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Imagens que ilustram minha vivência com as cidades do Rio de Janeiro, Uberaba e Belo Horizonte: deslumbre com a arquitetura e a natureza; curiosidade com os usos e costumes; denúncia do descaso com o meio ambiente; perturbação com a passagem do tempo.
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Apresentação 5
Introdução 7
Rio de Janeiro 8
Uberaba 19
Carvoaria 25
SOS Rio Uberaba 33
Folia de Reis 42
Casarões de Uberaba 54
Mata Atlântica – uma pálida lembrança 61
Aves do Cerrado 66
Praça da Liberdade 79
A visão do Cemitério 85
Serra da Canastra 92
Passagem do Tempo 101
5
Apresentação
Paulo Vicente de Rezende rodou meio-mundo para descobrir-se e
realizar-se naquilo que realmente gosta. Nasceu em Conquista -
MG, numa fazenda onde corria um riachozinho alegre saltando entre
pedras escuras. De lá veio para Uberaba, depois Belo Horizonte, Rio
de Janeiro e novamente em Uberaba. Foi na década de 50 que nos
conhecemos e nos tornamos amigos. Fui seu professor e
trabalhamos juntos em grupos de conscientização política, entre a
classe estudantil. No Rio de Janeiro estudou Ciências Sociais. Mas
nada disso fez com que se realizasse. Procurou novos rumos e foi
terminar estudando pintura, desenho, fotografia e escultura
contemporânea na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Muitos anos se passaram. Vim a encontrá-lo novamente aqui em
Uberaba. Foi uma notícia vinda pelo telefone: “Prata, estou
novamente em Uberaba. Vim para ficar.” Fui procurá-lo. Eu tinha
naquele momento na memória aquele adolescente de 58. Estava
diferente, de bigode e barbicha e sem aqueles cabelos negros que
tratava com vaidade. Era agora um senhor, já casado, pai e avô.
“Time goes by...”
Paulo não era mais um bancário, era um artista que se interessava
apenas pela arte enquanto arte. Era outra pessoa, mas o mesmo
amigo de sempre. Com freqüência nos encontramos. Ele sabe que
admiro seu trabalho, por isso não me deixa por fora daquilo que vai
criando. É um artista fora dos padrões convencionais. Procura o
detalhe. Vai em busca de ângulos aparentemente sem sentido. Não
é um realista no sentido que chamamos de ingênuo. Seus quadros,
para os leigos no assunto, assustam e causam estranheza. Pintura
ou escultura para ele não é algo para ser entendido ou explicado.
Ele vai além do comum.
Aprendemos na velha filosofia que a arte é a expressão do belo e
belo é tudo aquilo que visto agrada. Como diziam os latinos:
6
“Pulchrum est quod visum placet”. Paulo Rezende foge desse
esquema. Seus quadros, sua pintura e suas fotos não procuram
agradar. Ele procura novos rumos. Usa materiais estranhos, papel,
pigmento, chapas, cobre oxidado sobre diferentes suportes. É
originalíssimo. São trabalhos experimentais, idéias sem procura de
um resultado final, criação aparentemente sem equilíbrio. Todos nós,
sem que tomemos consciência, estamos sempre à procura de um
sentido para as coisas, de significados. É isto o que caracteriza
Paulo Rezende: a procura.
Na fotografia é a mesma tendência: a procura de ângulos
aparentemente sem significados. Neste livro, agora editado, seu
objetivo é perpetuar os lugares pelos quais passou: Uberaba, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro. Quase sempre em preto e branco. A
fotografia está no seu sangue. É bisneto de José Severino Soares
(1835-1917), premiado muitas vezes na Exposição Nacional de
Fotografia no Rio de Janeiro. Paulo presta homenagem ao seu
bisavô com duas fotografias. Seu livro é um livro de memórias em
fotos. Eternizou em suas fotos tudo o que o atraia: velhos casarões
de Uberaba, igrejas antigas (ângulos), aves do cerrado, folia de reis,
carvoarias, Serra da Canastra.
