta perspectiva, Gaulke (2010)
esclarece que:
São ações fora do contexto escolar, onde os adolescentes e crianças têm acesso a espaços com objetivos de promover o ser humano, direcionar suas potencialidades, melhorar a qualidade de vida e facilitar a convivência social. A cultura, o lazer e a música aparecem como atividades muito presentes nestes contextos. O educador musical está cada vez mais atuante, dando mais ênfase ao acesso democrático à música (GAULKE, 2010 p. 11).
Outro aspecto sob o qual se fundamentam os projetos sociais, e evidentemente,
o Pró-Música Ondas Musicais, é a garantia de mais um instrumento ocupacional para
seus alunos, de maneira que não fiquem a mercê de desprazeres oriundos desta vida
contemporânea. Mas que, ao contrário, tenham em seus horários opostos ao dos
estudos em escolas regulares, uma ferramenta a mais de formação. Quando se opta
18
pelo emprego da música nos projetos sociais, vislumbra-se a ascensão social e
profissional desses jovens, conforme afirma Severo (2015):
[...] a música é uma possibilidade de atuação nesse contexto que vem sendo praticada. Essa prática ao longo dos anos vem ganhando espaço na nossa sociedade, causando impacto positivo e interagindo diretamente com ela, contribuindo para a formação cultural e até mesmo profissional de crianças e jovens e adultos de baixa renda ou em situação de risco social (SEVERO, 2015 p. 14).
Apoiado nessa concepção, Severo (2015) assinala que projetos sociais “surgem
pensando no futuro dessas pessoas e propõem medidas a serem tomadas para intervir
no processo de socialização dessas crianças, adolescentes e jovens”. Porém, aspectos
específicos do projeto é que definirão seu sucesso ou não, e entre eles, pode-se citar:
o nível de comprometimento de seus participantes, a infraestrutura disponível, o apoio
financeiro, dentre outros. Gaulke (2010) atenta que
[...] a ação vai muito além da troca de experiências, ensino-aprendizagem e abordagem de conteúdos e técnicas, [...] a instituição, junto com seus parceiros e professores deve estar atenta aos objetivos, metas, demandas e necessidades a serem cumpridas (Ibid., 2010 p 13).
Isto posto, o fato de um programa receber apoio direto de uma instituição do
Estado parece, em princípio, colocá-lo um passo a frente de eventuais problemas que
possam surgir e dificultar o andamento de suas atividades.
2.2 Música como fator de integração social
A presença da música em projetos sociais é um valiosíssimo instrumento
formativo à disposição do público ao qual se destinam. Partindo desta premissa, esta
pesquisa se propõe, além de outras análises, através das observações e entrevistas
realizadas, a avaliar o quão importante é para os integrantes do Pró-Música o
aprendizado musical e se, de fato, participar de uma banda de música trouxe-lhes
modificações consideráveis em seus aspectos comportamentais e consequentemente
em suas relações interpessoais.
19
No entanto, Maciel (2011) ao falar da importância que tem a educação musical
nos projetos sociais deixa claro que esta prática não é suficiente para explicar as
alterações nas vidas de seus participantes, mas, pelo contrário:
[...] os resultados positivos das ações desenvolvidas pelos projetos sociais não se explicam pelo uso da música em si, mas pelas oportunidades de convivência, de novas experiências, novos espaços de troca, crescimento e aprendizagem (MACIEL, 2011 p.18).
Para o autor, ao refletirmos sobre as funções da música, para a sociedade e
para a educação, temos que considerar aspectos específicos desta relação entre o
objeto (o som) e o sujeito (o homem):
Se queremos determinar o valor da música na sociedade e na cultura, ele deve ser definido considerando as atitudes e os processos cognitivos presentes na sua criação e as funções e efeitos do produto musical na sociedade (MACIEL, 2011 p. 22).
Nesse pensamento, (BLACKING, 2000 apud MACIEL, 2011) trata de duas
funções genéricas que a música poderia apresentar, uma de caráter utilitária e outra de
cunho eminentemente artístico. “As utilitárias são aquelas nas quais os efeitos da
música provocam um impacto na situação social, e as artísticas, aquelas em que o
aspecto crucial da experiência musical é a música em si” (Ibid., 2011 p. 23). Ao realizar
um paralelo entre os trabalhos de Blacking (2000) e Swanwick (2003), Maciel (2011),
esclarece a existência de pelo menos dez funções específicas que a música teria
perante a sociedade, e uma delas é a preservação da integração social que, assim
como a diversão e a resposta física, faz parte do grupo das músicas com função de
signo ou utilitárias. Nessa análise, Maciel (2011) afirma que:
[...] as funções de diversão, resposta física, reforço da conformidade a normas sociais, validação de instituições sociais e rituais religiosos, contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura, e preservação da integração social. Podem ser vistas, então, como as funções que Blacking considera funções utilitárias (Ibid., 2011 p. 24).
A função utilitária da música é que seria a mais bem difundida entre os grupos
sociais, por apresentar um caráter menos metafórico, e pelo fato de não precisar de
uma maior dose de reflexão para sua experimentação (Ibid., 2011 p 23).
20
Já em relação às funções simbólicas ou artísticas da música, seriam elas as que
apresentam peculiaridades menos objetivas de definição, ou seja, mais metafóricas, e,
por consequência, dariam ensejo a uma relação mais aprofundada entre o sujeito e o
objeto (o homem e som). Como exemplos desta função, teríamos a expressão
emocional e o prazer estético. Logo, faz-se necessária uma representação maior do
objeto para o indivíduo. Como indica (SWANWICK, 2003 apud Maciel, 2011):
Estas funções [simbólicas] podem envolver elementos do que Piaget chama representação interna, a manipulação de imagens, a produção de relações entre essas imagens, a criação e desenvolvimento de vocabulários compartilhados e a negociação e troca de ideias com outros (SWANWICK, 2003 apud MACIEL, 2011, p. 24).
Pois então, sendo o fator da integração social uma função utilitária da música,
não obstante, os projetos sociais, intencionalmente ou não, contribuem para essa
finalidade. Pois, muito embora, não seja esse um objetivo único e imediato da música
na perspectiva dos projetos, a ideia de integrar os seus participantes é, evidentemente,
uma das primeiras funções musicais com a qual se deparam os alunos. Dessa forma,
as atividades musicais além da busca pela melhora da percepção artística, ou
performance em si, almejam, antes de mais nada, proporcionar a convivência desses
jovens e adolescentes, ou seja, integrá-los.
As práticas musicais em suas variadas formas: banda de música, práticas de
violão, canto coral, entre outras buscam indubitavelmente enfatizar a função da
integração social. No entanto, é preciso atentar para alguns pormenores que existem
nesse processo e, nesse sentido, abrir espaços para indagações a cerca da eficácia
desta ferramenta.
Maciel (2014), refletindo sobre aspectos vantajosos e desvantajosos do ensino
coletivo de instrumento, afirma que uma das vantagens é a interação entre os alunos,
mas que a heterogeneidade dos grupos que decorre das “diferenças de
desenvolvimento de cada aluno” determina um “ensino individualizado” (CRUVINEL,
2005 apud MACIEL, 2014, p. 98). Também sob a análise dessas possíveis
desvantagens o autor aponta:
21
Não se pode negar a importância de projetos dessa natureza, dentro da atual configuração social, como instrumentos para redução das desigualdades, como espaços que possibilitem a inserção social através da construção da cidadania, da emancipação e dignificação do ser humano. Mas é importante destacar que, em determinadas circunstâncias, tais ações podem reforçar o processo de exclusão, ao invés de minimizá-lo (MACIEL, 2014 p. 106).
