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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
MURILO DA COSTA CARVALHAES
GESTÃO DA ÁGUA EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DE MÚLTIPLOS
PAVIMENTOS: Análise da Operação em Sistemas de Medição
Individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015
São Paulo
2016
MURILO DA COSTA CARVALHAES
GESTÃO DA ÁGUA EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DE MÚLTIPLOS
PAVIMENTOS: Análise da operação em sistemas de medição
individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015
Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Área de concentração: Projeto de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof.ª Dra. Célia Regina Moretti Meirelles
São Paulo
2016
MURILO DA COSTA CARVALHAES
GESTÃO DA ÁGUA EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DE MÚLTIPLOS
PAVIMENTOS: Análise da operação em sistemas de medição
individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015
Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Aprovado em
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________ Profª. Dra. Célia Regina Moretti Meirelles – Orientadora
Universidade Presbiteriana Mackenzie
____________________________________________________ Profª. Dra. Maria Augusta Justi Pisani Universidade Presbiteriana Mackenzie
____________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Takashi Nakayama
Faculdade de Engenharia São Paulo - FESP
À Denise Romano da Costa Carvalhaes
AGRADECIMENTOS
À minha esposa, por sua compreensão nas horas ausentes dedicadas ao mestrado,
inspiração e incentivo para continuar os estudos.
À minha família pelo e apoio constante, em especial meu pai e meu irmão.
Aos amigos e colegas de trabalho devido a paciência e colaboração nos momentos
de maior dedicação ao mestrado, além da parceria e troca de conhecimento nos
desafios cotidianos.
Aos professores da Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Presbiteriana Mackenzie pela contribuição na construção do conhecimento.
À Dra. Célia Regina Moretti Meirelles, por ter sido uma amiga e uma excelente
profissional, que com muita dedicação me fez concluir esta empreitada.
Ao Dr. Paulo Takashi Nakayama, pelas sugestões apontadas no exame de
qualificação.
À Dra. Maria Augusta Justi Pisani por compartilhar conosco seus conhecimentos.
Aos amigos e colegas de trabalho, pelos ensinamentos e parceira nos desafios
cotidianos.
Aos professores da Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Presbiteriana Mackenzie pela contribuição na construção do conhecimento.
C331g Carvalhaes, Murilo da Costa.
Gestão da água em edifícios habitacionais de múltiplos
pavimentos: Análise da operação em sistemas de medição
Individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015. / Murilo da
Costa Carvalhaes - 2016. 106 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016.
Bibliografia: f. 102 – 106.
1. Projeto. 2. Medição de água individualizada. 3.
Conservação de água. 4. sustentabilidade. I. Título. CDD 341.762
"Se tens que lidar com água, consulta primeiro a experiência, depois a razão".
Leonardo da Vinci
RESUMO
Nos últimos anos, em decorrência da notória redução de água potável disponível na
cidade de São Paulo, é necessário que sejam adotadas medidas para o
aperfeiçoamento do seu uso racional. Tais ações podem ser implantadas no
aprimoramento do abastecimento público e na distribuição em edifícios. Na escala
predial novas soluções para a melhoria do desempenho podem ser incorporadas,
como, por exemplo, a conscientização dos usuários, o uso de águas pluviais, a
aplicação de equipamentos economizadores e a medição individualizada. Este
último exemplo, quando aplicado em habitações coletivas, pode ser definido como
uma ferramenta que indica o consumo de água em cada unidade autônoma e,
portanto, possibilita a tomada de medidas para ele seja reduzido. Posto isso, pode-
se entender que a fomentação desse instrumento colaborará para a economia de
água. Por consequência, esta dissertação tem o objetivo de contribuir com dados
técnicos, explicitados por meio de aplicações práticas, para que a medição
individualizada seja empregada em edifícios projetados entre 1980 e 2015,
cumprindo padrões básicos de qualidade. Para tanto, resumidamente, a pesquisa é
composta das seguintes etapas: estudo das formas de implantação e dos
componentes do sistema de medição individualizada; abordagem crítica de
regulamentações, normas e guias sobre o tema, e; avaliação de estudos de caso.
Por fim, na conclusão do trabalho, estão apresentadas as recomendações para
especificação de hidrômetros em projetos e a variação média do consumo de água
nos estudos de caso, que foi de 25% no período de treze meses após a
individualização.
Palavras-chave: projeto - medição de água individualizada – conservação de água –
sustentabilidade.
ABSTRACT
In recent years, due to the reduction of the potable water availability in the city of São
Paulo, it is necessary the adoption of immediate measures for the improvement of its
rational use. Such actions can be deployed in the improvement of public water supply
and distribution in buildings. In building scale new solutions to improve the
performance can be incorporated, for example, the awareness of users, the use of
rainwater, applying saving equipment and submetering. The process of submetering,
when applied to collective housing, can be set as a tool that indicates the water
consumption in each apartment, and this enables to take actions to reduce it. That
said, submetering can be understood as a work tool for saving water. This
dissertation aims to contribute with technical data and explained through practical
applications, so that the submetering should be used in buildings designed between
1980 and 2015, fulfilling basic quality standards. To do so, briefly, the research
consists in the following steps: study of the forms of implementation and the
components of the submetering; critical approach to regulations, standards and
guidelines on the subject, and; assessment case studies. Finally, the conclusion of
the work presented the recommendations for specified water meter in projects and
the average change in water consumption in the case studies, which was 25% in the
period of thirteen months after submetering.
Keywords: design - submetering - water conservation - sustainability.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA Agência Nacional de Águas
CAU Conselho de Arquitetura e Urbanismo
CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano.
CECAP Caixa Estadual de Casas para o Povo
CEDIPLAC Centro de Desenvolvimento e Documentação da Indústria de
Plástico para Construção Civil
COMPESA Companhia Pernambucana de Saneamento
CONMETRO Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial
COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais
CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
EMBASA Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.
EPAL Empresa Portuguesas de Águas Livres
GPRS Serviços Gerais de Pacote por Rádio
INMETRO Instituto nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial
l/s Litros por Segundo
m³/h Metro Cúbico por Hora
ONU Organização das Nações Unidas
PBQP-h Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade
PPR Polipropileno
PROACQUA Programa de Qualidade e Produtividade dos Sistemas de
Medição Individualizada de Água
PSQ Programas Setoriais da Qualidade
PVC Policloreto de Polivinila
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SANASA Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.
SANEAGO Saneamento de Goiás S.A.
SMIA Sistema de Medição Individualizada de Água
SMR Sistema de Medição Remota
UMA Unidade de Medição de Água
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Disponibilidade e demanda de recursos hídricos na região
hidrográfica Paraná 18
Figura 1.2 Metodologia de pesquisa 22
Figura 2.1 Início da medição individualizada no Brasil e no mundo 27
Figura 2.2 Sistema de distribuição de água sem previsão para medição
individualizada 28
Figura 2.3 Sistema de distribuição de água com previsão para medição
individualizada 29
Figura 2.4 Condomínio Residencial Heliópolis 33
Figura 2.5 SMIA com hidrômetros na coluna técnica 34
Figura 2.6 Hidrômetros instalados em coluna técnica 35
Figura 2.7 SMIA com hidrômetros instalados em abrigos no hall
comum 36
Figura 2.8 Hidrômetros instalados em abrigos no hall comum 36
Figura 2.9 SMIA com hidrômetros instalados no barrilete 37
Figura 2.10 Hidrômetros instalados no barrilete 38
Figura 2.11 SMIA com hidrômetros instalados no térreo 39
Figura 2.12 Hidrômetros instalados no térreo 39
Figura 2.13 SMIA com hidrômetros instalados em múltiplos ramais 41
Figura 2.14 Construção de nicho para instalação de hidrômetros em
sistema de distribuição de água não sem previsão para
medição individualizada 41
Figura 2.15 Instalação de hidrômetros em sistema de distribuição de
água não sem previsão para medição individualizada 42
Figura 2.16 Hidrômetro 44
Figura 2.17 Hidrômetro – ferramentas para controle da qualidade 46
Figura 2.18 Hidrômetro de turbina 47
Figura 2.19 Sistema de medição remota por rádio frequência 48
Figura 2.20 Etapas de transmissão de um sistema de medição remota
por meio da radiofrequência 50
Figura 2.21 Sistema de medição remota por rádio frequência 51
Figura 2.22 Vazões de projeto no ramal de alimentação, obtidas pelo
método probabilístico e pelo dos pesos 54
Figura 3.1 Sistemas de medição individualizada de baixa qualidade 63
Figura 3.2 Concentrador de dados PROACQUA e emissão de tarifa
individualizada 66
Figura 3.3 Sistemas de medição remota 69
Figura 3.4 Localização dos hidrômetros 70
Figura 3.5 Especificação de hidrômetros 71
Figura 3.6 Altura máxima de instalação 72
Figura 3.7 Padronização das unidades de medição de água 72
Figura 3.8 Proposta para padronização da unidade de medição de
água 73
Figura 4.1 Zonas residenciais e comerciais CECAP 74
Figura 4.2 Visão geral do conjunto 75
Figura 4.3 Esquema estrutural da primeira fase. 76
Figura 4.4 Hidrômetro individual - CECAP 77
Figura 4.5 Implantação condomínio na Vila Brasilândia 78
Figura 4.6 Condomínio na Vila Brasilândia, pavimento de acesso. 79
Figura 4.7 Hidrômetros individuais no condomínio na Vila Brasilândia 80
Figura 4.8 Distribuição dos hidrômetros individuais no condomínio na
Vila Brasilândia 80
Figura 4.9 Condomínio na Vila Brasilândia, reservatório coletivo 81
Figura 4.10 Hidrômetros individuais no condomínio na Vila Brasilândia 82
Figura 4.11 Hidrômetros individuais no condomínio na Vila Brasilândia 82
Figura 4.12 Planta apartamento tipo do Condomínio 84
Figura 4.13 Hidrômetros instalados nos ramais do edifício. 85
Figura 4.14 Perfil de consumo do edifício entre março de 2014 e março
de 2015 (mês x m3) 86
Figura 4.15 Consumos individuais de água do edifício entre 10/01/2015
e 10/02/2015 em m³ 87
Figura 4.16 Planta apartamento tipo do Condomínio B 89
Figura 4.17 Hidrômetros instalados nos ramais do edifício 90
Figura 4.18 Perfil de consumo do edifício entre setembro de 2014 e 91
julho de 2015 (mês x m3).