Em 2007, Paulo Rezende, no Centro de Cultura José Maria Barra,
fez uma exposição realmente original. São fotografias de pessoas
nascidas em cada ano, de 1901 a 2007. Cada foto como que
congela o tempo em que foi tirada. Por amizade e delicadeza,
“congelou-me” em 1922. Faz tempo, hein, Paulinho?
No mais, meus parabéns ao velho amigo ainda não congelado.
Parabéns pela originalidade de seu livro como “aquele que corre
atrás de coisas que ninguém vê”.
Padre Prata
Uberaba, julho de 2008
7
Introdução
Na década de 60, sai de Uberaba para trabalhar e estudar. Naquela
época, era a viagem ao futuro desconhecido, sedutor e cheio de
esperança. Uma aventura para todo jovem interiorano, à procura de
oportunidade e crescimento no grande centro urbano.
Inicialmente, fui para Belo Horizonte, onde terminei meu segundo
grau, no Colégio Estadual, ingressei na Faculdade de Ciências
Econômicas, no Curso de Sociologia e fui trabalhar num banco
mineiro.
Posteriormente, fui para o Rio de Janeiro, onde permaneci por mais
de trinta anos. Lá, realmente vivi e curti outras vidas. Na década de
90, estudei pintura, desenho, escultura contemporânea, gravura,
fotografia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Foi a minha
relação direta e real com a arte: a realização de minhas exposições
e o contato com artistas de expressões e linguagens diferentes.
A partir de 2002, inicio uma viagem visual com fotografais do Rio de
Janeiro, Uberaba e Belo Horizonte. Imagens que ilustram minha
vivência com estas cidades e seu entorno: deslumbre com a
arquitetura e a natureza; curiosidade com os usos e costumes;
denúncia do descaso com o meio ambiente; perturbação com a
passagem do tempo.
Paulo Rezende
Uberaba, 2011
8
Rio de Janeiro
Rio foi e continua sendo a minha grande experiência de vida.
Trabalho, arte, trilhas, escaladas, montanhas, mar, beleza, asa delta,
praias, lagoas, calçadão, maresia, vida trepidante, alegria,
descontração, cinema, shopping, restaurantes, descobertas.
Em cores ou preto e branco, uma maravilha que seduz, hipnotiza e
encanta o olhar. No penúltimo dia de minha partida, em 2002, para
uma ausência momentânea, registrei, com fotos em preto e branco,
um percurso que me é tão rico e sedutor: Botafogo, Copacabana,
Lagoa Rodrigues de Freitas, Escola de Artes Visuais Parque Lage,
Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra, Lagoa de Marapendi,
Recreio.
Nos anos seguintes, nas oportunidades que retornava ao Rio,
continuava a fotografar os lugares por onde passava, congelando as
imagens que nunca deixei de admirar.
14
Centro Cultural do Banco do Brasil – Instalação da Exposição Lusa a Matriz Portuguesa
Mosteiro de Santo Antônio
19
Uberaba
O primeiro impulso que tive, ao retornar a Uberaba, após alguns
anos, foi rever algumas construções, inauguradas nas primeiras
décadas do século XX, que tanto me seduziram na infância: Grupo
Escolar Brasil, Cine Royal, Igreja São Domingos, Igreja Santa Rita,
Cine Teatro São Luiz, Mercado Municipal, Capela do Colégio Nossa
Senhora das Dores, Palácio Episcopal.
Ao fotografar estes espaços, ia lembrando as histórias que contavam
de meu bisavô, um fotógrafo pioneiro, viajor por dezoito Estados
brasileiros e Europa, que aqui veio morar e falecer. José Severino
Soares (1838-1917), considerado o primeiro fotógrafo de Uberaba,
premiado numa Exposição Nacional de Fotografias, realizada no Rio
de Janeiro em 1875, retratou pessoas e registrou momentos
históricos da cidade. Com duas fotos dele, uma de meu avô, por
volta de 1908 e outra da inauguração do Grupo Escolar Brasil, em
03/10/1909, presto minha homenagem.