É fundamental, portanto, refletir sobre esse entendimento de Maciel (2011), no
qual em certas circunstâncias os projetos sociais são ao mesmo tempo instrumentos de
integração e exclusão social. Já que a música é percebida como peça fundamental
para a congregação da sociedade, por seu caráter de integração e coletivo. Maciel
(2011) afirma que:
A presença da música como elemento de integração e formação nos diferentes projetos sociais parte do pressuposto que ela constitui-se fator que favorece a transformação dos grupos e indivíduos participantes. Busca assim causar impactos na sociedade através da interação social, da construção e exercício da cidadania, da promoção da dignidade humana, entre outros fatores (MACIEL, 2011 p. 12).
Por tudo isto, busca-se então, neste trabalho, através dos pressupostos teóricos
até aqui abordados, verificar como se desenvolve este processo de plena formação dos
indivíduos na Banda Ondas Musicais. Os jovens apresentam alterações
comportamentais significativas? Ao ingressarem na banda de música se sentem mais
valorizados? O que os motiva a participarem do projeto? A Participação no projeto é
vista como um mecanismo de mudança de formação e vida?
Questões como essas decorrem não apenas do fator integração, mas sim, do
contexto geral da proposta pedagógica, e, como será esclarecido, o Pró-Música
vislumbra oferecer um suporte para uma possível profissionalização musical destes
jovens e adolescentes.
2.3 Metodologia adotada na pesquisa
A presente pesquisa, sob a base de seu objetivo geral, trata-se de uma pesquisa
exploratória e que assume como metodologia a forma de estudo de caso. Empregando-
se como instrumentos de coleta de dados as observações de campo, questionários e
entrevista semiestruturada baseada em roteiro definido segundo os objetivos.
22
Por seu caráter eminentemente qualitativo, faz-se importante salientar que em
uma pesquisa com essa característica “o objetivo é construir uma memória experiencial
mais clara e também ajudar as pessoas a obterem um sentido mais sofisticado das
coisas” (BRESLER, 2007 apud BEZERRA, 2011 p. 13).
Maciel (2011, p. 15) afirma que “a análise qualitativa permite a exploração de
novas direções, aprofundando as questões em educação musical em sua variedade de
contextos culturais, institucionais e pessoais”. Para (GIL, 2002), a pesquisa
exploratória:
tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições (GIL, 2002, p.41)
Em relação ao estudo de caso, o autor afirma ser esta:
[...] uma modalidade de pesquisa amplamente utilizada nas ciências biomédicas e sociais. Consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos [...] (GIL, 2002, p. 54).
Pelo fato deste método de pesquisa apresentar grande tendência qualitativa,
garante-se aos entrevistados certa liberdade para as respostas acerca dos temas ou
dos objetos propostos.
No que concerne a coleta dos dados, Segundo Gil (2002):
o estudo de caso é o mais completo de todos os delineamentos, pois vale-se tanto de dados de gente quanto de dados de papel. Com efeito, nos estudos de caso os dados podem ser obtidos mediante análise de documentos, entrevistas, depoimentos pessoais, observação espontânea, observação participante e análise de artefatos físicos. (Ibid., 2002 p. 141)
Gil (2002, p. 140) sustenta que o processo de obtenção de dados no estudo de
caso é sempre mais complexo que o de outras modalidades visto que se exige dele a
utilização de mais de uma técnica, princípio este que não pode ser dispensado.
Assim sendo, para obtenção dos dados, esta pesquisa utilizou-se de entrevistas
semiestruturadas, de questionário e das observações dos ensaios da banda e das
23
aulas aplicadas aos alunos de trombone do projeto. O período em que se deu a coleta
foi de setembro a outubro de 2017.
As entrevistas semiestruturadas foram realizadas, no dia 11 de setembro de
2017, seguindo um roteiro, (APÊNDICE A) com 10 perguntas abertas. É importante
ressaltar que esse roteiro não restringiu as respostas dos alunos, inclusive havendo
possibilidade de acréscimo e subtração de perguntas durante a entrevista. Segundo
(VERGARA, 2009 apud BEZERRA, 2011 p. 14) “pode-se dizer que entrevista é uma
interação verbal, uma conversa, um diálogo uma troca de significados, um recurso para
se produzir conhecimento sobre algo”.
Nessa perspectiva, as questões levantadas nas entrevistas buscavam a
compreensão dos sentimentos dos alunos sobre o projeto em si, visto que nem sempre
o preenchimento de um questionário apenas com questões fechadas oferece uma
transmissão clara daquilo que cada aluno vem experimentando em suas práticas. Fato
observado quando da aplicação do questionário com todos os presentes, em que
alguns alunos respondiam as perguntas com o sim e o não ao mesmo tempo.
Foram escolhidos 05 alunos, já atuantes na banda de música, tomando como
critério de escolha a indicação, pelo coordenador, de alunos veteranos e calouros do
projeto, com intuito de que pudéssemos realizar um paralelo entre as visões dos alunos
antigos e dos novos em relação ao projeto, sobretudo no que se refere a seus
comportamentos, opiniões e críticas de modo geral. Proporcionando um
aprofundamento e possível elucidação de grande parte das questões levantadas nesta
pesquisa.
As entrevistas com as crianças foram realizadas no dia 11/09/2017 e em formato
de áudio, e por se tratar de menores de idade optou-se por identificá-los a partir do
instrumento que tocavam, nesse caso, foram entrevistados os alunos: TROMPA,
FLAUTIM, CLARINETA, VIOLINO E TROMBONE. Além disso, foi solicitada aos pais
dos entrevistados a devida autorização (APÊNDICE C) para a coleta dos dados. Já a
entrevista com o coordenador do projeto, o Suboficial ROMERO, foi realizada de forma
menos formal, no dia 18/10/2017, com ausência de roteiro e deixando-o mais à vontade
para tratar dos principais aspectos do projeto, sendo que ao longo de sua fala eram
realizadas perguntas mais pontuais, como em relação a compra do instrumental, dias
24
de ensaios, pedagogia adotada nas aulas, por exemplo. Como houve autorização
verbal para a identificação com seu nome real, no caso do Suboficial ROMERO, a
pesquisa não se utilizou de nome fictício.
O questionário (APÊNDICE B), que “é um conjunto de questões que são
respondidas por escrito pelo pesquisado” (GIL, 2002, p. 114), foi aplicado como uma
das técnicas de interrogação. Todos os integrantes da banda de música presentes ao
ensaio do dia 11 de outubro de 2017 (15 do total de 45 integrantes do projeto)
responderam a 11 perguntas elaboradas com o intuito de avaliar e compreender como
de fato o ensino musical do projeto tem contribuído para as transformações
socioculturais dos alunos envolvidos.
Por fim, as observações, as quais se realizaram no período de 11/09/2017 a
08/11/2017 sendo um total de 7 (sete) observações participantes que serviram de base
para a análise das características físicas do projeto como o salão de ensaio, materiais
disponíveis para estudos individuais, a reação de cada um dos jovens diante do
repertório trabalhado e também o comportamento dos alunos durante os ensaios da
banda de música, onde se realizaram as práticas pedagógicos com os alunos de
trombone.
