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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
LUIZ RICARDO TONIOLO
VIAJANTE, NATURALISTA, SERVIDOR E BRASILEIRO DO OITOCENTOS:
CARTAS DE LUIZ ANTONIO D’ARAUJO NOS AÇORES (1799-1801)
CURITIBA
2009
LUIZ RICARDO TONIOLO
VIAJANTE, NATURALISTA, SERVIDOR E BRASILEIRO DO OITOCENTOS:
CARTAS DE LUIZ ANTONIO D’ARAUJO NOS AÇORES (1799-1801)
Monografia apresentada à disciplina de Estágio Supervisionado em Pesquisa Histórica como requisito parcial à conclusão do Curso de Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Profº Dr. José Roberto Braga Portella.
CURITIBA 2009
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1 1. PORTUGAL NO SÉCULO XVIII ......................................................................................... 2 1.1 OS DOMÍNIOS PORTUGUESES ...................................................................................... 2 1.2 A CRISE DO IMPÉRIO PORTUGUÊS ............................................................................. 3 1.3 O ILUMINISMO ................................................................................................................ 5 1.4 PORTUGAL SOB O DOMÍNIO DA “RAINHA DA NOITE” ................................................ 6 1.5 D. JOÃO V ENTRE ROCHELLES E LUZES .................................................................... 7 1.6 A REFORMA POMBALINA ............................................................................................ 10 2. DE COLONO A SERVIDOR ..............................................................................................14 2.1 O EXPLORADOR VIAJANTE .......................................................................................... 14 2.1 DE COLONO A ESTUDANTE ......................................................................................... 16 2.2 DE ESTUDANTE A CIENTISTA ...................................................................................... 18 2.3 DE CIENTISTA A SERVIDOR ......................................................................................... 19 3. AS CARTAS DO SERVIÇO ULTRAMARINO DE LUIZ ANTONIO D’ARAUJO NOS AÇORES ............................................................................................................................... 22 3.1 O CIVILIZADOR .............................................................................................................. 22 3.2 O CIENTISTA .................................................................................................................. 25 3.3 O SÚDITO ....................................................................................................................... 26 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 30
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida, bênção e proteção. A Alessandra pela “força” nos momentos nos momentos difíceis e pela ajuda na transcrição dos documentos. Ao professor José Roberto Braga Portella “Peninha” pela orientação rápida, objetiva e consistente. Ao CEDOPE/UFPR que prontamente disponibilizou a documentação necessária para a pesquisa.
1
INTRODUÇÃO
Meu propósito nesse estudo de conclusão de graduação é contextualizar o
viajante servidor Luís Antônio de Araújo nas Ilhas Açores na administração do
Império Português em fins do século XVIII e inicio do XIX, através de suas cartas
relatórios.
Na primeira parte, Portugal no século XVIII, buscou-se uma
contextualização do estado de coisas de Portugal que passava por uma crise
econômica e buscava tardiamente durante o século XVIII, a influência do
pensamento iluminista através de monarcas e intelectuais.
Na segunda parte, de colono a servidor, procuro analisar o processo de
integração, aculturação e apropriação do colono a estudante de Coimbra, de
estudante a cientista, de cientista a viajante e de viajante a servidor. Na mesma
lógica de dupla troca entre Portugal e ouras cortes, houve também uma dupla
viagem entre a colônia e a metrópole. Filhos da elite colonial brasileira foram estudar
na metrópole, e desta, para outras colônias do Império Português, a serviço do
Estado, na condição de funcionários.
Por fim, na última e terceira parte, procuro perceber as características do
“Século das Luzes”, da Crise do Antigo Sistema Colonial, da percepção do cientista,
do viajante e do servidor nas cartas e relatórios de Luís Antônio de Araújo em fins do
século XVIII e início do século XIX.
2
1. PORTUGAL NO SÉCULO XVIII
O século XVIII significou grandes mudanças para Portugal. Gradativamente,
os vastos domínios portugueses pelo mundo entraram em crise econômica. Ao
mesmo tempo, intelectuais se ressentiam de uma tradição pedagógica que mantinha
Portugal atrasado em meio às demais Cortes européias. Das tentativas do início do
século XVIII as reformas limitadas empreendidas pelo Marquês de Pombal, o
pensamento iluminista foi se consolidando e moldando uma nova forma de
administrar o Império.
1.1 OS DOMÍNIOS PORTUGUESES
Quando Fernando Pessoa traduziu do latim a máxima: Benedictus dominus
deus Noster qui dedit nobis Signum1 como: “Bendito seja Deus nosso Senhor, que
nos deu o Verbo”, Pessoa recuperou todo o orgulho e glória de um passado que foi
lembrado através do Verbo, da palavra, o sinal dos escolhidos. A palavra que
começou com Luís Vaz de Camões no século XVI até Fernando Pessoa no século
XX, ressalta a pujança dos domínios portugueses conquistados no fim da Idade
Média.
Essa expansão portuguesa se estendeu por ilhas do Atlântico, costas
africanas, América, regiões meridionais asiáticas e oceânicas, a partir de
investimentos estatais e particulares do Reino Português.
A extensão dos domínios de Portugal compreendia amplos territórios como
as Ilhas do Atlântico, como Açores, Cabo Verde e São Tomé; A Costa ocidental
africana como a Guiné, Lagos na Nigéria e Angola; A Costa oriental africana, como
Moçambique de Sofala a Malindi; na América, a costa tropical do Atlântico Sul, o
Brasil; No sul da Ásia, a costa ocidental da Índia, Macau e Japão e na Oceania, o
Timor.
1 Bendito o Senhor nosso Deus, que nos deu o sinal.
3
1.2 A CRISE DO IMPÉRIO PORTUGUÊS
O final do século XVI e início do século XVII marcou o início da crise desse
vasto Império Português. O Reino de Portugal entrou em decadência por uma
conjugação de fatores internos e externos.
Primeiro, a União Ibérica, período de unificação das coroas ibéricas após a
morte de Sebastião I, em 1578 e da morte de seu tio, o Rei Cardeal, em 1580, que
colocou Portugal sobre o domínio espanhol. Apesar das tentativas da Coroa
Espanhola em integrar os reinos durante as Corte de Tomar, os portugueses
buscavam sua independência que ocorreu com a Restauração em 1640.
No século XVII, as ocupações holandesas nos domínios de Portugal, tanto
na busca de controlar a produção açucareira no nordeste brasileiro, como a
presença holandesa para controlar os portos fornecedores de escravos na África,
prejudicaram a economia de Portugal.
Essa crise do antigo sistema colonial foi estudada pelo professor Fernando
Novais:
Numa segunda etapa e numa segunda frente de competição, a concorrência se torna propriamente comercial, e se orienta, sobretudo para os entrepostos do Mundo Indiano e do Extremo Oriente. Tal movimento se liga, diretamente, à constituição, na Europa, das Províncias Unidas dos Países Baixos como unidade política independente separada da Coroa Espanhola (...) A constituição (1602) da Companhia Holandesa das Índias Orientais foi um momento dos mais significativos nessa transição; tal empresa organizou-se com uma forma mais moderna e racional (...) e esta modernidade foi o fator preponderante do seu êxito na tarefa de substituir os ibéricos no comércio rendosíssimo das Índias.2
Assim, a crise portuguesa não seria apenas decorrente de uma ocupação
estrangeira ou de uma unificação com a Espanha, mas resultante de uma nova
forma de competição econômica representada pelos holandeses.
2 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial. 1777-1808.
São Paulo: Hucitec, 1979, pp.34-35.