Minhas fotos em preto e branco foram tiradas, com filme de baixa
sensibilidade, Kodalith ASA 6, em junho de 2002.
21
Foto de José Severino Soares da Inauguração do Grupo Escolar Brasil, em 03/10/1909
Mercado Municipal
25
Carvoaria
O contato que mantive com uma carvoaria no Triângulo Mineiro, em
2003, possibilitou o registro de algumas fotos em preto e branco e
um breve contato com o trabalhador.
O lado mais triste da Carvoaria, além da poluição e agressão ao
meio ambiente, é o trabalho do carvoeiro. Por um período, longe de
sua família, se estabelece junto aos fornos de onde se afasta,
normalmente, após a conclusão da queima e armazenamento do
carvão.
Um precário barraco, construído de pau a pique e lona, serve de
moradia. O trabalho é executado sem nenhuma proteção, sob forte
calor e a presença sufocante da fuligem e da fumaça. No domingo
preservado, a monotonia é afugentada com muita cachaça.
Tive uma recepção acolhedora e alegre, contrastando com um
ambiente de desconforto e solidão.
33
SOS Rio Uberaba
Em 2003, recém chegado à Uberaba e chocado com a poluição do
Rio Uberaba, registrei algumas imagens em preto e branco, num
trecho de aproximadamente 100 metros, localizado na cidade e
próximo da avenida denominada Via Verde. Além do Rio Uberaba,
fotografei seu afluente – um esgoto a céu aberto –, nos fundos da
Fundação Cultural de Uberaba. A ausência de cores nas fotos
denunciava a verdadeira cor plúmbea das águas.
Em 2007, quando novamente voltei a fotografar o mesmo local,
agora em cores, a constatação foi a mesma: o rio continuava poluído
e teimava em sobreviver, com sua bela mata ciliar e com uma fauna
que resistia à poluição e ao mau cheiro.
A água é o nosso bem mais precioso: constitui dois terços de nosso
corpo e 70% da superfície da Terra. Menos de 1% da água terrestre
é água doce e própria para consumo humano.
No Brasil, apesar de ter a maior bacia hidrográfica do mundo, se o
consumo continuar no ritmo atual, cerca de 30% da população
poderá ter de racionar água até 2025.
A água está se tornando, progressivamente, um dos principais focos
de conflito do presente século. Mas, infelizmente, ela continua sendo
tratada como uma dádiva eterna que não precisa de cuidados:
desperdiçamos, poluímos e desprezamos o nosso bem mais
precioso.
42
Folia de Reis
A Folia de Reis ou Reisado é uma festa popular, de caráter religioso,
herdada dos colonizadores portugueses. Sua comemoração era
semelhante à portuguesa, pelo menos até o século XVIII, com trocas
de presentes na véspera do Dia de Reis. Em Portugal, em meados
do século XVII, tinha como principal finalidade divertir o povo. No
Brasil, com o tempo, adquiriu traços mais populares, misturando-se
a novos elementos, como o candomblé, no Rio de Janeiro, ou às
congadas, em Alagoas.
Atualmente, a Folia de Reis se constitui de um auto, em que são
dramatizadas as passagens bíblicas do nascimento de Cristo, da
visitação dos reis magos e da fuga da sagrada família para o Egito.
É uma manifestação alegre e colorida, impregnada de expressão de
fé e os preciosos versos são preservados de geração em geração,
por tradição oral.
Entre a véspera de Natal e o dia 6 de janeiro – Dia de Reis –, grupos
de cantadores e instrumentistas, trajando roupas coloridas e
transportando a bandeira, percorrem a cidade, entoando versos
relativos à visitação dos Reis Magos – Baltazar, Belchior e Gaspar –
ao Menino Jesus e recolhendo oferendas – comida e dinheiro. Nas
apresentações, é “oferecida” a bandeira do grupo – enfeitada com
fitas e santinhos –, à qual tributam especial respeito. A Bandeira
Guia ou Santa Guia – simbolizando a estrela que orientou os Reis
Magos na visita ao menino Jesus – é o maior símbolo da Folia de
Reis e vai sempre à frente.