25
3. AS AÇÕES SUBSIDIÁRIAS E OS PROGRAMAS SOCIAIS DO MINISTÉRIO DA DEFESA
Conforme o art. 142 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,
as Forças Armadas (FA) destinam-se “à defesa da pátria, a garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem” (BRASIL, 1988).
No entanto, há previsão, também neste mesmo artigo, de que por meio de Lei
Complementar2 (LC) sejam estabelecidas outras formas de atuação e emprego destas
instituições, assim sendo, constata-se neste dispositivo a base Constitucional das
chamadas Ações Subsidiárias. (LOURENÇO, 2012), em estudo realizado em diversas
universidades brasileiras, constatou que apesar do grande nível e facilidade de acesso
a informação que a vida contemporânea nos proporciona, muitas dúvidas pairam entre
os jovens universitários brasileiros no que se refere ao conhecimento destes em
relação às atividades principais das FA atualmente. Entre outras constatações,
considerou-se que o fato destas instituições serem empregadas de forma constante em
ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) faz com que, para muitas pessoas, a
prática da atividade de segurança pública seja também uma atribuição principal a cargo
das FA, no entanto, essa não é uma realidade. Segundo (LOURENÇO, 2012):
Estima-se que estes mesmos cidadãos, ao preverem o seu bem-estar pessoal, naturalmente esquecem-se do real papel constitucional que devem desempenhar as Força Armadas do Brasil, como previsto na Constituição Federal de 1988. Aliando os bons resultados obtidos à sensação de segurança advinda destes, a sociedade brasileira pode ser influenciada a pensar que o emprego em GLO, ou combate ao crime organizado, seja a principal tarefa das Forças Armadas na atualidade. (Ibid., 2012 p. 10)
Também nesta pesquisa o autor cita um trabalho realizado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) que dentre outras conclusões, aponta que para
grande parte da sociedade brasileira, as FA, em que pese não ser essa uma atividade
atribuída pela constituição (CF), deva também atuar no papel de combate a
criminalidade (LOURENÇO, 2012 p. 34). Nesse sentido, é possível inferir que, para a
sociedade brasileira, a missão das FA prevista na nossa Lei Maior não deveria ser
2 Segundo o art. 69 da CF, Lei Complementar é a lei que necessita da aprovação da maioria absoluta da Casa Legislativa na qual está sendo realizada a votação. (BRASIL,
1988)
26
apenas aquela estabelecida de maneira explícita no art. 142 da CF. Todavia, realmente
não é, uma vez que a LC 97/993, que trata das Atribuições Subsidiárias Gerais, em seu
art. 16 prevê que as FA devem “cooperar com o desenvolvimento nacional e defesa
civil”, e ainda, incluído pela LC 117/2004, seu parágrafo único estabelece a
“participação em campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse social”
(Ibid., 2012 p. 23).
Assim sendo, observa-se que é também papel dessas instituições contribuir com
o desenvolvimento nacional e a defesa civil, atuando de maneira direta a diversos
segmentos da sociedade, apoiando eventos comunitários, ações cívico-sociais
(ACISOS), socorro a desastres naturais e campanhas de saúde pública em lugares
remotos do país, como o exemplo da Figura 1. Todas essas ações estão dentro das
chamadas Ações Subsidiárias 4 das FA.
FIGURA 1. Navio Hospital da Força Aérea Brasileira.
Fonte: Ministério da Defesa
3 Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas.
4 Disponível em: acesso em 03/09/2017
http://www.defesa.gov.br/programas-sociais/acoes-subsidiarias
27
É no contexto dessas ações que surgem os Programas Sociais apoiados pelo
Ministério da Defesa (MD), os quais buscam, dentre outras finalidades, o estreitamento
e a harmonia das relações existentes entre a Defesa Nacional e a Sociedade.
Entre os principais programas sociais desenvolvidos pelo MD, encontra-se o
Programa Força no Esporte (PROFESP)5, uma vertente do Programa Segundo Tempo6
do Governo Federal e que tem o apoio de outros Ministérios, como o do Esporte, o de
Desenvolvimento Social e o Agrário. Tendo como uma de suas finalidades a
democratização do acesso à prática e à cultura do esporte e a busca pelo
desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. São mais de 90 cidades em todo
país em que o programa se desenvolve, tendo as crianças assistidas, de acordo com o
divulgado no site do MD, faixa etária entre 6 a 18 anos.
Como apontado por Freitas e Weiland (2014), as instituições públicas são
consideradas uma das diferentes formas de “agências de financiamento de projetos
sociais” e é desta relação que surgem programas sociais como este, e outros ofertados
nas diferentes esferas de Governo (Federal, Estadual e Municipal) em as quais a
música é, ou pode ser, utilizada como meio de socialização, profissionalização e
integração dos indivíduos. Desta maneira, conforme aqui tratado, os programas sociais
oriundos do Ministério da Defesa são, então, objetos desta relação, onde órgãos
públicos são agentes propiciadores de práticas sociais voltadas às variadas demandas
da sociedade.
3.1 As Bandas Militares
Desde o Brasil colônia até o início do sec. XVII quando do desembarque de
família real portuguesa na cidade do Rio de Janeiro - RJ, em 1808, verifica-se que as
bandas de música, ao longo de sua história, exerceram importantes papeis junto a
sociedade. Segundo Campos (2008):
5 Disponível em: acesso em: 03/09/2017
6 “O Segundo Tempo como Programa Estratégico do Governo Federal tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte de forma a promover o
desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente em áreas de
vulnerabilidade social”. Disponível em: Acesso em 03/09/2017.
http://www.defesa.gov.br/programas-sociais/programa-forcas-no-esportehttp://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempohttp://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo
28
[…] com as bandas organizadas pelas irmandades religiosas e pelos senhores de engenho […] os músicos tocavam em troca do aprendizado de leitura e escrita, e especificamente em busca do aprendizado musical (CAMPOS, 2008 p. 105).
Posteriormente vem a se tornar fonte de renda e também instrumento de
socialização de muitas cidades. De acordo com Almeida (2011) “As Bandas de música
são manifestações musicais que representam a camada mais popular da sociedade”
(ALMEIDA, 2011 p. 12) e nessa análise nada melhor do que a promoção de algo que é
tão representativo para a população, quanto é o trabalho realizado pelas bandas de
música das instituições militares.
Dessa característica pode-se depreender um dos motivos para a criação das
bandas militares, uma vez que, por meio do papel integrador da música, as instituições
militares buscam uma genuína aproximação com a sociedade da qual pertencem. Além
disso, as bandas militares serviram de modelo para as demais bandas que surgiram ao
longo do tempo, “a Banda da Brigada Real que, embora arcaica, serviria de modelo
para as bandas que seriam formadas no novo império” (Ibid., 2011 p. 13).