4
O professor João Fragoso ressalta também que inicialmente apenas os
comerciantes portugueses detinham os privilégios de comércio no Império Ultramar
Português, mas, a partir do século XVII, comerciantes dos territórios coloniais
passaram a exercer uma concorrência com os comerciantes portugueses:
Com o passar do tempo, parte desta realidade começaria a mudar; principalmente após a viragem estrutural do império, com a contínua reiteração das rotas ultramarinas e a consolidação econômica e social das conquistas portuguesas. Como resultado de tais fenômenos teríamos a formação de comunidades de mercadores residentes nas diferentes partes do ultramar e a sua ascendência cada vez maior sobre as rotas imperiais, deslocando os reinóis.3
Essa relação entre coloniais e metropolitanos não foi totalmente dicotômica,
uma vez que o Império via nos coloniais a possibilidade de assegurar a posse de
territórios das incursões estrangeiras, por isso, a concessão de privilégios
representava uma estratégia do Estado na defesa externa e interna de suas
possessões.
Assim, havia uma situação de constante busca de novos recursos e
atividades por parte de Portugal, uma vez que, em cada colônia, grupos
relativamente organizados de comerciantes iniciavam atividades nas rotas imperiais.
Nessa busca por novas riquezas, os colonos tinham papel importante na
informação econômica das potencialidades para a Metrópole, pois as vantagens do
Império, representavam também vantagens pessoais.
Esse processo de interposição entre coloniais e metropolitanos não se
limitava apenas a economia, mas se estendia para a política. Não havia uma relação
de conflito entre colônia e metrópole no que se refere às instituições políticas. Os
territórios de Ultramar não foram administrados de forma homogênea, na verdade,
as estruturas político-administrativas portuguesas sofreram adaptações conforme o
território, e estas, influenciadas por questões locais nas colônias. Nesse sentido, o
3 FRAGOSO, João. Mercados e Negociantes Imperiais: Um ensaio sobre a economia do
Império Português (Séculos XVII E XIX). In: REVISTA QUESTÕES & DEBATES. Curitiba: EDUFPR, P. 112.
5
Professor Manoel Hespanha ressalta a relação de “zona de fronteira” que se
estabeleceu no Império. As instituições portuguesas nas colônias – as câmaras
municipais, por exemplo – não se apresentavam iguais. “A tradição portuguesa é
viajante” ou seja, “mistura-se, dialoga, é violentada ou violenta instituições locais.”4
1.3 O ILUMINISMO
Durante o século XVIII, houve uma nova postura intelectual que a
historiografia convencionou chamar de Iluminismo. Entendemos a dificuldade em se
conceituar um movimento de longa duração como o Iluminismo. Segundo Eduardo
Carvalho, Um novo movimento de idéias emergiu na Europa, de meados do século XVII até fins do século XVIII. A historiografia o identifica como Iluminismo. A História, de forma geral, considera que esse período apresenta homogeneidade, na medida em que se constitui como um projeto cultural para uma nova sociedade européia. Nesse sentido, o Iluminismo é um paradigma: operou a transformação do homem de um mundo idealizado para outro desencantado pela razão, o processo de racionalização das potências míticas da natureza que desembocaria em uma racionalidade científica. 5
Essa nova postura propunha entre outras coisas estudar de forma metódica
a Natureza. Através de classificações, cientistas trocavam informações sobre o
Mundo Natural. A classificação de Carl Von Lineu no início do século XVIII
representa parte desse esforço na organização do mundo natural. O Iluminismo
tornava a observação e o empirismo, características indispensáveis para a coleção e
ordenamento do mundo. Gabinetes científicos atraiam leigos em busca de saciar a
curiosidade sobre as coisas naturais. Embora essa forma de aprendizado faça parte
da propriedade humana, foi no século XVIII que esse tipo de conhecimento passou a
ser valorizado como prova de verdade.
4 HESPANHA, Antônio Manuel. In: Nossa História, agosto de 2006, p. 43. 5 CARVALHO, Eduardo Teixeira de (Júnior). Verney e a Questão do Iluminismo em
Portugal. Curitiba: UFPR, (dissertação), p14.
6
Na medida em que houve um interesse dos intelectuais em conhecer a
partir da experiência e da observação, houve também uma necessidade de
transparecer ao mundo essas descobertas e inventos. Essa exibição vinha através
da constituição de gabinetes abertos ao público leigo, exposições ao patrocinador,
muitas vezes, o rei e a pressão para se mudar os manuais de ensino, indicar leituras
e modificar o sistema educacional influenciado pelo aristotelismo jesuíta.
1.4 PORTUGAL SOB O DOMÍNIO DA “RAINHA DA NOITE”
Além da crise econômica mencionada no item 1.2, há também o discurso
recorrente na historiografia de um reino português antiquado e avesso à influência
iluminista. Naturalmente, que Portugal não ficou isolado das influências iluministas.
Elas se fizeram sentir nas primeiras décadas do século XVIII.
A “Rainha da Noite” na peça musicada por Mozart no século XVIII
representa as trevas que impediam as Luzes e que ao seqüestrar a Princesa da Luz
vai levar os iniciados a lutar. Assim, muito resumidamente aqui, Jean Starobinski
analisou a obra “A Flauta Mágica” em seu livro 1789: Os Emblemas da Razão.6 Essa
oposição entre as “Luzes” e as “Trevas” em Portugal foi analisada por muitos autores
como o atraso português, enquanto outras nações caminham para a luz. Essa crítica
partiu dos próprios viajantes contemporâneos como Pedro Norberto dÁucourt e
Padilha, que ressaltava a igualdade no trato entre os franceses; Francisco Xavier
de Oliveira, que ressaltava a tolerância religiosa entre os holandeses; D. João de
Almeida Portugal que criticou o modo desunido em Portugal e ressalta com
entusiasmo a publicação de Verney7.
Nesse sentido, além de uma crise econômica, havia um atraso que refletia
uma “crise de consciência”, segundo Ana Lúcia Rocha Barbalho da Cruz:
6 STAROBINSKI, J. Os Emblemas da Razão. São Paulo: Cia das Letras,1995. 7 CARVALHO, op. cit, p. 56.
7
Economicamente empobrecido e culturalmente defasado em relação aos demais países da Europa, o ‘velho reino’ atravessaria, até meados do século, a sua “crise de consciência” frente aos princípios filosóficos da Luzes e o avanço das ciências modernas. O processo da ilustração, que exigia mudanças de atitudes e de pensamento, contabilizou, a princípio, mais rejeição do que adesão na provinciana e tradicionalista sociedade portuguesa da viragem do século XVII para o XVIII.8
1.5 D. JOÃO V ENTRE ROCHELLES E LUZES
Em Portugal, ainda na primeira metade do século XVIII era possível
encontrar publicações de traduções de obras iluministas, criação de academias e
laboratórios. Essa influência iluminista não foi apoiada inicialmente pelo Estado de
forma homogênea, o que movia os pioneiros portugueses, era a curiosidade
científica.
Os primeiros incentivos ao pensamento ilustrado em Portugal partiram
individualmente de intelectuais, como o que ocorria desde o final do século XVII na
residência dos Condes de Ericeira. Muitos dos freqüentadores desse círculo haviam
estudado em outros países e eram chamados de estrangeirados e, muitos deles,
eram estrangeiros, mesmo.9
Essa preocupação pedagógica para a renovação estava relacionada tanto
com a possibilidade das gerações vindouras se atualizarem com os conhecimentos
descobertos, quanto por uma busca de espaços de atuação desses intelectuais em
instituições de ensino.