O grupo – normalmente integrado por 12 membros (mesmo número
dos apóstolos) – é composto pelo Alferes (ou Capitão, chefe da
Confraria), dos cantadores, instrumentistas (viola, violão, sanfona,
reco-reco, chocalho, cavaquinho, pandeiro, triângulo, caixa são os
principais instrumentos) e palhaços. Os palhaços, representando os
soldados do Rei Herodes, vestidos com roupas coloridas e cobertos
43
por máscaras, são responsáveis pela distração e divertimento de
quem assiste à apresentação e vão sempre afastados um pouco da
formação normal da Folia, nunca se adiantando à bandeira.
A Folia de Reis é comemorada, notadamente, em cidades do interior
do Nordeste, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e nas periferias de
grandes cidades. Na década de 20, estava restrita ao meio rural.
Com a intensa migração dos camponeses para os grandes centros
urbanos, houve o deslocamento das antigas Companhias de Reis. A
Folia de Reis, ao lado de Congadas e Moçambique, é uma das
manifestações do folclore mais antigas em Uberaba-MG.
Atualmente, esta cidade conta com, aproximadamente, 100
companhias.
As fotos em preto e branco foram tiradas por ocasião do 48º
Encontro Anual de Folia de Reis, realizado em 12 de fevereiro de
2006 e, as fotos em cores, em 4 de março de 2007.
54
Casarões de Uberaba
Na cidade de Uberaba-MG, no final do ano de 1.800 e nas primeiras
décadas do ano de 1.900, foram construídos casarões, tanto em
estilo art déco e eclético, com elementos neoclássicos, como na
arquitetura islâmica indiana – esta em decorrência do intenso
contato dos criadores de gado Zebu com a Índia.
No decorrer dos anos, poucos foram preservados, alguns tombados
pelo Patrimônio Histórico e restaurados – como resgate da cultura e
preservação de uma época –, muitos derrubados e, em seu lugar,
construídos diferentes tipos de edificação.
Os casarões remanescentes – que, no passado, tiveram momentos
de glória e hoje se encontram abandonados e em avançado
processo de deterioração – ainda resistem, à espera de restauração
e inclusão definitiva à memória arquitetônica da cidade.
As fotos em preto e branco foram tiradas nos meses de março e abril
de 2006.
61
Mata Atlântica – uma pálida lembrança
No início do ano de 2007, pela manhã, ao longo da Rodovia
Anhanguera, no sentido da cidade de Ribeirão Preto-SP ao
Triângulo Mineiro, enfrentei um tempo chuvoso, totalmente fechado,
com baixa visibilidade.
A visão de uma paisagem desolada, com raríssimos exemplares de
uma outrora exuberante Mata Atlântica, criava um ambiente lúgubre
em contraste com a luminosidade que normalmente está presente
na região.
A presença de isoladas e pouquíssimas palmeiras, ipês, embaúbas,
cedros, jequitibás, buritis inseridos num cenário momentâneo de
nebulosidade, carregava a lembrança pálida, apagada e muito
fragmentada do território original ocupado pela Mata Atlântica.
A Mata Atlântica percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta,
ocupando uma área de 1 milhão e 300 mil quilômetros quadrados.
Tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só
comparável à Floresta Amazônica e, atualmente, restam apenas
cerca de 5% da sua extensão original.
Em relação ao Estado de São Paulo, a Mata Atlântica cobria 80% do
seu território. O início do desmatamento na região fotografada
coincide com a formação das primeiras fazendas de café do século
19 e prosseguiu, até hoje, com a produção de álcool e açúcar.
Depois dos 500 anos de ocupação, o que restou da Mata Atlântica
está confinado aos poucos corredores ainda existentes ao longo das
encostas, local onde era mais difícil cortar, em especial nas regiões
Sul e Sudeste, ao longo das Serras do Mar, Geral e da Mantiqueira.