Figura 4.19 Consumos individuais de água do edifício entre 17/10/2015
e 17/11/2015 em m³ 92
Figura 4.20 Planta apartamento tipo do Condomínio C 94
Figura 4.21 Hidrômetros instalados nos ramais do edifício. 95
Figura 4.22 Perfil de consumo do edifício entre setembro de 2014 e
julho de 2015 (mês x m3) 96
Figura 4.23 Consumos individuais de água do edifício entre 18/11/2014
e 17/12/2014 em m³ 97
Figura 4.24 Hidrômetro e rádio utilizado nos estudos de caso 98
Figura 4.25 Coletores de dados utilizados nos estudos de caso 98
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1. Critérios para seleção das amostras 24
Tabela 2.1. Manifestações patológicas em subsistemas de medição
individualizada.
30
Tabela 2.3. Vazões nos pontos de utilização em função do aparelho
sanitário e da peça de utilização
55
LISTA DE QUADROS
Quadro 3.1. Programas institucionais de medição individualizada de
água
68
Quadro 5.1 Quadro comparativo dos estudos de caso 100
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 17
1.1. JUSTIFICATIVA................................................................................ 21
1.2. OBJETIVOS...................................................................................... 22
1.3. METODOLOGIA............................................................................... 22
1.4. ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS...................................................... 25
2. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA MEDIÇÃO
INDIVIDUALIZADA................................................................................. 27
2.1. TOPOLOGIAS DE SISTEMAS DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA
DE ÁGUA................................................................................................ 33
2.1.1. Componentes de sistemas de medição individualizada de
água.........................................................................................................
43
3. REGULAMENTAÇÕES, NORMAS E GUIAS............................... 56
3.1. PROGRAMAS INSTITUCIONAIS DE MEDIÇÃO
INDIVIDUALIZADA DE ÁGUA................................................................. 56
3.2. DETERMINAÇÃO DOS CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DA
OPERAÇÃO DE SISTEMA DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE
ÁGUA....................................................................................................... 69
4. ESTUDOS DE CASO.................................................................... 74
4.1. ESTUDOS REFERENCIAIS......................................................... 74
4.1.1. CECAP Guarulhos....................................................................... 74
4.1.2. Condomínio Vila Brasilândia...................................................... 78
4.2. ESTUDOS DE CASO COM AVALIAÇÃO DO CONSUMO........... 83
4.2.1. Edifício com múltiplos ramais (1980 e 1998)............................ 83
4.2.2. Edifício com único ramal (1999 e 2008)..................................... 88
4.2.3. Edifício com único ramal (2009 e 2014)..................................... 93
4.2.4. Estudos de caso – Sistema de medição remota........................ 98
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 102
17
1. INTRODUÇÃO
O Brasil detém 12% das fontes de água doce do mundo, o que significa que
se trata de um país privilegiado em recursos hídricos. Entretanto, a sua distribuição é
desigual, pois a maior concentração de água ocorre nas regiões com menor
densidade populacional, como a região Amazônica. A região Amazônica detém uma
média de 80% da água doce do Brasil, por outro lado, a região Metropolitana de São
Paulo, onde está concentrada a maior parte da população e atividades econômicas,
detém somente 1,6 % (LEAL; VICÀRIA, 2007).
A Figura 1.1 apresenta a relação entre disponibilidade hídrica da bacia
hidrográfica do Paraná e a demanda. Em azul estão as regiões de disponibilidade
hídrica de excelente a confortável; em amarelo as regiões em estado preocupante;
em lilás as bacias em situação muito crítica com esgotamento dos recursos.
Observa-se no mapa que, já no ano de 2005, a disponibilidade hídrica da região
Metropolitana de São Paulo era classificada pela Agência Nacional de Água (ANA)
como muito crítica.
18
Figura 1.1. Disponibilidade e demanda de recursos hídricos na região hidrográfica Paraná.
Fonte: ANA, 2005, p. 120.
Outro agravante para região é o alto consumo per capita. Segundo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000), no Brasil o consumo era de 302
l/hab/dia (litros por habitante por dia), quase três vezes superior aos 110 l/hab/dia
recomendados pela Organização das Nações Unidas – ONU e superiores a outras
grandes cidades como Buenos Aires com 246,5 l/hab/dia (CARDÃO, 1985) e Tóquio
200 l/hab/dia (WHATELY, 2009).
19
Hespanhol (2008) apontou a situação crítica em termos de abastecimento de
água potável da bacia do Alto Tietê, onde está localizada a Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP), na qual são necessários 70 m³/s para abastecer a população,
sendo que 33 m³/s eram importados do sistema Cantareira em conjunto com as
bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Em março de 2015, o sistema já
apresentava sintomas de colapso, pois a vazão máxima de transposição para a
RMSP estava restrita a 15,33 m³/s”, como aponta o Comunicado da ANA (2015, p.1),
demonstrando que o aumento da oferta de água para essa metrópole será cada vez
mais difícil.
Assim, postas as dificuldades de aumentar a oferta de água na região,
entende-se que a alternativa para a continuidade de abastecimento de água potável
é reduzir a demanda pelo insumo. Para isso é fundamental que os novos projetos de
edifícios sejam mais eficientes no tocante às ações preventivas. Para tanto, faz-se
necessária a implantação de sistemas de gestão de águas, como o aproveitamento
das águas pluviais, o reuso das águas cinzas, a especificação de equipamentos
economizadores e a medição individualizada ou setorizada, entre outros.
Dentre os sistemas de gestão, em edifícios de múltiplos pavimentos
habitacionais, a medição individualizada de água é destacada por diversos autores,
como uma “ferramenta-chave” da gestão. Segundo Ilha (2008, p. 2), a “redução do
consumo” depende de ações integradas que vão “desde a realização de uma
manutenção eficiente, até o emprego de componentes e sistemas economizadores.
Essas ações são potencializadas com a sensibilização dos usuários”. Em algumas
cidades, como Sidney e Lisboa, a medição individualizada é obrigatória, pois é
empregada pelas prefeituras como uma ferramenta de redução da demanda de
água e justiça social, trazendo benefícios como a redução da geração de esgoto e a
preservação das nascentes.
Pode-se definir a medição individualizada de água como a medição do
consumo de água de cada unidade habitacional por meio de um ou mais
hidrômetros.
20
Uma das problemáticas de um edifício projetado sem a medição
individualizada é que o consumo de todas as unidades habitacionais é medido
mediante um único hidrômetro e, por consequência, é apresentada tão somente em
uma conta comum aos condôminos, cujo valor é rateado por todos,
independentemente do consumo de cada apartamento. Esta prática impede que
cada usuário conheça seu consumo real e aplique qualquer iniciativa individual de
economia de água. Com a medição individualizada de água é possível que cada
apartamento tenha o seu próprio medidor, proporcionando a identificação do perfil
de consumo de cada moradia e, sobretudo, a adoção de medidas para redução de
consumo pelos próprios moradores, tais como eliminar vazamentos e substituir
equipamentos sanitários.
A instalação dos hidrômetros não proporciona economia por si só, mas pode
promover a educação ambiental dos usuários, uma vez que os afeta diretamente já
que são penalizados quando consomem muito e beneficiados quando consomem
pouco. Isso reflete na mudança de comportamento, promovendo hábitos mais
sustentáveis e a redução do tempo de uso dos equipamentos hidráulicos em
atividades rotineiras como banho e lavagem de louça, além de muitos usuários
passarem a se atentar a consertos de vazamentos e gotejamento, elencando-os
como prioridade.
A implantação do sistema de medição individualizada de água insere novos
equipamentos ao edifício e interfere nas etapas de projeto, execução e manutenção,
como descreve Gonçalves (2006, p. 3).
Um princípio importante na implementação da medição individualizada em edifícios é o de manter ou elevar os patamares da qualidade dos sistemas hidráulicos prediais, tanto em edifícios novos quanto existentes, garantindo ao usuário final o desempenho dos produtos e das atividades e serviços realizados pelas organizações envolvidas, como concessionárias de água e prestadoras de serviços (projeto,
construção e operação).
Isso requer uma correta adequação desses equipamentos ao espaço
arquitetônico e um correto dimensionamento dos equipamentos. Quando os
equipamentos estão posicionados em locais inadequados, podem gerar problemas
de acesso, segurança ou dificuldade de manutenção. Hidrômetros mal
21
dimensionados podem prejudicar a pressão de abastecimento ou dificultar a
detecção de vazamentos.