Assim como a atuação das FA junto aos diversos segmentos da sociedade,
apoiando os eventos comunitários, ações cívico-sociais, campanhas de saúde pública
e socorro aos brasileiros residentes em lugares atingidos por desastres naturais, essas
instituições, por meio de suas bandas de música, prestam-lhes um importantíssimo e
valoroso papel que se materializa em concertos e representações em ações cívico-
sociais. Além disso, as bandas desempenham um grandioso papel interno, que é o de
elevar o moral da tropa através dos hinos pátrios, dobrados e canções populares. Para
Lima (1958 apud PASSOS, 2017 p. 2) "as bandas de música são excelentes fatores de
cultura artística e concorrem poderosamente para o desenvolvimento do bom gosto do
povo". Passos (2017) afirma:
É sabido que a atuação da banda de música influencia, espontaneamente, todo o efetivo de uma unidade militar e, quando levada para além dos muros da caserna, causa admiração, provocando aplausos. Isto gera, nos bons patriotas, intenso desejo de ingresso na vida castrense. Quem de nós poderá afirmar que nunca se emocionou ao ver e ouvir uma banda de música executar hinos pátrios ou desfilar garbosa, despertando uma irresistível vontade de marchar ou cantar? É pura magia em forma de convite para avançar, como Napoleão Bonaparte afirmou: "Ponha uma banda de música na praça e o povo a seguirá para a festa ou para a guerra". (PASSOS, 2017 p.1)
29
De maneira genérica, banda é um conjunto musical formado por instrumentos de
sopro e percussão (BINDER, 2006, p. 8). As bandas de música foram, a partir do Séc.
XIX, uma das instituições que mais contribuíram para a formação dos músicos das
orquestras, além de terem sido uma das mais presentes e populares daquele período
(SALLES, 1985 apud BINDER, 2006, p. 08).
Binder (2006) afirma que são predominantes na historiografia musical brasileira
os termos banda civil e banda militar, tendo este se popularizado no séc. XIX em
referência a bandas que “tinham funções militares específicas e eram mantidas por
instituições ou oficiais militares ou um conjunto com certa formação instrumental sem
vínculos ou tarefas militares” (POLK, 2001 apud BINDER, 2006 p. 14-15).
Observa-se que existia ambiguidade de conceito, uma vez que grupos sem
caráter militar, por vezes também assim eram designados, o que veio a ser criticado e,
posteriormente, ensejou a recomendação de que se usasse o termo bandas de sopros
mistas para se referir a estes conjuntos sem “tarefas militares” e banda militar para
aqueles especificamente mantidos por instituições militares (POLK, 2001 apud
BINDER, 2006 p. 15).
O autor ainda aponta algumas funções da música dentro das forças armadas,
que seriam: “desenvolver o espírito de corpo e o moral da tropa, prover com música as
cerimônias militares e prover com atividades sociais e recreativas” (CAMUS, 1976 apud
BINDER, 2006 p. 15). Sendo um importante elemento na representação da monarquia,
é provável que a banda militar tenha se favorecido dessa exposição decorrente das
várias formas de atuação junto à família real e ao estado.
As bandas militares inicialmente atuam como fator simbólico e instrumento
divulgador da instituição à qual está vinculada, contudo, cada vez mais, tem assumido
o papel de resguardo profissional e estabilidade para grande parte dos músicos
oriundos das bandas existentes no país. (PASSOS, 2017 p. 1) aponta que no passado
comumente os integrantes das bandas de música militares eram autodidatas no
tocante a sua formação musical. Porém, hoje já existem cursos de formação de
músicos militares, tanto no âmbito das FA (Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e
Força Aérea Brasileira), quanto nas forças auxiliares (Polícias e Bombeiros militares),
se não em todos, mas em grande parte dos estados brasileiros.
30
Desta forma, Para Almeida (2011), as bandas, além de sua função de
divulgação da cultura musical, “assumiram a função e a responsabilidade educativo-
musical junto a uma grande parte dos jovens que dificilmente teriam acesso a escolas
formais de música” (ALMEIDA, 2011. p. 12).
31
4. O PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ MÚSICA - ONDAS MUSICAIS - IDEALIZAÇÃO
Em 2015, por iniciativa das Voluntárias Cisne Branco de Natal-RN, e tendo o
Suboficial (FN-MU) José Romero Gomes Rodrigues, músico da Banda do Grupamento
de Fuzileiros Navais de Natal, como coordenador, foi criado o Pró-Música Ondas
Musicais, o qual se destinou ao ensino da música e de oportunizar aos jovens e
adolescentes que fossem dependentes de servidores militares e civis da Marinha em
Natal-RN, o aprendizado de um instrumento musical e de participar de um grupo
demasiadamente rico em relações sociais como uma banda de música. Nas palavras
de seu coordenador, o Pró-Música destina-se a
[...] dar a oportunidade aos jovens e adolescentes para aprenderem música; ampliar o conhecimento musical e cultural dos participantes, por intermédio de aulas teóricas e práticas; integrar socioculturalmente [...]; e desenvolver competências cognitivas e também despertando o interesse pela profissionalização musical (RODRIGUES, 18/10/2017).
Assim como os programas sociais mencionados (o PROFESP, por exemplo), O
Pró-Música vislumbra a formação plena dos jovens e adolescentes por meio da música.
No entanto, mesmo com o caráter social de suas práticas educativo musicais, o projeto
possui características que o diferencia de alguns modelos de projetos sociais, a
exemplo daqueles abordados por Kleber (2006). Diferencia-se dos demais,
principalmente, pelo fato de seus alunos não estarem em situação de risco social.
Nessa análise, segundo a perspectiva de (NASCIMENTO, 2014):
Os projetos sociais destinam-se às pessoas – sobretudo às crianças e jovens – que vivem em situação de risco social, ou seja, em situação de extrema vulnerabilidade social, caracterizada por diversas circunstâncias, tais como extrema pobreza, reduzido acesso aos benefícios sociais disponibilizados pelo Estado, vivência em situação de rua. (NASCIMENTO, 2014 p. 53)
É certo que as crianças do Pró-Música não são jovens em situação de risco
social, todavia, a preocupação dos pais em lhes oferecer uma oportunidade de
socialização e de plena formação fez com que o projeto fosse colocado em prática.
Preocupavam-se com que os jovens e adolescentes não apenas recebessem aulas de
um instrumento especificamente (como o violão), pois essa, antes de mais nada, era
32
uma das propostas iniciais da associação quando da viabilização do projeto, mas que
dispusessem de um mecanismo completo de formação. Em entrevista com o
coordenador, ele esclarece:
Quando soube que as voluntárias desejavam criar um projeto que ofertasse aulas específicas de instrumento, que no caso seria de violão, sax alto, etc logo, resolvi procurar a associação e sugeri que ao invés dessa proposta, pensassem na criação de um projeto que ofertasse muito mais e propus que fosse criada uma banda de música [...] (RODRIGUES, 18/10/2017).
Houve o interesse em que o projeto se tornasse um arcabouço para a
profissionalização musical destes jovens, tanto no âmbito musical civil, quanto militar,
ingressando nas diversas bandas militares espalhadas Brasil a fora. Atualmente, em
diversos estados da federação é possível encontrar corporações militares nas quais as
bandas estão presentes, tanto no âmbito das Forças Armadas, quanto nas Forças
Auxiliares (Polícias Militares, Corpos de Bombeiros e também em algumas Guardas
Municipais). Dessa maneira, integrar sócio-culturalmente estes jovens e adolescentes,
assim como desenvolver suas competências cognitivas e dar-lhes meios necessários
ao interesse pela profissionalização musical são vistos como objetivos primeiros do
projeto.