Além desses remanescentes, o que ficou são ilhas isoladas no
planalto e na região Nordeste.
66
Aves do Cerrado
Todas as fotos foram tiradas no estado de Minas Gerais,
especificamente na cidade de Uberaba e na zona rural de Sacramento.
Deslumbrado pela grande quantidade de espécies de aves na cidade
de Uberaba, onde atualmente estou residindo e trabalhando, decidi
iniciar um trabalho fotográfico no ano de 2007. Posteriormente, visitei a
área rural de Sacramento e a Serra da Canastra.
A avifauna do Cerrado, com cerca de 837 espécies – de mata, de
campos de cerrado, de campos de altitude, brejos, matas ciliares,
veredas de buritis, rios, lagoas –, é extremamente rica e diversa,
abrangendo aproximadamente metade das aves listadas no Brasil.
As áreas nativas, hoje, representam menos de 30% de sua extensão
original. O Cerrado, um dos biomas de maior diversidade de fauna e
flora do mundo, integra o bloco dos 25 grandes biomas mais
ameaçados do planeta, segundo estudo da ONG Conservation
International.
As aves respondem à ação antrópica, colonizando novas áreas,
abandonando outras, ou permanecendo nos habitats pouco alterados
Com as construções das cidades, ocorreu a substituição dos ambientes
naturais pelos habitats ditos antrópicos – ruas, praças, pomares, lagos,
jardins, gramados, casas, prédios –. Nas áreas rurais, fez-se a
conversão do cerrado nativo por áreas de pastagens, cultivos
agrícolas, fazendas.
Se quisermos ter a companhia das aves do cerrado, precisamos da
vegetação e da paisagem do cerrado, de plantas, flores e frutos, bem
como permitir a sobrevivência, controlando predadores, coibindo a
caça e a captura, estimulando reprodução em cativeiro para atender à
demanda de aves de estimação, realizando pesquisas para manejar o
ambiente de forma favorável a toda avifauna nativa.
79
Praça da Liberdade
Belo Horizonte foi a primeira grande cidade que conheci. Naquela
época, havia um grande êxodo de jovens das cidades do interior que
procuravam, na grande cidade, a oportunidade de crescimento
escolar, profissional. O contato com um novo mundo, mais
trepidante e repleto de novidades, provocava uma grande excitação
e carga emocional. Tempos de descobertas, de mudanças
embaladas pela música dos Beatles, pela nouvelle vague, pelas
pregações do Frei Xico, pelas aulas de antropologia do Rubinger,
pelos movimentos de esquerda, pelo ambiente surreal e bachiano do
Bu “Che” co. Momentos precocemente abafados pela TFM, pelo
movimento militar.
Em fevereiro de 2007, depois de alguns anos, visitei, com certa
nostalgia e com outro olhar, a capital mineira. Agora, bem maior,
com novas construções, shoppings, concessionárias, locais e bairros
transformados, uma nova Savassi. Mas a grande surpresa foi a
Praça da Liberdade, ponto de encontro da cidade, com seu
estupendo conjunto arquitetônico e paisagístico restaurados: Palácio
da Liberdade, Secretarias de Estado em estilo eclético com
elementos neoclássicos, construções no estilo Art Déco, prédios
modernos como o Edifício Niemeyer e a Biblioteca Pública, coreto,
fontes e a exuberante e magnífica aléia de palmeiras imperiais.
85
A visão do Cemitério
A visão do cemitério sempre nos causa certo temor. Visitá-lo, só
mesmo como obrigação, algo forçado: em enterro de parente, de
amigos próximos, de celebridades, de pessoas com quem
estabelecemos um vínculo qualquer.
Quando criança, ir ao cemitério no dia 2 de novembro, geralmente
sob um sol escaldante, era uma obrigação mórbida, revestida quase
sempre de curiosidade: caminhar pelas ruas dos túmulos à procura
de algum conhecido morto, olhar as fotos e ficar imaginando como
seriam essas pessoas em vida. Ou, simplesmente, vagar o olhar
sobre as torres, as cruzes, os vasos, as inscrições, as estátuas de
anjos e as diferentes edificações, numa experiência sem sucesso ao
tentar decifrar aquela estranha, irreal e silenciosa moradia.