Em linhas gerais, a implantação de sistemas de medição individualizada
bem projetados e bem executados, até há alguns anos atrás, poderia ser entendida
como uma ação que geraria um benefício social e ecológico para as cidades
brasileiras. Hoje, uma vez que é iminente o término das reservas de água de
algumas dessas cidades, como São Paulo, a implantação desses sistemas é uma
peça-chave para a manutenção da existência social e econômica desses centros,
uma vez que sem tal insumo não é possível as suas manutenções.
Nessa pesquisa propõe-se discutir soluções já praticadas para as principais
topologias hidráulicas de edifícios de múltiplos pavimentos na cidade de São Paulo
na década de 1980, mais precisamente, desde o início da utilização maciça dos
tubos de PVC (Policloreto de vinila). Isso requer que sejam demonstradas as
principais configurações arquitetônicas e de sistemas prediais de distribuição de
água fria e quente. Ainda nesse contexto, outro ponto abordado na pesquisa é a
inovação tecnológica. Algumas inovações abrem novas possibilidades para a
medição individualizada, e, consequentemente, para a gestão de água em edifícios.
Por meio delas, torna-se possível medir em locais onde antes não era possível e de
formas mais eficientes.
1.1. JUSTIFICATIVA
O trabalho busca contribuir para melhoria dos sistemas de gestão de água
potável em edifícios habitacionais, por meio de estudos de caso, oriundos da
experiência do autor. Para isso, também são abordados temas dos dois projetos de
norma sobre o tema desenvolvidos nesse período (04:005.10-47: Medição de Água
e Gás: Provedor de Serviços de Medição para Edifícios e ABNT NBR 15806), cuja
elaboração contou com a participação do autor.
22
1.2. OBJETIVO
Pretende-se por meio desta pesquisa divulgar a importância da eficiência da
gestão das águas em edifícios habitacionais, contribuindo de forma direta nos novos
projetos e para a melhoria do desempenho no ambiente construído, com foco na
medição individualizada de água para edifícios de múltiplos pavimentos.
Os objetivos específicos são:
Discutir a gestão da água em edifícios habitacionais e avaliar as principais
ferramentas para redução do consumo desse insumo;
Determinar as interfaces entre projeto e sistemas de medição individualizada
em edifícios habitacionais, como, por exemplo, analisar o posicionamento dos
componentes do sistema no projeto e o dimensionamento da infraestrutura
necessária para abrigá-los;
Aprofundar-se na operação dos sistemas de medição individualizada de água
em edifícios habitacionais. Isto é, medi-los e avaliá-los nas etapas de projeto,
execução e manutenção.
1.3. METODOLOGIA
A pesquisa consiste na aplicação de estudos de caso e será constituída das
seguintes etapas:
Figura 1.2 Metodologia de pesquisa.
Fonte: CARVALHAES, M.
Etap
a 1
Revisão bibliográ-fica E
tap
a 2
Seleção das amostras
Etap
a 3
Determi- nação dos parâ-metros
Etap
a 4
Estudos de caso
23
ETAPA 1 – Revisão bibliográfica
Nesta etapa foram coletados dados existentes de fontes secundárias, como
dissertações, teses, textos, publicações, regulamentações e outros que sejam
definidos ao longo da pesquisa, enfocando os temas da gestão da água em
habitações com foco em medição individualizada. As principais referências são o
Manual de sistemas de medição individualizada do PROACQUA, a tese Metodologia
para a implantação de programa de uso racional da água em edifícios, da Profa. Dra.
Lúcia Helena de Oliveira e as normas ABNT NBR 5626: 1998 e 15806: 2010 da
Associação Brasileira de Normas Técnicas.
ETAPA 2 – Seleção das amostras
Para evidenciar diferentes contextos, foram selecionados e analisados
alguns casos de edifícios habitacionais com sistemas de medição individualizada de
água em São Paulo. Entretanto, como se trata de um amplo universo, é necessária
a determinação de um critério para seleção das amostras, de modo que se tente
abranger a amplitude das tipologias existentes. Portanto, conforme apresentado na
Tabela 1.1, para cada período construtivo, sob o ponto de vista de regulamentos de
medição individualizada, deverá haver pelo menos um estudo de caso. Essa
característica construtiva foi determinada como critério porque influencia os meios de
implantação e manutenção de sistemas prediais e o consumo de água.
Esses três períodos foram abordados detalhadamente na pesquisa, mas,
resumidamente, a constituição deles pode ser explicada pela ocorrência de três
eventos, quais sejam: a) na década de 1980 se inicia a aplicação de tubulações de
água fria de PVC em edifícios residenciais, um material que facilitou a implantação
de hidrômetros, mesmo que os edifícios ainda não eram projetados para esse fim; b)
em 1998 é lançada a primeira legislação paulistana sobre medição individualizada,
de modo que, a partir desse documento, se inicia o projeto de edifícios com previsão
para individualização; c) em 2009 são publicados os critérios técnicos da SABESP
(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), estabelecendo as
diretrizes técnicas para implantação e operação da medição individualizada.
24
Tabela 1.1. Critérios para seleção das amostras.
Variáveis Modelos tipológicos
TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3
Período Entre 1980 e 1998 Entre 1999 e 2009 Entre 2009 e 2014
Fonte: CARVALHAES, M.
ETAPA 3 – Determinação dos parâmetros
Para a determinação dos parâmetros de análise da operação de sistemas de
medição individualizada de água, em face da lacuna normativa, será efetuada uma
pesquisa bibliográfica em regulamentações de programas institucionais nacionais e
internacionais, em regiões com distintas características climáticas e econômicas.
Para isso, foram selecionados os seguintes programas,
PROACQUA (SABESP) – São Paulo, SP;
SANASA – Campinas, SP;
EMBASA – Salvador, BA;
COMPESA – Recife, PE;
COPASA– Belo Horizonte, MG;
SANEAGO– Goiânia, GO;
South East Water – Melbourne, Australia;
Departamento de Infraestrutura – Queensland, Austrália;
Empresa Portuguesa de Águas Livres – Lisboa, Portugal.
Nesse levantamento bibliográfico, o conteúdo será organizado de forma que,
em cada um dos nove programas, sejam apontados a descrição da instituição, a
população atendida, a documentação publicada, os critérios técnicos e os
mecanismos para garantia da qualidade. Assim, será possível avaliá-los e reunir os
parâmetros mais adequados.
25
ETAPA 4 – Estudos de caso
A conclusão das etapas anteriores possibilitará a formatação de um
protocolo e, por meio dele, foram analisadas as operações dos quatro estudos de
caso monitorados por meio de sistemas de medição remota por rádio frequência,
selecionados conforme os critérios estabelecidos na Tabela 1.1. Essa análise visa a
comparação de cada edifício com um modelo ideal, onde os principais parâmetros
de desempenho são atingidos. A pesquisa contará também com estudos de casos
referenciais como o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, o primeiro
edifício individualizado do Brasil.
Como resultado final dessa análise, deverá estar concluído um quadro
comparativo entre os estudos de caso, abrangendo as características construtivas,
os equipamentos utilizados e os métodos de implantação.
1.4. ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS
Essa dissertação é composta de cinco capítulos, os quais apresentam os
seguintes conteúdos:
O capitulo 1 é reservado para apresentação do tema e da descrição dos
objetivos da pesquisa, bem como à indicação da metodologia utilizada e à relevância
do tema.
No capítulo 2 são discutidas as características técnicas da medição
individualizada, as formas de sua implantação em um edifício de múltiplos
pavimentos e quais interferências ocorrem no projeto com os demais sistemas
prediais. Posteriormente, é apresentado e debatido cada componente do sistema,
como, por exemplo, hidrômetros, tecnologias de medição remota e métodos de
dimensionamento.
26
No capítulo 3 são apresentadas e analisadas as regulamentações, normas e
guias, momento em que são analisados os programas de medição individualizada de
água mais relevantes, incluindo as regulamentações, os guias de operação e as
exigências técnicas.
No capítulo 4, para fins de comprovação e obtenção de resultados, são
analisados os estudos de caso.
No capítulo 5 são apresentadas e discutidas as considerações finais
27
2. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA
A medição individualizada é uma prática antiga em alguns países. “É
realizada na Europa há aproximadamente 85 anos” (ROMANO, 1998, p. 1). Nos
Estados Unidos a medição individualizada ganhou reconhecimento em razão do
aumento do custo da água. “Entre 1990 e 1998, o custo da água e do esgoto para os
consumidores aumentou 45%, medido pelo Índice de Preços do Consumidor. O
aumento é quase o dobro dos tradicionais 25% nesse período de tempo” (BENNET,
2004, p. 1).
No Brasil, o primeiro condomínio com medição de água individualizada foi
construído em 1968, que corresponde ao conjunto habitacional de 2.880 unidades
do CECAP em Guarulhos, projetado pelos arquitetos Vilanova Artigas, Paulo
Mendes da Rocha e Fábio Penteado. A Figura 2.1 representa resumidamente o
início da medição individualizada no Brasil e na Europa.
Figura 2.1. Início da medição individualizada no Brasil e na Europa.
Fonte: CARVALHAES, M.
Até 1998, como apresentado na Figura 2.2, os sistemas de distribuição de
água da maior parte dos edifícios construídos em São Paulo eram projetados com
diversas prumadas, com uma série de ramais por unidade habitacional, sendo que
em alguns casos chegavam a mais de dez. A partir desse ano, quando foi aprovada
a Lei Municipal de São Paulo n° 12.638/1998, que propõe a “previsão” de medição
individualizada de água em novos condomínios, alterou-se a forma de projetar e
28
construir os edifícios, uma vez que a medição isolada do consumo de água passou a
ser obrigatória.