Em Portugal, o Iluminismo apresentou-se como uma preocupação em
atualizar os conhecimentos do mundo para Portugal, ou seja, um Iluminismo
pedagógico.
8 CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho da. Verdades por mim vistas e observadas oxalá foram fábulas sonhadas: Cientistas brasileiros do setecentos, uma leitura auto-etnográfica. Curitiba: UFPR, 2004. (Tese de Doutorado). 9 CARVALHO, op. cit. p 24.
8
Enquanto símbolo desse momento de preocupação pedagógica, a obra
polêmica e inicialmente anônima de Luis Antônio Verney: O Verdadeiro Método de
Estudar de 1746. O fato de a obra ter sido publicada pelo pseudônimo de “Padre
Barbadinho” revela o momento efervescente que passava a preocupar os
intelectuais religiosos ou leigos de Portugal. Segundo, Carvalho, o “verdadeiro
método” de Verney criticava a prática retórica dos religiosos10.
É difícil determinar cronologicamente o momento do surgimento do
Iluminismo em Portugal apoiado pelo Estado. Contudo, Ana Lúcia Rocha Barbalho
detalha em sua tese, um momento pequeno, mas singular: a influência Iluminista a
partir do governo do Rei D. João V (1707-1750) ainda na primeira metade do século
XVIII.
D. João V procurou a aproximação com as principais cortes européias para
superar o isolamento português. Houve até o planejamento de uma viagem do Rei
pela Europa. Apesar de não ter realizado a viagem, D. João investiu em modernizar
a educação e aparelhar os colégios com laboratórios.
D. João V mandou construir junto de sua residência – o Palácio da Ribeira –
um laboratório astronômico. Para tanto, D. João V enviou seus diplomatas atrás de
informações e equipamentos a serem importantes das grandes Cortes Européias,
como Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Áustria, Alemanha e Dinamarca.
Esse investimento também ocorreu na Universidade de Coimbra, no Colégio
Jesuíta de Santo Antão e depois, doação de um Gabinete de Física Experimental
para a Casa da Senhora das Necessidades dos Oratorianos.
Dentre as preocupações de D. João V, destaca-se a contratação de
cientistas como a vinda do naturalista francês Merveilleux em 1714 para produzir
uma História Natural, depois, em 1722, D. João manda trazer os astrônomos jesuítas
João Baptista Carbonne e Domingos Capassi.
10
CARVALHO, op. cit, p. 38.
9
No início do século XVIII, o Brasil era de longe o território sob comando
lusitano que apresentava as maiores potencialidades. Por isso, Capassi e Carbonne
foram designados para fazer levantamentos cartográficos na região do Rio da Prata
por conta da polêmica sob a posse da colônia de Sacramento e para definir o local
exato do meridiano de Tordesilhas. Carbonne nunca veio ao Brasil, mas, em 1729,
veio Diogo Soares e Capassi.
Nesse sentido, autores como o jesuíta João Antonil e Frei Antônio do
Rosário (1647-1704) apontaram as possibilidades do Brasil procurando alertar o Rei
sobre a importância de estreitar os laços políticos da colônia e da metrópole, citado
por Ricardo de Oliveira:
A Índia Oriental há muitos anos, que por pecados e injustiças, já não é Índia, o Brasil, pela cana, pelos bizalhos dos diamantes, que embarca em milhares de caixas todos sos anos, é a verdadeira Índia e mina dos portugueses.11
Nesse relato fica evidente uma característica atribuída aos viajantes do final
do século XVIII: a preocupação com as potencialidades econômicas dos territórios
coloniais através do conhecimento empírico, destacado por Verney. Característica
marcante dos viajantes-cientistas, a observação servia de instrumento para uma
questão política. A sobrevivência do Império exigia o conhecimento das
potencialidades físicas das colônias, ou seja, o conhecimento da natureza para
efetivar uma expansão imperialista.
Essa preocupação científica interessada no domínio imperialista e na
aquisição de novos lucros também era mais evidente em outras monarquias
européias. Nesse sentido, as expedições patrocinadas pela Inglaterra aos Mares do
Sul possibilitaram o conhecimento sobre constelações e cálculos de astronomia.
Apesar das viagens e relatos realizados durante o reinado de D. João V foi
na segunda metade do século XVIII – no reinado de José I - que Portugal mais
11 Citado por OLIVEIRA, Ricardo de. Política, Diplomacia e o Império Colonial Português na primeira metade do Século XVIII. In: REVISTA QUESTÕES & DEBATES. n 36. Curitiba: UFPR, p. 254.
10
incentivou as viagens pelos territórios ultramarinos. José I – filho de D. João V –
cresceu num ambiente que incentiva o conhecimento científico e procurava romper
com o isolamento de Portugal em relação a outras cortes européias. Contudo, a
historiografia não ressalta José I como fez com seu Primeiro Ministro, o Marquês de
Pombal.
1.6 A REFORMA POMBALINA
Sebastião José de Carvalho e Melo – o Marquês de Pombal – foi Primeiro
Ministro de D. José I a partir do início do seu reinado em 1750 até 1777. Contexto
que ficou conhecido como a Era Pombalina.
Este contexto recebeu uma grande atenção da produção historiográfica e –
muitas vezes – as reformas pombalinas são associadas ao Despotismo Esclarecido,
como um desdobramento das idéias iluministas. Contudo, essa visão simplificada do
Despotismo Esclarecido não responde a algumas questões paradoxais, como
afirma, Carvalho:
É muito comum a confusão entre Luzes e Iluminismo com Despotismo Esclarecido, tendo o segundo como efeito do primeiro. Nessa perspectiva, surgem vários paradoxos, fruto de comparações das reformas de Pombal com o ideário iluminista. Talvez fosse mais fácil compreender o Despotismo Esclarecido como uma fase tardia do Absolutismo, mais ligada às mudanças que a Europa sofria no século XVIII do que como efeito das idéias modernas.12
Falcon e Maxwell13 citados por Carvalho demonstram os paradoxos de
associar as reformas pombalinas ao Iluminismo ou o Despotismo Esclarecido ao
Iluminismo, tanto pela ligação das reformas pombalinas ao mercantilismo quanto
Pombal como um déspota esclarecido.
12
CARVALHO, Op. Cit. p, 31 13
FALCON, Francisco José Calazans. A Época Pombalina : política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982. MAXWELL, Kenneth. O Marquês de Pombal. paradoxo da iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
11
Sebastião José de Carvalho e Melo – o Marquês de Pombal - é um dos
“estrangeirados”, ou seja, aqueles portugueses que obtiveram no exterior, através
dos estudos, a influência do pensamento racional iluminista.
Contudo, a prática pombalina no poder foi marcada por novos elementos,
muitos deles, contrários à “receita geral” do Iluminismo. Dentre esses elementos, a
tentativa de re/desfazer acordos comerciais com os ingleses que preservassem o
mercantilismo lusitano e a utilização da Ordem Jesuíta como aparato técnico do
Estado em questões de fronteira antes de sua expulsão.
Pombal procurou estabelecer uma administração eficiente capaz de
arrecadar impostos, reconstruir Lisboa que havia sido destruída por um terremoto e
formar um corpo técnico capaz de administrar o Estado.
Para Pombal, a existência de colônias era justificada pela potencialidade
dessas regiões em fornecer vantagens comerciais para a metrópole. Assim, a lógica
iluminista portuguesa perpassava pela antiga idéia de pacto colonial, fidelidade dos
súditos e aumento da riqueza e do poder do Rei e a influência do pensamento
econômico fisiocrata.