Das características ora apontadas, é possível concluir que apesar de predominar
a pedagogia tradicional, pois o projeto “Atua no preparo intelectual e moral dos alunos
para assumir suas posições dentro da sociedade [...]” (LIBÂNEO, 1994 apud
CISLAGHI, 2011 p. 65), existe obviamente na proposta do Pró-Música Ondas Musicais
traços da pedagogia tecnicista, uma vez que ele também “Busca a aquisição de
habilidades e conhecimentos específicos, úteis e necessários de forma que os
indivíduos se integrem ao sistema global [...]” (LIBÂNEO, 1994 apud CISLAGHI, 2011
p. 66).
O Departamento Voluntárias Cisne Branco (VCB) é um segmento do Abrigo do
Marinheiro7, organização civil sem fins lucrativos, que tem o propósito de contribuir
7 O Abrigo do Marinheiro é uma associação civil, sem fins lucrativos que se destina a promover qualidade de vida à Família Naval. Com sede na cidade do Rio
de Janeiro. As demais unidades estão em Distritos Navais e Comandos fora da área Rio, e são constituídas por Departamentos Regionais do AMN (DRAMN).
Fonte < http://www.abrigo.org.br/> acesso em: 07/10/2017
http://www.abrigo.org.br/
33
para o bem-estar dos militares e servidores civis da Marinha, por meio de atividades
sociais complementares àquelas já realizadas pela MB. Tendo sido implantado no dia
20 de dezembro de 2008, a partir da iniciativa das esposas dos oficiais da Marinha, o
Departamento Voluntárias Cisne Branco (VCB) conta com o apoio de patrocinadores,
parceiros e voluntários para promover projetos e ações sociais de apoio à Família
Naval. Segundo o supervisor, o Pró-Música “atualmente beneficia 45 crianças e
adolescentes, sendo 35 já atuantes na banda de música e os demais estão nas aulas
iniciais de teoria musical” (RODRIGUES, 18/10/2017).
4.1 Banda Ondas Musicais
Os alunos participantes do projeto são crianças e adolescentes, sendo que o
critério para a participação na banda, ou fazer as aulas de teoria musical, é ter a idade
mínima de 7 e máxima de 24 anos e, obrigatoriamente, ser dependente de servidor
militar ou civil da Marinha. No tocante a estes requisitos, vale salientar que existe uma
expectativa de ampliação do acesso ao projeto, mesmo que remota, mas apenas por
parte dos próprios alunos, visto que alguns conhecem outros adolescentes
interessados em participar da banda de música, mas que não possuem o vínculo com a
instituição, impossibilitando assim o acesso. Porém, para o coordenador do projeto,
essa possibilidade ainda não tem previsão de implementação, mesmo ele afirmando
receber inopinadamente algumas mães de adolescentes da região do bairro das
quintas interessadas em saber sobre o funcionamento e ingresso no projeto.
Com o apoio da Banda de Música do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal,
a Banda Ondas Musicais tem realizado apresentações tanto para o público interno da
Marinha, quanto para públicos externos. A apresentação realizada na abertura da
“Semana de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte”, na cidade
de Santa Cruz, Rio Grande do Norte, é uma das várias atividades realizadas pelo
projeto.
34
FIGURA 2. Banda Ondas Musicais em apresentação realizada em Santa Cruz - RN.
Fonte: Com 3º DN.
Todo o instrumental de sopros e percussão da Banda Ondas musicais foi
adquirido com recursos da iniciativa privada, através de doações. Segundo o
coordenador:
Os instrumentos foram comprados através de doações da iniciativa privada, quando a diretora das voluntárias cisne branco, por ocasião da sua idealização conseguiu viabilizar a aquisição de vários instrumentos de sopro e percussão e assim conseguimos dar início às aulas (RODRIGUES, 18/10/2017).
Recentemente, o projeto adquiriu mais instrumentos, viabilizando assim a
proposta de que se transformasse a banda numa orquestra filarmônica. Foram
comprados violinos, violas, violoncelos e contrabaixos, com o intuito de que se
concretizasse aquele objetivo. Como já mencionado, o projeto é mantido por uma
associação sem fins lucrativos, porém apoiada por uma instituição de Estado,
entretanto, em relação aos instrumentos musicais obtidos para a Banda, é preciso
ressaltar que foram todos adquiridos por meio de doações privadas.
35
FIGURA 3: Orquestra Ondas musicais em apresentação em escola privada.
Fonte: Voluntárias Cisne Branco
Já a Marinha, além de pessoal e instalações, apoia com a manutenção dos
instrumentos musicais através da oficina de reparos de instrumentos musicais e
também com professores especializados em instrumentos, músicos da Banda de
Música do GtpFNNa.
36
FIGURA 4: A orquestra Filarmônica Ondas Musicais em sua primeira apresentação pública com instrumentos de cordas.
Fonte: Com 3º DN
Importante dar destaque ao fato de haver certa instabilidade no quantitativo dos
componentes da Banda, sendo um dos principais motivos para esse fato as
movimentações ou transferências relativas ao interesse do serviço às quais os pais dos
alunos estão sujeitos, demandando do coordenador maior desenvoltura para lidar com
as mudanças que ocorrem no grupo. Mesmo assim, há entre os que ficam um grande
nível de valorização da oportunidade que possuem, para o coordenador “o
envolvimento dos jovens nas atividades da banda é muito bom” (RODRIGUES,
18/10/2017).
4.2 Ensaios e aulas individuais
Os ensaios são realizados, geralmente, duas ou três vezes por semana na sede
da associação dos Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais, seccional Natal-RN,
37
entidade também vinculada à Marinha e que apoia o projeto cedendo o espaço para a
realização dos ensaios e apresentações. Além disso, o projeto dispõe de uma sala de
aula que se destina às aulas de teoria musical e também para estudos individuais dos
alunos.
FIGURA 5: Sede da Associação de Veteranos do CFN, localizado no bairro das Quintas.
Fonte: O autor
38
FIGURA 6: Salão onde são realizados os ensaios e aulas individuais.
Fonte: O autor
Ao menos uma vez por semana os alunos novatos recebem aulas individuais de
instrumento com o supervisor ou com um professor músico da Banda do GptFNNa, a
depender de seu instrumento. Também recebem essas aulas os alunos mais antigos,
pois em alguns momentos de mudanças de repertório podem existir dúvidas que
apenas podem ser sanadas eficazmente com a percepção de um músico mais
experiente no instrumento.
39
FIGURA 7: Banda Ondas Musicais em ensaio realizado no dia 18/10/2017.
Fonte: O autor
Durante as observações realizadas nos ensaios percebe-se o grande nível de
disciplina dos alunos, logicamente, em alguns momentos, um ou outro se dispersa,
mas nada que fuja do controle do maestro. É possível que este fato se deva a
consciência dos jovens de que participam de um projeto social, que não é
necessariamente militar, mas que possui, mesmo que implicitamente, a ideia da
hierarquia e da disciplina, base institucional das FA. Como já esclarecido, vários
professores do projeto, inclusive o próprio coordenador são músicos militares.
Essa perspectiva é abordada por Cislaghi (2011) ao dizer que se encontram
presentes nas bandas características militares, que se evidenciam nos aspectos da
marcialidade, hierarquia entre os integrantes, vestimenta e outros (CISLAGHI, 2011 p.
64).
No que se refere às aulas iniciais de teoria musical o professor afirma que:
Quando o aluno conclui aulas iniciais de teoria musical, e já consegue ler as partituras, é preciso que ele atinja um número pré-determinado de lições do método para que então receba um instrumento musical de seu interesse. Geralmente eles são quem escolhem qual
40
instrumento desejam tocar, aí vai depender da disponibilidade para que recebam ou não o que pediram (RODRIGUES, 18/10/2017).