Era oportuno que o modelo antigo de diversas prumadas por unidade
habitacional fosse substituído por um novo, com apenas uma prumada no edifício, e
toda a distribuição no interior dos apartamentos fosse executada por meio de um
único ramal, tal como apresentado na Figura 2.3. Entende-se como previsão a
disponibilização de um trecho de tubulação para a instalação de um ou mais
hidrômetros.
Figura 2.2. Sistema de distribuição de água sem previsão para medição individualizada.
Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 2).
29
Figura 2.3. Sistema de distribuição de água com previsão para medição individualizada.
Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 2)
Apesar do impulso alcançando após essa legislação, os critérios técnicos
não estavam bem definidos, pois a Lei Municipal nº 12.638/1998 não abordava esse
mérito. Diante da ausência de regulamentação, grande parte dos novos edifícios
construídos a partir de 1998 dispunha da “previsão” para medição individualizada,
mas apresentava muitos problemas técnicos, a exemplo de hidrômetros alocados
em ambientes de difícil instalação, manutenção de difícil acesso do usuário, como
em forros no interior de banheiros, shafts em alturas superiores a 1,80 metros, ou
instalados em outros locais sem acesso.
O fato de não existirem documentos normativos, base documental
tecnológica e acordos setoriais para a qualidade, expôs os usuários a formas
imprecisas e injustas de cobrança ou penalizações por defeitos. A Tabela 2.1
30
apresenta algumas dessas manifestações patológicas constatadas em cinco estudos
de caso na cidade de Goiânia, analisados por Peres (2006).
Como diagnosticado nos estudos de casos avaliados por Peres (2006),
apesar da medição individualizada não prejudicar a operação do sistema predial de
distribuição de água fria, visto que alguns parâmetros se mantiveram dentro dos
índices permitidos pela ABNT NBR 5626: 1998, como os índices de ruídos,
vazamentos e a pressão hidráulica, demonstrou que em alguns casos a falta de
acessibilidade aos hidrômetros chegou a inviabilizar a medição. Isso se deve à falta
de planejamento na fase de projeto e ao pouco conhecimento sobre a operação do
sistema.
Tabela 2.1. Manifestações patológicas em subsistemas de medição individualizada.
Patologia Edifício 1 Edifício 2 Edifício 3 Edifício 4 Edifício 5
Vazamentos
31,4% uma
ocorrência;
2,9% duas
ocorrências;
2,9% três ou
mais
ocorrências.
11,4% uma
ocorrência;
2,9% três ou
mais
ocorrências.
20% uma
ocorrência;
6% duas
ocorrências;
2,9% três ou
mais
ocorrências
23,1% uma
ocorrência;
2,6% duas
ocorrências.
13,3% uma
ocorrência;
6,7% duas
ocorrências.
Mais de 50% da incidência de vazamentos se deu na bacia sanitária com caixa
acoplada.
Ruído
14,3%
perceberam o
ruído, mas
não se
incomodam.
5,7%
perceberam
e se
incomodam;
10,0%
perceberam,
mas não se
incomodam.
18%
perceberam,
mas não se
incomodam.
2,6%
perceberam
e se
incomodam.
6,7% percebem,
mas não se
incomodam.
Mais de 82% disseram não notar ruídos, sendo que, os observadores disseram
que isso ocorria antes do processo de conversão para individualização da medição
do consumo, assim, a ocorrência apontada por alguns moradores não pôde ser
atribuída à individualização do subsistema. Além disso, a avaliação depende da
sensibilidade do usuário.
Pressão
hidráulica
40% muito
alta;
25,7% alta;
20% normal;
17,10%
muito alta;
8,6% alta;
68,6%
8,0% muito
alta;
10,0% alta;
76,0%
2,6% muito
alta;
10,3% alta;
82,1%
26,7% alta;
66,7% normal;
6,7% baixa.
31
11,4% baixa;
2,9% muito
baixa.
normal;
4,3% baixa;
1,4% muito
baixa.
normal;
4% baixa;
2% muito
baixa.
normal;
2,6% baixa;
2,6% muito
baixa.
Foi realizado um monitoramento de pressão hidráulica do edifício 1, onde 40% dos
entrevistados reclamam de pressões elevadas, ao medir, observou-se que a
máxima pressão foi de 250 kPa, valor muito abaixo do recomendado pela ABNT
NBR 5626: 1998. Em todos os casos analisados, os moradores afirmaram não
terem notado diferenças na pressão hidráulica após a individualização. Quando do
uso simultâneo de equipamentos, 80% dos moradores disseram não terem tido
perda de conforto; 7,7% dos moradores do edifício 2 e 33,3% do edifício 4
disseram ter observado esse desconforto antes da individualização.
Falta de
acessibilidade
Hidrômetros
localizados na
cobertura
dificultando o
acesso.
Hidrômetro
no térreo de
cada um dos
blocos.
Hidrômetro
localizado
em local
alto, onde é
necessário o
uso de
escada para
efetuar a
leitura.
Hidrômetro
no térreo de
cada um dos
blocos.
Hidrômetro no hall
da escada.
No edifício 1, a concessionária não realiza a leitura dos hidrômetros em função da
extrema dificuldade para acesso aos abrigos.
Fonte: PERES (2006).
Essa forma de projetar arrastou-se até 2007, quando por meio do programa
PROACQUA (2008) a SABESP e o CEDIPLAC (Centro de Desenvolvimento e
Documentação da Indústria de Plástico para Construção Civil) estabeleceram
critérios técnicos a serem seguidos, como, por exemplo, o dimensionamento e os
locais para instalar os equipamentos. Apesar desses conceitos técnicos disponíveis
nos materiais elaborados pelos programas não serem obrigatórios, muitos projetistas
começaram a seguir as recomendações e incorporar em seus projetos a “previsão”
dos sistemas de medição individualizada de água na área comum de condomínios e
com alturas acessíveis.
No âmbito nacional, nos últimos anos, com a intenção de contribuir para a
redução dos problemas, surgiram esforços para a normalização dessa atividade.
Concessionárias, agências reguladoras e entidades de classe publicaram
regulamentações. Porém, essas ações ainda são descoordenadas, pois cada cidade
32
ou Estado cria uma regulamentação própria. Apesar das particularidades de cada
região, que devem ser consideradas para a implantação da normalização, grande
parte dos critérios poderia ser padronizada para todo o país. Com a variação de
requisitos e a complexidade das normas tornou-se mais difícil a adesão dos
membros da cadeia produtiva. Os projetistas, os construtores e os fabricantes são
obrigados a adequar-se a cada novo projeto.
Como abordado anteriormente, antes de 1998 eram pontuais os casos de
condomínios projetados com “previsão” para medição individualizada de água. Em
busca de minimizar seus custos, muitos empreendimentos antigos passaram a
buscar meios de instalar o sistema de medição individualizada, cuja implantação
está condicionada a duas soluções: ou elabora-se um novo projeto, ou promove-se a
substituição do sistema predial de distribuição de água existente para um modelo
com previsão.
Teoricamente o primeiro modelo é a melhor solução, pois nele são
incorporados todos os novos conceitos de projetos, os mais recentes materiais e
técnicas. Contudo, cabe a ressalva de que se trata de uma contundente interferência
no edifício e de elevado custo, que exige a construção de forros ou sancas e, em
alguns casos, interferência na estrutura. Já no segundo modelo é instalado um
hidrômetro em cada ramal do edifício, utilizando o sistema predial de distribuição de
água fria existente. Dessa forma, a interferência na estrutura do edifício é menor e a
sua implantação tende a ser mais econômica que o primeiro modelo.
No início da década de 2010, por meio do Selo Casa Azul, a medição
individualizada de água transformou-se em uma exigência para projetos de
habitação de interesse social financiados pela Caixa Econômica Federal. Como
influência dessa certificação o Condomínio Residencial Heliópolis, projeto do
arquiteto Rui Ohtake, apresentado na Figura 2.4, adotou a medição individualizada
de água.
33
Figura 2.4. Condomínio Residencial Heliópolis.
Fonte: http://www.ruyohtake.com.br/#!/arquitetura/21, acessado em 08/06/2015.
2.1. TOPOLOGIAS DE SISTEMAS DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE ÁGUA –
SMIA
O sistema de medição individualizada de água pode ser classificado por
meio do local de instalação dos hidrômetros individuais. Atualmente, existe uma
série de possibilidades, incluindo, no caso de condomínios antigos, a sua adaptação
por meio da instalação de um medidor por ramal. A seguir foram descritas as cinco
alternativas possíveis de instalação dos hidrômetros, são elas: em colunas técnicas,
em abrigos, no barrilete e no pavimento térreo.
A) SMIA com hidrômetros instalados em coluna técnica (shafts)
A principal vantagem da instalação dos hidrômetros em colunas técnicas é a
facilidade de manutenção e operação. Nesse modelo, sem o emprego de um
sistema de medição remota, a principal desvantagem é a dificuldade de medição,
uma vez que os hidrômetros estão distribuídos pelos andares, o que retarda
http://www.ruyohtake.com.br/#!/arquitetura/21
34
consideravelmente a leitura dos hidrômetros. Como definido a seguir por
PROACQUA (2008, p. 22):
Verifica-se, também, a obrigatoriedade de instalar uma válvula ventosa no barrilete pressurizado e de um ramal de respiro para o barrilete por gravidade. Estes dispositivos garantem a integridade da pressão e o funcionamento adequado do hidrômetro, de modo que não haja a formação de pressão negativa na rede.