Esta preocupação era resultante de uma realidade: Os países ibéricos de
forma geral foram ofuscados pelo surgimento de novas potências econômicas como
a Inglaterra, a Holanda e a França. Assim, se fazia necessário assegurar a posse
sobre os territórios de ultramar e buscar novas riquezas que pudessem alicerçar
Portugal, diante da crise da mineração do Brasil. Por isso, a administração
portuguesa voltou suas preocupações para a África. O Marquês do Pombal não via a
África apenas como fornecedora de escravos, havia outros produtos como cera,
ouro, marfim e ferro.
Nesse contexto, em Portugal, houve inovações na administração que
levaram a criação de Companhias de Comércio, profissionalização de cargos
administrativos para nobres através do Colégio de Nobres, criado em 1761,
distribuição de competências e criação de regras. Naturalmente, que as relações
corporativas, familiares e pessoais ainda marcavam todos os níveis da
12
administração em que a autoridade do rei era interpolada por outros níveis
hierárquicos, o direito influenciado pela prática, grande poder local aos funcionários
permitindo a corrupção, novas divisões administrativas, institucionalização de
amizades e a manutenção de valores religiosos.
Dentre as reformas empreendidas no período pombalino, destacamos a
Reforma da Universidade de Coimbra em 1772, outrora sob controle eclesiástico.
Reforma que visava a secularização do ensino, sua submissão ao controle estatal e
a inserção da Universidade a serviço da sociedade. Essa Reforma pode ser
entendida também dentro da particularidade do Iluminismo português, ou seja, como
síntese da preocupação pedagógica em Portugal. Essa Reforma é o signo da
administração do ministro de José I, segundo, o Professor José Roberto Braga
Portella:
A principal obra do reformismo educacional pombalino é sem dúvida a reforma da Universidade de Coimbra em 1772, que se pode dizer que se constitui no mais forte indício da orientação ilustrada do governo de Pombal. Em termos gerais, a maior renovação se deu através da reformulação do conceito de universidade, operacionalizada pela reforma de seus novos estatutos.14
As preocupações econômicas da administração do Marquês de Pombal
refletiram-se na reforma da Universidade. Na medida em que os novos cursos e
disciplinas buscavam qualificar os estudantes para o naturalismo. Na condição de
naturalistas poderiam observar o mundo em busca de descobrir potencialidades
econômicas para o Estado.
Após a morte do Rei Jose I, os investimentos continuaram sob o reinado de
Maria I. Ao contrário que de uma historiografia que indicava uma “viradeira”, uma
nova historiografia aponta para continuidades como a fundação da Academia de
Ciências de Lisboa em 1779.
14 PORTELLA, J. R. B. Descripçoens, Memmorias, Noticias e Relaçoens. Curitiba: UFPR, 2006 (Tese de Doutorado), p. 45.
13
Os próprios Estatutos da Academia deixavam claros os objetivos
anteriormente definidos por Pombal de “promover o aumento da agricultura, das
artes e da indústria popular cuidando em introduzir o amor à ocupação e a toda
espécie de trabalho, que possa redundar em benefício da pátria”, conforme o Plano
de Estatutos, que consta da obra de José Luís Cardoso em Memórias Econômicas
da Academia Real de Ciências de Lisboa, citado por Portella15.
15 PORTELLA, op. cit. p. 48.
14
2. DE COLONO A SERVIDOR
As preocupações de Pombal em forma uma equipe técnico-científica nos
bancos da Universidade de Coimbra visava enviar viajantes para os domínios
lusitanos além mar em busca de conhecimento dos territórios. De certa forma, as
atribuições desses viajantes remuneradas pelo Estado possibilitavam a satisfação da
vontade de observar e ordenar a natureza, realizando experiências e relatos que
eram enviados a Portugal.
2.1 O EXPLORADOR VIAJANTE
O termo explorador era usado na antiguidade para representar o
encarregado militar a ser enviado a terras inimigas com o intuito de fazer um
reconhecimento e tornar-se um informador.
Assim, havia uma função material, utilitarista de sua missão e os
governantes viam o explorador como um dos artífices da expansão do Império.
Exploradores em busca de minérios preciosos como Bernard de La Harpe e Dumont
de Montigny na Louisiania em 1720 e o colono La Verendrye junto ao Rio Arkansas
em 1738; O escocês Alexander Mackenzie na defesa dos interesses ingleses na
América do Norte em 1802 reforça a visão antiga do Explorador com funções
militares e estratégicas.
Outros viajantes procuraram ressaltar “o conhecimento aos compatriotas, a
geografia”, mas também relacionavam a possibilidade de “abrir novas fontes de
riqueza à sua ambição, ao seu comércio, à sua indústria”. 16
Apesar do interesse do Estado nas viagens exploratórias, os viajantes
consideravam suas “missões” em caráter científico, muito mais importantes. A busca
da riqueza era suplantada pela sede de saber, pela vontade de conhecer e ordenar
16
VOVELLE, op. cit. p. 211.
15
o caos do mundo. Interesse que não movia apenas os viajantes, mas também
monarcas que nutriam verdadeiro interesse pela descoberta ou buscavam glória
para si, como incentivadores e protetores das ciências.
O Rei que patrocinou a viagem de Lapérouse repassou instruções de
próprio punho sem nenhum interesse econômico para os médicos e cirurgiões
integrantes da missão:
Não foi dito quase nada sobre o uso das mãos. A questão relativa aos ambidestros, ou a preferência de uma mão em vez de outra, não despertou ainda suficiente o interesse dos naturalistas. É por isso, importante examinar se os povos que vamos visitar se servem, para trabalhar, indiferentemente das duas mãos, ou se usam de preferência uma delas, e se a predominância da direita nas nações civilizadas mais não é do que mera conseqüência dos preconceitos.17
As expedições procuram ir além do meramente material. Por exemplo,
expedições antropológicas para o estudo anatômico das “raças humanas” visando
estabelecer uma visão geral que possibilitasse a ordenação das variedades dentro
de uma regra geral.
Havia uma predileção entusiasta pela observação de espécies animais,
vegetais e minerais, pelo recolhimento de exemplares e o envio ao Reino para
coleção e ordenação.
Além, portanto, da própria busca de riquezas e do conhecimento, podemos
destacar outro objetivo: o do engrandecimento do rei e da nação. O pioneirismo
científico engrandece o povo e construíam a visão de superioridade das nações
européias que não conheciam fronteiras.
Nessa busca, muitas nações recorreram a cientistas estrangeiros para
realizar tais missões, pois a falta de pessoas competentes forçava a contratação de
cientistas de outros países para uma primeira missão. Foi o caso da Rússia que
contratou estudiosos como o francês Joseph-Nicolas Delisle, o dinamarquês Bering
os alemães Gmelin e Pallas.
17 VOVELLE,op cit. p. 214.
16
A partir das segundas expedições já se contava com nacionais que
rivalizavam no comando da expedição e viam no recrutamento de estrangeiros certa
desconfiança, tanto pela possível espionagem de território quanto pela possibilidade
do estrangeiro repassar o mérito da descoberta científica a sua própria
nacionalidade.