Observa-se aqui a característica tradicional no processo pedagógico adotado,
pois são “enfatizados exercícios sistematizados, e repetidos conceitos e fórmulas na
memorização” (LIBÂNEO, 1994 apud CISLAGHI, 2011 p. 65). No entanto, é
compreensível esse procedimento, uma vez que ao se iniciar um projeto como este
espera-se dele resultados rápidos e objetivos, como apresentações públicas, um
número razoável de alunos já estudando os instrumentos. Diante disso, a proposta
tradicional parece ser uma das melhores opções. Evidentemente, não se trata aqui de
uma afirmação, mas apenas de uma proposição.
Nesse sentido, quando da realização das entrevistas com os 05 alunos
selecionados, todos indicaram que a maneira como as aulas eram ofertadas atendia
eficazmente a suas demandas. Os alunos aprovam a proposta de ensino, pois nas
entrevistas as respostas foram unânimes nesse sentido. A aluna Trompa (2017), por
exemplo, que é uma das mais novas do projeto, afirma:
Consigo compreender, [...] o que o professor ensina ajuda na hora de você tocar qualquer outra coisa. Por exemplo, nota branca eu sei que é uma coisa chata, mas que ajuda, porque [...] na hora o professor passa uma música e ele tem que ficar passando e fala que o problema é a nota branca que ajuda em tal coisa, aí quando você faz você percebe que é verdade, que você precisa mesmo (TROMPA, 11/09/2017).
Já a aluna Flautim (2017) cita a diferença do ensino musical que existe entre as
aulas do projeto e as aulas que recebe em sua escola regular, na qual também há
aulas de música: “[...] na minha escola as vezes eu não consigo [aprender], entendeu,
porque o professor ensina de forma diferente, já aqui não, aqui é de uma forma que eu
compreendo” (FLAUTIM, 11/09/2017).
4.3 Sobre o Professor
O Suboficial (FN-MU) José Romero Gomes Rodrigues é trombonista e integrante
da Banda de Música do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal. Em 2015, a convite
da diretora da associação voluntárias Cisne Branco, seccional Natal-RN, aceitou o
41
desafio de levar em frente a proposta de dar aos jovens a chance de aprenderem
música e participarem de uma banda de música.
Dos diálogos realizados com o supervisor do projeto fica bastante nítida sua
satisfação em estar compartilhando o seu conhecimento e, mais ainda, proporcionando
a oportunidade destes jovens a almejarem para além da prática de instrumento, uma
carreira profissional. Evidenciando a característica tradicional e ao mesmo tempo
tecnicista da proposta pedagógica do projeto, apontados por Libâneo (1994).
Quando perguntado sobre a visão geral que tem em relação ao projeto,
Rodrigues (2017) afirma:
Esta iniciativa foi muito boa, pois por meio da banda conseguimos evitar que nossos filhos fiquem ociosos e, com certeza, fazer com que eles possam estar aqui se socializando e, mais do que isso, aproveitando uma oportunidade que nem todos podem usufruir; é satisfatório pra mim. Eu vejo o projeto como qualquer outro projeto social, buscamos aqui fazer com que não vejam a atividade musical como simplesmente aprender um instrumento e ficar por isso mesmo, queremos que possam almejar a profissionalização, que pensem em talvez futuramente prestar o vestibular para a licenciatura em música, ou mesmo tentem o ingresso na carreira militar. Acredito que isso é importante e é isso que o projeto busca (RODRIGUES, 18/10/2017).
Como o Pró-música apresenta detalhes que o diferencia de outros projetos
sociais, buscou-se durante a entrevista com o coordenador entender se ele enxerga
esta diferença ou não. Resta claro em sua resposta que não, e assim é possível
entender que a perspectiva adotada tem sim o foco nos alunos, em seus
desenvolvimentos, e não apenas na pura prática musical.
42
5. O PAPEL INTEGRADOR DE UMA BANDA DE MÚSICA
Como tratado até aqui, os jovens alunos do Projeto de Musicalização Pró-Música
Ondas Musicais não são oriundos de famílias carentes ou em situação de risco social.
No entanto, a integração social também lhes é indispensável. Campos (2008) aponta
para o seguinte:
O fator da inclusão social é de suma importância se for considerada a falta de oportunidade que determinados alunos, especialmente de escolas públicas, possuem fora do ambiente escolar. Em sua maioria, os alunos vêm de uma família que não tem condições de comprar um instrumento ou de investir financeiramente em aulas de música. (CAMPOS, 2008 p. 107)
A partir desta afirmação de Campos (2008), lembro que, em 2004, na cidade de
São Miguel dos Campos – AL, quando do meu ingresso na banda Maestro Bráulio
Pimentel, que pertencia a prefeitura daquela cidade, percebi o quão importante foi para
meu desenvolvimento estar inserido em uma banda de música. Cursava, naquele
momento, o 2º ano do ensino médio, no qual não havia aulas específicas de música e
nem minha família dispunha de meios suficientes para que eu realizasse aulas
particulares, muito menos que comprasse um instrumento musical próprio. E mesmo já
atuando em uma banda de música na igreja evangélica Assembleia de Deus, eu não
possuía naquele momento recursos, nem oportunidade de um estudo musical mais
aprofundado. Mas, a recém-criada banda da escola de música da cidade, trouxe-me
essa possibilidade.
E assim, consegui iniciar os estudos musicais e fui percebendo logo como era
diferente participar de uma instituição cujo objetivo era a promoção de algo tão valioso
para a população daquela cidade, quanto é a manutenção da expressão cultural e dos
valores sociais tradicionais inerentes à cada região,
o ensino de música por meio de bandas têm contribuído positivamente para o processo de reconstrução da identidade sócio cultural em diversas comunidades, promovendo crescimento pessoal e integração entre os envolvidos (SEVERO, 2015 p. 15).
43
E também “as atividades desenvolvidas pelas bandas contribuem tanto para a
aquisição de valores e incorporação de comportamentos quanto para a ampliação de
experiências musicais” (CAMPOS, 2008 apud CISLAGHI 2011, p. 65).
Pelo exposto, entendo que consegui ampliar e melhorar minhas experiências de
uma maneira geral com as pessoas, e por vezes me sentindo diferenciado entre meus
amigos, pelo simples fato de ser o único entre eles que tocava na banda de música da
cidade.
Os ambientes das bandas de música são, sem dúvidas, espaços onde o
aprendizado musical ocorre em meio a diversas outras práticas sociais, nesse sentido
“É importante considerar não apenas os aspectos ligados à prática musical, mas aos
conhecimentos resultantes das relações de socialização [...]” (CAMPOS, 2008 p. 107).
Ao conviver no ambiente de uma banda de música pude extrair ensinamentos
valiosíssimos tanto para minha vida pessoal, quanto profissional. De maneira que
considero ser esta, a experiência na banda de música, um divisor de águas em minha
vida, pois foi a partir dela que, definitivamente, tracei o caminho, ao qual decidi seguir,
que foi o da carreira musical profissional. A banda de música exerce uma função
integradora e “possibilita uma melhora na qualidade de vida das crianças e jovens
atendidos, além de possibilitar uma possível profissionalização” (CISLAGHI, 2009 apud
SEVERO 2015 p. 16).