Na Figura 2.5 é apresentada a configuração esquemática do sistema e na
Figura 2.6 uma imagem da instalação.
Figura 2.5. SMIA com hidrômetros na coluna técnica.
Fonte: CARVALHAES, M.
35
Figura 2.6. Hidrômetros instalados em coluna técnica.
Fonte: CARVALHAES, M.
B) SMIA com hidrômetros instalados em abrigo
A opção por abrigos, na maioria dos casos, é utilizada em adaptações de
sistemas de medição coletiva para individualizada. Tal como no modelo anterior,
sem o sistema de medição remota, também retrata o mesmo inconveniente para a
equipe de leitura.
A Figura 2.7 apresenta a configuração esquemática de um SMIA com os
hidrômetros instalados em abrigos no hall e na Figura 2.8 uma imagem da
instalação, cuja configuração é muito semelhante aos modelos com montagem dos
hidrômetros em coluna técnica. Além disso, nota-se que as observações sobre o
sistema de pressurização e ventosas são as mesmas, mas quando instalados no
interior das unidades habitacionais, para facilidade de leitura, torna-se
indispensáveis os sistemas de medição remota.
36
Figura 2.7. SMIA com hidrômetros instalados em abrigos no hall comum.
Fonte: CARVALHAES, M.
Figura 2.8. Hidrômetros instalados em abrigos no hall comum.
Fonte: CARVALHAES, M.
37
C) SMIA com hidrômetros instalados no barrilete
Essa solução é limitada pelo espaço disponível no barrilete e para
montagem de prumadas independentes para cada unidade habitacional. Ela é
normalmente empregada em edifícios de até 4 (quatro) pavimentos, como o caso de
habitações de interesse social. Como em grande parte dos edifícios, o acesso ao
barrilete é restrito, por isso, para facilidade da leitura dos hidrômetros, é
recomendável o emprego de sistemas de medição remota. Na Figura 2.9 é
apresentada esquematicamente essa topologia e na Figura 2.10 uma imagem da
instalação.
Figura 2.9. SMIA com hidrômetros instalados no barrilete.
Fonte: CARVALHAES, M.
38
Figura 2.10. Hidrômetros instalados no barrilete.
Fonte: CARVALHAES, M.
D) SMIA com hidrômetros instalados no pavimento térreo
Assim como quando instalados no barrilete, essa solução é limitada pelo
espaço disponível no pavimento térreo e para montagem das prumadas individuais.
Ela é normalmente empregada em edifícios de até 4 (quatro) pavimentos. A grande
vantagem dessa topologia é a facilidade de medição, um critério importante para
concessionárias, pois a depender do caso dispensa a entrada da equipe de leitura
no condomínio. Quando não existirem recursos para a adoção de SMRs, essa
topologia demonstra grande vantagem frente às demais. Na Figura 2.11 é
apresentado o modelo e na Figura 2.12 uma imagem da instalação.
39
Figura 2.11. SMIA com hidrômetros instalados no térreo.
Fonte: CARVALHAES, M.
Figura 2.12. Hidrômetros instalados no térreo.
Fonte: CARVALHAES, M.
40
E) SMIA com hidrômetros instalados em múltiplos ramais
Independentemente do número de prumadas que abastecem uma unidade
habitacional ou comercial, os equipamentos hidrossanitários são sempre
abastecidos por ramais ou sub-ramais. Assim, uma vez medidos os volumes de
água que passam por essas tubulações é possível determinar o consumo da
unidade, como apresentado na Figura 2.13. A instalação dos hidrômetros nesse
modelo de implantação ocorre nas seguintes etapas:
a) Por meio de análise do projeto hidráulico do edifício quantifica-se o número
de hidrômetros necessários. Antes do início da obra, é recomendável fechar todos
os registros da unidade e, em todos os pontos de consumo, verificar se há
passagem de água, isso porque em alguns casos podem ocorrer erros de execução
ou alteração no projeto original;
b) A próxima etapa consiste em construir um local adequado para a instalação
do equipamento, devendo remover o revestimento e a alvenaria no local logo abaixo
ao registro para criação de um nicho, cujo tamanho varia de acordo com o diâmetro
e o material da tubulação. Para instalar um tubo de PVC de 25 mm, por exemplo, um
nicho de 30 centímetros é o suficiente. Nessa etapa os equipamentos empregados
são simples, basta uma serra circular para delimitar o local a ser instalado e uma
talhadeira ou martelete para remover o material. Esse processo é apresentado na
Figura 2.14.
41
Figura 2.13. SMIA com hidrômetros instalados em múltiplos ramais.
Fonte: CARVALHAES, M.
Figura 2.14. Construção de nicho para instalação de hidrômetros em sistema de distribuição de água
não sem previsão para medição individualizada.
Fonte: CARVALHAES, M.
c) Uma vez criado o espaço necessário, instala-se o hidrômetro e uma tampa
removível para manutenção, como apresentado na Figura 2.15. Esse equipamento
deve estar sempre acessível para manutenção e acompanhamento do consumo.
42
Figura 2.15. Instalação de hidrômetros em sistema de distribuição de água não sem previsão para
medição individualizada.
Fonte: CARVALHAES, M.
Como os hidrômetros são instalados no interior das unidades, torna-se mais
difícil a leitura frequente in loco, pois em muitas ocasiões o acesso será inviável,
razão pela qual é imprescindível o uso de um sistema de medição remota, a
exemplo da radiofrequência.
Algumas limitações devem ser consideradas antes da implantação de um
sistema de medição individualizada de água em edifícios “sem previsão”, são elas a
capacidade da válvula de descarga e o material da tubulação. As válvulas de
descarga antigas apresentam uma vazão muito superior aos equipamentos
hidráulicos restantes em uma unidade habitacional. Mais detalhadamente, como
indicado na ABNT NBR 5626: 1998 (1998, p. 13), enquanto a capacidade de “vazão
da válvula de descarga é 1,70 litros por segundo, a de um chuveiro é 0,2 l/s, a de um
lavatório é 0,15 l/s, a de um tanque é 0,25 l/s e a de uma pia é 0,25 l/s.” Neste caso
é necessário ter um hidrômetro com uma capacidade de medição muito superior,
com uma vazão nominal mínima igual a 6,0 m³/h. E é nesse ponto que encontramos
barreiras, além de preço elevado, esses medidores são duas vezes maiores que um
utilizado para medir um ramal comum, o que dificulta a implantação em um edifício
existente. Outro ponto é que as tecnologias de medição remota para medidores
desse tamanho também são mais escassas.
43
Somado a isso, alguns tipos de materiais da tubulação dificultam
consideravelmente a instalação do hidrômetro, como, por exemplo, o ferro
galvanizado. A dificuldade de solda desse material torna muito difícil a manipulação
em nichos pequenos. O trabalho em PVC é o mais simples e rápido, em razão da
facilidade de trabalho com esse tipo de material, na medida em que o corte e a cola
são realizados com maior facilidade.
2.1.1. Componentes de sistemas de medição individualizada de água
Entre os componentes integrantes de um sistema de medição remota estão
os hidrômetros, os sistemas de medição remota e as conexões de diversos
materiais, como PVC, PPR (Polipropileno) e cobre. Atualmente, no mercado
brasileiro é possível encontrar uma gama de opções para cada um desses itens,
sendo que a escolha correta deles é fundamental para a garantia da qualidade da
operação do sistema.
A não-conformidade técnica de materiais e componentes da construção civil resulta em habitações e obras civis de baixa qualidade, afetando o cidadão, as empresas e o habitat urbano como um todo. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2014, p. 1).
No âmbito da seleção das conexões, recorre-se aos itens aprovados pelos
programas setoriais de qualidade do Programa Brasileiro da Qualidade e
Produtividade (PBQP-h). Esse programa foi lançado pelo Governo Federal em 1990,
sendo seu principal objetivo o combate a não conformidade intencional às normas
técnicas de produtos. Nas palavras de Ambrozewicz (2003, p. 30):
Articulação, mobilização e parcerias: essas podem ser consideradas as palavras-chave do PBQP-H, um programa em que o Estado atua como agente indutor e mobilizador da cadeia produtiva, por meio de entidades representativas, órgãos de fomento e de normalização.
Para seleção dos hidrômetros e dos sistemas de medição remota, uma vez
que eles não estão organizados em programas setoriais da qualidade, foram
abordados em tópicos específicos.
44
Hidrômetros
Os hidrômetros são ferramentas que medem o volume de água consumido.
Com os dados gerados por esses equipamentos é possível realizar a cobrança do
consumo e elaborar o perfil de consumo do setor por ele atendido, informações vitais
para controle da demanda de água. Nas palavras de Nielsen (2003, p. 15): “o
volume de água consumido pelos usuários de um sistema de abastecimento de
água é contabilizado ou medido por aparelhos denominados de hidrômetros ou
medidores de água, que são homologados, testados e aprovados”. Na Figura 2.16 é
apresentado um hidrômetro.
Figura 2.16. Hidrômetro.
Fonte: Techem, 2015.
No Brasil, as exigências impostas para utilização desses equipamentos em
atividades econômicas estão descritas na Resolução 11 do Conselho Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial Conmetro (1998, p. 3), são elas:
45
Corresponder ao modelo aprovado pelo Inmetro (Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial);
Ser aprovados em verificação inicial, nas condições fixadas pelo
Instituto;
Ser verificados periodicamente.