Os viajantes almejam para si a imagem do estudioso, do cientista, do
descobridor, do organizador, na “ponta de lança” da Razão. Nesse sentido, o
viajante busca se diferenciar do Explorador que carrega uma missão militar, ou de
mero, informador. “Encarregados por reis, esses homens são os correspondentes do
Jardim do Rei, ou mais tarde, Museu de História Natural”.18
O argumento procura, portanto, eliminar a conotação militar e pejorativa que parece pesar sobre a palavra, a fim de lhe abrir uma carreira semântica mais gloriosa, que faça passar o explorador da dimensão de informador para a de estudioso. Ele oferece a vantagem de ancorar a noção moderna de exploração científica a uma história secular, relacionando-a com outros significados, antigos e fortes, derivados da sua etimologia e dos seus primeiros empregos; convida a questionar as implicações dos laços entre reconhecimento militar e exploração geográfica, em suma, a esboçar, através de uma análise semântica, um primeiro retrato do explorador do século das Luzes.19
2.1 DE COLONO A ESTUDANTE
O Estado Português procurou atrair estudantes das colônias,
especialmente, brasileiros, para Coimbra durante a segunda metade do século XVIII.
Havia nessa atração o interesse de reforçar a unidade dos territórios e manter a
fidelidade. Esses alunos originários das colônias procuravam os estudos em
Coimbra, com o objetivo de alternativa profissional e estreitamento de laços com
metropolitanos e entre outros estudantes brasileiros na Universidade. Nesse sentido,
não houve um interesse do Estado Português em usar o termo “colonos” para
18 VOVELLE, op. cit. p.210. 19 VOVELLE, op. cit. p.210.
17
diferenciar do termo “reinóis”, tanto para descendentes de portugueses ou não,
conforme Ana Lúcia:
Assim como cientista, o termo colono, também, não foi uma designação que os portugueses usassem para os reinóis que se deslocaram para as colônias e aí passavam a viver, nem, tampouco, para seus filhos nascidos nelas. No período que estudamos, não era mesmo do interesse de Portugal que se estabelecesse uma distinção entre os nascidos em Portugal e aqueles habitantes das colônias, fossem eles descendentes de portugueses ou não.20
Muitos desses estudantes procuravam a formação universitária em Portugal
pela falta de Universidades no Brasil. Ana Lúcia Cruz ressalta que esse é um
interesse metropolitano para forçar a cooptação das elites coloniais para Portugal.
Interesse que estava em mente, Pombal quando promoveu a Reforma da
Universidade.
Os estudantes brasileiros em Coimbra eram os filhos de uma elite abastada
do Brasil, tanto do comércio, como da mineração e da agricultura. Após a longa
viagem de travessia do Atlântico de aproximadamente 60 dias, haviam de viajar mais
dois dias até Coimbra. Lá, os estudantes brasileiros procuravam-se tanto entre
familiares como entre brasileiros de uma mesma região para se adaptar mais
facilmente as dificuldades do frio e da escassez de dinheiro e comida.
Esse ambiente de privação deve ter contribuído para a aproximação de
estudantes originários da mesma região, ou mesmo, de regiões diferentes da
colônia, criando, assim, laços de amizade e fidelidade.
20 CRUZ, op. cit, p. 197.
18
2.2 DE ESTUDANTE A CIENTISTA
Apesar da busca desses estudantes por formação profissional e posição
social, as aulas e os professores procuravam oferecer uma formação filosófica para
futuros cientistas naturalistas.
Nesse sentido, a reforma da Universidade comandada por Pombal que
obrigou a inclusão das formações de naturalista e matemático, contribuiu para
diminuir a procura por “cânones e leis”, os cursos jurídicos.
Houve investimentos na contratação de professores mais adequados à
Coimbra Reformada. Entre eles João Antonio Dalla Bella que já havia atuado no
laboratório de Física do Colégio dos Nobres e Domingos Vandelli para a Cadeira de
História Natural.
Muitos estudantes brasileiros – alunos de Vandelli e Dalla Bella –
participavam de experiências científicas para nobres e plebeus com o intuito de
divulgação das atividades da Universidade quanto para colocar em prática o que o
Século das Luzes anunciava. Dessa forma, o prévio interesse por uma profissão se
transformava numa formação acadêmica voltada para a Ciência.
Alguns desses estudantes passaram a integrar o corpo docente da
Universidade e posteriormente como cientistas reais. Segundo Ana Lúcia essa
ascensão ocorreu desde a primeira leva de estudantes brasileiros em Coimbra:
Pertencendo à primeira leva de alunos brasileiros da Coimbra reformada, Alexandre Rodrigues Ferreira e João da Silva Feijó realizariam juntos seus treinamentos de campo na região de Buarcos, onde examinaram as minas de cobre perto do Cabo Mondego. Logo após se formarem, Alexandre Rodrigues Ferreira, João da Silva Feijó, Manuel Galvão da Silva e José Joaquim da Silva foram empregados no real serviço, passando a trabalhar na organização do gabinete e Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa.21
21
CRUZ, op. cit. p. 154.
19
Assim a realização da formação científica se completava com inserção do
cientista no trabalho de ordenação e coleção de exemplares do reino vegetal,
mineral ou animal.
Esses funcionários – oriundos de Coimbra – e muitos foram membros
da Academia de Ciências de Lisboa que “conjugava eruditos de várias áreas de
conhecimento” se dedicaram a cuidar do Jardim do Rei.
2.3 DE CIENTISTA A SERVIDOR
Assim como, o governo português estimulou e facilitou o envio de filhos de
famílias abastadas a estudarem em Coimbra com a finalidade de cooptar elites e
evitar que se influenciassem pelas idéias revolucionárias.
Por outro lado, o próprio governo português procurou diminuir o número de
estudantes em Coimbra, pois já se havia pensado um objetivo para os formados. O
objetivo era o preenchimento de cargos públicos na administração dos domínios
portugueses em crise. O número anterior de estudantes em Coimbra que chegava a
4 mil poderia representar um problema, pois não havia colocações para todos, e
isso, poderia gerar distúrbios.
Houve no século XVIII houve um aumento do aparato burocrático, segundo
Carlo Capra na obra organizada por Michel Vovelle22, O Homem do Iluminismo. O
Estado do século XVIII em vários países aumentou para incrementar a eficiência da
administração. Contudo, esses servidores ainda preservavam uma relação particular
com o cargo público que ocupavam. Havia uma rede de dependências que faziam o
titular do cargo estabelecer relações familiares com irmãos e filhos. Ainda citando
Capra estabelecia-se uma mistura de relações “patrimoniais” e funções “técnicas” no
servidor do século XVIII:
(...) em nítida contradição com os finais do ancien regime, estes representantes de uma concepção aristocrática e patrimonial do cargo,
22 VOVELLE, Michel, (org.) . O homem do iluminismo. Lisboa: Editorial Presença, 1997.
20
eram simultaneamente tecnocratas, detendores de uma visão moderna e dinâmica da administração.23
Essa relação patrimonial que o servidor do Estado revela a intenção da
perpetuação e ascensão familiar, através da fidelidade, proteção e concessão de
privilégios. Segundo o professor João Fragoso24, as concessões de cargos
administrativos ou militares podiam proporcionar além dos vencimentos, as
chamadas Mercês, ou seja, privilégios mercantis, viagens marítimas em regime de
exclusividade ou isenção de taxas e direitos alfandegários.
Muitos dos cientistas oriundos dos bancos de Coimbra ao se tornarem
servidores seguiram essa mesma linha de fidelidade e patrimonialismo com seu
cargo. O Professor Portella observa em sua tese, que os relatos desses servidores
são carregados de informações com o intuito de justificar a viagem e o trabalho que
desempenham:
Quando não são escritos sob encomenda, esses textos são provocados por um desejo do autor em “mostrar serviço”, ou ainda como forma de cair nas graças de algum patrono a quem são dedicados.25
A função desse profissional era desvendar as potencialidades das colônias,
através de produtos da natureza. Assim, a maior parte desses viajantes não se
tornou personagem da Independência ou da pós-Independência. Ao contrário,
reproduziam a visão metropolitana para outras colônias. Apesar da crença desses
cientistas no progresso, eram privilegiados numa rede de dependências da Coroa, e
assim, leais a ela.