Ao refletir sobre os diferentes aprendizados que a banda de música pode
proporcionar, (CAMPOS, 2008, p. 107) esclarece que “Vínculos são formados a partir
da relação que os participantes estabelecem uns com os outros e com a música –
vínculos baseados na amizade, no reconhecimento, na disciplina e no prazer
proporcionado pela prática musical”. Enfatizando assim, que não basta que se faça a
música como fim em si mesma, mas que dela se busque atingir várias outras metas
pessoais e sociais também.
Percebe-se assim as bandas de música, em suas múltiplas perspectivas, mas
principalmente, como sendo um instrumento fundamental de promoção da função
integradora que possui a música. E nesse sentido, (SEVERO, 2015) aponta que,
o papel social das bandas de música torna-se bastante perceptível, visto que por meio delas, busca-se perpetuar os valores tradicionais de uma determinada
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região, preocupando-se com a manutenção de uma tradição, baseada na construção pessoal e coletiva de seus membros. Faz-se desse modo, um movimento transformador da realidade de muitos jovens, que poderiam estar às margens da criminalidade ou mesmo sem perspectiva de atuação profissional. (SEVERO, 2015 p. 16)
Ao buscar essa participação na banda Bráulio Pimentel, buscava me inserir em
um grupo que pudesse me proporcionar este sentimento de pertencimento social, ou
seja, de exercício efetivo de meu papel como cidadão. O que converge ao pensamento
assinalado em Bezerra (2011), quando o mesmo remete a perspectiva apontada por
Bréscia (2003):
Além de favorecer momentos de intimidade, interação, integração, cantar ou tocar algum instrumento em grupo promove um vínculo especial entre as pessoas envolvidas e uma sensação de pertencer que é primordial para o bem-estar do ser humano (BRÉSCIA, 2003, apud BEZERRA 2011 p. 19).
E nesta análise destaco o que diz Maciel (2011):
A presença da música como elemento de integração e formação nos diferentes projetos sociais parte do pressuposto que ela constitui-se fator que favorece a transformação dos grupos e indivíduos participantes. Busca assim causar impactos na sociedade através da interação social, da construção e exercício da cidadania, da promoção da dignidade humana, entre outros fatores (MACIEL, 2011 p. 12)
A vivência que tive numa banda de música favoreceu sem dúvidas não apenas a
minha construção como cidadão, como também minha tomada de decisão quanto a
uma formação profissional, até aquele momento da vida, ainda adolescente, pois não
vislumbrava nenhum tipo de carreira. Porém ao se aproximar dos 18 anos comecei a
perceber que ainda não me sentia seguro, nem focado numa possível profissão. E o
que é pior, as condições financeiras de minha família me impulsionavam a ter que
trabalhar o quanto antes.
Neste pensamento, Severo (2015) esclarece que:
Através desta transformação por meio da tradição, em um contexto sociocultural diferenciado, as bandas de música, percebe-se que há como objetivo, não só a formação musical, mas também a formação pessoal de seus jovens músicos, possibilitando assim, a construção de projetos de vida através do fazer musical (SEVERO, 2015, p.16)
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Os dilemas aqui citados são bastante comuns, é claro, não apenas no âmbito de
projetos sociais ou bandas de música. Mas, assim como minha experiência na Banda
Maestro Bráulio Pimentel, os alunos do Pró-Música podem em determinado momento
se defrontarem com este tipo de situação. Pois é justamente isto que a prática
pedagógico-musical através da banda de música busca evitar, oferecendo de antemão
a estes adolescentes uma possibilidade profissional.
A partir destas perspectivas, ao se realizar a análise das entrevistas com uma
porcentagem do grupo pesquisado, infere-se que existe entre alunos um interesse pela
continuidade dos estudos musicais, o que evidencia a eficiência do projeto. Os alunos
não buscam a prática musical tão somente, mas enxergam nela uma excelente
oportunidade de profissão.
Por exemplo, a aluna Clarineta, em resposta a pergunta sobre os motivos que a
levaram ingressar no projeto e estudar música, afirmou o seguinte:
[...] eu sempre fui apaixonada pela música, [...], e também meu instrumento, porque eu já conhecia este instrumento antes, aí eu fui ver uma apresentação da banda né, por que eu não era do projeto ainda, então eu vi este instrumento, daí falei, eu quero tocar esse instrumento (CLARINETA, 11/09/2017).
A aluna Clarineta (2017) ao tratar sobre sua participação no projeto aponta para
a visão de que “continuaria pra sempre [no projeto] tanto é que eu quero me formar em
música”. (CLARINETA, 11/09/2017).
Interessante notar que este é um dos objetivos do projeto, e que vem sendo bem
assimilado pelos alunos de forma satisfatória. A partir do questionário aplicado a todos
os componentes da banda, constata-se que apenas 20% do total de alunos presentes
que responderam ao questionário afirmaram que não tinham a carreira profissional na
música como uma opção para suas vidas. Ou seja, para a grande maioria (80% dos
presentes) seguir a carreira é uma opção, o que aponta a efetividade das propostas
estabelecidas pelo Pró-Música, neste caso, no que concerne a possível
profissionalização na área musical.
5.1 O nível de autoestima apresentado pelos participantes
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Ao assistirem a apresentações de outros grupos musicais os jovens afirmam que
passaram a sentir o desejo de participar de algo semelhante e que a oportunidade
oferecida pelo Projeto foi de grande importância nesse sentido. A aluna FLAUTIM, ao
dizer da motivação para estudar música, afirma:
Meu interesse mesmo de vir pra uma banda foi quando eu vi uma apresentação da orquestra do IFRN, eu fui à apresentação do colégio também aí eu achei muito lindo e fiquei muito interessada em participar da banda do projeto (FLAUTIM, 11/09/2017).
No entanto não basta tão somente que o aluno queira participar, existe diversos
fatores que influenciam no processo de construção da autoestima. Nessa visão
Schultheisz e Aprile (2013) trazem uma análise interessante ao dizerem que:
As condições sociais e culturais possibilitam e estabelecem limites para que o indivíduo se desenvolva e se "torne pessoa". Por meio de processos educativos, o indivíduo assimila valores, regras e princípios que começam a fazer parte de si e identificam o seu “eu” como um ser único e individual, que se diferencia dos outros. O processo de individuação e de constituição do "eu" requer anos de vivência e de experiência. Também sofre a influência das produções dos "outros", tais como, a música, a literatura, a pintura, o cinema, o
teatro, entre outras. (SCHULTHEISZ e APRILE, 2013, p. 38)
As apresentações da banda de música se revelam como excelente fator de
melhora da autoestima dos alunos, isto se evidencia a partir da aplicação do
questionário, onde todos os alunos responderam “sim” às questões de número 3 e 7,
as quais indagavam se tanto eles quanto seus familiares (pais) gostavam de sua
participação no projeto. A aluna VIOLINO, sobre participar do projeto, afirma que seus
pais “apoiam, acham muito legal e meu irmão também, até de vez em quando quer
tocar” (VIOLINO, 11/09/2017). Para Schultheisz e Aprile (2013, p. 37),
Os relacionamentos familiares exercem papel fundamental na visão e/ou aceitação que o indivíduo tem de si [...]. Uma criança cuja mãe é superprotetora, que não lhe permite sair, brincar com amigos, vivenciar costumes diferentes, adquirir outros referenciais de relacionamento e, ainda, recebe críticas por tudo que realiza, é bem provável que não acreditará em seu potencial, não se sentirá segura para executar quaisquer atividades e certamente apresentará baixa autoestima (SCHULTHEISZ e APRILE, 2013, p. 37)
Essa visão positiva dos alunos em relação a participação na banda de música
reflete um sentimento de importância que eles sentem junto a seus familiares, ao
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mesmo tempo que lhes garante um sentido de competência pessoal e de gostar
daquilo que está fazendo.