A aprovação dos modelos e as verificações iniciais e periódicas são
legalmente regulamentadas pela Portaria n° 246 de 17 de outubro de 2000 e pelo
respectivo regulamento Técnico Metrológico, do Inmetro, do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Hidrômetros especificados corretamente estimulam o uso racional de água,
enquanto o inverso provoca o uso perdulário do insumo, pois quando um sistema de
medição individualizada perde a precisão, o usuário pode não sentir o peso de seus
hábitos de consumo, inibindo que ele adote práticas de uso racional, como conserto
de vazamentos e instalação de equipamentos economizadores. Nesse sentido,
Nielsen (2003, p. 20): “A performance metrológica dos medidores de água influi
diretamente no consumo real dos usuários, pois provoca uma reação de
comportamento do mesmo”.
Como apresentada na Figura 2.17, as ferramentas para controle da
qualidade de medição de um hidrômetro são o dimensionamento, o posicionamento,
as homologações e as verificações periódicas do equipamento pelas entidades
responsáveis.
46
Figura 2.17. Hidrômetro – ferramentas para controle da qualidade.
Fonte: CARVALHAES, M.
Os hidrômetros mais utilizados são os velocimétricos, dos tipos monojato e
multijato, que registram o consumo por meio do movimento de uma turbina em
função da vazão de passagem, como apresentado na Figura 2.18. Essa turbina
apresenta desgaste conforme o tempo de uso, justamente por isso é que para a
manutenção da qualidade metrológica é fundamental a verificação periódica do
hidrômetro. Tanto é assim que a Portaria n° 246 do Inmetro, item 8.1, determina que:
“(...) as verificações periódicas são efetuadas nos hidrômetros em serviço, em
intervalos estabelecidos pelo Inmetro, não superiores a cinco anos”.
Controle da qualidade
de hidrômetros
Verificações Periódicas:
Desgaste e envelhecimento
Dimensionamento, posicionamento e especificação de
materiais
Homologações
INMETRO
47
Figura 2.18. Hidrômetro de turbina.
Fonte: http://g1.globo.com/tecnologia /noticia/2010/07/ conheca-o-funcionamento-do-hidrometro.html,
acessado em 08/06/2015.
Patologias relacionadas à falta de manutenção desses equipamentos
repercutem diretamente nas estratégias de redução da demanda, segundo Fontes
(2004, p. 1):
Medidores parados ou com indicações de medições inferiores às reais, além da evidente perda do faturamento, elevam erroneamente os indicadores de perdas do sistema, pois apesar da água estar sendo fornecida ao usuário, parte dela não está sendo contabilizada.
Sistemas de medição remota
A necessidade de maior velocidade e precisão nas medições motivou a
evolução de hidrômetros lidos presencialmente para sistemas de medição remota.
Além da rapidez, trouxeram a possibilidade de efetuar medições em lugares com
acesso controlado, como apartamentos. Assim, o emprego dessa tecnologia na
medição impulsionou a qualidade e as possibilidades de implantação, como os
http://g1.globo.com/tecnologia%20/noticia/2010/07/%20conheca-o-funcionamento-do-hidrometro.html
48
sistemas de medição individualizada de água em edifícios “sem previsão” por meio
da instalação de um hidrômetro em cada ramal do edifício. Na Figura 2.19 são
apresentados três equipamentos de medição remota por radiofrequência.
Figura 2.19. Sistema de medição remota por radiofrequência.
Fonte: Techem, 2015.
Outra melhoria obtida mediante o uso desses sistemas é a geração de
alarmes de vazamentos e de fraudes, o que torna possível melhorar o controle da
gestão do consumo, identificando mais rapidamente os pontos de perdas e
reduzindo o desperdício.
Segundo ABNT NBR 15806: 2010 (2010, p. 4), os sistemas de medição
remota são definidos como:
(...) responsáveis pela transmissão dos dados. São constituídos por medidores providos de geradores de pulsos dispositivos auxiliares de medição, dispositivos adicionais de medição e prescrições documentadas, que permitem a medição e outras funcionalidades tais como acionamento de válvulas de bloqueio digital à distância.
Como se pode notar na descrição da ABNT NBR 15806: 2010, em razão de
evolução tecnológica dos equipamentos, os sistemas de medição remota têm
49
demonstrado excelência no auxílio às atividades de controle e gestão do consumo
de água, e, ainda, contribuem para a absorção de outras funcionalidades.
Segundo PROACQUA (2008), a operação desses sistemas não se encerra
na medição, pois é prolongada para outras atividades, como retenção e exame de
dados, de modo que o sistema seja retroalimentado com o intuito de melhorar a
gestão de água nos edifícios de múltiplos pavimentos. De acordo com o
PROACQUA (2008, p. 24), “a leitura remota é caracterizada pela automatização da
medição e da transmissão de dados de fontes remotas para estações de
recebimento, nas quais sofrem processamento, análise e arquivamento”.
Nos países pioneiros na medição remota em edifícios de múltiplos
pavimentos, como Estados Unidos e Alemanha, segundo Mrozinski (1991), as
discussões da aplicação desses sistemas em edifícios habitacionais e comerciais
vêm sendo realizadas desde o começo da década de 1970. Apesar de ter sido
conceitualmente estabelecida no século XIX, somente recentemente a leitura remota
efetivamente foi colocada em prática.
Segundo Rozas (2002), nos Estados Unidos, entre os anos de 1988 e 1998,
ocorreu um crescimento de 20 mil para 15,8 milhões de unidades de medição
remota instaladas. A motivação para tanto foi a redução de custo dos equipamentos,
em razão do desenvolvimento tecnológico nas áreas de eletrônica e de informática,
bem como o aumento de custos das leituras tradicionais (in loco).
Na análise a seguir, PROACQUA (2008, p. 24) se aprofunda nas causas do
pioneirismo de certas nações quanto ao emprego do sistema de leitura remota.
O emprego mais massivo de leitura remota pode ser observado na América do Norte, isto porque, historicamente, suas concessionárias de energia elétrica e gás foram as primeiras a se preocupar com o aumento na eficiência operacional, com a redução de custos e com o comportamento dos usuários num mercado cada vez mais competitivo (características como a busca por serviços com mais qualidade). Deve ser citado também o processo mundial de desregulamentação dos setores energéticos, de água e de telecomunicações (que acarretou em privatizações), a livre-concorrência, o desenvolvimento de setores como o de telecomunicações, além da própria busca por eficiência. Ásia e Europa foram os seguintes a empregar a leitura remota, após a
50
percepção desta como importante ferramenta de gestão, num contexto de consolidação dos setores envolvidos.
No Brasil os primeiros sistemas de medição remota foram instalados no final
da década de 1990, tendo destaque em 1998 a implantação da setorização do
consumo no campus Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, localizado na
cidade de São Paulo. Entretanto, somente em meados da década de 2000 o sistema
começou a ser aplicado e, basicamente em condomínios, passou a alcançar maior
escala de aplicação. Ainda hoje, o emprego desta técnica pelas concessionárias
brasileiras é insignificante.
A função principal de um sistema de medição remota de água é transmitir,
com confiabilidade, a informação captada no medidor até uma central de
gerenciamento de dados, incluindo alarmes e dados de consumo. Para essa
transmissão podem ser utilizados diversos meios de comunicação, como cabos,
linhas telefônicas e radiofrequência. As etapas de transmissão de um sistema de
medição remota mediante a radiofrequência são representadas, resumidamente, na
Figura 2.20.
Figura 2.20. Etapas de transmissão de um sistema de medição remota por meio da radiofrequência.
Fonte: CARVALHAES, M.
Como mostra a Figura 2.21, na operação dos sistemas de radiofrequência
os dados gerados pelos hidrômetros são enviados para um concentrador, podendo
ser fixo ou móvel.
Hidrômetros
Concentrador de dados
Central de Gerenciamento
51
O concentrador fixo é instalado no interior do edifício, assim todos os dados
gerados pelos hidrômetros são direcionados para ele. Por sua vez, deve enviar os
dados coletados até a central de gerenciamento, cuja transmissão, normalmente, é
feita por meio de uma linha telefônica. Via de regra, esse modelo é empregado em
edifícios distantes da central de gerenciamento.
No caso de aplicação de um concentrador móvel, na data programada para
extração dos dados de medição, o concentrador deverá ser levado até o edifício
para coleta e, posteriormente, para a central de gerenciamento, como representado
na Figura 2.21. Nessa forma de operação existe a possibilidade de redução de
custos, uma vez que o mesmo concentrador pode ser utilizado em diversos edifícios.
Geralmente, é aplicado em regiões metropolitanas, onde os edifícios estão próximos
da central de gerenciamento.
Figura 2.21. Sistema de medição remota por radiofrequência.
Fonte: Techem, 2015.
52
Meio físico para transmissão de dados
Como visto anteriormente, no Brasil, na maioria das aplicações de sistemas
de medição individualizada de água, a transmissão de dados entre o hidrômetro e a
central de gerenciamento pode ser dividida em duas fases. A primeira fase ocorre
entre os hidrômetros instalados em um condomínio e um concentrador, sendo a
radiofrequência e o barramento de campo os meios mais utilizados. A segunda fase
ocorre entre os concentradores e uma central de gerenciamento, enquanto as
transmissões dos dados são realizadas por linha telefônica (GPRS) ou pela coleta
de leituristas. Rozas (2002, p. 25) definiu da seguinte maneira essa etapa de
comunicação:
Medição off-site. Quando existe um dispositivo eletrônico no medidor,
mas os dados de leitura ainda são coletados por um leiturista.