Hoje, vou visitar o cemitério sem nenhuma obrigação. Com outra
curiosidade e olhar: entender e registrar as diferenças construídas.
A construção do cemitério, mantendo todas as diferenças existentes
em vida – edificações imponentes, outras pobres, locais valorizados
contrastando com simples espaços –, somente resulta numa
tentativa inútil de dissimular o nivelamento imposto pela morte.
As fotos do cemitério de Uberaba foram tiradas em março de 2007.
92
Serra da Canastra
Em julho de 2007, fizemos uma inesquecível excursão ao Parque
Nacional da Serra da Canastra. Uma paisagem de tirar o fôlego: ar
puro, chapadão a perder de vista, longínquas montanhas, céu de um
azul intenso. As grandes ondulações de terreno, com predominância
da vegetação rasteira, constituíam uma paisagem única. Uma rara e
deliciosa sensação de ser único naquela imensidão.
Época de extrema seca, as matas ciliares eram isoladas e
destacadas manchas verdes numa imensa planície de tons
desvanecidos. Raras flores se destacavam e algumas poucas aves
(seriema, urubu-rei, maria-branca, maria-preta, bico de pimenta, tico-
tico, caracará e outras por nós desconhecidas) davam sinal de vida.
Para nossa frustração, não encontramos as grandes atrações: o
lobo-guará, o tamanduá-bandeira, o veado-campeiro. Antes de
iniciar a saída do Parque, a parada obrigatória para visitar a
nascente do Velho Chico.
Após 60 km de estrada de terra, descemos a serra e rumamos para
o vale com vista privilegiada do belo, imponente e magnífico maciço
da Serra da Canastra. Outras surpresas nos esperavam: a saborosa
comida mineira, o contato com o Rio São Francisco, a visita
imperdível à Cachoeira Casca D’Anta – 186 metros – e o
estonteante vôo de ultraleve sobre o vale e o chapadão da Serra da
Canastra.
101
Passagem do Tempo
Em setembro de 2007, realizei, no Centro de Cultura José Maria
Barra, SESI/FIEMG, Uberaba, uma exposição de fotografias, numa
tentativa de registrar o período ocorrido nos últimos cento e seis
anos, um quinto da história do nosso País.
As próprias fotos das pessoas, nascidas em cada ano, de 1901 a
2007, tentam congelar o tempo na ocasião em que foram tiradas.
Os registros dos eventos, nascimentos e falecimentos, acontecidos
em cada ano, permitiu à memória saltar sobre a cronologia,
recuperar o tempo passado e concluir, numa reflexão viva do
presente, que o homem é um ser que existe no tempo e que a vida
humana é uma passagem.
Das 106 pessoas fotografadas, selecionei onze, cada uma
representando a década de seu nascimento.
102
1901-2007, Vó Fiúca
Início do século XX
Pela primeira vez, realiza-se a entrega do Prêmio Nobel: Física, Química,
Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz.
Segurança nas transfusões com a classificação dos tipos sangüíneos (A/B/O)
Realizada em Paris a primeira exposição do jovem pintor (19 anos) Pablo
Picasso
Promulgada, no Brasil, a 1ª Constituição Republicana
Santos Dumont ganha o prêmio Deutsch de la Meurthe por contornar a torre
Eiffel
No Rio, a capoeira, o batuque e a umbigada são proibidos
A “Cidade de Minas”, capital de Minas Gerais, é rebatizada como “Belo
Horizonte”
Nascimento de Carl Barks, criador do Pato Donald e outras personagens (m.
2000), Hirohito, Imperador do Japão (m. 1989), Louis Armstrong, músico (m.