Nesse sentido, não havia como separar o “cientista” do “funcionário régio”.
O Estado Português, assim como outros Estados Europeus, viam na Ciência, o meio
23 VOVELLE, op. cit, p. 258. 24 FRAGOSO, J. op. cit. p. 107. 25 PORTELLA, J. op. cit. p, 55.
21
para “alavancar o progresso material” através da contratação de indivíduos “capazes
de oferecer respostas e propor planos”26.
Mas não podemos limitar a atuação desses servidores como
essencialmente funções técnicas e administrativas. Há nos relatos de viagens uma
preocupação de relatar experiências para um público iniciado nas ciências.
Conforme, Portella escreve:
Outras vezes, eles estão voltados ao mundo acadêmico e produzidos especificamente com o objetivo de serem veiculados nos “periódicos científicos” da época, publicados principalmente nas Memmórias da Academia das Sciencias de Lisboa.27
Naturalmente que essas cartas são documentos do estado que visavam a
prestação de contas desses servidores. Apresentavam tarefas realizadas,
descrições de regiões, possibilidades comerciais e sugestões de melhorias.
26 CRUZ, op.cit, p.196. 27 PORTELLA, op. cit. p. 55.
22
3. AS CARTAS DO SERVIÇO ULTRAMARINO DE LUIZ ANTONIO D’ARAUJO
NOS AÇORES
Luís Antônio de Araújo era de Minas Gerais e estudou em Coimbra. Cursou
Direito e Matemática, o que se aplica muito mais a Astronomia. Dentre seus escritos,
destacamos a análise sobre uma memória escrita por, escrita por Francisco José
Teixeira de S. Payo em abril de 180028 e de sua autoria, uma Memória sobre
tectonismo em Açores29. As Cartas mencionadas neste trabalho reflete o contexto do
pensamento setecentista português, especialmente a partir de Coimbra Reformada.
3.1 O CIVILIZADOR
As cartas que transcrevemos nesse trabalho e que consta em anexo foram
enviadas por Luiz Antonio d’Araújo ao Ministro da Marinha e Ultramar, D. Rodrigo de
Souza Coutinho dando conta de uma tarefa muito específica atribuída pelo
governador dos Açores que nomeou Luiz Antonio na obrigação de visitar as Escolas
Régias dos Açores:
Pela Carta Regia de Dezenove de agosto anno próximo passado me ordena S. A. R. o exame de todos os objetos relativos a hesa reforma tão preciza das Cadeiras, que nestas Ilhas se achão estabelecidas, tendo em Consideração o estabelecer nesta Capital tua Cadeira de Arithmetica Geometria e Álgebra. Para eu adquirir os precizos conhecimentos do atual estado das coisas encarreguei a Luis Antonio d’Araujo por portaria de 7 de março o qual se achava nesta Ilha tudo que he constante da Coppia Junta da dita Portaria a cujas Averiguaçoens elle passar à proceder;30
28 ARCHIVO DOS AÇORES, V. 14, 1927.Analyse, que da memória sobre as plantaçoens e criaçoens offerecida ao Governador Interino das Ilhas dos Assores,escrita por Francisco José Teixeira de S. Payo fez por Ordem pozitiva e Superior Luiz Antonio d’ Araujo em Angra aos 3 de Abril de 1800. 29 ARAUJO, Luiz Antonio d. Memoria Chronologica dos Tremores mais Notaveis e irrupções de fogo, acontecidos nas Ilhas dos Açores, com a relação dos tremores que houverão nesta Ilha Terceira Desde 24 de Junho de 1800, até 4 de Setembro immediato. Lisboa: Typographia Chalcographica e Litterararia do Arco do Cego, 1801. 30 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA DE HISTÓRIA DOS DOMÍNIOS PORTUGUESES (CEDOPE). ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, AHU 05 162X Conde de Almadas. Carta de 8 de Mayo de 1800. Curitiba: UFPR
23
Nesta incumbência, Araújo fez vizitaçoens às Escolas Régias constando tanto
à assiduidade de professores e alunos, qualidade dos professores, currículos
trabalhados, qualidade do aprendizado, métodos de ensino e livros usados.
Essas preocupações de Araújo refletem a busca que o Estado Português fez
para reformar a educação para adequar o ensino na realidade sócio-econômica de
Portugal em crise.
Essa racionalização da educação preconizada pelo Estado Português era
difícil de ser aplicada a uma realidade distante da sede do Império. Araújo relata a
ausência de professores nas Escolas Régias, refletindo uma primeira parte desses
problemas:
O dezampararem os Mestes as suas Aulas nas horas em que devias assistir nellas e explicar aos seus alunnos, deixando os discípulos entregues a discípulos, tem concorrido a amortecer o gosto da freqüência e do estudo. V ex ª ainda à poucos dias vio suplicar-lhe o Professor de Grammatica João Antonio licença para hir a Lisboa, dizendo q deixava hum dos seos discípulos para substituir;31
Em seus relatos fica evidente o tom de crítica ao ensinar de muitos Mestres
como o modo de aprender dos Discípulos. Essas críticas evidenciam o universo
intelectual de Coimbra Reformada, onde os estudos dos clássicos se faziam
presente, especialmente a Filosofia. Dentre os relatos de Araújo, a preocupação
pedagógica “moderna” é evidente e sugerida aos professores:
os Mestres são fraquíssimos; porem por oitenta mil r (reis) não sei q se possas achar outros; Eu estou muito persuadido q os mestres de primeiras Letras deverião ser Filósofos; elles são os primeiros a dezenvolver as ideas da mocidade.32
Além da predileção pela Filosofia, Araújo propõe autores clássicos como
Vírgilio, Horácio e Salústio para o estudo de Latim, assim como a Grammatica de
Verney, autor paradigmático do Iluminismo Português.
31
AHU AÇORES 05 185D. 32 AHU AÇORES 05 185D.
24
Ao longo de suas cartas sobre os professores, alunos e aulas, Araújo
“amarra” a defesa de suas idéias as Instruções do Rei D. José. Instruções que
detalham a carga horária de aulas e os exames para a aprovação.
Araújo apesar de sua origem colonial sustenta a visão do colonizador. Essa
mistura é decorrente de uma visão elitista, de um homem letrado em meio a
numerosos incivilizados. Assim, sua presença na fiscalização pode ser vista como
uma intervenção não desejada e criticada. As críticas que Araújo faz às qualidades
das aulas, dos professores e dos alunos provocaram conflitos.