Medição automática. Quando os dados são enviados diretamente às
concessionárias.
O desempenho de um sistema de comunicação de dados depende da
escolha do meio físico para transmissão dos dados. Um meio de comunicação vai
definir as características de confiabilidade da transmissão, a área de cobertura e a
velocidade.
Determinação das vazões em sistemas de medição individualizada de água
Quando o edifício é projetado com previsão para a medição individualizada o
número de prumadas é reduzido e os ramais de alimentação interna de água
atendem diferentes ambientes sanitários, com distintos períodos de pico. Assim,
deve-se projetar o sistema para atender as solicitações que ocorrem em
determinados períodos do dia, especialmente no período de pico, alterando o
modelo de estabelecimento das vazões para o método probabilístico. Dessa forma,
como
(...) os trechos da tubulação de água, onde estão instalados os medidores, atendem diferentes tipos de ambientes sanitários – cozinhas, banheiros etc. – com diversos períodos de pico de uso dos aparelhos. Por exemplo, em uma cidade como São Paulo, um trecho da tubulação de água fria, com hidrômetro instalado, pode atender
53
simultaneamente banheiros sociais, com períodos de pico das 6h às 8h e das 18h às 20h, e cozinha, com período de pico das 11h às 14h e em outros casos das 18h às 20h. Na condição mais desfavorável o período ocorrerá das 18h às 20h com o uso simultâneo de alguns aparelhos sanitários do banheiro e da cozinha. (OLIVEIRA; ILHA; GONÇALVES, 2007, p. 6).
O método da soma dos pesos previsto na ABNT NBR 5626: 1998 considera
que cada equipamento hidráulico apresenta um consumo e a soma deles determina
a vazão de abastecimento, sem, contudo, levar em consideração a quantidade de
usuários e os períodos de utilização, considerando o mesmo período de pico para a
utilização dos aparelhos.
O método probabilístico de determinação de vazões, também citado na
mesma norma, possibilita ao projetista determinar as variáveis de projeto, como
número de usuários, tempo de duração da utilização e vazões solicitadas pelos
equipamentos sanitários, a fim de conseguir um sistema mais preciso, melhorando o
desempenho do hidrômetro. Portanto, a análise do método probabilístico obtém
resultados mais próximos da realidade, melhorando o desempenho do hidrômetro.
Na Figura 2.22, Oliveira, Ilha e Gonçalves (2007) apresenta os resultados
obtidos em três edifícios residenciais multifamiliares compostos por dez pavimentos,
todos com um apartamento por andar. A análise considerou apartamentos com
diferentes vazões, o primeiro um dormitório e um banheiro (1D/1B), o outro, dois
dormitórios e dois banheiros (2D/2B) e, por fim, o terceiro, três dormitórios e três
banheiros (3D/3B). As populações estimadas são, respectivamente, duas, quatro e
seis pessoas. Na primeira coluna são apresentados os resultados obtidos pelo
método dos pesos, na segunda pelo probabilístico. Os resultados obtidos pelo
método probabilístico indicam uma redução dos valores de vazão nos ramais de
alimentação, em relação ao método recomendado pela ABNT NBR 5626: 1998.
54
Figura 2.22. Vazões de projeto no ramal de alimentação, obtidas pelo método probabilístico e pelo
dos pesos.
Fonte: OLIVEIRA; ILHA; GONÇALVES, 2007, p. 7.
Além da alteração no método de determinação das vazões, outra mudança
no procedimento de elaboração de projetos de sistemas prediais hidráulicos e
sanitários em condomínios residenciais, decorrente da introdução da medição
individualizada de água, é a especificação dos equipamentos sanitários nas
unidades habitacionais. Como exposto anteriormente, todos os equipamentos
deverão ser abastecidos por um único ramal, onde será instalado o hidrômetro. Em
razão disso, as vazões de funcionamento solicitadas por eles deverão apresentar
certa homogeneidade, ou seja, como apresentado na Tabela 2.3, entre 0,10 e 0,30
l/s. No caso de equipamentos que solicitam vazões maiores no ponto de consumo,
como as válvulas de descarga (1,70 l/s), tanto o diâmetro do ramal, quanto o
hidrômetro especificado seriam insuficientes.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
1 Banheiro 2 Banheiros 3 Banheiros
Vazão
(L/
s)
Probabilístico NBR 5626
55
Tabela 2.3. Vazões nos pontos de utilização em função do aparelho sanitário e da peça de utilização.
Aparelho sanitário
Peça de utilização Vazão de projeto
litros/segundo
Bacia sanitária Caixa de descarga 0.15
Bacia sanitária Válvula de descarga 1.70
Banheira Misturador (água fria) 0.30
Bidê Misturador (água fria) 0.10
Chuveiro ou ducha Misturador (água fria) 0.20
Chuveiro elétrico Registro de pressão 0.10
Lav. de roupas Registro de pressão 0.30
Lavatório Torneira mist. (Água fria) 0.15
Fonte: ABNT NBR 5626: 1998 (1998, p. 13).
56
3. REGULAMENTAÇÕES, NORMAS E GUIAS DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA
DE ÁGUA
Para a análise da operação de sistemas de medição individualizada de água
faz-se necessário o levantamento dos programas institucionais nacionais e
internacionais, bem como a avaliação dos critérios adotados. Em um primeiro
momento, são caracterizadas as instituições responsáveis pelos programas,
apresentando-se a quantidade de clientes e de municípios abrangidos e as
principais motivações para a elaboração da normalização. Somado a isso, há a
preocupação em descrever como cada um deles aborda as responsabilidades sobre
projeto, execução e manutenção e os princípios adotados para desenho do
programa, como tecnologias obrigatórias e procedimentos para medição. E, por fim,
são avaliados os principais documentos normativos e os critérios neles expostos
para garantir a qualidade do sistema e a precisão da medição, desde a escolha dos
componentes até a manutenção do sistema.
3.1. PROGRAMAS INSTITUCIONAIS DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE ÁGUA
3.1.1 Instituições pesquisadas
SABESP: A SABESP foi fundada em 1973 para prestação de serviços públicos de
saneamento básico no Estado de’ São Paulo. Em 2015, a SABESP prestou serviços
para 364 municípios, atendendo uma população de 28 milhões de habitantes. Em
2007 foi lançado o Programa PROACQUA, um convênio entre a SABESP e o
CEDIPLAC, cuja premissa inicial era formulação de uma proposta técnica de
operação em medição individualizada.
SANASA: A SANASA (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.)
foi criada em 1973 para prestar serviços de saneamento básico no município de
Campinas. Em maio de 2006, o município de Campinas homologou a lei 12.549, que
impõe a obrigação da medição individualizada em condomínios novos. Em razão
disso, no mesmo ano, a SANASA adotou critérios para a individualização em
condomínios novos e existentes, por meio da publicação das Normas Comerciais,
57
Técnicas e de Sistema de Medição Remota. Em 2015, efetuou atendimento de
aproximadamente 1.145.000 consumidores.
EMBASA: A EMBASA (Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.) foi criada em
1971 para prestar serviços de saneamento básico no Estado da Bahia. Em 2009 o
município de Salvador promulgou a Lei Municipal Lei nº. 7 780, que impõe a
obrigação da medição individualizada em condomínios novos. Em razão disso, no
mesmo ano, a EMBASA adotou critérios para a individualização em condomínios
novos e existentes. Segundo Silva (2010, p. 3)
“Até o mês de fevereiro do ano de 2010, existiam na cidade do Salvador 411 edifícios multifamiliares com ligações individualizadas cadastradas no Sistema Comercial da EMBASA, totalizando 7.103 apartamentos que recebem as suas contas de água e esgoto de forma independente. A maioria dessas edificações é antiga e adaptou as suas instalações hidráulicas ao sistema de hidrometração individualizada”.
Em 2015, a EMBASA prestou atendimento a uma população de 12,7 milhões de
pessoas.
COMPESA: A COMPESA (Companhia Pernambucana de Saneamento) foi criada
em julho de 1971 para prestar serviços de saneamento básico no Estado de
Pernambuco. A COMPESA foi a concessionária pioneira no Brasil em medição
individualizada, começando em 1994. Em 2015, a COMPESA atendeu a 173
municípios no Estado de Pernambuco.
COPASA: A COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) foi fundada
em 1974 para prestar serviços de saneamento básico no estado de Minas Gerais.
Em 2006, após a divulgação da medição individualizada pela ANA, surgiu o
interesse da COPASA nessa atividade. Em 2014, a COPASA atendia a uma
população de 14,5 milhões de pessoas em 615 municípios.
SANEAGO: A SANEAGO (Saneamento de Goiás S.A.) foi fundada em 1960, a
Saneamento de Goiás S.A. para prestar serviços de saneamento básico no Estado
de Goiás. A SANEAGO foi uma das concessionárias pioneiras no Brasil, começando
58
a medição água individualizada em 2003. Em 2015, a SANEAGO prestou
atendimento a 223 munícipios em Goiás.