1971), Walt Disney, cineasta (m. 1966)
Falecimento da Rainha Vitoria do Reino Unido (n. 1819), Giuseppe Verdi,
compositor italiano de óperas (n. 1813)
103
1912, Galdino
Os EUA absorvem 36% das exportações brasileiras
Fundado o Santos Futebol Clube
Fundada a Faculdade de Medicina de São Paulo (USP)
Titanic afunda na viagem inaugural
Nascimento de Jackson Pollock, pintor norte-americano (m. 1956),
Jorge Amado, escritor (m. 2001), Luiz Gonzaga, o “rei do baião” (m.
1989), Mazzaropi, comediante (m. 1981), Michelangelo Antonioni,
cineasta italiano (m. 2007)
Literatura: Tarzan dos Macacos, de Edgar Rice Burroughs
104
1922, Padre Prata
Descoberta a vitamina E
Criado o Imposto de Renda
Semana de Arte Moderna
Oficializada a letra do Hino Nacional Brasileiro
Formação da União Soviética
Fundação do Partido Comunista do Brasil
O nadador Johnny Weissmuller (futuro Tarzan em 1932) bate o recorde dos
100 m livre (58,6 segundos)
Nascimento de Pier Paolo Pasolini, cineasta, escritor (m. 1975), Leonel
Brizola, político (m. 2004), Otto Lara Resende, escritor mineiro (m. 1992),
Tônia Carrero, atriz, Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor (m. 1997), José
Saramago, escritor português (m. 2010)
Falecimento de Gastão de Orleans, Conde D´Eu (n. 1842)
James Joyce publica Ulisses, marco da literatura moderna
105
1936, Cezar
Publicação da primeira tira de BD Fantasma, de Lee Falk.
Hitler assina aliança com o ditador italiano fascista Benito Mussolini
Nascimento de Martha Rocha, Miss Brasil, Éder Jofre, pugilista, Pedrinho
Mattar, pianista (m. 2007), Luiz Fernando Veríssimo, escritor
Literatura: Raizes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda
106
1949, Cidmar
Criação da OTAN
União Soviética testa sua primeira bomba atômica
Mao Tsé-tung funda a República Popular da China
A Alemanha é oficialmente dividida em dois países
Criado o Dia dos Namorados no Brasil
Nascimento de Djavan, cantor, Niki Lauda, piloto de F1, Ana Maria Braga,
apresentadora de TV, Antonio Fagundes, ator, Bete Mendes, atriz,
Emerson Leão, futebolista, Meryl Streep, atriz, Fagner, cantor, Simone,
cantora
Falecimento de Richard Strauss, compositor austríaco (n. 1863)
107
1957, Cardoso
Considerado o ano inaugural do movimento musical urbano da Bossa Nova
Tratado de Roma estabelece a Comunidade Econômica Européia
Lançamento do Sputnik I, o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra
O piloto argentino Juan Manuel Fangio vence o GP da Alemanha, em
Nürburgring e conquista seu quinto título mundial na Fórmula 1
No Maracanã, Pelé estreia na seleção brasileira, com 16 anos de idade
A Filial Brasileira da Volkswagen começa a funcionar com a produção diária
de oito veículos
Nascimento de Osama bin Laden (m. 2011), fundamentalista islâmico, Spike
Lee, cineasta
Falecimento de Humphrey Bogart, ator (n. 1899), Washinton Luis, Presidente
do Brasil (n. 1869), Diego Rivera, pintor mexicano (n. 1886)
108
1966, Gislaine
China: revolução cultural queima livros ocidentais
Golpe de estado que instaurou a ditadura argentina
Os Beatles dão o seu último concerto, em São Francisco
Nos EUA é concebido um aparelho que roda jogos eletrônicos na
televisão, lançado comercialmente apenas seis anos mais tarde
Entra no ar, em São Paulo, no canal 05, a TV Globo
Inauguração da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
O presidente Castello Branco fecha o Congresso Nacional
A jovem equipe do Cruzeiro vence o melhor time de futebol da época, o
Santos, por 3 a 2, no Pacaembu e sagra-se campeão da Taça Brasil
Nascimento de Romário, jogador de futebol, Alexandre Borges, ator, Mike
Tyson, boxeador campeão de peso pesados, Fernanda Torres, atriz,