5.2 Sociabilidade
Ao ser indagada sobre as possíveis dificuldades para se relacionar com outras
pessoas antes do ingresso no projeto, a aluna CLARINETA esclarece:
No projeto foram tantas pessoas ao mesmo tempo tive que me relacionar, que eu de alguma forma acabei aprendendo , antes eu não sabia como [...]. Eu fui falando com todos os colegas, conhecendo e ai eu peguei o jeito, digamos assim (CLARINETA, 11/09/2017).
Isto indica que a aluna CLARINETA apresentava certo nível de dificuldade de
relacionamento antes de seu ingresso no projeto. Possivelmente podendo estar
relacionada com o fator idade. Já a aluna TROMPA afirma que achava difícil o
relacionamento com crianças mais velhas:
Com as crianças da minha idade era normal, mas com as crianças mais velhas era mais difícil, eles falavam algumas coisas que eu não entendia, o pessoal adolescente fala coisas que crianças não conseguem entender e isso dificultava. Antes eu achava mais difícil, mas agora depois de entrar na banda eu já estou mais acostumada (TROMPA, 11/09/2017).
O aluno TROMBONE sobre sua forma de socializar antes da banda diz:
Eu era muito vergonhoso e não gostava de fazer amizade com ninguém, só gostava de ficar na minha mesmo, sabe? Escutando a minha música e ficava lá sozinho e através das apresentações que aconteceram e eu perdi a vergonha de me relacionar com outras pessoas e fazer outras amizades (TROMBONE, 11/09/2017).
Para alguns alunos a participação em um grupo como este pode ser o primeiro
elemento de criação de laços afetivos fora do âmbito familiar, muito embora para a
grande maioria o projeto não é a única prática da qual participam, muitos fazem
natação, por exemplo. A questão de número 4 do questionário tratou sobre a relação
existente entre os integrantes da banda e apenas 13% não considera bom o
relacionamento existente.
5.3 A aprendizagem musical
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Como estabelecido nos objetivos do projeto, a profissionalização musical é um
fator a ser levado em consideração e sobre isso a maneira como as aulas são
ministradas fará grande diferença para o crescimento musical dos alunos. Nas
entrevistas todos os 5 alunos indicam que a pedagogia aplicada nas aulas é bastante
eficiente. Todos consideram boa a forma como os professores ministram as aulas,
apontando, entretanto, algumas dificuldades relacionadas a questões individuais.
Exemplo disso está na resposta da aluna CLARINETA, que analisa as aulas afirmando:
“no geral, as aulas como são passadas são boas, o negócio é prestar atenção, a forma
como são passadas são ótimas, eu particularmente tenho mais dificuldade quando
estudo o compasso 6/8 por que é uma coisa muito difícil”. (CLARINETA, 11/09/2017).
Ao perguntar sobre o nível de aprendizado diante das aulas assistidas, a aluna
FLAUTIM diz que “a maneira como são aplicadas as aulas é boa, eu consigo aprender,
apesar de que eu tenho mais dificuldade com a teoria, eu prefiro a prática, eu tenho
mais facilidade com a prática” (FLAUTIM, 11/09/2017).
Em relação ao repertório trabalhado, baseando-se no questionário aplicado, foi
possível observar que nem todos os jovens se identificam com as músicas tocadas, o
que é normal até certo ponto, mas isso não significa que o repertório seja inadequado.
As questões de número 5 e 6 trataram da perspectiva acerca do repertório, e as
respostas apontam que 20% dos alunos “não gostam” das músicas tocadas. Nesse
ponto se evidencia certa ausência das vivências dos jovens, seus gostos musicais,
canções que sejam características de sua geração ou meio social, o que poderia ser
explorado de maneira mais efetiva pelo regente.
Durante as observações dos ensaios, percebi que as músicas são escolhidas
pelo regente de acordo com o nível adequado aos alunos. Mesmo sendo uma banda
formada exclusivamente por alunos considerados iniciantes o nível de aprendizado
musical apresentado por eles é bastante satisfatório, fato disto é que é que já
realizaram inclusive apresentações em conjunto com a banda de música do GptFNNa.
5.4 Alterações comportamentais
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A Participação no grupo também se revela influenciar no comportamento dos
jovens alunos, mesmo sendo alunos com um nível de disciplina alto, os mesmos
apontam diferenças em seus comportamentos antes e depois do ingresso no projeto.
Para a aluna CLARINETA:
É muito gratificante, é muito bom, você faz novos amigos, e isso [participar do projeto] influencia muito porque no início você vai mudando sua disciplina, seu comportamento nos lugares, porque músico não pode ser uma pessoa mal-educada (CLARINETA, 11/09/2017).
A questão de número 9 buscou avaliar a porcentagem de alunos que
consideram a participação na banda de música como fator de transformação de
comportamento. Para 80% dos alunos, ao ingressarem no Pró-Música passaram a se
comportar de maneira diferente. A entrevista com a aluna CLARINETA também
aponta nesse sentido quando ela afirma que mudou a sua interação com seus
colegas: “Eu aprendi a lidar com as pessoas e aceitar como elas são, antes eu queria
que elas fossem como eu queria e ao entrar no projeto eu mudei essa minha maneira
de enxergar a vida” (CLARINETA, 11/09/2017).
Já o aluno TROMBONE aponta que “as atividades do projeto me ajudaram
demais nas matérias das escolas, pois eu tinha muita dificuldade com a matemática,
por exemplo e os estudos aqui me ajudaram também” (TROMBONE, 11/09/2017).
Isso demonstra que as atividades musicais ultrapassam os aspectos artísticos,
mas também influenciam na visão geral dos alunos acerca da plenitude de sua
formação. Aspectos como a ética, postura comportamental e a noção de
comprometimento com o grupo estão sempre inseridos em todas as atividades da
banda de música o que leva a alterações pessoais significativas nos alunos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo pedagógico musical através do instrumento banda de música, sem
dúvidas, revela-se fator de transformações sociais significativas para seus envolvidos.
A análise das entrevistas realizadas com parcela do grupo, assim como, do
questionário aplicado aos adolescentes e das observações aponta para o fato de que o
papel da banda de música vai muito além de ser simplesmente um espaço para a
socialização dos alunos. Estar inserido em grupo como esse lhes proporciona
verdadeiro sentimento de valorização perante seus pares, mas principalmente dentro
do âmbito familiar.
A capacidade de impulsionar o desenvolvimento da autoestima dos seus
integrantes também ficou bastante evidente quando da apreciação dos dados da
pesquisa, pois, para a grande maioria dos alunos, apresentar-se com a banda e
mostrar o desenvolvimento musical adquirido acrescenta-lhes sentimentos positivos
sobre si, instigando, em cada um, o autoconhecimento tão necessário ao
desenvolvimento como ser humano. Alterações comportamentais e sentimentais e das
relações interpessoais, como também, em suas atividades escolares estão dentre as
mudanças mais notórias que decorrem da função integradora da música.
Por apresentar em seus objetivos a perspectiva da profissionalização, o Pró-
Música tem s
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