SOUTH EAST WATER – MELBOURNE, AUSTRÁLIA: South East Water foi
fundada em 1995, ela é uma prestadora de serviços de saneamento básico e
soluções ambientais em uma área que abrange o sudeste de Melbourne até o Sul
Gippsland. Em 1998 foi alterado o Código dos Condomínios Residenciais de
Melbourne, permitindo a medição individualizada pela concessionária, de modo que,
nesse mesmo ano, a South East Water iniciou a prestação desse serviço. Para
incentivar a adaptação em edifícios antigos a concessionária oferece a instalação
gratuita do medidor. Entretanto, é cobrado o serviço de medição e os custos para
adaptar as instalações hidráulicas dos edifícios. Em 2015, a South East Water
atendeu uma população de 1,7 milhões.
QUEENSLAND INFRAESTRUTURA URBANA - BRISBANE AUSTRÁLIA:
Queensland Infraestrutura Urbana foi fundada em 2010, ela é uma prestadora de
serviços de saneamento básico para os municípios de cinco regiões no sudeste do
Estado de Queensland, Brisbane, Lockyer Valley, Ipswich, Somerset e Scenic Rim.
Iniciou a medição individualizada em 2008, devido à alteração do “Ato Estadual de
Abastecimento de Água” nesse mesmo ano, pois passou a permitir a cobrança
individual dos proprietários. Em 2015, a empresa abasteceu 532.000 residências.
EPAL – LISBOA, PORTUGAL: A EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres S.A.)
foi fundada em 1974, ela é uma prestadora de serviços de saneamento básico na
cidade de Lisboa. Ao contrário das concessionárias discutidas acima, a EPAL tem
maior proximidade da execução dos sistemas prediais de distribuição de água, pois,
para que ela efetue a ligação dessa rede com o sistema público de distribuição de
água, as instalações prediais devem respeitar todos os critérios técnicos
especificados no “Manual de Redes Prediais” (EPAL, 2011), no qual estão
disponibilizadas as diretrizes para medição individualizada. Em razão disso, se torna
mais difícil precisar a data de início da medição individualizada pela concessionária.
Em 2015, a EPAL atendeu uma população de três milhões de pessoas.
59
3.1.2. Análise comparativa entre as Regulamentações em medição
individualizada de água
A escassez de água e a demanda da sociedade por métodos mais justos de
cobrança forçaram as concessionárias brasileiras a formularem programas de
medição individualizada de água. No Brasil esse movimento teve início em 1994,
tendo a COMPESA como pioneira, e apesar dos mais de 20 anos de maturação, ele
ainda se encontra em estágio embrionário em todo o país. Isso pode ser evidenciado
mais claramente em regiões como a metropolitana de São Paulo, onde se estima
que em 2015 existam apenas aproximadamente 150 mil apartamentos
individualizados e na sua esmagadora maioria não existe envolvimento direto da
concessionária, e sim da iniciativa privada.
Em todos os programas do Brasil existem indícios claros de um desejo de
participação da iniciativa privada no processo, uma vez que em todos eles as etapas
de projeto e instalação são por ela executadas, sendo que em algumas são incluídas
as fases de manutenção e leitura. Em contrapartida, entende-se que não há uma
compreensão por parte das concessionárias brasileiras a respeito da interferência
que a implantação desses sistemas provoca na cadeia da construção civil. Isso
porque, com exceção do programa da SABESP lançado em 2009, existem somente
curtas instruções técnicas para implantação do sistema, indicando alguns critérios
básicos, sem que haja uma abordagem sistêmica, incluindo-se outras especialidades
como sistemas de distribuição de água fria, projeto arquitetônico e sistemas de
aquecimento de água.
Contudo, a regulamentação de medição individualizada da SABESP é mais
abrangente do que as restantes, sendo composta por duas normas e três volumes
técnicos. As duas Normas Técnicas da SABESP estabelecem os critérios para
implantação do sistema no condomínio, a primeira, denominada NTS277 (2008),
estabelece os critérios hidráulicos e arquitetônicos; a segunda, a NTS 279 (2008),
em linhas gerais, adequa as funcionalidades do concentrador, ou seja, formato do
display, organização dos comandos, protocolos externos, relação de alarmes e
processo de acionamento da válvula de bloqueio ao sistema padrão da SABESP.
60
Os três volumes da documentação técnica têm função de orientar
tecnicamente projetistas, construtores e gestores, abordando diversas áreas da
construção civil e são denominados por Diretrizes de Projeto; Aquisição e Gestão de
dados; e Execução e Manutenção.
Tratando-se de documentação, dentre os programas avaliados, destaca-se a
experiência da EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres), que, ao contrário das
concessionárias nacionais, mantém uma relação próxima com a implantação dos
sistemas prediais hidráulicos dos edifícios por ela atendidos. O Manual de redes
prediais da EPAL (2011) abrange os sistemas prediais hidráulicos e sanitários por
completo, nele são abordadas as características mais relevantes do projeto e da
execução de sistemas de medição individualizada, demonstrando claramente as
responsabilidades de cada participante do processo. O manual é dividido em
capítulos que abordam a elaboração do processo de abastecimento, concepção de
projeto, disposição construtiva, dimensionamento e instalação de hidrômetros.
Apesar da exigência por tecnologia SMR, é pouco abordada na documentação
técnica, inclusive quais modelos podem ser utilizados.
Em todas as regulamentações pesquisadas existem alguns pontos em
comum, como, por exemplo, o estabelecimento da localização dos hidrômetros no
edifício, qual seja: local de fácil acesso e área comum do edifício, a fim de que possa
facilitar a leitura, a manutenção e, sobretudo, dificultem a ocorrência de fraudes.
Sobre esse critério cabe discutir algumas iniciativas privadas bem-sucedidas
de medição individualizada com os hidrômetros instalados no interior dos
apartamentos, como em edifícios antigos sem previsão, que constituem a grande
maioria das construções brasileiras. Nesses empreendimentos, apesar do evidente
aumento do risco de fraudes se comparado com um modelo ideal, de um edifício
com os hidrômetros na área comum, são constadas reduções do consumo de água,
da geração de esgotos e ascensão de justiça social.
61
Cabe ressaltar ainda que, como apresentado no item 2.1.1., atualmente
existem tecnologias capazes de gerar alarmes para as principais fraudes, a exemplo
do fluxo reverso e fraude magnética. Portanto, ao tratar-se de edifícios em fase de
projeto, deve-se restringir a instalação de todos os componentes do sistema de
medição individualizada à área comum. Porém, ao tratar-se de edifícios já
construídos, a decisão a ser tomada é definir entre fomentar os benéficos desse
sistema aos usuários e ao meio ambiente ou restringir o risco de fraudes à
concessionária.
Em alguns programas são indicadas as alturas máximas e mínimas de
instalação desses componentes, na regulamentação da SANASA (2015) entre 0,50
e 1,50 metros do piso e na da SABESP (2008) entre 0,30 e 1,50 metros do piso. Isso
ocorre para facilitar a manutenção dos componentes e acesso dos usuários, que, por
sua vez, representa um enorme ganho de qualidade se comparado aos projetos
iniciais de medição individualizada de água, nos quais se chegava a instalar
hidrômetros no forro.
Porém, cabe ressaltar que o estabelecimento muito rigoroso no tocante às
alturas pode provocar o aumento do valor do metro quadrado construído, elevando o
custo de implantação do sistema, o que dificulta o acesso da população. Isso
porque, cada vez mais, as construtoras para melhorarem o aproveitamento do
espaço procuram diminuir os ambientes para circulação, assim restam poucos locais
para a instalação de sistemas contra incêndio, shafts para distribuição de energia
elétrica e medição individualizada de água e gás.
Assim, cabem às entidades responsáveis pelas regulamentações avaliar
sistemicamente a inserção da medição individualizada na construção civil,
afastando-se um pouco essas documentações do modelo ideal e permitindo alturas
um pouco distintas, como, por exemplo, 0,20 ou 1,80. Dessa forma é possível
alcançar grande economia na implantação e promover maior aderência à medição
individualizada de água.
62
Dentre as regulamentações pesquisadas, existem critérios únicos que não
são encontrados em nenhuma outra. No programa da SABESP (2008), por exemplo,
é exigido o uso de válvulas de bloqueio remoto, a fim de que seja interrompido e
restabelecido o abastecimento de água dos usuários inadimplentes por meio do
acionamento de um dispositivo localizado na portaria do edifício, e, assim,
dispensada a entrada de um funcionário da concessionária no condomínio.
Atualmente, o dispositivo de bloqueio remoto mais utilizado nessas
aplicações são as válvulas solenoides, um dispositivo utilizado nas mais diversas
aplicações industriais, porém sem histórico de uso em sistemas prediais de
distribuição de água fria residenciais, em que se faz necessário o controle de
abertura, fechamento e/ou desvio de fluxo de algum fluído, seja ele ar, gás ou
líquido. Essa exigência promove alguns obstáculos para implantação da medição
individualizada de água, como o financeiro, visto que esses equipamentos tem um
custo similar aos hidrômetros e requerem o mesmo espaço, bem como de caráter
técnico visto que não existe no mundo um programa de reconhecido sucesso técnico
com a aplicação desses equipamentos em sistemas prediais de distribuição de água
fria em edifícios residenciais. E, ainda, um obstáculo operacional, pois ao
restabelecer o abastecimento de água à distância pode-se promover uma inundação
no apartamento, já que nesse momento pode haver algum equipamento hidráulico
aberto e não haverá ninguém presente para fechá-lo.
O processo de implantação de medição individualizada pode ser definido em
etapas de projeto, execução, leitura e manutenção. Em grande parte das
regulamentações vigentes no Brasil apenas algumas delas são incluídas e outras
são ignoradas. Em linhas gerais, ao tratar-se do controle de qualidade, os programas
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