Cláudia Raia, atriz, Giulia Gam, atriz
Falecimento de Venceslau Brás, Presidente do Brasil (n. 1868), Walt
Dysney (n. 1901), Buster Keaton, comediante (n. 1895)
109
1978, Marcinho
O cardeal polonês Karol Józef Wojtyła se torna o papa João Paulo II
Nasce na Inglaterra Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo
Começam a ser implantados os primeiros sistemas de telefonia celular
Ernesto Geisel envia emenda ao congresso para acabar com o AI-5
Suicídio em massa dos seguidores do pastor Jim Jones, que tomaram
veneno, morrendo cerca de 912 pessoas
Criado o avião Boeing 767
Nascimnento de Carolina Dieckmann, atriz, Danielle Cicarelli, modelo
Falecimento de Papa Paulo VI (n. 1897), Papa João Paulo I (n. 1912)
110
1986, Roberta
O ônibus espacial Chellenger explode exatos 72 segundos após decolar,
matando seus sete tripulantes
Criado o Plano Cruzado, plano econômico que previa congelamento e
tabelamento de preços e salários
Chernobyl é assolada por um desastre nuclear
Nascimento de Rafael Nadal, tenista espanhol
Falecimento de Simone de Beauvoir, escritora e filósofa francesa (n. 1908),
Jorge Luis Borges, escritor argentino (n. 1899), Cary Grant, ator (n. 1904)
111
1999, Antônio
O euro começa a ser usado em transacções electrónicas, em onze países
Projeto da Internet2 brasileira prevê a interligação entre 14 cidades, para
teleducação e telemedicina, revolucionando a rede pública
Internet 2 será 300 vezes mais veloz que a atual
Falecimento de Antônio Houaiss, filólogo, escritor (n. 1915), Bidu Sayão,
soprano brasileira (n. 1902), Dias Gomes, dramaturgo brasileiro (n. 1922)
Literatura: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, de J. K. Rowling
112
2006, Júlia
Plutão deixa de ser reconhecido como um planeta
Centenário do vôo histórico do 14 Bis
Decola o primeiro vôo entre São Paulo e Pequim
Boeing 737 da GOL, com 154 passageiros a bordo, colide com outro avião de
pequeno porte. Não houve sobreviventes
Colapso no sistema aéreo brasileiro provoca atrasos nos aeroportos do país
Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, vencido por Felipe Massa, tornando-se
o primeiro brasileiro a vencer em casa desde Ayrton Senna, em 1993
Brasil sagra-se campeão mundial de vôlei masculino
Cientistas divulgam o mapa genético das abelhas
Cientistas da Nasa encontram provas de água no planeta Marte
Muçulmanos protestam contra declarações do papa Bento XVI sobre Maomé
Falecimento de Betty Friedan, líder feminista estadunidense (n. 1921), Aldemir
Martins, artista plástico (n. 1922), George Savalla Gomes, o palhaço
Carequinha (n. 1915), Raul Cortez, ator (n. 1932), Puskás, jogador de futebol
húngaro (n. 1927)
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Paulo Rezende
Nasceu em Minas Gerais. Formou-se em Ciências
Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Especializou-se em Ensino de Artes Visuais pela
Escola de Belas Artes da Universidade Federal de
Minas Gerais. Estudou pintura, desenho, escultura
contemporânea, gravura e fotografia na Escola de
Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro,
entre 1996 e 2001. Em 2005, participou como artista
local do projeto Rede Nacional Artes
Visuais/FUNARTE, em Uberaba.
Paulo Rezende expõe seus trabalhos desde 1997 e
foi premiado no 2º Panorama de Artes Plásticas de
Uberaba em 2002, no III Salão Nacional de Artes
Plásticas de Curvelo em 2005 e no Festival de 1
Minuto da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
na Categoria Arte em 2008. Suas obras fazem parte
do acervo de várias instituições culturais.
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