Nesse sentido, Araújo escreve:
(...) quando eu julgava serem-me aprezentados doze ou quinze estudantes, apenas me aparecerão quatro, dois dos quaes tendo alias cinco annos de aula nem por isso estavão perfeitos estudantes, o outro minorista, e sem princípios; e o quarto com ordens de subdiácono respondeu-me que já havia feito dois exames, e que portanto passava agora tereceiro; tornei-lhe; que os seos exames tinhão sido para ordens, mas que este era precizo para estudar huma arte, da qual elle munto devia carecer no seo estado; e que eu precizava entrar no conhecimento do seo saber. replicou q’ não fazia exame, julguei-o por tanto como reprovado;33
No mesmo raciocínio de racionalização das escolas, Araújo demonstra a
preocupação com os costumes da população açoriana na Ilha do Fayal em que:
um immenso numero de Mulheres dadas à torpe viozidade, não consumindo o tempo, senão em passearem envolvidas ou nos seus Mantos, ou nas suas casas azues e capuzes nas cabeças, por cujas maneiras de se envolverem são desconhecidas nas Ruas, ou dos Maridos, ou dos Pais, ficando por isso habilitadas para toda a sorte de liberdades.34
Araújo propões o cultivo da amora, que além de adequado ao clima açoriano,
serve para ocupar as mulheres a “hum ramo commercial tão util”. Assim, havia nas
cartas a síntese do interesse comercial, da ocupação honesta com a disciplina do
trabalho para a população.
33
AHU 05 185D
34 AHU 05 154U
25
3.2 O CIENTISTA
Enquanto desempenhava a tarefa de visitar as Escolas Régias de Açores,
Araújo desempenhou o que parece ser a tarefa por excelência dos “Coimbrões”: a
coleta de espécies para enviar ao Reino. Essas espécies coletadas faziam parte do
esforço para ordenar o “caos” da natureza, que outros cientistas também
participavam, mas também fazia parte de verificar espécies economicamente viáveis
para o Estado Português.
A colheita da Orsella daqual remeto a V. Ex ª Huma amostra, permittida francamente, e sem intervir o Monopólio praticado com a de Cabo Verde, será talvez um ramo útil; digne-se V. Ex. cia. Mandar preparar huma e outra semelhantemente para ver qual dos resultados he de cor mais viva, e depois se poderá olhar que quantidade podem fornecer estas Ilhas.35
O interesse de Araújo pela natureza mescla o interesse científico e a
possibilidade de alavancar riquezas das mercadorias. As sementes enviadas a
Portugal, senão servirem economicamente ao Estado, vai fazer parte do Jardim
Real.
Já tive a honra de por na prezença de V. Ex. ª o quando seria útil o promover nestas Ilhas a cultura da Mamona, visto que se chegou a admitir o da América Ingleza pelo excessivo preço de seiscentos reis cada canada. Hum alqueire desta seme rende cinco quartilhos, e por tanto julgo digno de attenção o fazer huma sementeira a maior que me for possível para este fim convecionei com outra pessoa a respeito do terreno;mas obsta-me agora o sabor se isto sera do agrado de V. Ex ª podendo V. Ex ª ficar na certeza que só o exemplo fará industrioza estes proprietários.36
Em suas viagens pelas Ilhas, Araújo faz observações de distâncias e
direções, buscando precizar as dimensões de uma baía na Ilha de Fayal, revelando
35
AHU AÇORES 05 153U 36
AHU AÇORES 05 192E
26
seus conhecimentos de astronomia, apredidos nos bancos do Curso de Matemática
em Coimbra. Fui ao Faial onde gastei alguns dias esperando tempo capaz formar alturas, e distanciar do Sol à Lua, que com effeito consegui no dia 2 de novembro havendo ensaiado antecedentemente dois Pilotos tomado no mesmo tempo as alturas destes dois Astros, paraque afim de fizessem estas observações com a maior exatidão possível: E porque julguei estarem bem ajustados, repeti ... observaçoens, tomei seis alturas como ... da Lua, que tocam aquelle meridiano as ...5h 6’.36’’ e observei a amplitude accidua do Sol que era de 2º 0’0’’ de O para NO.37
As observações feitas por Araújo o faz necessitar de equipamentos para
melhor averiguar as condições naturais dos Açores, como um barômetro e um
termômetro38.
3.3 O SÚDITO
As cartas de Araújo demonstram sua fidelidade a Coroa Portuguesa. Durante
as visitas as escolas e da formulação de suas orientações para as Escolas Régias
de Açores, ele determina tarefas para os professores, inclusive substitutos, de
fazerem orações em alusão aos aniversários da Rainha e do Príncipe Regente.
O culto a lembrança do monarca em seus domínios é assim destacada por
Araújo:
§11º O Professor ou substituo de Rhetorica fará todos os annos duas oraçoens huma no aniversario de S. Mage. e Sidma Outra no de S A R (Alteza Real) o Príncipe Regente Meo Senhor Senhor; e no fim de cada anno lectivo determinara os discípulos capazes para fazerem publicamente os seos exames no lugar q V. Ex ª lhes destinar.39
Por outro lado, o leal súdito pode ser vítima de intrigas que parece foram tão
comuns para esses viajantes-servidores. Segundo Ana Lúcia Cruz “afora as
37
AHU 05 AÇORES 152U. 38 AHU 05 AÇORES 196F. 39 AHU 05 AÇORES 188D.
27
competências desenvolvidas pela formação acadêmica, na prática, os cientistas
funcionários tiveram que enfrentar o trabalho de construção de suas próprias
identidades profissionais”.40 Nesse mesmo sentido, o historiador Magnus Pereira, ao
tratar do naturalista João da Silva Feijó em Cabo Verde, enfatizou seu
enfrentamento com autoridades locais:
Ele é acusado pelos habitantes (diga-se a elite local) de não ter pago pelo transporte entre a Ilha do Fogo e a de Santiago, para onde retornou a seguir. Acusaram-no, também, de comportamento altivo para com os “pobres habitantes” e de se fazer passar por alguém de grande poder e autoridade. Além disso, diziam ter ele exigido mais algodão do que o necessário para empacotar as remessas de suas recolhas, obrigando os habitantes a fornecê-lo.41
Possivelmente, Araújo também foi criticado pelos locais, conforme retratado
em sua carta de 6 de Novembro de 1800:
O Exmo Capam Genal acaba de reprehender-me asperamente nos Eu haver remetido a orzella: Eu Exmo Snr. não estava nas circunstancias de ser por esta cauza reprehendido; por quando aquella Nem essa foi feita a V.Exª e annunciada na minha carta de 7 de Maio do prezente anno: sendo assim constante a minha boa fé estou longe de merecer tal representação: fiado pois eu na retidão de V. Ex. ª espero se digne mandar declara o meu procedimento.42
As razões das críticas a Araújo por parte dos locais podem ser explicadas em
parte pelas observações feitas por Araújo em suas cartas quanto aos lucros
alfandegários que ele requisita as autoridades locais. Ao pedir aos Oficiais da
Alfândega uma certidão de valores, reclamou da demora e observa os descaminhos
do imposto devido a Coroa:
Por me haver lembrado o mandar a V. Ex ª hum extracto de certos gêneros exportados e importados, que por alguma módica e provizoria finta produzissem hum total sufficiente para suprir a estas obras cujo plano S. A.
40 CRUZ, A. L. B. op. cit. p. 182. 41 PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Um jovem naturalista num ninho de cobras, a trajetória de João da Silva Feijó em cabo Verde em finais do século XVIII. HISTÓRIA QUESTÕES E DEBATES, n.36, 2002. p.45. 42 AHU 05 AÇORES 196F.
28
R me mandou examinar, requei ao Juiz da Alfândega huma certidão, que abrangesse aquelas exportaçoens de quatro annos sucessivos, e declarei ser p ª o serviço de S. A. R. : constou-me logo que os Offes (oficiais), cujo conhecimento pertencia fizerão varias consultas entre si salvo o passarem ou não a dita certidão; com efeito assentarão de a passar, mas gastarão perto de 4 mezes: Certo eu dar ditas conferencias conclui a verdade do Govor Interino Francisco Jerônimo, e a confirmei depois pela copia junta (número 1º) da Carta que o Juiz de Fora, que acabou remete ao dito Govor; busquei por tanto indiretamente ver se podia obter o livro das entradas para eu mesmo tirar as adiçoens afim de encher os ditos mappas; porem, Exmo Snr , todas as diligencias forão baldadas e serão todas as que se dirijissem a elles Offes para extrahirem os artigos das importaçoens: alem de que, elles sabem que não he ignorado nesta Ilha o haver-se introduzido muntos contrabandos, que tenho sido apprehendido nunca S. A. R recebeo os produtos das tomadias. Já que depois que Eu aqui estou veio hum Hiate da Madeira, que tinha saído de Lisoa, denominado Snra da Lapa, Pelicano Mestre Joze Custodio de Carvalho, no qual vierão nove contos de reis de fazendas aqui prohibidas, dezembarcarão-se bem e salvo; venderão-se publicamente; e a Alfandega não obstou; herão estas fazendas de hum membro della, mas os direitos e tomadia tudo foi salvo.43
A atuação do viajante como representante legal e fiel dos interesses da Coroa
não o impedia de requerer aquilo que achasse do seu direito. Ao saber que na Ilha
da Madeira, o servidor que tinha a mesma incumbência, percebia 600 mil réis,
Araújo rogou ser remunerado proporcionalmente, já que cuidava da visita das Ilhas
de S. Miguel, Fayal e Terceira. Em seguida, ofereceu o valor para ajudar o Erário
Real nos custos da Guerra contra os franceses, em carta datada de 10 de abril de
1801:
Bem julgava eu poder remeter já a V. Ex ª huma certidão que mandei tirar a Madeira p ª mostrar a S. A. R que o governo daquella Ilha nomeou hum vizitador para a Cadeiras que nella se achão estabelecidas, percebendo o ordenado de seiscentos mil reis, e V. Ex ª sabe que o governo destas Ilhas me tem encarregado deste ministério para todas ellas sem nenhum ordenado: os escritos que a elle tenho dirijido a bem do melhoramento das ditas aulas, se foram prezentes a V. Ex ª mostrarão que não tenho sido inútil: por tanto julgo que S. A. R não quererá deixar de compesar-me proporcionalmente aquelle q. só tem a seu cargo a Ilha da Madeira. Não he também Exmo Snr , nas atuais circunstancias que eu devo notificar o meu soberano com taes requerimentos; mas desejo que estes prêmios do meu trabalho sejão applicados em Lisboa para servirem a despeza da Guerra que novamente aqui consta. He o que pode offerecer hum vassalo pobre.44
43 AHU 05AÇORES 204J. 44 AHU 05AÇORES 212K.
29
Esta postura de Araújo remete tanto a provável impossibilidade de não
receber o montante proporcional quanto a uma eventual crítica das autoridades
imediatas. Por isso, a solução da “doação” do valor insere-se na trama de
demonstração de fidelidade e preparação para outros pedidos. Curiosamente, esses
pedidos nem sempre são mercês ou dinheiro, mas materiais para efetivar o trabalho
de observação e pesquisa.
Esse multifacetado do século XVIII, o viajante, aqui representado por Luiz
Antônio d’Araújo tem as características de uma época marcada por continuidades
com o Antigo Regime, mas rupturas, marcadas por um novo pensar ciência e
educação que o aproxima do nosso viver acadêmico.
30
CONCLUSÃO
A análise realizada no presente trabalho permitiu compreender – a partir dos
documentos – a atividade desempenhada por Luiz Antônio d’Araújo nas Ilhas dos
Açores como integrante da administração portuguesa em crise. A preocupação com
a busca de potencialidades econômicas na natureza local e da crítica aos
“descaminhos” dos tributos reais revela a porção “fiel servidor” de Araújo. Nos
mesmos documentos, Araújo se preocupa com as descrições naturais tanto para a
localização da região quanto pelo caráter científico do observador e ordenador da
natureza.
Dessa forma, Araújo revela a duplicidade dos viajantes brasileiros pelos
domínios portugueses. A primeira face é o servidor-súdito interessado em melhor
servir para auferir vantagens pessoais. A outra face é o cientista – interessado em
demonstrar seus conhecimentos adquiridos na Universidade de Coimbra – detalha
espécies e sugere os métodos a serem aplicados no ensino das Escolas Régias
inspecionadas por ele.
31
FONTES CONSULTADAS ARCHIVO DOS AÇORES, V. 14, 1927.Analyse, que da memória sobre as plantaçoens e criaçoens offerecida ao Governador Interino das Ilhas dos Assores,escrita por Francisco José Teixeira de S. Payo fez por Ordem pozitiva e Superior Luiz Antonio d’ Araujo em Angra aos 3 de Abril de 1800. ARAUJO, Luiz Antonio d. Memoria Chronologica dos Tremores mais Notaveis e irrupções de fogo, acontecidos nas Ilhas dos Açores, com a relação dos tremores que houverão nesta Ilha Terceira Desde 24 de Junho de 1800, até 4 de Setembro immediato. Lisboa: Typographia Chalcographica e Litterararia do Arco do Cego, 1801. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA DE HISTÓRIA DOS DOMÍNIOS PORTUGUESES (CEDOPE). ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, Documentos digitalizados, Curitiba: UFPR.
32
BIBLIOGRAFIA CARVALHO, Eduardo Teixeira de (Júnior). Verney e a Questão do Iluminismo em Portugal. Curitiba: UFPR, (dissertação), 2005. CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho da. Verdades por mim vistas e observadas oxalá foram fábulas sonhadas: Cientistas brasileiros do setecentos, uma leitura auto-etnográfica. Curitiba: UFPR, 2004. (Tese de Doutorado). FALCON, Francisco José Calazans. A Época Pombalina: política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982. FERRAZ, Márcia Helena Mendes. As ciências em Portugal e no Brasil: texto conflituoso da química. São Paulo: Educ, 1997. FRAGOSO, João. Mercados e Negociantes Imperiais: Um ensaio sobre a economia do Império Português (Séculos XVII E XIX). In: REVISTA QUESTÕES & DEBATES. Nº 36. Curitiba: EDUFPR, 2002. GAUER, Ruth Maria Chittó. A modernidade portuguesa e a reforma pombalina de 1772. Porto Alegre: Edipucrs, 1996. MAXWELL, Kenneth. O Marquês de Pombal: paradoxo do iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial. 1777-1808. São Paulo: Hucitec, 1979. OLIVEIRA, Ricardo de. Política, Diplomacia e o Império Colonial Português na primeira metade do Século XVIII. In: REVISTA QUESTÕES & DEBATES. n 36. Curitiba: UFPR, 2002. PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Um jovem naturalista num ninho de cobras, a trajetória de João da Silva Feijó em cabo Verde em finais do século XVIII. HISTÓRIA QUESTÕES E DEBATES, n.36, 2002. _____. A forma e o podre, duas agendas da cidade de origem portuguesa nas idades medieval e moderna. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2000. (Tese de doutorado, policopiada) PESSOA, Fernando. Mensagem: obra poética I. Porto Alegre:L&PM Pocket, 2006. PORTELLA, J. R. B. Descripçoens, Memmorias, Noticias e Relaçoens. Curitiba: UFPR, 2006 (Tese de Doutorado). STAROBINSKI, J. Os Emblemas da Razão. São Paulo: Cia das Letras, 1995. VOVELLE, Michel, (org.) . O homem do iluminismo. Lisboa: Editorial Presença, 1997.
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